no brasil na dÉcada de 80. oi»scrtaç3o de mestrado ... · fábrica de elementos combustíveis....
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4IMPASSES OA ENERGIA NUCLEOELéTRICA
NO BRASIL NA DÉCADA DE 80".
Oi»scrtaç3o de Mestrado apresentadaao Programa de Mestrado emSociologia Política, da UFSC, paraobtençfto do Grau de Mestre emSociologia.
Maria Dorothea Post Darci la
Florianópol s, novembro de 1989.
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"IMPASSES DA ENERGIA NUCLEOELETRICA
NO BRASIL IMA DÉCADA DE OO •" .
Maria Dorothea Poet Dareila
Esta dissertação foi julgada e aprovadaem sua forma final pelo Orientador eMembros da Banca Exaeinadora, compostapelos Professores i
Prof. Dr. Eduardo José Viola - Orientador
Prof. Dr. Ary r nineiIa
Prof. Dr. Christian Buy Caubet
Florianópolis, 14 de dezembro de 1989.
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"Kcine Mau* kaeme auf die Idee Hau»efallenzu bauen. r1en»chen bauen Atomwaffan". (undAtomkraftwerke).
"Nanhum rato ttria a idéia de construirratoeira», Pessoa» constróem bomba»atômica»", (e reatorc» atômico»).
(de um muro da Alemanha Ocidentei)
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E*te trabalho é dedicado ao movimentoantinuelear no Bratil e no mundo, pelatenacidade na luta e pela perspectiva de umfuturo, de um Planeta melhor.
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AGRADECIMENTOS
Ao olhar para trás tinto que nesse» vinte e dois últimosmeses a caminhada só foi possível devido i compreensão ecolaboraçio de muitas pessoas, seja em Florianópolis,Brasília, Rio de Janeiro e Angra dos Reis.
Mencionar todas seria impossível, mas gostaria de citaralgumas, dirigindo meus agradecimentos
à Profa. II se Scherer-Narren e ao Prof. Ary César Minei Ia,componentes da banca do projeto de dissertaçio, pelasoportunas e válidas anotações em relaçio ao mesmo, emagosto/BB;. i Prof. Maria Ignêz PauliIo, pelas importantes observaçõesquando da apresentação de parte da pesquisa aos alunos doMestrado, em agosto/89i
a todos os entrevistados, que me cederam tempo eensinamentos valiosos». ao Diretor do Museu de Antropologia da Universidade Federalde Santa Catarina, Prof. Luiz Carlos Halfpap, pelacompreensão e apoio ininterrupto;
aos funcionários do Museu de Antropologia, meus colegas detrabalho, pelo crédito depositado na pesquisa e peloconstante estímulo e confiança;
à Heloísa Tartarotti, assessora do Senado Federal, pelointeresse demonstrado e material a mim encaminhado;
a meus amigos, irmãos e cunhados que, próximos ou nadistância, náo pouparam palavras e atos de apoio, me fazendosempre de novo acreditar que valia a pena o caminhar;
a Gerardus Post, meu pai, pelo material trazido da Europa.A Elisabeth Geriinger minha mSe, pela cuidadosa correçio etambém pela vibraçlo. A ambos devo o início da caminhada, hámuitos anos atrás;
è Marianne Kutassy da Silva, pela carinhosa e fundamentalacolhida em Niterói no mès de maio/89, de onde eu levantavav6o para as entrevistas e pesquisas nas cidades do Rio deJaneiro c Angra dos Reis;
a Thomas Post e Vera Lúcia da Silva, pelo competentetrabalho que pode ser observado na apresentação final dadissertação;
ao Prof. Eduardo Viola, por ter aceito a orientaçio destetrabalho t por ter trilhado junto comigo nesta tarefa que lheexigiu tempo e dedicaçio;
è Ivandina Darei Ia, pelo respeito a minha opçfo e pelaforça ininterrupta a mim dirigida;
a Roía dos Passos, sem a qual este trabalho nfo seriapossível .
A Wilson, Clarissa e Joio Augusto reservo meu especialagradecimento, pelo que encerra a convivência com umapesquisadora e sua tarefa de pesquisar. Houve aqui um casoexemplar de incentivo, actitsçlo, compreensão, apoio, torcidae paciência.
i v
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SUHiBI 0
LISTA DE QUADROS. FIGURA E MAPA viii
LISTA DAS PRINCIPAIS SIGLAS E ABREVIATURAS i>
RESUMO * * i
INTRODUÇiO 001
CAPÍTULO I - "ENERGIA NUCLEAR ? NIO, OBRIGADO".
1. O Universo - A Terra - O Hone» 008
2. Ciência 014
3. Tecnologia 082
4. Crescimento x desenvolvimento 038
5. Energia 0335.1. Crise de energia elétrica ? 0455.2. Conservaçio de energia elétrica 0526. Energia Nuclear 0576.1. A opçio energética 065
Notas e referências bibliográficas 076
CAPÍTULO II - ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA E ASITUAÇIO DOS REATORES NUCLEARES NO MUNDO.
1. Da radioatividade natural á artificial.
Do reator è bomba 088
S. Mas. o que é um reator nuclear ? 099
3. Reatores no mundo. 105
Notas e referências bibliográfica» ,t, , 188
CAPÍTULO III - ALGUNS ELEMENTOS DA HISTÓRIA DA ENERGIANUCLEOELÉTRICA NO BRASIL ANTERIOR ADÉCADA DE 80.
1. Breve histórico da energia nucleoelétrica no Brasil(1850-1974) 140
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2. De 1975 a 1979 - O deslanchamento do Programa NuclearBrasilei ro.
2.1. 1975 1542.1.1. Alemanha 1562.1.2. O Acordo Brasil - Alemanha 1582.2. 1976 e 1977. 1692.3. 197B e 1979 173
Notas e referências bibliográficas 176
CAPITULO IV - IMPASSES DA ENERGIA NUCLEOELÉTRICA NO
BRASIL NA DÉCADA DE 80 181
1. 1980 - A Nuclebrés continua forte 183
2. 1981 - Os atrasos nas usinas Angra 1, 2 e 3
persistem 187
3. 1982 - Entra em cena o FM» 192
4. 1983 - A força da Nuclebrés sofre erosSo.Crescem as manifestaçftes que questionam
"o nuclear" 194
5. 1984 - Cuidado : Angra 1 a 100% de potência 198
6. 1985 - 0 início da atuação da "Nova República*
no nuclear 200
7. 1986 - A manutenção do Programa Nuclear Brasileiro. .. 205
8. 1987 - 0 declínio acentuado da Nuclebrás 213
9. 19B8 - Ano da criaçio do Conselho Superior dePolítica Nuclear e da primeira perícia
civil em Angra 1 220
10. 19B8 - E o plano de emergência para a populaçio ? ... 237
11. Usinas do ciclo do combustível nuclear 24611.1. NUCLEP 24711.2. Complexo Hínero - Industrial do Planalto de
Poços de Caldas . 25011.3. Complexo Industrial de Resende 25111.3.1. Usina de Conversfo 25111.3.2. Usina de Enriquecimento Isotópico (NUCLEI). ..... 25211.3.3. Fábrica de Elementos Combustíveis. 25311.4. Usina de Reprocessamento. ., 25412. Nuclebras x CNEN + Personagens * mandos e
desmandos no setor nucIeoelétr•co do Brasil 254
v i
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13. Depósitos de rejeitos radioativos 262
14. Plano d* emergência. 268
15. Pesquisas de opinito pública e plebiscito nuclear. .. 275
16. As perspectivas para Angra na década de 90 281
Notas e referências bibliográficas 291
ALGUMAS CONCLUSÕES E REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃODE ENERGIAS RENOVÁVEIS 296
APÊNDICE
Introdução a Cronologia 306
Cronologia 1974 - 1989 309
Quadro I 400
Quadro II , 401
Quadro III 402
Quadro IV 403
Quadro V 404
Quadro VI 405
Quadro VII 406
Quadro VIM 407
Quadro IX 408
Ouadro X. 409
Mapa No. 1 410
BIBLIOGRAFIA 411
v t t
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LISTUE QUADROS. FIGURA E MAPA
Constantes no texto :
Quadro No.1
Quadro No.2
Quadro No.3
Ouadro No.4
Quadro No.5
Quadro No. 6
Quadro No.7
Figura No. 1
Constantes no
Quadro I
Ouadro I I
Quadro I 11
Ouadro IV
Quadro V
Ouadro VI
Quadro VII
Ouadro VIII
Ouadro IX
Ouadro X
Mapa No, 1
- Evolução do consumo elétrico dos setoresindustrial e residencial - 1980/85 (Gwh).
- Energia elétrica e PIB - 1980/85.
- Reatores no mundo (1980-1988).
- Estimativa do uso de nucleoeletricidadeno mundo de 1987 a 3005 C%).
- Angra 2 - Cronograma para entrada em-funcionamento.
- Angra 3 - Cronograma para entrada emfuncionamento.
- População das cidades de Angra dos Reis,Itaguaí, Mangaratiba, Parati, Resende eRio Claro em 1970, 1980 e 1989.
- Diagrama funcional de central nuclearcom reator a água pressurtzada (PWR).
Apêndice :
- Reatores nucleares no mundo - (1980).
- Reatores nucleares no mundo - (01.01.81).
- Reatores nucleares no mundo - (1983).
* Reatores nucleares no mundo - (1983).
- Reatores nucleares no mundo - (1985).
- Reatores nucleares no mundo - (1985).
- Reatores nucleares no mundo - (1986).
- Reatores nucleares no mundo - (1987).
- Reatores nucleares no mundo - (1988).
- Síntese da apreciaçlo dos quesitosrespondidos na visita ao reator Angra 1•m ie.ii.ee.
- Usina nuclear de Angra * Localização.
V I I I
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LISTA DAS PRINCIPAIS StCLâS E ABREVIATURAS
ABOIB - Associação Brasileira para o Desenvolvimento dasIndustrias de Base
ALERJ - Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
AIE - Área Interdisei piinar de Energia da COPPE/UFRJ
AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica
CNO - Construtora Norberto Odebrecht
CNEA - Comistio Nacional de Energia Atômica (Argentina)
CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear
COPPE/UFRJ - Coordenação dos Programas de Pós-Graduaçio emEngenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
CNAAA - Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CBTN - Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear
C5N - Conselho de Segurança Nacional
CNPq - Conselho Nacional de Pesquisas (atualmente i ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
CSPN - Conselho Superior de Política Nuclear
CB - Correto Braziliense
DOU - Diário Oficial ó» Uniio
DC * Diário Catarinense
EA IA - Estudo de Avaliação do Impacto Ambiental
ES6 - Escola Superior de Guerra
ESP - 0 Estado de Slo Paulo
FEC - Fábrica de Elemento» Combustíveis
FEEMA - Fundação Estadual de Engenharia c Meio Ambiente daSecretaria de Estado do Meio Ambiente do RJ
FSP - Folha de Slo Paulo
i %
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FMI - Fundo Monetário Internacional
GH * 6azeta Mercantil
GW - Gigawatt (1.000 UM)
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opiniio Pública e EstatísticaLtda.
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPEN - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (USP)
INB - Indústrias Nucleares do Brasil S.Jt.
IRD - Instituto de Radioproteçio e Dosimetria
ISS - Imposto Sobre Serviços
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
IAEA - International Atomic Energy Agency (AIEA)
IOEAG - Initiative Oesterreichischer Atomkraftwerksgegner
JT - Jornal da Tarde
JB - Jornal do Brasil
JM - Jornal Maré
J8f - Jornal de Brasília
JC - Jornal do Comércio
kW - quilowatt (1.000 watts)
kWh - quilowatt/hora
KWU - Kraftwcrk Union (Alemanha)
MME - Ministério das Minas e Energia
MVT - Jornal Movimento
MINTER - Ministério do Interior
MRE - Ministério das Relações Exttriores
MW ou MWe - megawatt (1.000 kW)
NUCLEP - Nuclebré» Equipamentos Ptsados S, A.
x
-
OG - O Globo
OE - 0 Estado
OIEA - Organ »%iro Internacional de Energia Atômica (AIEA)
PNEN - Programa Nacional de Energia Nuclear
PNB - Programa Nuclear Brasileiro
PNP * Programa Nuclear Paralelo
PIB - Produto Interno Bruto
RFA - República Federal da Alemanha
RIMA - Relatório de Impacto do Meio Ambiente
RS - Revi sta Senhor
SEST - Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais
SADEN - Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional
SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
5BF - Sociedade Brasileira de Física
SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente
5APE - Sociedade Angrense de Proteção Ecológica
TMI - Three Mile Island
TNP - Tratado de Nio-Proliferaç&o
TI - Tribuna da Imprensa
TFR - Tribunal Federal de Recursos
TW - Terwatt (1.000 CW)
URENCO - Uranium Enrichment Consortium
W - watt (unidade de medida de potência no SistemaIntenac íonal )
Wh - watt/hora (unidade de medida de energia)
x i
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RESUMO
A geração de energia elétrica a partir de usinasnucleares é desnecessária no Brasil. A opção tecnológica,procedente de países industrializados, situados no hemisférionorte, concretizada a partir do início da década de 70,significou uma decisão poIítico-ideoIógica, de caráterautoritário e estratégico, e não técnico-científica ou mesmoética. Teve início com a compra de Angra 1 e foiintensificada em 1975, com a assinatura do Acordo NuclearBrasiI-Alemanha, encerrando dupla dependência í a dosreatores nucleares e a do combustível. Para o governofederal, interessado na transferência e domínio datecnologia, era secundária a produção de energia elétrica,ainda que essa fosse a justificativa dada ao país, já que suaoferta era superior a demanda. Para além disso, a históriados reatores nucleares de potência no mundo parte da&pesquisas para rrmamento nuclear, a partir de 1948. De 1956em diante, ano em que o primeiro reator comercial entrou emfuncionamento, houve um aumento considerável da quantidade dereatores em operação no mundo, sendo que a média de 1980 a19BB é de 21 a 22 reatores/ano. Concern;tantemente pode serpercebida a diminuição do número de reatores em construção, auma média de 16 reatores/ano no mesmo período. Cm 1979, noBrasil, entra em cena o Programa Nuclear Paralelo, nãosujeito a inspeções internacionais e sob o controle exclusivodas Forças Armadas e da Comissão Nacional de Energia Nuclear,cujo fortalecimento durante toda a década de 80 é notório.Por sua vez, o Programa Nuclear Brasileiro perde, na décadade 80, a vitalidade que podia ser observada na décadaanterior, incorrendo em erros técnicos acentuados eapresentando um quadro de extrema gravidade principalmente noque diz respeito ao plano de emergência para a população deAngra dos Reis e cidades circunvizinhas, e aos rejeit tradioativos, que continuam sem destino definitivo e semsolução. Concluí-se que não é possível prosseguir com umapolítica energética que subsidia energia elétrica - a maisbarata do mundo - preponderantemente ao setor industrial, ainiciativa privada nacional e transnational. Nesse quadro nãopode e não deve haver lugar para a energia termonuclear,onerosa aos cofres públicos, perigosa a população, ao meioambiente, ao Planeta como um todo. Entra aí a premência daconservação de energia elétrica, sua melhor utilização, oaumento da eficiência e a negação do desperdício. Anecessidade de questionar e modificar o estilo de vida econsequentemente o consumo, de seguir por rumos que enveredempelas energias renováveis, efetivadas desccntralizadamentepor sociedades desenvolvidas e democráticas.
x i t
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ABSTRACT
The production of electrical energy by nuclear reactorsis unnecessary in Brazil. This technological option, whichwas concrete by the beginning of the 1970's, had its originsin the industrialized countries of the northern hemisphere.It signified a political ideological decision of anauthoritarian and strategic nature, and not a technical-scientific or ethical one. It began with the purchase ofAngra 1 and was intensified in 1975, with the signing of theBrazilian-German Nuclar Agreement, establishing a doubledependency: that of the nuclear reactors and that ofcombustion. The federal governnent was interested in thetransference and connand of technology, the production ofelectrical energy being secondary. Even though it «as usedas a justification for the country, the offer of electricalenergy was already greater than the denand. Besides this,the history of the powerful nuclear reactors in the worldcones fro» those of research on nuclear armament beginningin 1942. After 1956, the year in which the first commercialreactor began to function, there was a considerable increasein the number of reactors in operation in the world. Between1980 and 1986 the average increase was between 21 and 22 peryear. Concomitantly, a reduction in the number of reactorsin construction could be perceived, an average of 16reactors per year for the sane period. In 1979, the ParallelNuclear Program entered the scene. It was not subject tointernational inspections and was under exclusive control ofthe Armed Forces and the National Commission of NuclearEnergy, whose growing strength during the entire decade ofthe 1980 s is notorious. At the sane time, the BrazilianNuclear Program lost in the 1980's the vitality that couldbe observe, for the previous decade. It incurred accentuatedtechnical errors and presented an extremely serioussituation principally with regards to the emergency plan forthe population of Angra dos Reis and neighboring cities andfor the disposal of radioactive residues, which continuewithout a solution or definitive place. It is concluded thatit is not possible to proceed with a energy policy thatsubsidizes electrical energy - the least expensive in theworld - preponderantly to the industrial sector, for theprivate national and transnational initiative. In thissituation there is no room for thermonuclear energy, onerousto the public coffers and dangirous to the population, tothe natural environment and to the entire Planet. Attentionshould be given to the priorty of conservation of electricalenergy, its best utilization, an increase of its efficiencyand a negation of its waste. He must question and modify ourlife style and consequently consumption, following in thedirection of renewable energies, effectively descentralizedby developed and democratic societies.
xiii
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INTRODUÇIO
Hé certamente temas mais agradáveis de serem pesquisados
do oue a energia nucleoelétrlea no Brasil. Seria até salutar
e conveniente que o tema fosse inexistente no país, porque
ele se caracteriza num problema, nas creio seja tarefa das
ciências sociais realizar também essas pesquisas, concatenar
idéias e informacOes, devolver à sociedade trabalhos e
resultados que de uma forma ou de outra tenham utilidade,
contribuir para a soluçlo do problema. Trata-se de um tema
atuai, que está correlacionado diretamente com poder e
dinheiro, nas que também pode influir para a reavaliação do
estilo de vida e de civilização.
Através do livro "Energia e classes sociais no Brasil"
de Antonio Carlos Bôa Nova me aproximei do tema ENERGIA e a
possibilidade de trabalhar esse assunto vasto, denso, que
requer urgentes transformações neste país, como categoria de
a n á M s e sociológica. A seguir, a leitura de "Estado nuclear
no Brasil", escrito por Carlos Augusto Glrottl, me levou è
decislo em torno do tema de pesquisa : ENERGIA N U C L E A R .
A princípio decidi enveredar na política nuclear
brasileira como um todo, abarcando num dos capítulos a
energia termonuclear, hoje vejo que o tempo nlo me permitiria
a empreitada, mas o acertado alerta partiu do orientador.
Tencionei entlo fazer uma crítica è política energética
brasileira e à utllfzaçto da energia nuclear, que eu
considerava totalmente desnecessária, isso se deu em meados
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002
de 19B7. Hoje, fins de 1989, a crítica se •ctrrou.
Quatro capítulos compõe • dissertação, sendo o primeiro
una reflexão sobre o significado da utilizado da energia
nuclear no planeta, sobre a atual "civilização" e política
energética, é nele que procuro elaborar a crítica da opçlo
tecnológica para geraçlo de eletricidade no Brasil, diante do
potencial hídrico disponível, da possibilidade de usufruto de
outras energias renováveis, da necessidade de conservaçlo e
Melhor utllizaç8o da energia elétrica no país.
O segundo capítulo tenta relatar resumidamente o início
da era da radioatividade artificiai e oferecer uma vislo da
situado da nuci eoeletr id dade no mundo. Os quadros relativos
às usinas nucleares de potência nos diferentes países slo
encontrados no Apêndice e procuram oferecer dados em parte
analisados no texto.
O capítulo terceiro, relatando um brtyt histórico da
energia nucieoelétrica no Brasil, quer ter o sentido de uma
introdudo/preparado ao quarto capítulo. A década de 70
principalmente vai oferecer dados importantes para a
compreensão dos fatos desta década. Entra aí o Acordo Nuclear
Brasii-Aiemanna, assinado em 1975, que tem repercussões
durante toda a década de 80.
O capftuto quarto centra-se no relato e interpretação
dos fatos ocorridos nesta década, qut transformados em
constantes problemas e Ininterruptos impasses, expOe a um
patamar oem precedentes a incompetência da nucleocracia
brasileira.
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003
A P Ó S as conciusOes e algumas reflexões sobre as energias
renovável», que slo exatamente as que se contrapOe ès nlo-
renováveis, dentre elas a nuclear, apresento um Apêndice,
formado, além dos quadros Já citados, pela Cronologia 1S74--
1989. E B sua introdução faço esclarecimentos quanto è
obtençio de dados, que igualmente slo válidos para o trabalho
todo. Gostaria de sugerir, quando da leitura dos capítulos
ill e IV, o acompanhamento concomitante dos dados contidos na
Cronologia, que complementa informações do texto.
A pesquisa teve Infciú em Brasília, onde residi de
fevereiro a novembro de 1988. Cm contato com as bibliotecas
da câmara dos Deputados, Senado Federai, HUE, une, com uma
das assessoras do Senado Federal - Heloísa Tartarotti - , com
a secretaria das CPI's do Senado Federal, o PRODASEN
(Processamento de Oados do Senado Federai), pude coletar
documentos, dados, bibliografia, material da Imprensa
escrita, necessários è elaborado da dlssertaçSo. é de se
ressaltar que todo o material coletado e trabalhado é de
acesso público. Nlo procurei me enfronnar em documentos
•igiiosos, que nlo estlo disponíveis ou melhor, que ainda nlo
o estlo. isso exigiria uma outra pesquisa.
Findas as leituras - a grande maioria delas - , fui ao
Rio de Janeiro e Angra dos Reis em maio/89, para a pesquisa
fle campo. No Rio de Janeiro entrevistei Tanla Melheiro» -
Jornalista da FSP, Anselmo S a n e s Páschoa - professor da PUC,
doutor em Física Nuclear, Carlos Mine - deputado estadual
peit coiigaçlo P T / P V , Ricardo Arnt - jornalista do Jfl, Lutz
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004
pinguei 11 Rosa - diretor e professor da COPPE/UFRJ» doutor em
Física Nuclear. Procurei a biblioteca de Furnas centrals
Elétricas e o Centro de Informações da GNEN.
Em Angra dos Reis realizei pesquisa nos arquivos do
jornal Maré e entrevistei uma de suas diretoras, a jornalista
Dailzftnia Lima Melo. Tive oportunidade, com autorlzaçlo da
Assessoria de Comunicado Social de Furnas / RJ, de visitar a
CNAAA. onde conheci o Edifício da Administrado, do
Turbogerador, a sala de controle de Angra 1, o Centro de
informações, as vilas residenciais de Praia Brava e
Mambucaba, o Centro de Treinamento, o Laboratório de
Radioecologia e o simulador de Angra 2. Na C N A A A pude
entrevistar Rubens Pinto Pinheiro, do Centro de Treinamento e
Alofsio Mendes dos Santos Filho, químico nuclear do
Laboratório de Radioecologia.
Fundada em 1502, Angra dos Reis é quase tio antiga
quanto a Inclusão destas terras aos domínios de Portugal.
Passou a ser cidade em 1834. Ali vivem os Guaranl-Nhandeva,
único agrupamento indígena do Estado do Rio de Janeiro,
Instalados no sertlo do Bracuí. A M se situa, na Ilha Grande,
o instituto Penal Cindido Mendes, considerado presídio de
segurança máxima.
Quando da pesquisa nos arquivos do Jornal Maré,
constatei que a cidade nlo foge aos problemas existentes no
país hoje : pesca predatória, degradaçlo ambiental, água
contaminada, enchentes, constantes deslizamentos de terra na
única via de acesso, crescente poluiçlo das praias e égua do
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005
Mtr, violência contra a mulher, falta de é9ua, saneamento
básico e escolas, etc. Por outro lado, neste me saio município
carente estlo instaladas usinas nucleares de altíssimos
custos, com os quais o país sequer tem condiçBes de arcar.
Essas instalações até o momento apresentaram pouquíssimos
resultados concretos. verifica-se, pois. um contundente
contraste entre os dois quadros apresentados.
Em algumas edíçDes do Jornal Maré podem ser lidas
propagandas da Nuclebrás e de Furnas e matérias que informam
sobre o repasse de verbas de ambas ao município, o que nao
deixa de ser, no segundo caso, um reconhecimento de que
apesar do vultuoso capital investido na CNAAA, n9o houve uma
influência proporcional sobre a economia de Angra dos Reis.
Ao contrário, houve degradação.
Em Florianópolis realizei entrevistas com Carlos Alberto
Brezolln - Diretor do Departamento de Planejamento da CELESC
e com Paulo Roberto Cavalcanti Souza - Diretor do
Departamento de Planejamento da ElETROSUL.
Optei por realizar entrevistas qualitativas, sendo que
as realizadas no Rio de Janeiro e em Florianópolis tiveram
roteiros preparados anteriormente. Para as de Angra dos Reis
isso nSo foi possível, uma vez que surgiram quando da própria
estada.
Trechos das entrevistas estlo presentes nos capítulos i,
•i e iv, selecionados de acordo com o desenrolar do texto.
O estudo dos "impasses da energia nucleoelétrlea no
Brasil na década de 80" se desenvolve até 31 de outubro de
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006
1989. sendo que nlo é a n a l i s a d o o P r o g r a m a Nuclear P a r a l e l o
(ainda que a s e p a r a d o da energia nuclear pacífica e o PNP
nem sempre possa ser e f e t i v a d a , h a v e n d o , por c o n s e g u i n t e ,
alguma a b o r d a g e m a r e s p e i t o ) , o a r m a m e n t o n u c l e a r , o a d o e n t e
de G o i â n i a , a u t i l i z a ç ã o da t e c n o l o g i a nuclear na m e d i c i n a ,
indústria, a g r i c u l t u r a (ou ainda em o u t r o s s e t o r e s ) , a f u s l o
a f r i o .
Todo t r a b a l h o , assim como todo p e s q u i s a d o r p r e c i s a m ser
c o n t e x t u a l i z a d o s : estfto inseridos num d e t e r m i n a d o t e m p o ,
espaço, c u l t u r a , classe s o c i a l . Essa c o n t e x t u a l t 2 a ç ã o
oeii: ~s o trabaino, o a n d o - i n e um viés p a r t i c u l a r , s i n g u l a r .
Para f i n a l i z a r , pode parecer c o n t r a d i t ó r i a a u t i l i z a ç ã o
do computador para a a p r e s e n t a ç ã o ftnai da dissertaçfto, m a s
certamente ele nlo consumiu m a i s energia elétrica q u a n t o
utilizaria uma m á q u i n a de e s c r e v e r . Além d i s s o , fazer uso
dessa t e c n o l o g i a p r o p o r c i o n o u e c o n o m i a de energia interior,
Ja que tive a p o s s i b i l i d a d e de realizar correções até o
último m o m e n t o .
-
"Não existe poder nuclearc i v i l " .
Paul V i r i I i o
-
C A P I T U L O I
" E N E R G I A NUCLEAR ? N l O . O B B I 6 A D Q " .
" T i v e m o s que abandonar a t r a n q ü i l a q u i e t u d e de já ter
d e c i f r a d o o m u n d o " .
IIya Pr tgogi ne
1. 0 U N I V E R S O - A TERRA - 0 H O M E M .
O c a m i n h o t r i l h a d o para a c o m p r e e n s ã o e o c o n h e c i m e n t o
sobre o u n i v e r s o desde A r i s t ó t e l e s , p a s s a n d o por P t o l o m e u ,
C o p é r n i c o , G a l i l e u , K e p l e r , N e w t o n , Kant e E i n s t e i n (para
citar a p e n a s a l g u n s ) , desde a G r é c i a até e s t e final de
s é c u l o , foi á r d u o , longo e p r o f í c u o em c o n j e c t u r a s e
af i r m a ç ò e s .
As d e s c o b e r t a s sfto c o n s t a n t e s e t e m - s e h o j e a c e r t e z a de
que o c o n h e c i m e n t o a c u m u l a d o sobre o u n i v e r s o é m u i t o m a i o r
do que em q u a l q u e r outra é p o c a , e m b o r a as t e o r i a s a i n d a
p e r s i s t a m s e n d o p a r c i a i s e p o v o a d a s de i n c e r t e z a s .
0 d e s e j o de saber cada vez m a i s s o b r e o u n i v e r s o tem se
d e p a r a d o com o s limites da p e s q u i s a c i e n t í f i c a , no c a s o , c o m
a falta de p o s s i b i l i d a d e de c o m p r o v a ç l o e m p í r i c a , a l é m de se
p e r p e t u a r e m q u e s t õ e s que p o d e r i a m ser c o n s i d e r a d a s s i m p l e s ,
caso nao se t r a t a s s e m do u n i v e r s o , tais como s t e r á h a v i d o um
começo no c o s m o s , no e s p a ç o e no tempo? H a v e r á um fim?
S u p õ e - s e que o universo tinha t a m a n h o z e r o e t e m p e r a t u r a
-
0 0 9
i n f i n i t e m e n t e q u e n t e q u a n d o da g r a n d e e x p l o s & o ( t e o r i a do Big
B a n g ) . A p r o x i m a d a m e n t e 1 0 0 s e g u n d o s a p ó s a g r a n d e e x p l o s ã o , a
t e m p e r a t u r a t e r i a c a í d o p a r a 1 b i l h ã o de g r a u s .
H o u v e a l g o a n t e s do Big B a n g , q u e não se p o d e
d e t e r m i n a r . E ' a c e i t á v e l , p o i s , q u e o t e m p o t e n h a c o m e ç a d o
n e s t e p r i m e i r o i n s t a n t e , a p a r t i r d o qual h o u v e c o n s t a n t e
e x p a n s ã o e d i m i n u i ç ã o da t e m p e r a t u r a .
Em 1 9 2 9 , E d w i n H u b b l e f o r m u l o u o que v i r i a a s i g n i f i c a r
uma d a s g r a n d e s r e v o l u ç õ e s i n t e l e c t u a i s : a a s s e r t i v a de que
o u n i v e r s o p e r m a n e c e e m e x p a n s ã o . Tal d e s c o b e r t a h a v i a sido
p r e v i s t a e m 1 9 2 2 por A l e x a n d e r F r i e d m a n n .
A d i s t â n c i a , p o i s , e n t r e as g a l á x i a s a u m e n t a
c o n s t a n t e m e n t e . 0 i n f i n i t o é, a s s i m , c a d a vez m a i s i n f i n i t o .
E m e s m o que o u n i v e r s o t e n h a um fim, tal não se d a r á
antes de 1 0 0 b i l h õ e s de a n o s , uma vez q u e e l e já vem se
e x p a n d i n d o há p e l o m e n o s e s t e m e s m o t e m p o .
C á l c u l o s d ã o c o n t a da e x i s t ê n c i a de c e n t e n a s de m i l h a r e s
de m i l h õ e s de g a l á x i a s , que p o d e m ser v i s t a s a t r a v é s de
m o d e r n o s t e l e s c ó p i o s , a i n d a que o t a m a n h o do u n i v e r s o
o b s e r v á v e l s e j a de um s e t i l h ã o de q u i l ô m e t r o s . Não se s a b e o
que e s t á a c o n t e c e n d o r.um t e m p o d i s t a n t e do u n i v e r s o , já q u e a
luz que se o b s e r v a em g a l á x i a s d i s t a n t e s d e i x o u - a s há m i l h õ e s
de a n o s , A e s t r e l a m a i s p r ó x i m a , c h a m a d a P r ó x i m a C e n t a u r i ,
e&tá d i s t a n t e c e r c a de q u a t r o a n o s - l u z ou a p r o x i m a d a m e n t e 37
m i l h õ e s de q u i l ô m e t r o s .
E ' até p o s s í v e l a e x i s t ê n c i a de um n ú m e r o i n f i n i t o de
uni v e r s o s . . .
-
010
O Sol, estrela de 2a. ou 3a. geraçio, formada há cerca
de 5 bilhões de anos atrás, é o centro deste sistema solar em
torno do qual giram, pela ordem de afastamento, os planetas
Mercúrio, Vènus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano,
Netuno e PlutSo. Destes nove planetas, apenas um detém
possibilidades de vida tal como nós a conhecemos.
Inicialmente a Terra era muito quente e sem atmosfera.
Se resfriou gradativãmente e adquiriu uma atmosfera a partir
da emissão de gases das rochas. Nao havia oxigênio. Os
primeiros dois bilhões de anos da existência do planeta, pelo
seu calor, nSo possibilitaram o desenvolvimento de qualquer
organismo complexo. Nos outros três bilhões de anos,
aproximadamente, iniciou-se um lento processo de evolução. A
atmosfera foi se modificando e garantindo o desenvolvimento
de formas mais elevadas de vida, dando lugar por fim, à
espécie humana.
Mas, qual a posiçío que a Terra ocupa no universo? Em
que direção a Via Láctea se expande? Oual a significancia
deste planeta na vastidio do cosmos? Por que < e nao somente
o que) aconteceu a grande explosfio?
0 universo nao é estático, como também n&o é imutável.
Há teorias, há incertezas, inclusive a incerteza se há teoria
que dê conta do universo.(1)
Possui o planeta Terra uma rara singularidade : o
confronto dos três estados físicos (sólido, líquido, g a s o s o ) ,
uma correta gravidade e rotaçio, as condições químicas e
-
D11
físicas ideais para consubstanciar a «ida, que para seu
estágio atual de evolução necessitou de cerca de 5 bilhões de
anos.(?)
Inúmeros estudos se debruçam sobre essa evoluçfto,
datando-a e narrando-a. Hoje, ela está ameaçada. 0 planeta
agoniza. Oue estudos podem prever o futuro? Descobertas
ctentíficas podem explicar o passado e o presente, ainda que
parcialmente. Descobertas científicas podem também destruir a
Humanidade, o seu futuro.
Cinco mil anos de história documentadaO) possibilitam
avaliar o esforço do Homem em descobrir, conhecer, avançar,
progredir e se beneficiar dos recursos naturais, do
equilíbrio e da harmonia quase sempre presentes neste período
no Planeta(4>. As mais diversas épocas e culturas oferecem
aprendizados quanto á relação Homem-Natureza.
Mas é no século XIX, com o advento da Revoluçfto
industrial, que o Homem mais e mais se posiciona como
dominador da natureza e inicia um processo de destruiçio do
que há de mais vital para a vida ; o ar, o solo, a água.
0 Homo Saoiens(5) marca profundamente a sua presença no
planeta. A partir de sua açio existem já há alguns anos
riscos de longo prazo e em escala planetária, a partir
inclusive de uma utílízaçlo insensata dos recursos
terrestres, A crise se fez global, culminando com a
possibilidade do extermínio da espécie como um todo.
0 que levou muitos milhfte» de anos para evoluir, pode em
P O U C O S anos ser massacrado, aniquilado.
-
0 1 ?
A d e g r a d a ç ã o a m b i e n t a l , s o c i a l , e c o n ô m i c a , p o l í t i c a ,
c u l t u r a l faz c o m que se d i s c u t a e a v a l i e n e c e s s a r i a m e n t e a
n o ç ã o d e c i ê n c i a , de d e s e n v o l v i m e n t o , d e c r e s c i m e n t o , de
p r o g r e s s o , de t e c n o l o g i a , de c i v i l i z a ç ã o .
Final da d é c a d a de 8 0 . F i n a l d o s é c u l o X X .
B u s c a - s e i n t e n s a m e n t e c o n h e c i m e n t o s s o b r e o p a s s a d o e a
c o m p r e e n s ã o do p r e s e n t e . E q u a n t o ao f u t u r o ? F a l a r d e um
m u n d o -futuro s i g n i f i c a r e c o n h e c e r l i m i t e s p l a n e t á r i o s e a
n e c e s s i d a d e de r e d e f i n i ç õ e s no que diz r e s p e i t o a p r o d u ç ã o ,
ao c o n s u m o , ao e s t i l o de v i d a .
A p o p u l a ç ã o da T e r r a a t i n g i u , s e g u n d o a O N U , 5,2 b i l h õ e s
de s e r e s h u m a n o s , m a i s da m e t a d e v i v e n d o d e forr?a m i s e r á v e l .
J. B A U O R I L L A R D ( 6 ) a f i r m o u que a a n á l i s e d o s o b j e t o s de
c o n s u m o l e v a r a m - n o a i n t e r r o g a r a e s f e r a da p r o d u ç ã o ,
a c a b a n d o por se p e r g u n t a r se e s t a não f a b r i c a v a m a i s a i g n o s
do q u e m e r c a d o r i a s . P a r a e l e , é a t r a v é s d o s o b j e t o s que as
d e s s e s f a v o r e c i d a s r e a t u a l i z a m p e r p e t u a m e n t e s e u s
p r i v i l é g i o s c u l t u r a i s .
M a i o r i a d e p a u p e r a d a e m i n o r i a p r i v i l e g i a d a . . . e s s e s
s e r e s , a par ou não d o s p r o b l e m a s c o n s t a n t e s na b i o s f e r a ( 7 ) ,
se e n c o n t r a m numa e n c r u z i l h a d a que a p o r t a a l g u n s a s p e c t o s e
possibiI i d a d e s ,
A p r i m e i r a p o s s i b i l i d a d e , a ser e n c a r a d a c o m o
n e c e s s á r i o r e a l i s m o , é o p o d e r i o a r m a m e n t i s t a n u c l e a r ( a f o r a
o c o n v e n c i o n a l e as a r m a s q u í m i c a s ) , s u f i c i e n t e p a r a e l i m i n a r
» e s p é c i e h u m a n a , a v i d a da s u p e r f í c i e do p l a n e t a . 0 t.-óprio
-
013
planeta(B).
A. K0ESTLERÍ9) declarou que se o pedissem para mencionar
a data mais importante da história e da pré-história da
espécie humana, responderia • 6 de agosto de 1945, porque até
essa data o homem conviveu com a perspectiva de sua morte
como indivíduo. A partir da bomba de Hiroshima, a humanidade
tem de conviver com a perspectiva de sua extinçSo como
espécie.
0 segundo aspecto que nSo é uma possibilidade e sim um
fato, diz respeito ao aumento vertiginoso da população, que
pode atingir B bilhões em uma ou duas gerações, o que requer
um urgente planejamento populacional. A qualidade de vida em
detrimento da quantidade,
0 terceiro aspecto é o dos grandes desequilíbrios
biológicos e químicos, bem como, as variações dialéticas
provocadas pelas atividades humanas. Dentre os primeiros
deve-se chamar a atençfo para a destruição da camada de
ozônio estratosférica que filtra uma parte do componente
ultravioleta da radiaçio solar, bem como do aumento da
temperatura na superfície da Terra, causado por gás carbônico
e conhecido como "efeito estufa".
0 quarto fato sao os desperdícios energéticos, o quinto
o da perda do patrimônio genético, havendo ainda ostros mats
(10 ), Iigados entre si,
Obviamente o homem desenvolveu formas positivas de
expressão, como a linguagem, a ciência, a arte. Fez
descobertas imprescindíveis para o seu bem estar. Galgou
-
014
degraus fundamentais em direção a um maior conhecimento da
psique humana. Buscou compreender o exterior a si e seu
interior.
Embora essa c a m i n h a d a continue em voga, empreendida por
um número cada vez maior de pessoas, a realidade d e n o t a que o
crescimento nSo teve limites, sofreu de falta de lógica, se
abalou por interesses d i t a d o s pelo capital, pelo lucro, pelo
poder, pela ambição e g a n â n c i a . 0 chamado d e s e n v o l v i m e n t o se
perdeu na desordem e projetou infelicidade, m i s é r i a ,
desigualdade. T r a n s f o r m o u o oi fcos num habitat enfermo,
militarizado e p a t r i a r c a l . Transformou seus habitantes em
espectadores de sua própria ação, quase sem forças de se
sobrepujarem ao atual estado de coisas ou ainda vivendo uma
expectativa de vida c o n s u m i s t a e predatória praticada por uma
parcela menor da p o p u l a ç ã o , que insiste disparadamente no ter
(e a produtividade i n d u s t r i a l ) , irrelevando o ser (e a
convivencial i d a d e X 1 1 ) .
Enquanto a realidade apresenta incríveis p o t e n c i a l i d a d e s
voltadas para o benefício da população, deixa transparecer
também a evidência da amplitude e global idade da c r i s e .
2. CIÊNCIA
"En ei momento de Ia historia en que Ia racionalidadcientífica alcanzar su pleno desarrollo en una formaindustrial y social, de esta misma racionalidad surge tambíénIa amenaza dei cao», Ia posibilidad de un desorden total dei
está ausente Ia razón".
Patrick L a g a d e c d S )
-
015
Aceitando-se que a ntissio do conhecimento é a resolução
de enigmas e a revelação de mistérios (desde as partículas
até a conquista do espaço), é de se perguntar qual o
conhecimento capaz de abarcar a «ida, de conceber a noção de
vida em sua plenitude.
0 papel da ciência na sociedade modificou-se
profundamente desde o século XVII. 0 conhecimento científico,
a partir do século XVII até o século XX, encetou progressos
extraordinários, sendo que durante o século XX, a ciência
tornou-se uma pesada instituição subvencionada e alimentada
pela sociedade, controlada pelos poderes «conômicos e
estatats.
Concomitante à constante renovação do conhecimento
científico, ao progresso do conhecimento desde o começo deste
século, há um progresso de incertezas, sendo que reconhecê-
las também constitui um progresso. O conhecimento científico
nio é, pois, passível dê ser definitivamente verificado. Ele
é prov i sóri o.
O corte entre ciência e filosofia a partir do século
XVII, com a dissolução formulada por Descartes entre o eu
pensante e a coisa material, arrancou da ciência sua
capacidade auto-reflexiva, separou o sujeito do objeto
pesquisado, eliminou o observador da observação.
Porém, a partir do século XIX a ciência clássica
(determinista) entra cm crise, a noçlo de progresso é
Questionada, a noção de conhecimento é avaliada. lnicia*se um
movimento de auto-interrogação da ciência. A ciência da
-
016
ciência ( e p i s t e m o l o g i a ) . Entrar em c r i s e , e n t r e t a n t o , nao
significa deixar de e x i s t i r , e a c i ê n c i a c l á s s i c a ainda reina
hoje e l i m i n a n d o o é t i c o , a r e s p o n s a b i l i d a d e , o sujeito do
c o n h e c i m e n t o .
Mas a c r i s e e n g e n d r o u algumas a f i r m a ç õ e s :
a) o d e s e n v o l v i m e n t o das d i s c i p l i n a s c i e n t í f i c a s causou a
fragmentação do saber. Os c o n h e c i m e n t o s e s p e c i a l i z a d o s
desmembram 0 C o n h e c i m e n t o - A Ciência, aqui vistos nao como
uma única v e r d a d e , mas como finalidade de aliviar a m i s é r i a
da existência humana, como diria B e r t o l d Brecht, ou como
ligação ao destino do homem, como d i r i a IIya Prigogine,
destróem o c o n h e c i m e n t o - s a b e d o r i a . Ocorre a
i n c o m u n i c a b i I i d a d e entre as d i s c i p l i n a s , que e s f o r ç o s
i nterdisei pi inares não c o n s e g u e m s u p e r a r . Seria necessária a
t r a n s d i s c i p l i n a r i e d a d e já que a h i p e r e s p e c i a i i z a ç ã o reduziu o
saber c i e n t í f i c o a migalhasi
b) a separação entre as c i ê n c i a s da n a t u r e z a e as ciências do
homem, as s o c i a i s , é nociva. As c i ê n c i a s naturais não tem
consciência que as implicações c e r e b r a l , cultural, social,
histórica c o - d e t e r m i n a m sempre o o b j e t o de c o n h e c i m e n t o . As
ciências h u m a n a s nfto tem c o n s c i ê n c i a das determinações
físicas, q u í m i c a s , b i o l ó g i c a s dos f e n ô m e n o s humanosi
c) o progresso c i e n t í f i c o produz tantas p o t e n c i a l i d a d e s
benéficas quanto m o r t a i s , ou seja, a ciência progride como
conhecimento, mas sua» c o n s e q ü ê n c i a s podem ser mortais»
d> ocorre um p r o g r e s s o c r e s c e n t e dos poderes da ciência; bem
como uma impotência c r e s c e n t e dos c i e n t i s t a s na sociedade cm
-
017
relação aos próprios poderes da ciência, esmigalhados ao
nível da investigação, mas reconcentrados ao nível dos
poderes econômico e políticos
e) é impossível separar o conceito de ciência do de
tecnologia, do de indústria, do de sociedade. A civilização
ocidental evolui e se transforma neste circuito;
f) se faz imprescindível que toda a ciência se interrogue
sobre as suas estruturas ideológicas e seu enraizamento
sóc i o-cuItura I;
g) o problema do controle da atividade científica tornou-se
crucial e supõe um controle dos cidadãos sobre o Estado, que
os controla, e uma recuperação do controle da ciência pelos
cientistas. Cientistas conscientes da transformação e não
linearidade da ciênciai cientistas sabedores que a ciência
elucidativa, enriquecedora, conquistadora, tríunfante
antepõe o planeta a problemas mais graves que se referem ao
conhecimento que produz, à ação que determina, a sociedade
que transforma, ao Estado que se apropria do conhecimento e
que tem o poder de subjugar o homem;
h) a modificação da relação entre ciência e sociedade, com o
passar dos séculos, e que apresenta o outro lado do
progresso, qual seja degradação, dispersão, desorganização,
desordem, entropia*
•> necessidade de conjugar duas visões ; uma feita de ordem e
harmonia e a outra de desordens e lutas. A relação
complexidade - diversidade, vida - morte, antagonismo
compiementariedade, adaptação - destruição, ambiente -
-
018
sociedade passa a fazer parte do novo.
A ciência nova já emergiu, trazendo em seu seio a
mudança de paradigma. 0 paradigma de complexidade que rompe
com o conhecimento atomizado, parcelado e redutor,
reivindicando o direito a reflexftos que busca um modo de
pensamento capaz de respeitar a muitidimensionalidade, a
riqueza, o mistério do realt Q»e acredita que a fronteira que
separa o homo sapiens dos outros seres vivos nao é natural e
sim cultural (há na biosfera, por exemplo, 2 milhões de
espécies de insetos, 1 milhão de espécies de plantas, 50.000
espécies de peixes, 8.700 espécies de aves); que acredita que
os autos (individual) e o o i fcos (habitat) se complementam e
sao vitalmente necessários um ao outro; que entende que
quanto mais o homem controla a natureza e subjuga a biosfera,
mais e mais controlado pela natureza se encontra e mais
subjugado pela biosfera vivei que reintroduz o sujeito no
objeto da pesquisa.
A mudança de paradigma comanda simultaneamente um
princípio de complexidade, uma restauraçlo/renovaçSo da idéia
de natureza, uma ciência de tipo novo, uma tomada de
consciência e uma práxis, rompendo com as visões
simp|ificadoras que isolavam os seres do seu ambiente ou
reduziam os seres ao seu amb i ente. (13)
0 exercício de redefinir o que é ciência, para o que e
quem está sendo utilizada cresce no meio científico,
sionado pela própria transformação do conhecimento
-
019
(e o questionamento do seu estatuto, de sua racionalidade, de
seu desenvolvimento), bem como por acontecimentos e
evidências que poderiam ser explicitadas como "externas",
como 1) a crescente dominação do homem pelo hornemi 2) a
crescente exploração da natureza pelo homem com a conseqüente
degradação daquela ej 3 ) os múltiplos movimentos sociais, que
trazem em seu bojo um potencial de questionamento sobre as
formas do pensar tradicional, como por exemplo os movimentos
democráticos, socialistas, estudantis, feministas,
pacifistas, anti-nucleares, de minorias étnicas e culturais,
religiosos, eco Iogistas.(14)
Os problemas que afligem o planeta, os seus ecossistemas
terrestres e marítimos, os seres vivos e o homem são
crescentes e se por um lado foram engendrados pela ciência ->
tecnologia -> indústria -> sociedade, numa cosmovisão
ocidental, devem igualmente retornar ao circuito para que
lhes seja proposta a solução. Nas o primeiro passo, por
certo, seria dado por cientistas que, ao controlarem a
ciência, fariam dela uma ciência ética, necessariamente
voltada para o bem estar e sobretudo para a paz,
Esta seria a ciência que sacudiria os valores ocidentais
e que unindo-se ft sabedoria, se tornaria a ciência da
essência(15)» que fundindo o intelecto com a intuição, a
razão e a emoção, a informação e o significado, as
descobertas e as mudanças, a autonomia e o relacionamento com
0 mundo chegaria a uma ciência nio totalitária, na qual há
diálogo entre as culturas ocidental e orientaI.(16 )
-
oaoPensar a ciência a partir da global idade é também saber
inferir valores justos à evolução da vida no planeta e aos
tempos biológicos» que segundo E. TlEZZI são importantes para
medir o passado e o futuro, são inversamente p r o p o r c i o n a i s
aos tempos t e c n o l ó g i c o s e econômicos, e seguem ritmos
diferentes aos tempos históricos. A c r e d i t a , assim, ser
necessária uma ciência jovem que propugne o equilíbrio do
homem com o ambiente, com seus semelhantes e consigo m e s m o .
Propugna uma nova cultura do desenvoivintento.(17)
Como a ciência tem reforçado a tendência ao parcelamento
da realidade, não conduzindo a uma visão e c r í t i c a global do
que ocorre, o ÍIVÍHIÇH ihj cirncia apenas se dará a partir de um
enfoque t o t a l i z a n t e . A ciência deve ser capaz de analisar o
ambiente como uma totalidade dinâmica e em permanente
transformação. Para L. V I T A L E C 1 B ) , a nova ciência analisará o
homem como parte indissolúvel do ambiente, h a v e n d o ret ação
entre história da natureza e história da h u m a n i d a d e .
Para E. M0RIN, essa nova ciência também pode ter
conhecida como cco-bio-socio-Iogia, incorporando ainda os
domínios da física e da antropologia. 0 que o estimula é a
preocupação de ocultar o menos possível a c o m p l e x i d a d e do
real.(19)
A nova ciência pode ter muitos nomes, m a s significa uma
nova visão da realidade que se baseia na compreensão e
«aplicação da realidade, consciente do "estado de inter-r*iação - interdependência essencial de todos os fenômenosf i s c o s , b i o l ó g i c o s , psicológicos, sociais e c u l t u r a i s , Essavisão transcende as atuais fronteiras d i s e i p I i n a r e s econceituais e será explorada no âmbito de novas instituiçôes.N*o existe, no presente momento, uma estrutura bem
-
021
estabelecida» conceituai ou institucional, que acomode aformulação do novo paradigma, mas as linhas m e s t r a s de talestrutura já estão sendo formuladas por m u i t o s indivíduos,comunidades e organizações que estio d e s e n v o l v e n d o novasformas de pensamentos e que se estabelecem de acordo comnovos princípi os.(20)
0 questionamento que envolveu o c o n h e c i m e n t o , o saber
científico, não deixou incólume as ciências sociais, fazendo
reconhecer que o pensamento social (predominantemente
patriarcal) também estava adquirindo os vícios da
especialização, além do que sofria da fragmentação
cultura/sociedade - ambiente e de competência sequer para
responder a razão da profunda crise que afeta a Pachamama
(Mãe Terra) e consequentemente a vida de todos os seus
habitantes. Entretanto, do interior do próprio saber
científico das ciências sociais efervesceu a crítica à
conquista da natureza, cresceu a consciência da necessidade
de mudança radical do que, porque, para que e de como
pesquisar. E a consciência da necessidade de introdução da
dimensão ecológica/biológica nas ciências sociais para a sua
transformação.
Consciência, transformação se efetivam através da razão,
que é um conceito básico de toda ciência social, -no dizer de
A, GUERREIRO R A M O S O D . Este autor traz uma contribuição
fundamental para o entendimento de como uma ciência social
alternativa poderia tomar o lugar da ciência social
estabelecida, trabalhando o conceito de r a c i o n a l i d a d e .
A ciência social estabelecida se fundamenta numa
racionalidade instrumental, funcional, característica do
t'&tema de mercado, que solapa qualificações éticas üa vida
-
0 2 2
humana e que e n t e n d e o indivíduo como d o m i n a d o e c o m o a g e n t e ,
já a c i ê n c i a social a l t e r n a t i v a se c a l c a n u m c o n c e i t o de
r a c i o n a l i d a d e m a i s sadio» d e n o m i n a d a s u b s t a n t i v a . N e s t e c a s o ,
o indivíduo é o g e r a d o r da r a c i o n a l i d a d e . N e s t e c a s o há a
e m a n c i p a ç ã o do h o m e m e o d e s e n v o l v i m e n t o d e suas
p o t e n c i a l i d a d e s de a u t o - r e f I e x i o , bem como a p r e o c u p a ç ã o em
como p r a t i c a r a razão no mundo social e na bios-fera.
A r a z S o c o m o dever dos seres r a c i o n a i s ( 2 2 ) , c o m o
p r a t i c a , como f e r t i l i z a n t e da nova c i ê n c i a , q u e , j u s t a m e n t e é
um i n s t r u m e n t o de r e c o n s t r u ç ã o social é o q u e q u e r e m o s
circundar n e s t e i n s t a n t e , situando i g u a l m e n t e a i n t e r l i g a ç ã o
entre c i ê n c i a e p o l í t i c a , entre ciência e t e c n o l o g i a .
E " o p o d e r que determina o uso da c i ê n c i a e, por
c o n s e g u i n t e , da t e c n o l o g i a . A m u d a n ç a p o l í t i c a é q u e p o d e
possibilitar q u e a c o m u n i d a d e c i e n t í f i c a se d e d i q u e a r e a i s
p r o b l e m a s , ès n e c e s s i d a d e s da p o p u l a ç ã o e à c o n s e r v a ç ã o dos
recursos n a t u r a i s .
3. T E C N O L O G I A
E n q u a n t o que para J. BAUTISTA VIDAL ( 5 3 ) a t e c n o l o g i a é
resultado de um v a s t o p r o c e s s o de n a t u r e z a s o c i a l , c u l t u r a l ,
política, no qual está imbutida a c o m p o n e n t e t é c n i c a e
e v e n t u a l m e n t e a c o n t r i b u i ç ã o c i e n t í f i c a , a p e s a r de e n t e n d e r
a c i ê n c i a e a t e c n o l o g i a têm uma p e r m a n e n t e c o r r e l a ç ã o de
causa e e f e i t o , E, MOR IN a d v e r t e ser impossível isolar o
conceito de t e c n o l o g i a a r g u m e n t a n d o que o " d e s e n v o l v i m e n t o do
c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o é inseparável de uma t e c n o l o g i a , ela
-
023
mesma ligada a uma s o c i e d a d e , a uma e i v i I i z a ç ã o " ( 2 4 > . 0 autor
dá um e x e m p l o d e s s a c o n e x ã o ao citar que na época g a l i l é i c a
se observava o u n i v e r s o com lunetasi h o j e t e l e s c ó p i o s e
r a d i o t e l e s c ó p t o s , a l é m dos satélites de p e s q u i s a , m o d i f i c a m o
campo real, a i a r g a n d o - o . No f u t u r o , e s t a ç õ e s e s p a c i a i s
certamente i n s c r e v e r ã o n o v o s c a r a c t e r e s no c o n h e c i m e n t o sobre
o i nf i n i to.
P r o p o r - s e ao q u e s t i o n a m e n t o da t e c n o l o g i a não é s i n ô n i m o
de recusá-la ou a b a n d o n á - l a . E ' muito m a r s incorrer num
exercício de r e d e f i n i - l a , se Iecioná-I a, reapropriá-I a,
adequá-la às n e c e s s i d a d e s a t u a i s . S i g n i f i c a p r o j e ç ã o do
futuro e não incursão ao passado. D e n o t a investigação
histórica do seu papel em b e n e f í c i o da h u m a n i d a d e , do
pianeta.
A t e c n o l o g i a é um instrumento de poder, um instrumento
político de d o m í n i o que visa e x p a n s ã o e e x p l o r a ç ã o e que
perpassa o m o d e l o de d e s e n v o l v i m e n t o / c r e s c i m e n t o no qual se
está inserido.
Não tendo sido f o r j a d a para a c r i s e , mas sendo uma de
suas principais c a u s a s , dela adveio o "sistema de o r g a n i z a ç ã o
política e social b a s e a d o na p r e d o m i n â n c i a dos t é c n i c o s "- a
tecnocracia, i r r e v e r e n t e com o p a t r i m ô n i o c o m u m da
humanidade, com a m e l h o r u t i l i z a ç ã o dos recursos r e n o v á v e i s e
ftao renováveis, com o bem estar do homem e dos seres vivos em
geral .
Ameaçando o e q u i l í b r i o do planeta, ir relevou a vida,
trouxe a ilusão do p r o g r e s s o , se despiu de quaisquer v a l o r e s ,
-
024
se investiu de m e g a l o m a n i a e colocou em risco a s o b r e v i v ê n c i a
de gerações futuras.
Encrustada na elite e m p r e s a r i a l , p o l í t i c a , intelectual e
militar, a tecnologia segue seu rumo p r e d a t ó r i o , imediatista
e extremamente conveniente para alguns p o u c o s . Como se isso
não bastasse, segue a lógica do lucro, da m e c a n i z a ç ã o
avassaladora, da c o m p u t a d o r i z a ç ã o c r e s c e n t e e sobretudo :
serve para a guerra. Para a sua preparação infinita.
Pensar a tecnologia implica em indagar a que ela está
servindo. E a quem. Ameaçando o e q u i l í b r i o , deveria conhecer
como restaura-1 o; tendo uma atitude de ruptura com o ambiente
e os ecossistemas, deveria saber como resgatar a u n i d a d e ;
instalando a hierarquisação e c e n t r a l i z a ç ã o de f u n ç õ e s ,
deveria incorrer em caminho oposto* a l i e n a n d o o homem do
trabalho, da produção, deveria ser capaz de resgatar o auto-
desenvolvimento p e s s o a l .
A tecnologia por si não poderia tomar tal a t i t u d e . As
decisões tecnológicas são d e c i s õ e s p o l í t i c a s e essas d e v e r i a m
estar incluídas no e x e r c í c i o da c i d a d a n i a , porque dizem
respeito a todos os c i d a d ã o s .
Usamos e usufruímos da tecnologia ou acabamos sendo
usados por ela? Temos clareza de suas implicações ou a c a b a m o s
Por nos adequar ao caos que uma parte das invenções impõe 7
Prevalece o conforto provisório e fugaz em d e t r i m e n t o da
mudança de atitude"?
Pensar a tecnologia implica em se arvorar na tarefa de
indagar sobre sua substância, seus riscos « a c i d e n t e s dela
-
025
provenientes. Seu produto» enfim.
E' necessário conhecer o enigma da tecnologia e
trabalhar sobre ele, pois "... chega de ilusões a respeito da
tecnologia. Não controlamos o que produzimos. Saber como
fazer não significa que saibamos o que estamos fazendo".(25)
Compreender que a função da tecnologia nao é meramente
técnica, que sua escolha corresponde a opção por um conjunto
de vetores correspondentes a padrões de consumo da sociedade,
a formas de utilização da força de trabalho, a perfis de
investimento, a modos de exploração das matérias-primas,
recursos naturais e energéticos, à estrutura do sistema
educacional e da pesquisa científica no contexto de um
determinado estilo de desenvolvimento(26) é, por certo,
compreender que não podemos depositar vida e liberdade em
mãos de uma elite subserviente ao poder e a ambição,
incompetente e sem qualquer apreço pelo povo. Que não podemos
permitir sermos modelados e subjugados cada vez mais pela
tecnologia. Essa mesma tecnologia já ultrapassou a
possibilidade de explicação no seu todo.
Quais as certezas qu€ temos sobre os rumos que estão
sendo tomados, alheios ao nosso conhecimento e a nossa
vontade? A certeza é a de que o domínio do homem pela
ferramenta foi substituído pelo domínio da ferramenta sobre o
homem.(27)
Exemplo disso pode ser encontrado na medicina, nos
transportes(SB), na indústria química, etc,, com centenas de
•nvençôes se multiplicando anualmente.
-
026
Enquanto que não se pode d u v i d a r do valor de a l g u m a s
invenções t e c n o l ó g i c a s , g r a n d e p a r t e d e t a s está a s e r v i ç o dos
m i l i t a r e s , da guerra e da m o r t e , ( 2 9 )
Se c o m p r e e n d e m o s que o h o m e m e o a m b i e n t e não p o d e m ser
s u b j u g a d o s , d o m i n a d o s , a l i e n a d o s p e l a t e c n o l o g i a e que
c u l t u r a l m e n t e não é possível r e g r e s s a r a t e m p o s p r é -
t e c n o l ó g i c o s , c o m p r e e n d e m o s que e x i s t e uma v a l o r a ç ã o para sua
invenção e sua u t i l i z a ç ã o , bem c o m o a a c e i t a b i l i d a d e do risco
que ela carrega c o n s i g o .
Vivemos em m e i o ao g r a n d e r i s c o t e c n o l ó g i c o , f a z e m o s
parte da " c i v i l i z a ç ã o do r i s c o " , p r e d a d o r a por e x c e l ê n c i a ,
que quanto m a i s avança e p r o g r i d e , t a n t o m a i s e r o s i o n a a
capacidade de e x p l i c a ç ã o s o b r e e l a .
A liberdade do c i d a d ã o leva a eleger a d i r e ç ã o do
progresso, os riscos t e c n o l ó g i c o s q u e quer e n f r e n t a r . A
indústria m o d e r n a cria c o n s t a n t e m e n t e novos r i s c o s sem a
permtssão dos c i d a d ã o s , que s e q u e r têm c o n h e c i m e n t o da
fragilidade e f a l i b i l i d a d e que o s i s t e m a h o m e m - m á q u i n a
engendra.
Não é racional l a n ç a r - s e em i n o v a ç õ e s sem c o n s i d e r a r
seriamente os riscos i m p l í c i t o s . Não é razoável p r e t e n d e r
despojar o cidadão de sua c a p a c i d a d e de juízo, Há que ser
reforçada a aptidão das s o c i e d a d e s para e l e g e r livres,
voluntárias e r e s p o n s á v e i s , sua f o r m a de d e s e n v o l v i m e n t o , seu
estilo de vida e suas t e c n o I o g i a s . ( 3 0 )
A variável t e c n o l ó g i c a persegui ria o e q u i l í b r i o entre
cinco d i m e n s õ e s ! ( 3 1 )
-
0 ? 7
a ) e c o n ô m i c a : p r e f e r ê n c i a por t é c n i c a s i n t e n s i v a s em m ã u - d e -
obra e pouco intensivas em ca p i t a l j
b) e c o l ó g i c a : p r e f e r ê n c i a pela u t i l i z a ç ã o de r e c u r s o s
r e n o v á v e i s e danos m í n i m o s ao ambientei
c ) s ó c i o - c u I t u r a l • t e c n o l o g i a para s a t i s f a ç ã o d a s
ne c e s s i d a d e s da p o p u l a ç ã o , p o s t u l a n d o d i v i s ã o igualitária de
renda;
d ) p o l í t i c a £ s e l e ç ã o de t e c n o l o g i a p a r a e s t í m u l o do
d e s e n v o l v i m e n t o a u t ô n o m o *
r ) t é c n i c a ' u t i l i z a ç ã o de t é c n i c a s que e s t i m u l e m a
i n d e p e n d ê n c i a e o d e s e n v o l v i m e n t o c i e n t í f i c o e t é c n i c o .
D e c i d i n d o o que p r o d u z e c o n t r o l a n d o a p r o d u ç ã o , o homem
se i r : e r e na d i s c u s s ã o d e m o c r á t i c a e c o n t r a r i a o a x i o m a
o c i d e n t a l p r o f u n d a m e n t e a r r a i g a d o do c r e s c i m e n t o m a t e r i a l
i l i m i t a d o , q u a n t i t a t i v o . A i d é i a é a r e d e f i n i ç ã o da
t e c n o l o g i a , bem como da c i ê n c i a . 0 e s f o r ç o é na d i r e ç ã o da
c r i a t i v i d a d e e da i m a g i n a ç ã o p e r m a n e c e n d o a r e c o n s t r u ç ã o
t o t a l da s o c i e d a d e , t e n d o como p a n o de f u n d o a r e a l i d a d e
p r e s e n t e .
0 d e s e n v o l v i m e n t o de t e c n o l o g i a s m a i s e m a i s c o m p l e x a s ,
i n t e n s i v a s em m a t é r i a , e n e r g i a e c a p i t a l , p e r t u r b a a
s o c i e d a d e , os s e r e s v i v o s em g e r a l , o a m b i e n t e . F o m e n t a
9 ' a n d e s i n s t i t u i ç õ e s b u r o c r á t i c a s q u e v i s a m l u c r o , g o v e r n o s
c e n t r a l i z a d o r e s e p o I i c i a I e s c o s , q u e v i s a m p o d e r e que ao
•nvé& de c o n t r o l a r e f i c a z m e n t e a a t i v i d a d e p r o d u t i v a , a
P r o t e g e m , Fomentam também uma p o p u l a ç ã o a l h e i a ás d e c i s õ e s de
«"»• e l i t e t e c n o c r á t i c a e p o l í t i c a .
-
ERRATA
cn se xe Leia-se
)ü'J> fast-breeder
141 suacorapetência
144 MéxicoTendc
!4*- •:;• para essas quais afigurava-se
1 M por muitospaíses
!M .- Acordoanravós de
1 "71- prestar serviçosà
1H4 foi publicado pelo JBr na mesma
data, personas non gratas
IB" cometido eguívicos
1**-' CNAAA, empreendimanto
Filsar: Enqenhabria
n Real (PA)
fast-breeder
sua competência
México. Tende
e para essas afiguravs-se
por muitos países
o Acordo através de
prestar serviços ã
foi publicado pelo JBr na
mesma data, especificande
personas non gratas
cometido equívocos
CNAAA, empreendimento
Filsan Engenharia
Lagoa Real (BA)
-
0B8
Rever o sentido de prosperidade, da qualidade de vida,
duvidar da eficiência do sistema social que é imposto e em
grande parte assimilado, erosionar essa profunda desordem na
qual nos encontramos e vivemos é responsabilidade dos
cidadãos atuantes e conscientes da necessidade de rechaçar
energicamente o atual modelo de desenvolvimento e de
desencadear um real desenvolvimento das potencialidades
humanas.
4. CRESCIMENTO x DESENVOLVIMENTO
0 "modelo" de crescimento econômico imposto após a
Revolução Industrial, traz em seu bojo um processo de
dominaçio da máquina sobre o homem e deste sobre a natureza,
a ilusão da infinitude dos recursos naturais, a partir do que
se instalou um sistema com aspectos sedutores que esconde a
destruição do ambiente.
A imposição incorre também sobre um maior consumo, que
oferece muitas vezes apenas um conforto questionável, já que
engendra incertezas em relação w possibilidade de futuro.
Engendra desequilíbrio e devastação.
0 crescimento infinito calca-se na lógica do consumo
infinito sustentado pelo desperdício em larga escala, pela
obsolescência planejada, pela exploração irresponsável dos
recursos naturais e ainda na aceleração do desejo de ascensão
social e econômica de milhões de p e s s o a s O S ) , que permitem
lhes seja impingida uma falsa noção de prosperidade e
Progresso,
-
OSS
No entanto, o discurso do progresso é falacioso porque
expurga a qualidade, a -felicidade, o desenvolvimento total do
ser humano, em consonância com a biosfera que o cerca. Além
disso, objetiva claramente uma parcela da população que tem
resolvidas suas necessidades materiais, ainda que nem tanto
as imateriais, cavando um fosso mais e mais acentuado entre
aqueles que lutam desesperadamente para não morrer de fome e
aqueles que vivem sobejamente.
0 crescimento econômico não elucidou dúvidas
existenciais, mais caminha fazendo de conta que não há
desigualdade nem injustiça social.
Abaixo pontuaremos algumas diferenciações entre
crescimento e desenvolvimento :
Crescimento econômico Desenvolvimento
- consumo acentuado - consumo qualificado
- envelhecimento premeditado - bens de consumo duráveisdos bens de consumo
* criação de necessidadesfictícias
- utilização predatória dosrecursos naturais
- dependência de recursosexternos
• latifúndios improdutivos,monoculturas extensivas,desmatamento
" dependência tecnológica
urbanização crescente
aumento vertiginoso daPopulação
- produção de necessidades reais
- utilização racionaldos recursos naturais
- independência do capitalinternacional
agricultura biodin&mica paraprodução de alimentos, em1a. instância, refloresta-mento
- independência tecnológica
- urbanização decrescente
- planejamento populacional
-
0 3 0
- mi I itarização da s o c i e d a d e - d e s m i l i t a r i z a ç ã o da s o c i e d a d e
- aumento de e m p r e g o s sem - a u m e n t o de t r a b a l h o c r i a t i v osubstânc i a
- maior u t i l i z a ç ã o de f o n t e s - t e n d ê n c i a à u t i l i z a ç ã o dee n e r g é t i c a s não r e n o v á v e i s f o n t e s e n e r g é t i c a s r e n o v á v e i s
Esses p o u c o s a s p e c t o s e v i d e n c i a m , por e x e m p l o , que o
B r a s i l , e n v e r e d a por um c a m i n h o de c r e s c i m e n t o , m a s e s t a n d o
ainda num p a t a m a r de p a t s s u b d e s e n v o l v i d o . E n ã o é livre pelo
fato de c a r r e g a r o peso de 40 a 50 m i l h õ e s de b r a s i l e i r o s na
m a i s completa m i s é r i a e por possuir uma d í v i d a e x t e r n a de US$
118,870 b i l h õ e s ( 3 3 ) , que deveria ser s u s p e n s a .
"Visto de um m o d o g l o b a l , o país d e p e n d e n t e , t e n d o o
consumo como p a d r ã o de f e l i c i d a d e e p r e s t í g i o , é m o v i d o por
m a c i ç a p r o p a g a n d a , sem a l t e r n a t i v a s , q u e e m b o t a a
s e n s i b i l i d a d e geral e impede, em toda p a r t e , a f o r m a ç ã o de
uma c o n s c i ê n c i a c r í t i c a sobre a r e a I i d a d e " . ( 3 4 )
Mas o que poderia ser m a i s u r g e n t e • criar m a t s e m a i s
e m p r e g o s , a i n d a que seja i n d i f e r e n t e o que se p r o d u z a e para
quem se p r o d u z a , o b j e t i v a n d o d i m i n u i r a m i s é r i a , ou
qualificar de imediato a p r o d u ç ã o , c o l o c a n d o - a a s e r v i ç o da
c o l e t i v i d a d e e n a l t e c e n d o a t a r e f a da r e c o n s t r u ç ã o da
sociedade ?
Para L. PIN6UELLI ROSA ( 3 5 ) , o Brasil c r e s c e e c o n ô m i c a ,
demográfica e u r b a n a m e n t e , p D d e n d o - s e m u d a r o perfil de
crescimento, o que não é simples por e n v o l v e r n e c e s s a r i a m e n t e
*»pecto& p o l í t i c o s e c u l t u r a i s a r r a i g a d o s nas c a b e ç a s das
P*fc&oa&, q u e & e h a b i t u a m em a m b i c i o n a r p a d r õ e s de vida e a
-
031
m a n t ê - l o s . E ' possível r e d u z i r o consumo t a m b é m no Brasil e
p r o v a v e l m e n t e justiça social se dê c o m b i n a n d o r e d i s t r i b u i ç a o
com c r e s c i m e n t o e c r e s c i m e n t o com r e d i s t r i b u i ç l o . Has é
preciso as p e s s o a s v i v e r e m , terem um e m p r e g o (ainda que
f a b r i c a n d o o b j e t o s d e s n e c e s s á r i o s e inúteis) e acima de tudo
pararem de comer na lata de lixo.
A m i s é r i a deve acabar i m e d i a t a m e n t e , m a s é n e c e s s á r i o
redefinir os rumos da p r o d u ç ã o e inserir g r a d a t i v ã m e n t e no
c r e s c i m e n t o , valores que o t r a n s f i g u r e m em d e s e n v o l v i m e n t o ,
que e n v o l v e a noção do limite à economia e o f e r e c e uma nova
s o c i e d a d e , na qual tão imprescindível q u a n t o se a l i m e n t a r ,
habitar, se e d u c a r , cuidar da saúde, etc, seja ser livre, ser
c r i a t i v o , ter identidade, e x e c u t a r o e x e r c í c i o da c i d a d a n i a e
assim por d i a n t e .
J. GALTUNG (36) p r o p õ e que partir das n e c e s s i d a d e s
f u n d a m e n t a i s constitui e l e m e n t o indispensável para os e s t u d o s
de d e s e n v o l v i m e n t o . M e s m o p o r q u e uma s o c i e d a d e só pode ser
d e s e n v o l v i d a , quando os seres h u m a n o s são d e s e n v o l v i d o s » o
que implica em a t e n d i m e n t o de n e c e s s i d a d e s m a t e r i a i s e nao-
m a t e r i a i s , f i s i o l ó g i c a s e p s í q u i c a s . A s a t i s f a ç ã o de a l g u m a s
n e c e s s i d a d e s não pode, e n t r e t a n t o , o b s t a c u l i z a r a s a t i s f a ç ã o
de o u t r a s . Os indivíduos d e v e r i a m a u t o - d e f i n i r suas
prioridades ( 3 7 ) , mesmo p o r q u e há as e s p e c i f i c i d a d e s de cada
sociedade. (3B)
A noção de d e s e n v o l v i m e n t o exige m u i t o m a i s do que
crescimento e c o n ô m i c o r á p i d o . Exige avanço c o n t í n u o ,
Prosperidade repartida e o e n r a i z a m e n t o da a t i v i d a d e
-
035
criativa, para que o processo alcance auto-sustentaçfto. (39)
0 Brasil, maior economia do 3o. mundo, Ba. economia do
mundo, país com riquezas naturais incomensuráveís, com uma
imensa potencialidade, é um país que cavou sua dependência
externa e sua crise a partir de decisões políticas tomadas
desde o Brasil Império. As riquezas são e estão mal
distribuídas, imensos recursos são desviados para o
supérfluo enquanto que recursos insuficientes são destinados
para atender às necessidades da população. Nesse contexto,
encontra-se um atraso político e social suficientemente
profundo para gerar inconformismo.
E' necessária a reversão do processo concentrador de
renda, bem como o estabelecimento de uma política de
desenvolvimento (40) que envolva o ser humano como um todo, o
ambiente e todos os seres humanos.
Há inúmeras questões que podem ser abordadas para a
análise do modus wiwendi da sociedade (principalmente da
urbana, industrializada, consumista), mas foi preciso optar
por uma... 0 desenvolvimento requer ENERGIA. Já o crescimento
econômico sem fim requer energia sem fim. 0 modelo energético
das sociedades industrializadas, sustentado em larga escala
sobre recursos naturais não-renováveis, entra aqui como
categor ia de anali se.
-
0 3 3
5. E N E R G I A
"As p o l í t i c a s de e n e r g i a que serão a p l i c a d a s nospróximos dez anos d e c i d i r ã o a r e s p e i t o da m a r g e m de l i b e r d a d eque poderá usufruir uma s o c i e d a d e no ano 2 0 0 0 . Uma p o l í t i c ade baixo consumo de e n e r g i a permite uma grande v a r i e d a d e dem o d o s de vida e de c u l t u r a . A t é c n i c a m o d e r n a pode sere c o n ô m i c a em t e r m o s de e n e r g i a e assim deixa o c a m i n h o a b e r t opara d i f e r e n t e s o p ç õ e s p o l í t i c a s . Se, ao c o n t r á r i o d i s t o , umasociedade p r o n u n c i a a favor de um forte c o n s u m o de e n e r g i a ,e i a se verá e n t ã o o b r i g a t o r i a m e n t e d o m i n a d a . e m suae s t r u t u r a , pela t e c n o c r a c i a ; e, seja num r e g i m e c a p i t a l i s t aou s o c i a l i s t a , isto se t o r n a r á i n t o l e r á v e l . "
I van I I Iich (41 )
Sendo a e n e r g i a (do grego e n e r g i a , do latim e n e r g i a ) a
m u s importante fonte de s o b r e v i v ê n c i a do h o m e m e do
a m b i e n t e , a própria p o s s i b i l i d a d e de realização de t r a b a l h o ;
tendo e n e r g i a se t o r n a d o o c o n c e i t o - c h a v e da f í s i c a no século
xix e fazendo p a r t e de toda a história s o c i a l ; e s t a n d o a
energia r e l a c i o n a d a com t o d a s as a t i v i d a d e s p r o d u t i v a s , sendo
um componente do s i s t e m a e c o n ô m i c o e s o c i a l , não é de
estranhar que seja o b j e t o de reflexão da s o c i o l o g i a .
A questão e n e r g é t i c a se articula e s t r e i t a m e n t e com a
questão do m o d e l o de c r e s c i m e n t o , sendo possível a t r a v é s
daquela questionar o p a r a d i g m a d e s t e . Q u e s t i o n a r a f i n i t u d e
dos recursos m a t e r i a i s , a d e t e r i o r a ç ã o do a m b i e n t e e a
«nsustentabiI idade da s o c i e d a d e de c o n s u m o . ( 4 2 )
"A energia é a c h a v e para entender estas i n t e r a ç õ e s : um
t>stema baseado em e n e r g i a s n ã o - r e n o v ó v e i s c a t a l i s a uma s é r i e
ov reações em cadeia que levam, i n e v i t a v e l m e n t e , à d e s t r u i ç ã o
°o meio a m b i e n t e , à e x a u s t ã o dos r e c u r s o s n a t u r a i s e, em
-
034
última análise, ã crise econômica". (43)
O 1o. princípio da Termodinâmica (J. P. Joule), também
pode ser considerado como a lei da conservação da massa e da
energia, tratando apenas do balanço geral da energia.
O 2o. princípio da Termodinâmica (Sadi Carnot), porém,
explica existir uma tendência no universo para a "forma
calor" da energia, que é uma forma de "degradação" da
energia. Introduz o conceito de entropia e seu constante
aumento no universo, no sistema solar, até sua "morte
Térmica* .
T a m b é m o p l a n e t a c a m i n h a d e uma e n t r o p i a m e n o r p a r a uma
e n t r o p i a m a i o r . E i s um d o s d a d o s p a r a a r e v i s ã o da c r e n ç a no
p r o g r e s s o i l i m i t a d o ! n ã o h á r e c u r s o s n a t u r a i s , n ã o há
ener g i a s u f i c i e n t e p a r a a i m p r u d ê n c i a , o d e s p e r d í c i o . A
e n t r o p i a , a s s i m , se t r a n s f o r m o u e m a r g u m e n t o p o l í t i c o e em
alerta d a s g e r a ç õ e s a t u a i s p a r a c o m as f u t u r a s . S e a e n t r o p i a
já é um f e n ô m e n o f í s i c o i r r e v e r s í v e l , por q u e i n s i s t i r na
u t i l i z a ç ã o de m a i s e m a i s e n e r g i a m a t e r i a l ? ( 4 4 ) C o m o d i s s e
t. P R I G O G I N E , os f e n ô m e n o s d e c r e s c i m e n t o da e n t r o p i a
d e l i m i t a m n o s s o p o d e r . ( 4 5 ) A d e m a i s e n e r g i a p a r a q u e e p a r a
quem ?
A e s p o l i a ç ã o a m b i e n t a l e e n e r g é t i c a se d e u g r a d a t i v a e
i n c e s s a n t e m e n t e , s e n d o q u e na A m é r i c a L a t i n a , a h i s t ó r i a do
•mb i e n t e se d i v i d e em c i n c o f a s e s , s e g u n d o L. V I T A L E i
"• +a&e - o m e i o n a t u r a l a n t e s da a p a r i ç ã o do h o m e m ;
«•• *a&e - 3 era da i n t e g r a ç ã o do h o m e m ( p o v o s c a ç a d o r e s ,
P e c a d o r e s e c o l e t o r e s ) a n a t u r e z a *
-
D35
3a. fase - início da alteração dos e c o s s i s t e m a s
I atinoamericanos e do processo de controle de energia. As
cidades possuíam unidade indissolúvel com o campo, não tinham
alto grau de consumo energético e nem eram um conglomerado
importador de energia.
Essa fase começa com a revolução dos povos agricultores
e metalúrgicos que alcança sua culminação nas culturas maia,
inca e asteca.
4a. fase - inicia com a colonização espanhola e se estende
até a industrialização. 0 extermínio de grande parte da
população indígena afetou seriamente os e c o s s i s t e m a s , porque
esses povos haviam conseguido uma substancial integração com
Ü ambiente. Enquanto as cidades indígenas tinham -Fluxos
energéticos próprios, as cidades dos colonizadores não os
tinham, acarretando dependência de energia externa.
Ba. fase - a partir de 1 9 3 0 , a sociedade índustriaI-urbana
desencadeou a crise ambiental na América-Lattna. Deu-se
tnício a um elevadíssimo consumo de energia.
No modelo atual de civilização e de progresso, a
qualidade de vida está associada ao consumo de e n e r g i a ( 4 6 ) ,
•sto é, mais energia é igual a mais a l i m e n t a ç ã o , m o r a d i a ,
saúde, lazer, felicidade, bem estar, Essa noção precisa ser
'«•lat i v liada e esclarecida.
Um modelo c»viIizatório "energívoro" vinha se
ro*unaizando cada vez mais intensamente desde as primeiras
-
0 3 6
d é c a d a s d e s t e s é c u l o no m u n d o t o d o . No Brasil a -fase da
i n d u s t r i a l i z a ç ã o se d e s e n v o l v e u ainda m a i s v e e m e n t e e
r a p i d a m e n t e d u r a n t e o g o v e r n o de J u s c e l i n o K u b i t s c h e k , na
década de 5 0 - f a s e d e s e n v o l v i m e n t i s t a - , p r i n c i p a l m e n t e no
que diz r e s p e i t o à i n d ú s t r i a a u t o m o b i l í s t i c a . 0 B r a s i l
p r e t e n d i a i g u a l d a d e c o m os p a í s e s já i n d u s t r i a l i z a d o s . E essa
p r o p u l s ã o da i n d u s t r i a l i z a ç ã o se d a r i a com c r e s c i m e n t o de
oferta de e n e r g i a , a p a r t i r do p e t r ó l e o e da
h i d r e l e t r ic i d a d e .
0 c o n s u m o de d e r i v a d o s de p e t r ó l e o , que no B r a s i l só
começou em 1 9 1 8 , c r e s c e u d é c a d a a d é c a d a . N o s a n o s 3 0 o
petróleo era t o d o i m p o r t a d o e em 1 9 3 9 se fez a p r i m e i r a
d e s c o b e r t a c o m e r c i a l de p e t r ó l e o no Brasil em L o b a t o , no
R e c ô n c a v o B a i a n o . Em 1 9 5 3 foi c r i a d a a P e t r o b r á s , s e n d o q u e a
produção nacional de p e t r ó l e o a u m e n t o u de 2 0 . 0 0 0 t o n e l a d a s em
1950 para 4,5 m i l h õ e s de t o n e l a d a s em 1 9 6 4 .
A partir de 1 9 6 8 , no e n t a n t o , a p o l í t i c a de
a u t o s u f i c i ê n c i a p e t r o l í f e r a foi s u b t i t u í d a pelo a j u s t a m e n t o
do setor e n e r g é t i c o as c o n d i ç õ e s v i g e n t e s no m e r c a d o
i n t e r n a c i o n a l , A o p ç ã o do r e g i m e m i l i t a r foi : do a b a n d o n o
c r e s c e n t e ( a i n d a q u e nSo t o t a l ) da e x p l o r a ç ã o de p e t r ó l e o em
território nacional ao c r e s c e n t e a u m e n t o da d e p e n d ê n c i a
•«terna, uma vez que o m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l o f e r e c i a
Petróleo a b u n d a n t e e b a r a t o . P a r a l e l a m e n t e a d í v i d a e x t e r n a
D^a&iieira inchava e t o m a v a p r o p o r ç õ e s i n u s i t a d a s .
Não a p e n a s o g o v e r n o e o e m p r e s a r i a d o b r a s i l e i r o , m a s
*»m os de t o d o s os p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , e n v e r e d a d o s pelo
-
037
caminho suicida da crescente utilização deste recurso nSo-
renovável, estava absolutamente convencido do sucesso da
marcha do "milagre" econômico, cujo "carro-chefe" era a
indústria automobilística.
Talvez o "sucesso" estivesse de fato garantido não fosse
a criação da OPEP (Organização dos Países Produtores de
Petróleo) em 1960. Esses países que detinham em 1971 cerca da
metade da produção mundial de petróleo, deflagraram em 1973
uma crise energética declarando que a "era" do petróleo
abundante e barato havia chegado ao fim. (47) A OPEP passou
então a fixar cs preços do petróleo.
Mas, e o Brasil ? Nesse ano de 1973, o país importava
80% do petróleo consumido e em 1978» esse número aumentava
para 82,4%. "As elevadas importações do combustível fóssil e
B decisão de mantê-los como base do modelo energético foram
•t principais causas dos prolongados desequilíbrios do nosso
balanço de pagamentos." (48)
A conseqüência à atitude da OPEP deveria ser a
inauguração de uma nova ordem econômica mundial, menos
predadora e poluidora e que considerasse as potencialidades
energéticas renováveis de cada país e região.
0 que ocorreu, contrariamente, foi a "adaptação" de cada
pais à nova situação e o prosseguimento do estilo de vida já
•ntfto vigente e que tem no "progresso" ilimitado sua meta
"»• i o r ,
fcntre 1978 e 1 9 8 3 , o c o n s u m o do ó l e o c o m b u s t í v e l e da
ina foi r e d u z i d o d r a s t i c a m e n t e no B r a s i l , c r e s c e n d o o da
-
0 3 8
eletricidade, do carvio e do álcool.
Mas se a crise energética brasileira estava concentrada
no campo dos combustíveis automotivos, era oportunidade de
procurar outros caminhos. N&o obstante, a política de
transportes persistiu incentivando a estrutura rodoviária
(49) em detrimento da -ferroviária (50) e da hidrovia,
insistiu nos transportes individuais em detrimento dos
coletivos.
Nesse sentido -foi criado o Programa Nacional do álcool
(Próalcool) já em 1973 com a finalidade de promover a
substituição de combustíveis derivados do petróleo, que
somente em 1977 teve um aumento significativo na produção do
álcool, por falta de interesse dos usineiros (até 1975 era
alto o preço do açúcar).Mas "a Secretaria de TecnologiaIndustrial, já em meados de 1975, havia dominado soluções quelevariam o Brasil a uma rápida auto-suficiência emcombustíveis líquidos renováveis, adequados a substituiçãodo» derivados de petróleo que vinham tendo utilizados namovimentação da frota automotora nacional. As soluçõespropostas não foram, entretanto, implementadas nas dimensõesadequadas e surgiram, em seu lugar, "pacotes" de gigantescosprojetos, sem qualquer relação direta com a crise energéticabrasileira, como o programa nuclear, a construção das grandesusinas hidrelétricas, entre outros, todos de difíciljustificação. Criou-se assim forte componente adicional paraengrossar a dívida externa". (51)
L. PINGUELLI ROSA, em seu depoimento, afirma que o
álcool resolveu, na época da crise do petróleo, o problema
dos automóveis particulares, o que nío chegava a ser uma
prioridade. Mas foi efetivo, funcionou e agora se tornou um
Problema, pelo fato das opções nao terem sido bem
• Ministradas, ficando o país com excesso de gasolina e falta
•• »lcool
-
0 3 9
P a r a o r e g i m e m i l i t a r o c h o q u e do p e t r ó l e o s e r v i u c o m o
a r g u m e n t o p a r a i n t e n s i f i c a r o i n v e s t i m e n t o no s e t o r e l é t r i c o ,
a p e s a r do p a í s n&o ter s i d o i m p o r t a d o r de p e t r ó l e o p a r a
q e r a ç ã o de e n e r g i a e l é t r i c a , c o m o o c o r r i a e m v á r i o s o u t r o s
pai s e s .
No início da d é c a d a de 70» e n t ã o , o g o v e r n o d e c i d i u por
g i g a n t e s c o s p r o