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NULIDADES DO CONTRATO DE EMPREGO LUCIANO MARTINEZ [email protected] facebook.com/professorlucianomartinez

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NULIDADES DO CONTRATO DE EMPREGO

LUCIANO MARTINEZ

[email protected]

facebook.com/professorlucianomartinez

A nulidade como eficácia dos atos ilícitos civis.

A nulidade é apenas um dos efeitos dos atos ilícitos civis-trabalhistas, embora seja o mais relevante deles, pois se destina a retirar a validade dos atos jurídicos infringentes. Há, portanto, a possivel (mas não necessária) cumulação dos seguintes efeitos:

Efeitos nulificantes

Efeitos indenizantes

Efeitos caducificantes

Efeitos autorizantes

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficácia

A tricotomia existência-validade-eficácia foi desenvolvida porPontes de Miranda para, mediante exemplos gráficos (a ideia é a deplanos sobrepostos), explicar a formação a deformação dosnegócios jurídicos.

Apesar de não ser adotada pelo sistema jurídico de direito positivo,tal sistemática tem sido amiúde referida pela doutrina ejurisprudência porque decorre de uma lógica do pensar os fatos eos atos jurídicos.

Os planos são sucessivos, não sendo possível, assim, falar no planoseguinte sem a convicção da superação do plano anterior.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da existência

O plano da existência revela o suporte fático dos atos

jurídicos e constitui o antecedente lógico das coisas queacontecem no mundo. Assim, para que um ato exista nouniverso jurídico-real é indispensável que o seu agente sejasujeito de direito (pessoa física ou jurídica) e que, por serpessoa, declare vontade que recaia sobre um objeto qualquer.

O importante nesse plano é a mera aparência.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da validade

Para que se possa ingressar no plano analítico da validade é

indispensável pressupor que o suporte fático suficiente se compôs.

A partir desse momento, passam a ser aferidos requisitos quepossibilitam ao negócio jurídico a produção de efeitos. Se essesrequisitos estiverem presentes, diz-se que o negócio jurídico éválido; caso contrário, reputa-se inválido, sendo, por isso, nulo ouanulável.

O plano da validade

Livre consentimento (vontade livre, esclarecida e ponderada)

+

Art. 104, Código Civil. A validade do negócio jurídico requer:

I — agente capaz;

II — objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III — forma prescrita ou não defesa em lei.

O plano da validade: o livre consentimento

O negócio jurídico estará eivado de defeitos quando adeclaração de vontade não puder ser livrementeexpendida. Em tais circunstâncias poderão serevidenciados tanto vícios de consentimento quantovícios sociais.

O plano da validade: o livre consentimento

Os vícios de consentimento são distorções da realidadeque provocam uma manifestação de vontade nãocorrespondente ao verdadeiro querer domanifestante.

Entre tais vícios estão o erro, o dolo, a coação, alesão e o estado de perigo.

O plano da validade: o livre consentimento

O erro é uma noção deformada (do objeto ou dapessoa) que leva um manifestante, por confiança, aemitir vontade diversa daquela que normalmenteemitiria se tivesse o exato conhecimento da realidade.

Exemplo clássico de erro no campo do direito do trabalho: acontratação de homônimo. Se houve prestação de trabalhohaverá o contrato de emprego, independentemente do erro.

O plano da validade: o livre consentimento

O dolo é uma noção deformada (do objeto ou dapessoa) provocada por ação astuciosa de uma daspartes do negócio jurídico ou por um terceiro com oobjetivo de produzir benefício próprio ou alheio aindaque à custa do prejuízo do manifestante.

Exemplo: a obtenção desautorizada de documentosnecessários a uma contratação.

O plano da validade: o livre consentimento

A coação é um vício de consentimento caracterizadopor ato de violência capaz de levar a vítima a realizarum negócio jurídico que, sob condições normais, nãoefetuaria.

Exemplo: o forçado pedido de demissão sob penade divulgação de situação pessoal do empregado.

O plano da validade: o livre consentimento

A lesão é um vício de consentimento a que se submeteuma pessoa sob premente necessidade ou porinexperiência, fazendo com que ela se obrigue aprestação manifestamente desproporcional ao valor daprestação oposta.

Exemplo: truck system

O plano da validade: o livre consentimento

CLT, Art. 462.

[…]

§ 2º - É vedado à empresa que mantiver armazém para venda de mercadorias aosempregados ou serviços estimados a proporcionar-lhes prestações " in natura " exercerqualquer coação ou induzimento no sentido de que os empregados se utilizem doarmazém ou dos serviços. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)

§ 3º - Sempre que não for possível o acesso dos empregados a armazéns ouserviços não mantidos pela Empresa, é lícito à autoridade competente determinar aadoção de medidas adequadas, visando a que as mercadorias sejam vendidas e osserviços prestados a preços razoáveis, sem intuito de lucro e sempre em benefício dasempregados. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)

O plano da validade: o livre consentimento

O estado de perigo é também vício de consentimento caracterizadopela circunstância de alguém, premido pela necessidade de salvar a simesmo ou a pessoa de sua família de grave dano conhecido pelaoutra parte, assumir com esta obrigação excessivamente onerosa,independentemente do emprego de violência psicológica ou ameaçado beneficiário. No estado de perigo o manifestante não age por atode coator, mas sim em virtude das circunstâncias impostas pelaabusividade.

Exemplo: médico-cirurgião contratado para salvar filho do donoda clinica.

O plano da validade: o livre consentimento

Os vícios sociais são eivas que fazem com que avontade, embora correspondente ao desejar internodo manifestante, viole elementares deveres deconvivência social, notadamente a boa-fé, paraenganar terceiros.

Entre tais vícios estão a simulação e a fraude contracredores.

O plano da validade: o livre consentimento

A simulação é um vício que produz uma proposital e bilateraldiscrepância entre o querer interno dos manifestantes e avontade por eles declarada com o objetivo de produzir umnegócio jurídico fingido, mas aparentemente válido. A intençãodo simulacro é iludir terceiros para produzir benefícios em favordos manifestantes da vontade viciada, ainda que à custa doprejuízo alheio.

Exemplos: salário “por fora” e pejotização.

O plano da validade: o livre consentimento

Código Civil, Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que sedissimulou, se válido for na substância e na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas àsquais realmente se conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentesdo negócio jurídico simulado.

O plano da validade: o livre consentimento

A fraude contra credores é o manejo ou maquinação oculta, pormeio do qual o devedor insolvente, por autêntico ato dealienação de seus bens, prejudica ou tenta prejudicar credorpreexistente mediante um premeditado esvaziamentopatrimonial.

Exemplo: transferência de patrimônio.

O plano da validade: o agente capaz

a) A capacidade do agente por conta da idade.

b) A capacidade do agente por discernimento mental

O plano da validade: o agente capaz

a)A capacidade do agente por conta da idadeArt. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos davida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

[…]

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de osexercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

O plano da validade: o agente capaz

a)A capacidade do agente por conta da idadeArt. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à práticade todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menortiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que,em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

O plano da validade: o agente capaz

a) A capacidade do agente por conta da idade

Capacidadeplena

Capacidaderelativa

Capacidadeespecial

Empregador A partir dos 18 anos

N/A, com ressalvas

N/A

Empregado A partir dos 18 anos

A partir dos 16 anos, salvo se emancipado.

A partir dos 14 anos, nacondição de aprendiz

O plano da validade: o agente capazA capacidade do agente por conta da idade

O contrato de trabalho infantojuvenil, entendidocomo aquele firmado com quem tem idade inferior adezoito anos, será classificado em quatro gruposdistintos:

O plano da validade: o agente capazA capacidade do agente por conta da idade

O primeiro grupo dirá respeito aos contratos nulos, celebrados com quem não temidade legal para trabalhar

O segundo grupo compreenderá os contratos anuláveis, celebrados com quem temidade para trabalhar, mas sem a assistência de seus pais ou tutores

O terceiro grupo envolverá os contratos de emprego de natureza especial,celebrados excepcionalmente com quem não teria idade para firmar contratos deemprego ordinários, mas que pela relevância da aprendizagem são autorizados atanto por legislação social.

O quarto grupo tratará dos contratos de emprego ordinários, assim entendidosaqueles celebrados com quem, apesar de cronologicamente menor de dezoito anos,emancipou-se nos termos da lei.

O plano da validade: o agente capazA capacidade do agente por conta da idade

No tocante ao quarto grupo cabe anotar que, apesar da emancipação, que produzefeitos na órbita da capacidade jurídica para firmar contratos, os emancipadoscontinuam a ser “pessoas em desenvolvimento”, nos termos dispostos no art. 6º doEstatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069/90. Tanto é verdadeira essaassertiva que a emancipação civil não produz efeitos no âmbito criminal, sendo certoque o menor, emancipado ou não, continuará inimputável criminalmente até quecomplete dezoito anos de idade, nos termos da legislação penal.

Veja também o Enunciado 530 aprovado na VI Jornada de Direito Civil:

Enunciado 530 – A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto daCriança e do Adolescente.

O plano da validade: o agente capazMenores exercentes em atividade em sentido estrito

O art. 8º da Convenção 138 da OIT (aprovada pelo Congresso Nacional peloDecreto Legislativo n. 179, de 14 de dezembro de 1999, e promulgada pelo Decretopresidencial n. 4.134, de 15 de fevereiro de 2002) prevê que “a autoridadecompetente, após consulta às organizações de empregadores e de trabalhadoresconcernentes, se as houver, poderá, mediante licenças concedidas em casosindividuais, permitir exceções para a proibição de emprego ou trabalho provida noartigo 2º desta Convenção, para finalidades como a participação em representaçõesartísticas” (destaque negritado não constante do original).

Esse dispositivo está, enfim, conforme a Constituição da República Federativa doBrasil?

O plano da validade: o agente capazMenores exercentes em atividade em sentido estrito

Tendo a Convenção 138 da OIT status meramente supralegal (vide posicionamentodo STF no HC 87.585/TO e no RE 466.343/SP), não se pode imaginar a possibilidade deas suas disposições contrariarem aquelas constantes do texto constitucional.

Se a Carta de 1988 proíbe “QUALQUER TRABALHO a menores de dezesseis anos,salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos” (vide art. 7º, XXXIII), nãopoderia norma de hierarquia inferior admitir eventual exceção.

Atenção: a CF-88 proíbe QUALQUER TRABALHO, mesmo o que vise à “participaçãoem representações artísticas”.

O plano da validade: o agente capazMenores exercentes em atividade em sentido estrito

Resta o conceito de atividade em sentido estrito, já conhecido da própria CLT, que,no parágrafo único do artigo 402, desde 1967:

Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador dequatorze até dezoito anos.(Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000)

Parágrafo único - O trabalho do menor reger-se-á pelas disposições do presente Capítulo,exceto no serviço em oficinas em que trabalhem exclusivamente pessoas da família domenor e esteja este sob a direção do pai, mãe ou tutor, observado, entretanto, odisposto nos arts. 404, 405 e na Seção II. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de28.2.1967)

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:

Código Civil - Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmenteos atos da vida civil:

I – […]

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessáriodiscernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

I - [...]

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,tenham o discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:Código Civil, Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento paraos atos da vida civil;

II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;

III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;

IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;

V - os pródigos.

Código Civil, Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art.1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites dacuratela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782.

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento: ébrios

habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham odiscernimento reduzido.

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:excepcionais, sem desenvolvimento mental completo

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:prodigalidade.

Prodigalidade - “trata-se de um desvio comportamental que,refletindo-se no patrimônio individual, culmina por prejudicar, aindaque por via oblíqua, a tessitura familiar e social. Note-se que oindivíduo que desordenadamente dilapida o seu patrimônio poderá,ulteriormente, bater às portas de um parente próximo ou do próprioEstado para buscar amparo” (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Cursode Direito Civil. São Paulo: Saraiva)

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento:prodigalidade.

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ouser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam demera administração.O pródigo interditado [apenas o interditado], portanto, pode firmar contrato deemprego, mas, para os atos de quitação, precisará de seu representante legal. Ocurador, então, sob pena de responsabilidade e assunção dos riscos da quitação, deveao menos ter ciência das celebrações de contratação do pródigo, mesmo porque nãohá normalmente indicativos externos dessas condição e restrição.

O plano da validade: o agente capaz

b) A capacidade do agente por discernimento: índios:Ver Lei n. 6.001/73 — Estatuto do Índio (art. 4º, I, II eIII),

Índios integrados Índios emprocesso de integração

Índios isolados

CapacidadePlena

CapacidadeRelativa

Incapacidade

O plano da validade: o objeto lícito, possível, determinado ou determinávelPara Miguel Reale, em preciosas palavras, “é possível

dizer que ilicitude é a materialização, a realização doilícito através do indivíduo, de maneira que este, ao agirou mesmo se omitir perante algum fato, tratou de entrarno universo do ilícito, do que contraria o bem-estar sociale a previsão legal”

O plano da validade: o objeto lícito,

O objeto será lícito quando a prestação —componente da obrigação contida nos contratos deemprego — estiver de acordo com o ordenamentojurídico.

O objeto será ilícito quanto o contrário acontecer...

O plano da validade: o objeto lícito

Situação das prestações lícitas em ambientes de práticas ilícitas.

Exemplo pode ser extraído dos mensageiros que atuam nasfortalezas do “jogo do bicho” ou nos quartéis dos comandoscriminosos.

Ver o Código Penal, em seu art. 29: quem, de qualquer modo,concorre para o crime incide nas penas a este cominadas na medidade sua culpabilidade

O plano da validade: o objeto lícito

Orientação Jurisprudencial 199 da SDI-1 do TST.JOGO DO BICHO. CONTRATO DE TRABALHO.NULIDADE. OBJETO ILÍCITO. É nulo o contrato detrabalho celebrado para o desempenho de atividadeinerente à prática do jogo do bicho, ante a ilicitude deseu objeto, o que subtrai o requisito de validade para aformação do ato jurídico.

O plano da validade: objeto lícito x objeto possível

Entende-se por trabalho ilícito (melhor seria dizer “atividade ilícita”) aquele

cuja prestação (execução) não é fundada no direito, sendo, por isso, agressiva àordem social.

OBJETO LÍCITO = TRABALHO LÍCITO //// OBJETO ILÍCITO = TRABALHO ILÍCITO

O trabalho proibido, por outro lado, é assim caracterizado quando o seuobjeto é juridicamente impossível, vale dizer, sua prestação, é não mais do quejuridicamente vedada.

OBJETO JURIDICAMENTE POSSÍVEL = TRABALHO ADMITIDO////

OBJETO JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL = TRABALHO PROIBIDO

O plano da validade: o objeto possívelO objeto será possível quando material e juridicamente viável.

A impossibilidade material diz respeito a obstáculos físicos quenenhum humano superaria, sendo exemplo disso a prestação detrabalho rural no solo lunar.

A impossibilidade jurídica, por outro lado, diz respeito a obstáculosmeramente normativos que, apesar de poderem ser materialmentesuperados, não encontrariam guarida no direito positivo, gerando,por conseguinte, penas pecuniárias e a assunção deresponsabilidades para o empregador infrator.

O plano da validade: o objeto possível

Exemplos de trabalhos juridicamente proibidos:a) serviço noturno, em condições perigosas ou em ambiente insalubre prestadopor menores de 18 anos (vide art. 7º, XXXIII, do texto constitucional)

b) o trabalho prestado por estrangeiros em situação irregular no país

c) os serviços mencionados no Decreto n. 6.481/2008, que arrola as pioresformas de trabalho infantil.

d) o serviço prestado por policiais militares.

O plano da validade: o objeto possível

Súmula 386 do TST. POLICIAL MILITAR. RECONHECIMENTODE VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM EMPRESA PRIVADA.Preenchidos os requisitos do art. 3º da CLT, é legítimo oreconhecimento de relação de emprego entre policial militar eempresa privada, independentemente do eventual cabimento depenalidade disciplinar prevista no Estatuto do Policial Militar.

O plano da validade: o objeto determinado ou determinável

O objeto será determinado quando houver certeza sobre a prestação a

realizar-se. As partes contratantes devem, então, descrever o objeto docontrato de emprego, sob pena de, não o fazendo, entender-se que oempregado “se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a suacondição pessoal” (veja-se o parágrafo único do art. 456 da CLT). Isso farácom que o objeto seja, então, determinável no curso do contrato e que oajuste seja, nesse particular, tácito, segundo a mencionada condição pessoaldo trabalhador envolvido na atividade.

O plano da validade: a formaprescrita ou não defesa em lei

Código Civil, Art. 107. A validade da declaração devontade não dependerá de forma especial, senãoquando a lei expressamente a exigir.

O plano da validade: a formaprescrita ou não defesa em lei

Exigência de instrumento necessariamente escrito”: Contrato deaprendizagem (art. 428 da CLT) , contrato de trabalho temporário (caput doart. 11 da Lei n. 6.019/74) , contrato do atleta profissional de futebol (caputdo art. 3º da Lei n. 6.354/76 ora revogado pela Lei n. 12.395/2011)

Exigência do cumprimento de requisito de demonstração de aptidão préviaà contratação: Tal situação encontra exemplo marcante no § 2º do art. 37da Constituição.

O plano da validade: a formaprescrita ou não defesa em lei

Súmula nº 363 do TST. CONTRATO NULO. EFEITOS (nova redação) - Res.121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. A contratação de servidor público, após aCF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice norespectivo art. 37, II e§ 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento dacontraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas,respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aosdepósitos do FGTS.

O plano da validade: a formaprescrita ou não defesa em lei

CONTRATO NULO. EFEITOS.

Direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação aonúmero de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo

+ valores referentes aos depósitos do FGTS: art. 19-A da Lei 8.036/90 +responsabilidade extracontratual (responsabilidade por danos materiais oumorais, inclusive os decorrentes de acidente do trabalho, por exemplo).

O plano da validade: a formaprescrita ou não defesa em lei

Em 26 de março de 2015, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, julgou

improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3127 e reafirmou o entendimentode que trabalhadores que tiveram o contrato de trabalho com a administração pública declaradonulo em decorrência do descumprimento da regra constitucional do concurso público têmdireito aos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O relator da ação, o ministro Teori Zavascki, afirmou que o dispositivo legal questionado,artigo 19-A da Lei 8.036/1990, não contraria qualquer preceito constitucional. Ele assinalou que odispositivo legal não afronta o princípio do concurso público – previsto no artigo 37, parágrafo2º, da Constituição Federal –, pois não torna válidas as contratações indevidas, mas apenaspermite o saque dos valores recolhidos ao FGTS pelo trabalhador que efetivamente prestou o

serviço devido.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

O plano da eficácia é meramente acidental. Ele somente serárelevante se os sujeitos do ato negocial criaram autolimitaçõesà autonomia da vontade. Nesse plano são produzidas cláusulasmeramente acessórias, que, entretanto, quando inseridas no atonegocial existente e válido, têm o condão de delimitar, retardarou condicionar seu pleno efeito jurídico.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

O termo é uma cláusula que subordina o efeito do negóciojurídico a evento futuro e certo. Diz-se, então, existente umcontrato a termo quando as partes convencionam que eleterminará em data predeterminada.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

A condição é uma cláusula que, derivando exclusivamente da vontade

das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

Exemplo claro de aplicabilidade da condição no direito do trabalho é visível

no § 2º do art. 475 da CLT, segundo o qual o empregador pode contratar portempo determinado, certus an et incertus quando, um empregado, substitutode outro colaborador que está com o contrato de emprego suspenso por contada percepção de benefício por incapacidade. Como é impossível definirexatamente qual seria o limite temporal do referido ajuste, a lei autoriza quecontratante e contratado estabeleçam uma condição resolutiva que fará cessarautomaticamente o vínculo quando o trabalhador afastado retornar a suas

atividades

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

Outro exemplo muito aplicado no campo do direito do trabalho diz

respeito à outorga de alguns complementos salariais criados por força daautonomia privada. Recorde-se que muitos empregadores costumam criarprêmios condicionados a um período de observação. Imagine-se, porexemplo, que um empregador crie um prêmio de assiduidade em favor dequalquer empregado que não falte injustificadamente ao serviço. Depois doprimeiro ano de observação, o empregado que cumprir a condiçãosuspensiva fará jus ao benefício.

O contrato de emprego e a tricotomia existência-validade-eficáciaO plano da eficácia

O encargo é uma determinação acessória que impõe um ônus lícito e possível em

detrimento da concessão de uma vantagem. Trata-se de um elemento acidental somentevisível em negócios jurídicos celebrados a título gratuito, por exemplo, nos contratos dedoação ou de comodato ou, ainda, em atos jurídicos de disponibilidade como,ilustrativamente, nas disposições testamentárias.

Os contratos de emprego, consoante mencionado alhures, são ajustes realizados atítulo oneroso, o que os torna imunes à determinação de encargos. Ademais, sendosinalagmáticos os contratos de emprego, não há espaço para a imposição de ônusadicionais além daqueles que já integram o ajuste. Isso quebraria a lógica dacontraposição equilibrada.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade

A invalidade é um gênero que abarca as espéciesnulidade e anulabilidade, na forma dos arts. 166 e 171do Código Civil.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade

Haverá nulidade quando a sanção normativamente imposta retirar,sem possibilidade de confirmação, todos os efeitos do negóciojurídico praticado ou parte deles (vejam-se os arts. 166 a 170 doCódigo Civil). Produz efeitos ex tunc.

Haverá anulabilidade quando a sanção normativamente infligidacondicionar a validade do ato jurídico maculado à prática de atos deconfirmação que contenham a substância do negócio celebrado e avontade expressa de mantê-lo (vejam-se os arts. 171 a 184 doCódigo Civil). Produz efeitos ex nunc.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade

CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa (ver também o art. 9º da CLT);

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade

CLT, Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atospraticados com o objetivo de desvirtuar, impedir oufraudar a aplicação dos preceitos contidos na presenteConsolidação.

Violar a CLT, portanto, significa produzir ato nulo, e nãomeramente anulável.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for nasubstância e na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente seconferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou peloMinistério Público, quando lhe couber intervir.

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídicoou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que arequerimento das partes.

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso dotempo (ver também o art. 9º da CLT)

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando ofim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

A invalidação do negócio jurídico: anulabilidade

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores (seinfringente de preceito contido na CLT é ato nulo, conforme art. 9º do diploma trabalhista).

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa demantê-lo.

Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor,ciente do vício que o inquinava.

A invalidação do negócio jurídico: anulabilidade Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dosarts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse odevedor.

Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validadose este a der posteriormente.

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia deofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo ocaso de solidariedade ou indivisibilidade.

A invalidação do negócio jurídico: do prazo decadencial para anulação

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou onegócio jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

A invalidação do negócio jurídico: anulabilidade e menoridade

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de umaobrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outraparte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior (não se aplica aos contratos deemprego porque nestes a prova da identidade é compulsória por força do art. 29 da CLT).

Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz,se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga (não se aplica aoscontratos de emprego nos quais a importância paga visou à retribuição do trabalhorealizado).

A invalidação do negócio jurídico: invalidade e efeitos civis

Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes delese achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que estepuder provar-se por outro meio.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico nãoo prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principalimplica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.

A invalidação do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade

Em qualquer das hipóteses — de nulidade ou de anulabilidade — éimportante atentar, no âmbito dos contratos de emprego, para aponderação magistral feita por Evaristo de Moraes Filho:

“Por ser de trato sucessivo, tanto a nulidade quanto a anulabilidade somente se fazem sentir nocontrato de trabalho ex nunc, como acontece com a simples resolução, do momento do seupronunciamento para o futuro, sendo válidos os atos praticados no passado. Quer baseado noenriquecimento ilícito, com empobrecimento alheio, quer baseado na existência da relação detrabalho independente do contrato, o fato é que os efeitos da nulidade não são ex tunc, desde o iníciodo contrato. Falha aqui o cânone usual quod nullum est, nullum effectum producit, porque é de todoimpossível fazer as prestações e as contraprestações voltarem ao status quo ante da sua execução”

(MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 1986, p. 274).

A invalidação do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade

Nesse sentido posicionou-se também Pontes de Miranda, emseu prestigiado Tratado de direito privado, ao sustentar que,

“embora nulo o contrato individual de trabalho, se otrabalho foi prestado, tem de ser retribuído como seválido fosse”

Particularidades da invalidade do negócio jurídico de emprego

1ª) A nulidade jurídico-trabalhista possui efeitostendentes a restabelecer a situação existente antes daprática do ato nulo – exemplo é o art. 468 da CLT.

2ª) Há circunstâncias, porém, em que a nulidade doato dá ensejo à emersão da forma contratual ordinária,como as contratações que exigem a observância daforma escrita – exemplo art. 428 da CLT.

Particularidades da invalidade do negócio jurídico de emprego

3ª) Há situações extremas em que a nulidadetornará sem nenhum efeito o ajuste, como assituações em que o objeto do contrato é umaatividade ilícita.

Particularidades da invalidade do negócio jurídico de emprego

4ª) Para evitar a secular ironia summum jus, summainjuria, ou seja, para evitar que o excesso de justiçapossa produzir grande injustiça, a nulidade dos contratoscelebrados com agentes incapazes lhe devemproporcionar o direito a todas as parcelas decorrentesdo ajuste, mas todas elas devem ser atribuídas a títuloindenizatório. Aplicação e inteligência do art. 182 doCódigo Civil.

Particularidades da invalidade do negócio jurídico de emprego

5ª) Os contratos celebrados sem concurso públicodeveria conduzir à aplicação do entendimento contido noart. 182 do Código Civil, mas a jurisprudência consolidadana Súmula 363, TST, entendeu por bem apenas conceder,com natureza indenizatória, apenas os salários não pagose o FGTS.