nota técnica no /2012 sff/aneel · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ......

34
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência. Nota Técnica n o /2012SFF/ANEEL Em de de 2012 Processo n o 48500.005277/2010-02 Assunto: Revisão da Resolução Normativa 334/2008, que disciplina a contratação entre partes relacionadas no âmbito do setor elétrico. I DO OBJETIVO O objetivo desta Nota Técnica é propor a revisão da Resolução Normativa (REN) nº 334/2008, que disciplina o art. 3º, inc. XIII, da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, que confere à ANEEL a competência para regulamentar a contratação entre partes relacionadas no setor elétrico. 2. Com base na experiência acumulada pela ANEEL na aplicação da REN citada desde 2008 e nas contribuições encaminhadas pelos agentes do setor elétrico, a reforma sob análise visa: (i) à evolução de conceitos meritórios da análise de contratos entre partes relacionadas; (ii) à positivação de interpretações já pacificadas pela SFF e (iii) à racionalização das hipóteses de controle prévio, liberando os recursos da agência para atividades com maior impacto e conferindo maior agilidade ao mercado. II DOS FATOS 3. Em 07 de dezembro de 2008, a REN nº 334 passou a vigir no setor elétrico disciplinando os controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios jurídicos entre as concessionárias, permissionárias e autorizadas e suas partes relacionadas, revogando a norma que regulava o tema (Resolução nº 22/99). 4. Daquele momento em diante, a Superintendência de Fiscalização Econômica e Financeira (SFF) passou a identificar uma série de desafios na aplicação da norma aos casos concretos, tanto na análise dos requerimentos de anuência prévia quanto na fiscalziação a posteriori. À experiência da SFF somam-se as contribuições das Superintendências de Regulação Econômica 1 e de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética 2 da ANEEL, da Procuradoria Geral da ANEEL 3 , da Secretaria de Finanças do município de São Paulo 4 , da Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro 5 e da Secretaria Municipal de Finanças de Belo Horizonte 6 . 1 Documento nº 48548.000557/2012-00. 2 Documento nº 48547.000988/2010-00. 3 Documento nº 48516.011807/11-00. 4 Documento nº 48512.019578/09.

Upload: truongquynh

Post on 21-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL

Em de de 2012

Processo no 48500.005277/2010-02 Assunto: Revisão da Resolução Normativa nº 334/2008, que disciplina a contratação entre partes relacionadas no âmbito do setor elétrico.

I – DO OBJETIVO O objetivo desta Nota Técnica é propor a revisão da Resolução Normativa (REN) nº 334/2008, que disciplina o art. 3º, inc. XIII, da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, que confere à ANEEL a competência para regulamentar a contratação entre partes relacionadas no setor elétrico. 2. Com base na experiência acumulada pela ANEEL na aplicação da REN citada desde 2008 e nas contribuições encaminhadas pelos agentes do setor elétrico, a reforma sob análise visa: (i) à evolução de conceitos meritórios da análise de contratos entre partes relacionadas; (ii) à positivação de interpretações já pacificadas pela SFF e (iii) à racionalização das hipóteses de controle prévio, liberando os recursos da agência para atividades com maior impacto e conferindo maior agilidade ao mercado. II – DOS FATOS 3. Em 07 de dezembro de 2008, a REN nº 334 passou a vigir no setor elétrico disciplinando os controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios jurídicos entre as concessionárias, permissionárias e autorizadas e suas partes relacionadas, revogando a norma que regulava o tema (Resolução nº 22/99). 4. Daquele momento em diante, a Superintendência de Fiscalização Econômica e Financeira (SFF) passou a identificar uma série de desafios na aplicação da norma aos casos concretos, tanto na análise dos requerimentos de anuência prévia quanto na fiscalziação a posteriori. À experiência da SFF somam-se as contribuições das Superintendências de Regulação Econômica1 e de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética2 da ANEEL, da Procuradoria Geral da ANEEL3, da Secretaria de Finanças do município de São Paulo4, da Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro5 e da Secretaria Municipal de Finanças de Belo Horizonte6.

1 Documento nº 48548.000557/2012-00. 2 Documento nº 48547.000988/2010-00. 3 Documento nº 48516.011807/11-00. 4 Documento nº 48512.019578/09.

Page 2: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 2 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

5. Paralelamente, diversos agentes submeteram pleitos e consultas, bem como agendaram reuniões a respeito dos possíveis aperfeiçoamentos na norma, conforme documentos acostados aos autos. Destacam-se as contribuições dos grupos CPFL7 e EDP8 bem como da Atlântico – Concessionária de Transmissão de Energia do Brasil Ltda.9, da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobras10, da Centrais Elétricas Matogrossessens S.A. – CEMAT11, da Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestruturas – INFRACOOP12, da Endesa Brasil13 e da State Grid Brazil Holding S.A.14.

III – DA ANÁLISE 6. De um lado, as contratações entre partes relacionadas têm potencial para gerar ganhos signficativos de eficiência ao mercado – decorrentes de economias de escala e redução dos custos de transação15 -, podendo resultar na redução de custos administrativos e operacionais bem como em rica troca de experiência intragrupo. 7. A eficiência é, de fato, um importante valor a ser pe+rseguido pelo regulador. No entanto, não é o único: a missão da ANEEL reflete bem a pluralidade de objetivos que devem ser perseguidos e equilibrados pela boa regulação: “proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade”.

Fonte: Por Dentro da Conta de Luz: Informação de Utilidade Pública, Outubro de 2008

5 Documento nº 48512.020300/09. 6 Documento nº 48512.015118/09-00. 7 Documentos nº 48513.005787/2009-00, nº 48513.034565/2010-00, nº 48513.017228/2010-00, nº48513.026087/2011-00 e nº 48513.037523/2011-00 e Processo nº 48500.002761/2006-88. 8 Nota Técnica nº 93/2011-SFF/ANEEL e Despacho SFF nº 3.960/2009. 9 Processo nº 48500.004308/2011-81. 10 Fax nº 467/2009-SFF/ANEEL. 11 Documento nº 48513.013006/2010-00. 12 Documento nº 48513.031152/2010-00. 13 Documento nº 48512.007540/09-00. 14 Documento nº 48513.018431/2011-00. 15 “(...) Exemplo disto [operações comerciais eficientes dentro de um mesmo grupo empresarial, quando comparadas á contratação via mercado] seria o contrato entre empresas sob o mesmo controle sem exigência de garantias para sua execução (algo muitas inviável via mercado), bem como a inexistência de assimetria de informações entre os contratantes e do risco de quebra de contrato”. SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da, Prado; MULLER, Viviane; SASSO, Rafael, “Mesmo permitidas juridicamente, transações entre partes relacionadas sinalizam risco de perdas”, Espaço Jurídico da Bovespa, publicado em 18.08.2009, disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/juridico/noticias-e-entrevistas/Noticias/090818NotB.asp. Acessado em: 06/03/2012.

Page 3: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 3 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

8. Por esse motivo, é necessário levar em consideração que diversas razões – tributárias, financeiras e econômicas, para listar apenas as principais – podem levar as partes relacionadas a pactuarem, para o produto ou serviço objeto de contratação, um “preço de transferência” artificial e, consequentemente, divergente do preço de mercado negociado por empresas independentes.16 E essa contratação intragrupo em condições não comutativas, com objetivo de maximizar os resultados do grupo, pode gerar diversos efeitos negativos aos demais stakeholders (consumidores, governo, minoritários e outros grupos de interesse). 9. Os principais riscos dessas transações aos consumidores consistem: (i) no aumento da tarifa, na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores os valores derivados de um contrato excessivamente oneroso; (ii) na distorção do modelo tarifário17, devido à possível contaminação de uma área de concessão (ou permissão) com custos incorridos em outra; e (iii) no comprometimento da situação econômico-financeira de um agente, prejudicando seus investimentos e, em última análise, levando à descontinuidade do serviço18.

10. Além disso, essas transações podem comprometer outros valores tutelados pelo ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que podem: (i) dificultar ou até inviabilizar a fiscalização por parte do Poder Público; (ii) distorcer a livre concorrência no mercado do produto ou serviço objeto da contratação, que possuía fornecedores mais eficientes, e (iii) resultar em benefício privado do controle, isto é, beneficiar ilegalmente o controlador às custas do acionista minoritário19, entre outros.

11. Desse modo, o objetivo do regulador é propiciar ao mercado as eficiências que essas transações podem gerar até o limite que não coloquem em risco a prestação de serviço adequado20 bem

16 É importante destacar que diversos métodos poderiam ser empregados para apurar o preço “justo” para determinada transferência. A SFF costuma solicitar aos agentes que apresentem cotações de mercado para demonstrar que as cláusulas financeiras de sua contratação são compatíveis com aquelas praticadas no mercado. 17 O modelo do 3º Ciclo de Revisão Tarifária Periódica (3CRTP) da ANEEL adota como ferramenta o benchmarking, de modo que os custos operacionais dos agentes serão comparados entre si. Sobre o assunto, veja-se os comentários da SRE, constantes do Memorando nº 138/2012-SR/ANEEL, de 27 de fevereiro de 2012:

“6. Independente de qual seja a metodologia adotada no quarto ciclo: nova análise de benchmarking ou mensuração dos ganhos médios de produtividade; os efeitos da redução de custos em razão da nova metodologia de compartilhamento de recursos humanos serão considerados em prol da modicidade tarifária. Isto porque ao se reduzirem os custos contábeis, que é insumo para ambas as metodologias, haverá ganhos maiores de produtividade ou nível médio de eficiência mais elevado. 7. Para que as análises sejam feitas de forma correta é primordial que os dados contábeis de fato reflitam o custo sob responsabilidade de cada distribuidora. A não observação dessa premissa pode distorcer a análise, atribuindo à determinada distribuidora um nível de eficiência que se deve a uma contabilização imprecisa de seus custos e não à sua maior ou menor eficiência gerencial.”

18 “Após diversos escândalos de corrupção corporativa, as transações com partes relacionadas ganharam destaque no âmbito da governança corporativa. Tais operações exerceram papel de relevo em casosm como Enron (transações com sociedades de propósito específico). Worldcom (empréstimos para executivos), Parmalat (empréstimos para empresas de posse do controlador) e Agrenco (centralização de recursos via operações comerciais para empresas de administradores), entre outras.” Espaço Jurídico BOVESPA, obra citada. 19 Por exemplo, o controlador da sociedade A, detendo os meios de influenciar as deliberações sociais, opta deliberadamente por maus negócios – por exemplo, venda de ativos ou prestação de serviços por preços abaixo daqueles praticados no mercado – para a sociedade B, da qual é controlador integral. 20 Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

Page 4: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 4 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

como os demais valores relacionados no parágrafo anterior. Nesse sentido, o artigo 1º da norma proposta sintetiza os principais valores que se pretende harmonizar:

Art. 1º Esta Resolução disciplina os atos e negócios jurídicos entre Agentes do Setor Elétrico e suas Partes Relacionadas, orientada pelos ditames de livre concorrência e manutenção do serviço adequado, com modicidade tarifária, atualidade, eficiência e continuidade.

12. Nesse contexto, a experiência acumulada pela SFF na aplicação da REN nº 334 e as contribuições submetidas pelos agentes levaram à conclusão da necessidade de aperfeiçoamento das seguintes matérias:

(i) aprimoramento da estrutura da norma; (ii) otimização dos critérios de dispensa de controle prévio e aperfeiçoamento do

controle a posteriori; (iii) aprimoramento da disciplina do mútuo intragrupo; (iv) aplicabilidade da Resolução à obrigação contratual de aprovação prévia de

contratos com diretores, administradores e outros; (v) revisão das regras gerais e específicas; (vi) compartilhamento de infraestrutura e recursos humanos; (vii) contabilização das operações intragrupo; e (viii) aprimoramento e detalhamento dos aspectos processuais.

13. Dentre eles, destaque-se o item (vi), que aborda a principal inovação meritória ora introduzida: a disciplina do compartilhamento de recursos humanos. 14. Esta seção se propõe a explicar os desafios enfrentados e, diante das alternativas disponíveis ao regulador, optar pelo encaminhamento mais adequado para superar cada um deles. I. Aprimoramento da estrutura da norma 15. A REN nº 334/2008 é estruturada da seguinte forma: (i) Disposições Preliminares (incluindo exigência de controle prévio, dispensa dessa obrigação e regras sobre a fiscalização a posteriori); (ii) Instrução do Processo; (iii) Critérios Gerais (disposições materiais e processuais); (iv) Critérios Específicos (disposições materiais e processuais) e (v) Disposições Finais. 16. Essa organização atribui uma ênfase maior às questões processuais que às questões materiais. Além disso, dificultava o atendimento às esparsas regras processuais. Por esse motivo, propõe-se uma nova estrutura, qual seja:

(i) Da Finalidade; (ii) Das Regras Gerais; (iii) Das Regras Específicas; (iv) Dos Controles prévio e a posteriori; (v) Da Instrução do Processo de Controle Prévio; e (vi) Das Disposições finais e transitórias

Page 5: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 5 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

17. A norma proposta inicia pelos aspectos materiais - sua espinha dorsal - e só em seguida aborda as questões processuais, inclusive o momento da fiscalização (ex ante ou ex post). Desta maneira, busca-se comunicar com maior clareza que tanto as regras gerais quanto as específicas são de aplicação a todos negócios jurídicos entre partes relacionadas, independentemente da obrigação de controle prévio. Por fim, as disposições processuais foram reunidas no capítulo sobre a instrução, facilitando sua observância. 18. Note-se a inclusão de um artigo sobre a finalidade da norma, que, além de conferir maior transparência aos objetivos do regulador, servirá como um vetor interpretativo de casos concretos, inclusive quanto a novas operações que possam surgir.

19. Por fim, aproveitou-se a oportunidade para rever a redação da REN nº 334/2008 como um todo, buscando tanto alcançar maior grau de clareza quanto formalizar interpretações já consolidadas. II – Otimização dos critérios de dispensa de controle prévio e aperfeiçoamento do controle a posteriori 20. Em 2002, a Lei nº 10.438 acrescentou a seguinte competência dentre aquelas conferidas à ANEEL pelo art. 3º da nº 9.427/96: “XIII - efetuar o controle prévio e a posteriori de atos e negócios jurídicos a serem celebrados entre concessionárias, permissionárias, autorizadas e seus controladores, suas sociedades controladas ou coligadas e outras sociedades controladas ou coligadas de controlador comum, impondo-lhes restrições à mútua constituição de direitos e obrigações, especialmente comerciais e, no limite, a abstenção do próprio ato ou contrato”.

21. A REN 334 disciplinou essa competência, estabelecendo, em seu artigo 2º, o controle prévio como regra. A exceção são as hipóteses de dispensa dessa obrigação previstas pelos 8 incisos do artigo 3º, que continuam sujeitas ao controle a posteriori. Essas duas categorias – ex ante ou ex post - são submetidas a diferentes regimes e possuem características (vantagens e desvantagens) distintas.

22. A condução de uma análise anterior à celebração de um negócio jurídico por parte de um agente setorial tem natureza preventiva, com objetivo de impedir que seja praticado negócio jurídico em desconformidade com comandos regulatórios e legais e, por consequência, verifiquem-se os prejuízos mencionados nos parágrafos 8 a 10.

23. O principal benefício da intervenção nesse momento para o interesse público é a segurança: garante-se o enforcement das normas aplicáveis, evitando a produção de efeitos de suposo ato lesivo. Por esse motivo, em vista dos relevantes riscos gerados pelos contratos entre partes relacionadas detalhados na introdução deste capítulo, o controle prévio deve ser a regra geral do modelo regulatório.

24. Outro ponto positivo do controle prévio é o incentivo que o agente tem para contribuir com a análise da SFF, uma vez que precisa da anuência ao seu pedido para implementar o negócio.

25. A desvantagem é o seu custo. Para o agente: (i) a impossibilidade de realizar determinada operação dentro das regras (em determinados casos, urgente) até a aprovação do regulador e (ii) o esforço investido na formulação do pedido. Para a Agência, a necessidade de disponibilizar horas de seus – escassos - recursos humanos em quantidade suficiente para analisar, em tempo hábil, todas as demandas (em grande volume).

Page 6: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 6 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

26. Por sua vez, o controle a posteriori é materializado por duas ferramentas principais - regras de conduta com análise ex-post e transparência obrigatória de informações relevantes21 – e tem por objetivo identificar e punir ilícitos22 cometidos pelos agentes, buscando (i) reparar eventuais prejuízos remediáveis; (ii) combater eventual enriquecimento ilícito e (iii) dissuadir o infrator e os demais agentes atuantes no mercado, sinalizando que a infração da norma não compensa.

27. A primeira grande diferença da fiscalização posterior em relação à prévia reside na expressão “todas as demandas” citadas no parágrafo 25. Na fiscalização prévia, o fiscal possui a obrigação de analisar a totalidade das demandas que lhe foram submetidas, independentemente de sua relevância. Diferentemente, a fiscalização a posteriori se vale de técnicas de auditoria (tais como planejamento e amostragens) para focar nos assuntos de maior potencial ofensivo. 23 24

28. O planejamento das auditorias leva em consideração a materialidade, a relevância e o risco das operações. Nesse quadro, ferramentas como a curva ABC25 se prestam para otimizar a geração de resultados com base nos recursos disponíveis. Em outras palavras, apenas um percentual das operações é fiscalizada26: a parcela de operações que, no julgamento da fiscalização, provavelmente geraria prejuízo significativo, caso fossem realizadas pelos agentes em descumprimento com as normas aplicáveis. 29. Em suma, os princípais benefícios da fiscalização a posteriori são: (i) a maior agilidade propiciada ao mercado e (ii) o provável uso mais eficiente dos recursos humanos do regulador. 30. Por outro lado, essa abordagem tem como ponto negativo um aumento dos riscos de lesão ao interesse público. Primeiro, porque operações lesivas farão sentir seus efeitos negativos no mercado até que sejam identificadas e repreendidas pela fiscalização. Segundo, porque, mesmo que sejam identificadas, os prejuízos causados por essas operações ao interesse público podem ser irreversíveis. Terceiro, porque, por um erro de julgamento do fiscal, operações significativas podem escapar do controle a posteriori – um dos riscos de auditoria. No mais, o agente não tem interesse em contribuir com o processo – pelo contrário, possui incentivos econômicos para protelar ou obscurecer a análise.

31. Em conclusão, o controle prévio tende a ser mais seguro mas também mais custoso (mais eficaz e menos eficiente), enquanto o controle a posteriori tende a ser mais célere e econômico mas também

21 SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da, Prado; MULLER, Viviane; SASSO, Rafael, “Mesmo permitidas juridicamente, transações entre partes relacionadas sinalizam risco de perdas”, Espaço Jurídico da Bovespa, publicado em 18.08.2009, disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/juridico/noticias-e-entrevistas/Noticias/090818NotB.asp. Último acesso: 06 de março de 2012. 22 Tanto a existência de contratos celebrados sem anuência da ANEEL quanto a implementação de contratos em termos diferentes dos anuídos. 23 Castro, Domingos Poubel de. “Auditoria e Controle Interno na Administração Pública”. Editora Atlas – São Paulo – 2007. 24 Santos, Líliam Regina. A Governança Empresarial e a Emergência de um Modelo de Controladoria, Dissertação de Mestrado, FEA/USP, São Paulo, 2004. 25 Também denominada na literatura “Curva 80/20”, é um método de classificação de informações com objetivo de separar os itens de maior importância ou impacto, que são normalmente em menor quantidade. Por exemplo, a curva ABC pode ser utilizada para ordenar os clientes por ordem decrescente da sua contribuição para a empresa, de modo a se poder segmentar por grau de dependência, de risco ou ainda por outro critério a definir. (CARVALHO, José Mexia Crespo de – “Logística”. 3ª ed. Lisboa: Edições Silabo, 2002). 26 Oliveira, Paulo Henrique F. C. Amostragem Básica – Aplicação em Auditoria, Rio de Janeiro, Ciência Moderna, 2004.

Page 7: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 7 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

mais arriscado (mais eficiente mas menos eficaz). A regulação efetiva27 será aquela que alcançar o equilíbrio no uso dessas duas ferramentas, extraindo seus principais benefícios e minimizando seus custos e riscos.

32. Em outras palavras, as operações que potencialmente apresentam elevado risco de prejuízo ao serviço delegado e/ou de irreversibilidade de seus efeitos, devem ser analisados previamente; aquelas que apresentarem menor risco ao interesse público e/ou maior chance de correção, devem ser analisados pela fiscalização a posteriori.

33. Nessa análise, é importante que o regulador leve em consideração que o comando desenhado emitirá sinais econômicos aos agentes, que poderão alterar seus padrões de comportamentos buscando maximizar seus lucros dentro das regras da nova resolução. Portanto, no processo de normatização, cabe ao regulador desenhar mecanismos de indução aos comportamentos desejados.

34. Por fim, deve-se assegurar que o deslocamento de um “gargalo” logístico do processo para outro ponto28 seja desenhado com objetivo de aumentar o grau de eficiência, pois, sem essa preocupação, poderia tão somente manter o quantitativo de trabalho no interior do processo (para a fiscalização posterior).

35. Passemos a aplicar esse raciocínio (contexto, valores e premissas) à revisão dos critérios de dispensa da obrigatoriedade de anuência prévia existentes e propostos.

II.1. A dispensa pelo valor do negócio jurídico 36. Com objetivo de simplificar procedimentos, conferir maior agilidade ao mercado e liberar os recursos humanos da ANEEL para atividades de maior impacto, a REN nº 334/2008 prevê a seguinte metodologia de dispensa do controle prévio pelo valor das operações:

Art. 3º Ficam dispensados da obrigação de que trata o art. 2º, sem prejuízo do controle a posteriori e das sanções previstas em lei, e observados os dispositivos regulamentares que regulam o oferecimento de garantias, os seguintes atos ou negócios jurídicos: (...) IV – contratos cujos gastos anuais sejam inferiores a 0,5% (cinco décimos por cento) da Receita Operacional Líquida – ROL anual da concessionária, da permissionária e da autorizada, respeitando o seguinte: a) os contratos não poderão ter por objeto o mútuo financeiro; b) a ROL a ser observada é a a apurada segundo o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica – MCSPEE, instituído pela Resolução nº 444, de 26 de outubro de 2001, apresentada na última Demonstração do Resultado do Exercício;

27 Segundo o Guia Referencial para Medição de Desempenho e Manual para Construção de Indicadores (GesPública – Dezembro de 2009, disponível em www.gepublica.gov.br): - Efetividade são os impactos gerados pelos produtos/serviços, processos ou projetos. A efetividade está vinculada ao grau de satisfação ou ainda ao valor agregado. - Eficácia é a quantidade e qualidade de produtos e serviços entregues ao usuário (benefício direto dos produtos e serviços da organização). - Eficiência é a relação entre os produtos/serviços gerados (outputs) com os insumos empregados, usualmente sob a forma de custos ou produtividade. 28 Corrar, Luiz J. e outros. Pesquisa Operacional para decisão em Contabilidade e Administração – Contabilometria, São Paulo, Atlas, 2004.

Page 8: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 8 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

c) o valor total do gasto anual do conjunto de contratos efetuados não ultrapasse o limite referenciado neste inciso; d) o limite dos gastos anuais estabelecido neste inciso será apurado em cada ano, compatível com o período dos contratos celebrados.

37. Ocorre que a experiência da SFF na aplicação deste dispositivo concluiu que a metodologia de dispensa sob análise não alcançou os objetivos pretendidos, pelos seguintes motivos principais:

(i) emprego de recursos humanos da SFF para análise prévia de contratos sem potencial de risco significativo à concessão ou aos consumidores;

(ii) o limite de 0,5% da ROL permite que um contrato de valor significativo celebrado por um agente de grande porte escape da análise prévia (e.g. um contrato ou contratos com desembolso anual superior a 55 milhões29);

(iii) metodologia de difícil aplicação por parte dos agentes (“conjunto de contratos efetuados” e limite dos gastos anuais apurado p/ cada ano durante a vigência)

(iv) mecanismos insuficientes de fiscalização a posteriori; e (v) obscuridade na redação.

38. A nova proposta de metodologia é fruto desse aprendizado. A primeira constatação é que a SFF tem investido parte das horas de trabalho de seu quadro de pessoal analisando operações de reduzido impacto no setor de energia: o levantamento realizado com 138 casos revela que 15% dos contratos analisados30 possuíam valor anual inferior a R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), isto é, até R$ 6.666,00 mensais. Essa grandeza de recursos tem potencial de impactar as finanças pessoais de um cidadão brasileiro de classe média, não de um agente do Setor Elétrico Brasileiro. Tanto é que o art. 23, II da Lei nº 8.666 exige o mero convite - a mais simples das modalidades de licitação – para contratações de compras e serviços até essa grandeza31.

39. O mesmo levantamento evidenciou a análise de processos de controle prévio cujos objetos eram contratos com preço anual de R$ 707,00 (setecentos e sete reais) e de R$ 1.200 (mil e dozentos reais). Isso significa que o custo da ANEEL (remuneração hora do seu pessoal, diligências, publicação no D.O.U...) incorreu para essas análises foi superior ao custo total do contrato – quanto mais a uma eventual parcela do preço que poderia ter sido fruto de algum desvio não comutativo. Lembre-se que a análise de um contrato desse porte pode demandar tantas horas de trabalho ou até mais que aquela relativa a um contrato da ordem das dezenas de milhões de reais. 40. Os desafios enfrentados pelo Estado na regulação dos setores de infraestrutura e do desenvolvimento sócio-econômico são muitos e complexos, exigindo que os escassos recursos humanos da Administração Pública sejam empregados em atividades que gerem impacto e, portanto, contribuam efetivamente com esses objetivos. Inclusive, o princípio constitucional da eficiência na Administração Pública impede que o custo público da regulação seja superior a uma potencial lesão ao interesse público.

29 Tomando por base esse percentual aplicado à ROL da distribuidora de maior porte (AES Eletropaulo) em 2010. 30 A amostra corresponde a 37% das 387 demandas no período de janeiro de 2009 a julho de 2011. Esse foi o quantitativo passível de análise, uma vez que tais casos possuíam dados amplamente disponíveis. Essa amostra é válida, nos termos da lei dos grandes números. 31 Desde que não sejam relacionados a serviços de engenharia.

Page 9: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 9 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

41. A primeira conclusão, portanto, é que o alto custo de análise prévia de operações não compensa eventuais ganhos decorrentes da análise de contratos entre partes relacionadas com valores reduzidos32. Para esse fim, “valor reduzido” pode ser compreendido tanto de forma absoluta quanto relativa.

42. A abordagem absoluta foi exposta em linhas gerais nos parágrafos 38 e 39. É importante mencionar que qualquer definição de valor dependerá da discricionariedade do regulador. O valor absoluto de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) para todo e qualquer agente observa o princípio da prudência, uma vez que um valor elevado demais poderia levar à execução de operações lesivas ao interesse público (especialmente nas concessionárias de pequeno porte) sem análise da ANEEL. Nesse momento de criação de uma nova metodologia, o regulador deve optar por um limite conservador, que pode ser flexibilizado no futuro de acordo com os resultados colhidos de sua análise do impacto dessa norma.

43. Para agentes de grande porte, cujos negócios cotidianos envolvem contratações de milhões de reais, o limite anual de R$ 80.000,00 tende a ser praticamente inaplicável. Com objetivo de empregar o tempo dos recursos humanos da Agência em operações que de fato possam causar algum prejuízo a essas concessões, é importante fixar um limite relativo que lhes confira alguma margem. Propõe-se a implantação de um limite por contrato de 0,005% (cinco milésimos por cento) da Receita Operacional Líquida (ROL) do agente no exercício anterior à contratação33. Desse modo, o agente terá à disposição duas hipóteses de dispensa – o critério absoluto e o relativo – e poderá se valer do que lhe conferir maior liberdade. 34

44. A opção regulatória pelo percentual de 0,005 foi construída com base no seguinte raciocínio: analisou-se as ROLs atuais das distribuidoras e buscou-se um teto para que nenhuma operação dispensada tivesse valor superior a R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais) – valor a partir do qual o art. 23, II da Lei das Licitações exige a mais complexa das modalidades de licitação – concorrência – para contratação de compras e serviços35. Esse limite também se assenta sobre as considerações expostas no parágrafo 42 sobre o princípio da prudência e pode, no futuro, ser flexibilizado se sua análise de impacto assim indicar.

45. Essa proposta espera que os dois critérios de dispensa aqui propostos – absoluto e relativo – minimizem significativamente o investimento de recursos humanos da SFF/ANEEL na análise de operações de baixo impacto36. Com relação aos seus riscos, é possível imaginar (i) a ocorrência de contratos em condições não comutativas (risco genérico de qualquer metodologia) e (ii) o fracionamento de contratos por parte dos agentes para fins do enquadramento nessa hipótese (risco específico do critério proposto). Por esse motivo, é essencial a introdução de mecanismos jurídicos que inibam, repreendam e punam esses comportamentos, sinalizando claramente ao mercado que essa prática não compensaria economicamente.

46. Primeiramente, para permitir que a fiscalização a posteriori efetivamente ocorra, é necessário que estejam à disposição do fiscal, no momento da fiscalização (que pode se dar em até 5 anos), justificativas e provas que evidenciem a comutativade do contrato à época da sua celebração. A forma mais eficaz para

32 Lembrando que tais operações continuam sujeitas ao controle a posteriori. 33 Note-se que esse critério será de simples aplicação, independendo de projeções de ROL para os exercícios futuros. 34 Uma simulação realizada com a ROL de 60 distribuidoras revelou que, nas condições atuais de mercado, as 40 distribuidoras de menor porte obteriam uma dispensa maior por meio do critério absoluto (R$ 80.000,00), enquanto as 20 de menor porte obteriam uma dispensa maior por meio do critério relativo (0,005% da ROL do exercício anterior). 35 Que não sejam relacionados a serviços de engenharia. 36 Observe-se que essa dispensa não se aplicará a contratos de mútuo pecuniário e de compartilhamento de recursos humanos.

Page 10: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 10 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

viabilizar essa ferramenta é a constituição de um dossiê resumido, por parte do agente, no momento da contratação, com as provas de sua comutatividade (orçamentos, cotações, etc) e das despesas realizadas. O dossiê ficará à disposição da fiscalização e poderá ser requisitado pela SFF ou analisado in loco.

47. Considerando que este é, na prática, o principal – e muitas vezes o único – meio de prova disponível pela fiscalização, a violação desse procedimento formal deve ser considerada falta grave e sancionada com rigor, sinalizando, adequadamente, ao mercado, a importância de sua observância.

48. Na hipótese de a fiscalização a posteriori identificar contratos celebrados em condições não comutativas, ela terá a possibilidade de determinar a imediata alteração do contrato37, hipótese que o agente terá a opção de seguir a determinação ou interromper a sua execução, sem prejuízo da instauração de processo punitivo.

49. Outro importante papel da fiscalização a posteriori será analisar se o critério de dispensa foi aplicado de acordo com seu objetivo. Isto porque reconhece-se o risco do possível comportamento oportunista de fracionamento do contrato em vários de menor valor com objetivo de enquadramento em uma das duas hipóteses de dispensa pelo valor. Essa preocupação é análoga àquela tutelada pelo art. 23 da Lei das Licitações (Lei nº 8.666/93):

Art. 23. (...) § 5o É vedada a utilização da modalidade "convite" ou "tomada de preços", conforme o caso, para parcelas de uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente, sempre que o somatório de seus valores caracterizar o caso de "tomada de preços" ou "concorrência", respectivamente, nos termos deste artigo, exceto para as parcelas de natureza específica que possam ser executadas por pessoas ou empresas de especialidade diversa daquela do executor da obra ou serviço.

50. A literatura administrativista se debruçou sobre o assunto, como ilustrado por uma passagem de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes38:

“(...) fracionamento é o termo geralmente empregado para designar a compra ou contratação de serviços parcelados, com o objetivo de fugir à modalidade de licitação pertinente ou provocar a indébita dispensa de licitação. É vedada, em nosso ordenamento, essa conduta do administrador, que reduz o objeto para alcançar valor inferior e realiza várias licitações ou dispensas para o mesmo objeto(....). A licitação é um procedimento prévio à realização de despesa, motivo pelo qual, para se evitar o fracionamento, é obrigatório considerar o consumo ou o uso do objeto, ou ainda, a contratação do serviço, no exercício financeiro.”

51. Para evitar a prática do fracionamento, esta proposta considera que o mecanismo jurídico mais adequado é a imposição de uma obrigação de transparência que reduza a assimetria de informação entre regulador e Regulado: o potencial infrator, sabendo que o regulador acompanha cada uma de suas

37 Nos termos do citado art. 3º, XIII da Lei nº 9.427/96: “XIII - efetuar o controle prévio e a posteriori de atos e negócios jurídicos (...) impondo-lhes restrições à mútua constituição de direitos e obrigações, especialmente comerciais e, no limite, a abstenção do próprio ato ou contrato”. 38Disponível em : http://www.jacoby.pro.br/novo/, 01/10/2011.

Page 11: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 11 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

operações (e, consequentemente, a chance de detecção e punição de um fracionamento é próxima de 100%), tende a julgar que essa infração não vale à pena. 52. Mais detalhadamente, após a celebração de cada operação enquadrada nas hipóteses de dispensa pelo valor, propõe-se que o agente preencha e encaminhe à SFF uma simples ficha-modelo, que proporcionará ao regulador uma visão geral do negócio e das evidências de sua comutatividade.

53. Caso a SFF identifique indícios de violação às Regras Gerais ou Específicas da Resolução, poderá requerer informações adicionais e, se necessário, ordenar a sua imediata adequação ou interrupção.39 Mais ainda, caso a SFF identifique diferentes contratos com objeto similar, poderá requerer informações adicionais e, se verificado o fracionamento, deverá instaurar processo punitivo pela execução de contrato sem anuência prévia – nos termos do art. 7º, XII da REN nº 63/2004.

54. Além disso, a fiscalização in loco apurará (i) se o agente celebrou algum contrato com partes relacionadas sem anuência ou comunicação e (ii) se os contratos anuídos e comunicados foram implementados nos termos da anuência/comunicação (especialmente o desembolso). Eventual não conformidade ensejará a instauração de processo punitivo.

II.2. A dispensa de anuência prévia para financiamentos entre agentes setoriais e instituições financeiras de fomento 55. Pela definição do art. 1º, § 2º da REN 334, consideram-se partes relacionadas instituições financeiras e “sociedades controladas ou coligadas de controlador comum”. Desta forma, eventuais contratos de empréstimo ou financiamento celebrado entre eles devem seguir os critérios gerais e específicos previstos pela Resolução citada. 56. No entanto, no contexto da dinâmica econômica do Setor Elétrico Brasileiro, bancos públicos conduzem políticas públicas, disponibilizando crédito subsidiado – tais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), o Banco da Amazônia (BASA), entre outros. Essa atividade exerce um papel chave na expansão da infraestrutura do setor elétrico brasileiro, justamente por conta dos juros abaixo das condições de mercado, beneficiando os agentes e os consumidores. 57. A única hipótese imaginável dessas operações de financiamento ou empréstimo por parte de bancos de fomento serem realizadas em condições mais onerosas aos agentes que aquelas praticadas pelo mercado, fato que não se tem notícia e, se ocorresse, revelaria uma completa desvirtuação de suas finalidades. E ensejaria a instauração de processo punitivo em desfavor do Agente, que teria realizado a contratação em condições não comutativas.

58. Da mesma forma, cumpre lembrar que a lei atribuiu à Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) funções típicas de instituição financeira, em condições pré-estabelecidas. Dese modo, a Eletrobras gere os fundos setoriais – Reserva Global de Reversão (RGR), pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), pela Conta de Consumo de Combustível (CCC) e pelo Uso de Bem Público (UBP) – bem

39 Note-se que essa prerrogativa da ANEEL já existe, uma vez que é decorrência inerente ao controle a posteriori previsto pela lei. Como ela tende a ser mais utilizada na nova norma, devido à introdução do instituto da comunicação, entendeu-se por bem explicitá-la na norma, para fins informativos.

Page 12: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 12 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

como de linhas de crédito de fomento. Note-se que as disposições legais que disciplinam essas atividades mitigam em larga medida a probabilidade de a Eletrobras beneficiar suas partes relacionadas.

59. Em suma, considerando o baixo potencial ofensivo das operações citadas, esta proposta visa formalizar o entendimento que tem sido aplicado pela SFF no sentido: (i) do enquadramento de agentes do setor elétrico e instituições financeiras de controlador comum como partes relacionadas e (ii) da dispensa de anuência prévia de operações entre elas, desde que as condições sejam estabelecidas de acordo com aquelas habitualmente pactuadas naquele mercado. 60. Note-se que essa dispensa abarca apenas a dispensa do controle prévio da operação sob o prisma da contratação entre partes relacionadas, não desobrigando essas operações do controle prévio para o oferecimento de direitos emergentes (inclusive recebíveis) e bens vinculados em garantia, quando aplicável. II.3. A dispensa de anuência prévia para contratos decorrentes de licitação prevista pela Lei nº 8.666/93 61. Durante a vigência da REN nº 334, a SFF recebeu uma série de demandas de contratos entre partes relacionadas celebrados por empresas públicas e sociedades de economia mista. Esses agentes se submetem à Lei de Licitações (Lei nº 8.666//93) que, em linhas gerais, é um diploma bastante conservador, impondo uma série de regras e procedimentos a essas empresas. Inclusive, o seu descumprimento enseja severas penalidades de natureza administrativa e criminal. 62. No processo de licitação, caso o agente estabeleça condições mais generosas que às de mercado, a teorica econômica indica que outros agentes disputariam o certame com a parte relacionada que se pretendia beneficiar. De modo oposto, se o edital previsse condições menos interessantes que as de mercado, ou inexistiriam interessados ou o negócio seria benéfico ao agente do setor elétrico. 40

63. Desse modo, o processo licitatório expõe a contratação às forças de mercado, mitigando em alto grau o risco de eventuais contratações não comutativas intragrupo. Por esses motivos, propõe-se a dispensa de anuência para esses casos.

64. Em observância ao princípio da prudência, optou-se por restringir esta dispensa às licitações cujo preço faça parte dos critérios de seleção41.

65. A dispensa proposta também não compreende as contratatações diretas, sintetizadas nos casos de licitação: dispensada (art. 17), dispensável (art. 24) e inexigível (art. 25). Essas contratações não estão sujeitas às pressões competitivas citadas acima, motivo pelo qual o risco de comportamentos oportunistas é muito mais elevado42, inclusive o de transferência de receita entre partes relacionadas. 40 Essa dispensa vale apenas para a contratação cuja contratada não seja delegatária de serviço público. Em caso contrário, seria possível imaginar uma licitação realizada com condições desinteressantes, de modo que apenas a parte relacionada se interessaria, propositadamente fazendo um mau negócio, para transferir receita à contratante, e, assim, maximizando os ganhos do grupo como um todo. 41 Preocupou-se com eventual comportamento oportunista decorrente da utilização do critério de melhor técnica (art. 45, II da Lei nº 8.666/93), uma vez que a análise deste critério pode ser menos objetiva. 42 Conforme se depreende da publicação: Informativo da Gerência da Gestão de Contratos da SEFAZ-AM no site: http://www.sefaz.am.gov.brf, disponível em 15/04/2011.

Page 13: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 13 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

66. Frise-se que, se constatada malversação de recursos públicos durante a instrução processual, o servidor responsável comunicará esse fato ao Superintendente de Fiscalização Econômica e Financeira 43 44, que dará conhecimento aos órgãos controle competentes.

II.4. A dispensa de Contrato de Comercialziação de Energia Elétrica celebrado por concessionária de serviço público de geração de energia elétrica no Ambiente de Contratação Livre 67. Outra dificuldade encontrada pela SFF na aplicação da REN nº 334 diz respeito à comercialização de energia elétrica no Ambiente de Contratação Livre (ACL) entre geradoras em regime de serviço público e suas partes relacionadas (comercializadoras, por exemplo)45, conforme explicado a seguir. 68. A evolução do modelo jurídico-institucional do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) levou a uma progressiva alteração do regime jurídico das concessionárias de serviço público de geração de energia elétrica. Atualmente, esses agentes não possuem tarifa regulada para comercializar sua energia, ressalvada a hipótese de geração distribuída. Dentro das regulamentações da ANEEL, as geradoras podem vender uma parcela dessa energia no Ambiente de Contratação Regulado (ACR), por meio de leilões, e outra parcela no Ambiente de Contratação Livre (ACL).

69. Essa característica única das geradoras – ausência de tarifa regulada, diferentemente dos outros delegatários de serviço público – mitiga o risco de prática de atos financeiros lesivos, com objetivo de requerer, no futuro, um reposicionamento do equilíbrio econômico-financeiro. Isto é, esses agentes possuem o incentivo de vender sua energia para o comprador com maior disposição de pagamento.

70. Somado a esse desincentivo econômico para um comportamento oportunista, deve-se considerar a dificuldade prática de controle prévio da comutatividade dessas operações. A característica principal do ACL é a livre negociação entre as partes, podendo os preços oscilarem em uma banda de significativa amplitude, de acordo com diversos fatores – econômicos, financeiros, hidrológicos, etc. Lembre-se, por fim, que os preços dos contratos celebrados no ACL em cada transação não estão disponíveis ao mercado, uma vez que têm natureza estratégica, e, portanto, são cobertos por sigilo.

II.5. A dispensa de contratos relativos à execução de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento e de Programas de Eficiência Energética que serão submetidos à aprovação da SPE/ANEEL 71. Nos termos da Lei nº 9.991/2000, concessionárias e permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica (art. 1º), concessionárias de geração e autorizadas à produção independente de energia elétrica (art. 2º) e concessionárias de serviço público de transmissão de energia elétrica (art. 3º)

43 A Lei de Licitações e Contratos dispõe: “Art. 113, § 1º Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do disposto neste artigo.” 44 Os servidores do quadro efetivo da ANEEL são regidos pela Lei nº 8.112/90, dessa forma devem cumprir o art. 116, como segue: “Art. 116. São deveres do servidor: (...) VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo; (...) XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.” 45 Ver os Processos nºs. 48500.004823/2011-61, 48500.005542/2011-25, 48500.005541/2011-81 e 48500.005540/2011-36, referentes a CCVEEs celebrados entre a vendedora ENERGEST S.A. e, individualmente, as compradoras Enertrade Comercialização e Serviços de Energia S.A., Pantanal Energética S.A. e Lajeado Energia S.A.

Page 14: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 14 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

estão obrigadas a investir um percentual de sua receita operacional líquida em Programas de Eficiência Energética – EE e de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico – P&D, regulamentados, respectivamente, pelas Resoluções Normativas nº 300, de 12/02/2008, e nº 316, de 13/05/2008. 72. Essas normas prevêem que “haverá auditoria contábil-financeira e fiscalização dos projetos concluídos, quando pertinente, e o reconhecimento dos valores investidos apenas se dará após análise criteriosa dos resultados e gastos comprovados”46 por parte da Superintendência de Desenvolvimento e Eficiência Energética (SPE). Nesse quadro, o risco de uma contratação não comutativa, com ônus excessivo ao agente regulado em favor de uma outra empresa de seu grupo, resta bastante reduzido.

73. Nesse sentido, após a consulta da SFF, em 07 de julho de 2010, por meio do Memorando nº 153/2010-SPE/ANEEL, a SPE informou que, no seu entendimento, esses contratos, quando celebrados entre partes relacionadas, não necessitariam do controle prévio da SFF. 47

74. Logo, esta proposta de Resolução simplesmente formaliza esse entendimento já aplicado pela SFF, explicitando a dispensa de anuência de contratos relacionados a esses projetos.

II.6. A dispensa de contratos relacionados a reforço nas instalações de transmissão autorizado pela ANEEL 75. Os reforços em instalações de transmissão são aprovados por Resolução Autorizativa da ANEEL. Este ato define os preços que serão reconhecidos na tarifa, de acordo com o banco de preços regulatório.

76. Nesse momento, o agente possui a oportunidade de se manifestar no sentido de que o reforço de sua responsabilidade possui elementos extraordinários que justificam valores diferenciados. Se a Superintendência de Regulação dos Serviços de Transmissão (SRT) concordar com o pedido, poderá incrementar o valor que será considerado para aquele reforço.

77. Como somente são reconhecidos na tarifa os valores fixados pela ANEEL, os agentes possuem incentivo econômico para realizar contratações eficientes. De modo oposto, receberiam uma receita inferior aos seus custos.

78. Nesse sentido, considerando que o valor reconhecido pela tarifa já é analisado pela SRT, propõe-se sua dispensa de anuência prévia pela SFF. Note-se que elas permanecem sujeitas ao controle a posteriori. II.7. A dispensa de contratos cujo preço decorra de procedimento definido pelo Poder Público 79. O inciso II do artigo 3º da REN 334 dispensa da obrigação do controle prévio os “contratos cuja elaboração obedeça a regulamento específico da ANEEL, tais como os contratos de conexão e uso dos sistemas de distribuição ou de transmissão e os Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado – CCEAR”.

46 Trecho do Memorando nº 153/2010-SPE/ANEEL. 47 A partir desse momento, a SFF passou a comunicar aos agentes quanto à dispensa desses casos, enquadrando-o no inciso II (“contratos cuja elaboração obedeça a regulamento específico da ANEEL, tais como...”).

Page 15: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 15 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

80. O objetivo deste inciso era dispensar da anuência da ANEEL os contratos entre partes relacionadas cujas cláusulas econômicas eram definidas por metodologia (por exemplo, fórmulas) ou procedimento concorrencial (como leilões de energia no ambiente regulado) exigidos pelo Poder Público, uma vez que não atribuiam margem aos agentes para eventual pactuação de preço não comutativo.

81. No entanto, diversos agentes continuaram submetendo ao controle prévio da ANEEL contratos que, no entendimento da SFF, estariam dispensados por este dispositivo. Constatou-se, portanto, que sua redação não se revelou suficientemente clara para comunicar o objetivo do regulador.

82. Por esse motivo, a nova redação esclarece que estão dispensados “contratos cujo preço decorra de metodologia ou procedimento concorrencial estabelecidos pela ANEEL ou pelo Poder Concedente” e menciona, a título exemplificativo, outros dois contratos além daqueles já citados na REN 334 - os Contratos de Energia de Reserva (CER) e os Contratos de Leilão de Ajuste (CLA).

III – Aprimoramento da disciplina do mútuo intragrupo III.1. A exigência de superávit financeiro 83. O mútuo ativo, por parte de um agente do setor elétrico apresenta um risco considerável, uma vez que ele poderia deixar de investir no serviço público de energia elétrica para contribuir com as finanças de outra empresa que atue no setor elétrico por sua conta e risco ou mesmo em outros setores. 84. Nesse contexto, o art.. 19, II da REN nº 334/2008 prevê que, para um agente do setor elétrico realizar um mútuo ativo, ele deverá demonstrar “a existência de superávit financeiro durante todo o período de vigência do contrato, por intermédio do demonstrativo de fluxo de caixa projetado, baseado em estudo devidamente fundamentado, o qual deverá constituir prova inequívoca do não comprometimento futuro dos investimentos e da situação financeira da mutuante”. 85. A preocupação do regulador por trás desse dispositivo é garantir que o mútuo não comprometa as atividades ordinárias do agente, especialmente sua situação econômico-financeira e o nível de investimentos no serviço de sua responsabilidade.

86. Ao longo dos anos que esse dispositivo foi aplicado pela SFF, percebeu-se o seu excessivo rigor, uma vez que o descasamento de caixa de curto prazo (dias, semanas, poucos meses) é um fenônemo comum na dinâmica empresarial.

87. Por esse motivo, essa proposta atenua essa obrigação, exigindo o superávit financeiro do mutuante no momento do requerimento de anuência (a ser comprovado por meio da projeção do seu fluxo de caixa direto em bases anuais) bem como o superávit anual durante a vigência do contrato.

88. No mais, passa-se a exigir um cronograma físico e financeiro do uso dos recursos.

III.2. O prazo máximo dos mútuos passivos e a legislação do Imposto sobre Operações Financeiras

Page 16: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 16 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

89. O Setor Elétrico compreende agentes econômicos controlados por empresas estrangeiras. Estas, não raramente, remetem capital a juros subsidiados para investimentos em infraestrutura no Brasil. 90. Ocorre que, em 2011, o governo federal alterou a legislação relativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) com objetivo de desestimular o capital especulativo. O Decreto nº 7.457, de 06 de abril de 2011 tributa operações de câmbio, com prazo de até 2 (dois) anos, contratadas para ingresso de recursos no país, referente a empréstimo externo, em 6% - ao invés de 0,38%, alíquota ordinária prevista pelo art. 15-A do Decreto nº 6.306, de 14 de dezembro de 2007. 48

91. Mais recentemente, o Decreto nº 7.683, de 29 de fevereiro de 2012, ampliou o prazo citado para três anos. 49

92. Desta forma, cumpre analisar eventuais riscos da prorrogação do prazo máximo permitido para essas operações. Diferentemente do mútuo ativo, o mútuo passivo com partes relacionadas apresenta um risco reduzido, pois a empresa poderia captar os mesmos recursos de uma instituição financeira, por exemplo, com encargos similares ou, possivelmente, superiores50.

93. Nesse sentido, propõe-se a ampliação do prazo para 4 (quatro) anos para as contratações nas quais os Agentes do Setor Elétrico que atuem em regime de serviço público figurarem na qualidade de mutuários.

94. Propõe-se, adicionalmente, que este prazo não se aplique aos contratos celebrados com instituições financeiras de fomento, conforme exposto no item II.2., uma vez que essas operações costumam ser de longo prazo.

III.3. Simplificação das exigências para a realização de mútuo por parte de Produtores Independentes 95. O art. 19 da REN nº 334/2008 determina que: “Art. 19. Na hipótese de celebração de contratos de mútuos financeiros, as concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviço público de energia elétrica e os produtores independentes de energia elétrica, na condição de mutuantes, com partes relacionadas, observarão as seguintes regras: I – a mutuária deverá destinar os recursos ao serviço público de energia elétrica (...)”

48 Art. 1º O inciso XXII do art 15-A do Decreto nº 6.306, de 14 de dezembro de 2007, passa a vigorar com a seguinte redação: "XXII - nas liquidações de operações de câmbio contratadas a partir de 7 de abril de 2011, para ingresso de recursos no País, inclusive por meio de operações simultâneas, referente a empréstimo externo, sujeito a registro no Banco Central do Brasil, contratado de forma direta ou mediante emissão de títulos no mercado internacional com prazo médio mínimo de até setecentos e vinte dias: seis por cento." (...) 49 Art. 1o O Decreto no 6.306, de 14 de dezembro de 2007, passa a vigorar com as seguintes alterações: “XXII - nas liquidações de operações de câmbio contratadas a partir de 1o de março de 2012, para ingresso de recursos no País, inclusive por meio de operações simultâneas, referente a empréstimo externo, sujeito a registro no Banco Central do Brasil, contratado de forma direta ou mediante emissão de títulos no mercado internacional com prazo médio mínimo de até três anos: seis por cento.” (...) 50 Lembrando que contratos entre partes relacionadas com encargos superiores aos de mercado não seriam anuídos pela ANEEL.

Page 17: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 17 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

96. Em 30 de setembro de 2011, no âmbito de Recurso Administrativo Interposto pela EDP Energias do Brasil S.A. no Processo nº 48500.001610/2007-4851, o Diretor-Relator encaminhou uma determinação à SFF, propondo alteração do inciso citado, “de forma a rever a restrição imposta aos Autoprodutores de Energia Elétrica e Produtores Independentes de Energia Elétrica”. 97. De fato, considerando que o Produtor Independente não exerce serviço público, figurando como mutuária, como poderia destinar seus recursos ao serviço público de energia?

98. No mais, considerando que o Produtor Independente desempenha atividade econômica por sua conta e risco, esta proposta o exclui das disposições específicas relativas a mútuo.

99. Deste modo, o Produtor Independente deverá seguir apenas as Regras Gerais de contratações entre partes relacionadas: (i) a usualidade, (ii) a comutatividade das cláusulas econômicas e financeiras do contrato e, (iii) quando mutuário, a necessidade da operação ao objeto de sua concessão ou autorização.

III.4. Alteração da denominação mútuo financeiro para mútuo pecuniário 100. Em 04 de março de 2009, a Endesa Brasil protocolou seu pedido de esclarecimentos quanto à REN nº 334/200852. Dentre seus questionamentos, indagou se as disposições da Subseção III (“Do Mútuo Financeiro”) se aplicam somente quando a parte relacionada for instituição financeira, uma vez que a denominação “mútuo financeiro” costuma ser utilizada, tecnicamente, para denominar o “mútuo bancário”. 101. Com objetivo de esclarecer que as provisões normativas relativas ao mútuo alcançam qualquer contrato mútuo de recursos entre partes relacionadas (tanto mútuo civil quanto mútuo bancário), esta proposta altera a expressão “Mútuo Financeiro” para “Mútuo Pecuniário”. 53

IV. Aplicabilidade da Resolução à obrigação contratual de aprovação prévia de contratos com diretores, administradores e pessoas jurídicas com gestores comuns 102. Diversos contratos de concessão condicionam ao controle prévio da ANEEL a validade de negócios jurídicos entre a concessionária e seus administradores ou diretores, nos seguintes termos:

Subcláusula Primeira – Serão submetidos ao exame e à aprovação da ANEEL, nas hipóteses, condições e segundo procedimentos estabelecidos em regulamento específico, os contratos, convênios, acordos ou ajustes celebrados entre a CONCESSIONÁRIA e acionistas pertencentes ao seu Grupo Controlador, diretos ou indiretos, e empresas controladas ou coligadas, bem como os celebrados com:

51 O recurso foi interposto contra o Despacho nº 3.960/2009 da SFF, que não anuiu ao Termo Aditivo ao Contrato de Mútuo entre partes relacionadas EDP Energias do Brasil S.A., Bandeirante Energia S.A., Espírito Santo Centrais Elétricas S.A., Castelo Energética S.A., EDP Lajeado Energia S.A., Energest S.A., Enertrade Comercializadora S.A., Investco S.A., Lajeado Energia S.A. e Pantanal Energética Ltda. 52 Documento ANEEL 48512.007540;09-00. 53 De acordo com a Houaiss, “pecuniário” é um adjetivo que pode significar “relativo a dinheiro” ou “que consiste ou é representado em dinheiro”. Fonte: Houaiss online, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=pecuni%E1rio&stype=k&x=0&y=0, último acesso em: 06 de março de 2012.

Page 18: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 18 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

I – pessoas físicas ou jurídicas, que, juntamente com a CONCESSIONÁRIA, façam parte, direta ou indiretamente, de uma mesma empresa controlada; e, II – com pessoas físicas ou jurídicas que tenham diretores ou administradores comuns à CONCESSIONÁRIA.54

103. Cláusulas análogas também constam de contratos de permissão celebrados com cooperativas, como segue:

A PERMISSIONÁRIA fica obrigada a submeter previamente ao exame a aprovação da ANEEL, nas hipóteses, condições e procedimentos estabelecidos em regulamento específico, os negócios jurídicos a serem celebrados entre a PERMISSIONÁRIA e: I – seus administradores e diretores, quando o objeto do negócio seja estranha às competências ou atribuições estatutárias inerentes ao cargo; e II – pessoas jurídicas que possuam diretores ou administradores comuns à PERMISSIONÁRIA.55

104. Essas cláusulas atribuiram aos agentes a obrigatoriedade de submeter à anuência da ANEEL duas modalidades de contratação entre partes relacionadas - com os administradores/diretores ou com empresas com administradores/diretores em comum – nas “hipóteses, condições e procedimentos estabelecidos em regulamento específico”. 105. No entanto, se consultado o regulamento específico sobre partes relacionadas – REN nº 334/2008, verifica-se que inexiste menção expressa aos administradores e diretores, como segue:

Art. 1º Os critérios gerais e específicos para celebração de atos e negócios jurídicos entre concessionárias, permissionárias, autorizadas, seus controladores, suas sociedades controladas ou coligadas e outras sociedades controladas ou coligadas de controlador comum são estabelecidos na forma desta Resolução.

(...) § 2º Os controladores, sociedades controladas ou coligadas e as controladas ou coligadas de controlador comum às concessionárias, permissionárias e autorizadas são, para fins desta Resolução, denominadas partes relacionadas.

106. Do texto normativo, decorrem duas certezas: (i) a REN nº 334 não constituiu, aos seus destinatários, a obrigação de anuência de negócios entre partes relacionadas com administradores ou diretores e (ii) ela não se manifestou, expressamente, a respeito das obrigações de origem contratual aqui citadas. Essa indefinição quanto à aplicabilidade automática do rito da REN 334 à obrigação contratual tem suscitado questionamentos jurídicos no âmbito administrativo. 107. Com relação às permissionárias56, a CERTAJA Energia consultou a Pactum Consultoria Empresarial acerca da existência de obrigatoriedade de requerimento de anuência prévia para que a cooperativa celebre negócios jurídicos com outra cooperativa com administradores em comum. A consultoria

54 Trecho extraído da cláusula 5ª – Obrigações e Encargos da Concessionária do Contrato nº 46/99, assinado em 1999 pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL). 55 Trecho extraído da Subcláusula Primeira da Cláusula Sétima do Contrato de Permissão para Prestação dos Serviços Público de Distribuição de Energia Elétrica nº 015/2008 – ANEEL, de 28 de agosto de 2008. 56 A discussão envolvendo as cooperativas diz respeito somente às permissionárias de serviço público de distribuição.

Page 19: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 19 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

defendeu a inaplicabilidade dos conceitos de coligação e controle para as sociedades cooperativas, uma vez que todos cooperados dispõem de direitos de votos iguais – independente do capital aplicado57.

108. O entendimento da referida Consultoria pela inexistência de obrigação de anuência prévia às cooperativas foi submetido à análise da Superintendência de Fiscalização Econômico-Financeira (SFF) da ANEEL pela Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestrutura (INFRACOOP).

109. Por sua vez, a SFF solicitou a manifestação da Procuradoria Geral da ANEEL (PGE), que opinou pela aplicabilidade da REN nº 334 às cooperativas de eletrificação rural permissionárias de serviço público, de encontro ao pleiteado pela Confederação.58 Segundo a PGE, essas transações têm o condão potencial de transferir receitas das prestadoras de serviço público para outra empresa exposta aos riscos do mercado, podendo, assim, onerar o consumidor final.

110. A partir deste momento, a ANEEL passou a orientar as agências estaduais conveniadas a notificarem as cooperativas pela Não Conformidade (NCs) de haver celebrado contratos com partes relacionadas sem anuência da ANEEL59. Paralelamente, diversas cooperativas passaram a submeter à anuência da ANEEL novas contratações enquadradas nessas hipóteses. 111. Pensando no longo prazo, é necessário conferir maior segurança à matéria, com objetivo duplo: reforçar a existência dessa obrigação às cooperativas bem como fortalecer o embasamento jurídico de processos punitivos instaurados no futuro. 112. Determinadas concessionárias sustentaram que a REN nº 334 teria revogado tacitamente aquelas cláusulas contratuais. Esse entendimento não deve prosperar nem para as permissionárias nem para as concessionárias, como será visto a seguir.

113. Sob uma perspectiva teleológica, os contratos com diretores, administradores ou com sociedades com gestores comuns apresentam exatamente os mesmos riscos daqueles celebrados com coligadas, controladas ou sociedades de controlador comum.

114. Sob uma perspectiva sistemática, chama atenção o fato de que, mesmo após a entrada em vigência da REN nº 334/2008, os atos de outorga seguiram prevendo a obrigação relativa a negócios celebrados com empresas que possuam diretores ou administradores comuns ao agente, como demonstrado pelo Contrato nº 003/2011, celebrado entre a União e a Transnorte Energia S.A.:

57 De acordo com a Lei das Cooperativas (Lei nº 5.764/1971): Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: (...) V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; 58 A íntegra da manifestação do Parecer da Pactum Consultoria Empresarial, da manifestação da INFRACOOP e do Parecer da PGE citado encontra-se acostada aos autos do Processo nº 48500.005277/2010-02. 59 Alguns exemplos são: 1) CERTAJA: TN Nº 003/2011 – DT/AGERGS, de 20/12/2011 e o RG Nº 003/2011 – DT/AGERGS, de 15 de dezembro de 2011; 2) COOPERA: TN de nº 002/2011 e RF nº 002/2011, ambos de 25 de novembro de 2011, emitidos pela AGESC; e 3) CERGAL: TN nº 005/2011 e RF nº 005/2011, ambos de 20 de dezembro de 2011, emitidos pela AGESC.

Page 20: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 20 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

Décima Segunda Subcláusula – São, ainda, obrigações e encargos da TRANSMISSORA: I – Com o Poder Concedente: (...) g – submeter aos controles prévio e a posteriori da ANEEL, conforme o disposto na Resolução Normativa nº 334, de 21 de outubro de 2008, os contratos, acordos ou ajustes celebrados com acionistas controladores, diretos ou indiretos, e empresas controladas ou coligadas, em especial os que versem sobre direção, gerência, engenharia, contabilidade, consultoria, compras, construções, empréstimos, vendas de ações, bem como com pessoas físicas ou jurídicas que façam parte, direta ou indiretamente, de uma mesma empresa controlada ou que tenham diretores ou administradores comuns à Transmissora.

115. Nesse sentido, busca-se positivar uma definição para a questão. A norma proposta não constitui a obrigação de submissão de contratos celebrados com seus administradores, diretores ou pessoas jurídicas com gestores comuns ao controle prévio da ANEEL. Diferentemente, ela apenas define que os agentes que possuem essa obrigação por força de instrumento contratual, devem cumpri-la segundo as hipóteses, condições e procedimentos (inclusive as dispensas) estabelecidas pela Resolução. Em outras palavras, esclarece que esta Norma é o “regulamento específico” mencionado nos atos de outorga.

116. Lembre-se que além da competência legislativa relacionada às partes relacionadas, o art. 3º, I da Lei nº 9.074/95, atribui à ANEEL a competência de “implementar as políticas e diretrizes do governo federal (...), expedindo os atos regulamentares necessários ao cumprimento das normas estabelecidas pela Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995” [estabelece normas para outorga das concessões e premissões de serviços públicos e dá outras providências]. E os próprios contratos de concessão e permissão – que prevêem essa obrigação - fazem menção ao regulamento específico sobre partes relacionadas. 117. Por fim, é de se notar que, devido ao porte reduzido da maioria das cooperativas, boa parte de suas operações tendem a ser dispensadas do controle prévio pelo novo critério de dispensa referente ao valor do contrato – mas permanecerão passíveis de controle a posteriori.

V. Revisão das Regras Gerais e Específicas 118. A REN nº 334 estabelece como regra geral apenas a comutatividade e, como regras específicas aplicacas à aquisição de tecnologia, prestação de serviços e mútuo financeiro, estabelece, entre outras, as obrigações de usualidade, normalidade e necessidade. 119. Na realidade, essas regras deveriam ser aplicadas a todos os contratos entre partes relacionadas, uma vez que contratos em condições anormais ou desnecessários às atividades dos agentes do setor elétrico podem resultar nos riscos apresentados nos parágrafos 8 a 10.

120. Por esse motivo, essas exigências foram transpostas às Regras Gerais, aplicáveis a todos os contratos.60

60 Note-se a exclusão da “normalidade”, uma vez que foi considerada desnecessária face à expressão “usualidade.” Inclusive, de

acordo com uma interpretação gramatical, ambas expressões são sinônimas. (Houaiss online, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=usualidade&stype=k&x=27&y=9. Último acesso em: 06 de março de 2012).

Page 21: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 21 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

121. Outra inovação da norma diz respeito à disciplina do inadimplemento. A REN nº 334/2008 buscava regular o assunto dentro da Subseção III (Do Mútuo Financeiro) da Seção II (Dos Critérios Gerais), nos seguintes termos:

Art. 23. Para fins desta Resolução, considerar-se-à ocorrido mútuo financeiro quando obrigação pecuniária, derivada de contratos em geral, resultar vencida e não for liquidada no prazo normalmente praticado no mercado de bens e serviços objeto do respectivo contrato ao qual a obrigação se refira. Parágrafo único. Aos contratos referidos no caput aplicar-se-á o disposto nos artigos precedentes.

122. Os artigos precedentes (19, 20, 21 e 22) estabelecem uma série de obrigações à mutuante e à mutuária, quais sejam: (i) “os recursos deverão ser destinados ao serviço público de energia elétrica” e (ii) “o encargo financeiro convencionado deverá estar compatível com o praticado no mercado financeiro para contratos em condições similares”, (iii) requisitos de normalidade, usualidade e necessidade vinculado às atividades”; (iv) restrito ao prazo de 2 (dois) anos; e (v) submissão de requerimento inicial. 123. Ocorre que, essas provisões tornam-se inaplicáveis. Por exemplo, o contrato já “nasceria” com uma dívida vencida e não liquidada e os recursos objeto desse “mútuo” já estariam em poder do mutuário, tornando impossível o requerimento de anuência prévia da ANEEL.61 A satisfação das outras exigências também possuíam difícil ou inviável aplicação prática.

124. Em conclusão, apesar de possuir intuito louvável, o dispositivo é em larga medida inaplicável. Além disso, está situado no capítulo de mútuo, o que dificulta a sua comunicação aos agentes.

125. Diante dessas considerações, optou-se por uma nova disciplina do inadimplemento decorrente de contratos entre partes relacionadas, no contexto das Regras Gerais.

126. Propõe-se que o agente seja obrigado a tomar todas as medidas para reaver seu crédito, inclusive o ingresso em juízo, dentro do prazo de 90 (noventa) dias do vencimento da obrigação pecuniária, sob pena de incidência em má gestão dos seus recursos econômico-financeiros.62

VI. Compartilhamento de Infraestrutura e Recursos Humanos 127. O art. 24 da REN nº 334/200863 permite os contratos de compartilhamento de infraestrutura física, desde que sejam respeitadas (i) a individualidade do objeto delegado (se o participante for delegatário de serviço público) e (ii) as regras a respeito do critério do rateio dos custos totais.

61 Problema identificado pela Endesa Brasil, em sua Consulta protocolada sob o nº 48512.007540/2009-00. 62 Nos termos da Resolução Normativa nº 63/2004:

“Art. 6º Constitui infração, sujeita à imposição da penalidade de multa do Grupo I: (...) XI – descumprir as disposições legais, regulamentares ou contratuais relativas à gestão dos recursos econômico-financeiros da concessão, permissão ou autorização;” 63 Art. 24. Os contratos de compartilhamento de infra-estrutura física, quando efetuados por concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviço público de geração, distribuição e transmissão, deverão respeitar a individualidade do objeto delegado. (...)

Page 22: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 22 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

128. Busca-se assegurar a individualização/autonomia das outorgas - estruturas físicas, serviços de manutenção, equipamentos e sistemas de informática - sem contaminação de custos.

129. Importante ressaltar que esta disiciplina de compartilhamento refere-se somente às instalações da administração – edificações, terrenos, recursos de tecnologia da informação etc - não compreendendo os bens vinculados aos serviço concedido, que seguem disciplina regulatória própria. 130. Por sua vez, o art. 27 da REN nº 334/2008 estabelece que “os contratos de compartilhamento envolvendo gastos administrativos, anuídos em caráter excepcional em razão da segregação de atividades estabelecida pela Lei nº 10.848, de 2004, a partir desta Resolução não serão mais admitidos, preservando-se assim a individualidade da concessão/permissão”.

131. Em outras palavras, é vedado o compartilhamento de recursos humanos64, com exceção dos contratos vigentes, que, nos termos da redação original da REN 334/2008, poderiam ser prorrogados por único período de até dois anos, a critério da ANEEL, mediante análise prévia.

132. Esta restrição tinha como objetivo complementar a disciplina legal da desverticalização, evitando o risco de contaminação de custos e de prejuízo à fiscalização da ANEEL, como explicado a seguir:

“[...]12. A desverticalização das atividades de energia elétrica, determinada pela Lei n° 10.848/2004, teve como objetivo gerar maior transparência na atuação dos agentes regulados, inibindo eventual alocação de riscos e custos na atividade, favorecendo assim a atuação fiscalizadora do Poder Concedente, bem como aproximando a Concessionária para os fins a que se destina, vinculando o exercício somente das atividades pertinentes e voltadas exclusivamente ao próprio contrato de concessão.”

133. No entanto, diversos agentes se manifestaram contrários à vedação regulatória ao compartilhamento de recursos humanos. Segundo eles, referido compartilhamento geraria elevados ganhos de eficiência, incluindo: (i) formulação de diretrizes e compartilhamento de melhores práticas de gestão; (ii) obtenção de eficiências capturáveis pela metodologia tarifária; (iii) padronização de processos e metodologias; (iv) ganhos de qualidade no atendimento ao consumidor e (v) viabilização da utilização de profissionais mais qualificados pelos agentes de menor porte.

§ 2º Os custos totais devem ser proporcionalmente distribuídos entre os participantes, de acordo com a fruição de cada um. § 3º O critério para rateio das despesas decorrentes de recursos compartilhados deverá observar os seguintes princípios: I – objetividade e clareza na forma de mensuração; II – natureza de variável diretamente proporcional aos serviços compartilhados, guardando relação direta com estes últimos, na máxima extensão. § 4º Quando do rateio de custos, deverá ser mantido controle auxiliar, por meio de planilhas financeiras específicas, relativas a cada atividade compartilhada, por empresa, de modo a facilitar a verificação de movimentações, cutos, parcelas de rateios e respectivos registro contábeis, permanecendo a documentação disponível para fins de fiscalização da ANEEL. 64 Art. 27. Os contratos de compartilhamento envolvendo gastos administrativos, anuídos em caráter excepcional em razão da segregação de atividades estabelecida pela Lei nº 10.848, de 2004, a partir desta Resolução não serão mais admitidos, preservando-se assim a individualidade da concessão/permissão. Parágrafo único. Permanecem válidos os contratos ou aditivos vigentes, cuja prorrogação por único período e em até dois anos, a critério da ANEEL, deverá ser submetida à análise prévia deste órgão regulador.

Page 23: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 23 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

134. Com objetivo de reexaminar a matéria65, em 14 de dezembro de 2010, a Diretoria Colegiada da ANEEL aprovou a Resolução Normativa nº 423/2010, que, ampliou o prazo de 2 (dois) anos previsto na REN 334/2008 para 3 (três anos), nos seguintes termos:

“Parágrafo único. Permanecem válidos os contratos ou aditivos vigentes, admitida a possibilidade de eventuais prorrogações, as quais somadas não poderão ultrapassar três anos, contados de 07 de dezembro de 2008, e cujos pleitos deverão ser submetidos à análise prévia deste órgão regulador.”

135. Ao longo desses três anos, a ANEEL analisou diversos pedidos de anuência relativos a aditivos a esses contratos e manteve postura conservadora, permitindo somente o compartilhamento de gestores corporativos, nos seguintes termos:

“[...]os gestores corporativos, que são funcionários da holding que formulam políticas e diretrizes a serem seguidas pelas empresas do Grupo econômico visando potencialmente promover a melhoria no processo de gestão das empresas do Grupo, por meio da transferência de conhecimento, padronização de processos, ganhos de qualidade no atendimento ao consumidor e a utilização das melhores práticas administrativas em todas empresas participantes de Grupos econômicos.”

136. Além de apresentar ganhos de eficiência ao mercado, a aprovação desses pedidos baseava-se na captura de parte dessas eficiências, com benefício aos consumidores, nos termos da REN 338/2008:

“(...) 19. Na definição dos custos operacionais regulatórios serão considerados, parcialmente, os ganhos sinérgicos relativos à estrutura central da Empresa de Referência, devido à operação em holding. Serão considerados, em prol da modicidade tarifária, os ganhos sinérgicos relacionados à Diretoria e Presidência, calculando-se os custos com Presidência e Diretores de Assuntos Regulatórios; Financeiro e de Controladoria; de Recursos Humanos e Administrativo, necessários à maior empresa do grupo (incluso os gastos com secretária, motorista e auxiliar administrativo a esses associados e, quando houver, asessor de relações com investidores e controller ligados ao Diretor Financeiro). O custo resultante será dividido proporcionalmente entre todas as concessionárias do grupo de acordo com a relação entre o mercado de cada uma e o mercado total do grupo”.

137. Apesar das eficiências citadas, tais contratos também trazem geram os riscos abordados nos parágrafos 8 a 10. 138. De fato, na prática, a SFF identificou, por diversas vezes, pedidos de anuências prévias relativos a contratos de compartilhamento de recursos humanos que oneravam excessivamente o prestador de serviços públicos, beneficiando outros agentes. Também em fiscalizações a posteriori identificou-se a contaminação de custos com funcionários de outras atividades. 139. Paralelalemente, no fim de 2011, foi aprovada a metodologia do 3º Ciclo de Revisão Tarifária Periódica. Diferentemente do segundo ciclo - cuja metodologia apenas capturava os ganhos do

65 Isso porque caso a ANEEL revisse seu posicionamento e optasse por permitir, mesmo que parcialmente, o compartilhamento de recursos humanos, seriam evitados elevados custos de uma reforma na estrutura organizacional das diversas empresas que, por decorrência do processo de desverticalização, trabalhavam de forma integrada.

Page 24: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 24 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

compartilhamento dos cargos citados no item 19 da REN 338 - a nova metodologia capturará os ganhos decorrentes do compartilhamento de qualquer cargo da administração. 66

140. Além disso, neste ciclo, a correta alocação dos custos se mostra ainda mais importante. Isso porque se um agente de grande porte assumisse os custos de profissionais que prestassem, na prática, serviços também aos agentes de pequeno porte pertencentes ao seu grupo, seu nível de eficiência seria ligeiramente inferior ao real, enquanto os agentes de pequeno porte aparentariam uma eficiência muito superior aos seus pares. Nesse sentido, vem a opinião da SRE, por meio do memorando citado:

7. Para que as análises sejam feitas de forma correta é primordial que os dados contábeis de fato reflitam o custo sob responsabilidade de cada distribuidora. A não observação dessa premissa pode distorcer a análise, atribuindo à determinada distribuidora um nível de eficiência que se deve a uma contabilização imprecisa de seus custos e não à sua maior ou menor eficiência gerencial.

141. Nesse contexto, esta proposta busca viabilizar o compartilhamento de recursos humanos, propiciando assim ganhos de eficiência aos agentes que, futuramente, serão compartilhados com os consumidores. Por outro lado, buscou-se formular salvaguardas que minimizem os riscos potenciais decorrentes dessa prática, conforme será exposto a seguir. 142. O primeiro limite, aplicável a qualquer compartilhamento de recursos humanos, é o temporal: os contratos deverão ser limitados a quatro anos. Assim, permite-se eventual correção de rumo se necessário.

143. A segunda salvaguarda, também aplicável a qualquer compartilhamento de recursos humanos, refere-se à necessidade de o critério de rateio guardar relação com a fruição de cada participante.

66 A partir do 4º ciclo, segundo o Memorando nº 138/2012-SRE/ANEEL, em resposta ao Memorando nº 195/2012-SFF/ANEEL:

“ As metodologias aplicáveis ao terceiro ciclo de revisões tarifárias são definidas no Módulo 2 dos Procedimentos de Regulação Tarifária – PRORET, cujos submódulos foram aprovados pela Resolução nº 457/2011. 2. A definição dos custos operacionais regulatórios no terceiro ciclo será feita em duas etapas: Na primeira serão atualizados os valores definidos por meio do modelo de Empresa de Referência no segundo ciclo considerando-se o crescimento de redes, unidades consumidoras e mercado e deduzidos os ganhos médios de produtividade. Esse valor é utilizado no cálculo do reposicionamento tarifário. 3. Na segunda etapa é realizada uma análise de eficiência comparativa por meio de um modelo de benchmarking. Nessa etapa é definido um intervalo de valores esperados para os custos oeperacionais. Havendo divergência entre o valor definido na Etapa 1 e o intervalo definido na Etapa 2, há uma trajetória para os custos operacionais regulatórios nos reajustes tarifários seguitnes, por meio do Fator X. 4. Na Etapa 1, para mensuração dos ganhos médios de produtividade a serem considerados no tercerio ciclo foram utilizados nas simulações os anos de 2003 a 2009. Na Etapa 2, os níveis de eficiência definidos por meio do modelo de benchmarking são aplicados sobre os Custos Operacionais Contábeis de 2009 e então atualizados para a data da revisão tarifária conforme metodologia definida no PRORET. 5. Desta forma, a nova metodologia de recursos humanos não gera efeito tarifário no terceiro cuclo, passando a ser incorporada para fins de modicidade tarifária a partir do quarto ciclo 6. Independente de qual seja a metodologia adotada no quarto ciclo: nova análise de benchmarking ou mensuração dos ganhos médios de produtividade; os efeitos da redução de custos em razão da nova metodologia de compartilhamento de recursos humanos serão considerados em prol da modicidade tarifária. Isto porque ao se reduzirem os custos contábeis, que é insumo para ambas as metodologias, haverá ganhos maiores de produtividade ou nível médio de eficiência mais elevado.”.

Page 25: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 25 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

144. Mais detalhadamente, o critério de rateio que envolver ao menos uma delegatária de serviço público deverá ser fixado de modo que os preços finais pagos por cada contratante observe a mesma relação que seria verificada entre os preços unitários que seriam pagos por cada um, isoladamente, no mercado.

145. É importante destacar que, apesar de haver uma relação entre o nível de remuneração e o porte das empresas, ela não é linear. Por exemplo, um agente cuja receita seja 100 vezes superior a outro, tende a pagar salários mais elevados que este, mas não na proporção de 100 vezes.

146. Assim, se a SFF entender que as proporções propostas no pedido de anuência de contrato de compartilhamento de recursos humanos são distoantes, poderá requerer que o agente apresente cotações isoladas quanto à contratação daqueles serviços, possibilitando, assim, a apuração da sua proporcionalidade.

147. Especialmente, o compartilhamento de recursos humanos envolvendo delegatário do serviço público de distribuição de energia elétrica deverá observar mais três regras. 148. Primeiro, com relação aos cargos passíveis de compartilhamento, com objetivo de evitar o compartilhamento de pessoal operacional que poderia, em última análise, causar prejuízo à regularidade, e, em última instância, à continuidade do serviço. Nesse sentido, só será admitido o compartilhamento de gestores corporativos e operacionais, que podem ser definidos como:

Gestores corporativos: empregados, em nível de gestão, alocados na holding que controle um Agente do Setor Elétrico, que formulam políticas e diretrizes a serem seguidas pelas empresas do grupo econômico com objetivo de promover a melhoria no processo de gestão das empresas, por meio de transferência de conhecimento, padronização de processos e utilização das melhores práticas administrativas.

Gestores operacionais: empregados, em nível de gestão, alocados em um Agente do Setor Elétrico, que formulam metodologias de característica operacional a serem seguidas pelos demais Agentes do Setor Elétrico pertencentes ao mesmo grupo econômico, com objetivo de promover a melhoria na qualidade dos serviços outorgados, por meio da transferência de conhecimento, padronização de processos e a utilização das melhores práticas produtivas dentro do mesmo segmento do setor elétrico (geração, transmissão ou distribuição).

149. Ressalte-se que os “gestores operacionais” não executam atividades propriamente operacionais67, mas sim de interesse estratégico. 150. Além disso, permanece vedado o compartilhamento de recursos humanos de serviços de operação e manutenção entre atividades distintas, por exemplo: um engenheiro operativo compartilhado por uma empresa de geração e de distribuição. A respeito dessa trava, assim posicionou-se a SRE, no Memorando nº 138/2012-SRE/ANEEL:

8. Outro ponto que contribui para se evitar a má contabilização dos custos operacionais é a limitação imposta pela SFF de haver compartilhamento somente intra-

67 Exemplos dessas atividades seriam ligação de novos clientes, leitura de conta, suspensão de fornecimento e religação, manutenção nas redes, etc

Page 26: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 26 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

atividade, dado que evita a contabilização de um custo de outra atividade desenvolvida pelo grupo econômico nos custos operacionais das distribuidoras. Tal medida limita a assimetria de informação existente no caso em tela e preserva a possibilidade de repasse de eventuais ganhos de compartilhamento de pessoal entre as distribuidoras em benefício da modicidade tarifária”.

151. As outras duas regras aplicáveis ao compartilhamento de recursos humanos realizado por distribuidoras de energia elétrica dizem respeito à observância da estrita individualidade da concessão ou permissão. 152. Primeiro, por meio de um limite financeiro de despesas. Para construir esse limite, a SFF realizou um estudo com base nos dados relativos à Estrutura Central da Empresa de Referência (Base de 2009) do 2º Ciclo de Revisão Tarifária Periódica (2CRTP) construída pela Superintendência de Regulação Econômica (SRE), de 28 distribuidoras, de 7 grupos diferentes.

153. O estudo separou, em cada empresa, os cargos passíveis de compartilhamento, quais sejam, gestores corporativos (sinergia interatividade) e gerentes operacionais (sinergia intra-atividade), com objetivo de avaliar o potencial de compartilhamento que poderia ser admitido sem comprometimento da individualidade das outorgas.

154. Em seguida, realizou-se uma regressão para apurar o potencial de compartilhamento do mercado de distribuição como um todo - levando em consideração a diferença de porte dos agentes analisados.

155. Desse modo, o estudo concluiu pelo limite financeiro de 6% (seis por cento) das despesas com pessoal de cada distribuidora de energia elétrica com compartilhamento de recursos humanos.

156. Observe-se que os gestores corporativos, que atuam em todas empresas do grupo, devem ser alocados na holding do grupo. Os gestores operacionais, por seu turno, poderão ser alocados em uma das concessionárias e prestar serviços às demais que atuem no mesmo segmento econômico (geração ou transmissão ou distribuição), sendo reembolsadas.

157. Note-se que, para fins de padronização, a Resolução exige que o critério use duas variáveis: (i) uma parcela rateada igualmente entre todos contratantes e (ii) outra rateada proporcionalmente à Receita Operacional Líquida (ROL). Assim, facilita-se a aplicação do dispositivo por parte dos agentes e possibilita-se a construção de uma jurisprudência sobre o assunto por parte da ANEEL.68

158. Ato contínuo, buscando assegurar a operação individualizada e independente das distribuidoras, exige-se que o seu quadro próprio, técnico e administrativo, seja suficiente e apropriado para o desempenho de suas atividades, sem prejuízo da prestação de serviço adequado, inclusive supondo qualquer das hipóteses de extinção da outorga previstas pelo art. 35 da Lei nº 8.987/95”.69

68 Isso porque diversos outros critérios poderiam ser imaginados, tais como proporcionalidade com (i) despesas de pessoal; (ii) número de funcionários ou (iii) quantidade de energia comercializada. 69 Art. 35. Extingue-se a concessão por: I - advento do termo contratual;

Page 27: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 27 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

159. A nova Resolução ainda determina mais duas regras aplicáveis a qualquer compartilhamento de gastos administrativos: (i) as despesas decorrentes do compartilhamento não servirão como fundamento para pedido de reequilíbrio econômico financeiro e que (ii) a contrapartida financeira da contratação dar-se-á por meio de notas de débito ou Ordem de Dispêndio de Reembolso (ODR)70.

160. Por fim, dentre as regras de transição, prorrogou-se os prazos dos contratos anteriormente anuídos por mais 120 (cento e vinte) dias, possibilitando que os agentes interessados ingressem com seus pedidos logo após a publicação da norma e eles sejam analisados pela ANEEL dentro deste prazo, de acordo com as regras previstas na nova Resolução.

VII – Contabilização das operações intragrupo 161. O art. 28 da REN nº 334/2008 estabelece que “os bens, direitos e obrigações, bem como receitas, custos e despesas relativos à realização do(s) objeto(s) contratual(is), deverão ser contabilmente controlados em separado pelas concessionárias, permissionárias e autorizadas, de forma a permitir, a qualquer tempo, a identificação dos valores relativos às operações de que trata esta Resolução”. 162. Tendo em vista que o Manual de Contabilidade do Setor Elétrico (MSCE) consolida as regras contábeis do setor, resta desnecessária a previsão de regras contábeis no corpo de Resoluções Normativas, até mesmo para minimizar o risco de antinomias. Desse modo, essa proposta remete a contabilização dessas operações à disciplina do MSCE.71

II - encampação; III - caducidade; IV - rescisão; V - anulação; e VI - falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual. (...) 70 Segundo o Manual de Contabilidade do Setor Elétrico, a ODR “representa um processo de registro, acompanhamento e controle

de valores, que será utilizado para acumular os desembolsos que não representam despesas da concessionária e permissionária, e que serão objeto de reembolso por terceiros”. 71 Atualmente, o MSCE prevê as seguintes contas relativas às partes relacionadas:

(i) ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO – Créditos, Valores e Bens - 121.41.6 – Colgiadas e Controladas ou Controladoras;

(ii) CRÉDITOS DERIVADOS DE NEGÓCIOS NÃO USUAIS DA CONCESSIONÁRIA E PERMISSIONÁRIA – Adiantamentos e Empréstimos – 122.51.6 – Coligadas e Controladas ou Controladoras;

(iii) PASSIVO CIRCULANTE – OBRIGAÇÕES – 211.71.6 – Coligadas e Controladas ou Controladoras; (iv) PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO – OBRIGAÇÕES – CREDORES DIVERSOS – Coligadas e Controladas

ou Controladoras Além disso, o MSCE estabelece uma série de regras esparsas a respeito das partes relacionadas, inclusive com relação a Instruções Gerais, Cadastro e Controle de Bens e Direitos, Notas Explicativas, Provisão para crédito de Liquidação Duvidosa e Balanço Patrimonial. Adicionalmente, a obrigação do Relatório de Informações Trimestrais (RIT) compreende quatro Relatórios Padronizados (RPs) relativos ao assunto – 700, 700.1, 701 e 702:

RP 700 – ANUÊNCIA - CONTRATOS COM PARTES RELACIONADAS SUBMETIDOS A CONTROLE A POSTERIORI – Prestação de Serviços, Tecnologia e outros

RP 700.1 – ANUÊNCIA - CONTRATOS COM PARTES RELACIONADAS SUBMETIDOS A CONTROLE A POSTERIORI – Prestação de Serviços, Tecnologia e outros, excluídos os contratos dispensados de controle prévio consoante inciso IV, do art. 3º, da Resolução Normativa nº 334, de 21/10/2008

Page 28: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 28 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

163. Caso seja identificada a necessidade de criação de regras contábeis adicionais às operações entre partes relacionadas, elas poderão ser incluídas no MCSE, que encontra-se, inclusive, em processo de revisão.72 164. Por fim, a proposta estabelece a obrigação da manutenção de um controle auxiliar específico para suas operações entre partes relacionadas. VIII – Aprimoramento e detalhamento dos aspectos processuais 165. Um elevado percentual dos pedidos de anuência para celebração de contratos entre partes relacionadas são instruídos com documentação insuficiente à análise. 166. Com fins educativos, desde a entrada em vigência da REN 334/2008, o quadro da SFF realizou constantes ligações telefônicas, faxes, ofícios e e-mails solicitando instrução complementar.

167. Esse trabalho – que poderia ser evitado, no caso de os pedidos serem submetidos adequadamente – faz uso intensivo do tempo dos recursos humanos, que poderiam estar analisando outros casos. Esse fato aumenta o prazo de análise das operações, com prejuízos para todos os agentes.

168. Mesmo a SFF tendo passado os últimos 4 (quatro) anos dedicando-se a conscientização da correta instrução, continua frequente o recebimento de pedidos incompletos. Muitas vezes, inclusive, a SFF verificou que representantes de agentes enviaram pedidos carentes de qualquer fundamentação e documentação, levaram meses para encaminhar as informações básicas solicitadas por ofício da SFF e, não obstante, buscaram atribuir à ANEEL à demora na aprovação do pedido. Em outros casos, agentes já alertados pela SFF por diversas vezes quanto à correta instrução processual, continuaram os enviando incorretamente.

169. Não é papel da ANEEL atuar como instância revisória de pedidos formulados sem atenção.

170. É necessário, portanto, que se instaure uma cultura de observância desse dispositivo, com benefícios para a Administração (uso adequado de recursos públicos) e para o mercado, que espera da agência respostas rápidas às suas demandas.

171. Nesse contexto, esta proposta incorpora alguns ajustes na norma, com maior rigor, buscando demandar dos agentes maior atenção ao processo. De um lado, os pedidos instruídos corretamente receberão respostas mais céleres da ANEEL. De outro, pedidos genéricos, sem fundamentação ou documentos comprobatórios necessários, serão arquivados sumariamente, sem análise do mérito. Essa prática já é realizada por diversos órgãos do Poder Público.

RP 701 – ANUÊNCIA - CONTRATOS COM PARTES RELACIONADAS SUBMETIDOS A CONTROLE PRÉVIO - Prestação de Serviços, Tecnologia e outros

RP 702 – CONTRATOS COM PARTES RELACIONADAS SUBMETIDOS A CONTROLE PRÉVIO – MÚTUOS. 72 Item 59 do “Cronograma resumido da Agenda Regulatória Indicativa contendo a programação das atividades da ANEEL para o biênio 2012-2013”, disponível em: http://www.aneel.gov.br/cedoc/aprt20122082_2.pdf. Último acesso em: 6 de março de 2012.

Page 29: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 29 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

172. Com esse procedimento, espera-se que o agente cujo pedido mal formulado foi arquivado sumariamente não repita o mesmo erro no futuro. E os demais agentes, sabendo dessa nova postura da SFF, passem a instruir seus pedidos adequadamente, evitando desperdício dos seus recursos.

173. Destaque-se que o detalhamento dos procedimentos, que havia sido explicitado no Manual de Orientações Gerais sobre anuências prévias disponível no sítio eletrônico da ANEEL, foi incorporado ao texto da Resolução. Assim, a norma define detalhadamente as informações e documentos essenciais à comprovação das regras gerais e específicas.

174. Nesse novo cenário esperado, o pedido de instrução processual complementar por parte da ANEEL somente será utilizado excepcionalmente, solicitando documentos suplementares, pareceres, diligências e perícias, para elucidar pontos complexos ou situações atípicas não cobertas pela documentação básica exigida pela Resolução. 175. Com relação à motivação da decisão do processo de controle prévio, o pedido somente será deferido se o contrato atender às finalidades da Resolução (Capítulo I) bem como às Regras Gerais (Capítulo II) e, quando aplicável, Específicas (Capítulo III) previstas pela Resolução.

176. Note-se que a previsão quanto à motivação da decisão (art. 12 da REN 334) foi alterada, uma vez que, em vista do fenômeno da assimetria de informação, o regulador não possui ferramentas para assegurar que o negócio proposto pelo agente proporciona “o maior benefício aos serviços outorgados e aos consumidores”.

177. Outras mudanças procedimentais dizem respeito a: (i) simplificação quanto ao instrumento de mandato, passando-se, formalmente, a aceitar o cadastro do representante na SGI/ANEEL ou envio de instrumento de mandato em cópia simples e (ii) exigência de envio, por parte do agente, de suas informações de contato atualizadas, no requerimento inicial.

IV – DO FUNDAMENTO LEGAL 178. Esta Nota Técnica fundamenta-se nos incisos I e XIII do art. 3° da Lei n° 9.427, de 26 de dezembro de 1996. V – DA CONCLUSÃO 179. Propõe-se a minuta de Resolução Normaitva anexa, com objetivo de aperfeiçoar o controle de atos e negócios jurídicos entre partes relacionadas no setor elétrico. VI – DA RECOMENDAÇÃO 180. Recomenda-se o encaminhamento desta Nota Técnica e da minuta de Resolução Normativa anexa à Diretoria, para exame do Diretor-Relator.

Page 30: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 30 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

181. Posteriormente, sugere-se o encaminhamento à Procuradoria Geral da Aneel, para exame de conformidade do ato administrativo, bem como a realização de audiência pública, por intercâmbio documental, pelo prazo de 30 (trinta) dias.

182. Durante esse prazo, sugere-se a realização de uma sessão presencial.

GABRIEL MOREIRA PINTO

Especialista em Regulação/SFF FABIANO DE SOUZA

Especialista em Regulação/SFF

ANA LÚCIA DE ANDRADE PASSOS Especialista em Regulação/SFF

EDUARDO JÚLIO DE FREITAS DONALD Assessor/SFF

De acordo:

ANTONIO ARAÚJO DA SILVA Superintendente de Fiscalização Econômica e Financeira

Page 31: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 31 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

ANEXO I – TABELA COM AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PROPOSTAS

REN 334/2008

PROPOSTA

ESTRUTURA DA NORMA

I – Disposições preliminares I.1 – Anuência I.2. – Dispensa I.3 – Fiscalização a posteriori II - Instrução Processual V – Critérios Gerais V.1 – Mérito V.2 - Processo VI – Critérios Específicos VI.1 – Mérito VI.2 - Processo VII – Disposições Finais

I - Finalidade II – Regras Gerais III – Regras Específicas IV - Controles prévio e a posteriori IV.1. Anuência IV.2. Dispensa IV.3. Fiscalização a posteriori V – Instrução Processual

V.1. Aspectos processuais das Regras Gerais V.2 Aspectos processuais das Regras Específicas

VI – Disposições finais e transitórias

FINALIDADE

-

Disciplina os atos e negócios jurídicos entre Agentes do Setor Elétrico e suas Partes Relacionadas, orientada pelos ditames de livre concorrência e manutenção do serviço adequado, com modicidade tarifária, atualidade, eficiência e continuidade.

NEGÓCIOS COM DIRETORES / ADM E

PESSOAS JURÍDICAS COM DIRETORES / ADM

COMUNS

-

Não gera obrigação nova; mas esclarece que os agentes que possuem a obrigação contratual relativa a negócios jurídicos com essas pessoas, devem cumpri-la na forma dessa Resolução (regras, procedimentos, dispensas...).

CONTABILIZAÇÃO DAS

OPERAÇÕES ENTRE PARTES RELACIONADAS

Exigência de controle contábil em separado de bens, direitos e obrigações, bem como receitas, custos e despesas.

Exigência de controles auxiliares; e

Remete ao MSCE

Page 32: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 32 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

REN 334/2008

PROPOSTA

ALTERAÇÃO EM CRITÉRIOS DE

DISPENSA DE ANUÊNCIA PRÉVIA EXISTENTES

Dispensa o conjunto de contratos que atenderem o seguinte:

soma do gasto anual desses contratos seja inferior a 0,5% da ROL anual do agente;

limite apurado em cada ano, compatível com a vigência dos contratos; e

não tenham por objeto o mútuo financeiro.

Dispensa o contrato que atender às seguintes exigências:

valor inferior a R$ 80.000 ou a 0,005% da ROL, o que for maior;

objeto não seja mútuo pecuniário nem compartilhamento de RH;

não consista em fracionamento de um contrato maior; e

seja comunicado em até 15 dias de sua celebração, conforme ficha-modelo anexa.

Contratos cuja elaboração obedeça a regulamento específico da ANEEL, tais como o CUSD, o CUST, o CCD, o CCT e o CCEAR.

Contratos cujo preço decorra de metodologia ou procedimento concorrencial estabelecido pela ANEEL ou pelo Poder Concedente, incluindo o CUSD, o CUST, o CCD, o CCT, CCEAR, e os de Energia de Reserva (CER) e de Leilão de Ajuste (CLA)

NOVAS DISPENSAS DE ANUÊNCIA PRÉVIA

-

CCEAL celebrado por G de serviço público

-

Contratos relativos aos programas de EE e P&D

-

Contratos relativos à execução de reforço em instalações de transmissão autorizados pela ANEEL.

-

Contratos, celebrados por empresa pública ou sociedade de economia mista, decorrentes de licitação regulada pela Lei nº 8.666/93 que utilize o preço como um dos critérios de seleção, desde que o contratado não seja delegatário de Serviço Público.

-

Contratos de financiamento com bancos de fomento do mesmo grupo econômico. Equipara-se a banco de fomento a Eletrobras, na condição de gestora dos fundos setoriais e de linhas de crédito de fomento.

Page 33: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 33 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

REN 334/2008

PROPOSTA

CRITÉRIOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Usualidade, Normalidade e Necessidade são critérios específicos

Necessidade e usualidade tornam-se regras gerais; e

Exclusão da normalidade

Inadimplência deve atender às disposições relativas ao mútuo.

Inadimplência recebe uma disciplina autônoma: vencido o crédito e não liquidado, o credor deverá exigir o imediato pagamento, inclusive, se necessário, ingressando em juizo, dentro do prazo de 90 dias, sob pena de responsabilização por má gestão dos recursos da concessão, permissão ou autorização.

MÚTUO

Denominação Mútuo Financeiro Denominação Mútuo Pecuniário

Critérios específicos aplicam-se a delegatárias de serviço público e aos PIE

Regras específicas aplicam-se apenas a delegatárias de serviço público

Mutuante deve apresentar superávit durante toda a vigência do contrato

Mutuante deve apresentar superávit financeiro anual durante o contrato.

Mútuo passivo limitado a 24 meses Mútuo passivo limitado a 48 meses

COMPARTILHAMENTO DE RECURSOS

HUMANOS

Veda o Compartilhamento de Recursos Humanos, com exceção dos contratos decorrentes da desverticalização, até a entrada em vigor da nova norma

Permite o compartilhamento de recursos humanos, desde que:

com prazo de até 48 meses;

observe o critério de rateio proporcional, disponibilizando cotações isoladas quando requisitado pela ANEEL;

quando envolver distribuidora de energia elétrica:

a) somente poderá envolver gestores corporativos e operacionais; b) total compartilhado inferior a 6% das despesas com pessoal; e c) deverá preservar corpo técnico e administrativo próprio, suficiente e adequado, à continuidade do serviço inclusive em hipótese de extinção da outorga.

Page 34: Nota Técnica no /2012 SFF/ANEEL · controles prévio e a posteriori sobre atos e negócios ... negativos aos demais ... na hipótese de o agente lograr êxito em repassar aos consumidores

(Fl. 34 da Nota Técnica no /2012–SFF/ANEEL, de / /2012)

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

REN 334/2008

PROPOSTA

COMPARTILHAMENTO DE RECURSOS

HUMANOS

- Contratos vigentes poderão ser prorrogados por mais 120 dias, para que possam solicitar anuência de acordo com as regras desta Resolução - Eventuais despesas adicionais não justificarão pedido de reposicionamento do equilíbrio econômico-financeiro.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DE CONTROLE PRÉVIO

A decisão do processo administrativo de controle prévio terá como motivação fundamental proporcionar o maior benefício (i) aos serviços outorgados e (ii) aos consumidores.

A decisão será tomada com fundamento na observância (i) da finalidade da Resolução bem como (ii) das Regras Gerais e, (iii) se for o caso, das Regras Específicas.

-

Menção expressa à possibilidade de arquivamento imediato, na hipótese de o pedido não ser instruído adequadamente

Obrigação de procuração original ou autenticada

Obrigação de procuração cópia simples ou cadastro na SGI/ANEEL

-

Inclusão da exigência de “informações de contato” no requerimento inicial

-

Listagem dos documentos e informações essenciais à comprovação:

da Comutatividade econômica e financeira; e

das Regras específicas para aquisição de tecnologia, compartilhamento de recursos humanos e mútuo financeiro.

CONTROLE A POSTERIORI

-

Menção expressa à possibilidade de a ANEEL expedir ordem de interrupção de negócios jurídicos em execução, inclusive aqueles não formalizados por escrito, no caso de violação das Regras Gerais e Específicas.