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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2012 - ANO XV - N o 190 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória A escolha da arquiteta Teca Gouvêa para prefeita de Piquete, nos próximos quatro anos, mostra que seus moradores querem mudanças na maneira de se administrar o município. Já há algum tempo, os municípios brasi- leiros vêm buscando um novo modelo de administração pública que alavanque seu crescimento e proporcione qualidade de vida para suas populações. Constata-se que as cidades cujos prefeitos optaram por um novo modelo de administração pública con- quistaram resultados positivos para as me- tas para elas traçadas e trouxeram benefíci- os para a população. Vivemos um momento histórico inédito para a humanidade, incluindo a globalização, a forte competitividade, as rápidas mudan- ças tecnológicas e os demais fatores que exigem dos administradores municipais ca- pacidade de percepção, adaptação e até mesmo antecipação a essas mudanças. No entanto, Piquete, a exemplo de muitas ou- tras pequenas cidades, ainda se encontra presa a um modelo arcaico em que as pala- vras planejamento e metas passam longe e a ideia de uma administração moderna e res- ponsável é desconhecida. Isso deixou o município fragilizado, em situação constan- te de riscos em diferentes setores estratégi- cos de sua administração. Tudo em Piquete é feito de forma improvisada. Essa situação observada em Piquete não é exclusividade de nosso município. Encontramos país afo- ra muitas cidades cujas políticas adminis- trativas arcaicas e inconsequentes impedem o seu caminhar rumo ao futuro. O que vem sendo discutido e aplicado com sucesso em muitos municípios brasi- leiros é um modelo de administração públi- ca voltada para a eficiência, eficácia e efetividade do aparelho do Estado, com foco em resultados. A Nova Administração Pú- blica ou “revolução gerencial” é um dos movimentos recorrentes e atualmente dis- cutidos em todo o mundo. Busca-se a exce- lência na administração. Esse modelo de gestão “representa a fusão das ideias de gestão dos setores pú- blico e privado” por utilizar padrões de ges- tão bem-sucedidos do setor privado, embo- ra aplicados a um contexto tipicamente do setor público. Entre os principais fatores que caracterizam esse modelo estão: a preocu- pação com a qualidade do serviço público e o desejo de alcançar sua excelência; o esta- belecimento de uma missão organizacional como elemento norteador para a obtenção dessa excelência; a atenção aos valores e à opinião do usuário, valorizando a cidada- nia; o desenvolvimento do trabalho comu- nitário e outros relativos ao desenvolvimen- to da aprendizagem social; o gerenciamento de políticas públicas, entre outras. O cenário que a prefeita eleita de Pique- te vai assumir é caótico. Sem planejamento, o município se encontra há anos à deriva, navegando sem rumo e sem um timoneiro. Tudo nele está por se fazer. A expectativa para o próximo ano é grande. Vontade de trabalhar e capacidade técnica a nova prefeita tem de sobra. Desejamos a ela boas parcerias e que faça as mudanças necessá- rias para colocar o município no caminho do progresso e da prosperidade, inserindo- o no século 21. Por uma nova administração pública Nem bem teve início o período das chuvas, canais de televisão já noticiam enchentes e desmoronamentos com ví- timas em diversos pontos do país. Os moradores de áreas de risco vivem apre- ensivos, com medo de que se repitam as tragédias de anos passados. Após as chuvas catastróficas do verão de 2011, que vitimaram mais de 900 pessoas só na serra fluminense, deixando milhares de famílias desabrigadas, os governos discutiram a necessidade urgente de se elaborar programas e ações preventivas para minimizar os impactos causados pelas águas. Estudos foram elaborados, levantamentos e diagnósticos feitos e recursos disponibilizados para que o país possa estar preparado para desas- tres naturais. Às vésperas de novo período chu- voso, o Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatística (IBGE) publicou, no últi- mo dia 13 de novembro, a pesquisa “Per- fil dos Municípios Brasileiros”, na qual aponta que apenas 6,2% das cidades brasileiras possuem planos municipais de gerenciamento de áreas de risco. O número equivale a 344 municípios do total de 5.565. Os planos considerados oficiais preveem ações como o gerenciamento de ameaças de deslizamento e a recupe- ração ambiental preventiva. Do total das cidades brasileiras, 32,6% dizem realizar ações pontuais ou ter programas que ajudam a evitar ris- cos, mas que não têm esse propósito como principal ou não estão vinculadas a um plano oficial de prevenção. Na região Sudeste, 9,6% dos muni- cípios têm planos oficiais de prevenção para áreas de risco. Outros 11,6% estão em fase de elaboração. Segundo o IBGE, esse gerenciamento é deficiente em 30 das 39 cidades da Região Metropolita- na do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Apenas 9 possuem planos municipais de gerenciamento de áreas de risco. Apesar de Piquete ser apontado como tendo um plano, acredita-se que seja incipiente e que muito ainda preci- sa ser feito para que se mostre eficaz: por exemplo, parcerias com os governos e sensibilização da comunidade. A pre- venção de desastres naturais passa pela recuperação de nossas encostas e das margens de rios, pela limpeza urbana e pelo gerenciamento dos locais com po- tencial de risco à população. O cenário que a prefeita eleita de Piquete vai assumir é caótico. Sem planejamento, o município se encontra há anos à deriva, navegando sem rumo e sem um timoneiro. Tudo nele está por se fazer.

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Ediçãod 190, de novembro de 2012, de O ESTAFETA.

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Page 1: NOVEMBRO 2012

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2012 - ANO XV - No 190

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

A escolha da arquiteta Teca Gouvêa paraprefeita de Piquete, nos próximos quatroanos, mostra que seus moradores queremmudanças na maneira de se administrar omunicípio.

Já há algum tempo, os municípios brasi-leiros vêm buscando um novo modelo deadministração pública que alavanque seucrescimento e proporcione qualidade devida para suas populações. Constata-se queas cidades cujos prefeitos optaram por umnovo modelo de administração pública con-quistaram resultados positivos para as me-tas para elas traçadas e trouxeram benefíci-os para a população.

Vivemos um momento histórico inéditopara a humanidade, incluindo a globalização,a forte competitividade, as rápidas mudan-ças tecnológicas e os demais fatores queexigem dos administradores municipais ca-pacidade de percepção, adaptação e atémesmo antecipação a essas mudanças. Noentanto, Piquete, a exemplo de muitas ou-tras pequenas cidades, ainda se encontrapresa a um modelo arcaico em que as pala-vras planejamento e metas passam longe ea ideia de uma administração moderna e res-ponsável é desconhecida. Isso deixou omunicípio fragilizado, em situação constan-te de riscos em diferentes setores estratégi-cos de sua administração. Tudo em Piqueteé feito de forma improvisada. Essa situaçãoobservada em Piquete não é exclusividadede nosso município. Encontramos país afo-ra muitas cidades cujas políticas adminis-trativas arcaicas e inconsequentes impedemo seu caminhar rumo ao futuro.

  O que vem sendo discutido e aplicado

com sucesso em muitos municípios brasi-leiros é um modelo de administração públi-ca voltada para a eficiência, eficácia eefetividade do aparelho do Estado, com focoem resultados. A Nova Administração Pú-blica ou “revolução gerencial” é um dosmovimentos recorrentes e atualmente dis-cutidos em todo o mundo. Busca-se a exce-lência na administração.

Esse modelo de gestão “representa afusão das ideias de gestão dos setores pú-blico e privado” por utilizar padrões de ges-tão bem-sucedidos do setor privado, embo-ra aplicados a um contexto tipicamente dosetor público. Entre os principais fatores quecaracterizam esse modelo estão: a preocu-pação com a qualidade do serviço público eo desejo de alcançar sua excelência; o esta-belecimento de uma missão organizacionalcomo elemento norteador para a obtençãodessa excelência; a atenção aos valores e àopinião do usuário, valorizando a cidada-nia; o desenvolvimento do trabalho comu-nitário e outros relativos ao desenvolvimen-to da aprendizagem social; o gerenciamentode políticas públicas, entre outras.

O cenário que a prefeita eleita de Pique-te vai assumir é caótico. Sem planejamento,o município se encontra há anos à deriva,navegando sem rumo e sem um timoneiro.Tudo nele está por se fazer. A expectativapara o próximo ano é grande. Vontade detrabalhar e capacidade técnica a novaprefeita tem de sobra. Desejamos a ela boasparcerias e que faça as mudanças necessá-rias para colocar o município no caminhodo progresso e da prosperidade, inserindo-o no século 21.

Por uma nova administração pública

Nem bem teve início o período daschuvas, canais de televisão já noticiamenchentes e desmoronamentos com ví-timas em diversos pontos do país. Osmoradores de áreas de risco vivem apre-ensivos, com medo de que se repitam astragédias de anos passados. Após aschuvas catastróficas do verão de 2011,que vitimaram mais de 900 pessoas sóna serra fluminense, deixando milharesde famílias desabrigadas, os governosdiscutiram a necessidade urgente de seelaborar programas e ações preventivaspara minimizar os impactos causadospelas águas. Estudos foram elaborados,levantamentos e diagnósticos feitos erecursos disponibilizados para que opaís possa estar preparado para desas-tres naturais.

Às vésperas de novo período chu-voso, o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) publicou, no últi-mo dia 13 de novembro, a pesquisa “Per-fil dos Municípios Brasileiros”, na qualaponta que apenas 6,2% das cidadesbrasileiras possuem planos municipaisde gerenciamento de áreas de risco. Onúmero equivale a 344 municípios dototal de 5.565.

Os planos considerados oficiaispreveem ações como o gerenciamentode ameaças de deslizamento e a recupe-ração ambiental preventiva.

Do total das cidades brasileiras,32,6% dizem realizar ações pontuais outer programas que ajudam a evitar ris-cos, mas que não têm esse propósitocomo principal ou não estão vinculadasa um plano oficial de prevenção.

Na região Sudeste, 9,6% dos muni-cípios têm planos oficiais de prevençãopara áreas de risco. Outros 11,6% estãoem fase de elaboração. Segundo o IBGE,esse gerenciamento é deficiente em 30das 39 cidades da Região Metropolita-na do Vale do Paraíba e Litoral Norte.Apenas 9 possuem planos municipaisde gerenciamento de áreas de risco.

Apesar de Piquete ser apontadocomo tendo um plano, acredita-se queseja incipiente e que muito ainda preci-sa ser feito para que se mostre eficaz:por exemplo, parcerias com os governose sensibilização da comunidade. A pre-venção de desastres naturais passa pelarecuperação de nossas encostas e dasmargens de rios, pela limpeza urbana epelo gerenciamento dos locais com po-tencial de risco à população.

O cenário que a prefeita eleita de Piquete vai assumir é caótico. Sem planejamento, o município seencontra há anos à deriva, navegando sem rumo e sem um timoneiro. Tudo nele está por se fazer.

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Página 2 Piquete, novembro de 2012

Imagem - Memória

Na origem extrema das desigualdadesraciais observadas no Brasil está o fato ób-vio de que os africanos e muitos de seusdescendentes foram incorporados à socie-dade brasileira na condição de escravos.

A chamada “escravidão moderna” foiuma das formas mais radicais de exclusãoeconômica e social já mantida pelo homem.O Brasil foi a maior nação escravista da eramoderna e o maior importador de toda a his-tória do tráfico atlântico. As desigualdadesentre raças observadas no Brasil hoje nadamais são, portanto, do que o resultado cu-mulativo das desvantagens iniciais trans-mitidas através de gerações.

Recentemente, o governo federal criouo Dia da Consciência Negra – 20 de Novem-bro – e o incluiu no calendário escolar, tor-nando obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. Com isso, os profes-sores devem preparar aulas sobre a históriada África e dos africanos, as lutas dos ne-gros no Brasil, a cultura negra brasileira e onegro na formação da sociedade nacional.

A falta de informação faz com que o alu-no deixe de conhecer o quão rica é a contri-buição da cultura negra para história regio-nal e, principalmente, para a de nosso muni-cípio. Piquete, no século 19, foi grande pro-dutor de café. Essa cultura só floresceu emtodo o Vale do Paraíba graças à mão-de-obraescrava. Após o 13 de Maio, em condiçãoinferior e sem amparo legal, o negro sofreutodo tipo de privação. No entanto, apesardos sofrimentos e dificuldades, existem mui-tas histórias ricas de superação e de con-quistas que servem de modelo e referênciaaté os dias atuais.

Uma família negra insigne que mereceestudo mais aprofundado e divulgação é aformada pelo casal Geraldino Porfírio eRosária Benedicta de Jesus.

Poucos meses após o 13 de Maio, no dia7 de outubro de 1888, foi criada a Paróquiade São Miguel do Piquete pelo bispo D. LinoDeodato de Carvalho. Dias depois, em 1º denovembro, era empossado como seu primei-ro vigário o padre Francisco Fillipo. Um deseus primeiros trabalhos foi o de sacramentara união de ex-escravos por meio do casa-mento, como registra o livro de casamentosda Paróquia de São Miguel. “No dia 17 denovembro de 1888, nesta Matriz de SãoMiguel do Piquete, perante a mim e das tes-temunhas Joaquim Antônio Barbosa e An-tônio de Godoy Fleming, se receberam emmatrimônio Geraldino, filho legítimo dePorphírio e Eulália, com Rosária, filha natu-ral de Benedicta, ex-escravos”.

O noivo, natural do Maranhão, veio ain-da menino, “roubado”, trabalhar na lavourade café, em Piquete. A noiva era natural doEmbaú. O início de vida do casal certamentenão foi fácil. As condições desfavoráveisem que se encontravam – a de ex-escravos– não foi, porém, impedimento para que su-perassem com dignidade as dificuldades dodia a dia. Geraldino trabalhava como lavra-dor. Rosária em serviços domésticos. No dia22 de abril de 1890 nasceu Eulália, a primeirafilha do casal. Logo vieram outros: Carlina,Ricardina, Maria (Cota), Leonildes e a caçu-la, Nair Porfírio.

Com o início da construção da Fábricade Pólvora sem Fumaça, Geraldino foi con-tratado para trabalhar em serviços gerais.

Trabalhou, também, nas baias, atrás do an-tigo Cassino. Nas horas de folga, ajudavano Hotel das Palmeiras, do coronel JoséMariano. Durante toda sua vida, comemo-rou o 13 de Maio. Eram três dias de festacom foguetório, missa e visita aos túmulosde ex-escravos, além de muita comida e ro-das de jongo, do qual foi um grandedivulgador. Participavam, além da comuni-dade negra, toda a direção da Fábrica, pa-dres e demais autoridades locais.

Sua filha mais velha, Eulália, ficou viúvamuito nova e os pais ajudaram na criaçãodos netos Luiz e Celina de Barros. Todos osfilhos estudaram, se formaram e constituí-ram família. Apaixonado por música, seuPorfírio incentivou o neto Luiz de Barros e afilha Nair a seguirem essa arte. Luiz, desdemenino, tocou na Euterpe Piquetense. Naircursou conservatório de música em SãoPaulo, formando-se em violino, e no deLorena, em acordeão. A família participouativamente da sociedade e da comunidadecatólica piquetense.

Geraldino Porfírio faleceu com mais de100 anos. Aliás, toda a família é longeva...

Ao comemorarmos o Dia da Consciên-cia Negra, o tema preconceito volta a surgirnas escolas, no trabalho e na mídia. Emboraa história sustente um passado triste, é pre-ciso curar as cicatrizes e acabar com todaforma de discriminação. Em um país diversi-ficado como o Brasil é inaceitável que aindaexistam preconceitos. Está na hora de olhar-mos para o lado e percebermos que a diver-sidade enriquece e prevalece, não somentena cultura nacional e em nossas relaçõessociais.

Dia da Consciência Negra: uma família como modelo

Da esquerda para direita: D. Benedicta de Jesus, mãe de D. Rosária; casa de Tio Jeremias, irmão de D. Benedicta; Geraldino Porfírio; Rosária Porfírio; famíliaPorfírio reunida para as Bodas de Ouro do casal Geraldino e Rosária; Celina de Barros e Nair Porfírio.

Page 3: NOVEMBRO 2012

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, novembro de 2012

Shirley Villar

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Uma mestra... Não há melhor definiçãopara Shirley Brito Villar.

De voz calma e mãos elegantes – quemovimenta em gestos delicados –, mas comraciocínio rápido e bom humor, a hoje se-nhora de 76 anos (nasceu em 7/05/1936)mantém a postura das professoras forma-das nas escolas do Departamento Educaci-onal da FPV.

Shirley é filha de Alcides Villar, mestredo 5º Grupo da FPV, e de Maria de LourdesBritto Villar, a D. Milita, renomada e queridaprofessora do grupo escolar Antônio João.É a segunda filha entre nove irmãos.

Fez o primário no colégio onde a mãe eraprofessora, mas não foi sua aluna. Citou asprofessoras Maria Aparecida, Stela eBernadete. Sobre esta última, conta que “eraa sensação dos alunos, consideradamoderninha”, pois chegava para trabalharde bicicleta. Somente depois de se trocar iapara a sala de aula: “Todos a admiravam...”.Dos colegas de primário lembrou-se de CotaGiffoni, “grande amiga”.

Em seguida, o Ginásio da FPV, períodoem que o diretor era o professor Lutgardesde Oliveira, “homem bravo...”, e que foi alu-na do professor Leopoldo Marcondes deMoura Netto. Depois, cursou a Escola Nor-mal Duque de Caxias, na qual se formou em1958. Já em 1959 começou a lecionar no Gi-násio Industrial, sob a direção do professorDória. “Esse início foi difícil... Muitos dosalunos estavam ali somente para não serviro Exército; então, aprontavam demais... Eutinha que ser dura... Mas, ainda assim, orespeito pelos professores era grande”.Relembra passagens pitorescas desse perí-odo, demonstrando que ensinar e educar so-bressaíam. Mesmo os “alunos bagunceiros”são lembrados com carinho.

Paralelamente ao início das atividadesprofissionais, cursou Estudos Sociais e Edu-cação Moral e Cívica na cidade de Cruzeiro.Formou-se na primeira turma desta cadeira,em 1964. “Era uma turma grande de Piquete:eu, Alaor Ferreira, Lima, Toninho (filho doSilvestre), Zé Renato (Boizão), Cida Barbo-sa, Terezinha (do Wilson Fernandes)... Ía-mos e voltávamos numa Kombi do Alaor,que era o motorista”.

Ainda em 1959 se transferiu para Escolade 1o e 2o Graus da FPV, cujo diretor era oprofessor Leopoldo. Lá lecionou por 30anos, que lhe proporcionaram ricos e ines-quecíveis momentos. A emoção fica claraquando fala sobre esse período. Os suavesolhos azuis mareiam quando se refere aogrupo com que trabalhou e, especialmente,

ao citar o professor Leopoldo – “mestrequerido”.

Foi professora, paralelamente, na Esco-la Agrupada do Bairro do Benfica, que aten-dia alunos da Tabuleta. “Era uma escola ca-rente, mas um trabalho muito gratificante decerca de 13 anos, junto à diretora DulceMaia”. Lá, foi Coordenadora de EducaçãoMoral e Cívica, cargo de confiança conse-guido após entrevista: “Quando disse quetrabalhava com o professor Leopoldo, fuiaprovada de imediato, tamanha a confiançaque tinham nele... O entrevistador tambémhavia trabalhado com ele”.

Ainda na escola Normal, namorou LuizArmando. “Ele me levava para a escola, massó até o Elefante Branco... Ali era o limitepermitido pelo professor Leopoldo... Dali prafrente, éramos chamadas à atenção”, contaem meio a sorrisos. “Mas meu pai era seve-ro...”, conta. Em função disso e da reaçãodo Luiz, “que não corria dele”, o namoro foiterminado. Shirley, então, deu forças para oinício do namoro do ex com Olga Ecklund,com quem ele se casou. Anos mais tarde,Luiz viúvo, se reencontraram. Casaram-seem 1987, tendo comemorado Bodas de Prataem 10 de julho de 2012.

Shirley ensina até hoje... Não nas esco-las, mas na vida. Preocupa-se com a forma-ção dos jovens... Carinhosa com a família ecom o neto, deixa clara a paixão pelo compa-

nheiro, sinceramente retri-buída, percebe-se. “Nãome importo com a velhice,com as rugas; o importan-te é estar bem... Tantos nãochegam até onde che-guei”...

Espelho de uma gera-ção tradicional de mes-tres, Shirley é exemplo aser observado pelo pro-fessores atuais... Eles,certamente, sairão en-grandecidos se o fize-rem... E seus alunos agra-decerão, como muitos ofazem para “Dona.Shirley”...

Desde sua instalação, há mais de 15anos, a Fundação Christiano Rosa vem bus-cando divulgar as manifestações culturaisnegras presentes em Piquete. Em parceriacom o grupo de jongo da cidade, elaborou,executou e vem desenvolvendo diversasações mostrando quão rico é estepatrimônio. Nos últimos anos, o Grupo deJongo de Piquete vem crescendo, se forta-lecendo e ganhando notoriedade. Chamaatenção a energia e a vitalidade com queseus membros se apresentam. No semblan-te dos jongueiros piquetenses vê-se estam-pado, quando cantam, dançam e tocam seusinstrumentos, alegria e orgulho. Sabem quesão herdeiros de um rico patrimônio cultu-ral e da responsabilidade de mantê-lo vivo.Afinal, o jongo está nas raízes culturaispiquetenses desde o século 19.

O Grupo de Jongo de Piquete é convida-do a se apresentar em diversas cidades dopaís. Em parceria com a Fundação ChristianoRosa, inscreveu no Ministério da Cultura oprojeto “Jongo de Piquete – um novo olhar”e, em 2009, foram contemplados. A partir daí,muitas outras ações estão sendo trabalha-das. Uma das vertentes desse trabalho é le-var a cultura negra à comunidade escolar.Objetiva não apenas divulgar o jongo aosalunos e professores, fazendo-o conheci-do, mas também levá-los a refletir sobre essamanifestação cultural e também sobre aigualdade etno-racial.

Com muita frequência a Fundação é pro-curada por alunos e professores para con-sultarem seu acervo documental sobre onegro em Piquete e sua contribuição paranossa formação cultural. Apesar de muitopouco ter sido preservado ao longo dosanos, a Fundação, por meio de seu informa-tivo O ESTAFETA, tem contribuído com tex-tos de diversos articulistas sobre a contri-buição negra na nossa formação, bem comosobre o jongo em Piquete. Esses textos vi-sam a provocar reflexões nos leitores paraque possam compreender uma das muitasmanifestações de nossa cultura, num paístão diverso.

“Jongo de Piquete, umnovo olhar”

Shirley Villar e alunos do Curso de Aplicação Duque de Caxias

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O ESTAFETA Piquete, novembro de 2012Página 4

Uma leitura enriquecedoraLi, com muito interesse e prazer, os tra-

balhos escritos reunidos na III Coletâneada Academia de Letras de Lorena. Trata-sede uma obra cultural, literária e artística dedestacado valor, apresentada por váriosautores, seus componentes, liderados peloacadêmico Adilson Roberto Gonçalves –presidente da agremiação. Este, comentan-do “a evolução de um sonho”, pontuou avariação temática do sodalício, as ocorrên-cias e os projetos.

A Academia de Letras de Lorena real-mente foi um sonho acalentado pelos filhose moradores da cidade. Vi-a nascer, quandoda sessão de instalação. Vibrei com os ami-gos nos melhores votos. Aclamei o evento.

Tenho acompanhado, pela leitura dasantologias, o progresso dos acadêmicos.Entre tantos trabalhos, não posso deixar decitar alguns dos quais sou leitora frequen-te: Olga de Sá, Francisco Sodero de Toledo,Hugo Di Domênico, Wanderley Gomes Sar-dinha, Nelson Pesciotta, Pe. Mário Bonatti,Myrthes Mazza Masiero e Maria Luiza ReisP. Baptista. Embora os tenha lido, não po-derei aqui citá-los, não somente estes, mastodos. Afinal, em conjunto nas suas dife-rentes abordagens, me iluminaram e sensi-bilizaram. Eu, que pertenço também a uma –a Academia Cristã de Letras de São Paulo –sob a égide de São Francisco de Assis, seiquanto aos acadêmicos preza o cultivo dasletras, do belo, do bom e das ações cultu-rais e de preservação.

O acadêmico Wanderley Gomes Sardi-nha particularmente nos oferece um docu-mento histórico cujo registro pode ser fon-

te das crônicas que revelam a instalação doRegimento Militar em Lorena. Registro es-pecialmente rico para a história do núcleolorenense e do Vale do Paraíba. Aliás, nãosão poucos os escritos do acadêmico sobrea memória e o imaginário regional, dos quais,em várias passagens, dá depoimento teste-munhal.

Mas também chama-nos muito a aten-ção o trabalho do padre Bonatti a nos mos-trar a riqueza das muitas formas de falar eescrever o português e nos instrui sobre adefinição de línguas, muitas vezes confun-didas com dialetos, ou dos chamados “er-ros”, como afastamentos mais ou menosacentuados da língua padrão ou da normaculta.

A acadêmica Maria Luiza Reis P. Baptistaa nos contar e referenciar a história de Lorena“de ontem, de hoje, de sempre”, remeteu-sea Saint-Hilaire, para aclamar o sítio da cida-de (a posição à margem do porto deGuaypacaré, no rio Paraíba do Sul) comouma “posição risonha”.

Maria Luiza nos lembra as pesquisas deJ.G. Evangelista, o Zito, de tão boas recor-dações, afirmando que a “posição seria ri-sonha também pelo descortino da Serra daMantiqueira e seu imponente maciço dosMarins” (...) sob a influência da luz solar.Destaca que “nas manhãs claras de prima-vera e outono, as minúcias de sua escarpa,até a garganta do Embaú por onde passavao caminho”, se revelavam. Ele falava do ca-minho para as Gerais e da procura do ouro.Assim, a autora nos mostra a elevação dafreguesia da Piedade (Lorena) a Vila em 14

Piquete é uma cidade singular no que serefere ao seu patrimônio arquitetônico.Emancipado de Lorena no final do séculoXIX, diferentemente do que ocorreu em ou-tras cidades valeparaibanas que preserva-ram significativas construções do ciclo docafé, apenas duas edificações desse perío-do chegaram até nossos dias: a antiga ma-triz de São Miguel e o casarão que perten-ceu ao coronel Luís Francisco Relvas. Noentanto, o conjunto arquitetônico presente nacidade e que a distingue do de outras não foiconstruído por particulares, mas pelo ExércitoBrasileiro que, no inicio do século XX, iniciouum vasto trabalho na região alavancando seucrescimento e desenvolvimento.

O patrimônio arquitetônico de uma cida-de é um capital espiritual, cultural, econômi-co e social de valor insubstituível. É cadavez mais reconhecido como tal e, assim, va-

de novembro de 1788 (...) por ser opulenta,populosa e ponto de irradiação das duasEstradas Gerais das capitanias de Minas eRio de Janeiro, para dar “calor” ao comér-cio, além de contar com “80 homens capa-zes de servir os cargos da república (no sen-tido da coisa pública”). Além disso, com aMatriz voltada para o Paraíba e aMantiqueira e para o porto, a Vila não é umsimples pouso, mas cabeça de um conjuntode povoados direcionados para o Rio deJaneiro e São Paulo. Sob a égide e as bên-çãos de Nossa Senhora da Piedade, cujaimagem fora até lá levada por um dos pri-meiros povoadores, Bento Rodrigues Cal-deira, que a transportou em canoa, para, no-meando o povoado como da Piedade, tor-nar-se sua padroeira e da Diocese ali sediadahá 75 anos, e jubilarmente comemorado nesteano de 2012. A cronista sintetiza os aconte-cimentos que marcaram a história e se enrai-zaram no imaginário e na memória.

E ela enfatiza a importância do conheci-mento do passado como patrimônio, “relí-quia” para ensinar, “pondo luz nos nossospassos”. Pois diz: “guardar o passado é ti-rar lições para o presente e garantir a gran-deza do futuro”, para que os jovens e ascrianças as tenham – em seus corações ementes cultivando o amor pela tradição, pelapaisagem, pelas serras e rios – soma de be-lezas, e para conservá-las e enriquecê-las.No referenciamento à Maria Luiza, parabe-nizo a todos os membros da Academia porsuas contribuições.

Dóli de Castro Ferreira

lorizado. Cada geração dá uma interpreta-ção diferente ao passado e dele extrai no-vas idéias. Qualquer diminuição desse ca-pital é um empobrecimento cuja perda emvalores acumulados não pode ser compen-sada, mesmo por criações modernas e dealta qualidade. Aprendemos muito com es-sas construções.

O patrimônio arquitetônico é um livro depedra, areia e cal a narrar, com a escrita dotempo, a construção da nossa identidade.Igrejas, estações ferroviárias, fábricas,edificações militares, casarões, hospitaismonumentos, cinemas, repartições públicas,vilas operárias – cada construção preserva-da é uma página viva da nossa história. Emsuas linhas, podemos ver além do estiloarquitetônico: evidencia-se o crescimentoda economia, os avanços tecnológicos, astransformações políticas, a evolução dos

usos e costumes sociais, a criação da arte eda cultura que nos definem. Tudo isso foiedificado pelo Exército em Piquete por meioda Fábrica de Pólvora sem Fumaça e, maistarde, pela Fábrica Presidente Vargas, emdiferentes épocas e momentos históricos.Constituem o patrimônio hitórico-arquitetônico da cidade.

A presença dos militares do Exército emPiquete e suas ações em benefício da popu-lação são indiscutíveis. O que teria sido dacidade sem a Fábrica, a ferrovia, as vilas ope-rárias, o hospital, as escolas, o cinema, osclubes sociais, o campo do Estrela, os par-ques e jardins... Esse legado comum a to-dos precisa ser reverenciado e preservadopara as gerações futuras, que poderão lerem suas paredes páginas de nossa história.Nelas se encontra um pouquinho de cadaum dos piquetenses. AC

Patrimônio arquitetônico: legado comum a todos

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Page 5: NOVEMBRO 2012

O ESTAFETA Página 5Piquete, novembro de 2012

“Orgulho de ser piquetense, de novo...”Li, recentemente, no Facebook, uma

postagem que me chamou a atenção: “Or-gulho de ser piquetense, de novo!”. A men-sagem foi ilustrada com fotos de pontosturísticos da paisagem de Piquete. Acheiinteressante, pois o autor do post é umengajado ambientalista que divulga nossacidade com fotos próprias de excelente qua-lidade, com destaque para a fauna, sua es-pecialidade profissional.

Piquete sempre me foi motivo de orgu-lho. Apaixonei-me ainda mais por minha ci-dade natal quando comecei a colaborar coma Fundação Christiano Rosa, pois passei aconhecer melhor sua história, os detalhesde sua ocupação, a relevância de nossopatrimônio histórico-cultural-paisagístico...

Existe uma citação popular que diz, maisou menos: amar um filho bonito é muitomais fácil... Fazendo um paralelo com Pi-quete, era mais fácil amá-la em seus “dias deglória”. Está claro que não foi isso que quisdizer o autor do post citado. Conheço-o jáhá um bom tempo. É mais jovem do que eue, portanto, também não desfrutou da “épo-ca de ouro” patrocinada pela Fábrica Presi-dente Vargas (não entrarei em detalhes, mastodos sabemos que a pujança de Piquete

nunca esteve vinculada à sua administra-ção...). Sei, portanto, que ele ama e divulgaPiquete por onde passa. É, inclusive, guiamontanhista reconhecido que leva muitosturistas ao Pico dos Marins.

Por que, então, o “de novo” de seu post?Os que amam desinteressadamente Pi-

quete não poderiam estar orgulhosos de suacidade natal vendo-a, assim como à suapopulação, tão maltratada e vilipendiada.Não era possível nos orgulharmos de umacidade resumida a falcatruas e fatos fanta-siosos que só enganavam os que não que-riam enxergar a triste realidade que a assola-va.

Não nos orgulharmos da Piquete atualnão significa, porém, termos vergonha des-ta cidade. Há algum tempo respondi a umpost, também do Facebook, em que alguémse dizia envergonhado de trazer amigos paracá. Minha colocação foi a de que essa posi-ção era equivocada. Insisti que, ao contrá-rio, deveríamos era divulgar as condiçõesde nossa cidade e atuar efetivamente paraque a situação fosse revertida.

Questionado sobre a retomada de seuorgulho ser ilustrado com a paisagempiquetense, que sempre existiu, o autor res-

pondeu que “O motivo do orgulho não estánas fotos, esta é apenas uma pequena ho-menagem a todos os piquetenses. Meu or-gulho está no fato de os piquetenses teremdado um exemplo de cidadania conscientenas últimas eleições”. Como se faz quandoalgo lhe agrada no Facebook, “curti” apostagem. Curti e compartilho desse orgu-lho, pois ratifico seu pensamento. Foi emo-cionado e com grande orgulho que chegueià mesma conclusão: os piquetenses demosmostra de que, como cidadãos conscientes,estávamos preocupados com os rumos er-rôneos pelos quais vinha sendo conduzidaPiquete, e mostramos isso nas urnas no úl-timo 7 de outubro.

A natureza, presente de Deus, tambémmerece ser bem tratada. Se não mudásse-mos os rumos de nossa Piquete, a tendên-cia é que também ela fosse seriamente pre-judicada, tamanho o descaso com as políti-cas ambientais municipais, por exemplo...

Piquete é bela, meus amigos. Piquete éforte, é “brasileira”; não desiste nunca...Orgulhemo-nos sempre dela... Mas é muitobom quando há motivos para inflarmos ain-da mais o ego...

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Foto Arquivo Pró-Memória

Crônica do Arcanjo São MiguelEm Piquete, feriado prolongado de 12 de

outubro de 2012, data comemorativa deNossa Senhora Aparecida e do dia dascrianças. Chovia mansamente, como éapreciado por minha amiga Arlete Monteiro,vítima que foi de uma chuva torrencialacompanhada de uma tromba d’água quetransbordou o ribeirão Piquete e invadiu-lhe a casa de moradia. Evento que lhe trouxemuitos transtornos. A casa foi deixada compesar. Lastima-se de ter sido prejudicada peladerrubada de um bambual que lhe servia deproteção. Construiu-se um paredão depedra – obra desenvolvida pelos órgãosmunicipais, mas que lá está inconclusa.Evidencia, por isso, o maior perigo para ascasas que, como a antiga de minha amiga,mostram-se ameaçadas, agora, pelo possívelafunilamento das águas do ribeirão quealterna períodos de estiagem e reduçãomáxima, com eventos catastróficos dastorrentes demandadas por gravidade dostopos da escarpa da serra.

Quando no início de setembro a seca jáestava muito acentuada, pedi a São Miguel,nosso Arcanjo protetor, que nos mandassechuva benfazeja num poema-prece. Este,lido pela amiga, recebeu uma mensagemaposta ao texto. “Que ela venha mansinha”escreveu, e admito, por razões óbvias ejustas. Pois bem, choveu, aquela chuva queIsaías considera biblicamente a quefecunda, a que penetra a terra e não escoacatastroficamente.

Em seguida, o poema, que admito, foiatendido. Que a providência do Arcanjo seja

portadora de vida, ações positivas e bonsaugúrios para a nova administração! Que apalavra de Deus, como na Leitura da Cartaaos Hebreus, desvende os olhos e asintenções do coração, portanto, do amor; eque, como Salomão, às vésperas do governode seu povo, invoquemos a Deus, para osnovos dirigentes, sabedoria, que vale maisdo que os cetros e os tronos, o ouro e aprata, ou as pedras preciosas. E que Deusnos ouça! Dóli de Castro Ferreira

Precisados estamosde vossa intercessão.A terra está seca,os rios, esgotadosdas muitas águas serranasda Mantiqueira, que chorapor milhares de canaisdesde os vales alargadosaos cânions apertadosentre montanhas ecórregos estreitadosquais capilares de Medusas.As folhas secasrecobrem o solo misturadasàs flores dos ipêsque já tingiram a paisagem de belezae se exauriram efêmeras.Marcaram o calendárioda promessa da primavera,a qual vos cabe pontuarcheio de glóriana efeméride que o comemorae traz festa à cidade.Arcanjo São Miguel,Precisados estamos de vósnós, o povo, de que nos ilumineis.Precisados estamos de luz,força e capacidade de lutade que vós sois portador simbólico.Abençoai-nos. Protegei-nos.Conduzí-nos.Nesse início de setembroE para sempre.Amém!

Arcanjo São Miguel

Page 6: NOVEMBRO 2012

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, novembro de 2012

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Tira frustrado

Barquinhos de papel

Quando chovia e se formava enxurrada,eu me sentava à janela de casa e ficava olhan-do a água correr beirando a calçada.

Ela corria forte, cor de barro e barulhen-ta.

À vezes, tinha que sair apressado e tran-car a janela, senão a chuva molhava a cama,o chão e até os móveis.

Era justamente aí que eu corria ao cader-no de cartografia de um dos irmãos esurrupiava algumas folhas para transformá-las em barquinhos de papel.

Aprendi a fazer os barquinhos ainda noJardim da Infância; desde então virei arma-dor.

Folha retangular, dobrava-a até formarum triângulo, depois um quadrado e outroquadrado menor; aí era só puxar as extremi-dades e pronto: o barquinho estava prepa-rado para singrar.

A rua onde morava era um corredor decasas contíguas. Da janela, conversava comoutras crianças que se encontravam abaixoou acima da minha.

Quando púnhamos os barquinhos naenxurrada, eles desciam requebrando, viran-do pra cá e pra lá... Alguns emborcavam...Os que iam vencendo a turbulência daságuas, pelas janelas por onde passavam re-cebiam aplausos... Pareciam transformar-seem elegantes transatlânticos e perdiam-sena distância.

Quando a chuva parava, corríamos pe-las poças d’água que se formavam na rua eíamos buscar os barquinhos lá embaixo, naavenida, alguns destroçados. Os sobrevi-ventes, os trazíamos de volta e aguardáva-mos os próximo pé-d’água.

O Vitória II foi o barquinho de papel quemais longe viajou...

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.net

ou

Ia pela calçada, descalçando o que nãofazer, quando avistei saindo de uma casaum garotinho de uns 8 anos, quase mumifi-cado de uma banda só. Sua perna e braçodireito estavam enfaixados em gase e o ros-to, do mesmo lado, com uns esparadraposcruzados. Foi andando com certa dificulda-de sei lá pra onde. Em frente ao jardim dacasa um cartaz escrito: “Vende-se uma bici-cleta”.

Com sinceridade, quem não faria de ime-diato essa associação: o garoto ganhara abicicleta, arrebentara-se com ela e o castigoou solução para que tal não se repetisse foia venda da magrela? Ponderemos: o lanceda venda pode ter sido provocado por umareação irracional momentânea, oriunda deum problema neuropático causado pelomoleque. Imaginem um telefonema de algumpronto-socorro ou mesmo o guri adentrandoa casa aos berros, todo ensanguentado...Deixaria, sem dúvidas, os familiares envol-tos no maior dos desesperos. Aí o desaba-fo. Única fórmula de aliviar a tensão? Pas-sar a bicicleta pra frente. De posse dessesdados, deduzi: a bicicleta não era um entra-ve na casa e o problema também não erafalta de dinheiro. Raiou a conclusão: a ven-da, singular meio para o sossego geral dafamília e garantia física maior para o reben-to. Viram? Elementar, meus caros...

Outro rumo tomaram minhaslucubrações: se o garoto se estatelou com abicicleta, pelo seu tamanho ela só poderiaser para crianças. Colocada à venda, o futu-ro interessado só a levaria para um menorque, possivelmente, seria seu filho.

Imobilizei-me para melhor meditação. Natransa do negócio, o vendedor contaria aocomprador o motivo da venda? Que estavadispondo da bicicleta porque seu filho se

lascara com ela? Ou sairia pela tangentementirosa de que o pivetinho estava a fimde uma maior? Ou, ainda, nem se lembrariade nada e só contaria vantagens da merca-doria? Ante tais indagações, inferi que o pe-rigo implícito do objeto não estaria no roldas negociações. Resultado? Aquele cartaziria fazer brilhante carreira em várias casas...

Todos são responsáveis pela seguran-ça pública (sei lá onde li isso...). Resolvi,então, comprovar minhas altas conclusõesmentais, tirar o caso a limpo e,consequentemente, tomar as devidas pro-vidências. Nenhuma das ideias de venda mesatisfez. Primeiro: frustrar uma criança porcausa de um tombinho à toa, como se elanão fosse levar pancadas de todos os la-dos; segundo: tentar um tipo detranquilidade familiar falsa, pois isso nãoexiste, transferindo o desassossego paraoutra família. Remoção de entulho.

Dissimulei-me de comprador e bati à por-ta. Atendeu um senhor risonho e expus-lhemeu desejo em comprar a magrelinha. Mar-quei gol contra: a bicicleta era uma Caloi 10,do filho que estudava fora e preferia o di-nheiro como aumento da mesada e o garotoum vizinho da rua de cima que fora atropela-do por um fusca numa pelada de rua. Paten-te que, mesmo ouvindo preços e tais, lá fi-cou a vendável...

Dói, viu, gente...?! Saí da casa com umabruta indigestão frustradora na minha nãosonhada pretensão detetivesca. Não preci-sava um direto do Maguila. Constatei quejamais seria um Sherlock, um Poirot, umColumbo...

Tristemente continuei andando com asensação de que o máximo que poderia mesobrar da carreira de tira seria ser o pirulitodo Kojak.

A República (do latim “Res publica”, “coisa

pública") é uma forma de governo em que o

chefe do Estado é eleito pelos cidadãos ou seus

representantes, tendo esta chefia duração limi-

tada.

Num regime republicano, o chefe de Estado,

normalmente chamado Presidente, pode ou não

acumular o Poder Executivo. A forma de elei-

ção é normalmente realizada por voto livre e

secreto, em intervalos regulares, variando con-

forme o país. A origem desse tipo de regime está

na Roma clássica, onde primeiro surgiram ins-

tituições como o Senado.

A Res publica

Marechal Deodoro da Fonseca,proclamador da República e

seu 1o Presidente

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O ESTAFETAPiquete, novembro de 2012 Página 7

Vivemos já há muitas décadas o tempoda informação, como se ela fosse o motivo efinalidade de nossas existências. Realmen-te, a todo instante, de diversas formas, atra-vés de quase todos os meios possíveis, re-cebemos os mais variados tipos de informa-ções, até mesmo quando não as estamosbuscando.

Não há como negar. Na vida e no mundoem que nos inserimos não existe forma desobreviver sem elas já que as ondas dainternet, televisão, rádio, emitem milharesdessas informações, já que nosso mundose tornou globalizado a ponto de tudo queacontece ser transmitido, às vezes, ao vivo,para os todos os lugares do globo.

Sabemos o que acontece do outro ladodo mundo quase no mesmo instante em queos fatos se consomem. Existem canais denotícias que só transmitem, durante vinte equatro horas, essas informações, para colo-car todos em alerta, em contato, sabedoresdos fatos a qualquer momento.

Não há como fugir dessa sina e ser umapessoa desinformada, não conhecedora des-se ou daquele fato. Isso nos colocaria em

O silêncio que curadesvantagem diante da sociedade, das pes-soas com as quais convivemos, dos cole-gas de trabalho ou de profissão.

No entanto, muitas vezes vem a pergun-ta: será que é preciso mesmo toda essa vari-edade e quantidade de informação no nos-so dia a dia? Será que minha sobrevivênciae minha profissão estarão ameaçadas oumesmo arruinadas se eu, por descuido vo-luntário, não me desconectar um pouco, porum dia ou outro e deixar de receber pelomenos metade das notícias que são veicu-ladas nos meios de comunicação?

Nesses dias, é a violência na cidade deSão Paulo que estampa as manchetes detodos os jornais, impressos ou virtuais. É ojulgamento do mensalão que há meses estános canais da televisão, ao vivo, por horasa fio, numa verborragia sinceramente des-necessária.

Essas são algumas entre as milhares deinformações que são repetidas, repisadas acada momento, que fazem barulho em nos-sos sentidos como um circo de horrores emartelam nossas cabeças, poluem nossosolhos e ouvidos e magoam nosso coração.

Quem percorre nessa época do ano aspequenas cidades valeparibanas é seduzi-do, no final de tarde, por um cheiro forte,ardido e característico vindo das cozinhasdas casas. É cheiro das içás torradas, igua-ria gastronômica de sabor inigualável e chei-ro inconfundível, que recende pela vizinhan-ça, aguçando o olfato e estimulando o pala-dar.

É no período de outubro a dezembro que,após uma chuva rápida acompanhada defortes trovoadas, as içás ou formigas rai-nhas aladas deixam os formigueiros. Aosmilhares, alçam voo para se acasalar com ossabitus ou bitus, como são conhecidos osmachos da formiga saúva. Depois, no chão,as içás perdem as asas, perfuram o solo ecolocam seus ovos fecundados, dando ori-gem a uma nova colônia.

No último final de semana, após dias dechuva, um sol forte e brilhante espantou asnuvens, iluminando e aquecendo o Vale doParaiba. Muitas pessoas, diziam: “este solardido é pra içá”, referindo-se ao mormaçoformado. Como a sabedoria popular não erra,quem percorreu o Vale na tarde do dia 10 denovembro, pôde observar uma cena inusi-

tada para moradores de outras regiões: umainfinidade de pessoas calçadas com botasde borracha, com baldes e sacos plásticos,muitas empunhando galhos de árvores, cor-riam pelos pastos em busca de formiguei-ros, catando as içás. Ao longo da Dutra, deLorena a São José dos Campos, em ambasas margens da rodovia, adultos e crianças,num verdadeiro frenesi, disputavam astanajuras com os pássaros.

O gosto gastronômico pelas içás vemdo período colonial, herdado dos índios.Aprendemos com eles a saborear essa igua-ria. É no final da primavera, quando aconte-ce a revoada das içás, que muitos meninosaproveitam para ganhar uns trocados. Pe-los campos saem à cata dessas formigas,enchem sacos e garrafas pets de tanajuras eas vendem. Em muitas cidadesvaleparaibanas, os moradores as congelampara degustar durante todo o ano.

Em Piquete, pelos morros, vemos nessaépoca um alvoroço de caçadores de formi-gas, que, com mãos e dedos ágeis surpre-endem as içás na saída dos formigueiros,enchem sacos e as levam para suas casas,onde serão preparadas. A receita: retiram-se

A tradição de caçar e comer içás

Não quero dizer que não devemos nosatualizar, saber como o mundo está girandohoje, mas onde estão as boas notícias quecontam histórias de muitas atitudesedificantes, de boas ações, de acontecimen-tos agradáveis? Elas também existem, estãopor aí, mas não trazem audiência. Por isso, apreferência por nos bombardear com fatose acontecimentos que só nos mostram adegradação da pessoa, do ambiente, dasinstituições e por fim, a desvalorização daprópria vida humana.

Não sendo possível comandar as fontesdessas informações, nós mesmos devemosfiltrar e estancar o jorro dessas notícias paranão ficarmos doentes com tanta poluiçãonos nossos ouvidos, olhos, mentes e cora-ções.

Silenciar um pouco neste mundo de tan-to barulho para dar descanso aos nossoscorações e mentes tão aviltados por infor-mações que não nos edificam, só nos apri-sionam e, muitas vezes, nos fazem adoecerna alma.

“O barulho adoece e o silêncio cura”.Eunice Ferreira

Fotos Arquivo Pró-Memória

as perninhas e o ferrão; em seguida são co-locadas de molho em água e sal por meiahora. Escorre-se bem e leva-se ao fogo emfrigideiras com gordura, mexendo semprepara não queimar. Quando bem torradas, sãoacrescentadas a farinha de mandioca, umapitada de sal e salsinha. Mistura-se tudo,resultando numa deliciosa farofa pronta paraser comida.

Em novembro de 1997, o professor ChicoMáximo, publicou em “O Estafeta” uma crô-nica saborosa que merece ser relida: “Meni-nos-Tamanduás”. Dedicou-a a seu amigoPeter Armando, recentemente falecido numacidente automobilístico quando retornavade Silveiras. Era dia de seu aniversário e foraalmoçar com o sociólogo Ocilio Ferraz, co-nhecido pelo seu trabalho em prol da cultu-ra e tradição valeparaibana e divulgadorgastronômico da farofa de içá. Peter Arman-do, artista da cerâmica como poucos, pro-prietário da “Purys Ind. Com. de Louças eVidros”, desenvolveu uma louça personali-zada para Ocílio servir sua famosa farofa:um prato em que está estampado uma içá, a“Içá do Ocílio”.

Salve a tradição!

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O ESTAFETA Piquete, novembro de 2012Página 8

Certa vez, Alfredo da Rocha Viana Jr. foicontratado com seus músicos – todos pre-tos – para uma importante recepção em umluxuoso hotel da cidade do Rio de Janeiro.

Sem ter sido alertado pelo gerente, oporteiro fez com que os músicos entrassempor uma discreta passagem lateral.

Os músicos aguardavam tranquilamentequando chegou o gerente desconcertadoiniciando o pedido de desculpas com a pa-lavra de praxe: “– Lamento...”.

Alfredo da Rocha Viana Jr. (1897 – 1973),ou melhor, o Maestro Pixinguinha (flauta esax-tenor) não deu a menor importância aoacontecido. Mas a palavra Lamento serviude inspiração para o magnífico choro que to-dos – do Brasil ao Japão – adoramos ouvir.

Animada pelo comportamento do Ma-estro Pixinguinha, resolvi exorcizar todas asteias de dominação e anotar pura e simples-mente o esforço das mulheres e homens pre-tos e pardos na construção do país.

Não sei quem tem maior importância: osque montaram os engenhos, edificaram asvilas; os que se dedicaram aos serviçosdomésticos no interior da Casa Grande ouàs atividades de ganho para o patrão nasruas e praças; os que arrancaram o ouro dasentranhas da terra ou os que plantaram ca-fezais e chegaram a colher seus frutos?

Ou serão os que começaram a se empa-relhar com o colonizador nas artes e nas ci-ências?

Quantos engenhos de fogo vivo, de fogoaceso teriam existido sem eles? Quem tor-nou possível o grande volume de metal quecolonizadores estrangeiros cobiçavam? Asinconfidências e derramas surgiram porquê?

Mas não é possível ignorar o Mestre da

Nação Brasileira – contribuição das mulheres e homens pretos e pardosCapela Real, Padre José Maurício NunesGarcia (1769 – 1830), que compôs o Réqui-em por uma Rainha para as exéquias de D.Maria, a Primeira?

Afirma-se que a música do Hino Nacio-nal Brasileiro é baseada em um estudo queo Padre José Maurício preparou para seusalunos entre os quais se encontrava Fran-cisco Manuel da Silva.

Passando da música às letras, como nãocitar José Carlos do Patrocínio (1854 – 1905),fundador da Academia Brasileira de Letras,cadeira 21; ou o grande poeta do Simbolis-mo João da Cruz e Souza (1861 – 1898). Equem pode ignorar o romance psicológicourbano de Afonso Henriques de LimaBarreto (1881 – 1922)?

Se nos encaminharmos para a ciência etecnologia, aí está André Pinto Rebouças(1838 – 1898).

Engenheiro e bacharel em ciências ma-temáticas, especializou-se na Europa emconstrução de docas e vias férreas.

Construiu as primeiras docas do Rio deJaneiro. Docas de vários portos da costabrasileira levam sua assinatura, bem comoobras dos núcleos de colonização instala-dos às margens dos rios Paraná e Uruguai.

Dentre todos os pretos e pardos queemprestam seu esforço para a construçãodo Brasil, um nome salta para a história etoda a nação lhe presta reverência. É LuizGonzaga Pinto da Gama.

Baiano de nascimento, filho da ex-escra-va Luísa Mahim, vinda da Costa da Mina,foi vendido como escravo pelo pai portu-guês, quando contava 10 anos de idade.

Desembarcando do Saraiva no porto deSantos, seguiu a pé até Campinas com ou-tros escravos.

Anos depois, segue para São Paulo.Lava, passa, engoma, exerce o ofício de sa-pateiro.

Aprendendo a ler, toma gosto pelos es-tudos e se torna um advogado prático.

A primeira causa ganha livrou-o da con-dição de escravo.

Depois desta vitória colocou um anún-cio nos jornais:

“O abaixo assinado aceita, para susten-tar gratuitamente perante os tribunais, to-das as causas de liberdade que os interes-sados lhe quiserem confiar. Luís GonzagaPinto da Gama”.

O “Orfeu da Carapinha” era um sagazpoeta satírico. São Paulo curvou-se ao seuvalor. Vivia cercado de admiradores. Eramescravos, estudantes da Faculdade de Di-reito, escritores, jornalistas.

A seu sepultamento, no dia 24 de agos-to de 1882, toda São Paulo esteve presente.

No Cemitério da Consolação, a lápide deseu túmulo informa apenas: “AbolicionistaLuís Gama 21/06/1830 – 24/08/1882”.

A Semântica é uma ciência relativamen-te nova. Precisa empenhar-se em resolversignificados que se entremesclam causan-do grandes prejuízos.

Qual a distância que separa o humildedo humilhado?

Qual o verdadeiro significado de opres-são e exploração?

Quem foi mais explorado: o escravo dasminas, engenhos e campos de algodão; ouos operários do início da revolução indus-trial?

No momento só posso concluir que, sema contribuição das mulheres e homens pre-tos e pardos, o Brasil seria bem menor.

Abigayl Lea da Silva

Luís Gama Pixinguinha José do Patrocínio

Rep

rodu

ções

“Acima de sermos negros, brancos, árabes, judeus, americanos, somos uma única espécie. Quem almeja dias

felizes precisa aprender a amar sua espécie (...). Se você amar profundamente a espécie humana, estará contribuindo

para provocar a maior revolução social da história”. Augusto Cury