nos legislativos sul-americanos - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na...

19
Revista de Sociologia e Política ISSN: 0104-4478 [email protected] Universidade Federal do Paraná Brasil Feliú Ribeiro, Pedro LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL: A APROVAÇÃO DO TLC COM OS ESTADOS UNIDOS NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS Revista de Sociologia e Política, vol. 20, núm. 44, noviembre, 2012, pp. 121-138 Universidade Federal do Paraná Curitiba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23826263009 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Upload: dangduong

Post on 10-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

Revista de Sociologia e Política

ISSN: 0104-4478

[email protected]

Universidade Federal do Paraná

Brasil

Feliú Ribeiro, Pedro

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL: A APROVAÇÃO DO TLC COM OS ESTADOS UNIDOS

NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS

Revista de Sociologia e Política, vol. 20, núm. 44, noviembre, 2012, pp. 121-138

Universidade Federal do Paraná

Curitiba, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23826263009

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Page 2: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

121

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

RESUMO

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL:A APROVAÇÃO DO TLC COM OS ESTADOS UNIDOS NOS

LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 44, p. 121-138, nov. 2012Recebido em 22 de março de 2011.Aprovado em 14 de dezembro de 2011.

Pedro Feliú Ribeiro

O artigo analisa as votações nominais de três poderes legislativos sul-americanos, Chile, Colômbia e Peru,acerca da ratificação do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. A pergunta central é: quais sãoos fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com osEstados Unidos? Três fatores centrais emergem da literatura: (i) as relações Estados Unidos x AméricaLatina produzem uma clivagem ideológica (direita-esquerda) entre os partidos políticos do continente; (ii)o pertencimento do legislador à coalizão de governo no poder Legislativo e (iii) os fatores sócio-econômi-cos dos distritos eleitorais dos legisladores. Por meio da utilização do modelo de regressão logística,apontamos que a ideologia dos legisladores peruanos explica os votos dos mesmos no TLC com os EstadosUnidos, indicando que quanto mais à esquerda estiver o legislador, menor a probabilidade do mesmoaprovar o referido tratado. No caso chileno, a taxa de desemprego do distrito eleitoral do deputado possuimaior capacidade explicativa, revelando que quanto maior a taxa de desemprego, menor a probabilidadede aprovação do TLC com os Estados Unidos. Já no caso do Senado colombiano, há uma forte associaçãoentre o pertencimento do Senador à coalizão de governo e a aprovação do TLC, revelando a influênciadessa variável institucional no voto do Senado colombiano. Além do pertencimento ou não à coalizão degoverno, a ideologia do partido político do legislador colombiano também se apresenta como fatorexplicativo relevante do voto do mesmo.

PALAVRAS-CHAVE: política comercial; poderes legislativos sul-americanos; TLC; Estados Unidos.

I. INTRODUÇÃO

Os processos de redemocratização eliberalização econômica, predominantes a partir dadécada de1990 em boa parte dos países da AméricaLatina, redesenharam o perfil político e econômicodos mesmos, introduzindo modificaçõessignificativas na formulação das políticascomerciais. Países como Chile, Colômbia, Peru,México, Costa Rica e República Dominicana, entreoutros, celebraram diversos tratados de livrecomércio da década de 1990 aos dias atuais. Essaliberalização comercial intensificou a interna-cionalização da agenda doméstica dos países,gerando a incidência desigual dos custos ebenefícios da liberalização comercial na sociedade(conseqüências distributivas). Também comum aesses países é a prerrogativa constitucional doscongressos nacionais em apreciar a ratificação dosacordos internacionais, tornando a instituição umpossível ponto de veto no processo decisório dapolítica comercial. Uma vez assinado o acordo

comercial, cabe aos legisladores decidirem aimplementação ou não do mesmo, sendo oCongresso Nacional a última instância decisóriade representação política da sociedade.

Sendo assim, compreender os determinantesdo voto do legislador sul-americano na apreciaçãodos acordos internacionais de política comercialé o objetivo geral do presente artigo. Maisespecificamente, analisamos a aprovação dostratados de livre comércio com os Estados Unidosnos poderes legislativos de Chile, Colômbia e Peru.Duas características essenciais justificam aescolha desse tratado. Primeiro, o Tratado deLivre Comércio (TLC) com os Estados Unidosocupou uma posição central na agenda comercialdesses países, dada a elevada representatividadeda economia norte-americana nas balançascomerciais dos mesmos. Espera-se, portanto,conseqüências distributivas oriundas daimplementação do tratado significativas,sensibilizando o eleitorado e os interesses

Page 3: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

122

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

organizados da sociedade de forma ampla.Segundo, embora haja algumas diferençassubstantivas nos distintos tratados assinados nostrês países, a coincidência dos Estados Unidoscomo parte contratante elimina o problema do viésde seleção na comparação entre os determinantesdo voto dos legisladores nos três países. Comoestamos tratando da mesma matéria, é possívelcomparar os resultados dos três países,possibilitando uma compreensão um pouco maisampla acerca da conformação das preferênciasdos legisladores do subcontinente na tomada dedecisão em política comercial.

Na seção 2 do presente artigo apresentaremosa revisão bibliográfica acerca dos determinantesdo voto do legislador na política comercial,indicando três conjuntos de variáveis explicativascentrais: (i) fatores sócio-econômicos do distritoeleitoral e interesses organizados, (ii) ideologia e(iii) fatores institucionais. Na seção 3,apresentamos a amostra do estudo, assim comoas hipóteses a serem testadas e suas respectivaslógicas explicativas e descrição das variáveis. Naseção 4 exibimos os resultados dos modelos deregressão logística, a saber, a importância dasseguintes variáveis: (i) desemprego na explicaçãodos votos dos deputados chilenos; (ii) ideologiano caso dos legisladores peruanos e, no casocolombiano, a combinação entre o pertencimentoou não do legislador à coalizão de governo e, porfim, (iii) a ideologia do partido político dolegislador.

II. REVISÃO DA LITERATURA

Um debate bastante presente nos estudos sobrecomportamento legislativo busca compreender osdeterminantes do voto nominal dos congressistasno conjunto das políticas públicas. No que serefere à política comercial mais especificamente,podemos dividir os argumentos centrais daliteratura em dois grandes conjuntos. No primeiroconjunto, os votos dos legisladores são explicadospor variáveis exógenas ao processo legislativo,resumindo-se em três principais: (i) os interessesorganizados via contribuição de campanha oupressão política, (ii) a ideologia dos legisladores e(iii) as condições econômicas e sociais dosdistritos eleitorais dos mesmos. No segundoconjunto, as variáveis explicativas acerca doposicionamento dos legisladores em temas depolítica comercial são endógenas ao processolegislativo, configurando-se como variáveis

institucionais. São alguns exemplos o poder deagenda do Presidente, a disciplina partidária, odesenho do sistema eleitoral e a estruturação dascomissões legislativas e suas prerrogativas. Éevidente que é possível observar uma interessanteintersecção entre ambos os conjuntosexplicitados, mesclando explicações institucionaise societais acerca do voto do legislador em políticacomercial.

II.1. Os fatores explicativos exógenos

Considerando o primeiro conjunto de variáveisexplicativas citado acima, a lógica desses modelosfundamenta-se na relação causal entre fatoreseconômicos, sociais, políticos e o voto dolegislador. Baldwin e Magee (2000), ao analisaremas votações nominais no congresso norte-americano acerca das aprovações do TratadoNorte-Americano de Livre Comércio (Nafta, nasigla em inglês), tratados da Rodada Uruguai e arenovação do “fast-track authority”, testam arelação entre votar a favor ou contra e trêsconjuntos de variáveis: (i) condições econômicase sociais nos distritos eleitorais dos legisladorescomo, por exemplo, a proporção da força detrabalho com menos do que o colegial completo,a proporção de trabalhadores sindicalizados, taxasde desemprego e cifras de exportação e importaçãodos distritos; (ii) a ideologia dos legisladores e(iii) as contribuições de campanha executadas porinteresses organizados. Os autores argumentamque os três fatores testados influenciam ocomportamento (voto) do legislador norte-americano frente essas questões de políticacomercial. No que tange as contribuições decampanha, legisladores que recebiamfinanciamento de sindicatos (“labor contributions”)possuíam maior probabilidade de votar de maneiracontrária ao Nafta, por exemplo. Analogamente,aqueles legisladores que receberam algumacontribuição do empresariado (“businesscontributions”) teriam uma maior propensão avotar de maneira favorável ao citado tratadocomercial. Do ponto de vista das condiçõeseconômicas e sociais dos distritos eleitorais,aqueles legisladores que representavam distritoscom maiores taxas de desemprego tendiam a votarde maneira contrária ao Nafta, por exemplo.Finalmente, com relação à ideologia doslegisladores, surpreendentemente, legisladoresclassificados como conservadores tenderam avotar contrariamente ao Nafta (idem, p. 28-30).

Page 4: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

123

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

II.2.A influência dos fatores econômicos e sociaisdo distrito do legislador

Alguns estudos têm corroborado a percepçãoda importância das características sócio-econômicas dos distritos eleitorais na conformaçãodas preferências dos legisladores nas decisões depolítica comercial. Henisz e Mansfield (2006)indicam uma forte correlação entre a deterioraçãodas condições macroeconômicas dos distritos e oaumento das demandas protecionistas emanadasda sociedade. Desse modo, os legisladores sofremmaior pressão protecionista de seu eleitoradoquando o desempenho econômico de seus distritosé ruim. Dentre as condições econômicas maisinfluentes na decisão do parlamento acerca dapolícia comercial, a taxa de desemprego é a maiscrucial (idem, p. 191). Há, nessa perspectiva, oentendimento de que os tomadores de decisão empolítica comercial estão constrangidos pelochamado “viés organizacional”. Isto é, aquelesgrupos que perdem com a abertura comercialpossuem um maior incentivo a organizar-se doque aqueles que se beneficiam da mesma. Oresultado seria uma super-representação dosinteresses protecionistas junto aos legisladores,influenciando seus votos na direção apontada(BAILEY, GOLDSTEIN & WEINGAST, 1997).

Persistindo nessa linha explicativa, Conley(1999) compara as votações nominais acerca daresolução de aprovação da outorga do fast-trackem 1991 e a não aprovação da renovação domesmo fast-track em 1997. O autor observa queo efeito da variável “ideologia” cai 27 pontos de1991 a 1997, enquanto as pressões dosconstituintes desempenharam um papel central naoposição do congresso norte-americano aoPresidente Clinton, especialmente entre osdemocratas. O fato mais surpreendente é o apoiolegislativo democrata à aprovação do fast-trackno governo republicano em 1991 e a oposição domesmo partido no congresso quando o governoera democrata. Aqueles legisladores representandodistritos caracterizados como labor oriented (fortepresença sindical no distrito) apresentaram umatendência maior a votar desfavoravelmente ao fast-track, em 1997, quando comparado a 1991,demonstrando a crescente preocupação democratacom o eleitorado trabalhista (idem, p. 791).

II.3. A influência dos interesses organizados

Lowi (1964) argumenta que o cálculo doscustos e benefícios eleitorais dos legisladores

(reeleição) é significativamente afetado pelainfluência dos grupos de interesses especiais,fundamentalmente pela optimização do retornoeleitoral via contribuição de campanha e a ameaçade perda de votos por meio de, por exemplo,demissões massivas, desvios de investimentos,entre outros. Exemplos de estudos que apontamo lobby como variável explicativa primordial datomada de decisão de legisladores em políticacomercial são Fordham e McKeown (2003), Halle Deardorff (2006), Ehrlich (2008), entre outros.

As teses que associam decisões doslegisladores em política comercial a atuação dosgrupos de interesse sugerem, por exemplo, que éirrelevante a ideologia dos partidos políticos comrelação ao tema (RAY, 1981). Como a políticacomercial é resultado das preferências e influênciasdos grupos de interesse, a ideologia dos partidospolíticos é irrelevante na medida em que cadapartido tende a representar uma multiplicidade degrupos de interesse com diferentes preferências.Na visão de Grossman e Helpman (1994), porexemplo, setores econômicos organizados emgrupos de interesses especiais tendem a dominara política comercial, tornando os partidos políticosagentes com menor poder de influência.

Finalmente, uma importante tese que vinculapolítica comercial a alinhamentos políticosoriginados pela abundância ou escassez dedeterminados fatores produtivos foi produzida porRogowski (1989). Apropriando-se do teoremaStolper-Samuelson, Rogowski (idem) sustenta queos proprietários dos fatores produtivos abundantestenderão a demandar abertura comercial, enquantoaqueles proprietários de fatores produtivosescassos estariam inclinados a demandarprotecionismo. Neste sentido, legisladores quesofrem o lobby dos proprietários de fatoresprodutivos escassos no país tendem a sofrer fortepressão protecionista desse grupo afetado por umaeventual abertura econômica, induzindo aspreferências desses legisladores nessa direção. Oinverso ocorre naqueles distritos cujo legisladorsofre a influência dos proprietários de fatoresprodutivos abundantes no país, ocorrendo ademanda por liberalização. Complementariamente,Hiscox (2002) argumenta que mudanças namobilidade dos fatores produtivos capital e trabalhodos distritos eleitorais causam um impactosignificativo na formulação da política comercialnorte-americana.

Page 5: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

124

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

II.4. O papel da ideologia do legislador nasdecisões de política comercial

De uma maneira geral, a literatura que identificaa ideologia como variável preditiva docomportamento parlamentar em temas de políticacomercial busca compreender a associação entreo posicionamento dos legisladores no contínuodireita – esquerda e as opções políticasrepresentadas pelo contínuo liberalismo –protecionismo. Milner e Judkins (2004), porexemplo, examinam o posicionamento dos partidospolíticos em temas de política comercial em 25países desenvolvidos (a maioria da Organizaçãopara a Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE)) entre 1945 e 1998. O argumento centraldesse estudo é a existência de um forte impactodo posicionamento dos partidos políticos, em umaescala ideológica unidimensional direita-esquerda,e as posições tomadas pelos políticos e legisladoresdos mesmos em temas de política comercial.Ademais, na amostra desse estudo, os partidos deesquerda tenderam a favorecer o livre comércio,enquanto os de direita posicionaram-se contra(idem).

Tendo em vista o caso de legislativos sul-americanos, Feliú, Galdino e Oliveira (2007), apósanálise das votações nominais acerca da ratificaçãodos tratados de livre comércio na Câmara dosDeputados do Chile desde a redemocratização dopaís, concluem que a localização do partido políticodo deputado no espectro ideológico direita-esquerda é um excelente preditor dos votos domesmo em política comercial. Ademais, constatou-se que deputados localizados mais à esquerda doespectro tendem a votar favoravelmente ao livrecomércio (idem). Outros exemplos de estudos quepercorrem esta mesma linha explicativa são Epsteine O’Halloran (1996), Xie (2004) e Marks et alii(2006), entre outros.

II.5. Influências endógenas: as variáveis institu-cionais

Há uma vasta literatura que analisa as variaçõesinstitucionais como fator determinante docomportamento dos tomadores de decisão napolítica comercial. Dada a variedade desse tipo deestudo, encontramos análises desde um escopomais amplo, como a investigação do impacto dotipo de regime político na formulação da políticacomercia do país (ROGOWSKI, 1987; BUENODE MESQUITA, 2000; MANSFIELD, MILNER& ROSENDORFF, 2000), assim como

associações entre sistemas eleitorais e partidáriose o comportamento parlamentar no tema.

Uma dimensão importante desta perspectiva éa relação entre o poder Executivo e Legislativo naformulação da política comercial. Milner eRosendorff (1997), por exemplo, argumentam apropensão do poder Executivo em promover aliberalização comercial e a do poder Legislativoem manifestar posturas mais protecionistas. Comoo chefe do poder Executivo é eleito em âmbitonacional, suas preocupações eleitorais centram-se no eleitor mediano do país, priorizando políticasque gerem redução do custo ao consumidor econtrole inflacionário. O poder Legislativo, por serresponsivo a um eleitorado em nível distrital,estaria mais propenso a representar interessesparoquiais protecionistas.

Nielson (2003), ao analisar países emdesenvolvimento, argumenta que presidentes comsignificativos poderes legislativos e liderançaspartidárias fortes são capazes de superar osinteresses protecionistas, promovendo a aberturacomercial. Assim, a delegação de poderes dolegislador ao Presidente e à liderança partidária estáintimamente ligada à liberalização comercial. Oautor também sugere o efeito positivo do tamanhodo distrito eleitoral no nível de liberalizaçãocomercial (idem, p. 489).

No que tange as associações entre sistemaseleitoral e partidário e a decisão dos legisladoresem política comercial, McGillivray (1997)desenvolve uma teoria relacionando os níveis dedisciplina partidária e o nível de proteção econômicaadvinda de poderes legislativos com sistemaeleitoral majoritário uninominal (single-memberdistricts). Similarmente, Hankla (2006) postulahaver uma correlação direta entre disciplinapartidária e decisões liberalizantes. Quanto maisdisciplinado for o partido, maior será a tendênciade que promova posturas abrangentes, portanto,liberalizantes. Rogowski (1987) sustenta quepolicy-makers em países com sistemas derepresentação proporcional com distritos de grandemagnitude encontram-se mais isolados depressões protecionistas advindas da sociedade.Nos sistemas majoritários, ao contrário, o tomadorde decisão situa-se mais exposto a pressõesprotecionistas.

Milner e Kubota (2003) argumentam quequanto maior o tamanho da coalizão societal (incluitodos os grupos de interesse organizados) maior

Page 6: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

125

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

será a tendência do tomador de decisão adotarmedidas liberalizantes com o intuito de beneficiarum número maior de atores. Por outro lado,coalizões societais menores, muito comuns emregimes autocráticos, incentivam o tomador dedecisão a revelar posturas mais protecionistas,redistribuindo a renda daqueles que não participamda estreita coalizão.

É interessante notar o trabalho de Karol (2007)como contraponto aos argumentos quecorrelacionam sistema eleitoral e política comercial.Ao analisar o papel do tamanho dos distritos naconformação das preferências dos tomadores dedecisão em política comercial, Karol (idem)sustenta a não equivalência entre interessesdistributivos e demanda por proteção. O pontocentral é questionar algumas premissas adotadaspela literatura, como a irrelevância dos partidospolíticos, a maior relevância dos interessesprotecionistas e, principalmente, a orientaçãoprotecionista dos tomadores de decisão calcadana existência de incentivos institucionais queinduzem o legislador a beneficiar interessesconcentrados (distritais) em detrimento deinteresses difusos (nacionais). Um distritoexportador e competitivo, por exemplo, podedemandar por maior integração regional ouliberalização comercial a despeito das forçasprotecionistas contrárias.

Muitas das teorias expostas brevemente narevisão bibliográfica acima são calcadas no casonorte-americano, com exceção evidente dosestudos comparados. Não se buscou aqui realizaruma revisão exaustiva, privilegiando o apontamentodas principais relações explicativas para o voto dolegislador presentes na literatura. Não obstante,não há muitos estudos que focam no caso doslegisladores sul-americanos sobre o tema,possivelmente pela percepção, cada vez maiscontestada, da baixa relevância do poderLegislativo no processo de implementação dapolítica comercial (OLIVEIRA & ONUKI, 2010).Nesse sentido, o problema de pesquisa propostoneste estudo é: quais os determinantes do voto dolegislador sul-americano na política comercial?Na seção seguinte, abordaremos a metodologiaempregada para responder a pergunta, assim comoexporemos a amostra selecionada.

III. O DESENHO DA PESQUISA

A escolha do Chile, Colômbia e Peru paraconformar a amostra da pesquisa deriva dacombinação de quatro fatores essenciais: o usoda votação eletrônica nos legislativos nacionais1,a apreciação de acordo comercial com os EstadosUnidos, um nível mínimo de polarização entre osvotos favoráveis e contrários ao acordo2 epertencer ao subcontinente sul-americano. ATabela 1, abaixo, expõe algumas informações sobrea amostra proposta.

TABELA 1 – AMOSTRA

FONTES: Elaboração do autor, a partir de Chile (2013), Congreso Visible (2008) e Peru (2013).

Como podemos observar na Tabela 1, os anosde apreciação dos acordos analisados são bastantepróximos, variando entre 2003 e 2007. A escolhadas casas legislativas exposta acima justifica-seda seguinte forma: no caso do Chile optou-se pelaCâmara dos Deputados pelo fato dessa casalegislativa, quando comparada ao Senado, possuirum maior número de membros. Isso favorece oemprego de métodos quantitativos de análise,como será descrito abaixo. No caso colombiano,

1 Para obter a lista de legislativos sul-americanos que fa-zem uso ou não do registro eletrônico dos votos nominaise os disponibilizam na internet, ver Saiegh (2005).2 Apenas para registro, o México e a RepúblicaDominicana, países da América Latina, disponibilizam asvotações nominais acerca da aprovação do TLC com osEstados Unidos. No caso do Senado mexicano, 55 votosforam favoráveis e dois foram contrários. Na Câmara dosDeputados da República Dominicana, 118 deputados fo-ram favoráveis ao acordo enquanto apenas quatro votaram

Page 7: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

126

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

o Senado foi escolhido pela disponibilidade dosdados da votação nominal. Finalmente, o caso doPeru é o mais peculiar, uma vez que, ao contráriodos demais casos, o poder Legislativo é organizadona forma unicameral.

Para identificar os fatores que melhor explicamos votos dos legisladores sul-americanos naaprovação dos tratados de livre comércio com osEstados Unidos, utilizamos a análise de regressãologística. Essa técnica estatística é apropriada paraa análise em questão, dado que a regressãologística é utilizada para estimar uma variávelcategórica, geralmente dicotômica, em função deum conjunto de variáveis preditoras. No caso aquianalisado, a variável resposta são os votos doslegisladores na aprovação do TLC com os EstadosUnidos, variando categoricamente entre um(“sim”) e zero (“não”). Quando fazemos o uso deuma variável resposta categórica, como é o nossocaso, a função discriminante é comumenteutilizada quando as variáveis preditoras sãocontínuas e bem distribuídas, logit quando todasas variáveis preditoras são categóricas e,finalmente, a regressão logística quando asvariáveis preditoras são um misto entre variáveiscontínuas e variáveis categóricas, não fazendo usode nenhum pressuposto acerca da distribuição dasvariáveis preditoras (WUENSCH, 2009). Nessainvestigação, como será explicitado abaixo,fazemos uso de variáveis preditoras contínuas ecategóricas, tornando a regressão logística o testeestatístico mais adequado.

Analisaremos essencialmente a dimensãoespacial da regressão logística, conduzindo umaanálise do tipo cross-sectional, ou seja, as variáveisresposta e explicativas estão associadas a umrecorte temporal específico ou, em outraspalavras, um ponto no tempo. No caso aquiproposto cada legislador vota em um anoespecífico a aprovação do TLC com os EstadosUnidos, onde as variáveis explicativascorrespondem ao ano da votação do TLC, comouma foto tirada de um espaço temporal contínuo.Outro aspecto relevante a ser considerado é o fatoda regressão logística, assim como a linear, estudarrelações entre variáveis, buscando aquelas que

podem influenciar de alguma forma a variávelresposta. A diferença central é que a regressãologística fornece uma resposta em probabilidadede chances de ocorrer o evento estudado. No nossocaso, estima-se a probabilidade do legislador votar“sim” ou “não” dada a presença de algumasvariáveis preditoras. Seguem abaixo as variáveisincluídas no modelo e suas respectivas hipóteses.

III.1. Hipóteses e variáveis preditoras

Para selecionar as variáveis preditoras domodelo de regressão logística, assim como asrespectivas hipóteses, utilizamos como referênciaos principais fatores explicativos presentes naliteratura e expostos na seção 2 deste artigo. Dessaforma, buscaremos instrumentalizar aspectosinstitucionais, as condições sócio-econômicas dosdistritos eleitorais3, a ideologia do legislador e ainfluência dos interesses organizados naconstrução do modelo explicativo. Abaixo seguemdispostas as hipóteses e respectivas variáveispreditoras do modelo proposto.

III.1.1. Condições sócio-econômicas do distrito dolegislador

Entre as condições macroeconômicas maisinfluentes na política comercial (trade policy), odesemprego é crucial. Nas palavras de Henisz eMansfield (2006, p. 191), “perhaps the mostcrucial factor – and the one that most likely toinfluence policy choice toward protection – is theextent and duration of existing unemployment”4.A lógica envolvida na relação entre desemprego einfluência na política comercial é a seguinte: éesperado que altas taxas de desemprego produzamdemandas por protecionismo na medida em quese torna mais difícil para os trabalhadoresajustarem-se frente ao aumento das importações.Aqueles trabalhadores que perderam emprego emvirtude do aumento da competição dos produtos

contra. Em nenhum dos dois casos o lado minoritário ultra-passou 10% do majoritário. É importante frisar que osvotos “abstenção” foram descartados da análise.

3 O Senado colombiano elege 100 candidatos por meio deuma lista nacional e dois membros por meio de uma listaespecial indígena, ou seja, a magnitude do distrito eleitoralneste caso é 100 para a maior parte dos senadores. Por essemotivo, utilizamos o departamento que mais votou no Se-nador como proxy da filiação departamental do mesmo.Esses dados foram obtidos em Congreso Visible (2008),acessado em 20 de julho de 2010.4 “Talvez o fator mais crucial – e aquele que mais deveinfluenciar a escolha política pela proteção – é a extensão ea duração do desemprego existente” (Nota do revisor).

Page 8: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

127

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

importados terão grande dificuldade de conseguiroutro emprego e/ou manter o mesmo nível salarial.Esses trabalhadores, somados àqueles cujo medode perder o emprego é grande, têm fortes razõespara pressionar o governo e o poder Legislativopor proteção (idem). Segundo Olson (1982), altosíndices de desemprego estimulam trabalhadores,investidores e outros grupos de interesse afetadosadversamente pela abertura comercial a superaremo problema da ação coletiva e mobilizarem-se paraexigir políticas que reduzam a abertura comercial.Por tal motivo, para medir a influência dascondições sócio-econômicas do distrito eleitoraldo legislador, recorreremos às taxas dedesemprego dos respectivos distritos no ano deapreciação do acordo comercial com os EstadosUnidos5. Assim, a primeira hipótese do artigoconfigura-se da seguinte maneira: H1: quantomaior a taxa de desemprego do distrito dolegislador, maior a probabilidade deste votarcontrariamente ao Acordo de Livre Comércio comos Estados Unidos.

Outra variável distrital incluída no modelo deregressão logística é o volume das exportaçõesdos distritos eleitorais6. Essa variável visa mediros diferentes impactos econômicos causados pelosetor externo do país nos distritos eleitorais domesmo. Em geral, os grupos econômicos exporta-dores são favoráveis aos acordos de livrecomércio, principalmente quando vislumbrado ummercado enorme como o norte-americano. Assim,espera-se que distritos que exportam mais apresen-tarão uma maior pressão em prol da aprovação doacordo. Formula-se, portanto, a segunda hipótesepara os casos de Peru e Colômbia: H2: legisladorespertencentes a distritos exportadores possuem umamaior probabilidade de votar favoravelmente aoTLC com os Estados Unidos.

Finalmente, ainda referente às variáveisdistritais, utilizamos a porcentagem da populaçãoeconomicamente ativa no primeiro setor daeconomia7 (setor agrícola). Nas discussões

realizadas nos congressos nacionais de Chile e Peruacerca da ratificação do TLC com os EstadosUnidos, congressistas provenientes de setoresagrícolas que competem com similares norte-americanos, fundamentalmente trigo e algodão,expressaram a sua preocupação com asobrevivência desse grupo econômico caso otratado fosse aprovado. Um dos argumentaiscentrais foi a desleal competição que esses setoresagrícolas enfrentariam frente aos elevadossubsídios agrícolas praticados pelo governo norte-americano. Espera-se, portanto, que congressistasprovenientes de distritos caracterizados por umaproporção significativa de trabalhadores situadosno primeiro setor rejeitem o acordo como tentativade proteger o setor da competição norte-americana. Formula-se a terceira hipótese: H3:legisladores pertencentes a distritos dotados deelevada proporção de trabalhadores no primeirosetor possuem uma maior probabilidade de votarcontrariamente ao TLC com os Estados Unidos.

III.1.2. Ideologia do legislador

Saez e Rivas (2006) analisam, por meio desurvey aplicado aos legisladores latino-americanos,o posicionamento dos partidos políticos noespectro ideológico direita-esquerda. Um dosconjuntos de perguntas feitas aos legisladores docontinente diz respeito à atitude do país nas relaçõescom os Estados Unidos, mais especificamente,as preferências dos legisladores acerca da aprova-ção da Área de Livre Comércio das Américas(ALCA) e uma possível relação comercial prefe-rencial com os Estados Unidos. Essa dimensão,de acordo com a análise fatorial elaborada pelosautores, explica cerca de 10% da variância total(ideologia), sendo o terceiro fator explicativo maisrelevante. Isso mostra a importância das relaçõesEstados Unidos-América Latina na polarizaçãoideológica dos partidos políticos latino-americanosde um modo geral (idem, p. 6). Ao analisarem asposições dos partidos classificados como esquerdae direita e as preferências dos mesmos em relaçãoao fator citado, os autores observam umatendência relevante: nos países da América do Sulos partidos de esquerda tendem a opor-se mais auma relação preferencial com os Estados Unidos(idem, p. 15). Assim, como estamos averiguandoo comportamento legislativo em países sul-americanos, incluímos a ideologia do legisladorcomo possível fator explicativo dos votos doslegisladores acerca do Tratado de Livre Comérciocom os Estados Unidos na direção proposta na

5 As taxas de desemprego dos distritos chilenos foramobtidas em Casen (CHILE, 2003), no caso peruano INEI(PERU, 2007) e no caso colombiano DANE (PERU, 2007).6 No caso dos distritos eleitorais chilenos não foi encon-trada essa variável para ser incluída no banco de dados.7 Não foi possível encontrar esse dado para o caso colom-biano, impossibilitando a inclusão dessa variável no mode-lo logístico do Senado colombiano.

Page 9: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

128

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

hipótese 4. Para medir a ideologia dos legisladoreschilenos e peruanos, utilizamos os scores doNOMINATE (variável contínua) estimados paraas votações de política externa nas Legislaturas2002-2006 da Câmara dos Deputados do Chile8 e2001-2007 no Legislativo peruano. No casocolombiano, utilizamos a classificação ideológicados partidos políticos para a legislatura 2006-2010via survey elaborado por PELA (2006).Basicamente, utilizou-se a pergunta do survey quepede aos deputados colombianos classificarem osprincipais partidos políticos em uma escalaideológica de um (esquerda) a dez (direita). A médiados valores apontados pelos legisladores a respeitodos partidos alheios retorna a posição do partidono espectro ideológico, caracterizando-se comouma variável contínua. Em vez de medirmos aideologia por legislador, como nos casos chilenoe peruano, no caso colombiano medimos porpartido. Assim, formula-se a quarta hipótese doestudo: H4: quanto mais à esquerda estiver olegislador no espectro ideológico, maior aprobabilidade de rejeitar o TLC com os EstadosUnidos.

III.1.3. Variável institucional

Os principais estudos presentes na literatura(ver seção 2) que averiguam a influência dasvariáveis institucionais no comportamentolegislativo em política comercial comparam muitospaíses, justamente para lograr certa variabilidadenesse componente. Como no presente artigocomparamos apenas três países, algumas variáveisrelevantes utilizadas pela literatura não poderão sertestadas, por exemplo, a magnitude dos distritoseleitorais. Ainda assim, testaremos aqui umimportante componente institucional nas decisõesdos congressistas do continente: o pertencimentoou não do legislador à coalizão de governo.Importantes estudos sobre os legislativos sul-americanos apontam para a importância dochamado presidencialismo de coalizão, umpresidencialismo multipartidarista caracterizadopor um presidente institucionalmente capaz deconformar maiorias no congresso, garantindoestabilidade e governabilidade ao sistema político(ver, por exemplo, Mustapic (2002), Nolte (2003)

e Limongi (2006)). A maioria legislativaconformada pelo presidente eleito compõe acoalizão governista, sustentada em grande medidapelos amplos poderes legislativos e de agenda dopresidente e pela nomeação de cargos executivos.Dessa forma, o presidente induz os parlamentaresà cooperação, costumando-se observar elevadosíndices de disciplina partidária entre os partidosque conformam a coalizão governista. Como oTratado de Livre Comércio com os EstadosUnidos é enviado pelos presidentes aos congressosnacionais, espera-se que os mesmos mobilizemsuas bases de apoio para a aprovação damensagem. Abaixo, formulamos a quinta hipótese:H5: os legisladores pertencentes à coalizão dogoverno possuem maior probabilidade de votarfavoravelmente ao TLC com os Estados Unidos.

IV. RESULTADOS

Nesta seção apresentaremos os principaisresultados obtidos nos modelos logísticospropostos acima. Ao contrário dos casos de Chilee Peru, no Senado colombiano a variável “coalizão”é capaz de explicar as votações perfeitamente,impossibilitando a inclusão dessa variável nomodelo logístico colombiano. Esse problema échamado de separação completa (completeseparation), ocorrendo quando se pretende preverum resultado e a explicação convergeperfeitamente com o mesmo, não havendointerações capazes de distinguir a diferença entregrupos. Assim sendo, optaremos, para o casocolombiano, por uma estratégia distinta. Primeiro,utilizamos um teste qui-quadrado para medir onível de associação entre as variáveis binárias“voto” e “coalizão” (ver seção IV.3). Segundo,construímos um modelo logístico sem a variávelindependente “coalizão”9.

Exporemos também, antes dos resultados dosmodelos logísticos dos três países, as estatísticasdescritivas das variáveis independentes incluídasnos três modelos. A apresentação desses dadosajuda a compreender melhor as variáveisinstrumentalizadas e descritas na seção anterior.

8 Sobre a utilização do NOMINATE para medir os pon-tos ideais e o posicionamento ideológico dos deputadoschilenos, ver Feliú, Oliveira e Galdino (2009).

9 É interessante notar que quando dicotomizamos a variá-vel “ideologia”, atribuindo “0” caso o partido seja de es-querda e “1” de direita, percebemos que as variáveis “coa-lizão” e “ideologia” são idênticas, ou seja, os partidos clas-sificados como “esquerda” pertencem à oposição e aquelesclassificados como “direita” pertencem à coalizão de go-verno.

Page 10: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

129

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

As tabelas 2, 3 e 4 apresentam medidasdescritivas básicas: a amplitude dos dados,indicando os valores mínimos e máximos, a médiae o desvio padrão das observações de cada umadas variáveis explicativas contínuas incluídas nomodelo de regressão logística para os casosperuano, chileno e colombiano, além daespecificação da variável dicotômica “coalizão”.Podemos notar que nos casos chileno e peruano aamplitude ideológica dos legisladores é bastanteelevada, percorrendo todo o espectro direita-esquerda (1 a -1). Entretanto, no caso chileno,um desvio padrão maior pode indicar maiorpolarização ideológica quando comparado ao casoperuano. No caso colombiano, a amplitudeideológica é um pouco menor, assim como o

desvio padrão, indicando um menor nível depolarização ideológica. As médias ideológicasindicam que no Peru e Colômbia predominamlegisladores situados na direita do espectroideológico, enquanto no Chile a média indica umaposição de centro-esquerda.

O desemprego dos distritos eleitorais revelamaiores índices no Chile e Colômbia, sendo queno primeiro caso a dispersão e amplitude sãomaiores, indicando variabilidade entre os níveisde desemprego entre os distritos eleitorais. Nocaso colombiano, uma dispersão menor indica queos distritos colombianos enfrentam de maneiramais generalizada elevadas taxas de desemprego.Já no que se refere à porcentagem da populaçãoeconomicamente ativa empregada no primeiro

TABELA 2 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS (PERU)

FONTE: O autor.

NOTA: PEA: População Economicamente Ativa.

TABELA 3 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS (CHILE)

FONTE: O autor.

TABELA 4 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS (COLÔMBIA)

FONTE: O autor.

Page 11: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

130

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

setor da economia (PEA 1o Setor), variávelinexistente no caso colombiano, notamos maiorconcentração rural no Peru, possuindo amplitude,média e dispersão maiores quando comparadosao caso chileno. Finalmente, percebemos que asexportações das regiões peruanas possuem forteassimetria entre as mesmas, apresentando elevados

desvio padrão e amplitude, revelando um desviopadrão maior do que a média exportada pelasregiões peruanas. No caso colombiano, aocontrário, a disparidade é menor, apresentandouma menor assimetria entre os distritos eleitoraisno que tange as suas exportações.

TABELA 5 – RESULTADOS MODELO LOGÍSTICO TLC PERU-ESTADOS UNIDOS

FONTE: O autor.

IV.1. Peru

A coluna B (coeficiente) retorna os coeficientesdo modelo para cada variável explicativa. Nacoluna erro padrão, é apresentada uma medida devariabilidade desses coeficientes. A estatística Z eo p-valor são utilizados para testar a hipótese decada coeficiente no modelo de regressão. SegundoHair (2005), esse teste identifica o quanto a variávelexplicativa participa individualmente da explicaçãoda variável resposta “voto”. No caso do teste Z,obtido por B/Erro Padrão, quanto maior o valordo coeficiente, maior a capacidade explicativa davariável. Como mostra a Tabela 5, a ideologia dolegislador peruano possui um coeficiente de Zelevado (3.84), indicando a sua relevânciaexplicativa nos votos dos legisladores peruanos.O p-valor da variável ideologia é menor ou igual a0.01 (0.000 no nosso caso), indicando com umnível de significância de 1% que esta variável érepresentativa dos votos dos legisladores. Podemosnotar que o sinal do coeficiente da variável“ideologia” é positivo, indicando que o acréscimoem uma unidade na ideologia do legislador(caminhar em direção à direita) acrescenta 42.2log odds na variável resposta “voto”, mantidas asdemais variáveis constantes.

A título de exemplo, calcularemos a probabilidadede um legislador peruano de esquerda, com pontoideal -110, votar favoravelmente ao acordo de livrecomércio com os Estados Unidos. A função logísticapode ser representada por: P(V = 1| Ideologia) = 1/ (1 + e-(constante + BIdeologiai)), em que f(y) podeser interpretado como a probabilidade de umlegislador votar favoravelmente ao tratado de livrecomércio, BIdeologiai é a ideologia do deputado i(no caso, -1). Incluindo os valores presentes naTabela 4, temos: P(V = 1| Ideologia) = 1 / (1 + e-(-14.287 + (42.044)*(-1)) = 0,30. Podemos concluir,portanto, que a probabilidade de um legisladorperuano ocupar a esquerda do espectro ideológicoe votar favoravelmente ao acordo de livre comérciocom os Estados Unidos é de 30%, corroborando ahipótese 4 citada anteriormente.

Adicionalmente, a última coluna da Tabela 5retorna a razão de chance (odds ratio) para asvariáveis preditoras. No caso da variável ideologia,a única estatisticamente significativa no modelo,inferimos que um legislador peruano situado na

10 O espectro ideológico da estimação via Nominate dospontos ideais dos legisladores peruanos varia de -1 (es-querda) a 1 (direita). Para mais detalhes, ver Feliu, Oliveirae Galdino (2009).

Page 12: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

131

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

direita do espectro tem 2,28 vezes mais chancede aprovar o TLC com os Estados Unidos quando

comparado a um legislador mais à esquerda doespectro ideológico.

TABELA 6 – RESULTADOS MODELO LOGÍSTICO TLC CHILE-ESTADOS UNIDOS

V.2. Chile

Assim como o modelo logístico peruano, ochileno, expresso na Tabela 6 acima, revela apenasuma variável estatisticamente significativa quandoassumimos um intervalo de confiança de 95%. Adiferença reside na variável com maior poderexplicativo. Enquanto no Peru a ideologia dolegislador apresenta a maior capacidade explicativa,no Chile é o desemprego do distrito eleitoral dodeputado a principal variável explicativa, indicadapor um p-valor de 0.012 e um coeficiente Z de -2.51. É interessante notar que o sinal do coeficientedessa variável é negativo, mostrando que oacréscimo de uma unidade no desemprego distritaldecresce -.714 em log odds a variável resposta“voto”, mantidas todas as outras variáveisconstantes. Em outras palavras, o aumento na taxade desemprego do distrito eleitoral diminui aprobabilidade de um deputado chileno aprovar oTLC com os Estados Unidos. Complementaria-mente, um deputado proveniente de um distritoeleitoral com elevada taxa de desemprego possuium odds ratio de .489, ou seja, 0,48 vezes maischance de rejeitar o TLC do que um deputadorepresentante de um distrito eleitoral com baixodesemprego.

Além da variável desemprego, notamos naTabela 6 que a variável ideologia, embora nãoesteja em um intervalo de 95%, poderia serincluída, como estatisticamente significativa,em um intervalo de 90%. Assim, apesar davariável ideologia revelar um odds ratio baixo(.006) e um coeficiente z relativamente baixo(-1.82), é interessante analisar o efeitocombinado de ambas as variáveis no voto dodeputado chileno no TLC com os EstadosUnidos. Para tanto, utilizaremos o programaClarify para STATA (TOMZ, WITTENBERG& KING, 2001).

O Clarify utiliza o teste de monte Carlo parafazer simulações nas variáveis preditoras estimadaspelo modelo logístico que auxiliam na interpretaçãoe apresentação dos resultados estatísticos. Assim,são feitas 1 000 simulações a partir de quantidadesdefinidas pelo próprio pesquisador (idem). Nonosso caso, utilizamos os valores máximos emínimos das variáveis desemprego e ideologia.Abaixo segue o Gráfico 1 produzido por meio doClarify.

FONTE: O autor.

Page 13: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

132

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

As barras azuis e vermelhas indicam ointervalo de confiança de 95% da variável preditoradesemprego quando ela assume valores baixos ealtos, respectivamente. No eixo vertical encontra-se a probabilidade do deputado aprovar o TLCcom os Estados Unidos, enquanto que no eixohorizontal a ideologia do mesmo, lembrando que“-1” significa esquerda e “1” direita. O primeiroaspecto interessante notado é a elevadaprobabilidade de um deputado chileno aprovar oTLC com os Estados Unidos quando odesemprego em seu distrito eleitoral é baixo, aindaque esta probabilidade diminua um pouco namedida em que o deputado se situa mais a direitado espectro ideológico. Analogamente, taxas dedesemprego altas tornam as decisões dosdeputados chilenos, situados na esquerda, maisimprevisíveis, variando de 20% a 100% aprobabilidade de aprovação do TLC no intervalode confiança de 95%. Por outro lado, o deputadochileno situado na direita do espectro erepresentante de um distrito dotado de elevada taxade desemprego apresenta uma queda naprobabilidade de aprovação do TLC com osEstados Unidos, variando de 0% a

aproximadamente 60%.

IV.3. Colômbia

A votação acerca da aprovação do TLC comos Estados Unidos parece inserir-se perfeitamentena lógica de funcionamento do “presidencialismode coalizão”, isto é, a base de partidos governistasvota de maneira disciplinada nesta importantepolítica externa do governo. A tabela 7 abaixo ilustraa votação cruzando as variáveis “coalizão degoverno” e “coalizão de oposição”. Simplesmente0% dos senadores colombianos pertencentes àbase governista votou “não” ao TLC com osEstados Unidos. Analogamente, apenas 5,9% dossenadores pertencentes à oposição votaram “sim”ao tratado. Para atribuir maior robustez a essaanálise, aplicamos o teste qui-quadrado para testara significância da associação entre pertencer ounão à coalizão de governo e votar sim ou não aotratado de livre comércio com os Estados Unidos.Dessa forma, testaremos a validade da hipótesenula (há independência entre as variáveis) emdetrimento de H1 (as variáveis possuem um elevadograu de associação). A Tabela 7, abaixo, exibe osvalores desse teste.

GRÁFICO 1 – CLARIFY TLC CHILE-ESTADOS UNIDOS

FONTE: O autor.

Page 14: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

133

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

Como podemos observar na Tabela 8, acima,o valor qui-quadrado de 59.928 com um valor p-valor de .000 possibilitam rejeitar a hipótese nula,ou seja, não há independência entre as variáveiscoalizão e voto. Assim, aceitamos a hipótese deque há um elevado grau de significância daassociação entre pertencer à coalizão de governoe votar sim no TLC Colômbia-Estados Unidos.Complementariamente, a Tabela 8 ainda exibe osvalores obtidos para o teste de correção decontinuidade e o teste likelihood ratio. O primeiro,realizado apenas para tabelas de contingência 2x2(como no nosso caso), consiste em subtrair 0,5

dos valores esperados. Como podemos notar,permanece extremamente significativo (.000) oresultado do teste qui-quadrado. Finalmente, olikelihood ratio representa a razão da máximaprobabilidade de aceitar-se ou rejeitar duashipóteses concorrentes. Valores pequenos desseteste permitem, dependendo do grau deconfiabilidade, rejeitar a hipótese. No casoanalisado observamos um valor extremamentebaixo (.000), garantindo, com 99,9% de confiança,aceitar a hipótese de que pertencer ou não à basegovernista está fortemente associado a aprovarou não o TLC com os Estados Unidos.

TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO SENADORES COLOMBIANOS SEGUNDO COALIZÃO E VOTO NA APROVAÇÃODO TLC COLÔMBIA-ESTADOS UNIDOS

FONTE: O autor.

TABELA 8 – TESTE QUI-QUADRADO COALIZÃO X VOTO TLC COLÔMBIA - ESTADOS UNIDOS

FONTE: O autor.

TABELA 9 – RESULTADOS MODELO LOGÍSTICO TLC COLÔMBIA-ESTADOS UNIDOS

FONTE: O autor.

Page 15: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

134

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

Como era esperado, dada a elevada correlaçãoentre as variáveis “coalizão” e “ideologia”, esta últimaconfigura-se como a principal variável explicativano modelo exposto na Tabela 9, evidenciado porum coeficiente Z elevado (3.09), assim como umnível de significância estatística de 1% (p-valor iguala .002). Assim como no caso peruano, o sinal docoeficiente da variável “ideologia” é positivo,indicando que o acréscimo em uma unidade naideologia do Senador colombiano (caminhar emdireção à direita) acrescenta 2.98 log odds na variávelresposta “voto”, mantidas as demais variáveisconstantes. A análise da razão de chance da variável“ideologia” na última coluna da Tabela 9 indica queum legislador colombiano situado à direita doespectro tem 19,7 vezes mais chance de aprovar oTLC com os Estados Unidos quando comparado aum legislador mais à esquerda do espectroideológico. O modelo logístico exposto na Tabela 9possibilitou contrastar a variável “ideologia” comas variáveis distritais “exportações” e“desemprego”, revelando a sobrevivência destaúltima como fator explicativo do voto do Senadorcolombiano no TLC com os Estados Unidos.

V. CONCLUSÕES

O presente estudo buscou testar hipótesespresentes na literatura acerca dos determinantesdo voto do legislador em política comercial paraos casos da aprovação do TLC com os EstadosUnidos de Chile, Colômbia e Peru. No caso doCongresso Nacional do Peru, pudemos observara importância da ideologia do voto do legisladorna aprovação, ou seja, há uma clivagem ideológicaque polariza as decisões dos congressistas notema. Situar-se à esquerda do espectro significauma menor propensão a aprovar o dito tratado.Há, nos legisladores peruanos à esquerda doespectro, a percepção, percebida pelos discursosproferidos em plenário, de que a liberalizaçãocomercial, mais especificamente a abertura domercado peruano aos Estados Unidos, prejudicaos pequenos agricultores do país (PERU.CÁMARA DE DIPUTADOS, 2006). Mesmoaqueles legisladores situados mais a esquerda doespectro, cujo distrito eleitoral não seja agrícola,como é o caso de Lima, adotaram essa posturaem plenário, evidenciando a influência destavariável no voto.

O sistema partidário peruano sofreu umaimportante mudança recente. Após denúncias decompra de votos por parte do governo e a

conseqüente renúncia do então Presidente AlbertoFujimori (1990-2000) conduziu o processo políticoperuano a novas eleições, consagrando em meadosde 2001 a eleição de Alejandro Toledo (2001-2006)como Presidente da República11. A principalmudança talvez resida no desaparecimento dospartidos chamados fujimoristas nas eleições de2001, especialmente o Cambio-90 (partido do ex-Presidente Fujimori) e o surgimento de novasforças políticas, dentre elas o partido do PresidenteToledo, Peru Posible (PP) (CAREY, 2003). Nessecontexto, o apoio majoritário que gozava oPresidente Fujimori no Congresso desaparece nagestão Toledo, ruindo um padrão antes estruturadopela dicotomia entre governo e oposição (HIX &NOURY, 2011). Esse talvez seja um fator que atribuimaior relevância à variável ideologia nestaimportante matéria da política comercial peruana,orientando o posicionamento dos legisladores.

No caso chileno, especificamente, a taxa dedesemprego do distrito eleitoral influi de maneiramais determinante na decisão do congressista,indicando que quanto maior o índice de desemprego,menor a probabilidade de o deputado votarfavoravelmente ao acordo. Quando comparadosaos resultados do modelo logístico do Peru,observamos que de uma maneira geral, o modelochileno possui uma capacidade explicativa menor,fato que pode ser explicado pelo forte apoio que oCongresso Nacional chileno tem demonstrado emplenário nas votações acerca da aprovação detratados bilaterais de livre comércio (FELIÚ,GALDINO & OLIVEIRA, 2007). Outro fator quecontribui para essa explicação é a ausência derelevância da variável governo versus oposição, tãosignificativa nos estudos sobre o poder Legislativochileno em âmbito doméstico (ALEMÁN &SAIEGH, 2007; MAUREIRA, 2007). Isto é, haveriaalgo próximo ao bipartisanship norte-americano(MCCORMICK & WITTKOPFT, 1990) no âmbitodas duas coalizões chilenas no que diz respeito àpolítica comercial, mais especificamente aaprovação do TLC com os Estados Unidos. Assim,embora haja polarização no âmbito doméstico, noâmbito comercial haveria um consenso maiorrestringido pelo tamanho da taxa de desempregodo distrito. Assim, independentemente da coalizão

11 Vale lembrar que o TLC com os Estados Unidos foiaprovado no Congresso peruano no último mês do manda-to presidencial de Alejandro Toledo.

Page 16: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

135

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

política que assuma o governo chileno, espera-secontinuidade na agenda comercial pautada naampliação de parceiros comerciais via tratadosbilaterais de livre comércio, expandindo mercadose mantendo a economia chilena aberta ao mundo.

O caso colombiano demonstrou forte, quaseperfeita, associação entre a coalizão política doSenador (governo ou oposição) e seu voto naaprovação do TLC, quando o governo indicava ovoto favorável e oposição o voto contrário. Arelevância desse fator institucional é bastantepresente na literatura que estuda os podereslegislativos do continente e revela uma dinâmicalegislativa de coalizões, polarizando as votaçõesnominais dentro desse padrão (ver, por exemplo,Zucco (2009)).

Há dois fatores centrais que incentivam umgrau de disciplina relevante entre os legisladorespertencentes à coalizão de governo. O primeirodiz respeito aos significativos poderes legislativosdo presidente colombiano, especialmente o poderde agenda e nomeação de cargos, fazendo opresidente um ator político capaz de aglutinar apoioem torno de suas propostas legislativas. Esse écertamente o aspecto institucional central do que

a literatura denomina “presidencialismo decoalizão”. Segundo, os extraordinários níveis depopularidade do Presidente Álvaro Uribe (2002-2010) coíbem eventuais resistências doslegisladores pertencentes à coalizão de governo,tornando a aproximação ao presidente umavantagem eleitoral significativa (MILANESE,2008). Notamos também a relevância explicativada ideologia do partido politico do legisladorcolombiano, indicando que quanto mais a esquerdaestiver o partido do legislador, menor aprobabilidade de aprovação do TLC com osEstados Unidos. É importante lembrar a fortecorrelação entre pertencer à coalizão de governoe ser membro de um partido de direita, indicandono caso colombiano a baixa relevância dasvariáveis distritais.

Os resultados empíricos revelaram a influênciade importantes hipóteses presentes na literaturasobre política comercial acerca da aprovação doTLC com os Estados Unidos nos três legislativossul-americanos. Assim, desemprego, ideologia eo pertencimento ou não à coalizão de governo sãovariáveis centrais para a compreensão do voto doslegisladores do subcontinente na aprovação doTLC com os Estados Unidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEMÁN, E. & SAIEGH, S. 2007. LegislativePreferences, Political Parties, and CoalitionUnity in Chile. Comparative Politics, NewYork, v. 39, n. 3, p. 253-272, Apr.

BAILEY, M.; GOLDSTEIN, J. & WEINGAST.1997. The Institutional Roots of AmericanTrade Policy: Politics, Coalition andInternational Trade. World Politics, Princeton,v. 43, n. 3, p. 309-338, Apr.

BALDWIN, R. & MAGEE, C. 2000. Con-gressional Trade Votes: from NAFTA Approvalto Fast-Track Defeat. Washington DC:Institute for International Economics.

BUENO DE MESQUITA, B. 2000. Principles ofInternational Politics. People’s power,preferences and perceptions. Washington (DC):CQ.

CAREY, J. 2003. Transparency Versus CollectiveAction: Fujimori’s Legacy and the PeruvianCongress. Comparative Political Studies,Thousand Oaks, v. 36, n. 9, p. 983-1006, Nov.

CONLEY, R. 1999. Derailing Presidential Fast-Track Authority: The Impact of ConstituencyPressures and Political Ideology on Trade Po-licy in Congress. Political Research Quarterly,Salt Lake City, v. 52, n. 4, p. 785-799, Dec.

EHRLICH, D. 2008. The Tariff and the Lobbyist:Political Institutions, Interest Group Politics,and U.S. Trade Policy. International StudiesQuarterly, New Jersey, v. 52, n. 2, p. 427-445, June.

EPSTEIN, D. & O’HALLORAN, S. 1996. ThePartisan Paradox and the U.S. Tariff, 1877-1934. International Organization, Cambridge(UK), v. 54, n. 2, p. 301-324, Spring.

Pedro Feliú Ribeiro ([email protected]) é Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo(USP) e Professor de Relações Internacionais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Page 17: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

136

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

FELIU, P.; GALDINO, M. & OLIVEIRA, A.2007. Política de comércio exterior, ideologiapartidária e interesses locais: um estudo sobreo caso chileno. Cena Internacional, Brasília,v. 9, n. 2, p. 33-57. Disponível em: http://cafemundorama.files.wordpress.com/2011/11/cena_2007_2.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

FELIU, P.; OLIVEIRA, A. & GALDINO, M.2009. A política externa chilena e o espectroideológico político-partidário: um Estudo sobrea Câmara dos Deputados do Chile (2002-2006). Dados, Rio de Janeiro, v. 52, n. 4, p.835-866. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/dados/v52n4/v52n4a02.pdf. Acesso em:24.mar.2013.

FORDHAM, B. & MCKEOWN, T. 2003.Selection and Influence: Interest Groups andCongressional Voting on Trade Policy.International Organization, Cambridge (UK),v. 57, n. 3, p. 519-549.

GROSSMAN, G. & HELPAN, E. 1994. Protectionfor Sale. American Economic Review,Pittsburgh, v. 84, n. 4, p. 833-850, Sept.Disponível em: http://pages.uoregon.edu/bruceb/Andrea.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

HAIR, J. 2005. Análise multivariada de dados.5ª ed. Porto Alegre: Bookman.

HALL, R. & DEARDOFF, A. 2006. Lobbyingas Legislative Subsidy. American PoliticalScience Review, Los Angeles, v. 100, n. 1, p.69-84, Feb.

HANKLA, C. 2006. Party Strength andInternational Trade: A Cross National Analysis.Comparative Political Studies, ThousandOaks, v. 39, n. 9, p. 1133-1156, Nov.

HENISZ, W. & MANSFIELD, E. 2006. Votesand Vetoes: The Political Determinants ofCommercial Openness. International StudiesQuarterly, New Jersey, v. 50, n. 1, p. 189-211, Mar.

HISCOX, M. 2002. Commerce, Coalitions, andFactor Mobility: Evidence from CongressionalVotes on Trade Legislation. American PoliticalScience Review, Los Angeles, v. 96, n. 3, p.593-608, Sept.

HIX, S. & NOURY, A. 2011. Government-Opposition or Left-Right? The InstitutionalDeterminants of Voting in Legislatures.

Working Paper, London School of Economics,London, May. Disponível em: http://personal.lse.ac.uk/hix/Working_Papers/Hix-Noury-GOorLR-23March2012.pdf. Acessoem: 24.mar.2013.

KAROL, D. 2007. Does Constituency Size AffectElected Officials’ Trade Policy Preferences?The Journal of Politics, Statesboro, v. 69, n.2, p. 483-494, May. Disponível em: http://w w w . b s o s . u m d . e d u / g v p t / k a r o l /Karol%20May%202007%20JOP%20Article.pdf.Acesso em: 24.mar.2013.

LIMONGI, F. 2006. A democracia no Brasil:presidencialismo, coalizão partidária e processodecisório. Novos Estudos, São Paulo, n. 76, p.17-41. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/nec/n76/02.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

LOWI, T. 1964. American Business, PublicPolicy, Case Studies, and Political Theory.World Politics, Princeton, v. 16, n. 4, p. 677-715, July.

MANSFIELD, E.; MILNER, H. &ROSENDORFF, P. 2000. Free to Trade:Democracies, Autocracies and InternationalTrade. American Political Science Review, LosAngeles, v. 94, n. 2, p. 305-321, June.Disponível em: http://www.stanford.edu/class/polisci243b/readings/v0002547.pdf. Acessoem: 24.mar.2013.

MARKS, G.; HOOGE, L.; NELSON, M. &EDWARDS, E. 2006. Party Competition andEuropeans Integration in the East and West:Different Structure, Same Causality.Comparative Political Studies, ThousandOaks, v. 39, n. 2, p. 155-175, Mar. Disponívelem: http://campus.usal.es/~cedesal/master/practicas/Sistemas%20de%20partidos/Marks%20et%20al%20CPS%202006.pdf.Acesso em: 24.mar.2013.

MAUREIRA, S. 2007. Conducta legislativa antelas iniciativas del Ejecutivo: unidad de losbloques políticos em Chile. Revista de CienciaPolitica, Santiago, v. 27, n. 1, p. 23-41.Disponível em: http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0718-090X2007000200002&script=sci_arttext. Acesso em: 24.mar.2013.

MCCORMICK, J. & WITTKOPF, E. 1990.Bipartisanship, Partisanship, and Ideology inCongressional – Executive Foreign Policy

Page 18: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

137

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 44: 121-138 NOV. 2012

Relations, 1947-1988. Journal of Politics,Cambridge (UK), v. 52, n. 4, p. 1077-1100,Nov.

MCGILLIVRAY, F. 1997. Party Discipline as aDeterminant of the Endogenous Formation ofTariffs. American Journal of Political Science,Los Angeles, v. 41, n. 2, p. 584-607, Apr.

MILANESE, J. 2008. Relaciones Ejecutivo-Legislativo en la actual coyunctura politicacolombiana: un análisis desde la lógica de losveto players. Observatorio de PoliticasPublicas, Bogotá, policy paper n. 2.

MILNER, H. & JUDKINS, B. 2004. Partisanship,Trade Policy, and Globalization: is there a left-right divide on trade policy? InternationalStudies Quarterly, New Jersey, v. 48, p. 95-119. Disponível em: http://www.princeton.edu/~ h m i l n e r / f o r t h c o m i n g % 2 0 p a p e r s /ISQ_milner_judkins2004.PDF. Acesso em:24.mar.2013.

MILNER, H. & KUBOTA, K. 2005. Why theMove to Free Trade? Democracy and TradePolicy in the Developing Countries.International Organization, Cambridge (UK),v. 59, n. 1, p. 107-143, Jan. Disponível em:h t tp : / /www.pr ince ton .edu /~hmi lne r /forthcoming%20papers/LDCdem_IO.pdf.Acesso em: 24.mar.2013.

MILNER, H. & ROSENDORFF, P. 1997.Democratic Politics and International TradeNegotiations: elections and divided governmentas constrains on trade liberalization. Journalof Conflict Resolution, Maryland, v. 41, n. 1,p. 117-146, Feb.

MUSTAPIC, A. 2002. President and Congress inArgentina. In: MORGENSTERN, S. &NACIF, B. (eds.). Legislative Politics in LatinAmerica. Cambridge (UK): CambridgeUniversity.

NIELSON, D. 2003. Supplying Trade Reform:Political Institutions and Liberalization inMiddle-Income Presidential Democracies.American Journal of Political Science, LosAngeles, v. 47, n 3, p. 470-491, July.

NOLTE, D. 2003. El Congreso chileno y su aportea la consolidación democrática en perspectivacomparada. Revista de Ciencia Política,Santiago, v. 23, n. 2, p. 43-67. Disponível em:

http://www.scielo.cl/pdf/revcipol/v23n2/art03.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

OLIVEIRA, A. & ONUKI, J. 2010. Eleições,partidos políticos e política externa no Brasil.Política Hoje, Recife, v. 19, n. 1, p. 144-185.Disponível em: http://www.revista.ufpe.br/politicahoje/index.php/politica/article/view/49/30. Acesso em: 24.mar.2013.

OLSON, M. 1982. The Rise and Decline ofNations: Economic Growth, Stagflation andSocial Rigidities. New Haven: Yale University.

RAY, E. 1981. The Determinants of Tariff andNontariff Trade Restriction in United States.Journal of Political Economy, Chicago, v. 89,n. 1, p. 105-121, Feb.

ROGOWISKI, R. 1987. Trade and Variety ofDemocratic Institutions. InternationalOrganization, Cambridge (UK), v. 41, n. 2, p.203-224, Spring. Disponível em: http://www.stanford.edu/class/polisci243c/readings/v0002028.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

_____. 1989. Commerce and Coalitions. Prin-ceton: Princeton University.

SAEZ, M. & RIVAS, C. 2006. The Left-RightDimension in Latin America Party Politics.Trabalho apresentado no Annual Meeting ofthe American Political Science Association,realizado em Filadélfia, Estados Unidos, de 31de agosto a 3 de setembro. Digit.

SAIEGH, S. 2005. The Role of Legislatures inthe Policymaking Process. In: INTER-AMERICAN DEVELOPMENT BANK.Workshop on State Reform, Public Policiesand Policymaking Processes. Washington(DC): Inter-American Development Bank.Disponível em: http://www7.iadb.org/res/publications/pubfiles/pubs-302.pdf. Acessoem: 24.mar.2013.

TOMZ, M.; WITTENBERG, J. & KING, G. 2001.Clarify: Software for Interpreting andPresenting Statistical Results. Disponível em:http://www.jstatsoft.org/v08/i01/paper. Acessoem: 24.mar.2013.

ZUCCO, C. 2009. Ideology or What? LegislativeBehavior in Multiparty Presidential Settings.The Journal of Politics, Cambridge (UK), v.71, p. 1076-1092, July. Disponível em: http://

Page 19: NOS LEGISLATIVOS SUL-AMERICANOS - redalyc.org · os fatores determinantes do voto do legislador na aprovação do Tratado ... entre os partidos políticos do continente; ... oposição

138

LEGISLATIVO E POLÍTICA COMERCIAL

w w w. p r i n c e t o n . e d u / c s d p / e v e n t s /Zucco100407/Zucco100407.pdf. Acesso em:24.mar.2013.

XIE, T. 2004. Congressional Roll Call Voting onChina Trade Policy. American Politics

Research, Louisiana, v. 32, n. 6, pp. 679-697,Nov.

WUENSCH, K. 2009. Binary Logistic Regressionwith PASW/SPSS. Disponível em: http://core.ecu.edu/psyc/wuenschk/MV/Multreg/Logistic-SPSS.pdf. Acesso em: 24.mar.2013.

OUTRAS FONTES

CHILE. 2013. Sítio da Cámara de Diputados deChile. Disponível em: http://www.camara.cl/.Acesso em: 24.mar.2013.

CHILE. CÁMARA DE DIPUTADOS. 2003.Sesión 60ª Especial de 16 de Marzo. Repúblicade Chile.

CHILE. CASEN. 2003. Encuesta deCaracterización Socioeconómica Nacional.Ministério de Palinificación y Cooperación deChile (MIDEPLAN). Disponível em: http://www.mideplan.cl/casen. Acesso: 15/03/2010.

COLOMBIA. DANE. 2007. IndicadoresEconómicos y Sociales. DepartamentoAdministrativo de Estatística Nacional.Disponível em: http://www.dane.gov.co.Acesso: 20/04/2010.

CONGRESO VISIBLE. 2008. Balance de LaLegislatura 2007-2008. Universidad de los

Andes. Disponível em: http://www.congresovisible.org. Acesso em 24.mar.2013.

PELA. 2006. Proyecto Elites Latino Americanas:estudio 59 (Colombia). Universidad deSalamanca. Disponível em: http://americo.usal.es/oir/Elites. Acesso em24.mar.2013.

PERU. 2013. Sítio da Cámara de Diputados. H.Congreso de la Unión. Disponível em: http://www.diputados.gob.mx/inicio.htm. Acessoem: 24.mar.2013.

PERU. CÁMARA DE DIPUTADOS. 2006. Diáriode los debates, Sesión 18ª de 27 de Junio.República de Peru.

PERU. INEI. 2007. Encuesta Permanente deEmpleo. Instituto Nacional de Estadística eInformática. Disponível em: http://webinei.inei.gob.pe/anda/. Acesso: 29/05/2010.