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111 Revista de Arqueologia, 19: 111-123, 2006 Artigo Resumo No século XX, percebemos basicamente três linhas mestras de interpretação da relação Homem versus Ambiente: o ambiente como condicionador ou como cenário das ações humanas, a interação entre homem e natureza (necessitando métodos de mensuração dos níveis de adaptação) e o homem construindo, economicamente, socialmente, simbolicamente, o seu espaço. Neste ensaio identifico três tipos de narrativas das ações humanas na ocupação das terras altas do sul do Brasil, a partir de três concepções da arqueologia espacial, utilizada como recurso teórico de médio alcance, na interpretação dos dados obtidos nas pesquisas sobre as estruturas semi- subterrâneas do planalto das araucárias. Palavras-chaves: arqueologia espacial, estruturas semi-subterrâneas, planalto sul brasileiro. Abstract In the 20 th century we could find out basically three master lines to interpret the relationship Man versus Environment: the environment as a conditioner or a scenery for human actions; the interaction between man and nature (which needs measurement methods of adaptation levels); and the man building his own space in an economical, social, and symbolical way. I identify in this essay three kinds of narratives of human actions in the occupation of the highland in Southern Brazil, from three conceptions of * Núcleo de Pesquisa Arqueológica – NUPArq - Departamento de História - IFCH Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Avenida Bento Gonçalves, 9500 Porto Alegre – RS [email protected] Silvia Moehlecke Copé * História e aplicação da arqueologia espacial como teoria de médio alcance: o caso das estruturas semi-subterrâneas do planalto Sul-brasileiro Narrativas espaciais das ações humanas

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111Revista de Arqueologia, 19: 111-123, 2006

Artigo

ResumoNo século XX, percebemos basicamente trêslinhas mestras de interpretação da relaçãoHomem versus Ambiente: o ambiente comocondicionador ou como cenário das açõeshumanas, a interação entre homem enatureza (necessitando métodos demensuração dos níveis de adaptação) e ohomem construindo, economicamente,socialmente, simbolicamente, o seu espaço.Neste ensaio identifico três tipos denarrativas das ações humanas na ocupaçãodas terras altas do sul do Brasil, a partir detrês concepções da arqueologia espacial,utilizada como recurso teórico de médioalcance, na interpretação dos dados obtidosnas pesquisas sobre as estruturas semi-subterrâneas do planalto das araucárias.

Palavras-chaves: arqueologia espacial,estruturas semi-subterrâneas, planalto sulbrasileiro.

AbstractIn the 20th century we could find out basicallythree master lines to interpret therelationship Man versus Environment: theenvironment as a conditioner or a sceneryfor human actions; the interaction betweenman and nature (which needs measurementmethods of adaptation levels); and the manbuilding his own space in an economical,social, and symbolical way. I identify in thisessay three kinds of narratives of humanactions in the occupation of the highland inSouthern Brazil, from three conceptions of

* Núcleo de Pesquisa Arqueológica – NUPArq - Departamento de História - IFCHUniversidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGSAvenida Bento Gonçalves, 9500 Porto Alegre – [email protected]

Silvia Moehlecke Copé *

História e aplicação da arqueologia espacial comoteoria de médio alcance: o caso das estruturassemi-subterrâneas do planalto Sul-brasileiro

Narrativas espaciais das ações humanas

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spatial archaeology, which is used as atheoretical medium-range resource in theinterpretation of the data obtained from thestudies on the semi-underground structuresin the region of the Araucaria Plateau.

Key words: spatial archaeology, semi-underground structures (pithouses),Araucaria Plateau.

IntroduçãoA reconstituição arqueológica do

passado humano possui um fortecomponente narrativo, assim como, atrajetória da evolução humana. A arqueologiadepara-se com uma sucessão de eventosocorridos em determinados espaços(evidências do uso do espaço físico,evidências de organização econômica,social, política, simbólica) e a mera descriçãodesta seqüência e o estabelecimento derelações tende a adquirir uma forma narrativa(Landau apud Lewin, 1999:11). Enquantoestes eventos, principalmente os ligados àespacialidade e à temporalidade, sempreestão presentes, a divergência entre osarqueólogos está no grau de importânciadada às inter-relações que, por sua vez,estão diretamente relacionadas à abordagemteórica de cada um.

Dentro desta perspectiva, identifiqueitrês tipos de narrativas das ações humanaspretéritas na literatura das terras altas dosul do Brasil, com relação aos itens espaço1

(ambiente físico) e arquitetura, a partir de1960, quando Alan Bryan identificouestruturas semi-subterrâneas no planaltogaúcho.

Primeira narrativaO primeiro tipo, que surge em artigos

das décadas de 1960 e 1970 e ainda hojepresente na literatura arqueológica brasileira,narra a forma como os grupos humanosadaptaram-se ao meio ambiente do planalto,construindo casas subterrâneas e, em algunscasos, galerias que as ligavam entre si para

fugir aos rigores das baixas temperaturasinvernais. O ambiente do planalto é umcenário caracterizado pelos terrenoselevados, íngremes e frios cobertura vegetal(também adaptada às baixas temperaturas),de campos e matas mistas com pinheiro-do-paraná (Araucaria augustifolia) (Schmitz,1991:82, Schmitz & Becker, 1991). A áreade extensão da mata de araucária e doscampos de cima da serra correspondeaproximadamente à área onde se localizamos sítios arqueológicos compostos deconjuntos de casas subterrâneas. Estasestruturas escavadas no solo constituem-se adequadas respostas aos desafiosimpostos pelo meio, uma proteção às baixastemperaturas, aos ventos frios que asacompanham e as eventuais quedas de neve(La Salvia, 1983, Kern, 1985). As dataçõesmais antigas de conjuntos de casassubterrâneas remontam ao século II danossa era e, alguns séculos depois, osprodutores da mesma cerâmica, mas semas típicas casas subterrâneas, aparecem emaltitudes menores, em matas mais densas,nos vales dos rios, na encosta do planalto eaté no litoral (Schmitz, 2002: 23). A grandequantidade de conjuntos de casassubterrâneas foi interpretada como produtonão da densidade demográfica, mas sim, darápida deterioração do material construtivoutilizado, o que levaria à necessidade derefazer as casas estacionais e conduziria auma fictícia configuração de aldeias.

Quanto ao padrão de subsistência,a natureza construtiva de casassubterrâneas indica uma relativasedentarização, cuja base seria uma coletasistemática e técnicas de conservação dopinhão, complementada com a caçaabundante nos bosques de pinheiros. Ou,ainda, implicaria na presença de práticasagrícolas associadas à caça e coleta(Schmitz & Brochado, 1972: 26). Como oambiente do planalto é considerado pobrepara suprir as necessidades alimentaresanuais dos grupos residentes e,como a cerâmica presente nas casas

1 O uso dos termos espaço e espacialidade em arqueologia nos reportam tanto ao estudo dainserção e interação do homem no espaço (este compreendido principalmente como ambientefísico), quanto ao estudo da repartição dos vestígios materiais sobre grandes áreas geográficas.

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subterrâneas é encontrada em outros tiposde sítios e outros locais, como no litoral,pressupõe a exploração sazonal da regiãoe/ou uma economia vertical altamentevulnerável às oscilações climáticas.

Esta narrativa é produto da adoçãoda perspectiva teórica normativa2, tambémconhecida como histórica cultural ouparticularista histórica e resultado dainfluência, na arqueologia americana dasegunda metade do século XIX e da viradado XX, das idéias do antropólogo Franz Boasque percebendo a cultura como umfenômeno independente do ambiente, dabiologia e da motivação individual, levou estaabordagem a ser chamada de determinismocultural combinado com um possibilitismoambiental. Esta denominação tem raízes nainfluência que a obra Antropogeografia –fundamentos de aplicação da Geografia àHistória (1882) exerceu sobre Boas eprincipalmente seus seguidores. Nela,Friedrich Ratzel conclui que o homem viviasujeito às leis da natureza e suas idéiasdeterministas levaram a radicalizações, comoalguns discípulos nos Estados Unidos, queafirmavam “o homem é um produto do meio”.As viagens de Ratzel o levaram a reafirmara importância dos conceitos de migração edifusão para explicar as similaridades culturaisentre as mais diferentes sociedades.

A relação entre o homem e anatureza é pauta de reflexões desde temposimemoriais. No século XIX, quando Huxleyconclui que os seres humanos são parte danatureza e não aparte da natureza há umarevolução na filosofia ocidental e cria-seanecessidade de explicar porque o homem,como ser integrante da natureza, é tãoparticular (Lewin, 1999: 3).

Boas propôs o uso do métodohistórico (indutivo), em contrapartida aométodo comparativo (dedutivo) tão caro aosevolucionistas do século XIX, para estudaro fenômeno dinâmico da mudança cultural,cujas causas externas estão nos ambientes

diferenciados e as internas nas condiçõesfisiológicas, psicológicas e sociais quemodificam as idéias elementares (Boas,1920). Enquanto os evolucionistasprivilegiavam, na comparação, assemelhanças entre os traços culturais dediferentes sociedades para criar os estágiosde desenvolvimento da humanidade, aproposta do método histórico era obter umavisão mais realista na descoberta deuniformidades no processo cultural atravésda busca da origem histórica de elementos/traços culturais específicos e do modo peloqual eles se afirmavam em várias culturas.Os traços culturais, considerados a menorunidade significativa da cultura passível deisolamento por observação no tempo e noespaço, inter-relacionados, se agrupam emcomplexo de traços. As perspectivashistóricas da cultura envolviam invenção edifusão, resultando em uma distribuição detraços culturais, não só num momento dado,mas também em áreas de cultura bemdelimitadas (Boas, 1920). Somado a estes,o conceito de área cultural desenvolvido porMason (1895) e Wissler (1914) tornou-se oinstrumento básico para construções desínteses de áreas. Áreas culturais eramdefinidas como unidades geográficascaracterizadas por povos com línguas,padrões de subsistência e cultura material,similares. Dentro das áreas culturais,semelhanças estilísticas eram usadas paraestabelecer “tradições” locais através dotempo e “horizontes” regionais através doespaço. Exemplos que incluem síntesesregionais encontram-se em Kidder (1924),Spinden (1928), Strong (1935) e Ritchie(1938 apud Earle & Preucel, 1987: 503).

O pensamento historicista, segundoSoja, estava baseado em uma visãodinâmica, desenvolvimentista, dialética eprocessual do tempo e da história, porém, avisão do espaço e geografia era justamenteoposta, possuía uma forma nãoproblematizada, fixa, inanimada, estática, a

2 A denominação desta abordagem teórica deriva do conceito de cultura adotado por FranzBoas, onde cultura seria um padrão de normas mantido implicitamente pelos membros dacultura e obtida através da tradição e difusão (Klejn, 1973), e particularismo histórico e históriacultural derivam do método proposto de estudo de sistemas culturais particulares e de que todoo fenômeno é resultado de acontecimentos históricos.

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sua função explicativa ou de variável causalno desenvolvimento da sociedade humanafoi reduzida a um ambiente físico externo eamplamente inerte (Soja apud Blake, 2002:141-2).

Durante o período em que aarqueologia americana está envolvida pelodeterminismo cultural de Boas e mais próximadas ciências humanas como a etnologia eantropologia, a arqueologia anglo-saxônicaestava mais próxima das ciências naturais eexatas, também influenciadas pelodeterminismo ambiental de Raztel.Arqueólogos britânicos como Crawford(1912), Fleure e Whitehouse (1916) usaramas técnicas dos geógrafos, como mapas dedistribuição de artefatos ou de sítios, comouma metodologia padrão de descrição deculturas passadas. Nos anos 1920, Cyril Fox(1922) acrescentou um componenteecológico a esta abordagem geográficaatravés da combinação de mapas dedistribuição arqueológica e ambiental para ainterpretação de mudanças regionais deassentamento através do tempo. Ele mostrouque os padrões de assentamentos pré-históricos estão relacionados, não com avegetação moderna, mas pré-histórica.Woolridge e Linton (1933) e Grimes (1945)expandiram esta abordagem considerandooutros fatores ecológicos como, por exemplo,o solo (Earle & Preucel, 1987: 502).

A explicação para o uso deestruturas subterrâneas como forma deadaptação ao ambiente é comum naliteratura mundial. Na Eurásia, há vários casosestudados principalmente nas estepesrussas. Nesta narrativa, o espaçocorrespondente ao ambiente físico, éelemento condicionador ou, ainda,determinante, e funciona associado àanalogia histórica direta na América, comoteoria de médio alcance, ou seja, forneceos argumentos explicativos da associaçãodos elementos espaço e arquitetura às casassubterrâneas.

Apesar de esta narrativa privilegiardescrições minuciosas da arquitetura dasestruturas subterrâneas, a discussão sobrefunção não é aprofundada visto que utilizamsem questionamentos o termo “casas

subterrâneas” e, em decorrênciado uso da analogia etnográfica direta comos grupos Kaingang e Xogleng, os montículosassociados aos sítios foram interpretadoscomo resultantes de sepultamentos, mesmoque as escavações não tenham evidenciadoisto.

Segunda narrativaVemos que, enquanto a abordagem

do particularismo histórico adotava conceitoscomo área cultural, tradição histórica,horizonte e difusão, a critica funcionalistaantecipava o movimento intelectual dos anos1960. A maior crítica à abordagem de áreasculturais foi feita por Walter W. Taylor (1948)que argumentou que estes estudos trazempoucas informações sobre questões comourbanismo, assentamento, especializaçãoartística e dieta. Significativamente, eletambém colocou a importância do raciocíniodedutivo e o teste de hipóteses napesquisa arqueológica, preconizando oadvento do método científico. Durante osanos 1950, a arqueologia preocupa-se comas regularidades entre culturasrelacionadas com processos funcionais eevolucionários obtidos da evolução culturaldos antropólogos Julian Steward (1955) eLeslie White (1959).Especialmentesignificativo foi o desenvolvimento dosestudos de padrões de assentamento,examinando as adaptações regionais daspopulações pré-históricas, como a análisede Gordon Willey (1953) sobre os sítiosarqueológicos do vale do Virú, no Peru(Klejn, 1973).

A influência destes antropólogossociais, a volta aos conceitosevolucionistas nos últimos anos da décadade 1950, assim como os avanços dasciências exatas e naturais aplicadas àsciências humanas, propiciou a eclosão domovimento da “nova arqueologia”. A “novaarqueologia” advoga o positivismo lógicocomo o guia da pesquisa filosófica, aadoção do raciocínio dedutivo, a formaçãoteórica, a construção de modelos e o testede hipóteses para obtenção de leis geraisdo comportamento humano. Centrando-se mais em processo cultural em detrimento

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da história cultural, cunhou a denominaçãocorrente de arqueologia processual e, seusadeptos, de processualistas.

A “nova arqueologia” tem suasorigens no texto Archaeology as Anthopologyde Lewis Binford (1962), onde ele ataca ateoria da cultura normativa enfatizando anatureza multivariada do processo cultural.Cultura não era entendida como uma sériede normas implicitamente adotadas por umgrupo, mas como o resultadocomportamental da adaptação da populaçãoa condições ambientais específicas. Toda aexplicação necessariamente começava como relacionamento das observaçõesarqueológicas com o processo através daconstrução e teste de hipóteses sobre ocomportamento humano do passado.

A “nova arqueologia” foi um produtodos avanços, após a segunda grande guerra,nos métodos de quantificação. Nos anos1960/1970, a difusão dos computadores nasuniversidades facilitou o desenvolvimentodas matemáticas aplicadas; a estatísticaclássica forneceu instrumentos privilegiados,através da teoria dos testes e amostragens,às abordagens inferenciais da novaarqueologia e dos grandes projetosamericanos e sofreu uma revolução ao seabrir às estatísticas multidimensionais comoa famosa análise dos fatores (factor analysis)de Binford (1966), a análise de proximidades(multidimensional scaling) de Doran e Hodson(1966), a técnica da classificaçãoautomática (cluster analysis) de Hodson,Sneath e Doran (1966); e a utilização maiscorrente de programas estatísticos (OSIRIS,SPSS, BMDP) para tratamentos quantitativosvariados (Djindjian, 1991: 1-3). Acolaboração dos matemáticos aplicados edos estatísticos ao exercício da arqueologiadeu origem a uma intensa atividade depesquisa que não se ateve aos tratamentosquantitativos, mas também, ao registro detodos os dados arqueológicos (banco dedados) para tratamentos mais variados comosistemas documentais e gestão deescavações. O livro Mathematics andComputers in Archaeology de Doran eHodson (1975) sintetizam o estado de artenestes domínios de aplicações.

A adoção do positivismo conferiu umarespeitabilidade científica para a arqueologiae resultou numa rápida especializaçãosubdisciplinar: a arqueologia espacial queocupou uma posição central porque tratourelacionamentos em todos os níveis: osestudos intra-sítios (mapas de distribuiçãoespacial da cultura material), os estudosintersítios (padrões de assentamento), osestudos regionais e contatos culturais(sistemas de assentamento).

A arqueologia espacial desenvolveu-se na Inglaterra, principalmente na escalaregional (intersítios), sob o estímulo dageografia quantitativa. Os geógrafospioneiros na análise espacial (Christaller(1966), Lösch (1940), Isard (1956) para omodelo do lugar central; Thünen (1966),Weber (1929) para os modelos de localizaçãodas atividades; Reilly (1931) e Carrothers(1956) para os modelos de gravidade; Zipf(1949) para o modelo de proporção/tamanho; Sauer (1952) e Hagerstrand(1967) para os modelos de difusão) nãopossuíam contato com a arqueologia. Ogrande impulso da geografia quantitativa édado pela publicação do livro LocationalAnalysis in Human Geography de Haggett(1965) e, em 1967, de Models of Geographyde Chorley e Haggett que influenciaram aescola inglesa da nova arqueologia, lideradapor David Clarke, autor de AnalyticalArchaeology (1968), Models in Archaeology(1972) e Spatial Archaeology (1977). Clarkeadvogou o uso da teoria dos sistemas naarqueologia. A cultura era vista como umsistema comportamental composta desubsistemas inter-relacionados, sendo cadaum passível de análise. O emprego da teoriados sistemas conduziu a consideraçõesecológicas e à adoção do conceito deecossistema. A primeira pesquisaarqueológica que utiliza a visão ecossistêmicacomo modelo básico para obter um modeloadaptativo entre homem e ambiente foidesenvolvida por Kent Flannery na obraArchaeological Systems Theory and EarlyMesoamerican (1972). Discípulo de Clarke,Ian Hodder usa muitos modelos geográficosem contextos arqueológicos (modelos dolugar central, das zonas concêntricas,

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modelos de atração), adotando técnicascomo a análise do ponto padrão, análise deregressão, análise do vizinho mais próximo(Nearest Neighbour Analysis) e, na obraSpatial Analysis in Archaeology, Hodder eOrton (1976) sintetizam o estado da arteneste domínio da arqueologia espacial. Coma sofisticação das técnicas e o usocorriqueiro dos computadores, surge aaplicação da modelização de sistemasculturais através da elaboração de modelospreditivos que permitem a sua validação aposteriori (modelização numérica) ou asimulação de um conjunto de hipóteses(através de uma linguagem informática desimulação). Dois artigos sintetizam osesforços neste sentido, o de Hodder (1978)Simulation studies in Archaeology eTransformations de Renfrew e Cooke (1979).

A abordagem paleoeconômica estábaseada sobre o modelo de von Thünen(1966) do estado-isolado (isolated-statemodel) adotado da geografia econômica deChisholm (1962). O modelo coloca que umasérie de zonas concêntricas de terrautilizadas está ao redor de um ponto centralporque requer custos diferenciados detransporte e trabalho. Vita-Finzi e Higgs(1970) usaram este modelo para analisar asrelações entre populações e recursos comomediados pela economia e desenvolveramtécnicas de análise como a de captação derecursos (site-catchement analysis) e demaximização de recursos versus minimizaçãode gastos energéticos.

O segundo tipo de narrativa édecorrente da aplicação de alguns destesprincípios teóricos da “nova arqueologia” àinterpretação das casas subterrâneas.Conforme esta narrativa, os grupos humanosselecionaram o ambiente em que iriam viver,há uma relação dialética e de causalidaderecíproca entre o ambiente e o sistemacultural, portanto, todas as variáveis(dependentes e independentes) devem serconsideradas (Reis, 1980). E, ainda, associedades passadas viveram em ambientediferente do atual, exigindo estudos depaleopaisagens. Caso não haja evidênciasarqueológicas para a reconstrução daspaleopaisagens (as técnicas necessárias para

a reconstituição ambiental ainda nãoestavam tão disponíveis), o recurso é olevantamento do meio ambiente atual paraobservação dos efeitos do ambiente naadaptação humana e dos recursos potenciaisque poderiam ser utilizados pelas populaçõespré-coloniais. Para compreender os sistemassócio-culturais envolvidos, é precisoentender as formas de ocupação do espaçoe da organização dos assentamentos e istoé feito através do estudo da tipologia desítios e da forma de implantação no relevo.O uso deste aporte teórico produzirá umagrande quantidade e qualidade deinformações e questionamento sobre oconceito de sítio e a função das estruturassubterrâneas: eram unidades residenciais,cerimoniais ou silos/esconderijos? A funçãosó poderia ser atribuída a partir de estudosintra-sítios, os estudos intersítios dariam ospadrões de assentamento, os estudosregionais e contatos culturais explicariam ossistemas de assentamento.

A arqueologia espacial foi aplicadacomo teoria de médio alcance para atingirestes objetivos, assim como, as informaçõesetnográficas sobre povos que habitaramestruturas subterrâneas e, somadas a estas,os dados etno-históricos sobre os gruposXokleng e Kaingang que habitaram estaregião desde o século XIX, serviram paragerar proposições e formular hipóteses aserem testadas arqueologicamente.

O cruzamento entre as variáveismorfológicas (nº. de estruturas por sítio,formas, dimensões, tamanho da área dossítios, natureza) e de implantação dos sítiosno relevo apresentaram variações de sítioscom uma estrutura subterrânea atéconjuntos de 68 estruturas, havendo umpredomínio de conjuntos pequenos de umaa três estruturas. A forma mais comum é acircular, sendo pouco freqüente as elípticas,as dimensões oscilam de pequenas (2 a 5m), médias (6 a 8 m) a grandes (9 a 20 m),sendo predominantes as pequenas. Asestruturas grandes (9 a 20 m), em suamaioria, só ocorrem em pequenosaglomerados, especialmente de duas a trêsestruturas subterrâneas ou em casosisolados. Há uma relação direta entre os

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diâmetros das estruturas subterrâneas esua profundidade, ou seja, quanto maior odiâmetro destas estruturas, maior é suaprofundidade (Reis, 1980: 142). Ainformação etnológica somada às evidênciasde campo sobre a arquitetura das estruturasescavadas, tais como características dasparedes e cobertura, evidência de acesso eos pisos de ocupação com artefatos ligadosa atividades domésticas, permitiu identificar,na quase totalidade dos casos, unidadesresidenciais. Possivelmente as estruturaspequenas e médias destinadas à moradiatenham sido ocupadas por grupos domésticosconstituídos por famílias nucleares, enquantoque as grandes por famílias extensas. Adiferença no padrão residencial poderiarefletir a flexibilidade nos padrões familiaresou poderia conotar diferença temporal, sendoas casas grandes mais antigas, o padrãoresidencial com base na família extensa oucomunal teria sido substituído por aquelecom base na família nuclear (Reis, 1980:234-5). Esta mudança poderia ser o reflexoda mudança do padrão de subsistência,entretanto, o comum é que a subsistênciabaseada na caça esteja relacionada com afamília nuclear e a agricultura com a famíliaextensa. Ainda, o uso de algumas casasgrandes como moradias e as diferenças nasdimensões poderiam ser explicadas comovariação na constituição de gruposdomésticos, de famílias poligâmicas oumatrilocais, para um sistema patrilocal.Outras casas grandes poderiam servir paraatividades comunitárias como as práticasde rituais, reuniões de conselho, alojamentode hóspedes, segregação de categoriascomo casa dos homens (Reis, 1980: 216).Em mais de 50% dos sítios ocorrem estruturaspequenas que poderiam servir como poçosde armazenamento ou silos. A presença desilos está ligada à estocagem de produtosseja agrícolas ou provenientes da coletacomo o pinhão, prática relatada entre osXokleng e Kaingang por cronistas.

Os aterros estão associados àsestruturas subterrâneas. Há apenas aterroscirculares e de dimensões pequenas egrandes proporcionais às dimensões dasestruturas. Os aterros, segundo os dados

etno-históricos, teriam funções funeráriase os tamanhos diferenciados resultariam desepultamentos individuais ou coletivos ou,ainda, devido à diferença de status dosmortos ai depositados (Reis, 1980: 232).

Os sítios encontram-se em ambientesfrios e parece evidente a adequação demoradias subterrâneas como recurso paraamenizar os efeitos de tais condiçõesclimáticas. A existência de galerias poderiaser um meio de comunicação entre umaestrutura e outra, e ainda, terem sidoconstruídas por caráter defensivo contrainimigos e protetor contra os rigores do clima.A implantação dos conjuntos de estruturassubterrâneas preferencialmente no topo ouencosta de colina pode indicar dois tipos depreocupação: evitar a invasão de águaspluviais facilmente acumuláveis em terrenosbaixos e/ou de caráter defensivo, uma vezque o estabelecimento nos pontos mais altospermitiria maior visibilidade. Ambas aspreocupações estão ligadas ao padrão deresidência permanente, inferido pelo trabalhoinvestido na construção das própriasestruturas subterrâneas (Reis, 1980: 214/238).

A análise da distribuição espacial dossítios (como pontos) apresenta um padrãode agrupamento, o que pode ser interpretadocomo resultante da atração mútuadecorrente do processo generativo que fazque novos sítios sejam originados de outrosjá localizados no espaço (Earle, 1976 apudReis, 1980: 244) ou este padrão seriadecorrente da atração dos indivíduos porrecursos estratégicos, distribuídosirregularmente no espaço. A distribuiçãoespacial das estruturas subterrâneas,galerias e aterros apresenta um padrão deassentamento, segundo conceito de Chang(1968 apud Reis 245).

Terceira narrativaO terceiro tipo de narrativa está

sendo construído a partir da incorporaçãodos novos dados sobre a ecologia da regiãodo planalto das araucárias, da análise intra-sítio realizada no RS-AN-03, da análiseintersítios e o uso da arqueologia dapaisagem. A abordagem da arqueologia da

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paisagem pode ser considerada um refinoda arqueologia espacial vinculada a “novaarqueologia” ou um produto mais recentedas tendências teóricas do pós-processualismo. O pós-processualismo,movimento iniciado em meados dos anos1980, engloba várias abordagens(arqueologia contextual, estrutural,cognitiva, marxista) que compartilham umarejeição ao positivismo e um interesse emcompreender a distribuição espacial dacultura material através da construção designificativas analogias estruturais, deanalisar as pressões sociais e políticas sobreo comportamento humano e advogam queos bens materiais atuam como “capitalsimbólico” como proposto por Bordieu (1977),portanto, a cultura está significativamenteconstituída no sentido em que cada traçomaterial é produzido em relação a uma sériede esquemas simbólicos (Hodder, 1992).Hodder é um dos pioneiros e expoente destarecente tendência. O enfoque culturalistatomou conta dos estudos sobre espaço epaisagem e, a partir da década de 90, oespaço passa a ser percebido como umaesfera socialmente construída pelo homem,ativo e em constante mudança, onde osindivíduos agem e interagem.

Assim como a arqueologia espacial,a arqueologia da paisagem privilegia análisesem diversas escalas (intra-sitio, inter-sitios/padrão de assentamento e sistema deassentamento/paisagem) e englobadiferentes enfoques. Segundo Fisher &Thurston (1999: 630-31), a pesquisa dapaisagem varia amplamente de uma simplesreconstrução ambiental a uma abordagemsistemática/científica de Rossignol eWandsnider (1992, McGlade 1995), àecologia histórica (Balée 1998; Crumley1994; Crumley e Marquardt 1987; Kirch1997) até a perspectiva fenomenológica deBender (1992, 1993) e Tilley (1994) e aarqueologia da paisagem de Ashmore eBarnard (1998), Bradley (1998 a e b) eEricson (1993 apud Fisher, C.T. & Thurston,T.L., 1999: 630-31). Enquanto que osprimeiros enfoques podem ser consideradosum refino, uma re-avaliação, ao mesmotempo que, uma inovação de conceitos e

métodos do enfoque analítico da ecologiahumana e de padrões e sistemas deassentamento, a critica maior às abordagensanteriores é que estas não incluíam dentrode sua perspectiva os processos de formaçãodo registro arqueológico. Estes processossão passíveis de serem resgatados a partirda utilização da informaçãoetnoarqueológica, geomorfológica egeoarqueológica, além de estudos davariabilidade ambiental. Um dos pontosprincipais da paisagem arqueológica é,através de sua análise, explicar a utilizaçãodo espaço por parte das populaçõeshumanas, aplicando conceitos derivados daecologia da paisagem e da biogeografiaevolutiva (Rossignol, 1992 apud Lanata,1997:153).

Portanto, enquanto a paisagementendida como ecologia é umdesdobramento da arqueologia espacialprocessualista, com a incorporaçãode aprimoramentos geotécnicos(sensoriamento remoto, georeferenciamento,programas de informação, SIG), a paisagemcompreendida como um palimpsesto e comofenomenologia estão ligadas às tendênciaspós-processualistas amadurecidas pelosarqueólogos britânicos.

Na primeira acepção, a arqueologiada paisagem, segundo Afanasiev (apudMorais, 1998), é a união de duas ciências:a geografia e a arqueologia e, desta união,derivam perspectivas de pesquisa no âmbitoda paisagem ecológica (landscape ecology),do desenho ambiental (environmentaldesign), da arqueologia ambiental(environmental archaeology), dageoarqueologia (geoarchaeology) queampliam o espectro temporal e espacial deanálise, obrigando a intersecção de váriasdisciplinas como arquitetura, urbanismo,ecologia, muito além das já consagradas. Aarqueologia da paisagem difere daarqueologia processual quando esta, naaplicação da teoria dos sistemas àinterpretação do registro arqueológico,considera o ambiente como um subsistema,enquanto que na arqueologia da paisagem,os subsistemas econômicos, sociais, políticossão um resultado das estratégias intencionais

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de manipulações da paisagem e, portanto,os demais subsistemas são produtos dadialética ambiente versus homem, onde oambiente é concebido como resultado daconstrução humana e toda a paisagem éantropogenizada, dinâmica.

Apesar da grande diversidade deenfoques e escalas, Fisher & Thurstonconstatam a convergência em trêspressupostos principais e unificadores. Oprimeiro é o reconhecimento que o ambienteé dinâmico e humanamente construído emantido; o segundo é a concepção dapaisagem como uma entidadecontingênciada historicamente; e a terceiraé a noção de uma ligação recursiva entrehumanos e suas paisagens (Fisher &Thurston, 1999: 631).

Concomitantemente às nossaspesquisas arqueológicas no planalto, umgrupo de ecólogos coordenado por HermannBehling está estudando a dinâmica do fogo,da vegetação e do clima no planalto sulbrasileiro durante o Quaternário antigo,através de amostras de carvão e pólendatados por alta resolução e pela análisemultivariada. Os resultados mostram que oambiente da mata de araucárias (onde osgrupos humanos pretéritos tiravam a suasubsistência) e dos campos de cima da serrapossui um forte componente dinâmico queé o próprio homem.

A partir de 1.500 BP, Behling (2001,2002) supõe um aumento generalizado daumidade no sul do Brasil, com as mais curtasestações secas anuais desde o pré-Glacial(Behling 1998). Esse aumento significativoda precipitação é o fator fundamental paraa grande expansão da floresta de Araucáriasobre a vegetação de campo (Behling 1995:147), o que ocorre com pequenas diferençastemporais desde o Paraná até o Rio Grandedo Sul. Assim, essa expansão das Araucáriase taxas acompanhantes parece ter início noplanalto paranaense em 1.500 BP (Behling1997), alcançado as terras altas de SantaCatarina por volta de 1.000 BP (Behling 1995)e atingindo o atual Planalto das Araucáriasgaúcho ao redor de 850 BP (Behling et al1999). No caso do Rio Grande do Sul – SãoFrancisco de Paula, há um aumento prévio

de vegetação arbustiva e árvores em 1060BP, e concomitância da expansão da florestade pinheiro nativo com aumento dafreqüência de incêndios (id. ibid.), umaassociação que pode ser favorável para amigração dessa floresta sobre os campos(Behling 1997).

O surgimento tardio da mata dearaucárias e sua expansão atribuída à açãode queimadas e manejo pelos gruposhumanos ali residentes no passado permitema hipótese de tratar-se de um ambientedomesticado pelo homem. Situaçãoencontrada em outraspartes do mundo jáestudadas, como na Austrália e África, eainda na Amazônia (Balée, 1987). Não é poracaso que temos uma concentração dedatações radiocarbônicas neste período.

A expansão das florestas, em geralsobre os campos, traz um acréscimo nabiomassa alimentar: o aumento da florestade araucárias leva ao aumento de umalimento fundamental no planalto que é opinhão que, na época de maturação (váriasvezes ao ano), atrai toda sorte de animais,permitindo uma grande concentração depessoas constituindo grandes aldeias decaráter permanente. Esta hipótese écorroborada pela grande variabilidade desítios arqueológicos - conjuntos de estruturassemi-subterrâneas, sítios superficiais líticose lito-cerâmicos, sítios cerimoniais(estruturas em alto relevo) e possíveisdelimitações de territórios (muros de terra),todos pertencentes ao mesmo sistema deassentamento (Copé & Saldanha, 2002). Pelogrande trabalho empregado na construçãodas estruturas residenciais, cerimoniais esilos, assim como, no manejo de terra paraaterro (fazer distinção entre aterro paranivelar as bordas das casas, dos depósitosde terra provenientes da construção dascasas e dos montículos funerários) e paranivelação dos terrenos = plataformas,deduzimos que seja uma sociedadehierarquizada de residência permanente,com territórios bem delimitados edefendidos.

A idéia é que o processo deu-sede maneira inversa da primeira narrativa.Primeiro as parcelas deste grupo ocuparam

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Cope, S. M.

as áreas mais baixas e ricas em florestas eà medida que a floresta se expande vãodomesticando o espaço, construindo-osocialmente (Copé, 2006). A domesticaçãodo ambiente e, portanto, de sua construçãosocial encontra eco nas propostas daarqueologia pós-processual onde floresceramdiversas perspectivas no estudo dapaisagem, principalmente baseadas em áreasdas ciências sociais, produzindo entãoestudos mais críticos e satisfatórios (Tilley,1994), e um entendimento da tensão edialética entre o mundo natural e umaimagem socialmente construída da naturezae da paisagem (Bender, 1993).

Subjacente a estas novasperspectivas está a percepção de que apaisagem não constitui um mero cenário ondese desenvolviam as relações humanas, masque ela era sim constituída por significadose pelas ações sociais dos indivíduos que nelahabitam. Assim, o espaço é um meio paraação, sendo socialmente produzido. Destaforma, diferentes sociedades, grupos eindivíduos atuam suas vidas em diferentesespaços, perspectiva que desmorona aplataforma sobre a qual repousava anarrativa anterior da paisagem, a qual podiaser cientificamente medida, quantificada ecomparada.

ConclusãoDestacamos aqui três narrativas

sobre a ocupação passada no planaltobaseadas na noção de espacialidade earquitetura, entretanto, outras narrativasdas ações humanas podem ser construídasa partir de novos dados ou outrascombinações de variáveis ou, ainda,releituras das narrativas já existentes.

As narrativas foram construídas comos mesmos eventos, ou seja, as paisagensdas matas de araucárias e campos de cimada serra do planalto sul brasileiro e a amplavariabilidade de sítios arqueológicos comedificações arquitetônicas constituída pelasestruturas semi-subterrâneas, pelas galerias,pelas estruturas anelares (alto relevo),muros, montículos, aterros, depósitos deterra e terraceamentos, porém, o que asdiferencia é a noção de espaço, o universo

empírico tomado como unidade analítica eos próprios recursos científicos colocados àdisposição e utilizados para potencializar asinterpretações arqueológicas e a formulaçãodos discursos arqueológicos.

Na primeira narrativa, produto de umavisão normativa da cultura, a cultura material– representada pelos artefatos e edificações- é uma resposta cultural dos habitantes doplanalto frente aos desafios da natureza, éo homem submetendo-se aos caprichos deum meio ambiente externo e inerte. A ênfaseestá nos artefatos como elementodiagnóstico e identitário dos grupos humanosali residentes - as Tradições Taquara/Itararé/Casa de pedra e indicadores de um modeloeconômico baseado na coleta do pinhão ena caça, acrescida de alguns cultivos, quelevaria a população a um movimentomigratório sazonal entre o planalto, suasencostas e o litoral atlântico. Esta economiavertical criaria a necessidade sazonal deconstruir ou re-construir novas casassubterrâneas o que daria a falsa configuraçãode aldeias.

A segunda narrativa, resultante dasinovações da “nova arqueologia”, consideraque os grupos humanos selecionam oambiente em que vão viver e que há umarelação de causalidade recíproca, umarelação dialética, entre o ambiente e osistema cultural e que há necessidade deestudos de paleopaisagens, pois associedades passadas viviam emambientesdiferentes dos atuais. A ênfase está nossítios arqueológicos que, a partir de umaanálise tipológica e de implantação no relevo,permite questionamentos sobre o conceitode sítio e as funções das estruturassubterrâneas, assim como, a partir deestudos intersítios e regionais, fornece ospadrões e sistemas de assentamentos. Aanálise espacial e a utilização dasinformações etno-históricas possibilitou aidentificação de um padrão de assentamentoresidencial e permanente assim comointerpretações sobre a organização socialdos grupos.

A terceira narrativa é produto dautilização da abordagem da arqueologia dapaisagem, onde o ambiente é concebido

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como resultado da construção humana, eleé dinâmico e toda a paisagem éantropogenizada. Dentro desta perspectiva,a expansão da mata de araucárias é umproduto da ação dos grupos humanos noprocesso ocupacional do planalto. A ênfaseestá em estudos intra-sítios, intersítios, eparticularmente, regionais. A amplavariabilidade de sítios no planalto éinterpretada como áreas de atividadesdiferenciadas de um mesmo padrão deassentamento e os contatos verificados comoutros grupos em áreas fronteiriças osintegram a um mesmo sistema deassentamento que nos cabe entender eexplicar.

Através deste ensaio, tentei mostrar

como a análise espacial funcionou comoteoria de médio alcance ao fornecer osargumentos explicativos da associação doselementos espaço e arquitetura nainterpretação da arqueologia do planalto sulbrasileiro e que as narrativas produzidas pelosarqueólogos são construçõescontemporâneas, produto de suas práticasinterpretativas e orientações teórico-metodológicas.

AgradecimentosGostaria de agradecer os

comentários realizados pela Dra. Irmhild Wüstsobre este ensaio e ao parecerista da Revistade Arqueologia da SAB, ambos ajudarammuito a enriquecer o texto.

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