nem tao eletrico assim

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Nem tão elétrico assim Armando Cavanha O mercado de energia estaria apontando mudanças importantes para o futuro próximo, especialmente no que diz respeito ao petróleo. Não é possível visualizar com clareza qual o tempo e conteúdo de tais novidades, apesar da existência de pesquisas e experimentos em andamento por várias partes do mundo. Há uma certa estabilização de consumo do petróleo, na casa dos 100 milhões de barris por dia para o total do mundo. O Brasil representa menos de 3% deste total. As reservas atuais, tanto locais como mundiais, apontam assegurar perto de dez anos de consumo. Há fortes interesses em investimentos em energias alternativas e discussões sobre meio ambiente acontecendo. Parece não existir clareza para a convivência de direcionadores ambientais e produtivos, o que produz insegurança aos investidores. Do lado dos desafios visíveis, cita-se o da difusão de veículos elétricos. Quando se fala do carro elétrico, um dos pontos fortes seria a mudança do ponto de conversão de energia poluente para a energia limpa ou produtiva, transformação que ao invés de ser nas ruas, passaria a ser no campo, evitando a poluição das cidades. Também, o nível de ruído dos grandes centros estaria em redução com esta solução. Mas nem tudo é apenas positivo neste contexto. As fontes primárias de energia, para conversão em eletricidade, segundo o EIA (https://www.eia.gov/tools/faqs/faq.php?id=427&t=3 ) seriam as seguintes: Major energy sources and percent shares of U.S. electricity generation at utility-scale facilities in 2016: Natural gas = 33.8%

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Page 1: Nem tao eletrico assim

Nem tão elétrico assim Armando Cavanha O mercado de energia estaria apontando mudanças importantes para o futuro próximo, especialmente no que diz respeito ao petróleo. Não é possível visualizar com clareza qual o tempo e conteúdo de tais novidades, apesar da existência de pesquisas e experimentos em andamento por várias partes do mundo. Há uma certa estabilização de consumo do petróleo, na casa dos 100 milhões de barris por dia para o total do mundo. O Brasil representa menos de 3% deste total. As reservas atuais, tanto locais como mundiais, apontam assegurar perto de dez anos de consumo. Há fortes interesses em investimentos em energias alternativas e discussões sobre meio ambiente acontecendo. Parece não existir clareza para a convivência de direcionadores ambientais e produtivos, o que produz insegurança aos investidores. Do lado dos desafios visíveis, cita-se o da difusão de veículos elétricos. Quando se fala do carro elétrico, um dos pontos fortes seria a mudança do ponto de conversão de energia poluente para a energia limpa ou produtiva, transformação que ao invés de ser nas ruas, passaria a ser no campo, evitando a poluição das cidades. Também, o nível de ruído dos grandes centros estaria em redução com esta solução. Mas nem tudo é apenas positivo neste contexto. As fontes primárias de energia, para conversão em eletricidade, segundo o EIA (https://www.eia.gov/tools/faqs/faq.php?id=427&t=3 ) seriam as seguintes: Major energy sources and percent shares of U.S. electricity generation at utility-scale facilities in 2016: Natural gas = 33.8%

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Coal = 30.4% Nuclear = 19.7% Renewables (total) = 14.9% Hydropower = 6.5% Wind = 5.6% Biomass = 1.5% Solar = 0.9% Geothermal = 0.4% Petroleum = 0.6% Other gases = 0.3% Other nonrenewable sources = 0.3% Pumped storage hydroelectricity = -0.2%4 Tomando o perfil americano como referência, somando-se gás natural, carvão e nuclear, atingem mais de 80% do total de origem. O gás é uma energia considerada limpa, mas carrega o desafio da logística, armazenamento e transporte, que requerem um investimento alto em infraestrutura e nem tão boa mobilidade para o uso, se comparado ao combustível líquido. O carvão é um poluente significativo, sua extração é muitas vezes arriscada em minas profundas e pouco aparelhadas, suscitando discussões sistemáticas sobre a sua permanência como fonte de energia. Os custos aparentam ser baixos, mas as consequências negativas potenciais são altas. Parte do carvão como fonte de energia já dá lugar ao gás natural, principalmente nos EUA. A energia nuclear, apesar de considerada limpa e de baixo risco, possui magnitude para eventos negativos exageradamente alta, causando receio em populações mais próximas de regiões geradoras. Portanto, o carro elétrico parece ser muito bem vindo, pode resolver diversas questões de grandes cidades, como poluição, ruídos. Mas ele não é elétrico em sua origem, a energia que gera a eletricidade dele vem de alguma fonte

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anterior, nem sempre tão nobre assim. Sem dúvida com menos resultados indesejáveis. Ficam desafios da energia que gera a eletricidade, do tempo de recarga e autonomia, peso de baterias, descarte delas, quem sabe para breve sejam vencidos. Elétrico sim, mas com desafios ainda a vencer. Armando Cavanha é Professor convidado do FGV/MBA.