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PUBLICAÇÃO RECONHECIDA PELA SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA COMO DE INTERESSE CULTURAL E LITERÁRIO Directora: Directora: Nassalete Miranda Nassalete Miranda 28 Julho de 2021 28 Julho de 2021 N.º N.º 295/296 295/296 | Preço: 2 euros | Preço: 2 euros Quinzenalmente às quartas Quinzenalmente às quartas Nos 120 anos de RÉGIO ESPECIAL | PÁGS. 15 A 17 Até 30 de Setembro Trabalho inédito de Afonso Pinhão Ferreira

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Page 1: Nos 120 anos de RÉGIO - artesentreasletras.com.pt

PUBLICAÇÃO RECONHECIDA PELA SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA COMO DE INTERESSE CULTURAL E LITERÁRIO

Directora: Directora: Nassalete MirandaNassalete Miranda28 Julho de 202128 Julho de 2021

N.º N.º 295/296 295/296 | Preço: 2 euros| Preço: 2 eurosQuinzenalmente às quartasQuinzenalmente às quartas

Nos 120 anos de RÉGIOESPECIAL | PÁGS. 15 A 17

Até 30 de Setembro

Trabalho inédito de Afonso Pinhão Ferreira

Page 2: Nos 120 anos de RÉGIO - artesentreasletras.com.pt

28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

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Levi Guerra | Lídia Jorge

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Rui Nunes | Salvato Trigo

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Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

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vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

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dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

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Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

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APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

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APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

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Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

Não conheço pessoalmente o Sr. Abel, mas quero agradecer-lhe a atenção do telefonema em que me sugeriu alguns temas para deles falar nes-te espaço, desde logo, e cito-o: “A corrupção no mundo do futebol”, porque no seu entender “fu-tebol é cultura”.Como não tivemos oportunidade de nos alon-gar na conversa porque eu estava a entrar para uma Assembleia Geral, aqui tomo a liberdade de concluir o que penso, aproveitando para repetir o que aqui já escrevi algumas vezes: nada perce-bo (nem pretendo despender tempo a perceber) desse mundo estranho que tem o nome de um desporto que se joga com os pés.Mais do que não querer perceber, não tenho o mínimo interesse sobre as vidas de quem joga, dirige, preside, lidera as claques, negoceia a com-pra e venda de “passes” dos jogadores. Também não dou audiências aos jogos, não me preocupo com os adeptos que se endividam para apoiarem os seus clubes, nem quero saber quanto ganham nem onde investem, ou como investem, o seu di-nheiro. Já não me conformo com o facto da fuga instalada aos impostos e das falsas declarações de rendimentos, bem como com o enriquecimento ilícito (de que outra forma enriqueceriam?!) nem com o “chico espertismo” com que iludem os in-cautos, os tribunais e muitos políticos!O que sei, Sr. Abel, e lamento imenso, é que uma simples modalidade desportiva, que foi impor-tada de Inglaterra no século XIX, se tenha trans-formado no “desporto rei” capaz de movimentar milhões de pessoas e de… euros, libras, e de ou-tras tantas moedas, atingindo um poder tal que torna irracionais as decisões de governantes, até em tempos de pandemia, como as recentemente vividas em Portugal.Também sei, Sr. Abel, que futebol não é Cultura. Não como eu a entendo. Mas gostaria imenso que os diversos e múltiplos agentes culturais pudes-sem usufruir de uma pequena percentagem das oportunidades, benefícios, atenções e … excep-ções dadas ao futebol, desde os tempos de ante-na nos audiovisuais aos empréstimos bancários sem garantias algumas…! Tenho até o sonho de viver o dia em que se venda apenas mais um exemplar de um dos dois jornais quinzenários culturais, do que um exemplar dos três jornais diários “desportivo/futebolísticos”. Nesse glorioso dia, seremos um outro País!De resto, Sr. Abel, a cada um os seus gostos, que estes, dizem, “não se discutem”, mas concorda-rá que podem, aqui e ali, diversificar, até porque gostar de futebol não é impeditivo de gostar de livros, de cinema, de música, ou de qualquer ou-tra manifestação cultural. A mim, pessoalmente,

só me aborrecem os que colocam o futebol no patamar mais alto de todas as suas prioridades, endeusando todos o que nele se movimentam! Acresce que tudo o que escrevo neste espaço só vincula a minha opinião. É entre vários sentidos que me manifesto, e a sentir-me livre me respon-sabilizo. E, se não gostar de futebol for pecado, paciência, sou pecadora confessa!Entretanto, Sr. Abel, tomo a liberdade de retribuir a gentileza das suas sugestões e aqui deixar al-gumas, mas de leitura, nesta que é a edição que antecede a nossa muito necessária paragem para algum descanso.“Eça & Outras, Crónicas Queirosianas”, é um livro editado pela Confraria Queirosiana em que pode-mos ler algumas das crónicas publicadas no jornal Primeiro de Janeiro entre 2005 e Julho de 2008 rubricadas pelo prof. Gonçalves Guimarães, que as mantém mensalmente neste nosso jornal.“Os meus problemas”, uma das colectâneas de crónicas de Miguel Esteves Cardoso, dos anos 80, acabam de ser reeditadas com o prefácio de Ma-ria Filomena Mónica. No tema sobre a Felicidade diz o MEC: “Feliz é uma coisa que se é ou não se é. Não se está!”. Lá está! Concordo, até porque cada pessoa é feliz à sua maneira!O Centro de Estudos Regianos editou um grupo de ensaios de Isabel Ponce de Leão com o título “Mas Régio é grande!”, a propósito dos 120 anos de nasci-mento do escritor e de que damos destaque nesta edição, desde logo com a imagem da primeira pági-na: um trabalho inédito de Afonso Pinhão Ferreira que nos traz um Régio a descobrir.“Embora Eu Seja um Velho Errante”, é o mais recen-te romance de Mário Cláudio que conclui o relato da sua relação com Tiago Veiga. É o “nosso” Mário Cláudio por inteiro, na forma e no conteúdo!Acrescento a estes três livros, cuja leitura não ca-rece de uma continuidade espartana, o “Deserto Longo”, uma obra assinada por Ilda Figueiredo, nos poemas, e por Agostinho Santos, nas pinturas.A poesia como elemento essencial à vida.

Poema VII Naquele olhar cabia o mundo inteirocomo na tela e na poesiaque emergia do espaço aberto:visão relampejante sob este céu indecifrávelno questionamento da vidae do futuro sem cristais nem para-raios.

A todos boas leituras em artes feitas, boas férias, entendidas como a cada um aprouver.Regressaremos em Setembro, mais livres entre mais leituras!

Entre Sentidos

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

PublicidadePraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

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Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

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Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

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Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

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APOIOS

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Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

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ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

DIRECTORA: Nassalete MirandaEDITORA: Isabel FernandesFOTOGRAFIA: Ângela VelhoteGRAFISMO: Pedro CunhaPAGINAÇÃO: Pedro CunhaSITE: Criação no âmbito do projecto desenvolvido no ISLA por Joaquim Jorge Santana Oliveira

SEDE DE EDITOR E SEDE DE REDACÇÃOCONTACTOS: Praceta Eng.º Adelino Amaroda Costa, 764 - 9º Esq. | 4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76 Email.: [email protected] NA ERC125685IMPRESSÃOSelecor - Artes Gráficas, LDARua de Sistelo, 6664435-452 Rio Tinto - Telef.: 224 854 290

Estatuto Editorial disponível no sitewww.artesentreasletras.com.ptPROPRIEDADE: Singular PluralNIF509578942TIRAGEM1250 exemplaresISSN 1647-290XDL: 435812/17Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais

SingularPlural, Arte & Comunicação, Unipessoal Lda.Capital Social: 5.000 €Número de Certidão: 0232-6801-3200Conservatória do Registo Comercial de Vila Real

AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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conselho editorial

Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

Francisco Ribeiro da Silva | Helder Pacheco

Isabel Ponce de Leão | José Atalaya

Levi Guerra | Lídia Jorge

Mário Cláudio | Maria Luísa Malato | Miguel Cadilhe

Rui Nunes | Salvato Trigo

colaboradores especiais

ficha técnica

parcerias

APOIOS

Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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AS ARTES ENTRE AS LETRASPraceta Eng.º Adelino Amaro da Costa, 764 - 9º Esq.4050-012 PortoTelefone e Fax.: 22 606 35 56Telemóvel.: 91 803 56 76E-mail.: [email protected]

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Arnaldo Saraiva | António Vitorino d’Almeida

Carlos Fiolhais | Francisco Laranjo

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Levi Guerra | Lídia Jorge

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Rui Nunes | Salvato Trigo

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Tabacaria Batalha (Praça da Batalha, 151) e Tabacaria Maria Margarida (Rua Antero de Quental, 472), Tabacaria Santo António (Rua 31 de Janeiro, 20), Tabacaria O Papelão (Rua da Constituição, 15) Gaia - El Corte Inglès , Livraria Velhotes (Rua Gil Eanes)

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vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

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dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

Page 3: Nos 120 anos de RÉGIO - artesentreasletras.com.pt

3 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS AVIDADOSLIVROS

Guilherme d’Oliveira MartinsCentro Nacional de Cultura

José Régio em diálogo com Camilo…José Régio merece uma atenção especial en-quanto referência da cultura portuguesa do sécu-lo XX. Cinco elementos poderemos salientar, que o tempo se encarregará de tornar mais evidentes. E a título de exemplo, podemos referir a aprecia-ção que Régio fez de Camilo Castelo Branco e do lugar que ocupava na nossa literatura, que é de algum modo uma apreciação que poderemos considerar paralela relativamente ao seu próprio percurso, com as naturais distâncias. A história portuguesa e a síntese complexa que comporta demonstra bem como Régio segue as passadas camilianas, compreendendo a coexistência per-manente entre o que puxa para a permanência e o que reclama as transformações.De facto, José Régio (a) compreendeu que a cultu-ra portuguesa é múltipla e heterogénea; (b) ao sa-lientar o papel de “Orpheu” e do primeiro moder-nismo, bem como a necessidade de o relembrar e continuar com a “Presença”, pôs em diálogo a modernidade e as raízes culturais permanentes; (c) o exemplo de Camilo é, assim, ilustrativo do modo como este via a nossa identidade, incom-preensível sem a tensão entre uma arreigada tradição provinciana e castiça e o apelo do cos-mopolitismo; (d) esta mesma tensão, na qual o eu se afirma, na relação com os outros (como em “A Velha Casa”, com Lelito), está bem patente na obra de Régio, como ponto de encontro entre diversas contradições, ora entre Deus e o Diabo, ora na dis-tância entre a cidade e a província; e (e) Portugal viverá, assim, sempre entre a lembrança das raí-zes antigas e o apelo à metamorfose e à mudan-ça, sendo a aparente homogeneidade identitária feita de um complexo melting-pot que permite acolher as diferenças e completá-las, mais de pro-ceder à sua mera adaptação.Como afirma Eugénio Lisboa, a obra de Régio “in-sere-se (…) numa conceção de moderno, não faná-tica, e aceita (…) uma ideia de originalidade irreme-diavelmente chumbada à noção de sinceridade”. O respeito pela singularidade obriga a pormo-nos no lugar do outro, para melhor o compreender a ele, e a nós também. E Jacinto do Prado Coelho dirá: “José Régio é um poeta moderno autêntico – pela desordem psicológica, pelo hipercriticismo dos próprios instintos, pela originalidade rebus-cada, pela sobriedade vincante dos conceitos atirados à cara do leitor, pelo encerramento num castelo inacessível à maneira de Julião Sorel, de Stendhal, pelo arrojo e desencontro das formas”. Lembremos, de facto, a relação histórica de Régio com Camilo, sem tentação de anacronismo, am-bos têm um diálogo natural, no qual prevalece a importância da sociedade, incapaz de se fechar numa das lógicas possíveis, a tradicional ou a mo-

derna. “Em demasia foi encomiado Camilo por características estimáveis, sim, mas não de supre-ma importância na criação de um artista: o seu purismo, por exemplo, ou a extraordinária opu-lência do vocabulário, adquirido no trato com o povo e os clássicos. Outros dos seus admiradores – que, bem portugueses, reconheciam instintos e sentimentos seus próprios genialmente expres-sos nos livros do grande escritor – nem souberam descer ao fundo de si mesmos nem da obra dele. Balbuciaram razões de ordem acessória, eles que as tinham de boa categoria”. Régio chama, assim, a atenção mais para a obra de Camilo e menos para a sua imagem ou para a sua biografia, não confundível com as qualidades do escritor e do cultor da língua. Daí a citação de Luís Cardim, na “Seara Nova”, em que o crítico, ao escrever sobre a biografia de Oscar Wilde, de Hesketh Pearson, afirma que a melhor maneira de falar de um au-tor é “muito simplesmente, a de lermos as suas obras, e deixarmos em paz a vida, e até as idios-sincrasias do autor que nas suas produções não estejam refletidas”.Para Régio, a obra de arte, como a obra de pen-samento, tem um valor em si – é uma “realidade concreta e objetiva”, cujo estudo desprevenido deve prevalecer sobre o da biografia, fisiologia, psicologia. A riqueza camiliana vem da simbiose entre a biografia do autor e a criação literária que a transcende. E assim, Régio salienta que o escri-tor aparentemente popular é, no fim de contas, menos acessível na intimidade da sua verdadei-ra grandeza do que, por exemplo, um Eça. Longe de um velho escritor subjetivista ou sentimental,

“incorrigível narrador de histórias de amores contrariados, pais tirânicos, meninas metidas em conventos e galãs fatais, com a morte ao fundo”, Camilo é um profundo conhecedor dos clássicos e da melhor criação literária, um conhecedor da vida do povo, um estudioso atento da realidade histórica e um fino analista do género humano. Contudo, vivendo da escrita, antecipou o que o tempo veio a tornar comum – a necessidade de encontrar modos de atrair e de fidelizar os seus leitores. Enganam-se, porém, quantos se limitam a lembrar as obras mais conhecidas, esquecidos da preocupação do escritor em ir além da re-ceita romântica, designadamente no romance histórico ou na análise da sociedade. José Régio compreende esta lição, numa circunstância to-talmente diferente. Importaria agora pôr em diá-logo a melhor literatura e a reflexão individual. A “Literatura Viva” significa exatamente a com-preensão da heterogeneidade e das diferenças. Como em “A Velha Casa”, metáfora da vida e da realidade: “O que lhe mostrava a experiência é que ninguém, senão ele, sabia na casa como ela tinha personalidade própria; como nessa perso-nalidade compartilhavam todos os aposentos, tendo, embora, cada um o seu aspeto funcional; e como não só a personalidade da casa era insub-missa às coisas e pessoas que a povoavam, mas antes acabava por pesar sobre os seus gestos, pa-lavras, atitudes, sentimentos”...

NOTATexto publicado ao abrigo da parceria estabelecida entre

AS ARTES ENTRE AS LETRAS e o Centro Nacional de Cultura

FOTO: DR

24 fevereiro 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 30 dezembro 2020AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2ABERTURA 16 setembro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 2abertura

A. Campos Matos | Adelto Gonçalves | André Verissimo António Ferro | António José Borges | António José Queiroz António Oliveira | António Simões Netto | Armando AlvesArtur Serra Araújo | Diogo Alcoforado | Carlos Cabral NunesCristino Cortes | Domingos Lobo | Eugénio LisboaFrancisco d’Eulália | Francisco Simões | Guilherme d’Oliveira Martins Gomes Fernandes | Hélder de Carvalho | Helder Pacheco Helena Mendes Pereira | Inácio Nuno Pignatelli | Isabel Pereira Leite Isabel Ponce de Leão | Jorge Castro Guedes | Jorge SanglardJosé António Gomes | J. A. Gonçalves Guimarães | J. Esteves Rei José Carlos Seabra Pereira | Júlio Conrado | Lauro AntónioLevi Guerra | Luís Cabral | Lurdes Neves | Manuel Sobrinho Simões Manuela Aguiar | Margarida Negrais | Maria Antónia JardimMaria do Carmo Castelo Branco de Sequeira | Maria Luísa MalatoMaria Virgínia Monteiro | Paulo Ferreira da Cunha | Ramiro TeixeiraRodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães | Rudesindo Soutelo Rui Baptista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

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Rui Nunes | Salvato Trigo

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Esta edição impressa tem o apoio de: PARA ASSINAR ONLINE: WWW.ARTESENTREASLETRAS.COM.PTÀ venda: Porto - Poetria, Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, Museu Nacional Soares dos Reis, Livraria Lello, Árvore, Unicepe,

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Póvoa de Varzim - Tabacaria Praça Marquês do Pombal Vila Real - Livraria Traga-Mundos

ENTRENÓS

Bairro Rainha D. Leonor as ruas passam a ter nomes de escritores e poetasOs 15 arruamentos do Bairro Rainha D. Leonor

vão passar a ter nomes de escritores e poetas

marcantes para a cidade, deixando as ruas de se-

rem nomeadas por números. Contudo, as novas

placas de toponímia, para além do novo topóni-

mo, vão integrar “a referência à antiga designação

dos arruamentos”. Eugénio de Andrade, Miguel

Veiga, Vasco Graça Moura, António Rebordão

Navarro, José Régio, Florbela Espanca, Luís Vei-

ga, José Saramago, Luísa Dacosta, Aquilino Ribei-

ro, José Mário Branco, Agustina Bessa Luís, Jorge

de Sena, António Manuel Couto Viana e Manuel

António Pina são, então, os nomes que designam

agora as 15 ruas do Bairro Rainha D. Leonor.

Nassalete Mirandadirectora

Entre Sentidos“Nós não temos apenas âncoras, também temos asas”

José Tolentino Mendonça

Os dias estão a encolher. É cíclico, mas este fim de Verão 2020, o recolher do sol mais cedo, cada dia mais cedo, traz consigo uma vontade enor-me de o agarrar, de não o deixar deitar-se para se levantar do outro lado do planeta.A luz do sol não traz apenas a desejada vitami-na D, ela é fundamental para animar a vonta-de de lutar contra as adversidades e preocupa-ções que vieram para ficar. Muitas delas já cá estavam, mas disfarçadas de ilusões em núme-ros e estatísticas que mostravam o desempre-go a baixar e o turismo a subir. Em cinco meses muito mudou, e ficaram bem visíveis as fragili-dades de um sistema que não estuda com afinco os números e que “embandeira em arco” quan-do algo corre bem sem aprofundar as verdadei-ras razões. No desemprego foram muitos os aler-tas de que grande parte das estatísticas estavam erradas porque “metiam no mesmo saco” da su-bida de emprego os que eram (são) temporários, desempregados que recorriam à formação pro-fissional, etc. No turismo, foi o aparecimento de-sordenado do alojamento local, hostels e afins, bem como de restaurantes de todas as cores e ta-manhos para todos os gostos e paladares, numa corrida desenfreada que atiraram para os lares de Terceira Idade muitos dos idosos que viviam nas zonas mais concorridas das principais cida-des do País. O resultado está à vista, e não é boni-to de se ver! O turismo é uma moda, e só aquele que tem como base o património e a cultura se mantém firme, apesar das oscilações. Mas a Cul-tura, “Senhor, porque lhe dais tanta dor, porque padece assim”.

Sobre a qualidade e eficácia dos lares de Tercei-ra Idade, é preciso que todos os que têm voz con-tinuem a falar alto. Foram (são) tantas as notícias que denunciavam a ilegalidade da existência de centenas deles espalhados pelo País, foram tan-tas as reportagens sobre os maus tratos aos seus utentes, idosos e frágeis, sobre a insalubridade das instalações, a falta de preparação e forma-ção técnica e humana dos funcionários e insu-ficiente e má alimentação, que me espanta o es-panto de governantes e outros responsáveis e re-presentantes do Povo sobre a razão da morte de tantos idosos nessas casas de acolhimento, on-de a maior parte das mensalidades são de cente-nas de euros e de centenas de milhar os apoios do Governo, desde logo os malfadados e falados casos recentes de Reguengos e Residência Mon-tepio!Um dia vai-se perceber que as instituições fun-dadas com base em compadrios e favores, que é a denominada “corrupção de menor escala”, co-mo se a corrupção fosse hierarquizável, resulta na morte e sofrimento dos mais débeis.Com os dias a encurtar a luminosidade solar, au-menta o meu espanto pela capacidade imagina-tiva e invejável “jogo de cintura” de quem defen-de a ideia de que os profissionais, semi profissio-nais, estagiários, trabalhadores precários, etc. do turismo podem ser “aproveitados e utilizados” nos lares de Idosos.E a respectiva formação específica fica para quando?Pessoalmente, tenho o sonho de que o meu País seja também para velhos! Porque quero ter futuro!Em nota fica aqui o agradecimento, em meu no-me e deste jornal, ao Mestre António Bessa que cedeu para a primeira página desta edição a ima-gem do quadro inspirado “no berço da Severa”, que pintou a óleo para homenagear Amália nes-te seu centenário e que pode ser apreciado ao vi-vo no Museu do Fado.A todos, boas leituras em artes feitas

Entre Sentidos2020 caminha para o fim. Não deixará saudades nem levará consigo todos os problemas, sobre-tudo os que nos apanharam de surpresa e total-mente desprevenidos relacionados, directa e in-directamente, com a pandemia. Mas termina es-te ano em que se envelheceu mais depressa. O que se viveu já não se repetirá e o que não se fez terá agora de ser feito de modo diferente. Sobre-tudo teremos de seguir a canção de Pedro Abru-nhosa e “fazer o que ainda não foi feito”, na certe-za de que adiar para amanhã é correr o risco des-se amanhã não chegar, ou chegar “estragado”. Assim, é seguir o velho ditado e não “guardar pa-ra amanhã o que se pode fazer hoje”, desde lo-go as manifestações de afecto e de amor. Pegar no telefone para simplesmente dizer que gosta-mos das pessoas é dos actos mais simples e de eficácia imediata nos níveis da serotonina de to-dos os envolvidos e deve ser praticado o ano in-teiro de todos os anos, sem receio de perder a va-lidade. O que perde algum sentido é a hipocrisia de tantos que ao longo do tempo não se interes-sam por visitar, telefonar, acompanhar os seus familiares mais velhos e doentes, que vivem so-zinhos ou em lares, e nestes dias emitem um ruí-do ensurdecedor hipócrita, falando de abraços e de saudades!2021 não vem limpo de preocupações. A pande-mia não desaparece como por magia, nem com a vacina anunciada. A crise económica, finan-ceira, social, cultural e familiar de milhões de pessoas mundo fora não se vai evaporar ao mi-nuto um do Ano Novo! Há uma tarefa individual a cumprir para que o colectivo que nos envolve comece a ver uma pequena luz.Votos para 2021? Os mesmos de sempre e mais este: a recusa permanente do pensamento úni-co, a luta viral contra a castração da opinião dife-rente e divergente, continuar a defender a liber-dade de expressão dentro das regras democráti-cas e plurais e não baixar os braços da indigna-ção! O pior que pode acontecer ao ser humano é perder, ou não desenvolver, a capacidade de pensar por si, de analisar as situações e os actos em conformidade com os seus gostos, opções, cultura e convicções.O mundo corre sérios riscos, a começar pelo atropelo aos direitos humanos, quando um qual-quer grupo pretende impor apenas a sua vonta-de; seja pela força da palavra, seja pela das armas letais. A isso chama-se ditadura, não democra-cia! E as ditaduras não são apenas políticas, NÃO! Elas estão na base de todas as outras, de forma

mais ou menos visível, e fazem movimentar to-dos os sectores da sociedade.Para nosso descontentamento e muita revolta, o sentido ditatorial que envolve o pensamento único tem tendência para se alastrar às letras e às artes, o que no século XXI, o século das desco-bertas das maravilhas tecnológicas avançadas, prova a fragilidade do ser humano no sentido mais nobre da sua existência: o respeito pelo ou-tro, pelo acto individual e único de criar!Desejo, sim, para 2021 o enraizamento profundo do direito à liberdade de gostar e da militância da honestidade intelectual no exercício da críti-ca. De toda a crítica dita e escrita!O “não só porque não” não é válido como argu-mento, e o “sim, só porque sim”, apenas para não destoar do grupo da moda que mais se destaca (ou que mais barulho faz) em determinado mo-mento, é igualmente inválido. Os “modismos” não podem servir para encaixotar a memória, a reflexão, a análise e o saber feito de experiências, de vivências e de “mundo” – esta mais-valia pes-soal e cultural que marca a diferença em qual-quer intervenção.A todos, boas leituras em artes feitas e que 2021 seja percorrido de mãos dadas com a esperança!No que ao nosso jornal respeita, a esperança está em cada um de vós!

Entre SentidosConfinado o Carnaval, aprisionada a folia, mante-nha-se aberta a liberdade de pensar, de sentir e a certeza de que a vida de cada um é o bem mais pre-cioso. Não há substitutos! Cada um de nós, com as suas características, físicas e intelectuais, é insubs-tituível. Pode a moda ditar o vestuário, podem os gémeos ser monozigóticos, podem os gostos ser iguais, mas não existe a igualdade do cem por den-to que define o indivíduo como um todo, com o ou-tro. Seja ele quem for!Assim, sendo a vida de valor inestimável, é obri-gatório que se respeite; a nossa e a dos outros, não sendo admissíveis comportamentos que co-loquem em risco terceiros, e não só estes tempos pandémicos, mas sempre, seja na estrada, seja no trabalho, seja na família, seja no lazer!Acontece que nos últimos anos a desresponsabili-zação social foi crescendo como mato, sob o manto de um século, este, que prometia (e promete) longe-vidade, tecnologia avançada para combater o en-velhecimento, apontando para local muito próxi-mo o encontro com “santo graal”.Neste sentido a imortalidade acompanhava os dias e com ela a sede de viver plenamente sem cuidar do amanhã.E cá se está, há um ano a viver e a sobreviver, em cenários nunca imaginados de fome, de doença, de desemprego, a fazer da casa o local da escola, do trabalho, do recreio e… da família. O lar deixou de ser o espaço privado onde “só entra quem eu qui-ser” para se transformar em lugar público partilha-do com professores de todas as áreas, do despor-to à filosofia, de colegas de profissão, de músicos e poetas para concertos para “desconfinar”, etc.A circulação está condicionada ao necessário e o uso das máscaras a uma obrigatoriedade diária. Tudo para nos protegermos entre todos.Certo. Pertenço ao grupo de cidadãos que tem cumprido (contrariada) as regras impostas que en-volvem os confinamentos.Fui educada com a máxima militar “as ordens, pri-meiro cumprem-se e depois discutem-se…”. Na Es-cola, também imperava essa regra. Chamava-se disciplina e respeito. Nunca me senti amordaçada no verbo nem aprisionada nos movimentos. Habi-tuei-me a respeitar as ordens, para logo depois, as discutir. E aprendi nas aulas de Filosofia a impor-tância de fazer dessa “discussão” um hábito argu-mentativo fundamentado. Não vulgarizar o “sim, porque sim”, nem o “não, porque não”. Só em demo-cracia é possível discordar e fazer debate sobre a

utilidade, o rigor, a justiça e o conhecimento cabal de determinada ordem.Discordo, veementemente, da ordem que proíbe a venda de café, água, sumo, etc, nas padarias, cafeta-rias e afins, onde me desloco para comprar o pão, sal-gados e doces. Qual a lógica de não poder trazer um café em copo devidamente acondicionado para o po-der saborear enquanto caminho. Cumpro a ordem, mas porque não tenho oportunidade do contrário.Como não entendo a proibição da venda de livros, mas podem continuar (e bem) a vender-se jornais, raspadinhas e fazer filas para as apostas na espe-rança de mudar de vida pelo totoloto, totobola ou euro milhões!Pois bem, como não há o perigo de filas nas livra-rias, façam o favor de as reabrir, com todos os cui-dados, que eu lá irei com gel desinfetante na cartei-ra e a minha máscara. “Depus a máscara e vi-me ao espelho/Era a criança de há tantos anos./Não tinha mudado nada…/ É essa a vantagem de saber tirar a máscara./É-se sempre a criança,/O passado que foi/Acriança./Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalida-de como a um terminus de linha.”Este é o poema de Álvaro de Campos, traduzido pa-ra Mirandês pelo prof. Duarte Martins e que Balbina Mendes escolheu para perpetuar na sua obra que ilustra a primeira página desta edição.Um agradecimento muito particular a esta artis-ta/pintora mirandesa que faz da máscara humana uma segunda pele.A todos, boas leituras em artes feitas.

NOTAO jornal As Artes entre As Letras, que ainda não

adoptou o novo Acordo Ortográfico, publica textos de colaboradores que o aplicam, respeitando, assim, o original,

Notas da Direcção1 - Na edição de 27 de Janeiro pp, não indicámos, por lapso,

a autoria da imagem da primeira página. Aquela é assinada por Ana Margarida Rouxinol, especialista na área

da Comunicação/marketing digital. Trata-se de uma composição digital com o título: “MAIA: 500 anos de

Portas abertas para o mundo”. À autora e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

2 - Na edição de 10 de Fevereiro, na pág. 12, por lapso, no texto não consta a o nome do autor do livro a que se refere

a recensão. «Que Passem Sorrindo» é, pois, da autoria de José Nuno Pereira Pinto. À autora da recensão, ao escritor

e aos nossos leitores, as nossas desculpas pelo lapso.

Ramiro Teixeira | Rodolfo Alonso | Rodrigo Magalhães Rudesindo Soutelo | Rui Batista | Silvina Pereira | Vasco Rosa

Pedro Suárez

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 4ENTREVISTA

Clérigo: Torre, Museu e Igreja - Trilo gia de Sucesso

Torre, Igreja e Museu dos Clérigos, três espa-ços unidos pelo mesmo denominador co-mum: património histórico, material e ima-terial, religioso e cultural que da cidade do Porto abraça o País e o mundo.O Dr. António Tavares, director executivo, não esconde o seu optimismo e entusiasmo pela reabertura da Torre e do Museu, de-pois de quase meio ano encerrados devido a obras de reabilitação e aos confinamentos emergentes da pandemia covid 19.A exposição “Só - Neste Porto Só”, de Clara Ra-

malhão, patente no Museu até 31 de Agosto, marcou a reabertura das respectivas activida-des culturais de forma ímpar e multifacetada, tendo a Igreja como espaço anfitrião da ses-são de inauguração, em que a música e a poe-sia encheram de emoção paredes e gentes!

Uma ideia que terá continuidade?Claro que sim, é esse o nosso desejo e temos já algumas parcerias vinculadas para dar continuidade ao projeto das exposições tem-porárias nos Clérigos. Com a consciência de

abrir os Clérigos a novas iniciativas e parce-rias, desejamos, assim, criar valor acrescen-tado à experiência de visita à Torre, Museu e Igreja dos Clérigos, mas também mostrar ao mundo a criação artística desenvolvida pe-los nossos artistas, que nos últimos tempos têm sofrido fortemente com os constrangi-mentos causados pela pandemia. É uma re-lação win win que queremos manter em prol da cultura da região. A exposição de fotografia de Clara Rama-lhão mostra uma cidade “Só” nos meses de Abril e de Maio do ano passado, aquando do confinamento geral.Mas a cidade não estava, não está, vazia. Apenas das ruas as pessoas se ausentaram. Há algo de espiritual nesta simbologia que se enquadra na Igreja e é essa a razão da abertura de portas às outras artes?Pelo próprio ADN da instituição, desde sem-pre ligada ao apoio social, quer aos clérigos quer a instituições hospitalares da cidade, sentimos o dever de eternizar o momento que vivemos no primeiro confinamento. Queríamos assinalar o impacto deste con-finamento na cidade, um Porto vazio, vazio das suas gentes e dos seus turistas, um Porto cinzento.Em 2019 recebemos na Torre, Museu e Igreja dos Clérigos cerca de 1.500.000 visitantes. Em 2020, o barulho do silêncio foi ensurdecedor.Encontramos nos trabalhos de Clara Rama-lhão e de Paulo Ferreira, através do seu olhar crítico e espontâneo, os momentos que captaram, o sentimento que queríamos par-tilhar com os nossos visitantes. Apesar do vazio, do medo do desconhecido, da solidão, acima de tudo, quisemos mostrar a Luz, a Es-perança, um sentimento de que a vida não parou e que juntos, ultrapassaremos esta ad-versidade.

A Torre dos Clérigos é um símbolo maior da Invicta, um sucesso monumental em número de visitantes, sobretudo em 2019, sendo que em Setembro do ano passado foram assinalados os cinco milhões de vi-sitantes – uma contagem que começou em Dezembro de 2014.E as perspectivas para este ano, em que o contexto pandémico continua a vigorar? Em setembro de 2020, na pessoa do Senhor Presidente da Républica, simbolicamente foi escolhido para ser o visitante 5.000.000. Quisemos, assim, homenagear o forte impul-so e contributo positivo que deu para promo-ver o turismo interno, numa altura em que a pandemia afetou demasiadamente negócios

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Clérigo: Torre, Museu e Igreja - Trilo gia de Sucesso

e empresas, pessoas e famílias. Um número que faz da Torre, Museu e Igreja dos Clérigos um dos locais mais visitados em Portugal.Nestes contextos de crise, os planos e pers-petivas são muito voláteis, mas continuamos a seguir o nosso trabalho para que a Torre, Museu e Igreja dos Clérigos continue a ser o símbolo da Invicta e um dos de Portugal.Acolher bem quem nos visita é sempre a nossa premissa. Tivemos que nos reinventar, quer no online quer no offline.Criámos vários conteúdos culturais digitais, como por exemplo, o “Passo a Passo: En-contros com História”, que lançamos para promover junto das nossas comunidades o encontro com o saber.Do plano de atividades em curso, temos várias exposições previstas, uma delas de carácter internacional em parceria com o Museu Hermitage da Rússia; vários projetos musicais, nomeadamente divulgar o nosso património musical; entre outras iniciativas que queremos tornar públicas a curto e mé-dio prazo, para quem visita a cidade do Porto.Esperamos que as nossas entidades e a res-ponsabilidade de cada um permitam o con-trolo da pandemia, para que a economia e restantes ativos possam novamente entrar no bom caminho. As visitas continuam a ter que ser marca-das antecipadamente, tanto à Torre como ao Museu de Arte Sacra?

Atendendo ao fluxo de visitantes para co-nhecer a Torre, Museu e Igreja dos Clérigos, e às medidas implementadas no âmbito do nosso plano de contingência de prevenção à COVID-19, adaptamos a nossa operação a uma gestão de fluxos gerida a “régua e es-quadro”, minimizando cruzamentos de vi-sitantes na compra de bilhetes bem como na subida à Torre. Para tal, criamos slots de horários que permite ao visitante escolher, antecipadamente, quando nos quer visitar. Pode, também, no momento da sua visita, efetuar a compra ou marcação. Esta gestão evita filas de espera, permitindo a quem nos visita conhecer outras atrações na cidade.

As obras modernizaram o secular conjun-to Torre, Museu e Igreja também visando o acolhimento de eventos culturais alarga-dos, criando assim, novas oportunidades nos velhos lugares de culto e de patrimó-nio. Um trabalho de missão?Quando trabalhamos num ícone de uma cidade, sentimos que, efetivamente, é um trabalho de missão, conscientes de sermos um espelho daquilo que caracteriza a nossa cidade e as nossas gentes. E nós, portuenses, com o “coração muito perto da boca”, somos hospitaleiros na arte de bem receber. As no-táveis e premiadas obras de requalificação e restauro, permitiram devolver este ícone à cidade e ao mundo, trazendo ao público espaços que estavam anteriormente fecha-

dos, onde a interligação entre culto e cultu-ra, tradição e modernidade, passou a ser o nosso lema.A exposição “Só, neste Porto só!” é um exem-plo dessas novas oportunidades. Mas temos muitas outras referências, como concertos intimistas no interior do museu, lançamen-to de livros, workshops, teatros, entre outros eventos de carácter cultural.

A exposição “Só neste Porto Só”, acompa-nhada do filme de Paulo Ferreira, é com-posta de trabalhos que “nos marcaram pro-fundamente, despertaram-nos momentos sublimes.../... Esta aventura no olhar faz--nos pairar por toda a cidade. Em cada de-talhe a leitura do sentimento que expõe toda a humanidade”, escreve o Presidente da Irmandade dos Clérigos, o Padre Ma-nuel Fernando, no respectivo prospecto. É nesta cumplicidade humanista presente que o futuro é alimentado?Acreditamos que sim. Quando projetamos o futuro, devemos ter em consideração o que aprendemos com o passado. E de facto, a vivência do “Só”, expôs as fragilidades do ser humano. Cada vez mais, sentimos ser necessário estreitar as relações pessoais e profissionais e, para isso, é fundamental continuar a construir pontes para benefí-cio conjunto da mudança e, consequente-mente, para um crescimento do Ser e para o avanço da sociedade.

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Arsénio Mota: uma «vida a perseguir palavras»Há figuras literárias cuja multímoda per-sonalidade as leva a intervir em diversas frentes e que, por isso, nunca saberemos valorizar devidamente, visto existir sempre uma ou outra área que nos escapa na sua aventura pessoal e artística. Arsénio Mota é uma dessas figuras, sobre quem é possí-vel ler, com coordenação do escritor, tra-dutor e crítico Serafim Ferreira (1939-2015), uma obra esclarecedora onde desaguaram múltiplas colaborações: Arsénio Mota: 50 Anos de Escrita (2005). Nascido em Bustos, Oliveira do Bairro, em 1930, emigra para a Venezuela em 1956. Tendo vivido no Porto desde os anos sessenta do século XX, e par-ticipado activamente na vida cultural da ci-dade, terminou a sua carreira de jornalista no Jornal de Notícias, onde, durante vários anos, foi responsável por uma página de cultura. Tem aliás abundante colaboração dispersa em revistas e jornais, nalguns dos quais dirigiu suplementos literários.Estreou-se na literatura publicando poemas sob o pseudónimo Arsénio de Bustos: O Canto Desconforme, 1955; Hoje com Harmo-nia Dentro, 1956, a que se seguiu, cerca de duas décadas mais tarde, A Voz Reencontra-da, 1978. Vieram depois crónicas – escritas numa prosa enxuta, reflexiva e de reconhe-cível qualidade literária –, livros de contos (A Última Aposta, 1987; O Vírus Entranhado, 1999) e estudos vários, nomeadamente so-bre figuras ligadas à cultura da região de onde é originário, a Bairrada. Lembre-se que Arsénio Mota tem feito imenso neste campo e o seu território natal deve-lhe, in-dubitavelmente, muito. Dois exemplos, ape-nas: a organização de António de Cértima: colectânea de estudos no centenário do seu nascimento (1994) e do conjunto de confe-rências sobre o escritor bairradino que esti-veram na origem desta obra; ainda António de Cértima – Vida, Obra, Inéditos (1994); e Figuras das Letras e Artes na Bairrada (2001), uma espécie de «quem é quem» essencial a quem queira iniciar-se no conhecimento das personalidades literárias da região.São, por outro lado, em número considerá-vel os textos que tem trazido a lume sobre a obra de pintores contemporâneos, vários

dos quais saídos em catálogos e não só. De destacar, neste domínio, o belo livro Artistas ao Norte (1989), constituído por textos so-bre vinte e nove artistas contemporâneos (Medina, Resende, Armando Alves, Isidoro, Rodrigues, Nadir, Lanhas, Zulmiro de Carva-lho…), um conjunto de aproximações inter-pretativas e críticas com uma componente biográfica e de testemunho em primeira pessoa do próprio artista. Exerceu ainda a actividade de tradutor (a título de exemplo, três livros essenciais: Lazarilho de Tormes; a autobiografia Confesso que Vivi, de Neruda; e Sonhos na Gaiola, de Manuel Maria, um clássico da poesia galega para a infância), tendo publicado textos de crítica e de refle-xão sobre o fenómeno literário, como os en-saios de Inclinações Pontuais (2000).O essencial do labor criativo de Arsénio Mota reside, contudo, nas produções lite-rárias que nos tem oferecido, e que não são poucas. Recebeu o Prémio do Fundo de Apoio à Edição da Fundação Gulbenkian / Associação Portuguesa de Escritores (1984), pelo livro Som de Origem, e o Pré-mio Literário Carlos de Oliveira (2005), por Quase Tudo Nada (2005), uma narrativa

de cunho aparentemente (auto)biográfi-co. Além das ficções narrativas curtas ou de maior fôlego, destacaria ainda, neste campo, o género em que o seu estro revela maior sofisticação e que é a crónica, moda-lidade que floresce, aliás, a partir da tarimba jornalística de Arsénio. Daí também a pre-sença, na escrita, do quotidiano citadino, dos objectos, dos tipos humanos, da músi-ca, dos ritos, dos sinais da inexorabilidade do tempo a vários níveis, da meditação so-bre a língua e as palavras, e sobre a própria crónica enquanto género, entre outros tópi-cos que ocupam o autor. São prosas escritas com uma saborosa limpidez, sempre com uma tonalidade lírica, um certo elemento nostálgico e poético e uma individualidade estilística muito atenta à música da frase, aspectos que as tornam distintivas. O apuro literário das crónicas de Arsénio Mota ain-da recentemente se viu reconhecido com a sua inclusão em A Visagem do Cronista: An-tologia de Crónica Autobiográfica Portugue-sa (2018), exigente e precioso trabalho em dois volumes de Carina Infante do Carmo. Revisitem-se, neste domínio, belos livros como Som de Origem: Arte d’Escrita (1984) ou O Museu no Sótão (1993), onde se lê: «De mim poderão dizer um dia que passei a vida a perseguir palavras. São coisas pou-cas, mas haverá actividade digna do nome que as dispense? O fascínio que as palavras têm não lhes vem só de serem errantes e fugidias, impalpáveis como as mónadas de Leibniz. Vem-lhes sobretudo de estarem prontas para exprimir as ondulações da vida que em nós se faz» (p. 147).«Perseguir palavras» – como fez também o grande escritor bairradino Carlos de Olivei-ra –, encontrar o termo justo e, ao mesmo tempo, trabalhar o texto para ganhar voo numa palavra, numa mágica combinação de palavras ou num vocábulo saboroso mas menos usado, talvez seja um dos traços distintivos dessa prosa de Arsénio que, não raro, se faz poesia, em especial nas crónicas e nos seus livros infantis e juvenis.Este é, aliás, outro terreno em que a escrita de Arsénio Mota conhece momentos fe-lizes de conseguimento literário. Até por-

José António GomesCIPEM da ESE do Porto

FOTO: DR

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Arsénio Mota: uma «vida a perseguir palavras»que, na literatura para a infância, a única coisa que verdadeiramente lhe interessa é a peculiaridade da linguagem literária enquanto nutriente do imaginário. Tendo sempre rejeitado o estereótipo narrativo e o esquema fácil, Arsénio Mota é autor de mais de duas dezenas de livros para a in-fância e a juventude.Recorde-se a acção da sua novela Os Segre-dos do Subterrâneo (1986; revista em 1995) que decorre entre o Porto e Gaia, e configura uma reflexão sobre a condição adolescente nos anos oitenta, tendo obtido o Prémio Literário Ano Internacional da Juventude em 1985. Sendo um texto dedicado a ado-lescentes entre os 12 e os 17 anos, retrata um grupo de jovens em luta contra a alienação gerada pela sociedade moderna. O cenário (dotado de certo potencial alegórico) traz--nos à memória a atmosfera das histórias de ficção científica.As outras obras que Arsénio Mota tem visto editadas são, na sua maioria, colectâneas de contos escritos numa prosa cuidada e de recorte poético, em que uma descrição ou uma simples palavra prenhe de ressonân-cias podem desencadear o devaneio ima-ginativo. Quase sempre, revelam a atracção do autor pelo fantástico e pelo onírico e pelos temas do amor e da amizade, da paz e da liberdade, como, num artigo, assina-lou Sara Reis da Silva. Uma dessas obras, Leitão Ciclista em Busca do Paraíso (2008), vai colher inspiração à terra natal do autor. Num dos contos de A Bandeira Escondida (1998) (precisamente o que dá título ao li-vro) é-nos dado um raro exemplo de ficção breve para a infância centrada no ambiente vivido numa família em que o pai é preso pelas suas ideias políticas, configurando uma exaltação dos valores da liberdade e da esperança. Uma criança compreende a importância de uma bandeira enquanto símbolo (de valores, de ideais, de uma pá-tria) e aprende o valor da liberdade, depois de assistir na sequência final à detenção do pai, vítima de um poder intolerante.Os diversos livros de contos infantis que Ar-sénio Mota tem publicado caracterizam-se pela prosa poética e por uma fantasia muito

própria, em que por vezes há uma entrega a curiosos jogos intertextuais, como em A Cor-te na Aldeia (1996), obras nas quais consegue, ao nível da ilustração, captar a cumplicida-de de artistas plásticos de nomeada, como Fernando Lanhas, Júlio Resende, Armanda Passos, entre outros. Fique, pois, o convite à revisitação de Histórias com Historinha Den-tro (1986); A Roda que Saiu dos Eixos (1987); A Sopa das Nove Letras (1988); Tenho Uma Ideia (1989); A Nuvem Cor-de-rosa (1989); O Segre-do da Rocha (1996); A Ilha das Bocas Abertas (1999); O Mistério da Floresta Mágica (1999); O Fogo Roubado (2001); e Caras e Bichos Caretas (2001).Um apontamento final sobre um pequeno li-vro infantil encantador, História de Cantarina Cantora (2004) que, com expressivas ilustra-ções de Fedra Santos e partindo do mot-va-lise do título (Cantarina), nos oferece uma narrativa muito simples mas comovente em torno de um pássaro cantor cujos dons se transferem, como por mágica osmose, para a voz de uma menina sua companheira, vindo esta a tornar-se uma bela cantora. Um exem-plo apenas de como a música (não apenas a das palavras) sempre fascinou Arsénio Mota (releiam-se as crónicas) e se torna «audível» em vários momentos da sua escrita, seja ela «para adultos» seja para crianças.

Mecanismos de legitimação literária em dois livros de Arsénio MotaViveu entre 1580 e 1623 e publicou, em 1619, um livro intitulado Corte na Aldeia e Noites de Inverno, constituído por dezasseis diá-logos em prosa. Não estamos, é evidente, a falar de Arsénio Mota (autor com uma obra de título idêntico), mas sim de Francisco Rodrigues Lobo, um dos mais importantes poetas portugueses da escola seiscentista ou gongórica. Jacinto do Prado Coelho1 caracteriza a obra sucintamente: «O Autor imagina que, numa aldeia perto de Lisboa, talvez Sintra, se reúnem, em casa de Leo-nardo, vários homens educados (...) que, em noites sucessivas, debatem os assun-tos que interessam à formação não apenas do cortesão, mas do “discreto”, do homem como deve ser».

Na primeira narrativa do seu livro para jo-vens A Corte na Aldeia (Porto: Campo das Le-tras, 1996), Arsénio Mota retoma a seu modo a estrutura dialógica da obra homónima do século XVII, concentra a maioria dos eventos numa noite e situa quase toda a acção numa aldeia. Em procedimento análogo ao de Ro-drigues Lobo, deixa perceber no seu texto uma intenção pedagógica, muito mais subli-minar, todavia, do que a que ressalta da leitu-ra dos diálogos do nosso poeta seiscentista.Não se fica por aqui o jogo de relações com obras do cânone da «literatura para adul-tos» – expressão que aqui utilizamos por simples razões de economia verbal. A leitu-ra da primeira narrativa de O Segredo da Ro-cha (Porto: Campo das Letras, 1996) leva-nos a pensar que o autor retira algum prazer – e seguramente efeitos vários de sentido – des-ta espécie de diálogo com outras vozes, se-jam elas a de Jorge de Sena, explicitamente convocada, ou a(s) do(s) anónimo(s) de As Mil e Uma Noites – pensamos em «Ali-Babá e os Quarenta Ladrões».Uma primeira conclusão é possível: caso tivéssemos dúvidas, a genealogia destas narrativas – lembrada, apenas sugerida ou pura e simplesmente involuntária – encar-regar-se-ia de nos recordar a sua filiação na literatura. Mas na verdade, como qualquer obra literária digna deste adjectivo, a de Ar-sénio Mota encontra aí o seu justo lugar por outras razões que têm sobretudo a ver com a abertura e a possibilidade de vários níveis de leitura. Neste particular, o texto não pre-tende iludir-nos. E pelo que atrás fica dito, fá-cil é concluir que os narradores destes con-tos não regateiam as chamadas «piscadelas de olho» ao leitor adulto por cima do ombro do leitor infantil. Atitude que Arsénio Mota não enjeita, a avaliar pelas palavras que di-rige aos leitores na contracapa de cada um dos livros: «Puxem a criança para a vossa beira, coloquem-na quase à vossa altura (por exemplo sentando-a no joelho) e leiam-lhe uma história. Se for preciso, expliquem-lhe o que for explicável.» Daqui se poderá infe-rir que existe muito de inexplicável nestes contos. Mas não será justamente isso o que sente o leitor de um texto literário?

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 8LITERATURA

Acresce, no entanto, que outras filiações são detectáveis nas histórias de Arsénio Mota. E estas têm muito mais que ver com aquilo a que vulgarmente se cha-ma literatura para a infância e com a his-tória das suas origens. Tanto as palavras da contracapa, como as das persona-gens do velho e do cego, respectivamen-te nos contos «Como se escreve a me-lhor história do Mundo» (O Segredo da Rocha) e «A Corte na Aldeia» (do volume com o mesmo título) nos trazem à me-mória a figura arquetípica do contador de histórias. À semelhança de outros autores contemporâneos de literatura para crianças, Arsénio Mota procura as-sumir parte dessa herança, vinculando assim o discurso a uma tradição nobre e afirmando-se como elo de uma cadeia entre passado e presente.Que testemunhos nos trazem então as vozes que escutamos nestes contos?Nas duas narrativas que compõem O Segredo da Rocha, a exaltação da(s) linguagem(ns) e da comunicação é um dos elementos que conferem unidade ao díptico. No primeiro conto, o narra-dor-personagem aborda-o explicita-mente, quer na forma como comenta a sua relação cúmplice com Stop, o cão do seu amigo Tiago, quer no modo como alinha no jogo de ocultação e revelação que este último lhe propõe durante a escalada de um monte, em direcção às ruínas de um castelo onde Tiago, em princípio, o espera.Descoberta numa placa de pedra, caída junto aos velhos muros, a própria cita-ção de uma quadra de um dos sonetos experimentalistas dedicados por Jorge de Sena a «Afrodite Anadiómena» vem confirmar o sortilégio da palavra (nes-te caso com todo o poder de sugestão resultante das simples associações sonoras que a compõem) como um tó-pico obsessivo do texto. E de palavras mágicas se fala, já que elas permitirão ao narrador-personagem viajar até ao interior da montanha e aí descobrir um estranho e inominável tesouro que «pertence a todos quantos tenham for-ma humana ou queiram sinceramente vir a tê-la» (p. 25). Numa cena que recria o mito da pedra filosofal dos alquimis-tas, a personagem recolhe do tesouro uma simples pedra que guardará como testemunho duma irrepetível expe-riência iniciática.

O segundo texto de O Segredo da Rocha inscreve-se, até certo ponto, na tradição dos contos de exemplo de origem popu-lar. Propondo uma reflexão sobre a arte de contar – logo, uma vez mais, sobre a palavra – começa por recordar, que todas as narrativas foram já contadas. Assim, o fascínio que cada uma delas provoca é determinado, não pelo res-pectivo argumento ou pela lição que en-cerra, mas pelo modo como a história se torna singular no contexto de um novo discurso narrativo – o que é indissociá-vel do talento pessoal do contador e do brilho das suas palavras.Se as narrativas tendem a repetir-se, torna-se quase ocioso reproduzi-las, excepto quando se aprende, isso sim, a reinventar, recontando ou escrevendo cada história de forma inédita, tornando novo, afinal, aquilo que parecia familiar e conhecido. É esta, talvez, a lição que o velho contador deixa a um povo viciado em contos, como o que nos é apresenta-do em «Como se escreve a melhor histó-ria do mundo».Viciadas também em patranhas, in-venções e histórias parecem ser as personagens de A Corte na Aldeia, lide-radas curiosamente por um cego, cujo discurso delirante, aos olhos e ouvidos de um grupo de meninos, torna verosí-meis todas as inverosimilhanças, para no fim deixar inferir as vantagens de uma experiência de vida na aldeia: «Na aldeia também acontecem histórias en-graçadas, há gente divertida e podemos aprender coisas, não é só na cidade...» (p. 23) – conclui Artola, inocente e citadi-no, depois da movimentada aventura de uma noite que aqui e acolá traz à memória o clima de outro texto, tam-bém ele onírico: A Midsummer-night’s Dream, de Shakespeare.A este conto em tom de comédia teatral sucede «O Lançador de Papagaios», es-crito, como todos os outros, num pre-sente narrativo que, aqui, parece ser a forma verbal adequada para permitir a transição do tempo real para o tempo onírico, ou seja, para o sonho vivido por um rapazinho que lança ao vento o seu papagaio de papel e viaja com ele até aos limites da imaginação.Na valorização dos poderes do ima-ginário encontramos, possivelmente, a atitude que assegura a necessária unidade às narrativas de A Corte na Al-

deia. Talvez o próprio título traduza a convicção de que mesmo uma simples aldeia pode converter-se numa corte deslumbrante, bastando para tal que a imaginação não deserte da mente dos que a habitam.Os desenhos de Emerenciano e Arman-da Passos, em registos diversos, ampli-ficam os sentidos sugeridos pelas histó-rias. Não se limitando a ser pleonásticos em relação ao texto, acrescentam-lhe uma dimensão visual, também ela poé-tica. Neles descobrimos a atenção ao pormenor e a expressão, por imagens, de leituras pessoais que nunca ousam, contudo, ancorar os contos a uma in-terpretação única, mesmo quando ar-riscam representar o irrepresentável, como faz Armanda Passos, em relação a gambozinos e pássaros bisnaus, e Emerenciano, no que respeita à miste-riosa ambiência em que decorre a ac-ção de «O segredo da rocha».O conselho do autor, nas contraca-pas, merece ser seguido: dêmos a uma criança o prazer de ouvir qualquer uma destas histórias. Que os mais no-vos delas se apropriem, eventualmente com o auxílio dos adultos, pois, como escreve Arsénio Mota, «haverá para os grandes coisas maiores do que as coisas dos pequenos?».

1 Jacinto do Prado Coelho (1997). «Corte na Aldeia e Noites de Inverno»,

in Dicionário de Literatura – Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Galega, Estilística

Literária, 1.º vol., Porto: Figueirinhas, p. 222.

Bibliografia selectiva: Os segredos do subterrâneo (1986), Lisboa: Caminho;

Histórias com historinha dentro (1986), Porto: Figueirinhas; A roda que saiu dos eixos (1987),

Porto: ASA; A sopa das nove letras (1988), Porto: Porto Editora; Tenho uma ideia (1989), Porto:

Porto Editora; A nuvem cor-de-rosa (1989), Porto: ASA; A corte na aldeia (1996), Porto:

Campo das Letras; O segredo da rocha (1996), Porto: Campo das Letras; A bandeira escondida

(1998), Porto: Campo das Letras; A ilha das bocas abertas (1999), Porto: Campo

das Letras; O mistério da floresta mágica (1999), Porto: Campo das Letras; O fogo roubado

(2001), Porto: Campo das Letras; Caras e bichos caretas (2001), Lisboa: Caminho;

História de Cantarina Cantora (2004), Porto: Campo das Letras; Leitão Ciclista em busca

do paraíso (2008), Porto: Trampolim.

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9 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS LITERATURA

Sob a Levedura do MedoA LIBERDADE

A aspiração humana à liberdadeé na sua essência invencívelo direito à diferença, à individualidadedo ser humano é intangível

nem a força hipnótica das ideias universaisnem os fins que justificam os meiosou os atropelos às liberdades individuaisdespojam o homem dos seus anseios

a consciência é a centelha divinaque a profecia da dúvida ensinao homem não existe sem liberdade

o escravizado torna-se escravo de verdade pela blasfémia da certeza nunca pela sua natureza Este poema, não obstante ter sido já publicado em livro anterior, configura-se-me como uma afirmação identitária, senão mesmo como uma espécie de catecismo dos sentimentos do Autor – o que, aliás, se prolonga noutros poe-mas deste título, nomeadamente em “Quando a emergência se sobrepõe à inteligência”:No ocaso de Alexandria / e em tantas outras noites de cristal / o mal sempre coabitou / com a fobia ao intelectual // o animal que nos habita / e que pelo fogo se deixa hipnotizar / teme a criativi-dade do saber / académico e imaterial // o primiti-vismo da certeza / odeia a incerteza da liberdade individual / e num estado de permanente vigilân-cia / mata-a por (i)legítima defesa. (p. 24)Tenho como certo, antes de mais, que a natu-reza tem por fim a criação, sendo que, para tal, o seu outro propósito é o de estabelecer a har-monia entre os opostos: vida e morte, macho e fêmea, noite e dia, trigo e joio, quente e frio, for-te e fraco, bem e mal, amor e ódio, paz e guerra, homem e animal, etc., dado que a supremacia de um elemento sobre o outro implicaria a sua destruição. Veja-se, aliás, as causas motivado-ras da guerra, comumente justificadas pela necessidade de implementar a paz, ou como um vírus microscópico, invisível, consegue eli-minar um ser humano.Assente este princípio, passo ao conceito da li-berdade: a liberdade não existe. A capacidade de agir por si mesmo, a autodeterminação, a in-dependência, enfim, o direito de um indivíduo proceder conforme lhe pareça só é possível desde que esse direito não vá contra o direito de outrem e dos limites da lei. O ser humano

é um ser comunitário, social. Ora, vivendo em comunidade, toda a sua existência é abrangida por numerosíssimas obrigações-proibições.Na realidade, a liberdade, que só existe no pen-samento de cada um, não passa de um mito criado pelo humano, gerado pela mesma ne-cessidade com que criou os deuses. Ou seja; o mito não existe por si próprio, não passando duma invenção humana a coberto de certas condições históricas, étnicas e culturais, con-finadas ao propósito de erigir um modelo so-cial pelo colectivo com base nos seus feitos. E assim também nasceram os deuses através da imaginação humana, como reflexo da sua incapacidade e da necessidade de acreditar num poder superior capaz de orientar e redu-zir as agruras da vida de cada um. O mais é o domínio do poder, a ânsia de conquistar mais riqueza e etc.Aqui chegado, confesso que me deixei enca-dear pelo tema da liberdade, que só colateral-mente tem a ver com estes poemas de Ricar-do Guimarães, poeta pesquisador do sentido misterioso das coisas ou que, pelo menos, se configuram como tal. A meu ver trata-se de um poeta que intui a realidade que o transcende, recorrendo à poesia, aos símbolos, às imagens, senão mesmo às aparências, para celebrar o excesso do humanismo que transporta. Nesta perspectiva não é um poeta funcional, conceptualista, tão pouco um poeta de ideias, conquanto não deixe de ser intelectual, mas fundamentalmente um poeta espiritual, com a angústia e a certeza antecipada de que a sua e nossa existência permanecerá sempre um

enigma, que cada um está só no seu labirinto pessoal:Passo os meus dias nesta solidão de artista incon-formado. Debaixo do castanheiro, os braços sus-pensos na mesa de pedra, a mente jorra palavras sobre o branco do papel.A busca de um verso é penosa. Para mim e so-bretudo para os que mais amo. Este alheamento absurdo será para eles compreensíveis? Não o é para mim. Pudesse eu descrever o perfume da rosa ou o branco imaculado do jasmim… Pudes-se eu não necessitar de nada disto, de fechar-me sobre mim. Colher do presente os frutos que mais amo. Pudesse eu não depender do silêncio que procuro dentro de mim. (pp.27)Suponho que estarei a citar Raul Brandão ao dizer que o silêncio é o lume, sendo nele que a alma se cria – ao que acrescento de minha lavra: no silêncio, no sonho e na dor, cada um é só.

Ramiro Teixeiracrítico literário

NOTASob a Levedura do Medo,

Ricardo Guimarães. Prefácio de Francisco Duarte Mangas.

Ed. Modo de Ler. Porto. 2020.

FOTO: DR

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 10LITERATURA

Ana Luísa Amaral: Louvor à Terra de NinguémAna Luísa Amaral recebeu recentemente o Prémio Rainha Sofia, atribuído pelo Patrimó-nio Nacional de Espanha e pela Universida-de de Salamanca a poetas ibero-americanos. Da trintena de poetas que tem sido premia-da, a grande maioria escreveu em castelha-no e só mais três poetas o fizeram em lín-gua portuguesa (João Cabral de Mello Neto, Sophia de Mello Breyner e Nuno Júdice). Imagino a autora pensando, de si para to-dos, que um prémio não pode ser coisa que se deseje: é um efeito dominó demasiado acidental. Mas eu não imagino porque não devem os seus leitores celebrá-lo. Não tanto porque Ana Luísa Amaral escreve em língua portuguesa, a língua em que por cá nos de-sentendemos, mas porque a poesia de Ana Luísa Amaral celebra o leitor universal, um ser delicado que existe em toda a parte e em parte nenhuma: é todo o mundo e ninguém.Sempre achei simbólico o primeiro poema do primeiro livro de Ana Luísa Amaral, Mi-nha Senhora de quê (1990). Chama-se “Ter-ra de Ninguém” e fala perifrasticamente da Poesia: um espaço (“ou uma receita qual-quer”, subvertível e apropriável), pedaço de terra por onde caminha a autora, o autor. É um “espaço a sério”, mas a voz pede-lhe paradoxalmente que não seja ela, ou que o “seja em vez”, “em vez de mim”. Teimo em decifrá-lo como o espaço da Poesia porque é aquele espaço, talvez o único à exceção do Amor, que não nos ilude com a propriedade. A voz vai pedindo ainda que ele nunca nos chegue (“que não me chegue”). É um lugar ilusório, “conquistado à custa/ de silêncios”, reduto construído a “síncopes de mim”, aquele onde o leitor penetra por instantes e por frestas, atraiçoando a parede do texto. Neste primeiro poema do primeiro livro, se fala pela primeira vez das cebolas, imagem recorrente do que se desfolha até ao âmago, até nada ficar entre as mãos.O segundo livro, Coisas de Partir (1993), é também sobre um leitor do mundo, revi-sitado. Voltam as cebolas, e esse metódico esforço de analisar a vida em camadas que ameaçam “exacta colisão”. O leitor (o autor?, a autora?) lê e relê o poema, ou a vida: “ce-bolas outra vez”. Por um estranho efeito de

distanciamento que visa a fraternidade, a autora apresenta-se como leitora, e o leitor como autor. Ao ler os poemas de Ana Luísa Amaral, por paradoxal que pareça, sucede amiúde lembrar-me da infância, não a mi-nha exatamente, mas um tempo onde eu vivia quando o meu pai me contava histó-rias aos domingos de manhã. Ele falava de uma princesa que dizia ao pai: “Gosto tanto de ti, como a comida gosta do sal”. O sal era amargo e a “comida” uma metáfora vulgar e inconveniente. O pai só entendia a literatura que se dizia literária: desterrou a princesa com a mais estranha metáfora. Num outro reino, ficou a trabalhar como guardadora de patos, e só de noite vestia os seus 3 vestidos de princesa. O meu pai precisava para eu imaginar: “Um era como o Sol, outro como a Lua, e o terceiro como as Estrelas”. O poema de Ana Luísa Amaral dialoga com a voz do meu pai: “Por baixo de mil trajes: os buréis,/ por baixo dos buréis: as lantejoulas,/ por sob as lantejoulas: veludos e bordados,/ e ainda: os mesmos trajes/ repetidos”. Só assim con-sigo perceber o poema sobre a “Terra de Nin-guém Revisitada” que leio em Coisas de Par-tir. O poema fala ao leitor de cebolas prontas a enfrentar o lume: “Cebolas de estamenha e de brocado,/ […] arrastando-me os versos/ mais/ compridos”. Afinal, os versos mais compridos evocam-me somente os cumpri-dos: o pai, os pais, o Rei Lear, as metáforas inconvenientes sobre as quais Ana Luísa Amaral fez uma tese: “gosto dos gostos”, pata aqui, pata ali, Pele de Burro, Peau de Cha-grain foi coisa que eu nunca vi... Mais do que perceber o poema, o leitor tem a ilusão de o perceber porque não descarta a hipótese de haver uma fresta na parede, uma ténue liga-ção entre todas as infâncias e todas as pala-vras. As folhas que preenchem a cebola são ao mesmo tempo iguais e distintas. O autor dá a lume. Mas é o leitor que o atiça.Nesta Terra de Ninguém de Ana Luísa Ama-ral, o senhor descobre-se escravo e o escra-vo senhor. No livro Epopeias, escrito no ano seguinte (1994), marquei um “Diálogo a duas vozes, com os leitores referidos”. O itálico exprime uma voz melíflua que parece sub-jugar quem escreve, pedindo-lhe o óbvio:

“Repete tudo o/ que eu disser:/ que a lua é um satélite de nós;/ que luzes a brilhar, milhões de pirilampos;/ que as Parcas são um mito”. O au-tor é um leitor, que espera a poesia expectá-vel – “Repete”. Mas o leitor, em fonte romana, é um autor que se revolta: “Não preciso”. In-vertem-se depois os papéis. Quem ordenava passa a fazer perguntas sobre a ambiguida-de das palavras: “Qual canto? O das/ sereias? O das Parcas?”. E é o escravo que afinal deci-de um terceiro sentido do canto, não previs-to por quem dita: “[O canto da parede. Apren-de ambiguidade:/ traz outra vez a mesa,/ […] Fala do que quiseres,/ mesmo que não se en-tenda dessa voz.]”. Submetem-se ambos, au-tor-leitor e leitor-autor, a uma zona de equí-vocos. Aqui se chama verdade à poesia (que revela a ambiguidade da vida), e mentira à aparência (que sempre nos ilude): “E já ago-ra, minto: / digo-lhes […]/ que as parcas são a sério e mais que trinta”. Em todos os livros de Ana Luísa Amaral perpassa uma malícia da Poesia, que é a da linguagem (quotidiana, afinal, mesmo quando é literária).O leitor volta ao Paraíso e trinca gostosamen-te a maçã. O gosto da poesia é salgado: o sal está em toda a parte e em parte nenhuma. O leitor admira então o mistério de uma miga-lha esquecida entre as páginas de um livro. E pensa no mandarim que matou quando uma tigela de flocos caiu no chão – que tudo é de partir. Desculpa-se com o sono dos filhos para olhar as infâncias esquecidas, a dormir. Espreme uma laranja e pensa na viagem que começa. Sonha que teve uma sebenta onde escreveu “je suis allée à la plage”… Tal-vez agora se esqueça de colocar os dois ée, fugindo à obrigatória concordância da voz neutra que fala. Nas noites de insónia, dis-põe no papel flores e cardos. Pensa no efeito impressivo das silepses, das repetições, das cacofonias, e das metáforas inconvenientes. Evita talvez a rima tónica, mas nunca descu-ra a átona que caiu por acaso como migalha no livro aberto. É então que o leitor celebra a parte que tem de mais íntima: a parte co-mum. Celebra-a, ainda que por causa dela te-nha perdido o Paraíso. Celebremo-nos pois, irmãos, no poema. Neste pão nosso de cada dia que nos devemos dar hoje.

Maria Luísa MalatoUniversidade do Porto

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11 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS LITERATURA

Deserto LongoDeserto Longo é uma obra em forma de li-vro com poemas de Ilda Figueiredo e pintu-ras de Agostinho Santos.O Deserto Longo foi crescendo entre Mar-ço de 2020 e Março de 2021, em plena pandemia, a do vírus e de muitos outros pandemónios que o vírus desocultou – a desumanidade de tantos lares e depósitos de velhos, o emprego precário e mal pago, a máfia do tráfico de seres humanos para trabalharem sob novas formas de escrava-tura, os negócios, o dinheiro e a fraude, a fragilidade do Serviço Nacional de Saúde e a sua tão fundamental existência, a solidão de tantas vidas, e muitas outras realidades escondidas pela voragem dos dias, da ver-tigem das notícias sobre as coisas do costu-me, do permanente ruído do mundo a cre-pitar nas televisões e nos outros meios de comunicação, também nos vazios comu-nicacionais que tão facilmente se instalam nas redes ditas sociais. Soubemos também do lado bom da humanidade, de como não podemos deixar de acreditar que existe bondade, voluntarismo, atenção pelo ou-tro. Tudo pode caber no Deserto Longo.Contudo, há duas coisas que este deserto não é: não é deserto do vazio e do niilismo, e não é o deserto dos místicos que procuram o afas-tamento do mundo e a proximidade com o sobrenatural. Agostinho Santos não é Santo Agostinho e Ilda Figueiredo não é a Santa Hil-degarda de Bingen; não são santos, teólogos ou místicos, mas fazem o milagre de pintar o inefá-vel ou condensar na poesia as palavras justas que abrem para muitas outras que povoam o pensamento e clarificam certos emaranhados que perturbam a clareza dos sentidos.Não são românticos os versos da Ilda, nem har-moniosos os desenhos do Agostinho. Uns e ou-tros estão aqui para nos inquietar, para nos de-sassossegar. A arte, como se sabe, cumpre uma função de dar a ver, de se envolver, de denun-ciar – como a cantiga que o saudoso José Mário Branco compôs, é uma arma, como uma certa respiração do poema em que, a propósito do capitalismo global, Ilda escreve “(…) a língua de fogo, de serpentes sem plumas / deslumbrantes, espalha o veneno / na sua marca da exploração e opressão / até ao limite que assume o tamanho do povo / na defesa do seu / querer e do mundo / que cada um tece” (p.17).Os poemas que iniciam este livro estão orga-nizados em três andamentos: Desocultar, Con-fronto e Rasgar Trevas.

No primeiro, inscrevem-se quatro poemas que desaguam num manifesto “é preciso que abanem zombies / e se tornem punhos de revol-ta / na anomia que cerca a rua” (p.14);No segundo, uma única torrencialidade, ca-bem os dias injustos, os lugares a ferro e fogo, os tiranos, os pobres e os mortos, o capital;No terceiro sucedem-se dezoito poemas, mani-festos, angústias, lobisomens, lutas, o sonho ou a utopia desfiados em palavras, umas que tonifi-cam o sonho “… Outras, é o deserto longo, / Difícil de ouvir, sem avatares, / dura de roer, sem polpa nem caroço, / encolhida no canto da alma / onde nem o poeta /consegue penetrar / (talvez o pintor lá possa chegar / no traço negro a deambular)” (34).O pintor é o Agostinho, domador de criaturas perturbadoras, quimeras, bichos, vírus… que se sucedem num bestiário sem fim, feitas de um vocabulário de palavras/figuras/metáfo-ras/alegorias que desfilam num texto infinito de imagens que ora são demónios à espreita, ameaçadores, ora se resguardam em corpos compósitos e indefinidos que nos dizem coi-sas diferentes sempre que lhes procuramos desvendar os enigmas. São cento e vinte e quatro; podiam ser milhares.Duas dessas figurações vieram para a capa do li-vro. Uma, a deusa da fertilidade, apresenta-nos a sua criatura: o corpo alado, o olhar humano, es-

camas e chifres, pernas e braços ausentes. É a dádiva do tempo que passa. Outra, uma figu-ra de mulher, olhar fechado, silenciosa, uma folha delicada pousada no ombro, tem nos cabelos duas serpentes que deslizam para o fundo do desenho. São enganos, o bem e o mal de um e de outro disfarçados. A fantas-magoria instala-se no olhar de quase todas as figuras, nas suas anatomias híbridas, no ruído ou nas murmurações que delas se despren-dem quando lhes passamos a vista.Entre a linguagem das palavras – dos poe-mas – e das imagens não existe um orde-namento fixado. Este livro – chamemos-lhe assim porque tem capa e contra-capa, enca-dernação, páginas numeradas, lombada e tudo aquilo que um livro deve ter – não con-tém um texto, uma mensagem com princí-pio, meio e fim; uma sequência; uma rela-ção explícita entre palavras e ilustrações. O livro é um hipertexto que se pode abordar abrindo ao acaso numa página e, ao acaso, seguir para outra. A produção de sentido não segue nenhum roteiro aconselhado ou contido num índice, e é provável que aqui-lo que numa certa hora pensarmos acerca

das palavras ou dos desenhos, seja outro pen-samento se o dia clarear ou se alguma névoa se insinuar no horizonte. O livro é um rizoma, prolifera, liga-se por muitas pontas.Não saímos ainda do Deserto Longo. Conti-nuamos no labirinto, Ariadne perdeu o fio e o monstro anda à solta multiplicado por várias bifurcações e alguns muros que subitamente se levantaram onde pensávamos haver saí-das. Por isso é tão necessário o ofício artístico – ajuda a clarear o mundo, a melhor observar as suas esquinas, a contra ele combater se pre-ciso for, mas também encontrar alguma paz, alguma luz, como quem respira.

Álvaro Dominguesprof. universitário UP

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 12CRÓNICA

Alfredo Mendesjornalista

Vamos piquenicar?O arado rasga a pele dos campos para as se-menteiras de Outubro. O cavador de enxada em riste curva-se para a terra no declive dos montes.Irrequietude de alvéolas, de rabi-ruivos e es-trelinhas-reais, voos repentinos, graciosos, nupciais. O papa-figo. Olá, passarinho boni-to, olá!, não fujas tão asinha, passarinho. Dei-xa admirar a tua penugem amarela e negra que mais embeleza o abrir das videiras no-dosas. Voa, voa papa-figo até partires para o Sul, lá pelo termo do Verão, deixando no ar rastos de suave vivência.Piquenicar à beira dos moinhos movidos a água.As morujes no ribeiro murmurante, os rega-tos de águas corrediças, os peixes-cabeçu-dos saltaricando. Sobrevoam libélulas, rolas e chaspins; os rouxinóis nos ramos reverde-cidos. A pega-azul e a poupa a nidificar com ares de rainha-mãe. O melro, choc-choc em-poleirado no sabugueiro, atento aos seus amores.O flautear do cuco-rabilongo chegado da África Central e da Índia Meridional, “se o cuco não vier em Março ou Abril ou foi mor-to ou não quer cá vir”; “aonde o cuco canta, lá janta”; “ó cuco ramalheiro, quantos anos me dás de solteiro?” E ele, coitado, a responder conforme sabe e pode, por uma vez que seja arvorado em oráculo. A todo o momento, o espreguiçar do jacinto-das-searas, o voo das borboletas amarelas, brancas e de outras co-res em visita às puras flores, beijinhos aqui, ali, amaciando os lábios da manhã.O reflorescimento das tílias e frésias, o doce cheiro dos poejos. Na melodia da Ribeiri-nha, entre fragões, os líquenes à flor da água. Com o aproximar dos passos, rãs assustadi-ças saltam para os charcos, plás!Apetece-me deitar o corpo no lençol daque-las pedras polidas, ouvir o respirar dos cam-pos, a brisa nas asas das abelhas obreiras valsando em volta das corolas. Ferroada? Moeda negra contra o inchaço, escutei dizer lá para as bandas da Rua da Botica.Sobre tufos de erva fresca espreitam pam-pilhos. Sangram vívidas papoilas entre o delírio de outras flores e de outros odores. Às distâncias depuradas, à nítida luminosi-dade, as divinas montanhas, os caminhos vicinais a perder de vista, caminhos cas-calhentos rumo ao declive do Vale do Côa, vale sagrado.Por todo o liteiro espalham-se saladas, pas-téis de carne de massa tenra, bolinhos de

bacalhau, punheta de bacalhau, arrozinho de espigos e ovos verdes. Ainda a conten-to do palato, nacos de presunto, rodelas de chouriça pingando azeite da talha, mãos--cheias de azeitonas. De Barca de Alva alma piedosa trouxe-nos peixinhos do rio, fritos e de escabeche, molho antiquíssimo à base de azeite, vinagre, ébola e louro.A brancura dos guardanapos desdobrados, o faiscar dos talheres. A culminar a funçana-ta, taliscas de queijo, catraços de pão estala-diço. Cerejas carnudas colhidas pelo pintar da manhã fazem companhia a nêsperas e à compota de pêssego-maracotão dos finais de Setembro. O mês de as compotas de gin-jas, maçãs, pêras e de amoras-silvestres be-suntarem o bandulho dos frascos. Lambari-ces a mais? Pr’ó diabo, diabetes!O rosto sanguíneo do vinho a prenunciar nobre robustez das castas: touriga nacional, touriga franca, tinta roriz, tinta barroca.À vossa!Tardes mimosas.Raparigos de calções e sandálias com os joelhos esfacelados pelo traquinar brincam no secular pontão de lajes. Fingem caçar coelhos e lebres por ali em abundância, e

acabam por se entreterem no jogo das ca-çadinhas. Haviam descoberto a eira de úni-ca e descomunal pedra. Depois, um abrigo feito de grandes fragas. Pelas costas, nave de penedos, dando-se pressa em imaginar à entrada daquele colossal afloramento ro-choso homens rudes cobertos de peles de animais que, absortos, perscrutam a linha do horizonte. Depois, desenham cabras e auroques na face das pedras.À volta dos açafates e condessinhas, toca de comer e beber, ó paleolíticos das comilan-ças! Palitai os afadigados caninos por debai-xo de um céu despido de nuvens, de um sol a dar banho de prata às oliveiras centená-rias. O sol lambendo agora limões, espargos, rosmaninho-lilás, giesteira-branca. O sol afa-gando as flores amarelas da giesta-piornei-ra, a madressilva-caprina com ar de menina. Eis o momento supremo de sonecar sobre a relva, braços cruzados na nuca e ouvir espi-rais de música elevando-se na brisa, cântico da ribeira a correr, cintilante...Arpejos nos ninhos.A ovelha que vai parir.Alarido de beleza orgânica.O mundo à mão de colher.

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13 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS ARTE

Metsu e a narrativa pictóricaAs artes plásticas, nomeadamente no domí-nio concreto da pintura e as impressões ins-critas no seu suporte, traduzem uma perma-nência móvel, da sua configuração objectual, a partir da imobilidade da ocupação figurativa aí instalada. Essa mobilidade concebe-se atra-vés de instâncias multímodas de pensamen-to, tradições históricas, progressos estilísticos, recursos a novas modalidades de tecer a tra-ma analítica da descrição da visualidade que é a pintura. A mobilidade apresenta a indivi-dualidade da forma, da coisa olhada trans-figurada aquando de novos contactos que a fruem, desfrutam, captam sensorialmente, na apreensão combinatória da forma e da maté-ria. Porque um olhar é diferente do outro, tal como um olhar pode não absorver categorica-mente aquilo que se presenteia a partir da rea-lidade dimensional do total universal. O olhar completa a suprema contingência da apreen-são visual da imanência. A ordenação visual individualiza-se de olhar para olhar, sem ex-clusão necessária de partes de um todo, mas também sem necessariamente incluir o todo das partes. A organização do sistema retinia-no de processamento conceptual sensório-vi-sual emana das profundezas elementares, de-senvolvidas consequentemente pela tradição cognitiva-evolutiva da compreensão empíri-ca, intelectual da formação epistemológica, sem por vezes se verificar uma total e fidedig-na correspondência mimética de observação: um olhar tende a emancipar-se de um outro, tal como um sujeito se individualiza ao sepa-rar-se da sua primordial condição universal de entidade humana. O sujeito observador, na sua inegável qualidade individualizante de promotor de significação, diverge dos outros observadores de uma mesma imagem, pela afecção devotada à ligação estabelecida entre as duas partes (sujeito, coisa olhada) estabele-cendo desta forma uma troca recíproca signi-ficante entre cadeia emissora e receptora, na qual cada elemento tende a mobilizar-se, a di-versificar-se nas suas correspondências, ape-sar de um dos elos (objecto) se encontrar num estado perpétuo de inércia material. O que lá consta, lá sempre se resguardará da volatili-dade humana de mudança. De outro modo, se encontra o criador da coisa olhada (obra de arte), dotado de uma diferenciação percep-tual do objecto apreendido que diverge, modi-fica, modula dos outros olhares a sua própria concepção de concretizar o pretendido num determinado momento processual, forjando

a sua individualidade entre-seres, na capta-ção pessoal de expressão, dimensão afectiva do objecto ou mesmo como revelação de um modo de ser seu, que o foi a um tempo, eterni-zando-o assim na permanência da obra, mes-mo após as revoluções internas subjectivas, antitéticas àquele espaço temporal. Daí que a obra de arte retenha na sua constatação apro-ximativa aos moldes reais dos sistemas per-ceptivos oculares tornados apreendidos pelo pensamento, a única e possível sobrevivência da imagem única, irrepetível, irrevogável de algo quotidiano, simbólico, espiritual, inefá-vel, que se entrega aos espaços de reclusão, denominados de progresso (individual ou histórico), mas que deixa entrever a centelha extinguida de um passado findo, atemporali-zado no objecto criado.A subjectividade e a leitura activa da conju-gação dos elementos compostos entram em confronto na descodificação das várias linhas segmentárias, cuja unidade revela o logro, o ardil, a capacidade lúdica da imagem pictóri-ca e as suas inúmeras variações. Gabriël Me-tsu, um dos mais reconhecidos praticantes de pintura de género, nomeadamente execu-ções compositivas nos interiores domésticos, onde após elaboradas pinceladas, controla-das minuciosamente por uma exímia técnica, cujas suavidades tonais, associadas às subtis modulações lumínicas com que elabora as te-las, abre espaços recreativos onde os signos se envolvem e desenvolvem novas capacidades de afirmação ou contradição com os pressu-postos inaugurais das primeiras leituras. A sua claridade espacial entra, pois, em confronto com a sua delicada, mas penetrante e sugesti-

va elaboração narrativa que introduz nas suas obras. A obra O presente do caçador (1658-60) introduz-nos num universo interior no qual se clarifica a existência de duas figuras, onde uma delas parece oferecer cerimoniosamen-te uma perdiz à figura sentada, que se parece ausentar por momentos das suas tarefas do-mésticas (costura), para receber parcimonio-samente a oferenda, numa tradicional ima-gem do quotidiano de época que reproduz, traduz a simplicidade, ou inocência com que Metsu a representa. Contudo, numa camada submersa do plano da superfície pictórica, o nosso olhar começa a explorar as dicotomias sociais, certos aspectos hierarquizados na superfície do plano, as subtis insinuações se-xuais e as consequentes atribuições valorati-vas de uma moralidade incrustada na preten-sa figuração emancipada do retrato íntimo. A exposição do papel social do homem e da mulher e das suas tarefas conjugais revela-se na posição dominante da figura masculina que oferece, sugere, propicia um encontro para além das tarefas puramente cerimonio-sas, bem como no tamanho dos respectivos cães que os acompanham. A pequena estátua de um cupido que se encontra no topo do ar-mário, serve-nos de indício do tratamento do amor em Metsu. Um dos elementos obscuros nos dias de hoje, mas que no tempo do pintor seria uma exposição gratuita de significação é-nos decifrada por Peter C. Sutton1, ao referir a existência de pássaros mortos. Como o autor nos diz, a palavra pássaro (vogel) era comu-mente utilizada como sinónimo de falo, bem como a palavra derivada de Vogel (vogelen) servia de eufemismo para a relação sexual. Já na mesa do lado direito, a personagem femi-nina parece por momentos e num estado de indecisão tentar alcançar um pequeno livro, identificado pelo autor como a bíblia ou um li-vro de oração, introduzindo na obra o dilema moral da personagem, bem como as possíveis consequências que aquele procedimento poderá acarretar na sua existência. O convite implícito nas tramas narrativas de Metsu, é ve-lado pela densa configuração simbólica com que atribui aos actos rituais sexuais.

Gabriel Metsu. O Presente do Caçador. Óleo s/tela, 51x48cm.

Rodrigo Magalhãesmestre em História da Arte

1 SUTTON, Peter C (org.). Masters of Seventeenth

century dutch genre painting. Philadelphia Museum of Art. 1984, p.250-251.

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«À margem, de certa maneira»A Árvore - Cooperativa de Actividades Ar-tísticas, no Porto, acolhe a exposição indivi-dual de Manuela Pimentel. «À margem, de certa maneira» pode ser visitada, na sala 1 da cooperativa, até ao dia 15 de Agosto.

«Pré-textos Pompeuanos»O Palácio do Raio, em Braga (Centro Inter-pretativo Memórias da Misericórdia de Braga), tem patente a exposi-ção de pintura «Pré--textos Pompeuanos», da autoria de Orlando Pompeu. A mostra pode ser visitada até ao dia 31 de Agosto.

Doações ao Museu Bienal de Cerveira em exposiçãoA Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) promove uma exposição com as mais recentes doações feitas ao Museu Bienal de Cerveira. No total, são apresenta-das ao público 43 obras, de 36 artistas, de 8 nacionalidades, numa mostra que marca o regresso da actividade expositiva da FBAC. Patente até 28 de Agosto, a exposição está patente no Palco das Artes, uma vez que as instalações do Fórum Cultural de Cerveira se encontram afectas ao Centro Municipal de Vacinação.

Domingos Loureiro vence Prémio InternacionalO pintor Domingos Loureiro foi o vence-dor da 1.ª edição do Prémio Internacional de Artes Plásticas - Cidade da Guarda, com a obra «A Natureza nas Mãos». O júri destacou uma obra invulgar, com uma estética diferenciadora e forte marca au-toral. De grandes dimensões, totalmente sulcado à mão, o trabalho evidencia uma “recuperação” do trabalho de marcenaria, evidenciando-o e valorizando-o. A obra está patente, até 29 de Agosto, no Museu da Guarda, numa exposição que junta 22 das 52 obras que estiveram a concurso no âmbito do prémio.

«O Rosto, Máscara Intemporal»A exposição da pintora Balbina Mendes «O Rosto, Máscara Intemporal» pode ser visi-tada no Auditório Municipal de Gondomar. Com curadoria de Agostinho Santos, está patente até 20 de Setembro.

«As Medidas da Linguagem»A Ato Abstrato acolhe a exposição de Fer-nando Aguiar «As Medidas da Linguagem». A mostra pode ser visitada na galeria de arte de Lisboa até ao dia 26 de Agosto.

«Pessoa Por Dizer II», Balbina Mendes. Folha de ouro s/ tela, 120x70cm, 2021.

«A Natureza nas mãos». MDF pintado e escavado 175x245cm. 2021

Tchelo (BR). Sem título da série Estruturas Elásticas, 2017. Desenho (Pormenor)

«Ver, querer ver,dar a ver»A exposição «Ver, querer ver, dar a ver. Desenhar entre fronteiras na Univer-sidade do Porto» pode ser visitada na Galeria I da rei-toria da Universidade do Porto, até 25 de Setembro. A mostra apresenta mais de 100 desenhos produzidos por estudantes, docentes e investigadores das mais di-versas áreas do saber, com excepção de Belas Artes.

«Antologia». Acrílico, cabide e capas de livros, 216x46 cm

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AFONSO PINHÃO FERREIRAProfessor Universitário

José Régio – um ponto cardealTive o grato privilégio de apresentar na cidade da Póvoa de Varzim no conhecido Diana Bar, o último livro da autoria da minha Valiosa Amiga Professo-ra Doutora Isabel Ponce de Leão, um ensaio sobre José Régio, a todos os títulos, notável.Tornar o discurso efémero num artigo publicado num jornal cultural é a forma que encontro para agradecer o gentil convite que me foi dirigido para, em primeira mão, divulgar aquela obra en-saística, texto sumptuoso que depois de lido, só poderia mesmo ter o título: “Mas Régio é Grande”. Não me sobra qualquer dúvida que este estudo, sobre o multifacetado escritor, irá potenciar a afir-mação do Centro de Estudos Regianos e perten-cer ao património cultural de Portugal.Considero que apresentar um livro, sobretudo um ensaio sobre um escritor glorificado, se as-sume como uma viagem cultural, um passeio pela intelectualidade. Pois bem, é mesmo isso o que pretendo fazer.E, para dar início a uma tal digressão, viagem com mensagem ou mensagem que é viagem, devo co-meçar por reconhecer que há, de facto, gente que sai da vulgaridade, que prefere a introspeção da lei-tura à superficialidade que advém do imediatismo corrente; gente que troca a comodidade de apenas existir (num mundo com tudo à mão), por pensar (o que faz doer, diga-se). Queiramos ou não, há gente dessa: desigual, invulgar, culta e intelectual.Não se trata de elitismo. É, tão só, uma livre escolha. Discriminação? A treta da discriminação…! Porquê? A cultura está acessível a todos… Que culpa temos nós que se prefira a incultura da imagem à cultura da

mensagem, que não se entenda que para compreen-der a imagem é preciso entender a mensagem?Essa nata intelectual e conhecedora representa as pessoas que arquivam conhecimentos, que esta-belecem conexões entre factos, que inferem con-clusões, que duvidam da verdade oferecida e que edificam outras formas de ver. São imaginativas, artistas por decerto.É gente que trata a inovação por tu, que solta a imaginação para além do real e do trivial, que co-loca competência em toda a praxis, que anda de braço dado com a excelência, enquanto elege a vanidade como o seu maior inimigo. Enfim, são seres díspares, que a maioria catalogará como pessoas distantes a evitar, dado que anda saciada com a apatia que brota da sucessão de imagens que sistematicamente habitam os plasmas.Mas é essa gente à parte que nos faz viver verda-deiramente, que perpetua a nossa identidade e a nossa cultura nos textos, nas pinturas e nas escul-turas, na música e na dança, digamos em toda a arte, como defendia José Régio.Ora, essa raça cultural está em extinção e deve ser, por consequência, protegida. Essa foi também uma das razões que me motivaram a aceitar este tão honroso convite. Entendo que a Sr.ª Dr.ª Isabel Ponce de Leão, professora catedrática dotada de um conceituado trajeto curricular, deve ser pro-tegida, pois pertence àquele grupo humano em risco de desaparecimento.Bom! Seria imperdoável dissertar sobre o extenso e importante curriculum vitae da Professora Isa-bel, sobre a sua ação edificadora no plano socio-

cultural, dado que esvaziaria o tempo imprescin-dível à divulgação deste seu ensaio, agora editado com o título “Mas Régio é Grande”, em contraposi-ção à edição do escritor, “Mas Deus é Grande”.Pois bem, a intelectual trocou belíssimas séries da Netflix ou da HBO, umas passeatas com os amigos e amigas, uns drinks em locais aprazíveis, vejam bem, por esmiuçar o percurso narrativo do poeta José Régio, considerando as suas vertentes escri-ta e pictórica. Francamente! Preferiu ler, estudar, analisar e escrever um livro, ao conforto de um sofá com um ecrã de alta definição imagética e acústica ou outros deleites da positividade que assola o mundo contemporâneo, particularmente o nosso mundo. E, terá escrito esta análise literária com prazer, não fora ser uma área de investigação que ela privilegia, como seja a Literatura Portu-guesa Contemporânea e as relações que esta es-tabelece com as artes plásticas.Entendeu, a Professora Isabel Ponce de Leão, que José Régio é Grande. Escreveu até um livro que es-preme a personagem até ao âmago, cuja qualida-de é certificada logo no prefácio, pelo intelectual ensaísta e crítico Eugénio Lisboa.Devo dizer-vos, todavia, que, quando surgiu o con-vite para esta apresentação, fiquei francamente apreensivo, pois achava que Régio não era Gran-de. Apesar de ter vivido desde os meus 3 meses de idade em Vila do Conde, e de conhecer ruas, praças, lugares, casas, esculturas, com o nome do poeta, nunca me despertou conhecer com pro-fundidade a escrita de José Régio. E porquê?Lembro-me de com cerca de 10 anos de idade,

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em passeios pedonais com o meu ido pai depois da janta, ele me chamar a atenção para um ho-mem só, pequeno e encasacado, que em passo lento levava os óculos a passear, numa roupa-gem acinzentada e algo desvincada. “Olha Afon-sito, aquele senhor é um escritor célebre de Vila do Conde que se chama José Régio. É um senhor muito antipático”. Interiorizei assim a sua pe-quenez dimensional e antipatia comportamen-tal. Mais tarde, na escola secundária soube que o irmão era o célebre pintor Julinho que quando escrevia se dava pelo nome de Saul Dias, figura bem mais empática e que teve uma vida consi-deravelmente mais longa que o seu irmão.Durante bastante tempo, apenas conhecia parte de um verso do poeta Régio, O Romance de Vila

do Conde, porque me dizia e ainda diz muito: Vila do Conde, espraiada entre pinhais, rio e mar! – Lembra-me Vila do Conde – Sinto os olhos a turvar.Muito mais tarde, recentemente casado, adquiri-mos edições ricas para embelezar a nossa bibliote-ca, visitamos a Casa José Régio em Vila do Conde, e, depois, a Casa Museu José Régio em Portalegre, onde nos foi dado ver as suas coleções, mormente a de Arte Sacra, da qual recordo um conjunto de desgraçados Cristos, crucificados e lá pendura-dos. Ajuizei que, de facto, deveria ser um homem triste. “Bem cedo me resignei a ser só”, dizia ele nos seus rascunhos, solidão que Isabel Ponce de Leão justifica e argumenta magistralmente.A incumbência que me foi encomendada justifi-cou sobremaneira a leitura atenta, embrenhada

e demorada deste ímpar ensaio, “Mas Régio é Grande”. Esse exercício implicou que o poeta já não caiba na roupagem com que o vesti. O texto causou o seu crescimento e fez-me compreender a melancolia que o poeta carregava, a tristeza que propositadamente procurou. Sobretudo, permi-tiu avaliar a implicação da sua obra na evolução da cultura portuguesa, não fora ter sido a enzima do denominado segundo modernismo com a sua no-tável participação na revista presença, bem como um amplo contributo escrito sobre as diversas fa-cetas identitárias do nosso povo.Permitam-me que vos transmita que, não sendo de leitura complexa, edita-se um livro para eru-ditos, um excecional livro porque venera a arte, enquanto faz ajoelhar a vulgaridade, que tanto o poeta desprezava. Um livro eloquente, aromati-zado com uma adjetivação fina, que põe sapatos altos e meias de alta costura na língua portuguesa.A este propósito, consintam que vos narre um conteco, uma historieta verídica, que no pre-sente recordo de forma emotiva, a qual sou incapaz de olvidar, mas que aconteceu con-nosco, faz muitos anos. Gente nova, ainda sem necessidade de luxos, até porque a estreiteza financeira os retirava dos horizontes, recorre-mos tardiamente a um modesto restaurante em Lisboa. O mais entrado e culto do grupo era um muito nosso amigo advogado. Sempre distante, a fumar a sua cachimbada, o Zé Rosa foi lendo o jornal, alheando-se da conversa trivial que grassava na mesa com toalha plástica, vinho desaconselhável e comida que apenas aliviava a fome. Razões de sobra, aliás, para que o douto advogado se atrevesse a solicitar ao emprega-do de mesa informação sobre uma eventual re-dentora sobremesa. Respondeu o moço imedia-tamente: pudim flan e mousse de chocolate. O Zé Rosa, circunspecto, entre duas cachimbadas respondeu com a sua voz caracteristicamente forte e incisiva: “Perante a exiguidade da esco-lha, prescindo”. Quer o quê? Disse o empregado. De facto, a erudição empregue em locais pouco eruditos perde o sentido; é como ir de gravata a um piquenique.Porém, a obra que hoje se edita, é um livro sobre o Régio, à Régio e para o Régio (leia-se regianos). Uma homenagem que a autora lhe quis prestar.Ora, diz o povo que homem pequeno ou velhaco ou bailarino, e Régio não o era; era, isso sim, fino, e é precisamente essa verdade que Isabel demons-tra ao alinhar as letras com as figuras em páginas de papel de bom toque.Para mim, tratou-se de um livro fascinante, mági-co até, pois fez crescer de tal forma o José Régio que o considero hoje, muito justamente, ENOR-ME, sim, um enorme lutador.Acreditem que vale bem a pena interiorizar o con-teúdo desta obra. Lá encontraremos partes de nós, tais como os conflitos que incomodam aque-les que pensam: os porquês da existência, a ne-cessidade ou desnecessidade do amparo divino e como amamos, quem e porquê? Sem pretender

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desvendar a tramitação literária do ensaio, atre-vo-me a transmitir-vos um dos gritos agónicos de José Régio: “Não sei o que estou a fazer na vida, o que hei-de fazer; para que sirvo!”. E, já agora, pergunto eu: algum dos leitores sabe?A obra ora editada convoca-nos a procurar os vá-rios eus que residem dentro de nós; inquieta-nos; tira-nos da mera existência biológica para uma vera vivência ideológica.Isabel Ponce de Leão parece ter convivido com José Régio apesar do descompasso temporal que os se-para, seguiu-o e estudou-o tanto que o conhece bem demais, quer a criatura, quer a sua cultura. Régio foi, como todos nós, constituído de carne e osso, mas vi-veu em permanente conflito. E, quem não vive?Li, há pouco tempo, que uma mulher militar dos Estados Unidos da América aceitou, na NASA, su-jeitar-se a uma experiência de natureza científica. Desligaram-lhe reversivelmente metade do cére-bro e colocaram-lhe um problema que obrigava a uma tomada de decisão. De seguida, repetiram a experiência para o outro lado do cérebro, colocan-do-lhe a mesma demanda. Para espanto de todos, obtiveram-se duas respostas antagónicas. Daí que todas as nossas decisões sejam conflituosas na sua origem, o que faz de nós seres indecisos e, por consequência, ansiosos. Saímos dessa ansiedade, dispersando o pensamento, criando outros objeti-vos, diversificando as ações, convivendo.Tudo o que José Régio não fez. O escritor, pura e sim-plesmente, decidiu viver só e quis assumidamente ser infeliz com os seus conflitos. Compreender a sua mente é uma análise que exige um estudo apurado e profundo do seu percurso narrativo, e Isabel Pon-ce de Leão demonstra, a este nível, ser mestre em interpretação. “Mas Régio é Grande” é um admirável tratado de hermenêutica. Isabel, aceite este elogio público que sofre de autenticidade.Todos nos revemos naquelas angústias existenciais, religiosas e sexuais. Mas para quê encontrar um sen-tido ou uma resposta? A auto-análise só faz bem, se for às prestações. Mas ele era assim… vivia em per-manente conflito, como nos prova a autora.Conhecer Régio também é isso, saber o que não se deve fazer… atente-se à Professora Isabel Pon-ce de Leão. Trata-se de uma pessoa que escreve, e por isso pensa, o que significa que também terá as suas crises existenciais. Todavia rejeita a infelicida-de e transpira alegria… não tem confrontos do seu eu individual e social. De tempos a tempos sabe pôr os conflitos na prateleira.Caros leitores do Artes entre As Letras,existiram mais razões que fizeram agigantar José Régio no meu íntimo, até lhe reconhecer o título de “Grande”.Uma delas foi, sem dúvida, o conceito e a abran-gência da definição de arte, assunto que me seduz desde que o meu pensamento é culturalmente ali-cerçado. José Régio refere-se à arte insistentemen-te, como poderão verificar ao longo do ensaio. Para ele, a arte enquanto suprema manifestação humana é sempre uma “recriação individual do mundo”, onde cabe, para além das artes cénicas e plásticas, a litera-

tura (que Isabel Ponce de Leão salienta, ao referir a plasticidade da poesia do poeta).A valorização da arte por Régio tornou-o simpáti-co aos meus olhos. Com o que sei hoje, é minha convicção que contra a inumanidade suicidária do homo sapiens, contra os inenarráveis sadismos, contra as imensidades do passado humano, con-tra a exteriorização da animalidade do homem, se deveria valorizar o conhecimento e o ensino da arte como enzimas catalisadoras da sociedade humana. De facto, a arte fala, é multilingue e gera mensagens dissemelhantes. Cabe numa única lati-tude que é a representação comunicacional, e Ré-gio sabia-o como ninguém, como nos prova esta publicação. Só por isso valerá a pena folhear, ler e reler o presente volume.A Direção e participação na revista Presença - Folha de Arte e Crítica, permitiu dar um impulso notável à modernização da arte em Portugal, como já tinha acontecido no modernismo di-vulgado pela revista Orpheu. Deu-se a conhecer um percurso evolutivo da arte, questionou-se a sua essência, provocou-se a divergência criati-va, ou seja, intelectualizou-se e socializou-se a arte. Substitui-se a tradição contemplativa pela ambição interpretativa e a arte passou a inva-dir-nos e até a habitar-nos, tornou-se omnipre-sente. Obrigado José Régio pela parte rica que emprestaste à arte que fica.A eloquência e a retórica foram as amantes de José Régio. Não teve outras. Já a vulgaridade e a vanidade foram seguramente os seus ódios de es-timação. Mesmo nos encontros tertulianos, habi-tualmente nos cafés, em Coimbra, em Portalegre e no Diana Bar na Póvoa de Varzim, escolhia gente conhecedora, intelectuais e artistas, para convívio cultural. Vivia-se de outra forma, sem hiperinfor-mação, numa época em que a duração do tempo era maior e, na qual, a solidão não encontrava am-paros em redes sociais ou ecrãs que nos disponi-

bilizam, desde logo, o mundo todo. Portugal era grande e, hoje, o mundo é pequeno.Outra das razões que fizeram espigar Régio no meu íntimo, foi quando li (cito): “O meu forte, para conversas, é a mesa do café”. E, a este propósito, quero salientar que não haveria sítio mais adequa-do para a apresentação do “Mas Régio é Grande” como o Diana Bar, onde eu e tantos outros con-viveram e consumiram horas a estudar. O Diana Bar, café emblemático hoje biblioteca, onde figura uma placa de Homenagem a José Régio, gentileza do Rotary Club da Póvoa de Varzim, não fora ter sido aqui que, dois anos antes da sua morte, o poeta iniciou o 6.º volume de “A Velha Casa”.A este respeito, quero referir um dos intelectuais que mais revisito nos seus testemunhos publi-cados e que nos abandonou em 2020. Falo do franco-americano George Steiner, o qual foi con-vidado a proferir a 10.ª Conferência no Instituto Nexus em Amsterdão, no qual só são convidados intelectuais de topo. O Instituto e a revista Nexus foram criados em 1994 para servir o ideal europeu de civilização.George Steiner apelidou a sua conferência “A Ideia de Europa”. E, de entre as erudições que foi liber-tando, disse que (e passo a citar) “a Europa é feita de cafés, de cafetarias. O café é um espaço para encontros amorosos e conspirações, para o deba-te intelectual e a bisbilhotice. Enquanto houver cafés – a ideia de Europa – terá um conteúdo”. Sei que Steiner conhecia bem Fernando Pessoa, pois dedica-lhe um relevante espaço num dos seus li-vros, mas se conhecesse José Régio, certamente o citaria para corroborar a sua tese. José Régio, como poeta? – “o melhor de todos eles” segundo Fernando Pessoa.Não podia terminar sem referir a forma magistral e minuciosa como Isabel Ponce de Leão interpreta e descreve os desenhos de Régio.Um bem-haja à Prof.ª Doutora Isabel Ponce de Leão.

Esboços a lápis de grafite sobre papel, st, sd.

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 18EDUCAÇÃO

Formar professores em educação socioemocionalA Fundação Calouste Gulbenkian e o Ministério da Educação assinaram um acordo que visa implementar, já no próximo ano lectivo, um projecto de formação de professores na área da educação socioemocional. O anúncio foi feito por Pedro Cunha, director do Programa Gulbenkian Conhecimen-to, no âmbito de um evento online di-namizado pela Associação Mente de Principiante – organização com inter-venção no desenvolvimento pessoal desde a infância –, que reacendeu o de-bate para a valorização das competên-cias sociais e emocionais das crianças e jovens e lançou um Ebook sobre o programa de educação socioemocio-nal que intervencionou, de forma pio-neira, em quatro escolas públicas de Matosinhos (distrito do Porto), neste ano lectivo que agora termina.A educação socioemocional tem vin-do a assumir uma importância cres-cente e comprovada em contexto es-colar. Assim, este mês foi aprovado, em Resolução do Conselho de Ministros n.º 90/2021 de 7 de Julho, o Plano 21/23 Escola+, um Plano Integrado para a Recuperação das Aprendizagens que prevê, entre os objectivos estratégicos, o investimento no bem-estar social e emocional. “O desenvolvimento geral de competências socioemocionais promotoras de uma atitude responsá-vel e da vontade de ser e fazer melhor no seu percurso educativo e na socie-dade, em geral, são os benefícios e im-pactos apontados no programa”.A mudança de paradigma já está a acontecer em Portugal, nomeadamen-te pela implementação do programa de educação socioemocional «Calma-mente® - Aprendendo a Aprender-se» no ano lectivo 2020/2021. O projecto foi integrado em horário curricular de quatro escolas do Agrupamento de Escolas Abel Salazar, em Matosinhos, e foi dinamizado pela Academia Mente de Principiante com o apoio das Aca-demias Gulbenkian do Conhecimento e monitorizado pelo Instituto Universi-tário da Maia (Ismai).Um elemento essencial na promo-ção da literacia emocional passa pela formação inicial de professores, que começará, então, a ter resposta já no próximo ano lectivo, através do projecto entre o Ministério da Educa-ção e as Academias Gulbenkian do Conhecimento.

Lurdes NevesPHD, docente universitária UP

Desafios da EscolaO que é que o coaching para docentes® pode fazer pelos pais e pelos professores para ajudar a viver em Tempo de Co-vid-19?O coaching para docentes® pretende pro-porcionar aos docentes recursos e ferra-mentas para aplicar na sala de aula que não só potenciem metodologias de apren-dizagem mais associativas e colaborativas, como também os possa ajudar a aumentar a sua própria motivação e a melhoria do relacionamento com os seus alunos.Partilhando a perspetiva de Pérez (2016), as famílias e os pais podem esperar que o coaching educativo lhes facilite alguns recursos emocionais para melhorar o re-lacionamento com os filhos. Em primeiro lugar, é necessário que as famílias com-preendam as mudanças que ocorrem no cérebro de uma criança e de um adoles-cente e, consequentemente, no seu com-portamento. E a partir daí elaborar estraté-gias que permitam o estabelecimento de uma relação adequada com os filhos.Em segundo lugar, é sempre muito impor-tante facultar aos pais e encarregados de educação estratégias que possibilitem a compreensão e a gestão de emoções e também sobre a importância de se expres-sarem as emoções de uma forma saudável e satisfatória. Tem sido empiricamente demonstrado que qualquer decisão toma-da, por trivial que possa parecer, é sempre adulterada por emoções.

Por que razão é importante pôr os alunos a refletir e a registar o que experienciam de positivo na escola?Se formos capazes de nos concentrar e re-lembrar o que é positivo, será muito mais fácil repetirmos essa experiência.

Como é que esta reflexão pode ajudar a re-solver problemas comportamentais?A ação repetida no tempo, consolidada e repetida diariamente durante pelo menos um mês, promove a mudança de compor-tamentos. Conforme refere Pérez (2016), o melhor é que se repita ao longo de um tri-mestre, conseguindo-se criar nos alunos o hábito de se concentrarem no positivo e não tanto sobre os aspetos negativos da escola e das disciplinas. Desta forma, pos-sibilita-se aos alunos aumentar a sua mo-tivação, autoestima, reduzir os problemas

comportamentais e melhorar as relações com colegas e professores.

Como é que as estratégias do coaching educativo e do coaching para docentes® podem contribuir para a inversão desta atitude nas escolas?Através do coaching educativo e do coa-ching para docentes® é possível que os professores, as famílias e alunos sejam capazes de obter uma nova interpretação da sua situação e do outro que estimula a reflexão, a aproximação de posições, em-patia, e, portanto, a tomada de consciência que facilite a geração de atitudes diferen-tes nos tempos desafiantes que vivemos atualmente.

NOTAIn «Lurdes Neves, Ser professor:

A Alquimia do Conhecimento e da Emoção»

FOTO: DR

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19 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS PÁGINAQUEIROSIANA

Acordo caligráfico

J. A. Gonçalves Guimarãessecretário da Direcção da Confraria Queirosiana

De tempos a tempos a sociedade portuguesa ele-ge um tema de interesse mais ou menos coletivo sobre o qual todos opinam. Não tem mal nenhum, é sinal de democracia e antes dizer asneiras em liberdade do que pretensas e efémeras verdades sob censura. Um desses temas, entretanto já subs-tituído pelos prognósticos da epidemia, foi o mais recente acordo ortográfico. Como se fora o primei-ro. Ou o último. E daí o charibari de opiniões que tem originado nos media, como se a Língua Por-tuguesa até aí tivesse sido em bronze gravada e, a partir de agora, esborratada em folhas de plástico descartável. Gente de todas as profissões com al-gum acesso a qualquer tribuna não deixaram de perorar contra as novas regras e houve mesmo quem tivesse proposto o resolver da questão como se ainda estivéssemos no tempo de D. Afon-so III: só era português o que fosse falado e escrito do Minho ao Algarve, que “o resto” – os milhões de falantes por esse mundo fora, os bons escritores das antigas colónias, a evolução natural da língua, tudo isso eram “erros” a rever ou, no mínimo, a tolerar, mas não a aceitar e, muito menos, a incor-porar. Alguma bacoquice nacional acreditaria mesmo que em dado tempo houve uma Língua Portuguesa virginal, pura e cristalina, certamente nascida no mítico berço da nacionalidade e da qual qualquer afastamento era, no mínimo, uma traição à Pátria. Sabem as mentes mais informa-das que estas convicções não têm ponta por onde se lhes pegue. Entretanto o linguista Fernando Ve-nâncio publicou um precioso livro intitulado As-sim nasceu uma língua. Assi naceu ua língua, com um subtítulo elucidativo Sobre as origens do por-tuguês, editado pela Guerra & Paz e já com várias edições. Como sobre ele se expressou José Ren-tes de Carvalho também direi: se nós mandás-semos (ilusão celestial que também nos assiste), seria este livro de leitura obrigatória para todos os estudantes do ensino superior. E não apenas para os “de línguas”, mas para todos, até porque há por aí muito médico e arquiteto que, por entre duas receitas ou três projetos, também quer ser escri-tor premiado. O problema é a língua em algumas das suas valências, sobretudo a capacidade de transmitir mensagens que fiquem.Mas recordemos alguns factos: já existem esbo-ços de “acordo Ortográfico” para a Língua Portu-guesa pelo menos desde 1540 com a Grammatica de João de Barros e não desde ontem. Como se trata de uma língua viva é natural que, de tem-pos a tempos, haja necessidade de adaptar a sua

fala a uma representação ortográfica a qual, para não ser anárquica ou ao sabor de cada um, ca-rece de um acordo, um conjunto de regras que depois se fixam nos dicionários e gramáticas, revistos na sua ortografia e significados também de tempos a tempos. Sobretudo após as revolu-ções essa necessidade também se evidencia: foi assim em 1820; foi assim a seguir à República. Normal o é que no pós-25 de Abril também tal se equacionasse logo que possível. Este “manusear” da língua e das suas propriedades, se na realida-de diz respeito a todos os seus falantes, deve ser confiado aos linguistas e gramáticos que a estu-dam e observam continuamente, que discutem e confrontam a sua matriz com a realidade e com as expressões idiomáticas que ela vai adquirindo com os mais variados contributos endógenos e exógenos. Sendo a língua, com as suas variadas pronúncias e acentuações, propriedade de todos os seus falantes, aqueles profissionais estudam duas realidades de sentidos opostos: por um lado uma língua-padrão normativa, erudita a artificial; por outro, as diversas particularidades dos seus falares e grafias. Assim posta em resumo, é esta a questão da ortografia da Língua Portuguesa ou de qualquer outra. Por isso vejo com alguma bo-nomia possível muita gente a falar e a escrever so-bre “o acordo”, sabendo-se que já existiram vários, todos eles com algo de controverso para os hábi-tos diários da escrita ou da leitura na época em que se apresentam. Sendo natural que algumas pessoas se sintam desconfortáveis com algumas atualizações, deverão lembrar-se que a língua é uma ferramenta que usamos todos os dias inad-vertidamente e, quanto a “ferramentas”, ficamos sempre aborrecidos quando nos mudam “a caixa dos pregos”. Sobre tal escreveu Eça de Queirós, «… as línguas… são apenas instrumentos do sa-ber – como instrumentos de lavoura. Consumir energia e vida na aprendizagem de as pronunciar tão genuína e puramente que pareça que se nas-ceu dentro de cada uma delas e que por meio de cada uma se pediu o primeiro pão e água da vida – é fazer como o lavrador, que em vez de se con-tentar, para cavar a terra, com um ferro simples encabado num pau simples, se aplicasse, durante os meses em que a horta tem de ser trabalhada, a embutir emblemas no ferro e esculpir flores e fo-lhagens ao comprido do pau» (Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes). E entretan-to nada de frutuosas colheitas.Chamando à colação este ou aquele escritor,

este ou aquele jornalista que escrevem assim ou assado, julgando-se alguns os donos da língua, direi que sim senhor, mas só da deles. Porque o fundamental é que nos entendamos bem, quer no que escrevemos quer no que falamos. Quanto às regras atualizadas, elas não saltarão como que por encanto nem para a esferográfica, nem para o quadro da sala de aula. Mas nos dias de hoje esta-rão sempre disponíveis e atualizáveis num com-putador perto de si. Por isso não se preocupe mui-to com os acordos, pois há quem, com sabedoria e prática, os estude e proponha por si. E, se puder, ouça e leia mais os linguistas, do que os charadis-tas do “assim se escreve em bom português”.É que a coisa não é assim tão simples, nem se re-solve por portaria do ministério do bom senso e bom gosto. E aposto que Camões, Garrett, Eça de Queirós e outros terão opinião semelhante. Os quais, para além de um temporário acordo orto-gráfico, talvez lhe proponham antes que pratique um bom, limpo e útil acordo caligráfico, mesmo escrevendo no computador.

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Abertas inscrições para Jornadas Europeias de PatrimónioVão realizar-se nos próximos dias 24 a 26 de Setembro as Jornadas Europeias de Património 2021, este ano sob o tema «Património Inclusivo e Diversificado». Como habitualmente a Direcção da Con-fraria Queirosiana decidiu participar através de uma sessão presencial e onli-ne a realizar no sábado, 25 de Setembro, em colaboração com o Solar Condes de Resende. Pelo que estão a decorrer, até 30 de Agosto, as inscrições de “todos os profissionais que queiram apresentar um tema sobre «Património Inclusivo e Diversificado»”, enviando à Direcção da Confraria o respectivo título.

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 20TEATRO

Para uma biblioteca teatral – N.º 10

A estranha recorrência a textos contemporâ-neos que já foram uma e muitas vezes apresen-tados em Portugal – a mais das vezes com atra-so significativo em relação às suas estreias euro-peias –, de par com o interesse que a literatura dramática suscita em si, são a razão desta in-cursão na área de apresentação da dramaturgia desconhecida, ou menos conhecida dentro de portas, mesmo se e quando destacada ‘lá fora’; ou, melhor ainda (embora esta difícil porque se não publica), se portuguesa ou, ao menos, de língua portuguesa. Avisa-se, porém, que não há qualquer intenção de organização regular, mas tão só um desfilar de escolhas, à maneira de uma carteleira (imaginária) num jornal.

Entretanto, ao chegar ao 10.º título desta Biblio-teca, permiti-me incluir um texto da minha au-toria (por sinal dos primeiros de entre os mais de 20 que tenho escritos e editados e dos outros 12 que aguardam edição, para breve). Não é coi-sa que tencione repetir nesta série de artigos, podem os leitores ficar tranquilos…

“À ESQUERDA DO TEU SORRISO”Título Original: “À ESQUERDA DO TEU SOR-RISO”.Autor: Castro Guedes.Nacionalidade: portuguesa.Língua: português.Edição: Edição de Campo das Letras, 2005

Enquadramento: Escrevi este texto com o objectivo de o levar a cena. Não quis o decisor do IPAE (organismo que antecedeu a DGAr-tes, que atribui os financiamentos ao teatro)

considerá-lo e foi atirado para o baú das inu-tilidades. Mas quis o acaso que me cruzasse com o editor da Campo das Letras, o Jorge Araújo, que me perguntou se eu não tinha nada escrito que quisesse publicar no Cam-po do Teatro. E eu quis e quis ele e pronto! Mas fora escrito quase numa noite (embora depois revisto uma, duas, três… mais vezes) como uma espécie de projecção autobiográ-fica diferida para personagens de natureza muito diferente da minha e de quem mais me inspirou. No fundo, apesar dessa nota muito pessoal, o texto lida com arquétipos de um mundo urbano das novas ‘famílias’ de alu-guer (literalmente: que se vêem obrigadas, por razões económicas, a alugar um mesmo apartamento que repartem – situação que nunca experimentei), retratos doridos de uma sociedade contemporânea hedonista e irresponsável em que valores são confundi-dos com conservadorismo…

Sinopse: Miguel, que é desenhador e disc-Jockey no Indústria (Porto), e Ana, uma jovem esta-giária aspirante a jornalista de investigação e ‘denúncia social’, partilham a casa com Mário, um professor de Matemática recém--divorciado, um ‘cota’. Na troca de opiniões, a relação entre este e a jovem, facilmente irascí-vel, é tempestuosa e de confronto dela com o que considera o conservadorismo de Mário, sobretudo em termos de costumes, algo de-plorável. À mesa de refeições sentam-se em posição em que ele fica à direita dela. Come-çando numa agência de comunicação e ima-gem, a jovem, vinda de ‘boas famílias’, origem

que declina, por razões de sobrevivência, rapidamente se adapta ao estilo de vida das novas funções que desempenha. Entretanto, estala uma tragédia: Miguel está infectado com Sida. Quem trata dele é Mário até à mor-te do jovem. Num encontro final, em que Ana, entretanto apaixonada por Mário, procura convencer este a partir com ela. Estão senta-dos à mesa e não havendo terceiro elemento, a esquerda e direita de cada qual dilui-se.

Personagens: Ana, Miguel, Mário.

Comentário: Apesar de, como disse, a ter es-crito para ser representada, passados estes anos – e de há um tempo já para cá –, embora gostasse de a ver em cena, desapareceu abso-lutamente qualquer disponibilidade para a encenar eu. Dizem-me, entretanto, que a sua estrutura é mais cinematográfica do que tea-tral. Eu penso que a linguagem cinematográ-fica que lhe é inerente pode ser um elemen-to teatral em si. Mas se calhar não; se calhar devia mesmo reconverter-se em guião para cinema ou televisão. Porém, não serei eu que o faço, embora nada me faça impedi-lo.

Forma de aquisição: Da edição referida não sobram exemplares à venda. Todavia, além de poder haver algum perdido numa qual-quer Livraria, deverá integrar o tomo II de “Textos de Teatro Para Cena” (meus), a editar pela Letras & Coisas, graças ao apoio do Pro-grama Garantir Cultura do Ministério da Cul-tura. Julgo que até final de 2021, com vários outros textos, inéditos.

Castro Guedes encenador;director Artístico da Seiva Trupe

FOTO: DR

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21 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS MÚSICA

Breve História do Rock – 1.ª Parte

Nos anos quarenta imperavam as grandes or-questras de swing, que fenómenos deram lu-gar para o aparecimento de grupos de quatro ou cinco elementos com guitarras e baterias (?)… Esta música rompia com o passado, era feita por jovens para jovens. Com a ruptura social criada pela Segunda Guerra Mundial, a migração da comunidade negra america-na dentro do seu próprio território e com a aparição dos novos meios de comunicação de massas. Apenas uma década separam a “explosão” do rock and roll (1957) do primeiro programa televisivo visto nos cinco continen-tes (1967). Os gira-discos de acesso popular, o aparecimento do LP (Long Play) e sobretudo com a invenção da guitarra eléctrica – ins-trumento que melhor representa este estilo musical, a Era do Rock – teve um significado avassalador na mudança do mundo.Com o término da guerra, os negros voltaram a ser tratados cidadãos de segunda, fazendo esquecer que ombrearam com os brancos na Europa contra Hitler e no Pacífico contra os japoneses. Se em 1930, viviam na Califórnia 80.000 negros, por sua vez, em 1950, a popula-ção negra chegou a meio milhão. A música ne-gra – o jazz e os blues – expandiu-se e encon-trou-se com as músicas dos brancos – folk e country. Por outro lado, os jovens do pós-guer-ra, filhos de muitos combatentes, buscavam uma nova linguagem, romper barreiras com os seus pais. A resposta estava nessa nova música, onde um grupo de poucas pessoas conseguia vender milhões de discos.

A mulherSister Rosetta Tharpe nasceu em 1915, numa pequena cidade do Arkansas. Apenas com nove anos assumiu o piano do coral da igreja, mas pouco tempo se passou até sur-gir com a guitarra e a sua voz potente e ousa-da. Em 1938, gravou o tema “Rock Me”, uma canção gospel com a orquestra de Lucky Milinder. Alcançou popularidade e conse-guiu um feito inédito ao colocar música re-ligiosa no top 10 da Billboard. Com a sua gui-tarra eléctrica e letras espirituosas, foi uma importante influência em músicos como: Little Richard, Chuck Berry e Elvis Presley. Curiosamente, na década de cinquenta, fez uma digressão com uma banda de músicos brancos, “The Jordanaires”, a mesma banda que mais tarde acompanhou Elvis Presley.

Robert Plant, dos Led Zeppelin, fez uma música em homenagem a ela, chamada “Sister Rosetta Goes Before Us”. Na letra, está a citação de um de seus maiores hits, “Strange Things Happening Every Day”.Curiosamente no Brasil, no ano de 1955, Nora Rey fez uma interpretação do “Rock Around The Clock” para o filme “Sementes de Violên-cia”, que foi mesmo a primeira “semente” para o desenvolvimento do rock no Brasil. Mais tar-de Heleninha Ferreira escreveu uma letra em português para o mesmo tema e intitulou-o “Ronda das Horas”.

O nomePor volta do ano de 1945, começou a escutar--se uma nova música de negros “Rhythm & Blues”, com as harmonias dos blues, o uso da guitarra eléctrica e as harmonizações vocais do Gospel. O DJ Albert James Freed, mais co-nhecido por Alan Freed, começou a difundir esta música nos seus programas de rádio e in-titulou-a de Rock & Roll.

O disco12 de Abril de 1954, Bill Haley e Los Comets gravaram esse “hino” histórico “Rock Around the Clock”. Ao que se seguiu o “Tutti Fruti” de Little Richard.

As CidadesQuatro núcleos urbanos converteram-se nos núcleos musicais da américa: Nova Iorque, Chicago, Memphis e o Delpa do Mississipi. Da

mesma forma que Los Angeles era o centro do espectáculo pelo cinema, Nova Iorque era o “co-ração” do mundo do espectáculo musical ameri-cano (Broadway). Por outro lado, no sul do país, Memphis e Nashville foram grandes viveiros musicais, terras que viram nascer a Sun Records, etiqueta para onde gravaram Johnny Cash, Roy Orbison, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley.

A Guitarra EléctricaNos anos quarenta, um músico chamado Les Paul, amante da electrónica, do progresso e da inovação, criou uma guitarra de corpo só-lido que foi electrificada com um microfone. Mais tarde e já com pick-ups, nasceu a famosa Gibson Les Paul. Por outro lado, outro músi-co, Leo Fender, criou o seu próprio modelo – Fender, com dois modelos diferentes: a fender stratocaster e a fender telecaster. É ele também o criador do primeiro gravador de oito pistas.

O LP (Long Play)Peter C. Goldmark, inventou o suporte dis-cográfico mais representativo do rock – o LP. Nasceu na Hungria em 1906 e em 1933 já pisa-va o solo americano. Começou por trabalhar como engenheiro na cadeia de televisão CBS. Cansado dos solavancos e saltos dos 78 rota-ções, criou o LP. Com uma base de vinil flexí-vel, suportada pelo aparecimento da fita mag-nética que mudou completamente o modo de gravação da altura. Os discos rodavam agora a 33 rotações por minuto, enquanto os singles, mais pequenos, a 45 rotações.

António ferromúsico

Origens

Sister Rosetta Tharpe

FOTO: DR

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 22MÚSICA

Carlos Fiolhaisprof. universitário UC

João Boavida e “A Eterna Brevidade”João Boavida, professor jubilado de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, é autor do livro de contos A Eterna Brevidade, com a chancela Busílis, da editora Trinta Por Uma Linha (Porto, 2018), e do romance histórico Um Instan-te e Toda a Vida, da Indícios de Ouro (Lis-boa, 2005).A Eterna Brevidade, o primeiro livro de contos do autor, é uma recolha de algu-mas pequenas edições de autor muito raras, com excelente design de Ana Boa-vida, filha do autor, que trabalha na FBA, em Coimbra, o multipremiado gabinete de design de João Bicker. Aqueles livrinhos não têm ISBN, pois são distribuídos pelo autor à famí-lia e amigos como prendas de Natal. O editor João Manuel Ribeiro reparou, porém, que continham pérolas literárias que mereciam divulgação mais ampla. Os contos partem, em geral, de situações verídicas, que o autor viveu ou pelo menos observou: como o pa-radoxal título sugere, trata-se de momentos fugazes da longa realidade da vida. O tempo transiente acaba por ser sublimado por uma escrita que consegue ao mesmo tempo ser simples e depurada: simples nas descrições, expostas num português de lei, mas depura-da nas impressões que transmite e nas nos-talgias que suscita. Não falta um tom irónico, aqui e ali com pinceladas de humor.A bela capa de A Eterna Brevidade, também de Ana Boavida, inspira-se no conto “O chapéu das cortesias”, que relata a história, aparen-temente banal, de um chapéu de praia que levanta voo no areal de Porto Santo levado pelo vento. O chapéu, recortado em branco do fundo colorido, é a única peça móvel num ce-nário absolutamente tranquilo: a areia em bai-xo, o mar no meio e o céu em cima. A evasão do chapéu, evidentemente perseguido pelo autor que dele desfrutava, é o evento repenti-no que corta a pachorrenta eternidade. João Boavida, num estilo que reproduz vivamente a sua correria atrás do chapéu, transporta-nos para o ambiente estival. Eis como o autor des-creve como ele e um prestimoso veraneante tentaram, em movimentos cruzados, apanhar o fugitivo: “Corria ele em latitude, eu em longi-tude, as coordenadas pareciam estar a acer-tar-se. Ele ia deitar-lhe a mão, pensei, vai apa-nhá-lo, vai apanhá-lo, conseguiu, vi o guarda-

-sol fletir à guinada mas, quando eu cheguei, atirando-me de mãos à frente, para o ajudar, uma chicotada de vento soltou-lho enquanto mergulhava no pobre do homem como num colchão de praia dando uma cabeçada no desgraçado: Toc! Ai!, disse ele.”Noutro conto, do total de 22, “Correio senti-mental”, o autor regala-nos com uma história coimbrã dos velhos tempos. Perante a difi-culdade de comunicação entre o Seminário Maior de Coimbra e o vizinho Colégio da Rai-nha Santa Isabel, de meninas, é um padre que, sem se aperceber, é portador de mensagens amorosas entre um sítio e outro, escondidas no seu chapéu. Vejamos como Boavida des-creve o Seminário, que pode hoje ser visitado por turistas: “O Seminário Maior era um edi-fício imponente, no alto da colina, com o rio a toda a largura do olhar. De tal modo que a encosta, em frente, entrava toda pelas varan-das e a luminosidade, bebida no alto, erguia as almas até à transcendência, mesmo se os corpos, ao recuarem à contraluz das paredes mergulhassem nas sombras eternas.”Outro conto ainda passa-se na quinta de Po-voença (sítio fictício), no Douro, onde uma das “Meninas Tavares” (título do conto) sofre um percalço que lhe prejudica o traseiro, exigindo a intervenção de um médico, que ficará sem saber a qual delas ele assistiu. De resto, eram as três muito parecidas como conta João Boa-vida: “(…) eram as três bonitinhas, com os olhos largos e negros, a pele muito branca, como en-tão era uso, os cabelos escuros apanhados em cima, os lábios duma subtil sensualidade, de que nunca se aperceberam. Embora a tender para o arredondado, eram-nas nos sítios cer-tos, e como não fossem baixas nem altas e a cintura em todas fina, tinham uma elegância discreta mas suficiente.”

Quem é que assim escreve? O autor que agora cultiva as letras nasceu em Al-pedrinha, perto do Fundão (terra de D. Jorge da Costa que viveu 102 anos nos séculos XV e XVI, que foi bispo de Évora, arcebispo de Braga e de Lisboa, antes de se tornar um poderoso cardeal da Cúria romana). Licenciou-se em Filosofia em Coimbra em 1968 onde foi aluno de Sílvio Lima, fez depois um Curso de Ciências Pedagógicas também em Coimbra, fre-quentou um estágio de psicopedagogia

na Universidade de Lovaina na Bélgica e dou-torou-se em Ciências da Educação ainda em Coimbra (a tese, Filosofia – do ser e do ensinar, 1991, está publicada pelo Instituto Nacional de Investigação Científica), para mais tarde fazer a agregação, necessária para chegar à cátedra. Leccionou Métodos e Técnicas da Educação, Psicologia Pedagógica, Epistemologia das Ciências da Educação, Teoria e Filosofia da Educação e Formação Ética e Deontológica. Tem numerosos artigos publicados em revis-tas da especialidade, tanto nacionais como estrangeiras, sobre avaliação pedagógica, me-todologias de ensino, ética e filosofia da edu-cação. Foi director da Revista Portuguesa de Pedagogia, que editou um número em sua ho-menagem na altura em que ele se reformou. Com mais de 40 livros publicados na sua área, alguns deles na Imprensa da Universidade de Coimbra (nomeio Educação filosófica. Sete ensaios, 2010). Sempre assumiu posições de grande clarividência pedagógica, em particu-lar recusando entrar em modismos que têm prejudicado o nosso ensino. Assinou uma crónica regular (“A cultura é que dura”) no jor-nal As Beiras.Pois a João Boavida só desejamos que nos continue a presentear com a sua prosa. Sem-pre que vir um chapéu de praia a voar lem-brar-me-ei dele.

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23 | 28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS EMNOTÍCIA

Entregue prémio literário a Bruno Vieira AmaralBruno Vieira Amaral recebeu, na passada segunda-feira (26 de Julho), o Grande Pré-mio de Conto Camilo Castelo Branco pela obra «Uma ida ao Motel e outras histórias». O galardão literário, com um prémio pe-cuniário de 7.500 euros é organizado pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) em parceria com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. Nesta edição teve como júri os professores, investigadores e escritores Annabela Rita, António Carlos Cortez e Cândido Martins, que decidiram unanimemente o nome do vencedor.

«O Crime de Aldeia Velha» em Matosinhos«O Crime de Aldeia Velha», o texto de Bernar-do Santareno com encenação de Júlio Cardo-so, vai estar em cena no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery entre 26 e 29 de Agosto, às 21 horas. “Inspirado no crime de Soalhães, ocorrido em 1933, em que foi quei-mada uma jovem acusada de estar possuída pelo demónio, o texto de Bernardo Santare-no retrata um Portugal atávico e de forte re-pressão sexual, num moralismo, ele-mesmo, ultra-sexualizado”. Levado à cena pela Seiva Trupe, é co-produzido com a Câmara Munici-pal de Matosinhos. (Está a decorrer, até ao dia 8 de Agosto, a venda antecipada de bilhetes a preço reduzido. Informações: [email protected]).

Gaia substitui bebedouros do concelhoDepois de desactivar os bebedouros instala-dos em vários pontos do concelho, devido à pandemia, o município de Vila Nova de Gaia está a proceder à substituição dos mesmos, que permitem, agora, encher a garrafa, em vez de beber directamente. A informação foi avançada pela empresa municipal Águas de Gaia que acrescenta: “Para evitar contágios, com a chegada da pandemia, tivemos que encerrar os bebedouros que se encontram em vários pontos do concelho”. Notando o in-cómodo que essa situação gerou, a empresa está, então, a proceder à substituição dos an-tigos bebedouros por “outros que permitem encher a garrafa e transportá-la”. Numa publi-cação divulgada nas redes sociais, a empresa garante a segurança destes novos bebedou-ros, bem como da água fornecida. Os novos bebedouros dispõem ainda de uma torneira específica para os animais.

Cartas da 1.ª Guerra lidas pela Seiva TrupePerdido por entre as brumas do tempo, um soldado da Primeira Grande Guerra quer tudo fazer para que a carta que escreveu chegue a um familiar. Deambula pelas ruas do Porto contactando, um a um, o espectador impre-visto para lhe ler a carta e pedir que a leve. À noite, no Facebook da SeivaTrupe: TeatroVi-vo, o espaço virtual serve para o apelo a este espaço de contacto co-presencial. Na rua: por praças, cafés, transportes públicos, freguesia a freguesia da cidade em cada semana. No Fa-cebook semanalmente actualizado. A partir de cartas reais, com hipertexto de Castro Gue-des, concepção e direcção de Sandra Salomé; interpretação de Alexandre Sá e direcção de guarda-roupa de Filipa Carolina, «Procuras: Cartas de um soldado desconhecido vindo da 1.ª Grande Guerra» terá apresentação entre 12 de Setembro e 30 de Outubro.

TEP estreia «Invasão!»O Teatro Experimental do Porto (TEP) estreia, a 30 e 31 de Julho (sexta-feira e sá-bado), no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, «Invasão!», de Raquel S. O espectáculo, interpretado e co-criado por Joana Mont’ Alverne e Maria Inês Peixoto, reflecte sobre a violência colonial e o seu impacto na identidade portuguesa a partir de uma releitura daquele que é conside-rado o maior épico de Portugal, «Os Lusía-das», de Luís de Camões. “Este espectáculo viaja pel’ «Os Lusíadas» como as frotas via-javam pelo mar: maravilhamo-nos, rouba-mos, invadimos, reescrevemos, tomamos”, explica Raquel S. A peça assume-se como um trabalho de questionamento acerca do que significa a história e de que forma esta é fixada na literatura. «Os Lusíadas» serve, assim, de mote para uma análise da forma como se faz historiografia e de como se es-creve literatura, levando, em simultâneo, a uma reflexão sobre o valor da imagem de Camões e do trabalho artístico e literário. Resultado de uma co-produção com o Tea-tro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, a peça sobe ao palco às 19 horas.

Júlio Dinis homenageado na Feira Do Livro do PortoNo ano em que se assinalam os 150 anos da morte de Júlio Dinis, o escri-tor portuense será o homenageado da edição da Feira do Livro do Porto que regressa aos Jardins do Palácio de Cristal, entre 27 de Agosto e 12 de Setembro. Recorde-se que a feira do Livro do Porto é, desde 2014, orga-nizada pela Câmara Municipal do Porto, homenageando anualmente uma personalidade neste contexto e desenvolvendo uma programa-ção cultural e de animação diversa e abrangente. A Feira do Livro do Porto conta com 78 entidades par-ticipantes, distribuídas por 124 pavi-lhões, onde se juntará mais um que será para uso da autarquia. [https://feiradolivro.porto.pt/programa/].

«Desumanização» no Fórum da MaiaO Teatro Art’Imagem apresenta, amanhã (29 de Julho), no Grande Auditório do Fórum da Maia, a peça «Desumanização», uma versão cénica do romance «A Desumani-zação», do escritor português Valter Hugo Mãe, numa dramaturgia de Zé Pedro, com direcção e encenação de José Leitão, fundador e director da companhia. Para maiores de 14 anos, a peça tem início às 19 horas e insere-se no ciclo «Teatro A(S) Quin-ta(s)». A entrada é livre, mediante reserva prévia até à lotação da sala (222084014; 935309952; [email protected]).

30.º Festival Jazz na Praça da ErvaDe hoje (28 de Julho) até sábado (31), está a decorrer o 30.º Festival Jazz na Praça da Erva, cuja realização, este ano, volta a não ser ao ar livre, mas no Centro Cultural de Viana do Castelo. A programação foi alargada a quatro dias, com dois concertos por dia, para assinalar o 30.º aniver-sário do festival de jazz mais antigo do Norte de Portugal. Neste primei-ro dia do festival actuam O Gajo e Yamandu Costa; amanhã, sobem ao palco Pimenta Caseira e Yanagui; os Par Azar e João Cabrita tocam a 30 de Julho; e Augusto Baschera e João Bernardo e o Trio Beatriz Nu-nes/Paula Sousa/André Rosinha são os artistas que se apresentam no último dia do festival promovi-do pela Câmara Municipal de Viana do Castelo. Este é o segundo ano consecutivo que, devido à situação pandémica, o festival não se reali-za no local que lhe deu o nome. Os espectáculos têm início às 21 horas, mas – como alertou a autarquia – o agravamento da situação pandémi-ca poderá obrigar à adaptação do horário.

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28 julho 2021AS ARTES ENTRE AS LETRAS | 24EMNOTÍCIA

Melodias do ZecaNa sexta-feira 6 de Agosto, o Auditório Bo-cage, na Junta de Freguesia de São Sebas-tião, em Setúbal, será palco para o concerto de Renato Sousa «Melodias do Zeca». Com entrada gratuita, a participação está sujeita a reserva prévia de lugar (963460757). O es-pectáculo tem início às 21 horas.

Casa do Cinema de Coimbra apresenta clássicos do horrorEm Agosto, a Casa do Cinema de Coimbra propõe rever os clássicos do horror. As ses-sões são às quartas-feiras, às 21h30. «Faus-to»; «A noite dos mortos-vivos»; «A peque-na loja dos horrores»; «Carnaval das almas» são as propostas dos Caminhos do Cinema Português, em conjunto com o Centro de Estudos Cinematográficos e o Fila K Cine-clube. [www.caminhos.info/casa]

Dois novos livros de Maria José Martins de AzevedoDois novos livros de Maria José Martins de Azevedo terão lançamentos na Feira do Li-vro em Lisboa, que decorre de 26 de Agosto a 12 de Setembro. «As aventuras da Tininha na pandemia» é um conto para crianças e é publicado sob o seu nome literário, Maria José Vera. O outro livro é o segundo livro de psicanálise e de psicoterapia psicanalítica da autoria de Maria José Martins de Azeve-do, intitulado «Ressurreição – O lugar do fu-turo e a função esperançadora do objeto»; este tem prefácio de António Coimbra de Matos. A sessão terá lugar no dia 4 de Se-tembro (à hora de fecho desta edição ainda se desconhecia a hora e o local).

Tertúlias e exposições na Traga-MundosAmanhã (dia 29 de Julho) é quinta-feira de TL - Tertúlia de Leituras na livraria Tra-ga-Mundos. Esta é uma das actividades re-gulares (às últimas quintas-feiras de cada mês) da livraria de Vila Real. Com início às 21 horas, a sessão 42 será realizada online, em conjunto com a livraria Gatafunho. En-tre outras actividades, a Traga-Mundos par-ticipará, de 27 de Agosto a 12 de Setembro, na Feira do Livro do Porto 2021, nos jardins do Palácio de Cristal.

«Ovar Expande»Num ciclo de quatro concertos que reflectem a aposta na retoma da cultura musical multidis-ciplinar, criativa e acessível a todos os públicos, o programa «Ovar Expande» está a decorrer e tem amanhã (29 de Julho) novo episódio, com o espectáculo de Tainá, artista galardoada com o Prémio Lusofonia na edição de 2020 dos Play - Prémios da Música Portuguesa. A 12 de Agosto, é a vez dos artistas aveirenses Susie Filipe e Vi-tor Hugo, que dão nome a Siricaia. Sonoridades contemporâneas e electrónicas, pintura, litera-tura e vídeo fazem de «Família Fandango», pri-meiro álbum do duo, uma inovadora forma de retratar a vida de uma típica família portuguesa. André Henriques, compositor e cantor, lançou em 2020 o seu disco de estreia a solo, «Cajara-na». André Henriques (músico dos Linda Marti-ni) encerra esta edição do «Ovar Expende», no dia 26 de Agosto. Os concertos, sempre às quin-tas-feiras, têm lugar na Escola de Artes e Ofícios, em Ovar, às 22 horas.

6.ª edição do MexeA 6.ª edição do Mexe - Encontro Inter-nacional de Arte e Comunidade realiza--se no Porto, Viseu e Lisboa entre 18 de Setembro e 3 de Outubro. Espectáculos, conversas, oficinas, laboratórios de cria-ção, instalações e cinema compõem o ciclo de actividades onde as realidades sociais falam por si. São mais de 100 par-ticipantes, para além dos investigadores que integram o Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Co-munitárias, dos 32 grupos de 6 países que ocuparão 10 espaços de 3 cidades.

Nova data para apresentação de «Pintura mural»Foi alterada, para dia 4 de Agosto, a data de apresentação do livro «Pintura mural - a raia transmontana no século XVI» da autoria de Joaquim Inácio Caetano. Editado pela Direc-ção Regional de Cultura do Norte é o n.º 9 da colecção Património a Norte. A sessão terá início às 17 horas, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo e a obra será apresenta-da por Francisco José Lopes.

Feira de Artesanato de Guimarães até 2 de AgostoA XXIII Feira de Artesanato de Guimarães está a decorrer no Jardim da Alameda de São Dâmaso até 2 de Agosto, das 15 às 21 horas, com acesso gratuito até ao limite da lotação do espaço. São 28 os stands que este ano re-presentam a mostra de um grande conjunto de obras de artesãos de Guimarães e de vá-rias regiões do país. Convertido em bosque urbano em 2012 - Capital Europeia da Cultu-ra, o histórico Jardim da Alameda de São Dâ-maso situa-se no Centro Histórico de Guima-rães – Património Mundial da UNESCO desde 2001 – e oferece as condições ideais para a realização da Feira de Artesanato de Guima-rães, que dá assim vida a este espaço que, no início de Agosto, se torna também lugar para uma cidade que desde 1906 celebra as suas Festas Gualterianas nesta altura do ano.

BPB mais próxima dos cidadãosOs 180 anos da Biblioteca Pública de Braga (BPB) foram assinalados com o lançamento de um portal [www.bpb.uminho.pt] que permiti-rá o acesso a um conjunto alarga-do de serviços e a conteúdos em permanente actualização. “Com o novo portal pretendemos marcar uma relação cada vez mais pró-xima com os cidadãos”, explicou a diretora desta unidade cultural da Universidade do Minho, Maria João Amante. “Queremos interagir com a comunidade através de ac-tividades regulares e de novos ser-viços, de que são exemplo a con-versão do catálogo manual num único catálogo disponível online, que poderá ser pesquisado sem restrições geográficas e de horário. Somos uma biblioteca que conju-ga a sua vertente patrimonial com os desafios sociais e digitais do sé-culo XXI”, acrescentou.

Venha a Beja com vagarO Município de Beja lançou uma campa-nha de promoção e valorização turística do território, com o slogan «Venha a Beja com vagar». A campanha integra um conjun-to de iniciativas que têm como objectivo incentivar a visita ao concelho de Beja a partir da proposta de cinco roteiros «À vol-ta de Beja» que convidam a percorrer his-tórias que Beja tem para contar [visitebeja.pt]. Dos mais de dois mil e quinhentos anos de história da cidade, às paisagens deslum-brantes da grande planície alentejana, são muitos os tesouros que resistem ao tempo e que merecem ser descobertos.

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Saudades do Futuro

Eu sei que tudo vai passar e sei também que, a partir do momento em que o alerta foi lan-çado, começou a contagem decrescente para o dia de todos os reencontros – o dia em que, finalmente, vamos poder aproximar-nos, sem reservas, uns dos outros, mesmo daqueles em relação aos quais sempre tivemos reservas. Outras reservas.É a propósito destas outras reservas que dou comigo a pensar que sentido farão. Ninguém agrada a gregos e a troianos; os outros não têm que nos ter em boa conta, mesmo que não compreendamos porquê e achemos que é in-justo que não nos presem.Jean-Claude Carrière diz que “a justiça é uma invenção nossa, hesitante”. No conceito de justiça estão envolvidos o equilíbrio, a impar-cialidade, a razoabilidade, a equidade, por exemplo, o que logo pressupõe intervenção humana. É dos homens para os homens.Dois livros que reli há pouco, “Tertúlia de Mentirosos” e “Nova Tertúlia de Mentirosos”, de Jean-Claude Carrière, depois de cerca de dez anos de hibernação nas minhas estantes,

espelham bem de que modo o mundo se sus-tenta na diversidade/complementaridade e, em especial, na relatividade de tudo, ou quase tudo, o que nos diz respeito.Esta colheita de contos filosóficos do mundo in-teiro é saborosíssima. Ao visitar, de novo, estas histórias anónimas, reunidas ao longo de dé-cadas por J-CC, vejo nelas, mais do que nunca, aqueles de quem me tenho mantido afastada desde Dezembro de 2019, altura em que, pela úl-tima vez, saí da minha cidade. Não voltei, desde então, a viajar, o que me tem feito falta.Mas todas as barreiras se esbatem, se conse-guirmos abstrair-nos do aqui e agora. Melhor, até: se conseguirmos abstrair-nos das tais re-servas que, tantas vezes sem razão, assumi-mos uns em relação aos outros.Somos essencialmente desiguais. Há quem consiga atingir lugares extraordinários de abs-tracção e quem não consiga fazê-lo. Há quem passe horas à janela sem ver nada do que acon-tece lá fora e há quem, em dez minutos, fique a saber o que acontece do outro lado da rua.No primeiro caso, não se trata, com certeza,

de alguém que viva sobretudo virado para si mesmo, fazendo de si o centro do mundo; no segundo, o “eu” ocupa o lugar principal. Pode-rá parecer uma contradição, mas não o será… Senão, vejamos:Uma das mais belas histórias que me foi dado ouvir foi-me contada por um jovem jornalista belga, em Bruxelas. Ele não sabia a sua origem e situava-a “algures no Oriente”.Em certo país vivia um homem muito rico e um homem muito pobre. Tinham cada qual o seu filho.O homem muito rico levou o filho ao cimo de um monte, mostrou-lhe com um gesto a paisa-gem em redor e disse-lhe:- Olha, um dia tudo isto será teu.O homem muito pobre levou o filho ao cimo do mesmo monte, mostrou-lhe a paisagem em re-dor e disse-lhe, simplesmente:- Olha. (1)Não há riqueza maior do que, desprendida-mente, conseguir olhar o mundo. É coisa de sábios e de santos; rara, portanto, mas não impossível. Se, nos dois pratos da balança que a deusa Justiça segura, o certo e o errado, o

Isabel Pereira Leitebibliotecária

FOTO: DR

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que é moralmente correcto e incorrecto, o respeito e o desrespeito têm peso determi-nante no alcance de um almejado equilí-brio, não deixa de ser verdade que, apesar de tudo quanto objectivamente normaliza e rege a nossa conduta, para que se viva bem em sociedade, relativizar é imprescindível, para que a harmonia prevaleça.Não significa isto qua a “Terra dos Pontos de Vista” seja o melhor lugar para viver. Não. Apenas que convém não esquecer que cada um de nós é único e insubstituível como Ser Humano, independentemente do tempo, do lugar e da circunstância.Esta harmonia é impressionantemente difí-cil. Nunca o mundo viveu em paz!Uma nova história:Em certas cidades da América do Sul, as ruas são tão perigosas que se recomenda aos auto-mobilistas que não parem, de noite, nos sinais vermelhos, pois os malfeitores aproveitam-se muitas vezes dessa paragem para atacar os condutores.Um habitante de S. Paulo, Brasil, recebe um dos seus amigos italianos e leva-o consigo no carro. Explica-lhe a situação:- O meu cunhado é motorista de táxi, foi ele que me aconselhou. Não te inquietes. Eu faço como ele: assim que vejo um sinal vermelho, acelero.Com efeito, em plena noite, o brasileiro passa a toda a velocidade dois ou três sinais verme-lhos. O italiano vai colado ao assento do carro.De súbito, um sinal verde. O brasileiro estaca com grande chiadeira de travões.- Que se passa? – pergunta o italiano. – Porque paraste num sinal verde?- Porque pode estar a chegar o meu cunhado, do outro lado. (2)A este se contrapõe um outro pequeno relato:Uma história judia, de grande sensatez, conta que um homem pobre encontrou uma bolsa com quinhentos rublos, o que era então uma soma considerável. Sabendo que o homem mais rico da aldeia tinha perdido a bolsa e ofe-recia cinquenta rublos a quem a entregasse, foi levar-lhe a bolsa. O homem rico verificou o conteúdo da bolsa e pôs um ar severo para dizer ao pobre:- Vejo que já tiraste a tua recompensa, pois a minha bolsa continha quinhentos e cinquen-ta rublos e só aqui estão quinhentos. Portanto, não te devo nada.O homem pobre, muito zangado, levou o ho-mem rico à presença do rabino, a quem a his-tória foi contada.- Tenho a certeza – disse o rabino ao homem rico – de que está a dizer a verdade. Um ho-mem como o senhor seria incapaz de mentir.Já o homem rico começava a alegrar-se e o homem pobre a indignar-se, quando o ra-bino se virou para o pobre, lhe estendeu a bolsa dizendo:

- Tu, por tua vez, não és desonesto, porque se fosses desonesto, terias ficado com a bolsa toda para ti.Então, virando-se para o homem rico, con-cluiu:- Portanto, não foi a sua bolsa que ele encon-trou. Ele que fique com ela, à espera que o ver-dadeiro proprietário lha venha pedir. (3)Todos somos artistas aprendizes que fre-quentam ateliers nos quais, de vez em quan-do, encontram quem tenha aprendido do seu ofício o bastante para que a sua arte pos-sa ser apreciada por todo o sempre.Se alguns se destacam, não deixa de ser ver-dade que praticamente todos, durante esse tempo de aprendizagem, retêm em si muito do que aprenderam. Há quem diga que se pode, também, desaprender, mas quem sou eu para me atrever a fazer apreciações acer-ca disto? Acredito que chegados à terceira década do s. XXI como usufrutuários do tra-balho, tanto de artistas consagrados, como de aprendizes incipientes, permanecemos fundamentalmente ignorantes.Cada vez duvidamos menos e temos mais certezas, pelo que se torna imensamente difícil relativizar. Creio que também nisto reside a dificuldade de se ser justo, não só com os outros, como igualmente connosco mesmos.Neste momento, e voltando ao início deste texto, que me remete para um optimismo que gosto de cultivar e para uma esperança que não desisto de alimentar, sinto “sauda-des do futuro”. Mas, mais de seis décadas depois de ter nascido, tenho, sensatamente, que me render a quem, sendo sábio, contou, um dia, esta história:Um sábio muito eminente, que tinha vindo do Afeganistão a fugir da invasão mongol, foi recebido num círculo letrado de Damasco. Organizaram em sua honra uma recepção que reuniu poetas, matemáticos, tradutores, comentadores do Corão. Também lá estavam alguns judeus, até estavam cristãos.O presidente do Círculo proferiu um discurso em que louvou o trabalho perseverante e os conhecimentos ilimitados do grande homem. Chegou mesmo a dizer:- Temos hoje entre nós o homem mais sábio que o mundo conheceu desde Aristóteles.- Cá está – diz o homem falando para dentro da barba. – Já começam as restrições. (4)

NOTAOs quatro contos apresentados provêm da 1.ª edição

de “Nova Tertúlia de Mentirosos” (Teorema, 2009)

(1) Pais e filhos, p. 97.

(2) A lógica dos semáforos, p. 193.

(3) A bolsa certa, p. 234.

(4) Elogio de um sábio, p. 99.

Porto, Abril de 2021

“O Jogo da Morte”

Maria Afonsoartista plástica

Eu sou de opinião de que não vai ficar tudo bem.O Coronavírus joga um jogo com regras desconhecidas até agora.Talvez fiquemos mais fortes e mais conscientes do valor da VIDA, da amizade, da família, do TEMPO, do que é mais im-portante.O Monstro ora ataca com ver-tente Covid 19 - versão india-na, ora é versão da África do Sul, ora é versão dos EUA, ora é versão do Brasil, ora…, ora…É o jogo da morte.Penso muito e estou muito grata aos sábios, investigado-res, cientistas,… que se desdo-bram para fazer face ao mons-tro. As vacinas, já estão aí, por exemplo.Vírus maldito!E agora, como é que uma artis-ta plástica materializa o que sente e o que pensa?Assim, em formas de Dese-nho, como esta imagem.É real e pôde ser vista na 4.ª Bienal de Gaia.

Maria Afonso, «O Jogo da Morte», da série «Na Esteira do Medo». Técnica mista s/ papel fabriano 300gr. 74x77,5cm. 2021.

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