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Tijolos para a educação Com 83 novas obras, UFPR reforma e ganha 61 mil metros quadrados em novos espaços Página 16 UFPR define as novas regras do Provar pág. 7 Em entrevista, Pedro Bodê analisa a violência pág. 21 Guerra do Paraguai completa 140 anos pág. 10

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Ano 9 | Março de 2010 | Número 47

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Page 1: Notícias da UFPR

Tijolos para a educaçãoCom 83 novas obras, UFPR reforma e

ganha 61 mil metros quadrados em novos espaços

Página 16

UFPR define asnovas regras do Provar pág. 7

Em entrevista,Pedro Bodê analisa

a violência pág. 21

Guerra do Paraguai completa

140 anos pág. 10

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Abril2010

O jornal Notícias da UFPR é uma publicação da Assessoria de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná.Rua Dr. Faivre, 405 - CEP: 80060-140 Fones: 41 3360-5007 e 41 3360-5008 Fax: 41 3360-5087 E-mail: [email protected]

Reitor Zaki Akel Sobrinho | Vice-Reitor Rogério Mulinari | Pró-Reitor de Administração Paulo Roberto Rocha Kruger | Pró-Reitora de Extensão e CulturaElenice Mara de Matos Novak | Pró-Reitora de Gestão de Pessoas Larissa Martins Born | Pró-Reitora de Graduação Maria Amélia Sabbag Zainko

Pró-Reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças Lúcia Regina Assumpção Montanhini | Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Sérgio ScheerPró-Reitora de Assuntos Estudantis Rita de Cássia Lopes | Chefe de Gabinete Ana Lúcia Jansen de Mello Santana.

Assessor de Comunicação Social e Jornalista Responsável Mário Messagi Júnior - Reg. Prof.: 2963 | Edição geral Maria de Lurdes Pereira| EditoresSimone Meirelles (Ensino), Fernando César Oliveira (C&T), Mário Messagi Júnior (Gestão) e Letícia Hoshiguti (Cultura e Extensão) | Projeto Gráfico

Iasa Monique Ribeiro | Diagramação Juliana Karpinski| Foto da Capa Rodrigo Juste Duarte| Impressão Imprensa UniversitáriaRevisão Edison Saldanha | Tiragem 10 mil exemplares

O movimento é nacional. A expansão de vagas no ensino superior público atingiu 63% nos últimos quatro anos. Isso foi feito com a criação de novas universidades, como a Unila, mas também com novos in-vestimentos em instituições já existentes, como a nossa quase centenária UFPR.

Esta edição mostra como em 2010 nossos diversos cam-pi estarão crescendo. São 83 obras de reforma ou de amplia-ção, que deverão resultar em uma recuperação de espaços, mas também no acréscimo de 63 mil m2 à nossa área útil.

Além disso, os investimen-tos em material permanente, como livros, mesas, cadeiras e projetores, por exemplo, são crescentes, além da assistên-cia estudantil, cujos recursos dobraram em um ano. Tudo isso tem o objetivo maior de ampliar o acesso à educação superior pública e gratuita, o que tem sido viabilizado nos últimos anos. Também visa es-timular a produção acadêmica, estratégica para o país, e pro-ver condições para melhorar a qualidade do ensino de gradua-ção e pós-graduação, mantendo a excelência acadêmica.

Pelo papel indutor no de-senvolvimento econômico, so-cial e cultural de um país e de um estado como o Paraná, é um orgulho fazer parte e estar vi-vendo esta universidade neste momento tão especial da nossa história, quando estamos rumo a completar 100 anos, preser-vando o passado e projetando o futuro.

Cotas e democracia

Editorial

UFPR em exPansão

Em sintonia com o espírito democrático de nosso tempo, o STF convocou audiência pública para ouvir a sociedade sobre as políticas de ação afirmativa e as cotas raciais nas universidades públicas. Através do diálogo profundo e transparente, o Supremo aponta o caminho que vai seguir para julgar as ações que contestam a promoção da igualdade racial no ensino superior.

O atual governo ampliou de forma generalizada o acesso à educação. E as instituições públicas de ensino superior, a partir de sua autonomia, aplicam há quase uma década as políticas de cotas raciais. Medida que au-mentou o número de alunos negros nos cursos de graduação e vem demo-cratizando o sistema público de educação brasileiro, que sempre reservou o melhor de seus recursos materiais e imateriais para o segmento hegemô-nico da população em termos econômicos e políticos.

As cotas se inserem num contexto de reparação. Após a Abolição, os negros não receberam terras nas quais pudessem produzir e não tiveram acesso a servi-ços fundamentais como saúde e educação, fatores fundamentais para a conquista da cidadania. Desta forma, continuaram cativos da ignorância, sem perspectiva de ascensão econômica e social. Eis a origem do imenso abismo que segrega a população negra do restante da sociedade em termos de oportunidades.

O princípio da igualdade perante a lei foi durante muito tempo considera-do a garantia da liberdade. Sua importância é inquestionável.

No entanto, não é suficiente que o Estado se abstenha de praticar a discri-minação. Pois cabe a ele criar condições que permitam a todos a igualdade de oportunidades. Para tanto, é preciso elevar os desfavorecidos ao mesmo pa-tamar de partida dos demais, tratando de forma desigual os desiguais, como defendia o filósofo Aristóteles.

Esta tese pode ser comprovada em números. Mesmo a melhora gene-ralizada no ensino superior brasileiro nas últimas décadas não foi suficiente para acabar com a desigualdade educacional histórica. Atualmente, há mais brasileiros frequentando as escolas e houve um aumento nos anos de esco-laridade de todos os segmentos.

Ainda assim, de acordo com dados do MEC, a distância de dois anos na média de escolaridade entre negros e brancos permanece intocada nos últi-mos 20 anos. Neste sentido, não resta dúvida de que a adoção do sistema de cotas contribuirá para uma sociedade mais igualitária.

Os resultados até agora alcançados pelas cotas são animadores. Estudo realizado junto às instituições que adotaram o sistema demonstra que o co-eficiente de rendimento médio dos alunos cotistas é tão bom quanto o dos demais. Uma explicação é o fato dos cotistas serem, na maioria dos casos, os primeiros de suas famílias ou comunidades a conseguir ingressar na univer-sidade. Motivados, agarram a oportunidade com força e vontade.

As cotas funcionam como um mecanismo de equalização de oportunidades, proporcionando a abertura das portas das universidades para um contingente expressivo de alunos que, de outra forma, não teria acesso ao ensino superior.

Nos últimos oito anos, 52 mil alunos negros foram beneficiados. Este exemplo positivo se dissemina entre as principais universidades do país, o que possibilitará a ampliação das oportunidades para um grupo ainda maior de estudantes, sinalizando que, apesar do esperneio de setores minoritários, a caravana da igualdade racial avança.

Edson SantosMinistro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

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OpiniãO

Campanha convida estudante a viver a

UFPR

Zaki AkelReitor da UFPR

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Abril2010

[email protected] Trindade

EnsinO: Cidadania

Campanha convida estudante a viver a

UFPR

A UFPR lançou, durante a festa de Recepção aos Ca-louros 2010, no dia 28 de

fevereiro, a campanha “Eu vivo esta universidade”. Parceria en-tre a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), a Assessoria de Comunicação Social (ACS), a Agência Jr. Fábrica de Comuni-cação e o Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos), a campanha tem por objetivo esti-mular o vínculo da comunidade interna com a UFPR.

Inicialmente, a ideia era ape-nas conscientizar a comunidade universitária de que ela mesma é proprietária dos recursos de uma universidade pública como a Federal do Paraná – tanto quanto os demais cidadãos – e que todos perdem quando não são bem utilizados e mantidos. Durante o período de combate à gripe suína, o reitor Zaki Akel Sobrinho solicitou à Fábrica uma campanha para estimular o cuidado com o patrimônio da universidade, sobretudo banheiros e dispensadores de álcool, fundamentais no com-bate à epidemia. “Os banheiros da Universidade, por exemplo, estavam com condições hetero-gêneas”, explica Zaki.

Com a maturação da cam-panha, o zelo pelo patrimônio ganhou a companhia de outros temas. “Também envolve a questão do estudante se engajar, ser um agente de transformação social. Ele está aqui financiado pela sociedade, então também

tem que devolver isso fazendo seu papel”, explica Akel. Gui-lherme Gomes Glir, copresi-dente do Cacos, complementa: “Uma formação completa pede que o estudante faça uma inte-gração com a Federal que foge da sala de aula. É importante ser aprovado nas disciplinas? Sim, mas é igualmente impor-tante construir junto do Centro Acadêmico, do Diretório Cen-tral dos Estudantes, participar de órgãos colegiados da Uni-versidade e assim por diante. Quando percebe que entrou na UFPR não só para atender à de-manda do mercado e começa a se articular para contribuir com a sociedade é que o universi-tário deixa de ser apenas mais um aluno passivo, quieto, para se tornar um estudante. É isso que queremos transmitir com essa campanha”.

EU VIVO ESTA UNIVERSIDADE

As peças publicitárias são desenvolvidas pela Fábrica de Comunicação, em conjunto com o Centro Acadêmico. Para Rafael Puzzilli, da Agência Jr., a experiência é marcante: “Logo depois da primeira reunião com a Prae, ACS e Cacos, sentamos para pensar em conceitos. Dois dias depois já estávamos apre-sentando-os”. E a campanha não se resume às intervenções do dia 28. “É de longo prazo, que visa ter efeitos duradouros. Materiais com mais informação

serão distribuídos para que os estudantes não precisem espe-rar até o último ano na Univer-sidade para entender certos as-pectos dela”, conta Puzzilli.

O reitor ainda enfatiza a par-ticipação dos estudantes em projetos da administração: “A JR. Consultoria, do Setor de Ci-

ências Sociais Aplicadas, já havia feito pesquisas de satisfação dos frequentadores da Feira de Cur-sos e Profissões e a Jr. Design foi acionada para trabalhar na Grife da UFPR. Nossa ideia é valorizar os talentos da casa. Tudo o que der pra fazer em casa nós não va-mos terceirizar”, garante.

[email protected]ário Messagi Júnior

Ideia, que iria inicialmente conscientizar universitários

a cuidar do patrimônio, visa estimular o vínculo da

comunidade interna com a UFPR

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REITOR Zaki Akel participa da construção do mural com imagem do Prédio Histórico

PEçAS publicitárias desenvolvidas pela Fábrica de Comunicação e Centro Acadêmico

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Abril2010 EnsinO: prOjEtOs pEdagógiCOs

Pelo menos dois setores da UFPR têm trabalhado nos últimos tempos com políti-

cas pedagógicas que diferem das teorias de ensino tradicionalmen-te mais enraizadas na universida-de brasileira. O Setor Litoral e o Setor de Educação Profissional, antiga Escola Técnica, embora por caminhos distintos, mudaram o foco de atuação da Universida-de. “Talvez a principal semelhan-ça dos dois projetos seja o fato deles seguirem uma política pú-blica diferente. Pessoas que não eram prioridade da Universida-de agora passam a ser”, resume a professora Cláudia Madruga Cunha, coordenadora pedagógica, ligada a Pró-Reitoria de Gradua-ção (Prograd), que complementa: “Historicamente, as universida-des formaram elites, mesmo que seja uma elite de classe-média. O que tentamos agora é propiciar uma formação além do mercado, abrindo espaços, com cursos dife-renciados”.

“Aqui no litoral, temos um projeto diferente para dar conta de nos comprometermos com o desenvolvimento da região, uma das mais carentes do Esta-do, que é o nosso ponto de par-tida”, defende o professor Val-do Cavallet, diretor da UFPR Litoral.

No Setor Litoral, os estu-dantes passam por uma rotina que difere muito daquela en-frentada por muitos estudantes da capital, por exemplo. Lá, o modelo do projeto pedagógico transformou os currículos, que passaram a ser organizados em etapas. Não há disciplinas pro-priamente ditas, mas módulos interdisciplinares com proje-tos a serem desenvolvidos. A avaliação dos estudantes não é feita por nota, mas pela obser-vação dos objetivos que eles conseguem atingir. Tudo isso para integrar os estudantes à política do Setor, que pretende ser uma alavanca de desenvol-vimento da região litorânea, com a formação de profissionais preparados e engajados nessa proposta. “É um projeto inédito

no Brasil e, acredito, no mundo, desenhado com o envolvimen-to dos três níveis de governo: municipal, estadual e federal”, explica Cavallet. “Queremos desenvolver o litoral e dignifi-car o indivíduo”, continua ele, salientando que o litoral é uma região carente justamente por-que precisa viver o ano todo com o que consegue arrecadar nos três meses de verão, já que a “temporada” é de longe a principal atividade econômica da região.

O Setor de Educação Profis-sional parte também da realida-de para fundamentar o projeto político e pedagógico dos seus cursos. Pela sua caraterística, vincula-se fortemente ao mer-cado de trabalho. O processo de acompanhamento dos egresso, em vias de ser implantado, é um dos instrumentos para medir se o objetivo está sendo alcançado. Segundo o diretor interino do Setor, Sávio Morei-ra da Silva, o acompanhamento vai permitir mensurar o quanto os alunos formados estão sendo absorvidos pelo mercado. “Isso

vai ajudar na criação de cursos e para verificar quando uma for-mação está perdendo sua razão de ser”, diz. A flexibilidade do quadro docente permite, com uma mesma equipe, oferecer formações diferenciadas. Com uma forte formação crítica e humanística, Sávio explica que o objetivo não é formar só para o mercado, mas, com certeza, “também para isso”.

Multidisciplinaridade

Outra característica do Se-tor de Educação Profissional é a multidisciplinaridade. São seis cursos tecnólogos de gra-duação que oferecem a possi-bilidade de movimentação para os alunos. “Um exemplo seria um aluno de Gestão Pública achar que está com dificulda-des de oratória. Ele pode fazer algumas disciplinas do curso de Produção Cênica, para sa-nar isso”, atesta Sávio. “Mas essa multidisciplinaridade exi-ge uma postura, uma atenção, exige que a equipe se reúna de maneira periódica. Se não, a natureza dos cursos os levam a

Desafios de uma nova pedagogia

Dois setores da UFPR apostam em políticas pedagógicas multidisciplinares e priorizam um público antes não atingido pela Universidade

Sandoval [email protected] [email protected]

[email protected]ário Messagi Júnior

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se desenvolver de forma autô-noma”, continua ele.

A maleabilidade do Setor também transparece no siste-ma de módulos. Na concepção adotada pelos cursos de forma-ção profissional, o aluno não precisa necessariamente cum-prir os três anos normais para estar apto a exercer funções específicas de sua formação, ao contrário do que acontece em cursos tradicionais. A cada seis meses, os estudantes pas-sam por uma “avaliação de ha-bilidades” e recebem o Certifi-cado de Qualificação de Nível Tecnológico, que já os autoriza a bater à porta do mundo do trabalho. Ou seja: não é neces-sário completar todo curso e os alunos podem optar por ter uma formação parcial. “Embora essa não seja nossa realidade e no geral os alunos fiquem co-nosco o curso todo”, salienta o professor Sávio.

Mesmo distintos, os dois projetos têm pontos em co-mum. Nos dois lugares, por exemplo, não há uma divisão por departamentos, como no

restante da Universidade, e a coordenação dos trabalhos se orienta de forma conjunta, por professores oriundos de diver-sas áreas do conhecimento. “Isso facilita muito, porque dá ao corpo interno unidade e bas-tante conhecimento da propos-ta, do que estamos perseguin-do”, argumenta Sávio.

a prática coMo fonte das ideias

Da mesma forma, os dois projetos valorizam a prática como essência da formação e teorizam a partir dela.

O exemplo do Setor Litoral é enfático. Lá, o aprendizado se aplica através da problematiza-ção da realidade, já que o obje-tivo da Universidade é alavan-car o desenvolvimento local. Assim, inicialmente os estu-dantes participam de diversas atividades a fim de vivenciar a realidade e os problemas da região. Nesta primeira etapa, o estudante também começa a conhecer o seu curso e profis-são, iniciando as reflexões que servem como base para o que virá depois.

Posteriormente, a meta é fa-zer com que os estudantes com-preendam a realidade e passem a propor soluções. Dessa for-ma, os estudantes precisam se aprofundar em conhecimentos específicos de sua área. Pro-fessores e acadêmicos realizam atividades teórico-práticas tan-to em sala de aula quanto em laboratórios e visitas técnicas. Ao final dessa etapa, os alunos já apresentam conhecimentos que lhes permitem pensar e propor ações e projetos de dife-rentes naturezas.

Por fim, a terceira etapa ins-tiga os alunos a agirem. Nesse momento, os estudantes de-senvolvem o exercício respon-sável da profissão, propondo alternativas e atuando em pro-jetos e atividades que permi-tam aplicar os conhecimentos, técnicas e valores aprendidos anteriormente.

O professor Valentim da Sil-va ilustra o processo citando um estudo sobre a ocorrência de alagamentos no centro da cidade de Matinhos, feito pelos alunos da turma de Ciências,

em 2008. Depois de avaliarem vários aspectos da região, pas-sando pelo plano-diretor da ci-dade, vegetação, clima e solos, os alunos chegaram à conclu-são de que o principal problema era a existência, nos pontos de alagamento, de um tipo de solo pouco permeável. “Ou seja, eles concluíram que esses lo-cais alagavam porque tinham que alagar mesmo. Mas antes precisaram testar várias hipó-teses e aprenderam muito no processo todo. Antes, muitos nem sabiam o que era um plano diretor. O processo é o mais im-portante”, salienta o professor.

Nilton da Silva Cruz, aluno do curso técnico em Orientação Comunitária, lembra de quando participou de um projeto junto a postos de saúde com infraes-trutura precária. Nesse caso, a alternativa encontrada pelos estudantes foi a conscientiza-ção da população sobre diversas doenças e como preveni-las. “O que eu mais gosto é que você é induzido a encontrar problemas e propor soluções. No caso, o que tentamos fazer foi impedir

Desafios de uma nova pedagogia

Dois setores da UFPR apostam em políticas pedagógicas multidisciplinares e priorizam um público antes não atingido pela Universidade

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que as pessoas precisassem che-gar àquela precariedade”, diz.

riscos

Naturalmente, projetos com tamanho ineditismo também assumem riscos. Para minimi-zá-los, são frequentes as reu-niões de professores, técnicos e alunos para avaliar os resulta-dos do que está sendo feito. Foi o que aconteceu durante toda a última semana do mês de feve-reiro, às vésperas do início do ano letivo de 2010, no Litoral. A comunidade acadêmica ia resolver se continuava ou não, por exemplo, com o modelo de turmas híbridas adotado com os estudantes que entraram em 2009. Durante esse período, dois dias por semana os estu-dantes tiveram aulas em tur-mas mistas, formada por alunos dos 11 cursos do Setor. As au-las também eram mediadas por um rodízio de professores, na tentativa de oferecer aos alu-nos múltiplos olhares sobre a realidade. “O conhecimento é muito mais que um curso. O co-nhecimento é um todo”, justifi-ca o professor Maurício Fagun-des. Assim, posteriormente, os alunos levavam o que haviam aprendido em grupo para traba-lhar dentro de seus conteúdos específicos, com um maior alar-gamento de visão.

Sávio também encontra desafios no projeto do Setor de Educação Profissional. “Às vezes, o resultado não é o es-perado”. Mas o maior desafio é também a maior virtude. O setor está se constituindo, pra-ticamente do zero. Docentes e técnicos estão sendo contrata-dos, um novo espaço físico está nascendo, tudo é muito novo e traz dificuldades. Por outro lado, com uma equipe nova, é mais fácil ousar. “Estamos em construção. Isso permite que todos estejam afinados ou se afinando”, explica.

coMo ser huMano

Outro espaço curricular obrigatório do Setor Litoral são as interações culturais huma-nísticas, que acontecem uma vez por semana. Nelas, um gru-po de alunos, que podem ser de

diferentes cursos, decidem algo em comum que querem estu-dar, na maioria das vezes temas ligados à arte e através de uma oficina. O objetivo, segundo o professor Breno Bellintani, é contribuir com a formação hu-mana dos futuros profissionais. “A gente nasce ser humano, mas não sabe o que é ser huma-no. Queremos elevar o estado de espírito da pessoa para uma compreensão diferente. Fazer com que os alunos não percam o contato com sua identidade humana, com a capacidade de se sensibilizar com a realida-de”, diz ele.

Valentim da Silva completa: “Eu sou químico, mas não sou só químico. Também sou um ser humano. Adoro música e me interesso por religião, por exemplo. Vou além da química, simplesmente”.

“Existe o mundo do traba-lho, mas também existe o mun-do das pessoas, que transcende isso. As pessoas não são só o que fazem profissionalmente”, concorda Breno.

resistência

Existe certa resistência a essas novas propostas. Ao che-gar no curso, os estudantes esperam um modelo tradicio-nal de ensino. “O primeiro se-mestre sempre é de mudança, de superação das formatações educacionais. Começamos des-construindo para depois cons-truir o novo. E a cada turma, é preciso recomeçar”, resume Cavallet.

A ideia é principalmente in-vestir no diálogo, numa espécie de parceria entre alunos e pro-fessores, liberando os estudan-tes de cargas horárias opressi-vas e fazendo com que ele seja o principal elemento de sua for-mação. “Aqui o aluno tem que ser protagonista e o professor, o mediador”, finaliza Cavallet.

Sávio aposta em professores com um novo perfil para enfren-tar as mudanças. “Precisamos de um professor diferenciado, que transite por vários cursos e reflita sobre vários projetos politíco e pedagógicos e sobre o projeto pedagógico do próprio setor”, finaliza.

Mas essa multidisciplinaridade exige uma costura,

uma atenção, exige que a equipe se reúna de maneira

periódica.”

“ Sávio Moreira da Silva, Diretor interino do Setor.

Eu sou químico, mas não sou só químico.

Também sou um ser humano. Adoro

música e me interesso por religião, por exemplo. Vou além da química, simplesmente.”

“ Valentim da Silva,Professor da UFPR Litoral.

O conhecimento é muito mais que um curso.

O conhecimento é um todo.”

“ Maurício Fagundes,Professor da UFPR Litoral

O que eu mais gosto é que você é induzido a

encontrar problemas e propor soluções.

No caso, o que tentamos fazer foi

impedir que as pessoas precisassem

chegar àquela precariedade.”

Nilton da Silva Cruz,Aluno de Orientação Comunitária.

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Débora Ferreira Pontes ingressou na UFPR para cursar Economia. Havia

entrado meio indecisa e, menos de um ano depois, já tinha a cer-teza de que não era o curso que queria. Teria de desistir. Gleis-son Alisson Pereira já estava formado em Educação Física e tinha feito inclusive uma espe-cialização na área. Mas queria ganhar conhecimentos e já atu-ando como professor, pretendia ampliar também os horizontes, no caminho da docência. Viní-

Critérios mais rigorosos darão outra dinâmica à ocupação das

vagas ociosas na UFPRNovas regras foram definidas na Resolução 99/09 aprovada pelo Conselho de Ensino,

Pesquisa e Extensão. Coordenações terão maior autonomia para decidir quantitativo de vagas

e modalidades a serem ofertadas.

EnsinO: prOvar

cius de Souza Correa frequen-tava Engenharia Mecânica em uma outra instituição e já pen-sava que dificilmente consegui-ria se formar, dada a dificuldade de arcar com a mensalidade do curso. As três histórias são ab-solutamente distintas, de pes-soas com necessidades diferen-tes mas que nos levam a uma única questão: a importância da ocupação de vagas remanes-centes na universidade.

No final de dezembro pas-sado, a ocupação de vagas ocio-sas, que foi suspensa durante o ano de 2009, teve regras novas

regulamentadas pela Resolução 99/09 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. No lugar de cinco etapas, agora serão duas fases. O calendário de to-das as modalidades deverá ser divulgado até maio. A primei-ra fase ofertará as modalidades de mudança de turno, de habi-litação e de campus. A segun-da fase, que será realizada no segundo semestre, ofertará as modalidades de reopção de cur-so, transferência, reintegração de ex-alunos, complementação de estudos e aproveitamento de curso superior.

Uma série de pormeno-res tornou o novo Provar um processo mais criterioso (veja no quadro “Antes e Agora” as principais mudanças). A nova resolução traz como ingre-diente central uma maior au-tonomia das coordenações em aspectos considerados funda-mentais para muitos coorde-nadores: eles poderão decidir pela oferta parcial ou até pela não oferta das vagas remanes-centes de seus respectivos cursos, caso tenham sucesso na taxa de conclusão de curso, dentro dos moldes do Progra-

Gleisson Alisson Pereira de Brito está cursando Ciências Biológicas. Ele já é professor e, formado em Educação Física pela própria UFPR, voltou pela modalidade Aproveitamento de Curso Superior. “O Provar facilitou muito o caminho”, diz, ponderando que depois de tantos anos seria difícil enfrentar um vestibular com os conteúdos de “cursinho” distantes.

“É uma política importante da universidade ofertar essas vagas rema-nescentes, num processo justo que dá oportunidade a quem já se formou”, diz ele, elogiando a etapa que priorizou quem já era formado pela UFPR e quem tinha a maior parte possível de disciplinas cumpridas e que busca-va outra habilitação ou, tendo feito bacharelado, uma licenciatura e vice-versa. “A universidade cumpre com um papel social”, pondera Gleisson, por abrigar novos alunos às vagas que estariam ociosas. Gleisson é professor em uma faculdade particular e com o curso de Ciências Biológicas ampliou seus horizontes como professor. Desde que se formou em Educação Física, trabalhou como professor em Academia e fez especialização na área. Ago-ra, no quinto período e dentro do cronograma do curso, sabe que estará formado em 2012. Nos planos futuros, já pensa no mestrado que fará e nas futuras aulas no Ensino Superior.

[email protected] Hoshiguti

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ma Reuni; decidirão dentro de percentuais estabelecidos pela resolução quantas vagas ofer-tar em cada modalidade, res-peitando as peculiaridades da formação. Mais: poderão tam-bém utilizar até 50% de suas vagas ociosas para chamar classificados no vestibular que não foram convocados nas cha-madas complementares, desde que não transcorridos mais de 25% do período letivo.

Podendo decidir em que modalidade alocar as vagas, os cursos terão condições de re-ceber mais alunos exatamente no qual veem melhor apro-veitamento. Na Geologia, por exemplo, modalidades como “Aproveitamento de Curso Su-perior” e “Reintegração” não vinham sendo bem aceitas. “Recebíamos alunos com 40, 50 anos de idade que desistiam com menos de um mês de cur-so”, afirma o coordenador Ru-bens Nadalin, comentando que aulas de campo de 20 a 30 dias assustam esse tipo de aluno. A reportagem do Notícias da UFPR procurou uma dezena de alunos que haviam ingressado por essa modalidade e consta-tou alguns tipos de dificuldades que as tornam mais complica-da: em geral, os estudantes que optam pelo Aproveitamento de Curso Superior já estão em ida-de madura, têm família, filhos, trabalho, situação que os impe-de muitas vezes de levar o cur-so devidamente periodizados.

A situação familiar também os impede de uma maior dedica-ção aos estudos. Deuselis San-tiago, 48 anos, é um exemplo: cursou Artes Plásticas, traba-lha com decoração e projetos e tem agora o sonho de tornar-se engenheiro. Por isso ingres-sou em Engenharia Industrial Madeireira. Entrou via Provar 2007 e, com três filhos e esposa e muito trabalho, só conseguiu fazer em torno de 10% da car-ga horária do curso até agora. Neste semestre, com a possi-bilidade de cursar algumas dis-ciplinas à noite, está otimista e quer retomar o curso.

A reintegração de ex-aluno também tem avaliação negati-va por muitos. “Até hoje 100% dos reintegrados desistiram”, afirma o coordenador Nada-lin, que defende a Reopção e Transferência como as mais apropriadas para o seu curso. Uma porque atende ao aluno que possivelmente já analisou o perfil do novo curso que plei-teia; estando descontente com o curso atual o estudante passa a procurar outras possibilidades que realmente encaixem naqui-lo que busca. Já experimentou o que efetivamente não gosta e parte desse parâmetro. E na modalidade da Transferência, é alta a chance do curso receber o aluno que já “acertou” no curso, mas que em muitos casos não pode pagar as mensalidades co-bradas por outras instituições não públicas.

Vagas da segunda fase serão ofertadas simultaneamente

Diferentemente dos pro-cessos anteriores, quando uma etapa só iniciava após o térmi-no da anterior (se ainda exis-tissem vagas remanescentes), após a primeira fase todas as outras modalidades agora se-rão ofertadas ao mesmo tempo, com as vagas pré-definidas em cada modalidade. Na segunda fase, todo curso que apresen-te mais de dez vagas deverá, obrigatoriamente, alocar vagas em três das seis modalidades estabelecidas (veja o quadro de modalidades).

Em razão da suspensão do processo no ano passado, o ano de 2009 não será conside-rado para contagem de tempo em nenhuma das modalidades. Assim, o processo deste ano permitirá a modalidade de Reop-ção não apenas para quem in-gressou em 2008 mas também, excepcionalmente, para os que ingressaram em 2007, uma vez que o processo ficou suspenso no ano passado. Todos os apro-vados neste Provar ingressarão nas turmas a partir de 2011.

Critérios priorizam quali-dade para vagas ofertadas

“Apostamos mais na qua-lidade da ocupação, visan-do um melhor resultado na ocupação efetiva da vaga”, diz Robson Bolzon, coorde-nador de Políticas de Acesso e Permanência na Graduação

Apostamos mais na qualidade

da ocupação, visando um melhor

resultado na ocupação efetiva

da vaga.”

“ Robson Bolzon,Coordenador COPAP/PROGRAD.

Curso muito caro, difícil de pagar. Para Vinícius de Souza Correa, o pri-meiro ano de Engenharia Mecânica na universidade paga foi muito difícil. Era um curso bom e ele, um estudante aplicado, um dos melhores alunos da turma, mas por questões financeiras tinha que mudar. E mudou, fazendo prova e concorrendo às 11 vagas ofertadas pelo Provar da UFPR. Disputou com muitos outros candidatos, colegas de turma da sua própria faculdade e de outras instituições.

“Se não tivesse mudado, provavelmente não estaria mais estudando. Teria desistido, estaria trabalhando para tentar novamente numa univer-sidade pública”, diz ele. A experiência lhe deu maturidade, expressada na comparação dos dois cursos: “São dois cursos muito bons, mas são dois mundos muito diferentes, os focos são distintos”, explica, resumindo sua vida agora na UFPR: “Estou me adaptando. Na Federal você tem que ser esperto, buscar as oportunidades, os contatos são muito importantes. Tem que estar antenado com as matérias, os projetos”, diz, e completa: “É desafiador”.

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(Copap/Prograd) e um dos responsáveis pela construção das novas regras. Nessa ótica de qualidade, foram estabele-cidos critérios mais rígidos em várias situações.

Quando houver empate en-tre dois alunos por uma mes-ma vaga, o critério de desem-pate será o menor número de reprovação nas disciplinas. O segundo critério é idade mais avançada. Se o estudante vem por Transferência, terá lançada no seu histórico es-colar a equivalência das dis-ciplinas, no modo “Dispensa sem nota”. Evitará, porém, que a Universidade chancele notas que na verdade podem não ter o mesmo peso e/ou critério da UFPR.

Também não poderá con-correr ao Provar o estudante que estiver jubilado pela uni-versidade. Nessa linha, tam-bém será desclassificado o can-didato que não tenha prazo para integralizar a carga horária con-siderando o tempo já utilizado na instituição de origem. Outra novidade é que o candidato não poderá possuir trancamento na instituição de origem maior que três anos ou seis semestres, consecutivos ou não. Da mesma forma, na modalidade de Rein-tegração de Ex-aluno, também foi estabelecido que o mesmo só pode retornar se evadido há menos de cinco anos letivos ou, se mais de cinco anos, com in-tegralização de no mínimo 50% da carga horária total do curso.

Adriana Cristina Wasuaski Riechter, responsável pela Unidade do Provar no NAA, comenta que a partir do mo-mento que o aluno se integra na instituição via Provar, ele receberá um novo número de registro, o GRR (Graduação Regular). Será determinante para controlar uma outra situação: o benefício da ocupação de vaga remanescente será concedido a qualquer pessoa uma única vez, independentemente da forma de ingresso na UFPR. “Isso significa que os ingres-santes de qualquer modali-dade não poderão participar novamente de nenhuma outra modalidade”, explica Adriana. Essa medida foi tomada em razão de alguns abusos de cer-tos estudantes que já ingres-saram mais de uma vez pelo processo e não frequentaram os cursos que os acolheram.

Outro parâmetro que põe

mais “ordem na casa” é o es-tabelecimento de nota mínima igual para todos os cursos nas provas e o critério de carga horária mínima e máxima para ingresso através da modalida-de de transferência. Já na pri-meira fase, só pode mudar de turno, habilitação ou campus aquele aluno que tenha inte-gralizado no mínimo 20% ou, no máximo, 80% da carga ho-rária. A grande mudança den-tre todas as estabelecidas foi na Reopção. Os critérios de seleção serão determinados pela coordenação do curso. “Esta mudança vem atender a solicitação dos cursos para poderem gerenciar melhor a entrada dos alunos e fazer que os próprios alunos pensem melhor na hora da escolha do curso, tanto na hora de fazer reopção quanto na primeira escolha que é o vestibular”, explica Bolzon.

Ao prestar Vestibular, Debora Ferreira Pontes chegou a pensar em ten-tar Engenharia Civil, mas preocupada com as disciplinas de Exatas, desis-tiu. Resolveu tentar Ciências Econômicas e passou. Transcorrido o primeiro ano, no entanto, viu que havia feito a opção errada. “Não sabia bem o que queria, tinha dúvidas quanto a conseguir fazer matérias mais puxadas como matemática e física, mas depois vi que o curso de Engenharia Civil era o que eu queria, sempre gostei de construções”, expõe.

Hoje, no segundo ano de Engenharia Civil, ela está feliz: entrou pela Modalidade Reopção, na época a segunda etapa, que aceitava o aluno de outro curso que tivesse escore suficiente para ingressar no curso. Apesar de ter que “começar do zero”, tendo de cursar novamente todo um primeiro ano, ela avalia positivamente: “Não precisei fazer novo vestibular e a deci-são de mudança foi acertada, estou gostando bastante do curso”, resume.

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Aumentam as vagas nas universidades

federais

A Associação Nacional dos Dirigentes das Insti-

tuições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou

relatório do programa de Reestruturação das Univer-sidades (Reuni), mostrando que as instituições federais de ensino superior criaram

nos últimos quatro anos aproximadamente 77 mil

novas. Destaca também que, a exemplo da Universidade

Federal do Paraná, as univer-sidades brasileiras investiram

no desenvolvimento dos cursos noturnos. Aqui, a

UFPR ofereceu um total de 5.334 vagas em seu vestibu-

lar, das quais nada menos do que 1.808 estão em 30 cursos

exclusivamente noturnos.

Desenvolvimento Sustentável e

Educação serão debatidos

Serão realizados em Curitiba, de 18 a 20 de maio, a 1ª Conferência

Internacional de Educação para o Desenvolvimento

Sustentável e o 5º Encontro Regional dos Centros

Regionais de Expertise, vinculados à Unesco e às

Nações Unidas. Os eventos ocorrem simultaneamente e

são organizados pela UFPR e instituições parceiras. As

discussões serão norteadas por temáticas como o

papel da educação para a sustentabilidade; inovação

e sustentabilidade; energias renováveis; e educação e

cultura para conservação. A conferência e o encontro são

direcionados para docentes de todos os níveis, técnicos

da educação profissional, profissionais ligados à

educação ambiental informal e estudantes

do nível superior. As atividades serão no Centro

Integrado dos Empresários e Trabalhadores do Estado do

Paraná (Cietep), localizado na Avenida Comendador

Franco, 1341, Jardim Botânico. Mais informações podem ser obtidas nos sites http://www.

eds2010.com.br e http://www.crie-curitiba-parana.org.br.

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Abril2010 CiênCia E tECnOlOgia: paraguai

“Nessa guerra não há ven-cedores, todos perderam. A vitória alcançada pelo Império do Brasil foi uma meia vitória, visto o alto custo em vidas hu-manas e pela proporção do es-trago financeiro que represen-tou ao governo monárquico, já abalado”, afirma o professor da Universidade de Brasília e his-toriador Francisco Doratioto na obra “Maldita Guerra”.

Após 140 anos, a Guerra do Paraguai ainda gera discussões sobre o número de mortos e sobre quem, realmente, foram os vencedores desse conflito que envolveu Argentina, Bra-sil, Uruguai – a Tríplice Alian-ça – e Paraguai. Considerada o segundo mais cruel conflito do continente americano, a guer-ra teve início em 1864, com a

invasão brasileira do Uruguai, e durou aproximadamente cin-co anos.

O presidente paraguaio So-lano López contava com um exército bem mais numeroso que o brasileiro e, aproveitan-do o pretexto da intervenção brasileira no Uruguai, rompeu relações com o Brasil. “O Pa-raguai interferiu em questões eleitorais no Uruguai, usando o pretexto de impedir que Bra-sil e Argentina interviessem no país, mas, ao mesmo tem-po, isto foi visto por brasileiros e argentinos como uma inter-venção paraguaia”, explica o professor e chefe do Departa-mento de História da UFPR, Carlos Lima.

MotivosAté metade do século XX,

a Guerra do Paraguai foi consi-derada um conflito imperialista, mas recentemente passou-se

a analisar a questão da turbu-lência política pela qual a Ba-cia Platina passava na época. A partir de 1810, um processo de independência na Argenti-na começa a ganhar forma e a desestabilizar o país. Enquanto isso, o Brasil vivia o apogeu da monarquia no Segundo Reina-do. “Era o auge do Império bra-sileiro e a Argentina, na época ainda organizada em provín-cias, viu como um fator positi-vo para a estabilização do país entrar numa guerra que ela iria ganhar”, comenta Lima.

De acordo com o professor, o Paraguai era uma país rural, cheio de fragilidade, com um crescimento econômico atrasa-do e uma estrutura social mar-cada pela elite mercantil, que comerciava o pouco excedente produzido pelo campesinato. A Argentina se mobilizando num processo de independência, em um ambiente militarizado,

Maior conflito bélico do século XIX completa 140 anos

Guerra do Paraguai

[email protected] Karpinski

[email protected]ônia Loyola

“Batalha Naval do Riachuelo” - Victor Meirelles.

Os povos saíram perdendo

pelo grande custo humano que

a guerra teve, mas a guerra teve

vencedores também.”

“ Carlos Lima,Professor de História

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Abril2010

e a consolidação do Império no Brasil acabou causando pres-são para que o Paraguai tam-bém se estabilizasse.

Segundo o artigo “A Guerra do Paraguai sob nova visão”, publicado no jornal “O Esta-do de S. Paulo” (3/01/2010), a causa mais direta do confli-to foi a ascensão do Paraguai e seu interesse estratégico em manter o Uruguai inde-pendente, sem as influências brasileira e argentina, garan-tindo assim a livre navegação do Rio da Prata – fundamental para o comércio daquele país na época.

Há quem diga que os in-teresses da Inglaterra tam-bém tiveram forte influência no conflito. Mas os ingleses tentaram pacificar os para-guaios, até mesmo por ques-tões econômicas. Os ingleses investiam em vários projetos de infraestrutura na região e mantinham relações com os países sul-americanos basea-das no comércio.

O ConflitoApós romper relações com

o Brasil, López ordenou o apri-sionamento do vapor brasilei-ro Marquês de Olinda. Entre seus tripulantes estava o pre-sidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. Mantendo-se na ofensiva, o Paraguai invade o Mato Gros-so. Este foi o ponto-chave para o Brasil declarar guerra ao Paraguai.

Para impor seus interesses, Assunção contava com uma ampla superioridade militar, eram cerca de 80 mil homens e 28 navios. Juntos, as forças da Tríplice Aliança não chega-vam a um terço das paraguaias. Para aumentar o número de soldados, o Brasil teve uma grande capacidade de mobi-lização. Com a população do Império estimada em cerca de 20 milhões de habitantes, enquanto no Paraguai, não passava de meio milhão, hou-ve o recrutamento em massa. Os chamados “voluntários da pátria”, principalmente escra-vos que receberiam liberdade por se apresentar para lutar na

guerra, foram decisivos para a vitória dos aliados.

Foram convocados 140 mil soldados brasileiros. Desse total, 50 mil teriam morrido nos combates ou vitimados por ferimentos e doenças. O custo do enorme esforço mi-litar comprometeu por mais de dez anos as frágeis finanças brasileiras. Segundo Leandro Narloch, no livro “Guia politi-camente incorreto da história do Brasil”, o dinheiro gas-to no conflito foi onze vezes maior que o orçamento para um ano inteiro de adminis-tração pública. “Grande parte da fortuna brasileira gasta na guerra foi parar nas mãos dos fazendeiros argentinos que forneceram cavalos, carvão para os navios e carne para as tropas”, comenta Narloch sobre o lucro que a Argentina teve com a guerra.

Segundo um dos conteúdos da revista Espaço Acadêmico, de janeiro de 2003, “Guerra contra o Paraguai: da instau-ração à restauração historio-gráfica”, o conflito foi o “acon-tecimento central” da história brasileira da segunda metade do século XIX . A guerra ter-minou em 1870 com cerca de 300 mil paraguaios mortos e aproximadamente 70 mil víti-mas do lado da Tríplice Alian-ça. Segundo Francisco Dora-tioto, a Guerra do Paraguai acabou um processo de conso-lidação dos Estados nacionais na região. A Argentina foi uni-ficada e o poder centralizado em Buenos Aires. No Brasil, o conflito ajudou a derrubar a escravidão e a monarquia. Uruguai e Paraguai se firma-ram como satélites das duas potências regionais.

LeiturasNa década de 30, a histo-

riografia paraguaia alimen-tou-se, em parte, das narra-tivas das nações vencedoras revendo também seus pró-prios sucessos num sentido patriótico nacionalista. Já nas décadas de 60 e 70 as narra-tivas históricas latino-ameri-canas propuseram nova ótica de análise. Chegando então

a obra de Doratioto, fruto de sua tese de doutoramento, este propõe uma clara relei-tura dos fatos.

Doratioto atribui a origem e a evolução do conflito a per-sonalidade de Solano López, sobre quem lança a respon-sabilidade total da guerra. Apresenta o confronto como tendencialmente inevitável devido a procura de maior espaço regional na nação Guarani e as negativas dos governos brasileiro e argenti-no de concedê-lo. Segundo o historiador Mário Maestri, a personalização da história da guerra resulta, em muito, do elogio das lideranças que par-ticiparam da Tríplice Aliança, Pedro II, Mitre, Caxias, Osó-rio e outros, e na diabolização de Solano López, identificado como um Hitler da época.

Diferentes visõesSegundo Francisco Doratio-

to, a Guerra do Paraguai foi o maior conflito bélico interna-cional realizado no ocidente du-rante o século XIX. Terminou em 1870, com a morte de Fran-cisco Solano López em Cerro Corá, no interior do Paraguai e todos os envolvidos sairam per-dendo. “Nessa guerra não há vencedores, todos perderam”, concluiu o professor Doratioto em sua famosa obra.

Já para o professor Lima, a guerra foi a consagração da con-solidação política do Brasil, além de fortalecer e institucionalizar o exército, e possibilitou a es-tabilização Argentina. Fatores que levam a considerar que a guerra teve grandes vencedo-res. “Os povos saíram perdendo pelo grande custo humano que a guerra teve, mas a guerra teve vencedores também”, afirma.

*Fontes usadas na matéria: Maldita Guerra, Francisco Doratioto; Guia politicamente incorreto da história do Brasil, Leandro Narloch; Revis-ta; Espaço Acadêmico, Ano II, nº 20, Mário Maestri “Da instauração à restauração historiográfica”; Re-vista Espaço Acadêmico nº 62 de julho/2006; Jornal O Estado de São Paulo, de 3 de janeiro de 2010, “A Guerra do Paraguai sob nova vi-são”, Moacir Assunção.

Guerra do Paraguai

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Abril2010

Mesmo com domingo chuvoso, cerca de 1,5 mil pessoas

vão à festa de recepção dos calouros

Cultura E ExtEnsãO: vivEndO a uFpr

A chuva que caiu na tarde de domingo, 28 de feve-reiro, não atrapalhou a

festa de recepção dos calouros da UFPR no Centro Politécni-co. Cerca de 1,5 mil pessoas, entre novos estudantes, ve-teranos, amigos e familiares, passaram pelo local durante a festa, que se estendeu das 16 às 21 horas.

Foi a primeira vez que a UFPR recebeu seus novos alunos com uma celebração musical. O evento contou com shows das bandas curitibanas Regra 4, Real Coletivo Dub, Gentileza e Copacabana Club,

Sandoval [email protected]

Iniciativa inédita da Universidade foi vista pelos músicos convidados como um

importante meio de fomentar a cena local

que no ano passado foi indica-da ao prêmio VMB de “Banda Revelação”.

O mestre de cerimônia foi o multi-instrumentista e ator André Abujamra. “É uma iniciativa muito baca-na, receber as pessoas novas com música e música boa”, avaliou Abujamra.

“Com a festa, quisemos integrar os novos estudantes e também trazer as famílias para dentro da Universidade”, justificou Arlete Ceccatto, coordenadora de Políticas de Acompanhamento Acadêmico da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da UFPR.

A festa de recepção, de

acordo com ela, começou a ser pensada em dezembro do ano passado. Por isso, contou com uma ampla infraestrutura, que incluiu um palco e nove me-tros por seis, banheiros quí-micos, três ambulâncias, ca-marim para as bandas e cerca de cem seguranças, entre os contratados de uma empresa privada e funcionários da pró-pria Universidade.

“As pessoas ligadas à uni-versidade têm experiência. Já estão acostumadas a lidar com os alunos e com eventos como este”, disse Ceccatto. “Com certeza, estivemos preparados para qualquer eventualidade”, completou ela.

Viver uma universidade é

também comemorar, confraternizar, além

de participar de todas as atividades

de ensino,curtir professores, técnicos, colegas e

amigos.”

“ Zaki Akel Sobrinho,Reitor da UFPR.

ZAkI AkEL e alunos da Fábrica de Comunicação PRó-REITORES Rita Lopes (Assuntos Estudantis) e Paulo kruger (Administração) ao lado do reitor

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Abril2010

Fotos: Agência Petrobras CiênCia E tECnOlOgia: dEsCObErta

Em discurso no palco, no intervalo entre uma banda e outra, o reitor Zaki Akel, dis-se que a festa de recepção, apesar de inédita, deve entrar para o calendário da UFPR. “Viver uma universidade é também comemorar, confra-ternizar, além de participar de todas as atividades de ensino, curtir professores, técnicos, colegas e amigos”, aconse-lhou o reitor, vestido com uma camiseta que trazia os dizeres “eu vivo esta universidade”,

que também foi distribuída entre os calouros que compa-receram ao local.

Para Heitor Humberto, vo-calista da banda Gentileza, a iniciativa da universidade foi, além de tudo, um esforço para divulgar a cena musical curiti-bana. Ele se referiu principal-mente à iniciativa da UFPR de distribuir, no momento do re-gistro acadêmico, um CD com três músicas de cada uma das bandas que iriam se apresentar no Centro Politécnico.

“Foram 5,4 mil CDs. Nós es-tamos atingindo um público que de outra forma não conheceria a gente. Atingimos 5,4 mil pes-soas de uma hora para outra”, assevera ele, que completa: “Seria muito mais fácil trazer aqui uma grande banda de fora, mas a UFPR optou pelo cami-nho mais ‘difícil’, de valorizar a cena local. Então, para nossa banda, que passou quase inteira pela UFPR, é uma honra”.

Guilherme Messis, calouro de Biologia, é um exemplo. Das

quatro bandas que se apresen-taram, ele conhecia apenas a Copacabana Club. “Mas agora também gosto bastante da Gen-tileza”, observou.

Os mais de mil quilos de alimentos não perecíveis arre-cadados pela Universidade na troca por ingressos para a festa, foram doados para a Fundação da Ação Social de Curitiba.

As aulas na UFPR come-çaram na segunda-feira, 1º de março, sem nenhum inciden-te registrado.

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MESTRE de cerimônia André Abujamra e banda Regra 4 CHUVA não impediu que calouros participassem da festa

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A gestão dos hospitais uni-versitários vai poder ser melhor planejada a partir

deste ano. Foi assinado no dia 27 de janeiro pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva o Decreto nº 7.082, que institui o Progra-ma Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf). Esse Progra-ma prevê uma série de ações de recuperação da infraestrutura física e do quadro de recursos humanos dos hospitais univer-sitários. A meta é proporcionar um funcionamento pleno, tanto nos aspectos de educação quan-to da assistência à saúde. Uma das principais mudanças é que os hospitais passarão a ter um orçamento anual definido e ga-rantido. Diagnósticos de cada unidade estão sendo elaborados e definirão as necessidades dos

hospitais no âmbito financeiro, tecnológico, estrutural e de re-cursos humanos.

“Pela primeira vez, os hos-pitais universitários são vistos como unidades que precisam ser financiadas. Houve anos em que tivemos situações absur-das, de não termos nenhuma verba prevista para o ano todo”, observa Heda Amarante, dire-tora geral do Hospital de Clíni-cas da UFPR. Agora ela espera poder ter autonomia para pla-nejar tanto o dia a dia quanto os investimentos futuros do hos-pital. “Com certeza, a gestão fi-cará mais tranquila. Poderemos focar na nossa missão e ter um ambiente de trabalho mais pro-dutivo”, afirma Heda.

DÍVIDASSem dotação orçamentária

suficiente e com um grande dé-ficit de pessoal, o Hospital de

Clínicas da UFPR acumula dí-vidas de cerca de R$6 milhões ao ano. A maior parte é de com-promissos com empresas que prestam serviços nas áreas de alimentação, segurança e ma-nutenção do hospital. O Decreto 7.082 define que o financiamen-to dos hospitais universitários federais seja dividido igual-mente entre os Ministérios da Educação (MEC) e da Saúde. O valor a ser custeado pelos dois ministérios inclui o total das despesas correntes alocadas para esses hospitais e os in-

vestimentos necessários à sua reestruturação e modernização, excluindo-se os gastos com ina-tivos e pensionistas. Até então, o MEC arcava com cerca de 70% dos custos e a maior parte das verbas era utilizada com pa-gamento de pessoal.

Hoje, dos 550 leitos do HC, cerca de 130 estão desativa-dos, principalmente por falta de pessoal. “Precisamos resolver a situação dos 1.100 funcioná-rios da Funpar, que deverão ser substituídos ou recontratados segundo a lei, e ainda contratar mais 600 servidores para subs-tituir os que se aposentaram, faleceram ou foram exonera-dos. Isso será possível agora com o Rehuf”, explica a direto-ra do HC.

Destaca ainda que os hos-pitais universitários federais têm importante papel social na área de saúde. Atuam de forma significativa na con-solidação do Sistema Único de Saúde (SUS), pois de um universo de 3.200 hospitais cadastrados, os 46 HU’s res-pondem por parte significativa da formação e capacitação de profissionais e da produção de conhecimento em saúde em âmbito nacional. Além disso, 70% deles, como é o caso do Hospital de Clínicas da UFPR, se caracterizam por serem hospitais de grande porte com perfil de alta complexidade, sendo muitas vezes, a unida-de hospital mais importante do serviço público do Estado. “O HC poderá a partir de ago-ra assumir de forma completa seu papel de centro de exce-lência, atuando de forma inte-grada com o SUS para garantir o acesso à saúde para a fatia mais ampla da comunidade”, conclui Heda Amarante.

O Rehuf é conhecido como o Reuni dos hospitais. Reestruturação vai abranger ações de recuperação da infraestrutura

física e de recursos humanos dos hospitais universitários

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Simone [email protected]

Programa prevêreestruturação de

hospitais universitários

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A hipertensão arterial é uma das doenças crô-nicas mais comuns no

Brasil, podendo causar danos no coração, cérebro, olhos e rins. Na maioria das vezes, é herdada dos pais, mas há vá-rios fatores que a influenciam, como o fumo, obesidade, es-tresse, consumo de sal, níveis altos de colesterol, falta de atividade física, entre outros. Para controlá-la é fundamen-tal o acompanhamento e uso correto de medicamentos. Por isso, a hipertensão é a primeira doença direcionada pelo projeto “Farmácia Ami-ga”, implantado inicialmente entre servidores do campus Reitoria da UFPR, com metas de ampliação para outros cam-pi ao longo deste ano.

O Projeto trabalha com atenção farmacêutica visan-do a prevenção de doenças, acompanhamento de trata-mentos e detecção de proble-mas relacionados ao uso de medicamentos. “Aplicamos um questionário amplo entre 150 servidores do campus, em abril do ano passado, ve-rificando questões ligadas à alimentação, medicamentos e saúde em geral. Detectamos vários problemas crônicos e o mais comum foi a hiper-tensão. Fizemos então o con-vite formal aos portadores da doença para um acompanha-mento farmacêutico regular”, explica a professora Camila Klocker Costa, coordenadora do projeto.

Assim, desde a metade do ano passado cerca de dez servidores vêm sendo acom-panhados por farmacêuticos e estagiários do projeto. O nú-mero ainda é pequeno mas aos poucos mais pessoas estão procurando o serviço. A con-tadora Helena Sakae é uma das pacientes. Ela comparece quase diariamente à farmácia-escola para medir a pressão. “Recebi muitas orientações importantes. Por exemplo, quais remédios não podem ser tomados juntos, quais neces-sitam de um período de jejum e os melhores horários para ingerir cada um deles”, conta ela. Esse tipo de informação está entre as dúvidas mais co-muns dos pacientes, revelam as estudantes Lívia Alonso Lopes e Liana de Oliveira Go-mes, bolsistas do projeto.

O revisor de textos Edi-son Saldanha também mede a pressão todos os dias na Far-mácia Escola. Como já teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ele precisa estar ainda mais atento. “Esta é a primeira vez que faço um acompanhamento. Antes, só media a pressão quando o médico mandava”, diz ele. Na sua opinião, o benefício não é apenas do paciente. “Ao mes-mo tempo que damos mais atenção à saúde, podemos colaborar com a formação dos profissionais”, continua.

A professora Camila sa-lienta que todas as orien-tações são feitas seguindo metodologias científicas e sem interferir no diagnóstico do médico. “As pessoas che-

gam com falhas na orientação ou com dúvidas, pois ficam inibidas para perguntar ou mesmo não comunicam seus médicos sobre todos os me-dicamentos que tomam e que podem gerar interações. Por isso, nosso acompanhamento visa o uso racional dos re-médios, evitando também a automedicação”, reforça. Se for necessário e autorizado pelo servidor, os integrantes do projeto podem entrar em contato com o médico ou nu-tricionista, sempre visando a saúde do paciente.

gEstãO: saúdE

Farmácia Amiga vai cuidar da

saúde dos servidoresProjeto utiliza o conceito de “atenção farmacêutica” e pretende previnir e

acompanhar problemas de saúde relacionados com o uso de medicamentos

Simone [email protected]

Neste ano, além de aten-der servidores de outros campi, a intenção é ampliar as doenças que estão em evidên-cias. Outro plano é convidar novos cursos para integrar o projeto, como por exemplo, o de Nutrição. Para ter acesso ao projeto “Farmácia Amiga” basta entrar em contato com a Farmácia-Escola da UFPR, pelo fone 3360-5111. Recen-temente reformada, a unida-de atende das 8 às 18 horas e funciona no térreo do Edi-fício D. Pedro II, Rua Dr. Fai-vre, 405.

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AUTOMEDICAçãO é um dos problemas que o projeto pretende acompanhar

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Abril2010 gEstãO: ampliaçãO

Não é exagero afirmar que a UFPR virou um canteiro de obras neste

começo de ano. Há nada me-nos do que 83 novas constru-ções, reformas e outras adap-tações em praticamente todos os campi. Só de obras novas, projetadas para salas de aulas, laboratórios, auditórios e gabi-netes de professores são mais de 61 mil metros de constru-ção, o que significa um cres-cimento de 17% na estrutura física. (A UFPR tem hoje 370 mil metros de edificações.) É o recorde de obras simultâneas, diz José Clóvis Pereira Borges, assessor da Pró-Reitoria de Ad-ministração e que acompanha a expansão física da UFPR há 12 anos. Algumas construções já

estão adiantadas, como a am-pliação do Setor de Educação Profissional e Tecnológica, que terá um novo prédio e um giná-sio de esportes, a antiga Esco-la Técnica e o prédio da Terapia Ocupacional, no campus Jardim Botânico. Há também diversos projetos que acabaram de pas-sar pela licitação.

As reformas que abrangem quase 50 mil metros quadrados tiveram prioridade neste come-ço de ano para que os consertos menores, como a instalação de divisórias nos setores, trocas de forro e de piso, instalação de ar condicionado em laboratórios, melhorias nos banheiros e na rede de esgoto ficassem prontos para o começo das aulas. Obras como a reforma do RU central

Com 83 novas obras, UFPR terá 61 mil metros quadrados

a mais

Espaço atual é de 370 mil metros quadrados.

Novas edificações representam crescimento de 17 %

e o 12º andar do Edifício Dom Pedro I, onde ficam os labora-tórios do curso de Design ain-da vão demorar alguns meses. Tudo o que havia no espaço da marcenaria e dos fornos de ce-râmica foi demolido e agora será reconstruído dentro das normas de segurança e das necessidades dos alunos, explica a chefe do Departamento de Design, Dul-ce Fernandes. Segundo ela, no andar tudo era muito precário. Não havia ventilação adequada e nem água porque o sistema hi-dráulico estava entupido e quan-do chovia era goteira por toda parte. Agora, de acordo com a professora, há uma nova pers-pectiva. Além dos laboratórios em melhores condições, haverá quatro espaços que poderão ser

transformados em salas de aulas conforme a necessidade. A obra fica pronta na metade do ano.

Outra reforma que ainda vai levar pelo menos quatro meses é a do RU central. A sala de refeições já foi concluída, mas ainda falta a cozinha. Estão sen-do refeitos os sistemas elétrico e hidráulico e também haverá a troca de piso, azulejos e serão comprados fogões, exaustores, pias e balcões novos, destaca o diretor dos restaurantes, Li-neu Dall Lago. Neste primeiro semestre as 1.800 refeições (almoço e jantar) são feitas por um restaurante industrial, mas servidas no RU. Será a mais ampla reforma já realizada. Além da segurança e qualida-de no preparo dos alimentos, o

[email protected] de Lurdes Pereira

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Abril2010

Nossa ideia é que a estrutura renovada venha

alavancar o crescimento para

as próximas décadas.”

“ Zaki Akel Sobrinho,Reitor da UFPR.

Escriturar o patrimônio

Cerca de R$ 850 mil serão gastos na regularização de diversos imóveis da UFPR. O Prédio Histórico na Praça Santos Andrade e os Edifícios Dom Pedro I e II estão entre os que não têm escritu-ra. “Se algum dia tiveram, esses documentos foram extraviados porque não encontramos nenhum registro deles”, disse o pró-reitor de Administração Paulo Kruger. Agora, a PRA começou o levantamento para saber a área exata de cada imóvel e depois en-trar com o pedido de regularização nos cartórios e na Prefeitura.

A falta de documentos oficiais causa problemas nos órgãos oficiais, como Prefeituras, Corpo de Bombeiros e Vigilância Sa-nitária. A PRA fez licitação e contratou uma empresa que fará os levantamentos em cada unidade e dará início ao trâmite para a obtenção das documentações necessárias.

Quanto à segurança , a Pró-Reitoria de Administração es-clarece que hidrantes e extintores de incêndio estão dentro das normas do Corpo de Bombeiros.

novo restaurante será bonito e moderno, explica Lineu.

Para dar conta de tanto tra-balho, os dez fiscais da Prefei-tura da Cidade Universitária fazem revezamento. Segundo o Prefeito da Cidade Universitá-ria, Ernesto Sperandio, o ideal é que fizessem a vistoria todos os dias em cada uma das obras, mas eles só conseguem voltar a cada três dias. Cada profissio-nal deveria ter no máximo três obras para acompanhar, mas atualmente são responsáveis por até nove obras.

Entre as obras que acabaram de ser licitadas e começam nos próximos meses, estão a cons-trução do prédio do Programa de Pós-Graduação em Processos Biotecnológicos, novas salas de aulas para o campus de Paloti-na, recapeamento do asfalto do Setor de Ciências Agrárias , re-formas das Usinas Piloto e a ter-ceira etapa do Laboratório Neo-tropical de Controle de Plantas. Também está na previsão para 2010, a finalização dos projetos arquitetônico, estrutural, hidro-sanitário, elétrico, telefônico e de rede de dados do Edifício Tei-xeira Soares, o antigo prédio da Rede Ferroviária Federal, doa-do para a UFPR e que precisa de uma revitalização.

INVESTIMENTO Grande parte dos recursos

para essas reformas e novas construções vem do Programa

de Apoio a Planos de Reestru-turação e Expansão das Univer-sidades Federais (Reuni). Entre 2008 e 2009 a UFPR recebeu R$ 21 milhões por conta do pro-grama e a previsão para 2010, incluindo a compra de novos equipamentos é de mais R$10 milhões. As obras de melhoria e de expansão consumirão apro-ximadamente R$42,8 milhões, mas nesse montante há recursos também do orçamento da UFPR e de emendas parlamentares.

Para o reitor Zaki Akel So-brinho, este momento histórico que está permitindo o aumento da capacidade física, vai moder-nizar a instituição e desafogar demandas antigas. São salas de aula, gabinetes de professores, laboratórios e novos espaços para bibliotecas, que permitirão a realização de inúmeras ativi-dades inéditas. “Nossa ideia é que a estrutura renovada venha alavancar o crescimento para as próximas décadas”, destacou.

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REFORMAS do campus Botânico, Agrárias e Restaurante Universitário Central

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[email protected]ônia Loyola

Jaqueline Vicentin Patel e Nádia Gritte integram o grupo de cinco bosistas

que trabalham há cerca de nove meses no projeto “A Lu-dicidade no cuidado da Crian-ça Portadora de Neoplasia”, vinculado ao Departamento de Enfermagem. “Levamos sempre uma lição de vida a cada dia de trabalho”, concor-dam as estagiárias. Juntas, lembram sobre um menino de nove anos que, após saber da sua doença, entrou em cho-que: não falava com ninguém,

não bincava mais, estava sem-pre distante e apático. Com a participação no projeto, por meio das atividades lúdicas, o pequeno assumiu um novo comportamento, voltou a ser criança e interagir com os demais e com a família. “Ex-periências gratificantes como essa é o que vivenciamos aqui em contato com as crianças, ao mesmo tempo, ganhamos motivação para continuar”, refletem as alunas.

Vamos brincar?Ana Paula Andrade Aze-

vedo, 10 anos, Samuel Vieira, 11, Elen Cristina de Paiva,

Ludicidade auxilia no tratamento de crianças

com neoplasiaPapel, gravuras para pintar, cola colorida, tinta guache, bolinhas de isopor,

massinha para modelar, pincéis, e muita criatividade. Tudo à disposição para que as crianças se concentrem no mundo

delas, um universo em que não existe dor, sofrimento, paredes frias e pessoas que vestem sempre roupas brancas.

Cultura E ExtEnsãO: aprEndizadO lúdiCO

sete, além de Guilherme Pi-nheiro de Melo, de dois anos, são algumas das crianças em tratamento no Ambulatório de Hemato-Oncologia-Pedi-átrica Menino Jesus. Lá, são realizados vários procedi-mentos como exames labo-ratoriais, consultas, quimio-terapia e outros. Ansiosos, estão reunidos em torno da mesa preparada para as ativi-dades lúdicas. A pauta do dia, passada pelas estagiárias, é colorir gravuras com tinta e pincel. Cada um escolhe o seu desenho e a cor de prefe-rência e a pintura inicia com entusiasmo. Ana Paula gosta

de estudar, mas para pintar prefere o giz de cera; Samuel quer treinar desde já porque quer ser pintor e Ellen diz que “ama desenhar pesso-as, flores, bonecas e tudo”. Guilherme, muito pequeno, escolheu dar forma às massi-nhas.

A preparação da festa de encerramento das atividades de 2009 do projeto foi outro evento que marcou bastante para Jaqueline e Nádia. “Na ocasião, as crianças curtiram tudo, desde a preparação da árvore de natal até a presen-ça dos familiares e amigos e mais a marca registrada dos

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palhaços que dançaram e brincaram muito...

Linguagem“O lúdico, as brincadei-

ras, fazem parte do universo dos pequenos, são as lingua-gens deles, e essas mesmas ferramentas são utilizadas para explicar o tratamento complexo e muitas vezes doloroso a que são submeti-dos”, diz a coordenadora da iniciativa, professora Magda Ribas Pinto.

Nessa perspectiva, vale lembrar de uma experiência marcante, recorda a professo-ra Magda. Foi quando a equi-

pe de enfermagem fez um apelo especial aos “doutores” palhaços. Nesse dia, eles acompanharam uma crian-ça que necessitou fazer uma punção venosa. Pronto. Foi a receita certa para dar segu-rança, diminuir a ansiedade e o medo do pequeno paciente, transformando assim o proce-dimento num episódio menos traumatizante.

NeoplasiaA neoplasia é uma doen-

ça complexa, varia de acor-do com o tipo, localização do tumor, sexo, idade e etnia do paciente. O tratamento exi-

ge um longo tempo de hos-pitalização que interfere no desenvolvimento normal das crianças, estas são frequente-mente submetidas a procedi-mentos invasivos e dolorosos que, geralmente, têm efeitos colaterais. Nesse sentido, o projeto pode ser definido como uma estratégia criativa, utilizada para minimizar os efeitos nocivos da permanên-cia no hospital e das diversas formas de atendimento, ex-plica a professora.

“Brincando, as crianças podem modificar o ambien-te onde estão e trabalhar as emoções difíceis experimen-

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tadas nesses momentos. Os brinquedos ajudam a liberar o medo, a ansiedade e a frus-tração decorrentes da doen-ça”, complementa Magda. O projeto integra o “Programa Licenciar”da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Pro-porciona também o desenvol-vimento de ações que pos-sibilitam a interação entre a teoria e a prática na forma-ção dos licenciados através de procedimentos formais e não-formais. O “Licenciar” foi criado em 1994 por meio do envolvimento da UFPR no Programa das Licenciaturas da SESu/MEC (Prolicen).

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Abril2010 Cultura E ExtEnsãO: parCEria

Alunos e professores de instituições públicas de ensino superior do Para-

ná têm colaborado para modifi-car a realidade social do Estado. Por meio do programa Universi-dade Sem Fronteiras, que finan-cia trabalhos de extensão desde 2007, ações multidisciplinares são realizadas em municípios com baixo Índice de Desenvol-vimento Humano (IDH). Atual-mente, estão em execução 601 projetos, em aproximadamente 280 cidades. A previsão é de que até 2010, sejam investidos R$45 milhões, recurso oriundo do Fundo Paraná de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti).

O programa Universidade Sem Fronteiras é considerado, pela Seti, a maior ação de ex-tensão universitária no Brasil. Os projetos estão divididos em seis subprogramas, cujos temas foram definidos para contribuir no conhecimento da realidade das comunidades paranaenses. “Aprofundamos o compromis-so das universidades com o desenvolvimento regional das populações paranaenses, ge-ralmente inseridas em contex-tos sociais marcadas por vários desafios e problemas”, afirma a Secretária da Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior do Para-ná, Lygia Pupatto.

Universidade Sem Fronteiras incrementa projetos de

extensão da UFPRSeis projetos da UFPR, no litoral e na Região do Vale

do Ribeira, são beneficiados pelo programa Universidade Sem Fronteiras, do governo do estado

A UFPR também partici-pa do programa. Desde 2007, a instituição foi contemplada com cerca de R$3,1 milhões, pelos editais do Universidade Sem Fronteiras. “Estamos tra-balhando com a Seti para que possamos, de forma articulada, potencializar os projetos”, afir-ma o coordenador de extensão da Proec, professor José Ma-noel Gonçalves Gândara. Se-gundo ele, a UFPR recebeu R$30 mil de suplementação no último edital, porque foram aprovados mais de cinco proje-tos. “A Seti nos orientou que se reunirmos todas as propos-tas do Universidade Sem Fron-teiras em um único programa poderemos receber mais ver-ba”, alerta.

No ano passado, a UFPR as-sinou seis projetos com a Seti e Funpar. Três pertencem ao sub-programa Apoio à Agricultura Familiar: “Sabores, Memórias e Identidades das Comunidades de Agricultores Familiares do Litoral Paranaense”, “Agricul-tura Familiar no Quilombo Areia Branca” e “Qualidade do Leite Bovino no Vale do Ribeira”. Dois estão inseridos no subprograma Diálogos Culturais: “Comuni-cação Comunitária na Escola” e “Dança de São Gonçalo”. E o sexto projeto selecionado está incluído no subprograma Produ-ção Agroecológica Familiar, que será realizado no assentamen-to da reforma agrária Nhundia-quara Gleba Pantanal, no Mu-nicípio de Morretes.

A gerência administrati-va dos seis programas ficou a cargo da Funpar. “Nossa fle-xibilidade é compatível com a dinâmica da produção do co-nhecimento científico e tecno-lógico”, garante a Gerente de Captação e Gestão de Projetos da Fundação, Aderlene Inês de Lara. Para a gestão financeira,

cada projeto tem sua própria conta corrente e um gestor responsável pelo acompanha-mento e prestação de contas do recurso. “Gerenciamos estes e outros programas com res-ponsabilidade, pois é por meio dessas ações que colaboramos para aproximar a UFPR da so-ciedade”, finaliza Aderlene.

[email protected] Gomes Júnior

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PROJETO para melhorias da qualidade do leite no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do Paraná

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“No Brasil, o suspeito é culpado até que prove o contrário.” A

afirmação é do cientista social Pe-dro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR.

Em entrevista ao “Notícias da UFPR”, Bodê – doutor em so-ciologia pelo Iuperj e mestre em antropologia social pela UFRJ – fala sobre violência, mídia, siste-ma penitenciário e polícia, entre outros assuntos.

Ele critica tanto as polícias militar (“Submetidos a um re-gime autoritário, os policiais militares são formados autori-tariamente e reproduzem isso nas ruas”) quanto à civil (“As

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mudar essa mentalidade.”

delegacias ora funcionam como cartório, ora como feudos”).

Além de defender a reformu-lação da estrutura policial, Bodê propõe um judiciário “mais ágil e menos punitivo”.

“A população acha que a saí-da é mais polícia, prender mais, penas mais duras”, avalia o pesquisador. “É preciso mudar essa mentalidade.”

A seguir, os principais tre-chos da entrevista [leia a ínte-gra em www.ufpr.br].

Notícias da UFPR – Quais têm sido as abordagens do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR em relação ao tema da violência?

Pedro Bodê – Temos abor-dado três grandes questões.

A primeira delas é relativa ao sistema penitenciário. Outra é a polícia, tanto a estrutura da organização quanto à constru-ção de identidade dos policiais, principalmente os policiais da base. E, finalmente, as questões relativas à criminalização da criança e do adolescente, como a transformação de problemas de disciplina escolar em proble-mas de polícia, caso da Patrulha Escolar no Paraná, e o processo de encarceramento de crianças e adolescentes. Essa incrível mágica que transforma um dos grupos mais vulneráveis, inclu-sive alvos principais dos homicí-dios, em vitimizadores.

Notícias – Na cobertura da mídia, em casos como o da morte

[email protected] César Oliveira

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“A Funparpossui 120funcionários

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de João Hélio no Rio de Janeiro, é comum vir à tona a defesa da redução da maioridade penal. Há projetos no Congresso com tal objetivo. Como o senhor ava-lia esse movimento?

Bodê – Não é novo. Faz parte dos processos de inten-sificação da criminalização dos

pobres, dos atos cometidos pe-los pobres, na periferia e não-brancos, que são grupos alvos preferenciais desses processos. Qualquer evento que ocorra é usado como uma espécie de caso paradigmático, para exigir mais punição, mais criminali-zação. Você nunca vê matérias da mídia dizendo que “adultos cometeram tais crimes”. Você vê “menores”, que, aliás, é uma denominação profundamente preconceituosa. “Menor de ida-de” é uma coisa. “Menor”, ou-tra. “Menor” é como se fosse um adulto pequeno, menor. E, portanto, passivo das mesmas penas que o adulto, ainda que os processos de punição das crianças e adolescentes, dos jo-vens, sejam permeados por um conjunto de eufemismos. Eles são “apreendidos”, entram em “medida privativa de liberdade”, sofrem medidas “socioeducati-vas”...

Notícias – A mídia estimula o desrespeito aos direitos humanos, quando, por exemplo, expõe pes-soas suspeitas como culpadas?

Bodê – Direitos humanos são o direito à vida, ao respeito e ao cumprimento das leis. Valem para todos. No caso da exposição, do sensacionalismo midiático, des-sas pessoas que são suspeitas, há previsão legal para que isso não aconteça. Fico me indagan-do como convivemos com uma situação dessa, que viola prin-cípios básicos. No Brasil, o sus-

peito é culpado. Se a suspeição implica presunção de inocência, as pessoas são inocentes até que se prove o contrário. No caso bra-sileiro, principalmente em função de ter uma população pobre, sem acesso à justiça, o suspeito é o culpado até que prove o contrá-rio. Fecha-se o círculo perverso

com a exposição de quem, até aquele momento, é suspeito. Isso é degradante, sensacionalista.

Notícias – A terceira edição do Plano Nacional de Direitos Huma-nos (PNDH), divulgada em 2009, prevê uma série de ações relacio-nadas à segurança pública, acesso à justiça e combate à violência. Desde 1996, quando foi editada a primeira versão do plano, houve avanços nessa área no país?

Bodê – O Estado é uma estru-tura complexa, composta de dife-rentes atores. Há um Estado que protege, e outro que viola siste-maticamente os direitos daqueles que a outra banda tenta proteger. O plano revela uma preocupação. Desde o fim da ditadura, houve um conjunto de avanços. Uma vez que se entende por direi-tos humanos o direito à saúde, à justiça, à educação, criou-se uma espécie de chave de inclusão de um conjunto de direitos, que são sociais e que reforçam os direitos humanos. Talvez existam algu-mas questões bastante polêmicas e, claro, devem ser pautadas para serem debatidas, como o aborto, um grande tabu. O plano reuniu setores mais conservadores das Forças Armadas, rurais, ecle-siais – se bem que a igreja fechou muito, quase toda ela, não apenas os setores mais conservadores – cada um pegando seu pedaço da questão. É uma absoluta falta de sentido tentar dizer, por exem-plo, “vamos apurar os crimes dos supostos terroristas e os crimes

das Forças Armadas”. É pura re-tórica. Não tem o menor sentido dizer que houve algo semelhante ou nas mesmas proporções que a ação terrorista do Estado brasilei-ro naquele período. Era o Estado que estava lidando contra um gru-po de jovens que se rebelavam contra a cassação da legalidade. O Brasil torturou muito. E tenta-se dizer que esses dois grupos têm o mesmo peso. Não têm. Por ou-tro lado, foi interessante porque permitiu que o debate viesse à tona, e que esses grupos se re-velassem. Esses grupos já há um bom tempo não tinham uma grande causa que os unificasse. Repito: Há casos como a questão do aborto, que envolve, sim, um debate. A gente não pode dizer, na questão específica do aborto, que há questões apenas de cunho conservador. Há questões morais, éticas, religiosas. O que unificou as Forças Armadas foi a retórica e a tentativa de dizer “nós somos vítimas”, o que é absolutamente ridículo. Em relação aos ruralis-tas, o que os uniu foi a manuten-ção do que já existe. Mas a ques-tão talvez seja: isso tudo entra na pauta dos direitos humanos? Ora, é claro que sim, se olharmos os direitos humanos de forma mais ampla, como o direito de acesso à justiça, à saúde, ao bem-estar social. Esses temas não poderiam deixar de ser debatidos. Eu esta-ria sendo leviano se dissesse que não ocorreram avanços, mas eles ainda são muito aquém daqueles que precisamos.

Notícias – Desmilitarizar a po-lícia militar seria uma medida positiva?

Bodê – Absolutamente neces-sária. No mundo inteiro, quando as polícias se tornaram profissio-nais, deixaram de ser vinculadas às Forças Armadas. O que não

significa que tenham deixado de ter uma estética militar. Não esta-mos dizendo que não se deve ter hierarquia. Não existe instituição humana que não tenha disciplina e hierarquia. E nas instituições cujos atores estão armados, têm poder de polícia, o controle deve ser maior. Alega-se que o mili-tarismo seria necessário porque controlaria, por intermédio da cadeia de comando, o que acon-tece na ponta. Se isto é verdade, por que os comandos costumam dizer que as polícias não devem ser violentas, que não devem ser corruptas e, na ponta, há muitos casos de violência e corrupção? E não estou falando de tapinhas, falo de homicídios, como agora no caso dos treze policiais presos por assassinar um grupo de cinco jovens. Esse processo de milita-rização é atrasado. Se serve para organizar as Forças Armadas, que têm que combater o inimi-go externo, não serve para lidar com questões típicas da polícia. “Polícia” vem do mesmo prefi-xo de “política”, vem de “pólis”. Essa polícia tem de lidar com um conjunto de conflitos, inclusive criminosos, só que cometidos por cidadãos. Tem que ser nitida-mente capaz de mediar conflitos. Não existe no mundo moderno nenhuma polícia militar como a nossa. Ainda que tenham uma estrutura hierárquica rígida, o comando é civil. Não há, como no caso do Brasil, essa repetição de soldado a coronel, a entrada por uma academia militar, exatamente

como no Exército, e a entrada dos soldados por baixo. Quem tem mais condições entra pelo vesti-bular da Federal para a Academia do Guatupê, e a soldadesca toda entra pela base. Isso deveria aca-bar. Não há, como no Brasil, um tribunal militar que julga crimes

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militares. Ora, isso só teria sen-tido nos crimes cometidos entre militares, no interior de quartéis. Mas eles julgam todos os crimes cometidos por militares, inclusive todos aqueles cometidos contra civis, à exceção de um, o homicí-dio, que é investigado pelos pró-prios policiais, para dizer se é um

homicídio intencional ou se não é. A estrutura militar não é moderna e não serve para lidar com confli-tos cotidianos, de mediação e que são a maior parte dos problemas que os policiais enfrentam. Esses policiais acabam submetidos a um regime autoritário, são formados autoritariamente e reproduzem isso nas ruas. Esses militares não podem fazer greve, trabalham muito acima da carga horária de qualquer outro trabalhador e não podem reclamar por isso. Há uma sujeição da tropa que produz um grau de insatisfação que se reflete na maneira como a tropa trata a população. Que comportamento esperar do policial, na ponta? O que nós vemos. E aí não adianta dizer que melhorou, que tem po-lícia comunitária aqui, ali. Tem é muita maquiagem.

Notícias – Ao procurar uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência, o cidadão tem a sensação de fazer um mero regis-tro em papel, sem efeito prático. Que capacidade de investigação tem a polícia civil brasileira? Os distritos viraram cartórios?

Bodê – As delegacias ora fun-cionam como cartório, ora fun-cionam como feudos. Temos uma polícia que é ostensiva, a polícia militar, e a polícia civil, que é a polícia judiciária. Com relação à civil, temos uma posição brasi-leira em que os delegados são bacharéis em Direito. Em mui-tas partes do mundo, o delegado

se forma nas escolas de polícia, como alguém que tem uma equi-pe com capacidade de investigar, muito diferente do nosso caso, no qual o delegado é um advogado, que às vezes entende um pouco mais de criminologia. Mas ele não tem à sua disposição uma polícia científica capaz de resolver os

problemas, capaz de assessorar a investigação. E como se dá a in-vestigação aqui? Basicamente em cima de “eu suspeito de alguém, vou lá e o cara me conta”. Agora que, muito timidamente, usam-se questões da polícia técnica, balís-tica, exames de DNA, impressões digitais. Basicamente, pega-se o suspeito e, em muitos casos, não existem provas consistentes. Um amigo meu, advogado, me diz o seguinte: “Bodê, eu boto a maior parte dos meus clientes na rua aplicando dois princípios, o amplo direito de defesa, associado à ideia de que quem acusa tem o ônus da prova”. Na maioria das vezes as provas são superficiais, não têm suporte científico de polícia técni-ca. Esse é o quadro. A polícia tem servido desde sempre, no caso brasileiro, com raras exceções, para fazer controle das chamadas supostas classes perigosas: os po-bres, as populações periféricas.

Notícias – Dos presidiários brasileiros condenados por trá-fico de drogas, cerca de 90% são pequenos traficantes. A implan-tação de penas diferenciadas para esse tipo de crime seria uma boa ideia?

Bodê – Claro. A prisão não consegue cumprir sua promessa que é ressocializar. As pessoas são socializadas, nós sabemos, no mundo da prisão e no mun-do do crime, que habita a prisão. Então, o cara entra na prisão, e é aquilo que o senso comum diz: “a

escola do crime”. E é mesmo. A prisão deveria ser usada de forma muito cuidadosa, somente para os casos mais graves. E isso não acontece. O que enche as cadeias hoje? O pequeno furto, o roubo, o tráfico. E uma parte grande des-ses delitos não é cometida com violência. Se o cara enquadrado

como traficante é pego com três pedras de crack no bolso, e ou-tro é pego com um caminhão, ambos entram na lei dos crimes hediondos. Os dois são postos, do ponto de vista criminal, no mesmo nível. Isso é uma aber-ração. Seria preciso usar muito mais as penas alternativas à pri-são, descriminalizar um conjunto de condutas, de forma com que fossem tratadas em outras esfe-ras que não a criminal, como, por exemplo, o uso de drogas, ou o próprio furto. Não há nenhuma prova, por exemplo, de que o furto seja a entrada no mundo do crime. Mas a ideia é essa: o cara furtou, se não puni-lo agora, ele amanhã roubará. Não há nenhu-ma prova de que isso aconteça. Mas há demonstrações de que o cara que furtou, entra na prisão e sai de lá membro do PCC. O Marcola é um caso assim. Usar a prisão só para os casos mais gra-ves, usando penas alternativas à prisão, é a saída. Não podemos pedir para a prisão aquilo que ela já demonstrou, em todos os seus séculos de existência, que não consegue cumprir, que é melho-rar as pessoas.

Notícias – Da mesma forma, o consumo de drogas em si não está diretamente ligado a altos índices de violência?

Bodê – Não. No caso do Bra-sil, insiste-se em dizer que a droga é a mãe de todos os males. E que 90% dos homicídios esta-

riam ligados ao tráfico de drogas. Por que outras capitais do mun-do que consomem tanto ou mais drogas do que as grandes capitais brasileiras não têm o grau de vio-lência que nós temos e não têm o índice de homicídios que temos?

Notícias – Em relação aos presos que saem do sistema peni-tenciário, existem programas de reinserção deles na sociedade?

Bodê – No Paraná, façamos justiça, há um programa de assis-tência ao egresso que é modelo, referência para o resto do país, o que não significa que não existam problemas. Ainda assim, o progra-ma deveria ser maior. Como ele sai da cadeia? Carimbado como um ex-preso. A população penitenciá-ria, acompanhando uma espécie de ideologia norte-americana de encarceramento, tem aumenta-do muito no Brasil. O país deve fechar este ano com meio milhão de presos no país. Isso é muito curioso, por ser um momento de suposta maior democracia, de assistência social. E temos dados aterradores, de que a polícia nun-ca matou tanto e de que nunca houve taxas de encarceramento como neste momento.

Notícias – Um Poder Judiciá-rio lento e por vezes inacessível, um sistema penitenciário que não reeduca, uma polícia na qual a maioria das pessoas não confia. Como mudar todo esse quadro?

Bodê – Primeiro, nunca des-vincular qualquer programa, qualquer processo de produção de segurança dos clássicos pro-cessos de proteção social, de dar acesso às pessoas à saúde, justiça, educação, enfim, como uma espécie de pano de fun-do. Segundo, modernizar as estruturas. Precisamos ter um judiciário mais ágil, menos pu-nitivo. Mas aí entramos numa outra questão, a população acha que a saída é mais polícia, pren-der mais, penas mais duras. É preciso mudar essa mentalida-de, que pauta as políticas dos governos. É preciso fazer ainda uma reformulação das polícias e diminuir a voracidade do sis-tema penitenciário, para que ele seja usado apenas nos casos mais graves.

“EssE procEsso dE militarização é atrasado. sE sErvE para organizar as Forças

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Abril2010 pErFil: guilhErmE CardOsO dE sOuza

que cursou a 8ª série e o ensino médio dentro do período regula-mentar.

Entrar para a vida acadêmica aos 13 não foi tão complicado para Guilherme. “Já venci um ano. Foi tranquilo, mas sei que neste se-gundo a coisa vai dificultar”, pre-vê o aluno, que completa 15 anos em 28 de março. Na transição do colégio para a universidade, sen-tiu a mudança. “Aqui a autonomia é maior, você é mais independen-te. No colégio os alunos têm mais supervisão, a universidade é um pouco mais livre”, comenta.

Ver um aluno tão novo pe-los corredores e salas de aula do prédio de Química causou surpresa entre a comunidade do curso. “No começo fiquei um pouco preocupado quanto à adaptação dele. Em alguns casos especiais entram alunos com 16 anos, mas nunca ha-via passado pela minha cabeça a possibilidade de termos um

aluno tão novo”, comenta o pro-fessor Claudio Tonegutti, coor-denador do curso de Química. “Os alunos se acostumaram à ideia de ter um colega bem mais novo, e o Guilherme tam-bém se integrou rapidamente com o pessoal”, relata.

Se os professores estavam apreensivos no começo, o que dizer da mãe de Guilherme? “ Fiquei preocupada quanto ao tro-te, à aceitação entre os colegas, e o fato dele nunca ter andado de ônibus sozinho”, relata a mãe Edina Lopes Cardoso. Guilher-me tem uma boa relação com os colegas. “Minha convivência com eles é normal. Continua do mesmo jeito que antigamente. A diferença é que eles são mais velhos do que eu. Mas não há conflito de gerações”, comenta.

Edina sempre acompanhou o filho no longo trajeto de ônibus até a universidade, de sua casa no bairro Sítio Cercado, até o

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Seu nome está no Rank-Brasil, o livro dos recor-des brasileiros. Guilher-

me Cardoso de Souza é o mais jovem universitário em uma Federal. No final do ano passado ele foi aprovado no vestibular da UFPR, em 1º lugar no curso de Química. O detalhe é que ele ti-nha apenas 13 anos.

Superdotado, Guilherme sempre foi um aluno precoce, que aprende muito rápido. Aos sete foi matriculado na Escola Municipal Dona Lulu, no bairro Sítio Cercado, concluindo a 1.ª e 2.ª séries em um só ano. Re-petiu o desempenho no ano se-guinte, cursando de uma só vez a 3.ª e a 4.ª séries. Quando tinha nove anos, estudou no Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) onde fez a 5ª, 6ª e 7ª séries em um ano. Passou em seguida para o Colégio Bom Jesus, em

campus Politécnico, que tem cer-ca de uma hora e meia de percur-so. “Eu ficava fazendo crochê do lado de fora, enquanto esperava ele sair da aula”, lembra a mãe.

Guilherme amadureceu bastante neste período. “Ele entrou na adolescência e está com comportamentos típicos desta fase. Está mais indepen-dente, pois entre setembro ou outubro começou a ir para casa sozinho, sem precisar me espe-rar sair do trabalho”, cita.

A notícia do aluno que en-trou para uma universidade aos 13 anos chamou a atenção da imprensa, mas isso não chegou a ser uma novidade. “Guilher-me aprendeu a ler e escrever quando tinha apenas dois anos. Naquela época ele já aparecia bastante em programas de TV. E desde aqueles tempos eu guardo em uma pasta todas as matérias que saem sobre ele”, recorda a zelosa mãe.

Vida acadêmica

a partir dos 13 anos

[email protected] Juste Duarte