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ANO I – Nº 02 – 2008 – ISSN 1983-1285
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Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008
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Expediente
Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira edição 02, ano I. Lagarto, setembro de 2008.
EDITOR-CHEFE Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos CONSELHO EDITORIAL E REDAÇÃO Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Rogério Teles Santos (Contabilidade) Prof. Msc. Ademário dos Santos Júnior (Geografia) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Paulo Roberto Boa Sorte Silva (Letras Português-Inglês) Prof. Edílson de Araújo Santos (Matemática) Profª Msc. Silmere Alves Santos de Souza (Serviço Social)
COLABORADORES
Acadêmicos
Rosana Rocha Siqueira (Administração de Empresas) Rilley Guimarães de Oliveira (Administração de Empresas)
Professores
Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos (História) Profª. Ana Lúcia Simões Borges Fonseca (Letras Português-Inglês) Prof. Edilson de Araújo Santos (Matemática) Prof. Bel. Alysson Cristian Rocha Souza (Serviço Social) Prof. Cezar Alexandre Neri Santos (Letras Português-Inglês) Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira (ISEJAV)
Outras Instituições
João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos CAPA - Efeito X
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista.
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ÍNDICE
APRESENTAÇÃO - Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos........ p.05
A Mulher na Família Empresária- Rosana Rocha Siqueira .............. p. 06 Planejamento Logístico para o Desenvolvimento Organizacional: o Caso da Integração da Rede Calçadista- Rilley Guimarães de Oliveira e Prof. Msc. Alexandre de Souza Matos ................................................p. 16 Despindo a Preceptora Inglesa – Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque ........................................................................................... p. 43 O Uso da Iconografia no Ensino de História – Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos ..................................................................................... p. 47
Literatura e Cultura no Ensino na Língua Inglesa – Profª Ana Lúcia Simões Borges Fonseca .......................................................................... p.66
O Brasil das Incoerências – Prof. Edilson de Araújo Santos ............... p.87
Avaliação dos Capsaicinóides em Pimentas Malagueta - João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Gabriel Francisco da Silva, Ds.C; Universidade Federal de Sergipe; Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos......pg 91 Cidade e Modos de Vida: Transformações Socioculturais em Aracaju - Alysson Cristian Rocha Souza ........................................................pg. 101 Professor João Cardoso Nascimento Júnior e o Movimento Estudantil da Universidade Federal de Sergipe (1968-1972) – Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira ...........................................................................pg. 128 O Uso de Recursos Audiovisuais no Ensino-Aprendizagem da Língua Latina - Cezar Alexandre Neri Santos ............................................pg. 148
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APRESENTAÇÃO
Passado o momento de descrença, a Revista Eletrônica da FJAV
chega ao seu número 02 com algumas novidades, entre elas a participação
externa na contribuição de artigos e trabalhos.
A visita técnica do MEC, através dos Professores Doutores Oséias de
Oliveira (Centro-Oeste do Paraná) e Antônio Marcelo Jackson Ferreira da
Silva (UERJ) no final de junho, abriu novos horizontes e nos permitiu
enxergar a importância dessa iniciativa acadêmica, a qual tem despertado na
comunidade docente o desejo de produzir cientificamente.
Os nossos ilustres visitantes permitiram-nos ampliar parcerias com
outras IES e atrair um público diferenciado do nosso, capaz de dinamizar o
universo acadêmico no que tange à amplitude das capacidades humanas em
suas mais variadas áreas do saber.
Abraçando o compromisso com uma educação plural e
emancipadora, a Revista Eletrônica da FJAV vai ganhando, aos poucos,
credibilidade junto ao público acadêmico. E-mails vindos de diversas partes
do país demonstram a nossa vontade de se inserir com afinco no campo da
pesquisa, da produção e da formação.
O tempo tem sido o aliado maior dessa idéia e construirá sedimentos
onde possa ser repousada a postura transformadora e desafiante da marca
FJAV, reconhecidamente de qualidade.
Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos – Editor-Chefe
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A MULHER NA FAMÍLIA EMPRESÁRIA
Rosana Rocha Siqueira
Acadêmica do 7º Período do Curso de Administração de Empresas (FJAV)
RESUMO
O novo panorama social e econômico, influencia de forma significativa na
formação familiar e na organização das empresas, onde a mulher empreendedora
assume novas atribuições na família empresária, sendo de fácil percepção a estreita
relação do cotidiano feminino com a busca por soluções, acrescida pelo impulso da
profissionalização. A prática da governança corporativa surge então como uma
oportunidade igualitária de solucionar conflitos entre três esferas básicas: família,
empresa e sociedade, analisando-as de forma distinta sem comprometer sua
integração.
PALAVRAS-CHAVES: empresa, família, mulher.
ABSTRACY
The new social and economic , influences of significant form in the familiar
formation and the organization of the companies, where the enterprising woman
assumes new attributions in the family entrepreneur , being of easy perception the
narrow daily relation of the feminine one with the search for solutions, increased
for the impulse. For the impulse of the professionalization the practical one of
the corporative governance appears then as a chance to solve conflicts between
three basic spheres: family, company and society, analyzing them of distinct
form without compromising its integration .
WORDS- KEY : company, family , woman ,work .
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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
O Objetivo deste artigo é a análise do papel feminino na família
empresária, onde mulheres motivadas pelo empreendedorismo destacam-se
nos negócios, embora estilos de liderança ainda patriarcais dominem as
colocações estratégicas nas empresas. Enfatiza ainda a necessidade de
reformularmos conceitos organizacionais não igualitários em
oportunidades, méritos e crescimento profissional.
2. METODOLOGIA
A metodologia adotada foi a revisão analítica do material
bibliográfico em livros, revistas, e Internet. Pretendendo-se salientar através
da reflexão, os referenciais teóricos sobre a temática abordada.
3. RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO
A sociedade de forma geral está inserida em um âmbito global de
mudanças velozes antes nunca vistas, onde fatores como o acesso amplo às
informações e a grande participação das mulheres no mercado de trabalho
moldam novas relações na família empresária.
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Segundo Castells (2005, p.82), se há uma nova economia é porque há
um impulso substancial de crescimento da produtividade, desenhando o
surgimento de empresas onde as estruturas físicas já não representam a
totalidade dos negócios modernos.
O trabalho agora mais flexível e adaptável ganha novas
características onde o talento, a pró-atividade empreendedora e o
conhecimento, agregam valor ao novo perfil dos (as) empresários
(as). O ato de trabalhar ganhou mais importância na vida das pessoas,
principalmente das mulheres, como imperativo de competição a fim
de alcançar seus objetivos, antes ligados somente a realização
familiar.
Pela ótica de Berardi (2005, p.38), o trabalho se tornou uniforme,
onde vários profissionais independente do sexo e do ramo de atuação
realizam trabalhos ergonomicamente da mesma forma, diante de
computadores ou máquinas.
Este panorama leva a primordial reflexão sobre as transformações
que as empresas familiares passam a fim de atingir o grau de maturidade e
competitividade que o mercado global exige, sem esquecermos que as
empresas familiares possuem peculiaridades que as diferem dos moldes
comuns de uma organização empresária, sendo predominantes em todo o
mundo, inclusive no Brasil.
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Empresa familiar é uma organização onde os membros de uma
família detém a maior parte do capital e possuem componentes
(consangüíneos ou não) em cargos estratégicos. Estas empresas podem
surgir de uma idéia motivada por oportunidades ou da busca pela
sobrevivência, onde o(a) empreendedor (a) fundador (a) dedica muito
tempo de sua vida , compartilhando o alcance dos objetivos profissionais
com o crescimento familiar .
Sendo de fácil percepção estabelecermos uma estreita relação entre o
cotidiano feminino com suas atribuições, e a motivação em busca de
soluções empreendedoras , seja para ajudar nas despesas do lar, para o
aumento da renda pessoal, destaque profissional ou mesmo a fim de superar
desafios.
De acordo com pesquisa realizada pelo Global
Entrepreneurship, em parceria com o SEBRAE, o Brasil possui mais
de 6 milhões de mulheres empreendedoras e mais de 11 milhões de
domicílios chefiados por mulheres.
A observação detalhista do cotidiano, a prática de atividades
variadas manuais, cognitivas e estratégicas, a habilidade na gestão do
tempo, no aprendizado e repasse de novos conhecimentos facilitam a
participação das mulheres nas empresas familiares, apoiando muitas
vezes lideranças patriarcais que a sujeitam a posições
“colaborativas”.
Segundo Margarite Berger do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, no Brasil a presença da mulher é mais significativa nos
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níveis assalariados, onde apenas 25% têm seu próprio negócio formalizado.
A consultora avalia que realmente as mulheres avançam nos cargos, mas as
chefias de cúpula continuam difíceis de alcançar, devido muitas vezes ao
preconceito e ao despreparo da gestão da liderança e do poder.
Podemos citar avanços e melhorias no que se refere à queda de
paradigmas, onde empresas apresentam mudanças de incentivo à
saúde da mulher e cuidados com a família, por observarem que tais
medidas agregam valor à qualidade de vida no trabalho, iniciativas
deste tipo podem abrir espaço para o aumento da participação das
mulheres em cargos de diretoria.
O controle da natalidade, o aumento da escolaridade feminina e
seu ingresso no mercado de trabalho são grandes influenciadores das
novas organizações familiares, onde mulheres à frente dos negócios
sugerem estilos de liderança mais flexíveis e dinâmicos, sem
a “obrigação” de parecerem homens no poder.
Consultores especialistas em empresas familiares como o renomado
Renato Bernhoeft, analisam a nova geração de herdeiras que buscam a
profissionalização. Segundo ele, as mulheres representam 50% do número
de participantes, do programa de formação ministrado pela Bernhoeft
Consultoria. Em 2001, a proporção de mulheres que concluíram pelo
menos o ensino médio atingiu 23,2%%%%, situando-se 3,1 pontos acima
da população masculina. Lembrando que há diferença entre herdeiros e
sucessores, onde o herdeiro somente assume o poder com o falecimento do
fundador, e o sucessor poderá tomar posse com sua indicação para o cargo.
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Filhos homens e filhas mulheres costumam relacionar-se de
forma diferente com o peso da herança e da sucessão. (...) Os
filhos muitas vezes são educados para ter um emprego na
empresa da família, o que gera um conforto perigoso e inibe
iniciativas próprias. Quanto às mulheres, há com freqüência
uma expectativa bem diferente. Sua educação costuma ser
afastada do raio de influência dos negócios ou da área
corporativa de difícil mensuração de resultados, onde se
acredita, quaisquer decisões terão menor impacto sobre a
companhia. (PASSOS, 2006. p.46)
Novos arranjos familiares mudaram as estruturas organizacionais dos
negócios, onde o triangulo esposo, esposa e filhos já não é requisito para
que exista família, redesenhando também o papel de pai-chefe.
Mulheres empresárias cuidam muitas vezes de seus filhos sem auxílio
de um parceiro; a convivência entre avós e netos tornou-se dinâmica e
participativa devido ao aumento da longevidade; filhos de casamentos
anteriores trabalham com meio-irmãos e outros membros familiares. Cada
geração da família cria inúmeras combinações na empresa familiar, onde as
disfunções podem causas instabilidades, separações, desajustes
organizacionais e até a venda ou falência da empresa.
Muitas empresas familiares ainda não avançaram em relação ao
planejamento em longo prazo e a preparação não somente de herdeiros, mas
também de herdeiras potenciais.
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De acordo com Roberta Machado, uma das herdeiras da Editora
Record, em pesquisa realizada para sua tese de mestrado, foi constatado que
75% das empresas familiares em todo o mundo estão sob o comando da
primeira geração, onde 20% estão sob a orientação dos filhos dos
fundadores e apenas 5% são dirigidas pelas gerações seguintes.
Segundo Gersick (2006, p.69), a relação de preparação de herdeiras e
de mulheres a frente de negócios familiares estão intimamente ligadas ao
“empreendimento-casamento”, um sistema de relações cada vez mais
complexas, onde o casal elabora acordos e hábitos implícitos e explícitos a
respeito de dinheiro, trabalho, afeição, filhos e comportamento empresarial,
onde as violações desses acordos constituem a fonte da maioria dos
conflitos.
As empresas e as famílias são mutáveis e por vezes podem não seguir
as mesmas tendências do ponto de vista organizacional, ocorrendo rupturas
sob o prisma de interesses diferentes, onde a “velha receita” do sucesso do
(a) fundador (a) pode não representar vantagem competitiva atual.
A possibilidade da mulher assumir papeis estratégicos na empresa
familiar deve então partir do princípio básico da meritocracia e das
competências profissionais, analisado em nível de igualdade, independente
do sexo. Velhos paradigmas como a primogenitura masculina e sua
preparação para a liderança e sucessão, a pré-disposição natural e social da
mulher com a maternidade, a formação e educação familiar, criam falsos
entraves para que as mulheres possam realmente preparar-se para a
sucessão nas empresas familiares.
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A prática da governança corporativa surge como um caminho
igualitário e uma possível solução para tais conflitos, onde as três esferas
básicas: família, empresa e sociedade são observadas de forma diferenciada,
compreendidas em suas peculiaridades, mas não deixando de serem
integradas, agregando valor à cultura organizacional proposta pelo (a)
fundador (a).
Portanto, os órgãos da governança formam e reforçam a
integração entre os sistemas por meio de canais competentes.
Uma empresa familiar adequadamente estruturada com os
órgãos de governança permite atender às demandas das
famílias, dos sócios, dos executivos e formar o alicerce para
sua perpetuação. (BORNHOLDT, 2005. p.28)
Todas as vertentes influem na delegação e sucessão do poder, pois
famílias menores possuem o número reduzido de potenciais sucessores.
Quando se refere a presença das mulheres em cargos da alta cúpula, torna-
se ainda mais delicada as relações nas empresas familiares. A maioria dos
cargos é destinada aos homens herdeiros, sócios ou outros profissionais
contratados, sendo poucos os exemplos de preparação de herdeiras para a
sucessão do poder nas empresas familiares.
Devemos observar ainda que muitos empresários apóiam iniciativas
femininas de filhas e esposas em negócios separados do ramo principal,
como lojas, restaurantes, mas muitas vezes criam barreiras diante da
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participação das mulheres nos negócios já estabelecidos pela família
empresária, onde a frase “negócio para homem” pode vir a perpetuar o
preconceito nas organizações familiares.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças no cenário social e econômico influenciaram
profundamente a formação familiar e a organização das empresas neste
novo século, trazendo novos arranjos entre seus membros e novos diálogos
entre as gerações.
A clareza das aptidões e dos papéis desempenhados pelos membros
da família são de extrema importância para que se possa ser definida suas
atribuições na empresa familiar, lembrando que o profissionalismo das
relações é primordial para que cada membro realmente desempenhe funções
de acordo com suas competências, passando por avaliações de desempenho
como os demais membros da empresa. A delegação de poder e
responsabilidade, unida à avaliação do desempenho, caminham rumo ao
alcance da governança corporativa, baseada na ética e na igualdade de
oportunidades, onde homens e mulheres possam tanto progredir
profissionalmente, quanto perpetuarem os valores e propósitos iniciados
pelo (a) fundador (a).
A Cultura organizacional compreende fatores muito importantes
neste âmbito, onde os hábitos e crenças da família tendem a influenciar nas
bases fundamentais da empresa, inclusive na forma de liderança.
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Embora a grande maioria das empresas ainda permaneça em
modelos patriarcais (pai-chefe) de liderança e sucessão de poder, muitos
avanços em prol da flexibilização e valorização da mulher empresária são
marcantes, abrindo espaço para novas idéias e formas de gestão
independente do sexo, comprometidas com as novas estratégias e vantagens
competitivas.
A mulher sendo respeitada em suas opiniões e idéia no âmbito
familiar terá grandes chances de colocá-las em prática na empresa, onde as
relações de delegação do poder geram códigos de conduta e participação
mútua. Não bastando apenas incentivar e capitalizar outros negócios para
que as mulheres da família possam se dedicar, mas permitir sua
profissionalização, acesso aos cargos estratégicos e preparação de
herdeiros, a fim de perpetuar de forma competitiva e plena, os ideais
propostos pelo (a) fundador (a) da empresa familiar.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORNHOLDT, Werner. Governança na Empresa Familiar. Porto Alegre: Brookman, 2005.p.28 BERARDI, Franco. A Fábrica da Infelicidade: Trabalho Cognitivo e a Crise da New Economy. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2005. p.38. CASTELL, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005. P.82
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PLANEJAMENTO LOGÍSTICO PARA O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL:
O caso da integração da rede calçadista.
Rilley Guimarães de Oliveira
Graduando do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e sócio-gerente da Elegante Calçados Ltda. . E-mail: [email protected]
M S.c. Alexandre de Souza Matos
Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC e professor da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. E-mail: [email protected] do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e secretária da Lagarto Factoring Ltda. E-mail: [email protected]
RESUMO
Este artigo caracteriza-se por ser um estudo teórico que visa contribuir com a literatura sobre planejamento logístico e o desenvolvimento organizacional dentro das empresas. O estudo tem como público alvo, tanto executivos quanto acadêmicos que estejam engajados na árdua tarefa da busca de vantagem competitiva, para que as empresas possam competir com sucesso numa economia cada vez mais globalizada. Pretende-se que, ao final do artigo, o leitor tenha aprimorado sua capacidade de avaliar e sugerir recomendações úteis que venham a colaborar com as atividades empresariais na definição do desenvolvimento organizacional, dentro do contexto do planejamento logístico.
Palavras-chave: Controle, distribuição e competitividade.
ABSTRACT This article is characterized for being a theoretical study that it aims at to inside contribute with literature on logistic planning and the organizacion development of the companies. The study it has as public target, in such a way executive how much academics who are engaged in the arduous task of the search of competitive advantage, so that the companies can more compete successfully in a economy each globalizada time. One intends that, to the end of the article, the reader has improved its capacity to evaluate and to suggest recommendations useful that come to collaborate with the enterprise activities in the definition of the organizacion development, inside of the context of the logistic planning.
Word-key: Control, distribution and competitiveness.
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1. INTRODUÇÃO
A logística deve ser entendida como o principal instrumento
administrativo para a obtenção de vantagem competitiva das organizações
locais, deste século. A necessidade de uma integração logística, aliada às
constantes mudanças das necessidades dos clientes, nos leva a ver na
logística não apenas as atividades de: almoxarifado, estoque e transporte de
mercadorias, mas sim planejamento e coordenação do fluxo de informações
e materiais que permitem maior eficiência no suprimento da fábrica, no
planejamento da produção e na distribuição física dos produtos acabados. A
globalização exige que a vantagem competitiva seja mais determinante do
que a vantagem comparativa para os paises que negociam no âmbito
internacional. Portanto, desenvolver estratégias que norteiam a empresa é
um fator de extrema importância para a sua manutenção no mercado.
O processo de desenvolvimento de estratégias exige a participação de
todo corpo gerencial da empresa, além disso, é importante contar com o
apoio de bons estrategistas que, de certa forma, fornecerão uma base sólida
no desenvolvimento das atividades. Atualmente, uma atividade que está em
evidência no âmbito empresarial é a do transporte que, consiste na tarefa de
se levar as mercadorias de um lugar para o outro. Esta atividade é o
mecanismo que aproxima indústrias, comerciantes e clientes, envolvendo
elementos importantes como preço do serviço, pontualidade da entrega,
condições físicas dos bens entregues, entre outros. Tudo isso é levado em
consideração pelos clientes no momento da definição de qual a empresa se
tornará parceira para o desenvolvimento dos serviços de transporte. No
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Brasil, observa-se que o mercado de transporte está em pleno processo de
reestruturação em virtude da globalização e da abertura do mercado. Como
conseqüência deste processo de globalização e de abertura do mercado,
tem-se a chegada de empresas internacionais que iniciaram suas atividades
no país impulsionando a implantação de ferramentas modernas de
gerenciamento, agregando valor nos serviços oferecidos aos clientes,
contribuindo, assim para tornar o setor mais dinâmico.
As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo
passam pelo maior controle e identificação de oportunidades de redução de
custos, redução de prazos de entrega e aumento da qualidade no
cumprimento do prazo, disponibilidade constante dos produtos,
programação das entregas, facilidade na gestão dos pedidos e flexibilização
da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em inovação
tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para
redefinição de processos e adequação dos negócios (Exemplo: Resposta
Eficiente ao Consumidor – Efficient Consumer Response), entre outros.
Apesar dessa evolução até a década de 40, havia poucos estudos e
publicações sobre o tema. A partir dos anos 50 e 60, as empresas
começaram a se preocupar com a satisfação do cliente, foi então que surgiu
o conceito de logística empresarial, motivado por uma nova atitude do
consumidor. Os anos 70 assistem à consolidação dos conceitos como o
MRP (Material Requeriments Planning), Kanban e Just-in-time.
Após os anos 80, a logística passa a ter realmente um
desenvolvimento revolucionário, empurrado pelas demandas ocasionadas
pela globalização, pela alteração da economia mundial e pelo grande uso de
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computadores na administração. Nesse novo contexto da economia
globalizada, as empresas passam a competir em nível mundial, mesmo
dentro de seu território local, sendo obrigadas a passar de moldes
multinacionais de operações para moldes mundiais de operação.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. PLANEJAMENTO LOGÍSTICO
Lambert e Stock (1992, p. 125) adotam a definição de logística
formulada em 1986 pelo CLM – Council of Logistics Management (Concílio
do Gerenciamento da Logística), que assim descreve a logística:
“É o processo eficiente de planejamento, implementação e
controle efetivo do fluxo de custos, do estoque em processo,
dos bens acabados e da informação relacionada do ponto de
origem ao ponto de consumo, com o propósito de se adequar
aos requisitos do consumidor.”
Conforme Bowersox (2001) é de competência da logística a
coordenação de áreas funcionais da empresa, desde a avaliação de um
projeto de rede, englobando localização das instalações, sistema de
informação, transporte, estoque, armazenagem, manuseio e qualificação de
materiais até se atingir um processo de criação de valor para o cliente.
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Entende-se como serão gerenciadas as ações de planejamento,
organização e controle. Um planejamento bem feito, terá como resultado
organização e controles mais eficazes.
Conforme Martins (2005), o planejamento logístico tem por objetivo
desenvolver estratégias que possam resolver os problemas de quatro áreas
de destaque em empresas de transporte que são: 1) o nível de serviços
oferecido aos clientes; 2) localização das instalações de centros de
distribuição; 3) decisões de níveis de estoque e; 4) decisões de transportes
que devem ser utilizados no desenvolvimento de todo o processo. Todas as
quatro áreas são de fundamental importância para a empresa, suas funções e
atividades devem ser planejadas de forma integrada, buscando oferecer um
resultado operacional dentro das necessidades que o mercado exige de seus
participantes. Levantar informações sobre o mercado no qual se está
inserido e suas respectivas necessidades são de grande validade no processo
de planejamento da empresa, bem como, na definição de como serão
utilizados os recursos disponíveis, alocando-os da melhor maneira possível.
Mesmo com o avanço atual da tecnologia, da troca de informações em
tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que seja atingido
o objetivo logístico, que é o produto certo, na hora, no lugar certo, ao menor
custo possível. Poderão ser adotadas diversas estratégias de transporte:
entrega direta, milk run¹, consolidação, cross-docking², OTM (operação de
transporte multimodal), intermodal, janela de entrega, observando ainda a
melhor matriz de transporte (rodoviário, ferroviário, aquaviário, duto viário,
aeroviário), e sua adequação aos objetivos propostos em cada etapa do
processo de transporte. Sobre a decisão do modelo de gestão de estoques
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mais adequado, dependerá da identificação das principais características das
operações de produto e/ou distribuição. De maneira geral, as decisões de
estoque devem estabelecer os reabastecimentos, constituindo-se sempre em
decisões de alto risco, pois itens mantidos em estoque podem deteriorar
tornarem-se obsoletos e até se perderem na produção, além de ocuparem
espaço que poderia estar sendo utilizado para outros fins, sem contar o
custo do capital investido. Em contrapartida, a manutenção de estoque
proporciona segurança em ambiente incerto e complexo. Desta forma,
haverá sempre o trade-off³: custo versus disponibilidade, que definirá
quanto pedir, quando pedir e como controlar o sistema (tecnologias
adotadas).
Segundo Ballou (2001), a logística envolve todas as operações
relacionadas com planejamento e controle de produção, movimentação de
materiais, embalagem, armazenagem e expedição, distribuição física,
transporte e sistemas de comunicação que, realizadas de modo
sincronizado, podem fazer com que as empresas agreguem valor aos
serviços oferecidos aos clientes e também oportunizando um diferencial
competitivo perante a concorrência. O objetivo central da logística é o de
atingir um nível de serviço ao cliente pelo menor custo total possível
buscando oferecer capacidades logísticas alternativas com ênfase na
flexibilidade, na agilidade, no controle operacional e no compromisso de
atingir um nível de desempenho que implique um serviço perfeito.
Pode-se verificar que, no contexto das quatro áreas, a definição dos
serviços a serem oferecidos aos clientes é o que afeta drasticamente toda a
viabilidade do negócio. Ele será o indicador pelo qual o cliente tomará a
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decisão de utilizar ou não os serviços da empresa. Através do planejamento
logístico a empresa deve estruturar toda a sua plataforma de operação,
definindo seus padrões de níveis de serviços que serão oferecidos aos seus
clientes. O mercado sofre mudanças rápidas e, muitas vezes, as empresas
não estão preparadas para absorver estas mudanças dificultando sua
adaptação ao novo ambiente de negócios. Portanto, desenvolver um bom
processo de planejamento, é de importância extrema para a empresa, pois
um planejamento logístico, orientado para atender as necessidades impostas
pelo mercado, faz com que se mantenha o controle da empresa. Esse
controle advém do equilíbrio dos recursos financeiros disponíveis e da
oferta de serviços especializados, de forma que se agregue valor aos
mesmos e, também, oportunizando um diferencial competitivo a
concorrência sem afetar a rentabilidade da empresa. O planejamento
logístico ampara-se no planejamento estratégico da empresa, sendo assim,
ambos devem ser coerentes de forma que os objetivos estipulados sejam
atingidos. Estrategistas, altamente conhecedores do assunto, devem
assessorar o desenvolvimento do mesmo, sob pena de se ter reveses durante
todo o processo. È importante salientar que o processo, para ter êxito,
precisa necessariamente ter o consentimento de toda a direção da empresa e
de seus acionistas, de forma que sejam estabelecidos os limites máximos de
mudanças aceitos para o posicionamento da empresa no mercado. Assim, os
gestores das empresas devem elaborar planejamentos logísticos flexíveis de
forma que possam ser ajustados aos elementos críticos logísticos,
estabelecendo ações apropriadas que devem ser utilizadas caso algum
evento inesperado venha ocorrer. Desta forma, pode-se evitar um processo
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desgastante junto aos clientes por não terem sido cumpridas as ações
programadas o que, em muitos casos, podem provocar quebras de contratos
e perdas de clientes de alta rentabilidade.
2.2. AS TRÊS DIMENSÕES DA LOGÍSTICA
De acordo com Martins (2005) a logística tem três dimensões
principais: dimensão de fluxo, dimensão de atividades e dimensão de
domínios. Já Dornier (2000) diz que as dimensões da logística são:
dimensão funcional, dimensão setorial e dimensão geográfica.
Segundo Martins (2005) a dimensão de fluxo diz respeito aos
suprimentos, transformação, distribuição e serviço ao cliente; a dimensão de
atividades trata do processo operacional, administrativo, gerencial e de
engenharia; a dimensão de domínios aborda a gestão de fluxos, tomada de
decisão, gestão de recursos e modelo organizacional.
A dimensão de domínio engloba: visão de fluxo (entradas, saídas e
controles); visão de decisão (estratégias, princípios de planejamento e
controle, decomposição de ordem, comunicação); visão de recursos (físico,
humanos, métodos de trabalho e ferramentas); visão organizacional
(estrutura de negócios, gerência e cultura).
Tendo em vista as dimensões propostas por Dornier (2000)
supracitado, observa-se que a dimensão funcional destaca a natureza
interfuncional da logística que cruza as áreas funcionais e permitem a
criação de importantes conexões entre as áreas de atividades da empresa
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que devem ser gerenciadas coletivamente, incentivado a cooperação entre
as funções.
O mesmo autor afirma que a dimensão setorial refere-se aos esforços
de parceiros da cadeia de suprimentos para coordenar e gerenciar suas
atividades como uma única entidade em vez de gerencia-las como entidades
separadas. A integração da cadeia de suprimentos requer que as partes
compartilhem conhecimentos, eliminando ineficiências que adicionam
custo sem adicionar valor.
A dimensão geográfica da logística identifica e analisa os fatores que
diferem entre as nações que influenciam na efetividade das funções
(produtividade do trabalhador, adaptabilidade do processo, regulamentações
e assuntos governamentais, disponibilidade de transporte, cultura e outros).
Nesta dimensão, por causa das distancias envolvidas nas operações globais,
o transporte e a distribuição têm maior importância bem como a eficiência e
efetividade da função logística, pois bens e mercados dispersos
geograficamente são mais difíceis de gerenciar e servir.
Dorrnier (2000, p. 89) afirma que “o objetivo central do sistema
logístico é maximizar o lucro através da racionalização de recursos”. O
relacionamento entre as três dimensões no modelo de logística global
proporciona uma melhor orientação para a organização. Os três tipos
básicos de orientação são: logística orientada para recursos; logística
orientada para a informação e logística orientada para o usuário.
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Conforme o autor as organizações podem adotar cada uma das três
orientações com diferentes intensidades em diferentes épocas, pois os
negócios globais são bastante dinâmicos, e as prioridades da empresa
podem ser mudadas por causa de diferentes forças internas e externas.
Segundo Dornier (2000, p. 88): “A logística orientada para recursos é
o gerenciamento de recursos diferentes necessários para a fabricação de
produtos a serem entregues aos clientes finais. Ela enfatiza o
relacionamento entre as dimensões funcionais e geográficas”. Sua ênfase é
orientar-se para a otimização do uso dos recursos, já que o mercado está se
tornando independente de fronteiras geográficas, isto é, as empresas estão
buscando diferentes localidades geográficas, como locais de fabricação para
minimizar os custos. “Se o mercado é o mundo, a empresa deve coordenar
os recursos de diferentes áreas funcionais para satisfazer às necessidades
globais” (DORNIER, 2000, p. 88).
A logística orientada para informação está relacionada à gestão da
informação como fonte de vantagem competitiva, pois a logística não está
só envolvida com o fluxo de produtos, mas também com o fluxo de
informação (disponibilidade de produto, prazo de entrega, necessidades dos
clientes). Refere-se ao relacionamento entre a dimensão setorial e a
dimensão geográfica, fornecendo não só informações tradicionais, mas
informações mais recentes e estratégicas.
A logística orientada para o usuário foca no cliente final, ganhando
assim flexibilidade na resposta à necessidade dos clientes através da
interação e cooperação entre parceiros da cadeia de suprimentos, ou seja, a
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flexibilidade é obtida através da combinação de diferentes empresas por
meio de uma adequada coordenação.
2.3. PONTOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA
Os principais pontos em que a logística se baseia são movimentação
dos produtos; a movimentação das informações, o tempo, o custo e o nível
de serviços. Por isso é de suma importância o nível de serviço, pois o
transporte de carga tradicional tratava de deslocar produtos e insumos entre
diversos pontos, considerando a escala do tempo de forma secundária.
Assim, o transportador tradicional se incumbia de levar determinada carga
de um ponto A para um ponto B, mas, geralmente, não assumia o
compromisso de entregá-la no destino dentro de um prazo preestabelecido.
Com a evolução do mercado e com a preocupação das empresas em relação
ao nível de serviço oferecido aos seus clientes, procurou-se identificar e
quantificar os fatores necessários para elaboração de novos níveis de
serviço como: prazo de execução e respectivo nível de confiabilidade;
tempo de processamento de tarefas, disponibilidade de pessoal e dos
equipamentos solicitados; facilidade em sanar erros e falhas; agilidade e
precisão em fornecer informações sobre os serviços em processamento;
agilidade e precisão no rastreamento de cargas em processamento ou em
trânsito; agilidade no atendimento de reclamações e no encaminhamento de
soluções; estrutura tarifária fácil de entender e simples de aplicar. Para que
esses pontos básicos sejam integrados de forma concisa a logística temos
que levar em conta os seguintes grupos:
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1) Fornecedores – A função dos fornecedores dentro da logística moderna é
o de parceiros operacionais. Esse conceito exige um relacionamento aberto,
que compreende desde o desenvolvimento conjunto do produto até
contratos de fornecimento com preços, qualidade e prazos sujeitos a uma
mútua administração, visando a conservação do mercado pela contínua
satisfação do cliente.
2) Atacadistas – Trabalham com a logística como principal meio de
aumentar o número de clientes.
3) Suprimento - Fornecimento; provisão.
4) Venda Direta - A realizada sem intermediário entre produtor e
consumidor.
2.4. SISTEMA DE INFORMAÇÃO – TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO
Um sistema de informações bem feito é fator critico de sucesso para
um sistema logístico. Ele consegue ter a visão do processo logístico de
empresa, desde estoques, emissão de notas fiscais, entregas de mercadorias
e outros. As informações nos permitem fazer previsões e dar respostas aos
consumidores em tempo real.
Ao propor uma gestão eficaz das operações e logísticas globais,
afirmam que o sistema de informações logísticas tornou-se um fator crítico
de sucesso na estratégia logística. Ele engloba a monitoração de fluxo ao
longo de toda a cadeia de atividades logísticas, capturando dados básicos,
transferindo dados para outros centros de tratamento e processamento,
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armazenando os dados básicos conforme seja necessário, processando
dados em informações úteis armazenando as informações conforme seja
necessário e transferindo informações aos usuários e clientes. Assim,
fortalecem a percepção de que a gestão da informação na logística é um
elemento de grande importância funcional ao afirmarem: “Mais que apenas
o fluxo de produtos, o sistema logístico está diretamente envolvido com o
fluxo de informações (disponibilidade de produtos, prazo de entrega,
necessidades dos clientes)", Dornier (2000, p. 584).
O sistema integrado é de grande importância para as empresas, pois
oferece um melhor atendimento ao cliente, com mais eficiência e rapidez,
ajuda organizar o estoque de forma que o produto é lançado e retirado do
estoque com menor tempo, coloca a disposição ferramentas para tomada de
decisão acertada, permite o retorno de informações para um melhor
monitoramento do desempenho operacional.
Conforme Novaes (2001), o sistema de informação é uma peça crítica
do canal logístico total, desempenhando um conjunto de funções vitais.
Em suma, o propósito de um sistema de informação logística é
coletar, manter e manipular os dados dentro da empresa para tomada de
decisões, abrangendo desde o nível estratégico até o operacional.
As áreas comerciais e industriais das empresas estão sempre buscando
procedimentos para incrementar a distribuição de seus produtos e viabilizar
operações que atendam ao aumento de demanda, mantendo o abastecimento
continuo em todas as regiões de atuação, por mais remotas que sejam. A
logística aplicada nas empresas de maneira correta, agrega valor de forma
que os resultados são rápidos e eficientes. Com a implantação de sistemas
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de informações eficientes e ferramentas como, por exemplo, o EDI, as
empresas reduzem custos, tem maiores ganhos e o cliente fica satisfeito
com a agilidade na entrega, pois todo valor agregado é de grande
importância para o cliente.
A implantação de um bom sistema de informação nas empresas, a
logística fica eficiente e eficaz de forma que as entregas são mais rápidas e
eficientes. Isso é elo de cadeias que envolvem dos fornecedores ao
consumidor. Quando o sistema está integrado, a empresa consegue
controlar todo tipo de transação realizada, que vai do processo de compra
até a entrega. Muitas empresas não conseguem trabalhar com sistema
eficiente de logística, por conta dos altos custos, mas a empresa deve se
conscientizar que é necessário investir em equipamentos e no capital
intelectual. A dinâmica da globalização nos remete a uma continua reflexão
sobre a concorrência baseada no tempo, a necessidade de redução dos ciclos
operacionais, além da descoberta de meios e iniciativas que melhorem a
relação entre o tempo consumido em atividades que realmente adicionem
valor a produtividade tornando uma espécie de diferencial entre bons e
maus resultados de uma empresa.
E necessário que o empresário perceba que entender o conceito de logística
é de grande importância para o desenvolvimento organizacional, para que
assim possa aceitar as mudanças e não ter dificuldades de se adaptar a elas.
Com o sistema de informação a empresa só tem a ganhar, pois com a
globalização e o avanço tecnológico, tudo é realizado de maneira muito
rápida e a velocidade no atendimento é uma estratégia para ganhar
concorrência.
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De acordo Dálcio Nunes, diretor comercial da Fimatec, empresa
fornecedora de componentes para calçados, uma logística eficiente deve ser
voltada para um sistema de informação que armazene todos os registros e
todas as operações, como ele mesmo afirma que adotou o EDI (intercambio
eletrônico de dados) e fala que o mesmo reduz e até elimina erros de
digitação e de informação verbal na comunicação.
(disponível em http://www.wsag.udesc.br/biblioteca/textos/giuliani.html).
2.4.1 ELETRONIC DATA INTERCHANGE – EDI
Entende-se por EDI (Eletronic Data Interchange) ou intercambio
eletrônico de dados, uma ferramenta tecnológica de informação, que tem
sido utilizada pelas organizações para ligar seus componentes e parceiros,
de modo a gerar perfeita integração, rápida comunicação e agilidade na
resposta.
No entender de PIZYSIEZNIG (2002) o EDI influência a cadeia de
valor quando a adoção de estratégias para uma vantagem competitiva em
um mercado globalizado.
“O EDI é uma rede de acesso restrito aos clientes do provedor, que
permite a conexão entre os sistemas eletrônicos de informação entre
empresas, independentemente dos sistemas e procedimentos utilizados no
interior de cada uma. A função principal de um provedor de EDI é, no
momento de adesão de um cliente a rede, instalar o hardware e software
para a tradução das informações da empresa em padrões já normatizados
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internacionalmente. Na operação do sistema, o provedor deve garantir,
tanto o registro da transação (comunicação) entre dois parceiros na rede,
quanto o sigilo em relação ao acesso de terceiros a estas informações. As
empresas não entram em contato apenas com bancos, mas com todos os
parceiros nos negócios. A troca de informação gera economias e maior
eficiência para todos os participantes da rede. Assim, cada um é, ao mesmo
tempo, cliente e fornecedor de informações”. (PIZYSIEZNIG 2002: 55)
Este conceito de comunicação entre empresas, o EDI compreende
todas as trocas de documentos e informações entre todos os participantes
das transformações, potencializando recursos de tempo e capital eliminando
todo e qualquer tipo de ineficiência da cadeia de valor.
A adoção do EDI implica em re-configurar no sistema logístico,
englobando todos os parceiros comerciais, sejam eles fabricantes,
transportadores ou varejistas.
Com espaço cada vez mais garantido no futuro das operações
logísticas, o EDI oferece maior eficiência, controle e organização no
intercâmbio de dados: “Não existe progresso ou desenvolvimento rápido na
logística sem automação dos processos. A logística eficiente, agregada ao
sistema de intercâmbio eletrônico de dados chegou para ficar. É uma
situação irreversível que, mais cedo ou mais tarde, todas as empresas
adotarão. Ninguém pode se furtar da tecnologia e ela chegou para ficar e
conquistar, a cada dia que passa mais espaço. A GS1 Brasil - Associação
Brasileira de Automação tem um papel fundamental na efetivação desse
processo no País. Cabe a ela dar todo suporte técnico e informações que as
empresas precisam para operar o sistema corretamente. Não há mais como
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ser eficiente sem pensar em um padrão adequado de logística. Toda cadeia
está ligada. E os empresários que pensam no futuro sabem disso e estão
procurando se modernizar. É a única forma de sobreviver num mercado
cada vez mais globalizado e competitivo”, afirma Ivair Kautzmann, gerente
de TI da Via Marte, empresa do setor calçadista.
3. ESTUDO DE CASO
Em virtude da falta de aderência entre os modelos de pedido e de uma
demanda diferenciada, nasceu o projeto GOL (Grupo de Otimização
Logística). Grupo composto por empresas do setor calçadista como Azeléia,
Beira Rio, Grendene, Paquetá e Via Marte e pela GS1 Brasil.
O setor de componentes da cadeia calçadista, ou seja, de matéria-
prima para a fabricação do calçado, é formado por uma gama variada de
empresas, pertencentes a distintos ramos de produção. Dada à diversidade
de segmentos que compõem o setor, as soluções desenvolvidas não
poderiam ser únicas, e por esse motivo a metodologia utilizada para o
trabalho com o grupo foi a de agrupamento das empresas, de acordo com os
produtos que fabricam e mercados atendidos. Por exemplo, produtos
químicos e sintéticos; couro; saltos; solas e solados; têxteis e sintéticos etc.
O grupo de Trabalho nasceu no início de 2002, como conseqüência do
desenvolvimento de um projeto piloto bem sucedido realizado pela
Calçados Azaléia, com o apoio da GS1 Brasil. Os bons resultados
administrativos e operacionais obtidos pelo projeto, mesmo em sua fase de
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implantação, a necessidade de viabilização dos investimentos necessários
em toda a cadeia de suprimentos e o interesse da Abicalçados – Associação
Brasileira da Indústria de Calçados, em ampliar a utilização das ferramentas
de automação em toda a indústria, levaram à criação do Grupo de
Otimização Logística (GOL). A premissa básica para a formação desse
grupo foi à utilização de padrões internacionais, pois já havia sido criado
um padrão setorial que não obteve sucesso, visto que a maioria das
indústrias participantes estavam inseridas em diversas cadeias de
suprimentos diferentes e exportavam seus produtos para vários países.
O objetivo do projeto é desenvolver padrões para a utilização de
ferramentas de gerenciamento da cadeia de suprimentos, envolvendo as
tecnologias de captura automática de dados e comércio eletrônico,
permitindo a integração colaborativa de forma eficiente e eficaz entre os
participantes da Cadeia de Suprimentos da Indústria Calçadista, nos
aspectos logísticos e comerciais. Essa cadeia envolve fornecedores,
transportadores, distribuidores, lojistas e supermercados. As expectativas
dos participantes do grupo são:
� Maior eficiência na gestão de estoques;
� Agilização no recebimento e expedição de mercadorias;
� Melhoria na eficiência do fluxo de produtos e informações;
� Melhor gerenciamento do Negócio;
� Ampliação dos serviços aos clientes;
� Intensificação do relacionamento entre clientes e fornecedores;
� Redução dos custos da administração dos processos logísticos;
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� Redução de volume de papéis;
� Facilidade de apuração de margens, giro de estoque, descontos,
segurança e rapidez no inventário e no controle físico e financeiro
dos estoques, etc.
Estes benefícios resultam em mais vendas, redução total de custos,
diminuição da margem de erros e aumento de eficiência no ponto-de-venda,
promovendo crescimento e vantagens para toda a cadeia.
Os objetivos específicos são implantar padrões para sistemas
automatizados nas operações logísticas de recebimento e compras da
indústria calçadista; Estabelecer padrões de etiquetas logísticas e
mensagens eletrônicas com base no Sistema GS1; Possibilitar a adoção das
ferramentas de automação pelos fornecedores da Indústria Calçadista;
Reflexo da automação do recebimento; aprovação do pedido e expedição de
produto nos fornecedores.
A GS1 Brasil, entidade que representa mais de 52 mil empresas
usuárias de padrões de código de barras e comércio eletrônico dissemina
padrões internacionais para integração da cadeia de suprimentos. A
organização coordena, em conjunto com empresas e entidades do setor, o
Grupo de Trabalho de Calçados, realiza mensalmente reuniões para
definição e implantação das melhores práticas para o setor. O Sistema GS1
é um conjunto de padrões que possibilita a gestão eficiente de cadeias de
suprimentos globais e multisetoriais, identificando com exclusividade
produtos, unidades logísticas, localizações, ativos e serviços. Além disso,
facilita os processos de comércio eletrônico, propondo soluções
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estruturadas para mensagens eletrônicas e viabilizando a total
rastreabilidade das operações, o que vem ao encontro dos objetivos do setor
calçadista.
O piloto entre a Via Marte e Lojas Paquetá foi finalizado com
enormes ganhos de produtividade e redução expressiva de erros
operacionais, trazendo respaldo, veracidade e credibilidade para o projeto.
A indústria otimiza a logística ampliando as parcerias em todas as áreas.
Ivair Kautzmann, gerente de TI da Calçados Via Marte, explica que a
empresa busca mostrar aos envolvidos, seja indústria, fornecedor,
transportador ou varejo, que com a utilização de um padrão haverá sempre a
redução de tempo e dinheiro no alinhamento da logística entre os parceiros.
“Fica muito claro que a questão da otimização passa pela identificação
padronizada, somada ao intercambio eletrônico de dados (EDI). Não há
como otimizar relações sem contemplar esses dois itens do processo”.
Para que o processo tenha sucesso é necessário entender o seu
conceito fundamental e investir em equipamentos, treinamento de pessoal
especializado, tanto na área administrativa, como na produção e expedição.
A automação dos sistemas logísticos com o EDI contribui de forma
surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o fluxo
eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia do
relacionamento das cadeias através de seus elos.
Como as empresas utilizaram os serviços traçados pelo projeto GOL
via EDI, conforme figura abaixo:
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Figura 1: base da proposta – fluxo de integração da rede calçadista
Fonte: elaborada pelos autores.
3.1. FUNCIONAMENTO DO PROJETO GOL
Iniciando no departamento de compras (da Loja), o comprador, com o
representante da indústria, fecha o pedido. Cada item com suas descrições
são identificados com seu código de barras. As informações da venda são
transcritas para o sistema da indústria e resumidamente para o sistema da
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loja, aguardando a fabricação e entrega. No comercial (da indústria), as
informações das vendas, efetuado pelo representante, são recebidos
eletronicamente e alimentam o banco de dados que irá apoiar os processos
fabris e financeiros da indústria. No planejamento (da produção da
indústria), em função das necessidades de matéria-prima e componentes, as
ordens de compras são emitidas e transmitidas para os fornecedores. Cada
item com suas unidades de medidas e seu código de barras. No fornecedor
(de matéria-prima ou componentes), ao receber a ordem de compra
eletrônica, é providenciada a fabricação e a entrega da mercadoria para seu
cliente, a indústria. Encaminha a nota fiscal eletrônica a transportadora e a
indústria por EDI. Na transportadora (de matéria-prima), de posse da nota
fiscal eletrônica, a transportadora emite o conhecimento de fretes (via EDI)
para a indústria. A indústria recebe o componente ou matéria-prima
solicitada junto com os documentos fiscais. No entanto, os documentos
eletrônicos já se encontram no seu sistema (economia de tempo e custo). A
adoção do padrão GOL: nota fiscal eletrônica, o aviso de despacho, código
de barras da embalagem e etiqueta, garante a verificação automática na
recepção e checagem com a ordem de compra, nota fiscal, conteúdo da
embalagem. Com isso, agiliza a entrada do estoque e libera os itens
recebidos para a linha de produção. Na recepção (na indústria), com o
padrão GOL, a embalagem já vem identificada com etiqueta com códigos
logísticos. Se o documento “aviso de despacho” estiver sendo utilizado
facilitará a conferencia e o rastreamento dos volumes. Na expedição (da
Indústria), quando a produção do pedido solicitado pelo lojista estiver
concluída, no processo de expedição, a nota fiscal eletrônica é encaminhada
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para o transportador dos produtos acabados e para o lojista, garantindo
agilidade e economia dos processos. No transportador (de produtos
acabados), de posse da nota fiscal eletrônica, o transportador gera o
conhecimento de frete para a entrega de mercadorias ao ponto de venda,
encaminha via EDI os documentos de fretes para a indústria. Os DOCs
eletrônicos dos serviços prestados podem ser encaminhados aos bancos
conveniados também via EDI de forma automática. Na recepção (da loja), o
produto chega ao ponto de venda com a nota fiscal física e a nota fiscal
eletrônica. Já estando no banco de dados, alimenta seu estoque. Mais
rapidez significa menos gastos, maior tempo para vender, menor tempo
para o produto ser exposto no ponto de venda, processo que não agrega
valor. No contas a pagar (da indústria), de posse dos conhecimentos gerados
eletronicamente pela transportadora, a indústria efetua os pagamentos. No
banco, processa os DOCs eletrônicos e os pagamentos recebidos
encaminhando aos clientes, quer sejam transportadores, indústria ou
fornecedores fechando o ciclo da operação.
Ninguém discute a necessidade de informatização dos processos intra-
empresariais (da pequena a grande empresa) e, cada vez, mais organizações
de ponta estão integrando os seus sistemas com os seus parceiros:
fornecedores, clientes, representantes, bancos ou governo.
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4. METODOLOGIA
Os objetivos deste artigo é uma revisão da literatura sobre a logística
como estratégia para o desenvolvimento organizacional. A pesquisa visa
descrever uma determinada realidade, logo pode ser considerada como
descritiva, do tipo teórico e empírico.
Considera-se o paradigma interpretativo o mais adequado ao objeto
em estudo. O padrão interpretativo, assim como o funcionalista, preocupa-
se com a regulação social, porém de um ponto de vista subjetivista
(LAKATOS & MARCONI, 2001). Assim, para melhor considerar a
subjetividade, opta-se por uma pesquisa qualitativa.
Como método de abordagem, a pesquisa foi conduzida de forma
indutiva, realizada em três etapas: a observação dos fenômenos, a
descoberta da relação entre eles e a generalização da relação (LAKATOS &
MARCONI, 2001). Utilizou-se também como método de procedimentos, o
estudo de caso, definido como uma investigação empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo, dentro de seu contexto da vida real (YIN, 2001).
No presente trabalho foi realizado revisão e interpretação dos estudos
pertinentes, implicando na seleção, leitura e análise de conceitos que
abrangem o tema, permitindo assim, maior clareza nos dados e na
formulação de comparações com aplicações práticas.
A revisão da literatura permitiu edificar conceitos teóricos, métodos e
instrumentos de análise, através de referências bibliográficas ou citações de
artigos, trabalhos e aplicações semelhantes em outros contextos, revistas,
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dissertações, publicações referentes ao objeto da investigação e mídia
eletrônica.
5. CONCLUSÃO
A logística está sempre sob objeto de interesse dos empresários. A
redução dos custos aliados ao aumento de produtividade nesse setor nunca
deixará de ser perseguido pelos gestores. Diante do mercado globalizado
em que vivemos e com constantes mudanças, qualquer alteração pode
provocar incertezas para o planejamento e operação das atividades da
logística. Isto exigirá habilidade e constante atualização por parte da
administração das empresas.
Conclui-se que, por meio do estudo de caso da indústria do calçado
brasileiro e sua integração entre toda cadeia calçadista, que o emprego
correto da logística significa redução de tempo, numa economia cada vez
mais globalizada e sequiosa de agilidade e ganhos. Seu planejamento
juntamente com a automação dos sistemas logísticos como EDI, contribui
de forma surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o
fluxo eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia
do relacionamento das cadeias através de seus elos. Mas, vale lembrar que
as empresas precisam entender que é necessário investir em equipamento,
treinamento de pessoal especializado, tanto na área administrativa, como na
produção e expedição conscientizando-os da importância de trabalhar com
informações corretas.
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Fica claro que a logística é um ponto fundamental para qualquer
empresa que queira ganhar e se manter no mercado altamente competitivo,
com redução de seus custos e eficiência no atendimento de seus clientes que
significa a chave do sucesso de qualquer organização.
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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo: Bookman.
2001.
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Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008
DESPINDO A PRECEPTORA INGLESA
Samuel Barros de Medeiros Albuquerque
Professor do curso de História da Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), graduado em História e mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), doutorando em História pelo Universidade Feral da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected]
Num passado não muito distante, entre a segunda metade do século
XIX e as primeiras décadas do século XX, educadoras estrangeiras
estiveram a cultivar a fina-flor da juventude sergipana. Eram preceptoras
alemãs, austríacas, francesas e inglesas que cruzavam o Atlântico,
seduzidas por boas propostas de emprego.
Tenho estudado, sistematicamente, a contribuição dessas mestras na
formação educacional das antigas elites sergipanas1. Contudo, no desenrolar
dessa laboriosa tarefa, emergia um grande problema: o(s) perfil(is) das
preceptoras européias. Afinal, quem eram essas mulheres?
As poucas obras da nossa historiografia educacional, dedicadas
integral ou parcialmente ao estudo da preceptoria, esclarecem parcamente o
problema. Por isso mesmo, foi bastante compensador deparar-me com a
obra “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”, da
professora Maria Conceição Monteiro.2
1 Projeto desenvolvido no doutorado em História do Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Profª Drª Lina Aras [ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Preceptoras alemãs na Bahia e em Sergipe (1860-1920). Salvador/BA. Projeto de Pesquisa (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História/UFBA. Início: 2008].
2 MONTEIRO, Maria Conceição. “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”. Niterói/RJ: EdUFF, 2000. 153 p. (Coleção Ensaios; 17).
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Monteiro é professora titular da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ), onde integra o quadro docente do Instituto de Letras. A
formação acadêmica da autora desdobrou-se, sobretudo, no âmbito da
Universidade Federal Fluminense (UFF), onde se tornou especialista e
mestra em Língua Inglesa, obtendo, em 1998, o título de doutora em
Literatura Comparada. A autora tem uma copiosa produção bibliográfica3 e,
atualmente, dedica-se a estudos voltados para o gênero gótico nas literaturas
contemporâneas de língua inglesa.
O livro “Sombra errante” foi publicado em 2000, pela Editora da
Universidade Federal Fluminense (EdUFF). Trata-se do desdobramento de
uma premiada tese, defendida por Maria Conceição Monteiro em 1998, no
Instituto de Letras da UFF.4
A apresentação gráfica da obra não é das melhores5. A capa, mesmo
trazendo uma bela imagem ao centro, carece de melhor elaboração6. A
3 Além de inúmeros ensaios em livros e periódicos, Maria Conceição Monteiro é
autora de obras como: “Na aurora da modernidade: a ascensão dos romances gótico e cortês na literatura inglesa” (Rio de Janeiro: Caetés, 2004); “Representações culturais do outro” (Niterói/RJ: Vício de Leitura, 2001); “Dialogando com culturas: questões de memória e identidade” (Niterói/RJ Vício de Leitura, 2003); “Figurações do feminino nas manifestações literárias” (Rio de Janeiro: Caetés, 2005), as três últimas organizadas em parceria com Tereza Marques de Oliveira Lima.
4 Sob orientação do professor Roberto Acízelo Quelha de Souza, o trabalho recebeu o prêmio de melhor tese do Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada do Instituto de Letras da UFF, em 1999.
5 A referida edição da EdUFF tem formato 14x21 cm, orelhas de 07 cm e um montante de 153 páginas, agrupadas em 10 cadernos costurados e colados. O papel utilizado na confecção da obra foi o chamois 75 g/m2, sendo que o cartão
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formatação do texto não está equilibrada com as dimensões da edição,
notadamente as margens esquerda e direita. Todavia, o conteúdo não deixa
dúvidas quanto à grandiosidade da obra.
O texto desenvolve-se em cinco capítulos, sendo o último de caráter
conclusivo. O primeiro, especialmente instigante para os historiadores de
ofício, analisa a condição histórica de preceptora na Inglaterra do século
XIX. O segundo capítulo apresenta o perfil da preceptora inglesa,
baseando-se na narrativa ficcional que antecede a publicação do romance
“Jane Eyre”7, obra que é analisada no terceiro capítulo. Em seguida, a
autora trata das representações da preceptora na ficção inglesa posterior a
“Jane Eyre”. E, finalmente, o quinto capítulo empreende um balanço geral
do estudo.
O ensaio de Maria Conceição Monteiro representa um monumento
à figura histórico-literária da preceptora. O talento da autora fica
evidenciado no fôlego do seu texto, fluente e agradável da primeira à última
página, tão sedutor quanto os romances oitocentista que esmiúça.
Além disso, Monteiro desenvolveu uma meticulosa pesquisa em
bibliotecas inglesas, em especial, a de Oxford e a de Nottingham, onde
levantou suas fontes básicas — primeiras edições dos romances estudados,
supremo 250 g/m2 foi utilizado na capa. Não conseguimos dados sobre a tiragem da edição.
6 Em preto e branco, a capa tem no centro a imagem (9x12 cm) de uma bela dama, que suponho ser uma preceptora inglesa do século XIX. O título da obra aparece acima da citada imagem e, abaixo dela, observa-se o nome do autor e o símbolo da editora.
7 Obra Charlotte Brontë, publicada, originalmente, em 1847.
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além de outros importantes documentos da época (manuais de
comportamento feminino e muitos periódicos).
Do conjunto de romances estudados, um número expressivo foi
traduzido para o português. Provavelmente, a circulação desses livros
contribuiu para formação de uma imagem acerca da preceptora européia no
imaginário dos leitores brasileiros.
Monteiro reconhece a problemática que gira em torno do uso de
textos ficcionais como lastro para estudos históricos. Entretanto, conclui
que, mesmo não reproduzindo a realidade, a ficção indicia o impacto mental
causado pela figura da preceptora nas mentes de seus contemporâneos.
Além disso, um dos méritos da obra, de grande valia para os
historiadores da educação brasileira, é a devassa empreendida pela autora
na bibliografia de língua inglesa que trata da educação doméstica. Obras de
sociologia, história e educação que foram utilizadas e devidamente
referenciadas.
Lastreada num articulado diálogo entre história e literatura, a autora
nos põe diante de uma preceptora inglesa do século XIX, espectro que
ganha forma no brilhante estudo de Maria Conceição Monteiro. Dessa
forma, muitos dos questionamentos que formulei acerca dessas educadoras
européias foram elucidados.
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O USO DA ICONOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA
Claudefranklin Monteiro Santos
Graduado em História e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professor, Historiador e Escritor Lagartense. Coordenador e Docente do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira e Professor de História da Rede Pública Estadual de Sergipe. Ee-mail: [email protected]
“A imagem instrumentalizada transforma o olho do cientista: abre-lhe novos horizontes e fecha outros, habitua este olho a enxergar em uma direção específica com a exclusão de outras, ou a constituir de um modo e não de outro os contornos de determinado objeto. Compreendido isto, a questão não é lutar em vão contra as inevitáveis limitações de uma imagem instrumentalizada ou de uma direção metodológica estabelecida para tal o qual fim, mas sim devolver a estas imagens e direções metodológicas a sua dimensão instrumental e transitória, dominá-las e não se deixar dominar por elas, superá-las sempre que for necessário e propor constantemente novas maneiras de abordar ou constituir o objeto sempre a partir de uma imaginação criadora e demolidora de imagens e conceitos congelados”. (D´ASSUNÇÂO, 2004)
Considerando que quase tudo que acontece se dá pelo aspecto visual,
faz-se necessário ao professor de história a necessidade de se valorizar a
educação pelo olhar. A história acontece a olhos vivos. Além disso, é
preciso salientar a força que a imagem provoca nas pessoas. Seu poder de
atração e seu fascínio. Aquilo que desperta tanta atenção não pode deixar de
ser um veículo precioso de ensino e de aprendizagem.
Como entender o material iconográfico e sua utilização em sala de
aula é uma reflexão que merece um cuidado inicial. Antes de tudo, é
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necessário entender aqui iconografia ou imagens como um artefato
(gravuras, fotografias, litografia, xilografia, charges, caricaturas,
publicidade, cartaz, cinema, televisão, vídeo) produzido culturalmente por
uma dada sociedade industrial, os chamados “artefatos imaginéticos”. Em
seguida, a iconografia passa então a ser encarada como técnica de ensino,
tendência construída ao longo da história da educação brasileira.
(SCHMIDT, 2002)
SERRANO afirma que é preciso aprender História “pelos olhos e não
mais enfadonhamente só pelos ouvidos, em massudas, monótonas e
indigestas preleções” (SERRANO,1912:11). Assim, o uso da iconografia no
ensino de história concretiza o que pode chamar de educação pelo olhar.
Mas, o uso excessivo da imagem também pode afastar o aluno do
mundo real, quando este não se dá conta da carga de representatividade
construída em torno dela. O fenômeno da iconização das coisas, e não
diferente do ensino de história, pode trazer distorções de aprendizagem e
distanciar o aluno das representações sociais. Essa tese é defendida por
alguns estudiosos, a exemplo da professora Elias Thomé Saliba (USP). Ela
admite que a imagem muitas vezes não ilustra bem a realidade e nem tão
pouco a reproduz, dado que é construída num determinado contexto
histórico. Assim, nem sempre o que é ou parece ser, é de fato: é o que
querem que seja ou que pensem que seja. “Toda a atenção – não apenas do
professor, mas de todo aquele que lida com as imagens – deve voltar-se
para o lado mais invisível, frágil, onde talvez se encontrem os possíveis
vestígios de um inconsciente visual de nossa época” (SALIBA , 2003:126).
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Para analisar e/ou interpretar a história de uma nova maneira, sob um
novo olhar, muitos historiadores vêm se distanciando do paradigma
tradicional. A chamada história nova tem considerado “novos problemas”,
“novas abordagens” e “novos objetos”. Essa nova roupagem da história
permite, entre tantas possibilidades, através da iconografia a revelação de
representações simbólicas que o dado oficial ou o registro escrito não
seriam capazes de permitir uma interpretação do real. Nesse contexto, o
professor de história pode se fazer valer do imaginário e despertar em seu
aluno a construção do mesmo nas mentalidades coletivas.
Nascida na França, em 1919 pela iniciativa de Marc Bloch e Lucien
Febvre, seguida nun segundo momento por Fernand Braudel, a História
Nova está associada a revista dos Annales (Annales, économies, societés,
civilisations), colaborando sobremaneira para a renovação dos chamados
“paradigmas da história”. Para BURKE (1992), um dos maiores estudiosos
do tema, durante muito tempo houve na tradição histórica uma preocupação
com uma história nacional ou internacional, não levando em consideração a
importância do aspecto regional. Esse tipo de tendência insistia na idéia de
que a política era a formadora da história, desconsiderando os variados
aspectos das atividades humanas, vista em sua totalidade. Preocupados em
relatar uma história factual, centrada nos acontecimentos, não se
preocuparam em saber de toda estrutura que permeia as transformações.
Esse tipo de conduta historiográfica valorizava excessivamente figuras
ilustres, em detrimento da História Nova que valoriza todas as categorias
sociais e suas representações, que deram origem à história das
mentalidades.
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“(...) a indagação sobre o popular levou à diversificação de recursos,
relativizando o primado do escrito e valorizando outras fontes, tais como o
documento oral e a iconografia, ardil legítimo para se romper o silêncio de
mundos mal conhecidos” (VOVELLE, 1997:17). Permitindo ir além do
escrito, as novas fontes procuram dar conta de lacunas que por vezes
ajudaram a firmar imagens distorcidas de épocas da história mundial e
brasileira. Nesse sentido, há quem afirme que a fonte iconográfica, se bem
utilizada como testemunho, muitas vezes tornam-se mais exatos em sua
informação do que o discurso escrito. Para tanto, há que se fazer e saber
fazer novas perguntas a essas novas fontes, para que elas possam romper o
silêncio acima citado, num universo historiográfico dominado pela palavra
escrita. Lidar com imagens também é lidar com o desconhecido e invisível,
com o ausente.
“Sendo as coisas que pensamos invisíveis, nem mesmo quem enxerga
pode vê-las” (CHARTIER , 1996).
Com a Nova História ampliou-se também o conteúdo do termo
documento – “há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo,
documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, pela imagem ou de
qualquer outra maneira” – destacando a necessidade da crítica do
documento. Para Le Goff, “o documento não é qualquer coisa que fica por
conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as
relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento
enquanto documento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao
historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de
causa”.
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Ulpiano Bezerra vai mais longe e propõe que o historiador, ao se
aproximar do campo visual (iconográfico) desenvolva o que ele chama de
potencial cognitivo (MENESES, 2003). Para tanto, ele convida o
historiador a mergulhar no campo da história da imagem, como elemento
necessário para a elucidação da historicidade das coisas. Nesse sentido, o
aspecto iconográfico na história adquire numa visão antropológica de si
mesma, três modalidades: ele é visto como elemento produzido pelo
observador, como registro ou parte do observável (na sociedade observada)
e a interação entre o observador e observado.
O sentido proposto por este autor não tem ainda merecido estudos
mais abrangentes, e quando existentes limitam-se a épocas específicas,
como a Antiguidade, o Renascimento, entre outros. Para tanto, atribui ao
campo da história da arte, à partir do século XVIII um período promissor ao
reconhecimento do potencial cognitivo da iconografia.
Na ótica de Ulpiano Bezerra, a imagem não pode ser encarada como
mera ilustração do real, mas como coisa intrinsecamente pertencente a ele e
às práticas materiais que a envolvem. A iconografia não pode ser vista
como à margem da história, mas na e parte dela. A imagem estaria, assim,
dosada de uma historicidade própria.
Este autor afirma, ainda, que existe por parte da própria historiografia
uma espécie de silenciamento do tratamento da imagem como documento
histórico, mesmo por parte daqueles que se apresentam como os maiores
nomes de então na área das novas abordagens históricas: Le Goff e Pierre
Nora. Os estudos desenvolvidos são ao seu ver evasivos no tratamento
historiográfico dado às imagens, no que o autor os chama de superficiais,
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principalmente por não levarem em conta os aspectos visualidade e leituras
de imagens.
Complementando essa visão, é preciso estar atento que BURKE
denominou de “contexto social” da imagem, ou seja, as circunstâncias nas
quais ela foi encomendada, bem como o contexto material e o local onde se
desejava exibi-la, procurando dar conta das formas de produção, circulação
e consumo dos meios visuais. (BURKE, 2005:171).
As novas concepções no campo da História Nova e a relação com a
nova prática do ensino de História não só permite como também dinamiza a
relação professor de história e aluno, até porque o uso da iconografia em
sala de aula pode perfeitamente tornar-se possível e bem vindo. Para
SCHMIDT, “o uso de imagens como alternativa metodológica para a
formação do professor de História é importante, não só para entendê-las
como documento ou um tipo de linguagem a ser utilizada pelo professor em
seu trabalho em sala de aula, como também no sentido de apreendê-las
como conteúdo curricular, isto é, como conteúdo a ser ensinado”
(SCHMIDT, 2002:171).
A prática mecanicista do uso novas formas de aprendizagem no
ensino de História devem ser evitadas, pois comprometem o processo de
construção qualitativa do conhecimento, inibindo a capacidade do aluno no
que se refere a sua postura crítica diante da informação apresentada. As
fontes iconográficas não devem ser usadas como mera ilustração. Elas
devem ser tratadas como instrumento para a construção do saber histórico,
colaborando na problematização dos conteúdos expostos e estimulam o
aluno a ir além do tema abordado.
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O uso da iconografia na prática do ensino de história deve estabelecer
um diálogo entre a produção cultural da sociedade contemporânea e a
construção do conhecimento histórico propriamente dito.
Cristina Bruzzo (2004) afirma que o nosso imaginário sobre outros
tempos e espaços é indelevelmente marcado pelo repertório visual que
povoa as várias expressões de nossa cultura. Para tanto, é preciso estar
atento às armadilhas resultantes das convenções presentes na iconografia do
passado.
Considerando que a iconografia é resultado de uma prática social e
construída culturalmente, o estudo das representações, defendida pelo
historiador francês Roger Chartier (1990:13), permite “ver uma coisa
ausente quer como exibição de uma presença”.
Num trabalho desenvolvido por Fábio Vergara Cerqueira (2000)
sobre a iconografia dos vasos gregos antigos como fonte histórica, afirma
que iconografia, registrada nas pinturas que decoram os vasos gregos, é
produzida por artesãos, população de origem humilde e simples, distanciada
da sofisticação dos debates filosóficos, do refinamento das récitas poéticas e
das observações científicas. Para o pesquisador, remeter-se da tradição
literária à iconográfica significa colocar em relação o imaginário popular e
o das elites, a cultura dos excluídos e dos incluídos. Considerando, por
exemplo, que a alfabetização no período clássico devia atingir, de forma
satisfatória, aproximadamente 15 a 20% da população, o entendimento das
informações visuais era irrestritamente acessível a amplas camadas,
contanto tivessem acesso a divisar os objetos decorados e dispusessem de
códigos culturais para interpretá-los.
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Burke (1994) traça um amplo painel dos processos utilizados pela
corte de Luís XIV, por exemplo, com a finalidade de criar uma imagem,
uma representação e mitos sobre a figura do rei.
Michel Vovelle (1987:93), na primeira parte de Ideologias e
mentalidades, discute a relação entre iconografia e a história das
mentalidades, destacando a sua utilização por parte dos historiadores da
Idade Média que - ao analisarem ex-votos, altares, estátuas etc.- buscaram
traçar tanto uma geografia do sagrado como o perfil das sensibilidades
coletivas no passado. Os problemas levantados por Vovelle convergem para
uma única questão: "Pode-se, efetivamente, elaborar uma verdadeira
semiologia da imagem?”
Ainda de Vovelle (1997), Imagens e Imaginário na História vêm
discutir algumas questões pertinentes ao uso da iconografia na história.
Primeiro por ser uma contribuição essencial ao estudo das mentalidades,
uma vez que somente nela ela se concretiza enquanto fonte histórica.
Depois, porque ele considera a imagem como resultado da sensibilidade de
uma época, ao passo que o pesquisador deva detectar as idéias-forças das
representações coletivas expressas nesses sistemas de símbolos, o que não
poderia de deixar de ser também uma dos ofícios do professor de história.
O aspecto inovador da Nova História chega ao Brasil a partir dos
anos 70 e com repercussões saudáveis no campo da prática do ensino de
história. Tal evidência leva a crer que não há como desassociar a prática de
ensino do aspecto teórico-metodológico.
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“(...) essa grande mudança cultural e epistemológica envolve mudanças em termos de tecnologia e pedagógica e, portanto, novas compreensões da relação entre tecnologias e pedagogias, escolarização e cultura da mídia. Apenas agora estamos começando a registrar a importância educacional e cultural da imagem como princípio organizacional para as relações sociais e as subjetividades”. (GREEN, B.; BIGUN, C,1995)
Diante de tais considerações, torna-se evidente que não seja mais
possível imaginar que a história seja exclusivamente elaborada e ensinada
apenas por intermédio de discursos escritos. Para a história, a iconografia se
apresenta como fonte de conhecimento visual da cena passada e, portanto,
como possibilidade de estudo desse passado ou resgate da memória do
homem e do seu entorno sócio-cultural.
No âmbito da discussão didático-pedagógica, se nota uma crítica em
torno da prática de ensino de história em não se dá a devida atenção à parte
teórico-metodológica, o que para alguns tem engessado a área no sentido de
proporcionar alterações e mudanças significativas.
A prática do ensino de história que leve em consideração o uso do
material iconográfico deve estar atenta à idéia de que ele não pode vir
desassociado da noção de que é um elemento importante na sociedade
contemporânea e de que é preciso salientar a relação entre cultura e
educação (SCHMIDT, 2002).
“(...) Se esse trabalho com imagens enquanto documento pressupõe que o professor domine conteúdos e competências específicas do uso escolar do documento e também da linguagem que ele for trabalhar, o recorte temático da
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História exige um domínio consistente do conteúdo a ser trabalhado, bem como um acompanhamento das novas pesquisas e produções historiográficas, para que diferentes temas sejam incorporados aos conteúdos que serão trabalhados em sala de aula”. (SCHMIDT, 2002:176).
O perfil dos professores de história no Brasil gira em torno da idéia
de um serem sujeitos não muito dados à reflexão, em função da via
discursiva adotada pela maioria deles na prática de ensino. Tal
representação leva a crer que ensinar história é uma tarefa muito fácil, por
não requerer, aparentemente, qualquer interferência de questões teóricas,
metodológicas e ideológicas, bastando apenas decorar e transmitir o que é
posto.
Este tipo de representação deposita, ainda, no professor a mazela de
ser um agente centralizador do saber histórico, ao passo em que o aluno se
transforma num receptor passivo de conteúdos constante no currículo de
história, mas nem sempre capaz de renovar a realidade por meio do
cotidiano da sala de aula, como o uso, por exemplo, da iconografia.
A experiência em sala de aula nos permite trocar experiências com
nossos alunos, além de termos diante de nós uma gama inesgotável de
fontes de pesquisa através do documento. Porque não acrescentarmos a tudo
isso, além de lousa, giz e livro didático, a aprendizagem da História através
da iconografia.
O professor de História deve alimentar no aluno o hábito ler o
material iconográfico que se apresentar, de modo especial nos livros
didáticos, onde texto e imagem muitas vezes não se relacionam, servindo
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apenas como ilustração. Ainda que se leve em consideração o que
GASKELL (1992:237) afirma sobre a maioria dos historiadores (e nesse
contexto, professores de história também), que “são muitas vezes
despreparados para lidar com o material visual, muitos utilizando as
imagens apenas de maneira ilustrativa”.
Enest Lavisse, em seu Historie de France (1887) destaca a
importância da imagem para a compreensão da história. No livro, justifica o
uso das mesmas como a necessidade de formar no aprendiz de história a
capacidade de desenvolver a inteligência e a memória, no que ele chamava
de “revisão pelas imagens”.
O texto acompanhado do material iconográfico tem sido uma das
mais eficientes estratégias de aprendizagem nos livros didáticos de história.
Ao longo da história da educação do Brasil isso é notório, especialmente
entre o final do século XIX e o início do século XX, onde os chamados
livros de leitura procuravam por meio de imagens, incutirem nas crianças
mensagens como noções de higiene, moral e civismo.
O uso do conteúdo iconográfico no ensino de história não é uma
novidade desse século. Há muito se faz uso de ilustrações nos textos
escritos. Porém, nunca tão intensificado como nas práticas pedagógicas
atuais, ainda mais como os surgimento e aprimoramento de novas mídias. A
professora BITTENCOURT (2003) manifesta, nesse sentido, duas
preocupações que merecem um exaustivo debate. Primeiramente com
relação à escassez, dentro da questão ensino-aprendizagem do uso dessas
imagens. Em seguida, com relação às mudanças, que embora pertinentes,
venham a causar na aprendizagem de história.
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Entre os elementos apontados por BITTENCOURT (2003:77), um
chama a atenção no que se refere às ilustrações. No uso delas no livro
didático, a autora enfatiza o seu aspecto mercadológico e afirma
categoricamente a interferência dos interesses de lucro até mesmo na
escolha e aplicação das imagens nos livros didáticos, tolhendo a liberdade
de produção do autor, inclusive a nível técnico.
A autora ainda destaca que as representações do material iconográfico
são carregadas de conteúdo ideológico. Segundo ela, ao longo dos anos
predominou as representações da História Política, com ênfase nas figuras
administrativas e suas especificidades e variações, a exemplo das figuras de
D. Pedro I e Getúlio Vargas. Com o avanço da História Social e Cultural,
essa cena vai mudando de feição e outras representações até então ocultadas
ou deformadas aparecem como a tônica de trabalhos de História do Brasil,
como indígenas e negros.
Se considerarmos o período compreendido entre os anos 1930-1945
no Brasil, ver-se-á que houve um investimento maciço em produção de
material iconográfico, cuja finalidade fora a de criar uma imagem
extremamente positiva de seu governante, o ditador Getúlio Vargas,
comumente e estrategicamente chamado de “pai dos pobres”. Para
KORNIS (1988:72), “transformados em verdadeiros ícones ao longo das
últimas cinco décadas, tais registros reinvetam a todo o momento o mito em
torno de uma figura”.
Cabe, portanto, ao professor de história debruçar-se sobre tal
problemática e tirar-lhe um proveito pedagógico, construindo entre outras
coisas, com seu aluno estratégias que não só desmistificam imagens
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construídas ideologicamente, como a de Getúlio Vargas, ao mesmo tempo
em que desenvolvam um senso crítico de leitura de imagens que lhe garanta
habilidades que o cotidiano muitas vezes exigem em outras situações que
extrapolem a sala de aula. “(...) Imagens podem ser utilizadas para
quaisquer fins, não sendo por si só provas de verdade, muito embora não
possamos desconhecer a existência de um registro real na imagem
documental” (KORNIS, 1988:73).
“Ao considerar o livro como um documento, ele passa a ser analisado dentro de pressupostos da investigação histórica, portanto objeto produzido em um determinado momento e sujeito de uma história da vida escolar ou da editora. Nesse sentido, cabe ao professor a tarefa de utilizar uma metodologia que possibilite leitura e interpretação que desperte o sentido histórico nas relações triviais de sala de aula”. (BITTENCOURT , 2003:86).
Não seria diferente, entende-se, como o conteúdo iconográfico. O
fato de um livro insistir em trazer a representação tradicional de um
momento da história (Independência do Brasil) não impede que alunos e
professor possam se debruçar sobre aquela imagem e decifra-la sob todos os
aspectos. O olho existe não para a conformação passiva do aprendiz, mas
para o eterno olhar na melhor atitude de um estudioso incansável em
absorver o real, ainda que em seu sentido abstrato.
Essa nova postura permite a perspectiva de análise sobre o
imaginário. Nas representações políticas construídas ao longo da história,
permite ver a minissérie global JK como um elemento importante na
construção de uma identidade nacional coletiva. Seus autores se utilizaram
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de fontes a profícua iconografia da época (fotos de jornais e revistas,
gravuras, fotografias pessoais, entre outros, não só para reviver figurinos,
estilos, comportamentos e até posturas dos personagens que outrora foram
reais).
Com relação à figura de Tiradentes, as representações políticas
também se fizeram presentes por meio do uso e do abuso do material
iconográfico. De famigerado rebelde e perigo para a nacionalidade na
abordagem da Monarquia Brasileira, na Republica, após 1889, torna-se
símbolo da causa republicana, transfigurando-se em herói e mártir, numa
construção de fundamentação religiosa bastante evidente, dada a sua figura
ser aproximada a de Cristo, como redentor de muitos, com pinturas lhe
representando de cabelos longos, barba comprida e olhar de padecimento, a
exemplo da tela de Pedro Américo (1843-1930), “Tiradentes Esquartejado”.
Entre os mais afeiçoados à idéia libertadora, figurava um alferes de cavalaria, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Era um homem pobre, de coração generoso, inteligência viva, amante do progresso, um auto-didata, cheio de ardor e capaz de grandes empreitadas. (...) Não era nem sonhador, nem entusiasta vulgar. Tinha senso da realidade, espírito prático, realizador, produto que era de um meio, onde se cultivavam as letras, empreendiam-se organizações, lutava-se com a aspereza da terra e procurava-se disciplinar a fortuna. (...) Era o tipo representativo do brasileiro do século XVIII, cujas virtudes e qualidades os pósteros herdaram, nos seus cometimentos e empresas pela libertação moral, intelectual e econômica do Brasil, entre os quais citamos José Bonifácio, Cairú, Mauá, Rebouças e tantos outros. (VIANA, 1994:336)
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Chama à atenção a obra de Michel Vovelle (1997), onde o historiador
procura mostrar as mudanças nas chamadas “mentalidades” a partir de uma
variação iconográfica das imagens da Revolução Francesa ou ainda dos
altares dedicados às almas do purgatório entre os séculos XV e XX.
Um dos campos mais privilegiados e mais fecundos da iconografia é
o da religião e da religiosidade. Muitas das imagens estiveram associadas à
ideologia cristã, especialmente na ótica do catolicismo.
“As comparações de ilustrações reproduzidas em momentos
diferentes são necessárias para que alunos possam estabelecer relações
históricas entre permanências e mudanças e para relativizar o papel que
determinados personagens tendem a desempenhar na História”, afirma
BITTENCOURT (2003:88). É o caso, por exemplo, da Lei Áurea e sua
relação com a Princesa Isabel. Normalmente, as imagens utilizadas passam
a idéia de concórdia entre brancos e negros e a de heroísmo e humanidade
da Alteza. Nesse sentido, as representações mais comuns dão conta de
apresentar o 13 de maio como uma grande vitória ou a “redenção de uma
raça” e garantia da paz e prosperidade social, desconsiderando, dessa forma,
os longos anos de luta e resistência dos negros e os efeitos maléficos da Lei
Áurea, especialmente no campo social, como os atuais problemas de
discriminação e miséria social dos descendentes daquele povo.
A proposição do uso da iconografia no ensino de história implica,
necessariamente, entender e encarar o ensino como produção do
conhecimento e convite à pesquisa. Mais do que o docente, os cursos
superiores de licenciatura em história devem formar o professor-
pesquisador.
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O gosto pela pesquisa deve ser também um ingrediente importante
nessa nova prática do ensino de história, uma vez que a iconografia passa a
ser encarada como documento capaz de permitir a investigação histórica.
Faz-se necessário, assim, entender a prática pesquisa histórica no cotidiano
das aulas de história, para que o aluno perceba que o conhecimento é
construído e não repassado desgastantemente pelo professor. “Encaminhar
o processo ensino-aprendizagem nesta perspectiva é acreditar na capacidade
de raciocínio do aluno, proporcionado-lhe condições para raciocínios
críticos, criativos, sem deixar de considerar um certo rigor metodológico na
orientação sobre a busca do conhecimento.” (LUPORINI, 2002:200).
Se a iniciativa do professor de história em fazer bom uso do material
iconográfico em sala de aula for bem sucedida, ele estará formando, sem
sombras de dúvidas, um sujeito com uma postura realmente historiográfica,
capaz não só de dá conta do elemento aprendizagem (via ensino), mas
também de aguçar nesse profissional o gosto pela pesquisa e pela
construção do conhecimento histórico.
Referências
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BITTENCOURT, Circe. Livro didático e conhecimento histórico: Uma história do saber escolar. Tese de doutorado, Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 1993. ____________________. Livros Didáticos entre Textos e Imagens. In. O Saber Histórico em Sala de Aula. 8 ed. São Paulo: Contexto, 2003. pp. 69-90. BURKE, Peter. A Escrita da História – Novas Perspectivas. São Paulo, UNESP, 1992. ____________. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru/SP: Edusc, 2004. ____________. (1994) A Fabricação do Rei: A Construção da Imagem Pública de Luís XIV. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1994. CHARTIER, Roger. A Nova História Cultural. Entre Práticas e Representações. RJ: Difel, 1990. ________________. Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. CARDOSO, Ciro. MAUAD, Ana M. História e Imagem: Os Exemplos da Fotografia e do Cinema. in: CARDOSO, Ciro F., Vaifas Ronaldo (org). Domínios da História: Ensaio de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Campos, 1977. CARDOSO. Ciro Flamarion. Iconografia e história. Revista Resgate, Campinas, Vol. I, 1990.
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LITERATURA E CULTURA NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA
Ana Lúcia Simões Borges Fonseca
Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Mestranda em Língua Inglesa e suas Literaturas pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora do Curso de Letras Português / Inglês da Faculdade José Augusto Vieira. E-mail: [email protected]
RESUMO Pretendemos, com este trabalho, fazer com que educadores/as e alunos/as reflitam
sobre a importância de utilizar os textos literários nas aulas de língua estrangeira
não apenas com o objetivo de decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los
como mediadores na formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e
leitores das relações do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que
tem a literatura no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar e, sobretudo,
demonstrar qual a sua contribuição em se tratando do ensino/aprendizagem do
inglês como língua estrangeira.
Palavras-Chave: Língua; Literatura; Cultura
ABSTRACT This article aims at making teachers and students reflect on the importance of using literary texts in the foreign language classes, not only with the purpose of interpreting them, but with the purpose of using them to mediate the formation of critical and active individuals, who are able to read the world’s relations. We also highlight the relevance of Literature in what concerns its interdisciplinary approach and show its contribution towards the teaching and learning of English as a foreign language.
Key words: Language; Literature; Culture
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1-INTRODUÇÃO
Acreditamos ser a literatura uma importante faceta das
manifestações culturais e leitura que objetiva gerar reflexão,
conscientização e atuação dos indivíduos sobre si próprios e sobre o mundo
que os cerca. Acreditamos, também, ser a literatura constituída de aspectos
dinâmicos, os quais oportunizam transformações e acompanham as
mudanças do mundo podendo, portanto, propiciar mudanças significativas
no nosso sistema educacional. Sistema este que, infelizmente, encontra-se
distante dos ideais educacionais e o qual, para atender às condições
histórico-sociais que lhe são impostas no decorrer de séculos e sobre as
quais não objetivamos discorrer no dado momento, ainda se desenvolve
muito mais no plano da manutenção do que no da criação dificultando,
sobremaneira, a liberdade de inovar.
Assim sendo, pretendemos, com este trabalho, fazer com que
educadores/as e alunos/as reflitam sobre a importância de utilizar os textos
literários nas aulas de língua estrangeira não apenas com o objetivo de
decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los como mediadores na
formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e leitores das relações
do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que tem a literatura
no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar, chamando a atenção de
outras áreas do conhecimento para problemáticas dentro das quais as
mesmas se inserem e, sobretudo, demonstrar qual a sua contribuição em se
tratando do ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira.
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Esses fatores, associados a uma série de observações
concernentes à nossa prática com o ensino de Língua Inglesa e suas
Literaturas e que têm nos mostrado o quão desconhecido ainda é o terreno
literário para muitos/as alunos/as que ingressam no curso de Letras
Português/Inglês inseguros, angustiados e tementes em relação aos estudos
literários e, muitas vezes, descrentes em relação às suas habilidades e
percepções, vêm reforçar esta nossa proposta, no sentido de fazer com que
haja reflexões sobre a necessidade premente de se utilizar a literatura no
ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira.
Portanto, não hesitamos em sugerir a incorporação do uso de
atividades que visem integrar a leitura de textos literários em língua
estrangeira às propostas curriculares dos ensinos Fundamental e Médio,
visando fazer com que os/as alunos/as, desde cedo, tenham a chance de
conhecer e vislumbrar as inúmeras possibilidades que esta integração
língua/literatura lhes pode proporcionar. Pensamos que tal mudança far-se-
ia de fundamental importância, uma vez que prepararia os/as alunos/as para
compreender que eles/as sempre terão algo a dizer a respeito de um texto
literário e que o caminho da literatura está repleto de descobertas
fascinantes, mas precisa ser trilhado. Afinal, como propõem Collie e Slater8
ao tratar da literatura (1987, p.16), é importante que os alunos sintam que
seus conhecimentos e experiência de vida podem oferecer valiosa
orientação.
8 It is important for learners to feel that their knowledge and life experience can still provide valuable guidance.
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Considerando esses aspectos que norteiam a nossa proposta,
faz-se importante ressaltar que procuramos pautá-la, também, nas idéias
de Culler9 (1997, p.43), que diz ser de particular relevância o estudo de
culturas instáveis e identidades culturais que surgem para grupos –
minorias étnicas, imigrantes, mulheres – que podem ter problemas em se
identificar com a cultura mais ampla na qual se encontram – uma cultura
que é em si mesma uma construção ideológica em constante mutação; de
Kramsch10 (1993, p.205), ao citar o fato de o pensamento tradicional no
ensino de LE ignorar o fato de que boa parte do que chamamos cultura é
um construto social, o produto da percepção de si mesmo e dos outros e,
finalmente, na proposta de Collie e Slater11 (1987, p.10) que sugerem
uma abordagem através da qual os/as alunos/as possam aproveitar os
benefícios de atividades comunicativas e outras atividades para o
aprimoramento da língua dentro de contextos de trabalhos adequados de
literatura. Ainda segundo Collie e Slater12 (1987, p.10), compartilhar
literatura com os alunos é um estímulo para que eles possam adquirir
9 Particularly important, therefore, has been the study of unstable cultures and cultural identities that arise for groups – ethnic minorities, immigrants, women – that may have trouble identifying with the larger culture in which they find themselves – a culture which is itself a shifting ideological construction. 10 It (=traditional thought) has usually ignored the fact that a large part of what we call culture is a social construct, the product of self and other perceptions. 11 The overall aim, then, of our approach to the teaching of literature is to let the student derive the benefits of communicative and other activities for language improvement within the context of suitable works of literature. 12 Sharing literature with students is a spur to their acquiring these benefits, providing teachers make a balanced selection of activities and present them with confidence. Todas as traduções são minhas.
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esses benefícios, desde que o/a professor/a faça uma seleção equilibrada
de atividades e as apresente com confiança.
Os objetivos culturais e literários concernentes à nossa
proposta tratarão, respectivamente, da questão da discriminação e
preconceito e das imagens utilizadas nos poemas para construir a idéia de
não-pertencimento. Quanto aos objetivos lingüísticos, faz-se importante
destacar que a falta de leitura de textos literários em língua estrangeira
ainda tem dificultado e comprometido a compreensão dos/as alunos/as ao
se depararem com os mesmos. Mediante o exposto, e com o intuito de,
paulatinamente, mudar este quadro de perplexidade por parte dos/as
alunos/as, buscamos desenvolver este trabalho de forma que estes/as se
sentissem confiantes para debater sobre a temática proposta utilizando a
língua alvo o máximo possível13, no caso o inglês, a fim de que, ao
término dos trabalhos, estivessem aptos a redigir um texto expressando
suas percepções acerca dos temas sobre os quais versou a temática em
questão: discriminação, cultura, minorias e/ou outros que pudessem advir
das discussões.
Dessa forma, acreditamos ser possível integrar, por meio dos
textos literários, as quatro habilidades de uma maneira diferenciada e
interessante, demonstrando, sobretudo, quão significativa e possível pode
ser a integração língua, literatura e, por conseguinte, cultura.
13 Com o intuito de não inibir a participação dos/as alunos/as, permitir-se-á, também, o uso da língua materna, caso haja necessidade.
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A idéia para a elaboração desta proposta, surgiu durante as
aulas do mestrado, na disciplina Literatura e o Ensino de Inglês como
LE, quando das entusiasmadas e eloqüentes apresentações de poemas
declamados pela Professora Ildney Cavalcanti, e dentre os quais
chamaram a minha atenção os poemas de Phillis Wheatley e Grace
Nichols. Ao atentar-me às observações feitas pela professora, veio-me à
mente uma discussão mantida com os/as alunos/as do curso de Letras
Português/Inglês do Projeto de Qualificação Docente (PQD), na aula de
Literatura Norte Americana, sobre o Dia da Consciência Negra,
comemorado no dia 20 de novembro, e que me parecera suscitar grande
interesse por parte dos/as mesmos/as. De imediato, reportei-me à música
London, London, de Caetano Veloso, associando-a aos dois poemas os
quais, por sua vez, também me pareceram estar relacionados à
problemática debatida previamente em sala de aula. Concluí, portanto,
que os textos adequar-se-iam a uma possível atividade a ser desenvolvida
nas aulas de inglês e resolvi executá-la. Mediante os resultados obtidos, e
os quais os alunos/as consideraram bastante satisfatórios, esperamos que
outros se interessem e possam vir a executar e/ou adaptar a proposta ora
sugerida.
2-DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
Consideramos ser de suma importância conseguir,
satisfatoriamente, despertar nos/as alunos/as a curiosidade e o prazer pela
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leitura. Para atingir tal objetivo, consideramos ser necessário levar em
conta o interesse que eles/as possam ter pelo tema proposto e as reações
que os textos selecionados possam vir a despertar nos/as mesmos/as, já
que esses podem constituir-se em fatores indispensáveis para fazer com
que eles/as queiram ler os textos literários.
Visando, portanto, atingir a meta supracitada, utilizamos a
canção London, London, de Caetano Veloso, como uma atividade
introdutória. Além do atrativo da música, a escolha desta canção deveu-
se ao fato de ela já ser conhecida pelos/as alunos/as e, sobretudo, por
estar relacionada à temática dos dois poemas a serem analisados.
Pensamos, pois, propiciar com essa estratégia, uma maior identificação
inicial por parte dos/as alunos/as e, a qual, segundo a nossa percepção,
poderia ser decisiva para um bom encaminhamento do processo como
um todo. O uso da canção também visou permitir que os alunos
percebessem o quão interessante é fazer a ponte entre diferentes
momentos, culturas e autores. Após ouvirem a música, a professora
explanou sobre possíveis dúvidas referentes ao vocabulário14 e falou
sobre a vida de Caetano Veloso, sobre o momento em que ele compôs a
canção e sobre o motivo principal que o levou a fazê-lo, sempre
solicitando e incentivando a participação dos/as alunos/as para que
levantassem questionamentos ou dessem contribuições pertinentes à
discussão. Ao término das discussões, a pedido dos/as alunos/as, a
professora executou mais uma vez a canção e, em seguida, distribuiu
14 O/A professor/a poderá esclarecer as dúvidas lexicais antes da execução da música.
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cópias dos dois poemas a serem analisados, juntamente com uma sucinta
biografia de suas autoras: On Being Brought from Africa to America, de
autoria de Phillis Wheatley, e The Fat Black Woman Goes Shopping,
escrito por Grace Nichols. Pediu-se aos/às alunos/as apenas que eles
fizessem a leitura em casa para discussão na aula subseqüente. Findou-se,
assim, o primeiro momento do trabalho.
Deu-se início aos trabalhos do segundo momento com uma
pequena discussão sobre as interpretações e impressões dos/as alunos/as
em relação aos textos. As perguntas, inicialmente, versaram sobre os
temas e as idéias principais encontradas nos mesmos e a professora não
fez comentários e/ou perguntas complexas que viessem a inibir a fala
dos/as alunos, já que o objetivo era deixá-los/as à vontade para que
pudessem expor as suas idéias. Em seguida, a professora falou
exaustivamente sobre as autoras dos poemas e sobre o momento em que
compuseram as suas obras pedindo, em seguida, que os/as alunos/as
fizessem uma segunda leitura dos poemas, agora em pequenos grupos.
Formados os grupos, foram distribuídas atividades referentes aos dois
poemas para que os/as alunos/as pudessem refletir sobre questões mais
específicas em relação aos mesmos, além de oportunizar uma maior
interação entre os seus componentes; neste momento, a professora atuou
como mediadora das discussões, esclarecendo dúvidas e levantando
alguns questionamentos a fim de manter os/as alunos/as engajados/as na
atividade.
Finalizada a atividade, a professora perguntou aos/às
alunos/as quais tinham sido as suas impressões após a segunda leitura,
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desta vez revelando-lhes quaisquer aspectos que tivessem passado
despercebidos e/ou não tivessem sido citados por eles/as como, por
exemplo, a questão das minorias e do não-pertencimento a outras
culturas. Após exaustivos comentários acerca dos poemas, deu-se a
finalização do segundo momento e a professora solicitou aos /às
alunos/as que, na aula seguinte, cada grupo expusesse o seu trabalho,
considerando as discussões conduzidas no decorrer do processo e,
sobretudo, ressaltando as suas impressões sobre a proposta desenvolvida.
Durante a apresentação, a professora responsabilizou-se em fazer todos
os comentários e colocações pertinentes às temáticas apresentadas, com o
intuito de explicitar quaisquer dúvidas e/ou esclarecer questões que
pudessem comprometer as apresentações, sempre observando a
participação e interação dos/as alunos/as e motivando-os/as a
expressarem suas idéias. Ao término das apresentações, e para encerrar o
processo, pediu-se que cada aluno/a redigisse, em casa, um texto acerca
da temática ora exposta, finalizando, assim, os trabalhos.
Em suma, acreditamos que atividades como esta, além de
despertarem um maior interesse por parte dos/as alunos/as pela literatura,
permitem-lhes aprimorar os seus conhecimentos e habilidades na língua
inglesa e, também, adentrar discussões em outras áreas de conhecimento,
tais como a história, a geografia, etc., mostrando-lhes que língua,
literatura e cultura realmente podem e devem caminhar lado a lado.
Permitem-lhes, também, perceber que o medo, a insegurança, a incerteza,
a perplexidade e outros sentimentos que muitas vezes parecem ser
inibidores podem, na verdade, passar a ser a mola propulsora que os/as
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leva a buscar entender o que trazem consigo os textos literários e o quão
intrigante é o universo que os constitui. Entender que, muitas vezes, a
escuridão é necessária para motivar-nos a buscar a claridade. Entender
que é do não entendimento que se fazem as grandes descobertas.
Entender que o caminho que permeia o claro no escuro é exatamente o
caminho que eles/as se propuserem a trilhar...
3-PERFIL DO GRUPO
Embora acreditemos na possibilidade e necessidade de se
trabalhar com os textos literários desde o ensino fundamental, sugere-se
que a atividade aqui proposta seja desenvolvida com alunos/as de nível
intermediário e/ou avançado15, considerando o grau de dificuldade dos
textos no que diz respeito às questões de vocabulário e à problematização
por estes sugerida.
Outros aspectos que foram levados em consideração para a
escolha dos níveis com os quais pensamos em trabalhar, bem como para
a escolha da atividade, foram condizentes com a maturidade intelectual
do grupo, seu embasamento cultural e literário e os seus interesses.
Assim sendo, embora acreditemos ter atingido satisfatoriamente os
objetivos literários voltados para esta proposta, observamos que os
15 Entenda-se como alunos/as de nível intermediário e/ou avançado, aqueles/as que sejam capazes de fazer uso, o máximo possível, da língua alvo, no nosso caso do inglês, seja para participar das discussões, seja para redigir o texto final ao término do trabalho proposto.
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objetivos lingüísticos ainda foram os mais privilegiados, considerando o
fato de que, infelizmente, os/as alunos/as ainda não tinham uma aguçada
percepção que lhes permitisse adentrar nos pormenores das questões
literárias e/ou discutir as suas sutilezas.
Visando, portanto, permitir que os/as alunos/as sejam cada
vez mais estimulados/as a querer participar das discussões literárias e se
sintam realmente preparados/as e confiantes para isso, esperamos que
atividades como a que propusemos venham a ser trabalhadas com mais
freqüência pelos/as professores/as de Língua Inglesa e suas Literaturas,
com o intuito de que, cada vez mais, haja uma integração entre as duas
disciplinas e o terreno literário, ainda árido e pouco explorado por
muitos, possa vir a gerar frutos. Irriguemo-lo, pois!
4-REFERÊNCIAS
COLLIE, Joanne & SLATER, Stephen. Literature in the Language Classroom – A Resource Book of Ideas and Activities. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. CULLER, Jonathan. Literary Theory - A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 1997. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. HYMES, D.H. Language, culture and society. New York: Harper and Row, 1964. LAZAR, Gillian. Literature and Language Teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. KRAMSCH, Claire. Context and Culture in Language Teaching. Oxford: Oxford University Press, 1993.
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ANEXOS
ANEXO A - Warm - up Activity / Caetano Veloso’s song
London, London
Caetano Veloso
I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go
While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good at least, to live and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree
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While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky (2x)
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44739/
ANEXO B – Phillis Wheatley’s Biography
PHILLIS WHEATLEY
Phillis Wheatley was born in Senegal in about 1753. She was captured by
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slave traders and brought to America in 1761. Purchased by John Wheatley,
a tailor from Boston, Phillis was taught to read by one of Wheatley's
daughters. Phillis studied English, Latin and Greek and in 1767 began
writing poetry. Her first poem was published in 1770.
Phillis Wheatley caused a stir in white society when a book of her poetry
was published in England in 1773. At the time, many whites considered
blacks to be inferior. They wondered how a girl brought from Africa at 8
years of age could be reading Latin and writing poetry in the style of the
great English poets of the age by the time she was 12 years of age.
Even though Wheatley lived with a family who recognized her talent and
promoted the publication of her work, the public was highly skeptical.
Wheatley had to be examined by prominent members of Boston society
who finally attested, in a letter to the public, that she was capable of writing
the poems.
Due to that, the assumption about the inferiority of blacks was brought into
question. People believed that Africans were not fully human because they
had no written literature. The fact that African literature followed an oral,
rather than written, tradition was ignored. Whether or not her poetry
convinced people otherwise, Wheatley's writing was well received.
Wheatley was the first American woman and the first black writer to
publish a book in North America. Phillis was the name of the boat that
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brought her to America; Wheatley was the surname of her master. She died
in Boston, in 1784.
http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/USASwheatley.html
ANEXO C – Phillis Wheatley’s Poem “On Being Brought from Africa to America”
On Being Brought from Africa to America
Phillis Wheatley
'TWAS mercy brought me from my Pagan land,
Tought me benighted soul to understand
That there's a God, that there's a Saviour too:
Once I redemption neither sought nor knew.
Some view our sable race with scornful eye,
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"Their colour is a diabolic die."
Remember, Christians, Negros, black Cain,
May be refin'd, and join th' angelic train.
http://www.theotherpages.org/poems/2001/wheatley0101.html
©2001 Poets' Corner Editorial Staff, All Rights Reserved Worldwide
ANEXO D – Grace Nichols’ Biography
GRACE NICHOLS
Photo: © Penguin
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Grace Nichols was born in Georgetown, Guyana, in 1950 and grew up in a
small country village on the Guyanese coast. She moved to the city with her
family when she was eight, an experience central to her first novel, Whole
of a Morning Sky (1986), set in 1960s Guyana in the middle of the country's
struggle for independence.
She worked as a teacher and journalist and, as part of a Diploma in
Communications at the University of Guyana, spent time in some of the
most remote areas of Guyana, a period that influenced her writings and
initiated a strong interest in Guyanese folk tales, Amerindian myths and the
South American civilisations of the Aztec and Inca. She has lived in the UK
since 1977.
Her first poetry collection, I is a Long-Memoried Woman, was published in
1983. The book won the Commonwealth Poetry Prize and a subsequent
film adaptation of the book was awarded a gold medal at the International
Film and Television Festival of New York. The book was also dramatised
for radio by the BBC. Subsequent poetry collections include The Fat Black
Woman's Poems (1984), Lazy Thoughts of a Lazy Woman (1989), and
Sunris (1996). She also writes books for children, inspired predominantly
by Guyanese folklore and Amerindian legends, including Come on into My
Tropical Garden (1988) and Give Yourself a Hug (1994). Everybody Got A
Gift (2005) which includes new and selected poems.
Her most recent collection is Startling the Flying Fish (2006), poems which
tell the story of the Caribbean.
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She lives in England with her partner, the poet John Agard.
Author Profile - www.contemporarywriters.com
Wednesday, January 23, 2008. Copyright © Booktrust, British Council, the
authors, the photographers. Produced by the Literature Department of the British Council in association
with Booktrust.
ANEXO E – Grace Nichols’ Poem “The Fat Black Woman Goes Shopping”
The Fat Black Woman Goes Shopping
Grace Nichols
Shopping in London winter
is a real drag for the fat black woman
going from store to store
in search of accommodating clothes
and de weather so cold
Look at the frozen thin mannequins
fixing her with grin
and de pretty face salesgals
exchanging slimming glances
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thinking she don’t notice
Lord is aggravating
Nothing soft and bright and billowing
to flow like breezy sunlight
when she walking
The fat black woman curses in Swahili/Yoruba
and nation language under her breathing
all this journeying and journeying
The fat black woman could only conclude
that when it come to fashion
the choice is lean
Nothing much beyond size 14
http://www.pearsonpublishing.co.uk/education/samples/S_493419.pdf
Reproduced with permission of Curtis Brown Ltd, London on behalf of
Grace Nichols. Copyright © Grace Nichols 1984
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Activity on Phillis Wheatley’s Poem
ACTIVITY ON THE POEM
ON BEING BROUGHT FROM AFRICA TO AMERICA
by
PHILLIS WHEATLEY
1- What were your first impressions about the poem? 2- Did you like it? Why (not)?
3- Why does the author make use of some words in italics? Discuss
such usage.
4- Comment on the use of the words God and Saviour. Are they related in a way?
5- What do you think the author meant by using the word benighted?
6- Who is the author referring to when she uses the word some? 7- “Their color is a diabolic die”. Who says so and why? 8- Comment on the use of the imperative Remember. 9- What could you learn from the poem?
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APÊNDICE B – Activity on Grace Nichols’ Poem
ACTIVITY ON THE POEM
THE FAT BLACK WOMAN GOES SHOPPING
by
GRACE NICHOLS
1- What were your first impressions about the poem? 2- Did you like it? Why (not)?
3- List some of the words and phrases the author uses to describe the
background of the poem. 4- Is there any relation between the fat black woman and the weather
in the poem? If so, is it important? Why?
5- Does the fat black woman experience any sort of prejudice? Where can we find it in the poem?
6- Comment on the fat black woman’s response to the salesgirl.
7- Spot the grammatical mistakes that can be found in the poem and explain what the author wants to convey by using them.
8- Comment on the use of the word journeying in the text. What does
the author really mean?
9- What do the two texts analysed have in common? In
what way are they related to Caetano Veloso’s song?
Justify your answer.
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O BRASIL DAS INCOERÊNCIAS
Professor Edílson de Araújo Santos - (Matemática – FJAV)
Deve pagar imposto quem tem condições e pode ajudar a quem
nada tem. Deve pagar mais impostos, quem tem mais – que grandeza
tributária! Imediatamente vem a pergunta: Que país é esse? No nosso país
as coisas são diferentes, ou seja, quem tem muito não paga nada, paga
pouco, sonega, cria fundações fantasmas, recebe incentivos fiscais ou ajuda
internacional. No país do carnaval e do Lula cria-se um imposto a cada
sessão parlamentar, através de medidas provisórias, que não deixa de ser
um Decreto – Lei (AI-5 e cia.) disfarçada, muito usada no regime militar de
64. Vamos citar algumas aberrações tributarias: cria-se um imposto
compulsório sobre combustíveis, carros novos e viagens internacionais, que
nunca será devolvido, e qual a finalidade? Cria-se uma CPMF que se dizia
provisória e que já estava a caducar, para financiar a saúde, e no fim se
descobre que não foi nada disso, foi apenas para reforçar o caixa do
governo, pois a saúde continua em estado terminal nas UTI´s das cidades
deste imenso manicômio chamado Brasil. E agora, depois de prorrogar o
prazo de contribuição da dita cuja e aumentando o seu percentual de 0,30%
para 0,38% dando como justificativa a criação de Fundo de Apoio a
Pobreza – pelas experiências anteriores foi mais um engodo contra o povo,
que continua de mal a pior, mas a CPMF foi extinta por uma discursão entre
o governo e a oposição. Hoje o governo Lula envia uma nova proposta de
se criar não a CPMF mais sim um outro imposto que tenha a mesma
finalidade da anterior com uma taxa de 0,1%.
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Foi criado o FGTS para beneficiar o trabalhador, assegurar uma
velhice tranqüila, porém com esse dinheiro o governo constrói casas
populares, via BNH, hoje com a CEF, mas quando o fundo quebrar, o
trabalhador terá que arcar com o prejuízo. Foi criado o INSS para cuidar da
previdência social, e o que acontece? Para cada rombo que surge, por culpa
da desonestidade e corrupção de funcionários, auditores e juízes, o
trabalhador é taxado mais e mais, e o rombo continua, e os fraudadores se
multiplicam e se especializam. E quando por acaso, alguns são presos, o
dinheiro não volta na sua totalidade aos cofres públicos, raramente os bens
são confiscados, e a vida continua.
Privatizam-se empresas estatais viáveis, competentes, leiloadas a
preços mínimos, e o dinheiro se evapora, e as dividas externa e interna
continua a níveis estratosféricos, tudo em nome de um neoliberalismo
tupiniquim. As empresas estatais, órgãos públicos, ministérios, governos
estaduais e municipais terceirizam seus serviços, alguns essenciais, visando
torna-se mais eficientes – mas pura ilusão! Ou será que fazem de má fé,
para beneficiar amigos e correligionários? Pois tudo continua como estava
antes, ou pior – péssimo serviço, altos custos e total desrespeito á população
e nenhuma economia para os órgãos ou empresas publicas. Criaram uma
Lei de Incentivo á Cultura (Lei Sarney) – mas que cultura? Da soja, do café
ou da chuchu? Porque obrigar um pai da família a por o filho na escola, sob
pena de punição em troca de R$ 90,00 por mês, é piada de mau gosto.
Impedir que se faça dedução no imposto de renda, com gastos referentes á
compra de livros técnicos, cursos de informática e idiomas, são realmente
de deixar o mundo civilizado de queixo caído com tanto incentivo á tal
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cultura e educação. Mas nem tudo esta perdido – o credito educativo é
oferecido a estudantes carentes, a juros de mercados, sem carência e o
formando começa a pagar – ló um ano após a formatura. Pergunta-se: Com
que emprego com que experiência profissional irá pagar o debito? É uma
piada não?
A tabela do imposto de renda foi reformada, enquanto isso o salário
mínimo aumenta todo ano, a inflação continua existindo. Enquanto isso, a
Receita Federal comemora recordes de arrecadação. Com a tabela nova,
sem aceitar as deduções acima citadas e outras que fogem ao meu
conhecimento, precisa ser muito inteligente para perceber quem esta
pagando a conta? Mas o combate à sonegação fiscal, aos grandes
empresários, aos CPF´s fantasmas, ao caixa 2 das empresas, não passa de
cena e papo de vendedor de ilusões. O que é notório e incontestável é que o
trabalhador continua carregando esse país nas costas – desde o inicio
do´plano Real que o homem do campo juntamente com os demais
trabalhadores assalariado tem dado o sangue para manter viva a esperança
de dias melhores. Os trabalhadores carregam um bando de ociosos e mal
intencionados, nas repartições publicas, nos governos, no sistema financeiro
e um congresso, que quando faz alguma coisa é quase sempre causa própria
e fins escusos, sobrando migalhas para o povo, e ainda tem o desplante de
ficarem a lavar a roupa suja, fruto de suas maracutais, na frente de toda
população pacata e submissa.
E os desmandos continuam – a insegurança, o desemprego, e o
povo a perder a paciência e a esperança de dias melhores para si, sua
família e para as futuras gerações, pois como as coisas estão e com as
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mentes dominantes que temos, o futuro é incerto e tenebroso. O Brasil
passa por uma serie crise de identidade, de honestidade, de
responsabilidade, de valores morais, com carência de cidadãos
comprometidos com o social, com a segurança, com a saúde, com a
educação, com a habitação popular. A fome e a miséria deste país, rico para
uns e miserável para a grande maioria de sua população, que é sofrida,
carente e marginalizada é incontestável, desumano. Dizer que este país é
serio, tem futuro promissor e que estamos há um passo do primeiro mundo,
é na melhor das hipóteses, na melhor das intenções quererem alienar a
todos, ou então querer levar o primeiro mundo para a´idade da pedra.
A pergunta que se faz é a seguinte: Até quando o povo brasileiro
vai continuar sofrendo, chorando, torcendo pela seleção brasileira e
brincando carnaval o ano inteiro, lembrando os velhos costumes romanos?
Até quando continuará elegendo e sustentando os corruptos e insanos? Seria
cômico se não fosse trágico e tendencioso – a receita federal impede a
dedução no imposto de renda, gastos com a compra de óculos, aparelhos de
surdez e compra de remédios – Será que se encontra critico mais
conveniente: cego, surdo e doente? Enfim, até quando o cidadão vai
continuar pagando o pato. Alias, pagar o pato é redundância, pois o
trabalhador vai continuar sendo o pato, o avestruz e até o vira-lata nas mãos
deste governo pobre de decisões, pobre de credibilidade e rico de
desilusões.
Se a esperança é a ultima que morre, já podemos ministrar a
extrema-unção para o povo brasileiro e desejar uma grata acolhida junto ao
criador.
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AVALIAÇÃO DOS CAPSAICINÓIDES EM PIMENTAS MALAGUETA
João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Email: [email protected].
Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe E-mail: [email protected].
Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos; E-mail: [email protected].
RESUMO O cultivo de pimentas malagueta (Capsicum spp) para aplicação na indústria de alimentos vem crescendo a cada ano, tornando uma atividade bastante rentável economicamente. O sabor picante dos frutos provém da ação de uma substância denominada capsaícina que é acumulada pelas plantas no tecido da superfície da placenta e é liberada pelo dano físico às células quando se extraem sementes ou corta-se o fruto para qualquer fim. O objetivo deste trabalho foi verificar a ardência em pimentas malaguetas por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Palavras-chave: capsaicinóides, processo; análises.
ABSTRACT EVALUATION OF CAPSAICINOIDS IN PEPPERS MALAGUETA. The cultivation of peppers malagueta (Capsicum spp) for application in the industry of foods comes growing to every year, turning a quite profitable activity economically. The spicy flavor of the fruits is the action of a substance denominated capsaicin that is accumulated by the plants in the fabric of the surface of the placent and it is liberated by the physical damage to the cells when seeds are extracted or the fruit is cut for any end. The objective of this work went verify to capsaicin in peppers malaguetas high performance liquid chromatography (HPLC). Keywords: capsaicinoids; process; analyses.
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INTRODUÇÃO
A indústria de processamento de hortaliças vêm apresentando
importância crescente no mercado nacional, pelas suas características de
alta produtividade, alta rentabilidade por área e por unidade de capital
investido, além de sua importância social1.
A pimenta-malagueta (Capsicum ssp) é um arbusto pequeno
pertencente a família das solanáceas, nativo de regiões tropicais e muito
cultivada no Brasil. O arbusto possui flores alvas e frutos vermelhos
bastante picantes, utilizados como condimento e excitantes do aparelho
digestivos, sendo utilizados na América Latina desde a época pre-
hispánica2. A principal característica do fruto da pimenta é a pungência,
conferida por substâncias alcalóides denominados capsaicinóides dos quais,
aproximadamente, 90% encontram-se na placenta dos frutos3 citado por4.
Os principais capsaicinóides encontrados na pimenta malagueta são
os seguintes:
Capsaicina
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Dihidrocapsaicina
Nordihidroxicapsaicina
A indústria de processamento de pimenta é um mercado ascendente
em volume e importância. Os diferentes tipos de pimentas apresentam
diversas formas de preparo e de consumo, sendo uma das hortaliças mais
versáteis para a indústria de alimentos. As pimentas doces e picantes podem
ser processadas na forma de pó, flocos, picles, escabeches, molhos líquidos,
conservas de frutos inteiros, geléias e etc. As pimentas picantes ainda são
utilizadas pela indústria farmacêutica e também pela indústria de
cosméticos5. Trazem ainda benefícios para a saúde por sua atividade
antioxidante e anticancerígena6,8.
No Estado de Sergipe, especificamente no município de Lagarto,
atualmente o cultivo de pimenta-malagueta (Capsicum frutescens L.) é uma
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atividade bastante rentável de grande importância sócio-econômica.
Contribuindo como fonte geradora de renda e sustentabilidade da atividade
rural.
O presente trabalho teve por objetivo quantificar os capsaicinóides
presente em pimentas malagueta após trinta dias de maturação em solução
de cloreto de sódio na concentração de 12%.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análises Físico-
química da Maratá Sucos do Nordeste Ltda e no Laboratório de Tecnologia
de Alimentos-UFS.
Matéria-prima
A matéria-prima foi pimentas malagueta, utilizadas para a produção
de molhos. Os lotes de sementes de pimenta malagueta foram adquiridos
dos produtores do Município de Lagarto-SE. Após a recepção, cada lote de
semente foi homogeneizado com 12% de cloreto de sódio e em seguida
triturado em moinho de martelo. Nesta etapa foram coletadas amostras para
análise dos capsaicinóides.
Cromatografia líquida de alta eficiência
Os cromatogramas dos capsaicinóides foram obtidos utilizando-se
um cromatógrafo líquido constituído por conjunto de bombeamento
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quaternário de solvente, da marca VARIAN STAR, detector de arranjo de
diodos e injetor Rheodyne (loop de 20µL). Foi usada uma coluna
OMNISPHER 5 C18 (250 x 4,6mm) com partícula de 5µm e pré-coluna
ChoromSep Guard Columm SS (10 x 3mm), fase móvel constituída de
acetronitrila e água, com ácido acético 2% (80:20, v/v), desenvolvido
isocraticamente a um fluxo de 1mL/min, tempo de corrida de 30min e
comprimento de onda de 460nm; todos os solventes e grau cromatográfico
foram previamente filtrados em membrana de 0,45µm antes de serem
utilizados no equipamento7,9 .
Foram pesados com precisão 0,0200g de cada amostra e
adicionados 5mL de acetona para facilitar a solubilidade do pigmento.
Transferiram-se as amostras para balão volumétrico de 50mL completando-
se com acetronitrila. Antes da análise por CLAE, as amostras foram
filtradas em membrana de 0,45µm e acondicionadas em vials de cor âmbar.
O padrão de capsaícina utilizado neste trabalho foi fornecido pela
Sigma-Aldrich.
Os resultados da quantificação dos capsaicinóides presentes nas
pimentas malagueta utilizado foi unidade de Scoville de calor (SHU). Essa
é a unidade mais empregada para quantificação de ardência em pimentas.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1 se encontram os resultados dos teores de ardência
(SHU) obtidos para as sementes de pimentas malagueta utilizadas no
presente estudo. Os resultados indicam que a ardência decresce
significativamente em função do período de amostragem. Estes resultados
comprovam os apresentados por10, que comparou a produção de capsaicina
em pimentas da espécie Capsicum annuum L. var. annuum quando
submetidas a condições de ausência de água e observou que as plantas
mantidas em tratamento de déficit de água apresentaram maiores
concentrações de capsaicinóides em relação às amostras mantidas em
condições normais de desenvolvimento.
Jan Fev Mar Abr Mai
20000
24000
28000
32000
36000
40000
Expeimental Ajuste polinomial
SHU=42336,94-2725,82*Mêses-134,40*(Mêses)2
R2=98,44%
SHU
Mêses
Figura 1. Ardência de pimentas durante período de cinco meses.
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Os experimentos de cromatografia líquida de alta eficiência tiveram
como finalidade avaliar as variações das concentrações de capsaicinóides
em função do período de amostragem. Na Figura 2 estão apresentados os
cromatogramas das amostras estudadas. Observou-se que em todas as
amostras foram detectadas as presenças dos três picos correspondentes a
capsaicina, nordihidroxicapsaicina e dihidrocapsaicina. Relata-se também
que o principal componente de ardência das pimentas malagueta é a
capsaicina.
Figura 2. Cromatogramas de pimentas durante período de cinco meses.
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CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos na quantificação de capsaicinóides
em pimentas malagueta, conclui-se que:
1. A quantidade da ardência nas pimentas malagueta depende do
período em que são colhidas. Os melhores resultados foram obtidos
no período de Janeiro a Março.
2. Por cromatografia líquida de alta eficiência possibilitou quantificar
os capsaicinóides presentes nas pimentas, sendo a capsaicina a
substância em maior quantidade.
REFERÊNCIAS
1. TORRES, S.B. Envelhecimento acelerado em sementes de pimenta-
malagueta (Capsicum frutescens L.). Revista Ciência Agronômica, v.36,
n.1, p.98-104, 2005.
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2. NUNES, C. & RIBEIRO, N. Análise de pigmentos de pimenta malagueta
por cromatografia em papel. II Congresso de Pesquisa e Inovação da
Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, João Pessoa – PB, 2007.
3. ISHIKAWA, K.; JANOS, T.; SAKAMOTO, S.; NUNOMOURA O. The
contents of capsaicinoids ant their phenolic intermediates in the various
tissues of plants of Capsimum annuum. Capsicum and Eggplant
Newsletter, v.17, p.22-25, 1998.
4. WAGNER, C.M. Variabilidade e base genética da pungência e de
caracteres do fruto: implicações no melhoramento de uma população de
Capsicum annuum L. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo,
Piracicaba-SP, 104.p, 2003.
5. HENZ, G.P. & COSTA, C.S.R. Como produzir pimenta Embrapa
Hortaliças. Embrapa Hortaliças e Frutas, nº 33, 7.p, 2005.
6. BIANCHINI, R.; PENTEADO, M. V. C. Carotenóides de pimentões
amarelos (Capsicum annuum L.). Caracterização e verificação de mudanças
com o cozimento. Ciência e Tecnologia dos Alimentos, 18 (3), 1998.
7. Parris, M. Liquid chromatographic method for determining capsaicinoids
in Capsicum and their extractives. Collaborative study. J. AOAC-ASTA
int. 79 (3): 738, 1996.
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8. TOFANELLI, M.B.D.; AMAYA-ROBLES, J.E.; RODRIGUES, J.D.;
ONO, E.O. Ácido giberélico na produção de frutos partenocárpicos de
pimenta. Horticultura Brasileira, v.21, n.1, p.116-118, 2003.
9. Cázares-Sánchez, E.; Ramírez-Vallejo, P.; Castillo-González, F.; Soto-
Hernández R. M.; Rodríguez-González, M. T. e Chávez-Servia, J. L.
Capsaicinoides y preferencia de uso en diferentes morfotipos de chile
(capsicum annuum l.) del centro-oriente de Yucatán. Agrociencia. n.39,
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10. SUNG, Y., CHANG, Y. e TING, N. Capsaicin biosynthesis in water-stressed hot pepper fruits. Botanical Bulletin of Academia Sinica. n. 46, p. 35-42, 2005.
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CIDADE E MODOS DE VIDA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS EM ARACAJU
Alysson Cristian Rocha Souza
Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia das Cidades pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisador do Laboratório de Estudos Urbanos e Culturais – LABEURC e Professor da disciplina Sociologia I do curso de Serviço Social da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. Endereço eletrônico: [email protected]
Resumo Aracaju passou por diversas mudanças no seu território desde o inicio das políticas de habitação iniciada nos anos sessenta. A intervenção do poder público na criação de novos conjuntos habitacionais apresentou uma mudança radical no espaço urbano, isso pôde ser visto no crescimento da população, assim como na localização das camadas sociais após o fim das politicas do Banco Nacional de Habitação, em que teve como resultado: as camadas de baixa renda ficaram situadas na zona norte e noroeste e as camadas de média e alta renda ocupando a zona sul. As transformações espaciais e sociais proporcionaram o surgimento de bairros que afirmaram essa condição. Bairros como Treze de julho, Inácio Barbosa, Atalaia, Grageru, São José e Jardins, entre outros, constituíram as atividades socioculturais antes desenvolvidas no Centro da cidade para a zona sul. Palavras-chave: Aracaju, Bairro Jardins e modos de vida.
A última grande urbanização de Aracaju registrada entre os anos
sessenta e oitenta proporcionou grandes mudanças no espaço e na
sociedade. A começar pela modificação da referência de moradia das elites
do Centro para a Zona Sul, além disso, as transformações socioculturais
proporcionaram a ampliação de serviços e produtos voltados para as
camadas sociais de maior renda. De fato esse desenho de Aracaju das
últimas décadas do século XX pode estar diretamente associada as
migrações provenientes do interior do estado e de outros estados.
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Alguns acontecimentos foram importantes para atribuir a capital
sergipana o estatuto de cidade completamente urbanizada. Um dos
principais fatores se deveu aos planos de Habitação e geração de empregos
desenvolvidos pelo Banco Nacional de Habitação – BNH.
Este programa tinha como objetivo dar soluções para o déficit
habitacional do país, ao mesmo tempo que geraria empregos na área da
construção civil para os mais pobres. No entanto, esse plano acabou
gerando graves problemas urbanos. As cidades escolhidas para tais
intervenções foram as capitais que, por sua vez, não conseguiram
solucionar o problema da falta de habitação e, além disso, assistiu ao
aparecimento de outros problemas urbanos graves como, a violência
urbana, a falta de infra-estrutura e o grande fluxo migratório que provocou
um “inchaço” nessas cidades. Com isso, o aumento da desigualdade social,
desemprego e formação de áreas precárias para a moradia contribuíram para
a fragmentação socio-espacial dessas cidades.
As ações do poder público contribuíram para fortalecer as empresas
imobiliárias e suas ações no espaço urbano, já que estas tinham como trunfo
um conjunto de fatores políticos, econômicos e sociais favoráveis e com
uma demanda efetiva proveniente dos contratos firmados com o Estado. Foi
a partir disso que Aracaju assistiu ao processo de uma nova estratificação
para no seu espaço urbano.
Foi na década de noventa que essa condição se realizou. Segundo
França (1999), “A partir de 1996, o setor imobiliário começa a reagir no
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âmbito nacional e intensificam-se os lançamentos de prédios na cidade.”(p.
190).
A ascensão do mercado imobiliário acompanhou as transformações
sociais e culturais de Aracaju. Isso significa que as intervenções na região
sul e sudoeste da cidade não se deram somente pelo processo de
especulação de suas terras, mas devido à escolha das camadas de maior
renda nesta região da cidade. Isso aconteceu de maneira gradativa e, em
seguida, foi continuada pelos planos de habitação e pelo crescente
desenvolvimento do mercado imobiliário. Com isso, a expansão urbana de
Aracaju ocorreu através da ação gradativa, como no caso do atual bairro
Atalaia, ou através dos agentes do setor imobiliário que adquiriram terrenos
que em décadas seguintes passaram por uma grande valorização.
A seguir propomos uma ampliação da discussão dos conceitos de
urbanização e modos de vida para com isso estabelecer aproximação com o
objeto empírico. Para isso partiremos do argumento de que a urbanização é
um fenômeno social gerado a partir da ação de seus agentes, os mesmos
contribuem para re-organizar o espaço urbano sendo responsáveis pela
construção das paisagens que por sua vez exercem poder. (ZUKIN, 2000b).
URBANIZAÇÃO E MODOS DE VIDA
Segundo Lefebvre (1999), a urbanização é um fenômeno
originalmente impulsionado pela industrialização. Foi através da
industrialização e das suas intervenções que muitas cidades tornaram-se
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sociedades completamente urbanizadas. (LEFEBVRE, 1999). A expansão
das atividades econômicas, principalmente na produção fabril e na
ampliação do comércio, e a densidade demográfica foram fatores
importantes para o surgimento de distintos modos de vida. Para esse autor,
a urbanização ganha independência em relação a industrialização.
Segundo Nunes (s/d),
A ênfase que estamos dando ao caráter urbano a tal transformação está ligada a nossa concepção de ‘urbano’ entendido mais como um fenômeno cultural do que propriamente espacial/territorial (Pechman, 1991). Assim, estamos considerando que são nas cidades (manifestação concreta do urbano) que novos modos de vida se gestam e a cultura daí decorrente se transforma em paradigma de uma cultura universal abrangendo também o campo. (p. 01).
As diferenças entre campo e cidade são definidas a partir da
constituição dos seus modos de vida. Os atores sociais dessas duas
expressões sociais da humanidade atribuem sentidos a seus respectivos
espaços, em que constituem cosmovisões, fundamentadas, relações de
interação social e de identificação. Os atores sociais urbanos, focos
principais desse artigo, vivenciam a cidade atribuindo a ela sentido.
O urbanismo racionalizador e higienista, herança da emblemática
intervenção parisiense do século XIX, inaugurou uma etapa de disposição
fragmentada das camadas sociais no espaço urbano. Da mesma forma que
contribuíram para construir significados diferenciados nas sociabilidades
públicas e nos modos de viver.
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Wirth (1997) e Park (1979) investigaram o crescimento das cidades
sob a ótica dos grupos sociais e seus modos de viver. A densidade
demográfica fazia das cidades grandes aglomerados urbanos proporcionava
o surgimento de práticas e comportamentos sociais em toda a sua extensão.
Com isso, a presença de uma cultura urbana se diferenciava do estilo de
vida do campo sob o aspecto territorial e social, sendo definida como
“Ecologia Humana”. Esse conceito diz respeito ao desenvolvimento dos
modos de vida em uma forma de organização social que se diferencia da
vida em comunidade por aspectos de dimensão territoria e populacional,
fatores quantitativos, mas principalmente por características diversas no
tocante a reunião de diferenciados grupos sociais e étnicos, fatores
qualitativos. Segundo Park (1979), “... a cidade não é meramente um
mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos
vitais das pessoas que a compõem é um produto da natureza, e
particularmente da natureza humana”. (p. 26).
As experiências urbanas contemporâneas representadas pelas
políticas de enobrecimento constituem uma realidade fragmentada para as
cidades, já que a constituição desses espaços está regida pela lógica de
mercado marcada pela constituição de símbolos que identificam as camadas
sociais de maior renda.
Segundo Zukin (2000b),
processo de melhoramento urbano e de deslocamento devido à ação do mercado privado e não ao planejamento do Estado
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é denominado ‘enobrecimento’. (...) o ‘enobrecimento é um processo que resulta num mercado imobiliário em torno do ‘lugar’ de diversidade social e cultural criado por artistas, intelectuais e classes trabalhadoras. Numa paisagem cada vez mais homogênea, a diversidade tem valor de mercado. (p. 108).
As políticas de enobrecimento acompanham essas modificações,
uma vez que os valores culturais da classe média e alta são o seu principal
foco. Junto a isso está a crescente necessidade de equipamentos de controle
social, responsáveis pelo desenvolvimento asséptico das sociabilidades.
Segundo Caldeira (2000), atualmente as políticas de segregação
socio-espacial apontam para a construção de símbolos de status. Esses
fazem parte de um processo que possui como critérios a constituição de
espaços de distinção social que afirmam essa condição através da
coadunação de símbolos. Sendo assim, “...o uso de meios literais de
separação é complementado por uma elaboração simbólica que transforma
enclausuramento, isolamento, restrição e vigilância em símbolos de
status...” (CALDEIRA, 2000, p. 259).
Nunes (s/d) complementa
Em Weber, o lugar social e mesmo o destino dos homens está determinado por uma estima social, de honra, onde – conforme já explicitado – nem sempre a propriedade joga um papel chave. Em outras palavras, pessoas com propriedade e pessoas sem propriedade podem pertencer ao mesmo grupo de status, desde que gozem de uma honra social comum. Esta honra advinda do status está ligada à semelhança de estilos de vida comum aos indivíduos participantes e que impõem aos
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que desejam entrar no círculo a adaptação de seus estilos de vida àquele grupo. (p. 07).
Segundo Zukin (2000b), a construção de paisagens de poder nas
cidades são a combinação entre política e cultura. Ou seja, as ações dos
poderosos modificam o espaço a partir da impressão de marcas e usos, os
quais constroem a sua identificação fundamentada na distinção. Desse
modo, as intervenções enobrecedoras atribuem símbolos às paisagens que
por sua vez passam a representar estilos de vida. A construção desses
sentidos se impõem diante de outros grupos sociais e seus usos, segundo
Zukin (2000a, 2000b), através da paisagem. De acordo com essa
interpretação o espaço construído possui forte influência na apropriação do
grupo, pois é através desse que os usos vão sendo definidos e as fronteiras
proporcionalmente se erguem selecionando os usuários do mesmo.
A formação de áreas enobrecidas expressa a apropriação de
usuários a uma determinada região da cidade. A sua imagem é construída a
partir do investimento econômico ou da afirmação do valor cultural o valor
cultural. Portanto, a constituição de “paisagens de poder” são a expressão
dessas políticas, onde o “vernacular”, os sem poder, são retirados do
espaço, pois não coadunam com a paisagem enobrecida.
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URBANIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM ARACAJU
As políticas de habitação promovidas pelo Estado a partir dos anos
sessenta resultaram na fragmentação do espaço urbano de Aracaju. A
construção de conjuntos habitacionais para além da malha urbana
contribuiu para o aumento da especulação imobiliária, pois, entre esses
conjuntos se formaram grandes terrenos, cujas intervenções se deram em
maior instância a partir dos anos noventa pelo setor privado na região sul da
cidade. Essas iniciativas contribuíram para impulsionar a mobilidade dos
grupos sociais mais abastados para a zona sul, tomando essa região como
espaço para o desenvolvimento dos seus modos de vida.
A valorização dessa região fomentou a formação de paisagens
constituídas por prédios de luxo e serviços voltados para os grupos sociais
que passou a ser predominante na região. Proporcionalmente a essa
transformação o Centro foi perdendo a sua condição histórica de ponto de
moradia e atividades sócio-culturais das elites aracajuanas cedendo lugar
para um comércio popular e de pouco interesse para as classes média e alta.
Desde que foi elevada a capital do Estado na metade do século
XIX, o Centro sempre foi o foco principal do poder político, econômico e
cultural da cidade. De onde partiu o primeiro plano urbanístico da cidade e
de onde partiam os códigos de postura, ou de como eram deveriam ser
definidas os comportamentos de quem vivia no perímetro planejado. O
primeiro plano urbanístico realizado em Aracaju foi realizado pelo
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engenheiro Sebastião Pirro que dispôs as ruas do centro semelhante a um
tabuleiro de xadrez.
Foi nessa localidade que foram definidas fronteiras a partir de
sanções que concederam a esta área a apropriação simbólica por parte
desses grupos sociais. Definidas tanto pela valorização de seus terrenos
como pelas normas de uso das intervenções ocorridas. Desta forma, pode-se
inferir que essas transformações reforçavam a presença das elites
aracajuanas no Centro, pois era neste que estes grupos sociais desenvolviam
os seus modos de vida.
As intervenções realizadas no Centro, por exemplo, visavam
construir espaços em que as atividades sociais e culturais reunissem em
torno das marcas simbólicas, formas contíguas de sociabilidades. Com isso,
a construção do mercado Tales Ferraz e do Hotel Palace procuraram passar
a cidade uma imagem moderna tanto no aspecto físico como nas atividades
sócio-culturais. Junto a isso estava o status constituído através da
diferenciação do restante da cidade.
Segundo Lima (2002),
...a aclamada modernização aracajuana perpassou-se muito mais no desejo de suas elites, as quais proveram meios de anunciar as melhorias urbanas como elementos identificadores do “novo” e do “moderno”, do que propriamente na transformação de Aracaju numa cidade socialmente mais homogênea e melhor munida de serviços públicos básicos como saneamento,
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transporte, iluminação, arborização, entre outros. (p. 198).
A busca por símbolos que atribuíssem uma face moderna ao centro
consistia na apropriação do Centro através de marcas físicas e culturais
reconhecidas por seus usuários. No entanto, o estatuto de centralidade
única se viu ameaçada nas três décadas em que a capital sergipana viu sua
população quadruplicar passando de uma cidade com áreas rurais para uma
realidade completamente urbana. Durante essa experiência surgiram áreas
de forte influência econômicas e sociais, originadas por fluxos espontâneos
da população de maior renda que já possuíam terrenos ou habitações
naquela região, obtidos pelos planos habitacionais ou por conta própria.
Neste sentido, a distribuição de grupos sociais pelo espaço urbano
se deu de forma fragmentada gerando a constituição gradativa da
desigualdade social e espacial. Durante este período Aracaju viu o seu
espaço urbano dividir-se da seguinte forma: as camadas de baixa renda se
concentraram no Norte e Noroeste da cidade enquanto na zona sul e
sudoeste concentraram-se as camadas de média e alta renda.
A criação do Banco Nacional de Habitação – BNH não conseguiu
cumprir seus objetivos de sanar o déficit habitacional. As construções de
casas e conjuntos habitacionais movimentou o setor da construção civil e
impulsionou o aparecimento de empresas do setor imobiliário. Segundo
Campos (2006), a “...ampliação do número de empresas de construção civil,
que passa de 18 empresas locais na década de 70 para 174 no inicio de 90”,
muitas delas constituídas por capitais regionais e estrangeiros...” (p. 237).
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A decadência dos planos desenvolvidos pelo poder público se deu
no final dos anos oitenta. Segundo Campos (2006),
Após a extinção do BNH, quando parte de suas atribuições foram transferidas para a Caixa econômica Federal, as criticas que foram impostas, principalmente com respeito à qualidade e ao elevado custo dos investimentos e sua representatividade quanto á redução do déficit habitacional em relação ao período anterior, caracterizam-no como grande fracasso da história política recente do Brasil. (p. 229).
Conjuntos e bairros passaram rapidamente a situar as atividades
econômicas e os grupos sociais na região sul. Deste modo, a urbanização
compreendida no período entre os anos sessenta e anos noventa contribuiu
para fortalecer o mercado imobiliário e constituir centralidades. As
centralidades consistem na adaptação da cidade a parâmetros
modernizadores, por sua vez, influenciados por fluxos econômicos globais,
ao mesmo tempo que disciplinam os usos e seus usuários.
Segundo Frugoli Júnior (2000),
...O processo de expansão metropolitana, portanto, torna a questão da centralidade ainda mais complexa. Em alguns casos, os subcentros guardam certas relações de complementaridade com o núcleo central, nos passam muitas vezes a competir economicamente de forma mais acirrada com o centro tradicional, de modo a se tornarem ou almejarem se tornar os “novos centros”. Isso se dá, em particular, pela lógica dessa expansão, que acarreta muitas vezes a fuga de empresas
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para os subcentros e a deteriorização urbana do núcleo original, concomitantemente à mudança na composição social da população que passa a habitar este último, marcada pela forte presença das classes populares. (p. 26).
Os motivos desse deslocamento e da apropriação cultural da zona
sul pelas camadas de média e alta renda se deram através da combinação
entre as ações do poder público sobre o espaço urbano e a apropriação
cultural das camadas de média e alta renda no lado sul.
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO ARACAJU 1960 – 2000
ANOS POPULAÇÃO
URBANA
POPULAÇÃO
RURAL TOTAL
1960 112.500 3.213 115.713
1970 179.276 4.394 183.670
1980 287.900 5.200 293.100
1991 402.341 - 402.341
1996 428.194 - 428.194
2000 461.534 - 461.534
Fonte: Anuário Estatístico da Prefeitura Municipal de Aracaju (Secretaria Municipal de Planejamento) 2005.
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O desinteresse das camadas sociais de maior renda pelo Centro
tradicional representou a incompatibilidade simbólica desses grupos com o
espaço. Para Loureiro (1983), o principal motivo para o seu deslocamento
está associado à queda da qualidade de vida, ou seja, a “poluição
atmosférica, sonora, congestionamento de tráfego, etc.” (p. 81).
A busca por áreas mais amenas e tranqüilas convergia para a zona
sul, devido a reunião de alguns elementos atrativos como às condições
climáticas, a proximidade da praia e a distância das “insalubridades” da
cidade. Com isso, o Centro foi se tornando uma área de concentração
comercial, serviços e consumo popular. A mobilidade das populações de
melhor poder aquisitivo que residiam no Centro foram para bairros situados
na zona sul e sudoeste da cidade: Grageru, Jardins, Treze de Julho, São
José, Salgado Filho e Luzia (SOUZA, 2004, p. 34).
Toda zona sul passou por processos de substituição das suas
populações. A urbanização colocou essas populações em dias com as
condições de vivência com uma cidade urbanizada, não apenas pela
infraestrutura e outros equipamentos urbanos, mas principalmente pelas
condições de trabalho e modificação nas suas formas de viver.
O enobrecimento dessa região se deu a partir da substituição dessas
comunidades e de suas atividades como pode ser visto no relato de Ribeiro
(1989):
Os bairros São José e a praia Treze de Julho transformaram-se em eixo do setor elegante da cidade. Estes bairros tiveram desenvolvimento rápido, quase exclusivamente por grupos da classe média/alta e da classe alta, que iam em busca de amenidades e, nesse processo, expulsavam os antigos ocupantes – os pescadores. (p. 49).
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Os bairros Atalaia e Coroa do Meio eram também constituídos
predominantemente por colônias de pescadores que a partir do avanço da
urbanização viu esta população ser expulsa e, em consequência, a
decadência da atividade pesqueira (SILVA, 2001).
A ação da valorização do uso do solo no bairro Atalaia contribuiu
para a expulsão dos moradores pobres do bairro, para dar lugar a uma
população de alta renda, visando a ocupação por parte das camadas de alta
renda como mostra a citação abaixo,
(...) compravam-se as suas casas [dos moradores mais pobres] por preços aviltamente baixos para revendê-las a preço de mercado, forçando muitos moradores nativos a se transferirem para as áreas de mangue. (SILVA, 2001, p. 35).
Processo semelhante ocorreu na Coroa do Meio no final dos anos
oitenta quando da construção do primeiro shopping Riomar. Resultado da
parceria entre a construtora Góes Cohabita S. A. da Bahia e da EMURB
(Empresa Municipal de Urbanização), tinha como estratégia promover a
substituir a população constituída por pescadores por outra de maior renda.
Segundo França (1999), “A construção do shopping Riomar foi também
uma estratégia da EMURB para a ocupação e valorização da Coroa do
Meio, a instalação do shopping atraiu outras atividades comerciais e de
serviços nas suas proximidades para as avenidas Beira-Mar e Francisco
Porto.” (p. 172).
Segundo Ribeiro (1989) a urbanização do espaço urbano aracajuano
durante esse período se dividiu em três etapas. O momento inicial da
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expansão do território através dos conjuntos habitacionais (1964 – 1967);
na fase seguinte, em ritmo crescente, mesmo diante da grande demanda e da
crise na indústria de material de construção (1968 – 1974); e, o período
central para observar o crescimento do setor imobiliário e da construção
civil (1975 – 1981). Nesta etapa Aracaju cresceu em várias direções, tendo
seu ápice em 1981, neste momento o setor da construção civil e o setor
imobiliário cresceram em conjunto com Aracaju. Tanto é que em 1976 as
áreas construídas superaram as de licenciadas, fato que caracterizou,
segundo Ribeiro (1989), como o “período de aburguesamento da cidade”.
Esta informação pode ser verificada na divisão das habitações
realizadas durante o período. Inicialmente essa divisão estava na ordem de
50% para a classe média e 50% para a classe de baixa renda, no entanto,
essa distribuição foi realizada da seguinte forma: classe média (45,6%),
classe alta (32,6%) e a classe popular (21,7%). (RIBEIRO, 1989, p. 64).
A constituição da zona sul como região preferida pelas camadas de
média e alta renda é a expressão contemporânea do desenvolvimento
urbano de Aracaju materializadas pela combinação de moradias, serviços
urbanos e econômicos.
Segundo França (1999),
a consolidação e ampliação da Norcolândia (área pertencente à construtora NORCON, toda verticalizada, situada no bairro Treze de Julho), isto é, a ocupação adensada de uma área moderna e elitizada da cidade. Além disso, se constituirá um outro sub-centro, pois já está em construção um novo shopping, que tem como loja âncora um hipermercado,
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inaugurado nos últimos dias do mês de abril de 1997, considerado o mais moderno do Nordeste. (p. 192).
As intervenções na zona sul continuaram ao longo dos anos noventa
com a construção do bairro Jardins. Este bairro caracterizou-se como o
último grande investimento do setor e potencializando formas de moradia,
consumo e lazer.
É importante destacar que a centralidade do bairro Jardins já era
reforçada em seu processo de construção. Tanto que, as empresas que
realizaram a intervenção ressaltavam os serviços, as lojas, o shopping e a
qualidade de vida que seria morar naquela localidade.
...Surge, então o bairro Jardins, a nova área de ‘viver bem’ na cidade, amplamente divulgada para a classe média e alta com toda a sua Infra-estrutura próxima. De um lado, surgem condomínios financiados pelo Plano Maior, que, a partir de 1995, vem suprir a escassez do sistema financeiro, e, no outro, edifícios mais diferenciados para a população de maior renda da cidade. Além disso, começa, nesta época, a surgir um maior número de particulares, através de condomínios, com a intenção de uma maior liberdade e qualidade de projeto associada a um menor preço. (DINIZ, 2005, p. 115).
A associação do “bem viver” com morar em condomínios passou
pela mudança nos valores culturais da classe média e alta da cidade. Com
isso, a construção dos sentidos perpassou pela afirmação nas sociabilidades
e dos modos de vida desenvolvidos nessa faixa da cidade. A constituição do
bem estar da moradia passa por viver com comodidade, em áreas de clima
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ameno, próximos de serviços e praças de consumo convergentes com as
suas necessidades simbólicas, segurança, espaços de lazer e entretenimento.
A constituição da representação da região sul como região que
converge status se deve a rede de serviços que se desenvolveram naquele
espaço, são escolas, bancos, shoppings centers, hipermercados,
restaurantes, bares, entre outros.
No anúncio de um prédio de luxo a publicidade destaca o status do
empreendimento e da sua localização,
O edifício Premium acertou em cheio em tudo o que você esperava de um empreendimento imobiliário. Ele tem estilo, inovação, sofisticação, acabamento impecável e, para valorizar ainda mais a sua conquista, está na melhor localização da Francisco Porto, bem perto do calçadão da Treze de Julho, de bancos, escolas, hipermercado, shoppings e restaurantes. O Premium é seu por dois motivos: merecimento e sorte de conquistar o apartamento que combina totalmente com o seu estilo de vida.
No anúncio de um outro prédio de classe média localizado no
Bairro Luzia possui a seguinte frase, “No bairro Luzia, próximo de tudo que
você precisa: shopping Jardins, escolas, supermercados como todo conforto
que sua família merece”.
Outra característica que essas empresas oferecem nestas moradias
são a segurança e o lazer. Deste modo, são ressaltadas guaritas, cercas
elétricas, parque infantil, salão de festas, piscina, churrasqueiras, entre
outros.
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BAIRRO JARDINS E CENTRALIDADE
O bairro Jardins foi inaugurado em meados dos anos noventa em
conjunto com um shopping center de mesmo nome. A combinação entre
centro comercial e moradias verticalizadas se configurou como
01 Centro02 Industrial03 Porto D'anta04 Lamarão05 Soledade06 Cidade Nova07 Santo Antônio08 Palestina09 18 do Forte10 Santos Dumont
11 Bugio12 Jardim Centenário13 José Conrado de Araújo14 Olaria15 Novo Paraíso16 Capucho17 América18 Siqueira Campos19 Getúlio Vargas20 Cirurgia
21 Pereira Lobo22 Suissa23 São José24 13 de Julho25 Salgado Filho26 Grageru27 Jardins28 Luzia29 Ponto Novo30 Jabotiana
31 Inácio Barbosa32 São Conrado33 Farolândia34 Coroa do Meio35 Atalaia36 Aeroporto37 Expansão Urbana36 Aeroporto37 Expansão Urbana
0 1100 2200 3300m
N
ARACAJUDIVISÃO DOS BAIRROS
01 02 03
07
08
04
05
0609
10
1112
1416
1513
17
30
2931
33
32
34
36
35
37
28
2627
24
25
22
23
19
1821
20
Mapa de Aracaju com a divisão dos bairros Fonte: Secretaria de Planejamento do Município de Aracaju - SEPLAN.
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empreendimento realizado entre empresas imobiliárias e lojas âncoras do
shopping center Jardins.
O seu território era composto por salinas, sítios e manguezais. Ao
seu redor já existiam residências de classe média como, o conjunto Leite
Neto, os bairros Luzia, Inácio Barbosa, Treze de Julho e Grageru.
O enobrecimento desta área acompanhou a ascensão das empresas
imobiliárias na década de noventa. A concretização das construções
aconteceu em 1997 com propagandas anunciando o surgimento de uma área
nobre na cidade dispondo de um shopping center.
Esta é uma foto geral das obras do PLANO MAIOR em JARDINS, onde está nascendo uma nova Aracaju. Destacamos os 4 primeiros lançamentos, o real Garden (1° prédio já entregue), o Golden Garden, o Victoria Garden e o Regent Garden. Todos os prazos estão sendo cumpridos e é uma satisfação mostrar aos nossos clientes e parceiros a nossa realidade com obras. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV).
Na mesma edição outro informe refere às proximidades do
shopping, neste caso na referente a Avenida Silvio Teixeira,
O residencial Delphinos fica no Grageru, na Avenida Silvio Teixeira, a 100 metros do novo Shopping. Uma localização privilegiada, com todo o conforto que o bairro oferece, num imóvel que tem a garantia de entrega e qualidade COSIL. Um lançamento à altura da sua estrela pessoal. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV)
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Nesse contexto, a formação das “paisagens de poder” (Zukin,
2000b), expressam a afirmação deste segmento social no espaço, o qual
concede um discurso segregador para a cidade. Deste modo, estilos de vida,
formas de consumo, moradias e sociabilidades se relacionam como
características de status.
As residências verticalizadas organizadas em condomínios fechados
é a forma predominante de moradia deste bairro. Guaritas, cercas elétricas,
interfones e áreas de lazer nos espaços intramuros. O acesso ao interior
dessas habitações fica restrito aos seus moradores e àqueles que recebem
autorização desses para a sua entrada.
O bairro Jardins como um dos empreendimentos dessa região já
estava circundado por ocupações e serviços voltados para essas camadas
sociais. Escolas, casas de show, hipermercados, um shopping (Riomar),
restaurantes, bancos, todos esses serviços sempre estiveram relacionados
com os prédios inaugurados na região, desempenhando um papel especifico
de valorização econômica e de status.
As características relativas ao bem estar, tranqüilidade e segurança
se apresentam em expressões dos modos de viver na cidade. Esses modos
de viver estão relacionados a maneira de como esses grupos lidam com o
espaço e como constroem as suas práticas.
A reprodução de áreas públicas como parques, quadras
poliesportivas, salão de festas, piscinas entre outros, reforçam o caráter de
status e de segurança. Os informes publicitários de prédios construídos em
sua proximidade ressaltam a característica de construção de uma outra
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cidade com aspectos econômicos e socioculturais diferenciados de outras
regiões da cidade.
Com o fim do modelo de políticas de habitação no final dos anos
oitenta outras perspectivas foram abertas para o setor imobiliário que por
sua vez passou a comandar as construções para a classe média e alta,
principalmente durante os anos noventa. As grandes empresas do setor que
haviam se estruturado durante o período das políticas de habitação
direconaram seus investimentos para a zona sul da cidade, próximo as praias
e das amenidades climáticas, além dessas o estabelecimento das camadas de
média e alta renda se deu pelo rápido desenvolvimento dos serviços e pela
expansão de suas marcas para uma nova área de valorização da cidade a
Zona de expansão. Esse espaço compreende um conjunto de povoados
localizados na extensão sul da capital. Esta área está sendo bastante
valorizada devido à proximidade com a praia e amenidades climáticas.
De forma semelhante, como ocorreu nos outros bairros da zona sul,
esse espaço desenvolveu formas de moradia para a classe média.
Diferentemente das moradias da zona sul que registraram o adensamento de
condomínios verticalizados fechados (DINIZ, 2005).
Embora existam casas de veraneio, condomínios fechados e outras
formas de moradia, a predominância ainda são as atividades das
comunidades pesqueiras. No entanto, muitos serviços como supermercados
e condomínios de luxo já podem ser encontrados naquela região. Alguns dos
fatores que são tomados como atrativos expostos pelos anúncios das
construtoras sã a tranqüilidade e o lazer, esses aliados a segurança
configuram alguns dos valores explorados por essas empresas para atrair as
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camadas de média e alta renda. Para Caldeira (2000, p.264) “Os anúncios
usam um repertorio de imagens e valores que fala à sensibilidade e fantasia
das pessoas, a fim de atingir seus desejos”.
Segundo França (2005), existiam até o ano de 2004 vinte e nove
condomínios horizontais na Zona de Expansão. Neste trabalho, a autora
investigou a condição de auto-segregação dos grupos que escolhem este tipo
de moradia o qual destaca como categoria que delimita uma continuidade
desse status de viver na zona sul, onde o isolamento e a segurança são os
principais motivos.
A busca pela qualidade de vida oferecida pelos condomínios
fechados segue a condição de refúgio que essas moradias ganham em
relação aos “perigos” da cidade. Segundo França (2005), “A idéia principal
da publicidade dos condomínios fechados vem sendo atrelada à intenção de
mostrar os incômodos causados pelos problemas urbanos, como barulho e a
violência”. (p. 216).
Portanto, ainda é continua a investida das camadas sociais de média
e alta renda em direção a zona sul. O surgimento de bairros e áreas
enobrecidas fez realizar nessa região a apropriação cultural por parte desses
segmentos sociais com seus estilos de vida e formas de sociabilidade. A
estabilização dessas camadas sociais atraiu atividades comerciais e de
serviços para a região. O deslocamento de atividades econômicas como
restaurantes, bares, escolas, bancos, casas de show e shoppings centers
contribuíram para constituir, nesta parte de Aracaju a cidade suscita um
ritmo especifico que caminha na direção de uma continuidade do que ocorre
na zona sul e sudoeste.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A substituição do contingente populacional das áreas da zona sul,
antes habitadas por comunidades de pescadores, assistiu a chegada de
modos de vida e atividades urbanas características das camadas de média e
alta renda. A marca da segregação socioespacial construída em Aracaju
durante a última grande urbanização colocou as populações de baixa renda
concentradas nas zonas norte e noroeste da cidade e, por outro lado,
convergiram os estratos de maior renda para a zona sul.
A ascensão das empresas imobiliárias teve importância para
potencializar os modos de vida que se estabeleciam, assim como transformar
a paisagem. No entanto, o comando do mercado imobiliário nas
intervenções urbanas dessa região proporcionou uma espécie de urbanização
particular voltada somente para uma parte da cidade.
O mercado imobiliário encontrou na zona sul um grande filão que
permitiu a expansão desses espaços. O investimento em moradias e espaços
de sociabilidades e consumo se juntam ao progressivo desenvolvimento de
redes de serviços como restaurantes, lojas, shoppings, bares, hipermercados,
entre outros que afirmam o caráter fragmentador.
Neste sentido, o mercado imobiliário intensifica essa condição, pois
este segue a lógica de sua construção em áreas mais valorizadas com
camadas sociais de maior renda. Isso contribui para o deslocamento de
empresas com produtos e serviços voltados para esses grupos sociais. Tais
serviços afirmam uma condição que é gritante no espaço urbano aracajuano:
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a sua segregação socioespacial a partir dos modos de vida e de como eles
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PROFESSOR JOÃO CARDOSO NASCIMENTO JÚNIOR E O MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (1968-1972)
Jussara Maria Viana Silveira Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professora substituta da Universidade Federal de Sergipe. Coordenadora do Instituto Superior de Educação José Augusto Vieira – ISEJAV - Faculdade José Augusto Vieira - FJAV. Professora do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade José Augusto Vieira. Membro do Grupo de Pesquisa em História da Educação: Intelectuais, Instituições e Práticas de Ensino e membro da Sociedade Brasileira de História da Educação – SBHE.
RESUMO
Este artigo tem por objetivo reconstruir historicamente a trajetória do professor João Cardoso Nascimento Júnior, contemplando a sua atuação como primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe e a forte ligação com o movimento estudantil sergipano entre os anos de 1968 a 1972, num período conturbado da nossa história “a ditadura militar”. O referencial selecionado para o estudo relaciona-se à História da Educação e à História Cultural e como metodologia apropriei-me da Abordagem Biográfica. Entre as categorias de análises estabelecidas por Chartier, trabalhei a apropriação e representação; bem como os conceitos de campo e capital de Bourdieu e memória de Jacques Le Goff. Ao construir essa trajetória, trilhei inúmeros caminhos, transformei vestígios descontínuos em História, na história de vida de João Cardoso Nascimento Júnior, que ao longo da sua trajetória contribuiu para edificar o ensino superior em Sergipe.
PALAVRAS-CHAVES: Abordagem Biográfica; Educação; João Cardoso Nascimento Júnior; Trajetória.
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Dr. João Cardoso teve um desempenho elogiável, pois conseguiu levar a bom termo uma universidade mal vista aos olhos da revolução, com ‘tiras’ em seu corpo, patrulhando, ideologicamente, todos. Conciliar a prepotência com a democracia, a vigilância opressora com a liberdade discreta, só o seu caráter firme e manso pôde operar tal milagre na difícil reitoria.(MARQUES, 1988)
Para muitos, as universidades brasileiras entraram em crise quando
houve a “Quartelada Militar” de 1964, e passaram a ser chamadas nessa
época de “Universidade da Mordaça”, onde estudantes e intelectuais foram
tratados como delinqüentes e muitos obrigados a retirar-se do país, na
imposição de um exílio forçado, e outros submetidos a sessões de torturas e
humilhações por parte dos que acreditavam estar impondo a ordem e a
tranqüilidade do país através da força bruta.
O golpe militar repercutiu significativamente no movimento
estudantil. A influência das correntes políticas de esquerda levou ás
autoridades militares a reprimirem as lideranças estudantis e desarticularem
as suas principais organizações representativas. Primeiramente a União
Nacional dos Estudantes (UNE) foi posta na ilegalidade, depois foi a vez do
Diretório Central dos Estudantes (DCE), partindo dessa desarticulação
foram criadas novas organizações e novos procedimentos foram adotados
para seleção de seus representantes.
As constantes tentativas das lideranças estudantis de retomarem o
controle das organizações foi o principal fator a desencadear novas ondas
de repressão política. Desse modo, reivindicações educacionais e
manifestações de protesto político contra o governo militar foram as
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principais bandeiras de luta do movimento na segunda metade da década de
1960. O ápice da radicalização dos grupos estudantis ocorreu em 1968, ano
marcado por grandes manifestações de rua contra a ditadura militar.
O auge da repressão que parecia ser uma breve intervenção militar
na política acabou transformando-se numa ditadura que reprimiu
violentamente grupos e movimentos de oposição. De 1969 a 1973, a
coerção política atingiu o seu ápice. Neste período, o movimento estudantil
foi completamente desarticulado. A maior parte dos militantes e líderes
estudantis ingressaram em organizações de luta armada para tentar derrubar
o governo. No dia 28 de março de 1968, uma manifestação contra a má
qualidade do ensino, realizada no restaurante estudantil Calabouço, no Rio
de Janeiro, foi violentamente reprimida pela polícia, resultando na morte do
estudante Edson Luís Lima Souto (GASPARI, 2002:51).
No Brasil já no segundo semestre de 1968, os estudantes
começavam a demonstrar sinais de recuo. Somente alguns comandos mais
radicais da época continuavam a lutar pela repressão desencadeada.
Segundo o professor Daniel Arão Reis, “o canto do cisne ocorreu quando da
dissolução pela polícia, do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de
São Paulo, em outubro de 1968, tendo sido presas centenas de lideranças
estudantis” (REIS, 2002:51). Entre os estudantes presos em São Paulo
estavam alguns alunos da recém-criada Universidade Federal de Sergipe:
E no dia 13 de dezembro, com a edição do Ato Institucional nº. 5, aí as coisas ficaram complicadas, porque nós tínhamos sido presos no XXX Congresso da UNE, em Ibuína no Estado de
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São Paulo. Quando retornamos para Aracaju fomos soltos. Em São Paulo ficamos detidos no presídio Tiradentes, em torno de uma semana ou um pouco mais. Mas como não tínhamos nenhum pedido de prisão preventiva decretada, nós ficamos respondendo o processo em liberdade aqui em Sergipe. Logo depois da edição do Ato institucional nº. 5, então todos nós retornamos a prisão, fomos presos e aí nós pudemos ver, que o regime realmente foi o período mais difícil da ditadura. Porque não havia hábeas corpus, não havia praticamente nada! (Entrevista com o Dr. João Augusto Gama, concedida à autora em 3.1.2007).
Começava para o Magnífico Reitor da UFS, Professor João
Cardoso Nascimento Júnior, uma nova luta para proteger os estudantes e os
professores, que ele acreditava estarem sob sua proteção. No dia seguinte à
publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), os estudantes sergipanos que
participaram do XXX Congresso da UNE em Ibiúna voltaram a ser presos,
juntamente com outras pessoas que eram consideradas subversivas pelo
governo militar. Segundo o historiador Ibarê Dantas, três professores foram
intimados a comparecer no 28º Batalhão de Caçadores (28º BC), em
Aracaju, onde foram “inquiridos”, respondendo aos processos pelos quais
foram condenados pela Justiça Militar do 6ª Região Militar em Salvador
(DANTAS, 2004:182-183).
O governo sergipano estava sob a administração do médico
Lourival Baptista, que havia tomado posse com a indicação do presidente
da República em 31 de janeiro de 1967. Em fins de janeiro é instituída em
Sergipe a Comissão Geral de Investigação (CGI), com a finalidade de
apurar corrupção em todo o estado, embora se soubesse essa era a forma de
obter informações seguras para “respaldar os atos punitivos que
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prosseguiam” (DANTAS, 2004:184). Em 1970, o governador de Sergipe,
Lourival Baptista, renunciou ao cargo para concorrer a uma cadeira no
Senado, sendo indicado para substituí-lo o engenheiro Paulo Barreto de
Menezes.
Para o historiador Ibarê Dantas, o governador Lourival Baptista
terminou seu mandato considerando-se “um administrador operoso e
conciliador”. Em toda a sua administração a política econômica sergipana
esteve marcada pela ostentação, certificada pelo aumento vertiginoso da
receita, ocorrido com a mudança da legislação tributária. Entre os seus
feitos em Sergipe, estão às construções de: estádios de futebol; o Edifício
Estado de Sergipe, com 28 andares; escolas; postos de saúde; rodovias;
conjuntos habitacionais; saneamento básico; ampliação da rede elétrica;
implantação do Distrito Industrial de Sergipe e o empenho pela criação da
Universidade Federal em Sergipe (DANTAS, 2004:184).
A ditadura colocou à margem da lei todas as organizações e
movimentos que surgiram nas faculdades e universidades em todo o país.
Tudo que fosse considerado ameaça à “tutela militar” era visto como
subversivo. Entre os movimentos que conheceram a mão repressora do
Estado Ditatorial encontravam-se a UNE e o DCE da Universidade Federal
de Sergipe. Abafando esses movimentos, os militares procuravam evitar
qualquer ação política no interior das instituições de ensino superior.
A UNE, mesmo extinta, continuava a agir na clandestinidade,
liderando em todo o país a revolta estudantil. O ano de 1968 foi marcado
por muitas revoltas. Os estudantes foram às ruas reivindicar direitos e lutar
pela volta da democracia no Brasil. A polícia reprimiu a revolta dos
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estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).
Este conflito foi muito violento, e o prédio da Faculdade foi destruído e
logo depois desativado. O governo militar ao editar, em dezembro de 1968,
o AI-5 retirou todas as garantias individuais dos cidadãos brasileiros. O
poder foi centralizado na pessoa do presidente da República, que adquiriu
poderes para atuar como legislador e executivo:
O quinto Ato Institucional significava a vitória da linha dura sobre os moderados, proporcionando nova fase do Estado Autoritário. Com esse instrumento normativo, o Executivo tornou-se autorizado a fechar as diversas casas legislativas, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos, remover e aposentar ou reformar funcionários, decretar estado de sítio e confisco de bens, suspender garantias constitucionais e estabelecer censura à imprensa (DANTAS, 2004:182).
Numa época de governo autoritário avesso a qualquer manifestação
de liberdade institucional e do povo, o Professor João Cardoso conduzir o
destino da jovem universidade sergipana, defendendo a autonomia de
pensamento da instituição. Soube ser paciente com os discentes que na
ânsia de querer a democracia no país, foram duramente perseguidos. Como
primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe o Professor João
Cardoso Nascimento Júnior defendeu os seus discentes da arbitrariedade e
da prepotência do governo militar. A UFS, em 1968 nascia e já começava a
engatinhar sofrendo as pressões do Governo Ditatorial instalado no Brasil
desde o golpe militar de 1964. Com a institucionalização do AI-5, a UFS
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passa a viver sob um “fogo cruzado”, como ressaltou o historiador Ibarê
Dantas.
A situação agravou-se quando o Reitor João Cardoso Nascimento
Júnior recebeu o oficio de nº. 24-E/2, de 13 de fevereiro de 1969, expedido
pela 6ª Região Militar, localizada em Salvador, e assinado pelo General de
Brigada Abdon Senna. O ofício de caráter “Confidencial” trazia anexo, uma
lista contendo os nomes de trinta e dois discentes das Escolas e das
Faculdades que eram agregadas à Fundação da Universidade Federal de
Sergipe, os quais segundo as fontes consultadas para construção desse
artigo, estavam prejudicando a vida da sociedade aracajuana e trazendo
intranqüilidade ao setor estudantil da UFS.
De acordo com depoimentos, toda essa pressão levou o Professor
João Cardoso a sofrer um infarto. Ele resguardava a sua família e os amigos
mais próximos dos momentos de pressão e tensão pelo qual passava como
Reitor da Universidade Federal de Sergipe. Mesmo sendo um intelectual
respeitado pela política do regime militar, sofria com agressões enviadas
pelos militares que comandavam o 28º BC e a 6ª Região Militar.
Num desfile cívico do dia 7 de setembro de 1970, em cujo palanque
principal estavam presentes, o Reitor João Cardoso e demais autoridades
civis, militares e políticas sergipanas, ficou marcado, pelas ameaças que o
Comandante da 6ª Região Militar fez ao Professor João Cardoso dizendo
que “o Reitor de Sergipe não estava prestando atenção às recomendações
vindas do comando militar e estava conciliando demais com os
comunistas”. Em resposta ao General Abdon Senna, o Professor João
Cardoso, disse “o senhor comanda soldados, eu comando inteligência”
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(Informações obtidas através da entrevista como senhor Antônio Bernardo
da Silva Lima, concedida à autora em 12 de abril de 2007).
O Magnífico Reitor João Cardoso ignorou todas as ameaças
expressas nos Ofícios Confidenciais recebidos. Em resposta, baixou uma
Portaria de nº. 09, de 10 de março de 1969, afastando os dirigentes do DCE
da UFS, das suas funções e representações estudantis. Com coragem e
determinação, após análises feitas em vários documentos, afirmou-se que o
Professor João Cardoso Nascimento Júnior, durante o seu reitorado não
cassou os direitos estudantis de nenhum dos jovens estudantes da UFS que
tiveram seus nomes expostos na mira da ditadura militar.
No mesmo dia em que baixou essa Portaria o Magnífico Reitor João
Cardoso, recebeu outro ofício confidencial nº. 46-E/2 de 10 de março de
1969, contendo os nomes dos estudantes Antônio Vieira da Costa, Benedito
Figueiredo, Elze Maria dos Santos, João Augusto Gama da Silva, Janete
Correia de Melo, Laura Tourinho Ribeiro e Wellington Dantas Mangueira
Marques, que deveriam ser expulsos da UFS:
Mas o Reitor afastou-os da representação política, protelou a decisão e não os expulsou, passando a ser mal visto pelas autoridades militares. Enquanto isso, nos outros estados, em 05/1969 a 03/1970, pelos menos 192 estudantes ficaram impedidos de estudar com base no decreto lei 477 (DANTAS, 2004:183).
O Professor João Cardoso Nascimento Júnior também foi
interrogado no 28º Batalhão de Caçadores, para prestar esclarecimentos em
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face da sua decisão de não observar o decreto 477 para cassar os direitos
dos discentes, cujos nomes foram indicados pelos órgãos de segurança
como lideranças subversivas. Os esclarecimentos prestados pelo Reitor
João Cardoso foram considerados insatisfatórios. A UFS entra para a
História da Educação como uma universidade federal brasileira que não
cassou os direitos dos seus estudantes universitários.
O Reitor da Universidade Federal de Sergipe, João Cardoso
Nascimento Júnior, foi interrogado diversas vezes para esclarecer a decisão
de não cassar os direitos dos estudantes que estavam sob a sua orientação.
Além da convocação do 28º BC, o Professor João Cardoso também foi
chamado a prestar depoimentos na 6ª Região Militar, em Salvador.
Ao protelar a idéia de expulsar os discentes, o Reitor ganhava
tempo, pois só colocou em votação o assunto em outubro de 1969. O seu
objetivo era que os alunos se formassem. Em 10 de março de 1969, o Reitor
João Cardoso reuniu todo o corpo docente e discente da UFS na Faculdade
de Ciências Econômicas e leu em público a Portaria de nº. 09, em que
seriam suspensos do exercício de suas funções todos os dirigentes dos
órgãos e das representações estudantis da UFS.
Para a professora e historiadora Maria Thétis Nunes:
A luta naquele momento era sobretudo estudantil. Nós sabemos o que em 1968 foi passado. A passeata dos Cem Mil, e aquela passeata toda foi a reação. Quanta gente perdeu emprego; Estudantes cancelaram as matrículas. Muitos começaram seus exames e foram terminar em outros estados. Aí, Doutor João conseguiu contornar realmente isso, essa é a grande verdade naquela época, ele tinha muita conversa e com
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habilidade muito grande e assim realmente Sergipe foi um dos estados que menos perseguiu os estudantes e os professores também. [...]. (Entrevista com a professora, escritora e historiadora Maria Thétis Nunes, concedida autora no dia 11 de julho de 2007).
Segundo documentos analisados, o Professor João Cardoso
Nascimento Júnior deu ao governo da Universidade Federal a plenitude de
sua personalidade, a clarividência do espírito, a bondade do coração e o
esforço do trabalho intensivo. Para alcançar os objetivos de sua
administração, preferiu sempre as regras humanizadas da persuasão aos
argumentos indiscutíveis da autoridade. Não enfraqueceu diante do medo
das pressões e das decisões tomadas; nem a vaidade e a inflexibilidade
imobilizaram-no para o reexame e as revisões indispensáveis. O tempo e a
paciência entraram sempre na fórmula com que curava as incompreensões e
a maldade dos ressentimentos gratuitos. Em fevereiro de 1970, ele foi
novamente convocado a depor, desta vez diante do General Comandante da
6ª Região Militar, Abdon Senna, para prestar esclarecimentos sobre a
subversão estudantil na UFS, após receber outro oficio confidencial nº.
001/SI/DSIEC/70 da Divisão de Segurança e Informações, onde continha o
nome de mais cinco estudantes entre os quais estava o historiador José Ibarê
Costa Dantas (Oficio nº. 001/SI/DSIEC/70 do Ministério da Educação e
Cultura enviado ao Magnífico Reitor da Universidade Federal de Sergipe
Professor João Cardoso. Data: 7.1.1970. Fonte: Acervo pessoal do Prof.
João Cardoso).. No segundo parágrafo do citado oficio, dizia que o
Magnífico Reitor tinha suspendido os direitos políticos estudantis,
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entretanto todos integrantes mencionados na lista, continuavam a freqüentar
as faculdades, fazendo inclusive, distribuições de jornais e outras
publicações notadamente subversiva.
Ao longo da história da UFS, muitos nomes destacaram-se, cada
um contribuindo ao seu modo para a consolidação do ensino superior
federal em Sergipe. Portanto, o nome do seu primeiro Reitor, Professor
João Cardoso Nascimento Júnior, deve ser lembrado como aquele que
conduziu e resistiu habilmente às tentativas dos militares de exigir a
expulsão dos estudantes que participaram ativamente do movimento
estudantil, deixando sua marca na História do Ensino Superior em
Sergipe como um homem conciliador e de visão abrangente.
Segundo o professor José Paulino da Silva:
Numa época de governo autoritário, avesso a qualquer sopro de liberdade das instituições e das pessoas, João Cardoso soube conduzir os destinos da Universidade Federal de Sergipe, defendendo a autonomia de pensamento da instituição e, sobretudo, soube ser paciente com os jovens universitários e defendê-los contra a arbitrariedade e a prepotência do então governo federal do regime ditatorial militar (SILVA, 1998:11).
No início de 1969, poucos eram os que sabiam o que estava
acontecendo no interior da Reitoria da UFS. As pressões sofridas pelo
Professor João Cardoso começaram bem antes da institucionalização do AI-
5, a exemplo da vigilância da 6ª Região Militar em Salvador, comandada
pelo General de Brigada Abdon Senna; as interferências dentro das
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dependências da UFS pelo Departamento de Polícia Federal, este chefiado
pelo General Bretas Cupertino; a inspeção da Diretoria de Divisão de
Segurança e Informações dirigida pelo Brigadeiro Armando Tróia e a
coação vinda do 28º BC sob o comando do Coronel Ítalo Diogo Tavares
(DANTAS, 2004).
O Professor João Cardoso não foi simplesmente o Magnífico
Reitor da UFS, mais um “Reitor Magnífico”, pelo papel que
desempenhou dentro dessa universidade, pois muitos estiveram sob sua
proteção; e com “tiras em seu corpo”, livrou os seus discentes e docentes
das garras do poder opressor e agressor dos militares. João Cardoso
Nascimento Júnior não administrou a UFS com atitudes covardes e nem
foi subserviente; não baixou a cabeça para os mandos e desmandos do
governo militar e nem para aqueles que, por terem indicado seu nome
para Reitor, pensaram em decidir como queriam o destino da
universidade em Sergipe. O “Reitor Magnífico” João Cardoso
Nascimento Júnior, dirigiu a instituição com dignidade; e como escreveu
a professora e escritora Núbia Marques, “o Reitor da Universidade, com
sua serenidade, conseguiu conter situações delicadas. Hoje não convém
citá-las” (MARQUES, 1988). No dia 15 de maio de 1972, no salão
nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, o Professor João
Cardoso Nascimento Júnior despede-se do seu reitorado da UFS. Em
sessão extraordinária, os conselheiros, o corpo docente, discente e
funcionários da Universidade Federal homenageiam o seu ex-reitor. Em
nome do Conselho Diretor falou o Dr. Walter Cardoso, enquanto que em
nome do Conselho de Pesquisa e Universitário falou o Dr. João Batista
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Perez Garcia Moreno, ressaltando o trabalho do Professor João Cardoso à
frente da Reitoria. Em agradecimento o homenageado, João Cardoso
finaliza o seu discurso de despedida dizendo que a Universidade deve
estar sempre integrada ao homem (Recorte do jornal “Gazeta de
Sergipe”. Data: 20.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João
Cardoso).
A imprensa sergipana noticiou o fim do mandato do primeiro
Reitor da UFS, ressaltando a valiosa contribuição prestada pelo Professor
João Cardoso ao ensino superior em Sergipe. O Senador da República
Lourival Baptista, em nota ao jornal “Gazeta de Sergipe” (Jornal “Gazeta
de Sergipe”. Data: 3.6.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João
Cardoso), disse que o Professor João Cardoso, como primeiro Reitor, foi
um grande colaborador para o desenvolvimento educacional do Estado.
O Professor João Cardoso deixou a Reitoria da UFS no dia 15 de
maio de 1972, após quatro anos de mandato, cumprindo mais uma
missão que lhe foi confiada. Emocionado, agradeceu em poucas palavras
as homenagens que lhe foram prestadas pelos professores, diretores,
funcionários e estudantes. Na ocasião, o Professor João Cardoso
Nascimento Júnior transferiu o cargo de Reitor para o seu sucessor
professor Luiz Bispo. O Ministro da Educação Jarbas Passarinho mandou
um representante do MEC o Dr. Sileno Ribeiro Paixão para transmitir ao
Professor João Cardoso, os seus agradecimentos pelos serviços prestados
a educação brasileira.
Mesmo com o pedido da comunidade universitária, do Ministro
da Educação e Cultura Jarbas Passarinho e das sociedades civil e política
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de Aracaju, para que continuasse no cargo de Reitor, o Professor João
Cardoso Nascimento Júnior recusou. O Ministro da Educação queria-o
dentro da universidade devido ao caráter seguro e as habilidades que
tinha quando se tratava de lidar com questões envolvendo o corpo
discente; e este caráter para Jarbas Passarinho, era necessário dentro de
uma universidade. Portanto, indicou, assim com foi pedido pelos
membros dos Conselhos, um nome, o do professor Luiz Bispo,
acreditando ele ser melhor naquele momento para dar continuidade ao
trabalho que vinha sendo feito dentro da administração da UFS.
Em oficio de nº. GR/122/72, de 15 de maio de 1972, enviado ao
MEC, em nome do Ministro Jarbas Passarinho, o Magnífico Reitor João
Cardoso Nascimento comunica o encerramento do seu mandato no cargo
de Reitor da UFS, notificando a transmissão do cargo para o Professor
Luiz Bispo. Em seu nome e em nome da Universidade agradeceu ao
Ministro pelo seu elevado espírito público e por ter encaminhado as
soluções dos desafiadores problemas da Educação e Cultura no Brasil e
pela compreensão que teve com a UFS na sua cotidiana luta para poder
prestar os serviços de que tanto carecem aqueles que a procuraram e nela
depositaram suas esperanças (Oficio nº. CR/122/72. Universidade
Federal de Sergipe para o Ministério da Educação e Cultura. Data:
15.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João Cardoso).
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Considerações Finais
Na esfera da abordagem biográfica, uma história de vida ou
trajetória deve ser entendida como um caminho de conhecimentos do
mundo apresentado e apropriado através da subjetividade dos sujeitos
que decidi biografar. A relevância do estudo aqui apresentado teve como
objetivo reconstruir a trajetória do Professor João Cardoso Nascimento
Júnior, como médico e professor, apontando os traços que marcaram sua
presença no cenário educacional, social e histórico sergipano.
Percebi as inúmeras possibilidades que a abordagem biográfica ofereceu
para a construção da pesquisa histórica e em particular para compreensão
do determinado contexto da historiografia educacional sergipana,
empreendendo o exercício fascinante de garimpar memórias,
reconstruindo histórias de vida e a partir delas apropriar-me de saberes,
conhecimentos, experiências e práticas que se tornaram imperceptíveis
aos documentos.
Ao narrar às experiências do Professor João Cardoso, compreendi
sua trajetória não como uma reprodução de fatos passados, mas como uma
reconstrução congruente da compreensão atual, fazendo-o sujeito da sua
própria história, através das suas emoções, das suas decisões e escolhas. A
narrativa utilizada para a construção deste texto não se limitou apenas à
reconstrução do passado, mas se preocupou em expressar a compreensão
de momentos vivenciados pelo personagem João Cardoso Nascimento
Júnior.
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Através da história foi possível elaborar uma pós-história, dando
significado a um conjunto de significados. O esforço de interpretar essa
trajetória, apontando sua importância para os estudos biográficos na
História da Educação em Sergipe, foi providencial, pois tem como objetivo
narrar a história de vida desse intelectual da educação, trazendo-o de volta,
dando-lhe voz outra vez, tirando-o do esquecimento.
Para o historiador e professor Jorge Carvalho do Nascimento:
A reconstrução das trajetórias dos intelectuais pode ser feita através dos registros de suas experiências de vida: registros de imprensa, documentos institucionais e particulares referentes à formação, atuação profissional e política , atas, relatórios, processos, teses, depoimentos (orais e escritos), cartas e fotografias (NASCIMENTO, 2007:97).
A metodologia escolhida para construção deste estudo inseriu-se na
perspectiva da Abordagem Biográfica, em que me utilizei da narrativa para
entender o significado dos caminhos trilhados pelo ator social João Cardoso
Nascimento Júnior, os quais segui através das fontes documentais e orais
para construir sua história de vida, trazendo para a narrativa as
representações e apropriações do mundo vivenciado por ele, através das
suas memórias e pelas experiências compartilhadas por meio de
depoimentos, ajudaram-me na construção deste artigo.
A trajetória do Professor João Cardoso Nascimento Júnior ainda
tem muito para contar e contribuir com a História da Educação em Sergipe.
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Recorro às palavras de Ana Chrystina Venâncio Mignot que diz: “sua
trajetória evidencia que a vida é mais complexa que as classificações. Em
diferentes momentos, nos diversos espaços de atuação, demonstrou que
entendia a educação como instrumento de ação política” (MIGNOT,
2002:324).
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O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA LATINA
Cezar Alexandre Neri Santos Professor de língua latina (UFS / FJAV). [email protected]
RESUMO Este trabalho pretende apresentar experiências resultantes da prática docente em língua latina. Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida civil. Já na sociedade contemporânea, seu espaço está restrito à igreja, a algumas ciências e aos bancos escolares dos cursos de ciências humanas. As TICs (tecnologias da informação e comunicação) têm facilitado o acesso a bons e raros materiais, ao passo que obras didáticas clássicas sofrem redução editorial. Assim, ao lado das leituras de Fedro, Cícero e César, podem-se apresentar trechos da Vulgata, de orações, o dicionário vulgar e o ‘Latinitas Recens’ – léxico recente com vocábulos do cotidiano moderno, além de trechos de grupos musicais e do best-seller Harry Potter em sua versão latina. Acredita-se que a utilização de tais instrumentos pode incitar o estudo da etimologia e do legado histórico-cultural deixado nesta língua. Palavras chave: Latim; didática; recursos audiovisuais.
ABSTRACT This work aims to present experiences of teaching process in the Latin language. Up to the eighteenth century Latin was indispensable in civil daily life. Currently, its use is reserved for the Catholic Church, college subjects and some sciences. TICs (communication and information technologic instruments) have made access to relevant and rare material easily, opposed to the number of didactic works in the classic area, which have been reduced drastically. Phedro’s, Cicero’s and Caesar’s works can be studied alongside with the Latin Bible, prays, and studies on modern-day and forbidden vulgar lexicon in Latin. Besides, translating songs, texts and audios, like Harry Potter’s in Latin. It’s believed to stimulate students’ motivation through etymological and diachronic studies. Based on the purpose of making teaching pleasanter, strategies should be practiced so as to spread the Latin language and to clear up historic and cultural importance and bequest. Key words: Latin language; didactics; audio-visual aids.
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“Quem não estudou as estruturas do Latim ignora ainda do que é capaz a linguagem humana” (Werner Jaeger)
A linguagem é um fato social e fatos lingüísticos são a expressão do
espírito de uma determinada época, grupo ou nação. Diante dessa
perspectiva, nenhuma língua ocidental foi tão fundamental e conseguiu ter
tanto prestígio em vários campos do conhecimento humano quanto o latim.
O latim deriva de línguas arcaicas faladas no Lácio e em Roma,
consolidando-se gramaticalmente a partir do século III a.C. Do local de sua
origem, na Itália central, provém o seu nome. Serviu inicialmente como
canal de comunicação do Império Romano e perdurou como língua franca –
idioma dos negócios, das ciências, da escola – até o fim do Renascimento.
No entanto, muitos perguntam por qual finalidade se estuda latim se
há várias obras já traduzidas para as línguas modernas. Crê-se que a
verdadeira instrução para a humanidade exige universalidade e uma visão
geral. Quanto a isto, Schopenhauer indaga “como seria se cada um deles
[autores antigos] tivesse escrito na língua de seu país, seguindo o estágio
em que ela se encontrava na sua época? Seria impossível, para mim,
entender sequer a metade dos seus textos (...)”i Grande defensor do ensino
das línguas clássicas, grego, latim e sânscrito, o filósofo alemão ratifica a
importância cultural do latim, como via propagadora durante vários séculos
do conhecimento humano.
Esse partidarismo quanto ao latim se dá porque foi nesse idioma
que “as leis francesas são escritas até séc. XVI, (...) os tratados de música
de Boécio; livros de medicina, de culinária, de veterinária, de conservação
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dos alimentos e sobretudo textos religiosos. Lê-se Aristóteles em sua
tradução latina, assim como a Bíblia. (...) As descrições da Zoologia e da
Botânica eram todas em latim; os nomes científicos, todavia, ainda o são.”ii
Nas escolas do tempo medievo, os que tinham a oportunidade de
instruir-se estudavam com livros escritos em latim, e no seu ensino
utilizavam métodos de tradução direta, com textos literários longos e
complexos. As temáticas destes textos vão de provérbios a retórica,
objetivando um ensino basilar moral muito arraigado às tradições católicas.
É mister considerar que, na "Idade das Trevas", o modelo de erudição era o
‘homo trilinguis’ ou ‘trium linguarum gnarus’, aquele conhecedor das três
línguas sapienciais - latim, grego e hebraico. Mesmo assim, os dois últimos
foram sempre subjugados ao primeiro. O grego, por possuir vasta literatura
pagã, não podia ser cristianizado, a exemplo de tratados filosóficos; assim
como a língua hebraica por estar vinculada à religião judaica.
Desde suas origens ao seu desaparecimento como língua viva, se
imortalizou nas penas de Cícero, César e Vergílio. Seu auge se deu entre o
século I a.C. e meados do século I d.C. como via de expressão dos autores
supracitados, literatos clássicos universais. É importante ressaltar o porquê
o Latim galgou tal prestígio como língua universal e o grego não.
Supremacia política não significa imposição lingüística e o ponto de
desequilíbrio a favor do primeiro foi o Cristianismo, e com ele seu maior
representante, a Igreja Católica. No século IV d.C., o Catolicismo tornou-se
a religião oficial do Império Romano, ao mesmo tempo em que tomou para
si o latim como sua língua oficial. Literatura, vocabulário e ensino passaram
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a ter um forte cunho moral, já que as obras cristãs passaram a ser escritas na
língua de Roma.
Com a expansão territorial do Império Romano, consolidado na
Europa, África e Ásia entre I a.C. e III d.C., o latim foi levado nesse plano
dominatório. Tal contato permitiu que até línguas de árvores lingüísticas
não-itálicas se latinizassem, a exemplo do alemão e do inglês. Este último,
de descendência indo-germânica, possui entre 45 e 55% de seu léxico de
origem latina, boa parte através do francês.iii Isso se deve à invasão
normando-francesa a partir do século XI, que renovou lexicalmente a língua
da Bretanha, um dos motivos pelo qual há tantos cognatos entre o português
e a língua de Shakespeare.
Outro ponto relevante é o ensino do latim em diversos países não-
românicos. Entre estes, merecem destaque a Alemanha, grande difusor da
filologia românica, área destinada aos estudos e críticas de textos nas
línguas neolatinas. Além de haver grande número de estudiosos, todo
aquele que se destina ao ensino superior naquele país tem de estudar latim
por nove anos. Na Áustria, sete. Em Bremen, norte da Alemanha, há uma
rádio transmissora que expede tudo em língua latina. Neste país, o latim é a
terceira língua mais procurada nas academias, atrás apenas do inglês e do
francês. “Os alemães querem aprender latim na tentativa de entender as
suas próprias raízes e de encontrar uma identidade européia comum. O
renascimento latino coincide com a unificação da Europa.”iv
A preferência de vários autores pela língua latina se dá por esta ser
uma língua sintética. Isso significa que seu sistema nominal é baseado em
desinências, exigindo lógica e perspicácia do estudante em entender que
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não a ordem, mas os sufixos determinam a função sintática de um termo na
oração. Poucas línguas modernas possuem este princípio, como o alemão, e
seu desaparecimento nas línguas românicas se deve, por exemplo, às leis
fonéticas. É comum que os falantes pronunciem erroneamente certas
terminações. Como modelo de comparação, pode-se verificar como os
brasileiros deixam de pronunciar o S final das palavras. O mesmo ocorreu
com o latim historicamente.
Com o exposto, é latente que o latim serve como língua que
demanda certa lógica e atenção no seu estudo. Por tal fato, muitos países
não-latinos o proporcionam em seus currículos, inclusive no ensino médio,
independente de área do conhecimento. Talvez pelo valor que tais nações
dêem ao latim e ao seu legado histórico-cultural, pode-se relacionar com o
nível econômico e intelectual alcançados. O Brasil, na contramão destes
países, mesmo sendo de família lingüística românica, restringiu os estudos
clássicos aos cursos de letras, depois de várias reformas educacionais.
Muitos são os que pensam que o latim restringe-se a influenciar
línguas como português, espanhol, francês e italiano, pela posição
geográfica de Roma. Porém, são dez as línguas denominadas românicas ou
neolatinas. Além das citadas, há o romeno, como o próprio nome pode
explicitar sua ligação com Roma, o provençal, sardo, rético, catalão e o
dalmático. Estes últimos são dialetos não elevados ao nível de língua
literária como os primeiros, mas com estrutura léxico-gramatical também
advindas da língua do Lácio.
Atualmente o latim é lembrado comumente por ser uma língua
morta, ou seja, não possuir uma comunidade lingüística falante. Mesmo
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assim, deve-se lembrar que as línguas românicas ou neolatinas são a
passagem diacrônica do latim dos tempos romanos e continua presente
nestas línguas no léxico, na fonologia e na sintaxe. O português, por
exemplo, é denominado pelo epíteto ‘A última flor do Lácio’. Isso se deve a
este ter sido um dos últimos idiomas a se formar do latim – século XII.
Como afirmam tantos autores, deve ser esta a causa de a língua portuguesa
ser tão semelhante em léxico e ortografia ao latim.
Contrariamente, não há tanta menção ao idioma que permutou
influências com o latim na formação de nossa língua. A língua originária do
Condado Portucalense, hoje correspondente à região de Portugal, o dialeto
galego, sofreu simbioses ao encontrar os dominadores romanos,
colonizadores desta área. O modelo sintático e de estilo foi o latim, assim
como o esquema gramatical sobre a qual foram descritas, mas é certo que o
galego também influenciou a língua de Camões.
Contudo, mesmo grandes impérios possuem limitações. E a
Romanização superficial ou a superioridade cultural dos vencidos fez do
latim galgar, no máximo, a posição de adstratov em certos locais da
Româniavi. Para Ilari, “o latim impôs-se como língua falada no
mediterrâneo ocidental e na Europa continental, mas esteve sempre em
situação de inferioridade na Grécia, Anatólia e no Mediterrâneo Oriental.”vii
Assim, a separação do império Romano em Império do Oriente, de
língua grega, e Império Ocidental, de língua latina, corresponde a uma
realidade. Mesmo sendo influenciado, o Latim não é derivado do grego nem
de qualquer outra língua historicamente conhecida. Ele resulta de um
idioma há muito desaparecido, que não pode ser reconstituído, falado pelos
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antigos habitantes do Lácio, na Itália Central. No Império Romano, não
havia escolarização em massa, mas apenas uma parcela minoritária, como
os cidadãos livres, podia freqüentar bancos escolares. Havia no Império
uma coexistência pacífica entre o latim clássico e o latim vulgar. É
relevante pontuar aqui a distinção entre duas formas.
Toda língua possui níveis lingüísticos, ou seja, formas canonizadas
como estilo correto ou em desconforme com suas regras. Deve-se pontuar
que durante o Império Romano diferentemente do que comumente se
imagina, este último não é derivado do primeiro, mas tal latim era vulgar
por “ser uma língua popular, expressão das camadas sociais que não
tiveram acesso à cultura formal e escrita. Não fica excluído que essa
variedade pudesse ser falada também pela aristocracia em situações
extremamente informais”viii. Isso revela que ambas as variantes lingüísticas
se constituíram concomitantemente.
Assim, as línguas românicas são o produto desse latim vulgar,
gramaticalmente ‘errado’, com os dialetos das áreas conquistadas. O latim
dominava sob a sua forma dupla: o “sermo nobilis”, língua literária das
obras de literatura, dos tratados e das escolas e o “sermo rusticus, plebeicus,
castrensis”, a linguagem dos colonos e falada pelas populações locais.
Segundo Oliveira, “isso aconteceu não porque essas línguas
deixaram de ser empregadas, mas porque não atendiam mais às
necessidades de uma nova civilização, nem às relações que se tornavam
mais freqüentes entre as diversas partes do Império e, sobretudo, com a
metrópole”. Durante a expansão territorial do Império Romano, o latim
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influenciava dialetos autóctones com vocabulário ligado à guerra e ao
direito.
Todas as grandes civilizações durante o curso da humanidade,
como o império Babilônico, o Egito, as cidades-estados Gregas, os Impérios
Romano e Inca, deixaram um legado de influências ou vestígios que
permanece até hoje. Numa proposta de dominação, a eficácia está
diretamente proporcional à aculturação do oponente. É assim atualmente o
caso estadunidense, sendo o inglês uma via de imposição através dos
negócios, da internet e de sua cultura tecnológica. Quanto ao prestígio do
latim, Oliveira explica que “as línguas modernas, por sua vez, não seriam
dignas de desempenhar o mesmo papel pedagógico que as línguas clássicas,
pois não teriam o mesmo valor cultural e civilizador” ix.
Detendo-se à esfera científica, observamos a importância do latim
como instrumento de difusão do conhecimento epistemológico. Das
ciências jurídicas às biológicas, passando pela literatura, foi em latim que os
cientistas até o fim do Renascimento se expressaram, sendo o idioma do
Lácio a língua franca da Idade Média, ou seja, língua da cultura, das
correspondências e dos negócios.
Todo o modus vivendi e modus cogitandi do homem medievo foi
permeado de latim: lia-se a Bíblia através de sua tradução latina, a Vulgata,
feita por São Jerônimo no fim do século IV, mesmo já havendo, antes desta,
várias versões da Bíblia grega, na qual a mais difundida foi a Agostiniana,
denominada Ítala. Cantava-se em latim para afastar o mal x. Como observa
Georges Duby, os cantos gregorianos são "cantos de guerra, criados pelos
monges, combatentes contra os exércitos satânicos, para impor a derrota,
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arremessando contra eles, como dardos, a mais segura das armas: as
palavras da prece”. xi
Numa perspectiva sociopolítica, ao mesmo tempo em que o uso do
latim perdia utilidade para a vida profissional, também foi um instrumento
de divisão social. Assim, não importava sua nacionalidade - Inglaterra,
Portugal, França ou Brasil - o latim era o divisor de classes, aquele que
classificava os cidadãos. Esse era o pensamento da elite medievo-moderna.
Este fato também ocorre na atualidade, a exemplificar o poder do inglês e
na distinção social entre os falantes e os não-falantes da língua de
Shakespeare.
Por outro lado, o latim também funcionou como ferramenta de
ascensão social. Alguns argumentos atestam que a aprendizagem de uma
língua clássica gera nas pessoas senso crítico, ao mesmo tempo em que
constitui status no meio social. Segundo Oliveira, seu estudo seria
uma encorajadora de aspirações quiméricas a profissões inacessíveis às massas mais humildes (...). Por outro lado, “do Renascimento ao século XIX, o latim foi um fenômeno amplamente elitista, [que] classificava os indivíduos, ou seja, traduzia ostensivamente a pertença a uma classe.” (OLIVEIRA, 2004, p. 101)
A Igreja Católica foi certamente o maior difusor da língua latina.
Os cristãos foram barbaramente perseguidos durante 300 anos. As primeiras
comunidades cristãs se opunham ao politeísmo Romano e sua injusta
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política de coleta de impostos, que designava todos, pobres ou ricos, como
devedores de César. Mas em 391 d.C., após tornar-se religião oficial do
Império Romano, proibiu outras crenças e rituais de serem praticados,
constituindo-se como uma instituição de Roma, e transformando-se em
canal de comunicação de todos os autores cristãos até o início do
Renascimento. Pode-se inferir que a Igreja, nesse ponto, via no latim um
idioma unificador, com o papel de reunir todos os pensamentos cristãos em
uma unidade lingüística. Essa visão pastoral tinha uma função
emancipatória, já que ao aprender o idioma do Lácio, o indivíduo teria
acesso à vasta literatura.
Concomitante e paradoxalmente, a Igreja, no Concílio de Tours, na
França em 813, percebendo a existência das línguas românicas nacionais,
prescreve que o clero e missionário passem a evangelizar desde então não
mais em latim, para que houvesse compreensão e eficácia na recepção da
mensagem cristã. Constata-se que, já em tal época – século IX, as línguas
nacionais possuíam estrutura própria, e assim, sendo distintas do latim.
No campo religioso, ainda se mantém como a língua oficial do
Vaticano. Por isso, todos os documentos oficiais da Igreja são expedidos em
latim, e somente após ou concomitantemente são traduzidos para as línguas
modernas. Até a década de 1960, as missas, se iniciavam com o In nomine
Patri e terminavam com o Dominus vosbiscum, passando pelo Pater
Noster.
Atualmente, há uma discussão quanto à posição do papa Bento XVI
em permitir que a liturgia seja professada em latim. No documento "motu
proprio”, de julho de 2007, Bento afirma que "é uma questão de chegar a
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uma reconciliação interior no coração da Igreja (...) a missa no antigo rito
tridentino poderá ser celebrada livremente em todo mundo, pelos sacerdotes
que assim o desejarem, sem necessidade de autorização hierárquica, licença
ou indulto de um Bispo”.xii O papa, com esse ato, dá força e margem à ala
tradicionalista da igreja, que se viu prejudicada com a promulgação do
Concílio Vaticano II, na década de 1960, em que a Igreja dá grandes saltos
no sentido de abertura política. Este concílio é visto por muitos como
extremamente liberal.
Com os argumentos anteriores, atesta-se que a língua latina foi um
instrumento poderoso utilizado em várias esferas do conhecimento
epistemológico e artístico. E que deveras é interessante entender o espaço
das línguas clássicas no processo histórico assim como seu significado
pedagógico, político e social.
Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida
civil. Entretanto, as críticas ao seu ensino se davam pela sua rigidez ou
metodologia descontextualizada. Atualmente, na maioria das universidades
brasileiras, depara-se com alunos despreparados e desmotivados. A prática
docente faz acreditar que quando há o segundo fator – a motivação – a falta
de outras variáveis é minimizada e que o ensino não-traumático, mas sim
apaixonante e contextualizado, é possível.
As TICs (tecnologias da informação e comunicação) tem facilitado
o acesso a bons e raros materiais. Ao lado das fábulas de Fedro e dos
clássicos de Cícero e César, pode-se apresentar trechos da Vulgata, orações,
estudar o ‘Latinitas Recens’ – dicionário recente com vocábulos do
cotidiano moderno. Traduzir trechos de grupos como Era, Cirque du Soleil,
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High School Musical, Carl Orff, texto e áudio do best-seller Harry Potter, já
com duas versões latinas, além de estudo de uma lista de vocábulos
proibidos em Latim incitam a curiosidade quanto à etimologia e ao estudo
diacrônico.
O ensino de uma segunda língua possui particularidades, por ser o
“aprendizado de línguas diferente de qualquer outro aprendizado devido à
sua natureza social e comunicativa. Aprender uma língua envolve
comunicação com outras pessoas e isso requer não somente as habilidades
cognitivas, mas também habilidades sociais e comunicativas”.xiii Assim, a
aprendizagem de uma nova língua possibilita um leque de oportunidades,
como o acesso a outra cultura, seus costumes e seus escritos.
Como professor também de uma língua moderna, a citar o inglês, e
estudante de alemão, o autor desse texto percebe profundas diferenças na
abordagem de ensino dos idiomas modernos em relação aos clássicos. O
latim apresenta objetivos diferentes dos de uma língua moderna,
exatamente por ser uma língua clássica, como o inglês. Seu foco está num
viés mais cultural que comunicativo, já que se o estuda nas universidades
brasileiras não para a prática oral, mas para a tradução e compreensão de
sua literatura, para seu estudo gramatical ou influência na língua
portuguesa.
Crê-se que a utilização de novas estratégias no ensino de latim
possibilite um relevante meio de aprendizagem. O uso do dicionário não é o
único instrumento possível de estudo de uma língua clássica. A internet é
uma ferramenta de auxílio ao professor de latim. Através dela, pode-se
fazer download de áudios de resenhas de livros clássicos e modernos, como
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leituras de Harry Potter, de músicas contemporâneas em latim e de cantos
gregorianos.
Quanto ao glossário latino, Longo diz que:
“para quem está diante de um dicionário de uma língua antiga como o latim, cujo estudo está reduzido à recepção escrita, todas as informações que visam à produção de discursos na língua, geralmente fornecidas pelos dicionários bilíngües, não têm a mesma relevância que no dicionário de um idioma moderno. Para garantir a leitura e a compreensão do texto latino, tornam-se importantes aquelas informações que dêem conta da significação da palavra e seus diferentes empregos.” (LONGO, 2006, p. 39)
O dicionário não deve mero instrumento de procura por vocábulos.
Deve-se trabalhar na carga contida no radical da palavra latina. Assim, o
estudo dos metaplasmos (µετα:: além de + πλασµα obra modelada) é
balizado no entendimento das alterações fonéticas que ocorrem em
determinadas palavras ao longo da evolução de uma língua. Metaplasmos
podem ocorrer pela adição, supressão ou modificação dos sons. Tal
mecanismo torna-se útil pois ao entender que as leis fonéticas seguem
padrões regulares, o alunado compreende a etimologia de muitas palavras
em língua vernácula através de modelos lineares. Isso é possível por que o
latim possui diversas similaridades com o português, já que
aproximadamente 59% (60.000 palavras) do nosso vocabulário derivam
diretamente do latim vulgar, sendo quase todas estas são,
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morfologicamente, ativas, com exceção de 354 termos, que, até o presente,
ficaram inativos xiv.
Músicas, independente da língua, é sempre uma boa técnica de
aprendizagem. O latim traz consigo uma grande carga religiosa, também
possuindo diversas obras seculares. Até o emprego de músicas pode ser
guiado por óperas ou bandas góticas que encontram no latim uma expressão
de seu estilo medieval. É evidente o grande número de grupos musicais
como Nightwish, Era, Rhapsody, que enfocando a mitologia clássica,
através do latim, compõem canções nessa língua. O interessante em tais
obras é o teor pagão e demoníaco que várias possuem. Ao contrário dos
cantos cristãos, que entoam anjos e Maria e a exaltação de Jesus Cristo,
músicas pagãs pregam o fim do Reino de Deus e a exortação do diabo. Um
exemplo disto está na canção “Cathar Rhythm”, que compreende em seu
refrão a passagem “O Reino não é nada, escureceu, onde está Tu, deus
cruel/fortaleza? (...) as mãos negras do diabo”.
Até o grupo circense Cirque di Soleil tem em seu repertório canções
em vários dialetos, demonstrando o caráter universal no grupo. Uma destas
foi composta em latim, Miracula Aeternitatis cuja temática é o milagre da
vida.
O emprego da Vulgata, tradução bíblica latina feita por São
Jerônimo, se justifica pelo vasto conhecimento que as pessoas possuem do
texto sagrado. Assim como documentos expedidos pelo Vaticano em latim,
escritos sagrados podem ser trabalhados gramaticalmente. Aspectos dos
sistemas verbal e nominal podem ser trabalahdos, como a criação do mundo
ou excertos dos evangelhos.
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O professor de latim deve estar consciente e conscientizar os alunos
de que o uso de recursos com teor sacro não significa transmitir uma
corrente ideológica. Todo estudo epistemológico, como é o que o latim
pretende ser, deve estar dissociado de ideologias religiosas. Apesar de
grande e valioso material estar relacionado à Igreja Católica, orações e
referências místicas devem ser trabalhados tão imparcial quanto
objetivamente.
Corroborado a esfera religiosa, a visão do professor de latim sempre
se configurou a de um docente desatualizado, “caduco” ou conservador.
Para Vasconcellos, em seu texto sobre a visão de professor de latim no
cinema, comenta que “no Brasil, até há algumas décadas atrás, essa imagem
era freqüentemente associada a ideais de direita e a elitismo, o que deve ter
contribuído para a eliminação do latim dos currículos das escolas de ensino
secundário a partir da década de 60“.xv
Por este último argumento, uma estratégia de ensino eficaz é
utilizar áudios em latim, que representem as diversas pronúncias desta
língua. Numa abordagem comunicativa, utilizando diversos recursos, pode-
se trabalhar vocabulário, estruturas gramaticais ou até compreensão
auditiva. Este último expediente é possível pela semelhança fonético-lexical
entre as línguas latina e portuguesa. Exatamente por ser o português uma
língua românica, a fonética portuguesa é baseada na latina, sendo que
poucos são os fonemas diferentes.
Essa técnica, caracterizada como listening no ensino de inglês,
permite que o aluno,
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“assim como na leitura, na audição, há também duas formas simultâneas e complementares de processar um texto. No processo topo-base (de cima para baixo), os aprendizes usam seu conhecimento prévio para fazer previsões sobre o texto. Já no base-topo, estes se apoderam no conhecimento de elementos lingüísticos – vogais, consoantes, palavras, sentenças para fazer a construção do significado. Os professores geralmente acham que os alunos conseguiram captar todos os sons, palavras ou frases antes de entenderem o sentido geral da passagem. No entanto, na prática, eles geralmente adotam uma abordagem topo-base para prever o provável tema e então passar ao base-topo para checar seu entendimento”. xvi
Em latim, tal metodologia pode ser utilizada ao extrair do aluno seu
conhecimento de mundo, um dos principais entraves de um professor de
disciplinas balizadas como históricas, como são o latim e a filologia
clássica. Trabalhar aspectos socioculturais, dando à disciplina um tom de
“latinidade”. As principais dificuldades estão na falta do que Buonamassa
chama de “noções elementares de história antiga e geografia da Europa e
limitação do patrimônio relativo à cultura geral”. Para a autora,
“em primeiro lugar, procuramos fornecer as informações relativas às questões históricas e geográficas. (...) e coadjuvados, os dois, pela escolha de documentários e filmes sobre o período histórico em tela, proporcionaram uma consciência bastante segura no aluno da importância do processo de romanização (durante e depois do Império Romano) para o desenvolvimento das línguas neolatinas e da língua portuguesa, especificamente.” xvii
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Outra técnica de ensino numa perspectiva sociocultural que pode
interessar aos alunos é o estudo de léxico latino através de um dicionário
vulgar. Através deste, decifra-se quais as principais expressões de baixo
calão usadas no Império Romano, assim como compreender sua visão
quanto à sexualidade como civilização que existiu há mais de dois mil anos
atrás. Como exemplo, pode-se explicar que palavras como vagina, merda,
penis, meretrix e cacare mostram que certos termos ainda continuam a ser
usados em português. Curiosidades como estas fazem o discente pensar em
língua como sistema de expressão de seu pensamento (νουσ grego).
Neste viés, o estudo de léxico moderno latino se faz pertinente.
Como expressar, em latim, verbetes de cunho tecnológico ou
contemporâneo, como computador, automóvel e internet, termos que não
existiam na época do Império Romano? Para tal finalidade foi criado o
latinitas recens, dicionário de vocabulário recente que contempla termos de
expressão necessários num contexto capitalista e de sociedade globalizada.
Disponibilizado para abranger termos que até então não possuíam verbetes,
tais neologismos são necessários devido a seu emprego em novas situações.
Como língua veicular da Igreja Católica e instrumento de ciências tais quais
a Botânica e o Direito, tornam-se necessários termos que esclareçam essas
expressões.
Os amantes dos estudos clássicos, apesar de lidarem, certas vezes,
com material escasso ou não traduzido, procuram perpetuar de diversas
formas uma cultura da Antiguidade. Destarte, uma via encontrada pelos
latinistas foram as histórias em quadrinhos. Escritas em latim e expondo
temas de época, este gênero textual e entretenimento serve como forma de
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aprendizagem. Um exemplo de quadrinhos é as aventuras de Asterix e
Obelix. Numa perspectiva histórica, pode-se ler sobre os célebres combates
entre Gálios e Romanos, quando da invasão da Gália (atual França) pelos
últimos. Personagens como Júlio César e seus centuriões são revestidos de
aspectos modernos, numa linguagem mais coloquial, em relação aos textos
clássicos geralmente estudados nesta disciplina.
Tal como Asterix, outro personagem da ficção que serve de veículo
ao estudo do latim é o best-seller Harry Potter. Nas suas duas traduções
latinas, ‘Harrius Potter’ e seus amici podem ser meios de aprendizagem do
idioma por dois motivos. Primeiro, por ser um texto moderno e de fácil
aceitação por parte dos alunos, já que parte já leu ou possui o mínimo de
informações sobre sua temática. Segundo por conter vários neologismos e
verbetes que apóiam o estudo do latinitas recens. Tanto em Philosophi
Lapis (A Pedra Filosofal) quanto em Camara Secretorum (A câmara dos
segredos), o texto nos envolve com uma tradução direta e plena de termos
contemporâneos, muitos dos quais perífrases para vocábulos cotidianos. Lá
encontram-se respostas para perguntas como ‘Como dizer computador ou
avião em latim, termos tecnológicos?’ Vocábulos como carro podem
demonstrar diferenças culturais interessantes. Em latim clássico traduz-se
como carrus, i, da segunda declinação. Mas carrus designa o carro da
época do Império Romano – a carruagem. Para sanar tal ambigüidade, o
tradutor se fez de uma expressão para designar o léxico – quattuor rotula
automotaria. Pensando atentamente, um carro moderno nada mais é do que
um “motor automático de quatro rodas”. Neste caminho, pode-se aprender
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palavras como internetum, captilavium (shampoo) ou autocinetum
laophorum (ônibus).
Independente de se tratar de línguas vernáculas ou estrangeiras,
modernas ou clássicas, o ensino baseado em técnicas que trabalhem os
sentidos humanos é eficaz. Mais que comprovada, a teoria das múltiplas
inteligências de Howard Gardner atesta que são diversas as formas de
obtenção do conhecimento, assim como também presume a teoria dos
sentidos.
Tal tese baseia-se na idéia de que os canais sensitivos são mais
aguçados a depender da personalidade do indivíduo. Nesta teoria há três
tipos de alunos. A saber, sinestésico, auditivo e visual. Boa parte das
crianças é sinestésica, daí a enorme quantidade de atividades que envolvem
o lúdico e a locomoção. Já adultos tendem a ser mais visuais e auditivos.
Nessa perspectiva de ensino de língua estrangeira, técnicas que
abracem figuras, áudios, mapas e animações de histórias são bons
instrumentos de auxílio. Sempre aliada à teoria gramatical, a motivação e a
aprendizagem do latim é facilitada e torna-se mais prazerosa. Em adição ao
já explanado, o professor português João Torrão, numa pesquisa realizada
com discentes patrícios, demonstra que o deficit dos alunos é, por vezes, de
conhecimentos básicos humanísticos e gramaticaisxviii. Assim, entender as
vicissitudes e percursos da língua latina durante o curso histórico é de
grande auxílio.
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CONCLUSÃO
Conclui-se que o ensino-aprendizagem do latim, útil não apenas aos
estudantes de Letras, pode ser processado com técnicas multimídias,
negando a pejorativa imagem de que o profissional desta disciplina é
desajustado socialmente, desatualizado ou sádico. Esse ethos pode ser
porque os amantes da língua latina vêm produzindo vasto material, didático
ou não, neste idioma. Cabe ao docente ter acesso a esses por vezes raros
instrumentos. Técnicas até então reservadas às línguas modernas também
podem fazer parte de uma aula de latim (ou grego). Além de fornecer um
caráter de formação humanística, patriótica e pedagógica, entre outros
argumentos, o latim corrobora para a visão de linguagem como expressão
do pensamento, de um povo, sua época e cultura (volkgeist) e dar subsídios
pedagógicos aliados à nova ordem mundial é uma saída para a procura e
eficácia de seu ensino. Com essas práticas, espera-se e confia-se que frases
como a de um aluno nosso “o latim não é uma língua morta, mas uma
língua que mata!”, com referência à dificuldade em se aprender suas regras,
possam ser proferidas com menos freqüência.
NOTAS i SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2005. p.35 ii VIARO, Mário Eduardo. A Importância do Latim na atualidade. Revista de ciências humanas e sociais, São Paulo, Unisa, v. 1, n. 1, 1999. p. 8
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iii BRITO, Otávio T. de. Do Latim ao Inglês. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1965. iv LOSS, Hartmut apud SCARDOVELLI, Eliane. Namoro germânico com o latim In Revista Língua Portuguesa. Ano I. n. 8. São Paulo: Segmento, 2006. p. 45 v Adstrato é um termo lingüístico que remete à situação de bilingüismo. Ou seja, o latim, na Grécia, por não possuir a mesma carga cultural do vizinho grego, conseguiu conviver concomitantemente nos territórios orientais, emprestando e influenciando lingüisticamente. vi Entenda-se aqui o termo România como os povos latinizados, ou seja, sob a alçada do Império Romano e consequentemente, do latim. vii ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999. p.48 viii Op. Cit., p. 60 ix OLIVEIRA, Antônio Andrade de. O Ensino de Latim na História da Educação Luso-brasileira. 2004. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe. p. 99 x Como bem explícito em ‘O nome da Rosa (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986). Jean Jacques Annaud. 130 min, Globo Vídeo’ xi DUBY apud BRAGANÇA, Álvaro Alfredo. Provérbios medievais em latim – o discurso da dominação. Hipertexto disponível em www.filologia.org.br/anais/anais_238.html. xii http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=236651. xiii WILLIAMS M.; BURDEN R.L. Psychology for Language Teachers. Cambridge. Cambridge University Press, 1997.
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xiv Apud HECKLER, Evaldo, et al. Estrutura das palavras: famílias, morfologia, análise, origem. São Leopoldo: UNISINOS, 1994. 416 p. p. 21 xv Vale a pena ler o artigo de VASCONCELLOS, P. S. A construção da imagem do professor de latim no cinema. Calíope (UFRJ), v. 17, p. 95, 2007 xvi http://iteslj.org/Techniques/Lingzhu-Listening.html, [tradução nossa]. xvii BUONAMASSA, Stefania. O ensino da Filologia Românica em Sergipe: algumas considerações teórico-metodológicas. Hipertexto em www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-08.html xviii Vide pesquisa sobre o ensino do latim em Portugal in TORRÃO, João Manuel. O ensino de latim: exigência ou sedução? Hipertexto disponível em www2.dlc.ua.pt/classicos/ensilodelatim.pdf