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Importância e domínios de avaliação psicológica: um estudo com alunos de Psicologia Ana Paula Porto Noronha Maiana Farias Oliveira Nunes Rodolfo Augusto Matteo Ambiel Universidade São Francisco, Itatiba-SP, Brasil Resumo: Essa pesquisa investigou a importância conferida e a percepção de domínio de estudantes de Psicologia quanto a competências de avaliação psicológica. Participaram do estudo 112 estudantes, predominantemente do sexo feminino e da região Centro-Oeste, de todos os períodos do curso. Foi utilizado um questionário baseado nas definições das competências essenciais apontadas pela American Psychological Association, em que constaram 20 itens que foram respondidos separadamente para o domínio e importância, abordando temas como o conhecimento de construtos psicológicos, saber usar e interpretar testes, entre outros. Os itens considerados menos importantes foram ter noções de estatística e ter conhecimento de ampla gama de testes. Algumas contradições foram observadas ao comparar a importância e o domínio, a exemplo das noções de estatística. A análise de diferenças de média revelou poucas diferenças ao observar os itens de importância entre os diferentes anos do curso, porém os de domínio, em sua maioria, apresentaram diferenças significativas. Palavras-chave: Formação profissional. Avaliação psicológica. Competências do avaliador. Importance and knowledge in psychological assessments: a study with Psychology students Abstract: This study analyzed the level of importance that psychology students give to their competence and knowledge in psychological assessments. One hundred and twelve students from the central-west region of the country, mainly women, from all periods of the course, participated in the study.The questionnaire used was based on the definition of essential competencies as indicated by the American Psychological Association, and was composed by 20 items answered separately for competence and importance. It addressed themes like knowledge about psychological constructs and how to use and interpret tests, among others. Items considered less important were “having statistical notions” and “knowing a wide range of tests”. Some contradictions were found when importance and knowledge were compared, as for example in the knowledge of statistical principles. The ANOVA statistical analysis revealed few differences related to importance items between students of different years of the course, but most knowledge items showed significant differences. Keywords: Professional formation. Psychological assessment. Competence of test evaluators. Importancia y dominios de la evaluación psicológica: un estudio con alumnos de Psicología Resumen: Este trabajo investigó la importancia dada y la percepción de dominio de estudiantes de Psicología en relación a competencias de la evaluación psicológica. Participaron del estudio 112 estudiantes, predominantemente del sexo femenino y de la región Centro-Oeste, de todos los periodos de la carrera. Fue utilizado un cuestionario con base en las definiciones de las competencias esenciales apuntadas por la American Psychological Association, que contenía 20 ítems que fueron respondidos de forma separada para el dominio y para la importancia, abordando temas como el conocimiento de constructor psicológicos, saber usar e interpretar testes, además de otros. Los ítems considerados menos importantes fueron, tener nociones de estadística y conocimiento de la amplia gama de testes. Algunas contradicciones fueron observadas al comparar la importancia y el dominio, a ejemplo de las nociones de estadística. El análisis de las diferencias de promedio mostró pocas diferencias al observar los ítems de importancia entre los diferentes años del curso, pero los de dominio, en su mayor parte, presentaron diferencias significativas. Palabras clave: Formación profesional. Evaluación psicológica. Competencias del evaluador. Disponível em www .scielo.br/p aideia . .

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Page 1: Noronha, A.P.P., Nunes, M.F.O. & Ambiel, R.A.M. 231 ... · Pasquali (2001), houve um crescimento da neces-sidade de se avaliar os domínios psicológicos de forma precisa, para que

231Noronha, A.P.P., Nunes, M.F.O. & Ambiel, R.A.M.(2007). Importância e domínios de avaliação psicológica

Importância e domínios de avaliação psicológica: um estudo com alunos de PsicologiaAna Paula Porto Noronha

Maiana Farias Oliveira Nunes

Rodolfo Augusto Matteo Ambiel

Universidade São Francisco, Itatiba-SP, Brasil

Resumo: Essa pesquisa investigou a importância conferida e a percepção de domínio de estudantesde Psicologia quanto a competências de avaliação psicológica. Participaram do estudo 112 estudantes,predominantemente do sexo feminino e da região Centro-Oeste, de todos os períodos do curso. Foiutilizado um questionário baseado nas definições das competências essenciais apontadas pela AmericanPsychological Association, em que constaram 20 itens que foram respondidos separadamente parao domínio e importância, abordando temas como o conhecimento de construtos psicológicos, saberusar e interpretar testes, entre outros. Os itens considerados menos importantes foram ter noções deestatística e ter conhecimento de ampla gama de testes. Algumas contradições foram observadas aocomparar a importância e o domínio, a exemplo das noções de estatística. A análise de diferenças demédia revelou poucas diferenças ao observar os itens de importância entre os diferentes anos docurso, porém os de domínio, em sua maioria, apresentaram diferenças significativas.

Palavras-chave: Formação profissional. Avaliação psicológica. Competências do avaliador.

Importance and knowledge in psychological assessments: a study with

Psychology students

Abstract: This study analyzed the level of importance that psychology students give to theircompetence and knowledge in psychological assessments. One hundred and twelve students fromthe central-west region of the country, mainly women, from all periods of the course, participated inthe study.The questionnaire used was based on the definition of essential competencies as indicatedby the American Psychological Association, and was composed by 20 items answered separatelyfor competence and importance. It addressed themes like knowledge about psychological constructsand how to use and interpret tests, among others. Items considered less important were “havingstatistical notions” and “knowing a wide range of tests”. Some contradictions were found whenimportance and knowledge were compared, as for example in the knowledge of statistical principles.The ANOVA statistical analysis revealed few differences related to importance items betweenstudents of different years of the course, but most knowledge items showed significant differences.

Keywords: Professional formation. Psychological assessment. Competence of test evaluators.

Importancia y dominios de la evaluación psicológica: un estudio con alumnos de Psicología

Resumen: Este trabajo investigó la importancia dada y la percepción de dominio de estudiantes dePsicología en relación a competencias de la evaluación psicológica. Participaron del estudio 112estudiantes, predominantemente del sexo femenino y de la región Centro-Oeste, de todos los periodosde la carrera. Fue utilizado un cuestionario con base en las definiciones de las competencias esencialesapuntadas por la American Psychological Association, que contenía 20 ítems que fueron respondidosde forma separada para el dominio y para la importancia, abordando temas como el conocimientode constructor psicológicos, saber usar e interpretar testes, además de otros. Los ítems consideradosmenos importantes fueron, tener nociones de estadística y conocimiento de la amplia gama detestes. Algunas contradicciones fueron observadas al comparar la importancia y el dominio, a ejemplode las nociones de estadística. El análisis de las diferencias de promedio mostró pocas diferencias alobservar los ítems de importancia entre los diferentes años del curso, pero los de dominio, en sumayor parte, presentaron diferencias significativas.

Palabras clave: Formación profesional. Evaluación psicológica. Competencias del evaluador.

Disponível em www.scielo.br/paideia .

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Introdução

Ao longo dos anos, tal como discutido porPasquali (2001), houve um crescimento da neces-sidade de se avaliar os domínios psicológicos de formaprecisa, para que decisões adequadas sejam tomadasem vários âmbitos profissionais. Assim, a tecnologianessa área tem evoluído no sentido do desenvol-vimento de instrumental mais sofisticado o que, porsua vez, reafirma o status da avaliação como umaatividade primordial ao psicólogo.

A avaliação psicológica difunde e representauma parte relevante da atuação profissional dospsicólogos, e nesse sentido, Noronha e Alchieri (2002)enfatizam que a regulamentação da psicologiaenquanto profissão (Lei no. 4119 de 1962), auxiliouna consolidação, dentre outras atividades profissionais,da avaliação psicológica por meio do uso deinstrumentos e técnicas privativas do psicólogo. Osautores ressaltam a necessidade de aprimorar aformação em psicologia no Brasil, especialmente noque tange à avaliação psicológica, uma vez queprofessores, acadêmicos, instituições e editores sebeneficiariam mutuamente. Por fim, abordam aimportância de acompanhar os avanços científicosna área dos demais países, por meio do intercâmbiodos conhecimentos.

Especialmente no que se refere aos instrumen-tos de avaliação, Anastasi e Urbina (2000) afirmamque os testes devem ser utilizados por pessoascapacitadas para manuseá-los, assim como autilização de seus resultados e interpretações deveser adequada e técnica. Além disso, o psicólogo deveter como critério de escolha dos testes, além dapertinência do construto avaliado para o processo, asqualidades psicométricas do instrumento, a saber, suavalidade e precisão, e os dados normativos.

Para Alchieri e Cruz (2003), o processo deavaliação psicológica depende da atitude orientadano sentido da compreensão do que está sendo avaliadoe da habilidade do avaliador para detectar a demanda,escolher e utilizar adequadamente os instrumentosapropriados para a situação. Em acréscimo, os autoressugerem que é necessário que o conhecimentoproduzido a partir de experiências práticas seja postoà disposição da comunidade profissional, como formade ampliar e aperfeiçoar a interpretação sobre arealidade investigada.

No particular da formação profissional, paraAlchieri e Bandeira (2002), por muito tempo o ensinoem avaliação psicológica era concebido como aabordagem de conhecimentos acerca do uso deinstrumentos objetivos e projetivos. Aproximada-mente até o final da década de 90, muito do que eraensinado em disciplinas de avaliação psicológicareferia-se à aplicação e correção de testes específicossendo que, de uma forma geral, não era estimuladauma reflexão sobre as condições de uso ou limitaçõesdos testes ensinados. Os autores destacam asreuniões promovidas pelo Conselho Regional do RioGrande do Sul na década de 80, nas quais as queixasmais freqüentes dos professores de Psicologiarecaíam sobre a ausência de investimento deinstituições em pesquisas, a ameaça constante de usode testes por outros profissionais, a baixa qualificaçãodos professores, entre outros. Um dos aspectosdestacados refere-se à integração entre a aprendiza-gem dos testes e a prática supervisionada contínua,valorizando assim a articulação entre as disciplinas eo desenvolvimento de habilidades. Adicionalmente,ressaltam a importância de instituições como aAssociação Brasileira de Ensino em Psicologia(ABEP), a Associação Brasileira de AvaliaçãoPsicológica (IBAP), os Conselhos Regionais dePsicologia (CRP) que, além de promover ointercâmbio científico, buscam constantementeparcerias e colaborações entre professores epesquisadores da área.

As asserções de Alchieri, Noronha e Primi(2003) sugerem que o ensino de instrumentos deavaliação psicológica está restrito ao âmbito daformação, mais especialmente da graduação, nãohavendo no país uma cultura de aprimoramentocontínuo e, por conseguinte, de acesso a novos dadosde pesquisas. Embora a avaliação seja uma práticaexclusiva do psicólogo, muitos profissionaisdesconhecem requisitos básicos que deveriam fazerparte das decisões acerca das escolhas dosinstrumentos a serem usados, tais como a utilizaçãodos escores dos instrumentos e seus parâmetros dequalidade psicométrica.

Um levantamento da opinião de 40 psicólogosdo Distrito Federal sobre os testes, sua aplicabilidade,validade e confiabilidade foi realizado por Azevedo,Almeida, Pasquali e Veiga (1996). Também foram

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investigadas questões pertinentes à preparação dospsicólogos. Os profissionais, que atuavam em diversasáreas, atribuíram o uso de instrumentos a razões comopreferência pessoal, exigência da empresa emprega-dora ou por considerá-los uma ferramenta adicionalimportante para o desenvolvimento das funções.Quanto à formação, a maioria considerou suasdisciplinas de graduação no âmbito dos testes entreexcelente e razoável, sendo que apenas uma pequenaparte disse que sua formação foi ruim ou péssima.Ainda nesse sentido, a freqüência a cursos deespecialização na área foi mencionada como aestratégia ideal para aprimoramento, embora a maioriatenha relatado que a ocasião que mais lhesproporcionou aprendizagens foi a prática profissional.Quanto aos quesitos psicométricos, os entrevistadosmostraram algumas confusões a respeito dasaplicações práticas dos conceitos de precisão evalidade. Esses dados reforçam a discussão do rigore seriedade que deveriam existir nos processos deavaliação, uma vez que as decisões tomadas a partirdeles influenciam a vida de pessoas e, por isso, devembasear-se em fundamentos sólidos e escolhasapropriadas.

A formação dos docentes de avaliaçãopsicológica foi tema do estudo de Noronha (2003).Participaram da pesquisa 75 docentes de Psicologiaque fizeram a graduação principalmente na PUC-SP(49%) e na USP (18,8%). Os demais participantesformaram-se em outras Universidades do país eapenas um participante teve formação no exterior.Entre os resultados, destacou-se que 75,9% dosparticipantes prepararam-se em universidadesprivadas e 24,1%, em estatais, sendo que a maioria(72%) concluiu a graduação na década de 70.Observou-se uma predominância da especialização(38,7%) e do mestrado (35,3%) na capacitaçãoprofissional dos participantes. Aqueles que lecionavamdisciplinas de avaliação psicológica (26,7%)ministravam disciplinas como TEP (Técnicas deExame Psicológico), TEAP (Técnicas de Exame eAconselhamento Psicológico) e Métodos deExploração e Diagnóstico em Psicologia Clínica,prioritariamente. Ressalta-se que apenas 36% dosdocentes trabalhavam com pesquisa. Entre asconsiderações finais, a autora explora que acompetência docente apropriada deveria ser capaz

de prover aulas consistentes e uma formação sólidapara os alunos. Essas observações vão ao encontroda tentativa de levar os resultados gerados porpesquisas para a comunidade profissional, conso-lidando e implementando tal atuação.

Em outro estudo, foram analisadas 39 ementasde disciplinas relacionadas à avaliação psicológica, apartir de dados disponibilizados por 14 instituições deensino, de oito Estados brasileiros (Noronha e cols.,2005). Observou-se uma falta de consenso no quetange à nomenclatura das disciplinas, o que pôde serverificado por uma grande quantidade de nomesdiferentes. Adicionalmente, observou-se umapredominância de conteúdos referentes a técnicasprojetivas e aos testes em geral, principalmente osde personalidade e de inteligência. Além disso, apesquisa revelou que as disciplinas denominadas TEPI, TEP II e TEAP são as que têm em seu currículo asmaiores quantidades de conteúdos.

Nessa mesma direção, Alves, Alchieri eMarques (2002), em uma pesquisa com 172professores de disciplinas de técnicas de examepsicológico, provenientes de 13 Estados do Brasil,destacam que em média são ensinados 14,46 testespor curso de Psicologia. Adicionalmente, encontrou-se uma semelhança entre os testes mais ensinados eaqueles indicados como necessários pelos partici-pantes. Os autores salientam que a constanteatualização das grades curriculares deve proporcionara maximização do potencial dos futuros profissionaisde Psicologia e a multiplicação de uma educação maisefetiva e eficiente.

Com vistas a investigar o reflexo das atividadespráticas realizadas na disciplina de TEP, Lima (1999)pesquisou 150 alunos de graduação em Psicologia.Seu estudo concluiu que as atividades práticas, quandoalicerçadas numa fundamentação teórica previamenteapresentada, podem ser uma boa opção para aqualidade cada vez maior no processo ensino-aprendizagem de TEP. O autor assinala que asatividades práticas dessas disciplinas sobrecarregamo aluno de Psicologia e não desempenham plenamenteseu papel de simulação de uma situação real. Issosugere que a forma como as atividades práticas vêmsendo trabalhadas, sem a fundamentação teóricanecessária, não permite atingir os objetivos esperadospara os alunos. Para o autor, a formação deficitária

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do psicólogo, principalmente na área de avaliaçãopsicológica, tem dado origem a muitos questiona-mentos sobre a eficácia e confiabilidade das técnicasde exame psicológico utilizados.

Outro aspecto que pode ser ressaltado quantoà formação deficitária do psicólogo na área deavaliação psicológica são os fundamentos estatísticosnecessários para a compreensão de determinadosaspectos psicométricos. Uma pesquisa que tratouespecificamente dos conceitos de estatística foi a deSilva, Britto, Carzola e Vendramini (2002), realizadacom 330 estudantes provenientes de distintos cursos,num nível introdutório das disciplinas de estatística ematemática. Os autores visaram investigar suasatitudes com relação a estas disciplinas. A amostrafoi composta por 80,2% do gênero feminino e 44,5%da área de humanas. Os alunos apresentaramatitudes negativas tanto em relação à estatística,quanto à matemática. De posse desses resultados,as autoras sugerem que a disciplina de estatísticautilize exemplos específicos, a realização de pesquisase trabalhos conjuntos com professores de outrasdisciplinas, abordando temas de interesse dos alunos,de modo a gerar uma atitude mais favorável eprovavelmente, como conseqüência, um maiorentendimento dos conceitos estatísticos. Deve-selembrar que os conceitos estatísticos encontram-sena formação do psicólogo como uma das bases paracompreensão dos conceitos de medida em psicologia,sem os quais tal formação pode se tornar deficitária.

Além dos aspectos ressaltados com relação àformação do psicólogo, a prática profissional tambémdeve ser observada, especialmente no que se refereaos requisitos mínimos e orientações sobre umaatuação apropriada. O Código de Ética da AmericanPsychological Association (APA), de acordo comAnastasi e Urbina (2000), preconiza que os psicólogosdevem oferecer serviços e usar técnicas nas quaistenham domínio, visando além de resultados maisconfiáveis, uma proteção aos testandos quanto a usosinadequados. Adicionalmente, as autoras citam outrascompetências necessárias que os avaliadores devempossuir, quais sejam, escolha de instrumentosespecíficos para as situações, sensibilidade àscondições que podem prejudicar o desempenho dotestando na aplicação, conhecer suficientemente a

ciência do comportamento para fazer análisesfundamentadas.

As habilidades anteriormente destacadasforam também discutidas por Simões (1999). O autorsugere que os estudantes de avaliação psicológicadevem possuir domínio das principais técnicas,métodos e instrumentos de avaliação, incluindo oconhecimento dos manuais, condições de aplicaçãoe correção de dados de natureza psicométrica. Porfim, sugere que deve haver um pensamento críticopor parte dos alunos, uma vez que o processo deavaliação inclui competências como descrever,analisar, comparar, inferir, formular hipóteses, traduzire comunicar os resultados de forma apropriada,considerando que não há respostas absolutas nocampo da avaliação. Já os relatórios e a comunicaçãode resultados foram lembrados por Guzzo e Pasquali(2001), que concordaram que a formação deficitáriados psicólogos nesse âmbito gera ações profissionaisinsatisfatórias.

Em síntese, a American PsychologicalAssociation (2000) publicou um relatório comdiretrizes sobre os conhecimentos e habilidadesnecessários ao profissional que realiza avaliaçãopsicológica, realçando facetas específicas eexplorando as aplicações em contextos determinados,tais como o educacional, do trabalho, de aconse-lhamento de carreira, na área da saúde e na jurídica.Entre os aspectos abordados, destaca-se, de maneiraresumida que, independente do contexto em que setrabalha, o psicólogo deve ter como função centralfazer interpretações válidas dos escores dos testes,coletadas por meio de fontes variadas, utilizando umaadequada seleção de instrumentos, de procedimentosde aplicação e correção. Desse modo, é conferidauma grande importância à capacidade do profissionalde integrar as informações, conhecer o construtoavaliado, estar a par da literatura atualizada da área,tanto teórica como de pesquisa, além de ter sempreclareza dos objetivos da testagem e do respectivopúblico alvo.

Tendo em vista o exposto, o presente estudoteve como objetivo a investigação da importânciaconferida e do domínio de estudantes de psicologiaem relação a atividades de avaliação psicológica.

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Método

Participantes

Fizeram parte da pesquisa 112 estudantes decursos de Psicologia, sendo 21 do sexo masculino e91 do feminino, residentes nos Estados da Bahia, Piauí,Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, MatoGrosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Tocantins eParaná. Quanto às regiões de residência, 0,9% eramdo Norte, 5,4% do Nordeste, 67,9% do Centro-Oeste,11,6% do Sudeste e 10,7% do Sul. Essa informaçãonão foi fornecida em 3,5% dos casos. No que dizrespeito ao ano de graduação que cursavam quandoda coleta de dados, havia 29,5% estudantes doprimeiro ano, 31,3% do segundo, 20,5% do terceiro,9,8% do quarto e 5,4% do quinto ano, sendo que 3,6%dos participantes não informaram o ano que estavamcursando. Quanto às universidades em que faziamos cursos, 67,9% eram oriundos de uma universidadedo Mato Grosso do Sul e os demais, de variadasfaculdades no Brasil.

Material

Para a pesquisa elaborou-se um questionáriocom duas partes, sendo que a primeira continha dadosde identificação dos participantes, como sexo, idade,Estado de residência, universidade, semestre e se jáhavia cursado disciplinas de avaliação psicológica.Na segunda, os participantes eram solicitados aanalisar 20 aspectos relacionados à avaliaçãopsicológica, informando: 1) a importância da atividadeespecificada no item e 2) o seu domínio para realizaraquela atividade. Ambas as questões deveriam serrespondidas em uma escala likert de 1 a 3, que variouentre “nada” a “muito importante” e de “nenhum” a“muito domínio”. Esse questionário foi elaborado combase nas especificações do Test User Qualifications

(APA, 2000) e contém aspectos que foramconsiderados pelos autores como relevantes para arealidade brasileira de ensino de Avaliação Psicológica.

Procedimento

A sistemática de aplicação deu-se de duasformas distintas. Um primeiro grupo de participantesfoi abordado no Congresso Nacional de Psicologiano ano de 2006, e o outro, constitui-se de alunos de

uma Universidade do Mato Grosso, sendo que nestecaso, a aplicação foi coletiva em sala de aula,diferentemente do primeiro, no qual a aplicação foiindividual. Todos os participantes assinaram o Termode Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Com relação às disciplinas de avaliaçãopsicológica cursadas pelos estudantes, 35,7% afirmouque já havia cursado alguma disciplina, 37,5% aindanão havia cursado e 26,8% estava cursandodisciplinas de avaliação psicológica, no momento daaplicação do questionário. Aqueles que já haviamcursado ou que estavam cursando matérias deavaliação citaram no mínimo uma e no máximo seistítulos. Foram encontrados 19 títulos distintos, tendosido listados no total uma freqüência de 111disciplinas. Os mesmos foram TEP I, II e III;Avaliação Psicológica Aplicada;, Testes e AvaliaçãoPsicológica I, II, III, IV e V; Psicometria, Avaliaçãoe Aconselhamento Psicológico; Introdução àAvaliação Psicológica; Técnicas Projetivas; Testes;Neuropsicologia; TAT; Testes de ReabilitaçãoNeuropsicológica; Tópicos Especiais em Neuropsi-cologia e Métodos de Avaliação Psicológica comPessoas com Necessidades Especiais.

Como pode ser observado, há uma diversidadenos títulos das disciplinas, sendo que alguns deles nãooferecem muitos dados sobre o que tratam, como é ocaso de “Testes” e “Tópicos Especiais em Neuropsi-cologia”. Quanto à questão da pluralidade denomenclaturas, embora não seja o objeto deinvestigação do presente estudo, faz-se necessáriodestacar que outros trabalhos já evidenciaramresultados semelhantes, tais como o de Noronha ecols. (2005).

No que se refere à análise descritiva dos itensdo instrumento, quanto à importância atribuída pelosestudantes aos aspectos referidos, a Tabela 1apresenta as médias de todos os alunos (Geral: n=112)e subdivididos por “Outras faculdades” (n= 36) e pelaUniversidade do “Mato Grosso-MT” (n= 76). Ositens são apresentados em ordem decrescente emfunção da média geral.

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No que diz respeito à importância atribuída àsquestões analisadas, os itens com maior média geralforam relacionados aos princípios éticos, à comuni-cação dos resultados, conhecimento de psicopatologiae uso e interpretação de testes. Por outro lado,aqueles com média geral mais baixa foram as noçõesde estatística e o conhecimento de uma ampla gamade testes. Pode-se observar uma preocupação comas implicações ou conseqüências de uma avaliaçãopsicológica mal conduzida quanto aos aspectos éticose às questões de como apresentar e redigir asinformações para a entrega para os clientes. O itemreferente à psicopatologia talvez se insira como umanecessidade de realizar uma triagem de avaliaçõesque tratam de sujeitos dentro de parâmetros maisadaptados e aqueles que necessitam de acompanha-mento multidisciplinar, como é o caso de pacientescom doenças psiquiátricas. Por outro lado, as médiasmais baixas no quesito importância alocaram-se nositens de conhecimento de ampla gama de testes edas noções de estatística.

A Tabela 2 apresenta as médias para o domíniopercebido dos estudantes considerando o grupocompleto e subdividido por instituições de ensino.

Quanto ao domínio, os alunos apresentarammédias mais elevadas nos princípios éticos, na leiturade manuais na íntegra, nas condições adequadas detestagem e na utilização das tabelas dos manuais.No que diz respeito aos aspectos com domínio maisbaixo, o conhecimento de ampla gama de testes, apsicopatologia, a elaboração de pareceres, noçõessobre construção de instrumentos e o conhecimentodos construtos destacaram-se.

A comparação entre as médias para o nível deimportância e domínio apresenta alguns dadosrelevantes. Quanto à importância, médias maiselevadas foram observadas no cômputo geral (entre2,22 e 2,96), enquanto as médias de domínio forammais baixas que o valor mínimo atribuído àimportância, tendo variado entre 1,40 e 2,03. Domesmo modo, o desvio-padrão da importânciaapresenta uma menor variação, entre 0,25 e 0,67,demonstrando que os alunos não desprezaram demaneira mais definitiva nenhum dos tópicos listados.Quanto à variação dos desvios-padrão para domínio,observaram-se maiores diferenças, sendo de 0,59 a0,82, ou seja, quanto ao domínio de competênciasreferentes à avaliação, os alunos avaliaram-se demaneira mais heterogênea. Vale considerar que,

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mesmo os alunos dos últimos anos do curso, quesupostamente já possuem mais experiência práticapor meio de estágios, não elevaram marcadamentea média do grupo quanto ao domínio.

Com relação às médias dos itens de importâ-

ncia analisados separadamente por série, pode-seobservar na Tabela 3 que os alunos de 5º ano foramos que atribuíram maiores níveis para a maioria dositens, sendo que 50% deles recebeu a pontuaçãomáxima (3). Em contrapartida, as médias do 1º anonão apresentaram nenhum item com tal pontuação,e os anos intermediários apresentaram entre um edois itens com média igual a 3.

Ainda com relação aos anos cursados,percebe-se que os itens considerados mais impor-

tantes de forma geral foram os que versavam sobreprincípios éticos, uso, interpretação e comunicação dosresultados de testes. No que toca aos consideradosmenos importantes, destacam-se os que se referemao uso de ampla gama de testes e às noções deestatística. Se observada a análise feita a partir dadivisão entre os que estão cursando, os que jácursaram e os que não cursaram disciplinas deavaliação, relatada na Tabela 4, percebe-se umaconsonância com as médias por ano, com exceção

do item “usar e interpretar testes”, que não apareceentre os considerados mais importantes.

Com relação ao domínio, as médias forammenores do que as atribuídas à importância quan-do analisados separadamente por série e por já tercursado a disciplina, respectivamente, sendo que ne-nhum item obteve a média máxima (Tabelas 5 e 6).Verifica-se que as médias tendem a crescer com opassar dos anos, porém tendo uma queda no último,e também a ser maiores entre aqueles que já cursa-ram e menores entre os que não cursaram discipli-nas de avaliação.

Dentre os itens considerados como os que osestudantes têm maior domínio, tanto na análise porano quanto entre os que já tiveram contato com oconteúdo e os que não, nota-se um destaque para osprincípios éticos, seguidos, nas médias por ano, peloconhecimento de condições adequadas de testageme uso e interpretação dos testes. As menores médiasnas duas análises, assim como já havia ocorrido coma avaliação da importância, recaíram sobre o item“ampla gama de testes”.

Tomando-se como referência o ano que osestudantes cursavam, procedeu-se à análise dediferenças de médias quanto à importância atribuídaaos 20 aspectos avaliados. Os resultados revelaram

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apenas cinco diferenças significativas, a saber, “oconhecimento do construto psicológico” em questão[F(4, 102)= 8,170, p= 0,000], “os conceitos depsicometria” [F(4, 100)= 3,467, p=0,011], “a leiturados manuais na íntegra” (F(4, 101)= 3,703, p= 0,007),“as noções de estatística” [F(4, 102)= 4,550, p= 0,002]e “saber utilizar e interpretar os testes” [F(4, 101)=3,991, p= 0,005].

A mesma análise foi realizada para verificaras diferenças de médias entre os estudantes que jáhaviam cursado, que estavam em curso e que nãohaviam cursado disciplinas de avaliação, quanto àimportância atribuída aos itens. Observou-sediferenças significativas quanto aos “princípios éticos”[F(2, 109)= 3,166, p= 0,046], ao “conhecimento dosconstrutos psicológicos” [F(2, 108)= 4,689, p= 0,011]e às “noções de estatística” [F(2, 108)= 4,932,p= 0,009].

Realizou-se uma análise da diferença demédias entre séries para o domínio dos aspectos

listados, na qual foram observadas diferençassignificativas para 19 dos 20 aspectos avaliados(Tabela 7).

Apenas o item “Ter noções de estatística”não apresentou diferenças significativas entre gru-pos, diferentemente do que havia ocorrido com oque os estudantes atribuíram nos quesitos de im-

portância deste item, tanto nas divisões por anode graduação como na divisão entre aqueles que jáhaviam cursado disciplinas de avaliação, conformeexposto anteriormente.

Procedeu-se a uma análise das diferenças en-tre médias dos aspectos listados para aqueles que jácursaram, estão cursando ou não cursaram discipli-nas de avaliação para a confiança sobre seu domí-

nio da atividade em questão (Tabela 8). Do mesmomodo que na análise anterior, encontraram-se dife-renças significativas de médias para quase todos ositens, exceto para “Ter noções de estatística”.

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Discussão

A formação em avaliação psicológica tem sidoalvo de diversas pesquisas (Alchieri & Bandeira, 2002;Alchieri e cols., 2003; Azevedo e cols., 1996; Noronha& Alchieri, 2002) que abordam a problemática doponto de vista das características que identificam oprofissional da área, do que se ensina em disciplinasde avaliação, da necessidade de formação continuada,entre outros. Esse estudo pretendeu avaliar, sob aótica de estudantes, o grau de importância decompetências profissionais e o domínio que possuemde tais competências, a fim de fomentar a reflexãosobre a formação em avaliação psicológica.

Uma primeira observação revelada, emboranão se relacione diretamente ao objetivo principaldesse estudo, refere-se à diversidade de nomen-claturas das disciplinas que compõem a área deavaliação psicológica nos currículos brasileiros.Conforme observado por Noronha e cols. (2005), essadiversidade de títulos pode indicar uma falta deconsenso sobre o que é essencial para o ensino dessasdisciplinas (Alves e cols., 2002; Noronha, 2003;Noronha e cols., 2005).

Quanto à pequena importância atribuída àsnoções de estatística, isso parece reforçar asconsiderações de Silva e cols. (2002) quanto àsatitudes negativas frente à estatística. Por outro lado,essa situação se altera ao analisar o domínio, na qualos alunos apresentam uma média geral de 1,84,confrontando a baixa importância conferida pelosmesmos.

No que diz respeito à baixa importância e baixodomínio conferidos ao conhecimento de testesvariados, deve-se refletir sobre a importância defomentar nos alunos o reconhecimento da relevânciade conhecer as características de diferentes testespara escolher o mais adequado para a situação epopulação-alvo. Sem esse pressuposto, a escolha doteste pelo psicólogo não ocorre em função da suaadequação, mas sim em função da gama restrita detestes que o mesmo conhece ou pelo gosto pessoal,como destacaram Azevedo e cols. (1996). Essaseqüência, por sua vez, gera um abalo nos preceitoséticos fundamentais de prestar serviços de qualidadeelevada para a população.

Observa-se uma coerência quanto a algunsitens considerados muito importantes e com altodomínio, especificamente os aspectos éticos, que, nasduas situações de pergunta, foram considerados demaior importância e maior domínio. Uma reflexãorelevante nesse sentido tange ao entendimento dequais questões profissionais podem demandar umapostura ética numa visão mais global do processo.Para essa amostra, talvez essa questão incorpore umaótica mais restrita, ou seja, atuar de forma ética nãodeveria se limitar apenas a utilizar instrumentosaprovados pelo Conselho Federal de Psicologia, porexemplo. Nesse específico, retomando a questão doconhecimento de ampla gama de testes, talvez osalunos não percebam que a limitação nesse sentidopode gerar falta ética, conforme as consideraçõesprovidas pelo Código de Ética da APA, que nosdirigem a um julgamento mais amplo sobre aexpectativa da atuação profissional do psicólogo.

Quanto ao baixo domínio das questõesreferentes à psicometria, construção de instrumentoe sobre os construtos psicológicos, parece haver umacoerência com os achados de Azevedo e cols. (1996),que enfatizam as confusões de psicólogos com relaçãoà psicometria. Assim, esse conjunto de elementos podeser considerado essencial para que o psicólogoconheça e avalie um teste para os fins que pretendeutilizar, além da necessidade de conhecer o construtopara poder elaborar interpretações a partir daquelasinformações.

Ao comparar os resultados entre as duasformas de coleta (Universidade do Mato Grossoversus outras faculdades) não se observamdiferenças grandes em termos de importância, porémresultado distinto se verifica quanto ao domínio. Assim,seria útil verificar quais características específicasda Universidade do Mato Grosso pode ter influenciadonessas diferenças de média de domínio e assim,avançar em uma tentativa de descrever de umaforma mais ampla o perfil de domínio de alunos dePsicologia das diversas partes do país, o que poderiaser desenvolvido em estudos futuros.

Dentre a importância atribuída pelos estudantesde psicologia às competências profissionais, o item“princípios éticos” mereceu avaliações altas em todosos anos da formação, independente se o aluno já havia

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cursado disciplinas de avaliação. Porém, ao confrontaressa informação com a mesma questão sobre odomínio, observa-se que mesmo no último ano docurso ou com os estudantes que já cursaram ou estãocursando as disciplinas, a média não foi tão elevada,indicando uma lacuna entre o que os estudantespreconizam como relevante para a sua atuação e oque é colocado em prática.

Quanto às “noções de estatística” analisadaentre os diferentes anos do curso, os achadosencontram-se em consonância com o estudo de Silvae cols. (2002), no sentido da atitude negativa.Ressalta-se ainda o fato deste item ter obtido menormédia no 3o e 5o anos do curso, além do fato dosestudantes que já cursaram ou que estão cursandotambém indicarem esse item como um dos menosimportantes. Curiosamente, os estudantes do 1o anoindicam maior domínio dessa competência (média=1,82) que os do último ano (média=1,67). Na análisedas diferenças de média, esse item novamenterecebeu destaque quanto ao domínio, sendo o únicoitem no qual não se encontrou diferença significativa,seja verificando-se entre os anos da graduação ouentre os alunos que já haviam cursado as disciplinasreferidas. As análises reforçaram a idéia de que osestudantes de Psicologia não possuem uma atitudefavorável com relação à estatística, o que se configuracomo desafio para os professores das disciplinas deavaliação, uma vez que os fundamentos de psicome-tria estão imbricados às noções de estatística, quandose pretende uma compreensão apropriada.

No que respeita o domínio, os alunos seavaliaram com grau médio em todos os itens ao longodos anos do curso. Dentre eles, o “conhecimentodos construtos psicológicos” foi o menos contem-plado, ao lado da “construção de instrumentos” edas “noções de psicopatologia”. Nessas questõespode-se observar, analisando-se cada ano separa-damente, que as médias mais altas foram crescentesao longo do tempo. No entanto, alguns itensconsiderados essenciais como a experiênciasupervisionada (APA, 2000; Azevedo e cols., 1996;Lima, 1999; Simões, 1999), mesmo no último anodo curso obteve uma média de 2,33, sugerindo umanecessidade de investimento.

A análise de diferença de média permiteverificar que alguns itens apresentam diferençassignificativas a depender do ano cursado no que dizrespeito à importância conferida às competências,porém ao observar as médias para esses quesitosao longo dos anos não se observa um crescimentoprogressivo em todos os casos. Adicionalmente, épossível constatar que o 3o ano apresenta um padrãoatípico de respostas (médias mais baixas que os anosanteriores). Isso pode ser uma característica daamostra em questão ou, caso as disciplinas deavaliação sejam oferecidas nesse ano, os estudantespodem realizar uma revisão dos aspectos queconsideram mais importantes em se tratando doprocesso de avaliação psicológica ao iniciar osestudos na área.

Pesquisas dessa natureza visam contribuir paraque a troca de informações com a comunidadeprofissional ocorra com base em resultados atuais eespecíficos, além de possibilitar a utilidade paradocentes da área no tocante ao planejamento ereformulação dessas disciplinas. As pesquisas futuraspodem abordar a percepção dos estudantes sobre ascompetências em avaliação psicológica com amostrasmaiores de diferentes Estados brasileiros, além dapossibilidade de adotar uma abordagem maisqualitativa, explorando o que os estudantes compre-endem por cada questão empregada, ou seja, queconceitos estão relacionados a cada item exploradona presente pesquisa. Por fim, os autores dessetrabalho refletem sobre a importância de se fazer umaavaliação de desempenho desses alunos, com vistasa verificar não somente a percepção que eles têmsobre seu domínio, mas quais são os aspectos querealmente apresentam os níveis satisfatórios deexcelência para a atuação profissional.

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Artigo recebido em 09/02/2007.

Aceito para publicação em 23/08/2007.

Endereço para correspondência:

Ana Paula Porto Noronha. Rua AlexandreRodrigues Barbosa, 45, Centro, CEP: 13251-900. Itatiba–SP, Brasil. E-mail: [email protected].

Ana Paula Porto Noronha é Doutora emPsicologia: Ciência e Profissão pela PontifíciaUniversidade Católica de Campinas. Docente doPrograma de Pós-gradução Stricto Sensu emPsicologia da Universidade São Francisco. Bolsistade Produtividade em Pesquisa do CNPq.

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Maiana Farias Oliveira Nunes é Psicóloga,doutoranda pelo Programa de Pós-gradução Stricto

Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.Bolsista CAPES.

Rodolfo Augusto Matteo Ambiel é graduandoem Psicologia pela Universidade São Francisco.Bolsista de Iniciação Cientíca PIBIC/CNPq.