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ÍNDICE
INTRODUÇÃO
Motivações e Questões Iniciais 1
CAPÍTULO 1 6
A PROBLEMÁTICA SOB INVESTIGAÇÃO 6
1.1 Definição do Problema - dos caminhos percorridos 6
1.1.1. A Primeira Proposta: por que não se concretizou? 6
1.1.2 Definindo outra proposta: antigas motivações e novas questões 8
1.1.3 Convergindo para nossa questão orientadora 12
1.2 Relevância do Estudo 13
1.3 Curso de Licenciatura em Matemática da UESC - situação atual e
proposta de reformulação 16
CAPÍTULO 2-REVISÃO DA LITERATURA: 19
AS BASES EPISTEMOLÓGICAS QUE ORIENTARAM A INVESTIGAÇÃO 19
2.1 Formação Inicial de Professores de Matemática: concepções,
tendências e desafios 20
2.1.1 As Licenciaturas em “xeque” 20
2.1.2 Novos Caminhos para a Licenciatura: o caso da Matemática e a
importância da Educação Matemática 21
2.1.3 Sobre as Tendências e Propostas Inovadoras 23
ii
2.1.4 Principais dificuldades apontadas na implementação de propostas
inovadoras 26
2.2 Os desafios face às mudanças impostas pelos Novos Instrumentos
Tecnológicos 31
2.2.1 A Educação na Era da Tecnologia 31
2.2.2 Formação de Professores em vista das novas demandas da
Sociedade Tecnológica 35
2.2.3 Ensino e a aprendizagem de Matemática na Universidade:
enfrentando os desafios impostos pelas novas demandas da
Sociedade Tecnológica 38
CAPÍTULO 3 42
METODOLOGIA DE PESQUISA 42
3.1 Opções metodológicas 43
3.2 A Coleta dos Dados 43
3.2.1 Fase Exploratória 43
3.2.2 Segunda Fase - Realização do terceiro Curso 44
3.2.3. Terceira Fase - Coleta dos Dados: instrumentos e participantes 45
3.3 Procedimentos Metodológicos de Análise e Interpretação dos Dados 50
3.3.1 A interpretação das entrevistas 50
3.3.2 Análise das Entrevistas 51
CAPÍTULO 4 - RESULTADOS 55
DA ANÁLISE E CONSTRUÇÃO 55
4.1 Da construção dos Resultados 56
4.2 Apreensão dos Resultados: explicitando a visão dos alunos-professores 60
4.2.3.3 - O que poderia ser feito para um uso mais efetivo nas aulas de
Matemática. 61
4.2.1 A visão dos alunos-professores sobre o uso do computador nos
processos de ensino e aprendizagem da Matemática. 62
iii
4.2.2 A visão dos alunos-professores sobre o uso do computador para
os processos de formação dos professores (inicial ou
continuada) 75
4.2.3 A visão dos alunos-professores sobre o uso do Computador na
Licenciatura em Matemática da UESC. 80
4.3 Conclusões Iniciais: a questão orientadora e o que os dados revelaram 89
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 90
CONSTRUINDO UM QUADRO REFLEXIVO-TEÓRICO 90
5.1 “Aproximando” os Dados da Literatura 91
5.1.1 O Uso do computador nos processos de ensino e aprendizagem da
Matemática 92
5.1.2. O computador nos Processos de Formação do Professor de
Matemática (inicial ou continuada). 106
5.1.3 - O Uso do Computador na Licenciatura em Matemática da UESC:
situação atual e perspectivas 110
5.2 Conclusões Iniciais - Os dados e a literatura 118
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES 121
E CONSIDERAÇÕES FINAIS 121
6.1 Um “passeio” pelo estudo 121
6.2 A Questão Orientadora da pesquisa 123
6.3 Considerações sobre os resultados do Estudo 124
6.4 Além dos Resultados: recomendações de uso do computador no Curso de
Licenciatura em Matemática da UESC 127
6.5 Considerações Finais: relevância do estudo 128
BIBLIOGRAFIA 131
ANEXOS...................................................................................................140
INTRODUÇÃO
Motivações e Questões Iniciais
Nosso interesse por assuntos ligados à informática - em particular o
computador - começou a delinear-se em fins dos anos 80 (oitenta) e início dos 90
(noventa) quando os computadores pessoais começavam a fazer parte de nossas
vidas. Nessa época, estava em voga “aprender informática”; o objetivo dessa
aprendizagem era conhecer os computadores, familiarizar-se com eles, como na
expressão francesa deuxiéme alfabetisation ou na inglesa computer literacy
(alfabetização informática). Em busca da “alfabetização informática” passamos a nos
interessar pelo assunto e freqüentar cursos de informática básica: MS-DOS,
Introdução ao PC, dentre outros. Além disso, a própria função profissional1 que
exercíamos na época passou a exigir conhecimentos básicos de informática, pois
trabalhávamos em um ramo de atividade que rapidamente se “informatizava”.
Portanto, nosso envolvimento com questões gerais relacionadas à informática
antecede a proposta de usá-la com objetivos educacionais.
Foi só a partir de 1994 (segundo semestre), quando já tínhamos uma certa
familiaridade com computadores e já podíamos vislumbrar o seu real potencial de
1 A partir de 1988 passamos, em razão de nossa atividade profissional, a ter um contato direto com microcomputadores.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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uso bem como as mudanças que poderiam trazer para a sociedade em geral, em
particular para o “mundo do trabalho”, que passamos também a nos preocupar com
seu uso em contextos educacionais – sobretudo no ensino e aprendizagem da
matemática. Nesse ano, ainda na condição de estudantes do curso de Licenciatura
em Ciências – hab. em Matemática, da Universidade Estadual de Santa Cruz –
Ilhéus (BA), tivemos a oportunidade de participar de cursos de extensão nessa
Universidade, fazendo uso do computador por meio de alguns softwares voltados
para ensino e aprendizagem da Matemática. Na ocasião, a Instituição, por intermédio
do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas - DCET, que oferece o curso
acima referido, implantou um laboratório de informática (inicialmente com 10
computadores), para que, a partir de então, os professores e alunos passassem a
utilizar o computador, nas suas atividades acadêmicas.
O primeiro passo, nesse sentido, foi dado quando o DCET ofereceu
alguns cursos de informática básica (word, excel, windows), destinados a
professores e determinados alunos do curso de Ciências. Tais cursos
constituíram-se na primeira etapa do processo de inserir o computador no ensino, em
particular no curso de Matemática, fazendo com que professores e alunos
começassem a sentir-se “confortáveis” diante da máquina. Na seqüência, foram
possibilitados cursos específicos, destinados, prioritariamente, aos professores de
Matemática do Departamento, mas abertos aos alunos que estivessem freqüentando
os últimos semestres da licenciatura em Matemática. Essa abertura e o fato de já
termos um certo conhecimento sobre computadores e manejo da máquina
possibilitaram-nos participar de tais eventos acadêmicos.
Os cursos tiveram uma carga horária de 20h cada um, sendo utilizados
alguns softwares (Maple, Mathcad, MPP e Cabri)2. O objetivo era mostrar aos
2 Os softwares Maple e Mathcad foram a princípio os que mais despertaram nossa atenção, pois podem ser utilizados na resolução de problemas em diversos ramos da Matemática, tais como matrizes, determinantes, coordenadas polares, integrais definidas, derivadas, etc., além de possuir uma excelente definição gráfica, o que possibilita construções em até três dimensões. Também o Cabri, com suas características geométricas, permite a construção gráfica de vários elementos e verificação de muitas propriedades geométricas.
Introdução
3
participantes3 possibilidades de utilização do computador no ensino e aprendizagem
de Matemática, não havendo uma discussão mais profunda sobre as implicações
desse uso nas aulas da disciplina. A partir de então, pudemos vislumbrar a
possibilidade de ensinar e aprender matemática, usando o computador, o que nos
despertou o interesse em aprofundar nosso conhecimento sobre o tema. Assim,
surgiram nossos primeiros questionamentos sobre computadores nos processos de
ensino e aprendizagem: O que pode ser feito com o computador? Como estava
sendo usado nos meios de ensino? Quais os resultados desse uso para a
aprendizagem? Essas interrogações eram bastante gerais, mas realçavam bem
nossa intenção em prosseguir investigando o assunto.
Nessa busca, tomamos conhecimento de um artigo veiculado na revista
da SBEM- Sociedade Brasileira de Educação Matemática - sobre o Programa de
Pós-graduação em Educação Matemática da UNESP - Rio Claro (SP) bem como as
linhas de pesquisa oferecidas pelo programa, dentre elas Informática na Educação
Matemática. Foi possível então conhecer um pouco do que vinha sendo realizado
nessa área, abrindo-se, também, para nós um canal de comunicação, pois,
posteriormente, mantivemos contato com a coordenação do programa mencionado,
solicitando maiores informações, principalmente sobre a linha de nosso interesse.
Esse contato inicial foi proveitoso, tendo em vista que além de adquirirmos
informações sobre o processo seletivo para ingresso no mestrado em Educação
Matemática, recebemos também alguns textos (resumos de trabalhos) desenvolvidos
em Informática e Educação Matemática, informando-nos mais sobre o que vinha
sendo feito nessa área de pesquisa. Entretanto, só com a nossa vinda para Rio Claro
- SP, em março de 19964, passando a manter um contato mais direto com os
membros do Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educação
3 Vale ressaltar que os cursos não despertaram muito o interesse dos professores e alunos, pois a participação foi insignificante, em cada módulo tinham no máximo 4 professores e 3 alunos, quando eram abertos para 20 participantes. 4 Durante esse ano estivemos na condição de aluna especial do referido programa.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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Matemática - GPIMEM 5 , foi que de fato começamos a tomar conhecimento de
pesquisas já efetivadas, em andamento, e, sobretudo, do que ainda podia ser
investigado nessa linha de pesquisa.
A partir daí, passamos a nos preocupar em definir um foco de interesse,
embora com a idéia inicial de realizarmos nossa pesquisa junto à licenciatura em
Matemática da UESC. Portanto, das motivações iniciais à definição do problema,
realização da pesquisa e escrita do texto final, um “longo caminho” foi percorrido,
como bem mostram os capítulos que compõem esta dissertação.
Assim, este trabalho, além da introdução, compõem-se de mais seis
capítulos. O capítulo 1, traz a problemática sob investigação, descrevendo os
caminhos percorridos na definição da proposta; a relevância do estudo e; fechamos o
capítulo, apresentando dados sobre o curso de Licenciatura em Ciências – Hab.
Matemática da UESC. O capítulo 2, ressalta as bases teóricas que orientaram a
investigação, estando dividido em dois tópicos gerais: formação inicial de professores
de Matemática e os desafios face às mudanças impostas pelos novos instrumentos
tecnológicos. O terceiro, destaca a metodologia empregada para responder o
problema, tanto no sentido mais amplo do tema, quanto no sentido mais restrito no
que respeita os procedimentos adotados na coleta e análise dos dados.
O capítulo 4, traz a construção, apresentação e discussão preliminar dos
resultados. A discussão preliminar visa comparar os dados obtidos com a pergunta
orientadora do estudo. O quinto, apresenta a discussão desses resultados, a qual é
feita tomando-se por base a literatura destacada no capítulo 2, bem como a inclusão
de novos referenciais teóricos, ou seja, nesse capítulo, promovemos um diálogo
entre os resultados do estudo e a literatura. O capítulo 6, traz as conclusões e
considerações finais do estudo, em qual apresentamos uma discussão geral sobre o
nosso trabalho, retomando alguns pontos já discutidos; discute até que ponto a
5 Em especial contamos com a colaboração das Professoras Míriam Penteado e Telma A Souza Gracias por seus trabalhos e indicações de leitura. O citado grupo é coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo de C. Borba
Introdução
5
nossa questão orientadora foi respondida; apresenta algumas sugestões e,
finalizando, ressalta a relevância do estudo para a Educação Matemática, em
particular a formação inicial de professores de Matemática na UESC.
CAPÍTULO 1
A PROBLEMÁTICA SOB INVESTIGAÇÃO
1.1 Definição do Problema - dos caminhos percorridos
1.1.1. A Primeira Proposta: por que não se concretizou?
Nossa primeira proposta de estudo foi investigar “quais as interrogações
que os professores faziam sobre seu conhecimento matemático quando
envolvidos em atividades usando a planilha eletrônica”. A hipótese inicial era
que o conhecimento matemático dos professores poderia ser desestabilizado quando
ambientes informáticos fossem utilizados. Na definição dessa proposta, fomos
influenciados pelos trabalhos de PENTEADO SILVA & SOUZA (1992), que,
ministrando cursos a professores de Matemática usando a planilha eletrônica,
observaram, dentre outras coisas, que eles, por vezes, faziam interrogações e
reflexões acerca do seu conhecimento matemático, quando envolvidos nas
atividades propostas. Já que não era preocupação das pesquisadoras investigar
essas reflexões e interrogações, o fato ficou apenas na observação.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
7
Entretanto, acreditamos que isso poderia constituir-se em “objeto” de um
estudo mais criterioso, cujos resultados colhidos poderiam levar a importantes
análises sobre o conhecimento matemático dos professores em ambientes
computacionais. Definida a proposta, passamos a nos preocupar com os
procedimentos para coleta de dados, a metodologia a ser empregada, o cenário e os
participantes da pesquisa.
Nesse sentido, para participantes da pesquisa, optamos pelos professores
de Matemática do ensino fundamental e médio que atuam na região de influência da
Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus (BA), pesando nessa escolha nossa
proximidade com esse público em particular. Como cenário, o Laboratório de
Informática dessa Universidade. E, para a coleta de dados, realizamos entrevistas
individuais com alguns professores previamente escolhidos que foram envolvidos em
atividades matemáticas (na forma de experimentos de ensino 6 ), usando o
computador: planilha eletrônicas. As entrevistas foram filmadas e posteriormente
transcritas integralmente.
No entanto, após a nossa análise dos dados, fornecidos pelas entrevistas
individuais e as observações e críticas do nosso grupo de pesquisa7, constatamos
que esses dados se apresentavam insuficientes, uma vez que não respondiam a
nossa questão orientadora, quer dizer, não apresentavam situações (interrogações)
por parte dos professores que evidenciassem seu conhecimento matemático sendo
posto em “xeque” pelo uso do computador, nem tampouco apontavam para fatos
novos ou suficientemente significativos que reordenassem nossa questão inicial.
Em vista disso, optamos por abandonar essa primeira proposta e retomar
nosso interesse inicial de realizar um estudo junto à licenciatura em Matemática da
6 Sobre experimento de ensino ver COBB, P & STEFFE, The Construtiviste researcher as teacher and model builder. In. Journal for Reserach in Mathematics Education, vol. 14, nº 2, p. 83-94, 1983. 7 Grupo de Pesquisa em Informática Outras Mídias e Educação Matemática – GPIMEM (Home-page: www.igce.unesp.br/igce/gpimem.html
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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UESC, abarcando antigas motivações aliadas a novas questões na busca de um
novo problema de estudo.
1.1.2 Definindo outra proposta: antigas motivações e novas questões
Decidimos abandonar a proposta inicial descrita por receio de que fosse
infrutífera novamente, contando uma vez mais com as sugestões do nosso grupo de
pesquisa. Essa mudança de rumos foi ainda favorecida por algumas constatações
feitas junto a essa licenciatura, tais como: o grande número de alunos da licenciatura
em Matemática que já são professores e, a inexpressiva utilização do laboratório de
informática em atividades de ensino e aprendizagem, em particular de Matemática.
Tais constatações foram possíveis em virtude de contatos mantidos com
alunos da licenciatura da UESC e professores de Matemática durante cursos que
tivemos a oportunidade de ministrar. O primeiro, no início de 19978, quando fomos
convidados a participar, como docente, do Programa PRÓ-CIÊNCIAS/BAHIA9 nessa
instituição. Na ocasião ministramos um curso usando computadores - planilhas
eletrônicas (ver anexo III), destinado ao ensino e aprendizagem da Matemática, com
carga horária de 40h e a participação de 60 professores de Matemática do ensino
fundamental e médio (divididos em duas turmas de 30 cada) que atuam na região
sob influência da universidade. O segundo curso, ministrado em julho do mesmo
ano, também usando planilhas eletrônicas, contou com 20 (vinte) participantes.
Esses cursos foram realizados como preparação para a etapa mais
importante da primeira proposta anteriormente descrita: as entrevistas individuais. Os
objetivos, ao realizá-los, foram manter contato com professores de Matemática -
público alvo do estudo daquela proposta, fazer anotações de fatos relevantes
8 Na ocasião já estávamos como aluna regular junto ao Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da UNESP – Campus de Rio Claro 9 Programa de Apoio ao Aperfeiçoamento de Professores de Matemática e Ciências do Estado da Bahia -SEPLANTEC -CADCT - SEC - CAPES - SEMTEC, Fevereiro de 1997.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
9
suscitados nas discussões durante os cursos e escolher os professores para as
entrevistas individuais.
Ao final de cada curso aplicamos dois questionários. O primeiro
(questionário de n.º 1, conforme anexo II) objetivou conhecermos o perfil dos
participantes. O segundo, com questões abertas (questionário de n.º 2), visou
conhecermos a opinião deles sobre o uso do computador destinado ao ensino e
aprendizagem da Matemática, tomando por base as atividades propostas nos cursos.
Esperávamos que os dados colhidos nesses dois instrumentos também oferecessem
“insights” para realização das entrevistas individuais, na referida proposta.
Conquanto as informações obtidas nos cursos não tenham sido
suficientemente aproveitadas na proposta primeira, foram de grande utilidade na
definição do novo problema, dando-nos a necessária confiança para a mudança de
proposta. A título de exemplo, com o questionário de n.º. 1, aplicado durante o
primeiro curso - PROGRAMA PRÓ-CIÊNCIAS, destinado à formação continuada de
professores de Matemática dos ensinos fundamental e médio, obtivemos os dados
mostrados no quadro a seguir:
Tabela 1 – Perfil Participantes PRO-CIÊNCIAS*
Nº. Participantes
Nº. Questionários Respondidos
Licenciatura Plena –
Hab. Matemática
Outros
cursos
superiores
Formação em Nível médio
Concluída Cursando
60 48 7 28 5 8
* Questionário : Quanto à formação acadêmica
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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Esses dados nos mostram o número expressivo de participantes que
ainda estavam em processo de formação inicial. Além disso, outro aspecto
importante foi que, para a grande maioria, o curso representou o primeiro contato
com o computador destinado ao ensino e aprendizagem da Matemática. A primeira
dessas constatações de todo não nos surpreendeu, pois já conhecíamos a realidade
educacional da região. Entretanto, a segunda nos fez ver que a implantação de um
Laboratório de Informática no Departamento, com proposta de integrá-lo às
atividades acadêmicas de professores e alunos, não gerou mudanças significativas
no ensino e aprendizagem da Matemática, uma vez que o uso do computador
permanecia distante das aulas.
Com a análise do questionário n.º 2, identificamos algumas respostas
sobre o que os participantes esperam do uso do computador que se mostraram
relevantes para a continuidade da nossa investigação. Algumas delas são
apresentadas a seguir:
“De grande utilidade para o desenvolvimento do aluno na
sala de aula, bem como no convívio em sociedade, visto
que o computador é utilizado em todos os setores da
sociedade”.
“Importantíssimo, visto que vivemos no mundo da
informática e a escola não pode ficar alheia a esta
situação (...)”.
“Como uma motivação, excelente, tanto para o professor
quanto para o aluno, pois sem dúvida alguma as aulas
passam a ter um maior estímulo”.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
11
“Uma experiência nova que, acredito, renovará a roupagem
do professor de Matemática e dinamizará a aplicabilidade
do conteúdo”.
“Foi bom para despertar o desejo de avançar na prática
docente, buscando informatizar o ensino e oferecendo,
assim, uma educação de melhor qualidade”.
“Que no computador o assunto se torna mais real, dando,
assim, mais segurança na aprendizagem e tornando o
aluno mais interessado (...)”.
Dessas respostas, observamos que os participantes sugerem o uso do
computador como algo importante para despertar o interesse dos alunos, facilitando
o ensino e aprendizagem da Matemática; ressaltam a necessidade de formação
adequada dos professores para usá-los; a necessidade de sua inserção na sala de
aula, devido a sua importância social, dentre outras considerações. A análise desses
dados, portanto, nos forneceu elementos sobre o pensamento dos professores em
relação ao uso do computador no processo educacional, suscitando-nos, então, a
motivação de realizar uma investigação criteriosa sobre essas questões.
Outro aspecto importante que nos impulsionou na definição de uma nova
proposta de estudo diz respeito a projeto de reformulação do curso de Licenciatura
em Ciências da UESC - englobando a área de Matemática, posta em discussão, uma
vez que, na condição de estudantes egressos daquela instituição, julgamos relevante
a participação dos alunos. Na nova proposta curricular para a licenciatura em
matemática da UESC, interessou-nos observar o papel atribuído aos novos
instrumentos tecnológicos.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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1.1.3 Convergindo para nossa questão orientadora
Com base no que expusemos anteriormente, podemos observar que
nossas preocupações repousam sobre alguns pontos, a saber: a formação inicial do
professor de Matemática na UESC em relação ao uso de novas teconologias – em
particular o computador; a proposta curricular em debate, ressaltando o papel
atribuído às novas tecnologias nessa discussão e a participação dos alunos na
discussão dessa proposta. Assim, buscamos uma questão que englobasse todas
essas preocupações, a qual convergiu para a pergunta abaixo:
Como os alunos-professores de Licenciatura Plena em
Ciências – Habilitação em Matemática da UESC vêem o uso
do computador nas disciplinas de Matemática?
A partir de então usaremos a expressão alunos-professores para
reportar-nos aos participantes da pesquisa, pois são alunos de licenciatura em
Matemática da UESC e professores de Matemática nos Ensinos Fundamental e
Médio.
Definida, portanto, a questão orientadora da pesquisa, passamos a nos
preocupar com a metodologia a ser empregada: as bases epistemológicas,
os procedimentos e os instrumentos para coleta dos dados que melhor
respondessem à questão. Essa fase será detalhada no capítulo de metodologia
(cap.3) desta dissertação.
Na seqüência do capítulo, discutimos a relevância do estudo ao buscar
conhecer a opinião dos alunos-professores.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
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1.2 Relevância do Estudo
Desde o momento em que os computadores começaram a se popularizar,
por volta do final dos anos 70 e início dos anos 80, seu uso na educação vem sendo
discutido, principalmente em relação à formação docente . Assim, muitos estudos
têm sido realizados no âmbito da formação de professores de Matemática, visando a
utilização de novas tecnologias (VELOSO,1991; NOSS & HOYLES, 1996;
PENTEADO SILVA,1997).
Todavia, esses trabalhos centram suas atenções em relatar experiências
de programas de formação continuada de professores visando a prepará-los para
utilizarem as novas tecnologias no ensino e aprendizagem de Matemática, embora
alguns ressaltem uma preocupação também com a formação inicial dos professores.
Portanto, quando centramos nossa questão orientadora buscando ouvir a opinião
dos alunos-professores sobre o uso do computador nas disciplinas de Matemática da
licenciatura, temos uma dupla preocupação: com formação inicial desses alunos e
sua atuação profissional, observando a importância que as novas tecnologias, em
especial o computador, têm para a sociedade em geral e para o ensino e
aprendizagem da Matemática em particular.
Assim, ouvi-los como alunos-professores ou simplesmente como sujeitos
sociais significa termos em conta essa tripla situação: de alunos, professores e
cidadãos e, portanto, aptos a opinarem sobre aspectos relevantes para sua
formação, desempenho profissional e vida em sociedade. Ora, como conhecedores e
críticos do universo cultural (no sentido de relação com a cultura, com a realidade
social, com o saber e com a sociedade) estes “aprendizes” têm muito a dizer e isso
não pode ser ignorado.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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Além disso, ao ouvir a opinião dos alunos-professores, esperamos nos
aproximar de Freire (1981) quando esse autor ressalta a importância de se escutar
os educandos. Para Freire, uma educação que não leve em conta a opinião dos
educandos é uma educação “bancária”, onde o “saber” é mera doação dos que
“tudo sabem” aos que “nada sabem” e, portanto, necessitam aprender. Nesse
modelo de educação: “o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos
jamais ouvidos nesta escolha, se acomodam a ele” (Freire, 1981; p. 68); ora, nessa
visão “bancária” de educação10, os alunos são postos como “seres da adaptação e
do ajustamento”. Quanto a isso Freire afirma:
Quanto mais se exercitam os educandos no arquivamento dos depósitos
que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência
crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores
dele. Como sujeitos (p. 68).
Desta forma, para romper com a educação “bancária”, o autor propõe o
“diálogo” entre as partes, que só pode existir a partir do entendimento, da
compreensão e, principalmente, da conscientização. Essa conscientização ou
conscientis-ação não envolve “pessoas oprimidas”, sujeitos da conscientização como
projeto de libertação e transformação social - como no conceito freireano – mas,
significa possibilidades de ação, de participação crítica, podendo intervir
qualitativamente na realidade transformando-a. Assim, a conscientização é para
nós implicação ativa e consciente, combinando crítica e intervenção, interrogação e
descoberta do novo numa dada realidade social e institucional, onde o pessoal e o
coletivo se tornam conscientes.
Voltando ao nosso domínio de estudo, o que nos interessa é ouvir o que
os alunos-professores têm a dizer, tornando públicas suas opiniões e que eles
10 Para Freire (1981), a educação bancária, que ele tanto criticou, é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
15
próprios tenham consciência de sua importância como sujeitos do processo; só
assim poderão ter uma participação ativa e consciente, contribuindo para
mudanças no cenário do curso de licenciatura em Matemática da UESC.
Portanto, este trabalho espera possibilitar aos alunos do curso de
Licenciatura em Matemática da UESC expressarem-se sobre quando e como
querem a utilização dos computadores, assumindo uma postura crítica sobre seu
processo de formação face às mudanças sociais provocadas pelas novas
tecnologias e podendo contribuir para o processo de reformulação curricular ora
vivido pela instituição. Ao interpretarmos essas falas esperamos, ainda, estar
contribuindo para o debate sobre informática na formação de professores de
Matemática.
Na seqüência, fechando este capítulo, apresentamos um pouco do modo
como está estruturado o curso de licenciatura da UESC e as principais mudanças
trazidas pela nova proposta curricular.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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1.3 Curso de Licenciatura em Matemática da UESC - situação atual e
proposta de reformulação
Ao desenvolvermos um estudo tendo como participantes da pesquisa,
alunos de licenciatura em Matemática, julgamos conveniente apresentar o contexto
específico no qual eles se inserem, qual seja, revelar alguns dados sobre a própria
Licenciatura em Matemática da UESC: sua implantação, os aspectos filosóficos que
envolvem a formação desses profissionais; como está sendo implementada a
reforma curricular e, ainda, o contexto sociocultural no qual vive o professor de
Matemática licenciado pela UESC.
O curso (Licenciatura Plena em Ciências - Habilitação em Matemática) da
Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC foi implantado em 1982, em
consonância com o Parecer 1687/74 e reconhecido pela Portaria do MEC/971 de
06.12.85. Esse curso visa preparar o profissional para o exercício do magistério no
ensinos fundamental (em Ciências e Matemática), médio e superior (em
Matemática)11. Está prevista para o curso uma duração mínima de 4 anos e máxima
de 7 (sete) anos e meio12, totalizando 3.180 horas. Oferece, anualmente, um total de
40 vagas no turno noturno, recebendo um público proveniente das diversas cidades
integrantes da área geo-educacional 13 da universidade. (Colegiado de Ciências,
1997, mimeo)
No que tange ao funcionamento do curso em relação aos aspectos
didático, pedagógico e de infra-estrutura, as atividades limitam-se ao oferecimento
11 O curso de licenciatura em Ciências da UESC está estruturado de acordo com a resolução 30/74 do CFE, a qual divide a licenciatura em dois ciclos: comum (de 2 a 3 anos) e específico de (1,5 a 2 anos). 12 O que se verifica na prática é que esse tempo máximo não é respeitado, pois têm-se casos de alunos que estão há mais de 10 anos fazendo o curso. 13 Denomina-se área Geo-Educacional da UESC um conjunto de cidades que sofrem a influência da universidade. Em termos de divisão geográfica corresponde à região sul da Bahia.
Capítulo 1 - A Problemática sob Investigação
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regular das disciplinas constantes da grade curricular (tanto na parte comum quanto
na específica). Embora haja o laboratório de informática disponível para as
atividades de ensino (como nos reportamos anteriormente), observamos uma
predominância da aula expositiva. Paralelamente têm sido oferecidos cursos de
informática na modalidade de extensão universitária, apesar de, na maioria das
vezes, serem cursos básicos: windows, word, excel, etc.
Outras deficiências são apontadas por professores e alunos. Por exemplo,
não há uma obrigatoriedade de continuidade da licenciatura curta para a plena. Em
muitos casos, os alunos concluem a licenciatura curta e, só após um longo período,
retornam para cursar a parte relativa à licenciatura plena, apresentando então
dificuldades em acompanhar as disciplinas específicas de Matemática. A carga
horária do curso (3180 h) é considerada muito extensa, tendo em vista que os
currículos de outras licenciaturas não regidos pela Resolução 30/74, estão
estruturados em torno de uma carga horária menor, (2800h), o que os torna mais
rápido.
Diante da situação atual, nos últimos anos, professores e alunos do DCET
vêm sugerindo mudanças na estrutura do currículo das licenciaturas (Matemática,
Física, Química e Biologia). A partir de 1994, uma proposta concreta de reformulação
vem sendo discutida. No bojo dessa discussão, há também a própria necessidade de
enquadrar o currículo na realidade educacional brasileira, em que a maioria das
licenciaturas já abandonaram o modelo exposto, e de adequá-lo à massa de
estudantes que ingressam na Universidade, esperando um curso mais direcionado
aos seus interesses. São exatamente os alunos os mais insatisfeitos com a estrutura
do curso, apontado-a como a principal responsável pelo alto índice de evasão e o
pequeno número de concludentes.14
A nova proposta curricular prevê a extinção das atuais licenciaturas em
14 Para termos uma idéia, dos 327 alunos matriculados de 1982 a 1992, houve um total de 58 concludentes em 1996 (Informações sobre o curso de Licenciatura em Ciências - Hab. Matemática - Colegiado de Ciências, 1997, mimeo).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
18
Ciências (Curta e Plena) e a implantação da Licenciatura e Bacharelado em
Matemática. A partir de nossa análise da proposta em questão, pudemos perceber
que a preocupação maior foi com as disciplinas de conteúdos específicos, quer
dizer, supressão de umas e acréscimo de outras; no entanto, não verificamos a
mesma preocupação com a inclusão de disciplinas que visam à formação do
educador matemático (no caso, disciplinas de Educação Matemática). Consideramos
esse um ponto deficiente da referida proposta, visto que tais disciplinas estão
presentes nas reformas curriculares mais recentes de alguns cursos de licenciatura
que tivemos oportunidade de consultar. Em particular, o espaço que terão os novos
instrumentos tecnológicos, em especial as tecnologias de informação, são pouco
discutidas nessa proposta.
Portanto, esperamos, com este trabalho, ampliar a discussão, ressaltando
o papel que nela os licenciandos, na sua maioria, também professores de
Matemática no ensino fundamental e médio, podem e devem desempenhar.
CAPÍTULO 2-REVISÃO DA LITERATURA:
AS BASES EPISTEMOLÓGICAS QUE
ORIENTARAM A INVESTIGAÇÃO
Neste capítulo faremos uma revisão da literatura que versará em torno de
dois eixos: o primeiro, a formação inicial do professor de matemática, destacando as
novas tendências apresentadas para essa formação e as dificuldades na
implementação de propostas inovadoras. No segundo, abordaremos temas
referentes ao papel das novas tecnologias na sociedade atual, ressaltando o papel
da educação e a importância dada à formação de professores, em especial de
Matemática e discutindo, por último, o uso do computador no ensino de Matemática
do terceiro grau.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
20
2.1 Formação Inicial de Professores de Matemática: concepções,
tendências e desafios
2.1.1 As Licenciaturas em “xeque”
No final dos anos 60 e início dos anos 70, reformas educacionais 15
advindas do governo federal favoreceram a proliferação de cursos de formação de
professores, uma vez que uma das metas principais era a formação “em massa” de
profissionais da educação para atender ao novo contingente estudantil que se
pretendia atingir16. Assim, as preocupações centraram-se mais na quantidade de
profissionais a serem formados do que na qualidade dessa formação; fato que só
contribuiu para se questionar os modelos de formação de professores (as
licenciaturas) que, longe de atender à demanda exigida, ainda formavam mal o
professor. Além disso, questões de ordem econômica, tais como cortes crescentes
de verbas para a educação, perdas salariais dos professores, principalmente os dos
ensinos fundamental e médio, também contribuíram para que a formação dos
professores fosse cada vez mais prejudicada.
Além dos problemas acima expostos, falhas na estrutura interna dos
cursos também favoreceram o agravamento da situação. A principal delas apontada
era a falta de articulação entre as principais instâncias formadoras desses
profissionais: os institutos de conteúdo específico e as faculdades de educação. Nos
institutos de conteúdo específico, não havia uma distinção clara dos objetivos, entre
formar o licenciando e o bacharel. Isso naturalmente conduzia a um interesse maior
por parte do departamento e dos próprios professores em formar o bacharel, pois ele
15 - Lei 5040/68 (reforma nos cursos universitários); 5692/71 (reforma nos ensinos fundamental e médio) e resolução 30/74, que altera os cursos de licenciatura. 16 - Principalmente com a lei 5692/71 ( Reforma nos níveis fundamental e médio).
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
21
seguiria a carreira acadêmica, desenvolvendo pesquisas nas diversas áreas
pertinentes a conteúdos específicos. Enquanto, as faculdades de educação atendiam
a uma clientela bastante heterogênea, uma vez que respondiam pelas disciplinas
pedagógicas das diversas licenciaturas. Na escolha de disciplinas pelos professores
dessa faculdade, davam preferência aos cursos de Pedagogia, que eram os cursos
de excelência da unidade (CARVALHO e VIANNA, 1988).
Assim, com o “desprezo” pelas licenciaturas, elas absorviam os alunos
que não conseguiam um bom desempenho nas disciplinas de conteúdo específico,
desde o início orientados a seguirem a licenciatura. Os alunos tidos como “bons”
deveriam fazer o bacharelado, pois tinham vocação para a pesquisa, ficando,
portanto, a licenciatura para os que não “queriam nada”, “alunos de pior formação”
(BÉRGAMO, 1990). Não obstante esse quadro permanecer o mesmo atualmente em
muitas instituições, propostas de cunho inovador, visando valorizar esse profissional,
definir seu papel social e, notadamente, estabelecer objetivos claros entre formar o
licenciando e o bacharel, começaram a surgir no sentido de reverter aquele quadro,
apontando para novas perspectivas na formação dos professores.
2.1.2 Novos Caminhos para a Licenciatura: o caso da Matemática e a
importância da Educação Matemática
Em busca de alternativas para solucionar os problemas apresentados
pelas licenciaturas, foi que educadores, em especial educadores matemáticos,
centraram suas reflexões e preocupações em torno da formação inicial e continuada
do professor, particularmente do professor de Matemática, procurando delinear um
perfil que melhor representasse esse profissional e definindo seu papel na sociedade
enquanto educador. Mas, o que vem a ser o Educador Matemático e como
caracterizá-lo? Segundo MOURA (1995), “o profissional da Educação Matemática é
aquele que se utiliza da Matemática como instrumento formador”(p.22). Portanto,
educar em Matemática pressupõe, não apenas transmitir conteúdos matemáticos,
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
22
mas uma tomada de posição acerca dos objetivos sociais no ensino da disciplina e a
transformação desses objetivos em conteúdos a serem ensinados17.
Preparar esse profissional exigia, então, (e ainda exige) uma restruturação
na maioria das licenciaturas, nas quais a participação de Educadores Matemáticos
se faça preponderante. Ora, espera-se que eles sejam os principais articuladores
entre as instâncias formadoras de professores, pois, além de possuírem
conhecimentos específicos da área, detêm conhecimentos bem fundamentados
sobre educação que, sem dúvida, os credenciam para a ‘’árdua” tarefa de ensinar
(BERTONI, 1995; FRANCO & SZTAJN, 1998).
Assim, acredita-se que, com essa maior interação, teremos um
profissional mais bem formado e apto a atender aos objetivos18 que desejamos, hoje,
para o aluno em termos da aprendizagem da Matemática: “que desenvolva o
raciocínio próprio, gerador de autoconfiança, espírito crítico e criativo, a capacidade
de aplicar o aprendido a novas situações (...) o reconhecimento das relações entre
Matemática e situações da realidade” (BERTONI, 1995, p.9).
Em vista disso, em estudos desenvolvidos 19 por BERTONI (1995) e
PEREZ (1997) mostrando inovações nas Licenciaturas em Matemática em todo o
país, foi identificado que elas estão, em geral, estruturadas em torno de três grande
eixos (referência curricular): (1) dos conteúdos específicos, (2) das disciplinas para a
formação do professor e (3) das disciplinas de educação matemática; e sete
tendências: (1) prática de ensino, (2)representação da Matemática, (3) experiência e
percepção (4) disciplinas de formação do educador, (5) metodologia e
instrumentação, (6) informática e (7) educação matemática e formação do professor
pesquisador.
17 Nesse mesmo sentido ver também a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Lei 9394/96. Art. 2º- Objetivos da Educação através da escola. 18 Ver também nova LDB – Art. 61. Inciso I. 19 Ver também Lei 9394/96. Art. 2º, 61, 62, 63, 65 e 67.
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
23
2.1.3 Sobre as Tendências e Propostas Inovadoras
As tendências observadas na Licenciatura em Matemática, como
dissemos, aparecem nas propostas curriculares mais recentes e de cunho inovador,
diferindo apenas na forma como são efetivadas em cada instituição. A primeira -
prática de ensino - enfatiza a importância dada à prática 20 docente: o futuro
professor deve saber valorizar e reconhecer diferentes métodos de ensino bem como
a necessidade de refletir, constantemente, sobre sua prática docente. Essa
tendência, em geral, considera que o futuro licenciado não tem nenhuma experiência
em sala de aula e, portanto, necessita adquiri-la antes de se formar. No entanto,
ainda não há um consenso de como essa prática deva acontecer, ficando a critério
de cada instituição.
A segunda e a terceira - representação da matemática/experiências e
percepção – consideram relevante a experiência matemática que os alunos têm ou
tiveram nas disciplinas de Matemática dos ensinos fundamental, médio e superior,
haja vista essa experiência poderá ser determinante na forma de representá-la ( ou
de apresentá-la aos seus alunos). Assim, tais tendências avaliam que os licenciados
deveriam aprender Matemática também visando à investigação, à resolução de
problemas e à modelagem matemática.
A quarta - disciplinas de formação do educador - de há muito compõe os
currículos de licenciatura: é a que prevê para a licenciatura o estudo de disciplinas
que darão fundamentação teórica sobre educação ao futuro licenciando. Entretanto,
em meio a propostas inovadoras para as licenciaturas está prevista uma maior
interação entre essas disciplinas e as de conteúdos específicos.
A quinta – metodologia e instrumentação - destaca a valorização de métodos
diversificados, incluindo a opção por processos participativos nos processos de
20 Pela nova LDB, art. 65, prevê um total de 300 h de prática de ensino para as licenciaturas
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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ensino e aprendizagem da Matemática, o uso de métodos indutivos e experimentais,
de materiais concretos, envolvimento de situações do contexto do aluno na resolução
de problemas, visão de aprendizagem centrada na ação do aluno, investigação e
exploração de situações desafiadoras.
A sexta – informática – é uma das mais recentes. Surgiu em função da
importância que os novos instrumentos informáticos, em especial o computador,
alcançaram na sociedade atual – em função disso, reconhecida como sociedade do
“conhecimento” (SCHAFF, 1996; LÉVY, 1996; D’AMBRÓSIO, 1997; DEMO, 1997).
Assim, a informática como disciplina da licenciatura prevê a importância de os futuros
professores conhecerem o potencial dos novos instrumentos informáticos para o
ensino e aprendizagem da Matemática, distinguirem seus diferentes usos, poderem
avaliar a gama de softwares educacionais sobre o assunto existentes no mercado e,
é claro, repassarem a experiência adquirida a seus alunos.
Finalmente, a sétima – educação matemática e formação do professor
pesquisador - antecipa a necessidade de que o futuro professor seja formado
também visando a adotar uma atitude investigativa, caracterizando-o como professor
pesquisador. Como tal, ele poderá ser capaz de refletir sobre a própria prática,
retomando-a, descrevendo-a, questionado-a, distinguindo e compreendendo as
dificuldades que se apresentam, sugerindo hipóteses de solução e pondo-as à prova;
além disso, poderá observar o comportamento de seus alunos, verificando como
aprendem, buscando entender o significado de suas interrogações e de suas
respostas. Assim, espera-se que o eixo da produção do saber se desloque da
universidade para a escola, em particular para a sala de aula.( SCHÖN, 1995;
GARRIDO E CARVALHO, 1997; PEREZ, 1997).
Com os três eixos básicos e as sete tendências, o que se espera é sugerir
uma nova diretriz ou encaminhamento para a formação do professor de Matemática,
para que, a partir de sua formação inicial, tenha a oportunidade de conhecer
metodologias diversificadas e ser envolvido em situações próximas daquelas que
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
25
encontraria em suas salas de aulas na esperança de que adote os mesmos
processos a que foi submetido. Entretanto, mesmo verificando-se que essas sete
tendências aparecem em quase todas as propostas curriculares para as licenciaturas
em matemática, na prática pouco mudou na formação do professor, exceto em
poucas delas, que, de forma significativa, procuraram incorporar aos seus currículos
propostas reconhecidamente inovadoras.
Como exemplo de licenciatura que apresenta mudanças, destacamos o
curso de Matemática da UNESP de Rio Claro. Nesse caso particular, as propostas
apresentadas foram estruturadas em torno de um Projeto Pedagógico21, em cuja
elaboração os envolvidos procuraram abranger questões como: qual conhecimento
produzir e qual ensinar? Qual o conceito de cidadania em jogo? O curso visa formar
o licenciando e o bacharel; assim, a primeira meta do Projeto Pedagógico foi definir
claramente os objetivos, entre formar um e outro desses profissionais (SOUZA, et ali,
1995, TANUS, 1995).
As propostas básicas para o licenciando giraram em torno de definir seu
perfil, descrito em termos de liberdade de escolha metodológica e “competência”
matemático-pedagógica para o exercício dessa liberdade. Competência implicando
liberdade, “no sentido de que o aluno possa aprender a ser independente, aprender
a questionar, a raciocinar, a duvidar do já sabido”. E, “compromisso” entendido como
“inconformismo com o quadro geral de fracasso do Ensino de Matemática em suas
múltiplas dimensões” (PEREZ, 1995; p. 29).
No caso da UNESP, destaca-se o papel que os Educadores Matemáticos
desempenharam na elaboração do Projeto Pedagógico, sendo as principais
inovações a inclusão de disciplinas de Educação Matemática, tais como: Problemas
em Educação Matemática, Tópicos Especiais em Educação Matemática, Instrução
Auxiliada por Computador (Informática Educativa), Laboratório de Ensino de
21 Projeto Pedagógico do Curso de Matemática - Conselho de Curso de Matemática - IGCE-UNESP - Rio Claro, 1993 (In. Mímeo).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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Matemática I e II, dentre outras, e a reformulação da prática de ensino em
conformidade com as tendências anteriormente especificadas.
Ainda no caso da UNESP - Rio Claro, é importante ressaltar que nem
todas as disciplinas de Educação Matemática são oferecidas regularmente, uma vez
que algumas são optativas; o que, em certo sentido, revela a dificuldade na
implementação de propostas de cunho inovador. Assim, nesse caso, face a presença
marcante de educadores matemáticos, em virtude de a Pós-Graduação em
Educação Matemática ser ligada ao departamento de matemática, uma solução tem
sido disponibilizar professores comprometidos com a educação matemática para
ministrar disciplinas obrigatórias (inclusive de conteúdos específicos). Esses
professores assumem, então, posturas não tradicionais, estando fortemente
envolvidos com a formação de professores.
2.1.4 Principais dificuldades apontadas na implementação de propostas
inovadoras
Embora constatemos hoje um movimento geral de reforma nas
Licenciaturas e, como citamos anteriormente, já tenhamos reformas bem sucedidas,
ainda observamos que as dificuldades na elaboração e implementação de propostas
de cunho inovador são inúmeras. Segundo BERTONI (1995), um dos maiores
problemas é a falta de uma perfeita harmonia entre os institutos de Matemática e as
faculdades de educação, principais envolvidos na formação do professor de
Matemática. Para os Departamentos de Matemática, responsáveis pelas disciplinas
“de conteúdo específico”, trata-se de formar o matemático que dará aulas de
Matemática; já as faculdades de educação entendem formar o educador que dará
aulas de Matemática, conduzindo, portanto, a concepções distintas sobre como
formar professores.
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
27
De um ponto de vista semelhante, BICUDO (1996) argumenta que a
articulação entre as disciplinas de conteúdo específico e as de conteúdo pedagógico
ainda não foi conseguida, salvo em algumas exceções. Para ela, essa interligação é
difícil devido a questões tanto do ponto de vista epistemológico como do
histórico-cultural, haja vista, tradicionalmente, tais disciplinas têm sido trabalhadas
separadamente, como pertencentes a universos distintos.
Ainda segundo a pesquisadora, essa prática tem levado a uma separação
natural entre bacharelado e Licenciatura. As disciplinas de conteúdo específico
formam o Bacharel; acrescidas das disciplinas de conteúdo pedagógico, formam o
licenciado. Para a pesquisadora “tal concepção traz consigo a crença, também
difundida, que para ser um bom professor é suficiente que o profissional saiba o
conteúdo a ser ensinado. O restante é dom e arte (p.194)”. No entanto, esse
procedimento tem-se mostrado incapaz de dar conta da realidade da sala de aula,
pois o professor, além de dominar o conteúdo que ensina, tem ainda que saber
traduzi-lo para essa realidade, trabalhando em perspectivas psicológica, social,
histórica e política, o que exige dele uma formação apropriada.
Outra dificuldade apontada na formação dos professores, tomando uma
dimensão mais geral, foi discutida por DEMO (1997, 1998). Esse autor, analisando
criticamente o papel que a universidade deve desempenhar na sociedade atual,
vista por ele como a sociedade do conhecimento, reconhece que essa instituição,
salvo as exceções, estagnou-se no tempo, “ha décadas sempre faz as mesmas
coisas e do mesmo jeito, fossilizou-se”; esperava-se dela exatamente o contrário:
que se constituísse no “ambiente” que melhor soubesse lidar com a inovação do
conhecimento, preparando bem os futuros professores em todos os níveis, para
também saberem lidar com um conhecimento em constante inovação.
Além disso, para o autor, parte do “enrijecimento” em que vive a
universidade é culpa dos professores por defeitos de formação básica ou continuada;
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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assim, ele considera que urgentemente é preciso “desconstruir” a imagem do
professor:
(...)do professor sem produção própria continuada e criativa, porque, na prática, jamais foi professor no sentido legítimo do termo; enquanto a universidade se satisfizer com professores que se definem apenas pela aula ou acreditar apenas em formalismos de títulos vazios, há de faltar o essencial, que é a ligação necessária entre aprendizagem permanente do professor como base da aprendizagem permanente do aluno; o professor precisa ter a cara inequívoca de alguém atualizado, capaz de transitar nas fronteiras do conhecimento, apto a acompanhar as discussões mais avançadas de sua área, produtivo todo dia, para poder apresentar-se dentro da coerência da inovação , ou seja, para não apenas falar dela, mas ser o pivô da inovação inovando-se permanentemente(...)(DEMO, 1997, p.149).
Portanto, desconstruir para depois reconstruir a imagem da universidade
passa, inequivocamente, pela desconstrução e reconstrução da imagem do
professor; só assim a universidade caminhará para o futuro como um local
verdadeiramente de produção do conhecimento, assumindo sua tarefa essencial que
é reconstruir sempre, formando profissionais com essa visão também, que se
coloquem prioritariamente a serviço de toda uma nação e não apenas favoreçam o
privilégio de alguns.
Retornando à formação do professor de matemática em particular, a
necessidade de tal reconstrução de sua imagem é indiscutível. Fica, portanto,
evidente que em casos como o da UNESP de Rio Claro, que reestruturou ou
reconstruiu seu curso de matemática, a presença de educadores matemáticos -
podendo ser comparados à figura do professor conforme preconizado por Demo – foi
determinante na elaboração e implementação de uma proposta verdadeiramente
reconstrutiva para a formação do futuro professor de Matemática. Reconstruir a
imagem do professor de Matemática passa pela elaboração e implementação de
uma proposta de licenciatura de fato inovadora, mas, para que isso aconteça, faz-se
necessário a presença do educador matemático, com suas propostas e ações de
transformação como pivô das “reais” mudanças.
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
29
Além disso, concordamos também com TANUS (1995), que, ao analisar
algumas licenciaturas reorganizadas, observou a necessidade de que os projetos de
reestruturação dêem abertura para a inovação constante. Segundo ela, nenhum
projeto de licenciatura pode ser edificado sobre proposta rígida para cuja mudança
seja necessário reformular o currículo - o que, no geral, demanda tempo. É preciso
baseá-lo em proposta flexível, sujeita a constantes mudanças aptas a adequarem-se
às exigências da sociedade. Comungando com essa linha de pensamento,
encontramos também o trabalho de PERRENOUD (1993). Para esse autor:
qualquer formação inicial merece ser periodicamente repensada em função da evolução das condições de trabalho (...) das tecnologias ou do estado dos saberes. Em determinados casos, a renovação das formações iniciais é parte integrante de uma transformação mais fundamental da profissão. É o caso da profissão docente (...). Em dados momentos, a renovação da formação inicial do professor pode proporcionar um progresso nesse sentido, daí uma definição clara dos objetivos (p.137).
Com certeza o momento atual é um desses momentos, pois vivemos a era
da tecnologia – do conhecimento -, quando os novos instrumentos
tecnológicos
estão cada vez mais presentes nas diferentes atividades humanas, mudando,
constatemente, as normas do saber e forçando, portanto, a sociedade a
reorganizar-se em torno deles. Com isso, a necessidade de se requalificar os
profissionais para adequarem-se às novas demandas da sociedade torna-se
inquestionável.
Em particular, a formação dos professores (inicial ou continuada) precisa
ocorrer integrando os novos instrumentos tecnológicos, para que os profissionais
possam viver experiências significativas utilizando esses instrumentos, uma vez que,
se ainda não fazem uso deles em suas atividades, com certeza não será por muito
tempo. Qual o papel que se espera hoje do professor de Matemática? Que
habilidades lhe serão necessárias construir e posteriormente vivenciar com seus
alunos? Essas são questões em voga nas discussões sobre formação de
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
30
professores de Matemática, sobretudo, quando envolvem a necessidade de uso do
computador.
Reportando-nos ao nosso estudo, em particular, no qual buscamos,
conhecer a opinião dos licenciandos sobre como vêem a integração do computador
nas disciplinas de Matemática da Licenciatura, esperamos obter subsídios que
venham contribuir para uma efetiva utilização do computador nas aulas de
Matemática. Além disso, alertar para a importância de se também considerar a
opinião dos licenciandos na elaboração e implementação de novas propostas,
reconhecendo que podem contribuir, de forma crítica e consciente, para a melhoria
do curso de Matemática da UESC.
Assim, nossa próxima questão é destacar o papel que as novas
tecnologias, particularmente o computador, vêm assumindo na sociedade atual,
ressaltando o que se espera da escola, do professor, em especial de Matemática e,
consequentemente, da formação desse profissional.
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
31
2.2 Os desafios face às mudanças impostas pelos Novos Instrumentos
Tecnológicos22
2.2.1 A Educação na Era da Tecnologia
As novas tecnologias da informação marcam uma nova etapa na vida da
sociedade, conduzindo a formas diferentes de viver, trabalhar e pensar
(PONTE,1997). Essa nova etapa SCHAFF (1996) denomina de “Segunda Revolução
Industrial”; para ele as novas tecnologias estão mudando a formação econômica,
social e política da sociedade. As conseqüências dessa situação ainda não são
totalmente previsíveis, mas já é possível detectar o quanto tem-se constituído em
objeto de apreensão por parte dos governos e de outros setores da sociedade, uma
vez que, problemas típicos, como o desemprego estrutural 23 , provocado pela
automação de muitos serviços, já se manifestam, gerando problemas sociais, cujas
soluções ainda não se apresentam.
A crise do desemprego estrutural deve-se a uma das mais marcantes
mudanças provocadas pelas novas tecnologias, que envolve a noção de trabalho ou
de preparação para o trabalho. Antes, com a necessidade de um contigente maior de
mão-de-obra, especialmente para atuar no setor industrial, investia-se muito na
preparação precoce para o trabalho, visando ao aumento da produção. Nesse
contexto, os fatores de produção realmente significativos eram a matéria prima, a
produção agrícola e industrial, e, subsidiariamente, o conhecimento (MACHADO,
1997). Segundo Machado, com as novas tecnologias, o conhecimento ocupa agora o
centro das atenções, tornando-se o principal fator de produção. A questão não é
22 Eventualmente podemos usar também “novas tecnologias da informação” , “mídias eletrônicas”, que se trata do mesmo. Ainda enquadramos como “Novos Instrumentos Tecnológicos” todo o aparato eletrônico com destaque especial para os computadores. 23 Para Schaff (1996) desemprego estrutural é aquele provocado em conseqüência de mudanças na estrutura de ocupação, através da substituição do trabalho humano tradicional pelos autômatos.
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mais aplicar o conhecimento ao trabalho, pois já há uma total identificação entre
mundo do trabalho e conhecimento. Para ele:
[...]o conhecimento passa a ser aplicado ao conhecimento; aprender a aprender é o que importa, e as novas ciências que ocupam cada vez mais espaço são a Neurociência, a Psicologia Cognitiva, a Inteligência Artificial, englobadas muitas vezes no rótulo ...de Ciências Cognitivas[...] (p.15).
Embora a sociedade ainda se encontre meio perplexa com todo o avanço
tecnológico, já são visíveis a incorporação e aceitação desses novos instrumentos da
nova era. Todo o aparato tecnológico, por exemplo, telefones celulares, terminais de
vídeo com acesso a banco de dados, telefones públicos inteligentes ligados a
centrais automatizadas, vídeogames, internet, já se tornam íntimos dos cidadãos
comuns (PRETTO,1996).
É, portanto, um momento de crise civilizatória, e momentos como esse,
valorizam e redefinem o papel da Educação, em especial da educação escolar.
Assim, uma nova função é esperada da escola, uma vez que, apesar de ter
procurado se equipar desses novos instrumentos, foi provavelmente o setor que
menos mudanças apresentou. Uma das justificativas apresentadas para tal situação
está na dificuldade de a escola romper com velhos paradigmas, centrados no
discurso oral e na escrita, em procedimentos lineares e dedutivos, desconhecendo o
universo audiovisual, propiciado pelas mídias eletrônicas que dominam o mundo
contemporâneo (PRETTO, 1996).
A “revolução”, conforme anunciada, ainda não atingiu a escola, pelo
menos de modo significativo e visível como em outros setores. A idéia da escola
sedimentada no discurso oral e em modelos antigos é também apresentada em
LÉVY (1996):
A escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na manuscrita do aluno, e, há quatro séculos, em um uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da informática supõe, portanto, o abandono de um hábito antropológico mais que milenar (p.89).
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
33
No entanto, a escola não pode deixar de considerar a nova realidade.
Precisa superar esse hábito milenar e inserir-se definitivamente no mundo cada vez
mais dominado pela generalização do audiovisual. Para PRETTO (1996), o
analfabeto do futuro será aquele que não souber ler as imagens geradas pelos meios
eletrônicos de comunicação, o que significa não apenas compreender o alfabeto
dessa nova linguagem, mas “compreender que esse analfabetismo está inserido e é
conseqüência da ausência de uma ‘razão imagética’, que se constitui na ausência
dessa sociedade em transformação (p.99)”.
As implicações dessa situação são intensas, uma vez que, muitos países,
entre os quais o Brasil, ainda nem conseguiram solucionar o analfabetismo da língua
e já se vêem às voltas com um novo desafio, sem a possibilidade de esperar a
solução do primeiro. Superar o analfabetismo da língua, da comunicação e da
informação não é papel exclusivo da escola, mas, sem dúvida, cabe a ela uma
parcela significativa dessa tarefa. Uma nova escola necessita ser construída para
enfrentar os desafios do novo milênio (PRETTO,1996).
Para PONTE (1997), o papel fundamental da escola24 não é mais o de
preparar uma pequena elite para estudos superiores e proporcionar à grande maioria
uma preparação mínima para que ingresse no mercado de trabalho. Mas,
preparar a totalidade dos jovens para se inserirem de modo criativo, crítico e interveniente numa sociedade cada vez mais complexa, em que a capacidade de descobrir oportunidades, a flexibilidade de raciocínio, a adaptação a novas situações, a persistência e a capacidade de integrar e cooperar são qualidades fundamentais (p.5).
Não há dúvida de que a escola precisa mudar, mas, para isso é preciso
que nasça uma nova concepção de construção do conhecimento, uma nova forma
de conceber a escola. ZANIN (1997), salienta que não basta fundamentar discussões
em torno da modernidade ou formação dos cidadãos para atuar na sociedade da
24 Ver também o papel da escola no Brasil de acordo com a nova LDB – art. 2º (op. cit.)
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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informação; é necessário criar condições favoráveis na sala de aula, utilizando os
novos instrumentos tecnológicos como materiais adequados para o desenvolvimento
das atividades intelectuais e sociais dos alunos. Nossa opinião é que, para que isso
aconteça, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas educacionais que
valorizem a escola, transformando-a em espaço para o desenvolvimento do novo ser
humano.
Essa nova escola implica um novo modo de ser do professor, exigindo
dele também uma nova formação, por meio da qual ele possa ter a oportunidade de
experienciar práticas bem sucedidas, usando os novos instrumentos tecnológicos,
em especial o computador, reconhecendo e avaliando sua utilidade na sala de aula,
tornando-se um crítico de sua própria formação. Isso poderá conduzi-lo a mudanças
em sua postura tradicional de expositor, detentor do conhecimento a ser transmitido,
passando a gestor e orientador dos seus alunos.
O conhecimento, como informação transmitida pelo professor será cada vez mais desnecessário e mesmo obsoleto (...). Assim o papel do professor não estará mais comprometido com a disseminação desse tipo de conhecimento, mas como se utilizar da potência das informações (...) para promover o desenvolvimento individual e grupal, dentro e fora da sala de aula (MANTOAN,1995 p.130).
Em relação aos professores de Matemática em particular, esse novo papel
tem conseqüências fundamentais, que podem ser enquadradas em dois níveis:
mudança na sua visão de Matemática e mudança na sua visão de como ensinar
Matemática. Ficará cada vez mais evidente que sua tarefa educativa não é mais
formar novos matemáticos ou eleger um pequeno número que obtenha sucesso na
disciplina enquanto a grande maioria fracassa, mas contribuir para uma formação
educacional global dos cidadãos. O objetivo de ensinar Matemática muda de
transmitir conhecimentos e técnicas avulsas, recorrendo à memorização e à prática
repetitiva para levar os alunos a aprenderem a interrogar, investigar, conjecturar,
descobrir e argumentar; procurando relacioná-la às situações do mundo físico e
social (PONTE,1997).
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
35
2.2.2 Formação de Professores em vista das novas demandas da Sociedade
Tecnológica
No desenvolvimento das novas competências esperadas do professor, os
instrumentos tecnológicos, em especial o computador, têm um papel fundamental,
tornando-se indispensável o seu uso. Muitos educadores matemáticos consideram
que esses novos instrumentos propiciam mudanças significativas nos modelos de
ensino e aprendizagem tradicionais das aulas de Matemática. Tais mudanças
afetam, particularmente, a relação professor-aluno, quebrando a hierarquia rígida
predominante nesses modelos. Professor e aluno, sob essa nova perspectiva,
envolvem-se em atividades exploratórias de aprendizagem consideradas mais
auto-dirigidas (FEY,1991).
BORBA (1996) considera que é comum afirmar que a Matemática é
considerada sobre uma outra ótica em ambientes informáticos, nos quais ela é
encontrada, conceituada e trabalhada; declara ainda que os computadores estão
trazendo mudanças significativas para a disciplina, sobre o que é importante ensinar
e aprender, além de afetarem profundamente a dinâmica da sala de aula. Nesse
sentido, é exigido do professor formação necessária para absorverem essas
alterações, com a premissa básica de que as transformações exigidas no âmbito da
aprendizagem da Matemática só serão possíveis se houver professores preparados
para ensinar de acordo com os novos objetivos e propostas (VELOSO,1991).
Assim, a partir do momento em que os novos instrumentos tecnológicos
começaram a entrar na escola, as preocupações voltaram-se para a necessidade de
formar o professor para utilizá-los. Por exemplo, em países como Estados Unidos,
França e Inglaterra, dos anos oitenta em diante, houve uma grande proliferação de
computadores nas escolas de ensinos fundamental e médio, aliada a um grande
produção de softwares educacionais. Isso, provocou um intenso debate em torno
da formação continuada de professores, uma vez que tornou-se de consenso geral
que o sucesso na informatização dessas escolas dependia de professores aptos a
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
36
implementá-la. Embora, dados mais recentes, revelem que tal proliferação não
redundou em mudanças pedagógicas significativas, mostram que muitos projetos de
formação continuada foram implementados com a finalidade de preparar os
professores para utilizarem os novos instrumentos tecnológicos.(FEY, 1991;
VALENTE e ALMEIDA, 1997).
No Brasil, a informática é inserida na Educação a partir do interesse de
educadores de algumas universidades, que promoveram experiências na década de
setenta, motivados, principalmente, pelo que ocorria nos Estados Unidos e França.
No entanto, só com a realização dos 1º e 2º Seminários Nacionais de Informática em
Educação que aconteceram na Universidade de Brasília, em 1981, e Universidade
Federal da Bahia, em 1982, respectivamente, foi que efetivamente nasceu o primeiro
projeto de informática na educação.
O Projeto EDUCOM, ligado ao MEC, envolvendo pesquisadores de
diversas universidades (UFPe, UFMG, UFRJ, UFRGS e UNICAMP) e cuja principal
proposta era que as políticas a serem implantadas deveriam ser fundamentadas em
experiências concretas, desenvolvidas em escolas públicas e no ensino de segundo
grau (VALENTE e ALMEIDA, 1997). Embora o EDUCOM visasse, sobretudo, às
mudanças pedagógicas, os projetos de Informática na Educação não alteraram o
sistema educacional como um todo. Serviram ao menos, para inserir a Informática no
cenário educacional, possibilitando entender e discutir as questões ligadas à área,
notadamente no sentido de repensar a escola e preparar o professor para atuar nela
(VALENTE e ALMEIDA, 1997; PENTEADO SILVA, 1997).
Formar professores de 1º e 2º graus (atualmente ensinos fundamental e
médio respectivamente) para usarem a informática na Educação foi a principal
atividade do EDUCOM. Essa formação se dava, mais precisamente, pela realização
de cursos que requeriam a presença “in loco” do professor, em geral afastado do seu
local de trabalho, e visavam à preparação de profissionais da educação que nunca
tinham tido contato com computadores. Para VALENTE e ALMEIDA (1997), tais
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
37
cursos, apresentaram pontos negativos, por exemplo, os conteúdos e as atividades
sugeriam propostas pedagógicas diferentes daquela que o professor encontrava no
dia-a-dia de sala da aula, ou seja, eram descontextualizados da realidade do
professor, não contribuindo para a construção, no local de trabalho, de um ambiente
favorável à implantação de mudanças educacionais.
Esses autores consideram também que qualquer projeto de implantação
da informática na escola requer professores formados. No entanto, destacam que
formar professores é mais do que provê-los de conhecimento sobre computadores e
metodologias de como utilizá-los em suas respectivas disciplinas. Dessa forma os
cursos de formação necessitam deixar de ser simples passagem de informação para
se tornarem um momento rico de uma experiência que contextualize o conhecimento
que o professor constrói. Ainda, as novas possibilidades oferecidas pelos
computadores, tais como multimídia, comunicação via rede e a gama de softwares
disponíveis no mercado, possibilitam que esses cursos de formação sejam mais
profundos, permitindo ao professor entender e discernir entre as inúmeras
oportunidades que se apresentam.
A necessidade de que os professores tenham experiências usando
computadores desde o início de sua formação é reforçada por PENTEADO SILVA
(1997). Ela mostra-nos que o uso do computador nem sempre ocorre de forma
satisfatória por parte dos professores, quando estes não estão devidamente
preparados para utilizá-los. Alerta-nos também para o fato de que os professores,
nessa condição, não adquirirão a necessária confiança na utilização desses
instrumentos. A ausência de uma discussão mais profunda sobre implicações no
desenvolvimento profissional do professor bem como no ensino e aprendizagem dos
alunos pode levar a fracassos na implementação de projetos visando ao uso do
computador na sala de aula.
Portanto, por meio das colocações anteriores, percebemos que, desde os
primórdios do computador pessoal – que popularizou a informática - relativa
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
38
importância foi dada à formação de professores visando incorporarem às suas
atividades de ensino essa nova ferramenta. Entretanto, faz-se necessário que a
devida atenção seja dada ao futuro professor, para que em sua formação inicial,
possa utilizar o computador não apenas esporadicamente, trabalhado em uma
disciplina isolada, mas de preferência integrado nas diversas disciplinas da
graduação. Acreditamos que essa seja a melhor forma de preparar o professor para
usá-lo como um instrumento útil ao aprendizado de seus alunos e ao seu próprio
desenvolvimento profissional.
Desde que, formar professores aptos a utilizar a Informática sempre foi
uma das metas principais dos projetos de informatização, mais ainda quando se
refere aos professores de Matemática, pois, em função da própria peculiaridade da
Matemática, em relação às outras disciplinas, esta mereceu uma atenção especial.
Assim, desde o início, formar professores de Matemática para utilizarem os novos
instrumentos tecnológicos, em particular o computador, tem-se constituído em
preocupação de muitos pesquisadores na área, mas, no geral, seguem a mesma
linha do exposto no item anterior, qual seja, os professores participam de cursos de
formação continuada, pois não tiveram qualquer experiência com tais instrumentos
destinados ao ensino e aprendizagem da Matemática, durante sua formação inicial.
2.2.3 Ensino e a aprendizagem de Matemática na Universidade: enfrentando
os desafios impostos pelas novas demandas da Sociedade Tecnológica
O papel que a Matemática teve e continua tendo no surgimento e
aperfeiçoamento do computador tem sido vastamente discutidas na literatura
especializada (BERTTONI, 1995; MACHADO, 1994; PENTEADO SILVA, 1997).
Também, amplamente debatidas têm sido as possibilidades de uso e as mudanças
que ele pode trazer para o ensino dessa disciplina (FEY, 1988; SUTHELAND, 1990;
KAPUT, 1992, KAPUT & THOMPSON, 1994; PAPERT, 1995; BORBA e CONFREY,
1993; BORBA, 1994; SOUZA, 1996, dentre outros). Aliada a essas possibilidades,
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
39
está uma variedade de softwares educacionais especialmente desenvolvidos para o
ensino de Matemática e até aqueles que foram construídos para outros fins, mas que
podem ser utilizados no ensino dessa disciplina25. A aplicabilidade desses softwares
vai desde as séries iniciais até os níveis mais complexos da Matemática26, gerando
amplas oportunidades de uso no ensino da disciplina, em todos os seus níveis.
Embora a maioria das pesquisas sobre computador no ensino e
aprendizagem de Matemática tenham sido conduzida fora da sala de aula, em
situações de aprendizagem especificamente estruturadas para esse fim, as próprias
pesquisas apontam a necessidade de que os estudos aconteçam no ambiente
natural da sala de aula, pois, só assim, é possível ter-se a real dimensão de seus
efeitos e possibilidades de uso (HEALY & SUTHERLAND, 1990; SUTHERLAND,
1993; BORBA, 1993, SOUZA,1996, dentre outros). Mesmo aquelas que ocorreram
no ambiente de sala de aula, como as realizadas por ZANIN (1997) e SIDERICOUS,
(1996) são insuficientes para se ter um quadro mais geral sobre as transformações
provocadas.
Entretanto, o uso do computador na sala de aula de matemática, em
particular no terceiro grau, já se verifica desde 1966, conforme FRANT (1993),
embora percebamos que até hoje esse uso aconteça de forma tímida e em situações
pontuais. Além disso, em alguns casos, tal utilização se dá sem uma discussão mais
profunda sobre seus efeitos na aprendizagem dos alunos. Alguns estudos, todavia, já
demonstram a preocupação dos pesquisadores, com os efeitos práticos resultantes
desse uso. Tais estudos apresentam situações nas quais os alunos são colocados
em processos de ensino e aprendizagem, principalmente desenvolvendo projetos,
nos quais investigar, conjecturar, desenvolver modelos e descobrir padrões
matemáticos envolvendo situações reais é o objetivo principal.
25 Exemplo são as planilhas eletrônicas, que foram inicialmente desenvolvidas para uso na área contábil e econômica. 26 Como exemplos podemos citar o Logo, Fracionando e Cidade da Matemática, softwares mais apropriados ao ensino de Matemática nas séries iniciais, e Maple, Mathlab, Mathemática, especialmente projetados para os níveis mais complexos da Matemática.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
40
Essas experiências vêm sendo efetivadas nas disciplinas de Matemática
dos mais variados cursos, incluindo as da licenciatura em Matemática. A título de
exemplo, a seguir, destacamos alguns desses trabalhos:
1. o trabalho desenvolvido na disciplina Matemática Aplicada para o curso de
Biologia da UNESP - Rio Claro, que envolve Modelagem e Experimentos com a
calculadora gráfica (BORBA et al, 1997);
2. o curso de Informática e Educação Matemática para licenciatura em Matemática
(como disciplina optativa), UNESP - Rio Claro (PENTADO SILVA, 1997);
3. o uso do computador no ensino de Cálculo para alunos de Engenharia nos cursos
de Engenharia da UNICAMP (COSTA e GROU, 1996);
4. nas Disciplinas de Cálculo, integrando o projeto Laboratório de Informática da
UFSCAR (SALVADOR e SALVADOR,1997);
5. o Curso de Introdução ao Cálculo com auxílio do computador - PUC - Rio27
Esses e outros exemplos devem ser vistos, entretanto, em situações
pontuais. Ainda, essas experiências vêm sendo realizadas recentemente; não
apresentam, portanto, resultados mais incisivos sobre seus efeitos para
aprendizagem matemática dos alunos, merecendo que mais situações dessas
natureza sejam postas em prática. Tendo em vista que as universidades foram as
primeiras a serem equipadas com computadores, mesmo que de início eles não
estivessem disponíveis para toda a comunidade universitária, restringindo-se aos
setores especializados, justificava-se um uso mais efetivo destes no ensino da
Matemática nessas instituições. Hoje, tal uso justifica-se muito mais em virtude das
facilidades computacionais e por a maioria das Instituições de Ensino Superior, nos
seus diversos Departamentos, estarem dotadas de Laboratórios de Informática.
Em virtude de uma realidade que não se pode ignorar, é necessário que
os futuros profissionais do ensino bem como seus professores demonstrem interesse
27 O referido curso, oferecido aos alunos do Centro Técnico Científico – PUC- Rio que obtiveram baixa pontuação na prova de Matemática no vestibular dessa instituição. Inicialmente oferecido como curso optativo, desde 1994, tornando-se obrigatório a partir de 1996.
Capítulo 2 - Revisão da Literatura
41
e preocupação no sentido de incorporar definitivamente os novos instrumentos
tecnológicos, em especial, o computador, à sua prática. Há que se ressaltar que a
graduação na universidade, tem o papel fundamental de atender às novas
expectativas da sociedade, fazendo de seus futuros profissionais, em especial, os
professores de Matemática ou, como esperamos, educadores matemáticos,
funcionarem como agentes multiplicadores de práticas inovadoras que incorporem as
novas tecnologias.
Assim, situando-nos no âmbito do nosso estudo, quando buscamos
conhecer a opinião de alunos sobre o uso do computador nas disciplinas de
Matemática, esperamos que eles possam se manifestar sobre o que esperam desse
uso e porque ele é importante para a formação do professor de Matemática.
Na seqüência deste trabalho apresentaremos a metodologia utilizada,
destacando a opção metodológica, a técnica utilizada na coleta dos dados e a forma
como estes foram analisados.
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA DE PESQUISA
O capítulo que ora introduzimos apresenta a metodologia empregada,
tanto no sentido mais restrito do tema, com respeito aos procedimentos utilizados,
quanto no sentido mais amplo, que inclui os pressupostos epistemológicos por nós
adotados para a construção e análise dos dados.
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
43
3.1 Opções metodológicas
Centrando nosso interesse na busca de compreender e analisar o
posicionamento de cada um dos participantes da pesquisa em relação às suas
concepções, vivências e expectativas, bem como de estudar o problema, verificando
a sua manifestação nos diferentes participantes, penetrar na situação sob estudo e
interagir com os sujeitos, optamos por um estudo de natureza qualitativa (PATTON,
1990; LÜDKE e ANDRÉ, 1986; ANDRÁ, 1995). O problema que desejamos
investigar, os procedimentos que foram adotados e, sobretudo, o conhecimento que
esperamos construir com os dados obtidos são razões para termos optado por esse
tipo de abordagem.
3.2 A Coleta dos Dados
O “corpus” dos dados desta pesquisa é formado por entrevistas, que
detalharemos mais adiante. Para chegarmos a eles, a pesquisa passou por fases
que foram importantes e determinantes na obtenção dos mesmos. Descrever essas
fases é o que nos propomos a seguir:
3.2.1 Fase Exploratória
Denominamos de fase exploratória da pesquisa o primeiro momento de
nossa imersão no cenário onde ela se realizou; foi o primeiro passo na definição do
problema e escolha dos participantes. Encontra-se descrita em detalhes no Cap. I -
seção 1.1 deste relatório.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
44
3.2.2 Segunda Fase - Realização do terceiro Curso
A Segunda fase envolveu a realização de um novo curso também com o
uso de computadores. Esse curso foi destinado aos alunos de Licenciatura em
Matemática da UESC, com carga horária de 40h, sendo dividido em três módulos:
24h usando a planilha eletrônica, 8h usando o MAPLE e 8h usando o MultiLOGO.
Com a planilha foram desenvolvidas diversas atividades envolvendo vários
conteúdos matemáticos: funções, equações, seqüências numéricas, noções de
limite, dentre outros (ver caderno de atividades anexo). Com o MAPLE, mostramos
as potencialidades de utilização do software no campo da matemática, sem nos
determos em atividades específicas. E com o MultiLOGO, foi realizada uma
exploração do software pelos participantes e depois propostas algumas atividades,
tais como construção de polígonos.
Por meio do curso objetivamos propiciar aos participantes um contato com
computadores voltados para o ensino e aprendizagem da Matemática, levando-os a
conhecer alguns softwares educacionais ligados à área, permitindo-lhes estar em
contato com metodologias de ensino e aprendizagem diferentes da tradicional,
possibilitando-os comparar e despertando-lhes, na medida do possível, senso crítico
sobre o uso do computador nas aulas de Matemática.
Não queremos aqui dizer que só o fato de trabalharmos com o
computador evidenciam esses aspectos; procuramos durante o curso 28 expor a
nossa concepção sobre como deve ser o trabalho com o computador voltado para o
ensino e aprendizagem da Matemática. De que forma procuramos explicitar isso?
Valendo-nos das atividades selecionadas, que foram, também, propostas por outros
pesquisadores na área (conforme anexo III). A forma como foram conduzidas no
decorrer do curso, o envolvimento e participação dos alunos e a nossa postura diante
das dificuldades de cada participante nos fazem crer que tal concepção ficou
28 Na verdade como ocorreu em todos os cursos por nós ministrados com o computador.
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
45
evidente; alguns comentários presentes nas entrevistas realizadas posteriormente ao
curso nos dão mais certeza disso.
Esperávamos, ainda, aproveitar o curso para escolhermos os prováveis
participantes da fase mais importante deste trabalho, ou seja, as entrevistas
individuais. Portanto, estamos convencidas de que, se o curso não foi determinante
em nossa pesquisa, sem dúvida exerceu um papel muito relevante, uma vez que
muito do dito pelo professores refere-se às atividades nele desenvolvidas.
3.2.3. Terceira Fase - Coleta dos Dados: instrumentos e participantes
A terceira e última fase foi aquela em que efetivamente os dados foram
coletados, sendo a entrevista individual o instrumento utilizado para esse fim.
A Situação de Entrevista
Segundo M. Gilly (Apud BENAVENTE, 1990), entrevistas são situações
triangulares, pois há aquele que fala de alguma coisa ou de alguém a outra
pessoa e há um destinatário do discurso, sendo este sempre “investido” de um
estatuto, ou seja, detém um certo poder, conhecimento de causa e credibilidade por
parte de quem é entrevistado. Portanto, o entrevistador-destinatário é um
interlocutor constitutivo e ativo no processo.
BENAVENTE (1990) argumenta ainda que, na situação de entrevista,
busca-se saber como é sentida e vivida determinada prática ou fato, que consiste,
para o entrevistado, em falar de seu trabalho, de sua realidade; “’contar-se’ significa
expor-se, refletir e ‘dar-se’ a refletir, ganhar distância em relação a si próprio...”
(p.177). Portanto, “contar-se”, por que e a quem, ressaltam as motivações e o
“poder” que é atribuído àquele que interroga.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
46
No nosso caso, percebemos claramente esse estatuto que nos foi
atribuído, uma vez que, para os entrevistados, éramos aquela que “sabe”, que
conhece a realidade deles e se interessa por ela e, ainda, dispõe de conhecimentos
que podem intervir e contribuir na mudança dessa realidade.
De fato, foi o nosso envolvimento com a situação em estudo um dos
principais fatores de motivação para a realização da pesquisa. Apesar de, naquele
momento, estarmos vindo do “exterior”, éramos alguém pertencente àquele meio.
Mantínhamos relações de amizade com boa parte dos entrevistados: alguns deles
tinham sido colegas nossos de turma em disciplinas da licenciatura. Logo a relação
estabelecida na situação de entrevista foi de confiança, amizade e cumplicidade.
O Modelo de Entrevista
Realizamos entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro-guia
(conforme anexo II) com questões girando em torno da nossa temática central ou
foco de interesse (FONTANA e FREY, 1994; PATTON, 1990). A escolha desse tipo
de entrevista justificou-se em função do que se pretendia colher dos sujeitos, pois
desejávamos compreender algo muito pessoal, que só pode ser obtido diretamente
do entrevistado. Dessa forma, a entrevista do tipo semi-estruturada constituiu-se no
instrumento mais apropriado para a obtenção de dados mais específicos inerentes a
cada um dos sujeitos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).
Para PATTON (1990) esse tipo de entrevista permite ao pesquisador
penetrar o mundo do entrevistado e compreender sua perspectiva pessoal,
“capturando” nuanças mais significativas. O processo apresenta diferenças
particulares nos papéis de cada um dos envolvidos, ou seja, cabe ao sujeito
comunicar seus sentimentos, preocupações e expectativas; ao entrevistador;
compreender as concepções e vivências do entrevistado, manifestando respeito pelo
que ele diz e expressa, sem lhe impor qualquer problemática ou categorização
(PATTON, 1990).
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
47
LÜDKE e ANDRÉ (1986, p.33 ) ressaltam uma característica importante
da entrevista semi-estruturada como técnica de coleta de dados nas pesquisas
qualitativas: o caráter de interação que a permeia, ou seja, nela a relação que se cria
proporciona uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem
responde, não havendo imposição de uma ordem rígida de perguntas a serem
seguidas pelo pesquisador. O entrevistado discorre sobre o tema proposto de acordo
com as informações que ele detém e também com base em suas impressões e
valores pessoais.
Ainda, para BENAVENTE (1990) outro aspecto importante desse tipo de
entrevista é o fato de se ter uma temática central, mas não questões fechadas;
portanto ela não permite categorizações prévias: o discurso é construído ao longo da
entrevista, sendo comum repetições, contradições, perdas, cruzamentos,
comentários de si próprio. As mudanças de registro e de nível ocorrem com
freqüência: “falo de mim, dos outros, dou um exemplo, falo num registro moral,
psicológico, societal, muitas vezes a propósito de um mesmo tema” (p. 178).
E mais, aplicando esse modelo, o conteúdo das entrevistas, no geral,
alcançam um volume muito grande, não podendo, na maioria das vezes, ser
analisado em sua totalidade de detalhes. Cabendo, então, ao analista selecionar
aquilo que de mais importante a ele se apresenta. Essa seleção é feita com base nas
questões iniciais que orientaram a pesquisa, nos pontos que podem fazer avançar
essas questões iniciais, na experiência e valores do analista, etc.
No nosso estudo, procuramos elaborar um roteiro-guia em que as
perguntas propostas abrissem a questão orientadora na esperança de que ela fosse
respondida. Assim, sentimo-nos confortáveis com a escolha feita, uma vez que nos
permitiu colher dados suficientemente ricos, sendo apresentado o real vivido por
cada um dos entrevistados e indo muito além de nossas preocupações iniciais.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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Além disso, a opção por esse tipo de entrevista foi também decisiva no
momento em que nos encontrávamos frente a frente com o entrevistado. Em muitas
situações os participantes demonstravam constrangimento e uma certa timidez ao
responder a pergunta proposta; então foi preciso repetir ou fazer nova pergunta na
tentativa de obter mais dados, já que as respostas eram curtas e pouco significativas.
Assim, nessas situações, o número de perguntas propostas foi bem superior às
questões do roteiro-guia (ver anexo I). Noutras, detectávamos uma fuga completa ao
que era questionado; nesses casos foi preciso refazer a pergunta, mas, sem
desprezar, inteiramente, o que já havia sido dito. Finalmente, deparamo-nos com
situações em que o entrevistado apresentava uma completa fluidez ao falar,
discorrendo sobre questões do roteiro antes mesmo que elas fossem propostas.
Logo, não nos resta dúvida de que o modelo de entrevista escolhido contribuiu
significativamente para garantir a “riqueza” de conteúdo manifesto nos dados.
Os Participantes
Foram entrevistados 15 (quinze) alunos de Licenciatura em Ciências -
Habilitação em Matemática da Universidade Estadual de Santa Cruz - Ilhéus (BA).
Desses, 14 foram participantes do segundo curso, ao qual já nos reportamos, e um
participou do primeiro curso, realizado por ocasião do PRÓ-CIÊNCIAS, também já
mencionado neste relatório. Todas as entrevistas foram marcadas durante a
realização do segundo curso, mesmo o participante do primeiro. Elas aconteceram
em uma única etapa, após a realização do curso, num intervalo de 10 (dez) dias
compreendido entre o término do curso e a tomada da última entrevista29.
As entrevistas duraram, em média, duas horas; algumas mais, outras
menos. Antes que se desse início a elas, conversávamos, criando, dessa forma, um
clima de descontração e interação entre o entrevistado e nós. Esse procedimento
29 As entrevistas estão dispostas na ordem em que foram tomadas (ver algumas delas no anexo I).
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
49
também serviu para tirar algumas dúvidas sobre os objetivos da pesquisa e a
importância do entrevistado no processo.
Das 15 entrevistas, 14 (catorze) foram audiogravadas, tendo-se negociado
o uso do gravador antes do início da conversa. Aquela em não fizemos uso do
gravador foi em virtude do entrevistado não se sentir à vontade com a presença do
instrumento. Dessa forma, essa entrevista teve um procedimento diferente das
outras, uma vez que, à medida que as perguntas iam sendo colocadas ao
entrevistado e ele respondia, procedíamos à escrita da resposta, o que,
provavelmente, nos fez perder dados significativos, ainda que parássemos vez ou
outra e pedíssemos que o entrevistado repetisse passagens por nós não
compreendidas, tentando evitar, desse modo, perdas maiores. Concluída a
entrevista, solicitamos ao entrevistado que lesse o que havíamos escrito,
manifestando-se em relação ao conteúdo. Conquanto tenhamos adotado esse
procedimento, percebemos que essa entrevista não teve a mesma riqueza de
conteúdo presente nas outras.
Ainda no tocante às entrevistas, é válido ressaltar que não foi pedido aos
participantes 30 assinarem termos de compromisso concordando em concedê-las,
haja vista não ter sido essa preocupação nossa; preocupamo-nos, apenas, em
informá-los sobre os objetivos da entrevista, a importância deles no processo, a
relevância do nosso trabalho, onde estava sendo realizado, etc. Enfim, todos os
esclarecimentos foram prestados antes da entrevista, deixando-nos numa posição
confortável perante os participantes; eles próprios externaram satisfação e orgulho
em poderem contribuir com o trabalho31.
30 Mantemos o anonimato dos entrevistados 31 Queremos mais uma vez manifestar nossos agradecimentos aos participantes dessa pesquisa
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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3.3 Procedimentos Metodológicos de Análise e Interpretação dos Dados
3.3.1 A interpretação das entrevistas
Interpretar um discurso consiste na leitura orientada por opções, questões
e hipóteses face à sensibilidade de quem o interpreta ao que exprimem os outros
(BENAVENTE, 1990, p. 178). Assim, ao lermos um discurso - principalmente um
discurso falado - nem tudo se apresenta de forma clara e objetiva, não bastando,
portanto, empregar técnicas de análise; torna-se indispensável uma operação de
tradução ou interpretação do que foi dito. Contudo, esclarecemos que as operações
que se realizam sobre o discurso como criação de categorias, delimitação de temas,
por exemplo “são função da análise, dos seus objetivos e das suas interrogações
latentes” (BENAVENTE,1990, p. 179).
Segundo FILOUX (citado por BENAVENTE, 1990), “o texto é ao mesmo
tempo reordenado e organizado pela dinâmica relacional do analista” (p.179). Em
nosso estudo isso de fato ocorreu, uma vez que, ao tratarmos os dados, optamos por
uma análise “clássica” 32, ou seja, não nos preocupamos com os aspectos formais do
texto, seu ritmo de construção e organização interna. Procuramos ignorar os erros
gramaticais e sintáticos e a forma coloquial em que foram registrados.
Estivemos sempre atentos às rupturas, às dúvidas, às contradições e inseguranças
presentes em cada entrevista. Acima de tudo, em nossa análise, nos preocupamos
mais com o dito do que com a forma como foi dito.
É evidente que nesse processo impregnamos os nossos valores em vários
níveis: psicológico, afetivo, ideológico, de conhecimento. Desde o início foram as
nossas motivações que nos impulsionaram à realização da pesquisa. De posse,
então, dos dados, no processo de análise, procuramos manter uma certa distância
32 Quer dizer, não nos preocupamos com os aspectos formais dos discursos, seu ritmo e construção, sua
organização interna e seu decurso (BENAVENTE, op. cit).
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
51
para não correr o risco de impor categorias prévias. Buscamos “olhar os dados” e
captar-lhes o sentido, prendendo-nos no dito das entrelinhas. No momento seguinte,
nosso principal objetivo foi “apresentar” as entrevistas comentadas, interpretadas,
perspectivadas num quadro teórico, mas em confronto com as informações obtidas.
De início, tínhamos uma questão orientadora e foi ela que nos impulsionou
na busca dos dados e escolha dos instrumentos metodológicos que melhor
respondessem a ela. Entretanto esperávamos que essa questão fosse ultrapassada
e outras surgissem em função da análise empreendida. Com efeito, constatamos que
os dados não apenas responderam à questão proposta, mas descortinaram a real
situação acadêmico-pedagógica vivida pelos entrevistados em relação ao uso de
computadores em suas atividades de ensino e aprendizagem como alunos de
licenciatura em Matemática; suas perspectivas pessoais; seus pontos de vista:
concordantes e divergentes; os principais problemas detectados e as possíveis
soluções.
3.3.2 Análise das Entrevistas
Análise de Conteúdo
Segundo CASTRO e FRANT (in press), a definição atualmente mais
aceita para análise de conteúdo é que ela consiste em “uma técnica de investigação
que tem por objetivo ir além da compreensão imediata e espontânea dos significados
de um texto (...) e isso pressupõe uma atividade de construção de ligações entre as
premissas de análise e os elementos que aparecem no texto”. É, portanto, uma
atividade essencialmente interpretativa.
A função primordial da análise de conteúdo é a inferência, que consiste na
ligação de elementos através de um processo de categorização de temas a serem
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
52
investigados no texto. Antes da delimitação dos temas é preciso definir as unidades
de análise33, ou seja, palavras, expressões, frases, pequenos textos significativos
para análise, podendo ser codificadas em categorias e subcategorias (no nosso
estudo, denominamos de temas gerais, temas e subtemas) de acordo com o que o
analista deseja observar. Há que se tomar cuidado em detectar todas as temáticas
abordadas nos discursos (processo de exaustão) e não codificar uma mesma
unidade de análise em mais de um tema ou subtema (processo de exclusão mútua).
Assim, os dados permitem não a descrição pura e simples dos conteúdos mas,
acima de tudo, a interpretação dos significados. (CASTRO e FRANT , im press).
A Análise de Conteúdo Qualitativa
Segundo BARDIN (1977), nos anos 50 houve um grande debate entre
procedimentos quantitativos e qualitativos na análise de conteúdo sobre a validade
entre um e outro desses métodos. Aqui, limitaremos nossas considerações aos
procedimentos de análise qualitativa, tendo em vista, ser este o procedimento por
nós empreendido no tratamento dos dados de nosso estudo.
Uma primeira observação a se fazer quanto a procedimentos qualitativos é
que eles não se fundam na freqüência de aparição de elementos na mensagem, ao
contrário, a ausência de certos elementos pode se constituir em algo tanto (ou mais)
frutífero que a freqüência de aparição. Um segundo aspecto desse tipo de análise é
o fato de basear-se em procedimentos mais intuitivos, mais maleáveis e mais
adaptáveis a seus índices (tema, palavra, personagem, etc.) não previstos, ou seja,
pode haver uma evolução das questões iniciais (ibidem, p. 115).
A análise qualitativa, ainda, apresenta características que lhe são
peculiares, por exemplo, é válida, particularmente, na elaboração de deduções
33 Também denominadas unidades de significado (Martins e Bicudo, 1994), unidades de contexto (Bardin,1977)
Capítulo 3 - Metodologia de Pesquisa
53
específicas sobre um acontecimento ou uma variável de inferência precisa. Pode
incidir sobre dados reduzidos (por exemplo, poucas entrevistas) e estabelecer
categorias mais discriminantes. Aborda problemas ao nível da “pertinência dos
índices34 listados (ibidem, p.115), visto que os índices são selecionados sem que se
tenha tratado todo o conteúdo. Existindo, assim, o perigo de elementos significativos
serem deixados de lado e os não significativos serem levados em conta; daí ser de
capital importância a compreensão do sentido. Além do mais, na análise qualitativa,
o risco de erro é maior, uma vez que lida com elementos isolados ou freqüências
fracas. Donde se ressalta a importância do contexto de produção dos discursos, bem
como do contexto exterior a ele: “quais as condições de produção, tal seja, quem é
que fala a quem e em que circunstâncias? Qual será o lugar e o montante da
comunicação? Quais os acontecimentos anteriores ou paralelos?” (ibidem. p. 115).
Na análise qualitativa, as questões inicialmente formuladas podem ser
influenciadas no decorrer do procedimento pela compreensão que o analista tem da
mensagem. Assim, torna-se necessário ler e reler o material, alternar releituras e
interpretações e suspeitar das evidências (pode haver evidências contrárias?). A
análise qualitativa é maleável no seu funcionamento e, também, maleável na
delimitação de seus índices. Em outras palavras, os índices são instáveis e uma
resistência por parte do analista a mudanças pode ser bastante prejudicial. Por fim, é
preciso destacar que a análise qualitativa não rejeita toda e qualquer forma de
quantificação; apenas os índices é que são delimitados de maneira não freqüencial ,
podendo o analista fazer uso de testes quantitativos35 (BARDIN,1977). Em síntese,
pode-se afirmar que o que caracteriza a análise qualitativa é o fato de, sempre que
se infere algo, se fundar na presença de um índice (tema, palavra, expressão,
personagem, etc.), e não na sua freqüência de aparição.
No nosso estudo, portanto, empreendemos uma análise de conteúdo
qualitativa, em que pesou na escolha dos temas gerais, temas e subtemas aspectos
34 No nosso caso dos temas listados 35 O que não será o nosso caso
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
54
presentes na fala dos entrevistados que respondiam a nossa questão orientadora e
manifestaram-se relevantes para a situação sob estudo no que tange ao uso do
computador e a formação inicial ou continuada de professores de Matemática.
CAPÍTULO 4 - RESULTADOS
DA ANÁLISE E CONSTRUÇÃO
No capítulo anterior, expusemos e justificamos a metodologia utilizada
para responder à questão orientadora e, ainda, fundamentamos os procedimentos
empregados para a análise e interpretação das entrevistas.
O capítulo que ora introduzimos mostraremos como os resultados foram
construídos (seção 4.1); faremos a apreensão desses resultados (seção 4.2), com
isso, buscaremos “devolver” os dados explicitando a visão dos entrevistados. E,
finalizaremos o capítulo relacionando os dados com a questão orientadora da
pesquisa (seção 4.3).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
56
4.1 Da construção dos Resultados
De posse das entrevistas e após tê-las transcrito integralmente, obtivemos
um “corpus” de dados com dezenas de páginas. Diante de um conjunto tão extenso
de informações, optamos pela realização de uma análise “clássica”, conforme os
seguintes procedimentos:
Para análise dos dados, detalhada a seguir, inspiramo-nos nos trabalhos
de (BARDIN, 1977; LÜDKE e ANDRÉ, 1986; BENAVENTE, 1990).
4.1.1. Leitura flutuante e/ou exploratória– Leitura no sentido vertical, ou
seja, lemos individualmente cada entrevista, o que nos permitiu sentir o “tom”, as
linhas de expressões, as coerências e as contradições presentes em cada uma
delas; foi o momento de impregnação do seu conteúdo.
4.1.2. Delimitação das unidades de análise - Depois da leitura exploratória
ou flutuante das entrevistas, se fez necessário várias outras leituras e releituras das
entrevistas, sendo essas realizadas em um processo rigoroso e sistemático. Nesse
momento íamos destacando as mensagens significativas (unidades de análise).
Essas leituras foram feitas, ora tomando uma entrevista em particular, ora tomando
grupos de entrevistas (quatro ou cinco). Portanto, os destaques que fizemos
basearam-se em fenômenos 36 presentes em uma ou várias delas. Salientamos,
também, que as unidades de análise foram destacadas em relação à perspectiva de
análise por nós adotada: destacamos os pontos que respondiam à questão
orientadora da pesquisa e os que extrapolavam essa questão, estando relacionados
ao uso de computadores e ao contexto específico em que a pesquisa se realizou.
36 O termo fenômeno no seu sentido geral refere-se a tudo que é percebido, que aparece aos sentidos e à consciência. Aqui usamos com o sentido de aparecer com brilho. (JAPIASSU & MARCONDES. D. Dicionário Básico de Filosofia, 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995).
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
57
Delimitadas as unidades de análise, recortamo-las do restante da entrevista,
constituindo-se esse ato, a grosso modo, num processo de “limpeza”.
4.1.3. Classificação em temas - tomamos o conjunto de entrevistas (agora
resumidas a unidades de análise) e classificamo-lo em temas. Procuramos destacar
todas as temáticas abordadas numa mesma entrevista bem como no conjunto delas
(processo de exaustão). Além disso, empenhamo-nos em evitar que uma mesma
unidade estivesse presente em mais de um tema (exclusão mútua). Nesse processo
foi possível, então, listar um conjunto de temas, que constituíram-se em nossa
primeira classificação.
4.1.4. Reorganização do Material - Após classificarmos todas as unidades de
análise, de acordo com os temas a que se referiam, reorganizamos o material, ou
seja, tomamos todos os temas e “encaixamos” em cada um deles suas respectivas
unidades de análise. Por exemplo, no tema o computador como ferramenta,
colocamos todas as unidades que consideravam o computador como uma
ferramenta no ensino e aprendizagem da Matemática. Esse procedimento nos fez
observar que alguns dos temas listados poderiam, ainda, reencaminhar a novos
temas.
Retomando o exemplo do tema anteriormente mencionado, vimos que as
alusões ao computador como ferramenta eram diferentes: a ferramenta didática
(auxiliar de alunos e professores) e a ferramenta que facilita na aprendizagem
matemática. Em síntese, a temática ‘o computador como ferramenta’ mostrou-se
importante para os entrevistados, mas com diferentes conotações. Dessa feita,
nessa reorganização do material, os temas da primeira classificação puderam
novamente ser classificados em temas e subtemas.
4.1.5. Agrupamento em eixos temáticos gerais – Novamente voltamos às
entrevistas, à seleção de novos temas e, consequentemente, passamos a duvidar
dos já existentes; procuramos novas consistências e contradições, interpretamos;
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
58
empenhamo-nos em compreender o que de fato essas entrevistas diziam, que
caminhos indicavam, quais “questões” gerais eram abordadas e até que ponto
respondiam a nossa questão orientadora, enfim, quais conclusões poderíamos tirar
do seu conteúdo, no âmbito de cada entrevista e no conjuntos delas. Um exemplo: a
partir do momento que detectamos nas falas dos entrevistados que um dos
problemas apontados para o não uso do computador nas aulas de Matemática era a
falta de preparação dos professores, tivemos que considerar tal temática importante
e, ainda, essa temática poderia estar relacionada a um aspecto mais geral, que são
as “reais” condições de uso do computador. Esse processo permitiu que
classificássemos os temas e subtemas em eixos temáticos gerais. Dessa forma, o
processo de “tematização” empreendido na análise deu-se com o objetivo de
compreendermos e detectarmos as idéias gerais e particulares que permeavam as
entrevistas.
Procedemos, portanto, a uma análise essencialmente temática:
identificação dos temas, subtemas e eixos temáticos gerais. Mantivemo-nos em uma
“tensão” permanente entre a interpretação que dávamos aos dados e que, de fato,
eles pereciam dizer; foi um constante movimento de ida e volta aos dados o que nos
permitiu procurar as consistências e paradoxos presentes em cada entrevista e no
conjunto delas. Cabe ressaltar que fizemos, antes de tudo, uma análise de conteúdo,
mas também uma análise dos discursos no seu conjunto e nas características de
cada um.
Em resumo, é possível dizer que a nossa análise constituiu-se dos
seguintes movimentos: ler e “sentir” cada entrevista e o conjunto das mesmas; grifar,
“recortar” e separar cada unidade de análise; atribuir significados; classificar, “reunir”
as unidades em temas, subtemas e eixos temáticos gerais.
Enfatizamos que esses procedimentos não foram executados de forma
linear, seguindo uma hierarquia previamente determinada, mas constituíram um
processo “laborioso”, com constantes mudanças na forma de interpretação e
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
59
apresentação dos dados, fazendo com que o texto final sofresse inúmeras
alterações. Entretanto, podemos assegurar que todos os passos executados na
construção dos resultados tiveram o suporte da literatura inicialmente estudada, bem
como contaram com as discussões e sugestões do Grupo de Pesquisa em
Informática, Outras Mídias e Educação Matemática – GPIMEM, do qual fazemos
parte.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
60
4.2 Apreensão dos Resultados: explicitando a visão dos alunos-professores
A tabela a seguir mostra de forma resumida, com o intuito de explicar,
como os dados foram organizados, tornando explícita a visão dos
alunos-professores.
Eixo Temático Geral 4.2.1: A visão dos alunos-professores sobre o uso computador nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática
Temas Subtemas
4.2.1.1 O computador como
ferramenta
4.2.1.1.1 Como ferramenta auxiliar 4..2.1.1.2 Como ferramenta que
facilita a aprendizagem
4.2.1.2 - O computador e seu “poder” motivador
----------------
4.2.1.3 - O computador e os métodos de ensino
4.2.1.3.1 Favorece às descobertas - “altera a relação professor-alunos”.
4.2.1.4 - Concepções sobre o uso do computador
4.2.14.1 Sua função no ensino da Matemática
4.2.1.4.2 O momento certo de uso
Eixo Temático Geral 4.2.2: A visão dos alunos-professores sobre o uso do computador para os processos de formação dos professores (inicial ou
continuada) Temas Subtemas
4.2.2.1 - A dimensão social do computador
----------------------------
4.2.2.2 - A importância de usar o computador para a atuação docente
----------------------------
4.2.2.3 - O computador e sua relação com as disciplinas do currículo
4.2.2.3.1Disciplinas de Matemática da Licenciatura
4.2.2.3.2 Matemática nos Ensinos Fundamental e Médio
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
61
Eixo Temático 4.2.3: A visão dos alunos-professores sobre o uso Computador na Licenciatura em Matemática da UESC: situação atual e
perspectivas Temas Subtemas
4.2.3.1- O atual uso do Computador 4.2.3.1.1 Nas disciplinas do currículo 4.2.3.1.2 O uso do Computador para
outros fins
4.2.3.2 - O não uso do computador nas disciplinas de Matemática: “justificativas”
4.2.3.2.1-Falta preparação dos professores na universidade para usar o computador: resistência à mudança.
4.2.3.2.2-Falta organização acadêmica.
4.2.3.3 - O que poderia ser feito para um uso mais efetivo nas aulas de Matemática.
4.2.3.3.1- Cursos para os docentes. 4.2.3.3.2 As atitudes dos alunos-professores 4.2.3.3.3 Empenho da instituição em
viabilizar o uso do computador 4.2.3.3.4 Laboratório de Informática
exclusivo para a Licenciatura
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
62
4.2.1 A visão dos alunos-professores sobre o uso do computador nos
processos de ensino e aprendizagem da Matemática.
Nesse eixo temático geral agrupamos os temas e subtemas nos quais a
visão de uso do computador, para os alunos-professores, está dirigida aos processos
de ensino e aprendizagem da Matemática.
4.2.1.1 - O computador como ferramenta
A visão de que o computador constitui-se em ferramenta para o ensino e a
aprendizagem da Matemática manifesta-se em vários momentos nas entrevistas, no
entanto, essa ferramenta é vista pelos entrevistados com algumas diferenças quanto
ao seu potencial de uso e as mudanças que pode propiciar. Vejamos, a seguir,
algumas das diferentes conotações dadas ao computador como ferramenta, cujas
classificamos como subtemas.
4.2.1.1.1 Como “ferramenta” auxiliar
Enquanto ferramenta “auxiliar” nas aulas de Matemática:
(...) eu acho que o computador está vindo para ajudar, mas como
ferramenta, mais um instrumento de trabalho, não como, vamos
dizer (...) a salvação da Matemática: “ah! agora tem os
computadores, agora tudo se resolve no computador”. Não, não é
por aí, mas eu acho que ele tem que ser mais um instrumento (...)
(E1)37.
37 O número entre parênteses no fim de cada citação identifica a entrevista de onde foi retirada. As entrevistas foram numeradas de 1 a 15 obedecendo a ordem de tomada. No anexo I, nós destacamos 4 (quatro) dessas entrevistas com as respectivas unidades de análise.
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
63
(...) a gente tem que aprender a ver o computador como mais um
instrumento, não como uma solução mágica (...) para resolver os
problemas de sala de aula (...) (E12).
Os recortes transcritos parecem indicar para o fato de que o computador é
‘mais um instrumento de trabalho’, como mais um aparato didático que pode ser
usado em sala de aula. Sob essa perspectiva, o computador pode ser equiparado ao
livro, ao quadro de giz, ao lápis e papel, etc. Dessa forma, o computador não é visto
como um instrumento mais eficiente do que qualquer um dos citados anteriormente,
ou seja, o computador não apresenta um potencial maior ou diferenciado dos demais
no âmbito geral das ferramentas didáticas. Sendo assim, ainda que reconhecida a
importância do uso do computador, isso não garante um melhor encaminhamento
dos “problemas” de sala de aula referentes ao ensino e aprendizagem da
Matemática.
4.2.1.1.2 - Como “ferramenta” que facilita a aprendizagem
Vejamos outras colocações em relação ao computador como ferramenta:
(...) seria a ferramenta mais acessível ao aluno para ver (...) visualizar
a matemática (...) ver o que é uma função (...) (E14).
(...) ele é uma ótima ferramenta que surgiu para facilitar bastante o
trabalho do professor, tanto do professor quanto do aluno. Digo assim,
ensino e aprendizagem (...) (E3).
(...)o computador tem uma série de recursos que o professor não teria
em um outro instrumento (...) tanto pelos programas que tem, como
pela agilidade que proporciona (...).(E12)
Nesses fragmentos, observamos uma outra ordem de valor atribuída ao
computador como ferramenta. A idéia que os permeia é de facilitador no ensino e
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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64
aprendizagem, uma vez que dispõe de recursos (os softwares) que, utilizados por
professores e alunos, podem facilitar o ensino e aprendizagem da Matemática. Isso,
nos leva crer que, nesses casos, o computador não se limita a ser ‘mais um
instrumento’, passível de uso em sala de aula, mas, inserido nesse meio, pode
tornar-se potencialmente superior, propiciando aos professores e alunos, ambientes
de ensino e aprendizagem mais “ricos” que os outros instrumentos normalmente
usados.
Dos recursos de que o computador dispõe, enquanto ferramenta que
facilita no ensino e aprendizagem da Matemática, destacamos nas falas dos
entrevistados a construção e a visualização. Esses dois aspectos considerados
importantes são favorecidos pelo trabalho com o computador e, sobretudo no estudo
das funções, mostram-se de grande utilidade. Observamos que os recortes a seguir
retratam bem essas idéia:
(...) quando a gente trabalhou com várias sentenças também (...)
aquele gráfico de várias sentenças (...) que ele mostrava a função do
segundo grau, a parábola, depois ele dava continuidade a uma do
primeiro grau, mostrava a reta, super interessante (referindo-se às
atividades feitas com a planilha eletrônica durante o curso -
anexo III). Então são trabalhos, são tipos de coisa que, se a gente
tivesse a oportunidade de ter trabalhado na Matemática que a gente
estudou esses assuntos (...) você ver um gráfico de função exponencial
daquela maneira ali, como ele aparece no computador, você colocando
ali, dando a condição e ele montando o gráfico, você tem condições de
ver (...) como é, se ele tá variando, se ele é crescente, se ele é
decrescente, que tipo de função é aquela, dá para fazer muita análise,
muito melhor do que você tá olhando para o papel (...) (E10).
(...) a gente consegue visualizar (...) no caso das Integrais mesmo a
gente consegue visualizar (...) dos sólidos de revolução. Às vezes, a
gente não conseguia desenhar o gráfico e ficava sem entender por
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
65
que dava aquela área ou dava aquele volume, e, visualizando se torna
uma coisa bem mais interessante (...) (E6).
(...) Em Álgebra também (...) que você via claro assim hexágonos e
eu lembro (...) que quando eu vi eu Álgebra fiquei assim (...), porque
é muito abstrata, mas tem coisas que dá pra você visualizar melhor
(...) em outras dimensões no caso, e no computador isso é possível
(...) a questão do Rn que o que mais se assemelha é a Geodésia (o
entrevistado se refere a uma atividade feita durante o curso,
usando o MAPLE - construção da Geodésia) e que você considera
assim hexágonos e pelo centro de cada hexágono passa um vetor e
dá para você ver mais ou menos. Então a coisa já sai mais da
abstração e fica mais concreta, então você já visualiza melhor, ver
melhor, entende melhor (...) (E11).
(...) tem gráficos (...) de Cálculo que a gente faz, mas a gente não chega
à perfeição porque a gente faz aquilo ali (...) tira alguns pontos, mas
você não consegue (...) delimitar perfeitamente um gráfico e o
computador (...) a gente pode chegar mais perto do que seria o real do
gráfico. Então a gente teria uma idéia do que a gente fez e o que seria
realmente o gráfico (...) comparando o que eu fiz, com o que...era para
ter feito, vamos supor: será que eu fiz o meu melhor até do que o do
computador ou o do computador tá mais ou menos equivalente ou
realmente eu precisaria ter achado mais pontos no meu gráfico para
ter ficado melhor (...) tipo uma coisa comparar, porque às vezes a gente
não tem parâmetro nenhum, você faz um gráfico, constrói um gráfico o
professor diz: “ah, tá bom, tá bem perto do que era para ser”. Bem
perto do quê? Às vezes a gente não sabe nem o que é esse perto, será
que tá perto mais ou menos ou perto longe (E1).
Notemos que nessas transcrições os entrevistados ressaltam a
importância da visualização, argumentando que, com a ajuda do computador, os
gráficos são construídos com mais facilidade, propiciando uma melhor compreensão
e, de certa forma, facilitando a aprendizagem.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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66
Além disso, os recortes acima deixam transparecer uma visão de que um
gráfico ou uma figura geométrica qualquer feitos com o uso do computador, parecem
adquirir um caráter “mais real” do que quando feitos no quadro de giz ou com lápis e
papel. Essa idéia fica mais evidente no recorte da E1:
“(...) tem gráficos (...) de Cálculo que a gente faz, mas a gente não
chega à perfeição porque a gente faz aquilo ali (...) tira alguns pontos,
mas você não consegue (...) delimitar perfeitamente um gráfico e o
computador (...) a gente pode chegar mais perto do que seria o real do
gráfico (...)
Assim, a possibilidade de construir gráficos com a ajuda do computador
parece proporcionar maior segurança aos alunos em relação aos resultados obtidos,
que ressalta a importância da ajuda visual fornecida pelo computador.
No entanto, nas falas dos alunos-professores, observamos que a
visualização é favorecida pela rapidez e eficiência nos cálculos. Vejamos os
fragmentos que retratam essa idéia:
(...) no computador essas variações (...) podem, principalmente, serem
visualizadas ao mesmo tempo, como um dos exemplos que nós
fizemos, utilizando uma equação do segundo grau, função do segundo
grau, variando o termo b, variando a termo a, o que acontecia em cada
gráfico (...) essas variações podem ser feitas de maneira rápida, de
maneira concreta e que ele visualize rapidamente aquelas variações
de gráficos (...) (E13).
(...) quando você coloca no papel (....) os cálculos são muito difíceis, são
bem mais complicados(...) quando você joga no computador, ele já lhe
dá o cálculo pronto e você, analisando o gráfico, dá para entender
melhor o que aquelas funções tão (...) a definição delas no gráfico é
bem mais abrangente (...) (E3).
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
67
(...) como é que eu vou construir um gráfico? Se eu tivesse que fazer
com lápis e papel, eu teria que fazer “milhares” de contas, várias
contas para se construir um gráfico de uma secante, de uma tangente
ou de uma parábola (...) quer dizer, é muito mais rápido (...) (E9).
(...) com o computador você pode aprender muito mais em pouco
espaço de tempo, que ele facilita: a rapidez em traçar gráficos, a
rapidez no cálculo, ajuda o raciocínio (...) (E2).
Nesses recortes, os entrevistados consideram que a rapidez e eficiência
propiciadas pelo computador na execução de cálculos mecânicos, substituem o
trabalho que teriam que fazer manualmente; daí, liberados dessa tarefa, resta-lhes
mais tempo para a análise e compreensão, o que parecem considerar mais
importante para a aprendizagem matemática.
Outros fragmentos, conforme a seguir, localizamos importantes
considerações sobre o uso do computador como ferramenta que proporciona aos
alunos a possibilidade de rever conceitos matemáticos:
(...) o uso do computador nos gráficos ajuda (...) a compreender melhor
o que tá se passando. Por exemplo, quando fizemos uma equação do
segundo grau com diversos valores para b (referindo-se a uma
atividade feita com a planilha eletrônica durante o curso), eu
nunca tinha observado que aquilo influenciaria no vértice, no caso da
parábola. Por exemplo, os valores de a mexem com a concavidade, de
c com o eixo y, isso eu já sabia; mas já com b nunca tinha observado,
talvez por falta de atenção ou por nunca ter relacionado vários gráficos
num plano só e também porque o professor nunca fez essas
observações. Nos outros gráficos também, a gente sempre trabalha
com valores exatos e com o computador dá para variar mais,
diversificar mais, eu achei isso muito interessante e importante (...)
(E15).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
68
No transcrito o entrevistado fala de como uma das atividades do curso
permitiu-lhe rever alguns pontos no estudo de funções quadráticas, os quais ele
nunca tinha observado antes. Segundo ele, isso foi possível com o computador,
justamente pelas facilidades que este apresenta, permitindo a sobreposição de
vários gráficos num mesmo plano, o que possibilita variações nos valores das
funções, tornando, portanto, o trabalho com o computador muito importante. Cabe
ressaltar aqui também que ele enfatiza a questão da visualização sendo favorecida
pela facilidade na execução dos cálculos já discutida.
Observem agora o fragmento:
(...) aquela questão de Limite, do limite quando você pega uma função
tendendo a infinito, menos infinito e mais infinito, quando ele joga o
gráfico, acho que ali dava para gente tirar mais conclusões sobre a
questão. Teve um gráfico mesmo da função exponencial (referindo-se
a um problema sobre seqüências numéricas feito com a planilha
durante o curso) que ela tendia ao infinito, aquele gráfico ali ficou (...)
se a gente parasse mais para analisar esta questão do limite, acho
que ele poderia ser bem utilizado. Entender o conceito de limite no
infinito (...) (E3).
Nele o aluno-professor abre uma discussão sobre um problema trabalhado no curso
que permitiu explorar melhor um conceito matemático específico, no caso limites no
infinito. Segundo ele, atividades como a mencionada usando o computador
poderiam ser bem utilizadas no estudo desse conteúdo.
As duas colocações anteriores parecem querer indicar que o computador
pode ser uma importante ferramenta para se repensar o ensino de Matemática, em
particular, como alguns conteúdos matemáticos poderiam ser construídos pelos
alunos e não apenas “repassados” pelo professor . Revelam, ainda, que aspectos
fundamentais para a aprendizagem dos alunos, muitas vezes, passam
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
69
despercebidos ou não são explorados quando se usam apenas as ferramentas
habituais, tais como quadro de giz, lápis e papel.
4.2.1.2 - O computador e o seu “poder” motivador
A seguir apresentaremos algumas falas dos alunos-professores nas quais
destacam a importância do computador como instrumento motivador do estudo da
Matemática. Vejamos:
(...) só de o aluno estar com o computador frente a ele, ali trabalhando
com a máquina, ele já se sente estimulado, inicialmente já existe um
estímulo (...) (E13).
Para o entrevistado da E13, o fato de o aluno ter acesso ao computador já
representa um elemento de estímulo. Embora não especifique em que esse uso se
mostra estimulante para os alunos, parece se reportar ao estudo da Matemática.
Enquanto que os fragmentos:
(...) já que o computador é uma coisa tão interessante e a gente pode
utilizar bem a Matemática no computador, por que não explorar isso?
Seria uma maneira de eles se concentrarem mais e estarem mais
dispostos a estudar (...) (E6).
(...) ele é mais um instrumento para produzir tanto o interesse do aluno
que está cansado do cuspe e giz, mas também para estimular a
produção do conhecimento(...).(E12).
(...) informática por si só é fascinante (...) a Matemática também é
fascinante, mas para os alunos ela é considerada um “bicho papão”.
Então, se a gente fizer essa ligação entre informática e a Matemática,
vai tirar esse rótulo que colocaram na disciplina (...) (E9).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
70
parecem demonstrar uma preocupação com o conteúdo matemático sendo ensinado
e aprendido, com o conhecimento sendo produzido; enfim, o uso do computador só
representará um estímulo para os alunos se a ligação entre a Matemática e ele for
bem articulada.
Temos, portanto, nos recortes mencionados anteriormente, duas ordens
de colocações quanto ao caráter motivador do computador. No fragmento da E13,
observamos que o computador por si só já se constitui em fator de estímulo para os
alunos, ou seja, basta usá-lo, independente da situação de ensino e aprendizagem.
Assim, essa marca de independência do computador parece excluir o papel do
professor na estruturação do ambiente de ensino e aprendizagem.
Por outro lado, nos outros fragmentos mencionados, entrevistas E6, E12 e
E9, os alunos-professores parecem perceber que a motivação está associada a
fatores distintos. Expressões tais como: “(...) a gente pode utilizar bem a Matemática
no computador ” e “(...) se a gente fizer essa ligação entre informática e a
Matemática (...)”, levam-nos a supor que atividades podem ser elaboradas, situações
de ensino e aprendizagem da Matemática podem ser estruturadas, por meio de
objetivos previamente estabelecidos. Entendemos que, nesses casos, parece existir
uma preocupação com o papel do professor como organizador de tais atividades. Em
síntese, parece ocorrer uma indicação de que o uso da máquina é um estímulo para
os alunos, dependente do ambiente criado para tal.
4.2.1.3 - O computador e os métodos de ensino
O uso do computador como recurso nas aulas de Matemática, para os
entrevistados, parece consistir no desenvolvimento de um método de ensino
diferente do tradicional, configurado na aula expositiva. Para eles, o computador
possibilita estruturar situações de ensino e aprendizagem que dificilmente seriam
conduzidas em uma aula tradicional. Vejamos os subtemas que retratam essas
situações:
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
71
4.2.1.3.1 - Favorece as descobertas – “altera” a relação professor-alunos
O uso do computador nas aulas de Matemática aparece como uma
prática importante, favorecendo a descoberta e a iniciativa dos alunos. Nesse
sentido, atividades relacionadas à resolução de problemas podem ser articuladas de
modo a propiciar um envolvimento do aluno no processo de “fazer” matemática,
levando-o a descobrir, conjecturar, raciocinar, formalizar, etc. Observemos:
(...) na sala de aula acho que a gente já está acostumada com aquele
método de ensino e de aprendizagem que a gente tem, o professor
passa para o aluno, e (...) no computador a gente vai tentar descobrir o
meio, a gente vai tirar dos problemas o meio para tentar resolver
aquilo no computador, eu acho que a gente vai racionar mais sobre
aquilo (...) (E5).
(...) às vezes até o próprio aluno aqui da universidade tem dificuldades
em certos assuntos que o professor está passando (...),tem dúvidas no
assunto e você trabalhando com o micro, qual é a vantagem? Quer
dizer, você vai descobrir, não é uma coisa mecânica (...) vamos
substituir uma coisa aqui: o que é isso? O que esse gráfico quer
representar? O que ele está mostrando? Quer dizer, você acaba
aprendendo muito mais coisa sobre um determinado assunto do que
trabalhando no papel ou no livro (...) dá para você analisar outras
coisas (...) (E10).
(...) é importante para o aluno mesmo descobrir a questão (...) “vou ter
que descobrir, vou ter que criar uma fórmula” (...) então ele começa a
raciocinar um pouquinho (...) (E7)
Nos fragmentos apresentados, os alunos-professores se reportam ao do
computador como um instrumento capaz de ajudar os estudantes - que podem ser
eles mesmos - por meio de ações próprias, uma vez que o uso do computador o
próprio aluno pode envolver-se em um processo de descoberta de conceitos
matemáticos e/ou construção dos mesmos. A importância que os alunos-professores
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
72
atribuem ao fato de, por intermédio do computador, o estudante chegar a uma
fórmula ou encontrar a solução de um problema, fica evidente nas falas: “é aquela
questão de toda uma vida (...) tá ali, com aula expositiva (...) e no computador não, a
gente tava criando” e “(...) vou ter que descobrir, vou ter que criar uma fórmula (...)”.
Desse modo, enxergam o computador como um instrumento favorável à mudança
do método de ensino tradicional, bem como a relação professor-aluno, uma vez que
esse instrumento favorece a possibilidade dos alunos assumirem um papel ativo no
processo educativo, o que leva o professor a “vê-los” como sujeitos do processo,
com necessidades e dificuldades diferentes. Dessa forma, o professor, em vez de
“passar” (transmitir) os conteúdos ou fornecer a solução dos problemas, é levado a
orientar, por vezes individualmente cada aluno na apreensão/construção de um
conceito matemático.
4.2.1.4 - Concepções sobre o uso do computador
Nos itens anteriores, os alunos-professores ressaltaram aspectos
importantes do uso do computador como ferramenta facilitadora do trabalho de
professores e alunos, o que se constitui como fator de favorecimento ao ensino e
aprendizagem da Matemática. Enfatizaremos agora como entendem que o uso do
computador deve ocorrer.
4.2.1.4.1- Sua função no ensino da Matemática
É preciso considerar inicialmente o uso do computador, nas aulas de
Matemática, como uma forma de “ver” a disciplina sendo aplicada em uma situação
“real”. Observemos os trechos seguintes:
(...) falta a questão da teoria, unir a teoria, o que tá no caderno para
prática da vida dele, para o que ele vai usar. E o computador ajuda
você unir a prática, não ficar somente limitado com o que é dado na
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
73
sala de aula e procurar fazer, procurar estimular o aluno a esses
assuntos (...). às vezes, ele não consegue fazer essa ligação ( ...) (E7).
(...) precisamos desmistificar (... )“a matemática” (...) a gente precisa
colocar a matemática como uma ferramenta do nosso dia-a-dia, do
nosso cotidiano. Às vezes a gente dá os assuntos (...) e outro
problema é que os alunos aprendem um determinado assunto, mas
questionam: “em que eu vou aplicar esse conhecimento?” Aí chega o
papel do professor bem preparado e (...) essas ferramentas, como o
computador, para auxiliar e fazer o aluno saber onde vai poder
aplicar esse conhecimento (...) (E14).
(...) Então eu acho que deveriam ter assim uma matéria (...) cada
matéria específica também mostrar, mostrar não só a teoria, mas
também a prática no computador, a teoria, a prática no computador,
para que nós possamos usar e nos desenvolvermos (...)na matéria
que nós estamos dando (...) (E8).
Nesses recortes, a idéia explicitada por meio dos termos “teoria” e
“prática” parece estar caracterizando qual dever ser a função primordial do
computador como ferramenta destinada ao ensino. “Teoria” significando a aula
expositiva – é o momento de abstração, em que os conteúdos matemáticos são
“passados” (transmitidos pelo professor) aos alunos. Enquanto que “prática”, é a
aplicação da teoria, significando a aplicação concreta da teoria em uma situação real,
a qual envolve e refere-se a problemas do dia-a-dia dos alunos. De acordo com as
falas dos alunos-professores, o computador seria um instrumento apropriado para
viabilizar essa interligação teoria e prática dos conceitos matemáticos, o que
favoreceria a desmistificação da Matemática, colocando-a como uma ferramenta
acessível aos alunos.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
74
4.2.1.4.2 - O momento “certo” de uso
Outro aspecto abordado pelos entrevistados em relação às concepções
diz respeito ao momento no qual o computador deve e pode ser usado. A visão
predominante foi a de que esse uso deve se dar após a exposição teórica dos
conteúdos pelo professor, reforçando a visão de teoria e prática, conforme podemos
observar nos fragmentos a seguir:
(...) eu acho que deve continuar da forma que é dado: a parte teórica, a
parte de demonstrações, a parte prática em sala de aula com
exercício. Só que eu acho que, depois que terminou o assunto (...), a
gente viria para o laboratório de computação para fazer a parte prática
mesmo (...) (E1).
(...) bem, tem de ter o conhecimento didático primeiro, toda a parte
didática (...).é tipo fazer uma conta: você sabe fazer uma conta?” “Sei”.
“Então pode fazer na máquina de calcular”. Então “sabe multiplicar,
dividir, somar?” “Sei”. “Então você pode usar a máquina”. É tipo o
computador: se você sabe fazer as fórmulas, deduzir fórmulas, tudo
certinho, fazer o gráfico na mão, tudo bem, agora você está livre para
usar o computador. Então você não pode dar o computador para a
pessoa, liberar o computador, máquina de calcular para um pessoal
que não sabe traçar um gráfico, não sabe ler coordenadas, não sabe
multiplicar, somar. Então a pessoa vai ficar escravo do computador (...)
(E2).
(...) seria interessante a gente trabalhar, vir, não estar o tempo integral
no computador. Mas a gente pode fazer o quê? Começar a explicação
do professor, porque ele sempre dá a explicação para a gente, começar
a trabalhar, saber exercitar todos os assuntos e depois a gente
poderia vir algumas aulas na sala de computação e trabalhar isso no
computador (...) (E6).
(...) para levar para o computador, antes tem que ser passado em sala
de aula, porque, a gente tem que aprender o conteúdo primeiro para
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
75
depois você chegar e jogar no computador, porque se você pega o
assunto e joga logo direto, a gente nunca vai saber, ele vai dar
resposta, mas por onde foi que chegou? Como é que a gente vai chegar
no computador e colocar uma coisa se você não sabe o significado
daquilo? Então você tem que primeiro passar na sala de aula (...) (E3).
Nas falas anteriores, transparece a idéia de que o computador só deve
ser usado após o conteúdo ser transmitido aos alunos, preferencialmente quando
eles já tiverem o domínio desse conteúdo. De acordo com essa visão, a aula
expositiva contínua exercendo um papel central, cabendo ao computador apenas a
função periférica como a de executar cálculos mecânicos ou traçar gráficos de
funções, os quais, na maioria das vezes, os alunos já fazem sem o auxílio dele.
4.2.2 A visão dos alunos-professores sobre o uso do computador para os
processos de formação dos professores (inicial ou continuada)
Nesse eixo temático geral, procuramos agrupar os temas e subtemas em
que a visão de uso do computador para os alunos-professores está associada à
formação inicial ou continuada do professor de Matemática.
4.2.2.1 - A dimensão social do computador
Atualmente o computador é reconhecido como o símbolo do progresso e,
portanto, um instrumento imprescindível à vida moderna. Nossos entrevistados,
como veremos a seguir, aparecem compartilhar da mesma opinião.
(...) ter um conhecimento melhor dessa informática que a gente não
pode abrir mão, que hoje em dia sem computador não dá (...) ele tem
se tornado indispensável; com essa evolução, com essa mudança de
milênio a gente tem que tá bem informado, informatizado (...) (E7).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
76
(...) ele tá aí, é uma realidade e a gente tem que se abrir, se desarmar
de certa forma (...) e encarar o computador como mais um instrumento
útil e necessário à produção de conhecimento na sala de aula (...)
(E12).
(...) a tecnologia do jeito que está, porque a cada dia que passa vai
surgindo assim eh (...) vai evoluindo (...) então a gente tinha aqueles
programas assim bem (...) que não faziam quase nada, demoravam
aquele tempo todo e a cada dia vai evoluindo, o homem vai
procurando, falo assim, coisas que se tornam mais fáceis.(...).a
palavra que eu quero achar não exatamente “fácil”, mas que propicia
uma acomodação melhor, um entendimento melhor (...).(E5).
Nos recortes em destaque, observamos que os alunos-professores
demonstram uma preocupação com os efeitos provocados pela informática, sentindo
necessidade, portanto de estar “em dia” com ela. Talvez por isso suas falas
configuram-se em apontar razões para o uso do computador nas atividades de
ensino: “(...) ele taí, é uma realidade e a gente tem que se abrir, se desarmar (...) e
encarar o computador como mais um instrumento útil e necessário à produção de
conhecimento na sala de aula (...)”.
Outros fragmentos, como os transcritos a seguir, apresentam a discussão
que a dimensão alcançada pelo computador em diferentes setores da sociedade,
ainda não foi absorvida pela universidade, sobretudo em relação às atividades de
ensino:
(...) a Universidade está muito restrita ainda no uso do computador (...)
não implantou ainda de uma forma que (...) o aluno esteja vivenciando
o uso do computador. Na estruturação do curso (...) não existe uma
relação entre o curso e o computador, não existe ainda (...) a máquina
ainda permanece distante (...) Está limitada apenas ao uso (...) como
se fosse um editor de texto e não como um instrumento necessário
para produzir conhecimento, necessário para produzir mudança,
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
77
ainda, a universidade não utiliza o computador como isso, pelo menos
no curso de Licenciatura em Ciências (...) (E12).
4.2.2.2 - A importância de usar o computador para a formação docente
Para os alunos-professores, o uso do computador pode significar uma
melhor formação docente. Vejamos:
(...) essa já é uma das coisas que acrescenta para o curso da gente:
saber utilizar a matemática na informática, ainda mais que
informática tá aí (...) é de agora, é da “ casa”, é ali do dia-a-dia da
gente(...) (E9).
(...) viabiliza um melhor ensino, tanto da Universidade para com seu
aluno, quanto do professor formado para seu aluno no primeiro e
segundo graus. Então, ele vai dar mais subsídios para que você possa
desenvolver melhor o seu trabalho (...) (E13).
(...) se um aluno da área de ciências, ele já está habituado a trabalhar
com o computador, no caso utilizando programas dentro da área dele,
o que ele pode fazer? Ele vai aplicar aquilo em sala de aula, ele vai ter
a oportunidade de passar para seus alunos (...) (E10).
(...) é importante para o professor mesmo ele se adaptar e, vamos dizer
assim, ele mesmo se renovar, sempre procurar uma coisa nova,
sempre procurar adquirir conhecimento novo (...) (E7).
Nos fragmentos apresentados acima os alunos-professores indicam a
importância e necessidade de uso do computador em suas aulas, nos Ensinos
Fundamental e Médio, bem como nas disciplinas da graduação ou em cursos de
formação continuada. Enfatizam que utilizando o computador, por meio dos
softwares, os estudantes, na universidade, serão mais bem preparados, podendo
também propiciar um ensino de melhor qualidade aos seus alunos. Além disso, os
alunos-professores indicam para o fato de que a utilização do computador pode vir a
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
78
representar uma renovação na profissão docente, uma vez que o professor pode
adquirir, por meio do computador, conhecimentos novos.
4.2.2.3 - O computador e sua relação com as disciplinas do currículo
Nas entrevistas, os alunos-professores mantiveram uma certa proximidade
entre o computador e as disciplinas do currículo. Embora sem clareza quanto às
formas de uso, ora se reportam às disciplinas do curso de Matemática tais como:
Geometria, Cálculo, Álgebra, etc., ora aos conteúdos específicos dessas disciplinas,
nos quais poderiam ter feito uso do computador. Além disso, as ponderações dos
entrevistados são feitas sobre duas perspectivas: como alunos da licenciatura e
como e professores de Matemática nos Ensinos Fundamental e Médio. Portanto,
temos duas ordens de aproximação entre o computador e as disciplinas de
Matemática do currículo.
4.2.2.3.1 - Disciplinas de Matemática da Licenciatura
Aqui, os entrevistados fazem uma aproximação entre o computador e as
disciplinas de Matemática da licenciatura. Observemos os recortes a seguir:
(...) na Matemática II, que é a Matemática que a gente trabalha com
Trigonometria (...) na Matemática III também, que a gente trabalha com
Geometria Espacial. Esta parte da Matemática poderia ser trabalhada
no computador (...) daria uma visão maior das figuras geométricas
quando você faz uma determinada questão que exige analisar a forma
do desenho para responder. Acho que a Matemática II e III, elas
poderiam ser bem mais abrangentes se a gente trabalhasse no
computador (...) (E3).
(...) desde a Básica (referindo-se à disciplina: Matemática Básica),
que é aquela parte que a gente faz uma revisão, que têm expressões
para simplificar (...) definir uma função. Então, desde a Matemática I
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
79
até a Matemática IV, dá para aplicar, que foi as Matemáticas que eu
estudei; dá para utilizar todas aquelas atividades (referindo-se às
atividades feitas com a planilha eletrônica durante o curso) sem
problemas nenhum e eu acho com muito mais facilidade, tranqüilo (...)
(E10).
(...) em Cálculo, Cálculo Numérico facilita e dá para avançar bastante
no conteúdo (...) (E2).
Pelas falas dos entrevistados, podemos entender as ponderações acima
como sugestões de uso do computador em diversas disciplinas do curso de
Licenciatura em Matemática da universidade. Os entrevistados apontam também
para o fato de que muitas das dificuldades sentidas no desenvolvimento dos
conteúdos das disciplinas, poderiam ser minimizadas à medida que o computador
fosse utilizado, o que possivelmente resultaria num melhor desempenho dos alunos.
4.2.2.3.2 - Matemática nos Ensinos Fundamental e Médio
Considerando que boa parte dos entrevistados são professores, foi
comum eles se posicionarem como profissionais que manifestam interesse em usar o
computador em suas aulas. Observemos os trechos em destaque:
(...) eu vou trabalhar com 5ª série de Matemática e pegar 5ª à 7ª de
Informática. Então eu não quero dar aula de informática a eles para
ensinar eles mexer em computador, para abrir e fechar programinhas,
mexer em windows, nada disso (...). Eu quero aproveitar essa aula de
informática (...) eu quero dar é voltada para a Matemática, no caso,
porque não vejo utilidade nenhuma em pegar o aluno e dar aula de
informática para ensinar ele a mexer só nos programas do computador
sem ter um aproveitamento. Eles vão aprender a mexer no micro, mas
vão aprender com a finalidade de aprender Matemática também (...)
(E10).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
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(...) já estou pensando fazer no computador, com a planilha eletrônica,
usando meus alunos, tudo lá no computador. Quer dizer, você vê que
tem coisas que facilitam (...) (E1).
(...) quando a gente começou a vê as planilhas (referindo-se ao
curso), eu achei tanta coisa interessante que a gente pode fazer na 5ª,
8ª, de 5ª à 8ª; no segundo grau mesmo (ensino médio), a gente pode
trabalhar com aquele programa, porque é um programa de fácil acesso
e muito interessante (...) Então é uma coisa extremamente diferente (...)
(E6).
Observemos que os alunos-professores vêem situações de uso do
computador em suas turmas nos Ensino Fundamental e Médio. Para tanto,
basearam-se nas atividades e nos softwares utilizados no curso (já mencionado,
seção- 3.2.2). Eles expressam, ainda, que não pretendem restringir o uso do
computador ao treinamento de seus alunos com programas básicos (windows, word,
etc.), mas, sim, estendê-lo à exploração de alguns programas apresentados,
reconhecendo, assim, a importância de usar o computador para o ensino e
aprendizagem da Matemática.
4.2.3 A visão dos alunos-professores sobre o uso do Computador na
Licenciatura em Matemática da UESC.
Nesse eixo temático agrupamos os temas e subtemas que revelam a
visão dos alunos-professores a cerca de como vem sendo usado o computador no
curso de Licenciatura em Matemática da UESC; as justificativas para o atual uso
inexpressivo, bem como as sugestões do que poderia ser feito para reverter a
situação.
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
81
4.2.3.1 - O atual uso do Computador
Quanto ao uso que vem sendo dado ao computador na universidade,
destacamos duas vertentes.
4.2.3.1.1 - Nas disciplinas do currículo
Observemos os fragmentos a seguir: (...) aqui, na Universidade, o único contato que nós tivemos com
computador foi numa disciplina que a gente faz que é Introdução à
Ciência do Computador. Mas nós não vimos muitos programas; a
gente viu como o computador trabalha pra chegar a determinados
resultados, com aquela parte dos números binários, aquelas coisas,
como formar um programa; mas não trabalhamos com essa parte que
você trabalhou com a gente de construção de gráficos, de respostas:
como você colocar um cálculo para ele responder, a gente não
trabalhou muito com isso (...) (E3).
(...) a gente só tem Iniciação à Ciências dos Computadores, só mesmo
o básico pra gente mexer, mexer no computador, entrar no windows.
Mas não exatamente em Matemática, nas nossas matérias (...).(E8).
(...) aqui, na Universidade, apesar de ter laboratório de Informática,
dentro das disciplinas em Matemática a gente não utiliza o
computador, a não ser na disciplina Introdução à Ciência da
Computação; essa é a única disciplina em que os professores fazem
uso dos micros que estão nos laboratórios (...)(E9).
Nas transcrições acima fica evidente que o computador não tem sido
utilizado com o propósito de ensinar e aprender Matemática, sendo que o uso da
máquina limita-se apenas a uma disciplina do currículo, disciplina esta em que os
alunos trabalham conceitos e uso básico da ferramenta.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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4.2.3.1.2 - O uso do Computador para outros fins
Os alunos-professores percebem que, se o computador não vem sendo
usado nas aulas de Matemática, por outro lado não tem ficado totalmente inutilizado,
outros usos tem siso dado, conforme a seguir:
(...).esse laboratório sempre tá ocupado com alguma coisa (...)
disponível eu acho que ele não fica muito não, você ver que esse
próprio curso que a gente tava fazendo agora ia ter um outro curso na
mesma data (...) quase nunca ele fica totalmente disponível (...) (E3).
(...) tem que se estabelecer um calendário, vamos dizer, assim: de
programas dentro do laboratório de informática. Porque serve pra
cursos (...) que eles dão para a área de informática: windows, word,
excel, essas coisas. Mas eu acho que deveria o laboratório de
informática, deveria também está voltado pra esse tipo de atividade
também (...) (E9).
Nos transcritos acima, podemos notar que os entrevistados reconhecem
que o computador não tem sido usado nas atividades de ensino, estando mais
voltado para uso em outros projetos ligados ao setor de informática, sobretudo no
oferecimento de cursos básicos. Entretanto reconhecem que esse uso deveria se
estender também para as atividades relacionadas ao ensino de Matemática.
4.2.3.2 - O não uso do computador nas disciplinas de Matemática:
“justificativas”
Os alunos-professores parecem estar convencidos de que o computador
poderia ser mais e melhor utilizado nas aulas de Matemática, também parecem
convencidos dos motivos pelos quais tal fato não vem ocorrendo, haja vista
apontarem várias “justificativas” nesse sentido.
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
83
4.2.3.2.1 - Falta preparação dos professores na universidade para usar o
computador: resistência à mudança.
A falta de preparo dos docentes das disciplinas de Matemática na
universidade, na visão dos alunos-professores, parece constituir-se num dos fatores
que impedem o uso do computador nas aulas de Matemática. Vejamos:
(...) o professor ele teria que ter um pré-conhecimento (...) a maioria dos
professores da área de matemática não sabe, acho que não tem o
domínio ainda de usar o computador (...) (E3).
(...) o que quê falta para esse uso? Eu acho que falta são os
professores no caso. Tem muito professor, mas os professores eles não
tão envolvido (...) os professores de matemática (...) a maioria não usa
programas ligados, relacionados a área de matemática (...) que dê
para usar na matemática, assim no ensino da matemática (...) (E10).
(...) eu acho assim, tem uns professores, eu acho que não estão
preparados para dar aula no computador, que eu acho que eles não
tenham tomado um curso, se aprimorado mais (...) (E8).
Dos fragmentos acima parece evidente que o fato de os professores não
saberem trabalhar com o computador, voltado para as atividades de ensino, tem
tornado-se em fator decisivo para que a máquina não tenha sido usada nas
disciplinas de Matemática.
Todavia, constatamos em algumas falas, não ser apenas a falta de
conhecimento acerca do tema que inviabiliza o uso do computador, mas também um
total desinteresse dos professores no que se refere a esse assunto. Os
alunos-professores parecem perceber uma resistência à mudança por parte dos
professores quando se refere à possibilidade de uso do computador nas aulas de
Matemática. Observemos comentários a esse respeito:
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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(...) o professor colocar também na sua cabeça que (...) se têm a sala
de computadores, é lógico que seria viável, não só para ele como
também para os alunos, ele usar a sala de computadores (...) (E9).
(...) o professor que ele tem (...) que querer aprender (...) não adianta
dar “mil” cursos para o professor e ele não querer aprender nada (...).
Ele faz o curso e no outro dia quando ele vai dar aula continua
dando aquela aula tradicional (...) porque a mudança (...) se a pessoa
não quiser não muda, não tem jeito, é mais fácil você dar o
tradicional(..) (E1).
(...) eu acho que falta isso (...) do professor chegar e até deixar um
tempo e falar assim: olha eu vou me dedicar a isso aqui, porque isso
vai facilitar muito meu trabalho. É muito mais cômodo para ele
continuar da forma veio sei lá quantos anos atrás (...) o novo assusta,
acho que tem isso (...) (E11).
Com base nas falas dos entrevistados anteriormente, se faz necessário
que o professor na universidade empenhe-se mais afim de efetivar o uso do
computador nas aulas de Matemática; é necessário que dedique tempo para
inteirar-se dos programas disponíveis na área e, consequentemente, trabalhar esses
novos conhecimentos com aqueles que serão os futuros professores.
4.2.3.2.2 - Falta organização acadêmica.
Além da falta de preparo dos docentes na universidade para usar o
computador em suas atividades de ensino, os alunos-professores também atribuem
como fator colaborador para o uso inexpressivo a falta de organização acadêmica. É
o que sugerem os fragmentos a seguir:
(...) o laboratório tá muito bem montado, mas falta ainda, justamente
essa visão de alguns mestres ou do próprio departamento de
preparar tanto a grade curricular, inserir na grade curricular (...)
inserir no conteúdo das matérias o uso do computador, para que a
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
85
gente possa sair daqui com uma visão maior e aplicar isso lá fora (...)
(E12).
(...) começa-se o curso (...) mas não se tem (...) já um calendário, uma
coisa já estruturada com a inclusão do computador naquele processo
de ensino (...) (E13).
(...)a questão (...) eu acho que é da organização acadêmica, nessa
questão dos departamentos pararem para poder analisar se é viável
ou não, se pode ser ou não (...) Tem essa questão também da
organização: não falo só da organização do professor, mas da
organização dos departamentos, mais especificamente o departamento
de Ciências (...) (E9).
Portanto, tomando por base os trechos transcritos acima, os
alunos-professores parecem conscientes que para um melhor uso do computador
nas atividades de ensino, se faz necessário uma organização acadêmica prevendo
esse uso.
4.2.3.3 - O que poderia ser feito para um uso mais efetivo do computador nas
disciplinas de Matemática.
Os alunos-professores não se limitaram a apontar motivos para o pouco
uso do computador, eles também reconhecem que algumas ações poderiam ser
empreendidas em vias de efetivar esse uso.
4.2.3.3.1 - Cursos para os docentes
Um primeiro ponto colocado pelos entrevistados, com vistas a tornar o
computador mais utilizado nas aulas de Matemática, seria preparar os docentes para
essa finalidade. Vejamos os recortes a seguir:
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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(...) então eu acho que eles teriam que ter uma reciclagem quanto a
esse lado e aí, a partir disso, aplicar os programas que existem para
facilitar o nosso conhecimento (...) para facilitar para o professor ele
tem que ter um cursinho antes (...) (E3).
(...) na verdade teria que ser dado cursos para os professores que não
conhecem esses programas, para eles trabalharem com esses
programas (...) para eles aprenderem e depois passarem para os
alunos, eu acho que o problema todo está aí (...) (E10).
(...) o que falta é a Universidade investir na preparação dos mestres
para o uso do computador. Alguns ainda permanecem distantes, eu
não sei se por falta de programas ou falta de afinidade com a
máquina (...) (E12).
Assim, para os entrevistados, os professores do curso de licenciatura em
Matemática da UESC também precisam passar por um processo de formação com o
intuito de utilizarem o computador voltado para as atividades de ensino. Nesses
cursos terão a oportunidade de conhecerem os programas (softwares) disponíveis
para uso nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática.
4.2.3.3.2 - Mudança de atitudes dos alunos-professores
Outro ponto destacado pelos entrevistados foi a necessidade deles,
enquanto alunos da licenciatura, adotarem uma atitude mais crítica, cobrando do
professor e buscando por si sós formas de utilizar o computador. Observemos os
fragmentos que abordam isso:
(...) a primeira forma é cobrar do professor (...) eu mesma esse
semestre eu cobrei, tipo eu perguntei: professor por que a gente tem
sempre nessa aula do jeito que é, só expositiva? Porque não tenta
diversificar, técnicas diferentes, métodos, qualquer coisa. Porque a
gente precisa, a gente precisa desse tipo de coisa lá fora (...) (E1).
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
87
(...) nós alunos poderíamos incentivar, exigir do professor, já que nós
sabemos que tem uma sala de computação e incentivar mesmo que
eles não estejam preparados (...) (E8).
(...) às vezes a gente não pode culpar só o professor, porque ele não vai
usar aquela coisa e a gente procurar nós mesmos estudar, porque eles
também não têm de fácil acesso (...) (E7).
Das falas acima, os alunos-professores ressaltam a necessidade de
adotarem um posicionamento mais crítico, incentivando e cobrando dos professores
o uso do laboratório ou buscando por si sós formas de usá-lo. Desse modo, parecem
reconhecer-se como sujeitos do processo, elementos participativos nas decisões de
utilizar o computador nas suas aulas.
4.2.3.3.3 - Empenho da instituição em viabilizar o uso do computador
Outro importante ponto abordado pelos alunos-professores com vistas a
uma melhor utilização do laboratório de informática por parte de professores e
alunos diz respeito a necessidade de uma melhor organização acadêmica, nesse
sentido, observemos os trechos transcritos:
(...) Então isso necessitaria (...) com antecedência toda uma estrutura
montada, a utilização, o objetivo daquilo, para que o aluno pudesse
trabalhar melhor (...) (E13).
(...) o uso do computador aqui é muito pouco (...) então tem que existir
uma política aí do colegiado (referindo-se ao colegiado de curso),
dar acesso aos alunos assistirem aula no laboratório, por exemplo,
aula de Cálculo Numérico (...) (E2).
(...) eu acho que seria o corpo docente, as pessoas da diretoria (...)
procurar botar o computador para o aluno, não ficar (...) ficar limitado
só aos cursos que já existem: o word, os cursos básicos e sim
trabalhar nele para ter uma utilidade para o professor e muito mais
para o aluno (...) (E7).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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Em todos os recortes parece estar subjacente a idéia de que é preciso
mais empenho por parte do departamento com vistas a criar condições de uso do
computador. Neles, ainda, os alunos-professores, indicam que tal organização pode
ser melhor estruturada por meio da mudança na grade curricular, de forma que
esteja previsto o uso do computador, bem como os objetivos se que almeja com a
utilização de tal ferramenta.
4.2.3.3.4 - Laboratório de Informática exclusivo para a Licenciatura
O uso inexpressivo do computador nas atividades de ensino, fazendo com
o laboratório de informática fosse usado para outras atividades, favoreceu o
surgimento de sugestões como a implantação de um laboratório exclusivo para o
curso de Matemática, conforme expresso nos comentários abaixo:
(...) deveria ter um laboratório de Matemática, seria mais fácil (...) esse
laboratório é utilizado para fazer projetos essas coisas (...) têm cursos
de informática. Se o laboratório fosse só para a área e realmente a
gente tivesse acesso direto, seria melhor trabalhado e daria mais para
os professores vir, jogassem questões que a gente pudesse fazer no
computador (...) (E3).
(...) então eu acho que deveria ter o que? Outro laboratório de
informática, por exemplo, quando é uma turma grande ele não
comporta cada uma em um computador (...) então eu acho que falta
exatamente outro laboratório para não chocar essa questão de
horário (...) (E6).
Das colocações acima, os alunos-professores, parecem perceber que o
Laboratório de Informática implantado no departamento e, inicialmente, destinado às
atividades de ensino não está mais disponível para esse fim. Assim, se faz
necessário um novo laboratório de informática e que de fato alunos e professores
possam ter acesso a ele.
Capítulo 4 - Resultados: da análise e construção
89
4.3 Conclusões Iniciais: a questão orientadora e o que os dados revelaram
O objetivo desta investigação era responder à seguinte questão: “como
os alunos vêem a utilização do computador nas disciplinas de
Matemática da Licenciatura em Matemática da UESC?”. No entanto, na
análise por nós empreendida, em certo momento, tivemos de não olhar unicamente
para essa questão, uma vez que foi preciso respeitar o contexto de produção das
entrevistas, ou seja, quem nos falava e sobre o quê. Entendemos que focalizar os
dados limitando nosso “olhar” apenas aos pontos que respondiam a questão
inicialmente proposta, significava abandonar aspectos importantes tratados pelos
alunos-professores em relação ao uso do computador, que poderiam extrapolar a
questão em foco.
Assim, no item anterior, como resultado do tratamento dos dados,
explicitamos a visão dos alunos-professores. Isso nos fez ver que tal visão não está
apenas condicionada ao uso do computador às disciplinas de Matemática da
licenciatura, mas realçam a importância e necessidade de uso do computador para o
ensino e aprendizagem, em particular da Matemática em todos os níveis; apontam a
necessidade de os atuais e futuros professores serem preparados para usá-lo em
suas atividades de ensino, dado à dimensão social do computador atualmente;
descrevem as condições em que esse uso têm ocorrido na universidade,
particularmente no curso de Matemática e indicam algumas ações que poderiam ser
empreendidas com vistas a uma utilização mais efetiva desse equipamento nas
disciplinas de Matemática. Com base nisso foi que pudemos organizar os dados - a
visão dos alunos-professores - em eixos temáticos gerais, temas e subtemas,
procedendo a uma análise temática.
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
CONSTRUINDO UM QUADRO
REFLEXIVO-TEÓRICO
Neste capítulo, para além da nossa análise inicial, esperamos “devolver”
os dados perspectivando-os com base na literatura mais recente sobre
computadores e o ensino e a aprendizagem da Matemática; computadores e
formação inicial e continuada de professores, concepções dos professores e
processos de mudança. Para isso, retomaremos a literatura inicialmente revisada
(cap. 2), aprofundando-a e acrescentando, quando necessário, novos referenciais
teóricos.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
91
5.1 “Aproximando” os Dados da Literatura
Na análise por nós empreendida, em que procuramos explicitar a visão
dos alunos-professores , organizamos os resultados em eixos temáticos gerais,
temas e subtemas. Neste capítulo, para uma melhor aproximação entre os dados e a
literatura, tomaremos os eixos temáticos gerais, temas e subtemas, e os
reescreveremos conforme mostrado na tabela a seguir:
5.1.1 – O uso do computador nos
Processos de Ensino e Aprendizagem
da Matemática
5.1.1.1 - O uso do Computador como Ferramenta . 5.1.1.2 – O uso do Computador e a mudança nos métodos de ensino.
5.1.1.3 O Computador como Motivador das aulas de Matemática.
5.1.1.4 - as concepções sobre o uso do computador
5.1.2 – O uso do computador nos
processos de formação do professor
de Matemática.
5.1.2.1 - A dimensão social do computador.
5.1.2.2 O Computador e as
Disciplinas do Currículo.
5.1.3 – O uso do computador na
Licenciatura em Matemática da UESC
– situação atual e perspectivas .
5.1.3.2 - Empenho do Departamento
5.1.3.3 – Possíveis ações
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
92
5.1.1 O Uso do computador nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática
A introdução do computador nos processos de ensino e aprendizagem da
Matemática vem sempre acompanhado da promessa de que seu uso provocará
profundas mudanças na forma de se conceber a Matemática e o ensino e
aprendizagem da Matemática. A promessa é que, por meio desse uso,
simultaneamente, é possível acessar e compreender importantes aspectos da
Matemática, que em outras circunstâncias tem sido difícil conseguir. Promete, ainda,
provocar mudanças nas concepções matemáticas dos alunos, nas atitudes do
professores e nos processos de interação professor-aluno.
Em nosso estudo, foi possível constatar que muitos dos pontos
apresentados pelos alunos-professores para introduzirem o computador nas suas
disciplinas de Matemática da licenciatura ou nos ensinos fundamental e médio, vão
ao encontro dessas promessas. Eles ressaltam o computador como uma ferramenta
que pode ser usada na sala de aula e cujo uso pode significar um estímulo para os
alunos “gostarem mais” de Matemática. Acreditam que o computador pode alterar os
métodos de ensino, sobretudo os fundados na aula expositiva do professor e isso
leva à mudança na relação professor-aluno. Além disso, apresentam suas
concepções sobre o uso do computador: a que esse uso se destina, em particular em
relação à Matemática e em que circunstâncias deve ocorrer, ou seja, o momento
certo em que o computador pode complementar a aula tradicional.
5.1.1.1- O uso do Computador como Ferramenta
O primeiro ponto apresentado por nossos entrevistados destaca o papel
da ferramenta como mediadora dos processos de ensino e aprendizagem da
Matemática. Para os alunos-professores, o computador tanto pode ser apenas mais
um instrumento na sala de auxiliar de alunos e professores (expresso nas entrevistas
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
93
E1 e E12 cap. 4), quanto pode ser a ferramenta que facilita a aprendizagem dos
alunos, daí superando aquelas mais usadas na sala de aula. Isso porque ele
possibilita ações tais como construção, visualização e rapidez nos cálculos
aritméticos, o que, para eles, ajudam nas estratégias de resolução de problemas,
conjecturas e apreensão de conceitos matemáticos - identificados nas entrevistas
E3, E14 e sobretudo no trecho da E12, conforme a seguir:
(...) o professor ele estaria ganhando um instrumento que não somente
ajudaria ele transmitir o conteúdo, mas também ajuda o aluno
alcançar, alcançar e entender esse conteúdo com mais facilidade (...),
ter uma visão maior daquilo que ele dá lidando. O computador dá essa
visão maior do que ele tá lidando (...) (E12).
Com referência às pesquisas sobre o uso de computadores nos processos
de ensino e aprendizagem da Matemática, encontramos que a noção de ferramenta
para mediar a aprendizagem é bastante referendada (TAYLOR, 1980; LABORDE,
1992; COBB, 1993; KAPUT, 1992; NOSS & HOYLES, 1996; JONES, 1998). Esses
pesquisadores baseiam-se, sobretudo, nos trabalhos de Vygotsky e seus
colaboradores, relacionados com o papel dos signos como mediadores da
aprendizagem, sobretudo de crianças em fase de desenvolvimento.38 Tomando a
perspectiva Vigotskiana, JONES (1998) argumenta que, de um ponto de vista
sociocultural, o desenvolvimento matemático é visto como culturalmente mediado por
meio da linguagem e do uso de artefatos, ambos vistos como ferramentas. Para
COBB (citado por JONES, 1998 p.97) “o uso da ferramenta é central para os
processos em que os alunos matematizam suas atividades”
Assim, ao tomarem o computador como ferramenta, os pesquisadores
estão se reportando aos softwares que podem ser usados como mediadores no
desenvolvimento matemático dos alunos. Todavia, o que determina se um
determinado software é, de fato, uma ferramenta de aprendizagem é o uso que se
38 Para mais detalhes sobre isso, ver VIGOTSKY, 1982; VEER e VALSINER, 1991
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
94
faz dele, quer dizer, se esse uso é capaz de, não simplesmente facilitar os processos
mentais dos alunos, mas moldá-los e transformá-los. Segundo NOSS & HOYLES
(1996):
o computador não é apenas um conjunto de ferramentas que define ações
possíveis, ele desempenha um papel em comunicar essas ações,
compartilhando e re-negociando expressões matemáticas e facilitando a
construção de significados matemáticos (p.228)39.
Ainda no tocante às ferramentas - os softwares - KAPUT (1992),
distingue-os em dois grupos: aqueles que foram especialmente programados para
usos educacionais - os específicos - em particular para a Matemática, como Cabri
Géométri, Mathematica, Geometric Supposer, dentre outros e os que tiveram origem
fora da educação - que ele os chamou de uso geral - mas que comumente têm
também sido explorados como ferramentas na aprendizagem matemática, por
exemplo: utilitários gráficos e planilhas eletrônicas.
No entanto, em relação ao uso de softwares não específicos ou de uso
geral, o autor considera que esse uso tem-se mostrado ineficaz. Segundo ele, uma
razão apontada para essa ineficácia é que no uso daqueles softwares é necessário
esforço e capacidade muito maior por parte do professor ao fazer as devidas
adaptações. É difícil o uso de uma ferramenta destinada a uma tarefa desempenhar
outra, no geral mais complexa, como propiciar ambientes de aprendizagem
matemática. Salvo em algumas exceções, por exemplo as planilhas, tem sido
possível obter bons resultados. Contudo, a tendência é para um desenvolvimento
cada vez maior de uma variedade de ferramentas destinadas especificamente para
uso em cenários educacionais (KAPUT, 1992).
Situando-nos no nosso estudo, cremos que a idéia do computador como
ferramenta - de ajuda à construção e visualização de gráficos; execução de cálculos;
39 Tradução nossa
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
95
de ajuda nas estratégias de resolução de problemas; revisão e formalização de
conceitos matemáticos - está associada com a experiência vivificada pelos
alunos-professores durante o curso por nós ministrado, haja vista que, para a
maioria, representou o primeiro contato com o computador com a finalidade de
ensinar e aprender matemática. No curso, propusemos um conjunto de atividades -
especialmente com a planilha eletrônica - nas quais procuramos ressaltar aqueles
aspectos inerentes ao uso da ferramenta. Além disso, com essas atividades,
procuramos evidenciar a nossa concepção, em parte moldada pela literatura, de uso
do computador nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática.
Quando nossos alunos-professores destacam no uso do computador
alguns pontos – por exemplo, visualização de gráficos - como importantes para
ajudá-los na compreensão de conceitos matemáticos, percebemos que conseguem
identificar no uso da ferramenta aspectos da Matemática que ganham importância,
quando dela se faz uso. Em algumas falas causou-nos a impressão de que os
entrevistados estão considerando a visualização de gráficos mais importante para a
aprendizagem do que a sua construção, no entanto essas impressão se desfez,
sobretudo com o trecho abaixo:
(...) a gente dando ali a definição, dando uma condição (..) a gente teve
que construir uma condição, não foi uma coisa que o computador
chegou lá e deu, a gente teve que criar (...) estabelecer uma condição
para a função (...) aí ele mostra o gráfico (...) (E7).
Assim, entendemos que a importância que os entrevistados atribuem à
visualização, em certo sentido, é uma forma de se contraporem a uma “vida inteira”
na qual fizeram uso do livro texto, quadro de giz, lápis e papel, nos quais cálculos
mecânicos e construção de gráficos, no geral, ocupam mais tempo do que a análise
e discussão dos mesmos, como bem expresso ( nas entrevistas E1, E9, E13) e,
sobretudo, no trecho abaixo:
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
96
(...) quando você está fazendo aquelas funções no computador a gente
tem uma visão mais ampla (...) quando você coloca no papel (...) os
cálculos são muito difíceis, são bem complicados (...) quando você joga
no computador ele já lhe o cálculo pronto e você analisando o gráfico
da para entender melhor o que elas estão (...) quer dizer a definição
delas no gráfico é bem mais abrangente (...) (E3).
Desse modo, quando os alunos-professores vêem no uso do computador
aspectos como a visualização sendo ressaltados, percebem que existem outras
formas, às vezes mais acessíveis, de compreender os conceitos matemáticos.
Notadamante, com as novas tecnologias informáticas - especialmente o
computador - a visualização tem sido valorizada, tornando-se uma alternativa
poderosa para levar os alunos a pensarem sobre e fazerem matemática, mais do
que, simplesmente, explorar o pensamento lingüístico e lógico-proposicional das
demonstrações formais e as manipulações de expressões puramente algébricas,
sobrevalorizadas no método de ensino tradicional, no qual prevalece a aula
expositiva do professor e a escrita do alunos (PRESMEG, 1986, 1989;
DREYFUS,1991; SHAMA and DREYFUS, 1991; BORBA, 1993; ZASKIS, R.;
DUBINSKY, E. & DAUTERMANN, 1996; SOUZA, 1997; NEMIROVSKY & NOBLE,
1997).
Assim, a recorrência ao pensamento visual para ajudar no
desenvolvimento matemático e, até como substituto de algumas demonstrações
formais do ensino tradicional, tem sido advogado dentro da comunidade de
Educação Matemática (KAPUT, 1992; 1993; HORGAN, 1993). Encontramos ainda
na literatura trabalhos que ressaltam a importância no uso de softwares que
permitam um ambiente de representação múltipla, ou seja, no caso das funções, por
exemplo, um ambiente que possibilite explorar gráfico, tabela e expressão algébrica
ao mesmo tempo (BORBA, 1994b; BORBA & CONFREY, 1996). Nesses trabalhos, o
visual e o algébrico encontram-se num mesmo patamar, ambos sendo considerados
importantes para o desenvolvimento do pensamento matemático dos alunos.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
97
Assim, estamos certos de que a presença do computador nos processos
de ensino e aprendizagem da Matemática, alavanca uma série de questões sobre a
natureza da própria Matemática e o modo como ela tem sido concebida e ensinada.
5.1.1.2 – O uso do Computador e a mudança nos métodos de ensino
A visão dos nossos alunos-professores é que o uso do computador
propicia mudanças nos métodos de ensino, fazendo com que tal uso adquira uma
grande importância, uma vez que a ferramenta passa a ser vista como o instrumento
mais apropriado para contrapor-se ao ensino tradicional. Tais comentários estão
presentes nas entrevistas E5, E10, E11, E7, dentre outras e em particular no
comentário a seguir:
(...) é aquela questão de toda uma vida de você tá sempre ali, com aula
expositiva e tal, e distancia a coisa de você trazer para o cotidiano, de
você visualizar melhor. E no computador não, a gente estava criando
(...) muitas coisas a gente estava formando conceito e eu acho que isso
fixa melhor (...) para você aprender, porque muitas vezes o professor tá
lá e você vê e logo depois esquece e, se você criou, como é que você
esquece uma coisa que você criou, uma coisa que você foi formando o
assunto, que você foi criando? É diferente (...) é uma questão de você
levar o aluno, de você vir para aqui e tal (o laboratório de
informática), você esquecer o quadro e você tá acompanhando o
aluno lado-a-lado, de junto, ficar vendo o desempenho de um e
também o desempenho do outro (...) É a questão de estar formando,
levando ele a estar formando, estar descobrindo (...) (E11).
Citações como essa nos levam a crer que nossos entrevistados vêem no
uso do computador a possibilidade de um método de ensino mais dinâmico, no qual
a capacidade de raciocínio dos alunos seja desafiada. Ao invés de os conteúdos
serem transmitidos pelo professor - bem próprio do método tradicional - é dado aos
alunos o direito de descobrir, conjecturar, propiciando um outro caráter para a aula
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
98
de Matemática, em que se mudam os papéis de alunos e professores no processo
de fazer matemática.
Esse modo de ver dos alunos-professores vão ao encontro das pesquisas
em Educação Matemática, as quais indicam que o uso do computador leva a uma
mudança nos papéis do aluno e do professor. Por exemplo, vejamos o nos diz FEY
(1991) a esse respeito:
O papel do professor muda da demonstração de “como” construir um gráfico para explicações e perguntas “sobre o que gráfico está dizendo” acerca de uma expressão algébrica ou duma situação que ele representa. As tarefas dos alunos mudam de marcar pontos e traçar curvas para escrever explicações de pontos chave de gráficos ou de características gerais (p.56)
Além disso, encontramos também em BORBA (1997), situações em que
os alunos são desafiados a construir suas próprias funções; os alunos partem de
situações “reais” por eles mesmos idealizadas, testam e fazem conjecturas sobre
modelos matemáticos que satisfaçam ou que se aproximem dessas situações.
Nessa perspectiva, portanto, a sala de aula torna-se um lugar de descobertas e
colaboração, em que professor e alunos tornam-se parceiros na tentativa de
compreender a Matemática que é exibida perante eles.
Voltando ao nosso domínio de estudo, acreditamos que a visão dos
alunos-professores sobre a possibilidade de uso do computador propiciar mudanças
no método de ensino tradicional está relacionada aos cursos, aos quais já nos
reportamos anteriormente, haja vista não terem tido experiências anteriores fazendo
uso do computador voltado para o ensino e aprendizagem da Matemática. Como
participantes de tais cursos, foram envolvidos em um conjunto de atividades (ver
anexo III) nas quais desempenharam um papel mais ativo, uma vez que não ficaram
limitados a ouvir a exposição do professor sobre a matéria sendo tratada. Além
disso, perceberam que a configuração da sala de aula mudou, o professor pôde
acompanhar quase que individualmente o trabalho dos alunos, analisando as
destrezas e limitações de cada um.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
99
Os entrevistados pareceram perceber que o uso do computador tornou a
sala de aula mais “horizontal”, quebrando a hierarquia reinante no ensino tradicional,
no qual o professor é o centro e os alunos coadjuvantes. Assim, parece-nos claro
que o curso teve um papel de balizador das idéias dos participantes sobre as
mudanças, advogadas pelo uso do computador, no método de ensino tradicional.
5.1.1.3 - O Computador como Motivador das aulas de Matemática
Outro importante aspecto ressaltado pelos entrevistados em relação à
presença do computador nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática
diz respeito ao papel de motivador das aulas de Matemática. Nesse ponto, os
alunos-professores consideram que, em ambientes computacionais, os estudantes
sentem-se mais estimulados para estudar Matemática. O computador pareceu
despertar em muitos deles um fascínio - entrevistas E8, E5, E6 e também no
comentário da E9:
(...) Informática por si só é fascinante (...) e matemática é uma
disciplina, para mim não é difícil, ela é complexa, envolve muita coisa,
é fascinante também. Mas para os alunos é considerada o que? “Um
bicho papão”. Então se agente fizer essa ligação entre a informática e
a Matemática vai tirar esse rótulo que colocaram na disciplina, certo?
E vai mostrar ao aluno que é fácil lidar com a Matemática (...)
Fragmentos como o acima parecem não ressaltar o papel atribuído ao
professor, como um dos elementos importantes no processo de propiciar ambientes
de aprendizagem nos quais se faz uso do computador; parece que a máquina por si
só leva constitui-se em fator de motivação pela Matemática. Todavia, inspirados nos
trabalhos de SUTHERLAND & HEALY (1990); FEY (1991); HOYLES (1992);
SUTHERLAND (1993); NOSS & HOYLES (1996); MANTOAN (1996); ZANIN (1997),
entendemos que esse uso, de fato, pode significar fator de estímulo para os alunos.
Entretanto o papel do professor continua sendo de fundamental importância, uma
vez que ele é um dos elementos estruturadores do ambiente de aprendizagem, ou
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
100
seja, a sua participação é importante na escolha das atividades, dos softwares e na
orientação dos trabalhos em sala de aula.
Assim, desde logo, é dele exigido uma competência maior, justamente
para saber fazer as escolhas que melhor se adeqüem às necessidades dos alunos e,
sobretudo, para interagir com as situações novas que a todo instante estarão
passíveis de ocorrer numa sala de aula, com o computador.
Portanto, entendemos que o computador pode, de fato, se tornar um
instrumento motivador das aulas de Matemática. Depende, entretanto, da habilidade
e competência do professor em saber envolver os alunos nas atividades propostas.
5.1.1.4 - as concepções sobre o uso do computador
A última inferência vinda dos alunos-professores trata-se da visão sobre o
momento “ideal” em que o uso do computador deve ocorrer, ou seja, quando a aula
expositiva do professor deve ser substituída pelo uso da mídia eletrônica.
Observamos nesse ponto duas ordens de colocação, com diferenças bem
distintas. Na primeira, o computador, sendo visto como o instrumento capaz de
mostrar na prática a utilidade da Matemática, quer dizer, ela não é uma invenção
puramente abstrata, mas está relacionada a muitos fenômenos “reais”, observados
pelas pessoas no seu dia-a-dia (como em E7, E14, E8, cap. 4). Na segunda, o uso
do computador requer domínio do conteúdo matemático, transmitido pelo professor.
Neste caso resta ao computador a tarefa de confirmar o que os alunos já sabem e
podem fazer sem sua ajuda (como em E1,E2, E3 e, sobretudo, no trecho da E6:
(...)seria interessante a gente trabalhar, vir, não tá o tempo integral no
computador, mas a gente pode fazer o que? Começar a explicação do
professor, porque ele sempre dá a explicação para a gente, começar a
trabalhar, saber exercitar todos os assuntos e depois a gente poderia
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
101
vir algumas aulas na sala de computação e trabalhar isso no
computador (...) (E6).
Esse modo de ver dos entrevistados, repousa sobre uma proposta bem
superficial em relação ao papel do computador para o ensino e aprendizagem da
matemática, na qual o seu uso era cogitado apenas como ajuda ao cálculo, muito em
voga no início das pesquisas sobre computadores e ensino de matemática (KAPUT,
1992). Além disso, nessa visão, percebemos uma ruptura (um contraste) com todos
os pontos por eles próprios citados e respaldados pela literatura, ressaltados
anteriormente, no que tange ao papel do computador nos processos de ensino e
aprendizagem da matemática.
Além disso, tal modo de ver dos nossos alunos-professores parece
remeter-nos a uma concepção de Matemática e de ensino e aprendizagem da
Matemática. É verdade que esse fato não se constituía em objeto de estudo nosso
inicialmente. Não era nosso foco de interesse observar e analisar as concepções dos
alunos-professores sobre Matemática e ensino e aprendizagem da Matemática. No
entanto, tal constatação mostrou-se relevante, uma vez que o modo como o
computador se insere nas atividades de ensino pode levar a mudanças nessas
concepções e, também, as concepções podem interferir no modo como o
computador é inserido nos meios educacionais.
O estudo das concepções dos professores remete-nos a outros temas,
como os saberes e as práticas profissionais, uma vez que são vistos como
intimamente relacionados, sendo objeto de intensa investigação. No tocante à
Educação Matemática, merecem destaque os trabalhos de THOMPSON (1992),
FENNEMA & FRANKE (1992); CANAVARRO (1993); PONTE (1995). No âmbito
deste trabalho discutiremos algumas idéias básicas sobre as concepções e como se
dão os processos de mudanças nessas concepções e na prática dos professores.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
102
Segundo PONTE (1995), as concepções formam-se num processo
individual – “como resultado da elaboração sobre a nossa experiência” – e social –
“como resultado do confronto das nossas elaborações como os outros”. Desse modo,
“as concepções sobre a Matemática”, e, portanto sobre ensino e aprendizagem da
Matemática, “são influenciadas pelas experiências que nos habituamos a reconhecer
como tal e pelas representações sociais dominantes (p. 186)”. No âmbito do nosso
estudo, acreditamos, foi decisivo o peso das experiências vividas pelos
alunos-professores, nas quais o uso do computador sempre esteve distante,
prevalecendo um ensino essencialmente tradicional.
Segundo THOMPSON (1992) e PONTE (1995), o surgimento de novas
orientações curriculares, a participação em cursos ou a leitura de materiais
educativos podem levar a novas perspectivas em relação à prática pedagógica.
Todavia, uma tendência observada é a acomodação dos novos elementos à
estrutura conceitual preexistente. Assim, mudanças mais consistentes no sistema de
concepções só se verificam sob impactos muito fortes, causadores de grandes
desequilíbrios. E isso só é possível por meio de um quadro de vivências pessoais
intensas, por exemplo: participação em programas de formação altamente
motivadores. É difícil mudar as pessoas, especialmente quando elas não estão
empenhadas em mudar ou quando não vêem razões para isso.
Nesse sentido, em relação às novas tecnologias, em particular o
computador, nas situações de sala de aula nas quais tem estado presente,
apresentam evidências de que esse uso não se fez sem provocar mudanças nas
concepções matemáticas dos alunos, nas concepções dos professores sobre
matemática e ensino e aprendizagem da matemática e no momento apropriado para
que esse uso ocorra (KAPUT, 1992; HOYLES, 1992). Assim, o computador
apresenta-se como um instrumento capaz de causar o impacto que é requerido para
que mudanças significativas ocorram nas concepções de alunos e professores sobre
a matemática e o ensino e aprendizagem da Matemática.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
103
Em oposição ao modo de ver dos nossos entrevistados em relação ao
momento “apropriado” de uso do computador, observamos que isso tem ocorrido das
mais variadas formas e, em todos os níveis de ensino. Assim, detalharemos dois
exemplos de como novas tecologias – especialmente o computador e a calculadora -
foram ou são usados nas aulas de Matemática, em diferentes níveis de ensino.
1) ZANIN (1997), discute as possibilidades de utilização do computador, por meio da
linguagem LOGO 40 , numa classe de 6ª série do ensino fundamental. 41 A
professora-pesquisadora seguiu uma “seqüência didática”(op. cit., p.65), que foi
aplicada em dois ambientes “o laboratório de informática e a sala ambiente de
Matemática”(op. cit., p.65). Nessa seqüência didática, as atividades de ensino eram
realizadas no ambiente informatizado, antes de serem discutidas na sala de
Matemática, sendo proposto aos alunos situações-problema, com objetivo de
explorar os conteúdos matemáticos inerentes à série. 42 As intervenções da
professora-pesquisadora, nos dois ambientes, eram feitas para atender às
solicitações dos alunos nas suas dúvidas, garantindo a compreensão da idéia
matemática subjacente a cada atividade. Algumas das conclusões geradas pelo
estudo relacionam-se ao peso que ainda tem a aula tradicional, haja vista a
professora-pesquisadora apontar que em muitas situações a metodologia por ela
desenvolvida causou resistências nos alunos, nos pais e na própria escola.
2) BORBA et al (1997), desenvolveu um estudo em turmas da disciplina Matemática
Aplicada para alunos de Biologia,43 no qual teve por objetivo avaliar “os efeitos de
dois enfoques didático-pedagógicos para a sala de aula de Matemática” (p.63),
denominados de “modelagem e experimental-com-calculadora-gráfica” (p. 63). A
modelagem era vista como a tentativa de descrever matematicamente um fenômeno
escolhido pelos alunos com a ajuda do professor. O enfoque “experimental” visava
40 Ver mais sobre o LOGO em Papert (1985). 41 De uma escola da rede privada de ensino na cidade de Piracicaba -SP 42 Para esta série, a proposta curricular para esta série está divida em quatro segmentos: números inteiros, números racionais, introdução à Álgebra e Geometria e medidas(ZANIN, 1997). 43 Curso de Ciências Biológicas da UNESP – Rio Claro (SP). O estudo foi realizado nos anos de 1994, 1995 e 1996 e o professor era também o pesquisador.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
104
desenvolver conceitos matemáticos inerentes à disciplina - usando a calculadora
gráfica - tais como: funções, derivadas, integrais. Nas atividades realizadas em
grupo, os alunos eram desafiados a fazerem conjecturas sobre questões
matemáticas, testá-las na calculadora e discutir os resultados com o restante da
turma.
Além disso, desenvolviam projetos, escolhendo temas relacionados com
as Ciências Biológicas e os conteúdos centrais da disciplina. O trabalho com projetos
envolvia várias etapas: apresentação da proposta de estudo na sala de aula;
apresentação e discussão dos resultados parciais na sala de aula e com o professor
individualmente. Em todas as fases, os grupos apresentavam relatos escritos ao
professor. Os resultados apontam para uma nova organização da sala de aula, com
a inserção da ferramenta computacional, o novo papel do professor – organizador de
tarefas e orientador dos alunos – e uma participação mais ativa dos alunos no
processo de fazer matemática.
Nessas duas situações, portanto, em que se fez uso de mídias eletrônicas,
o computador e a calculadora gráfica, respectivamente, retratam formas de uso de
ferramentas computacionais que vão de encontro à forma requerida pelos
alunos-professores, uma vez que nas duas situações os estudantes foram postos em
contato com as mídias computacionais antes de “dominarem” o conteúdo. O
computador e a calculadora foram usados justamente para ajudar os alunos na
compreensão/apreensão de conceitos matemáticos.
No primeiro enfoque note-se que prevaleceu o envolvimento dos alunos
em atividades de resolução de problemas, nas quais usavam o computador por meio
da linguagem LOGO. As atividades eram elaboradas pela professora a qual nelas
buscava abranger os conteúdos matemáticos inerentes à série. Ao resolverem os
problemas, os alunos estavam apreendendo os conceitos matemáticos. Destaque-se
o papel do professor na escolha das atividades a serem desenvolvidas e do software
em uso.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
105
No segundo enfoque prevaleceu o trabalho em grupo envolvendo os
alunos na construção de modelos matemáticos vindos de situações reais por eles
mesmos escolhidas. Nesse enfoque, o professor também desempenhou papel
preponderante, no entanto os alunos tiveram uma liberdade maior na escolha de
seus próprios problemas. O professor funcionou muito mais como o orientador na
escolha dos estudantes.
Assim, desses dois enfoques é possível dizer que as ferramentas
computacionais tiveram papel preponderante em uma nova forma de se conduzir a
aula de matemática. É provável que também tenham influenciado nas concepções de
Matemática dos alunos e nas atitudes dos professores perante a Matemática e o
ensino da disciplina, no entanto não é possível dizer que, fazendo uso dessas
ferramentas, os alunos apreenderam com mais facilidade os conceitos matemáticos
envolvidos.
Voltando ao nosso estudo, somos levados a crer, portanto, que talvez só
tivesse sido possível detectar concepções diferentes das mencionadas pelos nossos
alunos-professores, se eles tivessem tido a oportunidade de também “experienciar”
formas de uso do computador como as mencionadas nos enfoques descritos
anteriormente. Desse modo, poderiam ver o computador sendo usado, não apenas
após as explicações do professor, as demonstrações, as aplicações (os exercícios),
mas como instrumento passível de uso durante todo o processo de fazer
Matemática.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
106
5.1.2. O computador nos Processos de Formação do Professor de Matemática (inicial ou continuada).
Como já discutimos no cap. 2 deste estudo, a preocupação com a
formação do professor de Matemática, incluindo os novos instrumentos tecnológicos,
especialmente o computador, manifestou-se desde que o uso desses instrumentos
começou a ser cogitado nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática. É
corrente entre os pesquisadores da área que o professor é o responsável direto pela
viabilização desse uso na sala de aula. Nesse sentido, vários programas de
formação de professores foram desenvolvidos com esse objetivo (VELOSO, 1991;
HOYLES, 1992; NOSS & HOYLES, 1996; VALENTE, 1996; VALENTE & ALMEIDA,
1997). Contudo, a mesma preocupação não se manifestou nos cursos de formação
inicial - as licenciaturas, no caso brasileiro. Só mais recentemente, com as novas
propostas curriculares, é que essa necessidade tem se manifestado com mais força
e objetividade (ver cap. 2 – novas tendências para licenciatura em Matemática
(BERTONNI, 1995; PEREZ, 1997).
Assim, a tendência é que desde a formação inicial, os licenciandos
possam viver experiências usando as novas tecnologias informáticas – em particular
o computador - integradas às suas atividades de ensino, na expectativa de que
possam ingressar na profissão mais seguros dos desafios que terão que enfrentar,
na sala de aula e na sociedade em geral, em relação àquelas ferramentas. No nosso
estudo, foi possível detectar que os alunos-professores também estão conscientes
dessa necessidade e de que precisam aprender a dominar o computador para usá-lo
nas suas salas de aula. Para isso vêem aspectos importantes no uso do computador
nas disciplinas da Licenciatura em Matemática.
5.1.2.1 - A dimensão social do computador
Reconhecidamente, o computador é visto como o símbolo do progresso, a
ferramenta indispensável para grande parte das atividades humanas, portanto saber
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
107
usá-lo torna-se uma exigência da sociedade atual. No domínio do nosso estudo, os
alunos-professores são de mesma opinião. Para eles, saber usar o computador
significa estar “sintonizado” com o mundo moderno, tão bem manifesto nas palavras
de um dos entrevistados: “ter um conhecimento melhor dessa informática que a
gente hoje não pode abrir mão, que hoje em dia sem computador não dar”(E7).
Além disso, para eles, usar o computador está se tornando uma exigência
do trabalho, uma vez que as escolas estão se modernizando, implantando
laboratórios de informática e exigindo do professor competência para usá-lo. Assim,
parece que os alunos-professores se vêem diante do inevitável, uma realidade da
qual não podem mais fugir (NÓVOA & MAIA, citado por PENTADO SILVA, 1997).
Usar o computador, portanto, representaria estar mais bem preparado ao exercício
da profissão, atender às exigências da escola, que também se moderniza e,
sobretudo, contribuir para uma melhor formação dos alunos nos níveis fundamental e
médio, capacitando-os para o mercado de trabalho, cada vez mais exigente em
relação ao domínio de novas tecnologias.
É natural, portanto, que em sua formação o futuro professor de
Matemática possa adquirir experiência com computadores usando-os diretamente
nas suas disciplinas de Matemática. Em nosso estudo, ainda que os
alunos-professores não tenham tido a oportunidade de conhecer uma gama maior de
softwares, também parecem concordar com isso, conforme expresso nas palavras do
entrevistado E1:
(...) agora aqui mesmo como aluna, eu acho que muitas matérias
deveriam já está usando (...) se tá formando professores para
trabalhar lá fora (...) e essas novidades não estão sendo usadas aqui
dentro da universidade, como é que a gente vai aplicar lá na sala de
aula? (E1).
Além desse fragmento, outros ressaltam a importância e necessidade de
os alunos de licenciatura fazerem uso do computador durante sua formação, sendo
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
108
essa a forma mais natural de se apropriarem da ferramenta. Assim, acreditamos
que, para os alunos-professores, a oportunidade de usar o computador durante sua
formação resultaria em uma melhor preparação, tanto no sentido social, ou seja,
estar mais bem preparado para enfrentar os desafios da sociedade tecnológica,
quanto no âmbito profissional, uma vez que é cada vez mais exigido do professor o
uso de ferramentas tecnológicas em suas aulas.
5.1.2.2 O Computador e as Disciplinas do Currículo
Para o professor de Matemática em particular, o computador representa
uma ferramenta com inúmeras possibilidades de uso. Nenhuma disciplina,
provavelmente, tem recebido tanta atenção quanto ela, talvez justificado por suas
próprias características e pela relação estreita que sempre existiu entre a Matemática
e o desenvolvimento do computador (BRETTON, 1991; FEY, 1991; PAVELLE et ali,
1991; KAPUT,1992). Assim, há no mercado um volume considerável de softwares
desenvolvidos especialmente para uso nas mais diferentes disciplinas de
Matemática, Cálculo, Álgebra e Geometria, por exemplo, têm tido atenção especial.
Tomando o nosso estudo, os entrevistados ressaltam como o computador
poderia integrar-se nas disciplinas de Matemática do currículo - manifesto nas
entrevistas E1, E2, E3, E9, E10, vejamos um fragmento da E10 a esse respeito:
(...) Desde a básica (Matemática Básica), que é aquela parte que a
gente faz uma revisão que tem muita expressão para simplificar:
simplificar expressão, definir uma função. Então desde a Matemática I
até Matemática V, dá para aplicar, que foi as Matemáticas que eu
estudei, dá para utilizar todas aquelas atividades, sem problema
nenhum e eu acho com muito mais facilidade, tranqüilo (...).
Para os entrevistados, portanto, usar o computador nas disciplinas de
Matemática poderia resultar em um melhor aprendizado e, consequentemente,
melhor desempenho nas disciplinas, enquanto alunos. Como professores dos
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
109
Ensinos Fundamental e Médio, tal uso poderá se reverter em experiência e
segurança, para que também possam usar com seus alunos em suas salas de
aulas.
Não nos esqueçamos de que estamos lidando com uma situação na qual
os nossos entrevistados são alunos de um curso de licenciatura cuja maioria é
formada de professores, sendo que alguns, por exemplo os entrevistados E1, e E10
e E13, vivem o desafio de usar o computador em suas aulas. Isso nos faz pensar na
preparação que deveriam ter para saber lidar com essa situação. Acreditamos que
eles não teriam tempo para fazer uma preparação extra, haja vista precisar dividir
seu tempo entre o trabalho na escola e o curso na universidade. Assim, antes de
tudo, essa preparação teria que acontecer no decorrer do curso, nas suas disciplinas
da licenciatura.
Na discussão sobre as novas tendências a serem observadas nas
licenciaturas em Matemática abordada no cap. 2 - seção 2.1.3, vimos que duas
delas se reportam à experiência matemática e informática na educação. A
experiência matemática ressalta a importância de o licenciando no seu processos
formativo ser submetido a metodologias variadas, ou seja, que possa viver
experiências significativas fazendo uso de diferentes materiais e métodos, dentre
eles, o uso do computador. Com isso, espera-se que o futuro professor esteja mais
bem preparado ao exercício da profissão e, sobretudo, mais seguro frente aos
desafios que encontrará pela frente. Já em informática educativa, é destacada a
importância de o futuro professor conhecer mais sobre a temática e as
possibilidades de uso dos novos instrumentos tecnológicos, especialmente o
computador, uma vez que, com o inegável avanço tecnológico, o professor precisa
incorporá-lo às suas atividades, sobretudo às de ensino.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
110
Um exemplo de licenciatura que contempla em seu currículo tal disciplina
é o curso de licenciatura em Matemática da UNESP de Rio Claro.44 Na disciplina,
os futuros professores de Matemática são envolvidos em atividades de leituras de
textos teóricos sobre o tema, acessam a internet, especialmente as páginas que
tratam do uso do computador no ensino e aprendizagem da matemática e têm
acesso a uma variedade de softwares educativos para uso nas aulas de Matemática
dos Ensinos Fundamental e Médio. Assim, podem analisá-los, compará-los e
avaliá-los, reconhecendo seus reais potenciais de uso45.
Retomando nosso estudo, nossa conclusão é que, na visão dos
alunos-professores, fica evidente a necessidade de que o atual processo de
formação ao qual estão sendo submetidos seja revisto. É preciso que as novas
tecnologias sejam incluídas nesse processo, uma vez que eles as vêem como
indispensáveis ao seu desenvolvimento profissional e para que esse uso ocorra
basta que sejam integradas às disciplinas de matemática da licenciatura.
5.1.3 - O Uso do Computador na Licenciatura em Matemática da UESC: situação atual e perspectivas
A partir do momento em que o computador começou a fazer parte do
dia-a-dia das pessoas, mudanças profundas aconteceram, de tal sorte que ele tem
provocado uma verdadeira revolução na sociedade e no “mundo do trabalho” em
particular (SCHAFF,1996). Todavia, somos obrigados a concordar com o fato de que
o mesmo não ocorreu com a educação, ou seja, o computador não se inseriu na
escola com a mesma força e poder de mudança como o presenciado em outros
setores (PAPERT, 1995; PRETTO, 1997; DEMO, 1997). Alguns pesquisadores
acreditavam que as novas tecnologias – em particular o computador – provocariam
44 Implantada com a nova proposta curricular implantada nessa instituição, no entanto permanece como disciplina optativa. 45 As informação apresentadas são frutos da nossa convivência com a professora que tem ministrado a disciplina
e em conversas com os próprios alunos envolvidos.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
111
uma verdadeira revolução nos processos de ensino (PAPERT, 1995), o que ainda
não aconteceu.
Podemos, então, perguntar: O que falta para que a escola, em todos os
seus níveis, incorpore definitivamente o computador em suas atividades, em
particular nas de ensino? Situando-nos no âmbito do nosso estudo, pudemos
constatar que os alunos-professores, ao apresentarem as condições em que o uso
do computador tem-se dado no curso de licenciatura em Matemática na UESC,
apontam alguns pontos importantes como a falta de formação dos docentes na
universidade e a falta de organização acadêmica prevendo esse uso. Indicam
também algumas ações que poderiam ser empreendidas para que tal ferramenta
passasse a fazer parte das atividades de ensino, nas aulas de Matemática.
5.1.3.1 - A falta de preparação dos docentes na universidade
O primeiro ponto ressaltado pelos alunos-professores – que tem
inviabilizado um uso mais efetivo do computador nas aulas de Matemática, diz
respeito à falta de preparação dos decentes na universidade para usá-lo. Para os
entrevistados, os docentes de Matemática desconhecem os softwares existentes e,
sobretudo, apresentam uma grande resistência em relação a esse uso,
potencialmente manifesto nas entrevistas E1, E3, E5, E9 e particularmente no
fragmento da E10 a seguir:
(...) falando particularmente da UESC (...) o que a agente observa é (...)
muitos professores eles não tem afinidade ou diria, até certo modo
interesse em passar esse tipo de informação via computador. Alguns,
infelizmente, ainda são resistentes a essa mudança (...) (E13).
Concordamos com a colocação do entrevistado. A falta de interesse dos
professores pelo uso do computador nas suas aulas, mais do que falta de
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
112
conhecimento, pode se tratar de uma resistência a mudanças, uma vez que os
professores na universidade não vêem razões para mudar.
Pesquisadores como BENAVENTE, (1990), THOMPSON, (1992); PONTE,
(1995); PENTEADO SILVA, (1997), em diferentes estudos, demonstraram
preocupação com os aspectos relacionados com a resistência às mudanças
apresentadas pelos professores, sobretudo aquelas mais profundas e repletas de
implicações, como é o caso da inserção do computador nos processos de ensino e
aprendizagem.
Inspiramo-nos nesses autores para fazer também algumas conjecturas
sobre as resistências que os professores apresentam a mudanças. Essas podem
tratar-se de uma acomodação natural a uma situação já estabilizada - os professores
não vêem razões para mudar -; podem ser um sentimento de medo ou incerteza
perante o novo - os professores teriam medo de ser superados pelos alunos, uma
vez que o computador parece mais pertencente ao mundo dos jovens; ou, ainda,
podem estar relacionadas a uma possível competição entre o professor e o
computador.
Além disso, PENTEADO SILVA (1997) aponta um outro aspecto que pode
representar uma barreira para um engajamento maior do professor em propostas de
mudança, relacionadas com a implantação do computador na escola. Segundo ela,
as decisões de implantar computadores na escola vêm sempre da direção, dos
governantes, quase sempre sem a participação dos professores e, ainda, as
decisões de como deve ser usado são centralizadas nas mãos de técnicos e
especialistas em informática, cabendo ao professor apenas executá-las.
Situando-nos no nosso estudo, no caso da UESC, a decisão de implantar
um laboratório de informática no departamento não partiu dos professores, nem
mesmo puderam participar das deliberações sobre os objetivos de tal proposta. Por
outro lado, também não foram obrigados a usá-lo em suas atividades. O laboratório
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
113
foi posto à disposição dos professores e, no início da sua implantação, foram
oferecidos alguns cursos destinados especialmente aos professores (ver introdução
desta dissertação). Não houve, portanto, uma preparação demorada e consistente
dos professores sobre as questões e implicações resultantes desse uso.
Assim, concordamos uma vez mais com os alunos-professores: os
professores do curso de Matemática da UESC necessitam se inteirar mais das
possibilidades de uso do computador nos processos de ensino e aprendizagem, uma
vez que são elementos importantes no processo, e, enquanto continuarem alheios a
isso, o computador, certamente, continuará sendo subutilizado. Mesmo que os
alunos-professores cobrem mais, que o departamento também passe a cobrar, sem
um envolvimento espontâneo e consciente daqueles professores, será difícil uma
alteração no quadro atual.
5.1.3.2 - Empenho do Departamento
Nesse ponto, nossos entrevistados vêem como motivo que inviabiliza o uso do
computador nas aulas de Matemática, a falta de empenho da instituição, por meio de
seu departamento competente. Para os alunos-professores é preciso que condições
sejam criadas, para que professores e alunos possam usar o computador nas aulas
de Matemática, bem expresso no trecho da entrevista a seguir:
(...) a questão (...) eu acho que é da organização acadêmica, nessa questão
dos Departamentos pararem para poder analisar se é viável ou não, se pode
ser ou não (...), tem essa questão também da organização, não falo só da
organização do professor, mais da organização dos Departamentos, mais
especificamente o Departamento de Ciências (...) (E9).
Segundo Lévy (1996) “o fracasso de uma informatização pode estar
relacionado a detalhes mínimos” (p.54) que pode ser falta de pessoas aptas a tocar
os projetos, competência técnica, uso de softwres inadequados, etc. Tomando nosso
estudo, parece correto afirmarmos que o fracasso na utilização do computador nas
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
114
aulas de Matemática é reflexo da falta de pessoal aptos a usá-lo e, sobretudo, falta
de organização da instituição por meio de seus departamentos.
Entretanto, acreditamos que o posicionamento de nossos entrevistados,
em relação à falta de organização institucional como um dos responsáveis pelo
pouco uso do computador, pode estar relacionado ao fato de também serem
professores em escolas de Ensino Fundamental e Médio. Desse modo, parecem
reconhecer que para que, a máquina se torne mais útil aos processos de ensino e
aprendizagem, faz-se necessário um melhor encaminhamento das questões de
caráter administrativo. Portanto, sob tal perspectiva, o fracasso de uma proposta de
informatização, nem sempre pode ser de responsabilidade exclusiva do professor,
mas atinge todos os atores envolvidos no processo: o administrativo, os professores,
alunos, corpo técnico etc.
5.1.3.3 – Possíveis ações
Os entrevistados reconhecem que algumas ações poderiam ser postas em
prática para viabilizar o uso do computador nos processos de ensino e
aprendizagem. Nesse tocante, destacam a necessidade de os professores na
universidade passarem por um processo de formação e uma maior organização dos
órgãos competentes - o Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas e o
Colegiado de Curso, no caso da UESC. E ainda, enquanto alunos do curso de
licenciatura, podem e devem ter uma atitude mais crítica em relação ao uso do
computador, buscando por si mesmos ou cobrando dos professores esse uso.
Quanto à organização acadêmica, segundo eles, deve passar inclusive
pela reformulação dos currículos, nos quais já deve estar prevista a utilização do
computador nas disciplinas (entrevistas E2, E12, E3, E6, cap. 4, seção 4.3).
Podemos imaginar, do ponto de vista dos alunos-professores, uma situação que se
apresenta por demais complexa, ao ponto de ser preciso reformular o currículo para
que o computador passe a ser utilizado. Concordamos que faz-se necessário uma
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
115
maior organização do departamento para criar condições de uso do computador e
que o momento é favorável a uma discussão mais intensa sobre o uso de novas
tecnologias para a formação dos professores, haja vista está em elaboração uma
nova proposta curricular para as Licenciaturas da UESC.
A implantação do laboratório de informática pelo Departamento deu-se pela
necessidade de modernização da universidade e, de certo, não faltou quem achasse
que isso seria suficiente, para que todos passassem a usar o computador em suas
atividades. Mostra, portanto, uma visão de que basta a introdução do computador no
cenário educacional, para que este mude. Tal visão sempre foi condenada pela
comunidade de educadores da área, prevalecendo a idéia de que a introdução do
computador no cenário educacional necessariamente deve vir acompanhada de um
projeto de uso, em que devem estar explicitados os objetivos que se almeja com tal
uso bem como suas implicações.
Os alunos-professores parecem concordar com isso, também, quando
colocam a necessidade de constar do currículo o uso do computador nas disciplinas,
inclusive com definição dos horários de uso do laboratório. Eles vêem que o fato de
existir um laboratório de informática em nada contribuiu para a mudança nas suas
aulas; vêem, ainda, o laboratório sendo usado para outras atividades, tais como
cursos de informática básica, enquanto professores e alunos são impedidos de usar
o laboratório. Para resolver o problema, já vêem a necessidade de um laboratório
exclusivo para as atividades de ensino.
As sugestões dos entrevistados, em cujas aventam ações que poderiam
ser empreendidas com vistas a uma melhor utilização do computador nas aulas de
Matemática, tais como: preparação dos docentes na universidade, mais empenho do
departamento, um posicionamento mais crítico e participativo dos alunos etc. Essas
sugestões parecem compor uma intricada rede com pontos/nós e
segmentos/conexões repletos de significações, constituindo um hipertexto (Lévy,
1996).
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
116
Lévy (1996)46 utiliza a metáfora do hipertexto para enfatizar o papel das
tecnologias informáticas na constituição das culturas e inteligência dos grupos. Nas
palavras do autor: O hipertexto é talvez uma metáfora válida para todas as esferas
da realidade em que significações estejam em jogo (Lévy, p. 25). Para que múltiplas
interpretações possam ser dadas ao modelo hipertextual, Lévy o caracteriza em seis
princípios básicos: princípio da metamorfose, princípio de heterogeneidade, principio
de multiplicidade e de encaixe das escalas, princípio da exterioridade, princípio de
topologia e princípio de mobilidade dos centros. No âmbito do nosso estudo,
tomamos dois desses princípios, o princípio de metamorfose:
A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode
permanecer estável durante um certo tempo, mas estabilidade é em si
mesma fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho
estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam eles
humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos
técnicos, componentes destes objetos, etc.(p. 25),
e o princípio de mobilidade dos centros:
A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos
centros que são como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando
de um nó para outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de
pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por um
instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para
desenhar mais à frente outras paisagens do sentido. (p. 26).
Consideramos oportunos os dois princípios para pensarmos sobre as
sugestões vindas dos alunos-professores visando a uma melhor utilização do
computador nas aulas de Matemática. Entendemos que tais sugestões parecem
estar imbricadas em uma rede sociotécnica em que os diversos atores envolvidos,
46 Autores como MACHADO (1995), PENTEADO SILVA (1997) e DEMO (1997), também utilizam da metáfora do hipertexto em seus trabalhos.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
117
tais como: professores, alunos, projeto curricular, órgão administrativo, assessores
técnicos etc., são importantes e necessários ao bom funcionamento da rede
hipertextual. Não há, portanto, um elemento central ou mais importante, mas
qualquer um em determinado momento pode representar o centro da rede; assim, a
configuração da mesma muda constantemente.
É com base nisso que considerando as sugestões dos alunos-professores
para um melhor uso do computador nas aulas de Matemática como uma intricada
rede hipertextual. Assim, somos levados a reconhecer que muitos esforços precisam
ser despendidos com vistas a uma utilização mais efetiva do computador nas
disciplinas de Matemática da Licenciatura, no caso da UESC. E esses esforços
devem ser conduzidos com o objetivo de encurtar a distância, entre a possibilidade
de uso e a efetiva utilização do computador nas aulas de Matemática.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
118
5.2 Conclusões Iniciais - Os dados e a literatura
O que de mais importante foi dito pelos alunos-professores que não
encontramos respaldo na literatura? Que pontos sobre o uso do computador no
ensino e aprendizagem da matemática a literatura destaca como sendo importante
que não conseguimos detectar na fala dos entrevistados? Responder esses
questionamentos é que nos propomos nesse momento.
5.2.2 – Os dados indicam e a literatura não aponta respostas
Como já abordamos anteriormente - seção 4.3, em dado momento da
nossa análise tivemos de “olhar” o que os dados nos diziam, extrapolando a nossa
questão orientadora. Assim, do que de mais importante abordado pelos
entrevistados, com pouco respaldo na literatura, destacamos dois pontos: primeiro, a
necessidade dos docentes na universidade, sobretudo os professores de Matemática
de cursos de licenciatura, passarem por um processo de formação; segundo, a
necessidade de um melhor encaminhamento das questões administrativas com
vistas a criar condições de uso do computador por parte de professores e alunos.
Em relação ao primeiro ponto, a literatura tem destacado a importância de
os professores serem preparados para utilizar em suas atividades de ensino as
novas tecnologias e, nessa direção, um número considerável de pesquisas foram
conduzidas (ver cap. 2 - seção 2.2). Tais pesquisas, entretanto, têm-se restringido à
formação continuada de professores para atuação nos níveis de Ensino Fundamental
e Médio. No que tange à formação de docentes da universidade para que possam
integrar o computador a suas atividades de ensino, não encontramos a mesma
preocupação. Assim, esse parece ser um importante ponto a ser tratado, sobretudo,
aqueles que trabalham com novas tecnologias e formação continuada de
professores, uma vez que são os docentes da universidade que formam o futuro
professor dos Ensinos Fundamental e Médio.
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
119
Já o segundo ponto, destacado como sendo importante e, em certo
sentido, novo em relação à literatura, diz respeito às questões de ordem
administrativa, ou seja, o papel atribuído à instituição escolar, tanto de ensino
superior quanto de outros níveis, em criar condições favoráveis de uso do
computador para seus professores e alunos.
No âmbito de nossa pesquisa, os dois pontos destacados se constituíram
em aspectos importantes, uma vez que na visão dos alunos-professores se
apresentam como condicionantes para justificar o pouco uso do computador nas
aulas de Matemática. Uma vez mais, acreditamos que a forma como os
entrevistados se posicionaram quanto àqueles pontos, parece estar relacionada à
característica peculiar de nossos entrevistados, que, além de alunos de uma
licenciatura, são também professores em outros níveis de ensino.
5.2.2. – O que a literatura destaca como importante que não encontramos respaldo
nos dados desta pesquisa
De um modo geral, a forma acelerada com que o computador tem sido
integrado às atividades humanas tem propiciado novos arranjos à vida fora da
escola, forçando que mudanças ocorram também dentro da escola. Assim, a escola
em todos os seus níveis passa, ou precisa passar, por uma transformação para
ajustar-se à nova configuração, revendo prioridades e sistemas tradicionalmente
estabelecidos. Além disso, a integração do computador às atividades humanas
sugerem novos estilos de conhecimento, tornado-se um dispositivo técnico por meio
do qual compreendemos o mundo e organizamos nossas experiências.
Em relação à integração do computador nas aulas de matemática abre-se
uma discussão sobre o currículo de Matemática em todos os níveis, uma vez que,
com o seu uso, torna-se desnecessário continuar enfatizando alguns conteúdos, por
exemplo. Em um ensino no qual se usam apenas ferramentas de lápis e papel é
dado ênfase aos cálculos aritméticos e memorização de fórmulas, no entanto, tais
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
120
atividades tornam-se obsoletas quando se faz uso de novas tecnologias, em
particular o computador. Assim, uma das mais importantes tarefas da Educação
matemática hoje é a revisão dos currículos, em todos os níveis, para poder tirar
proveito das novas tecnologias.
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES
E CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 Um “passeio” pelo estudo
Ao nos aproximarmos do final deste trabalho, somos levados a tecer
algumas considerações e conclusões, que, por sua vez, não têm o caráter de
finalização, mas, sobretudo, indicar o que apreendemos no decorrer da pesquisa.
Portanto, o que nos propomos neste momento não é, simplesmente, apontar os
resultados a que chegamos ao final do trabalho de investigação, mas, buscar
evidenciar que estes foram construídos sobre limitações de natureza diversa, tais
como: de tempo, de metodologia, de conhecimento etc. Algumas pudemos perceber
e procuramos corrigi-las. Outras continuam a existir, no entanto, neste momento,
permanecem para nós ocultas.
Entretanto, entendemos que os limites existentes não implicam a fragilidade
do trabalho, ao contrário, apontam para a possibilidade de ele ser visto por outros
como uma investigação que não se deu por terminada, e, portanto, do que deixamos
de explorar, suficientemente, possa sê-lo, por outros ou por nós mesmos. Desse
modo, cada vez mais esperamos obter subsídios que venham a ajudar na melhoria
da formação inicial do professor de Matemática, especialmente no que diz respeito à
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
122
utilização do computador integrado às disciplinas da licenciatura, visto como um
instrumento que dispõe de um grande potencial para o ensino e aprendizagem da
Matemática.
Assim, tomaremos mais uma vez o próprio trabalho escrito, para que
possamos explicitar as conclusões a que chegamos. Para tanto daremos um
“passeio” por este estudo, retomando algumas das discussões nele empreendidas.
Iniciamos este trabalho apresentando nossas motivações e questões iniciais,
no qual explicitamos nosso interesse por computadores, mostrando que este
interesse de partida estava desligado de questões educacionais, vindas de nossas
experiências, utilizando-o e observando como ele se inseriu no “mundo do trabalho”,
alterando fortemente as relações ali existentes. De nossas primeiras experiências
fazendo uso do computador, também voltado para o ensino e aprendizagem da
Matemática, nasceu o interesse de vê-lo inserido nas atividades de ensino, em
particular de Matemática.
Passamos, então, a nos preocupar em delimitar uma questão orientadora, que
fosse de encontro as nossas motivações. Assim, nosso estudo teve como objetivo
principal conhecer e compreender a opinião de alunos-professores sobre o uso
do computador nas disciplinas de Matemática da licenciatura, em particular a
licenciatura em Matemática, da Universidade Estadual de Santa Cruz. Além da
escolha do problema, preocupamo-nos também com o referencial teórico que lhe
desse suporte. Nesse sentido, fizemos a revisão da literatura, centrando-nos em dois
temas: formação inicial de professores de Matemática, sobretudo destacando as
novas tendências previstas para essa formação e os desafios impostos pelas novas
tecnologias, em particular o computador. Como metodologia de pesquisa,
trabalhamos na perspectiva qualitativa e usamos a entrevista semi-estruturada para
coleta dos dados.
Capítulo 6 – Conclusões e Considerações Finais
123
Os resultados foram construídos tendo como pressuposto teórico a análise de
conteúdo qualitativa. Esse processo nos permitiu agrupar os dados em subtemas,
temas e eixos temáticos gerais, interpretando e explicitando a visão dos
entrevistados. Além disso, na análise e construção dos resultados fomos levados a
não olhar unicamente para a questão orientadora, mas estivemos atentos às
opiniões dos alunos-professores, destacando tudo que consideramos relevante tanto
em referência ao uso de computadores no ensino e aprendizagem da Matemática,
quanto em relação ao contexto de produção das entrevistas, quer dizer, quem nos
falava e sobre o quê nos falavam. No momento seguinte, preocupamo-nos em
“devolver” os dados, desta feita em relação a um referencial teórico, retomando a
literatura do cap. 2 e acrescentando novas referências, quando eram necessárias.
Portanto, nesse momento é-nos possível alinhavar tecer algumas conclusões sobre a
pesquisa.
6.2 A Questão Orientadora da pesquisa
Em relação à questão orientadora desta pesquisa, os dados
evidenciaram que os participantes vêem o computador como um elemento
importante e necessário aos processos de ensino e aprendizagem da Matemática.
O computador sobressai-se como o instrumento capaz de mudar,
substancialmente, o ensino e aprendizagem dessa disciplina - uns mais certos
disso, outros menos. Contudo, existe o consenso de que seu uso adquire
importância, cada vez mais necessária, à medida que a sociedade evolui e que a
sua utilização força mudanças nas normas do saber.
Percebe-se ainda, que os alunos-professores atribuem grande
importância ao uso computador para o seu próprio desenvolvimento matemático
bem como de seus alunos. Logo, vêem-no sendo usado além do âmbito de suas
disciplinas de Matemática, mas necessário ao ensino e aprendizagem da
Matemática nos níveis Fundamental, Médio e Superior.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
124
Além disso, a visão dos alunos-professores explicita que o uso do computador
nas disciplinas da licenciatura em Matemática depende de uma série de fatores, tais
como: a formação dos professores na universidade, a organização acadêmica,
dentre outros. Assim, para poderem usar o computador nas suas disciplinas de
Matemática, faz-se necessário que esses fatores sejam considerados.
6.3 Considerações sobre os resultados do Estudo
Os resultados do estudo evidenciam importantes aspectos inerentes ao
uso do computador, apontando para a necessidade de as questões e implicações
relacionadas ao seu uso, nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática,
sejam melhor trabalhadas. Por outro lado, evidenciam fortes contradições, uma vez
que os aspectos, ressaltando sua importância para o ensino e aprendizagem da
Matemática, parecem ser desconsiderados quando atribuem à aula expositiva um
papel central, prevalecendo a explicação do professor, às demonstrações formais,
exercícios de “fixação” do conteúdo, ou seja, práticas que caracterizam uma aula
tradicional. Dessa forma, o computador é relegado a máquina de calcular, sendo um
instrumento “útil”, após o aluno tomar conhecimento do conteúdo.
Entendemos que, talvez estejamos diante de um fato – que reforce as
fortes contradições nas respostas - a pouca experiência dos alunos-professores com
o computador sendo usado nos processos de ensino e a aprendizagem da
Matemática, uma vez que detectamos uma barreira entre os resultados que os
entrevistados esperam com uso do computador e o modo de conceberem esse uso,
ou seja, o momento em que o computador deve ser usado nas aulas de Matemática
e a que ele se destina.
Acreditamos que prováveis mudanças nessa forma de pensar advêm de
experiências concretas utilizando o computador integrado às disciplinas de
Capítulo 6 – Conclusões e Considerações Finais
125
Matemática e, sendo usado como um instrumento que auxilie os estudantes nas
conjecturas, formalizações, apreensão e reelaboração de conceitos matemáticos.
Nesse sentido, atividades de resolução de problemas e modelagem matemática
explorando recursos computacionais podem ser utilizadas, uma vez que tais
propostas têm-se constituído em bons exemplos de como trabalhar os conteúdos
matemáticos fazendo uso de novas tecnologias.
Além de, as colocações dos alunos-professores refletirem o que
esperam do computador, reforçam a necessidade de propiciar uma adequada
formação ao professor, em todos os níveis, para utilizar o computador em suas
atividades de ensino. Surge, assim, a necessidade de que cursos ou disciplinas
específicas sejam oferecidas com o intuito de permitir aos participantes conhecerem,
explorarem e avaliarem softwares destinados à área de Matemática dos ensinos
Fundamental, Médio e Superior.
Por exemplo, para os entrevistados, usar o computador em suas
disciplinas de Matemática significa a oportunidade de “dominarem” a ferramenta,
conhecendo suas potencialidades e, desse modo, também usá-la com seus alunos.
Por outro lado, para que o computador se torne uma realidade nas disciplinas de
Matemática da licenciatura, é preciso que os docentes também saibam usá-la, ou
seja, também tenham domínio sobre a ferramenta e reconheçam sua importância
para o ensino das disciplinas de Matemática do currículo.
São às experiências vividas durante cursos de formação (inicial ou
continuada) que propiciarão a necessária segurança ao professor para encarar os
desafios impostos pelas novas tecnologias e, sobretudo, saber escolher as formas
de uso do computador que venham a ser mais propícias à aprendizagem de seus
alunos. Entretanto, para que isso aconteça, faz-se necessário que as instituições
responsáveis pela formação do professor se dêem conta desse fato e procurem se
adequar às novas demandas da sociedade, em particular do universo pedagógico.
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
126
Há três décadas que o computador se faz presente no cenário
educacional, tendo sido usado inicialmente nas universidades, especialmente nos
setores especializados no desenvolvimento de programas de computação e
naqueles ocupados com a solução de cálculos complexos, difíceis de serem
manipulados manualmente. Com a evolução da tecnologia, sobretudo, com o
surgimento do computador pessoal (o microcomputador), o seu uso também se
estendeu a outros cenários educacionais, incluindo os demais níveis de ensino. No
entanto, a inserção do computador nas atividades de ensino ainda não se deu, de
modo a provocar mudanças significativas no setor; o computador permanece distante
da maioria das salas de aula. Que razões são apresentadas para tal estado de
coisas? Por que a escola não acompanhou o restante da sociedade em relação às
novas tecnologias? O que precisa ser feito, para que esse quadro se reverta?
Com certeza, não faltam respostas às questões acima colocadas, embora tais
respostas muitas vezes sejam meras justificativas que não convencem e, sobretudo,
não apresentam soluções concretas. No âmbito do nosso estudo, tomando o
posicionamento dos entrevistados, podemos deduzir que para a inserção do
computador no ensino - nas aulas de Matemática em particular - requer uma
organização acadêmica, não se restringindo apenas à implantação de um laboratório
de informática, como foi o caso da UESC. Aliada à aquisição de computadores, é
preciso o envolvimento de todos: órgãos de chefia, professores, alunos e técnicos
em informática, a fim de que projetos individuais ou coletivos possam ser elaborados
visando a uma melhor utilização desses equipamentos.
Assim, a necessidade de um laboratório exclusivo para as atividades de
ensino, conforme assinalam os entrevistados, parece plausível, uma vez que o
existente, hoje, não está mais disponível para os alunos-professores e professores
de Matemática; o espaço que lhes pertencia e não souberam ocupar agora pertence
aos “informatas”. No entanto, se a implantação de um novo laboratório não vier
acompanhado de um projeto de uso, mais uma vez será subutilizado ou ocupado por
outros.
Capítulo 6 – Conclusões e Considerações Finais
127
6.4 Além dos Resultados: recomendações de uso do computador no
Curso de Licenciatura em Matemática da UESC
No nosso estudo, em nenhum momento os entrevistados se reportaram à
necessidade de uma disciplina específica para tratar das questões da informática na
educação. Eles se prenderam apenas às disciplinas constantes do currículo,
sobretudo às de Matemática. Acreditamos que eles se balizaram nos cursos por nós
ministrado (ao quais já nos reportamos em outros momentos) para vislumbrar as
possibilidades de uso do computador nas suas salas de aula.
Entretanto, a nosso ver, além de um uso regular do computador nas
disciplinas de Matemática do curso, os alunos da licenciatura poderiam conhecer
mais sobre informática na educação e as possibilidades de uso do computador em
disciplinas como Didática, Metodologia e Prática de Ensino, que são disciplinas
constantes do currículo e de muita importância para a formação do
educador-professor . Tomamos por referência a nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação – LDB, no seu art. 65, que prevê para a formação docente47 prática de
ensino de no mínimo trezentas horas. Entendemos, portanto, que tal disciplina deve
se constituir na oportunidade de o futuro professor aplicar diferentes metodologias
em situações reais e, de preferência, fazendo uso também de diferentes materiais
pedagógicos, tais como computador e calculadora.
Situando-nos no âmbito do nosso estudo, no caso da UESC, em que os
alunos de Licenciatura em Matemática ao cursarem a Disciplina Prática de Ensino já
detém uma considerável experiência em sala de aula, a nossa sugestão é que esses
alunos-professores sejam envolvidos em projetos de extensão enquanto realizam o “
47 Exceto para a educação superior
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
Maria Deusa Ferreira da Silva
128
“estágio supervisionado”. Tais projetos, nos quais poderão participar na elaboração
e implementação, podem, por exemplo, constar cursos de formação continuada a
serem oferecidos aos professores dos Ensinos Fundamental e Médio. Nesses
cursos poderão fazer uso de diferentes metodologias e materiais didáticos, incluindo
novas tecnologias que tem chegado, de maneira geral, primeiro a universidade do
que a escola pública . Assim, acreditamos que tais procedimentos poderão propiciar
aos alunos-professores a oportunidade de refletirem e avaliarem sua prática docente
e, sem dúvida, contribuir de forma significativa para o desenvolvimento profissional
de todos os envolvidos.
Quanto à inclusão de uma disciplina específica de informática na
educação, fica também como sugestão nossa a ser apreciada na nova proposta
curricular para a licenciatura em Matemática da UESC, sendo discutida. A exemplo
do que já ocorre com a licenciatura em Matemática da UNESP de Rio Claro, seria a
oportunidade para os alunos da licenciatura penetrarem no mundo da informática,
conhecendo e avaliando seus reflexos na educação, em particular nos processos de
ensino e aprendizagem da Matemática.
6.5 Considerações Finais: relevância do estudo
Na seção 1.3, do capítulo 1, desta dissertação, explicitamos qual poderia
ser a relevância do estudo, tanto em relação ao local de sua realização quanto no
que tange à Educação Matemática. Além disso, quando nos propusemos ouvir
estudantes de um curso de licenciatura em Matemática, que por sua vez também
professores de Matemática dos Ensinos Fundamental e Médio, buscamos uma
aproximação com Freire (1981).
Este autor defende e ressalta a importância de ouvir a voz dos educandos
na escolha dos conteúdos bem como na forma de “trabalhar” esses conteúdos.
Capítulo 6 – Conclusões e Considerações Finais
129
Nesse sentido, os educandos não podem ser vistos como “baldes” vazios: vazios de
conteúdo, vazios de conhecimento; enquanto que os educadores, “seres superiores”
que enchem os ignorantes de conhecimento. Nesse sentido, a educação não pode
se dar como o arquivamento de um “depósito”, em que o arquivado é o próprio
educando, perdendo, assim, seu poder de criar, opinar e escolher. Logo, uma
proposta educacional qualquer só é verdadeiramente inovadora/educativa, se
respeita a opinião dos educandos em sua elaboração.
Com base nas idéias de Paulo Freire, analisando a literatura e este
estudo, reconhecemos a importância e necessidade de criticamente escutarmos e
dialogarmos com os alunos-professores, sobretudo considerando suas
características peculiares. Em virtude de serem alunos e professores, se por um lado
sofrem a desvantagem de tardiamente concluir a graduação na universidade, por
outro lado, cedo ganham experiência e vivência em sala de aula, assumem
responsabilidades e tomam decisões, participando ativamente de um ambiente
escolar. Assim, acreditamos que ouvi-los e dialogarmos com eles sobre propostas
inovadoras, pode representar uma maior aproximação entre a universidade e as
escolas de Ensinos Fundamental e Médio. Assim como, indicar novos caminhos para
a temática formação de professores (inicial ou continuada) que tanto tem envolvido
uma considerável parcela da comunidade de Educação Matemática.
Nesse momento, após termos ouvido os alunos-professores e tornado
explicitas suas opiniões, concepções e sentimentos - por vezes contraditórios, de
certo, mas, sem dúvida suas opiniões, tomamos o pensamento freireano, para
fazermos algumas interrogações sobre a relevância deste estudo; seja para o local
onde foi realizado, seja para a Educação Matemática, seja para todos aqueles que
porventura venham tomar conhecimento deste estudo:
1- Foi mesmo relevante ouvir os alunos-professores sobre como gostariam de usar o
computador em suas aulas de Matemática?
O Computador na Formação Inicial do Professor de Matemática: um estudo a partir das perspetivas de alunos-professores
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130
2- Até que ponto este trabalho trouxe de relevante para uma nova discussão sobre a
formação inicial de professores de Matemática?
3- A partir deste estudo é possível organizar um projeto de uso do computador em
cursos de formação de professores em que os futuros professores possam
participar na sua elaboração?
Ao invés de encerrar este trabalho tentando responder tais
questionamentos, preferimos encerrá-lo com o pensamento de Paulo Freire (1983):
Em todo homem existe um ímpeto criador. O ímpeto de criar nasce da
inconclusão do homem. A educação é mais autêntica quanto mais
desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser
desinibidora e não restritiva. É necessário darmos a oportunidade para que
os educandos sejam eles mesmos. Caso contrário, domesticamos, o que
significa a negação da educação [...] (p.32).
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