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A LITERATURA SUL-MATO-GROSSENSE: ORILHAS ENTRE O LOCAL E O GLOBAL Paulo Sérgio Nolasco dos Santos* Josué Ferreira de Oliveira Júnior** Avelino Ribeiro Soares Júnior*** RESUMO: As reflexões contemporâneas acerca das noções de espaço, alteridade, fronteira, visam à correlação dentre essas mesmas na perspectiva de entendimento das diferenças e das identificações, dentro de uma formulação do reconhecimento de nós mesmos, sujeitos de identidades híbridas, mestiças, fronteiriças. Enfatiza Walter Mignolo (2003) que um novo conceito de razão está-se construindo com vista aos loci diferenciais de enunciação; daí, a reflexão do autor acerca da colonialidade e saberes subalternos, ao elaborar a crítica das “histórias locais e projetos globais”. Este artigo tem por objetivo abordar o conceito crítico de “literatura regional sul-mato-grossense”, considerando, sobretudo, a relação de nossos escritores com o chão cultural e suas escrituras, em contraface com o lugar e/ou história local no qual se configuram, refletindo obras e escritores. Ou seja, procura-se desenvolver uma leitura realçando o l ocus de enunciação do escritor sul-mato-grossense, simultaneamente à diversidade e riqueza dos loci de discursivização entranhados de regionalismos, caracterizadores de um chão cultural e ethos próprios, traduzidos em oralidade de uma região cultural particular, a do “local” fronteiriço dos escritores sul-mato-grossenses. Assim, com o propósito de discutir a relação entre literatura e região, a obra “ Selva Trágica” (1956), de Hernâni Donato, é vista como pano de fundo, ilustrativa da abordagem empreendida. ABSTRACT : The contemporary reflexions about the notion of space, alterity, border, aim at the correlation among themselves in the perspective of an understanding of the differences and the identifications, within a formulation of recognition of ourselves, subjects of hybrids identities, half-breed, border subjects. Walter Mignolo (2003) emphasizes that a new concept of reasoning is been built in order to the differential l ocus of enunciation; hence the author’s reflexion about the coloniality and subaltern knowledge, when elaborates the critics of the “ local histories and global designs” . This article aims to approach the critic concept of “sul-matogrossense regional literature”, considering, mainly, the relation of our writers with the cultural ground and its writings, to counterfeit the place and/or local history which they are configured, reflecting the titles and writers. In other words, to seek and develop a reading highlighting the locus of enunciation of the sul-matogrossense writer, simultaneously to the diversity and richness of the l ocus of speech deep rooted of regionalisms, which is responsible for the characterization of a cultural ground and self etho s , orally translated in a particularly cultural region, the border place of sul-matogrossense writers. Thus, with the purpose of discuss the relation between literature and region, the title “ Selva Trágica (1956) of Hernâni Donato, is seen as backcloth and illustration of the approach endeavored. PALAVRAS-CHAVE: literatura sul-mato-grossense, regiões culturais, Selva Trágica

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A LITERATURA SUL-MATO-GROSSENSE: ORILHAS ENTRE O LOCAL E O GLOBAL

Paulo Sérgio Nolasco dos Santos*Josué Ferreira de Oliveira Júnior**

Avelino Ribeiro Soares Júnior***

RESUMO: As reflexões contemporâneas acerca das noções de espaço, alteridade, fronteira, visam à correlação dentre essas mesmas na perspectiva de entendimento das diferenças e das identificações, dentro de uma formulação do reconhecimento de nós mesmos, sujeitos de identidades híbridas, mestiças, fronteiriças. Enfatiza Walter Mignolo (2003) que um novo conceito de razão está-se construindo com vista aos loci diferenciais de enunciação; daí, a reflexão do autor acerca da colonialidade e saberes subalternos, ao elaborar a crítica das “histórias locais e projetos globais”. Este artigo tem por objetivo abordar o conceito crítico de “literatura regional sul-mato-grossense”, considerando, sobretudo, a relação de nossos escritores com o chão cultural e suas escrituras, em contraface com o lugar e/ou história local no qual se configuram, refletindo obras e escritores. Ou seja, procura-se desenvolver uma leitura realçando o locus de enunciação do escritor sul-mato-grossense, simultaneamente à diversidade e riqueza dos loci de discursivização entranhados de regionalismos, caracterizadores de um chão cultural e ethos próprios, traduzidos em oralidade de uma região cultural particular, a do “local” fronteiriço dos escritores sul-mato-grossenses. Assim, com o propósito de discutir a relação entre literatura e região, a obra “Selva Trágica” (1956), de Hernâni Donato, é vista como pano de fundo, ilustrativa da abordagem empreendida.

ABSTRACT: The contemporary reflexions about the notion of space, alterity, border, aim at the correlation among themselves in the perspective of an understanding of the differences and the identifications, within a formulation of recognition of ourselves, subjects of hybrids identities, half-breed, border subjects. Walter Mignolo (2003) emphasizes that a new concept of reasoning is been built in order to the differential locus of enunciation; hence the author’s reflexion about the coloniality and subaltern knowledge, when elaborates the critics of the “local histories and global designs”. This article aims to approach the critic concept of “sul-matogrossense regional literature”, considering, mainly, the relation of our writers with the cultural ground and its writings, to counterfeit the place and/or local history which they are configured, reflecting the titles and writers. In other words, to seek and develop a reading highlighting the locus of enunciation of the sul-matogrossense writer, simultaneously to the diversity and richness of the locus of speech deep rooted of regionalisms, which is responsible for the characterization of a cultural ground and self ethos, orally translated in a particularly cultural region, the border place of sul-matogrossense writers. Thus, with the purpose of discuss the relation between literature and region, the title “Selva Trágica” (1956) of Hernâni Donato, is seen as backcloth and illustration of the approach endeavored. 

PALAVRAS-CHAVE: literatura sul-mato-grossense, regiões culturais, Selva Trágica

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KEYWORDS: Sul-matogrossense literature, cultural regions, Selva Trágica

INTRODUÇÃO

Propor-se abordar tema dos mais relevantes como parece ser o rótulo “literatura sul-mato-grossense”, per se, seria, antes, um convite à discussão acerca da(s) literatura(s) brasileira(s) e, por conseguinte, a constatar-se a interrogação sobre a validação de outro rótulo, o de uma literatura latino-americana. Ocupações de crítico que quer transitar entre o uno e o universal, entre o próprio e o alheio, consciente de que, consideradas todas as implicações resultantes no ato de seleção, recorte e abordagem de um objeto de reflexão, todo tecido de análise sempre indica margens, filamentos, correspondências várias e provindas de um chão cultural compartilhado, sem que, no entanto, deixe de admitir que toda abordagem nasce em um lugar específico e a este se refere. Ou seja, enquanto escrevemos estamos em tal e qual lugar no mundo e a partir dele enunciamos, e é desse lugar portanto que escrevo, inclusive como leitor e tendo por testemunha os escritores sul-mato-grossenses. Num ambiente assim, pretendo delinear a projeção de um debate acerca da literatura sul-mato-grossense, mais atento ao “lugar” nascedouro dessas produções simbólicas e menos enfático no que se refere as suas diversas e estratificadas inter-relações no tempo e no espaço.1

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É assim que, o crítico paraguaio Rubén Bareiro Saguier, nosso vizinho, em “Encontro de culturas”, que abre o formidável compêndio da literatura latino-americana, chama a atenção para o nosso “problema” essencial, que continua sendo o de encontrar a identidade cultural, que já se refletiria na própria literatura cuja linguagem busca concretizar um conteúdo “dentro de um contexto político não unificado.”(SAGUIER, 1979, p. 3)

Contudo, interessa-nos ainda sublinhar que, de nossa perspectiva de análise podemos constatar o registro de uma discursivização própria em torno da literatura produzida nesta região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul, refletora de uma região de “[...] fronteira viva, lindeira com um país de cultura tradicional e espanhola, como é o Paraguai. Uma cultura que se forma, portanto, à sombra da história local.” (MASINA, 2008, p. 10); o que equivaleria também a reconhecer o poder cultural que o espaço geográfico da fronteira Brasil-Paraguai representa, e que pode ser descrito e lido, seguindo a mesma perspectiva da crítica do regionalismo, como “o espaço que as obras descrevem, o tema que é retirado deste mesmo espaço em que as obras serão estudadas e reconhecidas” (KALIMAN, 1994, p. 5). Em sintonia com a nossa reflexão, o escritor e professor amazonense, Milton Hatoum, autor de Relato de um certo oriente, vem explicar como não só sua própria obra, mas a de todo escritor, está vicariamente ligada a um “lugar” de enunciação, diríamos de pertencimento do escritor:

Numa obra literária os traços da cor local e as circunstâncias históricas, geográficas e sociais são inevitáveis, pois o escritor está sempre rondando suas origens; às vezes, sem se dar conta, são sempre essas origens que o seguem de perto, como uma sombra, ou mesmo de longe, como um sonho ou um pesadelo. (HATOUM, 1996, p. 11)

Ainda, escrevendo de outra perspectiva, mas de significativa produtividade e “originalidade”, Rolin (2002) demonstrou que cada escritor volta-se para sua própria “paisagem original”, uma vez que a sua obra conduziria aos labirintos minuciosos do passado, assim como os amores da infância correm no mundo dos sonhos, e que há um estranho frêmito que cresce em todos nós nesses momentos em que a lembrança se une ao sonho. De tal forma que a paisagem original de um Borges, por exemplo, reduzir-se-ia a seus elementos absolutamente primevos, do espelhamento infinito, repetição de um

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tempo cíclico, reprodução de um mundo original do qual o nosso seria apenas a imagem especular. Desse ângulo, resultaria uma concepção de “lugar, espaço da memória” na qual “as paisagens originais são os espaços sentimentais pelos quais estamos ligados ao mundo, os istmos da memória” (ROLIN, 2002, p. 148-149). Sob esse prisma, em relação à obra de nossos escritores sul-mato-grossenses, seriam encontráveis marcas e rastros de nomes e assinaturas dos escritores /Autores, deixando-se refletir como num espelho tríptico, onde suas escrituras são, simultaneamente, contraface da história do local e do chão em que todos os três germinaram.

1 – LIMITES DA ABORDAGEM: LUGAR E SUB-REGIÕES DE FRONTEIRA Nosso enfoque procura verificar algumas figurações do elemento literário a partir do topos de um lugar específico, ainda que entendido como produtor de literatura regionalista, levando em conta a crítica dessa literatura, mas sem deixar de considerar que a abordagem de uma literatura batizada sob tal rótulo resulta, ainda hoje em dia, eivada de preconceitos, que surgem frequentemente do desejo de separar e catalogar textos2. Quando todo esforço de compreensão deveria se voltar para a análise, o diálogo e funcionamento dos textos dentro de um contexto e / ou de uma série cultural, nas quais se extrairia a condição para uma real apreciação dos textos (condição sempre nascedoura e atravessava pela representatividade no diálogo e “comércio” alfandegário), que frequentemente embaralha o lugar de enunciação vinculado à ideia de fortuna crítica. É assim que, ao lado de outros agentes, o local e o marginal impõem-se hoje ao agente institucional, este ainda mostrando-se como derivado e enquanto comprometido com todos os seus meios legitimadores, quais sejam, editoras, críticos, revistas, jornais, televisão, rádio, publicidade direta, prêmios literários e outros, como salientou Wladimir Krysinski, em recente estudo sobre a condição e o “lugar” das diversas literaturas mundiais, comparando a(s) literatura(s) comparada(s) (KRYSINSKI, 2007, p. 1-14). Daí que, de nossa perspectiva de reflexão sobre a literatura sul-mato-grossense, envolvidos num locus de enunciação que é íntimo e particular, advêm sendas e veredas indiciadoras de “Caminhos da fronteira”, uma das regiões que, ao lado da de “Bonito / Serra da

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Bodoquena-MS”, constituem regiões de limites com o Paraguai e a Bolívia, respectivamente, além de a primeira integrar-se a uma das sub-regiões da Grande Dourados, onde recentemente se criou e implantou a Universidade Federal da Grande Dourados e, também, de onde se articula a nossa enunciação de investigador propriamente dita. Caracterizada pelos seus atrativos de um contexto histórico ligado à Guerra da Tríplice Aliança, magníficas quedas d’água, rios de águas cristalinas, trilhas, grande diversidade da fauna e flora, “Caminhos da fronteira” forma um exuberante cenário ecológico.3 Dessa região, vetorizada pelos sintagmas “caminhos” e “fronteiras”, assim flexionados, que retomamos como espaço de intersecção em sua ampla significação, expandida em ressignificações tantas sobre o tópico da “fronteira” – caminhos da fronteira –, queremos desde logo descrever dois aspectos substantivos de sua identidade e representação cultural.4

O primeiro, refere-se à sua profícua produção literária despontando a recente edição de Obras completas de Hélio Serejo, coletânea em nove volumes, de onde destacamos os livros intitulados Pelas orilhas da fronteira, de 1981, e Fiapos de regionalismos, de 2004, bem como a obra fundadora de Hernâni Donato, Selva trágica: a gesta ervateira no sulestematogrossense, de 1959. Ambos os escritores e respectivas obras ilustram o contexto de exploração do ciclo da erva-mate, ambientadas na região Centro-Sul do estado e refletem narrativa épica que narra as “dantescas condições de trabalho da região” à época da exploração da erva. O segundo aspecto diz respeito à caracterização geofísica da fronteira Brasil-Paraguai, da região de cerrados e de pantanais, que vão nos interessar, de modo particular, na medida em que tais regiões, caracterizadas, amplificam as ramificações dos caminhos e fronteiras, aspecto central desta reflexão e de nossa “situação” geográfica como produtora de experiências e práticas culturais em confluência nessas regiões sul-mato-grossenses.

Do ponto de vista do espectador, parado ao lado de um dos marcos que sinaliza os limites entre nossos dois países – Brasil e Paraguai –, apenas uma estrada de quinze metros de largura faz a divisa entre eles, causando sérias confusões, uma vez que, teoricamente, à direita está o Brasil e à esquerda o Paraguai, mas nem sempre é desta forma, pois são diversas vias rurais, onde poucos se aventuram a transitar. Esses marcos não funcionam como barreiras, nem como

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um rio que, descendo, levasse em sua correnteza detritos de margens diferentes; não existem marcos garantidos na identificação do limite territorial dos países. Neste caso, a fronteira, sinalizada por marcos de cimento esquecidos no meio de um cerrado desabrigado e árido, é linha imaginária que marca, cicatrizando, o imaginário desta região fronteiriça do País. Marco e cerrado fustigados pelo mesmo sol inclemente, a desenharem uma paisagem que se perde de vista, alargando o olhar do observador para além do limite, rumo à fronteira, num horizonte infinito. Em “Caminhos da fronteira”, estamos, portanto, em uma das sub-regiões, assim batizada, e que propiciou as condições favoráveis ao surgimento de uma literatura em particular, a do erval, oriunda do ciclo da erva-mate e por consequência da prosa fronteiriça tanto de Hélio Serejo como de Hernâni Donato.

2 – INTERSEÇÕES: NARRAÇÃO E ENUNCIAÇÕES DO LUGAR

Se, por um lado, o professor e historiador Jérri Marin (2004) se destaca na análise que faz da obra de Hernâni Donato, em especial pela discussão do “Hibridismo cultural na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Bolívia”, por outro lado, o professor e geógrafo Robinson Pinheiro (2009) vem estudando as relações entre geografia e literatura, num trabalho pioneiro para a compreensão do nosso constructo literário e do elemento espacial-regional. Pinheiro traz em projeção a discussão acerca de uma espacialidade particular enquanto produtora de vínculos de pertencimento, ressaltando aí o processo de identificação de obras como Onde cantam as seriemas (1988), do imortal Otavio Gonçalves Gomes, e A poeira da jornada – memórias (1980), de Demosthenes Martins. Trata-se, coincidentemente, em ambos os casos, de narrativas literárias de elevado conteúdo memorialístico, talvez por isso mesmo mais reveladoras de uma narração em confluência com a espacialidade e com o elemento regional sul-mato-grossense.

Daí também a observação do crítico ítalo-brasileiro, Giovanni Ricciardi (2008), que, em “Espaço biográfico e literatura”, diz serem inúmeros e coloridos os espaços em literatura: “[...] existe, antes de mais nada, um lugar, um espaço da alma e do corpo, um eu que

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interage com os outros, com o ambiente, com a história e as estórias e que caracteriza a minha maneira de ser, a maneira de ser do escritor ou até de uma geração.” (RICCIARDI, 2008, p. 111). Aponta, ainda, motivos para discutir a relação de espaço biográfico versus criação literária, pois, segundo o crítico “Às vezes, porém, é o conhecimento das variáveis históricas, é o conhecimento dos ‘acidentes’ [termo que o crítico utiliza em oposição à substância] de um texto que permitem entender mudanças, passagens, escatologias na trajetória de uma obra ou de um autor”. Ao discutir o aspecto relacional do texto com a identidade e pertencimento do autor, o ensaísta ainda tece observações não só sobre a escrita do nosso Manoel de Barros, mas também propõe significativa análise de autores como Ferreira Gullar, que assim se posicionara sobre a questão: “Minha luz, minha poesia nasce do chão, das pessoas e não do céu nem de anjo algum.” (RICCIARDI, 2008, p. 111, 113).

Dessa perspectiva, registrem-se as inúmeras páginas escritas com o objetivo de descrever, inventariando e fabricando a épica, senão do sertão, da paisagem e cor local de nossa literatura sul-mato-grossense. Já Hércules Florence, com a famosa expedição Langsdorff, mapeara os planaltos do Brasil central, e o Visconde de Taunay, acompanhado por um guia – o Guia Lopes – descreveu, maravilhado, compondo suas “visões do sertão”, as paisagens das serras de Maracaju e de Bodoquena registrando o poder daquelas planícies que lhe ficaram estereotipadas na retina: “Sobremaneira notáveis todas as paizagens d’aquelle mal conhecido recanto de Matto-Grosso [...]”. E prossegue relatando que o cenário que o cercava estava continuamente mudando. As serras de Maracaju, que tanto o impressionaram, mostravam suas reentrâncias e saliências e as bandas do aldeamento dos índios terenas da Pirainha causando legítimo pasmo, com

[...] arcos, arcos naturaes de extraordinaria regularidade geometrica, já destacados [...]; letras, inscripções, traços, gregas, como que borrados pela mão do homem, algum mysterioso e cyclópeo artista; columnas a meio partidas, pórticos inacabados ou então rasgões monumentaes, quer singelos, quer ornamentados de delicadíssimos recortes e rendilhados–, enfim, essas formas tão caprichosas e variadas, [...] como se por alli houvesse, em tempos fabulosos, perpassado o gênio fantasioso, criador, subtil, de allgum architecto arabe (sic). (TAUNAY, 1923, p. 11, 13-14).

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Essa região foi recém-demarcada como sendo a do Geopark Bodoquena – Pantanal, que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/MS) formalizou em protocolo, Plano de Desenvolvimento Territorial do Geopark Bodoquena – Pantanal (PDTG), junto a UNESCO, onde se destaca que este Geopark

[...] envolve 20 mil quilômetros quadrados de área central e mais 12 mil quilômetros quarados de entorno na região sudoeste do Estado, onde estão situadas diversas riquezas geológicas, históricas e culturais nos territórios de Anastácio, Aquidauana, Bela Vista, Corumbá, Guia Lopes da Laguna, Jardim, Ladário, Miranda, Nioaque e Porto Murtinho. Foram mapeados e incluídos no dossiê 45 geossítios, entre grutas, pedreiras, baías, minas, cachoeiras, nascentes, monumentos”; ressaltando, inclusive, a diversidade cultural constituída por um patrimônio imaterial, etnográfico, arqueológico, histórico, arquitetônico e paisagem cultural. (JORNAL DIARIO MS. 01/11/10).

Com efeito, os elos de intermediação entre o local, chão cultural, e práticas simbólicas, resultam no enfrentamento da cor local que se pode reconhecer, por exemplo, como literatura sul-mato-grossense. É assim que, de fato, para o poeta Manoel de Barros, ter o Pantanal como seu lugar de pertencimento é inegável. O próprio escritor, em diversas entrevistas, faz questão de demonstrar sua origem pantaneira e em inúmeros textos comprova que sua obra poética não tematiza o Pantanal de forma pitoresca, mas realiza uma comunhão desse Pantanal com a linguagem, “o pantanal da linguagem”, conforme explica em livro, que acabou de se publicar sobre o poeta, de autoria de Adalberto Müller:

Gosto do Pantanal ao ponto de precisar inventar uma tarde a partir de um tordo. Gosto do Pantanal ao ponto que eu possa ficar livre para silêncio das árvores. Gosto do Pantanal ao ponto que meu idioma não sirva mais para comunicar, senão que apenas para comungar. Temática sugere tese, sugere ideia para ser desenvolvida. Sugere comunicação. Sugere descrição de alguma coisa. Para mim, quem descreve não é dono do assunto: quem inventa, é,. Que eu possa dizer, estando em fusão com a natureza, coisas como esta: “Eu queria crescer para passarinho...” Eu possa dizer com seriedade: “Uma pedra me rã” Minha linguagem será sempre de comunhão. É dessa forma que em mim o Pantanal se expõe. Tenho dentro de mim um lastro de brejos e de

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pássaros que inevitavelmente aparecem na minha poesia. (apud MÜLLER, 2010, p. 23. Grifos nossos).

Ainda, são ilustrativas da ideia de pertencimento duas de nossas narrativas épicas, ambas entranhadas na diversidade cultural, compósito da literatura sul-mato-grossense: em primeiro lugar, trata-se do romance Morro azul, de 1993, onde ressurgem vozes de narradores com desvelada função discursiva voltada para a localidade, o regional, enquanto constitutivo do assunto, do tema fundamental e principalmente de um enredo e entrecho habilmente constatativos do lugar de enunciação – topos do lugar. O romance Morro azul, que não só desponta como um texto recente, provocador de “leituras” que fixam a cor local e a ambiência de um tempo reconstituído pela perspectiva da memória da gente pantaneira, mas particularmente, a nosso ver, sugere de modo original a existência de uma narrativa que tende a larga fortuna e sucesso na literatura sul-mato-grossense. Sua narradora protagonista, uma velha senhora, inicia a narração, em pequenos capítulos, meio que em forma de diário, com uma admirável força motriz dos memorialistas, assim emoldurando o relato:

Já faz tempo que conheço estas estórias. Mas muito mais tempo faz, que elas aconteceram. [...]. Só os morros permanecem os mesmos, grandes muralhas de pedra, impávidos e perenes à testemunhar a vida. Eles não contam o que sabem e o que viram. As pedras vermelhas foram desenhos geométricos, perfis humanos, grandes carrancas. Aquelas pedras talhadas e rabiscadas confirmam mistérios e segredos. (NANTES, 1993, p. 9)

Logo, o leitor perceberá que a narradora situa-se no espaço-tempo da cidade de Aquidauana, MS, conhecida pelos índios Terena com o nome de “Kali Pitivoko”, que significa “pequena cidade”, seguindo-se de uma densidade narrativa recuperando a pujante história da formação histórico-cultural, desde a Grande Guerra do Paraguai, o multiculturalismo, a luta e convivência com os indígenas da terra e a migração paraguaia, à época da guerra, acentuando a movimentação e fuga multiplicadas em virtude do conflito e do abandono constantemente presentes:

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O monjolo estava quebrado. Uma figueira crescera infiltrando suas raízes na pedra da moenda e quebrara tudo. O chiqueiro vazio só se ouvia o borbulhar do córrego entre as pedras. O mato invadindo tudo, fizera do chiqueiro um viveiro de fedegoso, de caruru e de joá. A ramada de buchas cobria grande parte da cerca de pau-a-pique, completando aquela visão de abandono. (NANTES, 1993, p. 31)

2. 1 – ETHOS E MELANCOLIA NAS ORILHAS FRONTEIRIÇAS

Rogério Camargo (1955) referia-se a regiões encantadas das fadas... Aline Figueiredo (1986) cria o cenário de um ethos pantaneiro direcionado aos horizontes infinitos e que acalentamos a liberdade e as esperanças como idealistas incorrigíveis, e que, ocupando o coração da América herdamos talvez dos ameríndios anima e bílis negra de apaixonados. Não à toa, nossa literatura provém dessa formidável capacidade de renovação, exercendo-se sobre sua base regional e aí amparada em seu acervo lendário e folclórico, também sociológico. Nosso texto paradigmático ressurge intermediado por uma frase imemorial, “a seriema de mato grosso”, e como a fênix, que se torna lenda em relato de Hélio Serejo, essa ave emblemática passa a constituir texto-poema-canção e o próprio território nasce como derivado de ave no título Onde cantam as seriemas, narrativa memorialista de Otavio Gonçalves Gomes – imortal que escreveu a letra do hino do Estado.

As seriemas vivem cantando, andam bradando seu clangoroso chamamento, sibilante e penetrante às vezes, tal qual um clarim. Seu canto é plangente e evocativo, ecoa triste pelas campinas. (...) Ouve-se o seu grito-canto a qualquer hora, desde alta madrugada até à noite. é justamente o som altissonante que chama a atenção dos viajores. é capaz de cantar horas a fio. (GOMES, apud BUNGART NETO, 2009, p. 118).

Ainda, como intermediação da literatura com a cultura de fronteira, outra música-canção, entre as mais conhecidas da região, “Recuerdos de Ypacaraí”, de Demetrio Otiz e Z. de Mirkin Guerreiro, assim evoca em acordes da guarânea, “Donde estás ahora, cuñataí que tu suave / canto no llega a mi, donde estás ahora, / Mi ser te adora com frenesi”; abrilhantando as noites maviosas e os “Sonhos guaranis”,

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Almir Sater também condensara a metáfora do sujeito que vive nas “orilhas”, nos arrabaldes: “Ao revelar que eu vim / Da fronteira onde o Brasil foi Paraguai”. Também, Mário Palmério, ao ser inquerido sobre o sentimento de saudade , deu letra e vida a uma das mais belas Guarâneas intitulada “Saudade”: “Si insistes en saber lo que és saudade, / tendrás que antes de todo conocer, / Sentir lo que és querer, lo que és ternura, / tener por bien un puro amor, vivir! / Después comprenderás lo que és saudade / Después que hayas perdido aquel amor / Saudade és soledad, melancolia, / És lejânia, és recordar, sufrir.”5

No conto “Sanga Puytã”, de Guimarães Rosa, p.ex., o narrador registra o encontro que tivera com um moço militar que trazia um violão a tiracolo, recuperando o “humour”: se verdadeira, bela é a história, se imaginada, ainda mais, ao ouvir a explicação de que, para o paraguaio, o violão era arma de combate e ferramenta de lavoura. Ao passar pela região de fronteira, Rosa registrou o encontro com esse “povo fronteiriço, misto de cá e de lá, valha chamarmos de brasilguaios, num aceno de poesia.”(ROSA, 1978, p. 18); registra, ainda, seu olhar de “orillero” encantado, observando que Sanga Puytã é também gemilata de Zanga Puytã, viela à borda de um campo, com cupins e queimadas, arranchada entre árvores que o vento desfolha. Sua área seria menor que a do cemitério: “a gente pensa que viagem foi toda para recolher esse nome encarnado, molhado, coisa de nem vista flor.” (ROSA, 1978, p. 23). Sanga Puytã, vermelho-encarnada, tão pequena, deu um toque colorido à viagem de Rosa, que, ao partir de Ponta Porã, ouvira de um menino engraxate uma canção “orilleira” de inesquecer-se: “Allá en la orilla del rio / una doncella! / bordando pañuelo de oro / para la Reina para la Reina...” (ROSA, 1978, p. 22. Grifos nossos).

Outro viajante ilustre, Assis Chateuabriand, registrou seu encantamento sobre a história e o povoamento da região do ciclo do erval, num relato de missivista que reconhecia “Não faltar colorido nem romanesco à história deste empreendimento”, referindo-se à Cidade de Campanário e em especial à diversidade cultural que vinha se formando no entorno daquele ciclo.6 De hoje, perspectivado pelo tempo, pois a Carta de Chateaubriand foi escrita em treze de julho de 1941, podemos constatar o vaticínio do empreendedor, principalmente ao depararmos com a volumosa e singular literatura que Hélio Serejo produziu a partir daquele lugar. Sobre as belezas

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da planície pantaneira (planície cortada pelo Rio Paraguai e afluentes, que faz fronteira internacional com a Bolívia e o Paraguai, formando um dos mais importantes ecossistemas do planeta, numa área aproximada de 250.000km, tendo o Pantanal brasileiro 144,299km de planície alagável, 61,95 aos quais (89,318km) no Mato Grosso do Sul – a cada 24 horas cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira) –, de suas belezas iluminadoras descreveu-as Manoel de Barros, nosso poeta mais conhecido, como se desejasse proteger-se de tantas belezas: “Que as minhas palavras não caiam de / louvamento à exuberância do Pantanal. [...]. Que eu possa cumprir esta tarefa sem / que o meu texto seja engolido pelo cenário. [...] Nesta hora de escândalo amarelo / os pingos de sol nas folhas / cantam hinos ao esplendor [...]. Uma palmeira coberta de abandono / é como um homem / de escura solidão” (BARROS, 1999, s.p.).

Cultivando uma produção literária de grande fôlego, e também seguindo as trilhas da fronteira Brasil-Paraguai, o escritor regionalista douradense Brígido Ibanhes, autor de Silvino Jacques: O último dos bandoleiros, lançado no dia 30 de maio de 1986, já em sexta edição, em recente depoimento observa que:

[...] eu não queria um livro qualquer, mas um livro que fosse o retrato da região sudoeste do antigo Mato Grosso; registrasse o costume da época, as lendas da fronteira, a violência gerada pelos coronéis na luta pelo domínio das terras, mas, principalmente, o linguajar aguaranizado, típico do mestiço da fronteira [...]. Através das polcas paraguaias, da chipa, do puchero, do locro, do tererê, do tôro candil, etc, o Paraguai carimbou suas tradições no Estado. Em várias cidades, inclusive na Capital, Campo Grande, temos colônias paraguaias, organizadas em associações. Essa penetração paraguaia se perde nas brumas do passando, anterior à Grande Guerra. A influência boliviana é mais recente e mais discreta, mas ela existe. É comum, nas praças públicas, das nossas cidades, se ouvir a flauta andina tocando músicas de inspiração espiritual, como era a visão da existência mística dos povos das altas montanhas. A ocupação de grandes áreas pelos imigrantes sulistas, nordestinos, mineiros e paulistas, agregou também valores culturais ao universo onde anteriormente só se ouvia o “jeroky” (dança) e o “ñembo´ê” (reza) ritualísticos. À taquara “takuapú” sagrada, com cadência, batida no chão seco, enquanto mantras são pronunciados em voz grave ao chacoalhar do “mbaraká”, se contrapôs a batida dura da bota, o tilintar das esporas, na dança das lanças dos gaúchos. De Minas, a Folia dos Reis.

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São Paulo, a Festa do Divino. Do nordeste, o forró e a carne de sol. Os centros de tradições, tanto gaúchos como nordestinos, reforçam os laços com o Estado de origem, ao mesmo tempo em que, neste Estado, se implantam idiossincrasias regionalistas. (Cf. IBANHES, 2010)

Sobre Silvino Jacques: O último dos bandoleiros há que ressaltar as peripécias da figura do herói/bandoleiro Silvino Jacques como tema de grande produtividade, na medida em que o herói, ou anti-herói neste caso, tipifica um constructo peculiar das literaturas de fronteiras e do Cone-Sul em particular. A figura do bandoleiro sul-mato-grossense, circunscrita pela narrativa de sua própria “crônica”, intitulada Décima gaúcha, e prolongada como narrativa histórica no romance aludido, de Brígido Ibanhes, ambas ainda como receptáculos de pesquisa acadêmica, constituem, pela abordagem escrita e materializada que dão ao tema, um “texto” – macrotexto da cultura – a abrir-se para ampla e produtiva confrontação de seu universo de discurso. Antes de tudo, as condições socioeconômicas e culturais vivenciadas na fronteira Brasil-Paraguai, à época de Silvino Jacques, resultavam de um período particular da história do Brasil, em regiões distantes, caracterizadas pela ausência do Estado, conformada como região de acolhimento de “estrangeiros” e foragidos de toda sorte, o que não só propiciou a criação da narrativa dos feitos épicos do herói / anti-herói protagonista, mas ao mesmo tempo acolheu a transculturação narrativa e cultural de outras figuras de heróis, já constituídos noutras regiões do País e além-fronteiras. De fato, como se pode constatar, o tema deste herói “bandoleiro” reencontrará suas multifaces em personagens como a do Martín Fierro, do clássico e homônimo Martín Fierro (1872), de José Hernández, originário dos pampas, revitalizado como texto fundador da literatura argentina e com fulcros na hispano-americana, cuja matriz remonta ao Quixote.

Já sobre o último livro de Ibanhes, Chão do Apa – Contos e memórias da fronteira (2010), usufruímos uma das raras satisfações na leitura de literatura, dentre as narrativas que hoje nos interessam como pesquisador de literatura sul-mato-grossense. O próprio Ibanhes comenta o livro:

A fronteira como minha pátria e lugar lúdico da minha infância. Chão do Apa abrange tanto o território paraguaio como o brasileiro, numa sintonia, muitas vezes, a que só o fronteiriço é capaz de se adaptar. Tradições, linguajar, tudo

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reforça para que essa região seja singular, e que se perceba que a fronteira delimitada pelo rio, está apenas nos mapas; ela não existe em nosso sangue, muito menos em nossas emoções. Quem não gosta de uma sopa paraguaia e de arrastar o pé ao som da Mercedita? Uma homenagem, a que jamais eu poderia me furtar, ao meu torrão natal. Através de contos e estórias revelo toda a força da cultura fronteiriça, de antigamente.7

Em um projeto literário contínuo e contumaz, surge a expressão de Douglas Diegues, como autor de Dá gusto andar desnudo por estas selvas: sonetos salvages, aclamado por sua invectiva transfronteiriça, ao cicatrizar a própria língua em neologismos criados para designar a identificação cultural, concretizando o registro mais expressivo do brasiguaio da região. Tem-se aí, um dos mais instigantes trabalhos refletores da nossa literatura de fronteira. Sublinha-se ainda a vitalidade do multiculturalismo na poesia do brasiguaio Douglas Diegues, como observou Kaimoti (2011). Escrevendo num “portunhol salvage”, o poeta incorpora na própria materialidade do texto sua condição de hibridismo dos usos da língua na fronteira do brasileiro Mato Grosso do Sul com o Paraguai:

De acordo com Diegues, o “portunhol selvagem”, seria uma espécie de “lengua poética”, que “...brota de las selvas de los kuerpos triplefronteros, se inventa por si mismo, acontece ou non...” (Diegues, 2009, 2008). Para além do costumeiro “portunhol” da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, que mistura de maneiras variadas o português falado no Brasil com o espanhol paraguaio e o guarani dos índios da região e seus descendentes, Diegues afirma que sua versão dessa mistura resulta do acaso de encontros de diferentes identidades e discursos fronteiriços, considerando, nesse portunhol selvagem, que “...además del guaraní, posso enfiar numa frase palabras de mais de 20 lenguas ameríndias que existem em Paraguaylândia y el resto de las lenguas que existem en este mundo” (Diegues, 2009). Essa língua inventada remete à trajetória biográfica do poeta que o leva do centro à periferia e vice-versa: do Rio de Janeiro, onde nasceu à Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, na divisa com o Paraguai, região original de sua mãe, filha de um imigrante espanhol e de uma paraguaia (KAIMOTI, 2011, p. 86).

Com efeito, o escritor e poeta fronteiriço Douglas Diegues vem marcando compasso com a interculturalidade na fronteira entre Brasil e Paraguai, cuja proposta político-linguística deixa-se entrever no próprio formato de suas obras, como o projeto “a cartonera”,

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resultante da coleta de cartões ou papelão, em material reciclável.8 Sobre esse escritor da fronteira, a crítica literária e cultural já registrou sua prática “linguageira” e artístico-cultural: “Douglas Diegues, poeta brasiguaio [...] nada mais expressivo do que o neologismo criado para designar a identificação transfronteiriça de Diegues.” (CARVALHAL, 2001, p. 19).

2.2 – HERNÂNI DONATO: O RELATO DO ERVAL SUL-MATO-GROSSENSE

“A SELVA DE QUE TRATAMOS NESTE LIVRO ERA DE FATO TRÁGICA:‘... éramos simples bugres, pelados, no meio dos ervais, que têm de pedir facão, sal, fósforos, algumas roupas, farinha e charque, para poder trepar na erveira, podá-la e fazer erva.’ (“O Drama do Mate”, Antônio Bacilla, pág. 34.) ”.

Hernâni Donato inicia a apresentação de Selva trágica com essa epígrafe extraída ao romance O drama do mate, seguindo-se de outros fragmentos transcritos da mesma narrativa, outros da “Carta de Hernandarias ao rei da Espanha” e de dois depoimentos orais de trabalhadores dos ervais, coletados pelo próprio Hernâni Donato. Donato é autor de obra copiosa, que relata mais profundamente a história do drama ocorrido nos ervais. O nome do escritor confunde-se particularmente com uma de suas várias obras: Selva trágica: a gesta ervateira no sulestematogrossense, publicada pela primeira vez em 1959. Neste ano, os romances Filhos do destino: história da imigração e do café no estado de São Paulo (1951) e Chão bruto (1956) estavam na segunda e quinta edições, respectivamente, e Donato já se consagrara como escritor. Seu primeiro livro, O livro das tradições, é de 1945.

Ambientado, como se vê, na região Centro-Sul do estado de Mato Grosso do Sul, Selva trágica é pujante narrativa épica a tratar das “dantescas condições de trabalho da região” à época da extração da erva, daí extraindo a seiva para o que o crítico Fábio Lucas caracterizou a obra como “um dos mais altos momentos da novelística de conteúdo social no Brasil.” (LUCAS, 1987, p. 53-54). A

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história de vida do escritor, sua perceptível formação de homem devotado à cultura de modo geral e à convivência no mundo da erva-mate, compartilhando as experiências do peão do erval, correspondem à vigorosa estatura de suas narrativas e ao sucesso que elas angariaram. Três obras suas foram adaptadas para o cinema: Selva trágica, Caçador de esmeraldas e Chão bruto, esta por duas vezes. Selva trágica retrata as primeiras décadas do século XX, representando sob a perspectiva dos “subalternos” a história dos que trabalhavam para a empresa estrangeira Mate Laranjeira, onde a personagem principal resulta sendo a própria erva-mate. A partir daí, a narrativa torna-se um monumento que registra a história da região sob a perspectiva do Outro, dos que trabalharam e construíram a base da civilização e da cultura na região de fronteira BrasilParaguai, só parcialmente lembrados nas numerosas estatísticas dos que contribuíram na construção de um dos maiores feitos de empreendedorismo na região.

A história do mundo do mate foi recuperada através de inúmeras viagens de pesquisa realizadas por Donato ao Sul de Mato Grosso, sendo ele próprio, ao final, proprietário de um erval próximo ao rio Paraná, o que, em tudo e por tudo vai configurar a robustez da obra e da própria “selva”, ambas tema e personagem do “drama do mate”, a encontrarem ressonâncias em outros textos-denúncia da miséria humana, da luta do homem com a terra e das histórias de explorados e exploradores. Denúncia que Zokner (1991) recusou-se a aceitá-la como simples realidade ficcional, pois, ao deparar com a palavra mensu, sentira-se constrangida diante do significado dessa palavra que mais tarde encontraria na obra Obrageros, mensus e colonos – no sistema das obrages constituindo o espaço do livro de Roa Bastos: “la ciudadela de un país imaginário, amurallado por las grandes selvas del Alto Paraná: ‘os ervais de Takurú-Pukú’” (apud ZOKNER, 1991, p. 103). Assim, a denúncia era sobre o destino do mensu, sobre o seu trabalho escravo na mata subtropical em território argentino e paraguaio na extração da erva-mate e da madeira. Mensu designava, portanto, o peão que chegava ao Brasil para trabalhar nas obragens, ou seja, nas lidas da erva-mate e das matas brasileiras, um ser de identidade perdida, subterraneamente sem remissão:

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Um caminho que é, no entanto, sem volta, porque nas cidades onde se realizava o conchavo existia, ainda, alguma lei, algum simulacro de autoridade; porém, apenas embarcados, ficavam à mercê dos obrageros e de seus capatazes. ‘Logo que embarcavam para o Alto Paraná, os paraguaios, já de início, começavam a sentir os efeitos do domínio de uma obrage’. Assim, uma das primeiras agressões a que estavam sujeitos era a de serem desarmados, sendo surrados, já na viagem, aqueles que por esta ou por aquela outra razão protestassem. ‘Mas já não tinha jeito, o vapor não voltava mais’. [...]. Nos ervais de Takarú-Pukú os mensus chegavam amontoados numa chata ou caminhando cinquenta léguas por meio do mato, onde iam ficando os mortos de doença, de picada de cobra. Ou, os mortos pelos tiros de capatazes. (ZOKNER, 1991, p. 104-105).

A seguir, a transcrição, que corrobora, de algumas passagens de Selva trágica:

O dia do mineiro, peão cortador de erva, começa no meio da noite, às três e trinta. A mata, os bichos, os caminhos, as aves dormem ainda e o mineiro estremunha. Cansado da véspera e das muitas vésperas. Prepara o tereré, enrola nos pé e nas pernas a plantilla, bebe tereré, calça as botas de couro, bebe tereré, come bocados de comida sobrada da tarde anterior, bebe tereré e mergulha no caatim. Caminha tonto de sono, agoniado e sombrio. Enquanto a noite se desmancha no dia ainda distante, essa tristeza escorre pelos caminhos, remansa no largo central da vaqueria e de novo se espalha e flui pelos tape-hacienda e destes aos tape-poí, trilhas furadas no mato ate a mina – a ilha da erva-mate no mar verde da selva. [...]Era o instante cinza-pálido em que amanha desmanchava o escuro. Calçando as plantillas, tendo as pernas e as coxas endurecidas pelas botas de couro, carregando a um lado o porongo de água e de outro o machete, haviam caminhado quilômetro. Quatrocentos mil quilos de erva já haviam saído daquela bolsa verde, deixando clareiras de árvores abatidas. Era crime derrubar as árvores da erva. Sabiam. Mas derrubavam. Nos começos, trabalhavam de tiru – subiam nas erveiras até o máximo de seis metros, e agarrados aos alhos cortavam os ramos. Depois, parece que o mundo endoideceu e começou a exigir mate a mais não haver. Abandonaram o tiru e começaram a bater machado, derrubando as árvores para desgalhar no chão. Rendia mais assim! A ordem de todos os dias e produzir mais e mais. Isso mandam dizer, repetidamente, de Ponta Porã e de Buenos Aires – onde vivem os que mandam na erva e nos mineiros. Quando já não há o que derrubar, fazem os monteadores afundar no caatim buscando outra mina de erva. [...]Quando corou o que parece suficiente arrasta os galhos para o sapeco. É uma operação delicada e necessariamente rápida. Se se demora, as folhas perdem o alegre verde para um escuro funéreo. A seiva fermentada nas veias das folhas azeda, arruinando a colheita.

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O capataz encoraja: – Pro sapeco! Vamos, gente, e esse sapeco!?Quase dia, hora em que a mata refresca, as flores trescalam e descansam os insetos bebedores de sangue. Mas os mineiros não têm nada com isso! Estão acendendo as tataguás – fogueiras espertas, de metro quadrado de folhas, gravetos e palhas, entre paredes e pranchas de pindó. Protegidos por essa paliçada, abraçam ramos de erva que passam e repassam no banho de fogo e calor. O mate, verde, resinoso, estraleja, crepita. As veias das folhas se rompem, queimam a seiva, impedindo que fiquem ardidas e embolando-se para facilitar o transporte. O fogo, a fumaça, o cheiro forte da resina crestada tornam difícil respirar. Entre o sapeco de um e outro feixe, os homens engolem o ar, limpam-se do suor.[...]Ao fim do sapeco o sol esta de fora. A manha cresce com um calor de trinta e nove graus, ajuntando pernilongos e biriguis no suor dos homens já entregues às manobras do depinico. Arrancam aos punhados as folhas ainda quentes, depositando-as no raído: um trançado de correias compondo o fardo que o homem levará às costas, sustentado pela cabeça, os ombros , a espinha. O raído médio deve pesar dez arrobas paraguaias. O máximo é o limite de forças do mineiro. Uma vez debaixo dele, o homem tem que levá-lo a destino ou cair ao chão – geralmente com a espinha partida. Muitos morreram assim, ensinando que o cuidado com o raído é coisa importante. Daí o Pytã, que não quer morrer pois está próximo o dia da partida, desvelar-se no preparo do seu raído. Coloca a estaquilha a jeito e modo de não lhe ferir a cabeça; distende caprichosamente a ponchada para que durante o trajeto ao escapem e se percam ramos de folhas. [...]Meio-dia. Avançam pelo tape, pernas duras, passadas curtas. Cada passo debaixo do raído de quase duzentos quilos exige grande esforço. (DONATO, 1959, p. 16-21 passim)

A escritora sul-mato-grossense Raquel Naveira homenageou Selva trágica, em extenso poema e nas palavras que transcrevemos a seguir:

Outro grande tema regional é o drama dos ervais. O gaúcho Tomás Laranjeiras, auxiliar da comissão de limites do governo imperial, logo após a Guerra do Paraguai, palmilhando a mataria da Serra de Maracaju, observou as árvores de erva-mate, que apareciam até o Apa.Trouxe gente do Rio Grande do Sul e iniciou a exploração da erva-mate, fundando com os irmãos Murtinho a Companhia Mate Laranjeira. Hernâni Donato, em seu livro Selva trágica, descreveu os conflitos na região ervateira, os homens escravizados no “inferno verde”.Hélio Serejo, nosso folclorista, também registrou várias passagens pungentes e, em homenagem a eles, escrevi este poema: “Os Ervais” (a Hélio Serejo e Hernani Donato).9

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Sublinha-se, assim, tanto na literatura sul-mato-grossense quanto em nossa perspectiva crítica, uma proposta que visa à configuração das produções regionais enquanto narrativas que são tessituras do local, a partir das quais os autores / escritores formularam diversas abordagens de um entorno comum. Aí, onde as obras e produções simbólicas fornecem motivos e razões metodológicas para a real justificação de um “ensino de literatura” em nossas escolas, que aborde, de fato, o universo dessas produções e ainda o formidável papel de identificação do local como resultante da experiência dos indivíduos que se tornam actores, mediadores e articuladores de / em uma práxis da cotidianidade. Daí que, o lugar de uma literatura sul-mato-grossense, regional, germinativa de um chão cultural peculiar, ganha foro de legitimidade ao ser reconhecida como “fábula do lugar”, elemento matricial de uma dicção própria. Todos os escritores desse lugar narram a partir desse chão, algumas vezes tomando-o explicitamente como “roteiro”, como o fez Manoel de Barros ao subintitular, “Roteiro para uma excursão poética no Pantanal”, o seu livro paradigmático intitulado Livro de pré-coisas (1985).

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1Notas:* Professor Doutor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados (MS); Pesquisador do CNPq [email protected]** Mestrando em Literatura e Práticas Culturais pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados (MS), desenvolvendo pesquisa sobre a “selva” nas narrativas do regionalismo brasileiro, [email protected]*** Graduando do 4º ano do curso de Letras – Licenciatura – Habilitação Português/Inglês, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados (MS), bolsista PIBIC/CNPq – 2012/2013, desenvolvendo pesquisa sobre os conceitos teórico-críticos de região, regionalismos e regiões culturais, [email protected]á no ano de 1988, realizava-se, sobre o tema central “Espaços e fronteiras na literatura”, o Congresso da Associação Internacional de Literatura Comparada / AILC, em Munique. (FARIA, 1988, p. 17)2Para que se possa refazer o percurso desta reflexão, remetemos para DINIZ; COELHO (2005), ARAÚJO (2006), SANTOS (2008), e SANTOS (2009): “Fronteiras do local: o conceito de regionalismo nas literaturas da América Latina”. Disponível em:http://e-revista.unioeste.br/índex.php/rlhm/issue/view/265/showtoc>. Acesso em: 22 fev. 2013. Ver também, a Cerrados, Revista do PPG em Literatura da UnB, que, em seu número temático “Literatura e compromisso social”, dedicou a segunda parte da edição a trabalhos reunidos sob o rótulo de “Regional e Universal: Tensões da Representação Literária Periférica”, e não causa estranheza constatar ali marcas da ambiguidade, indecidibilidade do ato crítico, quando não preconceito em relação à produção do “regionalismo” per se. 3 Contribuiu para esta reflexão inicial nossa comunicação apresentada no Simpósio “Figurações do literário: para além das fronteiras” no III Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura e XI Seminário de Estudos Literários. IBILCE - UNESP / SJRP, 13-15/10/2010.4“Caminhos da fronteira – artesanato de Ponta Porã e Aral Moreira ”, também é nome da exposição que integra o evento “Exposições Temporárias 2010”, do Núcleo de Artesanato “Arte Porá”, que visa à valorização da cultura fronteiriça, recentemente inaugurada pela Fundação de Cultura de Mato Groso do Sul (FCMS), no período de 18/08/2010 a 20/09/2010, na Casa do Artesão em Campo Grande-MS. (Cf. Jornal O Progresso. Dourados-MS, 18/08/2010, p. 3)5Jubileu da Guarânea. 1927-1977. Fermata do Brasil – Editores de Música – São Paulo. Devo a recuperação dessa letra de Mário Palmério à ilustre professora Luiza Melo Vasconcelos, notável conhecedora da história da cultura de nossa região. 6COMPANHIA MATE LARANJEIRA. Rio de Janeiro, 1941.7Um país chamado fronteira. In: <http://www.douradosinforma.com.br/entrevistas.php?id_ent=194>. Acesso em: 1 mar. 2013. 8Cf. Diegues: Portunhol selvagem em Quito. In: Jornal O Progresso. Caderno 1. Dourados, MS. 24/11/2009. 9NAVEIRA, Raquel. “Aspectos de Mato Grosso do Sul: Uma visão poética”. Palestra proferida na Academia Paulista de Letras no dia 16/03/2007. 11 f. Mimeografado.

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