nossos escritores | 2

58

Upload: be-esmm

Post on 10-Mar-2016

227 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Colectânea de textos escritos pelos alunos da Escola Secundária Morgado de Mateus, em 2010-2011.

TRANSCRIPT

Page 1: Nossos Escritores | 2
Page 2: Nossos Escritores | 2

3

CCCooollleeeccctttââânnneeeaaa dddeee ttteeexxxtttooosss dddaaa aaauuutttooorrr iiiaaa dddooosss aaallluuunnnooosss

Ano 2010 – 2011

Edição da Escola Secundária Morgado de Mateus

Page 3: Nossos Escritores | 2

4

PREFÁCIO

Escrever exige libertação. Dizem-mo estas poucas palavras, urdidas num tempo roubado a incumbências menos criativas. Percebo, por isso, que muitos se entreguem à comodidade de não escreverem mais do que o estritamente necessário. Mas não são todos, felizmente, e é sabido que alguma loucura e uma boa dose de poesia fazem parte da nossa matriz nacional.

É possível e benéfico concedermo-nos a liberdade de esquecermos, por momentos mais ou menos prolongados, as obrigações que nos atormentam a vontade de partilharmos o que imaginamos. Essa é uma das nossas riquezas maiores – a imaginação – e a escrita criativa uma forma, ao alcance de muitos, de enriquecer o mundo de todos com o pensamento de cada um.

Neste livro, vai mais uma mão cheia de jovens autores que dão razão às minhas palavras. Da sua vontade nasce esta colectânea de textos e a nossa alegria de vermos, mais um ano renovada, a veia criativa dos alunos da nossa escola!

Maria Manuel Carvalhais

Page 4: Nossos Escritores | 2

5

O Mar

O mar é uma longa extensão de água

salgada que nos leva ao infinito. Não acaba. Não

tem limites, nem uma trajectória determinada.

Sabemos que pode ser sinónimo de riqueza,

prazer, liberdade, calma, ou, conjuntamente,

catástrofe, perigo e dor.

O mar pode ser uma fonte de prazer e

liberdade, por exemplo, para os surfistas. Um

surfista, quando apanha uma onda “perfeita”,

sente-se livre devido à permanência durante um

determinado período de tempo em contacto

directo com a Natureza. Por breves momentos

acredita que é ele que comanda tudo e todos.

Sente-se calmo e, simultaneamente, agitado

devido ao turbilhão de sensações que se passam

no seu interior.

Por outro lado, um indivíduo pode olhar o

mar como um perigo, uma dor ou um sofrimento.

Quando existem medos, todo o nosso imaginário

nos consome com seres míticos, criaturas e

Page 5: Nossos Escritores | 2

6

factos irreais, tal como aconteceu aos

Portugueses nos Descobrimentos, no cabo das

Tormentas, onde idealizaram a existência de um

monstro horrível e terrível.

O mar pode ainda tornar-se o pior inimigo

do Homem no que diz respeito a catástrofes

naturais. Geralmente são repentinas,

avassaladoras, sem premonições e causam

inúmeros estragos na vida de uma sociedade

como, por exemplo, o que aconteceu

recentemente no Japão.

Assim, pode afirmar-se que o mar provoca

reacções distintas a quem com ele vive, uma vez

que funciona como uma “ponte” no quotidiano do

homem, pois este necessita dele para sobreviver

e simultaneamente pode temê-lo ao ponto de se

sentir aterrorizado ao imaginar as suas forças

incrivelmente cruéis.

Alexandra Nunes, 12ºB

Page 6: Nossos Escritores | 2

7

Aquecedor de Alma

A vida das pessoas dá voltas e voltas sem

que elas se apercebam e quando está parada, faz

arrepiar a pele, faz bater o coração, que dói, uma

dor inexplicável, uma dor que grita tão alto que

ecoa nos ouvidos.

Uma batida e outra logo a seguir, a

respiração ofegante, o transpirar da pele, aquele

calor tão corporal que percorre as cicatrizes do

passado, envolve o tempo, a hora, o espaço e

transforma tudo num momento de decisão, onde o

amor deixa de valer a pena, onde os momentos

são esquecidos e onde a dura razão quebra

qualquer encanto e julga o coração, condenando-o

a uma frieza mórbida que apenas poderá ser

aquecida por ti.

Ana Silva 12º D

Page 7: Nossos Escritores | 2

8

Poço da Vida

Deixei-me

C

A

I

R

D – e – v – a – g – a – r – i - n - h – o

Pé,

Por,

Pé,

E caí tão fundo,

Que a vida deixou de ser, o

C a m i n h o.

Ana Silva, 12º D

Page 8: Nossos Escritores | 2

9

O ABC de Viver

A vida é tão natural quanto escrever o

abecedário, que pode ser escrito de várias

maneiras, com diferentes tipos de letra e

tamanho, tal como a vida, que pode ser vivida de

diferentes formas, por muitas e diferentes

pessoas.

E julgando letra a letra, o abecedário vai-

se tornando-se numa palavra, numa frase, num

texto, que descreve o que somos desde que

existimos até o que iremos ser, no futuro.

Ana Silva, 12º D

Page 9: Nossos Escritores | 2

10

Ligações Falhadas

Deixou-me assim, e sempre que o recordar,

irá deixar-me da mesma forma, sem sentido, sem

ligação, apenas existente.

Parecia que tinha sido hoje, agora e que

nunca mais chegava ao fim. Aquela textura,

aquele respirar apressado, aquela força que

exercia em mim.

E eu estática, sem conseguir mexer os

dedos e com o sangue a gelar dentro das veias

que ferviam dentro de mim.

É hoje, é a última vez, pensava. Mas não,

aquele bafo, aquele terror voltava sempre e

voltaria sempre que o permitisse.

Ana Silva, 12º D

Page 10: Nossos Escritores | 2

11

Moi et Toi

E é assim que ficamos, no anonimato, mas

tanto eu como tu queríamos que fosse diferente.

Tu querias que o meu “moi” ficasse cor de

rosa, porque sabes que sou feliz quando tenho

alguma coisa dessa cor, e eu queria que o teu “toi”

estivesse verde ou azul, talvez os dois, queria que

ambos nos fizéssemos notar, num arco-íris de

sentimentos, mas em vez disso, encontramo-nos

assim, em tons de cor nenhuma, em branco quase

sem cor, e o que ainda nos salva é o “et”, que

esteve sempre lá, que presenciou todo o nosso

“amour”, todos os nossos momentos bem

passados.

E agora resta-nos esperar que pintinha por

pintinha, a tinta dissolva com o tempo, tal como o

amor se vai evaporando com o calor de outro

alguém, que chega em tons amarelados e que nos

faz sorrir, que nos faz feliz e nos devolve o nosso

arco-íris sentimental.

Ana Silva, 12º D

Page 11: Nossos Escritores | 2

12

Saudade

Sonho contigo e recordo a maneira como

me sorrias, como possuías aquele olhar meigo que

me iluminava e a doce companhia que eu tanto

desejava e desejo.

Foste uma lutadora esforçada e para mim

nunca falhaste! Entregaste muito amor e afecto!

Avó, partiste mas ficaste!

Queria sentir novamente o teu beijo, mas

perdi-o e sei que nunca mais o voltarei a ter!

Dizias-me que, quando eu fosse crescida, já não

estarias cá, mas eu nunca te disse adeus, vou

esperar para te dizer olá.

Tenho saudades! Bastantes! É natural! Eu

nunca esperei que fosses tão cedo, mas a vida é

assim. Cínica, falsa e injusta! Mas quem nunca

sofreu ainda não sabe o que ela custa e eu fiquei

a conhecer o extremo da dor quando senti a tua

perda de maneira tão dura.

O meu mundo, esse, ainda hoje não tem

cor, porque eras tu que o pintavas com o teu amor

e com a tua maneira de ser, carinho e perfeição.

Sempre foste a amiga do coração, o meu orgulho,

o meu porto de abrigo, fosse para o que fosse.

Page 12: Nossos Escritores | 2

13

E as nossas brincadeiras sempre

„saudáveis‟, hoje trazem saudades insuportáveis

que simplesmente me limito a deixar correr pelo

rosto, desde que o sol nasce até desaparecer no

lado oposto. Todos os dias me lembro de ti, nunca

te esqueço! És uma das pessoas que está mais

longe e mesmo assim eu busco em ti, toda a minha

felicidade, toda a minha sobrevivência, dia após

dia.

E então, aí, a tua ausência torna-se terrível

porque o mundo dos sentimentos torna-se

sensível.

Já chorei a perda de muitas pessoas mas

agora não se vai repetir, vou pôr em prática o que

me ensinaste, e ensinaste-me a sorrir. Partiste

sem avisar mas não te vou deixar! Vou

desobedecer ao provérbio “até que a morte nos

separe”!

Agora, ficam as boas recordações, as

eternas saudades, os beijos que me deste, todas

as tuas felicidades e as tuas emoções.

Gosto de recordar tudo o que passámos, apesar

de não ser fácil, porque me faz odiar esta vida

tão frágil que te levou para um mundo além deste,

para bem longe de mim, de nós… Mas olha sempre

por mim, como um dia prometeste.

Page 13: Nossos Escritores | 2

14

Olho para ti todas as noites, adormeço e

acordo contigo no meu coração e aqui te deixo

todos os dias, para que nunca fiques sozinha.

Lembro-me bem daquele dia - treze de

Maio de dois mil e dez - daquela hora e da enorme

saudade que senti, mesmo antes de te ver partir!

Eu desejo o dia em que nos encontraremos

novamente, porque será o dia mais feliz da minha

vida, certamente.

Para sempre, avó da minha vida!

Simone Alves Lopes, 11ºPRO-A

Page 14: Nossos Escritores | 2

15

Pedaços da minha vida

A nossa vida é feita de pedaços bons e

outros menos bons. E que piada tinha se tudo

fosse um mar de rosas? É importante surgirem

desafios, ultrapassarmos obstáculos, não nos

rendermos à rotina. Todavia temos de ser

realistas, não é qualquer pessoa que tem estofo

para aguentar alterações todos os dias… Temos

direito a uma vida digna e, de preferência, sem

grandes oscilações. Mas, à falta de melhor, que

tenhamos alguns grandes momentos!

De certa forma temos a sorte de apenas

encontrar testemunhos de pura felicidade,

nomeadamente em fotografias. São recordações,

lembranças e memórias, os ingredientes por

excelência da saudade; são retratos do que um

dia nos fez feliz, de quem nos fez feliz.

Page 15: Nossos Escritores | 2

16

Por essa mesma razão devemos dizer aquilo

que sentimos, no momento certo, para que, mais

tarde, não nos arrependamos de não o ter feito. E

se, nesse mesmo momento, adiarmos o que deve

ser dito, talvez por vergonha, por recearmos

falsas interpretações ou simplesmente porque

não, então depois…!!! Depois poderá ser tarde

demais ou até já não fazer qualquer sentido.

Essas pessoas poderão já nem estar presentes e

então emerge a insatisfação que leva à saudade

desses tais momentos perfeitos.

Esquece! Não podes voltar atrás! Decides

reconstruir o passado: escolhes minuciosamente o

local, a data… Desilusão! Nada é igual! Não tens as

mesmas sensações que há uns tempos atrás, o teu

discurso é diferente, tu és diferente! Mas nem

tudo é mau… Retiras uma lição, um conselho para

a tua própria vida, para a vida dos teus pares.

Viver ao máximo, com intensidade! Usufruir de

Page 16: Nossos Escritores | 2

17

todos os momentos, crescer com eles, aprender

com eles. Foram sentimentos vividos, mas

acredita, nunca esquecidos!

E vem a saudade… Não a podes comandar,

não a podes reprimir. Porém, podes matá-la,

estando novamente nos mesmos sítios, com as

mesmas pessoas, mas o tempo já lá vai, esse teu

eterno inimigo que nunca te vai deixar, persegue-

te!

Não há sentimento mais estranho: saudade?

Percorre os extremos que uma pessoa pode

sentir: é a nostalgia do passado que, quer queiras

quer não, causa uma tamanha tristeza e um

enorme vazio e é também a felicidade sentida no

presente que viveste.

Sem dúvida que as fotografias nos

transportam a estes sentimentos opostos, estes

momentos confusos. Contudo, é bom passarmos

Page 17: Nossos Escritores | 2

18

por tudo isto. Se sentimos saudade significa que

a nossa vida foi cheia, tornou-nos completos. Sim,

porque nunca sentiste saudade do que, um dia, te

atormentou, pois não?

Repara, eu tenho imensa sorte em ainda ter

todas estas pessoas, que sempre foram

importantes para mim, comigo. Sempre que

quiser, posso lembrar-lhes do que significam, do

sentimento que em mim despertam. E tu, tens?

Não percas a oportunidade!

Realmente… As saudades que eu tenho do

verão! Sair todas as manhãs, tardes e noites.

Acordar sem preocupações, sem nada para fazer;

programas diferentes todos os dias! A diversão

com os que mais gosto, a calma que sempre

desejo.

Já para não falar da praia, da piscina, dos

bons ambientes. Confraternizar, conviver… mas

Page 18: Nossos Escritores | 2

19

que lindos verbos! Por mim a vida era só isto, não

desejaria melhor…

Não, não! Volta inverno, estás perdoado!

A rotina… Escola, casa, casa, escola,

estudar, treinar dormir. O quentinho e bem-estar

da minha casa deveras acolhedora. O controlo das

emoções, o stress do dia-a-dia, o pânico aos

testes, a aflição que algo corra mal!

A neve, o frio, os cobertores e grandes

casacos. De facto, agitação, movimento! É o Natal

que está a chegar… família, prendas, o que mais

posso querer?

Sabes que mais… Eu tenho saudades dos

primeiros dois anos da minha vida… Sem

responsabilidades, sem pensamentos fúteis. O

mundo girava à minha volta: tinha o que queria,

Page 19: Nossos Escritores | 2

20

quando queria. A menina da mamã, a menina do

papá, a menina da família toda!

Oh! E o infantário! A grande base da minha

vida: os meus primeiros amigos, os meus primeiros

professores, as minhas primeiras refeições de

gente. Brincadeira atrás de brincadeira e pelo

meio uma sesta. Que rica vida!

A partir daí foi sempre a crescer. Ainda no

colégio, sempre protegida, já requeria algum

esforço, dedicação no estudo, sem nunca perder

as amizades. Mas que recordações que me traz: a

macaca, o futebol, as corridas, uma geração feliz

e contente!

Depois escola pública… Tantas asneiras,

tantos disparates. Foi nesta altura que percebi

quem eram os meus verdadeiros amigos, aqueles

que não tentaram levar-me por maus caminhos.

Sorte a minha: eram poucos mas muito bons!

Page 20: Nossos Escritores | 2

21

Novas mudanças, novos rumos e sobretudo uma

nova consciência.

E aqui estou eu, numa nova etapa. Já tenho

saudades do que ainda não vivi. Não quero ir,

deixem-me ficar, não quero voltar a mudar!

E, apesar de tudo, vou sentir a vossa falta,

porque penso que já deu para perceber que só

valorizo os bons momentos!

Joana Lêdo Ribeiro Tomé Queirós, 12º A

Page 21: Nossos Escritores | 2

22

A manhã escura depois de uma noite

sem sentimentos

Despertei de um sono atribulado e sem

sentimentos. Abri os olhos, olhei em meu redor e

voltei a fechá-los. Nada de barulhos, nada de luz,

tudo calmo. Não tinha vontade de me levantar,

apenas queria ficar ali, na escuridão imensa do

meu quarto, a reflectir sobre a escuridão em que

me encontrava. Estava escondida e envolvida por

um calor artificial, e enrolada em mim tal como

um feto dentro da barriga da progenitora, seguro

de tudo o que o rodeia. No entanto, sentia-me

desprotegida de tudo e só queria permanecer tal

como estava, imóvel, escondida e sem pensar em

mais nada.

Subitamente, e sem querer, relembrei-me

das grandes pequenas coisas que mais temia e que

me magoavam incansavelmente. Tudo o que me

atormentava brotou, pela milionésima vez, dentro

de mim, tal qual uma flor que rebenta por entre a

terra, ferindo-me lenta e dolorosamente. Percebi,

então, que os bonitos sonhos que eu tinha

Page 22: Nossos Escritores | 2

23

idealizado se desvaneciam à medida que o tempo

me fugia através das palmas das mãos frias e sem

acção. Sentia-me impotente, mas, no fundo, com

um forte sentimento de culpa e frustração.

Assim, todos os meus medos vieram à tona e

estremeci. Tinha receio de não ser capaz, tinha

receio de não ter forças nem vontade para lutar,

tinha receio de tudo o que podia acontecer no

futuro. E, principalmente, sentia um enorme

temor em desiludir todos aqueles que acreditam

em mim. Estava só e angustiada e, por entre

todos estes pensamentos, questionei o porquê de

ter acordado. O facto de continuar a dormir,

naquele sono inconsciente, longo e sem

sentimentos, teria ajudado em muito.

A manhã nasceu, fria e escura.

Inesperadamente, surgiu no mais profundo do

meu ser uma imensa vontade de chorar; foi

inevitável. A minha visão tornou-se embaciada, tal

como o vidro de um carro em dias de nevoeiro

cerrado. Sentia os olhos prestes a largar a sua

essência. Como tal, tornaram-se cada vez mais

cintilantes até que uma lágrima surgiu e desceu

pela minha face carregada de angústia, seguindo-

Page 23: Nossos Escritores | 2

24

se outra e outra…. Apesar de tudo, senti-me

bastante aliviada, descarregando toda a minha

mágoa e desassossego.

Quando entendi tudo o que se passava,

percebi que não estava a agir bem pois não tinha

lutado. Compreendi que os sonhos são para nos

pôr à prova e que não são verdadeiros se não

tiverem obstáculos. Por isso, é necessário lutar,

lutar e lutar. A vida é assim, feita de lutas

constantes, podendo ser tanto justa como

injusta. É simplesmente a vida que temos de

saber e aprender a viver, caso queiramos vingar e

ser realmente felizes.

Após longos minutos de reflexão,

finalmente ganhei forças e levantei-me.

Abandonei o quarto ainda escuro e dirigi-me até à

cozinha, parando à entrada da porta. Dentro,

encontrava-se um vulto bastante familiar, que me

olhou ternamente. Avancei três passos em frente

e recebi um abraço. Naquele momento, foi tudo o

que precisei, nada de explicações nem

repreensões. Apenas um abraço sentido e forte

bastou para abrandar toda a culpa que sentia e

seguir em frente. Assim, a manhã sombria e

Page 24: Nossos Escritores | 2

25

nublada finalmente abriu, e começaram a raiar as

primeiras pontadas de luz.

Joana Pires, 12ºB

Page 25: Nossos Escritores | 2

26

Diz-me

É tarde para nascer, tu sabes,

e cedo para morrer, tu sabes.

Deus deixou-te ir para o sítio mais belo do

mundo:

a morte.

Não é azar, não é sorte,

é a vida que passa sem nos deixar sonhar.

Mas eu sonhei, sonhei ficar contigo, meu trigo

semente que nasceu, morreu e me deixou nesta

solidão.

Vai-te, vai-te, sai do meu coração!!

Odeio esta vida, odeio, e por isto quero pôr fim,

um fim, um fim.

Pela noite a dor chega,

teu rosto se esvai

e eu fico olhando o céu,

o céu e nada mais o que nos une.

Estás longe, tão longe, sou uma alma

perdida que não quer ver mais a luz do dia

e a solidão da noite.

Diz-me ao menos que me amas.

Diz me ao menos que me esperas.

Page 26: Nossos Escritores | 2

27

Diz-me que o céu apenas vai ser algo em comum.

Diz-me tudo, estou por tudo.

Não me ignores

Carla Leirós Bento, 12º B

Page 27: Nossos Escritores | 2

28

Meu grande amigo de todas as horas.

A amizade é como uma flor,

Sensível e formosa,

Sem causar tristeza nem dor,

Apenas esbelta como uma rosa.

Que posso eu fazer

A quem tanto faz por mim?

A não ser esta sincera homenagem

Numa folha de carmim.

Para ser um amigo verdadeiro

Temos de dar carinho e amor,

Como um fiel jardineiro

Que cuida da sua flor.

Amigo verdadeiro!

É assim que te posso chamar,

Quando tenho alguma mágoa

És tu quem me vem ajudar.

Sinto uma profunda admiração

Pela pessoa que te tornaste,

Com toda a grandeza da tua amizade

Sinto que sempre me amaste.

Page 28: Nossos Escritores | 2

29

Que o Universo te cubra de luz

Nesta vida de ilusão,

Seguiremos sempre em frente,

Te darei sempre a mão.

Juliana Gonçalves, 12ºB

Page 29: Nossos Escritores | 2

30

O Amor, a arte e o Beijo

Quando me beijas, tremo, tremo de prazer,

amor e ânsia. Tu tens uma graça, uma beleza e um

fascínio únicos! És quente como a luz do sol e

suave como o amanhecer. Quando te beijo não

sinto um simples desejo ou atracção, mas sim uma

grande ternura e um amor tão forte que me faz

estremecer. Sentir a terna pressão dos teus

lábios sobre os meus faz com que seja quase

impossível suportar tanta doçura! Talvez isto seja

básico para algumas pessoas ou então

incompreensível para outras, mas falamos da arte

da representação, da arte da música, de tantas

artes, que pouca gente se apercebe que a maior

arte, e a mais complicada, é a arte de amar, de

nutrir um sentimento tão forte que envolve tudo,

que não deixa livre nenhum pedaço de nós. É a

arte de nos entregarmos totalmente, sem medos

ou vergonhas. Uma arte que exige dedicação,

empenho e principalmente alma. Muita alma, uma

alma que tem que ser forte determinada. É a arte

de amar, de não pensar. É a arte de sentir.

Page 30: Nossos Escritores | 2

31

Depois de saber o que é o amor, conhecer a

sua arte e depois de o viver, sinto-me capaz de

concluir que as coisas vulgares que há na vida não

deixam saudades, só as lembranças que doem ou

fazem sorrir.

Bárbara Reis, 11º D

Page 31: Nossos Escritores | 2

32

A PRESENÇA

As pernas tremiam quando pensava no tão

esperado reencontro, estava ainda mais nervosa

do que quando nos conhecemos. Não queria pensar

no que acharias de mim, eu ainda sou a mesma e o

que sinto continua intacto, tu sabes.

(…)

Quando te vi senti o meu rosto quente, não

sei porquê, mas ainda agora o sinto. São os

efeitos do nosso reencontro, que tomam conta do

meu corpo. Corri para ti e abracei-te como já não

fazia há muito tempo, estava feliz, tão feliz,

inevitavelmente feliz…

Ainda consigo sentir o teu cheiro e os teus

braços a apertar o meu corpo. Como eu sentia a

tua falta, nem imaginava o quanto, até àquele

momento! Restava-me aproveitar o tempo que

tinha contigo, não era o suficiente para deixar de

sentir saudades tuas, acho que nada é suficiente

quando se fala de ti.

Page 32: Nossos Escritores | 2

33

Estranhei-me, estranhei-te, já não

estávamos habituados à presença um do outro.

Mas não foi por muito tempo…

A cumplicidade instalou-se entre nós e de

novo aqueles olhares sem fim, não sei realmente o

que significam, mas eu gosto quando o fazemos.

Esqueci-me do tempo e aproveitei hoje que

estavas presente. Sei que amanhã não estarás

mais comigo, mas hoje preencheste o teu espaço.

Beatriz Pimenta, 10ºD

Page 33: Nossos Escritores | 2

34

O COMEÇO

Caminhava nervosamente para aquele que

seria o primeiro encontro, sonhara com aquele

momento há muito, fazendo dele mais um conto

de fadas.

(…)

Estava “sozinha” entre a multidão, perdida

em si, sem conter a emoção do tão esperado

momento. Viu-o chegar, e tudo em redor parou no

tempo, agora eram só ele e ela.

Aproximaram-se em passos trémulos com

os olhos fixos no chão, os corações explodiam no

peito, era melhor que nos sonhos, pensaram…

O caminho que antes os separara era agora

curto e a tensão sentia-se no ar… Ela aproximou-

se, e mergulhou nos braços dele sem uma única

palavra. O silêncio preencheu o momento, o amor

conteve-se em ternura. Separaram-se

timidamente, e sem hesitar ele deu-lhe a mão e

mostrou-lhe o caminho que seguiriam juntos.

Page 34: Nossos Escritores | 2

35

Trocaram palavras, olhares e juraram um

amor quase eterno em silêncio, varreram tudo à

sua volta e deixaram-se deambular pelas ruas.

Os sorrisos cravaram-se no rosto de

ambos, murmuravam palavras de amor tornando-

se confidentes. Este era apenas o início de mais

uma história de amor.

Beatriz Pimenta, 10ºD

Page 35: Nossos Escritores | 2

36

Mesma Essência

“ Enquanto a cor da pele for mais importante

que o brilho dos olhos, haverá guerra”

Bob Marley

Não importa a tua cor, de onde vens, mas

sim o que me fazes sentir. Tal como eu, és uma

pessoa, nascemos no mesmo mundo e mereces

tudo o que eu mereço.

Não és assim tão diferente e eu gosto de

como és.

O teu coração é da cor do meu,

Quando tens medo sente-lo da mesma

maneira,

Quando choras as tuas lágrimas são iguais

às de todo o mundo, sem cor e com o mesmo

sabor salgado.

Como vês não somos diferentes, a nossa

essência é a mesma.

Beatriz Pimenta, 10ºD

Page 36: Nossos Escritores | 2

37

Crescer

Crescemos.

As roupas,

Soltas,

Ficam agora

Apertadas,

Ao corpo

Meio torto

Em mudança

Que de criança

Já não tem nada.

Crescemos.

Ficam

As memórias,

As histórias

Engraçadas

Das palhaçadas

E macacadas

Do mundo

Luzente,

Estridente

E feliz

De petiz

Irrequieto.

Crescemos.

Perdemos

Page 37: Nossos Escritores | 2

38

A alegria,

A inocência,

A impertinência.

Entramos,

Mudamos

Para a vida

Indecisa

De adulto

Inculto

E complicado.

Crescemos.

Transformamo-nos,

E por fim

Percebemos,

Entendemos

Que afinal

Não há mal

Na mudança

Pois o sorriso

Esquivo

De criança

Não cresce nunca.

Cátia Costa, 11ºA

Page 38: Nossos Escritores | 2

39

Uma história incerta

E sentindo a noite,

Com o luar a iluminar-nos as faces,

Sentindo a brisa nos cabelos,

Com o calor e o frio a envolver-nos,

Numa festa em que

O silêncio nos implica,

E o barulho nos encolhe,

E a cena se complica,

À medida que o tempo decorre.

E eu sei que no final deste momento,

Com o coração ainda palpitando,

Te vou ouvir dizer

O que há momentos senti.

E sei que o amanhã não chegará,

Enquanto a ti não to repetir.

Page 39: Nossos Escritores | 2

40

Dás-me a mão e sussurras

As palavras doridas que sentes,

Tremendo e gaguejando,

Como se de um crime se tratasse,

E a noite como cúmplice, resplandecente,

Ajuda ao momento crítico.

Os olhares, os toques,

Tudo o que uma melodia podia compor,

Fala, grita aos ouvidos.

Mas amanhã, eu sei que tudo

Não passou de um instante,

Um sonho de curto alcance,

Que se desfez num segundo.

Ou talvez apenas foi essa a ilusão que deu,

E que o que escolheu foi

Algo de longa dura,

Uma história incerta,

Um momento inseguro.

Tânia Veigas, 12ºB

Page 40: Nossos Escritores | 2

41

A educação em Portugal

Devo dizer que o ensino em Portugal, na

minha opinião, até está acima da falência

ideológica em que o resto do país (e o mundo, já

agora) se encontra, mas ainda assim há alguns

aspectos que simplesmente não me contive em

comentar.

Em primeiro lugar, as notas hoje em dia são

negociadas, a considerar na avaliação entram

factores como a pontualidade e a assiduidade.

Embora eu veja o propósito disto, é

absolutamente ridículo. Se o aluno não é pontual,

o professor, se considerar necessário, não o

deixa entrar na sala de aula. Com o novo estatuto

do aluno, que resolve a questão de excesso de

faltas injustificadas, a assiduidade nem deveria

ser factor de avaliação. Depois temos o modelo

de troca directa. A partir do momento em que

todas as disciplinas valem o mesmo na média do

secundário, estamos a afirmar que as lacunas em

biologia podem ser compensadas por educação

física ou incapacidade de interpretar um texto

pode ser compensada com os relatórios bonitos e

absolutamente desnecessários de uma disciplina

que não tem motivo de existir: área de projecto.

Page 41: Nossos Escritores | 2

42

Isto fez da escola um mercado onde o interesse

por aprender é mínimo e o objectivo de conseguir

a desejada média para a universidade

(independentemente de se ter os conhecimentos

necessário) reina supremo.

O valor cultural próprio de uma disciplina

esteve perto de desaparecer, e com isso a divisão

entre as disciplinas essenciais e as facultativas.

Não deveria Educação Física valer, na média,

metade do que vale Matemática ou Química?

O real problema é a questão dos

professores. Já de si, a vida de professor não é

fácil. Há ainda, e desculpem o termo, “bestas”,

que olham com desprezo para os professores.

Acham que o seu trabalho é fácil, e a sua função

secundária. Estes adultos passam essa opinião aos

filhos. As crianças, com memórias implantadas

pelos pais de algum docente da geração “da régua

de madeira”, têm um enorme desrespeito pelos

professores e passam o ano em competição

constante pelo estatuto “cool” que pretendem

encontrar dentro da turma, facilmente atingido

ao rebelar-se contra um professor. Eu próprio já

fui assim.

Então fica a questão, como conseguirá um

docente aguentar anos sem pensar em fugir?

Como poderá levar um bando de selvagens sem

Page 42: Nossos Escritores | 2

43

interesse na aprendizagem, mal educados e

habituados ao entretenimento digital, a

interessarem-se pelo empirismo de Hume?

Ninguém fora do recinto escolar tem uma noção

real do que se passa na sala de aula, do combate

diário contra a insolência (a qual por vezes eu

também tive). Como se não bastasse, o professor

tem de suportar que lhe sejam apontadas

responsabilidades por falta de educação ou

qualquer tipo de agressão verbal aos alunos.

Atacar a dignidade do professor e depois negar

tudo na presença dos pais é desporto bem

acolhido entre os alunos. Quando algum político

ou administrador escolar diz que a culpa é do

professor, que o aluno não se interessa e se sente

aborrecido e que o professor deveria dar aulas

mais interactivas e com vídeos bonitinhos, sei que

chegámos a um ponto em que a educação no país

não é a melhor. Depois temos pais que não educam

os filhos, e como cereja no topo do bolo, um

governo que acha que os professores devem ser

avaliados. O que faria sentido, não fosse a má

escolha do método de avaliação. Daqui a alguns

anos põem os alunos a avaliar os docentes.

Adoraria se alguém encontrasse a resposta para o

desinteresse generalizado dos alunos e os fizesse

curtir “Memorial do Convento” de Saramago ou

“Fausto” de Goethe.

Page 43: Nossos Escritores | 2

44

A parte que mais me deixa ultrajado é a

forma como o ministro da educação lida com a

situação, retirando os meios disciplinares.

Castigos como as expulsões da sala de aula ou as

suspensões da escola encontram-se minados de

tanta burocracia que os professores preferem

prescindir desse direito. Temos também o caso

da recente pressão sobre os professores para

que passem os alunos, para que lhes tirem as

negativas. Os alunos sabem-no, e ainda

aproveitam a situação.

Para que isto mude (nem vale a pena referir

casos como o dos exames do décimo primeiro ano

em vez de exames com matéria do décimo e

posteriormente exames com matéria do décimo

primeiro) a iniciativa tem de vir dos alunos, e por

isso escrevo a minha perspectiva.

Daniel José Cardoso Martins, 12ºA

Page 44: Nossos Escritores | 2

45

Ao Senhor Presidente da República

Levaram as minhas coisas. Acordei e não

estavam lá. Não sei se mas roubaram, nem quem.

Talvez não as tenham levado. Talvez, fartas de

alguma fatigante e monótona rotina em que são

trabalhadas e modeladas, segundo a perspectiva

de cada um, tenham partido em busca de algo

diferente. Em busca de alguém que fizesse delas

coisas novas. Talvez tenham partido em busca de

um sonho, um destino, um amor para fazerem

coisinhas, ou uma arma para acabarem com a

existência que viam como deprimente.

Não sei das minhas coisas. Sei que li

assuntos que me relembram delas e ao procurá-

las, não estão no seu eterno sítio de estar. Não

sei quando desapareceram. Lentamente talvez,

uma migração lenta da qual não me apercebi, pois

estava camuflada por assuntos rotineiros

menores.

No antigo lugar das minhas posses

Page 45: Nossos Escritores | 2

46

encontro novas posses. São capazes de ocupar

com exactidão o lugar das anteriores, mas desta

vez com uma pose imperativa, intriguista,

cinzenta, burocrática e vazia de significado,

paixão ou preocupação genuína. Observo-as mais

assustado do que intrigado, cuidadoso em vez de

fascinado. Pareceriam a qualquer mente menos

observadora estar ali desde sempre, mas a minha

dá conta das diferenças, e incomodada expulsa

estas novas posses, estas novas coisas, e procura

pelas antigas. Decidida a encontrá-las, e com isso

repor o meu normal estado de ser.

Há, no entanto, quem não distinga. Não

sabe o que acontecera aos tempos do idealismo,

das lutas por justiça e à procura de um bom rumo.

Não, isso é para a oposição. E assim, os políticos

no poder perdem as suas coisas, as suas ideias.

Deixam-se ficar com as ideias que cabem nos

interesses pessoais e das grandes empresas. São

as ideias de alguém. Um alguém genérico,

impessoal e inumano que só se interessa pela sua

gula ou obsessão.

Page 46: Nossos Escritores | 2

47

E para eles, tudo é perfeito, dentro da

imperfeição possível da impessoalidade.

Nunca verdadeiramente voltam a encontrar

as suas posses, mas prometem-nos a utilização

das nossas. Ou se não prometem, nós tentamos

impor a procura das nossas posses, através de

greves e protestos não raramente supérfluos.

Não conseguimos impor as nossas ideias, mas,

simpáticos, votamos nos mesmos políticos de

novo, para que eles possam continuar à procura

das suas antigas ideias e convicções. Assim

ganhou o Sr. X. Talvez um dia encontre a vontade

de fazer algo de bom pelo país de novo.

"Uma maioria democrática poderá apenas

significar que todos os idiotas estão do mesmo

lado".

Daniel José Cardoso Martins, 12ºA

Page 47: Nossos Escritores | 2

48

Para Ricardo Reis

Um homem de longos cabelos loiros

sentava-se no Rubi todos os dias. Por vezes vinha

de manhã, e nesses dias o cabelo estava molhado.

Outras vinha à hora de almoço e outras ainda

antes da hora comummente aceite, como a hora

de jantar. O certo é que todos os dias entrava na

pastelaria e punha-se a ler. É também certo que

todas as Quintas vinha acompanhado. E nessas

Quintas comportava-se de forma diferente. O

seu acompanhante era um homem mais alto, mas

de cabelos negros e curtos, a sua face magra e

quadrada. Entravam a rir e a cochichar, os seus

pedidos variavam todas as semanas. Depois de

algum tempo de conversa animada, punham-se a

ler. De vez em quando trocavam sorrisos e

olhares cúmplices, outras vezes interrompiam a

leitura subitamente e saiam a correr depois de

pagarem, como se alguma necessidade ou desejo

súbito lhes surgisse.

Nas Sextas passava algum tempo a

observar um quadro na parede à sua frente,

Page 48: Nossos Escritores | 2

49

quadro esse que mostrava um rio, um rio imóvel e

eterno.

Às Terças lia um jornal em vez de um livro.

Sobre as Quartas não vou falar.

Segundas não tinha qualquer hábito ou

ritual à parte pôr-se a ler, embora nestes dias

aparentasse cansaço. Não da vida, cansaço de

quem havia acordado cedo para ir ao ginásio.

Educado, talvez até invulgarmente

simpático, pedia um café cheio e um pastel de

nata. Quando lhe traziam o pedido, agradecia

sorrindo, e punha-se a ler silenciosamente,

excepto nas Quintas. Quando lia inclinava o

tronco, e ao fazê-lo o cabelo cobria o seu rosto

como se fosse uma máscara. Na perspectiva da

empregada do Rubi, seria impossível nestas

condições que o homem fosse capaz de ler, talvez

ele só fingisse ler. O facto é que por uma ou duas

horas, todos os dias, tranquila e metodicamente

virava as páginas de um livro qualquer que

aparentava não ter parágrafos ou pontuação, que

se estendia numa contínua e talvez cíclica oração.

Page 49: Nossos Escritores | 2

50

Certo dia, o leitor parecia ter adormecido, e a

empregada, de seu nome Adriana, dirigiu-se a ele:

– Senhor?

Imediatamente ele abriu os olhos,

perguntou a Adriana se ela conseguiria parar um

relógio intocável ou mover as águas do rio no

quadro, e ainda, se tal coisa valeria a pena. A

pobre rapariga disse que não percebeu onde ele

queria chegar com a pergunta, e o homem sem

dizer mais nada pôs-se a ler.

Certo dia, perto da hora de jantar, a

pastelaria estava vazia, à excepção de Adriana e

Sartre, como a empregada lhe havia chamado

quando falou dele às amigas. Sartre não porque o

homem se parecesse com o filósofo francês,

aliás, aquele homem, achava ela, era belo e

Adriana de bom grado o teria conhecido na sua

cama. Sartre porque aquele senhor fartava-se de

ler, e o nome soava-lhe bem. Foi no silêncio dessa

tarde que se ouviu um telefone tocar. O toque

parecia o de alguém feliz, fazia lembrar o de um

telemóvel de brincar. E já agora não são todos os

telemóveis de brincar? Brincamos às mensagens,

Page 50: Nossos Escritores | 2

51

julgando que se podem expressar sentimentos

usando os chamados “emoticons”. Usamo-los às

dezenas, industrializados e desprovidos de

qualquer significado que não o imediato. O certo é

que a Adriana, Sartre parecia exaltado. Não o

segredo dizia ele, que para isso mais valia

Nietzche, e Nietzche era um filho da mãe e um

niilista. E também não um quadro de um dragão,

que isso lhe fazia lembrar Ouroboros, que por sua

vez lhe lembrava a vontade de poder e com esta

última lá se lembrava de Nietzche de novo. Um

filme poderia ser, mas não, não poderia ser o

clube de combate, que nesse a Bonham Carter

parecia uma prostituta, e Sartre não gostava

disso.

Adriana apercebeu-se de que discutiam

sobre que presente haveriam de oferecer a

alguém, e continuou a ouvir a conversa.

Ângelo, já chega, dizia Sartre. E

continuava: Porque temos de lhe oferecer algo

meu amor? Depois a voz do homem de cabelos

loiros tornou-se trémula, a sua cara contorcia-se

tentando evitar expressar emoção, ouviu-se um

último apelo antes da chamada terminar: não

Page 51: Nossos Escritores | 2

52

desligues, podemos resolver isto... E com o fim da

chamada Sartre sai a correr, sem pagar.

Uma semana depois apareceu no café,

pagou mais do quíntuplo do que devia. Adriana

ganhou coragem para inquiri-lo sobre o que se

havia passado. Como resposta obteve apenas a

informação de que o tempo, disse Sartre, estava

parado, e que por curto que tenha sido, antes um

amor vivido e acabado do que o pálido

desconhecimento da emoção humana. Ao sair do

café retirou o gorro, e Adriana viu uma nuca com

a pele exposta, nua e negra onde antes houvera a

percepção de um mundo pintado de ouro, um

mundo grande e cheio de alegria.

Daniel José Cardoso Martins, 12ºA

Page 52: Nossos Escritores | 2

53

Sem Saber

Sem saber o que escolher

Sem saber onde pousar,

Só o pensamento sabe

Pelo que estou a passar.

O sentimento é duro,

A razão nem se vê

Só o coração sabe,

O que se passa, e o porquê.

E é o sonho

E a vontade de vencer

Que me tranquilizam

Me fazem crescer.

Vera Fonseca, 12ºB

Page 53: Nossos Escritores | 2

54

Da janela do meu quarto

De manhã, quando acordo vejo uma ponte

muito antiga com os seus pilares dentro do rio

calmo que surge, ao longe, por de trás da colina.

Em frente dessa ponte, existe uma colina,

cheia de vinhas verdejantes e arrojadas. Antes

da ponte, há o bonito e branco Hotel Vintage e

muitas casas brancas com telhados vermelhos

como o sangue. A este da ponte existe um parque

de estacionamento sempre cheio de carros à

sombra de árvores frondosas e verdes. Por entre

o casario também se avista a velhinha estação de

comboios e o Porto Fluvial do Pinhão.

Hoje o céu está azul como o mar da praia

de Palma de Maiorca e eu encontro-me perante

este espectáculo maravilhoso que é o Douro.

Todos os dias me maravilho com esta paisagem

tão bela e tão fresca que nos traz calma e prazer

de viver.

Maria Leonor Ribeiro Borges, 7º B

Page 54: Nossos Escritores | 2

55

O Douro

Todos os dias quando acordo, vejo da minha

varanda o sol Já a brilhar e já quentinho a

iluminar a casa apalaçada. Um pouco mais atrás,

no primeiro plano, vejo as vinhas verdejantes e

casas com os seus telhados vermelhos. À frente

da casa apalaçada existe um rio a cantar com a

alegria da manhã. Por todo o lado existem árvores

frondosas e verdes.

Do lado esquerdo há grandes arbustos e

eucaliptos, existindo também alguns arbustos já

queimados, que, mesmo assim, não deixam de

mostrar a grandiosidade a beleza do Douro.

Do lado direito, mas com menos sol, vejo

uma casa branca e à volta vinhas muito bem

cultivadas e verdejantes.

E é dessas vinhas que sai o famoso vinho do

Porto. É uma paisagem que aprecio

profundamente e me alegra a alma.

Ana Alves, 7ºB

Page 55: Nossos Escritores | 2

56

Poema à Mãe

Mãe a sorrir,

Mãe a pensar,

Mãe adorada,

Mãe cansada…

Mãe a pensar,

Mãe a sorrir.

Quero-te amar,

Quero-te sentir.

Sentir-te a falar,

Sentir-te e amar.

Pensar e sorrir

E o coração abrir.

Falo e canto

Para tu sorrires.

Ver-te feliz.

Mãe, vamos sorrir!

Diogo Pinto, 8º C

Page 56: Nossos Escritores | 2

57

Poema continuado

- Faz de conta que sou véu

- Eu serei o teu céu

- Faz de conta que sou ar

- Eu serei o teu mar.

- Faz de conta que sou flor

- Eu serei o teu amor.

- Faz de conta que sou poesia

- Eu serei a tua magia

magia, voando, voando,

por ti sempre cantando.

- Faz de conta, faz de conta.

Rafaela Teixeira, Ana Alves e

Mariana Santos, 7º B

Page 57: Nossos Escritores | 2

58

Poema continuado a dois

- Faz de conta que sou o sol

- Eu serei o Universo

- Faz de conta que sou poesia

- Eu serei a tua magia

- Faz de conta que sou o vento

- Eu serei o teu momento

- Faz de conta que sou pincel

- Eu serei aguarela, dando voltas

e voltas, e voltas, e voltas

até pintar a tua tela.

- Faz de conta, faz de conta

Francisco Teixeira e Filipa Costa, 7º B

Page 58: Nossos Escritores | 2

59