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n. 4 2018
REVISTA FACESPI
INDICE
A BNCC E A AUSENCIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Casseverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 3 - 14..........................................................03 A ARTE E O AUTISTA
Alves, Claudete Barbosa Págs. 15 – 36....................................................................20
AAUUTTIISSMMOO EE AASS RREELLAAÇÇÕÕEESS NNOO PPRROOCCEESSSSOO EEDDUUCCAACCIIOONNAALL SSOOCCIIAALL
BARRETO, Clebiana Carla Siqueira. Págs. 37 – 53......................................................37
A ARTE VISUAL NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 – 69.......................................................55
A INTERDISCIPLINARIDADE E A MATEMÁTICA: MUDANDO A EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA NO DIA A DIA Domingues, Lucineia Silva Ferreira Domingues. Págs. 70 – 88....................................70
O AUTISMO E O PROCESSO DE INCLUSÃO
Márcia Maria Painado. . Págs. 89 – 108...................................................................89
A FAMÍLIA E A CRECHE: FASES DE UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA
Marta Salete Masiero Estácio, Págs. 109 – 127........................................................109
DESAFIO A SER CUMPRIDO
Aguiar, Raquel Fernandes da Silva. Págs. 128 – 166................................................128
TECNOLOGIA NO ENSNO DE LÍNGUAS: ABORDAGEM DO MEIO ACADÊMICO
Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167– 184...................................................................167
O USO DA SILEPSE NA LÍNGUA INGLESA COM SUBSTANTIVOS COLETIVOS EM
INSTITUIÇÕES E SUAS IMPLECAÇÕES IDEOLÓGICAS
Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212...................................................185
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
A BNCC E A AUSÊNCIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
CASSEVERINI, Rosimeire da Cunha1
RESUMO: A Base Nacional Comum Curricular homologada em
dezembro de 2017 trouxe inovações para a elaboração ou revisão dos
currículos nos Estados, Municípios e escolas públicas e privadas de todo o
Brasil, enfatizando as especificidades das etapas da educação básica –
educação infantil e ensino fundamental, estabelecendo os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento e o trabalho para o desenvolvimento de
competências essenciais para viver na sociedade contemporânea, deixando
de fora das orientações a educação especial inclusiva, principalmente no
que diz respeito as adaptações curriculares.o estudo foi desenvolvido
através da metodologia da pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo
apresentar essa desconsideração da BNCC ao assunto educação inclusiva.
Palavras – chave: BNCC. Currículo. Educação Inclusiva.
1. INTRODUÇÃO
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC homologada em dezembro
de 2017, deve servir de norte para o desenvolvimento ou revisão dos
currículos dos Estados, municípios de escolas de todo o país.
O documento bem elaborado traz numa abordagem clara quais as
aprendizagens essenciais que os alunos devem desenvolver ao longo de
toda a educação básica. (BRASIL, 2017). Explicita quais os direitos de
aprendizagem, e as competências que devem desenvolvidas nos segmentos
da educação infantil e ensino fundamental já que na versão do documento
de aprovado em 2017, o Ensino Médio não foi contemplado.
1 Pedagoga. Prof. Esp. no Curso de Pedagogia na FACESPI – Faculdade Corporativa CESPI
– Piraju/SP. Email: [email protected]
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
Apesar de toda a preocupação com a qualidade do ensino, através da
organização do ensino em função do desenvolvimento de
competências/habilidades; da introdução dos direitos de aprendizagem e
desenvolvimento na educação infantil, o texto não abordoou a questão da
organização curricular voltada para os alunos com deficiências matriculados
nas escolas regulares, comentou de forma breve e sucinta sobre o respeito
a diversidade e a inclusão, mas não aprofundou o assunto, sobre a questão
das adaptações curriculares, como sendo importante para que se garanta a
oferta de uma educação de qualidade para esses alunos.
A tarefa de adaptar os currículos para atender as especificidades dos
alunos com deficiência acabara ficando a cargo dos Estados, Municípios, das
escolas e do professor (que não está preparado para essa tarefa).
O objetivo desse artigo é apresentar os princípios norteadores da BNCC
para o desenvolvimento ou revisão dos currículos, assim como apresentar
a desconsideração sobre a questão da inclusão no documento oficial.
2. A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
A Base Nacional Comum Curricular é um documento de caráter
normativo que foi aprovado em dezembro de 2017. Seu texto traz
orientações que deverão ser utilizadas para a elaboração ou revisão dos
currículos dos sistemas de ensino público e privado de todo o país.
Seu caráter inovador se principalmente pelo fato de abordar a
educação numa concepção integral, ou seja, numa educação que contempla
todas as dimensões do desenvolvimento humano.
Reconhece, assim, que a Educação Básica deve visar à formação e
ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a
complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento,
rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão
intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda,
assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do
adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos
de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu
acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de
aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na
prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito
às diferenças e diversidades. (BRASIL, 2017, p. 14)
A BNCC tem como marcos legais a Constituição Federal de 1988, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394/96 e as Diretrizes
Curriculares para a Educação Nacional - DCN de 2010, que apregoam em
seus textos de forma explícita a necessidade de termos no Brasil uma base
nacional comum para os currículos da educação infantil, ensino fundamental
e ensino médio.
O Plano Nacional da Educação - Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014
reiterou essa necessidade ao
estabelecer e implantar, mediante pactuação Inter federativa
[União, Estados, Distrito Federal e Municípios], diretrizes
pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos
currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento dos(as) alunos(as) para cada ano do Ensino
Fundamental e Médio, respeitadas as diversidades regional,
estadual e local (BRASIL, 2014, apud BRASIL, 2017, p. 10).
No sentido de garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento
a Base Nacional Comum Curricular apresenta dez competências gerais que
devem ser desenvolvidas ao longo de toda a educação básica e que são
imprescindíveis a formação integral do aluno, para enfrentar os desafios
apresentados pela sociedade contemporâneas.
Ao longo da Educação Básica – na Educação Infantil, no Ensino
Fundamental e no Ensino Médio –, os alunos devem desenvolver as
dez competências gerais que pretendem assegurar, como resultado
do seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, uma
formação humana integral que visa à construção de uma sociedade
justa, democrática e inclusiva. (BRASIL, 2017, p. 23)
As competências gerais devem ser entendidas como habilidades,
conhecimentos e atitudes que o aluno deve desenvolver de forma
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
indissociável umas das outras, ou seja, que ele saiba usar os conhecimentos
adquiridos transformando-os em habilidades para utilizar esses
conhecimentos, tendo atitudes positivas para que essas habilidades o
preparem melhor para a vida.
O desenvolvimento ou revisão dos currículos, portanto, deve
considerar o desenvolvimento dessas competências gerais que serão
diluídas nos objetivos de aprendizagem das áreas e campos de
conhecimento a serem trabalhados na educação infantil e no ensino
fundamental.
Para que os currículos sejam elaborados e alcancem os objetivos
esperados a implementação da BNCC deve acontecer em regime de
colaboração entre a União, os Estados e os municípios. Dessa forma como
descrito no documento,
Embora a implementação seja prerrogativa dos sistemas e das redes
de ensino, a dimensão e a complexidade da tarefa vão exigir que
União, Estados, Distrito Federal e Municípios somem esforços. Nesse
regime de colaboração, as responsabilidades dos entes federados
serão diferentes e complementares, e a União continuará a exercer
seu papel de coordenação do processo e de correção das
desigualdades. (BRASIL, 2017, p. 19)
Após a preocupação em explicitar as competências a serem alcançadas
pelos alunos ao longo de toda a educação básica de forma a garantir os
seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a Base buscou
organizar-se nas diferentes etapas da educação básica, sendo que nesse
primeiro momento apenas a educação infantil e o ensino fundamental foram
detalhados, ficando o ensino médio para uma aprovação posterior. No
documento também “se esclarece como as aprendizagens estão
organizadas em cada uma dessas etapas e se explica a composição dos
códigos alfanuméricos criados para identificar tais aprendizagens”.
(BRASIL, 2017, p. 21)
Na etapa da educação infantil, buscou-se considerar a criança como
ser histórico e social, tendo como eixos principais a interação e a
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
brincadeira. Após a Constituição Federal de 1988, a educação infantil
passou a integrar a educação formal, sendo reconhecida como direito de
todas as crianças e dever do Estado e obrigatória a partir dos 4 anos.
(BRASIL, 1988)
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil, em seu Artigo 4º,
definem a criança como “sujeito histórico e de direitos, que, nas
interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009,
apud BRASIL, 2017, p. 33)
Os direitos de aprendizagem assegurados pelas competências gerais e
consonância com os eixos estruturantes das práticas pedagógicas, elegeu
seis direitos de aprendizagem e desenvolvimentos para serem trabalhados
durante toda a educação infantil. (BRASIL, 2017)
Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na
Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em
situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em
ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se
provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados
sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BRASIL, 2017, p.
33)
Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento são: direito de
conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, comuns
as crianças pequenas que naturalmente já os expressam e que devem ser
considerados nas práticas pedagógicas dos professores.
Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as
aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória
de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços,
possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros,
feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas
crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e
textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o
período observado, sem intenção de seleção, promoção ou
classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
“não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir
elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que
garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças.
(BRASIL, 2017, p. 35)
A Base teve como legislação norteadora as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil e de lá veio à concepção de campos de
experiências como arranjo curricular para as etapas da creche e prá escola
que compõem a educação infantil. Os campos de experiências baseiam-se
nos conhecimentos e experiências próprios das crianças pequenas, suas
curiosidades, explorações, conhecimentos a serem construídos. (BRASIL,
2009)
Nesse sentido a Base (BRASIL, 2017, p. 23) “considerando os direitos
de aprendizagem e desenvolvimento, estabelece cinco campos de
experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver: O
eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e
formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos,
quantidades, relações e transformações.
A Base ainda institui os objetivos de aprendizagem de acordo com
grupos divididos por faixa etária, explica-se que
as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos,
habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem
aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de
experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como
eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se
como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. (BRASIL,
2017, p. 40, grifo meu)
A abordagem sobre a educação infantil na BNCC foi considerada um
grande avanço em busca da constituição de uma identidade para esse
segmento principalmente por se considerar as especificidades desse nível
de educação.
No ensino fundamental de nove anos, considerado na Base em toda a
sua dimensão e durabilidade (etapa mais longa da educação básica)
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
encontramos orientações que valorizam as situações lúdicas de
aprendizagem.
aponta para a necessária articulação com as experiências
vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever
tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o
desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o
mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os
fenômenos, de testá-las, de refutá -las, de elaborar conclusões, em
uma atitude ativa na construção de conhecimentos. (BRASIL, 2017,
p. 54)
As especificidades do desenvolvimento das crianças durante todo o
ensino fundamental sofrem mudanças de acordo com a faixa etária, quanto
mais se desenvolvem mais conquistam autonomia para tomar decisões,
relacionar-se com os outros, entendendo-se e entendendo-os, etc.
Devido a essa crescente autonomia ampliam-se também as
experiências vivenciadas pelos alunos do ensino fundamental, como aponta
o texto da Base,
Ampliam-se também as experiências para o desenvolvimento da
oralidade e dos processos de percepção, compreensão e
representação, elementos importantes para a apropriação do
sistema de escrita alfabética e de outros sistemas de representação,
como os signos matemáticos, os registros artísticos, midiáticos e
científicos e as formas de representação do tempo e do espaço. Os
alunos se deparam com uma variedade de situações que envolvem
conceitos e fazeres científicos, desenvolvendo observações,
análises, argumenta- ções e potencializando descobertas. As
experiências das crianças em seu contexto familiar, social e cultural,
suas memórias, seu pertencimento a um grupo e sua interação com
as mais diversas tecnologias de informação e comunicação são
fontes que estimulam sua curiosidade e a formulação de perguntas.
O estímulo ao pensamento criativo, lógico e crítico, por meio da
construção e do fortalecimento da capacidade de fazer perguntas e
de avaliar respostas, de argumentar, de interagir com diversas
produções culturais, de fazer uso de tecnologias de informação e
comunicação, possibilita aos alunos ampliar sua compreensão de si
mesmos, do mundo natural e social, das relações dos seres
humanos entre si e com a natureza. (BRASIL, 2017, p. 54)
As práticas pedagógicas devem assegurar que essas experiências
sejam consolidadas e ampliadas chegando a graus de complexidade cada
vez maiores.
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
Na BNCC, o Ensino Fundamental está organizado em cinco áreas do
conhecimento. Essas áreas, como bem aponta o Parecer CNE/CEB
nº 11/201025, “favorecem a comunicação entre os conhecimentos
e saberes dos diferentes componentes curriculares” (BRASIL, 2010).
Elas se intersectam na formação dos alunos, embora se preservem
as especificidades e os saberes próprios construídos e
sistematizados nos diversos componentes. (BRASIL, 2017, p. 25)
A Base apresenta uma organização curricular para o ensino
fundamental por áreas do conhecimento que abrigam mais de um
componente curricular, como no caso da área de linguagens que contempla
Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa; e Ciências
Humanas – História e Geografia, as demais áreas são: Matemática, Ciências
da Natureza e Ensino religioso.
Cada área de conhecimento estabelece competências específicas de
área, cujo desenvolvimento deve ser promovido ao longo dos nove
anos. Essas competências explicitam como as dez competências
gerais se expressam nessas áreas. Nas áreas que abrigam mais de
um componente curricular (Linguagens e Ciências Humanas),
também são definidas competências específicas do componente
(Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa,
Geografia e História) a ser desenvolvidas pelos alunos ao longo
dessa etapa de escolarização. As competências específicas
possibilitam a articulação horizontal entre as áreas, perpassando
todos os componentes curriculares, e também a articulação vertical,
ou seja, a progressão entre o Ensino Fundamental – Anos Iniciais e
o Ensino Fundamental – Anos Finais e a continuidade das
experiências dos alunos, considerando suas especificidades. Para
garantir o desenvolvimento das competências específicas, cada
componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas
habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento
– aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos –, que,
por sua vez, são organizados em unidades temáticas. (BRASIL,
2017, p.26)
As unidades temáticas dão maior flexibilidade a organização do
conhecimento escolar uma vez que “definem um arranjo dos objetos de
conhecimento ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades
dos diferentes componentes curriculares”. (BRASIL, 2017, p.27)
A BNCC traz de forma dinâmica, fácil e concisa orientações para que
gestores e educadores das escolas públicas e privadas de todo o Brasil
desenvolvam ou revisem seus currículos, de forma que se atenda as
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
demandas sociais ao se formar cidadãos capazes de utilizar os recursos
culturais, históricos e sociais disponíveis de forma consciente.
No texto da Base fala-se que ela contribui para a constituição de uma
sociedade mais justa e inclusiva, mas no corpo do documento faz-se apenas
breves alusões ao assunto sem que se aprofunde a discussão sobre a
temática, o que pode-se assinalar faz uma grande diferença, pois cada vez
mais as escolas regulares estão recebendo alunos com deficiências e os
sistemas não sabem como adaptar seus currículos para garantir-lhes a
mesma educação dada aos demais alunos.
3. A AUSÊNCIA DE ORIENTAÇÃO PARA A ADAPTAÇÃO
CURRICULAR
Como dissemos o texto da BNCC muito bem elaborado, traz inovações
para a organização do currículo das etapas da educação infantil e ensino
fundamental, ao orientar para que se trabalhe principalmente o
desenvolvimento de competências presentes no cotidiano dos alunos, que
envolvem desde as diferentes linguagens, valorização dos diferentes
saberes, o desenvolvimento da autonomia até a questão do
autoconhecimento para citarmos algumas das competências.
Fala-se da diversidade, da importância de sua valorização, mas a
ausência de explicações sobre a importância da adaptação curricular para a
concretização de uma escola inclusiva, abriu uma lacuna entre o
desenvolvimento ou revisão de um currículo que seja realmente voltado
para a formação do cidadão, visto que nas escolas a demanda de alunos
com deficiência é uma crescente. De forma alguma, abriu-se uma
perspectiva curricular para o público alvo da educação inclusiva.
A responsabilidade de adaptar o currículo em uso as especificidades
dos alunos com deficiências/ dificuldades de aprendizagem acaba ficando
para o professor que acaba por eleger um currículo diferenciado, colocando
seus alunos a margem da exclusão.
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
Um dos compromissos assumidos pela União em regime de
colaboração com os Estados e Municípios é a formação de professores e
gestores para poderem implementar a BNCC de forma coerente e eficiente,
ou seja, desenvolver ou relaborar os currículos, mas se a educação especial
na perspectiva da inclusão não está contemplada no documento como ficará
esse campo de formação?
Outra questão, se a BNCC teve como referenciais legais a Constituição
Federal de 1988, a LDB9394/96, as Diretrizes Curriculares Nacionais, o
Plano Nacional de Educação de 2014, por que não aprofundou a discussão
sobre a educação especial inclusiva? Se em todas as Leis citadas há uma
abordagem explicita sobre o assunto. Somente falar da diversidade não
instrumentaliza os gestores e professores envolvidos a elaborarem um
currículo adequado a uma clientela distinta.
A Declaração de Salamanca (1994) deixa claro de quem é a
responsabilidade pela inclusão,
as escolas devem se ajustar a todas as crianças,
independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas
ou outras. Neste conceito, terão de incluir-se crianças com
deficiência ou superdotados, crianças da rua ou crianças que
trabalham, crianças de populações remotas ou nômadas, crianças
de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou
grupos desfavorecidos ou marginais. Estas condições colocam uma
série de diferentes desafios aos sistemas escolares. [...] [Nesse
contexto,] a expressão ‘necessidades educativas especiais’ refere-
se a todas as crianças e jovens cujas carências se relacionam com
deficiências ou dificuldades escolares. Muitas crianças apresentam
dificuldades escolares e, consequentemente, têm necessidades
educativas especiais, em determinado momento da sua
escolaridade. As escolas terão de encontrar formas de educar com
sucesso estas crianças, incluindo aquelas que apresentam
incapacidades graves. (UNESCO, 1994, p. 6).
Nesse sentido, seria importante se a BNCC tivesse trazido no corpo
de seu documento definições sobre a educação inclusiva, sobre adaptação
curricular, sobre como trabalhar as unidades temáticas nos diferentes
contextos de aprendizagem, como os professores podem reavaliar suas
práticas para melhor atender seus alunos... Stainback & Stainback (1999)
afirmam que,
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
Educar eficientemente alunos com diferentes níveis de desempenho
requer que os educadores usem várias abordagens de ensino para
satisfazer às necessidades de seus alunos. Os professores
necessitam fazer uma reavaliação das práticas de ensino com as
quais se sentem mais à vontade, para determinar se estas são as
melhores maneiras possíveis de promover a aprendizagem ativa de
resultados educacionais desejados para todos os alunos da turma.
(STAINBACK & STAINBACK, 1999, pág. 81)
Para Oliveira (2008, p. 140) “Adequações Curriculares são respostas
educativas que devem ser dadas pelo sistema educacional para favorecer
todos os alunos, possibilitando o acesso ao currículo, sua participação
integral e o atendimento às necessidades educacionais especiais”.
Uma boa parte dos professores que estão em sala de aula são
contrários ao processo de inclusão de alunos com deficiência na escola
regular, sugerindo que estes seriam melhor acompanhados se estiver em
uma escola especial, que “sabe” como trabalhar com eles. Esse preconceito
existe pela desinformação dos professores sobre a possibilidade de
adaptação do currículo as condições de aprendizagem do aluno. Se a BNCC
tivesse abordado de forma mais explícita seria mais fácil convencer
professores e gestores de que o aluno com deficiência pode ser incluído na
escola regular com aproveitamento acadêmico desde que respeitadas suas
particularidades de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentadas as proposições sobre a BNCC esperamos que os
currículos se concretizem de forma que da forma como forem elaborados
ou revisados possam ser colocados em prática em sala de aula, lugar onde
o currículo se concretiza de forma a desenvolver as competências gerais,
mas que também possam ser adaptados as necessidades educativas dos
alunos com deficiência matriculados nas escolas regulares. Dessa forma,
eles terão a possibilidade de desenvolverem as competências que os
ajudarão no processo de inclusão social.
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Artigo: A BNCC e a Ausência da Educação Inclusiva Cassaverini, Rosimeire da Cunha. Págs. 03 - 14
A falta de discussão sobre a educação inclusiva no documento da Base
é um assunto para ser refletido, principalmente pela importância da
temática.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, Base Nacional Comum Curricular: a educação é a Base. Mistério
da Educação, Brasília, 2017.
__________. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica.
Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, 2009. Disponível em: http://www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/RESCNE005_2009.pdf.
Acesso em: 23 mai. 2018.
____________. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 05 de outubro de 1988. Brasília.
____________. Plano Nacional de Educação 2014-2024. Lei nº 13.005,
de 25 de junho de 2014, Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014.
OLIVEIRA, A. A. S. Adequações Curriculares na área da deficiência
intelectual: algumas reflexões. In: OLIVEIRA, A. A. S.; OMOTE, S.; GIROTO, C. R. M. Inclusão Escolar: as contribuições da Educação Especial. São
Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Fundepe, 2008.
STAINBACK, Susan; STAINBACK, William. Inclusão: um guia para
educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
UNESCO, Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Salamanca: UNESCO, 1994.
Disponível em: http://www.portal.mec.gov.br/. Acesso em: 15 mai 2018.
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
A ARTE E O AUTISTA
Claudete Barbosa Alves¹
RESUMO
O transtorno do espectro autístico (TEA), é um distúrbio do
desenvolvimento que causa prejuízos relevantes em três áreas:
comunicação, interação social e comportamentos. Embora a Tríade de
perdas seja bem definida, o autismo pode variar em suas características
e sintomas de pessoa para pessoa, e pode ocorrer de uma forma leve,
moderada e severa. Desta forma procurou-se abordar as diferentes
dificuldades que os autistas se deparam no âmbito escolar, assim como
os obstáculos, o despreparo e a inaptidão da sociedade e dos profissionais
da área da educação. Há algumas escolas predispostas em trabalhar com
os autistas, mas excepcionalmente são “poucas” que dispõem com esta
iniciativa. “Ser diferente é normal”, apesar disso nota-se ainda uma
aversão tanto por parte das instituições como da sociedade pela efetiva
aceitação e inclusão. Assim, nossa pesquisa buscou averiguar os setores
da educação para autistas e distinguir o quanto e como as mesmas têm
sido tratadas. Baseando-nos em referenciais teóricos e autores que
abordem deste assunto em relação à aprendizagem para as crianças,
delineamos um comparativo entre o que se infere de aprendizagem e
como esta é introduzida nas instituições buscando encontrar o espaço dos
autistas na recente conjuntura de ensino, além disso, constatamos por
meio de revisão de literatura, que a atividades de artes contribui muito,
já que trabalha com aspectos psicossociais e cognitivos na amenização
desses prejuízos.
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Palavras chaves: Autismo, Escola; Artes, Aprendizagem.
1. Introdução
Sabe-se que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação
Básica, como visa a LDB 9394/96, estabelece uma fase imprescindível e
indispensável no desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos. No domínio
dessa etapa da educação, o Ensino da Arte estabelece um instrumento
suscetível de facilitar e promover o desenvolvimento da expressão e da
criatividade da criança.
“As artes exprimem, transmitem e atribuem sentido a sensações,
percepções, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da
composição de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como
tridimensional, além do volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho,
na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, etc.
O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a
continuidade, a proximidade e a semelhança são características da
criação artística. A conexão entre os aspectos sensíveis, afetivos,
intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e
comunicação social, atribuem caráter significativo às Artes Visuais”.
(RCNEI, 1998, p.84).
Percebe-se, também, uma discussão acerca da Inclusão Escolar que
é evidente em diferentes áreas do conhecimento e tem mundialmente
influenciado ações governamentais. O inciso III do artigo 208 da
Constituição Brasileira, o Artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9394/96) apresenta a prerrogativa de
“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino” com a finalidade de idealizar
sujeitos suscetíveis de desempenhar a sua cidadania, ter seu
desenvolvimento integral e a aptidão para o trabalho.
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Todavia nota-se que a tarefa para a abrangência da inclusão de
alunos Portadores de Necessidade Educacionais, em alusão os alunos com
Autismo, em classes regulares, ainda carece de grandes progressos na
escola em que concerne às experiências pedagógicas, o avanço inicial e
contínuo dos professores para proceder com estas crianças.
Para os professores especializados, ainda existem muitas dúvidas
de como atender a criança autista, quais os procedimentos mais
apropriados e sobre como planejar o trabalho em termos curriculares para
este segmento da população. Nota-se que os professores e a escola tem
pouca informação sobre o tema, o que dificulta o processo de inclusão
bem como uma eficaz intervenção com crianças do espectro autista.
Existe uma literatura escassa em relação a este tema e somente nos
últimos anos é que o autismo esteve em evidencia, bem como, aparecem
novas pesquisas para sua intervenção.
O trabalho inicia-se com um panorama da educação especial ao
longo da história, cuja herança é de exclusão e de assistencialismo. A
humanidade vem dando passos para a compreensão destes seres,
considerando sua humanidade, suas tarefas sociais e seus direitos. Logo
após, um panorama sobre o espectro autista, esclarece as maiores
dificuldades destes seres tão enigmáticos, apresentando a tríade de
disfunções: social, na linguagem/comunicação e no comportamento.
Estas informações não devem se tornar estruturas uniformizadas a todos
os autistas, pois tem níveis diferenciados, bem como apresentam
características próprias em cada um destes itens.
O mais importante na observação de cada indivíduo é sua
humanidade e sua individualidade repleta de potenciais, que busca
superar diariamente diversos obstáculos que as pessoas sem qualquer
síndrome não tem. Portanto, estes seres possuem uma força de vontade
superior a qualquer outro ser, já que a priori possuem mais desafios
internos.
18
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
2. Contextos Históricos-Pedagógicos da Arte
Para entendermos e admitirmos melhor a responsabilidade como
docente da disciplina de Artes é fundamental sabermos como a arte vem
sendo ensinada, as suas relações e afinidades com a educação escolar e
com o processo histórico-social. A partir dessas informações podemos
distinguir na construção histórica e explicarmos como estamos agindo e
como queremos construir essa história.
Deste modo, os saberes educacionais empregados em aula
vinculam-se a uma pedagogia, um preceito de educação escolar. Ao
mesmo, as nossas práticas e teorias educativas estão repletas de
intuições ideológicas e filosóficas que influenciam tal pedagogia.
É evidente que isto advém com o ensino escolar de arte, ou seja, a
compreensão de mundo precisa fundamentar as relações que se constrói
entre as aulas de arte e as mudanças que acreditamos ser de notoriedade
na sociedade.
Assim, conforme as palavras de Martins, Picosque e Guerra
(1998, p.14):
“A comunicação entre as pessoas e as leituras de mundo
não se dão apenas por meio da palavra. Muito do que sabemos sobre
o pensamento e os sentimentos das mais diversas pessoas, povos,
países, épocas são conhecimentos que obtivemos única e
exclusivamente por meio de suas músicas, teatro, pintura, dança;
cinema, etc.”.
Assim sendo, podemos perceber que a Arte é uma maneira do ser
humano expressar e exprimir suas emoções, sua história e sua cultura
por meio de valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio. Ela
ainda pode ser simbolizada por meio de diversas formas, tais como: na
música, na escultura, na pintura, no cinema e na dança. Ainda, mesmo
após o seu aparecimento, a arte foi evoluindo e suprindo um
importantíssimo e respeitoso espaço na sociedade, podendo ser
observada ou percebida de diversas formas como: visualizadas, ouvidas
ou mistas (audiovisuais).
19
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
3. O Ensino de Artes nas Escolas Públicas
O Ensino de Arte na Educação tem se distinguido como um domínio
amplo de conhecimento e informação, tornando se acessível a diversas
abordagens em uma diversificada linha de atuação, estudo e pesquisa.
Contudo, para se apresentar um bom trabalho de arte o professor precisa
descobrir quais valores de linguagens, estilos de conhecimento de arte e
praticas de vida de seus alunos, para poder assimilar a arte com suas
vivencias. (Fusari e Ferraz. 2001 p.73).
Percebe-se que no Ensino de Arte há uma ampla propagação de
elementos e informações a serem estudados por meio de leituras de
livros, artigos e revistas que auferiu a atenção para a valorização da arte
na acepção da expressão. Logo, a imagem ou reflexo visual de elementos
artísticos nos beneficia diversificadas interpretações que na maioria das
vezes não se é refletida, sobretudo em sala de aula. Há muitos debates a
propósito do ensino da arte por meio da imagem, tendo desacordos de
autores. Contudo, saber quais objetivos atingir com essa prática é de
primordial importância para a efetivação e concretização da prática em
sala. Essa proposta de valorizar o que se vê, assim como envolver o
artista em questão, seus sentimentos e sua cultura, para identificar de
fato a definição de seus trabalhos, apresenta para a criança algo
enriquecedor, que não somente desperta um novo olhar ao fazer artístico
como permite uma linguagem de expressão, de emoções e valores
culturais. Até mesmo, uma criança acanhada, receosa ou tímida, pode
despertar-se para atuar com prazer e satisfação a sua maneira de ver,
interpretar e expressar o que de fato sente.
“[...] as praticas de Artes Visuais são entendidas apenas como
meros passatempos em que atividades de desenhar, colar, pintar e
modelar com argila o massinha são destituídas de significados.”
(BRASIL, 1988, p.87)
Deste modo, o que se entende é que o Ensino de Arte está em
segundo plano na pratica escolar, consistindo em usá-lo como mera
20
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
atividade de lazer e recreação. Todavia, a arte deve estimular e incitar os
alunos a se ousarem a desenhar, representar, dançar, tocar, já que de
tal modo eles se reconhecerão como construtores de suas próprias
trajetórias.
Os educadores precisam saber que sua função é ensinar e orientar
as crianças para a arte e jamais poderá oferecer tudo pronto para o aluno,
um consentir fazer sem qualquer intervenção a aprendizagem da criança
que irá evoluir muito pouco.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais da Arte
(BRASIL, 1988), os autores como: John Dewey, Victor Lowenfeld e
Herbert Read, acreditavam que a potencialidade inventiva se expandiria
espontaneamente em estágios contínuos, desde que proporcionassem
condições favoráveis para que as crianças pudessem se expressar
livremente, isso significava que tudo era consentido, estes preceitos
conduziam os professores a se tornarem muito indiferentes, não
interferindo nas invenções dos alunos.
4. A Disciplina de Arte: Mecanismos Facilitadores para o
Desenvolvimento Integral
A arte é de grande importância na vida de todos, em particular na
das crianças. Ela torna possível e facilitado o desenvolvimento expressivo,
e colabora no desenvolvimento de seu potencial de criação, propiciando
a quem tenha contato com a arte uma maneira de enxergar o mundo que
a cerca por outra lente e desenvolva a sua sensibilidade criativa.
Todo ser humano é provido de criatividade, tanto pode aprender
como ensinar. Quando se trata de crianças especiais, essa criatividade
deve ser incrementada e estimulada, uma vez que é por intermédio do
seu potencial criativo que ela passa a ser capaz de realizar tais atividades
como os adultos. Conforme Buoro (2000, p. 39) “Arte se ensina, Arte se
aprende”. A Arte como disciplina tem finalidade indispensável na vida do
21
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
indivíduo e é de extrema importância, tanto quanto as outras que fazem
parte da grade da educação escolar. Existe um pré-conceito, que faz com
que muitos caracterizem a arte como apenas mais uma atividade
diversificada. Mas na verdade, por trás de qualquer atividade artística
existe um mecanismo que facilitará a capacidade de exercer mudanças e
melhorias no desempenho e na vida das crianças que tiverem contato
com o mundo artístico na sala de aula.
Em primeiro lugar, deve ficar claro que a intenção não se resume
em uma busca e formação dos educandos em artistas, na verdade deve-
se fazê-los compreender a arte como uma disciplina e atividade que todos
podem desfrutar de forma prazerosa. A aula deve ser previamente
preparada, considerando as prováveis reações dos educandos e suas
dúvidas. Será notório o aparecimento de surpresas, mas quando existe
um planejamento a possibilidade de acertos e diminuição de erros torna-
se mais frequente. Segundo Zabala (1998, p. 17), a aula deve ter uma
configuração previamente estabelecida:
O planejamento e a avaliação dos processos educacionais são uma
parte insuperável da atuação docente, já que o que acontece nas
aulas, a própria intervenção pedagógica, nunca pode ser entendida
sem uma analise que leve em conta as intenções, as previsões, as
expectativas e a avaliação dos resultados. Por pouco explícitos que
sejam os processos de planejamento prévio ou os de avaliação de
intervenção pedagógica, esta não pode ser analisada sem ser
observada dinamicamente desde um modelo de percepção da
realidade da aula, onde estão estreitamente vinculadas ao
planejamento a aplicação e a avaliação. (ZABALA, 1998, p. 17).
Ao decorrer das atividades propostas na disciplina de Arte, a busca
intensa pelo despertar da criatividade do educando deve manter-se firme
a todo tempo, pois através dela é desenvolvida uma interação entre o ato
de raciocínio, operar, criar e expressar de uma formanão verbalizada suas
principais dificuldades, frustrações ou aflições que a criança portadora de
deficiência possa manter de forma confidencial; ou até mesmo episódios
bons e com grande significado.
22
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
O que é exteriorizado através de suas produções artísticas não
mostra apenas conteúdos particulares do educando, mas também podem
expressar e revelar algo que esteja relacionado ao ambiente em que
vivem, frequentam ou até mesmo que gostariam de fazer parte e não
podem ou conseguem.
Com isso, é notória a influência exercida em suas manifestações
criativas o reflexo do meio em que o educando se encontra inserido como
afirma Diniz:
A criança, ao se expressar livremente por meio de técnica de
desenho, colagem, pintura ou recorte manifesta suas emoções, seu
ritmo interior, seus interesses. Assim, as palavras os gestos e os
movimentos, a expressão plástica, são linguagens, constituído uma
forma de comunicação com o mundo. (DINIZ, 2009, p.
18).
As técnicas escolhidas a serem utilizadas com os educandos
especiais tornam a Arte como uma maneira de extrair a manifestação e
expressão artística naturalmente.
Segundo Mendes (2010), existem três pilares que sustentam a
forma com que a Arte é abordada na educação especial, sendo elas: a
investigação, apropriação e a construção. Caracterizando assim o
currículo como uma “construção flexível, capaz de adequar os conteúdos
pertinentes ao ensino e aprendizagem da arte diante das necessidades
de cada aluno” (MENDES, 2010, p. 84).
Tendo em vista que a disciplina de Arte deve buscar a construção
dos saberes, despertando o sentir, olhar, agir e pensar, tanto de maneira
coletiva e individualizada. Tomando como base os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) – Artes (1997, p. 61), “tal aprendizagem
pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva
sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicionar
criticamente”.
Durante as aulas de Arte, a criança recebe a oportunidade de sentir,
ouvir e ver. Com esse contato e com o desenvolvimento da sua
criatividade, ela acaba conquistando a sua autonomia, facilitando sua
23
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
capacidade de expressão e comunicação. Melhorando os aspectos de
relação com o meio em que a criança está inserida.
5. A História da Educação Especial
Observa-se que de acordo com a perspectiva de Kirk & Gallagher
(2000) Apud. BRAGA. C. C.S. (2010), as atitudes para com os indivíduos
com Necessidades Educativas Especiais (NEE) têm modificado,
correspondendo a quatro conjunturas históricas diferenciadas, podendo
designar-se, genericamente, como a prática da disparidade e
marginalização, em épocas mais remotas, sucedendo pela etapa de
proteção, de atitude assistencial e institucional, a da emancipação, com
escolas peculiares e, uma terceira, mais recente, submetida pela
preocupação com a integração das pessoas com Necessidades Educativas
Especiais (NEE) com os seus pares, nas suas conjunturas e na sua
comunidade, com uma educação apropriada, numa perspectiva inclusiva
sistémica e ecológica.
Pode-se verificar que as pessoas com necessidades especiais até o
século XVIII eram colocadas à margem da sociedade e das condições
humanas, somente no século XIX, com a institucionalização da
escolaridade obrigatória e a insuficiência da escola de contestar pela
aprendizagem, foram institucionalizadas as salas especiais nas escolas de
educação regulares, para acolher as crianças ponderadas inaptas, esta foi
à época assistencialista. Entretanto, na segunda metade do século XX,
com o relatório Warnock na Inglaterra, ancoram modificações tanto na
formação, como na percepção das pessoas com Necessidades Educativas
Especiais (NEE), estimuladas por uma filosofia humanista e por uma
apreensão com os direitos humanos onde instituíram critérios de
interação escolar.
Somente final do século XX as reais mudanças em relação à
educação de pessoas com NEE ocorreram, através do conceito de
Inclusão, que foi fortemente impulsionado pela Declaração de Salamanca
24
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
(1994), assinada por representantes de 92 países, abrangendo o Brasil,
e 25 organizações internacionais, que acordaram nos princípios
fundamentais da escola e da educação inclusivas. Deste modo, estabelece
os direitos das crianças e dos jovens com Necessidades Educativas
Especiais (NEE), inteirando referência à Declaração Universal dos Direitos
do Homem (1948), à Convenção relativa aos Direitos da Criança (1989),
à Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) e às Normas das
Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com
Deficiência (1993).
Percebe-se quem a inclusão não se refere a um ambiente físico,
mas à situação ou circunstância de ser, mencionando sentimento de
pertencimento e aceitação, tendo mais a ver com a maneira como os
professores correspondem às diferenças de cada pessoa, do que com
feitios educacionais específicos (Voltz, Brazil & Ford, 2001).
6. Compreendendo o Autismo
Compreende-se que o autismo é uma síndrome comportamental
com atributos de um distúrbio de desenvolvimento. Distingue-se por
disfunções em nível das capacidades físicas, sociais e linguísticas;
anomalias do relacionamento com objetos, eventos e pessoas. Não
existem causas definidas, porém se fala de multifatores genéticos e
ambientais.
Assim, o autismo é um transtorno global do desenvolvimento
infantil que se desponta antes dos 03 anos de idade e se estende por toda
a vida. Segundo a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU),
aproximadamente 70 milhões de pessoas no mundo são acometidas pelo
transtorno, sendo que, em crianças, é mais comum que o câncer, a AIDS
e o diabetes (SILVA, A.B.B.2012).
As primeiras descrições mais fidedignas de autismo originam-se na
década de 40, e no Brasil, esses cuidados só tem três décadas, portanto
pode ser considerado um diagnóstico recente e pouco explorado pela
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
ciência, embora muito se tenha avançado em termos de compreensão e
tratamento eficaz e ativo.
O espectro autista possui vários níveis, que vai desde os traços mais
severos onde o isolamento social é profundo até os de alta funcionalidade
ou mesmo os que apresentam apenas traços isolados. Segundo Silva
(2012 pág. 64), podemos subdividir o autismo em categorias:
➢ Traços do autismo, com características muito leves;
➢ Síndrome de Asperger;
➢ Autismo com pessoas com alto funcionamento;
➢ Autismo clássico, grave, com retardo mental associado.
Todas as categorias se caracterizam por um contíguo de indícios
que se separam em três áreas distintas: a socialização, a
linguagem/comunicação e o comportamento.
A socialização é a área mais comprometida, e comum a todas as
categorias. Desde os mais severos que não possuem qualquer contato
social se isolando por completo, aos que expõem dificuldades muito
sagazes, quase imperceptíveis a maioria das pessoas, inclusive para
alguns profissionais.
A comunicação é outro fator de comprometimento, pois possui
disfunção na linguagem/comunicação. Por ter pouca curiosidade social
não aprendem a relatar acontecimentos de forma espontânea. Tem
dificuldade em manter e finalizar uma conversa ajustada e com
reciprocidade. Algumas características são observadas como a Ecolalia,
que é um uso estereotipado e repetitivo da linguagem, dificuldade em
imaginar papéis, pois tem pensamento literal, podem falar em terceira
pessoa, não conseguem avaliar segundas intenções ou mesmo
entonações vocais e de expressão, se confundindo quando alguém esta
sendo bem ou mal intencionado em seu discurso. Tem dificuldade com
Ironias.
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
A Disfunção Comportamental é outro obstáculo da pessoa com
autismo e é dividido em dois grupos:
1.Comportamentos motores estereotipados e repetitivos: como
pular, balançar o corpo e/ou as mãos, agitar os dedos e ou fazer caretas.
Andar nas pontas dos pés tende a gostar de se girar e se balançar,
aversão a barulhos altos (fonofobia) e a luz alta (fotofobia), período curto
de atenção, dificuldade na coordenação motora fina, Marcha rígida e
desajeitada, habito de enfileirar coisas.
2. Comportamentos disruptivos cognitivos: que são compulsões,
mesmice e interesses circunscritos que são distinguidos por uma
aderência intransigente a alguma regra ou penúria de ter alguma coisa
somente por tê-la. Tem um protótipo anormal e restrito de interesses,
exagerado em foco e acuidade para crianças daquela idade. Dificuldade
no campo cognitivo de funções executivas, que são um encadeamento de
processos neurológicos que possibilitam que a pessoa projete coisas,
inicie uma tarefa, se controle para prosseguir na tarefa, tenha atenção e,
por fim, solucione um problema.
Em síntese, o universo do autismo é uma realidade complexa que
engloba apreciações distintas, todavia, que se cruza em determinados
pontos. A evolução que se tem averiguado ao longo do tempo,
relativamente à sua terminologia, tem afluído para um melhor
esclarecimento da perturbação, ainda que seja imprescindível ter em
computa que as características identificadas não estão em evidência em
todos os indivíduos, nem se manifestam sempre do mesmo modo.
BRAGA. C. C.S. 2010.
7. A Descoberta do Autismo
Na década de quarenta, médicos e estudiosos começaram a notar,
que algumas crianças possuíam uma maior dificuldade de relacionamento
do que as outras viviam meio isoladas no mundo delas, possuíam um
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
isolamento extremo desde o inicio da vida, e um desejo extremo pela
preservação da rotina. Em 1943, foi descrito pela primeira vez o autismo.
Já em 1944, um novo estudo tomou espaço entre os debates
médicos, estudo esse que era intitulado como psicologia autista da
infância. Durante certo tempo foram analisadas onze crianças, que
possuíam características em comum tais como: a falta de empatia, a
baixa
capacidade de formar amizades, a conversação unilateral e certo
foco em assuntos de interesse especial. Desde então, estudos sobre o
autismo, foram lentamente tomando forma, e os pesquisadores
conseguiram identificar diferentes métodos de intervenção e
identificação.
Todavia, no ano de 1983, um importante e considerável passo foi
dado em relação ao tratamento para pessoas diagnosticadas com
autismo. Médicos, estudiosos e pais de crianças autistas decidiram se
reunir para, juntos construir algo que amparasse crianças com esse
diagnóstico. Fundaram então a AMA (associação de amigos do autista). A
partir de então se começou uma luta sem igual. A AMA que trabalha sem
fins lucrativos fazia e faz muito pelas crianças especiais, pois existe até
hoje, fazem várias pesquisas na área do autismo e auxiliam pais e
crianças sobre como se devem tratar pessoas com autismo.
A partir do ano de 2001 foram intitulados leis e decretos que
amparam o atendimento escolar para autistas. Quando ideias e esforços
são formados de maneira cooperativa o portador de qualquer necessidade
tem maiores chances de evoluir. Nas escolas regulares possuem ótimos
psicólogos que podem ajudar muito na evolução de crianças com
necessidades especiais. Conforme afirma BAPTISTA,
A proposta de inclusão escolar oferece, assim, a possibilidade da
revisão das práticas escolares excludentes, que cercam a sociedade
historicamente. A reflexão constante da ação e compromisso com a
mudança no tratamento da diversidade humana se torna o ponto
central da participação da psicologia nesse debate da inclusão e na
busca para uma sociedade democrática. (BAPTISTA 2006, pg. 10).
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Conforme menciona a citação anterior, todas as crianças devem ser
incluídas no contexto escolar, e a ajuda de psicólogos é de suma
importância, pois ele conhece os melhores meios de fazer o tratamento
para crianças com necessidades educacionais especiais.
8. Inclusão de Autistas em Escolas Regulares.
Ultimamente muito tem se falado sobre inclusão, em meio a muitas
polemicas a presidenta Dilma Rousseff decretou a lei de número 13.764,
que restituem a política nacional de proteção dos direitos da pessoa com
transtorno do espectro autista. A medida faz com que os autistas passam
a serem consideradas oficialmente pessoas com deficiência, e com isso
tendo direito de inclusão e educação dentre todas as escolas do Brasil.
A lei decretada que foi mencionada a cima, é vista por especialistas
da área, como um reforço na luta pela inclusão. Sendo que, entre as
recomendações da nova lei fica bem claro que o estudante autista, tem
o direito de estudar em qualquer escola regular, e se preciso pode ser
solicitado, um acompanhante especialista para acompanhar o aluno em
sala de aula regular.
Proporcionar uma educação inclusiva para crianças autistas, em
sala de aula regular comum com outros estudantes que possam ter o
mesmo problema, algum outo, ou nenhum tipo de deficiência, pode
principalmente estimular as suas capacidades interativas, impedindo o
isolamento continuo, que é muito comum para eles.
A convivência em grupo nas escolas comuns torna possíveis os
contatos sociais, e torna possível não só o seu próprio desenvolvimento,
mas das outras crianças também, pois na medida em que todos convivem
juntos, aprendem uns com os outros. Quando acriança está em um
ambiente com pessoas estruídas, colegas de sala de aula que cooperam
e condições adequadas, existem muitos ganhos no desenvolvimento, pois
mesmo que a criança apresente problemas cognitivos, e dificuldades em
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
relação aos conteúdos passados pela professora, como pode ser o caso
do autista, pode existir benefícios em relação às experiências sociais, um
melhor aprendizado em relação as coisas simples do dia-a-dia, como por
exemplo, conhecer-se e estabelecer relações pode tornar essa criança
mais autônoma e independente, podendo conquistar um melhor lugar na
família, escola e na sociedade.
9. O Papel do Professor na Educação Especial: A Importância do
Incentivo à criação
O processo de criação é desafiador e exigente, tanto para a criança,
quanto para quem educa. Na verdade, é um processo de aprendizagem
onde a criação tem uma relevância maior do que a própria obra concluída.
Compreende-se que a arte é a disciplina do currículo que aborda o
desenvolvimento do educando numa maior diversidade de dimensões e
magnitudes. Logo, o professor precisa estar disposto para evidenciar
teórica e empiricamente às evidências desse múltiplo desenvolvimento,
assim como deve inferir o perceber, o pensar, o sentir, e a atividade
representativa de seus alunos para seus propósitos de deliberadamente
elaborar o ensino e a aprendizagem da arte. (BARBOSA, 1990, p. 106).
É necessário que cada criança seja observada enquanto produz,
para que assim torne-se possível identificar e providenciar os
materiaismais adequados à necessidade de cada uma delas. Pois dessa
maneira é notável a extrema importância do material escolhido, sendo
uma ferramenta importante para a realização do processo de
aprendizagem. Tudo que a criança especial recebe de informações por
meio do professor auxilia na sua capacidade de se expressar e
desenvolver sua percepção. Com isso, o professor tem o papel de mediar
conhecimentos, e fazer com que seja oferecido à criança conteúdos que
facilitem a ampliação e enriquecimento das suas experiências. Levando
em conta os PCN – Artes (1997):
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
“aprender com sentido e prazer está associado à compreensão
mais clara daquilo que ensinado”, dessa forma é função do
professor escolher quais os recursos didáticos mais eficientes para
expor os conteúdos, “observando sempre a necessidade de
introduzir formas artísticas, porque ensinar arte com arte é o
caminho mais eficaz”. (PCN – Artes, 1997, p. 47 e 48).
Deste modo, fica a cargo do professor a função de propiciar
facilidades para que o aprendizado se realize de uma forma mais
agradável e descomplicada. Tornando-se indispensável à autoanálise por
parte docente, para que desta maneira ele possa conhecer as funções e
habilidades que se sobressaem, conforme podemos observar:
Mas, se considerarmos o seu papel, professor é todo aquele que
pensa na necessidade de compartilhar informações, e de se
enxergar como alguém que oferece aos outros o benefício de sua
própria experiência e conhecimento. (ATACK, 1995, p. 35).
O desenvolvimento da criatividade, atenção, concentração, dentro
outras habilidades é proporcionada à criança especial através da
disciplina de Arte aplicada de maneira bem elaborada. Com esses
importantes recursos, o educando vai além do desenvolvimento da
capacidade de criar e produzir, ele desenvolve uma sensibilidade ainda
não conhecida.
O professor deve ser mais que um valorizador da expressão de seus
educandos, e sim, trabalhar o incentivo ao conhecimento e a criação;
devendo promover o processo integrativo entre o construir e o saber.
Para que exista de maneira efetiva o ensino de Arte na Educação Especial,
cabe ao professor ir além da carga de experiência que adquiriu, devendo
ter sensibilidade artística, estudar, se renovar e entender a verdadeira
definição de Arte. É indispensável dominar e saber o que, e como ensinar.
O interesse pela pesquisa deve ser constante, havendo um exercício de
busca pela atualização, exercitando as maneiras para que se torne capaz
de expor aos seus educandos propostas que os faça integrar-se
socialmente. Com relação ao trabalho com educandos especiais, deve
existir suporte por parte do professor para enfrentar o preconceito e
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
exclusão que por muitas vezes acontece, estando apto ao incentivo a
inclusão, tanto dentro da sala de aula, quanto na sociedade como um
todo. De acordo com Meira e Pillotto, educar utilizando afeto é possível e
necessário:
[...] é um caminho de maravilhamento capaz de modelar e modular
paixões alegres que motivem atos de conhecimento e compreensão
compatíveis com os desafios do presente. Articular conhecimentos
é também compreender o ser humano, comprometer-se com a
ética, com a estética, com o conhecimento sensível, com a vida e
com tudo o que faz sentido e gera mudanças em produção de
sentidos. (Meira e Pillotto, 2010, p. 38).
Um vínculo de afeto deve ser estabelecido, pois através dessa
relação entre aluno e professor torna-se mais fácil o desenvolvimento do
contato com o meio em que estão inseridos e o trabalho de aceitação
para haver uma melhora nas diversas formas de relacionamento.
O ensino da Arte é capaz de mexer com o lado emocional, sendo
capaz de desenvolver e incentivar o processo de criação, imaginação e
percepção. A partir do momento que a criança desenvolve alguma
atividade artística, ela passa a relacionar o que produziu com a bagagem
sentimental que carrega.
Com essa relação, o educador passa a ser visto como um mediador
de acordo com o que Meira e Pillotto consideram:
O professor, como o artista, ou como artista-professor, é um
mostrador de afetos, um provocador de afetos. O afeto é o primeiro
sinal de que o professor está se dando bem ou mal com o que faz,
ou com o que propõe a fazer, porque é um mapa sensível do que
acontece em aula, com o que chega e sai dela, transmutando em
valor para a vida pessoal e social. (Meira e Pillotto, 2010, p. 11)
Dessa maneira, o professor deve compreender seu papel,
relacionando a prática docente com sentimento de afeto, tendo em vista
as emoções e os sentimentos dos alunos, pois assim, será favorecido o
desenvolvimento cognitivo integral da criança especial, estreitando a
relação entre professor-aluno.
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Os inúmeros benefícios que a arte traz em relação à exteriorização
podem ser reafirmados através do pensamento de Sperling (2013, p. 12),
onde caracteriza a Arte como “ferramenta que torna concreto, invisível e
palpável, tudo aquilo que está em estado abstrato, invisível e impalpável
no interior do homem, em seu sentir e pensar”. Tal benefício pode ser
notado em todas as faixas etárias, porém quando se trata de um aluno
com necessidades especiais, passa a ser um mecanismo facilitador ao
professor, onde se torna possível compreender de maneira mais sucinta
a personalidade e características de seu aluno especial, sendo possível
ajudá-lo, incentivando seu desenvolvimento integral através de
atividades artísticas.
Os PCN – Artes (1977, p. 110), apresentam uma acepção do
professor como um “criador de situações de aprendizagem”. Trata-se de
um profissional que se empenha no intuito de elaborar aulas com real
significado para seus alunos, tendo sempre como princípio a finalidade de
estimular e incentivar. O professor de Artes tem em suas mãos a
possibilidade de fazer com que o educando se torne um indivíduo
investigador e explorador, sem receios de liberar seus pensamentos e
emoções, incentivando assim a criatividade. Isso só é possível quando o
professor se dedica a desenvolver uma prática pedagógica bem
elaborada, mediando assim os conhecimentos já existentes em cada
criança, e dando a oportunidade aos educandos especiais de conhecerem
novos saberes, até então desconhecidos.
O educador torna-se um mediador, ajudando na ampliação das
habilidades criativas da criança. Com as direções dadas por ele e partindo
das necessidades e do que é importante aos alunos, passa a haver um
incentivo e motivação pelo criar, despertando dentro deles o interesse
pelo fazer artístico e expandindo os seus conhecimentos. Pode-se apontar
a Arte como uma ferramenta que possibilita a criança a dançar, cantar,
desenhar, dentre outras várias formas de se expressar o que sente ou
alguma ideia até então não revelada. É por meio da aula de Arte que a
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Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
criança incide a ver o mundo com outros olhos, com o intermédio do
professor, ela passará a exercer a criação de maneira prazerosa. Segundo
Larrosa,
Se alguém lê, escuta ou olha com o coração aberto, aquilo que lê,
escuta ou olha ressoa nele; ressoa no silêncio que é ele, e assim o
silêncio penetrado pela forma se faz fecundo. E assim, alguém vai
sendo levado à sua própria forma. (Larrosa 2003, p. 52).
Deste modo, conclui-se que a partir do instante que o educador e o
educando alcancem esse nível, neste momento eles descobriram a real
definição da Arte.
10. Considerações Finais
Tendo em vista todo o exposto e a reflexão proposta pelo presente
trabalho, a respeito da Arte que nos concedeu a compreensão da
importância e a magnitude da arte para o desenvolvimento e a formação
do indivíduo com Necessidades Educacionais Especiais. Quem
acompanha, há algum tempo a evolução do atendimento educacional a
crianças e jovens portadores da Síndrome de Autismo Infantil no Brasil,
tem muitos motivos para ficar otimista. Mesmo os estudos sendo
escassas, muitas iniciativas efetivas vêm sendo realizadas. O autismo
deixou de ser considerado apenas como um assunto médico e passou a
ser pedagógico, transformando padrões educacionais que se diziam bem-
sucedidos e que estão sendo, aos poucos, obrigados a se reestruturarem.
Graças a vários estudos, esta compreensão foi plausível, pois
evidenciaram o sucessivo interesse em resgatar o status da infância e
todas as distinções que lhe são essenciais como: as brincadeiras, a
criatividade, as linguagens que lhe são próprias. Tal relevância
manifestou-se visível e concreta na legislação que regulamenta a
Educação Infantil hoje, no Brasil, e que faz parte de um procedimento
sócio histórico onde o ensino infantil está inserido, a Constituição Federal
de 1988, a LDB 9394/96 e o Referencial Curricular Nacional da Educação
Infantil – RCNEI, de 1998.
34
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Não é um processo fácil, pois implica uma força tarefa de todos os
membros do ambiente escolar. Um esforço em compreender um ser
incompreendido, que dentro de seu mundo particular nos obriga a olha-
lo de forma profunda, tentando entende-lo e cativá-lo, se adaptando a
ele, de forma que se ele se desenvolva por completo.
O autista exige da instituição escolar uma organização e uma
atenção em todos os seus aspectos, pois sem estrutura física e em
ambiente agitado esta criança não consegue se estruturar internamente.
Outro aspecto inovador hoje na educação especial, e que a
pedagogia Waldorf traz com maestria ao trabalho educacional
terapêutico, é a compreensão de que todos somos seres com qualidades
inerentes, e para uma boa educação, o professor deve se ater as suas
potencialidades e não a sua deficiência.
Quando a escola se estrutura a ponto de conseguir receber a
criança, não somente como uma obrigação, mas principalmente pelo
amor ao indivíduo que tem maiores dificuldades em se desenvolver,
quando a escola busca enquanto instituição se mobilizar para fornecer um
atendimento especializado e suporte técnico para seus professores e
equipe, e principalmente quando estes professores se engajam na tarefa
de descobrir estratégias e caminhos para desenvolver as potencialidades
daquele individuo se propondo a esforços maiores, mas a compensações
significativas, estes indivíduos, por mais dificuldades que apresentem,
têm seu desenvolvimento e sua transformação interna. Uma
transformação que pode parecer pequena aos olhos de pessoas de
desenvolvimento regular, em um mundo acelerado e de grandes
transformações em curto prazo, mas que para seres que diariamente
convivem com uma luta constante consigo mesmo, para controlarem
aspectos básicos da vida, uma transformação interna grandiosa, que
apoia sua autoestima e o torna pertencente ao mundo e
reconhecidamente mais humano.
35
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
Um programa de trabalho centrada nas necessidades individuais da
criança autista, bem como uma rotina que possibilita momentos de
interação social e de trabalhos individuais específicos, pode trazer esta
segurança interior possibilitando seu desenvolvimento global.
REFERÊNCIAS
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36
Artigo: A Arte e o Autista Alves, Claudete Barbosa. Págs. 15 - 36
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37
AUTISMO E AS RELAÇÕES NO PROCESSO EDUCACIONAL E SOCIAL
Clebiana Karla Siqueira Barreto2
RESUMO
Nesta apresentação sobre o autismo descobriremos notavelmente uma
incrível história contextualizada em inúmeras teses desenvolvidas para
alcançar o devido aprimoramento na realização efetiva de um diagnóstico
coeso e plausível para o surgimento desta síndrome. Vários relatos e
pesquisas fazem parte desta proposta de estudo comumente interpretada por
diversos pesquisadores no intuito designado positivamente em meio a
intrigantes desafios de analisar o melhor caminho a percorrer na coerência
dos meios obtidos para a viabilização permanentemente conduzida perante a
sociedade, principalmente na interação sócio - educacional dos indivíduos
autistas propagando seus direitos e deveres, todavia entenderemos sobre a
história do autismo, os primeiros engajados nesta descoberta, as principais
características de um indivíduo autista, os primeiros trabalhos desenvolvidos,
o autista na sociedade, o autista na escola – relação professor e alunos em
busca da inclusão devidamente alcançada por leis deferidas para executá-las
em benefício para a inclusão autista. De fato não especificaremos o verdadeiro
causador desta síndrome, pois, até não sabem ao certo como origina-se a
mesma, mas observaremos enfim que o autismo não está longe da nossa
realidade, principalmente quando me refiro ao entendimento mesmo que
inicial desta síndrome, sendo assim, compreenderemos as principais
abordagens apresentadas neste perfil.
Palavras-chave: Autismo, síndrome, autista, pesquisas e inclusão.
2 Aluna do Curso de Graduação em Pedagogia – [email protected]
38
Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
1 INTRODUÇÃO
Apresentamos a seguir toda trajetória dos indivíduos autistas, tendo
como ponto de partida a idéia principal de conscientização em toda
sociedade no seguimento determinante em referencia compartilhada pela
inovação de pensamentos permitindo então, uma verdadeira compreensão
no que se refere à inclusão predominantemente proposta nesta pesquisa.
Ao analisarmos todos os conhecimentos categorizados nesta
introdução destacamos o autista como membro ativo na sociedade –
contribuindo na estruturação e formação pela cidadania, sendo assim, faz-
se necessário a constante luta pela inclusão caracterizada nos direitos
adquiridos pela lei. Destacamos grandes nomes como Eugen Bleuler,
pesquisador alemão, Dr. Léo Kanner, médico de origem austríaca, Hans
Asperger, pesquisador, médico e identificador do autismo e por fim
citaremos Madre Viktorine Zak, desenvolvendo uma programação especial
para auxiliar o autista.
Conotaremos a partir destas pesquisas um capítulo especial com
orientações cujo objetivo será a relação do professor – (cuidadores e
educadores), com dicas importantes para a interação do autista na escola,
com os outros alunos, no espaço físico onde situa-se, sistemas de
comunicação e sistemas visuais no tratamento do autismo e uma análise
contextualizando esta síndrome.
2 A HISTÓRIA DO AUTISMO
2.1 OS PRIMEIROS PESQUISADORES
O termo apresentado como “autismo” foi usado primeiramente na
Psiquiatria, por Plouller no ano de 1906, estudava na época o processo de
pensamentos de alguns pacientes com esquizofrenia. (GAUDERER, 1993).
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
Percebemos no decorrer da história que o autismo foi reconhecido
pela primeira vez no ano de 1943, pelo Dr. Leo Kanner médico de origem
austríaca, estudou Psiquiatria, onde residia nos Estados Unidos, na cidade
de Baltimore. Doutor Lei Kanner escreve seus primeiros relatos conduzidos
inicialmente na tradução inglesa com o título – Distúrbios Austísticos do
Contato Afetivo.
A deficiência vista como uma anormalidade, como algo que
não está no controle ou nos padrões sociais Alves (1998) citado por Ferreira
& Guimarães (2003), pois para o autor a deficiência surge quando são
encontradas na pessoa algumas características diferentes daquelas ditas
“normais”, pois ele afirma que o erro da natureza não pode ser escondido:
ele está visível, evidente a todos os que têm olhos. O seu corpo é diferente
dos corpos normais, não é da forma que deveria ter nascido pertence ao
conjunto daqueles que fugiram da norma que são normais. São então
classificados como pessoas portadoras de uma deficiência. “Deficiência”
vem do latim, deficiens, de deficere, que quer dizer “ter uma falha”. De de+
facere, “fazer”.
Neste artigo observamos a disponibilidade desta compreensão
no site da AMA, em português, Dr. Kanner descreve 11 casos, do qual
chama a atenção o caso de um paciente denominado Donald T., quando ele
se apresentara com esses distúrbios em análise a primeira conotação real
do caso estudado em meados dos anos de 1938. Alguns anos antes, o
alemão Eugen Bleuler, no ano de 1911, lançou as primeiras pesquisas
referindo inicialmente aos Distúrbios encontrados na Esquizofrenia, cujos
relatos mencionavam as inúmeras dificuldades no relacionamento
interpessoal do indivíduo e também o isolamento diante as pessoas e o
mundo à sua volta.
Outro grande pesquisador e identificador da causa do Autismo
Dr. Hans Asperger cujo médico também austríaco, terminara sua faculdade
em Viena, especializou-se em Pediatria conduzia suas pesquisas na
40
Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
ideologia em que a criança se desenvolve amplamente quando conciliavam-
se as técnicas de educação e terapia, adaptadas em base a um programa
educacional apropriado. Todavia vale a pena ressaltar que este programa
já havia sido elaborado e propagado pela Madre Viktorine Zak, considerada
um gênio, entretanto, vinha a falecer tragicamente quando o local de
trabalho foi bombardeado em 1944. Recente pesquisa datada no ano de
2009 no Canadá Eric Forbonne publicara uma revisão de 43 estudos com o
destaque sobre a Incidência do Autismo, cuja interpretação, basea-se na
realidade de que o Autismo acontece e se manifesta muito mais do que
imaginamos - manifesta-se com mais freqüência em indivíduos do sexo
masculino, (4x mais), pode acometer as famílias de diferentes raças,
credos, ou classes sociais, a incidência pode variar de acordo com o critério
de cada autor, Forbonne ressalta que em cada 150 pessoas nascidas 1 terá
Autismo.
3 AUTISMO CONTEXTO GLOBAL
[...] os Transtornos Globais do Desenvolvimento foram classificados como um grupo de alterações, caracterizadas por
alterações qualitativas da interação social e modalidades de comunicação, e por um repertório de interesses e atividades restrito e estereotipado. Essas anomalias qualitativas
constituem uma característica global do funcionamento do indivíduo. (TAMANAHA, PERISSINOTO E CHIARI, 2008, p.4)
O Autismo é considerado um Distúrbio do Desenvolvimento com a
denominação transcrita como um Transtorno Global do Desenvolvimento
(chamado também de Transtorno do Espectro Autista). A definição adotada
pela AMA seria um Distúrbio do Comportamento que consiste em uma tríade
de dificuldades. Segundo Froés (2007) define o termo pessoa portadora de
necessidades especiais , segundo definição dada pela Política Nacional de
Educação Especial, em 1994, como sendo aquela que apresenta, em caráter
permanente ou temporário algum tipo de deficiência física, sensorial,
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
cognitiva, múltipla, condutas típicas ou altas habilidades, necessitando, por
isso, de recursos especializados para desenvolver mais plenamente o seu
potencial ou superar ou minimizar suas dificuldades.
Todavia, conota-se em vários momentos e em vários ambientes
escolares a falta de recursos necessários para o bom desenvolvimento das
tarefas do dia a dia, sendo possivelmente necessárias no intuito de propiciar
maior interatividade entre o autista e o meio em que segue os processos de
alfabetização.
Uma definição mais ampla apresenta-se decorrente na Convenção de
Guatemala no ano de 1999, em que se faz declarar o seguinte decreto
promulgado no Brasil nº 3.956/2001:
O termo “deficiência” significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita
a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico
e social. ( BRASIL, 2001, Art.1).
Com base apresentada na citação acima observa-se o
comprometimento dos indivíduos autistas no que diz respeito os diversos
fatores sociais, inclusive vale apena ressaltar que o fator financeiro não pode
passar por nenhum tipo de descaso, ou pelo menos jamais deveria. Retratar
essa situação compete o esclarecimento de que, vários autistas podem limitar-
se a questão financeira, por isso, deveriam receber com toda dignidade
recursos do governo capaz de mantê-lo com dignidade perante a sociedade e
o meio em que vive.
À medida que o autista demonstrasse a necessidade de recursos
financeiros, seria extremamente importante o subsídio referido
anteriormente, todavia, percebe-se que nem sempre isso acontece, esse
episódio não está longe de nossa realidade, basta olhar o nosso redor e
percebermos o descaso que vários autistas estão submetidos, principalmente
quando necessita do amparo governamental.
42
Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
Fato curioso nos revela que o Autismo também recebeu o nome de
Síndrome de “Ops! Caí no Planeta Errado!”, isso faz perceber a dificuldade do
indivíduo autista ser compreendido e reconhecido perante a sociedade e até
mesmo por seus familiares. De acordo com Martins (2007) o autismo é hoje
considerado como uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas em
conseqüência de um distúrbio de desenvolvimento, sendo considerado
também invasivo, persistente e altamente comprometedor em relação ao
desenvolvimento da criança, afetando-a de maneira generalizada.
Seguindo este diagnóstico observamos constantes afirmativas no que
diz sentido a fatos contundentes de adaptação ao meio em que vive, interação
social, dificuldade no processo de comunicação verbal ou escrita, índices com
conotação precária no desenvolvimento comportamental e evidências de
retardo mental. Comumente este Distúrbio pode iniciar-se antes dos três anos
de idade, em alguns casos, nos primeiros meses de vida, destaque a seguir
em relatos marcantes que chama atenção dos pais a incrível reação de um
bebê totalmente calmo e sonolento, ou então, excessivo choro sem consolo
durante longos períodos do dia. Nota-se em queixas registradas pelos pais
que o bebê desde cedo, não gosta do colo, rejeita carinho, não aceita o
aconchego e o toque.
[...] A lista de situações patológicas é muito extensa e inclui fatores pré, peri e neonatais, infecções virais neonatais,
doenças metabólicas, doenças neurológicas e doenças hereditárias. Apesar da ausência aparente de ligação entre elas, um ponto comum às reúne: todas as patologias são
suscetíveis de induzir uma disfunção cerebral que interfere no desenvolvimento do sistema nervoso central.
(LEBOYER,2005,p.60).
Dentre outros seguimentos comportamentais rejeitados, leva-se a
percepção não adquirida do bebê em não imitar, não apontar uma reação no
contexto de compartilhar sentimentos ou sensações, apresentam
estereotipias no estagio infantil com as mãos ou até mesmo com o corpo,
olhar fixamente para um determinado ponto, morder-se ou até mesmo
43
Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
morder as roupas e puxar os cabelos. Dificuldades na alimentação – recusa,
falta de apetite e até mesmo o pouco desenvolvimento no paladar, insônia e
também pouca fixação no campo da visão, seguindo os estudos neurológicos,
compreende-se que as retinas das crianças possuem alteração, explicando o
principal motivo pelo qual elas não têm a visão central bem desenvolvida e
sim a visão periférica, razão pela qual nos olham de “canto de olho” e não de
frente nos fitando.
Outras disfunções como a epilepsia ocorre quase em 30% dos casos de
Autismo, sendo comum o aparecimento epilético no começo da vida da
criança ou na adolescência, problemas no pré-natal, infecções de vírus
afetando o sistema imunológico. Vale à pena ressaltar que as manifestações
prescritas são as mais comuns, entretanto, não são condições
necessariamente comprovativas em todos os casos diagnosticados nos
estudos sobre o autismo.
Outra explicação atual traz consigo a difusão genético-hereditária acredita-
se que o autismo pode existir diante um defeito genético desde a época da
concepção que irá se manifestar posteriormente, gêmeos univitelinos pode
desenvolver este distúrbio. Descreve a hipótese de uma anomalia no
desenvolvimento cerebral. Na área da psicofisiologia observaram os
mecanismos que geram ansiedade, atenção e processamento de
informações sendo conduzidos com imaturidade por parte do indivíduo com
Autismo. Na parte cognitiva disfunções no mecanismo da atenção, reagindo
como se cada novo estímulo fosse algo inédito e totalmente novo.
3.1 CLASSIFICAÇÕES DO AUTISMO
Transtorno de Rett – é uma síndrome relacionada principalmente ao sexo
feminino, identificada por Andreas Rett quando constatou uma deficiência
neuromotora que ocorria em meninas tidas como normais até o final do
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
sexto mês de vida ou até o décimo oitavo. Apresenta um nível mais elevado
do Autismo com uma Atrofia Cerebral Associado à Hiperamonemia – que é
o excesso de amônia no organismo com os sintomas de tremores, fala
arrastada e visão turva.
Mercadante (2006) escreve sobre a Síndrome de Rett fazendo a seguinte
alusão ao Autismo relacionado à semelhança no ponto em que a maioria
das crianças não fala, e aquelas que adquirem a fala perdem essa habilidade
na fase de regressão existente na síndrome. Uma diferença marcante do
Autismo para essa síndrome é que na primeira são os meninos mais
afetados enquanto que na segunda são as meninas mais afetadas. A
prevalência estimada de Síndrome de Rett varia entre 1:10.000 e 1:15.000
em meninas.
Transtorno de Asperger – reconhecido pelo DSM-IV (Diagnostic and
Statistical of Mental Disorders – DSM), publicado e traduzido em 1994,
sendo identificado nos anos de 1944. Apresenta características mais suaves
em relação ao Transtorno de Rett, tais como: interação social
comprometida, linguagem com dificuldade e movimentos repetitivos e
estereotipados, no entanto conseguem desenvolver habilidades cognitivas
e conseguem ler sozinhos.
Nesse sentido, Júnior (2005) afirma que o autismo é hoje
considerado como uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas em consequência de um distúrbio de
desenvolvimento, para salientar a diferença do autismo entre essas e outras deficiências é reforçado que a pessoa autista tem um comprometimento no seu comportamento, no seu
desenvolvimento e nas interações sociais. Pode-se descrever também que as características do Autismo aparecem nos
primeiros anos de vida enquanto que em outros distúrbios a criança tem pelo menos dois anos de desenvolvimento
aparentemente normais.
4 O AUTISTA MEMBRO ATIVO DA SOCIEDADE: CONTRIBUIÇÕES NA
ESTRUTURAÇÃO FILÓSOFICA PARA A HUMANIDADE
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
FÍGURA 01 - REPRESENTANDO A COMPLEXIDADE DO AUTISMO – O
AUTISTA GOSTADE QUEBRA-CABEÇA
Disponível em:<www.ama-
df.org.br/index.php?option...id...simbolo...autismo.../>. Acesso em
nov.2013.
Comemora-se no dia 02 de abril o Dia Mundial do Autismo, criado pela
Organização das Nações Unidas, em 18 de dezembro de 2007 para construção
e conscientização filosófica e humanitária acerca dessa questão divulgando o
autista membro importante no contexto social capaz de realizar diversas
atividades e acima de tudo divulgando suas habilidades em diversos processos
tais como: desenhistas, programadores de computador, fixação extraordinária
em trens e mapas, sendo que a melhor forma de trabalhar com essas fixações
seria usá-las como motivos de trabalhos escolares.
No primeiro evento datado em 02 de abril de 2008, obtiveram
elogios o Catar e a Família Real do Secretário Geral da ONU – Banki Moon,
cuja proposta inicial foi de grande valia para o Autismo. Em 2010 a ONU
declarou que diante as pesquisas desta Síndrome, observa-se que esta doença
atinja cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo.
Sabemos que o Brasil em 2011, no Rio de Janeiro, precisamente o
Cristo Redentor foi iluminado de “azul” nos dias 01 e 02 de abril, em São Paulo
a Ponte Estaiada, em Brasília os prédios do Senado Federal e do Ministério da
Saúde, em Manaus o Teatro Amazonas, Porto Alegre a Torre da Usina do
Gasômetro entre outros pontos. Para trilhar perspectivas cada vez mais
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
favoráveis no anseio promissor sobre a cura do Autismo, descobriu-se
recentemente uma possível cura, em novembro de 2010, com a descoberta
de um grupo de cientistas nos EUA, pela liderança de um brasileiro Alyson
Muotri, na Universidade da Califórnia que conseguiu curar um neurônio
“autista” em laboratório. Esta descoberta contou também com a coordenação
dos brasileiros Cassiano Carromeu e Carol Marchetto, publicado na revista
científica Cell.
5 O AUTISMO NAS ESTAPAS DA INCLUSÃO ESCOLAR: INTERAÇÃO
PROFESSOR- ALUNO EM BUSCA DO CONHECIMENTO
A inclusão escolar é uma política que busca perceber e atender as
necessidades educativas especiais de todos os alunos autistas, tendo como
base a integração ao ensino regular, mesmo aquelas com deficiência ou
transtornos de comportamento, de preferência sem defasagem idade-série.
De acordo com esta política a escola juntamente com todos os membros
participantes da mesma assim destaca-se os professores precisam se
adaptar adquirindo formações e reestruturação no planejamento escolar em
busca de melhorias para o rendimento de um aluno autista.
Orrú (2009) acredita que a centralidade na linguagem contribui
positivamente para o processo de aprendizagem do autista no que diz
respeito à atenção, memória e imaginação. Aqui se consideram todas as
linguagens como componentes da comunicação e da expressão: a verbal e
as não-verbais, como a sonora, a gestual, a visual, entre outras, sendo
assim, vale a pena salientar a proposta de orientação sob análise das
considerações aqui apresentadas. Conforme a autora (2009, p. 111):
O professor que trabalha com seu aluno autista, na perspectiva do desenvolvimento da linguagem, contribuirá
como agente de mediações para a reconstituição e a melhora da vivência emocional de seu aluno para que seu ser, muitas
vezes revelado em suas ações, transcenda as reações afetivas imediatas para outras mais duradouras.
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
Outra proposta educacional para o autista compete ao atendimento
educacional especializado, abrangendo diversas possibilidades no campo
educativo e social, é o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e
recursos pedagógicos organizados institucionalmente com evidência à
formação dos alunos no ensino regular. No Estado de São Paulo a Secretaria
de Educação Especial (SEESP) é a responsável pelo desenvolvimento de
programas, projetos e ações, com o propósito de implementar a Política
Nacional de Educação Especial.
Segundo Reily (2008) é necessário que os cursos superiores voltados
à formação de professores alcancem parâmetros inclusivos, o que implica
em critérios curriculares diferenciados, que contemplem a consciência sobre
a diversidade e a inclusão. Esse dinamismo envolve inúmeras reflexões e
mudanças na maneira de lidar com o tempo e o espaço escolar, a partir do
preparo consistente e consciente do professor, assim como o conteúdo
curricular numa perspectiva mais flexível no tocante da situação do aluno
autista. Tendo como exemplo o ensino das artes visuais, os recursos
visuais, objetos do cotidiano ou imagens de arte, podem ser referências
externas que levem o aluno a construir sua auto-imagem, perceber
elementos direcionados a sua volta, estimular os sentidos para as relações
com o espaço e tempo, e abrir uma entrada que conecte seu universo
fechado com signos visuais, ou seja, sinais que possam construir
significados e linguagens no percurso educacional e na formação social do
autista. Todavia, se faz necessário refletir sobre a mediação dos recursos
visuais, ou até mesmo sob uma nova visão diante à postura acolhedora do
docente, que possibilite a esse aluno sentir-se pertencente ao grupo. O
compartilhar de tarefas e a cooperação são condições necessárias para esse
pertencimento
Orrú (2009, p. 111) afirma: O aluno com autismo é um ser humano que deve ser respeitado em seus limites. Assim
sendo, a linguagem adentra todas as áreas de seu desenvolvimento, orientando sua percepção sobre todas as coisas e o mundo no qual está inserido.
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
O CAPE (Centro de Apoio Pedagógico Especializado) é o órgão que
pode auxílio e suporte ao processo de inclusão dos alunos com autismo na
rede regular de ensino também proporciona a formação aos professores e
demais profissionais que atuam na rede estadual. Os adultos com Autismo
pode continuar os estudos ou ingressar nesta mesma trajetória
gratuitamente conforme a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei Federal 9.394/96).
Pela mesma lei e como qualquer cidadão os adultos com Autismo, têm
direito a educação superior tanto em escolas públicas quanto privadas, em
todas as suas modalidades, nos casos em que o Estado não forneça
educação especializada próxima da residência da criança e adolescente com
Autismo é possível fazer um pedido administrativo para que o Estado
cumpra a sentença da ação civil pública da sexta Vara da Fazenda Pública
da Capital. Encaminha-se uma carta ao Secretário da Saúde pedindo uma
escola privada ou pública que tenha a educação especializada e próxima da
sua residência.
5.1 ORIENTAÇÕES PARA PROFESSOR
• O professor deverá verificar se o aluno está acompanhando o assunto em
casa;
• Utilizar de agendas, calendários e listas de verificação;
• Ser estimulado a trabalhar em conjunto, desenvolver o momento certo
também para esperar;
• Ensinar a pedir ajuda;
• Na hora do intervalo ou recreio incentivar a pessoa autista a explorar assuntos
que lhe interesse, senão poderá se isolar ou for alvo de brincadeiras dos
colegas;
• Sentar-se o mais próximo possível do professor;
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
• Ser requisitado na sala de aula em alguns momentos como ajudante do
professor;
• Trabalhar no sentido do indivíduo autista na percepção de concentração diante
do contexto proposto;
• Elogiá-lo todas as vezes que desenvolver o conteúdo corretamente e também
quando se interessar pelo mesmo.
5.2 TRATAMENTOS SUGERIDOS PARA O AUTISMO
TEACCH: (Tratamento e Educação para Crianças com Autismo e
Distúrbios Correlatos da Comunicação) - criado em meados dos anos 60 no
Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Carolina do
Norte, EUA, atual método proposto para diversas partes do mundo, Dr. Eric
Schoppler e o responsável atual Dr. Gary Mesibov.
FIGURA 01 – MÉTODO TEACCH
Disponível em:< http://www.universoautista.com.br/autismo/>.
Acesso em 05 nov.2013.
Traz como referência uma avaliação em crianças com o propósito de
investigar os pontos fortes e fracos para um programa individualizado na
50
Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
perspectiva indicadora de uma melhor organização do ambiente e das tarefas
da criança. Todavia proporciona o conteúdo indicado para a fase de sua vida
principalmente na independência de modo que necessite do professor como
qualquer criança no estágio de aprendizagem, mas que consiga passar o
restante do tempo ocupando-se de maneira independente.
ABA: (Análise Aplicada do Comportamento) – tratamento
comportamental analítico do Autismo, ensina a criança habilidades que ela
não possui, introduzindo por etapas. É necessário que o desenvolvimento
deste tratamento seja agradável, os estímulos são importantes abordagens
de ensinamento.
Muitas vezes ausência de respostas das crianças deve-se a falta de
compreensão do que esta sendo exigido e não de uma atitude de isolamento
e recusa proposital. A continua falta do que se passa ao redor, aliada à
escassa oportunidade de interagir com crianças “normais” que conduziria ao
isolamento, criando, assim, um circulo vicioso. (BAPTISTA E BOSA 2002,
p.32).
Inicia-se uma indicação ou instrução para determinada habilidade em
esquemas individuais, quando houver necessidade utiliza-se de um apoio
como exemplo (apoio físico para executar a tarefa) logo em seguida, deverá
ser retirado para não tornar a criança dependente. Um ponto importante é a
repetição constante das tarefas tendo como objetivo o registro das
informações e de todos os resultados.
PECS: (Sistema de Comunicação através da Troca de Figuras) – Utilizam
deste método como principal ponto de partida, pessoas que não se comunicam
ou que possuem comunicação mas a utilizam com baixa eficiência. De acordo
com Schwartzmann (2003, p.105):
Nas crianças com autismo, os objetivos das intervenções educacionais dependerão, em grande medida, do grau de
comprometimento presente. Nos pacientes com prejuízos cognitivos importantes, os esforços deverão se dirigir, de forma mais específica, para a tentativa de aumentar a
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
comunicação e as interações sociais, para a redução das alterações comportamentais (estereotipias, hiperatividade,
etc.), para a maximização do aprendizado, e para a independência nas atividades de vida diária.
FIGURA 02 – SISTEMA DE COMUNICAÇÃO – PECS
Disponível em:< http://www.universoautista.com.br/autismo/>.
Acesso em 05 nov.2013.
Auxilia a criança no processo de entendimento e percepção das coisas
que desejam, ampliando a comunicação podendo assim, diminuir
significativamente problemas de conduta. Aceito em vários lugares, pois o
material é bem acessível e fácil de aprender, através de cartões para crianças
que não falam cuja proposta também seria organizar a linguagem verbal em
crianças que já falam.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos a partir desse seguimento partilhado para um melhor
entendimento sobre o Autismo a idéia coadjuvante da importância em
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Artigo: Autismo e as Relações no Processo Educacional Social Alves, Claudete Barbosa. Págs. 37 - 53
observar o favorecimento real no sentido de interagir e valorizar todos os
indivíduos que possivelmente apresentará esta síndrome.
Consequentemente a inclusão com bases sólidas na lei, garante todos
os direitos e deveres previstos a qualquer cidadão autista, em relação a este
critério, analisamos positivamente todas as conquistas estabelecidas diante
anos e anos de terríveis perseguições e sofrimentos consumados em
isolamento e abandono familiar, impedidos de participarem do convívio social,
sobretudo limitando sua presença na interação escolar dificultando cada vez
mais o processo construtivo da aprendizagem.
“No contraste aparentemente difundido pela sociedade, gritando pelo
preconceito, suspira delicadamente, acompanhando as pausas do tempo, uma
criatura pura meramente pura, viajante em seu mundo incrível, imaginário
dos sonhos, perceptíveis a tal ponto, de encontrar beleza nas pequenas
sutilezas.”
REFERÊNCIAS
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e Função Executiva. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 14, n. 2, 2001.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 - 69
AA AARRTTEE VVIISSUUAALL NNAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO EESSCCOOLLAARR
Edna Nascimento de Aguiar de Lima3
RESUMO
O ensino das artes visuais é essencial para a formação de cidadãos
mais elevados em conhecimento cultural, de forma que possam valorizar
mais a beleza do mundo real retratado em imagens, para que assim, sejam
levados a apreciar todas as formas de expressão, repensando suas ideias
de mundo e sua vivência num universo de exposições múltiplas de
sensações, sentimentos, ideias e qualidades.
Palavras chave: Essencial. Cultural. Expressão.Sentimentos.
1. Introdução
A arte na educação vai muito além da escola, quando eles dizem ser um
processo criador na verdade estão dizendo que é um movimento educativo
e cultural, valorizando no ser humano os aspectos intelectuais, morais e
estéticos. Segundo Ferraz e Fusari
A educação através da Arte foi difundida no Brasil a partir das ideias do
filósofo inglês Herbert Read (1948) e apoiada por educadores, artistas,
filósofos, psicólogos entre outros. A base desse pensamento é ver a arte
não apenas como uma das metas da educação, mas sim como o seu próprio
processo que é considerado também criador (FERRAZ e FUSARI, 1992,
p.15)
3 Aluna do Curso de Graduação em Artes Visuais [email protected]
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
Na década de 70 inicia-se as ideias da Escola Nova e da educação
através da Arte De acordo com Varela (1988), o espaço da arte-educação
é essencial à educação numa dimensão muito mais ampla em todos os seus
níveis e formas de ensino. É território que pede presença de muitos, tem
sentido profundo, desempenha papel integrador plural e interdisciplinar no
processo formal e não formal da educação, (p.17).
Com esta fala entendemos que o campo da Arte-Educação é de
grande significado, não apenas de conteúdo, mas de agente transformador
da escola e da sociedade. Atualmente no Brasil a Arte-educação está
preocupada com a educação escolar que se faz presente na nova LDB
(Proposta na década de 1990). Após estas propostas tivemos mudanças do
ensino da Arte que será mostrado a seguir com a autora Barbosa, (2003,
p.17).
A primeira mudança foi ter maior compromisso com a cultura e com
a história (p.17). Foi compreendido que antes da mudança, a Arte na escola
era apenas um desenvolvimento de expressão pessoal do aluno, hoje a
livre-expressão acrescenta a livre-interação da obra de arte. Assim, a
leitura da obra de arte (apreciação interpretativa) e a contextualização
histórica, social, antropológica e/ou estética da obra (p.17), entendemos
que é preciso ter conhecimento histórico e informações para a
aprendizagem da arte. Não podemos entender a cultura de um país sem
conhecer sua arte (p.17). Portanto, a Arte como cultura é importante para
aprender a realidade do meio ambiente e desenvolver criatividade para
mudar a realidade que foi analisada. O conceito de criatividade também se
ampliou (p.18). Não só fazendo Arte, mas indo mais além, interpretando as
obras fazendo leitura com criatividade. A necessidade de alfabetização
visual vem confirmando a importância do papel da Arte na Escola (p.18).
Entendemos que, é preciso ir além de ver o que o artista diz sobre sua obra
e sim o que a obra também nos diz, também devemos tomar cuidado com
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
a venda da mídia e inconscientemente não nos deixar enganar em associar
o ensino da arte com a cultura visual.
O compromisso com a diversidade cultural é enfatizado pela Arte-
Educação pós-moderna. Não mais somente os rediges europeus e norte-
americanos brancos, porém mais atenção à diversidade de códigos em
função de raças, etnias, gênero, classe social (p.19).
Ficou entendido que o termo intercultural que é a interação entre as
diferentes culturas, tem grande contribuição da Arte-Educação para as
classes sociais desfavorecidas. De acordo com o autor, o conhecimento da
imagem é fundamental para o desenvolvimento da subjetividade e para o
desenvolvimento profissional (p.20). Assim, a Arte comercial e a
propaganda estão ligadas às muitas profissões e que quando se tem
conhecimento da Arte as profissões se tornam mais eficientes.
2. A LDB e o Ensino de Artes
A (LDB) Lei de Diretrizes e Bases da Educação regulariza o ensino no
Brasil baseado nos princípios da constituição. Veio à tona em 1961, logo
após alterada por outra versão em 1971 e finalmente, sua mais atual
promulgação em 1996, valendo até os presentes dias.
O ensino de Arte foi incluído no currículo escolar pela LDB de 1971,
com o nome de Educação Artística, ainda como “atividade educativa” e não
como disciplina. Em 1988, ano da nossa atual Constituição Federal, em meio
a discussões sobre educação, sofreu ainda riscos de ser excluída do
currículo escolar, fato que levou educadores da área a organizarem
manifestações a fim de garantir a permanência do estudo das artes nas
escolas.
Finalmente, com a atual Lei de Diretrizes e Bases, foram revogadas
disposições anteriores e a matéria “Artes” foi reconhecida como disciplina,
tendo seu ensino se tornado obrigatório na educação básica, conforme
dispõe o parágrafo 2º do artigo 26: O ensino da arte constituirá componente
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
Atualmente, a matéria se compõe do ensino de Artes Plásticas, Artes,
Cênicas, Dança e Música, que se tornou obrigatória a partir de 2008 com o
advento da Lei Federal 11.769. Confira, a seguir, trecho da norma aqui
citada, a qual acrescenta o parágrafo 6º ao artigo 26 da Lei de Diretrizes e
bases, já comentadas neste tópico:
A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do
componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.
Além da LDB, o Governo Federal formulou os chamados PCN´s
(Parâmetros Curriculares Nacionais), servindo como referência para a
elaboração dos currículos escolares do ensino fundamental e médio, das
redes pública e particular.
No documento PCN-Artes, foram elaborados os moldes que o ensino
de Artes deveria seguir. Os parâmetros curriculares, para todos os ciclos do
ensino fundamental são bastante abrangentes. Foram propostas como
guias quatro modalidades artísticas: artes visuais, música, teatro e dança.
Às Artes Visuais, foi proposta uma dimensão ampla, envolvendo artes
gráficas, cinema, vídeo, fotografia e novas tecnologias, como arte por meio
de aparelhos eletrônicos, como o computador.
Para o ensino dessas modalidades, o PCN orienta o ensino com três
eixos básicos, remetendo-se à proposta da Metodologia Triangular.
O conjunto de conteúdos está articulado dentro do processo de ensino
e aprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos
norteadores: produzir, apreciar e contextualizar.
Atualmente, diversos grupos e acadêmicos estudam como aplicar os
parâmetros ao caso concreto, já que a realidade é bastante diversa do que
vemos no texto em foco. É preciso um constante esforço e vontade por
parte das escolas para que o ensino das Artes seja levado a sério e chegue
com qualidade aos alunos brasileiros.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
3. Os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) e o ensino
de artes
Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do
ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
• compreender a cidadania como participação social e política, assim
como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no
dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças,
respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas
diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar
conflitos e de tomar decisões coletivas;
• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões
sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a
noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao
País;
• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural
brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações,
posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças
culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras
características individuais e sociais;
• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do
ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,
contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;
• desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento
de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética,
de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança
na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
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• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos
saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo
com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
• utilizar as diferentes linguagens — verbais, matemática, gráfica,
plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas
ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos
e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos
tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
• questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de
resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a
intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e
verificando sua adequação.
As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura,
desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras
modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações
estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema,
televisão, vídeo, computação, performance).
Cada uma dessas visualidades é utilizada de modo particular e em
várias possibilidades de combinações entre imagens, por intermédio das
quais os alunos podem expressar-se e comunicar-se entre si de diferentes
maneiras.
O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em
quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição
múltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educação
para saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, ideias e
qualidades. Por isso o estudo das visualidades pode ser integrado nos
projetos educacionais. Tal aprendizagem pode favorecer compreensões
mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e
seus conceitos e se posicione criticamente.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
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A educação em artes visuais requer trabalho continuamente
informado sobre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às
técnicas e às formas visuais de diversos momentos da história, inclusive
contemporâneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos
passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar,
articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção
artística pessoal e grupal.
A educação visual deve considerar a complexidade de uma proposta
educacional que leve em conta as possibilidades e os modos de os alunos
transformarem seus conhecimentos em arte, ou seja, o modo como
aprendem, criam e se desenvolvem na área.
Criar e perceber formas visuais implica trabalhar frequentemente com
as relações entre os elementos que as compõem, tais como ponto, linha,
plano, cor, luz, movimento e ritmo. As articulações desses elementos nas
imagens dão origem à configuração de códigos que se transformam ao
longo dos tempos. Tais normas de formação das imagens podem ser
assimiladas pelos alunos como conhecimento e aplicação prática recriadora
e atualizada em seus trabalhos, conforme seus projetos demandem e sua
sensibilidade e condições de concretizá-los permitam. O aluno também cria
suas poéticas onde gera códigos pessoais.
Além disso, é preciso considerar as técnicas, procedimentos,
informações históricas, produtores, relações culturais e sociais envolvidas
na experiência que darão suporte às suas representações (conceitos ou
teorias) sobre arte. Tais representações transformam-se ao longo do
desenvolvimento à medida que avança o processo de aprendizagem.
Os blocos de conteúdos de Artes Visuais para o primeiro e o segundo
ciclos são:
• As artes visuais no fazer dos alunos: desenho, pintura, colagem,
escultura, gravura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, histórias em
quadrinhos, produções informatizadas.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
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• Criação e construção de formas plásticas e visuais em espaços
diversos (bidimensional e tridimensional).
• Observação e análise das formas que produz e do processo pessoal
nas suas correlações com as produções dos colegas.
• Consideração do elementos básicos da linguagem visual em suas
articulações nas imagens produzidas (relações entre ponto, linha, plano,
cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio).
• Reconhecimento e utilização dos elementos da linguagem visual
representando, expressando e comunicando por imagens: desenho,
pintura, gravura, modelagem, escultura, colagem, construção, fotografia,
cinema, vídeo, televisão, informática, eletrografia.
• Contato e reconhecimento das propriedades expressivas e
construtivas dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e
técnicas na produção de formas visuais.
• Experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas
artísticas (pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila, goivas) e outros
meios (máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de
reprografia).
• Seleção e tomada de decisões com relação a materiais, técnicas,
instrumentos na construção das formas visuais.
4. As Artes Visuais Como Objeto de Apreciação
Significativa
• Convivência com produções visuais (originais e reproduzidas) e suas
concepções estéticas nas diferentes culturas (regional, nacional e
internacional).
• Identificação dos significados expressivos e comunicativos das
formas visuais.
• Contato sensível, reconhecimento e análise de formas visuais
presentes na natureza e nas diversas culturas.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
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• Reconhecimento e experimentação de leitura dos elementos básicos
da linguagem visual, em suas articulações nas imagens apresentadas pelas
diferentes culturas (relações entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma,
volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio).
• Contato sensível, reconhecimento, observação e experimentação de
leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da imagem:
fotografia, cartaz, televisão, vídeo, histórias em quadrinhos, telas de
computador, publicações, publicidade, desenho industrial, desenho
animado.
• Identificação e reconhecimento de algumas técnicas e
procedimentos artísticos presentes nas obras visuais.
• Fala, escrita e outros registros (gráfico, audiográfico, pictórico,
sonoro, dramático, videográfico) sobre as questões trabalhadas na
apreciação de imagens.
5. As Artes Visuais como Produto Social e Histórico
• Observação, estudo e compreensão de diferentes obras de artes
visuais, artistas e movimentos artísticos produzidos em diversas culturas
(regional, nacional e internacional) e em diferentes tempos da história.
• Reconhecimento da importância das artes visuais na sociedade e na
vida dos indiví- duos.
• Identificação de produtores em artes visuais como agentes sociais
de diferentes épocas e culturas: aspectos das vidas e alguns produtos
artísticos.
• Pesquisa e frequência junto das fontes vivas (artistas) e obras para
reconhecimento e reflexão sobre a arte presente no entorno.
• Contato frequente, leitura e discussão de textos simples, imagens e
informações orais sobre artistas, suas biografias e suas produções.
• Reconhecimento e valorização social da organização de sistemas
para documentação, preservação e divulgação de bens culturais.
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• Frequência e utilização das fontes de informação e comunicação
artística presentes nas culturas (museus, mostras, exposições, galerias,
ateliês, oficinas).
• Elaboração de registros pessoais para sistematização e assimilação
das experiências com formas visuais, informantes, narradores e fontes de
informação.
6. O poder da imagem para a educação visual
Depois de observarmos o início da Educação e Arte e suas
modificações, destacaremos agora a Educação da Cultura Visual feita pelo
autor Debray (1993), citado por Rossi conta que, certa vez um imperador
chinês pediu ao pintor de sua corte para apagar a cascata que havia pintado
na parede do palácio, porque o ruído da água não o deixava dormir. Parece
que desde sempre, a imagem teve o poder de se impor a nós. Ela nos seduz
por sua própria presença (p.9). Podemos ver ao nosso redor imagens por
toda a parte e com a chegada da tecnologia nas imagens o ser humano
adquiriu mais conhecimento, as crianças se desenvolvem com os
videogames e computadores e aprendem imagens de todos os tipos.
De acordo com Hernández (2011, p.31), em seu texto sobre a posição
entre a cultura visual na educação é uma carência, mas com possibilidade
com limites e fundamentos e epistemologia, politica, metodológicas e
pedagógicas. A partir daí podemos ter a oportunidade de construir, explorar
e avançar na compreensão de como vemos e como somos vistos.
7. As inteligências múltiplas aplicadas à arte visual
Para enfatizar o conceito da imagem na educação visual, pautaremos
este estudo com as inteligências múltiplas de Howard Gardner. Então, o que
são essas inteligências e quem é Gardner?
Há tempos a capacidade intelectual do ser humano tem sido
explorada e indagada de diversas maneiras. Pesquisadores, intelectuais e
cientistas sempre empenhados em desvendar o cerne do raciocínio e os
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
mistérios do pensamento. Mas, como este interesse por esse assunto
começou?
De acordo com a pesquisa apresentada por esse estudo, fomos
levados a nos remeter à cidade de Paris no ano de 1900. Os líderes políticos
preocupados com o desenvolvimento escolar de suas crianças recorreram
ao auxílio do psicólogo Francês chamado Alfred Binet, requisitando algum
tipo de medida que pudesse prever o sucesso e o fracasso dos alunos de
séries iniciais das escolas parisienses.
Não foi de surpreender, rapidamente Binet executou suas faculdades
e criou um teste revolucionário, capaz de descobrir as habilidades verbais
e matemáticas apresentadas no intelecto da criança. Este teste ficou
conhecido como o famoso teste de Q.I (Quociente Inteligência)
O sucesso foi tão grande que logo os americanos se interessaram pela
descoberta de Alfred e ficou sem muita importância para eles até a Primeira
Guerra Mundial. A partir de então, foi amplamente utilizado para mensurar
a capacidade intelectual de mais de um milhão de recrutas do exército
Norte-Americano e tornou-se um sucesso mundial e genuinamente
reconhecido como instrumento científico de pesquisa.
Com o decorrer dos tempos esse teste ganhou novas roupagens e foi
dilacerado em diversas versões. Uma delas chamada Teste de Aptidão
Escolar aplicado para verificar as aptidões verbais e matemáticos de uma
pessoa pode classifica-la ao longo de uma singular dimensão intelectual.
Como a maioria das criações humanas, chega um momento que a
saturação é certa. Os resultados dos testes de Q.I começam a se tornar
insatisfatórios conforme as visões unitárias de inteligência. O que fazer
então se os testes de Q.I não conseguem mensurar as capacidades
intelectuais de uma pessoa por completo?
Na década de 1980, um psicólogo americano chamado Howard
Gardner liderou uma pesquisa com uma equipe de pesquisadores da
Universidade de Harvard, objetivando estudar e delinear o conceito de
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inteligência. Ele afirmou que os testes embasados em psicometria ou
também conhecidos como testes de Q.I não eram suficientes para medir as
faculdades cognitivas humanas. Dessa forma, os aprendizes apresentam
diferentes tipos de desenvolvimento cognitivos. Aquele que apresenta
maiores habilidades matemáticas não necessariamente é mais inteligente
do que aquele que se destaca pelas capacidades linguísticas. Resumindo,
todos têm alguma habilidade que pode ser explorada e descoberta.
Segundo Gardner (1995) seu grupo pesquisou: prodígios, idiotas,
sábios, crianças autistas, crianças com dificuldades de aprendizagem, todos
aqueles que apresentam perfis cognitivos irregulares, entre outros. De
acordo com ele, esses perfis são extremamente difíceis de explicar nos
termos unitários da inteligência.
Logo, Gardner apresenta e elenca, através de suas pesquisas,
habilidades intelectuais, conhecidas também como inteligências múltiplas.
É fato que muitos pesquisadores contestaram suas pesquisas, mas logo a
maioria deles se manifestou a favor de seus ideais.
Dentre estas inteligências, aquela relacionada ao quesito das artes é
a Inteligência Visuoespacial. Logo se expressa pela capacidade de
compreender o mundo visual com precisão, permitindo transformar,
modificar percepções e recriar experiências visuais até mesmo sem
estímulos físicos. É encontrada em pessoas com bom senso de localização,
excelente manuseio com mapas, gráficos e diagramas. As crianças que tem
essa inteligência têm o costume de brincar com amigos imaginários.
Caracteriza-se em arquitetos, navegadores, jogadores de xadrez e
estrategistas. Normalmente não se apresenta em crianças que mostram
dificuldades em se localizar ou em descrever pequenos trajetos e não se
envolvem em matérias como geografia.
Esta inteligência ainda se relaciona com a capacidade de observar o
mundo e os objetos em diferentes perspectivas, em que se destacam os
profissionais de xadrez e artes visuais (pintores, designers, escultores…).
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Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
Pessoas que se destacam nessa inteligência, geralmente têm habilidades
que lhes permitem criar imagens mentais, desenhar e identificar detalhes,
além de um sentimento pessoal de estética. Com essa inteligência
desenvolvida, encontramos pintores, fotógrafos, designers, publicitários,
arquitetos, e outras profissões que exigem criatividade.
8. O Museu e o Aprendizado em Artes Visuais
É louvável esforçar-se para criar novos públicos para os museus. Para
isso é preciso perguntar-nos: que tipo de conhecimento se pretende
favorecer quando fazemos visitas em museus?
Na visita ao museu, diante de quadros é preciso que o professor faça
perguntar aos alunos sobre o que veem. E em seguida os alunos fazerem a
pergunta ao professor sobre o personagem que estão vendo.
A primeira aproximação do aluno a uma obra de arte deve ser de
caráter perceptivo-identificador. Devem estar dirigidos aos conteúdos
temáticos e manifestos da representação na primeira vista a obra. Deve-se
começar pela “observação objetiva”, pois observação é pessoal, subjetiva.
Na verdade, o que se pretendemos são fazer perguntas (formular)
diante das obras de arte vendo a posição estética. Uma verdade que deve
ser identificada pelo aluno. Essa verdade tem muito a ver com o
conhecimento do aluno sobre a obra e também sobre a experiência que tem
sobre estética associada a contemplação da obra.
O que se espera do aluno quando visita um museu e vê uma obra
como de Juan Gris. Quando identifica alguns detalhes como, “um bigode,
um chapéu, uma barba”, quer dizer que o aluno já conhece que tem alguma
compreensão.
A partir destes fragmentos compreender as relações que se
estabelecem em torno ao problema da representação proposta pelos
pintores cubistas, saberá fazer uma relação com as concepções sobre o
espaço e o tempo do referente a proposta artística do pintor.
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
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Seria possível a partir destas observações que os alunos se tornem
capazes de ir além da obra, vislumbrando a realidade e formas de
pensamento que estão fora do quadro, e assim, fazer novas perguntas ao
professor.
É por isso que a orientação do educador é importante para que o aluno
possa aprender o que é arte e a importância de visitar o museu. Uma
pergunta bem formulada pelo professor ajuda o aluno a compreender. É
preciso que o aluno interrogue, que indague e tenha interesse para
continuar aprendendo.
As perguntas devem ser sobre o que acham da obra, interpretá-la e
deve ser falada sobre o que se vê da obra e qual o caminho que se pretende
seguir a partir das perguntas feitas pelo professor como: Para onde vai um
professor que pergunta sobre o Cubismo? O que os alunos pensam quando
ouvem a palavra Cubismo? Será que o educador deve apenas falar do que
veem e sentem e não dizer a eles “os nomes” as definições das obras?
Para entendermos melhor é preciso falar do movimento artístico que
surgiu no século XX e é considerado o mais influente deste período. Com
suas formas geométricas representadas, na maioria das vezes, por cubos e
cilindros, a arte cubista rompeu com os padrões estéticos que primavam
pela perfeição das formas na busca da imagem realista da natureza. A
imagem única e fiel à natureza, tão apreciada pelos europeus desde o
Renascimento, deu lugar a esta nova forma de expressão onde um único
objeto pode ser visto por diferentes ângulos ao mesmo tempo.
Hoje sabemos que as interpretações são importantes. Dialogar com
outras obras e textos.
Então, por que não colocar um quadro de Juan Gris junto com outros
quadros da mesma época que apresentam o problema de representação de
maneira diferente?
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
Os que falariam os visitantes do museu se perguntassem por que
pensam que os artistas mudaram a maneira de representar a realidade com
o cubismo?
Acreditamos que a resposta seria que a representação do mundo
diante da tela mostraria que ele não teria nenhum compromisso com a
aparência real das coisas.
E se fosse dado um texto que fizesse com que refletissem sobre algum
dos aspectos de mudança em que objeto de representação seria a aparência
visual de uma pessoa? O que falaria o educador se fosse perguntado o que
faz pensar sobre eles mesmos a compreensão que estão construindo sobre
o quadro de Juan Gris e o Cubismo? E se levassem a imagem da vida real
ou da publicidade como referência cubismo para construir os anúncios de
um determinado produto?
Com estas perguntas e reflexões podemos perceber que a Educação
das Artes Visuais que não é só identificar, mas que vai além do
conhecimento de cada pessoa de aprender e do essencialíssimo estético.
Desta forma, ficaria mais fácil aprender a partir da imagem e seus contextos
de produção, seus efeitos na construção da identidade nas diferentes visões
do público.
9. Considerações finais
Ao estudarmos este artigo concluímos que a cultura visual irá além
do que vimos com nossos olhos carnais. Pois sabemos que está ligada a
vários fatores inter-relacionados tais como: nosso conhecimento de mundo,
nosso conhecimento cultural, a nossa forma de entender as coisas ao nosso
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Artigo: A Arte Visual na Eucação Escolar
Lima, Edna Nascimento de Aguiar. Págs. 54 -69
redor, entre outros. A interpretação do visual não é só nossa, e sim, dos
elementos que estão ao nosso redor.
Para que haja uma interpretação é necessário que haja empatia, ou
seja, que nos coloquemos também no lugar daquilo que foi criado com arte,
e entendermos a sua essência.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A.M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2 ed. São Paulo: cortez, 2003.
___. A Imagem no Ensino da Arte: anos 80 e Novos Tempos. 5 ed. São
Paulo: perspectiva, 1998.
FRANZ, T.S. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis: letras contemporâneas, 2003.
HERNANDEZ, F. Educação da cultura visual: conceito e contextos,
2011.
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na
escola. 2 eds. Porto alegre: mediação, 2003. (Coleção Educação/Arte) Acesso em 15/11/2014-
http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/cubismo/ http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
A INTERDISCIPLINARIDADE E A MATEMÁTICA: MUDANDO A
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO DIA A DIA
Lucineia Silva Ferreira Domingues ¹
RESUMO
Tudo na vida e no Universo está correlacionado ou tem suas leis expostas
em alguma operação, fórmula ou teorema matemático. A Matemática é uma das principais ferramentas de percepção racional do funcionamento das
coisas, portanto sua aplicação na vida prática é imensa e ilimitada, sendo utilizada desde o processo do despertar, ao se definir os horários para as
obrigações do dia até a hora de dormir. No entanto, a Matemática é considerada hoje, e desde há muito, a disciplina mais impopular por parte
dos alunos. Seu ensino é desinteressante e aborrecido por ser oferecido de forma mecânica e automática, onde a abstração é exagerada em detrimento
de outras formas que respondam melhor às expectativas dos estudantes. A necessidade de câmbios no processo educacional da matéria é sentida por
todos os envolvidos de modo a propiciar um ambiente favorável às pesquisas de novas formas de ensino. Apesar disso, a aplicação se torna
dificultada por diversos fatores entre eles a falta de embasamento dos
profissionais, o que acaba distorcendo as tentativas e finalidades das modificações propostas. Existe uma discrepância brutal entre a função real
da Matemática e a forma como é ensinada e consequentemente aprendida. Não se consegue muitas vezes correlacionar a abstração exigida pela escola
com sua função primordial, ou seja, o raciocínio matemático não consegue ser desenvolvido nos estudantes. Para isto, diversas ferramentas podem
ser utilizadas, sendo a interdisciplinaridade a mais importante.
Palavras chave: Ensino da Matemática, Interdisciplinaridade, Importância da Matemática.
1. Introdução
Desde a muito sofre a matemática de impopularidade sendo
considerada como a disciplina menos interessante dentre todas as
oferecidas na formação obrigatória por parte dos alunos, tanto no nível
básico como no médio.
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
O ensino desta matéria costuma ser efetuado de uma maneira
extremamente mecânica e fixa, baseando-se em números e fórmulas em
detrimento de valorizar o processo filosófico do raciocínio que deve estar
sempre por detrás de todo conhecimento estabelecido.
Assim, o construtivismo, que vem a ser a mola propulsora do ensino
moderno ao considerar o aluno como parte ativa do modelo educacional,
deve ser considerado de maneira plena pela capacidade de permitir não
simplesmente a transmissão de um conhecimento por parte do agente ativo
ao aluno como agente passivo e sim dar-lhe a oportunidade de ser o
responsável maior por sua educação tendo o professor como organizador
do processo.
A necessidade por mudanças no modelo de ensino é sentida por todos
os profissionais da área pela frustração por parte dos professores e
insatisfação por parte dos alunos, gerando um quadro de baixo
aproveitamento do conteúdo necessário para a formação do ser.
No entanto, há uma dificuldade na atualização dos profissionais que
não conseguem muitas vezes se embasar em fontes seguras para nortear
sua reciclagem, de modo que se sentem perdidos e abandonados. Apesar
disso, grandes opções estão disponíveis para orientar o profissional
devendo este selecionar quais são as que melhor funcionam para ele e para
seu ambiente.
Sob o novo esquema educacional, o conhecimento mais valorizado é
aquele obtido de modo a permitir a correlação do ensino com o meio do
aluno, ou seja, é necessário hoje que o estudante possa processar a
informação de maneira que se possa estabelecer paralelos para os mais
diversos campos da vida do mesmo.
Assim, o profissional deve estar preparado para ele mesmo,
reconhecer seus próprios parâmetros visando a percepção e
reconhecimento do mesmo processo nos seus alunos, sendo assim, torna-
se essencial que ele possa direcionar suas aulas de modo mais abrangente
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Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
e relativo para abarcar o máximo de possibilidades que for possível para a
consecução dos interesses pedagógicos.
A estimulação da percepção de todas as relações existentes entre o
meio e a matemática, deve sempre ser uma meta a ser buscada e atingida
pois assim, e somente assim, esta disciplina será verdadeiramente
conhecida e compreendida.
Desde que se considere que tudo na natureza, tanto física quanto a
humana é permeada de conceitos matemáticos puros ou aplicados, torna-
se razoável a exploração destas mesmas relações em sala de aula, ou fora
dela, visando a estruturação do raciocínio matemático nos alunos.
Diversas são as ferramentas a serem discutidas e mostradas suas
vantagens e aplicações no processo educacional, destacando-se a arte e a
história da matemática como fontes primordiais de reciclagem da disciplina
em aula. Também é importante a utilização, sempre que possível da
multidisciplinaridade como artifício de exploração das ligações entre a
matemática e todo o resto.
Este trabalho visa o estudo do estudo da matemática no cotidiano, a
exploração deste conceito na educação e as melhores formas de estabelecer
as pontes capazes de capacitar os alunos a construírem em suas mentes
estes novos conceitos.
A parte inicial trata do ensino da matemática hoje, seus problemas
mais comuns, causas das dificuldades apresentadas tanto por parte dos
alunos como dos educadores. Tenta-se identificar as questões
problemáticas como forma de estabelecimento de parâmetros marcadores
do processo de mudanças, mostrando os padrões da importância da
matemática na vida diária e cotidiana por meio da detecção dos pontos de
ligação entre a realidade prática e a matemática pura. Este processo
permite a proposição de modelos educacionais que permitam ao aluno
construir seus próprios conceitos matemáticos e vivenciá-los em sua vida
prática.
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
2. A Interdisciplinaridade e sua Importância para o Ensino de
Matemática
Santos Filho (1999) explica que o termo interdisciplinaridade significa
uma relação de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser
assumida rente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de
uma concepção fragmentária para uma concepção unitária de ser humano.
Esta é uma preocupação inerente ao processo pedagógico desde os tempos
da Grécia Antiga, nas ideias de Platão e Aristóteles, sendo que se pode
perceber, ao longo da História, um embate entre os dois extremos da
questão, ou a idealização de um saber unitário, global por meio da
unificação da ciência ou a fragmentação e compartimentalização das
disciplinas do conhecimento.
Certos pressupostos são claros quando se estuda a
interdisciplinaridade sendo estes fatores determinantes ao sucesso de sua
aplicação. Gallo (2000) cita que entre os pressupostos existe a necessidade
de uma atitude de abertura, não preconceituosa, onde todo o conhecimento
é igualmente importante, onde o conhecimento individual anula-se frente
ao saber universal. Outro pressuposto citado por Gallo (2000) seria a
necessidade de uma atitude coerente, sendo que é na opinião crítica do
outro que se fundamenta a opinião particular, supondo uma postura única,
engajada e comprometida frente aos fatos da realidade educacional e
pedagógica.
Ferreira (1993) explica que a ação pedagógica de efetivação da
interdisciplinaridade se dá pelo desenvolvimento da sensibilidade, de uma
formação adequada e necessária na arte de entender e esperar, e no
desenvolvimento da criação e imaginação, ou seja, existe uma divisão de
terminologias que serviria para resolver questões epistemológicas dentro
do conceito de interdisciplinaridade composta por cinco conceitos distintos.
A disciplina seria definida como um conjunto específico de conhecimentos
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
com suas próprias características sobre o plano do ensino, das formações
dos mecanismos, dos métodos e das matérias. Kamii (1992) cita que a
multidisciplina poderia ser definida como a justaposição de disciplinas
diversas, desprovidas de relação aparente entre elas como por exemplo a
Matemática somada à Música e à História.
Outro conceito integrante do tema seria a pluridisciplina, Que Ferreira
(1993) define como a justaposição de disciplinas mais ou menos vizinhas
nos domínios do conhecimento sendo um exemplo a Matemática e a Física.
A interdisciplina poderia ser definida como interação existente entre duas
ou mais disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de ideias
à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da
terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da
organização referentes ao ensino e à pesquisa. Ferreira (1993) explica,
ainda, que é a composição de um grupo interdisciplinar de pessoas que
receberam sua formação em diferentes domínios do conhecimento
(disciplinas) com seus métodos, conceitos, dados e termos próprios,
concluindo que a transdisciplina seria resultado de uma premissa comum a
um conjunto de disciplinas como, por exemplo, a Matemática encarada
como o cálculo do Universo.
No entanto, Japiassú (1976) cita que estes conceitos não são fixos ou
determinados, havendo uma gradação relativa de acordo com o grau de
cooperação e coordenação entre as disciplinas.
A interdisciplinaridade não pode ser considerada uma ciência, mas
simplesmente um enfoque distinto, que Japiassú (1976) define como algo
que vise uma maior compreensão do tema adotado por meio da troca
colaborativa entre disciplinas, especialistas e temas visando à integração
real da realidade como um todo.
Outra questão importante da interdisciplinaridade é que esta não se
limita a ser simplesmente uma troca, mas uma criadora e estimuladora de
novos pontos de vista ou de discussões por meio do crescimento mútuo e
apoiada em bases múltiplas.
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Sendo assim, Santos Filho (1999) conclui que podemos considerá-la
como, verdadeiramente necessária no plano histórico e epistemológico do
processo de ensino, quando bem direcionada e conduzida de modo a
permitir a compreensão do todo pelo enfoque diferencial e ao mesmo tempo
conjunto de suas partes.
No entanto, o processo interdisciplinar tem sido conduzido de maneira
muitas vezes equivocada, Gallo (2000) explica que esse processo
interdisciplinar tem gerado um quadro inverso, em que ocorre
simplesmente uma justaposição de especialidades distintas e sem nexo
entre si, o que induz à superficialidade e sem o aprofundamento suficiente.
A recuperação da totalidade não implica na soma simplificada de suas
partes e sim, explicitar em um objeto todas as nuances e percepções
existentes sobre ele, de acordo com distintos enfoques, capazes de romper
com a visão simplificada do mesmo e permitir o estudo tridimensional do
objeto. Ferreira (1993) aponta que ora, a interdisciplinaridade é vista como
uma chave de percepção do mundo externo, portanto não deve ser atada a
ambientes educacionais, pois deve fazer parte da maneira de pensar e
sentir de todas as pessoas em todas as formas de contato com o mundo
que as rodeia.
A Matemática, como ciência, é multidisciplinar, pois não tem um fim
em si mesma, ou seja, serve como meio para o entendimento do mundo.
A Matemática é o meio, ou melhor, a linguagem que a ciência
necessita para tornar suas teorias sintéticas e universais, sendo construída,
a partir de Newton, uma grande evolução dos cálculos matemáticos
permitindo aos físicos resumir, em pequenas equações, teorias bastante
complexas.
Nas disciplinas biológicas, como a própria Biologia, a Veterinária e a
Medicina são utilizados, de acordo com Kamii (1992), diversos conceitos
matemáticos, principalmente, os correlacionados com a estatística e a
determinação de padrões.
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
Desde a mais tenra infância pode-se perceber a Matemática como
forma de representação do mundo real, quando a criança aponta seus dedos
para demonstrar sua idade, por exemplo, ou quando esta junta seus
brinquedos formando conjuntos numéricos. Posteriormente, no entanto,
quando do ingresso ao processo educacional, ocorre um fracionamento
desta capacidade de percepção pelo aparecimento de dificuldades abstratas
que impede, a estas crianças e jovens, de correlacionar letras e números,
ou seja, não perceber a conexão da Matemática com todo o resto.
Nunca é demais frisar a necessidade urgente de se ultrapassar o
conceito de matemática como algo mecânico e fixo, formado por fórmulas
e números somente. Todo invento, todo raciocínio criado, todo teorema está
inserido em um contexto social seja qual for. Catunda (1990) acredita que
a necessidade pelo qual o novo procedimento foi criado, seja suas
consequências, seja ainda como este surgiu, todos estes processos fazem
parte da história da matemática.
O estudo da História da Matemática destaca as linhas de pensamento
tomadas para a consecução da descoberta, achado ou surgimento de um
processo. Esta linha de pensamento é a racionalização da matemática
destacando o raciocínio que o originou.
Educacionalmente, um grande avanço na construção do pensamento
matemático por meio do fortalecimento do raciocínio pode ser obtido
quando se desloca o conteúdo programático geralmente apresentado de
modo fixo e mecânico para uma maneira mais dinâmica e completa. Kamii
(1992) mostra que sempre haverá dificuldade em se compreender a
matemática sem esta ferramenta, ao mesmo tempo, este procedimento
torna a matéria mais atrativa e interessante, facilitando em larga escala o
processo educacional.
Existem várias maneiras de se inserir em uma aula conceitos da
História de um tópico da disciplina de Matemática, de acordo com o enfoque
que se queira dar ao assunto. Pode se destacar uma biografia de alguém
importante para o tema, de modo que se possa visualizar a vida desta
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pessoa e, consequentemente, enfocar suas contribuições para o mundo do
raciocínio, suas motivações, o processo gerador e ativador do surgimento
de algo novo e criativo.
Outra maneira de se considerar a aplicação da História no ensino da
Matemática é o estudo das consequências do fenômeno matemático a se
estudar. Gallo (2000) pontua que a partir do momento que se permite o
estudo das causas, como se deu tal processo, quais as implicações de tal
tema para o mundo atual, descortina-se um panorama capaz de pontualizar
o aluno para a importância de tal informação, de modo que este poderá
depois compreender os temas subsequentes influenciados pelo
originalmente estudado de modo muito mais simples.
A busca pelo sentido do estudo da Matemática é a principal
contribuição da interdisciplinaridade reinante no ensino da História da
Matemática em sala de aula e fora dela.
Inicialmente deve haver a atribuição de nomes e datas às noções e
teoremas apresentados aos alunos, sendo também importante
correlacionar a evolução de povos à construção de propriedades
matemáticas, como a invenção dos numerais surgiu na Índia e sua
contribuição para o desenvolvimento daquele país, como o Antigo Egito
utilizou os conceitos matemáticos para os trabalhos de agrimensura e sua
importância na economia, como os gregos avançaram sobremaneira nos
conceitos de geometria, área geralmente abstrata de difícil ensino, como
eles pensavam e agiam pode permitir aos alunos compreenderem as razões
desta maneira de pensar e aplicar a Matemática.
Figueiredo & Pietrocola (1997) aponta o ensino da Física como um
ótimo exemplo de como, em um grau ligeiramente mais avançado, pode-se
utilizar outras disciplinas no processo de construção dos padrões mentais
matemáticos.
Inicialmente, deve-se ter em mente e passar para os alunos que o
trabalho científico que move a Física não se baseia inicialmente em
conceitos de cálculo, mas em novas concepções, como as diversas leis
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existentes, tais como as de Newton ou de Ohm, sendo a utilização da
Matemática visando à síntese e a universalidade destas concepções e leis.
Experimentos em Física são excelentes para a construção da ideia de
grandezas que posteriormente farão parte de uma fórmula. Figueiredo &
Pietrocola (1997) citam, como exemplo, o brincar com um sistema de
pêndulo distribuidor de força com certeza gerará em alguns alunos reflexões
sobre o comprimento do fio, massa do corpo e o tempo de oscilação, assim
como a transmissão de energia, o refreamento temporal entre outros.
A matemática, como já anteriormente frisado neste trabalho, é a
expressão teórica e exata do mundo que nos rodeia. Tudo no Universo pode
ser demonstrado por alguma expressão matemática, todas as coisas podem
ser encaixadas em cálculos para que sua racionalidade seja explicitada.
Catunda (1997) pontua que desde as formas da Natureza aos pensamentos
humanos, todos os eventos são passíveis de sofrerem cálculos de
probabilidade.
Sendo assim, nada mais óbvio que a arte seja encarada sob o ponto
de vista da Matemática. Barbosa (1996) explica que ritmos musicais, por
exemplo, são simplesmente um conjunto de pesos numéricos distintos que
quando agrupados geram um conjunto agradável ou familiar aos ouvidos
de uma população. Podemos comprovar que o padrão de reconhecimento e
familiaridade com um ritmo, ou um padrão numérico como será tratado de
agora em diante, não é intrínseco ou universal, sendo necessária a presença
de um processo cognitivo de construção de familiaridade com certo padrão.
A arquitetura, assim como diversas artes pictóricas ou decorativas,
usa e abusa das formas geométricas há milhares de anos, desenvolvendo
paulatinamente o conceito estético de sua utilização nas artes. Os antigos
povos habitantes da região, hoje conhecida como Oriente Médio como, por
exemplo, os babilônicos e os persas e os antigos povos habitantes da Índia
foram os máximos criadores dos conceitos matemáticos e geométricos,
sendo natural, portanto, que os povos originários dos mesmos sejam os
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
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mais habilitados para sua utilização, graças à familiaridade histórica com o
ambiente geométrico matemático.
Barbosa (1997) explica que a expressão artística de um quadro não
importa de que época artística for, desde a representação clássica às obras
pós-modernas que fogem de paralelismos com o mundo real, em diversos
caracteres como escolha das cores, padrões utilizados, posicionamento
entre outros, está regulada por fórmulas matemáticas capazes de definir
muito das verdadeiras qualidades da obra.
Mesmo um poema, com toda sua lírica, um texto com toda paixão,
fúria e emoção seguem regras de construção que se baseiam no universo
matemático. A situação das rimas, dos vocábulos tônica e átona, a posição
das palavras no texto, obedece a padrões matemáticos de ideal que, em
boa parte, determinam o sucesso ou não da poesia.
Até a própria dança e o posicionamento corporal do teatro servem
como exemplos de correlação entre a arte e a Matemática, quando estes se
utilizam de fundamentos temporais, espaciais e cinéticos para a construção
de si próprios.
Barbosa (1997) esclarece que o pensamento estético pode ser
definido como uma das formas com que o indivíduo buscou não somente
responder a questões do mundo que o cercava, mas também de seu próprio
mundo interno de acordo com a afinidade com o desejo do equilíbrio, a
equidade e na simetria, visando à criação de algo tangível e agradável aos
seus sentidos, estendendo-se a todos os panoramas humanos passíveis de
formar alguma forma de conhecimento.
Assim também foi construído o princípio Matemático no homem,
servindo ambas como ferramentas de apoio e aplicabilidade recíprocas.
Kamii (1992) explica que muitos pontos de correlação podem ser
explorados para o estudo de ambas as áreas em paralelo no sentido de
ampliar os horizontes educacionais da Matemática como ferramenta
essencial de compreensão do universo no mundo de hoje.
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
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Barbosa (1996) esclarece que uma maneira de aproximar os jovens
alunos à Matemática de forma que se construa uma ponte eficaz de
interesse e assimilação é o trabalho paralelo do ensino dos mais variados
temas com formas artísticas distintas de maneira prazerosa, crítica e
criativa, de modo a propiciar ao aluno a experiência de tentar fazê-lo captar
a matemática por trás da arte.
A partir do momento que este objetivo é conseguido, uma nova porta
se abre para o mesmo no sentido de capacitar-lhe a fazer o mesmo com
todo o mais em relação à sua vida prática.
3. A Importância na Vida Diária da Tecnologia e da Matemática
O mundo digital de hoje, onde somos totalmente dependentes de
computadores, somente se tornou possível graças aos avanços da
Matemática. Todos os programas operacionais se baseiam em números e
cálculos para o estabelecimento de todos os parâmetros necessários para
sua operabilidade. A cada dia que passa, inclusive, nos tornamos mais
dependentes da informática, no estudo geral de todas as ciências, que
passam a ter muitas reações simuladas por Catunda (1990) revela que
desde a reação gerada pelo choque de duas estrelas como o modelo de
funcionamento de uma proteína, a Matemática se mostra atuante no
sentido de permitir ao ser humano um contato mais profundo com o que
observa e interage.
Parece inegável que o ser humano sempre teve curiosidade em
desvendar o mundo que o rodeia, seja por meio do estudo de efeitos
naturais, seja a tentativa em perceber seu estado emocional interior. Sendo
assim, Gallo (2000) postula que é natural a curiosidade do aluno em
estabelecer um contato mais íntimo com a tecnologia que a vida atual é
capaz de oferecer, afirmando que conhecer como são feitas e como
funcionam os engenhos utilizados são questões dignas de serem estudadas
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
pelos alunos, servindo como ferramentas para o aprendizado de certos
conceitos matemáticos.
A tecnologia não somente pode instigar o aluno a se interessar por
caracteres modernos da influência da Matemática no dia a dia, servindo
como uma ponte para seu estudo, como também permitir o estudo mais
dinâmico da disciplina. Além disso, Kamii (1992) explica que a sociedade,
como estrutura mutável, passa por mudanças características que permitem
o fluxo constante de informações em velocidades próximas da
simultaneidade.
Kuenzer (2000) considera a Internet, chave capaz de albergar o
melhor e o pior do mundo, pode abrir inimagináveis portas para o saber
matemático, de acordo com o conhecimento e a orientação do professor,
podendo transportar os alunos para mundos e perspectivas jamais
sonhados de modo a complementar e explicar o envolvimento matemático
na vida prática de todos.
Por meio de softwares, Kuenzer (2000) declara que se pode avançar
muito na maneira como o ensino matemático pode ocorrer, de modo a
tornar a matéria mais palpável para o aluno. Geometria e Funções são
temas da Matemática onde a aplicação da tecnologia informática pode
auxiliar sobremaneira seu estudo e aprendizado.
Além disso, a interdisciplinaridade também pode explorar de quase
infinitas maneiras as possibilidades eletrônicas para tentar produzir nas
jovens reações de criação de pontes para o raciocínio matemático. A
Química para o estudo da Matemática, por exemplo, pode ilustrar o
posicionamento molecular por meio das regras Matemáticas, a Biologia
pode explorar o crescimento populacional baseado em modelos
matemáticos reais que permitiriam aos alunos a visualização de todo o
processo. A Física, de acordo com Gallo (2000), pode estimular o
aprendizado de conceitos matemáticos por meio da simulação da aplicação
das suas leis baixo as égides Matemáticas, Já a Música pode se utilizar da
computação para transmitir conceitos matemáticos de composição e escrita
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
musical, o que com certeza é de grande valia no estudo da Matemática
cotidiana.
Desde o momento de acordar uma pessoa está permeada por fatores
matemáticos. Dante (1989) justifica que ao olhar no relógio, calcular seu
tempo disponível até suas obrigações, vestir-se, ir ao trabalho ou à escola,
o aluno, ou quem quer que seja, está pondo em prática conceitos
matemáticos que ele já absorveu por colocá-los seguidamente em atividade
e de maneira rotineira.
Mesmo seu lazer poderia ser classificado quase que totalmente como
Matemática Aplicada, pois em um jogo ao ar livre, por exemplo, amplas
aplicações de formas geométricas ocorrem; já um videojogo quase sempre
apresenta dificuldades de cálculos de distâncias, geometrias, potências
puramente Matemáticas, de modo que as percepções Matemáticas são
inculcadas na mente do jovem sem que este as perceba.
O próprio ensino matemático faz parte do cotidiano do aluno, de modo
que pode e deve haver um estímulo constante do uso de chaves
extraescolares para a construção do processo educacional. Dante (1989)
cita que um exemplo seria o estudo da economia doméstica por parte dos
alunos. Todos eles compram pequenas coisas, emprestam, muitas vezes
até mesmo financiam ou acumulam pequenas quantidades de dinheiro. Este
processo pode ser utilizado pelos professores no estudo de cálculos básicos
e mais complexos.
Santos Filho (1999) aponta que a alfabetização Matemática, no
entanto, é falha no sentido de não permitir que o jovem estabeleça
justamente estas formas de conexão, ou seja, não há uma preocupação
com a construção de uma ponte Matemática que direcione o aluno ao
estabelecimento de uma capacidade de correlacionar os mais diversos
processos à sua representação exata.
É inegável que uma pessoa que prescinda de conhecimentos
matemáticos pode chegar a se tornar realizado em algum domínio do
conhecimento, como nas artes, na mídia, na dramaturgia. Porém, Nietzsche
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
(1981) esclarece que se seu raciocínio matemático não for desenvolvido,
ocorrerá um estreitamento de seus horizontes culturais, ou seja, a situação
correlata pode ser aplicada à situação inversa, alguém possuidor de grandes
capacidades de raciocínio matemático, porém pobre em conhecimentos
humanísticos, com certeza, também terá seus horizontes culturais mais
empobrecidos.
O enfoque curricular da Matemática, no entanto, muitas vezes não
abrange esta parte humanística, pela dificuldade do sistema educacional
antigo em considerar o aluno como participante ativo do processo
educacional.
Dante (1989) pontua que a partir do momento em que se torna
possível a consideração do estudante como imbuído de uma capacidade
ativa de aprendizado, sente-se a necessidade de câmbios capazes de
correlacionar a Matemática com a vida prática do aluno. No entanto, a
diversidade de atividades, opiniões, processos psicológicos e predisposições
para o futuro, impedem a escola de definir trajetórias determinadas e
demasiadamente segmentadas.
A Geometria, especificamente tem muitas contribuições para a
estruturação do ser como pleno, capaz de vitalizá-lo com capacidades
ímpares de reconhecimento espacial, compreensão, descrição e inter-
relação com o espaço em que vivemos. Catunda (1990) explica que, além
disso, a Geometria permite o desenvolvimento do pensamento geométrico,
base importante para a resolução de situações onde haja estruturas
geométricas como estudo de áreas, volumes e faces.
Pode-se apreender diversas influências da Geometria na vida
cotidiana de uma pessoa. Sempre que houver algum conceito relacionado
à forma, paralelismo, semelhança, proporcionalidade, medição, simetria,
independente de como e onde seja utilizado, na escola, na vida laboral, no
lazer, estar-se-á lidando com a Geometria.
Catunda (1990) explica que a Geometria na escola é útil não somente
para o aprendizado da Matemática como também em diversas outras
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
disciplinas como Português, Química, Física, Geografia e Biologia, dando
oportunidades e ferramentas para a compreensão destas outras matérias.
Sem o aprendizado de conceitos geométricos, os alunos seriam incapazes
de compreender a estrutura de uma célula, a conformação espacial de uma
molécula, o comportamento de muitas leis da Física, assim como a
imaginação e a abstração presentes em muitos textos da nossa Língua
Portuguesa.
É importante salientar que Santos Filho (1999) justifica que as
diversas formas de interdisciplinaridade anteriormente discutidas permitem
observar as mais distintas maneiras de construção de formas de
pensamento que permitam o estudo da Matemática em sua forma mais
integral e próxima do ideal pela possibilidade do entendimento pleno entre
a realidade do aluno e a abstração Matemática apresentada normalmente
em sala de aula.
Hoje, como visto nos problemas do ensino da Matemática, tem-se
uma série de temas desconexos formando o panorama de estudo da
disciplina em questão. Iezzi (1994) explica que esse panorama de estudo
da disciplina em questão nos leva à um modo que não há a possibilidade
dos alunos perceberem a beleza e a singeleza do raciocínio matemático.
Deve-se propiciar aos alunos o conceito de que o pensamento
matemático deriva de bases anteriormente definidas, que por sua vez
permitirão a formação de novas estruturas ainda mais complexas e
superioras. Dante (1989) explica que, a partir do momento que isto é
conseguido, aliado à capacidade do professor de interligar o ensino dos
diversos temas de acordo com uma corrente semicontínua, o aluno pode
perceber como funciona o processo de construção de conceitos
matemáticos, permitindo ao mesmo até o reconhecimento de erros
apresentados por fugirem dos padrões. Isto somente é possível porque o
mesmo tem a capacidade de se utilizar das bases anteriores já fixadas, sem
a perda dos conceitos, uma das maiores reclamações dos profissionais do
ensino.
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
4. Considerações finais
A Matemática é a codificação racional do lirismo que impregna a
Natureza e suas leis, contando em seu bojo com todas as formas de
manifestação da sociedade humana. Todo o intrincado mecanismo que rege
os mais diversos sistemas naturais somente pode ser compreendido em sua
totalidade através da utilização do raciocínio matemático por parte dos
homens. Assim, seu aprendizado se torna condição essencial para que estes
possam interagir melhor com toda a forma de realidade que os rodeia.
No entanto, a problematização do seu ensino se revela como uma das
maiores questões educacionais da atualidade no sentido de ser esta a
disciplina onde os níveis de aproveitamento são os mais baixos entre todas
as disciplinas continentes da grade curricular. Este é o maior paradoxo
relacionado ao ensino da Matemática, que com toda sua importância e
amplitude não consegue atingir os corações e mentes dos alunos, que têm
a necessidade de absorver o máximo do mundo que puderem para poder
conservá-lo e melhorá-lo como agentes ativos do progresso.
Realmente a Matemática necessita ter seu processo educacional
modificado, visando a obtenção de formas mais objetivas e essenciais de
ensino. Os alunos não devem continuar sendo bombardeados por
informações que soam como vazias para suas ânsias de realidade típicas da
idade em que se encontram.
Os modelos educacionais vigentes se mostraram vazios no sentido de
proporcionar aos estudantes, sistemas capazes de fazer-lhes evidenciar a
verdadeira importância da Matemática em suas vidas diárias, tanto no
passado quanto no presente e no futuro.
A problematização do ensino matemático se deve principalmente ao
fato de que não existe basicamente hoje, apesar da quase universal
compreensão da necessidade por mudanças, outro sistema sendo aplicado
nas escolas, principalmente públicas, de outras formas de ensino que não
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
seja a resolução de problemas, que se tem diversas vantagens quando bem
administrado, cai no olvido quando, além de se encontrar isolado, ainda
deixa de ser fundamentado por uma continuidade do processo, o que na
grande maioria não ocorre pela extensão da grade curricular, formada como
um agrupamento de vários temas soltos.
Como uma forma essencial da construção de um bom sistema
educacional, propõe-se a interdisciplinaridade como ferramenta atuante na
formação da ideia matemática nos alunos. Com sua capacidade de
correlacionar pontos de vista e ângulos de entendimentos diversos sobre
um mesmo tema, abre-se um campo de visão fantástico que faz com que o
aluno possa observar a realidade como se vista de cima, fazendo com que
este possa ampliar seu modo de visão de tal modo que consiga captar, da
maneira que lhe for mais própria, o melhor modo de aprender a Matemática.
O estudo da História, por exemplo, permite a contextualização dos
temas a serem estudados nas aulas de Matemática, assim como as Artes
em geral conceituam o aluno para como as formas geométricas ou de
cálculo permeiam as construções da espécie humana.
A Biologia, a Física, a Química, todas são ferramentas muito
importantes para, através da interdisciplinaridade, o ensino da Matemática.
Outra forma a ser efetivamente considerada no estudo matemático é
o reconhecimento em sala de aula dos pontos de ligação entre a Matemática
e o processo psicológico do jogo. O ensino da Matemática através de
brincadeiras, além de ampliarem a motivação dos jovens a níveis
necessários para a consecução das propostas de aprendizado, ainda faz com
que estes tenham em mãos o modelo psicológico ideal para a idealização
do processo de desenvolvimento matemático.
A utilização de tecnologias visando o desenvolvimento do raciocínio
matemático é imprescindível atualmente. Os alunos têm acesso constante
às novas fontes tecnológicas, que podem ser exploradas constantemente
como softwares educacionais que mostrem em terceira dimensão os
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
Domingues, Lucineia Silva Ferreira. Págs. 70 -88
processos geométricos e mesmo as construções aritméticas, além das
demonstrações interdisciplinares e suas correlações com a Matemática.
Assim, um amplo panorama de modificações pode ser proposto,
partindo da figura do professor o impulso inicial para um novo modelo
educacional desta disciplina. No entanto, não basta que estas proposições
e estudos se percam na base teórica, devendo ser fundamentados através
de amplos esforços que visem a formação intrínseca deste profissional, ou
seja, antes que ele possa construir nos outros, ele deve ter estas estruturas
muito bem estruturadas dentro de si mesmo.
REFERÊNCIAS
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1996.
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Geometria. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1990.
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FAZENDA, Ivani. Práticas Interdisciplinares na Escola. 2. ed. São
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KUENZER, Acácia Z. Educação, linguagens e tecnologias: as mudanças no
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Artigo: A Interdisciplinaridade e a Matemática: Mudando a Educação Matemática do Dia a Dia
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Cultura, linguagem e subjetividade no ensinar e aprender. Rio de
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SANTOS FILHO, José Camilo dos. A Interdisciplinaridade na Universidade: Perspectiva Histórica. Revista Educação Brasileira, v. 21, n. 43, p. 11-
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
O AUTISMO E O PROCESSO DE INCLUSÃO
Márcia Maria Painado
RESUMO
O conceito de inclusão é explorado em diferentes contextos e situações. No
âmbito da educação ganha especial relevância uma vez que surge num
contexto favorável à criação de cidadãos responsáveis, críticos e solidários.
Nas escolas é comum existirem alunos com particularidades diferentes em
que se encontram em diferentes níveis de aprendizagem e dificuldades. Os
métodos de ensino utilizados nem sempre são os mais adequados para
atingir todos os alunos. Neste trabalho explora-se a inclusão de alunos com
TEA (transtorno do Espectro Autista) nas escolas da rede comum, bem
como as dificuldades encontradas e o favorecimento que um processo de
inclusão pode proporcionar. O tema TEA, ainda é pouco conhecido por
profissionais da área da educação, bem como, por demais profissionais que
tem a responsabilidade de lidar com o transtorno. Porém é um tema que
vem surgindo com maior frequência e que atualmente, devido à crescente
demanda de alunos com autismo inseridos em ambiente escolar regular,
tem se despertado o interesse de uma busca de maior conhecimento do que
é o Autismo, como se deve realizar a educação deste aluno e até mesmo
quais métodos de ensino são mais eficazes para desenvolvimento da
aprendizagem e interação dessas crianças.
Palavras-chave: TEA (Transtorno do Espectro Autista), Métodos de
Ensino, Inclusão.
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
10. Introdução
O processo de inclusão escolar tem como objetivo inserir, sem distinção,
todas as crianças com variados graus de comprometimento, sejam eles de
caráter social ou cognitivo em ambientes escolares, com intuito de diminuir
o preconceito e estimular a socialização das pessoas com desenvolvimento
atípico para que desfrutem dos espaços e ambientes comunitários. O
professor, como agente mediador desse processo de inclusão, ao se deparar
com a criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e com o cenário
que ela compõe, levanta-se a hipótese de que os professores possam não
estar aptos para suprir as necessidades expressas pelo aluno com autismo,
suas próprias dificuldades a fim de supri-las frente a este desafio.
O direito de acesso ao ensino é um exercício de cidadania. O cidadão
independente de sua condição física, psicológica, moral, econômica e social
tem o direito assegurado pelo Decreto nº 6.094/2007, de usufruir os
espaços municipais, estaduais, e federais de educação. Contudo, a
existência desse conjunto de leis, que atuam como agentes reguladores que
garantem o acesso de pessoas com autismo e outras deficiências à
educação, não assegura que os educadores saibam auxilia-los no seu
processo educativo.
O Transtorno de Espectro Autista – TEA, ou autismo, é um problema de
ordem mental irreversível, caracterizado por dificuldades na comunicação,
em interesses obsessivos e comportamentos repetitivos, que tem início na
infância e se prolonga por toda a vida do indivíduo.
A origem do autismo ainda é desconhecida, muitas pesquisas e estudos
vem sido realizadas em relação a origem e descobertas pertinentes a uma
provável cura, embora se saiba que existem 50% de chances de uma
criança desenvolver o autismo por herança genética. O autista requer
atenção constante devido a tríade de dificuldades que se apresenta nesses
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
indivíduos e, com esse objetivo, passou a vigorar uma Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno de Espectro Autista,
através da Lei n° 12.764, dispondo que os autistas devem ser considerados
como pessoas com deficiência.
11. Perspectiva Histórica
O Transtorno do Espectro Autista teve sua descoberta há pouco tempo
na história das psicopatologias do desenvolvimento humano. Inicialmente
foi considerado pelo psicanalista Bruno Bettelheim, como uma doença
relacional, onde se acreditava que as crianças se tornavam autistas devido
a pouco relacionamento das mães com seus filhos, originando a expressão
“mãe geladeira”, e sua causa associada a fatores ambientais. Porém, na
atualidade, considera se o autismo como de ordem multifatorial, com
etiologias variadas e de origem neurológica (MOREIRA, 2005). Orrú (2012),
apresenta o estudo do psiquiatra austríaco, Leo Kanner, que publicou, em
1943, o artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo. Neste
artigo, ele descreveu os casos de onze crianças com quadro de autismo
severo, marcado por características de ecolalias, estereotipias e
obsessividade, bem marcantes.
Kanner descobriu que esse distúrbio afeta a interação da criança com
seu ambiente e com pessoas desde a primeira infância. Os traços
apresentados pelo grupo de crianças observado por Kanner eram, de acordo
com Orrú:
...Incapacidade para estabelecer relações com as pessoas, um vasto
conjunto de atrasos e alterações na aquisição e no uso da linguagem
e uma obsessão em manter o ambiente intacto, acompanhada da
tendência a repetir uma sequência limitada de atividades
ritualizadas. (2012, p. 19).
Seu estudo apontou para uma pesquisa de observação, que
acompanha a criança desde o nascimento: não ter ou manter contato com
o ambiente em que ela está inserida, não apresentar alterações na
expressão facial diante de estímulos advindos do ambiente, dificuldade ou
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
problemas na aquisição e desenvolvimento da fala, não manter contato
visual, tendência a ignorar o que lhe é perguntado, alimentação seletiva,
comportamento repetitivo, criação e manutenção de rotinas, sensibilidade
aguçada, para mais ou para menos, dos sentidos, ser suscetível a crises
ansiosas diante de mudanças ou alterações bruscas de rotinas. Cunha
(2012), comenta que Kanner apropria-se do termo autismo pelo psiquiatra
suíço Bleuler, empregado pela primeira vez em 1911, cuja finalidade era
descrever a fuga da realidade e o retraimento interior dos pacientes
acometidos de esquizofrenia. Segundo Cunha (2012, p. 20), “o termo
‘autismo’ deriva do grego ‘autos’, que significa ‘por si mesmo’ e, ‘ismo’,
condição, tendência”.
Todas as crianças observadas pelo psiquiatra austríaco apresentavam as
características de isolamento, igualmente demonstrada pelos
esquizofrênicos, dando a impressão de que eles viviam um mundo
particular, presos a si mesmo. Porém, o diferencial era que no autismo esta
condição já estava presente desde tenra idade.
12. Diagnóstico para TEA (transtorno do Espectro Autista)
Para se realizar o diagnóstico do TEA, faz-se necessário avaliar o caso
individualmente por uma equipe multidisciplinar capacitada, pois é uma
tarefa difícil de ser realizada por não haver um exame clínico como o de
sangue, que o identifique. Petersen & Wainer discorre que:
... Para identificar os critérios diagnósticos para o autismo é preciso
possuir experiência e especialização, pois eles apresentam um alto
grau de especificidade e sensibilidade em grupos de diversas faixas
etárias e entre indivíduos com habilidades cognitivas e de linguagem
variadas (2011, p. 87)
O diagnóstico é realizado baseando-se na tríade autista, ou seja,
contempla as áreas da interação social, comunicação e comportamentos
restritos, através de descarte de hipóteses, não sendo exames clínicos e
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
fisiológicos, mas de caráter de observação em relação a tríade citada
anteriormente. Acrescenta Petersen & Wainer (2011), que:
A avaliação diagnóstica de crianças com suspeita de autismo deve
compreender uma observação dos comportamentos desviantes em
comparação com aqueles presentes no curso normal do
desenvolvimento infantil, em especial nas dimensões de orientação
e comunicação social, e não ser apenas uma checagem da presença
ou ausência de sintomas (2011, p. 87)
Na análise comportamental, averígua-se o desenvolvimento da criança
e se a mesma adquiriu ou está adquirindo as competências pertinentes a
sua faixa etária comparando o desenvolvimento típico ao atípico. Esta
comparação, como salienta Petersen & Wainer (2011), deve ser feita por
um profissional que conheça o desenvolvimento típico, fases de
desenvolvimento apresentados pela média da população. Através de
brincadeiras adaptadas a faixa etária que exploram os aspectos da tríade
autista são avaliados marcadores da síndrome. A avaliação apresenta traços
mais complexos, pois ela não se baseia apenas na análise comportamental,
é aprofundada através da avaliação diagnóstica integral, que consiste em
uma revisão do comportamento e do desenvolvimento da criança, exame
de audiometria pra descartar problemas auditivos, realização de anamnese
(entrevista com os pais), análises genéticos, testes neurológicos, entre
outros. Atualmente a classificação do TEA é realizada seguindo os critérios
25 descritos no Manual Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais
(DSM-V), que são utilizados por profissionais como norteadores para se
realizar o diagnóstico. O avaliador pauta-se nos critérios para angariar as
informações do desenvolvimento e do comportamento, que são separados
em três eixos, que fundamentam a tríade autista. Outro instrumento
utilizado para realizar o diagnóstico é a Classificação Internacional de
Doenças (CID-10).
13. Programas Educacionais utilizados para o TEA
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
4.1- Método TEACCH
Dentre os programas educacionais utilizados para crianças com TEA,
destaca-se o método TEACCH (Treatment and Education Of Autistic anda
Related Communication handicapped Children). O método TEACCH deriva
da psicolinguística e historicamente esse enfoque proporcionou uma ponte
interdisciplinar entre a Psicologia Cognitiva e a Linguística, cujo propósito é
o estudo da interação entre o pensamento e a linguagem, estabelecendo
uma constatação de que a imagem visual é geradora de comunicação.
O objetivo do TEACCH é capacitar os indivíduos com autismo para chegar
a vida adulta com o máximo de independência possível, ou seja o método
inclui ajudar o indivíduo a adquirir habilidades de comunicação para
favorecer a interação com as outras pessoas e a compreender o mundo. O
programa TEACCH, nos Estados Unidos, tem recebido reconhecimento
nacional e internacional, e é visto por profissionais da área como um
programa de excelência pelos seus resultados (Marques e Mello, 2002).
Para iniciar o programa é necessário antes realizar uma avaliação e para
tanto utiliza-se a Escala CARS (Classification Autism Ratting Scale) de
Schopler e cols. (1980). A escala é composta por 15 itens comportamentais
que são observadas na crianças e mensuradas através de uma escala da
pontuação atingida. A escala classifica o autismo em leve, moderado e
severo.
Segundo Farrel, os itens analisados na escala CARS são:
Relação com as pessoas, imitação, reação emocional, uso do corpo,
uso dos objetos, adaptação a mudanças, reação visual, reação
auditiva, discriminação tátil ou gustativa, reações nervosas,
comunicação verbal, comunicação não-verbal, nível de atividade,
nível de consistência da resposta intelectual, impressões gerais.
(2008, p. 27).
Além da CARS, o PEP-R (Psychoeducational Profile) de Schopler e cols
(1980) também é usado com o objetivo de verificar as habilidades
psicoeducacionais nas crianças. Conclui Farrel (2008 p. 30), que neste caso,
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
as áreas avaliadas são: 1- Imitação 2- Comportamento motor amplo. 3-
Comportamento motor fino. 4- Coordenação mão/olho. 5- Performance
cognitiva. 6- Percepção 7- Percepção cognitiva verbal. 8- Comportamento
de autocuidado. Para Farrel (2008), ao se definir as estratégias
educacionais e de tratamento é preciso estar atento às metas e considerar
os comportamentos que são de fato funcionais.
Uma vez terminada avaliação é possível conhecer quais são os
problemas que se destacam com maior urgência (Wing, 1982).
O método se preocupa bastante com a estrutura das salas de aula, com
a programação que é oferecida aos alunos, com as rotinas diárias
estruturadas, com os sistemas individualizados de trabalho e com o uso do
apoio visual para a realização independente das atividades. Ao contrário
dos métodos comportamentais, o TEACCH não faz uma intervenção direta
nos comportamentos inadequados, mas procura compreender suas causas.
As prováveis modificações de conduta só são feitas quando há situações de
risco eminente.
A organização da sala de aula deverá ser feita em quatro áreas: área de
aprendizado, onde a criança recebe instruções, área de descanso ou lazer,
área de trabalho independente e área de rotina diária.
Alguns critérios para a aplicação do TEACCH (Marques e Mello, 2002,
p.56):
1- Os materiais devem ser adequados e as atividades apresentadas de
modo que o aluno consiga entender a proposta visualmente.
2- Deve-se levar em conta que o aluno aprende em pequenos passos e
o tempo de tolerância de trabalho também deve ser aumentado aos
poucos.
3- O professor deve se preocupar em obter a atenção da criança antes
de começar o trabalho.
4- O professor deve se preocupar em utilizar uma linguagem verbal
compatível com o nível de desenvolvimento da criança.
5- A mesa de trabalho deve ser organizada de maneira clara, de modo
que fique claro o que a criança tem que fazer.
6- Não se deve apresentar um grande número de tarefas ao mesmo
tempo.
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
7- As indicações devem ser apresentadas antes que a criança
responda de forma incorreta.
8- O aluno deve ter sempre a sua disposição recursos para pedir
ajuda.
9- O professor deve ter fácil acesso visual às áreas de trabalho de
cada aluno.
10- As áreas de trabalho devem ser marcadas de maneira que o
aluno possa dirigir-se a elas sozinho.
11- Cada aluno deve ter definido o lugar onde guardar o trabalho
terminado.
12- A rotina deve ser clara e compreensível para o aluno.
4.2 PECS- Sistema de Comunicação através de troca de figuras
Outro programa educacional muito utilizado segundo pesquisadores
são o PECS- Sistema de Comunicação através da Troca de Figuras (The
Picture Exchange Communication System) O PECS foi desenvolvido pelo
Delaware Autistic Program para atender as dificuldades encontradas na
tentativa de desenvolver a comunicação em crianças e jovens com
autismo. Foi proposto por Bondy e Frost em 1994 e é bastante usado
nos Estados Unidos, no Peru, na Inglaterra e na Espanha. É um sistema
que não requer um material complexo e nem técnicas sofisticadas e
pode ser utilizado com facilidade por familiares e equipe técnica, no
cotidiano das pessoas com TEA, por exemplo: na casa, escola, lugares
em geral que fazem parte da rotina atuante do indivíduo. O objetivo
principal é ajudar crianças e adultos com autismo e com outros
distúrbios de desenvolvimento a adquirir habilidades de comunicação. O
sistema é utilizado com crianças que não se comunicam ou que possuem
comunicação, mas que a utilizam com baixa eficiência. Consiste na
utilização de cartões e na troca dos mesmos para estabelecer uma
comunicação. Esse sistema é de grande relevância pois oferece uma
alternativa de comunicação para autistas não verbais. Segundo Farrel,
O PECS é um sistema de comunicação por troca de figuras e permitiu
que muitos jovens autistas adquirissem a habilidade de
comunicação dentro do contexto social, pois os sujeitos que
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
apresentavam comportamento não-verbal foram levados a se
aproximarem e a entregar uma figura de algo desejado para o
parceiro comunicativo, obtendo o que desejavam. (2008, p. 32).
Walter acrescenta que Bomdy e Frost têm utilizado , desde 1990, esse
programa e o resultado foi que crianças passaram a usar de 30 a 100
figuras, mesmo quando iniciavam a fala e um outro grupo de 66 crianças
na fase pré-escolar utilizou o PECS por mais de um ano e das 66, 44
adquiriram a fala independente e 14 adquiriram a fala justamente com
o uso da figura ou com sistema de palavras escritas e 8 ficaram
dependente somente do PECS.
Para Farrel (2008) o ato comunicativo não se limita a entender o
outro, mas também deve representar a tomada de iniciativa para o ato
interativo, o que é bastante difícil para o indivíduo com autismo. O PECS,
então, deve considerar as reais necessidades de comunicação para o
sujeito em questão e seus familiares, considerando o contexto social do
indivíduo.
4.3 Currículo Funcional Natural
Curriculum Funcional Natural é um currículo funcional, que tem a função
de ensinar as crianças a executarem funções do dia a dia de maneira
acertada. Para os autores essas aprendizagens deveriam ocorrer de forma
criativa e as oportunidades de aprendizagens deveriam ser pertinentes, e
para que fossem pertinentes, deveriam se basear no ambiente em que a
criança estivesse inserida, ou seja um ambiente em que pra ela fosse
natural.
No início da década de 90, Judith LeBlanc iniciou no centro Ane Sullivan
do Peru, uma parceria com a Universidade de Kansas para o
desenvolvimento de um programa intensivo de educação: a implantação do
Curriculum Funcional Natural. Inicialmente o objetivo do programa era
desenvolver as habilidades básicas, mas depois foi ampliado para o
desenvolvimento de um ensino mais completo. O Curriculum Funcional
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
Natural tem como prioridade a independência máxima nas atividades úteis
de vida diária.
Segundo Suplino, o currículo funcional:
...propõe que os objetivos educacionais devem ensinar algo
realmente útil atualmente para o estudante ou em um futuro
próximo, um dos critérios é que os procedimentos devem ser o mais
próximo possível do que ocorre no mundo real. Outro critério
importante é partir do repertório de comportamentos que o aluno já
possui, ajudá-lo a organizar o seu universo e estar sempre voltado
para as atividades de vida diária. ( 2005, p.23)
Um ensino voltado para o Curriculum Funcional Natural está voltado
para as necessidades reais e habilidades que podem ser aprendidas no
desempenho da vida diária, acadêmica e profissional da criança.
Alguns autores descrevem alguns princípios do Curriculum Funcional
Natural, como a importância do tratamento da criança deficiente, o
aproveitamento de todos os eventos naturais para ensinar, tornar os
momentos de aprendizagem em ações prazerosas, ensinar habilidades e
comportamentos sociais e ressaltar a importância da parceria com as
famílias, levando em consideração suas necessidades reais. A educação
deve ser individualizada e de acordo com a realidade ambiental de cada
aluno.
As estratégias devem incluir: procedimentos individualizados de ensino,
instruções verbais, ensino em sequência, generalização e manutenção do
comportamento aprendido.
LeBlanc (1991) acredita que o Curriculum Funcional Natural pode ser
útil na educação dos autistas porque contribui de maneira natural para a
aquisição de habilidades nas diferentes fases da vida, especialmente a
aquisição de habilidades da vida diária e aquisição ou mudança de rotina.
Walter (2000), define o currículo como uma consideração de dimensão
eco-cultural e que não orienta o autista individualmente, mas também seus
familiares e o contexto escolar e comunitário.
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4.4 ABA - Análise Aplicada do Comportamento.
A teoria comportamental ABA tem suas origens nos estudos de Skiner,
sobre a aprendizagem e sobre a análise de comportamentos, feitos
especialmente através da análise das relações entre as ações do organismo
e do ambiente.
As pesquisas comportamentais feitas com pessoas autistas foram feitas
por Ferster e DeMyer (1961, 1962) e a contribuição principal de Ferster
ocorreu em demonstrar concretamente a aplicabilidade da teoria
comportamental para a alteração do comportamento do autista bem como
para o aumento do repertório de comportamentos adequados e a
diminuição ou eliminação de comportamentos inadequados ou destrutivos.
As experiências eram desenvolvidas em clínicas e estendidas para o
ambiente natural da criança autista.
O objetivo dessa abordagem terapêutica era promover a generalização
de aprendizagem e que situações como o controle de estereotipias,
instalação de comportamento verbal, treino de linguagem, eliminação de
comportamentos antissociais, auto agressivos e hetero - agressivos fossem
trabalhados através da teoria comportamental e posteriormente se
estendesse para o comportamento em diversos ambientes. Na década de
60 existem inúmeras pesquisas sobre tais estudos acerca da criança com
autismo.
As fases do tratamento são subdivididas em: a avaliação
comportamental; a seleção de metas e objetivos; a elaboração de
programas de intervenção.
Para garantir a fidedignidade dos resultados é necessário um
acompanhamento rígido dos dados, observações diretas, medidas
repetitivas, linha de base múltipla e suas variações e registros minuciosos.
A pesquisa associada à intervenção é uma das características da abordagem
comportamental e é possível observar que nos últimos 15 anos houve uma
acentuada preocupação com programas de intervenção para crianças com
100
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
problemas de desenvolvimento. Uma das preocupações da abordagem que
acaba excluindo situações cotidianas, segundo Pires, é:
O aumento do comportamento social e de comunicação com
colegas, através do treino de objetos centrais, e a colaboração de
crianças normais para estimular autistas e ensinar crianças a brincar
de modo apropriado também, processo esse baseado no convívio e
na interação com outras crianças. (2007, p. 41).
Existem três decisões metodológicas que contribuíram de modo
cumulativo para o tratamento dos autistas. A primeira foi a de dividir o
constructo “autismo” em unidades menores, mais suscetíveis de serem
medidas de modo preciso e confiável, pesquisando as características e os
problemas da criança autista em questão. A segunda é focalizar o ambiente
imediato da criança no lugar de focalizar a sua história passada e a terceira
decisão é focalizar a pesquisa indutiva, em vez de considerar abordagens
hipotético-dedutivas.
A análise aplicada do comportamento é baseada na abordagem
comportamental. O objetivo de sua utilização com crianças autistas é
reforçar ou implantar os comportamentos adequados à convivência social e
eliminar as estereotipias indesejáveis.
O método busca apoio teórico na teoria de Skiner e o entendimento de
alguns dos princípios dessa teoria são indispensáveis para a aplicação da
mesma. Por exemplo, o conceito de condicionamento operante e
respondente, de reforço positivo e negativo, generalização da
aprendizagem e modelagem.
Para a aplicação do ABA é necessário que o ambiente de aplicação seja
muito similar ao ambiente natural da criança, pois isso garantirá a
generalização da aprendizagem. Alguns princípios do método devem ser
seguidos rigorosamente para o sucesso do mesmo. Por exemplo, a
aplicação deve ser contínua e intensa, já que a rotina é muito importante
para os autistas. Os horários precisam ser constantes. O envolvimento dos
101
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
aplicadores deve ser evidente e os objetivos que se quer alcançar muito
bem definidos e claros.
O processo é individualizado e parte de unidades menores para unidades
maiores. Assim a família é co-terapeuta no processo e isso reforça a ideia
do quanto é importante poder contar com os familiares no processo
educacional de seus filhos, independentemente do programa utilizado. Os
princípios da abordagem comportamental mais utilizados no programa
serão o reforço positivo e o negativo para efetivar a aprendizagem. No início
do trabalho é construída uma linha de base da criança e nela deve conter
os comportamentos que a criança possui antes da intervenção. Inclusive
aqueles que pretendemos modificar.
Os objetivos da intervenção devem ser claramente definidos. Os
profissionais envolvidos terão uma tarefa muito importante: observar
criteriosamente as alterações (ou ausência delas) depois de cada
intervenção e registra detalhadamente. Os resultados das observações e
dos registros gerarão novos planejamentos de intervenção e a avaliação da
eficiência das estratégias.
14. EDUCAÇÃO x INCLUSÃO
Embora a educação inclusiva não seja um programa e sim uma filosofia,
existe uma forte tendência política para a implementação da mesma.
Campbell (2009) destaca que é possível encontra diferenças de
posicionamentos entre escolas particulares e públicas sobre a inclusão dos
autistas e que como a inclusão real e responsável é algo com custo elevado,
parece ser muito mais uma iniciativa pública do que do setor privado.
Campbell ( 2009) apresenta critérios para inclusão dos autistas. São
eles:
* A escola deve conhecer as características da criança e prover as
acomodações físicas e curriculares necessárias.
102
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
* O treinamento dos profissionais deve ser constante e a busca de novas
informações um ato imperativo.
* Deve-se buscar consultores para avaliar precisamente as crianças.
* A escola deverá preparar-se, bem como os seus programas, para
atender a diferentes perfis, visto que os autistas podem possuir diferentes
estilos e potencialidades.
* Os professores devem estar cientes que inclusive a avaliação da
aprendizagem deve ser adaptada.
* É necessário estar consciente que para o autismo, conhecimento e
habilidades possuem definições diferentes.
* É preciso analisar o ambiente e evitar situações que tenham impacto
sobre os alunos e que as performances podem ser alteradas se o ambiente
também for.
* A escola deverá prover todo o suporte físico e acadêmico para garantir
a aprendizagem dos alunos incluídos.
* A atividade física regular é indispensável para o trabalho motor.
* A inclusão não pode ser feita sem a presença de um facilitador e a
tutoria deve ser individual. Um tutor por aluno.
* A inclusão não elimina os apoios terapêuticos.
* É necessário desenvolver um programa de educação paralelo à inclusão
(o autor propõe o ABA) e nas classes inclusivas o aluno deve participar das
atividades que ele tenha chance de sucesso, especialmente das atividades
socializadoras.
* A escola deverá demonstrar sensibilidade às necessidades do indivíduo
e habilidade para planejar com a família o que deve ser feito ou continuado
em casa.
* Ao passo que as pesquisas sobre o autismo forem se aprimorando, as
práticas também deverão ser e por isso, é importante a constante
atualização dos profissionais envolvidos.
Tais critérios sugeridos pelo autor, tem sido úteis nas escolas inglesas
que estão investindo na inclusão de crianças autistas. Para haver inclusão
103
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
é necessário que haja aprendizagem, e isso traz a necessidade de rever os
nossos conceitos sobre currículo. Este não pode se resumir às experiências
acadêmicas, mas se ampliar para todas as experiências que favoreçam o
desenvolvimento dos alunos normais ou especiais. Sendo assim, as
atividades de vida diária podem se constituir em currículo e em alguns
casos, talvez sejam “os conteúdos” que serão ensinados.
Segundo Cunha:
“A questão que devemos levantar é se a escola representa para a
criança especial, um espaço significativo de aprendizagem, e sendo
a resposta positiva, podemos então afirmar que desenvolvemos
práticas inclusivas”. A Preparação dos Professores e dos
Facilitadores. Ao tocar no aspecto das práticas educativas, inclusivas
ou não, é necessário comentar a importância que a formação do
professor que atuará com os autistas (2012, p. 13).
Infelizmente, a demanda da inclusão chega às escolas antes da
preparação do professor e a solução tem sido a capacitação do profissional
em serviço, através dos programas de formação continuada, contrariando
as próprias diretrizes do Mec (MEC, 2001).
Segundo Rodrigues (2006), as práticas pedagógicas eficazes e
apropriadas às deficiências são imprescindíveis para a evolução dos alunos,
e isso o professor só consegue planejar e desenvolver quando recebe o
referencial teórico e a assessoria pedagógica adequados. A prática
pedagógica é um elemento-chave na transformação da escola, estendendo
essa possibilidade de transformação à sociedade.
A inclusão dessas crianças no ensino regular fica difícil quando não existe
o apoio especializado que ofereça aos professores dessas classes orientação
e assistência na perspectiva da qualificação do trabalho pedagógico ali
envolvido. Rodrigues (2006) considera necessárias pesquisas que tratem
da definição do perfil profissiográfico do educador especial, pois é essencial
que o aluno com necessidades especiais seja acompanhado, no seu
processo ensino-aprendizagem por professores devidamente preparados
tanto no aspecto pedagógico quanto no aspecto psicológico/emocional.
104
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
Os autores que defendem a inclusão sem restrições acreditam que
educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiência têm
oportunidade de preparar-se para a vida na comunidade, os professores
melhoram suas habilidades profissionais e a sociedade toma a decisão
consciente de funcionar de acordo com o valor social de igualdade para
todas as pessoas, com os consequentes resultados de melhoria da paz
social. Para Cunha, o sucesso do ensino inclusivo depende:
...os professores e cuidadores devem aliar-se em esforço unificado
e consistente atendimento educacional a crianças e jovens
portadoras de autismo tem sido realizado, em nosso país, em
escolas especiais ou ainda em clínicas-escolas, provavelmente
porque educar uma criança autista ainda se constitui em um grande
desafio em função das características desta população. (2012, p.
22).
Uma desordem aguda do desenvolvimento requer tratamento
especializado para o autista por toda a sua vida, por isso a importância da
presença de um mediador ou facilitador para auxiliar o professor no
processo de inclusão. O papel do facilitador é assessorar a criança autista
nas atividades propostas, incentivando a participação desse aluno nas
atividades comuns à classe e quando isso não for possível, oferecer uma
atividade paralela ao sujeito ou mesmo mudar de ambiente com ele. O
facilitador é também considerado uma ponte nas relações sociais entre o
aluno autista e o grupo. Ele deve receber as mesma informações que o
professor da classe, deve ter conhecimento dos registros do aluno e anotar
criteriosamente o desenvolvimento do aluno para que essas informações
sejam usadas em futuros planejamentos.
Segundo Mello (2007), a tarefa educativa de uma criança autista põe à
prova os recursos e as habilidades de um professor. A promoção da
aprendizagem é a principal função do docente e deve ser sempre o objetivo
da prática pedagógica com os alunos autistas.
105
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
Pires (2007) e colaboradores afirmam que o ensino tem de ser
sistemático, estruturado e bem adaptado às necessidades da criança e tudo
isso começa com uma criteriosa avaliação do aluno.
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este fenômeno se depara com a realidade precária do educador na forma
de condução do processo educativo, para que o direito a ter educação seja
cumprido satisfatoriamente (SELAU E HAMMES, 2009). Em meio a este
campo de batalha de leis que garantem a participação do diferente e que
cobram desempenho dos educadores, cobranças que muitas vezes são
absurdas, esquece que o educador é uma ferramenta de suma importância,
tanto ao ensino regular quanto ao ensino especial, pois é ele que
transmitirá, através de técnicas adequadas às várias idades e
potencialidades de seus educandos, o ensino, que no caso do autismo deve
ser focado em cada necessidade. Ao educador também é dada a tarefa de
mediar os valores sociais e culturais. De acordo com Cunha (2012, p. 90):
O bom preparo profissional possibilita ao educador a isenção necessária
para avaliar a conduta do aluno e da família no auxílio da recondução das
intervenções, quando elas não alcançam os resultados esperados no
ambiente familiar ou na escola. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB) nº 9.394/96, deu maior destaque à Educação Especial. Em seu
capítulo V, que trata da Educação Especial, faz saber: 30 Art. 58º. Entende-
se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º. Haverá,
quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para
atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º. O
atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular. § 3º. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado,
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59º. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos
educativos e organização, específicos, para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa
escolar para os superdotados; III - professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem
como professores do ensino regular capacitados para a integração desses
educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho,
visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como
para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,
intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos
programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
ensino regular. Art. 60º. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins
lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial,
para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo único.
O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do
atendimento aos educandos com 31 necessidades especiais na própria rede
pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições
previstas neste artigo. Fica, então, não só a cargo da família, mas também
do educador e da instituição de ensino, a responsabilidade em inserir a
pessoa com autismo na sociedade, para que ele possa interagir da forma
mais próxima do normal possível. Para isso é necessário que os educadores
estejam preparados para receber tal demanda e sua necessidade. Não se
pode pensar em inclusão escolar, sem pensar um ambiente inclusivo.
Contudo, não se deve “entender este ambiente Inclusivo somente em razão
107
Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
dos recursos pedagógicos, mas também pelas qualidades humanas”.
(CUNHA, 2012, p. 100). Ou seja, o educador deve estar preparado para
manejar os recursos que dispõe a escola, sua sala de recurso e o
conhecimento adquirido em capacitação, para realizar a educação do
indivíduo de forma que ele atinja a meta estabelecida. Seu papel é estimular
a criança para a formação do conhecimento. Para que a educação de
crianças com o TEA tenha resultados proveitosos, faz-se necessário que a
forma de ensinar seja preparada para lidar com a diversidade que há nas
salas de aula a fim de acolher adequadamente as manifestações do
transtorno. Cunha (2012, p. 100), reforça que “não podemos educar sem
atentarmos para o aluno na sua individualidade, no seu papel social na
conquista da sua autonomia”. A autonomia deve ser a diretriz do educador,
porém, para que essa finalidade seja alcançada é preciso que o mundo para
a criança autista seja sinalizado. E, que essa sinalização, atue como agente
que permita a interação do sujeito no meio ambiente de forma adequada e
condizente com uma interação de qualidade e representativa, possibilitando
a troca entre o sujeito e o ambiente.
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Artigo: O Autismo e o Processo de Inclusão Autora: Painado, Marcia Mária. Págs. 89 - 108
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109
Artigo: A Família e a Creche Autora: Estácio, Marta Salete Masieiro. Págs. 109 - 127
A FAMÍLIA E A CRECHE:
fases de uma relação necessária
Marta Salete Masiero Estácio1
RESUMO
O tema deste texto foi motivado pela leitura de um artigo sobre educação
infantil, relatando que as creches existem há mais de 250 anos. A sua
criação e a sua lenta evolução estão profundamente ligadas à necessidade
da mão de obra feminina no mercado de trabalho, deixando a descoberto
a função originalmente materna de cuidar e educar os bebês e as crianças
até os 7 anos. Inicialmente o significado da palavra creche voltava-se para
os aspectos do assistencialismo, pois esta instituição objetivava o
acolhimento das crianças, buscando atender especialmente às suas
necessidades fisiológicas. Este trabalho reproduz um esboço da inter-
relação entre dois núcleos, ambos voltados às crianças: a Creche, aqui
representada por seus principais profissionais, professoras e cuidadoras e
a Família, representada pelas mães e/ou seus responsáveis diretos. E
apresenta as fases destas relações, sua complexidade e as inúmeras
dificuldades para se buscar o melhor resultado possível em benefício das
crianças.
Palavra-chave: Creche; Criança; Família; Educação infantil e
Assistencialismo.
PEQUENO HISTÓRICO DA CRECHE NO BRASIL
No Brasil, a creche passou por várias etapas ao longo de sua história,
110
Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
até ser definida como parte integrante do sistema educacional pela Lei de
Diretrizes e Bases de 20/12/1996 e pela Constituição de 1998.
A primeira creche (do francês crèche), que em português quer dizer
berçário ou manjedoura, surgiu na França na segunda metade do século
XVIII. Observando a necessidade de se auxiliar as famílias de trabalhadores
do campo na sua sobrevivência, Oberlein - um religioso protestante -
idealizou a criação de espaços onde crianças pequenas seriam acolhidas e
orientadas para adquirir hábitos de obediência, sinceridade, bondade e
ordem.
Durante o século XIX, como consequência da Revolução Industrial
houve um aumento na criação de creches – algumas municipais – com o
intuito de abrigar crianças, permitindo que as mães pudessem ingressar no
mercado de trabalho. Porém, a falta de capacitação profissional e as
condições precárias de atendimento fizeram com que estas instituições
fossem vistas como fonte de socorro ou melhor, como a única solução para
que as mães de classe baixa pudessem trabalhar.
No Brasil, até o século XIX, ao contrário do ocorrido na Europa,
praticamente não existiam instituições destinadas à educação das crianças
menores de 7 anos. Neste período predominava a vida no meio rural e da
mãe era a responsabilidade pelos cuidados com os
filhos, tanto no atendimento às suas necessidades biológicas e
emocionais, quanto na sua educação dentro do ambiente familiar.
Conforme afirma Oliveira (2007, p. 91):
No meio rural, onde residia a maior parte da população do
país nesta época, as famílias dos fazendeiros assumiam os cuidados de inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, geralmente fruto da exploração sexual da mulher negra ou
índia, pelo senhor branco.
Já nas áreas urbanas, remonta ao século XVIII a prática de abandonar
111
Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
os bebês na Roda dos Expostos existente em alguns dos grandes centros
no Brasil. Surgiram no período Colonial com a Santa Casa de Misericórdia
de Salvador, depois no Rio de Janeiro e em outros lugares, até a República.
Estas instituições assistencialistas mantinham o anonimato do autor ou
autora do abandono, segundo Rizzini e Rizzini (2004)
No século XVIII, Salvador, Rio de Janeiro e Recife instalaram
as suas Casas de Expostos, que recebiam bebês deixados na Roda, mantendo no anonimato o autor ou a autora do abandono. Até o século XIX, outras dez Rodas dos Expostos
surgiram no país, tendo o sistema persistido até meados do século XX
Apesar do nosso possível estranhamento hoje, a Roda dos
Expostos foi socialmente muito importante como espaço de acolhimento
possível na época, pois foram evitadas as mortes de muitos bebês que
seriam abandonados na rua.
A forte influência da Proclamação da República na elaboração das
iniciativas destinadas à proteção da infância pode ser vista pela criação de
entidades de amparo às crianças, tais como creches, asilos e internatos que
objetivavam o combate ao alto índice de mortalidade infantil e assegurar
cuidados às crianças pobres. De acordo com Kuhlmann (1999, p.78):
[…] a creche para as crianças de 0 a 3 anos, foi vista como muito mais do que o aperfeiçoamento das Rodas dos Expostos, que recebiam as crianças; pelo contrário, foi
apresentada em substituição ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem as crianças.
Em 1889 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira Instituição de
Proteção e Assistência à Infância, considerada pioneira na pré-escola no
Brasil. E ainda neste mesmo ano foi inaugurada a creche da Companhia de
Fiação e Tecidos Corcovado, também no RJ, destinada aos filhos dos
operários. Apesar destes dados oficiais, o exemplar de um jornal no Rio de
Janeiro, de 1879, intitulado “A mãi de Família”, já divulgava a existência de
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
creches no país, no artigo intitulado “A creche”. Diferentemente da Europa,
onde as creches destinavam-se aos filhos de mães operárias, aqui ela se
voltava originalmente aos filhos das empregadas domésticas e
posteriormente também aos filhos de mães escravas, nascidos após a Lei
do Ventre Livre. Após a promulgação desta Lei, pela Princesa Isabel em
1871, surgiram vários movimentos sociais que criaram creches populares para
atender principalmente filhos de escravas, nascidos livres.
Em 1922, num contexto social de lutas trabalhistas, ocorreu no Rio
de Janeiro o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, no qual
foram discutidos temas como a educação moral e higiênica, o
aprimoramento da raça, com destaque para o papel da mulher como
cuidadora. Devido a estas discussões surgiram as primeiras
regulamentações do atendimento a crianças pequenas em escolas
maternais e jardins-de-infância. (Oliveira 2007, p.97
Em 1943, quando da criação da Consolidação das Leis Trabalhistas
pelo presidente Getúlio Vargas, estabelecendo num de seus artigos que as
empresas com mais de 30 funcionárias deveriam organizar berçários, para
que as mães com idade entre 16 e 40 anos pudessem amamentar seus
filhos. Mas esta determinação não se concretizou na época, por falta de
fiscalização.
Em 1961 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 4024/1961), determinando, no artigo 23, a inclusão dos
jardins-de-infância, categoria compreendida como educação pré-primária
para menores de 7 anos de idade.
Entretanto no Brasil, apesar de algumas iniciativas já citadas, os
avanços para melhoria na educação infantil aconteceram lentamente, até a
década de 70. E as mudanças que se realizaram nas instituições de
educação infantil não aconteceram de forma coerente, pois havia
concepções diferentes destinadas aos trabalhos com as crianças, separadas
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
por categorias de riqueza ou pobreza:
Enquanto discursos compensatórios ou assistencialistas continuavam dominantes no trabalho nos parques que
atendiam filhos de operários e nas creches que cuidavam das crianças de famílias de baixa renda, propostas de
desenvolvimento afetivo e cognitivo para as crianças eram adotadas pelos jardins-de-infância onde eram educadas as crianças de classe média. (Oliveira 2007, p. 110)
E em 1977, para fazer frente ao dualismo entre o sistema
assistencialista e o educacional na pré-escola, foi criado o Projeto Casulo,
com o objetivo de orientar (...) monitoras com formação no então segundo
grau para coordenarem atividades educacionais que conviviam com
medidas de combate à desnutrição (Oliveira 2007, p.112). O Projeto Casulo
foi implantado pela Legião da Boa Vontade e em 1983 chegou a atender
600 mil crianças de 0 a 6 anos de idade, por um período de 4 a 8 horas
diárias.
Na década de 80 a educação que antecedia a escolarização
obrigatória, estendeu-se às crianças de 0 a 6 anos de idade. As constantes
reivindicações da população feminina, em busca de espaços de atendimento
à criança, para que as mães pudessem trabalhar fora de casa, ampliando a
renda familiar, gerou novas pressões na sociedade, exigindo creches como
um direito do trabalhador e um dever do Estado.
Com os desdobramentos da promulgação da Constituição de 1988 e
da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, a Educação Infantil passou a ser
entendida oficialmente como o atendimento simultâneo, complementar e
indissociável de cuidado e educação de crianças de 0 a 3 anos – em creches
– e de 4 a 6 anos – em pré-escolas. E, segundo Junqueira Filho (2004,
p.108), foi modificado o conceito anterior à LDB, de que a educação infantil
tinha como função social apenas o cuidado das crianças, na medida em que
não era considerada escola e, portanto, isenta de educação (apud Mendes).
Mesmo após a Constituição de 1988, definindo a educação infantil
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
como parte do processo educativo do ser humano, o desequilíbrio entre a
demanda e as vagas disponíveis tornou-se mais evidente
[...] a insuficiência do número de crianças atendidas nas
creches pressionava o poder público a incentivar outras iniciativas de atendimento à criança pequena. Eram as “mães
crecheiras”, os “lares vicinais”, “creches domiciliares” ou “creches lares”, programas assistenciais de baixo custo estruturados com a utilização de recursos comunitários, tal
como ocorria em muitos países do chamado Terceiro Mundo. (OLIVEIRA 2007, p. 114)
E somente na década de 90 a educação infantil passou a ser
reconhecida como um lugar de educação, um local onde as crianças
aprendem conteúdos e novos conhecimentos. A concepção de educação
infantil começou a ser pensada com um caráter pedagógico, aquilo é
necessário para trabalhar com a criança na escola. Houve também uma
mudança referente ao olhar dirigido à criança, que passa a ser vista como
um ser ativo no processo de aprendizagem, ganhando um papel na
educação. Após a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.069 de 13 de julho de 1990) há no atendimento institucional à criança
diversas mudanças nas suas concepções. Contudo, ainda na atualidade, é
possível observar ideias e práticas construídas historicamente. Segundo
Kuhlmann (2000, p.7), citado por Mendes, atualmente
A incorporação das creches aos sistemas educacionais não necessariamente tem proporcionado a superação da concepção educacional assistencialista. A falta de verbas para
a educação infantil tem até estimulado novas divisões, por idades: apenas os pequenos, de 0 a 3 anos, frequentariam as
creches; e os maiores, de 4 a 6, seriam usuários de pré-escolas.
A CRECHE PARA A FAMÍLIA: uma necessidade
A relação família e escola, que se inicia na creche, provoca de certa
forma um impacto nas crianças – alvos do processo – que passam a ter
115
Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
contato com outras pessoas e ambientes que não o lar. Por isso, para as
escolas de educação infantil, é muito importante que se conheça a criança
e também a sua família, na busca do envolvimento e das inter-relações,
para um alinhamento na condução da educação e socialização das crianças.
Hoje a grande demanda por creches revela uma tendência nas
famílias em conciliar os cuidados e educação dos filhos pequenos com o
trabalho materno, através de parcerias que atendam aos cuidados e
educação das crianças, com a ausência da mãe. Porém, comentando Sarti
(1998), Maranhão ressalta em seu artigo sobre o estudo de um caso de
creche pública:
A insuficiência de vagas em creches públicas diante da demanda, ou o elevado custo das creches particulares, não
permite, na maioria das vezes, que esse serviço seja escolhido com base em princípios, valores e critérios da família, impossibilidade associada à relação assimétrica, entre
usuários e instituição.
O significado de creche, instituição marcada por um histórico
assistencialista e organizada de forma improvisada e precária, hoje está
sendo classificado como centro de cuidado e educação infantil, de acordo
com a noção do direito universal à educação. Essa classificação reflete-se
evidentemente nas relações entre família e funcionários da creche,
envolvidos por expectativas mútuas. As mudanças surgem em ambos os
lados – creche & família e especialmente nas interações entre eles.
(Haddad, 2003; Amorim, Rosseti-Ferreira, 2004; Maranhão, 2005).
Apesar de muitos profissionais da creche se empenharem para
interagir com as famílias, no compartilhamento da educação infantil,
permanecem muitas dificuldades nas relações, causando confronto entre
pessoas envolvidas no cuidado das crianças, pelas diferenças de seus
pontos de vista. Além disso, cada família possui suas características, seus
modos de ver o mundo, de entender e se comunicar com as pessoas no seu
cotidiano. Como afirma Szymanski (2010, apud Casanova) “o importante é
116
Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
conhecer o tipo de vida que estão oferecendo ao filho/à filha e não somente
identificar o tipo de família”.
Conhecer o que as famílias são e como se caracterizam pode nos trazer
informações importantes, conforme Lahire (1995, p. 72, apud Casanova)
[...] o fato de os diferentes membros das famílias contextualizadas agirem como agem, de seus filhos serem o que são e comportarem-se como tal nos espaços escolares
não é fruto de causas únicas que agiriam poderosamente sobre eles.
Para Casanova há muita variedade de tipos de família nas sociedades
humanas e as relações que estabelecem no cotidiano e os significados que
atribuem ao mundo são igualmente variados. Um conjunto de
características que fazem parte dela a torna o que ela realmente é, seu grau
de escolarização, seu trabalho, sua renda/capacidade econômica, sua
relação com os outros membros da família e da comunidade, suas vivências
e suas experiências. Saraceno e Naldini (2003, p. 20) complementam esta
ideia registrando que
[...] a experiência familiar que também parece ser a mais comum no tempo e no espaço, distingue, portanto, de
maneira mais ou menos profunda, as várias culturas e grupos, sendo também cada um deles atingido de forma diferente
pelas transformações sociais.
Casanova considera a pluralidade, a diversidade, as diferentes formas
de se constituir uma família, de percebê-la e reconhecê-la como categoria
plural. É importante que as creches e outras instituições de educação
infantil trabalhem com estas diferenças e diversidades expressas nos vários
tipos de família, para o planejamento de seu trabalho e para a interação
com as crianças, suas mães ou responsáveis.
Independente desta variedade nos tipos de família, considero muito
interessante o destaque de quatro pontos por Maranhão e Sarti , a partir
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
dos resultados de uma pesquisa de campo numa creche pública, por um
período de 2 anos : A escolha da creche; A vaga na creche; A confiança; Os
conflitos. Escolhi estes tópicos, porque eles se baseiam na observação
direta e em entrevistas , ilustrando as necessidades, as dificuldades e as
interações que ocorrem, envolvendo a criança, sua família, as outras
crianças e os funcionários da creche, todos com suas próprias
características e peculiaridades.
A ESCOLHA DA CRECHE
Conhecer ao menos um pouco a instituição é ponto de partida para
que os pais possam compartilhar o cuidado e a educação dos filhos com
profissionais de uma creche. Esse conhecimento pode ser baseado em
relatos de amigos, conhecidos ou por visitas e conversas com algum
profissional na instituição.
Podem ser percebidos nos diálogos com os pais e nas expectativas
deles em relação à creche, os dois papéis que a ela atribuem: o de
assistência/cuidados e o de educação. E também percebe-se a insegurança,
os preconceitos e o medo de partilhar o cuidado de seus filhos com pessoas
quase desconhecidas, além do sentimento de abandono ao deixá-los pela
primeira vez na instituição. Ao mesmo tempo, expõem o alívio na conquista
da vaga e nas vantagens de poder contar com profissionais preparados.
É necessário não só superar o preconceito em relação à instituição,
mas também superar uma ideologia que apresenta a socialização primária
como tarefa exclusiva da família, especialmente, da mãe (Chodorow,1978;
Rosemberg, 1992; Saffioti, 1992).
Conforme Maranhão & Sarti, comentando Chodorow (1978, p.60)
[...] as capacidades e aptidões das mulheres para
maternagem e para obter satisfação nela estão fortemente internalizadas e psicologicamente reforçadas, e são
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
construídas, ao longo do processo de desenvolvimento, no interior da estrutura psíquica feminina. Sendo assim,
conforme Moraes (1994), as mulheres podem sentir um gozo e uma possibilidade de transcendência na maternidade.
Muitas mães revelam uma ambiguidade pois, ao mesmo tempo em
que desejam cuidar diretamente dos filhos, sentem necessidade de se
dedicar a um projeto de vida pessoal ou de aumentar a renda da família
(Sarti, 1995). Mas, para além destas ambiguidades, são muitos e até
contraditórios os motivos dos pais para colocarem seus filhos na creche,
conforme Amorim et al. (2004, apud Maranhão e Sarti). Confirmam o que
se observa nas atitudes e na fala dos familiares e profissionais pesquisados,
quanto às suas diferentes concepções e sentimentos, refletidos no seu
posicionamento diante da necessidade de compartilhar os cuidados e a
educação de crianças pequenas. Estas crenças e sentimentos representam
para Maranhão e Sarti, os motores do modo como a família promove o
contato da criança no novo espaço.
Antes de procurar uma creche, os pais consideram vários aspectos:
suas necessidades e dificuldades econômicas, as mudanças no contexto
familiar, as carências da infância, os limites dos avós no cuidado dos netos
e também outros fatores que inspiram insegurança e incertezas, tais como
notícias e reportagens na televisão, internet e em outras mídias, sobre
maus tratos de crianças dentro das instituições ou nas suas próprias casas,
pelas babás contratadas. Os pais, ouvindo a opinião de parentes e amigos,
tendem a se decidir pela creche, apesar de alguma insegurança por
considerá-la inferior à “escolinha” ou aos cuidados exclusivos de uma
“babá”.
Eu achava que a gente ia colocar em uma escolinha, sabe,
mais conhecida, ou então, pegar uma babá pra ficar com ela, mas aí a minha sogra falou: Não! Vamos colocar ela na creche, porque uma babá, ela vai estar sozinha com a menina,
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e ninguém vai poder falar o que ela fez e o que ela não fez. Na creche não, se alguém fizer alguma coisa errada, alguém
vai comentar e todo mundo vai ficar sabendo. Então, é mais seguro. E ela falou sobre esta creche onde já tinha um sobrinho, o Davi. Aí, eu falei: Ah, coitada. Ela é muito
pequenininha, ela nem anda, nem fala, vai sofrer muito. (Mãe da Lícia, um ano. (Maranhão e Sarti 2008, p. 6)
A creche sofre também preconceitos por ter um caráter de serviço
público, visto como não confiável, com poucos recursos para lidar com os
diferentes tipos de crianças. A convivência dos vários segmentos sociais –
pessoas mais pobres e outras em melhores condições econômicas - pode
despertar nestes últimos uma “ameaça” e uma possível “contaminação”
com as diferenças culturais e comportamentais, pois no Brasil ainda
predomina em muitos segmentos uma relação social mais fechada, somente
com outras pessoas da mesma classe econômica que a sua.
A família deverá considerar os benefícios no desenvolvimento infantil
e superar os preconceitos em relação a uma creche genérica, analisando se
esta pode oferecer um serviço de qualidade e conta com profissionais
competentes. Comparando entre as várias instituições que poderia utilizar,
nos quesitos de infraestrutura e qualidade de serviços, poderá enfim
inscrever suas crianças. A demanda pela vaga é muito grande e será preciso
aguardar, com arranjos provisórios, até que ela seja conseguida.
A VAGA NA CRECHE
No Brasil, toda criança menor de seis anos de idade tem direito à
educação infantil garantido constitucionalmente, através do atendimento
em creches e em pré-escolas (Haddad, 2003).
Segundo Maranhão e Sarti, citando Campos (2002, p.27), o “ divórcio
entre a legislação e a realidade brasileira não é de hoje “. Um problema já
antigo, a lei existe mas não é cumprida e agravando ainda mais, a ausência
de legislação complementar atingiu seriamente os setores de educação e
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de saúde infantil, ambos com déficits históricos. Como medida paliativa, o
governo transferiu as suas atribuições originais para as ONG’s –
Organizações não governamentais.
Em 1987 o Programa de Creches-Pré-escolas, da Secretaria do Estado
do Menor, rompeu com o parâmetro até então tradicional de selecionar os
usuários da creche pelo critério socioeconômico e de trabalho materno,
elegendo a partir desta data o princípio da universalidade. Entretanto a
creche, além deste princípio universal, é também um direito social de todos
os trabalhadores, conforme previsto no Art. 6º, inciso XXV, garantindo a
igualdade de oportunidades para homens e mulheres (Brasil, 1988;
Haddad, 2002, apud Maranhão e Sarti). Entretanto, na seleção para as
vagas, os profissionais da creche - que legalmente precisa atender também
as necessidades de educação infantil e cuidados dos filhos dos
trabalhadores- têm que enfrentar muitas contradições e dificuldades para a
seleção das crianças que serão matriculadas, pois a demanda é sempre
muito superior às vagas disponíveis.
Além disso, o número também insuficiente de creches diminui as
opções de escolha das famílias, aumentando para elas o tempo de espera
e interferindo na relação deles com os profissionais que irão selecionar as
crianças para as vagas disponíveis. Os pais poderão se sentir gratos ao
conseguirem a vaga e reproduzirem uma ideia de “favor obtido”, e não do
simples reconhecimento de seus direitos. Neste contexto é importante
lembrar que o princípio do direito social dos trabalhadores prevalece sobre
o princípio da universalidade da educação infantil.
Em termos práticos, nas famílias de baixa renda, o salário da mãe
permite pagar o transporte da criança até a creche, quando necessário. E
enquanto espera pela vaga, a mãe que trabalha tenta conciliar emprego
fora e cuidar da criança, o que não é possível. Precisa pedir para um filho/a
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
mais velho ou alguém da família cuidar da criança enquanto ela está fora
ou contratar alguém para este fim, o que consome uma boa parte do seu
salário. Estar acompanhada, além de tornar possível os cuidados a ela
necessários, evita que a criança sofra os “os riscos e descaminhos do mundo
da rua” (Sarti, 2005)
As famílias de baixa renda enfrentam muitas dificuldades enquanto
não se viabiliza a desejada e necessária vaga na creche disponível ou
escolhida por elas. Muitos arranjos são feitos e um deles – deixar a criança
por um tempo na casa de parentes ou padrinhos ou mesmo “dar para criar”,
ao contrário de significar abandono é uma alternativa possível para garantir
a sobrevivência destas famílias pobres, conforme estudos pela antropóloga
Claudia Fonseca (1995, apud Maranhão e Sarti).
A CONFIANÇA
As primeiras impressões que os pais têm sobre a creche, através de
seus profissionais, podem ser alteradas, positivamente ou não, após os
primeiros dias deles como usuários da instituição e sentindo como a criança
está sendo tratada. É normal que eles se preocupem quanto à continuidade
dos cuidados que eles têm em casa, como a alimentação, o conforto e a
segurança. Especialmente as mães receiam que o filho/a sinta fome ou seja
agredido/a pôr alguém na creche.
Neste período de adaptação, quando ainda não há uma segurança
maior para os pais, por ser uma relação muito recente, eles vão observando
o tratamento que o filho/a e as demais crianças recebem na creche e
também como o filho/a está reagindo ao novo ambiente.
Dentro deste contexto, o uso da palavra “tia” pode significar uma
desvalorização do educador, por representar o cuidado e a educação infantil
como naturais pelas relações de gênero e parentesco e também exclui uma
representação mais adequada do profissional. (Rosemberg (1992) e Kramer
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
(2002), apud Maranhão e Sarti)
As relações entre o educador e a mãe (ou outro representante da
família) são permeadas por insegurança de que as necessidades da criança
não sejam atendidas da forma esperada, de que ela possa adoecer ou não
querer se alimentar. Além da incerteza na capacidade da criança em se
comunicar bem com pessoas fora do meio familiar.
Além disso, no período em que aguardam a abertura dos portões, nas
conversas com os outros usuários da creche, na atitude ou comentário de
outras mães, tudo pode reforçar uma desconfiança que era somente uma
impressão inicial, uma insegurança pela falta de conhecimento e de
informações sobre a qualidade do trabalho na instituição. Também podem
influir negativamente a evasão de lactentes ou muitos casos de
adoecimento, que podem ser atribuídos aos “descuidos” dos educadores.
São as mães de crianças de até 3 anos que demonstram maior
insegurança, pois elas são mais vulneráveis e dependentes de cuidados de
um adulto. Algumas usam estratégias para “observá-las” depois que as
deixam e os profissionais podem interpretar estes comportamentos como
naturais, pois entendem que a confiança precisa de tempo para se
estabelecer. Já outras mães preferem não acompanhar a criança no período
de adaptação, acreditando na capacidade que a criança tem de “se
acostumar” ao novo ambiente.
As crianças vão reagir de formas variadas ao novo ambiente,
dependendo de vários aspectos como idade, atitude dos pais, características
pessoais. Os profissionais, por sua vez também precisam trabalhar com
suas próprias emoções e também esperam que os pais confiem neles, para
que possam ter autonomia no seu trabalho.
O educador muitas vezes consegue identificar os sentimentos
ambíguos das mães confiantes quando os filhos demonstram afeto pelos
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
profissionais da creche, ao mesmo tempo que receiam perder o seu “ lugar
especial” na vida da criança. Pode ocorrer também uma tensão entre o
educador, a mãe e a criança, pois esta, do mesmo modo que se agarrou à
mãe no momento da entrada, pode virar as costas para ela, agarrando-se
ao educador, na hora da saída.
A criança menor de três anos pode reagir com desinteresse nas
primeiras separações temporárias de sua família, segundo Viorst (1986,
apud Maranhão e Sarti), recebendo a mãe com frieza, numa atitude
distante, como se pretendesse castigá-la por ter partido. Os educadores
entendem que, por outro lado, as mães podem ter um sentimento de perda
com o desenvolvimento da autonomia e a socialização da criança, com o
trabalho da creche. Com o crescimento das crianças a relação delas com os
educadores naturalmente se modificam, devido ao seu desenvolvimento e
maior autonomia. Neste ponto é muito importante quando a família
estimula a independência dos filhos.
O processo de aquisição da confiança é lento e variável e vai depender
de vários fatores: valores e expectativas de cada família, de histórias
pessoais de vida, experiências com creches anteriores e também de como
os profissionais da creche percebem as suas características ou
singularidades e como lidam com elas.
Em resumo, a relação dos profissionais com as famílias tem uma
carga de complexidade, pois requisitam muitas atenções ao mesmo tempo
– respeitar o direito das crianças, a perspectiva dos pais e os limites do
contexto coletivo. A equipe percebe as dificuldades à medida em que se
relaciona com cada família e precisa enfrentar os seus próprios sentimentos
de rejeição inicial em relação às suas peculiaridades.
Para que a relação se estabeleça com maior confiança, procura
compreender as razões dos conflitos, pois estes, quando não explícitos e
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
não resolvidos, podem dificultar bastante a relação. Mas o objetivo comum
dos profissionais com a família, apesar de todas as contradições, vai
construindo no trabalho cotidiano com os cuidados e educação das crianças,
a confiança necessária, que o tempo pode trazer, como ilustra o depoimento
de um pai:
É complicado, porque você bate o olho, quem vê cara não vê
coração. Mas quando eu entrei... você sempre tem receio de deixar um filho na mão de outra pessoa. Você não sabe, quais os princípios que aquelas pessoas têm, você não conhece as
normas diretivas que vão ajudar na formação do seu filho, é difícil, você não tem essa noção, é só o tempo. É como o
casamento. (Pai de Juliana,dois anos) (Maranhão e Sarti, p. 17)
OS CONFLITOS
Tanto as famílias como os profissionais têm suas singularidades e
características individuais e a equipe da creche precisa elaborá-las para se
relacionar e criar vínculos profissionais com as famílias.
Segundo Maranhão e Sarti (2005), os funcionários da creche podem
comentar suas impressões sobre os pais, que cuidam das crianças de
modos diferentes ao utilizado na creche, por terem religião, valores e
condição de vida igualmente diferentes. Geralmente, os principais conflitos
surgem envolvendo questões de alimentação e de higiene, talvez por
estarem diretamente ligadas aos cuidados que as crianças recebem de
maneira diversificada, em casa e na creche.
Novos desafios se acrescentam aos já corriqueiros, na relação entre
os profissionais e os pais, com a entrada de crianças de famílias em
melhores condições financeiras, que pela perda de poder aquisitivo,
passaram a se utilizar das creches. Sendo famílias mais exigentes, com
melhor nível de informação, podem confundir o direito universal ao serviço
público de boa qualidade com o “seu direito”, desrespeitando com
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
frequência as regras coletivas, confundindo os limites entre o público e o
privado, conforme argumenta Da Matta (1986, apud Maranhão e Sarti). O
que deveria ser um direito universal transforma-se num favor que remete
a uma condição particular.
Os profissionais da creche têm que administrar muitos conflitos, pelas
diferenças sociais, precisando lidar ao mesmo tempo com valores, costumes
e expectativas tanto de famílias mais pobres como de outras com maior
poder econômico.
Alguns conflitos permanecem subterrâneos, pois algumas pessoas
das próprias instituições não superaram a ideia da antiga “função das
creches”, voltada às crianças pobres e não entendem o real significado do
direito universal neste atendimento a crianças de qualquer estrato social.
CONCLUSÃO
A situação da creche e da pré-escola leva ao entendimento de que
existe uma distância enorme entre o que se investe hoje nesta área e o que
se precisa fazer para que tenhamos uma evolução real na educação e na
socialização das crianças com idade de 0 a 6 anos. Alguns estudos afirmam
que nesta faixa etária a criança tem fortes condições de absorver
conhecimentos e modos de agir daqueles que a cercam. Por isso é
necessária uma atenção maior dos gestores da área de educação a fim de
que os objetivos pedagógicos e de socialização sejam colocados em prática.
Como já foi mencionado por vários autores, conhecer a família e a
criança é de maior importância, já que a condução do tratamento dado às
crianças deve ser alinhada com a sua realidade, para possibilitar resultados
positivos no futuro.
Muitas dificuldades se tornam explícitas, pois a maior fatia dos
recursos financeiros alocados para a educação destina-se ao ensino
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
superior, em contraposição às creches e à pré-escola, ainda com verbas
públicas insuficientes, pela grande carência de profissionais e de recursos
para a concretização de um trabalho de qualidade ideal. Acredito que é
muito importante que se valorizem os cursos superiores. Mas o início deste
caminho de educação, de socialização, de formação de cidadãos e de
profissionais para a sociedade - começou lá, há muitos anos, na criação das
primeiras creches e pré-escolas, e não têm sido valorizado pelos
profissionais que decidem o porte dos investimentos públicos destinados a
elas, talvez por falta de conhecimento de sua real importância e das
consequências de suas decisões.
Entendo que muitos prejuízos já se evidenciam nos resultados de
avaliação de aprendizagem e nos hábitos comportamentais das crianças,
reflexo do pouco investimento nesta base da pirâmide de ensino – creches
e pré-escolas - dificultando o trabalho posterior de professores no ensino
básico e médio e também interferindo negativamente no desenvolvimento
global da criança na família e na sociedade.
A necessidade das creches não é exclusiva das famílias. A sociedade
contemporânea também necessita dela, pois as empresas não prescindem
mais da mão de obra feminina, nos vários níveis de formação e
especialização. O papel de mãe de tempo integral ou parcial foi “roubado”
pelo mundo do trabalho, mas as crianças pequenas permanecem com as
mesmas necessidades de cuidados, afeto e socialização, para o seu
desenvolvimento. Encontrar uma equivalência do papel da mãe junto a suas
crianças, é um desafio presente nas famílias e a creche pode ser para
muitas, a melhor opção possível.
A relação dos profissionais das creches com as famílias é permanente
e se reflete nas práticas cotidianas. Com o reconhecimento de que não há
apenas mais um tipo específico de família, mas famílias múltiplas e
complexas, muitos conflitos e problemas poderão ser melhor trabalhados,
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
permitindo também maior adequação no planejamento dos trabalhos com
as crianças, para as quais se voltam a mãe, a família e todos os profissionais
da creche.
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de 0 a 3 anos: uma abordagem reflexiva. 9.ed. Porto Alegre: Artmed,
1998.
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histórica. Porto Alegre : Mediação, 1998.
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SARTI, C. A. A família como espelho: um estudo sobre a moral dos pobres. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
128
Artigo: Desafio a Ser Cumprido Autora: Aguiar, Raquel Fernandes da Silva. Págs. 128 - 160
DESAFIO A SER CUMPRIDO
AGUIAR, Raquel Fernandes da Silva4
RESUMO
Tomando por base a gestão democrática como uma possibilidade de
efetivar uma proposta política e pedagógica de maneira significava,
onde a participação de todos estará contribuindo para uma efetiva
emancipação humana, desenvolvendo e estimulando as
potencialidades do educando, onde o diálogo é considerado um
instrumento de organização das esferas que compõem a escola. A
gestão democrática requer um amadurecimento das estruturas e de
seus componentes para que seja vivenciada na prática e possa, então,
revelar o seu potencial para a melhoria da qualidade na educação.
Portanto, o gestor escolar deve sempre ter um papel de destaque, pois
este pretende educar para a cidadania, acreditando que as práticas
construídas na área da gestão escolar e da educação se constituem em
caminhos possíveis em direção à superação do tradicionalismo
autoritário. Nesta perspectiva, o gestor democrático conta com o
interesse e comprometimento de todos os profissionais da educação,
onde todos devem trabalhar em prol do mesmo objetivo, ocupando um
espaço legalmente instituído e empenhando os esforços no sentido de
equacionar os problemas, construindo então, uma nova identidade
para a escola, diferente das vivenciadas antigamente, no caso onde
havia a presença marcante de um gestor autoritário que tomava as
decisões por si só.
Palavras Chave: Gestão democrática, competência, qualidade.
4 Aluna do Curso de Pós Graduação em Direito Educacional, turma de
Franco da Rocha – [email protected]
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
INTRODUÇÃO
A gestão democrática implica primeiramente o repensar da
estrutura de poder da escola, tendo em vista as constantes
socializações, possuindo como princípios básicos, a descentralização do
poder.
A socialização do poder propicia a prática da participação coletiva
que atenua o individualismo da reciprocidade, que supera a expressão
da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários, que
elaboram políticas educacionais, tais quais a escola é mera executora.
(Veiga, 2001, p.18)
O gestor inserido no contexto educacional deve ser o mediador
da construção de valores democráticos, da qualidade da educação dos
discentes e da valorização de toda a equipe. O trabalho do gestor em
uma escola deve se basear em um plano de ação, onde deve ser
elaborado por toda a comunidade da escola, estabelecendo metas de
forma coletiva, sempre direcionadas ao desenvolvimento do discente,
deve ainda saber enfrentar desafios, de modo a viabilizar a participação
nos diferentes segmentos da organização da escola.
A justificativa do tema se deu pela necessidade de refletir sobre
o papel do líder na gestão escolar e saber se o mesmo age
democraticamente.
O presente trabalho tem por objetivo analisar a administração
escolar numa perspectiva democrática e participativa e argumentar
algumas reflexões sobre a importância e as necessidades de uma
gestão democrática participativa para o desenvolvimento de ações
concretas e favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem.
No decorrer do trabalho, serão abordados temas como o
processo histórico da gestão escolar no Brasil, o conceito de gestão
democrática, suas implicações e possibilidades no cenário educacional,
além de identificar os fatores que necessitam ser superados para
alcançar uma gestão democrática de sucesso. A efetivação desta
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
pesquisa enfatiza o desafio de se implantar uma gestão
verdadeiramente democrática nas escolas.
A metodologia utilizada consiste em uma pesquisa exploratória
qualitativa com procedimento bibliográfico. O trabalho procurará
responder ainda, questões como: o que é necessário para manter e/ou
modificar na escola para que possa fortalecer a gestão democrática?
No entanto, Gestão Democrática pode ser definida como uma
forma de gestão que privilegia a participação e democracia com todos
os sujeitos envolvidos. No caso da educação, seriam pais, professores,
funcionários, equipe pedagógica e comunidade.
Nesse sentido, a atuação do gestor é essencial na participação
dos diversos segmentos da escola, devendo tomar as decisões
baseando-se no Planejamento da escola, além de aceitar as sugestões
de sua equipe frente à tomada de decisão a ser tomada.
Para que haja um fortalecimento da democratização do
processo educacional, torna-se fundamental a valorização e a
participação consciente e responsável de todos que fazem a escola.
1- PROCESSO HISTÓRICO DA GESTÃO ESCOLAR NO
BRASIL
A gestão é um dos componentes essenciais para o crescimento
total de uma instituição e seus efeitos, sejam eles positivos ou não,
podendo trazer o sucesso e/ou insucesso de qualquer organização, seja
ela pública ou privada.
Assim, pode-se considerar que a gestão escolar participativa é
criada como um modelo escolar em que a atuação dos atores
envolvidos na tomada de decisão é feita num mesmo plano, onde todos
podem compartilhar das tomadas de decisões.
As organizações administrativas escolares no Brasil tiveram seu
marco teórico no início da colonização brasileira com a chegada dos
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
padres jesuítas, tornando-se perceptíveis as diversas transformações
ocorridas no campo educacional. Tal processo histórico demanda ações
que de certa maneira impulsionaram a educação rumo a novos
caminhos.
Segundo Maciel (2008, p.35) “[...] as práticas administrativas
têm percorrido diferentes caminhos e as mais diversas linhas de
pensamento”, onde foi então após esse período, que surgiram as
primeiras relações estabelecidas entre Estado e Educação no Brasil,
ainda que de forma isolada, ficando por muitos anos o ensino voltado
apenas aos interesses pessoais e políticos do governo. Para Seco
(2005) os colégios jesuíticos foram os instrumentos de formação da
elite colonial, pois durante grande parte desse período, a prática
educacional no Brasil foi levada a cabo pelos padres jesuítas que
acabaram por estabelecer como que um sistema de educação no país.
A educação brasileira esteve paralisada por muito tempo, mas
somente com a chegada da família real que começaram surgir
mudanças na gestão educacional, tornando-se a partir de então, uma
necessária reestruturação educacional.
Foi a partir do século XIX que a educação pública brasileira se
deixou influenciar pela cultura norte americana, beneficiando então, a
mulher e a criança, organizada e influenciada pelos positivistas que
passaram a divulgar suas ideias por meio da educação, mas sem
muitos progressos.
Por muito tempo a situação educacional continuou a mesma no
Brasil, sem apresentar avanços considerados significativos desde o
início da colonização com os Jesuítas. Apenas a partir da década de 30
é que a educação passou a tomar novos rumos, entrando num período
de expansão industrial e de urbanização.
A organização escolar brasileira obteve então alguns avanços e
retrocessos, mas foi a partir da década de 40 com a volta de Getúlio
Vargas no poder, que houve então, um aumento significativo quanto
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
aos recursos para educação e cultura, o que posteriormente pode-se
verificar que eram insuficientes para garantir uma escola de qualidade.
A partir de então, torna-se indispensável uma reflexão sobre a
forma de gestão democrática vivenciada nas escolas, pois ela deve
perpassar todos os documentos norteadores da prática escolar, como
o Projeto Político Pedagógico, havendo uma real participação dos
atores da comunidade escolar, porém, o foco dessa participação é a
atuação e não a mera observação e escuta passiva, destituída de voz
e vez nas decisões escolares.
No contexto socioeconômico, político e social dos anos 80
enfatizam a transformação na área da educação com a democratização
do ensino e da escola, sendo foco então, a gestão e administração
escolar. A partir daí, surge o movimento dos trabalhadores da
educação que busca garantir uma gestão democrática de acordo com
o momento político do país, frente às proposições político educacionais
do momento.
Assim, a gestão democrática caminhava com modelo de gestão
político pedagógico e administrativo, sendo orientada por processos de
participação das comunidades local e da escola. De certo modo,
percebe-se que a educação era muito restrita em alguns estados e o
surgimento da nação brasileira impunha exigências à organização
educacional.
No entanto, a educação é entendida como apropriação do saber
e da cultura humana historicamente produzida, sendo por meio da
escola que acontece a estabilização dessa escassa ponte que liga o
homem ao conhecimento, fazendo da sua vida um constante
aprendizado, onde a interação, a parceria e o diálogo concretizam um
ensino de qualidade.
Mas, poucos são os gestores escolares que exercem gestão
democrático participativa com autonomia, conforme legislam a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1982 e a Lei de
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394/96, contudo, muitos
gestores têm resistência ou carecem de autonomia escolar,
contrariando a legislação e o direito da sociedade.
[...] os problemas decorrentes seriam, sobretudo encarados como carência de insumos, sobretudo os
financeiros e os de pessoas, em desconsideração à falta de orientação de seu processo e dinamização de energia social necessária para promovê-lo. (LUCK, 2006b, p. 38)
A gestão escolar, numa visão democrática, exige envolvimento,
comprometimento e a participação de todas as pessoas envolvidas no
processo de ensino e aprendizagem. Nas escolas e nos sistemas de
ensino, pois a gestão democrática tem por objetivo envolver todos os
interessados na construção de propostas coletivas de educação, ou
seja, capacidade de descentralizar para colher resultados bons, bem
como, para compartilhar possíveis falhas.
Contudo, a efetivação de uma gestão escolar participativa
democrática, é hoje uma exigência da sociedade, que entende esta
como um dos possíveis caminhos para uma boa escola, integrando
seus alunos em uma sociedade mais democrática. É preciso entender
a gestão participativa como um enfoque de atuação, pois seu objetivo
principal deverá ser sempre a efetiva aprendizagem dos alunos.
A função do gestor no entanto, vem se modificando ao longo da
história, à medida que a sociedade muda e se transforma, exigindo que
a escola acompanhe estas transformações e se posicione de maneira a
atender as novas demandas procedentes deste novo modelo social.
Assim, a figura do diretor sai de cena dando espaço a um novo ator: o
gestor.
Reformando o modelo de gestão de anos atrás, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 estabelece que a gestão
escolar participativa deve criar o projeto político pedagógico devendo
ser elaborado pelos membros da comunidade escolar juntamente com
a família. Percebe-se isto através dos artigos 14 e 15:
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na
elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as
normas gerais de direito financeiro público.
No que diz respeito à gestão democrática, vale ressaltar que houve
muitos avanços, mas ainda há um longo caminho a percorrer, pois
vivemos em uma sociedade onde a burocracia ainda predomina.
1.1 CONCEITO DE GESTOR DEMOCRÁTICO
Gestão democrática é entendida como um ato de administrar
uma instituição, devendo prevalecer a participação de todos os atores
envolvidos no processo educacional, para que assim ocorra a busca
pela melhoria do ensino. Ela vem substituir o autoritarismo empregado
durante décadas, envolvendo todos os segmentos sociais que
compõem a escola, para proporcionar uma reflexão quanto ao papel
do gestor na busca de uma escola de qualidade.
Tal modelo de gestão tem se tornado na área educacional um
dos motivos mais frequentes para reflexões, debates e iniciativas
públicas, a fim de dar sequência a um princípio presente na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Dentre os princípios contidos na referida lei, o Projeto Político
Pedagógico é indispensável para a elaboração de uma proposta
pautada nos trâmites democráticos.
De acordo com a Lei nº 9394/96 no artigo 14, a elaboração da
proposta pedagógica deve contar com a participação dos profissionais
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
da educação, na construção de projetos educacionais articulados com
as políticas nacionais, levando em consideração a realidade específica
de cada instituição de ensino.
Segundo Libânio (2004) alguns princípios da organização do
trabalho pedagógico e da gestão escolar ancorados numa perspectiva
democrática são sustentados a partir da autonomia das escolas e da
comunidade educativa; envolvimento da comunidade; formação
continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos
integrantes da comunidade escolar; avaliação compartilhada e relações
assentadas na busca de objetivos comuns.
A gestão democrática é considerada então, um dos fundamentos
da qualidade da educação, como prática efetiva da cidadania. Contudo,
a principal função da educação é a formação do educando para a vida
em sociedade.
Vale ressaltar, pois, que o conceito de gestão escolar está
intrinsecamente agregado ao movimento de fortalecimento da
democratização de todo o processo pedagógico, que possibilita a
participação coletiva com resultados cada vez mais significativos.
Assim, a gestão democrática constitui-se em uma maneira de conduzir
uma dada instituição escolar com possibilidades de garantir
participação, transparência e, sobretudo, democracia.
Dourado afirma (2003, p. 62), que “na escola todos têm
contribuições e saberes para compartilhar e todos os processos
realizados nos espaços da escola são vivências formativas e cidadãs”.
O conceito de Gestão Escolar, relativamente recente, é de
extrema importância para que se tenha uma escola que atenda às
atuais exigências da vida social: formar cidadãos e oferecer, ainda, a
possibilidade de apreensão de competências e habilidades necessárias
e facilitadoras da inserção social.
O gestor escolar tem de se conscientizar de que ele, sozinho, não
pode administrar todos os problemas da escola. O caminho é a
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
descentralização, isto é, o compartilhamento de responsabilidades com
alunos, pais, professores e funcionários, o que se chama de gestão
democrática onde todos os atores envolvidos no processo participam
das decisões.
Em suma, o gestor deve ter a habilidade de influenciar o
ambiente, que depende em grande parte da qualidade e do clima
escolar, do desempenho do seu pessoal e da qualidade do processo
ensino-aprendizagem, implicando primeiramente o repensar da
estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização, visando
à participação de todos os integrantes da comunidade escolar, com
direito de dar sugestões e participar das decisões referentes à escola e
a comunidade, sendo esse ponto uma de suas características
principais, pois é necessário o devido reconhecimento da participação
das pessoas no processo de tomada de decisões, as quais visam
orientar um melhor desempenho da unidade de ensino.
1.2 Desafios a serem enfrentados em uma gestão
democrática
É de fundamental importância que os
gestores compreendam a verdadeira função social da escola na sua
relação com as finalidades sociais e legais, pressupondo o
entendimento de que a escola, na sua relação com os demais órgãos
oficiais e a comunidade se constitui como espaço de consolidação dos
princípios estabelecidos na Constituição Federal de 1988, na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e nos Planos Federal,
Estadual e Municipal de Educação.
A educação brasileira na atualidade tem
apresentado significativas mudanças no que se refere à gestão escolar,
pois, considerando que deve ser superado o enfoque limitado de
administração, a mobilização dinâmica e coletiva do elemento humano,
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
sua energia e competência, devendo ser estas, condições básicas e
necessárias para a melhoria do ensino. No entanto, a escola deve
contar com um gestor acolhedor, participativo e democrático, banindo
de vez, a maneira de agir autoritariamente.
Para tanto, a Gestão Participativa deve
ter o comprometimento da prática coletiva e social, no qual, a
participação de todos deve ser claramente inserida às reais condições
da sua realidade, caracterizando assim, as mudanças no que se refere
às relações de poder, devendo ser necessárias também, mudanças de
atitudes dos envolvidos neste processo. É importante que o gestor
tenha comprometimento e trabalho consciente, acreditando que para
obter êxito nas ações planejadas é fundamental e imprescindível a
participação e colaboração de todos, tornado-se, assim notória a
importância do planejamento participativo, sendo possível uma gestão
democrática desejada por todos.
Para que se possa democratizar a
gestão educacional é necessário que todos os envolvidos possam
exercer seu direito à participação e à informação, devendo
comprometer-se, também, com a consolidação da democracia, pois a
democratização pretende que a sociedade tenha verdadeira
participação na formulação e avaliação da política educacional.
No entanto, um dos maiores desafios
para os gestores é banir o trabalho individualizado, fortalecendo assim,
o coletivo, sendo uma tarefa árdua, mas possível de ser evidenciada.
Contudo, é papel da escola, garantir o processo de transformação
resgatada através da participação de todos.
Assim, as escolas que não possuem
autonomia terão dificuldades de exercer uma gestão democrática, de
educar para a cidadania.
Torna-se necessário esclarecer que a
Gestão Democrática deve visar à prática coletiva e social, tornando-se
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
um processo de participação de todos, estando claramente inserido na
sua realidade escolar, sendo caracterizada por uma atuação que requer
mudanças nas relações de poder, transformando-as de centralizadoras
e autoritaristas para dialógica e democrática. Para que essa mudança
ocorra, torna-se necessário uma transformação de atitudes dos atores
envolvidos neste processo. Sendo assim, destaca-se importância de
um planejamento participativo, pois sem ele torna-se impossível a
busca por uma gestão democrática bem sucedida.
Entende-se que, para a gestão
participativa se tornar realidade no âmbito escolar, é necessário que
seja buscada e apreendida por todos. O gestor escolar deve incentivar
as potencialidades de cada integrante do grupo e estas tornarem-se
ações criativas e inovadoras. Para Gandin (1994, p.24), “participação
é construção em conjunto”.
Um dos desafios a serem enfrentados e
que necessitam ser superados para a democratização do ensino no
Brasil, refere-se à escolha de gestores, pois na maioria das vezes é
feita por indicação política ou familiar e não por competência do
profissional, porém, a escolha de gestores por maioria de votos da
comunidade escolar contribuiria para um processo mais democrático
do ensino.
Saber organizar o trabalho pedagógico
e ainda administrar a escola é, pois, outro desafio para muitos
gestores, pois eles precisam refletir sobre a necessidade da
participação da comunidade escolar nesse processo, onde são esses os
principais interlocutores sociais da organização escolar, responsáveis
pelas ações que possam de fato consolidar uma prática democrática.
Com base nesse pressuposto o gestor
democrático pode se basear em estratégias para consolidar
efetivamente suas ações. Para tanto Luck (2005) enumera algumas
ações especiais para que esse processo se realize de maneira eficaz.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
1) criar uma visão de conjunto associada a uma ação de cooperação;
2) promover um clima de confiança; 3) valorizar as capacidades e aptidões dos participantes; 4) associar esforços, quebrar arestas, eliminar divisões
e integrar esforços; 5) estabelecer demanda de trabalho centrada nas ideias
e não em pessoas; 6) desenvolver a prática de assumir responsabilidades em conjunto. (LUCK et al., 2005, p. 20)
Para tanto, a Escola Democrática deve servir de referência dentro
de uma concepção de escola que possa transmitir uma educação que
tenha como objetivo, formar cidadãos participantes, atuantes, com
capacidade de julgar e fazer escolhas suas conscientes.
No entanto, um dos aspectos considerados negativos neste
contexto é a imposição de regras, onde o gestor escolar não dialoga
com seus pares sobre seus anseios, devendo esta prática ser
imprescindível para que possa ser superadas as dificuldades
encontradas no processo de ensino e aprendizagem.
Contribuir para o desenvolvimento da autonomia de todos os
envolvidos da escola não é algo que se possa fazer unicamente pelo
discurso, pois a prática política efetiva é fundamental na construção da
democracia na medida em que questionando, desvelando e
democratizando mecanismos de legitimação e de exercícios do poder
em nossa sociedade, é que se pode contribuir para o desenvolvimento
da consciência e da autonomia dos diversos grupos em interação.
O grande desafio então é como garantir a participação de todos
neste processo e, ao mesmo tempo, uma gestão eficiente dos recursos
educacionais.
Para Gadotti (1994) uma gestão financeira democrática da
educação implica, antes de tudo, em uma mudança de mentalidade de
todos os membros da comunidade escolar.
Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é do estado e não da
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
comunidade. A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os usuários da escola, sejam os seus
dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros receptores dos serviços educacionais. Na gestão democrática, pais, alunos, professores e
funcionários assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola.
Contudo, uma gestão democrática determina as decisões sobre
as finalidades e objetivos do planejamento da escola, das disciplinas,
dos planos de estudos, do elenco disciplinar e os respectivos
conteúdos, sobre as atividades do professor e dos alunos, contando
com a efetiva participação de todos.
Um gestor democrático precisa compreender uma série de
aspectos que envolvem a educação, como por exemplo, a organização
da escola, onde possa oferecer aos discentes condições educacionais
favoráveis para sua formação e aprendizagem efetiva, sendo
articulador das políticas da escola, tanto interna como externamente,
tendo também capacidade de realizar um trabalho conjunto com o
Conselho Escolar.
Em suma, o gestor competente e democrático precisa ter
conhecimentos referentes às Diretrizes Curriculares Nacionais dos
diversos níveis e modalidades do ensino, além de compreender as
diversas leis que regem a educação, devendo ainda visualizar a escola
dentro do contexto mais amplo da sua inserção na sociedade,
atendendo ainda às necessidades de aprendizagem da população a que
serve, preocupando-se em situar tais necessidades em face dos
objetivos e orientações que derivam das políticas educacionais
estabelecidas, coordenando as reelaborações dos valores, normas e
procedimentos instituídos pelo sistema educacional.
2. GESTOR ESCOLAR E SUAS COMPETÊNCIAS
A existência de diversos modelos de competência é considerada
atualmente, uma condição básica para orientar e definir a seleção dos
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gestores educacionais, onde comunicar-se com eficácia e habilidade
para trabalhar em equipe, identificando as reais necessidades para as
transformações que devem ser ocorridas na escola, além de estimular
a promoção da aprendizagem dos profissionais da educação, são
exemplos básicos de competências que podem nortear um trabalho
verdadeiramente democrático nas escolas.
No entanto, o gestor responsável pelo espaço educacional deve
assumir atitudes profissionais decorrentes do seu compromisso na
dimensão educacional. Tal atitude deve envolver os aspectos
referentes ao contexto da prática escolar, contando com suas
experiências pessoais, a influência das políticas públicas e do grupo de
profissionais nas dimensões pedagógica, técnica e política.
LUCK (2005, p. 84) define para o gestor educacional:
Visão de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel da escola na comunidade;
Conhecimento de política e da legislação educacional; Habilidade de planejamento e compreensão do seu papel na orientação do trabalho conjunto; Habilidade de
manejo e controle do orçamento; habilidade de organização do trabalho educacional; habilidade de
acompanhamento e monitoramento de programas, projetos e ações; habilidade de avaliação diagnóstica, formativa e somativa; habilidade de tomar decisões
eficazmente; habilidade de resolver problemas criativamente e de emprego de grande variedade de
técnicas.
Contudo, o gestor tem a função de liderar,
motivar, coordenar e delegar responsabilidades decorrentes às
decisões dos membros da equipe escolar, prestando contas e
submetendo-se à avaliação do grupo e o desenvolvimento das decisões
tomadas coletivamente.
Torna-se então, imprescindível a presença da
comunidade na escola, em especial os pais, pois a estes delega-se a
representatividade e participação nos Conselhos de Escola, Associação
de pais e professores para uma efetiva elaboração ou reformulação do
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Projeto Político Pedagógico, acompanhando sobretudo, a avaliação
sobre a qualidade dos serviços prestados.
O gestor é então, o principal responsável pela
escola, por isso deve ter uma visão ampla, de conjunto, articulando e
integrando os diversos setores da instituição escolar, alinhado com
comportamento otimista e de autoconfiança e com propósitos bem
definidos.
Vale ressaltar que a comunicação aberta e clara
pode ser uma estratégia eficiente capaz de promover uma visão de
conjunto e facilitar a possibilidade de integrar a comunidade escolar. É
importante lembrar que a tarefa educativa essencial da escola é educar
os alunos para os valores da democracia, como educação, instrução,
conhecimento, verdades, filosofia, respeito, bom senso, dignidade, leis
justas, sistema justo, amor à pátria, etc. O processo democrático pode
assegurar a participação das pessoas envolvidas e seu consequente
comprometimento com as decisões tomadas.
Em uma sociedade democrática, as pessoas,
individualmente, se sentem responsáveis por si e pelos outros,
estabelecendo elos entre os interesses individuais e coletivos. Sem
interesses coletivos não há sociedade ou comunidade.
Entretanto, o gestor deve atuar como líder,
pensando nos avanços de todos. Um gestor líder é considerado como
uma pessoa que é capaz de desenvolver o potencial de trabalho de
todos que estão à sua volta, podendo transformar e realizar com
sucesso todos os projetos e metas desenvolvidos pela instituição
escolar.
Assim, para conduzir sua equipe o gestor
competente e democrático sempre deve ter um objetivo a ser
concretizado, usando-se sempre uma estratégia para conquistar seus
objetivos. Contudo, o ponto de partida para que as ações da equipe
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
escolar sejam bem sucedidas é a participação de um efetivo trabalho
em equipe.
O gestor escolar que deseja uma escola de
qualidade deve ser democrático, competente, criativo, qualificado,
atualizado e empreendedor, devendo envolver sua equipe para realizar
o melhor trabalho possível, tendo ainda, domínio administrativo e
pedagógico, além de estar em permanente leitura e formação
continuada para que seja realmente um profissional atualizado.
Em síntese, vale ressaltar que para ser
democrático, é preciso antes de tudo estar aberto para o novo,
pensando sempre no crescimento coletivo. Considera-se, no entanto,
que esta não é uma tarefa fácil, mas possível de ser concretizada se
houver comprometimento de ambas as partes.
2.1. Gestão participativa: Trabalhando em prol para uma
escola de qualidade
Atualmente, o termo gestão participativa é
discutida por diversos estudiosos, porém, ainda há muito que refletir e
estudar sobre este assunto, pois contribui de maneira significativa para
uma escola de qualidade, objetivando a construção de uma sociedade
democrática e participativa.
No entanto, a gestão participativa é
caracterizada por uma forma de atuação consciente, na qual os
membros da escola reconhecem e assumem o poder de influência na
determinação da dinâmica da unidade escolar, da sua cultura e dos
seus resultados, se embasando no entendimento de que o alcance dos
objetivos educacionais está no sentido amplo, no compromisso das
relações interpessoais assumidas por todos os membros.
Entretanto, trabalhar seguindo a teoria da gestão
participativa não é tarefa simples, pois pretende um envolvimento e
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um comprometimento de todos durante todo o processo, exigindo
assim, que todos sejam maleáveis, ou seja, o gestor precisa entender
que ele não pode simplesmente dar ordens, mas sim estabelecer
regras, trace objetivos que tenham metas claras para que todos
possam cumpri-las, inclusive ele, o próprio gestor.
Em uma escola com o princípio de gestão
participativa a palavra que envolve todo o processo é democracia, ou
seja, todas as pessoas devem ter direitos e deveres a serem
respeitados e cumpridos, trabalhando em prol para o amplo processo
de aprendizagem dos alunos, e para que isso seja concretizado dentro
de um ambiente harmônico, é necessário levar em consideração o
papel do gestor, pois este deve interagir com toda a equipe. Em
ambiente harmonioso e democrático o aluno é estimulado a estudar, a
pesquisar e a propor suas ideias de forma que o estudo possa fazer
significado para ele.
Uma escola que torna viável o êxito escolar de
seus alunos apresenta neste contexto, sua maior propaganda de
marketing, pois justamente por se sentirem satisfeitos com o sucesso
escolar de seus filhos, os pais se dedicarão ainda mais em colaborar
com o desenvolvimento das atividades escolares, projetos e até
mesmo na divulgação do nome da instituição de ensino.
Contudo, é fundamental ao gestor possuir
habilidade em gerenciar os conflitos que podem ocorrer entre os
membros da equipe, já que cada ser humano possui características
individuais, os conflitos podem ser ocasionados por fatores externos ou
internos ao ambiente de trabalho, cabendo então ao gestor, o papel de
gerir tal comportamento dos envolvidos.
O trabalho em equipe, portanto, deve valorizar
as diferentes opiniões e o pensamento individual de cada, sendo
considerados fundamentais para que se construa o sucesso coletivo.
Segundo Costa (1995, p.37),
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A construção de uma gestão escolar participativa se coloca como exigência e contingência de um processo de
afirmação da cidadania, na medida em que contribui para a conquista da autonomia política, superando relações verticalistas e padrões de gestão tecnocrática,
engendrando mecanismos de exercício de poder firmados no compromisso com os reais interesses da
maioria.
A gestão participativa então se coloca à disposição de vários
pressupostos e valores inquestionáveis, que não são manifestados
claramente em todos os desdobramentos da gestão, que Np caso é a
realidade e o conhecimento socialmente construídos, com o
reconhecimento do valor potencial em cada um deles e reconhecimento
da existência de grupos sociais. Assim, a escola aproximar-se-á da
função primordial que é promover a cidadania, oferecendo o
ingrediente fundamental para a sua verdadeira construção pela
participação.
A liderança participativa é, pois, uma estratégia empregada para
aperfeiçoar a qualidade educacional, considerada como a chave para
liberar a riqueza do ser humano que está preso no sistema de ensino.
Está baseada no bom senso, na delegação de autoridade àqueles que
estão envolvidos na produção de serviços educacionais, é construída a
partir de modelos de liderança compartilhada, que são os padrões de
funcionamento de organizações ao redor do mundo, com alto grau de
desempenho.
A gestão escolar participativa, no entanto, é representada pela
possibilidade de a comunidade participar ativamente das decisões
referentes à escola, opinando nas decisões relativas à direção a serem
seguidas e às diretrizes organizacionais que nortearão a atuação dos
educadores, servindo assim, como uma ferramenta que a comunidade
poderá opinar para a implementação de um ensino de qualidade.
Para que os gestores possam efetivar um trabalho articulado com
sua equipe de trabalho, deve-se ter como principal objetivo, a criação
de um ambiente solidário e com responsabilidade mútua, devendo ser
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justo e firme nas situações do cotidiano escolar. O gestor não estará
perdendo poder, mas dividindo responsabilidades, e assim a escola
estará ganhando poder.
No entanto, para garantir que o ensino realmente aconteça com
qualidade, é necessário agir com competência em todas as ações
articuladas, onde a construção do diálogo, do companheirismo ético,
seja construído pelos profissionais atuantes.
Neste sentido, o gestor educacional é caracterizado como a
pessoa designada a governar democraticamente a comunidade
escolar, orientando seus colaboradores nas suas respectivas tarefas,
devendo ainda atender as diferenças, desenvolvendo senso de
responsabilidade e abrindo-se para o diálogo, além de estimular o
espírito de colaboração. O trabalho da gestão participativa, no entanto
é algo intenso, que exige do gestor muita responsabilidade para que
não se perca em tarefas pouco importantes, deixando de lado objetivos
maiores, como o trabalho em equipe e aprendizado do aluno.
2.2 Democracia X Escola
Cada pessoa em sua particularidade tem o direito
de ir e vir, contudo, não poderia haver nenhum tipo de discriminação
ou preconceito, mas infelizmente não é essa realidade que a população
brasileira vivencia, basta uma diferença mínima, seja ela qual for, para
que a sociedade venha a desprestigiar uma pessoa. Mas de que adianta
cometer esses absurdos? Ao invés de críticas, deveria aceitar as
pessoas como elas realmente são. Talvez assim, poderia haver uma
sociedade mais unida e verdadeiramente democrática.
Deste modo democracia presume uma
possibilidade de vida melhor para todos, independentemente de
condição social, religião, raça, e sexo, por isso que democracia e
educação caminham juntas, pois a escol é um lugar privilegiado onde
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ocorrem as convivências e o acesso à aprendizagem. Neste sentido,
democracia e educação são inseparáveis, voltando-se para a busca
individual e social daquilo que se quer ser.
A democracia é vista então, como um valor
consensual entre as pessoas, podendo se vista também na Constituição
Federal e nas diferentes leis educacionais.
Segundo PARO (1999, p.31) “A democracia não
é algo dado, mas sim, um processo em permanente construção. E,
sobretudo por meio da eleição, que democracia se confirma como um
processo”.
Neste contexto, a gestão democrática pode
conquistar seu lugar e mostrar que o trabalho coletivo e participativo
pode contribuir de maneira eficiente para a construção de uma equipe
ativa, com ideias amplas, onde o compromisso da escola deve ser com
a democratização do saber, entendendo que o conhecimento é a
herança da humanidade e, portanto, um direito de todos. Visando a
ainda construção de uma escola de qualidade, prestando atendimento
aos alunos e comunidade local, aproveitando melhor seus recursos
existentes e oportunizando a ampliação e aplicação do conhecimento.
A participação de todos permite chegar-se a
soluções mais rápidas e que atendam a maioria através da ação
pedagógica e educativa de maneira coerente. (MELLO, 1998 p. 20)
afirma que “A escola democrática será aquela que conseguir interagir
com as condições de vida e com as aspirações das camadas populares”.
Em uma escola democrática, a visão que
prevalecerá como um todo é a do conjunto, onde todos, unidos pelo
mesmo objetivo, conseguem atingir resultados positivos que
possibilitem o crescimento do aluno e a sua inserção social, sem risco
de exclusão, permitindo ainda, que desenvolvam suas capacidades e
conquiste seu espaço por merecimento e por plena consciência de que
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sua atuação deve estar equilibrada com os valores inerentes à
cidadania.
Na construção de uma escola democrática deve-
se julgar necessária a forma de gestão preocupada com a participação
de todos os membros da comunidade escolar.
Atualmente compõem-se uma escola sem o
mínimo de abertura ao diálogo com aqueles que, direta ou
indiretamente, contribuem para a consecução do ensino e promoção
da aprendizagem. Contudo, além da escola de estimular a integração
interna, deve procurar estabelecer também parcerias com
organizações comunitárias, ONG’s e outras associações que
acrescentem esforços e garanta a continuidade do processo de
democratização da sociedade e de suas instituições educacionais. Mas,
primeiramente, os professores, suporte pedagógico e demais
servidores devem estar dispostos a contribuir para que haja
democracia na escola, e esta apresenta as condições institucionais
favoráveis à participação.
A escola democrática é considerada então como
aquela que está aberta ao diálogo intenso com toda comunidade
escolar, sem distinção, procurando criar as formas instituídas de
organização da escola ao novo momento de democratização da
sociedade e da educação escolar e, necessariamente, precisando criar
novos meios de se adaptar ao paradigma da participação.
Sendo assim, em uma escola democrática não
pode faltar a participação ativa da comunidade local na construção de
propostas e alternativas que fortaleçam a união no que se refere a
gestão e o ensino.
Em suma, a gestão democrática destaca o
relacionamento entre os profissionais da escola, buscando valores e
crenças como a transparência, comprometimento, participação e
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profissionalismo. Tais atitudes poderão favorecer a formação de um
ambiente agradável, motivador e construtivo.
Vale ressaltar ainda que numa sociedade
democrática as instituições devem ser regidas pela igualdade, justiça,
participação e portanto, sendo coerente com a instituição responsável
pela educação dos discentes, construindo-se a partir de valores e
práticas democráticas. Os valores que orientam as práticas vinculam-
se à autonomia, à liberdade de expressão, à responsabilidade, à
cooperação, à solidariedade e tolerância. Contudo, desenvolvê-los
dependerá de procedimentos como o diálogo e a autorregulação.
2.3. Ensino e aprendizagem de qualidade: Sinônimo de
equipe competente
Em um ambiente escolar que pensa na qualidade do ensino,
torna-se primordial que o gestor escolar tenha comprometimento,
tendo um papel fundamental na organização e funcionamento da
instituição escolar, em todos os seus aspectos: físico, sócio político,
material, financeiro e pedagógico. Seu papel é de suma importância
para o bom desenvolvimento de todo o trabalho escolar, desde o
acompanhamento da aprendizagem dos alunos até o trabalho de toda
a equipe escolar, porque a presença do gestor em uma escola serve
para auxiliar o processo pedagógico e lançar o outro olhar observador
e compreensivo sobre todo o conjunto que faz a escola. Por isso faz-se
necessário refletir sobre o papel do gestor escolar uma vez que é
inegável a importância da sua ação na escola, para garantir a
efetivação das conquistas legais e a democratização das relações e do
ensino.
Deste modo, o conceito de gestão escolar surge como uma
maneira de direcionar uma instituição de ensino, desenvolvendo
estratégias cotidianamente com objetivos e metas que possam tornar
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
a educação mais democrática e participativa, ou seja, a gestão escolar
constitui-se em uma forma de atuação que visa promover a
organização e a articulação de todas as condições materiais e
humanas, necessárias para garantir o avanço e a promoção da
aprendizagem dos alunos de forma que os mesmos sejam capazes de
enfrentar os desafios do dia a dia e sentir-se parte integrante da escola
e da sociedade.
Nessa perspectiva, o gestor assume o papel de integrar e auxiliar
o processo de ensino aprendizagem de maneira significativa,
promovendo uma efetiva participação.
A escola deve contar então, com um gestor democrático e
dinâmico, que tenha uma visão ampla, que acredite no potencial de
sua equipe e que busque sempre a participação de todos.
Assim, o papel do gestor é de suma importância para a escola,
uma vez que orienta e lidera, conscientizando a equipe a desenvolver
um trabalho significa ativamente na escola.
Contudo, o gestor deve propor medidas que vise o
aprimoramento dos projetos escolares, o avanço de sua instituição,
visando à valorização e desenvolvimento de todos na escola, porque o
seu papel não é apenas cumprir as leis e regulamentos, ele é o
mediador de um bom trabalho na instituição escolar, por isso deve agir
como um líder que deve ter consciência de que sua equipe não se limita
apenas a alunos, professores e demais funcionários internos da escola,
ela também é composta pelos pais dos alunos e por toda a comunidade
em geral, que deve ser mobilizada para que juntos, possam promover
o principal objetivo de toda a equipe escolar, que é a aprendizagem
dos alunos.
Para (LUCK, 2000, p. 16), o gestor democrático no ambiente
educacional precisa ser:
Um gestor da dinâmica social, um mobilizador, um
orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na construção do
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos.
Vale explicitar que a participação efetiva e o compromisso de
toda a equipe escolar na construção de uma gestão democrática
refletirão positivamente na qualidade do trabalho da instituição de
ensino diante das inovações que o mundo moderno impõe, logo,
permite-se pensar em gestão no sentido de uma articulação e
integração consciente de ações que se realiza no cotidiano da escola,
surgindo uma nova maneira de se direcionar uma escola com
responsabilidades e anseios compartilhados. Sem dúvidas, o gestor
escolar é um elemento de grande importância para o processo de
transformação educativa, exigindo a construção de instituições
educacionais autônomas e com capacidade para tomar decisões,
elaborar projetos, administrar adequadamente todos os recursos
disponíveis e escolher estratégias que lhe permitam produzir
resultados positivos.
Torna-se essencial explicitar que cabe ao professor, o papel de
mediador do educando, levando-o a aprender em todos os aspectos,
ou seja, na aquisição e desenvolvimento de valores, conhecimentos,
atitudes, hábitos, habilidades e diversos tipos de aprendizagens, sendo
necessárias ao educando. (FREIRE, 1999) afirma que:
É preciso que o educador não se restrinja ao âmbito
da sala de aula, da estrutura interna na escola, aos problemas de legislação escolar, mas volte-se para
assuntos mais importantes dentro do contexto social e político em que vivemos.
Além de procurar a participação dos professores na divisão de
tarefas e responsabilidades, o gestor escolar deve coordenar a
circulação da informação como treinamento em exercício dos
professores para que a escola funcione de maneira que atenda às
necessidades de toda a comunidade escolar.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Vale ressaltar que é de extrema importância para a sociedade
que o país coloque a educação acima de todas as prioridades. Se essa
iniciativa for realizada, a probabilidade de atingir um ensino de
qualidade será consideravelmente grande. Segundo Zabala (1998,
p.13)
Um dos objetivos de qualquer bom profissional consiste
em ser cada vez mais competente em seu ofício. Geralmente se consegue esta melhoria profissional
mediante o conhecimento e a experiência: o conhecimento das variáveis que intervêm na prática e a experiência para dominá-las.
Sendo assim, são muitos os direcionamentos que conduzem à
perspectiva de um resultado satisfatório no processo de ensino e
aprendizagem, desde sua utilização de práticas e técnicas pedagógicas
diferenciadas, até ao envolvimento e comprometimento dos
profissionais, para que de fato, esse processo não venha a se
cristalizar.
Vale destacar então, que para haver desenvolvimento e
progresso, (LUCK et all., 2002,p.34) afirma que:
As escolas necessitam de líderes capazes de trabalhar e
facilitar na resolução de problemas em grupo, capazes de trabalhar junto com professores e colegas, ajudando-os a identificar suas necessidades de capacitação e
adquira as habilidades necessárias.
Deste modo, o gestor escolar deve agir como um mediador do
trabalho e ter iniciativa em conjunto com sua equipe, para promover a
transformação e a quebra de paradigmas já existentes em uma
sociedade em constante mudança.
Em síntese, para que a escola seja um ambiente socialmente
favorável, deve ter transparência nas ações dos envolvidos, respeito
mútuo, companheirismo e acima de tudo, comprometimento por parte
de todos os membros que compõem a escola, tornando-se então, um
ambiente que ocorre aprendizagens expressivas.
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3. QUALIDADE NO ENSINO: democratização da escola
rumo ao sucesso
O conceito de qualidade no ensino vem gerando polêmica entre os
educadores e pesquisadores preocupados com a precariedade da
escola brasileira nos últimos anos e todos devem concordar que a
escola necessita elevar a sua qualidade, porém há desacordo quanto
aos indicadores de qualidade, o que implica uma compreensão do papel
da educação no processo de desenvolvimento do país.
Segundo ENGUITA (1994),
As discussões sobre a qualidade do ensino tiveram início nos Estados Unidos, no início da década de 80, quando o sistema educacional norte-americano apontou uma
série de indicadores que atestavam a inadequação de suas escolas aos novos tempos.
A inquisição da qualidade do ensino nos anos 90 tomou novo
arrebatamento, embalada pela competição da economia internacional
e o sistema educacional torna-se o vilão do desemprego, da falta de
qualificação da mão de obra, etc., onde característica de um discurso
liberal e questões de ordem estrutural da sociedade são transferidas
para os indivíduos.
O processo de democratização do acesso à educação neste início
de século, anima alguns pesquisadores a afirmarem que 97% das
crianças de cada geração têm acesso à escola.
FRANCO (1995), ao fazer um estudo da realidade das escolas
públicas brasileiras, questiona esses dados e levanta algumas questões
de fundo que tocam na essência da qualidade do ensino da escola
brasileira.
Neste contexto, um verdadeiro projeto de educação popular de
qualidade aceita como luta a realização das possibilidades da escola
servir aos interesses reais das classes populares. Ele se incorpora à
luta coletiva pela construção de uma escola competente, na qual os
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alunos, em sua totalidade, se apropriem do saber historicamente
acumulado, criando um novo saber sobre a sociedade que pretendem
transformar e sobre as suas possibilidades reais de a transformarem.
No entanto, a gestão democrática da educação está relacionada
ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à
organização de ações que desencadeiem a participação social, seja na
ação de formular as políticas educacionais, na tomada de decisões, no
planejamento, nos momentos de avaliação da escola e até mesmo da
política educacional.
A democratização do acesso e meios que devem afirmar com
segurança a permanência na escola vem tendo como horizonte a
universalização do processo de ensino para toda a população, bem
como a discussão sobre a qualidade social dessa educação
universalizada. Tais processos devem movimentar a presença dos
diferentes atores envolvidos que participam dos sistemas de ensino.
Outro conceito consideravelmente importante é o da
participação, havendo a possibilidade de ter muitos significados, além
de poder ser exercida em diferentes níveis. Pode-se pensar na
participação em todos os momentos do planejamento da escola.
Uma escola que é considerada de qualidade deve ser específica,
integrando os perfis (formação pessoal e profissional) de sua equipe,
valorizando e respeitando a personalidade de cada membro, devendo
ainda, destacar e contemplar o desenvolvimento profissional dos
profissionais, percebendo que cada um faz a diferença no mecanismo
do sistema. O enfoque da capacitação prático e não apenas a vertente
teórica, muitas vezes sem aplicabilidade, deve ser compreendida como
importante, estimulando assim, cada vez mais, as práticas dos
colaboradores.
Entretanto, uma educação de qualidade está voltada para a
contínua reestruturação democrática de todos os setores do espaço
escolar, seja a interna pelo compartilhar das relações de projetos,
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ações e remodelagem do plano curricular com a participação da
comunidade ou na produção solidária de dividir o conhecimento pelos
atores mediadores do saber em projetos interdisciplinares, com o foco
para a socialização das práticas e apresentação dos relatos de
experiências para somarem propostas de ações eficazes.
A democratização da educação perpassa o direito básico do ser
humano em ter acesso à educação. O gestor, e logo, todos os
profissionais da instituição escolar deve entender que a
democratização é a busca de projetos, ações e controle de tarefas, na
procura incessante de melhoria na infraestrutura, pedagógica e física
das escolas. (MENEZES & SANTOS, 2002).
Sendo assim, o gestor deve ter o comprometimento de repensar
alguns fundamentos básicos da educação no atual momento que
vivenciamos, integrando a equipe de forma sólida nas atividades da
escola, procurando internalizar a união coletiva, que, aliás, não é a sua
equipe, mas a equipe da escola, derrubando paradigmas que dificultam
o processo da democratização social, principalmente em relação às
atividades interdisciplinares, pensando em temas geradores de
conflitos intelectuais para fomentar novas ideias e, logo, novos
projetos, propondo uma pedagogia do saber, de projetos e programas
que liderados pelos especialistas sejam construídos em conjunto com
todos os mediadores do conhecimento – professores, realizando assim,
uma construção de conhecimentos, competências e habilidades na
equipe escolar (OLIVEIRA, 2002).
Contudo, o maior objetivo da gestão escolar é a oferta de um
processo de mediação do ensino capaz de promover a internalização
de conhecimentos necessários aos alunos, onde a ação educacional
faça de fato sentido. É importante que a equipe saiba o que significa
cooperação educacional. Assim, segundo assinalado por Luck (2000, p.
11), gestão escolar:
[...] constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a
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mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o
avanço dos processos sócio educacionais dos estabelecimentos de ensino orientadas para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos e
solidariedade pelos profissionais [...].
Neste sentido, a escola democrática parte do pressuposto do
gestor como norteador de ações coletivas. Tal escola, conta com o
apoio de um gestor que partilha seus objetivos e metas e procura
entender que a escola é um todo e que para alcançar a sua autonomia
deve refazer o processo tradicional da gestão, implicando que as
políticas da escola devem respeitar as ações e sanções de instâncias
nacionais, porém o quadro de sua realidade, muitas vezes, não condiz
com o plano de ações propostas pelos órgãos, então estimular o
processo de construção de ações e a descentralização da gestão é
necessário para se chegar à autonomia. (ESTEVÃO, 1999).
Ter como objetivo a qualidade no processo de ensino e
aprendizagem atravessa o empenho de todos os atores da educação,
onde a participação coletiva tem como meta perceber as falhas no
mosaico estrutural e funcional da escola em busca de melhoria, então
a gestão compartilhada deve ser vivenciada para a execução de
projetos e tomada de decisões bem realizadas. (ALVES, 2011).
Vale ressaltar então, que o gestor não tem uma equipe, ele faz
parte da equipe que compartilha vivencia a democracia, onde a
liberdade de expressão estimula e prepara a evolução de todas as
atividades da escola.
Para tanto, a efetivação da gestão democrática implica a garantia
da autonomia dos sistemas de ensino e, por conseguinte, a gestão
escolar é compreendida como uma maneira de organizar o trabalho
administrativo-pedagógico com a finalidade de viabilização de
objetivos e metas educacionais da instituição escolar de maneira
compartilhada e colegiada. Implica na distribuição de funções e
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atribuições, na relação interpessoal de trabalho, na partilha do poder
e na democratização da tomada de decisões (DOURADO, 2006).
Perrenoud (1999) destaca a importância de o profissional
conhecer suas atribuições, assim como saber trabalhar em equipe.
Considera a necessidade de o gestor possuir conhecimento e postura
adequada para dirigir o trabalho em grupo, conduzir reuniões,
administrar e lidar com problemas tanto administrativos quanto
pedagógicos.
Nesta perspectiva, LUCK (2011, p.76) afirma que
[...] o processo educacional só se transforma e se torna
mais competente na medida em que seus participantes tenham consciência de que são corresponsáveis pelo seu
desenvolvimento e seus resultados.
Assim sendo, no mínimo todo o trabalho do gestor na escola envolve
conhecimento e capacidade de movimentar ações conjuntas e, com
isso, a liderança necessita ser construída por meio de gestão
participativa. Para que estas questões realmente venham a acontecer
na escola de maneira democrática, é preciso mobilização coletiva, com
o planejamento ocorrendo de modo participativo e responsável entre
todos os envolvidos.
Na Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional nº 9.394/96, no
artigo 64, ao tratar dos profissionais da educação para atuar na gestão
escolar, consta que:
A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em cursos de graduação em pedagogia
ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a
base comum nacional.
Faz-se necessário investir em formação inicial e continuada, em
especial, em cursos para a capacitação de gestores, que de acordo com
LUCK (2000, p. 29):
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[...] não se pode esperar mais que os dirigentes
escolares aprendam em serviço, pelo ensaio, sobre como
resolver conflitos, [...] como desenvolver trabalho em
equipe, [...] como planejar e implementar o projeto
político pedagógico da escola, [...] como criar novas
alternativas de gestão.
Nesta perspectiva, uma Gestão democrática deve estimular uma
construção coletiva da organização da educação das instituições de
ensino, fazendo-se na prática, quando a tomada de decisões sobre todo
o projeto político pedagógico, as finalidades e objetivos do
planejamento, dos planos de estudos e respectivos conteúdos, sobre
as atividades dos professores e dos alunos, pensando numa escola de
qualidade para todos.
Neste contexto, a participação favorece melhor conhecimento
dos objetivos e metas da escola, de sua estrutura organizacional e de
sua dinâmica, de suas relações com a comunidade, propiciando um
clima de trabalho apropriado e maior aproximação entre toda a
comunidade local.
Em todo o processo educacional buscam-se resultados
significativos, mas há um sentido mais amplo de prática democrática,
de oportunidade ao grupo de profissionais para intervir nas decisões
da organização e definir coletivamente o rumo que as propostas devem
seguir.
Nesse sentido, LUCK (2002, p. 66), diz que:
A participação significa, portanto, a intervenção dos
profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si: a) a de caráter mais interno, como
meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo prática formativa,
isto é, elemento pedagógico, curricular, organizacional; b) a de caráter mais externo, em que os profissionais da
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escola, alunos e pais compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão.
Assim, a participação da comunidade que a escola está inserida,
contribui para facilitar o conhecimento sobre a avaliação dos serviços
ofertados e a mediação organizada na vida escolar.
Segundo LUCK (2002, p. 62)
A participação democrática na gestão escolar deve ser
principiada pelos conhecimentos dos papeis de cada profissional que direta e indiretamente vivenciam as rotinas da escola, os projetos e a construção dos
documentos intrínsecos ao desenvolvimento do ensino na escola, especialmente no Projeto Político pedagógico.
Entende-se, dessa forma, que a gestão escolar democrática
participativa aperfeiçoa e qualifica a aprendizagem do aluno, tornando-
o assim, ativo e participativo na sociedade no qual está inserido. O
gestor é então, um dos principais responsáveis pela execução de uma
política que promova o atendimento às necessidades e anseios dos que
fazem a comunidade escolar.
3.1 Equipe gestora democrática
Para que haja democracia escolar, a equipe gestora precisa atuar
em todos os segmentos colegiados, oportunizando a cada membro,
espaço para posicionar-se criticamente e para apresentar seus
questionamentos.
Os novos cenários sociais e educacionais apresentam embates e
desafios às equipes gestoras nas escolas, como por exemplo, as
frequentes mudanças contidas na LDB, baixos salários pagos aos
professores das redes públicas de ensino, falta de recursos humanos,
avanços tecnológicos e professores com sentimentos de impotências
frente à falta de comprometimento dos alunos. Diante de todo este
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cenário o gestor precisa mediar conflitos, ter um olhar atento a tudo e
a todos, buscando sempre o bem estar de todos e cumprindo o maior
objetivo que é a qualidade do ensino/aprendizagem do aluno.
Deste modo, o gestor escolar no deve ser uma pessoa atenta,
participativa e motivadora no ambiente escolar, determinado o sentido
de unidade e mobilizando a participação dos demais profissionais e da
comunidade, superando tensões e conflitos e tomando as decisões
juntos.
A gestão pedagógica neste sentido deve ter uma ação muito
importante na escola, pois institui objetivos para o ensino e
aprendizagem e propõe metas para a concretização das propostas da
unidade escolar.
Sobre os gestores LUCK (2007, p. 15) comenta que são também
funcionários da escola e que:
Deste grupo fazem parte o diretor escolar, que é o líder responsável máximo por todo o processo escolar e
mobilização de esforços e recursos, com eficaz realização dos objetivos educacionais; o supervisor e coordenador
pedagógico, responsável pela orientação, acompanhamento e avaliação dos processos educacionais e o orientador educacional, responsável
pelo atendimento na escola e em especial pela ação dos professores, às necessidades de desenvolvimento dos
alunos como pessoas.
Contudo, fazer uma escola atingir resultados significativos na
aprendizagem e oferecer uma educação de qualidade é uma
responsabilidade complexa demais para ficar somente sob os cuidados
de apenas uma pessoa, o gestor. Contudo, o coordenador pedagógico
e o supervisor de ensino também fazem parte da equipe gestora, onde
atua também para o bom andamento da escola, influenciando no
desempenho dos alunos.
Sendo o gestor o responsável legal, pela instituição de ensino,
deve garantir o bom andamento da escola, coordenando também as
ações que responde pela formação dos professores com projetos
dinâmicos e implantando políticas públicas.
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Vale então destacar que a escola pode contribuir para a análise
da prática cotidiana e da realidade concreta vivida pela comunidade,
criando condições para que ela entenda a realidade mais imediata
como manifestação das contradições macroestruturais. A escola pode
ser então, a grande mediadora do conhecimento necessário à
comunidade, para que ela possa construir realidades mais humanas,
desde que haja uma gestão verdadeiramente democrática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que o gestor escolar possui um papel de suma
importância na escola, que é fundamental para o bom funcionamento
da mesma atuando de maneira consciente no contexto no qual se
encontra inserido, mantendo-se informado ao buscar dados
necessários para fundamentar e possibilitar o progresso de toda a
escola em conjunto com toda a equipe escolar, uma vez que um bom
gestor precisa empenhar e estar atento para descobrir as necessidades
de toda a comunidade escolar, de forma que possa propor mudanças
e alternativas para o desenvolvimento e melhoria na qualidade de
ensino da mesma.
Fica claro então, que introduzir esta nova prática gestora
embasada na democracia e na participação coletiva não é tarefa fácil,
uma vez que demanda uma ruptura de antigos paradigmas e práticas
arraigadas no contexto educacional. Porém, não se deve ver a gestão
democrática como uma prática inatingível ou utópica, pelo contrário,
pois é este modelo de gestão que permitirá verdadeiras
transformações sociais, onde igualdade, solidariedade e justiça seja
uma realidade para todos os indivíduos.
Nesta perspectiva, a gestão democrática é considerada como um
instrumento de transformação das práticas escolares, sendo a escola
entendida como a que atende os ideais estabelecidos, não apenas
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
cumprindo um currículo imposto por uma política educacional, mas,
principalmente, propiciando aos seus educandos condições reais de
democracia e o real exercício da cidadania.
Sabe-se que a gestão democrática deve seguir um processo
complexo, mas não impraticável, e que exige de todos os envolvidos
neste processo, sendo família, profissionais da educação, governo e
sociedade como um todo, ações imediatas e sólidas que garantam a
realização das ações de um trabalho coletivo, com o propósito de
substituir o paradigma de políticas educacionais autoritárias pela
democrática.
Assim, o trabalho em equipe é condição indispensável para que
as atividades sejam devidamente planejadas e avaliadas, tendo em
vista a direção comum que se pretende transferir ao processo ensino
aprendizagem.
É preciso então que todos estejam conscientes de que a
democracia em uma sociedade não pode ser considerada
exclusivamente como um sistema político, pois a democracia só pode
ser real se todos os seus princípios se inserirem à lógica da vida
cotidiana dos indivíduos.
O gestor deve atuar como um elo de ligação, gerindo e avaliando
o dia-a-dia da escola, podendo contar com sua equipe. As decisões
coletivas e a abertura à participação da sociedade dentro da escola
possibilitam o acesso e a permanência da população à necessária base
cultural e à formação, exigidas pelas condições das sociedades atuais.
Conclui-se então, que o papel do gestor escolar não se resume
em cumprir e fazer cumprir as leis e regulamentos, as decisões e os
prazos para desenvolvimento dos trabalhos pode transmitir a seus
subordinados a estratégia a ser adotada no desenvolvimento desses
trabalhos.
Para que a escola possa realmente fortalecer ou manter sua
gestão democrática o gestor deve opinar e propor medidas que visem
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
o aprimoramento dos trabalhos escolares, a participação de todos os
envolvidos, pois o sucesso de sua instituição, além de exercer sua
liderança administrativa e pedagógica, visa à valorização e
desenvolvimento de todos na escola.
A escola, sobretudo, precisa se constituir, de fato e de direito,
um espaço público de cultura viva e, para tanto, os gestores precisam
estar atentos às mudanças que a sociedade vivencia e que sua
formação e postura devem refletir diretamente no desenvolvimento
das ações administrativo pedagógicas de qualidade na escola.
No entanto, a liderança é considerada como uma habilidade que
pode ser desenvolvida a cada dia, a partir das experiências
vivenciadas.
Diante de tal realidade, acredita-se que para minimizar as
dificuldades quanto à participação dos profissionais, pais e alunos na
construção de um projeto democrático que busque a qualidade no
ensino e na aprendizagem, é necessário que a instituição reelabore sua
proposta pedagógica e contemple passo a passo como deve ser a
participação de todos na construção de uma escola que busque a
qualidade do ensino e da aprendizagem.
Dessa maneira, a gestão democrática deve estabelecer relações
recíprocas, desenvolvendo ações que venham a beneficiar toda
comunidade escolar, em processo positivo.
Enfim, o grande desafio que se tem pela frente é iniciar a reflexão
sobre o real significado de uma gestão escolar participativa. É
necessário que haja humildade e maturidade intelectual para
reconhecer que não se trata de apontar um único responsável. A
questão é estrutural, pois envolve vontade política de todos, governo,
sociedade civil, gestores, educadores, funcionários, pais e alunos,
apesar das diferenças e dos conflitos, em torno de um único objetivo:
promover uma educação de qualidade.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
O processo de democratização tornou-se então, um fator de
fundamental importância, pois visa melhores resultados no processo
de ensino e aprendizagem, em decorrência da descentralização do
poder exercido pelo governo, que impunha condições ao gestor da
escola, praticando até então, ações autoritaristas para com a
sociedade.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico
Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
TECNOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUAS: Abordagem do Meio
Acadêmico
Ricardo Silva Suzue
RESUMO
Ter um processo de construção de conhecimento na escola em que
vivemos é o novo papel do educador. Tendo isto em vista, este trabalho
tem como objetivo falar sobre o aproveitamento das Novas Tecnologias
de Informação e Comunicação em ambientes educativos. O uso da
tecnologia como apoio a aquisição de línguas estrangeiras em sala de
aula é cada vez mais utilizada e nossos livros e educadores são
obrigados a se adaptarem aos novos meios tecnológicos. Sabemos que
na educação é preciso buscar novas alternativas para aumentar o
entusiasmo do educador e o interesse do aluno em relação à aquisição
de línguas. Nossos alunos precisam estar preparados para tais
novidades em seu modo de adquirir uma segunda língua. Expor o aluno
a uma segunda língua é muito importante para que ele se sinta seguro
em falar a língua adquirida. O sistema educacional aos poucos está
sendo inserindo a tecnologia em seu sistema. A escola não pode estar
alheia às tecnologias emergentes, devemos integrá-las para que, com
a interatividade por elas proporcionada, possamos tornar o processo
de ensino-aprendizagem.
Mais eficiente, atrativo, e significante nos dias de hoje.
Palavras chave: Tecnologia, Educação, Ensino, Aprendizagem.
16. Introdução
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Para iniciar esse assunto sobre o uso da tecnologia no ensino de
uma segunda língua percorreremos pela parte histórica do avanço
tecnológico. Mostrar como esses materiais tecnológicos são
importantes na aquisição de uma segunda língua, facilitar o acesso às
informações que nem sempre está conosco no momento que as
queremos, favorecer informações de outras culturas e sugestões de
recursos tecnológicos aplicados ao ensino de línguas.
A tecnologia tem mudado a vida de todos os indivíduos dentro
da sociedade em todos os aspectos, e com o passar dos anos a
sociedade tem se adaptado ao uso da tecnologia, no ensino de línguas
não podemos fugir do uso da tecnologia, ainda mais porque se bem
utilizado o aprendizado se torna mais fácil.
O uso da tecnologia é uma ferramenta que pode agregar em
muito desde que seja utilizado de maneira eficaz, nos dias atuais com
a globalização tem aumentando ainda mais a procura pelo aprendizado
por outro idioma, hoje com o uso da tecnologia podemos deixar o
aprendizado mais dinâmico, além de obter mais recursos para ser
utilizado no ensino.
Hoje em dia o maior problema para o uso da tecnologia é à
adaptação dos educadores, a maioria dos educadores principalmente
mais velhos tem uma certa rejeição em se adaptar ou mudar para
incluir o uso da tecnologia no ensino. Alguns tem um certo receio ou
até medo de agregar a tecnologia ao estudo, para utilizar a tecnologia
o educador precisa estar preparado e ter conhecimento da tecnologia
que ele está utilizando. Os educadores mais novos tem uma certa
facilidade em utilizar a tecnologia na aula, principalmente porque eles
aprenderam e nasceram na era da tecnologia.
Geralmente as instituições que trabalham com ensino de línguas
são obrigadas a se adaptarem principalmente para concorrer com as
outras instituições. Mas para a inclusão da tecnologia a instituição é
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
necessária passar um treinamento aos seus educadores,
principalmente para que todos aprendam a utilizar e até mesmo para
a interação entre eles, sempre procurando novos recursos para a
utilização na sala de aula ou em outros meios de ensino.
Hoje em dia além do ensino em salas de aula temos outros
meios, um dos meios que mais está crescendo é o aprendizado através
da internet. Geralmente o aprendizado através da internet o indivíduo
não precisa estar se deslocando até o local de ensino, ele pode estar
em casa, no trabalho ou em qualquer local que tenha um computador,
tablet ou até mesmo um celular com acesso a internet para assistir as
aulas online. Nesse caso a instituição tem que estar bem preparada
para o uso dessa tecnologia, mas a maior dificuldade para o ensino
online é a adaptação do indivíduo, muitas vezes se as aulas não tiver
uma dinâmica que prenda o aluno no curso ele acaba perdendo o
interesse ou não aprendendo.
17. A importância da TI
A TI é um conjunto de atividades, dados e operações providos
por meio de recursos tecnológicos e de computação, podemos definir
TI em algumas palavras como: eficiência, agilidade e experiência
positiva do cliente. São palavras de importância para as empresas que
querem entrar ou continuar na era digital e metas que podem ser
alcançadas se as empresas se adequarem para a importância da TI.
A TI é uma ferramenta que pode ser considerada em constante
mudança, o público está muito exigente para o uso da tecnologia, os
avanços tecnológicos sempre ocorre em busca de mecanismos para se
obter os melhores resultados para a empresa e ao cliente, mas nem
sempre é assim, por isso a empresa tem que se adequar a ferramenta
que mais combina com o que ela precisa.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Para se obter a melhor ferramenta que cabe ao orçamento da
empresa, é necessário fazer um levantamento do que a empresa
utiliza, procurar informações com os funcionários, identificar o que
pode ser melhorado e só assim adequar todas as informações coletadas
e formar uma tecnologia que possa ser útil a empresa.
Além de toda tecnologia é necessário ter um treinamento para a
implantação e adaptação ao uso da TI ou a qualquer outra ferramenta
tecnológica que será englobado a empresa, somente após esse
treinamento que a empresa poderá utilizar o uso da TI para que se
tenha o melhor desempenho, além de estar sempre atento à novas
tecnologias que possa melhorar o desempenho da empresa.
18. Evolução Tecnológica no Ensino de Línguas
Depois da Segunda Guerra Mundial em 1945, houve um avanço
tecnológico que ocorreu nesse conflito. Alguns dos avanços foram à
televisão e gravadores eletrônicos. Doze anos mais tarde indústrias
produziam televisores, gravadores de som e computadores de grande
porte. Em 1965 professores contaram com a presença do professor
Alberto Macedo Junior diretor da sociedade mantenedora do Liceu
Eduardo Prado (SP), para estagiar no Philips International Institute,
em Eindhoven, Holanda, no meio de vários projetos apresenta a eles
um novo e revolucionário método de ensino: um laboratório de ensino
de idiomas do sistema áudio-ativo-comparativo. Foi classificado grande
potencial de tal recurso como auxiliador de ensino de línguas. Esse
laboratório ficou localizado na sede do Liceu, em 1967. Parecia ser
muito difícil aumentar a aplicação com qualidade e resultados, pois, na
época os padrões de ensino tradicionais eram seguidos com suas
proibições de grade horária, grande quantidade de alunos e era
impossível o repasse de acréscimos de valor. Foi decidido, então, que
houvesse laboratório como uma organização independente. Pequenos
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
grupos com até 12 estudantes e aulas diárias. Os alunos ouviam as
orientações que vinham com um ou até dois exemplos que o
laboratório oferecia, eles também eram instigados a ouvir para depois
produzir oralmente, fizessem sua própria gravação e logo em seguida
conferia para comparar o exercício feito com a sonoridade correta.
Quando o aluno ou professor se sentia confiante com seu nível de
produção iriam para próxima fase ou se o aluno estivesse insatisfeito
com a produção faria novamente o processo para comparar com a
original. Tais laboratórios não foram muito espalhados no País, às
universidades usavam esse laboratório nos ambientes de aquisição oral
onde existe até hoje na PUCSP.
Esses laboratórios foram considerados muito importantes para
alunos e professores que faziam uso frequente, pois favorecia na
prática à aquisição de uma segunda língua (Rappaport R, 2008, p.123).
Muitos centros de idiomas e universidades ofertavam e
integravam em seus programas exercícios com foco em filmes clássicos
e contemporâneos onde eram realizados e reforçados com a prática
feitos em laboratório. TVs e vídeos (DVD) começaram a aparecer nas
escolas, professores começaram a se planejar criando vídeo aulas
focando objetivos linguísticos do educador e do curso ou até uma
sessão de vídeo sem atividade planejada.
Alguns administradores da Universidade de Illinois, EUA,
escolheram um comitê para opinar sobre as maneiras pelas quais o
computador pode ser utilizado em pesquisa educacional. Educadores e
engenheiros mantinham visões diferentes: engenheiro não entendia
sobre ensino e vice-e-versa. O comitê teve uma conclusão, que não
conseguiam ter um projeto que valesse a pena o investimento dos
fundos disponibilizados.
Contudo, um pesquisador de fora do comitê disse: “Eu tenho uma
resposta! preciso de duas semanas”. Alguns dias depois ele mostrou
uma proposta para criar um curso em engenharia, o que ele entendia,
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
com um plano educacional. Esse curso aconteceria na prática com
computadores nos laboratórios no qual apreciava os aspectos técnicos.
O pesquisador teve sua proposta aceita e contratou um técnico,
para criar o equipamento e um matemático para auxiliar no
desenvolvimento do programa. Em um mês eles desenvolveram um
terminal de vídeo interativo ligado a um computador que tornava viável
o ensino. Matemática (no ensino médio) e a ciência da computação
(nível superior) eram atendidas pelos programas desenvolvidos. Um
programa que ensinasse francês foi logo acrescentado. Esse
equipamento teve um custo baixo, foi criado rápido, porém funcionava.
O equipamento possuía só seis teclas; o vídeo era uma televisão que
já não pegava ondas de transmissão e custaram só dez dólares. Esse
foi um dos primeiros a ler slides e gráficos de computador. O sistema
de seleção de slides era antigo - um especialista, em outra sala,
escolhia e os mostravam diante da câmera.
O grande pesquisador desse fenômeno foi Donald Blitzer, e o
sistema se chamava Plato-programmed logic for automatic teaching
operations (lógica programada para operações de ensino automáticas)
Plato Computer System é seu outro jeito de ser conhecido.
A versão original possuía todos os elementos que deixavam Plato
um equipamento único, instrução computadorizada sistema de
autorização com desenho para deixar as instruções computadorizadas
simples e sistema de gerenciamento de aprendizagem que testava o
aluno todos os dias a respeito do entendimento do material e ainda
indicava alguns materiais suplementares, pela necessidade de cada
aluno.
Conforme (Rappaport R, 2008, p.126) algumas informações
existentes no Computer Development Managed Instruction de Charline
Seyfer e James Russel, em 1988, mais de dez mil horas de Plato e seus
programas estavam sendo usados do jardim da infância até educação
superior, em todas as disciplinas, inclusive em treinamentos
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
administrativos e industriais. Todo material do curso era
disponibilizado em terminais de cada participante em todo o mundo
através de cabos de telefone a um computador central na Universidade
de Illinois. Tal caminho havia sido conquistado desde o encontro da
indecisão de um comitê e dez dólares em um aparelho de televisão.
Segundo (Rapaport R, 2008, p.126) nos anos setenta e início dos
oitenta, a educação voltada em programas de computador e
fundamentava-se nos princípios de aprendizagem utilizados pela
instrução programada. Em 1988, existia um computador para cada 36
estudantes nas escolas públicas dos Estados Unidos. No Brasil, o
processo de ensino-aprendizagem com computadores foi discutido pela
primeira vez em 1971, na USP- São Carlos, e os alunos de física seriam
os contemplados. Algumas experiências começaram a ser desenvolvida
em outras Universidades usando computadores como recurso para
auxiliar o professor para ensino e avaliação em Química e
desenvolvimento de software educativo na Federal do Rio Grande do
Sul UFRGS. Crianças com dificuldade de leitura, escrita e cálculo
passaram a ter atenção especial de profissionais através de exercícios
baseados nas teorias de Piaget e Papert criadas no Laboratório de
Estudos Cognitivos do Instituto do Instituto de Psicologia (LEC).
Novas técnicas, novos termos em inglês por ser o idioma desses
equipamentos e processos e é claro muitos desafios. Segundo Marco
Silva, sociólogo, doutor em Educação e professor da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Estácio de Sá
(UNESA) independente do nome que seja chamado à geração que
estamos inseridos – geração digital, cyber cultura, sociedade que
informa ou em rede a verdade é que em nosso tempo a interatividade
é um desafio não só para gestores da velha mídia, mas para todos os
educadores do processo de comunicação.
Segundo (Rapaport R, 2008, p.127) Entende-se que ao colocar
novas tecnologias durante nossas aulas precisamos ficar atentos e
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preparados para que seu uso seja de forma correta ao estilo que cada
aluno possui e ao ritmo de aprendizagem dos mesmos. Quando usamos
novas maneiras de ensinar, consequentemente temos que ajudar
nossos alunos sobre os jeitos diferentes de se aprender. Pensando em
construtivismo, precisamos pensar em como as tecnologias podem ser
utilizadas na aquisição do conhecimento pelos alunos.
Os programas de ensino foram desenvolvidos em 1980 com
várias janelas em rede onde seus usuários poderiam até forjar
conteúdo. De acordo com (Ferro J, Bergimann FCJ, 2010, p.118)
deixar os alunos em contato com a língua desejada é essencial para
que eles sintam segurança em falar a língua adquirida. Essas
tecnologias segundo (Ferro J, Bergimann FCJ, 2010, p.21) são
conhecidas como mediadoras de aprendizagem. Mesmo esses meios
de aprendizagem serem muito conhecidos e divulgados eles ainda são
limitados por diversos itens, como valor ou a falta de outros
equipamentos para um uso combinado (por exemplo: a Internet
precisa de um computador com vários recursos).
Embora dificuldades e impedimentos por falta de uma situação
financeira melhor no uso desses materiais, eles são de grande apelo,
pois chama bastante a atenção do aluno para o conteúdo ensinado e
ajudam o educador na mediação no ensino-aprendizagem de nossos
alunos.
19. Tecnologias aplicadas ao Ensino de Línguas
A revolução tecnológica nos trouxe muitas possibilidades, por isso,
é preciso conhecer opções de como usar tantos recursos para
podermos atingir os objetivos pretendidos no processo de ensino-
aprendizagem. Alguns são eles:
• Método jesuítico
• Áudio / Vídeo
• Atividades personalizadas
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
• Internet
Como vimos são vários os recursos e várias são as ideias a se
explorar. Precisamos estar sempre ligados às inovações tecnológicas,
pois os alunos sempre estarão atentos a qualquer movimento novo.
a. Método Jesuítico
Este método conservador, por incrível que pareça ainda é
empregado e considerado eficaz em muitas instituições, adotando o
perfil de carteiras perfiladas e professores na frente ensinando, sem
ter ouvidos para os alunos, não estão abertas as novas tecnologias,
ainda tem como principal ferramenta o giz e lousa.
Para o ensino de línguas este método é totalmente descartável,
pois a interatividade com aluno torna-se quase que nula, assim os
alunos teriam uma carga muito elevada de gramática e pouca
conversação e o aproveitamento seria baixo.
Representação método jesuítico.
Fonte: cumachama.wordpress.com
b. Áudio / Vídeo
Método mais utilizado no Ensino de idiomas, na sala de aula da
escola regular, a televisão toma nova dimensão quando é usada para
a visualização de vídeos gravados que passaram a fazer parte dos
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materiais didáticos das grandes editoras, mas que estão, pouco a
pouco, migrando para CD-Roms e DVDs.
A cada nova tecnologia, a escola, especialmente no ensino de
línguas, busca inserir essa nova ferramenta nas práticas pedagógicas
em uma tentativa de melhorar a mediação entre o aprendiz e a língua
estrangeira. Assim, o livro ganhou a companhia do som e da imagem,
oferecendo input menos artificial.
c. Atividades Personalizadas
Para o ensino de línguas as atividades devem ser bem exploradas
em sala de aula, tendo o professor como principal figura, esta é uma
tecnologia que deve ser bem empregada de forma que prenda a
atenção dos alunos.
Existem atualmente diversas dinâmicas para se empregar no
ensino de línguas, são elas:
• Aulas em ambientes reais (restaurantes, parques,
passeios, etc.);
• Aula em círculos;
• Conversação;
• Visitas de estrangeiros;
• Aulas Vips.
d. Internet
O surgimento da internet na década de 60, revolucionou todas
as áreas da educação, e na área de línguas também, podemos verificar
hoje em dia a grande quantidade de pessoas autodidatas em outros
idiomas, pelo simples fato da necessidade de se comunicar com outras
pessoas, seja para um jogo, uma entrevista ou simplesmente a
curiosidade.
A internet, disponibiliza os mais diversos recursos para o
aprendizado, seguindo um modelo cronológico (criado por Vera
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Menezes: http://www.veramenezes.com/techist.pdf ), ilustra bem a
progressão desde o início.
Figura 1. Cronologia da Informática.
Vamos comentar que a partir de 2001, com o surgimento da
maior biblioteca existente no mundo virtual (Wikipédia), esta
concentra o maior acervo literário do mundo, onde as pessoas podem
postar as atualizações e suas ideias, porém com o surgimento do Orkut
várias pessoas começarão a aprender novos idiomas para poderem se
comunicar, e de forma indireta nem percebiam que estavam
desenvolvendo seus conhecimentos.
Já o Youtube, hoje é uma ferramenta de fundamental
importância, pois temos o poder do recurso áudio/visual, onde prende
a atenção do aluno.
Hoje a internet disponibiliza os mais variados cursos de línguas,
sendo totalmente gratuitos, onde o usuário é preparado até para os
exames de pró-eficiências, bastando a dedicação.
Nos dias atuais o próprio indivíduo consegue tirar dúvidas pela
internet, assistir aulas, conversar com outras pessoas, ou seja, ele até
consegue aprender sem ajuda do professor, mas de uma forma sem
orientação e talvez para ele mais difícil, o aconselhado é utilizar a
internet como uma ferramenta para auxilio e não a única forma de se
aprender.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
Aproveito este para um relato de uma experiência ao qual adotei
na escola o sistema de aula onde o professor utiliza IPAD como
ferramenta para aula, com livros eletrônicos, exercícios on-line, tudo
com muita interatividade, onde houve uma melhora de notas de 80%
dos alunos, pois estes recursos prenderão a atenção de todos.
e. EAD – Educação à Distância
EAD é a sigla que utilizamos para Educação à Distância, é uma
forma de ensino mediados por tecnologias que permitem que o
educador e o aluno estejam em ambientes físicos diferentes. EAD
possibilita que o aluno crie seu próprio horário para estudar, porque
geralmente as aulas são pela internet, onde podem ser ao vivo ou
gravadas, o aluno apenas comparece a instituição de ensino para
realizar as provas.
“A Educação a Distância foi regulamentada pelo Decreto-Lei nº
2.494, de 10 de fevereiro de 1998, do Ministério da Educação,
regulamentando o Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional”.
O curso através do EAD necessita de um computador com acesso
à Internet e conhecimentos básicos de informática, cada instituição
tem um sistema próprio que podem conter inúmeras ferramentas,
como áreas com conteúdos sobre a língua que o aluno está
aprendendo, exercícios, trabalhos e até vídeos.
Um ponto fraco do aprendizado através do EAD são que as aulas
tendem a ser menos dinâmicas e cansativas, o aluno precisa ter muita
disciplina, dedicação, organização e motivação para atingir o melhor
aproveitamento.
As dúvidas do aluno podem ser tiradas através de e-mail ou até
chat pelo próprio sistema da instituição, geralmente o aluno não
consegue tirar dúvidas durante as aulas pela internet, ao menos que
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seja turmas reduzidas ou aula vip, dependendo da instituição podem
optar por algumas aulas presenciais.
A maioria dos alunos que optam pelo curso EAD são pessoas que
possuem pouco tempo livre, precisam conciliar emprego e estudo, pois
o aluno pode montar seus horários de estudo, podendo estudar durante
a semana ou só nos finais de semana.
20. Adaptação ao Professor
Com o uso da tecnologia no ensino de línguas, o professor precisa
se adaptar, estar preparado e consciente para as transformações
sociais. O uso da internet é praticamente utilizada e tem alcançado um
número cada vez maior de indivíduos, sem falar da agilidade que chega
a impressionar educadores em geral.
Mas para se chegar a um melhor aproveitamento, os professores
além de passar por um treinamento, eles precisam aceitar as
mudanças e se adaptar da melhor forma possível para que a tecnologia
ajude no ensino e não atrapalhe.
Muitos professores utilizam a internet para a interação entre os
alunos, desenvolvendo a comunicação entre todos até mesmo fora da
sala de aula.
21. Satisfação do Cliente
A satisfação de clientes é uma forma das empresas se manterem
no mercado a partir da conquista de seus clientes e de sua fidelização.
Com a globalização em que vivemos e com a alta competitividade nas
empresas faz com que a satisfação de clientes seja um diferencial no
mercado.
Para alcançar os resultados esperados dentro da empresa foram
necessárias várias ações para que o cliente fique satisfeito, onde
algumas dessas ações foram: oferecer produtos e serviços de
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
qualidade, preços e prazos favoráveis e que o cliente seja bem atendido
e cumpra o que foi prometido a ele, com algumas dessas ações a
empresa ganhou o cliente. A empresa completou uma imagem que o
cliente traz incompleta em sua mente e assim criou-se um
relacionamento que gera satisfação, o cliente tem perceber que o
vendedor o entende.
O objetivo de uma empresa é atender melhor para vender mais,
ou seja, a satisfação de clientes é uma ferramenta de lucratividade
para a empresa. Se a empresa deixar o cliente insatisfeito pode
acarretar em inúmeros problemas, onde a imagem da organização
ficará prejudicada, porque esse cliente além dele nunca mais comprar
um produto ou serviço, o cliente passará uma informação negativa da
empresa para outras pessoas, com isso a empresa não somente será
afetada por esse cliente como também por futuros novos clientes.
Conforme Steve Watson (1994 apud DESATNICK; DETZEL, 1995)
“A satisfação do cliente começa com o presidente servindo de modelo
– falando, ouvindo, respondendo, respeitando, criando e vivendo o
ambiente e deixando a porta aberta para todos os funcionários, em
todos os momentos”.
Foi necessário que todos entendam que a Satisfação do cliente é
muito importante para a empresa, onde todos têm que procurar deixar
o cliente satisfeito. Para atingir a satisfação do cliente foi necessário
conhecer e avaliar os valores que contam mais para ele, em relação ao
produto que foi oferecido.
Estes valores são aqueles que proporcionam ao cliente maior
satisfação e foram elementos orientadores da sua estratégia de
marketing, tanto para ambiente externo como interno. Estas
avaliações entre cliente e fornecedor são chamadas de "momentos de
verdade", já que transmitiu a imagem do seu produto/serviço. Assim,
fazer certo da primeira vez, em todos os requisitos necessários para o
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
cliente, é a maneira mais fácil de moldar a imagem positiva, satisfazê-
lo e conservá-lo.
O fato é que a maioria dos produtos e serviços está associada
mais às necessidades psicológicas do que propriamente essenciais ou
básicas. Se fosse apenas pela necessidade de usar roupas para
proteger o corpo, não haveria a moda, essa poderosa indústria. Há
vários exemplos e são bastante simples, mas podem levá-lo a explorar
o rico potencial da psicologia e da imaginação humana diante do
consumo de bens e serviços. Se a empresa conhecer o perfil do cliente
ela pode surpreendê-lo.
Com a mudança do comportamento do consumidor ao longo do
tempo, existem fatores que até então não eram notados pelas
empresas ao buscar informações sobre seus produtos e serviços,
sempre relacionados à satisfação dos clientes, mas que atualmente
direcionam o sucesso ou mudanças de muitos produtos. Da mesma
maneira com que o cliente pode adquirir um produto ou serviço da sua
empresa, pode indicá-lo a um amigo, uma variável muito valiosa e que
gera informações necessárias para todas as empresas do mercado.
Aprender continuamente é um dever para todas as organizações,
os clientes desejam manter um contato com as empresas, querem seus
desejos e necessidades atendidos, por isso buscam dar um feedback
sempre que possível, mas as organizações devem estar preparadas
para lidar com este novo consumidor.
A satisfação de clientes é um método que pode ser apontado com
um diferencial dentro da empresa principalmente nos dias atuais onde
a concorrência é muito grande. Para criar esse diferencial são
necessários vários fatores que deixe o cliente satisfeito, que a empresa
consiga atender os desejos e necessidades do cliente e para conseguir
isso é necessário conhecer o cliente e saber entender o que ele pensa
e o que sente para assim poder oferecer os produtos ou serviços ao
cliente. Em uma escola de inglês pode se criar vários diferenciais,
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todavia, surge um questionamento qual o principal diferencial de uma
escola de inglês?
O objetivo geral é desenvolver um diferencial dentro de uma
escola de inglês e os objetivos específicos são:
✓ Identificar a Idade dos alunos;
✓ Identificar a Renda dos alunos;
✓ Identificar o Preço sugerido pelos clientes;
✓ Identificar os Produtos aceitos pelos clientes;
✓ Descrever Atendimento
✓ Avaliar a Satisfação do Cliente
Conforme Gale (1996, p. 41), “O perfil de qualidade percebida
pelo mercado e o mapa do valor do cliente nos dão tantas informações
a respeito de uma empresa quanto uma página de relatório financeiro
e uma folha de um balanço”.
A Satisfação do Cliente é uma forma de manter os consumidores
como seus clientes futuros, para atingir a satisfação de cliente são
necessários conhecer e avaliar os seus clientes em relação ao produto
que você oferece. Os valores mais importantes para os clientes são
aqueles que vão lhe proporcionar maiores satisfações e que serão
elementos da estratégia de marketing, tanto para ambientes internos
e externos, com a satisfação do cliente a empresa terá uma imagem
criada pelo cliente sobre o produto ou serviço, ou seja, se a empresa
realizar todos os requisitos necessários que faça o cliente se sentir
importante para a empresa e que atinja todas as suas necessidades
principalmente na primeira compra dele, a empresa terá adquirido uma
imagem positiva com esse cliente.
As organizações são constituídas de pessoas e dependem delas
para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. E para as pessoas,
as organizações constituem o meio através do qual elas podem
alcançar vários objetivos pessoais com custo mínimo de tempo, de
esforço e de conflito.
Após todas as informações coletadas, seja por pesquisas ou por
outros métodos, podemos utilizar a tecnologia da melhor forma
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
possível para os clientes e atingir a satisfação deles. Onde o primeiro
objetivo de uma empresa sempre seja atingir a satisfação dos clientes.
22. Considerações finais
A tecnologia colocada na aquisição de uma segunda língua não
deve ser vista como um remédio para ajudar no tempo sem apresentar
resultados. Com a combinação desses elementos vindo para beneficiar
nossos alunos e as necessidades de cada um estamos perto de uma
construção de conhecimento o que permite nossos alunos se
integrarem a sociedade que estão inseridos.
As possibilidades oferecidas pela tecnologia criam oportunidades
para um aprendizado único e ajudam todos os interessados, tanto
educadores quanto aluno a viverem outras culturas.
Hoje muitas escolas utilizam o uso da tecnologia no ensino de
línguas no Brasil, mas a trajetória do uso da tecnologia nessa área não
tem sido linear e o acesso a esses recursos não são de alcance de
todos.
Hoje percebemos a importância da utilização dos recursos
tecnológicos para o desenvolvimento do ensino de línguas, temos
várias ferramentas que se bem utilizadas, tornam as aulas mais
dinâmicas e interessantes.
O ato de adquirir e ensinar uma segunda língua são atos de
criatividade, imaginação, possibilidades de expressões, tanto sociais
quanto cultural.
Enfim, precisamos lembrar que assim como os educadores
podem ser motivadores é fundamental o papel que cabe a todos, tanto
educador, quanto aluno na busca do crescimento intelectual. Afinal,
conviver em um mundo cheio de transformações é primordial à
sobrevivência de todos.
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Artigo: Tecnologia no Ensino de ínguas: Abordagem do Meio Acadêmico Autor: Suzue, Ricardo Silva. Págs. 167 - 184
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Slva. Págs. 186 - 212
O USO DA SILEPSE NA LÍNGUA INGLESA COM SUBSTANTIVOS
COLETIVOS EM INSTITUIÇÕES E SUAS IMPLICAÇÕES
IDEOLÓGICAS
Samuel da Silva Tavares de Sá¹
RESUMO
Quando começamos a aprender uma língua, geralmente observamos
sua estrutura gramatical. Porém, com o passar do tempo, analisamos
que existem fenômenos linguísticos que nos desafiam para uma mais
profunda compreensão do idioma. Neste artigo, estudaremos o uso da
silepse e suas implicações semânticas com substantivos coletivos e
instituições na Língua Inglesa baseados em textos originais
amplamente difundidos pelo website da BBC de Londres e outros
veículos de comunicação, cujo foco principal é a área de esportes.
Nosso objetivo é mostrar que uma língua não pode ser estudada
somente pela gramática. Cada povo possui suas próprias ideologias
que refletem diretamente na maneira pela qual eles se expressam
através da língua.
Nossa conclusão é de que os aspectos semânticos são extremamente
relevantes para o aprendizado de um idioma, pois podemos entender
alterações no uso de diferentes conjugações verbais e conectivos como
também a cultura de seus falantes.
Palavras-chave: Semântica. Silepse. Língua. BBC. Substantivos.
Esportes.
1. Introdução
Quando estudamos um idioma buscamos assimilar as regras de
sua gramática, como, por exemplo, a concordância verbal, com intuito
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
entendermos os recursos padronizados da língua escrita e falada.
Porém, existem fenômenos ideológicos, presentes em toda língua, que
não seguem o padrão gramatical e que trazem consigo uma
considerável carga ideológica que expressa conceitos sociais, culturais
e econômicos do povo usuário e que impactam no enunciado e no
interlocutor.
O objetivo deste artigo é analisar semanticamente fenômenos
linguísticos referentes ao uso dos coletivos presentes na língua inglesa
da mídia escrita, que contrariam o padrão da língua culta segundo a
gramática tradicionalista, e que incidem ideologicamente no
enunciado. Visamos apresentar o fenômeno da silepse dos
substantivos coletivos na língua inglesa. Além disso, será realizada
uma análise semântica com relação ao emprego de determinadas
conjugações verbais e que têm implícito nesses usos cargas ideológicas
impactantes no enunciado. Na língua inglesa alguns substantivos
coletivos têm sua concordância verbal ou pronominal, tanto no singular
quanto no plural, dependendo dos sentidos implícitos dos enunciados.
Entender o fenômeno da silepse é importante para a compreensão e
para o ensino.
Após anos de estudo da língua inglesa, deparei-me com textos
diversos, principalmente publicados em websites de língua inglesa que
não apresentavam o padrão gramatical no que se refere à concordância
verbal. Seriam, porventura, equívocos ou desconhecimento as regras
padrão dos produtores? Nesta pesquisa busco entender e analisar o
porquê da ausência de concordância em certas frases da língua escrita
e falada da mídia. Como estudioso e professor da língua inglesa, sua
gramática e semântica, deparei-me com textos jornalísticos divulgados
pela web, produzidos pela BBC de Londres que aguçaram minha
curiosidade pelos conteúdos específicos abordados que colocaram
meus conhecimentos sobre o uso do idioma à prova.
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
Pude perceber que esses fenômenos da não concordância verbal
são de ordem semântica, isto é, a concordância se faz com os sentidos
que por sua vez expressam os chamados agentes performadores.
Baseado na teoria dos signos linguísticos de Saussure e com
enfoque no fenômeno linguístico chamado silepse, analisei títulos de
diversas fontes de linhas editoriais de informativos muito conhecidos e
confiáveis.
As silepses indicam implicitamente o agente que performa a
ação, ou seja, ou instituição como um todo ou o grupo de agentes que
representam tais instituições. Esse processo semântico-ideológico vai
influenciar diretamente no tocante das variações com relação às
conjugações verbais, usos específicos de coletivos e dos pronomes,
como também de adjetivos possessivos, no singular ou plural.
Observei que nos artigos, principalmente, esportivos,
ocorrências em que as agremiações eram conjugadas na 3.ª pessoa do
plural, mesmo tendo como referência apenas uma equipe no singular,
o que contraia forma culta da língua no que tange à concordância
gramatical.
Após pesquisar esse fenômeno, notei que o mesmo efeito ocorria
com diversos substantivos coletivos em inglês, como por exemplo,
team, side, squad, club, dentre outros. Percebi, então, que existia toda
uma motivação semânticoideológica que explicam o uso dessas
categorias de substantivos na 3.ª pessoa do plural, assim como o uso
do pronome relativo who e que gramaticalmente subvertem o padrão.
As perguntas principais que conduziram o artigo foram: Quando
devemos conjugar o verbo de um substantivo coletivo na 3ª pessoa do
plural ou do singular? Qual é a razão pela qual o pronome relativo who
e o pronome adjetivo possessivo their são utilizados para substantivos
coletivos como team, side, squad, club quando há referência às
agremiações desportivas, que por sua vez, estão sendo relatadas de
forma singular, porém estão conjugadas na 3ª pessoa do plural? Qual
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
é a mensagem de sentido ideológico está sendo apresentada ao
interlocutor? Qual é o impacto ideológico contido?
Além de responder a esses questionamentos, esse artigo visa
contribuir para o ensino e aprendizagem do idioma inglês como
segunda língua, de modo a esclarecer a professores, alunos e mesmo
falantes do inglês sobre os sentidos de certas anomalias, ou desvios de
caráter gramatical no fenômeno da silepse e quais são os impactos
ideológicos de tais fenômenos.
Nesse artigo, o quadro teórico e formado por linguistas como
John Lyons, que vai abordar a semântica como o estudo do significado
e compreender suas implicações na construção do sentido. Já Cunha,
em sua Gramática do Português Contemporâneo (2008), expõe a
figura de sintaxe chamada silepse, que trata da concordância que não
se faz com a forma, mas com o sentido e com a ideia que se expressa.
O importante gramático também aborda a questão da silepse de
número, que pode ocorrer com todo substantivo singular entendido
como plural e, particularmente com os termos coletivos.
A mesma forma recorremos a Oliveira (2000), em seu capítulo
do livro Introdução à Linguística 2: domínios e fronteiras, onde afirma
que a semântica busca descrever “o significado” das palavras e dos
sentidos. A autora trabalha com o conceito das semânticas normais,
enunciativas e cognitivas e como cada olhar observa a questão do
significado.
Serão analisados artigos veiculados pelo site oficial da BBC de
Londres, pelo site do aplicativo Youtube, bem como biografias de
agremiações desportivas e bandas musicais disponibilizadas pela
internet, sobre a semântica envolvida no uso dos substantivos coletivos
em inglês e sua concordância de número.
As considerações finais do artigo apontam para a importância do
tema da silepse ideológica para o ensino de Língua Inglesa, já que o
fenômeno subverte os preceitos gramaticais de concordância
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
expressados pelas gramáticas tradicionalistas. Assim, o artigo apontou
para a percepção de que a concordância não é somente questão
gramatical, mas também semântica e ideológica.
2. Semântica
Segundo Lyons (1987), a semântica e o estudo do significado dos
signos linguísticos, isto e, palavras, expressões e orações. A Semântica
estuda o significado das palavras dependendo do contexto em que se
encontrem.
A Semântica é a parte da gramática que estuda aspectos
relacionados ao sentido de palavras e de enunciados e compreende a
construção do sentido com base no contexto no qual o termo está
inserido.
Oliveira (2000) afirma que a Semântica busca descrever “o
significado” das palavras e dos sentidos. A autora trabalha com o
conceito das semânticas normais, enunciativas e cognitivas e como
cada olhar observa a questão do significado.
Essa ciência sugere o caminho através do qual o texto pode ser
analisado, ou seja, tanto pode realçar a compreensão quanto a
interpretação. Para Herrera (2012) e Airles (2012), o significado das
palavras podem partir dos sentidos a seguir.
Sentido denotativo é aquele cuja definição cientifica é encontrada
nos dicionários, por exemplo, a palavra trabalhar refere-se a um
conjunto de atividades realizadas, a um esforço de indivíduos com o
objetivo de atingir uma meta etc. A denotação é basicamente a relação
entre uma palavra e aquilo que se refere.
O sentido conotativo é o que transmite a palavra e que pode ser
reconhecido pela emoção, por exemplo, a palavras trabalho pode
expressar luta, performance, empenho, dedicação, etc. A conotação
está em função de determinadas experiências e valores associados ao
significado, a exemplo da palavra “droga” tem distintas conotações na
linguagem militar e para um conselho médico.
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
3. Substantivos coletivos e seus sentidos
3.1. Coletivos na Língua Portuguesa
A importância da utilização dos substantivos coletivos e, entre
outras, a elegância e clareza que proporcionam ao texto. Contudo,
nesta pesquisa, as bases de análise são os fenômenos gramaticais de
concordância dos coletivos que avançam para uma discussão
sociocultural dos usos da língua, na relação entre lingual
sociedade/efeitos de sentidos sobre os interlocutores.
Os substantivos coletivos, embora empregados no singular,
designam um conjunto de seres ou coisas da mesma espécie. Por
exemplo, nas gramáticas, o coletivo de lobo é alcateia, de ilha é
arquipélago, de banana é cacho ou penca, de artistas é elenco, de
ladrões e quadrilha, de aviões e esquadrilha e de músicos e banda.
Os substantivos coletivos podem estar, tanto no singular, quanto
no plural, dependendo do contexto. Na escrita esse status duplo
sempre causa erros de concordância. Como podemos diferenciar se um
substantivo coletivo é conjugado no singular ou plural? Que verbos e
pronomes são usados como substantivos coletivos?
Imagine um grupo de pombas bicando alpiste. De repente um
gato corre em direção deles saindo do mato. O que os pombos fazem?
Eles voam rapidamente numa tentativa de escaparem do predador,
cruzando o céu na mesma direção.
3.2. Substantivos coletivos na Língua Inglesa
Substantivo é a classe que dá nome a pessoas, lugares e coisas.
Os substantivos coletivos, uma classe especial, dão nome a grupos
(coisas) compostos por membros (geralmente pessoas). Vejamos
exemplos em inglês e em português:
Collective nouns Substantivos coletivos
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Audience Plateia, audiência, conjunto de
espectadores
Army Exército
Commitee Comitê
Council Conselho
Firm Firma
Group Grupo
Family Família
Jury Júri, corpo de jurados
Navy Marinha
Public Público
School Escola
Senate Senado
Society Sociedade
Team Time
Cada substantivo da lista anterior representa uma coisa única,
que, entretanto, é composta por mais de um elemento ou pessoa. Não
se pode ter um comitê, time ou família compostos de uma pessoa só.
É necessário, pelo menos, que baia duas pessoas para formar a
unidade.
Os substantivos na língua inglesa são aqueles que podem incluir
membros mundiais oi serem vistos como uma unidade integral. A
complexidade está no fato de que certos substantivos, como “people”
são empregados no plural e outros, como “governement” são
empregados no singular. Há ainda situações em que o substantivo
coletivo “police” tanto pode ser conjugado no singular quanto no plural
dependendo do sentido do enunciado.
As pessoas frequentemente se comportam do mesmo modo,
fazendo uma atividade em união com os demais membros de seus
grupos. Quando essas pessoas são nomeadas a partir de um
substantivo coletivo, o verbo empregado fica na forma singular
conjuntamente com os pronomes requeridos, ou seja, o substantivo
torna-se singular, por exemplo, extraído do site da BBC de Londres:
Every afternoon the baseball team follows its coach
out to the
hot field for practice.” (BBC, London, UK)
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
(“Toda tarde o time de basebol segue seu treinador até
o campo 1
quente para o treino”)
Team = singular; follows = um verbo no singular; its = um pronome no singular
Todos os membros do time chegam ao mesmo lugar ao mesmo tempo.
“Today Mr. Johnson’s class takes its first exam.
(“Hoje a classe do Sr. Johnson faz sua primeira prova.”)
class = singular; takes = verbo singular; its = pronome singular
Todos os membros vão fazer prova ao mesmo tempo.
“The jury agrees that state prosecutor did not provide enough
evidence, so its verdict is not guilty.”
(“O júri concorda que os promotores públicos estaduais não
apresentaram provas suficientes, portanto seu veredito é não
culpado.”)
jury = singular; agrees = verbo no singular; its = pronome singular
Todos os membros do júri estão pensando a mesma coisa.
Assim, imaginemos três gatos na sala de estar. Será que os gatos
estão fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo? Um gato pode estar
dormindo. Um outro pode estar apenas deitado no sofá. Um terceiro
animal pode estar sentado ao lado da janela vendo o que se passa fora
da residência. Há um grupo de animais, porém seus membros estão
todos fazendo atividades distintas. Membros de substantivos coletivos
podem comportar-se de modo especial. Ocorre quando os membros
estão atuando como indivíduos.
Sendo assim, o substantivo coletivo é conjugado na forma plural
e os pronomes requeridos no plural são utilizados, por exemplo:
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
“After the three-hour practice under the brutal sun, the team
shower, change into their street clothes, and head to their
air-
conditioned homes.”
(“Depois do treino de três horas sob o sol brutal, o time toma
uma
ducha, veste suas roupas convencionais (não de treino) e
dirige-
se para a sua casa refrescada por ar condicionado.”)
team = plural; shower, change e head = verbos no plural; their = um pronome no plural
“After the long exam, the class start their research papers on
famous mathematicians.”
(“Depois do longo exame, a classe começa seus relatórios de
pesquisa sobre famosos matemáticos.”)
class = plural; start = um verbo no plural; their = um pronome no plural
Significa que os alunos estão iniciando seus próprios relatórios
de pesquisa, em lugares; diferentes, em horas distintas e sobre
diferentes matemáticos.
Sempre que não pudermos decidir se um substantivo coletivo é
singular ou plural, é possível inserir palavras como members
(membros) após o substantivo coletivo, por exemplar, board members
(membros do corpo administrativo).
Uma outra opção é trocar o substantivo coletivo por um outro
termo que venha representar a mesma ideia ou conceito, a exemplo
de: soldier (soldados) ao invés de army (exército), students
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
(estudantes) no lugar de class (classe, turma, sala) etc. Com esse
processo de substituição do termo, não caberá dúvida com relação ao
uso do verbo no plural, assim como o pronome correspondente
também no plural.
Porém, o que temos aqui é que alguns substantivos de ordem do
coletivo acionam a ideia de um conjunto coeso e único, ou seja, a ideia
de singular que se transporta para a estrutura gramatical. O que será
discutido mais a frente e que essa ideia parte de um princípio
sociocultural que implicita relações sociais e papeis dos grupos na
sociedade produzindo sentidos socialmente determinados.
4. Silepses
Levando em conta que os substantivos coletivos indicam sempre
a ideia de coletividade e conjunto, interessa-nos discutir e analisar os
fenômenos que envolvem a concordância de número, do ponto de vista
da gramática normativa e dos sentidos ideologicamente suscitados.
4.1. Silepses e sentidos
Serão apresentadas aqui as tipologias para silepse, a partir da
gramática pedagógica. De acordo com Cunha (2008):
A silepse é a concordância que se faz não com a forma
gramatical das palavras, mas com o sentido, com a ideia que
elas expressam. A silepse é, pois, tradicionalmente descrita
como uma concordância. mental, isto é, são palavras cujos
sentidos expressam a ideia que representam. (CUNHA, 2008,
p. 363-364)
A silepse é a concordância semântica e não se encontra presa à
gramática, mas sim, ao que está implícito no enunciado. Na língua
inglesa, as silepses geralmente ocorrem quando há referência a
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
instituições e aos substantivos coletivos e se manifestam quanto à
variação do emprego dos verbos na 3ª pessoa do singular ou do plural.
4.2. Silepse de número
Pode ocorrer silepse de número com todo o substantivo singular
concebido como plural e, principalmente com os termos coletivos. Ex.:
“O casal não tivera filhos, mas criaram dois ou três meninos” (A. F.
Schmidt).
Há também silepse de número quando o sujeito da oração é um
dos pronomes nos e vós aplicados a só pessoa, e permanecendo no
singular os adjetivos e particípios que a eles se referem, por exemplo,
“Sois injusto comigo” (A. Herculano).
4.3. Silepse de gênero
Embora as expressões de tratamento Vossa Majestade, Vossa
Excelência, Vossa Santidade, Vossa Senhoria, etc. tenham forma
gramatical feminina, aplicam-se com frequência a pessoas do sexo
masculino.
Neste caso, quando funciona como predicativo do sujeito, o
adjetivo que a elas se refere irá sempre para o masculino, por exemplo,
“- V. Ex.ª parece magoado” (C. D. de Andrade).
4.4. Silepse de pessoa
Quando a pessoa que fala ou escreve se inclui num sujeito
enunciado da 3ª pessoa do plural, o verbo pode ir para a 1ª pessoa do
plural, por exemplo: “E os sessenta milhões de brasileiros falamos e
escrevemos de inúmeras maneiras a língua que nos deu Portugal” (R.
de Queirós).
Se no sujeito expresso na 3ª pessoa do plural queremos abranger
a pessoa a quem nos dirigimos, é lícito usarmos a 2ª pessoa do plural,
por exemplo: “Os dois ora estais reunidos” (C. D. de Andrade).
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Comumente encontrados nas gramáticas normativas, esses
exemplos de silepses, categorizados como estão nos compêndios
gramaticais – que na maioria das vezes recorrem a excertos extraídos
da literatura clássica – não consideram, no entanto, as silepses a partir
da perspectiva da língua em seu uso sociocultural.
5. Silepse ideológica
Aqui analisaremos algumas manchetes da mídia digital presentes
no site da BBC, de Londres, para destacarmos as silepses do ponto de
vista sociocultural e de seus efeitos de sentido. Os temas que envolvem
os substantivos coletivos e as silepses diz respeito diretamente a sua
funcionalidade na língua quanto ao número, singular ou plural.
5.1. A personificação das instituições nas silepses
Tomemos como exemplo o título: “Chelsea celebrate Premiere
League title win” (“Chelsea celebra vitória do título da Premiere
League”). Quando observamos esta manchete, divulgada na área
dedicada aos esportes no site da BBC de Londres, logo nos vêm à
mente algumas indagações: se o Chelsea é uma equipe de futebol, por
que o verbo “celebrate” não está conjugado na 3ª pessoa do singular?
Por acaso, não deve ter ocorrido algum erro de grafia ou
digitação, uma vez que o jornalista quis dar a manchete em primeira
mão? Será que existe alguma concordância semântica implicita no
enunciado?
A verdade é que, quando dizemos Chelsea “celebrate” (em vez
de “celebrates”) estamos valorizando as pessoas que performam as
ações pela inscrição, ou seja, seus funcionários. Sendo o Chelsea uma
agremiação desportista ou mais precisamente um clube de futebol, nos
referimos aos seus jogadores, comissão técnica, corpo diretivo e
demais funcionários, que fizeram com que o clube tivesse uma
campanha vitoriosa na conquista do campeonato inglês da primeira
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
divisão, mais conhecida ou mencionada no meio esportivo como a
Premiere League.
Já o artigo publicado em 24 de Maio de 2015, na página de
esportes da BBC logo abaixo da manchete acima descrita, dizia:
“Chelsea players and staff celebrate winning the 2014-15
Premiere League title after a final-day win over Sunderland.”
(2015, BBC, London, UK)
(“Os jogadores e funcionários do Chelsea celebram a conquista
do título da Premiere League temporada 2014-15 após a
vitória no final do dia sobre o Sunderland.”)
Entre outras palavras, o autor do artigo explicita que os
personagens que representam a instituição, ou seja, valoriza os
agentes implícitos na manchete acima. “Chelsea celebrate Premiere
League title win.” Na língua inglesa, tais recursos semânticos são
usados corriqueiramente por seus falantes e evidenciados através da
mídia.
Analisaremos alguns outros exemplos publicados recentemente
através do website da BBC:
“Christian Benteke: “Liverpool sign £32.5m Aston Villa
striker.””
(“Christian Benteke: “Liverpool contrata ataque do Aton Villa
de 32.5 milhões de libras.”)
“Liverpool have signed Aston Villa striker Christian Benteke
for £32,5 m.”
(“Liverpool contratou atacante do Aston Villa Chistian Benteke
por 32,5 milhões de libras”)
Subtende-se, no exemplo, que os dirigentes do Liverpool
contrataram o atleta que pertencia ao Aston Villa. Dependendo do
contexto apresentado, temos uma noção real sobre quem são os
performadores que representam a instituição em destaque.
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
Vejamos alguns outros exemplos envolvendo a equipe Ferrari –
uma das mais tradicionais escudeiras da Fórmula 1:
“Kimi Raikkonen: Ferrari retain Finn to partner Sebastian
Vetel”
(“Kimi Raikkonen: Ferrari segura finlandês para ser
companheiro de equipe de Sebastian Vetel.”)
“Ferrari have decided to retain Kimi Raikkonen as Sebastian
Vetel’s team-mate for the 2016 Formula 1 season.”
(“Ferrari decidiu manter Kimi Raikkonen como companheiro de
equipe de Sebastian Vetel para a temporada de 2016 da
Formula 1.”)
Ora, tal decisão foi tomada pelos diretores e gerentes da equipe
italiana de automobilismo. Observamos em:
“Ferrari have revealed the new Formula 1 car they hope will
enable them to win they first drivers title since 2007.”
(“Ferrari revelou o novo carro d Formula 1 com o qual eles
esperam que lhes dará condições de ganhar seu título de
pilotos desde 2007 não conquistado.”)
A apresentação é feita pelos dirigentes da equipe como um
auxílio dos profissionais relacionados com o marketing e com o suporte
da equipe de design e mecânica.
Vale analisar um exemplo relacionado com a personificação das
instituições como uma outra escuderia:
“McLaren make Formula 1 testing.”
(“McLaren faz teste de Fórmula 1.”)
“McLaren make Formula 1 testing break-trough on day third
in Jerez.”
(“McLaren realiza teste de aprimoramento de Fórmula 1 no
terceiro dia em Jerez.”)
Os testes são realizados por pilotos titulares e reservas,
mecânicos, engenheiros, designers, projetistas e todo staff de
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
assistência técnica (incluindo membros fornecedores de pneus,
motores, combustíveis, etc).
Observamos em todos estes exemplos uma concordância de sentido, ou seja, uma concordância semântica. Não existe uma
concordância verbal em número aparente, porém é possível entender que o está implícito no enunciado, passa a estar explícito ou descoberto
através da conjugação verbal empregada.
“Are Brazil World Cup contenders after Confederations Cup
Win?”
(“O Brasil é convidado a ganhar a Copa do Mundo após a
vitória da Copa das Confederações?”)
“Brazil are going to be very difficult to beat in a year time.
They play like a team with the right spirit and the right time.”
(“Brasil vai ser muito difícil de ser batido daqui a um ano. Eles
jogam como um time com o espírito certo e com o ritmo
acelerado.”)
O artigo refere-se aos atletas do Brasil, que faziam parte do time
escalado por Luís Felipe Scolari, assistido por sua comissão técnica. A
reportagem não se refere ao Brasil como país. Agora observe a
diferença de sentido abaixo, quando o Brasil é referenciado como país:
“Brazil is South America’s most influential country, an
economic giant and one of the world’s biggest democracies.”
(“O Brasil é o país mais influente da América do Sul, um
gigante econômico e uma das maiores democracias do
mundo.”)
Em inglês, quando nos referimos a um país, os verbos são
conjugados na terceira pessoa do singular. Porém, se estamos falando
de uma seleção de atletas que representam aquele país e queremos
valorizar o staff, ou seja, a equipe de funcionários, podemos ter uma
concordância semântica. Se optarmos por ocultar os agentes e
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
usarmos a terceira pessoa do plural, teremos uma concordância com a
mensagem implícita. Tal concordância ideológica, ou de sentido, é
chamada de silepse.
5.2. Ocorrências de silepses dos substantivos coletivos na
Língua Inglesa: representatividade das instituições
Foi discutido anteriormente que a silepse promove uma
concordância ideológica, por exemplo: a classe verbal não irá
concordar com o sujeito concreto, denotativo, mas sim com a ideia
implícita expressa pelo sujeito.
A silepse ideológica é um fenômeno comum a todas as línguas.
Vejamos exemplos em inglês e português: “I really like that couple.” e
“Eu realmente gosto daquele casal”.
Nota-se que tanto em inglês quanto e português houve uma
concordância de sentido que conectou as duas orações, de modo que
o pronome sujeito oração da 3ª pessoa do plural de ambos os idiomas
(they – eles), no início da segunda oração, referem-se às palavras
“couple” e “casal”, substantivos no singular, mas que carregam a ideia
de coletivo.
Em ambos exemplos, é importante notarmos que a concordância
está no plano semântico, uma vez que um casal é sempre composto
por dois membros. Assim, encontramos inúmeros casos de ocorrências
da silepse que, tanto em inglês quanto em português, apresentam-se
de forma não combinada por convenção partilhada por seus usuários
no tocante às concordâncias de sentido.
Vejamos acertos com concordância ideológica relativa à
coletividade de times e equipes desportivas:
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“Liverpool won their first two matches of the season, but have
not had a league victozy since beating Bournemouth on 17
August” (BBC, London, UK, 25/09/2015)
(“Liverpool venceu seus dois primeiros jogos da temporada,
porém não tem obtido uma vitória na liga desde que bateu
Burnemouth, em 17 de agosto”)
Observe-se que o adjetivo possessivo “their” (deles, delas, seus
ou suas) e empregado quando nos referimos a um sujeito que
representa a 3ª. pessoa do plural, embora Liverpool a que o pronome
se refere esteja no singular. Porém existe uma concordância de sentido
que está implícita no nome do clube desportivo britânico, ou seja, seus
agentes performadores, ou os jogadores (players).
Se no mesmo enunciado, explicitássemos os agentes da ação que
representam a instituição, logo podemos observar que a concordância
gramatical com o pronome plural their poderia se fazer presente:
“Liverpool players won their first two matches of the season” (“Os
jogadores do Liverpool venceram seus dois primeiros jogos da
temporada”). Nesse caso, o pronome their, na terceira pessoa do
plural, concordaria explicitamente com players que se encontra no
plural também, diferentemente de “Liverpool”, cuja ideia de
“jogadores” está apenas implícita.
O mesmo artigo veiculado pela BBC, na data de 25/09/2015
continua:
“They scraped past league two Carlisle on penalties in the League Cup at
Anfiled on Wednesday”
(“Eles passaram com dificuldade pelo Carlisle da Liga dois nos pênaltis da copa
da Liga em Anfield na quarta-feira”)
Fica claro que quem passou por dificuldades (they) são os
jogadores do Liverpool, os agentes da ação de passar por dificuldades
perante o pouco expressivo time do Cardisle durante os pênaltis. O
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
pronome pessoal “they”, nesse caso, remete aos atletas da equipe do
Liverpool expressados na concordância semântica que não é a mesma
anterior.
Portanto, num mesmo período sintático pudemos constatar dois
tipos de concordâncias, configurando silepses distintas devido ao plano
semântico adotado em cada frase. Liverpool, como equipe ampliada
em seu sentido mais amplo, e como time representativo da Grã-
Bretanha e os jogadores do Liverpool, que passaram por l dificuldades
durante os pênaltis no jogo comentado.
Importante destacar esse uso do pronome relativo e sua
concordância com o número, no singular e no plural. Considere-se o
exemplo da BBC:
“Chelsea are 16th in the table, ten points behind leaders
Manchester City, who thrashed Newcastle 6-1.”
(“Chelsea é o 160. na tabela, dez pontos atrás dos líderes
Manchester City, que golearam o Newcastle por 6 a 1.”)
Notemos que o pronome relativo “who”, que significa “quem” ou
“que” é normalmente empregado quando nos referimos a pessoas, ou
seja, o uso do pronome who reforça a ideia de pessoas, como agentes
performadores da ação, isto é, sabemos que os jogadores do
Manchester City aplicaram uma sonora goleada no seu adversário.
Considerando a gramática purista, a colocação do pronome
relativo estaria incorreta, mas explicada do ponto de vista semântico.
Na primeira oração, “Chelsea are 16th in the table...” (Chelsea é o 16º.
na tabela...), não existe uma concordância verbal explícita (o verbo
“correto” do ponto de vista gramatical deveria ser “is”), mas implícita,
uma vez que o Chelsea se trata de uma equipe de futebol, uma
instituição composta por seus atletas, comissão técnica, dirigentes e
demais membros do seu staff, como agentes performadores.
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5.3. Desafios relativos ao uso dos substantivos coletivos
na língua inglesa
O desafio em relação ao ensino de língua inglesa, para os
professores, estudantes e mesmo para os falantes no que tange às
silepses de concordância não são pequenos. Saber que tipo de
conjugação (singular ou plural) a ser empregada e um desafio. O que
definirá o uso de uma forma ou de outra, é o que se quer dizer, ou
seja, o sentido.
Os substantivos coletivos podem incluir membros individuais ou
podem ser considerados como uma unidade inteira.
Por exemplo, segundo Adam, em sua videoaula ministrada pelo
Youtube, em 01 de fevereiro de 2014, nos países de língua inglesa,
como Estados Unidos e Canadá, a maioria dos falantes usam o verbo
no singular, quando referem-se aos substantivos coletivos. Por
exemplo, “The staff is”, “The police is”, etc. Em contrapartida, no Reino
Unido, as pessoas optam pelo verbo no plural, nesse caso, “The staff
are”, “The police are”.
São muitos os exemplos de coletivos, com significado de grupo,
cuja concordância se faz no singular, mas cuja concordância e
ideológica em que o plural está subentendido no termo, por exemplo:
a) Staff:
“My staff consists of young and old people”. (Minha equipe de
trabalho consiste tanto de jovens quanto de idosos).
Porém se colocarmos em evidência os indivíduos, não mais no
coletivo, mas os membros que compõem o grupo, seria:
“The staff were invited to the barbecue”.
b) Family:
“My family are going to be citizens soon” (Minha família vai se
naturalizar em breve”.) Nesse caso, entende-se que todos os membros
da família irão se naturalizar (All the members are).
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
Porém, o sentido implícito muda em:
“My family is very important to me” (Minha família é muito
importante para mim).
Podemos nos referir a um grupo de indivíduos ou aos conceitos
que a instituição família agrega.
c) Police:
Assim, ao nos referirmos a uma instituição, o verbo e sempre
conjugado na 3ª pessoa do singular, após o coletivo:
“The police is a controversial instituition” (A polícia é uma
instituição polêmica).
Todavia, quando falamos dos policiais que atuam pela instituição
(agentes performadores), o verbo e empregado na 3ª pessoa do plural:
“The police are investigating that case” (A polícia está
investigando aquele caso).
Fica subentendido que os oficiais da polícia são so agentes que
realizam as investigações.
Em caso de dúvida com respeito se o substantivo coletivo deve
ter seu verbo conjugado na 3ª pessoa do singular, ou no plural, podem
ser acrescentadas expressões, tais quais members (membros),
partners (companheiros), mates (colegas), officers (oficiais), ou seja,
palavras que passam a qualificar o substantivo.
Nesses casos, não haverá nenhuma dúvida com relação à
conjugação verbal necessária, ou seja, a 3ª pessoa do plural.
5.4. Língua e carga ideológica
Conforme mencionamos anteriormente, um idioma carrega uma
carga ideológica, uma vez que expressa costumes, tradições e demais
aspectos da cultura do povo que o utiliza.
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Analisamos alguns excertos de textos da web que mencionam
clubes desportivos e bandas musicais. Focaremos nas biografias, ou
seja, na expressão da tradição para as análises.
Os nomes das agremiações esportivas no Canadá e Estados
Unidos são geralmente escritos com um nome duplo, sendo que o
segundo nome está no plural, como nas agremiações de futebol,
basquetebol e baseball: The Los Angeles Çlippers, The Miami Heaths,
The San Antonio Spurs, The New York Giants, The new England
Patriots, The Boston Red Sox.
Os segundos nomes que caracterizam as equipes expressam
caraterísticas relevantes que reforçam ideologicamente a ideia de
poderio: The Chicago Bulls (touros), New York Giants (gigantes), etc.
Além disso, na América do Norte e também no Reino Unido, as equipes
esportivas são propriedade particular e franquias que representam as
cidades onde estão instaladas.
A conjugação empregada na 3ª pessoa do plural e
gramaticalmente adotada. Considere-se o exemplo:
“Liverpool Football Club are Premiere League football club
based in Liverpool, England. The club have won more
European trophies than any other English team […] The club
was founded in 1882 and joined the Football League the
following year”
(“Liverpool é um clube de futebol de Premiere League baseado
em Liverpool, Inglaterra. O clube venceu mais troféus do que
qualquer outro time da Inglaterra [...] O clube foi fundado em
1882 e juntou-se à Liga de Futebol no ano seguinte.)
Em primeiro plano, o clube é apresentado como um grupo de
atletas, comissão técnica e demais membros do staff, que formam o
clube, o qual disputa a Premiere League. Após, no trecho são
valorizados como campeões na Europa. Na terceira frase, o time é
mostrado como instituição, ou seja, o verbo (was) apresenta-se no
singular.
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
Tais processos são parte indispensável para a compreensão da
língua inglesa e seus fenômenos de concordância. Com relação a
biografia dos Reds, como é apelidada a equipe do Liverpool, em
referência à cor do seu uniforme vermelho, vimos que o coletivo “club”,
ora é conjugado no singular, ora no plural. Ou seja, no singular, está
implícita a instituição, já no plural, a referência é feita aos indivíduos.
Os impactos de sentido ideológicos no interlocutor podem ser
muito bem clareados nos exemplos abaixo, a respeito da atuação da
seleção brasileira na última Copa do Mundo.
Após a derrota surpreendente e consequente eliminação da
seleção brasileira, diante da Alemanha, em uma das semifinais pelo
mundial de futebol realizado em 2014, a BBC de Londres em seu site
oficial, divulgou o fato do seguinte modo:
“Brazil were thrashed 7-1 against Germany”
(“O Brasil foi goleado por 7 a 1 diante da Alemanha”)
“Brazil are known for their success at the World Cup, but
losing to Germany 7-1 in the semifinals on Tuesday was the
height of humiliation. Fans didn’t just hope Brazil would make
the final they expected it. Instead of making history for scoring
goals they became the first team to concede seven goals in a
World Cup final. A big defeat and a big shock for many Brasil
fans and for a team who've always considered as one of the
best in the world.”
(“O Brasil é conhecido pelo seu sucesso na Copa do mundo,
mas perder para a Alemanha por 7 a 1 nas semifinais na terça-
feira foi o auge da humilhação. Os torcedores não apenas
tinham esperanças de que o Brasil fizesse a final, eles tinham
essa expectativa. Em vez de fazer história por marcar gols,
tornaram-se o primeiro time a levar sete gols numa semifinal
de Copa do Mundo. Uma grande derrota e um grande choque
para muitos torcedores e para um time que sempre foi
considerado um dos melhores do mundo.”)
Podemos observar que, ao optar pelo uso do verbo (are) e dos
pronomes (their, they) na terceira pessoa do plural fica evidente que o
foco principal veiculada no portal da maior rede de telecomunicações
pública do mundo está na incrível derrota sofrida pelos atletas e
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
comissão técnica pertencentes ao quadro do selecionado brasileiro e
relacionados a Brazil e team. Há, portanto, uma relação direta entre
quem performa pelo Brasil e pelo time, ou seja, os jogadores e staff.
Ao utilizar desse padrão, o produtor da notícia da equipe jornalística
da BBC mostrou o caráter ideológico diante dessa concordância (silepse
semântica), deixando aos agentes performadores e não entre nações
(Brasil e Alemanha), mas uma disputa entre equipes (time da
Alemanha e não o país).
Todavia, esse padrão editorial da BBC não é seguido pela mídia em
geral, de países de língua inglesa.
A gigante mundial das comunicações, a americana CNN (Cable News
Network) utiliza-se de um discurso mais patriótico e nacionalista ao
relatar alguns resultados da Copa:
“Word Cup final: Germany defects Argentina”
(“Final da copa do mundo: Alemanha derrota Argentina”)
“The nation which ripped Brazil’s dreams into shreds in the
semifinals, won its fourth world Cup after a tense 1-0 victory
over Argentina. For all the doubters who said no European side
world or could ever win the world cup on south American there
was one team, which refused to listen”
(“A nação que cortou os sonhos do Brasil em pedacinhos nas
semifinais, venceu sua quarta Copa do Mundo após tensa
vitória por 1a 0 sobre a Argentina. Para todos os incrédulos
que diziam que uma equipe europeia jamais ganharia ou
poderia ganhar uma copa do mundo em solo sul americano,
houve um time que não deu ouvidos”)
“Germany has long threatened to rule the world”. In 2006, it
came close bowing out at the semifinal stage after a painful
defect by Italy in a tournament held in its own country”
(“Faz tempo que a Alemanha ameaça dominar o mundo. Em
2016, ela chegou perto, caindo for a nas semifinais após
dolorosa derrota diante da Itália num torneio realizado em seu
próprio pais”)
O texto apresenta traços marcantes de patriotismo e
nacionalismo. Ora, trata-se de um evento de magnitude de uma Copa
do Mundo da FIFA. A associação dos resultados de uma seleção na
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
competição provoca um sentido de cunho ideológico sobre a
autoestima da nação representada por aquele time de futebol, já que
trata-se do esporte mais popular do mundo em termos de prática e
visualização dos meios de comunicação, ou seja, cria-se um
sentimento apurado ou exagerado de nacionalismo (“The nation which
ripped Brazil”s dreams”), deixando subentendido um sentido de
superioridade da Alemanha sobre a nação brasileira. Tal discurso
ocorre frequentemente quando se trata de eventos grandiosos, como
também, os jogos olímpicos.
O termo “team”, assim, não é somente não apenas é empregado
para designar um grupo de pessoas, mas também como um conceito
ideológico compartilhado pelos membros que formam o time. A
concordância será no singular, no sentido de conferir a ideia de unidade
só.
Não se discute aqui sobre as linhas editoriais, mas sobre o que
está embutido em cada discurso. Não devemos, portanto, nos basear
apenas nos aspectos linguístico-gramaticais, porém contextualiza-los
com aspectos de ordem sócio culturais. Assim, saber a fonte pela qual
a informação é divulgada, e essencial.
6. Discursão
Como professor de Língua Inglesa, venho aplicando atividades
de múltiplas respostas aos meus alunos no Colégio Nippo, localizado
na cidade de Sorocaba no estado de São Paulo desde 2015.
Temos feito debates e pesquisas com relação ao mais apropriado
tempo verbal a ser empregado como também os conectivos
correlacionados, assim como lido textos genuínos retirados dos mais
diversos websites de origem de países de fala inglesa. Temos
observado também o chamado “approach jornalist” desempenhado,
performado e desenvolvido por grupos de comunicação de distintas
nações.
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
Passamos a assistir a vídeos de reportagens esportivas de
assuntos gerais da BBC de Londres, da americana CNN e de outros
canais de TV estrangeiros e durante as aulas, vimos videoaulas
ministradas por professores nativos comentando sobre os conteúdos
abordados neste artigo.
A média de idade dos alunos é de dezoito por sala e o nível
determinado pelo cronograma da instituição pela qual trabalho é o
Upper Advanced.
Como consequência, os aprendizes tendem a ter uma noção mais
ampla da cultura inglesa e da americana, que reflete no modo pelo qual
cada povo usa a própria língua. Eles acabam tendo contato com o
estudo da silepse, tanto no inglês quanto no português, e suas
implicações semânticas e ideológicas.
4 Considerações finais
Estudamos a teoria dos signos de Saussure que mostra que o
signo é composto por significante e significado. Na linguagem falada,
o significante é a palavra, o som que ouvimos. Seu significado é a
imagem mental que temos associada ao significante. John Lyons, por
sua vez, procurou analisar o significado do termo “significado”,
tomando por base a palavra mean (significar) e meaning (significado).
Um termo apresenta-se a partir de um signo linguístico
(significado e significante). Porém, um significado pode ter inúmeros
significados a partir de um mesmo significante. Há uma série de
recursos implícitos ou explícitos na língua. Como salientei na epígrafe
deste trabalho, assim como um bolo, cada elemento influencia nos
sabores finais.
Esta pesquisa procurou entender e explicitar que todo idioma traz
uma grande carga ideológica em sua organização estrutural, uma vez
que expressa costumes, as tradições e demais aspectos socioculturais
do povo que o utiliza. Gramaticalmente, as silepses estudadas tanto a
partir dos exemplos da língua portuguesa, quanto os relativos à língua
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
inglesa, falada ou escrita, permitiu-nos perceber que os sentidos
(semânticos) pretendidos estão refletidos nas estruturas gramaticais,
nesse caso, nas ocorrências das silepses.
Destacamos a silepse ideológica como forma de explicitar os
sentidos explícitos através da concordância, em especial, de
substantivos coletivos que agrupam seres e indivíduos de uma mesma
natureza.
Os desafios em relação ao uso dos substantivos coletivos na
língua inglesa não são apenas para nós, mas também para o falante
nativo do inglês, pois conhecer os tipos de conjugação (singular ou
plural) pressupõem sentidos socialmente partilhados por uma nação
ou comunidade.
Tais impactos de sentido surgem como resultados daquilo que
está contido nas construções sintáticas, de forma implícita ou explicita
nos enunciados. Os substantivos coletivos podem incluir membros
individuais ou podem ser vistos como uma unidade inteira.
Sendo assim, é possível observarmos a aplicação dos recursos
linguísticos em textos das mais distintas esferas de circulação e
buscarmos o entendimento sobre a ideologia implícita para prevermos
os possíveis efeitos de sentido no interlocutor, bem como para o ensino
da língua inglesa.
Assim, a contribuição desse trabalho foi permitir compreender
ampla e profundamente os efeitos semânticos da língua, no sentido de
que devemos não apenas nos basear em aspectos linguístico-
gramaticais dos enunciados, mas contextualiza-los na dimensão de
ordem sociocultural.
Conhecer as fontes culturais a partir das quais as informações
midiáticas são divulgadas é essencial, sobretudo para o ensino e para
entendermos que, por mais que se busque imparcialidade, acaba-se
por expressar, direta ou indiretamente, os conceitos ideológicos
pertencentes à sociedade que representam. Aqui foram discutidos
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Artigo: O Uso da Silepse na Língua Inglesa com Substantivos Coletivos em Instituições e Suas Implicações Ideológicas Autor: Tavares de Sá, Samuel da Silva. Págs. 186 - 212
princípios fundamentais e desafiadores para o ensino e aprendizagem
da língua inglesa resultantes dos usos ideológicos das silepses.
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