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VIDAS EM SEGREDOS CAPÍTULO 3 PÁGINA 1

VIDAS EM SEGREDOS

Novela de

RÔMULO GUILHERME

Criada e escrita por

RÔMULO GUILHERME

Personagens deste capítulo

EDUARDO

SOFIA

GUTEMBERG

LUCAS

AYMÉE

CAMILO

LÁZARO

EMILIANA

FRANCISCO

RUTH

SOCORRO

KIKO

STELLA

OLGA

EUCLIDES

RODRIGO

JÚLIA

JUDITH

CRISTIANO

EVELIN

BENEDITA


CENA 01. PORTO. EXT. DIA

CORTA PARA:

CENA 02. PORTO. CEMITÉRIO. INT. DIA

SOFIA ESTÁ PERTO DO TÚMULO DO SEU PAI. ELA USA UM

ÓCULOS ESCUROS. MESMO ASSIM VEMOS LÁGRIMAS ROLANDO

DOS SEUS OLHOS. ALGUMAS PESSOAS AINDA SE AFASTAM.

SOFIA – Adeus pai! Descanse em paz na terra

que o senhor tanto amava.

ELA JOGA UMA ROSA VERMELHA. SEM QUE SOFIA SE DE

CONTA, CAMILO APROXIMA-SE.

CAMILO – Eu sinto muito!

SOFIA ENCARA CAMILO.

SOFIA – O que você está fazendo aqui?

CAMILO – Prestando minha solidariedade.

SOFIA – Veio conferir se o serviço foi feito

direito? É isso?

CAMILO – Do que você está falando, Sofia? Eu

vim em paz, com o coração limpo.

SOFIA – Deixa de ser cínico, Camilo. Eu sei

bem que os responsáveis por tudo o que aconteceu

foram você e seu pai. Eu só não tenho como provar

isso. Mas Deus existe. Ele é justo. Um dia vocês

vão pagar por todas as ruindades que vocês

fizeram! Agora vê se me deixa em paz e respeita o

meu momento, na despedida do meu pai, que por

culpa de vocês agora está morto!

CAMILO – Quer se casar comigo?

SOFIA NÃO ACREDITA NO QUE ESCUTA.


SOFIA – Como é que é? Acho que eu não escutei

direito.

CAMILO – Eu quero me casar com você. Você

perdeu tudo, não pode ficar na rua, desamparada...

Eu estou disposto a te dar uma vida muito melhor

que você tinha. Quer maior prova do que eu sinto

por você com esse pedido?

SOFIA – (REVOLTADA) Quer saber qual é a minha

resposta? Está aqui.

SOFIA DÁ UM TAPA NA CARA DE CAMILO, COM TODA SUA

RAIVA. ELE SENTE A DOR E VOLTA FURIOSO.

CAMILO – (FURIOSO) Sua piranha. Você me paga.

CAMILO SE PREPARA PARA REVIDAR O TAPA, QUANDO

LÁZARO SEGURA SEU BRAÇO, COM FORÇA.

LÁZARO – (TOM) Chega, Camilo! Vamos embora!

CAMILO – (REVOLTADO) Ela me bateu, pai. Essa

vadia me bateu!

SOFIA – Eu devia era te matar. Matar vocês

dois. Vingar-me por terem destruído minha vida.

LÁZARO – Verdadeiramente eu sinto muito pela

morte do Nuno, Sofia. Eu desejava às terras dele,

só não deseja sua morte. Vamos Camilo.

CAMILO FUZILA SOFIA COM OS OLHOS.

CAMILO – Um dia você vai ser minha, Sofia.

Nosso destino está escrito que ficaremos juntos!

LÁZARO E CAMILO VÃO EMBORA, DEIXANDO SOFIA ALI,

COM SUA DOR. ELA DEITA A CABEÇA EM CIMA DO TUMULO

DE NUNO, QUE ESTÁ PERTO DO TÚMULO DE MARIA TERESA.


SOFIA – Agora vocês dois estão juntos

novamente e eternamente, pra viver o lindo amor de

vocês.

SOFIA SE DESPEDE E DEPOIS CAMINHA SOZINHA, INDO

EMBORA.

CENA 03. QUINTA DE NUNO. EXT. DIA

SOFIA ESTÁ SENTADA, REMEXENDO NA TERRA, ENQUANTO

OBSERVA A PROPRIEDADE TODA INCENDIADA. AINDA É

POSSÍVEL VER UMA FUMAÇA SAINDO EM MEIO AO QUE

RESTOU.

SOFIA – (AMARGURADA) Acabou! Minha vida

acabou!

CENA 04. PORTO. HOTEL EDUARDO. RECEPÇÃO. INT. DIA

SOFIA E A RECEPCIONISTA.

SOFIA – (SURPRESA) Embora? O Eduardo foi

embora?

RECEPCIONISTA – Eu sou do turno da noite,

ainda não troquei plantão. Eu vi quando o

brasileiro saiu apressado, desesperado na verdade,

e fez o check-out. Eu até perguntei se estava tudo

bem, mas...

SOFIA SE AFASTA.

SOFIA – (SEM ACREDITAR) Ele foi embora? Justo

agora!


CENA 05. MANSÃO FLAMBOY. QUARTO LUCAS E AYMÉE.

INT. DIA

AYMÉE ESTÁ EM FRENTE AO ESPELHO, AJEITADO SEU

BONÉ. ELA ESTÁ USANDO UMA ROUPA ATLÉTICA. LUCAS

ESTÁ SENTADO NA CAMA, TERMINANDO DE AMARRAR SEU

TÊNIS.

LUCAS – Você vai mesmo correr comigo, Aymée?

AYMÉE – Algum problema?

LUCAS – Não é isso. É que você nunca gostou

muito de se exercitar. Já perdi as contas de

quantas vezes deixou de frequentar academia.

AYMÉE – Vou unir o útil ao agradável: me

exercitar e também poder ficar bem juntinho de

você.

AYMÉE BEIJA LUCAS.

LUCAS – Só espero que você esteja indo correr

comigo com esses dois propósitos mesmo.

AYMÉE – Como assim?

LUCAS – Eu te conheço bem, Aymée...

GUTEMBERG BATE NA PORTA E ENTRA.

GUTEMBERG – Com licença.

AYMÉE – Bom dia, meu sogro.

GUTEMBERG – Bom dia, Aymée. (P/LUCAS) Posso

falar em particular com você, Lucas?

LUCAS – Claro, pai.

GUTEMBERG – Vou estar te esperando no

escritório.

GUTEMBERG SAÍ.


AYMÉE – (ESPANTADA) Nossa, hoje vai chover.

Seu pai me dando bom dia. Alguma coisa aconteceu.

LUCAS – Se for o que eu estou pensando, será a

notícia mais maravilhosa do mundo, Aymée.

CENA 06. MANSÃO FLAMBOY. ESCRITÓRIO. INT. DIA

LUCAS E GUTEMBERG.

GUTEMBERG – Quando você conversou com seu

irmão ontem, estava tudo bem? Você sentiu que ele

estava com uma voz boa? Ou deixou transparecer

algum problema, alguma coisa de errado.

LUCAS – Não, pai. O Nuno me pareceu muito bem.

(ESTRANHANDO) Mas não estou entendendo essa

pergunta, pai. Você falou com ele?

GUTEMBERG – Eu tive uma sensação estranha,

como se fosse um pressentimento ruim, de que algo

tivesse acontecido... Não sei explicar bem.

LUCAS SE APROXIMA MAIS DE LUCAS.

LUCAS – Pai, eu sei que você é um homem de

bastante personalidade, que não volta atrás nas

suas decisões. Mas fazer isso uma vez na vida, não

é sinal de fraqueza. Pelo contrário, mostra ainda

mais o homem grande que você é. Que tem um coração

batendo ai dentro, como muito duvidam. (T) Se você

quiser eu ligo pra ele, introduzo a conversa de

vocês dois. É uma oportunidade que vocês dois vão

dar para a felicidade de toda a família. Pensa na

sua neta, na Sofia... O senhor não a conhece ainda

pessoalmente, só através das fotos que eu mostrei.


Querendo ou não ela é sangue do seu sangue. Você é

o avô dela.

GUTEMBERG FICA MEXIDO COM TUDO ISSO QUE LUCAS

FALA.

GUTEMBERG – Eu vou pensar, Lucas... Preciso me

preparar.

LUCAS – Fico muito feliz em ver que o senhor

vai dar o primeiro passo pra reconciliação de pai

e filho. O Nuno ama muito o senhor e o que ele

mais deseja e voltar a ser seu filho, já que o

senhor nunca deixou de ser o pai dele. (SAINDO)

Agora eu tenho que ir. Vou correr no calçadão.

LUCAS SAÍ. GUTEMBERG ESTÁ PENSATIVO. UM SORRISO

DISCRETO APARECE EM SEU ROSTO.

GUTEMBERG – Um pai nunca deixa de amar seu

filho. Não importa o que acontece, quanto tempo

passa, o amor continua o mesmo!

CENA 07. RIO. CALÇADÃO. EXT. DIA

LUCAS E AYMÉE ESTÃO CORRENDO. AYMÉE MOSTRA QUE

ESTÁ FORA DE FORMA, E FICA PRA TRÁS, CANSADA,

BUSCANDO AR. LUCAS ESTÁ BEM A FRENTE, FIRME,

VIGOROSO.

AYMÉE – Me espera Lucas...

LUCAS – (BRINCA) Vamos, sua molenga.

CENA 08. AEROPORTO GALEÃO. INT. DIA

O AVIÃO DE EDUARDO ACABA DE CHEGAR. ELE SAÍ DA

ÁREA DE DESEMBARQUE INTERNACIONAL MUITO ABATIDO,


ABALADO, EMBURRANDO SEU CARRINHO, COM SUAS MALAS

PELO SAGUÃO.

EDUARDO – (VOZ) Meu pai não pode estar morto.

Não pode ser verdade, meu Deus. Eu o amo tanto...

CENA 09. PRAIA. QUIOSQUE. EXT. DIA

LUCAS E AYMÉE ESTÃO TOMANDO ÁGUA DE COCO. AYMÉE

ESTÁ VISIVELMENTE ESGOTADA.

LUCAS – Você cansou rápido, Aymée.

AYMÉE – Você corre muito rápido, Lucas. Meu

ritmo é diferente. Mas daqui a pouco correrei uma

maratona.

DUAS MULHERES PASSAM PERTO DE ONDE ELES ESTÃO

SENTADOS E FICAM OLHANDO PARA LUCAS, ENQUANTO

CAMINHAM SE AFASTANDO. AYMÉE FICA ENVOCADA E VAI

TIRAR SATISFAÇÃO.

AYMÉE – O que vocês estão olhando? Perdeu

alguma coisa?

LUCAS PUXA AYMÉE.

LUCAS – Para com isso, Aymée!

AYMÉE – (CONTINUA) Esse homão aqui tem dona...

Ele é todinho meu!

LUCAS DEIXA AYMÉE E VAI EMBORA. AS MULHERES TAMBÉM

VÃO EMBORA. QUANDO AYMÉE SE DÁ CONTA, PERCEBE QUE

ESTÁ SOZINHA E PROCURA LUCAS.

AYMÉE – Lucas? Cadê você?


CENA 10. MANSÃO FLAMBOY. SUITE LUCAS E AYMÉE. INT.

DIA

LUCAS ESTÁ TOMANDO UMA DUCHA. AYMÉE TENTA

JUSTIFICAR SUA ATITUDE NA PRAIA.

LUCAS – Você sabe como eu detesto barraco,

Aymée!

AYMÉE – Eu também, Lucas. Sou uma mulher

chique. Só que foi me dando uma raiva daquelas

mulheres ficarem olhando pra você, te desejando,

que meu ciúme falou mais alto do que meu

refinamento. Aí desci do salto mesmo!

LUCAS – O problema não foi elas terem olhado,

já que isso não tira pedaço. O problema é esse seu

ciúme descontrolado.

AYMÉE – Me desculpa, meu amor! Eu juro,

prometo pra você, que nunca mais isso vai

acontecer!

LUCAS – Eu espero mesmo que nunca mais isso

aconteça. (T) Se você não confiar em mim, não tem

porque a gente continuar juntos!

AYMÉE – Posso tomar uma ducha com você?

LUCAS PARECE QUE PENSA UM POUCO, ATÉ QUE ABRE A

PORTA DO BOXE.

LUCAS – (BRINCA) Sua barraqueira!

LUCAS PUXA AYMÉE COM ROUPA E TUDO PRA DEBAIXO DO

CHUVEIRO. ELES COMEÇAM A SE BEIJAREM.

CENA 11. HOSPITAL. SALA. INT. DIA


EMILIANA ESTÁ SENTADA NUM BANCO, COMPLETAMENTE

DESOLADA. UM INVESTIGADOR FALA COM ELA.

INVESTIGADOR – Nos já estamos trabalhando na

investigação da morte do seu marido, dona

Emiliana. Vamos colher depoimento, buscar pistas,

que possa nos levar ao responsável.

EMILIANA – Eu o agradeço muito, investigador.

INVESTIGADOR – Sinto muito pelo aconteceu.

INVESTIGADOR SE DESPEDE DE EMILIANA E SE RETIRA.

FRANCISCO SE APROXIMA DA MÃE.

FRANCISCO – Eu já acertei tudo, mãe. O corpo

do papai já está indo pra funerária.

EMILIANA – Eu não consigo acreditar que o meu

Cristóvão está morto. Que ele não vai voltar mais

pra mim, pra nossa casa, pra quele bar que ele

tanto amava...

FRANCISCO – Mãe, antes de morre o pai falou

alguma coisa sobre contar a verdade...

EMILIANA FICA GELADA.

FRANCISCO – O que significa isso?

EMILIANA – (TRANSTORNADA) Não sei, Francisco.

Seu pai está morto! Isso é a impiedosa verdade.

EMILIANA SAÍ ANDANDO.

FRANCISCO – Tem alguma coisa nisso. E eu vou

descobrir que verdade é essa (INDO ATRÁS) Espera,

mãe.

FRANCISCO CORRE ATRÁS DA MÃE.


CENA 12. CASA DE EMILIANA. SALA. INT. DIA

EMILIANA, FRANCISCO, RUTH E SOCORRO. ABRIMOS A

CENA COM RUTH DANDO UM ABRAÇO BEM APERTADO EM

EMILIANA.

RUTH – Força, minha amiga. Você precisa ser

muito forte nesse momento.

EMILIANA – Eu não sei se vou conseguir Ruth. O

Cristóvão era minha ancora, onde eu podia me

apoiar e ficar tranquila. Meu porto seguro.

AS DUAS SENTAM NO SOFÁ.

RUTH – Ainda mais depois do que ele fez por

você, né?

EMILIANA – Eu devo minha vida a ele. (BAIXO)

Antes de morrer ele me disse pra contar a verdade.

RUTH – Ele te pediu pra contar a verdade do

passado do Eduardo?

EMILIANA – O Cristóvão sempre me disse que eu

devia contar minha a verdade pro Eduardo, que ele

tinha o direito de saber sobre sua verdadeira

origem.

RUTH – (TEMEROSA) E você vai contar pra ele?

Quer dizer, você vai contar pro Eduardo quem é seu

verdadeiro pai?

EMILIANA – Eu sei que ele tem o direito de

saber isso. Que eu tenho essa obrigação. Mas tenho

tanto medo de tudo o que pode implicar nessa

revelação. O Eduardo vai querer ir atrás do pai,

vai querer saber de tudo o que aconteceu...


RUTH – Espera passar esse momento primeiro,

Emiliana. Passar essa dor enorme que vocês estão

sentindo. Aí você poderá pensar melhor, com a

cabeça, com o coração e decidir se conta essa

verdade agora, ou espera mais um tempo... Se já

esperou até agora, né?!

EMILIANA ABRAÇA RUTH.

EMILIANA – Que bom que você está comigo, minha

amiga.

RUTH – Você pode contar comigo sempre,

Emiliana. Pra tudo o que você precisar!

CORTA PARA FRANCISCO E SOCORRO.

FRANCISCO – Não vai me dar um abraço também

não, Socorro?

SOCORRO – (ABRAÇANDO) Meus sentimentos,

Francisco. Eu sei como é difícil perder um pai. Eu

perdi o meu bem cedo, mas sei bem a dor que é.

FRANCISCO ESTÁ DELIRANDO COM O ABRAÇO DE SOCORRO.

NESSE MOMENTO EDUARDO CHEGA.

EMILIANA – Filho!

EMILIANA CORRE PRA ABRAÇAR EDUARDO. SOCORRO LARGA

FRANCISCO NA HORA.

SOCORRO – (SURPRESA) Eduardo!

FRANCISCO FECHA A CARA. RUTH OBSERVA SUA REAÇÃO.

EDUARDO – (ABALADO) Me diz que não é verdade,

mãe. Me diz que o pai não morreu...

SOCORRO ABRAÇA E BEIJA EDUARDO.


SOCORRO – É verdade, meu amor. A dolorosa

verdade. Mas eu estou do seu lado. Vou te dar

muita força e apoio nesse momento.

SOCORRO ABRAÇA EDUARDO MAIS FORTE AINDA E FAZ

SINAL DE POSITIVO PRA RUTH, QUE DISFARÇA.

EDUARDO – (FRIO) Obrigado, Socorro! Mas agora

deixa eu chegar direito. Deixa eu sentar, não

consegui dormir a viagem toda...

RUTH – Uma tristeza a gente se rever assim,

Eduardo.

EDUARDO – Mas é nos momentos mais tristes que

a verdadeira amizade se revela. (P/FRANCISCO) E

você meu irmão? Não vai me dar um abraço?

EDUARDO SE APROXIMA DE FRANCISCO E O ABRAÇA.

FRIAMENTE, FRANCISCO O ABRAÇA DE VOLTA, NUMA

VISIVEL MÁ VONTADE.

EDUARDO – Mas como aconteceu? Como foi?

EMILIANA – Uma tragédia, meu filho.

FRANCISCO – Ele foi atropelado por um louco,

que fugiu em seguida, sem prestar atendimento.

RUTH – Mas a policia está investigando o caso,

não é Emiliana?

EMILIANA – Está sim! O investigador me

prometeu que vai prender o responsável.

FRANCISCO – (P/EDUARDO) Você volta quando pra

França, Eduardo?

EMILIANA – Que isso, Francisco! Isso é

pergunta que se faça nesse momento que estamos

passando?


EDUARDO – Eu acabei de chegar, meu irmão. Não

tô com cabeça pra mais nada. Mas mal cheguei, você

tá querendo que vou embora já?

EDUARDO E FRANCISCO SE ENCARAM. EMILIANA TENTA

AMENIZAR A SITUAÇÃO.

EMILIANA – É claro que seu irmão não quis

dizer isso, não é Francisco?

FRANCISCO – Eu só perguntei por causa do seu

curso de gastronomia... Você vai abandonar o curso

em Paris?

EDUARDO – Não estou com cabeça pra pensar em

mais nada. Não estou me importando com mais nada.

SOCORRO SENTA DO LADO DE EDUARDO, JÁ SE

ACONCHEGANDO NELE. EDUARDO FICA MEIO

DESCONFORTÁVEL.

SOCORRO – Não queremos que você vai embora

mais não. Eu estava com tanta saudade de você.

Temos tanta coisa pra conversar...

EDUARDO – Realmente temos muita coisa pra

conversa, Socorro. Aconteceram algumas coisas

nesse tempo que eu fiquei fora e que precisamos

pontuar entre nos dois.

SOCORRO OLHA DE SOSLAIO PARA RUTH. DEPOIS VOLTA A

ENCARAR EDUARDO.

EDUARDO – Um conversa séria e definitiva.

EMILIANA – Mas agora não, né? Por que você não

toma um banho, troca de roupa, Eduardo.

EDUARDO – Quando é o enterro?

FRANCISCO – Daqui a pouco.


EDUARDO – Graças a Deus eu cheguei a tempo de

despedir do meu pai. Do homem que me ensinou

tantas coisas da vida. Que eu sempre enchi a boca

pra chamar com muito orgulho de pai!

EMILIANA E RUTH SE ENTREOLHAM.

CENA 13. JORNAL O CLAMOR. SALA DE REUNIÃO. INT.

DIA

OLGA ESTÁ EM REUNIÃO COM ALGUNS EMPRESÁRIOS.

CONVERSA JÁ INICIADA.

OLGA – O número de assinantes do nosso jornal

vem caindo vertiginosamente nos últimos anos.

HOMEM 1 – Para muitos o hábito de ler jornal é

coisa do passado.

HOMEM 2 – Muitos estão preferindo as mídias

digitais pra se obter informação.

OLGA – E aí que está o ponto que temos que

focar. Temos que criar uma forma para atrair os

antigos assinantes, uma nova roupagem, alguma

promoção.../

O CELULAR DE OLGA COMEÇA A TOCAR. OLGA PEGA.

OLGA – Desculpem senhores.

OLGA LEVANTA E SE AFASTA. SÓ DEPOIS QUE ELA

ATENDE.

OLGA – (CEL) Alô? Oi, Euclides.

CENA 14. HOSPITAL. QUARTO EUCLIDES. INT. DIA

EUCLIDES ESTÁ TERMINANDO DE ABOTOAR SUA BLUSA,

ENQUANTO FALA NO CELULAR.

EUCLIDES – (CEL) Eu acabei de ter alta, Olga!


OLGA – (OFF) Que bom, Euclides. Mas estou no

meio de uma reunião.

EUCLIDES – Achei que você ia vir me buscar.

CENA 15. JORNAL O CLAMOR. SALA REUNIÃO. INT. DIA

OLGA NO CELULAR.

OLGA – (CEL) Não posso ir pra aí agora. Pega

um táxi e vai pra casa. Agora tenho que desligar.

OLGA DESLIGA. GUARDA SEU CELULAR E SENTA NA SUA

CADEIRA.

OLGA – Desculpem-me a interrupção. Mas onde

estávamos mesmo, senhores?

ELES CONTINUAM CONVERSANDO SEM AUDIO. O IMPORTANTE

É DEIXAR CLARO QUE OLGA NÁO DEMONSTRA NENHUMA

PREOCUPAÇÃO COM EUCLIDES.

CENA 16. HOSPITAL. QUARTO EUCLIDES. INT. DIA

EUCLIDES SE AJEITA EM FRENTE AO ESPELHO.

EUCLIDES – Ela nem se importa comigo...

GUTEMBERG BATE NA PORTA E ABRE.

GUTEMBERG – Posso entrar?

EUCLIDES – (FELIZ) Gutemberg? Que bom te ver,

meu amigo.

GUTEMBERG ENTRA. OS DOIS SE ABRAÇAM.

GUTEMBERG – Vim te visitar, mas pelo visto

pelo já está indo embora..

EUCLIDES – Tive alta agora. Mas estou sem

locomoção. A Olga está numa reunião e não poderá

vir me buscar.


GUTEMBERG – Não seja por isso, meu amigo. Eu

faço questão de te levar em casa. Estou com meu

motorista.

EUCLIDES – Eu ia embora de táxi. Mas diante

dessa oferta não posso me recusar a não aceita-la.

GUTEMBERG – Embora de táxi? Que loucura,

Euclides. Você fez uma cirurgia no coração...

EUCLIDES – Já não estava aguentando mais esse

quarto, esse clima de hospital.

GUTEMBERG – Então vamos embora, pois além de

ter vindo te ver, eu vim também te contar uma

decisão.

CENA 17. CARRO DE GUTEMBERG EM MOVIMENTO. RUAS.

INT/EXT. DIA

MOTORISTA DIRIGE. GUTEMBERG E EUCLIDES ESTÃO

SENTADOS NO BANCO DE TRÁS, CONVERSANDO.

GUTEMBERG – É muito bom te ver firme e forte

novamente, Euclides.

EUCLIDES – Não estou cem por cento bom não,

mas em todos os casos... Eu achei que o meu

infarto poderia me aproximar mais da Olga.

GUTEMBERG – Você nos deu um susto danado.

EUCLIDES – Foi mesmo um susto tremendo. Eu

achei que dessa eu não escapava.

GUTEMBERG – Nem fala uma coisa dessas...

(BRINCA) Não posso perder meu rival no xadrez.

OS DOIS RIEM. MAS EUCLIDES FICA SÉRIO.


EUCLIDES – Eu achei que o meu infarto poderia

me aproximar mais da Olga. Fazê-la gostar um

pouquinho de mim...

GUTEMBERG – Ela só deve estar um pouco

atarefada comando o jornal. A qual pelo que eu sei

ela vem tocando muito bem.

EUCLIDES – A Olga é uma ótima empresária,

profissional. Mas como esposa ela deixa muita a

desejar. Ela nunca se esforçou para gostar de mim

desde o nosso casamento.

GUTEMBERG – Você sabe que meu casamento também

não foi um mar de rosas... Acho que aquele ditado:

sorte nos negócios e azar no amor se aplicam a nós

dois, meu amigo!

EUCLIDES – Pelo jeito sim! (T) Mas mudando de

assunto, pela sua cara parece ser uma coisa muito

boa o que você tem pra falar.

GUTEMBERG – Eu decidi procurar o Nuno. Eu vou

ligar pra ele. Eu decidi me acertar com meu filho

mais velho, Euclides!

EUCLIDES – Eu fico muito feliz por você ter

tomado essa decisão, Gutemberg. Sei mais do que

ninguém como você ficou arrasado quando brigou com

o Nuno anos atrás.

GUTEMBERG – Já estou velho, com pouco tempo me

restando... Quero partir sem levar esse peso dessa

briga, dessa separação com o meu filho mais velho.

Vou me reconciliar com ela, passando uma borracha


em tudo o que aconteceu e tentar recuperar o tempo

que passamos longe um do outro.

CENA 18. APTO DE STELLA E KIKO. SALA. INT. DIA

KIKO E STELLA ESTÃO TOMANDO CAFÉ.

STELLA – Pensou no que eu te falei ontem,

Kiko.

KIKO – Você não vai desistir mesmo dessa

mansão, não é Stella?!

STELLA – É claro que não, Kiko. Até parece que

você não me conhece. Quando coloco algo na cabeça,

eu não sossego até conseguir. E você sabe muito

bem que eu consigo tudo o que eu quero.

KIKO – Podíamos usar esse dinheiro pra

fazermos uma segunda lua de mel? Um cruzeiro pelas

ilhas gregas, visitar o Reino Unido novamente...

STELLA – (REVOLTADA) Aí, Kiko! Só você mesmo

pra pensar em trocar uma mansão luxuosíssima na

Barra, por uma viagem.

KIKO – Acho que pra eu conseguir ter paz vou

ter que dizer sim, né? STELLA – Esse sim é pra

vamos olhar? Ou esse sim é pra vamos comprar?

KIKO – Uma coisa de cada vez. Olha primeiro e

depois, de avaliar bem, pechinchar... aí vemos se

compramos!

STELLA FICA SEM ACREDITAR E DA PULOS DE ALEGRIA.

STELLA – (FELIZ) Eu sabia que você ia me

apoiar nessa nossa mudança de vida, meu amor! Você


não vai se arrepender de ter me dado o aval pra

comprar nossa mansão!

KIKO FICA APRENSÍVO.

KIKO – (VOZ) Aí meu Deus! O que vai ser da

minha conta bancária agora? Um grande prejuízo se

anuncia...

RODRIGO VEM DO QUARTO. ELE ESTÁ CABISBAIXO, SÉRIO.

STELLA – Bom dia, filho! Não vai tomar café

não?

RODRIGO – Tô sem fome, mãe.

KIKO – Você está tão estranho, Rodrigo, desde

que chegou ontem a noite.

STELLA – Meu filho não é estranho, Kiko!

KIKO – Deixa de ser boba, Stella. Foi só uma

maneira de dizer. (P/RODRIGO) Aconteceu alguma

coisa, filho? Pode se abrir com seus pais.

RODRIGO – Não aconteceu nada. Agora vou indo

se não me atraso pro primeiro tempo na facu.

STELLA – Vai com Deus.

RODRIGO VAI EMBORA.

KIKO – Alguma coisa aconteceu com o Rodrigo.

Ele não é tão calado assim.

STELLA – Vai ver que brigou com a namorada.

KIKO – Ele estava namorando?

STELLA – Não sei se namorando. Devia tá

ficando, sei lá...

STELLA LEVANTA E FICA ANDANDO DE UM LADO PRO

OUTRO, JÁ FANTASIANDO SUA MANSÃO.


STELLA – (SEM ACREDITAR) Eu ainda não tô

acreditando que vamos nos mudar pra uma mansão na

Barra...

KIKO TENTA FAZÊ-LA VOLTAR A REALIDADE, MAS NÃO

ADIANTA.

KIKO – (CHAMANDO ATENÇÃO) Stella!

CENA 19. APTO DE JUDITH. SALA. INT. DIA

JUDITH E JÚLIA ESTÃO TOMANDO CAFÉ. ELAS JÁ ESTÃO

PRONTAS PRA SAIR.

JÚLIA – Já se acostumou com a novidade de ser

vovó?

JUDITH – Eu não consegui dormir direito

pensando nisso. Não por ser avó, já que adorei a

notícia, mas sim pela situação da Ana, lá na

Austrália, sozinha, já que o Kevin vive rodando o

mundo nessas competições de surf.

JÚLIA – Você tá com medo de que, mãe?

JUDITH – Uma mulher grávida precisa de muita

atenção, ainda mais a Ana, que sempre teve uma

saúde muito frágil, delicada... Não sei o que pode

acontecer. Tem que fazer muitos exames, um bom

acompanhamento.

JÚLIA – Você vai pra lá?

JUDITH – Eu não posso filha... Mas você sim!

JÚLIA – (SURPRESA) Eu?

JÚLIA FICA BASTANTE INCOMODADA COM A PROPOSTA DA

MÃE. JUDITH PERCEBE E FICA SEM ENTENDER.


JUDITH – (ESPANTADA) Nossa Júlia! Você reagiu

de um jeito.

JÚLIA – (JUSTIFICANDO) É que eu não esperava

por essa proposta...

JUDITH – Eu só pensei que como vocês duas

sempre foram muito unidas, muito apegadas, seria

bom você ficar perto da sua irmã. Uma semaninha

só... senti que Ana estava muito fragilizada, sem

saber direito como lidar com essa novidade.

JÚLIA – (FIRME) Eu não posso, mãe! Eu não vou!

JUDITH – É pelo bem da sua irmã, Júlia. Suas

notas estão boas na faculdade. E será só por uma

semana.

JÚLIA – (TOM) Não! Eu não vou!

JUDITH – Você adorava visitar sua irmã. O que

aconteceu? Eu percebi que você chegou diferente da

última vez que você foi pra lá, mas eu não dei

importância. Mas agora, diante dessa sua reação...

JÚLIA – (DESPISTANDO) Não aconteceu nada, mãe.

Só que eu não posso largar minha vida aqui no

Brasil, pra ficar uma semana na Austrália. E além

do mais, a Ana tá querendo conversar com o Kevin

sozinha, sem ninguém por perto.

A CAMPAINHA TOCA.

JÚLIA – Eu atendo.

JUDITH – Vou pra dentro, acabar de me arrumar.

JÚLIA CAMINHA EM DIREÇÃO A PORTA, ENQUANTO JUDITH

VAI PRO SEU QUARTO. JÚLIA ABRE A PORTA. É RODRIGO.


JÚLIA – (SURPRESA) Rodrigo? O que você está

fazendo aqui tão cedo?

RODRIGO – Tô precisando muito conversar com

você, Júlia.

CENA 20. PRAÇA. EXT. DIA

JÚLIA E RODRIGO ESTÃO SENTADOS NUM BANCO.

JÚLIA – O que foi Rodrigo? Você está me

deixando angustiado.

RODRIGO RESPIRA MUITO E COMEÇA A DIZER.

RODRIGO – Eu fiz uma coisa terrível. Eu estou

muito mal!

JÚLIA – Fala o que foi? Eu sou sua amiga. Você

pode confiar em mim.

RODRIGO – Não posso dizer, Júlia. Eu não posso

dizer...

RODRIGO DEITA SUA CABEÇA NO COLO DE JÚLIA COMO UMA

CRIANÇA DESPROTEGIDA E COMEÇA A CHORAR.

JÚLIA – Como que eu posso te ajudar se você

não me disser o que aconteceu, Rodrigo? Eu quero

te ajudar, mas primeiro você tem que se abrir

comigo, desabafar sem medo.

RODRIGO CONTINUA CHORANDO. JÚLIA FICA SEM SABER O

QUE FAZER. ATÉ QUE ELE LEVANTA SUA CABEÇA E ENCARA

JÚLIA.

RODRIGO – Sua amizade é muito importante pra

mim, Júlia. Eu achei que depois que a gente

tivesse terminado o namoro, você não ia querer

mais nenhum contato comigo...


JÚLIA – A nossa amizade veio primeiro do que o

nosso namoro.

RODRIGO – E por isso que eu te peço: não deixa

de ser minha amiga, independentemente do que

acontecer, eu não quero e não posso perder sua

amizade que me faz tão bem.

JÚLIA – É claro, Rodrigo! Somos amigos. E

amigos são para os momentos bons e ruins.

RODRIGO – Que bom ouvir isso, Júlia.

JÚLIA ABRAÇA RODRIGO FORTE, PASSANDO SUA ENERGIA

PRA ELE.

JÚLIA – (BRINCA) Agora limpa essas lágrimas,

que homem chorando é muito feio!

RODRIGO RI, MEIO SEM JEITO.

JÚLIA – Pelo visto você não vai me contar o

que aconteceu.

RODRIGO ABAIXA A CABEÇA, RESPONDENDO COM NEGATIVA

AO QUE JÚLIA FALA. ELA ENTENDE O RECADO. SEGURA NO

ROSTO DE RODRIGO LEVANTA-O, OLHA NO FUNDO DOS

OLHOS DELE.

JÚLIA – (CONTINUA) Mas uma coisa eu te digo,

Rodrigo: mesmo que tenha sido uma coisa terrível

que você tenha feito, não a nenhum mal que não

tenha cura. Essa é uma frase que eu ouvi da minha

mãe e que me ajudou muito quando eu precisei

refletir sobre o que fazer diante de um grande B.O

que eu tinha nas mãos...


CENA 21. CEMITÉRIO. EXT. DIA

ACOMPANHAMOS O CORTEJO QUE SEGUE O CORPO DE

CRISTÓVÃO: EDUARDO VEM CAMINHANDO, DE BRAÇOS DADOS

COM EMILIANA E SOCORRO. FRANCISCO VEM ATRÁS,

FUZILIANDO O IRMÃO.

FRANCISCO – (VOZ) Por mim você tinha morrido

por lá mesmo, onde você estava irmãozinho, ou num

acidente de avião... Só assim me livraria de você

de uma vez por todas!

RUTH VÊ QUE FRANCISCO CAMINHA SOZINHO E SE

APROXIMA DELE.

RUTH – Não é bom ficar sozinho nesse momento.

FRANCISCO OLHA PARA RUTH E NÃO MANIFESTA REAÇÃO

NENHUMA.

FRANCISCO – Posso te perguntar uma coisa?

RUTH – Claro.

FRANCISCO – A senhora é amiga da minha família

há muitos anos, né?

RUTH – Sim. Eu e sou mãe nos conhecemos antes

mesmo dela se casar com seu pai. Ai ela se casou

com o Cristóvão e ficamos grandes amigos. Mas por

que a pergunta, Francisco?

FRANCISCO – É que antes de morrer, meu pai

pediu pra minha mãe dizer a verdade.

RUTH AGE DE UMA FORMA CINICA, FINGINDO NÃO SABER

DO QUE FRANCISCO ESTÁ FALANDO.

RUTH – Que verdade?

FRANCISCO – É isso que quero saber. Que raio

de verdade é essa que minha mãe esconde e que meu


pai compactou durante toda vida, pedindo no leito

de morte pra ela ser revelada. Mas pela sua reação

a senhora também não sabe.

CORTA PARA O SEPULTAMENTO DE CRISTÓVÃO. EDUARDO E

EMILIANA CHORAM MUITO. FRANCISCO MANTÉM-SE FRIO,

JÁ QUE NÃO CONSEGUE CHORAR. SOCORRO E RUTH ESTÃO

JUNTAS, OBSERVANDO TUDO.

EMILIANA – Adeus, meu amor! Muito obrigada por

tudo o que você fez por mim!

EDUARDO – Adeus, pai! Vai em paz.

FRANCISCO SE APROXIMA E JOGA UMA ROSA BRANCA. EM

SEGUIDA SE AFASTA.

FRANCISCO – (VOZ) Mesmo o senhor preferindo o

Eduardo, eu o amava pai. E o amo mais do que meu

irmão. Pode ter a certeza disso.

CENA 22. RESTAURANTE LUCAS. ESCRITÓRIO. INT. DIA

LUCAS ENTRA NO ESCRITÓRIO, BATE A PORTA NERVOSA.

SENTA EM SUA CADEIRA, INQUIETO.

LUCAS – Mais essa agora! Estou sem um

subchefe! Justamente nesse momento que a casa está

lotada todas as noites, com muito movimento,

várias reservas... (T) Preciso encontrar um

subchefe o mais rápido possível!

CENA 23. CASA DE BENEDITA. QUARTO CRISTIANO. INT.

DIA

CRISTIANO DORME PROFUNDAMENTE, JOGADO NA CAMA. SEU

CELULAR COMEÇA A TOCAR. ELE, AINDA SONOLENTO,

ATENDE.


CRISTIANO – (CEL) Alô? Sim, seu eu Cristiano.

HOMEM – (OFF) Sou um empresário, dono de um

clube de mulheres, e queria saber se você toparia

em fazer um show na casa.

EVELIN BATE NA PORTA.

EVELIN – (OFF) Cristiano, sou eu Evelin.

CRISTIANO TAMPA COM A MÃO O CELULAR, PARA EVITAR

QUE O HOMEM ESCUTE.

CRISTIANO – Oi, Evelin. Aconteceu alguma

coisa?

EVELIN – Sua mãe não está muito bem,

Cristiano.

CRISTIANO – (P/EVELIN) Já estou indo.

CRISTIANO DÁ UM TEMPO, ANTES DE CONTINUAR

FALANDO..

CRISTIANO – (CEL) Mas eu nunca me apresentei

assim. Só faço programa mesmo...

HOMEM – (OFF) Tenho certeza que pelo valor do

cache você vai animar. É uma grana alta.

CRISTIANO – (CEL) E quanto é?

O HOMEM FALA O VALOR PARA CRISTIANO, QUE PELA SUA

EXPRESSÃO PERCEBE-SE QUE REALMENTE É UM VALOR

MUITO ALTO.

CRISTIANO – (CEL) Tudo bem, eu topo! (T) Hoje

à noite. Tá bom... Sei onde que é sim. Tá bom,

estarei lá!

CENA 24. CASA DE BENEDITA. QUARTO DELA. INT. DIA


BENEDITA ESTÁ RECOSTADA NA CAMA. EVELIN ESTÁ DO

SEU LADO. CRISTIANO ENTRA NO QUARTO, SE APROXIMA

DA MÃE E BEIJA SUA MÃO.

CRISTIANO – (PREOCUPADO) O que a senhora tem,

minha mãe?

BENEDITA – Coisa de velha, meu filho! Não se

preocupe que logo passa.

EVELIN – Desde ontem que ela está assim. Eu

liguei pro seu celular, mas estava desligado.

CRISTIANO – (DESPISTANDO) Acho que estava no

silencioso.

BENEDITA – (P/EVELIN) Você não devia ficar

incomodando o Cristiano, Evelin. Eu disse que

estava bem. Só minha cabeça que dói.

EVELIN – Mas ele é seu filho, Benedita.

CRISTIANO – Claro, mãe! A Evelin está certa.

EVELIN – Só hoje é que eu descobri que o

remédio dela tinha acabado. Quando eu chegava para

lhe dar o remédio, ela falava que já tinha tomado.

CRISTIANO – Por que a senhora não me disse que

o remédio tinha acabando mãe?

BENEDITA – Você sabe que eu não gosto de

incomodar, filho. Além do mais sua vida é tão

corrida. Estudando de manhã, trabalhando a noite.

Eu achei que você estaria na escola uma hora

dessas.

CRISTIANO – Eu não dei conta de acordar mãe.

Cheguei muito tarde ontem. Mas minhas notas estão

boas na faculdade...


BENEDITA – Que orgulho você me dá Cristiano. É

o sonho de toda mãe ver seu filho formando. Ainda

mais um médico!

CRISTIANO FICA MAL SABENDO QUE MENTE PRA SUA MÃE.

E LOGO TRATA DE MUDAR O ASSUNTO, VOLTANDO PARA O

ESTADO DE SAÚDE DELA.

CRISTIANO – Vou agora mesmo comprar seu

remédio!

CRISTIANO DÁ UM BEIJO EM BENEDITA E SAÍ DO QUARTO.

BENEDITA – (ORGULHOSA) Que filho de ouro eu

tenho!

EVELIN PENSA UM POUCO ANTES DE FALAR.

EVELIN – Eu acho tão estranho a vida que o

Cristiano leva.

BENEDITA – O que você tá querendo dizer,

Evelin?

EVELIN – Nada, Benedita. Deixa pra lá!

BENEDITA – Meu filho é o melhor filho do

mundo. Eu só sinto não poder ajuda-lo da forma

como ele merece...

CENA 25. BAR. INT. DIA

EM ALGUM PONTO MAIS AFASTADO DO CEMITÉRIO, RUTH E

SOCORRO CONVERSAM. DE ONDE ELAS ESTÃO É POSSIVEL

VER EDUARDO, EMILIANA, FRANCISCO, SENDO

CUMPRIMENTANDO POR ALGUMAS PESSOAS.

SOCORRO – Ele quer conversar sério.

RUTH – Eu ouvi.


SOCORRO – O que será que ele quer falar

comigo?

RUTH – Você ainda tem alguma dúvida sobre o

que seja, Socorro? Sei que seu forte não é

raciocinar direito, mas burra você também não é!

SOCORRO – Mas o que eu vou fazer, falar,

quando ele vier falar comigo, querendo terminar

tudo?

RUTH – Eu tenho certeza que ele conheceu

alguma mulher nessa viagem. Se apaixonou

perdidamente e por isso não pode mais continuar

com esse amor, já que ele não te ama. (T) A única

forma de conseguirmos ganhar tempo, ao mesmo tempo

deixando-o abalado, culpado é falar que você

estava grávida!

SOCORRO – (RINDO) Eu grávida?

RUTH – Você estava grávida, mas perdeu a

criança em um aborto espontâneo. Como você não

queria atrapalhar a viagem dele, tirar o foco dos

seus estudos, preferiu não revelar o acontecido

para lhe poupar a dor da perda. Aí você encena um

pouco, chora, falando dos planos que já estava

fazendo, imaginando como seria a criança...

SOCORRO – Cê acha que vai dar certo? Quer

dizer, cê acha que falando dessa falsa gravidez,

ele não vai terminar comigo?

RUTH – Por agora não. Ele vai sentir-se

culpado e vai empurrar com a barriga por mais um

tempo esse namoro.


SOCORRO – E se isso não de certo? Ele não

acreditar nessa gravidez!

RUTH – Falar de gravidez é algo infalível,

Socorro. Eu tenho experiência de vida. Já vi,

vivi, ouvi muitas coisas que me deram uma bagagem

enorme no caminho que estamos trilhando. Vai por

mim que dará certo. (T) Mas temos outro problema

também que é o Francisco. Ele está determinado a

descobrir a verdade que o Cristóvão pediu pra

Emiliana revelar.

SOCORRO – (SOCORRO) Que verdade? Eu não estou

sabendo desse babado!

RUTH – (NERVOSA) Não me faça perder a

paciência com você, Socorro. Que verdade você acha

que é? É claro que estamos falando da paternidade

do Eduardo, sua anta!

SOCORRO – (EMBURRADA) Não me chama assim não

que eu não gosto!

RUTH – Pois então seja mais esperta, usa sua

cabeça, pra evitar falar tantas besteiras. Se você

quer mesmo se dar bem, não basta ter um corpo

bonito. E eu não vou estar dos eu lado sempre.

SOCORRO – Mas o que vamos fazer com o

Francisco. Se ele descobrir tudo com certeza ele

vai jogar pros quatro ventos.

RUTH – O Francisco vai descobrir sim, mas

porque será útil pra gente.

SOCORRO – Não entendi!


RUTH – Quando o Francisco descobrir o segredo

que envolve Eduardo, de uma forma que parece que

não foi planejada, você vai jogar todo seu charme

pra cima dele, aproveitar que ele é caidinho por

você, pra trazê-lo pro nosso lado. Revelar o que

você planeja com o Eduardo, que é simplesmente

pegar o dinheiro dele, e que vai precisar da ajuda

dele nesse plano. Aí, quando você tiver conseguido

atingir esse objetivo vocês podem ficar juntos.

SOCORRO – Mas eu nunca dei mole pro Francisco.

Ele não vai acreditar quando eu propor pra gente

ficar juntos no final, como um casal romântico de

novela.

RUTH – Você fala que estava focada no seu

plano, que não podia deixar transparecer seus

verdadeiros sentimentos. Mas que sempre foi

louquinha por ele... e outras coisas mais, que

você pode improvisa na hora. Você só vai dizer o

que o Francisco quer ouvir, Socorro. (T) O

Francisco não vai pensar duas vezes em ficar do

seu lado, para ferrar o irmão, ficando com todo o

dinheiro dele, e tendo como recompensa final ficar

com você.

SOCORRO FICA SURPRESA COM TUDO O QUE RUTH FALA.

SOCORRO – Que mente maquiavélica! A senhora me

surpreende cada vez mais, dona Ruth. Daria uma boa

autora de novela, de livros...


RUTH – Eu só quero deixar de ser uma empregada

doméstica e ter a vida de patrão que sempre sonhei

e que por direito mereço ter!

SOCORRO – (BRINCA) Seria uma grande ironia a

senhora me ajudando em todo plano e na hora da

recompensa não recebendo nenhuma fatia do bolo.

Nenhuma parte da bolada (RISOS)

RUTH – (SÉRIA) Eu te caçaria até no inferno se

você se arriscasse fazendo uma coisa dessas. Eu me

tornaria seu pior pesadelo. E quando te

encontrasse você pagaria amargamente por ter feito

isso!

RUTH ENCARA SOCORRO, COM UM OLHAR QUE A DEIXA

AMEDRONTADA.

SOCORRO – Nossa madrinha, foi só uma

brincadeira.

RUTH – Se eu fosse você não brincava com uma

coisa dessas. Eu não estou de brincadeira. Estou

nesse jogo disposta a tudo. Inclusive matar quem

precisa morrer!

CENA 26. AVIÃO. INT. DIA

SOFIA ESTÁ SENTADA EM SUA POLTRONA, PERTO DA

JANELA. ELA SEGURA A FOTO ANTIGA EM QUE APARECE

AINDA PEQUENA COM SEUS PAIS. OLHANDO PRA FOTO ELA

DIZ:

SOFIA – Estou indo pro Brasil, pai! Realizando

sua vontade e a minha também de reencontrar o


Eduardo. Sei que alguma coisa aconteceu e ele não

me esqueceu.

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FIM DO CAPÍTULO

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