na casa da imaginação

236
MAGINAÇÃ da Na C ASA Um olhar afetivo sobre a criança, a comunidade, os muros e a escola I O

Upload: thalessa-maia-germanovix

Post on 26-Jul-2016

292 views

Category:

Documents


42 download

DESCRIPTION

Um olhar afetivo sobre a criança, a comunidade, os muros e a escola. TCC 01 - UFSC

TRANSCRIPT

Page 1: Na cASA da imaginação

1

MAGINAÇÃdaNa CASA

Um olhar afetivo sobre a criança, a comunidade, os muros e a escola

I O

Page 2: Na cASA da imaginação

2

FIG. 01

Page 3: Na cASA da imaginação

3

MAGINAÇÃdaNa CASA

Um olhar afetivo sobre a criança, a comunidade, os muros e a escola

I O

Page 4: Na cASA da imaginação

4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAFaculdade de Arquitetura e Urbanismo

Trabalho de conclusão de curso por

Na cASA da Imaginação

Thalessa Maia Germanovix

Orientadora Vanessa Goulart Dorneles

Florianópolis2016

Um olhar afetivo sobre a criança, a comunidade, os muros e a escola

Page 5: Na cASA da imaginação

5

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desapren-dam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob con-trole. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pás-

saros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros cor-

agem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros.

O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”

RUBEM ALVES

Page 6: Na cASA da imaginação

6

OBRIGADA,

Page 7: Na cASA da imaginação

7

screver os agradecimentos deste trabalho, é ter a opor-tunidade de perceber como estou cercada de pessoas especias, as quais foram fundamentais para que eu che-

gasse até aqui, me perdoem se as palavras não significarem tanto, pois como disse Manoel de Barros: “Onde estou as pa-lavras não me acham”.

Quero agradecer em primeiro lugar a Deus, o maior arquiteto que eu poderia ter como inspiração! Com sua grande imagi-nação projetou o Universo e me permitiu ter o gostinho de projetar também!

Ao meu amado André, que esteve ao meu lado durante esse período, você é o engenheiro/bombeiro mais arquiteto que eu conheço! Te amo!

Aos meus pais, Josiane e Carlos, agradeço muito por acredi-tarem em mim e por me apoiarem ao longo deste tempo de graduação, sei o quanto vocês oraram e torceram por mim! Mãe, você não faz ideia de quanto os seus abraços signifi-caram ao longo da faculdade, muito obrigada por cuidar de mim! Amo vocês!

Thaíssa, muito obrigada por me lembrar como é ser criança Nunca vou esquecer quando um dia te perguntei como seria a escola mais legal do mundo e você me disse que nela teriam baldes para carregar os brinquedos, cavernas e princesas! Você é demais, maninha!

Agradeço também ao meu avô Ivo (in memorian) o primeiro “arquiteto da família”, você me inspirou a arquitetar. Sei que terias orgulho de mim!

E Quero agradecer também a minha orientadora Vanessa, obri-gada por todos os vôos os quais você me encorajou a voar, e por sonhar este projeto comigo! Obrigada mesmo! Você foi uma daquelas pessoas que entram sem querer na nossa vida e fazem toda a diferença!

Agradeço ainda as pessoas queridas do NEI Otília, a Fabrícia, a Fernanda e a Janaina, que me deram o prazer de vivenciar a realidade por dentro dos muros do Otília e me fizeram ver o grande carinho que tem por esse lugar! Obrigada, sem vocês não teria sido possível!

Agradeço ainda as grandes amigas que fiz ao longo da gra-duação, Dani, Maitê e Amanda! Sem dúvidas aprendemos mui-tas juntas e sou muito feliz em saber que essa amizade con-tinuará para além da faculdade!

Agradeço a minha amiga Jéssica, que me acompanhou na exploração fotográfica pelo bairro me emprestando sua tão preciosa câmera e sua sensibilidade de fotógrafa!

Quero agradecer ainda ao Edézio, por sua grande ajuda en-quanto designer, suas dicas e cursos foram fundamentais, se não fossem eles talvez esse trabalho estivesse em ‘comic sans’!

E quero agradecer ainda as amigas que mesmo durante minha ausência não mediram esforços para me deixar palavras de incentivo e carinho, obrigada Ruth, Alê, Manu, Carol, Maynã e Lauren!

Família e amigos, muito obrigada por todo apoio, carinho, in-centivo e paciência, meu coração transborda de GRATIDÃO!

Page 8: Na cASA da imaginação

8

Objetivo...........................................Metodologia...................................ERA UMA VEZ...............................

PEDAGOGIA E ARQUITETURA...Desenvolvimento infantil..............Correntes pedagógicas..................Educação infantil e o Brasil...........A criança, o lugar e o brincar........ O pássaro..........................................

ESPAÇOS EDUCATIVOS...............A escola e a comunidade...............O pátio, espaço integrador............Os heróis...........................................

O LUGAR...........................................Da minha janela...............................Um lugar chamado Otília Cruz.....Entre muros e marcas...................Os vilões..........................................

101214

202228384258

56586073

UMÁRIOS

Page 9: Na cASA da imaginação

9

O LUGAR...........................................Da minha janela...............................Um lugar chamado Otília Cruz.....Entre muros e marcas...................Os vilões..........................................

AFETIVIDADE POR DETRÁSDOS MUROS.................................Afetividade, o conceito................Afetividade, a prática................... Walkthrough...................... Mapas afetivos.................. Mapas visuais.................... Poema dos desejos...........A chave.............................................

DIRETRIZES PROJETUAIS..........CPD..................................................INTERVENÇÕES.ARQUITETÔNICAS......................Muros...............................................Espaços edificados........................Espaço não-edificados.................

VOARAM FELIZES PARASEMPRE..........................................BIBLIOGRAFIA..............................LISTA DE FIGURAS.......................

808284

110160

164166168170176182188182

196198

204206210214

220224231

Page 10: Na cASA da imaginação

10

BJETIVOO

Page 11: Na cASA da imaginação

11

específico

geralespertar novas ambiências a partir da afetividade dos usuários (crianças e a comunidade) para com o lugar, estimulando o imaginário infantil e a apropriação da comunidade por meio de intervenções arquitetônicas lúdicas que integrem o ambiente escolar ao bairro.

romover vitalidade, permeabilidade e integração no espaço escolar Otília Cruz tendo como base os afetos, desejos e inquietações compartilhados pelos usuários e comunidade além de minha própria vivência enquanto vizinha do lugar, por meio de:

Reformas, as quais não modifiquem a espacialidade formal já conhecida pela comunidade por 50 anos, mas que permitam um uso mais livre, lúdico, comunitário e integrador.

Revitalizações de espaços sem uso, a partir de projeto paisagistico e arquitetônico que dialogue com a linguagem do bairro, promovendo a apropriação comunitária, tornando as atividades do terreno um conjunto.

Intervenções lúdicas que promovam a brincadeira, o desenvolvimento infantil, o imaginário, a integração social, o espaço enquanto lugar convidativo, cativante, dinâmico.

D

P

Page 12: Na cASA da imaginação

12

ETODOLOGIAM

Page 13: Na cASA da imaginação

13

Page 14: Na cASA da imaginação

14

Page 15: Na cASA da imaginação

15

Era uma vez...

Page 16: Na cASA da imaginação

16

Page 17: Na cASA da imaginação

17ar asa a imaginação é a inspiração para a alçar vôo rumo a um olhar afetivo para com a criança, a comunidade, os muros e a escola, fa-zendo nascer a Casa da imaginação, um lugar que é em parte real, e em parte uma história.

Os personagens não são aqueles que você vê comumente nos livros, estes são alegorias que tornam a história um lugar, e o lugar uma história.

A crianças, são as protagonistas, são elas que voam mais alto, sendo que seu vôo depende de quão grande o céu lhes parece.

A comunidade, personagem muito importante, tem papel fundamental na bus-ca por céus maiores, onde se possa voar livremente e sem medo.

Os muros, limitam os céus, enquanto contam a mentira de que foram feitos para a segurança das crianças e da comunidade. A rua carece de olhos, logo, os muros precisam ser quebrados.

A afetividade, é o que torna o lugar a história, é o que dá cor ao comum.

A escola é quem encoraja os pássaros e todos aqueles que possuem asas a voar mais alto. Afinal como disse Rubem Alves, “Ensinar o vôo, isso elas [as escolas] não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros.”

Este lugar-história cresceu dentro de mim, pois vivi junto das crianças, da co-munidade, dos muros e da escola. Não conto sobre o que ouvi, conto sobre o que vi com meus próprios olhos e imaginei ao voar com as asas da minha imaginação e do meu coração.

Essa é definitivamente uma história que vale a pena ser contada!

D

Page 18: Na cASA da imaginação

18

CRIANÇA,o pássaro

Page 19: Na cASA da imaginação

19

CRIANÇA,o pássaro

FIG. 02

Page 20: Na cASA da imaginação

20

PEDAGOGIQUITETURaAR&

Page 21: Na cASA da imaginação

21

PEDAGOGIapedagogia enquanto ensino e a arquitetura enquanto lugar pro-movem discursos, transmitem

mensagens. Não existe pedagogia sem ideologia e não existe arquitetura que não reflita o tempo e o espaço em que se insere.E é nas escolas que estes dois discursos se encontram, mas não podem coexistir, já que ou o discurso pedagógico sub-metirá a arquitetura a sua ideologia, ou a arquitetura influenciará a pedagogia com sua linguagem. Portanto, é de ex-trema importância compreender como a pedagogia e a arquitetura podem se ali-nhar para criar uma escola que trasmite a mensagem correta influenciando a crian-ça durante seu desenvolvimento.Para Anita Olds (1979, p. 137) “na crian-ça a motivação para interagir com o am-biente existe como propriedade intrínse-ca à vida. Mas a qualidade das interações depende do engajamento que o ambien-te permitir. E o espaço é o currículo e o parâmetro físico da escola, e pode ser manipulado pelos professores como um aspecto essencial do processo educati-vo”.Talvez a melhor forma de aliar pedago-gia e arquitetura seja compreendendo

A

“Acredito que as escolas começam quando os alunos não sabem que são alunos, os professores não sabem que são professores e es-tão todos debaixo de uma árvore.”

LOUIS KAHN

os espaços escolares como lugares (TUAN, 2013, p. 14), os quais estabelecem um vín-culo entre a pessoa e o ambiente, dotando-o de valor. Portanto não basta enxergar a pedagogia e a arquitetura como discursos isolados, ou até mesmo como meros dis-cursos, mas como possibilidades que aco-lhem e promovem as sensações, o desen-volvimento e as experiências (LIMA, 1989, p.13)É por isso que na afirmação de Kahn está implícito que antes de ser aluno ou pro-fessor, o ser humano é um ser sociável e influenciável pela ambiência dos lugares, fatores que facilitam o discurso, o aprendi-zado e o desenvolvimento.

Page 22: Na cASA da imaginação

22

Desenvolvimento Infantil

O mento infantil compõem um vasto campo de estudo, por onde permeiam diversas teorias e linhas de pensamento. A análise portanto, será sucinta e direcionada ao projeto de arquitetu-ra.

Há basicamente 3 tipos de desenvolvimento sobre os quais os cientistas concordam:Desenvolvimento físico: relacionado ao ama-durecimento do corpo e do cérebro, permitin-

do as habilidade motoras e sensoriais.

Desenvolvimento cognitivo: o qual diz respei-to a inteligência e a lógica, relativos portanto a aprendizagem, a memória, ao pensamento e a criatividade.

Desenvolvimento psicossocial: relativo aos relacionamentos sociais e a personalidade.

desenvolvimento pode ser entendido como o conjunto de transformações os quais os indivíduos vivenciam ao longo de suas vidas. (ELALI, 2002).

É porém, nos primeiros anos de vida que a pes-soa sofre o maior número de transformações em um curto espaço de tempo, sendo essas mudanças de extrema importância para seu amadurecimento e crescimento enquanto ser humano. Tuan afirma que “a criança é o pai do homem, já que as categorias perceptivas do adulto, são de vez em quando impregnadas de emoções que pro-cedem da primeiras experiências”(2013, p.32) As primeiras semanas de vida movimen-tos são limitados mas com o passar do tempo se vêem evoluções no movimento. A criança, antes um bebê, adquire a capacidade de exe-cutar com cada vez mais precisão os movimen-tos permitindo-se ao longo do tempo explorar o espaço ao seu redor. Os estudos relacionado ao desenvolvi-

Page 23: Na cASA da imaginação

23

Há duas abordagens comumente difundidas no meio psico-pedagógico, as quais estudam o desenvolvimento infantil e que são de inter-esse para este trabalho, as quais são:

A abordagem cognitivista a qual tem como principal expoente Jean Piaget e a abordagem histórico-cultural com Vygotsky.

As duas abordagens dedicam-se a com-preender o desenvolvimento da criança du-rante seus primeiros anos de vida. Alguns es-tudiosos consideram-as contraditórias, pois há divergência entre os próprios autores sobre alguns pontos, porém, podem ser considera-das complementares se analisadas do ponto de vista de que focalizam tipos de desenvolvi-mento distintos e portanto podem coexistir, já que Piaget atribui maior ênfase ao desenvolvi-mento físico e cognitivo enquanto Vygotsky aborda o desenvolvimento psicossocial como maior fator no desenvolvimento infantil.

ABORDAGEM COGNITIVISTA A abordagem cognitivista de Piaget, influenci-da por sua formação biológica, entende o de-senvolvimento da criança como que de dentro para fora, no sentido de que os impulsos in-ternos que ao longo do desenvolvimento são

amadurecidos permitem ao indivíduo atuar no mundo exterior. (HENRIQUES, 1993; PRADO 2015; REGO 1995). Piaget desenvolve então os quatro es-tágios de desenvolvimento:

Sensório motor (do nascimento aos 2 anos):

Este estágio corresponde ao início da vida do bebê, neste momento se estabelece uma relação com o meio externo por meio das sen-sações e movimentos, os quais não são vol-untários, mas ações reflexas. Este estágio é divido em 6 subfases, as quais interessam ao arquiteto, visto que po-dem auxiliar nas ambiências e experiências que propostas.

Segundo TEODORO (2013, p. 27) são estas as subfases:

Reflexo (0 ao 1° mês)-A criança e o meio são percebidos por ela como um só.-Não há controle motor. Braços e pernas são desconhecidos.-Os reflexos são acionados quando algo entra no campo perceptivo da criança.

Reações Circulares Primárias (1° ao 4° mês)

-Início das imitações-Tendência a repetir experiências agradáveis-A criança não conserva o objeto que sai do seu campo visual-Exploração do próprio corpo

Reações Circulares Secundárias (4° ao 8° mês)-A criança começa a perceber o mundo como -separado dela.-Início da conservação de objetos desapareci-dos pela continuação da ação.-Início da exploração do meio.

Reações Circulares Coordenadas (8° ao 12° mês):

-A criança já consegue achar objetos que saíram do seu campo de visão. -Aperfeiçoamento da capacidade de assimi-lação.-Movimentos intencionais.

Reações Circulares Terciárias (12° ao 18° mês): -A criança é capaz de procurar objetos desapa-recidos; -Comportamentos exploratórios ou de experi-mentação.

Início do Simbolismo (18° ao 24° mês): -A criança já consegue pensar sobre um fato sem ser preciso vê-lo na prática;

Page 24: Na cASA da imaginação

24

-Noção do próprio corpo a partir do corpo do outro.

Pré-operacional (dos 2 anos aos 7 anos):

Neste período a criança se comunica por meio da linguagem, e a presença do simbolismo tor-na-se bem presente , sendo que ela reconhece os símbolos e os utiliza para a representação. A presença da função simbólica é algo muito importante neste estágio, visto que pode ser estimulada por meio do lúdico e do faz-de-conta. (PRADO, 2015). Porém, como se trata da fase pré-operacional a criança ainda não se utiliza do pensamento lógico, logo, tem dificuldade em compreender o conceito de ir-reversibilidade e conservação de massa. (TEO-DORO, 2013). Essa fase é marcada também pelo ego-centrismo, ou seja a criança não consegue perceber o mundo ao seu redor a partir do ponto de vista de outra pessoa. Tudo está rela-cionado com seu mundo e com seus sentimen-tos. (TEODORO, 2013).

Operacional concreto (dos 7 anos aos 11 anos):

Neste estágio a criança já consegue solucion-ar operações, como soma, subtração, divisão e multiplicação, consegue também entender os

conceitos de irreversibilidade e conservação de massa, além de solucionar questões envolvendo situações, porém ainda não é capaz de pensar de forma abstrata, seu pensamento flui de forma concreta, ou seja seu raciocínio baseia-se em acontecimentos verídicos. (PRADO, 2015; TEO-DORO, 2013).

Operacional formal (dos 11 anos em diante):

Este é o período marcado pelo pensamento abstrato, a criança agora é capaz de pensar além do concreto. É neste momento que conceitos subjetivos podem ser compreendidos. Neste estágio o indivíduo consegue solucionar situações hipotéticas e lidar com situações abstratas. (PRADO, 2015; TEODORO, 2013). Para Elali (2002) cada um dos estágios depende da etapa anterior para que o indivíduo evolua para a fase seguinte, porém entende-se que as características individuais são responsáveis pela velocidade de transição entre os estágios. Portanto o conhecimento não pode ser ensinado, apenas estimulado por meio de experiências, as quais por meio do erro e acerto direcionam o indivíduo a adquirir novas habilidades.

Page 25: Na cASA da imaginação

25

to, ou seja para ele o processo de desenvolvi-mento das funções psicológicas superiores não é inata ao homem, ela depende da relação da criança com sua cultura. (REGO, 1995). Rego (1995) comenta que Vygotsky chamava atenção para o termo “jardim de in-fância” que indicava a concepção botânica que havia quanto ao desennvolvimento infantil, en-quanto algo botânico, algo que já está instrín-seco ao homem. A abordagem histórico-cultural de Vy-gotsky está alicerçada em alguns princípios básicos dentre os quais para fins deste tra-balho destaca-se em REGO (1995, p. 41 -43):

Interação sócio-cultural

Para Vygotsky as características típicas do homem, ou seja, o que o difere enquanto ser racional, não estão presentes desde o nasci-mento do indivíduo e não existem dentre dele como que esperando para aflorar, para ele, o desenvolvimento humano é proveniente da in-teração entre o homem e seu meio sócio cultur-al. É portanto a partir dessa interação em que o homem modifica seu meio, que seu desen-volvimento vai acontecendo, ou seja segundo ele as funções psicológicas humanas surgem da interação das características biológicas com a cultura em que está inserido.

Origem cultural das funções psíquicas

A interação sócio-cultural traz consigo a ideia de que a origem da cultura, portanto é baseada nas funções psíquicas do homem, já que ao in-teragir com a cultura que o homem a transfor-ma e transforma a si mesmo. Logo, a cultura constitui a natureza humana e o indivíduo pos-sui seu desenvolvimento a partir da internal-ização dela.

Cérebro

Vygotsky não nega a importância das funções biológicas, pelo contrário, são elas a base do funcionamento psíquico o qual ocorre por meio do cérebro. É portanto, a partir da ativ-idade cerebral que o indíviduo interage com a seu meio exterior, reagindo a ele. Para Vygot-sky o cérebro é um órgão que mesmo sendo a base do funcionamento psicológico, não é imutável e fixo, é moldado ao longo da vida.

Mediação

A mediação para Vygotsky representa os in-strumentos técnicos e os sistemas de signos, que foram construídos historicamente na cul-tura humana e permitem a interação do homem com os demais indivíduos e do homem com seu meio exterior. A linguagem por exemplo, é um signo que permite que o homem se comu-nique e interaja com os demais de sua cultura

ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL

A abordagem histórico-cultural proposta por Lev Vygotsky tem como objetivo entender o comportamento humano baseado nos as-pectos típicos, permitindo conhecer as carac-terísticas que levam o ser humano a ser desen-volver (REGO, 1995). Vygotsky diferentemente de Piaget, entendia que o desenvolvimento infantil es-pecialmente no que diz respeito as funções psicológicas superiores, tais como a memória, o pensamento, a atenção voluntária, se dava de fora para dentro, ou seja o mundo exteri-or, as relações sociais e na “internalização de formas culturais” (REGO, 1995, p.39) são as re-sponsáveis por gerar os impulsos internos. Basicamente, Piaget detalha as etapas do processo de desenvolvimento cognitivo, enquanto Vygotsky aborda o que desencadeia esse desenvolvimento que para ele é a relação sócio-interativa. Portanto, ambas as aborda-gens podem ser entendidas como complemen-tares quando sob a ótica de que uma focaliza o “o que”, e a outra o “como” permitindo um estudo mais completo do desenvolvimento humano, haja vista sua complexidade, que não pode ser explicada apenas levando-se em con-ta o desenvolvimento físico ou apenas o de-senvolvimento piscossocial. Porém, para Vygotsky a relação sócio-in-terativa é determinante para o desenvolvimen-

Page 26: Na cASA da imaginação

26

ao mesmo tempo que o auxilia no processo do pensamento (compreensão do mundo exte-rior). Logo, a interação com o meio socio-cul-tural por parte do homem não é uma relação direta, mas realizada por meio de ferramentas auxiliares. A importância atribuída por Vygotsky “a interação sócio-cultural é de extrema im-portância para sua teoria, haja vista, que para ele a estrutura fisiológica humana não é sufi-ciente para produzir o indivíduo humano na ausência do ambiente social” REGO (1995, p. 57-58). Sua teoria é embasada ainda no caso verídico das chamadas “meninas-lobas” en-contradas na Índia, vivendo entre lobos, elas não apresentavam praticamente nenhuma característica humana, não ficavam de pé, não falavam, não pensavam logicamente e se ali-mentavam dos alimentos dos lobos, este acon-tecimento reforça para Vygotsky a ideia de que quando fora do meio sócio-cultural o homem é insuficiente para desenvolver-se enquanto ser humano. (REGO, 1995). Na cultura na qual o indivíduo estiver inserido cabe ao adulto transmitir aos bebês os costumes, os instrumentos e o signos de sua cultura. Portanto, as conquistas individuais re-sultam de um processo compartilhado. Ainda em Vygotsky encontra-se um conceito muito interessante relacionado a in-teração entre o aprendizado e o desenvolvi-mento, que é a zona de desenvolvimento

proximal. Vygotsky identifica dois níveis de de-senvolvimento, os quais são o desenvolvimen-to efetivo e o potencial. O primeiro se refere as conquistas já consolidadas na criança, as quais são as capacidades as quais por meio de sua relação com os outros humanos e com sua cul-tura, ela já aprendeu e pode realizar de forma independente. Já o desenvolvimento poten-cial, se refere ao que a criança é capaz de faz-er, porém somente mediante a ajuda de outra pessoa (seja ela uma criança mais velha ou um adulto). A distância entre o que ela faz de for-ma autônoma e o que ela realiza com o auxílio de outros é o chamado desenvolvimento prox-imal, ou seja as funções ainda não amadure-ceram na criança, mas se estimuladas podem se tornar parte de seu desenvolvimento efeti-vo. Portanto, desafiar a criança e estimular seu

pensamento é uma forma de qualificar seu de-senvolvimento. Logo, o ato de brincar, em especial a brincadeira de faz-de-conta é “uma impor-tante fonte de promoção do desenvolvimento” REGO (1995, p. 80) já que por meio dela se in-troduzem novos conceitos, os quais alargarão seu desenvolvimento proximal, e logo farão parte de seu denvolvimento efetivo. A brinca-deira permite representar o simbólico, permite imaginar. O brincar estimula o pensamento que antes era determinado pelos objetos reais a ser regido pela imaginação. Portanto, é por meio de Vygotsky que é possível compreender a necessidade da in-teração do indivíduo com os outros e com seu meio e ainda a necessidade de estimular a cri-ança para que seu desenvolvimento seja rico em experiências.

Page 27: Na cASA da imaginação

27

Portanto, considerando-se tanto a abordagem cognitivista como a abordagem histórico cultural é possível, segundo Prado (2015) compreender e se utilizar de mecanismos que podem ser fer-ramentas educacionais as quais podem qualificar o desenvolvimento infantil. Sendo elas, o encorajamento à exploração, a comemoração das novas conquistas, o incen-tivo ao uso da linguagem e símbolos, direcionamento para a realização de novas tarefas e desen-volvimento de novas habilidades, e a ausência de correção durante o processo de exploração. Logo, considerando-se tanto a abordagem cognitivista como a abordagem histórico cul-tural é possível, segundo Prado (2015) compreender e se utilizar de mecanismos que podem ser ferramentas educacionais as quais podem qualificar o desenvolvimento infantil.

Sendo elas, o encorajamento à exploração, a comemoração das novas conquistas, o incentivo ao uso da linguagem e símbolos, direcionamento para a realização de novas tarefas e desen-volvimento de novas habilidades, e a ausência de correção durante o processo de exploração.

O ato de brincar, em especial a brincadei-ra de faz-de-conta é “uma importante fon-te de promoção do de-senvolvimento” já que por meio dela se intro-duzem novos concei-tos, os quais alargarão seu desenvolvimento proximal, e logo farão parte de seu denvolvi-mento efetivo. A brin-cadeira permite re-presentar o simbólico, permite imaginar.

Page 28: Na cASA da imaginação

28

Portanto em resposta a escola tradicional surgiram alguns outros métodos pedagógi-cos, os quais são fruto dos estudos sobre o desenvolvimento infantil, logo nomes como Emília Ferreiro (Construtivismo), Maria Mon-tessori, Rudolf Steiner (Método Waldorf), Loris Malaguzzi (Reggio Emillia) e outros abriram as portas para uma nova forma de abordar o ensi-no e a aprendizagem.

O fator principal que torna estes métodos, tão distintos do método tradicional é devido a forma como vêem a criança, como ser único e capaz de por meio da curiosidade, explorar, questionar e aprender. Tornando-se um indívid-uo completo, não apenas cognitivamente, mas emocional e socialmente. Já que como dizia Rubem Alves “O ato de aprender acontece em resposta a um desejo” (2010, p. 11).

Corrrentes Pedagógicas educação escolar enquanto método

pedagógico, encontra várias aborda-gens, as quais procedem de diferentes compreensões de quem é a criança e

de sua relação com o mundo. Sabe-se que foi a partir da Revolução Industrial que as escolas enquanto instituições ganharam força já que viu-se a necessidade de se gerar pessoas capacitadas para o trabalho, logo não havia preocupação com a criança ou seu desenvolvimento, mas sim com o ensino massificado e formail, ignorando-se a unici-dade do indíviduo. As escola tradicionais permearam muito séculos e ainda são encontradas enquanto es-trutura rígida, as quais podem ser comparadas a fábricas com suas linhas de montagem, visto que trabalham com a fragmentação do ensino, aplicam teste de qualidade, usam uniformes, possuem apitos.:

As linhas de montagem denominadas escolas se organizam segundo coordenadas espaciais e temporais. As coordena-das espaciais se denominam “salas de aula”. As coordenadas temporais se denominam “anos” ou “séries”. Dentro dessas unidades espaço-tempo os professores realizam o processo técnico-científico de acrescentar sobre os alunos os saberes-habilidades que, juntos, irão compor o objeto final. Depois de passar por esse processo de acréscimos sucessivos - à seme-lhança do que acontece com os “objetos originais” na linha de montagem da fábrica- o objeto original que entrou na linha de montagem chamada escola ( naquele momento ele chamava “criança”) perdeu totalmente a visibilidade e se revela, então, como um simples suporte para os saberes habilidades que a ele foram acrescentados durante o processo. A criança está, finalmente formada, isso é, transformada num produto igual

a milhares de outros.

(ALVES, 2010, p. 2-3)

A arquitetura das escolas tradicionais apre-senta a mesma rigidez presente no sistema ed-ucativo, a formalidade torna o espaço escolar uma instituição, logo enquanto instituição não dialoga com a cidade, é superior a ela, rejeita o entorno e não se abre para o mundo exterior, o que pode-se perceber nos muros altos. (FER-REIRA, 2011).

A

Page 29: Na cASA da imaginação

29

FIG. 03

Page 30: Na cASA da imaginação

30

FIG. 3A

Page 31: Na cASA da imaginação

31

FIG. 3B

Page 32: Na cASA da imaginação

32

FIG. 3C

Page 33: Na cASA da imaginação

33

FIG. 3D

Page 34: Na cASA da imaginação

34

http://media.oregonlive.com/portland_impact/photo/opaljpg-83cb8d1cfe031b29.jpg

FIG. 3E

Page 35: Na cASA da imaginação

35

FIG. 3F

Page 36: Na cASA da imaginação

36

Page 37: Na cASA da imaginação

37

"Se um médico do Século XX entrar numa sala de cirurgia do Século XXI,

ele consegue operar? Não. Ele não consegue operar. Ele mal consegue en-tender o que é que tem ali. Onde é que está o paciente? Agora, se um pro-

fessor do Século XIX entrar na sala de aula do Século XXI, ele vai achar muito diferente? Não vai. Ele vai ver ali a lousa, o giz, as carteiras enfileira-das, a lista de chamadas, tudo conforme era no Século XIX. A única coisa que ele não contava era com a cabeça dos alunos do Século XXI. É aí que

está o conflito, pois a sala de aula do Século XXI não é mais aquele quadra-do, é praticamente um planeta, porque, com as novas tecnologias, o planeta

é o espaço de aprendizado das pessoas agora". SIMONE ANDRÉ

Page 38: Na cASA da imaginação

38

Educação infantil e o Brasil

A educação infantil, está para além da instituição, ela remete à criança, ser humano cheio de vida. (DIDONET, 2001). Logo, limitar a educação infan-

til aos aprendizados escolares, é restringi-la. Pode-se considerar que a educação infantil envolve todos os aprendizados dos primeiros anos de vida da criança, os quais ela obtém por meio da relação e interação com seus seme-lhantes, antes mesmo de ir a escola. (DI LELLO, 2012) A educação infantil no mundo, enquan-to instituição, teve seu início na Europa no sé-culo XVIII, devido a transição do sistema feu-dal para o capitalismo, onde de um modo de produção doméstico há a passagem pra um modo de produção em fábricas. Logo, com a Revolução Industrial e a entrada da mulher no mercado de trabalho, a forma de organização familiar adquiriu um novo rumo. (DI LELLO, 2012)

Apesar dos impulsos direcionados para a assistência de crianças durante este período, foi somente após a Segunda Guerra que houve a preocupação com as necessidades emocio-nais da criança, com estudos sobre o desenvol-vimento infantil e a compreensão da importân-cia dos primeiros anos de vida para a criança. No Brasil, foi apenas a partir dos anos 80 que conquistas históricas legais relativas à criança e sua educação foram conquistadas, com a Constituição Federal em 1988 e com Es-tatuto da Criança e do adolescente em 1990. Mais recentemente o governo tem se preocupado em traçar diretrizes nacionais re-ferentes a construção de espaços de educação infantil, assim como diretrizes curriculares as quais norteam as propostas pedagógicas e es-tão baseadas nos princípios:

Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solida-riedade e do respeito ao bem comum, ao meio am-biente e às diferentes culturas, identidades e singu-

laridades. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da

criticidade e do respeito à ordem democrática.

Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludici-dade e da liberdade de expressão nas diferentes ma-

nifestações artísticas e culturais. (BRASIL, 2010, p. 16)

A partir deste ano (2016), a lei Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, determina a obrigato-riedade escolar a partir dos 4 anos, além de

estabelecer que:

“A educação infantil, primeira etapa da educação bá-sica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psi-cológico, intelectual e social, complementando a ação

da família e da comunidade”.

(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2013, p.1)

É interessante perceber que este trecho desta-ca o papel da educação infantil enquanto ins-tituição como algo complementar à educação familiar e da vida em comunidade, demons-trando que o educar vai além do ensino formal abrange também os conhecimentos empíricos e afetivos recebidos pela criança ao longo dos

Page 39: Na cASA da imaginação

39

primeiros anos.

As diretrizes curriculares nacionais dispõe ainda que as práticas pedagógicas devem ter a interação e a brincadeira como norte-adores, garantindo portanto experiências sensoriais, expressivas, corporais, assim como imersão quanto a diferentes lingua-gens, onde esteja presente a expressão: gestual, verbal, plástica, dramática ,musi-cal; promovam a autonomia, a coletivida-de, a curiosidade, o encantamento, conhe-cimento cultural. (BRASIL, 2010, p. 24-26)

O brincar é direito assegurado a criança, in-felizmente este belo discurso nem sempre condiz com a realidade dos espaços escola-res destinados a infância, especialmente nas instituições públicas os quais tendem a fal-ta de manutenção, a espaços ausentes de significado e humanização, os quais não atraem a criança a exploração e ao conví-vio.

FIG. 04

Page 40: Na cASA da imaginação

40

A despeito do descaso público, para com as instituições de ensino, é muito interes-sante perceber o esforço dos profissinais docentes para com uma melhor humani-zação dos espaços, mesmo sem haver ver-bas para reformas.Como é perceptível no NEI Otília Cruz, lu-gar onde se desenrola este trabalho e que será discutido detalhadamente nos capí-tulos posteriores.

Na primeira foto a direita, tem-se a sala simbólica, inseria num espaço residual do complexo e que busca permitir com que a criança possa representar e imaginar.

Na segunda foto a direita, tem-se a biblio-teca criada pelos próprios profissionais como forma de estimular as crianças a lei-tura e ao mundo da imaginação.

É sem dúvidas, uma atitude muito váli-da, apesar de ficar claro que não apenas a biblioteca e a sala simbólica poderiam ser espaços lúdicos, mas todo o complexo infantil, de forma a agregar ainda mais ex-periências e tornando a brincadeira uma rotina.

FIG. 05

Page 41: Na cASA da imaginação

41

FIG. 06

Page 42: Na cASA da imaginação

42

A criança, o lugar e o brincar

A Através da brincadeira que a criança é capaz de assimilar o mundo ao seu redor (PIAGET,1971), já que na brinca-

deira a questão espacial é fundamental pois é o que determina o movimento que a brincadeira exige (LIMA, 1995, p.187). Logo, o espaço não é neutro, ele influencia e interage o comporta-mento infantil.Dessa forma, os espaços infantis devem ser sensíveis a forma como a criança enxerga o es-paço.

FIG. 07

Page 43: Na cASA da imaginação

43

“O espaço isolado só existe na cabeça do adultopara medi-lo, para vendê-lo, para guardá-lo. Para a criança existe o espaço-alegria, o espaço-medo, o espaço proteção, o espaço-mistério, o espaço descoberta, en-fim, os espaços da liberdade ou da opres-são.” (LIMA, 1989, p. 30) Portanto como forma de auxiliar a brin-cadeira, os espaços precisam possuir ambiên-cias que incentivem a experimentação, a curi-osidade, e a afetividade (a qual será abordada num capítulo posterior) possibilitando que a aprendizagem seja lúdica e autônoma. Rubem Alves (2010, p. 14) ao dizer “Ah, uma vez cometido o erro arquitetônico o es-piríto da escola já está determinado” estava se referindo a importância dos “espaços-lugares” (TUAN, 2012) das ambiências e de uma ar-quitetura que converge com os princípios pedagógicos para promover o aprendizado, a corrente pedagógica Reggio Emilia considera arquitetura escolar o “terceiro-educador” ou seja além dos professores e da família e comu-nidade o ambiente também ensina. (SANTOS, 2014)

FIG. 08

Page 44: Na cASA da imaginação

44

o brincar surge o conceito do “lúdico” que Di Lello (2011, p. 49) descreve como “atividade criadora que está aquém da seriedade e além da brincadeira” por se tratar não apenas do divertimento,

mas que está relacionada com processo de ensino-aprendizado, já que permite a exploração, a curiosidade, estimula o interesse. Se considerarmos o lúdico como uma brincadeira instigante e ca-tivante, poderemos encontrar o lúdico de várias formas, as quais vão além do tradicional parque infantil, mas que ao se tornar o conceito e a linguagem tornam o lugar completo e muito mais rico em experiências que conformam um novo significado ao ambiente escolar. A palavra “lúdico” vem do latim “ludus” que significa “jogo”, logo confere a brincadeira algo além do brincar por brincar, mas traz a co-notação de brincadeira com propósito, onde a crinça ou até mesmo o adulto pois como diz Marrach (1998) o lúdico não é apenas brincadeira de criança, pois o adulto também brinca sem saber que o está fazendo, cita ainda como exemplo a invenção da linguagem que pode ter sido originada com um jogo, uma brincadeira com propósito. O lúdico estimula a socialização e o crescimento mútuo, já que num jogo, sempre se é melhor jogar com alguém, logo esta troca de ex-periências promove interação e aprendizado.

BONS EXEMPLOS

Praça infantil por Márcio Kogan

“Uma praça lúdica para ser explorada livremente” é assim que o arquiteto Márcio Kogan define a praça que seu escritório projetou. Toda a praça gira em torno do de uma cerca de madeira a qual define a organização da praça. A cerca é como um portal que convida a criança a explorar os “novos mundos” ao atravessá-lo, onde se revelam

D

http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil/

Page 45: Na cASA da imaginação

45

FIG. 09

Page 46: Na cASA da imaginação

46

FIG. 10

Page 47: Na cASA da imaginação

47

jardins, labirintos. Os brinquedos não buscam impor uma forma de utilização, pelo contrário estimulam a exploração e o uso. A praça é “um lugar vivo repleto de livres descobertas” as quais representam experiências singulares para as crianças. A praça ao oferecem diversas ambiências, desperta a curiosida-de. Por estar ao ar livre permite o contato direto com a natureza de forma quase “primitiva”, como descreve Kogan, já que a grande cerca simboliza um encontro ao redor do fogo. Sendo que a brincadeira de esconde-esconde vira de repente um pega pega que adentra o portal e se achega a um gramado verde. Esta praça tem o jogo, a brincadeira com propósito, que traduz a criança que aprender ao ar livre e no meio de diferentes ambiências e texturas é algo singular.

FIG. 11

Page 48: Na cASA da imaginação

48

FIG. 12

Page 49: Na cASA da imaginação

49

Playground Infinito por Marco Brajovic

O projeto busca permitir à criança o uso inusitado e livre de sua for-ma. Inspirados nos parques topográficos, o playground infinito, infinitos usos, que acontecem em um relevo criado para estimular a brincadeira. Este conceito traz liberdade à criança e estimula sua criatividade e imaginação. Segundo Brajovic “Como criar uma arquitetura dos rela-cionamentos? Como criar uma arquitetura que ajuda a definir o que é privado, o que é público, o que é comunitário – o que é meu, o que é teu, o que é nosso? Cada um encontra nesta paisagem as próprias ca-deiras, as próprias gangorras. Aqui, são as crianças mesmas, que criam as próprias histórias e criam os próprios relacionamento. Eu acho que isso é um playground do século 21.” A imagem abaixo ilustra alguns possíveis usos do playground.

FIG. 13

Page 50: Na cASA da imaginação

50

http:/ /www.archdaily.com/519/taka-tu-ka-land-baupiloten

FIG. 14

Page 51: Na cASA da imaginação

51

Taka Tuka Land por Susanne Hofmann

Este foi um projeto de intervenção temporária em um jardim de infância em Berlim. O projeto tinha como proposta criar um espaço segundo a imaginação das crianças, trazendo novas ambiências ao inserir micro-ar-quiteturas lúdicas que incentivassem o uso espotâneo e livre dos pe-quenos. Segundo Susanne “a realidade convive junto com a fantasia”, a intervenção é portanto baseada em uma história infantil a qual trouxe o conceito de que a escola era uma ávore de limão e portanto cada parte de sua arquitetura representava uma parte da árvore, logo as interven-ções compuseram um percurso muito interessante na arquitetura exis-tente, estimulando a imaginação infantil, a interação com os colegas e a brincadeira com propósito. A imagem a abaixo mostra a inserção das intervenções ao longo do es-paço infantil.

FIG. 15 FIG. 16

Page 52: Na cASA da imaginação

52

CRIANÇA, O PÁSSARO...

Já que não é um adulto em minia-tura, mas um ser humano único, completo e ao mesmo tempo que está crescendo e desenvolvendo-se. É completo devido a sua es-trutura física já formada e por ser capaz de pensar e sentir, mas é ao mesmo tempo um ser que está desenvolvimento visto que tem tudo em transformação. Embora necessite de um adulto, é capaz de interagir com o meio natural, social e cultural desde muito pequena, portanto quanto maior sua interação com o meio, maior serão seus vôos, ou seja seu universo pessoal será amplia-do. (BRASIL, 2006).

Pássaros não podem viver em gaiolas, logo os espaços infantis devem favorecer seu desenvolvi-mento de forma livre por meio da exploração, da curiosidade e do lúdico para que assim possam voar nas “asas da imaginação”.

A

Page 53: Na cASA da imaginação

53

FIG. 17

Page 54: Na cASA da imaginação

54

COMUNIDADE,

Page 55: Na cASA da imaginação

55

os heróisCOMUNIDADE,FIG. 18

Page 56: Na cASA da imaginação

56

AtivosspaçosEDUC

Page 57: Na cASA da imaginação

57

Ativos“Os pátios escolares e os espaços livres tem algo em comum, só de pro-nunciá-los já nos fazem bem: reme-tem-nos a ideia de liberdade. É como se estivessem livres dos males que assolam nossas escolas e nossas ci-dades: livres do controle, do individual-ismo [...]. Nos remetem a ideia de pul-mão, é por onde a cidade e a escola respiram. Livres!

ANA BEATRIZ G. FARIA

Page 58: Na cASA da imaginação

58

desenvolvimento de valores sociais e contri-buindo para a solidariedade e a cidadania. Espaços livres nos trazem a mente o encontro, a coletividade (AZEVEDO, 2011) o comunitário, ensinando a criança e o adulto princípios de igualdade.Segundo Elali (2002) “para crianças de todas as idades” (do bebê ao adulto) é fundamental re-alizar atividades ao ar livre, como simplesmen-te o brincar. Logo, que melhor lugar que a escola para acontecer este encontro?

A Escola e a Comunidade

A ços que utilizam. Jacobs (2011) reforça a importância de espaços vivos para que haja segurança, já que a vitalidade dos lugares em diferentes horários, gera movimento. Ela destaca ainda a importân-cia de diferentes usos em um bairro para a pro-moção de espaços vivos. As escolas enquanto equipamento cul-tural ou como espaço público requerem como diz Mayumi (1989) “o rompimento da escola/prisão/fortaleza e sua transformação na esco-la/praça/parque [...] para que haja apropriação dinâmica”, sendo que reforça ainda a ideia de que o espaço escolar é um material pedagógico e lúdico que interage com a população os pro-fessores e as crianças. As escolas enquanto espaços ativos, não podem estar confinadas em muros altos ignorando o mundo exterior, pois ao integrar a comunidade em seu espaço tem grande po-tencial educativo e cooperativo, auxiliando no

A escola enquanto espaço físico, não é um lugar fechado em si mesmo, está inserida em um contexto social, cultu-ral e urbano. A escola é parte da cida-

de, e uma parte muito importante, se conside-rar que ela tem papel vital no desenvolvimento dos cidadãos, logo, a cidade é em parte um re-flexo de suas escolas.Como disse Paulo Freire “Educar não pode estar desconectado do contexto que se encontra” logo os espaços escolares necessitam dialogar com a ci-dade, tornando-se como diz Ribeiro (2015, p. 11) “um novo e potente equipamento cultural” já que “se a escola é a reprodução da cidade, ao transfor-mar a escola podemos transformar também a ci-dade” (RIBEIRO, 2015, p. 43) A escola enquanto equipamento cultu-ral, torna-se um espaço público, que propor-ciona o encontro e a diversidade trazendo a apropriação, conceito muito importante que define a relação da comunidade com os espa- FIG. 19

Page 59: Na cASA da imaginação

59

FIG. 20

Page 60: Na cASA da imaginação

60

O Pátio, espaço integradorsociais, elemento fundamental da escola que po-tencializa o processo educativo” (AZEVEDO, 2011, p.15-16)Os pátios escolares enquanto espaços públi-cos permitem que o cidadão se transforme em aluno e o aluno retome seu papel de cidadão (GOULART DE FARIA, 2011) . Pois é através da socialização e do espaço democrático que o indíviduo tem a possibilidade de exercer sua cidadania. Logo, a educação é entendida como um compromisso integral que vai muito além dos ensinos formais, abrange especialmente a vida cotidiana da criança em comunidade, já que o desenvolvimento integral só pode ser con-cretizado a partir do momento que a criança compreende seu papel enquanto participante do conhecimento e não apenas receptora do mesmo, pois assim pode ter papel ativo no seu aprendizado baseado na experimentação e na socialização.

Há 4 premissas básicas que devem definir um espaço infantil, o espaço enquanto “ambiente pedagógico, sócio-cultural, inclusi-vo e ecológico” (AZEVEDO, 2011, p. 59), estes fatores determinam a relação escola-cidade e contribuem para uma espaço que promove o desenvolvimento infantil e a cidadania, a qual passa pelo pátio.

Aescola enquanto parte da cidade, ou seja, como lugar permeável e extra-muros, pode dialogar com seu entorno

por meio de seus espaços livres, que ao pro-mover o aprendizado, o lazer e a socialização se tornam espaços públicos. Dentre os espaços livres das escolas, destaca-se o pátio, local de recreação e ativi-dades esportivas, que marca a vida de escolar de muitas crianças e jovens e que raramente é pensado como espaço de desenvolvimento (AZEVEDO, 2011), é considerado apenas local de pausa entre as atividades formais. Porém, o pátio tem muito potencial enquanto promo-tor de integração, descoberta, exploração, e aprendizado.“A palavra pátio provém do latim “pateo” que sig-nifica estar aberto, ou exposto; estender-se; abrir-se; estar descoberto, sugerindo a possibilidade de relacionar-se. Logo o pátio pode ser entendido como lugar de manifestações, palco de relações

Page 61: Na cASA da imaginação

61

O espaço escolar pode ser um ambiente múltiplo onde a formalidade dá lado aos es-paços hipnotizantes, os es-paços que cativam, instigam e ensinam, “as crianças de todas as idades” sejam elas pequenas ou adultas.O pátio tem esse potencial de ditar o espírito da esco-la, ele tem a capacidade de convidar e fazer-se sentir bem-vindo. O pátio é a ponte entre a escola e a cidade. É nele que o aprendizado se fortalece e é nele que a ci-dadania é enriquecida.

FIG. 21

Page 62: Na cASA da imaginação

62

FIG. 22

Page 63: Na cASA da imaginação

63

?Há alguns anos o MEC juntamente com a Unes-co desenvolveram um projeto que se intitulou “Escola Aberta”. O qual previa a abertura das escolas públicas durante os finais de semana, com o objetivo de ampliar as relações entre a comunidade e o espaço escolar, a escola por-tanto seria o palco para oficinas e lazer. (MEC, 2010). Esta iniciativa é interessante e benéfica para o espaço escolar, porém não é uma atitu-de suficiente, é necessário mais para que um espaço seja realmente aberto. A escola enquanto espaço aberto e so-cializador não é um espaço irresponsável, um espaço que ignora as inseguranças, mas é um lugar que cativa e torna a comunidade partici-pante de forma a fazê-la enxergar os benefí-cios de ser parte da escola. Faz-se necessário portanto, que o espa-ço escolar além de abrir-se para a comunida-de, dialogue com ela, trazendo as ambiências conhecidas do bairro para este espaço. Este conceito encontrado em Ramos (2015) basea-da no programa de ambiência de experiências de Hélio Oiticica o qual reinterpretava as am-biências das comunidades para despertar nelas uma experiência sensorial, permitindo criar-se ambientes reconhecíveis e a apropriação co-munitária, será desenvolvido posteriormente no projeto.

Page 64: Na cASA da imaginação

64

FIG. 23

Page 65: Na cASA da imaginação

65

BONS EXEMPLOS

Complexo educacional por CEBRA

Este complexo educacional cujo projeto será executado na Rússia após um concurso que tinha como objetivo o projeto de uma escola inteli-gente, a qual deveria buscar por uma tipologia que combinasse pais-agismo, arquitetura em um ambiente de aprendizado que pudesse ser utlizado como centro comunitário. (ARCHDAILY, 2015). Logo, o projeto se organiza enquanto vários blocos dispostos num círculo e cobertos por uma unica cobertura, o centro é marcado por um imenso pátio verde que congrega criança e adultos, é possível perceber ainda a presença de hortas e espaços esportivos que também encontram-se permeáveis a todos.

FIG. 24

Page 66: Na cASA da imaginação

66

FIG. 25

Page 67: Na cASA da imaginação

67

Escola Antônio Derka em Medellín

Esta escola foi executada em Medellín, em uma das “zonas periféricas mais deprimidas e violentas da cidade, devido à falta de investimento social”(ARCHDAILY, 2008) após sua proposta de reestruturação urbana. Os arquitetos do escritório Obranegra Architectos tinham a in-tenção de criar um projeto amável e familiar para a comunidade, logo, fizeram uma releitura de alguns elementos da comunidade para a ar-quitetura, como os terraços, as varandas, as ruas escalonadas entre out-ros, os quais segundo eles deram sentido ao projeto. A intenção era propor uma “escola aberta que consistia em dis-sipar os limites físicos e mentais do colégio mediante uma intervenção urbana e arquitetônica aberta, que buscava convertê-los em centros de atividade cultural, recreativa, educativa e em referencial urbano que promovessem a integração de toda a comunidade.” (ARCHDAILY,2008).

FIG. 26

Page 68: Na cASA da imaginação

68

FIG. 27

Page 69: Na cASA da imaginação

69

Escola primária e centro familiar por CEBRA

Esta escola inserida na Noruega, em um bairro residencial tem a inteção de dialogar com o entorno se desenvencilhando de seus muros e tornando o acesso principal aberto a comunidade, assim como a criação de um parque verde inserido em frente ao edifício.A escola é descrita como uma ambiente que cumpre variadas funções: “uma arena de aprendizagem e ensino, um local de trabalho e um ponto de encontro social.” Segundo os arquitetos “o parque da escola já se tornou uma importante área de recolhimento para o bairro fora do horário escolar também. A combinação destas três funções criou um complexo cheio de atividade de manhã à noite, sete dias por semana.” (ARCHDAILY, 2014) Logo é possível perceber a vitalidade alcançada por ser uma es-cola que convida a cidade.

FIG. 28

Page 70: Na cASA da imaginação

70

FIG. 29

Page 71: Na cASA da imaginação

71

Escola Ny Krohnborg por Arkitektgruppen CUBUS

Este projeto realizado na Noruega, o qual é uma revitalização de um escola antiga quen encontrava-se abandonada e gerava inseguranças ao bairro. O projeto portanto, buscava dialogar e revitalizar também o bair-ro, portanto se abriu permitindo um grande pátio o qual é público e também possui quadras esportivas. Por ser uma escola que também conta com crianças pequenas, definiu-se também um outro pátio privado na parte posterior da edifi-cação.É interessante perceber essa relação, pois demonstra que um edifício aberto não é um edifício irresponsável quanto a segurança das crianças as quais utilizam esse espaço, portanto dialoga de forma consciente com o entorno e ao mesmo tempo possui espaços mais privativos.

FIG. 30

Page 72: Na cASA da imaginação

72

FIG. 31

Page 73: Na cASA da imaginação

73

Jardim de infância Montessori Fuji por Tezuka Architects

Este projeto realizado em Tokyo trata-se de um jardim de infância sem muros, o qual configura-se em torno de um grande pátio, sendo que sua cobertura compõe ainda um terraço onde pode-se circular e contem-plar. As atividades mais formais ocorrem na parte construída, abaixo do terraço, onde estão dispostos os mobiliários de maneira bem livre permitindo total contato com o pátio. Os arquitetos descrevem que “As conveniências modernas pri-varam as crianças das sensações. Aqui pretende-se ensinar através do edifício o sentido de comunidade . Estes são valores da sociedade hu-mana que não mudam, mesmo através das eras.” Portanto, é interessante como a forma do edifício pode confor-mar o espaço público e o privado e como os dois podem conviver.

h t t p : / / c h u k n u m . c o m / w p - c o n t e n t / u p -loads/2011/08/1.jpg

FIG. 32

Page 74: Na cASA da imaginação

74

FIG. 33

Page 75: Na cASA da imaginação

75

COMUNIDADE, OS HERÓIS...

Não há dúvidas que a comu-nidade enquanto possibilitado-ra de novas relações e de interação com o mundo in-fantil tem muito a agregar ao trazer a “cidade” para es-cola, no sentido da cidadania, da cooperatividade.Logo, a comunidade repre-senta os heróis que fazem a ponte entre a cidade e a escola, podendo tornar o es-paço escolar um lugar com vitalidade, um lugar onde acontece a democracia e a solidariedade.

A

Page 76: Na cASA da imaginação

76

MUROS,

Page 77: Na cASA da imaginação

77

os vilõesMUROS,

FIG. 34

Page 78: Na cASA da imaginação

78

Esta foto é da parte de trás do Otília Cruz, nela pode-se perceber o comprimento do muro e a relação com a escola e com a rua. Para torná-lo menos impessoal a escola incentiva a apropriação por grafiteiros como forma de utilizar o muro enquanto painel. No ano passado foi realizado um final de semana de pinturas onde a comunidade se reuniu para prestigiar os novos grafites do muro, os quais são agora do tema ‘Star Wars’.

Page 79: Na cASA da imaginação

79

FIG. 35

Esta foto é da parte de trás do Otília Cruz, nela pode-se perceber o comprimento do muro e a relação com a escola e com a rua. Para torná-lo menos impessoal a escola incentiva a apropriação por grafiteiros como forma de utilizar o muro enquanto painel. No ano passado foi realizado um final de semana de pinturas onde a comunidade se reuniu para prestigiar os novos grafites do muro, os quais são agora do tema ‘Star Wars’.

Page 80: Na cASA da imaginação

80

ugL ARo“A ideia essencial é

tornar os ambientes de aprendizados um

verdadeiro lar.”

Page 81: Na cASA da imaginação

81

AR “A ideia essencial é tornar os ambientes de aprendizados um

verdadeiro lar.”

DORIS KOWALTOWSKI

Page 82: Na cASA da imaginação

82

into que não fui eu quem escolheu este lugar, foi ele quem me escolheu. Morei exatamente na frente da – na época – Escola Professora Otília Cruz, e sinto que aos poucos o lugar me cativou.

A escola estava fechada havia alguns anos e me intrigava com seus muros altos e ao mesmo tempo me atraía com suas árvores cheias de vida que como que num anseio de viver se so-brepunham aos muros e criavam uma ambiência tão atraente, especialmente nos dias de primavera onde as flores roxas afloravam e deixavam o quin-tal de casa com cheiro de natureza, ou ainda nos fins de tarde quando emolduravam um belo pôr-do sol que como numa pintura absorvia meus olhares. Passado o pôr-do-sol nascia um grande breu, que amedrontador, permeava aquele lugar, tornando aqueles muros antes instigantes agora ameaçadores na noite escura, trazendo aos vizinhos, a insegurança. Mas não eram apenas os muros e as árvores que chamavam minha atenção era também como aquele lugar era como um coração para aquela comunidade, pois mesmo aparentemente abandonado, podía-se ouvir de dentro dos muros aos finais de semana, vozes cantando, passos de dança, reuniões do bairro, ou ainda festas e almoços da comunidade. Pude sen-

Da minha janela

S tir que havia algo ali, além de uma arquitetura dos anos 50 cercada por muros altos, havia um elo entre o espiríto daquele lugar e as pessoas que viviam ali. Um raio de esperança me tocou um dia pela amanhã, quando ao abrir minha janela vi que a escola, iria ser reformada e se tornaria uma

creche, mas não durou muito ao ver que apenas de um verde sem vida os muros foram cobertos de alaranjado, as velhas salas de aula foram de-senferrujadas e os telhados consertados. Como que numa grande ironia, tudo voltou a funcionar, e de repente crianças de 0 a 5 anos começaram a diariamente ser engolidas pelos muros, que reve-lam que há infância graças as vozes, os choros e as cores que surgem do seu interior.Foi neste misto de sentimentos que não tive dúvi-

da, esse lugar precisava de um olhar diferente, não apenas um olhar quan-titativo, mas um olhar afetivo, um olhar de alguém que foi vizinha destes muros. Sim! Este lugar me escolheu. E ele me escolheu como que dizendo, que ser arquiteto é ser capaz de ver pessoas, por de trás de muros”.

“Não fui eu quem escolheu este lugar, foi ele quem me escolheu”

Page 83: Na cASA da imaginação

83

FIG. 36

Page 84: Na cASA da imaginação

84

Otília Cruz está localizada na par-te Continental do município de Florianópolis, no bairro Jardim

Atlântico, bem próximo ao bairro Colon-inha, podendo ser considerada parte da “Grande Coloninha” como se referem os moradores da região. Essa identificação com o bairro próximo, acontece devido as mesmas car-acterísticas topográficas, de urbanização e de vizinhança que circundam a área onde está a Creche (Jardim Atlântico) do bairro Coloninha, já que segundo Lynch (1999, p. 50; 78-80) “o conceito de bairro pode ser compreendido como regiões que possuem algo em comum e são passíveis de reconhecimento interior e exterior e as características que determinam bairros são continuidades temáticas, que podem consistir em variantes como: textura, es-paço, forma, detalhe, topografia [...] Con-

Um lugar chamado Otília Cruz

O tudo, as conotações sociais são bastantes significantes, quando se trata de delimitar regiões” Tanto o terreno em estudo se en-contra no alto do morro (aproximada-mente cerca de 40 metros acima do nível do mar), quanto a malha urbana é semel-hante e há ainda a Escola de Samba Un-idos da Coloninha próximo a Creche, a qual gera senso de vizinhança e identi-dade como de um único bairro, independ-entemente da divisão municipal. Pode-se afirmar então, que este lugar possui uma identidade única que o conforma parte do bairro Coloninha. Visto que o conceito de ‘identidade de lugar’ pode ser entendido como o espírito do lugar, onde as raízes e o sentimento de familiaridade depen-dem tanto das qualidades físicas como das mudanças humanas atribuidas a esse lugar (HOLZER, 1997).

Page 85: Na cASA da imaginação

85

FIG. 37 FIG. 38

Page 86: Na cASA da imaginação

86

O mapa ao lado ilustra os bairros definidos pela legislação municipal em (A) temos o bairro Jardim Atlântico, em (B) o bairro Balneário, em (C) está o Canto, em (D) está a Coloninha, e em (E) encontra-se o bairro Estreito. Logo, como descrito anteriormente o terreno encontra-se no bairro Jardim Atlântico, porém pode considerar-se a Grande Coloni-nha. Neste recorte há alguns equipamentos urbanos que podem ser considerados pontos referenciais. São eles, além da Escola de Sam-ba, a Escola de Aprendizes de Marinheiros e o Estádio Orlando Scarpelli.

A

B

ED

C

FIG. 39

Page 87: Na cASA da imaginação

87

FIG. 40

FIG. 41

FIG. 42

FIG. 43

Page 88: Na cASA da imaginação

88

A análise do entorno permite compreender a relação entre o uso do solo, o porte das edifi-cações e o sistema viário, permitindo entender como o lugar se encontra localizado na cidade e quais as interferências que recebe de seu en-torno.O recorte realizado para a análise dos mapas, foi realizado considerando o bairro não pela divisão municipal, mas sim pela linguagem morfológica, topográfica e e humana que se entende como que conformando um conjunto no que, como já foi referenciado, se considera a “Grande Coloni-nha”.Logo, é a partir da análise dos mapas que é possível compreender o caráter do lugar.

FIG. 44

Page 89: Na cASA da imaginação

89

USO DO SOLO

PRO

DU

CED

BY

AN

AU

TOD

ESK

ED

UC

ATI

ON

AL

PRO

DU

CT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY A

N A

UTO

DESK

EDU

CA

TION

AL PR

OD

UC

T

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

Sem usoUso institucional religiosoUso institucional escolar

Uso residencialUso comercialUso mistoÁrea verde

O Mapa de uso do solo permite perceber a forte presença do uso residencial, com pequenos comércios e serviços próximos a via Max Schramm, além da presença de comércios vicinais nas partes mais internas do recorte. É interessante notar a presença de diversas áreas verdes, como pequenas praças, as quais são pouco utilizadas, e ainda a forte presença de escolas e creches, devido a grande demanda desta re-gião. É possível perceber também que as quadras a direita do Otília Cruz, são bem longas, o que dificulta a relação de vizinhança, en-quanto a esquerda do terreno percebe-se a presença de quadras me-nores o que se constata na melhor relação entre os vizinhos. Na parte mais ao centro do recorte é visível a presença de várias áreas vazias e em crescimento com diversos prédios de alto padrão que estão sendo construídos.

PRO

DU

CED

BY

AN

AU

TOD

ESK

ED

UC

ATI

ON

AL

PRO

DU

CT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY A

N A

UTO

DESK

EDU

CA

TION

AL PR

OD

UC

T

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

FIG. 45

Page 90: Na cASA da imaginação

90

1 pavimento2 pavimentos3 pavimentos4 pavimentos5 pavimentos ou mais

GABARITOSO Mapa de gabaritos permite compreender a relação volumétrica e as possíveis ambiências projetadas sobre os usuários deste lugar. É um bairro com predominância de edificações de 1 e 2 pavi-mentos ao longo das quadras. Porém, nos últimos 5 anos os espaços vazios do bairro, que possuem relevo acidentado, tem dado lugar a edifícios de alto padrão os quais consistem em edifícios de 5 pavi-mentos ou mais. É importante perceber que a predominância de edificações de alto padrão consiste em condomínios fechados os quais comportam de 2 a 3 blocos de apartamentos, o que é preocupante para a segu-rança do bairro, já que se fecham em seus muros ignorando a rua. O Otília Cruz possui uma edificação horizontal de apenas um pavimento, porém devido ao relevo irregular possui um subsolo.

PRO

DU

CED

BY

AN

AU

TOD

ESK

ED

UC

ATI

ON

AL

PRO

DU

CT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY A

N A

UTO

DESK

EDU

CA

TION

AL PR

OD

UC

T

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY

AN

AU

TOD

ESK

ED

UC

ATI

ON

AL

PRO

DU

CT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY A

N A

UTO

DESK

EDU

CA

TION

AL PR

OD

UC

T

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCTFIG. 46

Page 91: Na cASA da imaginação

91

SISTEMA VIÁRIOO Mapa de sistema viário permite compreender a relação entre a hie-rarquia das vias. Percebe-se que a Via Max Schramm, a qual conecta Florianópolis a São José, Biguaçu e demais cidades possui fluxo in-tenso, o qual é recebido pelas vias coletoras, as quais possuem maior fluxo por conectarem-se as áreas residencias do bairro. Já as vias lo-cais, possuem fluxos bem menos intenso já que recebem o fluxo das vias coletoras e o distribui. Há 3 linhas de ônibus que abastecem esse bairro, as quais são: Bairro de Fátima o qual possui horários a cada 30 minutos, Coloninha com apenas 10 horários ao longo do dia e o Corredor Continente que tem horário a cada 10 minutos. A linha Coloninha foi criada devido a um pedido da comunida-de, já que o bairro possui um relevo acentuado e também possibilita a parada em frente a Otília Cruz, por isso possui intervalos relaciona-dos ao horários de aula e trabalho da comunidade.

PRO

DU

CED

BY

AN

AU

TOD

ESK

ED

UC

ATI

ON

AL

PRO

DU

CT

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

PRO

DU

CED

BY A

N A

UTO

DESK

EDU

CA

TION

AL PR

OD

UC

T

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

Via arterialVias coletorasVias locaisTransporte público

Linhas Bairro de FátimaLinha ColoninhaLinha Corredor Continente

A

A

B

B

C

C

FIG. 47

Page 92: Na cASA da imaginação

92

Page 93: Na cASA da imaginação

93

Subida íngrime, desafiadora, mas no topo as árvores do terreno da creche que como que num convite se

debruçam sobre a rua.

FIG. 48

FIG. 49

Page 94: Na cASA da imaginação

94

FIG. 50

Page 95: Na cASA da imaginação

95

tualmente o “Otília” como é chamado carinhosamente pelos moradores do bairro, é um NEI (Núcleo Educacional infantil) que atende 235 crianças entre 0-5 anos, as quais provêm de diversos bairros do Continente, além é claro de atender a co-

munidade local, dentre esse número, 195 crianças estão na faixa de 0-3 anos. Chama atenção a grande quantidade de equipamentos esco-lares tão próximos, em especial duas outras Creches públicas locali-zadas próximas ao NEI. Essa questão foi esclarecida pela diretora do NEI Otília, Fabrícia Souza, que afirmou que demanda para educação infantil é muito alta na parte Continental de Florianópolis, o que não acontece com tanta intensidade no ensino fundamental e médio, pe-ríodo onde há maior evasão escolar. A diretora, afirmou ainda que o espaço Otília Cruz, veio atender esta demanda e que agora sobram vagas. O espaço do Otília Cruz já foi utilizado atendendo programas diferentes. Fundando em 1958, como E.E.B. Otília Cruz funcionou até 2008, quando por motivos que serão abordados posteriormente, foi fechado e durante este tempo funcionou com o projeto criado pela própria comunidade local, intitulado “Amor Coloninha” o qual oferecia aulas de dança, canto, futebol, entre outros, para crianças da comunidade da Coloninha, funcionando em parceria com a Escola de Samba Unidos da Coloninha. Posteriormente em 2014, o terreno foi doado do Estado para o município reabrindo como NEI.

A

FIG. 51 FIG. 51

FIG. 52 FIG. 53

Page 96: Na cASA da imaginação

96

TOPOGRAFIA

A Creche localiza-se no final da Rua Professora Otília Cruz, ocupando um terreno de esquina que possui 6400m². O terreno encontra-se no topo do morro, sendo sua cota mais acentuada, a cota 42 m. Sendo que o terreno possui uma topografia irregular entre as cotas 38 e 42, sendo que a parte edificada se estabe-lece principalmente entre as cotas 40 e 42 m. Devido a grande variação do terreno há várias escadas e ram-pas, as quais foram inseridas após a reforma e que de certa forma re-stringem a livre exploração das crianças pelo lugar, haja vista que há vários portões para a segurança das crianças frente a topografia acen-tuada.

Page 97: Na cASA da imaginação

97

LEGISLAÇÃO

O plano diretor de Florianópolis de 2012, juntamente com o zoneamento urbano classificam essa área como uma ZMR - 3, ou seja Zona Mista residencial com uso predominante residencial com média complexidade. O plano diretor determinar que para a ZMR -3 a Taxa de Ocupação, em 50%, o Índice de aproveitamento máximo como 1,5, a altura máxima da fachada de 12 a 15 m, podendo construir-se até 4 pavimentos. A relação entre a testada/comprimento do lote é de 1/3 e quanto aos afastamentos, consta como de 4 metros para as frentes, e 3 metros os laterais. Esta área é também considerada uma ACI, Aréa Comunitária Institucional, logo seu uso remete a espaços que sirvam a comunidade.

Page 98: Na cASA da imaginação

98

12h

10h

15h

ESTUDO SOLAR

VERÃO

Page 99: Na cASA da imaginação

99

12h

10h

15h

INVERNO

Page 100: Na cASA da imaginação

100

PRIMAVERA

12h

10h

15h

Page 101: Na cASA da imaginação

101

OUTONO

12h

10h

15h

Page 102: Na cASA da imaginação

102

Antes...

Escola Otília Cruz, foi fundada em 22 de Abril de 1958, levando o nome da Professora Otília Cruz, a qual dá nome também a rua no qual está inserida.Otília Cruz moradora da Coloninha lecionou para crianças de

1913 até 1947, em algumas escolas da Grande Florianópolis:

“Na escola José Boiteux na qual lecionou até 1941, foi professora de francês e de piano. O envolvimento dela com o estabelecimento e com a música foi tão grande que Otília Cruz doou o piano, de sua propriedade, para a escola. Ela não queria que

as aulas fossem interrompidas após a sua saída.” (SME Florianópolis, 2014)

Ao conversar com Tânia Ramos, membro da Velha Guarda da Escola de samba Unidos da Coloninha e líder comunitária da Coloninha, ela con-tou que o terreno da escola era da família de Otília, o qual foi concedido ao Estado para que a escola funcionasse. Não há relatos se Otília che-gou a lecionar na Escola doada pela sua família, visto que se aposentou em 1947 e a fundação da Escola se deu em 1958, apenas. Porém seu carinho para com a educação fica evidente na sua trajetória, portanto o lugar leva seu nome.

“Inicialmente a escola funcionou atendendo classes multisseriadas de 1ª a 4ª séries e foi a partir de 1958, que foi reconhecida como grupo escolar, matriculando então os alunos em classes separadas. Em 1973, o governo estadual elevou o estabeleci-mento à condição de escola básica, quando passou a absorver estudantes de 5ª à 8ª séries. Foi em 1990 que passou a atender também crianças em idade de pré-es-cola e então em 2000, foi denominada Escola de Educação Básica Professora Otília Cruz, adaptando-se às normas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996).”

(SME Florianópolis, 2014)

Porém em 2010, com a falta de manutenção da escola (sucateamento e total descaso) e portanto a frequente migração dos estudantes para out-ras regiões, a Escola foi fechada alegando-se a falta de alunos, porém o governo tinha uma nova proposta para esse lugar, transformá-lo em um presídio feminino, o que culminou em revolta por parte da comunidade.

A

FIG. 54

Page 103: Na cASA da imaginação

103

FIG. 55

Page 104: Na cASA da imaginação

104

Com o fechamento da escola em 2010, a comunidade local se le-vantou frente a esta decisão do Estado de torná-la um presídio. O Otília havia sido por 50 anos parte da história deste bairro, várias gerações haviam se formado ali e nele aconteciam tam-

bém as festas comunitárias e reuniões do bairro. Com certeza há muitos motivos para lutar por esse lugar, afinal ele é o coração da Coloninha. Após dezenas de audiências infrutíferas, a comunidade decidiu agir, instalaram-se na Escola, porque esse lugar lhes pertencia: perten-ceu a comunidade antes de pertencer ao Estado. Não deixariam nin-guém tomar o que era seu. Tânia Ramos, conta que a comunidade passou a utilizar o lugar como espaço comunitário, ali aconteceram aulas abertas a comunidade, canto, dança, futebol e até mesmo uma horta cultivada pela comunida-de., nascia ali o projeto “Amor Coloninha”.

O lugar inspirava subvesividade mas ao mesmo tempo, inspirava ARTE, inspirava vida. Havia vida por detrás dos muros. Segundo Tânia foram 3 anos difíceis, em que muitas ameaças fo-ram feitas, mas que mesmo assim a comunidade persistiu, pediam que o lugar fosse doado ao município e que parte do terreno fosse doado a comunidade. Então em 2014 o pedido da comunidade foi atendido, o espaço foi cedido pelo Estado para o município, que por meio do projeto de “municipalização” adotou a Escola tranformando-a em um NEI.Parte do terreno foi doado para a comunidade para que pudessem cons-truir um espaço comunitário e para que atividades do projeto “Amor Co-loninha” pudessem continuar. O Otília agora é um NEI e o centro comunitário ainda não saiu do papel por falta de verbas. Mas uma vitória já pode ser comemorada. O Otília reabriu suas portas (Seus muros ainda não).

Page 105: Na cASA da imaginação

105

FIG. 56

Page 106: Na cASA da imaginação

106

o dia da reabertura do Otília, estavam lá as primeiras pro-fessoras, sorriam ao ver o lugar vivo e cheio de crianças novamente. (Foto a esquerda)

Para a reabertura, a antiga E.E.B. Otília Cruz foi reformada, com o objetivo de adaptar o edifício aos pequenos novos usuários. Hoje é composta por 4 blocos, sendo o primeiro e menor, a parte da secretaria e sala de professores, o segundo bloco a parte de salas de aula dos bebês de 0-3 anos, o terceiro bloco, separado por um dos pátios composto também por salas de aulas para cri-anças de 3-6 anos, e o último bloco, próximo ao pátio coberto é onde se encontra a cozinha, o refeitório e as salas multi-usos. A creche conta ainda com duas salas num nível inferior, que pode ser acessado por uma rampa, de um lado a sala simbólica e do outro a biblioteca, já descritos na página 40 e 41 deste materi-al, como espaços que a despeito da qualidade das obras públicas, são esforços dos profissionais para trazer o imaginário e a brinca-deira. Há ainda uma área sem uso e o espaço da quadra de basquete, área a qual foi doada pelo município para a comunidade para a construção de espaço comunitário. É importante ressaltar que a reforma fez adaptações, e não alterações nas ambiências da antiga escola. A reforma não trouxe o lúdico ou os espaços da brincadeira como as crianças pedem, ela não pensou em se abrir para comunidade através de seus pátios, ela apenas se adequou a exigências mínimas da legislação. O objetivo deste trabalho não é fazer uma crítica a reforma realizada, mas sim analisar a qualidade do espaço atual buscando melhorá-lo, nem que de forma apenas projetual e utópica, para uma comunidade que tem tanto carinho por esse lugar.

N

FIG. 57

FIG. 58

Page 107: Na cASA da imaginação

107

FIG. 59

Page 108: Na cASA da imaginação

108

A reportagem ao lado foi emitida no site da Prefeitura no período que antecedeu a reabertura do Otília.A foto do lado direito foi feita após a reabertura e já com o espaço em fun-cionamento, demonstrando que a refor-ma não alterou as ambiências do lugar, apenas permitiu que o lugar se tornasse funcional.O pátio enquanto espaço rico, lúdico, integrador e comunitário necessita ob-viamente ser um espaço rico em insti-gar. Instigar a curiosidade, a exploração, a convivência e a aprendizagem.E para tanto, necessita ser um lugar, um lugar daqueles que a gente guarda na memória e quando pensa neles não lembra de um muro azul ao fundo, mas lembra das árvores, dos pássaros, dos brinquedos.

Talvez seja isso que os governantes não entendam e por isso se contentem com espaços, ao invés de lugares, com caixas de areia sem cor, e com o tamanho das coisas ao invés do valor afetivo delas, porque afinal a criança não se importa em medir, ela se importa com o viven-ciar, com o brincar e com o imaginar.

Secretarias e Órgãos

PolÍtica de privacidade Ι Mapa de Navegação ΙCopyright © 2009-2016 Prefeitura de Florianópolis. Todos os direitos reservados.

HOME

SOBRE A SECRETARIA

SERVIÇOS

NOTÍCIAS E EVENTOS

OUVIDORIA

UNIDADES EXTERNAS

foto/divulgação: Aline Rebequi/SMC

Obras devem estar prontas até o fim deste mês

12/08/2014 - Educação

NEI Otília Cruz será a maior da cidade em área construída

A Prefeitura de Florianópolis deveentregar ao Continente ainda este mês,a maior creche em área construída dacidade. O Núcleo de Educação Infantil(NEI) Professora Otília Cruz, naColoninha, terá capacidade para cercade 200 crianças de seis meses a 6 anosde idade.

A reforma e ampliação do local, quefuncionou por muitos anos como escola,iniciou no ano passado e está previstapara ser entregue no fim deste mês.

Com um investimento de R$ 1,4 milhão, a creche terá 15 salas, anfiteatro, lavanderia,bercário, sala de convivência, áreas de lazer e parquinhos para os pequenos.

De acordo com o secretário de Educação, Rodolfo Pinto da Luz, esta será maior creche deFlorianópolis em termos de área construída, com 1.371 metros quadrados. "É uma unidade modelo, com equipamentos de ponta. Estamos muito satisfeitos com oandamento dos trabalhos", disse o secretário, durante vistoria à obra. O prefeito emexercício, Cesar Faria, e o secretário do Continente, Dejair de Oliveira Junior, participaramda visita.

"Estou impressionado com a qualidade da reforma, tudo muito caprichado em todos osdetalhes. Tenho certeza de que ela estará no mesmo nível, ou até superior, de crechesparticulares", elogiou Cesar Faria.

Atendimento integral

A Otília Cruz irá funcionar em período integral, das 7h30 às 18h30, e irá atender cerca de200 crianças. Para conseguir uma vaga, os pais precisam obter uma pontuação, que levaem conta principalmente o tempo de moradia em Florianópolis e a renda per capita dafamília.

De acordo com secretário de Educação, hoje a maior demanda da Capital é para o períodointegral e para bebês de seis meses a 3 anos. Para ter uma ideia de como é difícilacompanhar esta demanda, todo o bercário da Otília Cruz será preenchido por crianças quenasceram no ano passado e neste ano.

Secretaria Municipal de Continente http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/continente/index.php?pagina=notp...

1 de 2 25/02/2016 17:45

FIG. 60

Page 109: Na cASA da imaginação

109

FIG. 61

Page 110: Na cASA da imaginação

110

MUROSMARCAS

Page 111: Na cASA da imaginação

111

EMUROSMARCAS& ste capítulo, compõe uma série de fotografias realizadas num ensaio de

reconhecimento do lugar, todas as fotos são de minha autoria.O ensaio fotográfico se intitula “Entre muros & marcas” devido a forte

presença dos muros no entorno e também de “marcas” as quais são considera-das os traços que caracterizam essa comunidade. A ideia de fotografar o entorno, surgiu da necessidade de conhecer o bairro para além da rua que morei, a qual está em frente ao Otília Cruz. As fotografias buscam detalhes que para um trauseunte despercebido não chamariam a atenção, porém elas revelam a profundidade da dureza de alguns lugares, da beleza de outros, e da aparente neutralidade de alguns. Para acompanhar as fotografias, estão inseridas pequenos trechos da sensação que me representaram ao serem fotografadas revelando a intimidade que tenho com o lugar. Para uma melhor apreciação do ensaio fotográfico, sugiro ouvir a trilha sonora do “O Pequeno Príncipe” em especial a música “Somewhere only we know” de Lily Allen.

Boa apreciação!

Page 112: Na cASA da imaginação

112

O muro alaranjado é a sina do Otília Cruz, cada camada uma finalidade, a primeira regulari-za, a segunda impede as crianças de saírem, a terceira as faz desaparecer. Lá fora caminha uma garota entre muros, ela apressa o pas-so enquanto escuta choros de bebês invísiveis.

Page 113: Na cASA da imaginação

113

Muro onde estão os anseios e angústias expressos por quem vive o lugar e é este o mesmo que sepa-ra duas realidades, como numa compo-sição figura-fundo, destaca-se a grande ironia: a desigualdade.

Page 114: Na cASA da imaginação

114

Page 115: Na cASA da imaginação

115

É quase no final da Rua Otília Cruz que de dentro dos muros da creche, a árvore frondosa ilumina o lugar, e é debaixo dos galhos sem folhas da árvo-re que despontam timidamente as cores, que fazem lembram que por de trás dos muros existem crian-ças brincando.

Page 116: Na cASA da imaginação

116

Muro onde estão os anseios e angústias expressos por quem vive o lugar e é este o mesmo que sepa-ra duas realidades, como numa compo-sição figura-fundo, destaca-se a grande ironia: a desigualdade.

Page 117: Na cASA da imaginação

117

Há aqui uma forte separação entre a infância e o mundo externo presente no misto de cores vi-brantes e as grades e o muro, como que aprisionando a felicidade.

Page 118: Na cASA da imaginação

118

Page 119: Na cASA da imaginação

119

O urso aproveita o sol para se secar, enquanto nos conta que aqui mora a infância.

Page 120: Na cASA da imaginação

120

Page 121: Na cASA da imaginação

121Abro os olhos, vejo elementos aleató-rios. Fecho e abro no-vamente na esperan-ça que ao acordar o esqueleto vertical e os muros da esco-la não estejam mais aqui, só haja infância livre, árvores com cavalos e um belo sofá pra sentar na sombra.

Da terra vermelha, da grama baixa, surgem as ár-vores viçosas, uma aduba o monstro de concreto a outra faz sombra ao cavalo e o sofá.

Page 122: Na cASA da imaginação

122

A menina assiste arregalada o que acontece fora dos muros, um espaço inusitado, tem ca-valo, tem sofá, tem sombra sobre a gra-ma verde.

Page 123: Na cASA da imaginação

123

Dentro dos muros se escondem o crianças, não vendo que lá fora o cavalo está solto e se abriga na sombra fresca, aguardando com-panhia para sentar-se no sofá.

Page 124: Na cASA da imaginação

124

A reforma veio e trouxe a reabertura oficial do espaço da comunidade. Renasce a creche, os muros agora são alaran-jados, fantasmas coloridos. Será que esse lugar está do jeito que a comunida-de queria? Será?

Page 125: Na cASA da imaginação

125

Page 126: Na cASA da imaginação

126

Lá na varanda, as roupas coloridas dão um toque de ale-gria para a rotina da dona de casa e a gran-de árvore faz sombra na roupa.

Page 127: Na cASA da imaginação

127

viva o senso de vizinhança!Vivam os olhos da rua!

O grafite no muro da creche como que num desabafo reve-la o tormento que é ficar calado e ao apropriar-se do muro consegue ex-pressar que calar-se não é manter as ideias escondidas, é expressá-las em arte! Arte no morro, que de tão íngrime, faz o mar parecer em pé.

Page 128: Na cASA da imaginação

128

Os muros clamam, que venham em primeiro lugar a paz, e depois a justiça e então a liberdade! Que esse pedido aqueça esse muro frio e a caminhada nessa calçada estreita.

Page 129: Na cASA da imaginação

129

Bebê a tiracolo, a mãe caminha apres-sada, olha para o chão para não tro-peçar, a calçada não é nem de perto um lugar seguro.

Os muros clamam, que venham em primeiro lugar a paz, e depois a justiça e então a liberdade! Que esse pedido aqueça esse muro frio e a caminhada nessa calçada estreita.

Page 130: Na cASA da imaginação

130

A árvore é parte do quintal das suas casas e é por isso que transformam o chão batido em pra-ça. Essa praça é a marca da apropria-ção do lugar pela comunidade.

Page 131: Na cASA da imaginação

131

Page 132: Na cASA da imaginação

132

A surpresa não é encontrar o conjunto habitacional em área tão isolada, mas sim o tanque no meio da pastagem.

Page 133: Na cASA da imaginação

133

Há vestígios de cor-reria e brincadeira, mas tudo o que res-tou ficou pendurado como denunciando a felicidade nos esque-letos das pipas.

Page 134: Na cASA da imaginação

134

Em frente a praça e par-que infantil que o condo-mínio de alto padrão fez para a comu-nidade, há tra-ços de desejos de arranjar marido, num fundo onde há apenas um render sem calungas.

Divididos pelo mesmo muro, o da direita tem seu terreno, e o outro está neste terreiro desde 1977.

Page 135: Na cASA da imaginação

135

Nasce outro condomínio, logo nasce outra empena cega. Cega, mas verde.

Divididos pelo mesmo muro, o da direita tem seu terreno, e o outro está neste terreiro desde 1977.

Page 136: Na cASA da imaginação

136

Quase que imperceptível está o pedido como que camuflado por trás dos muros, Queremos mais, MAIS ARTE, por favor!

Page 137: Na cASA da imaginação

137

Ponto de onibus o espaço público do encontro e desen-contro, das meias palavras, do “será que vai chover”? O lugar onde os ros-tos sem expressão trocam resmungos inconformados com a demora do ônibus.

Page 138: Na cASA da imaginação

138É sexta a tarde e a vegetação ca-mufla os olheiros, que transformam a rótula da avenida em espaço público, onde sofás velhos e cadeiras se tor-nam o ponto dos vi-gia. Vigiam o que?

Que esse frete leve para longe todo o desgosto e que as árvores predomi-nem e tornem esse lugar restaurador.

Page 139: Na cASA da imaginação

139

Um montoado de lixo, serviço bagunçado, gente carente, e um pedido conveniente: Só por Deus!

Page 140: Na cASA da imaginação

140

Page 141: Na cASA da imaginação

141

Há infância no meio do barraco em plena sexta-feira a tarde, infância inocente, infância com brinquedo in-fame, mas que seja infância e que en-contre a sorte de viver para sempre como criança.

Page 142: Na cASA da imaginação

142

Na rua do samba pre-dominam os muros baixos, o senso de vi-zinhança o ritmo e a harmonia.

Page 143: Na cASA da imaginação

143

A fortaleza por detrás dos muros abriga nin-guém, os muros abrigam a fé, e os dois desabri-gam quem passa.

Page 144: Na cASA da imaginação

144

Na parede branca por detrás das árvores, repousa a mulata faceira, ela é linda, é cor, é iden-tidade.

Ser criança é não ver a pre-cariedade, é se aventurar nos perigos da tábua solta, da mesa bamba, do varal torto, é pular por entre os tijolos aparentes e quando ao cres-cer se lembrar que o nome disso é infância.

Page 145: Na cASA da imaginação

145

Na casa do samba não tem preto nem bran-co, só tem poesia.

Page 146: Na cASA da imaginação

146Em terras de futebol, só tem gente no domingo, e entre muros e arquibancadas, reina a inseguran-ça dos dias da semana.

Page 147: Na cASA da imaginação

147

O vento balança a bandeira do time, que quase escondida por entre a vegetação identifica o lugar. Estamos perto do Fi-gueirense.

O cenário pito-resco assiste o homem enlou-quecido que joga o objeto no chão repetidas vezes para que de den-tro saia o cobre. Os muros frios, o encobrem e per-mitem que possa manter sua lou-cura por mais um tempo.

Em terras de futebol, só tem gente no domingo, e entre muros e arquibancadas, reina a inseguran-ça dos dias da semana.

Page 148: Na cASA da imaginação

148

Page 149: Na cASA da imaginação

149

Vestígios de infância nesse lugar esquecido. O urso sorri, foi visto por alguém!

Page 150: Na cASA da imaginação

150

A estrada terminou então sente-se e descanse nessa paisagem inóspita, pois se não há sáida ao menos há um sofá.

Page 151: Na cASA da imaginação

151

Page 152: Na cASA da imaginação

152

Ao fundo uma escola que mais se parece com um presídio, em suas pare-des os anseios de pessoas que não encontram seus caminhos e logo na frente outra grande ironia: O “progresso” trazendo consigo o lazer, a exclusividade e a confiança, (pra quem puder pagar).

Page 153: Na cASA da imaginação

153

Ao fundo uma escola que mais se parece com um presídio, em suas pare-des os anseios de pessoas que não encontram seus caminhos e logo na frente outra grande ironia: O “progresso” trazendo consigo o lazer, a exclusividade e a confiança, (pra quem puder pagar).

Page 154: Na cASA da imaginação

154

Page 155: Na cASA da imaginação

155

na rua do lazer da exclusividade e da confiança moram os buracos, circulados pelo cidadão de bem.

As paredes revelam o angústia de um “pro-gresso” que chegou. E o chão revela que a “desordem” virou colchão.

Page 156: Na cASA da imaginação

156

O caminho é estreito, mas o muro verde alegra o caminho.

Page 157: Na cASA da imaginação

157

A rua é feita de es-cadas, pra subir tem que ter disposição, carrega a bicicleta de um lado e do ou-tro segura o corri-mão.

Page 158: Na cASA da imaginação

158

Na casa murada, o cadeado. Na árvore livre um coração arromabdo

Page 159: Na cASA da imaginação

159

Pulsante está a árvore, quan-do olham pra ela cada um vê o que tem no seu próprio coração. Aqui des-te canto ela en-canta.

Page 160: Na cASA da imaginação

160

Page 161: Na cASA da imaginação

161

Page 162: Na cASA da imaginação

162

Esta fotografia, tirada há pouco tempo e posterior ao ensaio fotográfico, mostra a pre-sença dos novos grafites, e a relação dos muros com a escala humana.

Page 163: Na cASA da imaginação

163

OS MUROS, OS VILÕES

Há um ditado popular que diz: “Quer fazer amigos? Então não construa muros, cons-trua pontes.”É hora de quebrar os muros e construir pontes.Pontes entre a criança e a comuni-dade, pontes entre a escola e a cidade, assim talvez tere-mos lugares amigáveis.

FIG. 62

Page 164: Na cASA da imaginação

164

AFETOhttps://image.freepik.com/free-icon/heart-lock-with-key-hole_318-49130.jpg

Page 165: Na cASA da imaginação

165

a chave

https://image.freepik.com/free-icon/heart-lock-with-key-hole_318-49130.jpg

Page 166: Na cASA da imaginação

166

IDADEpor detrás dos MUROS

FETIVA

Page 167: Na cASA da imaginação

167

MANOEL DE BARROS

“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só desco-

bre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coi-sas há que ser medido pelo encantamento

que as coisas produzem em nós.”

ste capítulo é baseado na pesquisa de campo realizada por mim na disciplina de Psicologia Ambiental no Departamento de Psi-cologia da UFSC intitulada de “Afetividade por detrás dos mu-ros”.

A pesquisa foi realizada com o objetivo de investigar a afetividade a partir das influências dos aspectos físicos sobre os usuários do NEI Pro-fessora Otília Cruz buscando por meio do viés da afetividade, entender o aspecto emocional que a arquitetura possibilita, proporcionando re-flexões que possam auxiliar em propostas de intervenções arquitetô-nicas no espaço da Creche, pois será a partir do entendimento sobre o que a Creche significa para os seus usuários, enquanto sentimentos e desejos, que será possível ver pessoas reais por detrás de um muro tão impessoal. Para adentrar o espiríto desta pesquisa é preciso compreender o que disse Yi Fu Tuan:

“Espaço é mais abstrato que lugar. O que começa como espaço indife-renciado transforma-se em lugar a medida que o conhecemos melhor e o

dotamos de valor”.

(TUAN, 2013, p. 14)

Logo, explorar a afetividade na arquitetura, é estudar os lugares. Lugares representam algo, tem valor. Este lugar, o Otília transmite sig-nificado e sentimentos, as pessoas se identificam com ele, e tem afeto por ele. A luta comunitária reforça a ideia de que há algo na arquitetura que vai além do construído, há memórias, histórias, vivências que con-tagiam as pessoas a ponto de elas não mais olharem para um espaço e o verem de forma indiferente, mas a ponto de olharem e se verem nele. Acredito que lugares são o que fazem da arquitetura algo tão incrível, algo que dá essência a nossas vidas. E é por isso que esse tra-balho busca esse olhar afetivo, um olhar que vê lugares e com isso vê as pessoas. Logo, o afeto é a chave.

E

Page 168: Na cASA da imaginação

168

Psicologia Ambiental, vertente interdisciplinar da Psicologia estuda a relação entre o ambiente e o usuário, que é quem vi-vencia este lugar. Alguns conceitos permeiam a Psicologia Am-biental como apropriação, identidade social, territorialidade,

pertencimento e afetividade (BOMFIM, 2010). Este trabalho trata especialmente sobre a ‘Afetividade’, já que busca a compreensão das influências da arquitetura escolar sobre as pessoas (crianças e adultos) visto que o espaço físico traduz identidades e sentimentos, como descreve Sawaia:

A cidade, a rua, o prédio, a porta representam modelos de subjetividade enquando porta-dores de história, desejos, carência e conflitos. Cada cidade, bairro, rua, até mesmo cada casa tem um clima que não advém, exclusivamente, do planejamento urbano e da geografia, mas do encontro de identidades em processos – identidades de homens e de espaços. Este clima perpassa diferentes entidades: eu, corpo, espaço doméstico, etnia, arquitetura. Dessa forma, os espaços construídos formam discursos e manipulam impulsos cognitivos e afetos

próprios.

(SAWAIA, 1995, P.21)

Como descrito anteriormente há algo nos espaços que os tornam luga-res, há dimensões subjetivas que trazem o “clima” como diz Sawaia, e para entender essa relação do homem com os lugares, faz-se necessário investigar a afetividade.

Afetividade, o conceito

A Afetividade é tonalidade, cor emocional que impregna aexistência do ser humano e é vivda como sentimento, os reações moderadas de prazer e

desprazer que não se referem a objetos específicos e emoção: fenômeno afetivo intenso, breve e centrado em objeto que interrompe o fluxo normal da conduta.

(SAWAIA, 1999, p.98)

A afetividade enquanto sentimento e emoção, os quais com-põem a existência do ser humano (SAWAIA, 1999, p.98), podem auxiliar na investigação da relação entre o espaço construído e os seus usuários, podendo refletir na relação ambiental entre pessoas e a edificação. A afetividade aplicada ao estudos relacionados ao lugar foram desenvolvidas pela pesquisadora Zulmira Bomfim, baseando-se na teo-ria de Vygotsky (BOMFIM, 2010, p. 56), o qual entendia que não há cisão entre a razão e a emoção, e portanto propõe que se trabalhe a linguagem emocional e o pensamento a partir dos desejos. Pois segun-do ele, não há pensamento sem sentimento e vice-versa. (VYGOTSKY, 1991, p.64). Segundo a abordagem histórico-cultural, que tem Vygotsky como expoente, é a partir da mediação, que o homem compreende o mundo, por meio dos signos, os quais carregam os conceitos generalizados pela cultura humana. (REGO, 1995, p. 41-43). Portanto, pode-se compreen-der a afetividade como uma forma de mediação entre o mundo e o ho-

Mas afinal, o que é afetividade?

Page 169: Na cASA da imaginação

169

mem, por meio do pensamento e da emoção, os quais o orientam e o permitem entender o que acontece ao seu redor.

Dessa forma, é evidente que investigar a afetividade é como traçar um retrato da visão de mundo de cada indivíduo a partir de seus pensamentos e emoções através das afecções do corpo, as quais segundo ESPINOSA (apud BOMFIM, 2010, p. 63) “permitem a com-posição dos indivíduos com outros” por meio dos bons encontros. Ou seja, investigar a afetividade é entender o lugar que cada um carrega dentro de si a partir do que compreende sobre o espaço por inter-médio de seus sentimentos e relacionamentos. Pois segundo TUAN (2012, p.19) a visão de mundo de um indivíduo representa as suas experiências tanto pessoais como sociais.

Relembrando como bem disse Rubem Alves (2000, p. 14) “Ah! Uma vez cometido o erro arquitetônico, o espírito da escola já está de-terminado!” visto que o lugar pode trazer tanto a topofilia, que carac-teriza-se como elo afetivo positivo com o lugar que gera sentimentos de pertencimento e identificação, ou pode ocorrer a topofobia, onde o indivíduo desenvolve afetos de inquietações e medo quanto aquele lu-gar (TUAN, 2012), os quais ditarão seu comportamento, seus relaciona-mentos, seu trabalho e no caso das crianças seu desenvolvimento tanto cognitivo, social e como afetivo. A afetividade só pode ser investigada quando o olhar encontra-se sobre as pessoas, pois é delas que provém os sentimentos, emoções, anseios e pensamentos. Por essa razão este trabalho é dedicado a aplicação no Otília Cruz, o qual tem como protagonistas as crianças e a comunidade da grande Coloninha. Haja vista, que é por causa destes atores que hoje encontra-se reaberto este lugar, espaço com valor (TUAN, 2013).

FIG 63Esta fotografia tirada no NEI, é de uma miniatura de árvore, lembra muito o a árvore grande do parque.

Page 170: Na cASA da imaginação

170

Esta distinção remete à questão figura-fundo isto é: ao esclarecimento do foco de um de-terminado estudo, em termos do tipo de relação tratada: (a) quais as características do ambiente em função das pessoas - centrado no ambiente, (b) quais os atributos das pessoas

em função do ambiente - centrado nas pessoas.

(GÜNTHER; ELALI; PINHEIRO, 2008, p. 378)

Dentre os métodos utilizados, estão o Walkthrough (Centrado no ambiente), o Mapa Afetivo (Centrado na pessoa), o Mapa visual (Cen-trado no ambiente) e o Poema dos desejos (Centrado na pessoa). Estes 4 métodos foram utilizados, de forma a se complementa-rem, o Walkthrough permite um primeiro contato com o espaço físico por meio dos olhos de um usuário do espaço, o Mapa Afetivo aborda a relação sentimental e emocional entre os usuários e o espaço, o Mapa Visual (realizado após o Mapa afetivo) permite ao partipante sintetizar espacialmente seus sentimentos expressos anteriormente. E o Poema dos desejos permite uma interlocução com crianças para uma com-preensão de seus afetos em relação a Creche. A abordagem multimétodos fez-se necessária também, dada a diferença entre os participantes (adultos e crianças). Visto que além da diferença cognitiva, ambos percebem o espaço de formas diferentes:

Afetividade, a prática

ompreender os afetos das pessoas em relação ao lugar onde es-tão envolvidas não é uma tarefa simples, pois:

Investigar sentimentos e emoções do habitante na cidade é um processo difícil de ser operacionalizado, porque emoções e sentimentos não são, normalmente, identificados e nomeados com facilidade. Poderíamos dizer que as sensações, emoções e sentimentos, como parte de uma linguagem interior, podem ser, muitas vezes, intangíveis como expres-

são exterior.

(BOMFIM, 2008, p. 255)

Portanto, para dialogar de forma adequada com os participantes e compreender os afetos que tanto os adultos como as crianças pos-suem com o lugar, fez necessária a utilização de métodos que permitis-sem uma interlocução com os grupos de maneira eficaz. Os pesquisadores Elali, Günther e Pinheiro (2008, p. 381) rein-teram a importância da abordagem multimétodos no estudo Pessoa-Ambiente, para evitar-se lacunas e vieses metodólogicos, desde que considerado o fenômeno a ser estudado e a complementariedade entre os métodos para que a análise possa ser coerente e sintetizada. Dessa forma, considerando o fenômeno em estudo a ‘Afetivida-de’ foram utilizados 4 métodos para a pesquisa, dentre eles dois estão centrados no ambiente e dois são centrados na pessoa:

C

Page 171: Na cASA da imaginação

171“O espaço físico isolado do ambiente só existe na cabeça dos adultos para medi-lo, para vendê-lo, para guardá-lo. Para a criança existe o espaço-alegria, o espaço-medo, o espaço-proteção, o espaço-mistério, o espaço-descoberta, enfim, os espaços da liberdade ou da

opressão.” (LIMA, 1989, p. 30)

Para Mayumi (1989, p. 13-14) o espaço palpável, físico, é como um pano de fundo, onde as sensações se revelam e deixam marcas, as quais per-manecem mesmo após a infância. Segunda ela, essas sensações qualifi-cam o espaço de forma a torná-lo um “ambiente” (Para Tuan um lugar). Dessa maneira, para a criança não existe dissociação entre o espaço físi-co e o ambiente (espaço qualificado) pois o espaço para a criança repre-senta sensações, as quais ela experimenta sem compreender de forma cognitiva completa o espaço físico, capacidade que o adulto apresenta, o qual traz a ele maior impessoalidade e a capacidade de perceber o espaço sem necessariamento tê-lo como lugar. Não há como negar que os aspectos ambientais exercem impor-tante papel sobre o adulto e sobre a criança, ambos percebem o espaço, e ambos são influenciados por ele, porém o que é importante ressaltar é que a percepção de ambos é diferente, visto que o adulto devido ao seu desenvolvimento tanto cognitivo quanto social já foi muito mais in-fluencido pela cultura (REGO,1995, p. 41-43) na qual está inserido e sua forma de compreender o mundo é muito mais mediada pelos aspectos lógicos e intelectuais. Enquanto a criança, possui seu desenvolvimento cognitivo em desenvolvimento e portanto o que lhe apreende a atenção são os signos que lhe são traduzidos como sensações e sentimentos, antes mesmo de saberem o seu significado cultural. Para o adulto é muito mais difícil abstrair o mundo cognitivo do que para a criança. Portanto, para investigar a afetividade é necessário que os métodos utilizados dialoguem com o participante, seja ele, adul-to ou criança de forma a conseguir traduzir e exteriorizar a afetividade. É importante ressaltar que antes de ir à campo, a estruturação dos métodos contou com variadas leituras que percorreram especial-mente BOMFIM (2013) e RHEINGANTZ et al. (2007;2009), devido a

relação com o estudo da afetividade e a abordagem multimétodos em Avalição Pós-Ocupação, tratados respectivamente. Portanto, após a leitura destes materiais somado a todo o re-ferencial teórico lido ao longo do semestre tanto na Disciplina de Psi-cologia Ambiental com a Profª Ariane Kuhnen, como na Disciplina de TCC I com a Profªa Vanessa Dorneles, foi possível adaptar os métodos pesquisados para o contexto do Otília Cruz. Em dois dos métodos mencionados, o Mapa Afetivo e o Poema dos desejos, foi realizado um teste piloto, com duas moradoras do en-torno próximo da Creche (minha mãe e minha irmã de 3 anos), para de-tectar possíveis inconclusões e perceber falhas que pudessem ser corri-gidas antes da aplicação real, visto que era uma adaptação do método. O que demonstrou ser bem importante, pois algumas perguntas feitas tanto a adulta quanto a criança, puderam ser aprimoradas, para que me-lhores resultados fossem obtidos. Assim foi possível reformular alguns itens da pesquisa e estabelecer uma duração média de 15 minutos para cada participante.

Page 172: Na cASA da imaginação

172

WALKTHROUGH

Page 173: Na cASA da imaginação

173

O Walkthrough, ou caminhada pelo local, é um método de análise espa-cial que combina a observação com a entrevista. Tem como objetivo esta-belecer um contato inicial com o local, onde o pesquisador é acompanhado de uma pessoa-chave. (ELALI et al., 2008; RHEINGANTZ et al., 2009). Essa cami-nhada pode ser complementada por fo-tografia ou croquis... Que permitam ao pesquisador um primeiro contato com as ambiências espaciais, percebendo o conjunto espacial com suas positivida-des e carências. O primeiro Walkthrough foi reali-zada pelo Arquiteto Kevin Lynch quan-do levou um grupo de participantes voluntários para uma caminhada-en-trevista por Boston para compreender qual a imagem que tinha da área cen-tral da cidade. O método foi reconheci-do cientificamente pelos anos 60 e 70 com o advento da Psicologia Ambiental (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 24) Este método precede os estudos mais aprofundados, onde é possível ter a “primeira impressão” sobre o lugar e permite auxiliar a pessoa-chave a arti-cular suas sensações em relação ao edi-fício. (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 29).

ste método foi aplicado na primeira visita intramuros, que fiz ao NEI Otília Cruz. Fui recebida pela diretora Fabrícia Luiz de Sou-za, sendo que primeiramente tivemos uma

conversa em sua sala onde ela me contou um pou-co da história do lugar e durante a nossa conversa perguntei a ela, o que ela mais gostava no quesito espacial da creche e o que ela menos gostava. Ela então me convidou a conhecer a Creche com ela. Começamos a caminhada, e com a autori-zação dela fui fotogrando os ambientes que mais atraiam minha atenção – Ver próxima página (a úni-ca restrição era não foto-grafar as crianças). Ela me levou então ao local que mais lhe agradava, ao pátio central (Fig. 3A) que para ela possuía uma clari-dade muito agradável e era um lugar amplo, onde as crianças podem praticar diversas atividades, utilizando também as caixas de areia. E logo ao lado se encontrava o que ela me-nos gostava espacialmente (Fig. 3B), o pátio é con-formado por dois blocos, sendo que o bloco a es-querda possui suas portas se abrindo para o pátio e o bloco a direita possui suas portas abrindo para os fundos da Creche, consistindo em erro de projeto (o bloco deveria ter sido espelhado), portanto isso aumentava as distâncias percorridas e diminuía a interação entre as crianças por entre o pátio. Visitamos ainda as salas de aula dos dois blocos, e os espaços que se encontram em um nível

inferior e que são acessados por uma rampa, onde estão a sala simbólica (Fig. 06) e a biblioteca (Fig. 07), dois espaços muito tranquilos e humanizados pelos próprios professores, próximos a árvores e do gramado, onde podem se ouvir passarinhos no meio da tarde. Visitamos também o pátio coberto, onde fica o refeitório, e seguimos até a área externa e cercada da Creche onde existe uma área aberta as vezes utilizada para educação física e também há o acesso até a quadra que devido a fortes chuvas ha-

via desmoronado e não foi possível visitar. Esta área está abandonada, pois a comunidade não consegue recursos governamentais para a construção do cen-tro social.O Walkthrough foi mui-to importante para um

primeira impressão sobre a realidade por de-trás dos muros, pois mesmo tendo morado durante 4 anos em frente a Creche conhecia apenas a realidade extramuros, a qual é muito diferente das ambiências vivenciadas lá fora. Lá dentro o muro não é ameaçador, é quase um aliado, o espaço opressor de quem vê lá de fora, lá dentro é quase como um refúgio, onde cantam até passarinhos. As percepções as quais experienciei, puderam dar sentido a continuidade deste trabalho. (As fotografias são acervo pessoal)

E

“Próximo as árvores e o gramado, podem se

ouvir passarinhos cantando no meio da tarde.”

Page 174: Na cASA da imaginação

174

08

01 02A 02B

09A09B09C09D

10

12

1101

02

0305 0406

07

0910

Page 175: Na cASA da imaginação

175

03A 03B 04 05

07A

07B08

06A

06C

06B

11

12

Page 176: Na cASA da imaginação

176

Esta foto foi cedida pela dire-tora da Creche, quando visitei a Creche pela primeira vez. Ela co-mentou sobre alegria de ver as crianças brincando na árvore e a emoção em capturar esse mo-mento em uma imagem. Essa foto foi inspiração para a criação do símbolo do NEI Otília Cruz.

FIG 64

Page 177: Na cASA da imaginação

177

Resultado

Ao visitar a Creche durante a caminhada guiada foi possível perceber a amplitude do lugar, a horizontalidade, o espaço ventilado e ensolarado e a forte presença da vegetação. Foi possível constatar que os muros para quem se encontra no interior não são tão altos como para quem se encontra do lado de fora, já que devido ao aterro do terreno, a parte murada está elevada no interior, e o que percebe-se como muro lá fora é parte aterro, parte muro. Dentre as várias adaptações que a Creche passou, é importante destacar que o esfor-ço dos professores tem sido muito importante na construção de um espaço mais humanizado, visto que a a reforma considerou muito mais a funcionalidade do que a ambiência dos espaços, há poucos brinquedos, e a própria arquitetura não induz a brincadeira, já que os ambientes são rígidos, duros e com acessibilidade restrita, mas como disse Mário Quintana “As crianças não brincam de brincar, elas brincam de verdade” para a criança tudo vira brincadeira, elas brincam de verdade.

Page 178: Na cASA da imaginação

178

MAPAS AFETIVOS

Page 179: Na cASA da imaginação

179

O Mapa Afetivo é uma metodologia de-senvolvida pela pesquisadora Zulmira Bomfim, o qual busca facilitar o proces-so de tornar a afetividade algo tangível e exteriorizado. Este método busca referências no Mapas Cognitivos de Lynch, fundamen-tando-se na ideia de que cada pessoa tem dentro de si uma imagem do que lhe cerca, e também na perspectiva históri-co-cultural de Vygotsky, pois para ele a linguagem emocional é extremamente importante no processo de mediação entre o homem e o mundo, e para tanto este método faz uso do desenho, e tam-bém da metafóra as quais auxiliam nes-te processo. (BOMFIM, 2010, p. 256) Portanto, os mapas são imagens ou representações que se baseiam em si-nais emotivos a partir de recursos ima-géticos (desenhos, fotografias...), reve-lando a implicação do indivíduo com o ambiente que vivencia, seja ele a sua casa, seu bairro, comunidade, cidade... Os Mapas Afetivos orientam estra-tégias de ação e análise dos níveis de apropriação, pertencimento, apego e identidade para com o lugar.

mapa afetivo aplicado na Creche Profª Otília Cruz, foi uma adaptação do mapa proposto por Zulmira Bomfim, foram el-egidos para a aplicação do instrumento

alguns dos recursos sugeridos por ela, como o de-senho e a metáfora, como forma de revelarem os afetos que aliados a escrita de algumas sentenças, formaram como ela define: “a síntese do sentimen-to” (BOMFIM, 2010, p. 259).

O instrumento foi aplicado com 10 adultos (9 usuários frequentes da Creche e 1 moradora do entorno- piloto) e foi estruturado em 6 etapas, as quais são:

DESENHO, nesta etapa pede-se ao participante que desenhe como vê a creche, colocando no desenho o que vem em sua mente ao pensar na creche. Sendo este um aquecimento para a ex-pressão de emoções e sentimentos para facilitar a expressão das emoções.

SIGNIFICADO DO DESENHO, neste etapa, pede-se ao participante que explique verbalmente ou por escrito o que seu desenho significa (A maioria dos participantes preferiu explicar enquanto eu ano-tava o que era exposto). Essa etapa é importante, pois permite que o participante comece a external-izar através da linguagem o que sente.

PALAVRAS, pede-se ao respondente que diga 5 palavras que vem a sua mente quando pensa na creche. Essa etapa buscar guiar a pessoa a uma sín-

tese de ideias, na qual ela vem desde o desenho, estabelecendo.

SENTIMENTOS, pede-se ao respondente que ex-presse alguns sentimentos relacionados ao seu de-senho e ao que pensa sobre a Creche. Este ponto caracteriza-se como uma síntese dos sentimentos, aqui ele reintera e reforça seus afetos, tornando-os mais claros.

METÁFORA, este é o último item e pede-se que o partipante compare a creche com algo. A metáfora permite que o sentimento seja personificado e rev-ele os afetos de forma figurada.

Nas páginas 177 e 178, há uma síntese de sen-timentos e percepções que os usuários pos-suem da Creche (lado esquerdo), assim como as metáforas feitas por eles (lado direito).E no centro encontram-se os desenhos numer-ados para facilitar a leitura dos Mapas Afetivos.

Esse método é muito enriquecedor, pois permite partir de algo intangível para algo tangível, revelan-do ao pesquisador, as nuances afetivas que ligam os participantes ao lugar.

O

Page 180: Na cASA da imaginação

180

CRIANÇAS

ÁRVORE

SBR

INCAR

PAZPA

RQUE

ESPERANÇA

ABANDO

NO

PENAFALTAM FLORES

ANGÚS

TIA FALTA HUMANIZAÇÃO

FALT

A O LÚ

DICO

PERIG

OSO

FEIO

IMPE

SSO

ALPE

RTEN

CIMEN

TO

REFO

RMA

CUIDADO

ALEGRIA

EQUI

PE

AFETIVIDADE APREN

DIZADO

CUIDA

DO

CARINHO

HISTÓRIAS DE VIDA

BALANÇO

DESAFIOSRE

FÚGIO

CASTEL

O

NATUREZA

CHUVA

DESE

NVOLV

IMEN

TO

PRAZERLIBERDADECONFIANÇA

SEGUR

ANÇA

AMIZA

DES

TROCA

SER H

UMANO

ESPA

ÇOSA

CORES

Page 181: Na cASA da imaginação

181

PARQUE DE

DIVERSÕES

PARQUE DE

FELICIDADE

BOSQUECORAÇÃO DE M

ÃE

FLOR

CENTO

PEIACO

LÉGIO

PRESÍDIOCASA DA CRIANÇA

Page 182: Na cASA da imaginação

182

Page 183: Na cASA da imaginação

183

O DESENHO possibilitou um aquecimento para o exercício de exteriorizar os sentimentos. Os desenhos consistiram em sua maior parte em desenhos que tendiam a uma aproximação literal da creche, ou seja desenhos cognitivos, houve um desenho metafórico no qual repre-sentou-se um coração, e ainda uma planta bai-xa esquematizada, na qual a participante bus-cava detalhar como ela gostaria que a Creche fosse. Os principais elementos que ocorreram nos desenhos, foram as crianças, a estrutura fí-sica da Creche, as árvores, e o parque (balanço e escorregador). Foi possível perceber uma grande dife-rença entre o teste piloto, realizado com uma vizinha que não frequenta a Creche com os de-senhos dos funcionários que vivenciam a rea-lidade do lugar. Já que o desenho da morado-ra do entorno, consistiu no que ela realmente vê, que são os muros, parte da estrutura física e parte das árvores. Demonstrando o que foi constatado no Walkthrough, que a realidade intramuros é bem distinta da ambiência extra-muros, o que proporciona sentimentos positi-vos por parte dos usuários e sentimentos de inquietação por parte de quem não vive o es-paço. Quando indagados sobre o SIGNIFICA-DO DO DESENHO os participantes além de relatarem o que os traços dos seus desenhos

representavam literalmente, foi possível perce-ber que começaram a descrever afetivamente, como pôde ser percebido em sentenças como: “Lugar confortável, feliz, alegre”, “Ambiente harmonioso” “Desperta um misto de emoções”, “Amor”, “Liberdade”. Dentre as PALAVRAS declaradas, foi perceptível a reafirmação sobre o que havia sido desenhado de forma sintetizada, facilitan-do a expressão dos SENTIMENTOS, os quais como é possível observar na tabela ao lado foram em sua maioria palavras e sentimentos positivos em relação a Creche e as pessoas que se encontram e convivem, reforçando que:

Para que o espaço adquira o sentimento de “meu”, é preciso mais que a familiaridade. O que pro-duz o calor do lugar é segurança e uma forte dose do

sentimento de sentir-se gente entre pares.

(SAWAIA, 1995, p. 23)

Finalizando o instrumento e como for-ma de sintetizar figuradamente os sentimen-tos, os participantes compararam a Creche, por meio de uma METÁFORA, as quais foram mui-to interessantes e reforçaram os sentimentos já expressos. Dentre as metáforas, foi possivel perceber o valor atribuido às crianças, à natu-reza e vegetação, ao parque e as brincadeiras, assim como também a deficiência de alguns espaços.

Os Mapas Afetivos permitiram compreender que a Creche Otília Cruz, é um lugar para es-sas pessoas, visto que possui valor e gera nos indivíduos sentimentos de apropriação e des-perta nelas o sentimento de pertencimento visto que elas sentem-se “gente entre pares”.

Resultado

Page 184: Na cASA da imaginação

184

MAPAS VISUAIS

Page 185: Na cASA da imaginação

185

O mapeamento visual é um instrumento que permite identificar a percepção dos participantes com relação aos ambien-tes que vivenciam, tendo como objetivo identificar a familiaridade a apropriação e as inadequações existentes, a partir da experiência do usuário, possibilitando o registro em plantas baixas simplificadas e/ou humanizadas. (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 50) O mapemento visual foi desenvolvi-do por Ross Thorne, para uma Avaliação de Pós-Ocupação em uma escritório em Sydney, com o propósito de entender a opinão dos funcionários a respeito do local de trabalho. Para tanto, ele prepa-rou uma planta baixa humanizada e pe-diu aos funcionários que demarcassem graficamente sobre a planta os pontos positivos e negativos do ambiente em questão. (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 50) O Mapa Visual, portanto pode ser utilizado tanto para ambientes inter-nos, para uma melhor compreensão do layout, ou ainda para a compreensão de espaços urbanos, relacionando a identificação dos usuários com o lugar. (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 13)

ste método contou com a participação de 9 adultos que haviam partipado do mapa afetivo, dentre os quais estavam

funcionários, professores e pais. O Mapa Visual foi realizado após o Mapa Afetivo por dois motivos, o primeiro é por entender-se que o Mapa Afetivo pode ser um direcionador que facilita o participante na escolha de ambientes que dialogam com seus afetos. E também, por permitir a pesquisado-ra a escolha de partipantes que tivessem real conhecimento dos espaços intramuros na Cre-che. Até por essa razão o Mapa Visual, não foi aplicado como no teste piloto com a moradora do entorno, por entender-se que o mesmo exi-ge que o participante tenha vivências intramu-ros. Antes da aplicação, referenciava ao par-ticipante o lugar onde referente a planta bem como o acesso da creche, e outros pontos mar-cantes, como as caixas de areia do pátio, para que o participante mesmo que nunca tendo tido contato com uma planta baixa, pudesse se localizar. Então, foi entregue aos participantes, uma planta baixa esquemática e colorida para a qual pedia-se que se circulasse dois lugares onde mais se gostava de estar e se marcasse um X em dois lugares que menos se gostava de estar, e posteriormente pedia-se ao res-pondente que relatasse brevemente o porquê da escolha daquele ambiente, escrevendo na

planta. Foi notável que os ambientes preferi-dos dos adultos, estavam relacionados na sua maior parte com os lugares onde exercem suas funções, o que demonstra sua apropriação e afeto pelo lugar que vivenciam diariamente. O Mapa, foi um indicativo quanto a lo-calização, apego e inquietação com relação a alguns ambientes por parte dos respondentes. E pôde completar o Mapa Afetivo, relacionan-do os afetos aos espaços reais.

E

Page 186: Na cASA da imaginação

186

Page 187: Na cASA da imaginação

187

Page 188: Na cASA da imaginação

188

Page 189: Na cASA da imaginação

189

Os Mapas visuais, puderam espacializar os sentimentos antes declarados pelos participantes nos Mapas afetivos, portanto puderam complementar e aprofundar os afetos descritos na etapa anterior.Na página 185 e 186 há uma síntese do levantamento realizado entre os usuários, em verde estão os lugares favoritos dos usuários, em amarelo alguns gostam por motivos pessoais ou não gostam mas não houve muita relevância de afetos e em vermelho estão os ambientes que são um consenso entre os partipantes sobre o porquê não os agrada. Na página ao lado consta o levantamento dos ambientes e suas justificativas. É possível perceber que há alguns ambientes, sobre os quais há divergência de opinião, como por exemplo, a secretaria, o solário e as salas de aula. É interessante perceber que isso acontece devido as diferentes funções exercidas pelos indivíduos. Por exemplo, a mãe tem uma percepção diferente da professora, quando ambas falam sobre o solário, a mãe diz gostar desse lugar porque é onde seus filhos podem brincar, já para a professora este é um lugar que exige maior atenção de sua parte. No caso das salas de aula, é curioso notar que as professoras que ali trabalham gostam das suas salas, possivelmente porque elas se apropriaram e personalizaram o lugar, enquanto que para a pessoas responsável pela limpeza, esses espaços são difíceis de man-ter organizados.

Resultado

Page 190: Na cASA da imaginação

190

POEMA DOS DESEJOS

Page 191: Na cASA da imaginação

191

O Poema dos Desejos é instrumento que permite aos usuários expressarem livremente seus desejos, anseios e sen-timentos diante do ambiente no qual estão inseridos. Pode ser aplicado por meio de desenhos ou sentenças escritas. Baseia-se na espontaneidade das res-postas podendo ser aplicado com gru-pos pequenos ou até mesmo com uma comunidade. É portanto um instrumen-to não estruturado e de livre expressão. (RHEINGANTZ et al., 2009, p. 14; 43) Este instrumento foi desenvolvi-do por Henry Sanoff, como forma de conhecer o imaginário coletivo, sendo que o Poema permite, uma interlocução entre o persquisador e os participantes que auxilia em projetos participativos entre o arquiteto e a comunidade, por exemplo. O Poema dos desejos tem como ob-jetivo facilitar ao participante que se abra e converse sobre o que pensa a res-peito do lugar onde está inserido, para tanto sugere-se iniciar com a frase: “Eu gostaria que o (ambiente)... Dessa forma estimula-se o respondente a pensar em suas necessidades e conseguir compar-tilhar seus desejos.

O Poema dos desejos de Sanoff, foi adapta-do para servir como meio de interlocução com crianças de 3 a 5 anos. Trabalhou-se com 6 crianças, além da moradora, com a

qual o piloto foi realizado. O instrumento foi estruturado da seguinte forma, a pesquisadora sentava com a criança indi-vidualmente em uma das mesas da sala de aula, en-quanto as professoras e as demais crianças, faziam outras atividades. Então, era entregue a criança uma folha juntamente com vários lápis de cor e ca-netinhas, e se pedia para que a criança desenhasse como ela imaginava a creche dos sonhos dela. Para facilitar, foi usada a frase “Desenha pra mim como é a creche mais legal do mundo”. Para facilitar o diálogo, mas com o cuida-do de não inferir nos desejos das crianças, eram feitas perguntas complementares ao que a crian-ça dizia. Pois enquanto ela ia desenhando, cabia a pesquisadora ir escrevendo em uma folha a parte o que a criança explicava sobre o significado do seu desenho. Por vezes, fez-se necessário, perguntar-se o “por quê” de algo, ou até mesmo, incentivar o raciocínio da criança com perguntas como “mas o que tem lá fora nessa Creche”, “o que você faz lá fora”... Algumas das crianças, tinham apego por personagens de desenho animado, e para esses po-dia-se tentar um diálogo, como “e como é a Creche que o personagem estuda?” para que o imaginário aflorasse. Um dos fatores que dificultaram a aplica-ção do instrumento foi a permanência em sala de aula, pois as crianças tendiam a descrever os ob-

jetos que estavam a seu redor. Foi curioso notar que as crianças de 5 anos tendiam a fazer desenhos muito literais de objetos, e até mesmo se negavam a desenhar algo que não “sabiam” desenhar, o que foi conversado, sobre imaginar e não precisar dese-nhar como é, mas sim como ela achava que era. A maioria das crianças, buscou representar elementos da própria Creche, com os quais se sen-tiam mais identificados. O que foi interessante, vis-to que ao realizar o piloto com a criança de 3 anos, ela descreveu um cenário imaginário, enquanto as crianças da Creche descreveram a Creche delas mesmas adcionando por vezes algo além do real. Esse instrumento possibilitou um diálogo muito interessante com as crianças, por reforçar a importância do brincar, o qual esteve bem presen-te nas respostas. E de alguma forma, pode trazer um subsídio ao futuro projeto arquitetônico, ao demonstrar que as crianças pouco sabem sobre o lúdico, e sobre o viver a fantasia como forma de experienciar o espaço, já que estão muito presas a realidade na qual estão inseridas.

Page 192: Na cASA da imaginação

192

FLORPARQUE

BALANÇOÁRVORE

UNICÓRNIO

PESSOAS

PULAR CORDA

MATO

AREIA

CASTELO

SOL

AVIÃOBONECA

PICOLÉPORTÃO

ESCORREGADOR

BOLA

SEREIAFLAUTA

VIOLÃO

BRINCAR

CARRINHO

BONECO

DESENHAR

TÚNELCASA

MADEIRA

CORESRUA

URSOGANGORRA

AZUL E LARANJA

MURO

CÉU

CORUJA

LANCHAR

BAMBOLÊCRECHE GRANDONA

CACHORRO

CARACOL

Page 193: Na cASA da imaginação

193

UNICÓRNIO

O Poema dos desejos, é uma forma de ser possível o diálogo direciona-do, especialmente para o público infantil. Nas páginas 68 e 69, constam os desenhos feitos pelas crianças as quais serviram para evocar seus desejos e constam ainda os principais desejos extraídos do diálogo rea-lizado com eles. É interessante observar nos desenhos a presença das cores, as quais podem ser um aliado no projeto arquitetônico, conforme consta em Rheingantz et al., 2009, p. 46. Para fins qualitativos, é possível verificar na tabela abaixo uma categorização dos desejos infantis, a qual facilita o entendimento so-bre os desejos, a categorização foi baseada no trabalho do grupo GAE (SANTOS, 2006, p. 7) Este instrumento é muito rico em informações sobre o mundo da criança, sobre seu modo de ver o lugar, sendo que a partir da categori-zação dos elementos citados pelas crianças, é possível perceber a forte ocorrência de elementos relacionados a brincadeira, aos brinquedos e a natureza, os quais constituem muito mais do que um cenário para a criança, mas um meio de exploração do lugar onde está inserido. Portanto, pode auxiliar na elaboração de projetos arquitetôni-cos que atendam aos desejos das crianças. Pois segundo Sanoff (apud SANTOS, 2006) o espaço da educação infantil deve ser utilizado como estratégia de ensino e os educadores deveriam reconhecer a potencia-lidade destes ambientes, questionando os arranjos e a aparência das salas de atividades, bem como experimentar modificações que possam vir a funcionar melhor na realidade em que estão inseridos.

Page 194: Na cASA da imaginação

194

as afinal, qual é a influência dos aspectos físicos na afetividade no NEI Otília? Através dos instrumentos aplicados a afetividade pôde

ser investigada por uma abordagem multi-métodos, o que permitiu sua compreensão com base nos resultados obtidos. Portanto, é possível afirmar que os aspectos físicos, enquanto lugar, tem fundamental importância no processo de experiência e per-cepção espacial, tanto para os adultos como para as crianças. Pois todos puderam expressar sentimentos, emoções e desejos relacionados a Cre-che. Então, pode-se entender que existe afetividade por detrás dos muros da Creche, visto que seus usuários consideram seu espaço, um espaço qualificado, logo, um lugar. É possível perceber que tem laços afetivos positivos que puderam ser expressos em sentimentos de pert-encimento, apropriação, personalização e identidade, os quais estão presentes em sentenças como “Eu pertenço à essa Creche”, “Esse lugar é um refúgio para mim”, “Essa Creche foi a melhor coisa que aconteceu”, “Esse lugar parece com um parque de felicidade”, “Essa Creche é um coração de mãe”, “Se todos fizessem um pouquinho além do que precis-am, a Creche estaria ainda melhor”. Foi interessante perceber que os adultos que vivenciam a Creche, fazem críticas aos espaços sérios e formais, demonstrando que diante das deficiências espaciais, trazem a memória seus espaços de infância, seus pátios e seus parques, demonstrando que investigar a afetividade no espaço escolar, é como voltar a infância e reviver os “espaço-alegria, o espaço-medo, o espaços-aventura...” (LIMA, 1989, p. 30) sabendo que os sentimentos e as emoções sobre a escola sempre estarão conectados com o outro e com o lugar. Lembrando o Pequeno Príncipe, quando diz: “O problema não é crescer, o problema é esquecer.” Que os espaços escolares continuem sendo fonte de boas me-mórias, mas acima de tudo que sejam fontes de boas experiências, percepções, e afetividade para além dos muros.

M

Esta fotografia foi tirada na biblioteca do NEI, após a aplicação da pesquisa com a bibliotecária, a Janaina. Na foto ela está mostrando seu desenho, o qual fazia parte da expressão de sua afeti-vidade para com o lugar.

Page 195: Na cASA da imaginação

195

O AFETO, A CHAVE

A afetividade é talvez o vínculo mais forte que exista entre a pessoa e o lugar. E talvez seja a chave que abra as portas para arquiteturas sensíveis. Afi-nal, a afetividade trans-cende o tempo e embala a memória, é o que dá cor as vivências e torna a in-fância eterna.

FIG 65

Page 196: Na cASA da imaginação

196

a casa daESCOLA,

Page 197: Na cASA da imaginação

197

imaginaçãoFIG. 66

Page 198: Na cASA da imaginação

198

PROJETU AdiretR IZESIS

Page 199: Na cASA da imaginação

199

MAYUMI SOUZA DE LIMA

IZES É preciso, pois, deixar o espaço sufi-cientemente pensado para

estimular a curiosidade e a imaginação da criança, mas

incompleto o bastante para que ela se aproprie e transforme esse espaço

através da sua própria ação.”MAYUMI LIMA

pós a leitura do referencial teórico, das experiênciais fotográfi-cas, da pesquisa em campo e a partir da própria vivência como moradora do lugar, é possível traçar diretrizes a partir das defi-

ciências e potencialidades, buscando torná-las arquitetura. Para facilitar essa leitura do local e lançar-se as diretrizes (ou raízes) do projeto foi necessário e fundamental fazer um levantamento utilizando-se o método CPD, onde se identificam as condicionantes, as potencialidades e as deficiências, para poder-se mapear as diretrizes a partir do que foi observado. Nas páginas 198-202 é possível encontar uma tabela na qual estão dispostas as deficiências e potencialidades observadas no lugar bem como um mapa o qual espacializa o que foi levantado na tabela de forma a utilizar-se das deficiências para melhorá-las e utilizar-se das potencialidades para aproveitá-las. Sendo esta etapa de fundamental-impotância para um projeto coerente com as reflexões feitas até aqui.

A

Page 200: Na cASA da imaginação

200

Page 201: Na cASA da imaginação

201

Page 202: Na cASA da imaginação

202

Page 203: Na cASA da imaginação

203

Page 204: Na cASA da imaginação

204

Page 205: Na cASA da imaginação

205

Page 206: Na cASA da imaginação

206

Page 207: Na cASA da imaginação

207

MAYUMI SOUZA DE LIMA

INterVENÇÕES arquitetônicas

Page 208: Na cASA da imaginação

208

MUROS

Page 209: Na cASA da imaginação

209

Comecemos pelos muros.Afinal são eles que impossibilitam a in-teração entre a comunidade e a escola. Logo, este projeto se inicia de fora para dentro, ao pensar a relação cidade-es-cola.O conceito “Quebrar muros” não é ne-cessariamente um conceito literal, mas um conceito que permeia as ambiências causadas pelos muros. Portanto, fez-se necessário traçar-se ambiências, as quais definem os muros como permeá-veis e interativos.

Dessa forma fica evidente que não é possível tomar uma decisão única para os muros, é necessário repensá-los por trechos, os quais estão intimamente re-lacionados as relações desejadas entre o lugar e a rua.

Atualmente os muros da creche circundam todo seu perímetro, o qual

consiste em aproximada-mente 385 metros!

Muro permeável

Muro interativoREFERÊNCIAS

FIG 67

FIG 70

FIG 73

FIG 76

FIG 68

FIG 71

FIG 74

FIG 77

FIG 69

FIG 72

FIG 75

FIG 78

Page 210: Na cASA da imaginação

210

Page 211: Na cASA da imaginação

211

Page 212: Na cASA da imaginação

212

ESPAÇOS EDIFICADOS

Page 213: Na cASA da imaginação

213

Quanto aos espaços edificados, é im-portante lembrar que a arquitetura in-serida no lugar, existe desde 1958, ou seja boa parte da comunidade que mora no entorno estudou ali, e como pôde se perceber durante a pesquisa sobre Afe-tividade, as pessoas tem carinho pela arquitetura existente. Segundo a Tânia Ramos, líder co-munitária, na Coloninha, já houve ou-tros projetos para o Otília, porém a comunidade se recusou haja vista que a arquitetura conhecida por eles é a existente e eles se identificam com ela. Logo, é preciso muito respeito na hora de intervir ou propor mudanças num espaço já consolidado. Haja vista que este projeto se propõe a ter a comu-nidade e usuários da escola como prota-tagonistas, não sua arquitetura. Para isso, tem-se em mente remo-delar o lugar por meio de novas am-biências trabalhando com o esquema formal em “u” com pátio já conhecido e com o qual a comunidade se identifica. Trazendo assim o um lugar lúdico, colo-rido, amigável e humanizado, não ape-nas funcional.

21

2 3

4 5

76

FIG 79

FIG 81

FIG 83

FIG 85

FIG 80

FIG 82

FIG 84

FIG 86

Page 214: Na cASA da imaginação

214

Page 215: Na cASA da imaginação

215

Page 216: Na cASA da imaginação

216

ESPAÇOS NÃO- EDIFICADOS

Page 217: Na cASA da imaginação

217

Os espaços não edificados, são os que traduzem ambiências antes mesmo do espaço físico, eles ditam o espírito do lugar. Logo, faz-se necessário que os espa-ços sejam lúdicos, que explorem os sen-tidos, a partir da cor, dos cheiros e das texturas. O NEI Otília hoje carece de espaços não edificados planejados, necessita de espaços de brincar, descansar, reunir... Os quais irão colaborar para que os lu-gares sejam dinâmicos, cativantes e in-tegradores. Durante a pesquisa sobre Afetivi-dade, uma das participantes disse que faltava o lúdico na Creche, faltavam árvores, flores e castelos. E é sobre isso que os espaços não edificados se propõe a prestar lugares lúdicos, os quais falam tanto quanto o edifício construído. As imagens de referências buscam abarcar ideias sobre como um espaço pode ser um lugar memorável e agra-dável para quem o vivencia através da brincadeira, e dos espaços verdes.

21

3 4

5

5 5

5

FIG 87

FIG 89

FIG 91

FIG 93

FIG 88

FIG 90

FIG 92

FIG 94

Page 218: Na cASA da imaginação

218

Page 219: Na cASA da imaginação

219

Page 220: Na cASA da imaginação

220

Page 221: Na cASA da imaginação

221

Page 222: Na cASA da imaginação

222

Page 223: Na cASA da imaginação

223pós ler este trabalho, talvez o leitor esteja se perguntando se esta história é mesmo sobre arquitetura e escolas.

Bom, ela é em primeiro lugar sobre crianças, comunidade e afetos os quais são os protagonistas que participam deste lugar chamado “A cASA da Imaginação.”

A casa da Imaginação, enquanto casa, é um lugar que busca acolher e integrar trazendo a comunidade e a criança a certeza que o Otília é tanto escola, como cidade, é um lugar que propicia vivências e relações, os quais promovem cida-dania e desenvolvimento.

A casa da Imaginação, enquanto asa, é um lugar que estimula o lúdico, a brin-cadeira a exploração e a curiosidade e tem isso como conceito para seus am-bientes. Este lugar, encoraja a voar, e a ser livre.

Este lugar, esta história e todas as pessoas as quais cruzaram meu caminho ao longo deste trabalho fortaleceram em mim a vontade de voar e servir de inspi-ração para que os arquitetos, as comunidades e escolas possam compreender os benefícios de um espaço escolar, como lugar, recheado de memórias, de vivências e de aprendizado.

Este lugar-história cresceu dentro de mim, pois vivi junto das crianças, da co-munidade, dos muros e da escola. Não conto sobre o que ouvi, conto sobre o que vi com meus próprios olhos e imaginei ao voar com as asas da minha imaginação e do meu coração.

Essa é definitivamente uma história que vale a pena ser contada!

A

Page 224: Na cASA da imaginação

224

Page 225: Na cASA da imaginação

225

Voaram felizes para sempre...

Page 226: Na cASA da imaginação

226

BIBLIOGRAFIA

Page 227: Na cASA da imaginação

227

ALVES, Rubem. A Escola da Ponte. São Paulo: Correio Popular, 2000.

AZEVEDO, G. A. N.; RHEINGANTZ, P. A.; TÂNGARI, V. (ORGS). O lugar do Pátio Escolar no Sistema de Espaços Livres: Uso, forma, Apropriação. Rio de Janeiro: UFRJ /FAU/PROARQ, 2011.

BOMFIM, Zulmira. Afetividade e Ambiente Urbano: Uma Proposta metodológica pelos mapas afetivos. In: GÜNTHER, Hartmut et al. Métodos de pesquisa nos estudos pessoa-ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap. 8. p. 253-280

BOMFIM, Zulmira. Cidade e afetividade: Estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Ufc, 2010.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2006.

DIDONET, V. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais. v 18, n. 73. Brasília: 2001.

DI LELLO, Jaqueline F. Escola Pública de educação infantil: Percepção e de desenvolvimento dos sentidos. Trabalho final de gradução – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo: 2012.

ELALI, Gleici Azambuja. Ambientes para a educação infantil: Um quebra-cabeça? Contribuição metodológica na avaliação pós-ocupação de edi-ficações e na elaboração de diretrizes para projetos arquitetônicos na área. Tese – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP, São Paulo, 2002.

ELALI, Gleice A.; GÜNTHER, Hartmut.; PINHEIRO, José Q.. A Abordagem Multimétodos em Estudos Pessoa-Ambiente: Características, Definições e Implicações. In: GÜNTHER, Hartmut et al. Métodos de pesquisa nos estudos pessoa-ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap. 12. p. 367-395.

FELIPPE, M. L., RAYMUNDO, L. S; KUHNEN, A. (2013). Investigando laços afetivos com a escola a partir de mapas ambientais. Estudos e Pesqui-sas em Psicologia (Online), 13, 1010-1038.

Page 228: Na cASA da imaginação

228

FERREIRA, Rovy Pessoa. Escola pública integral no Monte Cristo em Florianópolis. Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina: 2011.

GOULART DE FARIA, A. B. O pátio como tér[ritó]rio [de passagem] entre a escola e a cidade. In: AZEVEDO, G. A. N.; RHEINGANTZ, P. A.; TÂN-GARI, V. (ORGS). O lugar do Pátio Escolar no Sistema de Espaços Livres: Uso, forma, Apropriação. Rio de Janeiro: UFRJ /FAU/PROARQ, 2011.

HARPER, Babete et all. Cuidado escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. São Paulo: Brasiliense, 1980.

HENRIQUES, Eda M. O debate Piaget/Vygotsky: uma contribuição para a questão do conhecimento na pré-escola. In: GARCIA, Regina L., Revis-itando a pré-escola. São Paulo: Cortez, 1993.

HOLZER, Werther. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e meio ambiente. Rio de Janeiro: Gara-mond – LAGET/UFRJ, 1997.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes: 2011.

LIMA, Mayumi W. S. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel, 1989.

LIMA, M. W. S. Arquitetura e Educação. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 1999.

PIAGET, L. E. A formação do símbolo na criança. Tradução de A. Cabral e C. M. Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

PRADO, Maitê de Lima. A arquitetura e o desenvolvimento infantil. A criação de espaços educativos. Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. Universidade estadual paulista Júlio de Mesquita Filho. Bauru, São Paulo: 2015.

RAMOS, Flávia Martini. Arte e corpo no espaço educativo. Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina: 2015.

REGO, Teresa. VYGOTSKY: Uma perspectiva histórico cultural da educação. Petropólis, RJ: Vozes: 1995.

RHEINGANTZ, Paulo Afonso et al. Walkthrough. Rio de Janeiro: 2007.

Page 229: Na cASA da imaginação

229

RHEINGANTZ, Paulo Afonso et al. Wish Poems – Poema dos Desejos. Rio de Janeiro: 2007.

RHEINGANTZ, Paulo Afonso et al. Observando a Qualidade do Projeto e do Lugar: Procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: Pós Graduação em Arquitetura, 2009. 119 p. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prolugar/assets/obs_a_qua_lugar.pdf>. Acesso em: 03 dez. 2015.

RHEINGANTZ, Paulo Afonso et al.Observando a Qualidade do Projeto e do Lugar. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO PROJETO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 9., 2009, Rio de Janeiro. Anais do Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído. São Car-los: Antac, 2009. p. 25 - 54. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prolugar/assets/2009-sbqp---obsqualidproj-lugar-jff-par.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2015.

RIBEIRO, Raquel. A Escola é cidade: a educomunicação aplicada a arte. São Paulo: Choque Cultural: 2015.

SANOFF, Henry. Creating Environments for Young Children. Mansfield, Ohio: SANTOS, Fabiana et al. Atividade de desenho com crianças como meio de interlocução. Rio de Janeiro: 2006.

SANTOS, Lorena M. As práticas pedagógicas de Reggio Emilia: Inspirações italianas para a educação infantil. Maringá, PR: 2014.

SAWAIA, Bader. Artimanhas da exclusão: Análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petropólis, RJ: Vozes: 1999.

SAWAIA, Bader. O calor do lugar: segregação urbana e identidade. São Paulo: Revista São Paulo em Perspectiva, 1995.

TEODORO, Wagner L. G.. O desenvolvimento infantil de 0 a 6 anos e a vida pré-escolar. Uberlândia: 2013. Disponível em <http://pt.slideshare.net/wagnerlugate/o-desenvolvimento-infantil-de-0-a-6-e-a-vida-prescolar>. Acesso em 16 fev. 2016.

TUAN, Yi Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2012.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: Eduel, 2013.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Page 230: Na cASA da imaginação

230

LISTA DE FIGURAS

Page 231: Na cASA da imaginação

231

FIG 01 – http://www.pejac.es/outdoor/FIG 02 – http://cdn.xl.thumbs.canstockphoto.com.br/canstock5405641.jpgFIG 03 - http://www.coffeers.com.br/escolas-ou-linhas-de-montagem/FIG 3A- https://ninjaitaboray.files.wordpress.com/2010/06/mat3.jpgFIG 3B- http://www.escolasqueinovam.org.br/wp-content/uploads/2013/05/8794577986_c5fd1a85e6_c-e1369686416914.jpgFIG 3C- http://www.childkingdommontessori.com/002952.jpgFIG 3D- http://www.rsct.ca/site/rudolf_steiner_centre_2012/assets/images/Waldorf_dolls.JPGFIG 3E- http://www.oregonlive.com/portland/index.ssf/2012/10/opal_school_gets_worldwide_aud.htmlFIG 3F - http://blog.mundohorta.com.br/horta-escola/FIG 05 - ACERVO PESSOALFIG 06 – ACERVO PESSOALFIG 07 - http://blog.mundohorta.com.br/horta-escola/FIG 08 – http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil/FIG 09 – http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil/FIG 10 <http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil/>FIG 11 <http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil>FIG 12 – https://www.catarse.me/pt/playgroundinfinitoFIG 13 – https://www.catarse.me/pt/playgroundinfinitoFIG 14 – http://www.archdaily.com/519/taka-tuka-land-baupilotenFIG 15 - http://www.archdaily.com/519/taka-tuka-land-baupilotenFIG 16 - http://www.archdaily.com/519/taka-tuka-land-baupilotenFIG 17 – http://goodthingsmagazine.com/travel-tips-for-a-stress-free-flight-with-kids/FIG 18 – Livro - Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas.FIG 19 – http://www.camisaticos.com.br/estampas/liga%20da%20justi%C3%A7a.jpgFIG 19

Page 232: Na cASA da imaginação

232

FIG 20 – http://www.mymodernmet.com/profiles/blogs/adrian-mcdonald-jamaican-children-photographyFIG 21 – http://farm4.staticflickr.com/3794/9364614919_ac711777b5_h.jpgFIG 22 - http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/obino/ofic_esc_aberta.htmlFIG 23 - http://www.archdaily.com.br/br/773284/cebra-vence-concurso-para-projetar-complexo-educacional-na-rus-sia/55ee559de58ece71b6000089-cebra-wins-competition-to-design-smart-school-in-russia-imageFIG 24 - http://www.archdaily.com.br/br/773284/cebra-vence-concurso-para-projetar-complexo-educacional-na-rus-sia/55ee559de58ece71b6000089-cebra-wins-competition-to-design-smart-school-in-russia-imageFIG25 - http://images.adsttc.com/media/images/5420/dcfd/c07a/800d/e500/007d/large_jpg/PORTADA_COLEGIO.SANTO.DOMINGO.SAV-IO-ANTONIO.DERKA_MEDELL%C3%8DN_ISAAC.RAM%C3%8DREZ_%282%29.jpg?1411439837FIG 26 - https://farm9.staticflickr.com/8344/8177762991_67da5f9788_b.jpgFIG 27 http://www.archdaily.com.br/br/768510/mesterfjellet-1-10-school-and-family-centre-cebraFIG 28 http://www.archdaily.com.br/br/768510/mesterfjellet-1-10-school-and-family-centre-cebraFIG 29 http://www.archdaily.com.br/br/01-185287/escola-ny-krohnborg-slash-arkitektgruppen-cubus-as-ramboll-norgeFIG 30 http://www.archdaily.com.br/br/01-185287/escola-ny-krohnborg-slash-arkitektgruppen-cubus-as-ramboll-norgeFIG 31 - http://chuknum.com/wp-content/uploads/2011/08/u.jpgFIG 32 - http://chuknum.com/wp-content/uploads/2011/08/u.jpgFIG 33 - http://www.pejac.es/outdoor/FIG 34 - http://cinepop.com.br/darth-vader-tera-grande-destaque-em-rogue-one-a-star-wars-story-111649FIG 35 – ACERVO PESSOALFIG 36 – ACERVO PESSOALFIG 37 – ADAPTADO GOOGLE MAPS, 2013FIG 38 - ADAPTADO GOOGLE MAPS, 2013 FIG 39 – ADAPTADO PMF, 2013FIG 40 – ADAPTADO PMF, 2013

Page 233: Na cASA da imaginação

233

FIG 41 - http://ndonline.com.br/florianopolis/colunas/carlos-damiao/279053-memoria-de-florianopolis-marinha-esta-ha-170-anos-na-cidade.htmlFIG 42 – ACERVO PESSOALFIG 43 – Acervo pessoalFIG 44 - ADAPTADO PMF, 2013FIG 45 - ADAPTADO PMF, 2013FIG 46 - ADAPTADO PMF, 2013FIG 47 - ADAPTADO PMF, 2013FIG 48 – ACERVO PESSOALFIG 49 – ACERVO PESSOALFIG 50 - ADAPTADO PMF, 2013FIG 51 – http://3.bp.blogspot.com/-amixG1YOxZk/VBnXPdVdZ9I/AAAAAAAABxw/u5v2UWUV5dU/s1600/Tatiane%2Be%2B%C3%89rick.jpgFIG 52 – http://assessoriasme.blogspot.com.br/2014_09_14_archive.htmlFIG 53 - http://1.bp.blogspot.com/-ipkf2BJiNL0/VBnpkgEZCnI/AAAAAAAABy8/yW5AMKSVoMM/s1600/creche%2B%C3%B3tilia%2Bda%2B-cruz-24.jpgFIG 54 - http://assessoriasme.blogspot.com.br/2014_09_14_archive.htmlFIG 55 – GOOGLE STREET VIEW,2013FIG 56 - http://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/radioal/noticia_single_radioal/audiencia-publica-discute-situacaeo-da-escola-otilia-cruzFIG 57 - http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/imagens/10_09_2013_14_03_799bad5a3b514f096e69bbc4a7896cd9.jpgFIG 58 - http://www.pmf.sc.gov.br/noticias/index.php?pagina=notpagina&noti=14382FIG 59 –ACERVO PESSOALFIG 60 - http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/continente/index.php?pagina=notpagina&noti=12313FIG 61 –ACERVO PESSOALFIG 62 – ACERVO PESSOAL

Page 234: Na cASA da imaginação

234

FIG 63 - ACERVO PESSOALFIG 64 – Fotografia cedida pela diretora do NEI Otília Cruz, Fabrícia de Souza.FIG 65 – ACERVO PESSOALFIG 66 – http://www.pejac.es/outdoor/FIG 67 - ecotelhado.blog.br/wp-content/uploads/2012/06/23.jpgFIG 68 – http://inesesnal.com/PrismFIG 69 – TCC “Casa da Criança” – Sabrina – UFSC 2015FIG 70 – https://referans.files.wordpress.com/2011/07/sexta_inspirada_escola_brinquedoteca_referans07.jpgFIG 71 - http://www.todayfm.com/content/000/images/000063/65482_60_news_hub_multi_630x0.jpgFIG 72 – http://data.crazyengineers.com/attachments/mh04-jpg.992/¬¬FIG 73 - http://enpundit.com/incredibly-realistic-3d-street-art-by-john-pugh/FIG 74 – TCC “SESC INGLESES” – Kaila Bissolati – UFSC 2015FIG 75 - http://adsandmore.fr/wp-content/uploads/2016/01/ads-and-more-geometry-global-paris-resonne-1.pngFIG 76 - http://imaginanacopa.com.br//wp-content/uploads/2012/12/C%C3%B3pia-de-muro-1024x434.jpgFIG 77 – http://thecreatorsproject.vice.com/es_mx/blog/touchscreen-de-dos-caras-convierte-cristal-en-pantallas-holograficasFIG 78 - http://brasilarquitetura.com/projetos/concurso-mis-rioFIG 79 - https://d1jo0zet24jmxt.cloudfront.net/content/12286/9d27095820ec83e47a44d6cf15653cd4.jpgFIG 80 – http://images.adsttc.com/media/images/53c4/b882/c07a/8033/fe00/0054/slideshow/image_9.jpg?1405401210FIG 81 – https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2013/06/ANY-UNI.jpgFIG 82 – http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/ae8d0c874506_raymondneutra20.jpgFIG 83 – http://www.leiaasmeninas.com.br/pri-portugal/novo-hostel-em-cordoba-parece-hotel-5-estrelas/FIG 84 – http://excelenciapt.com/site/?p=5390FIG 85 – http://www.archdaily.com.br/br/01-127133/projeto-sala-multiuso-da-escola-pio-xi-slash-laboratorio-urbano-de-lima-plus-carmen-ri-vas-lombardi/5128d57bb3fc4b11a70052e7-multipurpose-room-for-pius-xii-private-school-laboratorio-urbano-de-lima-carmen-rivas-lombar-

Page 235: Na cASA da imaginação

235

di-imageFIG 86 - http://studiomk27.com.br/p/praca-infantil/FIG 87 – http://chuknum.com/2011/08/08/architecture-amazing-kindergarten-in-japan/FIG 88 – http://b2architecture.eu/portfolio_page/small-explorers-kindergarten-milanFIG 89 – http://eye4design.com.br/nambbu/wp-content/uploads/post_images/image/51c934f2d7a1ff6b1c000421/e4d-playground_infini-to-original20130625-11586-y0s0jp.jpgFIG 90 – http://b2architecture.eu/portfolio_page/small-explorers-kindergarten-milanFIG 91 – http://acdn.architizer.com/thumbnails-PRODUCTION/1a/8d/1a8dcce217b0656b60b437b0b5810e6e.jpgFIG 92 –http://acdn.architizer.com/thumbnails-PRODUCTION/db/5b/db5bb308e273d44c414e65004b4da5c3.jpgFIG 93 – FIG 94 - http://www.dezeen.com/2013/06/28/farming-kindergarten-by-vo-trong-nghia-architects/FIG 95 - http://worldartsme.com/images/peter-pan-shadow-clipart-1.jpg

Page 236: Na cASA da imaginação

236