não sei quantas almas tenho texto

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Não sei quantas almas tenho

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Page 1: Não sei quantas almas tenho  texto

Não sei quantas almas tenho

Page 2: Não sei quantas almas tenho  texto

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, Almada Negreiros, 1964,  Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian

Page 3: Não sei quantas almas tenho  texto

O paiJoaquim de Seabra Pessoa

g

A mãeMaria Madalena Pinheiro

Nogueira

Fernando Pessoa com 1 ano

O irmãoJorge com 1 ano

A tia AnicaIrmã da mãe

casafernandopessoa.cm‐lisboa.ptO menino de sua mãe

Page 4: Não sei quantas almas tenho  texto

O padrasto João Miguel Rosae a mãe

IrmãHenriqueta Madalena

(1896-1992)

IrmãMadalena Henriqueta

(1898-1901)

IrmãoLuís Miguel (1900-1975)

IrmãoJoão Maria (1903-1973)

IrmãMaria Clara (1904 -1906)casafernandopessoa.cm‐lisboa.pt

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27 de abril de 1920

Meu Bebezinho lindo:

Não imaginas a graça que te achei hoje à janela da casa de tuairmã! Ainda bem que estavas alegre e que mostraste prazer emme ver (Álvaro de Campos).

Tenho estado muito triste, e além disso muito cansado - tristenão só por te não poder ver, como também pelas complicaçõesque outras pessoas têm interposto no nosso caminho. Chego acrer que a influência constante, insistente, hábil dessas pessoas;não ralhando contigo, não se opondo de modo evidente, mastrabalhando lentamente sobre o teu espírito, venha a levar-tefinalmente a não gostar de mim. Sinto-me já diferente; já não ésa mesma que eras no escritório. Não digo que tu própria tenhasdado por isso; mas dei eu, ou, pelo menos, julguei dar por isso.Oxalá me tenha enganado...

Olha, filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer: nãovejo o que vai haver, ou o que vai ser de nós, dado, de mais amais, o teu feitio de cederes a todas as influências de família, ede em tudo seres de uma opinião contrária á minha. No escritórioeras mais dócil, mais meiga, mais amorável.

Enfim...Amanhã passo à mesma hora no Largo de Camões. Poderás

tu aparecer à janela?

Sempre e muito teu

Fernando Pessoa e a namorada Ophélia Queiroz

Fernando Pessoa namorou com Ophélia de 1 de maio a 29 de novembrode 1920 e de 11 de setembro de 1929 a 11 de janeiro de 1930.Ophélia casou com Augusto Soares em 1938

Cartas de Amor, Fernando Pessoa, Ática, Lisboa, 1978

singrandohorizontes.wordpress.com

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Mário de Sá-Carneiro(Lisboa 1890 – Paris 1916)Poeta, contista, ficcionista

Um dia a maioria de nós irá separar-se.Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! "

Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.

E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

Amadeu de Sousa-Cardoso(Amarante 1887 – Espinho 1918)

Pintor modernista

José de Almada Negreiros(Trindade 1893 – Espinho 1970)

Pintor, escritor, poeta,, dramaturgo

Armando côrtes-Rodrigues(Vila Franca do Campo 1891 – Ponta

Delgada 1971)Poeta, dramaturgo, cronista, etnólogo

arquivolivraria.blogspot.comcentroparoquialgondar.blogspot.com

cam.gulbenkian.pt http://peregrinacultural.wordpress.com/

Page 7: Não sei quantas almas tenho  texto

Desde 1912 até ao ano da sua morte, Fernando Pessoa publicou artigos, ensaios e textosdiversos, em muitas revistas e jornais, exercendo múltiplas atividades – crítico literário,poeta, cronista, dramaturgo, tradutor, teorizador de matérias de contabilidade e comércio.

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tintanalingua.blogspot.com

Page 10: Não sei quantas almas tenho  texto

Teoria do fingimento poético

Inteletualização do sentir

Dor de pensar

Fragmentação do eu

Angústia existencial

Solidão

Sonho

Nostalgia da infância perdida

Frustração

Tédio

palavraemelodia.blogspot.com

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tintanalingua.blogspot.com

Page 12: Não sei quantas almas tenho  texto

Alberto Caeiro- o Mestre

Sensorialista radical

Grau zero da interpretação da realidade

Captação da realidade através dos sentidos

Privilégio da visão

Rejeição do pensamento

Valorização das sensações

Antimisticismo

Deambulismo

tintanalingua.blogspot.com

O meu olhar é nítido como um girassol

Page 13: Não sei quantas almas tenho  texto

Ricardo Reis – o Disciplinado

Epicurismo

Estoicismo

Carpe diem

Fugacidade do tempo

Fado

Antilirismo

Valorização do presente

Paganismo decadente

tintanalingua.blogspot.com

Mestre, são plácidas

Page 14: Não sei quantas almas tenho  texto

Álvaro Campos – o Sensacionista

Fase decadente

Inadaptação Evasão Tédio

Fase futurista-sensacionista

Elogio da máquina

Rutura com o subjetivismo da lírica tradicional

Excesso de sensações

Fase intimista

Angústia existencial

Fragmentação do eu

Nostalgia da infância perdida

Solidão

Cansaço

tintanalingua.blogspot.comOpiário

Page 15: Não sei quantas almas tenho  texto

Bernardo Soares– o Semi-heterónimo

Quando vim primeiro para Lisboa, havia, no andar lá de cima deonde morávamos, um som de piano tocado em escalas,aprendizagem monótona da menina que nunca vi. Descubro hojeque, por processos de infiltração que desconheço, tenho ainda nascaves da alma, audíveis se abrem a porta lá de baixo, as escalasrepetidas, tecladas, da menina hoje senhora outra, ou morta efechada num lugar branco onde verdejam negros os ciprestes.

Eu era criança, e hoje não o sou; o som, porém, é igual narecordação ao que era na verdade, e tem, perenemente presente,se se ergue de onde finge que dorme, a mesma lenta teclagem, amesma rítmica monotonia. Invade-me, de o considerar ou sentir,uma tristeza difusa, angustiosa, minha.

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

manuthinkerfree.blogspot.com

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Casa Fernando Pessoa

Escritório de Fernando Pessoa

Quarto de Fernando Pessoa

Cómoda de Fernando Pessoa

Máquina de escrever de Fernando Pessoa

Biblioteca de Fernando Pessoa

Entrada da Casa Fernando Pessoa

Paredes decoradas com textos de Fernando Pessoa

Inaugurada em novembro de 1993, a Casa Fernando Pessoa foi concebida pela CâmaraMunicipal de Lisboa como um centro cultural destinado a homenagear Fernando Pessoa ea sua memória na cidade onde viveu e no bairro onde passou os seus últimos quinzeanos de vida, Campo de Ourique.

Possui um auditório, jardim, salas de exposição, objetos de arte, uma bibliotecaexclusivamente dedicada à poesia, além de uma parte do espólio do poeta (…)

Nos seus três pisos principais, realizam-se colóquios, sessões de leitura de poesia,encontros de escritores, espetáculos musicais e de teatro, conferências temáticas,workshops, exposições de artes plásticas, sessões de apresentação de livros.

casafernandopessoa.cm-lisboa.pt (texto com supressões)

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A revista - Tabacaria

Tabacaria

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?),Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente (…)

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro (…)

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela. (…)

0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (0 Dono da Tabacaria chegou á porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

1928Álvaro de Campos

Revista Tabacaria – publicação daCasa Fernando Pessoa, revista dePoesia e de Artes Plásticas

casafernandopessoa.cm‐lisboa.pt