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Narrativas do Jornal O Globo sobre as Milícias do Rio de Janeiro
Michelle Airam da Costa Chaves*1
O artigo analisa as narrativas2 sobre as milícias do Rio de Janeiro, a partir
das reportagens do jornal O Globo – entre os anos de 2006 e 2008. Buscamos compreender as
mudanças das narrativas sobre as medidas políticas tomadas pela segurança pública do estado
que passou a tratar esses grupos armados como passíveis de investigação, observando também
as narrativas do prefeito, do governador e dos demais membros que representam o poder
público do Rio de Janeiro.
As narrativas sobre as milícias remetem às compreensões compartilhadas e
ressignificadas a partir das variações interpretativas da realidade histórica. A narrativa
reconfigura o entendimento da ação humana e “enxerta novos elementos temporais às
configurações da ação” (RICOEUR, 1994:14). Ao historicizar o processo de construção das
narrativas sobre as milícias foi possível mapear diversos conflitos sociais decorrentes, muitas
vezes, de ações negligentes da segurança pública no Rio de Janeiro.
Nossa fonte escolhida para a pesquisa, jornal O Globo, apresenta uma cobertura
regular do “caso das milícias” realizada por esse veículo de comunicação que conta com
grande circulação nacional3. As matérias do Jornal foram pesquisadas página por página e não
por palavras chaves. A partir da identificação do conteúdo com o tema os principais dados
eram lançados em uma planilha, formando um banco de dados com data, dia da semana,
caderno onde foi impressa a matéria, se estava na capa, nome dos jornalistas, dos
fotojornalistas, breve resumo da matéria, entre outros dados. Foram encontradas 218 matérias
1 Formada em História pela UFRJ concluiu o Mestrado em História na UFF 2 Aproximam-se, aqui, as discussões sobre “narrativa” e “dimensões subjetivas da política”. Cf. RICOEUR, Paul. Tempo e
narrativa. Campinas: Papirus, 1994; KUSCHNIR, Karina & CARNEIRO, Leandro Piquet. As dimensões subjetivas da
política: cultura política e antropologia da política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.13, n.24, pp.227-250, 1999. 3 Sobre o impacto público das linhas editoriais do jornal O Globo (considerando a história desse períodico, de 1925 aos
nossos dias), ver: MONTALVÃO, Sérgio ; LEAL, Carlos . O Globo - Verbete Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro,
CPDOC/FGV. Rio de Janeiro, 2001. Diponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/globo-o
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relativas as milícias e os desdobramentos de suas atividades. Cumpre ressaltar que, nem todas
as matérias foram utilizadas nesse artigo, mas a leitura das demais auxiliaram na analise da
pesquisa. A consulta ao acervo do jornal O Globo foi feita pela página da Internet
disponibilizada para seus assinantes.
A pesquisa foi iniciada com a matéria de capa do dia 29 janeiro de 2006 (RAMALHO,
2006: 1 e 20) que o resultado das investigações da Corregedoria Geral Unificada (CGU)
criada em 2000 para apurar infrações penais de membros da Polícia Civil, Polícia Militar e
Corpo de Bombeiros. Os dados apresentaram o aumento da ocupação das milícias em mais 30
comunidades em um ano e a expansão da atuação das milícias incluindo: taxas sobre venda de
imóveis, agiotagem e centrais clandestinas de TV a cabo.
No entanto, embora a denuncia do aumento de áreas dominadas por milícia a
explicação por parte do jornal para tal fato não corresponde aos dados que constam na matéria
e foram levantados pelo Serviço de Inteligência. Vejamos:
Figura 01 Mapa da relação: localidades ocupadas por milícias e tráfico de drogas4
4 RECORTE Jornal O Globo, 29 de janeiro de 2006. p. 20 (Mapa elaborado pela Corregedoria)
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Apesar da chamada da capa tratar das “áreas dominadas pelas milícias serem ocupadas
anteriormente por traficantes” (RAMALHO, 2006: 1 e 20), à informação não procedia.
Afinal, a favela de Rio das Pedras, e muitas outras, não contavam com a presença de
traficantes (conforme o mapa apresentado na matéria – elaborado pelas investigações da
Corregedoria). O mapa apresenta outra informação, mas a narrativa jornalística buscava dar
destaque as “ações” positivas e legitimadoras desses grupos, assim representava grande parte
de seus leitores e anunciantes.
A ideia de milícia que expulsa traficantes de drogas é reforçada na matéria de capa do
Jornal O Globo no domingo dia 10 de dezembro de 2006 com a manchete “Policiais apoiam
milícias na guerra por espaço do tráfico – A cada doze dias grupos de extermínio ocupam uma
nova favela no Rio” (BOTTARI e RAMALHO, 2006:1). A continuação da matéria ocupa a
primeira página completa do caderno Rio com o título “A polícia paralela – Milícias
expulsam traficantes de drogas e já controlam 92 favelas.” (BOTTARI e RAMALHO,
2006:19) A narrativa ressalta o crescimento da ocupação de milicianos, a presença de
membros das forças de segurança, políticos e presidente de associações de moradores. “O
fenômeno cresce em proporção geométrica e tem como alicerce estruturas do próprio poder
público.” (BOTTARI e RAMALHO, 2006:19) No texto o Comandante do Bope afirma que a
tomada dos territórios só foi possível pelo apoio da comunidade ou parte dela (pois a atuação
das milícias era melhor, na visão de alguns moradores, já que eliminavam os conflitos entre
facções ou entre traficantes e policiais). Reforça, assim, a ideia da expulsão de traficantes das
comunidades.
Percebemos que a manchete se utiliza do termo “polícia paralela” para indagar a
atuação desses grupos. Já no editorial (EDITORIAL, 2006: 6) percebemos a utilização dos
termos “poder paralelo” e “máfia” explicam a ação desses grupos como “o braço do Estado”,
tendo em vista que a dominação era feita por policiais e ex-policiais e que estavam em
constante expansão territorial com atividades para obter o lucro. Contraditório ser “paralelo ao
Estado” e ao mesmo tempo ser o “braço do Estado”. É exatamente nesse ponto que a escolha
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dessas palavras relacionadas ao contexto demonstra uma preocupação em criar uma narrativa
que coloca o Estado apenas como omisso, mas não participante das atividades desenvolvidas
pelos milicianos.
Podemos constatar a pouca preocupação do poder público, em relação à atuação
desses grupos. Conforme declaração do então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, ao
jornal O Globo em 2006: “- Essas milícias são mais percebidas pela população e pelo próprio
poder público como muito melhores do que o tráfico de drogas.” (SCHIMIDT,2006: 1).
Reforça a ideia de impunidade e pouca preocupação do poder público, expressas nas
narrativas do Jornal O Globo, em relação as ações desses grupos diante das declarações do
prefeito, César Maia, afirmando que não havia motivos para preocupação, afinal esses grupos
eram uma “auto-defesa comunitária”. (BOTTARI e RAMALHO, 2006: 1)
Outra matéria que destacamos refere-se ao roubo de um carro que levou a morte do
menino João Hélio, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2007. O crime abalou a sociedade por
conta da brutalidade. Um carro foi roubado no bairro de Cavalcanti onde a mãe e dois filhos
estavam no veículo. Ao sair do carro a mãe tentou retirar o filho que estava na cadeirinha no
banco traseiro, mas não conseguiu. Os ladrões partiram em alta velocidade com a criança
pendurada do lado de fora do veículo. O assaltante que dirigia o carro era menor de idade. As
notícias, após esse fato passaram a girar em torno da impunidade e outras sobre a pena
reduzida para menores de idade. As reportagens das milícias também apareceram dividindo o
espaço desse debate e do andamento das investigações, prisões e outros fatos relacionados ao
João Hélio.
Figura 2 Manchete sobre o milícia contra tráfico e “João Hélio”5
5 RECORTE Jornal O Globo, 12 de fevereiro de 2007. p. 1
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Nessa manchete (BRITTO, 2007:1) podemos perceber que a matéria em destaque
relata o assassinato de traficantes por PMs em uma favela dominada por milicianos. Mais
abaixo, mas no mesmo quadro segue o relato da mãe de João Hélio sobre o assalto e o pedido
da irmã para que os criminosos sejam tratados como adultos. As notícias falam sobre
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violência, mas até que ponto, colocar as duas chamadas de reportagem, que continuavam em
páginas diferentes não tinha como objetivo acirrar os ânimos da opinião pública que defendia
a justiça com as próprias mãos tendo em vista nossas leis e demora em sua execução? Não
seria mais adequado fazer as chamadas dessas manchetes separadamente, pois são o mesmo
tema – violência – mas não se relacionam diretamente? Aparentemente, não havia relação
entre as duas notícias para que ocupassem o mesmo espaço. Essa narrativa nos faz analisar a
legitimidade do que é dito e quais interesses atende. Naquele momento era o que a sociedade
gostaria de ouvir. A narrativa cria uma relação de bem e mal, sendo o grupo de milicianos
justiceiros diante de criminosos violentos. A milícia é oferecida como uma forma de solução
imediata aos problemas da violência contra o cidadão comum – diante da ineficiência da
polícia e da justiça em prender e manter assim os criminosos.
Acreditamos que O Jornal O Globo traz uma abordagem sútil. A matéria citada atende,
em seu discurso, aos grupos que são a favor da justiça com as próprias mãos. Leitores
indignados com a violência do caso João Hélio, e por isso observam nas ações de extermínio
da milícia e da PM a solução para os processos emperrados no sistema judiciário brasileiro
que garantiriam a impunidade e a possibilidade de crimes hediondos continuarem a acontecer.
Era o momento propício para esse discurso ganhar força, estava atendendo o que parte da
sociedade queria ouvir.
Outra matéria analisado foi do jornal O Globo de 12 de fevereiro de 2007, nove
pessoas foram mortas no confronto de milicianos e traficantes na Penha. O motivo era a
disputa pelo domínio da favela Kelson’s. Na mesma notícia foi apresentada a chamada sobre
o deputado Marcelo Freixo: “Deputado quer que ALERJ volte atrás e aprove criação de CPI”
que justifica seu pedido explicando:
Uma organização criminosa com este nível de influência política é uma ameça ao
estado democrático de direito. O Brasil caminha para uma situação semelhante à que
viveu a Colômbia. Imaginar que representantes do poder público eleito irão
representar interesses de grupos paralelos é muito grave. A Secretaria de Segurança
e a ALERJ precisam dar uma resposta urgente a isto. Este seria um ótimo momento
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para a ALERJ demonstrar maturidade e coragem política, aprovando a CPI que
apresentei – disse Freixo. (BRITTO, 2007: 16)
Desde a sua posse como deputado estadual do Rio de Janeiro, no início de 2007,
Marcelo Freixo tentou implantar a CPI das Milícias, deixada de lado, pois outras propostas
mais importantes foram selecionadas. Ou seja, o Poder Legislativo do Estado do Rio de
Janeiro, não acreditava, em sua maioria, que as milícias fossem um problema que necessitasse
de uma investigação, apesar de todos os fatos que destacamos nos jornais. Na matéria, o
deputado destaca a expansão desses grupos enquanto o Legislativo permanece na inércia.
Quase um ano depois da notícia acima um fato mudaria a preocupação dos deputados
estaduais. Era noite no Batan, favela controlada por milicianos, localizada na zona oeste do
Rio de Janeiro. Um fotógrafo e o motorista do jornal O Dia estavam disfarçados e residindo
na localidade para fazer uma matéria sobre os grupos que detinham o poder na região. Os
rapazes foram encontrar moradores em um bar sendo surpreendidos por mais de dez homens
com os rostos cobertos. Forçados a buscarem a outra integrante do grupo, uma repórter do
mesmo jornal, passaram por sete horas de torturas e ameaças de morte. Seus e-mails foram
checados e a tortura redobrada com a descoberta das informações levantadas na comunidade,
inclusive fotos que mostravam policiais conversando com milicianos da região. O veredito
final garantiu à liberdade dos mesmos, soltos na Avenida Brasil. A percepção no cativeiro
garantia a participação de membros da polícia militar, de acordo com as roupas utilizadas e os
dados já levantados nos dias em que passaram na região. Dessa forma o grupo preferiu não
fazer as denúncias em uma delegacia.
Essa noite ocorreu em 14 de maio de 2008, mas só foi publicada nos jornais no dia 1º
de junho de 2008 (EDITORIAL, 2008: 1 e 31), pois os jornalistas temiam ainda uma
represália de seus algozes, e teve um peso para garantir a instauração da Comissão
Parlamentar de Inquérito das Milícias – CPI das Milícias.
O caso dos “jornalistas torturados” se configurou como um evento crucial, pois marca
a mudança das narrativas, tanto do jornal O Globo, quanto da segurança pública. Para mapear
as mudanças nas narrativas sobre as milícias, identificamos os cadernos onde as matérias
foram publicadas no jornal pesquisado. Antes da instauração da CPI ocupavam as páginas do
caderno Rio, com chamadas na capa e vez por outra no caderno Opinião ou nas Crônicas.
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Durante a CPI as matérias foram publicadas principalmente no caderno O País que circula em
todo o Brasil, não sendo restrito apenas ao estado do Rio de Janeiro como na maioria das
abordagens anteriores. Sendo assim, o tema ocupa a partir desse momento, o caderno de
maior destaque do jornal e de maior repercussão.
A partir de meados de julho as notícias sobre a CPI foram vinculadas a estrutura
eleitoral desses grupos. No dia 18 de julho a manchete aborda “Babu é suspeito de participar
de Milícia – Revelação foi feita por promotor durante o depoimento a CPI da Assembleia
Legislativa” (DIMMI, 2008: 18). Nessa matéria são citados dois políticos de acordo com os
depoimentos ouvidos na CPI no dia anterior: Jorge Babu (PT) e Natalino Guimarães (DEM).
As informações foram obtidas através do depoimento de um promotor de justiça a CPI. Com
base em informações do disque Milícia6 os políticos foram citados em diversas ligações e
denunciados como líderes da chamada “Liga da Justiça”, sendo o “Deputado Jorge Luis Hauat
(“Jorge Babu”) líder das milícias na Alvorada, Mundo Novo e Chatuba em Santa Cruz e no
centro de Sepetiba.”7
É importante considerar que 2008 foi o ano de eleições para Prefeito e Vereador, dessa
forma tornou-se recorrente a preocupação dos partidos no que se refere a presença de currais
eleitorais formados por esses grupos milicianos. Levando, assim, a reflexão sobre os assuntos
que vazam da CPI e que também foram publicados no jornal O Globo. Natalino continua na
pauta do Jornal que aborda a sua prisão e importância da CPI. (GARCIA, 2008: 7)
A partir da tortura dos jornalistas, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ABI
(Associação Brasileira de Imprensa), Sindicato dos Advogados, Ministro da Justiça, entre
outras instituições manifestaram-se contra as milícias. O jornal o Globo destacou o fato do
Ministro da Justiça, Tarso Genro, defender ações nacionais contra as milícias que já atuavam
em outros estados:
- O indicativo desse plano nacional está dado pelo Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania (Pronasci), com recursos que já estão à disposição dos
6 Central de denuncias anônimas destinadas as ações das milícias criada pela CPI das Milícias. 7 Relatório Final da CPI das milícias. Rio de Janeiro, 2008. p . 165
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estados. É tão importante combater as milícias quanto o tráfico. Na raiz, esses dois
movimentos estão integrados. (COSTA, 2008: 17)
A mesma matéria apresentou um depoimento de Wadih Damous, presidente da OAB,
demonstrando sua indignação com a ação das milícias contra os jornalistas: “- Exigimos das
autoridades da segurança pública saber quem são e quais foram os agentes públicos que
participaram desse episódio bárbaro (do caso dos jornalistas). Não podemos aceitar que o
trabalho da imprensa seja vítima da selvageria.” (COSTA, 2008: 17)
Vale observar que a violência diária a que estão expostos os moradores de
comunidades controladas por milícias não motivou uma declaração indignada como a citada
acima. E as manifestações de indignação continuam com Maurício Azevedo, presidente da
ABI, declarou ao jornal O Globo:
- A ABI manifestou em nota pública a sua solidariedade aos repórteres, a “O Dia” e
expôs sua exigência de que o governo do estado promova as investigações
necessárias para identificação e prisão desses criminosos, que constituem um grave
perigo para o estado democrático de direito. (COSTA, 2008: 17)
Todas as matérias e denúncias anteriores não causaram a mesma comoção entre os
citados acima. A ABI pode justificar sua atitude a partir da violência contra os jornalistas do
O Dia por conta da sua preocupação com membros da imprensa a qual representam. Já os
demais, tiveram inúmeros outros motivos para ter uma postura mais firme diante do
crescimento das ações e de territórios das milícias.
A Anistia Internacional também se manifestou sobre a tortura aos jornalistas,
criticando a política de segurança do estado:
Em comunicado divulgado ontem, a Anistia Internacional afirmou que a liberdade
de expressão e o estado de direito estão ameaçados, no Brasil, pelas ações praticadas
por milícias. Tim Cahill , pesquisador da Anistia Internacional no Brasil, criticou a
política de segurança do estado, e disse esperar que a Secretaria de Segurança leve
adiante as investigações sobre a tortura sofrida por uma equipe de reportagem e
sobre a atuação de grupos paramilitares. (COSTA e GOULART, 2008 : 15)
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O apoio da maioria dos partidos a favor da investigação sobre as milícias também foi
alterada, em pouco mais de um ano, já que em 2007 a CPI das Milícias não obteve os votos
necessários para ser instaurada. Já em 2008: “A aprovação é dada como certa por contar com
o apoio da maioria dos partidos e também do líder do governo, deputado Paulo Melo
(PMDB), que é presidente da Comissão de Ética.” (COSTA e GOULART, 2008 : 15) No dia
da votação a proposta venceu “por aclamação, ou seja, não houve posições contrárias dos
deputados.” (DIMMI, 2008: 17) Emergiram novas narrativas sobre as milícias a partir da CPI,
com atores que até então não se manifestavam e outros que não atribuíam a dedicação
necessária ao combate desses grupos.
De acordo com o exposto no artigo concluímos que as narrativas do Jornal as milícias
são tratadas como um poder paralelo ao Estado apesar de apresentar diversas ligações entre os
dois. Essas narrativas buscavam amenizar essa relação, atribuindo a casos isolados ou postura
de uma minoria, essas relações. Acreditamos que a visão da Segurança Pública e dos
governantes do Executivo e Legislativo, em grande parte, legitimavam as ações como atitudes
positivas “protegendo” a população mais pobre gerando assim um combate e controle menor
sobre as milícias. Com a pressão da sociedade civil após o caso da tortura as ações passam a
ser mais presentes e o Jornal não ameniza mais as ações das milícias.
O jornal O Globo escolheu os eventos que deveriam ser noticiados. Antes da CPI o
destaque, são notícias relacionadas aos diversos braços desses grupos que passaram a atuar
em serviços públicos e privados. A partir da tortura dos jornalistas a abordagem jornalística
muda: um foco maior na formação de currais eleitorais por grupos de milicianos.
As narrativas estudadas encontram a sua trama (desenvolvimento das milícias) em
diversos episódios (áreas dominadas, crimes cometidos, tipos de exploração que gera renda,
tortura dos jornalistas, entre outros) que se entrecruzam e são visados em relação ao enredo
mais amplo (segurança pública e currais eleitorais), construindo dessa forma uma “totalidade
significativa”.(RICOEUR, 1994)
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BIBLIOGRAFIA
BOTTARI, Elenice. RAMALHO, Sérgio. A polícia paralela – Milícias expulsam
traficantes de drogas já controlam 92 favelas na cidade. Jornal O Globo, 10 de dezembro
de 2006. p. 19
___________________________________. Policiais apoiam milícias na guerra por espaço
do tráfico. Jornal O Globo, 10 de dezembro de 2006. p.01
BRITTO. Carlos. Guerra entre milícia, tráfico e policiais deixa mais 9 mortos. Jornal O
Globo, Rio de Janeiro, 12/02/2007
COSTA, Célia. Tarso defende plano nacional contra as milícias. Jornal O Globo, 07 de
junho de 2008. p.17
____________. GOULART, Gustavo. Anistia vê ameaça a liberdade. Jornal O Globo, 06 de
junho de 2008. p. 15
DIMMI, Amora. GOULART. Gustavo. Alerj cria CPI para investigar atuação de milícias.
Jornal O Globo, 11 de junho de 2008, p.17
12
EDITORIAL O GLOBO, Poder Paralelo. 31 de janeiro de 2006. p.6
____________________. Milicianos torturam repórteres de “o Dia”. Jornal O Globo, Rio
de Janeiro, 01/06/2008. P. 1 e 31
GARCIA, Luiz. A CPI de Natalício. Jornal O Globo, 25de julho de 2008. p. 7
MONTALVÃO, Sérgio ; LEAL, Carlos . O Globo - Verbete Dicionário Histórico Biográfico
Brasileiro, CPDOC/FGV. Rio de Janeiro, 2001. Diponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/globo-o
RAMALHO, Sérgio. Milícias armadas tomaram 72 favelas do tráfico no Rio. Jornal O
Globo, Rio de Janeiro, 29/01/2006. p.1 e 20
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa, v. 1, Campinas: Papirus, 1994.
SCHIMIDT, Selma. Milícias de policiais chega a Zona Norte. Jornal O Globo, 22 de
setembro de 2006