novo jornalismo, cmc e esfera pública

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    Novo jornalismo, CMC e esfera pblica

    Joo Carlos CorreiaUniversidade da Beira Interior

    ndice

    1 Introduo . . . . . . . . . . . . . 12 Internet e espao pblico . . . . . 13 1) As Comunidades virtuais como

    elemento de dinamizao do es-pao pblico . . . . . . . . . . . . 3

    4 2) Novas tendncias do jornalismoon-line e espao pblico . . . . . . 5

    5 Crticas e suspeies . . . . . . . 106 O espao pblico mediatizado . . 127 Bibliografia . . . . . . . . . . . . 16

    1 Introduo

    Se houvesse um trao que tivssemos quepor em destaque no vasto campo de estudoque tem vindo a crescer a propsito das re-laes entre tcnica, comunicao e socie-dade seria o facto de que uma parte consi-dervel do esforo de produo discursiva esimblica e de transmisso e criao da cul-

    tura foi delegado para processos que impli-cam uma interaco entre os homens e asmquinas. No interior de um contexto deanlise do modo especfico de criao de sig-nificados e de transmisso de cultura dif-cil omitir a diferena significativa na aborda-gem desenvolvida pelas tecnologias da co-municao, enquanto indutora de transfor-maes civilizacionais que lhe so contem-

    porneas. Esta abordagem torna-se parti-

    cularmente sedutora e significativa quandoolhamos de modo particular para as relaesentre os novos media e cidadania.O que se pretende, neste texto, respondera duas questes fundamentais: a) Tendo emconta o papel estruturante da comunicaona definio e configurao do espao p-blico mediatizado quais so as novas formasde jornalismo e as novas formas de associ-ao possveis na Internet que permitam re-pensar aquele conceito? b) Como aceitar oimpacto que as novas tecnologias tm no jor-nalismo de um modo que seja possvel pen-sar em formatos que ainda possam ser consi-derados como sendo jornalismo?

    2 Internet e espao pblico

    H vrias conceitualizaes de esfera p-blica que conheceram uma consagrao im-portante nos estudos sobre as relaes en-

    tre comunicao e poltica. Uma primeira,de Hannah Arendt relacionada com a ideiade virtude cvica configurando-se como umaespcie de recuperao do ideal contido noespao pblico grego (Arendt, 1996, 198).Para uma segunda concepo, mais centradana modernidade, e estudada em perspectivasdiversas por Tarde, Dewey, Blumer, Gould-ner e, mais recentemente, por Habermas, a

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    nova esfera pblica surge como uma formaemergente de sociabilidade que, no limite,aspira a modelar o agir poltico. O princ-pio da publicidade, sob o fundamento de umpblico de pessoas privadas, educadas e ra-cionais, que desfrutam a arte e utilizam aimprensa como medium, configura-se comoexercendo uma funo absolutamente crticacontra a praxis secreta do Estado (Habermas,1982). Assim, por esfera pblica pretende-sesignificar, antes de mais, um domnio da vida

    social onde a opinio pblica pode formar-se. Uma poro da esfera pblica surge sem-pre que constituda uma situao conver-sacional na qual pessoas privadas se juntampara formar um pblico. No conceito mo-derno de espao pblico estamos a falar deuma entidade espcio-temporal onde os ci-dados se juntam livremente e tm conversasde modo aberto acerca de assuntos de inte-resse pblico (Kim, 1997, 5). Numa linha

    que retoma algumas semelhanas, Gouldnersustenta a necessidade de um espao clara-mente definido e seguro onde se podem de-senvolver conversas face-a-face acerca dasnovidades e do sentido que elas possam ter(cfr. Gouldner, 1976, 98).Daqui resulta, atravs de uma idealizaocrescente em relao modelo histrico do s-culo XVIII, a generalizao de um modeloabstracto chamado situao ideal de dis-curso, onde todas as vozes relevantes po-dem ser escutadas, onde a conversao mantida graas ao respeito por uma normade organizao do discurso que remete parao uso do melhor argumento de que dispomosno nosso presente estado de conhecimento(Nielson, 1990, 104) e onde todos os par-ticipantes intervm numa situao de reci-procidade igualitria (Benhabib, 1992, 88).Nesta concepo de espao pblico, fran-

    camente referida, com abundncia de argu-mentao, a importncia da imprensa na cri-ao da esfera pblica burguesa nos scu-los XVII e XVIII. Para Tarde, o pblico nopodia existir sem um texto partilhado, re-gularmente publicado e geralmente acess-vel. (Kim, 1997, 25). Simultaneamente, Ha-bermas sempre sustentou que o pblico bur-gus, descrito na sua obra clssica, cresceragraas publicao regular de informaomercantil e financeira (1982, 16). Tal como

    Tarde explicaria a Imprensa unifica e revi-gora a conversao, elevando-a a um nvelque transcende a mera tagarelice (1898, 19-20). De certo modo, tornar-se-ia numa re-presentao do povo, sendo os olhos e ouvi-dos do povo quando este no podia ver nemouvir por si prprio, ou mesmo falar por siprprio. Aos olhos de Dewey, a vigilnciaexercida sobre o poder significava um uso daImprensa que ajudava a produzir um pblico

    organizado e articulado necessrio para a de-mocracia (in Page, 1996, 2).Um dos pontos convergentes destas anlises a interaco dialgica. A interaco surgesempre implcita ou explicitamente referidacomo aco comum desenvolvida e parti-lhada pelos membros de um grupo e entreo medium e os membros desse grupo, ten-dente a realizar e a concretizar os seus pro-jectos ou apresentar as suas opinies; a reagirperante os projectos e opinies alheias; a co-municar e expor entre si os seus argumentos,procurando legitimar as suas aces e enun-ciados ou a questionar a legitimidade dasaces e enunciados alheios em funo dasua maior ou menor racionalidade intrnseca.(Correia, 1998, 8) Na forma de sociabilidadedefinida por pblico, verifica-se, para a mai-oria dos pensadores sociais, um modo de in-teraco centrado no confronto das interpre-

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    taes, verificando-se que as argumentaesso complexas, criticadas e enfrentadas porcontra-argumentaes (Blumer, 1987, 177).A despeito da importncia concedida im-prensa, a alegada dissoluo do espao p-blico seria tambm, de modo no menos ex-plcito, atribuda indstria meditica. co-nhecida a narrativa da perda que acompanhaesta idealizao do espao pblico, a qualvem associada ao triunfo de uma certa in-dstria meditica: o pblico leitor que pre-

    figurava o pblico poltico confronta-se, aolongo da obra de Habermas, com a narra-tiva do seu declnio, pois o raciocnio tendea converter-se em consumo e o contexto dacomunicao pblica dissolve-se em actosestereotipados de recepo isolada (Haber-mas, 1982, 191). A massificao da culturae a substituio da esfera pblica iluminadapor consumidores passivos, a transformaoda imprensa de genuna expresso da opinio

    pblica em instrumento de interesses parti-culares relacionados com os lobbies so al-guns traos do diagnstico.Neste sentido, a anlise que se fez do devirdo espao pblico pode sintetizar-se numaidealizao que resulta da tentativa, admitidapor Habermas, da constituio de um mo-delo heurstico, acompanhada quase semprepor um historial da decepo, que se sucede idealizao inicial. Assim, primeiro, foi aemergncia de uma esfera pblica que colo-cou, ainda que em termos ideais, a hiptesede comunicar o pensamento, de forma raci-onal e igualitariamente repartida, no cerneda prpria actividade poltica. Depois, foio devir espectacularizante das mensagens eo aparecimento, no lugar do pblico, dessaforma de sociabilidade heterognea e indife-renciada que designamos por massa. Final-mente, so as redes que dimensionam a co-

    municao em termos universais. Ao mesmotempo que esta tecnologizao se acelerasurgem, no seio da indstria meditica, fr-mulas empresariais e comunicativas que pos-sibilitam uma relao estreita com os pbli-cos. o que acontece com os media interac-tivos, nomeadamente a Comunicao Medi-ada por Computador (CMC) que muitas dasvezes emergem acompanhados por uma es-pcie de saudosismo em relao quer agoragrega, quer ao espao pblico burgus.

    No contexto desta narrativa, os novos media,designadamente a Internet, vieram fazer re-montar uma inflao de esperana alimen-tada por possibilidades ainda escassamentetestadas. De uma forma generalizada, podedizer-se que cada nova tecnologia foi sem-pre olhada de um modo que acentuava assuas componentes malficas ou mrificas nasalvao ou danao da poltica e da cul-tura. Apanhada no conhecido fogo de bar-

    ragem que coloca de um lado apocalpticose, do outro, integrados, a Internet no esca-pou intransigncia que normalmente acom-panha estas controvrsias. Os campos debatalha escolhidos pelos advogados das par-tes conflituais centraram-se em dois aspectosespecficos: o primeiro diz respeito gera-o das famosas comunidades virtuais; o se-gundo diz respeito ao chamado Webjourna-lismo.

    3 1) As Comunidades virtuaiscomo elemento de dinamizaodo espao pblico

    No que respeita s comunidades virtuais,procura-se, hoje, destacar o seu papel sal-vador da interaco que a cultura de mas-sas dissolvera. Com efeito, neste momento,

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    os news groups da Internet, chats, MUDs(Multi-User Dungeon) e, ainda, os MOOs(Multiuse Object Oriented ou, para alguns,Multiuse Object Oriented systems), MUVE(Multi-user virtual environment) e MUSH(Multi-user shared hallucination) - estas l-timas, realidades virtuais hos-pedadas em computadores, normalmenteoperando por Telnet, completamente base-ados em texto e, por vezes, dotadas deum humor e capacidade de fantasia dignas

    de relevo na descrio sempre escrita doscomponentes fsicos do ambiente, na auto-representao dos personagens e at dos ob-jectos imaginrios com que se confrontam -so promovidos ao estatuto de uma esferapblica emergente que renovaro a demo-cracia do nosso sculo. Podemos falar deum novo tipo de sociabilidade, que se tra-duz na proliferao de pequenos mdios egrandes grupos onde se realiza a simbiose

    da fragmentao ps-moderna do espao p-blico com os avanos da microelectrnica.No de admirar que a NET tenha sido ad-mirada e glorificada como o veculo, por ex-celncia para o discurso livre e para o debatepblico.Hoje a comunidade j no tem o mesmosignificado que tinha quando Tnies proce-deu sua definio clssica e encaradacomo sendo composta por indivduos quepartilham interesses comuns, normalmenteassentes em laos estabelecidos distncia(Wellman, 1999,133). A proximidade geo-grfica deixa de ser necessria para as rela-es comunitrias medida que a tecnologiapermite que certos laos primrios se desen-volvam atravs de distncias cada vez maisvastas. Os critrios utilizados por diversosautores para testar a fora e a durabilidadedos laos estabelecidas na rede demonstra-

    ram que o conceito se podia aplicar a mui-tas das realidades disponibilizadas pela In-ternet. Reihngold (1993) usa o termo tribosem tempo real para fazer a descrio da In-ternet Relay Chat. Barry Wellman indica queas tecnologias da informao facilitaram odesenvolvimento de redes sociais suportadaspor computadores que se tornaram bases im-portantes para o desenvolvimento de comu-nidades virtuais. (1999, 213). Jones sustentaa existncia de comunidades virtuais como

    espaos sociais nos quais as pessoas se en-contram face a face mas nos quais os termosencontrar e face a face ganham um signifi-cado novo. Sherry Turkle (1995, 88) recorre existncia de regras e de regulamentos co-dificados e partilhados para definir os MUDscomo comunidades on line. Em todos es-tes casos, o que se sublinha que a comu-nidade de interesses, gostos e prefernciasprevalece sobre a partilha de um espao ge-

    ogrfico. Com efeito, a comunidade virtualparece enfatizar uma comunidade de interes-ses relacionada com o assunto em discussoque pode conduzir ao fortalecimento do es-prito comunitrio. Num certo sentido, a co-munidade est, para alguns autores (Wolton,1995, 169) em condies de perder a sua di-menso regressiva e tradicionalista para ad-quirir uma abertura e uma porosidade es-senciais que permitem articular a dimensocosmopolita da argumentao e da racionali-dade com a dimenso hermenutica da exis-tncia concreta num mundo da vida parti-lhado. Conseguir-se-ia, assim, a abertura comunidade sem esquecer a insistncia noesprito crtico e na ideia de cidadania (Cor-reia, 1998, 162). Conciliar-se-ia a pulso daunidade que anima a ideia de comunidadecom a ideia de tenso para a pluralidade queanima o espao pblico. Deste modo, a rela-

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    foram prontamente desmentidas pelas nicasfontes que se podiam considerar credveis namatria de facto da notcia. Apesar disso, atendncia detectada no parece dar mostrasde abrandar. Hoje, as grandes agnciasinternacionais (Associated Press, Reuters,etc.) assinaram lucrativos contratos comalguns dos maiores websites como o Yhaoono sentido de uma distribuio directa dehistrias ligadas ao servio noticiosos. Oconceito de Breaking News (notcias de

    ltima hora) alarga-se recepo de umdespacho de agncia na caixa do correio.Um outro trao que rapidamente se identi-fica a emergncia de vastas quantidadesde informao, designadamente atravsda disponibilizao dos links e tpicosrelacionados e toda a vasta panplia de pos-sibilidades remissivas que o hipertexto abre.Associada interactividade e utilizaoda linguagem multimdia, a velocidade de

    circulao inaugura a era do que Jim Willisdesigna por turbonotcias (apud Bastos,2000, 60). O webjornalismo oferece umcontedo que pode ser actualizado conti-nuamente. Nesse sentido, a primeira vezna histria da comunicao que o texto im-presso informativo alcana uma velocidadepara o relato de informaes e de factos santes possvel via TV ou Rdio.Um terceiro elemento - talvez o maiscomplexo deste conjunto de elementosque se podem encontrar disponveis nasdiferentes formas de jornalismo existentesna web a personalizao: desde logoexiste a possibilidade de recolher as nossaspreferncias de um modo to exaustivo que,da prxima vez que um utilizador se dirigirao site, ir encontrar uma espcie de pginano pronto a vestir mas completamentedesenhada com as medidas previamente

    tiradas. Negroponte, nesta matria, nodeixa os seus crditos profticos por mosalheias e antev: Imaginem um futuroonde o vosso terminal possa ler qualquerjornal e captar todas as TVs e rdios queexistem no planeta, construindo uma agendapersonalizada. Tratar-se-ia de um jornalcom uma edio de um nico exemplar(1995, 153).Nesta matria, a questo do hipertexto ,naturalmente, uma das mais interessantes

    pelos desenvolvimentos que abre. Tecni-camente, o hipertexto um conjunto dens ligados entre si, podendo estes nsser palavras, pginas, imagens, sequnciassonoras ou documentos (cfr. Bastos, 2000,25). A utilizao do hipertexto abre asportas a formas de jornalismo onde asnoes clssicas de leitura so desmontadase onde a possibilidade generalizada deremisso desencadeia a utilizao do texto

    por um leitor mais activo e mais participanteque pode fazer explodir as relevnciaspreviamente traadas por um jornalistaque siga o modelo clssico da pirmideinvertida. O hipertexto comporta alteraesculturais de monta: o formato no-linear,e associativo do hipertexto incorporadono multimedia, o mundo a-preto-e-branco,esttico e uni-sensorial que resultava daexpresso escrita dando lugar a modos derepresentao multisensoriais. (Mitra eCohen, 1998180). Hoje a leitura de umtexto contm em si, de um modo evidente,a sua remisso para, virtualmente, milharesde outros textos. Com o hipertexto h umapelo implcito remisso, sendo que esta jno uma simples referncia mas pode serum outro texto integral ou, segundo a noode hipermedia, uma imagem ou um registosonoro. No limite, podamos imaginar

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    um sistema de referncias cruzadas quepodiam quase apontar para a dissoluo dasfronteiras tradicionais entre artes e ofcios.Nesse sentido, h muitos autores que defen-dem o abandono dos sistemas conceptuaisbaseados em noes como centro, margem,hierarquia e linearidade, substituindo-ospor ns, redes e conexes (Landow, 1992,14). Qualquer texto concebido hipertextu-almente inclui informao visual, sonora eoutras formas de informao, abrindo todo

    um universo de possibilidades. MichaelHeim imagina uma obra literria cujasnotas de rodap pudessem ser aberturaspara sinfonias, filmes, anncios e perascom todos os vice-versa e combinatria dereversos possveis (Heim, 1993, 89). Deum outro modo, a ruptura da linearidade susceptvel de ser pensada dum modoem que o rodap pode ser uma varivel dahistria principal, o acrescento de elementos

    acessrios ao que se entende ser principal.As possibilidades metalingusticas podemmultiplicar-se, de tal modo que o texto podevirar-se sobre si prprio, assinalando oslaos, as estruturas recorrentes e as auto-referncias. Do mesmo modo, o jornalismona web (webjournalismo) pode ser umacombinatria de elementos multimedia, ede participao de leitores em tempo real,em que noes de relevncia tidas comorelativamente estabelecidas a propsito dapirmide invertida ou dos critrios de noti-ciabilidade ou da funo de agendamentoparecem ganhar uma dificuldade acrescida.(E) a notcia na Internet pode apresentaruma estrutura comum de outros media,mas introduz a complexidade e, sobretudo,a aleatoridade com o hipertexto aplicado narrativa, que coloca nas mos do leitorparte da construo do sentido de uma forma

    individualizada (Bastos, 2000, 57). Comefeito, se o hipertexto composto de textosrelacionados entre si, sem que exista umeixo orientador da organizao, cada utili-zador do hipertexto faz dos seus interessesprimordiais, o eixo orientador das suas es-colhas. Basta para tanto, que as informaesnormalmente remetidas para o fim possamser percorridas como as mais importantes.Cada acto de recepo de uma notcia podiadeterminar para cada leitor, uma estrutura

    de relevncias diferente, pelo que, graasao percurso que este sistema de relevnciadesencadeia, s um lead muito sumrio iriasobreviver. Neste plano as tarefas do prprioprofissional tero de sofrer alteraes: ojornalista ter que escrever de forma nolinear quando escreve um texto para ser pu-blicado na Internet, principalmente quandose trata de um texto extenso. A leitura nocomputador cansativa e os utilizadores no

    gostam de ler grandes conjuntos de texto.Por isso, as notcias mais extensas devemutilizar links ou hiperligaes . Ser o leitora decidir as partes do texto que quer ler semter que seguir a ordem linear. Esta prticapressupe uma nova forma de escrever edeve incentivar os jornalistas a investigarema melhor forma de estruturao de textoson-line para permitirem ao utilizador umaboa e profcua leitura.Neste sentido, h uma questo que desdelogo vale a pena discutir: se o hipertextoe a interactividade se cruzam qual ser opapel deixado autoria no texto jornalstico?Poderemos falar de autoria colectiva?Um elemento que merece uma anlisecuidadosa a celebrrima ideia de inte-ractividade. Um dos mais importanteselementos da comunicao mediada porcomputador a sua habilidade para permitir

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    o dilogo de muitos com muitos e a suacapacidade para facilitar a comunicaoentre grupos e indivduos geograficamentedispersos. Os webdesigners tm ao seudispor uma quantidade de tecnologias inte-ractivas que incluem alm de ligaes comoutras histrias, o contacto com jornalistasatravs de correio electrnico, chats, fruns,informaes biogrficas sobre os colunistas,bases de de dados e arquivos de udio evdeo. A acrescentar a estas possibilidades

    o peer-to- peer e o slashdot oferecem-secomo oportunidades de ultrapassar a relaorgida e piramidal que alegadamente temsido a relao dos media de massa comos seus leitores. Segundo Catarina Moura(2002), o conceito de peer-to-peer entendea partilha de recursos e servios atravs detroca directa entre sistemas. O princpio foiaplicado ao jornalismo dando origem ao jor-nalismo open source. Indiciando desde logo

    uma mudana fundamental no jornalismocomo entendido e praticado, esta ideiatem vindo a concretizar-se em sites como oSlashdot (http://slahdot.org).Situado entre awebzine e o frum, o Slashdot representao que muitos consideram o incio da era dojornalismo open source. (Moura, 2002.) Oslashdot surge como uma forma de difusode informao na NET, onde so cobertashistrias e ensaios inseridos pelos leitores.A equipa do slashdot introduz as histriasque sero editadas no site e aberto umfrum de discusso onde os leitores podemparticipar em tempo real debatendo tema emanlise. Assim, a participao do pblicona construo da notcia, seja atravs dasugesto de temas de reportagem, ou deinformaes sobre determinado assunto queo pblico faz chegar aos jornalistas, cadavez mais fcil e tambm mais frequente.

    Logo que a notcia publicada, o leitorpode apresentar os seus comentrios sejasobre o assunto alvo de notcia, ou o prpriotrabalho dos jornalistas (cfr. Barbosa, 2001).O Slashdot (http://www.slashdot.org) e ou-tras pginas similares como Kuro5hinhttp://www.kuro5hin.org) e Plastic(http://www.plastic.com), obtiveram umsucesso bastante significativo. Com di-ferentes abordagens no que respeita aocontrolo editorial, tm traos em comum.

    Em primeiro lugar, qualquer pessoa podecolocar um artigo. Em segundo lugar todoscomentam os artigos. Finalmente o mtodode filtragem de artigos e de comentriosbaseiam-se em taxas de leitura. Alm destetipo de sites temos a recente invaso de blogse de personal web logs que leva alguns aacreditarem que selfpublishing ser o futuroda Net. Assim, como afirma Canavilhas(2000) citado por Barbosa (2001) A notcia

    deve ser encarada como o princpio de algoe no um fim em si prpria.

    A conjugao destes mecanismos podetraduzir-se numa vasta quantidade de con-sequncias com implicaes na apreciaoclssica do jornalismo. As abordagenstericas da mass communication researchainda so, na sua maioria, pensadas emfuno de formas do jornalismo tradicional.No que toca ao efeito de agenda, no irrealista supr-se que a sua fixao sejaobjecto de uma luta no qual intervm outrosagentes para alm daqueles a quem, tradi-cionalmente, compete a redaco e ediofinal. No limite, o direito de resposta podeganhar os contornos de uma aco colectiva.Quanto anlise da produo noticiosaalguns dos numerosos constrangimentos quenela intervm podero conhecer alteraes

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    substanciais. Desde uma at uma maiorinterveno dos pblicos, atravs do prolon-gamento da discusso nos fruns disponveisat possibilidade dos leitores dinamizaremo direito de resposta de modo a exercer pres-so em torno de um determinado interesseou pretenso, abrem-se um conjunto depossibilidades que, eventualmente, poderoalterar rotinas e modos de tipificar prpriosde cada medium.A ideia de que a rede no tem centro tendo,

    antes, permanentemente, vrios centros fere,restando ainda saber com que profundidade,a ideia de uma mensagem construda emfuno de uma percepo hierrquica daimportncia decrescente da informao.Ou seja, implica a relativizao do formatotradicional da pirmide invertida, a qual,como sobejamente conhecido, a met-fora que traduz a representao clssica danotcia, construda precisamente segundo

    um mtodo que traduz a ordem decrescentede importncia dos factos relatados. Ascaractersticas do hipertexto j referidas(a organizao em fragmentos, a possibi-lidade de o utilizador possuir uma relativaliberdade de escolha na relao entre essesfragmentos, a fluidez e riqueza das sualigaes) remetem para uma certa errncia eausncia de linearidade.Finalmente, a possibilidade de introduode imagem e de som refora uma compo-nente narrativa que pode fazer realar oselementos mais directamente relacionadoscom os topos prprios dos gneros ligadosao espectculo do que com as caractersticasclssicas atribudas notcia. Porm, nadaimpede que o hipertexto e a utilizao detecnologias multimedia no possam serindutoras de processos onde se verifiquemum acrscimo de rigor e de aprofundamento.

    A possibilidade de ligao a bases de dados,a arquivos informatizados e a utilizaode motores de busca podem tambm seruma poderosa ferramenta no sentido de au-mentar a contextualizao, a quantidade deinformao em background, a mobilizaode dados adicionais e a possibilidade deprocedimento por associaes no sentidode escapar a uma rede de facticidade cen-trada no acontecimento em si. Elementoscomo arquivo, recursos ou material de

    referncia so vantagens bvias de umapublicao digital, que pode alimentar-sedo imenso e crescente capital informativoarmazenado nas extensas bases de dadosque se estendem em rede por todo o mundo.Em termos de contedo, essa vantagemtraduz-se desde logo pela possibilidade desolidificar a informao publicada dispo-nibilizando links que permitam ao leitoruma percepo muito mais aprofundada do

    assunto. Deste modo, o texto passa a tervrios nveis de leitura (layers, segundoM. Deuze), algo que o jornal tradicional nopode oferecer (Moura, 2002).Num certo sentido, o jornalista ganharuma dimenso diferente na medida em que,na melhor das hipteses, manter carac-tersticas de gatekeeper num universo demaior complexidade. Se assumir como sua amisso de imprimir uma certa racionalidadena produo e circulao de mensagens,ento ter de se adaptar gesto dos fluxoscomunicacionais em dimenses de espaoe tempo completamente novas. O jornalistadesempenhar ento as funes de mediadorpblico, tendo todavia que admitir-se quealgumas das concluses que os autores psmodernos adiantam em relao ao autor es suas relaes com o pblico e os leitoreslhe possam ser aplicadas.. Em todos estes

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    domnios questes como a ergonomia e aacessibilidade, em suma a arquitectura dotexto, tornar-se-o decises editorais quemarcaro, de modo indelvel, as opesseguidas por cada medium.

    5 Crticas e suspeies

    Depois de recenseadas as novidades trazidaspela CMC, importa introduzir um elementode desconfiana. Todos estes conceitos - o

    de espao pblico e o da sua relao comcertos media que dinamizaro as suas pos-sibilidades de interveno cvica - merecemuma relativizao e uma cautela que, nolimite, no deixa espao para respostas fixase definitivas.A conversao que fli na NET e a relaoentre espao pblico, comunidades virtuaise jornalismo afigura-se mais problemticado que parece. No que respeita ideologia

    neo-iluminista que perpassa pela NET ela j hoje objecto de uma reflexo crtica querelativiza algumas das suas possibilidadese identifica a incubao desta ideologianum espao capitalista centralizador que saparentemente acolhe a diversidade. ParaHerbert Schiller, um dos mais importantesautores que navega nestas guas, citadopor Tnia Soares (1999), o reconheci-mento da existncia de um novo tipo desociedade assente no valor da comunicaoe da informao no necessariamentebenfico. Schiller v os imperativos daeconomia de mercado a reforarem o seudeterminismo nas transformaes ocorridasnas esferas tecnolgica e informacional.Na verdade, o tipo de sociedade quefomenta as transformaes nas reas dainformao e da comunicao a sociedadedo capitalismo corporativo norte-americano,

    ou seja, o capitalismo contemporneo dominado pelas grandes oligoplios con-centrados nas instituies corporativasque comandam a economia e a sociedadea nvel nacional e internacional. Estarealidade oculta por conceitos fetichesque visam fazer esquecer os mecanismosinerentes ao modelo de desenvolvimento emque se funda a sociedade da informao:A batalha pelo acesso s tecnologias deinformao e comunicao surge assim no

    discurso poltico enquanto nova bandeira doprogresso, fazendo-nos por vezes lembrar -no sem uma certa comicidade anacrnica,os famosos slogans da revoluo russaem que progresso era associado fr-mula Sovietes+Electricidade=Progresso,substitudos agora pela ideia de Democra-cia+Internet=Progresso. Segundo Cardoso(1999) o discurso tecnocultural um tipode discurso que poderemos situar numa

    perspectiva da Histria das Tecnologias,vendo o mundo enquanto fruto da sucessode tecnologias desligadas do contexto socialonde as mesmas nascem e actuam, ondese focam os potenciais existentes nestastecnologias mas no se faz referncia s suaslimitaes.

    No que respeita s comunidades virtu-ais, Ed Schwartz (1994) sustenta que aschamadas serviram apenas para adicionar omecanismo final necessrio para assegurarde que nunca falaremos sobre nada com osnossos amigos prximos e com a famliadirecta. Numa palavra a comunidade global,ligada por computadores, substitui as comu-nidades onde vivemos. (Schwartz, 1994).O papel desempenhado pelas comunidadesvirtuais no eventual desenvolvimento de umespao pblico sobretudo um papel de

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    catarse, de substituto do verdadeiro sentidode comunidade e de participao. (Fernbackand Thompson, 1995). Finalmente os traosencontrados nos elementos respeitantes aojornalismo - velocidade e abundncia deinformao, personalizao, interactividade- operam de acordo com um princpiosolidamente entrincheirado na retrica dasutopias interactivas: quanto mais informa-o melhor. O objectivo de grande parte dossites acima mencionados tornar o ltimo

    bit de informao relevante para a comuni-cao e deliberao poltica na perspectivade que ele produza uma cidadania mais beminformado. A verdade que, desde logo noexiste evidncia de que a disponibilizaode uma maior quantidade de informaoproduza melhores cidados. Alguns estudose possibilidades tericas apontam mesmopara o contrrio. Com efeito, parece serpossvel relanar a hiptese levantada por

    Robert King Merton e Paul Lazersfeld, em1948 em Comunicao, Gosto Pessoal eAco social organizada a propsito dardio e estend-la ao jornalismo on line. Ahiptese de Merton e Lazersfeld consistiana existncia de uma disfuno narcotizanteda comunicao a qual se traduz no factode as audincias se enganarem acerca dasua participao cvica, pensando que,pelo facto de estarem informadas, estarempoliticamente intervenientes (Merton eLazersfeld, 1987). No limite, graas a estadisfuno, podia haver uma relao inversaentre o aumento da informao e o aumentoda participao cvica. A superabundnciade volume noticioso que circula na NET dorigem a uma corrente terica segundo aqual quanto mais quantidade de informaoexiste, menos sentido e compreenso seobtm acerca dos factos relatados. Esta

    corrente expressa-se em termos como datasmog de Shenk (1997) e garbage informa-tion de Herbert Schiller (1976). A questoque se coloca de saber se esta presenade informao abundante quase fornecidaem tempo real no uma causa possvelde crises de mediao que se traduzem naausncia de um distanciamento crtico, deuma conferncia exaustiva dos factos e daausncia de comentrio. Nesse sentido paraKatz , chegar mais perto parece significar

    ver menos e a combinao de notciasinstantneas e ausncia de anlise minao jornalismo crtico. (Katz, 1992, 12).Ora, evidente que o jornalismo on-line,seja ele complementar, seja ele produzidodirectamente para a Internet, refora estaacelerao na distribuio momentnea denotcias. Como faz questo de sublinharSylvia Moretzsohn (2002) depois da velhaideia de que o pblico tem o direito de

    saber para poder tomar suas decises,sugere-se que o pblico precisa saber cadavez mais rpido, porque esse o ritmo domundo. A qualidade a identificada com arapidez na transmisso da informao.Na tese de Mestrado de Moretzsohn, cuja si-nopse est disponvel na BOCC, pretende-sedemonstrar a hiptese de que a velocidade um fetiche, no sentido marxista, segundo oqual o produto do trabalho, to logo assumea forma de mercadoria, passa a ter vidaprpria, a valer por si, escondendo a relaosocial que lhe deu origem. No jornalismo,a velocidade passa a ser o principal valornotcia: antes de tudo, importa chegarna frente do concorrente, e alimentar osistema com dados novos, num continuumvertiginoso a pautar o trabalho nas gran-des redaces, que, alm dos tradicionaisprodutos impressos dirios, oferecem si-

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    multaneamente servios de informao emtempo real. Esta questo j fora postacom pertinncia por Joo Almeida Santos apropsito do fenmeno do zapping que temsemelhanas com o surfing que praticamosna NET. De facto, a velocidade de circulaode informao aliada ao hipertexto gera ansia de tudo ver e saber ao mesmo tempo.Mas sem critrios, sem hierarquia, semprogramao. Simplesmente, ver. (Santos,2000, 16). Conhecer o real implica um

    esforo reflexivo e uma grelha conceptual: ohomo cibernauticus conta muitas imagens,muitas opinies, muitos factos, muitosfragmentos de cultura, muitos fragmentosde saber. S que este um contacto muitasvezes catico. O excesso de informaoanestesia, produz efeitos de habituao.Anula. Tal como a acelerao excessivatende a produzir cegueira e esquecimento. Oque sobra em acelerao e abundncia falta

    em distanciamento crtico, pausa reflexiva,em exerccio analtico e em memria. (cfr.Santos, 2002, 22; 42).Do mesmo modo, no claro que a perso-nalizao e a interactividade se traduzamnecessariamente numa vantajosa dinamiza-o da cidadania. Para muitos, enquantoos jornais de ontem serviram para integraras comunidades nacionais, os jornais futu-ros, to personalizados quanto Negropontsonha, serviro para integrar especialmentecomunidades de consumidores, j que taismedia serviro essencialmente para osanunciantes e os fornecedores de contedosdesenvolverem informao direccionada emfuno dos seus interesses comerciais. Osindivduos isolar-se-o do mundo que osrodeia. De certo modo, cada um construira sua priso informativa. Deste modo,diversos autores tm vindo a preocupar-se

    com o que classificam de casulagem demassa e autismo em linha (Rheingold,1993), referindo-se deste modo a umapercepo contextualizada do mundo ondea capacidade de seleco e a comunidadeinterpretativa se reduzem presena deuma nica pessoa. Negar-se-iam as chavesnecessrias compreenso de uma realidadeque no apenas virtual, transformar-se-iamas relevncias complexas que estruturam omundo da vida em funo das relevncias

    consideravelmente mais empobrecidas queresultam dos interesses imediatos de cadaum.

    6 O espao pblico mediatizado

    A resposta a estas dvidas s pode serencontrada, pensando num modo diversode espao pblico e das suas relaes coma CMC. Hoje, a esfera pblica mais

    complexa e multifacetada, tornando-se aarena privilegiada de uma luta simblicapela definio das realidades sociais. Poroutro lado, o funcionamento das novas for-mas de cidadania e, consequentemente, osresultados desta luta simblica est cada vezmais relacionado com os media, sendo que aopinio pblica no tem necessariamente dese fazer apesar da presena dos media, mascom recurso a eles (Katz, 1995, 85-87). Adinamizao de uma instncia independentedas lgicas do poder e da economia exige apresena de uma sociedade civil que cadavez mais uma sociedade de comunicao.Esta noo implica assumir que muitos dosconflitos que se desenvolvem na sociedadeocidental j no so apenas dependentesapenas das esferas de reproduo material,mobilizando-se tambm em torno dasquestes relacionadas com a reproduo

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    cultural, pela socializao e pelos direitosindividuais. O jornalismo feito na Webcorresponde decerto s necessidades levan-tadas por muitas destas transformaes. Asua lgica participada pode corresponderao carcter mais fragmentado e pluralistado espao pblico contemporneo. Porm,tambm pode corresponder induo deuma entropia que desafia a ideia de delibera-o racional. Como assinala Lus Nogueira(2002) o jornalismo uma das formas de

    tratar, organizar e difundir informao, peloque tem as suas regras, constrangimentose objectivos especficos. Tem uma mor-fologia, uma linguagem, uma tica e sequisermos uma epistemologia prpria. Temos seus esquemas de funcionamento. Oque o OSJ (Open Source Journalism)vemfazer instabilizar esse edifcio que desdeh dois ou trs sculos tem vindo a serconstrudo. Isto porque toda a informao

    precisa de constrangimentos, regras, for-mas, porque, se quisermos arriscar umacaracterizao, toda ela narrativa, todaela conta histrias, carece de um incio eum fim, elementos de um cdigo sem osquais s a entropia pode prevalecer (E)por isso necessrio impor nveis e limitesna proliferao do hipertexto, enformar assuas matrias, seno algo como a infinidadedo comentrio do comentrio do comentriosurge no fluxo ininterrupto do discurso e dainformao - o que no limite deixa adivinhara impotncia de qualquer hermenutica ouconsenso(Lus Carlos Nogueira, 2002).Esta observao conduz-nos necessaria-mente questo: que configuraes poderter o jornalismo na WEB que lhe permitacontinuar a considerar-se como jornalismo,sem se dissolver em formas comunitriascompletamente entrpicas donde esteja

    arredia qualquer mediao e que por isso setraduzam na circulao de informao quepassa a uma velocidade exponencial, semcritrio, sem escolha, inundando o potencialconsumidor com dados cuja hierarquiade importncia e cujo critrio de escolhadesapareceram?

    a) Desde logo, o jornalismo poder re-tomar pelo menos alguns dos seus aspectosenquanto jornalismo de causas. No por

    caso que os entusiastas dos logs e web logsconsideram o self publishing o futuro daInternet: ou seja, haver, de certo modo,um regresso ao publicismo e ao jornalismode opinio. O sculo XIX terminou, graas publicidade, com o jornalismo de opi-nio. Surgiram um conjunto de gneros(a notcia, a reportagem), que implicarama formao de normas organizacionais,convenes narrativas, modelos de gesto

    industrial e o aparecimento de profissionaisespecializados. O advento deste modo dejornalismo, qual no pode deixar de estarassociada a ideia nova de objectividade,matou o jornalismo de opinio, o publicismode que falava Tarde. A industrializaodo jornalismo criou, no tenho dvidas, ascondies para que a notcia se tornasseuma mercadoria e Simmel melhor do queningum j compreendera no sculo XIXcomo o dinheiro criava desenraizamento edescontextualizao. O jornalismo on-linepode, pelas condies tcnicas de quej falamos anteriormente, dar origem auma nova forma de jornalismo, ligado aosmovimentos sociais, democratizao e afirmao cvica das comunidades, quealguns chamam de jornalismo cvico masao qual eu gostaria de chamar jornalismocomunitrio. Proliferaram, copiosamente,

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    exemplos de utilizao da Net para lutaspolticas, como sucede com o exemplo bemconhecido do movimento zapatista, de usode BBSs em Tienanmen e nos movimentosda sociedade civil que originaram a quedados regimes integrados no Pacto de Varsvia,da exposio pblica na rede, por parte deorganizaes sindicais, das condies de tra-balho verificadas nos mais diversos pases,originando o boicote de produtos realizadoscom trabalho infantil e sobre-explorado,

    etc. As coligaes polticas empreendidasdurante 1999 para impedir a realizao dareunio da Organizao de Comrcio Livreem Seattle ou o recente recurso de dois acti-vistas ingleses Internet para o lanamentode uma campanha contra a McDonalds,acusando-a de envolvimento no extermniode espcies animais e de atentados sadepblica - um tema tpico das novas agen-das - j deram provas das potencialidades

    ainda inexploradas dos novos media. Nesteltimo caso, o website criado para o efeito(http://www.envirolink.org/mcspotlight/home-.html) foi acedido cerca de doze milhesde vezes e deu origem a uma cooperaocom media tradicionais na investigaojornalstica. Uma anlise da histria daimprensa radical, comeando com ospanfletrios dos sucessivos perodos revo-lucionrios, demonstra que, apesar do seuformato reduzido e da sua ausncia quasegeneralizada das histrias do jornalismo, osmedia alternativos (Downing, 1995, 240)desempenharam papis significativos na his-tria das respectivas comunidades polticas,designadamente dando voz a perspectivascentradas na defesa dos direitos humanose das minorias: abolicionistas, feministas,defensores dos direitos civis, etc. Hoje,muitas destas possibilidades so exploradas

    ao nvel dos novos media: as Boston Gazettee Pre Duchaise de hoje circulam, muitasdas vezes, no World Wide Web. Com efeito,devemos admitir que as novas configuraesdo capitalismo tm uma relao profundacom a dimenso simblica e comunicacionalmas os utilizadores da Internet no someros consumidores e produtores de in-formao mas seres eminentemente sociaisque como tal procuram tambm, atravsdo uso dos servios telemticos, pertencer

    a um grupo, afirmar as suas convicespolticas, culturais, religiosas, etc., bemcomo, apoio para as suas dificuldadespessoais ou grupais (exemplo, ComunidadeVirtual Well) (Rheingold,1993,). Nessamedida parece-nos altamente significativoo seguinte comentrio a propsito do opensource journalism: permite que vriaspessoas (que no apenas os jornalistas)escrevam e, sem a castrao da imparci-

    alidade, dem a sua opinio, impedindoassim a proliferao de um pensamentonico, como o pode ser aquele difundidopela maioria dos jornais, cuja objectividadee imparcialidade so muitas vezes mscarasde um qualquer ponto de vista que serveinteresses mais particulares que apenas ode informar com honestidade e iseno opblico que os l. (Moura, 2002)

    b) Na forma de jornalismo comunitrioque defendo tem que haver lugar para a me-diao e para a imposio de uma distnciaque impea o domnio das turbonotcias e aproliferao exponencial da quantidade deinformao relacionvel. Em vez da flunciacatica das comunidades, o jornalismocomunitrio, uma das formas possveisde jornalismo na NET ter que conter oexerccio de um mnimo de mediao que

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    permita o estabelecimento profissionalizadode formas de gatekeeping, necessariamentediferentes das tradicionais mas que impli-quem, pelo menos, a existncia de opes noque respeita relevncia relativa dos dadose das informaes. Os mediadores seroresponsveis pela existncia de um certograu de tematizao, ou seja de selecodos temas considerados relevantes para acomunidade criada em volta do medium epara a comunidade em que este se insere.

    Isso no impede a abertura comunidade,pelo contrrio. S que em vez do modeloanrquico e ldico do chat ou do MUDteremos o modelo de uma comunidadeorganizada em torno de temas com um graude especializao ou de generalizao quevai depender da opo editorial tomada apriori pelos responsveis pela edio domaterial informativo. Estes por sua vez,deparar-se-o com a interactividade graas

    ao qual os seus critrios podem ser postosem causa e substitudos. Nas possibilidadeslevantadas pelo hipertexto, tal como hojej se faz, existir uma tematizao prviaque mais uma vez depende de opesque continuam a ser opes editoriais: oshiperlinks visveis podero ganhar maior oumenor visibilidade em funo de uma ordemcrescente da importncia e da relevnciajulgadas adequadas pelos editores e pelosgatekeepers nos quais delegada a aplicaodos critrios editoriais de escolha. Osleitores podero participar de uma formaactiva podendo mesmo ser responsveis pelacolocao de mensagens ou de notcias numestilo que segue o modelo do slashdot oudo jornalismo organizado segundo o modelodo peer-to-peer. Porm, as opes edito-riais tero que definir a exigncia de umaresponsabilidade tica ao leitor/participante

    que ser obrigado a indicar um nmeromnimo de fontes explicitamente citadas deforma a serem reconhecveis e identificveiscomo condio nica e mnima para parti-ciparem na elaborao colectiva do materialinformativo. A recolha de informaopode ser feita das mais variadas formasatravs da Internet, desde a vulgar consulta participao em fruns e chats. Para evitarque a sua conduta seja posta em causa, ojornalista deve citar todas as fontes de onde

    retirou a informao utilizada no seu artigoe identificar-se sempre que se encontre numchat com o propsito de recolher material.(Moura, 2002)J no caso de material vincadamente opi-nativo, o nico critrio aplicvel ser aobedincia temtica definida. Finalmente,tero que se encontrar formas - decerto maisfceis de estudar no mbito da ComunicaoMediada por Computador - de os leitores

    poderem intervir de forma organizada nacorreco e substituio de critrios degatekeeping ou at de evitarem que oscritrios editoriais se tornem to rgidosque na prtica se tornem obsoletos. Nolimite, os responsveis editorais sero decerta forma representantes da comunidadedos leitores. Esta preocupao com aexistncia de uma mediao articulada comuma certa democraticidade na seleco dosgatekeepers surge na filosofia slashdot: se oartigo for considerado relevante e apelativo,ser escolhido e publicado por um doseditores do slashdot. que, diariamente,seleccionam entre os artigos submetidosaqueles que preenchero o site. Segue-seuma longussima troca de comentrios quetambm so seleccionados por moderadores.Porm, respondendo questo acerca desaber quem selecciona, importa acrescentar

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    que os moderadores so escolhidos pelosistema entre os utilizadores mais assduos ecom uma contribuio mais positiva.O estatuto de moderador temporrio, demodo a salvaguardar a pluralidade de ideiasque caracteriza o site. (Moura, 2002).

    c) Provavelmente, este registo em que aabertura causa e opinio dos pblicos balanceada pela existncia de uma tematiza-o, de uma tica e de formas de mediao

    mnimas, poder dar origem a um eventualnovo formato jornalstico: em vez do jornal,a comunidade noticiosa, hipermeditica,centrada em causas ou temas que constituema razo de ser da sua existncia, extrema-mente aberta participao dos pblicosque podem mesmo participar na elaboraodo material editado, mas com critrios quetm a ver com a prpria razo de ser dacomunidade noticiosa.

    Como afirmou Tocqueville (1990), semjornais no h actividade comum:: o jornal,consequentemente, representa uma associa-o, mais ou menos restrita que compostapelos seus leitores habituais.Nesse sentido, a comunidade noticiosa uma associao da sociedade civil que ex-plora algumas potencialidades do jornalismoque foram esquecidas e inibidas pelo modeloclssico da comunicao de massa. Nessesentido, jornalismo. uma forma nova dejornalismo.

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  • 7/31/2019 Novo jornalismo, CMC e esfera pblica

    21/21

    Novo jornalismo, CMC e esfera pblica 21

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