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ÍNDICE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 1 I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ........................................................................ 3 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................................................... 3 2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA ............................................................................................... 5 II. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E MEIO NATURAL ......................................................................... 7 2.1. AS OFERTAS GEOGRÁFICA E NATURAL ................................................................................................... 7 III. ANTECEDENTES HISTÓRICOS .........................................................................................................10 3.1. DESCOBERTA E POVOAMENTO DE RIBEIRA GRANDE ...............................................................................10 3. 2. PARTICIPAÇÃO DE RIBEIRA GRANDE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL .....................................................14 3.3. RIBEIRA GRANDE BERÇO DA SOCIEDADE CABO-VERDIANA....................................................................16 IV. TURISMO EM CABO VERDE ..............................................................................................................19 4.1. ASPECTOS GERAIS ................................................................................................................................19 4.2. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS ..................................................................21 4.3. POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DA CIDADE VELHA ................................................................................23 4.3.1.TURISMO DO MAR ...............................................................................................................................23 4.3.2.TURISMO DE CAMPO E DE MONTANHA .................................................................................................25 4.3.3. TURISMO CULTURAL E RELIGIOSO ......................................................................................................27 4.3.3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................................27 4.3.3.2. OS MONUMENTOS HISTÓRICOS ........................................................................................................29 4.3.3.3. AS FESTIVIDADES DE ROMARIAS......................................................................................................33 4.3.3.4. A ARTE...........................................................................................................................................34 4.3.3.4.1. A GASTRONOMIA .........................................................................................................................35 4.3.3.4.2 ARTESANATO ................................................................................................................................37 A) A PANARIA CABO-VERDIANA ..................................................................................................................37 B) A CERÂMICA ...........................................................................................................................................39 C) A CESTARIA ............................................................................................................................................39 D) A ESTEIRA ..............................................................................................................................................40 E) A MÚSICA DE CABO VERDE.....................................................................................................................41 V. O TURISMO E OS SECTORES ECONÓMICOS ..................................................................................51 5.1.O TURISMO E O SECTOR PRIMÁRIO .........................................................................................................51 5.1.1. AGRICULTURA, PECUÁRIA, SILVICULTURA ..........................................................................................51 5.1.2. A PESCA ............................................................................................................................................54 5.2. O TURISMO E O SECTOR SECUNDÁRIO ....................................................................................................56 5.3. O TURISMO E O SECTOR TERCIÁRIO .......................................................................................................58 VI. A PROCURA E OS FLUXOS TURÍSTICOS.........................................................................................65 VII. CONSTRANGIMENTOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE VELHA ........68 7.1. RECOMENDAÇÕES COM VISTA À SUPERAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS .............................72 CONCLUSÃO ...............................................................................................................................................79 BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................................81 ANEXOS........................................................................................................................................................85

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 1

I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ........................................................................ 3

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................................................... 3

2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA ............................................................................................... 5

II. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E MEIO NATURAL ......................................................................... 7

2.1. AS OFERTAS GEOGRÁFICA E NATURAL ................................................................................................... 7

III. ANTECEDENTES HISTÓRICOS .........................................................................................................10

3.1. DESCOBERTA E POVOAMENTO DE RIBEIRA GRANDE ...............................................................................10 3. 2. PARTICIPAÇÃO DE RIBEIRA GRANDE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL .....................................................14 3.3. RIBEIRA GRANDE BERÇO DA SOCIEDADE CABO-VERDIANA ....................................................................16

IV. TURISMO EM CABO VERDE ..............................................................................................................19

4.1. ASPECTOS GERAIS ................................................................................................................................19 4.2. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS ..................................................................21 4.3. POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DA CIDADE VELHA ................................................................................23 4.3.1.TURISMO DO MAR ...............................................................................................................................23 4.3.2.TURISMO DE CAMPO E DE MONTANHA .................................................................................................25 4.3.3. TURISMO CULTURAL E RELIGIOSO ......................................................................................................27 4.3.3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................................27 4.3.3.2. OS MONUMENTOS HISTÓRICOS ........................................................................................................29 4.3.3.3. AS FESTIVIDADES DE ROMARIAS ......................................................................................................33 4.3.3.4. A ARTE ...........................................................................................................................................34 4.3.3.4.1. A GASTRONOMIA .........................................................................................................................35 4.3.3.4.2 ARTESANATO ................................................................................................................................37 A) A PANARIA CABO-VERDIANA ..................................................................................................................37 B) A CERÂMICA ...........................................................................................................................................39 C) A CESTARIA ............................................................................................................................................39 D) A ESTEIRA ..............................................................................................................................................40 E) A MÚSICA DE CABO VERDE.....................................................................................................................41

V. O TURISMO E OS SECTORES ECONÓMICOS ..................................................................................51

5.1.O TURISMO E O SECTOR PRIMÁRIO .........................................................................................................51 5.1.1. AGRICULTURA, PECUÁRIA, SILVICULTURA ..........................................................................................51 5.1.2. A PESCA ............................................................................................................................................54 5.2. O TURISMO E O SECTOR SECUNDÁRIO ....................................................................................................56 5.3. O TURISMO E O SECTOR TERCIÁRIO .......................................................................................................58

VI. A PROCURA E OS FLUXOS TURÍSTICOS.........................................................................................65

VII. CONSTRANGIMENTOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE VELHA ........68

7.1. RECOMENDAÇÕES COM VISTA À SUPERAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS .............................72

CONCLUSÃO ...............................................................................................................................................79

BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................................81

ANEXOS........................................................................................................................................................85

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INTRODUÇÃO

O objectivo deste trabalho não é preservar a memória e nem relembrar o passado. É

contribuir para que se tenha uma nova visão em relação à Cidade Velha, hoje Cidade de

Santiago, como potencial turístico, fazendo com que as pessoas vejam através das rochas,

das águas cristalinas do mar, do sol, do solo agreste, do horizonte montanhoso, dos vales,

das encostas; das muralhas antigas e dos sorrisos das suas gentes, atractivos turísticos de

grande dimensão a desabrochar.

Numa perspectiva histórica e tomando como suporte teórico a corrente inscrita na

denominada História Actual ou Imediata defendida pela História Nova, pretendemos que

este nosso contributo tenha uma perspectiva actualizante, virada para o futuro.

Tendo em conta que o turismo é um sector económico em constante valorização e

crescimento no mundo inteiro, não podemos deixar de considerar as ideologias já

produzidas pelos doutos como a forma mais correcta de enquadrar o nosso trabalho.

Apesar da diversidade de opiniões, começamos pela definição de alguns conceitos cuja

versão achamos mais adequada às características da Cidade Velha como potencial área

para o desenvolvimento turístico.

O meio ambiente é um factor imprescindível para o desenvolvimento do turismo.

Assim sendo quisemos demonstrar que o espaço ambiental da Cidade Velha constitui

oferta turística muito importante que deve-se preservar, proteger e potencializar. Mas, falar

do ambiente como recurso natural inclui o homem que não se valoriza sem a sua obra. Daí

que o legado histórico que nos foi deixado obriga-nos a recuar no tempo desde os

primórdios da descoberta, do povoamento e colonização para que o homem cabo-verdiano

possa ser identificado e, desta forma, analisar o contributo que a Cidade de Ribeira Grande

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deu para o surgimento e evolução do mesmo e da sociedade cabo-verdiana e, ao mesmo

tempo, sugerir propostas de melhorias para que este legado histórico seja potencializado

como uma oferta turística.

As condições ambientais, geográficas, históricas, económicas e sociais nos

persuadem a propor o desenvolvimento dos seguintes tipos de turismo: Turismo do Mar,

Turismo do Campo e da Montanha, Turismo Cultural e Religioso.

Considerando o carácter interdisciplinar deste sector económico somos obrigados a

correlacioná-lo com outras actividades económicas dos mais diversos sectores existentes.

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I – Fundamentação Teórica e Metodológica

1. Fundamentação Teórica

O turismo pode ser considerado uma deslocação de pessoas para lugares fora do seu

local normal de trabalho e residência e todas as actividades desenvolvidas durante a sua

estadia que possibilitam ou viabilizam viagens, hospedagem, alimentação e lazeres às

pessoas que se deslocam de suas residências para satisfazer os seus interesses e objectivos

vários.

Segundo a opinião de Douglas Foster2 o turismo é uma actividade que envolve uma

mistura complexa de elementos materiais e psicológicos. Os elementos materiais são o

alojamento, o transporte, as atracções e diversões disponíveis e os factores psicológicos

incluem um largo espectro de atitudes e expectativas

Roberto C. Boullon, ao responder a questão Turismo é uma Ciência? Chegou a

seguinte conclusão:

”Sem pesquisa não pode haver ciência. E a pesquisa turística é escassa e se mantém na

superfície. Nada se opõe a que se aceite o turismo como um fenómeno socio-económico se

transferirmos este critério ao campo do planejamento, temos que reconhecer a necessidade

de estudar aquele com uma visão interdisciplinar; que poderia incluir a economia, a

engenharia, a arquitectura, o urbanismo, o desenho urbano, o marketing, a administração dos

recursos humanos, as matemáticas, a estatística, as ciências da comunicação, a contabilidade,

a administração pública, e comercial etc., como disciplinas auxiliares. (.)

2 FOSTERS, Douglas. Viagens e Turismo - Manuel de Gestão. Portugal. Edições CETOP. Apartado

72726. Mem Martins Codex.1992

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Turismo não é ciência pois não emprega nenhum método próprio, mas exige

conhecimentos científicos de diversas áreas.”3

O turismo não se enquadra no sector primário pois mesmo utilizando os atractivos

naturais, não os extrai e nem os produz; não pertence ao sector secundário porque não é um

produto de indústria e de construção. A construção produz obra física que presta serviços

sociais e económicos. A indústria é uma actividade transformadora que utiliza numerosos

recursos, entre os quais matéria-prima e, outros produtos industriais intermediários.

“É uma actividade económica pertencente ao sector terciário e consiste em um

conjunto de serviços que se vendem ao turista. Ditos serviços estão necessariamente

interrelacionados, de maneira que a ausência de um deles obstaculiza e até impede a venda

ou prestação de todos os outros. Tem, além disso, uma característica muito peculiar que só é

possível produzi-la em locais geográficos rigidamente predeterminados aos quais leva-se o

turista, ainda que a sua venda possa realizar-se no lugar de produção ou fora dele, isto é, no

ponto da origem da demanda.

A diferença do habitual, em turismo não se realiza uma distribuição física do produto

pois o consumidor é quem viaja até o local de produção”4.

O produto turístico é composto de bens e serviços diversificados e essencialmente

relacionado entre si, tanto em razão da sua integração com vistas ao atendimento da

demanda quanto pelo factor de unir os sectores primário, secundário e terciário de produção

económica.

3Universidade Católica de Pernambuco. Terminologia do Turismo brasileiro. Pernambuco,

SL.1996.ps.13,14

4 Idem, Op.cit. ps.19, 20

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2. Fundamentação Metodológica

Para a realização deste trabalho utilizaremos o método de investigação científica

aplicável na elaboração da História:

Pesquisa dos documentos dos arquivos;

Pesquisas das fontes monumentais e arqueológicas que constituem ofertas

turísticas;

Entrevistas com entidades competentes e com o sector privado;

Propomos a observação do espaço físico para a elaboração de inventário das atracções e

recursos turísticos naturais, culturais e patrimoniais da região, investigação e análise

documental; análise da situação das infra-estruturas existentes, análise e avaliação da

situação e das necessidades dos recursos humanos em turismo existentes em cabo Verde;

análise dos possíveis impactos no ambiente natural e humanizado, fazendo recomendações

para a conservação e o reforço da qualidade ambiental; identificação das oportunidades para

utilização de circuitos pedonais e outras utilizações das regiões do interior do concelho para

o turismo ligado à natureza; análise dos dados estatísticos; elaboração da síntese tendo

sempre presente o sentido crítico. Tendo em conta a temática, a nossa visão será sempre em

perspectiva.

O espaço geográfico e o meio ambiente constituem ofertas turísticas imprescindíveis e

indiciem os tipos de turismo que se possam desenvolver. Daí que vamos iniciar o estudo pela

Localização Geográfica e Meio Ambiente da Cidade Velha como potencial oferta para o

desenvolvimento do turismo em Cabo Verde e daí definir as prioridades.

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Figura 1:Mapa da ilha de Santiago

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II. Localização Geográfica e Meio Natural

2.1. As Ofertas Geográfica e Natural

A sua construção iniciou-se na segunda metade do sec. XV logo após à descoberta em

1460.

Devido à sua posição geoestratégica, a meio caminho entre o continente africano, a

Europa, as Américas e o Oriente, cedo começou a desempenhar o papel de placa giratória no

comércio triangular e como porto de escala, fornecendo aos navios frescos e água. Estes

factores contribuíram para que a Ribeira Grande se transformasse rapidamente num centro

comercial de certa projecção e, em 1533, ter sido levado à categoria de cidade.

A

superfície

decretada

património

nacional é de 50

hectares e a área

total de

protecção é de

250 hectares. É

uma área semi-

urbana

distribuída em

zonas e lugares:

Figura 2:Parte de Cidade velha onde se encontra inserido a Sé catedral.

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Laranjeira, Rua Banana, Rua Calhau, São Braz, São Sebastião, S. Marta, Sucupira, Rua

Careira, Lem Cachorro, Beco, Porto Baixo. Elegemos ainda para o nosso trabalho, como

espaço de expansão de cidade e do desenvolvimento a freguesia do Santíssimo Nome de

Jesus: Calabaceira, João Varela, Djobe, Bota Rama, Ponta Baixo, Salineiro, Costa Achada

Calheta, Calheta S. Martinho, Costa Achada; zonas e lugares que pertencem à freguesia de S.

João Baptista: Beatriz Pereira, Alfarroba, Lém Bá Sá, Belém, Calabaceira, Chã Chatinho,

Julangue, Lém Freire, Mato, Mato Sanches, Tambarina, Tanque/Chão de Tanque, Lém

Esprinda, Chã de Igreja, Chã Gonçalves, Delgado, Gouveia, Loura, Cancelo, Dacabalaio,

Dirres, Hortelão, Loura, Chã de Abelha, Pizarra, Campanária, Mosquito de Horta,

Achadinha, Montinho, Redondeira, Curral, Mosquito Grande, Pico Leão, Bataria, Chã de

Riba, Chã Grande, Cutelinho, Cutelo Cabral, Furna, Galego, Laranginha, Monte Branco,

Ponta Romão, Rochinha, S. João Riba, Areal, Chuva Chove, Cutelo Moreira.

As achadas áridas, as florestas, a temperatura do ar, o vento que sopra das montanhas

húmidas e a brisa marítima conferem ao ambiente uma beleza paisagística exótica; orla

costeira, as encostas, os fiordes, os desfiladeiros, as praias e enseadas constituem elementos

de atracção turística que podem ser transformados em oferta. Mas é preciso ter cuidado para

não destruir a biodiversidade e pôr em causa o ecossistema da região. Para evitar tal situação

há que haver estudos que orientem a ocupação dos territórios para exploração dessas riquezas

turísticas e deve haver uma forte e contínua acção educativa e formativa que envolve toda a

comunidade residente e turistas na preservação do ambiente.

Além do vale da Ribeira Grande, os espaços verdes são escassos. Tem uma grande

importância ecológica e grande valor estético-paisagístico e desempenham função de espaço

de recreio e lazer. Não há um plano do município para criação de espaço verde.

O solo é um outro elemento imprescindível dado a múltiplas funções e usos. Na

condição de espaço tem de ser ordenado e para tal, primeiramente, tem de constituir objecto

de estudo e depois definido como suporte de actividades económicas diversas.

A Cidade Velha possui, no fundo do vale terras férteis muito boas para o

desenvolvimento das actividades agro-pecuárias que vêm sendo desenvolvidas desde o início

da colonização e que podem ser potencializada.

A água é a vida, assim sendo é indispensável como factor do desenvolvimento de tudo

na natureza. Ela é obtida através de galerias subterrâneas, furos e poderia ser adquirida por

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meio de destilação da água do mar, construção de diques e depósitos de retenção, correcção

dos solos, lagos artificiais, barragens etc.

O mar, de água transparente, cristalina e tépida durante o ano é um dos principais

factores do desenvolvimento turístico. Para além das pequenas praias de arreia preta e calhau

rolado, os turistas podem desfrutar da beleza da costa escarpada, dos desfiladeiros e fiordes e

ainda serve como via de transporte e comunicação com a capital e com as mais diversas

zonas de interesse turístico; para os desportos náuticos, pesca desportiva, etc.

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III. Antecedentes Históricos

3.1. Descoberta e Povoamento de Ribeira Grande

Inferir sobre a descoberta e povoamento de Ribeira Grande é relembrar os primórdios

da Historia de Cabo Verde, o início da formação da sociedade cabo-verdiana e da cultura

crioula, germe da Cabo-verdianidade.

Segundo rezam os documentos, sem descartar hipóteses de ter sido conhecido antes,

todos os descobridores oficialmente reconhecidos e os pressupostos afirmaram que cabo

Verde foi descoberto antes da morte do Infante D. Henrique, 1460.

“Sam Jacobo, e Filipe, e da ilha de las Maias e (da) ilha de Sam Cristóvão, e da ilha

liana, assim aparecem mencionadas, pela primeira vez, em documento de doação régia ao

infante D. Fernando datada de 3 de Dezembro de 1460. (...) A doação seria confirmada por

outra carta de 19 de Setembro de 1462, (...) atribuindo-se a sua descoberta a António da

Noli”5

Na primeira ilha a ser povoada, S. Tiago, foram instituídas duas capitanias: António da

Noli recebeu a Capitania do Sul que funcionou com sede na ribeira Grande; Diogo

Afonso recebeu a Capitania do Norte cuja sede foi instalada nos alcatrazes e as ilhas de Maio

e Boavista. Os dois donatários foram honrados com prémio de mérito das descobertas pela

Carta de Doação de 1462, ostentando todos poderes. As únicas restrições impostas aos

donatários referem-se a alçada sobre o crime de morte ou talhamento de membros. Ficaram

também com a incumbência de povoar e promover o desenvolvimento económico da ilha.

5 VÁRIOS. História Geral de Cabo Verde, Praia-Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical -Direcção Geral Do

Património Cultural De Cabo Verde.1991, Vol. I p.10.

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Mas os incentivos não foram suficientes para atiçar os interesses dos europeus ávidos de

riquezas e dado à distância da Coroa ausência de recursos minerais; intempéries do clima e

não adaptação das plantas que lhes serviam de base de sobrevivência, não quiseram vir. Para

contrariar essa tendência dado que as comunidades rurais não se sentiram motivados nesta

aventura, a coroa adoptou uma outra estratégia: concedendo aos futuros potenciais moradores

a oportunidade de poderem usufruir de abastados lucros através da exploração comercial com

a costa d’África numa época em que se revelava muito rentável tanto para os portugueses

como para os africanos tendo em consideração as diferenças entre a oferta e procura e valores

entre os dois mercados tão distante na época. Tal oportunidade foi oficialmente concedida

pela Carta régia de 1466 nestes termos:

“outrossy nos praz e lhe outorgamos que os moradores da dita ylha que daquy em

diamte pera sempre ajam e tenhã liçença pera que lhes pruuver poderem hyr com navios a

trautar e reguatar em todollos nossos trautos das partes de Guynee reseruando desto o nosso

trato d’Arguym honde nom queremos que outrem possam trautar nem fazer outra alguuua

cousa em o dito trauto com suas demarcações, senão quem nós quisermos e por bem

teuermos, por nossa liçença e lugar, todallas mercadorias que elles ditos moradores da dita

ylha tiuerem e quiserem leuar, salvo armas e farrementas, navios e aparelhos deles,(...)”.6

Como se pode deduzir do extracto citado, aos moradores foram concedidos largos

privilégios de poderem comercializar livremente na costa africana, podendo levar todas

espécies de mercadorias, salvo armas e ferramentas, navios e aparelhos que constituíam

mercadorias de defesa do Rei e que só poderiam ser utilizado mediante a sua autorização.

As mercadorias resgatadas poderiam ser comercializadas livremente depois de pagos um

quarto sobre o resgate.

A Carta Régia constituía um trunfo para os povoadores de S. Tiago. O resgate, neste

período constitua monopólio real, o sistema utilizado era o da exploração directa, aos vassalos

era interdito. Assim sendo a localização, as isenções fiscais, a prioridade concedida colocava a

ilha de Santiago em vantagem em relação às outras regiões do reino. Sendo o objectivo central

dos mercadores de então era de atingir a costa africana, quem estivesse em São Tiago estaria

mais bem localizado para realizar poupanças nos custos de transportes, tempo, alimentação e

ainda correria menos riscos que alguém residente na ilha da Madeira, Açores e no reino.

A carta de 1466 impulsionou e incrementou uma imigração de mercadores e armadores

que instalaram na Ribeira Grande acompanhados de funcionários régios: tributadores,

6ALBURQUEQUE, Luís & SANTOS, Maria Emília Madeira e outros. História Geral de Cabo Verde, Corpo

Documental.Vol.I.p.20.Lisboa. Instituto de Investigação Científica Tropical - Direcção Geral Do Património Cultural De Cabo Verde.1989

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escrivães, almoxarifes e recebedores. Mas a mesma frustrou um pouco o objectivo e a

tentativa de povoar Santiago tendo em conta que os primeiros povoadores se instalaram

utilizando Ribeira Grande apenas como porto de escala entreposto para as suas relações

comerciais com a costa d’ África e Portugal.

Como regularizador do processo, o Rei interfira sempre que houvesse conflitos entre os

mercadores que disputavam zonas preferenciais. Essa situação agravou-se com a mudança no

processo de exploração.

Em 1469 D. Afonso V arrendou, ao Fernão Gomes o direito de exploração da região de

Serra Leoa, por um período de cinco anos, em troca de 200.000 reais (cf. Correia e Silva,

2004:27) ficando o mesmo com a incumbência de descobrir cem léguas da costa anualmente.

Essa medida deveu-se à incapacidade financeira do Rei em continuar com o sistema de

exploração directa e à concorrência de certos países europeus que se mostravam interessados

neste comércio.

O conflito entre os moradores e o arrendatário, por ser o segundo nobre, obrigou o Rei

a tomar medidas restritivas em relação à carta de 1466. Em 1472 o rei redigiu uma carta

limitando as acções mercantis dos moradores na costa africana pondo em causa a essência da

carta de privilégios de 1460.

Sentindo-se ameaçado nos seus interesses pela concorrência que os moradores vinham

fazendo, o rei resolveu com a referida carta limitar o poder comercial dos moradores e ao

mesmo tempo incrementar o povoamento da ilha.

“Nós outorgamos ao Infante d. Fernando meu irmão, que deus aja, numa carta de

privilégio, franquezas e liberdades e merces para moradores da sua ylha de Santiago que he

junto com Cabo Verde, nas partes do mar oceano, por se a dita ylha, por causo dello

milhore mays asinha povoar (.) o capitam moradores da dita ylha pera sempre outras

nenhuas mercadorias mandar resgatar, por bem da dita nossa carta, senõn aquelas que eles

das suas novydades e colheitas da dita ouverem: porque estas taes somente queremos e

mandamos que lá possam levar se quiserem e outras alguas nam” 7

É mais que evidente que limitar as mercadorias a ser utilizados pelos moradores, proibir

a comercialização de parceria com estrangeiros, estaria a coroa a «matar dois coelhos com

uma cajadada»: evitar a concorrência tanto dos moradores como dos estrangeiros e ao mesmo

tempo obrigar a produzir as suas próprias mercadorias se pretendessem continuar a usufruir

dos privilégios que lhes foram concedidos.

7 Idem, Op. cit . p. 25

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Ainda que for de boa intenção as medidas agravaram profundamente a acção dos

moradores que viram privados de conseguir o financiamento externo e de mercadorias para

troca directa. Pois a capacidade produtiva dos moradores condicionada por falta de meios

financeira, condições naturais da ilha, distância da metrópole, deficiência dos meios de

transporte e comunicação, era limitada nesse momento.

Aos moradores restavam duas hipóteses: obedecer o espírito da carta e perecer;

desobedecer e continuar as suas actividades mercantis sofrendo represálias.

Com determinação os moradores assumiram a segunda hipótese e foram designados de

«lançados ou tangomaos», alvo a bater por ter desobedecido à Coroa. Por outro lado

incrementou – se uma economia baseado no sector primário mas virado para o comércio. Por

não haver mão- de - obra suficiente recorreu se aos escravos negros da costa africana.

Ao mencionarmos os moradores, referimo-nos aos primeiros povoadores brancos que se

instalaram em Santiago. Será que não havia já comunidades residentes antes da chegada dos

europeus? É uma questão polémica cuja afirmação e refutação advém de dois grupos de

historiadores: os historiadores portugueses negam a possibilidades de as ilhas serem povoadas

antes da chegadas dos europeus e os historiadores africanos e sobretudo os mais conceituados

cabo-verdianos acreditam na hipótese de as ilhas serem povoadas por uma comunidade negra,

ainda que pouco influente na estrutura social cabo-verdiana. O principal problema tem a ver

com a escassez da documentação e documentação pouco esclarecedora. O que não se pode

negar é que a sociedade cabo-verdiana tenha a sua origem no cruzamento entre brancos e

negros de várias etnias que se fixaram já no sec. XV na Ribeira Grande, mais tarde Cidade

Velha. Contamos abordar essa questão mais adiante.

Os moradores de Ribeira Grande, pelas razões já apontadas, logo no início, interessou-se

pelo o tráfico de escravos e pela posição que Ribeira grande ocupa, passou a servi como porto

de escala para os navios que aportavam ao seu porto e de interposto comercial na costa d’

Àfrica Ocidental.

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3. 2. Participação de Ribeira Grande no Comércio Internacional

O comércio internacional começou-se a incrementar a partir do sec. XII com o advento

do período de paz na Europa, as inovações introduzidas na agricultura e transporte,

incremento do comércio e o desenvolvimento e crescimento urbano. A proliferação dos

centros urbanos promoveu o desenvolvimento de uma economia de mercado com

intensificação das trocas comerciais, surgimentos de mercados, feiras, associações de

mercadores, melhorias dos transporte terrestres e marítimos, a necessidade dos instrumentos

de pagamentos e de troca. Foi precisamente neste período que a Europa restabelece o

comércio com o extremo oriente, servindo-se do Mediterrâneo, ao mesmo tempo que, através

dos movimentos das cruzadas, disputa aos muçulmanos a posse de territórios no próximo

oriente. Foi ainda nos finais do sec. XIII que, com toda probabilidade, se saiu do

Mediterrâneo para o Atlântico, através do Estreito de Gibraltar, permitindo a ligação da Itália

à Flandres por via marítima que até aí se fazia por terra. Essa não alternativa teve a

continuidade no sec. XIV por causa da grande crise em que a Europa se emergiu, rareando o

ouro, a prata, os cereais, matérias-primas e mão-de-obra.

No sec. XV, a economia europeia reanima-se as carências acima citadas aumentaram-se.

A solução seria o alargamento do comércio internacional, o contacto directo com as fontes

fornecedoras dos recursos necessários ao desenvolvimento.

Várias tentativas levadas ao cabo pelos italianos, espanhóis, Marco Pólo, chineses, Ibn

Batuta, nos sécs. XIII e XIV, não contribuíram para melhorar o relativo conhecimento da

costa ocidental africana e do Oceano Atlântico Sul.

A iniciativa coube a Portugal que conquistou Ceuta em 1415, seguido de viagens pelo

Oceano Atlântico, colonizou os Açores e Madeira; estabeleceu relações comerciais com a

costa africana e descobriu e colonizou o arquipélago de cabo Verde (1460); dobrou cabo de

Boa Esperança 1487-88, descobriu o caminho para a Índia, (1498), iniciou a exploração

comercial da Índia; chegou e colonização do Brasil (1500). Deu-se, deste modo, a expansão

do comércio internacional, arranque do comércio triangular e do comércio colonial.

É nesta encruzilhada do comércio Triangular, colonial e internacional que Cabo verde

começou a desempenhar o seu papel como ponto de escala e entreposto comercial. Pois o

oceano Atlântico deixou de ser fronteira entre os continentes para passar a ser elo de ligação

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importantíssimo e obrigatório e o valor geo-estratégico de Cabo Verde passou a constituir um

elemento atractivo concorrencial para os países europeus cuja economia se encontrava em

plena expansão procurando explorar comercialmente o mercado africano, as Índias Orientais e

Ocidentais.

“A importância do porto de Ribeira Grande é meio sec. após o início do povoamento,

bem vincada pelos oficiais da Câmara, os quais, em carta endereçada ao poder central, em

1512,afirmam que ele é «grande escala para os navios e naus da Sua Alteza e assim para os

navios de S. Tomé e ilha do Príncipe e para os navios que vão do Brasil e da Mina e todas

as partes da Guiné” 8

É neste contexto que Ribeira Grande ganhou importância no comércio transatlântico,

intercontinental, triangular e a concorrência fez crescer a Cidade Velha. Aparecem formas

concentradas de habitat, infra-estrutura administrativas; serviços fiscais, sanitários, judiciais

económicos ligados ao transporte, industrias artesanais; sofrendo um crescimento rápido em

termos demográfico. A sociedade diversifica-se reestrutura-se, albergando no seu seio uma

grande heterogeneidade social assente na multiplicidade de origens geográficas e étnicas com

modos de vida diversificados: funcionários, mercadores, artesãos, contrabandistas,

marinheiros, aventureiros prostitutas, mendigos etc. Ribeira Grande torna-se cosmopolita.

Por se tornar atractivo o sector terciário, ainda que por pouco tempo, conheceu um certo

crescimento: cobrança de impostos vários (imposto de importação, exportação, reexportação,

baldeação, depósito, ancoragem, etc.) ou através de prestação de serviços de abastecimento

alimentar, reparações navais, fornecimento de água. Isso devido a imigração definitiva e

sazonal de mercadores estrangeiros trazendo consigo mercadorias diversas. Os lucros

advenientes do comércio funcionaram como impute para o investimento na urbanização da

cidade: construção de ruas, estrada, fortalezas, igrejas, edifícios administrativos, etc.

A importância geo-estratégica de Cabo Verde mantêm-se. Se outrora a conjuntura

internacional fez crescer a sua importância, hoje, mais de que nunca, a conjuntura actual fará

crescer ainda mais a sua importância. Pois Cabo-Verde continua na rota do Atlântico quer por

via marítima quer por via aérea, mas torna-se necessário criar condições preferenciais. De

entre as preferências destaca-se o turismo. Pois a História terá grande influência no seu

desenvolvimento.

8 Vários. História Geral de Cabo Verde, ps.133-134

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3.3. Ribeira Grande Berço da Sociedade Cabo-Verdiana

Ribeira Grande foi o primeiro espaço escolhido pelos portugueses para instalarem-se e

dar continuidade ao grande projecto comercial: a procura de mercados e o controle das rotas

das Índias. Daí a criação do primeiro embrião social com a fixação de homens brancos de

negócios condenados a cruzar-se com as escravas negra trazidas da costa d’África Ocidental.

A escolha de Ribeira Grande tem a ver com as condições ponderadas pelos primeiros

visitantes, segundo reza os documentos credibilisados até então:

“Haver ali água corrente em abundância (razão porque tomou esse nome) e um

razoável porto de mar mesmo junto à desembocadura da Ribeira Grande, em cujas

margens o primeiro povoado iria emergir. Por ser muito fértil, uma agricultura de

subsistência para o agregado populacional podia, pelo menos, ser montada ali com relativo

sucesso. Para os tão necessários contactos comerciais com exterior havia o porto, que,

apesar das suas pequenas dimensões e de ser traiçoeiro em determinadas épocas do ano,

satisfazia as necessidades dos moradores”.9

Para além dos alentejanos e algarvios, participaram no povoamento, a ilha da Madeira

com um número significativo, espanhóis, franceses ingleses holandeses, flamengos,

genoveses, sevilhanos, açorianos e, mais tarde, japoneses, alemães e coreanos. Os brancos

nobres, armadores camponeses e degredados, em Cabo Verde, de acordo com a relação que

mantinham com os meios de produção subdividiam-se em quatro grupos fundamentais:

Os donatários, senhores do poderio económico, latifundiários com poder absoluto

cujos poderes diminuir-se-ão com os agentes administrativos nomeados mais tarde

pelo próprio Rei, entre os quais: inquiridor, corregedores, Capitão Geral nomeado

para as ilhas de Cabo Verde e Guiné-Bissau; e um Capitão Governador;

Os morgados, senhores das terras, dos escravos;

Os colonos que recebiam as terras em regimes de sesmarias; degredados por

motivos vários;

9 Vários. História Geral de Cabo Verde. Op. Cit.p. pág.

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Os rendeiros – (contratantes ou proprietários) que arrendavam à Coroa, o direito de

explorar ou de tirar benefícios do comércio entre Cabo Verde e as regiões da costa

da Guiné.

Para solucionar o problema de falta de mão obra, recorreu-se à importação de escravos

negros da costa ocidental d’ África, para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, produção

de algodão, tecelagem de panos, criação de gado e como escravos domésticos ou de «quintal».

Grande parte dos contingentes de escravos, uns catequizados e ladinizados, eram

reexportados, para as Antilhas.

A costa ocidental d’África forneceu, segundo a maior parte dos historiadores, uma

grande percentagem de escravos que foram utilizados no povoamento de Cabo Verde. De

entre os participantes Senna Barcelos, António Carreira, e P. António Brásio citam:

mandingas, balantas, bijagós, felupes, beafadas, papeis, quissis, Brâmes, banhuns, fulas,

jalofos, bambará, bololas, manjacos, etc.

Os europeus, por constituírem um grupo com estatuto superior, tinham como missão

orientar e enquadrar os escravos; dirigir os trabalhos, impor as normas e disciplinas, ensinar

ofícios.

O escravo era empregado na lavoura, no pastoreio, no apanho do algodão, da tinta e da

urzela; nas tarefas domésticas, como tecelão, etc.

Dada a escassez de documentos, pouco se sabe da formação de classes sociais antes do

sec. XVIII. Mas tudo leva-nos crer que, nos meados do séc. XV, já se adivinhava uma

estrutura social estratificada baseada na relação social de produção entre senhores

esclavagistas e escravos.

É um período de apogeu de Ribeira Grande se tivermos em consideração o equilíbrio

produção/população, ou que o número de habitantes é ainda reduzido e por haver intensa

actividade comercial provocou um certo desafogo económico a determinados grupos sociais.

“Neste período Ribeira Grande vive de facto os seus momentos de fausto, o que é

sugerido não só pela documentação apontada mas também pela opulência (...) de algumas

construções então projectadas ali. Referimo-nos à Sé Catedral, ao Paço Episcopal, e à

Igreja da Misericórdia”.10

O referido desafogo influenciou muito a formação da primeira estrutura social em Cabo

Verde se tivermos em conta que os primeiros moradores foram comerciantes e armadores com

liberdade e privilégios de poderem fazer o comércio na costa de África Ocidental. Só com a

10 Idem. p . 138

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Carta de Restrição de Privilégios de 1472 é que se iniciou a colonização com a fixação do

homem na terra criando deste modo uma nova relação de produção (proprietários /escravos e

proprietários /camponeses). E daí a formação já no sec. XV de uma sociedade com uma

estrutura esclavagista e semi-feudal.

Pouco tempo depois do povoamento de Santiago e Fogo, dá-se o cruzamento dos

homens brancos e escravas negras, devido ao facto de haver nas ilhas um número reduzido

de mulheres brancas e a condição de escravas das mulheres negras tornavam-nas frágeis e

expostas aos homens brancos.

Mas o período áureo terminou na segunda metade do sec. XVI, com a intensificação de

uma forte concorrência estrangeira, sobretudo a desencadeada pela Inglaterra que começou a

afirmar-se como maior potência mundial, tendo em conta o desenvolvimento das suas

manufacturas. Assim a Coroa e os moradores sentiram-se lesados nos seus interesses e não

revelaram capacidade para a inversão da situação, tendo em consideração a diversificação

das mercadorias utilizadas pelos franceses, holandeses e ingleses. A situação agravou-se

muito mais com os sucessivos ataques levados a cabo pelos piratas dos referidos países;

excessiva vulnerabilidade e especialização da sua economia que não resistiram à perda do

monopólio comercial da costa de África; o abandono a que foi legado durante o governo dos

reis Filipes de Espanha em Portugal; as secas e fomes que provocaram a fuga e a mortes dos

moradores brancos e a fixação da população no interior da ilha de Santiago; transferência da

sede do governo e da diocese para Praia; a perda definitiva da sua importância comercial,

política, militar e religiosa.

Assim sendo, Ribeira Grande perde a sua importância geoestratégica como porto de

escala devido a insegurança e os navios passaram a operar directamente no continente

africano para aprovisionar-se de escravos, contribuindo para a diminuição das receitas

cobradas.

O colapso económico e financeiro irá reflectir-se profundamente na estrutura social ora

iniciada com a redução dos fluxos dos colonos e contratadores e armadores e dos escravos

trazidos do continente africano. Ribeira Grande torna-se Cidade Velha.

Acreditamos que, com aquisição da autonomia económica, financeira e administrativa,

o desenvolvimento do turismo contribuirão para que a Ribeira Grande venha assumir um

novo papel como roteiro das mais variadas culturas e nações ligadas ao turismo.

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IV. Turismo em Cabo Verde

4.1. Aspectos Gerais

Em Cabo Verde, de modo geral são consideradas atracções turísticas: sol, praia, mar,

montanha e cultura. Assim sendo, podem ser consideradas atracções turísticas as cadeias

montanhosas, as escarpas rochosas, os fiordes, a escassa vegetação, pássaros e plantas

indígenas, parques e reservas naturais, vistas panorâmicas, zonas vulcânicas, microclimas de

altitudes

Segundo estudos elaborados pelo PROMEX, Cabo Verde tem sido procurado como

destino turístico, sobretudo a partir de 1996. Contudo, o investimento estrangeiro, o

melhoramento das infra-estruturas e das condições de acolhimento apontam para um futuro

promissor para o turismo.

De acordo com os dados fornecidos pela referida instituição a entrada de turistas

estrangeiros em Cabo Verde triplicou de 1990 a 2000, com cerca de 21. 695 e 145. 076

visitantes. O tempo médio de permanência no país é de 8 dias.

Os últimos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística referente às entradas

e dormidas nas estalagens nacionais revelam:

Quadro nº 1. Evolução de Hóspedes e Dormidas de 2000 a 2004

2000 2001 2002 2003 2004

Hóspedes 145.076 162.095 152.032 178.379 185.276

Dormidas 684.733 805.924 693.658 902.873 867.665

Fonte: INE NE

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Nota-se um contínuo crescimento com uma ligeira queda nas entradas dos hóspedes e

dormidas no ano de 2002. Entre 2003 e 2004 a taxa de crescimento em relação a

hospedagem, é de 3,9% e de dormidas é de -3,9%.

A partir de 2000, o crescimento em termos de entradas e dormidas reduziu em relação a

década de 90.

Os hóspedes entrados nos estabelecimentos hoteleiros são 185.276 e as dormidas

totalizam 868.665 apresentando um crescimento de 4% de entradas em relação ao ano de

2003 e de -4% de dormidas em relação ao mesmo ano.

As ilhas com maiores entradas foram: Ilha do Sal: 685.198 visitantes e taxa de

ocupação 47% no 1º trimestre e 45% no segundo semestre; Santiago, 80.830 visitantes e taxa

de ocupação 28% no 1º semestre e de 32% no 2º trimestre; S. Vicente, 52.507 visitantes e

taxa de ocupação 23% e 21% no 2º semestre; Boavista, 24.669 visitantes e taxa de ocupação

42% e 44% no 2º semestre.

Em relação às infra-estruturas hoteleiras, segundo os dados disponibilizados pelo

Instituto Nacional de Estatística, entre 1999 e 2004, os estabelecimentos aumentaram de 79

para108, com capacidade de 3150 quartos, 5804 camas, tendo um crescimento de 2,9% de

2003 a 2004; contrastando com 1825 quartos e 3.165 camas de 1999. Destes, 24% fica na

ilha de Santiago; 22% no Sal , 15% em S. Vicente e 15% em S. Antão.

Quadro nº 2: EVOLUÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS, CAPACIDADE E PESSOAL AO

SERVIÇO

1999 2000 2001 2002 2003 2004 Tx. Crescimento

(2003/2004)

Estabelecimentos 79 88 88 93 105 108 2,9%

Nº de Quartos 1.825 2.391 2.489 2.820 3.146 3.150 0,1%

Nº de Camas 3.165 4.475 4.628 5.159 5.715 5.804 1,6%

Capacidade de

Alojamento

3.874 5.249 5.450 6.062 6.682 6.749 1,0%

Pessoal ao Serviço 1.561 1.845 2.046 2.043 2.281 2.165 -5,1%

Fonte: Instituto Nacional de Estatística

Como se pode notar, a oferta hoteleira tem crescido muito, nos últimos anos embora

persista o problema de fraca qualidade.

No que diz respeito aos serviços gerais nos estabelecimentos, existem cerca de 71

restaurantes, 7 discotecas, 8 ginásios, 21 salas de reuniões, 22 piscinas, 12 lojas, 74 bares 6

campos de ténis, 8 parkings e 13 sala de jogos.

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As infra-estruturas aeroportuárias e rodoviárias são ainda deficientes e insuficientes.

A rede viária é reduzida e os meios de transportes colectivos rodoviários são ainda

poucos seguros e confortáveis. Mas reconhece-se o grande esforço por parte de governo na

melhoria das infra-estruturas económicas. Destacam-se o novo aeroporto da Praia, a

asfaltagem da estrada que liga Praia à cidade de Assomada, asfaltagem de algumas avenidas

na cidade da Praia, asfaltagem da cidade de Mindelo e da ilha do Sal.

4.2. O Papel das Instituições Políticas e Administrativas

Algumas instituições político-administrativas foram criadas para o efeito: Ministério do

Turismo e Transportes, Promex, Instituto Nacional de Cultura (INAC), Ministério de Cultura

e Direcção Geral do Desenvolvimento Turístico (DGDT).

À Direcção Geral de Desenvolvimento Turístico e ao Promex cabe assegurar a

administração turística. A DGDT apoia o governo na definição de políticas e estratégias do

desenvolvimento do sector, na normalização e fiscalização de actividades turísticas, no

desenvolvimento de relações com instituições internacionais no sector. O Promex agiliza o

investimento externo e promove a imagem do país no exterior, função essa que cabia ao

INATUR- Instituto Nacional do Turismo. Aos municípios foram, também, legalmente

atribuídas responsabilidade para o efeito.

Foi instalada uma delegação municipal que é assessorada por uma secretaria técnica

especializada na planificação, ligada ao Gabinete de Planeamento e Gestão Urbanística

(GPGU).

O Instituto Nacional de Cultura (INAC) é órgão coordenador cuja função essencial é

salvaguardar o património cultural nacional.

As duas instituições (Município da Praia e INAC) criaram no local uma estrutura

comum de intervenção operacional a partir de 1992.

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Esta Secretaria tem por missão: recolher e compilar os documentos históricos e dados

físicos da Cidade Velha; garantir a elaboração de planos e documentos preliminares de

conservação; responder as demandas da população em matéria de atribuição de terrenos e de

projectos e preparar as autorizações da construção.

Acções concretas para o efeito estão sendo realizadas por esse bureau mas de uma

forma muito lenta devido às limitações mencionadas anteriormente (falta de recursos

financeiros, materiais e humanos).

A partir de 2004, houve uma evolução a nível das instituições responsáveis para o

desenvolvimento do turismo e sobretudo para preservação e valorização do património

cultural. O PROMEX (Centro de Promoção Turística, de Investimentos e das Exportações)

foi extinto e o INAC (Instituto Nacional de Cultura) foi substituído pelo IIPC( Instituto da

Investigação e do Património Cultural) cujo estatuto foi aprovado pelo Decreto

Regulamentar nº 2/2004 de 17 de Maio (B.O.nº 14 I Série de 17 de Maio de 2004) com as

seguintes atribuições: identificação, inventariação, investigação, salvaguarda, defesa e

divulgação dos valores da cultura, do património cultural móvel e imóvel, material e

imaterial do povo cabo-verdiano, nomeadamente:

a) A recolha, conservação tratamento e divulgação das tradições e histórias orais;

b) A investigação, particularmente nos domínios da história, sociologia, antropologia

linguística, psicologia e musicologia, com vista a fomentar o conhecimento da

cultura nacional, nas suas mais variadas formas de expressão;

c) A criação de organismos destinados à defesa e valorização do património cultural;

d) A pesquisa, inventariação, cadastro e classificação do património cultural, bem

como a sua salvaguarda e conservação;

e) A preservação, defesa, protecção e promoção dos bens pertencentes ao domínio

arqueológico nacional.

São órgãos do IIPC: O Presidente, O conselho Administrativo, o Conselho Científico.

O Ministério que tutela o desenvolvimento do Turismo passou a designar-se de

Ministério de Economia, Crescimento e Competitividade com as seguintes direcções ligadas

ao turismo: Direcção Geral do Desenvolvimento Turístico, Direcção de Fiscalização,

Direcção de Turismo.

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4.3. Potencialidades Turísticas da Cidade Velha

4.3.1.Turismo do Mar

A partir do séc. XVIII a burguesia começou a enaltecer os valores curativos da

água do mar e teve o apoio do Dr. Russel (1753) elogiando os banhos de mar e a ingestão da

sua água. As termas entraram em decadência e os turistas viraram-se para as praias que se

transformaram num espaço exclusivo para tratamento de determinadas doenças. As viagens

eram longas e caras para a população em geral.

Até 1830, as praias eram um refúgio das classes mais prósperas. A partir de 1830

assiste-se à expansão de caminho de ferro e as viagens tornaram-se mais acessíveis à

população.

O caminho-de-ferro, conjuntamente com as mudanças sociais ocorridas no séc. XIX,

levou à democratização do turismo.

Com esta democratização do turismo, as classes mais abastadas fizeram o retorno às

grandes viagens para marcar a diferença com as outras classes. Cria-se deste modo o turismo

internacional com serviços de luxo e o turismo torna-se um privilégio para aristocracia.

A partir dos anos 20, os banhos de sol tornaram-se famosos e o bronzear transformou-

se num símbolo de prestígio social e diferenciado para os habitantes dos centros urbanos.

A revolução dos transportes e sobretudo o sector de aviação civil veio conferir ao

turismo um impulso sem precedente, apesar dos constrangimentos provocados pelos

conflitos localizados a nível mundial

Os países pobres podem beneficiar-se substancialmente com a expansão do turismo

mundial, desde que criem condições para que as suas empresas aproveitem das

oportunidades que daí resultam e evitem que os direitos das suas populações sejam violados.

Em Cabo Verde desenvolveu-se o turismo balnear, com maior expansão nas ilhas com

melhores praias: Sal, Boa Vista e Maio.

A diversidade do produto turístico da ilha de Santiago influencia directa ou

indirectamente no desenvolvimento turístico de Cidade Velha que nós escolhemos como um

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dos principais e potenciais centros do desenvolvimento turístico da ilha tendo em

consideração as potenciais ofertas a ela inerentes:

A temperatura ambiente tem uma amplitude térmica média reduzida durante o ano: o

mínimo 22 graus centígrados e o máximo de 27 graus, sendo a temperatura máxima de 32

graus e mínima de 22 graus registada durante o ano.

O mar oferece óptimas condições para os banhistas: a água encontra-se sempre tépida

com uma temperatura média da água na superfície de 23º C, com mínimas de 21º a 23º C e

máximas de 26º C; límpida e transparente, satisfaz os desportistas das mais diferentes

modalidades do desporto aquático/marítimo tais como:

a) Windsurf/Surf devido a frequência de ondas e vento forte em determinado período

de ano;

b) A pesca desportiva deve ser estimulada, pois o nosso país tem condições para sua

prática e é uma actividade procurada como um produto turístico. A pesca de altura e

submarina também deve ser estimulada.

c) O mergulho deve ser planificado, orientado para as regiões identificadas, evitando a

degradação de ecossistemas marinhos e delapidação dos patrimónios arqueológicos

que se encontram no fundo dos mares ao longo da costa.

Passeios no mar proporcionados pela limpidez das águas, a beleza das orlas costeiras:

pequenas praias de areia negra e de calhau rolado; as falésias, as enseadas, os golfos os

recifes, as encostas escarpadas e os fiordes; as baías rochosas da costa ocidental, as planícies

áridas e pedregosas ocidentais e os profundos barrancos; as embocaduras das ribeiras muitas

vezes verdejantes com coqueiros tamareiras e árvores de frutos; os vales profundos e os

planaltos ressequidos; as montanhas e bem como os peixes voadores que podem ser

observados a partir dos barcos de recreio constituem atractivos bastantes para proporcionar

aos turistas boas férias em cabo verde. Os golfos e enseadas de difícil acesso por terra, são

por vezes procurados pelos turistas estrangeiros em busca de lugares exóticos para repouso,

piquenique, etc. são lugares adequados para o turismo de elite.

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4.3.2.Turismo de Campo e de Montanha

O turismo no espaço rural consiste no conjunto de actividades e serviços realizados e

prestados mediante remuneração em zonas rurais, segundo diversas modalidades de

hospedagem, de actividades e serviços complementares de animação e de diversão turística,

tendo em vista a oferta de um produto turístico completo e diversificado.

Considerando os requisitos acima referidos, o turismo no campo assume as seguintes

forma: turismo rural, agro-turismo, turismo de aldeia, turismo de montanha, eco-turismo.

Convém relembrar que o eco-turismo ou turismo de natureza não constitui um ramo

específico mas sim uma forma de exploração que respeite o meio ambiente cujo espaço pode

ser terrestre e marítimo (observação de fauna e flora marinha e terrestre pode ser atractivo

para os turistas).

Agro-turismo é uma modalidade de turismo de natureza, muitas vezes procurado pelos

turistas activos que procuram o sossego e tentam recuperar o equilíbrio e eliminar o stress

antes do regresso aos grandes centros urbanos.

O turismo no espaço rural, em Cabo Verde, tem expressão relativamente baixa mas

vem ganhando incremento rápido, sobretudo em Santo Antão. S. Nicolau, Fogo e Santiago.

A ilha de Santiago, apesar da semelhança climática com as outras ilhas, é a ilha com

maior produção agrícola do país. Possui microclimas e importantes comunidades nas zonas

litorais. Ocupa uma área de 991 km2 detém cerca de metade da população do país que se

encontrava distribuída, até Fevereiro de 2005, em seis municípios: Praia - capital do país e

principal centro económico com cera de 25% dos habitantes de Cabo Verde; Santa cruz,

Santa Catarina, Domingos S. Miguel e Tarrafal. Pela lei já citada de 22 de Fevereiro

aprovada pelo Parlamento, foram criadas mais três municípios: Ribeira Grande com sede em

“Cidade de Santiago”, dos Órgãos e dos Picos.

A paisagem é muito diversificada no seu aspecto natural, humano habitacional,

demográfico e histórico-geográfico o que faz com que tenha várias zonas de interesses

turísticos.

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O espaço rural cabo-verdiano é tão atractivo como as estâncias balneares das ilhas mais

planas. O país pode proporcionar aos turistas o acesso a paisagens únicas. Por isso o turismo

no espaço rural deve merecer um forte incremento.

A Cidade Velha tem potencialidades para o desenvolvimento não só do turismo balnear

que já mencionamos como para o desenvolvimento de um turismo rural nas suas mais

diversas formas e ser centro impulsionador do turismo de montanha. As casas antigas

características do meio rural são potenciais produtos turísticos prestar serviços de

hospedagem de natureza familiar; as casas particulares utilizadas simultaneamente como

habitação do proprietário, possuidor ou legítimo detentor e integrados em explorações

agrícolas, e que permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da actividade

agrícola, ou participação nos trabalhos aí desenvolvidos podem vir a funcionar como uma

oferta turística para prestar serviço de hospedagem aos turistas.

O vale verdejante com árvores de fruto tais como coqueiro, mangueiras, figueiras,

cabeceiras, tamareiras e outros arbustos introduzidos desde o início do povoamento, as

culturas de cana sacarina, horticulturas, vedadas pelas rochas escarpadas conferem à Cidade

Velha um conjunto de características paisagísticas de grande valor turístico.

Como é do conhecimento geral a escolha do destino turístico por parte dos turistas

depende normalmente de um conjunto de factores, por vezes contraditórios, como sejam

desejos, necessidades, gostos, simpatias e antipatias. A esses factores alia-se outros como por

exemplo, a situação socio-económica, a oferta turística disponível e a informação. Entre

todos esses factores a aquisição da informação é, no dizer de Mário Baptista11

, a que

desempenha um papel primordial no concernente à sensibilização, persuasão, apreciação e

legitimação da escolha.

Pelo que se torna necessário, a par da promoção do turismo balnear, desencadear e

reforçar iniciativas promocionais e publicitários que permitem informar, divulgar esclarecer

e motivar os turistas dos principais países emissores e de outros mercados potenciais sobre os

produtos oferecidos no espaço rural cabo-verdiano em geral e santiaguense em particular.

Nota-se uma tendência para o despovoamento do meio rural devido ao êxodo rural com

consequências imprevisíveis para o turismo.

11 BAPTISTA, Mário. O Turismo na Economia – uma abordagem técnica, económica, social e cultural.

Lisboa. Instituto Nacional de Formação Turística.1990.

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“No período compreendido entre 1990 e 2000, a população do concelho da Praia

cresceu de 82.802,para 104.953 habitantes que significa um diferencial de 22.151 habitantes

a um rítmo médio de crescimento na ordem dos 2,4%.

Comparando o comportamento entre a cidade e o campo, constata-se uma discrepância

significativa. Enquanto que a população urbana aumenta de 61.644 habitantes para 94.161,

com o acréscimo de 32.517 habitantes num período de dez anos, a ritmo médio de

crescimento de 4.2 ao ano, a população rural diminuiu de 21.158 habitantes para 10.792, ou

seja perdeu um efectivo de 10.366 habitantes, num ritmo de crescimento médio de -6,7%.

Atendendo às tendências de crescimento demográfico, estima-se que no horizonte de

10 anos, a Praia urbana contará com 167.217 pessoas, enquanto na Praia rural viverão apenas

4.088 habitantes, com todas as implicações daí advenientes”. 12

O desenvolvimento do turismo rural contribuirá para fixação da população no campo

criando mais emprego e melhorando as condições de vida da população.

Não existe um plano urbanístico para as construções no meio rural e as construções

anárquicas por vezes, ocupam espaços que deveriam ser preservados para actividades agro-

pastoris e outras que contribuem para o desenvolvimento da zona e o bem-estar dos

habitantes.

4.3.3. Turismo Cultural e Religioso

4.3.3.1. Considerações Gerais

“Cultura é o complexo de tudo o que o homem exprime em confrontação com a vida,

tudo o que constitui a consciência dele próprio e que o identifica em relação aos outros, quer

no seu espaço vital como a nível universal. Ela constitui ainda tudo o que o homem,

individual ou colectivamente assimilou, interpretou ou traduziu - material ou

12 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS DE CABO VERDE. (2003). PLANO AMBIENTAL

MUNICIPAL DA PRAIA.p.10 Praia. 2003.

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intelectualmente - para criar, assegurar, enriquecer e comunicar aos outros a sua relação com

o mundo físico e metafísico “.13

Relativamente à Cidade Velha, a cultura como complexo de tudo manifesta-se através

da arte, um complexo monumental que constituiu a antiga Cidade de Ribeira Grande e parte

integrante da Cidade Velha, hoje, Cidade de Santiago (edifícios religiosos, civis, públicos e

privados, ruas estátuas, fontenários), todos os géneros de artesanatos, trajes, gravuras,

ornamentos, pedras preciosas, moedas; por meio de literatura e ciência: livros e documentos

históricos e religiosos; tradição oral (hábitos, costumes, crenças etc.)

A história da religião e da Igreja Católica está tão intimamente ligada à formação da

sociedade e cultura cabo-verdiana em geral conferindo-lhes características próprias que torna

impossível falar do turismo cultural sem ter em devida conta a referida ligação. Para isso

basta analisarmos as ofertas e as suas potencialidades como produto turístico disponível.

As ofertas turísticas culturais e religiosas representam o sincretismo cultural de várias

culturas que participaram na formação da sociedade e identidade cabo-verdiana e a evolução

de uma sociedade emergente que apresenta três características comuns a todos: uma vivência

da colonização europeia fruto de uma acção repressiva do país colonizador impondo

politicamente, culturalmente e religiosamente que, em termos evolutivo, subdivide-se em

duas etapas: período de escravidão e pós abolição de escravidão; uma vivência da nação

cabo-verdiana como país independente.

“Durante as últimas décadas do séc. XV e boa parte do séc. XVI, a Ribeira Grande foi

capital civil, eclesiástica e militar, importante entreposto comercial e posição estratégica

cobiçada. Veio depois a decadência, também ela rapidamente e inexorável, e finalmente o

abandono. Aqui se fala dessa história. Laboratório cultural, já se tem chamado as ilhas de

Cabo-Verde. De facto, aqui se experimentaram e aclimataram tecnologias, culturas agrícolas

e animais, depois transpostas para outras paragens como o Brasil. Aqui se encontraram e

fundiram raças, idiomas e dialectos notavelmente vigorosos nas suas persistentes expressões

culturais.

A Cidade Velha é uma modesta população de pescadores e rurais quem guarda ainda

essa memória e lhe dá o verdadeiro sentido – porque a vive”.

13 Conferência dos Ministros da Cultura da ACCT, em Cotonu em 1981

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4.3.3.2. Os Monumentos Históricos

Figura 3: Sé Catedral, Praça Central, Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Os monumentos históricos, em constante degradação, constituem hoje, uma atracção

turística com grade potencialidade e podem ser transformados num produto turístico de

qualidade, cartão de visita para os turistas: Igreja Catedral, Ermida Stª Luzia, Casa da

Câmara, Palácio de Bispo, Nª Srª do Rosário, Casaria Renovada, Forte de S. Veríssimo, Nsª

Sra da Conceição, Misericórdia, Forte Arruinado de S. João, Igreja do Monte Alverne, S.

Roque, Forte de Santo António, Convento de S. Francisco, Presídio, Fortaleza Real, Hospício

que foi dos Jesuítas, Torre Antiga, Forte de São Braz, Casa da Companhia, Casa de D.

Violanta Freire de Andrade, Forte de São Lourenço, Casa de João Freire, Casa do Mestre-

Escola, Muralha Antiga, Casa do Governador Nicolau da Afonseca e Araújo.

Não dispomos de todas as datas exactas das construções mas os documentos que fazem

menção à existência desses monumentos históricos, apontam para final do séc. XV a segunda

metade do séc. XVII. São obras militares, religiosas, económicas e administrativas:

a) A fortaleza Real de S. Felipe está situada cerca de 100 metros acima na antiga

entrada da cidade, foi construída por volta de 1587 após o primeiro ataque dos

piratas ingleses comandados por Francis Drake, numa posição estratégica que

permite visualizar toda a cidade e todo o vale e mais os planaltos circunvizinhos e

uma relação estratégica com as pequenas fortalezas localizadas a oeste, a leste e ao

longo da costa: Forte de S. Lourenço construído entre 1698 e 1702; Forte de São

Braz; Forte Presídio; Forte São João dos Cavaleiros; Forte Santo António

construído na mesma época que Forte S. Lourenço;

b) Posto de vigília situado na parte superior do promontório central que permite um

controlo total sobre o vale;

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c) As fortificações que cerca e fecha a Cidade a oeste ou à direita do Forte São

Lourenço e ao sul, ao longo da costa entre o Forte S. Lourenço e forte S. Veríssimo;

d) As portas, passagens obrigatórias de acesso à cidade: Porta do Forte S. Lourenço;

Portas da Fortaleza Real de S. Felipe; Porta de acesso depois da Porta ou Forte S.

Veríssimo;

e) Ao largo da praça central, centro económico, encontra-se o Pilorinho representando

o período de escravidão;

f) Os mapas antigos localizam na periferia dessa grande praça, a prisão, caserna

militar e outro edifícios económicos e administrativos;

g) Ainda à volta dessa praça pode – se ver os vestígios do Hospital de Misericórdia; a

antiga Escola e casa do professor Nicolau da Fonseca Araujo atrás; Forte Presídio a

leste e a oeste Forte de São Braz;

h) Nos dois grandes lados da praça encontram-se uma sucessão de ruas: Rua da

Carreira, Rua da Banana, Rua Direita etc. e mais perto da praça a Casa Municipal

da Câmara, a Residência do Governador, e a Casa da “Companhia do Grão”;

i) Por volta de 1512, Ribeira Grande já possuía uma Câmara Municipal;

j) As outras áreas estavam reservadas a construção das habitações dos nobres.

Essa estrutura urbana prolonga-se para o vale dentro e é difícil encontrar o espaço onde

termina. Existem vestígios que mostram que as construções se prolongam para o espaço livre

em plataformas sucessivas hoje utilizadas para as plantações.

Para além das construções com funções militares, económicas e administrativas e

habitacionais foram também construídas obras com funções religiosas: A -Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi construído por volta de 1495 e era apenas uma pequena capela do estilo Manuelino que ,depois foi ampliada. Padre António Vieira pregou, segundo reza o documento, em 652;

a) “1556-1558(?)- Por esta época, o bispo D. Frei Francisco da Cruz dá início à

construção da Igreja de Misericórdia, ao mesmo tempo que manda construir a Sé

Catedral, cujas as obras foram embargadas pelos cónegos locais sob protesto de

que o templo se situava fora corpo da cidade». Foi também este bispo, terceiro

prelado de Cabo Verde, quem na segunda metade do séc. XVI (antes de 1574),

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erigiu o Palácio Episcopal, edifício que durante cerca de 200 anos, serviu de

residência privativa aos prelados que na Ribeira Grande permaneceram”.14

b) A Sé Catedral é uma obra majestosa, a sua construção começou em 1574 e

terminou somente em 1693 e o Palácio Episcopal, segundo os mapas antigos, fica

situado ao sul do transepto da Sé Catedral, não muito longe do Promontório de S.

Sebastião;

c) A Capela de S. Roque fica na base da Fortaleza Real de S. Roque;

d) O Colégio dos Jesuítas foi fundado em Outubro de 1608;

e) O Convento de São Francisco foi fundado em Janeiro de 1640 financiado pela

Joana Coelha, nativa da ilha de Santiago;

f) A capela de S. Pedro fica mais a norte no fundo do vale;

g) A Ermida de S. António situado mais a norte e perto da Forte do mesmo nome;

h) A Ermida S. Marta, a oeste próximo do cemitério;

i) A capela de Nª. Sr.ª Da Conceição.

Os Oficiais da Câmara da Cidade Da Ribeira Grande dirigiram, em15 de Abril de 1626,

uma carta ao rei Filipe III descrevendo a estrutura da Cidade nesses termos:

“Nesta cidade de Santiago da ilha de Cabo Verde há nela três bairros e duas ruas pelo

meio deles, a saber, São Sebastião, o de São Brás, o de São Pedro; as ruas de São Pedro até o

porto onde surgem os navios, e a outra são a da rua da Carreira e a rua da Banana, onde a

gente desta cidade se acomodam medianamente.” 15

Esses e muitos outros que fazem parte do legado histórico da Cidade Velha tiveram

uma existência efémera.

A degradação iniciou-se no séc. XVI com a decadência da Ribeira Grande, mas a

situação não se alterou, pelo contrário agravou-se muito mais com os novos

constrangimentos advenientes do crescimento demográfico actual.

14 PEREIRA, Daniel A. (1988) Marcos Cronológicos da Cidade Velha p.51,52. Lisboa. Instituto Cabo-

Verdiano de Livro.1988

15 PEREIRA, Daniel A. (1988). Op. cit.

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Em 8 de Dezembro de 1990, o decreto nº 121 publicado no Boletim Oficial da

República de Cabo Verde, nº49 declara Cidade Velha Património Nacional de Cabo Verde.

Da antiga Ribeira Grande restam apenas os monumentos que já citamos muitas vezes

sobrepostos pelas construções anárquicas, pequenas habitações sem estética, resultante de um

período de estagnação e de um crescimento urbano muito lento e desordenado. Como

podemos deduzir as construções sobre o escombro da antiga Cidade Velha não lhe bonificam

em termos de oferta turística de qualidade.

O espaço urbano actual levanta dois problemas: conservação de vias de acesso antigas

ou apenas as vias recentemente criadas. As vias antigas situadas a partir da Rua Carreira e da

Rua Banana são saídas estreitas que não podem receber veículos a partir de determinada

dimensão; as vias recentes são implantações sem precaução particular de urbanismo e a sua

aproximação dos monumentos históricos é prejudicial por causa das vibrações que ameaçam

os raros vestígios do passado que ainda se mantêm de pé; o crescimento contínuo da cidade e

a frequência constante dos veículos que estacionam nos espaços disponíveis da praça

dificulta o desempenho da sua função.

Os monumentos históricos precisam de ser preservados, limpados, conservados e

reconstruídos com o objectivo de transformá-los em ofertas turísticas e garantir o bem-estar

da população.

O estado de conservação dos monumentos, pelo que podemos constatar, é lastimável e

difícil de avaliar. O único monumento que se encontra em bom estado de conservação é o

Pilorinho situado na Praça Central.

A Fortaleza Real de S. Felipe encontra-se em restauração desde os anos sessenta. Mas

como se pode observa pouca coisa se fez para além da Muralha exterior.

A igreja de Nossa Senhora do Rosário foi também restaurada reabilitada contudo

alguns observadores mais atentos acham que é necessário dar mais atenção, rigor e

autenticidade aos trabalhos que devem ser precedidos de uma investigação científica.

“Na Igreja de Nª Sª do Rosário, deslocou-se um pedregulho que rolou para cima de

uma das capelas laterais; a torre de menagem existente foi reconstruída sobre ele. No decurso

dos trabalhos, os azulejos do sec. XVI que revestiam todo o interior da Igreja foram o

inexplicavelmente retirados para serem substituídos por barras de azulejos vindos de

Portugal e que imitavam os antigos. Perto de 7000 azulejos originais estão amoitados na

sacristia, enquanto os novos foram mal colocados na nave do templo. A escadaria helicoidal

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de pedra que dá acesso à torre ainda está desmontada. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário

foi submetida a novos trabalhos em 1978, sob a patronagem das caritas, quando alguns

revestimentos foram refeitos, sem nenhuma orientação.

(…) O terceiro monumento que sofreu uma intervenção foi a Capela de S. Roque, cuja

abóboda foi refeita em betão. Trabalho igualmente não acabado. O mesmo arquitecto (…)

enviou algumas imagens pias da Igreja do Rosário e um quadro que data do fim do séc. XVII

para Lisboa, a fim de serem restaurados. Desses trabalhos, apenas conhecemos um pequeno

memorando, datado de 8 de Setembro de 1967, com a avaliação do custo dos trabalhos de

restauro, que nunca foram realizados“.16

Os vestígios da torre da Igreja da Misericórdia, S. Roque, a Casa dos Jesuítas, S. Pedro

se encontram abandonados.

O resultado dos trabalhos arqueológicos nos trouxe um dado novo que é o da existência

no local de uma construção sagrada anterior à Sé.

4.3.3.3. As Festividades de Romarias

A sociedade cabo-verdiana encontra-se fortemente influenciada pela cultura portuguesa

e religião católica. Por causa disso, durante o ano e em todas as ilhas, festejam-se os dias dos

santos mais venerados pela comunidade de cada zona. Umas são festas locais, outras de

acordo com as circunscrições religiosas, as freguesias, e ainda outras de carácter nacional. As

mais pomposas que normalmente representa de uma forma mais abrangente a cultura cabo-

verdiana são as realizadas para comemorar aos santos padroeiros das freguesias seguidas das

comemorações dos dias dos santos locais.

A Cidade Velha, a mais antiga sede da diocese de Cabo Verde não foge à regra.

Comemora-se o dia do Santíssimo Nome de Jesus na primeira quinzena de Janeiro, santo

16 AZEVEDO, Paulo. (1981) Preservação Do Património Cultural E Arquitectural Histórico De Cabo

Verde.p.2.Paris.UNESCO (Relatório de Missão de Pesquisa). 1981

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padroeiro da freguesia; S. Sebastião no dia 20 de mesmo mês; S. Roque no dia 16 de Agosto,

N.S.ª Senhora do Rosário a 3 de Maio. São festas que atraem multidões de toda a ilha de

Santiago, estrangeiros residentes e visitantes, emigrantes da freguesia que, nesta época,

regressam propositadamente para visitar a família, parentes e amigos e, por vezes, cumprindo

promessas.

O palco central das festividades são as igrejas e capelas e o ponto alto das festas é a

celebração da eucaristia seguida de procissão acompanhada com convicção, fé e devoção

pela população. Mas há um sincronismo entre o religioso e profano e entre a cultura e a

religião traduzidos através da manifestações culturais cujo início, muitas vezes, antecede

uma semana. Pois a juventude local programa e calendariza actividades culturais

nomeadamente a música, dança, desportos variados e as vendedoras e vendedores

ambulantes organizam bares, restaurantes em barracas improvisadas ou alugadas pela

Câmara Municipal onde a culinária cabo-verdiana é posta em evidência, espírito hospitaleiro

e a morabeza da população residente saltam sempre ao de cima, sempre predisposto a receber

os visitantes.

Pode-se concluir que as festas de romaria, para além do seu componente religioso

constituem verdadeiros espaços e momentos importantes de manifestação da arte popular

que, no âmbito do desenvolvimento do turismo, deve ser valorizada, enriquecida e divulgada,

através de exposição, concurso, publicidade utilizando os meios de comunicação disponível,

a nível nacional e internacional.

4.3.3.4. A Arte

“A arte é tão velha como o Homem primitivo. Ou não será a arte rupestre uma das

provas disso?

Na arte o talento de um povo na transformação da matéria-prima local em objectos

utilitários e ou artísticos, resulta-se, indubitavelmente, na sua própria cultura material. É

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consequentemente o artesanato nas suas múltiplas formas, um dos aspectos fundamentais

dessa cultura material” 17

Parafraseando o citado autor, a arte em cabo verde é tão velha como a Cidade Velha.

Pois como berço da nossa nacionalidade e cultura, é evidente que não podemos negar, à

Cidade Velha, esse benemérito. Privilegiam-se a gastronomia, o artesanato e a música.

4.3.3.4.1. A Gastronomia

a ) A CATCHUPA, base alimentar durante muitos séculos, é o prato mais tradicional

de Cabo Verde. Embora, hoje só se confecciona nos fins-de-semana nos centros urbanos. No

caso dos meios rurais, a catchupa faz-se todos os dias para o jantar dos familiares tendo em

conta o tradicionalismo que lhes são próprios, a economia baseada no sector primário

predominando a cultura do milho e criação do gado caprino, suíno bovino e de capoeira e o

modo de vida dos camponeses em Cabo Verde.

Um prato rico e forte para alimentação, contudo a sua riqueza varia de acordo com o

poder compra do consumidor.

Na confecção da catchupa utiliza-se os seguintes

ingredientes: o milho, feijão, abóbora, mandioca,

batata-doce; peixe, carnes de vaca, de porco e galinha,

toucinho e «enchidos»; couve e repolho, óleo, azeite,

cebola; carne salgada, chouriço, cenoura, etc.

Essa catchupa assim preparada denomina-se de

catchupa rica que contrasta com a catchupa dos pobres devido à redução do número de

ingredientes. Os ingredientes, normalmente são obtidos no mercado local, sendo a maioria

17 LIMA, A. Germano. Santiago Atributo Da Cultura Cabo-Verdiana. In. FRAGATA. REVISTA DE

BORDO DOS TACV – CABO VERDE AIRLINES – n.º. 10 – JANEIRO 1996, P.36

Figura 4: Cachupa, prato tradicional cabo-verdiano

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proveniente da produção local, e daí a sua variabilidade da ilha para ilha, no tempo (épocas

do ano) e de zona para zona.

A energia utilizada no meio rural é a lenha, embora hoje já se utiliza também o gás

butano, em regiões em que a lenha se escasseia. Nos centros urbanos utiliza-se, quase que

exclusivamente, o gás butano. Mas, segundo a opinião pública, a catchupa feita com a lenha

é de melhor sabor.

A catchupa guisada acompanhado de ovo a cavala e linguiça, é muito procurada nos

centros urbanos para o pequeno-almoço tanto pelos nacionais como por estrangeiros. Como

se pode analisar pelos seus ingredientes, constitui uma alimentação muito forte devido o seu

alto valor calórico e energético.

b) O CALDO DE PEIXE é um prato de todas as ilhas, mas a Cidade Velha tem a sua

particularidade. Os seus ingredientes são: peixe, banana verde, batata-doce e comum, leite de

coco e por vezes malagueta que lhe dá um sabor especial. Em Santo Antão utiliza-se ainda

fruta-pão.

Para além de caldo de peixe, vários outros pratos de peixe são confeccionados: peixe

frito, grelhado, ao forno, cozido, etc. Todos muito apreciado pelo seu sabor, valor nutritivo e

qualidades naturais dos nossos recursos marinhos.

No dia de Cinzas a receita altera. Por questões religiosas, as pessoas não comem carne.

O prato favorito é feito à base de feijão verde ou seco sem invólucro (trotchida), ovo, peixe

seco ou fumado, batatas, legumes hortaliças, leite de coco acompanhado de xerém ou arroz.

A sobremesa é cuscuz com mel de cana.

c) A FEIJOADA com XERÉM é um prato feito utilizando feijões, sobretudo feijão

pedra, couve repolho ou mostarda, mandioca, carne toucinho e chouriço. Estes ingredientes

podem variar de acordo com as zonas e o poder de compra das famílias. Normalmente é

acompanhado de xerém feito de milho moído, cebola, tomate, alho, azeite ou óleo, leite de

coco para quem o aprecie.

Pratos diversos de mariscos são confeccionados de sabor a cabo-verdiano: lagostas,

polvo, lapa, percebe, camarões, caranguejos, etc. Podem ser cozidos, assados, ao forno,

grelhados, etc.

Como a Cidade Velha fica muito perto da Capital, cidade cosmopolita onde habita

pessoas de todas as ilhas, deve-se, também estimular e desenvolver a produção de outros

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pratos tradicionais produzidos nas outras ilhas com vista a diversificar a gastronomia como

produto turístico e satisfazer os mais diversos gostos da procura, aumentando deste modo os

fluxos turísticos. Por exemplo:

Em Santo Antão confecciona-se a broa que é muito apreciada por ser um prato doce.

Leva como ingrediente: leite, farinha de trigo farinha de milho banana madura noz moscados

açúcar erva-doce, cravinho canela mel de cana, ovos.

Em S. Nicolau, o prato tradicional muito apreciado é Modje d’ Manel Anton, feito de

banana verde, abóbora, batata, inhame, mandioca e cabrito.

No Maio e Boavista, há a famosa «tchassina» que é feita à base de carne de cabra seca

e salgada, milho e feijão.

No Fogo, ilha do vulcão destaca-se como prato tradicional a Djagacida, muito forte,

muito rico, confeccionado à base de azeite, ou óleo, feijão Congo (Congo figueira), carne de

porco salgado, cebola, rolon fino, tomate e farinha de milho.

Além dos pratos apresentados existem vários outros feitos à base de carne e peixe:

refogados à base de massa de milho enrolado, carne ou peixe, mandioca, batata, cebola alho;

caldeirada de peixe; papa de milho com leite fresco e coalhado.

4.3.3.4.2 Artesanato

a) A Panaria Cabo-Verdiana

A panaria cabo-verdiana tem a sua origem no final do sec. XV e início do sec. XVI. Os

árabes introduziram em África o algodão trazido da Ásia, o tear e ensinaram essa arte aos

negros islamizados. Esses negros, escravos artesãos trazidos para Cabo Verde no início do

povoamento, foram os verdadeiros mestres dessa arte que se tornou famosa como indústria

artesanal, pela sua qualidade e variedade.

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Segundo António Carreira (na sua obra, «Panaria Cabo-verdiana - Guineense»), a

maior colecção desta obra de arte encontra-se no Museu Etnográfico do Ultramar. A

produção iniciou-se na Cidade Velha, como é óbvio, e depois expandiu-se para as outras

ilhas, sobretudo a ilha do Fogo que, logo a seguir a ilha de Santiago, foi povoada e a cultura

preferencial foi o algodão dada as condições privilegiadas do seu solo e clima.

A decadência de Ribeira Grande e da economia cabo-verdiana do sec. XVII e XVIII

paralisaram, praticamente o sector da indústria artesanal. No arquipélago, hoje, há numerosos

tecidos e teares velhos que não são utilizados e criaram-se após a independência alguns

centros destinados à reactivação desta arte mas o impacto económico e social não se sentem.

Os tecidos foram muitas vezes utilizados, outrora, como moeda no comércio da costa d’

África, como vestuário para os mais diversos usos e costumes contribuindo para transformar

profundamente a economia local.

Em Cabo Verde, o pano de terra fazia parte dos trajes tradicionais, aos quais atribuíam

grande valor e por isso vendia-se a um preço muito elevado.

De acordo com o seu valor artístico decorativo e qualidade designa-se de “pano de

bicho”, “pano de obra”, “boca branca” etc.

No caso da Cidade Velha de hoje, ficou a memória: histórias para ler e contar,

testemunhos oculares e recordações. Mas acreditamos que nem tudo se encontra perdido,

muita coisa poderá ser recuperada se houver um empreendimento enquadrado num plano de

desenvolvimento turístico. Nota-se um certo reconhecimento e um reavivar do pano

actualmente. Pois as pessoas, sobretudo as entidades políticas nacionais, exibem, como

moda, o veste utilizando peças de pano de terra que, por serem raras, ainda são caras.

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b) A Cerâmica

A cerâmica, fortemente marcada pela cerâmica africana, foi também introduzida no

início do povoamento pelos escravos africanos tem fins utilitários, artísticos, decorativos e já

foi um produto amplamente comercializado entre as ilhas. Hoje existe alguns produtores

tradicionais no interior de Santiago nomeadamente no concelho de Santa Catarina e Tarrafal;

na Boa Vista, Maio e Santo Antão. É uma actividade, actualmente mais dedicada pelas

mulheres.

A matéria-prima utilizada pela cerâmica é a argila

e a técnica de modelagem a base de manuseio e

utilização de utensílios simples; carvão vegetal (lenha)

para cozedura ao ar livre e o sol para secar.

Produz se objectos variados: utensílios domésticos e ou ligados ás actividades

agrícolas; objectos de adorno que se podem constituir numa potencial oferta turística.

c) A Cestaria

A cestaria “(…) é outro artesanato muito antigo. Ainda hoje é produzida em Santiago

em zonas rurais.

Segundo João Lopes Filho, há duas formas de trabalho em

cestaria: “cestaria tecida” e “cestaria em espiral”.

Na cestaria tecida a matéria-prima como folha de coqueiro,

cana de carriço, carrapato em lâminas, e outras é entrelaçada; já

Figura 5: Cerâmica de S. Tiago

Figura 6: Cestos ( Santiago)

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na cestaria em espiral, a matéria-prima é cozida. Na sua confecção não se utilizam quais quer

instrumentos mas simplesmente “as técnicas do jogo das mão”.

O cesto é geralmente utilizado nas lides domésticas, desde “guarda comida”, “mala

guarda-roupa” ao “balaio de compra” na cabeça em zonas rurais, ou no braço em zonas

urbanas.”18

O pau, a fibra, a palhinha de tamareira a nervura da folha de bananeira, a folha de coibi

ou ainda o sisal são os materiais frequentemente utilizados na produção de cestos, bonitas

esteiras, tabuleiros e chapéus.

A cestaria, como indústria artesanal, tem uma função utilitária: utiliza-se nas colheitas,

transporte e conserva dos produtos agrícolas; como utensílios domésticos e na decoração.

d) A Esteira

A esteira é uma outra arte popular com funções utilitária artística e decorativa dos

primórdios do povoamento.

Como matéria-prima utilizam-se folhas de bananeira seca ou bambu (nas épocas de

chuva abundante e água corrente nas ribeiras), carrapato e carriço.

A técnica de fabrico consiste no entrelaçamento das matérias-primas em rama.

Utilizava-se como leito para as famílias pobres, para produzir sombras nos espaços de

lazer e como objectos de adornos.

Actualmente ainda é comercializado nos mercados populares em Santiago com fins

decorativos e para produzir sombra nos espaços de lazer.

18 Idem. p. 38

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e) A Música De Cabo Verde

A música de Cabo Verde é doce e envolvente, profundamente nostálgica exprimindo

sentimento de amor e ternura; por vezes sarcástica e satirizante. Os géneros diversificam-se:

a morna, a coladeira, o funaná, a mazurca, a valsa, o samba, o batuque e a tabanca.

A TABANCA não só existiu e existe nas zonas rurais de Santiago como nas zonas

urbanas. Embora não existe documentos que testemunham a existência da tabanca nos

primórdios da ocupação e povoamento da Ribeira Grande, acreditamos que tenha existido

visto que a sua estrutura representa uma simbiose cultural, símbolo da identidade crioula que,

como reza a história, formara desde o sec. XVI.

Como associação de socorro mútuo e como elemento cultural unia, fortalecia e

identificava a população cabo-verdiana, se consideramos que as outras manifestações

folclóricas como o “colá” com forte implantação em S. Vicente; o tambor também com uma

presença bem marcante na ilha do Fogo e Brava, bem como o Batuco da ilha de Santiago,

são considerados ramos folclóricos da Tabanca.

Segundo Cena Barcelos, uma portaria do governador Serpa Pinto proibiu a Tabanca na

Cidade da Praia por volta de 1895. A mesma portaria, em comentário, deixa a entender que

um alvará régio dos princípios do sec. XVIII já tinha mandado proibir essa manifestação.

“Uma hipótese sobre a origem das tabancas em Cabo Verde é a festividade de Santa

Cruz, a três de Maio. Nessa data, os senhores de escravos, movidos por um certo fervor

cristão, davam folga aos seus escravos e toleravam os festejos de Santa Cruz como símbolo

de libertação do homem. Nas ilhas esta data ficou também conhecida pela festa de negros.

Segundo as autoridades administrativas do sec. XIX, as festas da tabanca acusavam

alguns excessos: os escravos organizavam-se numa espécie de exército e desfilavam pelas

aldeias. E Sena Barcelos regista que as festas poderiam durar vários dias, com prejuízo para a

produção. Os negros, numa espécie de teatro na rua, caricaturavam a sociedade,

representando governantes, oficiais, eclesiásticos, tudo em laia do ridículo.

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Segundo o documento régio de 1923, estas manifestações deveriam ser restringidas ou

mesmo proibidas, com receio de os escravos se aproveitarem da concentração e liberdade

para efeito de eventual revolta.

E, nos finais do sec. XIX e na primeira metade do sec. XX, encontramos a maioria dos

diplomas legais (municipais ou governativas) proibindo as tabancas por serem consideradas

motivos de desordem pública, ou simplesmente manifestação de cariz gentílica praticada por

pretos e escravos libertos. Esta opinião não foi generalizada dado que outros administrativos

opinaram sobre a necessidade de salvaguarda de pelo menos a vertente espectacular

associada ao desfile” 19

O dominador utilizou processos e métodos violentos e agressivos para impor a sua

cultura e o que aconteceu com a tabanca é uma viva história que a memória registou:

Repressão directa das manifestações da tabanca na Cidade da Praia (B.O. n.º. 12 a

14 de 1866 e, portaria nº.439, de Junho de 1920, B. O. nº. 52 de 26 de Abril de

1923 e B.O: 78 de 1927);

Uma forte pressão social, política e cultural por ser considerada como uma

manifestação de cultura inferior e incivilizada;

Repressão feita pela Igreja Católica, aproveitando a espiritualidade da população

para submetê-las a pesadas penas como: interdição ao baptismo, da comunhão do

casamento; marginalização religiosa e social; ameaça com o eterno castigo do

inferno, etc.

A Tabanca conseguiu sobreviver nas

comunidades rurais de Santiago com uma certa

liberdade, distantes do centro do poder político

que representava a repressão e nunca solução,

com as suas características originais por muito

tempo. No meio urbano só conservou a parte

folclórica.

Ela desempenhou, como uma organização não governamental, um importante papel na

sociedade visando resolver um conjunto de necessidades económicas e sociais com base no

19 SEMEDO, José Maria. Manifestações Festivas da Tabanca . In: Cultura. n.º 1.1997 . P.80 e 83.

Figura 7: Tabanca, música de Santiago

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associativismo (djunta mó) e espírito de solidariedade. Pois a população vivia praticamente

abandonada, via na administração colonial apenas um aparelho repressivo ao qual

prefere distância. Daí o medo das autoridades coloniais de que a Tabanca poderia ser um

embrião de organização de resistência à dominação colonial. Por isso, utilizaram todos os

meios disponíveis para evitar a sua evolução.

Após a independência, a tabanca desvirtualizou-se na sua essência, tornando-se

meramente folclórica. Podemos afirmar que se deu uma inversão de valores, pois deixa de

ser uma organização de solidariedade, de ter a coesão entre os seus membros que perderam o

orgulho de pertencer-lhe; de haver o respeito pelas normas elementares da mesma e deixa de

ser uma forma de resistência cultural.

Segundo Tomé Varela, os motivos dessas diferenças tem a ver com as mudanças

económicas, fisiológicas, culturais e políticas ocorridas na sociedade cabo-verdiana.

Nomeadamente seca, êxodo rural, modernismo, evolução da mass-média, abertura para

outras realidades com utilização de tecnologias modernas, generalização do ensino aberto a

vários ramos do saber, um certo desprezo por parte da juventude em relação à tradição

devido à influência dos valores da cultura ocidental; surgimento de novas formas de

organização de massas (cooperativas, etc.) com carácter político, religioso e cultural etc.

Acrescentando ainda, uma mentalidade alienada, característica de um povo colonizado que

ainda confunde a sua própria identidade e se esforça para identificar e se valorizar com a

cultura e identidade do seu colonizador.

Hoje, a tabanca subsiste com os velhos que, teimosamente e sem apoio, lutam para

preservar este importante património. Possui uma estrutura orgânica hierarquizada

constituída sobretudo pelos elementos da comunidade local que desempenham funções

importantes na preservação e manutenção dos princípios que norteiam a criação da Tabanca.

É dirigido por um corpo organizativo formado por:

Uma Assembleia dos Sócios que é o órgão máximo da Tabanca, ao qual fazem

parte todos os seus membros cativos e cativas; negros e negras. Estrutura essa que

mostra a origem escravocrata desta organização. É ela que decide sobre as inúmeras

questões respeitantes à entrada de novos sócios; fixação de calendários de

actividades; eleição dos órgãos executivos, etc;

Um Órgão Executivo constituído pelo Rei da Tabanca que é o líder tradicional,

comandante-chefe; Governador da Tabanca, conselheiro do Rei e administrador dos

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bens da Tabanca; o Rei da Corte cuja função é reservada à administração do espaço

sagrado da Tabanca; Rainha, membro da corte e responsável máximo dos cativos e

pela logística das festividades; o Rei do Campo responsável pela organização dos

desfiles; Comandante Militar responsável pelas forças armadas e segurança; o

Maestro que ocupa o lugar respeitante à música; as Mandoras – Chefes ou

Pombinhas que ajudam a Rainha no comando sobre as cativas ou negras;

Para além das entidades referidas existe outras figuras consideradas secundárias

dentro da Tabanca: as filhas de Santos que são damas de honor da rainha; figuras

cómicas: o ladrão, falcão, burro, carrasco, besta, etc; entidades ligadas à igreja e na

base da pirâmide encontram-se os chamados basados que não são outra coisa senão

a plebe.

Devemos frisar no entanto que a Tabanca é regida por normas de conduta cujo

cumprimento, por parte dos associados, é obrigatório.

As festividades da Tabanca começam três dias antes do dia do Santo Padroeiro com o

batimento do milho no pilão para extracção do farelo. Esta actividade é feita normalmente à

noite junto da Capela para a produção de xerem e do cuscuz. É muito importante dizer que

todos esses trabalhos são feitos pelas mulheres e são animadas com batuque e regadas com

grogue. Na véspera da festa o batuque ocupa um lugar privilegiado, permanecendo até a

madrugada.

No dia de santo, a primeira actividade é sem dúvida, marcada pela missa rezada na

Igreja, pelo Pároco de freguesia, seguindo-se depois o ritual do roubo do santo em que o

ladrão, movido de grande destreza, empurra os soldados (dois rapazinhos e uma cativa velha)

entra e dirige-se ao altar onde apanha uma bandeira branca marcada ao centro por uma cruz

vermelha e uma das varras da Tabanca. Após o roubo do santo, os soldados devem manter-se

inactivos e a velha puxa uma varada ao ladrão que sai a correr levando o santo a uma das

duas ladras que o acompanham. Esta embrulha a bandeira numa ponta de xaile branco.

A compra dos santos deve ser feita durante sete anos consecutivos e o comprador fica

responsável pela alimentação, recepção e alojamento de todos os participantes no dia do

cortejo.

Ao sétimo dia, proceder-se-á à recuperação do santo que é efectuada aos sábados, com

vista a reunir o maior número de cativos, e sempre em data combinada com a rainha de

gasadju.

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Entre o roubo e a recuperação do santo, prevalece as noites de salvas feitas na capela da

corte – uma espécie de rosário cristão à base do bater de tambores seguido de ladainhas e

termina com o rufar dos búzios e tambores.

Nas actividades festivas da Tabanca não se deve esquecer a importância que o cortejo

representa por ser a única actividade de rua. Para muitos esta manifestação cultural resume –

se ao cortejo.

Depois de reunir-se um grupo satisfatório de cativos começa o desfile com os ladrões à

frente, atados por uma corda à cintura e segurado pelo carrasco que encaminha toda a corte

para a casa do comprador, seguindo-se depois uma das mais longas caminhadas.

Antigamente deslocavam-se às várias aldeias.

Atrás do carrasco seguem-se o Rei do Campo, o comandante e os soldados, a seguir um

jovem com as varras da Tabanca cruzadas em X, A Rainha do Campo acompanhada das suas

damas; figuras alegóricas de barcos aviões; os tamboreiros e corneteiros (orquestra);

seguidos por cativas num alinhamento impressionante várias outras figuras se representam

no cortejo: padre, doido, médico, pomba, corvo, burro, etc.

Depois de percorrerem vários lugares, o cortejo aproxima-se da casa da rainha e pára,

até que o falcão venha restituir a bandeira roubada ao Rei do campo, anunciando-lhe a

autorização de chegar a casa que comprou o santo. Assim depois de ter conseguido a

bandeira, o Rei do Campo conduz o cortejo até chegar a porta da casa mas, enquanto não

convencer os presentes de ser ele o comprador do roubo, a vara não lhe é restituída. Com a

restituição da varra abre-se o caminho para uma reanimação com tambores, búzios e cantares

de rua seguida de uma distribuição de uma refeição aos elementos do cortejo. Essa refeição é

submetida a uma rigorosa inspecção feita pelos médicos e enfermeiros que experimentam e

recolhem provas em todas as panelas. Depois de terem tecidos elogios à qualidade das

refeições, autorizam-se a sua distribuição, que deverá ser feita primeiro às crianças, depois

aos convidados e estranhos e por fim aos associados.

O cortejo prossegue toda noite na casa de gasadju onde uma equipa de soldados

garante a segurança de pessoas e, em tempos antigos, criava-se uma cadeia para os que

faltavam. No dia seguinte, o cortejo regressa à capela da corte onde termina o ciclo festivo.

Finalmente pode-se referir que terminado o ciclo festivo, o cortejo só sai para acompanhar o

funeral de um cativo. Após o enterro há um repicar dos tambores e dos búzios que marcam a

dança do regresso à nova vida daqueles que ficaram.

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Concluindo a tabanca representa uma miscigenado de cultura onde se encontram

representados todos as classes sociais sincronizados numa mesma forma de convivência e

inclusive os animais que fazem parte da vida quotidiana das pessoas. Filosoficamente não há

discriminação. A discriminação e exploração do homem pelo homem são representadas sob a

forma de caricatura crítica da

sociedade.

O BATUQUE é sem dúvida a

forma musical mais antiga de Cabo

Verde. A referência documental mais

antiga é redigida por José Conrado

Carlos de Chelmicki em 1841 que deu

ao mesmo tempo informações

pormenorizadas sobre a dança do

batuque.

Armando Napoleão Fernandes, na sua obra: «Léxico do Dialecto Crioulo de Cabo

Verde, Ed. Da família 1991», define o Batuque como sendo:

“…uma cantilena acompanhada de cimboa (…) e a chabéta que segue o ritmo ora

brando e cadenciado, ora forte e repicado, acompanhando a letra e a cadência (finaçon),

seguido de torno.

É uma música de improviso sobre os mais diversos motivos da vida quotidiana com

uma forte influência das tradições africanas. Subdivide-se em várias partes:

Finaçon que segundo Armando Fernandes «é o canto singelo porque começa o

batuque, prelúdio a solo acompanhado pela viola ou pela cimboa».

Tchabeta “é a parte principal do batuque, consiste na elaboração do ritmo com o bater

das palmas e das mãos sobre um pano rolado que se coloca entre as pernas, de modo a se

obter uma caixa de ressonância. Trata-se de uma simulação de tambores, uma vez que os

escravos que chegaram às ilhas, possivelmente não encontraram, no inóspito ambiente do

arquipélago, material para fabricação dos seus instrumentos tradicionais (tronco de árvores,

pele dos animais, etc.), ou então tal não foi permitido pelos patrões e senhores.

O torno é uma dança tipicamente africana, com o rebolar das nádegas em que simula o

acto sexual. (...)

Figura 8: Batuque, música tradicional de Santiago.

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Cânticos elaborados quase sempre de improviso, com versos (que muitas vezes podem

ser picantes), satirizam ou criticam acontecimentos da vida social ou pessoal. Outras vezes,

os temas podem girar à volta de simples brincadeiras sem qualquer tipo de maldade”.20

O articulista compara as batucadeiras de «finaçon» «aos grióts africanos» que têm a

função social de preservar as tradições. São normalmente mulheres de idade avançada muito

eruditas, experientes e com dotes poéticos. Destacou como sendo características africanas o

carácter de desafio em que se inicia o cântico, «cântico inicial seguido de resposta em coro

tanto nos versos como na música» e improviso.

Esta manifestação da arte popular que animava as festas dos baptizados e casamentos e,

muitas vezes o trabalho no campo, começou a entrar em decadência nos meados do século

vinte. Cada vez mais vê o seu espaço a ser invadido por outros tipos de música estrangeira

mais comercial, cujo arranjo é feito com instrumento electrónico. As autoridades e a igreja

impuseram muita restrição e limitação ao batuque como tenham no feito com a tabanca e

outros géneros de manifestações tradicionais de origem africana.

Ao longo do tempo, este género musical vem sofrendo alterações o que nós

consideramos normal porque a música como todo o tipo de arte tem de acompanhar a

evolução sob pena de deixar de representar a identidade de um povo e deixar de ser arte. De

entre as alterações relevantes destacam-se a substituição da cimboa pelo violão, a tendência

para substituir o pano pela tumba e percussão electrónica.

A partir de 1974, como movimento de valorização de todas as formas da cultura

nacional o batuque conheceu um certo renascimento. Mas, nessa altura para além de já ter

perdido grande parte da sua função social, passou a ser uma manifestação de palco e chega-

se até a introduzir tambores do tipo géneros como Kolá ou tabanca.

Pois nota-se uma preocupação dos jovens músicos em modernizar o batuque, a

tamanca, bem como os outros géneros musicais de forma a conquistar espaço no mercado

musical embora reconhecemos que essa modernização nem sempre trouxe qualidade.

Salientamos os trabalhos realizados com base na pesquisa de Catchaz, Norberto Tavares,

Zeca de Nha Rinalda, Gil, do grupo Sementeira, Codé de Dona, do Grupo Ferro Gaita, Os

Tubarões, Orlando Panterra etc. dando uma nova vida às duas músicas populares e

20 GONÇALVES, Carlos Filipe. Batuque Uma Herança Africana In: FRAGATA. REVISTA DE

BORDO DA TACV – CABO VERDE AIRLINES. Nº.14.1997. ps.32-33

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transformando-os em músicas de palco e de espectáculo ao grande público. Por exemplo

vários concursos de tocadores tradicionais e de dança de batuque e funaná têm sido feitos na

ocasião das festividades de romarias e dos municípios para a promoção e valorização da

nossa cultura, em todos os concelhos da ilha de Santiago; destaca-se ainda a participação dos

artista de funaná nos espectáculos em todos os concelhos do país e em certames

internacionais e a presença constante do batuque e funaná na produção discográfica dos

nossos artistas cabo-verdianos Hoje, graça à influência dos referidos músicos, vários grupos

tradicionais vêm surgindo nas zonas rurais e nos arredores periféricos da Cidade da Praia e

são convidados a participar nos espectáculos nas épocas festivas e por vezes a animar os

clientes nos restaurantes nos fins-de-semana.

FUNANÁ considera-se um género musical recente, embora a origem ainda prevalece

no enigma até aparecer documentos que esclarecem a situação (veredicto popular).

É um género musical que foi muito descriminado pelo governo colonial, igreja e

pequena burguesia colonial e por ser considerada música do campo e de má qualidade, viveu

durante muito tempo no campo e servia para animar as festas populares e bailes nocturnas, às

vezes, os trabalhos colectivos da agricultura (djunta mó). Nas aldeias, vilas e arredores da

Cidade da Praia, os tocadores de gaita e ferro animavam a vida nocturna nas tabernas e nos

bailes populares.

“É um género musical e dança cabo-verdiana, característico da ilha de Santiago, com

canto, acompanhamento e solo por um acordeão, o ritmo é produzido pelo esfregar de uma

faca numa barra de ferro. (…)

Com Independência Nacional em1975, registou-se uma verdadeira explosão musical

em que dominou a revalorização de todas as formas musicais existentes no arquipélago. O

retorno às fontes musicais tradicionais e o seu tratamento com vista a se encontrar novas

formas musicais, foi pois uma maneira de revalorizar géneros existentes mas que não eram

considerados como integrantes do panorama musical cabo-verdiano. Nesta linha de

pensamento regista-se, por um lado, o que se pode considerar um mero «revivalismo», ou

seja géneros até então esquecidos, como valsas, mazurcas e contra-dança, bem como mornas

e coladeiras antigas, batuques, etc. Por outro lado, alguns grupos musicais dedicam-se à

pesquisa de géneros tradicionais, como a Tabanca que procuram orquestrar com

instrumentação electrónica, mas esta inovação não é bem recebida pelo público. A semente

de uma nova música está pois lançada e vai dar os seus frutos e a polémica que gera este

novo pensamento musical vai durar durante alguns anos, com discussões acesas entre os que

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procuram uma via evolutiva da música de cabo verde e os tradicionalistas que consideraram

a pureza de tradição» “.21

Com base no princípio defendido após a Independência referido acima: «retorno às

fontes», Carlos Alberto Martins, fundador do grupo musical Bulimundo, conhecido pelo

nome popular «Catchaz», enveredou por uma pesquisa profunda das músicas tradicionais,

especialmente funaná, consegue, por meio de um estudo profundo dos ritmos e da estrutura

melódica deste género, a sua adaptação para instrumentos electrónicos. O sucesso foi total e

deu-se uma verdadeira explosão deste género, primeiramente no interior de Santiago, depois

nos centros urbanos cabo-verdianos e na diáspora, e actualmente no seio da comunidade

internacional, época em que há uma tendência internacional para promover os aspectos

tradicionais da cultura.

Carlos Felipe Gonçalves considera que as músicas e danças tradicionais de Santiago,

batuque, finaçon, tabanca e funaná, já entraram em decadência desde os meados do sec. XX.

Nós acreditamos que apesar de deixarem de desempenhar a função social que vinham

desempenhando, estas manifestações culturais entraram actualmente, numa outra fase de

evolução que lhes trouxe uma outra dinâmica como música e dança de palco e de

espectáculo. Os trabalhos realizados ultimamente pelos jovens músicos são provas evidentes

disso. Assim sendo deve-se continuar a realizar sessões culturais, espectáculos, concursos

associados às festas de romaria e outros associados às datas comemorativas com vista a

valorizar a nossa cultura e transformá-la num produto turístico de qualidade concorrencial.

Pensamos que actualizar e desenvolver organizações como a tabanca que pode albergar

no seu seio os mais diversos aspectos e manifestações culturais, é possível sem adulterar a

sua essência. Mas nunca se deve pensar se quer e pior ainda utilizar o conservadorismo para

transformar a cultura numa memória colectiva do arquivo porque ela é viva e dinâmica,

assim sendo, está em constante evolução.

Pode-se transformar a tabanca numa espécie de grémios que abarcam associações de

carácter desportivo, social, económico, tipo cooperativo aproveitando o espírito de

solidariedade cuja reminiscência ainda prevalece no campo (djunta mó); fazendo com que as

21

GONÇALVES, Carlos Filipe. Batuque Uma Herança Africana In: FRAGATA. REVISTA DE BORDO DA TACV – CABO

VERDE AIRLINES. Nº.14.1997. ps.32,33

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pessoas passam a reconhecer nas nossas manifestações culturais potencialidade e acutilância

de trazer para sociedade dividendos palpáveis.

Podemos tomar como referência a afirmação da cultura negra sobretudo no campo da

música na cidade turística do sul dos Estados Unidos, Nova Orleães, em que a música

constitui portão de entrada para o desenvolvimento do turismo. É de salientar que a

participação dos Ferro Gaita, num evento musical realizado naquela cidade, foi muito

elogiada e funaná considerada uma das melhores músicas confrontadas nesse evento pela sua

qualidade e autenticidade.

Como podemos concluir, foi um trabalho meritório que já começou a dar os seus frutos.

Verifica-se uma certa mudança de mentalidade, os jovens músicos já começam a interessar-

se pelas músicas tradicionais e várias pesquisas estão sendo feitas a nível de outros géneros

em vias de extinção: Reza de Santiago, Colá de S. Vicente, Landum da Boavista, Bandeira,

Canizade, Codrá da ilha do Fogo e Chorro de Santiago e Fogo.

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V. O Turismo e os Sectores Económicos

5.1.O Turismo e o Sector Primário

5.1.1. Agricultura, Pecuária, Silvicultura

O sector primário continua sendo tradicional, artesanal e familiar. A agricultura é

praticada ao longo do vale e limita-se ainda às culturas e métodos tradicionais, apesar de

haver alguns esforços para a modernização utilizando os meios que se utilizam na agricultura

moderna. O regime de propriedade em minifúndio familiar dificulta a modernização da

agricultura.

A cultura de tubérculos mandioca, batata e cana sacarina continua sendo praticada nos

moldes tradicionais. A semelhança das outras ribeiras de Santiago, cultiva-se as árvores

fruteiras muito saborosas: papaieira, mangueira, coqueiro, limoeiro, bananeira, etc. È uma

actividade muito lucrativa praticada em moldes mais comerciais do que agricultura de

sequeiro.

Segundo inquéritos agrícolas realizados pelo Ministério de Agricultura, a área cultivada

em sequeiro com milho e feijões de 1987 a 1995 está a diminuir e o rendimento varia de ano

em ano em função da pluviometria. A produção de cereais não cobre um décimo das

necessidades da população e o feijão tem uma cobertura de cerca de 30% das necessidades.

A agricultura desempenha um papel muito importante na vida nacional e em particular

na vida da população de Cidade Velha, a nível da dieta alimentar e na criação de emprego.

Mas é preciso que haja um maior investimento privado e requer investimento de longo prazo.

O estado deve e pode intervir com actividades de promoção e apoio.

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A maior parte dos proprietários agrícolas de regadio não possuem meios adequados ao

desenvolvimento e aumento de produção. Actividades de experimentação e demonstração

vêm sendo realizados e os resultados são encorajadores, mas o não aproveitamento prende-se

com as razões ligadas a atitudes e mentalidade que não coadunam com a nova tecnologia.

Daí a grande aposta que se deve fazer na formação para o futuro.

Em Cabo Verde, o equilíbrio entre a vegetação, os solos e o clima é de natureza

instável devido a raridade e irregularidade das chuvas, acção do vento, da erosão eólica e

hídrica.

“Outros factores restritivos podem ser anunciados, tais como, propriedades agrícolas

reduzidas, sendo grande parte delas indirectamente exploradas, com tamanho médio das

explorações bastante reduzido e parcelas divididas, utilização de técnicas pouco adequadas,

os sistemas de exploração deficiente e dificuldades de acesso ao crédito.

Apesar dos factores limitantes a agricultura ocupa mais de 50 % da produção, sendo a

agricultura de sequeiro predominantemente com cerca de 70 % das explorações agrícolas, o

que equivale a 38.855.000 ha, ou seja 90 % da área cultivável total (dados do RA/88). A área

de regadio é variável, de ano para ano, estimando-se que actualmente varia de 1.500 a 2.000

ha, para um potencial da ordem dos 2.500 a 3.000 ha.”22

Porém a água constitui um elemento crítico, o factor dominante da produção. Ela é

obtida por meio de diques de captação, galerias, poços e furos. Dada a importância e a

variabilidade extrema deste factor, a agricultura caracteriza-se por produções muito

flutuantes e imprevisíveis, não satisfazendo as necessidades básicas da população.

Verificam-se elevadas perdas de água da ordem dos 40 a 50 % nas redes de distribuição

em particular nos canais em terra. Utilizam-se, como prática corrente doses exageradas e

intervalos muito longos, deficiente sistematização das parcelas de regadio, alagamento das

parcelas ou por sulcos.

A área regada exclusiva do concelho de Ribeira Grande estende-se pelas ribeiras de

Cidade Velha, hoje, Cidade de Santiago, S. Martinho, São João Baptista, Belém, Pico Leão,

Santana, Tchuba Tchobe e Mosquito de Horta. A área varia de acordo com a pluviometria

anual mas pode ser ampliada e melhorada com adopção de um novo sistema de rega e de

22 .MINISTÉRIO DE AGRICULTURA ALIMENTAÇÃO E AMBIENTE. Plano Director De Irrigação

Relatório Principal. 1997, P.25

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exploração dos recursos hídricos, mudanças de atitudes e de políticas de informação,

formação e capacitação profissional.

Analisando atentamente o quadro nº 4 em anexo constata-se que a área de sequeiro e de

regadio das duas freguesias, a de S. João Baptista e de Santíssimo Nome de Jesus (concelho

de Ribeira grande) ocupa cerca de três quartos da área abrangida pelo então Concelho da

Praia apesar dos erros de cálculo que se notam em termos percentuais.

Do estudo feito sobre a viabilidade financeira de micro-irrigação em pequenas unidades

de produção familiar, conclui-se que os rendimentos médios das culturas das explorações

agrícolas nos dois tipos de sistemas de irrigação praticados foram diferentes:

“Em todas as culturas o rendimento médio registado, no sistema de rega gota a gota foi

muito mais elevado que no sistema tradicional, havendo caso em que os resultados foram três

vezes mais (tomate 23 t/ha contra 7t/ha), e duas vezes mais (cenoura 14t/ha contra 6 t/ha).

(...)”.23

Nota-se que há mais e melhor utilização de adubos químicos e orgânicos no sistema de

gota a gota e o custo de produção é 2 a 3 vezes inferior do que com a rega tradicional.

Da simulação feita recorrendo a crédito a título pessoal ou em grupo de 5 agricultores

(crédito solitário) chegou-se à seguinte conclusão:

Que a instalação do sistema de rega gota a gota, recorrendo ao crédito individual, é

inadequada, apesar do aumento da produtividade. Porém, segundo os especialistas,

os elevados encargos financeiros no primeiro ano de exploração faz com que o

resultado da conta de exploração seja negativo, dificultando o financiamento do

consumo familiar;

O recurso ao crédito solitário revelou-se a alternativa mais acertada para os

pequenos agricultores nos dois tipos de exploração. Os resultados demonstraram

uma excelente capacidade de auto financiamento no fim da exploração aliada à

conta de exploração altamente lucrativo com um lucro médio anual de 408 contos,

o equivalente a um salário médio mensal de 34.000 Esc., para a classe I; e um lucro

médio anual de 643 contos equivalente a um salário médio mensal de 54.000 Esc.,

para a classe II.

23 GONÇALVES, Clarimundo E OUTROS. Viabilidade Financeira De Micro- Irrigação Em Pequenas

Unidades De Produção Familiar ps .22, 24, 26, 27, 48,49.Direcção Geral de Animação e Promoção

Cooperativa.2002

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Respectivamente à Cidade Velha, há um projecto de irrigação gota a gota em execução

financiado no âmbito da cooperação com a Espanha mas em termos de investimento e

impacto ainda é irrisório.

A florestação contribui de forma significativa para a fertilidade do solo, combate à

desertificação, surgimento de microclimas, melhoria no que concerne a reprodução e o

crescimento de animais e plantas e a estabilidade da diversidade biológica. O aumento da

disponibilidade de produtos florestais, nomeadamente forragens e lenha desempenha um

papel importante para melhoria da alimentação e nutrição do gado e na melhoria da

paisagem.

A Cidade Velha apresenta um défice de florestação. Pois, as achadas limítrofes

prevalecem praticamente desérticas. Com a racionalização e melhor utilização da água as

achadas poderão transformar em espaços verdes, potencial ofertas turísticas.

As plantas a serem utilizadas na criação de espaços verdes, nomeadamente: jardinagem,

parques, etc. devem adequar – se às características do meio. Tendo em mente que

pertencemos a região do Sahell e seguindo o exemplo das Canárias, preferencialmente deve-

se utilizar as indígenas e as que consomem menor quantidade de água possível: os cactos,

babosa, marmulanos, carapatos, língua de vaca, mostarda brabo, piornos vários, saião

aeoniun gorgoneum, tortolho diversos, aipo carquejas, alecrim brabos, dragoeiro, tamareira,

espinheiro branco, zimbroeiro, fiqueira brabo, tarrafe, etc. Plantas essas que se destacam pelo

seu exotismo em relação aos turistas, aroma, importância ecológico e valor estético

paisagístico nos espaços verdes.

5.1.2. A Pesca

A pesca é uma actividade económica que consiste basicamente na captura do peixe nos

mares, oceanos rios e lagos que depois é utilizado na alimentação humana. É uma actividade

muito antiga das mais antigas do mundo depois da caça. Na verdade, os nossos antepassados,

os homens primitivos, que viviam nas cavernas, já caçavam e pescavam. Estudos dos

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cientistas e arqueólogos descobriram objectos em ossos e metal datados de vários milhares

de anos que serviam para captura dos peixes. Estes objectos são os antecedentes dos nossos

anzóis.

A pesca levada a cabo pelo homem ao longo dos tempos é uma pesca destinada

essencialmente ao consumo de comunidade piscatória. É a chamada pesca artesanal ou de

sobrevivência. Nesse tipo de pesca, o homem utiliza as redes, a cana de pesca e outras

armadilhas para a captura de peixe, mas as quantias capturadas não ultrapassam as

necessidades da população.

A pesca industrial em Cabo Verde está intimamente ligada a nossa emigração. Sabemos

que a maior comunidade de cabo-verdianos emigrados se localizam nos Estados Unidades da

América. Essa emigração começou no século passado com os pescadores que participaram

na pesca de baleia realizada pelos barcos baleeiros americanos. Daí que a pesca representa

para nós não só uma forma de subsistência, mas também o início da nossa emigração.

Actualmente, grande parte dos países que se dedicam à pesca, fazem-no em grande

escala, isto é, utilizam grandes barcos que com auxílio de técnicas modernas, apanham

grande quantidade de peixe de uma única vez. Essas quantidades destinam-se à exportação,

isto é, à venda para outro país ou também para as fábricas de conservas. È uma pesca que

pode desgastar os recursos marinhos, já que por vezes retira dos mares e oceanos, mais do

que aquilo que eles produzem e não se permite a renovação de espécie. Por isso é que o

estado controla: estabelece períodos de pesca, tipo de rede a utilizar, de forma a permitir a

desova dos peixes crescidos e sua exploração racional. Mesmo assim há fugas e, claro que

com a pesca industrial, os peixes vão diminuindo no mundo inteiro. Aliada a exploração

extensiva dos recursos marinhos, existe o perigo de poluição que tem contribuído também

para a diminuição da fauna marinha e fluvial.

Na chamada pesca desportiva, o peixe é capturado não já para ser destinado à mesa do

cidadão, mais sim por puro prazer. É um tipo de pesca pouco utilizado em Cabo Verde,

embora o nosso país tenha condições para tal. É a pesca destinada essencialmente aos

turistas.

Segundo Boletim de Estatística n.º 10 de 2001 publicado pelo INDP, a produção da

pesca artesanal em 2001, foi estimada em 5649 toneladas o que corresponde a uma

diminuição de 19%, comparado cm 2000 (...), 29% corresponde a ilha de Santiago, seguido

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de S. Vicente com 19%, e como nos anos anteriores a ilha da Boavista foi a que menos

contribuiu, com apenas 3%.

Este resultado tem a ver, sobretudo com o esforço de pesca exercido e não com a

abundância de peixe por cada ilha.

Não encontramos dados específicos relativamente à pesca na Cidade Velha, contudo

defende-se que o seu mar não é rico em peixe. Mas tratando-se de uma comunidade

piscatória, existe um grupo significativo de pescadores que se dedicam exclusivamente à

pesca tradicional/artesanal e que contribuem para garantir emprego a algumas famílias e

fornecimento do pescado à comunidade da Cidade Velha com excedente para a cidade da

Praia e outras comunidades rurais.

De acordo com a tabela 1 – Levantamento Geral de Pesca Artesanal 1999, publicado no

censo 2000, Cidade Velha possuía 16 botes com motor, 3 sem motor, 63 pescadores

exclusivo, 23 part–time 1 rede de praia, e 5 rede de emalhar.

Os pescadores não estão dotados de meios técnicos, financeiros para aproveitar as

potencialidades existentes no sector. Normalmente têm recebido muito pouco apoio neste

âmbito. O processo utilizado ainda é tradicional e arcaico: redes mal dimensionadas e a

prática de pesca de arrasto considerada uma ameaça para o ambiente por causa dos danos em

termos de equilíbrio de stocks do pescado.

5.2. O Turismo e o Sector Secundário

O sector industrial em Cabo Verde tem

vindo a conquistar espaço, principalmente a

partir de 1996. Mas continua a ocupar um

papel reduzido na formação do produto

bruto. Com a política de promoção do sector

privado e dos investimentos, com a

Figura 8: Trapiche

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instalação de zonas industriais francas um conjuntos de empresas surgiram. Contudo, nota-se

uma concentração na indústria ligeira nomeadamente confecções, alimentares, pescas,

construção. A nível espacial concentra-se nos concelhos da Praia e S. Vicente. A indústria de

transformação de produtos nacionais tem-se processado muito lento. O sistema utilizado na

maior parte das vezes é o tradicional de processamento e transformação, sobretudo dos

produtos de agricultura e pecuária.

A Cidade Velha, como o resto do país, não é uma zona industrial, embora persistam

algumas indústrias tradicionais dos primórdios do povoamento com algum impacto na

economia e nível de vida da população local. De destacar a produção de aguardente e licores

de cana-de-açúcar muito consumidos no nosso mercado e que gozam da fama de boa

qualidade. A cerâmica, cestaria, panaria e esteirado praticamente não têm expressão no

mercado está relegado mais para a área artística.

Os turistas que visitam cabo verde têm mais acesso a artesanato estrangeiro do que o

artesanato local. È necessário que haja mais iniciativas por parte dos nacionais na produção

de vestuário, cortinado, tapeçaria, cestaria, cerâmica, quadros e outros objectos de decoração,

confeitaria, etc.

A Cidade Velha pode-se transformar com o desenvolvimento do turismo não só num

centro de produção dessas indústrias mas sobretudo num centro de exposição e venda das

produções nacionais.

A criação de hotéis e restaurantes aumentam o consumo e estimula os produtores a

aumentar a produção.

As infra-estruturas modernas para o desenvolvimento do turismo, praticamente não

existem. Apenas pequenos bares - restaurantes que não garantem serviços de qualidade; dois

hotéis em construção: Santiago Golf Club & Resort que tem um projecto muito ambicioso

localizado entre o concelho da Praia e o concelho de Santíssimo nome de Jesus; Pôr–do-Sol,

uma pensão já em funcionamento em ampliação, uma infra-estrutura moderna com

qualidade; Baía Coral em construção com apenas a explanada a funcionar; algumas casa

antigas na rua de Banana remodeladas que funcionam como hospedagem para turistas.

Com apoio da Associação dos “Amigos de Cabo Verde - Suécia” construiu se um

museu intitulado “Casa Tradicional” e “Atelier Artesanato, na Cidade Velha”, em 1997.

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Foi construída uma pousada para o apoio e exploração turística de Cidade velha e há

um projecto para a criação de um Centro de Manipulação ou Transformação de Produtos

financiado pela Cooperação Espanhola.

A 30 de Março de 1999 foi enviado ao Presidente da Câmara Municipal uma proposta

de reforma/ampliação do restaurante Miramar Esplanada na Cidade Velha pelo Arquitecto

Luigi Dalffine em nome da Sociedade “DOMUS Lda.”, constituída na Praia, no dia

11/03/99, actual proprietário do Restaurante Miramar.

Segundo a proposta, o objectivo do projecto é recuperar o restaurante transformando-o

numa pequena estrutura hoteleira de alto nível, acrescentando aos edifícios existentes 30

quartos com as respectivas casas de banho e mais espaços para actividades culturais

comerciais e pesquisa.

Não sabemos qual foi o destino que foi dado ao projecto. O certo é que a construção

não se iniciou.

5.3. O Turismo e o Sector Terciário

A pretensão da política de Cabo Verde em ter como suporte de desenvolvimento da sua

economia a especialização dos sectores de comércio e serviços encontra a sua fundamentação

no lugar que ocupa quanto sua participação na formação do PIB e crescimento económico,

na localização geo-estratégica, no contributo para a criação do emprego.

O comércio de bens e serviços nos sectores de ASP (Agricultura, Silvicultura e

Pecuária) é caracterizado pela flutuação dos preços e irregularidade de fornecimento do

impute. O escoamento dos produtos continua precário devida a falta de estruturas de

conservação e comercialização.

As receitas de exportação de bens e serviços cobrem menos de 25% das importações. O

desenvolvimento do turismo, a criação de zonas francas viradas para o mercado externo, a

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instalação de empresas, os serviços de transbordo constituem alguns domínios de

especialização.

O comércio externo nos últimos anos tem evoluído consideravelmente, e é marcado

sobretudo pela instalação de novas unidades industriais resultado de novos investimentos e

de diversificação de ramos de actividades e de parceiros comerciais.

A taxa de cobertura das exportações pelas importações continua reduzida. Após uma

ligeira aceleração entre1996 e 1997, situada em 6%, assinala-se uma redução para 4.5% e

4,3% em 1998 e 1999 respectivamente.

A balança comercial continua largamente deficitária. As importações crescem a uma

média de 11,2% enquanto que as exportações em 3,8% entre 1996 e 1999. As exportações a

preços correntes representam 2% do PIB enquanto as importações 45%. Relativamente às

importações os países europeus (dos quais Portugal destaca-se com 52,7% do total)

continuam sendo principais parceiros comerciais (com 78,8% em 1998 e 76,2 em 1999 das

importações totais); a África representa 2,8%e 3,6% a Ásia 7,5 e 10,6% e o resto do mundo

com 1,5% e 1,2% em 1998 e 1999.As trocas comerciais com a África tendem a aumentar

mas ainda ocupam um lugar marginal no contexto geral.

As principais zonas económicas de destino das exportações continuam sendo os países

da Europa (que absorveram 99,2% e 99% em 1998 e 1999). Portugal absorveu 89% do total

das exportações realizadas em 1999; a América e o resto do mundo 0,5 e 0,3

respectivamente.

O desenvolvimento do sector informal aconteceu de forma explosiva nos últimos anos.

A elevada taxa de desemprego que atinge em grande medida a população feminina,

principalmente nos centros urbanos e a imperiosa necessidade de procurar os meios de

subsistência estão na origem do seu rápido e crescente desenvolvimento. Os contornos do

mercado e da entrada e do perfil de novos operadores externos nesse domínio,

designadamente os de origem asiática, as características e qualidades de produtos, o poder de

compra da população propiciam o seu desenvolvimento. Aliás é uma situação típica de um

país em desenvolvimento e que atravessa uma fase embrionária de desenvolvimento da

iniciativa privada, da economia de mercado e do rápido crescimento demográfico, em busca

de uma política de desenvolvimento sustentável e equilibrado.

O sector informal contribui para minorar os problemas de desemprego e é caracterizado

pelo dinamismo e competitividade. Muitas vezes ou na maioria das vezes torna-se difícil o

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seu acompanhamento e as condições infra-estruturas e outras para o seu funcionamento

acabam por ser um elemento perturbador na organização e regulação do sector, sobretudo

nos centros urbanos.

Os serviços têm um papel representativo na política do desemprego e estima-se que a

sua participação no PIB ronda os 57%, entre 1998 e 1999.Os sectores mais dinâmicos são os

serviços públicos, os transportes e as comunicações. E tem papel fundamental ao nível das

exportações e do equilíbrio da balança de pagamentos.

Os serviços são esfera essencial do desenvolvimento de Cabo Verde que requer atenção

acrescida devido ao seu papel motor tanto na vertente económica como social.

Os transportes foram identificados como factor-obstáculo que condicionou o

desenvolvimento de cabo verde na década de 90. As dificuldades têm a ver com a dimensão

reduzida de mercado, insularidade e descontinuidade territorial. Nesta perspectiva, as

soluções estruturais passam pela cooperação regional, de modo a gerar volumes de negócios

atractivos para operação de prestadores de serviços que beneficiam de economias de escalas

e, por isso, tendem a ter custos mais baixos.

A reduzida dimensão do mercado, que dificulta ganhos de eficiência pela via da livre

concorrência, associada a garantir às camadas da população de baixo rendimento o acesso a

esses serviços e de servir todas as ilhas independentemente da rentabilidade das operações,

poderá aconselhar a adopção da modalidade de serviço público para esse sector, e sua

concessão por linhas ou modalidades de transportes em regime de exclusividade. Este regime

deve ser aplicado em particular na modalidade de transporte rápido de passageiros cuja

introdução se torna necessária e que requer investimentos avultados e tem altos custos

operacionais. Esta solução teria vantagens claras sobre o sistema prevalecente, baseado em

investimentos públicos em equipamentos de transporte marítimos, com incidência negativa

no orçamento de estado e na posição da dívida externa. A livre iniciativa dos privados nos

transportes de passageiros e turistas deve ser estimulada e apoiada.

Actualmente em termo de infra-estruturas portuárias existem dois portos de grande

porte e todas as ilhas habitadas dispõe de instalações portuárias que permitem quebrar o seu

isolamento.

A procura dos serviços de transportes marítimos de passageiros tende também para um

serviço voltado para turistas, que oferece boas condições de segurança e de comunidade.

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Contudo, razões de vária ordem fazem com que esses serviços sejam também prestados por

navios mistos.

Todas as ilhas dispõe, presentemente, de um cais acostável, o que favorece a circulação

interna de mercadorias e pessoas, e facilita a integração do mercado interno.

Os serviços de transporte marítimo são geralmente, qualitativa e quantitativamente

pobre devido: a relutância das empresas modernizar sua gestão e renovar tempestivamente a

sua frota repercutindo na motivação do pessoal e na prestação de serviços; falta de formação

dos armadores, sendo alguns ainda gerem os navios de forma empírica; a deficiente infra-

estruturação portuária de algumas ilhas e falta de assistência adequada aos passageiros e suas

cargas por parte de algumas agências de navegação; as operações dos navios concentram-se

nas linhas rentáveis, não obedecendo a esquema de serviço regular.

Essa situação dificulta a circulação dos turistas e prejudicam o fomento do turismo

interno.

Para o desenvolvimento do turismo de recreio e do desporto náutico torna-se

imperativos criar, na Cidade Velha pequenas infra-estrutura para o efeito; delimitar as zonas

da pesca desportiva e de desporto náutico; encontrar uma solução geral para a apanha da

areia; apostar nas ligações entre as ilhas em complementaridade com as ligações aéreas

internacionais e combater a mendicidade.

O país conta com três aeroportos internacionais e a maioria das outras dispõe de infra-

estruturas aeroportuárias.

No quadro da política de liberalização surgiram novas companhias para voos

internacionais.

As ligações aéreas internacionais foram intensificadas e diversificadas para novos

destinos com impacto positivo para o turismo, mas o custo dos bilhetes são considerados

muito elevados e pesam na competitividade de Cabo Verde como destino turístico.

O aumento considerável do número dos passageiros sem a correspondente aquisição de

novos equipamentos de transporte e sem a melhoria na qualidade de serviços provocam

congestionamento. Sendo o período de maior fluxo o mês de Dezembro por causa das

condições climatéricas que atraem os emigrantes e turistas tendo em conta o agravamento do

clima no hemisfério norte onde concentra a maioria dos países do destino da emigração e o

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maior fluxo turístico do Mundo inteiro. O referido constrangimento vem acompanhado de

outras razões: cancelamentos e atrasos nos voos devido a prestação de serviço deficiente.

A rede viária também cresceu fortemente nos últimos anos em todo o país, assim como

o parque automóvel e está-se verificando melhorias significativas quer no que concerne à

construção de novas vias, que no melhoramento das antigas.

No sector das telecomunicações como resultado de grandes investimentos cabo verde

dispõe de rede de telecomunicações moderna ligado por cabos de fibra óptica. O número de

telefones per capita praticamente quadruplicou entre 1990 a 1998. Ao mesmo tempo tem-se

verificado uma grande expansão de rede móvel e denota-se uma certa saturação da rede.

Entre outros serviços desenvolvidos encontra-se a Internet em que o número de subscritores

também tem evoluído satisfatoriamente, tendo em conta o seu papel e importância no

processo de desenvolvimento.

A partir da primeira metade dos anos 90 foram feitos elevados investimentos em

tecnologias de comunicação mais modernas e na formação e qualificação dos recursos

humanos. A partir de então, a taxa de digitalização atingiu cerca de 50 % em 1995 e a

densidade do parque telefónico aumentou para 5,6 por cada 100 habitantes. Não obstante este

avanço tecnológico a lista de espera ainda era grande e os serviços insuficientes. Contudo,

com a privatização em 1995, a partir de 1996 a empresa começou a ganhar novas dimensões,

com um desenvolvimento acelerado das telecomunicações, através da introdução de

tecnologias novas e modernas, do alargamento da rede, da introdução de rede móvel e do

serviço de Internet, vídeo-conferência, etc. Foi ainda alargada a rede de telefones para as

zonas rurais

Cabo verde é um dos pontos de união da rede internacional do cabo submarino,

ATLANTES II, que faz a ligação entre América do sul, África e Europa, que por sua vez

permite o acesso a outros cabos submarinos da América do Norte

No entanto, algumas situações continuam ainda dificultando o avanço das

telecomunicações, designadamente a inexistência de uma regulamentação que favoreça a

concorrência nos segmentos que se situam fora do regime de monopólio vigente para a rede

fixa, o que dificulta uma avaliação adequada dos preços praticados pelo único detentor de

rede fixa, a CVTELECOM. Como consequência, os preços dos serviços da rede fixa e outros

serviços desta empresa continuam elevados, penalizando o público e os operadores

económicos.

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O grau de crescimento do sector terciário é notável mas continua marcado por alguns

constrangimentos nomeadamente, a incapacidade na satisfação das demandas sempre

crescente da população e irregularidade dos transportes, isolamento de algumas ilhas,

degradação da rede viária.

Cidade Velha usufrui de grandes vantagens em relação aos transportes e comunicações

por se situar cerca de 15km da cidade da Praia com cais acostável que recebe barcos de longo

curso; 13km do Aeroporto Internacional Francisco Mendes que contribuiu significativamente

para o aumento do fluxo turístico emigratório de retorno.

A ligação rodoviária faz-se por uma estrada calcetada em estado razoável de

conservação mas que deve ser ampliada a asfaltada com pelo menos quatro faixa tendo em

consideração a expansão da cidade da Praia, o crescimento muito rápido da população de

Santiago e a imperativa construção de uma via rápida no litoral devidamente iluminada que

facilita o acesso aos turistas e, não só, às zonas que constituem atractivos turísticos.

O Primeiro-ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves, afirmou, no seu discurso, a

quando do empossamento da Comissão Instaladora do município de Ribeira Grande, no dia 6

de Julho de 2 005 que na sequência da construção, ora iniciada, da estrada circular da Praia,

irá ser construída uma via de ligação de S. Martinho, João Varela, Salineiro e Cidade de

Santiago; bem como a via litoral que liga Cidade de Santiago a Rincão. Caso isso vier

acontecer será um grande contributo para o desenvolvimento do turismo do município de

Ribeira Grande e, não só, permitindo ao mesmo tempo desencravar e desenvolver toda a

zona do sudoeste da ilha de Santiago. Mas para permitir o desenvolvimento do turismo de

montanha torna-se imperativo construir e reconstruir as vias de acesso às ribeiras e achadas

povoadas e às zonas de microclimas das montanhas do interior de Santiago e, em particular,

as que mantêm uma ligação directa com o Município de Ribeira Grande.

Um dos maiores constrangimentos é a manutenção das estradas. Os turistas, nacionais e

estrangeiros, têm alguma dificuldade em chegar a algumas regiões do país devido deficiente

sinalização. Portanto pode-se dizer que a rede rodoviária ainda é insuficiente, visto que 42%

das estradas continuam em deficiente estado de conservação, falta de fiscalização,

superlotação e excesso de velocidade das mini furgonetas, inexistência de linhas regulares

destinadas aos pontos de interesse turístico; indisciplina por parte dos condutores; deficiente

policiamento, má prestação de serviços dos transportes públicos rodoviários. O sector é

considerado estratégico, no plano de governo e parceiro de excepcional importância na

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dinâmica do desenvolvimento. Assim sendo é evidente a importância crucial do potencial

humano para esse sector cujo principal objectivo é a prestação de serviços e acolhimento.

O Plano para o Desenvolvimento do Turismo, ao fazer análise da qualidade do

emprego no sector, detectou algumas deficiências estruturais visíveis: forte recurso a mão-

de-obra semi e não qualificada pouco escolarizada, com altíssimo rotatividade e que se revela

pouco atractivo em relação ao emprego de jovens.

No que concerne a estrutura profissional verifica-se forte concentração nas profissões

tradicionais dos serviços de alojamento (recepção e limpeza), restauração (cozinha pastelaria,

mesa e bar) constatando-se muita insuficiências no emprego de pessoal ligado às funções de

gestão ou às que exigem profissionais a nível médio e superior ligados ao acompanhamento e

entretimento.

Torna-se necessário desenvolver uma política de formação, informação para

melhorar os referidos serviços contribuindo para atrair mais turistas nacionais, estrangeiros e,

deste modo aumentar significativamente a procura e os fluxos turísticos.

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VI. A PROCURA E OS FLUXOS TURÍSTICOS

A procura turística é constituída por todos aqueles que actualmente viajam e pelos que

o desejam fazer mas, por qualquer razão, não o fazem.

Contudo, vários factores podem afectar a procura turística: nível de desenvolvimento

económico; factores demográficos; factores políticos; rendimento disponível; emprego; férias

pagas; estilos de vida; ciclo de vida; factores de personalidade; oferta de serviços turísticos

(preço; frequência e velocidade dos transportes; características do alojamento; facilidades;

operadores turísticos; etc).

Os fluxos turísticos podem ser classificados em função da quantidade: fluxos maiores

quando ultrapassam 5 milhões de pessoas por ano; fluxos menores quando são menos que 5

milhões e mais que 1 milhão por ano; fluxos marginais quando atingem um milhão de

pessoas por ano. Também podem ser classificados em função do percurso e da distância:

fluxos intercontinentais quando se realizam entre países e continentes diferentes;

internacionais quando se realiza entre países limítrofes; internos quando realizados nos

países pequenos e intra-regionais nos países de grandes dimensões.

As zonas emissoras e receptoras de maior procura a nível internacional são: a Europa,

tendo como países emissores Reino Unido, Itália, Holanda; receptores: costa norte do

Mediterrâneo (sul da Europa); América do Norte com Nova Inglaterra, Nova Iorque, New

Jersey, Massachussets, Califórnia como zonas emissoras; Califórnia México, Florida e

Caraíbas como receptores; Ásia: Japão, Austrália (Sines) como emissores e receptores:

Tailândia, Havai, ilhas do Pacífico.

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Em relação a Cabo Verde, os países emissores são maioritariamente países europeus

com excepção da África do Sul com destino exclusivamente para a Ilha do Sal e Estados

Unidos da América.

As últimas estatísticas disponíveis referem que, em 2004, entraram 185.276 visitantes

no país tendo lá permanecido uma média de cinco dias. Presentemente, grande parte destes

visitantes que se alojam em estabelecimentos turísticos, especialmente os costeiros, são

originários da Itália, Portugal Alemanha e França.

De 2000 a 2004, o número dos hóspedes entrados nos estabelecimentos hoteleiros

oscila de 145.076 para 185.276 mil. A taxa de crescimento de 2004 é de 3,9%. O que

demonstra que há uma quebra no crescimento de 2000 a 2004 em relação ao crescimento de

1990 a 1999 em que a entrada dos turistas estrangeiros mais que triplicou, sendo a Itália o

país emissor com o aumento mais significativo, neste período.

De acordo com o quadro acima, os países com maior fluxo, em 2004, temos: África do

sul com 10.036, Alemanha com 14.527, França com 11.184, Itália com 55.304, Portugal com

38.086, Reino Unido, Áustria, Bélgica e Holanda, Espanha, Estados Unidos Suíça e outros.

Os períodos de maior procura são o Natal, fim do ano e Páscoa, e durante os meses de

Julho, Agosto e Setembro. A época baixa coincide com os meses de Maio e Novembro.

Quadro nº3.Hóspedes/Entradas nos estabelecimentos hoteleiros segundo o tipo de estabelecimento, por país de

Residência habitual dos hóspedes Ano 2004

País de residência

habitual

Hotéis Pensões Pousadas Hotéis-

apartamentos

Aldeamentos

turísticos

Residenciais Total % 2003

Cabo Verde Cabo-verdianos 13.498 3.017 2.405 348 2.234 5.465 26.967 14,6 27.856 -3% Estrangeiros 90 227 4 5 395 198 919 0,5 475 93%

Estrangeiros Africa do Sul 9.957 27 9 0 5 38 10.036 5,4 5.225 92% Alemanha 8.983 673 816 244 620 3.188 14.524 7,8 18.095 -20% Áustria 284 107 108 21 9 191 720 0,4 822 -12%

Bélgica+Holanda

2.563 414 240 69 159 710 4.155 2,2 9.702 -57%

Espanha 8.624 292 397 37 53 961 10.364 5,6 7.679 35% Estados Unidos 1.009 93 93 24 36 242 1.497 0,8 1.740 -14% França 4.907 741 1.112 35 354 4.065 11.214 6,1 12.847 -13% Reino Unido 498 25 58 133 18 103 835 0,5 1.140 -27% Itália 50.751 511 1.476 56 536 1.954 55.284 29,8 54.278 2% Portugal 34.041 390 474 135 2.215 831 38.086 20,6 28.548 33%

Suiça 406 171 262 52 31 513 1.435 0,8 1.638 -12% Outros Países 6.848 308 524 71 296 1.193 9.240 5,0 8.334 11%

Total 142.459 6.996 7.978 1.230 6.961 19.652 185.276 100,0 178.379 4%

% 76,9 3,8 4,3 0,7 3,8 10,6 100,0 Fonte INE

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A maior percentagem dos fluxos dirige-se para as ilhas, actualmente, com maior

potencialidades turísticas: Ilha do Sal com um total de 129608; Ilha de Santiago: 24 756;

S.Vicente:17 401 ;Ilha da Boa Vista: 4387; Santo Antão: 5509 (ver o quadro em anexo).

Os fluxos e a procura são condicionados pela a oferta que em relação ao nosso país,

segundo os dados fornecidos pela Direcção Geral de Turismo, assenta-se nos factores como a

insularidade e a localização geográfica, a amenidade do clima, a abundância dos recursos

naturais, as potencialidades para a prática de desportos náuticos, bem como a cultura e a

história muito próprias com forte influência na música e nas artes; extensas praias e

montanhas, um alto valor ambiental e ecológico em várias áreas e uma boa conservação de

espaços de interesse cultural, tudo isso aliados à estabilidade política. Como factores de

constrangimentos apontam-se os preços elevados dos serviços turísticos e a qualidade de

serviços aeroportuários, de informação turística, de transporte marítimo e aéreo interno e

serviços bancários considerados inferiores ao desejável.

Relativamente à Cidade Velha, os fluxos turísticos são irrisórios, pois as ofertas

naturais, históricas e culturais não são acompanhadas de serviços turísticos e as infra-

estruturas turísticas são praticamente inexistente. Embora nestes últimos anos nota-se algum

interesse quer pelo estado quer pelos particulares em investir na criação de infra-estruturas

turísticas.

A elevação da Cidade Velha à categoria de município é um factor importante que

marca uma nova etapa na evolução daquela zona turística e aguarda-se com ansiedade que

dentro em breve criam-se condições políticas administrativas para que os planos e projectos

já existentes sejam exequíveis e que surjam novos projectos numa perspectiva de transformar

Cidade Velha num dos mais cobiçados centros de atracção turística.

Não se fez nenhum estudo específico sobre o tipo de clientela turística para cidade

Velha. Sabemos que há um grande movimento de pessoas nas épocas festivas ou com a

realização de certas actividades do carácter cultural. Mas, o fluxo é constituído mais pelos

habitantes da Cidade da Praia e do interior de Santiago. Não existem estatísticas sobre o

turismo doméstico nem sobre visitas de número considerável de cabo-verdianos residentes

no estrangeiro a familiares e amigos. Aliás, a base de dados estatísticos existente é muito

deficiente e não permite uma análise abrangente da procura no sector.

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VII. CONSTRANGIMENTOS AO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE VELHA

A carência de água potável é apontada como um dos constrangimentos que afecta o

desenvolvimento dos mais diversos sectores económicos.

A Cidade Velha, para além do caudal de água utilizado diariamente, há uma grande

quantidade desviada para abastecer a Capital que poderia, havendo alternativas para o

abastecimento da Cidade da Praia, ser aplicada no desenvolvimento local. A sua localização

à beira-mar permite, utilizando os meios técnicos modernos, obter a água potável em

abundância.

Nota-se algumas dificuldades no abastecimento de água às comunidades e para a

irrigação. Mas isso tem a ver com a falta de capacidade para a mobilização de recursos

hídricos subterrâneos e para aproveitamento das águas fluviais; a má gestão na distribuição e

utilização deste componente hídrico; ausência de fontenários, rede de esgotos, água

canalizada ao domicílio e sistema de irrigação obsoleto (ver tabela nº 3 do Censo 2004). Os

chafarizes são insuficientes nas zonas rurais e o abastecimento com auto-tanques é muito

deficiente.

A degradação da qualidade paisagística em Cabo Verde tem a ver com a incapacidade

dos órgãos administrativos relativamente à estruturação urbana, a intervenção arbitrária dos

munícipes, a anarquia nas construções de habitações por vezes sem condições de

habitabilidade; falta de um plano de urbanização.

No caso específico da Cidade Velha, por ser um meio pequeno com fraca densidade

populacional, o saneamento é razoável, contudo precisa ser melhorada tendo em conta que é

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um espaço de vocação turística. As actuais práticas de saneamento são insuficiente por falta

de um plano de saneamento, e equipamentos adequados para a recolha e tratamento de lixo,

não existência da rede de esgotos, a maior parte das famílias não possuem casa de banho;

problemas associados a costumes e comportamentos, como lançamento do lixo a céu aberto,

o vazamento de águas residuais pelas ruas e a coabitação com os animais no meio semi-

urbano e no meio rural, não existência de balneários públicos; lançamento de resíduos

sólidos pelos residentes e visitantes, sobretudo nos fins-de-semana e nas épocas festivas em

que há um fluxo maior de visitantes nacionais e estrangeiros.

A exploração descontrolada de inertes, nomeadamente apanha de areia vem

provocando danos irreversíveis às nossas praias, apesar do questionamento havido e de

algumas medidas tomadas pelo governo.

Nota-se um perigo eminente de inundações, em virtude de proliferação de construções

em zonas de declive acentuado e nas proximidades de linhas de água, frequente mobilização

dos solos nas encostas para produção de lotes e deposição de produtos relutantes de

escavação nos arredores e locais inapropriados; construção de casas de betão à beira das

encostas, a erosão das encostas, insuficiência de canais de escoamento das águas fluviais;

inexistência de um plano de ordenamento de espaço e o aumento da procura de lotes nos

últimos anos com a migração, sobretudo da capital, aumento significativo do preço dos

terrenos que obriga a população com baixo rendimento a ocupar espaços inadequados e de

forma anárquica, são factores que vêm agravando a situação.

A floresta, apesar da sua escassez, está sendo ameaçada pela apanha desregrada de

lenha e por falta de fiscalização.

O uso inadequado de pesticidas representa riscos para a saúde pública e para o meio

ambiente através da contaminação dos solos, águas fauna e flora.

A poluição atmosférica não é agravante tendo em conta que não existe fábricas e os

transportes são numericamente reduzidos.

A poluição sonora mais se verifica nas épocas festivas por não haver espaços

adequados para a realização de actividades culturais, por exemplo os espectáculos musicais.

Normalmente, o turismo é considerado uma “indústria” limpa devido a sua base

económica não transformadora. Mas, como envolve movimento de pessoas, em locais de

maior afluência turística, pode ocorrer contaminação das praias e das águas devido à

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ocorrência de congestionamento dos meios de transporte motorizados e pelo aumento dos

resíduos sólidos resultantes dos diferentes hábitos alimentares e outros.

De acordo com estudos efectuados pela Agência de Protecção Ambiental dos EUA, os

barcos a motor de dois tempos são particularmente poluidores uma vez que vertem cerca de

um terço do combustível que consomem (Hilchey 1994). Os resíduos dos barcos provocam

também problemas adicionais nas marinas. Uma outra ameaça ao ambiente tem a ver com o

aumento de águas residuais e poluição devido às descargas de efluentes tratados

inadequadamente. A poluição da água do mar afecta não só a saúde pública como a fauna e

flora marinha.

Os problemas acima referidos podem alterar a diversidade das espécies vegetais e

animais marinhas, a ecossistema selvagem e a biodiversidade, importantes produtos

turísticos; configuração a linha da costa devida e erosão provocada pelo mau uso dos

ambientes costeiros e marinhos.

O aumento de tráfego e o uso de veículos recreativos (barcos a motor, motas de água,

aeroplanos, buggies, etc.) provocam a poluição sonora como consequência da concentração

de turistas e pode gerar desconforto e irritação dos residentes e turistas.

A exploração dos inertes contribui para a degradação das praias e das encostas e

aumenta a salinização das águas subterrâneas.

A mendicidade e roubos põem em risco a presença de turistas às praias.

Os custos de viagens e estalagem bem como o preço da indumentária são elevados

quando comparados com o dos outros países (Ilhas Canárias, S.Tomé, Portalegre no Brasil).

Os serviços de transporte marítimo são geralmente, qualitativa e quantitativamente

pobre (barcos de pesca por vezes obsoletos) e, no caso de Cidade Velha, barcos de recreio e

de passeios não existe. Carência de armadores formados que às vezes não garantem

segurança e tranquilidade aos passageiros; o porto e as praias não estão minimamente

equipados para prestar um serviço de qualidade; a sanidade do meio ligado à certas práticas

comportamentais não coaduna com as exigências da demanda turística, embora a situação

não é alarmante porque o turismo ainda se encontra na sua fase latente de desenvolvimento e

os constrangimentos mencionados são pouco expressivos e facilmente controlável e evitável.

O baixo nível de informação, sensibilização e educação ambiental dos munícipes

constituem um problema que tem que ser combatido de forma progressiva e contínua.

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Entre os principais estrangulamentos nesta matéria, destacam-se a fraca capacidade

técnica, material e financeira das instituições com intervenção no domínio, a insuficiência de

programas educativos e a ausência de mecanismos eficientes de seguimento.

Verifica-se que as populações apresentam dificuldades em se organizarem o que

dificulta a sua participação no processo de desenvolvimento e na defesa de interesses comuns

ao favor da conservação e preservação do meio ambiente.

A insuficiência de pasto, o baixa nível de informação, sensibilização e formação dos

criadores de gado, e ainda a tendência para preservação de valores culturais tradicionais nas

formas de exploração constituem obstáculos para o desenvolvimento da pecuária.

O fornecimento da energia eléctrica, apesar do esforço que já se fez, é um factor de

entrave ao desenvolvimento do país.

“Em 1990 a potência instalada era de 20 KW. Passou para mais ou menos 60 KW em

1999, elevando assim a cobertura eléctrica de 25% em 1990 para 60% em 1999 e em 2003 a

potência instalada foi aumentada para aproximadamente 80 KW, com uma taxa de cobertura

de cerca de 65 %. (…)

O abastecimento de energia eléctrica no país é, como se sabe, assegurado pela Electra.

A produção da mesma é feita através de métodos convencionais nas centrais diesel na maior

parte dos casos, e dos sistemas eólico e solar A distribuição da energia eléctrica também está

aquém das necessidades, com cortes sucessivos, deixando, as vezes as povoações e alguns

empreendimentos turísticos às escuras por algum tempo.

(…)

Embora com agravante da dispersão das zonas rurais, o que torna difícil o acesso dessas

localidades à convencional (…)”24

.

O conteúdo da citação é elucidativo. A Electra não demonstrou capacidade de

resolução do problema da energia e sem energia não pode haver o desenvolvimento.

24 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO. PLANEAMENTO E PROMOÇÃO TURÍSTICO.

Relatório Da Missão Elaborado Para o Governo de Cabo Verde. Maio de 2000

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7.1. RECOMENDAÇÕES COM VISTA À SUPERAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS

É preciso que haja uma mudança de atitude do estado cabo-verdiano para atrair

investimento e promover o desenvolvimento de turismo fazendo com que o turismo em Cabo

Verde siga a lógica da globalização, tirando partido dessa nova conjuntura internacional. Cabo

Verde classificado ultimamente de país de crescimento médio vocacionado para sair do

subdesenvolvimento, não deve alhear-se dessa lógica e, quanto a nós o Estado tem um papel

fundamental neste processo nesta fase de arranque tendo em conta a capacidade limitada dos

nossos operadores nacionais e a entrada muito limitado dos investidores estrangeiros. O

Estado deve criar infra-estrutura no sentido de minimizar os custos de investimentos e tornar a

oferta mais atractiva possível na medida em que são as opções das empresas que sobrepõem às

dos poderes públicos. No quadro actual da economia global, a preocupação das empresas em

maximizar a sua competitividade deve ser compreendida pelos governos e pelas

administrações que pretendem aumentar a atractividade dos seus países. Para isso, deve-se

analisar as estratégias adoptadas pelos investidores, tornar a oferta mais competitiva e mais

atractiva.

O Parlamento aprovou, a 22 de Fevereiro de 2005, a lei que criou o município da Ribeira

Grande e devolveu o estatuto de cidade à povoação de Cidade Velha com a denominação de

Cidade de Santiago (B.O.nº19 de 9 de Maio de 2005). É uma porta semiaberta criada por esse

dispositivo legislativo muito importante, mas é necessário promover um maior investimento,

mobilizando os recursos financeiros, humanos e materiais; criar instituições autónomas

capacitadas para implementar os programas e projectos do desenvolvimento da Cidade velha;

elaborar plano, projectos e programas de ordenamento territorial específicos vocacionados

para o turismo e para o saneamento do meio; instalar rede geral de abastecimento de água

potável; construir bebedouros nos espaços reservados à pecuária e cisternas familiares e

comunitária; promover meios financeiros para exploração dos recursos hídricos subterrâneos;

persuadir a classe empresarial nacional e estrangeiro no sentido de reforçar capacidade de

empreendimento em sectores que privilegiam o desenvolvimento do turismo; criar medidas e

instrumentos de gestão criteriosa do território; produzir lotes infra estruturados para a camada

pobre; promover acções de correcção torrencial e combate à erosão; construir muros para

evitar as inundações; dinamizar a fiscalização; elaborar e implementar um plano verde;

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realização de estudo sobre as espécies vegetais mais adaptados ao meio; abortar e implementar

programas educativos visando a conscientização dos moradores e a transmissão de valores

essenciais à defesa e conservação do meio ambiente; promover um preço acessível nos

transportes e na estadia para atrair os turistas internacionais nacionais tendo em conta que o

preço que se pratica é bastante elevado em termos concorrencial no mercado internacional;

dando facilidades as operações de voos «charters» e no que tange aos transportes marítimos

investir em barcos apropriados para transporte passageiros e de recreios que garantem a

ligação corrente inter-ilhas e entre as regiões de interesse turístico; deve haver maior

empenhamento do Estado na criação de infra-estrutura de actividades turísticas.

O mar como via e meio de transporte e comunicação deve ser potencializado,

estabelecendo uma linha de ligação marítima com a Capital utilizando barcos apropriados

para o transporte de turistas, como ponto de partida dos barcos de passeios turísticos para

outras zonas de interesses turísticos. Pode-se também organizar concurso de remo; desporto

aquático/marítimo tais como: Windsurf/Surf; pesca desportiva; pesca de altura e submarina;

mergulho deve ser planificado, orientado para as regiões identificados, evitando a

degradação de ecossistemas marinhos e delapidação dos patrimónios arqueológicos que se

encontram no fundo dos mares ao longo da costa.

No caso específico de turismo rural e de montanha, para além das potencialidades

naturais aventariadas, ainda nada se fez. É necessário por exemplo: construções de redes de

estradas que facilitam o acesso aos principais locais e melhorar as já existentes,

beneficiando-as e promovendo-as de parques de paragens em locais panorâmicos e de melhor

sinalização; aumentar e melhorar o sistema de abastecimento da energia eléctrica e de água

potável às zonas rurais; tendo em devida causa o desvio desse líquido de produção natural

para abastecer a Capital e reconsiderar a situação; no caso da energia eléctrica poder-se-ia

explorar a energia eólica e solar; a que ter em conta as características semi-urbanas e rurais

da população da Cidade Velha que, sendo um atractivo turístico, devem ser preservados,

valorizados e publicitados.

Os futuros benefícios do desenvolvimento turístico da cidade velha e em particular do

turismo rural e de montanha devem inverter-se e converter-se para o desenvolvimento do

meio rural; deve-se estabelecer cursos, programas a oferecer, possibilidades de formação

complementar no estrangeiro, etc; e fomentar uma cultura de hospitalidade entre os

formandos em particular e toda a população do arquipélago em geral; deve-se evitar

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assimetria de desenvolvimento entre as ilhas procurar distribuir os benefícios de forma

equitativa de acordo com as potencialidades de cada ilha e cada zona de interesse turístico.

Os recursos limitados devem ser optimizados dando prioridade a qualidade; devem

ser criadas espaços próprios para desporto e lazer com equipamentos desportivos e de

animação: campo para golfo, ténis, parques, piscina, pousada, etc. os meios de transporte

tradicional devem ser potencializada como um recurso turístico e excursões e visitas aos

lugares de interesse turístico tem de ser organizadas e calendarizada; fazer ordenamento

territorial criando espaços para as mais diversas funções; criação das zonas verdes urbanas e

peri-urbanas; controlar a erosão; manutenção da diversidade biológica, genética e habitats;

conservação e manutenção da fertilidade do solo; fazer recarga das águas subterrâneas;

procurar aumentar e melhorar a qualidade de água melhorar o saneamento do meio.

Esta política deverá estar associada à preservação do reduto histórico e a integração de

grande número dos actuais habitantes residentes evitando transformar o turismo como mero

objecto de consumo para os turistas. Mas, deve-se dar prioridade à reconstrução e à

reabilitação das construções antigas respeitando o valor estético do património; elaborar um

plano de ocupação de espaço que permita uma expansão criteriosa da cidade sem por em

causa os valores patrimoniais.

O plano director deve envolver o estado os privados e a população e para sua realização

deve ser desencadeada uma forte campanha de esclarecimento de formação e de mobilização.

As achadas limítrofes são potenciais espaços a ser utilizadas para a futura expansão da

cidade e os objectivos e princípios que devem servir de base são de carris turísticos.

É necessário eliminar ou corrigir os elementos que põe em causa o valor estético da

arquitectura da Cidade Velha: as construções clandestinas e arbitrárias que destrói os

monumentos do tecido urbano antigo; as construções dissimuladas utilizando materiais que

não de acordo com as tradicionais e que integram mal e desvaloriza a arquitectura e o

urbanismo da Antiga Cidade; as construções ricas e aparentemente ricas totalmente

desenquadradas com o estilo arquitectónico da antiga cidade e que não coaduna às exigência

do tipo de turismo que se pretende desenvolver; é preciso por termo a expansão desordenada

e fazer possíveis correcções às já existentes. Deve-se proceder a correcção das construções à

volta dos vestígios e dos monumentos antigos e interditar as construções que dificultam a

visão dos vestígios históricos; limitar e controlar as áreas favorecendo a reabilitação e

reconstrução do tecido antigo.

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“ (...) podemos identificar três áreas de intervenção:

A primeira grande área seria a da Igreja e Hospital de Misericórdia. Este

monumento, do sec. XVI, contemporânea da Sé, teve grande importância pois para

além da igreja desempenhou também a função de Hospital Construído com fundos

da Misericórdia, ocupava uma ampla área que ainda hoje pode ser percebido

facilmente. É esta área que precisa ser escavada, pois é quase certo que o resultado

das escavações nos permitirá ter a noção da estrutura do monumento e ainda

recolher espólios que poderão enriquecer o Património do país;

A segunda área seria toda a zona de S. Pedro, englobando as ruínas do seminário, a

Casa do Governador, a zona do convento de S. Francisco. Uma enorme área que

mobilizaria enormes recursos técnicos e financeiros, mas que permitiria, estamos

seguros, conhecer uma vasta área do passado urbanístico da Ribeira Grande, para

além de seguramente se recolher uma boa quantidade de espólio valioso;

A terceira seria a zona da Lixeira do Bispo a sondado e que também promete em

termos de espólio.

Legítimo aqui também se torna propor uma área bastante sensível mas que permitiria

um conhecimento mais aprofundado da primeira zona ocupada da Ribeira Grande. Estamos,

como se pode imaginar, a falar da zona de Calhau. Uns anos atrás, quando se fazia a tubagem

de água para a cidade da Praia, nas escavações foram detectados por nós muros mesmo no

largo. Seria óptimo poder-se proceder escavações nessa zona pois estamos seguros muito nos

revelaria do traçado inicial da Ribeira Grande”.25

Como se pode notar pelo o teor da citação, a recuperação e preservação da Cidade

Velha ainda está por fazer (passo o termo).

Algumas obras iniciadas na Sé Catedral, Fortaleza de S. Felipe, Convento de S.

Francisco, encontram-se actualmente paralisadas.

Para que a Cidade Velha seja uma cidade histórica e ao mesmo tempo um centro

turístico, é necessário que esta aglomeração tenha um espaço, uma função e desempenhasse

25 CARVALHO, Carlos de. Identificação Do Património Arquitectónico-Arquelógico Passível de

Intervenção no Ambito do Projecto de Recuperação da Cidade Velha Proposto Pela Cooperação Espanhola.

Praia, 1999.

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um papel determinado no processo de desenvolvimento à escala regional e nacional; evitar

colocar no seio desta aglomeração actividades localizáveis alheios aos objectivos turísticos;

impedir a transformação do espaço histórico em valor especulativo ou em simples valor do

comércio turístico; utilizar os instrumentos de planificação para proteger os direitos gerais e

para regular também o jogo de interesses contraditórios; criar condições para que este espaço

histórico seja um veículo de uma relação viva de integração e de convivência, por uma

população residente e permanente e não flutuante; definir claramente o que se pretende

defender: a autenticidade de um património que cedo deixará de ser ruína? Ou a vila em

quanto organismo vivo?

De acordo com as características ambiental e social, situação geográfica, a procura e o

fluxo turísticos, os estabelecimentos hoteleiros a serem instalados nessa ilha devem pertencer

às seguintes categorias: estabelecimentos hoteleiros de pequena dimensão; estabelecimentos

hoteleiros de média dimensão; estabelecimentos hoteleiros de dimensão intermédia;

estabelecimentos de grande dimensão.

Relativamente à Cidade Velha, considerando os diversos tipos de turismo susceptíveis

de serem desenvolvidos e aproveitando os espaços rurais e as construções já existentes, deve-

se incentivar a construção de hotéis urbanos e rurais; pensões, residenciais, estalagens, casas

para turismo de habitação, casas do campo, parque de campismo, pousadas, bares e

discotecas de qualidades; restaurantes típicos, cafés, lojas, artesanato; cabeleireiro, etc.

Serviços de excursão inter-ilha; parques, jardins, campos de golfe, lojas, apartamentos; meios

de transporte de qualidade tanto marítimo como terrestre: cavalo, burro táxis, carro de

aluguer, autocarros, barcos, num preço compatível. Para que a diversidade de oferta

corresponda a diversidade da procura, tendo sempre presente o factor qualidade.

Para além da reconstrução da estrutura física dos monumentos deve-se investir

fortemente na promoção da animação cultural, criando grupos de manifestações culturais;

produção, exposição e venda de artesanato, confeitarias e outros produtos locais; aperfeiçoar

as línguas: crioulo, português, inglês e francês; melhorar o estilo de vida dos residentes, etc;

instalar serviços de comunicação aproveitando o sistema de comunicação dotado de

tecnologia avançado (fibra óptica) com acesso aos principais serviços de comunicação

mundial (Internet, fax, rede móvel, rede de dados).

O investimento neste sector não só arrasta o desenvolvimento dos outros sectores como

cria postos de trabalho e receitas para o sector formal, informal e para o estado e ainda pode

funcionar como uma ponte para apreciação da relatividade cultural e compreensão

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internacional. Mas, as mudanças económicas arrastam consigo mudanças sociais e culturais e

é preciso prevenir a comunidade contra os efeitos nocivos do turismo, a longo prazo: a

produção de resíduos sólidos e líquidos, tratamento de águas residuais, as mudanças graduais

nos valores, crenças e práticas culturais da comunidade; prostituição, o uso de drogas,

alcoolismo, como principais impactos negativos. Evitar que a nossa cultura perca a sua

autenticidade e desvalorize como produto turístico. Com isso não queremos dizer que não se

deve admitir modificações que adaptam ao consumo turístico, sobretudo no que diz respeito

ao artesanato. Por exemplo pode-se criar museu com a função não só de preservar os

documentos antigos relacionados com a cultura mas com a função de promover e valorizar as

indústrias artesanais que por si só são históricas mas constituem testemunhos vivos em activo

e verdadeiras fontes de rendimentos. Por exemplo «Museu de Subprodutos da Cana

Sacarina», onde os turistas nacionais e estrangeiros não só podem observar, provar e apreciar

os produtos nacionais (aguardente, licores, ponches, calda fermentada, etc.), como receber

informações como são produzidos e as características de cada região, utilizando meios

técnicos audiovisuais. Isso deve ser acompanhado de uma ampla divulgação nos postos de

turismo, sobretudo pelas associações e pessoas preparadas para o efeito.

É necessário envolver a comunidade local dando-lhe informação e formação necessária

como receber os turista e como vender os seus produtos de molde a garantir o retorno dos

turistas e aumentar o fluxo com a venda de imagem do nosso destino turístico.

A segurança é fundamental pois ninguém compra um produto cheio de risco em

qualquer circunstância.

A valorização da agricultura, silvicultura e pecuária deve passar pela utilização

adequada dos recursos disponíveis, pela integração dos produtos na sua gestão e exploração,

tendo sempre presente a sua protecção e conservação, o que requer mais uma vez atitudes

novas que só possa emergir de políticas de informação, formação e capacitação profissionais.

A actividade agrícola desenvolverá necessariamente: com a organização dos

agricultores sob a forma de associação ou de cooperativas de carácter social; com a criação

de um centro agro-pastoril ou um instituto com a missão de dar aos agricultores uma

formação permanente e de seguir a produção com um plano, visando a melhoria em

quantidade e qualidade, aplicando as técnicas modernas de produção e conservação.

O sistema de crédito que se pratica, a curto prazo, a um juro de 12 a 14 % com o início

de amortização após 4 meses, não é viável. Pois o somatório do tempo de exploração agro-

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pecuária e da comercialização dos produtos é superior a 4 meses, salvo a criação de

avicultura (galinha). O sistema só contribui para endividar os agricultores. Defendemos que o

crédito seja concedido a médio ou ao longo prazo e que os juros sejam nulos ou o máximo de

3% durante um período mínimo de 5 anos e que os agricultores sejam subsidiados em casos

de catástrofes naturais, uma forma de estimulá-los a prosseguir a exercer a actividade

agrícola, tendo em conta o impacto a nível da balança comercial e os riscos que a actividade

agrícola está sujeita.

Recomendamos a sensibilização dos operários de pesca, a cerca da importância da

saúde pública na melhoria da qualidade de vida; criação de centros comunitários,

devidamente equipados e criação de estruturas de lazer à população piscatória; a formação de

base e nas áreas de gestão e contabilidade; promoção de campanhas de sensibilização e

formação afim de garantir segurança no mar; criação de um sistema de financiamento das

pescas de forma programada precedido de um estudo do seu impacto económico;

acompanhamento assíduo do dia a dia dos pescadores, através de reuniões periódicas; criação

um programa informático para automatizar todo o processo de tratamento e análises de

dados, de forma a eliminar os atrasos que se tem verificado na publicação no boletim

estatístico de dados

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CONCLUSÃO

Ao iniciar o trabalho tivemos a preocupação de seleccionar a fundamentação teórica

mais adequada aos objectivos concebidos no projecto.

Após uma análise profunda dos documentos e informações conseguidas com a pesquisa

e por analogia com o turismo das mais diversas regiões do Mundo, concluímos que a Cidade

Velha, hoje Cidade de Santiago, reúne condições para o desenvolvimento do turismo,

salientando como principais ofertas: o meio natural (meio ambiente, paisagem rural e

marítimo, localização geográfica); o seu legado histórico e a morabeza das pequenas

comunidades semi-urbanas e rurais.

Para avaliar o meio natural como oferta turística tivemos que considerar todas as

regiões semi-urbanas e rurais do Município de Ribeira Grande. Do estudo feito concluímos

que existe potencialidades para o desenvolvimento do turismo do mar, rural e de montanha,

cultural e religioso tendo em conta as diversas paisagens humanizadas e naturais.

O turismo cultural e religioso obrigou-nos a deambular um pouco pelo passado

histórico em sincronia com o presente. Os monumentos históricos, documentos escritos, as

pesquisas arqueológicas que estão sendo feitas e a cultura da população constituem também

ofertas turísticas importantes.

Como o turismo é uma actividade económica interligada as mais diversas actividades

económicas, concluímos que, se for desenvolvido, arrastará com sigo para o progresso, todos

os outros sectores.

Em relação ao fluxo os dados que temos referem-se ao turismo do arquipélago no seu

todo com forte destaque para o turismo balnear para as ilhas do Sal, Santiago, S. Vicente e

Boavista. O crescimento das últimas duas décadas é animador. Para a Cidade Velha não há

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dados estatísticos mas, das informações colhidas na localidade e por meio de entidades e

instituições responsáveis, admite-se que o fluxo tende a aumentar com algumas iniciativas de

carácter cultural, religioso, político e investimentos feitos ultimamente na criação de infra-

estruturas turísticas.

Mas para que o turismo se desenvolva na Cidade Velha torna-se necessário ultrapassar

alguns constrangimentos de ordem económica e financeira, social, cultural e administrativa.

Algumas medidas estão sendo tomadas, mas em termos de impacto é irrisório.

A exploração, valorização e rentabilização das referidas ofertas carecem de

investimentos em infra-estruturas necessárias e adequadas que possam proporcionar aos

turistas conforto, prazer e lazer ou satisfazer outros desejos de acordo com as características

da procura; na formação dos quadros, informação e formação das comunidades como

elementos integrantes do processo.

Torna-se necessário a elaboração de um plano específico para o desenvolvimento

turístico da Cidade de Santiago; criação de organismos com autonomia administrativa e

financeira para a execução do referido plano.

Considerando as ofertas naturais, económicas, sociais, culturais, religiosas e históricas,

concluímos que seria prioritário o desenvolvimento do turismo do mar, turismo cultural e

religioso, turismo do campo e da montanha. Mas, de modo nenhum, queremos descorar a

possibilidade do desenvolvimento de outros tipos de turismo tendo em conta a sua

localização geográfica muito perto de capital, uma cidade em expansão. Assim sendo poder-

se-ão desenvolver o turismo de conferência e de negócios; turismo de férias, se

considerarmos os factores mar, campo e montanha; turismo desportivo, se forem criadas

condições que atraem os desportistas nacionais e internacionais.

Olhando para a paisagem diversificada do Concelho de Ribeira Grande, defendemos a

sua preservação sob pena de subtrairmos a oferta mais preciosa para o desenvolvimento do

turismo e pôr em causa a biodiversidade e a ecossistema da região. Pois é a diversidade das

paisagens e sua heterogeneidade que vão sensibilizar o carácter da observação do turista, no

sentido da produção social do espaço. Sem espaço não há turismo.

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ANEXOS

A – O Produto Turístico

B – A Estrutura Social da Cidade Velha no séc. VXI.

B1 – Idem

C – Relatório Das Actividades Desenvolvidas Durante O Ano De 1993 Pelo Departamento

De Monumentos E Sítio Do INAC A Nota Dirigida Ao Presidente De INAC datada de

4/1/1994.

D – Turismo Industrial

E – PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL E ARQUITECTURAL

HISTÓRICO DE CABO VERDE. Relatório de missão Pelo Arqº. Paulo de Azevedo

(UNESCO). Paris, 1981.

F – VIABILIDADE FINANCEIRA DE MICRO – IRRIGAÇÃO EM PEQUENAS

UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR.

G – Tabela 3 agregados Familiares da Cidade Velha segundo o Principal meio de

abastecimento de água (senso 2004)

G1 – Tabela 5. Agregados familiares da Cidade Velha segundo a posse de casa de

banho/retrete.

G2 – Tabela 7. Agregados familiares da Cidade Velha segundo o meio de evacuação das

águas residuais.

H – Glossário.

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A – O Produto Turístico.

«O produto turístico se compõe de actividades ligados aos empreendimentos de

hospedagem (indústria de construção civil e indústria do mobiliário e de outros meios de

bens transformados para utilização como equipamentos de recepção e de hospedagem), aos

bens de alimentação (actividades agrícola e indústria alimentícia), aos transportes (indústria

de transformação para produção de veículos, de equipamentos e de peças de reposição, além

do pessoal necessário à sua produção, funcionamento e reparos) e aos produtos típicos locais

(objectos de arte, de artesanato ou de simples captação com adaptações mínimas e trabalho

puramente artesanal), alem de visitas a locais diversos e utilização de equipamentos de lazer

e de divertimento, tanto naturais como artificiais». Esta permeabilidade de integrar todas as

outras actividades económicas do sector primário secundário e terciário e a natureza do seu

produto, faz com que o seu conceito se torne diversificado.

O turismo, por ser produtivo e dinâmico, aproveita de todo o potencial dos recursos

naturais sem esgotá-los, e também dos recursos e riquezas criadas propiciando todos os

meios possíveis para conservá-los e valorizá-los tanto quanto possível, proporcionar às

necessidades e conveniências de sua operação. Essa característica faz do turismo motor do

desenvolvimento integral e sustentado da economia, pois afecta todos os sectores da

economia e não só.

Do sector primário recebe matérias-primas que são transformados no sector secundário

e a produção de bens exige serviços que fazem parte do sector terciário são utilizados para

satisfazer as necessidades básicas e aquelas que a própria sociedade cria. “Ora, consideradas

tais perspectivas turismo não transforma, mas une os sectores primário e secundário de

produção. Por isso – embora seja lugar comum a consideração do fenómeno como indústria –

é mais coerente e conforme a realidade humana a posição de alguns estudiosos de reputada

seriedade, que negam ao turismo seu propalado carácter industrial, porque os consumidores

dos produtos turísticos são os verdadeiros autores do processo produtivo a cujos bens se

deslocam para efectivar a existência do próprio fenómeno (...).

Fonte inesgotável de benefícios económicos, o turismo permite a multiplicação de bens

e serviços variados em quantidade incalculável, ‘pois quase todas as expectativas de

demanda podem ser satisfeita pelas reservas naturais e artificiais que caracterizam a

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capacidade da oferta, que exige preservação, conservação, reciclagem e planejamento”

(Anónimo, O Produto Turístico, p.99).

B – A Estrutura Social da Cidade Velha no Sec. VXI

“Os habitantes desta ilha de Santiago são, pela maior parte, pretos e pardos; uns

descendentes dos primeiros pretos que se achavam nesta ilha ao tempo do descobrimento

dela, e outros de escravos que se libertam e foram propagando. Os pardos são mestiços,

filhos de homens brancos, naturais e principais da terra, descendentes dos primeiros

povoadores, com casas bastantemente opulentas, por seres senhores da maior parte da terras

das ilhas, em razão das grandes mercês que lhes haviam feito, assim o Infante D. Fernando,

como El Rei D. Manuel, que se tratavam as lei da nobreza, tendo brasões de armas, que ainda

hoje se manifestam... Estes primeiros brancos eram tão zelosos da honra que, aos que de

novo vinham do reino, não deixavam habitar senão em uma rua em que ainda hoje chamam

de Calhau, em quanto não mostrassem a limpeza do seu sangue.” (Carreira António,

Migrações nas Ilhas de Cabo Verde, p.41)

B1 – Idem

“Aqui, nas ilhas, a uma magra superstruturas social de donatários, capitães-mores

morgados, cónegos de cabido e licenciados que criaram na Cidade Velha um fausto de que

ficou eco num poema espanhol do séc. XVI, correspondia, a contrapor-se a este estilo reino,

uma população a pouco e pouco formada em ilhas de fracos recursos agrários entregue a si

própria, miscigenada e à qual as vicissitudes da luta pela sobrevivência dentro da área insular

restrita e isolada deram uma personalidade de diferenciação regional que impôs o seu tipo

crioulo de linguagem às expressões de influência reino representadas por elementos

minoritários. (...) Estando o reinó em nítida minoria foi o homem crioulo que teve a última

palavra; o reinó não teve outro remédio senão aculturar-se idiomaticamente». (In.

CULTURA CABOVERDEANA, ENSAIOS, ED.VEGA, LISBOA, 1991, p. GABRIEL

MARIANO)

C – Relatório Das Actividades Desenvolvidas Durante O Ano De 1993 Pelo Departamento

De Monumentos E Sítio Do INAC A Nota Dirigida Ao Presidente De INAC datada de 4. 1.

1994.

“2- Trabalhos no Convento de S. Francisco.

Esses trabalhos que se iniciaram no dia 7 de Maio, tiveram a duração de 7 dias e

consistiram em três operações distintas: a) vedação da fachada do monumento; b)reparação

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de alguns muros e de algumas paredes do edifício; c) limpeza no interior do corpo principal

do monumento.

(...)

3- Terceira fase dos trabalhos arqueológicos na Sé Catedral.

Realizou – se de 7 de Julho a 6 de Outubro a 3ª fase dos trabalhos arqueológicos na Sé

Catedral.

(...)

As actividades desenvolvidas durante essa 3ª fase foram as seguintes:

Escavações à volta dos pilares;

2ª Fase do desentulho do Altar – Mor;

Sondagem na «lixeira» do Palácio do Bispo;

Sondagens no adro da Sé ‘procura dos negativos da escadaria branca que segundo

gravuras antigas aí existiam

Inventário preliminar do espólio recolhido”.

D – Turismo Industrial

“O campo de turismo industrial é tão diversificado e atractivo quando são múltiplas as

razões da sua eclosão; ele engloba, mais ou menos indistintamente os domínios da

tecnologia, cultura científica da arqueologia e da arquitectura industriais, da cultura operária,

da investigação de ponta, da produção artesanal, manufactureira altamente mecanizada ou

informatizada.

(...)

O turismo industrial permite viajar até ao passado, aprender como se faziam as coisas

num outro tempo, como se deram as mudanças e como se fazem na actualidade.

Nesta perspectiva, o turismo industrial é sem sombra de dúvida, uma forma

privilegiada de conhecer os indivíduos, as sociedades em que se insere as suas raízes mais

profundas. Imagens e notoricidade das empresas, evidenciar as suas competências e os seus

dinamismos, suscitar vocações juntos dos jovens e contribuir para uma visão diferente do

mundo empresarial.

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Ao abrir as suas portas ao turismo, as empresas atingirem objectivos não

negligenciáveis, como o dar a conhecer os seus produtos e aumentar os seus desempenhos

comerciais posicionando melhor a sua imagem de marca.

Para além do desenvolvimento de uma nova coesão social, o turismo industrial

favorece a introdução de rendimentos significativos nas economias locais e regionais que

ultrapassam aquilo que a indústria isoladamente poderia conseguir. (...)

O turismo industrial é simultaneamente uma forma de conjugar entretenimento e

cultura, (...)”. (Ministério da Economia Portugal: Turismo em Portugal Política, estratégia e

Instrumentos de Intervenção Fevereiro de 2002 p:60)

E – PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL E ARQUITECTURAL

HISTÓRICO DE CABO VERDE. Relatório de missão Pelo Arqº. Paulo de Azevedo

(UNESCO). Paris, 1981.

7. “63. A História demonstrou que, os documentos da antiguidade, só os que

beneficiaram de uma utilização social contínua chegaram até nós. Mas mais contribuiu o uso

social do que esporádicas intervenções restauradoras. Não seria exagero dizer que o mau uso

de um edifício é preferível ao seu abandono”.

(...)

64. A conservação dos monumentos impõe, antes de mais uma constância de cuidados

(Carta de Veneza). A restauração é um recurso correctivo, um mínimo mal, utilizado apenas

quando o monumento atinge um grau de deterioração irreversível. Um programa de

preservação dos monumentos está, pois, inevitavelmente ligado à utilização social destes. Se

esta condição não foi respeitada, as obras realizadas perder-se-ão em pouco tempo.

65. No caso de imóveis urbanos, uma política a seguir seria adquirir e instalar nos

monumentos abandonados ou deteriorados equipamentos comunais, especialmente de

carácter cultural e ou administrativo.

(...)

67. No que respeita as construções rurais, numerosos edifícios que estão actualmente

sub-utilizados ou abandonados, como pequena igreja ou capela, poderiam ser recuperados

para abrigarem salas de aulas, sem prejudicar o seu uso religioso. (...) A manutenção da

função habitat ao lado da administrativa, comercial e cultural é um factor importante para a

preservação física e social dos sectores centrais das cidades.

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72. As cirurgias urbanas, do tipo alargamento e rectificação de ruas, devem ser

evitadas, principalmente nos centros históricos. Estas operações destinadas a privilegiar o

veículo individual mostraram-se absolutamente ineficazes na solução do transporte urbano.

73. Na elaboração dos planos directores dessas cidades deverá ser dada uma atenção

especial ao plano da massa que definirá as características volumétricas de todas as

superfícies susceptíveis de serem construídas, visando a manter a harmonia entre o novo e o

antigo. No centro histórico, as novas construções em terrenos vagos deverão evitar a cópia do

antigo, mas respeitar a relação de volumes, texturas e cores do contexto na qual se inserem.

Uma prática a que se deve imediatamente por termo é a construção de edifícios com

avançadas para a rua que alteram as relações volumétricas destas e criam problemas para a

arborização e a rede aérea de serviços”.

F – VIABILIDADE FINANCEIRA DE MICRO-IRRIGAÇÃO EM PEQUENAS

UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR.

“O quadro 10 indica que o preço do custo médio das sete principais culturas hortícolas

é de aproximadamente 55 Esc./kg para as cultivadas no sistema de gota a gota e 129 Esc./kg

para as culturas de rega tradicional. Isto significa que o custo de 1kg de legumes produzido

com a técnica de rega gota a gota é 2. 3 Vezes inferior ao da rega tradicional (alagamento).

(...)

Classe I: Essas explorações são caracterizadas por pequenas unidades de produção

familiar, economicamente frágeis estribadas numa estratégia de desenvolvimento da

horticultura como sector prioritário. Contudo o chefe de exploração procura realizar

actividades extra exploração através da venda temporária da sua força de trabalho de modo a

proporcionar a sobrevivência da exploração.

De acordo com a proposta da tipologia atrás mencionada, as explorações pertencentes a

esta classe não se dedicam à actividade pecuária e o sector agrícola é caracterizada pela baixa

produtividade de cultura. (rendimento mínimo de culturas).

O resultado da simulação monstra que as receitas da horticultura não cobrem as

despesas deste sector devido a baixa produtividade das culturas. Sendo um sector prioritário

faz com que o resultado a nível familiar seja negativo.

Na expectativa de rentabilizar a exploração através da recorrência ao crédito individual

para a instalação do sistema gota a gota, o resultado da simulação revela que é uma estratégia

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adequada. Efectivamente com rega gota a gota a produtividade aumenta, atingindo o

rendimento médio das culturas. Por outro lado a análise de cash flow confirma a

rentabilidade do sistema de rega gota a gota.

Porém os elevados encargos financeiros no primeiro ano de exploração fazem com que

o resultado da conta de exploração seja negativo, dificultando sobremaneira o financiamento

do consumo familiar.

Como a exploração agrícola não pode funcionar com resultados negativos da conta de

exploração tentou simular um outro cenário, isto é, recorrência ao crédito solidário. A

aplicação dessa simulação surtiu efeitos positivos. A taxa de rentabilidade do investimento

total é superior a 10 % uma vez que o valor actualizado é positivo. Os resultados de “cash

flow” evidenciam a capacidade de auto financiamento dos agricultores no fim de exploração

e os resultados da conta de exploração são positivos proporcionando ao chefe de família um

lucro médio anual de 408 contos o equivalente a um salário médio mensal de 34.000 Esc.

Classe II: São explorações agrícolas caracterizadas por pequenas unidades de produção

familiar, relativamente estável em relação a Classe I, apoiada em estratégia de encontrar um

equilíbrio financeiro familiar fora de exploração agrícola, recorrendo a venda de força de

trabalho do chefe da exploração de carácter profissional permanente de actividade informal

etc. A horticultura é considerada como um sector secundário, contribuindo como suplemento

para a economia da unidade de produção familiar.

Na base da tipologia supra referida as explorações agrícolas pertencentes a essa classe

dedicam á pecuária e o sector hortícola caracteriza-se pela baixa produtividade das culturas

(rendimento mínimo de culturas).

A simulação revela que a capacidade de auto financiamento do chefe de exploração e o

resultado a nível familiar são viáveis. No entanto, essa capacidade de auto financiamento é

extremamente frágil devido a injecção dos recursos financeiros no sector hortícola que é

altamente deficitário. Tendo em conta a vulnerabilidade do sector hortícola procedeu-se a

uma simulação financeira com recurso a crédito individual.

De igual modo, a análise dos resultados indica que essa opção não é a mais acertada

atendendo que os resultados apesar de serem satisfatórios a nível global denotam no entanto,

um lucro insignificante no primeiro ano de exploração. Isso contribui para o desequilíbrio

financeiro a nível familiar, tendo presente que o consumo familiar depende fortemente do

resultado da conta de exploração. A luz desses resultados propôs-se como alternativa o

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recurso ao crédito solidário tendo chegado à conclusão de que essa alternativa é a mais

acertada para os pequenos agricultores.

Assim sendo, os resultados evidenciaram uma excelente capacidade de auto

financiamento no fim da exploração aliada à conta de exploração altamente lucrativo. Isto é

um lucro médio anual de 643 contos equivalente a um salário médio mensal de 54.000 Esc.

A análise do cash flow evidencia a capacidade de auto financiamento dos agricultores

no fim de exploração e os resultados da conta de exploração são positivos proporcionando ao

chefe de família um lucro médio anual de 408 contos o equivalente a um salário médio

mensal de 34.000 Esc.”.

G – Tabela 3 agregados Familiares da Cidade Velha segundo o Principal meio de

abastecimento de água (senso 2004)

Modo de abastecimento de água Total

Água canalizada da rede pública 25

Cisterna 0

Auto – tanque 2

Chafariz 182

Poço 0

Nascente 3

Levada 5

Outro 1

NR 1

Total 219

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G1 - Tabela 5. Agregados familiares da Cidade Velha segundo a posse de casa de

banho/retrete

Casa de banho e retrete Total

Casa de banho com retrete 65

Casa de banho sem retrete 11

Retrete/latrina 4

Sem casa de banha sem retrete sem latrina 138

NR 1

Total 219

G2 – Tabela 7. Agregados familiares da Cidade Velha segundo o meio de evacuação das

águas residuais.

Evacuação das águas Total

Fossa séptica 0

Rede de esgotos 31

Redor da Casa 1

Natureza 185

Outro 0

NR 2

Total 219

H- GLOSSÁRIO:

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Tendo em conta o seu carácter intersectorial de prestação de serviços, pode assumir

várias formas:

T. DOMÉSTICO: movimento do turista dentro do seu próprio país de residência.

T. INTERNO: residentes que visitam o seu próprio país mais os não-residentes que

visitam este país.

T. NACIONAL: residentes que visitam o seu próprio país mais os residentes que

viajam para outro país.

T. NEGÓCIOS: é praticado por pessoas que necessitam de se deslocar para fora da sua

residência por motivos de negócios por um curto período de tempo.

T. SAÚDE: deslocações de pessoas para fora do local de residência com intuito de

melhorar o estado de saúde.

T. LUXO: está ligada a prestígio, distinção, alto preço, alta qualidade e marca

prestigiada. É praticada pela minoria que possui um elevado poder de compra.

T. ÉTNICO: Turismo em que a primeira atracão é o exotismo cultural da população

local e os seus artefactos (roupas, arquitectura, teatro, música, dança, artes plásticas) e outras

diferenças que podem ser biológicas.

T. ROMANTICO: O termo foi criado para diferenciar do T. Sexual. Tem a ver com as

mulheres europeias e americanas que se deslocam para se relacionarem com os jovens

jamaicanos. A relação é mais duradoira.

T. CULTURAL: caracterizado pelo pitoresco. É a valorização da cultura camponesa.

T. HISTÓRICO: circuito tipo museus catedrais que pretendem tomar como objecto de

motivação as glórias do passado.

T. AMBIENTAL: Semelhante ao Turismo Étnico. O turista é atraído pelas áreas

remotas para aí experimentaram coisas diferentes.

TURISMO RECREATIVO: O turista é atraído pela vontade de relaxamento e pela

comunicação com a natureza.

Etc.

HOSPEDARIA – meio de hospedagem que aluga quartos mobilados para curta

permanência dos usuários.

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INCLUSIVE-TOUR – tudo incluído.

LOBBY – vestíbulo saguão, sala de espera de um hotel.

MOTOR-HOME – Veículo tipo camião equipado com instalações comuns.

NO-SHOW – termo para o não comparecimento do passageiro de uma companhia

aérea ao embarque, como também nos hotéis.

Operadora turística – agências de viagens que planejam, organizam e vendem

excursões na forma de atacadista.

OVER – BOOKING – ultrapassagem do limite de reservas.

PACOTE – viagens pré fabricadas por uma agências de viagens que inclui todos os

serviços, passeios.

PENSÃO – Estabelecimento que inclui na sua diária obrigatoriamente a hospedagem e

três refeições.

POUSADA – Estabelecimento onde normalmente se faz apenas uma pernoite. Prédio

de valor histórico adaptado para hotel.

PRESS-RELEASE – Notícia preparada pelo interessado e enviada aos veículos de

comunicação que quando for do interesse jornalístico e sem objectivo comercial, é divulgada

sem ónus.

RECEPTIVO – Que recebe, conjunto dos serviços receptivos de uma unidade turística.

ROOM SERVICE – SERVIÇO DE QUARTO. Serviço de alimentação e bebida

provido no aposento.

STANDARDE – Tipo. Padrão. Em hotel, o tipo standard representa a maioria, o padrão

dos aposentos.

STOPOVER – Escala.

TOMBO – Inventário de bens.

TOMBAMENTO – Preservação de monumentos, edifícios e até cidades de excepcional

valor histórico ou artístico para a nação.

TRAILER – Reboque equipado como um quarto, com cama, kitchenet, sanitário etc.,

puxado por um automóvel.

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TRANSLADO – serviço próprio das agências de viagens para a transferência de

passageiros do ponto do embarque para o hotel ou vice-versa.

TRAVELLERS CHEK – cheque de viagem especial para viagens internacionais, com

valores expressos em dólares.

VOUCHER – comprovante correspondente à um determinado serviço típico(

hospedagem, excursão ,etc.) ,que agência de viagens emite ao turista como meio de

pagamento destes serviços em outra cidade.

CHARTER – Abreviado de Chartered Flight e Air Charter, termo universalmente

adoptado para voos fretados em aviões de companhias comerciais não filiadas à IATA.

CHARTER INCLUSIVE TOUR (ITC) – Modalidade de excursão de grupo em aviões

charter, de tipo «tudo incluído», com preços económicos e estada obrigatória de duas

semanas numa só cidade.

CHECK-IN – NOS transportes aéreos: horário de comparecimento no aeroporto para

despacho e embarque. Em hospedagem seguimento de providências após a entrada do

hóspede: preenchimento da ficha de registo, abertura de factura etc.

CHECK – OUT – PROCESSO de verificação, por ocasião da saída do hóspede, dos

gastos por eles efectuados, da emissão da factura, da limpeza total do aposento desocupado.

CONTINENTAL BREAKFAST. - Termo universalmente adoptado para o serviço de

café de manhã convencional

CONSCIENTIZAÇÃO TURÍSTICA – Acção sobre a população, afim de conscientizá-

la dos benefícios económicos, sociais e culturais que o turismo pode propiciar à comunidade.

CORREDOR TURÍSTICO – Rodovia de grande movimentação turística dotada de um

sistema conjugado de serviços que oferece assistência, segurança, asseia, informação aos

visitantes

CORRENTE TURÍSTICA OU FLUXO TURÍSTICO – Volume substancial de turistas

que se movimenta em direcção a uma localidade ou país.

DEMANDA – procura, capacidade de consumo em relação ao preço de um produto.

DUBLE – Termo internacional usado para duplo. Acomodação para duas pessoas em

mesmo quarto.

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EMISSORA – Cidade que se caracteriza por um considerável volume de sua população

viajando para outras destinações.

EMPREENDIMENTO TURÍSTICO – empresa que integra o sistema receptivo

turístico (meio de hospedagem, centro de convenções etc.)

EURAILPASS – Termo usado para o passe que permite viagens múltiplas e sem limite

de quilometragem nas ferrovias da maioria dos países europeus. É vendido fora da Europa.

EXCURSÃO – Passeio de lazer ou de pesquisa de curta duração à pequena distancia,

não ultrapassando as 24 horas.

EXTRA-HOTELEIRO – Referente aos meios de hospedagem turísticos e outros que

não-hoteleiros. Sinónimo: Para-hoteleiro.

FAMTOUR – Viagem oferecida, em conjunto, pelas vias aéreas, hotéis agências de

serviço receptivo, sem ónus, aos agentes de viagens, para conhecimento dos serviços

oferecidos e proporcionar assim melhores condições de venda do local.

FERRY – BOAT – Barco a motor preparado para realizar transportes de trens e peças

extras de veículos, de uma para a outra margem de um rio, lago, canal etc.

FOLCLORE – cultura popular, tornada normativa pela tradição. Compreendendo

lendas danças canções costumes, crenças, e outras manifestações culturais de um povo.

FORFAIT – Programa de excursão organizada para uma ou poucas pessoas, com preço

prefixada, nos moldes de “exclusive-tour”.

FREE – isento de pagamento.

FUL – BOART – termo internacional usado para pensão completa.

GO – show – termo aplicado quando o passageiro comparece ao embarque com

passagem em aberto, sem reserva previa.

HALF-BOARD – meia pensão de turismo, uma vasta ária rural que se inscreve nessa

freguesia.

ADUANA – conjunto dos direitos alfandegários.

PROCURA EFECTIVA: abrange aqueles que realmente viajam; é o componente da

procura mais comum e mais facilmente mensurável, a ela se referindo a maioria das

estatísticas.

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PROCURA SUPRIMIDA: a parte da população que não viaja por qualquer razão.

PROCURA POTENCIAL: abrange os que viajarão no futuro, caso se verifique uma

mudança nas circunstâncias presente (ex.: > poder de compra);

PROCURA DIFERIDA: (ou adiada): devido a problemas no lado da oferta (ex.:

escassez de um bem ou serviço – alojamento; estado do tempo; actividade terrorista; etc.); no

futuro, se os problemas forem solucionados, a procura diferida transformar-se-á em procura

efectiva;

NÃO PROCURA: abrange aqueles que simplesmente «não viajam».

Útil na medição da procura efectiva, representando a % da população que realmente

viaja:

LÍQUIDA (net travel propensity): percentagem da população que empreende pelo

menos uma viagem turística num determinado período de tempo (procura suprimida e a não

procura garantem que esta percentagem nunca se aproxima dos 100 – nas economias

ocidentais desenvolvidas oscila entre os 70 e os 80%);

BRUTA (gross travel propensity): número total de viagens turísticas empreendidas

pela população – à medida que aumenta a importância das «segundas» e «terceiras viagens»,

o seu valor torna-se mais relevante, podendo exceder os 100% (nas economias ocidentais

desenvolvidas aproxima-se dos 200%).

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I - Quadro estatístico

ANO 2004

Hóspedes/Entradas nos estabelecimentos hoteleiros segundo a Ilha, por país de residência habitual dos hóspedes

País de residência

habitual

Santo

Antão

São

Vicente

São

Nicolau

Sal Boa

Vista

Maio Santiag

o

Fogo Brava Total %

Cabo Verde Cabo-verdianos 1.855 4.201 246 12.398 1.005 349 6.229 630 54 26.967 14,6 Estrangeiros 44 102 143 452 7 19 118 18 16 919 0,5 Estrangeiros Africa do Sul 8 34 2 9.868 4 5 114 1 0 10.036 5,4 Alemanha 1.004 1.973 118 8.833 557 83 1.728 228 0 14.524 7,8 Áustria 73 159 10 202 31 6 198 41 0 720 0,4 Bélgica+Holanda 446 590 142 1.942 70 44 897 24 0 4.155 2,2 Espanha 207 879 26 7.950 264 37 922 79 0 10.364 5,6 Estados Unidos 66 217 9 562 34 14 587 8 0 1.497 0,8 França 922 1.846 113 4.719 606 102 2.549 357 0 11.214 6,1 Reino Unido 44 280 12 268 25 8 196 2 0 835 0,5 Itália 311 1.719 21 50.717 1.300 85 999 132 0 55.284 29,8 Portugal 217 3.878 16 26.842 226 46 6.728 133 0 38.086 20,6 Suiça 143 319 34 475 102 17 300 45 0 1.435 0,8 Outros Países 169 1.204 7 4.380 156 7 3.191 126 0 9.240 5,0

Total 5.509 17.401 899 129.608 4.387 822 24.756 1.824 70 185.276 100,0 % 3,0 9,4 0,5 70,0 2,4 0,4 13,4 1,0 0,0 100,0

Fonte INE