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1 NEWSLETTER Agosto 2016 Lei de Protecção ao Consumidor No passado dia 8 de Julho de 2016 foi publicada em Timor-Leste a nova Lei de Protecção ao Consumidor (Lei n.º 8/2016), a qual entrou em vigor no dia seguinte à sua publicação. O estabelecimento de um regime jurídico de protecção e defesa dos consumidores, bem como o incentivo para que a qualidade no sector empresarial timorense seja melhorada, são os objectivos desta nova lei. A presente Lei aplica-se aos bens e serviços fornecidos por quaisquer pessoas singulares e colectivas, nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, que desenvolvam, com carácter profissional, actividades de produção, fabrico, exportação, importação, construção, distribuição, transporte ou comercialização de bens e prestação de serviços, com o fim de adquirir benefícios e vem concretizar uma série de direitos e deveres nas relações de consumo, como sejam o direito à protecção da vida, saúde e segurança, à qualidade dos bens e serviços, formação e educação para o consumo, direito à informação e à protecção dos interesses económicos e contra a publicidade enganosa e abusiva, que até aqui se encontravam consagrados na Constituição da República Democrática de Timor-Leste ou dispersos em legislação avulsa. www.abreuadvogados.com | www.ccadvog.com

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NEWSLETTER

Agosto 2016

Lei de Protecção ao Consumidor

No passado dia 8 de Julho de 2016 foi publicada em Timor-Leste a nova Lei de Protecção ao Consumidor (Lei n.º 8/2016), a qual entrou em vigor no dia seguinte à sua publicação. O estabelecimento de um regime jurídico de protecção e defesa dos consumidores, bem como o incentivo para que a qualidade no sector empresarial timorense seja melhorada, são os objectivos desta nova lei.

A presente Lei aplica-se aos bens e serviços fornecidos por quaisquer pessoas singulares e colectivas, nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, que desenvolvam, com carácter profissional, actividades de produção, fabrico, exportação, importação, construção, distribuição, transporte ou comercialização de bens e prestação de serviços, com o fim de adquirir benefícios e vem concretizar uma série de direitos e deveres nas relações de consumo, como sejam o direito à protecção da vida, saúde e segurança, à qualidade dos bens e serviços, formação e educação para o consumo, direito à informação e à protecção dos interesses económicos e contra a publicidade enganosa e abusiva, que até aqui se encontravam consagrados na Constituição da República Democrática de Timor-Leste ou dispersos em legislação avulsa.

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Uma das principais alterações introduzidas pela presente lei diz respeito ao facto de, doravante, quer a oferta quer a informação sobre os bens e serviços dever ser prestada aos consumidores numa das 2 línguas oficiais (tétum ou português).

Nesse sentido, todas as informações sobre natureza, características e garantias dos bens ou serviços oferecidos ao público no mercado nacional, quer as constantes de rótulos, embalagens, prospectos, catálogos, livros de instruções, quer as divulgadas por meios publicitários, deverão ser prestadas numa das 2 línguas oficiais. Da mesma forma, todos os bens provenientes do es-trangeiro podem ser introduzidos no mercado interno, desde que a informação relativa aos mesmos seja acompanhada de um resumo das informações essenciais numa das línguas oficiais.

Prevê-se ainda a obrigatoriedade de tradução para uma das línguas oficiais de todas as informações escritas relativas a bens e serviços que se encontrem redigidas noutras línguas estrangeiras, aquando da sua venda, locação ou disponibilização por qualquer forma no mercado nacional, o que, dependendo dos casos, poderá implicar a aposição de traduções nos rótulos ou embalagens.

De salientar que, estas disposições relativas ao direito à informação não se aplicam nos 18 meses após a entrada em vigor deste diploma, às informações escritas já existentes e disponíveis no mercado nacional à data da entrada em vigor do mesmo.

Esta nova Lei vem estabelecer prazos mínimos para que o fornecedor de bens garanta o bom estado e bom funcionamento do produto, nomeadamente, 1 ano para bens móveis não consumíveis e 5 anos para bens imóveis. Durante o período de garantia, o seu titular tem direito a exigir a:

a) Reparação totalmente gratuita de todos os vícios e defeitos originários e indemnização pelos danos e prejuízos por estes causados;

b) Substituição do bem por outro bem idêntico ou à devolução do preço pago, caso a reparação não seja possível ou não garanta as condições necessárias para permitir o uso normal do bem;

c) Substituição temporária do bem por outro equivalente, durante o período de tempo necessário à sua reparação, quando esta ocorra por culpa do fornecedor.

Nesta mesma senda, o consumidor a quem seja fornecido um bem ou prestado um serviço defeituosos dispõe de 30 dias (em caso de bem móvel) ou 1 ano (em caso de bem imóvel) para denunciar o defeito e poder exigir a reparação ou a substituição do produto, a redução do preço ou a resolução do contrato. O consumidor terá ainda direito a uma indemnização, caso do fornecimento de bens ou prestação de serviços defeituosos resultem danos patrimoniais e não patrimoniais.

Agosto 2016Lei de Protecção ao Consumidor

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ABREU E C&C ADVOGADOS - TIMOR-LESTE, LDA.Timor Plaza, CBD II, 2,Díli, Timor-Leste

+ 670 78 44 29 99

Esta newsletter contém informação de carácter geral e não substitui o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para esclarecimentos adicionais contacte [email protected].

A Lei prevê ainda que, nos casos de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o mes-mo deva ser informado pelo fornecedor ou seu representante do preço do bem ou serviço, mon-tante de juros de mora e de taxa efectiva anual de juros, acréscimos, numero e periodicidade das prestações e soma total a pagar (com e sem financiamento) por forma a que o consumidor possa ter uma informação detalhada e tomar uma decisão esclarecida. Define-se ainda que os juros de mora decorrentes do incumprimento de obrigações no seu termo não sejam superiores a 2% do valor da prestação.

Com esta nova lei introduz-se ainda a obrigatoriedade de entrega ao consumidor de um orçamento prévio e escrito no caso do fornecimento de serviços, sendo o valor indicado no orçamento válido por 10 dias a contar do seu recebimento pelo consumidor. Caso o orçamento seja aprovado pelo consumidor, torna-se vinculativo para ambas as partes somente podendo ser alterado por acordo.

No que concerne a sanções, prevê a nova Lei de Protecção ao Consumidor que as infracções, à mesma, sem prejuízo de outras sanções de natureza civil, penal e das definidas em legislação específica, são passiveis de aplicação de sanções administrativas, a saber: coima, apreensão, inutilização ou proibição de produção do bem, suspensão de fornecimento de bens ou serviços, suspensão temporária de actividade, revogação de autorização de exercício de actividade ou até interdição total ou parcial de estabelecimento, de obra ou de actividade.

A todos os consumidores deve ser assegurada a defesa dos seus direitos e interesses, sendo ad-missíveis todas as acções adequadas a salvaguardar os mesmos. O Ministério Público e a Defensoria Pública devem também intervir na defesa dos consumidores, mais concretamente em todas as acções administrativas e cíveis que venham a ser intentadas pela violação de direitos e interesses protegidos por esta Lei.

Finalmente, a Lei prevê ainda a possibilidade de criação de associações de consumidores, de âmbito nacional ou local, compostas por um mínimo de 100 ou 10 associados respectivamente, e com interesses genéricos ou específicos.

De notar que a nova Lei prevê que o Governo deva aprovar, no prazo de 1 ano, a regulamentação necessária para a implementação da Lei de Protecção ao Consumidor.

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