museu dos estudantes - complemento da resposta do 30/4 e parecer do gt

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COMPLEMENTO À RESPOSTA DOS ESTUDANTES DA FAU SOBRE A PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO DO PISO DO MUSEU No dia 30 de abril de 2015 (1), mobilizados, os estudantes da FAU entregaram um parecer jurídico junto a uma carta aberta à comunidade que, em suma, recontextualizavam o caráter histórico estudantil da gestão do Piso do Museu e da impossibilidade de sua continuidade no caso da Instituição efetivar a regulamentação, então, colocada. Após a entrega, por parte da Diretoria houve ora silêncio, ora a constante autoritária: recu- sando-se a compor o Grupo de Trabalho (2) apresentado pelos estudantes, manteve um papel central no encaminhamento do processo definindo que o objeto da regularização passasse a ser os serviços destinados a terceiros do Piso do Museu. Se por um lado, essa proposta parte da insustentabilidade de, diante da mobilização dos estudantes, manter a proposta de regulamentação tal qual tem sido unilateralmente posta e reposta –termo de permissão de uso e contrato de concessão de uso–, por outro, reafirma de modo mais sutil a desvinculação entre a gestão dos locatários e a gestão dos usos do piso do museu. A destituição da gestão dos locatários dos estudantes parte de uma leitura estritamente legalista que trata o GFAU exclusivamente como entidade de direito privado; por consequên- cia, desconsidera em absoluto o papel histórico da entidade frente a Universidade, a formação estudantil. Forma jurídica que, ao desatrelar dos estudantes a gestão dos serviços, tem como seu conteúdo político a retirada da sua autonomia financeira e da gestão unitária do espaço: primeiro são retirados os locatários, para depois o serem os estudantes. Cabe, então, retomar o parecer já entregue: entendemos que ainda se encontra em aberto as possibilidades em torno do termo de cessão de uso apresentado pelos estudantes em 2008 e que não há, a não ser por divergências políticas, impossibilidades de se propor tais alternati- vas jurídicas. Mais ainda, o descarte a priori da autonomia universitária, o aplicar de formas jurídicas em total descompasso com a nossa especificidade, acarreta justamente no contrário do interesse coletivo. Para além do cerceamento à organização estudantil autônoma, tais modalidades inserem lógicas sociais estritamente mercantilizadas, tanto entre locatários e a própria comu- nidade, como nas próprias relações de trabalho no espaço universitário. Entre outros aspectos significativos (3), citamos o cooperativismo. Poderia ser vista como contraditória a postura da reitoria da USP que por um lado fomenta projetos como a Incubadora ITCP-USP – responsável por incubar a Cooperativa Monte Sinai (locatária do serviço de restaurante) – e, por outro, exclui a possibilidade de participação das cooperativas nos processos licitatórios dentro dos próprios espaços universitários. Entretanto, a simultaneidade dessas medidas sinaliza para uma política que, ao invés de perpetuar a construção de um saber crítico e transformador, insere cada vez mais a vivência e o espaço universitários numa lógica hierárquica e comercial. Já em relação à suposta falta de transparência dos recursos provenientes da gestão dos lo- catários, trata-se, somente, de uma melhor formalização de uma prática já existente da gestão estudantil que, assim, se coloca disposta a concretizá-la já para o início de 2016. Nessa mesma linha, as discussões travadas nesse último semestre, nortearam a consolidação de canais formais entre GFAU e comunidade a fim de promover a melhora da qualidade dos serviços oferecidos.Parte dessas discussões foram realizadas a partir do GT que deve ter seu trabalho compreendido à luz das deliberações do Plano Diretor: processo histórico pela inserção da comunidade FAU em torno de um projeto conjunto no qual se reafirmou o reconhecimento da construção estudantil para a escola. Os estudantes sempre estiveram dispostos a dialogar e, justamente por isso, sabem há muito que o diálogo não é possível quando apenas uma das partes têm o poder de decisão. É de todos conhecida a tradição das diretorias e reitoria da USP em aplicar medidas autoritárias no período das férias; questionamos, assim, a criação de uma comissão julgadora de licitações no último semestre que tem poderes para abrir um processo licitatótio referente aos serviços do Piso do Museu. Esperamos que por parte da Diretoria da FAU, a quem institucionalmente cabe o poder de encaminhar o processo / quem institucionalmente tem o poder de encami- nhar o processo, tal maneira de encaminhamento esteja, de fato, fora de perspectiva. Toda e qualquer definição acerca do piso do museu cabe, senão, aos estudantes. Por fim, considerando as novas medidas a serem implementadas pelos estudantes, a incompatibilidade entre os moldes de regulamentação propostos e o interesse coletivo, e a ausência de resposta ao que foi colocado no parecer, entregue em 30 de abril, entendemos que ainda se encontram em aberto as questões contidas neste parecer. (1) Prazo inicialmente estabelecido pela Diretoria e adiado somente no dia anterior à data limite para resposta quanto a retomada do ‘termo de permissão de uso’ e do ‘contrato de concessão de uso dos serviços’ para o piso do museu; (2) Diferentemente da proposição inicial dos estudantes, o GT não contou com a representa- ção da Diretoria e nem dos locatários, passando a ser composição paritária, com a atribuição de embasar ambas as partes do processo; (3) Sobre os desdobramentos dos atuais moldes proposto de regulamentação dos serviços ver abaixo-assinado em anexo. AOS ESTUDANTES 2015 começou com uma conhecida novidade: a regulamentação do piso do museu. Em tom de ameaça, o processo entregue pela Diretoria da FAU replicava a resposta dos estudantes de 2008 com um caráter de notificação da saída dos estudantes de seu espaço, a ser garantida mediante “as medidas judiciais cabíveis” , leia-se, reintegração de posse. Se hoje temos a gestão estudantil do museu, não foi pelo acaso, mas pela luta: variando de acordo as especificidades de cada tempo, ela tem, na organização autônoma, sua única força. Consciência de resistência de que a história dos vencedores, narrada a serviço da burocracia, insiste em ocultar. A estratégia “vencer pelo cansaço” se dá nesse sentido: almeja naturalizar as ideias dominantes para, pouco a pouco, quebrar a coesão daqueles que a ela se opõe. Sabemos, entretanto, que esse não é o curso inevitável, que a conjuntura, embora imponha condições concretas, não pode servir como justificativa para a legitimação das saídas legalistas, em nada neutras, como as únicas possíveis. Do lado oposto, a construção coletiva, intrínseca à perspectiva crítica e transformadora da sociedade, se encontra ewm constante renovação. As divergências que devem impulsionar tal movimento são, contudo, muitas vezes apropriadas a fim de desconstruir a unidade daquilo que foi construído conjuntamente. A certo ponto isso nos atingiu - pressões, fragilidades, erros e acertos -, nos deixamos fragmentar, a certo ponto resistimos: a gestão continua sendo estudantil. Em tempos em que o desmonte da Universidade atinge proporções tais que se torna possível visualizar cotidianamente o seu próprio avanço, a resistência à tentativa de regulamentação do museu - calcada, principalmente, em forças internas à própria FAU - se configura, assim como um contraponto mínimo, posto que visa atingir a nossa própria organização. Reiteramos: o museu é dos estudantes! OBJETIVO DESSE PANFLETO Seguiu-se, nesse semestre, os trabalhos do GT que, mesmo que por nós proposto, deve ser entendido a luz de sua limitação inerente: espaço de mediação conciliadora entre estudantes e diretoria que, como previsto, tendeu ao lado mais forte, o institucional. Ao mesmo tempo, a Diretoria segue sinalizando a regulamentação como um objetivo breve: criou uma comissão julgadora de licitações. Com isso e a proximidade das férias em vista, estejamos atentos: os locatários, por se encontrarem em posição de maior fragilidade, podem ser, primeiramente, os atingidos. Constam, nesse panfleto, a resposta dos estudantes entregue junto do abaixo assinado tirados nas assembleias e reuniões abertas, bem como, o parecer final do GT.

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Informativo distribuído aos estudantes da FAU sobre o processo de regularização do piso do museu. Contêm o complemento da resposta do 30/4, entregue à Diretoria em novembro, e o parecer do GT, grupo proposto pelos estudantes formado por representantes das 3 categorias da FAU, com função de discutir a cessão do Museu à terceiros.

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Page 1: MUSEU DOS ESTUDANTES - complemento da resposta do 30/4 e parecer do GT

COMPLEMENTO À RESPOSTA DOS ESTUDANTES DA FAU SOBRE A PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO DO PISO DO MUSEU

No dia 30 de abril de 2015 (1), mobilizados, os estudantes da FAU entregaram um parecer jurídico junto a uma carta aberta à comunidade que, em suma, recontextualizavam o caráter histórico estudantil da gestão do Piso do Museu e da impossibilidade de sua continuidade no caso da Instituição efetivar a regulamentação, então, colocada.

Após a entrega, por parte da Diretoria houve ora silêncio, ora a constante autoritária: recu-sando-se a compor o Grupo de Trabalho (2) apresentado pelos estudantes, manteve um papel central no encaminhamento do processo definindo que o objeto da regularização passasse a ser os serviços destinados a terceiros do Piso do Museu. Se por um lado, essa proposta parte da insustentabilidade de, diante da mobilização dos estudantes, manter a proposta de regulamentação tal qual tem sido unilateralmente posta e reposta –termo de permissão de uso e contrato de concessão de uso–, por outro, reafirma de modo mais sutil a desvinculação entre a gestão dos locatários e a gestão dos usos do piso do museu.

A destituição da gestão dos locatários dos estudantes parte de uma leitura estritamente legalista que trata o GFAU exclusivamente como entidade de direito privado; por consequên-cia, desconsidera em absoluto o papel histórico da entidade frente a Universidade, a formação estudantil. Forma jurídica que, ao desatrelar dos estudantes a gestão dos serviços, tem como seu conteúdo político a retirada da sua autonomia financeira e da gestão unitária do espaço: primeiro são retirados os locatários, para depois o serem os estudantes.

Cabe, então, retomar o parecer já entregue: entendemos que ainda se encontra em aberto as possibilidades em torno do termo de cessão de uso apresentado pelos estudantes em 2008 e que não há, a não ser por divergências políticas, impossibilidades de se propor tais alternati-vas jurídicas.

Mais ainda, o descarte a priori da autonomia universitária, o aplicar de formas jurídicas em total descompasso com a nossa especificidade, acarreta justamente no contrário do interesse coletivo. Para além do cerceamento à organização estudantil autônoma, tais modalidades inserem lógicas sociais estritamente mercantilizadas, tanto entre locatários e a própria comu-nidade, como nas próprias relações de trabalho no espaço universitário. Entre outros aspectos significativos (3), citamos o cooperativismo. Poderia ser vista como contraditória a postura da reitoria da USP que por um lado fomenta projetos como a Incubadora ITCP-USP – responsável por incubar a Cooperativa Monte Sinai (locatária do serviço de restaurante) – e, por outro, exclui a possibilidade de participação das cooperativas nos processos licitatórios dentro dos próprios espaços universitários. Entretanto, a simultaneidade dessas medidas sinaliza para uma política que, ao invés de perpetuar a construção de um saber crítico e transformador, insere cada vez mais a vivência e o espaço universitários numa lógica hierárquica e comercial.

Já em relação à suposta falta de transparência dos recursos provenientes da gestão dos lo-catários, trata-se, somente, de uma melhor formalização de uma prática já existente da gestão estudantil que, assim, se coloca disposta a concretizá-la já para o início de 2016. Nessa mesma linha, as discussões travadas nesse último semestre, nortearam a consolidação de canais formais entre GFAU e comunidade a fim de promover a melhora da qualidade dos serviços oferecidos.Parte dessas discussões foram realizadas a partir do GT que deve ter seu trabalho compreendido à luz das deliberações do Plano Diretor: processo histórico pela inserção da comunidade FAU em torno de um projeto conjunto no qual se reafirmou o reconhecimento da construção estudantil para a escola.

Os estudantes sempre estiveram dispostos a dialogar e, justamente por isso, sabem há muito que o diálogo não é possível quando apenas uma das partes têm o poder de decisão. É de todos conhecida a tradição das diretorias e reitoria da USP em aplicar medidas autoritárias no período das férias; questionamos, assim, a criação de uma comissão julgadora de licitações no último semestre que tem poderes para abrir um processo licitatótio referente aos serviços do Piso do Museu. Esperamos que por parte da Diretoria da FAU, a quem institucionalmente cabe o poder de encaminhar o processo / quem institucionalmente tem o poder de encami-nhar o processo, tal maneira de encaminhamento esteja, de fato, fora de perspectiva. Toda e qualquer definição acerca do piso do museu cabe, senão, aos estudantes.

Por fim, considerando as novas medidas a serem implementadas pelos estudantes, a incompatibilidade entre os moldes de regulamentação propostos e o interesse coletivo, e a ausência de resposta ao que foi colocado no parecer, entregue em 30 de abril, entendemos que ainda se encontram em aberto as questões contidas neste parecer.

(1) Prazo inicialmente estabelecido pela Diretoria e adiado somente no dia anterior à data limite para resposta quanto a retomada do ‘termo de permissão de uso’ e do ‘contrato de concessão de uso dos serviços’ para o piso do museu;(2) Diferentemente da proposição inicial dos estudantes, o GT não contou com a representa-ção da Diretoria e nem dos locatários, passando a ser composição paritária, com a atribuição de embasar ambas as partes do processo;(3) Sobre os desdobramentos dos atuais moldes proposto de regulamentação dos serviços ver abaixo-assinado em anexo.

AOS ESTUDANTES

2015 começou com uma conhecida novidade: a regulamentação do piso do museu. Em tom de ameaça, o processo entregue pela Diretoria da FAU replicava a resposta dos estudantes de 2008 com um caráter de notificação da saída dos estudantes de seu espaço, a ser garantida mediante “as medidas judiciais cabíveis”, leia-se, reintegração de posse.

Se hoje temos a gestão estudantil do museu, não foi pelo acaso, mas pela luta: variando de acordo as especificidades de cada tempo, ela tem, na organização autônoma, sua única força. Consciência de resistência de que a história dos vencedores, narrada a serviço da burocracia, insiste em ocultar.

A estratégia “vencer pelo cansaço” se dá nesse sentido: almeja naturalizar as ideias dominantes para, pouco a pouco, quebrar a coesão daqueles que a ela se opõe. Sabemos, entretanto, que esse não é o curso inevitável, que a conjuntura, embora imponha condições concretas, não pode servir como justificativa para a legitimação das saídas legalistas, em nada neutras, como as únicas possíveis.

Do lado oposto, a construção coletiva, intrínseca à perspectiva crítica e transformadora da sociedade, se encontra ewm constante renovação. As divergências que devem impulsionar tal movimento são, contudo, muitas vezes apropriadas a fim de desconstruir a unidade daquilo que foi construído conjuntamente. A certo ponto isso nos atingiu - pressões, fragilidades, erros e acertos -, nos deixamos fragmentar, a certo ponto resistimos: a gestão continua sendo estudantil.

Em tempos em que o desmonte da Universidade atinge proporções tais que se torna possível visualizar cotidianamente o seu próprio avanço, a resistência à tentativa de regulamentação do museu - calcada, principalmente, em forças internas à própria FAU - se configura, assim como um contraponto mínimo, posto que visa atingir a nossa própria organização.

Reiteramos: o museu é dos estudantes!

OBJETIVO DESSE PANFLETO

Seguiu-se, nesse semestre, os trabalhos do GT que, mesmo que por nós proposto, deve ser entendido a luz de sua limitação inerente: espaço de mediação conciliadora entre estudantes e diretoria que, como previsto, tendeu ao lado mais forte, o institucional. Ao mesmo tempo, a Diretoria segue sinalizando a regulamentação como um objetivo breve: criou uma comissão julgadora de licitações. Com isso e a proximidade das férias em vista, estejamos atentos: os locatários, por se encontrarem em posição de maior fragilidade, podem ser, primeiramente, os atingidos.

Constam, nesse panfleto, a resposta dos estudantes entregue junto do abaixo assinado tirados nas assembleias e reuniões abertas, bem como, o parecer final do GT.

Page 2: MUSEU DOS ESTUDANTES - complemento da resposta do 30/4 e parecer do GT

ção definitiva na atual forma de prestação desses serviços, não se entende que a renda gerada seja dos estudantes e tampouco que seja exclusivamente destes a responsabilidade da gestão da receita. A atual prestação desses serviços é deficitária e atende apenas parcialmente as demandas da comunidade, além das ferramentas de controle de qualidade não existirem.Posi-ção dos estudantes: A “instabilidade institucional” vem de diretrizes da gestão da instituição, portanto da posição da diretoria em dar prosseguimento ao processo de regularização. Cabe relembrar que o Plano Diretor Participativo da FAU (2011-2018) decidido por toda comunidade legitimou a gestão do Piso do Museu dos estudantes, assim não pode-se falar em “instabilida-de institucional” enquanto “deslegitimação” da gestão. Os locatários da FAU estão prestando serviços há anos nesse espaço de forma estável e reconhecida por atender as demandas da comunidade.

SOBRE A USP E A CONCESSÃO DE SERVIÇOS EM SEU ESPAÇO_ Posição dos docentes, técnico-administrati-vos e estudantes: A USP vem tratando a concessão de serviços nos seus espaços por uma úni-ca alternativa: a da licitação pelo maior preço oferecido pelo aluguel do espaço. Esse sistema privilegia a maior arrecadação, uma lógica comercial que não é forçosamente a mais coerente com o princípio público. Ao oferecer alto valor pelo aluguel, a consequência natural é que esse custo recaia sobre os preços dos serviços oferecidos ou sobre sua qualidade. Ao contrário, os alugueis de espaços públicos deveriam se orientar pelo princípio da qualidade dos serviços ofertados à comunidade, de sua acessibilidade e das necessidades específicas de cada uma das unidades, acima da questão financeira.

SOBRE A PAPELARIA E LIVRARIA_ Posição dos docentes, técnico-administrativos e estudantes: No caso da FAU, é inequívoco que os serviços de papelaria e de livraria são bastante específicos e direcionados às demandas peculiares dos cursos de arquitetura e urbanismo e de design.

SOBRE O RESTAURANTE_ Posição dos docentes e estudantes: Quanto ao restaurante, trata-se de um projeto de incubação da própria USP, fomentado pela ITCP (Incubadora Tecnológica de Coope-rativas Populares). Segundo relatos dos cooperados, a ITCP ainda continua, até hoje, prestan-do assessoria e acompanhando suas atividades. Esse serviço não se enquadra, portanto, no escopo de um serviço comercial convencional, trata-se de iniciativa no campo da Economia Solidária, ao se apresentar como alternativa modelo comercial convencional, vigente nos outros restaurantes do campus. A iniciativa deve ser valorizada e preservada, até mesmo como exemplo importante de um modelo alternativo de gestão comercial para os estudantes e para toda a comunidade. [Adendo dos estudantes: Sobre o funcionamento e a organização da Cooperativa Monte Sinai, cabe esclarecer que: (a) todas as decisões relativas ao funcionamen-to e à gerência do restaurante são feitas em assembleias ou reuniões entre todos os trabalha-dores; (b) as funções de cada funcionário são rotativas e estabelecidas em assembleias anuais; (c) para atender melhor a especificidade de cada funcionário, existem, formalmente, funções temporárias (isso acontece para suprir uma necessidade financeira temporária do funcionário ou para passar por um período de formação na cooperativa). Após esse período, o funcionário decide se pretende ou não se tornar, efetivamente, um cooperado; e (d) pelo fato de grandes fornecedores, em geral, não fazerem acordos comerciais com cooperativas, via de regra, elas usam mais de uma pessoa jurídica para realizar adequadamente suas atividades.] Posição dos técnico-administrativos: Segundo relatos de duas “dirigentes da cooperativa”: [I] o projeto já foi “desincubado” pela ITCP; e [II] dos atuais 19 trabalhadores, apenas 5 são cooperados, sendo que os demais são “candidatos à cooperados”. Tal categoria provisória de trabalhadores enfraquece o princípio de horizontalidade de uma cooperativa. Além disso, a atual prestadora possui duas personalidades jurídicas (uma como cooperativa e uma outra como micro-em-presa), ambas em funcionamento no mesmo endereço, uma situação híbrida que acaba, entre outros problemas de ordem fiscal e ética, miscigenando as relações de horizontalidade com relações comerciais e trabalhistas convencionais. Ressalta-se também que um hipotético projeto de extensão, fomentado por uma universidade pública e que visa gerar renda através da Economia Solidária, não deveria pagar “aluguel” pelo uso do espaço, já que isso diminui a renda gerada minimizando os impactos acadêmicos e os resultados efetivos do projeto. Em suma, um modelo de gestão comercial deturpado que não deve servir de exemplo para nenhuma esfera da universidade.

PROPOSTASTÉCNICO-ADMINISTRATIVOS_ Propõem que a comunidade FAU discuta as possibilidades existente de regularização (convencionais ou não), para que se consagre quais as suas reais necessida-des e se encontre a possibilidade que melhor atenda-as, considerando as normas, diretrizes e princípios públicos. Entende-se que a “a licitação pelo maior preço” não é a única alternativa de licitação e tampouco é a melhor alternativa para a questão concreta. Uma possível forma de regularizar o serviço de alimentação seria através de uma licitação, com a participação ativa dos estudantes e de toda a comunidade na elaboração de um “edital”, que estabeleça: (a) as especificidades de cada serviço; (b) quais serão os agentes responsáveis pela gestão; (c) quais instrumentos garantirão a qualidade dos serviços e o interesse público; (d) qual será a forma de aplicação do recursos provenientes da locação desses espaços. Tal licitação poderia se dar por menor preço dos itens do cardápio (como, por exemplo, o quilo da refeição ou o valor da xícara de café) por um período determinado e segundo condições de cardápio pré-fixadas (como, por exemplo, variabilidade mínima das opções ao longo da semana e tamanho e peso mínimo dos salgados).

DOCENTES_ Propõem separar o caso do restaurante dos demais, estabelecendo procedimentos diferentes para sua regularização. (1) Que o restaurante, por ter sido um projeto institucional de incubação da própria USP, não seja objeto de licitação, mas tenha sua situação regulariza-da por meio de um contrato estabelecido entre a FAU, o GFAU e a Cooperativa Monte Sinai, respeitando essa especificidade, considerando inclusive a hipótese de uma regularização via projeto de extensão universitária; (2) Que os demais serviços oferecidos no Piso do Museu possam ser objeto de licitação para sua regularização a ser promovida pela FAU, com a partici-

pação do GFAU na elaboração do Termo de Referência. Este TR não deve ser estabelecido pela lógica de maior preço do aluguel, e sim por exigências em relação a preço e qualidade dos serviços oferecidos, bem como da capacidade dos locatários de responderem às demandas acadêmicas e pedagógicas específicas da FAUUSP. Em todos os casos, sugere-se que sejam estabelecidos regramentos relativos às exigências de qualidade dos serviços prestados, à sua permanente fiscalização, deixando claras as responsabilidades sobre o espaço – por exemplo, consumos de água e energia elétrica, manutenção, qualidade e preço dos serviços – , as com-pensações quanto a investimentos feitos pelos concessionários, bem como as sanções, caso as obrigações não sejam cumpridas. Os contratos estabelecidos e os pagamentos realizados também devem ser regulamentados e sujeitos às regras de transparência que afetam toda a esfera pública, mantendo-se a prerrogativa de que sejam destinados ao GFAU e que este estabeleça uma política autônoma e transparente sobre o uso dos recursos.

ESTUDANTES_ A forma contratual a ser adotada deve ter como objetivo principal a manutenção dos princípios públicos condizentes com a Universidade. Os locatários, enquanto agentes que estão oferecendo serviços necessários à FAU e que estão em busca de renda mínima (para seu sustento), não devem ser incentivados a maior exploração econômica do espaço público - ao contrário, deve-se valorizar a relação trabalhista de cooperação, nas quais estes estejam de fato inseridos na comunidade FAU para participar de sua compreensão e, assim, atender suas necessidades. Portanto não estão de acordo com a proposta de regularização que está sendo apresentada pela Diretoria, pois entendem que fere sua autonomia e estabelece parâmetros burocráticos que intermeiam as relações de forma a permitir a apropriação do espaço público por agentes privados que visam unicamente o lucro.Da mesma forma, deve ser considerada a viabilização de informações e a participação da comunidade na melhoria dos serviços do Piso do Museu. Nesse sentido, propõe-se: (a) Manutenção da forma contratual existente: já existe um contrato formal entre os locatários e o GFAU, que são atualizados anualmente. Esse contrato atualmente garante as condições já citadas; (b) Transparência dos alugueis à comunidade: foi discutida entre os estudantes a viabilização de um canal de comunicação com a comunidade FAU para o esclarecimento dos gastos relacionados aos alugueis do Piso do Museu, que será realizada a partir de 2016; (c) Canal de comunicação com a comunidade para melhoria constante dos serviços: também foi discutida a possibilidade dos usuários contri-buirem para a melhoria da qualidade dos produtos e atendimento dos locatários, através de caixas de sugestões pelo Museu.

novem

bro

2015PARECER DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE A CESSÃO DO PISO DO MUSEU À TERCEIROS

SOBRE A GESTÃO DO PISO DO MUSEU_ Posição dos docentes e estudantes: A gestão o Piso do Museu é dos estudantes da FAUUSP e o GFAU é a pessoa jurídica que os representa. Posição dos técnico-administrativos: Entende-se que a gestão do Piso do Museu, cedida aos estudantes através do Plano Diretor Participativo (2011-2018), se aplica às atividades acadêmicas e estu-dantis e nessa não está embutida a possibilidade de cessão a terceiros e tampouco a explora-ção econômica do espaço e sua consequente geração de receita.

SOBRE O CARÁTER DO PISO DO MUSEU E OS PRINCÍPIOS QUE DEVEM ORIENTAR A GESTÃO DESTE E DOS SERVIÇOS

NELE PRESTADOS_ Posição dos docentes e técnico-administrativos: O Piso do Museu é um espaço público e, como tal, sua gestão deve ser orientada pelos princípios públicos (legalidade, mo-ralidade, impessoalidade, eficiência, transparência, isonomia, interesse público, publicidade, entre outros), garantindo que a oferta de serviços privados seja exercida com transparência e de forma regular, propiciando segurança jurídica e perenidade dessas relações em relação a comunidade. Posição dos estudantes: Os princípios públicos que devem orientar essa gestão devem levar em conta o contexto específico da universidade pública e da construção crítica coletiva. Para garantia desses princípios em relação aos locatários é necessário que estes participem da comunidade FAU, ou seja, estejam inseridos nela. Essa inserção é possível pela forma contratual existente, que permite o diálogo conjuntamente aos estudantes e a busca por fins não apenas lucrativos. Assim, a prestação dos serviços atuais são aptas a atender as demandas da FAU, oferecendo produtos de forma condizente ao espaço público. Entende-se que, por si só, as formas legais vigentes não dão conta de garantir os princípios públicos de fato (vide contratos legais nos quais há a apropriação do bem público por agentes privados, sem que efetivamente se sigam estes princípios). São as premissas e a execução da gestão que garantem o comprometimento com o bem público.

SOBRE A RECEITA OBTIDA COM A LOCAÇÃO DE ESPAÇOS NO PISO DO MUSEU_ Posição dos docentes: A receita obtida com a locação de espaços no Piso do Museu garante autonomia financeira ao GFAU em suas atividades estudantis. Na qualidade de órgão representativo dos estudantes da faculda-de, atores-fim da universidade pública, considera-se que o uso dessa receita para suas ativi-dades autônomas é legítimo e se enquadra em princípios públicos. Posição dos estudantes: A gestão do Piso pelos estudantes garante não apenas autonomia financeira, mas a autonomia política dos estudantes. Para a garantia da autonomia financeira faz-se necessário que a renda da locação seja paga diretamente ao GFAU, sem que haja intermediários que, em si, estabele-ceriam a dependência do GFAU aos seus parâmetros. Entende-se que o GFAU, comprometido com o bem público, utiliza o dinheiro para esses fins, de forma que a apropriação do espaço se dá de forma autônoma e tem caráter social difuso, sem fins para agentes privados espe-cíficos. Posição dos técnico-administrativos: A autonomia política dos grêmios estudantis já é garantida pela Constituição Federal através do direito à livre associação; isso não significa necessariamente que o financiamento das suas atividades deve onerar o patrimônio público. A receita obtida com a locação de espaços não garante autonomia e, pelo contrário, cria de-pendência entre o GFAU e as prestadoras dos serviços e essa relação estabelecida atualmente representa uma associação visando a privatização da receita e do espaço públicos. Não se visualiza quais são os princípios públicos que embasam a legitimidade desse “combinado”.

SOBRE O CARÁTER PEDAGÓGICO DO ESPAÇO E DA GESTÃO DO PISO DO MUSEU_ Posição dos docentes e estudantes: A gestão do piso do museu e de suas atividades, inclusive dos serviços prestados no espaço e seus contratos, tem caráter pedagógico, na medida em que implica lidar com ins-trumentos de gestão espacial e administrativa. [Adendo dos estudantes: O caráter pedagógico em questão diz respeito à gestão do espaço em seu entendimento completo; ou seja, tanto em relação aos usos quanto à definição dos locatários. A forma como são definidas as diretrizes e a execução dessa gestão permite que todos os estudantes da FAU possam deliberar sobre elas.] Posição dos técnico-administrativos: O espaço possui caráter pedagógico na medida que se configura como um espaço de uma instituição pública de ensino destinado ao desen-volvimento de diversas atividades acadêmicas. A gestão, por sua vez, possui considerável potencial pedagógico, mas que no atual arranjo se restringe a incorporação de alguns poucos instrumentos de gestão por uma gama reduzida de atores (no limite apenas os discentes en-volvidos diretamente na gestão do grêmio). Além disso, o caráter pedagógico não é prerroga-tiva para que o espaço seja cedido a terceiros de maneira não regulamentada e sem observa-ção dos princípios públicos e da necessidade de prestação de contas (prevista na Constituição Federal e consagrada no atual plano diretor da FAU).

SOBRE A NECESSIDADE DA OFERTA DOS SERVIÇOS PRESTADOS NO PISO DO MUSEU_ Posição dos docentes, téc-nico-administrativos e estudantes: Os serviços oferecidos no piso do museu são necessários à comunidade: (a) No caso do restaurante, o serviço se enquadra como benefício trabalhista da universidade, considerando os turnos integrais de trabalho dos funcionários e de grande parte dos professores; além disso, preenche a lacuna de seu oferecimento pela USP de maneira a atender a demanda em local próximo e acessível; (b) No caso da reprografia e, em menor me-dida, da papelaria e da livraria, são serviços inerentes à formação em arquitetura, urbanismo e design, que inclusive têm incidência no aproveitamento escolar, e constituem uma alternativa diante da falta de oferta destes serviços pela faculdade e que sejam condizentes com a deman-da por parte dos estudantes.

SOBRE A ATUAL GESTÃO DOS SERVIÇOS NO PISO DO MUSEU_ Posição dos docentes: A atual situação de gestão do piso do museu gera uma instabilidade institucional pela falta de regramento sobre um espaço que é público, no qual se realizam, mesmo que legitimamente, atividades co-merciais. É portanto premente e necessário que se proponha uma solução de regularização definitiva da prestação desses serviços, sem prejuízo dos princípios acima elencados (gestão e receita dos e para os estudantes, especificidade e necessidade dos serviços). Posição dos técnico-administrativos: Apesar de gerar uma instabilidade institucional pela falta de regra-mento sobre um espaço público e ser necessária a proposição de uma solução de regulariza-