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Boletim do Instituto de Saúde Nº 43 – Dezembro de 2007 ISSN 1518-1812 / On Line: 1809-7529

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Boletim do Instituto de SaúdeNº 43 – Dezembro de 2007ISSN 1518-1812 / On Line: 1809-7529

GOVERNO DO ESTADO DE

TRABALHANDO POR VOCÊSÃO PAULOSECRETARIA

DA SAÚDEINSTITUTODE SAÚDE

capa SAUDE BUCAL.p65 21/8/2008, 15:031

Sumário

� Editorial ........................................................................................................................................................ 1� Seminários de Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva:

uma estratégia para integração de serviços ..................................................................................... 3� A Saúde Bucal nos Municípios da DIR V – Osasco: a experiência do Comitê de Saúde

Bucal da região ........................................................................................................................................ 6� Formação para a Clínica Ampliada de Saúde Bucal: uma proposta metodológica

(e mudança de olhar) .............................................................................................................................. 10� Curso de Clínica Ampliada de Odonto-estomatologia para Cirurgiões-dentistas do Sistema

Único de Saúde – SUS: monitoramento de resultados após um ano ............................................. 15

� A Política como Necessidade: pensando a participação popular na saúde............................ 22� Espaços Coletivos: I Encontro Popular de Saúde de Osasco e região na perspectiva do

apoderamento e da co-gestão ............................................................................................................. 24� I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Região - Carta de Osasco ..................................... 28� Conselhos Municipais de Saúde de Osasco e Região: identificação de perfil, controle

social e formulação de políticas para o SUS....................................................................................... 29� Estudo Comparativo entre Tendências de Gastos Públicos Municipais em Saúde

e Indicadores de Saúde Bucal na Antiga DIR V - Osasco (2000-2004) ..................................... 32� Formação de Gestores para o SUS, Novas Abordagens e Novas Possibilidades de

Interlocução: a experiência do curso de formação de coordenadores de Saúde Bucalem co-gestão para o SUS ....................................................................................................................... 36

� Relatório Científico do “Observatório de Saúde Bucal Coletiva”: comentárioscríticos e reflexões úteis ao Serviço Público Odontológico .......................................................... 40

BIS – Boletim do Instituto de SaúdeNº 43 – Dezembro de 2007ISSN 1518-1812 / On Line: 1809-7529

Publicação Quadrimestral do Instituto de SaúdeTiragem: 2.000 exemplaresRua Santo Antônio, 590 – Bela VistaCep: 01314-000 São Paulo - SPE-mail: [email protected] page: http://www.isaude.sp.gov.br

Secretário de Estado da Saúde de São Paulo:Luiz Roberto Barradas Barata

Coodenadora de Ciência, Tecnologiae Insumos Estratégicos em Saúde:

Maria Cecília Marchese da Mota Azevedo Correa

Diretor do Instituto de Saúde:Otávio Azevedo Mercadante

Diretora Adjunta do Instituto deSaúde:Cláudia Valencia Montero

Expediente:Editor Responsável: Luiz Vicente Souza Martinos

Comissão Editorial: Lenise Mondini; Marisa Feffermann; Olga Sofia F. Alves;Regina Figueiredo; Sandra M. T. Greger; Silvia Bastos

Colaboradores desta Edição:Carlos Butazzo; Carolina Rogel Souza; Fabiana Schneider Pires; FaustoSouza Martino; Luiz Antonio Cherubini Carvalho; Luiz Vicente Souza Martino;Maria Aparecida de Oliveira; Rebeca Silva Barros.

Revisão e Normalização Bibliográfica:Carmen Paulenas; Ana Maria da Silva

Revisão de Texto:Marcelo Rouanet

Edição Final:Dulce Rocha

Apoio Logístico:Área de Comunicação – IS

Responsável Administrativa:Vânia Feres

Divulgação: Núcleo de Documentação e Informação – IS

Capa: Keith Horing, Untitled, 1989, enamel and acrylic on canvas.

Arte final, CTP, Impressão e Acabamento:Páginas & Letras Editora e Gráfica Ltda.

GOVERNO DO ESTADO DE

TRABALHANDO POR VOCÊSÃO PAULOSECRETARIA

DA SAÚDEINSTITUTODE SAÚDE

É permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que sejam mantidos os créditos dos autores e instituições.Os dados, análises e opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade de seus autores.

conjunto, possamos fortalecer o Sistema Único de Saú-de e a Reforma Sanitária brasileira.

Referências BibliográficasBOTAZZO, C. Sobre a bucalidade: notas para a pes-quisa e contribuição ao debate. São Paulo: RevistaCiências e Saúde Coletiva, jan./mar. 2006, vol.11, no.1,p.7-17.BOTAZZO, et al. Oficina “Subjetividade e PráticaOdontológica”.8º Congresso Brasileiro de SaúdeColetiva 11º Congresso Mundial de Saúde Pública.Disponível em ht tp://w w w.isaude.sp.gov.br/observatorio/obs.htm [06 jun 2007].BOTAZZO, C. Unidade básica de saúde. A porta dosistema revisitada. Bauru: EDUSC, 1999.BRASIL. 1ª Conferência Nacional de Saúde Bucal.Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 1986.BRASIL. 2ª Conferência Nacional de Saúde Bucal.Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 1993._______. 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal.Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 2004.

BRASIL. Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília:Ministério da Saúde, 2004.CAMPOS, G.W.S. Saúde Paidéia. São Paulo: Hucitec;2003._______. Um método para análise e co-gestão decoletivos. São Paulo: Hucitec; 2000.CHAVES, M.M. Odontologia social. Rio de Janeiro:Editorial Labor do Brasil, 1977. 448 p. CAMPUS II. 2ª.ed.JACOBI, P.R. Polít icas sociais e os desaf ios daparticipação citadina. São Paulo: Revista Ciências &Saúde Coletiva, 7(3), 2002, 443-54.MINAYO M.C .S .M. O desafio do conhecimento.Pesquisa Qualitativa em Saúde. São Paulo: EditoraHucitec-Abrasco, 1992.NARVAI, P.C . Saúde bucal colet iva: caminhos daodontologia sanitária à bucalidade. São Paulo: Revistade Saúde Pública, v.40, n.º especial, p.141-7, ago. 2006.

http://www.isaude.sp.gov.br/observatorio/obs.htm

capa SAUDE BUCAL.p65 21/8/2008, 15:032

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

Editorial

Luiz Vicente Souza Martino1

1 Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da SES-SP e editor responsávelpor essa edição. Contato: [email protected]

2 Spink PK. In: Keinert TMM & Karruz AP. (org.). Qualidade de vida:observatórios, experiências e metodologias. São Paulo:

Annablume/Fapesp, 2002.3 Botazzo C, Manfredini MA, Narvai PC, Frazão P. Saúde Bucal Coletiva.

São Paulo/SP, 1988. mimeo.

“A luta para a construção de uma prática públicaque incorpore e inclua a cidadania de todos e todas

como sua premissa básica - onde igualdade é um pontode partida e não um objetivo eventual e místico -

não é um sonho”2

Em 2008, a Const i tuição Federal que abriu caminho para osurgimento do Sistema Único de Saúde (SUS), completa 20 anos. Nestecontexto de profícuas lutas e motivo de justa satisfação, onde tambémcompleta 20 anos a divulgação do pequeno texto mimeografado - o hojefamoso marco teórico (Saúde Bucal Coletiva3) -, é que pela primeira vez oBoletim do Instituto de Saúde (BIS), em seu 43º número, tem como temacentral a Saúde Bucal Coletiva. Mais precisamente, o Projeto “Observatóriode Saúde Bucal Coletiva – construindo a cidadania na saúde”, que nasceuno próprio Instituto de Saúde da SES-SP entre reflexões e debates do Grupode Estudos de Clínica Odontológica, lá pelos idos de 2003.

O Projeto, aprovado e financiado pelo CNPq, teve como seuterritório de observação a região da extinta Direção Regional de Saúde(DIR) V de Osasco - hoje pertencente ao Departamento Regional de Saúde(DRS) I, juntamente com todos os municípios da Região Metropolitana deSão Paulo -, entre os anos de 2005 e 2007. Aspectos fundamentais aosserviços públicos de saúde como a universalidade, equidade, integralidadee controle social foram examinados pelo Observatório, utilizando algumaspossibilidades de investigação: observação, investigação teórica, análisedocumental, entrevista e pesquisa-ação e guiando-se por cinco linhas depesquisa: clínica ampliada, ações coletivas, média e alta complexidade,gestão e co-gestão e informação em saúde.

O componente “clínica ampliada”, no contexto do Observatóriode Saúde Bucal Coletiva, trabalhou com elementos que pretendiam queo cirurgião-dentista repensasse sua prática, propiciando condições subje-tivas para o exercício ampliado da clínica odontológica, ultrapassandoa usual abordagem de “cariologia” e puericultura presente nos serviçose a fragmentação das especialidades.

Enquanto isso, inovações em promoção da saúde foram propostaspelo componente de ações colet ivas , avaliando o potencial demobilização social e política das práticas educativas em saúde bucal,como expressão de ações coletivas em saúde, no tocante à participação

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

do usuário e à capacidade dos conselhos de saúde na formulação eimplementação das políticas de saúde.

A média e alta complexidade avaliou a demanda e sistemas dereferência e contra-referência na região da DIR V. Ao contextualizar aregião, deparou-se com o processo de implantação dos Centros de Espe-cialidades Odontológicas (CEO) e dos Laboratórios Regionais de PróteseDentária (LRPD), parte integrante da Política Nacional de Saúde Bucal(Brasil Sorridente), que teve como propostas aspectos como ampliaçãodo acesso e integralidade das ações de saúde bucal.

O grupo gestão e co-gestão ocupou-se em pesquisar modelos degestão para os serviços de saúde que impulsionassem a participaçãopopular na condução e implantação das políticas de saúde, discutindomodelos de gestão que incluíssem o usuário na gestão do SUS . E ainformação em saúde trabalhou com os sistemas de informação em saúdebucal, utilizados pelos municípios, representados no Comitê de SaúdeBucal da Direção Regional de Saúde V, avaliando-os, sugerindo reade-quações e propondo a construção e utilização de novos indicadoresde saúde bucal.

O percurso do Projeto foi marcado por inúmeras experiências queconstruíram uma vasta biblioteca de assuntos que, logicamente, carecemde investigações futuras. Os textos presentes nesta edição do BIS for-necem apenas uma pequena amostra do trabalho produzido pelo Obser-vatório. Por enveredar pela diversidade da pesquisa que o SUS propor-ciona, o Observatório de Saúde Bucal Coletiva agregou uma grandequantidade de pessoas em sua estrutura dentre usuários, trabalhadorese pesquisadores, bem como os participantes de seus dezesseis “Seminá-rios de Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva – Integrando Serviços” que serealizaram em seu trajeto. Portanto, é necessário salientar que seu desen-volvimento científico, desde a proposição de seus objetivos até a demons-tração de seus produtos, só foi possível com a contribuição de todasestas pessoas e é justo aqui o agradecimento a todos.

Finalmente, para o fechamento desta publicação, houve uma preo-cupação referente à autoria dos dez artigos aqui presentes, devido àmaneira como as atividades foram propostas, planejadas e executadasno Projeto Observatório, ou seja, em clima de liberdade e de escuta,principalmente. Optou-se, então, por utilizar critérios semelhantes a outraspublicações, já usuais e conhecidos por todos. Os autores foram aquelesque participaram da elaboração dos artigos de modo que assumampublicamente a responsabilidade pelo seu conteúdo. A concepção e odelineamento ou a análise e interpretação dos dados, a redação doartigo ou a sua revisão crít ica, além da aprovação da versão a serpublicada também foram levados em consideração.

A efetiva intenção do Projeto foi de contribuir para a construçãoda cidadania no SUS. E, com esta perspectiva, o Observatório de SaúdeBucal Coletiva deseja a todos uma boa leitura!

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Boletim do Instituto de Saúde

Breve Histórico de um Percurso na Pesquisaem Saúde Bucal Coletiva

A formação do Observatório de Saúde Bucal Cole-tiva teve origem no Grupo de Estudos de Clínica Odon-tológica que se reuniu no Instituto de Saúde a partirde agosto de 2003 com o intuito de problematizaralgumas relações entre a clínica odontológica e oSistema Único de Saúde (SUS), vale dizer, das relaçõesentre Odontologia e Sociedade.

No âmbito do Grupo, emergiram algumas interro-gações: seria possível ampliar o exercício da clínica,de modo a torná-la inclusiva de grupos populacionaistradicionalmente excluídos? Seria possível aumentar acompetência diagnóstico-terapêutica do cirurgião-den-tista que atua na atenção básica? Seria possível formarequipes de saúde bucal, com pessoal auxiliar - técnicoem higiene bucal (THD) e auxiliar de consultório dentá-rio (ACD) - no exercício compatível de suas funções?Seria possível incrementar/estimular as relações daequipe de saúde bucal com a sociedade local? E seria,finalmente, possível implementar formas democráticasde gestão ou investir na co-gestão de coletivos?

Estas interrogações nos conduziram à proposiçãodeste Observatório de Saúde Bucal Coletiva em feve-reiro de 2004, quando se realizou no Instituto de Saúdea 1ª sessão de um seminário que tomou o nome de“Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva: integrando servi-ços”. Neste mesmo ano, houve a abertura do EditalMS/CNPq 038/2004, com seleção pública de pro-postas tratando de políticas de saúde bucal, criando-se a possibilidade de estruturarmos um projeto quepoderia, caso aprovado e com recursos, dar institu-cionalidade e capacidade operativa de forma maisampla para a condução de estudos sistematizadossobre a situação que se desenhava no território da antigaDireção Regional de Saúde V – Osasco, atualmenteincorporada ao Departamento Regional de Saúde I.

Metodologicamente, escolhemos pesquisa-açãocomo técnica de investigação para pesquisa científica

Seminários de Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva:uma estratégia para integração de serviços

Rebeca Silva de Barros1

Carlos Botazzo2

1 Cirurgiã-Dentista, participante do Programa de Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva do Institutode Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo,. Contato: [email protected]

2 Doutor em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado daSaúde de São Paulo. Contato: [email protected]

3 Por serviços compreendemos a academia, os institutos de pesquisa, as unidades de saúde, as secretariasmunicipais/estaduais de saúde e seus respectivos conselhos.

porque este método, ao aproximar o grupo de pesqui-sadores e os sujeitos da pesquisa, possibilita a inter-comunicação e relacionamento entre o pólo investi-gador e o pólo investigado (THIOLLENT, 1981). Esseencontro de sujeitos num espaço sócio e politicamentedeterminado proporciona a identificação de problemasque e como tais problemas afetam os diferentes sujeitose a proposição de soluções construídas numa pers-pectiva coletiva.

Os eixos temáticos para pesquisa e debate no âm-bito do projeto se concentraram em cinco compo-nentes, a saber: clínica ampliada, ações colet ivas,informação em saúde, co-gestão e média e alta com-plexidade. Dentre as ações desenvolvidas no períodode vigência do projeto encontraram-se desde amodalidade de observação, até pesquisa-intervençãoem campo.

Nesse artigo, focaremos na apresentação e discus-são da modalidade de execução de seminários depesquisa, como estratégia de integração de serviços3

e publicização do conhecimento.

Seminários de Pesquisa em Saúde BucalColetiva - produção de conhecimento e suaincorporação no cotidiano dos serviços

O Observatório de Saúde Bucal Coletiva realizou,com regularidade, seminários de pesquisa dos quaispart iciparam pesquisadores, profissionais e mesmousuários (conselheiros dos Conselhos de Saúde daregião do Observatório).

O objetivo dessas reuniões teórico-metodológicasfoi oferecer suporte teórico-crít ico para as equipeslocais de saúde, formuladores de políticas e gestoresdo SUS e, igualmente, para a reflexão sobre as relaçõesentre o aparelho formador e o sistema de saúde a partirda: 1) articulação de pesquisadores e docentes dedistintos centros produtores de conhecimento em saúdebucal; 2) apresentação de resultados de pesquisasconduzidas nestes centros à luz de novas referênciasteóricas e metodológicas; 3) estimação (ou estimativa?)do potencial de inovação na organização tecnológicado trabalho e no recorte de objetos para a inves-tigação; 4) organização e coordenação da difusãodo conhecimento.

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Tais seminários se iniciaram em 2004 e por meio delesfoi possível estimar o potencial de participação dosprofissionais e dos usuários na formulação de políticas,identificar nós-críticos na oferta de serviços e limites nacompetência diagnóstico-terapêutica dos dentistas daregião e equacionar propostas de superação peloincremento da capacidade resolutiva e desenvolvermetodologia de formação com vistas à ampliação daclínica de odonto-estomatologia consoante à integra-lidade e à universalidade do SUS, assim como, propiciar“massa crítica” e formação da própria equipe do projeto.

As sete primeiras sessões foram realizadas em 2004,na fase preparatória do Observatório e, mesmo depoisde implantado o Projeto, mantiveram a seqüência e omesmo desenho. Cada uma delas teve diferentesobjetivos e finalidades, e, em conjunto, permitiram acu-mular conhecimentos entre distintos sujeitos, propiciartroca de experiência entre os componentes das equipesde saúde bucal e colocar os participantes diante dodesafio de pensar o cotidiano dos serviços muitas vezesa partir de procedimentos “sem muito rigor metodo-lógico”, como foi o caso do levantamento de necessida-des sentidas de tratamento odontológico, na 5ª Sessãodos Seminários, conduzida por meio de “enquete” daqual participaram pesquisadores, dentistas, auxiliares econselheiros usuários, com base em roteiro de entrevista.

As oito sessões seguintes foram realizadas já noâmbito do projeto. Na 8ª sessão foram definidos ostemas que deveriam ser incorporados numa futuraformação clínica, outra vez com a participação dosdent istas das equipes de saúde bucal, auxiliares econselheiros, além, naturalmente, dos pesquisadores.

A problematização se deu a partir da exposiçãode “casos clínicos” selecionados pelos dentistas, expli-ci tando os “limites” sent idos para a efet ivação dotrabalho clínico. Assim, o foco foi o paciente adultocom sua carga de doença bucal, os portadores depatologias crônicas, os seqüelados neurológicos, oscasos “bucais” de maior complexidade, o fluxo da refe-rência e da contra-referência, exames complementares,registro da informação, seguida da observação de que,em tudo, este processo é diferente do recorte puericultorou materno-infantil (cariológico), base tradicional dosconceitos “programáticos” presentes na organizaçãodos serviços.

Nas sessões 9 e 10, realizadas em dezembro de2005, foram apresentadas “as primeiras leituras” permi-tidas pelo Observatório. Abriram-se os debates comgestores municipais e regionais de saúde, incluindorepresentantes do Núcleo de Educação Permanenteda (extinta) Direção Regional de Saúde (DIR) V – Osas-co, do Pólo da Região Metropolitana de São Paulo.

O conteúdo programát ico tomou duas grandesvertentes: a dinâmica social na região e as questões dopoder local (9ª sessão) e a impossibilidade histórica deuma “clínica integrada” de odontologia com relação à

inclusividade (“acolhimento e desvio”) de uma clínicaampliada de odonto-estomatologia (10ª sessão). Também,na 9ª sessão, com as “primeiras leituras”, foi possívelexplicitar a pluralidade dos modelos de organização localdo SUS e a variedade da organização do trabalho emsaúde bucal, e isto no tocante ao número de equipes,incorporação de pessoal auxiliar, uso da informação emsaúde, protocolos de referência e contra-referência,abrangência do cuidado em saúde bucal prestado àpopulação, entre outros aspectos relevantes.

As sessões de 11 a 15 foram as primeiras abertasao público e nelas se buscou inovar na programação.Assim, enquanto nas sessões anteriores o foco recaíana formação da própria equipe, nestas foram orga-nizados debates em torno de questões relevantes paraa organização do SUS. Os temas foram, seqüencial-mente, os seguintes: 11ª sessão: Atenção Básica eSaúde Bucal na Atenção Básica; 12ª sessão: Infor-mação em Saúde e Indicadores de Saúde, 13ª sessão:A Gestão da Saúde Bucal no SUS; 14ª sessão: Espe-cialidades Odontológicas, o Ensino da Odontologiae o SUS; e 15ª sessão: A Cárie Dentária como Fetiche.

Foram convidados pesquisadores e gestores emposição de contribuir com o debate, e participaramcomo ouvintes coordenadores municipais, dentistas dasequipes de saúde em unidades básicas e de saúde dafamília, conselheiros dos conselhos municipais de saúdee outros interessados, representando dezenas de cida-des do estado de São Paulo e capital, com aproxima-damente 100 ouvintes a cada sessão.

A 16ª sessão, realizada em setembro de 2007,dedicou-se à apresentação do Relatório Científico doProjeto enviado ao CNPq com participação de repre-sentantes das esferas federal, estadual e municipal comocomentaristas dos resultados de pesquisa apresentadospublicamente no Instituto de Saúde.

Considerações FinaisA oportunidade de propor a realização desses

seminários coroou as expectativas, entre os pesqui-sadores e profissionais da saúde bucal, de estreitar ointercâmbio entre gestores, trabalhadores, usuários epesquisadores dos centros e grupos de pesquisaatuantes neste específico segmento da Saúde Coletiva.

Como uma das estratégias, os Seminários de Pes-quisa constituíram modalidade inovadora de reuniãotécnico-científ ica dinamizada pelo Observatório deSaúde Bucal Coletiva. Tiveram por finalidade consolidare desenvolver a equipe e propor o aprofundamentoteórico e metodológico do coletivo, com a agregaçãode novos meios de trabalho e de linguagem comum eidentitária. Foram propostos como extensão do Grupode Estudos em Clínica Odontológica, de naturezamultiprofissional, que inicialmente reunia estudantes degraduação e pós-graduação interessados em proble-matizar aspectos da prática odontológica.

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Como inovação houve, desde o começo, apart icipação não apenas dos pesquisadores, mastambém dos trabalhadores dos serviços (dentistas eauxiliares) e conselheiros-usuários dos ConselhosMunicipais de Saúde. Desta maneira, foi possívelpartilhar experiências, levantar expectativas, identificarproblemas e propor soluções. Também foi relevante talarranjo, pois permitiu que distintos atores pudessem seencontrar num mesmo espaço e na mesma ocasião,com suas distintas posições ou visões do SUS.

A despei to de que se dê grande ênfase àpar t icipação popular na saúde e, igualmente, seenfatize as diferenças entre os sujeitos, raramente estesencontram ocasião para se conf rontar. Assim, foioportunidade única a possibilidade deste convívio“heterodoxo”. Não por acaso, tais reuniõesdenominaram-se “Seminários de Pesquisa em SaúdeBucal Coletiva: Integrando Serviços”.

A promoção dessas reuniões signif icou umaopor tunidade fundamental, pos to que o espaçooferecido por congressos ou encontros de maiorenvergadura permite a difusão do conhecimento, semdúvida. Porém não foi possibilitou o aprofundamentoteórico-polít ico e metodológico necessário parafornecer subsídios para a definição de uma agendade pesquisas em Saúde Bucal Colet iva comum àsprioridades da pesquisa em Saúde e à Polít icaNacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde.

Referências BibliográficasTHIOLLENT M. Crítica metodológica, investigaçãosocial e enquete operária. São Paulo, Livraria e EditoraPolis. 2ª edição, 1981. Coleção Teoria e História.

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A Saúde Bucal nos Municípios da DIR V – Osasco:a experiência do Comitê de Saúde Bucal da região

Fausto Souza Martino1

Luiz Vicente Souza Martino2

Rebeca Silva de Barros3

Carlos Botazzo4

1 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Mestrando em Ciências Odontológicas, área deconcentração Odontologia Social pela Universidade de São Paulo, Cirurgião-Dentista. Contato:[email protected]

2 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretariade Estado da Saúde de São Paulo Contato: [email protected]

3 Cirurgiã-Dentista e participante do. Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva do Instituto de Saúdeda Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected].

4 Doutor em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúdede São Paulo. Contato: [email protected].

IntIntIntIntIntrrrrroduçãooduçãooduçãooduçãooduçãoCom a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),

os serviços municipais de saúde vêm trabalhando deforma a transpor barreiras para sua implantação, atra-vés de seus princípios fundamentais de universalidade,integralidade e eqüidade. A busca da ampliação doacesso a serviços integrais e resolutivos tem sido umconstante desafio aos municípios que tiveram sua res-ponsabilidade aumentada, pois, segundo a lei federal8.080 – Lei Orgânica da Saúde – (BRASIL, 1990), com-pete à esfera municipal do SUS um papel mais amplodo que mero coletor de dados, devendo planejar,organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços,além de gerir e executar os serviços públicos de saúde.

A região da extinta Diretoria Regional de Saúde(DIR) V de Osasco apresenta-se como uma pequenafatia do universo do SUS, com seus problemas e solu-ções no encaminhamento do cotidiano dos serviçospúblicos de saúde. Como ramo da Secretaria de Estadoda Saúde de São Paulo (SES/SP), a DIR promovia ainterlocução entre estado e municípios pertencentes àsua região para implementação de diversos programasde saúde, dentre eles a saúde bucal. Administrativa-mente, ainda apresentava resquícios de sua históriarecente, pois sempre foi mapeada, para efeito deplanejamento, em duas micro-regiões: A (São Lourençoda Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista,Juquitiba, Cotia, Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica daSerra) e B (Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osas-co, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba), quecompreendiam dois antigos Escritórios Regionais deSaúde (ERSA) da década de oi tenta, fundidos nacriação das Direções Regionais de Saúde no estadode São Paulo. Porém, não se pode deixar de notaralgumas diferenças entre as duas micro-regiões quantoa seus serviços de saúde.

Historicamente, a micro-região A sempre foi a maisorganizada e coesa nos aspectos da saúde pública, comseu ERSA sendo dirigido quase que constantemente porpessoas ligadas à Reforma Sanitária. Pode-se lembrar, porexemplo, o pioneirismo de Embu das Artes na saúde bucal,como um dos primeiros municípios do Brasil a integrar ostécnicos de higiene dental (THD) ao serviço público, alémda implantação dos procedimentos coletivos nas açõesde natureza coletiva. Enquanto isso, a outra micro-regiãoinsistia, ainda no início dos anos noventa, com a assistênciamaterno-puericultora, além de manter prof issionaisexclusivos para atendimento de escolares, em consultóriostradicionais dentro de escolas públicas.

Ainda na época do experimento do Observatório,entre 2005 e 2007, diferenças na organização dosserviços podiam ser detectadas, por exemplo, nos fluxosde encaminhamento e assistência aos pacientes quenecessitavam de atendimento hospitalar em saúdebucal. O fluxo ao Hospital Pirajussara, localizado próxi-mo aos municípios de Embu das Artes e Taboão daSerra, acontecia com muito mais agilidade que no Hos-pital Regional de Osasco. Para surpresa dos gestoresmunicipais da região, constatou-se que a Regional deOsasco não possuía cargo de cirurgião-dentista emseu quadro, mesmo prestando atendimento na áreade cirurgia bucomaxilo facial, fazendo com que as difi-culdades para encaminhamento e atendimento dos pa-cientes da região aumentassem sobremaneira.

A população estimada na região é de 2.845.205habitantes, numa área de cerca de 2.080 Km2 (IBGE,2007), abrangendo os municípios de Barueri, Carapi-cuíba, Cotia, Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra,Itapevi, Jandira, Juquitiba, Osasco, Pirapora do BomJesus, Santana de Parnaíba, São Lourenço da Serra,Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista. Seu terri-tório é entrecortado por três grandes rodovias que li-gam a região metropolitana de São Paulo ao interiordo estado (Castelo Branco, Raposo Tavares e RegisBitencourt), além de um novo anel viário, ainda emconstrução, que as liga (Rodoanel). O acesso a algumasdas cidades da região pode ser feito também porferrovia, principalmente aos municípios próximos àRodovia Castelo Branco, caso de Osasco, Barueri,Carapicuíba, Jandira e Itapevi.

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Boletim do Instituto de Saúde

A região revela grandes contrastes e distorções,pois tanto abriga em seu território a riqueza e opulên-cia de municípios com arrecadações das maiores doBrasil, como também a miséria e a pobreza daquelesque, para guardar sua população, optaram pela cons-trução de um mar de pequenos prédios, que escondempor detrás de seu concreto uma história de gente queteve de ser deslocada de seus logradouros para darlugar ao progresso.

Várias de suas cidades viraram dormitórios, pois seusmoradores necessitam buscar seu sustento na grandemetrópole. Contudo, também há os condomínios de altopadrão, onde o mais pobre munícipe também tem acesso,mas como local de trabalho. Além do mais, extensas áreasde mananciais e florestas de mata atlântica misturam-se aregiões que se ligam à capital paulista, produzindo umconglomerado de habitações que torna impossível saberonde começam e terminam as cidades.

Tamanhas diferenças findaram, ironicamente, porreproduzirem-se nos programas e panoramas da saúdebucal dos municípios da região, pois se verificam, verda-deiramente, quinze maneiras diferentes de “fazer” saúdebucal na antiga DIR V. Tal fato explicaria, por si só, acriação de uma instância, onde pudesse haver um dire-cionamento e orientação às cidades da região. Ao criar-se um Comitê de Saúde Bucal, ao final dos anos noventa,a intenção era a organização da política de saúde bucalda região, assessorando, fortalecendo e incentivandoos municípios neste aspecto para que o SUS tambémpudesse avançar em suas diretrizes e bases.

ObjetivoO objetivo deste trabalho foi descrever a experiência

de organização da saúde bucal na região da extintaDIR V - Osasco, através da criação de um Comitê deSaúde Bucal da região composto pelas coordenaçõesde saúde bucal de quinze municípios; sua forma de orga-nização; e suas realizações. Pretende também apresentarparte do diagnóstico de saúde, através de indicadoresde saúde bucal da região, com dados coletados entre2003 e 2005, depois desenvolvido pelo grupo nosanos de 2005 e 2006, durante o desenvolvimento doProjeto Observatório de Saúde Coletiva.

O Comitê de Saúde BucalA experiência da área de saúde bucal da extinta

DIR V – Osasco teve importantes avanços em sua orga-nização nos últimos anos. A região agrega 15 (quinze)municípios da região metropolitana de São Paulo es-tando localizada a oeste da capital.

Em 12 de novembro de 1999, foi criado oficial-mente o Comitê de Saúde Bucal da DIRV – Osascoatravés de portaria do Diretor Técnico da DIR V, DiárioOficial, vol. 109, nº 214, com os objetivos de:

• Fortalecer a implantação e implementação dasdiretrizes políticas da saúde bucal nos municípios;

• Promover a integração dos municípios entre a DIR V– Osasco e a coordenação estadual de saúde bucal;

• Buscar incentivos financeiros para subsidiar açõesde saúde bucal e divulgar resultados das açõesde saúde bucal dos municípios da região;

• Divulgar resultados das ações de saúde bucal.• O comitê apresentava em sua composição o inter-

locutor de saúde bucal da DIR V e representantesda área técnica da DIR V e dos Programas deSaúde Bucal dos 15 municípios da região, desig-nados por ato dos respect ivos Secretários deSaúde de cada município.

• Dentre suas atribuições estão:• Acompanhar e assessorar tecnicamente a execu-

ção e a avaliação das ações de Saúde Bucalimplementadas pelos municípios;

• Promover meios que permitam divulgação depropostas e resultados atingidos para os secre-tários municipais de saúde;

• Incentivar a divulgação de resultados atingidospela equipe de Saúde Bucal aos conselhos muni-cipais de saúde e a população em geral;

• Incentivar a capacitação técnico-científica de to-dos os profissionais envolvidos na área de SaúdeBucal;

• Promover discussões ampliadas através de fóruns-periódicos;

• Incentivar a execução e divulgação de trabalhoscientíficos e sociais empreendidos na região daDIR V.

Dentre algumas atividades realizadas pelo Comitê,vale ressaltar as que demonstraram grande importânciana integração, no desenvolvimento científico e no supor-te técnico à organização dos serviços de saúde bucalda região. Pontualmente, pode-se apontar: o apoio téc-nico aos municípios na implantação dos Centros deEspecialidades Odontológicas (CEO); elaboração doPlano Diretor Regional (PDR) de Saúde Bucal; assessoriaaos municípios nas campanhas de prevenção do câncerbucal; promoção do 1° e do 2° Fóruns de Saúde BucalColetiva da região; incentivo à capacitação técnico-científica de todos os profissionais envolvidos com asaúde bucal através da educação continuada com osprofissionais que realizam especialidades nos municípios;além de apoiar o desenvolvimento de pesquisas emserviço, desenvolvidas juntamente com o Departamentode Odontologia Social da Faculdade de Odontologiada Universidade de São Paulo e o Instituto de Saúde daSES/ SP, que promoveu o surgimento do ProjetoObservatório de Saúde Bucal Coletiva, aprovado efinanciado pelo CNPq, de 2005 a 2007.

A Saúde Bucal na RegiãoA região apresenta 100% dos municípios com servi-

ços de Atenção Básica, incluindo procedimentos coleti-

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vos, ações de caráter preventivo, dentística e cirurgia bá-sica. Apesar de alguns serviços ainda estarem com aassistência odontológica voltada à população materno-infantil, a grande maioria apresenta modelos na lógicada universalização dos serviços. Há serviços, também,baseados em fatores de risco para as doenças bucais.

Além da Atenção Básica, os municípios dispõem deserviços especializados de endodontia, cirurgia oralmenor e atendimento a portadores de necessidades es-peciais. Com a criação de oito CEO na região, outrasespecialidades como periodontia, semiologia e próteseforam implantadas e expandidas a mais municípios.

Como característica diferencial da região, destaca-se o histórico de trabalho com sistema modular e equipede saúde bucal. O primeiro curso de formação de THDno Estado de São Paulo foi realizado no município deEmbu das Artes . Ao todo, foram realizados quatrodestes cursos, com cerca de 50 trabalhadores forma-dos, além de um curso de formação de Auxiliares deConsultório Dentário (ACD).

Dentre os fatores que contribuíram para a melhoriados serviços e do quadro de saúde bucal da regiãoestão, além da f luoretação das águas de abaste-cimento há mais de 20 anos na maioria dos municípiose do uso de dentifrícios fluoretados, a melhoria daqualidade da atenção em saúde bucal proporcionadapela participação da equipe de saúde bucal em ativi-dades mult idisciplinares e investimentos públicos naformação de pessoal auxiliar.

Entretanto, não se pode deixar de relatar que:“o número absoluto de dentistas na região deter-mina a proporção de 1 dentista público para cada6.000 habitantes mas esta é uma aproximaçãomatemática que nada tem de concreta. De fato,em alguns municípios es ta proporção alcançaespantosos 1:25.000 (Itapevi) e em outros é 10vezes mais favorável, 1:2.500 (Santana do Parnaí-ba), enquanto na maior par te deles f ica entre1:3.500 a 1:4.500” (CNPq, 2007).

Indicadores de Saúde BucalCom a evolução da implantação do SUS, torna-se

cada vez mais evidente a necessidade da esfera muni-cipal fazer uso de indicadores de saúde, não só parao cumprimento das exigências dos níveis federal eestadual de acordo com a gestão, mas para a avalia-ção, controle e planejamento das ações em saúde.

A avaliação das ações e serviços constitui desafiopermanente aos administradores dos serviços de saúde(NARVAI, 1996).

Tais indicadores devem ser amplamente utilizadosem nível local, no controle, planejamento, organizaçãoe avaliação das ações e serviços, e principalmente,na tomada de decisões. Eles não devem ser avaliadosisoladamente, e sim através de sua série histórica e darelação com outros indicadores.

Dentre os indicadores analisados pelo Comitê deSaúde Bucal e o Projeto do Observatório de SaúdeColetiva estão: o índice de acesso à primeira consultaodontológica; a cobertura de procedimentos coletivosem saúde bucal na população de 0 a 14 anos e oíndice CPOD aos 12 anos de idade.

Os dados foram coletados através de pesquisa narede internacional de computadores nos endereçoseletrônicos do Ministério da Saúde (MS) e Secretariade Estado da Saúde de São Paulo (SES/SP). As pesqui-sas na área técnica da DIR V – Osasco e nas SecretariasMunicipais de Saúde (SMS) dos municípios estudados,serviram para complementar as informações . Estesindicadores foram totalizados na região e trabalhadosjuntamente com os do estado de São Paulo. Houve tam-bém o estabelecimento de uma relação com as metaspropostas pela SES/ SP, conforme gráficos de 1 a 3.

Gráfico 1: Percentual do índice de acesso à primeira consultaodontológica na região da DIR V – Osasco e Estado de SãoPaulo nos anos de 2003 a 2005 (fonte: DATASUS).

Gráfico 2: Percentual da cobertura de procedimentos coletivosem saúde bucal na população de 0 a 14 anos na região da DIRV – Osasco e Estado de São Paulo nos anos 2000 a 2002(fonte: DATASUS).

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Gráfico 3: Índice CPOD aos 12 anos de idade na região daDIR V – Osasco e no Estado de São Paulo nos anos de 1998 e2002 (fonte: http:// www.saude.sp.gov.br).

Os dados demonstraram que a cober tura daassistência não tem tido alterações significativas emnúmero relativo há vários anos, demonstrando uma baixacobertura da assistência odontológica para a região.Alternativas de investimento em equipe de saúde bucal,como a contratação de ACD e THD, poderiamincrementar o valor do índice. Além disso, fica claro queinvestimentos em promoção de saúde são mais eficazese ef icientes para a melhoria da saúde bucal dapopulação. Mostraram, ainda, que o indicador da DIRV – Osasco, quando comparado às informações obtidasdo estado de São Paulo, encontra-se abaixo da média.

A média do indicador de procedimentos coletivosna região da DIR V – Osasco vem sendo maior que ado estado no decorrer dos anos. Porém, deve-se levarem consideração a grande variação da cobertura entreos municípios. As ações parecem estar incorporadasaos serviços, porém não tem havido grandes evoluçõesno aumento de cobertura.

A faixa etária de escolares até 14 anos de idade,na qual se encontra a população analisada, vem sendobenef iciada ao longo das últ imas décadas pelapriorização da atenção em saúde bucal. Outras faixasetárias não apresentam resultados tão signif icativos(SÃO PAULO, 1998 e 2002).

O índice CPOD tem uma tendência decrescente namaioria dos municípios, demonstrando melhora dos níveisde saúde bucal da população. Apesar das limitaçõesdo indicador, pode-se observar que houve melhora noíndice desde 1998 até 2002, tanto na região da DIR V– Osasco como em todo o estado de São Paulo.

Considerações FinaisDestacamos a importância do Comitê de Saúde

Bucal da DIR V – Osasco, na lógica da regionalização;

na promoção da integração e articulação intermuni-cipal; no desenvolvimento técnico-científico de gestorese trabalhadores na saúde e reprodução de campanhase suporte técnico para a organização dos serviços. Acont inuidade des ta iniciat iva, de acordo com ascaracterísticas da nova reorganização das regionaisde saúde no estado de São Paulo, deve permanecerna pauta dos municípios da região. Essa experiênciapoderia ser estimulada nas demais regionais de saúde.

Referências BibliográficasBRASIL. Lei Federal nº 8080 de 19 de setembro de1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,proteção e recuperação da saúde, a organização e ofuncionamento dos serviços correspondentes e da ou-tras providências. Brasília (DF): Diário Oficial da União,v.1:73, .set. 20, 1990.IBGE. Censo demográfico. Disponível em: [http:// www.ibge.gov.br]. Acessado em 07 fevereiro de 2008.CNPq. Relatório Científico do Projeto Observatóriode Saúde Bucal Coletiva. Construindo a Cidadaniana Saúde, 2007. Disponível em: [http:// www.isaude.sp.gov.br/observatorio/obs .htm]. Acessado em 7fevereiro de 2008.NARVAI PC . Avaliação de ações de saúde bucal.[apostila] São Paulo, Faculdade de Saúde Pública daUSP, 1996. [Apresentado na Oficina “Saúde BucalColetiva promovida pela SES-SP. Jaguariúna, São Paulo.DATASUS. Indicadores de Saúde. Disponível em: [http:// www.datasus.gov.br]. Acessado em 07 de fevereirode 2008.SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde, 1998.Levantamento epidemiológico em saúde bucal: estadode São Paulo, 1998. Disponível em [ht tp:// www.saude.sp.gov.br]. Acessado em 5 de maio de 2003.SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde, 2002.Condições de Saúde Bucal no Estado de São Pauloem 2002. Disponível em [http:// www.saude.sp.gov.br].Acesso em 5 de maio de 2003.

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Formação para a Clínica Ampliada de Saúde Bucal:uma proposta metodológica (e mudança de olhar)

Luiz Vicente Souza Martino1

Carlos Botazzo2

1 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da SES/SP. Contato: [email protected].

2 Doutor em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da SES/SP. Contato:[email protected].

IntroduçãoDesde 2004, o Instituto de Saúde da Secretaria

de Estado da Saúde abriga o Grupo de Pesquisa emSaúde Bucal Colet iva, com linhas de pesquisa empolíticas públicas, indicadores de Saúde Bucal e buca-lidade. Em agosto do ano anterior, teve origem oGrupo de Estudos de Clínica Odontológica, neste mes-mo Instituto de Saúde, com o intuito de problematizaralgumas relações entre clínica odontológica e SistemaÚnico de Saúde e entre Odontologia e Sociedade.Das discussões e idéias surgidas em seu âmbito foi pro-posta uma série de seminários com o tema “Semináriosde Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva - Integrando Ser-viços”, que tiveram início em fevereiro do ano de 2004,sempre com a participação de pesquisadores, coorde-nadores de Saúde Bucal, secretários de saúde, equipesde Saúde Bucal, incluindo auxiliar de consultório den-tário (ACD) e técnico em higiene bucal (THD), e umnúmero expressivo de usuários, representando conse-lhos de saúde da antiga DIR V de Osasco, antiga Dire-ção Regional de Saúde da região metropolitana deSão Paulo. O resultado destes seminários foi o incre-mento da parceria entre Instituto e municípios, com oestabelecimento de novos vínculos na região, dandocomo produto um projeto de pesquisa “Observatóriode Saúde Bucal Coletiva da Direção Regional de Saúde(DIR) V – Osasco: construindo a cidadania na saúde”,aprovado e financiado pelo CNPq durante os anosde 2005 e 2007, cuja referência central é a ampliaçãoda clínica odontológica.

Pensar a clínica no Sistema Único de Saúde (SUS)é tarefa árdua e, não raro, incomum, já que dificilmentenos deparamos com o assunto em produções científicas,salvo em algumas importantes exceções. Quando apreocupação é a clínica ampliada em Saúde Bucalas dificuldades aumentam. O Observatório se propôsa investigar o tema, tendo como campo de pesquisaos quinze municípios da extinta DIR V, aproveitandoaspectos da experiência já instalada na região, refe-rente ao seu Comitê de Saúde Bucal, que reúne

representantes gestores dos 15 municípios da região ea interlocução da própria DIR, tendo como objetivos:fortalecer a implantação e implementação das dire-trizes políticas de Saúde Bucal nos municípios; promo-ver a integração entre os municípios com a DIR V e aCoordenação Estadual; buscar incentivos financeirospara subsidiar ações de Saúde Bucal e divulgar resul-tados das ações de Saúde Bucal.

O PercursoO Comitê de Saúde Bucal, em 2003, iniciou uma

aproximação junto aos cirurgiões-dentistas da rede pú-blica da região através de reuniões técnicas com endo-dontistas dos municípios de Barueri, Carapicuíba, Embudas Artes, Itapecerica da Serra, Osasco e Taboão daSerra (municípios que então eram os únicos a prestareste tipo de serviço na região). Tais encontros tinhamcomo objetivos: a troca de experiências entre os profis-sionais, a incrementação dos serviços na região e odesenvolvimento de uma proposta de protocolo paraa especialidade de endodontia. Estas reuniões tiveramum caráter eminentemente técnico, com periodicidademensal, abordando assuntos como cirurgia de acesso,preparo químico-cirúrgico, obturação de condutos,entre outros, além de aspectos relativos ao atendimentoem suas respectivas unidades e municípios envolvidos.A iniciativa surgiu em meio a um panorama nacionalde ponto de partida da implementação da Polít icaNacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente), onde, cla-ramente, cabia uma discussão em torno das especia-lidades odontológicas por conta da então propostade implantação dos Centros de Especialidades Odon-tológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de PróteseDentária (LRPD). Ao final do ano de 2004 e início de2005, o grupo do Observatório, ainda como coletivoindependente, envolveu-se com estas reuniões técnicasdo Comitê. Os encontros alcançaram uma expansãoem relação aos temas e, conseqüentemente, às especia-lidades odontológicas. Profissionais envolvidos com oatendimento de pacientes com problemas periodontaise necessidades de cirurgia oral menor, além daquelesque lidavam com portadores de necessidades especiaisjá começavam a participar das reuniões técnicas. Ogrupo de pesquisa promoveu uma escuta destes cirur-

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giões-dentistas com o intuito de identificar seus proble-mas cotidianos na clínica odontológica. Dentro distoficava evidenciada uma das estratégias do futuro pro-jeto Observatório, ou seja, a mobilização das equipeslocais de Saúde Bucal, pesquisadores e colaboradores,visando o estabelecimento e o desenvolvimento de umarede de interesses comuns.

A confluência entre os relatos das reuniões técnicascom especialistas e clínicos gerais, a Oficina sobre aampliação da clínica na perspectiva do cuidado inte-gral em Saúde Bucal do XVIII Encontro Nacional deAdministradores e Técnicos do Serviço Público Odonto-lógico (ENATESPO), realizado em 2004 - onde surgiramaspectos relevantes em relação à clínica ampliada,além de inves t igação teórica (CAMPOS, 2003;SOUZA & BOTAZZO, 2004), trouxeram à tona umavisão particular de clínica ampliada em Saúde Bucalpara o Observatório.

Tendo em vista a identif icação do problema - abaixa capacidade diagnóst ico-terapêutica do cirur-gião-dentista que compõe as equipes de Saúde Bucalda região –, sugeriu-se uma capacitação no sentidode se ampliar o espectro de ação deste trabalhadorna clínica odontológica, promovendo a abertura deum repertório maior e mais significativo do diagnósticoalém do atual, que dificilmente ultrapassa os limites doelemento dental. Fato a ser destacado é que todas asatividades foram, desde o início, propostas e construídascoletivamente, como modalidade de pesquisa-ação,o que permitiu aprofundar a compreensão dos limitesda assistência odontológica e as possibilidades desuperação de seu atual estado.

Objetivo do CursoCom esta visão definida, o Observatório de Saúde

Bucal Coletiva construiu juntamente com os cirurgiões-dentistas da região uma nova proposta de qualificaçãopara cirurgiões-dentistas do Sistema Único de Saúdee apresentou-a ao Núcleo de Educação Permanenteda antiga DIR – V e, posteriormente, ao Pólo de Educa-ção Permanente da Secretaria de Estado da Saúdede São Paulo durante o segundo semestre de 2005.Este produto coletivo teve como objetivo geral desen-volver novas tecnologias de produção de cuidado emSaúde Bucal, experimentando as possibilidades de umaclínica odontológica ampliada, que incluísse proce-dimentos de média complexidade, com redefinição doprocesso de trabalho e, principalmente, trazer umareleitura desta clínica com ênfase na integralidade docuidado. E dentre seus objetivos específicos os seguin-tes tópicos elencados:

1. Propiciar o desenvolvimento de competênciadiagnóstico-terapêutica do cirurgião-dentista, permitin-do inovações clínicas na prática odontológica;

2. Capacitar os profissionais para a redefinição doprocesso de trabalho das equipes de Saúde Bucal,incluindo a relação com os outros serviços na unidade,fornecendo a interconsulta por meio do Prontuário Único;

3. Inovar o trabalho do pessoal auxiliar, especial-mente o THD, observando a extensão das suas atribui-ções de origem;

4. Desenvolver, juntamente com as equipes de Saú-de Bucal, protocolos de atendimento e de referência econtra-referência.

A PropostaNa proposta do projeto constavam duas fases dis-

tintas: uma fase de concentração e outra de dispersão.Na fase de concentração, onde são propostos

processos dinâmicos de ensino-aprendizagem; isto signi-fica, preliminarmente, a partilha entre os atores envolvi-dos no que toca à construção desta capacitação.Como definido no projeto, um dos objetivos estratégicosseria a construção, na Saúde, de coletivos com capa-cidade para a produção de valores de uso, quer dizer,o bem estar do paciente, tão integralmente quantopossível, nos limites da capacidade instalada ou doconhecimento e tecnologias disponíveis. As atividadesforam previstas com a forma de: oficinas, aulas exposi-tivas, seminários e outras modalidades dinâmicas; todasdesenvolvidas consoante aos três eixos, já experimen-tados na fase de construção: (1) comunicação (escutae circulação de informações sobre desejos, interessese aspectos da realidade); (2) elaboração (análise daescuta e das informações) e (3) tomada de decisões(prioridades, projetos, contratos) com arranjos concre-tos de tempo e lugar, em situações em que o poderesteja “em jogo” e onde, de fato, se analisem problemase se façam deliberações para a construção de novosespaços públicos. Além disto, como no seu escopo setoma a atividade clínica como foco, o trabalho – emais especificamente, o trabalho em saúde – converteu-se no estruturante pedagógico do projeto.

Na fase de dispersão, os profissionais voltariam aatuar nos serviços, propondo e negociando com osgestores modificações no processo de trabalho e seriamacompanhados pela equipe do projeto, participandoem duas avaliações de desempenho e aferição dosresultados. O público-alvo foi de quarenta cirurgiões-dentistas dos sistemas locais adscritos à DIR V – Osasco,nas equipes de Saúde Bucal, em atenção básica ouno atendimento especializado (endodontia, periodon-tia, cirurgia, pacientes especiais), vinculados ao expe-rimento das possibilidades de uma clínica ampliadade odonto-estomatologia.

Com esta proposta de atividades, optou-se pelaseguinte estrutura para a fase de concentração, comcarga horária de 136 horas:

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Módulo I

Assunto Carga horária

Dinâmica corporal, jogos pedagógicos 04 horas

Dinâmica corporal, jogos pedagógicos 04 horas

Saúde Coletiva e Saúde Bucal Coletiva: 08 horasDefinição do campo, história das políticas públicas e políticas de Saúde Bucal (Princípios do SUS)

Clínica Ampliada: integralidade como função coletiva 04 horas

Oficina de Clínica Ampliada 04 horas

Módulo II

Assunto Carga horária

Aspectos Legais, Clínicos e Administrativos do Prontuário 04 horas

Oficina: Prontuário Único 04 horas

Anamnese, Exame Físico, Hipóteses de Diagnóstico, 08 horasExames Complementares, Diagnóstico e Prognóstico

Módulo III

Assunto Carga horária

Biodinâmica do Aparelho Mastigatório: Articulação Têmporo-mandibular/ Dor orofacial/ Oclusão (Fisiologia Bucal) 08 horas

Anatomia Patológica da Cavidade Bucal 04 horas

Patologia Bucal 04 horas

Farmacologia - Lista Básica e Genéricos - U/E 04 horas

Sedação Pré-cirúrgica 04 horas

Caso clínico - Infectologia 04 horas

Caso clínico - Doença Auto-imune e Cavidade Bucal 04 horas

Caso clínico - Hematologia 04 horas

Caso clínico - Neurologia 04 horas

Caso clínico - Transtornos Psiquiátricos 04 horas

Caso clínico - Pacientes Sindrômicos 04 horas

Caso clínico - Dependentes Químicos 04 horas

Caso clínico - Doenças Endocrinólogicas e Metabólicas 04 horas

Caso clínico - Hipertensão e Cardiopatias 04 horas

Caso clínico - Gravidez 04 horas

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Módulo IV

Assunto Carga horária

Grupo Focal 04 horas

Grupo Focal 04 horas

Grupo Focal 04 horas

Grupo Focal 04 horas

Processo de Trabalho/ Organização da Assistência 04 horas

Organização da Assistência/ Protocolo 04 horas

Organização da Assistência/ Protocolo 04 horas

Organização da Assistência/ Protocolo 04 horas

O CursoAprovado, tanto pelo Núcleo quanto pelo Pólo de

Educação Permanente, o curso transcorreu nos mesesde março, abril e maio de 2006 (13 de março a 06de maio), no Centro de Formação (CEFOR) da DIR V,em Osasco, porém com 20 par t icipantes, dos 40previstos, de oito dos 15 municípios.

Há que se destacar, especialmente, o Módulo IIIque tratou de interconsultas, quase que totalmente mon-tado com ministradores que prestavam serviço na re-gião; ele foi de grande valia na identificação dos fluxosde referência e contra-referência, além da possibilidadede se contar com a “inteligência” da própria região,descortinando talentos que permaneciam em latênciae abrindo novas possibilidades para que, no futuro, aprópria região identifique onde pode buscar o “saber”para o cotidiano da clínica em novas atividades naeducação permanente.

Alguns resultados foram esperados, como o incre-mento na competência diagnóstica e terapêutica docirurgião-dentista que compõe a equipe de Saúde Bu-cal. Esperava-se, com isto, melhoria de qualidade noatendimento, com maior capacidade resolutiva e enca-minhamento conclusivo da intercorrência. Como efeitosderivados, poder-se-iam citar: a) a construção ampliadada capacidade de direção entre o conjunto das pes-soas de um coletivo e não somente entre sua cúpula;b) a capacidade de direção, pela instalação de habi-lidade e potência para compor consensos, alianças eimplantar projetos. Neste sentido, e vista como formada democracia, verif icar-se-ia incremento na capaci-dade de governo, pois estes coletivos estariam aptosao planejamento, posto que esta é uma aptidão a sersocialmente construída, já que co-governar é uma tarefainerente a todos os membros de uma equipe. Finalmen-te, a democracia institucional seria um meio de impul-sionar mudanças sociais e como um fim em si mesmo.

DiscussãoA ampliação da clínica odontológica foi o fio con-

dutor do curso, sempre acompanhada pela busca daintegralidade das ações e da conseqüente e evidentenecessidade de prontuário único (efetivação onde jáexistia e implantação onde não existia) para se chegara estes objetivos.

Dos 40 cirurgiões-dent is tas que per tenciam aopúblico-alvo e participaram do processo de construçãodo curso, somente 18 o concluíram, ou seja, 45%. Edos 15 municípios pertencentes à DIR V, oito deles ou53,33% tiveram representantes no curso. A forma intensi-va como a atividade desenvolveu-se, com uma cargahorária que abarcou os períodos da manhã e da tardenos dias em que acontecia poderiam ser prováveisrazões para a aderência ao curso. Alguns municípiostiveram dificuldades de prescindir de seus profissionaisdurante a realização das atividades e os próprios cirur-giões-dentistas foram, de certa forma, reticentes a pre-senciar as aulas fora de seu horário de trabalho.

Uma rápida avaliação foi realizada junto aos parti-cipantes na metade do curso, composta basicamentepor três perguntas: como percebe o curso?; como sepercebe no curso e informações quanto ao local,horário, adequação dos professores ao tema e as técni-cas didáticas? Um pano rápido desvendou alguns as-pectos relevantes em relação à formação odontológica,clínica odontológica e ao cirurgião-dentista no SUS:a unanimidade do grupo manifestou-se positivamenteem relação ao curso, segundo a avaliação preliminar;respostas que manifestaram a importância do cursocomo instrumento para se alcançar a ampliação daclínica e a integralidade das ações foram encontradasem 55,55% das avaliações; mensagens positivas, comomotivação, interação, aprendizado, aperfeiçoamentoe ampliação dos conhecimentos, estiveram presentesem 61,11% das avaliações, além de outras como “satis-

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fação”, “participação” ou outras manifestações de con-tentamento, que constavam em sete avaliações restan-tes frente à pergunta: “como se percebe no curso?”

Com relação à terceira questão da avaliação, queversava sobre o local, horário, adequação dos profes-sores ao tema e técnicas didáticas, pôde-se notar apresença de duas intervenções crit icando a pontua-lidade das atividades do curso, quatro mencionandofalta de infra-estrutura das instalações do CEFOR daDIR e cinco avaliações apontando pontualmente as-pectos negativos da adequação dos professores aotema ou às técnicas didáticas empregadas.

Considerações FinaisPode-se notar, como aspecto de emergência das

avaliações, que atividades que priorizem a construçãocoletiva devem sempre ser estimuladas. A participaçãode atores locais, principalmente quando o assunto in-terconsulta foi tratado, fez com que emergissem paraa discussão temas como cuidado integral, “leitura” dopaciente como um todo, uso do prontuário único e oestabelecimento de protocolos de referência e contra-referência, dentre outros, que indubitavelmente sãofundamentais na construção da integralidade da aten-ção, um dos aspectos essenciais para a ampliação daclínica em Saúde Bucal.

Examinando a história da região, no que diz respei-to a capacitações realizadas até então, constata-seescassez, ou até inexistência de atividades nestes mol-des. Foi comum encontrar em meio aos escritos, sugestõesde continuidade para o curso e proposição de outros,com temas diversos. Nota interessante foi a constatação,pelos próprios prof issionais , da necessidade deampliação da clínica odontológica na direção dacompetência diagnóst ico-terapêut ica, pois comorelatado nas avaliações houve mais segurança paraencarar a clínica cotidiana após a capacitação. Dissopartem algumas críticas à formação odontológica que,por ser privatista e odonto-centrada, não consegue darsuporte ao cirurgião-dentista do SUS quando este temque encarar toda a gama de patologias da clínica quenão se restringe à cárie dentária. Finalmente, numa dasavaliações pôde-se ler que enfim desvendavam-se poucoa pouco os mistérios da clínica odontológica.

AgradecimentosAgradecemos as contribuições de todas as pessoas

que passaram pelo Projeto Observatório de SaúdeBucal Colet iva, pois direta ou indiretamente foramimportantes para a finalização dos trabalhos. E, princi-palmente para este artigo, segue um agradecimentoespecial aos 18 profissionais que concluíram o Cursode Clínica Ampliada.

Referências BibliográficasBRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DEATENÇÃO À SAÚDE, DEPARTAMENTO DE ATENÇÃOBÁSICA. Brasil Sorridente: Política Nacional de SaúdeBucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, CONSELHONACIONAL DE SAÚDE. Política Nacional de EducaçãoPermanente para o Controle Social no Sistema Únicode Saúde – SUS. Brasília: Editora do Ministério daSaúde, 2006.BOTAZZO C . (Coordenador). Curso de clínicaampliada de odonto-estomatologia para cirurgiões-dentistas do Sistema Único de Saúde – SUS, 2005.Disponível em [www.isaude.sp.gov.br/observatorio/index.htm]. Acessado em 30 de Novembro de 2007.CAMPOS, G W S. Saúde Paidéia. São Paulo: EditoraHucitec, 2003.SOUZA, E C F. & BOTAZZO C. Relatório de Atividadeda Oficina Temática “A ampliação da clínica naperspectiva do cuidado integral em saúde”. XVIIIENATESPO (Encontro Nacional de Administradores eTécnicos do Serviço Público Odontológico), 2004.

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1 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde daSecretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected].

2 Doutor em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado daSaúde de São Paulo. Contato: [email protected]

Curso de Clínica Ampliada de Odonto-estomatologiapara Cirurgiões-dentistas do Sistema Único de Saúde –SUS: monitoramento de resultados após um ano

Luiz Vicente Souza Martino1

Carlos Botazzo2

IntroduçãoMonitoramento e avaliação não são procedimentos

cotidianos no Sistema Único de Saúde, genericamentefalando, salvo elogiosas exceções. Tanto é que paraaqueles que se propõem a eles sobram dificuldades eé escassa a bibliografia sobre o assunto. Contudo, nota-se que este panorama dá sinais de mudanças, já queos próprios gestores muitas vezes mostram-se desani-mados com modificações de estratégias e programasque mal saíram do papel e são substituídos por outrossem passar por qualquer avaliação que explicasse, aomenos em parte, tais alterações. É comum hoje em diaserem previstos monitoramentos e/ou avaliações paraprojetos de qualquer natureza.

Há diferenças entre estes dois conceitos pelos quaiso texto foi iniciado. Monitoramento é o acompanha-mento de rotina de informação prioritária sobre o pro-grama e seus efeitos esperados e avaliação é uma co-leta rigorosa de informações sobre as atividades, ascaracterísticas e os resultados de um programa é quedeterminam seu mérito ou valor. Para o desenvolvimentoda proposta deste trabalho, qual seja a obtenção derespostas de como estariam os profissionais após operíodo de um ano do término do curso de clínica am-pliada de odonto-estomatologia para cirurgiões-den-tistas do Sistema Único de Saúde – SUS, escolheu-se omonitoramento de resultados, pelas circunstâncias quecercaram o curso, visto que o mesmo emergiu de ma-neira que não foi possível o estabelecimento de pa-râmetros de comparação objetivamente levantados,mas de forma subjetiva pelos pesquisadores do Obser-vatório de Saúde Bucal Coletiva e os cirurgiões-den-tistas trabalhadores do SUS da região de Osasco.

Por quê um Curso de Capacitação paraCirurgiões-dentistas do SUS?

A organização da atenção odontológica no setorpúblico teve grande desenvolvimento a partir da cons-tituição do SUS. Equipes de saúde bucal se formaram,houve importante incremento na formação e incorpo-

ração de pessoal auxiliar e novas tecnologias coletivasde cuidado foram implementadas, com impacto consi-derável na experiência da cárie e outras doenças den-tárias, sobretudo até os 12 anos de idade. A assistênciaodontológica, todavia, se manteve próxima dos pata-mares anteriores ao SUS. Isto significa que o atendi-mento ao paciente adulto, expressão da universalidade,continuou sendo apenas uma referência nos programas.Além disto, se pensamos a integralidade do cuidado,notaremos que os programas procedem de modobastante fragmentado e que o acesso da populaçãoadulta à consulta odontológica não passa de escassos10%, na maioria das vezes como pronto-atendimento.

Faltam aos programas adotados no nível local:I. inovar quanto ao acesso e à cobertura;II. incorporar a assistência odontológica ao con-

junto da população SUS;III. realizar diagnóstico em saúde bucal como rotina;IV. estabelecer protocolos de referência e contra-

referência;V. inovar a clínica odontológica, propondo siste-

máticas de atendimento adequado ao SUS.Alguns pontos puderam ser depreendidos de informa-

ções coligidas pelo Comitê de Saúde Bucal da antigaDIR V, confirmados pela observação em campo e tam-bém por meio de numerosas atividades com gestores eequipes de saúde bucal, além da literatura especializada,sendo, em sua generalidade, significativas da realidadesanitária regional. Há dificuldades de toda ordem, nemsempre devidas ao desinteresse do gestor, tais como:

• A consulta odontológica completa (anamnese,exame físico, hipótese diagnóstica, exames com-plementares, diagnóstico, prognóstico, terapêu-t ica) não é rotina nas unidades. Contraditoria-mente, o CFO instituiu como especialidade odon-tológica o “diagnóstico bucal”, significando quefazer diagnóstico é atividade altamente especia-lizada de alguns profissionais que teriam recebidoformação compatível com este passo basilar daclínica. Quer dizer, não é feito o diagnóstico bucalna rotina da consulta, nem mesmo se pôde definir,com clareza, o que vem a constituir tal procedi-mento, o que coloca o cirurgião-dentista na condi-ção ímpar de intervir sem antes diagnosticar.

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• Os programas de saúde bucal mantiveram, comligeiras alterações, o recorte puericultor da saúdepública e a criança institucionalizada como focoprioritário dos serviços. O mote para esta defini-ção pré Reforma Sanitária entendia que o acúmulode doenças bucais seria resolvido com a produ-ção de crianças hígidas, e assim, passados algunsanos, formaríamos um estoque de adultos saudá-veis. Este raciocínio, infelizmente conservado du-rante a Reforma Sanitária e até o presente, revelou-se equivocado.

• Acumulam-se evidências de que a populaçãoadulta apresenta carga de doenças bucais incom-patível com o desenvolvimento tecnológico daOdontologia, em grande parte de natureza crôni-ca ou degenerativa, ou mutilações, simplesmentenecessitando intervenções cirúrgicas e procedi-mentos reabilitadores em grande escala. Alémdisto, a cárie dentária se afigura, cada vez mais,como doença típica da infância e da adolescên-cia, restando compreender melhor o processo doadoecimento bucal em adultos. São poucos osserviços que atendem transtornos em ortopediae trauma, cirurgias de médio e grande porte de-mandam verdadeiras maratonas dos necessitados,não há protocolos rotinizados quanto ao câncerde boca, pacientes sindrômicos ficam à mínguade atendimento adequado, a interconsulta não ésenão mero desejo de alguns profissionais.

• A graduação odontológica mantém estrutural-mente uma grade curricular que data de mais de100 anos. A ênfase é o treinamento da habilidademanual do aluno, sem a qual – afirmam – não seproduz um dentista digno deste nome. Decorren-temente, a formação ocorre na bancada dolaboratório, as disciplinas sendo ministradas demodo desarticulado entre si; as atividades clínicassão, em sua maioria, de natureza ambulatorial;grande parte da carga horária é dedicada aotrabalho de prótese e à natureza dos materiaisde uso odontológico; ideologicamente, insiste-se,ainda hoje, no privatismo da profissão; finalmente,a unidade anatômica a ser considerada é a peçadentária, em tudo desarticulada da própria bocaquando não do próprio paciente.

• A raridade clínica deste arranjo torna crít ico oexercício da prát ica odontológica no setorpúblico. Não é de espantar, portanto, que osentraves à extensão da cobertura apareçam ime-diatamente como baixa competência de diag-nóstico e terapêutica. Esta fragilidade torna-semais notável quando as equipes de saúde bucalnos sistemas locais buscam alternativas a esteestado de coisas . Na organização do atendi-mento aos pacientes especiais, aos crônicos esindrômicos, dentre outros, são logo percebidos

limi tes ao exercício ampliado da clínicaodontológica.

• A despei to de que os prof issionais venhambuscando, às vezes por sua conta, ampliar a baseteórica para a clínica que desejam prat icar,ressentem de maior preparo em diagnose e tera-pêutica, de diálogo com outras especialidadesmédicas, de registro adequado no sistema deinformação SUS, de entrada e utilização dos cen-tros cirúrgicos e nos mecanismos de internaçãode pacientes etc.

A partir de reuniões técnicas realizadas entre cirur-giões-dent is tas da rede pública que desenvolviamserviços de especialidades odontológicas na antigaDIR V - Osasco, ocorridas no âmbito de seu Comitê deSaúde Bucal no ano de 2004, começa a surgir dopróprio grupo a necessidade da ampliação da clínicadentro de seus verdadeiros limites, ou seja, sem um únicofoco voltado para o esmalte dentário. O ano de 2005torna-se fundamental quanto ao desenvolvimento deuma capacitação que contemple o que o grupo iden-tificou como interesse. É daí que surgiu como propostajunto ao Observatório de Saúde Bucal Colet iva oProjeto de Curso de Capacitação de Clínica Ampliadade Odonto-estomatologia para Cirurgiões-dentistas doSUS que foi discutido e aprovado pelo Núcleo deEducação Permanente do CEFOR da antiga DIR V -Osasco e pelo Pólo de Educação Permanente doEstado de São Paulo.

O projeto contemplou muitas das idéias contidas naPolít ica Nacional de Educação Permanente, comoarticulação entre educação e trabalho no SUS; produ-ção de processos e práticas de desenvolvimento nos locaisde serviço; mudanças nas práticas de formação e desaúde, tendo em vista a integralidade e humanização;articulação entre ensino, gestão, atenção e participaçãopopular e controle social em saúde e produção deconhecimento para o desenvolvimento da capacidadepedagógica dos serviços e do sistema de saúde.

MetodologiaForam planejadas para a capacitação duas fases

dist intas, concentração e dispersão, que contem-plassem pedagogicamente seus objet ivos gerais eespecíficos.

Na fase de concentração, foram propostos proces-sos dinâmicos de ensino-aprendizagem. Isto significa,preliminarmente, a partilha entre os atores envolvidosno que toca à construção desta capacitação. Comodefinido no projeto, um dos objetivos estratégicos é aconstrução, na saúde, de coletivos com capacidadepara a produção de valores de uso, quer dizer, o bemestar do paciente, tão integralmente quanto possível,nos limites da capacidade instalada ou do conheci-mento e tecnologias disponíveis.

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Na fase de dispersão, os profissionais voltarão aatuar nos serviços, propondo e negociando com osgestores modificações no processo de trabalho. Nestafase, serão acompanhados pela equipe do projeto eparticiparão ativamente de duas avaliações de desem-penho e aferição dos resultados.

Para facili tar as questões de monitoramento deresultados propostas neste trabalho, o projeto do cursofoi transposto para o modelo lógico, de forma simpli-ficada, pois desta maneira pode haver uma visão deta-lhada do mesmo, fornecendo subsídios seguros daquiloque realmente deverá ser monitorado ao clarear osresultados esperados. Aqui se procurou monitorar re-sultados da fase de dispersão, porém para melhorcompreensão do curso em sua íntegra, as duas fases(concentração e dispersão) foram demonstradas comsuas metas, insumos, atividades, produtos e resultadosesperados (Tabelas I e II).

A meta para a fase de concentração foi realizarentre os meses de março, abril e maio (06/05) de

Tabela IInsumos Atividades Produtos Resultados Esperados

Recursos humanos Realização dos Módulos Número de profissionais Incremento na competênciaI, II, III e IV. capacitados. diagnóstica e terapêutica do

cirurgião-dentista que compõea equipe de saúde.

Recursos materiais Realização de avaliação Melhora de qualidade oaparcial durante o curso. atendimento, com maior

capacidade resolutiva eencaminhamento conclusivoda intercorrência.

Recursos financeiros Realização de avaliação Construção ampliada da capaci-parcial ao final do curso. dade de direção entre o conjunto

das pessoas de um coletivo e nãosomente entre sua cúpula.

Aumento da capacidade dedireção, pela instalação dehabilidade e potência paracompor consensos, alianças eimplantar projetos.

2006, 136 horas-aula através de processos dinâmicosde ensino-aprendizagem desenvolvidos em quatromódulos divididos da seguinte maneira:

a) comunicação – Módulo I (escuta e circulaçãode informações sobre desejos, interesses e aspectos darealidade);

b) elaboração – Módulo II e III (análise da escuta edas informações);

c) tomada de decisões – Módulo IV (prioridades,projetos, contratos) arranjos concretos de tempo e lu-gar, em que o poder esteja em jogo e onde de fato seanalisem problemas e se tomem deliberações na cons-trução de novos espaços públicos.

E após período de dispersão de doze meses, ondeos profissionais voltarão a atuar nos serviços, propondoe negociando com os ges tores modif icações noprocesso de trabalho, monitorá-los através de aplicaçãode auto-avaliação, verificando sua autopercepção comrelação aos objetivos do curso.

Tabela IIInsumos Atividades Produtos Resultados Esperados

Recursos humanos Aplicação de auto-avaliação após seis Número de mpliação da capacidade diagnóstico-meses do término do curso, apontando profissionais avaliados. Aterapêutica aplicada efetivamente na clínicarealizações, dificuldades, obstáculos e sob a perspectiva da integralidadeperspectivas de realização profissional.

Aplicação de auto-avaliação após um Melhorar a integração/comunicação entre aano do término do curso, apontando Equipe de Saúde Bucal e demais profissionaisrealizações, dificuldades, obstáculos e das Unidades.perspectivas de realização profissional.

Estimular um maior envolvimento entre os váriosatores sociais (usuários e outros profissionais desaúde) nas práticas de saúde.

Implantação do prontuário único nas Unidadesonde o mesmo não exista.

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Monitoramento de resultados: um ano depoisOs resultados esperados, elencados na Tabela II,

foram monitorados através de auto-avaliação, após umano do término do curso. Dos 18 profissionais queconcluíram o Curso de Clínica Ampliada de Odonto-estomatologia para Cirurgiões-dentistas do SistemaÚnico de Saúde – SUS, somente 11 participaram daaplicação dos questionários para o monitoramento deresultados no dia 16 de maio de 2007 no Instituto deSaúde – SES/SP, ou seja, 61,11% do total.

Mesmo com o convite sendo estendido a todos osparticipantes a adesão não foi completa. O mesmoproblema já havia sido verificado durante a formação,pois a previsão do projeto de formação era de que osparticipantes seriam 40 pessoas (total de participantesda construção do processo de criação do projeto, tendoestado presentes em todas as tomadas de decisãoreferentes à proposta do curso) e o que ocorreu na rea-lidade foi a participação efetiva de 18 cirurgiões-dentistas.

Entre as explicações para a não aderência, tantoao curso quanto a participação na auto-avaliação,tem-se desinteresse de alguns municípios da antiga DIRV de Osasco na participação de seus funcionários nestecurso, proporcionando dificuldade na liberação dosprofissionais de seus respectivos serviços; além da faltade interesse de alguns participantes devido à cargahorária do curso (a liberação no período de trabalhocabia aos serviços, mas a outra metade da cargahorária seria por conta do participante).

Para a realização do monitoramento de resultados,foi elaborado pela equipe do projeto Observatório umroteiro que foi apresentado aos participantes presentes,constando das seguintes questões:

1) No seu trabalho, o que você faz melhor ou bemfeito?

2) No seu trabalho, o que você faz pior ou mal feito?3) Correlacione estas duas questões com o curso

de formação clínica (tipo “antes e depois”).4) O curso de formação em clínica ampliada possi-

bilitou melhor integração/comunicação entre aEquipe de Saúde Bucal (ESB) e os demais profis-sionais da UBS?

5) Na prát ica, o curso de formação em clínicaampliada possibilitou realizar integralidade co-mo ação ou efeito coletivo?

6) Considerando os usuários e os profissionais desaúde como atores sociais, houve percepção emudança do papel deste atores após o cursode formação em clínica ampliada?

7) O curso de formação em clínica ampliada possi-bilitou mudança na sua prática no ambulatórioou no centro de especialidades?

ResultadosA seguir seguem os resultados da atividade de moni-

toramento, apresentada questão por questão:

1) No seu trabalho, o que você faz melhor ou bemfeito?

Quanto a esta questão a relação profissional-pa-ciente foi o foco. Dentre 11 auto-avaliações, 4 ressalta-ram o bom relacionamento com os pacientes ou seusresponsáveis como ponto positivo no desenvolvimentodo trabalho. Outras 2 relataram o acolhimento comofator positivo no cotidiano da clínica. Duas pessoascolocaram o atendimento de urgências como a ativi-dade que melhor realizam na clínica odontológica,sendo que endodontia e periodontia também apare-ceram, juntamente com o atendimento com técnica eeficiência. A anamnese apareceu somente numa dasavaliações (Gráfico 1).

Gráfico 1

Anamnese9%

Especialidadesodongológicas

18%

Bom relacionamentocom os pacientes

37%

Atendimentode urgências

18%Acolhimento

18%

2) No seu trabalho, o que você faz pior ou malfeito?

O atendimento de crianças (2), a grande demandade pacientes que acabam sendo atendidos de maneirarápida e mecanizada (3) e a resolução de casos refe-rentes a algumas especialidades clínicas (prótese, orto-dontia, endodontia, problemas de Articulação Tempo-romandibular), em 2 avaliações, foram as intervençõesmais presentes nas avaliações. Ausência de integrali-dade no atendimento do paciente surgiu em uma únicaintervenção (Gráfico 2).

3) Correlacione estas duas questões com o cursode formação clínica (tipo “antes e depois”).

Das 11 avaliações, 4 definiram que após o curso aintegralidade pôde ser praticada de maneira mais con-creta. Uma melhor postura e um bom relacionamentocom a equipe surgiram em 4 questionários, com doismencionando um aumento da segurança no trabalho eoutros dois declarando que o curso proporcionou me-lhora no aspecto profissional e pessoal (Gráfico 3).

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Gráfico 2

Ausência deintegralidade

no atendimento9%

Outros27%

Atendimentode crianças

18%

Atendimentorápido e

mecanizado28%

Atendimentode especialidades

odontológicas18%

Gráfico 3

Segurançano trabalho

18%

Melhora no aspectoprofissional e pessoal

9%

Integralidade37%

Melhor posturae relacionamento

com a equipe36%

4) O curso de formação em clínica ampliada pos-sibilitou melhor integração/comunicação entrea Equipe de Saúde Bucal (ESB) e os demaisprofissionais da UBS?

Em 8, dos 11 questionários, houve manifestaçõespositivas em relação à melhora na integração e comu-nicação com a equipe de saúde das Unidades, porémvale ressaltar intervenções que também surgiram, comoa presença de problemas nas questões de encaminha-mento quando os pacientes não são da mesma Unida-de, a falta de profissionais na rede como dificuldadepara realmente haver melhora no aspecto integração/comunicação e o relato de melhora somente quandoa ação parte da equipe de saúde bucal (Gráfico 4).

5) Na prática, o curso de formação em clínica am-pliada possibilitou realizar integralidade comoação ou efeito coletivo?

Gráfico 4

Melhora naintegração/comunicação

73%

Melhora somente coma ação partindo da ESB

9%

Falta deprofissionais

na rede9%

Problemascom

referência9%

Dentre as 11 avaliações, 3 delas consideraram anecessidade da integralidade como efeito coletivo, mastambém ci taram a dif iculdade em obtê-la. Outrasintervenções surgiram colocando pontos como a maiorproximidade com as especialidades, o que auxilia namelhora da referência e contra-referência, a discussãodos problemas da comunidade entre toda a equipe, apresença de uma mudança, mas com resistência deoutras Unidades na questão dos prontuários e discussãode casos clínicos ou até uma avaliação que apontoumudanças, mas somente entre os dentistas (Gráfico 5).

Gráfico 5

Mudança, mascom resistência de outrasUnidades na questão dosprontuários e discussão

de casos clínicos9%

Outros37%

Maior proximidadecom especialidades,

facilitando referência econtra-referência

9%

Necessidade daintegridade, masdificuldade em

obtê-la27%

Mudançasomenteentre osdentistas

9%

Discussãodos problemasda comunidade

em equipe9%

6) Considerando os usuários e os profissionais desaúde como atores sociais, houve percepção e

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mudança do papel destes atores após o cursode formação em clínica ampliada?

Duas intervenções provocaram mudanças positivasnos profissionais, porém sem reflexo na população ena percepção do usuário. Outras duas colocaram quemudanças positivas ocorreram nos profissionais, coma percepção dos usuários. Houve intervenções comoa que trazia a percepção dos atores, mas não a mudan-ça de papel, que seria prejudicada pela rotina, junta-mente com a grande demanda. Outras duas avaliaçõesque sugeriam uma ampliação da visão dos dentistassobre o atendimento dos pacientes e uma delas res-saltando que o prontuário na Unidade afinal havia setornado único (Gráfico 6).

Gráfico 6

Outros28%

Percepçãodos atores em

mudança de papel9%

Ampliação da visãodos dentistas quanto

ao atendimento18%

Mudança sempercepção de

usuários18%

Mudançacom

percepçãode

usuários18%

Implantaçãode

prontuárioúnico naUniddde

9%

7) O curso de formação em clínica ampliada pos-sibilitou mudança na sua prática no ambulatórioou no centro de especialidades?

Em 11 avaliações, 5 demostraram que “enxergar opaciente como um todo” foi a principal mudança naprática após o curso. Duas apontaram uma mudançainicial, porém com o tempo a rotina fez com que aintegralidade fosse deixada de lado. Outras duassugeriram mudanças significativas nos CEOs, mas nãonas Unidades (Gráfico 7).

Discussão e ConclusõesOs ques t ionários das auto-avaliações foram

coletados e sistematizados e uma discussão sobre elestorna-se válida a partir do que era esperado na fasede dispersão prevista no projeto do curso.

Quanto à ampliação da capacidade diagnóstico-terapêutica aplicada efet ivamente na clínica sob aperspectiva da integralidade, pôde-se perceber que

Gráfico 7

“Enxergar pacientecomo um todo”

46%

Outros18%

Mudançanos CEOse não nasUnidades

18%

Mudança somenteno início

18%

aspectos clínicos não apareceram nas avaliações, a nãoser quando foi tratado do assunto “o que faço bem e malfeito na clínica”, onde certas especialidades odontológicassurgiram, timidamente, como dificuldades no cotidianoclínico. A questão da integralidade foi lembrada, poréma capacidade diagnóstico-terapêutica não apareceucomo mote nestas avaliações em momento algum. Ospart icipantes quando indagados sobre sua clínicacomentaram sobre temas como a relação profissional-paciente, acolhimento ou até lembrar que aquilo que fazmelhor é “passar” alegria e otimismo ao paciente. Ao partirdo pressuposto que é na anamnese que se constitui ocaso clínico verificou-se que o assunto foi mencionadouma única vez dentro das sete questões dos onzeparticipantes da auto-avaliação.

No quesito melhorar a integração/comunicação en-tre a Equipe de Saúde Bucal e os demais profissionaisdas unidades de saúde, a auto-percepção dos avalia-dos correspondeu aos resultados esperados, pois oitodas onze avaliações relataram melhora entre a Equipede Saúde Bucal e demais profissionais da Unidade. Asoutras três avaliações apesar de concordar com a me-lhora da integração/comunicação trouxeram aspectoscomo a presença de problemas nas questões de encami-nhamento quando os pacientes não são da mesmaUnidade, a falta de profissionais na rede como dificul-dade para realmente haver melhora no aspecto integra-ção/comunicação e o relato de melhora somente quan-do a ação parte da Equipe de Saúde Bucal.

Ao se propor estimular um maior envolvimento entreos vários atores sociais (usuários e outros profissionaisde saúde) nas práticas de saúde houve duas inter-venções que manifestaram mudança positiva nos pro-fissionais, porém sem reflexo na população e na per-cepção do usuário. Outras duas colocaram que mu-danças positivas ocorreram nos profissionais, com a

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percepção dos usuários. Houve intervenções como aque trouxe a percepção dos atores, mas não a mudan-ça efetiva de papel, que seria prejudicada pela rotinae pela grande demanda. Outras duas avaliações quesugeriram uma ampliação da visão dos dentistas sobreo atendimento dos pacientes. Os resultados sugeremque não ocorreu, como esperado, um aumento dacapacidade de direção entre o conjunto das pessoasdo colet ivo de tal forma que consensos e aliançasfossem compostos.

Finalmente, quanto à implantação do prontuárioúnico nas unidades, onde o mesmo não exista, dassete questões presentes nas auto-avaliações o assuntoprontuário único apareceu somente duas vezes: naquestão sobre a integralidade como efeito coletivo eem outra, onde a percepção e mudança dos atoressão discutidas, sendo que na primeira delas é men-cionada a resistência de outras unidades em trabalharcom o prontuário único e somente na segunda é que écomentado que por fim o prontuário tornara-se úniconaquela unidade. Tal resultado sugere a presença deproblemas no gerenciamento do problema na própriaunidade, como com a chef ia direta, aspecto quepoderia ser explicado pela falta de governabilidadesobre o assunto pelos atores avaliados ou até a faltade envolvimento de suas chefias diretas com o assunto.

AgradecimentosAgradecemos as contribuições de todas as pessoas

que passaram pelo Projeto Observatório de SaúdeBucal Coletiva, pois, direta ou indiretamente, foramimportantes para a finalização dos trabalhos e, prin-cipalmente, para este artigo. Segue um agradecimentoespecial aos 18 profissionais que concluíram o Cursode Clínica Ampliada.

Referências BibliográficasBRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DEATENÇÃO À SAÚDE, DEPARTAMENTO DE ATENÇÃOBÁSICA. Brasil Sorridente: Política Nacional de SaúdeBucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, CONSELHO NACIO-NAL DE SAÚDE. Política Nacional de Educação Per-manente para o Controle Social no Sistema Único deSaúde – SUS. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,2006.BOTAZZO C. (coordenador). Curso de clínica amplia-da de odonto-estomatologia para cirurgiões-dentistasdo Sistema Único de Saúde – SUS, 2005. Disponívelem [ht tp://w w w.isaude.sp.gov.br/obser vatorio/index.htm]. Acessado em 30 de Novembro de 2007.CAMPOS, G W S. Saúde Paidéia. São Paulo: EditoraHucitec, 2003.HARTZ, Z M A. (Org.). Avaliação de Saúde. Dos Mode-los Conceituais à Prática na Análise de Implantaçãode Programas. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1997.

KELLOGG FOUNDATION . Logic Model DevelopmentGuide: Logic models to bring together planning,evaluation & action. Battle Creek, MI: W.K. KelloggFoundation, 2001.SOUZA, E C F. & BOTAZZO C. Relatório de Atividadeda Oficina Temática “A ampliação da clínica naperspectiva do cuidado integral em saúde”. XVIIIENATESPO (Encontro Nacional de Administradores eTécnicos do Serviço Público Odontológico), 2004.

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A Política como Necessidade:pensando a participação popular na saúde1

Carlos Botazzo2

1 Texto apresentado no I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Região, realizado em 17-18 de marçode 2006, em Osasco-SP.

2 Pesquisador Científico do Instituto de Saúde. Coordenador do Projeto “Observatório de Saúde bucalColetiva. Construindo a Cidadania na Saúde”. Contato: [email protected].

O tema da participação social, e destacadamentena saúde, vem ocupando o tempo de muitos pesqui-sadores e também gestores e políticos, e isto desdeque a Constituição Federal estabeleceu que a gestãodo Sistema Único de Saúde seria partilhada entre go-verno, trabalhadores e usuários dos serviços. Antes, eainda durante a ditadura militar, já se havia experi-mentado partilhar decisões entre representantes dogoverno e dos técnicos, mas podemos afirmar comsegurança que a inclusão de representantes da socie-dade civil nos Conselhos é a forma superior de gestãodos serviços de saúde.

É possível estabelecer a diferença entre participa-ção popular e controle social quando se fala em gestãodos serviços, e esta diferença é importante, sobretudo,porque muita gente entende que a função dos Con-selhos Gestores seria a de apenas fiscalizar as açõesdo governo na saúde. De fato, alguns estudiosos dis-tinguem controle e gestão, porque dizem que contro-lar significa medir, supervisionar e acompanhar o queos outros fazem, enquanto gestão deveria significaracima de tudo a capacidade de estabelecer políticase implementá-las de forma soberana. Há mais confusãoconceitual ainda porque outros entendem que a funçãodos conselhos é controlar a saúde, e chamam isto decontrole social. Ora, se é de controle que se trata, e seaceitamos a diferença a que acima se referiu, entãosignifica que a função dos conselhos seria a de medir,supervisionar e acompanhar as ações do governo, nãotendo sobre elas, entretanto, posição de soberania.

Mas não é isto o que diz a Lei nem vem sendo esteo trabalho dos conselhos, de modo que seria con-veniente examinar melhor esta matéria. Se admitimosque controlar significa controlar as ações dos outros,também podemos admitir que é isto o que o Estadofaz, pois somos cercados por numerosos e quase infinitosdispositivos regulatórios que se estendem como teiasinvisíveis que direcionam a vida prática de todos osdias de mulheres, homens, crianças, idosos, trabalha-dores, transeuntes, consumidores e produtores, estu-

dantes, intelectuais e artistas, negros e pardos, pobrese remediados, incluídos e excluídos. Esses dispositivostodos em seu continuo movimento é que constituiriamas formas do Controle Social, vistos agora como açãopermanente do Estado sobre a Sociedade. Esta com-preensão do problema dá um outro contorno a essadiscussão, pois é fato que o Estado não é completa-mente soberano em relação aos sujeitos e às açõesque praticam; por isso, o Estado controla. Se vamosnesta direção, todavia, precisamos outra vez admitirque não apenas o Estado atua por meio de dispositivosregulatórios ou disciplinares, mas também exercem essecontrole o pai sobre o filho, o homem sobre a mulher,o velho sobre o novo, o professor sobre o aluno, ofeitor sobre o operário, o pastor diante do crente, e àsvezes o contrário disso tudo. Desta forma, fica maisfácil compreender que os dispositivos disciplinares vãodo Estado ao Não-Estado, se interpenetram, se corres-pondem, se articulam uns com os outros e se interde-terminam, e este conjunto todo e todos os seus liames– ele todo em movimento - é que podemos denominarControle Social.

A gestão da saúde tem um pouco este componentecontrolista, mas o fato é que as atribuições dos Con-selhos Gestores vão muito além disto. Se eles são ainstância máxima no nível em que se acham colocados,então é legítimo pensar que os Conselhos fazem verda-deiramente a Gestão da Saúde, e não meramente oseu controle.

Mas será que podemos falar em Gestão Popularda Saúde? Se aceitamos a diferença estabelecida en-tre controle e gestão, vemos que os Conselhos Gestoresnão têm essa característica, pois os “populares”, istoé, os usuários, dividem a função do conselho com outrosdois sujeitos, a saber, o Governo e os Trabalhadores.Controvérsias à parte, restaria saber se os Trabalhado-res não seriam também Populares, mas o fato é que osTrabalhadores comparecem no conselho por conta doseu Saber Técnico, e assim, pelo tipo peculiar de conhe-cimento que detêm, eles se diferenciam politicamentedos “populares”. Quanto ao Governo, sua expressãoé previsivelmente amplificada, porque o apoio que re-cebe do Estado é proporcionalmente maior que oapoio que recebem os Trabalhadores e o Povo. Seriam

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então três sujeitos com proporções desiguais de poder,e por isso há contradição no funcionamento doconselho.

Nem por isso se poderia dizer que não sejademocrát ico, ou que nele a palavra não es tejaliberada: não há quem possa calar a boca de umconselheiro, seja qual for o segmento a que elepertença. A questão seria, segundo parece a tantosoutros, não a falta de liberdade para discutir mas ofato de que os Trabalhadores e o Povo são freqüente-mente envolvidos pelos problemas do Governo, quesão muitos, de modo que acabam não colocando osseus próprios, que também não são poucos. Apesarde todos se referirem à saúde, ao Povo, por exemplo,interessa ter mais e melhor atendimento, mas o Governosempre se diz pressionado pelo Orçamento, enquantoos Trabalhadores querem melhores condições de traba-lho e melhores salários, mas igualmente o Governo insis-te nos gastos ..., e assim por diante. São muitas asdistinções que podemos fazer e cada um que vive arealidade do dia-a-dia saberá fazer sua própria conta.

Podemos concluir assim: os problemas do Governo,dos Trabalhadores e do Povo, no âmbito da Gestãoda Saúde, são muitos e se distinguem entre si __ apesarde se referirem ao mesmo objeto __, mas os problemasdo Governo freqüentemente são mais fortes e pesammais na ação dos Conselhos.

Restaria um último problema a ser examinado, poislá atrás se perguntava se seria possível a gestão popu-lar da saúde, de modo exclusivo, e vemos agora quenão. Quer dizer, ao menos naquilo que a Lei estabelecenão é possível, pois a gestão deve ser partilhada. Oque não significa, no entanto, que o Povo não possase organizar de modo autônomo e independente doGoverno e dos Trabalhadores, mas neste caso já nãose pode falar em gestão popular.

Seria, neste caso, legítimo os populares terem suaprópria organização? A resposta deve ser positiva, namedida mesmo em que tanto o Governo quanto osTrabalhadores têm cada qual a sua (coordenadorias, dire-ções regionais, colegiados, sindicatos, associações etc)mas o Povo raramente consegue se organizar deste modoe, assim, pensar com a própria cabeça seus problemas edepois encaminhá-los na forma da ação política.

Estas questões estarão sendo debatidas no dia deamanhã nos grupos de trabalho. E amanhã tambémvamos estudar se desejamos essa organização, se temosvontade de nos organizar deste modo, se é convenienteou desejável tal propósito, se temos pernas suficientesou clareza nas nossas mentes para tal proceder.

Finalmente, é importante reafirmar o papel funda-mental que os conselhos gestores têm na saúde, reafir-mar que a gestão pública das polít icas de saúde éessencial para a construção do SUS. Costuma-se, noBrasil, falar mal dos serviços públicos de saúde e aimprensa é, muitas vezes, a primeira nos ataques, mas

não apenas. Os que assim procedem, consciente ouinconscientemente estão fazendo o jogo dos gruposeconômicos privados que têm fortes interesses na saúde,como é o caso da indústria farmacêutica e a de equipa-mentos, mas sobretudo a das empresas médicas, dosconvênios e dos seguros privados de saúde. Enfim, porisso tudo, e mesmo sendo possível que os conselhosnão funcionem como deveriam funcionar, devemos levarem conta que este espaço foi conquistado em conse-qüência das lutas democráticas e populares . Assim,ele nos pertence. E funcionando bem ou funcionandomal, ele é o modo que temos de realizar a utopia deum sistema de saúde universal, democrático, eqüitativoe includente, o único à disposição de milhões de homense mulheres deste nosso país, e por isso é nosso deverdefendê-lo e contribuir para sua construção e desenvol-vimento. Penso que este é o objetivo maior deste En-contro Popular de Saúde de Osasco e Região que hojese inicia.

Referências BibliográficasBRASIL. Lei 8142, 1990.BRINTON, M. Os bolcehviques e o controle operário.Porto: Afrontamento, 1975.

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

Espaços Coletivos: I Encontro Popular de Saúdede Osasco e região na perspectiva doapoderamento e da co-gestão

Rebeca Silva de Barros1

Fabiana Schneider Pires2

1 Cirurgiã-Dentista e Participante do Programa de Aprimoramento em Saúde Coletiva – Instituto de Saúde– Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected].

2 Cirurgiã-Dentista do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids e Mestre em Ciências – SaúdeColetiva pelo Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato:[email protected].

IntroduçãoO processo de implantação do Sistema Único de

Saúde (SUS), desde da constituição de 1988 e dasleis que o regulamentam, a saber, leis 8080 e 8142(BRASIL, 2008), tem sido gradual, às vezes interrompidopor percalços polít icos , mas principalmente pelamudança do modelo de atenção à saúde e departicipação popular (controle social).

A descentralização da ges tão do SUS com aadoção da municipalização tem exigido dos muni-cípios capacidade gerencial na condução e execuçãodas ações em saúde, pois as diferentes e complexasmodalidades de ges tão nas quais os municípioshabili taram-se com o passar dos anos – NOB/93,NOB/96, NOAS/2002 (BRASIL, 93, 96, 2002) –fortaleceram suas habilidades técnicas, operacionaise proporcionaram um crescimento da participaçãopopular nos processos decisórios , por meio dasatividades dos Conselhos Municipais de Saúde (CMS).

Embora os movimentos populares sejam anteriores àsleis que instituem a participação popular no SUS, osegmento usuário na constituição dos CMS ainda en-contra-se fragmentado e pouco articulado com seus pares.

Diversos autores têm tratado deste instigante tema.A crescente par t icipação de usuários não temgarantido a redução de iniqüidades na promoção doscuidados em saúde por isso a consolidação de fórunsparticipativos pode auxiliar na democratização dasinstituições brasileiras, assim, “dando voz aos setoressociais tradicionalmente excluídos de representaçãodireta no sistema político” (CORTES, 1988, pg 15).

Campos (2000) também propõe a criação de“espaços coletivos” onde ocorra o exercício da co-gestão. Seriam espaços nos quais atores sociais ex-pressam seus desejos e interesses, confrontando-os entresi e com a realidade, na busca de construir conheci-mentos e trocar experiências que possam analisar fatos,participar do governo, educar-se e reconstituir-se comosujeito.

Nesse art igo, apresentaremos o relato de expe-riência da realização do I Encontro Popular de Saúdede Osasco e Região, realizado no mês de março de2006 no município de Osasco, localizado na regiãometropolitana de São Paulo, e algumas reflexões sobrea organização da participação popular na saúde.

Osasco e Região e seu contexto Sócio-HistóricoA área de abrangência da região de Osasco cons-

titui-se por 15 municípios: Barueri, Carapicuíba, Cotia,Embu das Artes, Embu Guaçu, Itapecerica da Serra,Itapevi, Jandira, Juquitiba, Osasco, Pirapora do BomJesus, Santana de Parnaíba, São Lourenço da Serra,Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista, localiza-dos a oeste da região metropolitana da Grande SãoPaulo – que até dezembro de 2006, denominava-seDireção Regional de Saúde V – Osasco, hoje incorpo-rada ao Departamento Regional de Saúde I.

Esta região é pólo de referência histórico-culturaldo estado paulista, tendo cidades originadas no tempodos jesuítas e sendo roteiro de bandeirantes como é ocaso de Santana de Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus.A população estimada em 2006 era de 2.767.445habitantes, apresentava taxa de alfabetização de 93%,com população marcadamente urbana - apenas 0,5% da população reside em área rural - e a classificaçãodo Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS)foi de grau 2, ou seja, região economicamente dinâmicae de baixo desenvolvimento social (SEADE, 2006).

Historicamente, o anel periférico da cidade de SãoPaulo formou-se com a chegada de migrantes em buscade postos de trabalho na capital do estado de SãoPaulo. Na década de 1960 – 1970 o crescimento foide 12,90% e nas décadas seguintes caiu para 7,42%,acompanhadas pelo declínio da migração e de umcrescimento inusitado do anel interior do município deSão Paulo (cerca de 4,5%), decorrente do empobre-cimento da população em virtude da crise econômica,o que desestimulou a compra de lotes na periferia eincrementou o aumento da população encortiçada efavelada (COHN et al., 2002).

As áreas periféricas abrigavam mais de 70% dapopulação, além da região sul que teve um crescimentoda ordem de 15% na década de 1970, respondendo

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por um dos maiores aglomerados do município de SãoPaulo (região de Santo Amaro e Campo Limpo). Porexistir uma contigüidade entre a periferia de São Pauloe as cidades da região metropolitana, muitas dessascaracterísticas são comuns a ambas, como o agrava-mento do nível de exclusão social da população debaixa renda que reside no anel periférico.

A ocupação desordenada destas regiões, muitasvezes desrespeitando áreas de proteção de mananciaise com irregularidades nos lotes residenciais, que selocalizam em encostas íngremes e de solo imprópriopara construções, bem como a densidade populacionalque alcançam, acabam por ilustrar as capas de jornaiscom desgraças a cada período de chuvas, com desliza-mentos de terra, transbordamento de córregos e mortes.

Por certo, a extensão da área urbana de formaprecária e desorganizada pode ser compreendidacomo o resultado da inexistência de uma política habi-tacional adequada que se acentuou na década de80 e provocou o aumento de moradias precárias, ocu-pação irracional do solo, agravando o risco de vidada população (COHN et al., 2002).

I Encontro Popular de Saúde de OsascoOs pesquisadores do Instituto de Saúde da Secre-

taria de Estado da Saúde de São Paulo (IS – SES/ SP),em parceria com o Comitê de Saúde Bucal – compostopelos coordenadores municipais de saúde bucal daregião de Osasco __ visitaram e observaram intensa-mente a região, no período de 2004 a 2006 comobjetivo de compreender a dinâmica social e a orga-nização dos ser viços públicos de saúde local eregionalmente.

Assim estruturou-se o Projeto Observatório de SaúdeBucal Coletiva - construindo a cidadania na saúde,tendo como proposta a produção científica e tecnoló-gica sobre a situação de saúde bucal e a análise dodesempenho de programas e serviços da região daDIR V – Osasco, gerando subsídios para a elaboraçãode polít icas públicas, propiciando aumento da com-petência diagnóstico-terapêutica do cirurgião-dentista,procedendo coleta de dados e análise das ações demédia e alta complexidade, análise das ações denatureza coletiva e fortalecimento do sistema de co-gestão, dentro dos princípios que regem o SUS.

O processo de construção do encontro popular desaúde iniciou-se com visitas em 11 dos 15 CMS daregião, apresentando o projeto do Observatório deSaúde Bucal Coletiva e convidando-os para organizarum encontro popular. Organizou-se um grupo de discus-são sobre problemas loco-regionais e planejamento deações composto por conselheiros representantes dosegmento dos usuários e pesquisadores, sendo que osúltimos atuaram como mediadores durante o processoestimulando a participação popular na organizaçãodo coletivo.

O I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Regiãorealizou-se em 17 e 18 de março de 2006, no Centrode Eventos Pedro Bortolosso no município de Osasco.O evento reuniu conselheiros usuários dos CMS e líderescomunitários dos 15 municípios que compõem a DIR-Ve promoveu a discussão dos problemas de saúde daregião, bem como temas relacionados ao processo degestão do SUS, troca de experiências, estabelecimentode compromissos e projetos comuns.

Dentre os resultados deste evento destacamos aformulação da “Carta de Osasco” (OBSERVATÓRIODE SAÚDE BUCAL COLETIVA, 2008) em que constamas deliberações do encontro tais como:

“1. Formar uma rede de articulação intermunicipale disponibilizar informações sobre os municípios nosite do Projeto Observatório de Saúde Bucal Cole-tiva cujos objetivos seriam de informar, promovertrocas de experiências e promover cursos de capaci-tação/ atualização para os conselheiros usuáriosadequados às necessidades de desempenho dopapel do conselheiro e à realidade municipal;2. Identificar e utilizar espaços pré-existentes (reu-niões de conselheiros usuários, rádios comunitárias,pastorais, associação de amigos de bairro etc) ondepossa ocorrer a mobilização da população paratroca de informação, reflexão e formação de cons-ciência crítica sobre o papel do Conselho, desta-cando o exercício da cidadania e ressaltando aimportância da participação ativa do indivíduo, deforma a garantir o cumprimento da lei 8142;3. Divulgar as propostas do I Encontro junto aosConselhos Municipais de Saúde dos municípios en-volvidos e promover a discussão sobre possíveis te-mas do II Encontro bem como a criação da Co-missão Organizadora do II Encontro;4. A comissão organizadora do I Encontro seráreferência com objetivo de manter e estimular aformação de redes de articulação intermunicipalvisando promover o II Encontro Popular de Saúdede Osasco e Região, possibilitando a participaçãode lideranças populares , comunitárias e novosconselheiros;5. Incentivar a criação de um boletim informativo localcontendo os direitos e deveres dos usuários como formade melhor esclarecê-los em relação à organizaçãodos serviços municipais de saúde e no SUS;6. Discutir nos foros adequados (reuniões dos CMS,reuniões da CIR) a implementação da política desaúde para usuários com necessidades especiais,bem como a aplicação da política de medicamen-tos, inclusive medicamentos de alto custo, com infor-mação correta para os usuários proporcionandotambém a capacitação dos trabalhadores do SUSnas ações da Política Nacional de Humanização;7. Discutir nos foros adequados (reuniões dos CMS,reuniões da CIR) a pactuação de vagas dos serviços

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de saúde de média e alta complexidade entre osmunicípios que compõem a DIR V bem como aspolíticas de saúde no sistema penitenciário e parao idoso, buscando garant ir os direi tos do seuestatuto;8. Garantir o cumprimento da lei 8142 que tratada composição dos três segmentos no CMS e pro-mover a integração dos Conselhos Gestores dosserviços de saúde com os CMS;9. Apoiar a organização de uma comissão deacompanhamento das finanças municipais e tam-bém a formação em contabilidade para Conselhei-ros usuários com o objetivo de facilitar a compre-ensão das discussões referentes ao financiamentona área da saúde para buscar uma melhor distri-buição dos recursos orçamentários;10. Discut ir nos foros adequados (reuniões dosCMS, reuniões da CIR) formas de aumentar a receitae de garantir a contrapartida estadual no financia-mento da atenção básica, baseado EC 29.”

Considerações FinaisA criação de espaços coletivos para o exercício

da co-gestão proporciona a reunião de atores sociaispara que expressem seus desejos e interesses, confron-tando-os entre si e com a realidade, na busca de cons-truir conhecimentos, trocar experiências para analisarfatos, participar do governo, educar-se e reconstituir-se como sujeito (CAMPOS, 2000).

Durante a execução do projeto, houve evidênciasde apoderamento coletivo, aumento da auto-estima eautoconfiança dos usuários participantes do processo(apoderamento pessoal). Foram inquestionáveis o envol-vimento gradual e o comprometimento dos usuáriosna construção do evento.

Acreditamos que a consolidação de espaços demo-cráticos para discussão e proposição de políticas desaúde proporcionaria o desenvolvimento de um conjun-to de valores comuns aos membros do grupo e permitiriacooperação entre eles.

Por fim, o fortalecimento de espaços coletivos quefavoreçam a troca de experiências, a construção deconhecimento, de saberes e ident idade, poderiaencaminhar tomada de decisões com maior grau delegitimidade e ter relação direta com a melhoria daqualidade de vida da população e da liberdadepolítico-social dos cidadãos.

ColaboraçãoPatrícia Nieri Martins participou como colaboradora

deste projeto no planejamento, na organização e naexecução do I Encontro Popular de Saúde.

Referências BibliográficasBRASIL. Lei Federal n° 8.080, de 19 de setembro de1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,proteção e recuperação da saúde, a organização e ofuncionamento dos serviços correspondentes e dáoutras providências . Diário Of icial da RepúblicaFederativa do Brasil n° 182 de 20 de setembro de1990. p.25.694 -5. Disponível em [http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/LEI8080.pdf]. Acessadoem 30 de janeiro de 2008.BRASIL. Lei Federal n° 8.142, de 28 de dezembro de1990. Dispõe sobre a participação da comunidadena gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobreas transferências intergovernamentais de recursosfinanceiros na área da saúde e dá outras providências.Diário Oficial da República Federativa do Brasil n°249 de 31 de dezembro de 1990. p. 18.055-9. Dispo-nível em [http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Lei8142.pdf]. Acessado em 30 de janeiro de 2008.BRASIL. Norma Operacional Básica 01/93. Estabelecenormas e procedimentos reguladores do processo dedescentralização da gestão das ações e serviços. Por-taria do Gabinete do Ministro da saúde n° 545, de20 de maio de 1993. Diário Oficial da República Fede-rativa do Brasil n° 96 de 24 de maio de 1993. p.6.961-5.BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Únicode Saúde/NOB-SUS 96. Brasília: Ministério da saúde,1997. Portaria do Gabinete do Ministro da Saúde n°2023. Diário Oficial da República Federativa do Brasilde 6 de novembro de 1996; com alterações estabe-lecidas na Portaria do Gabinete do Ministro da Saúden° 1.872. Diário Oficial da República Federativa doBrasil de 22 de dezembro de 1997.BRASIL. Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro.Portaria n° 373 de 27/02/2002. Norma Operacionalda Assistência à Saúde/SUS.CAMPOS GWS. Um método para análise e co-gestãode coletivos. São Paulo: Hucitec, 2000.COHN , A. Desenvolvimento Social e Impactos naSaúde. In: BARATA, R. B. (org.) Condições de Vida eSituação de Saúde. Rio de Janeiro, ed. Abrasco, 1997.CORTES SMV. Conselhos Municipais de Saúde: APossibilidade dos Usuários Part iciparem e os Deter-minantes da Participação. Ciência & Saúde ColetivaIII (1), 1998 p.5-17.FUNDAÇÃO SEADE. Perfil Municipal: 2006. Disponívelem http://www.seade.gov.br [30 jan 2008].OBSERVATÓRIO DE SAÚDE BUCAL COLETIVA. Cartade Osasco. Disponível em [http://www.isaude.sp.gov.br/observatorio/obs.htm]. Acessado em 30 de janeirode 2008.

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Boletim do Instituto de Saúde

Fonte: Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo (www.igc.sp.gov.br)

Região Metropolitana de São Paulo com grifo nos municípios da antiga região daDireção Regional de Saúde (DIR) V de Osasco

Fonte: EMBRAPA

Mapa das Regiões de Governo do Estado de São Paulo

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I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Região -Carta de Osasco1

1 Documento produzido ao final do I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Região, realizado em 17e 18 de março de 2006.

Conselheiros Municipais de Saúde (CMS), pes-quisadores do Instituto de Saúde, cirurgiões-dentistas,pessoal auxiliar odontológico, líderes comunitários,secretários municipais de saúde e administradores etécnicos da Secretaria de Estado da Saúde de SãoPaulo estiveram reunidos em Osasco nos dias 17 e 18de março no centro de Eventos da Secretaria de Culturade Osasco para realizarem o I Encontro Popular deSaúde de Osasco e Região. O evento contou com 80participantes, provenientes de 9 municípios da regiãode Osasco, 3 cirurgiões-dentistas dos municípios envol-vidos e 6 pesquisadores do projeto Observatório deSaúde Bucal Coletiva, do Instituto de Saúde da Secre-taria de Estado da Saúde de São Paulo. O Tema damesa de abertura foi “A política como necessidade:pensando a participação popular na saúde” com confe-rência proferida por Carlos Botazzo, tema este quepermeou todas as atividades do evento. As discussõesforam precedidas pela mesa de debate tema “Controlesocial: como efetivar a participação popular e a trans-parência no processo de gestão”, onde os debatedoresforam Virgínia Junqueira (Instituto de Saúde) e o Depu-tado Estadual Carlos Neder. Foram organizados 3grupos de discussão abordando os temas de financia-mento, políticas de saúde e controle social no SUS.

Na plenária final os participantes deliberaram:1. Formar uma rede de articulação intermunicipal e

disponibilizar informações sobre os municípios nosite do Projeto Observatório de Saúde Bucal Cole-tiva cujos objetivos seriam de informar, promovertrocas de experiências e promover cursos de capaci-tação/atualização para os conselheiros usuáriosadequados às necessidades de desempenho dopapel do conselheiro e à realidade municipal;

2. Identificar e utilizar espaços pré-existentes (reu-niões de conselheiros usuários, rádios comunitá-rias, pastorais, associação de amigos de bairroetc) onde possa ocorrer a mobilização da popu-lação para troca de informação, reflexão e for-mação de consciência crítica sobre o papel doConselho, destacando o exercício da cidadaniae ressaltando a importância da part icipaçãoat iva do indivíduo, de forma a garant ir ocumprimento da lei 8142.

3. Divulgar as propostas do I Encontro junto aosConselhos Municipais de Saúde dos municípios

envolvidos e promover a discussão sobre possíveistemas do II Encontro bem como a criação daComissão Organizadora do II Encontro;

4. A comissão organizadora do I Encontro seráreferência com objetivo de manter e estimular aformação de redes de articulação intermunicipalvisando promover o II Encontro Popular de Saúdede Osasco e Região, possibilitando a partici-pação de lideranças populares, comunitárias enovos Conselheiros;

5. Incentivar a criação de um boletim informativolocal contendo os direitos e deveres dos usuárioscomo forma de melhor esclarecê-los em relaçãoà organização dos serviços municipais de saúdee no SUS;

6. Discutir nos foros adequados (reuniões dos CMS,reuniões da CIR) a implementação da políticade saúde para usuários com necessidades espe-ciais , bem como a aplicação da polít ica demedicamentos, inclusive medicamentos de altocusto, com informação correta para os usuáriosproporcionando também a capacitação dos tra-balhadores do SUS nas ações da Política Nacio-nal de Humanização;

7. Discutir nos foros adequados (reuniões dos CMS,reuniões da CIR) a pactuação de vagas dosserviços de saúde de média e alta complexidadeentre os municípios que compõem a DIR V bemcomo as políticas de saúde no sistema peniten-ciário e para o idoso, buscando garantir os direi-tos do seu estatuto;

8. Garantir o cumprimento da lei 8142 que tratada composição dos três segmentos no CMS epromover a integração dos Conselhos Gestoresdos serviços de saúde com os CMS;

9. Apoiar a organização de uma comissão deacompanhamento das f inanças municipais etambém a formação em contabilidade paraConselheiros usuários com o objetivo de facilitara compreensão das discussões referentes aofinanciamento na área da saúde para buscar umamelhor distribuição dos recursos orçamentários;

10. Discutir nos foros adequados (reuniões dos CMS,reuniões da CIR) formas de aumentar a receita ede garantir a contrapartida estadual no financia-mento da atenção básica, baseado EC 29.

Osasco, 18 de março de 2006.

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Conselhos Municipais de Saúde de Osasco e Região:identificação de perfil, controle social e formulação depolíticas para o SUS

Carolina Rogel Souza1

Rebeca Silva de Barros2

Maria Aparecida de Oliveira3

1 Fonoaudióloga e participante do Programa Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva do Instituto deSaúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Contato: [email protected]

2 Cirurgiã-Dentista. e participante do Programa de Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva doInstituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Contato: [email protected]

3 Cirurgia-Dentista da Prefeitura do Município de São Paulo e Mestre em Ciências – Saúde Coletiva peloInstituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

IntroduçãoA Lei 8.142 de 1990 instituiu as Conferências de

Saúde e os Conselhos de Saúde como ins tânciascolegiadas do Sistema Único de Saúde (SUS) respon-sáveis por garantir a participação da comunidade nagestão do sistema (BRASIL, 2007).

Os Conselhos de Saúde são órgãos permanentes,deliberativos, consultivos, normativos e fiscalizadores dasações e políticas de saúde. São constituídos de formaparitária, com 50% de usuários, 25% de trabalhadoresde saúde, 25% de representantes do governo e pres-tadores de serviços. Os usuários devem ser escolhidospor seus pares, com direito a voz e voto, garantindo,assim, a legitimidade e a representatividade dos mesmos.

A instituição desses espaços foi muito importante paraa implementação dos serviços públicos de saúde vol-tados para responder às demandas da população. Nes-sas instâncias, a partir de uma composição paritária, épossível debater os problemas de saúde locais e construirpolíticas de saúde apropriadas a cada realidade.

Os conselhos municipais de saúde (CMS) – comoespaços coletivos (CAMPOS, 2000) – são arranjos es-truturais montados para estimular a produção e a constru-ção de sujeitos e coletivos organizados tendo porfunções a administração e o planejamento de processosde trabalho objetivando a produção de valores de uso.Por isso revelariam seu caráter político tendo a co-gestãocomo uma forma específica de alterar as relações depoder e construir a democracia em instituições.

Baseados nesses pressupostos, investigamos os sujei-tos que compõe os CMS da região de Osasco/ SP,pois conhecendo seus part icipantes podemos com-preender a atuação dos conselhos e sua relação coma política local.

Quem é o conselheiro de saúde? Quais suas pautasde interesse? Como foi seu ingresso no ConselhoMunicipal de Saúde? Estas, dentre outras, foram asperguntas que motivaram esta pesquisa.

ObjetivoO objetivo deste trabalho foi identificar o perfil dos

conselheiros dos 15 CMS dos municípios que compõema extinta DIR V–Osasco, identificando possíveis diferen-ças entre os membros que paritariamente os compõe.

MetodologiaA equipe do projeto Observatório de Saúde Bucal

Coletiva visitou, no período de setembro de 2006 aabril de 2007, as reuniões ordinárias dos CMS dosmunicípios da região de Osasco apresentando-se edistribuindo um questionário semi-estruturado para re-presentantes dos segmentos dos gestores, profissionaisde saúde e usuários.

Os questionários preenchidos forneceram as seguin-tes informações sócio-demográficas: gênero, faixa etária,escolaridade, ocupação, renda familiar, religião. Alémdisso, foram obtidas as seguintes: composição dosCMS, motivação para participação, formas de ingressonos CMS; participação em oficinas de capacitaçãopara conselheiros de saúde; utilização do SUS e pautasde interesse nas reuniões do CMS.

A análise estatística dos dados coletados utilizouo programa EPI INFO versão 5.01. Todos os sujeitosde pesquisa assinaram termo de consentimento livre eesclarecido.

ResultadosNo total, foram 14 CMS visitados e 157 questioná-

rios respondidos. Os sujeitos de pesquisa eram em suamaioria mulheres, sendo 51% usuárias, 49% gestoras e56% trabalhadoras.

A faixa etária concentrou-se entre 41 e 50 anos parao segmento dos usuários e gestores e, entre 31 e 50anos para os trabalhadores.

Em relação à escolaridade, 27% dos usuários apre-sentam ensino fundamental completo; 65% dos gestorese 51% dos trabalhadores apresentam curso superiorcompleto.

A renda familiar de 37% dos usuários encontra-sena faixa de 2 a 4 salários mínimos (SM); 23% dos traba-lhadores, entre 5 a 8 SM e 33% dos gestores ganhamde 9 a 15 SM. Em relação à ocupação dos conselhei-ros usuários, 31% são aposentados e 24% trabalhadores

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Saúde Bucal

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dos serviços e comércio, as demais categorias apresen-taram números entre 3% e 9% (Gráfico 1).

Observamos que 93% dos usuários, 79% gestores e69% trabalhadores declararam utilizar o SUS (Gráfico2). Em relação aos convênios de saúde, 32% dos usuários,56% dos gestores e 62% dos trabalhadores afirmarampossuir algum tipo de seguro de saúde (Gráfico 3).

A religião católica foi professada pela maioria dosparticipantes, sendo que 81% das respostas foram degestores, 73% usuários e 62% trabalhadores.

Sobre a participação em processos de formaçãode conselheiros, 53% dos usuários, 49% dos gestorese 33% dos trabalhadores declararam ter freqüentadooficinas de capacitação para conselheiros da saúde.

O perfil dos conselheiros, as pautas de interesseem reuniões e a motivação para participação no CMSe o setor que representam estão expressas nos Gráficos4, 5 e 6.

Gráfico 1: Ocupação dos usuários

Outros5%

Autônomo4%

Do lar9%

Desempregado9%

Aposentado34%

Serviços,comércio

26%

Serviços,administrativo

10%Profissional

nível superior3%

Gráfico 2: Utiliza o SUS?

Usuário Gestor Trabalhador

Sim Não Não respondeu

100%

80%

60%

40%

20%

0%

93%

79%

69%

31%19%

5%0%1% 2%

Gráfico 3: Tem convênio?

Usuário Gestor Trabalhador

Sim Não Não respondeu

70%

60%

50%

40%

30%

0%3%

20%

10% 4%0%

36%44%

64%56%

62%

32%

Gráfico 4: Forma de eleição

Não respondeu

Outro

Usuário Gestor Trabalhador

ConferênciaMunicipal de Saúde

Entidade

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Gráfico 5: Pautas de interesse

Gráfico 6: Motivação para participação no CMS

Não respondeu

Outros

Conferências

Programas

Orçamento

Recursoshumanos

Usuário Gestor Trabalhadores10%0% 5% 20%15% 30%25% 40%35% 50%45%

Usuário

0%

5%10%

15%

40%

45%

30%

35%

20%

25%

Gestor Trabalhador

luta por direitosde cidadaniamodelo de gestão

representação demovimento social

interesse pessoal

convite/indicação

indicação doexecutivo

outros

DiscussãoCom a inclusão da participação da comunidade

como uma diretriz do SUS, abre-se a oportunidade dapopulação e dos trabalhadores se apropriarem dequestões relativas à formulação e proposição de açõesem saúde. Assim, temos a sociedade mais próxima doEstado, de seu funcionamento, orientando o mesmo no

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Boletim do Instituto de Saúde

sentido de privilegiar ações necessárias à população.Os efeitos dessa participação são altamente positivos:qualificação dos sujeitos, incremento da auto-estima,explicitação do conteúdo educativo e aumento deexpectativas futuras otimistas.

A baixa escolaridade e a falta de capacitação dosconselheiros usuários podem ser fatores limitantes daparticipação destes sujeitos no CMS. A pesquisa revelaque a maior par te dos usuários é composta poraposentados, o que nos faz refletir o seguinte: ou ostrabalhadores não têm realmente interesse em participarou não o fazem por desconhecerem a Resolução nº.333 do Conselho Nacional de Saúde, de 04 denovembro de 2003:

“X - A função de Conselheiro é de relevância públicae, portanto, garante sua dispensa do trabalho semprejuízo para o conselheiro, durante o período dasreuniões, capacitações e ações específ icas doConselho de Saúde” (BRASIL, 2003).

Ou ainda, a precarização dos vínculos de trabalhopoderia vir a dificultar a participação destes trabalha-dores nas reuniões e atividades do conselho.

Para os usuários, a forma de ingresso nos CMS émajoritariamente feita através da indicação por entida-des como igrejas e associações. Isso pode ser um méritopara a entidade, mas não necessariamente esse métodode indicação da representação indica o compromissode um grupo com a defesa da saúde do conjunto dapopulação já que, algumas vezes, o interesse daentidade pode se sobrepor ao da comunidade.

Os gestores, em sua maioria, estão no CMS porindicação do executivo ou por “força da lei”, o queinfluencia grandemente a construção de políticas paraa saúde, pois o gestor da saúde, por vezes, tem que sesubmeter aos mandos e desmandos do poder local. Apauta de interesse desse segmento concentra-se nadiscussão acerca do orçamento da saúde já que oCMS é umas das instâncias de aprovação de projetose de delimitação de prioridades. O que pode aconteceré que a prioridade para a gestão nem sempre éprioridade para usuários e trabalhadores.

Os trabalhadores, assim como os gestores, estãono CMS em “horário de trabalho”. A pauta de interesseconcentra-se na discussão acerca dos Programas eRecursos Humanos, pois ambas afetam diretamente ocotidiano do trabalhador no serviço.

ConclusãoA saúde é dos poucos setores do Estado que ga-

rante a participação popular nos espaços de gestão,portanto é inegável a importância dos CMS para aimplementação do SUS.

Porém, ainda prevalece um caráter mais consultivodo que deliberativo nos conselhos no que se refere àsdiversas propostas apresentadas em reuniões.

A pouca participação dos diversos segmentos maisorganizados da população, o pouco envolvimento dostrabalhadores da saúde e o predomínio de pautasapontadas pelos gestores são dificuldades que dimi-nuem a proposta do controle social - defesa esta dodireito à saúde da comunidade (RONCALLI, 2003).

Para que o CMS se torne um espaço coletivo deatuação plena e democrática, é necessário que osconselheiros tenham formação não apenas técnica, mastambém polít ica, já que é a partir da compreensãodos direi tos de cidadania que será possível umaatuação mais ampla e um rompimento das lógicas detutela e dependência.

Isto depende da necessária mudança de posturada população, dos prof issionais de saúde e dosgestores, para que comecem a utilizar espaço do CMSnão apenas para cobranças e reivindicações, mas tam-bém para promover processos dialógicos de pro-posição de ações e políticas.

ColaboraçãoPatrícia Nieri Martins participou como colaboradora

des te projeto na fase inicial, es truturação doquestionário e na coleta parcial de dados.

Referências BibliográficasBRASIL. Lei 8.142 de 28/12/1990. Disponível em[ht tp://w w w.conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8142_281290.htm]. Acessado em 23 outubro de2007.BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº333, de 04/11/ 2003. Disponível em [http://www.conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/resolucao_333.pdf]. Acessado em 30 de janeiro de 2008.CAMPOS GWS. Um método para análise e co-gestãode coletivos. São Paulo: Hucitec; 2º ed, 2005. 240 p.RONCALLI AG. O desenvolvimento das polít icas pú-blicas de saúde no Brasil e a construção do SistemaÚnico de Saúde. In: PEREIRA AP (org). Odontologiaem Saúde Coletiva. São Paulo: Artmed, 2003. 440 p.

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

Estudo Comparativo entre Tendências de GastosPúblicos Municipais em Saúde e Indicadores de SaúdeBucal na Antiga DIR V - Osasco (2000-2004)

Luiz Vicente Souza Martino1

Luís Antonio Cherubini Carvalho2

Fausto Souza Martino3

1 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretariade Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected].

2 Cirurgião-Dentista, Especialista em Saúde Pública e Odontologia Legal e Mestre em Deontologia eOdontologia Legal pela Universidade de São Paulo. Contato: [email protected]

3 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Mestrando em Ciências Odontológicas da Área deOdontologia Social da Universidade de São Paulo, Cirurgião-Dentista. Contato: [email protected]

IntroduçãoA distribuição de renda no Brasil é uma das mais

injustas e perversas do mundo. Há no país uma “baixae instável expansão da riqueza para o conjunto dasociedade”, desvelando problemas “como o desempre-go elevado, a pobreza e as desigualdades sociais emalta escala” (POCHMANN , 2002). Conseqüente-mente, par te da população dependente de açõessociais (saúde, alimentação, assistência social etc.) pelogoverno vem crescendo. O desenvolvimento da quali-dade e eficiência dos serviços públicos insere-se nasalternativas de políticas ativas de geração de empregoe renda, onde a “efet iva melhora do serviço socialenvolveria a ampliação dos recursos, por meio de umareforma tributária e da redução sensível da evasão fiscal,a racionalização e a moralização dos gastos (dimi-nuição do grau de corrupção, despotismo etc.), a univer-salização das atividades e serviços de boa qualidadepara todos (educação, saúde, assistência social etc.)e a promoção de novos mecanismos de garantia derenda” (POCHMANN , 2002).

O SUS pode e deve ser visto como produtor debens e serviços (consultas, assistência, cuidado, progra-mas etc.) que possuem valor de uso (capacidade po-tencial de atender as necessidades sociais) socialmenteco-produzido através de uma multiplicidade de deter-minantes (CAMPOS, 2003). Dentre estes, perpassamaspectos relacionados à economia da saúde, comofinanciamento do setor, gastos e alocação de recursos.Deve-se, pois, concentrar esforços na análise das prio-ridades de aplicação dos recursos, tendo em vista acrise econômica e a limitação dos orçamentos (MEN-DES & MARQUES, 2006).

O orçamento público municipal tem passado porconstantes readequações nos últimos anos e a porcen-tagem de dinheiro público gasto pelos gestores munici-pais tem sido alvo de legislação orçamentária. É o casoda saúde que estabelece na Emenda Constitucionalnº 29 (EC-29) de 2000, o vínculo de recursos orçamen-

tários em no mínimo 15% para os municípios, dando iní-cio “ao processo de construção das condições neces-sárias para que se alcance o equilíbrio desejável entre asdemandas da população por serviços de saúde e osrecursos necessários para seu financiamento” (BRASIL,2001). Em 1995 a União, com 63%, era quem mais apli-cava em saúde, seguida pelos Estados, com 20,7%, e osMunicípios, com 16,4%. Em 2003, após três anos da apro-vação da EC 29, o panorama alterou-se, com a Uniãoinvestindo 50,7%, os Estados 22,8% e os Municípios26,5%. Os dados apontam para uma participação cres-cente dos Municípios nos gastos com saúde, aumentandoseus investimentos em mais de 10% num intervalo de oitoanos (FERNANDES et al, 1998; DATASUS).

O Projeto “Observatório de Saúde Bucal Coletiva:construindo a cidadania na saúde”, aprovado e finan-ciado pelo CNPq, teve suas atividades concentradasna antiga Direção Regional de Saúde (DIR) V de Osas-co, trabalhando com seus 15 municípios, durante osanos de 2005 e 2007, guiando-se por cinco linhasde pesquisa: clínica ampliada, ações de natureza cole-tiva, média e alta complexidade, gestão e co-gestão einformação em saúde. Durante seu trabalho o projetopôde tomar contato com a realidade local, além deassimilar melhor algumas características e indicadoresreferentes aos municípios pertencentes à região. Pecu-liaridades quanto à gestão, programas, serviços, orça-mentos e a própria história das políticas públicas daregião mostraram sua saúde bucal modelando inova-doras metodologias de trabalho, mesmo mantendo operfil e o baixo acesso da população atendida (Re-latório Científico Projeto Observatório de Saúde BucalColetiva, 2007).

Objetivos e ResultadosObjetivou-se estabelecer a relação dos gastos públi-

cos municipais em saúde (Despesas Totais em Saúde –DTS) e indicadores de saúde bucal dos municípiospertencentes à antiga DIR V - Osasco, do estado deSão Paulo, entre 2000 - 2004, como uma das propos-tas do Projeto “Observatório de Saúde Bucal Coletiva”.Para coleta dos dados utilizou-se o Sistema de Infor-mações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS)- para análise dos gastos públicos em saúde - e o

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

DATASUS, do qual o SIOPS é parte integrante - paraos indicadores de saúde bucal.

A partir daí analisaram-se as linhas de tendênciadas DTS de cada município, estipulando-se as linhasde tendência linear, realizando-se o mesmo procedi-mento para a DIR em seu conjunto, através da médiadas despesas das 15 cidades. Os indicadores de saúdebucal escolhidos e presentes no Pacto da AtençãoBásica do SUS, presentes no DATASUS, foram:

a) a cobertura de primeira consulta odontológica,calculada pela divisão do número total de primeirasconsultas realizadas no município em determinado anopela população total do município e multiplicados por100 - que indica o acesso da população em geral àassistência odontológica individual; porém, consultas deurgência e emergência não são incluídas neste indicador.

b) a média anual de população entre zero a 14anos de idade coberta por procedimentos odonto-lógicos coletivos - que são definidos como a realizaçãode exame clínico epidemiológico anual, educação emsaúde, realização de bochechos fluoretados e higienebucal supervisionada. O numerador foi calculado divi-dindo-se a soma da quantidade de procedimentos co-letivos apresentada pelo município mês a mês, em cadaano, pelo número de meses em que esta quantidadefoi diferente de zero. O denominador foi constituídopela totalidade da população entre zero a 14 anosde idade residente no município. Este indicador éapresentado na forma de razão, sendo uma relaçãofavorável àquela em que os valores estão mais distantesde 0,0 e próximos de 1,0;

c) a proporção de exodontias na dentição perma-nente em relação ao total de procedimentos odon-tológicos individuais - indicador que mostra o grau demutilação da assistência odontológica individual noâmbito municipal (FERNANDES & PERES, 2005). Estesforam examinados um a um, ano após ano, verificando-se também suas linhas de tendência linear, para cadacidade, além do mesmo ter sido feito para a média decada um dos três indicadores para a DIR V.

A análise conjugada das vertentes das despesas to-tais em saúde e indicadores de saúde bucal na atençãobásica possibilitou a visualização de tendências sobrea utilização dos recursos e o desenvolvimento da própriasaúde bucal na região. Verificou-se que não há relaçãodireta entre um maior ou menor financiamento em saúdee o desempenho da saúde bucal. A verificação das basesde dados do Sistema de Informações sobre OrçamentosPúblicos em Saúde permitiu constatar grandes diferençasno financiamento da saúde entre os municípios da região,que variou de R$ 58,00 (cinqüenta e oito reais) a R$335,00 (trezentos e trinta e cinco reais), em 2003, sendoque isto nem sempre se traduziu como diferença na ofertade serviços.

É verdade que a maior parte dos municípios tem umper capita/ano para a saúde inferior à média nacional,

no entanto, não se observaram diferenças notáveis entreos serviços públicos odontológicos, assistência e os níveisde acesso entre alguns dos menos f inanciados(Carapicuíba, Embu das Artes, Itapevi e Embu-Guaçu),e os mais financiados (Barueri, São Lourenço da Serra,Santana do Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus). Tam-pouco se observou qualquer relação entre o percentualdo orçamento municipal gasto com saúde, EmendaConstitucional – 29 (EC 29), e a oferta de serviços; casosde Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba, amboscom menor (15,24 %) e maior (31,25 %) investimentorespectivamente (Relatório Científ ico Projeto Obser-vatório de Saúde Bucal Coletiva, 2007).

Na compilação dos dados pode-se verificar queas DTS em todos os municípios apresentam tendênciade aumento e, logicamente, a média da DIR segue amesma característica (Gráfico 1), observando-se, tam-bém, que a partir de 2002 todos os municípios da DIRV - Osasco cumprem a EC-29.

Gráfico 1: Tendência linear de despesas totais em saúde na DIRV - Osasco de 2000 a 2004.

R$ 200,00

R$ 150,00

R$ 100,00

R$ 50,00

R$ 0,00

2000 2001 2002 2003 2004

DTS

Linear (DTS)

Fonte: www.datasus.gov.br

Quando se examinam as linhas de tendência lineardos indicadores de saúde bucal, verifica-se que em 60%dos municípios a cobertura de primeira consulta odon-tológica tem uma tendência à melhora do indicador.Porém quando os dados são avaliados, examinando-se a DIR como um todo (Gráfico 2), a linha de tendên-cia linear projeta-se inversamente à maioria das cidades,ou seja, há uma queda do acesso aos serviços no de-correr dos anos estudados, caindo de 9,43%, em 2000,para 7,27% no ano de 2004.

Há claramente um aumento do investimento quenão se reflete neste indicador importante que retrata oacesso aos serviços. É comum nos defrontarmos comrealidades municipais que revelam fatos como uma exí-gua proporção entre o número de cirurgiões dentistaspúblicos e o total da população, pequena quantidadeou até ausência de mão-de-obra auxiliar contratadapelos governos municipais, baixo número de equipa-

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Boletim do Instituto de Saúde

mentos para a assistência e o seu precário estado deconservação ou até mesmo a ausência de determinadosserviços odontológicos essenciais para o bom an-damento da assistência aos munícipes.

Todos estes aspectos, dentre outros, invariavelmentetêm como justificativas dos governantes fatores econô-micos, como falta de recursos, lei de responsabilidadefiscal, alto custo da saúde bucal etc. Na antiga DIR Vde Osasco pôde-se verificar que “o número absolutode dentistas na região determina a proporção de umdentista público para cada 6.000 habitantes, mas estaé uma aproximação matemática que nada tem deconcreta. De fato, em alguns municípios esta proporçãoalcança espantosos 1:25.000 (Itapevi) e em outros é10 vezes mais favorável, 1:2.500 (Santana do Parnaí-ba), enquanto na maior parte deles fica entre 1:3.500a 1:4. 500” (Relatório Científico Projeto Observatóriode Saúde Bucal Coletiva, 2007).

Há, ainda, um município na região que presta seusserviços à população sem pessoal auxiliar e outros comum baixo contingente destes profissionais ou, até, coma inexistência dos cargos-função de técnicos de higienedental e auxiliar de consultório dentário. Verificou-se,também, o sucateamento de equipamentos odontoló-gicos em certos municípios visitados.

O acesso à assistência odontológica de outras fatiaspopulacionais, além materno-puericultora, pode tambémter levado à queda neste indicador, uma vez que estapopulação possuía grande necessidade acumulada. Taisexplicações podem muito bem se tratar dos supostosmotivos para que os 40% dos municípios que não tiverama tendência de melhora deste indicador fossem osresponsáveis pela queda no cálculo geral para a região.

O indicador que corresponde à razão entre procedi-mentos odontológicos coletivos e a população de 0 a14 anos de idade apresenta-se com 53,33% das cida-des com uma tendência de melhora neste quesito. Omesmo acontece com a região que revela leve tendên-cia positiva do indicador (Gráfico 3).

Gráfico 2: Tendência linear de indicadores de saúde bucal - 1ªConsulta na DIR V - Osasco de 2000 a 2004.

14

12

10

8

6

4

2

0

2000 2001 2002 2003 2004

1ª consulta

Fonte: www.datasus.gov.br

Gráfico 3: Tendência linear de indicadores de saúde bucal -Procedimentos Coletivos (PC) na DIR V - Osasco de 2000 a 2004.

1

2000 2001 2002 2003 2004

PC

Fonte: www.datasus.gov.br

0,8

0,6

0,4

0,2

0

Linear (PC)

No caso da proporção de exodontias em relaçãoàs ações odontológicas básicas individuais a tendênciafoi, em 60% dos municípios, de queda, sendo este umfator positivo. O mesmo acontece com a média da DIRV (Gráfico 4).

Gráfico 4: Tendência linear de indicadores de saúde bucal -Procedimentos Coletivos (PC) na DIR V - Osasco de 2000 a 2004.

2000 2001 2002 2003 2004

8

Fonte: www.datasus.gov.br

Linear (Exodontias)

Exodontias10

6

0

2

4

Nota-se uma tendência de melhora, não propor-cional, para os indicadores de saúde bucal quandocomparados às despesas totais em saúde, a não serpela cober tura de primeira consulta odontológica(Gráfico 5).

Considerações finaisParte-se do pressuposto, que apesar de necessário

o aumento dos investimentos em saúde, certas questõesdevem ser discutidas: qual a relação das DTS com pla-nejamento de ações em saúde e organização do traba-lho (gestão)? Quanto de investimento das DTS é dire-cionado aos programas de saúde bucal? Quanto o

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SIOPS está sendo usado como instrumento de plane-jamento, gestão e controle social do SUS?

O aprofundamento nestas questões é necessáriopara que se compreenda o processo de investimentoem saúde bucal e a utilização dele como ferramentade gestão, direcionando-se os investimentos para asnecessidades latentes e procurando, com isto, diminuiras expressões das desigualdades sociais no âmbito dasaúde bucal.

Referências BibliográficasBRASIL. CONSTITUIÇÃO DE 1998. Emenda Constitu-cional nº 29, de 2000. Brasília: Diário Oficial da uniãonº 178 E, 14 de setembro de 2000.BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DEGESTÃO DE INVESTIMENTOS EM SAÚDE. Estimativasde impacto da vinculação constitucional de recursos paraa saúde: Emenda Constitucional nº 29/2000 / Ministérioda Saúde, Secretaria de Gestão de Investimentos emSaúde; elaboração de Ana Cecília de Sá CampelloFaveret...[et al.]. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.BRASIL. UNIDADE DE GERENCIAMENTO DO BRASIL,DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO HUMA-NO, DEPARTAMENTO DE REDUÇÃO DE POBREZA EGESTÃO ECONÔMICA, REGIÃO DA AMÉRICALATINA E DO CARIBE. RELATÓRIO Nº. 36601-BR.DOCUMENTO DO BANCO MUNDIAL. Governançano Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. Melho-rando a Qualidade do Gasto Público e Gestão deRecursos, 2007.CAMPOS, G W S. Saúde Paidéia. São Paulo: EditoraHucitec, 2003.CNPq. Relatório Científico do Projeto “Observatóriode Saúde Bucal Coletiva. Construindo a Cidadaniana Saúde”, 2007.DATASUS. Disponível em [http//: www.datasus.gov.br].Acessado em maio de 2005.

FERNANDES, L S & PERES, M A. Associação entreatenção básica em saúde bucal e indicadoressocioeconômicos municipais. Rev Saúde Pública, 39(6):930 - 6, 2005.FERNANDES, M.A.;, OLIVEIRA, M.M.S.; AYUB, C .A.;ROCHA, D.C .C .; RIBEIRO, J .A.C; AQUINO, L M C .Gasto Social das Três Esferas de Governo: 1995. Textopara Discussão n. 598. Ipea: Brasília, 1998.MENDES, A & MARQUES, R. Sobre a economia dasaúde. In: CAMPOS, G W S. et al. Tratado de SaúdeColetiva. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.POCHMANN , M. O Trabalho sob Fogo Cruzado:exclusão, desemprego e precarização no final doséculo. São Paulo: Contexto, 2002.

Gráfico 5*: Tendências lineares de indicadores de saúde bucal e despesas totais em saúde na DIR V - Osasco de 2000 a 2004.

2000 2001 2002 2003 2004

150

DTS

1ª Consulta

PC

Exodontias

Linear (DTS)

Linear (1ª consulta)

Linear (Exodontias)

Linear (PC)

Fonte: www.datasus.gov.br

200

100

50

0

* Para melhor visualização e apresentação, no gráfico, os resultados obtidos da razão foram multiplicados pelo fator 10.

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Formação de Gestores para o SUS, NovasAbordagens e Novas Possibilidades de Interlocução: aexperiência do curso de formação de coordenadoresde Saúde Bucal em co-gestão para o SUS

Fabiana Schneider Pires1

Maria Aparecida Oliveira2

1 Cirurgia-Dentista do Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS e Mestre em Ciências – SaúdeColetiva pelo Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato:[email protected]úde.sp.gov.br

2 Cirurgiã-Dentista da Prefeitura Municipal de São Paulo e Mestre em Ciências – Saúde Coletiva pelo Institutode Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected].

3 O tema “Gestão em Redes” tem sido discutido e trabalhado por relevantes pesquisadores do país,sobretudo o Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde (2006).

De uma forma geral, questões sobre os modos deprodução da gestão no Sistema Único de Saúde (SUS),destacando-se a participação, a democracia institucio-nal e a competência, constituem componentes explica-tivos e operativos capazes de ultrapassar o caráternormativo dos processos decisórios. Por outro lado, alógica da competência centrada nas relações e emseus efeitos - abertura de novos espaços institucionaisdemocráticos e reconfigurados para o principal objetoda gestão: as relações do trabalho na saúde mos-trando-se como via alternativa e consistente para rees-crever tecnologias de gestão e organização do traba-lho. (GUIZARDI et al, 2006)

Sob este prisma, em decorrência dos desafios daimplantação do SUS ao longo dos anos e da necessi-dade de formação e aperfeiçoamento de gestores paraadministrar as demandas gerenciais que se seguiram àdescentralização e hierarquização das ações, a discus-são acerca do papel daqueles que se defrontam coma tarefa de administrar e gerenciar o SUS tem suscitadoamplos debates e teorizações.

Alguns autores3 têm apontado que os desenhosinstitucionais que atualmente configuram o SUS podemnão responder plenamente aos desafios de democrati-zação das políticas do setor, indicando resistência tantomicro quanto macro polít ica além de obstáculos nocotidiano dos serviços, como ilustra Castanheira (2000):

“... o conflito entre a necessidade institucional deestabelecer normas para o atendimento e as necessi-dades mais imediatas trazidas pelos usuários (...) oconflito entre os interesses de grupos de trabalha-dores da unidade, e de cada trabalhador individual,com as normas da instituição, de um lado e com asdemandas dos usuários, de outro”.

Nos serviços públicos de saúde a gerência possui,também, a incumbência de fazer a mediação entre aspolíticas públicas, as opções do governo e o projetoético, técnico e político que o SUS representa (CAS-TANHEIRA, 2000).

Entre os desafios a serem enfrentados pelos gestoresestão os de identificar e selecionar os conhecimentos,métodos, técnicas e instrumentos de trabalho que osajudem a tomar decisões e a conduzir a implementaçãode polít icas, programas e ações de saúde sob suaresponsabilidade.

Campos (2000) propõe a criação de espaços cole-tivos para o exercício da Co-Gestão. Estes seriam espa-ços onde atores sociais expressariam seus desejos einteresses, confrontando-os entre si e com a realidade,na busca de construir conhecimentos, trocar experiên-cias para analisar fatos, participar do governo, educar-se e reconstituir-se como sujeito. A consolidação deespaços democráticos para discussão e proposiçãode políticas de saúde proporciona o desenvolvimentode valores comuns ao grupo permitindo intercoopera-ção - relacionada diretamento com o exercício dacidadania.

Conforme as leis que regulamentam o SUS (Leis8080 e 8142), apropriar-se do conhecimento necessá-rio para conduzir as ações em saúde tem sido questãofundamental para a garantia da participação popularnos processos decisórios e de gestão participativa.

Por certo, reunir tais habilidades na figura do gestortornou-se relevante para a gestão do SUS e tem geradopropostas de planejamento, monitoramento do sistema,incorporando tecnologias de formulação, implementa-ção e avaliação de políticas, programas, projetos quesirvam para intervir sobre as condições de saúde dapopulação e sobre o serviço de saúde.

Nesta perspectiva, o projeto “Observatório de Saú-de Bucal Coletiva” do Instituto de Saúde da SES/SP,em parceria com o Comitê de Saúde Bucal da SES/SP e o Pólo de Educação Permanente em Saúde, comfinanciamento da Organização Pan-Americana de Saú-de (OPAS), realizou em 2007 o “Curso de Formaçãode Coordenadores de Saúde Bucal em Co-Gestão

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

para o SUS” para Coordenadores de Saúde Bucalda rede pública dos municípios da região metropo-litana de São Paulo.

A metodologia para conduzir o curso de formaçãofoi a propos ta da educação permanente, comoconceito pedagógico capaz de promover a agregaçãoentre aprendizado, reflexão crít ica sobre o trabalho,definindo de forma descentralizada a ação loco-re-gional desta política e fortalecendo as parcerias inte-rinstitucionais e o controle social. A educação perma-nente trata da aprendizagem que se processa atravésdas diferenças culturais, sociais e religiosas dos sujeitossociais, considerando as necessidades sentidas, bemcomo as condições e oportunidades destes sujeitos emrefletir sobre o conhecimento apreendido ao longo davida. (BRASIL, 2004).

Utilizamos a problematização (centrada na reflexãodo dia-a-dia) que estimula processos de desconstruçãoe de busca de outros saberes para a nova construçãodo cotidiano, possibilitando desenvolver habilidadesde observação, análise, avaliação e cooperação entreos membros do grupo para a superação de conflitos.Optamos por organizar as atividades considerando aPolítica Nacional de Educação Permanente em Saúdecomo estratégia para a formação e desenvolvimentode trabalhadores para o setor, pois a educação per-manente é uma ação interinstitucional e loco-regionalcom funções de identificar e priorizar necessidades deformação e desenvolvimento dos trabalhadores, proporpolíticas e estabelecer negociações interinstitucionaise intersetoriais, articular e estimular a transformaçãodas práticas de saúde, tendo como referência as reaisnecessidades das pessoas e da população, da gestãosetorial e do controle social.

De forma objetiva, a atividade realizada buscouacolher e integrar os participantes, criar identidadede grupo e vínculo monitores/participantes, bem comocontextualizar, aproximar e dimensionar o problema:a co-gestão em saúde como política de gestão para oSistema Único de Saúde.

Durante a realização do curso, foram incentivadasa construção e implementação de propostas de arti-culação entre os coordenadores de Saúde Bucal daregião metropolitana de São Paulo com proposta, entreoutras, de criação de um Fórum Virtual de Gestoresem Saúde Bucal. Es te produto teve o objet ivo decontribuir para a melhoria da qualidade de gestão,viabilizando discussões entre os gestores de temascomuns a todos, como as atuais portarias de gestãodo SUS (PACTO PELA SAÚDE, 2006) e caminhos parao fortalecimento de identidade entre eles.

Desta forma, foram realizados encontros presenciais,totalizando 56 horas, com oficinas de formação etrocas de experiências relacionadas à elaboração eimplementação loco-regionais dos processos de co-gestão em saúde e também, a partir de roteiro definido,

o diagnóstico da situação da rede de serviços, dasatividades dos Conselhos Municipais de Saúde, do tra-balho das equipes, dentre outros, totalizando 30 horasde atividades não presenciais e permitindo aos parti-cipantes reflexões sobre sua prática enquanto gestor,suas dificuldades, suas realizações.

Com a elaboração do diagnóstico loco-regional edos projetos de intervenção, os coordenadores de Saú-de Bucal apropriaram-se de ferramentas de gestão quepodem facilitar questões do dia-a-dia, como a regula-ção da atenção à saúde, a construção de pactos re-gionais, outras formas de financiamento para os pro-gramas municipais de Saúde Bucal (incluindo a SaúdeBucal em outros programas, como Saúde do Idoso,Plano de Ações e Metas para DST/Aids, dentre outros).

Tais atividades resultaram, segundo os participantes,no aumento da capacidade de planejamento, monito-ramento e avaliação de projetos de intervenção, oaumento da capacidade de articulação dos gestoresno âmbito da região metropolitana e, sobretudo, ainterlocução a partir da formação de uma rede virtualde gestores do SUS com a proposta de troca de expe-riências, espaço para discussão e formação, contandocom a mediação dos pesquisadores e inst i tuiçõescorrelatas, experiência esta que certamente conduziráà melhoria da qualidade da gestão.

A discussão central, depois de executado pelos par-ticipantes o diagnostico loco-regional, abrangeu ques-tões relativas à capacidade de direção (GRAMSCI,1978): habilidade e potência para compor consensos,alianças e implantar projetos, relatada como dificul-dade e muitas vezes não facultada aos gestores, porposições polít icas – no seu pior sentido, aquele de“politicagem” nos municípios.

Perceptível também foi a problematização da gestãopública e cidadania, quando o grupo buscava enten-der de qual forma seria possível focalizar e disseminaro que está indo bem na administração pública, des-cobrir as inovações e os inovadores, aumentar o esto-que de conhecimento sobre experiências alternativasem gestão pública, bem como as mudanças em rela-ção à autonomia e legitimidade dos atores sociais.

A adesão ao curso foi espontânea, ou seja, haviaum contato prévio por parte dos pesquisadores com ocoordenador municipal de Saúde Bucal dos municípiosda região metropolitana de São Paulo, 39 ao total, eposteriormente, enviada carta-convite aos secretáriosmunicipais de saúde formalizando a proposta de cursode formação aos gestores. A adesão foi parcial, coma presença de 26 municípios representados, algunscom mais de um participante4.

4 Consideramos o processo de adesão muito singular, neste caso, pois à medida que as atividades do cursocomeçaram e os participantes comentavam com seus pares, entendidos aqui como “colegas gestoresdos municípios vizinhos”, outros coordenadores pediam adesão, mesmo com o grupo já em andamento.Alguns municípios solicitaram adesões para 4 ou mais participantes, mesmo antes de começarem asatividades. No entanto, alguns coordenadores municipais conseguiram liberação para o segundo modulodo curso, alegando pouca vontade política do município na sua formação.

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Dentre os resultados alcançados, podemos des-crever que os gestores consideraram-se, nas avaliaçõesdo curso, capacitados para melhor realizar atividadesde planejamento, monitoramento & avaliação e proje-tos de intervenção em Saúde Bucal, perceberam umaumento da capacidade gestora das equipes de Saú-de Bucal dos municípios e de sua articulação no âmbitointermunicipal. Foi possível perceber que os participan-tes estavam sensibilizados para a condução de pro-cessos participativos de gestão e que conseguiram esta-belecer um bom vínculo entre eles. A possibilidade deacesso às informações disponíveis sobre Saúde Bucal,na rede mundial de computadores (com a participaçãoe apoio do Instituto de Saúde - Observatório de SaúdeBucal Coletiva) e a formação e acesso ao Fórum Virtualde Gestores em Saúde Bucal

Foram apontadas pelos participantes como de mui-ta importância para troca de experiências e articulaçãoentre os gestores dos municípios.

Alguns depoimentos dos participantes ilustram osresultados alcançados:

“O curso conseguiu passar para os coordenadoresuma forma mais fácil, objetiva de lidar com a SaúdeBucal municipal, mudando a visão e abrindo algu-mas questões antes nunca inseridas na Saúde Bucal,como por exemplo, o financiamento” (coordenadorde Saúde Bucal A) .

“... pois a partir de agora tenho subsídios para argu-mentar e pôr em prática as ações, mesmo com a resis-tência de alguns” (coordenador de Saúde Bucal B).

“A participação no curso dará mais qualidade àgestão e uma maior qualidade de argumentaçãocom o gestor municipal” (coordenador de SaúdeBucal C).

“O curso foi de suma importância, pois dividimosexperiências entre os colegas, tivemos oportunidadede conhecer assuntos até então desconhecidos. Estecurso deveria ocorrer mais vezes” (coordenador deSaúde Bucal D).

A discussão central para esta experiência de for-mação passa pelas questões relat ivas à governa-bilidade dos gestores locais, pela fragilidade do papeldo coordenador, sujeito às intempéries da política local,com suas interferências na condução dos processos.De modo geral, os coordenadores são unânimes emafirmar que as relações polít icas são muito fortes epreponderantes no âmbito municipal e que a inserçãoda Saúde Bucal no rol de preocupações dos poderesexecutivo e legislativo depende da ação direta do ges-tor, com diferente poder de negociação, tanto com ossecretários municipais de saúde quanto com os con-selhos municipais de saúde. Some-se a isto a dificul-dade em lidar com os processos de gestão do SUS, a

organização do serviço, estruturação da rede e os per-calços polít ico/organizacionais, como a ultima rees-truturação das extintas Direções Regionais de Saúde(DIR), como referencia, principalmente técnica, para acondução da política de Saúde Bucal do SUS5.

Por certo, a co-gestão depende de vontade políticae de condições objet ivas e supõe a ampliação doespaço tradicional da política, reconstruindo os modosde fazê-la, tendo como fim alterar as relações de podere construir a democracia em instituições. Consideramosque a formação de redes, comitês, conselhos ou outrasiniciativas para troca de experiências, produção deconhecimento, for talecimento das relações entre ossegmentos da sociedade e o compromisso com agestão participativa supõem assumir posturas éticasna democratização das relações sociais e buscamromper lógicas de tutela e dependência, reforçando anecessidade de relações na horizontalidade do tecidosocial, conduzindo a mudanças em relação àautonomia e legitimidade dos atores, na construçãoda cidadania.

Referências BibliográficasBRASIL. Constituição, 1988. Constituição, RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, Senado Federal, 1988,seção II, Da saúde.______. Lei Federal n° 8.080, de 19 de setembro de1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,proteção e recuperação da saúde, a organização e ofuncionamento dos serviços correspondentes e dá ou-tras providências. Diário Oficial da República Fe-derativa do Brasil, n° 182 de 20 de setembro de 1990.p.25.694 -5.______. Lei Federal n° 8.142, de 28 de dezembrode 1990. Dispõe sobre a participação da comunidadena gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobreas transferências intergovernamentais de recursos finan-ceiros na área da saúde e dá outras providências .Diário Oficial da República Federativa do Brasil ,n°249 de 31 de dezembro de 1990. p.18.055-9.______. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestãodo Trabalho e da Educação na Saúde – SGTES. Depar-tamento de Gestão da Educação na Saúde – DEGES.Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS:caminhos para a educação permanente em saúde:pólos de educação permanente em saúde. Editora MS.Brasília, 2004.CAMPOS, G.W.S. Um método para analise e gestãode coletivos. São Paulo: Hucitec; 2000.

5 Em dezembro de 2006 foram extintas as DIR (órgão da esfera estadual do Estado de São Paulo) esubstituídas por outro arranjo regional. Na região metropolitana de São Paulo que possui um contingentepopulacional expressivo e de características locais tão diferentes entre si, a reestruturação em apenasum Departamento de Saúde em substituição aos cinco antes existentes, gerou frustração edescontentamento por parte dos gestores municipais que viram o desmonte da estrutura intermunicipal aqual muitos recorriam para soluções técnicas, à qual mantinha um profícuo relacionamento, como atestaa constituição do Comitê de Saúde Bucal da DIR V – Osasco, espaço de discussões e elaboração depolíticas de Saúde Bucal para os 15 municípios daquela região.

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Saúde Bucal

Boletim do Instituto de Saúde

CASTANHEIRA, E. A gerência na pratica programática.In: SCHRAIBER, L.B. (org.). Programação em saúde hoje.São Paulo: Hucitec; 1990.COHN , A. Desenvolvimento Social e Impactos naSaúde. In: BARATA, R.B . (org.) Condições de Vida eSituação de Saúde. Rio de Janeiro, Abrasco; 1997(a).COSTA, N .R.; PINTO, L.F. Avaliação de Programa deatenção à saúde: incentivo à oferta de atenção ambu-latorial e a experiência da descentralização no Brasil.Ciência e Saúde Colet iva. São Paulo: Ed. Abrasco,vol. 7 n° 4. 2002.GRAMSCI A. apud CECILIO L.C. (org). Inventando aMudança na Saúde. 2º edição. São Paulo: ed .Hucitec;1997.DAGNINO E. (org .). Sociedade Civil e EspaçosPúblicos no Brasil. São Paulo: ed. Paz e Terra; 2002.GUIZARDI, F.L.; PINHEIRO, R.; MACHADO, F.R.S .;DELAAI, T. Part icipação, democracia inst itucional ecompetência: algumas questões sobre os modos de pro-dução de gestão no SUS. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A.A.;MATTOS, R.A. (org.) Gestão em redes: tecendo os fiosda integralidade em saúde. Rio de Janeiro: EdUCS:IMS/UERJ: CEPESQ, 2006.LABORATÓRIO DE PESQUISAS SOBRE PRÁTICAS DEINTEGRALIDADE EM SAÚDE. Gestão e redes: tecendoos fios da integralidade em saúde. Rio de Janeiro,LAPPIS, 2006.HEIMANN LS . CARVALHEIRO JR, DONATO AF,IBANHES LC, LOBO EF, PESSOTO UC. O Municípioe a Saúde. São Paulo: ed. Hucitec; 1992.HEIMANN , L.S .; CORTIZO, C .T.; CASTRO, I.E.N .;K AYANO, J .; ROCHA, J .L.; NASCIMENTO, P.R.;BOARETTO, R.C .; PESSOTO, U.C .; JUNQUEIRA, V.Descentralização do Sistema Único de Saúde: trilhandoa autonomia municipal. São Paulo: ed: SOBRAVIME;2000.

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Saúde Bucal

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Relatório Científico do “Observatório de SaúdeBucal Coletiva”: comentários críticos e reflexões úteisao Serviço Público Odontológico

Carlos Botazzo1

Rebeca Silva de Barros2

Luiz Vicente Souza Martino3

Maria Aparecida Oliveira4

Fabiana Schneider Pires5

Carolina Rogel Souza6

1 Doutor em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado daSaúde de São Paulo. Contato: [email protected]

2 Cirurgiã Dentista e participante do Programa de Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva do Institutode da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

3 Especialista em Odontologia em Saúde Coletiva e Pesquisador Científico do Instituto de Saúde daSecretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

4 Cirurgiã-Dentista da Prefeitura Municipal de São Paulo e Mestre em Ciência - Saúde Coletiva pelo Institutode Saúde da da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

5 Cirurgiã-Dentista do CRT DST/Aids e Mestre em Ciências – Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde daSecretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

6 Fonoaudióloga e participante do Programa de Aprimoramento Profissional em Saúde Coletiva do Institutode Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Contato: [email protected]

Introdução – O Escopo do ProjetoEste projeto teve por escopo propiciar competência

diagnóstico-terapêutica ao cirurgião-dentista do SUS,tendo como foco inicial as equipes de saúde bucal demunicípios da extinta Divisão Regional de Saúde (DIR)V - Osasco. Para a consecução dos seus objetivos, foramorganizadas ações e atividades interligadas ou interde-pendentes. No entanto, e a despeito dessas caracte-rísticas, os limites institucionais estavam desde logo co-locados, pois, para se garantir tal competência, seriapreciso incorporar pessoal auxiliar aos serviços (auxi-liares de consultório dentário – ACD - e técnicos dehigiene dental – THD) organizar serviços de média ealta complexidade, contar com a participação social,elaborar a informação produzida e implementar dispo-sitivos democráticos de gestão.

De outra parte, propiciar competência diagnóstico-terapêutica implica romper com as concepções estrita-mente “dentárias” que cercam a formação e o conceito(ideológico) de odontologia, reproduzido no currículoformal das escolas, mas, sobretudo, no “oculto”. Assim,ainda hoje e quase duas décadas depois de implan-tada, a prática odontológica que se reproduz no SUSmantém o caráter “privatista” da origem da profissãoe se expressa no acentuado recorte materno-infantil.De fato, é notório o “encolhimento” que a odontologiaapresenta no setor público, a despeito de tratar-se deprática social e técnica altamente sofisticada e com-petente, mas também altamente exclusora, compro-vação imediata quando se observam os indicadores

de cobertura e acesso da população aos serviçospúblicos odontológicos.

Para além disto, as atividades com equipes de saúdebucal na região permitiram um conjunto de observa-ções, sucintamente descritas: 1) dificuldade ou impe-dimento para realização de procedimentos diagnós-ticos e terapêuticos na Atenção Básica, mesmo os debaixa complexidade; 2) escassa oferta de procedi-mentos em média e alta complexidade; 3) dificuldadeou impossibilidade para encaminhamento a especia-lidades médicas; 4) processos de trabalho isolados dorestante da unidade (unidades básicas de Saúde - UBS- ou do Programa de Saúde da Família - PSF), comagendamento privado e sem acesso ao prontuário úni-co; 5) inexistência de interconsulta.

Decorrentemente, seria recomendável que as ativi-dades de formação incidissem sobre os seguintes pon-tos: 1) revisão da clínica com a perspectiva interdis-ciplinar, com dois pólos: um clínico-biológico e o outroclínico-social; 2) função plena dos agentes comunitáriosde saúde (ACS), ACD e THD, proporcionando maiortempo do CD para intervenção qualificada (aumentoda capacidade diagnóstico-terapêutica na atençãobásica); 3) desenvolvimento de protocolos de funcio-namento, dentro das competências da Unidade Básicade Saúde ou equipes do Programa de Saúde da Família(ESF); 4) anamnese individual e coletiva; 5) discussãocom a sociedade local (conselhos de saúde); 6) se-minários com usuários.

Para implantação do projeto na região, foram ado-tadas as seguintes estratégias: 1) seminário de apre-sentação do projeto para DIR e CIR; 2) ampliação dosgrupos de trabalho com municípios adscritos; 3) iden-tificação de 5 unidades de saúde para implantaçãodo “experimento” de clínica ampliada; 4) reuniões detrabalho com o Comitê de Saúde Bucal da DIR V eequipes de saúde bucal para elaboração dos con-teúdos da formação clínica; 5) elaboração de projetopedagógico e execução.

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Os Objetivos Iniciais do ProjetoForam oito (8) os objetivos inicialmente propostos,

a saber:1) Inovar a clínica odontológica, propiciando o de-

senvolvimento de competência diagnóstico-te-rapêutica do cirurgião-dentista em novas abor-dagens clínicas;

2) Inovar o trabalho do pessoal auxiliar, especial-mente o THD, observando a extensão das suasatribuições de origem;

3) Conhecer as prát icas de média e alta com-plexidade na região no que toca à assistênciaodontológica;

4) Estabelecer protocolos de referência e contra-referência tanto para as UBS quanto para asUSF;

5) Inovar a promoção da saúde, avaliando o po-tencial de mobilização social e política das prá-ticas educativas em saúde bucal, como expres-são de ações coletivas em saúde, no que tocaà participação do usuário e a capacidade dosconselhos de saúde na formulação e implemen-tação de políticas de saúde;

6) Propor metodologia de capacitação para a equi-pe de saúde bucal, tanto na atenção básicaquanto na clínica de especialidades;

7) Propor metodologia de avaliação de sistemas eserviços, com particular realce para o impactodas medidas adotadas;

8) Organizar a informação em saúde no nível re-gional e disponibilizá-la em sítio próprio na redeinternacional de computadores.

Destes, os objetivos 2 e 4 não foram atingidos; oobjetivo 5 foi parcialmente atingido; o objetivo 7 foideslocado para a instituição colaboradora, no casoo Departamento de Odontologia Social da FO-USP;os demais permaneceram dentro do programado, comatividades em curso ou ainda demandando finalizaçãoda execução.

Os objetivos propostos seriam completamente exe-qüíveis, porém, com prazo maior para a execução doprojeto. Ocorre que as regiões de saúde têm dinâmicaprópria e um dos problemas da construção do SUS,hoje, é exatamente o do seu estreitamento pela obser-vação limitada de protocolos e normas técnicas deri-vadas do modelo de financiamento das ações e ativi-dades de saúde.Assim, e ainda que seja recomendadoou possível inovar, as equipes locais atuam de modoburocrático. Uma dessas questões diz respeito ao pes-soal auxiliar odontológico (ACD e THD), cuja formaçãoe incorporação aos serviços ou se acha interrompidaou, nos casos nos quais este pessoal é incorporado,tem suas funções reduzidas; no caso do THD, por forçadas pressões corporativas, esse profissional não exercefunções compatíveis com sua formação e atribuições

de origem, sendo, quando muito, um auxiliar “melhora-do”; há o caso de numerosos sistemas locais onde osdentistas atuam sem qualquer tipo de trabalho auxilia-do. Por estes motivos, e para as finalidades deste pro-jeto, o cumprimento do objetivo 2, finalmente, foi intei-ramente comprometido.

De qualquer modo, a “taxa de acertos” do projetopode ser considerada como elevada. Na verdade, ataxa de sucesso pode ser considerada ainda maior,posto que os objet ivos alcançados excederam emmuito que havia sido proposto, com número expressivode “eventos não previstos”, o que é enorme vantagemnesta modalidade de pesquisa e investigação.

Procedimentos MetodológicosO projeto foi do t ipo pesquisa participativa ou

pesquisa-ação, mesclado com técnicas de investigaçãoclássicas, das quais a observação (total, participativa,parcial) foi utilizada em grande escala.

De modo geral, foram utilizadas as seguintes técni-cas ou possibilidades de pesquisa:

• Observação• Investigação teórica• Análise documental• Entrevista• Pesquisa-ação

Como pesquisa social, com dinâmica própria e mui-tas vezes direcionada pelos eventos que ocorriam no“campo”, freqüentemente o cronograma ou o planeja-mento veio a sofrer alterações. Assim, algumas etapasforam antecipadas e outras postergadas, pois o númerode sujeitos em situação sempre foi elevado e nem semprecompatibilizadas as agendas.

Em alguns casos, as atividades propostas se desdo-braram naturalmente em outras atividades, caso do En-contro Popular de Saúde da região, por exemplo, emtudo um grande êxito, mas que originalmente não cons-tava da proposta. Do mesmo modo, não constava daproposta original a supervisão “in loco” do trabalhonas unidades, realizada por conselheiros, como partede suas atribuições legais, e totalmente inédita no SUSbrasileiro, além da pesquisa sobre o perfil dos conse-lheiros-usuários, isto sem falar dos seminários de pes-quisa, que agora em fevereiro de 2008 realizará sua17ª Sessão. Estas seriam algumas das atividades combase em “eventos não previstos”.

Muitos fatores contribuíram para o trabalho práticodo projeto, e todos influenciaram nos resultados finaise na quantidade e tipo de produtos. Dentre os fatorespositivos podemos citar: abertura e compromisso dasequipes loco-regionais; articulação com gestores e con-selhos de saúde; disposição do grupo executivo doprojeto; apoio institucional. Já os fatores negativos, po-dem ser arrolados: polít ica local; eleição de novosprefeitos e substituição de dirigentes; envolvimento de

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atores que, a despeito do alto interesse, têm poucafamiliaridade com pesquisa.

Uma Leitura “Popular” do ProjetoPor solicitação do CNPq, um relatório dirigido a

“leigos” foi preparado, encontrando a versão apresen-tada abaixo e mantido na íntegra.

O Projeto “Observatório de Saúde Bucal Coletiva,Construindo a Cidadania na Saúde” é um projeto dedesenvolvimento tecnológico para a atenção em saú-de bucal. Tem como objetivos propiciar competênciadiagnóstico-terapêutica ao dentista dos serviços públi-cos, mas também questionar o papel do pessoal auxi-liar, verificar como atuam os conselhos de saúde, quaissão os dispositivos práticos para a gestão do SUS,discutir a referência e a contra-referência e organizara informação em saúde num dado território.

Todo mundo sabe que o tratamento odontológicoé caro e que a maior par te das pessoas não têmcondições de pagar um profissional qualificado. Sendoassim, o SUS deve prover atendimento odontológicoàs pessoas, embora esse atendimento não deva serofertado apenas a quem não tem dinheiro para pagar,mas a todos os cidadãos e cidadãs, porque este é umdireito garantido pela Constituição brasileira.

Ocorre que, e mesmo depois da criação do SUS,os serviços públicos odontológicos atendem basica-mente crianças e gestantes, mas a população adultasó dispõe de pronto-socorro, apesar de muitos muni-cípios já estarem modificando esta situação. Hoje, decada 10 munícipes, apenas um tem acesso aos serviços,que são de boa qualidade, mas atendem pouca gente.

Por que isto acontece? Primeiro, porque durantemuito tempo o tratamento odontológico foi conside-rado como coisa restrita e, portanto, não podendo serfeito no serviço público; em segundo lugar, porquedurante muito tempo foi considerado que o corretoera atender apenas as crianças, que então se tornariamadultos “bucalmente” saudáveis. Esta perspectiva nãose confirmou e o Brasil continua a ser o país com omaior número de desdentados do mundo, apesar de,igualmente, ser o país com o maior número de dentistas!

A verdade é que faltam serviços odontológicos,seria preciso contratar mais dentistas, organizar serviçosde referência para os casos de maior complexidade,formar pessoal auxiliar e incorporá-los às equipes eaumentar o número de cidades com flúor disponívelna água tratada.

Mas também seria preciso modificar a formaçãodos dentistas porque até hoje o ensino da odontologiaé muito técnico, os alunos são formados com a idéiade que vão trabalhar em consultórios particulares e,quando aprendem saúde pública, seus professores nãocompreendem (às vezes nem admitem) o que é o SUS,como funciona e como a Odontologia poderia se fazerpresente no setor público. Por isso, quando um aluno

se forma e é contratado para trabalhar no SUS, temque ser formado outra vez e aprender a atender pessoasque são diferentes e têm necessidades diferentes queaquelas que ele viu na faculdade.

É isto o que se propõe o Observatório de SaúdeBucal Coletiva: apresentar estas situações, discutir co-mo podem ser ultrapassadas, de que forma os serviçospodem ser reorganizados e o que seria preciso fazerpara que um número maior de pessoas possa ser aten-dido no setor público, com tratamento de qualidade.

Por outro lado, é preciso que a sociedade participeda discussão desses assuntos. Os Conselhos de Saúdesão fundamentais para isso e devem ter uma clara con-cepção das políticas de saúde, inclusive as de saúde bucal.

A primeira coisa que devia acontecer seria entenderque o trabalho clínico do dentista não se resume afazer “obturações” ou extrações dentárias, mas que,verdadeiramente, deveria fazer uma clínica das doen-ças da boca e dos dentes. Isto será possível na medidaque o pessoal auxiliar, e, sobretudo o Técnico de HigieneDental, assuma suas funções de prevenção, educaçãoem saúde e atendimento dos casos mais simples, traba-lhando em equipe e sob supervisão de um dentista.Deste modo, o dentista seria aliviado das tarefas maissimples e poderia se dedicar ao exercício completoda odontologia, numa concepção de clínica ampliada.

Resultados e ProdutosProdução contratada e realizada, Observatório de

Saúde Bucal Coletiva, fevereiro de 2005 a maio de2007.

Atividade Contratado Realizado

Curso de Curta duração 4 9

Artigos publicados em periódicos 6 7

Apresentação em congressos 12 50

Dissertações e teses 4 7

Livro coletânea 1 1 (em conclusão)

Capítulo de livro 2 4 (2 em conclusão)

Página na Internet 0 1

Foram acompanhadas as reuniões ordinárias dos15 conselhos municipais de saúde na região adscritapela antiga Direção Regional de Saúde de Osasco(DIR – V), acompanhamento regular das reuniões men-sais do Comitê Regional de Saúde Bucal, feitas entre-vistas em profundidade com os 15 coordenadores mu-nicipais de saúde bucal, reuniões com gestores (se-cretários de saúde e técnicos da secretarias, membrosda equipe regional, e em alguns casos o prefeito), eprocedeu-se à observação regular das condições detrabalho e outros aspectos da dinâmica regional, for-mação histórica das cidades e da organização dos

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serviços de saúde, problemas quanto ao acesso e co-bertura, fatores determinantes do problema e possi-bilidades de solução.

Foram realizadas 15 sessões dos “Seminários de Pes-quisa em Saúde Bucal Coletiva. Integrando Serviços”,os quais contaram, inicialmente, com os pesquisadores,equipe de saúde bucal e conselheiros, mas as 5 últimassessões foram abertas ao público, com a participaçãode aproximadamente 500 pessoas. A 16ª Sessão dosSeminários de pesquisa realizou-se em 28 de setembrode 2007 e a 17ª Sessão se irá realizar em 27, 28 e29 de fevereiro (de 2008).

Organizou-se, com os conselheiros usuários, o “En-contro Popular de Saúde de Osasco e Região”, comduração de 2 dias e participação de 80 conselheirose lideranças comunitárias. Também foi realizada umaformação clínica (“clínica ampliada de odonto-esto-matologia”), como experimento pedagógico, para 18dentistas da região, com duração de 136 horas, comparticipação ativa dos envolvidos. O diferencial destaformação centrou-se em 3 aspectos: 1. planejamentodo curso com base em problemas práticos; 2. docêncialigando especialistas nos serviços de referência com aequipe da UBS/PSF; 3. apresentação/discussão decasos clínicos.

Alguns outros produtos merecem ser assinalados. Oincremento da competência diagnóstica do cirurgião-dentista foi aferido por meio de avaliação seriada. Nãoé possível afirmar, “quantitativamente”, quanto de incre-mento foi propiciado, apenas registramos como fidedignaa posição dos profissionais presentes na formação.Outros produtos foram: o desenvolvimento de meto-dologia de formação para clínica ampliada e paragestão de coletivos (em elaboração); 9 cursos de curtaduração; participação nas seguintes reuniões científicas:

• 18º ENATESPO (2005)• 9º Congresso Paulista de Saúde Pública (2005)• 3º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e

Humanas em Saúde (2005)• 13° Simpósio Internacional de Iniciação Científica

da USP (2005)• 13ª Reunião de Pesquisa e 10º Seminário de

Iniciação Científica da FOUSP (2005)• 8º EPATESPO (2006),• 41ª Reunião da ABENO (2006)• 8° Congresso da ABRASCO• 11º Congresso Mundial de Saúde Pública (2006)• Congresso dos Secretários Municipais de Saúde

do Estado de São Paulo (2006)• 3º Encontro Nacional de Educação Popular e

Saúde (2007)• 1ª Reunião de pesquisa em Saúde Coletiva FOP/

Unicamp-FOB/USP (2007),

Essas atividades totalizam 52 intervenções em dife-rentes modalidades, sendo 35 pôsteres, 7 comuni-

cações orais, 2 oficinas, 4 painéis, 3 conferências e 1seminário.

Foram publicados, ainda, 7 artigos científicos e 2capítulos de livro, um livro-coletânea (com 24 capítulos,em fase de conclusão) e orientadas 7 dissertações demestrado. Foram elaborados também o planejamentoe execução editorial do Volume 11, nº 1, da RevistaCiência e Saúde Coletiva (2006)

Como produto específico, destaca-se a página doObser vatório de Saúde Bucal Colet i va,disponibilizada em sítio próprio no portal do Institutode Saúde (ht tp:www.isaude.sp.gov.br/observatorio/index.htm). No momento, estão em f inalização osseguintes produtos: 2 pesquisas de campo, uma sobreo perfil dos conselheiros dos Conselhos Municipaisde Saúde da Região de Osasco e outra de avaliaçãodos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO);2 documentários (em finalização); uma formação emgestão de serviços para coordenadores de saúdebucal de cidades da Região Metropolitana de SãoPaulo; uma formação polít ica para conselheiros desaúde; 3 dissertações de mestrado, 2 teses de dou-torado e 4 cursos de aprimoramento em saúde cole-tiva (FUNDAP/Instituto de Saúde); 2 capítulos de livro(da coletânea, no prelo).

Perspectivas de Impacto do Projeto- Impacto científico:Neste quesito, são fortes ou bastante altas as contri-

buições do Observatório. O Instituto de Saúde e apesquisa em Saúde Bucal Coletiva, em seu percurso,têm mantido nível de excelência seja quanto à produ-ção de tecnologias de cuidado seja no tocante à intro-dução de ferramentas conceituais, e no caso em telaessa característica está preservada. São já expressi-vas as contribuições quanto ao entendimento de Aten-ção Básica, da clínica ampliada de Odonto-estoma-tologia, do papel da anamnese na definição do “casoclínico”, de mecanismos de gestão e co-gestão, dentreoutros. A relevância diz respeito à geração de novosconhecimentos, à geração (atual) de conhecimentopassível de difusão e à formação de novos grupos depesquisa; em menor escala, os resultados do projetodo Observatório contribuem para a geração de ino-vações em saúde e também para a formação e capa-citação de recursos humanos.

- Impacto tecnológico:Na mesma perspectiva, é interessante notar que hoje

as agências de fomento querem saber o resultadofinalístico do conhecimento produzido. Este, não seriaapenas acadêmico ou científico, mas também os efeitos“práticos” ou tecnológicos depois do projeto acabado.Evidentemente, não há como garantir que todo conhe-cimento produzido venha a ser incorporado de modoprático aos serviços, mesmo nos casos em que a pesqui-sa tenha sido feita por “encomenda”. Estamos, sempre,

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Saúde Bucal

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na dependência de muitos fatores, dentre os quais asrelações políticas são as mais influentes, sem dúvida.No entanto, refletindo sobre este ponto que foi coloca-do pelo CNPq, nossa resposta foi positiva, pois osresultados do projeto poderão permitir a geração denovas tecnologias e a otimização de processos deprodução (de cuidado), gerando e introduzindo novosmétodos de gestão tecnológica, além da obtençãode patentes, aspecto que vem merecendo o interessecada vez maior das autoridades científicas brasileiras.Finalizando, a correspondência entre desenvolvimentoconceitual e processo tecnológico são íntimas, mas nãose pode garantir aplicação imediata do conhecimentoproduzido. Esta “aplicação” está na dependência defatores ou variáveis, nem sempre controláveis pela equi-pe de um projeto. Por este motivo é que situamos emescala menor as possibilidades tecnológicas decor-rentes do trabalho desenvolvido.

- Impacto sobre o Sistema Único de Saúde:Julgamos, nunca é demais insistir neste ponto, que,

em conjunto, os conhecimentos produzidos ou as obser-vações e reflexões que foram suscitadas pelo expressivonúmero de eventos “não previstos” permitidos pelo pro-jeto, deveriam fornecer subsídios ao aperfeiçoamentoda Política Nacional de Saúde. Do mesmo modo, sepoderia dizer da contribuição do Observatório paraa avaliação do modelo de atenção, a possibilidadede incorporação dos resultados pelos serviços, a melho-ria da gestão e da organização dos serviços, o aumentoda cobertura, a incorporação de novas tecnologias eprocessos de atenção etc. Quanto a este quesito, toda-via, vale o mesmo apontado no anterior, ou seja, fica-se na dependência de variáveis que extrapolam as pos-sibilidades práticas da equipe. No âmbito dos municí-pios que pertenciam à extinta DIR V de Osasco, é pos-sível admitir ou aferir o impacto do projeto na definiçãoou reorientação das políticas, mas é processo que de-mandará ainda certo tempo, pois envolve “vontades”de atores sobre as quais se tem pouco ou nenhum con-trole (prefeitos, secretários de saúde, coordenadoresde programas, equipe técnica regional com a novarealidade dos departamentos etc).

Quanto a outros indicadores de impacto, sobretudoo dos custos e ainda o da redução da morbimortali-dade, é impossível afirmar positivamente o impacto doprojeto. Nesta dimensão, seria possível admitir impactosque, todavia, demandarão maior tempo para sua imple-mentação e correta avaliação. Porém, admitido o plenodesenvolvimento tecnológico que o projeto indica, enão apenas este, é possível admitir, como de outrasvezes, melhoria na qualidade de vida da população(pela redução da morbidade bucal e/ou melhoria daatenção), insumo para polít icas públicas (porque épossível trabalhar em conjunto com os conselhos ges-tores), na redução das desigualdades (porque se con-tribui com a formação de consciência sanitária de

trabalhadores e usuários), agregação de renda a gru-pos populacionais desfavorecidos (porque, melhorandoo acesso e a cobertura no setor público, as pessoasdespenderão menos com tratamentos privados e, assim,aumenta a poupança social) e porque tudo isso, final-mente, contribui com o desenvolvimento regional.

Considerações FinaisO Projeto do Observatório permitiu grande número

de inferências sobre o processo de trabalho em saúdee em saúde bucal, sobre a organização dos serviços,as polít icas públicas, as relações de poder no nívelloco-regional, as necessidades das equipes de saúdebucal, os limites para um trabalho assistencial resolutivoe as expectativas para fazer melhor o que fazem hoje,o que gostariam que mudasse nos serviços e as novasformas de aprendizado.

Permitiu também perceber a importância dos Con-selhos Municipais de Saúde e o grande papel que têmna perenização das políticas públicas, o fato evidentede que se o CMS não “subsumiu”, não “tomou para si”determinado problema de saúde ou evento no territórioda cidade, seguramente este problema permanecerásem resolução no médio e no longo prazo.

Muitas outras observações úteis podem ser destaca-das, e várias delas são ligadas ao planejamento. Porexemplo, o fato de que é preciso considerar questõesde gênero ou étnicas, quando da montagem dos pro-gramas. Um dos mais eloqüentes tópicos, no quesitoetnia, diz respeito á anemia falciforme em populaçõesafro-descendente, com implicações para a assistênciaodontológica às pessoas; neste mesmo quesito, o fatoda Região Metropolitana de São Paulo contar comnúmero expressivo de aldeias indígenas, em geral gua-ranis, que são desconsiderados nos serviços, sem acessoao atendimento nas unidades de saúde. Do mesmomodo, pessoas portadoras de deficiência e necessida-des especiais, os politransfundidos, os transplantados,os portadores de discrasias sanguíneas, de que as for-mas de hemofilia são expressão, e os fissurados lábio-palatais, estas populações são, usualmente, desconsi-deradas no planejamento. Também não são conside-radas questões como diversidade cultural e sexual,consumo de drogas legais (fármaco-adicção) e ilegais,problemas específicos com idosos ou geracionais etc.

Em conjunto, esse enfoque permitiria perceber que,em conjunto, a população acima dos 45/50 anos deidade é portadora de um ou mais quadros “crônicos”,e que então a denominação “especial”, que em geraldesigna pequena e específica parcela dentre a maioria,aqui perde sentido.

É posição e esperança da equipe do Observatóriode Saúde Bucal Coletiva que as conclusões a que che-gamos possam contribuir para a melhoria dos serviços,para o aumento da cobertura e do acesso da popula-ção à assistência odontológica pública, e que, em

Sumário

� Editorial ........................................................................................................................................................ 1� Seminários de Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva:

uma estratégia para integração de serviços ..................................................................................... 3� A Saúde Bucal nos Municípios da DIR V – Osasco: a experiência do Comitê de Saúde

Bucal da região ........................................................................................................................................ 6� Formação para a Clínica Ampliada de Saúde Bucal: uma proposta metodológica

(e mudança de olhar) .............................................................................................................................. 10� Curso de Clínica Ampliada de Odonto-estomatologia para Cirurgiões-dentistas do Sistema

Único de Saúde – SUS: monitoramento de resultados após um ano ............................................. 15

� A Política como Necessidade: pensando a participação popular na saúde............................ 22� Espaços Coletivos: I Encontro Popular de Saúde de Osasco e região na perspectiva do

apoderamento e da co-gestão ............................................................................................................. 24� I Encontro Popular de Saúde de Osasco e Região - Carta de Osasco ..................................... 28� Conselhos Municipais de Saúde de Osasco e Região: identificação de perfil, controle

social e formulação de políticas para o SUS....................................................................................... 29� Estudo Comparativo entre Tendências de Gastos Públicos Municipais em Saúde

e Indicadores de Saúde Bucal na Antiga DIR V - Osasco (2000-2004) ..................................... 32� Formação de Gestores para o SUS, Novas Abordagens e Novas Possibilidades de

Interlocução: a experiência do curso de formação de coordenadores de Saúde Bucalem co-gestão para o SUS ....................................................................................................................... 36

� Relatório Científico do “Observatório de Saúde Bucal Coletiva”: comentárioscríticos e reflexões úteis ao Serviço Público Odontológico .......................................................... 40

BIS – Boletim do Instituto de SaúdeNº 43 – Dezembro de 2007ISSN 1518-1812 / On Line: 1809-7529

Publicação Quadrimestral do Instituto de SaúdeTiragem: 2.000 exemplaresRua Santo Antônio, 590 – Bela VistaCep: 01314-000 São Paulo - SPE-mail: [email protected] page: http://www.isaude.sp.gov.br

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Expediente:Editor Responsável: Luiz Vicente Souza Martinos

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Colaboradores desta Edição:Carlos Butazzo; Carolina Rogel Souza; Fabiana Schneider Pires; FaustoSouza Martino; Luiz Antonio Cherubini Carvalho; Luiz Vicente Souza Martino;Maria Aparecida de Oliveira; Rebeca Silva Barros.

Revisão e Normalização Bibliográfica:Carmen Paulenas; Ana Maria da Silva

Revisão de Texto:Marcelo Rouanet

Edição Final:Dulce Rocha

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conjunto, possamos fortalecer o Sistema Único de Saú-de e a Reforma Sanitária brasileira.

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capa SAUDE BUCAL.p65 21/8/2008, 15:032