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Museus Brasileiros Masp Artigo Os caminhos da arte na escola Entrevista Carlo Cirenza COLÉGIO DANTE ALIGHIERI Novembro 2012 Ano I - N o 01

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Museus Brasileiros MaspArtigo Os caminhos da arte na escolaEntrevista Carlo Cirenza

Colégio Dante alighieriNovembro 2012Ano I - No 01

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por José de Oliveira MessinaPresidente no Centenário do Colégio Dante Alighieri

“Arte já é o comportamento dos astros no Universo”

Sempre quando surge no meio cultural uma nova publica-ção, tal feito deve ser recebido e festejado com júbilo.

No Colégio Dante Alighieri – que neste 2012 dá os pri-meiros passos no segundo centenário de vida – desponta o primeiro número da revista InArte, seguindo a trajetória desenhada pela Presidência, iniciada com a revista InCiência.Por que nasce neste momento?

Há uma razão preponderante, que reside no fato de que nosso educandário sempre primou também por contar, no seu campo artístico-pedagógico, com personalidades cujas obras brotam de todos os impulsos criativos conhecidos. Convém ademais ressaltar que todas essas obras foram proclamadas de escol por apreciadores das belas-artes.

Entre os artistas dantianos do passado, emergiram, no meu tempo de aluno, Fulvio Penacchi e Vicente Mecozzi, cujos trabalhos revelam a experiência obtida da profissão, a qual resolveram eleger como norte de suas existências. Os romanos já colocavam em destaque a sutilidade desse comportamento, na frase imperativa: unusquisque peritus esse debet artis suae. Cada um deve ter a experiência de sua profissão. Essa experiência aprimora a caminhada, com a superação de todos os obstáculos que se antepu-serem aos passos. Souberam esses professores, com mestria, transmitir aos seus alunos tal conceito, que foi plenamente absorvido.

Tanto isso é verdade, que as novas gerações de alunos e ex-alunos estão representadas por iniciantes e profissionais, cuja produção artística demonstra precisamente a individu-

alidade e a criatividade resultantes do enfoque dado à sin-gularidade do ser.

É recente a exposição organizada, na Casa das Rosas, pela professora Sandra Romanello, hoje coordenadora do De-partamento de Arte do Dante. Tal realização, indubitavel-mente, é prova de que a mestra incorporou o espírito dos que a antecederam no Colégio, e constitui, por extensão, a razão mesma desta revista.

A mostra em questão soube avaliar e projetar as obras de um rico elenco de artistas: Aguilar, Antonio Fernando Ces-tari, Fulvio Penacchi, Beatriz Perotti, Claudio Callia, Claudio Canato, Flávia Piovacari, Hajaj, José Luiz Messina, J. Sigon, Laura Martini, Rolando Scurzio e Sylvia Loew, muitos dos quais contemporâneos de nossa ex-aluna Germana de An-gelis, artista consagrada pela crítica e admirada pela comu-nidade dantiana, que também expôs alguns trabalhos no memorável evento.

Ponho termo a estas singelas linhas ponderando que, a meu entender, a expressão “arte” não comporta definição, tan-tas são as partes em que se divide.

Assim, compartilho com Umberto Eco, o maior expoente da Universidade de Turim, a ideia da dimensão ontológica da ars, vale dizer, quem pode definir a arte é o próprio ex-pectador. O subjetivismo impera! Uma formiga, três pedras amontoadas eram, em priscas eras, admiradas como arte...

A professora Sandra Romanello vislumbrou, de forma sin-gular e filosófica, dar vida à pintura por meio do pensamen-to poético, atribuindo, a cada composição apresentada na exposição “Dante nas Rosas Non Finito”, uma fantasia em versos, que ela naturalmente exporá no seu trabalho.

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da arte

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EDiTORiAL

Conhecer, vivenciar, orientar, estimular, criar, conversar...

Esses são os propósitos da revista inArte, comprometida com um público envolvido com a apreciação estética e com a trajetória que pauta o fazer artístico.

O que se pretende aqui é relatar as ações desenvolvidas e caminhos percorridos pelos alunos, amigos e colaboradores do Colégio Dante Alighieri, uma vez que a arte sempre foi elemento de união, magia e denúncia. Com efeito, desde o início da civilização, o fenômeno artístico revestia-se de fun-ções mágicas e rituais, mas, ao longo do tempo, e de acordo com as diversas culturas, adquiriu componentes sociológi-cos, lúdicos e morais, sem falar nas conotações políticas e ideológicas. Tais características, de todo modo, serviram-se das faculdades criativas e estéticas, que tiveram embasa-mento na percepção, nas ideias e nas emoções.

Desde o homem das cavernas até as gerações atuais, evi-dencia-se assim uma grande necessidade da expressão ar-tística, esteja ela associada a antigos ou novos meios de cria-ção, invenção e apreciação estética.

Após a Segunda Guerra Mundial, os artistas em geral decidi-ram rever profundamente os conceitos de arte. Tão amplo foi o novo entendimento, que o termo “artes plásticas” não conseguiu mais abarcar os mais variados experimentalismos, linguagens e meios. Nos países ditos hegemônicos no que se refere à produção cultural (países europeus, da América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Japão, China e tigres asiá-ticos) começou-se a usar o termo “artes visuais” no sentido abrangente das novas formas de expressão mostradas nos diferentes circuitos das artes .

Por sua vez, os países reconhecidos como periféricos no contexto cultural também assimilaram o novo termo como expressão globalizante das múltiplas formas de manifesta-ção artística, sem todavia excluir do conceito as modalida-des tradicionais ou convencionais.

Seja como for, o certo é que não conseguimos viver sem

arte, pois ela nos permite expressar nosso mundo interior por meio de símbolos e imagens. Nossa vida foi, é e sem-pre será mediada e guiada por critérios estéticos.

Em “O carteiro e o poeta”, filme dirigido por Michael Ra-dford, temos o relato da convivência do poeta chileno Pa-blo Neruda (1904-1973), então exilado na itália por ques-tões políticas, com Mario, um cidadão semianalfabeto, que é de repente contratado como carteiro para fazer entregas extras, quase que diárias, das correspondências endereça-das ao artista.

Vê-se então formar, gradativamente, uma sólida amizade entre os dois, havendo assim uma troca de conhecimentos. Mario aprende a buscar o sentido poético da vida, daquilo que o ro-deia: o mar, o vento, e a presença de Beatrice, a mulher amada. Neruda, por sua vez, tem no carteiro um excelente ouvinte para seus saudosos relatos que fazem lembrar o Chile.

A referência a esse filme serve aqui para ilustrar a forma pela qual os mais diversos conceitos de arte estarão contempla-dos nesta revista, cuja publicação será semestral. A edição inaugural da InArte apresenta reflexões feitas pelo presiden-te do Colégio, dr. José de Oliveira Messina, e pela escritora Nereide Schilaro Santa Rosa, defensora do ensino da arte como algo fundamental para a educação dos jovens. Já os ar-tistas Claudio Callia e Claudio Canato, ex-alunos e criadores das obras comemorativas do centenário do Colégio, conce-dem depoimentos sobre a elaboração de seus trabalhos. Ao lado do relato das diversas atividades que envolveram “faze-res artísticos” na Escola – e que, inclusive, estiveram ligadas a outros departamentos, como visitas a exposições – este número elenca ainda matérias que revelam um pouco do porquê e da história dessas mostras .

É com a moldura desses feitos que a revista inArte, disponí-vel nas versões digital e impressa, pretende mostrar ao leitor as muitas e apaixonantes possibilidades do mundo da arte.

Sandra Smith Silveira RomanelloCoordenadora do Departamento de Arte do Colégio Dante Alighieri

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PresidenteDr. José de Oliveira Messina

Diretor Geral PedagógicoProf. Lauro Spaggiari

Conselho EditorialSandra S. Silveira Romanello Fernando Homem de Montes Gustavo Antonio

Jornalista responsávelFernando Homem de MontesMTb 34598

SUMáRiO

6Museus BrasileirosMASP

46FotografiaOs primeiros passos da fotografia

50MemóriaColégio Dante Alighieri: dos 90 aos 100 anos

54Técnicas de Arteimagem gravada

42Plataformas de ArteA arte em selos comemorativos

38Arte na PráticaTempus Fugit, Sapientia Manet

34Arte no DanteA arte dantiana no centenário do Colégio

30Processos artísticosA concepção de uma obra de arte por Claudio Canato

22Mostras de ArteBienal de Arte: conheça algumas das expo-sições mais tradicionais do mundo artístico

18Entrevista Carlo Cirenza: um pioneiro no mundo da fotografia

16ArtigoNereide Schilaro Santa Rosa

12Arquitetura Construções conscientes

EditoresGustavo AntonioSandra S. Silveira Romanello

RevisãoLuiz Eduardo Vicentin

ColaboradoresClaudio Callia, Claudio Canato, Felipe Guerra, Gustavo Antonio, José de Oliveira Messina, Nereide Schilaro Santa Rosa, Sandra S. Silveira Romanello

Projeto Gráfico, Arte e DiagramaçãoGrappa Editora

[email protected] Colégio Dante Alighieri

Alameda Jaú, 1601 CEP 01420-001 | SPTel.: (11) 3179-4400 Fax.: (11) 3289-9365

[email protected]

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MUSEUS BRASiLEiROS

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O prédio sustentado por quatro colunas, entre as quais há um famoso vão livre de 74 metros, é um cartão-postal não só da Avenida Paulista, como também da cidade de São Paulo. É nesse edifício que o Museu de Arte de São Paulo (Masp) abriga, desde 1968, um dos principais acervos da arte ocidental na América Latina.

Entretanto, a história do Masp começa anos antes, mais precisamente em 1947. E o curioso é saber que um dos marcos da cidade de São Paulo foi idealizado e fundado por um parai-bano e por um italiano: respectivamente, o jornalista e empresário Assis Chateaubriand e o jornalista e crítico de arte Pietro Maria Bardi. Nos primeiros anos, o museu funcionava em quatro andares dos Diários Associados, empresa de comunicação de Chateaubriand, e contava com obras selecionadas na Europa por Pietro Maria Bardi, no período que se seguiu ao término da Segunda Guerra Mundial.

Coube à mulher de Pietro, Lina Bo Bardi, projetar a sede do Masp. Para isso, porém, a arquiteta teve que seguir as condições impostas pelo doador do terreno à prefeitura de São Paulo: preservar a vista para o Centro da cidade e para a Serra da Cantareira, através do vale da Avenida 9 de Julho. E, diante dessas exigências, Lina apresentou uma solução criativa, que caracteriza o prédio do Masp até hoje: o edifício sustentado por quatro colunas com um vão livre.

Após 12 anos de construção, a sede do Masp na Avenida Paulista foi inaugurada em 7 de novembro de 1968, com direito à presença da Rainha Elizabeth II da Inglaterra – afinal, a instituição já era conhecida e respeitada por sua coleção, que havia passado por países como itália, França e Japão.

Desde então, o Masp recebeu grandes exposições internacionais e trabalhos de artistas

Museu de Arte de São Paulo

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O prédio que abriga o Masp desde 1968 e, à sua esquerda, o edifício que sediará o Anexo

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estrangeiros renomados, graças a um intercâmbio com importantes museus do mundo. Atualmente, o edifí-cio de 11.000 metros qua-drados, divididos em cinco pavimentos, possui cerca de 8 mil peças, com destaque para as pinturas ocidentais, como as da escola italiana (Rafael, Mantegna e Bottic-celi) e as da chamada escola de Paris (Delacroix, Renoir, Monet, Cèzanne, Picasso, Van Gogh, entre outros).

Entre as pinturas de artistas brasileiros, há obras de Cân-dido Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Almeida Ju-nior. As escolas portuguesa, espanhola e flamenga tam-bém são contempladas no acervo do Masp.

Merecem destaque ainda

as esculturas de Degas, os bronzes de Rodin, as peças de Victor Brecheret e os mármores da deusa grega Higeia, do século iV a.C. Além de pinturas e escultu-ras, o Masp apresenta co-leções de gravuras, fotogra-fias, desenhos, arqueologia, maiólicas (peças de cerâmi-ca), tapeçaria e artes deco-rativas europeias.

Devido ao significado de seu prédio, ao acervo qualificado e à tradição estabelecida no meio cultural em todos esses anos, o Masp já recebeu al-gumas honrarias. Seu acervo é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – iPHAN desde 1969. Já em 2008 foi convidado pelo Mu-seu d’Orsay, de Paris, para in-tegrar o “Clube dos 19”, que reúne os dezenove museus

O MUSEU POSSUi CERCA DE 8.000 PEçAS, E SEU ACERVO É TOMBADO PELO PATRiMôNiO HiSTóRiCO E ARTíSTiCO NACiONAL

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8com os melhores acervos de arte europeia do século 19.

Centro cultural e anexo

O Masp, além de ser um museu, também funciona como um centro cultural, oferecendo atividades como uma escola de arte, ateliês, espetáculos de dança, músi-ca e teatro, palestras e de-bates, cursos etc. inclusive, a Escola Superior de Propa-ganda e Marketing (ESPM) surgiu e esteve instalada no Masp de 1951 a 1955. Já a Mostra de Cinema de São Paulo originou-se como um evento comemorativo dos 30 anos do Masp, em 1977.

Desde 2010, estão em an-

damento as obras do Anexo do Masp. O prédio fica ao lado do edifício do Museu e foi adquirido em parceria com a empresa de telefonia Vivo (por isso tem o nome de Masp-Vivo). A intenção é utilizar o espaço para pro-mover exposições temáti-cas, mostras de esculturas ao ar livre, laboratório de restauro e ateliê, escola de criatividade (com cursos de arte, museologia, design, tecnologia, fotografia e cine-ma) e, no topo, um espaço cibernético (com cafeteria e acesso à internet com co-nexão wi-fi) e um observa-tório da região do Parque Trianon. O objetivo é que as obras do Anexo estejam prontas em janeiro de 2013.

Famoso por seu vão livre, Masp é um cartão postal da cidade de São Paulo

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Esculturas como “Quarta Posição para a Frente, Sobre a Perna Esquerda”, de Degas, também compõem a coleção do museu

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EM 2008 FOi CONViDADO PELO MUSEU D’ORSAy, DE PARiS, PARA iNTEGRAR O “CLUBE DOS 19”, qUE REúNE OS DEZENOVE MUSEUS COM OS MELHORES ACERVOS DE ARTE EURO-PEiA DO SÉCULO 19

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Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

Alunos do Dante visitam exposição sobre Roma no MaspNo último mês de março, alunos do 7º e 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio Dante Alighieri visitaram o Masp para conferir a exposição “Roma – A vida e os imperadores”, que apresentou 370 peças e obras originais que não haviam saído da Itália até então. Na atividade, orga-nizada pelos Departamentos de Arte e de Italiano, foram realizadas nove idas ao Museu.Dividida em quatro núcleos, a mostra apresentou peças históricas que remontam a períodos da República e do Império Romano. Júlio César e Augusto, figuras cruciais dessa época, tiveram suas trajetórias retrata-das na parte que abriu a exposição. O apogeu do Império Romano também mereceu grande destaque na mostra, retratando a política do pão e circo (eventos esportivos utili-zados para divertir a população e reduzir a insatisfação contra os go-vernantes) e a miscigenação de culturas do Império. “Roma conquistou muitos territórios. E, ao invés de impor sua cultura aos conquistados, absorveu os seus costumes. Vejo como algo semelhante ao que o Brasil faz ao acolher tantas culturas diferentes”, explicou a professora Angela Angoretto, coordenadora de Italiano do Colégio. Já a coordenadora de Arte, Sandra Romanello, destacou as influências e o legado de Roma para a arte atual. “A arte que vemos hoje tem grande ligação com o Renascimento, que por sua vez é fortemente relacionado às culturas da Grécia e Roma antigas. Daí a importância de levar os alunos para verem essas peças e conhecerem o berço de grande parte das manifestações artísticas que vemos hoje”, afirmou.

DANTE

Quadro “O lavrador de café”, do brasileira Cândido Portinari, é um dos destaques do acervo do Masp

Na exposição, os alunos puderam ver 370

peças e obras originais que não haviam saído da

Itália até então, como a “Ca-beça Colossal de Júlio César”

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Alunos do 7º e do 8º ano do Ensino Fundamental visita-ram o Masp para conferir a exposição “Roma – A vida e os imperadores”

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A arte romana alcançou muito prestígio em consequência do poderio político e militar obtido pelo império Romano.

Roma herdou dos gregos a visão humanista do mundo. Além disso, assim como os helenos, os romanos eram politeístas, ado-rando as mesmas divindades gregas, mas sob denominações di-ferentes – Zeus, por exemplo, passou a ser Júpiter para os roma-nos. Os cultos aos deuses eram realizados por meio de orações, sacrifícios públicos, oferendas nos templos, danças e festas.

A arquitetura grega, com a construção de colunas, foi utiliza-da em grande escala no império. Porém, os etruscos também deram suas contribuições, como os arcos e as abóbodas, que ajudaram os romanos a criar o domo e a se tornarem os pio-neiros no uso do concreto. Essas inovações provaram ser re-volucionárias, permitindo, pela primeira vez, cobrir enormes espaços fechados sem a necessidade de suportes internos.

imensamente rica graças aos lucros com os prisioneiros de guerra, Roma investia pesado na arquitetura. O palácio de Nero, chamado Casa de Ouro, com um pórtico de 1600 metros de comprimento, foi a mais opulenta residência da Antiguidade. O teto em formato de domo se abria no cen-tro para que os visitantes vissem as constelações, enquanto aromas perfumados eram espargidos sobre os visitantes, de tempo em tempo.

No ano de 79 d.C., as cidades de Pompeia, Herculano e Estábias foram soterradas sob cinzas e pedras vulcânicas ar-remessadas pela erupção do monte Vesúvio. Pompeia era uma cidade luxuosa, com uma população de 25 mil habi-tantes, e as escavações científicas em seus destroços, inicia-das em meados do século XViii, revelaram não só objetos triviais, mas também residências inteiras com pinturas de naturezas-mortas e paisagens realistas em todas as paredes.

Como as casas não tinham janelas e se voltavam para um

SANDRA SMiTH SiLVEiRA ROMANELLO

romana

pátio central, os antigos romanos pintavam janelas “de faz de conta”, que apresentavam requintadas cenas. Esse estilo de pintura em paredes abrangia desde a imitação de mármores coloridos até a composição de cenas trompe l’oleil (técnica com efeitos ilusionísticos) de complexos panoramas urbanos.

Em cidades como Pompeia e Herculano, as casas das famí-lias mais ricas tinham jardins, espaços que eram utilizados para as refeições de seus habitantes, sobretudo em virtude das altas temperaturas das regiões próximas ao Mediterrâ-neo. Em seus interiores, as construções eram embelezadas com mosaicos feitos de minúsculos pedaços de pedras co-loridas, vidros ou conchas, ou murais pintados. Geralmente, os locais acessíveis aos visitantes eram os mais decorados. Esgotos, calçadas, áreas públicas e mercados faziam parte do cenário das cidades romanas.

Para a diversão pública, havia grandes anfiteatros com are-nas ovais ou circulares, rodeadas de degraus a céu aberto, espaços que foram palco de encenações teatrais, festivais públicos e espetáculos de gladiadores.

A propósito, o Coliseu foi construído no século i, precisa-mente em 80 d. C., quando Roma tinha aproximadamente um milhão de habitantes, a maioria dos quais pobre. Assim, os imperadores distraíam as multidões com diversão em larga escala – combate de gladiadores e lutas de homens contra animais ferozes, por exemplo. Na inauguração, a are-na foi coberta de água para a representação de uma batalha naval com um enorme elenco de atores.

Ainda hoje, o Coliseu é considerado um dos maiores edifícios do mundo em termos de puro volume. Tanto que seu pla-nejamento inspira até hoje os projetos de estádios. Três tipos de colunas emolduravam a estrutura de 54 metros de altura: a ordem dórica na base, a jônica no meio e a coríntia no alto-sequência, típica de um edifício romano de muitos anda-

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res. O equilíbrio das colunas verticais e das faixas horizontais formadas por arcos dava unidade ao exterior, relativizando a enorme fachada numa escala mais próxima à humana. Duran-te os períodos medieval e moderno, no entanto, o edifício foi utilizado como fonte de material de construção. Apenas em meados do século XViii cessou a exploração do local.

O Panteão (118 – 125 d. C.) é outro grande exemplo da arquitetura romana. A suntuosidade e a harmonia das linhas destacam-se nesse monumento aos deuses. Construído em Roma durante o reinado de Adriano, a fim de reunir a gran-de variedade de deuses existentes em todo o império, esse templo, com sua planta circular fechada por uma cúpula, cria um local isolado do exterior. Era nele que o povo se reu-nia para o culto. Essa nova concepção arquitetônica, séculos mais tarde, influenciaria a ideia de templo no cristianismo.

As termas, onde eram realizados os banhos públicos, tam-bém se destacaram no cotidiano romano. Ponto de encontro dos cidadãos, local de conversação e do exercício da vida po-lítica e intelectual, elas já existiam em outras civilizações, mas foram amplamente desenvolvidas e utilizadas em Roma. A estrutura das termas seguia a organização espacial da cidade romana e apresentava pinturas e mosaicos decorativos.

As termas de Caracalla, em Roma, por exemplo, foram construídas entre 212 e 217, durante o governo do impera-dor Caracalla. Suas ruínas, ainda preservadas, são hoje pon-to de interesse turístico, atraindo muitos visitantes.

Escultura

Embora os romanos tivessem copiado maciçamente a esta-tuária grega, eles também desenvolveram gradualmente um estilo próprio. O fato de terem em suas casas máscaras mor-tuárias de seus ancestrais, feitas em cera, fez com que essas imagens realísticas influenciassem os escultores romanos.

Exceção a essa tradição era a produção em série de bustos, semelhantes a deuses, de imperadores, políticos e líderes militares, dispostos nos prédios públicos de todo o império, reafirmando a presença de uma autoridade mesmo a milha-res de quilômetros de Roma.

Outra corrente importante da escultura romana foi o re-levo narrativo. Painéis de figuras esculpidas representando feitos militares decoravam arcos de triunfo, sob os quais desfilavam os exércitos vitoriosos, conduzindo longas filas de prisioneiros acorrentados.

A coluna de Trajano (106-113 d. C.) é o mais ambicioso des-ses monumentos. Com 30 metros de altura, retrata impor-tantes vitórias militares da época desse governante, respon-sável pelo período das maiores expansões do império.

No auge de seu esplendor, o império Romano estendia--se da inglaterra ao Egito, da Espanha ao sul da Rússia. Assim, os romanos absorveram elementos de culturas mais antigas por estarem expostos a costumes estran-geiros, notavelmente da Grécia, e acabaram por trans-mitir a cultura greco-romana a toda a Europa ocidental e ao norte da áfrica.

Inicialmente, o povo de Roma foi engolfado pela influência grega, e galeões carregados de mármores e bronzes che-gavam para adornar os fóruns romanos. quando não havia mais originais, os artistas romanos passaram a fazer cópias.Fundadores do maior império de todos os tempos, os ro-manos acrescentaram talentos gerenciais, ou seja, organiza-ção e eficiência à arte. Na verdade, a arte romana é menos idealizada e intelectual que a clássica grega, porém, é mais secular e funcional. Enquanto os gregos brilhavam na inova-ção, o forte dos romanos era a administração – por onde marchassem, seus generais traziam a influência civilizadora da lei e os vários benefícios práticos.

ROMA HERDOU DOS GREGOS A ViSãO HUMA-NiSTA DO MUNDO. ALÉM DiSSO, ASSiM COMO OS HELENOS, OS ROMANOS ERAM POLiTEíSTAS, ADORANDO AS MESMAS DiViNDADES GREGAS

Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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O edifício da loja Farm Harmonia destaca-se na paisagem do bairro da Vila Madalena, em São Paulo, por uma mistura que começa a se tornar comum na arquitetura: tem, ao mes-mo tempo, um formato arrojado e características que mostram preocupações ecológicas, como paredes cobertas de plantas. Em virtude desses e de outros elementos – como um sistema hidráulico capaz de armazenar até 6 mil litros de água da chuva, que depois são reaproveitados – o prédio de 500 metros quadrados, planejado pelo escritório franco--brasileiro Triptyque, tornou-se uma referência da chamada “arquitetura sustentável ou verde” do país. Tal conceito prega justamente a conciliação, na arquitetura, de estética com preservação da natureza, uso sustentável dos recursos e qualidade de vida dos ocupantes.

Mestre em tecnologia da arquitetura pela USP, na sub-área de conforto ambiental, a pro-fessora universitária Cecilia Mattos Mueler define arquitetura sustentável como “aquela que utiliza adequadamente os recursos naturais para oferecer espaços com qualidade ambiental e que satisfaçam aos usuários, tendo ainda como mérito a redução do consumo energético e dos demais impactos ambientais.”

Entretanto, a “ideia de arquitetura” sustentável vai além do conforto ambiental e dos as-pectos estéticos e funcionais da obra: há também uma preocupação com fatores sociais, como as condições de trabalho dos operários e a procedência dos materiais envolvidos na construção do prédio (se sua obtenção causa ou não impactos ambientais, por exemplo).

“No caso da construção civil, o mercado tende a focar mais nas questões ambientais, pois são mais diretamente relacionadas ao espaço construído. Mas para essa discussão ser mais completa, é esperado que as demais preocupações (econômicas e sociais) sejam lembradas, para que o em-preendimento, além de ser ecologicamente correto, seja também economicamente viável e social-mente justo”, explica Cecilia Mueler, também proprietária da ArqEficiente Projeto e Consultoria.

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Construções A “ARqUiTETURA SUSTENTáVEL” APRESENTA ALTERNATiVAS qUE ECONOMiZAM ENERGiA, PRESERVAM A NATUREZA E PRiORiZAM A qUALiDADE DE ViDA DO USUáRiO DO PRÉDiO

ARqUiTETURA

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A elaboração de uma obra sustentável tem no seu planeja-mento um ponto decisivo – uma vez que busca a harmonia entre o funcional, o estético e o ecológico, a fim de criar um verdadeiro organismo –, assim como a escolha dos mate-riais da obra (lâmpadas econômicas e madeira certificada são alguns exemplos de artefatos recomendados). Ligadas a este fator, as técnicas empregadas se relacionam forte-mente à iluminação, com a maximização do uso de energias renováveis, à temperatura do ambiente a ser construído e ao reaproveitamento da água. O destino dos resíduos da construção é outra questão importante.

De acordo com Cecilia Mueler, não há uma regra, mas al-gumas diretrizes são fundamentais em um projeto de ar-quitetura sustentável: uso de recursos naturais (ventos, sol, chuva, vegetação, topografia, etc.) que se convertem em tecnologias passivas (ventilação natural, iluminação natural, aquecimento solar, resfriamento evaporativo, geotermia etc.); redução ao máximo do uso das tecnologias ativas (ar condicionado, iluminação artificial etc.), buscando, quando possível, a integração com as tecnologias passivas; uso de materiais com bom desempenho estrutural, térmico, acús-tico e luminoso, que tenham baixa energia incorporada e longo ciclo de vida útil.

íCONE DA ARqUiTETURA

SUSTENTáVEL DA CiDADE DE SãO

PAULO, PRÉDiO DA FARM HARMONiA

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Um bom sistema hidráulico para realizar o reaproveitamento da água é um dos fatores priorizados na arquitetura sustentável

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Histórico e referências

A arquitetura sustentável começou a se popularizar no fi-nal dos anos 1990. Porém, no mínimo uma década antes, o brasileiro João Filgueiras Lima, o Lelé, arquiteto responsável pelos inovadores hospitais da Rede Sarah Kubitschek, já ela-borava projetos priorizando o conforto ambiental e a efici-ência energética, além de se preocupar com os operários e com os usuários do prédio.

Atualmente, 40 empreendimentos brasileiros possuem o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), certificado concedido pelo Green Building Council Brasil (GBC Brasil) que atesta a sustentabilidade de um prédio. Segundo a entidade, há outras 371 construções registradas na busca pelo selo. Assim, o país ocupa a quarta posição no ranking mundial de construções sustentáveis, atrás de Esta-dos Unidos, Emirados árabes Unidos e China.

Em 2011, o Prêmio GBC, na categoria Obra Pública Sus-tentável, foi para o projeto de ampliação do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), da Petrobras, no Rio de Janei-ro, elaborado pelo arquiteto Siegbert Zanettini. Segundo a especialista Cecilia Mueler, a obra tem um importante significado para a arquitetura sustentável brasileira. “Esse projeto foi um marco porque nunca antes um cliente de porte, como a Petrobras, tinha exigido, de uma forma tão direta, os quesitos de sustentabilidade durante todo o processo de projeto para ter como produto final um complexo de edifícios de alto desempenho energético, baixo impacto ambiental e com estética diferenciada”, diz.

O Cenpes 2, um projeto interdisciplinar de arquitetura, paisa-gismo, eco-eficiência, entre outras, apresenta sistema de rea-proveitamento de águas das chuvas e de efluentes sanitários, que, obviamente, são tratados em uma estação antes de irem para o sistema de ar condicionado. Também foram planejadas várias áreas verdes entre os prédios – próximo dos laborató-rios, há jardins para a realização de reuniões ao ar livre. Os te-tos apresentam venezianas direcionais, com inclinação própria para facilitar a captação da luz solar e da ventilação natural. O aço foi adotado como sistema estrutural por, entre outros as-pectos, ser o material com maior grau de reciclagem.

Fora do Brasil, um dos expoentes da arquitetura verde é o inglês Norman Foster, responsável por projetos como os dos prédios do Parlamento Alemão, em Berlim, e do banco Com-merzbank, em Frankfurt, ambos com uma estrutura toda vol-tada para o aproveitamento dos recursos naturais, principal-mente para a utilização de energias renováveis. As obras do arquiteto italiano Renzo Piano, como a Academia de Ciências da Califórnia (famosa pela grande quantidade de vidros, que garantem um alto aproveitamento de luz natural) e o Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou, na ilha de Nova Caledônia, no Pacífico Sul, também são mundialmente conhecidas.

Popularização

Apesar da boa aceitação entre grandes empresas, a ar-quitetura “verde” ainda não se popularizou na construção de moradias. O motivo para tal situação seria o alto custo de uma obra sustentável. A especialista Cecilia Mueler

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Projeto do Cenpes 2 da Petrobras é um marco na arquitetura sustentável brasileira

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EcoArquitetando - Sustentabilidade no Colégio Dante Alighieri A arquitetura sustentável esteve presente nas atividades dos alunos do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri em 2011. Os departamentos de Arte, Biologia, Física e Química fizeram uma parceria com a Anab (Asso-ciação Nacional de Arquitetura Sustentável) para a realização do projeto EcoArquitetando, cujo objetivo foi trabalhar com os jovens as diversas questões relacionadas à sustentabilidade. Os trabalhos foram realizados em vários locais, de fevereiro a junho de 2011. Na sede da Anab, por exemplo, orientados pelo professor de bioarquitetura Francisco Lima, os estudantes tiveram contato com lu-minárias que utilizam energia solar, tetos verdes, pisos construídos por meio de reutilização de pneus, móveis em papelão e outros produtos passíveis de reaproveitamento. No contexto das formas de energia sustentáveis, os alunos pesquisaram a reciclagem do lixo produzido em um dia de atividade normal dentro do Colégio e visitaram a área destinada à separação dos resíduos que sofreriam a reciclagem apropriada. A partir desta visita, construiu-se um aquecedor solar de garrafas pet.Outra iniciativa consistiu na criação de um minhocário, no qual foi re-aproveitado o lixo orgânico coletado na cantina. Posteriormente, apli-caram a produção desse espaço em diversas áreas verdes nos jardins do Dante. Houve ainda a produção de tintas atóxicas, feitas à base de leite e pigmentos naturais. Depois de pronta, as tintas foram utilizadas em atividades plásticas. Sobre a arquitetura verde propriamente dita, os estudantes aprende-ram que o termo “ecoarquitetura” é um neologismo que exprime uma forma de planejar e construir usando técnicas simples e complexas, de maneira ambientalmente recomendável, economizando energia e dentro de um contexto de desenvolvimento sustentável.Alunos e professores ficaram lado a lado e aprenderam muito. Foi um momento em que se compartilhou muita informação e se construiu o co-nhecimento. O trabalho foi muito interessante por conta de situações nas quais todos discutiram as relações entre arquitetura, ciência e ecologia, aprendendo uma relação de conceitos e técnicas que podem ser usados, isoladamente ou em conjunto, em um projeto ecologicamente correto.

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Cadeira de papelão, um dos exemplos de

sustentabilidade apresen-tados no EcoArquitetando

No EcoArquitetan-do, alunos e pro-fessores do Dante utilizaram tintas atóxicas, à base de leite e pigmentos naturais, em ativi-dades plásticas

15admite que tecnologias como hélice para energia eólica e painéis fotovoltaicos e solares ainda apresentam preços pouco acessíveis. Há, porém, alternativas simples e bara-tas, como implantar janelas que se abram para o vento e para a luz, ou erguer a casa em direção às orientações solares adequadas.

“A partir do momento em que a demanda por esse mer-cado de soluções aumentar, surgirão novos fornecedores e se investirá mais no aprimoramento dos produtos, in-centivando a concorrência saudável. Com isso, os preços cairão.E há de se lembrar que esse custo adicional, se hou-

ver, é amortizado durante o uso e operação do edifício de melhor desempenho”. Ou seja, o custo-benefício de uma obra sustentável compensa.

Contudo, é justamente Siegbert Zanettini, premiado por seu projeto do Cenpes 2, que faz um alerta sobre a ar-quitetura sustentável. “Não devemos confundir a oportu-nidade do assunto, que precisa ser aprofundado para que a construção atinja um elevado nível técnico e estético, com o oportunismo de utilizar a questão da sustentabilidade como objetivo de marketing e de promoção de vendas”, adverte o arquiteto e professor da FAU-USP.

Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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ARTiGO

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O pensamento na arte é uma ação transformadora que incomoda, provoca, questiona e reflete. Isto é, uma ação que envolve afetividade e cognição, movimento e emoção.

O ensino das artes na escola fundamental faz com que o educador leve aos seus alunos o universo de novos conceitos e a possibilidade de vivenciar novas experiências, através de reflexões e descobertas sobre o fazer artístico. Possibilita também o conhecimento da arte no contexto interdisciplinar e a sua complementaridade com as ciências humanas e outros meios de comunicação. Sinaliza ao educando como se faz arte no mundo contemporâneo e dá oportunidade para descobrir e pesquisar esse fazer artístico de seu tempo com reflexos em todas as áreas de atuação.

O aluno crítico adquire uma compreensão consciente sobre a arte e suas representações através de textos e imagens. Essa compreensão proporciona ao educando perceber como a arte produz e reproduz identidades, sejam individuais ou coletivas, e as representações simbólicas dessas identidades.

O estudo da arte favorece esse desenvolvimento, e o educador deve utilizá-lo sempre que possível para garantir o acesso de seu aluno à expressividade, à criatividade e à apreciação cognitiva.

Esse acesso se dará naturalmente se a mediação do professor favorecer a produção, a fruição e a reflexão. A produção refere-se ao fazer artístico e ao conjunto de questões a ele relacionadas, no âmbito do fazer do aluno e dos produtores sociais de arte. A fruição refere-se à apreciação significativa de arte e do universo a ela relacionado. Tal ação contem-pla a fruição da produção dos alunos e da produção histórico-social em sua diversidade. A reflexão refere-se à construção de conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal e dos

NEREiDE SCHiLARO SANTA ROSA

Os caminhos

na escola

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vens, mas também é preciso desafiá-los a pensar sobre oque perceberam. Afinal, as artes são formas de expressão que têm por objeto imagens e ações, corpos e movimen-tos, pelos quais compreendemos o mundo em que vivemos, aprendendo a lidar com ele. Assim conhecemos a nossa his-tória, ritos e crenças, nossas reações e ações através do tempo e do espaço.

É função dos educadores proporcionar esse contato aos alunos e, ao mesmo tempo, desenvolver meios em sala de aula para que os jovens se tornem agentes transformadores através da arte.

17colegas e sobre a arte como produto da história e da mul-tiplicidade das culturas humanas, com ênfase na formação cultivada do cidadão.

O fazer artístico cativa as crianças e os jovens. Cabe ao educador proporcionar espaços para que esse “fazer” seja contextualizado e não se perca em meras atividades super-ficiais e primitivas. O fazer deve estar acompanhado de en-tendimento, conhecimento e envolvimento, principalmente crítico, em nível social e até mesmo político. O fazer deve estar acompanhado do contexto histórico e de informações sobre os artistas observados, bem como de seus recursos preferidos para a realização de suas obras. Com habilidade, tudo isso pode se transformar em um momento lúdico atra-vés de jogos e desafios.

O fazer artístico não deve ser desenvolvido somente a par-tir de releituras de obras, o que se tornou uma prática até mesmo comum e de uso exagerado entre os educadores. Devemos estimular a percepção visual da criança e dos jo-

O ALUNO CRíTiCO ADqUiRE UMA COMPRE-ENSãO CONSCiENTE SOBRE A ARTE E SUAS REPRESENTAçõES ATRAVÉS DE TEXTOS E iMA-GENS. ESSA COMPREENSãO PROPORCiONA AO EDUCANDO PERCEBER COMO A ARTE PRODUZ E REPRODUZ iDENTiDADES, SEJAM iNDiViDUAiS OU COLETiVAS, E AS REPRESEN-TAçõES SiMBóLiCAS DESSAS iDENTiDADES

Livro “Os caminhos da arte italiana no Brasil” é lançado no DanteA arte-educadora, pedagoga e escritora Nereide Schilaro Santa Rosa proferiu uma palestra aos professores e alunos dos 9ºs anos do Colégio Dante Alighieri em 26 de março de 2012. O evento marcou o lançamen-to do mais novo livro da autora, “Os caminhos da arte italiana no Brasil”. A obra fala justamente da influência da arte italiana nos trabalhos de artistas brasileiros. Nereide nasceu em São Paulo e trabalhou como pedagoga por 25 anos. Escritora especialista em arte e música, publicou mais de cinquenta li-vros . Recebeu diversos prêmios, como Jabuti, em 2004, e o Altamente Recomendável, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil- FNLIJ.Neta de italianos, Nereide admite que a ascendência familiar foi um dos motivos que a levou a escrever “Os caminhos da arte italiana no Brasil”. “A arte italiana é fundamental. E também tem um lado emotivo, pois tenho cidadania italiana, além da brasileira”, disse. Durante a palestra, a escritora mostrou imagens de obras de italianos que visivelmente foram inspirações para artistas brasileiros.“A arte brasileira, assim como a arte universal, deve muito aos grandes mestres italianos. Muitos artistas brasileiros se inspiraram e aprenderam com a arte italiana. Entretanto, mais do que em outros países, tivemos o privilégio de permitir que arquitetos e pintores tivessem espaço para cons-truir uma obra que revela os caminhos da arte italiana no Brasil. Cabe a nós, espectadores, apreciar e entender como tudo isso aconteceu.”

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Nereide Schilaro esteve no Colégio para lançar ‘Os Caminhos da Arte Ita-liana no Brasil”

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ENTREViSTA

Carlo Cirenza, sócio e conselheiro fiscal do Colégio Dante Alighieri, não nasceu com uma câmera fotográfica nas mãos, mas conseguiu uma logo cedo. Graças ao presente do seu pai, uma Kodak instamatic 126, ele começou, aos seis anos, a explorar a fotografia. Desde então, nunca parou de registrar imagens. E fez mais: sempre procurou inovar no mundo da fotografia, lançando uma revista dedicada a revelar talentos na área, além de criar o primeiro laboratório fotográfico digital do Brasil.

Aos 16 anos, Carlo iniciou seus trabalhos como freelancer para o jornal O Estado de São Paulo, ofício que perdurou por 11 anos – nem sempre com pautas tão agradáveis. Em 1984, o fotógrafo, também formado em Administração pela FGV-SP, fundou o Paparazzi Estúdio Fotográfico, empresa dedicada à fotografia editorial, publicitária e jornalística. Por meio do trabalho do estúdio, inaugurou uma galeria fotográ-fica a céu aberto em frente à escola em que estudou quan-do criança. Antes, porém, ajudou a diretoria da instituição de ensino a reparar o local.

Entusiasta das novas tecnologias, Carlo criou, em 2000, o primeiro laboratório fotográfico digital do Brasil, vendido posteriormente à divisão brasileira da Kodak, a Pro Color. O fotógrafo também tem grande experiência na realização de curadorias e já saiu do Brasil para realizar diversas exposi-

FELiPE GUERRA

CONSELHEiRO DO DANTE LANçOU UMA REViSTA DEDiCADA A REVELAR NOVOS FO-TóGRAFOS E CRiOU O PRiMEiRO LABORA-TóRiO FOTOGRáFiCO DiGiTAL DO BRASiL

um pioneiro no mundo da fotografia

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19COMECEi A FOTOGRAFAR EM 1966, COM SEiS ANOS DE iDADE. O EqUiPAMENTO ERA UMA KODAK iNSTAMATiC 126, qUE EU GANHEi DO MEU PAi. ELE ERA Fã DAS ARTES E UM FOTóGRAFO AMADOR

ções. Nos últimos dois anos, tem trabalhado na recuperação do acervo do fotógrafo Hélio Oiticica e de José Oiticica Fi-lho, pai de Hélio. O centro que acolhia as imagens de ambos os fotógrafos sofreu um incêndio e perdeu grande parte do material, cabendo a Carlo a tarefa de recuperá-lo.

Carlo Cirenza ainda ostenta no currículo o feito de ter fun-dado, em 1995, a revista Paparazzi Arte Fotográfica, dedica-da a revelar e expor grandes talentos da fotografia no país. Em 1999, a publicação chegou ao mercado americano e, até 2003, ano de sua última edição, havia circulado por 13 países. Além disso, o fotógrafo já trabalhou com publicações infantis. Em 1986, editou 80 livros destinados a esse público. Três anos depois, também como editor, foi o responsável por uma versão infantil do Novo Testamento, publicado em cinco países europeus. Agora, ministra aulas de fotografia nos cursos livres do Colégio Dante Alighieri.

Nessa entrevista à inArte, Carlo conta um pouco de suas experiências no mundo na fotografia – como as dificuldades na transição do sistema analógico para o digital –, passando

por sua carreira como fotojornalista e como curador de im-portantes exposições. Além disso, ele afirma que pretende fazer uma revista parecida com a Paparazzi Arte Fotográfi-ca. Desta vez, porém, em formato digital.

Quando começou a fotografar, e com que tipo de equipa-mento?

Comecei a fotografar em 1966, com seis anos de idade. O equipamento era uma Kodak instamatic 126, que eu ganhei do meu pai. Ele era fã das artes e um fotógrafo amador. Acho que ele queria escalar alguém da família para fotografar os momentos caseiros, algo que ele fez por muito tempo quando os filhos eram menores.

Quando iniciou os estudos de fotografia, e quais foram os primeiros trabalhos que fez?

Comecei a estudar em 1974. Os primeiros trabalhos fo-ram solicitados por amigos e familiares. Alguns casamen-tos, bodas e festas. Fiz, por bastante tempo, fotografia social. Detestava isso. infelizmente é uma das áreas da fotografia que mais dá retorno financeiro.

A transição da fotografia analógica para a digital foi fácil?

Não. Foi um processo muito doloroso. Fora a resistência ao novo, houve falta de instrutores e os equipamentos e programas digitais eram e continuam sendo muito caros. A carência de bons instrutores foi sanada. Alguns bons

Carlo fundou, em 1995, a revista Pa-parazzi Arte Fotográfica, dedicada a revelar e expor grandes talentos da fotografia no país

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equipamentos estão mais acessíveis, mas certos progra-mas ainda têm preços não muito “amigáveis”.

Quais são as principais consequências da transição da fo-tografia analógica para a fotografia digital?

Como consequências positivas, destaco o barateamento do processo fotográfico e a democratização do ato de fotografar, que deixou de ser uma ação elitista e tornou--se popular. Dessa maneira, qualquer um pode e deve fotografar. O lado negativo foi que, ao menos no início, a qualidade da imagem digital deixava a desejar. quando comecei a fotografar com câmeras digitais, em 1999, a qualidade era realmente péssima. Hoje isso foi superado.

A modernização dos recursos, que facilitou a fotografia contínua e sem desperdícios, tende a tornar os fotógrafos modernos menos sensíveis?

Acho que não. Apesar da popularização, o bom olhar e a boa luz continuam iguais. quem era bom continua bom, e quem era ruim continua ruim. Os novos fotógrafos têm a vantagem disso que você chama de registro contínuo. O ato de fotografar é muito barato, basicamente de gra-ça. isso faz com que os novos fotógrafos não tenham receio de experimentar, algo quase impossível com o processo analógico devido aos altos custos.

Que pontos positivos e negativos você destaca na fotogra-fia editorial, publicitária e jornalística, três dos ramos mais comuns da área?

O editorial de moda tem um certo glamour, mas não é bem remunerado. Já a fotografia publicitária é a mais bem remunerada, mas, infelizmente, eu a detesto. O fo-tojornalismo é o mais interessante do ponto de vista do exercício da profissão.

Em qual segmento você prefere trabalhar, e por quê?

O que eu mais gosto de trabalhar é o mercado de arte. É muito difícil de sobreviver, mas é a área em que o fotó-grafo pode se exercitar livre de pautas ou interesses. É um mercado muito pequeno. Costuma-se dizer que ele é igual a uma kitnet: é só abrir a porta que você já viu tudo. Além disso, ele é elitizado, pelos valores, pela especula-ção e pelo saber. Muitas produções são desconhecidas. O modismo é outro fator desestimulante. Os valores são desproporcionais. Ou estão acima, ou estão abaixo do justo. Tem ideia de quão difícil é esse mercado?

Como era trabalhar como repórter fotográfico do jornal O Estado de São Paulo?

Eu era freelancer do jornal. A rotina era possuir um bip [ou pager, aparelho eletrônico por meio do qual o usu-ário recebe mensagens, bastante utilizado nas décadas de 1980 e 1990] e receber chamadas para as pautas. Apesar de fazer capas e boas matérias, o freelancer cos-tumava receber muitas pautas horríveis, como cobrir assuntos para o caderno Cidades. À época, o maior cas-tigo era cobrir cinofilia [área destinada a estudos para o desenvolvimento de raças de cães]. O Estadão tinha uma coluna de cinofilia, acredite se quiser. E eu trabalhei bastante com pautas dessa área.

Como foi participar do projeto “Adote uma escola”, e qual é a ligação que você tem com a instituição escolhida [Esco-la Municipal de Ensino Infantil Pedroso de Morais]?

Estudei na escola Pedroso de Morais de 1963 a 1965. Naquela época, a instituição era bem cuidada e havia participação dos pais na manutenção do ambiente. Lem-bro-me do meu pai, juntamente com outros pais, pintan-do o estabelecimento nos fins de semana. Por obra do destino, fui, em 1984, trabalhar em frente à instituição. Naquele ano, a escola estava totalmente arruinada. Uma tragédia. Posteriormente, em 1998, junto à Secretaria Municipal de Educação, celebrei um contrato de adoção da escola. A Paparazzi [empresa fundada por Carlo] re-formou a escola e, em troca, eles permitiram a constru-ção da galeria [Paparazzi, galeria a céu aberto, próxima à escola]. A galeria funcionou de 1998 até 2010, quando expus um trabalho do ivan Cardoso.

Quantas curadorias fez até hoje? É um trabalho fácil de realizar?

Foram centenas. Trabalhar com artistas não é fácil. Eles têm uma personalidade muito vaidosa, com pedidos muitas vezes descabidos. Outro problema é quando o artista já faleceu e os familiares não têm conhecimen-to do assunto e também não valorizam o trabalho do fotógrafo. Não valorizam, muitas vezes, por desconhe-cimento. Mas o prazer de trabalhar com isso está na realização, por ver o resultado do projeto e o retorno dos visitantes.

Qual é a curadoria que mais gostou de fazer?

A que mais me encantou foi a que fiz no Ludwig Mu-

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seum, em Koblenz, na Alemanha, chamada “Brasiliens Gesichter”. Levei mais de 50 fotógrafos brasileiros para lá. Todos eram jovens e desconhecidos. O retorno do público e o resultado foram fantásticos. A exposição du-rou três meses e recebeu mais de 30 mil pessoas, nú-mero impensável no Brasil. Eles produziram um catálogo maravilhoso, outra coisa difícil para fotógrafos iniciantes. A Pinacoteca do Estado quis, inclusive, trazer a exposi-ção para cá, mas não conseguiu entrar em acordo com os fotógrafos. Foi uma pena.

Como foi dar aulas no Dante? Você já deu aula em outras instituições?

Eu lecionei na Escola Panamericana de Arte e na FAAP, público totalmente diferente do daqui. No Dante, a ex-periência foi fantástica. Foram apenas quatro alunos, mas o aproveitamento foi muito bom. O curso, semestral, passa pela história da fotografia e vai até as técnicas de captura e tratamento de imagens. Os alunos produzem, ainda, um livro, um slideshow e uma exposição com o material gerado por eles mesmos. Seria interessante contar com novas turmas, mas isso dependerá do inte-resse dos próprios alunos.

Como e por que entrou no mercado das publicações in-fantis?

Trabalhei um período com o fotógrafo Pierre yves Re-falo, fotógrafo publicitário que fazia livros infantis para a editora Melhoramentos. Ele me repassou esse trabalho [de produzir 80 livros infantis] em 1986 por estar atola-do com outros compromissos. Em 1989, eu produzi o Novo Testamento em formato infantil. Lançado na Feira do Livro de Frankfurt, ele foi publicado em cinco países

em seus respectivos idiomas: inglaterra, itália, França, Alemanha e Espanha. O trabalho é insano, mas com-pensador.

Que trabalho em especial tem feito nos últimos tempos?

Eu trabalhei, nos últimos dois anos, na recuperação do acervo dos fotógrafos José Oiticica Filho e Hélio Oiticica, filho de José. O projeto Hélio Oiticica sofreu um incên-dio e grande parte do acervo foi prejudicada. O traba-lho, felizmente, foi totalmente recuperado e em breve será compartilhado com o público.

E, aproveitando o seu trabalho na revista Paparazzi Arte Fotográfica, você planeja desenvolver algo semelhante a ela?

Essa foi a única revista de arte fotográfica do Brasil. Ela circulou em 13 países. Em 2003, o distribuidor da revista nos Estados Unidos teve problemas financeiros e deixou de me pagar. Foi quando eu fechei a publicação. Ago-ra, estou com vontade de fazer um projeto semelhante, mas em formato digital.

Como curador, Cirenza organizou di-versas exposições, como a “Brasiliens

Gesichter”, na Alemanha

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21APESAR DA POPULARiZAçãO DA FOTO-GRAFiA, O BOM OLHAR E A BOA LUZ CON-TiNUAM iGUAiS. qUEM ERA BOM FOTó-GRAFO CONTiNUA BOM, E qUEM ERA RUiM CONTiNUA RUiM

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MOSTRAS DE ARTE

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O termo “bienal” refere-se a qualquer evento que seja realizado de dois em dois anos. Entretanto, a denomi-nação está intimamente li-gada a realizações culturais. E o exemplo maior desse tipo de interação são as bienais de arte. Aproveitan-do que em 2012 se realizam algumas das mais importan-tes mostras, a InArte des-taca nas próximas páginas as principais exposições de arte do mundo (incluindo a Documenta de Kassel, re-alizada de cinco em cinco anos).

Bienal de Veneza

A Bienal de Veneza, mos-tra internacional de arte realizada desde 1895, é um marco na história da cultura ocidental por ter sido uma

Bienal de Arte: conheça algumas das exposições mais tradicionais do mundo artístico

das pioneiras em um ramo – o das grandes exposições – que se tornaria tradição das artes a partir século XX.

A iniciativa surgiu de um grupo de intelectuais de Veneza, chefiados pelo pre-feito da cidade italiana na época, Riccardo Selvático. Nas primeiras edições, as artes decorativas se desta-cavam, enquanto que, após a Primeira Guerra Mundial, com o evento já recebendo grande número de artistas estrangeiros, as inovações da arte moderna ganharam espaço.

Em 1930, a prefeitura de Ve-neza perdeu o controle do evento para o governo na-cional fascista, que investiu pesado na Bienal, criando novos segmentos, como o

Festival de Música (1930), o Festival de Cinema (1932) e o Festival de Teatro (1934).

Após uma pausa de seis anos, decorrente da eclosão da Segunda Guerra Mun-dial, a Bienal foi retomada em 1948, dedicando uma atenção especial para os movimentos de vanguarda europeia e, em seguida, para os movimentos da arte con-temporânea e internacional.

Em 1968, os protestos que mobilizavam jovens do mundo todo também che-garam a Veneza, causando tumulto na abertura da mostra daquele ano. Já em 1974, a mostra tingiu-se, efetivamente, de um cará-ter político, suscitado por pedidos de liberdade para o Chile, que no ano anterior

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número 54, foi realizada em 2011.

“A Bienal é como se fosse uma máquina de ventar. A cada dois anos, sacode a flo-resta, revela verdades escon-didas, dá uma nova força e ilumina novas possibilidades, mostrando velhos troncos e persistentes galhos através de diferentes perspectivas. A arte aqui é uma constan-te evolução”, afirmou Paolo Baratta, diretor da Bienal na edição de 2011.

Bienal de São Paulo

Foi inspirado justamente na Bienal de Veneza que o casal Francisco Matarazzo Sobrinho (Ciccillo Matara-zzo) e yolanda Penteado criou a Bienal de São Paulo, cuja primeira edição foi re-

Bienal de São Paulo é realizada no pavilhão planejado pelo arquiteto Oscar Niemeyer

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havia caído na ditadura de Augusto Pinochet.

Em 1995, comemorou-se o centenário da Bienal com uma grande festa, com Fes-tival de Teatro, Exposição in-ternacional de Arte, Festival de Música e o Festival de Ci-nema. No ano seguinte, ainda houve uma exposição de Ar-quitetura para fechar as co-memorações da efeméride.

quanto à sua estrutura ad-ministrativa, na última re-forma realizada, em 2004, a Bienal de Veneza tornou-se uma fundação. O evento, em si, é composto por di-versos pavilhões, e os artis-tas são representados den-tro dos espaços destinados ao país de origem. Até o momento, a última edição da Bienal de Veneza, a de

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alizada em 1951. Dois anos depois, o evento conseguiu um grande feito: expôs, pela primeira vez no Bra-sil, o quadro “Guernica”, do pintor espanhol Pablo Picasso.

A Bienal, com sua escala mo-numental, funcionando no pavilhão projetado por Oscar Niemeyer, no Parque do ibi-rapuera, mantém um impor-tante mecanismo de acesso à arte. Ao visitarem a expo-sição, milhares de pessoas apreciam e, de certa forma, interagem com a produção artística contemporânea.

A Bienal de São Paulo tem também uma atuação pio-neira no campo educativo, uma vez que investe no po-der da arte para instruir. Par-cerias foram firmadas com

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as Secretarias de Educação do Estado e do Município de São Paulo e com inú-meras instituições e ONGs – todas com a finalidade de capacitar uma infinidade de educadores para que o tema da Bienal possa ser trabalha-do em sala de aula.

De 7 de setembro a 9 de dezembro de 2012 é rea-lizada a 30º Bienal de São Paulo, sob o título de “A iminência das Poéticas”. Em março deste ano, o curador--geral, Luis Peres-Oramas, anunciou a lista de 110 artis-tas participantes da edição da mostra, destacando que 60% das obras seriam inédi-tas ou criadas especialmente para o evento.

“A 30ª Bienal de São Paulo tem como centro curatorial

O TERMO “BiENAL” REFERE-SE A qUALqUER EVENTO qUE SEJA REALiZADO DE DOiS EM DOiS ANOS. ENTRETANTO, A DENOMiNAçãO ESTá iNTiMAMENTE LiGADA A REALiZAçõES CULTURAiS

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Obra do venezuelano Juan Irribaren exposta na 30ª Bienal de São Paulo

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os temas da multiplicidade, transicionalidade, recorrên-cia e permanente mutabili-dade das poéticas artísticas. Por poéticas entende-se o repertório instrumental que permite que um indiví-duo, uma coletividade, um campo disciplinar ou uma tradição estabeleça, de for-ma intuitiva, intencional ou inconsciente, as estratégias ou plataformas discursivas que tornam possíveis atos expressivos de caráter artís-tico”, anuncia a organização do evento.

Enfim, temos entre nós um grande evento do circuito mundial da arte contempo-rânea. Em evidência desde a década de 1950, a mostra – de origem paulista, mas de influência mundial – propor-ciona a fruição do grande

público com as criações do novo Ocidente.

Em um arco que vai da Bie-nal de Veneza até a Docu-menta de Kassel, a Bienal de São Paulo é ponto de referência na história da arte contemporânea.

Documenta de Kassel

A Documenta de Kassel, ci-tada no texto acima como uma das três mais importan-tes mostras do mundo – jun-tamente com a Bienal de Ve-neza e a Bienal de São Paulo –, é considerada a maior ex-posição de arte contemporâ-nea da atualidade.

O evento é realizado na Alemanha a cada cinco anos, durando aproximadamen-te 100 dias. Sua primeira

“Manto de Apresentação”, obra de Arthur Bispo do Rosário, é um dos destaques da 30ª bienal

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EM UM ARCO qUE VAi DA BiENAL DE VENEZA ATÉ A DOCUMENTA DE KASSEL, A BiENAL DE SãO PAULO É PONTO DE REFERêNCiA NA HiS-TóRiA DA ARTE CONTEMPORâNEA

Obra do venezuelano Juan Irribaren exposta na 30ª Bienal de São Paulo

Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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edição ocorreu em 1955, nas ruínas do Museu Fride-ricianum, primeiro projeto arquitetônico de um museu público construído na Euro-pa, em 1779, mas destruí-do em grande parte pelos bombardeios de novembro de 1944, no fim da Segunda Guerra Mundial.

quando idealizaram e criaram a Documenta, o ar tista Alfred Bode e o historiador da ar te Wer-ner Haftmann estavam dis-postos a apagar alguns dos fantasmas deixados pelo Nazismo. Assim, além de

“darem um pouco de vida” à cidade de Kassel, privile-giaram, na exposição, o resgate das vanguardas europeias – com destaque para ar tistas como Picasso e Paul Klee –, uma vez que essas eram consideradas ar tes “degeneradas” pelo regime de Adolph Hitler.

O lado político, aliás, sempre esteve presente na Docu-menta. A exemplo do ocor-rido na Bienal de Veneza, em 1968, estudantes protes-taram e exigiram um maior conteúdo social da exposi-ção alemã. Já na “Documen-

ta 5”, o artista Joseph Beuys promoveu uma discussão com os visitantes sobre de-mocracia direta.

Apesar de toda a tradição, a Documenta só se interna-cionalizou efetivamente em 2002, sob a curadoria do nigeriano Okwui Enwezor. E essa descentralização da mostra atinge seu ápice até o momento na “Documenta 13”, realizada em 2012.

inaugurada no dia 9 de ju-nho, a exposição teve como diretora artística a escrito-ra ítalo-americana Carolyn

Cristov-Bakargiev, enquanto a chefe do departamento de curadores do evento foi a espanhola Chus Martínez. Algumas atividades foram deslocadas para o Orien-te Médio, com palestras e discussões em Cabul, Cairo e Alexandria. Há um longo processo de reflexão sobre a apreciação de arte e suas condições de produção no mundo de hoje, totalmente globalizado.

A “Documenta 13”, que se encerrou em 16 de setem-bro, teve a ambição de apre-sentar um painel mundial da

Desenhos de Dante Alighieri pintados pelos alunos formaram um mural comemorativo do centenário do Colégio

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arte contemporânea, exibin-do 150 artistas de 55 países. Além disso, houve uma cen-tena de outros participantes procedentes de várias áreas: literatura, cinema, economia, militância política, feminista ou ambiental, física, biologia e até mesmo zoologia.

“Precisamos da ar te, as-sim como da religião e da f ilosof ia, para aprofundar as coisas e descobrir a nós mesmos. A ar te pode nos iluminar”, disse o presi-dente da Alemanha, Joa-ckim Gauck, sobre a “Do-cumenta 13”.

Arsenale – 1ª Bienal de Kiev

A novata das bienais é a Ar-senale, realizada em Kiev, ca-pital da Ucrânia. A primeira Bienal de Arte Contemporâ-nea do local teve sua abertu-ra em 24 de maio e prosse-guiu até 31 de julho de 2012.

Uma das atrações da mostra foi justamente o lugar onde esteve instalada: um antigo depósito de armas, o Mys-tetsky Arsenal, mantido em segredo pelos militares ucra-nianos durante vários anos.

O curador da mostra, Da-

Alunos exercitam seus dotes artísticos nas oficinas da Bienal de Arte do Dante

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vid Elliott, selecionou 250 instalações representativas de arte global, incluindo um trabalho do artista chinês Ai Weiwei, ativista político e crítico do governo chinês.

Bienal de Arte no Dante

O Colégio Dante Alighieri também tem sua Bienal de Arte. A par tir de 2011, a mostra ar tística da Esco-la deixou de ser anual e passou a ser realizada de dois em dois anos. Em se-tembro do ano passado, o Depar tamento de Arte promoveu o evento, com

trabalhos de alunos do Jar-dim até a 1ª série do En-sino Médio – os estudan-tes das 2ª e 3ª séries do Ensino Médio par ticiparam apenas das of icinas.

A Bienal de Arte do Colé-gio trouxe a exposição de obras dos alunos e a reali-zação de diversas oficinas. O 6º ano do Ensino Funda-mental, por exemplo, traba-lhou com os temas Pré-his-tória, Arte rupestre e Egito, usando como plataforma placas de canson, as quais os estudantes pintaram com aquarela e tintas plás-

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A MULTiARTiSTA LEDA CATUNDA ViSiTOU A BiENAL DO DANTE E ViU TRABALHOS DE ALUNOS BASEADOS EM SUA OBRA

ticas e recobriram de areia. Já o 7º ano fez esculturas em blocos de cimento, gra-vura e isogravura em isopor pluma, além de pinturas com tinta guache em papel color-plus. Os alunos do 8º ano trabalharam com a pop art de Andy Warhol, retra-tando espaços do Colégio por meio de pinturas com anilina sobre fotografias.

Aos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental cou-be a missão de monitorar os trabalhos de artes plás-ticas na oficina ministrada por Claudio Callia, em que

foi feita a modelagem, em argila, do barco de Caronte (d’A Divina Comédia). Os alunos do 9º ano também auxiliaram os participantes nas modelagens livres.

Trabalho parecido foi feito pelos estudantes da 1ª série do Ensino Médio, responsá-veis por monitorar a oficina de pintura do artista Claudio Canato. Nessa atividade, os participantes pintaram pla-cas de madeira com a figura de Dante Alighieri, que, tam-bém baseadas na pop art de Andy Warhol, formaram um grande mural comemorati-

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vo ao centenário do Colégio – depois de montado, esse mural com 100 placas foi instalado na parede interna adjacente ao portão da Es-cola que dá acesso à Alame-da Casa Branca.

Outra atração da Bienal foi o Prêmio Modigliani. O concurso de autorre-tratos, inspirado na obra do italiano Amedeo Mo-digliani, acolheu alunos do 6º ano do Ensino Funda-mental até a 2ª série do Ensino Médio do Dante. O vencedor foi Lucas Alen-car, da 2ª série do Ensino

Médio, premiado com uma viagem à itália com direito a acompanhante.

Cabe ainda destacar a visita da pintora, escultora, artista gráfica e visual e professora Leda Catunda à Bienal do Dante, onde pôde conferir alguns trabalhos de alunos baseados em sua obra.

“[A Bienal] foi excelente. Alu-nos e pais trabalharam com muita dedicação, e a Bienal foi super visitada”, avaliou a professora Sandra Romanello, coordenadora do Departa-mento de Arte do Colégio.

Em uma das oficinas da Bienal do Dante, alunos modelaram, em argila, o barco de Caronte (d’A Divina Comédia)

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Bienal de Arte do Dante recebeu um bom público

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PROCESSOS ARTíSTiCOS

O renomado artista plástico Claudio Canato se emocionou no dia 30 de janeiro de 2012 ao inaugurar seus painéis pinta-dos na parede do Colégio Dante Alighieri, trabalho que lhe fora encomendado como parte das celebrações do centená-rio da Escola. Ex-aluno da instituição, Canato realizou o so-nho de deixar sua arte em um dos edifícios mais tradicionais da cidade de São Paulo. “Hoje é um dia especial, pois pintar as paredes do Dante Alighieri é um sonho antigo. Tenho a arte em mim desde que nasci e estou tendo a chance de dividi-la com vocês. Sempre imaginei pintar vários lugares públicos e, quando dei por mim, percebi que estava pintando em um dos principais locais de São Paulo”, afirmou Canato na ocasião.

Nas paredes do edifício Leonardo da Vinci, Canato pintou os painéis “Homenagem a Leonardo” e “A Divina Comédia I e II (este último, em fase final de elaboração) ”. Agora, na primeira edição da InArte, o artista nos contempla com um depoimento sobre seu processo criativo para a realização dessas e de outras obras.

Confira a seguir o depoimento de Claudio Canato:

Tema e esboço

O primeiro passo do meu processo é a escolha de um tema. O estudo aprofundado desse tema me permite for-

A concepção de uma ARTiSTA PLáSTiCO CLAUDiO CANATO FALA À INARTE SOBRE AS ETAPAS DO PROCESSO PARA CRiAR SEUS TRABALHOS

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mar imagens já bastante claras, que em seguida come-ço a esboçar no papel.

O próximo passo é a criação da imagem total do painel, um esboço geral sem muito detalhamento. Na verdade, essa é a primeira ideia do “corpo” ou do “todo” do painel. Faço uma série de cálculos e traço a estrutura de composição da imagem, que chamo de “linhas mestras” – linhas que organizam geometricamente o espaço pic-tórico, localizando, por exemplo, os centros do painel, suas diagonais e, o mais importante, as medidas áureas.

A partir dessa estrutura, começo, de fato, a construção da imagem, já acrescentando alguns detalhes.

Personagens

Um painel possui uma narrativa que é contada por seus personagens. Assim, faço vários esboços das figuras principais isoladamente; estudo várias posições até en-contrar a melhor ou a mais expressiva para cada um dos personagens. Depois de analisar todas as figuras, uma a uma, vou montando a imagem definitiva do projeto.

É importante dizer que meus estudos e projetos na verdade são “pontos de partida” para o trabalho final, o que significa que ao longo do processo muita coisa acontece. Às vezes, até de forma inesperada, uma nova ideia aparece ou uma nova posição é encontrada; enfim, o trabalho é construído durante o “fazer” e, ao longo de todo o processo, estou aberto a intuições que vou tendo e incorporando à obra. Vejo meu trabalho como um grande organismo, que vai aos poucos tomando for-ma e ganhando vida.

Etapas do “fazer”

Divido o “fazer” em três etapas: a primeira é a transpo-sição do projeto para a parede. Após preparar a super-fície com camadas de diferentes argamassas (processo denominado “imprimação”), traço toda a estrutura de

FAçO VáRiOS ESBOçOS DAS Fi-

GURAS PRiNCiPAiS iSOLADAMENTE, ESTUDO VáRiAS

POSiçõES

ATÉ ENCONTRAR A MELHOR OU A MAiS EXPRESSiVA PARA CADA UM DOS PERSONAGENS

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composição e começo a riscar as figuras (ampliadas) direta-mente na parede usando carvão.

Em seguida, retiro o excesso do carvão e refaço todo o tra-çado usando tinta cor sanguínea, o chamado “bistre”. A esse processo dou o nome de “guardar o desenho”, uma vez que, dessa maneira, ele fica registrado de forma definitiva por baixo das camadas da pintura. Assim, posso voltar ao traço original caso venha a perder a figura.

Tendo feito todo o traçado, começo a aplicar uma camada de tinta que chamo de “base”, também conhecida como

“sotto dipinto” ou “underpainting”. Nesse ponto, já passo a estudar os volumes anatômicos, bem como a luz e a sombra do quadro.

A base é a fase intermediária, na qual a pintura está se for-mando e tudo está sendo analisado e modificado para um melhor resultado – o que pode significar a aplicação de vá-rias camadas de tinta.

A conclusão do trabalho

quando tudo me parece satisfatório e no lugar, começo a

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Painel “A Divina Comédia II”, localizado no Edifício Leonardo da Vinci, no Colégio Dante Alighieri

última etapa da pintura, o “acabamento”. Enquanto nas fa-ses anteriores havia usado muito empaste ou camadas mais espessas de tinta, a partir de agora começo a intercalar ca-madas cada vez mais finas de tinta diluída em óleo de linha-ça – são “velaturas” que vão modificando principalmente a intensidade das cores e as luzes.

Passo várias camadas até o término da obra. Nesse mo-mento, trabalho os principais detalhes e a iluminação de cada figura e de todo o painel. Por fim, passado um ano de secagem, aplico uma fina camada de verniz para uma melhor conservação da obra.

Pintar é meu ofício e gostaria de expressar toda a minha gratidão ao presidente José de Oliveira Messina, bem como à diretoria executiva do Colégio Dante Alighieri pelo apoio e incentivo.

Para mim, pintar as paredes do Colégio é mais que um sonho: é a certeza de estar fazendo algo para gerações. O mais gratificante é receber diariamente o carinho das crianças e pensar que estou fazendo parte da vida delas, isto é, de alguma maneira, minha arte vai transformá-las. Essa talvez seja a maior função da arte e a maior realiza-ção de um artista.

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De 15 a 30 de setembro de 2011, a Casa das Rosas (Es-paço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura) abriu suas portas para a exposi-ção “Dante nas Rosas Non Finito”. A mostra, um dos eventos comemorativos do centenário do Colégio Dante Alighieri, apresentou obras de artistas que integram a comunidade dantiana. A pro-fessora Sandra Smith Silveira Romanello foi a organizadora da exposição, que teve cura-doria de Olívio Guedes, dire-tor do MUBE (Museu Brasi-leiro da Escultura).

A grande homenageada da mostra foi a pintora Germa-na de Angelis. Ela entrou no Dante em 1935 como aluna e seguiu na Escola até 1983, como professora de Arte – apesar de garantir que, mes-

Ano centenário do Colégio ESCOLA REALiZOU A EXPOSiçãO “DANTE NAS ROSAS NON FiNiTO” NA CASA DAS ROSAS PARA CELEBRAR OS CEM ANOS

ARTE NO DANTE

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mo após a aposentadoria, continua muito próxima do Colégio.

A mostra contou ainda com quadros do consagrado pin-tor Fulvio Penacchi (1905-1992), ex-professor de dese-nho do Dante. Artistas como Aguilar, A.F. Cestari, Claudio Callia, Claudio Cannato, Flávia Piovacari, Hajaj, Jairo Sigon, JL Messina, Laura Martini, Bea-triz Perotti, Rolando Scurzio e Sylvia Loew também tiveram suas obras expostas na “Dan-te nas Rosas Non Finito”.

“A arte reflete a vida do ho-mem; sua história; suas emo-ções; sua vivência; suas cores e suas dores; sua música, seus gritos, sua paz. Em seu centenário, o Colégio Dante Alighieri, que amamos incon-dicionalmente, pôde se orgu-

lhar de expor a arte de alguns de seus brilhantes ex-alunos – uma parte de suas vidas, de suas emoções, de suas his-tórias. Captando todas essas expressões, a Casa das Rosas abriu suas portas para abrigar os diferentes trabalhos que espelham o percurso poético de cada um desses artistas. A este espaço dedicado às letras e às artes, deixamos o afetu-oso agradecimento de todos os dantianos de ontem, de hoje e de amanhã”, afirmou a professora Sandra Smith Silveira Romanello, coordena-dora de Arte do Dante.

A seguir, você confere algumas das obras de cada artista que foram expostas na mostra “Dante nas Rosas Non Finito”, acompanhadas por poesias es-critas pelo presidente do Co-légio, dr. José Oliveira Messina.

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Alegria que brotaEm nossos coraçõesComo no canteiroA rosa encarnadaDá vida ao amor!Éramos crianças!Nosso caminho,A esperança que,No Dante, nasciaPara vencermos um dia!Nossas professoras,

Com encanto e mestria,Na infância nos enriqueciam:Amorosas, pacientes,Também rigorosas...Na juventude, em campoProfessores que nos aguardavam,Certos de que o nosso preparoHavia sido, com amigas mãos,Caldeado para o futuro enfrentar.Assim, chegamos no festivo dia...Hoje, sonho realizado de repente...

MOMENTO FELiZ!!!

Sou matéria abstrata?Sou matéria concreta?No abstrato vivo melhor.No concreto vivo pior.Vivo melhor quandoDe tudo me abstraio...Vivo pior quando

De tudo participo...Quando me abstraio,Ouço o hino da paz!Quando participo,Ouço musical da guerra!O que sou?O que não sou?

SOU... NãO SOU...

O tempo não passou...Ontem é hoje, hoje é amanhãAmanhã é hoje, hoje é ontem.O tempo não passou!CriançasJovensMenos jovensMais jovensCriançasA idade não passou!

PoetaProsadorFilósofoA cultura não passou!Fé no tempo...É da oraçãoNasça o amorNo fundo do coração...O Natal não passou!

NADA PASSA

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FiLOSOFANDO

O que fazem as estrelas?Qual o seu trabalho?Se estáticas, viveriam?Brilhariam de tristeza?Os planetas caminham...Bailam no Universo.Luzem, são filhos do Sol,De lãs, pais carinhosos.

Homens, em viagens lunares.Artefatos outros no espaço.Alguns vivos, outros mortos.Lixo que se acumula no ar...O que se espera para a Terra?Rica natureza por Deus presenteada:Campos, mares, ar, fenômenos mil!Pode-se pensar em destruição?

A F Cestari

Aguilar

Beatriz Perotti

Claudio Callia

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Sem nuvens...Azul infinitoeis o céu!Pureza da pureza,Verdade da verdade.

Homem: o que deseja?Nuvens no céu,impureza na impureza,mentira na mentira?Opte... Tempo sem tempo!

OPçãO

Se, na vida,Tenho um objetivo,Passo a viver com vida,Repleto de incentivo!Se, na vida,Não me descubro,

Sou um fantasmaQue anima um esqueleto.Como é viver com vida?Como é viver no escuro?Onde vive a morte?Onde vive o futuro?

ViDA

Não agride a paisagemO carrinho de frutasArmado na calçada...Ornamento da cidade civilizada.Quantas frutas...Quantas cores...Quantos perfumes...Quanta água na boca.Abacaxis em fatias,Mangas com as unhas descascadas.Bananas como flor saboreadas.

Figos roxos e brancos.Não falta o verde coco.A melancia, que delícia...Fruta do conde, goiabas não se escondem!Do Nordeste o caju agreste.Nesse cenário tão belo,Abelhas amigas trabalham...Trabalha também o patrão,Tudo limpa, com vassoura na mão!

CARRiNHO DE FRUTAS

Que velocidadeTem o pensamento?A do vento?A da luz?Ou a do momento?A do vento:Derruba árvores,Enfurece o mar,Arrasta o homemPara o abismo!

A da luz:Chega aos satélitesChega aos planetasToca nas estrelasVolta em versos!A velocidade do momentoNão vai para o firmamento.Nasce, cresce e morreCom o instinto malvadoNo estatelar o inocente!

VELOCiDADE & PENSAMENTO

Como a nuvem que apareceEm céu azul de repenteDepois forma figurasOra decifráveis, ora não,Surgiu tua enigmática face...Impressionou, para sempre,O pobre ser inexperiente!

Nuvem, mulher multicoloridaAbriste uma ferida...Ao te despedires à tardeCobriu-te a noite gélida!No veludo salpicado de astrosO menor deles brilhou...Lua: o que diz tua presença?

LUA

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Claudio Canato

Flavia Piovacari

Germana de Angelis

Hajaj

Laura Martini

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Tela de um branco virgemaguardando temerosao despertar do pintor.Como teria ele passado a noite?Que sonhos teria tido?Em breve saberia,pelo seu olhar,pelo toque do pincel,pelo jogar das tintas.Mais que tudo,pelas coloridas formasque aos poucos tomariam contade sua alva pele.

Predominaria o verde,venceria o vermelho, o azultriunfaria o amarelo...Surgiriam montanhas, vulcõesou lagos incrustados em areia?Misteriosas cidadesvivas ou mortas,com raízes no passado,na história dos povos...Camelos açoitados pelo ventono deserto de ar fervente.Figuras gemendo, olheiras fundas,magras de fome

pela febre arrepiadasna imaginação do abstrato oásis!Favelas no vertical barranco,Bonecos orando preces esquecidas.Flores em moderna concepção.Que matéria? Que cores,Ao seu corpo ávido, viriam aderir?Realidade:Impôs-se triste roxocom forma disforme,na desconformidade do sonhoque, misturando os matizes,não trouxe o artista!

O SONHO DA TELA

Sol, meu amigo!Tu me viste nascer,Tu me acompanhasteNo meu crescer...Sol, parte da minha vida:Estou triste por partires

Fugindo pela densa mataCegando meus olhos...Sol, luz amiga!Amor, de fiel calor.Promete-me que voltarás...Espero-te no amanhecer!

SOL

Gota d’água doceDa natureza também riqueza!Gota que multiplica com gotaVai saciando o pedinte soloTornando-o fértil e feliz...De gota em gota d’águaFormam-se torrentes, lagos,O Rio Mar, o hercúleo Amazonas!Seus afluentes, valorosos filhos,Todos com vigor, exultantes,Veem a poderosa seca vencida...Embrenham-se nas florestas,Alimentam sedentas raízes,Acolhe répteis, peixes, ferozes animais,

Pássaros de todos os portes, cantos e cores,Também macacos que brincam com borboletas!De gota em gota d’águaVive o “Chico”, que chega à amada BahiaComo gigante que tira o pesadeloDo valente Nordeste, do irmão nordestino!A eles responde o São Francisco com forte voz:Estéreis plagas, brasileiros sofredores,Irei carinhosamente socorrê-los...

GOTA D’áGUA

Abrem-se as janelas!A vida começa chorosa.Continua chorosa...Torna-se alegre...O tempo passa...Homem prontoDesafia o encontroQue tem pela frente.

Arma-se do saber,Descobre o mundo!Fecham-se as janelas!Para dentro, figurasQue se embaralham,Em pano branco envoltasTodas se atrapalham...

JANELAS

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Rolando Scurzio

Sylvia Loew

J L Messina

J Sigon

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ARTE NA PRáTiCA

quando tive a oportunidade de conhecer o presidente do Colégio Dante Alighieri, dr. José de Oliveira Messina, fiquei, inicialmente, admirado por sua afetividade, acolhimento e dedicação ao trabalho que realiza na Escola. Em breve, certa concordância de pensamentos e princípios, aliada ao nosso idêntico amor pelas artes e pela cultura, fez nascer entre nós uma amizade espontânea, na qual pudemos explorar diálogos sobre os mais variados temas, que, por sua vez, me conduziram à reflexão de novos assuntos, novas possibili-dades. Naquele dia, voltei para casa com a sensação de um aluno que recebe uma grande instrução e que se responsa-biliza por levar seu dever de casa para ser resolvido.

Um dos temas da nossa conversa havia sido o Centenário do Colégio Dante Alighieri, que então se aproximava. Após alguns dias, retornei à sua sala com algumas sugestões referentes a essa comemoração. Prontamente, o dr. Messina me apresentou à Comissão do Centenário – responsável pela definição dos pro-jetos que comemorariam a data especial. Nessa ocasião – mar-ço de 2009 – tive a oportunidade de compartilhar propostas e ideias com os respectivos integrantes, que então vislumbraram e avalizaram a execução de uma obra monumental que dignifi-casse os méritos conquistados pelo Colégio no decurso desses anos. Foi assim, entre diálogos, valores culturais e entendimento mútuo com relação às viabilidades e competências, que a obra “Tempus Fugit, Sapientiae Manet” nasceu.

Tempus Fugit, Sapientia Manet

“COMO EX-ALUNO – E COMO NETO DO MAESTRO SALVATORE CALLiA, qUE ENVOL-VEU AS GERAçõES SE-GUiNTES DA FAMíLiA NO UNiVERSO DO COLÉGiO DANTE ALi-GHiERi – CRiEi LAçOS COM ESSA iNSTiTUi-çãO iMPOSSíVEiS DE SEREM DESCRiTOS.”

CLAUDiO CALLiA Fotos: Departamento de Audiovisual do Dante

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Durante minha formação artística, entendi que o processo de criação e desenvolvimento de uma obra de arte depen-de, primordialmente, do aprimoramento de uma ideia ori-ginal, a partir da qual elementos distintos convergem para a constituição de um todo. Dessa forma, desde que fui desig-nado a executar a obra em questão, analisei e desenvolvi di-versos estudos nas áreas de desenho, mitologia, arquitetura e engenharia de estruturas, entre outros, os quais deveriam se alinhar sob um único foco, antes que o primeiro bloco de argila fosse colocado em seu devido lugar. Em seguida, deu-se a disposição de novos blocos, uns sobre os outros, até que formas rudimentares começassem a ser reveladas. iniciava-se aí um longo período de modelagem e silêncio – somente rompido pela minha comunicação com a obra, momento em que a criação exige alterações ao seu criador.

De todo modo, após atribuir movimento, dinâmica e sensa-ções à fria argila, considerei que, finalmente, poderia colocá-

-la sob a apreciação de novos e expectantes olhares... Nas visitas ao ateliê, os envolvidos nas comemorações do Cen-tenário articulavam expressões de surpresa e aprovação: – Madonna!!! Senza parole! Cosa e questo? O que temos aqui? – entre outras, que quebravam, assim, aquela atmos-fera de silêncio. Desde então, centenas de alunos, profes-sores, funcionários etc. passaram a acompanhar a evolução dos trabalhos, não sem acrescentar, no entanto, elementos inestimáveis à obra. De fato, com as pontas de seus dedos, cada um dos visitantes, fosse “grande” ou “pequeno”, eter-nizou suas marcas, gravando-as no bronze e, especialmente, na própria memória.

Com a proximidade do inverno, cujas condições climáticas são desfavoráveis à argila, passei a me dedicar, exclusivamen-te, ao detalhamento e à finalização da obra. A baixa umida-de do ar retira a água presente na argila, comprometendo sua plasticidade e estabilidade. Já que se previa inaugurar a

DESDE O iNíCiO DOS TRABALHOS, PROCURA-VA POR UMA LOCUçãO EM LATiM qUE SiNTE-TiZASSE O SiGNiFiCADO CULTURAL, ARTíSTiCO E HiSTóRiCO DA COMPOSiçãO ESCULTóRiCA E qUE COROASSE O ARCO PROJETADO

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obra no início do ano letivo de 2012, era preciso, portanto, correr contra o tempo, por mais notórias as inconveniências de se trabalhar com um prazo curto. Afinal, para um artista, “uma obra nunca é concluída, e, sim, declarada finalizada... frequentemente a contragosto”.

Numa tarde de junho, consciente das limitações temporais que se apresentavam, concentrei-me nos últimos entalhes de definição das vestes da deusa Athena, quando fui surpre-endido pelo toque do meu celular ecoando no ambiente. Para minha agradável surpresa, tratava-se de um chamado do dr. Messina. Depus meus instrumentos de desbaste e fui ao encontro do presidente, que, em tom alegre e convidati-vo, me dirigiu seus cumprimentos:

– Professor Callia, s´accomodi...Enquanto me sentava à sua frente, notei um sorriso discreto – típico de alguém prestes a finalizar uma partida de xadrez –, enquanto movia em minha direção uma pequena folha de papel dobrada ao meio... – Cosa trovi (o que você acha)? – perguntou-me...Desde o início dos trabalhos, procurava por uma locução em latim que sintetizasse o significado cultural, artístico e histó-rico da composição escultórica e que coroasse o arco pro-jetado. Conhecedor da erudição do dr. Messina, não tardei em envolvê-lo nessa busca literária. Dias se seguiram até che-garmos àquele momento em que recebi e desdobrei a folha de papel entregue por suas mãos, com os seguintes dizeres: “Tempus Fugit, Sapientia Manet”. Ato contínuo, formalizei-lhe o convite para que aceitasse o patronato da obra.

Com o batismo da peça e a posterior conclusão da modela-gem, precisei mudar de endereço artístico: do ateliê, carinho-samente conhecido como “amarelinha”, para uma fundição de bronzes artísticos situada em itapecerica da Serra. Agora, em lugar dos meus instrumentos de modelagem, manejava equipamentos e ferramentas de fundição: cadinhos de metal incandescente, máquinas de solda, usinagem, polimento etc. Com efeito, uma verdadeira equipe de artesãos peritos no ofício da fundição em bronze entrou em cena.

A fim de copiarmos fielmente cada detalhe do relevo, re-vestimos a escultura com uma fina camada de silicone. Em seguida, sobrepusemos a essa camada uma lâmina de fibra de vidro para conferir rigidez ao molde, – que retrata a imagem “negativa” exata da original. Dentro do molde, des-pejamos cera de abelha derretida para a obtenção de uma reprodução perfeita da original em argila, a chamada cópia “positiva”. Consumi as semanas seguintes manuseando ins-

NO MêS DE DEZEMBRO DE 2011, qUASE DOiS ANOS APóS SEU iNíCiO, O GRANDE RELEVO CHEGOU AO SEU DESTiNO. EM 30 DE JANEiRO DE 2012, O MONUMENTO “TEMPUS FUGiT, SAPiENTiA MANET” FOi, FiNALMENTE, iNAUGURADO

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trumentos aquecidos a fim de reparar as emendas e imper-feições constantes na cópia em cera.

Em torno do “positivo” já retocado, construiu-se uma ca-rapaça dura que foi submetida a temperaturas superiores a 700 oC, provocando o derretimento da cera e vazando um espaço por onde o bronze líquido seria vertido. A esse processo dá-se o nome de “cera perdida”.

A liga metálica que compõe o bronze foi derretida num for-no de fusão a 1300 oC . As carapaças previamente aquecidas foram levadas incandescentes até a área de fusão. Um cadi-nho fervilhante que transporta o bronze líquido foi vertido dentro da carapaça. Após o resfriamento do metal fundido, iniciou-se o processo de usinagem da obra.

Devido às grandes proporções da obra, sua fundição foi segmentada em oito partes, de modo que, na eventualida-de de qualquer imperfeição no metal, cada uma pudesse ser retrabalhada separadamente. Feitas as devidas corre-ções, e mediante o uso de técnicas de soldagem, remon-tamos o quebra-cabeça que constituía o conjunto escultó-rico mediante o uso de técnicas de soldagem. Ponteiras, lixas e jatos de areia habilmente manuseados prepararam as peças para receber seu acabamento: a pátina. Elemen-tos químicos que atacam o cobre presente na liga do bron-ze foram também utilizados, alterando a cor original da liga de acordo com minhas formulações pessoais.

No mês de dezembro de 2011, quase dois anos após seu iní-cio, o grande relevo chegou ao seu destino. inúmeros foram os esforços realizados pelos funcionários do Colégio e pela equipe da fundição para transportar e instalar o monumen-to no espaço designado, cujo preparo exigira a utilização de elementos de fixação dimensionados segundo especifi-cações técnicas, apontadas em laudo de perícia estrutural.

Em 30 de janeiro de 2012 – em solenidade presidida pelo próprio dr. José de Oliveira Messina – o monumento “Tem-pus Fugit, Sapientia Manet” foi, finalmente, inaugurado.

Uma escultura de grandes proporções como essa resulta, por certo, de um imenso esforço coletivo. Sendo assim, a assistência, a dedicação e o apoio de todos os envolvidos direta ou indiretamente em sua realização foram de funda-mental importância para a concretização do projeto. Essa foi, com efeito, uma conquista da família dantiana!

Gostaria de agradecer a confiança que o Conselho, a Dire-toria e a Presidência depositaram em mim desde o início – mesmo quando mantinha parcial sigilo em relação às minhas criações. Partilho os méritos com minha esposa Sibele, pela dedicação e assistência profissional; com minha mãe Isolina, pelo incentivo e carinho; e com meus dois filhos, Claudio Ettore e Gianpaolo, pela compreensão, já que, por vezes, se privaram da companhia dos pais em proveito de uma obra que entenderam ser, para sempre, muito importante.

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PLATAFORMAS DE ARTE

A arte em comemorativosAO LONGO DO TEMPO, ESTAMPiLHAS SERViRAM DE PLATAFORMA PARA RETRATAR POLíTiCA, CULTURA E PERSONALiDADES

Mesmo em um mundo onde as mensagens digitais e as relações virtuais são predomi-nantes, o selo postal, artefato intrinsecamente relacionado a cartas e correspondências, ainda tem espaço de destaque – seja pelo interesse que desperta como um objeto de estudo ou de coleção de milhares de pessoas, seja por sua capacidade de representação cultural. Principalmente quando essa estampilha é comemorativa e, assim, traz um ele-mento artístico em sua composição.

“Os últimos números (2011) da União Postal Universal (UPU), órgão ligado à ONU, mostram um incremento de envios de remessas postais em todo o mundo. Além disso, nunca se emitiu tanto selo postal comemorativo na história desse objeto e nunca o selo postal esteve tão valorizado no mercado internacional enquanto objeto colecionável”, explica o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Diego Salcedo, dou-tor em comunicação e autor de livros como “A ciência nos selos postais comemorativos brasileiros: 1900-2000” e “Pernambuco nos selos postais: fragmentos verbovisuais de pernambucanidades”.

O selo foi criado oficialmente por Rowland Hill, na Inglaterra, em 1840, como uma taxa pela qual o remetente da carta financiava o serviço de transporte e entrega de corres-pondências – que antes ficava a cargo do destinatário. A primeira estampilha, denomina-da “Penny Black”, possuía a efígie da rainha Vitória, um brasão ou a cifra.

Devido às suas fortes relações comerciais e políticas com a inglaterra na ocasião, o Brasil tornou-se o segundo país do mundo a emitir selos postais. A série conhecida como “Olho de boi” (em referência à ilustração central, que englobava a cifra), de 1843, foi a primeira lançada por aqui. Porém, ao contrário do inglês, o selo brasileiro não estampava a figura do seu governante da época, o imperador Dom Pedro II. A “Olho

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de boi” foi sucedida pelas séries “inclinados” (1844), “Olhos de cabra” (1850) e “Olhos de gato” (1854). Apenas em 1866, D. Pedro ii permitiu que seu rosto fosse colocado nas estampilhas – até mesmo como uma forma de aumentar sua popularidade no país. Já o selo comemorativo foi utilizado no Brasil pela primeira vez em 1900, na celebração do 4º Centenário do Descobrimento do país. Dois anos mais tarde, as emissões que fes-tejaram o 3º Congresso Pan-Americano tiveram repercussão internacional.

De acordo com o professor Diego Salcedo, os selos comemorativos começam a ser emitidos com mais frequência no final do século XIX como uma forma de celebrar a independência das colônias ao redor do mundo. “A importância do selo postal ade-sivo do tipo comemorativo advém do fato de rememorar, principalmente, símbolos diretamente atrelados aos processos de independência/emancipação de colônias ao redor do mundo. Esse tipo de selo postal foi, em primeira medida, o registro do grito de liberdade das colônias e o início do discurso de construção de suas identidades e soberanias nacionais”, diz.

Ao longo dos anos, o Brasil emitiu diversos selos comemorativos. A partir de 1969, com a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), artistas plásticos e de-senhistas foram contratados para trabalhar na elaboração desses apetrechos, ao mesmo tempo que se observou uma melhoria nos equipamentos de impressão dos selos. Além disso, quadros de pintores famosos, como “Cinco moças de Guaratinguetá”, de Di Caval-canti, foram reproduzidos no formato de comprovante postal.

As iniciativas da ECT surtiram efeito e os selos comemorativos brasileiros – como a série “Folguedos e Bailados Populares” (1981) e o bloco “Literatura de Cordel – Lubrapex 86”

A série “Olho de Boi” foi a primeira lançada no Brasil Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

Em 1900, na celebração do 4º Centenário do Descobrimento do país, o selo co-memorativo foi usado no Brasil pela primeira vezFonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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Quadros de pintores famosos, como “Cinco moças de Guaratinguetá”, de Di Cavalcanti, já foram reproduzidos no formato de selos

Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

Selos brasileiros, como os da série “Folguedos e Bailados Populares” (1981), receberam diversos prêmios artísticos

Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

DESDE EVENTOS COMO COPAS DO MUNDO ATÉ CAM-PANHAS, COMO A DE COMBATE AO HiV/AiDS, Já FORAM CONTEMPLADAS COM ARTES DE SELOS COMEMORATiVOS E ESPECiAiS

(1986) – ganharam diversos prêmios internacionais. Além disso, o país foi pioneiro ao emitir o primeiro selo do mundo com legendas em braille (1974). A ênfase da arte nas emissões comemorativas foi reforçada com o concurso “Arte em Selo”, realizado por ocasião da 23ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1996, em que, entre 3 mil artistas, 50 foram selecionados para criar novas estampilhas.

Temas

Os Correios definem selo comemorativo como um “selo postal de tiragem limitada, alusivo à comemoração de data de destaque no segmento sociocultural, com repercussão nacional ou internacional”. Há ainda os selos especiais (“selo postal temático não comemorativo, de tiragem limitada”), que também envolvem um trabalho artístico em sua elaboração.

Apesar das pequenas diferenças, tanto os comemorativos quanto os especiais podem aludir aos seguintes temas: eventos ou manifestações culturais, artísticas, científicas e esportivas de repercussão nacional ou internacional, que apresentem interesse temático; acontecimentos históricos; ação governamental; personalidades; chefes de Estado; atletas com a primeira colocação nos Jogos Olímpicos da Era Moderna; ganhadores de Prêmio Nobel; preservação do meio ambiente; aspectos do turismo nacional; e valores da cida-dania, direitos humanos e outros assuntos relacionados ao bem-estar da humanidade.

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Selo comemorativo do Centenário do Dante Em comemoração ao centenário do Colégio Dante Alighieri, em 2011, o Departamento de Arte promoveu um concurso para os alunos do Ensino Fundamental I ao Ensino Médio. Utilizando lápis de cor, guache ou aquarela, com papel canson A5 como suporte, os estudantes dese-nharam imagens alusivas à data comemorativa para criar dois selos: um para uso interno nos materiais de divulgação da Escola, e outro para o cruzeiro comemorativo dos cem anos. Inicialmente, três trabalhos de cada classe foram selecionados. Em se-guida, as 30 melhores obras passaram pelo crivo da comissão organi-zadora dos festejos do centenário dantiano. Ao final do concurso, a alu-na Ana Beatriz Martelli Rocca viu seu selo ser eleito para uso interno nos materiais de divulgação do Colégio, enquanto a ilustração feita por Isabella Comegna da Silva foi utilizada para o cruzeiro comemorativo. Além dos trabalhos das estudantes, o engenheiro, artista plástico e ex-aluno do Dante Claudio Callia foi outro a colaborar com a produção de alguns trabalhos filatélicos em homenagem aos cem anos do Dante: criou uma marca d’água, um sinete para lacre de cera e um selo, usa-do nas correspondências do Colégio. O designer gráfico Gustavo Gua-telli elaborou ainda um segundo selo, também utilizado pelos Correios.

O artista plástico e ex-aluno Claudio Callia criou um selo usado nas corres-pondências do Colégio durante 2011

O designer gráfico Gustavo Guatelli elaborou ainda um outro selo, tam-bém utilizado pelos Correios

O selo feito pela aluna Ana Beatriz Martelli Rocca foi eleito para uso interno nos materiais de divulgação do Colégio

Selo elaborado pela aluna Isabella Comegna da Silva foi usado no cru-zeiro comemorativo do centenário

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Autorização de uso da imagem dos selos: Departamento de Filatelia e Produtos/ECT

Assim, desde eventos como Copas do Mundo até campanhas, como a de combate ao HiV/AiDS, já foram contempladas com artes de selos comemorativos e especiais.

A prática da arte em selos – principalmente nos comemorativos –, obviamente, não se restringe ao Brasil. Em geral, também nos outros países, essas estampilhas retratam fatos históricos, datas festivas, avanços da ciência, da medicina e da tecnologia, assim como as personalidades de destaque em uma sociedade.

“Cada selo postal adesivo deve ser considerado documento constituído de valor histórico, eco-nômico, político, ideológico, cultural, mnemônico. Tanto pesquisadores quanto o público não pesquisador deve ter o direito ao acesso a esse artefato, para poder olhá-lo com calma, exer-citando o próprio exercício do olhar, frente àquilo que é apreendido apenas olhando. Olhá-lo questionando-o. Creio eu que, com o passar do tempo, o selo também será entendido cada vez mais como objeto de pesquisa científica e de ensino”, afirma o professor Diego Salcedo.

A aluna Ana Beatriz Martelli Rocca (na foto, ao lado do pre-sidente, dr. José de Oliveira Mes-sina, e da coordenadora de Arte, Sandra Romanello) teve seu selo eleito para uso interno no Colégio

O selo elaborado pela aluna Isabella Comegna da Silva foi utilizado para o cruzeiro come-morativo

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FOTOGRAFiA

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fotografia EM UMA ÉPOCA EM qUE VáRiOS PESqUiSADORES TENTAVAM REGiSTRAR UMA iMAGEM, NiÉPCE E DAGUERRE FiCARAM CONHECiDOS COMO OS iNVENTORES DA TÉCNiCA FOTOGRáFiCA

quem vê a facilidade atual para se tirar uma fotografia, seja com um simples celular ou com uma avançada câ-mera digital, pode não ima-ginar que a possibilidade de se registrar um momento por meio dessa técnica seja relativamente recente. Em 1826, o francês Joseph Ni-céphore Niépce entrou para a história como o primeiro homem a conseguir fixar no papel uma tênue ima-gem da realidade. Em outras palavras: segundo muitos historiadores, o físico foi o responsável pela primeira fotografia “permanente” da humanidade – proeza alcan-çada há menos de 200 anos.

Entretanto, a teoria por trás da experiência de Niép-ce remonta à Renascença, quando Leonardo da Vinci

Selo comemorativo aos cem anos da fotografia (1839-1939) com as imagens de Niépce (à esq) e Daguerre

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fez um primeiro registro detalhado sobre o concei-to da câmara escura (cujo princípio, porém, já havia sido estudado pelo filósofo chinês Mo Ti, em 500 a.C.). Da Vinci apontou que a luz que penetrava em um com-partimento escuro, através de um pequeno orifício feito em um dos lados da câmara, formava, na parede interna branca à frente do buraco, uma imagem invertida da cena contemplada.

Em seus experimentos, Niép-ce cobriu uma placa de esta-nho com betume da Judeia, substância capaz de se endu-recer ao ser atingida pela luz. Expondo uma dessas placas em uma câmara escura du-rante cerca de oito horas, o francês registrou a imagem de seu quintal, realizando aquela

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ASSiM COMO A MAiORiA DAS iNVENçõES, A FOTOGRAFiA NãO TEM UM úNiCO CRiA-DOR. SãO DiVERSOS CONHECiMENTOS qUE VãO DESPONTANDO ATÉ qUE AL-GUÉM OS UNA, CONDENSANDO-OS EM UM PRODUTO FiNAL

47sociedade em 1829, ano em que Niépce passou a utilizar--se de placas de metal.

Daguerreótipo

Com a morte de Niépce em 1833, sua invenção e seus conhecimentos foram herdados pelo sócio, que, porém, tratou de avançar. Daguerre solucionou o pro-

Otto Stupakoff/Divulgação Valdir Cruz/Divulgação

blema da baixa durabilidade da imagem depois de revela-da aplicando às chapas uma solução de sal de cozinha aquecida, dotada de iodo. Surgia o princípio do “da-guerreótipo”.

Por esse mecanismo, uma placa de prata era sensibi-lizada com vapor de iodo, formando iodeto de prata.

Em seguida, em uma câmara escura, a placa era exposta à luz, o que, devido à transfor-mação dos cristais de iodeto em prata metálica, formava uma imagem capaz de ser revelada com a utilização do vapor de mercúrio.

Com hipossulfito de sódio, promovia-se a fixação da imagem na placa. O resulta-

que é considerada a primeira fotografia da história. Ao tomar conhecimento do feito de Niépce, o também francês Louis Jacques Mandê Daguerre, que buscava fixar imagens do mundo real em placas de metal polido, utili-zando-se igualmente de uma câmara escura, entrou em contato com o compatrio-ta. Os dois formaram uma

“Paisagens com árvores e lagos”, de Valdir Cruz, foi outra obra exibida na FAAPObra sem título de Otto Stupakoff apresentada na mostra da FAAP

Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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48na chapa metálica, com a ajuda de mercúrio aquecido, uma imagem perfeita em to-dos os detalhes. Em pouco tempo, incontáveis daguer-reotipistas garantiram o su-cesso da invenção.

Com sua pensão vitalícia, Da-guerre retirou-se para uma pequena cidade no interior da França e passou o restan-te de seus dias pintando qua-dros e desenhando cenários para peças de teatro.

Uma observação, no entan-to, merece ser feita. Assim como a maioria das inven-

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Inventado na França, Daguerreótipo popularizou a fotografia

“Jenny”, de JR Duran, foi uma das obras ex-postas na mostra “Momentos e Movimentos”

do era um positivo em baixo relevo. Em 1839, Daguerre, ofereceu sua invenção ao governo francês, que reco-nheceu a nova técnica e re-compensou o cientista com uma pensão vitalícia.

A França divulgou o proces-so ao mundo inteiro, e o fo-lheto de 79 páginas redigido por Daguerre foi traduzido para diversas línguas. Con-forme as explicações desse manual, qualquer pessoa po-deria construir uma câmara, polir e sensibilizar as placas, fazer a exposição – por cer-ca de meia hora – e revelar,

A TÉCNiCA DA FOTOGRAFiA Só ADqUiRE O STATUS DE ARTE qUANDO SEU RESULTADO APRESENTA RiGOR, CRiATiViDADE, BELEZA E UM SiGNiFiCADO

ções, a fotografia não tem um único criador. São diver-sos conhecimentos que vão despontando até que alguém os una e os condense em um produto final. Ao mes-mo tempo em que Niépce e Daguerre criavam e aperfei-çoavam um método, o inglês William Fox Talbot desenvol-via o calótipo ou talbótipo, que propunha o registro de imagens por um sistema posi-

tivo/negativo. Enquanto isso, em Campinas, interior de São Paulo, o francês Hércu-les Florence também inven-tava um modo de fotografar – ele alegava ter descoberto a técnica antes de Daguerre, mas, por estar no Brasil, não teria sido reconhecido como inventor. Contudo, um título, pelo menos, Florence osten-ta: foi ele quem criou o ter-mo “fotografia”.

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DANTE

Alunos do Dante aprenderam um pouco

mais sobre fotografia na visita à mostra “Momentos e

Movimentos”, na FAAP

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Alunos do Dante e da ONG Acorde visitam exposição de fotografiasAlunos do Colégio Dante Alighieri e integrantes da ONG Acorde visita-ram, em março, a exposição de fotografia “Momentos e Movimentos”, no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP). A mostra, visitada em três dias por diferentes turmas da Escola, exibiu 170 imagens arquivadas pelo museu nos últimos dez anos.Para apresentar a diversidade de autores, temáticas e procedimentos, o curador, Rubens Fernandes Júnior, dividiu a exposição em cinco nú-cleos, que variaram da beleza do corpo humano e da moda contem-porânea em diferentes épocas a fotomontagens com críticas sociais relacionadas à política e à cultura dos anos 1980. As imagens foram registradas por 34 fotógrafos de vários países, como o francês Jean Manzon, a eslovena Stane Jagodic, o espanhol JR Duran e os brasileiros Thomas Farkas (húngaro de nascimento, mas naturalizado brasileiro), Otto Stupakoff e Luiz Tripolli. Os alunos do 9º ano e da 1ª série do Ensino Médio do Dante puderam usar as fotos vistas na exposição como parâmetro para os trabalhos que desenvolvem ao longo do ano relacionados à técnica fotográfica. Os departamentos de Arte, Inglês, Língua Portuguesa e Tecnologia Educacional, organizadores da visita, também decidiram incluir inte-grantes da ONG Acorde no passeio. A instituição sem fins lucrativos oferece educação complementar e extensão cultural a crianças, ado-lescentes e jovens do Jardim Tomé, na periferia de Embu, em São Paulo, recebendo a ajuda do Dante em alguns projetos. Segundo a professora Sandra Romanello, coordenadora do Departa-mento de Arte, a intenção ao incluir os alunos da Acorde na atividade foi dar-lhes a chance de fortalecer as diversas linguagens de expressão: interpretativa, pictórica, sonora, plástica e espacial, propiciando o de-senvolvimento intelectual, social e afetivo dos educandos. Além disso, após a visita à exposição, os integrantes da Acorde participaram de atividades relacionadas à fotografia, fazendo imagens que serão organi-zadas em uma exposição virtual com legendas em português e inglês.

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Integrantes da ONG Acorde também visi-taram a exposição e realizaram ativida-des relacionadas à fotografia

Magia e arte da fotografia

De qualquer forma, passa-dos mais de 170 anos do surgimento da daguerre-otipia (momento em que podemos falar em um re-conhecimento of icial da nova técnica), a fotograf ia continua nos encantando, pois ela transforma o mo-mentâneo em algo imor-tal. As fotos têm o poder de congelar o tempo e

contar histórias.

Hoje, novos métodos, como o processo digital, tornaram a fotografia mais acessível. Entretanto, mesmo estan-do ao alcance de qualquer pessoa com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, a técnica adquire status de arte apenas quando seu resultado apresenta rigor, criatividade, beleza e uma imagem com um significado diferente. Estudantes apreciam as obras da exposição na FAAP

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Colégio Dante Alighieri | Novembro 2012 | InArte

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MEMóRiAS

Em 9 de julho de 2011, o Colégio Dante Alighieri completou seu primeiro centenário. Durante todo o ano, foram realiza-dos festejos de alto nível, como um concerto musical e uma exposição de obras de arte – eventos que contaram, no mais, com a participação de ex-alunos. Dez anos antes, em 2001, o Colégio também realizou uma série de comemora-ções pelos seus 90 anos. Aqui na seção “Lembranças”, da revista InArte, relembraremos alguns dos eventos realizados na ocasião.

Na época, o presidente do Colégio era o senhor Gugliel-mo Raul Falzoni, enquanto o diretor-geral pedagógico era o professor Renan de Abreu. Para os festejos dos 90 anos, foi formada a comissão organizadora com os seguintes nomes: Carlos Henrique Alvarez Nicolás; Elizabeth Faro de Faria; Fernando Homem de Montes; ilda Loschiavo, Maria Cleire Cordeiro, Sandra Smith S. Romanello e Suely Lerner. A solenidade de abertura das festividades internas dos 90 anos do Dante realizou-se no dia 5 de março de 2001, no Ginásio de Esportes “Túlio Nelson Canale”, em dois horários: 7h45 e 13h20. A cerimônia contou com o haste-amento das bandeiras e com discursos do presidente, Sr. Guglielmo Falzoni, e do diretor-geral pedagógico, profes-sor Renan de Abreu. Os alunos da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental (equivalentes às salas do 2º ao 5º ano do

Colégio Dante Alighieri: dos 90 aos100 anosA ESCOLA COMPLETOU 100 ANOS EM 2011 COM UMA GRANDE FESTA. DEZ ANOS ANTES, OS 90 ANOS TAMBÉM ME-RECERAM VáRiAS CO-MEMORAçõES. RELEM-BRE-AS NAS PRóXiMAS PáGiNAS

Fotos: Sandra Smith Silveira Romanello

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Ensino Fundamental, atualmente) fizeram uma apresenta-ção musical, assim como o coral do Colégio, que executou as canções “Mérica” (homenagem à imigração italiana) e “Tiro ao álvaro” (homenagem a Adoniran Barbosa). Hou-ve ainda a leitura de poesias da professora Maria Cleire

SEGUiNDO UM ROTEiRO COM OS PRiNCi-PAiS FATOS DA HiSTóRiA DO COLÉGiO, OS ALUNOS, EM GRUPOS DE qUATRO PESSO-AS, CRiARAM DiVERSOS PROJETOS NO CAM-PO DAS ARTES PLáSTiCAS, ENFATiZANDO SEMPRE A CORAGEM, A DETERMiNAçãO E A O ALTRUíSMO DOS FUNDADORES TANTO qUANTO DOS qUE DERAM CONTiNUiDADE A TODO ESTE TRABALHO DO DANTE

sobre a Escola e a premiação dos estudantes que haviam criado selos comemorativos.

Também como parte das comemorações dos 90 anos do Dante, sob a orientação do Departamento de Arte e da

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professora Sandra, alguns alunos criaram mosaicos que es-tão instalados até hoje na parede que faz a divisa entre as quadras e a Alameda Itu. Entre os mosaicos lá fixados, está o trabalho vencedor do concurso para a eleição do selo comemorativo dos 90 anos. Além disso, há figuras de Dante Alighieri e dos locais do Colégio que foram ante-riormente fotografados.

O objetivo do projeto, na época, foi promover o entrosa-mento dos alunos por meio do trabalho em grupo. Esse estímulo à ação coletiva induzia a que os alunos não só colocassem sob exame o próprio trabalho, aceitando-o independente de eventuais limitações, mas se apoderas-sem de critérios adicionais para a avaliação, também, da produção alheia. Tratava-se, assim, de um exercício críti-co pelo qual os alunos reorganizavam os elementos ex-pressivos, o que, de quebra, lhes possibilitava uma fruição mais abalizada das obras.

Seguindo um roteiro com os principais fatos da história do Colégio, os alunos, em grupos de quatro pessoas, criaram diversos projetos no campo das artes plásticas, enfatizando sempre a coragem, a determinação e o altruísmo dos fun-dadores assim como dos que deram continuidade a todo este trabalho do Dante, elevando a instituição ao posto de estabelecimento de ensino respeitado e admirado.

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O OBJETiVO, NA ÉPOCA, FOi PROMOVER O ENTROSAMENTO DOS ALUNOS POR MEiO DA ATiViDADE DE GRUPO. ESSE ESTíMULO À AçãO COLETiVA iNDUZiA A qUE OS ALU-NOS NãO Só COLOCASSEM SOB EXAME O PRóPRiO TRABALHO, ACEiTANDO-O iNDE-PENDENTE DE EVENTUAiS LiMiTAçõES, MAS SE APODERASSEM DE CRiTÉRiOS PARA A AVA-LiAçãO, TAMBÉM, DA PRODUçãO ALHEiA

Para as festividades do centenário, em 2011, seguiram-se os mesmos passos. A trajetória do Colégio foi exaltada em história em quadrinhos, em selos comemorativos, em um painel formado por 100 figuras de Dante Alighieri, co-loridas das mais diferentes formas pelos alunos da Escola, e em uma escultura em bronze do Barco de Caronte (d’A Divina Comédia).

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TÉCNiCAS DE ARTE

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Em tempos remotos, a gravura era a principal forma de re-gistro ou reprodução de imagens. Dividida em vários tipos, de acordo com o material usado como suporte – xilogra-vura (madeira), litogravura (pedra), gravura em metal e se-rigrafia (mais recente, que tem como suporte poliéster ou nylon) –, essa técnica continua sendo muito utilizada atu-almente como uma expressão artística, mesmo diante de todo desenvolvimento tecnológico alcançado.

Nesta edição, a InArte tratará, em especial, da gravura em metal. Datam de 1500 as obras mais antigas que foram reali-zadas utilizando-se dessa técnica. O alemão Albrecht Dürer, um dos grandes nomes da Renascença, e Peter Paul Rubens, expoente do Barroco, foram alguns dos primeiros artistas famosos a gravar em metal.

Ligado inicialmente à ourivesaria, o uso de matrizes de me-tal foi adaptado à gravura justamente a partir do século XV, como uma forma de se obter um registro gráfico da imagem impressa com alta qualidade, resistente às grandes tiragens e edições.

A prática da gravura em metal consiste em criar imagens, através de incisões, entalhes ou desgastes, em uma matriz de metal, geralmente o cobre (pode ser também alumínio, aço, ferro ou latão amarelo). O segredo do seu valor co-

gravada CONHEçA UM POU-CO DA HiSTóRiA E DOS PROCEDiMEN-TOS DA GRAVURA EM METAL

Fotos: Departamento de Audiovisual do Dante

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UM DOS GRANDES NOMES DA RENASCENçA, ALBRECHT DüRER FOi UM DOS PRiMEiROS ARTiSTAS A GRAVAR EM METAL

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mercial está na tiragem: quanto menor, mais valiosa. Todo trabalho vem com uma numeração no canto. Por exemplo: 22/100 significa que aquela é a peça de número 22 de uma tiragem de 100 edições. Existe também a chamada prova de autor (p.a.), uma edição ainda mais restrita, de, em média, 10% da quantidade das tiragens, quando não uma peça úni-ca, a critério do artista.

Gravura de encavo

A gravura em metal pode ser definida como a gravura de en-cavo (do francês gravure en creux), uma vez que o depósito de tinta para impressão é feito dentro dos sulcos gravados e não sobre a superfície da matriz, como no caso da xilogravura (técnica em que se utiliza a madeira como matriz).

Na composição da gravura de encavo, há diversas formas de produção de imagens. Uma dessas maneiras consiste na elaboração do desenho por meio de um instrumento (pon-ta seca, buril ou rolete) sobre uma chapa de metal plana e polida. Aplica-se a tinta de maneira a cobrir toda a chapa, sendo que o excesso é retirado com cuidado para que a substância permaneça apenas nos espaços gravados. Em seguida, a chapa é levada à prensa e coberta com papel umedecido, realizando-se a transferência da imagem ante-riormente gravada para o papel.

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Há também os meios denominados água-forte e água-tinta, em que produtos químicos (como ácido nítrico e percloreto de ferro) são direcionados às áreas da matriz que não foram isoladas com verniz. Assim, são criados diferentes efeitos visuais nas imagens, além da possibilidade de se obterem diversas gradações de tom e de texturas visuais.

Essa técnica permite um riscado mais fluente e espontâneo, já que o ato de desenhar em uma chapa envernizada se asse-melha à elaboração de uma figura no papel.

Foram vários os artistas de renome que se dedicaram à gra-vura em metal. Entre os mais conhecidos, estão os europeus Pinaresi, Goya, Rembrandt e Picasso. No Brasil, Oswaldo Goeldi, iberê Camargo, Lívio ábramo, Adir Botelho, Marce-lo Grassmann, Maria Bonomi, Fayga Ostrower, Renina Katz e Regina Silveira se destacaram.

A prática da gravura em metal con-siste em criar imagens, através de incisões, entalhes ou desgastes, em uma matriz de metal, geralmente o cobre

Na gravura em metal, o depósito de tinta para impressão é feito dentro dos sulcos gravados

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Os alunos do “Química na Arte” fotografaram espaços do Colé-gio e desenvolveram suas gravuras utilizando-se dessas imagens

Na gravura em metal, pode-se “flambar” a chapa para aumen-tar a aderência do verniz

LiGADO iNiCiALMEN-TE À OURiVESARiA,

O USO DE MATRiZES DE METAL FOi ADAP-

TADO À GRAVURA JUSTAMENTE A PAR-TiR DO SÉCULO XV,

COMO UMA FORMA DE SE OBTER UM

REGiSTRO GRáFiCO DA iMAGEM iMPRESSA COM ALTA qUALiDA-

DE, RESiSTENTE ÀS GRANDES TiRAGENS

E EDiçõES

A gravura em metal é levada à prensa e coberta com papel umedecido, realizando-se a transferência da imagem anterior-mente gravada para o papel

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DANTE

Os trabalhos dos alunos dantianos foram expostos na I Bienal de Arte do Colégio, realizada em setembro de 2011

A gravura em metal registrando espaços do ColégioOs integrantes do projeto “Química na Arte”, criado em 2010, traba-lharam com a gravura em metal nas comemorações dos 100 anos do Colégio Dante Alighieri, no ano passado. Os alunos, provenientes das 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, fotografaram espaços da Escola e desenvolveram suas gravuras utilizando-se dessas imagens. A conclusão do trabalho ocorreu durante a I Bienal de Arte do Colégio, realizada em setembro de 2011. Na ocasião, os alunos puderam expor suas obras, além realizar uma oficina de produção de chaveiros e co-lares, utilizando a técnica de corrosão do metal – a mesma usada nas gravuras no processo de “água tinta”.Os alunos envolvidos nesse projeto tiveram a chance de perceber que a arte e a química sempre estiveram ligadas, pois o artista busca novas técnicas e novos materiais para obter o resultado estético desejado, en-quanto o químico procura analisar os processos e os materiais utiliza-dos na arte por meio da linguagem científica. A julgar pelos resultados da parceria, essa é, sem dúvida, uma troca muito rica. Tanto isso é verdade que, em 2012, o “Química na Arte” segue firme e forte. No primeiro semestre, as 12 integrantes do projeto visitaram o museu Lasar Segall, onde receberam instruções do professor Paulo Penna para, utilizando uma prensa, concluírem a impressão da primei-ra etapa do trabalho. “A visita também foi interessante como conhecimento. No museu são oferecidos cursos e aprofundamento para quem realmente se interes-sa pelas técnicas de gravura”, explica a professora de Química Sueli Maria de Oliveira Takahashi, responsável pelo “Química na Arte” jun-tamente com a professora de Arte Lúcia Lacerda de Oliveira – ambas sob a supervisão das coordenadoras de Química, Clemance Alves dos Santos, e de Arte, Sandra Romanello.

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O SEGREDO DO VALOR COMERCiAL DA GRAVURA ESTá

EM SUA TiRAGEM: qUANTO MENOR

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OBRA

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