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i NARA ANGELICA POLICARPO DIFUSIVIDADE DE METANO E DIÓXIDO DE CARBONO EM N-PARAFINA CAMPINAS 2014

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    NARA ANGELICA POLICARPO

    DIFUSIVIDADE DE METANO E DIÓXIDO DE CARBONO

    EM N-PARAFINA

    CAMPINAS

    2014

  • ii

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

    E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

    NARA ANGELICA POLICARPO

    DIFUSIVIDADE DE METANO E DIÓXIDO DE CARBONO

    EM N-PARAFINA

    Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de

    Engenharia Mecânica e Instituto de Geociências da

    Universidade Estadual de Campinas como parte dos

    requisitos exigidos para a obtenção do título de

    Doutora em Ciências e Engenharia de Petróleo na

    área de Explotação.

    CAMPINAS

    2014

  • iv

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

    E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

    TESE DE DOUTORADO

    DIFUSIVIDADE DE METANO E DIÓXIDO DE CARBONO

    EM N-PARAFINA

    Autor: Nara Angelica Policarpo

    Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Ribeiro

    Campinas, 19 de dezembro de 2014.

  • vi

  • vii

    DEDICATÓRIA

    “Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um

    jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação

    angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de

    abandonar nobremente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça

    alguma coisa?”

    Usando as palavras de Clarice Lispector e prosseguindo teimosamente graças ao apoio e

    incentivo fundamentais da minha mãe e do meu irmão, não esquecendo do amor do pequeno

    Samuel, dedico esse trabalho a eles que amo tanto. Dedico também ao Prof. Dr. Paulo Ribeiro

    que não desistiu de mim.

  • viii

  • ix

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de expressar o meu agradecimento e reconhecimento para aqueles que

    contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho de forma direta ou indireta.

    Ao Prof. Dr. Paulo Ribeiro pela orientação, apoio e disponibilidade inestimáveis ao longo

    do trabalho.

    À CAPES e à Petrobras que, através do Curso de Ciências e Engenharia de Petróleo da

    Unicamp, financiaram a pesquisa. Em especial, agradeço ao programa PDEE da CAPES que

    permitiu que parte da pesquisa fosse realizada no exterior em parceria com a Universidade de

    Oklahoma.

    À disponibilidade de infraestrutura do Departamento de Engenharia de Petróleo da

    Unicamp e pela ajuda sempre constante do Pompêo e Leandro na realização dos experimentos.

    Aos demais professores da engenharia de petróleo pelos ensinamentos. Agradeço ainda o suporte

    carinhoso de Sônia, Alice, Michele, Fátima e Gisele ao longo dos anos.

    Aos colegas do DEP e do LEP, onde compartilhamos experiências e trocamos

    conhecimento e amizade. Agradeço a Tarsila Atolini que carinhosamente me auxiliou no início

    dos experimentos.

    Ao Prof. Dr. Faruk Civan por ter me recebido e orientado em parte do trabalho durante o

    tempo de estágio no exterior e à Universidade de Oklahoma pela estimada receptividade.

    Aos meus amigos, Luiza e Nilo, que me ajudaram através de sua amizade e experiência.

    À minha família – mãe, irmão e sobrinho – que sempre estiveram ao meu lado,

    incondicionalmente.

    A Deus, que me deu forças para superar os obstáculos e prosseguir até o fim.

    E, por fim, aos que contribuíram de alguma forma para a execução deste trabalho.

  • x

  • xi

    “Se eu vi mais longe, foi por estar de pé

    sobre ombros de gigantes.”

    Isaac Newton

  • xii

  • xiii

    RESUMO

    A miscibilidade natural que ocorre em misturas gás/líquido é um processo governado pela

    transferência de massa. A caracterização desse processo recai na obtenção dos parâmetros de

    solubilidade do gás no líquido e a sua difusividade. Esses parâmetros respondem duas questões

    determinantes no planejamento de operações envolvidas na explotação de hidrocarbonetos, como

    a interação de fluidos do reservatório com o de perfuração, completação ou em operações de

    recuperação avançada de óleo através da injeção de gás. Essas questões dizem respeito a

    quantidade máxima de gás dissolvido no líquido e em que taxa isso ocorre. Esse trabalho tem por

    objetivo principal determinar o coeficiente de difusividade dos gases metano e dióxido de

    carbono em n-parafina. A medição experimental foi feita utilizando-se a técnica do decaimento

    de pressão através da utilização de uma célula PVT. Para a mistura metano/n-parafina foram

    medidos dados para frações molares de 7,7% a 92,3%, pressões de 3,5 MPa a 35 MPa e

    temperaturas de 62oC a 118

    oC, enquanto que para a mistura dióxido de carbono/n-parafina foram

    feitos experimentos para 25%, 50% e 75% em mol de gás nas pressões de 4 MPa, 8 MPa e 13

    MPa, a 70oC. Três modelagens matemáticas – ZHANG et al. (2000), CIVAN e RASMUSSEN

    (2009) e SACHS (1998) – foram utilizadas no tratamento dos dados experimentais para obtenção

    dos parâmetros difusivos: as duas primeiras analíticas e, a terceira, numérica. A principal

    diferença entre elas está na condição de contorno aplicada na interface gás/líquido. Os resultados

    obtidos para o coeficiente de difusão são similares aos encontrados na literatura e a modelagem

    de CIVAN e RASMUSSEN (2009) foi a que melhor se ajustou aos dados experimentais,

    mostrando que o uso da condição de contorno de não equilíbrio na interface confirma a existência

    de uma resistência interfacial à transferência do gás para a fase líquida.

    Palavras Chave: Difusão, Metano, Dióxido de Carbono, Parafinas.

  • xiv

  • xv

    ABSTRACT

    Natural gas/liquid miscibility is a process governed by mass transfer. The characterization of

    such process requires the determination of gas/liquid solubility and diffusivity parameters. Those

    parameters are important in hydrocarbon exploitation activities such as drilling, completion,

    production and enhanced oil recovery processes. The amount of gas that is dissolved in the liquid

    phase and the rate at which it occurs are essential issues to be addressed in planning and

    executing those operations. The pressure decay technique using a PVT cell was applied to

    measure the diffusivity of methane and carbon dioxide in n-paraffin. The data were obtained for

    gas mole fractions ranging from 7.7% to 92.3%, pressures from 3.5 MPa to 35 MPa, and

    temperatures from 62oC to 118

    oC for the methane/n-paraffin mixture. The measurements with

    carbon dioxide/n-paraffin mixtures involved 25%, 50% and 75% gas mole fraction, pressures up

    to 13 MPa, at 70oC. Three mathematical models – ZHANG et al. (2000), CIVAN and

    RASMUSSEN (2009) and SACHS (1998) – were applied to fit the experimental data in order to

    determine the diffusivity parameters. The main differences among them are concerned with the

    boundary condition at the gas-liquid interface. Diffusion coefficient results agreed satisfactorily

    with published data and CIVAN and RASMUSSEN’s (2009) model better represented the

    experimental data, showing that the non-equilibrium boundary condition confirms a gas/liquid

    interface resistance.

    Key Word: Diffusion, Methane, Carbon Dioxide, Paraffins.

  • xvi

  • xvii

    SUMÁRIO

    RESUMO ..................................................................................................................................... xiii

    ABSTRACT .................................................................................................................................. xv

    SUMÁRIO ................................................................................................................................... xvii

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. xxi

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................................ xxv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................... xxvii

    LISTA DE SÍMBOLOS ............................................................................................................. xxix

    1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

    1.1. Apresentação do Problema ......................................................................................... 1

    1.2. Motivação ................................................................................................................... 3

    1.3. Objetivos .................................................................................................................... 4

    1.4. Organização da Tese .................................................................................................. 4

    2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................ 7

    2.1. Solubilidade de Gases em Fluidos de Perfuração ...................................................... 7

    2.2. Transferência de Massa em Misturas Gás/Líquido .................................................. 10

    2.3. Método Experimental do Decaimento da Pressão (PD) ........................................... 12

    2.4. Outros Métodos Experimentais para Medida da Difusão ........................................ 20

    2.5. Considerações Finais ................................................................................................ 26

    3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 27

    3.1. Materiais ................................................................................................................... 27

    3.2. Aparato Experimental .............................................................................................. 30

    3.3. Metodologia Experimental ....................................................................................... 35

    3.3.1. Quantidades Molares das Substâncias Alimentadas na Célula PVT ............... 36

  • xviii

    3.3.2. Simulação da Pressão de Saturação da Mistura ............................................... 37

    3.3.3. Expansão à Composição Constante ................................................................. 38

    3.3.4. Teste de Decaimento da Pressão ...................................................................... 42

    4. MODELAGEM MATEMÁTICA .......................................................................................... 45

    4.1. Difusão de Gases em Líquidos ................................................................................. 45

    4.2. Solução Analítica da Equação da Difusão ............................................................... 49

    4.2.1. Modelo Analítico de ZHANG et al. (2000) ..................................................... 50

    4.2.2. Modelo Analítico de CIVAN e RASMUSSEN (2009) ................................... 52

    4.3. Solução Numérica da Equação da Difusão .............................................................. 65

    4.3.1. Modelo de SACHS (1998) ............................................................................... 66

    4.4. Considerações Finais ................................................................................................ 71

    5. APLICAÇÃO DA MODELAGEM MATEMÁTICA ........................................................... 73

    5.1. Informações Iniciais ................................................................................................. 73

    5.2. Modelo Analítico de ZHANG et al. (2000) ............................................................. 74

    5.3. Modelo Analítico de CIVAN e RASMUSSEN (2009) ............................................ 77

    5.4. Modelo Numérico de SACHS (1998) ...................................................................... 87

    5.5. Comparativo entre as Modelagens Matemáticas ...................................................... 96

    6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 103

    6.1. Coeficientes de Difusão para a Mistura Metano/n-Parafina .................................. 103

    6.1.1. Ajuste Multivariável para a Estimativa da Difusividade de Metano em n-

    Parafina................................................................................................................................. 115

    6.2. Coeficientes de Difusão para a Mistura Dióxido de Carbono/n-Parafina .............. 122

    6.3. Considerações Finais .............................................................................................. 135

    7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................... 137

    7.1. Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 137

  • xix

    7.2. Resultados Experimentais ...................................................................................... 138

    7.3 Recomendações para Trabalhos Futuros ................................................................ 141

    REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 143

    APÊNDICE A - CÁLCULO DO FATOR DE COMPRESSIBILIDADE (Z) ............................ 151

    APÊNDICE B - PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DA MISTURA METANO/N-

    OCTANO .................................................................................................................................... 155

    B.1. Introdução ............................................................................................................... 155

    B.2. Solubilidade ............................................................................................................ 155

    B.3. Pressão de Saturação ............................................................................................. 166

    B.4. Compressibilidade Isotérmica ............................................................................... 168

    APÊNDICE C - PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DA MISTURA DIÓXIDO DE

    CARBONO/N-PARAFINA ........................................................................................................ 171

    C.1. Considerações Iniciais ............................................................................................ 171

    C.2. Equações de Equilíbrio e Difusivas ....................................................................... 171

    APÊNDICE D – GRÁFICOS E TABELAS REFERENTES AOS DADOS DA MISTURA

    METANO/N-PARAFINA ........................................................................................................... 183

    D.1. Gráficos e Tabelas Referentes à Modelagem Matemática do Método Analítico de

    ZHANG et al. (2000) ............................................................................................................... 184

    D.2. Gráficos e Tabelas Referentes à Modelagem Matemática do Método Analítico de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009) ............................................................................................. 187

    D.3. Gráficos e Tabelas Referentes à Modelagem Matemática do Método Numérico de

    SACHS (1998) ......................................................................................................................... 195

    APÊNDICE E – PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL FATORIAL ...................................... 199

    E.1. Considerações Gerais ............................................................................................. 199

    E.2. Delineamento Composto Central Rotacional (DCCR) .......................................... 201

    E.3. Considerações Finais .............................................................................................. 207

  • xx

  • xxi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 – Solubilidade do metano em função da pressão a 70ºC. Legenda: – n-parafina; –

    iso + n-parafina; ○ – éster; linha contínua – modelo termodinâmico (RIBEIRO et al., 2006). ...... 9

    Figura 2.2 – Diagrama esquemático da célula PVT para medição experimental da difusividade de

    gases em líquidos (RASMUSSEN e CIVAN, 2009). .................................................................... 13

    Figura 2.3 – Variação da pressão em função do tempo a volume constante no sistema C1/nC5 a

    37,8ºC (RIAZI, 1996). ................................................................................................................... 13

    Figura 2.4 – Coeficiente de difusão e composição vs. pressão da mistura C1/nC5 a 37,8ºC.

    Legenda: linha contínua (–) - diffusion coeficiente; linha tracejada (--) - mole fraction methane

    (RIAZI, 1996). ............................................................................................................................... 14

    Figura 2.5 – Variação da pressão calculada com o tempo para as três diferentes condições de

    contorno na interface (equilíbrio, quase equilíbrio e não equilíbrio) com os dados experimentais

    de ZHANG et al. (2000) para a mistura CO2/óleo (THARAVANISAN et al., 2004). ................. 19

    Figura 2.6 – Curvas de altura da fase líquida em função do tempo para várias pressões obtidas por

    JAMIALAHMADI et al. (2006). .................................................................................................. 20

    Figura 2.7 – Variação da viscosidade e densidade da mistura em função da pressão para a mistura

    metano/dodecano (JAMIALAHMADI et al., 2006). .................................................................... 21

    Figura 2.8 – Coeficiente de difusão do metano em dodecano versus pressão em diferentes

    temperaturas (JAMIALAHMADI et al., 2006). ............................................................................ 22

    Figura 2.9 – Dependência do coeficiente de difusividade com a viscosidade da mistura para

    metano/dodecano (JAMIALAHMADI et al., 2006). .................................................................... 22

    Figura 2.10 – Difusão de gás através do filtrado (BODWADKAR e CHENEVERT, 1997). ...... 24

    Figura 2.11 – Volume de gás acumulado no poço em relação ao tempo em um poço horizontal

    HPHT (BRADLEY et al., 2002). .................................................................................................. 25

    Figura 3.1 – Composições da n-parafina utilizada nos testes experimentais. ............................... 28

    Figura 3.2 – Imagem de uma mistura gás-líquido no interior da célula PVT. .............................. 31

    Figura 3.3 – Célula PVT visual. .................................................................................................... 31

    Figura 3.4 – Bomba hidráulica. ..................................................................................................... 32

    Figura 3.5 – Monitor e encoder, respectivamente. ........................................................................ 33

  • xxii

    Figura 3.6 – Vasos de pressão onde os fluidos de processo ficam armazenados. ......................... 34

    Figura 3.7 – Visão geral do sistema PVT com os seus componentes. .......................................... 34

    Figura 3.8 – Diagrama esquemático do sistema PVT. .................................................................. 35

    Figura 3.9 – Envelope de fases gerado pelo PVT Pro para uma mistura CH4/n-parafina com 20%

    em mol de CH4. ............................................................................................................................. 38

    Figura 3.10 – Software que controla a bomba destacando (tracejado) o volume de amostra

    carregado dentro da célula. ............................................................................................................ 40

    Figura 3.11 – Diagrama esquemático do fluido dentro da célula. ................................................. 40

    Figura 3.12 – Imagem da primeira bolha formada na mistura gás-líquido indicando a ocorrência

    do ponto de bolha. ......................................................................................................................... 41

    Figura 3.13 – Dados do CCE para a mistura CO2/n-parafina a 70oC e 75% em mol de CO2. ...... 42

    Figura 3.14 – Curva experimental de decaimento da pressão. ...................................................... 44

    Figura 4.1 – Curva de decaimento da pressão para a mistura metano/n-parafina com 50% em mol

    de metano a 90oC. .......................................................................................................................... 46

    Figura 4.2 – Diagrama esquemático da difusão gás/líquido em placa plana. ................................ 47

    Figura 4.3 – Diagrama esquemático do procedimento de cálculo do método de CIVAN e

    RASMUSSEN (2009) para obtenção dos parâmetros de transferência de massa. ........................ 65

    Figura 4.4 – Fase líquida discretizada no tempo e espaço............................................................. 67

    Figura 4.5 – Diagrama de blocos para o cálculo de D. .................................................................. 71

    Figura 5.1 – Curva experimental de decaimento da pressão na mistura metano/n-octano a 60oC. 74

    Figura 5.2 – Ajuste linear dos dados experimentais para a mistura metano/n-octano a 60oC. ..... 75

    Figura 5.3 – Ajuste linear para a região de tempos curtos para a mistura metano/n-octano a 60oC

    e 70% em mol de metano. ............................................................................................................. 80

    Figura 5.4 – Ajuste linear para a região de tempos longos para a mistura metano/n-octano a 60oC

    e 70% em mol de metano. ............................................................................................................. 80

    Figura 5.5 – Curva de pressão vs. tempo para o TESTE #2 evidenciando a divisão da difusão

    entre tempos curtos e tempos longos. ............................................................................................ 82

    Figura 5.6 – Desvio total ER em função de tc para λ e tc ajustados por mínimos quadrados. ..... 83

    Figura 5.7 – Fator de compressibilidade (Z) em função da razão (p/Z) para o TESTE #2........... 84

    Figura 5.8 – Curva evidenciando o ruído a partir das 100 horas de teste difusivo. ...................... 85

  • xxiii

    Figura 5.9 – Dados experimentais e ajuste numérico através da função do tipo VTF para a mistura

    metano/n-octano (TESTE #1). ....................................................................................................... 89

    Figura 5.10 – Dados experimentais e ajuste numérico através da função do tipo VTF para a

    mistura metano/n-octano (TESTE #2). .......................................................................................... 90

    Figura 5.11 – Regressão não linear dos dados experimentais (p vs. t) para o TESTE #1. ............ 91

    Figura 5.12 – Regressão não linear dos dados experimentais (p vs. t) para o TESTE #2. ............ 92

    Figura 5.13 – Dados experimentais e numéricos de pressão versus tempo para o valor ajustado de

    D = 11,7 x 10-9

    m2/s para o TESTE #1. ......................................................................................... 94

    Figura 5.14 – Dados experimentais e numéricos de pressão versus tempo para o valor ajustado de

    D = 10,0 x 10-9

    m2/s para o TESTE #2. ......................................................................................... 94

    Figura 5.15 – Desvios relativos entre a pressão experimental e a calculada numericamente para os

    TESTES #1 e #2. ........................................................................................................................... 96

    Figura 5.16 – Pressão experimental e pressão calculada através das modelagens matemáticas para

    a mistura metano/n-octano (TESTE #1). ....................................................................................... 98

    Figura 5.17 – Pressão experimental e pressão calculada através das modelagens matemáticas para

    a mistura metano/n-octano (TESTE #2). ....................................................................................... 98

    Figura 6.1 – Ajuste da equação da reta da modelagem de ZHANG et al. (2000) aos dados do teste

    #R1 (0,20 em mol de CH4 e 70oC). ............................................................................................. 105

    Figura 6.2 – Curvas de pressão vs. tempo experimental e calculada através do método de

    ZHANG et al. (2000) para o teste #R4 (0,80 em mol de CH4 e 110oC). .................................... 106

    Figura 6.3 – Curvas de pressão vs. tempo experimental e calculada através do método de CIVAN

    e RASMUSSEN (2009) para o teste #R1 (0,20 em mol de CH4 e 70oC). ................................... 108

    Figura 6.4 – Curvas de pressão vs. tempo experimental e calculada através do método de SACHS

    (1998) para o teste #R4 (0,80 em mol de CH4 e 110oC). ............................................................ 111

    Figura 6.5 – Curvas de pressão vs. tempo experimental e calculada através do método de SACHS

    (1998) para o teste #R5 (0,077 em mol de CH4 e 90oC). ............................................................ 111

    Figura 6.6 – Difusividades em função da pressão inicial para os testes #R1 ao #R12................ 113

    Figura 6.7 – Curvas de pressão vs. tempo experimental e calculada através das três modelagens

    matemáticas para o teste #R4 (0,80 em mol de CH4 e 110oC). ................................................... 113

    Figura 6.8 – Variáveis de entrada e saída estudadas no DCCR para a mistura metano/n-parafina.

    ..................................................................................................................................................... 116

  • xxiv

    Figura 6.9 – Resíduos vs. difusividades previstas pelo modelo quadrático. ............................... 120

    Figura 6.10 – Resíduos vs. difusividades previstas pelo modelo quadrático. ............................. 120

    Figura 6.11 – Valores calculados pelo modelo vs. valores calculados através da modelagem de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009). ................................................................................................ 121

    Figura 6.12 – Curvas de decaimento de pressão para os três testes, #E1, #E2 e #E3, da mistura

    CO2/n-parafina a 70oC. ................................................................................................................ 123

    Figura 6.13 – Ajuste linear dos dados experimentais para a mistura CO2/n-parafina para 0,25 em

    mol de CO2 (#E1). ....................................................................................................................... 125

    Figura 6.14 – Ajuste linear dos dados experimentais para a mistura CO2/n-parafina para 0,50 em

    mol de CO2 (#E2). ....................................................................................................................... 125

    Figura 6.15 – Ajuste linear dos dados experimentais para a mistura CO2/n-parafina para 0,75 em

    mol de CO2 (#E3). ....................................................................................................................... 126

    Figura 6.16 – Comparação de tendências das difusividades desse trabalho, obtidas através de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009), com outros trabalhos em função da pressão inicial. .............. 129

    Figura 6.17 – Dados experimentais versus dados obtidos analiticamente através do método de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009) para a mistura CO2/n-parafina, amostra #E1. ......................... 130

    Figura 6.18 – Dados experimentais versus dados obtidos analiticamente através do método de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009) para a mistura CO2/n-parafina, amostra #E2. ......................... 131

    Figura 6.19 – Dados experimentais versus dados obtidos analiticamente através do método de

    CIVAN e RASMUSSEN (2009) para a mistura CO2/n-parafina, amostra #E3. ......................... 131

    Figura 6.20 – Dados experimentais e numéricos utilizando a modelagem de SACHS (1998) para

    a amostra #E1 – mistura CO2/n-parafina. .................................................................................... 133

    Figura 6.21 – Dados experimentais e numéricos utilizando a modelagem de SACHS (1998) para

    a amostra #E2 – mistura CO2/n-parafina. .................................................................................... 133

    Figura 6.22 – Dados experimentais e numéricos utilizando a modelagem de SACHS (1998) para

    a amostra #E3 – mistura CO2/n-parafina. .................................................................................... 134

    Figura 6.23 – Difusividade (D) para os testes #E1, #E2 e #E3 para a mistura CO2/n-parafina para

    as três modelagens matemáticas testadas. ................................................................................... 135

  • xxv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 – Coeficientes de difusão (D) para o sistema metano/água (SACHS, 1998). ............. 15

    Tabela 2.2 – Comparação entre os coeficientes de difusão (D) obtidos por diversos autores

    experimentalmente e os modelados por CIVAN e RASMUSSEN (2002) para as mesmas

    misturas. ......................................................................................................................................... 17

    Tabela 3.1 – Propriedades críticas das substâncias estudadas (KNUDSEN et al., 1999). ............ 27

    Tabela 3.2 – Composição da n-parafina utilizada nos ensaios. ..................................................... 29

    Tabela 3.3 – Propriedades das substâncias alimentadas na célula PVT. ....................................... 36

    Tabela 4.1 – co e tDco no ponto de cruzamento (adaptado de CIVAN e RASMUSSEN, 2009). . 62

    Tabela 5.1 – Dados dos experimentos utilizados no cálculo dos parâmetros difusivos. ............... 77

    Tabela 5.2 – Parâmetros difusivos para a mistura metano/n-octano para os TESTES #1 e #2. .... 77

    Tabela 5.3 – Cálculo do tempo de crossover (tco) para o TESTE #2. .......................................... 81

    Tabela 5.4 – Desvios, λ e tc ajustados para o TESTE #2. ............................................................ 82

    Tabela 5.5 – Dados dos testes utilizados no cálculo dos parâmetros difusivos............................. 85

    Tabela 5.6 – Dados calculados para os TESTES #1 e #2. ............................................................. 86

    Tabela 5.7 – Parâmetros difusivos calculados para os TESTES #1 e #2 e os valores médios. ..... 87

    Tabela 5.8 – Parâmetros ajustados através de regressão não linear dos dados experimentais dos

    TESTES #1 e #2 e os respectivos R2 e Eavg. .................................................................................. 91

    Tabela 5.9 – Coeficiente de difusão (D) e erro (E) obtidos através do método numérico. ........... 93

    Tabela 5.10 – Pontos comuns e divergentes das modelagens matemáticas aplicadas à mistura

    metano/n-octano, TESTES #1 e #2. .............................................................................................. 97

    Tabela 5.11 – Parâmetros calculados através dos três modelos matemáticos utilizados nesse

    trabalho para a mistura metano/n-octano, TESTES #1 e #2.......................................................... 99

    Tabela 6.1 – Parâmetros estimados pelo método analítico de CIVAN e RASMUSSEN (2009)

    para a mistura metano/n-parafina. ............................................................................................... 107

    Tabela 6.2 – Comparação entre a pressão e tempo estimados com a pressão e tempo finais dos

    testes difusivos com a mistura metano/n-parafina. ...................................................................... 109

    Tabela 6.3 – Comparação entre dados de difusividade encontrados na literatura com os obtidos

    nesse trabalho para a mistura metano/n-parafina. ....................................................................... 110

  • xxvi

    Tabela 6.4 – Difusividades obtidas para as três modelagens matemáticas utilizadas nesse

    trabalho. Os valores de D estão em x10-9

    m2/s. ........................................................................... 112

    Tabela 6.5 – Comparação entre dados de difusividade encontrados na literatura com os obtidos

    nesse trabalho para a mistura metano/n-parafina. ....................................................................... 115

    Tabela 6.6 – Matriz do DCCR e a resposta obtida. ..................................................................... 117

    Tabela 6.7 – ANOVA para os 12 experimentos realizados com o DCCR para a mistura metano/n-

    parafina. ....................................................................................................................................... 118

    Tabela 6.8 – ANOVA para os dois modelos: quadrático e potência. .......................................... 119

    Tabela 6.9 – Dados de entrada e valores da difusividade e solubilidade para a mistura CO2/n-

    parafina, segundo a modelagem matemática de ZHANG et al. (2000). ..................................... 124

    Tabela 6.10 – Dados de entrada e parâmetros difusivos para a mistura CO2/n-parafina, segundo a

    modelagem matemática de CIVAN e RASMUSSEN (2009). .................................................... 126

    Tabela 6.11 – Valores de difusividade para a mistura CO2/n-parafina a 70oC para as amostras

    #E1, #E2 e #E3, obtidos através do método numérico de SACHS (1998). ................................ 132

    Tabela 7.1 – Média e desvio padrão da difusividade e solubilidade para a mistura metano/n-

    parafina obtidas através das três modelagens matemáticas. ........................................................ 141

  • xxvii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANOVA Analysis of Variance (Análise de Variância)

    CAT Computer Assisted Tomography

    CC Condição de Contorno

    CCD Charged-Couple Device

    CCE Constant Composition Expansion (Expansão à Composição Constante)

    CPDGV Constant Pressure Dissolving Gas Volumes

    DCCR Delineamento Central Composto Rotacional

    DMA Desvio Médio Absoluto

    DPDVA Dynamic Pendant Drop Volume Analysis

    DR Desvio Relativo

    EDE Equação de Estado

    ELV Equilíbrio Líquido - Vapor

    EOR Enhanced Oil Recovery (Recuperação Avançada de Óleo)

    ESD Elliott-Surech-Donohue

    HPHT High Pressure and High Temperature (Alta Pressão e Alta Temperatura)

    ILM Immobilized Liquid Membrane

    MQ Média Quadrática

    MHV2 Modified Huron-Vidal 2

    NMR Nuclear Magnetic Ressonance

    PD Decaimento de Pressão (Pressure Decay)

    PR Peng-Robinson

  • xxviii

    PVT Pressão-Volume-Temperatura

    RGO Razão Gás – Óleo

    SQ Soma Quadrática

    SRK Soave-Redlich-Kwong

    UNIFAC UNIQUAC Functional-group Activity Coefficients

    VTF Vogel-Tammann-Fulcher

  • xxix

    LISTA DE SÍMBOLOS

    Letras Latinas

    a Coeficiente linear da reta -

    a0, a1 Parâmetros ajustados da Eq. 2.8 -

    A Área da seção transversal da célula PVT [cm2]

    Ap Espessura do pistão [cm]

    Ar Altura lida no topo do pistão [cm]

    b Coeficiente angular da reta -

    B Fator volume de formação [m3/m

    3std]

    c Concentração do gás na fase líquida [kg/m3]

    d Desvio percentual [%]

    D Difusividade ou coeficiente de difusão [m2/s]

    f Fração molar -

    fc Fator de conversão altura/volume na célula PVT [cm/cm3]

    F Fator F ou Teste F -

    H Altura da fase gasosa [m]

    J Fluxo mássico [kg/m2.s]

    k Coeficiente de transferência de massa interfacial [m/s]

    kB Constante de Boltzmann [J/K]

    kD Número de Biot -

    kH Constante de Henry [MPa]

    kij Coeficiente de interação binária entre os componentes i e j -

  • xxx

    L Altura da fase líquida [m]

    m Massa [m]

    𝓜 Massa molecular [kg/mol]

    N Número de mols do gás [mol]

    p Pressão [MPa]

    P Razão entre p e Z [MPa]

    Q Acúmulo de massa de gás na fase líquida -

    r Raio do soluto [Å]

    R Raio de giro da molécula [Å]

    𝓡 Constante universal dos gases ideais [MPa.m3/mol.K]

    R2 Coeficiente de correlação -

    t Tempo [s]

    T Temperatura [K]

    v Velocidade média de escoamento [cm/s]

    V Volume de gás na célula [m3]

    Vmorto Volume ocupado pelo agitador magnético da célula PVT [cm3]

    w Fração mássica -

    x Distância medida da interface gás/líquido até a base da célula [m]

    xi Fração molar do componente i na fase líquida -

    X Razão entre e tc (Eq. 4.53) [s-1

    ]

    y Fração molar -

    Z Fator de compressibilidade do gás -

  • xxxi

    Letras Gregas

    Coeficientes ajustados da Eq. 5.10 [MPa]

    Coeficientes ajustados da Eq. 5.10 [h-1

    ]

    i Coeficiente de fugacidade do componente i na fase líquida -

    Coeficiente da equação VTF (Eq. 4.74) -

    Autovalor -

    Viscosidade do solvente [cP]

    Massa específica [kg/m3]

    Superescritos

    CS Condições standard (15,5oC e 1 atm)

    eq Condição de equilíbrio

    TC Tempos Curtos

    L Tempos Longos

    Subscritos

    a Pontos axiais do DCCR

    avg Valor médio da propriedade

    b Propriedade molar no ponto de ebulição

    c Propriedade crítica

    C Valor característico da propriedade

    calc Propriedade calculada matematicamente

    co Crossover Point (Ponto de Cruzamento)

    D Propriedade adimensionalizada

    eq Propriedade no estado de equilíbrio

  • xxxii

    exp Propriedade obtida experimentalmente

    g Gás

    i Contador de componente

    j Contador de termos para a variável tempo

    liq Fase líquida

    LI Limite inferior

    LS Limite superior

    m Mistura

    modelo Propriedade calculada através da correlação do DCCR

    Num Propriedade obtida numericamente

    N Contador de termos / Número de experimentos no DCCR

    o Óleo

    pc Ponto Central do DCCR

    r Propriedade reduzida

    R Condição de referência ou final

    sat Propriedade na condição de saturação

    sim Propriedade simulada

    t Valor total

    0 Condição inicial

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    O capítulo em questão visa introduzir o presente trabalho e, para isso, o mesmo foi

    organizado de acordo com os seguintes subitens: (i) apresentação do problema proposto,

    situando-o no cenário de explotação de hidrocarbonetos; (ii) motivação que dá suporte à solução

    do problema; (iii) delineamento dos objetivos para execução do trabalho e, por fim, (iv) como os

    capítulos da tese encontram-se distribuídos.

    1.1. Apresentação do Problema

    O setor petrolífero mundial sempre foi muito dinâmico, sofrendo constantes mudanças em

    função da necessidade do mercado de consumo. Isso não é diferente com o Brasil, em que uma

    nova fase vem se delineando no cenário energético desde as descobertas dos campos gigantes na

    área do Pré-Sal que abrange, principalmente, os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Essas

    descobertas requerem um desenvolvimento em ciência e tecnologia bastante intenso nos

    próximos anos para que se garanta a explotação comercial desses hidrocarbonetos.

    Inúmeros são os desafios encontrados na explotação dessas áreas devido às extensas

    lâminas d’água e à larga camada de sal. Para se atingir as zonas produtoras no pré-sal, a

    profundidades que variam de 6000 a 8000 metros, é necessário o desenvolvimento de novos

    materiais (brocas, colunas e revestimentos), de novos fluidos de perfuração e de completação

    para suportar as severas condições de pressão (da ordem de 10.000 a 20.000 psi) e de temperatura

    (até 200oC) de fundo de poço, bem como de novas técnicas de perfuração e de completação dos

    poços. Somado a isso, o estudo da interação entre os fluidos de operação com os da formação

    produtora é de essencial importância para a qualidade das operações, seja ela de caráter

    econômico ou do ponto de vista de segurança operacional.

    Dentro do contexto dos fluidos envolvidos em operações petrolíferas, dois gases têm

    suscitado grande interesse ao longo dos anos devido aos problemas associados às suas existências

    em reservatórios nas operações de explotação de hidrocarbonetos. O primeiro deles, o gás metano

    (CH4) é o principal componente do gás natural enquanto o outro gás, o dióxido de carbono (CO2),

  • 2

    existe em quantidades consideráveis nesses novos reservatórios do pré-sal brasileiro e deve ser

    produzido e utilizado de forma sustentável como, por exemplo, através da sua reinjeção no

    reservatório.

    Quando um gás entra em contato com um líquido formando uma mistura, ocorre um

    processo natural de miscibilidade que é governado pela transferência de massa entre as espécies.

    Logo, duas questões devem ser respondidas: quanto de gás é dissolvido nesse líquido e em que

    taxa isso ocorre. A solução para tais questões é obtida através da medição de parâmetros de

    transferência de massa tais como: a solubilidade, a difusividade e o coeficiente de transferência

    de massa na interface gás/líquido.

    A solubilidade é uma medida da quantidade máxima de gás que pode ser dissolvido no

    líquido em uma determinada condição de pressão e temperatura, enquanto a taxa em que esse gás

    está sendo dissolvido é dada através do coeficiente de difusividade. Ocorre, portanto, um

    processo de difusão molecular que controla essa taxa de transferência de massa de gás na fase

    líquida. Conhecendo-se esses parâmetros, a aplicação é vasta e aí reside a importância da

    determinação dos mesmos devido à grande quantidade de processos em que a difusão está

    presente.

    Restringindo-se à área de explotação de hidrocarbonetos, podem ser citadas as técnicas de

    recuperação avançada de óleo (Enhanced Oil Recovery – EOR), em que o CO2 é utilizado como

    solvente e, para tal, deve-se conhecer a quantidade de CO2 a ser usada e em que taxa ele se

    solubiliza no óleo. O CO2 possui a particularidade de ser um solvente muito eficiente,

    principalmente quando em contato com hidrocarbonetos, além de ser um “contaminante” do

    fluido de reservatório nos campos do pré-sal, como citado.

    Além disso, durante a perfuração de um poço, o CO2 quando entra em contato com um

    fluido de perfuração base água descaracteriza esse fluido, acidificando-o, fazendo-o perder suas

    propriedades físico-químicas e reológicas que são cuidadosamente preparadas para as camadas de

    rochas atravessadas e para as condições de pressão e temperatura do poço.

    Sob o ponto de vista de segurança operacional na perfuração de um poço, quando a

    alteração da densidade e da viscosidade do fluido de perfuração, seja ele base água ou base óleo,

    ocorre devido à dissolução de gás metano, a operação de perfuração pode, entre outros

    problemas, incorrer em risco de ocorrência de kick, o que é extremamente indesejável. O

  • 3

    problema se torna mais crítico quando o CH4 encontra-se solubilizado em um fluido de

    perfuração base óleo, isso reside no fato desse gás ser muito solúvel nesse tipo de fluido. A

    grande solubilidade do gás no fluido pode camuflar a quantidade real de gás dissolvido e, numa

    situação de kick, o mesmo pode passar despercebido gerando uma situação de risco, ameaçando a

    segurança da operação e do corpo técnico, através de um eventual blowout.

    Portanto, o presente trabalho estuda a difusão de CH4 e CO2 em n-parafina sob diferentes

    condições experimentais de composição de gás, temperatura e pressão. A n-parafina, por ser uma

    mistura de diversos hidrocarbonetos, é um fluido cuja composição química se assemelha aos

    compostos encontrados tanto nos óleos dos reservatórios como nos fluidos de perfuração base

    sintética. Além do estudo experimental, foram testadas três modelagens matemáticas distintas na

    análise dos dados experimentais. Por fim, foi executado um ajuste multivariável e a consequente

    análise estatística através de um planejamento experimental para a mistura CH4/n-parafina

    visando obter uma correlação para o coeficiente de difusão do gás metano na n-parafina.

    1.2. Motivação

    A medida experimental dos parâmetros de transferência de massa em misturas gás/líquido,

    tais como a solubilidade e a difusividade, possibilita o conhecimento da quantidade de gás

    dissolvido no líquido e em que taxa ou em quanto tempo o processo de dissolução ocorre.

    A solução dos problemas citados na seção anterior, como no caso dos processos de EOR ou

    na dissolução do gás no fluido de perfuração, necessita da estimativa desses parâmetros, pois

    implicam no estudo da miscibilidade dos gases nos fluidos de reservatório ou de perfuração. Essa

    miscibilidade, governada pelo processo de difusão molecular, é representada através do

    coeficiente de difusividade.

    A escassez de dados dessa natureza na literatura para os fluidos estudados nesse trabalho

    motiva a medição experimental dos mesmos. As altas temperaturas e altas pressões contribuem

    como fatores limitantes na coleta desses dados experimentais, tendo em vista que para reproduzir

    as condições de campo é necessária a utilização de equipamentos de laboratório de alta resolução

    que permitam a coleta dos dados experimentais com boa qualidade.

    Portanto, a medida experimental do coeficiente de difusão dos gases metano e dióxido de

    carbono em n-parafina é o principal objetivo desse trabalho. Consequentemente, dois desafios

  • 4

    aparecem: a escolha do método experimental a ser usado e o tratamento matemático que será

    aplicado aos dados experimentais.

    1.3. Objetivos

    O presente trabalho inicia-se com o desenvolvimento da metodologia experimental e

    realização dos ensaios, através do uso de um sistema PVT, finalizando-se com a análise

    matemática analítica e numérica dos dados medidos para a obtenção da solubilidade e

    difusividade dos gases metano e dióxido de carbono em n-parafina. Os principais objetivos do

    trabalho são os seguintes:

    i) Realização de uma ampla revisão bibliográfica sobre difusão em misturas gás/líquido;

    ii) Medição experimental do processo difusivo através do método de decaimento de pressão

    para as misturas: CH4/n-parafina para frações molares de gás variando de 8% a 92%,

    temperatura de 60oC a 120

    oC e pressões iniciais de 3,5 MPa a 35 MPa; e CO2/n-parafina

    nas frações molares de gás de 25%, 50% e 75%, pressões iniciais de 4,1 MPa, 8,25 MPa e

    13,1 MPa a 70oC;

    iii) Modelagem matemática dos dados experimentais para obtenção dos coeficientes de

    difusão das misturas CH4/n-parafina e CO2/n-parafina através de três modelagens

    distintas, duas delas analíticas e a terceira numérica, e a comparação das modelagens entre

    si para cada mistura;

    iv) E, por fim, obtenção de uma correlação para o coeficiente de difusão para a mistura

    CH4/n-parafina e consequente avaliação estatística.

    1.4. Organização da Tese

    O trabalho desenvolvido contém oito capítulos e cinco apêndices e foi organizado como se

    segue.

    O Capítulo 1 contextualiza a situação-problema, dando uma visão geral sobre a importância

    do estudo da transferência de massa que governa a miscibilidade dos fluidos em operações de

  • 5

    exploração e produção de hidrocarbonetos. O capítulo é finalizado com os objetivos propostos

    para o trabalho de tese.

    No Capítulo 2 é feita a revisão bibliográfica a respeito do tema. São abordados os principais

    conceitos envolvidos diretamente com a pesquisa desenvolvida, além de se apresentar o estado da

    arte do tema envolvido.

    No Capítulo 3 são apresentados os materiais e equipamentos que foram utilizados no

    desenvolvimento experimental do trabalho, além de apresentar as metodologias experimentais

    aplicadas. São apresentadas as características do sistema PVT utilizado e as metodologias

    conhecidas como CCE (Constant Composition Expansion) e PD (Pressure Decay) para a

    determinação de parâmetros termodinâmicos e de transferência de massa, respectivamente.

    Após a aquisição de dados experimentais no laboratório, foram realizadas as modelagens

    matemáticas analíticas e a numérica desses dados para a obtenção dos parâmetros desejados. Os

    equacionamentos e suas premissas encontram-se explicados no Capítulo 4.

    Para se verificar a eficiência da metodologia experimental e das modelagens matemáticas,

    foi mostrado um estudo de caso com a mistura metano/n-octano e os resultados foram

    comparados com os dados termodinâmicos e difusivos encontrados na literatura. Tal conteúdo

    está exposto no Capítulo 5.

    Os resultados dos testes difusivos e das modelagens matemáticas para as misturas

    metano/n-parafina e dióxido de carbono/n-parafina encontram-se no Capítulo 6. Para a mistura

    metano/n-parafina, foi realizado um planejamento experimental cuja correlação proposta para a

    difusividade e sua análise estatística também encontram-se nesse capítulo.

    Por fim, no Capítulo 7 são apresentadas as conclusões resultantes da pesquisa, assim como

    as sugestões para trabalhos futuros na área.

    Além dos capítulos mencionados, a tese ainda traz cinco apêndices referentes às

    informações complementares aos capítulos principais, tanto teóricas como experimentais ou

    calculadas, para o desenvolvimento do trabalho. O Apêndice A informa sobre a correlação

    utilizada no cálculo do fator de compressibilidade dos gases metano e dióxido de carbono. O

    Apêndice B é responsável pelas informações e cálculos da mistura CH4/n-octano utilizadas no

    Capítulo 5. Na mesma linha de raciocínio do B, o Apêndice C se refere aos dados e cálculos para

    a mistura CO2/n-parafina. No Apêndice D encontram-se tabelas e gráficos complementares aos

  • 6

    encontrados no capítulo de resultados e discussão para a mistura CH4/n-parafina. E, finalmente, o

    Apêndice E dá um suporte teórico sobre a técnica do planejamento experimental fatorial que foi

    utilizado para executar os ensaios experimentais realizados com a mistura CH4/n-parafina.

    .

  • 7

    2. REVISÃO DA LITERATURA

    A medida experimental de parâmetros termodinâmicos e de transferência de massa de

    misturas gás/líquido, em condições similares às praticadas em atividades de campos de petróleo,

    é importante para o planejamento de operações que envolvam a miscibilidade natural de gases em

    líquidos. Esses parâmetros, solubilidade e difusividade, respondem questões que são cruciais para

    operações como a recuperação avançada de óleo, assim como a solubilização do gás no fluido de

    perfuração no momento da construção de um poço, estimando com melhor confiabilidade a

    quantidade de um influxo do fluido da formação para o interior do poço, garantindo-se segurança

    na operação.

    A revisão bibliográfica realizada mostra alguns aspectos termodinâmicos para as misturas

    gás/líquido. Adicionalmente, aborda extensivamente os métodos experimentais de medição da

    solubilidade e difusividade para esse tipo de mistura. Por fim, foi feita uma avaliação ampla das

    modelagens matemáticas existentes para a obtenção da difusividade, pois uma vez coletados os

    dados experimentais, é necessário escolher um tratamento matemático que se adeque à mistura e

    às condições experimentais estudadas.

    2.1. Solubilidade de Gases em Fluidos de Perfuração

    Dentro do contexto da perfuração de poços, para se prever a ocorrência de kicks, é

    necessário conhecer a solubilidade dos fluidos de reservatório no fluido de perfuração. A

    solubilidade é calculada utilizando-se equações cúbicas de estado para misturas

    multicomponentes, cujos parâmetros são ajustados a partir da pressão de vapor dos componentes

    puros (O’BRYAN e BOURGOYNE, 1990).

    Quando a perfuração ocorre sob altas pressões e altas temperaturas, a solubilização do

    fluido de reservatório – principalmente gás – no fluido de perfuração pode modificar as suas

    propriedades, descaracterizando-o. A solubilização do gás no fluido altera tanto a densidade

    como a viscosidade do fluido de perfuração, que são propriedades que influenciam diretamente

    na quantificação real de gás dissolvido. Quanto mais solúvel for o gás no fluido de perfuração,

    maior a dificuldade de detecção em uma situação de kick e mais tardia pode ser a resposta pra

  • 8

    uma eventual operação de controle de poço. Lembrando que, a detecção de um kick deve ser feita

    através de alguns indicadores de processo, onde o ganho de volume, conhecido como pit gain,

    nos tanques de fluido de perfuração sofre influência direta da solubilidade do gás no fluido.

    Se a matriz do fluido base óleo é formada por componentes apolares, como as parafinas, é

    de se esperar que a solubilidade do gás, composto em grande parte por metano que é apolar, seja

    maior nessa base do que em matrizes que possuam ésteres, que são substâncias polares. A partir

    dessa constatação, pode-se afirmar que o uso de ésteres como matriz dos fluidos à base de óleo

    sintético diminui o risco de um kick passar despercebido e, consequentemente, evitar a ocorrência

    de blowouts, já que o gás encontra-se em menor quantidade nessa fase, apresentando maior pit

    gain devido ao fato do gás se encontrar menos solubilizado.

    Dada a importância desse tema, diversos pesquisadores vêm se dedicando ao longo dos

    anos no estudo da solubilidade de gases, tais como metano e dióxido de carbono, em compostos

    que constituem a matriz de fluidos de perfuração (água, parafinas, ésteres, olefinas), sob

    condições de pressão e temperatura próximas as condições de poço.

    Nesse contexto, BERTHEZENE et al. (1999) estudaram o comportamento termodinâmico

    de quatro tipos diferentes de fluidos base óleo (óleo diesel, óleo mineral, óleo sintético e óleo à

    base de éster) na presença de metano em condições mais próximas de poço, com pressões

    variando entre 15 e 35 MPa a 90oC. Uma de suas conclusões foi que a solubilidade do metano na

    fase óleo representa bem a solubilidade do metano no fluido de perfuração como um todo quando

    este está emulsionado com água, pois a solubilidade do gás na água é muito pequena. Além disso,

    o metano se torna imiscível no éster em condições de altas pressões, como era de se esperar

    devido à diferença de polaridade dos compostos. Na descrição do comportamento das fases e das

    propriedades volumétricas aplicaram a equação de estado de Peng-Robinson.

    Baseados nos experimentos de BERTHEZENE et al. (1999), BUREAU et al. (2002)

    investigaram o equilíbrio de fases de fluidos à base de ésteres a 90oC e 150

    oC e pressões acima de

    100 MPa, ou seja, em condições de alta pressão e alta temperatura (HPHT – High Pressure and

    High Temperature). Os pesquisadores testaram três equações de estado (EDE) na predição das

    pressões de saturação das misturas para verificar qual deles apresentava melhor ajuste: Peng-

    Robinson (PR) com kij = 0; Soave-Redlich-Kwong (SRK) com a regra de mistura MHV2 e o

    modelo UNIFAC; e, por último, Elliott-Surech-Donohue (ESD) com kij = 0. Concluíram que a

  • 9

    equação mais adequada para modelar o caso de misturas assimétricas era a equação de ESD, pois

    foi a que se ajustou melhor.

    RIBEIRO et al. (2006) utilizaram Peng-Robinson na modelagem dos dados de solubilidade

    do metano em três fluidos de bases diferentes: éster, n-parafinas e iso-parafinas (mistura de n-

    parafinas). Assim como outros autores, confirmaram que a solubilidade do metano é muito maior

    nas parafinas do que no éster, conforme mostra a Figura 2.1.

    Figura 2.1 – Solubilidade do metano em função da pressão a 70ºC. Legenda: – n-parafina; –

    iso + n-parafina; ○ – éster; linha contínua – modelo termodinâmico (RIBEIRO et al., 2006).

    ATOLINI (2008) estudou a solubilidade de metano em n-parafina propôs correlações de

    solubilidade em função da pressão e da temperatura. Uma de suas conclusões foi que a influência

    da temperatura e da pressão do sistema sobre a solubilidade da mistura apresenta um padrão de

    comportamento que depende da faixa de valores em que se está trabalhando. Nessa mesma linha

    de pesquisa, KIM (2010) apresentou trabalho comparando a interação do gás metano com fluido

    de perfuração base n-parafina e fluido base éster.

    Em virtude da descoberta dos campos do pré-sal, em que a presença de CO2 aparece como

    um dos principais contaminantes do fluido de reservatório, podendo chegar a 44% do volume

    total do campo (SALLOWICZ, 2014), surgiu a necessidade de estudos de solubilidade desse gás

    em fluidos de perfuração. Dessa forma, LIMA NETO (2014) obteve uma correlação de

  • 10

    solubilidade para o CO2 em n-parafina sob temperaturas que variaram de 40 a 80oC e frações

    molares de gás na mistura de 10 a 50%.

    2.2. Transferência de Massa em Misturas Gás/Líquido

    A transferência de massa é um fenômeno que ocorre devido à diferença de concentração de

    um soluto em um solvente. À resposta de reação desse movimento, está associada uma resistência

    oferecida pelo meio ao transporte do soluto que pode estar tanto relacionada à interação

    soluto/meio, denominada difusão molecular, como à interação soluto/meio sob influência de ação

    externa, como a existência de escoamento, denominada de convecção mássica (CREMASCO,

    2002).

    A resistência ao transporte se traduz como coeficientes de difusão que são parâmetros

    fundamentais no cálculo das taxas de transporte derivados do gradiente de concentração do meio.

    Esses coeficientes representam medidas quantitativas da taxa em que o processo de difusão

    ocorre, ou seja, medidas da mobilidade de um soluto em um determinado meio. Da Primeira Lei

    de Fick, o coeficiente de difusividade de um soluto em um solvente (D), em uma dimensão, é

    entendido como (HARTLEY e CRANK, 1949):

    J = −D∂c

    ∂x 2.1

    Onde J é a taxa de transferência do soluto para o solvente na direção x, c é a concentração

    do soluto que difunde no solvente e x é a coordenada espacial em que ocorre a difusão.

    O entendimento do mecanismo de difusão molecular de um gás em um líquido é importante

    na determinação da mobilidade desse gás no líquido, e isso reflete diretamente em propriedades

    do sistema como a solubilidade, pois, segundo os autores REAMER et. al. (1956) e ZHANG et

    al. (2000) quando não há reação química entre os componentes das fases, a taxa de dissolução é

    controlada primeiramente pela taxa de difusão do gás no líquido.

    Sabendo-se que o coeficiente de difusividade da mistura gás/líquido é o fator mais

    importante para a determinação da taxa de transferência de uma fase a outra e que para esse tipo

  • 11

    de mistura não existe uma única teoria que dê suporte ao fenômeno, foram desenvolvidas

    diversas correlações para o cálculo de D, derivadas, principalmente, da correlação de Stokes–

    Einstein (JAMIALAHMADI et al., 2006) mostrada na Equação 2.2.

    D =kBT

    6πμr 2.2

    Onde, kB é a constante de Boltzmann, T é a temperatura, é a viscosidade do solvente e r o

    raio do soluto. No entanto, existe um problema que reside em determinar que raio do soluto (r)

    deve ser considerado no cálculo de D. Nesse contexto é que aparecem as diversas correlações

    para D. Considerando-se que r V1/3

    , as correlações são desenvolvidas em função do volume

    molar no ponto de ebulição (Vb), do volume crítico (Vc) ou do raio de giro da molécula (R)

    (CREMASCO, 2002).

    Experimentalmente, os parâmetros de processo mais importantes a serem determinados são

    o coeficiente de transferência de massa interfacial, o coeficiente de difusividade, a pressão de

    equilíbrio e a solubilidade. No entanto, os processos de transferência de massa recaem em dois

    tipos de grandes desafios: (i) determinar métodos experimentais confiáveis e (ii) escolher

    modelos precisos na interpretação dos dados obtidos.

    Os métodos experimentais convencionais, tais como os cromatográficos, usados na

    determinação de parâmetros difusivos normalmente são caros, pois requerem uma análise da

    composição dos componentes do sistema, demandam muito tempo e são suscetíveis a erros

    experimentais (RIAZI, 1996; ZHANG et al., 2000; UPRETI e MEHROTRA, 2002). Desta

    forma, surgiu a necessidade de se desenvolver métodos experimentais mais simples para avaliar a

    difusão de misturas gás/líquido. Nesse contexto, RIAZI (1996) desenvolveu um método

    experimental chamado de método de decaimento da pressão para determinar a difusividade de

    gases em líquidos através de uma célula PVT. Os métodos experimentais de determinação de

    parâmetros difusivos encontrados na literatura são: Decaimento da Pressão (PD – Pressure

    Decay) (RIAZI, 1996; SACHS, 1998; ZHANG et al., 2000; CIVAN e RASMUSSEN, 2001,

    2002, 2003 e 2009; THARANIVASAN et al., 2004 e 2006; ARAÚJO, 2014; ETMINAN, 2014);

    Volume de Gás Dissolvido a Pressão Constante (CPDGV) (RENNER, 1988; JAMIALAHMADI

  • 12

    et al., 2006); Mudança no Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de Baixo Campo (NMR)

    (WEN e KANTZAS, 2005); Tomografia de Raio-X Assistida por Computador (CAT)

    (GUERRERO-ACONCHA e KANTZAS, 2009); Permeação de Gás Através de Membrana

    Líquida (ILM) (MOGANTY e BALTUS, 2010) e Análise Dinâmica do “Volume da Gota

    Pendente” (DPDVA) (YANG e GU, 2005).

    2.3. Método Experimental do Decaimento da Pressão (PD)

    Dentre os métodos experimentais citados, o método do decaimento da pressão é o mais

    utilizado devido a sua conveniência, simplicidade e precisão (RASMUSSEN e CIVAN, 2009).

    Segundo JAMIALAHMADI et al. (2006), os resultados obtidos por esse método para misturas

    binárias geram coeficientes de difusão com desvios da ordem de 5% em relação a dados

    publicados frente a outras técnicas.

    O método PD consiste em registrar a variação de pressão ao longo do tempo que é

    resultante da difusão molecular do gás no seio da fase líquida. A pressão da fase gasosa é

    monitorada desde o momento em que a capa de gás é posta em contato com a fase líquida até que

    o momento em que a mistura atinge o estado de equilíbrio, ou seja, a saturação. O experimento é

    realizado em uma célula PVT (Pressão-Volume-Temperatura), conforme a Figura 2.2.

    Utilizando o método PD, o principal objetivo do trabalho de RIAZI (1996) foi desenvolver

    um modelo que pudesse predizer a posição da interface gás/líquido e a pressão em uma célula

    PVT a volume e temperatura constantes ao longo do tempo, com a finalidade de entender a

    importância dos processos difusivos em técnicas de recuperação de petróleo. RIAZI (1996)

    utilizou a mistura metano e n-pentano (35% em volume), a uma pressão inicial de 10 MPa e

    temperatura de 37,8ºC, e comparou os resultados de difusividade obtidos com valores da

    literatura. Os resultados encontram-se na Figura 2.3, em que podem ser vistos os valores

    experimentais e três correlações para a difusividade distintas: a correlação de Riazi-Whitson

    (1993), Riazi-Whitson (1993) multiplicada por 1,1 e a correlação de Sigmund (1976).

    Observando essa figura, o autor concluiu que os resultados experimentais são muito similares aos

    calculados pelas correlações, confirmando a hipótese de que a difusão domina o processo de

    transferência de massa nesses tipos de sistemas.

  • 13

    Figura 2.2 – Diagrama esquemático da célula PVT para medição experimental da difusividade de

    gases em líquidos (RASMUSSEN e CIVAN, 2009).

    Figura 2.3 – Variação da pressão em função do tempo a volume constante no sistema C1/nC5 a

    37,8ºC (RIAZI, 1996).

    O modelo inicial proposto parte da Segunda Lei de Fick, Equação 2.3, que descreve a

    difusão em fluidos densos e o coeficiente de difusão é corrigido por um fator termodinâmico para

    misturas não ideais (Equação 2.4). Além disso, considera-se que não ocorra convecção natural.

  • 14

    ∂c

    ∂t= D

    ∂c2

    ∂2x

    2.3

    D = D′ (1 +∂lnϕi

    ∂xi)

    2.4

    Onde, i, é a fugacidade do componente i na mistura e, xi, é a fração molar de i na fase

    líquida.

    De acordo com RIAZI (1996), quando a mistura atinge seu estado de equilíbrio, a 7,1 MPa,

    a fração molar do metano é de 0,33 e o coeficiente de difusão é 1,51 x 10-8

    m2/s. Nessas mesmas

    condições, o valor obtido através da correlação de Riazi-Whitson foi de 1,37 x 10-8

    m2/s e da

    correlação de Sigmund foi de 1,22 x 10-8

    m2/s. Mas o que mais se aproxima da literatura, é o

    valor experimental obtido por Reamer-Duffy-Sage que foi de 1,43 x 10-8

    m2/s, dando um desvio

    de 5% em relação ao valor obtido no trabalho de RIAZI (1996).

    E por fim, a Figura 2.4 mostra o comportamento do coeficiente de difusão com a pressão e

    a fração molar de metano que, segundo o autor, tem uma forte relação com o coeficiente de

    difusão. Nota-se que o coeficiente de difusão é função praticamente linear da pressão do sistema,

    decrescendo com o aumento de pressão.

    Figura 2.4 – Coeficiente de difusão e composição vs. pressão da mistura C1/nC5 a 37,8ºC.

    Legenda: linha contínua (–) - diffusion coeficiente; linha tracejada (--) - mole fraction methane

    (RIAZI, 1996).

  • 15

    SACHS (1998) trabalhou com um sistema metano/água para estudos de difusão com a

    justificativa de que esses dados são escassos na literatura, principalmente em condições de

    reservatório de petróleo. O autor também utilizou uma célula PVT, semelhante à da Figura 2.2,

    para estudar o comportamento difusivo dessa mistura. O diferencial do trabalho de SACHS

    (1998) reside no tratamento matemático dos dados de pressão vs. tempo obtidos

    experimentalmente. O autor testou três tipos de relações de dependência entre a concentração do

    gás na fase líquida e o coeficiente de difusividade a partir da Equação 2.4. As três situações

    foram: (i) admitiu sistema diluído (i = 1); (ii) utilizou a correção apresentada pela Equação 2.4 e

    (iii) utilizou uma equação mais sofisticada de xi = f(D). Os resultados desse estudo podem ser

    vistos na Tabela 2.1.

    Desses resultados, o autor concluiu que a dependência entre a concentração do soluto na

    fase líquida e a difusividade do sistema metano/água não pode ser negligenciada e, portanto, o

    caso (iii) foi o que melhor se ajustou apresentando um desvio padrão na pressão calculada de ±

    0,223 kPa.

    Tabela 2.1 – Coeficientes de difusão (D) para o sistema metano/água (SACHS, 1998).

    CASO D (x10-9

    m2/s) ± P (kPa)

    (i) 1,84 5,78

    (ii) 2,07 3,16

    (iii) 2,09 0,223

    Também com o intuito de desenvolver uma técnica simples de medida de difusividade com

    aplicação para a recuperação avançada de petróleo, pois é a difusão que normalmente controla a

    taxa de dissolução de um soluto no óleo, ZHANG et al. (2000) estudaram a difusão de dois gases

    – metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) – em óleo pesado (viscosidade de 5000 cP). O

    método utilizado por esses autores é uma adaptação do trabalho realizado por RIAZI (1996). Os

    experimentos foram conduzidos à temperatura ambiente (21ºC), pressões iniciais de 503 psi e 509

    psi para as misturas CH4/óleo e CO2/óleo, respectivamente, e pressões finais de 496 psi e 414 psi.

  • 16

    No decorrer do experimento de ZHANG et al. (2000), conforme o método PD, a pressão do

    gás na fase gasosa tende a cair devido à transferência do gás para a fase líquida. Essa

    transferência ocasiona o inchamento da fase líquida devido à difusão do gás, o que ocasiona o

    deslocamento da interface entre as fases gasosa e líquida. Alguns pesquisadores tais como

    ZHANG et al. (2000), ARAÚJO (2014) e ETMINAN (2014) não monitoram a interface

    gás/líquido na célula PVT pois consideram que o deslocamento de tal interface é tão pequeno,

    que pode ser negligenciado.

    De acordo com ZHANG et al. (2000), a quantidade de gás que é transferida para a fase

    líquida depende da solubilidade do gás, mas a taxa com que esse gás é transferido para a fase

    líquida é função da difusividade do gás. Portanto, os parâmetros de transferência de massa se

    constituem numa informação adicional do comportamento da solubilidade do gás no líquido. Para

    os valores de pressão e temperatura utilizados por ZHANG et al. (2000), para as misturas

    CH4/óleo e CO2/óleo, os coeficientes de difusividade foram de 8,6 x 10-9

    m2/s e 4,8 x 10

    -9 m

    2/s.

    Comparados a valores encontrados na literatura (Tabela 2.2), os resultados foram bem distintos

    para a mistura CH4/óleo devido às diferentes condições de experimento, além da diferença de

    composição da fase líquida. Por fim, os autores concluem que o método experimental utilizado

    para determinar a difusividade para esses tipos de sistemas é satisfatório e simples.

    Uma das grandes dificuldades no estudo de processos de transferência de massa está em

    como modelar os dados obtidos experimentalmente, isto é, que considerações físicas devem ser

    feitas na interpretação correta do fenômeno. Nessa linha de pesquisa, CIVAN e RASMUSSEN

    (2001) desenvolveram um modelo difusivo para situações de equilíbrio e não equilíbrio, em

    regime transiente, para obter dados de coeficiente de difusão do gás da formação quando em

    contato com o óleo, salmoura, fluido de perfuração e de completação. As equações foram testadas

    com os dados experimentais de ZHANG et al. (2000). Eles concluíram que os modelos propostos

    podem ser usados com boa precisão na determinação de características difusivas referentes ao

    sistema gás da formação e fluido de perfuração em condições de poço. Os autores concluíram

    também que a limitação da escolha de um modelo para análise dos dados experimentais encontra-

    se nas hipóteses simplificadoras quando da escolha das condições inicial e de contorno do

    problema.

  • 17

    Em publicações posteriores, CIVAN e RASMUSSEN (2002 e 2003), apresentaram uma

    extensão ao trabalho realizado em 2001. Eles determinaram o coeficiente de difusão do gás em

    líquidos (óleo, salmoura, fluido de perfuração e fluidos de completação), utilizando os dados

    experimentais de RIAZI (1996), SACHS (1997 e 1998) e ZHANG et al. (2000). Através de

    soluções analíticas da equação da difusão, estudaram a importância da dissolução do gás na fase

    líquida. Os resultados para o coeficiente de difusividade para as misturas abordadas no artigo

    foram distintos, em uma ordem de grandeza, daqueles obtidos experimentalmente por RIAZI

    (1996), SACHS (1997 e 1998) e ZHANG et al. (2000), como podem ser vistos na Tabela 2.2.

    Segundo CIVAN e RASMUSSEN (2002), isso se deve a pouca precisão dos modelos adotados

    pelos autores que obtiveram os dados experimentais devido às simplificações utilizadas.

    Tabela 2.2 – Comparação entre os coeficientes de difusão (D) obtidos por diversos autores

    experimentalmente e os modelados por CIVAN e RASMUSSEN (2002) para as mesmas

    misturas.

    AUTORES ZHANG et al.

    (2000)

    ZHANG et al.

    (2000)

    SACHS

    (1997) e (1998)

    SACHS

    (1997) e (1998)

    RIAZI

    (1996)

    Mistura CH4/ÓLEO CO2/ÓLEO CH4/ÁGUA CH4/ÁGUA CH4/nC5

    Pressão Inicial (MPa) 3,5 3,5 8,2 7,9 10,2

    Temperatura (ºC) 21 21 25 40 37,8

    D (x10-9

    m2/s)

    experimental/trabalho 8,6 4,8 1,4 2,6 15,1

    D (x10-9

    m2/s)

    CIVAN e

    RASMUSSEN

    (2002)

    0,22 0,084 4,2 0,52 0,65

  • 18

    Ainda com relação à correta modelagem dos dados obtidos através do método de

    decaimento da pressão, um dos principais pontos de discussão e fonte de erro está na escolha

    adequada da condição de contorno que rege o fenômeno na interface das fases gasosa e líquida.

    THARANIVASAN et al. (2004 e 2006) estudaram misturas de naturezas distintas de modo a

    entender a influência do tipo de condição de contorno aplicada sobre os resultados de

    difusividade. Os pesquisadores afirmam que a escolha da condição de contorno (CC) na interface

    gás/líquido afeta a qualidade da interpretação dos dados experimentais no cálculo de D.

    Nesse contexto, THARANIVASAN et al. (2004) examinaram os efeitos das condições de

    contorno na interface sobre o coeficiente de difusividade usando o método do decaimento da

    pressão. Usaram a Lei de Fick (Equação 2.1) como equação fundamental e testaram três

    condições de contorno diferentes na interface:

    (i) Condição de equilíbrio – a interface está saturada com o soluto na pressão de equilíbrio

    termodinâmico em qualquer tempo;

    c(x, t)|x=L = csat (peq) ∴ t > 0 2.5

    (ii) Condição de quase equilíbrio – a interface está saturada com o soluto em uma pressão

    diferente da pressão de equilíbrio em qualquer tempo. Essa pressão diminui com o tempo

    até atingir a peq;

    c(x, t)|x=L = csat[p(t)] ∴ t > 0 2.6

    (iii) Condição de não equilíbrio – o fluxo mássico na interface é proporcional à diferença entre

    a concentração de saturação e a concentração no tempo t (conhecida como condição de

    Robin).

    D∂c

    ∂x|x=L

    = k[csat(peq) − c(x, t)|x=L] ∴ t > 0 2.7

  • 19

    Onde L é altura da fase líquida, csat é a concentração de saturação ou solubilidade do soluto,

    peq é a pressão de equilíbrio, k é o coeficiente de transferência de massa na interface e D é o

    coeficiente de difusividade.

    Segundo os autores, para a mistura CO2/óleo pesado a condição de contorno mais indicada

    é a de não equilíbrio. Na Figura 2.5 essa conclusão pode ser vista observando-se que os dados

    experimentais de ZHANG et al. (2000) se ajustam melhor às curvas na condição de não

    equilíbrio. Já para a mistura metano/óleo pesado, a condição de contorno mais indicada é de

    equilíbrio, justificada pela saturação praticamente instantânea do metano no óleo devido à

    semelhança de natureza química. A difusividade para a mistura metano/óleo pesado é de 16,1 x

    10-9

    m2/s, a uma pressão de 496 psi e 21ºC. Por fim, como foi visto, a escolha da condição de

    contorno na interface gás/líquido da mistura influencia, de fato, o valor da difusividade.

    Figura 2.5 – Variação da pressão calculada com o tempo para as três diferentes condições de

    contorno na interface (equilíbrio, quase equilíbrio e não equilíbrio) com os dados experimentais

    de ZHANG et al. (2000) para a mistura CO2/óleo (THARAVANISAN et al., 2004).

  • 20

    2.4. Outros Métodos Experimentais para Medida da Difusão

    O método do decaimento da pressão (PD) é o mais utilizado pelos diversos pesquisadores

    que trabalham com a determinação de difusividades de misturas gás/líquido. Uma variação do

    método PD é o método do volume de gás dissolvido a pressão constante (CPDGV), que é o

    segundo método mais usado. Esse método também utiliza uma célula PVT para a obtenção dos

    dados experimentais e, consequentemente, dos coeficientes de difusividade de misturas

    gás/líquido. Nesse caso, as variações de volume ao longo do tempo é que são registradas, sendo

    mantidas constantes tanto a temperatura quanto a pressão.

    JAMIALAHMADI et al. (2006) desenvolveram um trabalho nessa linha de pesquisa

    objetivando entender os mecanismos difusivos envolvidos em processos de recuperação avançada

    de petróleo. Para isso, estudaram duas misturas, metano/dodecano e metano/óleo cru iraniano, em

    pressões acima de 40 MPa e várias temperaturas. As curvas típicas obtidas por esse método

    podem ser vistas na Figura 2.6 para a mistura metano/dodecano, com pressões variando de 3,5 a

    35 MPa. A relação entre volume e altura para a célula em questão era de 1cm3 para uma mudança

    de nível de líquido de 1 mm.

    Figura 2.6 – Curvas de altura da fase líquida em função do tempo para várias pressões obtidas por

    JAMIALAHMADI et al. (2006).

  • 21

    JAMIALAHMADI et al. (2006) tinham por objetivo estudar o efeito da concentração do

    gás e da viscosidade da mistura sobre o coeficiente de difusividade. Sabe-se que a dissolução de

    um gás em um líquido reduz a sua viscosidade, densidade e tensão superficial. Esse

    comportamento foi observado pelos autores nas misturas estudadas por eles e pode ser visto na

    Figura 2.7 para o metano/dodecano.

    Figura 2.7 – Variação da viscosidade e densidade da mistura em função da pressão para a mistura

    metano/dodecano (JAMIALAHMADI et al., 2006).

    De acordo com os resultados de JAMIALAHMADI et al.(2006), mostrados na Figura 2.7,

    tanto a viscosidade como a densidade da mistura reduzem com o aumento da pressão e o aumento

    da temperatura, até a máxima dissolução do metano. Neste ponto, destacado pelo círculo

    vermelho, há uma inversão de comportamento, ou seja, a viscosidade e a densidade da mistura

    começam a aumentar gradativamente. Esse comportamento é causado pela supersaturação da

    mistura. Em consequência disso, o coeficiente de difusividade inicialmente cresce bastante até

    esse ponto de inversão, e o aumento da viscosidade e da densidade da mistura ocasionam o

    decréscimo da difusividade. A Figura 2.8 mostra o comportamento do coeficiente de difusividade

    com a pressão para a mistura metano/dodecano. Para relacionar o coeficiente de difusão com a

    viscosidade, JAMIALAHMADI et al.(2006) utilizaram a seguinte correlação:

  • 22

    D(T, p) = a0μa1 2.8

    Onde a0 e a1 são parâmetros ajustáveis que podem ser obtidos dos dados experimentais.

    Curvas de difusividade em função da viscosidade da mistura podem ser vistas na Figura 2.9.

    Figura 2.8 – Coeficiente de difusão do metano em dodecano versus pressão em diferentes

    temperaturas (JAMIALAHMADI et al., 2006).

    Figura 2.9 – Dependência do coeficiente de difusividade com a viscosidade da mistura para

    metano/dodecano (JAMIALAHMADI et al., 2006).

  • 23

    Observa-se, pelo gráfico do coeficiente de difusividade em função da viscosidade da

    mistura (Figura 2.9), que a difusividade do gás diminui se a viscosidade da mistura aumenta,

    assim como o aumento da temperatura diminui a viscosidade e aumenta a difusividade.

    JAMIALAHMADI et al. (2006) concluíram que o valor máximo do coeficiente de

    difusividade ocorre na pressão que corresponde ao ponto em que a fase gasosa desaparece e todo

    o gás foi dissolvido na fase líquida. Além disso, com o aumento da pressão, tanto a viscosidade

    como a densidade da mistura aumentam, causando o decréscimo no coeficiente de difusão.

    Na literatura, os trabalhos da área de petróleo têm como motivação, principalmente, o

    estudo da difusão aplicado às operações de EOR. Já no contexto da perfuração de poços, a

    entrada de gás da formação para dentro do poço, como em uma situação de kick, faz com que o

    estudo da difusão em misturas gás/líquido seja necessário para avaliar se esse fenômeno

    influencia, de forma significativa, nessas situações.

    BODWADKAR e CHENEVERT (1997) estudaram o transporte difusivo de gás em fluido

    de perfuração base óleo. De acordo com os autores, a difusão do gás é muito maior em fluidos de

    base óleo que de base água devido aos efeitos de solubilidade. O conhecimento das taxas de

    difusão pode ser útil para distinguir as fontes de gás do poço, e isso reflete no custo de

    manutenção do fluido de perfuração. Segundo os autores, a taxa de difusão do gás é controlada

    pelo coeficiente de difusividade no filtrado. Contrário ao fluxo difusivo, existe um fluxo

    convectivo do fluido de perfuração na parede do poço causado pela alta pressão hidrostática,

    como esquematizado na Figura 2.10.

    O objetivo principal do trabalho de BODWADKAR e CHENEVERT (1997) foi quantificar

    a difusão de gás metano através da parede do poço (filtrado). Os autores fizeram vários testes em

    laboratório foram realizados a várias pressões e temperaturas. O aparato experimental era

    composto de um cromatógrafo para análise composicional, ou seja, para determinação da

    quantidade de metano que difunde através do filtrado, e uma célula de filtração para os testes de

    difusão. A célula utilizada era do tipo alta pressão e alta temperatura, o que permitia o registro de

    dados a várias pressões e temperaturas. A mistura estudada era constituída de metano e um fluido

    de perfuração base óleo com densidade de 17 lbm/gal.

  • 24

    A faixa de pressão e temperatura usada nos experimentos foram, respectivamente, 250 psi a

    1250 psi e 40oC a 150ºC. A modelagem matemática utilizada pelos autores é semelhante à

    utilizada por ZHANG et al. (2000), tendo como equação fundamental a Lei de Fick. Para a

    mistura estudada, dentro da faixa de pressões e temperaturas analisadas, os pesquisadores

    obtiveram coeficientes de difusividade para o metano no filtrado variando de 2 x 10-9

    a 9 x 10-9

    m2/s.

    Figura 2.10 – Difusão de gás através do filtrado (BODWADKAR e CHENEVERT, 1997).

    Ainda nesse contexto, BRADLEY et al. (2002) fizeram testes em um poço horizontal

    HPHT e mostraram que após o poço ficar 50 dias sem circulação foram acumulados 110 bbl de

    metano dentro do poço. O gráfico de volume acumulado de gás metano no poço ao longo do

    tempo pode ser visto na Figura 2.11. A pressão e temperatura do teste realizado foram de 10500

    psi e 145ºC, respectivamente.

  • 25

    Figura 2.11 – Volume de gás acumulado no poço em relação ao tempo em um poço horizontal

    HPHT (BRADLEY et al., 2002).

    Assim como BRADLEY et al. (2002), SILVA e LOMBA (2007) também observam que é

    possível que ocorra a difusão de gás da formação para dentro do poço através do filtrado, sob

    condições sobrebalanceadas de pressão, quando o poço não está circulando por um longo

    intervalo de tempo. A Figura 2.10 ilustra esse processo difusivo que ocorre nessa situação.

    SILVA e LOMBA (2007) atestam que esse é um tipo de problema que, a depender do tempo de

    exposição a que o poço está submetido sob esta situação, o volume de gás que entra no poço

    poder ser suficiente para causar um kick.

    No Brasil, com a problemática do Pré-Sal no que se refere à grande quantidade de dióxido

    de carbono nas formações produtoras, surgiram trabalhos como o de FOLSTA et al. (2009)

    enfatizando a importância da quantificação da dissolução desse gás em fluidos de perfuração,

    principalmente na fração aquosa do fluido. Esse processo é problemático devido à acidificação,

    ou seja, a diminuição do pH do fluido de perfuração frente ao CO2, ocasionando problemas de

    desgaste das instalações, alterações de densidade e viscosidade devido a descaracterização