museus desejados e outras narrativas do grupo...no abril indígena 2012, evento realizado no mtb,...

20
1 Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo Indígena Xucuru-Kariri sobre Museus 1 Julio Cézar Chaves ICS/MTB/UFAL, Alagoas Resumo O presente estudo tem por objetivo compreender as narrativas dos Xukuru-Kariri sobre museus no município de Palmeira dos Índios, Alagoas. Atualmente, esse grupo indígena está em processo de “retomada”, em paralelo, diversas lideranças postulam criar museus em suas aldeias, apesar da existência na cidade de Palmeira dos Índios do Museu Xucurus de História, Arte e Costumes. Pretendo refletir sobre esses museus desejados e o “outro”, o museu contestado. O que proponho é apresentar um panorama parcial da pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2013 e 2014 com visitas alternadas entre o Museu Xucurus e comunidades indígenas do município de Palmeira dos Índios. Ao identificar as principais tensões entre as lideranças Xukuru-Kariri e o Museu do município considero as ressonâncias entre o ‘instituído’ e o ‘desejado’ como um processo que, apesar das contradições locais, ressalta várias faces de uma mesma ‘realidade’. Enfatizo as sugestões teóricas de Fredrik Barth relativas à necessidade de se afastar da ideia de cultura como algo compartilhado e fixo e procuro abordar a elaboração dos “fluxos culturais” por atores sociais concretos e em suas formas de organização social, busco compreender as reivindicações dos Xukuru-Kariri como uma tessitura em constante (re)-construção de limites em áreas nas quais ocorrem diferentes tensões identitárias. Para tal propósito, o conceito de “processo de territorialização” de João Pacheco de Oliveira Filho abre a possibilidade de investimento em novas questões, para o avanço da pesquisa que venho desenvolvendo. Palavras-chave: museu; Xukuru-Kariri; territorialização. Introdução Este artigo busca apresentar algumas reflexões sobre os resultados da pesquisa acerca de narrativas do grupo indígena Xukuru-Kariri 2 sobre museus, realizada no 1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia realizada entre os dias 03 e 0 6 de agosto de 2014, Natal/RN.” 2 Os Xukuru-Kariri são um dos doze povos indígenas do Estado de Alagoas. A maior parte dessa etnia vive no município de Palmeira dos Índios. O grupo Xukuru-Kariri que vive nesse município está dividido nas seguintes áreas indígenas: Fazenda Canto, Serra do Capela, Mata da Cafurna, Cafurna de Baixo, Serra do Amaro, Boqueirão, Riacho Fundo de Baixo, Coité e Monte Alegre ou Vista Alegre, essa última não reconhecida pelos seus pares. Existem famílias residindo também na cidade de Palmeira dos Índios.

Upload: others

Post on 30-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

1

Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo

Indígena Xucuru-Kariri sobre Museus1

Julio Cézar Chaves – ICS/MTB/UFAL, Alagoas

Resumo

O presente estudo tem por objetivo compreender as narrativas dos Xukuru-Kariri

sobre museus no município de Palmeira dos Índios, Alagoas. Atualmente, esse grupo

indígena está em processo de “retomada”, em paralelo, diversas lideranças postulam

criar museus em suas aldeias, apesar da existência na cidade de Palmeira dos Índios do

Museu Xucurus de História, Arte e Costumes. Pretendo refletir sobre esses museus

desejados e o “outro”, o museu contestado. O que proponho é apresentar um panorama

parcial da pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2013 e 2014 com visitas

alternadas entre o Museu Xucurus e comunidades indígenas do município de Palmeira

dos Índios. Ao identificar as principais tensões entre as lideranças Xukuru-Kariri e o

Museu do município considero as ressonâncias entre o ‘instituído’ e o ‘desejado’ como

um processo que, apesar das contradições locais, ressalta várias faces de uma mesma

‘realidade’. Enfatizo as sugestões teóricas de Fredrik Barth relativas à necessidade de se

afastar da ideia de cultura como algo compartilhado e fixo e procuro abordar a

elaboração dos “fluxos culturais” por atores sociais concretos e em suas formas de

organização social, busco compreender as reivindicações dos Xukuru-Kariri como uma

tessitura em constante (re)-construção de limites em áreas nas quais ocorrem diferentes

tensões identitárias. Para tal propósito, o conceito de “processo de territorialização” de

João Pacheco de Oliveira Filho abre a possibilidade de investimento em novas questões,

para o avanço da pesquisa que venho desenvolvendo.

Palavras-chave: museu; Xukuru-Kariri; territorialização.

Introdução

Este artigo busca apresentar algumas reflexões sobre os resultados da pesquisa

acerca de narrativas do grupo indígena Xukuru-Kariri2 sobre museus, realizada no

1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia realizada entre os dias 03 e 06 de

agosto de 2014, Natal/RN.” 2 Os Xukuru-Kariri são um dos doze povos indígenas do Estado de Alagoas. A maior parte dessa etnia

vive no município de Palmeira dos Índios. O grupo Xukuru-Kariri que vive nesse município está dividido

nas seguintes áreas indígenas: Fazenda Canto, Serra do Capela, Mata da Cafurna, Cafurna de Baixo, Serra

do Amaro, Boqueirão, Riacho Fundo de Baixo, Coité e Monte Alegre ou Vista Alegre, essa última não

reconhecida pelos seus pares. Existem famílias residindo também na cidade de Palmeira dos Índios.

Page 2: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

2

período 2013/2014 no município de Palmeira dos Índios, Alagoas. Para a realização da

pesquisa, foram feitas incursões de campo no Museu Xucurus de História, Artes e

Costumes3 mantido pelo município e nas comunidades indígenas locais.

O interesse desse trabalho não é escrever a história do Museu municipal e

muito menos a trajetória do grupo indígena Xukuru-Kariri na cidade de Palmeira dos

Índios, no Estado de Alagoas. O que pretendo é tecer considerações sobre o museu e o

grupo indígena no âmbito das relações sociais que perpassam as questões relativas à

etnicidade (BARTH, 2005) e à territorialidade (OLIVEIRA FILHO, 2004). Esses

conceitos servem de diretrizes para problematizar as mudanças na configuração política

nas últimas décadas, bem como do acirramento dos conflitos decorrentes da demarcação

das terras indígenas na região nos últimos anos.

Atualmente, os Xukuru-Kariri manifestam críticas ao Museu Xucurus, à

representação que ali é divulgada, e reivindicam, em alguns casos, seus objetos contidos

nesse espaço. Esses objetos carregam significados sociais que extrapolam os atributos

utilitários e, também, o próprio estatuto de objetos museológicos reservados a eles. Por

outro lado, para algumas lideranças desse grupo indígena, importa construir espaços de

memória dentro de suas aldeias e preferencialmente para seus pares.

Procurei desenvolver o diálogo interdisciplinar entre a Antropologia e a

Museologia para compreender o contexto social, histórico, político e cultural da criação

do Museu Xucurus de História, Arte e Costumes. Além disso, através de sua exposição

de longa duração, busquei compreender as relações sociais entre indígenas e não

indígenas no município de Palmeira dos Índios, e, por fim, analisar as narrativas dos

Xukuru-Kariri sobre o Museu e sobre as ideias de museus nas suas aldeias.

Em março de 2012, recém-chegado ao Estado de Alagoas para trabalhar como

museólogo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore da Universidade

Federal de Alagoas – MTB/UFAL, em Maceió, mantive contato, pela primeira vez, com

esse grupo indígena. A partir desse primeiro encontro, surgiram as inquietações que me

mobilizaram em torno das questões que resultam neste artigo. O convite para a reunião

Fontes: informações coletadas pela Profa. Claudia Mura e por mim na aldeia Mata da Cafurna, no dia 13

de abril de 2014 com os interlocutores foram Rogério Rodrigues dos Santos e Raquel Celestino;

informações coletadas com o Antropólogo e Professor da Universidade do Estado de Alagoas – Uneal,

José Adelson Lopes Peixoto, no dia 28 de junho de 2013; Martins (2004, p. 202); Site da Fundação

Nacional do Índio – Funai, disponível via Disponível via: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-

brasil/terras-indigenas. Acessado em 27 de março de 2014. 3 Fundado em 12 de dezembro de 1971 por d. Otávio Aguiar, Luiz B. Torres e Alberto O. Melo.

Page 3: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

3

com lideranças Xukuru-Kariri da Fazenda Canto, em Palmeira dos Índios, partiu do

coordenador geral do MTB, o antropólogo Wagner Chaves.

Nessa viagem, tomei conhecimento da existência do Museu Xucurus de

História, Arte e Costumes, localizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na cidade

de Palmeira dos Índios. Àquele momento, soube que os indígenas não se sentem

representados na instituição, e, ainda, que o pajé Xukuru-Kariri Celso Celestino

desejava criar um museu no local da “retomada” (Fazenda Salgado) 4.

No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos

ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa forma, esses elementos estão

interligados tanto com o meu primeiro encontro com os Xukuru-Kariri, quanto com a

construção do objeto de pesquisa. Ouvi novamente o pajé Celso Celestino comentar

com o representante do Ministério Público Federal - MPF, o antropólogo Ivan Soares

Barros, que queria construir um museu na área da “retomada”. Em outro momento,

reencontrei o Sr. Antônio Selestino e, novamente, ouvi sua ideia sobre o papel dos

museus na luta dos grupos indígenas.

A partir desses dois encontros, surgiram as inquietações que me mobilizaram

na escolha do objeto de pesquisa. Parti de perguntas de caráter geral, como: museu para

quê? E para quem? Quais as dimensões contrastivas entre os museus desejados e o

museu existente em Palmeira dos Índios? Tais questões levaram-me a reconhecer os

conflitos que perpassam o Museu e as comunidades indígenas locais como processos

geradores de narrativas que, em alguma medida, podem indicar aspectos relevantes

sobre as dimensões geopolíticas das relações sociais presentes no município.

O objetivo geral da pesquisa era “compreender as narrativas dos Xukuru-Kariri

sobre museus no município de Palmeira dos Índios”. Os objetivos específicos eram:

compreender a importância do Museu Xucurus de História, Arte e Costumes de

Palmeira dos Índios para o grupo indígena Xukuru-Kariri; compreender os significados

da autorreivindicação de museus nas aldeias dos Xukuru-Kariri5; analisar as narrativas

dos Xukuru-Kariri sobre os objetos expostos no Museu Xucurus de História, Arte e

Costumes.

4 Daniela Oliveira militante do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, à época bolsista do MTB,

explicou-me o processo da atual “retomada”. A expressão refere-se à alternativa de natureza política pela

aceleração da demarcação das terras indígenas, incluindo a sua ocupação. 5 No decorrer da construção do objeto, soube que outras aldeias também queriam criar seus museus.

Page 4: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

4

Atravessando as tensões do campo a partir de uma atitude etnográfica

Parti de uma experiência etnográfica - a viagem de março de 2012 - para uma

posterior prática etnográfica iniciada no dia 28 de junho de 2013, data da minha

primeira viagem a campo no âmbito da Especialização em Antropologia Social do

ICS/MTB/Ufal6. Foram sete viagens à cidade de Palmeira dos Índios: quatro em 2013 e

três em 2014. Magnani (2009, p. 136) diferencia a “prática etnográfica” da “experiência

etnográfica” explicitando que “(...) enquanto a prática é programada, contínua, a

experiência é descontínua, imprevista. No entanto, esta induz àquela, e uma depende da

outra (...)”.

Desde a primeira viagem a campo, procurei utilizar recursos da pesquisa

etnográfica, tais como observações (participante e direta), entrevistas (aberta e semi-

estruturada) com algumas lideranças Xukuru-Kariri, seus aliados e pesquisadores desse

grupo indígena (esses últimos, de pesquisadores passaram a pesquisados), além dos

funcionários, ex-funcionários, responsáveis e pessoas ligadas ao Museu Xucurus de

História, Arte e Costumes, esses nem sempre aliados dos Xukuru-Kariri.

Concomitantemente, levantei informações em arquivos e consultas à literatura

específica sobre os museus indígenas no Brasil, bem como sobre o grupo indígena em

questão.

Guiei-me por uma atitude etnográfica, que

(...) poderia ser interiorizada quer como método de trabalho dos profissionais

e um elemento constituitivo do processo de conhecimento, quer como

etnografia interaccionista, elaborando com os próprios actores as definições

contraditórias das situações, procurando as vias de emancipação pessoal,

institucional e sociopolítica, etc. (GUERRA, 2011, p. 10).

Isso não significa, contudo, uma relação longa e intensa com o campo. Em

primeiro lugar, devido à limitação do tempo para a realização da pesquisa; em segundo

lugar, pela pouca disponibilidade de tempo das lideranças, devido aos compromissos

com o dia a dia nas aldeias, além da luta travada atualmente pela demarcação de suas

terras; em terceiro lugar, essas lideranças revelam estar cansadas de pesquisadores nas

6 Projeto desenvolvido sob a orientação dos Professores Doutores Silóe Amorim e Claudia Mura na

Especialização Lato Sensu em Antropologia do Instituto de Ciências Sociais-ICS/Museu Théo Brandão

de Antropologia e Folclore/MTB da UFAL.

Page 5: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

5

aldeias e o pouco retorno obtido com algumas pesquisas. Segundo eles, poucos são os

pesquisadores que retornam às aldeias para apresentarem os resultados dos trabalhos.

As tensões sociais entre parte da sociedade palmeirense e os Xukuru-Kariri,

devido à luta desses últimos pela demarcação de sua terra, incluindo aí as “retomadas”,

estiveram presentes ao longo da pesquisa. Nesse aspecto, a “etnografia institucional” –

aquela realizada dentro do Museu - apresentou-se mais complexa e sutil, pois percebi que,

toda vez que eu citava os Xukuru-Kariri, causava certo mal-estar em alguns funcionários

e responsáveis dessa instituição museológica, administrada pela Prefeitura Municipal. As

relações foram ambíguas, permeadas por sentimentos de simpatia e desconfiança por

parte dos funcionários e responsáveis dessa instituição. Se por um lado, ficaram

interessados com a presença de um museólogo e estudante de Antropologia pesquisando o

local de suas atuações profissionais, por outro, mostraram-se receosos de falar sobre a

falta de documentos do museu, das deficiências da instituição (abandono), além do fato de

não terem formação técnica na área de museus7.

Essa situação me levou a assumir posições no campo sob a perspectiva de um

outsider, uma pessoa de fora, um forasteiro interessado no Museu Xucurus de História,

Arte e Costumes. Em razão da ambiguidade referida, não houve abertura e nem tempo

para me receberem de modo tão integrado a ponto de me transformar num insider. Parti

do pressuposto de que era importante conquistar um espaço de interlocuções que

garantisse a viabilidade do acesso a informações relevantes para a compreensão dos

lugares que as pessoas ocupam no interior do Museu, bem como as implicações destes

posicionamentos na relação com as comunidades indígenas. Nessa perspectiva, adotei as

orientações de Uwe Flick (2004, p. 70), quando indica a importância da negociação dos

posicionamentos do pesquisador em campo, ainda que isso implique em ter que encarar

a passagem por ‘estágios’ diferenciados nos processos de participação na pesquisa.

A base teórica na construção do objeto de pesquisa e na operacionalização dos

dados coletados apoia-se na concepção de “fluxos culturais” de Fredrik Barth (2005, p.

17) em contraposição à ideia de cultura como algo compartilhado e fixo conduzida por

atores sociais concretos e em contextos específicos. A noção de “fluxo” possibilita lidar

com as apropriações (reivindicatórias e desejadas) dos espaços museológicos pelos

Xukuru-Kariri, como uma tessitura em constante (re)-construção de limites em áreas nas

7 Ao longo da pesquisa tomei conhecimento de que os funcionários que ali trabalham foram transferidos

para o local por perseguições políticas ou por falta de opções decorrentes das mudanças de governo.

Page 6: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

6

quais ocorrem diferentes tensões identitárias. No entanto, a ênfase teórica que tento

lançar ao longo das minhas análises recai sobre a constituição das narrativas que

expõem os limites que diferenciam o Museu existente dos museus desejados pelas

aldeias locais.

Por outro lado, penso que a noção de “processo de territorialização” de autoria

de João Pacheco de Oliveira Filho (2004) abre a possibilidade de investimento das

análises sobre os conflitos que estão presentes nos modelos de organização social que

distinguem a concepção do Museu municipal dos museus desejados por alguns líderes

indígenas. Considero que a reivindicação do museu como um espaço de formação para

os jovens da aldeia, como sugerem algumas lideranças, pode significar também o

investimento do grupo na consolidação de suas relações com o território que habitam.

Os conflitos que constituem a história do grupo indígena Xukuru-Kariri, assim

como do Museu Xucurus de História, Arte e Costumes, apontam para a importância das

reflexões acerca do patrimônio cultural de um ponto de vista antropológico: que

considerem, sobretudo, as ressonâncias entre o ‘instituído’ e o ‘desejado’ como processo

que, apesar das contradições locais, ressalta várias faces de uma mesma ‘realidade’.

Devido às características peculiares do tema da pesquisa, não tive como não

me envolver e criar teias de afeto com o referido grupo indígena, assim como com o

Museu Xucurus de História, Arte e Costumes, da cidade de Palmeira dos Índios. Alguns

laços tênues foram criados ao longo das idas a campo, delineando possíveis

desdobramentos futuros.

“Devora-me ou decifro-te”8

O Museu Xucurus provocou-me vertigem na primeira visita. Aquele

bricabraque surpreendeu-me, seduziu-me e ao mesmo tempo causou-me perplexidade.

A distribuição dos objetos naquele espaço lançou-me um desafio, exigiu-me decifrá-lo;

caso contrário, ele me devoraria. Após várias visitas, estou longe de considerar o

desafio concluído. Segundo Mário Chagas,

(...) diante de um ente devorador como o museu, tantas vezes chamado

dinossauro ou esfinge, não se pode ter ingenuidade. É prudente manter por

perto a lâmina da crítica e da desconfiança. Ele é ferramenta e artefato, pode

8 Frase do poeta baiano Wally Salomão.

Page 7: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

7

servir para a generosidade e para a liberdade, mas também pode servir para

tiranizar a vida, a história, a cultura. Para entrar no reino narrativo dos

museus é preciso confiar desconfiando. (CHAGAS, 2005, p. 18).

O Museu Xucurus foi/é o outro, compreendê-lo foi/é o maior desafio da minha

pesquisa9. Para mim, os anseios e as lutas do grupo indígena Xukuru-Kariri

acrescentava complexidade ao propósito de decifrar a instituição. O que se colocava em

perspectiva era o exercício de alteridades dentro e fora do espaço museal para a

composição de narrativas que produzam a visibilidade dos limites existentes entre o

Museu pesquisado e os museus desejados pelos grupos indígenas locais.

(...) olhar sobre o outro, o compreender o outro nos seus próprios termos, o

lançar-se para territórios exóticos e longínquos, distantes de tudo o que é

familiar ao sujeito do processo de conhecimento, o interessar-se pelos outros

povos, por outras culturas, outras formas de existência, tudo isso parece

constituir a singularidade desta que, para além dos contornos da própria

disciplina, se configura como uma maneira sui generis de ver o mundo e de

se ver no mundo. Mas a especificidade do trabalho do antropólogo abarca

também o âmbito da subjetividade e poderíamos mesmo dizer que, ao tecer

interpretações sobre o outro, o antropólogo não pode deixar de inventar uma

maneira peculiar de espreitar a si mesmo, exercitando um incessante trabalho

comparativo de conhecimento e autoconhecimento. Como já sinalizaram

muitos antropólogos, procurar conhecimento sobre o outro é também indagar

sobre si, debruçando-se sobre diferentes formas de construção do humano

(...). (ABREU, 2005, pp. 101-102).

Estar no museu exigiu articular algumas interfaces entre as orientações teóricas

da Antropologia e da Museologia. Além de afiar as lâminas da crítica para transitar por

aquele espaço, conforme sugere Mário Chagas, foi importante compreender a produção

da alteridade com os funcionários do Museu e com as lideranças indígenas como parte das

minhas inscrições em campo. O Museu Xucurus é o principal espaço de memória da

cidade e responsável pela preservação de diversas coleções e objetos representativos do

patrimônio cultural do município de Palmeira dos Índios, incluindo evidentemente o

grupo indígena Xukuru-Kariri. As críticas ao Museu Xucurus por parte de alguns

habitantes da cidade, assim como de diversas lideranças indígenas, não deixam de ser

uma forma de reconhecimento do espaço como um lugar emblemático da cidade.

9 Ao adentrar o recinto pela primeira vez, senti-me incomodado com o espaço e as formas como alguns

objetos estão distribuídos e as representações dos negros e do grupo étnico Xukuru-Kariri.

Page 8: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

8

Os objetos expostos não são apenas peças de uma “Loja de Bugigangas”,

conforme afirmou um morador local ao se referir àquela instituição. São objetos

museológicos, alguns também etnográficos, escolhidos como dignos de habitarem a

instituição e representativos da história, da arte e dos costumes do lugar. Objetos

ressignificados que cabe à instituição através da exposição e do serviço educativo exibir

e contextualizar de forma crítica e, no caso dos objetos etnográficos, dialógica com o

grupo indígena de origem (os Xukuru-Kariri, tão perto e tão longe).

Objetos espalhados pelo chão, paredes com fotografias até o teto, vitrines que

remetem ao século XIX ou às primeiras décadas do século XX, esculturas, porcelanas,

crucifixos, tapetes, armas, instrumentos de tortura da época da escravidão, mobiliário,

manequins com paramentos eclesiásticos, objetos indígenas, aparelhos de telefone,

troféus, animais empalhados, baús, material arqueológico e paleontológico, entre outros

formam uma miscelânea intrigante e desafiadora. Alguns interlocutores asseguraram

que a exposição anterior “era ainda pior”.

Figuras 1 e 2 - Anexo: manequins representando escravos e objetos diversos, Museu Xucurus, Palmeira dos Índios,

fevereiro de 2014. Acervo do autor.

A forma como os objetos estão distribuídos na antiga igreja não é uma

distribuição aleatória ou apenas um amontoado de objetos. Percebe-se ali uma

“imaginação museal” (figuras 1 e 2), conceito criado pelo poeta e museólogo Mário

Chagas. Segundo ele (2005, p. 57),

A minha sugestão é que a imaginação museal seja compreendida como a

capacidade humana de trabalhar com a linguagem dos objetos, das imagens,

das formas e das coisas. A imaginação museal é aquilo que propicia a

experiência de organização no espaço – seja ele um território ou um

desterritório – de uma narrativa que lança mão de imagens, formas e objetos,

transformando-os em suportes de discursos, de memórias, de valores, de

Page 9: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

9

esquecimentos, de poderes, etc, transformando-os em dispositivos

mediadores de tempo e pessoas diferentes.

A historiadora Kátia Cadengue foi uma das responsáveis pela atual exposição

de longa duração. Segundo suas próprias palavras: “eu, como historiadora, sentia-me

incomodada com a [antiga] exposição, quando chegava já tinha o impacto da escravidão

na entrada e isso causava incômodo em algumas pessoas”. O incômodo era causado

pelos manequins com instrumentos de tortura representando os escravos, logo na

entrada da instituição. No final de 2011 e início de 2012, ela procurou os responsáveis

pela instituição para propor algumas mudanças na exposição, e, após receber a

autorização, reuniu uma equipe para executá-las.

Ainda segundo Kátia Cadengue, a ideia era:

(...) na nave central era para ficar só a parte sacra. Porcelanas nas laterais

[naves laterais]. A parte dos arreios e luminárias não foi para o anexo por

falta de espaço. Tentamos levar o máximo para o anexo. (...). A questão do

Coronelismo com as camas, a cozinha e os escravos, porque faziam parte da

realidade de Palmeira dos Índios, na primeira parte do anexo. As tradições e

parte indígena, as igaçabas, os trajes típicos [na segunda parte do anexo].

Tentamos dar um entendimento para quem chegasse aqui no museu.”

Apesar do empenho da equipe responsável, não foi possível separar os objetos

segundo as tipologias do acervo, arte, história e costumes. Os motivos que

impossibilitaram as mudanças desejadas foram a grande quantidade de objetos do

acervo e a falta de espaço para distribuí-los. Como a instituição não possui uma reserva

técnica, todos os objetos do acervo estão expostos; e há dificuldade para transferir as

vitrines, pois algumas estão afixadas nas paredes. A coleção indígena, propriamente

dita, está disposta em um espaço anexo sem qualquer identificação afixada nas

estruturas físicas do Museu. No entanto, no folder institucional consta uma

autodenominação específica para a indicação de uma coleção etnográfica existente no

acervo do museu.

A Coleção Luiz B. Torres, que aparece no folder institucional, é formada pelos

objetos etnográficos dos Xukuru-Kariri. Eles estão expostos no anexo do Museu

Xucurus, divididos em uma vitrine na primeira sala (objetos de pequeno porte) e os

demais (de grande porte), na segunda sala. As informações sobre a Coleção são

escassas; apenas encontrei uma referência que sinaliza sua existência, um pequeno texto

Page 10: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

10

encontrado na última página de um folder institucional do Museu Xucurus. O texto,

assim como o folder, não possui autoria e nem a data em que foi impresso. Os

interlocutores não souberam determinar a data ou o autor, contudo afirmaram que

provavelmente foi impresso há quinze ou vinte anos.

O conteúdo do texto destaca o seguinte:

ANTROPOLOGIA CULTURAL

A “COLEÇÃO LUIZ B. TORRES” enfeixa um mundo precioso da etnologia

xukuru-kariri. Essas duas tribos fixaram-se no solo palmeirense desde os

primórdios do Século XVIII.

A Coleção, toda ela fruto de pesquisas do historiador que lhe emprestou o

nome, compreende várias igaçabas (vasos funerários) usados pela indiada há

duzentos ou mais anos, algumas delas exibindo restos ósseos, e inclusive

com utensílios cerimoniais.

Machados de pedras, cachimbos e objetos outros que dão uma ideia do

estágio cultural em que se encontravam os primitivos habitantes de Palmeira

dos Índios.

Além das importantes peças arqueológicas, estão em exibição as vestes

litúrgicas ainda usadas pelos índios descendentes, hoje aldeados da Fazenda

Canto, onde há um posto da Funai.

Encontram-se, igualmente, nesta secção, várias peças de artesanato indígena,

ainda praticado pela tribo.

O primeiro marco usado pelo sargento-mor José Gomes da Rocha, juiz de

sesmarias, para demarcar terras para os índios, em 16 de novembro de 1822,

ou seja, toda a área que compreende o terreno foreiro atual do município.

O autor do texto inseriu a Coleção Luiz B. Torres no âmbito da Antropologia

Cultural, além de associá-la à etnologia Xukuru-Kariri, o que evidencia um

conhecimento mínimo sobre a disciplina Antropológica. No restante do texto, aparecem

algumas noções caras a essa disciplina, como tribo, primórdios, indiada, estágio

cultural, primitivos habitantes, índios descendentes, entre outros. Ao utilizar essas

noções, o autor associou o grupo indígena Xukuru-Kariri ao pretérito, assim como seus

objetos. O que se pode inferir desse material é que, no âmbito da instituição pesquisada,

trata-se do único documento público em que circula uma ‘certa’ concepção de

antropologia, articulada a um ‘determinado’ discurso sobre o grupo Xucuru-Kariri.

Entre o folder e a atual configuração expográfica, podem ser constatados

silenciamentos, apagamentos, paradoxos.

No interior do anexo em que se encontra a mencionada Coleção, a vitrine

contendo os objetos etnográficos é antecedida por um móvel de maior dimensão

contendo diversas armas (figuras 3 e 4). Coincidência? Não. Segundo João Américo da

Page 11: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

11

Motta Pessanha (1996, p. 32), “(...) o simples fato de fazermos uma seleção, colocando

dentro de certa sintaxe expositiva de qualquer natureza, faz com que qualquer arranjo,

qualquer sistema expositivo museográfico, na verdade, seja um discurso, uma narrativa

(...)”. As armas apontadas para os objetos indígenas – e nesse caso, não são objetos de

um povo indígena qualquer, mas sim dos Xukuru-Kariri, habitantes do município e que

ainda estão em luta pela finalização do processo de demarcação de suas terras – é uma

narrativa que deve ser levada em conta ao analisar a exposição de longa duração da

instituição.

A vitrine com objetos indígenas abriga peças como estatuetas de cerâmica

representando figuras humanas, algumas com pigmentos; vasilhames de cerâmicas;

poás (cachimbos), um coité (cuia) com grafismos, apitos da dança do toré10

; esculturas

de madeira; colares; um rabo de tatu; uma pequena escultura em madeira identificada

como Nossa Senhora do Amparo; um cocar, entre outros.

Figuras 3 e 4 – A primeira Sala do Anexo e duas vitrines, a primeira e maior contendo armas diversas e a segunda e

menor com os objetos Xukuru-Kariri. Museu Xucurus, Palmeira dos Índios, outubro de 2013. Acervo do autor.

Apesar de não encontrar a documentação sobre esses objetos, há indícios de

sua existência, pois alguns deles possuem etiquetas com numeração. Contudo, não tive

acesso ao interior da vitrine11

, fato esse que dificultou identificar a numeração,

quantificar os objetos ou mesmo a leitura de algumas etiquetas.

Das informações existentes no interior da vitrine, só foi possível a leitura das

seguintes etiquetas: “Panela de Oferenda, encontrada junto de uma igaçaba descoberta

por Luiz Barros Torres”; “Nossa Senhora achada em 1973 pelos índios Xucurus”;

10

Esses três últimos objetos foram identificados pelo cacique Manoel Selestino, no dia 03 de agosto de

2013. 11

Nas minhas últimas viagens, solicitei à diretora do Museu Xucurus, Surica, fotografar os objetos da

vitrine. Ela falou que as chaves não estavam em seu poder. Conversando posteriormente com ela, me

dispus a colaborar voluntariamente com a instituição como consultor, e como contrapartida pedi o acesso

aos objetos indígenas da vitrine, pois quero medi-los e fotografá-los. Ela concordou, abrindo assim uma

possibilidade futura de acesso a esses objetos.

Page 12: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

12

“Panela de barro com mais de 30 anos, oferta de Maria Matilde de Jesus, Fazenda

Feliz”; “Coités para tomar água”; “Faca de pedra usada pelos índios”; “Apito, oferta de

Severino Tomás de Aquino (Paulo Jacinto)”. Também existe um pequeno texto no

interior da vitrine de autoria de Luiz B. Torres:

Vasilha de Oferenda.

Esta vasilha foi encontrada no dia 07/03/1978 dentro de uma igaçaba. Os

trabalhadores da prefeitura estavam preparando o terreno de uma rua quando

deram com a tampa de uma igaçaba. Foi constatada particularidade: havia

três igaçabas uma dentro da outra, havia duas vasilhas de oferendas, sendo

que a outra quebrou.

Antigamente neste e em outros locais quando por ocasião da construção da

estrada de ferro foram desenterrados vários potes fúnebres, há muitos

cemitérios na cidade, depende da sorte para encontrá-los. Luiz B. Torres,

07/02/1978.

Contudo, o texto não está ao lado de uma vasilha de oferendas; possivelmente

desprendeu-se do objeto citado. Os erros e as ausências nada mais são do que o velho

discurso sobre os “processos de controle, silenciamento e apagamento das experiências”

(BARTH, 2005, p. 22), calcado numa atemporalidade que mascara a

contemporaneidade do grupo étnico Xukuru-Kariri.

Para José Reginaldo Santos Gonçalves (2007, pp.142-143):

Vale a pena assinalar no entanto que quando falo em discursos, orais ou

escritos, não estou me referindo à linguagem no sentido mais estrito, no

sentido formal (enquanto gramática, sintaxe, léxico), mas às visões de

mundo que são parte integrante dessas linguagens e que se opõem

dialogicamente a outras. Não há visões de mundo, formas de pensamento

separadas dos discursos que as veiculam. Cada modalidade de discurso traz

consigo uma visão de mundo, um ponto de vista sobre a sociedade.

Esses discursos não estão presentes apenas no que tange aos objetos da vitrine

ou aos demais analisados a seguir; aparecem também nas falas de alguns interlocutores,

assim como nos documentos consultados. Os Xukuru-Kariri que habitam o município

são vistos como os descendentes dos antigos habitantes do lugar, são índios misturados,

são os caboclos.

Na primeira visita ao museu, ouvi uma frase nas dependências: “(...) o museu é

bastante visitado pelos índios, contudo não são índios puros (...)”. Essa frase

exemplifica uma das imagens dos índios para parte da população palmeirense.

Page 13: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

13

Categorizar os índios em puros e impuros significa pensar a etnicidade ou a cultura ou

ambos como algo com polarizações fixas, a partir de referências estáticas e ou

homogêneas, o que inviabiliza o reconhecimento das diferentes dinâmicas identitárias

dos grupos étnicos e seus direitos.

Os demais objetos da Coleção Luiz B. Torres estão localizados na segunda sala

do anexo. Esses dividem o espaço com objetos diversos (expostos em vitrines ou

individualmente, como alguns fósseis, material lítico e vitrines com chaveiros,

isqueiros, bonecas em miniatura, tesouras, pedras semipreciosas, um fragmento do muro

de Berlim, entre outros).

Os objetos indígenas são fáceis de identificar, devido ao tamanho, como as

igaçabas e os manequins com vestuário cerimonial (figuras 5 e 6); contudo, é difícil

determinar quando termina a mostra desses. Existem objetos que não pertencem a esse

grupo, mas dividem o mesmo espaço.

Figuras 5 e 6 - Painel, manequins com vestes cerimoniais indígenas e igaçaba com restos humanos, Museu

Xucurus, Palmeira dos Índios, outubro de 2013. Acervo do autor.

A composição da segunda sala do anexo, em linhas gerais, resulta na

distribuição de objetos que expõem os paradoxos do Museu na produção de visibilidade

para a presença indígena como marca de autodenominação da própria instituição. Entre

os arranjos que constituem as formas de distribuição das peças indígenas ao lado de

outros objetos, é possível contemplar, também, lacunas ou mesmo discursos que

traduzem uma visão do indígena associado às origens pré-históricas do lugar. Aos olhos

do visitante que desconhece a presença dos Xukuru-Kariri no contexto histórico atual do

município de Palmeira dos Índios, tais paradoxos e apagamentos podem passar

despercebidos. Aos olhos dos próprios Xukuru-Kariri, tais contradições alimentam

Page 14: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

14

outras narrativas sobre o Museu existente e os museus que desejam para instituírem em

suas comunidades espaços de memórias que contribuam para a formação dos jovens.

Narrativas dos Xukuru-Kariri sobre museus: “hoje sabemos o lugar que queremos

ocupar na história do país”12

Entendo a narrativa como uma produção polissêmica emergente de diferentes

experiências de vida. Nas narrativas dos Xukuru-Kariri sobre museus, essas

experiências de vida estão intrinsecamente ligadas à questão da luta pela terra, assim

como dentro de um complexo de emergência étnica. Ou seja, a “musealização como

atividade de grupos sociais torna-se o renascimento de uma vida social que quer se

atualizar” (JEUDY, 1990, p. 30). As críticas ao Museu Xucurus, a participação do

museu nas lutas indígenas e as ideias de museus nas aldeias, essas ainda em gestação,

também fazem parte desse processo. De certa forma, são decorrentes também da

inexistência de diálogo do Museu municipal com o grupo indígena.

Os objetos indígenas expostos no Museu Xucurus fazem parte do patrimônio

cultural do grupo indígena Xukuru-Kariri, e algumas lideranças utilizam esses objetos

em seus discursos identitários. Esse fato ficou claro na fala do cacique Manoel

Selestino, da Aldeia Serra do Capela, durante a visita guiada ao referido museu, no dia

03 de agosto de 2013 (estávamos em frente da vitrine com os objetos indígenas),

quando a Professora Fernanda Rechenberg perguntou ao cacique se existiam objetos

como aqueles em posse das famílias nas aldeias, o cacique respondeu o seguinte:

(...) Não! Foram depositadas aqui, né!? Lá nós fazemos para o ritual da

gente, mas os mais antigos foram depositados aqui, tá tudo aqui. Agora, o

que é que nós estamos pensando é criar um museu Wakonã-Kariri na nossa

aldeia, resgatar algumas peças daqui para o museu Wakonã-Kariri, é a nossa

ideia, nosso pensamento, um dia criar o nosso museu também (...).

Na fala do cacique, fica evidente a vontade de criar um museu do povo

Wakonã-Kariri13

e parte dos objetos desse novo espaço seria “resgatado” do Museu

Xucurus de História, Arte e Costumes. A localização do futuro museu Wakonã-Kariri

12

Frase da liderança indígena Maninha Xukuru-Kariri. 13

Segundo o depoimento do cacique Manoel Selestino durante a visita, o grupo indígena identificado

como os Xukuru-Kariri, são na verdade, Wakonã-Kariri, o grupo indígena Xukuru chegou posteriormente

de Pernambuco.

Page 15: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

15

seria na aldeia Serra do Capela, local do cacicado de Manoel Selestino. Destaco aqui

que nas narrativas afloram diversos museus, notadamente porque existem trajetórias

familiares diferentes. Não existe uma história ou uma memória compartilhada por todos,

mas uma multiplicidade de histórias e memórias. A existência de um museu Xukuru-

Kariri ou Wakonã-Kariri representando todas as aldeias é algo restrito ao discurso desta

liderança ouvida na pesquisa.

Algumas das críticas dos Xukuru-Kariri ao Museu Xucurus enfatizam a junção

do chifre de cervo ao lado dos objetos indígenas e também das igaçabas com restos

humanos. Os chifres não são reconhecidos como elementos presentes nos seus

contextos de vida.

Com relação às igaçabas, o Código de Ética do ICOM14

para Museus: versão

lusófona 2009 aborda a questão dos restos mortais nos acervos de museus. Nesse

documento, são sinalizados princípios sobre os “acervos de remanescentes humanos e

de caráter sagrado”. Tais acervos devem ser tratados com respeito, resguardando os

interesses e crenças dos grupos religiosos e étnicos, além de destacar o respeito à

dignidade humana de todos os povos. Importante ressaltar que os Xucuru-Kariri

também criticam a exposição de restos humanos à visitação pública, tal como hoje

acontece no Museu da cidade.

Os objetos do Museu possuem significados sociais que extrapolam os atributos

utilitários reservados a eles. O grupo indígena Xukuru-Kariri visita e fiscaliza

regularmente “seus” objetos. Tais visitas geram narrativas sobre a ótica dos indígenas

acerca daquilo que veem, a exemplo da declaração de Korã Xukuru, técnica em

enfermagem e terapeuta holística da aldeia Mata da Cafurna:

(...) o que eu fui lá e vi são várias peças empoeiradas, quebradas, que já não

representam nem mais a cultura indígena porque, se você olhar ali, você nem

sabe que objetos são aqueles (...). O Museu Xucurus precisa ter uma reforma

muito grande na parte indígena, eu já me ofereci para ajudar identificar os

objetos ali expostos, mas não houve interesse (...). Esses pedaços de objetos

que existem no museu da cidade, eles remetem para a sociedade que os

índios existiram e que eles não existem mais, então isso, é o que a sociedade

quer passar do nosso povo (...).

14

Código de ética do ICOM – International Council of Museums. Disponível em:

<http://www.icom.org.br>. Acesso 01/06/2014.

Page 16: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

16

O que se destaca no testemunho de Korã é a ênfase na não identificação dos

objetos expostos com a vida atual do grupo étnico a que pertencem. Para Tânia Xukuru-

Kariri, professora e diretora da Escola Indígena da aldeia Mata da Cafurna:

(...) pelo que eu vejo no Museu Xucurus de Palmeira dos Índios é uma forma

de cada vez mais matar diante da sociedade a cultura do meu povo, do povo

Xukuru-Kariri (...) então, estão lá os objetos quebrados, lá encostados num

canto, então isso para nós significa o que: não dão valor, credibilidade,

respeito (...).

O ponto de intersecção entre o discurso de Korã e o discurso de Tânia é a

constatação do estado de abandono dos objetos expostos, o que conota a desvalorização

da existência no presente de um grupo étnico no município ao qual os objetos também

estão correlacionados.

Em virtude das mudanças na configuração política, bem como do acirramento

dos conflitos fundiários, hoje os índios reivindicam seus objetos contidos nesse espaço,

manifestando críticas à representação que ali é divulgada. Para os Xukuru-Kariri

importa construir seus espaços de memória dentro de suas aldeias e preferencialmente

para seus pares.

Em outro momento do trabalho de campo, fui informado que o Pajé Celso,

juntamente com outras lideranças da Fazenda Canto, reivindica o acervo do seu povo

junto ao Museu Xucurus de História, Arte e Costumes. Penso que a ideia do

repatriamento de parte do acervo desse museu não está dissociada do processo de

“retomada”, pois esses objetos fazem parte do patrimônio cultural dos Xukuru-Kariri. A

pesquisa revelou que a questão do repatriamento para algumas lideranças Xukuru-Kariri

é sobretudo política, assim como a inscrição de espaços de memórias nas aldeias.

Utilizo a noção de patrimônio proposta por ABREU (2007, p. 267) “(...) enquanto um

bem coletivo, um legado ou uma herança artística e cultural por meio dos quais um

grupo social pode se reconhecer enquanto tal (...)”.

Penso que o desejo de criação de um museu indígena na Fazenda Canto, de

certa forma, é uma consequência do processo de “retomada”, como também uma

resposta indireta ao Museu Xucurus de História, Arte e Costumes. Ou uma sinalização

do modelo de museu desejado. No entanto, é importante reconhecer que entre os

discursos do cacique Manoel Selestino e os discursos de Korã e Tânia, anunciam-se ao

menos duas perspectivas diferentes no que diz respeito à relação entre o Museu

Page 17: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

17

existente e a postulação da existência de museus nas aldeias. Para o cacique Manoel

Selestino, o destaque recai na repatriação dos objetos expostos no Museu Xucurus. Para

Korã e Tânia, os objetos do Museu existente já não remetem mais às relações de

pertencimento com os Xukuru-kariri. O museu desejado para a sua aldeia deve expor as

vivências do presente em diálogo com o passado. Isto fica mais evidente quando a

professora indígena Tânia Xukuru-Kariri destaca o seguinte:

(...) Eu trato assim de museu vivo porque a nossa cultura é a nossa vida, é a

nossa vivência do dia a dia. Então, no meu ponto de vista, talvez esteja

equivocada diante das circunstâncias em que vivemos, como vivíamos antes,

que a gente volte a fazer essas práticas com a comunidade, faça esse tipo de

vivência, que a gente passe a viver o que os nossos antepassados viveram,

não só no nosso ritual, mas no nosso dia a dia, que passe a viver mais a

natureza, que passe a valorizar mais a natureza, que passe a utilizar mais as

nossas ervas e tudo isso para mim é um museu vivo, porque na realidade, os

nossos mais velhos são as nossas enciclopédias. Eu não quero que isso morra

essas coisas morra empoeirado ou cheio de cacos como o museu lá da

cidade.

Na perspectiva de Korã Xukuru o que se ressalta é o seguinte:

(...) Muitas das coisas, artefatos e objetos que hoje em dia são

comercializados na comunidade não são dos Xukuru-Kariri, já são de outras

etnias e coisas dos próprios Xukuru-Kariri já não existem mais, porque a

arma dos Xukuru-Kariri era o badoque, ninguém faz o badoque mais, faz o

arco e flecha. O arco e flecha ele generaliza o índio. Porque muitos dos

índios já estão perdidos sem saber sua própria história e nós temos essa

dificuldade aqui como eu acredito que as outras malocas. E esse museu iria

ajudar muito isso, eu não sei se seria oficinas, esse período que a gente

poderia sentar e estar construindo essa história junto com essas crianças (...),

seria uma forma de a gente tá fortalecendo as nossas raízes, os nossos

conhecimentos, e sim fazendo com que ele ficasse fixo na ideia de cada um,

que eles tivessem outra forma de visão, mas que eles conhecessem a nossa, e

ai eles estariam se ajudando e se fortalecendo cada vez mais.

A partir dessas narrativas, destacam-se outros sentidos para as concepções de

museus como espaços de memórias para a consolidação dos processos formativos

intrassociais do grupo Xukuru-Kariri. Ao lado da concepção do cacique Manoel

Selestino, que sugere o resgate dos objetos do Museu municipal como estratégia política

para a construção de um museu na aldeia, as proposições lançadas pelas irmãs Tânia e

Korã indicam a ênfase nas vivências do grupo com a sua história no presente como

pressuposto de construção de um museu vivo. Ressalto que essa polissemia parece

indicar um horizonte fecundo de novas perspectivas de reconhecimento dos museus

Page 18: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

18

indígenas como lugares de afirmação das relações de pertencimento étnico. No entanto,

é importante ressaltar também que a existência do Museu Xucurus possibilita a

emergência de formas de contestação que contribuem também para a formulação dos

discursos indígenas expostos até aqui.

Inconclusivas considerações

Os conflitos que permeiam a história do Museu Xucurus de História, Arte e

Costumes apontam para a importância das reflexões acerca do patrimônio cultural de

um ponto de vista antropológico. Considero as ressonâncias entre o ‘instituído’ e o

‘desejado’ como um processo que, apesar das contradições locais, ressalta múltiplas

faces de uma mesma ‘realidade’.

Seguindo as sugestões teóricas de Fredrik Barth (2005, p. 17) relativas à

necessidade de se afastar da ideia de cultura como algo compartilhado e fixo e a

proposta de se abordar a elaboração dos “fluxos culturais” por atores sociais concretos e

em contextos específicos, busquei articular as apropriações (reivindicatórias e

desejadas) dos espaços museológicos pelos Xukuru-Kariri como uma tessitura em

constante (re)-construção de limites em áreas nas quais ocorrem diferentes tensões

identitárias. Procurei destacar que a composição dos arranjos expográficos do Museu

pesquisado apontam para uma determinada visão do grupo étnico que autodenomina o

próprio museu. Destaquei ainda que a contestação dessa visão instituída pelo Museu

existente, por parte de algumas lideranças indígenas, provoca a emergência de

narrativas sobre os museus desejados por essas lideranças. Contudo, as narrativas sobre

museus desejados não indicam uma padronização discursiva por parte dos indígenas; ao

contrário, apresentam variações de sentido, o que sugere reconhecer que “(...) as ideias

que compõem a cultura transbordam seus limites e se difundem de forma diferenciada,

criando uma variedade de agregados e gradientes” (BARTH, 2005, p.17). O que eu

tentei fazer foi compreender os limites produzidos entre os discursos do Museu e os

discursos dos Xukuru-Kariri sobre os museus como aspectos relevantes para a

compreensão de um processo mais amplo que envolve por um lado a territorialização do

grupo étnico, e, por outro lado a patrimonialização dos aspectos culturais referentes a

esse grupo étnico.

Page 19: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

19

Para tal propósito, o conceito de “processo de territorialização” de João Pacheco

de Oliveira Filho (2004) abre a possibilidade de investimento em novas questões, para o

avanço da pesquisa que venho desenvolvendo. Considero que a reivindicação do museu

como espaço de formação para os jovens da aldeia pode significar também o

investimento do grupo na consolidação de suas relações com o território que habitam.

Considero ainda que aproximações conceituais entre os processos de patrimonialização

da cultura no âmbito das reflexões sobre territorialização podem aprofundar de maneira

construtiva os diálogos interdisciplinares entre a museologia e a antropologia na

contemporaneidade.

Referências

ABREU, Regina. “Patrimônio Cultural: tensões e disputas no contexto de uma nova

ordem discursiva”. In: LIMA FILHO, Manuel; ECKERT, Cornélia; BELTRÃO,

Jane (orgs.). Antropologia e Patrimônio Cultural – diálogos e desafios

contemporâneos. Blumenau: Nova Letra, 2007.

_________. “Museus Etnográficos e Práticas de Colecionamento: Antropofagia dos

Sentidos”. In: CHAGAS, Mário (org.). Museus. Revista do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional. Nº 31. Brasília: MinC, IPHAN, 2005.

BARTH, Fredrik. “Etnicidade e o conceito de cultura”. In: Antropolítica: Revista

Contemporânea de Antropologia e Ciência Política, Niterói, n. 19, 2º semestre.

2005.

BONILHA, Patrícia. Resistência – Em busca do Bem Viver. Porantim – Em Defesa

da Causa Indígena. Ano XXXV, Nº 358Cimi/CNBB, Brasilia: 2013.

CHAGAS, Mario. Pesquisa Museológica. In: MAST COLLOQUIA, vol. 7 - Museu:

Instituição de pesquisa, Rio de Janeiro, 2005, pp. 51-6.

_________. “Museus: antropologia da memória e do patrimônio”. In: CHAGAS, Mário

(org.). Museus. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nº 31.

Brasília: MinC, IPHAN, 2005, pp. 15-25.

FLICK, Uwe. Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Editora

Bookman, 2004.

GOMES, Alexandre Oliveira. Aquilo é uma coisa de índio. Objetos, memória e

etnicidade entre os Kanindé do Ceará. Dissertação (Mestrado em Antropologia)

– Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Centro de Filosofia e Ciências

Humanas (CFCH), da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.

Page 20: Museus Desejados e outras Narrativas do Grupo...No Abril Indígena 2012, evento realizado no MTB, observei alguns elementos ao longo do dia que acho necessário destacar. De certa

20

GONÇALVES, José Reginaldo. “Culturas populares: patrimônio e autenticidade”. In:

BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L (org.). Agenda Brasileira: temas de uma

sociedade em mudança. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

_________. Antropologia dos objetos. Coleções, Museus, Patrimônios. Rio de

Janeiro: 2007 (Coleção Museu, Memória e Cidadania).

GUERRA, Isabel. Prefácio. In: PORTELA, José Francisco Gandra; SACRAMENTO,

Octávio José Rio do; SILVA, Pedro Gabriel (org.). Etnografia e Intervenção

Social por uma Práxis Reflexiva. Lisboa: Edições Colibri, 2011.

JEUDY, Henri Pierre. Memórias do Social. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

1990.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. “Etnografia como Prática e Experiência”. In:

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 15, n. 32, jul./dez. 2009.

MARTINS, Sílvia Aguiar Carneiro. “Os caminhos das aldeias Xucuru-Kariri”. In:

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de (org.). A viagem da volta: etnicidade,

política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. 2. Ed. Rio de Janeiro:

Contra Capa Livraria / LACED, 2004.

MURA, Claudia. “Todo mistério tem dono!” – Ritual, política e tradição de

conhecimento entre os Pankararu. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2013.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de. “Uma etnologia dos ‘índios misturados’?

Situação colonial, territorialização e fluxos culturais”. In: _________ (org.). A

viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste

indígena. 2. Ed. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / LACED, 2004.

PEIXOTO, José Adelson Lopes. Memórias e Imagens em Confronto: Os Xucuru-

Kariri nos acervos de Luiz Torres e Lenoir Tibiriçá. Dissertação (Mestrado em

Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Centro de

Ciências Aplicadas e Educação (CCAE), Centro de Ciências Humanas, Letras e

Arte (CCHLA) da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013.

PESSANHA, José Américo da Motta. “O sentido dos museus na cultura”. In: O

MUSEU em perspectiva. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura/Funarte, (Série

Encontros e Estudos 2). 1996.

SILVA JÚNIOR, Aldemir Barros da. Aldeando Sentidos: os xucuru-Kariri e o

serviço de proteção aos índios no agreste alagoano. Maceió: Edufal, 2013.

TEIXEIRA, Luana. Para além da “pedra e caco”: o patrimônio arqueológico e as

igaçabas de Palmeira dos Índios, Alagoas. Monografia (Mestrado Profissional

em Preservação do Patrimônio Cultural) – Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional – Iphan/Superintendência Estadual de Alagoas, Rio de Janeiro,

2011.