nota tÉcnica n°01/2017 departamento jurÍdico … · natureza jurídica de tributo. ... neste...

12
1 NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO SINFFAZFISCO Ementa: Devolução da Contribuição Sindical. Natureza Jurídica de Tributo. Ausência de legislação autorizadora. Inviabilidade. 1. INTRODUÇÃO Em meados de 2009, o Estado de Minas Gerais ajuizou ação de consignação em pagamento (processo nº 0024.09.503.739-6) sob a justificativa de que estaria com dificuldades em identificar quais entidades possuiriam legitimidade para receber o repasse da Contribuição Sindical, descontada de seus servidores e empregados públicos. Segundo argumentação da Administração Pública, existiriam vários sindicatos responsáveis pela representação da categoria de servidores públicos civis estaduais e, assim, referida ação evitaria pagamentos indevidos e dupla cobrança até que ficasse decidido pela Justiça quem seria o destinatário correto do dinheiro. No que diz respeito à Secretaria de Estado de Fazenda (SEF/MG), três sindicatos pleiteavam representação dos servidores das diferentes carreiras, quais sejam: o SINFFAZFISCO, o SINDIPÚBLICOS e o SINDIFISCO-MG. Nesse contexto, após anos de disputa judicial, foi homologado o acordo celebrado entre o SINFFAZFISCO e o SINDIPÚBLICOS e determinada a expedição de alvará referente a Contribuição Sindical dos cargos Gestor Fazendário, Assessor Fazendário I - AS-6, Assessor Fazendário II - AS-7, Assessor Fazendário III - AS-8, Chefe de Administração Fazendária 1 - CH- 12, Chefe de Administração Fazendária 2 - CH-13, Chefe de Administração Fazendária 3 - CH- 14, Coordenador - CH-25, Coordenador Administrativo - CH-26, Gerente de Área 1 - CH-23, para o SINFFAZFISCO. Isso posto, diante do recebimento de valores tão expressivos, surgiu o questionamento sobre a possibilidade do SINFFAZFISCO devolver os valores da Contribuição Sindical para os seus filiados, o que motivou a produção da presente Nota Técnica.

Upload: lamthu

Post on 18-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

1

NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO SINFFAZFISCO

Ementa: Devolução da Contribuição Sindical. Natureza Jurídica de Tributo. Ausência de legislação autorizadora. Inviabilidade.

1. INTRODUÇÃO

Em meados de 2009, o Estado de Minas Gerais ajuizou ação de consignação em

pagamento (processo nº 0024.09.503.739-6) sob a justificativa de que estaria com dificuldades

em identificar quais entidades possuiriam legitimidade para receber o repasse da Contribuição

Sindical, descontada de seus servidores e empregados públicos.

Segundo argumentação da Administração Pública, existiriam vários sindicatos

responsáveis pela representação da categoria de servidores públicos civis estaduais e, assim,

referida ação evitaria pagamentos indevidos e dupla cobrança até que ficasse decidido pela

Justiça quem seria o destinatário correto do dinheiro.

No que diz respeito à Secretaria de Estado de Fazenda (SEF/MG), três sindicatos

pleiteavam representação dos servidores das diferentes carreiras, quais sejam: o

SINFFAZFISCO, o SINDIPÚBLICOS e o SINDIFISCO-MG.

Nesse contexto, após anos de disputa judicial, foi homologado o acordo celebrado entre

o SINFFAZFISCO e o SINDIPÚBLICOS e determinada a expedição de alvará referente a

Contribuição Sindical dos cargos Gestor Fazendário, Assessor Fazendário I - AS-6, Assessor

Fazendário II - AS-7, Assessor Fazendário III - AS-8, Chefe de Administração Fazendária 1 - CH-

12, Chefe de Administração Fazendária 2 - CH-13, Chefe de Administração Fazendária 3 - CH-

14, Coordenador - CH-25, Coordenador Administrativo - CH-26, Gerente de Área 1 - CH-23,

para o SINFFAZFISCO.

Isso posto, diante do recebimento de valores tão expressivos, surgiu o questionamento

sobre a possibilidade do SINFFAZFISCO devolver os valores da Contribuição Sindical para os

seus filiados, o que motivou a produção da presente Nota Técnica.

Page 2: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

2

2. A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL E A SUA NATUREZA JURÍDICA

Visto que o objeto da Nota Técnica é a análise da possibilidade da devolução da

Contribuição Sindical para os filiados do Sinffazfisco, é importante que se defina o seu conceito,

sua previsão legal e a sua destinação.

Instituída pelo Decreto-lei que regulamentou o artigo 138, da Constituição Federal de

1937, e, posteriormente, mantida pelo art. 8.º, inciso IV1, da Carta Magna de 1988, a

Contribuição Sindical é uma obrigação legal que está disciplinada nos artigos 578 a 610 da CLT.

Quanto à cobrança da contribuição sindical dos servidores e empregados públicos, além da

jurisprudência já consolidada à época, essa ficou definitivamente regulamentada pelo Ministério

do Trabalho e Emprego através do Instrução Normativa/MTE n.º 01/2008.

A Contribuição Sindical tem natureza jurídica tributária, conforme artigos 8º, inciso

IV e 1492 da CF/88, sendo modalidade de contribuição social, de interesse das categorias

profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas.

1 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

(...)

IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição

prevista em lei;

2 Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e

de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas

áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição

dos servidores titulares de cargos efetivos da União. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 33, de 2001) I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

III - poderão ter alíquotas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001) a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor

aduaneiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001) b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

Page 3: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

3

A CLT prevê em seu art. 579 a obrigatoriedade de descontos de todos os membros de

determinada categoria econômica ou profissional independentemente de serem associados ou

não.

Art. 579 da CLT:

Art. 579 - A contribuição sindical É DEVIDA POR TODOS AQUELES que

participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma

profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou

profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art.591. (Redação

dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) (Vide Lei nº 11.648, de 2008)

Nas palavras do Ministro Maurício Godinho Delgado:

Derivada de lei e incidindo também sobre os trabalhadores não sindicalizados, a

receita tem indisfarçável matiz parafiscal. (...) sua manutenção na ordem jurídica

foi autorizada pelo Texto Máximo de 1988 (art.8°, IV, in fine: "independentemente

da contribuição prevista em lei") (...) (Delgado, Maurício Godinho. Curso de direito

do trabalho – 15 ed – São Paulo: LTr, 2016. p.1487)

Logo, visto que ela é devida por todos aqueles que participem de uma determinada

categoria, compulsoriamente, independentemente de sindicalização e é derivada de lei, em valor

previamente determinado no inciso I3, do art. 580 da CLT, se encaixa perfeitamente na definição

de tributo prevista no artigo 3º do Código Tributário Nacional, in fine:

Art. 3° do CTN:

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor

nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e

cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Tratando-se a contribuição sindical de espécie da modalidade tributo, em consonância

com o Art. 149 da CF/88 e Art.3° do CTN, essa submete-se ao princípio da legalidade estrita.

Portanto, todos os preceitos referidos em lei precisam ser rigorosamente cumpridos e

as regras de natureza administrativa tributária e os princípios próprios respeitados,

3 Art. 580. A contribuição sindical será recolhida, de uma só vez, anualmente, e consistirá: (Redação dada pela Lei nº

6.386, de 9.12.1976) (Vide Lei nº 11.648, de 2008)

I - Na importância correspondente à remuneração de um dia de trabalho, para os empregados, qualquer que seja a forma da referida remuneração; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

(...)

Page 4: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

4

sob pena de se ferir as características da impessoalidade e generalidade do seu alcance

material.”4

Muitas vezes citada com o nome impróprio de imposto sindical, nos termos do já citado

art. 149 da CF/88, ela ostenta a condição de contribuição social em que a receita obtida vincula-

se ao custeio do sistema sindical.

Ademais, teve sua denominação corrigida definitivamente para contribuição sindical pelo

Decreto-Lei n° 27/1966, que inseriu modificação no art. 2175 do CTN. 6

3. TRIBUTO COMO RECEITA SINDICAL E SUAS IMPLICAÇÕES

Restou demonstrado que a Contribuição Sindical possui a natureza jurídica de tributo7,

logo, tem-se que ela está adstrita às regras gerais de Direito Tributário inerentes aos demais

tributos de mesma categoria.

Dentre os princípios de Direito Tributário que devem observados, tem-se o princípio da

legalidade insculpido no artigo 150, inciso I8, da CR/88 em que se veda exigir tributo sem lei

4 Silva, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado (livro eletrônico): direito coletivo do trabalho

– 1 ed. Vol. 7 – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. P. 76.

5 Art. 217. As disposições desta Lei, notadamente as dos arts 17, 74, § 2º e 77, parágrafo único, bem como a do art.

54 da Lei 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade: (Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966)

I - da "contribuição sindical", denominação que passa a ter o imposto sindical de que tratam os arts 578 e seguintes, da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei 4.589, de 11 de dezembro de 1964;

(Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966) (...)

6 Silva, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado (livro eletrônico): direito coletivo do trabalho

– 1 ed. Vol. 7 – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. P. 76.

7 Segundo Geraldo Ataliba: 1.1 O conteúdo essencial de qualquer norma jurídica é o seu mandamento principal. O conteúdo das normas tributárias, essencialmente, é uma ordem ou comando, para que se entregue ao estado (ou

pessoa por ele, em lei, designada) certa soma de dinheiro. Em outras palavras: a norma que está no centro do direito tributário é aquela que contém o comando: “entregue dinheiro ao estado”. (Ataliba, Geraldo. Hipótese de incidência

tributária – 6 ed. 11. tiragem – São Paulo: MALHEIROS, 2010. p.21)

8 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...)

Page 5: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

5

que o estabeleça. Veja o que escreve Geraldo Ataliba sobre a ligação da obrigação tributária e a

lei:

9.12 “EX LEGE” – A obrigação tributária nasce da vontade da lei, mediante a

ocorrência de um fato (fato imponível) nela descrito. Não nasce, como as

obrigações voluntárias (ex voluntate), da vontade das partes. Esta é irrelevante

para determinar o nascimento deste vínculo obrigacional. (Ataliba, Geraldo.

Hipótese de incidência tributária – 6 ed. 11. tiragem – São Paulo: MALHEIROS,

2010. P.35)

Perceba que a Consolidação das Leis do Trabalho (lei ordinária federal), disciplinou a

Contribuição Sindical, determinando a forma em que deve ser realizado o seu pagamento, o

repasse, e a aplicação da receita sindical. Isso porque, consoante art. 97, inciso III9, do Código

Tributário Nacional (que regulou a Carta Magna), somente a lei pode definir o fato gerador da

obrigação tributária principal e o seu sujeito passivo.

Cabe assinalar que a Contribuição Sindical (denominada erroneamente como imposto

neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no artigo

548 das CLT, in verbis:

Art. 548 - Constituem o patrimônio das associações sindicais:

a) as contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades, sob a denominação de imposto sindical, pagas e arrecadadas na forma do Capítulo III deste Título;

b) as contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas Assembleias Gerais;

c) os bens e valores adquiridos e as rendas produzidas pelos mesmos;

d) as doações e legados;

e) as multas e outras rendas eventuais.

9 Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

(...)

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

Page 6: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

6

Com efeito, para que um sindicato exista, se mantenha e possua condições mínimas de

atuar em prol da categoria que representa, é imprescindível que possua maneiras de custear as

despesas inerentes da luta sindical.

O sindicato possui por missão representar, defender e coordenar os interesses da

categoria que representa, buscando meios de solução dos conflitos coletivos de trabalho, além

de atuar na representação sindical, negociação coletiva, e cumprir diversas funções como, por

exemplo, a negocial, assistencial e de arrecadação.

Segundo definição Alice Monteiro de Barros, “O sindicato tem a prerrogativa de

representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses gerais da

profissão liberal ou da categoria, ou os interesses individuais dos associados relativos à atividade

ou profissão exercida (art.513, a, CLT). Trata-se de uma representatividade legal e não

voluntária, cujos poderes são outorgados ao sindicato pelo Estado, mormente se considerarmos

que, no Brasil, a categoria é a base sobre a qual se constrói a organização sindical.”10

Com tantas atribuições, é natural que o legislador se preocupasse em normatizar a receita

sindical, afinal, todas essas atividades geram custos financeiros, e sem uma forma de

financiamento a defesa dos interesses da categoria ficaria prejudicada.

Frisa-se que referido custeio não tem por objetivo a obtenção de proveito econômico. A

Constituição Federal de 1988, ao determinar o recolhimento da Contribuição Sindical, remeteu

aos Sindicatos tanto o direito-dever de cobrar esse tributo parafiscal, como a obrigação de

reverter seu uso em prol de toda a categoria.

Dada sua característica peculiar, visto que é uma contribuição especial (ou parafiscal),

na subespécie contribuição profissional, derivada de lei, compulsória e de natureza jurídica

tributária, foi prevista no art. 592 da CLT a sua destinação:

Art. 592 - A contribuição sindical, além das despesas vinculadas à sua arrecadação, recolhimento e controle, será aplicada pelos sindicatos, na conformidade dos respectivos estatutos, usando aos seguintes objetivos: (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976) (Vide Lei nº 11.648, de 2008)

(...)

10 Barros, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho – 10 ed. – São Paulo: LTr, 2016. p.806

Page 7: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

7

II - Sindicatos de empregados: (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

a) assistência jurídica; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

b) assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

c) assistência à maternidade; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

d) agências de colocação; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

e) cooperativas; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

f) bibliotecas; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

g) creches; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

h) congressos e conferências; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

i) auxílio-funeral; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

j) colônias de férias e centros de recreação; (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

l) prevenção de acidentes do trabalho; (Incluída pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

m) finalidades deportivas e sociais; (Incluída pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

n) educação e formação profissicinal. (Incluída pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

o) bolsas de estudo. (Incluída pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

(...)

§ 1º A aplicação prevista neste artigo ficará a critério de cada entidade, que, para tal fim, obedecerá, sempre, às peculiaridades do respectivo grupo ou categoria, facultado ao Ministro do Trabalho permitir a inclusão de novos programas, desde que assegurados os serviços assistenciais fundamentais da entidade. (Redação dada pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

§ 2º Os sindicatos poderão destacar, em seus orçamentos anuais, até 20% (vinco por cento) dos recursos da contribuição sindical para o custeio das suas atividades administrativas, independentemente de autorização ministerial. (Incluído pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

§ 3º O uso da contribuição sindical prevista no § 2º não poderá exceder do valor total das mensalidades sociais consignadas nos orçamentos dos sindicatos, salvo autorização expressa do Ministro do Trabalho. (Incluído pela Lei nº 6.386, de 9.12.1976)

Page 8: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

8

Perceba que a aplicação dos valores provenientes da Contribuição Sindical é vinculada

às atividades essenciais do sindicato. Afinal, sua própria denominação já confere a

destinação prevista em Lei e, portanto, a sua atuação deve se restringir a assuntos correlatos a

sua área: a sindical.

Valentin Carrion discorreu sobre essa característica peculiar da referida Contribuição:

A contribuição sindical que não recaia sobre toda a categoria, descaracteriza o interesse geral de seus membros e convida ao egoísmo individual de abandonar o sindicato em massa para não arcar com o débito, tal como ocorreu em alguns países, como por exemplo a Espanha.11

Ora, se à Contribuição Sindical foi atribuída a natureza jurídica de tributo, na espécie

contribuição parafiscal, ao Sindicato resta a responsabilidade de arcar com o ônus de vincular

sua receita às suas atividades essenciais.

Frisa-se que a natureza jurídica tributária da citada verba não permite que o sindicato

“ao seu bel prazer” disponha dos recursos provenientes de sua arrecadação, sem respeitar a sua

destinação legal.

Ressalta-se que a contribuição sindical e a contribuição confederativa são distintas, sendo

esta determinada em assembleia geral da associação sindical e com caráter compulsório apenas

para os filiados da entidade, não sendo considerada um tributo. Nesse sentido o Supremo

Tribunal Federal editou a súmula n°. 66612 do STF que posteriormente foi transformada na

Súmula Vinculante n°. 4013.

Por conseguinte, não deve haver diferenciação na utilização dos recursos da Contribuição

Sindical para os sindicalizados ou não sindicalizados. Citado tributo deve ser destinado para

aquelas atividades essenciais do sindicato, que favoreçam toda a categoria.

11 Carrion, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho - 23 ed. - São Paulo: Saraiva, 1998. p. 448.

12 A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato

respectivo.

13 A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

Page 9: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

9

Ademais, a concessão de benefícios ou incentivos de natureza tributária deve se dar por

meio de lei, de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo, titular e responsável pela

representação da entidade pública concedente do benefício.

Com efeito, se apenas por lei se pode criar e instituir tributos de competência federal,

somente por lei se pode abdicar de receber valores correspondentes. É a aplicação integral

da norma decorrente do artigo 150, §6º, da Constituição Federal.

Artigo 150, §6º, da Constituição Federal

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

Portanto, ao cogitar a devolução de referidos valores que possuem natureza jurídica de

tributo sem que haja para tanto legislação nesse sentido, deve-se ter plena consciência de

que se está cometendo uma inconstitucionalidade.

4. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMO FORMA DE FORTALECIMENTO DO SINDICATO

É inegável que que todas as vezes que o ente sindical negocia com o empregador ou

sociedade, representando sua categoria, os benefícios frutos da negociação não ficam adstritos

aos seus filiados/associados. Assim, como é notória a sua característica tributária, sendo

descontada compulsoriamente de todos os integrantes de determinada categoria.

Independentemente da vontade do Sindicato, as benesses obtidas na luta sindical são

estendidas a todos os profissionais que fazem parte de uma mesma categoria, sem distinção,

ainda que não sejam sindicalizados. Pois, consoante determinação do texto constitucional, cabe

ao Sindicato “a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive

em questões judiciais ou administrativas”, portanto, indistintamente.

Por conseguinte, indissociável a Contribuição Sindical da manutenção do Sindicato ou do

fortalecimento do trabalho de representatividade da categoria perante o empregador/sociedade.

Page 10: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

10

Visto que para a construção de um Sindicato forte, atuante e representativo, necessário que

esse possua força para implementar as políticas indispensáveis para conseguir os objetivos da

categoria que representa.

5. OBSERVAÇÕES FINAIS

Salienta-se que, ainda que hipoteticamente, seja determinada a devolução da

Contribuição Sindical no caso em análise, apesar da inconstitucionalidade e ilegalidade latente,

é importante que se observe que toda a categoria deverá ser beneficiada com a restituição.

Não é crível que ela seja devolvida apenas para os filiados do Sinffazfisco, enquanto os

descontos são efetuados compulsoriamente dos contracheques de toda a categoria, eis que tal

atitude é ofensiva aos princípios da isonomia e da proporcionalidade, além do princípio da

razoabilidade.

Veja que o princípio da isonomia, consagrado no art. 5º, caput14, da CF/88, e basilar em

nosso ordenamento jurídico veda essas diferenciações arbitrárias. Para que fossem consideradas

não discriminatórias, seria indispensável que houvesse uma justificativa objetiva e razoável, de

acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, para tal atitude e, como não

há, seria uma inconstitucionalidade.

Como sabido, deve haver uma harmônica e razoável relação de proporcionalidade entre

a finalidade e efeitos da medida considerada, sempre se respeitando os direitos e garantias

constitucionalmente protegidos e, no caso em análise não se observa uma finalidade

razoavelmente proporcional ao fim visado.

Ademais, destaca-se que nas palavras de Limongi França: "Enriquecimento sem causa,

enriquecimento ilícito ou locupletamento ilícito é o acréscimo de bens que se verifica no

patrimônio de um sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento

jurídico".15 Portanto, referida restituição parcial “para apenas parte da categoria” configuraria

cristalino enriquecimento ilícito dos filiados do Sinffazfisco visto que não deram causa para o

recebimento desses valores.

14 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: (...)

15 França, R. Limongi. Enriquecimento sem Causa. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1987.

Page 11: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

11

6. CONCLUSÕES

Por todo exposto, considerando-se que a Contribuição Sindical:

a. Está prevista no art. 8.º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988 e disciplinada

nos artigos 578 a 610 da CLT;

b. Consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do ente sindical, conforme art.

548 das CLT;

c. Possui natureza jurídica de tributo (art. 149 da CF/88 e art. 3° do CTN) e é

compulsoriamente devida por todos aqueles que participam de uma determinada

categoria, independentemente de sindicalização (art. 578 da CLT) e, portanto,

submete-se ao princípio da legalidade estrita;

d. Sendo tributo, sua aplicação é vinculada às atividades essenciais do sindicato;

e. O seu emprego deve beneficiar a categoria como um todo, sem que haja distinção

de qualquer integrante em particular.

f. Somente por lei que regulasse exclusivamente a Contribuição Sindical se poderia

abdicar de receber valores correspondentes, consoante artigo 150, §6º, da

Constituição Federal.

g. É indissociável do fortalecimento do trabalho de representatividade da categoria

perante o empregador/sociedade.

h. Ainda que hipoteticamente, seja determinada a devolução da Contribuição Sindical

no caso em análise, apesar da inconstitucionalidade e ilegalidade latente, é

importante que se observe que toda a categoria deverá ser beneficiada com a

restituição, sob pena de ofensa aos princípios da isonomia, razoabilidade e

proporcionalidade.

Conclui-se que admitir qualquer outra destinação para Contribuição Sindical (que nada

mais é que dinheiro público fruto de tributação que possui como beneficiário o Sindicato),

daquela determinada na legislação, configuraria uma ilegalidade e inconstitucionalidade,

pois iria contra a intenção e finalidade da Carta Magna e CLT.

Ademais, consoante artigo 150, §6º, da Constituição Federal, somente por lei que

regulasse exclusivamente a renúncia da Contribuição Sindical se poderia abdicar de receber os

Page 12: NOTA TÉCNICA N°01/2017 DEPARTAMENTO JURÍDICO … · Natureza Jurídica de Tributo. ... neste caso) consiste em uma das formas de custeio e patrimônio do sindicato previstas no

12

valores correspondentes, e, portanto, qualquer decisão nesse sentido, sem legislação

autorizadora, seria inconstitucional.

Isso posto, salvo melhor juízo, eventual devolução da Contribuição Sindical para os

filiados, pelo Sinffazfisco, ressalta-se, ainda que aprovada pela Assembleia Geral e pelo Conselho

Fiscal, seria inconstitucional e ilegal.

É o que se tem a esclarecer e orientar quanto ao tema.

Belo Horizonte, 27 de abril de 2017.

Departamento Jurídico do Sinffazfisco Bárbara Macedo

OAB/MG: 143.834