novo curso de processo civil - volume 2 - edição 2017 · tanto melhor seria o trabalho do...

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2017-04-30

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017PRIMEIRASPGINAS

destaedio[2017]

2017-04-30

destaedio[2017]

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017SOBREOSAUTORES

LUIZGUILHERMEMARINONI

Ps-DoutoradonaUniversitdegliStudidiMilanoenaColumbiaUniversity.VisitingScholarna

ColumbiaUniversity.ProfessorTitulardeDireitoProcessualCivilnoscursosdegraduao,mestrado

edoutoradodaFaculdadedeDireitodaUniversidadeFederaldoParanUFPR.ProfessorVisitante

emvriasuniversidadesdaAmricaLatinaedaEuropa.Vice-PresidentedaAssociaoBrasileirade

DireitoProcessualConstitucional.MembrodoConselhoConsultivodoInstitutoBrasileirodeDireito

Processual IBDP e da International Association of Procedural Law IAPL. Diretor do Instituto

Iberoamericano de Derecho Procesal IIBDP. Tem mais deuma dezena de livros publicados no

exterior.RecebeuoPrmioJabutiem2009efoiindicadoaomesmoprmionosanosde2007e2010.

Ex-Procurador da Repblica. Ex-Presidente da OAB-Curitiba. Advogadoe Parecerista, com intensa

atuaonasCortesSupremas.

SRGIOCRUZARENHART

Ps-DoutoradopelaUniversitdegliStudidiFirenze.DoutoreMestreemDireitopelaFederaldo

ParanUFPR.Professor-AdjuntodeDireitoProcessualCivilnoscursosdegraduao,mestradoe

doutoradodaFaculdadedeDireitodaUniversidadeFederaldoParanUFPR.Publicou10livros

umdelesnoexteriorediversosartigosemrevistasespecializadas.FoiomaisjovemJuizFederaldo

Brasil e atualmente Procurador Regional da Repblica na 4. Regio, tendo ingressado no

MinistrioPblicoFederalmedianteconcursonacional,sendoaprovadoem1.lugar.

DANIELMITIDIERO

Ps-DoutoradopelaUniversitdegliStudidiPavia.DoutoremDireitopelaUniversidadeFederal

do Rio Grande do Sul UFRGS. Professor-Adjunto de Direito Processual Civil nos cursos de

graduao,especializao,mestradoedoutoradodaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul

UFRGS.Publicou25livrosquatrodelesnoexteriorediversosartigosemrevistasespecializadas

nacionais e internacionais, dentre as quais a Zeitschrift fr Zivilprozess International e o

InternationalJournalofProceduralLaw.MembrodaInternationalAssociationofProceduralLaw

IAPL,do Instituto IberoamericanodeDerechoProcesal IIBDPedo InstitutoBrasileirodeDireito

ProcessualIBDP.RecebeuoPrmioJabutiem2009.AdvogadoeParecerista,comintensaatuao

nasCortesSupremas.

2017-04-30

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017APRESENTAO

APRESENTAO

Houveumtempoemqueseimaginavaqueatarefadadoutrinaeraasspticaeneutraemrelaoaodireitoquelheincumbiainterpretar.Nessecaldodecultura,certamenteerarecomendvelqueasobrasdedoutrinarefletissemosdebatessobreaformaodalegislao(travauxprparatoires)efossemescritasapartirdajurisprudnciaqueprocurassedesvendaroseusignificadocomoauxliodoscasosdoforo.Apreocupaodadoutrinanesseambienteseriapropriamenteadedescreverosistemalegaleajurisprudnciaqueapartirdeleseformou.

claroque,partindo-sedessasbases,impunha-sedoutrinaumcompassodeespera,umtempode observao da legislao e da jurisprudncia antes de lanar-se sua tarefa de descrio dosistema.Tantomelhorseriaotrabalhodointrpretequantomaioromaterialquepudesserecolherparasuaneutraexposio.

claroquesemelhantemododeveropapeldadoutrinaedainterpretaoquelhetocahojes pode ser encarada como um captulo concernente histria do pensamento jurdico. Como odireito depende de interpretao para adquirir significado normativo (da porque se fala nopercurso das fontes s normas) e a construo do sistema depende de conexes de sentidosnormativos(daporquedasnormasaosistema),imaginarqueadoutrinaexerceumpapelneutroedescritivopressuporqueodireitonodependedaconjugaodosesforosdolegislador,dojuizedoprofessorparaadquirirvidanormativa.Sendoaatividadedeinterpretaododireitoadscritivadesignificado (enomeramentedescritiva), opapeldadoutrinanopode servisto comoneutro.Pelocontrrio,temdeserativoeconformadordoprpriodireito.

Isso faz surgir sobre os ombros da doutrina uma responsabilidade que se supunha antesinexistenteouparaaqualsefaziaquestodefecharosolhos:aresponsabilidadesocialdeoferecerbasesdesignificadosnormativosparaconstruodosignificadodasnormas,paraconformaodosinstitutos e paramoldura do prprio sistema jurdico. E claro que semelhante tarefa urgentequando se procura imprimir uma determinada maneira de compreender o processo civil,especialmente quando est em jogo a face que pode tomar a justia civil diante de uma novacodificao.

diantedessecontextoeembaladosporessa tarefaqueoferecemosos trsvolumesdonossoNovoCursodeProcessoCivilcomunidadejurdicabrasileira.Paraqueoprocessocivilsejacapazdeprestartutelaaosdireitoseajustiacivilsejacapazdetrataroscasoscomjustiaeresolv-losadequada, tempestiva e efetivamente, imprescindvel que a doutrina colabore de forma ativa ecriativaparaconstruodonovoprocessocivil.

Os trs volumes do Novo Curso vm sendo por ns cuidadosamente preparados desde queiniciaramosdebatessobreonovoCdigodeProcessoCivilmaisprecisamente,desdeomomentoemqueoferecemoscrticasepropostasaoProjetoem2010.Apartirdaqueleinstantepercebemos,inclusive,queeranecessrioabordaroprocessocivilapartirdesuaspeculiaridadestericas(eissofezcomqueoptssemospordedicarovolumeIintegralmenteteoriadoprocessocivileapenasteoriadoprocessocivil)equeeranecessriosistematizaroprocessocivilapartirdoseuescopodeprestartutelaaosdireitos(oquefoideterminanteparaorganizaodoNovoCursonosdoisvolumes

destaedio[2017]

subsequentes:ovolumeIIvoltadotuteladosdireitosmedianteprocedimentocomumeovolumeIIIfocado na tutela dos direitos mediante procedimentos diferenciados), abandonando-se a velhaorganizao de que caudatria o Cdigo Buzaid, fundada na diviso estanque entre processo deconhecimento,processodeexecuoeprocessocautelar.

Comisso,esperamosqueonovoCdigocolaborenadifusodeumamaneiradeveroprocessocivilcentradonaideiadatuteladosdireitosefomenteonicocompromissoplausvelquesepodeadscrever justia civil no Estado Constitucional: tratar os casos com justia e tudo que essafrmula impe para os direitos carentes de tutela e para a necessidade de unidade da ordemjurdica.

Porfim,agradecemosaoscolegasMarcellaPereiraFerraro,JordoViolineLeandroRutano,pelominucioso trabalho de reviso realizado e pela constante disposio na verificao das vriasversesdonovoCdigodeProcessoCivilaolongodesuaelaboraoedaconstruodestaobra.

Verode2015.

LUIZGUILHERMEMARINONI

SRGIOCRUZARENHART

DANIELMITIDIERO

2017-04-30

destaedio[2017]

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017PARTEI-NOESGERAIS

PARTEI-NOESGERAIS

2017-04-30

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017PARTEI-NOESGERAIS1.TCNICAPROCESSUALETUTELADOSDIREITOS

1.Tcnicaprocessualetuteladosdireitos

1.1.Tcnicaprocessualetuteladosdireitos

Atuteladosdireitosnocampojurisdicional1prestadamedianteoempregodediversas tcnicasprocessuais.Essesmeiossopensadospelolegisladordemodoa,semperderdevistaasnecessidadesdeproteododireitomaterial,respeitarepreservartambmosdireitosfundamentaisprocessuaisdaspartesedeterceirosvaledizer,odireitoaoprocesso justoqueaConstituioatodosasseguraemnossaordemjurdica(art.5.,LIV,daCF).2

Isso quer dizer que o procedimento deve ser concebido tendo emvista os vrios interesses queconvergemnasoluodacontrovrsiaenaprestaodeumatutelajurisdicionaladequada,efetivaetempestiva (art. 5., XXXV, da CF), sejam eles interesses estritamente processuais respeitantes aosdireitosfundamentaisprocessuaisqueintegramodireitoaoprocessojustoeaosdireitosprocessuaisprevistos pelo legislador infraconstitucional sejam eles interesses ligados ao direito material construdosapartirdodesenhodadopeloDireitoacada institutodedireitomaterial.Surgemaosgrandesconflitoscomqueodireitoprocessualcivildevelidar,aexemplodacolisoentreointeresserapideznasoluodolitgioeapreservaododireitodedefesadoru;docontrasteentreodireitotutelajurisdicionaladequadaeapreservaodaliberdadedodemandadoeporaafora.

O procedimento em que encarnado o direito ao processo justo, assim, uma resultante daharmonizaodessesvrios interessesqueconfluemnoprocesso.E,porquetodosessesvalorestmassentoconstitucionaldiretoou indireto,a colisoentreesses interesses implicadeummodogeralconsideraes relacionadas coliso de direitos fundamentais e a necessidade da respectivaconcordnciaprtica,harmonizaooueventualponderao.3

Seguedaquetodalimitaoaumdireitofundamentalprocessualdeveterporbaseoatendimentoaoutrodireitotambmfundamentale,maisdoqueisso,sselegitimaalgumalimitaoaumdireitofundamental processual se e apenas no exato limite em que essa atenda justificadamente a outro

direitotambmfundamental.Assim,porexemplo,sseadmitemtcnicasprocessuaisquesacrifiquema efetividade na prestao da tutela jurisdicional quando isso tiver por intuito a preservao dedireitos fundamentaisdaparte contrria, comoaobservnciadodireitodedefesaoudodireitoaocontraditrio.

Nessalinha,odesenhodoperfiltraadopelodireitoprocessualcivilparaosinstrumentosquesedestinam tutela dos direitos tem como ponto de partida as necessidades concretas da pretensomaterialaserprotegida.Valedizer:datuteladodireitoqueemanadodireitoquedeveserprotegidoemjuzo.Apartirdessasnecessidades,somam-seinteressesdaspartesedeterceirosquecomparecemao processo de cunho material ou processual e, ento, chega-se ao seu produto, que ser oprocedimentoempregadoparaatuteladaquelasituaosubstancial.

Isso quer dizer que existe uma prioridade na considerao do direito material em relao aodireitoprocessual.Seoprocessociviluminstrumentoparatuteladodireito,entoaprimeiratarefade quem quer que esteja preocupado com o adequado funcionamento da Justia Civil est na

apropriada identificao das necessidades da situao substancial que deve ser tutelada em juzo.

apropriada identificao das necessidades da situao substancial que deve ser tutelada em juzo.Nessaperspectiva,aidoneidadedoprocessocivilcomomeioefetivoparatuteladosdireitosdepende

deumdiscursopreocupadocomatuteladosdireitosisto,comodireitomaterial.

Logicamente, a convergncia das pretenses a serem tuteladas e desses outros interessesprocessuais e materiais pode exigir diferentes solues do legislador e do juiz. Em certos casos,tambm ser possvel quemais de uma tcnica processual seja idnea para atender a todos essesinteresses, o que implica dizer que nem sempre haver apenas uma nica resposta possvel paraatendersnecessidadescomque trabalhaodireitoprocessual.Valedizer:a consideraoda tutelados direitos pode levar a diferentes opes em termos de tcnica processual para adequadaestruturaodoprocessocivil.

Dessemodo, tem-se casos emqueno se d ao legislador ou jurisdio discricionariedadepara escolher o desenho adequado para a tutela do direito. Haver situaes, por exemplo, quedemandaromaiorcomplexidadenotratodaprova,aexemplodaaoquevisaprestaodatutelainibitria.Outrasexigiropreocupaocomomomentodeefetivaimplementaododireitoquefoireconhecidocomoexistenteedastcnicasprocessuaisidneasparatanto(porexemplo,admissodousodemultacoerctivaedebuscaeapreensodebens).Outrassituaesaindaexigirolidarcomanecessidade de adequada gesto do tempo necessrio para que a proteo possa ser oferecida(recorrendo-se tcnica antecipatria para adequada distribuio do nus do tempo no processo).Enfim,podehaverumainfinidadedesituaespontuaisqueexigirotcnicasprocessuaisespecficasparaseuadequadotratamento.

Ao lado disso, porm, haver casos emque o legislador pode, por razes diversas, escolher darproteo mais facilitada ou menos facilitada a certas situaes, tal como ocorre com a tcnicaexecutiva, com o procedimento monitrio ou com a cognio parcial das aes possessrias. Naprimeira,olegisladoroptaporconferirpresunodeveracidadeacertosdocumentos,autorizandoaoseuportadoradarincio,desdelogo,aatosdesatisfaodeumdireitoafirmado,aindaqueelenotenhasidopreviamentereconhecidojudicialmente.Nasegunda,ocorrealgosemelhante,oferecendo-seaoportadordeprovadocumentaldeumaobrigaoafaculdadede,diantedanooposiodapartecontrria,iniciarprontamenteaefetivaodeseudireito.E,nasaespossessrias,limitaolegisladoracogniojudicial,excluindodombitodediscussoaquestodapropriedade,afimdesimplificarasituaodaquelequedetmapossede algumbem, toutcourt. Como sev,nesses casos, poderia olegisladorescolheroutrassoluesparataiscasos.Porm,razesdepolticajudicirialevaram-noaescolheressastcnicas,priorizandocertassituaesjurdicas.

A importncia do tempo para a proteo processual dos direitos, por exemplo, mais do queevidente. Caso pudesse haver um processo instantneo, a resposta jurisdicional que se daria aosdireitosseriamuitoprximadaquiloqueotitulardointeressefariaemreaoaeventualameaaouleso.Todavia,issoimpossvel,eaatividadejurisdicionaldemandaumprocessoque,deseuturno,exige certo espao de tempo para desenvolver-se. A ideia de processo remete logicamente umasituao dinmica e progressiva,4 com o que por si s repele o conceito de instanteniedade.5

Logicamente, quanto maior a demora da resposta estatal a violaes ou ameaas a direitos, maisdistanteelatendeaserdasnecessidadesdointeresseobjetodaproteoemaiorodanomarginalqueapartequetemrazoexperimentapelosimplesfatodeterrecorridoaoprocessoparaobtenodatutela do direito.6 Porm, h casos em que mesmo a demora normal do processo se mostraincompatvelcomasnecessidadesdecertassituaes.

Em todosesses casos, oprocesso civil temde seadequarsnecessidadesde tutela evidenciadaspelasespecificidadesdodireitomaterialafirmadoemjuzo.tarefadolegisladornaconcepolegaldoprocedimento edo juizna conduodoprocesso responder a essanecessidade de adequaoda

tutela jurisdicional. Ao desempenh-la, a tcnica processual deve ser evidentemente pensada naperspectivadatuteladosdireitosdocontrrio,oprocessocivilcorreoriscodeseconverteremum

perspectivadatuteladosdireitosdocontrrio,oprocessocivilcorreoriscodeseconverteremumprocedimento desorientado e indiferente aos seus fins, emque a sua finalidade esfumaada pelaausnciadesuaefetivapercepo.

1.2.Tutelascontraoilcitoetutelascontraodano.Tutelasatisfativaetutelacautelar

Aoafirmarqueofimdajurisdioatuaravontadedalei7enodartutelaaodireitomaterial,adoutrinadofinaldosculoXIXeinciodosculoXXpretendeuficardefinitivamentedistantedateoriaqueconfundiuodireitodeaocomodireitomaterial.8Dessemodo,anecessidadedeestabeleceraautonomiadodireitoprocessualeafinalidadepblicadoprocessoconduziuaoabandonodaideiadequeajurisdiodeveriadartutelaaosdireitos.9Comisso,sedeumladooprocessocivilforjavasuaautonomia conceitual e cientfica, de outro dava um perigoso passo rumo ao esquecimento de suaumbilicalligaocomodireitomaterial.Daqueodiscursopreocupadoemevidenciaraligaoentretcnicaprocessualetuteladosdireitosantesdequalquercoisaumdiscursoengajadonaretomadadosesquecidoslaosentredireitoeprocesso.

Considerar oprocesso civil ummeiopara a tuteladosdireitos significa antesdequalquer coisapensarprimeironassituaesdedireitomaterialquesepretendeprotegerpormeiodoexercciodaao para somente depois cogitar das tcnicas processuais adequadas para sua efetiva proteo.10

Basicamente,oprocessocivilpodeprestartutelasatisfativaoututelacautelar aosdireitos.H tutelasatisfativa quando a tutela jurisdicional destina-se a realizar concretamente o direito da parte. Essatutelasatisfativaserveparaprestartutelacontraoilcitovisandoinibirasuaprtica,reiteraooucontinuao(tutelainibitria)ouvisandoremoodasuacausaoudeseusefeitos(tuteladeremoodoilcito)oututelacontraodanovisandosuareparao(tutelareparatria)ouaoressarcimentopela suaocorrncia (tutelaressarcitria).H tutela cautelarquandoa tutela jurisdicionaldestina-sesimplesmente a assegurar a satifao eventual e futura do direito da parte. Enquanto a tutelasatisfativapodeproporcionartantoumatutelacontrao ilcito(preventivaourepressiva)comoumatutelacontraodano(repressiva),atutelacautelarsempreumatutelacontraodano.11Issoporqueatutela cautelar apenas assegura para o caso de, ocorrendo o fato danoso, ser possvel eventual efuturamente a realizao do direito a tutela cautelar, nada obstante possa ser concedidaanteriormenteaodano,temasuaatuabilidadecondicionadasuaocorrncia.12

Terdireitonoplanododireitomaterialsignificaterdireitotuteladodireitoesuaexigibilidade(pretenso).Daquedaprpriaexistnciadodireitoquedecorreodireitotutelacontraaameaaouaefetivaocorrnciadeumilcitooututelacontraodano.oplanododireitomaterial,portanto,queconcededireito tutela inibitria, tuteladeremoodo ilcito, tutela reparatriae tutelaressarcitria.noplanododireitomaterialqueexistedireito satisfaododireitoedireito suacautela. O fato de o legislador processual civilmencionar ou no essas categorias absolutamenteirrelevanteparaasuarespectivaexistncia.IssoquerdizerquesubsisteodireitotutelacautelarsobagidedoNovoCdigooquedesapareceuapenasfoioprocessocautelarconceitualmenteautnomopara a sua prestao13 (nosso Cdigo, alis, faz vrias aluses tutela cautelar, inclusive s tutelascautelaresnominadas,v.g.,arts.154,I,301,495,1.).Oqueolegisladorprocessualciviltemodeverdemencionareconformar,porm, soas tcnicasprocessuais adequadasparaefetivae tempestivaproteodosdireitos.EsseocampoprpriodeatuaodoCdigodeProcessoCivil.

Noqueagora interessa, importa lembrarqueo legisladorprocessualcivilorganizounossoNovoCdigopartindodetcnicasprocessuaisatinentesatividadejurisdicionaldesempenhadapelorgojurisdicional para prestao da tutela dos direitos (cognio e execuo) e diversificao deprocedimentos para sua consecuo (procedimento comum e procedimentos diferenciados,

procedimentosdecognioexaurienteeprocedimentosdecogniosumria).Acombinaodessastcnicasprocessuaisnocasoconcretoviabilizaatutelajurisdicionaldosdireitos.

1.3.Cognioeexecuonosistemadatutelajurisdicionaldosdireitos

Otemadatuteladosdireitospertenceaocampododireitomaterial.Noolegisladorprocessualcivilqueoutorgadireitotutelasatisfativaoututelacautelar,direitotutelainibitriaoututelaressarcitria para ficarmos com alguns exemplos. Dada a interdependncia entre direito eprocesso,14porm,a suaefetivaatuabilidadedependedaexistnciade tcnicasprocessuais idneasparasuaproteo.15Comoevidente,atutelajurisdicionalapenasumdosaspectosquedevemserlevadosemconsideraoparaaefetivatuteladosdireitos.16dacompreensodatcnicaprocessualapartirdotuteladodireitoqueatutelajurisdicionaltorna-seidneaparasuaprestao.

EmboraoNovoCdigoaindaaludaaprocessodeconhecimentoeaprocessodeexecuo,certoqueconhecimentoeexecuosoatividadesquepodemserdesempenhadasao longodoprocesso.17

NosopropriamenteespciesouformasprocessuaisprovadissoqueoprocessodeconhecimentonoNovoCdigoumprocessosincrtico,emquesemisturamatividadesdecognioedeexecuopara tutela dos direitos.O processo de conhecimento rigorosamente no umprocesso de simplesconhecimento,emqueojuizselimitaadarrazoaumadaspartesdiantedeumlitgio:issoporqueojuiz pode no processo de conhecimento, em sendo o caso, antecipar a tutela (art. 294 e ss.), o quepressupe uma deciso que contenha ao mesmo tempo cognio e execuo, e pode desenvolveratividade executiva posterior sentenamediante cumprimento de sentena (art. 513 e ss.). A suadenominao,portanto,umresqucioconceitualmenteincmodoqueolegisladorequivocadamentequisconservardadoutrinaqueoutorgouasbasesdorevogadoCdigoBuzaid.18Ahistriadoprocessode conhecimento, como sabido, a histria da sua transformao em um processo efetivamentecomprometidocomatuteladosdireitose,portanto,muitodistantedeumprocessomeramentepr-ordenadoprolaodeumasimplessentenaqueselimitaadarrazoaumadaspartes.19

Cognio e execuo so atividades judiciais que podem ser exercidas de formaseparada ou deconjuntaaolongodoprocesso.Saberseacogniodevesempreprecederexecuo(Nullaexecutiosinetitulo)ousedeveanteced-la(Solveetrepete)porforadeumaprevisodolegisladoroudeumadeciso judicial umaquestodepoltica legislativa20 quenaturalmentedeve ser orientadapelosdireitos fundamentais processuais que do vida ao direito ao processo justo (art. 5., LIV, da CF) emuitoespecialmentepelodireitotutelajurisdicionaladequada,efetivaetempestiva(art.5.,XXXVeLXXVIII, da CF). O mesmo vale para saber se as atividades de cognio e de execuo devem serdesempenhadasemumprocessoautnomoouno.21

Ademandadoautorintroduznoprocessoalegaesftico-jurdicasquedenotamumanarrativaapartirdaqual sededuzumoumaispedidosde tutela jurisdicional (arts. 319e ss.).Adefesado ruintroduz igualmente alegaes no processo, limitando-se em regra a simplesmente pedir aimprocedncia dos pedidos formulados pelo autor (arts. 336, 337 e 341). Depois de oportunizada aprovadessasalegaespelaspartesoumesmodeterminadasprovasdeofcio (art.370),o juiz temodeverdejulgaracontrovrsia(art.489,III),preferencialmenteenfrentandoomritodacausa(art.488).Paratanto,ojuiztemodeverdeconhecerdasalegaesedasprovasproduzidasnoprocesso,isto,deefetivamenteenfrent-lasnafundamentaodasuadeciso(art.489,esp.1.)para,apartirda,darrazoaumadaspartes (art.490).Nissoconsisteaatividadedecognio:examinar justificadamentealegaeseprovasparaapartirdadarrazoaumadaspartes.

Aprolaodasentenaqueresolveolitgioentreaspartespodeounosersuficienteparaatuteladodireitodoautor.Valedizer: pode sernecessriaounoatividadeexecutivaposterior para a suaconsecuo(art.513ess.).Aatividadeexecutivaserindispensveltodavezqueasentenadepender

da prtica de atos processuais posteriores para ser atendida concretamente pelo ru ou para serimpostapeloprpriojuiz.Nessecaso,asentenadeversercumpridamediantetcnicasprocessuaisexecutivas (arts.139, IVe520ess.),22 isto,medianteaprticadeatosprocessuaisqueviabilizemarealizaoefetivadocomandosentencial.Daaligaofuncionalentrecognioeexecuonosistema

realizaoefetivadocomandosentencial.Daaligaofuncionalentrecognioeexecuonosistemadatutelajurisdicionaldosdireitos.23Aatividadedeexecuo,portanto,umaatividadevocacionadarealizaodosdireitoscomousemacolaboraodoru,aqualpartedopressupostodequeumadaspartestemprovisriaoudefinitivamenterazonassuaspostulaes.

Asatividadesdecognioeexecuopodemserdesenvolvidasmedianteoprocedimentocomumoumediante procedimentos diferenciados. A atividade de execuo pode ser fundada em cogniosumriaouexauriente.

1.4.Processoetuteladosdireitos:tuteladosdireitosmedianteprocedimentocomume

procedimentosdiferenciados

Oprocedimentocomumdoprocessodeconhecimentoqueonossoprocedimentopadroparaatuteladosdireitosviabilizaaolongodoseudesenvolvimentotantoatividadesdecogniocomodeexecuo para tutela dos direitos. Em regra, portanto, cognio e execuo encontram-sefuncionalmentepr-ordenadas no procedimento comum para consecuo da tutela jurisdicional. Noprocedimentocomum,aatividadeexecutivapodeestarfundadaemcogniosumria(antecipaodatutela)ouemcognioexauriente(cumprimentodesentena).Valedizer:asatividadesdecognioeexecuo so concretamente adaptveis pelo juiz no procedimento comum para atender snecessidadesevidenciadaspelodireitomaterialaolongodoseudesenvolvimento.

Aoladodoprocedimentocomum,olegisladordesenhouprocedimentosdiferenciadosparaatuteladosdireitos,adaptadosdesdelogoemabstratopelofatodeaexecuoprecedercognio(comonocaso da execuo fundada em ttulo executivo extrajudicial, art. 771 e ss.) ou pela necessidade demaioradequaodoprocessoaodireitomaterial,oquepodedeterminarcortesnacognionoplanohorizontalpara limitaododebateadeterminadasquestes (comonocasodasaespossessrias,emqueodebateestlimitadoposse,sendovedadaqualquerdiscussodominial,arts.554ess.)ouparticularizaes procedimentais em ateno a certas especificidades do direitomaterial posto emjuzo(comonocasodaaodeconsignaoempagamento,arts.539ess.)ouacertasespecificidadesdo modo como determinado direito pode ser evidenciado no processo (como no caso da aomonitria,emqueodireitospodeserdemonstradomedianteprovaescrita,art.700ess.).

Emtodosessescasos,oprocedimentoadapta-seaodireitomaterialsejapelolegislador,sejapelojuiz,sejaemfunodaprimaziadacogniooudaexecuo,sejaemrelaoaonveldecognioouem relao s tcnicas executivas disponveis para tutela dos direitos. Pensado na perspectiva datutela dos direitos, uma das perspectivas pelas quais o Novo Cdigo pode ser sistematizado a dobinmio procedimento comum procedimentos diferenciados. Nessa linha, as tcnicas processuaisadaptam-sesnecessidadesevidenciadaspelodireitomaterialparasuaefetivaetempestivatutela.

1.5.Segue:tuteladefinitivafundadaemcognioexaurienteetutelaprovisriafundadaem

cogniosumria

Oprocedimentopodelevarprestaodeumatuteladefinitivafundadaemcognioexaurienteouaumatutelaprovisriafundadaemcogniosumria.Issoquerdizerque,independentementedeacognioserdefinitiva,podehavertuteladodireito,inclusivecomaprticadeatividadeexecutivaparasuaconcretizao.

A tutela exauriente quando prestada mediante um procedimento em que ambas as partesforam ouvidas ou, pelo menos, tiveram a oportunidade de ser ouvidas e em que a deciso seencontrafundadaemumquadroprobatriocompletoou,pelomenos,emumquadroprobatriotocompleto quanto admitidopelanaturezadoprocedimento.As sentenas que julgamprocedente ouimprocedenteospedidosformuladospelaspartesnoprocedimentocomumsoexemplosclssicosde

improcedenteospedidosformuladospelaspartesnoprocedimentocomumsoexemplosclssicosdedecisesfundadasemcognioexauriente(art.485ess.).Atutelafundadaemcognioexauriente umatuteladefinitivaeidneaformaodacoisajulgada.

Atutelasumriaquandoprestadamedianteumprocedimentoemqueapenasumadaspartesteveaoportunidadedesemanifestarouemqueomaterialprobatriorecolhidoaindapassveldeenriquecimentoaolongodoprocedimentoouaindadeoutroprocedimento.Atutelasumria,assim,caracterizada pela incompletude material da causa (materielle Unvollstndigkeit der causaecogntio).24Exemplosdetutelasquepodemserprestadasmedianteatcnicadacogniosumriasoastutelasdeurgnciaedeevidncia(arts.300e311).Atutelafundadaemcogniosumria umatutela provisria e inidnea formao da coisa julgada. A propsito, por essa razo que olegisladorfalaemtutelasprovisriasnoart.294ess.

A doutrina que forneceu as bases tericas do Cdigo Buzaid encontrava-se fundada nomito danulla executio sine titulo impossibilidade de qualquer espcie de execuo antes do trnsito emjulgado.25Umaclaramanifestaodessaorientaoencontrava-senacompreensodatutelacautelarcomoumatuteladoprocessoaoprocessoenocomoumatuteladodireitoenacompreensodetodatutelasumriacomotutelacautelar.26Comopeloprincpiodanullaexecutionopoderiaexistirtuteladodireitofundadaemcogniosumria,todaequalquerproteoqueseoutorgasseaumadaspartesaolongodoprocessospoderiasercamufladacomoumatuteladirigidaaoprocesso.

Onovoprocessocivilrepeleaideiadequeapenasassentenastransitadasemjulgadopodemdarlugarexecuo.Nasistemticaatual,tantoacogniosumriacomoacognioexaurientepodemdar lugar prtica de atos executivos (arts. 515, I, 520 e ss. e 523 e ss.). Seja mediante tutelasprovisrias (isto , mediante procedimento de cognio sumria), sejamediante tutelas definitivas(isto,medianteprocedimentodecognioexauriente),possvelobterpormeiodoexercciodaaoacabalrealizaodosdireitos.

Caso

Joanano teveautorizaopelaoperadoradoseuplanodesade,realizaodeumacirurgia,pois supostamente no estaria entre os procedimentos abrangidos pela cobertura. A consumidoraprocuravoc,advogadoouadvogada,questionandosehaveriacomoimporoperadoraocusteiodacirurgia, j que seria um dos procedimentos contratados. Conforme documentos mdicos queapresenta,eladeveriaseroperadaoquantoantes,comoriscodecomprometerofuncionamentodeum de seus rgos. Nesta situao, qual seria o seu parecer? Seria adequado pedir tutela cautelarcontraodano,paraassegurarodireitosade?

footnotesfootnotes

1

A tutela dos direitos pode ser prestada pelo legislador, pelo administrador e pelo juiz. A tutela jurisdicional dos direitos, portanto,

apenasumadasformaspelasquaisatuteladosdireitospodeserprestada:asnormasdedireitomaterialquerespondemaodeverde

proteodoEstado aos direitos fundamentais normas que protegem o consumidor e o meio ambiente, por exemplo evidentemente

prestamtutelaouproteoaessesdireitos.corretodizer,assim,queamaisbsicaformadetuteladosdireitosconstitudapela

prprianormadedireitomaterial.Aatividadeadministrativanessamesmalinhatambmpodecontribuirparaaprestaodetutela

aosdireitos.Atutelajurisdicional,portanto,devesercompreendidasomentecomoumamodalidadedetuteladosdireitos.Oumelhor,a

tutela jurisdicional e as tutelas prestadas pela normade direitomaterial e pelaAdministrao constituem espcies do gnero tutela dos

direitos.Entretanto,a tutela jurisdicionalpode,ouno,prestara tuteladodireito.H tuteladodireitoquandoasentenaeadeciso

interlocutriareconhecemodireitomaterial.Issosignificaqueatutelajurisdicionalenglobasentenadeprocedncia(queprestatutela

dodireito)easentenadeimprocedncia(quenoprestaatuteladodireito,emboraconstituarespostaaodeverdoEstadodeprestar

tutelajurisdicional).Dajsepercebequeadecisointerlocutriaeasentenaconstituemapenastcnicasparaaprestaodatutelado

direito.Ouseja,respostaoututelajurisdicionalhsempre,mastuteladodireitoapenasnocasoemqueatcnicaprocessualreconhecero

_tpjg:1_346y:1

direito.Ouseja,respostaoututelajurisdicionalhsempre,mastuteladodireitoapenasnocasoemqueatcnicaprocessualreconhecero

direito, isto,quandoasentenafordeprocedncia (LuizGuilhermeMarinoni,Tcnicaprocessuale tuteladosdireitos,p.145-146).A

tuteladosdireitos incideaindatantosobreodireitomaterialcomosobreodireitoprocessual.Quandoo legisladordensificouodireito

fundamentalproteodoconsumidorpromulgandoumCdigodeDefesadoConsumidor,eleprestoututelalegislativaaodireito.Ainda,

quandoolegisladorpromulgouoCdigodeProcessoCivil,elepretendeujustamenteadimplircomoseudeverdedartutelaaodireito

fundamentalaoprocessojustoe,muitoespecialmente,odireitofundamentaltutelajurisdicionaladequada,efetivaetempestivaque

deleinseparvel.

2

Sobreosdireitosfundamentaisprocessuaisqueintegramodireitoaoprocessojusto,Marinoni,ArenharteMitidiero,CursodeProcesso

Civil,vol.I;MarinonieMitidiero,CursodeDireitoConstitucional,p.703ess.,emcoautoriacomIngoSarlet.

3

Humbertovila,Teoriadosprincpios,p.158ess.

4

JamesGoldschmidit,DerProzessalsRechtslage,p.227;LeoRosenberg,KarlHeinzSchwabePeterGottwald,Zivilprozessrecht,p.1.

5

OvdioBaptistadaSilva,CursodeProcessoCivil,p.13,vol.I.

6

AexpressodannomarginaledeEnricoFinzi,cunhadaemcomentriodecisode31de janeirode1925daCortedeApelaode

Florena, Questioni controverse in tema di esecuzione provvisoria, publicado na Rivista di Diritto Processuale Civile, p. 50, sempre

lembradapeladoutrinaapropsitodatardanadoprocessoedeseusefeitosnaesferajurdicadodemandantequetemrazoemseu

pleito (Piero Calamandrei, Introduzione allo studio sistematico dei provvedimenti cautelari, p. 18; Italo Andolina, Cognizione ed

esecuzioneforzatanelsistemadella tutelagiurisdizionale,p.17;AndreaProtoPisani, Appuntisulla tutelacautelare,Rivista di Diritto

Civile,p.111;LezionidiDirittoProcessualeCivile,p.593).

7

FoiChiovendaquemafirmouqueafunodajurisdioeraadedaratuaovontadeconcretadalei(GiuseppeChiovenda,Istituzionidi

DirittoProcessualeCivile, v. 1), reproduzindo claramenteAdolfWach (HandbuchdesDeutschenCivilprozessrechts. Leipzig: Duncker&

Humblot,1885,p.267).

8

Abordando a obra de Chiovenda,Giannini escreveu: Affrontava decisamente una ricostruzione del diritto processuale, con carattere

pubblicistico,sullabasedellautonomiadellazioneedelrapportogiuridicoprocessuale,elevandolascienzaprocessuale,conunbalzodi

dignit,suquellogicompiutodalMortara,adunaricostruzionesistematicastorico-dogmatica(...)(AmedeoGiannini,Glistudididiritto

processualecivileinItalia.RivistaTrimestralediDirittoeProceduraCivile,p.109).

9

La c. d. pubblicizzazione del processo civile inverte i presupposti di fondo che erano alla base del codice del 1865 e della dottrina

ottocentesca:ilprocessononpiesclusivamenteunaffaredellepartimaunluogoincuisiesprimelautoritdelloStato;essononmira

solo alla tutela di interessi privati, ma realizza linteresse pubblico allamministrazione della giustizia; il perno del processo non pi

liniziativadelleparti,ma la funzionedel giudice. In sintesi, il processononpivisto comeuna forma in cui si esplica lautonomia

privatanelleserciziodeidiritti,macomeunostrumentocheloStatometteadisposizionedeiprivatiinvistadellattuazionedellalegge.

Contuttocisisaldaperfettamentelaridefinizionedelconcettodiazione,compiutaessenzialmentedaChiovenda:lazionenonpiuna

sortadiappendicedeldirittosostanzialeprivato,maundirittoautonomodinaturapubblica,chemiraaprodurreconseguenzegiuridiche

nellasferadellacontroparte(dondelanotadefinizionedellazionecomedirittopotestativo),machesoprattuttochiamaingiocolautorit

delloStatocometramiteegarantedellattuazionedellalegge(MicheleTaruffo,LagiustiziacivileinItaliadal700aoggi,p.188).

10

LuizGuilhermeMarinoni,Tcnicaprocessualetuteladosdireitos,p.145ess.

11

11

Marinoni,Arenhart,Mitidiero,CursodeProcessoCivil,vol.1.;DanielMitidiero,Antecipaodatutela,p.48-50.

12

Sobreatuteladosdireitos,LuizGuilhermeMarinoni,Tutelainibitria;Tcnicaprocessualetuteladosdireitos; SrgioCruzArenhart,A

tutelainibitriadavidaprivada;Perfisdatutelainibitriacoletiva;DanielMitidiero,Antecipaodatutela.

13

Da a necessidade, sempre frisada pela doutrina, de distinguirmos processo cautelar de tutela cautelar (conforme, por todos, Ovdio

BaptistadaSilva,CursodeProcessoCivil,p.15,vol.III).

14

AndreaProtoPisani,LezionidiDirittoProcessualeCivile,p.5.

15

FrancescoCarnelutti,Dirittoeprocesso,p.33.

16

VittorioDenti,Lagiustiziacivile,p.116-117.

17

Portodos,PieroCalamandrei,IstituzionidiDirittoProcessualeCivile,p.63.

18

SobreasbasestericasdoCdigoBuzaid,DanielMitidiero,OprocessualismoeaformaodoCdigoBuzaid,RevistadeProcesso,p.165

e ss,n. 183.ParaumacrticadaestruturadoAnteprojetodoCdigo,LuizGuilhermeMarinoni eDanielMitidiero,Oprojeto doCPC

Crticaepropostas,p.64ess.

19

LuizGuilhermeMarinoni,Tcnicaprocessualetuteladosdireitos,p.98ess.

20

VittorioDenti,Ilprocessodocognizionenellastoriadelleriforme,p.279-280;OvdioBaptistadaSilva,Jurisdioeexecuonatradio

romano-cannica,p.102ess.

21

CrisantoMandrioli,Lazioneesecutiva,p.109ess;HumbertoTheodoroJnior,Aexecuodesentenaeagarantiadodevidoprocesso

legal,passim.

22

Para um panorama de direito comparado, Michele Taruffo, A atuao executiva dos direitos: perfis comparados, Processo civil

comparadoEnsaios,p.85ess.

23

ItaloAndolina,Cognizioneedesecuzioneforzatanelsistemadellatutelagiurisdizionale,p.6ess.

24

Hans Karl Briegleb, Eileitung in die Theorie der summarischen Processe, p. 12. Sobre o assunto, ainda, Luiz Guilherme Marinoni,

Antecipaodatutela,p.36-39;DanielMitidiero,Antecipaodatutela,p.92-95.

destaedio[2017]

25

Portodos,PieroCalamandrei,Istituzionididirittoprocessualecivile,p.51e66ess.

26

LuizGuilhermeMarinoni,Antecipaodatutela,p.113ess;DanielMitidiero,Antecipaodatutela,p.18-36.

2017-04-30

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017PARTEI-NOESGERAIS2.JURISDIOECOMPETNCIA

2.Jurisdioecompetncia

2.1.Introduo

Asnormassobre jurisdioecompetncianoprocessocivilestoarroladasnaConstituioenoCdigo de Processo Civil. A Constituio organiza o Poder Judicirio, indicando seus rgosjurisdicionaiseseurgodecontroleadministrativo(queoConselhoNacionaldeJustia),cercando-osdegarantiaseoutorgandocompetncias(arts.2.,92a126),aopassoqueoCdigodeProcessoCivilparticulariza essas normas sobre a jurisdio e sobre a competncia, disciplinando suasespecificidadeseomodopeloqualdevematuar(art.21ess.).

2.2.Jurisdio

Se a jurisdio manifestao do poder do Estado, evidente que ela ter diferentes objetivos,conformesejaotipodeEstadoesuafinalidadeessencial.1Ajurisdio,emoutraspalavras,encarnarfins sociais, polticos e propriamente jurdicos, conforme a essncia do Estado cujo poder devamanifestar.

Se o Estado brasileiro est obrigado, segundo a prpria Constituio Federal, a construir umasociedadelivre,justaesolidria,aerradicarapobrezaeamarginalizaoeareduzirasdesigualdadessociaiseregionaiseaindaapromoverobemde todos,sempreconceitosdeorigem,raa,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminao(art.3.daCF),osfinsdajurisdiodevemrefletiressasideias.Assim,ajurisdio,aoaplicarumanormaoufaz-laproduzirefeitosconcretos,afirmaanormadedireitomaterial,aqualdevetraduzirpoisdeveestardeacordocomosfinsdoEstadoasnormasconstitucionaisquerevelamsuaspreocupaesbsicas.

Ademais, como o Estado brasileiro tem como regime poltico a democracia representativa, comtemperos de princpios e institutos de participao direta dos cidados no poder de deciso dogoverno2(democraciaparticipativaporexemplo,oreferendo,art.14,daCF),eexistemmecanismosqueviabilizamessaparticipaodiretapormeiodoprocessojurisdicional,necessrioincentivaroseuuso.

Aparticipaodocidadoviaaopopular (art.5.,LXXIII,daCF,e lei4.717/1965),pormeiodaqual possvel apontar desvio na gesto do bem comum, assim como a participao atravs doslegitimados aode inconstitucionalidade (art. 103, daCF) e s aes coletivas (art. 82, doCDC) eaindamediante a participao em determinados processos judiciais como amicus curiae (art. 138),configuram participao no processo decisrio do Estado. Nesse sentido, v-se que a participaopopularnoficalimitadaaomomentoemque,naschamadaseleies,escolhe-seumrepresentanteparagovernar(democraciarepresentativa).

A participao, alm de poder ocorrer atravs das referidas aes no processo decisriogovernamental,podedar-senaadministraodajustia,comapresenade,porexemplo,juzesleigosnosJuizadosEspeciaisCveis.Apresenadeleigosnaadministraodajustia,comefeito,representaparticipaodiretanoEstado.

Deixando-sedeladoosfinsmaisimportantesdajurisdio,ocertoqueoEstadoparaexercerafuno jurisdicional precisa de vrios juzes, juzos e tribunais, principalmente em um pas com adimenso territorial do Brasil, pelo que, para que a justia possa ser ordenada e efetivamenteexercida, necessrio que os vrios casos conflitivos concretos sejam classificados e agrupados deacordocompontosquetmemcomum,queosprocessosqueaelesservemdeinstrumentotmemcomumouqueaspessoasquenelesestoenvolvidaspossuememcomum,organizando-seafunojurisdicionalnamedidadoscasosqueforemagrupados.

NoBrasil,aConstituioFederaldefineasvrias justias,ouseja,osgruposdergosquetmcompetncia para tratar de determinados grupos de litgios. Fala-se, assim, nas justias trabalhista(arts.111a116),eleitoral (arts.118a121),militar (arts.122a124),enas justiasfederal (arts.106a110)eestadual (arts.125e126).Oquenodacompetnciadas justiasespecializadas trabalhista,eleitoral e militar da competncia, por excluso, da justia comum. Dentro da chamada justiacomum,tambmporcritriodeexcluso,oquenofordacompetnciadajustiafederal(arts.108e109)dacompetnciadajustiaestadual.

AConstituioFederal,apstratardasjustiasespecializadastrabalhista(arts.111a116),eleitoral(arts.118a121),militar(arts.122a124)edajustiafederalcomum(arts.106a110),afirmaemseuart.125,caput,queosEstadosorganizarosuaJustia,observadososprincpiosestabelecidosporelaprpria, isto , pela Constituio Federal. As denominadas justias, de acordo com a ConstituioFederal, as Constituies dos Estados e as leis de organizao judiciria, possuem vrios rgosjurisdicionais.

AConstituioFederal tambmdefineoSupremoTribunalFederal (arts.101a103)eoSuperiorTribunal de Justia (arts. 104 e 105). A competncia do Supremo Tribunal Federal e do SuperiorTribunaldeJustiaestdisciplinada,respectivamente,nosarts.102e105daCF.Noquedizrespeitocompetncia originria desses tribunais, oportuno observar que a Constituio, ao atribuir-lhescompetnciaoriginria, subtraicertascausasde todasas justias:por issoqueessasduasCortesSupremas so considerados rgos de superposio, uma vez que no pertencem a nenhuma dasjustias.

De lado as hipteses de competncia originria desses tribunais (arts. 102, I, e 105, I, da CF), importantechamaraatenoparaoscasosemquetaisrgosjulgammedianterecurso.Afirmaoart.102, II,daCF,quecompeteaoSupremoTribunalFederal julgar,emrecursoordinrio:a) ohabeascorpus,omandadodesegurana,ohabeasdataeomandadodeinjunodecididosemnicainstnciapelos Tribunais Superiores, se denegatria a deciso; b) o crime poltico. Omesmo artigo, em seuinciso III, diz ser da competncia do Supremo Tribunal Federal julgar, mediante recursoextraordinrio, as causas decididas em nica ou ltima instncia, quando a deciso recorrida: a)contrariardispositivodestaConstituio;b)declararainconstitucionalidadedetratadoouleifederal;c) julgarvlidaleiouatodegovernolocalcontestadoemfacedestaConstituio;d) julgarvlidaleilocal contestada em face de lei federal. Por sua vez, estabelece o art. 105, II e III, da mesmaConstituio, que compete ao Superior Tribunal de Justia (...) julgar, em recurso ordinrio: a) oshabeascorpus decididos em nica ou ltima instncia pelos Tribunais Regionais Federais ou pelosTribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territrios, quando a deciso for denegatria; b) osmandados de segurana decididos em nica instncia pelos Tribunais Regionais Federais ou pelosTribunaisdosEstados,doDistritoFederaleTerritrios,quandodenegatriaadeciso;c)ascausasemqueforempartesEstadoestrangeiroouorganismointernacional,deumlado,e,dooutro,Municpioou pessoa residente ou domiciliada no Pas, bem como julgar, em recurso especial, as causasdecididas, emnica oultima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dosEstados, do Distrito Federal e Territrios, quando a deciso recorrida: a) contrariar tratado ou leifederal,ounegar-lhesvigncia;b)julgarvlidoatodegovernolocalcontestadoemfacedeleifederal;

c)deraleifederalinterpretaodivergentedaquelhehajaatribudooutrotribunal.

Comosev,oSupremoTribunalFederalpodejulgar,medianterecursoextraordinrio,emfacededeciso de qualquer justia. Por sua vez, o Superior Tribunal de Justia, no considerada suacompetnciapara julgar, emrecursoordinrio, as causas emque forempartes,deum lado,Estadoestrangeiroouorganismointernacionale,deoutro,pessoadomiciliadaouresidentenoPas(art.105,II,c,daCF),apenaspodejulgar,medianterecursoespecial,ascausasdecididaspelos TribunaisRegionaisFederaisoupelosTribunaisdosEstados,doDistritoFederaledosTerritrios.

2.2.1.Limitesdajurisdionacionaledasjurisdiesestrangeiras

No Cdigo de 1973, a competncia era inicialmente dividida em competncia internacional ecompetnciainterna.Adoutrina,noentanto,sempreassinalouaimpropriedadedessaclassificao,namedida em que as normas agrupadas no captulo concernente competncia internacional diziamrespeito s relaes entre a jurisdio brasileira e as jurisdies estrangeiras.3 Da a duplaimpropriedade:nemcompetncia(porqueaoobjetodadisciplinaeramoslimitesdajurisdio),neminternacional(porqueaoplanoderefernciaestavanoslimitesreveladospeladicotomianacionalestrangeira e no no plano supranacional). O Novo Cdigo corrigiu o equvoco, embora continuealudindo mais frente competncia interna, quando o correto seria simplesmente aludir competncia.

Por razes de efetividade da deciso, o direito nacional discrimina as causas que podem serjulgadas no territrio brasileiro, tendo em vista a possibilidade de dar concreta e real efetivao decisotomada.Nessesentido,eseguindoaprticaadotadaporoutrospases,oCdigodeProcessoCivilenumeraascausasqueserojulgadaspeloPoderJudiciriobrasileiro,sejaexclusivamente (art.23), em que a soberania nacional s admite a deciso tomada pela jurisdio nacional, sejaconcorrentemente (arts. 21 e 22), casos em que a jurisdio nacional concorre com outras, salvoexpressaexclusonegocialda jurisdiobrasileiraemnegcios transnacionais (art.25).Portanto,hcausas que podem ser submetidas jurisdio nacional ou a outra qualquer. Todavia, outrasdemandas somente sero validamente decididas, na tica do direito brasileiro, se julgadas porautoridadenacional.

Dajurisdionacionalconcorrentetratamosarts.21e22,estabelecendoquepodemserconhecidaspela jurisdionacionalascausasemque:Ioru,qualquerquesejaasuanacionalidade,estiverdomiciliadonoBrasil; IInoBrasil tiverde ser cumpridaaobrigao; IIIo fundamentoseja fatoocorridoouatopraticadonoBrasil(art.21)eaindaascausasIdealimentos,quando:a)ocredortiver domiclio ou residncia no Brasil; b) o ru mantiver vnculos no Brasil, tais como posse oupropriedadedebens,recebimentoderendaouobtenodebenefcioseconmicos;IIdecorrentesderelaesde consumo,quandoo consumidor tiverdomiclioou residncianoBrasil; III emque aspartes,expressaoutacitamente,sesubmeteremjurisdionacional(art.22).

Nocasodejurisdionacionalconcorrente,adecisoproferidaemoutropaspodetervalidadeeeficcia no territrio nacional, desde que seja devidamente homologada pelo Superior Tribunal deJustia (art. 105, I, alnea i, da CF). Amera propositura de demanda perante tribunal estrangeiro arespeito de causa que poderia, por jurisdio concorrente, ser conhecida pela jurisdio brasileira,contudo,noinduzlitispendncia,nemimpedequeaautoridadebrasileiraconheadamesmacausaedas que lhe forem conexas, ressalvadas as disposies em contrrio de tratados internacionais eacordos bilaterais em vigor no Brasil (art. 24). Simetricamente, a pendncia de causa perante ajurisdio brasileira no impede a homologao de sentena judicial estrangeira, quando essa forexigidaparaproduodeefeitosdadecisonoBrasil(art.24,pargrafonico).

RefereoCdigo,ainda,quepossvelexcluirajurisdionacionalnoscasosemque,emcontratointernacional, houver clusula de eleio de foro exclusivo estrangeiro devidamente arguido nacontestao(art.25).Obviamente,aclusuladeeleiodeforoexclusivoestrangeiroseficazemsetratandodejurisdioconcorrente,sendoineficaznoscasosemqueodireitobrasileirosreconhecejurisdio brasileira o poder de julgar (jurisdio exclusiva, art. 23). Tambm parece claro que aaluso a contrato internacional, na verdade, tem por objetivo permitir a excluso da jurisdionacionalnoscasosemquehclusuladeeleiodeforoexclusivoestrangeiroprevistoemcontratostransnacionais, isto , contratos que envolvem pessoas ou sociedades situadas em diferentesjurisdies.nessesentidoquedeveserlidaaalusointernacionalidade.

2.2.2.Cooperaointernacional

ONovoCdigotratadacooperaointernacionalemseusarts.26ess.4Acooperaoterlugarapartir de tratado do qual o Brasil seja parte ou mediante reciprocidade manifestada pela viadiplomtica, tendo que observar os direitos fundamentais processuais que compem o direito aoprocessojusto(art.26,IaIII)nasuatramitaoeanecessidadedeinexistnciadecontrariedadeoudeproduoderesultadosincompatveiscomasnormasfundamentaisqueregemoEstadobrasileironoquetangeaoresultadopretendido.Osistemadecooperaointernacionalserestruturadoapartirdeuma autoridade central encarregada da recepo e transmisso dos pedidos de cooperao. Naausnciadedesignaoespecfica,oMinistriodaJustiaexercerafunodeautoridadecentral.

A cooperao internacional ter por objeto a citao, intimao e notificao judicial eextrajudicial, a colheita de provas e obteno de informaes, a homologao e o cumprimento dedecises, a concesso de tutela de urgncia, a assistncia jurdica internacional e qualquer outramedida judicial ou extrajudicial no proibida pela lei brasileira (art. 27). Especificamente para ahomologaodesentenaestrangeira,noseexigeaexistnciadetratadoetampoucoanecessidadedereciprocidade(art.26,2.).

Acooperaointernacionalpodeocorrermedianteauxliodiretooucartarogatria.CabeauxliodiretoquandoamedidanodecorrerdiretamentededecisodaautoridadejurisdicionalestrangeiraasersubmetidaajuzodedelibaonoBrasil(art.28).Dar-se-pormeiodecartarogatriaopedidodecooperao entre rgo jurisdicional brasileiro e o rgo jurisdicional estrangeiro para prtica dosatosarroladosnoart.27doCPCqueexijamjuzodedelibao.Osarts.29a34,36e37a41tratamdasparticularidadesprocedimentaisligadasaamboseacadaumdessesinstrumentos.

Oauxliodiretocaracteriza-sepelacomunicaodiretasemanecessidadedeprviaautorizaodoPoderJudiciriobrasileiroentreaautoridadeestrangeiraeaautoridadecentralbrasileira(arts.31a33doCPC).Acartarogatria,aocontrrio,implicaacriaodeprocedimentojudicialespecfico,dejurisdiocontenciosa,arespeitarasgarantiasdodevidoprocessolegal(art.36doCPC),tendenteaavaliar a viabilidade ou no da prtica do ato solicitado jurisdio brasileira. A anlise da cartarogatria, feitapeloSuperiorTribunalde Justia, se limitaaavaliaropreenchimentodosrequisitosformais para que o ato estrangeiro opere efeitos no Brasil, no sendo cabvel a reviso domritodaqueladecisoperanteodireitobrasileiro(art.36,2,doCPC).

2.3.Competncia

Acompetnciano se confunde coma jurisdio.Enquantoa jurisdio poder, a competnciaconstituiacapacidadeparaexerc-lo.Nosetratapropriamentedemedidajurisdio.Oconceitodecompetnciaqualitativoenoquantitativo.5

bastantecomum,todavia,acaracterizaodacompetnciacomomedidadajurisdio.Trata-se

de expresso que provm da doutrina francesa do incio de Oitocentos, tendo em conta que ospraxistas italianos j apontavam a sua adoo tranquila entre os escritos franceses da poca.6 Adoutrina italiana de Novecentos no escapou a essa caracterizao da competncia,7 sendo que adoutrinabrasileiraemgeralseguiuseuspassos.8

Aconceituaodacompetnciacomomedidadajurisdiolevaaofimeaocaboidentificaodacompetnciacoma jurisdio.Seacompetnciamedidada jurisdio,aausnciadecompetnciaequivale ausncia de jurisdio. Mais apropriado, portanto, conceitu-la como capacidade paraexercerajurisdio.9

2.3.1.Normasgerais

Odireitobrasileiroassentaadisciplinadacompetnciaemtrsnormasfundamentais:odireitoaojuiznatural,aregradaperpetuaodacompetnciaearegradacompetnciasobreacompetncia.Essastrsdiretrizesbsicasnorteiamtodoosistemadedeterminaodecompetncia,informandoaaplicaodasnormasespecficasestabelecidasnalegislaoprocessualnacional.

a)Direitoaojuiznatural.Oprimeiroemaisimportanteprincpiorelativocompetnciaodojuiznatural. Por ele, exige-se que a determinao do rgo competente para julgar as causas se d porcritriosabstratosepreviamenteestabelecidosnaConstituioenalegislao,repugnandoaodireitonacionalainstituiodejuzosque,escolhidosexpostfacto,apresentemcausademanifestaeobjetivaparcialidade.

Porconsequncia, cabe lei fixar,previamenteede formagenrica,oscritriosa serutilizadospara a identificao do juzo competente para o processo e o julgamento dos casos eventualmentesurgidos, sendovedadaa sua fixaoaposteriori ou a tramitao e o julgamento de feitos perantejuzosincompetentesemofensaanormasprocessuaisdecunhocogente(art.5.,XXXVIIeLIII,daCF).Portanto, de acordo com o direito ao juiz natural, apenas a lei geral e anterior , ou ato por elaautorizado,podedefiniracompetnciadosrgos jurisdicionais,sendocombasenelaquesehdeinvestigaraformaeoscritriosdedistribuiodecompetncianodireitonacional.Porissomesmo,estabelece o art. 16 que a jurisdio nas causas cveis exercida pelos juzes, em todo o territrionacional, de acordo com as disposies previstas nesse diploma processual e que a capacidade deexerc-laobservaroslimiteslegais(art.42).

Comosev,aproposituradedemandajudiciale,emespecialoseujulgamento,noseddeformaarbitrria e catica no seio da estrutura jurisdicional. Essa obedece rgida especificao legal,abstrataeprvia,dirigidaapermitira identificao (mesmoapriori) do juzo aque essademandaser levada, evitando-se, com isso, a repartio da atuao jurisdicional sem qualquer critriocoerente. A lei, portanto, prefixa a atribuio outorgada a cada um dos rgos que exercem ajurisdio,esmiuandoafunoquedevamexercer.

b)Regra daperpetuao dacompetncia. De acordo com a regra da perpetuao da competncia(perpetuatiojurisdictionisna linguagemtradicional),adeterminaodacompetnciaparaexamedecertacausasednoinciodoprocesso,comaproposituradaao.Estabelecidoorgojurisdicionalcompetente, ele o ser at o final do processo, ainda que o critrio de competncia venha a seralterado futuramente. Assim, uma vez fixada a competncia para certa causa o que se d com apropositura da ao , o rgo permanece competente em regra at o final do processo, sendototalmente irrelevanteseventuaismodificaes futuras,noestadode fatooudedireitodacausa,oumesmoalteraeslegais,quantosregrasabstratasdecompetncia.

Essa regra est expressa no Cdigo de Processo Civil, que estabelece, no seu art. 43, que sedetermina a competncia no momento do registro ou da distribuio da petio inicial, sendo

irrelevantesasmodificaesdoestadodefatooudedireitoocorridasposteriormente.Dessemodo,oscritrios abstratos de determinao de competncia devem ser verificados no momento em que ademanda ajuizada ou seja, nomomento emque ocorrer o registro ou a distribuio da petioinicial , sendo que alteraes subsequentes so, em regra, irrelevantes para a fixao do juzocompetente. Assim, uma vez fixada a competncia para o exame da causa, tornam-se irrelevanteseventuais modificaes no estado defato v.g., a mudana de domiclio do autor ou do ru,10 operecimentodacoisademandada,aalteraodovalordoobjetolitigiosodoprocessooudedireitocomo a alterao dos limites territoriais da comarca em que se situava o imvel demandado ,permanecendoacompetnciajdeterminadaanteriormente.

Diante desse princpio, extrai-se uma concluso evidente: o exame da competncia, feito emqualquermomentodoprocesso,sempredevereferir-seapreciaodasituaodefatoededireitoexistentenapocaemqueaaofoiproposta,enoaomomentoemqueaanliseefetuada.

Aleituradoart.43contudo,levaconclusodequearegrasubmete-seaduasexcees.Apartefinaldessepreceitoestabelecedeformaexpressaquesoirrelevantesasmodificaesdoestadodefato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quandosuprimirem rgojudicirio oualteraremacompetncia absoluta (grifos nossos). Portanto, h duas hipteses em que a regra da perpetuatiojurisdictionisnoseraplicvel.Aprimeiradecorredesituaodepuralgica:seorgojudicirionomaisexiste,nopodeexercerqualquercompetncia,devendoofeitoserencaminhadoaorgoqueosucedeu.Osegundocasomencionadorefere-seasituaesdecompetnciaabsoluta (emregra,competnciamaterialefuncional).Nessescasos,comoacompetnciaabsolutaprevistalevandoemconsideraoanecessidadedeumamelhororganizaodoPoderJudicirioparaaprestaodatutelajurisdicional,asuamodificaodeveserimediatamenteatendida.

Ocorrendosupressodorgojudicirioemodificaodecritriodecompetnciaquedeterminecompetnciaabsoluta,d-seachamadaincompetnciasuperveniente.Ojuizdeveconhec-ladeofcio,remetendo os autos para o juiz competente. Os atos praticados at o seu surgimento so vlidos eeficazes.Apenasosatosdecisriospraticadosposteriormenteincompetnciaquesonulos.

c) Regra dacompetncia sobrea competncia. Essa regra a que baliza toda a verificao e osincidentes a respeito da competncia. De acordo com essa regra (chamada pelos alemes dekompetenz-kompetenz),11 todo juiz tem competncia para apreciar sua prpria competncia paraexaminar determinada causa. Trata-se de decorrncia inevitvel da clusula que outorga aomagistrado da causa o poder de verificar a satisfao dos pressupostos processuais (ou maispropriamente,osrequisitosparaconcessodatutelajurisdicionaldodireito).Seacompetnciaumdessespressupostos,naturalqueojuizdacausatenhaopoderdedecidir(aomenosemumaprimeiraanlise)sobresuacompetncia.

Evidentemente, essa anlise, feita pelo magistrado a respeito de sua competncia (ou sobre aausnciadela),novinculaoutros juzes,mesmoporquetambmessesdetmidnticaprerrogativa.Dessaforma,asquestesrelativascompetnciadorgo jurisdicionalparaapreciarcertaquestodevem ser levadas a ele diretamente, competindo-lhe avaliar, em primeiro plano, a arguiopromovida.Adecisotomada,porm,nocapazdevincularoutrorgo,deformaqueessetambmlivreparaacolherounoessadeciso,seacausalheforencaminhada,oumesmoparaentender-secompetente, ainda diante da aceitao da competncia para a causa pelo primeiro juiz.12 Auniformizaode taisquestes,paraahipteseemquehajadivergnciaentrergosarespeitodacompetnciaparaacausa,ocorrepormeiodeumincidenteprocessual,oconflitodecompetncia,queseradianteexaminado.

2.3.2.Determinaodacompetncia

certo que, para haver efetividade na prestao da tutela jurisdicional, a jurisdio deve serdistribuda entre os juzes e os rgos do Poder Judicirio, pelo que o juiz, diante dos inmerosconflitos que podem surgir no pas, s pode exercer o poder jurisdicional em face de determinadogrupodecasos,oumelhor,somentepodeexercersuacapacidadedejulgaremcertamedida;quandose fala que o juiz apenas pode exercer sua competncia dentro de certos limites, afirma-se que elesomentetemcompetnciaparacertogrupodecasos.

Assim,umavezdeterminadaajurisdionacionalcomohabilitadaparaocasoedefinidaajustiacompetente, cabe verificar, diante de determinado caso conflitivo concreto, qual o rgooriginariamente competente para julgar a causa, bem como qual o rgo competente para julgareventualrecurso(deacordocomasnormasdaConstituioFederal,dasConstituiesEstaduaisedasleisdeorganizaojudiciria).

A partir da, deve-se indagar a respeito do rgo do Poder Judicirio que tem competnciaterritorial para apreciar a causa.Assim,por exemplo, consideradaa competncia territorial do juizestadualdeprimeirograu, fala-seemcomarca;na justia federal fala-seemsubseo judiciria.Ostribunais estaduais, nessa linha, tm competncia sobre todo o Estado, ao passo que os TribunaisRegionaisFederais,emnmerodecinco,tmcompetnciasobredeterminadasregiesdopas.

Frise-sequeemdeterminadareaterritorialpodehaverespecificaomaiordosrgosdoPoderJudicirio.Assim,porexemplo,emumacomarcapodenohaverVaradeFamlia,enquantoemoutraaVaradeFamliasercompetente,porexemplo,paraasaesdedivrcio.NacomarcaemquenohVara de Famlia, a ao de divrcio ser distribuda para uma Vara Cvel. Melhor explicando, etomando-se emconsideraopara finsdidticos o referido exemplo, precisodefinir, emprimeirolugar, que a justia estadual a competente para o caso (j que as justias do trabalho, militar,eleitoral e federal no tm competncia para tal hiptese); que um juzo estadual e o Tribunal deJustia do Estado, de acordo com a Constituio do Estado, tm, respectivamente, competnciaoriginriaerecursal;queacompetnciaterritorial,dentrodasregrasdoCPC,dacomarcaX;e,porfim, que a competncia de juzo, dentro dos limites territoriais definidos em face da competnciaterritorial,deumaVaradeFamlia.

Fala-se, ainda, em competncia interna de juzo, quando, por exemplo, em uma vara exercematividadedoisjuzes,ouquandonecessriosaber,dentrodeumtribunal,qualorgocompetentepara julgardeterminadacausaourecurso (cmara,grupodecmaras, turma,seo,rgoespecial,tribunalpleno).

A fixao da competncia para determinada causa pauta-se, como se pode perceber, por certoscritrios abstratos, capazes de identificar elementos da causa posta em juzo, atribuindo-a a rgojurisdicional especfico. Na determinao do rgo competente, por consequncia, entram diversosfatores,osquaissesomameespecificamumdeterminadojuzo,queseraqueleaquemaleiatribuioprocessamentoeojulgamentodaquesto.

OCdigodeProcessoCivilbrasileirofilia-secorrentedominantequeresultadaanlisedodireitocomparado,queutilizaocritriotripartiteparadisciplinaracompetncia.Portanto,odireitonacionalutilizatrscritriosbsicos(umdelescindidoemdois,resultandonaexistnciadequatroelementoscapazes de determinar a competncia) para a fixao do rgo jurisdicional competente para cadacausa(nalinhadopensamentodeChiovenda):13objetivo,territorialefuncional.

SegundoaliodeChiovenda,ocritrioobjetivodecompetnciatememvistaascaractersticasdacausa a ser examinada, distribuindo as aes entre os diversos rgos jurisdicionais existentessegundo as afinidades ou disparidades verificadas no contedo da demanda. Assim, tal critrioabrangeriaaanlisedovalordacausaouaindadanaturezadacausapostaemjuzo.Quantoaovalor

da causa, possvel estabelecer rgos com competncia diferenciada, segundo a importnciaeconmicadademandaproposta;oquesedaria,aomenosnaopiniomajoritria,emrelaoaosJuizadosEspeciaisEstaduais,quetmcompetnciaparacausasdeatquarentasalriosmnimos(art.3.daLei9.099/1995),eos JuizadosEspeciaisFederaise JuizadosEspeciaisdaFazendaPblica,cujacompetnciaabrangecausasatsessentasalriosmnimos(art.3.daLei10.259/2001,eart.2.daLei12.153/2009).No que respeita natureza da causa, tem-se em conta, especialmente, a qualidade darelao jurdica deduzida, como ocorre com as questes de crianas e adolescentes, de famlia,relativasFazendaPblica,criminais,empresariaisetc.

Odireitobrasileiroacolheessecritrio,dividindoseuexamenosdoisaspectosqueocompem.Porisso,alegislaoptriaconsideraemseparadoocritriodovalordacausaeocritriomaterial,dando-lhesdisciplinadistinta(arts.62e63).

Seocritrioobjetivoexaminaasparticularidadesdacausaproposta,ocritriofuncionalinteressa-se pelas funes desempenhadas pelo rgo jurisdicional no processo. Tem em vista a naturezaprpriaeasexignciasespecficasdasfunesatribudasacadaumdosmagistradosqueparticipamde um dado processo. Cogita-se da funo desempenhada pelo magistrado, repartindo-se,exemplificativamente, essa competncia em competncia de primeiro grau (competncia funcionalhorizontal), competncia recursal (competncia funcional vertical) e competncia para a execuo.Assim,o juizdeprimeirograuno temcompetnciarevisional (recursal)deseu julgado,damesmaformaqueojuzorecursalnotem,emregra,poderdeexaminaracausadiretamente,suprimindoaatividadedoprimeiro.Relevaaindasublinharque tambmmodalidadedecompetncia funcionalaquela examinada em razo das funes exercidas pelo magistrado em outroterritrio v.g., ocumprimentodecartasprecatrias,paraacitaoeintimaodepartes,paraacolheitadeprovasouparaaefetivaodeprovimentosjudiciaisnomesmoprocesso.

Deacordocomoqueprevoart.44,obedecidososlimitesestabelecidospelaConstituioFederal,a competncia determinada pelas normas previstas neste Cdigo ou em legislao especial, pelasnormasdeorganizaojudiciriae,ainda,noquecouber,pelasconstituiesdosEstados.Portanto,asregrasqueregemasmodalidadedecompetncia,e,emparticular,acompetnciafuncional,estodisseminadas na legislao nacional, quando tratam das atribuies conferidas a cada rgojurisdicional.

Por fim, o critrio territorial (tambmchamadodecompetnciadeforo) toma em considerao adimenso territorialatribudaatividadedecadaumdosrgos jurisdicionais.Ascausas, sobessecritrio,sodistribudasentrejuzoscomsedeemreasdistintas,afimdefacilitarterritorialmenteoacesso jurisdio. Para o exame desse critrio, no primeiro grau da Justia Comum, separa-se oterritrionacional(jquenoexteriorajurisdiobrasileiranoatua,porqueineficaz)emcomarcas(naesferada JustiaEstadual),ouemsubseesou circunscries (na JustiaFederal),atribuindo-secadaqualaum juizouaumgrupode juzes.Dessa forma, segundodiretrizes fixadasna legislaoprocessual(emregra,noprprioCdigodeProcessoCivil),queconsideramnormalmenteanaturezada matria litigiosa e dos litigantes, o domiclio das partes ou o lugar do cumprimento de certaprestao,determina-seolocalemquecertogrupodecausasdeveserprocessadoejulgado.

OCdigodeProcessoCivilemboranotratedeformaesmiuadadosdemaiscritriosdetm-selargamentenadisciplinadocritrio territorial, regendo-oentre seusarts.46a53.Nessecontexto,fundamentalobservar,comoregrageral,queasaesfundadasemdireitorealsobrebensmveisouem direito pessoal devem ser propostas no foro do domicliodo ru (art. 46). Por outro lado, nemsempreacompetnciadeterminadaentreessesartigosrelativa,sendoimportanteadvertirqueoart.47,1.e2.,estabelecehiptesesdecompetnciaabsoluta,comoseveraseguir.

_dibe:S:J2.3.3.Regimesdecompetncia

Almdevaler-sedecritrios de competncia, oCdigodeProcessoCivil contempladois regimesdistintos nos quais podem ser enquadradas as hipteses de competncia deles oriundas. Assim,embora sejamquatro os critrios de determinaode competncia, esses podem ser agrupados emdois gneros distintos: os critrios de competncia absoluta e os critrios de competncia relativa,segundoamaiorouamenordisponibilidadedavontadedaspartes sobrearegradeterminadoradoregime.Os indicadores de competncia absoluta constituem grupo de regras cogentes, determinadas nointeressedaadministraodajustia,noseadmitindoqueaspartespossamconvencionardeformadistinta da previso legal, gerando, ademais, consequncias muito mais graves. Por seu turno, asdiretrizesdecompetnciarelativa sopostas, sobretudo,para facilitaodoacesso justiaparaaspartes, razo pela qual podem elas dispor sobre esses critrios, alterando o regime legal (e, porconsequncia,oforocompetenteparaademanda).

Aperfeitaseparaoentreasduascategoriasdecompetnciaessencial,emrazodasdiferentesregrasqueregemumaespcieeoutra,emespecialemrazodasconsequnciasdistintasocasionadaspelatransgressodepreceitosreferentesacadaumadelas.

Nos termos do Cdigo de Processo Civil, so critrios de competncia absoluta omaterial e ofuncionalemboraoprprioCdigoprevejahipteseemquepossvelescolherojuzocompetenteparaaexecuo,excepcionandoaregradacognciadocritriofuncional(art.516,pargrafonico).Quantoaosoutrosdois critrios, so eles consideradosmodalidadesde competncia relativa (aindaque, fora do sistema do Cdigo, a competncia em razo do valor possa dar lugar competnciaabsoluta, como no caso dos Juizados Especiais Federais e dos Juizados da Fazenda Pblica, e queexistamhiptesesdecompetnciaterritorialabsolutas).Defato,acompetnciaterritorial,emregra,relativa, admitindo-se que as partes possam transigir sobre sua fixao, derrogando as normas apropsitoexistentes.Todavia,oprprioCdigo,emseuart.47,1.e2.,estabeleceexceoaessaconcluso, prevendo hiptese em que a competncia territorial passa a ser absoluta, fugindo, porconsequncia,dadisponibilidadedaspartes.Realmente,comoestabeleceoart.47,1.,oautorpodeoptar pelo foro de domiclio do ru ou pelo foro de eleio se o litgio no recair sobre direito depropriedade,vizinhana,servido,divisoedemarcaodeterrasenunciaodeobranova. Jnostermosdo2.,domesmoartigo,aaopossessriaimobiliriaserpropostanoforodesituaodacoisa,cujojuzotemcompetnciaabsoluta.Diantedaclararedaodaregra,observa-seque,emsetratandodelitgiosobredireitodepropriedade,vizinhana,servido,posse,divisoedemarcaodeterras oununciaode obranova, a competnciapara a causa absoluta, devendoademanda serproposta, sempre, no foro da situao da coisa. H, a, por conseguinte, hiptese de competnciaabsoluta, emborasejaelaexcepcional (jque, comoseconcluidocontidonoart.63,acompetnciaterritorial,normalmente,relativa).Nestecaso,fala-seemcompetnciaterritorialfuncional,14partindo-sedapremissadequeelaestabelecidaemvirtudedafunodomagistrado,aqualseriamaisbemexercida, diante de determinados litgios, no local emque est o imvel.Omesmoocorre havendoclusuladeeleiodeforopostademodoabusivo.Conformedeterminaoart.63,3.,essaclusulanulapodendoestanulidadeserdeclaradadeofciopelojuiz,oueventualmenteinvocadapelaparterequerida(art.63,4.).

Estabelecidososdoisgruposdecritrios,restaexaminaradiversidadederegimescontempladosaeles pelo direito positivo brasileiro. De incio, possvel dizer que a competncia absoluta determinada emateno ao interesse da administrao da justia, enquanto a competncia relativabusca, imediatamente, facilitar o acesso justia das partes. Por isso, as regras de competnciaabsolutanoadmitemmodificaopelaspartes,oquespossvelemfacedacompetnciarelativa.Apropsito, estabelece o caput do art. 62 que a competncia determinada em razo damatria, dapessoaoudafunoinderrogvelporconvenodaspartes.Aseuturno,afirmaoart.63,queas

partes podemmodificar a competncia em razo do valor e do territrio, elegendo foro onde serproposta ao oriunda de direitos e obrigaes. As partes podem, portanto, escolher foro distintodaquele designado em lei para a propositura da ao, convencionando e dispondo a respeito dasregrasquefixamacompetnciapelovalordacausaeaterritorial.Esseforoconvencionadonopossvelaescolhadojuzo,masapenasdoforoemqueserpropostaaaorecebeonomedeforodeeleio,esuaescolhadeverevestir-sedasformalidadesexpressasnoart.63,1.(aeleiodeforos produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinadonegciojurdico),obrigando,almdaspartes,seusherdeirosesucessores(art.63,2.).

Acompetnciarelativaadmitemodificao,oquenopossvelemfacedacompetnciaabsoluta.Essamodificaovivelnoapenasdiantedamanifestaodevontadedaspartes,mastambmemrazodaconexooudacontinncia,naformadoquedispeoart.54(comoseradianteestudado).

Adistinotambmrelevanteemfacedomomentodearguiodaincompetncia.Porquefixadaemrazodointeressedaadministraodajustia,aincompetnciaabsolutapodeserreconhecidaaqualquermomentonoprocessoeemqualquergraudejurisdio,arequerimentodapartequedevealegar a questo em preliminarna contestao (art. 64), ou na primeira oportunidade em que lhecouberfalarnosautospodendoamatriaserconhecidatambmdeofciopelojuiz(art.337,5.).Trata-se, portanto, de defeito insanvel e incorrigvel, no sujeito precluso e passvel dereconhecimentoaqualquertempoeemqualquergraudejurisdio,mesmodeofcio.15

J a incompetncia relativa no pode ser conhecida de ofcio pelo juiz, dependendode alegaopela parte, que dever faz-lo igualmente como preliminar de contestao (art. 64), sob pena deprecluso. Uma vez que a incompetncia relativa atinge regras dispostas para facilitar o acesso justia das partes, fixa a lei prazo peremptrio para a alegao do defeito, sob pena de, diante dosilnciododemandado,presumir-seaaceitaodoforoemqueaaofoiproposta,aindaquedistintodaquele designado pela lei. Nesse caso, prorroga-se a competncia do juiz incompetente, que seconverte em competente para a causa, diante da ausncia de impugnao tempestiva da parterequerida(art.65).

Apropsito,nomododearguiodecompetnciapossvelvislumbraraconcretizaodeumadasdiretrizesfundamentaisdoNovoCdigodeProcessoCivil.Afimdetornaroprocessomaissimples,reduzindo-seaomnimopossvelosincidentesprocessuais,comoqueseeconomizamatosprocessuaise tendencialmente seviabilizaumprocessocomduraorazovel (arts. 5., LXXVIII, daCF, e 6.), oNovoCdigoeliminouanecessidadedeexceoparaaalegaodeincompetncia.Atualmente,tantoacompetnciaabsolutacomoacompetnciarelativatmdeseralegadasnacontestao.

Perceba-sequeacompetnciarelativapassveldeprorrogao(art.65).Fala-seemprorrogaodecompetnciaparadesignarofenmenopeloqualojuiztemsuacompetnciaampliada,deixandodeser incompetente para transformar-se em competente para certa causa. Um primeiro exemplo deprorrogaoaqueleemque,propostaaaoperante juzorelativamente incompetente, o runoaleganacontestaoaincompetncia;diantedessaomisso,ojuizincompetenteadquirecompetnciaparaexaminaracausa,sanando-seodefeito inicialmentegerado.Outroexemplodeprorrogaodecompetncia o da chamada fora atrativa (vis attractiva) inerente aos juzos universais, como ofalimentarouodaexecuoconcursal.Defato,nessasltimashipteses,aproposituradaaogeraaatraodetodas(ouquasetodas)asdemandaspropostasarespeitodosujeito(falidoouinsolvente),tornando-seojuzodafalnciaouodainsolvnciacompetenteparaqualqueraorelativamassadebensproduzida(art.762doCPCde1973,emvigorporforadoart.1.052,art.76,caput,Lei11.101/2005eart.7.,2.,dorevogadoDec.-lei7.661/1945).

Quantosconsequnciasreferentesviolaoderegrassobrecompetncia,tambmdistintoo

regimeatribudopelalei.Verificando-seaincompetnciaabsoluta,emqualquerestgiodoprocesso,cabe ao juzo competente decidir sobre a validade dos atos praticados pelo juzo incompetente,presumindo-se vlido salvo deciso em contrrio tais decises, ao menos at que outra sejaproferidapelojuzoadequado(art.64,4.).Tograveodefeitoresultantedaprolaodesentenaporjuizabsolutamenteincompetentequeodireitobrasileirosujeitaessadecisoaorescisria(art.966,II),permitindo,portanto,quesedesfaaacoisajulgadaqueaacoberta.

Jemfacedacompetnciarelativa, considerando-sequeasregrasquea fixamsoestabelecidaspara facilitao do acesso justia das partes, os atos decisrios praticados por juiz relativamenteincompetentenosonulos,nosendoaindasuscetveisdesubsidiaraorescisria.Significadizerque,praticadoatodecisrioporjuizrelativamenteincompetente,estesomenteserviciadosehouveroportuna alegao do ru, por meio de arguio de incompetncia realizada em preliminar contestao ou na primeira oportunidade em que competir parte falar nos autos , sob pena detornar-seojuizcompetentee,porconsequncia,perfeitaadecisoproferida.

De todomodo, reconhecidaa incompetnciado juzo relativaouabsoluta deveomagistradoremeter os autos ao juzo competente, para o prosseguimento da causa. Se, porventura, o feitotramitava, perante o juzo incompetente, por meio digital, e deva ser remetido a juzo que nodisponha desse sistema, cumpre instncia original imprimir os atos processuais em papel,remetendoosautosfsicosaojuzocompetente(art.12,2.,daLei11.419/2006).16

2.3.4.Modificaesdacompetncia

Nosso Cdigo de Processo Civil prev como institutos capazes de modificar a competncia apreveno(art.58),aconexo(art.55),acontinncia(art.56)eaclusuladeeleiodeforo(art.63).Sobcerto aspecto, tambm a figura dos atos concertados entre juzes cooperantes (art. 69, 2) podeimplicaralteraodacompetnciajdeterminada,comoservistoadiante.

Arigor,aprevenonoconstituiinstitutoligadoshiptesesdemodificaodecompetncia,namedidaemqueaprevenofixaacompetnciadedeterminadojuzo.Juzopreventoojuzoemqueprimeirosefixouacompetnciapeloregistrooudistribuiodapetioinicialdaprimeirademanda(art.59).Acompetncia,dessemodo,fixadapeloregistrooudistribuiodapetioinicial.Nosetrata,portanto,demodificaracompetnciaanteriormentefixada.

Emcomum,aconexo,acontinnciaeaclusuladeeleiodeforotmofatodemodificaremacompetnciarelativa(arts.54e63).Acompetnciaabsolutanoadmitemodificaopelaconexo,pelacontinnciaepelaclusuladeeleiodeforo.

Conexo um nexo de semelhana entre duas ou mais causas. Levando-a em considerao olegisladorabstratamenteexcepcionaoregimecomumdecompetnciaemdeterminadoscasos(art.54)oupermiteaojuizconcretamentereunircausasinstauradasseparadamenteemoutros(arts.55,3.e58).Trata-sedeinstitutoquepartedateoriadostrselementosdacausa(triaeadem),17expressamenteacolhidapeloCdigo(art.337,2.),equepermiteaaferiosejadoscasosemquehidentidadedecausas(quelevamcaracterizaodalitispendnciaedacoisajulgada,art.337,1.equeimpemaextinodoprocessosemresoluodemrito,art.485,V), sejadoscasosemquehsemelhanadecausas (que levam caracterizao da conexo e que impem excees ao regime comum dacompetnciaoulevamreuniodascausaspropostasemseparado).

A conexopode serprpriaou imprpria. A conexo prpria leva em considerao a identidadeparcial entre os elementos da causa (partes, causa de pedir e pedido). Assim, h conexo prpriasubjetivaquandohidentidadeentreaspartesemduasoumaiscausasouquandoentreasmesmaspartespendemduasoumaiscausas,sendoumamaisabrangentedopontodevistadopedidoqueas

outras ( oqueoCdigo chamadecontinncia, art. 56, que rigorosamentenopassade espciedognero conexo) ehconexoprpriaobjetiva quandoh identidade entre a causadepedir e/ou opedidoentreduasoumaiscausas(art.55).Aconexoimprpria levaemconsideraoomodo comoduasoumaiscausaspodemserelacionar.Nessalinha,aconexoimprpriapodeserqualificadaporacessoriedade(art.61),porprejudicialidade(art.313,V),porreconveno(art.343),porhomogeneidade(art.55,3.)ouporoutrascausaspontuais(v.g.,arts.55,2.e60).18

Aconexovisaeconomiaprocessualeharmoniaentreosjulgados.Poressarazo,aconexonodeterminaareuniodeprocessos,seumdelesjfoi julgado (Smula235,STJ,queobviamenteinspirou a redao do art. 55, 1.), porque a j desapareceram as finalidades perseguidas peloinstitutoenohaveriamaisriscodedecisesconflitantes.Verificadaaconexo,temojuizdereunirasaespropostasemseparadonojuzoprevento(art.58).

A clusula de eleio de foro umadisposionegocial que pode ser inserida por vontade daspartes em qualquer negcio jurdico. Por essa, convenciona-se que eventuais litgios oriundos donegciodeveroserdirimidosemdeterminadojuzo.RefereoCdigoqueAspartespodemmodificaracompetnciaemrazodovaloredo territrio,elegendoforoondeserpropostaaooriundadedireitoseobrigaes.Porsetratardeatoespecialdedisposio,prevaleiqueaclusuladeeleios seja vlida se constar de instrumento escrito e referir especificamente a determinado negciojurdico. Em contratos de adeso, porm, em que h assimetria entre as partes e, em regra,vulnerabilidadedeumadiantedaoutra,aclusuladeeleiodeforo ineficaz (art.190,pargrafonico).Domesmomodo,pode-sesemprerecusaraeficciaaclusuladeeleiodeforoquesemostreabusiva(art.63,3.).

Aineficciadaclusuladeeleiodeforopodeserexaminadapelojuiz,deofcio,semprequeforabusiva (inserta ou no em contrato de adeso) ou quando uma das partes for manifestamentevulnervel.Tambmpodeaparteprejudicadainvocaraabusividadedaclusula,nasuacontestao,sobpenadeprecluso (art.63,4.).Casoo juizno tenhaafastadoaeficciadaclusulaantesdacitao, deofcio, ouaparte requeridano invoqueodefeitona contestao, preclui amatria e ojuzosetornacompetente.

2.3.5.Declaraodeincompetncia

Acompetnciaabsolutaourelativaserarguidapelapartecomopreliminardecontestao.Antesdeojuzodecidirarespeitodaalegao,deveouvirapartecontrria(art.64,2.),finsdeobservaododireitoaocontraditrio(arts.5.,LV,daCF,e9.).Declaradaaincompetncia,salvodecisojudicialemsentidocontrrio,conservar-se-oosefeitosdadecisoproferidapelojuzoincompetente,atqueoutrasejaproferida,seforocaso,pelojuzocompetente(art.64,4.).

Enquantopendeaquestoconcernentedeclaraodaincompetnciadojuzo,havendosituaodeurgncia,nadaobstaaqueo juzocuja incompetnciasearguiudecidaarespeitodepedidosdetuteladeurgnciasejadenaturezacautelar,sejadenaturezasatisfativa(art.300ess.).Issoporqueantiga a lio no sentido de que quando est periculum in mora incompetentia non attenditur.19 Anecessidadede tuteladeurgncia como intuitivo incompatvel comanecessidadedeprviadefiniodojuzocompetente.

Nocontextodadeclaraodeincompetncia,podeocorrerdedoisdiferentesjuzosentrarememconflito de competncia. H conflito de competncia quando dois ou mais juzes efetivamente sedeclaram competentes para o julgamento da mesma causa (conflito positivo de competncia) oudeclaram-se incompetentes para tanto (conflitonegativo de competncia) (art. 66, I e II). Embora onossoCdigoprevejacomoumaterceirahiptesedeconflitoocasoqueocorrequandoentre2(dois)

oumais juzessurgecontrovrsiaacercadareunioouseparaodeprocessos (art.66,III),certoque nessa situao seguir-se- a instalao de um conflito positivo (quando surge a controvrsia arespeitodareunio,porqueaambosqueremjulg-los)oudeumconflitonegativo(quandosurgeacontrovrsia a respeito da separao, porque a ambos no querem julg-los). Sendo declinada acompetnciaparadeterminadojuzo,seessenoacolh-ladeversuscitarconflito,salvoseaatribuirajuzodiversododeclinante(art.66,pargrafonico).

Como o conflito de competncia constitui um incidente processual cuja competncia para ojulgamento de tribunal, nosso Cdigo resolveu disciplinar o seu procedimento nos arts. 951 e ss.,alocadosnaparteconcernenteaoprocessonostribunais.Poressarazo,remete-seoleitorinteressadoaopontopertinenteadiante.

2.3.6.Cooperaonacional

Paraqueatutelajurisdicionaldosdireitospossaserprestadadeformaeficiente,necessrioqueosrgosdoPoderJudiciriocooperementresiafimdequedeterminadosatosprocessuaisessenciaisparatantopossamserpraticados.

Noart.67ess.,olegisladorregulaacooperaonacional,queaquelaquesedentreosrgosdoPoder Judicirio no mbito do territrio nacional. Embora a arbitragem no se confunda com ajurisdio, por questes ligadas finalidade comum de solues de controvrsia, tambm podeocorrercooperaoentrergosjurisdicionaisetribunaisarbitraisoquesedmedianteachamadacartaarbitral(art.69,1.).Emambososcasos,afimdequeoprocessosejamaisgil,promovendo-setendencialmenteasuaduraoemtemporazovel,olegisladorprevdeverderecprocacooperaoentremagistrados,servidores,rbitrosecmarasarbitrais(art.67).

Opedidodecooperaodeveserprontamenteatendidoeprescindedeformaespecfica.Ofatodeos rgos jurisdicionais pertencerem a diferentes ramos do Poder Judicirio (por exemplo, JustiaFederal e Justia do Trabalho) no impede o seu atendimento. O pedido de cooperao pode serexecutadocomoauxliodireto,reunioouapensamentodeprocessos,prestaodeinformaes eatosconcertados.Olegisladorreferequeosatosconcertadosentreosjuzospodemconsistirnaprticadeatos de comunicao processual (prtica de citao, intimao ou notificao), de organizao doprocesso(centralizaodeprocessosrepetitivos),deinstruodacausa(obtenoeapresentaodeprovasecolheitadedepoimentos,habilitaodecrditosnafalnciaounarecuperaojudicial)edeefetivaodasdecises(efetivaodetutelaantecipadaeexecuodedecisojurisdicionaldefinitiva).

2.3.7.Atosconcertadosentrejuzescooperantes

Dentre as formas de cooperao nacional, destaca-se a figura dos atos concertados entre juzescooperantes.Amedidaprevistanoart.69,inc.IV,eposteriormenteesmiuadanoart.69,2,todosdoCPC/2015.

Atcnicaencontraparalelonomultidistrictlitigationnorte-americanoeconstituiuma tcnicaderacionalizar os recursos judicirios, oferecendo solues que tendem isonomia. Constitui umatcnicadecoletivizao,aindaquenoseidentifiqueasaescoletivas.

Trata-sede instrumentopormeiodoqual juzesconcentramaprticadecertasatividadesou,eventualmente,oprpriojulgamentodecasosrepetitivos(art.69,2,VI)buscandoracionalizaradistribuio do trabalho. Essa concentrao pode envolver desde a prtica de simples atos decomunicaoprocessual,envolvendovriosprocessos,atmesmoacolheitadeprova,ojulgamento,aefetivao de decises ou mesmo a centralizao de processos de massa. Pode envolver rgosjurisdicionaisdedistintosramosdoPoderJudicirio(art.69,3)edispensaformaespecfica.

Afigurasepresta,dentreoutras,alidarcomquestesdemassaoucomaspectosconvergentesdedistintosprocessos.Imagine-se,porexemplo,umprodutoquesesuponhanocivosadeequepossater prejudicado diversos consumidores. Qual o sentido de se produzir prova pericial em cada umdessesprocessosparaomesmoobjetivo?Nomaisdelegaraapenasummagistradoacolheitadessaprova(porhiptese,quelemaisprximodoobjetodapercia),paradepoistransportaressaprovaeeventualmenteoutrasquesemostrempertinentesaosoutrosprocessos?

Omesmopodeocorreremrelaoaojulgamentodecausasdemassa.Apreservaodaisonomiapodedeterminarqueumnicojuizfiqueresponsvelporexaminarasvriascausas,aindaquecadaumadelasexijasoluodiferente.Semdvida,aapreciaodessasvriasdemandasporumsrgojurisdicionalfavoreceaaplicaodecritriosiguaisparatodasasdemandase,assim,contribuiparadecisomaishomogneaparatodososcasos.

Enfim, para a prtica de qualquer ato processual que possa repercutir em vrisos processos,autoriza-se o emprego da tcnica em exame, desde que seu emprego favorea a isonomia ou aeficinciadaprestaojurisdicional.

Logicamente, de se esperar que os tribunais estabeleam critrios para essa modalidade decooperao.Nosetratandodemedidaqueexijaavontadedojuizjqueomagistradopossui,emrelaoaosprocessosqueexamina,poderes-deveresnecessriosaberemquesituaeshaverdeocorreressaconcentraoouno.

Defato,emboraotextolegalaludaaatosconcertados,evidentequeessaprticanodependedaboavontadedosjuzesenvolvidos.Nosetratadesimplesfaculdadeoutorgadaaosmagistrados.Porqueosjuzesestoinvestidosdeverdadeirospoderes-deveres,presentessituaesdepreservaodaisonomiaoudaeficinciadaprestaojurisdicional,aconcentraodeatosdeveocorrer.Porisso,necessrioquesetenhaummnimodeparmetrosparaaaplicaodessamedida.

Soboutrovis,parecetambmcertoquenohnessafiguraqualquerlesoaoprincpiodojuiznatural.Noseestabelece,comessaconcentrao,qualquerjuzodeexceo,masapenasseprevumoutro critrio a isonomia ou a eficincia para a prtica de ato processual, a includa eventualcentraodeprocessosouunidadedejulgamento.

Nafaltadeoutroinstrumentoadequadoparaaimpugnaodepossveisdesacertosnaaplicaodessatcnica,parecequeocaminhoseroconflitodecompetncia(art.951ess.),aindaquemelhorfosseoempregodeoutrassolues,maisflexveiseinformais.

Caso

AstrogildoJnior,menorimpbere,residenteemPortoAlegre,representadoporsuame,ajuizouaopedindoa fixaodealimentosemfacedeAstrogildo, seupai, residenteedomiciliadoemSoPaulo.AaofoiajuizadaemPortoAlegre,ondetramitouataaudinciadeinstruo.Conclusososautosparasentena,AstrogildoapresentapetioemquerequeroreconhecimentodaincompetnciaabsolutadojuzodePortoAlegre.Alegaqueaaofundadaemdireitopessoaldeveserajuizadanoforododomicliodoru.Sustentaaindaqueatramitaodoprocessoemcomarcadiversadaquelaemqueresideprejudicouoexercciododireitodedefesa,violandoassimpreceitoconstitucionaloquecaracterizariaincompetnciaabsoluta,quepodeseralegadaaqualquertempoeemqualquergraudejurisdio. Como consequncia, o rupedea anulaode todos os atosprocessuais e a extinodoprocessosemresoluodomrito.AdefesadeAstrogildomovimentou-sebemnoprocesso?

footnotesfootnotes

1

MirjanDamaka,Thefacesofjusticeandstateauthority,p.6-15;Marinoni,ArenharteMitidiero,CursodeProcessoCivil,vol.I.

2

JosAfonsodaSilva,Cursodedireitoconstitucionalpositivo,p.145.

3

OvdioBaptistadaSilva,ComentriosaoCdigodeProcessoCivil,p.407,vol.I;DonaldoArmelin,Competnciainternacional,Revistade

Processo,p.134,n.2.

4

Sobreoassunto,TeoriZavascki,Cooperaojurdicainternacionaleaconcessodeexequatur,RevistadeProcesso,p.9ess.,n.183;Jos

Tesheiner,CooperaojudicialinternacionalnoNovoCdigodeProcessoCivil,RevistadeProcesso,p.331ess.,n.234.

5

DanielMitidiero,ComentriosaoCdigodeProcessoCivil,p.413-418,t.I.Sobreoassunto,emgeral,JordiFerrerBeltrn,Lasnormasde

competencia, p. 123 e ss; Torben Spaak, The concept of legal competence, p. 154 e ss; no processo civil em particular, Athos Gusmo

Carneiro,Jurisdioecompetncia,2.ed.passim;LeonardoCarneirodaCunha,Jurisdioecompetncia,passim;PatrciaMirandaPizzol,

Acompetncianoprocessocivil,passim.

6

GiuseppePisanelli,Commentario del Codice di ProceduraCivile per gli stati sardi con la comparazione degli altri Codici Italiani, e delle

principalilegislazionistraniere,p.16-17,vol.I;LuigiMattirolo,Trattatodidirittogiudiziariocivileitaliano,p.24,vol.I.

7

GiuseppeChiovenda,Instituiesdedireitoprocessualcivil,p.155,vol.II;EnricoTullioLiebman,Manualdedireitoprocessualcivil,p.55,

vol.I.

8

Portodos,AthosGusmoCarneiro,Jurisdioecompetncia,p.45.

9

Assim,CelsoNeves,Estruturafundamentaldoprocessocivil,p.56.

10

Assim,porexemplo,competenteojuzodolocalemqueresidiroautornomomentodainstauraodaaoemquesepedemalimentos

(art.53, II),aindaque,posteriormente,oprprioalimentandopasseamoraremoutromunicpio(STJ,2.S.,CC27083/SP,rel.Min.Ari

Pargendler,DJU08.10.2001).

11

LeoRosenberg,KarlHeinzSchwabePeterGottwald,Zivilprozessrecht,p.55.

12

H,contudo,umaimportanteexceoregra:segundoentendimentoconsolidadonoSTJ,adecisodojuizfederalacercadaexistnciaou

nodeinteressedaUnioemumdadocasoconcretoprevalecesobreamesmaanliserealizadapelojuizestadualevinculaaatuao

desse.AorientaodoSuperiorTribunaldeJustiaestrefletidaemtrssmulassuas:Smula150(CompeteJustiaFederaldecidir

destaedio[2017]

sobreaexistnciadeinteressejurdicoquejustifiqueapresena,noprocesso,daUnio,suasautarquiasouempresaspblicas);Smula

224(Excludodofeitooentefederal,cujapresenalevaraoJuizEstadualadeclinardacompetncia,deveoJuizFederalrestituirosautos

e no suscitar conflito); e Smula 254 (A deciso do Juzo Federal que exclui da relao processual ente federal no pode ser

reexaminadanoJuzoEstadual).ONCPCacolheessaorientaonoart.45,3..

13

GiuseppeChiovenda,Instituiesdedireitoprocessualcivil,1942,v.2,p.214ess.

14

EnricoTullioLiebman,Manualdedireitoprocessualcivil,p.192ess.

15

Contudo,seaincompetnciaabsolutanotiversidoalegadaedecidida,nopoderserinvocadaapenasnorecursoespecialounorecurso

extraordinrio,porfaltadeprequestionamento.Naverdade,quandosedizqueaincompetnciaabsolutapodeserdeclarada,aindaque

deofcio,emqualquergraudejurisdio,toma-seemconsideraosomenteasinstnciasordinrias,enoasinstnciasdetaisrecursos.

16

Alguns tribunais, ao regulamentar o uso do processo eletrnico, decidiram sancionar com a extino do feito as hipteses de

incompetncia do juzo. Assim, por exemplo, o TRF-4. Reg., ao disciplinar o uso do processo eletrnico em seu mbito territorial,

estabeleceu, no art. 16 da Res. TRF-4. Reg. 17, de 26.03.2010, que nos casos de incompetncia, a petio inicial ser indeferida,

extinguindo-se o feito sem resoluo do mrito. A regra evidentemente ilegal, por contrastar com o contido no art. 12, 2., Lei

11.419/2006,nopodendoseraplicada.Aindaassim,instatercautelanoexamedasregrasdecompetncia,jqueprovidnciascomoessa,

emborailegais,podemcausargraveprejuzoparte.

17

MatteoPescatore,SposizioneCompendiosadellaproceduracivileecriminalenellesommesueragionienelsuoordinecomplementosuitemi

principalidituttoildirittogiudiziario,p.168,vol.I,tI;JosRogrioCruzeTucci,Acausapetendinoprocessocivil.

18

Sobreotema,amplamente,JosCarlosBarbosaMoreira,Aconexodecausascomopressupostodareconveno;OlavodeOliveiraNeto,

Conexoporprejudicialidade.

19

OvdioBaptistadaSilva,Doprocessocautelar,p.155.

2017-04-30

NovoCursodeProcessoCivil-Volume2-Edio2017PARTEI-NOESGERAIS3.PARTICIPAONOPROCESSO

3.Participaonoprocesso

3.1.Oprocessocivilcomoumacomunidadedetrabalho

Para que o processo se desenvolva regularmente necessria a conjugao da atividade de nomnimo trs pessoas um autor que pede, um ru que se defende e um juiz que julga. Cada umadessas pessoas tem umpapel que lhe reservado pela Constituio e pela legislao no processo.1

Eventualmente, esse esquemamnimodeparticipaonoprocesso ampliado,nele se admitindoaparticipaodeterceirosquedemonstreminteressejurdiconasuasoluo.2Almdojuiz,daspartesedosterceirosqueeventualmentepodemintervirnoprocesso,deleparticipamtambmosauxiliaresdojuiz(escrivooudiretordesecretaria,oficialdejustia,mediadores,conciliadores,assessores,peritos,intrpretes e tradutores, art. 149 e ss.), cuja funo central a de coadjuvar o juiz na conduodoprocessocivilafimdequesechegueaumadecisojustaemumprazorazovel(arts.5.,LXXVIII,daCF,e4.e6.doCPC).

Porque a ordem jurdica reconhece a cada um dos participantes do processo um complexo dedireitos, poderes, faculdades, nus e deveres ao longo do procedimento, diz-se que o processo civilpode ser encarado comouma comunidadede trabalho (Arbeitsgemeinschaft)3 vale dizer, como umprocedimento emque a atividade coordenadade todos quenele tomamparte est constitucional elegalmente direcionada justa resoluo do conflito apresentado pelas partes ao juiz. Trata-se deexignciaquedecorredodireitofundamentalaoprocessojusto(art.5.,LIV,daCF).4Comoobservaadoutrina,leprocsquitableimpliqueunprincipedecoperationefficientedespartiesetdujugedansllaborationdujugementversquoiesttenduetouteprocdure.5

Essa a razo pela qual nosso Cdigo arrola como um dos seus princpios fundamentais acolaboraoentreosparticipantesdoprocesso(art.6.).6 Issonoquerdizer,contudo,queaspartestenhamodeverdecooperarentresicomoequivocadamenteconstananossalegislao.Aocontrriodo que acontece no plano do direito material, em que as partes