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Numero 18. A MAI BE FAMÍLIA 30 de Setembro de 1885 JORNAL Scientifico-Litterario EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA HVr.lF.M in família Moda» para criança» T ANNO Publicação Quinzena PREÇO ANNUAL Corte . 9A000 Províncias 10§000 Avulso, 500 rs. MEDICINA Emquanto o medico não chega COL1CAS HEPATICAS O fígado é o órgão secretor da bile, a qual se derrama no intestino por um canal chamado cho- ledoico. Este canal por sua vez é formado pela juncção de dous outros: um que, por partir do fígado denomina-se hepatico, recebe a bile directa- mente, —o outro que, por vir vesicula cha- ma-se cystico, transmitte-a por uma espécie de refluxo. A's vezes a bile chega ao intestino directa- mente, outras vezes diversamente— demo- ra-se mais ou menos tempo n'um pequeno reservatório chamado vesicula. Essa vesicula é freqüentemente a sede de con- creções formadas de cholesterina quasi pura : são os cálculos biliares. Emquanto esses cal- culos conservam-se confinados nesse pequeno deposito, sua presença póde não accusar-se em vida por symploma algum mórbido. O mesmo, porém, não acontece quando elles se insinuam e estacionam no canal que, como dissemos, é o en- carregado de derramar a bile no ijr^lestino. O tra- jecto da bile achando-se subitamente interrom- pido oceasião ao conjüncto de accidentes que constituem a eólica hepatica. São estes, em poucas palavras, os signaes pelos quaes se manifestam taes eólicas: doreí do lado direito e abaixo das costellas, que sorprehendem o doente, mais incommodas e profundas do que agudas e pungentes, irradiando-se para o esto- mago, para as cadeiras e espaduas do mesmo lado. A anciedade torna-se ás vezes extrema. O rosto altera-se profundamente, as feições tomam um aspecto que espanta, parece que o doente está damnado, os olhos arregalam-se, e -— cada vez mais ã proporção que augmenta o mau estar ; o que mais fatiga o doente são os vômitos sêccos, ou de puro muco. Bebida ai- guma, nem um alimento pode ser ingerido; e queixa-se o infeliz doente do amargo de boca, como se tivesse bebido fel. No auge da crise, não sabe que posição tomar; ora fica de cócoras, ora enroscando-se depois em si mesmo, ora dobra-se em gritos, fica de barriga para baixo, e sem mais demora—volta-se para cima, experi- menta facilmente todas as posições, em pro- cura de alguma que o alivie; mas, —debalde! Finalmente as dores cessam, quer pouco a pouco, quer bruscamente como que sustadas por * uma mola. E' signal de que o calculo entrou para a vesicula ou cahio no intestino, donde sahirá com as evacuações. As eólicas hepaticas podem durar de poucos minutos a muitas horas. Vio-se oceasionar accidentes mortaes em virtude de rotura da ve- sicula, e consecutivo derramamento da bile no peritoneo. O que fazer em taes casos para alliviar o pa- ciente? Nada ou muito pouca cousa.Encontramo- nos em presença de um conflicto entre duas forças tanto physicas como vitaes, uma, repre- sentada pela bile, que empurra diante de si o calculo no canal choledoico para, obrigal-o a

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Numero 18. A MAI BE FAMÍLIA 30 de Setembro de 1885

JORNAL

Scientifico-Litterario

EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA

HVr.lF.M in família

Moda» para criança»

T ANNO

Publicação Quinzena

PREÇO ANNUAL

Corte . 9A000Províncias 10§000

Avulso, 500 rs.

MEDICINA

Emquanto o medico não chega

COL1CAS HEPATICAS

O fígado é o órgão secretor da bile, a qual sederrama no intestino por um canal chamado cho-ledoico.

Este canal por sua vez é formado pela juncçãode dous outros: um que, por partir do fígadodenomina-se hepatico, recebe a bile directa-mente, —o outro que, por vir dá vesicula cha-ma-se cystico, transmitte-a por uma espéciede refluxo.

A's vezes a bile chega ao intestino directa-mente, — outras vezes — diversamente— demo-ra-se mais ou menos tempo n'um pequenoreservatório chamado vesicula.

Essa vesicula é freqüentemente a sede de con-creções formadas de cholesterina quasi pura :são os cálculos biliares. Emquanto esses cal-culos conservam-se confinados nesse pequenodeposito, sua presença póde não accusar-se emvida por symploma algum mórbido. O mesmo,porém, não acontece quando elles se insinuam eestacionam no canal que, como dissemos, é o en-carregado de derramar a bile no ijr^lestino. O tra-jecto da bile achando-se subitamente interrom-pido dá oceasião ao conjüncto de accidentes queconstituem a eólica hepatica.

São estes, em poucas palavras, os signaes pelosquaes se manifestam taes eólicas: doreí do ladodireito e abaixo das costellas, que sorprehendemo doente, mais incommodas e profundas do que

agudas e pungentes, irradiando-se para o esto-mago, para as cadeiras e espaduas do mesmolado. A anciedade torna-se ás vezes extrema.O rosto altera-se profundamente, as feiçõestomam um aspecto que espanta, parece que odoente está damnado, os olhos arregalam-se, e-— cada vez mais — ã proporção que augmentao mau estar ; o que mais fatiga o doente são osvômitos sêccos, ou de puro muco. Bebida ai-guma, nem um alimento pode ser ingerido; e

queixa-se o infeliz doente do amargo de boca,como se tivesse bebido fel. No auge da crise, nãosabe que posição tomar; ora fica de cócoras, oraenroscando-se depois em si mesmo, ora dobra-seem gritos, fica de barriga para baixo, e semmais demora—volta-se para cima, — experi-menta — facilmente — todas as posições, em pro-cura de alguma que o alivie; mas, —debalde!

Finalmente as dores cessam, quer pouco a

pouco, quer bruscamente como que sustadas por* uma mola. E' signal de que o calculo entrou para

a vesicula ou cahio no intestino, donde sahirácom as evacuações.

As eólicas hepaticas podem durar de poucosminutos a muitas horas. Vio-se já oceasionaraccidentes mortaes em virtude de rotura da ve-sicula, e consecutivo derramamento da bile no

peritoneo.O que fazer em taes casos para alliviar o pa-

ciente? Nada ou muito pouca cousa.Encontramo-nos em presença de um conflicto entre duasforças tanto physicas como vitaes, uma, repre-sentada pela bile, que empurra diante de si ocalculo no canal choledoico para, obrigal-o a

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138 A MAI DE FAMÍLIA

franqueal-o,--aoutra, representada pelo própriocanal, que oppõe â passagem desse calculo um

corredor muito estreito e paredes inextensiveis.

De que fôrma nós devemos obrigar o calculo a

caminhar n'um sentido ou a recuar n'outro, se o

accesso aquelle ponto nos é completamente inac-

cessivel V se nào temos meio algum de chegar ao

campo da lucta ?Contentem-se portanto em minorar os soffri-

mentos do doente empregando cataplasmas for-

temente laudanisadas, ou laudano puro, no

próprio foco das dores. Os pannos embebidos

em chloroformio alliviam n'as muito também.

O ether em poção ou com assucar, é também

um bom calmante; se o doenle vomitar, dê-lhe

simplesmente a cheirar. O mesmo se fará com

o chloroformio. O fim dessas inhalações é entor-

pecer o sentimento da dôr, facilitando o desloca-

mento do calculo. Mas, é preferível o chi» ral.

E — finalmente — os banhos quentes, mais

demorados possíveis, é o melhor de tantos

quantos sedativos se possa aconselhar.

FOMULARIO

Durante o accesso.—Seo indivíduo é pie-thorico, sangria do braço; sanguesugas em ap-

plicações successivas no ponto em que a dôrfôr mais forte.

E o mesmo se fará a qualquer outro indivíduo

quando se deva previnir inflamroações conse-cutivas.

As ventosas scarificadas produzem o mesmoeffeito.

Quando não ha estado inflammatorio, ópio eseus alcalóides.

Uso interno:

Solução de gorama 150.0Sulfato de morphina 0 05

A's colheres das de sopa, de meia em meiahora.

Uso interno:

Hydrato de chloral , --Xarope de groselha... .

8.090.0

A's colheres das de sopa, de 2 em 2 horas.Se o doente não conservar a mesma dose em

clysteres.O gelo pisado também allivia âs vezes.

Os emelo-cathai ticos, pelas contracções que

provocam, podem também facilitar a expulsão

dos cálculos biliares; não aconselho, porém,este meio.

Alguns autores gabam a acção da belladona, e

dão-n'a em substituição ao ópio, tanto interna

como externamente, A's vezes, assuciam-n'os.

Uso interno:

Chloroformio 10.0Álcool g£0Xarope de assucar 500.0

T. por i spaço de um mez 2 0 por dia; no mez

seguJnte, alcalinos; no terceiro mez, volte ao

xarope.Extracto de belladona 10.0Banha 60 0

Fricções.Os purgativos, bem como os vomitivos, em-

pregam-se igualmente, porque abalam o appa-

relho biliar, provocando uma secreção mais

abundante.

Uso interno:

Podophyllina 0.10Tintura alcoólica de bella-dona... 1-0

Óleo de ricino 40.0. Chloroformio 4.0

Em 4 doses, com intervallo de 4 horas.Para resolver os cálculos, emprega-se :

Uso interno:Ether 30.0Essência de terebenthina 20.0Extracto d'opio 0.01

A's colheres das de chã, tres vezes por dia,em caldo bem gordo ou óleo de amêndoas.

Uso interno:

Licor de Hoffmann 30.0Óleo de terebenthina rectifi-

cauo. .(••.••......... í.u

5 a 30 gottas por dia.

Uso interno:

Ether sulfurico 4.9Óleo de ricino ) „ OA nXarope commum faaw.u

A's colheres das de sopa, de 2 em 2 horas.As âgoas do Vais, de Vichy, de Ems, de Carls-

bad, uma garrafa por dia, aproveitam muito nasconcreções biliares.

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A MAI DE FAMÍLIA 139

Uso interno:

Cosimento dos fruetos da ju-rubeba ••'"'

Bicarbonato de soda,• § • ••••••

250.02.0

4 cálices por dia, por espaço de 8 dias.

Dr. Pires de Almeida.

CONHECIMENTOS ÚTEIS

Os chapéus énvenenadorès.^- Quando es-

colher chapéu, preferir sempre que a carneira seja

escura ou branca.A coloração das outras é obtida na maior parte

das vezes por meio de cores de anilina, que são

absorvidas pela pelle e cujo menor inconveniente

é determinar violentas enxaquecas e empolas que

custam a sarar.

Remédio contra os furunculos — As pro-

priedades medicinaes da folha de couve são geral-mente pouco conhecidas.

Todavia, a folha de couve é um poderoso matu-

rativo para os furunculos. ,

FOLHETINS INSTBUCTIVOS

A MESA

De todos os moveis que nos enchem a casa, deve

ser a mesa um dos mais queridos.E' ao redor d^lla que se reúne a familia; todos

teem alli o seu logar marcado. N'aquelle canto

está a cadeirinha do bebê, á cabeceira a#da avó,

ao lado a do pae, acolá a da mãe. Se um dia

qualquer dessas adoradas creaturas desapparece o

seu logar mesmo vasio, está preenchido, bello

paradoxo, por muito tempo é considerado como —

o logar do papá ou da avósinha, do pequenito ou

da mama.E' á mesa que o burguez descansa relatando á

familia os factos do seu laborioso dia, ouvindo os

acontecimentos domésticos contados pela esposa e

os do collegio contados pelos filhos. Reunem-se

então pensamentos, faz-se communhão de idéias,

trocam-se confidencias, expõem-se pareceres, pois

Eis o modo de cmpregal-a: toma-se uma folhade couve, que se corta em cinco ou seis pedaços;aquecem-se ao fogo e poem-se umas sobre asoutras atando-se com uma tira de linho.

No fim de vinte e quatro horas, no máximo, ofurunculo arrebenta e começa a sarar.

HYGIENE BA BELLEZA

A moça bonita

Nos casos de moléstia cumpre absolutamenteconservar a bocea sempre aceiada. W o único

meio de desembaraçal-a do gosto a lama, a ferro,

a sangue, de que se queixam os doentes, bem

como libertar a lingua das camadas de saburra,

que são constantes nas affecções da bocea, gar-

ganta e estômago.Logo que se tomar qualquer remédio, deve-se

principalmente, e sem mais demora, bochechar,

passando a escova nos dentes, não só para tirar

o mâo gosto â bocea, como tambem para preser-var os dentes do ataque dos diversos principios

que entram quasi sempre na confecção dos me-

dicameutos.

todos á mesma hora se juntam ao redor d'essas

taboas, em que a lucta pela vida pôz o alimento

que seria ingratidão comer sem alegria.

*

Acabo de Íêr num livro de Lord Lytton que os

antigos romanos costumavam pendurar sobre as

mesas dos banquetes luxuosos dos seus festins

uma rosa - Era nm signal, um aviso de discrição

_ guarda comtigo o que ouvires, significava.

Trocavam-se pensamentos Íntimos, revelavam-se

francamente os caracteres nas maiores expressões

mas, sub rosa, isto é, em segredo.

Não creio que em tempos modernos, nos festins

de igual gênero a prudência se recommende a cada

um, a não ser pela sua própria consciência; mas

seja como fôr, o certo é, que agora como então, os

prazeres da mesa excitam o espirito a transbordar

dos cérebros como o champagne das taças...

A mesa, cujo elogio faço, não 6 certamente

essa, em qne brilham os crystaes erguidos entre

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140 A MAI DE FAMÍLIA

Se o indivíduo tiver vomitado, quer esponta-neamente quer por haver tomado os vomitivos,deve —logo que achar-se mais tranquillo — lavar

a bocca e os dentes para libertal-os das substan-cias ácidas e viscosas que forram então a bocca ese aninham entre os dentes; n'esses casos empre-

gar-se-ha sempre, e cumpre não esquecer, a ágoamorna. Este conselho será muito principalmenteaceito pelas senhoras que compram a felicidadede ser mãe á custa dos constantes vômitos.

Nos passeios fóra da cidade, em pleno verão,é na verdade agradável deitar-se ou dormir narelva. Esse tapete altamente convidativo, e quea natureza nos oflerece com os mais seductoresencantos, torna-se excessivamente perigoso, ma-ximè quando transpirámos. A humidade, que arelva sempre conserva, e da qual só nos aperce.bemos ao levantar, produzem dores de dentes enas gengivas,tão fortes ás vezes e incommodativas

que não podemos mastigar os alimentos maismolles e macios. Resulta d'essa difflculdade co-brirem-se os dentes de limo, e como — por do-lorosos —não se podem limpar, cariam.

F também prudente não collocar-se o indi-viduo na correnteza do ar; assim como também

luzes, que lhes dão uns refrangiveis reflexos iriadose de flores que desmaiam nunm branda e suavecôr de rosa. Não é da mesa àe gala, de saudaçõese de enthusiasmos momentâneos, eriados peloflavor dos vinhos finos, e em qm se desenrolatodo o magnetismo da verbosidaáe espiritnosa-mente elegante. Não! é o elogio da mesa da nossacasa, da commum, d'aquella em que todos os diasnos sentamos em familia e arateamente.

Fallemos á ménagère.Não está na quantidade, nem mesmo na varie-

dade do menu, a attracção para um almoço, porexemplo, está e principalmente no modo porque 6disposto e servido.

Os louros pães a espreitarem pelas aberturasdas barraquinhas feitas com os guardanapos; oramo de folhas exquisitas e brilhantes plantadasn'um vaso com figuras em relevo; a branca pyra-mide de manteiga fresca, o pratinho de louça das

não sahir a passeio, principalmente pela manhã

e á tarde, perto das ágoas estagnadas e mortas;e não conservar-se por espaço de muito tempo

debaixo das arvores muito altas e frondosas, ánoite, com a cabeça descoberta, o collo nú, âfresca, como acontece âs moças nas noites deverão, principalmente quando a lua favorece taes

passeios. Devem igualmente preferir os bancosou cadeiras de madeira ás de pedra ou mármore,

cuja friagem occasiona âs vezes males peioresque as simples dores de dentes.

Deve-se fazer revistar a bocca por um den-tista consciencioso, quando menos uma vez poranno, e nos dias temperados, isto é, em que nãofaça muito calor e não haja muito frio ou humi-dade, como quasi sempre entre nós acontece.Logo que se suspeite que um dente acha-se to-cado, por menos que seja o ponto da carie, man-de-se logo isolar dos demais, e tirar-lhe essecomeço de apodrecimento. O meio,aliás conhecidodos dentistas mais hábeis, é preferível â chum-bagem, que logo cabe, fazendo soffrer dores nosdentes á menor acção do ar; além disso nãopreserva absolutamente do máo hálito, obrigandomuitas vezes o dentista a tornar o buraco do

Caldas cheio de azeitonas, este com rabanetes,aquelle com salame: a garafa de vinho e a d'agua;o galheteiro e as cadeiras em ordem convidam avontade para as batatas, os bifes, os ovos, para acbavena de chá, ou a do café...

Ha uma fôrma seductora de ser simples tendobom gosto.

Imaginemos sempre um hospede inesperado,preparemo-nos sim, sem augmentarmos um pratosequer ao ordinário, mas tendo-o, mesmo por isso,bem feito, aprasivel, bom.

Por mais modesto que seja um jantar, elle pôdeser appetitoso.

A fumacinha azulada sahindo em novellos pe-queninos da singella sopeira de porcelana branca,porá no ar um aroma tentador e convidativo; asalada feita pelas mãos de uma das senhoras dacasa, as frutas a mostrarem por entre a verdura dasfructeiras as suas alegres cores, rubra e dourada;uns pratinhos variados, hervas. . ervilhas...cenouras... um legume qualquer, emfim para ex-citar o gosto para a carne, uma costeleta de car-

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AfMAl DE FAMÍLIA 141

dente muito maior, e por conseguinte afinar assuas paredes, afim de que possa o chumbo oumassa agarrar-se e fixar-se aos pontos sãos.

Emprega-se hoje com magníficos resultados omastico mineral de Berhoth e a pasta de Lefoulon

para encher a concavidade dos dentes cariados.Póde-se também limar a parte cariada, quando

porventura a carie affecte certos e determi-nados pontos do dente; cumpre empregar todosos meios, e até mesmo esle ultimo, antes deproceder à extracçãa, ainda mesmo quando acarie não esteja visível.

Não obstante, se a carie augmenta sempreapesar de todas as precauções, nào se trepidaráem extrahir o dente, para não contaminar osmais próximos.

Dr. Pires de Almeida

HYGIENE

Doenças das crianças

PRIMEIROS CUIDADOS A DAR NO CASO DE CUOUP

Primeiro de tudo nào se espantar, o medoleva ao desacerto, o receio conduz á impruden-cias, o desanimo paralysa a acção útil.

neiro ou ontra cousa que a cosinheira não tivessetrazido na véspera nem se lembre de trazer no diaimmediato... ninharias entradas no orçamentoda despeza diária com bôa tactica administra-tiva... uma sobre-mesa delicada, um café sabo-roso bebido em canequinha fina é com colher deprata.

Eis uma exigência exquisita mas necessáriaafinal.

Ninguém nega a influencia que tem no sabor deuma bebida o vaso que a contem.

O chá mais caprichosamente feito, perfumado,forte, deixa de ter sabor n'uma chicara grosseirae sobe o seu qualificativo a delicioso quando n'umachavena leve, transparente, que nos faça levar emconta de perdão todo o preguiçoso prazer sentidoe revelado pelas tão descriptas fidalgas chinezas,que envoltas nas suas largas roupas, de seda, comos pés em chinellas cobertas de arabescos, recli-nadas indolentemente por detraz dos biombos,phantasiosamente pintados, o sorvem saboreandoa golos pequeninos...

Todas as vezes que uma doença localisa-seisto é, cada vez que ataca especialmente umsó órgão da machina humana quer nos homensquer nas crianças, mulheres ou velhos é bomcorobatêl-a por esta estratégia bem conhecida detodos, que consiste no emprego de um derivativo.

O croup é uma inflammação local, especial ágarganta, e como o croup attaca mais freqüente-mente as crianças, os derivativos darão um re-sultado dos mais favoráveis porque as criançassão muito impressionáveis, n'ellas a organisaçaoé extremamente sensivel e a circulação acti-svissima.

Isto sabido:

Jà os derivativos

Deitai no_ pés do menino cataplasmas de fari-nha de linhaça não somente quentes, mas sal-picadas de farinha de mostarda; dai-Ihe umclyster levemente purgativo, por exemplo, leitono qual deitareis duas ou tres colheres de óleode ricino, podeis lambem preparar uma de-coccão de sene dissolvendo n'ella uma colherde mel: o effeito produzido sobre os pés pelas

O vinho! imaginae bebel-o em porcelana... éo mesmo que dizer: comei o bom foie-gras emem prato de crystal.

Os talheres ? .. dão um gosto especial á carne,á sopa, á fructa, ao doce, ao qneijo,á tudo! Devemser bem zelados, os talheres...

Não falta quem sustente ser a mesa a base dafelicidade na vida do homem e esses confessam re-conhecer em Brillat Savarin um sábio de bellastheorias e fácil pratica...

O alimento influe no caracter, affirmam esque-

cendo talvez que o melhor é ser elle variado.D'isto resulta que toda mulher deve ser um

pouco cosinheira, que, do mesmo modo que sabe

fazer o seu vestido de surah ou de linho, devesaber escrever uma carta, lêr um livro, receber

uma visita, ou fazer a massa dourada, macia, e

fina, de uma torta de aves, ou uns pasteis fo-

lhados...Julia Lopes.

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142 A MAI DE FAMÍLIA

cataplasmas sinapisadas, e o produzido [sobreas partes internas do tubo digestivo, pelos meios

que acabemos de indicar, hão de produzir uma

derivação efflcaz sobre a inflammação da gar-

ganta, inflammação que, no caso de croup, deve-

mos combatter e apprehender.Eu gosto dos derivativos, prescrevo-os antes

de tudo, porque qualquer que seja o caracter do

croup, sempre são efficaz-s, e não conhece caso

em que serião perigosos.Dai uma infusão de flores de malvas, leve-

mente assucarada.Dai infusão de flores de violetas, üai-lhe até,

se o menino nâo quero outra cousa, água assuca-

rada com xarope acidulado, xarope de groselha,xarope de limão, etc

Dai, enfim, não tendo outra cousa, água só

com um pouco de assscar, porém dai-lhe com

abundância.Lava-se esta coitada de garganta diluindo-se

por assim dizer a inflammação.Nào accreditaes neste preconceito que diz que

uma bebida dada com abundância afoga o esto-

mago da criança.Finalmente, não gosto atrapalhar as pessoas

no dedalio de todas as prescripções que geral-mente enchem os livros de medicina.

EÍ3 ahi dois meios:i° Para o croup verdadeiramente inflammato-

rio, isto é invadindo um menino eminentementesanguino, uma emissão sanguino local, as bichas.

Applica-se seis ou dez sanguesugas, conformea idade do doentinho, no pescoço, logo quecabem, deixa-se sangrar as picadas n'uma cata-

plasma de farinha de linhaça.2o Para um menino sanguino, ao qual as san-

guesugas forão jà applicadas como tambem paraum menino lymphatico, o remédio por excellen^cia é o emetico. Não posso bastante recommen-dal-o a todas as mais, louvo a previdência dealgumas que nunca afastam-se das cidades comas crianças sem levar alguns papeis cada umcom cinco centigrammos d'emetico.

Passo a indicar agora nos mais minuciososdetalhes, o mode de empregar este medicamento.

Tomarão as senhoras um copo cheio d'aguapura, se for para uma criancinha basta cincocentigrammos d'emetico dissolvido no copo.

Se o menino tem cinco, seis ou sete annos,

podem dissolver no mesmo copo dez centigram-

mos d'emetico, isto é dois papeis.Esta solução d'emetico de ser dada a colheres

de sopa.Far-se-ha beber uma colher de cinco em cinco

minutos, até o menino lançar, lançar verdadei-

ramente. Pode a mãi, se é bastante feliz paramandar o filinho obedecer-lhe, ajudar os vômitos

com um ou dois copos d'agua morna, logo ao

principiarem as náuseas; .

Não está acabado

Parados os vômitos deixa descansar o doen-

tinho durante dez minutos, depois continua-se o

uso do emetico; somente em vez de lhe dar o

remédio de cinco em cinco minutos, dar-se-

lhe-ha uma colher só de dez ou de doze em doze

minutos. Mais tarde, de quinze em quinze mi-

nutos, e enfim de meia em meia hora. Determi- *

nei as doses conforme a idade das crianças,

entretanto podem ser tomadas inteiras sem riscodo menor perigo.

O emetico, dado como acabo de indicar, sus-

pende a marcha da doença, os vômitos, queprovoca immediatamente desembaraçam a gar-ganta das falsas membranas jà nascentes; e maisainda provocam do lado da garganta um movi-mento espasmodico, uma espécie de titulação

que retarda e oppõe-se à formação das falsasmembranas.

Mme E. V.

EDUCAÇÃO "Y:

. Ms A creançaConversa sobre o modo de criar os filhos

iA MÃI DEVE SER OBEDECIDA

.-«*

Devo fallar-lhes, Senhoras, da educação moraldos vossos queridinhos. E' isto uma grande e

grave questão, capaz por si só de encher um im-

portante volume. Quero, porém, limitar-me es-trictamente ao meu papel de medico, mostrar-vossomente como o estado physico está ligado aoestado moral,como esses dois estados reagindo umsobre outro podem servir-se ou prejudicar-se

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A MAI DE FAMÍLIA 143

:#

¦Si',

mutuamente, como, n'uma palavra, pôde a saúde

depender de uma bòa educação moral.

Para isto vou eu invocar a autoridade de il-

lustres philosophos, citar sabias e numerosas

máximas? Seja-me antes permittido contar-vos

simplesmente duas visitas que tenho feito a pe-

quenos amigos meus.Lembrai-vos certamente do meu Lulú. Trata-

se ainda d'elle. Jâ disse que bom menino era, mas

não foi possivel dissimular que tem elle alguns

defeitozinhos: um pouco goloso, um pouco eu-

rioso. E' preciso acerescentar hoje que é também

um pouco desobediente! ou antes o era, porque

prometteu-me ser de ora em diante um modelo

de submissão; acredito que a rude lição quere-cebeu o ajudará a cumprir sua promessa.

Outro dia, por um desses bellos tempos da

semana santa, foi elle passear com sua mãi no

bosque de Boulogne. Seguiam um desses lindos

regatos que serpenteiam tão alegremente debaixo

das moitas. Por muitas vezes, a mài prohibiu a

Lulú chegar à beira do regato, porém, Lulú

pouco caso fazia dessas recommendações. De re-

pente, avista elle uma flor nadando sobre a su-

perficie d'agua, e lança-se para apanhal-a, um

grito, uma prohibição da mãi não têm o poderde detel-o, inclina-se, escorrega e cahe tf água,

« a cabeça primeiro! Felizmente era pouco pro-funda a água e o desobe^ente só tomou um

banho frio. Tiraram-no depressa, levaram-o para

;. casa, onde foi immediatamente despido, enxu-'

gado e deitado. A mãi receiosa de algum funesto

resultado deste banho inesperado, mandou-me

chamar a toda pressa. Julgo que o brejeiro sa-

hira são e salvo desta aventura, mas, em verdade

não terá elle feito tudo para apanhar alguma

grave fluxão de peito ? E se a água tivesse sido

mais funda, não se teria de receiar uma des-

< graça? Tudo isto não haveria acontecido se Lulú

tivesse sido acostumado a obedecer a sua mãi.

Quereis um outro exemplo. Fui chamado ha

pouco, era uma sexta-feira, perto da Joanninha.

A lourinha tinha sido muito mimoseada durante

a semana santa, e os ovos de assucar, amêndoas,

confeitos, chocolate com fartura lhe tinham sido

offerecidos. Provou largamente d'essas golodices,

porém seu estômago, mào apreciador da honra

que lhe queriam fazer, revoltou-se afinal e a me-

%m

nina cahiu doente. Pouco grave era o mal. Um

pouco de óleo de ricino, de pó de rhuibarbo te-riam debellado o passageiro incommodo. MasJoanninha é uma menina que não faz senão asua vontade; não quiz tomar nem óleo nem pó,e entretanto a mãi tinha artisticamente dissimu-lado o sabor desagravei! Tudo foi obstinada-mente recusado. Prometteu-se-lhc uma bonecanova se quizesse tomar uma colher da poção,rogos e promessas nada conseguiram. Ameaças eviolências teriam tido o mesmo resultado. A ca-beçuda fechou a bocea, apertou os dentes e

cuspiu algumas gottas do liquido que máo gradoseu tinham penetrado na bocea. Porém, o queaconteceu ? A indisposição, benigna a principio,mal tratada, tornou-se grave doença da qual não

se pôde prever as conseqüências se a menina

persistir em recusar qualquer medicamento. Te-

riamos nós essas lastimosas complicações se

Joanninha tivesse sido acostumada a obedecer â

sua mãi _ _ nDr. Tony Blanche.(Contínua^

MODAS

Explicação da folha de moldes

FACE

Sobretudo para menino de 4 a 6 annos.H. 1. Dianteiro. -H. 2. Costas. -N. 3. Parte superior

da manga. -N. 4. Parte inferior da manga.-N. 5. Ca-

beção. ~ ,H. 6. Dianteiro.-N. 7. Quartinho. -X 8 Costas.-

N. 0. Parte superior da manga. - N. 10. Parte inferior da

manga. -H. 11. Gola.-N. 12. Murça da couraça.-

N. 13 e 14. Tiras entremeios bordadas para guarnição..

N. 15. Porta-cliarutos.N. ic. Passamanaria para roupa de crianças.

N. 17. ELISA para lenço.

VERSO

Roupão par* senhora¦4

H. 18. Dianteiro. -H. 19. Quartinho. -H. 20. Costas.

_N «. Parte superior da manga-N. 22. Parte inferior

da manga. -S. 28. Collarinho do roupão.

N. 24. Collarinho inglez.N. 25. Plastrao para senhora.N. 26. Tira para a gola do plastrao.N. 27. M. K. paralençóes.N, 28 Bordado para saia.ti 29 P. --* Para lenÇ°8 e guardanaP°s*n! so! Coroa de conde para lençôes e guardanapos.n! 31. EMMEL1HE para lenços.

Page 8: Numero 18. A MAI BE FAMÍLIA 30 de Setembro de …memoria.bn.br/pdf/341703/per341703_1885_00018.pdfO fígado é o órgão secretor da bile, a qual se derrama no intestino por um canal

144 A MAI DE FAMÍLIA

GDEUDas Paris

Perfnmaria «e Lnxo

para a Barba).-~ treme de Morangos, paru amaciar ii pelle.—Pos de Cypris,para branquear a Tez; — Stilboide crystallisado c fluido, para os Cabellòs e a Barba!Água, Atheniense e Água Lustrai, para perfumar e limpara Cabeça. — Água deCidratAgua de Chypre, para oToucador -Alcoolato de Cochlearia, para a Bo ca.

Perfumes para Lenço: 2?Tet "a™3;0*™*""3- ^ w-Bosa. - Etheré 64iMMio«//yri »*w*|f^f/ora/; _ Heliotrope Branco. — Boi/gi/ef /mpe-r/a/ flt/sso. — Exíracfo Imperial do Brazil. — Exposição de Paris. —Perfume de França.

Contra a Anemia e a Chlorose cujos accidentessão tão variados nenhum remédio pode igualar aoprotoiodureto de ferro.

Essas Affecções da adolescência ligadas ás func-ções da evolução são muito freqüentes nas meninase até nos rapazes.

As desordens nervosas que sobrevem juntamentecom ellas, os desarranjos do estômago e as ne-vralgias symptomaticas, exigem uma medicaçãorecoristituinte e ao mesmo tempo estimulante; eisporque os médicos receitam com preferencia asPílulas de Blancard por serem absolumente puras.

A autorisaçâo da Junta de Hygiene do Rio deJaneiro e a âpprovação da Academia de Medicinade Pariz são uma garantia para os doentes e provama boa preparação e a superioridade d'estas pilulas.

Exijam a assignatura Blancard sobre um rotuloverde, *•'

MEDICINA PARA 0 POVO

GUIA DA MULHER PEJADAPELO

r>r. Pires de AlmeidaPRECEDIDO DO

CALENDÁRIO DA PRENHEZcom o qual se pode marcar o dia do parto, a época dafecundação e o período em

que se deve sentir os movimentos do feto.

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DR. PIRES DE ALMEIDAA longa prática da medicina exercida nos lo-gares pantanosos, onde propositalmentc resido,os estudos especiaes e experiências feitas nocurativo das febres próprias do Kio deJaneiro (intermittentes, remittentes, paludo-sas, biliosas, typhoide, amarella, etc), habili-tam-me a tratal-as com os mais vantajososresultados, bem como as suas complicaçõespara o fígado, baço, sangue etc. Opilaçâo. —Caspas nos olhos, sem cauterisacão. —Kheumatismos. — Feridas da mais longadata. — Syphilis. — Tisica incipiente.

Chamados for éscripip á Estação de Cascadura.

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Typ. dos edito es-proprietarios LOMBAERTS & C.