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Bem-vindos à segunda Aware da Área de Prática de Concorrência, Regulação e União Europeia. No campo da concorrência o último trimestre testemunhou a aprovação pela Comissão Europeia de inúmeros programas nacionais de combate à crise, continuando a flexibilidade na aplicação das regras sobre auxílios de Estado a dar o mote. Em termos de iniciativas horizontais foram publicados os relatórios analíticos sobre os Regulamentos de 2004 (antitrust e con- centrações) e prepara-se a directiva sobre o private enforcement. No que toca a processos individuais esteve em destaque o sector das novas tecnologias, com a coima recorde aplicada à Intel e um novo capítulo na saga Microsoft, desta vez inciden- te sobre o browser Internet Explorer. De assinalar o falecimento do ex-Comissário da Concorrência, Karel van Miert, uma personagem que marcou decisivamente a paisagem da concorrência europeia. No domínio das comunicações electrónicas as Redes de Banda Larga de Nova Geração estiveram em destaque tanto a nível comunitário quanto nacional. As consultas públicas promovidas pela Comissão e os concursos públicos lançados pelo Governo português assinalam este novo salto tecnológico que irá influenciar a vida de todos, particulares e empresas. Na área dos media & conteúdos assinale-se a extensão do prazo de protecção legal dos direitos de artistas e produtores sobre as suas obras e actuações de 50 para 70 anos e a importância crescente que é dada por reguladores como a OFCOM britânica aos conteúdos Premium para a televisão. Por último, e como é hábito, os tribunais comunitários não esmorecem no seu labor. Da propriedade industrial à protecção dos consumidores, passando pelo fiscal e trabalho, sem esquecer a concorrência, dá-se aqui conta dos principais desenvolvi- mentos. Boa leitura! A Equipa APCRUE 01 www.abreuadvogados.com EDITORIAL NEWSLETTER 23 Junho 2009 CONCORRÊNCIA NA EUROPA - pág. 2 - Relatório sobre regras antitrust - Decisão Intel - Private Enforcement CONCORRÊNCIA EM PORTUGAL - pág. 3 - Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais - Novo Formulário para Notificação de Concentrações COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS - pág. 3 NA EUROPA - Redes de Nova Geração - Compressão de margem na Europa e nos EUA COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS - pág. 5 EM PORTUGAL - Televisão Digital Terrestre (TDT) - Redes de Nova Geração MEDIA NA EUROPA - pág. 5 - Direitos de Autor e Conexos na Música - Comércio online de música ENERGIA E SUPERVISÃO FINANCEIRA - pág. 5 NA EUROPA OS TRIBUNAIS COMUNITÁRIOS - pág. 6 - Consumo - Propriedade Industrial - Fiscal - Concorrência - Laboral e Segurança Social ÁREA DE PRÁTICA CONCORRÊNCIA REGULAÇÃO UNIÃO EUROPEIA

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Page 1: CONCORRÊNCIA NA EUROPA - abreuadvogados.com · - aplicação directa das isenções permitidas pelo n.º 3 do artigo 81.º do TCE; - descentralização da aplicação das regras

Bem-vindos à segunda Aware da Área de Prática de Concorrência, Regulação e União Europeia. No campo da concorrência o último trimestre testemunhou a aprovação pela Comissão Europeia de inúmeros programas nacionais de combate à crise, continuando a flexibilidade na aplicação das regras sobre auxílios de Estado a dar o mote. Em termos de iniciativas horizontais foram publicados os relatórios analíticos sobre os Regulamentos de 2004 (antitrust e con-centrações) e prepara-se a directiva sobre o private enforcement. No que toca a processos individuais esteve em destaque o sector das novas tecnologias, com a coima recorde aplicada à Intel e um novo capítulo na saga Microsoft, desta vez inciden-te sobre o browser Internet Explorer. De assinalar o falecimento do ex-Comissário da Concorrência, Karel van Miert, uma personagem que marcou decisivamente a paisagem da concorrência europeia. No domínio das comunicações electrónicas as Redes de Banda Larga de Nova Geração estiveram em destaque tanto a nível comunitário quanto nacional. As consultas públicas promovidas pela Comissão e os concursos públicos lançados pelo Governo português assinalam este novo salto tecnológico que irá influenciar a vida de todos, particulares e empresas. Na área dos media & conteúdos assinale-se a extensão do prazo de protecção legal dos direitos de artistas e produtores sobre as suas obras e actuações de 50 para 70 anos e a importância crescente que é dada por reguladores como a OFCOM britânica aos conteúdos Premium para a televisão. Por último, e como é hábito, os tribunais comunitários não esmorecem no seu labor. Da propriedade industrial à protecção dos consumidores, passando pelo fiscal e trabalho, sem esquecer a concorrência, dá-se aqui conta dos principais desenvolvi-mentos. Boa leitura! A Equipa APCRUE

01

www.abreuadvogados.com

EDITORIAL

NEWSLETTER 23 Junho 2009

CONCORRÊNCIA NA EUROPA - pág. 2 - Relatório sobre regras antitrust - Decisão Intel

- Private Enforcement

CONCORRÊNCIA EM PORTUGAL - pág. 3 - Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais

Judiciais - Novo Formulário para Notificação de Concentrações

COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS - pág. 3 NA EUROPA - Redes de Nova Geração - Compressão de margem na Europa e nos EUA

COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS - pág. 5 EM PORTUGAL - Televisão Digital Terrestre (TDT) - Redes de Nova Geração

MEDIA NA EUROPA - pág. 5 - Direitos de Autor e Conexos na Música - Comércio online de música

ENERGIA E SUPERVISÃO FINANCEIRA - pág. 5 NA EUROPA

OS TRIBUNAIS COMUNITÁRIOS - pág. 6 - Consumo - Propriedade Industrial - Fiscal - Concorrência - Laboral e Segurança Social

ÁREA DE

PRÁTICA CONCORRÊNCIA

REGULAÇÃO

UNIÃO

EUROPEIA

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Relatório sobre regras antitrust

A Comissão Europeia publicou em 29 de Abril um relatório sobre os cinco primeiros anos de aplicação do Regulamento n.º 1/2003, diploma que implementa os arts. 81.º e 82.º do Tratado das Comunidades Euro-peias (TCE). Apontam-se como mais-valias deste “novo” Regulamento que veio subs-tituir o sistema de notificação prévia: - aplicação directa das isenções permitidas pelo n.º 3 do artigo 81.º do TCE;

- descentralização da aplicação das regras de concorrência europeias e, simultaneamente, europeização das regras nacionais;

- modernização dos poderes de investigação e de decisão da Comissão. Desde 1 de Maio de 2004, foram tomadas 383 decisões de aplicação dos artigos 81.º e 82.º do TCE. Destas, 61 foram tomadas pela Comissão Europeia, sendo as restantes 322 decisões da responsabilidade das Auto-ridades Nacionais de Concorrência. A merecer ainda um exame mais aprofundado apontam-se as regras pro-cessuais no seio da Comissão, o funcionamento da Rede Europeia de Concorrência, a uniformização na aplicação das regras europeias de con-corrência pelas jurisdições nacionais e a cooperação entre a Comissão, as autoridades nacionais e os tribunais.

Simplificação no domínio dos auxílios estatais

A Comissão Europeia adoptou em 29 de Abril um “Pacote de Simplifica-ção” no domínio dos auxílios estatais, o qual inclui um Código de Boas Práticas e uma Comunicação relativa aos procedimentos simplificados, ultrapassando assim uma importante etapa do programa de reformas anunciado pela Comissão no seu Plano de Acção em matéria de auxílios estatais de 2005. Este novo procedimento permitirá ainda uma maior transparência nas decisões, uma vez que será dada às partes interessadas uma nova oportu-nidade de apresentarem observações após a publicação no site da Comis-são de um resumo das medidas notificadas aos Estados Membros. Nenhuma destas iniciativas será aplicável às medidas notificadas pelos Estados Membros no contexto da actual crise económica e financeira.

Relatório sobre regras do controlo de concentrações

A Comissão publicou no dia 18 Junho um relatório sobre o funciona-mento do Regulamento n.º 139/2004, relativo às concentrações comuni-tárias. Os mecanismos jurídicos previstos no Regulamento n.º 139/2004 promoveram um controlo das concentrações mais eficiente eum maior equilíbrio na distribuição de competências entre a Comissão e as autori-dades nacionais.

Private enforcement

Após o Livro Branco publicado em Abril de 2008 e várias alterações propostas pelo Parlamento Europeu no início do ano de 2009, a Comis-são Europeia está agora a finalizar uma proposta legislativa relativa aos mecanismos privados de aplicação das regras de concorrência. O objectivo é facilitar a propositura de acções de responsabilidade civil perante os tribunais nacionais por parte de entidades prejudicadas pela violação das regras de concorrência que visam o ressarcimento de danos provocados, por exemplo, pelo funcionamento de um cartel. A Comissão procura um ponto de equilíbrio entre os excessos provoca-dos pela litigância sistemática típica do sistema norte-americano e as restrições por vezes inultrapassáveis dos sistemas europeus. Neste âmbi-to, a questão das acções colectivas assume particular importância.

No mesmo sentido, foi lançada em Maio pela Comissão (Mercado Inter-no) uma nova consulta online sobre a tutela colectiva dos consumidores.

Multilateral Interchange Fees

Em matéria de antitrust sublinha-se o esforço continuado da Comissão no sentido de mitigar os efeitos de multilateral interchange fees injusti-ficadas no âmbito das redes de cartões de pagamento. No início do segundo trimestre de 2009 foi enviada uma comunicação de objecções à Visa, tendo a Mastercard submetido um conjunto de compromissos que foram aceites pela Comissão. Refira-se que a Mastercard recorreu para o TPI da decisão da Comissão de 19 de Dezembro de 2007.

Microsoft

Na sequência do envio de uma comunicação de objecções no início de 2009 acusando-a de abuso de posição dominante (agregação do browser

Internet Explorer ao sistema operativo Windows), a Microsoft propôs o lançamento do novo Windows 7 (previsto para o final do ano) sem qual-quer browser. Sem prejuízo de ainda se encontrar a analisar a resposta da Microsoft, a Comissão afirmou que melhor do que o Windows sem qual-quer Internet browser seria a possibilidade de os consumidores escolhe-rem o seu browser.

Decisão Intel

No dia 13 de Maio a Comissão Europeia aplicou uma coima recorde de € 1.060 milhões à fabricante norte-americana de microprocessadores Intel por abuso de posição dominante no mercado mundial dos processadores x86. Os acordos com fabricantes e distribuidores de computadores foram considerados ilícitos por incentivarem o uso quase exclusivo dos micro-processadores Intel e retardarem o lançamento no mercado de produtos equipados com processadores da concorrente AMD, cuja denúncia esteve na origem do procedimento.

Ex-Comissário Van Miert

Karel Van Miert, Comissário da Concorrência entre 1993 e 1999, morreu a 23 de Junho. A sua exuberância fazia a delícia dos jornalistas e provo-cava o pânico no seio dos funcionários que lhe preparavam os briefings, dos quais ele fazia gala em se afastar sistematicamente. A sua coragem e frontalidade eram reconhecidas por aliados e adversários e estiveram em evidência em processos como a fusão Boeing/McDonnell ou a investiga-ção à Fórmula 1. O político e académico belga foi também vice-presidente da Comissão Europeia.

NEWSLETTER 23 2009

CONCORRÊNCIA NA EUROPA

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NEWSLETTER 23 2009

Combustíveis e energia eléctrica

Em Abril foi divulgado o último dos três relatórios da Autoridade da Concorrência (AdC) sobre mercado dos combustíveis em Portugal. A AdC concluiu haver um mero paralelismo de comportamentos (quer pelas empresas petrolíferas, quer pelos operadores independentes) sem que haja qualquer indício de uma prática concertada de fixação de pre-ços. Ainda no campo da energia a AdC concluiu em Maio o “Relatório sobre a formação dos Preços Grossistas da Energia Eléctrica em Portugal no segundo semestre de 2007”, período coincidente com os primeiros seis meses de funcionamento do mercado diário do Mibel (Mercado Ibérico de Electricidade).

Novo Formulário para Notificação de Concentrações

Em Março de 2009 foi aprovado pela AdC o novo “Formulário para a Notificação de Operações de Concentração de Empresas”, destacando-se a nova estrutura organizativa, a introdução de definições de conceitos e a possibilidade de envio da notificação por via electrónica.

Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

A nova Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (LOFTJ), Lei n.º 52/2008 de 28 de Agosto, entrou em vigor em 14 de Abril com sérias implicações sobre a competência dos tribunais para apreciar recursos interpostos das decisões da AdC. A competência até agora exclusiva do Tribunal de Comércio de Lisboa

foi substituída pela competência do juízo de comércio da respectiva comarca e a competência exclusiva do Tribunal da Relação de Lisboa em caso de recurso das decisões proferidas pelo juízo de comércio foi substi-tuída pela competência do Tribunal da Relação competente. A nova lei implementou uma fase experimental de 2 anos em apenas três comarcas piloto (Baixo-Vouga, Grande Lisboa-Noroeste e Alentejo Lito-ral) e criou um juízo de comércio apenas nas duas das novas comarcas do Baixo-Vouga e de Grande Lisboa-Noroeste.

CONCORRÊNCIA EM PORTUGAL

COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS NA EUROPA

Recomendação da Comissão sobre as tarifas de terminação

A Comissão Europeia definiu em 7 de Maio os métodos que as Autorida-des Reguladoras Nacionais (ARNs) devem ter em consideração no cálcu-lo das tarifas de terminação (tarifas grossistas praticadas por um opera-dor para estabelecer a ligação de uma chamada proveniente da rede de um outro operador). A Comissão optou pelo método de custos reais, ou seja, as taxas de terminação deverão basear-se nos custos reais incorridos por um operador eficiente e aplicar-se do mesmo modo a todos os opera-dores. Esta Recomendação surge na sequência de uma avaliação realizada em toda a Europa nos últimos 6 anos sobre as tarifas de terminação que demonstrou enormes discrepâncias entre as tarifas de terminação móvel e de rede fixa, tendo a Comissão considerado esta divergência como uma subvenção indirecta aos operadores móveis.

Aprovação de novas regras sobre os preços do roaming

O Regulamento relativo à itinerância nas redes móveis públicas na UE foi alterado no início de Junho para fixar novos preços nas comunicações de voz, envio de mensagens de texto e comunicações de dados. Entre as novas medidas, destaca-se a disponibilização pelos operadores de uma “eurotarifa” para o envio de SMS na região intra-UE/EEE num valor não superior a €0,11. Os consumidores deverão também beneficiar de um melhor conhecimento das tarifas de roaming aplicáveis às SMS e comu-nicações de dados, bem como da possibilidade de pedir a activação de um mecanismo automático de bloqueio do serviço de dados logo que atingido um determinado limite de facturação.

Redes de Banda Larga de Nova Geração

A Comissão Europeia lançou em Junho uma segunda consulta pública sobre a sua Recomendação para a Regulação das Redes de Acesso de Nova Geração. A proposta revista inclui os mecanismos destinados a repartir os riscos decorrentes dos investimentos entre os investidores e os operadores que peçam acesso às redes NGA e prevê que a implementação de fibras múl-tiplas possa justificar obrigações regulamentares menos rígidas. A nova proposta tem sofrido muitas críticas por parte dos operadores de redes e alternativos, reguladores (em particular da OFCOM) e consumi-dores, principalmente por causa da supressão de vários princípios funda-mentais de regulação e de concorrência, nomeadamente o princípio de não-discriminação, tornando a proposta num puro instrumento de incen-tivo ao investimento nas novas redes.

Ainda com vista a facilitar a implementação das Redes de Nova Geração, a Comissão lançou em Maio uma consulta pública sobre o projecto de Linhas Directrizes relativas à aplicação das regras comunitárias de auxí-lios de Estado ao financiamento público das novas redes, sobre o qual foi lançada uma consulta pública. Serão permitidas as ajudas públicas nas zonas onde não existe acesso às redes de alta velocidade (zonas brancas) em oposição às zonas cinzentas (onde já existe ou existirá no curto prazo uma infra-estrutura) e negras (onde existem, pelo menos, duas infra-estruturas concorrentes). Não serão consideradas elegíveis para obter auxílios de Estado as áreas nas quais é anunciado um investimento nas redes de Nova Geração por um operador.

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NEWSLETTER 23 2009

Ao expressar uma surpreendente preferência por determinadas tecnolo-gias a Comissão parece querer abandonar o princípio da neutralidade tecnológica que tem funcionado como uma das traves-mestras da regula-ção comunitária neste sector.

A reforma do Pacote Telecom

O Parlamento Europeu aprovou no passado dia 6 de Maio a reforma do Quadro Regulamentar Europeu das Comunicações Electrónicas, que versam sobre; a) a criação do novo organismo europeu das telecomunica-ções (BEREC); b) as novas directivas sobre privacidade on-line e serviço universal; c) as regras de gestão eficiente do espectro de rádio; d) a eli-minação dos obstáculos regulamentares e das incoerências no mercado único das comunicações; e e) a reforma da directiva relativa à telefonia móvel. No entanto, foi rejeitada a alteração proposta pelos governos nacionais no sentido de uma autoridade nacional poder cortar o acesso à Internet de um utilizador como sanção pelo download ilegal. Os deputados susten-tam que a privação de Internet só pode ter lugar mediante decisão judi-cial prévia. A adopção final do novo Pacote fica assim sujeita à fase de conciliação (último passo do processo de co-decisão), prevista para os meados de Setembro.

Privação de acesso à Internet

A questão da privação do acesso à Internet poderá vir a ser considerada de maneira diferente pelo Conselho Europeu depois de o Conseil Consti-

tutionnel francês ter censurado, em 10 de Junho, uma parte da nova lei francesa sobre a matéria. O Conseil declarou contrária aos princípios constitucionais da liberdade de expressão e da presunção de inocência a concessão a uma autoridade administrativa (e não a um juiz) do poder de privar do acesso à Internet uma pessoa sobre a qual recai o ónus de pro-var a sua inocência. Por seu turno, o governo britânico lançou no dia 16 de Junho uma con-sulta pública com vista à implementação de uma nova lei sancionatória pela partilha ilícita de ficheiros em “peer-to-peer”.

Propriedade Intelectual na Internet

Em Estocolmo, o Tribunal do Distrito condenou os quatro criadores do website The Pirate Bay a uma pena de um ano de prisão por violação de direitos de autor bem como ao pagamento de aproximadamente € 2.774.500 para efeitos de indemnização dos queixosos na indústria da música e do cinema.

Compressão de margem na Europa e nos EUA

Nos últimos três meses foram condenados pelas Autoridades Regulado-ras Nacionais mais de dez operadores europeus de comunicações electró-nicas por práticas de esmagamento de margem. A compressão de margem constitui um abuso de posição dominante nos termos do artigo 82.º do TCE. Na área das comunicações electrónicas existe quando um operador verticalmente integrado que detém uma infra-estrutura essencial a nível grossista cobra aos seus concorrentes de efi-

ciência equivalente no mercado retalhista (fornecedores de serviços de comunicações), pelo acesso a esta rede, tarifas superiores às tarifas que cobra aos seus próprios clientes finais para os mesmos serviços, impe-dindo assim os concorrentes de ter uma margem suficiente para realizar lucros e concorrer eficazmente no mercado retalhista com o operador dominante. O Direito da Concorrência deve conjugar-se aqui com o Direito da Regu-lação. Coloca-se, assim, a questão de saber se um operador cujas tarifas são previamente autorizadas pela ARN pode ser condenado por abuso de posição dominante. A jurisprudência comunitária confirmada em dois casos recentes

(acórdão Deutsche Telekom e decisão Telefónica) considera que uma empresa sujeita a regulação fica responsável face às regras de concorrên-cia desde que continue a beneficiar de uma margem de manobra suficien-te. Nestes dois casos, uma mera autorização prévia pela ARN de tarifas máximas aplicadas pelo operador dominante não foi julgada como priva-ção de toda a margem de manobra porque se mantinha a possibilidade de propor e adoptar tarifas inferiores. No entanto, a existência de regulação ex ante funcionou como circunstância atenuante no cálculo da coima. Diversamente, tendo por objecto a mesma prática de compressão de margem, com obrigação regulamentar de fornecer acesso ao lacete local, o Supreme Court norte-americano considerou no caso Pacific Bell Tele-

phone vs. linkLine Communications (26.03.2009) que tal obrigação não decorria das regras de concorrência mas sim do Telecommunication Act e que apenas uma violação das regras regulamentares podia ser invocada. O Tribunal acrescentou que a possibilidade de uma empresa em situação de monopólio legal cobrar aos seus concorrentes tarifas desvantajosas faz parte do sistema de economia de mercado e que o Supreme Court não se pode tornar num regulador de preços.

Preços predatórios

Em 2 de Abril o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (TJCE), no proc. C-2002/07, confirmou as decisões da Comissão Europeia e do TPI que tinham condenado a Wanadoo por abuso de posição dominante, sob forma de preços predatórios no mercado dos fornecedores de acesso à Internet. Fica assim confirmada a abordagem segundo a qual a Comissão não tinha que provar a possibilidade de a Wanadoo recuperar futuramente as suas perdas para que os preços praticados fossem considerados como ilícitos.

Relatórios publicados pelo European Regulators Grou (ERG):

• Posição sobre o Dividendo Digital – 3 de Junho de 2009

• Relatório sobre a Coerência de Preços nos mercados grossistas

de Banda Larga – Junho de 2009

• Relatório sobre as questões de concorrência relativas à gestão

do Espectro Rádio – Junho de 2009

• Relatório sobre as questões decorrentes da transição para a

gestão do Espectro – Junho de 2009

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NEWSLETTER 23 2009

Fundos públicos nos serviços de radiodifusão

A Comissão Europeia lançou em Abril uma consulta pública sobre a revisão da sua Comunicação relativa ao financiamento estatal dos servi-ços públicos de radiodifusão. As principais modificações são relaciona-das com os princípios de neutralidade tecnológica e de independência editorial.

Ofcom – Pay-TV

A autoridade britânica de regulação publicou no fim de Junho um relató-rio, submetido a consulta pública, no qual propõe impor uma obrigação de oferta grossista ao operador de televisão por satélite dominante, BSkyB, correspondente à disponibilização dos seus canais Premium de desporto e de cinema aos seus concorrentes, aplicando os preços regula-dos pela OFCOM.

Direitos de Autor e Conexos na Música

O Parlamento Europeu aprovou em Abril uma proposta de Directiva da Comissão Europeia sobre a protecção de direitos conexos com o direito de autor tendo em vista essencialmente as obras musicais. A proposta estabelece novas regras sobre quatro temas: (i) o período de protecção legal em benefícios de intérpretes, executantes e produtores é estendido de 50 para 70 anos; (ii) os músicos de estúdio (executantes) beneficiarão de uma remuneração suplementar correspondente a 20% das receitas das vendas online e offline; (iii) a introdução do princípio “use-

it-or-lose-it” que permite aos artistas recuperarem os seus direitos passa-dos 50 anos, no caso de o produtor não comercializar a gravação sonora; (iv) a proibição de os produtores de discos deduzirem uma parte dos royalties que pagam aos artistas.

Comércio online de música

Na sequência duma mesa redonda organizada no fim de 2008 para discu-tir as questões relativas ao comércio online, a Comissão Europeia lançou em Maio de 2009 uma consulta pública especifica para a música online, a fim de recolher as opiniões dos diferentes protagonistas sobre a neces-sidade de criar uma licença pan-europeia e fomentar a concorrência entre sociedades de gestão colectiva.

MEDIA NA EUROPA

MEDIA NA EUROPA

COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS EM PORTUGAL

Redes de Nova Geração

Foi aberto em Maio um concurso, cujo prazo foi prorrogado até 3 de Agosto, para a instalação, gestão, exploração e manutenção de redes de comunicações electrónicas de alta velocidade na zona Centro de Portugal Continental.

Implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT)

No plano de migração da Televisão Analógica para a TDT, foi esco-lhida a data de 29 de Abril de 2009 para iniciar a transmissão das emissões digitais terrestres pelo operador Portugal Telecom. Até 26 de Abril de 2012, deverá ser efectuado o “switch-off” correspondente à cessação das emissões analógicas de televisão em todo o território nacional. Foi lançada uma consulta pública pela ANACOM para a avaliação

de cenários alternativos para a utilização do dividendo digital, ou seja, do espectro que, actualmente atribuído à televisão analógica, será libertado em resultado da sua conversão em formato digital. O aproveitamento do dividendo digital poderá dar-se para televisão móvel, televisão em alta definição, serviços móveis e fixos de banda larga ou radiodifusão sonora digital, entre outras.

Obrigação de controlo dos preços das chamadas móveis

Em 23 de Junho o Tribunal Administrativo de Lisboa julgou impro-cedente o pedido formulado pela TMN de suspensão de eficácia da deliberação da ANACOM de 2 de Julho de 2008, relativa à obriga-ção de controlo de preços no âmbito dos mercados grossistas de ter-minação de chamadas vocais em redes móveis individuais.

ENERGIA E SUPERVISÃO FINANCEIRA NA EUROPA

O Conselho da UE adoptou por unanimidade em 25 de Junho o Pacote de medidas legislativas relativas ao Mercado Interno da Energia. O Paco-te contém duas Directivas sobre as regras comuns no Mercado Interno da Electricidade e do Gás, dois Regulamentos sobre as condições de acesso às redes transfronteiriças da Electricidade e do Gás e um Regulamento que estabelece a Agência de Cooperação dos Reguladores da Energia.

A Comissão Europeia adoptou no fim de Maio uma Comunicação na qual propõe reformas ambiciosas na estrutura actual dos comités no sec-tor dos serviços financeiros, com a criação de um novo Conselho Euro-peu de Risco Sistémico (CERS) e de um Sistema Europeu de Superviso-res Financeiros (SESF), composto por novas autoridades de supervisão europeias.

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NEWSLETTER 23 2009

OS TRIBUNAIS COMUNITÁRIOS

Concorrência

TJCE, proc. C-8/08, T-Mobile Netherlands BV e outros c. Raad van

bestuur van der Nederlandse Mededingingsautoriteit: uma única reunião entre empresas poderá constituir uma prática concertada violadora das normas comunitárias da concorrência. O tribunal nacional deve aplicar a presunção - consolidada na jurisprudência comunitária – de existência de um nexo causal entre a informação trocada e a conduta das empresas participantes no mercado. TJCE, proc. C-431/07 P, Bouygues SA, Bouygues Télécom SA v Commis-

sion, French Republic, Orange France SA, Société française du radioté-

léphone - SFR: o TJCE confirmou a decisão do TPI ao entender que a redução retroactiva das taxas devidas pela Orange e pela SFR, de forma a alinhá-las com as cobradas à Bouygues Télécom, não constitui auxílio de Estado nem viola o princípio da não discriminação. TJCE, proc. C-260/07, Pedro IV Servicios / Total España SA: não bene-ficia da isenção por categoria ao abrigo do Regulamento n.º 2790/1999 um acordo de estação de serviço de duração superior a cinco anos se o fornecedor der de locação ao revendedor a estação de serviço mas não for proprietário da estação nem do terreno. Igualmente não beneficiam da referida isenção cláusulas contratuais que levem a uma fixação do preço de venda ao público ou a uma imposição do preço de venda mínimo pelo fornecedor, cabendo ao órgão jurisdicional de reenvio averiguar se o revendedor está sujeito a essas contingências. TJCE, proc. C-429/07, X B.V.: ao abrigo das normas comunitárias da concorrência, a Comissão Europeia pode, por sua própria iniciativa, apresentar observações escritas junto dos tribunais nacionais no âmbito de um processo referente à dedutibilidade de uma coima aplicada em resultado da violação dos artigos 81.º e 82.º do TCE relativamente aos lucros tributáveis.

Consumo

TJCE, proc. C-243/08, Pannon GSM Zrt. / Erzsébet Sustikné Gyırfi: à luz da Directiva 93/13/CEE do Conselho, de 5 de Abril de 1993, relativa às cláusulas abusivas nos contratos celebrados com os consumidores, o tribunal nacional deve apreciar oficiosamente o carácter abusivo de uma cláusula atributiva de jurisdição de um contrato celebrado entre um con-sumidor e um profissional. TJCE, proc. apensos C-261/07 e C-299/07, VTB-VAB NV / Total Bel-

gium NV e Galatea BVBA / Sanoma Magazines Belgium NV: é descon-forme com o Direito Comunitário uma legislação nacional que proíba, sem ponderar as circunstâncias específicas, qualquer oferta combinada de produtos ou serviços feita por um vendedor a um consumidor. Os Estados-Membros não podem adoptar medidas mais restritivas do que as definidas pela directiva sobre as práticas comerciais desleais, mesmo com o fim de alcançarem um nível de protecção mais elevado dos consu-midores.

Fiscal

TJCE, proc. C-155/08 e C-157/08, X and E.H.A. Passenheim-van Schoot

v Staatssecretaris van Financiën: é conforme à legislação comunitária o estabelecimento de um prazo de caducidade alargado quando os bens sujeitos a tributação ocultados à administração fiscal sejam detidos nou-tro Estado-Membro.

Laboral e Segurança Social

TJCE, proc. apensos C-22/08 e C-23/08, A. Vatsouras e J. Koupatantze /

ARGE Nürnberg 900: independentemente da respectiva qualificação à luz da legislação nacional, uma pessoa que procura emprego e estabele-ceu laços reais com o mercado de trabalho de um Estado-Membro pode beneficiar de uma prestação de natureza financeira destinada a facilitar o acesso ao emprego.

Livre Circulação de Mercadorias

TJCE, proc. C-531/07, Fachverband der Buch- und Medienwirtschaft /

LIBRO Handelsgesellschaft mbH: a proibição de os importadores de livros em língua alemã estabelecerem um preço inferior ao preço de ven-da ao público fixado ou recomendado pelo editor para o Estado de edi-ção, como sucede com a legislação austríaca, constitui uma restrição injustificada à livre circulação de mercadorias.

Liberdade de Estabelecimento

TJCE, proc. C-531/06 e proc. apensos C-171/07, Comissão / Itália, Apo-

thekerkammer des Saarlandes: as liberdades de estabelecimento e de circulação de capitais não se opõem a uma regulamentação nacional que impede que as pessoas que não tenham a qualidade de farmacêutico dete-nham e explorem farmácias, quando o objectivo visado seja assegurar um abastecimento de medicamentos à população seguro e de qualidade.

Propriedade Industrial

TJCE, proc. C-487/07 L'Oréal / Bellure NV.: constitui acto de concorrên-cia desleal proibido o destaque dado a um produto ou serviço que se comercializa como sendo uma imitação ou reprodução de um produto ou serviço de marca, no âmbito de publicidade comparativa. TJCE, proc. C-59/08, Copad SA v Christian Dior couture SA, Société

industrielle lingerie (SIL): o titular de uma marca pode opor-se à comer-cialização dos seus produtos de luxo em armazéns de desconto, nomea-damente quando tal resulte de um incumprimento contratual e prejudique a imagem de prestígio e charme associada aos produtos em causa.

Esta Newsletter contém informações e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para esclarecimentos adicionais contactar Armando Martins Ferreira ([email protected]) ou Miguel Mendes Pereira ([email protected]) ou visite o nosso site: www.abreuadvogados.com