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ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 1
I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ........................................................................ 3
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................................................... 3
2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA ............................................................................................... 5
II. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E MEIO NATURAL ......................................................................... 7
2.1. AS OFERTAS GEOGRÁFICA E NATURAL ................................................................................................... 7
III. ANTECEDENTES HISTÓRICOS .........................................................................................................10
3.1. DESCOBERTA E POVOAMENTO DE RIBEIRA GRANDE ...............................................................................10 3. 2. PARTICIPAÇÃO DE RIBEIRA GRANDE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL .....................................................14 3.3. RIBEIRA GRANDE BERÇO DA SOCIEDADE CABO-VERDIANA ....................................................................16
IV. TURISMO EM CABO VERDE ..............................................................................................................19
4.1. ASPECTOS GERAIS ................................................................................................................................19 4.2. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS ..................................................................21 4.3. POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DA CIDADE VELHA ................................................................................23 4.3.1.TURISMO DO MAR ...............................................................................................................................23 4.3.2.TURISMO DE CAMPO E DE MONTANHA .................................................................................................25 4.3.3. TURISMO CULTURAL E RELIGIOSO ......................................................................................................27 4.3.3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................................27 4.3.3.2. OS MONUMENTOS HISTÓRICOS ........................................................................................................29 4.3.3.3. AS FESTIVIDADES DE ROMARIAS ......................................................................................................33 4.3.3.4. A ARTE ...........................................................................................................................................34 4.3.3.4.1. A GASTRONOMIA .........................................................................................................................35 4.3.3.4.2 ARTESANATO ................................................................................................................................37 A) A PANARIA CABO-VERDIANA ..................................................................................................................37 B) A CERÂMICA ...........................................................................................................................................39 C) A CESTARIA ............................................................................................................................................39 D) A ESTEIRA ..............................................................................................................................................40 E) A MÚSICA DE CABO VERDE.....................................................................................................................41
V. O TURISMO E OS SECTORES ECONÓMICOS ..................................................................................51
5.1.O TURISMO E O SECTOR PRIMÁRIO .........................................................................................................51 5.1.1. AGRICULTURA, PECUÁRIA, SILVICULTURA ..........................................................................................51 5.1.2. A PESCA ............................................................................................................................................54 5.2. O TURISMO E O SECTOR SECUNDÁRIO ....................................................................................................56 5.3. O TURISMO E O SECTOR TERCIÁRIO .......................................................................................................58
VI. A PROCURA E OS FLUXOS TURÍSTICOS.........................................................................................65
VII. CONSTRANGIMENTOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE VELHA ........68
7.1. RECOMENDAÇÕES COM VISTA À SUPERAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS .............................72
CONCLUSÃO ...............................................................................................................................................79
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................................81
ANEXOS........................................................................................................................................................85
1
INTRODUÇÃO
O objectivo deste trabalho não é preservar a memória e nem relembrar o passado. É
contribuir para que se tenha uma nova visão em relação à Cidade Velha, hoje Cidade de
Santiago, como potencial turístico, fazendo com que as pessoas vejam através das rochas,
das águas cristalinas do mar, do sol, do solo agreste, do horizonte montanhoso, dos vales,
das encostas; das muralhas antigas e dos sorrisos das suas gentes, atractivos turísticos de
grande dimensão a desabrochar.
Numa perspectiva histórica e tomando como suporte teórico a corrente inscrita na
denominada História Actual ou Imediata defendida pela História Nova, pretendemos que
este nosso contributo tenha uma perspectiva actualizante, virada para o futuro.
Tendo em conta que o turismo é um sector económico em constante valorização e
crescimento no mundo inteiro, não podemos deixar de considerar as ideologias já
produzidas pelos doutos como a forma mais correcta de enquadrar o nosso trabalho.
Apesar da diversidade de opiniões, começamos pela definição de alguns conceitos cuja
versão achamos mais adequada às características da Cidade Velha como potencial área
para o desenvolvimento turístico.
O meio ambiente é um factor imprescindível para o desenvolvimento do turismo.
Assim sendo quisemos demonstrar que o espaço ambiental da Cidade Velha constitui
oferta turística muito importante que deve-se preservar, proteger e potencializar. Mas, falar
do ambiente como recurso natural inclui o homem que não se valoriza sem a sua obra. Daí
que o legado histórico que nos foi deixado obriga-nos a recuar no tempo desde os
primórdios da descoberta, do povoamento e colonização para que o homem cabo-verdiano
possa ser identificado e, desta forma, analisar o contributo que a Cidade de Ribeira Grande
2
deu para o surgimento e evolução do mesmo e da sociedade cabo-verdiana e, ao mesmo
tempo, sugerir propostas de melhorias para que este legado histórico seja potencializado
como uma oferta turística.
As condições ambientais, geográficas, históricas, económicas e sociais nos
persuadem a propor o desenvolvimento dos seguintes tipos de turismo: Turismo do Mar,
Turismo do Campo e da Montanha, Turismo Cultural e Religioso.
Considerando o carácter interdisciplinar deste sector económico somos obrigados a
correlacioná-lo com outras actividades económicas dos mais diversos sectores existentes.
3
I – Fundamentação Teórica e Metodológica
1. Fundamentação Teórica
O turismo pode ser considerado uma deslocação de pessoas para lugares fora do seu
local normal de trabalho e residência e todas as actividades desenvolvidas durante a sua
estadia que possibilitam ou viabilizam viagens, hospedagem, alimentação e lazeres às
pessoas que se deslocam de suas residências para satisfazer os seus interesses e objectivos
vários.
Segundo a opinião de Douglas Foster2 o turismo é uma actividade que envolve uma
mistura complexa de elementos materiais e psicológicos. Os elementos materiais são o
alojamento, o transporte, as atracções e diversões disponíveis e os factores psicológicos
incluem um largo espectro de atitudes e expectativas
Roberto C. Boullon, ao responder a questão Turismo é uma Ciência? Chegou a
seguinte conclusão:
”Sem pesquisa não pode haver ciência. E a pesquisa turística é escassa e se mantém na
superfície. Nada se opõe a que se aceite o turismo como um fenómeno socio-económico se
transferirmos este critério ao campo do planejamento, temos que reconhecer a necessidade
de estudar aquele com uma visão interdisciplinar; que poderia incluir a economia, a
engenharia, a arquitectura, o urbanismo, o desenho urbano, o marketing, a administração dos
recursos humanos, as matemáticas, a estatística, as ciências da comunicação, a contabilidade,
a administração pública, e comercial etc., como disciplinas auxiliares. (.)
2 FOSTERS, Douglas. Viagens e Turismo - Manuel de Gestão. Portugal. Edições CETOP. Apartado
72726. Mem Martins Codex.1992
4
Turismo não é ciência pois não emprega nenhum método próprio, mas exige
conhecimentos científicos de diversas áreas.”3
O turismo não se enquadra no sector primário pois mesmo utilizando os atractivos
naturais, não os extrai e nem os produz; não pertence ao sector secundário porque não é um
produto de indústria e de construção. A construção produz obra física que presta serviços
sociais e económicos. A indústria é uma actividade transformadora que utiliza numerosos
recursos, entre os quais matéria-prima e, outros produtos industriais intermediários.
“É uma actividade económica pertencente ao sector terciário e consiste em um
conjunto de serviços que se vendem ao turista. Ditos serviços estão necessariamente
interrelacionados, de maneira que a ausência de um deles obstaculiza e até impede a venda
ou prestação de todos os outros. Tem, além disso, uma característica muito peculiar que só é
possível produzi-la em locais geográficos rigidamente predeterminados aos quais leva-se o
turista, ainda que a sua venda possa realizar-se no lugar de produção ou fora dele, isto é, no
ponto da origem da demanda.
A diferença do habitual, em turismo não se realiza uma distribuição física do produto
pois o consumidor é quem viaja até o local de produção”4.
O produto turístico é composto de bens e serviços diversificados e essencialmente
relacionado entre si, tanto em razão da sua integração com vistas ao atendimento da
demanda quanto pelo factor de unir os sectores primário, secundário e terciário de produção
económica.
3Universidade Católica de Pernambuco. Terminologia do Turismo brasileiro. Pernambuco,
SL.1996.ps.13,14
4 Idem, Op.cit. ps.19, 20
5
2. Fundamentação Metodológica
Para a realização deste trabalho utilizaremos o método de investigação científica
aplicável na elaboração da História:
Pesquisa dos documentos dos arquivos;
Pesquisas das fontes monumentais e arqueológicas que constituem ofertas
turísticas;
Entrevistas com entidades competentes e com o sector privado;
Propomos a observação do espaço físico para a elaboração de inventário das atracções e
recursos turísticos naturais, culturais e patrimoniais da região, investigação e análise
documental; análise da situação das infra-estruturas existentes, análise e avaliação da
situação e das necessidades dos recursos humanos em turismo existentes em cabo Verde;
análise dos possíveis impactos no ambiente natural e humanizado, fazendo recomendações
para a conservação e o reforço da qualidade ambiental; identificação das oportunidades para
utilização de circuitos pedonais e outras utilizações das regiões do interior do concelho para
o turismo ligado à natureza; análise dos dados estatísticos; elaboração da síntese tendo
sempre presente o sentido crítico. Tendo em conta a temática, a nossa visão será sempre em
perspectiva.
O espaço geográfico e o meio ambiente constituem ofertas turísticas imprescindíveis e
indiciem os tipos de turismo que se possam desenvolver. Daí que vamos iniciar o estudo pela
Localização Geográfica e Meio Ambiente da Cidade Velha como potencial oferta para o
desenvolvimento do turismo em Cabo Verde e daí definir as prioridades.
6
Figura 1:Mapa da ilha de Santiago
7
II. Localização Geográfica e Meio Natural
2.1. As Ofertas Geográfica e Natural
A sua construção iniciou-se na segunda metade do sec. XV logo após à descoberta em
1460.
Devido à sua posição geoestratégica, a meio caminho entre o continente africano, a
Europa, as Américas e o Oriente, cedo começou a desempenhar o papel de placa giratória no
comércio triangular e como porto de escala, fornecendo aos navios frescos e água. Estes
factores contribuíram para que a Ribeira Grande se transformasse rapidamente num centro
comercial de certa projecção e, em 1533, ter sido levado à categoria de cidade.
A
superfície
decretada
património
nacional é de 50
hectares e a área
total de
protecção é de
250 hectares. É
uma área semi-
urbana
distribuída em
zonas e lugares:
Figura 2:Parte de Cidade velha onde se encontra inserido a Sé catedral.
8
Laranjeira, Rua Banana, Rua Calhau, São Braz, São Sebastião, S. Marta, Sucupira, Rua
Careira, Lem Cachorro, Beco, Porto Baixo. Elegemos ainda para o nosso trabalho, como
espaço de expansão de cidade e do desenvolvimento a freguesia do Santíssimo Nome de
Jesus: Calabaceira, João Varela, Djobe, Bota Rama, Ponta Baixo, Salineiro, Costa Achada
Calheta, Calheta S. Martinho, Costa Achada; zonas e lugares que pertencem à freguesia de S.
João Baptista: Beatriz Pereira, Alfarroba, Lém Bá Sá, Belém, Calabaceira, Chã Chatinho,
Julangue, Lém Freire, Mato, Mato Sanches, Tambarina, Tanque/Chão de Tanque, Lém
Esprinda, Chã de Igreja, Chã Gonçalves, Delgado, Gouveia, Loura, Cancelo, Dacabalaio,
Dirres, Hortelão, Loura, Chã de Abelha, Pizarra, Campanária, Mosquito de Horta,
Achadinha, Montinho, Redondeira, Curral, Mosquito Grande, Pico Leão, Bataria, Chã de
Riba, Chã Grande, Cutelinho, Cutelo Cabral, Furna, Galego, Laranginha, Monte Branco,
Ponta Romão, Rochinha, S. João Riba, Areal, Chuva Chove, Cutelo Moreira.
As achadas áridas, as florestas, a temperatura do ar, o vento que sopra das montanhas
húmidas e a brisa marítima conferem ao ambiente uma beleza paisagística exótica; orla
costeira, as encostas, os fiordes, os desfiladeiros, as praias e enseadas constituem elementos
de atracção turística que podem ser transformados em oferta. Mas é preciso ter cuidado para
não destruir a biodiversidade e pôr em causa o ecossistema da região. Para evitar tal situação
há que haver estudos que orientem a ocupação dos territórios para exploração dessas riquezas
turísticas e deve haver uma forte e contínua acção educativa e formativa que envolve toda a
comunidade residente e turistas na preservação do ambiente.
Além do vale da Ribeira Grande, os espaços verdes são escassos. Tem uma grande
importância ecológica e grande valor estético-paisagístico e desempenham função de espaço
de recreio e lazer. Não há um plano do município para criação de espaço verde.
O solo é um outro elemento imprescindível dado a múltiplas funções e usos. Na
condição de espaço tem de ser ordenado e para tal, primeiramente, tem de constituir objecto
de estudo e depois definido como suporte de actividades económicas diversas.
A Cidade Velha possui, no fundo do vale terras férteis muito boas para o
desenvolvimento das actividades agro-pecuárias que vêm sendo desenvolvidas desde o início
da colonização e que podem ser potencializada.
A água é a vida, assim sendo é indispensável como factor do desenvolvimento de tudo
na natureza. Ela é obtida através de galerias subterrâneas, furos e poderia ser adquirida por
9
meio de destilação da água do mar, construção de diques e depósitos de retenção, correcção
dos solos, lagos artificiais, barragens etc.
O mar, de água transparente, cristalina e tépida durante o ano é um dos principais
factores do desenvolvimento turístico. Para além das pequenas praias de arreia preta e calhau
rolado, os turistas podem desfrutar da beleza da costa escarpada, dos desfiladeiros e fiordes e
ainda serve como via de transporte e comunicação com a capital e com as mais diversas
zonas de interesse turístico; para os desportos náuticos, pesca desportiva, etc.
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III. Antecedentes Históricos
3.1. Descoberta e Povoamento de Ribeira Grande
Inferir sobre a descoberta e povoamento de Ribeira Grande é relembrar os primórdios
da Historia de Cabo Verde, o início da formação da sociedade cabo-verdiana e da cultura
crioula, germe da Cabo-verdianidade.
Segundo rezam os documentos, sem descartar hipóteses de ter sido conhecido antes,
todos os descobridores oficialmente reconhecidos e os pressupostos afirmaram que cabo
Verde foi descoberto antes da morte do Infante D. Henrique, 1460.
“Sam Jacobo, e Filipe, e da ilha de las Maias e (da) ilha de Sam Cristóvão, e da ilha
liana, assim aparecem mencionadas, pela primeira vez, em documento de doação régia ao
infante D. Fernando datada de 3 de Dezembro de 1460. (...) A doação seria confirmada por
outra carta de 19 de Setembro de 1462, (...) atribuindo-se a sua descoberta a António da
Noli”5
Na primeira ilha a ser povoada, S. Tiago, foram instituídas duas capitanias: António da
Noli recebeu a Capitania do Sul que funcionou com sede na ribeira Grande; Diogo
Afonso recebeu a Capitania do Norte cuja sede foi instalada nos alcatrazes e as ilhas de Maio
e Boavista. Os dois donatários foram honrados com prémio de mérito das descobertas pela
Carta de Doação de 1462, ostentando todos poderes. As únicas restrições impostas aos
donatários referem-se a alçada sobre o crime de morte ou talhamento de membros. Ficaram
também com a incumbência de povoar e promover o desenvolvimento económico da ilha.
5 VÁRIOS. História Geral de Cabo Verde, Praia-Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical -Direcção Geral Do
Património Cultural De Cabo Verde.1991, Vol. I p.10.
11
Mas os incentivos não foram suficientes para atiçar os interesses dos europeus ávidos de
riquezas e dado à distância da Coroa ausência de recursos minerais; intempéries do clima e
não adaptação das plantas que lhes serviam de base de sobrevivência, não quiseram vir. Para
contrariar essa tendência dado que as comunidades rurais não se sentiram motivados nesta
aventura, a coroa adoptou uma outra estratégia: concedendo aos futuros potenciais moradores
a oportunidade de poderem usufruir de abastados lucros através da exploração comercial com
a costa d’África numa época em que se revelava muito rentável tanto para os portugueses
como para os africanos tendo em consideração as diferenças entre a oferta e procura e valores
entre os dois mercados tão distante na época. Tal oportunidade foi oficialmente concedida
pela Carta régia de 1466 nestes termos:
“outrossy nos praz e lhe outorgamos que os moradores da dita ylha que daquy em
diamte pera sempre ajam e tenhã liçença pera que lhes pruuver poderem hyr com navios a
trautar e reguatar em todollos nossos trautos das partes de Guynee reseruando desto o nosso
trato d’Arguym honde nom queremos que outrem possam trautar nem fazer outra alguuua
cousa em o dito trauto com suas demarcações, senão quem nós quisermos e por bem
teuermos, por nossa liçença e lugar, todallas mercadorias que elles ditos moradores da dita
ylha tiuerem e quiserem leuar, salvo armas e farrementas, navios e aparelhos deles,(...)”.6
Como se pode deduzir do extracto citado, aos moradores foram concedidos largos
privilégios de poderem comercializar livremente na costa africana, podendo levar todas
espécies de mercadorias, salvo armas e ferramentas, navios e aparelhos que constituíam
mercadorias de defesa do Rei e que só poderiam ser utilizado mediante a sua autorização.
As mercadorias resgatadas poderiam ser comercializadas livremente depois de pagos um
quarto sobre o resgate.
A Carta Régia constituía um trunfo para os povoadores de S. Tiago. O resgate, neste
período constitua monopólio real, o sistema utilizado era o da exploração directa, aos vassalos
era interdito. Assim sendo a localização, as isenções fiscais, a prioridade concedida colocava a
ilha de Santiago em vantagem em relação às outras regiões do reino. Sendo o objectivo central
dos mercadores de então era de atingir a costa africana, quem estivesse em São Tiago estaria
mais bem localizado para realizar poupanças nos custos de transportes, tempo, alimentação e
ainda correria menos riscos que alguém residente na ilha da Madeira, Açores e no reino.
A carta de 1466 impulsionou e incrementou uma imigração de mercadores e armadores
que instalaram na Ribeira Grande acompanhados de funcionários régios: tributadores,
6ALBURQUEQUE, Luís & SANTOS, Maria Emília Madeira e outros. História Geral de Cabo Verde, Corpo
Documental.Vol.I.p.20.Lisboa. Instituto de Investigação Científica Tropical - Direcção Geral Do Património Cultural De Cabo Verde.1989
12
escrivães, almoxarifes e recebedores. Mas a mesma frustrou um pouco o objectivo e a
tentativa de povoar Santiago tendo em conta que os primeiros povoadores se instalaram
utilizando Ribeira Grande apenas como porto de escala entreposto para as suas relações
comerciais com a costa d’ África e Portugal.
Como regularizador do processo, o Rei interfira sempre que houvesse conflitos entre os
mercadores que disputavam zonas preferenciais. Essa situação agravou-se com a mudança no
processo de exploração.
Em 1469 D. Afonso V arrendou, ao Fernão Gomes o direito de exploração da região de
Serra Leoa, por um período de cinco anos, em troca de 200.000 reais (cf. Correia e Silva,
2004:27) ficando o mesmo com a incumbência de descobrir cem léguas da costa anualmente.
Essa medida deveu-se à incapacidade financeira do Rei em continuar com o sistema de
exploração directa e à concorrência de certos países europeus que se mostravam interessados
neste comércio.
O conflito entre os moradores e o arrendatário, por ser o segundo nobre, obrigou o Rei
a tomar medidas restritivas em relação à carta de 1466. Em 1472 o rei redigiu uma carta
limitando as acções mercantis dos moradores na costa africana pondo em causa a essência da
carta de privilégios de 1460.
Sentindo-se ameaçado nos seus interesses pela concorrência que os moradores vinham
fazendo, o rei resolveu com a referida carta limitar o poder comercial dos moradores e ao
mesmo tempo incrementar o povoamento da ilha.
“Nós outorgamos ao Infante d. Fernando meu irmão, que deus aja, numa carta de
privilégio, franquezas e liberdades e merces para moradores da sua ylha de Santiago que he
junto com Cabo Verde, nas partes do mar oceano, por se a dita ylha, por causo dello
milhore mays asinha povoar (.) o capitam moradores da dita ylha pera sempre outras
nenhuas mercadorias mandar resgatar, por bem da dita nossa carta, senõn aquelas que eles
das suas novydades e colheitas da dita ouverem: porque estas taes somente queremos e
mandamos que lá possam levar se quiserem e outras alguas nam” 7
É mais que evidente que limitar as mercadorias a ser utilizados pelos moradores, proibir
a comercialização de parceria com estrangeiros, estaria a coroa a «matar dois coelhos com
uma cajadada»: evitar a concorrência tanto dos moradores como dos estrangeiros e ao mesmo
tempo obrigar a produzir as suas próprias mercadorias se pretendessem continuar a usufruir
dos privilégios que lhes foram concedidos.
7 Idem, Op. cit . p. 25
13
Ainda que for de boa intenção as medidas agravaram profundamente a acção dos
moradores que viram privados de conseguir o financiamento externo e de mercadorias para
troca directa. Pois a capacidade produtiva dos moradores condicionada por falta de meios
financeira, condições naturais da ilha, distância da metrópole, deficiência dos meios de
transporte e comunicação, era limitada nesse momento.
Aos moradores restavam duas hipóteses: obedecer o espírito da carta e perecer;
desobedecer e continuar as suas actividades mercantis sofrendo represálias.
Com determinação os moradores assumiram a segunda hipótese e foram designados de
«lançados ou tangomaos», alvo a bater por ter desobedecido à Coroa. Por outro lado
incrementou – se uma economia baseado no sector primário mas virado para o comércio. Por
não haver mão- de - obra suficiente recorreu se aos escravos negros da costa africana.
Ao mencionarmos os moradores, referimo-nos aos primeiros povoadores brancos que se
instalaram em Santiago. Será que não havia já comunidades residentes antes da chegada dos
europeus? É uma questão polémica cuja afirmação e refutação advém de dois grupos de
historiadores: os historiadores portugueses negam a possibilidades de as ilhas serem povoadas
antes da chegadas dos europeus e os historiadores africanos e sobretudo os mais conceituados
cabo-verdianos acreditam na hipótese de as ilhas serem povoadas por uma comunidade negra,
ainda que pouco influente na estrutura social cabo-verdiana. O principal problema tem a ver
com a escassez da documentação e documentação pouco esclarecedora. O que não se pode
negar é que a sociedade cabo-verdiana tenha a sua origem no cruzamento entre brancos e
negros de várias etnias que se fixaram já no sec. XV na Ribeira Grande, mais tarde Cidade
Velha. Contamos abordar essa questão mais adiante.
Os moradores de Ribeira Grande, pelas razões já apontadas, logo no início, interessou-se
pelo o tráfico de escravos e pela posição que Ribeira grande ocupa, passou a servi como porto
de escala para os navios que aportavam ao seu porto e de interposto comercial na costa d’
Àfrica Ocidental.
14
3. 2. Participação de Ribeira Grande no Comércio Internacional
O comércio internacional começou-se a incrementar a partir do sec. XII com o advento
do período de paz na Europa, as inovações introduzidas na agricultura e transporte,
incremento do comércio e o desenvolvimento e crescimento urbano. A proliferação dos
centros urbanos promoveu o desenvolvimento de uma economia de mercado com
intensificação das trocas comerciais, surgimentos de mercados, feiras, associações de
mercadores, melhorias dos transporte terrestres e marítimos, a necessidade dos instrumentos
de pagamentos e de troca. Foi precisamente neste período que a Europa restabelece o
comércio com o extremo oriente, servindo-se do Mediterrâneo, ao mesmo tempo que, através
dos movimentos das cruzadas, disputa aos muçulmanos a posse de territórios no próximo
oriente. Foi ainda nos finais do sec. XIII que, com toda probabilidade, se saiu do
Mediterrâneo para o Atlântico, através do Estreito de Gibraltar, permitindo a ligação da Itália
à Flandres por via marítima que até aí se fazia por terra. Essa não alternativa teve a
continuidade no sec. XIV por causa da grande crise em que a Europa se emergiu, rareando o
ouro, a prata, os cereais, matérias-primas e mão-de-obra.
No sec. XV, a economia europeia reanima-se as carências acima citadas aumentaram-se.
A solução seria o alargamento do comércio internacional, o contacto directo com as fontes
fornecedoras dos recursos necessários ao desenvolvimento.
Várias tentativas levadas ao cabo pelos italianos, espanhóis, Marco Pólo, chineses, Ibn
Batuta, nos sécs. XIII e XIV, não contribuíram para melhorar o relativo conhecimento da
costa ocidental africana e do Oceano Atlântico Sul.
A iniciativa coube a Portugal que conquistou Ceuta em 1415, seguido de viagens pelo
Oceano Atlântico, colonizou os Açores e Madeira; estabeleceu relações comerciais com a
costa africana e descobriu e colonizou o arquipélago de cabo Verde (1460); dobrou cabo de
Boa Esperança 1487-88, descobriu o caminho para a Índia, (1498), iniciou a exploração
comercial da Índia; chegou e colonização do Brasil (1500). Deu-se, deste modo, a expansão
do comércio internacional, arranque do comércio triangular e do comércio colonial.
É nesta encruzilhada do comércio Triangular, colonial e internacional que Cabo verde
começou a desempenhar o seu papel como ponto de escala e entreposto comercial. Pois o
oceano Atlântico deixou de ser fronteira entre os continentes para passar a ser elo de ligação
15
importantíssimo e obrigatório e o valor geo-estratégico de Cabo Verde passou a constituir um
elemento atractivo concorrencial para os países europeus cuja economia se encontrava em
plena expansão procurando explorar comercialmente o mercado africano, as Índias Orientais e
Ocidentais.
“A importância do porto de Ribeira Grande é meio sec. após o início do povoamento,
bem vincada pelos oficiais da Câmara, os quais, em carta endereçada ao poder central, em
1512,afirmam que ele é «grande escala para os navios e naus da Sua Alteza e assim para os
navios de S. Tomé e ilha do Príncipe e para os navios que vão do Brasil e da Mina e todas
as partes da Guiné” 8
É neste contexto que Ribeira Grande ganhou importância no comércio transatlântico,
intercontinental, triangular e a concorrência fez crescer a Cidade Velha. Aparecem formas
concentradas de habitat, infra-estrutura administrativas; serviços fiscais, sanitários, judiciais
económicos ligados ao transporte, industrias artesanais; sofrendo um crescimento rápido em
termos demográfico. A sociedade diversifica-se reestrutura-se, albergando no seu seio uma
grande heterogeneidade social assente na multiplicidade de origens geográficas e étnicas com
modos de vida diversificados: funcionários, mercadores, artesãos, contrabandistas,
marinheiros, aventureiros prostitutas, mendigos etc. Ribeira Grande torna-se cosmopolita.
Por se tornar atractivo o sector terciário, ainda que por pouco tempo, conheceu um certo
crescimento: cobrança de impostos vários (imposto de importação, exportação, reexportação,
baldeação, depósito, ancoragem, etc.) ou através de prestação de serviços de abastecimento
alimentar, reparações navais, fornecimento de água. Isso devido a imigração definitiva e
sazonal de mercadores estrangeiros trazendo consigo mercadorias diversas. Os lucros
advenientes do comércio funcionaram como impute para o investimento na urbanização da
cidade: construção de ruas, estrada, fortalezas, igrejas, edifícios administrativos, etc.
A importância geo-estratégica de Cabo Verde mantêm-se. Se outrora a conjuntura
internacional fez crescer a sua importância, hoje, mais de que nunca, a conjuntura actual fará
crescer ainda mais a sua importância. Pois Cabo-Verde continua na rota do Atlântico quer por
via marítima quer por via aérea, mas torna-se necessário criar condições preferenciais. De
entre as preferências destaca-se o turismo. Pois a História terá grande influência no seu
desenvolvimento.
8 Vários. História Geral de Cabo Verde, ps.133-134
16
3.3. Ribeira Grande Berço da Sociedade Cabo-Verdiana
Ribeira Grande foi o primeiro espaço escolhido pelos portugueses para instalarem-se e
dar continuidade ao grande projecto comercial: a procura de mercados e o controle das rotas
das Índias. Daí a criação do primeiro embrião social com a fixação de homens brancos de
negócios condenados a cruzar-se com as escravas negra trazidas da costa d’África Ocidental.
A escolha de Ribeira Grande tem a ver com as condições ponderadas pelos primeiros
visitantes, segundo reza os documentos credibilisados até então:
“Haver ali água corrente em abundância (razão porque tomou esse nome) e um
razoável porto de mar mesmo junto à desembocadura da Ribeira Grande, em cujas
margens o primeiro povoado iria emergir. Por ser muito fértil, uma agricultura de
subsistência para o agregado populacional podia, pelo menos, ser montada ali com relativo
sucesso. Para os tão necessários contactos comerciais com exterior havia o porto, que,
apesar das suas pequenas dimensões e de ser traiçoeiro em determinadas épocas do ano,
satisfazia as necessidades dos moradores”.9
Para além dos alentejanos e algarvios, participaram no povoamento, a ilha da Madeira
com um número significativo, espanhóis, franceses ingleses holandeses, flamengos,
genoveses, sevilhanos, açorianos e, mais tarde, japoneses, alemães e coreanos. Os brancos
nobres, armadores camponeses e degredados, em Cabo Verde, de acordo com a relação que
mantinham com os meios de produção subdividiam-se em quatro grupos fundamentais:
Os donatários, senhores do poderio económico, latifundiários com poder absoluto
cujos poderes diminuir-se-ão com os agentes administrativos nomeados mais tarde
pelo próprio Rei, entre os quais: inquiridor, corregedores, Capitão Geral nomeado
para as ilhas de Cabo Verde e Guiné-Bissau; e um Capitão Governador;
Os morgados, senhores das terras, dos escravos;
Os colonos que recebiam as terras em regimes de sesmarias; degredados por
motivos vários;
9 Vários. História Geral de Cabo Verde. Op. Cit.p. pág.
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Os rendeiros – (contratantes ou proprietários) que arrendavam à Coroa, o direito de
explorar ou de tirar benefícios do comércio entre Cabo Verde e as regiões da costa
da Guiné.
Para solucionar o problema de falta de mão obra, recorreu-se à importação de escravos
negros da costa ocidental d’ África, para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, produção
de algodão, tecelagem de panos, criação de gado e como escravos domésticos ou de «quintal».
Grande parte dos contingentes de escravos, uns catequizados e ladinizados, eram
reexportados, para as Antilhas.
A costa ocidental d’África forneceu, segundo a maior parte dos historiadores, uma
grande percentagem de escravos que foram utilizados no povoamento de Cabo Verde. De
entre os participantes Senna Barcelos, António Carreira, e P. António Brásio citam:
mandingas, balantas, bijagós, felupes, beafadas, papeis, quissis, Brâmes, banhuns, fulas,
jalofos, bambará, bololas, manjacos, etc.
Os europeus, por constituírem um grupo com estatuto superior, tinham como missão
orientar e enquadrar os escravos; dirigir os trabalhos, impor as normas e disciplinas, ensinar
ofícios.
O escravo era empregado na lavoura, no pastoreio, no apanho do algodão, da tinta e da
urzela; nas tarefas domésticas, como tecelão, etc.
Dada a escassez de documentos, pouco se sabe da formação de classes sociais antes do
sec. XVIII. Mas tudo leva-nos crer que, nos meados do séc. XV, já se adivinhava uma
estrutura social estratificada baseada na relação social de produção entre senhores
esclavagistas e escravos.
É um período de apogeu de Ribeira Grande se tivermos em consideração o equilíbrio
produção/população, ou que o número de habitantes é ainda reduzido e por haver intensa
actividade comercial provocou um certo desafogo económico a determinados grupos sociais.
“Neste período Ribeira Grande vive de facto os seus momentos de fausto, o que é
sugerido não só pela documentação apontada mas também pela opulência (...) de algumas
construções então projectadas ali. Referimo-nos à Sé Catedral, ao Paço Episcopal, e à
Igreja da Misericórdia”.10
O referido desafogo influenciou muito a formação da primeira estrutura social em Cabo
Verde se tivermos em conta que os primeiros moradores foram comerciantes e armadores com
liberdade e privilégios de poderem fazer o comércio na costa de África Ocidental. Só com a
10 Idem. p . 138
18
Carta de Restrição de Privilégios de 1472 é que se iniciou a colonização com a fixação do
homem na terra criando deste modo uma nova relação de produção (proprietários /escravos e
proprietários /camponeses). E daí a formação já no sec. XV de uma sociedade com uma
estrutura esclavagista e semi-feudal.
Pouco tempo depois do povoamento de Santiago e Fogo, dá-se o cruzamento dos
homens brancos e escravas negras, devido ao facto de haver nas ilhas um número reduzido
de mulheres brancas e a condição de escravas das mulheres negras tornavam-nas frágeis e
expostas aos homens brancos.
Mas o período áureo terminou na segunda metade do sec. XVI, com a intensificação de
uma forte concorrência estrangeira, sobretudo a desencadeada pela Inglaterra que começou a
afirmar-se como maior potência mundial, tendo em conta o desenvolvimento das suas
manufacturas. Assim a Coroa e os moradores sentiram-se lesados nos seus interesses e não
revelaram capacidade para a inversão da situação, tendo em consideração a diversificação
das mercadorias utilizadas pelos franceses, holandeses e ingleses. A situação agravou-se
muito mais com os sucessivos ataques levados a cabo pelos piratas dos referidos países;
excessiva vulnerabilidade e especialização da sua economia que não resistiram à perda do
monopólio comercial da costa de África; o abandono a que foi legado durante o governo dos
reis Filipes de Espanha em Portugal; as secas e fomes que provocaram a fuga e a mortes dos
moradores brancos e a fixação da população no interior da ilha de Santiago; transferência da
sede do governo e da diocese para Praia; a perda definitiva da sua importância comercial,
política, militar e religiosa.
Assim sendo, Ribeira Grande perde a sua importância geoestratégica como porto de
escala devido a insegurança e os navios passaram a operar directamente no continente
africano para aprovisionar-se de escravos, contribuindo para a diminuição das receitas
cobradas.
O colapso económico e financeiro irá reflectir-se profundamente na estrutura social ora
iniciada com a redução dos fluxos dos colonos e contratadores e armadores e dos escravos
trazidos do continente africano. Ribeira Grande torna-se Cidade Velha.
Acreditamos que, com aquisição da autonomia económica, financeira e administrativa,
o desenvolvimento do turismo contribuirão para que a Ribeira Grande venha assumir um
novo papel como roteiro das mais variadas culturas e nações ligadas ao turismo.
19
IV. Turismo em Cabo Verde
4.1. Aspectos Gerais
Em Cabo Verde, de modo geral são consideradas atracções turísticas: sol, praia, mar,
montanha e cultura. Assim sendo, podem ser consideradas atracções turísticas as cadeias
montanhosas, as escarpas rochosas, os fiordes, a escassa vegetação, pássaros e plantas
indígenas, parques e reservas naturais, vistas panorâmicas, zonas vulcânicas, microclimas de
altitudes
Segundo estudos elaborados pelo PROMEX, Cabo Verde tem sido procurado como
destino turístico, sobretudo a partir de 1996. Contudo, o investimento estrangeiro, o
melhoramento das infra-estruturas e das condições de acolhimento apontam para um futuro
promissor para o turismo.
De acordo com os dados fornecidos pela referida instituição a entrada de turistas
estrangeiros em Cabo Verde triplicou de 1990 a 2000, com cerca de 21. 695 e 145. 076
visitantes. O tempo médio de permanência no país é de 8 dias.
Os últimos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística referente às entradas
e dormidas nas estalagens nacionais revelam:
Quadro nº 1. Evolução de Hóspedes e Dormidas de 2000 a 2004
2000 2001 2002 2003 2004
Hóspedes 145.076 162.095 152.032 178.379 185.276
Dormidas 684.733 805.924 693.658 902.873 867.665
Fonte: INE NE
20
Nota-se um contínuo crescimento com uma ligeira queda nas entradas dos hóspedes e
dormidas no ano de 2002. Entre 2003 e 2004 a taxa de crescimento em relação a
hospedagem, é de 3,9% e de dormidas é de -3,9%.
A partir de 2000, o crescimento em termos de entradas e dormidas reduziu em relação a
década de 90.
Os hóspedes entrados nos estabelecimentos hoteleiros são 185.276 e as dormidas
totalizam 868.665 apresentando um crescimento de 4% de entradas em relação ao ano de
2003 e de -4% de dormidas em relação ao mesmo ano.
As ilhas com maiores entradas foram: Ilha do Sal: 685.198 visitantes e taxa de
ocupação 47% no 1º trimestre e 45% no segundo semestre; Santiago, 80.830 visitantes e taxa
de ocupação 28% no 1º semestre e de 32% no 2º trimestre; S. Vicente, 52.507 visitantes e
taxa de ocupação 23% e 21% no 2º semestre; Boavista, 24.669 visitantes e taxa de ocupação
42% e 44% no 2º semestre.
Em relação às infra-estruturas hoteleiras, segundo os dados disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Estatística, entre 1999 e 2004, os estabelecimentos aumentaram de 79
para108, com capacidade de 3150 quartos, 5804 camas, tendo um crescimento de 2,9% de
2003 a 2004; contrastando com 1825 quartos e 3.165 camas de 1999. Destes, 24% fica na
ilha de Santiago; 22% no Sal , 15% em S. Vicente e 15% em S. Antão.
Quadro nº 2: EVOLUÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS, CAPACIDADE E PESSOAL AO
SERVIÇO
1999 2000 2001 2002 2003 2004 Tx. Crescimento
(2003/2004)
Estabelecimentos 79 88 88 93 105 108 2,9%
Nº de Quartos 1.825 2.391 2.489 2.820 3.146 3.150 0,1%
Nº de Camas 3.165 4.475 4.628 5.159 5.715 5.804 1,6%
Capacidade de
Alojamento
3.874 5.249 5.450 6.062 6.682 6.749 1,0%
Pessoal ao Serviço 1.561 1.845 2.046 2.043 2.281 2.165 -5,1%
Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Como se pode notar, a oferta hoteleira tem crescido muito, nos últimos anos embora
persista o problema de fraca qualidade.
No que diz respeito aos serviços gerais nos estabelecimentos, existem cerca de 71
restaurantes, 7 discotecas, 8 ginásios, 21 salas de reuniões, 22 piscinas, 12 lojas, 74 bares 6
campos de ténis, 8 parkings e 13 sala de jogos.
21
As infra-estruturas aeroportuárias e rodoviárias são ainda deficientes e insuficientes.
A rede viária é reduzida e os meios de transportes colectivos rodoviários são ainda
poucos seguros e confortáveis. Mas reconhece-se o grande esforço por parte de governo na
melhoria das infra-estruturas económicas. Destacam-se o novo aeroporto da Praia, a
asfaltagem da estrada que liga Praia à cidade de Assomada, asfaltagem de algumas avenidas
na cidade da Praia, asfaltagem da cidade de Mindelo e da ilha do Sal.
4.2. O Papel das Instituições Políticas e Administrativas
Algumas instituições político-administrativas foram criadas para o efeito: Ministério do
Turismo e Transportes, Promex, Instituto Nacional de Cultura (INAC), Ministério de Cultura
e Direcção Geral do Desenvolvimento Turístico (DGDT).
À Direcção Geral de Desenvolvimento Turístico e ao Promex cabe assegurar a
administração turística. A DGDT apoia o governo na definição de políticas e estratégias do
desenvolvimento do sector, na normalização e fiscalização de actividades turísticas, no
desenvolvimento de relações com instituições internacionais no sector. O Promex agiliza o
investimento externo e promove a imagem do país no exterior, função essa que cabia ao
INATUR- Instituto Nacional do Turismo. Aos municípios foram, também, legalmente
atribuídas responsabilidade para o efeito.
Foi instalada uma delegação municipal que é assessorada por uma secretaria técnica
especializada na planificação, ligada ao Gabinete de Planeamento e Gestão Urbanística
(GPGU).
O Instituto Nacional de Cultura (INAC) é órgão coordenador cuja função essencial é
salvaguardar o património cultural nacional.
As duas instituições (Município da Praia e INAC) criaram no local uma estrutura
comum de intervenção operacional a partir de 1992.
22
Esta Secretaria tem por missão: recolher e compilar os documentos históricos e dados
físicos da Cidade Velha; garantir a elaboração de planos e documentos preliminares de
conservação; responder as demandas da população em matéria de atribuição de terrenos e de
projectos e preparar as autorizações da construção.
Acções concretas para o efeito estão sendo realizadas por esse bureau mas de uma
forma muito lenta devido às limitações mencionadas anteriormente (falta de recursos
financeiros, materiais e humanos).
A partir de 2004, houve uma evolução a nível das instituições responsáveis para o
desenvolvimento do turismo e sobretudo para preservação e valorização do património
cultural. O PROMEX (Centro de Promoção Turística, de Investimentos e das Exportações)
foi extinto e o INAC (Instituto Nacional de Cultura) foi substituído pelo IIPC( Instituto da
Investigação e do Património Cultural) cujo estatuto foi aprovado pelo Decreto
Regulamentar nº 2/2004 de 17 de Maio (B.O.nº 14 I Série de 17 de Maio de 2004) com as
seguintes atribuições: identificação, inventariação, investigação, salvaguarda, defesa e
divulgação dos valores da cultura, do património cultural móvel e imóvel, material e
imaterial do povo cabo-verdiano, nomeadamente:
a) A recolha, conservação tratamento e divulgação das tradições e histórias orais;
b) A investigação, particularmente nos domínios da história, sociologia, antropologia
linguística, psicologia e musicologia, com vista a fomentar o conhecimento da
cultura nacional, nas suas mais variadas formas de expressão;
c) A criação de organismos destinados à defesa e valorização do património cultural;
d) A pesquisa, inventariação, cadastro e classificação do património cultural, bem
como a sua salvaguarda e conservação;
e) A preservação, defesa, protecção e promoção dos bens pertencentes ao domínio
arqueológico nacional.
São órgãos do IIPC: O Presidente, O conselho Administrativo, o Conselho Científico.
O Ministério que tutela o desenvolvimento do Turismo passou a designar-se de
Ministério de Economia, Crescimento e Competitividade com as seguintes direcções ligadas
ao turismo: Direcção Geral do Desenvolvimento Turístico, Direcção de Fiscalização,
Direcção de Turismo.
23
4.3. Potencialidades Turísticas da Cidade Velha
4.3.1.Turismo do Mar
A partir do séc. XVIII a burguesia começou a enaltecer os valores curativos da
água do mar e teve o apoio do Dr. Russel (1753) elogiando os banhos de mar e a ingestão da
sua água. As termas entraram em decadência e os turistas viraram-se para as praias que se
transformaram num espaço exclusivo para tratamento de determinadas doenças. As viagens
eram longas e caras para a população em geral.
Até 1830, as praias eram um refúgio das classes mais prósperas. A partir de 1830
assiste-se à expansão de caminho de ferro e as viagens tornaram-se mais acessíveis à
população.
O caminho-de-ferro, conjuntamente com as mudanças sociais ocorridas no séc. XIX,
levou à democratização do turismo.
Com esta democratização do turismo, as classes mais abastadas fizeram o retorno às
grandes viagens para marcar a diferença com as outras classes. Cria-se deste modo o turismo
internacional com serviços de luxo e o turismo torna-se um privilégio para aristocracia.
A partir dos anos 20, os banhos de sol tornaram-se famosos e o bronzear transformou-
se num símbolo de prestígio social e diferenciado para os habitantes dos centros urbanos.
A revolução dos transportes e sobretudo o sector de aviação civil veio conferir ao
turismo um impulso sem precedente, apesar dos constrangimentos provocados pelos
conflitos localizados a nível mundial
Os países pobres podem beneficiar-se substancialmente com a expansão do turismo
mundial, desde que criem condições para que as suas empresas aproveitem das
oportunidades que daí resultam e evitem que os direitos das suas populações sejam violados.
Em Cabo Verde desenvolveu-se o turismo balnear, com maior expansão nas ilhas com
melhores praias: Sal, Boa Vista e Maio.
A diversidade do produto turístico da ilha de Santiago influencia directa ou
indirectamente no desenvolvimento turístico de Cidade Velha que nós escolhemos como um
24
dos principais e potenciais centros do desenvolvimento turístico da ilha tendo em
consideração as potenciais ofertas a ela inerentes:
A temperatura ambiente tem uma amplitude térmica média reduzida durante o ano: o
mínimo 22 graus centígrados e o máximo de 27 graus, sendo a temperatura máxima de 32
graus e mínima de 22 graus registada durante o ano.
O mar oferece óptimas condições para os banhistas: a água encontra-se sempre tépida
com uma temperatura média da água na superfície de 23º C, com mínimas de 21º a 23º C e
máximas de 26º C; límpida e transparente, satisfaz os desportistas das mais diferentes
modalidades do desporto aquático/marítimo tais como:
a) Windsurf/Surf devido a frequência de ondas e vento forte em determinado período
de ano;
b) A pesca desportiva deve ser estimulada, pois o nosso país tem condições para sua
prática e é uma actividade procurada como um produto turístico. A pesca de altura e
submarina também deve ser estimulada.
c) O mergulho deve ser planificado, orientado para as regiões identificadas, evitando a
degradação de ecossistemas marinhos e delapidação dos patrimónios arqueológicos
que se encontram no fundo dos mares ao longo da costa.
Passeios no mar proporcionados pela limpidez das águas, a beleza das orlas costeiras:
pequenas praias de areia negra e de calhau rolado; as falésias, as enseadas, os golfos os
recifes, as encostas escarpadas e os fiordes; as baías rochosas da costa ocidental, as planícies
áridas e pedregosas ocidentais e os profundos barrancos; as embocaduras das ribeiras muitas
vezes verdejantes com coqueiros tamareiras e árvores de frutos; os vales profundos e os
planaltos ressequidos; as montanhas e bem como os peixes voadores que podem ser
observados a partir dos barcos de recreio constituem atractivos bastantes para proporcionar
aos turistas boas férias em cabo verde. Os golfos e enseadas de difícil acesso por terra, são
por vezes procurados pelos turistas estrangeiros em busca de lugares exóticos para repouso,
piquenique, etc. são lugares adequados para o turismo de elite.
25
4.3.2.Turismo de Campo e de Montanha
O turismo no espaço rural consiste no conjunto de actividades e serviços realizados e
prestados mediante remuneração em zonas rurais, segundo diversas modalidades de
hospedagem, de actividades e serviços complementares de animação e de diversão turística,
tendo em vista a oferta de um produto turístico completo e diversificado.
Considerando os requisitos acima referidos, o turismo no campo assume as seguintes
forma: turismo rural, agro-turismo, turismo de aldeia, turismo de montanha, eco-turismo.
Convém relembrar que o eco-turismo ou turismo de natureza não constitui um ramo
específico mas sim uma forma de exploração que respeite o meio ambiente cujo espaço pode
ser terrestre e marítimo (observação de fauna e flora marinha e terrestre pode ser atractivo
para os turistas).
Agro-turismo é uma modalidade de turismo de natureza, muitas vezes procurado pelos
turistas activos que procuram o sossego e tentam recuperar o equilíbrio e eliminar o stress
antes do regresso aos grandes centros urbanos.
O turismo no espaço rural, em Cabo Verde, tem expressão relativamente baixa mas
vem ganhando incremento rápido, sobretudo em Santo Antão. S. Nicolau, Fogo e Santiago.
A ilha de Santiago, apesar da semelhança climática com as outras ilhas, é a ilha com
maior produção agrícola do país. Possui microclimas e importantes comunidades nas zonas
litorais. Ocupa uma área de 991 km2 detém cerca de metade da população do país que se
encontrava distribuída, até Fevereiro de 2005, em seis municípios: Praia - capital do país e
principal centro económico com cera de 25% dos habitantes de Cabo Verde; Santa cruz,
Santa Catarina, Domingos S. Miguel e Tarrafal. Pela lei já citada de 22 de Fevereiro
aprovada pelo Parlamento, foram criadas mais três municípios: Ribeira Grande com sede em
“Cidade de Santiago”, dos Órgãos e dos Picos.
A paisagem é muito diversificada no seu aspecto natural, humano habitacional,
demográfico e histórico-geográfico o que faz com que tenha várias zonas de interesses
turísticos.
26
O espaço rural cabo-verdiano é tão atractivo como as estâncias balneares das ilhas mais
planas. O país pode proporcionar aos turistas o acesso a paisagens únicas. Por isso o turismo
no espaço rural deve merecer um forte incremento.
A Cidade Velha tem potencialidades para o desenvolvimento não só do turismo balnear
que já mencionamos como para o desenvolvimento de um turismo rural nas suas mais
diversas formas e ser centro impulsionador do turismo de montanha. As casas antigas
características do meio rural são potenciais produtos turísticos prestar serviços de
hospedagem de natureza familiar; as casas particulares utilizadas simultaneamente como
habitação do proprietário, possuidor ou legítimo detentor e integrados em explorações
agrícolas, e que permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da actividade
agrícola, ou participação nos trabalhos aí desenvolvidos podem vir a funcionar como uma
oferta turística para prestar serviço de hospedagem aos turistas.
O vale verdejante com árvores de fruto tais como coqueiro, mangueiras, figueiras,
cabeceiras, tamareiras e outros arbustos introduzidos desde o início do povoamento, as
culturas de cana sacarina, horticulturas, vedadas pelas rochas escarpadas conferem à Cidade
Velha um conjunto de características paisagísticas de grande valor turístico.
Como é do conhecimento geral a escolha do destino turístico por parte dos turistas
depende normalmente de um conjunto de factores, por vezes contraditórios, como sejam
desejos, necessidades, gostos, simpatias e antipatias. A esses factores alia-se outros como por
exemplo, a situação socio-económica, a oferta turística disponível e a informação. Entre
todos esses factores a aquisição da informação é, no dizer de Mário Baptista11
, a que
desempenha um papel primordial no concernente à sensibilização, persuasão, apreciação e
legitimação da escolha.
Pelo que se torna necessário, a par da promoção do turismo balnear, desencadear e
reforçar iniciativas promocionais e publicitários que permitem informar, divulgar esclarecer
e motivar os turistas dos principais países emissores e de outros mercados potenciais sobre os
produtos oferecidos no espaço rural cabo-verdiano em geral e santiaguense em particular.
Nota-se uma tendência para o despovoamento do meio rural devido ao êxodo rural com
consequências imprevisíveis para o turismo.
11 BAPTISTA, Mário. O Turismo na Economia – uma abordagem técnica, económica, social e cultural.
Lisboa. Instituto Nacional de Formação Turística.1990.
27
“No período compreendido entre 1990 e 2000, a população do concelho da Praia
cresceu de 82.802,para 104.953 habitantes que significa um diferencial de 22.151 habitantes
a um rítmo médio de crescimento na ordem dos 2,4%.
Comparando o comportamento entre a cidade e o campo, constata-se uma discrepância
significativa. Enquanto que a população urbana aumenta de 61.644 habitantes para 94.161,
com o acréscimo de 32.517 habitantes num período de dez anos, a ritmo médio de
crescimento de 4.2 ao ano, a população rural diminuiu de 21.158 habitantes para 10.792, ou
seja perdeu um efectivo de 10.366 habitantes, num ritmo de crescimento médio de -6,7%.
Atendendo às tendências de crescimento demográfico, estima-se que no horizonte de
10 anos, a Praia urbana contará com 167.217 pessoas, enquanto na Praia rural viverão apenas
4.088 habitantes, com todas as implicações daí advenientes”. 12
O desenvolvimento do turismo rural contribuirá para fixação da população no campo
criando mais emprego e melhorando as condições de vida da população.
Não existe um plano urbanístico para as construções no meio rural e as construções
anárquicas por vezes, ocupam espaços que deveriam ser preservados para actividades agro-
pastoris e outras que contribuem para o desenvolvimento da zona e o bem-estar dos
habitantes.
4.3.3. Turismo Cultural e Religioso
4.3.3.1. Considerações Gerais
“Cultura é o complexo de tudo o que o homem exprime em confrontação com a vida,
tudo o que constitui a consciência dele próprio e que o identifica em relação aos outros, quer
no seu espaço vital como a nível universal. Ela constitui ainda tudo o que o homem,
individual ou colectivamente assimilou, interpretou ou traduziu - material ou
12 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS DE CABO VERDE. (2003). PLANO AMBIENTAL
MUNICIPAL DA PRAIA.p.10 Praia. 2003.
28
intelectualmente - para criar, assegurar, enriquecer e comunicar aos outros a sua relação com
o mundo físico e metafísico “.13
Relativamente à Cidade Velha, a cultura como complexo de tudo manifesta-se através
da arte, um complexo monumental que constituiu a antiga Cidade de Ribeira Grande e parte
integrante da Cidade Velha, hoje, Cidade de Santiago (edifícios religiosos, civis, públicos e
privados, ruas estátuas, fontenários), todos os géneros de artesanatos, trajes, gravuras,
ornamentos, pedras preciosas, moedas; por meio de literatura e ciência: livros e documentos
históricos e religiosos; tradição oral (hábitos, costumes, crenças etc.)
A história da religião e da Igreja Católica está tão intimamente ligada à formação da
sociedade e cultura cabo-verdiana em geral conferindo-lhes características próprias que torna
impossível falar do turismo cultural sem ter em devida conta a referida ligação. Para isso
basta analisarmos as ofertas e as suas potencialidades como produto turístico disponível.
As ofertas turísticas culturais e religiosas representam o sincretismo cultural de várias
culturas que participaram na formação da sociedade e identidade cabo-verdiana e a evolução
de uma sociedade emergente que apresenta três características comuns a todos: uma vivência
da colonização europeia fruto de uma acção repressiva do país colonizador impondo
politicamente, culturalmente e religiosamente que, em termos evolutivo, subdivide-se em
duas etapas: período de escravidão e pós abolição de escravidão; uma vivência da nação
cabo-verdiana como país independente.
“Durante as últimas décadas do séc. XV e boa parte do séc. XVI, a Ribeira Grande foi
capital civil, eclesiástica e militar, importante entreposto comercial e posição estratégica
cobiçada. Veio depois a decadência, também ela rapidamente e inexorável, e finalmente o
abandono. Aqui se fala dessa história. Laboratório cultural, já se tem chamado as ilhas de
Cabo-Verde. De facto, aqui se experimentaram e aclimataram tecnologias, culturas agrícolas
e animais, depois transpostas para outras paragens como o Brasil. Aqui se encontraram e
fundiram raças, idiomas e dialectos notavelmente vigorosos nas suas persistentes expressões
culturais.
A Cidade Velha é uma modesta população de pescadores e rurais quem guarda ainda
essa memória e lhe dá o verdadeiro sentido – porque a vive”.
13 Conferência dos Ministros da Cultura da ACCT, em Cotonu em 1981
29
4.3.3.2. Os Monumentos Históricos
Figura 3: Sé Catedral, Praça Central, Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Os monumentos históricos, em constante degradação, constituem hoje, uma atracção
turística com grade potencialidade e podem ser transformados num produto turístico de
qualidade, cartão de visita para os turistas: Igreja Catedral, Ermida Stª Luzia, Casa da
Câmara, Palácio de Bispo, Nª Srª do Rosário, Casaria Renovada, Forte de S. Veríssimo, Nsª
Sra da Conceição, Misericórdia, Forte Arruinado de S. João, Igreja do Monte Alverne, S.
Roque, Forte de Santo António, Convento de S. Francisco, Presídio, Fortaleza Real, Hospício
que foi dos Jesuítas, Torre Antiga, Forte de São Braz, Casa da Companhia, Casa de D.
Violanta Freire de Andrade, Forte de São Lourenço, Casa de João Freire, Casa do Mestre-
Escola, Muralha Antiga, Casa do Governador Nicolau da Afonseca e Araújo.
Não dispomos de todas as datas exactas das construções mas os documentos que fazem
menção à existência desses monumentos históricos, apontam para final do séc. XV a segunda
metade do séc. XVII. São obras militares, religiosas, económicas e administrativas:
a) A fortaleza Real de S. Felipe está situada cerca de 100 metros acima na antiga
entrada da cidade, foi construída por volta de 1587 após o primeiro ataque dos
piratas ingleses comandados por Francis Drake, numa posição estratégica que
permite visualizar toda a cidade e todo o vale e mais os planaltos circunvizinhos e
uma relação estratégica com as pequenas fortalezas localizadas a oeste, a leste e ao
longo da costa: Forte de S. Lourenço construído entre 1698 e 1702; Forte de São
Braz; Forte Presídio; Forte São João dos Cavaleiros; Forte Santo António
construído na mesma época que Forte S. Lourenço;
b) Posto de vigília situado na parte superior do promontório central que permite um
controlo total sobre o vale;
30
c) As fortificações que cerca e fecha a Cidade a oeste ou à direita do Forte São
Lourenço e ao sul, ao longo da costa entre o Forte S. Lourenço e forte S. Veríssimo;
d) As portas, passagens obrigatórias de acesso à cidade: Porta do Forte S. Lourenço;
Portas da Fortaleza Real de S. Felipe; Porta de acesso depois da Porta ou Forte S.
Veríssimo;
e) Ao largo da praça central, centro económico, encontra-se o Pilorinho representando
o período de escravidão;
f) Os mapas antigos localizam na periferia dessa grande praça, a prisão, caserna
militar e outro edifícios económicos e administrativos;
g) Ainda à volta dessa praça pode – se ver os vestígios do Hospital de Misericórdia; a
antiga Escola e casa do professor Nicolau da Fonseca Araujo atrás; Forte Presídio a
leste e a oeste Forte de São Braz;
h) Nos dois grandes lados da praça encontram-se uma sucessão de ruas: Rua da
Carreira, Rua da Banana, Rua Direita etc. e mais perto da praça a Casa Municipal
da Câmara, a Residência do Governador, e a Casa da “Companhia do Grão”;
i) Por volta de 1512, Ribeira Grande já possuía uma Câmara Municipal;
j) As outras áreas estavam reservadas a construção das habitações dos nobres.
Essa estrutura urbana prolonga-se para o vale dentro e é difícil encontrar o espaço onde
termina. Existem vestígios que mostram que as construções se prolongam para o espaço livre
em plataformas sucessivas hoje utilizadas para as plantações.
Para além das construções com funções militares, económicas e administrativas e
habitacionais foram também construídas obras com funções religiosas: A -Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi construído por volta de 1495 e era apenas uma pequena capela do estilo Manuelino que ,depois foi ampliada. Padre António Vieira pregou, segundo reza o documento, em 652;
a) “1556-1558(?)- Por esta época, o bispo D. Frei Francisco da Cruz dá início à
construção da Igreja de Misericórdia, ao mesmo tempo que manda construir a Sé
Catedral, cujas as obras foram embargadas pelos cónegos locais sob protesto de
que o templo se situava fora corpo da cidade». Foi também este bispo, terceiro
prelado de Cabo Verde, quem na segunda metade do séc. XVI (antes de 1574),
31
erigiu o Palácio Episcopal, edifício que durante cerca de 200 anos, serviu de
residência privativa aos prelados que na Ribeira Grande permaneceram”.14
b) A Sé Catedral é uma obra majestosa, a sua construção começou em 1574 e
terminou somente em 1693 e o Palácio Episcopal, segundo os mapas antigos, fica
situado ao sul do transepto da Sé Catedral, não muito longe do Promontório de S.
Sebastião;
c) A Capela de S. Roque fica na base da Fortaleza Real de S. Roque;
d) O Colégio dos Jesuítas foi fundado em Outubro de 1608;
e) O Convento de São Francisco foi fundado em Janeiro de 1640 financiado pela
Joana Coelha, nativa da ilha de Santiago;
f) A capela de S. Pedro fica mais a norte no fundo do vale;
g) A Ermida de S. António situado mais a norte e perto da Forte do mesmo nome;
h) A Ermida S. Marta, a oeste próximo do cemitério;
i) A capela de Nª. Sr.ª Da Conceição.
Os Oficiais da Câmara da Cidade Da Ribeira Grande dirigiram, em15 de Abril de 1626,
uma carta ao rei Filipe III descrevendo a estrutura da Cidade nesses termos:
“Nesta cidade de Santiago da ilha de Cabo Verde há nela três bairros e duas ruas pelo
meio deles, a saber, São Sebastião, o de São Brás, o de São Pedro; as ruas de São Pedro até o
porto onde surgem os navios, e a outra são a da rua da Carreira e a rua da Banana, onde a
gente desta cidade se acomodam medianamente.” 15
Esses e muitos outros que fazem parte do legado histórico da Cidade Velha tiveram
uma existência efémera.
A degradação iniciou-se no séc. XVI com a decadência da Ribeira Grande, mas a
situação não se alterou, pelo contrário agravou-se muito mais com os novos
constrangimentos advenientes do crescimento demográfico actual.
14 PEREIRA, Daniel A. (1988) Marcos Cronológicos da Cidade Velha p.51,52. Lisboa. Instituto Cabo-
Verdiano de Livro.1988
15 PEREIRA, Daniel A. (1988). Op. cit.
32
Em 8 de Dezembro de 1990, o decreto nº 121 publicado no Boletim Oficial da
República de Cabo Verde, nº49 declara Cidade Velha Património Nacional de Cabo Verde.
Da antiga Ribeira Grande restam apenas os monumentos que já citamos muitas vezes
sobrepostos pelas construções anárquicas, pequenas habitações sem estética, resultante de um
período de estagnação e de um crescimento urbano muito lento e desordenado. Como
podemos deduzir as construções sobre o escombro da antiga Cidade Velha não lhe bonificam
em termos de oferta turística de qualidade.
O espaço urbano actual levanta dois problemas: conservação de vias de acesso antigas
ou apenas as vias recentemente criadas. As vias antigas situadas a partir da Rua Carreira e da
Rua Banana são saídas estreitas que não podem receber veículos a partir de determinada
dimensão; as vias recentes são implantações sem precaução particular de urbanismo e a sua
aproximação dos monumentos históricos é prejudicial por causa das vibrações que ameaçam
os raros vestígios do passado que ainda se mantêm de pé; o crescimento contínuo da cidade e
a frequência constante dos veículos que estacionam nos espaços disponíveis da praça
dificulta o desempenho da sua função.
Os monumentos históricos precisam de ser preservados, limpados, conservados e
reconstruídos com o objectivo de transformá-los em ofertas turísticas e garantir o bem-estar
da população.
O estado de conservação dos monumentos, pelo que podemos constatar, é lastimável e
difícil de avaliar. O único monumento que se encontra em bom estado de conservação é o
Pilorinho situado na Praça Central.
A Fortaleza Real de S. Felipe encontra-se em restauração desde os anos sessenta. Mas
como se pode observa pouca coisa se fez para além da Muralha exterior.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário foi também restaurada reabilitada contudo
alguns observadores mais atentos acham que é necessário dar mais atenção, rigor e
autenticidade aos trabalhos que devem ser precedidos de uma investigação científica.
“Na Igreja de Nª Sª do Rosário, deslocou-se um pedregulho que rolou para cima de
uma das capelas laterais; a torre de menagem existente foi reconstruída sobre ele. No decurso
dos trabalhos, os azulejos do sec. XVI que revestiam todo o interior da Igreja foram o
inexplicavelmente retirados para serem substituídos por barras de azulejos vindos de
Portugal e que imitavam os antigos. Perto de 7000 azulejos originais estão amoitados na
sacristia, enquanto os novos foram mal colocados na nave do templo. A escadaria helicoidal
33
de pedra que dá acesso à torre ainda está desmontada. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário
foi submetida a novos trabalhos em 1978, sob a patronagem das caritas, quando alguns
revestimentos foram refeitos, sem nenhuma orientação.
(…) O terceiro monumento que sofreu uma intervenção foi a Capela de S. Roque, cuja
abóboda foi refeita em betão. Trabalho igualmente não acabado. O mesmo arquitecto (…)
enviou algumas imagens pias da Igreja do Rosário e um quadro que data do fim do séc. XVII
para Lisboa, a fim de serem restaurados. Desses trabalhos, apenas conhecemos um pequeno
memorando, datado de 8 de Setembro de 1967, com a avaliação do custo dos trabalhos de
restauro, que nunca foram realizados“.16
Os vestígios da torre da Igreja da Misericórdia, S. Roque, a Casa dos Jesuítas, S. Pedro
se encontram abandonados.
O resultado dos trabalhos arqueológicos nos trouxe um dado novo que é o da existência
no local de uma construção sagrada anterior à Sé.
4.3.3.3. As Festividades de Romarias
A sociedade cabo-verdiana encontra-se fortemente influenciada pela cultura portuguesa
e religião católica. Por causa disso, durante o ano e em todas as ilhas, festejam-se os dias dos
santos mais venerados pela comunidade de cada zona. Umas são festas locais, outras de
acordo com as circunscrições religiosas, as freguesias, e ainda outras de carácter nacional. As
mais pomposas que normalmente representa de uma forma mais abrangente a cultura cabo-
verdiana são as realizadas para comemorar aos santos padroeiros das freguesias seguidas das
comemorações dos dias dos santos locais.
A Cidade Velha, a mais antiga sede da diocese de Cabo Verde não foge à regra.
Comemora-se o dia do Santíssimo Nome de Jesus na primeira quinzena de Janeiro, santo
16 AZEVEDO, Paulo. (1981) Preservação Do Património Cultural E Arquitectural Histórico De Cabo
Verde.p.2.Paris.UNESCO (Relatório de Missão de Pesquisa). 1981
34
padroeiro da freguesia; S. Sebastião no dia 20 de mesmo mês; S. Roque no dia 16 de Agosto,
N.S.ª Senhora do Rosário a 3 de Maio. São festas que atraem multidões de toda a ilha de
Santiago, estrangeiros residentes e visitantes, emigrantes da freguesia que, nesta época,
regressam propositadamente para visitar a família, parentes e amigos e, por vezes, cumprindo
promessas.
O palco central das festividades são as igrejas e capelas e o ponto alto das festas é a
celebração da eucaristia seguida de procissão acompanhada com convicção, fé e devoção
pela população. Mas há um sincronismo entre o religioso e profano e entre a cultura e a
religião traduzidos através da manifestações culturais cujo início, muitas vezes, antecede
uma semana. Pois a juventude local programa e calendariza actividades culturais
nomeadamente a música, dança, desportos variados e as vendedoras e vendedores
ambulantes organizam bares, restaurantes em barracas improvisadas ou alugadas pela
Câmara Municipal onde a culinária cabo-verdiana é posta em evidência, espírito hospitaleiro
e a morabeza da população residente saltam sempre ao de cima, sempre predisposto a receber
os visitantes.
Pode-se concluir que as festas de romaria, para além do seu componente religioso
constituem verdadeiros espaços e momentos importantes de manifestação da arte popular
que, no âmbito do desenvolvimento do turismo, deve ser valorizada, enriquecida e divulgada,
através de exposição, concurso, publicidade utilizando os meios de comunicação disponível,
a nível nacional e internacional.
4.3.3.4. A Arte
“A arte é tão velha como o Homem primitivo. Ou não será a arte rupestre uma das
provas disso?
Na arte o talento de um povo na transformação da matéria-prima local em objectos
utilitários e ou artísticos, resulta-se, indubitavelmente, na sua própria cultura material. É
35
consequentemente o artesanato nas suas múltiplas formas, um dos aspectos fundamentais
dessa cultura material” 17
Parafraseando o citado autor, a arte em cabo verde é tão velha como a Cidade Velha.
Pois como berço da nossa nacionalidade e cultura, é evidente que não podemos negar, à
Cidade Velha, esse benemérito. Privilegiam-se a gastronomia, o artesanato e a música.
4.3.3.4.1. A Gastronomia
a ) A CATCHUPA, base alimentar durante muitos séculos, é o prato mais tradicional
de Cabo Verde. Embora, hoje só se confecciona nos fins-de-semana nos centros urbanos. No
caso dos meios rurais, a catchupa faz-se todos os dias para o jantar dos familiares tendo em
conta o tradicionalismo que lhes são próprios, a economia baseada no sector primário
predominando a cultura do milho e criação do gado caprino, suíno bovino e de capoeira e o
modo de vida dos camponeses em Cabo Verde.
Um prato rico e forte para alimentação, contudo a sua riqueza varia de acordo com o
poder compra do consumidor.
Na confecção da catchupa utiliza-se os seguintes
ingredientes: o milho, feijão, abóbora, mandioca,
batata-doce; peixe, carnes de vaca, de porco e galinha,
toucinho e «enchidos»; couve e repolho, óleo, azeite,
cebola; carne salgada, chouriço, cenoura, etc.
Essa catchupa assim preparada denomina-se de
catchupa rica que contrasta com a catchupa dos pobres devido à redução do número de
ingredientes. Os ingredientes, normalmente são obtidos no mercado local, sendo a maioria
17 LIMA, A. Germano. Santiago Atributo Da Cultura Cabo-Verdiana. In. FRAGATA. REVISTA DE
BORDO DOS TACV – CABO VERDE AIRLINES – n.º. 10 – JANEIRO 1996, P.36
Figura 4: Cachupa, prato tradicional cabo-verdiano
36
proveniente da produção local, e daí a sua variabilidade da ilha para ilha, no tempo (épocas
do ano) e de zona para zona.
A energia utilizada no meio rural é a lenha, embora hoje já se utiliza também o gás
butano, em regiões em que a lenha se escasseia. Nos centros urbanos utiliza-se, quase que
exclusivamente, o gás butano. Mas, segundo a opinião pública, a catchupa feita com a lenha
é de melhor sabor.
A catchupa guisada acompanhado de ovo a cavala e linguiça, é muito procurada nos
centros urbanos para o pequeno-almoço tanto pelos nacionais como por estrangeiros. Como
se pode analisar pelos seus ingredientes, constitui uma alimentação muito forte devido o seu
alto valor calórico e energético.
b) O CALDO DE PEIXE é um prato de todas as ilhas, mas a Cidade Velha tem a sua
particularidade. Os seus ingredientes são: peixe, banana verde, batata-doce e comum, leite de
coco e por vezes malagueta que lhe dá um sabor especial. Em Santo Antão utiliza-se ainda
fruta-pão.
Para além de caldo de peixe, vários outros pratos de peixe são confeccionados: peixe
frito, grelhado, ao forno, cozido, etc. Todos muito apreciado pelo seu sabor, valor nutritivo e
qualidades naturais dos nossos recursos marinhos.
No dia de Cinzas a receita altera. Por questões religiosas, as pessoas não comem carne.
O prato favorito é feito à base de feijão verde ou seco sem invólucro (trotchida), ovo, peixe
seco ou fumado, batatas, legumes hortaliças, leite de coco acompanhado de xerém ou arroz.
A sobremesa é cuscuz com mel de cana.
c) A FEIJOADA com XERÉM é um prato feito utilizando feijões, sobretudo feijão
pedra, couve repolho ou mostarda, mandioca, carne toucinho e chouriço. Estes ingredientes
podem variar de acordo com as zonas e o poder de compra das famílias. Normalmente é
acompanhado de xerém feito de milho moído, cebola, tomate, alho, azeite ou óleo, leite de
coco para quem o aprecie.
Pratos diversos de mariscos são confeccionados de sabor a cabo-verdiano: lagostas,
polvo, lapa, percebe, camarões, caranguejos, etc. Podem ser cozidos, assados, ao forno,
grelhados, etc.
Como a Cidade Velha fica muito perto da Capital, cidade cosmopolita onde habita
pessoas de todas as ilhas, deve-se, também estimular e desenvolver a produção de outros
37
pratos tradicionais produzidos nas outras ilhas com vista a diversificar a gastronomia como
produto turístico e satisfazer os mais diversos gostos da procura, aumentando deste modo os
fluxos turísticos. Por exemplo:
Em Santo Antão confecciona-se a broa que é muito apreciada por ser um prato doce.
Leva como ingrediente: leite, farinha de trigo farinha de milho banana madura noz moscados
açúcar erva-doce, cravinho canela mel de cana, ovos.
Em S. Nicolau, o prato tradicional muito apreciado é Modje d’ Manel Anton, feito de
banana verde, abóbora, batata, inhame, mandioca e cabrito.
No Maio e Boavista, há a famosa «tchassina» que é feita à base de carne de cabra seca
e salgada, milho e feijão.
No Fogo, ilha do vulcão destaca-se como prato tradicional a Djagacida, muito forte,
muito rico, confeccionado à base de azeite, ou óleo, feijão Congo (Congo figueira), carne de
porco salgado, cebola, rolon fino, tomate e farinha de milho.
Além dos pratos apresentados existem vários outros feitos à base de carne e peixe:
refogados à base de massa de milho enrolado, carne ou peixe, mandioca, batata, cebola alho;
caldeirada de peixe; papa de milho com leite fresco e coalhado.
4.3.3.4.2 Artesanato
a) A Panaria Cabo-Verdiana
A panaria cabo-verdiana tem a sua origem no final do sec. XV e início do sec. XVI. Os
árabes introduziram em África o algodão trazido da Ásia, o tear e ensinaram essa arte aos
negros islamizados. Esses negros, escravos artesãos trazidos para Cabo Verde no início do
povoamento, foram os verdadeiros mestres dessa arte que se tornou famosa como indústria
artesanal, pela sua qualidade e variedade.
38
Segundo António Carreira (na sua obra, «Panaria Cabo-verdiana - Guineense»), a
maior colecção desta obra de arte encontra-se no Museu Etnográfico do Ultramar. A
produção iniciou-se na Cidade Velha, como é óbvio, e depois expandiu-se para as outras
ilhas, sobretudo a ilha do Fogo que, logo a seguir a ilha de Santiago, foi povoada e a cultura
preferencial foi o algodão dada as condições privilegiadas do seu solo e clima.
A decadência de Ribeira Grande e da economia cabo-verdiana do sec. XVII e XVIII
paralisaram, praticamente o sector da indústria artesanal. No arquipélago, hoje, há numerosos
tecidos e teares velhos que não são utilizados e criaram-se após a independência alguns
centros destinados à reactivação desta arte mas o impacto económico e social não se sentem.
Os tecidos foram muitas vezes utilizados, outrora, como moeda no comércio da costa d’
África, como vestuário para os mais diversos usos e costumes contribuindo para transformar
profundamente a economia local.
Em Cabo Verde, o pano de terra fazia parte dos trajes tradicionais, aos quais atribuíam
grande valor e por isso vendia-se a um preço muito elevado.
De acordo com o seu valor artístico decorativo e qualidade designa-se de “pano de
bicho”, “pano de obra”, “boca branca” etc.
No caso da Cidade Velha de hoje, ficou a memória: histórias para ler e contar,
testemunhos oculares e recordações. Mas acreditamos que nem tudo se encontra perdido,
muita coisa poderá ser recuperada se houver um empreendimento enquadrado num plano de
desenvolvimento turístico. Nota-se um certo reconhecimento e um reavivar do pano
actualmente. Pois as pessoas, sobretudo as entidades políticas nacionais, exibem, como
moda, o veste utilizando peças de pano de terra que, por serem raras, ainda são caras.
39
b) A Cerâmica
A cerâmica, fortemente marcada pela cerâmica africana, foi também introduzida no
início do povoamento pelos escravos africanos tem fins utilitários, artísticos, decorativos e já
foi um produto amplamente comercializado entre as ilhas. Hoje existe alguns produtores
tradicionais no interior de Santiago nomeadamente no concelho de Santa Catarina e Tarrafal;
na Boa Vista, Maio e Santo Antão. É uma actividade, actualmente mais dedicada pelas
mulheres.
A matéria-prima utilizada pela cerâmica é a argila
e a técnica de modelagem a base de manuseio e
utilização de utensílios simples; carvão vegetal (lenha)
para cozedura ao ar livre e o sol para secar.
Produz se objectos variados: utensílios domésticos e ou ligados ás actividades
agrícolas; objectos de adorno que se podem constituir numa potencial oferta turística.
c) A Cestaria
A cestaria “(…) é outro artesanato muito antigo. Ainda hoje é produzida em Santiago
em zonas rurais.
Segundo João Lopes Filho, há duas formas de trabalho em
cestaria: “cestaria tecida” e “cestaria em espiral”.
Na cestaria tecida a matéria-prima como folha de coqueiro,
cana de carriço, carrapato em lâminas, e outras é entrelaçada; já
Figura 5: Cerâmica de S. Tiago
Figura 6: Cestos ( Santiago)
40
na cestaria em espiral, a matéria-prima é cozida. Na sua confecção não se utilizam quais quer
instrumentos mas simplesmente “as técnicas do jogo das mão”.
O cesto é geralmente utilizado nas lides domésticas, desde “guarda comida”, “mala
guarda-roupa” ao “balaio de compra” na cabeça em zonas rurais, ou no braço em zonas
urbanas.”18
O pau, a fibra, a palhinha de tamareira a nervura da folha de bananeira, a folha de coibi
ou ainda o sisal são os materiais frequentemente utilizados na produção de cestos, bonitas
esteiras, tabuleiros e chapéus.
A cestaria, como indústria artesanal, tem uma função utilitária: utiliza-se nas colheitas,
transporte e conserva dos produtos agrícolas; como utensílios domésticos e na decoração.
d) A Esteira
A esteira é uma outra arte popular com funções utilitária artística e decorativa dos
primórdios do povoamento.
Como matéria-prima utilizam-se folhas de bananeira seca ou bambu (nas épocas de
chuva abundante e água corrente nas ribeiras), carrapato e carriço.
A técnica de fabrico consiste no entrelaçamento das matérias-primas em rama.
Utilizava-se como leito para as famílias pobres, para produzir sombras nos espaços de
lazer e como objectos de adornos.
Actualmente ainda é comercializado nos mercados populares em Santiago com fins
decorativos e para produzir sombra nos espaços de lazer.
18 Idem. p. 38
41
e) A Música De Cabo Verde
A música de Cabo Verde é doce e envolvente, profundamente nostálgica exprimindo
sentimento de amor e ternura; por vezes sarcástica e satirizante. Os géneros diversificam-se:
a morna, a coladeira, o funaná, a mazurca, a valsa, o samba, o batuque e a tabanca.
A TABANCA não só existiu e existe nas zonas rurais de Santiago como nas zonas
urbanas. Embora não existe documentos que testemunham a existência da tabanca nos
primórdios da ocupação e povoamento da Ribeira Grande, acreditamos que tenha existido
visto que a sua estrutura representa uma simbiose cultural, símbolo da identidade crioula que,
como reza a história, formara desde o sec. XVI.
Como associação de socorro mútuo e como elemento cultural unia, fortalecia e
identificava a população cabo-verdiana, se consideramos que as outras manifestações
folclóricas como o “colá” com forte implantação em S. Vicente; o tambor também com uma
presença bem marcante na ilha do Fogo e Brava, bem como o Batuco da ilha de Santiago,
são considerados ramos folclóricos da Tabanca.
Segundo Cena Barcelos, uma portaria do governador Serpa Pinto proibiu a Tabanca na
Cidade da Praia por volta de 1895. A mesma portaria, em comentário, deixa a entender que
um alvará régio dos princípios do sec. XVIII já tinha mandado proibir essa manifestação.
“Uma hipótese sobre a origem das tabancas em Cabo Verde é a festividade de Santa
Cruz, a três de Maio. Nessa data, os senhores de escravos, movidos por um certo fervor
cristão, davam folga aos seus escravos e toleravam os festejos de Santa Cruz como símbolo
de libertação do homem. Nas ilhas esta data ficou também conhecida pela festa de negros.
Segundo as autoridades administrativas do sec. XIX, as festas da tabanca acusavam
alguns excessos: os escravos organizavam-se numa espécie de exército e desfilavam pelas
aldeias. E Sena Barcelos regista que as festas poderiam durar vários dias, com prejuízo para a
produção. Os negros, numa espécie de teatro na rua, caricaturavam a sociedade,
representando governantes, oficiais, eclesiásticos, tudo em laia do ridículo.
42
Segundo o documento régio de 1923, estas manifestações deveriam ser restringidas ou
mesmo proibidas, com receio de os escravos se aproveitarem da concentração e liberdade
para efeito de eventual revolta.
E, nos finais do sec. XIX e na primeira metade do sec. XX, encontramos a maioria dos
diplomas legais (municipais ou governativas) proibindo as tabancas por serem consideradas
motivos de desordem pública, ou simplesmente manifestação de cariz gentílica praticada por
pretos e escravos libertos. Esta opinião não foi generalizada dado que outros administrativos
opinaram sobre a necessidade de salvaguarda de pelo menos a vertente espectacular
associada ao desfile” 19
O dominador utilizou processos e métodos violentos e agressivos para impor a sua
cultura e o que aconteceu com a tabanca é uma viva história que a memória registou:
Repressão directa das manifestações da tabanca na Cidade da Praia (B.O. n.º. 12 a
14 de 1866 e, portaria nº.439, de Junho de 1920, B. O. nº. 52 de 26 de Abril de
1923 e B.O: 78 de 1927);
Uma forte pressão social, política e cultural por ser considerada como uma
manifestação de cultura inferior e incivilizada;
Repressão feita pela Igreja Católica, aproveitando a espiritualidade da população
para submetê-las a pesadas penas como: interdição ao baptismo, da comunhão do
casamento; marginalização religiosa e social; ameaça com o eterno castigo do
inferno, etc.
A Tabanca conseguiu sobreviver nas
comunidades rurais de Santiago com uma certa
liberdade, distantes do centro do poder político
que representava a repressão e nunca solução,
com as suas características originais por muito
tempo. No meio urbano só conservou a parte
folclórica.
Ela desempenhou, como uma organização não governamental, um importante papel na
sociedade visando resolver um conjunto de necessidades económicas e sociais com base no
19 SEMEDO, José Maria. Manifestações Festivas da Tabanca . In: Cultura. n.º 1.1997 . P.80 e 83.
Figura 7: Tabanca, música de Santiago
43
associativismo (djunta mó) e espírito de solidariedade. Pois a população vivia praticamente
abandonada, via na administração colonial apenas um aparelho repressivo ao qual
prefere distância. Daí o medo das autoridades coloniais de que a Tabanca poderia ser um
embrião de organização de resistência à dominação colonial. Por isso, utilizaram todos os
meios disponíveis para evitar a sua evolução.
Após a independência, a tabanca desvirtualizou-se na sua essência, tornando-se
meramente folclórica. Podemos afirmar que se deu uma inversão de valores, pois deixa de
ser uma organização de solidariedade, de ter a coesão entre os seus membros que perderam o
orgulho de pertencer-lhe; de haver o respeito pelas normas elementares da mesma e deixa de
ser uma forma de resistência cultural.
Segundo Tomé Varela, os motivos dessas diferenças tem a ver com as mudanças
económicas, fisiológicas, culturais e políticas ocorridas na sociedade cabo-verdiana.
Nomeadamente seca, êxodo rural, modernismo, evolução da mass-média, abertura para
outras realidades com utilização de tecnologias modernas, generalização do ensino aberto a
vários ramos do saber, um certo desprezo por parte da juventude em relação à tradição
devido à influência dos valores da cultura ocidental; surgimento de novas formas de
organização de massas (cooperativas, etc.) com carácter político, religioso e cultural etc.
Acrescentando ainda, uma mentalidade alienada, característica de um povo colonizado que
ainda confunde a sua própria identidade e se esforça para identificar e se valorizar com a
cultura e identidade do seu colonizador.
Hoje, a tabanca subsiste com os velhos que, teimosamente e sem apoio, lutam para
preservar este importante património. Possui uma estrutura orgânica hierarquizada
constituída sobretudo pelos elementos da comunidade local que desempenham funções
importantes na preservação e manutenção dos princípios que norteiam a criação da Tabanca.
É dirigido por um corpo organizativo formado por:
Uma Assembleia dos Sócios que é o órgão máximo da Tabanca, ao qual fazem
parte todos os seus membros cativos e cativas; negros e negras. Estrutura essa que
mostra a origem escravocrata desta organização. É ela que decide sobre as inúmeras
questões respeitantes à entrada de novos sócios; fixação de calendários de
actividades; eleição dos órgãos executivos, etc;
Um Órgão Executivo constituído pelo Rei da Tabanca que é o líder tradicional,
comandante-chefe; Governador da Tabanca, conselheiro do Rei e administrador dos
44
bens da Tabanca; o Rei da Corte cuja função é reservada à administração do espaço
sagrado da Tabanca; Rainha, membro da corte e responsável máximo dos cativos e
pela logística das festividades; o Rei do Campo responsável pela organização dos
desfiles; Comandante Militar responsável pelas forças armadas e segurança; o
Maestro que ocupa o lugar respeitante à música; as Mandoras – Chefes ou
Pombinhas que ajudam a Rainha no comando sobre as cativas ou negras;
Para além das entidades referidas existe outras figuras consideradas secundárias
dentro da Tabanca: as filhas de Santos que são damas de honor da rainha; figuras
cómicas: o ladrão, falcão, burro, carrasco, besta, etc; entidades ligadas à igreja e na
base da pirâmide encontram-se os chamados basados que não são outra coisa senão
a plebe.
Devemos frisar no entanto que a Tabanca é regida por normas de conduta cujo
cumprimento, por parte dos associados, é obrigatório.
As festividades da Tabanca começam três dias antes do dia do Santo Padroeiro com o
batimento do milho no pilão para extracção do farelo. Esta actividade é feita normalmente à
noite junto da Capela para a produção de xerem e do cuscuz. É muito importante dizer que
todos esses trabalhos são feitos pelas mulheres e são animadas com batuque e regadas com
grogue. Na véspera da festa o batuque ocupa um lugar privilegiado, permanecendo até a
madrugada.
No dia de santo, a primeira actividade é sem dúvida, marcada pela missa rezada na
Igreja, pelo Pároco de freguesia, seguindo-se depois o ritual do roubo do santo em que o
ladrão, movido de grande destreza, empurra os soldados (dois rapazinhos e uma cativa velha)
entra e dirige-se ao altar onde apanha uma bandeira branca marcada ao centro por uma cruz
vermelha e uma das varras da Tabanca. Após o roubo do santo, os soldados devem manter-se
inactivos e a velha puxa uma varada ao ladrão que sai a correr levando o santo a uma das
duas ladras que o acompanham. Esta embrulha a bandeira numa ponta de xaile branco.
A compra dos santos deve ser feita durante sete anos consecutivos e o comprador fica
responsável pela alimentação, recepção e alojamento de todos os participantes no dia do
cortejo.
Ao sétimo dia, proceder-se-á à recuperação do santo que é efectuada aos sábados, com
vista a reunir o maior número de cativos, e sempre em data combinada com a rainha de
gasadju.
45
Entre o roubo e a recuperação do santo, prevalece as noites de salvas feitas na capela da
corte – uma espécie de rosário cristão à base do bater de tambores seguido de ladainhas e
termina com o rufar dos búzios e tambores.
Nas actividades festivas da Tabanca não se deve esquecer a importância que o cortejo
representa por ser a única actividade de rua. Para muitos esta manifestação cultural resume –
se ao cortejo.
Depois de reunir-se um grupo satisfatório de cativos começa o desfile com os ladrões à
frente, atados por uma corda à cintura e segurado pelo carrasco que encaminha toda a corte
para a casa do comprador, seguindo-se depois uma das mais longas caminhadas.
Antigamente deslocavam-se às várias aldeias.
Atrás do carrasco seguem-se o Rei do Campo, o comandante e os soldados, a seguir um
jovem com as varras da Tabanca cruzadas em X, A Rainha do Campo acompanhada das suas
damas; figuras alegóricas de barcos aviões; os tamboreiros e corneteiros (orquestra);
seguidos por cativas num alinhamento impressionante várias outras figuras se representam
no cortejo: padre, doido, médico, pomba, corvo, burro, etc.
Depois de percorrerem vários lugares, o cortejo aproxima-se da casa da rainha e pára,
até que o falcão venha restituir a bandeira roubada ao Rei do campo, anunciando-lhe a
autorização de chegar a casa que comprou o santo. Assim depois de ter conseguido a
bandeira, o Rei do Campo conduz o cortejo até chegar a porta da casa mas, enquanto não
convencer os presentes de ser ele o comprador do roubo, a vara não lhe é restituída. Com a
restituição da varra abre-se o caminho para uma reanimação com tambores, búzios e cantares
de rua seguida de uma distribuição de uma refeição aos elementos do cortejo. Essa refeição é
submetida a uma rigorosa inspecção feita pelos médicos e enfermeiros que experimentam e
recolhem provas em todas as panelas. Depois de terem tecidos elogios à qualidade das
refeições, autorizam-se a sua distribuição, que deverá ser feita primeiro às crianças, depois
aos convidados e estranhos e por fim aos associados.
O cortejo prossegue toda noite na casa de gasadju onde uma equipa de soldados
garante a segurança de pessoas e, em tempos antigos, criava-se uma cadeia para os que
faltavam. No dia seguinte, o cortejo regressa à capela da corte onde termina o ciclo festivo.
Finalmente pode-se referir que terminado o ciclo festivo, o cortejo só sai para acompanhar o
funeral de um cativo. Após o enterro há um repicar dos tambores e dos búzios que marcam a
dança do regresso à nova vida daqueles que ficaram.
46
Concluindo a tabanca representa uma miscigenado de cultura onde se encontram
representados todos as classes sociais sincronizados numa mesma forma de convivência e
inclusive os animais que fazem parte da vida quotidiana das pessoas. Filosoficamente não há
discriminação. A discriminação e exploração do homem pelo homem são representadas sob a
forma de caricatura crítica da
sociedade.
O BATUQUE é sem dúvida a
forma musical mais antiga de Cabo
Verde. A referência documental mais
antiga é redigida por José Conrado
Carlos de Chelmicki em 1841 que deu
ao mesmo tempo informações
pormenorizadas sobre a dança do
batuque.
Armando Napoleão Fernandes, na sua obra: «Léxico do Dialecto Crioulo de Cabo
Verde, Ed. Da família 1991», define o Batuque como sendo:
“…uma cantilena acompanhada de cimboa (…) e a chabéta que segue o ritmo ora
brando e cadenciado, ora forte e repicado, acompanhando a letra e a cadência (finaçon),
seguido de torno.
É uma música de improviso sobre os mais diversos motivos da vida quotidiana com
uma forte influência das tradições africanas. Subdivide-se em várias partes:
Finaçon que segundo Armando Fernandes «é o canto singelo porque começa o
batuque, prelúdio a solo acompanhado pela viola ou pela cimboa».
Tchabeta “é a parte principal do batuque, consiste na elaboração do ritmo com o bater
das palmas e das mãos sobre um pano rolado que se coloca entre as pernas, de modo a se
obter uma caixa de ressonância. Trata-se de uma simulação de tambores, uma vez que os
escravos que chegaram às ilhas, possivelmente não encontraram, no inóspito ambiente do
arquipélago, material para fabricação dos seus instrumentos tradicionais (tronco de árvores,
pele dos animais, etc.), ou então tal não foi permitido pelos patrões e senhores.
O torno é uma dança tipicamente africana, com o rebolar das nádegas em que simula o
acto sexual. (...)
Figura 8: Batuque, música tradicional de Santiago.
47
Cânticos elaborados quase sempre de improviso, com versos (que muitas vezes podem
ser picantes), satirizam ou criticam acontecimentos da vida social ou pessoal. Outras vezes,
os temas podem girar à volta de simples brincadeiras sem qualquer tipo de maldade”.20
O articulista compara as batucadeiras de «finaçon» «aos grióts africanos» que têm a
função social de preservar as tradições. São normalmente mulheres de idade avançada muito
eruditas, experientes e com dotes poéticos. Destacou como sendo características africanas o
carácter de desafio em que se inicia o cântico, «cântico inicial seguido de resposta em coro
tanto nos versos como na música» e improviso.
Esta manifestação da arte popular que animava as festas dos baptizados e casamentos e,
muitas vezes o trabalho no campo, começou a entrar em decadência nos meados do século
vinte. Cada vez mais vê o seu espaço a ser invadido por outros tipos de música estrangeira
mais comercial, cujo arranjo é feito com instrumento electrónico. As autoridades e a igreja
impuseram muita restrição e limitação ao batuque como tenham no feito com a tabanca e
outros géneros de manifestações tradicionais de origem africana.
Ao longo do tempo, este género musical vem sofrendo alterações o que nós
consideramos normal porque a música como todo o tipo de arte tem de acompanhar a
evolução sob pena de deixar de representar a identidade de um povo e deixar de ser arte. De
entre as alterações relevantes destacam-se a substituição da cimboa pelo violão, a tendência
para substituir o pano pela tumba e percussão electrónica.
A partir de 1974, como movimento de valorização de todas as formas da cultura
nacional o batuque conheceu um certo renascimento. Mas, nessa altura para além de já ter
perdido grande parte da sua função social, passou a ser uma manifestação de palco e chega-
se até a introduzir tambores do tipo géneros como Kolá ou tabanca.
Pois nota-se uma preocupação dos jovens músicos em modernizar o batuque, a
tamanca, bem como os outros géneros musicais de forma a conquistar espaço no mercado
musical embora reconhecemos que essa modernização nem sempre trouxe qualidade.
Salientamos os trabalhos realizados com base na pesquisa de Catchaz, Norberto Tavares,
Zeca de Nha Rinalda, Gil, do grupo Sementeira, Codé de Dona, do Grupo Ferro Gaita, Os
Tubarões, Orlando Panterra etc. dando uma nova vida às duas músicas populares e
20 GONÇALVES, Carlos Filipe. Batuque Uma Herança Africana In: FRAGATA. REVISTA DE
BORDO DA TACV – CABO VERDE AIRLINES. Nº.14.1997. ps.32-33
48
transformando-os em músicas de palco e de espectáculo ao grande público. Por exemplo
vários concursos de tocadores tradicionais e de dança de batuque e funaná têm sido feitos na
ocasião das festividades de romarias e dos municípios para a promoção e valorização da
nossa cultura, em todos os concelhos da ilha de Santiago; destaca-se ainda a participação dos
artista de funaná nos espectáculos em todos os concelhos do país e em certames
internacionais e a presença constante do batuque e funaná na produção discográfica dos
nossos artistas cabo-verdianos Hoje, graça à influência dos referidos músicos, vários grupos
tradicionais vêm surgindo nas zonas rurais e nos arredores periféricos da Cidade da Praia e
são convidados a participar nos espectáculos nas épocas festivas e por vezes a animar os
clientes nos restaurantes nos fins-de-semana.
FUNANÁ considera-se um género musical recente, embora a origem ainda prevalece
no enigma até aparecer documentos que esclarecem a situação (veredicto popular).
É um género musical que foi muito descriminado pelo governo colonial, igreja e
pequena burguesia colonial e por ser considerada música do campo e de má qualidade, viveu
durante muito tempo no campo e servia para animar as festas populares e bailes nocturnas, às
vezes, os trabalhos colectivos da agricultura (djunta mó). Nas aldeias, vilas e arredores da
Cidade da Praia, os tocadores de gaita e ferro animavam a vida nocturna nas tabernas e nos
bailes populares.
“É um género musical e dança cabo-verdiana, característico da ilha de Santiago, com
canto, acompanhamento e solo por um acordeão, o ritmo é produzido pelo esfregar de uma
faca numa barra de ferro. (…)
Com Independência Nacional em1975, registou-se uma verdadeira explosão musical
em que dominou a revalorização de todas as formas musicais existentes no arquipélago. O
retorno às fontes musicais tradicionais e o seu tratamento com vista a se encontrar novas
formas musicais, foi pois uma maneira de revalorizar géneros existentes mas que não eram
considerados como integrantes do panorama musical cabo-verdiano. Nesta linha de
pensamento regista-se, por um lado, o que se pode considerar um mero «revivalismo», ou
seja géneros até então esquecidos, como valsas, mazurcas e contra-dança, bem como mornas
e coladeiras antigas, batuques, etc. Por outro lado, alguns grupos musicais dedicam-se à
pesquisa de géneros tradicionais, como a Tabanca que procuram orquestrar com
instrumentação electrónica, mas esta inovação não é bem recebida pelo público. A semente
de uma nova música está pois lançada e vai dar os seus frutos e a polémica que gera este
novo pensamento musical vai durar durante alguns anos, com discussões acesas entre os que
49
procuram uma via evolutiva da música de cabo verde e os tradicionalistas que consideraram
a pureza de tradição» “.21
Com base no princípio defendido após a Independência referido acima: «retorno às
fontes», Carlos Alberto Martins, fundador do grupo musical Bulimundo, conhecido pelo
nome popular «Catchaz», enveredou por uma pesquisa profunda das músicas tradicionais,
especialmente funaná, consegue, por meio de um estudo profundo dos ritmos e da estrutura
melódica deste género, a sua adaptação para instrumentos electrónicos. O sucesso foi total e
deu-se uma verdadeira explosão deste género, primeiramente no interior de Santiago, depois
nos centros urbanos cabo-verdianos e na diáspora, e actualmente no seio da comunidade
internacional, época em que há uma tendência internacional para promover os aspectos
tradicionais da cultura.
Carlos Felipe Gonçalves considera que as músicas e danças tradicionais de Santiago,
batuque, finaçon, tabanca e funaná, já entraram em decadência desde os meados do sec. XX.
Nós acreditamos que apesar de deixarem de desempenhar a função social que vinham
desempenhando, estas manifestações culturais entraram actualmente, numa outra fase de
evolução que lhes trouxe uma outra dinâmica como música e dança de palco e de
espectáculo. Os trabalhos realizados ultimamente pelos jovens músicos são provas evidentes
disso. Assim sendo deve-se continuar a realizar sessões culturais, espectáculos, concursos
associados às festas de romaria e outros associados às datas comemorativas com vista a
valorizar a nossa cultura e transformá-la num produto turístico de qualidade concorrencial.
Pensamos que actualizar e desenvolver organizações como a tabanca que pode albergar
no seu seio os mais diversos aspectos e manifestações culturais, é possível sem adulterar a
sua essência. Mas nunca se deve pensar se quer e pior ainda utilizar o conservadorismo para
transformar a cultura numa memória colectiva do arquivo porque ela é viva e dinâmica,
assim sendo, está em constante evolução.
Pode-se transformar a tabanca numa espécie de grémios que abarcam associações de
carácter desportivo, social, económico, tipo cooperativo aproveitando o espírito de
solidariedade cuja reminiscência ainda prevalece no campo (djunta mó); fazendo com que as
21
GONÇALVES, Carlos Filipe. Batuque Uma Herança Africana In: FRAGATA. REVISTA DE BORDO DA TACV – CABO
VERDE AIRLINES. Nº.14.1997. ps.32,33
50
pessoas passam a reconhecer nas nossas manifestações culturais potencialidade e acutilância
de trazer para sociedade dividendos palpáveis.
Podemos tomar como referência a afirmação da cultura negra sobretudo no campo da
música na cidade turística do sul dos Estados Unidos, Nova Orleães, em que a música
constitui portão de entrada para o desenvolvimento do turismo. É de salientar que a
participação dos Ferro Gaita, num evento musical realizado naquela cidade, foi muito
elogiada e funaná considerada uma das melhores músicas confrontadas nesse evento pela sua
qualidade e autenticidade.
Como podemos concluir, foi um trabalho meritório que já começou a dar os seus frutos.
Verifica-se uma certa mudança de mentalidade, os jovens músicos já começam a interessar-
se pelas músicas tradicionais e várias pesquisas estão sendo feitas a nível de outros géneros
em vias de extinção: Reza de Santiago, Colá de S. Vicente, Landum da Boavista, Bandeira,
Canizade, Codrá da ilha do Fogo e Chorro de Santiago e Fogo.
51
V. O Turismo e os Sectores Económicos
5.1.O Turismo e o Sector Primário
5.1.1. Agricultura, Pecuária, Silvicultura
O sector primário continua sendo tradicional, artesanal e familiar. A agricultura é
praticada ao longo do vale e limita-se ainda às culturas e métodos tradicionais, apesar de
haver alguns esforços para a modernização utilizando os meios que se utilizam na agricultura
moderna. O regime de propriedade em minifúndio familiar dificulta a modernização da
agricultura.
A cultura de tubérculos mandioca, batata e cana sacarina continua sendo praticada nos
moldes tradicionais. A semelhança das outras ribeiras de Santiago, cultiva-se as árvores
fruteiras muito saborosas: papaieira, mangueira, coqueiro, limoeiro, bananeira, etc. È uma
actividade muito lucrativa praticada em moldes mais comerciais do que agricultura de
sequeiro.
Segundo inquéritos agrícolas realizados pelo Ministério de Agricultura, a área cultivada
em sequeiro com milho e feijões de 1987 a 1995 está a diminuir e o rendimento varia de ano
em ano em função da pluviometria. A produção de cereais não cobre um décimo das
necessidades da população e o feijão tem uma cobertura de cerca de 30% das necessidades.
A agricultura desempenha um papel muito importante na vida nacional e em particular
na vida da população de Cidade Velha, a nível da dieta alimentar e na criação de emprego.
Mas é preciso que haja um maior investimento privado e requer investimento de longo prazo.
O estado deve e pode intervir com actividades de promoção e apoio.
52
A maior parte dos proprietários agrícolas de regadio não possuem meios adequados ao
desenvolvimento e aumento de produção. Actividades de experimentação e demonstração
vêm sendo realizados e os resultados são encorajadores, mas o não aproveitamento prende-se
com as razões ligadas a atitudes e mentalidade que não coadunam com a nova tecnologia.
Daí a grande aposta que se deve fazer na formação para o futuro.
Em Cabo Verde, o equilíbrio entre a vegetação, os solos e o clima é de natureza
instável devido a raridade e irregularidade das chuvas, acção do vento, da erosão eólica e
hídrica.
“Outros factores restritivos podem ser anunciados, tais como, propriedades agrícolas
reduzidas, sendo grande parte delas indirectamente exploradas, com tamanho médio das
explorações bastante reduzido e parcelas divididas, utilização de técnicas pouco adequadas,
os sistemas de exploração deficiente e dificuldades de acesso ao crédito.
Apesar dos factores limitantes a agricultura ocupa mais de 50 % da produção, sendo a
agricultura de sequeiro predominantemente com cerca de 70 % das explorações agrícolas, o
que equivale a 38.855.000 ha, ou seja 90 % da área cultivável total (dados do RA/88). A área
de regadio é variável, de ano para ano, estimando-se que actualmente varia de 1.500 a 2.000
ha, para um potencial da ordem dos 2.500 a 3.000 ha.”22
Porém a água constitui um elemento crítico, o factor dominante da produção. Ela é
obtida por meio de diques de captação, galerias, poços e furos. Dada a importância e a
variabilidade extrema deste factor, a agricultura caracteriza-se por produções muito
flutuantes e imprevisíveis, não satisfazendo as necessidades básicas da população.
Verificam-se elevadas perdas de água da ordem dos 40 a 50 % nas redes de distribuição
em particular nos canais em terra. Utilizam-se, como prática corrente doses exageradas e
intervalos muito longos, deficiente sistematização das parcelas de regadio, alagamento das
parcelas ou por sulcos.
A área regada exclusiva do concelho de Ribeira Grande estende-se pelas ribeiras de
Cidade Velha, hoje, Cidade de Santiago, S. Martinho, São João Baptista, Belém, Pico Leão,
Santana, Tchuba Tchobe e Mosquito de Horta. A área varia de acordo com a pluviometria
anual mas pode ser ampliada e melhorada com adopção de um novo sistema de rega e de
22 .MINISTÉRIO DE AGRICULTURA ALIMENTAÇÃO E AMBIENTE. Plano Director De Irrigação
Relatório Principal. 1997, P.25
53
exploração dos recursos hídricos, mudanças de atitudes e de políticas de informação,
formação e capacitação profissional.
Analisando atentamente o quadro nº 4 em anexo constata-se que a área de sequeiro e de
regadio das duas freguesias, a de S. João Baptista e de Santíssimo Nome de Jesus (concelho
de Ribeira grande) ocupa cerca de três quartos da área abrangida pelo então Concelho da
Praia apesar dos erros de cálculo que se notam em termos percentuais.
Do estudo feito sobre a viabilidade financeira de micro-irrigação em pequenas unidades
de produção familiar, conclui-se que os rendimentos médios das culturas das explorações
agrícolas nos dois tipos de sistemas de irrigação praticados foram diferentes:
“Em todas as culturas o rendimento médio registado, no sistema de rega gota a gota foi
muito mais elevado que no sistema tradicional, havendo caso em que os resultados foram três
vezes mais (tomate 23 t/ha contra 7t/ha), e duas vezes mais (cenoura 14t/ha contra 6 t/ha).
(...)”.23
Nota-se que há mais e melhor utilização de adubos químicos e orgânicos no sistema de
gota a gota e o custo de produção é 2 a 3 vezes inferior do que com a rega tradicional.
Da simulação feita recorrendo a crédito a título pessoal ou em grupo de 5 agricultores
(crédito solitário) chegou-se à seguinte conclusão:
Que a instalação do sistema de rega gota a gota, recorrendo ao crédito individual, é
inadequada, apesar do aumento da produtividade. Porém, segundo os especialistas,
os elevados encargos financeiros no primeiro ano de exploração faz com que o
resultado da conta de exploração seja negativo, dificultando o financiamento do
consumo familiar;
O recurso ao crédito solitário revelou-se a alternativa mais acertada para os
pequenos agricultores nos dois tipos de exploração. Os resultados demonstraram
uma excelente capacidade de auto financiamento no fim da exploração aliada à
conta de exploração altamente lucrativo com um lucro médio anual de 408 contos,
o equivalente a um salário médio mensal de 34.000 Esc., para a classe I; e um lucro
médio anual de 643 contos equivalente a um salário médio mensal de 54.000 Esc.,
para a classe II.
23 GONÇALVES, Clarimundo E OUTROS. Viabilidade Financeira De Micro- Irrigação Em Pequenas
Unidades De Produção Familiar ps .22, 24, 26, 27, 48,49.Direcção Geral de Animação e Promoção
Cooperativa.2002
54
Respectivamente à Cidade Velha, há um projecto de irrigação gota a gota em execução
financiado no âmbito da cooperação com a Espanha mas em termos de investimento e
impacto ainda é irrisório.
A florestação contribui de forma significativa para a fertilidade do solo, combate à
desertificação, surgimento de microclimas, melhoria no que concerne a reprodução e o
crescimento de animais e plantas e a estabilidade da diversidade biológica. O aumento da
disponibilidade de produtos florestais, nomeadamente forragens e lenha desempenha um
papel importante para melhoria da alimentação e nutrição do gado e na melhoria da
paisagem.
A Cidade Velha apresenta um défice de florestação. Pois, as achadas limítrofes
prevalecem praticamente desérticas. Com a racionalização e melhor utilização da água as
achadas poderão transformar em espaços verdes, potencial ofertas turísticas.
As plantas a serem utilizadas na criação de espaços verdes, nomeadamente: jardinagem,
parques, etc. devem adequar – se às características do meio. Tendo em mente que
pertencemos a região do Sahell e seguindo o exemplo das Canárias, preferencialmente deve-
se utilizar as indígenas e as que consomem menor quantidade de água possível: os cactos,
babosa, marmulanos, carapatos, língua de vaca, mostarda brabo, piornos vários, saião
aeoniun gorgoneum, tortolho diversos, aipo carquejas, alecrim brabos, dragoeiro, tamareira,
espinheiro branco, zimbroeiro, fiqueira brabo, tarrafe, etc. Plantas essas que se destacam pelo
seu exotismo em relação aos turistas, aroma, importância ecológico e valor estético
paisagístico nos espaços verdes.
5.1.2. A Pesca
A pesca é uma actividade económica que consiste basicamente na captura do peixe nos
mares, oceanos rios e lagos que depois é utilizado na alimentação humana. É uma actividade
muito antiga das mais antigas do mundo depois da caça. Na verdade, os nossos antepassados,
os homens primitivos, que viviam nas cavernas, já caçavam e pescavam. Estudos dos
55
cientistas e arqueólogos descobriram objectos em ossos e metal datados de vários milhares
de anos que serviam para captura dos peixes. Estes objectos são os antecedentes dos nossos
anzóis.
A pesca levada a cabo pelo homem ao longo dos tempos é uma pesca destinada
essencialmente ao consumo de comunidade piscatória. É a chamada pesca artesanal ou de
sobrevivência. Nesse tipo de pesca, o homem utiliza as redes, a cana de pesca e outras
armadilhas para a captura de peixe, mas as quantias capturadas não ultrapassam as
necessidades da população.
A pesca industrial em Cabo Verde está intimamente ligada a nossa emigração. Sabemos
que a maior comunidade de cabo-verdianos emigrados se localizam nos Estados Unidades da
América. Essa emigração começou no século passado com os pescadores que participaram
na pesca de baleia realizada pelos barcos baleeiros americanos. Daí que a pesca representa
para nós não só uma forma de subsistência, mas também o início da nossa emigração.
Actualmente, grande parte dos países que se dedicam à pesca, fazem-no em grande
escala, isto é, utilizam grandes barcos que com auxílio de técnicas modernas, apanham
grande quantidade de peixe de uma única vez. Essas quantidades destinam-se à exportação,
isto é, à venda para outro país ou também para as fábricas de conservas. È uma pesca que
pode desgastar os recursos marinhos, já que por vezes retira dos mares e oceanos, mais do
que aquilo que eles produzem e não se permite a renovação de espécie. Por isso é que o
estado controla: estabelece períodos de pesca, tipo de rede a utilizar, de forma a permitir a
desova dos peixes crescidos e sua exploração racional. Mesmo assim há fugas e, claro que
com a pesca industrial, os peixes vão diminuindo no mundo inteiro. Aliada a exploração
extensiva dos recursos marinhos, existe o perigo de poluição que tem contribuído também
para a diminuição da fauna marinha e fluvial.
Na chamada pesca desportiva, o peixe é capturado não já para ser destinado à mesa do
cidadão, mais sim por puro prazer. É um tipo de pesca pouco utilizado em Cabo Verde,
embora o nosso país tenha condições para tal. É a pesca destinada essencialmente aos
turistas.
Segundo Boletim de Estatística n.º 10 de 2001 publicado pelo INDP, a produção da
pesca artesanal em 2001, foi estimada em 5649 toneladas o que corresponde a uma
diminuição de 19%, comparado cm 2000 (...), 29% corresponde a ilha de Santiago, seguido
56
de S. Vicente com 19%, e como nos anos anteriores a ilha da Boavista foi a que menos
contribuiu, com apenas 3%.
Este resultado tem a ver, sobretudo com o esforço de pesca exercido e não com a
abundância de peixe por cada ilha.
Não encontramos dados específicos relativamente à pesca na Cidade Velha, contudo
defende-se que o seu mar não é rico em peixe. Mas tratando-se de uma comunidade
piscatória, existe um grupo significativo de pescadores que se dedicam exclusivamente à
pesca tradicional/artesanal e que contribuem para garantir emprego a algumas famílias e
fornecimento do pescado à comunidade da Cidade Velha com excedente para a cidade da
Praia e outras comunidades rurais.
De acordo com a tabela 1 – Levantamento Geral de Pesca Artesanal 1999, publicado no
censo 2000, Cidade Velha possuía 16 botes com motor, 3 sem motor, 63 pescadores
exclusivo, 23 part–time 1 rede de praia, e 5 rede de emalhar.
Os pescadores não estão dotados de meios técnicos, financeiros para aproveitar as
potencialidades existentes no sector. Normalmente têm recebido muito pouco apoio neste
âmbito. O processo utilizado ainda é tradicional e arcaico: redes mal dimensionadas e a
prática de pesca de arrasto considerada uma ameaça para o ambiente por causa dos danos em
termos de equilíbrio de stocks do pescado.
5.2. O Turismo e o Sector Secundário
O sector industrial em Cabo Verde tem
vindo a conquistar espaço, principalmente a
partir de 1996. Mas continua a ocupar um
papel reduzido na formação do produto
bruto. Com a política de promoção do sector
privado e dos investimentos, com a
Figura 8: Trapiche
57
instalação de zonas industriais francas um conjuntos de empresas surgiram. Contudo, nota-se
uma concentração na indústria ligeira nomeadamente confecções, alimentares, pescas,
construção. A nível espacial concentra-se nos concelhos da Praia e S. Vicente. A indústria de
transformação de produtos nacionais tem-se processado muito lento. O sistema utilizado na
maior parte das vezes é o tradicional de processamento e transformação, sobretudo dos
produtos de agricultura e pecuária.
A Cidade Velha, como o resto do país, não é uma zona industrial, embora persistam
algumas indústrias tradicionais dos primórdios do povoamento com algum impacto na
economia e nível de vida da população local. De destacar a produção de aguardente e licores
de cana-de-açúcar muito consumidos no nosso mercado e que gozam da fama de boa
qualidade. A cerâmica, cestaria, panaria e esteirado praticamente não têm expressão no
mercado está relegado mais para a área artística.
Os turistas que visitam cabo verde têm mais acesso a artesanato estrangeiro do que o
artesanato local. È necessário que haja mais iniciativas por parte dos nacionais na produção
de vestuário, cortinado, tapeçaria, cestaria, cerâmica, quadros e outros objectos de decoração,
confeitaria, etc.
A Cidade Velha pode-se transformar com o desenvolvimento do turismo não só num
centro de produção dessas indústrias mas sobretudo num centro de exposição e venda das
produções nacionais.
A criação de hotéis e restaurantes aumentam o consumo e estimula os produtores a
aumentar a produção.
As infra-estruturas modernas para o desenvolvimento do turismo, praticamente não
existem. Apenas pequenos bares - restaurantes que não garantem serviços de qualidade; dois
hotéis em construção: Santiago Golf Club & Resort que tem um projecto muito ambicioso
localizado entre o concelho da Praia e o concelho de Santíssimo nome de Jesus; Pôr–do-Sol,
uma pensão já em funcionamento em ampliação, uma infra-estrutura moderna com
qualidade; Baía Coral em construção com apenas a explanada a funcionar; algumas casa
antigas na rua de Banana remodeladas que funcionam como hospedagem para turistas.
Com apoio da Associação dos “Amigos de Cabo Verde - Suécia” construiu se um
museu intitulado “Casa Tradicional” e “Atelier Artesanato, na Cidade Velha”, em 1997.
58
Foi construída uma pousada para o apoio e exploração turística de Cidade velha e há
um projecto para a criação de um Centro de Manipulação ou Transformação de Produtos
financiado pela Cooperação Espanhola.
A 30 de Março de 1999 foi enviado ao Presidente da Câmara Municipal uma proposta
de reforma/ampliação do restaurante Miramar Esplanada na Cidade Velha pelo Arquitecto
Luigi Dalffine em nome da Sociedade “DOMUS Lda.”, constituída na Praia, no dia
11/03/99, actual proprietário do Restaurante Miramar.
Segundo a proposta, o objectivo do projecto é recuperar o restaurante transformando-o
numa pequena estrutura hoteleira de alto nível, acrescentando aos edifícios existentes 30
quartos com as respectivas casas de banho e mais espaços para actividades culturais
comerciais e pesquisa.
Não sabemos qual foi o destino que foi dado ao projecto. O certo é que a construção
não se iniciou.
5.3. O Turismo e o Sector Terciário
A pretensão da política de Cabo Verde em ter como suporte de desenvolvimento da sua
economia a especialização dos sectores de comércio e serviços encontra a sua fundamentação
no lugar que ocupa quanto sua participação na formação do PIB e crescimento económico,
na localização geo-estratégica, no contributo para a criação do emprego.
O comércio de bens e serviços nos sectores de ASP (Agricultura, Silvicultura e
Pecuária) é caracterizado pela flutuação dos preços e irregularidade de fornecimento do
impute. O escoamento dos produtos continua precário devida a falta de estruturas de
conservação e comercialização.
As receitas de exportação de bens e serviços cobrem menos de 25% das importações. O
desenvolvimento do turismo, a criação de zonas francas viradas para o mercado externo, a
59
instalação de empresas, os serviços de transbordo constituem alguns domínios de
especialização.
O comércio externo nos últimos anos tem evoluído consideravelmente, e é marcado
sobretudo pela instalação de novas unidades industriais resultado de novos investimentos e
de diversificação de ramos de actividades e de parceiros comerciais.
A taxa de cobertura das exportações pelas importações continua reduzida. Após uma
ligeira aceleração entre1996 e 1997, situada em 6%, assinala-se uma redução para 4.5% e
4,3% em 1998 e 1999 respectivamente.
A balança comercial continua largamente deficitária. As importações crescem a uma
média de 11,2% enquanto que as exportações em 3,8% entre 1996 e 1999. As exportações a
preços correntes representam 2% do PIB enquanto as importações 45%. Relativamente às
importações os países europeus (dos quais Portugal destaca-se com 52,7% do total)
continuam sendo principais parceiros comerciais (com 78,8% em 1998 e 76,2 em 1999 das
importações totais); a África representa 2,8%e 3,6% a Ásia 7,5 e 10,6% e o resto do mundo
com 1,5% e 1,2% em 1998 e 1999.As trocas comerciais com a África tendem a aumentar
mas ainda ocupam um lugar marginal no contexto geral.
As principais zonas económicas de destino das exportações continuam sendo os países
da Europa (que absorveram 99,2% e 99% em 1998 e 1999). Portugal absorveu 89% do total
das exportações realizadas em 1999; a América e o resto do mundo 0,5 e 0,3
respectivamente.
O desenvolvimento do sector informal aconteceu de forma explosiva nos últimos anos.
A elevada taxa de desemprego que atinge em grande medida a população feminina,
principalmente nos centros urbanos e a imperiosa necessidade de procurar os meios de
subsistência estão na origem do seu rápido e crescente desenvolvimento. Os contornos do
mercado e da entrada e do perfil de novos operadores externos nesse domínio,
designadamente os de origem asiática, as características e qualidades de produtos, o poder de
compra da população propiciam o seu desenvolvimento. Aliás é uma situação típica de um
país em desenvolvimento e que atravessa uma fase embrionária de desenvolvimento da
iniciativa privada, da economia de mercado e do rápido crescimento demográfico, em busca
de uma política de desenvolvimento sustentável e equilibrado.
O sector informal contribui para minorar os problemas de desemprego e é caracterizado
pelo dinamismo e competitividade. Muitas vezes ou na maioria das vezes torna-se difícil o
60
seu acompanhamento e as condições infra-estruturas e outras para o seu funcionamento
acabam por ser um elemento perturbador na organização e regulação do sector, sobretudo
nos centros urbanos.
Os serviços têm um papel representativo na política do desemprego e estima-se que a
sua participação no PIB ronda os 57%, entre 1998 e 1999.Os sectores mais dinâmicos são os
serviços públicos, os transportes e as comunicações. E tem papel fundamental ao nível das
exportações e do equilíbrio da balança de pagamentos.
Os serviços são esfera essencial do desenvolvimento de Cabo Verde que requer atenção
acrescida devido ao seu papel motor tanto na vertente económica como social.
Os transportes foram identificados como factor-obstáculo que condicionou o
desenvolvimento de cabo verde na década de 90. As dificuldades têm a ver com a dimensão
reduzida de mercado, insularidade e descontinuidade territorial. Nesta perspectiva, as
soluções estruturais passam pela cooperação regional, de modo a gerar volumes de negócios
atractivos para operação de prestadores de serviços que beneficiam de economias de escalas
e, por isso, tendem a ter custos mais baixos.
A reduzida dimensão do mercado, que dificulta ganhos de eficiência pela via da livre
concorrência, associada a garantir às camadas da população de baixo rendimento o acesso a
esses serviços e de servir todas as ilhas independentemente da rentabilidade das operações,
poderá aconselhar a adopção da modalidade de serviço público para esse sector, e sua
concessão por linhas ou modalidades de transportes em regime de exclusividade. Este regime
deve ser aplicado em particular na modalidade de transporte rápido de passageiros cuja
introdução se torna necessária e que requer investimentos avultados e tem altos custos
operacionais. Esta solução teria vantagens claras sobre o sistema prevalecente, baseado em
investimentos públicos em equipamentos de transporte marítimos, com incidência negativa
no orçamento de estado e na posição da dívida externa. A livre iniciativa dos privados nos
transportes de passageiros e turistas deve ser estimulada e apoiada.
Actualmente em termo de infra-estruturas portuárias existem dois portos de grande
porte e todas as ilhas habitadas dispõe de instalações portuárias que permitem quebrar o seu
isolamento.
A procura dos serviços de transportes marítimos de passageiros tende também para um
serviço voltado para turistas, que oferece boas condições de segurança e de comunidade.
61
Contudo, razões de vária ordem fazem com que esses serviços sejam também prestados por
navios mistos.
Todas as ilhas dispõe, presentemente, de um cais acostável, o que favorece a circulação
interna de mercadorias e pessoas, e facilita a integração do mercado interno.
Os serviços de transporte marítimo são geralmente, qualitativa e quantitativamente
pobre devido: a relutância das empresas modernizar sua gestão e renovar tempestivamente a
sua frota repercutindo na motivação do pessoal e na prestação de serviços; falta de formação
dos armadores, sendo alguns ainda gerem os navios de forma empírica; a deficiente infra-
estruturação portuária de algumas ilhas e falta de assistência adequada aos passageiros e suas
cargas por parte de algumas agências de navegação; as operações dos navios concentram-se
nas linhas rentáveis, não obedecendo a esquema de serviço regular.
Essa situação dificulta a circulação dos turistas e prejudicam o fomento do turismo
interno.
Para o desenvolvimento do turismo de recreio e do desporto náutico torna-se
imperativos criar, na Cidade Velha pequenas infra-estrutura para o efeito; delimitar as zonas
da pesca desportiva e de desporto náutico; encontrar uma solução geral para a apanha da
areia; apostar nas ligações entre as ilhas em complementaridade com as ligações aéreas
internacionais e combater a mendicidade.
O país conta com três aeroportos internacionais e a maioria das outras dispõe de infra-
estruturas aeroportuárias.
No quadro da política de liberalização surgiram novas companhias para voos
internacionais.
As ligações aéreas internacionais foram intensificadas e diversificadas para novos
destinos com impacto positivo para o turismo, mas o custo dos bilhetes são considerados
muito elevados e pesam na competitividade de Cabo Verde como destino turístico.
O aumento considerável do número dos passageiros sem a correspondente aquisição de
novos equipamentos de transporte e sem a melhoria na qualidade de serviços provocam
congestionamento. Sendo o período de maior fluxo o mês de Dezembro por causa das
condições climatéricas que atraem os emigrantes e turistas tendo em conta o agravamento do
clima no hemisfério norte onde concentra a maioria dos países do destino da emigração e o
62
maior fluxo turístico do Mundo inteiro. O referido constrangimento vem acompanhado de
outras razões: cancelamentos e atrasos nos voos devido a prestação de serviço deficiente.
A rede viária também cresceu fortemente nos últimos anos em todo o país, assim como
o parque automóvel e está-se verificando melhorias significativas quer no que concerne à
construção de novas vias, que no melhoramento das antigas.
No sector das telecomunicações como resultado de grandes investimentos cabo verde
dispõe de rede de telecomunicações moderna ligado por cabos de fibra óptica. O número de
telefones per capita praticamente quadruplicou entre 1990 a 1998. Ao mesmo tempo tem-se
verificado uma grande expansão de rede móvel e denota-se uma certa saturação da rede.
Entre outros serviços desenvolvidos encontra-se a Internet em que o número de subscritores
também tem evoluído satisfatoriamente, tendo em conta o seu papel e importância no
processo de desenvolvimento.
A partir da primeira metade dos anos 90 foram feitos elevados investimentos em
tecnologias de comunicação mais modernas e na formação e qualificação dos recursos
humanos. A partir de então, a taxa de digitalização atingiu cerca de 50 % em 1995 e a
densidade do parque telefónico aumentou para 5,6 por cada 100 habitantes. Não obstante este
avanço tecnológico a lista de espera ainda era grande e os serviços insuficientes. Contudo,
com a privatização em 1995, a partir de 1996 a empresa começou a ganhar novas dimensões,
com um desenvolvimento acelerado das telecomunicações, através da introdução de
tecnologias novas e modernas, do alargamento da rede, da introdução de rede móvel e do
serviço de Internet, vídeo-conferência, etc. Foi ainda alargada a rede de telefones para as
zonas rurais
Cabo verde é um dos pontos de união da rede internacional do cabo submarino,
ATLANTES II, que faz a ligação entre América do sul, África e Europa, que por sua vez
permite o acesso a outros cabos submarinos da América do Norte
No entanto, algumas situações continuam ainda dificultando o avanço das
telecomunicações, designadamente a inexistência de uma regulamentação que favoreça a
concorrência nos segmentos que se situam fora do regime de monopólio vigente para a rede
fixa, o que dificulta uma avaliação adequada dos preços praticados pelo único detentor de
rede fixa, a CVTELECOM. Como consequência, os preços dos serviços da rede fixa e outros
serviços desta empresa continuam elevados, penalizando o público e os operadores
económicos.
63
O grau de crescimento do sector terciário é notável mas continua marcado por alguns
constrangimentos nomeadamente, a incapacidade na satisfação das demandas sempre
crescente da população e irregularidade dos transportes, isolamento de algumas ilhas,
degradação da rede viária.
Cidade Velha usufrui de grandes vantagens em relação aos transportes e comunicações
por se situar cerca de 15km da cidade da Praia com cais acostável que recebe barcos de longo
curso; 13km do Aeroporto Internacional Francisco Mendes que contribuiu significativamente
para o aumento do fluxo turístico emigratório de retorno.
A ligação rodoviária faz-se por uma estrada calcetada em estado razoável de
conservação mas que deve ser ampliada a asfaltada com pelo menos quatro faixa tendo em
consideração a expansão da cidade da Praia, o crescimento muito rápido da população de
Santiago e a imperativa construção de uma via rápida no litoral devidamente iluminada que
facilita o acesso aos turistas e, não só, às zonas que constituem atractivos turísticos.
O Primeiro-ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves, afirmou, no seu discurso, a
quando do empossamento da Comissão Instaladora do município de Ribeira Grande, no dia 6
de Julho de 2 005 que na sequência da construção, ora iniciada, da estrada circular da Praia,
irá ser construída uma via de ligação de S. Martinho, João Varela, Salineiro e Cidade de
Santiago; bem como a via litoral que liga Cidade de Santiago a Rincão. Caso isso vier
acontecer será um grande contributo para o desenvolvimento do turismo do município de
Ribeira Grande e, não só, permitindo ao mesmo tempo desencravar e desenvolver toda a
zona do sudoeste da ilha de Santiago. Mas para permitir o desenvolvimento do turismo de
montanha torna-se imperativo construir e reconstruir as vias de acesso às ribeiras e achadas
povoadas e às zonas de microclimas das montanhas do interior de Santiago e, em particular,
as que mantêm uma ligação directa com o Município de Ribeira Grande.
Um dos maiores constrangimentos é a manutenção das estradas. Os turistas, nacionais e
estrangeiros, têm alguma dificuldade em chegar a algumas regiões do país devido deficiente
sinalização. Portanto pode-se dizer que a rede rodoviária ainda é insuficiente, visto que 42%
das estradas continuam em deficiente estado de conservação, falta de fiscalização,
superlotação e excesso de velocidade das mini furgonetas, inexistência de linhas regulares
destinadas aos pontos de interesse turístico; indisciplina por parte dos condutores; deficiente
policiamento, má prestação de serviços dos transportes públicos rodoviários. O sector é
considerado estratégico, no plano de governo e parceiro de excepcional importância na
64
dinâmica do desenvolvimento. Assim sendo é evidente a importância crucial do potencial
humano para esse sector cujo principal objectivo é a prestação de serviços e acolhimento.
O Plano para o Desenvolvimento do Turismo, ao fazer análise da qualidade do
emprego no sector, detectou algumas deficiências estruturais visíveis: forte recurso a mão-
de-obra semi e não qualificada pouco escolarizada, com altíssimo rotatividade e que se revela
pouco atractivo em relação ao emprego de jovens.
No que concerne a estrutura profissional verifica-se forte concentração nas profissões
tradicionais dos serviços de alojamento (recepção e limpeza), restauração (cozinha pastelaria,
mesa e bar) constatando-se muita insuficiências no emprego de pessoal ligado às funções de
gestão ou às que exigem profissionais a nível médio e superior ligados ao acompanhamento e
entretimento.
Torna-se necessário desenvolver uma política de formação, informação para
melhorar os referidos serviços contribuindo para atrair mais turistas nacionais, estrangeiros e,
deste modo aumentar significativamente a procura e os fluxos turísticos.
65
VI. A PROCURA E OS FLUXOS TURÍSTICOS
A procura turística é constituída por todos aqueles que actualmente viajam e pelos que
o desejam fazer mas, por qualquer razão, não o fazem.
Contudo, vários factores podem afectar a procura turística: nível de desenvolvimento
económico; factores demográficos; factores políticos; rendimento disponível; emprego; férias
pagas; estilos de vida; ciclo de vida; factores de personalidade; oferta de serviços turísticos
(preço; frequência e velocidade dos transportes; características do alojamento; facilidades;
operadores turísticos; etc).
Os fluxos turísticos podem ser classificados em função da quantidade: fluxos maiores
quando ultrapassam 5 milhões de pessoas por ano; fluxos menores quando são menos que 5
milhões e mais que 1 milhão por ano; fluxos marginais quando atingem um milhão de
pessoas por ano. Também podem ser classificados em função do percurso e da distância:
fluxos intercontinentais quando se realizam entre países e continentes diferentes;
internacionais quando se realiza entre países limítrofes; internos quando realizados nos
países pequenos e intra-regionais nos países de grandes dimensões.
As zonas emissoras e receptoras de maior procura a nível internacional são: a Europa,
tendo como países emissores Reino Unido, Itália, Holanda; receptores: costa norte do
Mediterrâneo (sul da Europa); América do Norte com Nova Inglaterra, Nova Iorque, New
Jersey, Massachussets, Califórnia como zonas emissoras; Califórnia México, Florida e
Caraíbas como receptores; Ásia: Japão, Austrália (Sines) como emissores e receptores:
Tailândia, Havai, ilhas do Pacífico.
66
Em relação a Cabo Verde, os países emissores são maioritariamente países europeus
com excepção da África do Sul com destino exclusivamente para a Ilha do Sal e Estados
Unidos da América.
As últimas estatísticas disponíveis referem que, em 2004, entraram 185.276 visitantes
no país tendo lá permanecido uma média de cinco dias. Presentemente, grande parte destes
visitantes que se alojam em estabelecimentos turísticos, especialmente os costeiros, são
originários da Itália, Portugal Alemanha e França.
De 2000 a 2004, o número dos hóspedes entrados nos estabelecimentos hoteleiros
oscila de 145.076 para 185.276 mil. A taxa de crescimento de 2004 é de 3,9%. O que
demonstra que há uma quebra no crescimento de 2000 a 2004 em relação ao crescimento de
1990 a 1999 em que a entrada dos turistas estrangeiros mais que triplicou, sendo a Itália o
país emissor com o aumento mais significativo, neste período.
De acordo com o quadro acima, os países com maior fluxo, em 2004, temos: África do
sul com 10.036, Alemanha com 14.527, França com 11.184, Itália com 55.304, Portugal com
38.086, Reino Unido, Áustria, Bélgica e Holanda, Espanha, Estados Unidos Suíça e outros.
Os períodos de maior procura são o Natal, fim do ano e Páscoa, e durante os meses de
Julho, Agosto e Setembro. A época baixa coincide com os meses de Maio e Novembro.
Quadro nº3.Hóspedes/Entradas nos estabelecimentos hoteleiros segundo o tipo de estabelecimento, por país de
Residência habitual dos hóspedes Ano 2004
País de residência
habitual
Hotéis Pensões Pousadas Hotéis-
apartamentos
Aldeamentos
turísticos
Residenciais Total % 2003
Cabo Verde Cabo-verdianos 13.498 3.017 2.405 348 2.234 5.465 26.967 14,6 27.856 -3% Estrangeiros 90 227 4 5 395 198 919 0,5 475 93%
Estrangeiros Africa do Sul 9.957 27 9 0 5 38 10.036 5,4 5.225 92% Alemanha 8.983 673 816 244 620 3.188 14.524 7,8 18.095 -20% Áustria 284 107 108 21 9 191 720 0,4 822 -12%
Bélgica+Holanda
2.563 414 240 69 159 710 4.155 2,2 9.702 -57%
Espanha 8.624 292 397 37 53 961 10.364 5,6 7.679 35% Estados Unidos 1.009 93 93 24 36 242 1.497 0,8 1.740 -14% França 4.907 741 1.112 35 354 4.065 11.214 6,1 12.847 -13% Reino Unido 498 25 58 133 18 103 835 0,5 1.140 -27% Itália 50.751 511 1.476 56 536 1.954 55.284 29,8 54.278 2% Portugal 34.041 390 474 135 2.215 831 38.086 20,6 28.548 33%
Suiça 406 171 262 52 31 513 1.435 0,8 1.638 -12% Outros Países 6.848 308 524 71 296 1.193 9.240 5,0 8.334 11%
Total 142.459 6.996 7.978 1.230 6.961 19.652 185.276 100,0 178.379 4%
% 76,9 3,8 4,3 0,7 3,8 10,6 100,0 Fonte INE
67
A maior percentagem dos fluxos dirige-se para as ilhas, actualmente, com maior
potencialidades turísticas: Ilha do Sal com um total de 129608; Ilha de Santiago: 24 756;
S.Vicente:17 401 ;Ilha da Boa Vista: 4387; Santo Antão: 5509 (ver o quadro em anexo).
Os fluxos e a procura são condicionados pela a oferta que em relação ao nosso país,
segundo os dados fornecidos pela Direcção Geral de Turismo, assenta-se nos factores como a
insularidade e a localização geográfica, a amenidade do clima, a abundância dos recursos
naturais, as potencialidades para a prática de desportos náuticos, bem como a cultura e a
história muito próprias com forte influência na música e nas artes; extensas praias e
montanhas, um alto valor ambiental e ecológico em várias áreas e uma boa conservação de
espaços de interesse cultural, tudo isso aliados à estabilidade política. Como factores de
constrangimentos apontam-se os preços elevados dos serviços turísticos e a qualidade de
serviços aeroportuários, de informação turística, de transporte marítimo e aéreo interno e
serviços bancários considerados inferiores ao desejável.
Relativamente à Cidade Velha, os fluxos turísticos são irrisórios, pois as ofertas
naturais, históricas e culturais não são acompanhadas de serviços turísticos e as infra-
estruturas turísticas são praticamente inexistente. Embora nestes últimos anos nota-se algum
interesse quer pelo estado quer pelos particulares em investir na criação de infra-estruturas
turísticas.
A elevação da Cidade Velha à categoria de município é um factor importante que
marca uma nova etapa na evolução daquela zona turística e aguarda-se com ansiedade que
dentro em breve criam-se condições políticas administrativas para que os planos e projectos
já existentes sejam exequíveis e que surjam novos projectos numa perspectiva de transformar
Cidade Velha num dos mais cobiçados centros de atracção turística.
Não se fez nenhum estudo específico sobre o tipo de clientela turística para cidade
Velha. Sabemos que há um grande movimento de pessoas nas épocas festivas ou com a
realização de certas actividades do carácter cultural. Mas, o fluxo é constituído mais pelos
habitantes da Cidade da Praia e do interior de Santiago. Não existem estatísticas sobre o
turismo doméstico nem sobre visitas de número considerável de cabo-verdianos residentes
no estrangeiro a familiares e amigos. Aliás, a base de dados estatísticos existente é muito
deficiente e não permite uma análise abrangente da procura no sector.
68
VII. CONSTRANGIMENTOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE VELHA
A carência de água potável é apontada como um dos constrangimentos que afecta o
desenvolvimento dos mais diversos sectores económicos.
A Cidade Velha, para além do caudal de água utilizado diariamente, há uma grande
quantidade desviada para abastecer a Capital que poderia, havendo alternativas para o
abastecimento da Cidade da Praia, ser aplicada no desenvolvimento local. A sua localização
à beira-mar permite, utilizando os meios técnicos modernos, obter a água potável em
abundância.
Nota-se algumas dificuldades no abastecimento de água às comunidades e para a
irrigação. Mas isso tem a ver com a falta de capacidade para a mobilização de recursos
hídricos subterrâneos e para aproveitamento das águas fluviais; a má gestão na distribuição e
utilização deste componente hídrico; ausência de fontenários, rede de esgotos, água
canalizada ao domicílio e sistema de irrigação obsoleto (ver tabela nº 3 do Censo 2004). Os
chafarizes são insuficientes nas zonas rurais e o abastecimento com auto-tanques é muito
deficiente.
A degradação da qualidade paisagística em Cabo Verde tem a ver com a incapacidade
dos órgãos administrativos relativamente à estruturação urbana, a intervenção arbitrária dos
munícipes, a anarquia nas construções de habitações por vezes sem condições de
habitabilidade; falta de um plano de urbanização.
No caso específico da Cidade Velha, por ser um meio pequeno com fraca densidade
populacional, o saneamento é razoável, contudo precisa ser melhorada tendo em conta que é
69
um espaço de vocação turística. As actuais práticas de saneamento são insuficiente por falta
de um plano de saneamento, e equipamentos adequados para a recolha e tratamento de lixo,
não existência da rede de esgotos, a maior parte das famílias não possuem casa de banho;
problemas associados a costumes e comportamentos, como lançamento do lixo a céu aberto,
o vazamento de águas residuais pelas ruas e a coabitação com os animais no meio semi-
urbano e no meio rural, não existência de balneários públicos; lançamento de resíduos
sólidos pelos residentes e visitantes, sobretudo nos fins-de-semana e nas épocas festivas em
que há um fluxo maior de visitantes nacionais e estrangeiros.
A exploração descontrolada de inertes, nomeadamente apanha de areia vem
provocando danos irreversíveis às nossas praias, apesar do questionamento havido e de
algumas medidas tomadas pelo governo.
Nota-se um perigo eminente de inundações, em virtude de proliferação de construções
em zonas de declive acentuado e nas proximidades de linhas de água, frequente mobilização
dos solos nas encostas para produção de lotes e deposição de produtos relutantes de
escavação nos arredores e locais inapropriados; construção de casas de betão à beira das
encostas, a erosão das encostas, insuficiência de canais de escoamento das águas fluviais;
inexistência de um plano de ordenamento de espaço e o aumento da procura de lotes nos
últimos anos com a migração, sobretudo da capital, aumento significativo do preço dos
terrenos que obriga a população com baixo rendimento a ocupar espaços inadequados e de
forma anárquica, são factores que vêm agravando a situação.
A floresta, apesar da sua escassez, está sendo ameaçada pela apanha desregrada de
lenha e por falta de fiscalização.
O uso inadequado de pesticidas representa riscos para a saúde pública e para o meio
ambiente através da contaminação dos solos, águas fauna e flora.
A poluição atmosférica não é agravante tendo em conta que não existe fábricas e os
transportes são numericamente reduzidos.
A poluição sonora mais se verifica nas épocas festivas por não haver espaços
adequados para a realização de actividades culturais, por exemplo os espectáculos musicais.
Normalmente, o turismo é considerado uma “indústria” limpa devido a sua base
económica não transformadora. Mas, como envolve movimento de pessoas, em locais de
maior afluência turística, pode ocorrer contaminação das praias e das águas devido à
70
ocorrência de congestionamento dos meios de transporte motorizados e pelo aumento dos
resíduos sólidos resultantes dos diferentes hábitos alimentares e outros.
De acordo com estudos efectuados pela Agência de Protecção Ambiental dos EUA, os
barcos a motor de dois tempos são particularmente poluidores uma vez que vertem cerca de
um terço do combustível que consomem (Hilchey 1994). Os resíduos dos barcos provocam
também problemas adicionais nas marinas. Uma outra ameaça ao ambiente tem a ver com o
aumento de águas residuais e poluição devido às descargas de efluentes tratados
inadequadamente. A poluição da água do mar afecta não só a saúde pública como a fauna e
flora marinha.
Os problemas acima referidos podem alterar a diversidade das espécies vegetais e
animais marinhas, a ecossistema selvagem e a biodiversidade, importantes produtos
turísticos; configuração a linha da costa devida e erosão provocada pelo mau uso dos
ambientes costeiros e marinhos.
O aumento de tráfego e o uso de veículos recreativos (barcos a motor, motas de água,
aeroplanos, buggies, etc.) provocam a poluição sonora como consequência da concentração
de turistas e pode gerar desconforto e irritação dos residentes e turistas.
A exploração dos inertes contribui para a degradação das praias e das encostas e
aumenta a salinização das águas subterrâneas.
A mendicidade e roubos põem em risco a presença de turistas às praias.
Os custos de viagens e estalagem bem como o preço da indumentária são elevados
quando comparados com o dos outros países (Ilhas Canárias, S.Tomé, Portalegre no Brasil).
Os serviços de transporte marítimo são geralmente, qualitativa e quantitativamente
pobre (barcos de pesca por vezes obsoletos) e, no caso de Cidade Velha, barcos de recreio e
de passeios não existe. Carência de armadores formados que às vezes não garantem
segurança e tranquilidade aos passageiros; o porto e as praias não estão minimamente
equipados para prestar um serviço de qualidade; a sanidade do meio ligado à certas práticas
comportamentais não coaduna com as exigências da demanda turística, embora a situação
não é alarmante porque o turismo ainda se encontra na sua fase latente de desenvolvimento e
os constrangimentos mencionados são pouco expressivos e facilmente controlável e evitável.
O baixo nível de informação, sensibilização e educação ambiental dos munícipes
constituem um problema que tem que ser combatido de forma progressiva e contínua.
71
Entre os principais estrangulamentos nesta matéria, destacam-se a fraca capacidade
técnica, material e financeira das instituições com intervenção no domínio, a insuficiência de
programas educativos e a ausência de mecanismos eficientes de seguimento.
Verifica-se que as populações apresentam dificuldades em se organizarem o que
dificulta a sua participação no processo de desenvolvimento e na defesa de interesses comuns
ao favor da conservação e preservação do meio ambiente.
A insuficiência de pasto, o baixa nível de informação, sensibilização e formação dos
criadores de gado, e ainda a tendência para preservação de valores culturais tradicionais nas
formas de exploração constituem obstáculos para o desenvolvimento da pecuária.
O fornecimento da energia eléctrica, apesar do esforço que já se fez, é um factor de
entrave ao desenvolvimento do país.
“Em 1990 a potência instalada era de 20 KW. Passou para mais ou menos 60 KW em
1999, elevando assim a cobertura eléctrica de 25% em 1990 para 60% em 1999 e em 2003 a
potência instalada foi aumentada para aproximadamente 80 KW, com uma taxa de cobertura
de cerca de 65 %. (…)
O abastecimento de energia eléctrica no país é, como se sabe, assegurado pela Electra.
A produção da mesma é feita através de métodos convencionais nas centrais diesel na maior
parte dos casos, e dos sistemas eólico e solar A distribuição da energia eléctrica também está
aquém das necessidades, com cortes sucessivos, deixando, as vezes as povoações e alguns
empreendimentos turísticos às escuras por algum tempo.
(…)
Embora com agravante da dispersão das zonas rurais, o que torna difícil o acesso dessas
localidades à convencional (…)”24
.
O conteúdo da citação é elucidativo. A Electra não demonstrou capacidade de
resolução do problema da energia e sem energia não pode haver o desenvolvimento.
24 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO. PLANEAMENTO E PROMOÇÃO TURÍSTICO.
Relatório Da Missão Elaborado Para o Governo de Cabo Verde. Maio de 2000
72
7.1. RECOMENDAÇÕES COM VISTA À SUPERAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS
É preciso que haja uma mudança de atitude do estado cabo-verdiano para atrair
investimento e promover o desenvolvimento de turismo fazendo com que o turismo em Cabo
Verde siga a lógica da globalização, tirando partido dessa nova conjuntura internacional. Cabo
Verde classificado ultimamente de país de crescimento médio vocacionado para sair do
subdesenvolvimento, não deve alhear-se dessa lógica e, quanto a nós o Estado tem um papel
fundamental neste processo nesta fase de arranque tendo em conta a capacidade limitada dos
nossos operadores nacionais e a entrada muito limitado dos investidores estrangeiros. O
Estado deve criar infra-estrutura no sentido de minimizar os custos de investimentos e tornar a
oferta mais atractiva possível na medida em que são as opções das empresas que sobrepõem às
dos poderes públicos. No quadro actual da economia global, a preocupação das empresas em
maximizar a sua competitividade deve ser compreendida pelos governos e pelas
administrações que pretendem aumentar a atractividade dos seus países. Para isso, deve-se
analisar as estratégias adoptadas pelos investidores, tornar a oferta mais competitiva e mais
atractiva.
O Parlamento aprovou, a 22 de Fevereiro de 2005, a lei que criou o município da Ribeira
Grande e devolveu o estatuto de cidade à povoação de Cidade Velha com a denominação de
Cidade de Santiago (B.O.nº19 de 9 de Maio de 2005). É uma porta semiaberta criada por esse
dispositivo legislativo muito importante, mas é necessário promover um maior investimento,
mobilizando os recursos financeiros, humanos e materiais; criar instituições autónomas
capacitadas para implementar os programas e projectos do desenvolvimento da Cidade velha;
elaborar plano, projectos e programas de ordenamento territorial específicos vocacionados
para o turismo e para o saneamento do meio; instalar rede geral de abastecimento de água
potável; construir bebedouros nos espaços reservados à pecuária e cisternas familiares e
comunitária; promover meios financeiros para exploração dos recursos hídricos subterrâneos;
persuadir a classe empresarial nacional e estrangeiro no sentido de reforçar capacidade de
empreendimento em sectores que privilegiam o desenvolvimento do turismo; criar medidas e
instrumentos de gestão criteriosa do território; produzir lotes infra estruturados para a camada
pobre; promover acções de correcção torrencial e combate à erosão; construir muros para
evitar as inundações; dinamizar a fiscalização; elaborar e implementar um plano verde;
73
realização de estudo sobre as espécies vegetais mais adaptados ao meio; abortar e implementar
programas educativos visando a conscientização dos moradores e a transmissão de valores
essenciais à defesa e conservação do meio ambiente; promover um preço acessível nos
transportes e na estadia para atrair os turistas internacionais nacionais tendo em conta que o
preço que se pratica é bastante elevado em termos concorrencial no mercado internacional;
dando facilidades as operações de voos «charters» e no que tange aos transportes marítimos
investir em barcos apropriados para transporte passageiros e de recreios que garantem a
ligação corrente inter-ilhas e entre as regiões de interesse turístico; deve haver maior
empenhamento do Estado na criação de infra-estrutura de actividades turísticas.
O mar como via e meio de transporte e comunicação deve ser potencializado,
estabelecendo uma linha de ligação marítima com a Capital utilizando barcos apropriados
para o transporte de turistas, como ponto de partida dos barcos de passeios turísticos para
outras zonas de interesses turísticos. Pode-se também organizar concurso de remo; desporto
aquático/marítimo tais como: Windsurf/Surf; pesca desportiva; pesca de altura e submarina;
mergulho deve ser planificado, orientado para as regiões identificados, evitando a
degradação de ecossistemas marinhos e delapidação dos patrimónios arqueológicos que se
encontram no fundo dos mares ao longo da costa.
No caso específico de turismo rural e de montanha, para além das potencialidades
naturais aventariadas, ainda nada se fez. É necessário por exemplo: construções de redes de
estradas que facilitam o acesso aos principais locais e melhorar as já existentes,
beneficiando-as e promovendo-as de parques de paragens em locais panorâmicos e de melhor
sinalização; aumentar e melhorar o sistema de abastecimento da energia eléctrica e de água
potável às zonas rurais; tendo em devida causa o desvio desse líquido de produção natural
para abastecer a Capital e reconsiderar a situação; no caso da energia eléctrica poder-se-ia
explorar a energia eólica e solar; a que ter em conta as características semi-urbanas e rurais
da população da Cidade Velha que, sendo um atractivo turístico, devem ser preservados,
valorizados e publicitados.
Os futuros benefícios do desenvolvimento turístico da cidade velha e em particular do
turismo rural e de montanha devem inverter-se e converter-se para o desenvolvimento do
meio rural; deve-se estabelecer cursos, programas a oferecer, possibilidades de formação
complementar no estrangeiro, etc; e fomentar uma cultura de hospitalidade entre os
formandos em particular e toda a população do arquipélago em geral; deve-se evitar
74
assimetria de desenvolvimento entre as ilhas procurar distribuir os benefícios de forma
equitativa de acordo com as potencialidades de cada ilha e cada zona de interesse turístico.
Os recursos limitados devem ser optimizados dando prioridade a qualidade; devem
ser criadas espaços próprios para desporto e lazer com equipamentos desportivos e de
animação: campo para golfo, ténis, parques, piscina, pousada, etc. os meios de transporte
tradicional devem ser potencializada como um recurso turístico e excursões e visitas aos
lugares de interesse turístico tem de ser organizadas e calendarizada; fazer ordenamento
territorial criando espaços para as mais diversas funções; criação das zonas verdes urbanas e
peri-urbanas; controlar a erosão; manutenção da diversidade biológica, genética e habitats;
conservação e manutenção da fertilidade do solo; fazer recarga das águas subterrâneas;
procurar aumentar e melhorar a qualidade de água melhorar o saneamento do meio.
Esta política deverá estar associada à preservação do reduto histórico e a integração de
grande número dos actuais habitantes residentes evitando transformar o turismo como mero
objecto de consumo para os turistas. Mas, deve-se dar prioridade à reconstrução e à
reabilitação das construções antigas respeitando o valor estético do património; elaborar um
plano de ocupação de espaço que permita uma expansão criteriosa da cidade sem por em
causa os valores patrimoniais.
O plano director deve envolver o estado os privados e a população e para sua realização
deve ser desencadeada uma forte campanha de esclarecimento de formação e de mobilização.
As achadas limítrofes são potenciais espaços a ser utilizadas para a futura expansão da
cidade e os objectivos e princípios que devem servir de base são de carris turísticos.
É necessário eliminar ou corrigir os elementos que põe em causa o valor estético da
arquitectura da Cidade Velha: as construções clandestinas e arbitrárias que destrói os
monumentos do tecido urbano antigo; as construções dissimuladas utilizando materiais que
não de acordo com as tradicionais e que integram mal e desvaloriza a arquitectura e o
urbanismo da Antiga Cidade; as construções ricas e aparentemente ricas totalmente
desenquadradas com o estilo arquitectónico da antiga cidade e que não coaduna às exigência
do tipo de turismo que se pretende desenvolver; é preciso por termo a expansão desordenada
e fazer possíveis correcções às já existentes. Deve-se proceder a correcção das construções à
volta dos vestígios e dos monumentos antigos e interditar as construções que dificultam a
visão dos vestígios históricos; limitar e controlar as áreas favorecendo a reabilitação e
reconstrução do tecido antigo.
75
“ (...) podemos identificar três áreas de intervenção:
A primeira grande área seria a da Igreja e Hospital de Misericórdia. Este
monumento, do sec. XVI, contemporânea da Sé, teve grande importância pois para
além da igreja desempenhou também a função de Hospital Construído com fundos
da Misericórdia, ocupava uma ampla área que ainda hoje pode ser percebido
facilmente. É esta área que precisa ser escavada, pois é quase certo que o resultado
das escavações nos permitirá ter a noção da estrutura do monumento e ainda
recolher espólios que poderão enriquecer o Património do país;
A segunda área seria toda a zona de S. Pedro, englobando as ruínas do seminário, a
Casa do Governador, a zona do convento de S. Francisco. Uma enorme área que
mobilizaria enormes recursos técnicos e financeiros, mas que permitiria, estamos
seguros, conhecer uma vasta área do passado urbanístico da Ribeira Grande, para
além de seguramente se recolher uma boa quantidade de espólio valioso;
A terceira seria a zona da Lixeira do Bispo a sondado e que também promete em
termos de espólio.
Legítimo aqui também se torna propor uma área bastante sensível mas que permitiria
um conhecimento mais aprofundado da primeira zona ocupada da Ribeira Grande. Estamos,
como se pode imaginar, a falar da zona de Calhau. Uns anos atrás, quando se fazia a tubagem
de água para a cidade da Praia, nas escavações foram detectados por nós muros mesmo no
largo. Seria óptimo poder-se proceder escavações nessa zona pois estamos seguros muito nos
revelaria do traçado inicial da Ribeira Grande”.25
Como se pode notar pelo o teor da citação, a recuperação e preservação da Cidade
Velha ainda está por fazer (passo o termo).
Algumas obras iniciadas na Sé Catedral, Fortaleza de S. Felipe, Convento de S.
Francisco, encontram-se actualmente paralisadas.
Para que a Cidade Velha seja uma cidade histórica e ao mesmo tempo um centro
turístico, é necessário que esta aglomeração tenha um espaço, uma função e desempenhasse
25 CARVALHO, Carlos de. Identificação Do Património Arquitectónico-Arquelógico Passível de
Intervenção no Ambito do Projecto de Recuperação da Cidade Velha Proposto Pela Cooperação Espanhola.
Praia, 1999.
76
um papel determinado no processo de desenvolvimento à escala regional e nacional; evitar
colocar no seio desta aglomeração actividades localizáveis alheios aos objectivos turísticos;
impedir a transformação do espaço histórico em valor especulativo ou em simples valor do
comércio turístico; utilizar os instrumentos de planificação para proteger os direitos gerais e
para regular também o jogo de interesses contraditórios; criar condições para que este espaço
histórico seja um veículo de uma relação viva de integração e de convivência, por uma
população residente e permanente e não flutuante; definir claramente o que se pretende
defender: a autenticidade de um património que cedo deixará de ser ruína? Ou a vila em
quanto organismo vivo?
De acordo com as características ambiental e social, situação geográfica, a procura e o
fluxo turísticos, os estabelecimentos hoteleiros a serem instalados nessa ilha devem pertencer
às seguintes categorias: estabelecimentos hoteleiros de pequena dimensão; estabelecimentos
hoteleiros de média dimensão; estabelecimentos hoteleiros de dimensão intermédia;
estabelecimentos de grande dimensão.
Relativamente à Cidade Velha, considerando os diversos tipos de turismo susceptíveis
de serem desenvolvidos e aproveitando os espaços rurais e as construções já existentes, deve-
se incentivar a construção de hotéis urbanos e rurais; pensões, residenciais, estalagens, casas
para turismo de habitação, casas do campo, parque de campismo, pousadas, bares e
discotecas de qualidades; restaurantes típicos, cafés, lojas, artesanato; cabeleireiro, etc.
Serviços de excursão inter-ilha; parques, jardins, campos de golfe, lojas, apartamentos; meios
de transporte de qualidade tanto marítimo como terrestre: cavalo, burro táxis, carro de
aluguer, autocarros, barcos, num preço compatível. Para que a diversidade de oferta
corresponda a diversidade da procura, tendo sempre presente o factor qualidade.
Para além da reconstrução da estrutura física dos monumentos deve-se investir
fortemente na promoção da animação cultural, criando grupos de manifestações culturais;
produção, exposição e venda de artesanato, confeitarias e outros produtos locais; aperfeiçoar
as línguas: crioulo, português, inglês e francês; melhorar o estilo de vida dos residentes, etc;
instalar serviços de comunicação aproveitando o sistema de comunicação dotado de
tecnologia avançado (fibra óptica) com acesso aos principais serviços de comunicação
mundial (Internet, fax, rede móvel, rede de dados).
O investimento neste sector não só arrasta o desenvolvimento dos outros sectores como
cria postos de trabalho e receitas para o sector formal, informal e para o estado e ainda pode
funcionar como uma ponte para apreciação da relatividade cultural e compreensão
77
internacional. Mas, as mudanças económicas arrastam consigo mudanças sociais e culturais e
é preciso prevenir a comunidade contra os efeitos nocivos do turismo, a longo prazo: a
produção de resíduos sólidos e líquidos, tratamento de águas residuais, as mudanças graduais
nos valores, crenças e práticas culturais da comunidade; prostituição, o uso de drogas,
alcoolismo, como principais impactos negativos. Evitar que a nossa cultura perca a sua
autenticidade e desvalorize como produto turístico. Com isso não queremos dizer que não se
deve admitir modificações que adaptam ao consumo turístico, sobretudo no que diz respeito
ao artesanato. Por exemplo pode-se criar museu com a função não só de preservar os
documentos antigos relacionados com a cultura mas com a função de promover e valorizar as
indústrias artesanais que por si só são históricas mas constituem testemunhos vivos em activo
e verdadeiras fontes de rendimentos. Por exemplo «Museu de Subprodutos da Cana
Sacarina», onde os turistas nacionais e estrangeiros não só podem observar, provar e apreciar
os produtos nacionais (aguardente, licores, ponches, calda fermentada, etc.), como receber
informações como são produzidos e as características de cada região, utilizando meios
técnicos audiovisuais. Isso deve ser acompanhado de uma ampla divulgação nos postos de
turismo, sobretudo pelas associações e pessoas preparadas para o efeito.
É necessário envolver a comunidade local dando-lhe informação e formação necessária
como receber os turista e como vender os seus produtos de molde a garantir o retorno dos
turistas e aumentar o fluxo com a venda de imagem do nosso destino turístico.
A segurança é fundamental pois ninguém compra um produto cheio de risco em
qualquer circunstância.
A valorização da agricultura, silvicultura e pecuária deve passar pela utilização
adequada dos recursos disponíveis, pela integração dos produtos na sua gestão e exploração,
tendo sempre presente a sua protecção e conservação, o que requer mais uma vez atitudes
novas que só possa emergir de políticas de informação, formação e capacitação profissionais.
A actividade agrícola desenvolverá necessariamente: com a organização dos
agricultores sob a forma de associação ou de cooperativas de carácter social; com a criação
de um centro agro-pastoril ou um instituto com a missão de dar aos agricultores uma
formação permanente e de seguir a produção com um plano, visando a melhoria em
quantidade e qualidade, aplicando as técnicas modernas de produção e conservação.
O sistema de crédito que se pratica, a curto prazo, a um juro de 12 a 14 % com o início
de amortização após 4 meses, não é viável. Pois o somatório do tempo de exploração agro-
78
pecuária e da comercialização dos produtos é superior a 4 meses, salvo a criação de
avicultura (galinha). O sistema só contribui para endividar os agricultores. Defendemos que o
crédito seja concedido a médio ou ao longo prazo e que os juros sejam nulos ou o máximo de
3% durante um período mínimo de 5 anos e que os agricultores sejam subsidiados em casos
de catástrofes naturais, uma forma de estimulá-los a prosseguir a exercer a actividade
agrícola, tendo em conta o impacto a nível da balança comercial e os riscos que a actividade
agrícola está sujeita.
Recomendamos a sensibilização dos operários de pesca, a cerca da importância da
saúde pública na melhoria da qualidade de vida; criação de centros comunitários,
devidamente equipados e criação de estruturas de lazer à população piscatória; a formação de
base e nas áreas de gestão e contabilidade; promoção de campanhas de sensibilização e
formação afim de garantir segurança no mar; criação de um sistema de financiamento das
pescas de forma programada precedido de um estudo do seu impacto económico;
acompanhamento assíduo do dia a dia dos pescadores, através de reuniões periódicas; criação
um programa informático para automatizar todo o processo de tratamento e análises de
dados, de forma a eliminar os atrasos que se tem verificado na publicação no boletim
estatístico de dados
79
CONCLUSÃO
Ao iniciar o trabalho tivemos a preocupação de seleccionar a fundamentação teórica
mais adequada aos objectivos concebidos no projecto.
Após uma análise profunda dos documentos e informações conseguidas com a pesquisa
e por analogia com o turismo das mais diversas regiões do Mundo, concluímos que a Cidade
Velha, hoje Cidade de Santiago, reúne condições para o desenvolvimento do turismo,
salientando como principais ofertas: o meio natural (meio ambiente, paisagem rural e
marítimo, localização geográfica); o seu legado histórico e a morabeza das pequenas
comunidades semi-urbanas e rurais.
Para avaliar o meio natural como oferta turística tivemos que considerar todas as
regiões semi-urbanas e rurais do Município de Ribeira Grande. Do estudo feito concluímos
que existe potencialidades para o desenvolvimento do turismo do mar, rural e de montanha,
cultural e religioso tendo em conta as diversas paisagens humanizadas e naturais.
O turismo cultural e religioso obrigou-nos a deambular um pouco pelo passado
histórico em sincronia com o presente. Os monumentos históricos, documentos escritos, as
pesquisas arqueológicas que estão sendo feitas e a cultura da população constituem também
ofertas turísticas importantes.
Como o turismo é uma actividade económica interligada as mais diversas actividades
económicas, concluímos que, se for desenvolvido, arrastará com sigo para o progresso, todos
os outros sectores.
Em relação ao fluxo os dados que temos referem-se ao turismo do arquipélago no seu
todo com forte destaque para o turismo balnear para as ilhas do Sal, Santiago, S. Vicente e
Boavista. O crescimento das últimas duas décadas é animador. Para a Cidade Velha não há
80
dados estatísticos mas, das informações colhidas na localidade e por meio de entidades e
instituições responsáveis, admite-se que o fluxo tende a aumentar com algumas iniciativas de
carácter cultural, religioso, político e investimentos feitos ultimamente na criação de infra-
estruturas turísticas.
Mas para que o turismo se desenvolva na Cidade Velha torna-se necessário ultrapassar
alguns constrangimentos de ordem económica e financeira, social, cultural e administrativa.
Algumas medidas estão sendo tomadas, mas em termos de impacto é irrisório.
A exploração, valorização e rentabilização das referidas ofertas carecem de
investimentos em infra-estruturas necessárias e adequadas que possam proporcionar aos
turistas conforto, prazer e lazer ou satisfazer outros desejos de acordo com as características
da procura; na formação dos quadros, informação e formação das comunidades como
elementos integrantes do processo.
Torna-se necessário a elaboração de um plano específico para o desenvolvimento
turístico da Cidade de Santiago; criação de organismos com autonomia administrativa e
financeira para a execução do referido plano.
Considerando as ofertas naturais, económicas, sociais, culturais, religiosas e históricas,
concluímos que seria prioritário o desenvolvimento do turismo do mar, turismo cultural e
religioso, turismo do campo e da montanha. Mas, de modo nenhum, queremos descorar a
possibilidade do desenvolvimento de outros tipos de turismo tendo em conta a sua
localização geográfica muito perto de capital, uma cidade em expansão. Assim sendo poder-
se-ão desenvolver o turismo de conferência e de negócios; turismo de férias, se
considerarmos os factores mar, campo e montanha; turismo desportivo, se forem criadas
condições que atraem os desportistas nacionais e internacionais.
Olhando para a paisagem diversificada do Concelho de Ribeira Grande, defendemos a
sua preservação sob pena de subtrairmos a oferta mais preciosa para o desenvolvimento do
turismo e pôr em causa a biodiversidade e a ecossistema da região. Pois é a diversidade das
paisagens e sua heterogeneidade que vão sensibilizar o carácter da observação do turista, no
sentido da produção social do espaço. Sem espaço não há turismo.
81
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85
ANEXOS
A – O Produto Turístico
B – A Estrutura Social da Cidade Velha no séc. VXI.
B1 – Idem
C – Relatório Das Actividades Desenvolvidas Durante O Ano De 1993 Pelo Departamento
De Monumentos E Sítio Do INAC A Nota Dirigida Ao Presidente De INAC datada de
4/1/1994.
D – Turismo Industrial
E – PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL E ARQUITECTURAL
HISTÓRICO DE CABO VERDE. Relatório de missão Pelo Arqº. Paulo de Azevedo
(UNESCO). Paris, 1981.
F – VIABILIDADE FINANCEIRA DE MICRO – IRRIGAÇÃO EM PEQUENAS
UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR.
G – Tabela 3 agregados Familiares da Cidade Velha segundo o Principal meio de
abastecimento de água (senso 2004)
G1 – Tabela 5. Agregados familiares da Cidade Velha segundo a posse de casa de
banho/retrete.
G2 – Tabela 7. Agregados familiares da Cidade Velha segundo o meio de evacuação das
águas residuais.
H – Glossário.
86
A – O Produto Turístico.
«O produto turístico se compõe de actividades ligados aos empreendimentos de
hospedagem (indústria de construção civil e indústria do mobiliário e de outros meios de
bens transformados para utilização como equipamentos de recepção e de hospedagem), aos
bens de alimentação (actividades agrícola e indústria alimentícia), aos transportes (indústria
de transformação para produção de veículos, de equipamentos e de peças de reposição, além
do pessoal necessário à sua produção, funcionamento e reparos) e aos produtos típicos locais
(objectos de arte, de artesanato ou de simples captação com adaptações mínimas e trabalho
puramente artesanal), alem de visitas a locais diversos e utilização de equipamentos de lazer
e de divertimento, tanto naturais como artificiais». Esta permeabilidade de integrar todas as
outras actividades económicas do sector primário secundário e terciário e a natureza do seu
produto, faz com que o seu conceito se torne diversificado.
O turismo, por ser produtivo e dinâmico, aproveita de todo o potencial dos recursos
naturais sem esgotá-los, e também dos recursos e riquezas criadas propiciando todos os
meios possíveis para conservá-los e valorizá-los tanto quanto possível, proporcionar às
necessidades e conveniências de sua operação. Essa característica faz do turismo motor do
desenvolvimento integral e sustentado da economia, pois afecta todos os sectores da
economia e não só.
Do sector primário recebe matérias-primas que são transformados no sector secundário
e a produção de bens exige serviços que fazem parte do sector terciário são utilizados para
satisfazer as necessidades básicas e aquelas que a própria sociedade cria. “Ora, consideradas
tais perspectivas turismo não transforma, mas une os sectores primário e secundário de
produção. Por isso – embora seja lugar comum a consideração do fenómeno como indústria –
é mais coerente e conforme a realidade humana a posição de alguns estudiosos de reputada
seriedade, que negam ao turismo seu propalado carácter industrial, porque os consumidores
dos produtos turísticos são os verdadeiros autores do processo produtivo a cujos bens se
deslocam para efectivar a existência do próprio fenómeno (...).
Fonte inesgotável de benefícios económicos, o turismo permite a multiplicação de bens
e serviços variados em quantidade incalculável, ‘pois quase todas as expectativas de
demanda podem ser satisfeita pelas reservas naturais e artificiais que caracterizam a
87
capacidade da oferta, que exige preservação, conservação, reciclagem e planejamento”
(Anónimo, O Produto Turístico, p.99).
B – A Estrutura Social da Cidade Velha no Sec. VXI
“Os habitantes desta ilha de Santiago são, pela maior parte, pretos e pardos; uns
descendentes dos primeiros pretos que se achavam nesta ilha ao tempo do descobrimento
dela, e outros de escravos que se libertam e foram propagando. Os pardos são mestiços,
filhos de homens brancos, naturais e principais da terra, descendentes dos primeiros
povoadores, com casas bastantemente opulentas, por seres senhores da maior parte da terras
das ilhas, em razão das grandes mercês que lhes haviam feito, assim o Infante D. Fernando,
como El Rei D. Manuel, que se tratavam as lei da nobreza, tendo brasões de armas, que ainda
hoje se manifestam... Estes primeiros brancos eram tão zelosos da honra que, aos que de
novo vinham do reino, não deixavam habitar senão em uma rua em que ainda hoje chamam
de Calhau, em quanto não mostrassem a limpeza do seu sangue.” (Carreira António,
Migrações nas Ilhas de Cabo Verde, p.41)
B1 – Idem
“Aqui, nas ilhas, a uma magra superstruturas social de donatários, capitães-mores
morgados, cónegos de cabido e licenciados que criaram na Cidade Velha um fausto de que
ficou eco num poema espanhol do séc. XVI, correspondia, a contrapor-se a este estilo reino,
uma população a pouco e pouco formada em ilhas de fracos recursos agrários entregue a si
própria, miscigenada e à qual as vicissitudes da luta pela sobrevivência dentro da área insular
restrita e isolada deram uma personalidade de diferenciação regional que impôs o seu tipo
crioulo de linguagem às expressões de influência reino representadas por elementos
minoritários. (...) Estando o reinó em nítida minoria foi o homem crioulo que teve a última
palavra; o reinó não teve outro remédio senão aculturar-se idiomaticamente». (In.
CULTURA CABOVERDEANA, ENSAIOS, ED.VEGA, LISBOA, 1991, p. GABRIEL
MARIANO)
C – Relatório Das Actividades Desenvolvidas Durante O Ano De 1993 Pelo Departamento
De Monumentos E Sítio Do INAC A Nota Dirigida Ao Presidente De INAC datada de 4. 1.
1994.
“2- Trabalhos no Convento de S. Francisco.
Esses trabalhos que se iniciaram no dia 7 de Maio, tiveram a duração de 7 dias e
consistiram em três operações distintas: a) vedação da fachada do monumento; b)reparação
88
de alguns muros e de algumas paredes do edifício; c) limpeza no interior do corpo principal
do monumento.
(...)
3- Terceira fase dos trabalhos arqueológicos na Sé Catedral.
Realizou – se de 7 de Julho a 6 de Outubro a 3ª fase dos trabalhos arqueológicos na Sé
Catedral.
(...)
As actividades desenvolvidas durante essa 3ª fase foram as seguintes:
Escavações à volta dos pilares;
2ª Fase do desentulho do Altar – Mor;
Sondagem na «lixeira» do Palácio do Bispo;
Sondagens no adro da Sé ‘procura dos negativos da escadaria branca que segundo
gravuras antigas aí existiam
Inventário preliminar do espólio recolhido”.
D – Turismo Industrial
“O campo de turismo industrial é tão diversificado e atractivo quando são múltiplas as
razões da sua eclosão; ele engloba, mais ou menos indistintamente os domínios da
tecnologia, cultura científica da arqueologia e da arquitectura industriais, da cultura operária,
da investigação de ponta, da produção artesanal, manufactureira altamente mecanizada ou
informatizada.
(...)
O turismo industrial permite viajar até ao passado, aprender como se faziam as coisas
num outro tempo, como se deram as mudanças e como se fazem na actualidade.
Nesta perspectiva, o turismo industrial é sem sombra de dúvida, uma forma
privilegiada de conhecer os indivíduos, as sociedades em que se insere as suas raízes mais
profundas. Imagens e notoricidade das empresas, evidenciar as suas competências e os seus
dinamismos, suscitar vocações juntos dos jovens e contribuir para uma visão diferente do
mundo empresarial.
89
Ao abrir as suas portas ao turismo, as empresas atingirem objectivos não
negligenciáveis, como o dar a conhecer os seus produtos e aumentar os seus desempenhos
comerciais posicionando melhor a sua imagem de marca.
Para além do desenvolvimento de uma nova coesão social, o turismo industrial
favorece a introdução de rendimentos significativos nas economias locais e regionais que
ultrapassam aquilo que a indústria isoladamente poderia conseguir. (...)
O turismo industrial é simultaneamente uma forma de conjugar entretenimento e
cultura, (...)”. (Ministério da Economia Portugal: Turismo em Portugal Política, estratégia e
Instrumentos de Intervenção Fevereiro de 2002 p:60)
E – PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL E ARQUITECTURAL
HISTÓRICO DE CABO VERDE. Relatório de missão Pelo Arqº. Paulo de Azevedo
(UNESCO). Paris, 1981.
7. “63. A História demonstrou que, os documentos da antiguidade, só os que
beneficiaram de uma utilização social contínua chegaram até nós. Mas mais contribuiu o uso
social do que esporádicas intervenções restauradoras. Não seria exagero dizer que o mau uso
de um edifício é preferível ao seu abandono”.
(...)
64. A conservação dos monumentos impõe, antes de mais uma constância de cuidados
(Carta de Veneza). A restauração é um recurso correctivo, um mínimo mal, utilizado apenas
quando o monumento atinge um grau de deterioração irreversível. Um programa de
preservação dos monumentos está, pois, inevitavelmente ligado à utilização social destes. Se
esta condição não foi respeitada, as obras realizadas perder-se-ão em pouco tempo.
65. No caso de imóveis urbanos, uma política a seguir seria adquirir e instalar nos
monumentos abandonados ou deteriorados equipamentos comunais, especialmente de
carácter cultural e ou administrativo.
(...)
67. No que respeita as construções rurais, numerosos edifícios que estão actualmente
sub-utilizados ou abandonados, como pequena igreja ou capela, poderiam ser recuperados
para abrigarem salas de aulas, sem prejudicar o seu uso religioso. (...) A manutenção da
função habitat ao lado da administrativa, comercial e cultural é um factor importante para a
preservação física e social dos sectores centrais das cidades.
90
72. As cirurgias urbanas, do tipo alargamento e rectificação de ruas, devem ser
evitadas, principalmente nos centros históricos. Estas operações destinadas a privilegiar o
veículo individual mostraram-se absolutamente ineficazes na solução do transporte urbano.
73. Na elaboração dos planos directores dessas cidades deverá ser dada uma atenção
especial ao plano da massa que definirá as características volumétricas de todas as
superfícies susceptíveis de serem construídas, visando a manter a harmonia entre o novo e o
antigo. No centro histórico, as novas construções em terrenos vagos deverão evitar a cópia do
antigo, mas respeitar a relação de volumes, texturas e cores do contexto na qual se inserem.
Uma prática a que se deve imediatamente por termo é a construção de edifícios com
avançadas para a rua que alteram as relações volumétricas destas e criam problemas para a
arborização e a rede aérea de serviços”.
F – VIABILIDADE FINANCEIRA DE MICRO-IRRIGAÇÃO EM PEQUENAS
UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR.
“O quadro 10 indica que o preço do custo médio das sete principais culturas hortícolas
é de aproximadamente 55 Esc./kg para as cultivadas no sistema de gota a gota e 129 Esc./kg
para as culturas de rega tradicional. Isto significa que o custo de 1kg de legumes produzido
com a técnica de rega gota a gota é 2. 3 Vezes inferior ao da rega tradicional (alagamento).
(...)
Classe I: Essas explorações são caracterizadas por pequenas unidades de produção
familiar, economicamente frágeis estribadas numa estratégia de desenvolvimento da
horticultura como sector prioritário. Contudo o chefe de exploração procura realizar
actividades extra exploração através da venda temporária da sua força de trabalho de modo a
proporcionar a sobrevivência da exploração.
De acordo com a proposta da tipologia atrás mencionada, as explorações pertencentes a
esta classe não se dedicam à actividade pecuária e o sector agrícola é caracterizada pela baixa
produtividade de cultura. (rendimento mínimo de culturas).
O resultado da simulação monstra que as receitas da horticultura não cobrem as
despesas deste sector devido a baixa produtividade das culturas. Sendo um sector prioritário
faz com que o resultado a nível familiar seja negativo.
Na expectativa de rentabilizar a exploração através da recorrência ao crédito individual
para a instalação do sistema gota a gota, o resultado da simulação revela que é uma estratégia
91
adequada. Efectivamente com rega gota a gota a produtividade aumenta, atingindo o
rendimento médio das culturas. Por outro lado a análise de cash flow confirma a
rentabilidade do sistema de rega gota a gota.
Porém os elevados encargos financeiros no primeiro ano de exploração fazem com que
o resultado da conta de exploração seja negativo, dificultando sobremaneira o financiamento
do consumo familiar.
Como a exploração agrícola não pode funcionar com resultados negativos da conta de
exploração tentou simular um outro cenário, isto é, recorrência ao crédito solidário. A
aplicação dessa simulação surtiu efeitos positivos. A taxa de rentabilidade do investimento
total é superior a 10 % uma vez que o valor actualizado é positivo. Os resultados de “cash
flow” evidenciam a capacidade de auto financiamento dos agricultores no fim de exploração
e os resultados da conta de exploração são positivos proporcionando ao chefe de família um
lucro médio anual de 408 contos o equivalente a um salário médio mensal de 34.000 Esc.
Classe II: São explorações agrícolas caracterizadas por pequenas unidades de produção
familiar, relativamente estável em relação a Classe I, apoiada em estratégia de encontrar um
equilíbrio financeiro familiar fora de exploração agrícola, recorrendo a venda de força de
trabalho do chefe da exploração de carácter profissional permanente de actividade informal
etc. A horticultura é considerada como um sector secundário, contribuindo como suplemento
para a economia da unidade de produção familiar.
Na base da tipologia supra referida as explorações agrícolas pertencentes a essa classe
dedicam á pecuária e o sector hortícola caracteriza-se pela baixa produtividade das culturas
(rendimento mínimo de culturas).
A simulação revela que a capacidade de auto financiamento do chefe de exploração e o
resultado a nível familiar são viáveis. No entanto, essa capacidade de auto financiamento é
extremamente frágil devido a injecção dos recursos financeiros no sector hortícola que é
altamente deficitário. Tendo em conta a vulnerabilidade do sector hortícola procedeu-se a
uma simulação financeira com recurso a crédito individual.
De igual modo, a análise dos resultados indica que essa opção não é a mais acertada
atendendo que os resultados apesar de serem satisfatórios a nível global denotam no entanto,
um lucro insignificante no primeiro ano de exploração. Isso contribui para o desequilíbrio
financeiro a nível familiar, tendo presente que o consumo familiar depende fortemente do
resultado da conta de exploração. A luz desses resultados propôs-se como alternativa o
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recurso ao crédito solidário tendo chegado à conclusão de que essa alternativa é a mais
acertada para os pequenos agricultores.
Assim sendo, os resultados evidenciaram uma excelente capacidade de auto
financiamento no fim da exploração aliada à conta de exploração altamente lucrativo. Isto é
um lucro médio anual de 643 contos equivalente a um salário médio mensal de 54.000 Esc.
A análise do cash flow evidencia a capacidade de auto financiamento dos agricultores
no fim de exploração e os resultados da conta de exploração são positivos proporcionando ao
chefe de família um lucro médio anual de 408 contos o equivalente a um salário médio
mensal de 34.000 Esc.”.
G – Tabela 3 agregados Familiares da Cidade Velha segundo o Principal meio de
abastecimento de água (senso 2004)
Modo de abastecimento de água Total
Água canalizada da rede pública 25
Cisterna 0
Auto – tanque 2
Chafariz 182
Poço 0
Nascente 3
Levada 5
Outro 1
NR 1
Total 219
93
G1 - Tabela 5. Agregados familiares da Cidade Velha segundo a posse de casa de
banho/retrete
Casa de banho e retrete Total
Casa de banho com retrete 65
Casa de banho sem retrete 11
Retrete/latrina 4
Sem casa de banha sem retrete sem latrina 138
NR 1
Total 219
G2 – Tabela 7. Agregados familiares da Cidade Velha segundo o meio de evacuação das
águas residuais.
Evacuação das águas Total
Fossa séptica 0
Rede de esgotos 31
Redor da Casa 1
Natureza 185
Outro 0
NR 2
Total 219
H- GLOSSÁRIO:
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Tendo em conta o seu carácter intersectorial de prestação de serviços, pode assumir
várias formas:
T. DOMÉSTICO: movimento do turista dentro do seu próprio país de residência.
T. INTERNO: residentes que visitam o seu próprio país mais os não-residentes que
visitam este país.
T. NACIONAL: residentes que visitam o seu próprio país mais os residentes que
viajam para outro país.
T. NEGÓCIOS: é praticado por pessoas que necessitam de se deslocar para fora da sua
residência por motivos de negócios por um curto período de tempo.
T. SAÚDE: deslocações de pessoas para fora do local de residência com intuito de
melhorar o estado de saúde.
T. LUXO: está ligada a prestígio, distinção, alto preço, alta qualidade e marca
prestigiada. É praticada pela minoria que possui um elevado poder de compra.
T. ÉTNICO: Turismo em que a primeira atracão é o exotismo cultural da população
local e os seus artefactos (roupas, arquitectura, teatro, música, dança, artes plásticas) e outras
diferenças que podem ser biológicas.
T. ROMANTICO: O termo foi criado para diferenciar do T. Sexual. Tem a ver com as
mulheres europeias e americanas que se deslocam para se relacionarem com os jovens
jamaicanos. A relação é mais duradoira.
T. CULTURAL: caracterizado pelo pitoresco. É a valorização da cultura camponesa.
T. HISTÓRICO: circuito tipo museus catedrais que pretendem tomar como objecto de
motivação as glórias do passado.
T. AMBIENTAL: Semelhante ao Turismo Étnico. O turista é atraído pelas áreas
remotas para aí experimentaram coisas diferentes.
TURISMO RECREATIVO: O turista é atraído pela vontade de relaxamento e pela
comunicação com a natureza.
Etc.
HOSPEDARIA – meio de hospedagem que aluga quartos mobilados para curta
permanência dos usuários.
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INCLUSIVE-TOUR – tudo incluído.
LOBBY – vestíbulo saguão, sala de espera de um hotel.
MOTOR-HOME – Veículo tipo camião equipado com instalações comuns.
NO-SHOW – termo para o não comparecimento do passageiro de uma companhia
aérea ao embarque, como também nos hotéis.
Operadora turística – agências de viagens que planejam, organizam e vendem
excursões na forma de atacadista.
OVER – BOOKING – ultrapassagem do limite de reservas.
PACOTE – viagens pré fabricadas por uma agências de viagens que inclui todos os
serviços, passeios.
PENSÃO – Estabelecimento que inclui na sua diária obrigatoriamente a hospedagem e
três refeições.
POUSADA – Estabelecimento onde normalmente se faz apenas uma pernoite. Prédio
de valor histórico adaptado para hotel.
PRESS-RELEASE – Notícia preparada pelo interessado e enviada aos veículos de
comunicação que quando for do interesse jornalístico e sem objectivo comercial, é divulgada
sem ónus.
RECEPTIVO – Que recebe, conjunto dos serviços receptivos de uma unidade turística.
ROOM SERVICE – SERVIÇO DE QUARTO. Serviço de alimentação e bebida
provido no aposento.
STANDARDE – Tipo. Padrão. Em hotel, o tipo standard representa a maioria, o padrão
dos aposentos.
STOPOVER – Escala.
TOMBO – Inventário de bens.
TOMBAMENTO – Preservação de monumentos, edifícios e até cidades de excepcional
valor histórico ou artístico para a nação.
TRAILER – Reboque equipado como um quarto, com cama, kitchenet, sanitário etc.,
puxado por um automóvel.
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TRANSLADO – serviço próprio das agências de viagens para a transferência de
passageiros do ponto do embarque para o hotel ou vice-versa.
TRAVELLERS CHEK – cheque de viagem especial para viagens internacionais, com
valores expressos em dólares.
VOUCHER – comprovante correspondente à um determinado serviço típico(
hospedagem, excursão ,etc.) ,que agência de viagens emite ao turista como meio de
pagamento destes serviços em outra cidade.
CHARTER – Abreviado de Chartered Flight e Air Charter, termo universalmente
adoptado para voos fretados em aviões de companhias comerciais não filiadas à IATA.
CHARTER INCLUSIVE TOUR (ITC) – Modalidade de excursão de grupo em aviões
charter, de tipo «tudo incluído», com preços económicos e estada obrigatória de duas
semanas numa só cidade.
CHECK-IN – NOS transportes aéreos: horário de comparecimento no aeroporto para
despacho e embarque. Em hospedagem seguimento de providências após a entrada do
hóspede: preenchimento da ficha de registo, abertura de factura etc.
CHECK – OUT – PROCESSO de verificação, por ocasião da saída do hóspede, dos
gastos por eles efectuados, da emissão da factura, da limpeza total do aposento desocupado.
CONTINENTAL BREAKFAST. - Termo universalmente adoptado para o serviço de
café de manhã convencional
CONSCIENTIZAÇÃO TURÍSTICA – Acção sobre a população, afim de conscientizá-
la dos benefícios económicos, sociais e culturais que o turismo pode propiciar à comunidade.
CORREDOR TURÍSTICO – Rodovia de grande movimentação turística dotada de um
sistema conjugado de serviços que oferece assistência, segurança, asseia, informação aos
visitantes
CORRENTE TURÍSTICA OU FLUXO TURÍSTICO – Volume substancial de turistas
que se movimenta em direcção a uma localidade ou país.
DEMANDA – procura, capacidade de consumo em relação ao preço de um produto.
DUBLE – Termo internacional usado para duplo. Acomodação para duas pessoas em
mesmo quarto.
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EMISSORA – Cidade que se caracteriza por um considerável volume de sua população
viajando para outras destinações.
EMPREENDIMENTO TURÍSTICO – empresa que integra o sistema receptivo
turístico (meio de hospedagem, centro de convenções etc.)
EURAILPASS – Termo usado para o passe que permite viagens múltiplas e sem limite
de quilometragem nas ferrovias da maioria dos países europeus. É vendido fora da Europa.
EXCURSÃO – Passeio de lazer ou de pesquisa de curta duração à pequena distancia,
não ultrapassando as 24 horas.
EXTRA-HOTELEIRO – Referente aos meios de hospedagem turísticos e outros que
não-hoteleiros. Sinónimo: Para-hoteleiro.
FAMTOUR – Viagem oferecida, em conjunto, pelas vias aéreas, hotéis agências de
serviço receptivo, sem ónus, aos agentes de viagens, para conhecimento dos serviços
oferecidos e proporcionar assim melhores condições de venda do local.
FERRY – BOAT – Barco a motor preparado para realizar transportes de trens e peças
extras de veículos, de uma para a outra margem de um rio, lago, canal etc.
FOLCLORE – cultura popular, tornada normativa pela tradição. Compreendendo
lendas danças canções costumes, crenças, e outras manifestações culturais de um povo.
FORFAIT – Programa de excursão organizada para uma ou poucas pessoas, com preço
prefixada, nos moldes de “exclusive-tour”.
FREE – isento de pagamento.
FUL – BOART – termo internacional usado para pensão completa.
GO – show – termo aplicado quando o passageiro comparece ao embarque com
passagem em aberto, sem reserva previa.
HALF-BOARD – meia pensão de turismo, uma vasta ária rural que se inscreve nessa
freguesia.
ADUANA – conjunto dos direitos alfandegários.
PROCURA EFECTIVA: abrange aqueles que realmente viajam; é o componente da
procura mais comum e mais facilmente mensurável, a ela se referindo a maioria das
estatísticas.
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PROCURA SUPRIMIDA: a parte da população que não viaja por qualquer razão.
PROCURA POTENCIAL: abrange os que viajarão no futuro, caso se verifique uma
mudança nas circunstâncias presente (ex.: > poder de compra);
PROCURA DIFERIDA: (ou adiada): devido a problemas no lado da oferta (ex.:
escassez de um bem ou serviço – alojamento; estado do tempo; actividade terrorista; etc.); no
futuro, se os problemas forem solucionados, a procura diferida transformar-se-á em procura
efectiva;
NÃO PROCURA: abrange aqueles que simplesmente «não viajam».
Útil na medição da procura efectiva, representando a % da população que realmente
viaja:
LÍQUIDA (net travel propensity): percentagem da população que empreende pelo
menos uma viagem turística num determinado período de tempo (procura suprimida e a não
procura garantem que esta percentagem nunca se aproxima dos 100 – nas economias
ocidentais desenvolvidas oscila entre os 70 e os 80%);
BRUTA (gross travel propensity): número total de viagens turísticas empreendidas
pela população – à medida que aumenta a importância das «segundas» e «terceiras viagens»,
o seu valor torna-se mais relevante, podendo exceder os 100% (nas economias ocidentais
desenvolvidas aproxima-se dos 200%).
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I - Quadro estatístico
ANO 2004
Hóspedes/Entradas nos estabelecimentos hoteleiros segundo a Ilha, por país de residência habitual dos hóspedes
País de residência
habitual
Santo
Antão
São
Vicente
São
Nicolau
Sal Boa
Vista
Maio Santiag
o
Fogo Brava Total %
Cabo Verde Cabo-verdianos 1.855 4.201 246 12.398 1.005 349 6.229 630 54 26.967 14,6 Estrangeiros 44 102 143 452 7 19 118 18 16 919 0,5 Estrangeiros Africa do Sul 8 34 2 9.868 4 5 114 1 0 10.036 5,4 Alemanha 1.004 1.973 118 8.833 557 83 1.728 228 0 14.524 7,8 Áustria 73 159 10 202 31 6 198 41 0 720 0,4 Bélgica+Holanda 446 590 142 1.942 70 44 897 24 0 4.155 2,2 Espanha 207 879 26 7.950 264 37 922 79 0 10.364 5,6 Estados Unidos 66 217 9 562 34 14 587 8 0 1.497 0,8 França 922 1.846 113 4.719 606 102 2.549 357 0 11.214 6,1 Reino Unido 44 280 12 268 25 8 196 2 0 835 0,5 Itália 311 1.719 21 50.717 1.300 85 999 132 0 55.284 29,8 Portugal 217 3.878 16 26.842 226 46 6.728 133 0 38.086 20,6 Suiça 143 319 34 475 102 17 300 45 0 1.435 0,8 Outros Países 169 1.204 7 4.380 156 7 3.191 126 0 9.240 5,0
Total 5.509 17.401 899 129.608 4.387 822 24.756 1.824 70 185.276 100,0 % 3,0 9,4 0,5 70,0 2,4 0,4 13,4 1,0 0,0 100,0
Fonte INE