tributo a milton santos

Upload: maialu-bistriche

Post on 09-Jul-2015

1.501 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Milton Santos

1

2

Milton Santos

Milton Santos

3

MILTON SANTOS

"Estamos convencidos de que a mudana histrica em perspectiva provir de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os pases subdesenvolvidos e no os pases ricos; os deserdados e os pobres e no os opulentos e outras classes obesas; o indivduo liberado partcipe das novas massas e no o homem acorrentado; o pensamento livre e no o discurso nico. Os pobres no se entregam e descobrem a cada dia formas inditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento j est plantada e o passo seguinte o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia."

Milton Santos em Por Uma Outra Globalizao Do Pensamento nico Conscincia Universal

Textos compilados e formatados por: Eduardo Dutenkefer em dezembro de 2002 e janeiro de 2003 dos sites: http://www.madson.hpg.ig.com.br/index.html (acesso em 5/12/2002); http://geocities.yahoo.com.br/jorgematheus2002/mst.html (acesso in 9/12/2002); Portal Milton Santos em: http://www.campinas.sp.gov.br/portal_milton_santos/principal.htm (acesso em 26/08/2002); http://www.gilbertogil.com.br/santos/milton_0.htm (acesso em 22/08/2002) entre outros

4

Milton Santos

Milton Santos

5

PARTE I - SOBRE MILTON SANTOS (ARTIGOS E RESENHAS)

MILTON SANTOS: ASPECTOS DE SUA VIDA E OBRA Wagner Costa Ribeiro MILTON SANTOS: INTELECTUAL, GEGRAFO E CIDADO INDIGNADO Marcos Bernardino de Carvalho UN PENSAMIENTO SOBRE LA CIUDAD: ALGUNAS REFLEXIONES Ana Fani Alessandri Carlos MILTON SANTOS EN NEUQUN, ARGENTINA UNA PRESENCIA QUE MARC RUMBOS Mara Nlida Martinez A REGIO COMO PROBLEMA PARA MILTON SANTOS Ina Elias de Castro MILTON SANTOS: A TRAJETRIA DE UM MESTRE Maria Auxiliadora da Silva MILTON SANTOS: A CONSTRUO DA GEOGRAFIA CIDAD Denise Elias GLOBALIZAO E GEOGRAFIA EM MILTON SANTOS Wagner Costa Ribeiro CONTINUAR Y SUPERAR A MILTON SANTOS Horacio Capel POR OUVIR DIZER E POR QUERER SABER: CONVERSANDO COM MILTON SANTOS Maria Adlia Aparecida de Souz MILTON SANTOS, CIDADO DO MUNDO Odette Seabra UM CAF COM MILTON SANTOS Fernando Conceio A SOMBRA DO SEU SORRISO Sueli Carneiro MESTRE DE VERDADE Jos Antonio Toledo A CONTRIBUIO DE MILTON SANTOS PARA A GEOGRAFIA Francisco Scarlato MILTON SANTOS, COMBATENTE INTELECTUAL Jair Borin RESENHA POR UMA OUTRA GLOBALIZAO Jos Lus Fiori GLOBALIZAO: DO DESPOTISMO EMANCIPAO? Zander Navarro O MILITANTE DE IDIAS Raquel Aguiar pg. 95 pg. 93 pg. 90 pg. 89 pg. 88 pg. 86 pg. 84 pg. 81 pg. 79 pg. 74 pg. 64 pg. 56 pg. 47 pg. 38 pg. 33 pg. 27 pg. 22 pg. 14 pg. 11

6

Milton Santos

MILTON SANTOS: POR UMA OUTRA GLOBALIZAO - A DE TODOS Dlio Mendes VIVE MILTON SANTOS Jlia Andrade A GRANDE MUTAO MILTON SANTOS REINTERPRETA O FENMENO DA GLOBALIZAO Jos Lus Fiori SOBRE OS LUGARES DO MUNDO: FALANDO DOS SANTOS Maria Adlia Aparecida de Souza DISSERTANDO MILTON SANTOS Pablo A. Maurutto OS MIL... TONS DE MILTON SANTOS Ariovaldo Umbeiro de Oliveira A GENTE NO MORRE, ENCANTA Fbio Gomes Pinto Rodrigues MILTON SANTOS: AMIGO, MESTRE, COMPANHEIRO!!! Emir Sader MAIS QUE UM MESTRE, UM AMIGO Autor(a) Desconhecido(a) MILTON SANTOS A FORA DA PTRIA Procpio Mineiro MINHAS LEMBRANAS DE MILTON SANTOS Sebastio Nery MILTON SANTOS: O SILNCIO SEM GEOGRAFIA Marilene Felinto MILTON SANTOS UNE GEOGRAFIA E REFLEXO HAROLDO CERAVOLO SEREZA MILTON SANTOS MORRE DE CNCER AOS 75 Folha de So Paulo LIVROS E TTULOS 'HONORIS CAUSA' Folha de So Paulo UM FILSOFO DA GEOGRAFIA AZIZ AB'SABER GEOGRAFIA MORAL Cristvam Buarque O TEMPO, NO ESPELHO DO ESPAO (MUNDO) www.clubemundo.com.br pg. 132 pg. 130 pg. 129 pg. 126 pg. 123 pg. 121 pg. 120 pg. 118 pg. 116 pg. 114 pg. 113 pg. 111 pg. 111 pg. 109 pg. 107 pg. 104 pg. 103 pg. 99

Milton Santos

7

PARTE II ARTIGOS PUBLICADOS NO JORNAL FOLHA DE SO PAULO (1999-2001)

OS DEFICIENTES CVICOS - 24/01/99 O CHO CONTRA O CIFRO - 28/02/99 O PAS DISTORCIDO - 02/05/99 A VONTADE DE ABRANGNCIA - 20/06/99 GUERRA DOS LUGARES - 08/08/99 A NORMALIDADE DA CRISE - 26/09/99 UMA METAMORFOSE POLTICA - 17/10/99 NAO ATIVA, NAO PASSIVA - 21/11/99 O RECOMEO DA HISTRIA - 09/01/00 DA CULTURA INDSTRIA CULTURAL - 19/03/00 SER NEGRO NO BRASIL HOJE - 07/05/00 REVELAES DO TERRITRIO GLOBALIZADO 16/07/00 ALTOS E BAIXOS NA POLTICA - 01/10/00 O TEMPO DESPTICO DA LNGUA UNIVERSALIZANTE - 05/11/00 O NOVO SCULO DAS LUZES - 14/01/01 ELOGIO DA LENTIDO - 11/03/01

pg. 137 pg. 139 pg. 141 pg. 143 pg. 145 pg. 147 pg. 149 pg. 151 pg. 153 pg. 155 pg. 157 pg. 160 pg. 162 pg. 164 pg. 167 pg. 169

PARTE III - OUTROS ARTIGOS

POR UMA GEOGRAFIA CIDAD: POR UMA EPISTEMOLOGIA DA EXISTNCIA Boletim Gacho de Geografia - Agosto de 1996 O LUGAR E O COTIDIANO INTRODUO DO LIVRO "A NATUREZA DO ESPAO" DO MEIO NATURAL AO MEIO TCNICO-CIENTFICO-INFORMACIONAL Do livro "A Natureza do Espao - Abril de 1998 POR UM MODELO BRASILEIRO DE MODERNIDADE Jornal da Cincia 17 de Outubro de 2000 O INTELECTUAL ANNIMO Expresso Vida QUE PARLAMENTO PARA O SCULO XXI? DESAFIOS E PERSPECTIVAS FRENTE MUNDIALIZAO Discurso feito na Cmara dos Deputados por ocasio da mesa "Que Parlamento para o Sculo XXI? Desafios e Perspectivas frente Mundializao" pg. 201 pg. 199 pg. 197 pg. 190 pg. 181 pg. 175

8

Milton Santos

A UNIVERSIDADE: DA INTERNACIONALIDADE UNIVERSALIDADE Discurso de aceitao do ttulo de professor Honoris Causa na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 24 de setembro de 1999. CONFERNCIA MAGNA DR. MILTON SANTOS USP - I SEMINRIO NACIONAL - SADE E AMBIENTE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO - 12 - 07 00 A TRANSIO EM MARCHA sites.uol.com.br/isabelapa/geral/5miltonsantos.htm acesso in 30/08/2002) pg. 214 pg. 207 pg. 205

PARTE IV - ENTREVISTAS

UM OLHAR DISSONANTE Folha de So Paulo - 07/03/00 GRANDES EMPRESAS DOMINAM POLTICA, DIZ MILTON SANTOS Folha de So Paulo - 08/01/01 O BRASIL (SEGUNDO MILTON SANTOS) Folha de So Paulo - 02/02/01 GEGRAFO ATACA O USO POLTICO DE ESTATSTICAS Folha de So Paulo - 27/03/01 A UNIVERSIDADE SE BUROCRATIZOU Jornal do Brasil - 27/08/2000 ENTREVISTA COM MILTON SANTOS por Carlos Tibrcio e Silvio Caccia Bava - 28/06/01 MILTON SANTOS: PENSAMENTO DE COMBATE por Cludio Cordovil ENTREVISTA COM MILTON SANTOS: "O SONHO OBRIGA O HOMEM A PENSAR" por Maurcio Silva Junior - Boletim da UFMG ENTREVISTA MILTON SANTOS por Jos Corra Leite Revista Teoria & Debate - fev/mar/abr de 1999 ENTREVISTA MILTON SANTOS Revista Caros Amigos - Agosto de 1998 UM ENCONTRO Gilberto Gil e Milton Santos - 01/08/1996 MILTON SANTOS Revista Democracia Viva n0 2 fev. 98 NO SOU MILITANTE DE COISA NENHUMA, EXCETO DE IDIAS Revista ADUSP junho 1.999 AT SEMPRE, MILTON Revista ADUSP setembro 2.001 pg. 320 pg. 312 pg. 289 pg. 281 pg. 267 pg. 258 pg. 256 pg. 253 pg. 246 pg. 243 pg. 241 pg. 238 pg. 235 pg. 231

Milton Santos

9

PARTE I SOBRE MILTON SANTOS (ARTIGOS E RESENHAS)

10

Milton Santos

Milton Santos

11

MILTON SANTOS: ASPECTOS DE SUA VIDA E OBRA

Wagner Costa Ribeiro - Departamento de Geografia - Universidade de So Paulo

Discutir

a

obra

de

um

intelectual

com

as

da priso carregava consigo uma deciso: era preciso partir. O gegrafo ganhava o mundo. O comeo de sua carreira internacional forada ocorreu na Frana, onde trabalhou em diversas universidades, como as de Toulouse (1964-1967), de Bourdeaux (1967-1968) e de Paris (19681971). Durante esses anos realizou estudos sobre a geografia urbana dos pases pobres e produziu vrios livros como Dix essais sur les villes des pays-sous-dvelops (1970), Les villes du Tiers Monde (1971) como e O L'espace espao partag dividido: (1975, os dois traduzido

qualidades de Milton Santos exige um esforo coletivo e abrangente. Coletivo dada a diversidade de disciplinas que fazem uso de suas idias. Abrangente graas aos diversos aspectos que ela abordou durante uma carreira que alcanou mais de 50 anos. Esta srie de artigos apresenta uma viso panormica da produo indicar do seus gegrafo marcos brasileiro procurando

temticos e tericos. Falar da obra de um homem falar do prprio homem. Por isso alguns dos artigos abordam passagens da vida de Milton Santos que marcaram os autores dos trabalhos. Nascido em Brotas de Macabas, no interior da Bahia, em 03 de maio de 1926, esse brasileiro ganhou o mundo por razes alheias a sua vontade. Porm, soube manter seus olhos nos arranjos sociais contemporneos para construir uma teoria original que serve interpretao do mundo que parte da geografia, do territrio, envolvendo os habitantes dos lugares. Embora tivesse concludo o curso de Direito em 1948, Milton Santos ministrava aulas de Geografia no ensino mdio na Bahia. Da seu interesse pela disciplina que o lanou ao mundo das idias e da reflexo poltica. Em 1958 obteve na seu ttulo de de Doutor em Geografia, Universidade Strasbourg

circuitos da economia urbana, em 1978). Este ltimo marca a expresso de uma de suas idias originais: a existncia de dois circuitos da economia. O primeiro constitudo pelas empresas, pelos bancos e firmas de seguros, ao qual chamava de rico. O segundo expressado pela economia economia. Da Frana partiu para vrios outros pases, vivendo de maneira itinerante e como professor convidado. Atuou em centros universitrios, da Amrica do Norte (Canad, University of Toronto 1972-1973; Estados Unidos, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge - 1971-1972 e Columbia University, Nova York - 1976-1977), da Amrica Latina (Peru, Universidad Politcnica de Lima - 1973; Venezuela, Universidad Central de Caracas - 1975-1976) e da frica (Tanznia, University of Dar-es-Salaam - 1974-1976). Seu retorno ao Brasil decorreu de um acontecimento especial ao gegrafo baiano: a gravidez de sua segunda esposa, Marie Hlene Santos. Milton queria que seu segundo filho, Rafael dos Santos, nascesse baiano, como seu primognito, o economista Milton Santos Filho, que faleceu poucos anos antes que o pai. Em 1978 estava de volta vida universitria brasileira. Mas trazia na bagagem uma obra que marcou sobretudo aos gegrafos marxistas do informal, por meio do comrcio ambulante e dos demais circuitos pobres da

(Frana), passando a ensinar na Universidade Catlica de Salvador e, depois, na Universidade Federal da Bahia, na dcada de 1960. Sua habilidade com as palavras e seu texto vigoroso rendeu-lhe a participao em jornais, como A Tarde, em Salvador na dcada de 1960 e, na de 1990, na Folha de S. Paulo, em So Paulo. Homem de ao poltica, aceitou o convite para participar de governos no incio da dcada de 1960 que culminou com sua priso em 1964 por ocasio do golpe de estado implementado pelos militares ao Brasil. Foram 3 meses difceis. Ao sair

12

Milton Santos

pas:Por uma geografia nova, que foi traduzida para vrios idiomas em diversos pases. Neste trabalho Milton Santos preconiza uma geografia voltada para as questes sociais. Entre 1978 e 1982 trabalhou como professor visitante na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo - USP. Atuou tambm como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, onde permaneceu at 1983. Em 1983 ingressa em uma nova instituio de ensino e pesquisa: o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP, onde organizou congressos, ministrou alunos. A produo intensa desenvolvida no Departamento de Geografia da USP resultou na indicao para receber o prmio Vautrin Lud, que considerado o Prmio Nobel no mbito da Geografia. Em 1994 Milton Santos foi o primeiro intelectual de um pas pobre e o primeiro que no tinha o ingls como lngua ptria agraciado com tal distino. O prmio internacional Milton promoveu Santos no um Brasil. redescobrimento de aulas na graduao e na psgraduao, pesquisou, produziu livros e formou

cincia(Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura, em 2000). Ampliou tambm sua srie de honrarias universitrias como os ttulos de Doutor Honoris Causa em universidades como a Universit de Toulouse (1980), Universidad de Buenos Aires (1992), Universidad Complutense de Madrid (1994), Universidad de Barcelona (1996), entre tantas outras, incluindo mais de uma dezena no Brasil, onde ainda recebeu o ttulo de professor Emrito em 1997. Conheci o professor Milton Santos em Paris, por ocasio de uma visita de estudos, em 1988. Naquele ano o professor tambm estava pesquisando na Frana e me recebeu em sua casa, sem nunca termos nos falado antes, a partir de em telefonema. De maneira direta indicou colegas franceses que me receberam com muita ateno, grande parte deles ex-alunos de Milton. A partir da recebi seu renovado apoio em diversas ocasies, como quando solicitei artigos para publicaes da Associao dos Gegrafos Brasileiros - AGB, entidade que presidiu, ou quando aceitou vrios convites para participar em eventos cientficos ou ainda quando compareceu homenagem que lhe foi concedida pelo Centro Interunidades de Histria da Cincia da USP, na qual participei diretamente, em 1996. Esta reunio de artigos mais uma homenagem a Milton Santos, cuja obra merece uma leitura e avaliao crtica mais ampla que a promovida aqui. Entretanto, diversos aspectos das idias de Santos foram analisados nesta srie de textos produzidos por gegrafos da Argentina, do Brasil e da Espanha. Marcos Bernardino, professor da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, destaca um tema central na obra de Milton Santos: o cidado, comentando inclusive o engajamento poltico do autor. Ana Fani Carlos da USP, ressalta a articulao entre o local e o global promovida por Milton Santos em seus estudos sobre o urbano. da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo,

Passou a ser requisitado por rgos de imprensa para entrevistas e depoimentos. Mas mantinha seu senso crtico a isso, afirmando que "um intelectual no pode falar todos os dias. preciso tempo para amadurecer as idias". Depois de 1994 sua vida foi marcada pelo reconhecimento de sua produo como gegrafo e intelectual crtico. Recebeu, entre outras premiaes, o de Mrito Tecnolgico (Sindicato de Engenheiros do Estado de So Paulo, em 1995), Personalidade do Ano (Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro, em 1997), 11 Medalha Chico Mendes de Resistncia

(Grupo

Tortura

Nunca

Mais,

em

1999),

O

Brasileiro do Sculo (Isto , 1999) Multicultural 2000 Estado (O Estado de S. Paulo, em 2000). Fora do pas, recebeu, entre outros prmios, a Medalha de Mrito (Universidad de La Habana Cuba, em 1994) e o prmio UNESCO, categoria

Milton Santos

13

A

Argentina

Maria

Martnez,

da

Universidad

de 1960, envolvido em temas como aridez, rede urbana e pases subdesenvolvidos. Ele encerra seu artigo apontando a necessidade em superar criticamente a obra de Milton Santos, adotando a irreverncia do professor baiano na anlise de sua obra. Esse outro objetivo dessa coletnea. So Paulo, agosto de 2002. Bibliografia SANTOS, Milton. Dix essais sur les villes des pays-sous-dvelops. Paris : Ed. Ophrys, 1970. SANTOS, Milton. Les villes du Tiers Monde. Paris : Ed. Genin, Librairies Techniques, 1971. SANTOS, Milton. L'espace partag. Paris : Ed. Librairies Techniques, 1975. SANTOS, Milton. O espao dividido: os dois circuitos da economia urbana. Rio de Janeiro : Livraria Francisco Alves, 1978. SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. So Paulo : HUCITEC, 1978. Copyright Wagner Costa Ribeiro, 2002 Copyright Scripta Nova, 2002 Ficha bibliogrfica: RIBEIRO, W. C. "Milton Santos: aspectos de sua vida e obra". In: El ciudadano, la globalizacin y la geografa. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrnica de geografa y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, nm. 124, 30 de septiembre de 2002.http://www.ub.es/geocrit/sn/sn124.htm[ISSN: 1138-9788]

Nacional del Comahue, de Neuqun, expe o impacto da presena do autor em seu pas, comentando suas interpretaes sobre a categoria territrio. A professora da UFRJ Ina Castro discorre sobre a categoria regio em sua dimenso terica, tema que percorreu a obra de Milton em diversos livros. Maria Auxiliadora da Silva, sua da Universidade com o Federal da Bahia onde Milton tambm atuou como professor, gegrafo Denise descreve brasileiro Elias, que convivncia destacando trabalha na aspectos Universidade

biogrficos e da sua produo. Estadual do Cear, apresenta uma classificao ampla da produo de Milton Santos, distinguindo 4 partes: estudos epistemolgicos em geografia, anlises sobre a cidade em pases pobres, estudos sobre o territrio brasileiro e, por fim, sobre a globalizao econmica. Minha contribuio analisa a globalizao, indicando a crtica do autor ao modelo proposto mas, tambm, sua proposta de uma globalizao solidria. O professor de espanhol Barcelona Horacio destaca Capel que da teve Universidad

contato com a obra de Milton Santos quando preparava seus estudos sobre Murcia na dcada

14

Milton Santos

MILTON SANTOS: INTELECTUAL, GEGRAFO E CIDADO INDIGNADO

Marcos Bernardino de Carvalho - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, Brasil

Milton Santos: intelectual, gegrafo e cidado indignado (Resumo) O gegrafo Milton Santos foi um desses raros pensadores brasileiros cujas reflexes e produo terica repercutiram no s alm das fronteiras de seu pas, como tambm alm do mbito de sua comunidade profissional. Intelectual comprometido com os grandes problemas e questes de seu tempo, sobretudo com aquelas parcelas da populao marginalizadas pelo perverso processo de globalizao ora em curso, deixou sua marca de indignao e revolta por todos os meios e instrumentos nos quais teve a oportunidade de manifestar suas idias, fossem eles textos acadmicos, aulas na universidade, artigos de jornais ou entrevistas nos programas de televiso. Palavras-chave: Milton Santos, Intelectual, Indignao, Filsofos, Geografia Milton Santos: intellectual, geographer and indignated citizen (Abstract) The geographer Milton Santos was one of those rare Brazilian thinkers whose reflections and theoretical production had echoed beyond the borders of his country and also beyond the scope of his professional community. An intellectual compromised to the great issues and contemporary problems, mainly with the situation of the victims of the perverse globalization process, nowadays in course, he left his mark of in dignation and revolt by all ways and instruments -academic papers, university lectures, articles in news paper or interviews in TV- through which he had the chance to express his ideas. Key-Words: Milton Santos, Intellectual, Indignation, Philosophers, Geography

"Outrora, os intelectuais eram homens que, na Universidade ou fora dela, acreditavam nas idias que formulavam e formulavam idias como uma resposta s suas convices. Os intelectuais, dizia Sartre, casam-se com o seu tempo e no devem tra-lo." (Milton Santos)

Edgar Morin em seu livro autobiogrfico, Os Meus Demnios, no captulo dedicado memria e reflexo de sua trajetria intelectual, indaga:"Que um intelectual? Quando que uma pessoa se torna intelectual?" E o prprio Morin quem responde:"Quer seja escritor, universitrio, cientista, artista ou advogado, s se passa a ser intelectual, no meu sentido, quando se trata por meio de ensaio, de texto de revista, de artigo de jornal de forma especializada e para alm do campo profissional estrito dos problemas humanos, morais, filosficos e polticos. ento que o escritor, o filsofo, o cientista se autoinstituem intelectuais."[1] Ou seja, segundo essa tica, o "ttulo" de intelectual s deveria ser concedido aos que tomam partido no tempo em que vivem, aos que falam para fora do mbito das academias e das universidades, aos que prestam ateno ao que se passa alm dos muros corporativos, aos que

colocam

o

seu"instrumento

de

trabalho"

-a

formulao terica, a reflexo, o discurso e o ensaio reflexivo-, muito a favor da existncia humana e muito pouco a favor de sua prpria profisso. O intelectual verdadeiro, portanto, dedica-se, na maior parte do seu tempo, s grandes questes e a dialogar com pessoas que no seus "colegas de profisso". Por conseguinte, sua atuao e seu grau de excelncia no se avaliam mais pelas contribuies prestadas essa ou quela corporao profissional. Sua contribuio d-se numa escala mais ampliada. Condies como as de pertencer qualquer parcela da elite pensante ou a fragmentos da intelligentsia institucional no lhes so motivo de orgulho. Prefere ver ressaltada a sua condio de intrprete e cmplice de seu tempo, do que ser reconhecido apenas atravs do ttulo profissional que eventualmente ainda ostente. Seus ttulos

Milton Santos

15

acadmicos e vnculos corporativos diluem-se naquilo que lhe mais amplamente reconhecido: a condio de sbio e de pensador da contemporaneidade. Nesse sentido, lembram-nos mais os artistas e os filsofos de outras pocas, outros sculos, aos quais se recorria para ter cincia deste e dos outros mundos. Milton Santos, personalidade que aqui se homenageia, foi um destes raros pensadores que por suas atividades, suas reflexes e pelos textos que produziu, adquiriu o direito de ser promovido a filsofo do nosso tempo. Essa rara condio, intelectual verdadeiro, aliada s posturas indignadas que normalmente lhe correspondem, so, em nossa opinio, algumas das principais caractersticas presentes na trajetria, na obra e nas diversas manifestaes do velho professor de geografia. Ao realce, -de portanto, dessas caractersticas intelectual indignado-,

Inconformado com certa intelectualidade, omissa e silente, que diante das injustias se cala e diante da confuso global nada oferece, em uma de suas ltimas obras declarava: "O terrvel que, nesse mundo de hoje, aumenta o nmero de letrados e diminui o de intelectuais. No este um dos dramas atuais da sociedade brasileira? Tais letrados, equivocadamente assimilados aos intelectuais, ou no pensam para encontrar a verdade, ou, encontrando a verdade, no a dizem. Nesse caso, no se podem encontrar com o futuro, renegando a funo principal da intelectualidade, isto , o casamento permanente com o porvir, por meio da busca incansada da verdade"[3]. Evidentemente, as universidades e os processos educacionais que as alimentam, dando guarida ou sendo dirigidos por (e para) essas mencionadas"deformaes letradas", no seriam poupados desse mesmo tom de crticas H tempos, Milton Santos voltava sua"artilharia" contra as armadilhas produzidas pelas polticas e gerncias a equivocadas que, em de sua opinio, mais haviam desviado a universidade, as escolas e toda estrutura educacional, humana, pelas propsitos os do nobres e conectados com os valores profundos da existncia para itinerrios chamado amesquinhados urgncias

pretendemos dedicar essa breve homenagem.

O combate "universidade de resultados" e seus"pesquiseiros" A indignao e o compromisso com seu tempo levaram Milton Santos a esgrimir palavras e compor manifestaes apaixonadas contra todo o tipo de injustia, de desigualdade o que ele e, mais recentemente, espritos"[2]. Em praticamente nenhuma dessas manifestaes o professor foi leniente com o incmodo silncio e a omisso conivente, diante dos grandes temas e urgncias da atualidade, a que muitos de seus pares e as respeitadas (e lentas) instituies que os albergavam costumavam se entregar. Da, sem muito esforo, possvel observar um trao comum s indignadas manifestaes com que sempre nos brindou, pois mesmo que tratassem dos mais variados assuntos, produziam uma"geografia" que, antes de mais nada (e parafraseando o ttulo que Yves Lacoste deu a um de seus mais famosos livros), travava batalhas em seu prprio territrio: o meio intelectual e as universidades. contra prprio

denominava de a grande e global"confuso dos

mercado. Nesse desvio de metas se poderia encontrar, segundo o prof. Milton, uma das principais razes da inpcia intelectual e da inrcia social que normalmente lhe correspondente. Em um seu livro de 1987, O Espao do Cidado, tais denncias e anlises praticamente costuram o contedo que ao longo de toda obra se expe e podem ser muito bem sintetizadas pelo seguinte trecho: "A educao corrente e formal, simplificadora das realidades do mundo, subordinada lgica dos negcios, subserviente s noes de sucesso, ensina um a a humanismo ser ser coisas um um de sem corpo coragem, de mais destinado condenado ultrapassado, sinttica das doutrina silente, viso o

independente do mundo real que nos cerca, humanismo atingir uma incapaz

que existem, quando

16

Milton Santos

humanismo constantemente

verdadeiro renovado,

tem para

de no

ser ser

temas centrais. As referncias e citaes que aqui fizemos, por exemplo, foram extraidas de contextos dedicados discusso de temticas especficas, tais como, as caractersticas gerais do atual processo de globalizao, uma avaliao geogrfica da condio da cidadania no Brasil e reflexes sobre a questo ecolgico-ambiental na atualidade.[6]

conformista e poder dar resposta s aspiraes efetivas da sociedade, necessrias ao trabalho permanente de recomposio do homem livre, para que ele se ponha altura do seu tempo histrico."[4] Por outros meios, diferentes da interlocuo fria, com pblico incerto, que as pginas de livros e textos acadmicos proporcionam, as denncias e o combate no arrefeciam. Pelo contrrio. Nas oportunidades em que podia expor suas idias olhando nos olhos de seus interlocutores, muitas vezes seus pares, de colegas, seu alunos de e outros trabalho freqentadores espao

Globalizao reversvel, cidadania por inteiro e um convite a filosofar Os assuntos recorrentes e a forma contundente com que a eles Milton Santos se refere, em cada contexto e a cada nova vez, parecem querer produzir o efeito de compartilhar o profundo desapontamento papel com no algumas instituies, de lugares e personagens dos quais se esperariam protagonista encaminhamento solues e idias mobilizadoras, mas que, ao contrrio, vinham crescentemente convertendo-se em alguns dos principais obstculos a serem enfrentados. A combatividade e a indignao do professor, no entanto, no se esgotavam na abordagem dos assuntos recorrentes e, claro, no arrefeciam, nem mesmo quando ele se dedicava ao desenvolvimento dos tais temas centrais que os contextualizavam. Apenas com mais seria possvel constatar isso. Em O espao do cidado, por exemplo, numa poca em que muitos acreditavam estar trazendo grandes contribuies, apenas por enaltecer a conquista e a promoo do respeito aos chamados"direitos do consumidor", Milton Santos denunciou o reducionismo e as consequncias nefastas de tais atitudes. Para comear, chamounos a ateno para o fato de que por trs desse enaltecimento e dessa adeso a um conceito vazio, estava em curso uma tentativa algumas referncias aos exemplos que j mencionamos

cotidiano, Milton Santos, tornava-se ainda mais contundente nas crticas a uma universidade que se deixava corromper e nas pela urgncia de uma dos"resultados" denncias

certa"intelectualidade" que a tudo assistia calada, pois, desse processo se beneficiava. Numa aula inaugural "Em os para do de alunos de sua faculdade na Universidade de So Paulo, disparou: nome esforos cientismo, entendimento impostos de e comportamentos abrangente da pragmticos e raciocnios tcnicos, que atropelam realidade, so premiados. Numa assim melhores

universidade genuno, espritos tem

resultados, mesmo os

escarmentada a vontade de ser um intelectual empurrando-se para a pesquisa como pelas pelas espasmdica, a produo de que que

estatisticamente rentvel. Essa tendncia induzida efeitos caricatos, dessa fortes prestigiosos cena, burocrtica pesquiseiros, manipulam, ridcula espcie verbas relaes

entretm com o uso dessas verbas, e que ocupam assim a frente da expresso."[5] Apesar destas denncias e temas -a instrumentalizao da universidade, a educao simplificadora, a conivncia e a omisso dos falsos intelectuais-, serem, como dissemos, assuntos recorrentes e obrigatrios em muitas de suas obras, raramente se constituiam nos seus enquanto o saber verdadeiro praticamente no encontra canais de

avassaladora de reduzir o sentido da cidadania e a luta por sua conquista (com suas implicaes jurdicas, polticas e sociais), a um mero jogo de relacionamentos consumidor, de mercado aceita ser e de conexes de comerciais:"Em lugar do cidado formou-se um que chamado

Milton Santos

17

usurio"[7]. Mas, tomar uma coisa pela outra, seguia dizendo o velho professor, reduz a idia de cidadania a uma mera realizao pessoal e, conseqentemente, relacionamentos aprimoramento esvazia da seu sentido e e desmobiliza as pessoas, que abdicam dos seus sociais, dos seus construo espaos coletivos

com que muitos tem se entregado ao tratamento do tema, apela para a capacidade herica, que ainda acredita resistir em alguns dos seus pares, de desviar esse tratamento para uma rota mais coadunada emprega: "O empenho com que nos convocam para tratar, seja como for, as questes do meio ambiente, sem que um espao maior seja reservado a uma reflexo mais profunda sobre as relaes, por intermdio da tcnica, seus vetores e atores, entre a comunidade humana assim mediatizada e a natureza, assim dominada, tpico de uma poca e tanto ilustra os riscos que corremos, como a necessidade de, em todas as reas do saber, agir com herosmo, se desejamos poder continuar a perseguir a verdade."[11] Por fim, concluindo essa breve srie de exemplos, ilustrativos da combatividade com que Milton Santos se entregou ao tratamento acadmico de determinados proposto, individualmente rendio de temas, como ao seu -Por ao j haviamos ltimo uma nos livro, outra de voltemos com o esprito da Casa que os

(pases, Estados, naes, comunidades etc.), em prol de um falso e irrealizvel jogo de conquistas individuais: "Quando se confundem cidado e consumidor, a educao, a moradia, a sade, o lazer aparecem como conquistas pessoais e no como direitos sociais. At mesmo a poltica passa a ser uma funo do consumo. Essa segunda natureza vai tomando lugar sempre maior em cada indivduo, o lugar do cidado vai ficando menor, e at mesmo a vontade de se tornar cidado por inteiro se reduz."[8] J, na mencionada aula inaugural, 1992: A redescoberta da natureza, Milton Santos aproveitou o ensejo para nos alertar quanto ao perigo de banalizao do tema, a superficialidade miditica que se tem emprestado ao seu tratamento, alm do servilismo oportunista com que muitos tm se entregado ao filo ambiental, prenhe de verbas, de possibilidades empregatcias e comerciais. De sada, anuncia que abordar a srio o tema proposto, significa, ao contrrio do que muitos poderiam pensar, predispor-se a abraar um nvel profundo de reflexo. Nesse sentido, convida-nos, antes de mais nada, a filosofar -"estamos chamados a filosofar e a filosofia no mais um privilgio dos filsofos"[9]-, e justifica o convite:"O tema (1992: a redescoberta da Natureza) um desses que a atualidade nos impe, mas deve ser abordado cautelosamente, j que nesse assunto a fora das imagens ameaa aposentar prematuramente os conceitos. Por isso, cumpre, urgentemente, retom-los e , eventualmente, refaz-los. Nessa tarefa, no nos devemos deixar circunscrever pelos ditames de uma pesquisa automtica, instrumentalizada, nem aceitar o pr-requisito de nenhum enunciado."[10] Ao encerrar sua aula, aps desenvolver as crticas, a que j fizemos referncia, ao oportunismo e superficialidade

elaborado e todos

globalizao. A, em um momento de quase tudo que processo globalizao, muitos consideravam

inexorvel, inelutvel e irreversvel, Milton Santos chama a ateno para o carter perverso e totalitrio do processo em curso -"vivemos numa poca de globalitarismo muito e, mais que de todos pobres os em globalizao"[12]-, esperana alternativa na para ignorando dos

modismos, aposta e deposita suas fichas de criatividade a conduzir-nos ao conhecimento de uma sada perversidade globalmente instalada: "Miserveis so os que se confessam derrotados. Mas os pobres no se entregam. Eles descobrem a cada dia formas inditas de trabalho e de luta. Assim, eles enfrentam e buscam remdio para suas dificuldades. Nessa condio de alerta permanente no tm repouso intelectual."[13] Como no podia deixar de ser, nesse momento da abordagem, Milton Santos, retorna ao seu tema recorrente, acusando a incapacidade dos setores pensantes e vigilantes em perceber o potencial de criatividade dos pobres: "A socialidade urbana pode escapar aos

18

Milton Santos

seus intrpretes, nas faculdades; ou aos seus vigias, nas delegacias de polcia. Mas no aos atores ativos do drama, sobretudo quando, para prosseguir vivendo, so obrigados a lutar todos os dias."[14] Na concluso dessa sua derradeira obra, sugere j haver, em parte graas ao curso da prpria globlalizao, os meios, as tcnicas e as idias para, se quisermos, do de subverter a tal"irreversibilidade" contemporneo, efetivamente mais processo global isto ,

Por outros meios, no propriamente acadmicos, mas apropriados e obrigatrios para completar o circuito de difuso das idias e reflexes que identificam rigor e o intelectual as de verdade, Milton Santos seguia ousando e debatendo com igual seriedade suas convices. Seguia"casado com seu tempo". Na conversa com o grande pblico, em debates e dilogos com outros campos do conhecimento, outros poderes e outras instituies, ou em artigos de jornal e, at mesmo, em entrevistas concedidas aos programas de TV, o inconformismo, a indignao e a combatividade emprestada aos temas jamais arrefeceram. E apenas considerando as suas manifestaes dos ltimos anos, j se poderia ter uma ampla confirmao disso, tanto com relao queles temas que h pouco chamamos de recorrentes, como em relao a diversos outros assuntos sugeridos pelos momentos ou pelos espaos de divulgao que o instavam a se manifestar. Em diversos artigos e ensaios publicados especialmente em jornais de grande circulao no Brasil, a questo da educao, da universidade e do papel dos intelectuais, jamais deixou de merecer aquele mesmo tratamento, de seriedade indignada, acadmicas. Dos intelectuais, por exemplo, seguiu cobrando atitudes menos fugazes, menos conjunturalmente partidarizadas, e mais fundadas nas estruturas de permanncia que interessam s aspiraes de conjuntos mais ampliados da populao: "Como no mundo atual nada se faz sem o respaldo de idias, a que aparece o novo papel do intelectual na reconstruo democrtica do Brasil. O intelectual no pode ser dbio nem oportunista. Mas, nas circunstncias atuais, a intelectualidade chamada a exercer uma militncia ambigua, quando voltada a repetir discursos ftuos, slogans e palavras de ordem mais destinados mobilizao do que produo gradual de uma conscincia coletiva. (...) A entra o papel independente dos intelectuais. Na medida em que estes faam eco s demandas profundas que poderamos e encontrar nas manifestaes produes chamadas

dotando-o

caratersticas

globalizadas,

menos"globalitrias", e mais sintonizadas com aspiraes que conduzam a espaos de vida decentes para todos: " muito difundida a idia segundo a qual o processo e a forma atuais da globalizao seriam irreversveis. (...) No entanto, essa viso repetitiva do mundo confunde o que j foi realizado com as perspectivas de realizao. (...) O mundo de hoje tambm autoriza uma outra percepo da histria por meio da contemplao da universalidade emprica constituda com a emergncia das nova tcnicas planetarizadas e as possibilidades abertas a seu uso. A dialtica entre essa universalidade emprica e as particularidades encorajar a superao das prxis invertidas, at agora comandadas pela ideologia dominante, e a possibilidade de ultrapassar o reino da necessidade, abrindo lugar para a utopia e para a esperana. (...) Diante do que o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condies materiais j esto dadas para que se imponha a desejada mutao, mas seu destino e vai depender de como sero disponibilidades possibilidades

aproveitadas pela poltica. Na sua forma material, unicamente corprea, as tcnicas talvez sejam irreversveis, porque aderem ao territrio e ao cotidiano. De um ponto de vista existencial, elas podem obter um A outro uso e uma outra significao. globalizao atual no

irreversvel."[15]

Alm dos muros da universidade, o circuito se completa

Milton Santos

19

das

populaes,

expressas

pelos

movimentos

quitado porque nomeou um bravo general negro para a sua Casa Militar e uma notvel mulher negra para a sua Casa Cultural. Ele se esqueceu de que falta nomear todos os negros para a grande Casa Brasileira. Por enquanto, para o ministro da Educao, basta que continuem a frequentar as piores escolas e, para o ministro da Justia, suficiente manter reservas negras como se criam reservas indgenas." E, com relao aos convites oportunistas, pela deriva acrescentou:"Peo desculpas

populares (organizados ou no), serviro como vanguarda na edificao de projetos nacionais alternativos."[16] Dos projetos educacionais subordinados s lgicas perversas do"pragmatismo triunfante", com sua pressa por resultados e suas perspectivas mercantis, Milton Santos seguiu denunciando suas conseqncias nefastas para as escolas e as universidades, transformadas por esses projetos em verdadeiros"celeiros de deficientes cvicos."[17] Mas, alm dos chamados temas recorrentes, diversos outros tambm foram abordados nesses meios no acadmicos, do territrio, enfim[18]. particularmente da Para tecnologia, todos sua eles em da o artigos de jornal. Entre eles, a questo da linguagem, da globalizao, da populao negra, da histria ou geografia, professor seguiu imprimindo marca

autobiogrfica. Mas quantas vezes tive, sobretudo neste ano de comemoraes, de vigorosamente recusar a participao em atos pblicos e programas de mdia ao sentir que o objetivo do produtor de eventos era a utilizao do meu corpo como negro - imagem fcil- e no as minhas aquisies intelectuais, aps uma vida longa e produtiva."[19] Esse esprito, avesso s tergiversaes, franco e certeiro quanto aos alvos, pode ser conferido tambm nas manifestaes diretas, proporcionadas por outros meios que no s a imprensa escrita. Em seminrios, palestras ou entrevistas na TV e outros veculos, a presena de Milton Santos passou a ser tambm bastante requisitada nos ltimos anos. Nesses casos, dependendo do contexto e da interlocuo, o velho professor temperava suas manifestaes com estilos que poderiam variar da nfase cortante ou afabilidade, que segundo os as contradies identidades dilogos

registrada: denncia, combatividade e indignao, aliados ao necessrio tratamento de rigor e de reflexo aprofundada que os assuntos exigiam. O tema do preconceito racial, particularmente sobre a questo do negro no Brasil, no mereceu por parte do professor vieses nenhum tratamento em especial. Apesar das expectativas, muitas delas alimentadas por preconceituosos, poucas ocasies esse tema foi alado condio de assunto preferencial. E, quando isso acontecia, recebia o mesmo tratamento dispensado aos demais, apenas acrescido de alguma referncia direta s tais expectativas que alguns preconceitos ainda alimentavam. Ambos -tratamento e acrscimo-, podem ser conferidos em um artigo -"Ser negro no Brasil hoje"- em que Milton Santos faz referncia ao mea-culpa da Igreja Catlica, por suas atitudes com relao populao negra e indgena durante o perodo colonial, e tambm aos convites oportunistas que crescentemente vinham sendo dirigidos ao prprio professor. Com relao ao mea-culpa Catlico, afirmou: "Moral da histria: 500 anos de culpa, 1 ano de desculpa. Mas as desculpas vm apenas de um ator histrico do jogo do poder, a Igreja Catlica! O prprio presidente da Repblica considera-se

permitissem apurar. Houve situaes que o professor foi bastante duro no dilogo, tanto para defender seus pontos de vista, sobre quaisquer um daqueles temas acerca dos quais costumava dissertar, como para criticar o prprio papel da mdia ou da instituio que o acolhia. Em pelo menos duas ocasies, mais ou menos recentes, que ficaram marcadas at pela repercusso que provocaram, essas situaes de aspereza puderam ser verificadas. Uma delas, num famoso programa de entrevistas da TV brasileira[20], e, outra, em uma palestra proferida na Cmara dos Deputados, quando esta promoveu uma srie de seminrios por acasio

20

Milton Santos

dos 500 anos de descoberta do Brasil. Desta ltima, vale pena, para ilustrar, destacar os seguintes trechos:"(...) com a globalizao, no so os polticos que fazem poltica. A poltica feita pelas grandes empresas. Os polticos so, de maneira quase geral, porta-vozes. Eles elaboram os discursos de interesse da grande empresa, sobretudo porque muitos esto convencidos, outros so convencidos, e outros sem estar convencidos, falam assim mesmo. S h uma soluo na cabea e no corao dessas pessoas: essa globalizao perversa, que modifica o carter da nao."[21] Aproveitando o ensejo para reforar o papel das atitudes e dos personagens nos quais mais acreditava afirmou, nessa mesma ocasio:"Que os deputados no nos ouam, est bem, mas os intelectuais no so feitos para audincia dos poderosos. Jamais houve conciliao, por mnima que fosse, entre algum que se imagine um verdadeiro intelectual e o trabalho cotidiano do homem de poder. H mesmo uma contradio. O trabalho do intelectual feito para ser entregue populao, se possvel, por meio da sociedade civil e organizada, que inclui os partidos, e, se no possvel, de forma selvagem como a presena aqui..."[22] Estilos mais afveis e receptivos, Milton Santos reservava para aqueles momentos em que os dilogos, conspirar meios para a e interlocutores construo de pareciam caminhos

Hoje, completa-se j quase um ano da morte daquele que foi um do nossos principais intelectuais. O impacto de sua morte, a triste perspectiva de sua ausncia e a interrupo do fluxo normalmente impactante de suas idias, alm, claro, da volumosa produo que deixou registrada em dezenas de livros e centenas de artigos, geraram, ao longo desse ltimo ano, inmeras e justas homenagens. Nelas, diversos aspectos da contribuio terica de Milton Santos foram examinados: a condio de gegrafo, a carreira acadmica brilhante, as lureas recebidas, a discusso metodolgica, o rigor cientfico e a dedicao reflexo epistemolgica. Sobretudo, como si acontecer nessas ocasies, destacou-se reiteradamente a contribuio que o ex-advogado profissional trouxe de a para a os sua que comunidade e, sua morte adoo, gegrafos,

conseqentemente,

perda

significou para a cincia que praticam. Na sua"cerimnia de adeus", beira de seu tmulo, no entanto, os gegrafos se calaram. Respeitosamente escutaram artistas, polticos, sindicalistas e militantes de movimentos sociais, falarem da importncia do velho professor. Para quem, como Milton Santos, em vrias ocasies fez questo de deixar clara sua opo pela conduta intelectual que mais admirou, a do filsofo Jean-Paul Sartre, a amplitude dos setores sociais ali presentes e representados, bem como as manifestaes que a partir da se seguiram, indicam claramente que nessa opo, sartriana, ele logrou sucesso. E lograr sucesso nesse caminho, como aprendemos nas prprias aulas do prof. Milton, equivale a ser reconhecido como algum que foi"casado com seu tempo" e com as grandes causas da existncia humana, a servio das quais os intelectuais de verdade colocam suas melhores idias e convices. Intelectuais assim no existem a rodo. Pelo contrrio. Nos tempos que correm, pressionados pelo chamado mercado, pelas"universidades de resultados", desprestgio hegemonia grandes da pela dos confuso da pela pela global, existncia, ditadura urgncia pelo pela das da valores economia,

favorveis s novidades, aos vnculos com as tradies e necessidades populares, s conexes dos intelectuais e seus tempos e s percepes integrais dos seres humanos. Exemplos bastante ricos e ilustrativos dessas situaes, podem ser claramente observados nas ocasies em que Milton Santos teve a oportunidade de dialogar com artistas de expresso no Brasil. Em um desses dilogos o prprio Milton Santos sintetiza as razes dessas sintonias: "Quem pensa o novo so os homens do povo e seus filsofos, que so os msicos, cantores, poetas, os grandes artistas e alguns intelectuais."[23] ***

corporaes,

Milton Santos

21

instantaneidade, pelo pragmatismo irresponsvel, etc., grassam os oportunistas, manipuladores de verbas e pensadores de ocasio. Tudo que almejam, esses "acadmicos de resultados", com suas reflexes rpidas, superficiais e descartveis, o reconhecimento miditico e o sucesso financeiro, que aos mais competentes (quer dizer, aos mais competitivos), o tal mercado oferece de bom grado e instantaneamente. Portanto, diante de um ambiente nada propcio para os adeptos de uma conduta sartriana e diante da crescente escassez de pensadores que assim se conduzem, a conscincia de que se perdeu mais um deles dolorosa. Talvez para ameniz-la que nos propusemos a ressaltar aqui, nesta breve homenagem, a faceta de indignao, presente nas obras e nas manifestaes apaixonadas do professor Milton Santos. Essa indignao, sobretudo contra a perversidade e a injustia que submetem grande parte das pessoas, que conduz alguns pensadores a abraarem as grandes causas de seu tempo e se tornarem perenes nos coraes e nas mentes daqueles que costumam viv-lo e sofr-lo com mais intensidade. Em tempos mais fugazes, de desvalorizao de das e atitudes reflexivas, baralhamento

inflao de signos, de confuso produzida, de banalizao dos conceitos e de desrespeito aos que pensam e aos que existem, observar as trajetrias percorridas e indicadas por alguns daqueles raros pensadores, que ainda ousaram propor a desconfuso, subordinar-se aos seus prprios relgios, estabelecer seus prprios caminhos, reabrir a histria e reafirmar utopias, nossa obrigao.Notas [1]Morin, 1995, p. 176. [2]Milton Santos em uma de suas ltimas obras, em um captulo destinado crtica do contedo totalitrio do atual processo de globalizao, exortava:"Nossa grande tarefa, hoje, a elaborao de um novo discurso, capaz de desmistificar a competitividade e o consumo e de atenuar, seno desmanchar, a confuso dos espritos." (Santos, 2000, p. 55). [3]Ib., p. 74. [4]Santos, 1987, p. 42 [5]Santos, 1992, p. 11.

[6]So esses os trs conjuntos de assuntos que caracterizam os contextos de onde extramos as trs ltimas citaes mencionadas neste artigo. Os temas referem-se, respectivamente, aos textos mencionados nas tlimas trs notas. [7]Santos, 1987, p.13. [8]Ibid. p. 127. [9]Santos, 1992, p. 3 [10]Ibid. [11]Ibid., p. 11 e 12. [12]Santos, 2000, p. 55. [13]Ibid., p.132. [14]Ibid. [15]Ibid., pp 160, 168, 173 e 174. [16]Jornal Folha de So Paulo (FSP), 07/12/97:"As duas esquerdas". Ver tambm FSP, 20/06/99:"A vontade de abrangncia" [17]FSP, 24/01/99:"Os deficientes cvicos". [18]ver, por exemplo, os artigos publicados ao longo dos anos 90, 2000 e 2001, no jornal FSP, especialmente"O recomeo da histria" (09/01/2000) ,"Ser negro no Brasil hoje" (7/5/2000),"O tempo desptico da lingua universalizante" (5/11/2000),"O novo sculo das luzes" (14/01/2001) e"Elogio da lentido" (11/03/2001) [19] FSP, 7/5/2000. [20]Aqui nos referimos especificamente a uma entrevista concedida por Milton Santos a um dos mais famosos jornalistas da televiso brasileira, Boris Casoy, exibida em rede nacional pela TV Record em 23/04/2000. [21]Santos, M."Que parlamento para o sculo XXI? Desafios e perspectivas frente mundializao", 04/04/2000 . Disponvel em: http://www.camara.gov.br/ [22] Ibid. [23]Declarao extrada de entrevista concedida a Gilberto Gil, compositor e cantor popular brasileiro, disponvel em http://www.gilbertogil.com.br/. V. tambm dilogo entre Denise Stoklos, atriz e dramaturga brasileira, e Milton Santos, disponvel emhttp://www.teatrobrasileiro.com.br/entrevistas/stokl os-santos.htm. Bibliografia MORIN, E. Os Meus Demnios. Lisboa: Publicaes Europa-Amrica, 1995. 233 p. SANTOS, M. O Espao do Cidado. So Paulo: Nobel, 1987. 142 p. SANTOS, M. 1992: A Redescoberta da Natureza. So Paulo: FFLCH/USP 1992, (mimeo). 12 p. SANTOS, M. Por uma outra globalizao. Rio de Janeiro: Record, 2000. 174 p. Copyright Marcos Bernardino de Carvalho, 2002 - Copyright Scripta Nova, 2002 Ficha bibliogrfica: CARVALHO, M. B. "Milton Santos: intelectual, gegrafo e cadado indignado". In: El ciudadano, la globalizacin y la geografa. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrnica de geografa y ciencias sociales, Uni versidad de Barcelona, vol. VI, nm. 124, 30 de septi embre de 2002 http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm [ISSN: 1138-9788]

22

Milton Santos

UN PENSAMIENTO SOBRE LA CIUDAD: ALGUNAS REFLEXIONES Ana Fani Alessandri Carlos - Departamento de Geografia - Universidad de So Paulo Un pensamiento sobre la ciudad: algunas reflexiones (Resumen) La obra de Milton Santos no excluye un pensamiento sobre la ciudad y, particularmente, de la metrpoli del tercer mundo - caso de So Paulo (Brasil) que es el foco de su atencin en varios libros. La metrpoli es analizada como ejemplo de lugar complejo donde es posible entender el modo como la globalizacin se realiza, esto porque el proceso de modernizacin crea las posibilidades de globalizacin de los lugares como consecuencia de la generalizacin de las tcnicas y de la informacin. En ese contexto, la ciudad mundial sera aquella que dispondra de instrumentos de comando de la economa y de la sociedad mun dial, tanto por los objetos en que se apoya, cuanto por las relaciones que crea dentro de la nueva divisin internacional del trabajo. Palabras clave:metrpoli, lugar, globalizacin A thought on the city: some reflections (Abstract) The work of Milton Santos does not exclude considerations about the city and particularly the Third World metropolis, which is the case of So Paulo, that the focus of attention in his many books. The metropolis is analyzed as a complex place where the globalization process occurs because of the fact that is engen ders the generalization of the techniques and the information, creating the possibility of the globalization of the places. In this context, the world city would be the one that would make use of instruments of command of the economy and the world society, not only through the supporting objects but also through the relationships it creates within the new international division of labour. Key words: metropolis, place, globalization

En la obra de Milton Santos la preocupacin con la constitucin de un sistema terico de anlisis del mundo moderno no excluye la lectura crtica de la urbanizacin brasilea y de la metrpoli de So Paulo, en particular[*]. Este anlisis se incluye, desde mi punto de vista, como un momento de constitucin del concepto de "medio tcnico-cien tfico-informacional" categora de anlisis de manifestacin del espacio geogrfico en el perodo de la globalizacin. El desafo del entendimiento del mundo, en el final del siglo XX, al cual se de dica el Autor, seala la constitucin de una racio nalidad del espacio como consecuencia de las condiciones del mundo contemporneo y coloca una interrogante importante: qu es lo que mue ve al mundo en su proceso de transformacin? En el centro del proceso, la globalizacin. Sin em bargo, la globalizacin es, para Milton Santos, una metfora, cuyo contenido se realiza concretamen te en el plano de los lugares. Ese proceso que permite la creacin de una nueva divisin interna cional del trabajo necesita "volver an ms artifi cial el mbito de la vida y del trabajo, as como la propia vida"[1], lo que lleva a la mundializacin

de los lugares. En este sentido, la ciudad, como plano vinculado a lo local, se revela, mostrando el movimiento de la globalizacin, que aparece, para el Autor, como nuevo paradigma. Desde el punto de vista metodolgico significa que la "era de la globalizacin mucho ms que cualquier otra antes de ella, exige una interpretacin sistmica cuida dosa de modo que permita que cada cosa sea re definida en relacin con el mbito planetario"[2]. La orientacin de las reflexiones de Milton Santos plantea que la Geografa no puede ignorar la constitucin de un espacio planetario complejo, sobre todo delante de las profundas y serias transformaciones globales; por lo tanto, se vuelve necesario reflexionar sobre las formas como esos procesos mundiales se constituyen en el espacio brasileo, ya que el gegrafo debe contribuir, a travs de su trabajo, para profundizar el anlisis y la comprensin de la realidad en lo que ella tiene de global y de especfico. En su obra, el sentido de la globalizacin ilumina el papel central que el espacio tiene en la explica cin del mundo moderno, oponindose a la idea comn de que ella viene acompaada por un pro

Milton Santos

23

ceso de desterritorializacin. En este sentido, el orden global busca imponer en todos los lugares su racionalidad, mas este proceso es profunda mente desigual y contradictorio, reproducindose en el tercer mundo "como una perversidad"; con esto ampla los trminos del debate sobre el modo como se realiza el proceso capitalista. Este proceso se presenta de modo contradictorio, pues, para Santos, la globalizacin viene de afue ra como un dato absoluto, por lo tanto, abstracto, impuesto brutalmente, de modo indiscriminado a las sociedades y a los territorios, instalndose como una nueva forma de usos del territorio, "im ponindole modificaciones sbitas a los conteni dos cuantitativos y cualitativos y alterando todas las relaciones mantenidas dentro de un pas, ya que el territorio es siempre unitario", en este sen tido, "las tensiones ahora reveladas por el territo rio resultan de un conjunto de fuerzas estructura les actuando en los lugares. Por eso, el desorden general se instala, como venganza del territorio contra la perversidad de su uso"[3]. De este modo es que el anlisis de lo local gana una nueva realidad ultrapasando/reafirmando la idea de existencia particular, no obstante, sin de jar de realizarse como posibilidad. Esto porque, la lectura del espacio, en el plano del lugar, revela que existe una racionalidad que se pretende he gemnica, aumentando la pobreza y la desigual dad social, sin dejar de revelar, de forma contra dictoria, la posibilidad de la "insurreccin" a partir de la cual la accin humana se realiza como posi bilidad creando la base de la constitucin de la ciudadana. En este contexto, la ciudadana se constituira por la accin de los involucrados; aqu el uso, la identidad, la memoria, la emocin, como elementos de lo cotidiano, ganan una di mensin especial en el anlisis espacial. A partir de esta lectura, la globalizacin no es irreversible para Santos. En su reflexin, la sociedad en proceso se realiza sobre una base material, de este modo, el anlisis del lugar gana una atencin especial como cate gora de anlisis; es el lugar que atribuye a las tcnicas el principio de realidad histrica relativi zando su uso e integrndolas al conjunto de la vi da. Por otro lado, la categora lugar gana una nu

eva realidad que sobrepasa la idea de existencia particular. En primer lugar, porque la propia idea de globalizacin aparece como metfora, puesto que favorece la espacializacin. En este sentido, el lugar tiene la dimensin de la realizacin de un proceso que se configura por la articulacin local/global; "como cuadro de una referencia pragmtica del mundo"[4]. En segundo lugar, porque el mundo aparece como algo que no se concretiz completamente, el "mundo no es ape nas un conjunto de posibilidades cuya realizacin depende de las oportunidades ofrecidas por los lu gares"[5]. El lugar en esta dinmica ofrece al mo vimiento del mundo la posibilidad de su realiza cin ms eficaz. La metrpoli En este movimiento, las metrpolis son analizadas como ejemplos de lugares complejos donde es posible entender el modo como la globalizacin se realiza. Por lo tanto, podemos afirmar que la obra de Santos revela un contenido y un camino para el anlisis de la ciudad, particularmente en el "ter cer mundo", pues el "ciudadano del mundo", al lanzarse al entendimiento del mundo contempor neo, lo hace con los pies puestos en su pas, situ acin que lo obliga a pensar la realidad brasilea en sus especificidades. Esta condicin, de haber nacido en un pas subdesarrollado, lo llev a en carar de frente las profundas contradicciones que emanan de la "historia selectiva del espacio" y, con esto, brind una contribucin inestimable para el anlisis de la condicin del ciudadano en los pases perifricos. De esta manera, el proceso actual de moderniza cin que estamos viviendo como consecuencia de la generalizacin de las tcnicas y de la informa cin, crea para Santos las posibilidades de globali zacin de los lugares. La metrpoli como punto de la red, en el territorio ms amplio, aparece, por lo tanto, como lugar complejo que se constituye como medio tcnico-cientfico-informacional, pro ducto de la modernizacin que lleva los lugares a globalizarse gracias a la difusin de la informa cin. En este contexto, la ciudad mundial sera aquella que dispone de instrumentos de comando de la economa y de la sociedad mundial. Con esto, la ciudad gana una nueva dimensin con el

24

Milton Santos

proceso de globalizacin, tanto por los objetos en que se apoya, como por las relaciones que crea dentro de la nueva divisin internacional del tra bajo que lleva a la mundializacin de los lugares (que son las metrpolis). As, las metrpolis apa recen como "lugares complejos" donde el medio permitira la afloracin de una multiplicidad de ac tividades localmente complementarias en los di versos subespacios metropolitanos, en este senti do el medio tcnico es diferenciado y adaptado para recibirlo. El anlisis de la metrpoli en el tercer mundo re vela, para Santos, la cristalizacin de una nueva lgica en "puntos del territorio", correspondiente al modo como el perodo histrico se realiza en esta parte del planeta como "resultado contradic torio de un proceso de modernizacin que impone nuevas formas de atraso"[6]. En este contexto, las metrpolis apareceran como lugares de complejos globales articulados por una red; sta, a su vez, es marcada por una cantidad y calidad que va a distinguir regiones y lugares como condicin de la globalizacin que tiene en la red "la quintaesencia del medio tcnico-cientficoinformacional". En esta dimensin el territorio brasileo presenta ra una oposicin entre el medio tcnico-cientficoinformacional, que es el espacio del artificio for mado por sobre todo por el sur y por el sureste, y el resto del territorio nacional, revelando la desi gualdad del proceso. La metrpoli en Brasil es analizada en dos planos: a) la metrpoli como integrante de una red las metrpolis son "los mayores objetos culturales ja ms construidos por el hombre" y deben ser ana lizadas segn "parmetros globales" donde la gran ciudad es un fijo enorme cruzado por flujos enormes. b) la metrpoli en su "historia local"; en este pla no la metrpoli es analizada en el cuadro de la economa poltica revelando la especificidad del lugar en aquello que tiene de especfico. Su anlisis tiene a la metrpoli de So Paulo como centro y en este estudio de caso va revelando el contenido de la urbanizacin brasilea; de la his

toria general de la urbanizacin del tercer mundo en relacin con las particularidades de la historia del pas y del lugar. So Paulo, como metrpoli, es definida por la historia de un pas subdesarrol lado en una situacin de modernizacin incomple ta y selectiva, como producto de una yuxtaposi cin de trazos de opulencia y carencias profundas, donde el contraste marca la vida urbana. El peso de la historia explica la metrpoli de hoy. So Paulo slo se transforma en lo que Milton Santos llama de metrpoli informacional porque antes conquist la posicin de ciudad industrial. En este sentido, So Paulo acumulara tres fases histri cas distintas: comercial, industrial, corporativa, capaces de crear las bases para un cambio cuali tativo (en su condicin de proceso que se realiza a lo largo del tiempo), permitiendo en la fase ac tual la concentracin de "nuevas actividades terci arias" necesarias para la constitucin de la metr poli informacional. En este cuadro, el anlisis de la metrpoli paulis tana actual revelar algunos elementos importan tes. El primero es la constatacin de que el interi or del pas, modernizado, se desarrolla, mientras las metrpolis experimentaron un crecimiento re lativamente menor, situacin que lleva a Santos a definir este proceso como "involucin metropolita na", como resultado de una modernizacin selec tiva. Significa que "al mismo tiempo en que se puede constatar que en la metrpoli existe mo dernizacin de las actividades, se verifica la ex pansin de la pobreza". La adaptacin de la eco noma a esa involucin metropolitana se caracteri za por una proliferacin de actividades con los ms diferentes niveles de capital, trabajo, organi zacin y tecnologa, menores que en el sector mo derno, que surgen como una forma de suplir la demanda de empleos y servicios provocada por aquella modernizacin que la economa monopo lista no consigue atender[7]. En esta condicin, para Santos, esos sectores absorben un porcenta je significativo de poblacin "marginalizada"; por lo tanto la segmentacin de la economa urbana sera una "respuesta sistmica a la involucin me tropolitana"[8]. Santos retoma en 1994, en el libro Economia Pol tica da Cidade, su anlisis sobre los dos sectores

Milton Santos

25

de la economa de las metrpolis del tercer mun do realizado en la obra Os Dois Circuitos da Eco nomia de 1979 (circuitos inferior y superior de la economa urbana de los pases subdesarrollados), desarrollando mejor la idea de la existencia de un circuito superior marginal (que funcionara bajo los parmetros modernos compuesto por firmas que operaran en los intersticios de las firmas del circuito superior), y en este sentido revela un anlisis proficuo que permite un entendimiento de los conflictos en la metrpoli de So Paulo, entre el crecimiento de la riqueza y el desarrollo de la pobreza, definida en el marco de la existencia de una estructura socioeconmica desigual que le impide a la metrpoli estallar. El anlisis sobre la metrpoli paulistana revela el hecho de que la pobreza, para el Autor, no tiene apenas una causa econmica, sino que tambin geogrfica, apoyado en el esquema centro peri feria. Este raciocinio revelara que las reas de la metrpoli se diferencian por los servicios fijados en cada lugar (camas de hospital, escuelas, uni dades de salud, etc.) creando: una externalidad en torno del punto donde estn localizados y en funcin del hecho de ser bienes de consumo positivos o negativos. Bienes de con sumo positivos son los que favorecen y valorizan las localizaciones, y los bienes de consumo nega tivos, por el contrario, son aquellos que desvalori zan o desfavorecen (...). La forma como la ciudad es geogrficamente organizada hace con que ella no apenas atraiga personas pobres, sino que ella misma cree ms gente pobre. El espacio es, de este modo, instrumental a la produccin de po bres y de pobreza: un argumento ms para que consideremos el espacio geogrfico no slo como un dato o un reflejo, mas como un factor activo, una instancia de la sociedad, como la economa, la cultura y las instituciones[9]. Otro desdoblamiento del anlisis del esquema centro periferia se refiere a la idea de inmovili dad relativa a la cual est sujeta una gran parte de la poblacin perifrica; o sea, el modelo econ mico y lo que Santos llama de "modelo territorial", basado en la fragmentacin de la me trpoli, que afectan a los ms pobres, acaban fi jando a la poblacin pobre en la periferia, presa a

las actividades del sector de trabajo informal, en conjunto con las dificultades de locomocin en la metrpoli, en funcin de la distancia al centro, del precio y de la extrema deficiencia del sistema de transporte colectivo. Tal hecho refuerza la "ten dencia a la extensin territorial cada vez mayor del organismo urbano"[10]. La enorme extensin de la ciudad con el crecimiento de las periferias se realiza en ritmo rpido, acentuado por la existen cia de vacos especulativos urbanos, en las reas centrales de la metrpoli, y en esta localizacin perifrica una inmensa poblacin se ve delante de la accesibilidad diferencial a los servicios urbanos. Con esto, la inmovilidad de un gran nmero de personas lleva a la ciudad a tornarse un conjunto de guetos, situacin que transforma su fragmen tacin en desintegracin. As, el modelo centro periferia fundamenta la segregacin socioespacial. Sin embargo, el anlisis de la metrpoli de So Paulo todava no estara completo sin la conside racin del papel del Estado, cuya accin revelara la "constitucin de la metrpoli corporativa" de terminada en el modo como el Estado organiza su presupuesto y aplica sus recursos para el "estmu lo de las actividades econmicas hegemnicas apoyado en la estricta racionalidad capitalista en nombre del aumento de la produccin nacional, de la capacidad de exportacin, etc."[11], en de trimento de las aspiraciones sociales, que "condu cen a la formacin del fenmeno que llamamos de metrpoli corporativa, orientada esencialmente a la solucin de los problemas de las grandes firmas y considerando los dems como cuestiones resi duales"[12]. Este hecho tambin caracteriza a la urbanizacin brasilea. De este modo, la posicin de So Paulo obliga a la concentracin de capital infraestructura econmica, en detrimento de las inversiones sociales lo que estara en la esencia de la crisis. Mas el anlisis urbano que deducimos en la obra de Milton Santos, si de un lado muestra una radi ografa sobre la metrpoli del "tercer mundo", re velando sus especificidades y contradicciones pro fundas, de otro lado, la revela como el "nico lu gar en que se puede contemplar el mundo con la esperanza de producir un futuro"[13].

26

Milton Santos

Pero, qu es lo que esto significa? Significa que el mtodo impone el proyecto, este surge como resultado del hecho de que la metrpoli trae en su proceso de desarrollo el movimiento de las con frontaciones, de los enfrentamientos de las fuer zas desencadenadas en el proceso violento de la transformacin. As puede nacer un proyecto que suponga "el pleno reconocimiento de los valores humanos que deben inspirar la elaboracin de una poltica fundada en la justicia social y no en las consideraciones del lucro"[14]. En este contexto el profesor Milton Santos trae una contribucin significativa al entendimiento de la metrpoli en el "tercer mundo" y al hacerlo pro duce una crtica radical sobre el modo como la globalizacin se reproduce en el mundo moderno con la primaca de lo econmico sobre lo poltico, de lo instrumental sobre la finalidad, y del dinero sobre el hombre. Revela, en este sentido, el papel del territorio como cuadro de la vida social, de las tensiones y de las acciones que estimulan las transformaciones. De esta forma, la "realidad apunta el futuro como tendencia"[15] capaz de hacernos pensar la globalizacin en su reversibili dad. Notas [*] Este texto ha sido traducido del portugus por Oscar Alfredo Sobarzo Mio) [1] Milton Santos, Economia Poltica da Cidade, p.17. [2] Milton Santos, O Pas Distorcido, p.151. [3] idem, ibidem, p.86. [4] Milton Santos, A Natureza do Espao, p.258. [5] idem, ibidem, p.271. [6] Milton Santos, A Economia Poltica da Cidade, p.80.

[7] idem, ibidem, p.94. [8] idem, ibidem, p.95. [9] Milton Santos, Metrpole Corporativa Frag mentada: o caso de So Paulo, p.59. [10] idem, ibidem, p.90. [11] idem, ibidem, p.95. [12] idem, ibidem, p.95-96. [13] Milton Santos, O Pas Distorcido, p.71. [14] Milton Santos, Metrpole Corporativa, op cit, p.112. [15] idem, ibidem, p.110. Bibliografa SANTOS, Milton. Metrpole corporativa fragmentada: o caso de So Paulo. So Paulo: Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1990. SANTOS, Milton. Por uma economia poltica da cidade. So Paulo: Hucitec /Educ, 1994. SANTOS, Milton. Tcnica, espao, tempo. So Paulo: Editora Hucitec, 1994. SANTOS, Milton. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. So Paulo: Editora Huci tec, 1996. SANTOS, Milton. (Organizao RIBEIRO, Wagner Costa). O pas distorcido: o Brasil, a globalizao e a cidadania. So Paulo: Publifolha, 2002. Copyright Ana Fani Alessandri Carlos, 2002 Copyright Scripta Nova, 2002 Ficha bibliogrfica: CARLOS, A. F. A. "Un pensamiento sobre la ciu dad: algunas reflexiones". In: El ciudadano, la globalizacin y la geografa. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrnica de geo grafa y ciencias sociales, Universidad de Barcelo na, vol. VI, nm. 124, 30 de septiembre de 2002.http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm [ISSN: 1138-9788]

Milton Santos

27

MILTON SANTOS EN NEUQUN, ARGENTINA: UNA PRESENCIA QUE MARC RUMBOS Mara Nlida Martinez - Universidad Nacional del Comahue. Neuqun - Argentina Milton Santos en Neuqun, Argentina: una presencia que marc rumbos (Resumen) Milton Santos ha sido un verdadero ciudadano del mundo. Desde este artculo se presenta una visin de su paso por Argentina, y en especial se reivindica aquel "2 Encuentro Latinoamericano de la Nueva Geo grafa", en 1974, en la ciudad de Neuqun. Este evento no slo marc una inflexin entre la Geografa Tradicional y la Geografa Crtica Latinoamericana sino que tambin fue el inicio de una fecunda relacin acadmica y de amistad, slo interrumpida en el proceso militar de 1976/83. Fue una reunin cientfica donde se encontraron gegrafos comprometidos con la realidad social, luego de una larga historia de exi lios. Tambin se recrea la trascendencia que tuvieron los eventos cientficos organizados en la Universidad de Sao Paulo, como as tambin su paso por distintas universidades de Argentina en la dcada de los aos 90. Finalmente se expone un anlisis en torno a una de las temticas que Milton desarroll en uno de sus ltimos libros: el territorio. Palabras clave: eventos cientficos, geografia crtica latinoamericana, seminarios, territorio Milton Santos in Neuqun, Argentina: a figure that marked a course (Abstract) Milton Santos has been a true world citizen. This article, presents a vision about his pass through Argenti na, specially recovering that "2 Meeting Latin-American of New Geography", in 1974, en Neuquen's city. This event, not only marked an inflexion between the traditional geography an the critic Latin-American geography, but it also was the start of a prolific academic and friendly relationships, just interrupted in the military process in 1973/83. It was a scientific meeting where were geographers compromised with the social reality, afterwards a large exile history. It also recreates the transcendence that had the scientific events, organized in the Sao Paulo's University, like this, was also his pass through different Argentinean universities in the '90. Finally, there was ex posed an analysis, about one of the themes that was developed by Milton in one of his last books: the territory. Keys words: scientific events, critic Latin-American geography, seminaries, territory El pensamiento de Milton Santos sobre la Geogra fa -y las Ciencias Sociales- ha marcado una con tribucin muy importante para la disciplina, por su rigor y por su original mirada de las problemticas socio-territoriales, desde Amrica Latina. Fue un intelectual comprometido y crtico que recorri el mundo, aportando con su conocimiento nuevas ideas, particularmente pensadas hacia la confor macin de un mundo ms solidario. Desde su in cursin punzante en los mbitos acadmicos eu ropeos y anglosajones denunci y fundament en conferencias, cursos, artculos y diversas obras, la desigualdad manifiesta entre los pueblos ms ri cos y los ms pobres. Por medio de sus conceptos, teorizaciones y cono cimientos, nuestros aprendizajes ya no se limita ron a ideas y ejemplos europeos. Sino que encon tramos una estructura conceptual y emprica acorde a nuestras realidades. Ello nos permiti re forzar la forma de producir y transmitir conocimi ento en esta parte del continente latinoamericano. En este trabajo, que constituye un aporte ms en homenaje a Milton, queremos compartir la visin que fuimos construyendo de l, a partir de su paso por la Universidad Nacional del Comahue, desde el "2 Encuentro Latinoamericano de la Nu eva Geografa", en 1974, hasta los seminarios, conferencias y charlas que mantuvo en distintas ocasiones con profesores y alumnos en esta casa de altos estudios. Por otra parte, tambin hay que destacar la buena predisposicin que siempre ha ba en Milton para responder a nuestros cuestio namientos o para compartir un momento de ca maradera. As, se fue gestando una cercana amistad basada en lazos acadmicos y afectos humanos. Su legado intelectual a la disciplina y a las Cienci as Sociales ha sido muy extenso: el avance sobre la epistemologa de la Geografa, la comprensin del espacio geogrfico dentro del proceso de glo balizacin, el problema de la diversidad regional, las potencialidades y las posibilidades de la ciuda dana y de los lugares han sido, en trminos ge

28

Milton Santos

nerales, algunas temticas desarrolladas en su obra. Es por ello, que en la ltima parte de este espacio, y siguiendo su lnea de trabajo, se incor pora un anlisis acerca de algunas cuestiones ter ritoriales, inspirado en uno de sus libros publica dos recientemente: "La esquizofrenia del territo rio".

profesional, y nuevos temas que marcaban la rea lidad, lo que indicaba la preocupacin de los que participaron en el evento, para gestar otra Geo grafa ms comprometida. Hay que destacar que este II Encuentro de Neuqun marc un hito en la historia de la Geo grafa Latinoamericana, y especialmente en la Ge ografa argentina, ya que por primera vez se esta bleca un contacto humano directo con quienes estaban iniciando otra visin en la disciplina. Sin duda esto permiti la apertura del conocimiento geogrfico hacia otra forma de construir la cien cia, ya que slo conoca autores y cientficos tradi cionales como Federico Daus y Rey Balmaceda. En este contexto, Milton mostr la necesidad de construir un cuerpo terico desde Latinoamrica, que permitiera analizar, comprender y denunciar los complejos procesos territoriales que estaban en marcha. La efervescencia que caracteriz a la Geografa en ese perodo, qued trunca con el proceso militar (1976/83), y as se interrumpi una lnea de tra bajo y una nueva forma de pensar y hacer la Geo grafa. Esto marc el estancamiento y la regresin de la disciplina con el consecuente retorno a los viejos enfoques. No obstante qued marcada la relacin y el cario que Milton Santos tena por Neuqun. El "I Encuentro de Gegrafos Latinoa mericanos" de 1987, desarrollado en Aguas de Sao Pedro, Brasil, fue el evento en el cual se res tableci nuevamente dicha relacin, que perdur, con los gegrafos de Neuqun, hasta su desapari cin fsica.

El II Encuentro Latinoamericano de la Nueva Geografa, (1974) En Febrero de 1.974 se realiz el "II Encuentro Latinoamericano de la Nueva Geografa", en el marco de la Universidad Nacional del Comahue, Neuqun, Argentina. El Dr. Alfredo Trccoli More no, gegrafo uruguayo de destacada trayectoria, era en ese entonces el director del Departamento de Geografa, anfitrin del evento. Fue una reu nin cientfica donde se encontraron gegrafos comprometidos con la realidad social, luego de una larga historia de exilios. Estuvieron invitados el Dr. Pierre George, como referente europeo y propulsor de estas ideas en los jvenes gegrafos de esa poca, y el Dr. Mil ton Santos como referente latinoamericano. La imposibilidad de la presencia de George hizo que Milton Santos destacara la realidad latinoamerica na, en el contexto del Tercer Mundo, fundada en la desigualdad. Esta visin que marcaba la dife rencia socioeconmica del mundo occidental, la perfeccion en los aos de exilio en Tanzania (Africa) y en Francia. Comenta B. Saint Lary que "...en ese momento estaba exiliado de su pas por persecucin poltica, y desde entonces ha mante nido lazos profesionales y de amistad con los do centes e investigadores del Departamento de Ge ografa de la UNCo. Fue numerosa la delegacin uruguaya que asisti al encuentro, entre cuyos miembros cabe destacar la presencia de Germn Wettstein, profesor uruguayo. Resulta tambin importante destacar, al grupo de gegrafos de la Universidad de Buenos Aires, con la presencia de los profesores Elena Chiozza y Carlos Reboratti"[1]. Tambin asistieron colegas de la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, con la presencia del Dr. Capitanelli. Los temas que se trataron giraron en torno al rol del gegrafo como

La significacin de los eventos cientficos organizados en la Universidad de Sao Paulo La necesidad de hacer real una discusin discipli nar para la construccin de una Geografa Crtica desde Latinoamrica, con el objeto de compren der los cambios del mundo contemporneo en el proceso de globalizacin, llev al Departamento de Geografa de la Facultad de Filosofa, Letras y Ciencias Humanas de la Universidad de Sao Paulo, bajo la direccin de Milton Santos, a organizar un

Milton Santos

29

proyecto ambicioso, con distintas actividades que se concretaron en los siguientes eventos: 1. Encuentro Internacional "El nuovo mapa del mundo", en 1992; 2. Seminario "Territorio. Globalizacin y fragmen tacin, en 1993; 3. Encuentro Internacional "Lugar, formacin soci oespacial, mundo", en 1994. 4. Encuentro Internacional . El mundo del ciuda dano. Un ciudadano del mundo, el cual fue un ho menaje para discutir el pensamiento y la obra de Milton Santos. Milton Santos, profesor titular de esa casa de al tos estudios, fue el idelogo junto a sus colabora dores, de este movimiento Latinoamericano que nos reuni para reflexionar sobre los procesos ac tuales que estaban transformando a los territori os. La convocatoria a estos encuentros siempre tuvo una respuesta masiva en todos los casos. Ci entficos y profesores de todo el mundo concurrie ron a ellos, exponiendo sus conferencias y traba jos metodolgicos o regionales. Eran verdaderos laboratorios de trabajo intelectual donde se cons trua la Geografa. El Departamento de Geografa de la Universidad Nacional del Comahue, estuvo presente en cada uno de ellos a travs de docen tes-investigadores que concurrieron con distintos trabajos referidos al rea Norpatagnica. As, se produjo un frtil intercambio entre nues tras investigaciones y los conocimientos de aquel los gegrafos que hasta ese entonces, y en el nor te de la Patagonia, slo tenamos acceso a las nu evas ideas crticas, a travs de sus libros de texto y publicaciones. En los encuentros estaban pre sentes Paul Claval, Oliver Dollfus de Francia, Ho racio Capel, Joan-Eugen Sanchez, Joaqun Bos que Maurel y Aurora Garca Ballesteros de Es paa, Richard Peet, Neil Smith, Saskia Sassen y Eduard Soja de Estados Unidos, Renato Ortiz, Otavio Ianni y Manoel Correia de Andrade de Bra sil, Graciela Uribe Ortega de Mxico, entre otros. Este contacto directo signific presenciar la cons truccin de una nueva manera de hacer Geogra fa. Sin duda, estas reuniones nos marcaron otra forma de estudiar, investigar, transmitir y com

prender el mundo contemporneo a travs de la Geografa.

El contacto con Milton en jornadas y seminarios en Argentina El primer contacto directo que un grupo de docen tes de la Universidad Nacional del Comahue tuvo con Milton Santos (luego del 1974), fue en Octu bre de 1992, cuando el Departamento de Geogra fa de la Facultad de Filosofa y Letras de la Uni versidad de Buenos Aires organiz el Seminario "Sociedad - Naturaleza. La accin del Hombre, las Tcnicas. La Produccin Social del Tiempo y Espa cio". Cabe aclarar que en esa ocasin, la UBA le otorg la distincin de "Doctor Honoris Causa". En esa oportunidad fuimos sus alumnos. Eramos un joven grupo de gegrafos de Neuqun, entre otros, quienes estbamos sorprendidos ante la nueva estructura conceptual y metodolgica que nos transmitiera Milton. Esa visin, an inacabada para nosotros y en parte incomprendida en ese momento, fue el comienzo real de nuestra bs queda y compromiso con un trabajo geogrfico reflexivo y crtico de la realidad, que se concret en nuestras investigaciones y actividades docen tes inmediatas. Sus enseanzas continuaron luego, en: - Mayo de 1993, en el Seminario "Globalizacin y Medio Tcnico Cientfico", desarrollado en el IDEHAB, Instituto de Estudios del Habitat, de la Facultad de Arquitectura y el Departamento de Geografa de la Universidad Nacional de La Plata. - Junio de 1993, en el Seminario"Do Meio Natural ao Meio Tcnico-Cientfico", organizado por la Uni versidad Nacional del Sur, Dto de Geografa, Baha Blanca. - Octubre 1993, en el Seminario "Del Paisaje al Espacio", dictado en la Universidad Nacional del Comahue, Neuqun. - Diciembre de 1994, en el Seminario "Los Nue vos Mundos de la Geografa", organizado por el Departamento de Geografa de la Universidad Na cional del Sur, Baha Blanca. - Marzo de 1.997, en el VI Encuentro de Gegra fos Latinoamericanos (EGAL), en Buenos Aires,

30

Milton Santos

donde dict la conferencia referida a "La fuerza del lugar. Orden Universal. Orden Local". - Setiembre de 1997 - VIII Jornadas Cuyanas, "Pensamiento y Accin", organizadas por el De partamento de Geografa e Instituto de Geografa de la Facultad de Filosofa y Letras de la Universi dad Nacional de Cuyo, en Mendoza. En esa opor tunidad se le otorg el ttulo "Doctor Honoris Cau sa" y el Prof. Milton ofreci un discurso en torno al"Espacio Geogrfico y su nueva definicin". - Septiembre de 2000, Jornadas de Investigacin en la Universidad Nacional del Sur en Baha Blan ca, donde se le otorg el ttulo "Doctor Honoris Causa". Este ha sido nuestro proceso de aprendizaje a tra vs de las enseanzas de Milton Santos. Hemos compartido sus preocupaciones, sus reflexiones y su contribucin terica-metodolgica orientadas hacia las cuestiones actuales y diversas de la Ge ografa. Nos ense ha construir una forma de rehacer la geografa, comprendiendo otra inter pretacin del mundo, que luego nos facilit el pro ceso de enseanza-aprendizaje con nuestros alumnos. Su intervencin permanente en los distintos even tos fue de avanzada. Su lnea de trabajo, de ca rcter revolucionaria y en ocasiones provocativa, nos dej las mentes pensantes e inquietas. En este marco y como ya se adelantara, se presenta a continuacin, una resea y anlisis en torno a una de las temticas que Milton desarroll:el ter ritorio..

El territorio gana nuevos contornos, nuevas carac tersticas y definiciones. No slo es un escenario donde hay sucesiones temporales de acontecimi entos, sino que es un todo que "revela los movi mientos de fondo de la sociedad ... donde los ac tores sociales ms poderosos se reservan los me jores pedazos y dejan el resto para los otros", (Santos, 2000:79). "El territorio no es un dato neutro ni un actor pa sivo. Se produce una verdadera esquizofrenia, ya que los lugares escogidos acogen y benefician los vectores de racionalidad dominante, pero tambin permiten la emergencia de otras formas de vida. Esa esquizofrenia del territorio y del lugar tiene un papel activo en la formacin de la conciencia. El espacio geogrfico no slo revela el transcurso de la historia, sino que indica a sus actores el modo de intervenir en l de manera consciente" (Santos, 2000:80). El penltimo libro que escribi en el ao 2000, lo denomin"Por uma outra glo balizcao. Do pensamento nico a consciencia uni versal". A un ao de su desaparicin fsica quere mos compartir a travs de este artculo, algunas de las ideas principales que desarrolla en ese tex to.

La violencia de la informacin Segn el profesor Milton Santos, una de las carac tersticas del perodo histrico actual, es el papel desptico que tiene la informacin. El avance de la tecnologa en comunicacin debe ra posibilitar el conocimiento del planeta real, sus sistemas sociales, sus sistemas artificiales. Pero en realidad los que producen la informacin, ge neralmente estn lejos de que as sea. Por un lado la informacin es manipulada en funcin de objetivos particulares y hegemnicos. Y por el otro, la facilidad o la dificultad en la obtencin de sucesos de la realidad de los pases "libres" o de los "menos libres", hace que se informe una parte del mundo, que al decir verdad, en su funcionami ento constituye un todo interrelacionado. Por lo tanto, slo se muestra en su parcialidad, lo cual significa mostrarlo a medias. "El evento se le en trega maquillado al lector, al oyente, al telespec tador, y es tambin por eso que en el mundo de

La esquizofrenia del territorio El profesor Milton Santos, gegrafo y pensador brasileo, nos leg con su vasta obra intelectual, una propuesta de interpretacin multidisciplinar del mundo contemporneo. Ideologa, globaliza cin perversa, tirana de la informacin y el dine ro, confusin de los espritus, empobrecimiento creciente de las masas son algunos de los concep tos, que entrelazados y contextualizados en nues tra realidad, nos permiten construir un bagaje de ideas para comprender parte de nuestra existen cia.

Milton Santos

31

hoy se producen simultneamente, fbulas y mi tos" (Santos, 2000:40). Actualmente la informacin es esencial, impres cindible. Pero lo que abunda es la noticia manipu lada y superficial que en vez de esclarecer, con funde. "Los eventos se falsifican, porque no es el hecho verdadero lo que los medios nos dan, sino que es una interpretacin, esto es, la noticia (...) marcada por los humores, visiones, preconceptos e intereses de las agencias" (Santos, M., 2000:39). La produccin, el poder y el consumo necesitan de la informacin como propaganda para "vender", es por eso que el discurso antecede a las accio nes, dirigidas a tal propsito. Por ello hay una presencia generalizada de lo ideolgico, hecho que confunde ideologa con realidad. " Estamos delante de un nuevo "encantamiento del mundo", en el cual el discurso y la retrica son el principio y el fin. Ese imperativo y esa omnipresencia de la informacin son insidiosos, porque la informacin actual tiene dos rostros, uno por el cual busca ins truir, y otro, por el cual busca convencer. Este es el trabajo de la publicidad. Si la informacin tiene hoy, esas dos caras, la cara de convencer se tor na mucho ms presente, en la medida en que la publicidad se transform en algo que anticipa la produccin. Las empresas luchan por la supervi vencia y la hegemona, en funcin de la competiti vidad, no pueden existir sin la publicidad, pues ella se torn el nervio del comercio", (Santos, 2000: 39/40).

ternos pasan a participar de la lgica financiera y del trabajo financiero de esa multinacional. Cuan do el dinero es expatriado luego puede volver al pas de origen en forma de crdito y de divisa, es decir, por intermedio de grandes empresas globa les. Lo que sera impuesto interno se transforma en impuesto externo, por el cual los pases deudo res deben pagar cuotas extorsivas. Lo que sale de un pas como royalties, inteligencia comprada, pago de servicios o remesa de lucros vuelve como crdito y deuda. Esa es la lgica actual de la in ternacionalizacin del crdito y de la deuda. La aceptacin de un modelo econmico en que el pago de la deuda es prioritario implica la acepta cin de la lgica de ese dinero" (Santos, 2000:43). El sistema financiero internacional no slo cuenta con la base de megaempresas productoras de bie nes y servicios, sino que tambin se reproduce con el "blanqueo" de dinero sucio, y viceversa, de los capitales destinados al terrorismo, la venta ile gal de armas, el trfico de drogas. Los hechos re cientes los confirman. La ausencia de control del origen y destino de estos capitales se ha transfor mado en una nebulosa y en una amenaza para la paz mundial. La suma de dinero que manipulan las redes terroristas es cuantiosa. Para 1990 osci laba entre 800.000 y 900.000 millones de dla res. Como dato ilustrativo de la magnitud del tema, los expertos han creado un instrumento es tadstico denominado PBC, Producto Bruto Crimi nal. En los ltimos 10 aos las mafias han acumu lado ms de 3.300 millones de dlares, que estn esparcidos por el mundo en el sistema financiero. "Las finanzas mueven la economa y la deforman, llevando sus tentculos a todos los aspectos de la vida. Por eso, es lcito hablar de tirana del dinero. Si el dinero en estado puro se torn desptico, eso tambin se debe al hecho de que todo se tor na valor de cambio. La monetarizacin de la vida cotidiana gan en el mundo entero, un enorme terreno en los ltimos 25 aos. Esa presencia del dinero en todas partes acaba por constituir un dato amenazador de nuestra existencia cotidiana", (Santos, 2000:44).

La violencia del dinero El circuito del capital financiero no tiene fronteras, ni territorio. Es el compaero inseparable de las grandes empresas porque distribuye y organiza el uso financiero del dinero que ganan. Las empre sas se mueven en el mundo, en torno a una red interconectada, cual si fuese un flujo de energa constante, con un lgica comn aplicada en todos los lugares donde se asienta. El profesor Santos por ejemplo, describe a este movimiento econ mico global a partir del usufructo de impuestos que realizan las multinacionales. Al respecto afir ma que "... Cuando una empresa de cualquier pas se instala en un pas C o D, los impuestos in

32

Milton Santos

La globalizacin del terrorismo y el territorio Los territorios de Oriente y Occidente son diferen tes por su pasado histrico, su cultura, su identi dad... Pero con el acto terrorista de New York y Washington, qued demostrado, que el sistema fi nanciero, y la informacin ubic a estos dos mun dos, tornndolo uno. El dinero unific al planeta en una aldea global, al tomar conciencia que la fi nanciacin de los atentados fue concretada con los depsitos de clulas terroristas en plazas fi nancieras de ciudades ms importantes del mun do. Desde las capitales europeas a las principales ciudades de EE.UU. La lgica capitalista