memórias de um sargento de milícias

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Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antônio de Almeida

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Slides com análise da obra Memórias de Um Sargento de Milícias.

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Page 1: Memórias de Um Sargento de Milícias

Memórias de um Sargento de Milícias

Manuel Antônio de Almeida

Page 2: Memórias de Um Sargento de Milícias

“As Memórias reportam-se a uma fase em que se esboçava uma estrutura não mais puramente colonial,

mas ainda longe do quadro industrial-burguês. E, como o autor conviveu com o povo, o espelhamento foi

distorcido apenas pelo ângulo da comicidade, que é, de longa data, o viés pelo qual o artista vê o típico,

sobretudo o típico popular.”

Page 3: Memórias de Um Sargento de Milícias

• O sentimentalismo exacerbado cede lugar ao romance popular de caráter humorístico.

• O retrato de costumes do Rio de Janeiro.

• As personagens: tipos sociais identificados pela profissão ou condição social.

• O registro social antecipa o episódio.

• Sociedade marginalizada e dividida por grupos.

As Características

Page 4: Memórias de Um Sargento de Milícias

"Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor

mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar

sem uma paixãozinha."

“Apesar de tudo quanto havia já sofrido por amores, o Leonardo de modo algum queria emendar-se; enquanto se

lembrou da cadeia, dos granadeiros e do Vidigal, esqueceu-se da cigana, ou antes, só pensava nela para jurar esquecê-la; quando porém as caçoadas dos companheiros foram cessando, começou

a renovar-se a paixão.”

Page 5: Memórias de Um Sargento de Milícias

“O mestre de reza era tão acatado e venerado naquele tempo como o próprio mestre de escola. (...) O mestre de reza não tinha traje especial: vestia-se como

todos, e só o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente fora de um dos bolsos o cabo de uma

tremenda palmatória, de que andava armado, compêndio único por onde ensinava seus discípulos.”

Page 6: Memórias de Um Sargento de Milícias

“Espiar a vida alheia, inquerir os escravos o que se passava no interior das casas, era naquele tempo coisa tão comum e enraizada nos costumes, que ainda hoje,

depois de passados tantos anos, restam grandes vestígios desse belo hábito.”

Obs: a figura do escravo surge como elemento decorativo.

Page 7: Memórias de Um Sargento de Milícias

• O resgate do passado social em caráter de fábula.

• A narrativa mais objetiva e o estilo jornalístico.

Obs: A 3ª pessoa tira o poder de conclusão do protagonista.

• Não há a idealização das personagens.

• Surge a figura do anti-herói, o malandro carioca, o vadio.

Page 8: Memórias de Um Sargento de Milícias

“Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos que durante todo este tempo o garoto não desmentiu

aquilo que anunciara desde que nasceu.”

Obs: A malandragem em Leonardo é uma qualidade essencial e não circunstancial.

Page 9: Memórias de Um Sargento de Milícias
Page 10: Memórias de Um Sargento de Milícias

O universo da ORDEM X DESORDEM.

Page 11: Memórias de Um Sargento de Milícias

Romance Romântico X Romance Realista

o imaginoso a crítica social

Atenção: As reflexões morais do autor giram em torno do cinismo e do otimismo.

Page 12: Memórias de Um Sargento de Milícias

O personagem picaresco

• Narra a própria aventura > uma visão restrita da realidade.

• Origem ingênua X Choque áspero da realidade.

A condição servilmentira – dissimulação – roubo

Page 13: Memórias de Um Sargento de Milícias

O personagem picaresco

• A vida ao sabor da sorte.

• Aprende com a experiência > amadurecimento.

• Impassível – reage por reflexo de ataque e defesa.

Obs: em Leonardo não aparece o problema da subsistência.

Page 14: Memórias de Um Sargento de Milícias

• Agrada aos seus superiores.

• A misoginia acentuada.

• O vocabulário obsceno.

• O desfecho na resignada mediocridade ou na miséria.

Page 15: Memórias de Um Sargento de Milícias

Luisinha “Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida,

porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta,

magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como

andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos,

como uma viseira.

Page 16: Memórias de Um Sargento de Milícias

Vidinha"Era uma mulatinha de dezoito anos a vinte anos, de altura regular, ombros largos, peito alteado, cintura

fina e pés pequeninos; tinha os olhos muitos pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes

claríssimos, a fala era um pouco descansada, doce e afinada. “

Page 17: Memórias de Um Sargento de Milícias

Luisinha e Vidinha (um par simétrico)

Luisinha, no plano da ordem, é a mocinha burguesa com quem não há relação viável fora do casamento, pois ela traz herança,

parentela, posição e deveres.

Vidinha, no plano da desordem, é a mulher que se pode apenas amar, sem casamento

nem deveres, porque ela não tem nada além de sua graça e de sua curiosa família.

Page 18: Memórias de Um Sargento de Milícias

O sentimentalismo romântico

“(...)chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não

é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda. As leitoras que não concordarem com esta doutrina convençam-me do

contrário, se são disso capazes.”

Page 19: Memórias de Um Sargento de Milícias

“ (...) as‘Memórias de um sargento de milícias’ criam um universo que parece liberto do erro e do pecado. Um universo sem culpabilidade e mesmo sem repressão, a não ser a repressão que pesa o tempo todo por meio do Vidigal e cujo desfecho já vimos. O sentimento do homem aparece nele como uma espécie de curiosidade superficial, que põe em movimento o interesse dos personagens uns pelos outros e do autor pelos personagens, formando a trama de relações vividas e descritas.

Page 20: Memórias de Um Sargento de Milícias

A esta curiosidade corresponde uma visão muito tolerante, quase amena. As pessoas fazem coisas que poderiam ser qualificadas como reprováveis, mas também fazem outras dignas de louvor, que as compensam. E como todos têm defeitos, ninguém merece censura.”

(Antônio Cândido – Dialética da Malandragem)

Page 21: Memórias de Um Sargento de Milícias

“(...) a malandragem é uma variante do ‘jeitinho’ (...), constituindo-se como uma outra forma de navegação social. O malandro, portanto, seria um agente profissional do ‘jeitinho’ e da arte de sobreviver nas situações mais difíceis: aquelas nas quais ele está claramente fora ou longe da lei. Na malandragem também temos esse relacionamento complexo e criativo entre o talento pessoal e as leis que engendram o uso de ‘expedientes’, de ‘histórias’ e de ‘contos-do-vigário’, artifícios com um alto apelo pessoal que nada mais são que modos engenhosos de tirar partido de certas situações (...)”

O que é o Brasil?, Roberto DaMatta

Page 22: Memórias de Um Sargento de Milícias

O Malandro – Chico Buarque

O malandro na durezaSenta à mesa do café

Bebe um gole de cachaçaAcha graça e dá no pé

O garçom no prejuízoSem sorriso sem freguêsDe passagem pela caixa

Dá uma baixa no português

O galego acha estranhoQue o seu ganho tá um horror

Pega o lápis soma os canosPassa os danos pro distribuidor

Page 23: Memórias de Um Sargento de Milícias

Mas o frete vê que ao todoHá engodo nos papéis

E pra cima do alambiqueDá um trambique de cem mil réis

O usineiro nessa lutaGrita ponte que partiu

Não é idiota trunca a notaLesa o Banco do Brasil

Nosso banco tá cotadoNo mercado exteriorEntão taxa a cachaça

A um preço assustador

Page 24: Memórias de Um Sargento de Milícias

Mas os ianques com seus tanquesTêm bem mais o que fazer

E proíbem os soldadosAliados de beber

A cachaça tá paradaRejeitada no barril

O alambique tem chiliqueContra o Banco do Brasil

O usineiro faz barulhoCom orgulho de produtor

Mas a sua raiva cegaDescarrega no carregador

Page 25: Memórias de Um Sargento de Milícias

Este chega pro galegoNega arrego cobra maisA cachaça tá de graça

Mas o frete como é que faz?

O galego tá apertadoPro seu lado não tá bomEntão deixa congeladaA mesada do garçom

O garçom vê um malandroSai gritando pega ladrão!

E o malandro autuadoÉ julgado e condenado culpado

Pela situação

Page 26: Memórias de Um Sargento de Milícias

Homenagem ao Malandro(Chico Buarque)

Eu fui fazerUm samba em homenagem

À nata da malandragemQue conheço de outros carnavais

Eu fui à Lapa e perdi a viagemQue aquela tal malandragem

Não existe maisAgora já não é normalO que dá de malandroRegular, profissional

Malandro com aparatoDe malandro oficialMalandro candidatoA malandro federal

Page 27: Memórias de Um Sargento de Milícias

Malandro com retratoNa coluna social

Malandro com contratoCom gravata e capitalQue nunca se dá mal

Mas o malandro pra valerNão espalha

Aposentou a navalhaTem mulher e filho

E tralha e talDizem as más línguasQue ele até trabalha

Mora lá longe e chacoalhaNum trem da Central