nco 44 - 01 de junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. o desassoreamento...

40
Edição 39 * 1 de Janeiro de 2020 * Mensal * Gratuita Director: Carlos Mesquita

Upload: others

Post on 19-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Edição 39 * 1 de Janeiro de 2020 * Mensal * GratuitaDirector: Carlos Mesquita

Page 2: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

2 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Publicidade

Page 3: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 3

Nesta ediçãoSumário

Ficha Técnica:Director e Editor: Carlos MesquitaColaboradores nesta edição: Ana Custódio, Artur de Jesus, Carlos Concei-ção, Cristina Taquelim, Hugo Palma, José Francisco Rosa, José Veloso e MárioSilva.Proprietário: JL, UnipessoaL, Lda/Carlos ConceiçãoAdministração: Rua Dr. José Tello Queiróz, lote 14 . 1º E - 8600-707 - LagosSede Social, Redacção e Editor:Rua D. Xavier, nº 6 – 8600-754 Lagos - Telefone: 00 351 96 705 91 06Capital Social da Empresa Proprietária:JL, Unipessoal, Lda/Carlos Conceição com 100% do capital socialNa Internet em: http://www.novacostadeoiro.comCorreio electrónico: [email protected]

Editorial

A Docapesca?O manto de silêncioPágina 4 - Memória de Maio - Junho de 1999 - Na edição de Maio -

Junho de 1999, a Nova Costa de Oiro analisou «O Estado das Pes-cas», em Lagos. 21 anos depois, a Nova Costa de Oiro está de voltaa este tema para mostrar que pouco ou nada mudou.Páginas 6 a 11 - A Abrir / Tema de Capa - Lagos - Pesca e Pescado-res - A Crónica de Uma morte (lenta) anunciadaPáginas 12 e 13 - A Abrir / Tema de Capa - A Opinião de José Veloso«Estas constatações, mais a ínvia técnica de manter o sensível as-sunto do porto longe das luzes da ribalta pública local, autorizamtodas as conjecturas sobre a limpidez das águas onde navega ofuturo do porto de Lagos».Páginas 14 a 17 - A Abrir / Tema de Capa - Reportagem em 1999Dura vida do PescadorPáginas 20 e 21 - OlharesO regresso à «normalidade»Páginas 22 e 23 - LacobrigensesO Conde de Vale de Reis e a defesa da Sra. da Luz (Lagos)Por Artur de JesusPáginas 24 e 25 - Ruas da Nossa terra(Rua) Lançarote de Freitas, um mercador de escravosPágina 28 - O que vem à rede social - Lagos no FacebookPágina 29 - Aos PaisChegar tranquilamente a casa com o recém-nascidoPor Ana CustódioPáginas 32 e 33 - O imprevisto aconteceu e...O desafioPor José Francisco RosaPágina 34 - Clube das Comisquices - Uma bela sardinhada!Por EpicuroPágina 35 - Leituras: «Submergir em pedaços de Papel», de HugoPalmaPágina 36 - Um Conto - Zé da Sabina, por Cristina TaquelimPágina 37 - Músicas - Damos-lhe música no SPOTIFY - a playlist daBBC, de 06 de Junho de 1944 - Dia D - Desembarque na NormandiaPágina 38 - Em Julho, na Nova Costa de Oiro

Costuma celebrar-se, em Maio, não só emLagos como noutros por-tos de pesca, o «Dia Na-cional do Pescador».

Este ano, devido aoestado de contigência,

não foram efectuadas quaisquer celebra-ções. E os pescadores portugueses têmpouco que celebrar...

Em 1999, a revista Nova Costa de Oirofez uma reportagem junto dos «homensdo mar», de Lagos. Acompanhámo-los aolongo de um árduo dia de trabalho e visi-támos as instalações portuárias, ondeconstatámos ser urgente uma profundaintervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada dabarra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos para osaprestos, bem como o ordenamento ge-ral do espaço, eram, à época, as neces-sidades mais prementes. Nessa ocasião,a Nova Costa de Oiro solicitou por diver-sas vezes a posição da Junta Autónomados Portos sobre esta sua zona de juris-dição, sem nunca ter obtido resposta.

Verificando que passados 21 anos osproblemas persistiam, contactámos a Do-capesca no sentido de obter as suas de-clarações quanto à gestão do Porto dePesca de Lagos. Debalde... Não só estaentidade, tutelada pelo Ministério do Mar,não responde, como o seu site pareceter parado no tempo, não disponibilizandoinformação que permita a qualquer cida-dão o pleno exercício do direito à infor-mação e ao acompanhamento de projec-tos ou intervenções na área de respon-sabilidade desta entidade pública.

Apesar de vivermos em democraciacontinua a existir quem se julgue acimado escrutínio e análise.

Seria importante para todos os quevivem e pensam o território, ter respos-tas dos dirigentes da Docapesca ao in-vés deste manto de silêncio.

Carlos MesquitaNa «Nova Costa de Oiro» não seutiliza a Reforma Ortográfica de

1990-2008, indevidamente chamada«Acordo Ortográfico».

Page 4: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

4 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Memória / Maio - Junho 1999

Na edição de Maio - Junho de 1999,a Nova Costa de Oiro analisou «O Esta-do das Pescas», em Lagos.

Nessa ocasião, demos conta da ne-cessidade de obras no Porto de Pesca

de Lagos, designadamente do desasso-reamento da Ribeira de Bensafrim e daimprescindível criação de armazéns con-dignos de armazenamento de redes e de«covos», entre outros.

21 anos depois, a Nova Costa deOiro está de volta a este local para mos-trar que pouco ou nada mudou aqui, emreportagem que pode ser lida nas pági-nas seguintes.

Page 5: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 5A abrir / Tema de capa

Page 6: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

6 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Uma morte (lenta) anunciada

Lagos - Pesca e PescadoresA abrir / Tema de capa

A pesca foi, em tempos não muitoremotos, uma actividade central econó-mica não só da região algarvia, bemcomo de outras áreas do litoral portugu-ês.

Nos anos 60 do século XX, o Algarve«virou-se» para outras actividades que,de certa forma, permitiram uma melhorredistribuição da riqueza regional e que,eventualmente, se traduziram numa me-lhoria da qualidade de vida dos seus ha-bitantes. Nos últimos 50 anos, o «turis-mo» e a «construção civil» tornaram-sea principal forma de subsistência de par-tes substanciais da população activa, naregião.

Na década de 70, assistiu-se a umdeclínio acentuado da actividade pes-queira e conserveira. Foram muitas asfábricas de conservas que encerraramportas e muitos os barcos retirados dafrota nacional.

Com a entrada de Portugal na «Co-munidade Económica Europeia» (CEE),hoje chamada «União Europeia» (UE),aumentaram as limitações à actividade.O número de embarcações registadassofreu um grande decréscimo, de 17.997embarcações, em 1986, para 8.492, em2010 e 7.855, em 1 de Janeiro de 2019.

A frota de pesca nacional caracteri-za-se por uma prevalência de embarca-ções de pequena dimensão, em que cer-ca de 90% das unidades registadas têmum comprimento de fora-a-fora inferior a12 metros e têm uma arqueação brutareduzida, que no seu conjunto represen-ta apenas 13% do total nacional. A idademédia da frota registada ronda os 33anos e, em termos de frota licenciada,ronda os 24 anos, de acordo com a Di-recção-Geral de Recursos Naturais, Se-gurança e Serviços Marítimos.

Em 2016, descarregaram-se no Por-

to de Lagos 1.596 toneladas de pescadofresco ou congelado. Os crustáceos atin-giram as 33 T, os moluscos 444 T e osanimais marítmos 2 T.

As pescas, no seu sentido geral, azona portuária, a de lota e a de arrumosestão sob jurisdição da Docapesca –Portos e Lotas, SA. Esta é uma empresado Sector Empresarial do Estado, tutela-da pelo Ministério do Mar, que, nos ter-mos do Decreto-Lei n.º 107/90 de 27 deMarço, tem a seu cargo no continenteportuguês, o serviço público da presta-ção de serviços de Primeira Venda dePescado, bem como o apoio ao Sectorda Pesca e respectivos portos.

A Docapesca – Portos e Lotas, SA, su-cede nas funções e atribuições das zonasportuárias à extinta Junta Autónoma dosPortos (JAP) e ao Instituto Portuário e dosTransportes Marítimos (IPTM).

Em Maio de 2009, a revista Nova »»

O Porto de Pesca de Lagos, visto a partir da Avenida dos Descobrimentos

Page 7: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 7A abrir / Tema de capa

Lagos - Pesca e PescadoresUma morte (lenta) anunciada

»» Costa de Oiro questionou por repeti-das vezes a JAP, quanto às situações deaparente desordenamento da sua área dejurisdição e quais os seus planos para pro-ceder às correcções apontadas, até hoje.

E fê-lo novamente, 21 anos depois, àDocapesca (que tem actualmemente ajurisdição sobre este equipamento), semter recebido qualquer resposta até ao fe-cho desta edição. Perguntámos à Doca-pesca: «Em Maio de 1999, enquanto Di-rector Adjunto da revista Nova Costa deOiro, efectuei uma reportagem no localque hoje se encontra sob jurisdição daDocapesca. Constatei então, o visíveldesordenamento da área e escutei asopiniões de vários pescadores sobre asmelhorias que deveriam ser efectuadasno local.

PERGUNTA:Como justifica a Docapesca que

em Maio de 2020, as situações repor-

tadas, vistas e fotografadas no local,em Maio de 1999, persistam hoje coma mesma necessidade de intervençãoque foram relatadas há 21 anos?

Em Novembro de 2008, o IPTM, foiobrigado por lei a solicitar à CâmaraMunicipal parecer sobre o estudo-prévioReformulação do Plano Sectorial da Docade Lagos, apresentado pela Marina deLagos (MARLAGOS). A ser edificado oentão pretendido, tal significaria que aMarina se apropriaria da mais-valia e domelhor do investimento público no porto.Dos lugares em flutuação na doca, 170seriam para grandes barcos da marina,até 40 metros, e para as marítimo-turisticas. Para pesca profissional, ficari-am 26 lugares de 8 até 15 metros, e só 1até 20 metros. Os restantes seriam parapequenos barcos locais, profissionais edesportivos.

Vendo o aparente estado de abando-

no a que o Porto de Pesca de Lagos pa-rece estar votado:

PERGUNTA-SE: Qual a actual posi-ção da Docapesca não só face às pre-tensões de expansão da Marina de La-gos, nunca desmentidas publicamente,como também as da empresaSOPROMAR, estaleiro que tem vindo aocupar ao longo do tempo uma maiorárea na zona sob a vossa jurisdição»?

Estas perguntas não tiveram respos-ta até ao fecho desta edição, embora te-nhamos recibo comprovativo de leiturada entidade questionada.

Para mais, registe-se que o site deInternet da Docapesca não só está de-sactualizado, como também apresentainúmeras falhas a nível informativo e deligações, algo difícil de se entender e dese aceitar numa entidade desta dimen-são e natureza, para mais tutelada peloMinistério do Mar. »»

O Porto de Pesca de Lagos, visto a partir da Estação Ferroviária

Page 8: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

8 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020A Abrir / tema de capa

Lagos - Pesca e PescadoresUma morte (lenta) anunciada

»» Pergunta-se, agora: como estãoas pescas e o Porto de Pesca de Lagos,no ano de 2020? O que mudou aqui des-de a nossa reportagem de Maio de 1999?

À primeira vista, pouco ou quase nada.Segundo as nossas fontes, persiste odesordenamento do espaço sob jurisdiçãoda Docapesca, em Lagos, como se de-monstra pelas imagens destas páginas.

Por outro lado, a actividade pesquei-ra parece ser pouco atractiva e merece-dora de ser considerada pela massa la-boral, incluindo a que se encontra em si-tuação de desemprego.

Diz-nos Carlos Manuel dos Santos,de Lagos, pescador há 43 anos, que vê as«pescas» com muitos altos e baixos. «Opreço do peixe varia muito. O mar estámuito poluído. Todo o tipo de lixo que oser humano criou está no fundo do mar.Há muita poluição no mar. Nem imagi-namos… As condições climatéri-castambém se têm alterado bastante...».

A nível das embarcações que desen-volvem a sua actividade, em Lagos, es-

clarece o nosso interlocutor: «As embar-cações, cada vez, são menos. Trainei-ras, já não temos nenhuma. Só temostrês ou quatro “rapas” pequenos. E, oresto, os barcos grandes têm desapa-recido todos». Quanto às condições detrabalho, na zona sob jurisdição da Do-capesca, afirma Carlos Santos: «Não sãogrande coisa. O espaço para pôr “ar-tes”, para “encostar” as embarcaçõesnão têm grandes condições. [...] Émuito mal orientado...», conclui.

A falta de mão-de-obra é outro dosproblemas referidos por este pescadorlacobrigense: «Há muita falta de “pes-soal” para trabalhar na pesca. É muitocomplicado vir para a pesca. [...] Paravir para a pesca, tem que ir para umaescola. Não há escolas nenhumas emaberto. Para tirar uma carta profissio-nal tem de haver “malta” suficientepara a tirar. É por isso que há muitafalta de pessoal de pessoal, na pesca.E há muita gente desempregada quepoderia vir para a pesca.

No meu tempo, eu comecei a an-dar ao mar, aprendi a trabalhar, tirei a“cédula” e fui aprendendo e tirando ascartas... Eu acho que hoje o pescadorpodia vir para a mar, aprendia a traba-lhar e tirava a “cédula”, através daCapitania, como era antigamente».

João Marreiros, lacobrigense, de 54anos é pescador desde 1982. Começoua sua actividade em Lagos. Quando ti-nha 16 anos foi trabalhar para a Praia daArrifana (no concelho de Aljezur), «demochila às costas, uma aventura», diz.

A Arrifana era problemática, na altu-ra, não só devido às más condições at-mosféricas características da zona, bemcomo às deficientes estruturas portuári-as do local. Um dia, numa madrugada deInverno, naufragou: «Correu tudo bem.Ninguém se feriu. Ninguém ficou mal.Foram só danos materiais», recorda.

Mais tarde, regressou a Lagos, ten-do optado por continuar a sua formaçãoprofissional e embarcado em arrastões,o que o levou para longe de Lagos. »»

Carlos Santos, Délio Garrafa e João Marreiros, pescadores de Lagos

Page 9: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 9A Abrir / tema de capa

Lagos - Pesca e PescadoresUma morte (lenta) anunciada

»» Como é que se está a pesca, emLagos? «Eu nunca ouvi dizer que a pes-ca estivesse boa. O meu pai já era pes-cador. E já me falava dos problemasda falta de “pessoal”. Mas conseguiaarranjar-se. Umas vezes melhor, outraspior, mas conseguia arranjar-se.

De há alguns anos para cá, à medi-da que o “pessoal” mais velho vai de-saparecendo, vão-se reformando, nãohá quem ninguém que o substitua.

Ultimamente, fazem-se muitos cur-sos em Lagos, para se atribuírem “Cé-dulas Marítimas”. É verdade! Só que,se calhar, 98% dessas “Cédulas” quesão atribuídas são-no a pessoas quevão todas directamente para as embar-cações turísticas. Trabalham com or-denados fixos no período do Verão eno Inverno subsistem às contas doFundo de Desemprego». Como a «pes-ca» não dá garantias de uma remunera-ção fixa e garantida mensal, uma vez quese baseia em percentagens da venda dopescado, a falta de mão-obra especializa-

O Porto de Pesca de Lagos

da e qualificada é uma das maiores difi-culdades para que este sector de activi-dade económica continue a existir no fu-turo mais próximo.

Na opinião de João Marreiros, as cap-turas de pescado, desde que é profissio-nal, têm tido momentos de altos e bai-xos, com alturas boas e outras menos.

Só que, adianta, «O grande proble-ma a que se assiste desde o início dosanos 90, salvo erro, após uma Lei emi-tida por Cavaco Silva quando este foiprimeiro-ministro, e que por ordem daUnião Europeia, é que se acabou comas percentagems que eram impostamna venda a retalho ao pescado.

Ou seja, os compradores compra-vam o pescado em Lota e tinham umamargem de comercialização sobre opeixe que compravam, limitada em cer-ca de 25%. Hoje em dia, a liberalizaçãoda venda do pescado é só para umlado, para a parte intermediária. A par-te da pesca ficou exactamente na mes-ma. Nós depositamos o nosso peixe

em Lota e a partir desse momento dei-xamos de ter qualquer direito sobreele. Não podemos interromper a ven-da do pescado, se acharmos que estáa ser vendido demasiado barato».

Na Lota é feito um leilão (também seefectua online), destinado aos compra-dores devidamente registados, de con-tagem decrescente, após funcionários daDocapesca atribuírem um valor a cadalote de peixe, ou de moluscos captura-dos, em função dos preços correntes demercado dos dias anteriores. Quando ocomprador decide proceder à aquisição,pressiona um dispositivo electrónico(algo semelhante ao comando electróni-co de uma viatura) e consuma-se a tran-sacção. Só que, diz João Marreiros,«Muitas vezes é atribuído ao peixe umvalor em euros e depois é vendido porcêntimos. Muitas vezes, o peixe quefoi vendido em Lota por 40 ou 50cêntimos chega ao mercado para servendido ao consumidor final a 6, 7euros. São discrepâncias abismais!».»

Page 10: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

10 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Uma morte (lenta) anunciadaA abrir / Tema de capa

Lagos - Pesca e Pescadores

A Sra dos Aflitos, no Porto de Pesca de Lagos

No Porto de Pesca de Lagos

»» E esta, afirma o nosso interlocu-tor, tem sido a grande luta dos pescado-res: que voltem a ser reintroduzidas mar-gens de comercialização do pescado,não de 25% como já aconteceu no pas-sado, mas até ao máximo de 100%. Des-ta forma, crê, o intermediário, o pesca-dor e o consumidor final iriam beneficiareconomicamente.

E, para o confirmar, relata-nos expe-riências que conhece e que viu noutrosPaíses: «Há sistemas de venda de pes-cado que, no meu ponto de vista, sãomuito mais benéficas para o pescadore para o consumidor final.

São eliminados os intermediários,o que permite ao pescador vender opeixe directamente ao consumidor. Opescador vende o peixe mais caro e oconsumidor compra-o mais barato.

A margem de comercialização queexiste, a tal diferença abismal, é entãorepartida pelo pescador e consumidorfinal. Quem vive da pesca já consegueobter mais rendimento; não só os ar-

madores, mas também dos seus ma-rinheiros».

Desta forma, acredita, seria possívelfazerem-se planos de investimentos alongo prazo, que se perpetuassem notempo e a «pesca poderia ser um sec-

tor económico viável, que não é nestemomento», conclui.

Foram efectuadas, recentemente,obras de dragagem na barra e Ribeirade Bensafrim, que rondaram cerca demeio milhão de euros. Aspiração e »»

Page 11: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 11A abrir / Tema de capa

Lagos - Pesca e PescadoresUma morte (lenta) anunciada

No Porto de Pesca de Lagos

Pérola da Baía, atracada no Porto de Pesca de Lagos

»» necessidade antiga dos pescadoreslacobrigenses. E quais os resultados des-te investimento? «Das conversas quetive com o Comandante da Draga e doacesso que tive ao Caderno de Encar-gos, quanto ao número de metros cú-

bicos a serem removidos, em nada iri-am resolver os problemas. E não re-solveram.

Está à vista, para quem quiser ver.É só deslocarmo-nos à zona do Caisda Solaria em plena maré baixa e, nes-

te momento, conseguimos atravessara pé da Praia da Solaria, contornar aponta do cais e ir para a Praia da Bata-ta. Todo aquele plano em que era paraser dragada a doca pequena da Ribei-ra, junto ao Forte, toda a zona da Sola-ria, o Porto de Pesca interior, isso foitudo para esquecer...».

E o futuro da actvidade pesqueira, emLagos? Irá esta acabar a longo prazo?«Acho!». João Marreiros é peremptóriona sua opinião. E explica porquê: «Já fo-ram criados novos “lobbies”,“lobbies” esses que estão muito emmuito em cima do que é tradicional nanossa zona, visto que é uma cidaderibeirinha e que viveu largos anos de-pendente da pesca». E, quanto aos“lobbies” referidos, não se adianta maispor agora. Essa matéria ficará para in-vestigação e eventual publicação futura(embora se recomende leitura atenta daopinião de José Veloso, nesta edição).

O vídeo com as entrevistas está aqui:https://youtu.be/_3p0BgFTJLs

Page 12: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

12 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

A Opinião de José VelosoA abrir / Tema de capa

Porto de Lagos

Em Outubro de 2018, o jornal Cor-reio de Lagos, publicou o texto queaqui se reproduz, da autoria do ar-quitecto lacobrigense José Veloso.

O porto de Lagos e o que lá aconte-ce, sempre foram a raiz que determinoua vida, a cultura e a economia de Lagos.Esta referência será uma inútil redundân-cia, pois é inerente à condição marítimada cidade. Mas é bom que esteja sem-pre presente, para evitar que pressõesde circunstância queiram desviar o portodo seu papel dominantemente público.

Ora em Agosto 2018, numa páginadupla dedicada ao Clube de Vela de La-gos da Revista Municipal de Lagos, édito, cito, «Construir o Centro de Estágiode Vela, na zona a sul do Porto de Pescade Lagos, é o grande sonho que a direc-ção do Clube de Vela, contando com oapoio institucional do Município, quer verconcretizado...»

Todavia, há que ver que o apoio doMunicípio a esta pretensão do CVL é umainflexão radical, com tanto de não expli-

cada como de inesperada, nas posiçõesanteriores da Câmara Municipal.

De facto, em 2013 a Câmara Munici-pal havia reprovado a proposta de insta-lação em Lagos do Centro Náutico de AltoRendimento de Vela, que dizia «1. Esta-belecer a parceria estratégica privilegiadacom o Clube de Vela de Lagos para o de-senvolvimento deste projecto, visando asua realização e futuro funcionamento...»

Aliás, já em 2012, na discussão públi-ca do Plano de Urbanização de Lagos, aCâmara Municipal tinha recusado a pro-posta para a completa integração do por-to no Centro Urbano da cidade, com cria-ção de uma nova doca pública a sul dadoca de pesca, novas pontes para peõesentre as margens da ribeira/canal e umcircuito a pé pelo porto. Foi depois, em2013, exposta no debate público em La-gos Urbanismo e Identidade do Município.

Depois, em 2015, a Câmara Munici-pal igualmente não aceitou, na discus-são pública do PDM de Lagos, que «OPDM deverá propor a ampliação, orde-namento e equipamento do porto para

resposta, em coabitação, à pesca e acti-vidades correlativas e à náutica de cru-zeiro, lazer e turismo, investigação marí-tima, arqueologia subaquática, desportosde vela até à alta competição, natação ecanoagem de mar.»

Estas ideias, retomando o conceito doporto como factor de urbanidade da ci-dade, foram sistemática e liminarmenterecusadas, sem argumentação, pela Câ-mara Municipal.

Ora bem, relembremos então que, em2008, a Marlagos, proprietária da marina,submeteu à entidade com jurisdição so-bre o porto, à data IPTM hoje Docapes-ca, um projecto para o porto, em que fi-cava com a ocupação exclusiva de me-tade do plano de água da doca de pescae de todos os terrenos confinantes comesta a norte. Consultada, como é de Lei,a Câmara Municipal, que em 2006 anun-ciara pretender esses terrenos para im-portantes equipamentos públicos muni-cipais a realizar em 6 anos, emitiu cominusitada prontidão parecer favorável,sem restrições nem condicionantes. »»

Câmara Municipal, Marlagos, Docapesca, CVL notícias e questões

Marina, Porto de Pesca de Lagos e Avenida dos Descobrimentos

Page 13: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 13

»» Havendo conhecimento público detudo isto, foi estudada e apresentada umaproposta com solução que salvaguarda-va os interesses público e privado nadoca de pesca. Como se tratava da ocu-pação privada, pela Marlagos, de espa-ços públicos em terra e na água, cons-truídos em terrenos públicos com inves-timento público e para uso público portu-ário, então a sua justa contrapartida se-ria a construção da nova doca pública asul. Voltou a não ser aceite.

Passados 10 anos de silêncio, pergun-tada em Julho de 2018 sobre o projecto daMarlagos, a Docapesca não deu notícias.

Mas ao invés, logo em Setembro de2018, a surpresa surge de supetão, narevista de grande divulgação Tomorrow,editada em língua inglesa. Há encontrosda Docapesca com a Marlagos, com pla-nos da expansão da marina para a docade pesca. Cito no original, «HOPES TOEXPAND LAGOS MARINA... if expansionplans came to fruition following meetingsbetween Marlagos and Docapesca… wewould like to expand into the fishing har-

A abrir / Tema de capaA Opinião de José Veloso

bour...» e traduzo: «ESPERANÇA DEEXPANDIR A MARINA DE LAGOS… se oprojecto de alargamento se concretizar noprosseguimento de encontros entre a Mar-lagos e a Docapesca... gostaríamos dealargar para dentro do porto de pesca...».

Portanto, há movimentações sobrevo-ando o porto, mas com assaz turvos con-tornos em termos de transparência. ACâmara Municipal, não é inocente quan-do publica, na sua Revista Municipal, oseu aval à pretensão do CVL no porto. AMarlagos, sabe o que faz quando põe opreto no branco apenas nos circuitos dalíngua inglesa. A Docapesca, não é umainepta quando não esclarece contactoscom a Marlagos. E não é por acaso que éo presidente do CVL, conhecedor dosmeandros onde mergulham as coisas daCâmara Municipal, de que é alto funcio-nário, que dá a cara com o anúncio públi-co de uma pretensão no porto.

Estas constatações, mais a ínvia téc-nica de manter o sensível assunto doporto longe das luzes da ribalta públicalocal, autorizam todas as conjecturas

sobre a limpidez das águas onde nave-ga o futuro do porto de Lagos.

O que é anunciado, traz a roupagemde novidade. Não é, são omitidos os vas-tos antecedentes. Mas o que importa, éque o anunciado seja concretizado commentalidade leal para com a cidade deLagos, seja na Câmara Municipal, que ajurou respeitar, seja na Marlagos, que lhedeve a qualidade da sua marina. Corrigin-do procedimentos e usando transparên-cia democrática, fundamentação cultural,noção do interesse público, saber técnicoe perspectiva de futuro. Para que, final-mente, a Câmara Municipal inicie o sem-pre adiado processo democrático para re-cuperar a plenitude da superior qualidadeurbanística de cidade marítima e portuá-ria, mau grado gravemente maltratada, aolongo da sua história, por toscas e curtasvisões sem valores, ou pelos não valores,quer do pior sentido da política, quer dosinteresses especulativos.

No entanto, a dura experiência nãoadmite expectativas sérias.

José Veloso

Porto de LagosCâmara Municipal, Marlagos, Docapesca, CVL

notícias e questões

Planta da Proposta de Ordenamento da Doca de Lagos e envolvente

Page 14: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

14 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020A abrir / Tema de capa

Dura vida do PescadorUma morte (lenta) anunciada

Em Maio de 1999, a Nova Costade Oiro efectuou uma reportagema bordo da embarcação «Sonho deMenino», de Lagos. Ao leme esta-va o Délio Garrafa, nosso amigo delonga data.

Retomamos, agora, esse traba-lho jornalístico, por pensarmosque passados 21 anos mantém ac-tualidade e importância.

A Nova Costa de Oiro decidiu acom-panhar um dia de trabalho da tripulaçãode um barco de pesca de Lagos. O nos-so objectivo: aferir as condições de tra-balho dos «homens do mar». Saber oquanto custa trazer o peixe do mar até ànossa mesa, onde mais tarde o viremosa saborear.

Com a autorização concedida pelaCapitania, embarcámos no «Sonho deMenino», um dos barcos que labora no

porto de pesca de Lagos.Faltam 15 minutos para as duas da

manhã. O nosso amigo Délio Garrafa,mestre do «Sonho de Menino», apanha-nos na Avenida dos Descobrimentos eleva-nos até ao local de embarque, umpontão recentemente construído, ondeimpera a desordem de redes e de covos.É preciso cuidado para não tropeçar nes-te emaranhado e não cairmos à água,ainda antes de termos embarcado.

São duas da manhã e o Délio liga osmotores e os instrumentos de navega-ção do barco.

A noite está amena, o mar calmo. ODélio aproveita para se «meter» comigoe perguntar se não me esqueci de tomaros comprimidos para o enjoo. Não, nun-ca «chamei pelo Gregório», respondo.Secretamente, sei que algum dia haveráuma primeira vez...

Lentamente, descemos a Ribeira de

Bensafrim. Penso como é linda a cidadede Lagos, vista a esta hora, do lado dorio. Sei que, para os homens que o fa-zem todos os dias, muitas vezes commau tempo, a vista lhes poderá parecerbanal. É natural que pensem mais no tra-balho que se avizinha, se terão uma boapesca, nas suas famílias que ficaram adormir, enquanto eles, os pescadores,andam ao «sabor das vagas».

Já fora da barra, pergunto ao meu in-terlocutor como é que iremos encontraras nossas redes, na vastidão do mar, quea esta hora está negro como breu. Hojeem dia, muitas das embarcações de pes-ca já dispõem de complexos sistemas denavegação, sou esclarecido. Com a aju-da do G.P.S. (Global Position System),que indica a posição da embarcação atra-vés de um sistema de satélites, de um«computador» próprio - plotter- (no qualas nossas redes estão assinaladas), »»

O «Sonho de Menino» atracado em Lagos (fotografia do blog Embarcações de Pesca) (2003)

Page 15: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 15A abrir / Tema de capa

Dura vida do PescadorUma morte (lenta) anunciada

»» do radar e do piloto automático, emcerca de uma hora de navegação che-garemos à primeira bóia, que iremos «le-vantar» e que nos trará a rede, onde viráo pescado.

Aproveitámos a viagem (o piloto au-tomático dirigiu a embarcação...) paraconversar. Das nossas vidas, dos nos-sos amigos. Do País e inevitavelmenteda pesca.

O Délio é pescador há muitos anos.Foi sempre esta a sua profissão, que tam-bém é a de seu pai. Para ele, a formaçãoprofissional é importante. Estudou paraexercer o ofício que escolheu como sua.A ideia de que qualquer um pode ser pes-cador, que basta transmitir oralmenteanos de experiência adquirida, parece tercada vez menos lugar nos nossos dias,junto de pescadores jovens, como o nos-so interlocutor. Aliás, essa ideia foi de-fendida por vários ouvintes no Fórum da

rádio TSF, no Dia do Pescador, e quedeveria ser levada em atenção.

Nesta hora de viagem, o Délio mos-tra-me os instrumentos que equipam o«Sonho de Menino». Esta embarcaçãode madeira, com cerca de 13 metros decomprimento, foi construída há meia dú-zia de anos em Viana do Castelo e dis-põe de todos os meios de segurança exi-gidos pela Lei portuguesa. As vistoriasrigorosas e sistemáticas exercidas pelasAutoridades assim o obrigam. Quem tra-balha nesta vida não gosta de ser «abor-dado» pela Marinha de Guerra Portugue-sa e de se sujeitar a ser multado por faltade meios. Daí também, o termos embar-cado com a autorização concedida pelaCapitania, o que de outra forma poderiatrazer sérios aborrecimentos ao proprie-tário e ao mestre da embarcação.

São 3 e pouco da manhã e descobri-mos facilmente a bóia na vastidão do mar.

Maravilha da técnica, penso. Reduz-sea velocidade do barco e a bóia é metidaa bordo. Atrás dela virá a rede com opescado.Acendem-se as luzes e liga-sea música. Aqui, trabalha-se ao som daRádio Nostalgia.

A rede começa a ser alada e a pers-pectiva de se fazer uma boa pesca não égrande, pois traz pouco peixe.

A primeira captura é um choco gran-de, que «espirra» a sua tinta pelo con-vés. E, por pouco, não sou atingido.

Devagar, a rede é alada. Agora vemum linguado, depois uma bica. E algu-mas «canilhas» (de nome científico Boli-nus brandaris e que é uma espécie demolusco).

No rádio de VHF, os pescadores deoutras embarcações também se queixamda pouca pesca. «O mar está negro»,dizem. E as conversas vão invariavel-mente parar ao mesmo: a pesca é »»

Ao largo do Farol de Alfanzina, concelho de Lagoa (1999)

Page 16: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

16 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020A abrir / Tema de capa Uma morte (lenta) anunciada

»» pouca, as dificuldades são muitas.A bordo, a tripulação ainda ensona-

da, trabalha rotineiramente.Um homem encontra-se junto ao

guincho. Sem esforço aparente, a redevai entrando a bordo. Na cabina do bar-co, o Délio, atento, controla todas as ope-rações. E chama a atenção quando avistauma lagosta, para que não venha a seresmagada.

O peixe, as poucas lagostas, as san-tolas e as canilhas são desamalhadaspelo tripulante que se encontra perto doguincho. Na ré, dois homens arrumam arede que horas mais tarde virá a ser lar-gada de novo ao mar.

Estes pescadores trabalham com lu-vas de lã. As conchas das canilhas fe-rem as mãos mais calejadas e são difí-ceis de tirar da rede, sem a danificar. O«Sonho de Menino» teve de parar mui-tas vezes ao longo deste dia de traba-lho. Tirar as canilhas da rede não é tare-fa fácil. E, nesse momento, todos os tri-pulantes ajudam.

Quando está parada, a embarcaçãobalança suavemente. Agora, sente-se avaga larga de sueste, que nos embala. Efoi num desses momentos que passámos«pelas brasas», sentados nas escadasda cabine, até sermos acordados peloDélio, visivelmente bem disposto.

As horas vão passando. O sol come-ça a despontar no horizonte e o dia pro-mete vir a ser quente.

Pelas oito da manhã é tempo parauma paragem. Hora de se comer a «bu-cha» e de se conversar um pouco mais.

No rádio, sabe-se que a corveta daMarinha de Guerra Portuguesa vai visto-riar um dos barcos de pesca que se en-contra perto de nós. Mesmo a olho nu,conseguimos vê-la do sítio onde nos en-contramos. Mais ao largo, vamos avistá-la abordada durante algumas horas.

O tempo para o pequeno-almoço játerminou: é hora de voltar ao trabalho.

As horas vão passando e a rotinamantém-se. Rede para bordo, desema-lhar o peixe e as canilhas, metê-los nas

caixas. E manter o marisco vivo num bi-dão, com água corrente.

O sol já queima e ainda não fazemosideia a que horas chegaremos a Lagos.Mantemos o contacto com terra por tele-móvel (mais uma invenção preciosa, paraquem está isolado, sinto). Está tudo bemem casa. No escritório, invejam-nos a sortedeste dia. No mar, não sinto tal sorte. Ape-nas o calor. E o esforço desta tripulação.

Foram recolhidas todas as redes. Masa faina não vai parar. Pelo contrário. Va-mos deitá-las de novo ao mar, para quepossam vir a ser recolhidas no dia se-guinte. «Será que amanhã apanharei al-guma coisa nestas águas?», parece in-terrogar-se o Délio, concentrado no mo-nitor do plotter. Observo-o, preocupado,atento e imagino-o assim, nos últimos 22anos da sua vida «ao mar».

Com toda a rede lançada de novo é

tempo de voltarmos para Lagos. A fomejá aperta e o calor começa a tornar-seinsuportável.

A bordo, separa-se o peixe. Os ho-mens lavam o convés do barco e come-çam a preparar o almoço: caldeirada.

Mais uma hora de viagem e aí esta-mos nós junto à entrada do Porto de La-gos. Esta é uma entrada perigosa commau tempo, mas hoje não vai haver azar,porque o mar está calmo.

Ali na praia, à nossa vista, os verane-antes usufruem de mais um dia de praiae de mar. A banhos, entenda-se.

Uma caixa de peixe e uma de cani-lhas é o resultado de mais de 13 horasde trabalho árduo e contínuo para esteshomens. A captura foi entregue na Lotade Lagos, onde rendeu o ganha-pão des-tas cinco pessoas e das suas famílias.Nos dias e anos que se seguem »»

Dura vida do Pescador

Délio Garrafa, ao leme do «Sonho de Menino» (1999)

Page 17: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 17A abrir / Tema de capaUma morte (lenta) anunciada

Dura vida do Pescador

»» repetirão a mesma rotina. Desejandoapanhar mais peixe. Desejando que nadade mal lhes aconteça. E nós, os consu-midores que nos dirigimos ao Mercadolocal para comprarmos o peixe por si cap-turado, lá vamos falando da carestia dodia-a-dia e do quanto temos que passarpara o conseguirmos comprar.

Terminou mais um dia de trabalhopara estes homens. E se alguma liçãose pode tirar deste dia passado em suacompanhia é que com a terra à vista,muito dura é a vida do pescador.

A Nova Costa de Oiro agradece à Ca-pitania do Porto a atenção e a solicitudecom que foi concedida autorização paraembarcar a bordo do «Sonho de Menino».Agradece também a Délio Garrafa e aCarlos Silva a gentileza de nos deixarempartilhar um dia da sua vida de trabalho.

Carlos Mesquita

A tripulação recolhe as redes, na popa da embarcação (1999)

Descarga do pescado após mais de 13 horas de trabalho: duas caixas (1999)

Page 18: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

18 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Publicidade

Page 19: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 19Publicidade

Page 20: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

20 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Postais de LagosOlhares

O regresso à «normalidade»

Foto

graf

ia: M

ário

Silv

aFo

togr

afia

: Már

io S

ilva

Rua 25 de Abril (antes da segunda fase do plano de desconfinamento)

Rua da Porta de Portugal (antes e depois da segunda fase do plano de desconfinamento)

Praça Gil Eanes (antes e depois da segunda fase do plano de desconfinamento)

Page 21: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 21

Postais de Lagos Olhares

O regresso à «normalidade»

Foto

graf

ia: M

ário

Silv

a

Foto

graf

ia: M

ário

Silv

a

Foto

graf

ia: M

ário

Silv

a

Rua 25 de Abril (depois da segunda fase do plano de desconfinamento)

Praça Gil Eanes (depois da segunda fase do plano de desconfinamento)

As medidas de segurança no Mercado da Avenida dos Descobrimentos

Page 22: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

22 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

O Conde de Vale de Reise a defesa da Sra. da Luz (Lagos)

LacobrigensesGente da Nossa Terra

Uma das mais importantes, conhe-cidas e procuradas estâncias balnearesdo Concelho de Lagos é a Praia da Luz.No passado, o areal e a pequena baía,limitados pela Ponta das Ferrarias e Ro-cha Negra (a Leste) e a Ponta da Calheta(a Oeste) foi defendido por uma das maisbem estruturadas fortificações costeirasda antiga Praça de Guerra de Lagos: oForte de Nossa Senhora da Luz, cujasorigens recuam à 2.ª metade do SéculoXVII.

A importância deste ponto não pas-sou despercebida a um dos Governado-res do Reino do Algarve, Martim Afonsode Melo que, em 1644, alertou o Rei D.João IV para o perigo de eventuais de-sembarques nesta zona, tendo por essemotivo defendido a construção de umafortificação na Senhora da Luz. Porém,só alguns anos depois foi concretizadaessa obra militar.

O responsável pela construção doforte foi o 2.º Conde de Vale de Reis, D.Nuno de Mendonça (1612-1692). Estenobre pertenceu à casa do Príncipe D.Teodósio. Foi também o Alcaide-Mor deLoulé, de Faro e de Albufeira. Entre ou-tras funções e cargos, desempenhou os

de Presidente do Senado da Câmara deLisboa, do Conselho Ultramarino e foiConselheiro de Estado dos Reis D. Afon-so VI e D. Pedro II. Foi, ainda, Vedor daFazenda e fez parte da casa da PrincesaD. Isabel Luísa Josefa (filha do primeirocasamento de D. Pedro II). D. Nuno deMendonça casou com D. Luísa de Cas-tro e Moura, filha do senhor de Póvoa eMeadas e neta do 14.º senhor deAzambuja.

O 2.º Conde de Vale de Reis exerceuas funções de Governador do Reino doAlgarve em 3 ocasiões: em 1651-1653,em 1656-1660 e, finalmente, nos finaisdessa mesma Década de 60 do SéculoXVII.

Em Lagos, além de ter sido Provedorda Misericórdia nos anos de 1668 e 1669,mandou construir a escadaria do Palácioque serviu de residência aos governado-res, ordenou a reparação da casa da Mi-sericórdia, bem como a da Igreja de SãoPedro dos Marítimos e foi, igualmente, oresponsável pela construção de váriasobras defensivas na zona costeira.

Segundo o Pároco da Luz, João Fer-nandes Viana, em 1758, a Sul e perto daIgreja paroquial encontrava-se uma anti-

ga torre de vigilância costeira, onde setocava a rebate com um sino. A constru-ção estava relacionada com os desem-barques que os piratas e corsários nor-te-africanos costumavam fazer nestascostas, utilizando lanchas. Segundo estereligioso, por duas vezes os Mouros ar-rombaram as portas da igreja, a golpesde machado, e levaram a imagem dapadroeira. O próprio Rei terá pago o res-gate da imagem. De facto, se observar-mos bem a paisagem em torno da Igrejada Luz e a tentarmos imaginar sem asactuais construções habitacionais e tu-rísticas, constataremos facilmente que otemplo se encontrava bem perto do mare bastante exposto aos seus perigos. Osataques de norte-africanos nesta zonaforam muito inquietantes e frequentes.

Foi por essa razão que D. Nuno deMendonça, 2.º Conde de Vale de Reismandou construir o Forte de Nossa Se-nhora da Luz, no ano de 1670.

As respostas às usuais perguntas quepodemos colocar sobre a construçãodeste edifício militar com interesse histó-rico e patrimonial encontramo-las na Pe-dra de Armas, que ainda hoje subsiste»» sobre a entrada principal do »»

Page 23: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 23

e a defesa da Sra. da Luz (Lagos)

Lacobrigenses Gente da Nossa Terra

»» Restaurante Fortaleza da Luz. Atra-vés da sua leitura somos informados quea construção desta fortificação ocorreudurante a Regência do Príncipe D. Pe-dro (irmão de D. Afonso VI) e durante oexercício do cargo de Governador e Ca-pitão General do Reino do Algarve porparte do Conde de Vale de Reis, D. Nunode Mendonça, o qual “...mandou fazereste Forte com prezidio e artilharia dedi-cado à Sacratisima Virgem Nossa Senho-ra da Lus...para defeca de sua santa cazae de seus freguezes que no mesmo lu-gar ha muitos anos edificada lhes servede parochia para que com tão seguraprotecçao fiquem livres dos assaltos dosMouros que por aquele sitio fizerao pormuitas vezes grandes hostilidades cati-vando muitas pesoas...”. Além destesmotivos, o texto narra outros, não menosimportantes. Refere a “...atrevida barba-ridade...” que constituiu o roubo da“...imagem da mesma Sra...”. Justificanovamente a construção desta obra de-fensiva “...para que de todo ficasse de-fendido seu sacro templo estando de tododezemparado...”. O resto do discursoepigráfico está carregado de todo um sim-bolismo religioso e metafórico interessan-te. O Forte é apresentado como uma es-trela para os navegantes, uma“...invencível sentinela aos moradores daterra...”, terminando com um apelo refe-rente à “...Mai de Deos...”, no sentido de“...para daqui por diante lhe virem humil-demente trebutar venerações”. Por fim,temos a data de construção: 1670.

Importa aqui destacar um aspectoimportante, bem patente no texto da Pe-dra de Armas desta fortificação e que érevelador de um traço da personalidadede quem a mandou edificar. O grandeestudioso e compilador da História La-cobrigense que foi Manuel João PauloRocha, escrevendo acerca deste gover-nador realçou as diversas obras de pie-dade que ele protagonizou na sua pas-sagem por Lagos e pelo Reino do Algar-

O Conde de Vale de Reis

ve. Ora, a construção do Forte de NossaSenhora da Luz foi, seguramente, umadessas obras. Na referida pedra, comovimos, encontramos toda uma linguagemde grande fervor religioso e de intensapreocupação com a freguesia constituí-da pela comunidade luzense, que eviden-ciam, de facto, o carácter piedoso destegovernador: a construção da fortificaçãopara defesa da “santa casa” e dos fre-gueses da Senhora da Luz, para os pro-teger das investidas dos inimigos vindosdo mar (que capturavam pessoas locais),para servir de ponto de referência aosnavegantes, terminando com um fervo-roso apelo para que aqui se viesse pres-

tar culto à padroeira.A aldeia, os seus habitantes e a sua

igreja (com origens que recuam pelomenos ao Século XVI) passaram assima ficar mais protegidas ao abrigo dasmuralhas da sua fortaleza. Também, asembarcações que passavam pela zona,ou que aqui laboravam nas suas pesca-rias passaram a dispor de mais um localde abrigo.

Será que foi suficiente? É o que ana-lisaremos no nosso próximo texto, ondeaprofundaremos mais alguns aspetossobre esta notável fortificação costeira.

Artur Vieira de Jesus,Licenciado em História

Bibliografia:- CALLIXTO, Carlos Pereira, “História das Fortificações Marítimas da Praça de

Guerra de Lagos”, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 1992. - JESUS, Artur Vieira de, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros”, Volume I, Vila

do Bispo, Câmara Municipal de Vila do Bispo, 2013. - “Nobreza de Portugal e do Brasil”, direcção, coordenação e compilação de

Afonso Eduardo Martins Zuquete, Volume III, Lisboa, Edições Zairol, Lda., 2000. - ROCHA, Manuel João Paulo, “Monografia de Lagos”, Faro, Algarve em Foco

Editora, 1991.

Page 24: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

24 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Conhecer e visitar

(Rua) Lançarote de Freitas,um mercador de escravos

Ruas da Nossa Terra

Lançarote de Freitas nasceu e viveuem Lagos, no Século XV.

Foi cavaleiro e almoxarife de Lagos,às ordens do Infante Dom Henrique (In-fante Dom Henrique de Avis, 1.º duquede Viseu e 1.º senhor da Covilhã, nasci-do no Porto, a 4 de Março de 1394 e fa-lecido em Sagres, a 13 de Novembro de1460 e reconhecido como o impulsiona-dor do que se chama vulgarmente comoo período das descobertas).

Ao serviço do seu Príncipe (que arre-cadava para a sua riqueza pessoal partesubstancial do espólio arrecadado pelosseus vassalos, como era Lançarote deFreitas), o mercador e marinheiro portu-guês fez várias viagens a África, com ob-jectivos comerciais. Entenda-se, Lança-rote buscava riquezas, quer fossem me-

tais precisosos, quer fossem seres hu-manos. E, à falta de ouro, Lançarote de-dicou-se à escravatura e ao tráfico deseres humanos. Nos primeiros dias domês de Agosto de 1444, uma frota algar-via de 6 caravelas chega a Lagos, apósuma expedição ao golfo de Arguim (ac-tual Mauritânia). Trazia como «presa»,para si e para o seu patrão, o Infante DomHenrique (que lucrou 1/5 com essa ven-da), 235 escravos africanos.

A notícia do seu «feito» correu deboca em boca e a população local quisver o «espectáculo» do desembarque evenda da «mercadoria». Recorde-se queesta não foi a primeira vez que chega-vam escravos negros a Lagos. Mas, oslocais, nunca os tinham vindo em tãogrande número, como desta feita.

Gomes Eanes de Zurara (Cronista),relata, de forma comovente, na sua «Cró-nica da Guiné» (ver imagem na páginaseguinte), a partilha dos cativos: homense mulheres inconsoláveis, rostos lavadosem lágrimas, gritando e gemendo, ten-tando desesperadamente não ser sepa-rados dos filhos.

E é também nessa obra e nesse rela-to que se diz que os escravos não foramvendidos no edifício actualmente conhe-cido como «Mercado dos Escravos», massim num descampacado: «...tirar aquellescativos pera os levarem, segundo lhe foramandado; os quaaes, postos juntamen-te naquelle campo, era hüa maravilhosacousa de veer, ca antre elles avya alguüsde razoajda brancura, fremosos eapostos; outros menos brancos, que »»

A Rua Lançarote de Freitas, em Lagos, tem início na Rua Silva Lopes e término na Praça D’Armas

Page 25: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 25

Conhecer e visitar Ruas da Nossa Terra

(Rua) Lançarote de Freitas,um mercador de escravos

»» queryam semelhar pardos; outros tamnegros come tiopios, tam desafeiçoado,assy nas caras como nos corpos, quecasy parecia, aos homeês que osesguardavam, que vyam as imageès doimisperyo mais baixo».

Podem ser retiradas algumas ilaçõesdo que foi escrito atrás:

Uma, que o edifício de Lagos que, ac-tualmente é conhecido como «Mercadode Escravos», nunca o foi, não é, nem oserá (como já tínhamos afirmado em edi-ção anterior da Nova Costa de Oiro). Apersistência num erro histórico não faz

Excerto de Crónica da Guiné, da autoria de de Gomes Eanes de Zuraraqualquer sentido e não traz qualquer be-nefício nem à comunidade local, nem aosmuitos visitantes desta cidade algarvia,que ficam a acreditar erradamente queneste local se traficavam pessoas.

Outra, tem a ver com as personagenscitadas neste texto. O Infante Dom Hen-rique e o seu criado Lançarote Freitas,dedicavam-se a uma vil e ignóbil activi-dades, em proveito próprio: o tráfico hu-mano. Contudo, à luz do Século XV, estanão era assim considerada pela socie-dade e, logo, era tida como «normal» erespeitável. Assim, fará sentido atribuir-

se o nome de uma rua a alguém que teveuma actividade execrável, repugnante,reprovável? E, se sim, o nome de Lança-rote Freitas deveria ser substituído poralgum outro? E o do Infante Dom Henri-que, que deixou o seu irmão Fernando aapodrecer em cativeiro?

Esta ideia poderá conduzir a uma últi-ma conclusão: não seria possível a utili-zação de novas tecnologias para prestarinformações complementares quanto aoslocais visitados? Existem aplicações paratelemóvel que o fazem... Por que não im-plementar esta tecnologia, em Lagos?

Page 26: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

26 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Publicidade

Page 27: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 27Publicidade

Page 28: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

28 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

O que vem à rede social...No Facebook

Lagos no Facebook

Assinala-se a 30 de Junho «O DiaMundial das Redes Sociais», uma cria-ção do site Mashable, em 2010. Esta éuma forma de reconhecer a importânciada revolução comunicacional que decor-reu da criação de várias redes sociais uti-lizadas por milhões de pessoas de todoo Mundo.

Este dia é celebrado com a organiza-ção de encontros informais de pessoasde todo o mundo, por meios tecnológi-cos ou também presencialmente.

Presidentes de repúblicas, governos,autarquias locais e empresas reconhe-ceram a importância das redes sociais eutilizam-nas regularmente, bem como ci-dadãos comuns. Por essas plataformastrocam-se informações e por elas tam-bém se recebem críticas, sugestões, ouofertas de emprego.

Sabe-se que a rede social Facebookatingiu os 3 mil milhões de utilizadores

mensais nos seus vários serviços, emMaio, de acordo com o site Peopleware.

Lagos não é excepção a esta plata-forma comunicacional. Aqui, não só o Mu-nicípio de Lagos, bem como a Assem-bleia Municipal local e três das suas qua-tro juntas de Freguesia transmitem a in-formação que consideram ser pertinenteàs acções que desenvolvem: Notas deImprensa e comunicados, ou fotografiasdas obras e melhorias efectuadas nassuas áreas políticas e geográficas de in-tervenção. Uma vez que estas páginassão geridas por quem tem funçõesgovernativas, não apresentam situaçõesque poderão ser merecedoras de críticas,ou de reclamações.

Em Lagos, estas surgem, habitual-mente, em grupos públicos e privados doFacebook, com destaque para o «Lagos- A minha cidade». Aqui são postadas,regularmente, situações que são anóma-

las, ou anacrónicas. E muitas outras quenão só não estão relacionadas com La-gos, como se duvida que tenham qual-quer utilidade para quem as possa vir aler (para não referir as inúmeras que sãonotícias falsas, ou seja, fakenews). Nes-te grupo de Facebook, há vários perfisque são claramente falsos, o que é difícilde se compreender e aceitar.

«My Dance / My Charts», que anali-sámos em Maio, «Vamos Resistir», «La-gos - Cidade dos DescobrimentosRumo ao Futuro» e «Tertúlia de Lagos»,são outros grupos do Facebook de La-gos, cuja visita recomendamos.

Por último, refira-se que em váriosgrupos de Lagos (e não só!) desta redesocial, está bem patente a incapacidadede um número vasto de pessoas na utili-zação da língua portuguesa, aliada a umaclara iliteracia funcional, o que poderia edeveria suscitar discussão pública.

Algumas Páginas e Grupos Públicos e Privados de Lagos, na rede social Facebook

Page 29: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 29

De pequenino... Aos pais

Chegar tranquilamente acasa com o recém-nascido

Site: https://algarve.amamenta.netFacebook: Amamenta Algarvee-mail: [email protected]

Os dias que passas no hospital pare-cem uma eternidade e quando regressasa casa parece-te tudo estranho, mas por-quê?

Afinal o que mudou?Agora és mãe / pai e tens uma res-

ponsabilidade acrescida. De repente (simos 9 meses da gravidez agora parecem3 dias!) tens o teu bebé REAL nos bra-ços, e ele mexe, chora, mama, precisade ti, e tu tens que garantir que não lhefalta nada.

Pensa em ajustar rotinas e horáriose a gerir as prioridades.

1. Saída do hospitalAinda no hospital é importante tratar

de todos os papéis necessários pararegistrar o bebé e fazer a inscrição nocentro de saúde.

Se houver gabinete para registrar obebé no hospital, aproveita, será menosum assunto a tratar depois.

2. Já em casaOrganiza o espaço de modo a ser

prático.O berço encostado à tua cama pode

facilitar nas mamadas durante a noite.O quarto deve estar entre 18º e 20º.3. AmamentaçãoComo saber se o bebé mama o sufi-

ciente:- Livre-demanda (frequência e dura-

ção)

- Amamentação exclusiva- Bebé alerta quando desperto, acor-

da para mamar e procura ativamente- Geralmente calmo e relaxado duran-

te as mamadas- Bebé larga a mama espontanea-

mente ou adormece quando a mama jáestá macia

- Quantidade de urina e fezes- Aumento de peso adequado- Sucção eficaz- Amamentação não dolorosa e bebé

apresenta sucção-nutritiva boa parte damamada.

VER VIDEO:https://youtu.be/bGfqy6cwaig

Kit de sobrevivência da mãe- Garrafa de água: importante para temanteres hidratada- Almofadas extra: para estares con-fortável e bem apoiada- Snacks saudáveis, energéticos e fá-ceis de comer, fruta, frutos secos, bo-lachas.- Sacos térmicos: calor para ajudar oleite a fluir, frio para o ingurgitamentodas mamas- Contacto da tua CAMDescarrega o e-book completo aqui:https://www.subscribepage.com/5-dicas-para-chegar-a-casa-tranquilamente-com-um-recem-nascido

4. Cuidados ao bebéA hora do banho deve ser um mo-

mento tranquilo, para o bebé e para ti.Simplifica!

Testa a temperatura do banho comum termômetro, ou usa a zona do pulsopara verificares. A água deve estar a 32o.Aproveita para fazer uma massagem aobebé após o banho e fazer pele com pele.

A fralda deve ser mudada sempreque tiver cocó ou muito xixi.

Durante a noite se não houver cocó,não precisas mudar, assim vais evitardespertar muito o bebé.

O umbigo deve ser limpo apenas comsoro fisiológico. Se tiver cheiro ou aspec-to de infectado, consulta o médico.

5. Rede de apoioÉ importante rodeares-te de pessoas

que te podem ajudar em pequenas tare-fas em casa ou a fazer compras.

Se não tens a quem recorrer, podespensar em fazer compras online porexemplo e ter refeições congeladas.

Ter a tua conselheira em aleitamentomaterno por perto é importante para teapoiar na amamentação logo desde onascimento.

Ana Custódio

Page 30: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

30 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Publicidade

Page 31: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 31Publicidade

Page 32: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

32 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

O imprevisto aconteceu e...Memória

José Francisco Rosa

A Nova Costa de Oiro tem o grato pra-zer e a honra de publicar em exclusivoalgumas memórias de um lacobrigensede 96 anos, compiladas em trabalho decirculação restrita. Este é um revisitar deLagos em décadas passadas, de traqui-nices e tropelias. Mas, e acima de tudo,é um importante registo hisórico, quepode e deve servir para memória futura.

O seu autor é José Francisco Rosa,nascido em Lagos, a 21 de Fevereiro de1924 e que completou os seus estudosem Lisboa, tendo ingressado no ensinoaos 20 anos, como Mestre do Ensino Téc-nico Profissional.

O Desafio…O imprevisto aconteceu... o desafio começou, as

pedras voavam, a sombrinha furaram e...

Como era costume, sempre que a ra-paziada ouvia o grunhido dos porcos nomatadouro, era certo e sabido que havia

bexiga para fazer uma bola.Então, vá de correr, uns quatro rapa-

zinhos, direitinhos ao quartel da Guarda

Nacional Republicana, pedindo o filho doplantão para que este os deixasse en-trar, pois iam brincar com o filho do »»

Page 33: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 33

O imprevisto aconteceu e... Memória

O Desafio…O imprevisto aconteceu... o desafio começou, as

pedras voavam, a sombrinha furaram e...

»» sargento, outro amigo das brincadeiras.Como já eram habituais estes pedi-

dos, o plantão deixou-os entrar e lá fo-ram eles correndo para o interior do quar-tel. Depois de se juntarem ao filho dosargento, subiram para uma varanda so-branceira ao matadouro.

Aquela varanda era um miradouro e,depois de terem presenciado o que sepassava no recinto inferior, um deles tevea lembrança de fazer um desafio aosdemais: quem seria capaz de atirar umapedra mais longe?

E porquê este desafio? Simplesmen-te por que a largura do quintal era enor-me, havendo um muro que o separavade outra propriedade, onde estava insta-lada uma moagem.

Portanto, havia uma enorme distân-cia entre a varanda e esse muro, e o de-safio consistia precisamente em saberqual deles arremessando pedras conse-guiria ultrapassar o muro.

E o desafio começou: agora atiro eu,agora atiras tu e as pedras voavam, quaispassarinhos tentando ultrapassar o muroe, quem sabe, atingirem a moagem?... Eé no meio deste entusiasmo que o im-previsto aconteceu... Encontrava-se de-bruçada sobre o muro que também davapara a Rua da Senhora da Glória, a filhado proprietário da moagem, abrigada dosol por uma sombrinha, namorando comum sargento do exército. Ora, uma daspedras, atirada com toda a genica, atin-giu a sombrinha, furando-a, e, quemsabe, também magoando a pequena!...

Reparando que tinham feito asneira,trataram de fugir, indo o filho do coman-dante de posto para os seus aposentose os outros rapazes direitinhos para asaída do quartel.

Fugiram rápidos, mas não tão rápi-dos como o namorado da pequena, quenão só lhes barrou a saída do quartel,como também apresentou queixa ao

plantão. Este, imediatamente, mandou-os sentar num banco corrido que se en-contrava na sala de entrada e encostadoà parede, indo de imediato dar conheci-mento do sucedido ao seu comandante.

Este ficou muito zangado e queriasaber quem tinha sido o autor da pedra-da, mas todos negavam. «Eu não fui»,«Eu também não!». O filho do plantão atéchorava e dali não saíam até que o sar-gento mandou chamar o seu filho, ao qualaplicou algumas reguadas, ficando decastigo e proibido de brincar.

Os outros foram mandados embora,depois de terem sido repreendidos, e láabalaram, correndo, direitinhos ao largodo moinho, para mais um joguinho.

Os dois sargentos, um o comandan-te do posto, o outro, o namorado da jo-vem e o plantão que estava de serviçoao quartel, lá ficaram conversando...

José Francisco Rosa(Memória - ano 1933)

Page 34: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

34 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Uma bela «sardinhada»!Gastronomias Clube das cosmiquices

Chegados a Junho e às celebraçõesdos Santos Populares, caracóis e sardi-nhas estão de volta e em «força» à mesados portugueses.

«Petiscos» que associamos ao Ve-rão, que se inicia no dia 20 deste mês,com o seu Solstício, esta é a altura doano em que mais consumimos caracóis,singelamente cozidos apenas com alhos,orégãos e o sal, que apenas se usa apósa morte destes moluscos gastrópodes.

E, inevitavelmente, sardinhas, muitas,frescas, gordas, saborosas, convenien-te e cuidadosamente assadas em lumede carvão, ou de madeira. E serão estasa vir, neste mês, à mesa do nosso «Clu-be das Cosmiquices».

Conhecemos e frequentamos trêsrestaurantes, em Lagos, que as prepa-ram da forma que mais apreciamos. Oque não quer dizer que outros não façam,também. Se os omitimos, por agora, épor desconhecimento nosso.

A Nova Costa de Oiro costuma «sar-dinhar» na «Barrigada» (no Porto de Pes-ca de Lagos), no restaurante do João Fi-

alho, a São João (na Urbanização Mari-nasol) e no «Escondidinho», do Gilberto(no Beco do Cemitério). E gostamos...

Quando grelhamos (ou assamos,como se costuma dizer...) sardinhas emcasa, há alguns aspectos a ter em consi-deração. O primeiro, prende-se, desdelogo, com a compra do pescado. É es-sencial que as sardinhas estejam e se-jam frescas.

Há métodos expeditos para se aferira frescura do peixe. Um deles, poderáser não o comprar à segunda-feira, umavez que as lotas não funcionam ao do-mingo. Daí, que seja provável que o pei-xe vendido na segunda-feira seja o re-manescente de vendas não efectuadasno sábado anterior e que tenha sido con-servado até então no frio.

Outro, menos seguro, é passar pelomercado todos os dias, e ver quem ven-de o quê ao longo dos dias...

Mas, o mais apropriado é verificarmoso pescado e vermos se este tem os olhosvermelhos e / ou a pele seca. Se «per-deu» as escamas e se o seu corpo está

firme e sem sinais de ter sido «compri-mido» pelo peso do que fica por cima.

Outro aspecto importante: a sardinhanão precisa de muito tempo de sal. 20 a30 minutos antes ir para o calor do car-vão ou lenha são mais do suficientes.

E, o terceiro: é importante usarmoscarvão e madeira de qualidade. Quantoa esta última, recomendamos os ramossecos das videiras. Por outro lado, o lumenão pode estar demasiamente quente, oufrio. Importa saber controlá-lo... Por últi-mo: quando está na grelha não se devevirar e revirar o peixe. É deixá-lo estar.

Somos da opinião que, para comer-mos sardinhas, não precisamos de talhe-res e devemos usar apenas os dedos.

Acompanhamos com batata cozidacom a pele e salada de pimento, tomate,pepino e cebola, regada com azeite, vi-nagre, sal e orégãos. Também precisa-mos de uma boa fatia de pão, na qual asardinha deixará a sua gordura e quequando comido marcará o fim «oficial»do repasto. E vinho tinto, QB. E amigos!

Epicuro

Page 35: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 35Leituras

«Submergir em pedaçosde Papel», de Hugo Palma

Foi publicado recentemente o livro«Submergir em Pedaços de Papel», daautoria de Hugo Palma.

Nascido em 1982, em Lisboa, HugoSilva de Oliveira Palma é Mestrado emPsicologia Clínica (ISPA) com formaçãoem psicodiagnóstico (Hospital Psiquiátri-co Miguel Bombarda), curso Nível A daSociedade de Psicoterapia Interpessoal(STIP) e psicoterapia individual (Socie-dade de Psicoterapias Breves).

Com o Curso de Escrita Criativa,Hugo Palma é colaborador do jornal Cor-reio de Lagos e da revista Nova Costade Oiro, não só através dos seus textos,como também das suas fotografias, ou-tra das suas paixões.

Este livro é o resultado de uma com-pilação de todos os artigos publicados noJornal Correio de Lagos e mais 6 inédi-tos. «Escrevi onde o céu e o mar se con-fundem e onde a natureza se mostra tãosingularmente bela e possante ao mes-mo tempo.

Os múltiplos encantos desta região, assuas gentes, as praias e os lugares ondea modernidade se encontra com a tradi-ção, revelam um Algarve culturalmenterico, genuíno e aberto à descoberta.

Foi desta região que se partiu em bus-ca de mais mundo, com a vontade hu-mana a desafiar e a transpor as frontei-

ras naturais da rocha, do mar, do desco-nhecido».

O autor enfatiza o valor real da suaescrita como um acto de reivindicação daliberdade de expressão e meio de parti-lha das suas vivências.

Procura, igualmente, divulgar o gos-to pela leitura e pela escrita enquantoforma de propagação de pensamentos esentimentos, fazendo-o com o coraçãoenraizado em Lagos.

Nos últimos tempos, não temos tidoa grata satisfação de desfrutar da suacompanhia e amizade. Do seu riso fran-co e sincero. Nem da sua opinião hones-ta, franca, directa e sincera.

Até ao forte abraço de reecontro queansiamos, restam-nas conversas ao te-

lefone e troca de correspondência. Mas...falta o abraço fraterno, se falta!

Este livro e as suas outras obras po-dem ser adquiridos nos linksda www.euedito.com, One Drop BookStore Author e Amazon.es.

Esta obra também está disponível em«Livros da Ria Formosa», na Avenida dosDescobrimentos, em Lagos, ou atravésdo telefone 933 462 601 ou das seguin-tes ligações:

Facebook : one drop book store -hugo palma

E-Mail: [email protected] t t p s : / / w w w . e u e d i t o . c o m /

HugoPalmasonharacordadohttps://www.amazon.es/Hugo-…/e/

B085Y6M98L/ref=ntt_dp_epwbk_0

Hugo Palma

Capa do livro «Submergir em Pedaços de Papel»

Page 36: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

36 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020Um conto

Zé da Sabina

Nesta edição da Nova Costa deOiro, em grande parte dedicada à pes-ca e aos pescadores, trazemos umconto, por Cristina Taquelim.

«Hoje, a história que trago para voscontar neste número, sobre pescadores,é uma história que imagino passar-se emLagos.

Conta-se que desde que o mundo émundo aquilo era lugar dos pescadores.Primeiro braço da Ria, depois o molhe alogo a imensa que se estendia por quiló-metros e quilómetros de dunas e areal.

Nunca percebi por que chamavamàquela praia, Meia-Praia.

Uma meia praia tão grande, à dimen-são da vontade dos homens que têm tei-mavam ali em fazer a sua vida, grandecomo o desembaraço com que faziam assuas cabanas e amanhavam as redes,grande como os dias tecidos entre ajogatina, o vinho e o mar

Era também ali, em cima das redes,à beira da água, ou na sombra dos botesque descansavam sobre a areia, que oshomens amavam as mulheres.

O sol, o sal, a areia, a água, entra-nhavam-se-lhes na pele, nos modos e nafala. Era também sobre as redes que asmulheres pariam as crianças e ainda maltinham abalado as dores, já as maganas

punham as cestas à cabeça e saracote-ando as ancas partiam pelas ruas da ci-dade, elevando os gestos e as vozes atése confundirem com o som gaivotas.«Condelipa grada e fresquinha»…

Rua em rua, de porta em porta, delata em lata, se trocava o pão pelo suor,tostão a tostão se media a esperança,numa lata vazia de sardinha.

Zé da Sabina nasceu nesse mundo,nesse lugar, parido em cima das redesde pesca, entre as dores cruzadas dequem espera que o filho nasça são, e aaflição de não saber a sorte do bote, quenaquela noite de Inverno nunca maischegava à praia. Nascera nessa noite desueste, com o cordão enrolado em voltado pescoço… sete voltas. Como seteeram as ondas que se sucediam uma auma, até o mar ficar raso como um espe-lho. Como sete eram os círculos dese-nhados pelas gaivotas, antes de desce-rem abruptamente sobre as águas.

O menino era estranho, disseram emsegredo as mulheres que assistiram aoparto da criança. «O moço não é bom!»,disse o avô materno, um homem de pou-cas falas, que sempre que abria a bocaera para anunciar desgraça.

Mais tarde, já recomposta, a mãe ob-servara a criança atentamente: era toda

perfeitinha, as mãos, os pezinhos, os de-dinhos mesmo à justa. Mas a dúvida per-sistia-lhe na cabeça: havia qualquer coi-sa a espreitar por trás do olhar vago dorecém-nascido, qualquer coisa de assus-tador, qualquer coisa de trágico.

Preocupada com o que a sorte reser-varia ao menino, assim que pôde, a mu-lher tratou logo de procurar em segredoos serviços de Perpétua, a ruiva, mulherconhecedora de artes raras e graças àsquais, diziam, já se tinha amantizado commais de metade dos varões da Meia-Praia.

Mal entrou na casa, Perpétua soubeao que ela vinha e, quando olhou bemnos olhos da criança, benzeu-se. E, en-tre rezas, foi tirando a roupinha do meni-no e procurando os sinais.

Durante horas e horas, benzeu e re-zou e, por fim, devolveu a criança à mãecom um ar desolador. «O menino éperfeitinho de corpo, filha. Mas traz umacruz com ele que só o tempo vai revelar».

Tinha razão. O menino cresceu, mascresceu alheio ao mundo, alheio à che-gada dos botes, à correria da moçadapara ver as redes pejadas de peixe, oude nada. [...]».

Este conto pode ser escutado, naíntegra aqui:

https://youtu.be/mD8geI1xUts

Page 37: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 37

A nossa música no SPOTIFYMúsicas

01 – Order Of The Day – General Dwight D. Eisenhower02 – Berlin Or Bust – Sam Browne and the Six Swingers03 – On The Sunny Side Of The Street – Tommy Dorsey04 – General Montgomery – Bernard Montgomery05 – Milkman, Keep Those Bottle Quiet – The Squadronaires06 – McNamara’s Band – Gracie Fields07 – Bless You – The Inkspots08 – Coded French Resistance Broadcast – Anónimos09 – Opus One – Tommy Dorsey and his Orchestra10 – In The Mood – Glenn Miller11 – The Trolley Song – Judy Garland12 – I’ll Walk Alone – Ambrose and his Orchestra13 – News Annoucement – BBC (British Broadcasting Corporation)14 – The Dreamer – Henry Hall and his Orchestra15 – You Is Or Is You Ain’t My Baby – The Skyrockets16 – There Goes That Song Again – Adelaide Hall17 – ‘Till The End Of Time – Perry Como18 – Derby Day Afloat – Chester Wilmot19 – Discurso de Winston Churchill – Winston Churchill20 – The Grand Old Man – Max Miller21 – It Might as Well Be Spring – Dick Haymes22 – Don’t Fence Me In – Bing Crosby23 – Mairzy Doats and Dozy Doats – Caroll Gibbons24 – There’s always Be an England – Sam Browne25 – They're Either Too Young Or Too Old – Jymmy Dorsey26 – The Victoria Polka – Glenn Miller27 – Lili Marlene – Marlene Dietrich28 – White Cliffs of Dover – Vera Lynn29 – Do filme «Casablanca» – A Marselhesa30 – We’ll Meet Again – Vera Lynn31 – The International – Billy Bragg

A playlist da Nova Costa de OiroJunho de 2020

No dia 06 de Junho de 1944, um con-tigente de 155 mil soldados dos exércitosdos Estados Unidos da América, da Grã-Bretanha e do Canadá, desembarcou emcinco praias da Normandia, nas costas doCanal da Mancha. Desse local, partirampara a libertação da Europa da subjuga-ção da Alemanha nazi, que se tinha inici-ado a 01 de Setembro de 1939.

A operação de invasão da Normandia(o Dia D), a que foi dada o nome de códi-go «Operação Overlord», iniciou-se coma largada de pára-quedistas na noite an-terior e com bombardeamentos aéreos enavais. Seguiu-se um desembarque anfí-bio, apoiado pelos cerca de dez mil avi-ões que apoiaram as forças terrestres.

A nossa Playlist deste mês de Junhopretende recordar os milhares que estive-ram no desembarque da Normandia, atra-vés da música que foi difundida nesse dia,pela British Broadcasting Corporation(BBC). Para tal, consultámos os arquivosdessa emissora Britânica e reproduzimosa lista de 06 de Junho de 1944.

Pelo meio, acrescentámos as vozesde militares e de políticos da época e tam-bém do filme «Casablanca», de 1942.

Aqui: https://open.spotify.com/playlist/0NpFe2eRqVDQXU9o3NEIVx?si=kc2EJ_o-Q1y-r_EPWsodnw

Page 38: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

38 - Nova Costa de Oiro - Junho de 2020

Em Julhona Nova Costa de Oiro

Na próxima edição....

Publicidade

Celebra-se a 1 de Julho «O Dia Mun-dial das Bibliotecas».

Lê-se no Manifesto da InternationalFederation of Library Associations andInstitutions (IFLA) e da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura (UNESCO) que «A liberda-de, a prosperidade e o desenvolvimentoda sociedade e dos indivíduos são valo-res humanos fundamentais. Só serão atin-gidos quando os cidadãos estiverem naposse da informação que lhes permitaexercer os seus direitos democráticos eter um papel activo na sociedade [...]. Abiblioteca pública – porta de acesso localao conhecimento – fornece as condiçõesbásicas para uma aprendizagem contínua,para uma tomada de decisão independen-te e para o desenvolvimento cultural dosindivíduos e dos grupos sociais.

Este Manifesto proclama a confiançaque a UNESCO deposita na BibliotecaPública, enquanto força viva para a edu-cação, a cultura e a informação, e comoagente essencial para a promoção da paze do bem-estar espiritual nas mentes doshomens e das mulheres».

Razões de sobra para darmos a co-nhecer a Biblioteca Pública de Lagos.

Page 39: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos

Nova Costa de Oiro - Junho de 2020 - 39Publicidade

Page 40: NCO 44 - 01 de Junho de 2020 · intervenção por parte dos seus respon-sáveis. O desassoreamento da entrada da barra, na Ribeira de Bensafrim e a cria-ção de uma zona de arrumos