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REVISTA REVISTA DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEB – RIBEIRÃO PRETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA MULTIDISCIPLINAR

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PB | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica

REVISTA

REVISTA DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DOCENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEB – RIBEIRÃO PRETO

DE INICIAÇÃO CIENTÍFICAMULTIDISCIPLINAR

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4 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica4 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica

Expediente

Mantenedora

A Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica é uma publicação anual

do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário UNISEB, de

Ribeirão Preto, que envolve trabalhos de iniciação científica desenvolvi-

dos nas diferentes áreas de conhecimento.

Chaim ZaherPresidente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB

Adriana Baptiston Cefali ZaherVice-presidente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB

Nilson CurtiDiretor Superintendente do Sistema Educacional Brasileiro - SEB

Rafael Gomes PerriDiretor Executivo do Sistema Educacional Brasileiro - SEB

Fernando Henrique Costa Roxo da Fonseca Diretor Executivo do Sistema Educacional Brasileiro - SEB

ISSN 2178 -1923ANO 5 – No. 5 - 2013

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4 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 55Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Centro Universitário UNISEB

Chaim ZaherReitor do UNISEB

Prof. Dr. Reginaldo ArthusVice-Reitor do UNISEB

Prof. Me. Jeferson Ferreira FagundesPró-Reitor de Ensino à Distância do UNISEB

Profa. Dra. Claudia Regina de BrittoPró-Reitora Acadêmica do UNISEB

Profa. Claudette Alves Pereira GalatiCoordenadora Geral de Ensino-Aprendizagem e Planejamento Educacional do UNISEB

Prof. Dr. Romualdo GamaCoordenador Geral de Gestão e Operações Acadêmicas do UNISEB

Profa. Dra. Elizabete David NovaesCoordenadora do Programa de Iniciação Científica/ Núcleo de TCC e IC do UNISEB

Profa. Noemi Olimpia Costa PereiraCoordenadora de Extensão do UNISEB

Profa. Dra. Gladis Salete LinharesCoordenadora Pedagógica de EaD do UNISEB

Profa. Ma. Alessandra Henriques FerreiraCoordenadora Pedagógica de EaD do UNISEB

Prof. Ms. João Paulo Leonardo de OliveiraCoordenador do Curso de Administração do UNISEB

Profa. Esp. Alessandra Silva Santana CamargoCoordenadora do Curso de Ciências Contábeis do UNISEB

Profa. Ms. Silvana Aparecida Nieto LopesCoordenadora do Curso de Pedagogia do UNISEB

Prof. Ms. Carlos Henrique da Costa TucciCoordenador do Curso de Psicologia do UNISEBCoordenador interino do Curso de Publicidade e Propaganda e de Jornalismo do UNISEB

Prof. Dr. Cesar Rocha MunizCoordenador do Curso de Arquitetura do UNISEB

Prof. Ms. Paulo Cesar Carvalho DiasCoordenador dos Cursos de Ciência e Engenharia da Computação do UNISEB

Prof. Dr. Ricardo A. M. Pereira GomesCoordenador do Curso de Engenharia Civil do UNISEB

Prof. Dr. Romualdo GamaCoordenador dos Cursos de Engenharia de Produção e de Engenharia Ambiental do UNISEB

Profa. Dra. Marina CaprioCoordenadora do Curso de Pedagogia de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Andréia Marques MacielCoordenadora do Curso de Ciências Contábeis de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Helcimara Affonso de SouzaCoordenadora do Curso de Tecnologia de Informação de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Ornella PacíficoCoordenadora do Curso de Administração e do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Financeira de EaD do UNISEB

Profa. Dra. Marilda Franco de MouraCoordenadora do Curso de Letras de EaD do UNISEB

Profa. Adriana Millo SalotiCoordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Secretariado de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Daniela Pereira TincaniCoordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Marketing de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Márcia Mitie Durante MaemuraCoordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos e Tecnologia em Gestão Comercial de EaD do UNISEB

Profa. Ms. Vanessa Bernardi Ortolan RiscifinaCoordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Negócios Imobiliários de EaD UNISEB

Profa. Ms. Ariana Siqueira Rossi MartinsCoordenadora do Curso de Serviço Social de EaD do UNISEB

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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica / Centro Universitário UniSEB – COC. Ano 1. n. 1 (jan. 2009) -.- Ribeirão Preto, SP : UNICOC, 2009.

Ano 5. n. 5 (dez. 2013) AnualISSN: 2178-1923 (versão impressa)

1. Educação. 2. Pesquisa Científica. 3. Multidisciplinaridade. 4. Ambiente. 5. Comportamento. I. Centro Universitário UniSEB-COC. II. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica.

CDD 001

Ficha Catalográfica

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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 77Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Editorial

Conselho Editorial

Com grande satisfação chegamos ao quinto número

da Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica

do Centro Universitário Uniseb.

Esta publicação tem como missão tornar visíveis

os trabalhos de iniciação científica desenvolvidos

por nossos alunos, sob o olhar atento de seus

orientadores, vislumbrando a crença de que a

educação se faz de mãos dadas com a investigação

e a busca pelo conhecimento. Assim apresentamos

a produção científica proveniente de pesquisas

de iniciação científica dos diferentes cursos

existentes em nossa instituição, na modalidade

presencial e de ensino à distância.

Prof. Ms. Alexandre de Castro Moura Duarte

Profa. Dra. Ana Paula Lazarini

Profa. Ms. Andrea Marques Maciel

Prof. Ms. Cesar Augusto Nunes

Profa. Dra. Cristiane Soncino Silva

Profa. Dra. Daniela Barbato Jacobowitz

Profa. Dra. Elizabete David Novaes

Profa. Dra. Fabiana Cristina Severi

Prof. Ms. Giovanni Comodaro Ferreira

Prof. Dr. Jean-Jacques G. S. de Groote

Prof. Ms. João Paulo Leonardo de Oliveira

Profa. Dra. Marilda Franco de Moura Vasconcelos

Esperamos que essa publicação estimule os

leitores sobre a importância do pensar reflexivo e

da postura investigativa, e fomente a sustentação

do discurso científico no âmbito acadêmico

e fora dele. Que nossos acadêmicos e jovens

pesquisadores, ao vislumbrarem seus trabalhos

publicados, sintam-se aclarados pelos benefícios

da Ciência que ilumina o conhecimento humano.

Editores

Prof. Dr. Reginaldo Arthus

Profa. Dra. Elizabete David Novaes

Prof. Ms. Marilia Godinho

Profa. Ms. Caroline Petian Pimenta Bono Rosa

Prof. Ms. Paulo Cesar de Carvalho Dias

Prof. Ms. Paulo Henrique Miotto Donadelli

Prof. Dr. Ricardo A. M. Pereira Gomes

Prof. Dr. Roberto Barbato Junior

Prof. Dr. Antonio Donizetti Gonçalves de Souza

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Sumário

1- MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES ...................................................Raísa Ajona; Elizabeth Oshima de Aguiar

2- VERIFICAÇÃO DE PRECISÃO NA SIMULAÇÃO DE TÚNEIS UTILIZANDO O APLICATIVO COMSOL .. Alice Sartori Monteiro de Barros; Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes

3- INVENTÁRIO DA EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA (GEE) DOS VEÍCULOS LEVES DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO – SP ...Gabriela Albino Marafão; Anderson Manzoli

4- SISTEMA DE NEURO-TECNOLOGIA DENOMINADO EMOTIV PARA INTERAÇÃO HOMEM-COMPUTADOR .... Vinicius da Rocha Biffi; Thiago Welington Joazeiro de Almeida

5- CARACTERÍSTICA DA MOTIVAÇÃO NO PERFIL ACADÊMICO ........ Priscila M. Paterlini; Daniela B. Jacobovitz

6- SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI ........ João Herrera; Catarina Veltrini Horta; Jean-Jacques Soares de Groote

7- OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO .. Iris Cristina Nietto; Andréia Marques Maciel; José Marcos da Silva

8- O ATIVISMO JUDICIAL COMO FATOR DE INSEGURANÇA JURÍDICA NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO .........................Cristiane Duarte Mendonça Álvares; João Fernando Ostini

9- O PAPEL DO JUIZ NA ATUALIDADE (PÓS-POSITIVISTA)......................................... Daniel Camargo Peres

10- O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OS CRIMES AMBIENTAIS ............................................Renata Ferreira de Freitas; Paulo Henrique Miotto Donadeli

11- CAUSAS E ENFRENTAMENTOS DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA REVISÃO TEÓRICA.... Camila de Paula Costa; Clébia Aparecida Alves Molinari; Elizabete David Novaes

12- O ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL..... Guilherme Augusto Figueira; Angelita Cristina Bisco; Renata Rodrigues dos Santos e Costa; Mario Nishikawa

13- O TUTOR A DISTÂNCIA NA EAD: PRÁTICAS E IMPORTÂNCIAS .... Marcelo de Almeida; Mario Nishikawa

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Sumário

14- A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO ENTRE A MARCA E O ATLETA .... Marcelo Silingardi ; Julio Cesar dos Santos Pimentel

15- ASSÉDIO MORAL NA EMPRESA .......................................Ramon Roncaratti Nicotari; Stéphane De Bonifácio; Wilson Lourenço Junior; Antônio Nardi; João Paulo L. Oliveira

16- CLIMA ORGANIZACIONAL E ESTRESSE LABORAL: GRANDES DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS .......................................................Anderson Agenor Felca Felix; Guilherme Ehros Leal; Laiane Modesto De Brito

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RESUMO

A vida útil da construção está ligada ao surgimento de patologias, ocasionadas pela deficiência de preparo de profissionais em todos os níveis da área da construção civil no planejamento, execução e manutenção das edificações; pelo mau uso ou baixa qualidade dos materiais empregados; e ou pelo uso inadequado da construção. Caso as manifestações não sejam tratadas no início de seu surgimento, elas podem se agravar e o custo do reparo será mais alto.

Palavras-chave: patologia; concreto armado; prevenção; recuperação.

ABSTRACT

The durability of a building is directly related to the appearance of pathologies. These pathologies are caused by a deficiency of prepared professionals at all levels of construction; inadequate management, execution and maintenance of buildings; misuse or poor quality of materials used; and the inappropriate use or construction. The non-treatment of these pathologies immediately after their appearance will aggravate the scenario and consequently increase repair costs.

Keywords: pathology, reinforced concrete, prevention, recovery.

INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil não para de crescer no Brasil. As manutenções não estão sendo feita de acordo como planejado devido à grande demanda por obras novas o que acarreta e agrava a manifestação de patologias.

O processo de “deterioração” da construção está diretamente ligado à vida útil. As condições de uso e exposição, juntamente com materiais de pouca durabilidade e falta de fiscalização na obra pode acarretar em gastos futuros para recuperação da construção.

Com a pesquisa dos principais problemas patológicos ocorrentes nas edificações, serão revisados conceitos sobre a vida útil das estruturas e a influência das patologias atuantes. Além desses objetivos será elaborado um estudo de caso para exemplificar e ilustrar o trabalho a fim de conseguir identificar e diagnosticar os casos estudados de manifestações patológicas.

Este estudo relatará soluções para patologias encontradas em concreto armado, ocasionadas pela deficiência de preparo de profissionais em todos os níveis da área da construção civil no planejamento, execução e manutenção das construções; pelo mau uso dos materiais empregados, ou baixa qualidade dos mesmos; e ou pelo uso inadequado da edificação.

A metodologia consiste em uma revisão bibliográfica sobre as patologias, com

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕESRaísa Ajona1

Elizabeth Oshima de Aguiar2

1Acadêmica do Curso de Engenharia Civil. Bolsista de Iniciação Científica pelo Programa Institucional de Bolsas do UNISEB. [email protected] Profa. Dra. em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo; Docente no Centro Universitário UNISEB, Ribeirão Preto. [email protected]

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enfoque principal em estruturas em concreto armado. Após a revisão, serão feitas algumas visitas técnicas em obras para acompanhar a execução dos procedimentos, como o respeito pelos detalhes de projeto e normas de desempenho dos materiais e formas de execução. Além de obras em andamento, será realizada visita técnica em lugares que possuem manifestação de patologia para que estas possam ser identificadas, ilustradas e ser realizada uma discussão acerca de suas causas e formas de recuperação da estrutura, prevenção e cuidados especiais.

Este trabalho visa apresentar algumas formas de patologias em concreto armado, suas possíveis causas e formas de recuperação, fazendo com que se tenha uma revisão bibliográfica ilustrada do assunto.

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com o tempo, os materiais e técnicas da construção civil foram inovados, o concreto foi desenvolvido e os métodos de cálculo foram aprofundados, as estruturas foram se tornando mais “esbeltas” por motivos financeiros e com o aumento do número de construções, os profissionais foram delegando obras de menor porte para encarregados de obra, ou pessoas não qualificadas. Em consequência, as patologias das construções foram surgindo, especialmente as patologias em concreto armado.

A vida útil da edificação pode variar dependendo dos materiais empregados, da execução e fiscalização da obra, das formas de exposição e uso e existência de manutenção periódica. Caso ocorram pequenas patologias, e não seja feita nenhum reparo, esta pode evoluir e posteriormente ter alto custo de recuperação.

Como as patologias manifestam-se externamente, pode-se saber os mecanismos envolvidos e sua natureza para prevenir suas consequências. Esses processos muitas vezes podem ser evitados na fase de projeto,

escolha de materiais e métodos de execução.Os sintomas de maior incidência

nas estruturas de concreto armado são conhecidos há algum tempo, como as fissuras, as flechas excessivas, as eflorescências, as manchas no concreto aparente, a corrosão de armadura e os ninhos de concretagem. Alguns desses problemas, como a corrosão das armaduras ou algumas reações químicas com os materiais constituintes do concreto, aparecem com intensidade anos após a produção.

Para se obter o desempenho satisfatório, que está diretamente ligado à vida útil, a estrutura deve atender às condições de segurança em relação aos estados limites último e de utilização, que contemplam a rigidez, a resistência, aspectos estéticos, a estabilidade, conforto térmico, entre outros. Caso o desempenho da construção seja insatisfatório, não significa que a obra esteja condenada, mas sim, que a estrutura requer intervenção imediata, para sua reabilitação.

1.1. CONCRETO

O concreto fabricado com cimento Portland, estabeleceu-se como material de amplo uso na construção civil, devido a suas características de resistência à água, sua moldabilidade, e baixo custo de manutenção e fabricação. Os avanços da tecnologia do concreto resultaram na velocidade das construções e na durabilidade do concreto, entretanto aspectos relativos à durabilidade estão sendo abordados em muitas publicações tendo em vista o amplo emprego do concreto e seu futuro.

De acordo com o projeto de revisão da ABNT NBR 6118, de julho de 2013, as estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas sob as condições ambientais previstas na época do projeto, e quando utilizadas conforme previsto em projeto conservem sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o prazo de vida

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

extremas, como congelamento ou fogo. Vários processos químicos e físicos de deterioração atuam ao mesmo tempo, podendo inclusive reforçarem-se. (REIS, 2001)

De acordo com o projeto de revisão da Norma NBR 6118 deverão ser levados em conta os mecanismos mais importantes de envelhecimento e deterioração da estrutura de concreto, descritos no QUADRO 1.

Somados a estes mecanismos, ainda deverão ser considerados aqueles relacionados com as ações mecânicas, térmicas, impactos, deformação lenta, entre outros.

Nos principais casos de deterioração do concreto armado, a água está implicada no mecanismo de expansão e fissuração e como veículo de agentes agressivos. (REIS, 2001).

No caso da lixiviação do concreto, ocorre a dissolução e o arraste do hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] da massa endurecida, pela ação do fluxo contínuo da água através da estrutura do material. O potencial hidrogeniônico (pH) do concreto é diminuído, dando lugar à decomposição de outros hidratos,aumentando sua porosidade e facilitando a desintegração (SOUZA; RIPPER, 1998). Surgem como resultado da lixiviação as formações do tipo estalactites e estalagmites.

útil correspondente.Por vida útil de projeto, entende-se o

período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto, sem intervenções significativas, desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, bem como requisitos de execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais. (NBR 6118, 2013).

A durabilidade do concreto estabelece os requisitos de manutenção da resistência, forma e aparência da estrutura quando sujeita aos carregamentos e condições ambientais. Desta forma, o conceito dos “4C” propostos por Calixto (1997), devem ser verificados: Cobrimento, Composição, Compactação e Cura.

Critérios de durabilidade para reparos de concreto são diferentes dos critérios adotados para uma nova estrutura. Os desafios para os reparos referem-se aos ataques físicos e químicos provenientes do ambiente externo à estrutura, assim como aos ataques do ambiente interno e das mudanças internas promovidas pela execução do reparo. Após a aplicação, o reparo experimenta a retração por secagem e é deformado de acordo com as características do material empregado, a temperatura e umidade do ambiente, a geometria do reparo, o grau de restrição, e a temperatura do material e do substrato. (REIS, 2001).

1.2. MECANISMOS DE ENVELHECIMENTO E DETERIORAÇÃO

Os efeitos químicos que prejudicam a estrutura incluem a lixiviação da pasta de cimento por soluções ácidas, reações expansivas envolvendo ataque por sulfatos, reações álcali-agregados e corrosão das armaduras no concreto. Os efeitos físicos incluem desgaste da superfície, fissuras causadas pela pressão de cristalização de sais nos poros e exposição a temperaturas

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Fonte: REIS, 2001.

Um dos produtos de hidratação do cimento é a portlandita, hidróxido de cálcio [Ca(OH)2], que confere ao concreto um pH por volta de 12,5, envolvendo a armadura em meio alcalino. Esta alcalinidade fornece resistência à corrosão, mesmo em ambientes onde a corrosão

é favorável. (REIS, 2001).A formação do carbonato de cálcio

insolúvel, a partir da lixiviação do hidróxido de cálcio, é responsável pelo aparecimento de eflorescência caracterizada pela cor branca na superfície do concreto, como mostra a FIGURA 1.

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QUADRO 1 - Principais mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de concreto armado

MECANISMO AGENTES AÇÃO SINTOMATOLOGIA

1. Lixiviação Águas puras, car-bônicas agressivas e ácidas

Carrear compostos hidratados da pasta de cimento.

- Superfície arenosa ou com agregados expostos sem a pasta superficial;

- Eflorescência de car-bonato;

- Elevada retenção de fuligem / fungos.

2. Expansão Águas e solos contaminados por sulfatos

Reações expansivas e deletérias com a pasta de cimento hidratado.

- Superfície com fissuras aleatórias e esfoliação;

- Redução da dureza epH.

3. Expansão Agregados reativos Reações entre os álcalis do cimento e certos agregados rea-tivos.

- Expansão geral da massa do concreto;

- Fissuras superficiais e profundas.

4. Reações deletérias Certos agregados

Transformações de produtos ferruginosos presentes nos agregados.

- Manchas, cavidades e protuberância na superfície do concreto.

5. Corrosão da armadura

Gás carbônico da atmosfera

Penetração por difusão e reação com os hidróxidos alcalinos dos poros do concreto, reduzindo o pH dessa solução.

- Requer ensaios espe-cíficos;

- Em casos mais acen-tuados, apresentam man-chas, fissuras, desta-camentos do concreto, perda da seção resistente e da aderência.

6. Corrosão da armadura

Cloretos

Penetração por difu-são, impregnação ou absorção capilar, des-passivando a superfí-ciedo aço.

- Requer ensaios espe-cíficos

- Ao atingir a armadura apresenta os mesmos sinais do item 5.

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

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o risco de corrosão pela diminuição da resistividade elétrica do concreto. São fontes comuns de cloretos os aditivos, os agregados contaminados por sais, as águas de amassamento contaminadas e a penetração de soluções com sais degelantes, salmouras industriais, maresias ou névoas de ambiente marinho ou água do mar (impregnação da superfície). (REIS, 2001).

Com base na revisão da ABNT NBR 6118, de julho de 2013, as medidas preventivas consistem em dificultar o ingresso dos agentes agressivos ao interior do concreto. O cobrimento das armaduras e o controle da fissuração minimizam este efeito, sendo recomendável o uso de um concreto de baixa porosidade. O uso de cimento composto com adição de escória ou material pozolânico é também recomendável nesses casos.

A Figura a seguir, apresenta a corrosão nas armaduras em local próximo às tubulações que apresentam infiltrações.

Em outras palavras, a lixiviação é a ação de dissolução ou extrativa que compostos hidratados da pasta de cimento sofrem quando em contato com a água (principalmente as puras ou ácidas).

Para prevenir sua ocorrência, recomenda-se restringir a fissuração, de forma a minimizar a infiltração de água, e proteger as superfícies expostas com produtos específicos, como os hidrófugos.

A corrosão das armaduras apresenta-se na maioria das estruturas de concreto deterioradas. Assim que se inicia o processo, a taxa de corrosão é controlada pela condutividade do concreto, pela diferença de potencial entre as áreas catódicas e anódicas e pela taxa de oxigênio que alcança o catodo. (REIS, 2001).

As estruturas de concreto armado localizadas em ambientes agressivos são especialmente propensas à corrosão pela entrada de cloretos. Na presença de grandes quantidades de cloretos, o concreto tende a conservar mais umidade, aumentando

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FIGURA 1 - Lixiviação de compostos hidratadosFonte: http://mundodaimpermeabilizacao.blogspot.com.br/2011/01/patologias-em-concreto-armado.html

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

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Ainda segundo Reis (2001), a deterioração decorrente da interação entre certos agregados e a solução alcalina resultante da hidratação de cimentos com alta taxa de álcalis, no concreto, é conhecida como reação álcali-sílica ou álcali-agregado (ASR). A reação produz gel que absorve água e expande em volume, resultando em fissuração e desintegração do concreto. Ocorre a perda da resistência, diminuição do módulo de elasticidade e da durabilidade.

De acordo com Fan e Hanson (1998), métodos para prevenir ou minimizar a deterioração por ASR,incluem evitar o uso de agregados reativos, limitação do conteúdo de álcalis no cimento e a incorporação do uso de pozolanas e outras misturas apropriadas no concreto. Mehta e Monteiro (1994) acrescentam que o controle de acesso de água ao concreto é fator desejável para

impedir expansões excessivas no concreto. O projetista deve identificar no projeto o tipo de elemento estrutural e sua situação quanto à presença de água, e recomendar as medidas preventivas necessárias.

O ataque de sulfatos pode manifestar-se na forma de expansão do concreto e na perda progressivade resistência e massa, devido à deterioração na coesão dos produtos de hidratação do cimento.

Conforme Carmona Filho (2000), o aluminato tricálico do cimento pode reagir com sulfatos solúveis, em uma reação acompanhada com grande expansão, resultando no composto sulfoaluminato tricálcico.

A baixa permeabilidade, obtida pelo alto consumo de cimento, baixa relação água/cimento, compactação e cura apropriadas, é a melhor proteção contra o ataque de sulfatos.

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FFIGURA 2 - Corrosão das Armaduras Fonte:http://www.slideshare.net/Thiagoooooo/patologia-das-estruturas-piso-concreto-e-revestimentos

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

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A prevenção pode ser feita pelo uso de cimento resistente a sulfatos.

Quanto aos efeitos da ação do fogo, que caracterizam-se basicamente pela alteração da cor e perda da resistência, em função direta da temperatura que o incêndio atinge, sabe-se que a degradação do concreto ocorre por volta dos 6000C. A fratura do concreto ocorre devido a expansão dos agregados, que desenvolvem tensões em função do coeficiente de dilatação térmica dos agregados. (SOUZA; RIPPER, 1998).

Quanto aos efeitos da ação do congelamento, o mais comum é a fissuração e o destacamento do concreto causados pela expansão da pasta de cimento por repetidos ciclos gelo-degelo. (REIS, 2001).

A deterioração da superfície do concreto, decorrente dos fenômenos físicos da erosão, abrasão e da cavitação pode diminuir a vida útil do concreto. Estes fenômenos podem ser acelerados principalmente quando a pasta de cimento do concreto tem elevada porosidade. Para obtenção de elevadas resistências aos fenômenos de

erosão e abrasão, deve-se utilizar concretos com resistência à compressão superior a 28 MPa, baixa relação água/cimento, uso de agregados com granulometria adequada, verificação do uso de adições minerais, baixa consistência e condições apropriadas de cura. Quanto ao fenômeno da cavitação, um concreto resistente não é necessariamente suficiente para a prevenção de danos. Alguns autores sugerem a adoção de medidas em projeto, tais como evitar mudanças bruscas da declividade e irregularidades da superfície como formas adicionais de prevenção do fenômeno. (REIS, 2001).

A cavitação provocada pela formação de bolhas de vapor sobre pressão, nas regiões de degraus, que junto com o fluxo de água em alta velocidade e pressão, causam impactos na superfície do concreto e consequentemente causa sérias avarias na região de superfícies curvas ou na região dos degraus como mostra a FIGURA 4.

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FIGURA 3 - Formação de fissuras por ataque de sulfatoFonte: http://www.consultoriaeanalise.com/2011/05/formacao-de-etringita-em-estruturas-de.html

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM CONCRETO ARMADO: UM ESTUDO SOBRE A DURABILIDADE DE EDIFICAÇÕES

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1.3. CRITÉRIOS DE PROJETO QUE VISAM A DURABILIDADE

Como mencionado, deve ser evitada a presença ou acumulação de água proveniente de chuva ou decorrente de água de limpeza e lavagem sobre as superfícies das estruturas de concreto a fim de reduzir as possíveis manifestações de patologias.

Outras formas de drenagem são a disposição de ralos e condutores em superfícies expostas horizontais (como coberturas, pátios, estacionamentos, garagens e outras); selagem de todas as juntas de movimento ou dilatação em superfícies sujeitas à ação da água, de forma a tornarem-se estanques à passagem de água; e fazer com que todos os topos de platibandas e paredes sejam protegidos (todos os beirais devem ter pingadeiras e os encontros em diferentes níveis devem ser protegidos por rufos).

Em relação às disposições arquitetônicas ou construtivas que possam reduzir a durabilidade da estrutura devem

ser evitadas. Deve ser prevista aberturas para drenagem e ventilação em elementos estruturais onde há possibilidade de acúmulo de água como visto anteriormente e ser previsto em projeto o acesso para inspeção e manutenção de partes da estrutura com vida útil inferior ao todo, como insertos, impermeabilizações, aparelhos de apoio e outros.

Segundo a revisão de 2013 da NBR 6118, a agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas.

Nos projetos de estruturas correntes, a agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com o apresentado no QUADRO 2, e pode ser avaliada segundo as condições de exposição da estrutura ou de suas partes (ABNT NBR 6118, 2013).

A classe de agressividade do ambiente

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FIGURA 4 – CavitaçãoFonte: http://www.recuperacao.com.br/pasta%20de%20Tese%20Aguiar-%20Site%20recuperacao/Patologias%20que%20Comprometem%20a%20Durabilidade%20do%20Concreto%20em%20Galerias%20de%20%C3%81guas%20Pluviais/III-A-012.pdf

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previsto em projeto devem estabelecer os parâmetros mínimos a serem atendidos. Na falta destes e devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento e a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, permite-se que sejam adotados os requisitos mínimos expressos na TABELA 1.(ABNT NBR 6118).

está relacionada com a qualidade do concreto de cobrimento. A durabilidade das estruturas é altamente dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do concreto para cobrimento da armadura.

Ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e nível de agressividade

19Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

QUADRO 2 – Classes de agressividade ambiental (CAA)

FONTE: ABNT NBR 6118, 2013.

Classe de agressividade

ambiental Agressividade Classificação geral do tipo de

ambiente para efeito de projeto

Risco de deterioração da

estrutura

I Fraca Rural

Insignificante Submersa

II Moderada Urbana a,b Pequeno

III Forte Marinha a

Grande Industrial a,b

IV Muito forte Industrial a,c

Elevado Respingos de maré

aPode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). bPode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões onde raramente chove.cAmbientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

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Para atender aos requisitos estabelecidos nesta Norma, o cobrimento mínimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o elemento considerado e que constitui um critério de aceitação.

Para garantir o cobrimento mínimo,

o projeto e a execução devem considerar o cobrimento nominal, que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (Δc). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os cobrimentos nominais, estabelecidos na TABELA 2, para Δc = 10 mm (usado nas obras correntes).

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TABELA 1 - Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto Portland

Fonte: ABNT NBR 6118, 2013.

Concreto a Tipo b, cClasse de agressividade (Quadro 2)

I II III IV

Relação água/cimento em massa

CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45

CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45

Classe de concreto (ABNT NBR 8953)

CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40

CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40 aO concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir com os requisitos estabelecidos na ABNT NBR 12655. bCA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado.cCP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido.

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A seguir serão apresentadas algumas patologias encontradas em edificações.

2.1. MANCHA DE UMIDADE

As causas de manchas de umidade em laje podem ser várias. Vazamento de tubulações da laje ou falta de impermeabilização / impermeabilização deficiente são possíveis causas.

A primeira providência a ser tomada a partir dos sintomas encontrados é verificar a possível passagem de tubulações de hidráulica na laje. Caso não houver

Esta tabela de cobrimento de armadura foi revisada e agora prevê esta orientação específica para estruturas em contato com o solo (casos de elementos de fundação, cortinas de concreto, muros de arrimo, etc). Além desse detalhe, também introduziu uma divisão entre os elementos protendidos (que na norma em vigor não há), permitindo-se que as lajes protendidas tenham um cobrimento menor que vigas e pilares.

2. PATOLOGIAS ENCONTRADAS EM EDIFICAÇÕES

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TABELA 2 – Correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para Δc = 10mm

Fonte: ABNT NBR 6118, julho 2013.

Tipo de estrutura Componente ou elemento

Classe de agressividade ambiental (Quadro 2)

I II III IVb

Cobrimento nominal (mm)

Concreto armado

Laje 20 25 35 45

Viga/pilar 25 30 40 50

Elementos estruturais em contato com o solo c 30 40 50

Concreto protendido aLaje 25 30 40 50

Viga / pilar 30 35 45 55 aCobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura passiva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado. bNas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal de 45 mm.cNo trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm.

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impermeabilização no piso superior, pois assim o problema será resolvido e a estrutura não será mais prejudicada.

No caso ilustrado, houve a segregação do concreto numa viga e quando observada (depois da desforma) esperou-se um período de aproximadamente um mês para a retirada de uma amostra para analisar se a resistência foi comprometida. Neste caso, não houve comprometimento e a estrutura pode ficar como estava, mas caso a resistência fosse alterada, o calculista decidiria entre refazer a estrutura ou fazer apenas um reforço da mesma.

tubulações, é necessário analisar se o piso da laje superior não está solto ou trincado. Posteriormente, pode ser realizada uma

2.2. SEGREGAÇÃO DO CONCRETO

O concreto é um elemento construtivo composto por areia, pedras (brita), água e cimento. O concreto, quando preparado e lançado corretamente, transforma-se em uma massa homogênea, onde todas as pedras estão completamente envoltas pela pasta de cimento, areia e água. Se ocorrer um erro de lançamento ou de vibração, as pedras se separam do resto da pasta, formando um concreto cheio de vazios, permeável, que permite a passagem de água.

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FIGURA 5: Mancha de umidadeFonte: Elaborado pelas autoras, 2013.

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2.3. LIXIVIAÇÃO

As reações de hidratação do cimento Portland produzem principalmente cristais C-S-H (silicato de cálcio hidratado), duros, resistentes e insolúveis na presença de água. Produzem também cristais de Ca(OH)2 e Mg(OH)2, cal hidratada/hidróxidos de cál-cio e de magnésio, estes parcialmente so-lúveis em água, principalmente no caso de

água corrente. Ao processo de dissolução e transporte da cal hidratada dá-se o nome de lixiviação.

No caso observado, possivelmente com a entrada de água da cobertura ocorreu a lixiviação, mas percebe-se que a entrada de água não acontece mais, pois a lixiviação não progrediu para carbonatação, que é uma patologia que pode causar danos maiores à estrutura.

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FIGURA 6: Segregação do concretoFonte: Elaborado pelas autoras, 2013.

FIGURA 7: LixiviaçãoFonte: Elaborado pelas autoras, 2013.

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alto custo de recuperação. A tabela a seguir apresenta uma relação entre as etapas da obra, as causas das patologias que podem ser prevenidas e o custo de recuperação caso alguma causa não seja prevenida.

Pode-se entender que a vida útil da construção está ligada ao surgimento de patologias, ocasionadas pela deficiência de preparo de profissionais em todos os níveis da área da construção civil no planejamento, execução e manutenção das edificações; pelo mau uso dos materiais empregados, ou baixa qualidade dos mesmos; e ou pelo uso inadequado da construção.

Se os projetos e a execução dos mesmos são realizadas de maneira coerente com as normas de procedimentos diminuem os riscos de patologias, porém, a maioria das obras não possuem a qualidade do serviço encontradas na visita técnica.

CONCLUSÕES

Existem critérios de projeto que visam a durabilidade da edificação. Como mencionado, deve ser evitada a presença ou acumulação de água proveniente de chuva ou decorrente de água de limpeza e lavagem sobre as superfícies das estruturas de concreto a fim de reduzir as possíveis manifestações de patologias.

Além desses critérios, a NBR 6118 que está sendo revisada prescreve valores de cobrimento mínimo da armadura de concreto armado para elementos estruturais, e agora também para elementos em contato com o solo em relação à classe de agressividade ambiental.

Para um bom uso da edificação é necessário ficar atento a qualquer sintoma de patologia, para que esta possa ser tratada de imediato e não causar danos maiores ou

TABELA 3: Causas das Patologias nas Etapas de Edificações

Fonte: Elaborado pelas autoras

Etapa Causas das Patologias

PROJETO

• Elementos de projeto inadequados

• Falta de compatibilização

• Especificação inadequada de materiais

• Detalhamento insuficiente ou errado

• Detalhes construtivos inexequíveis

• Falta de padronização das representações

• Erros de dimensionamento

EXECUÇÃO

• Alteração de Projeto no decorrer da obra

• Não capacitação da mão-de-obra

• Fiscalização e controle de qualidade falhos

• Irresponsabilidade técnica

UTILIZAÇÃO

• Manutenção inexistente

• Capacidade de carga da estrutura não respeitada

• Reformas com alteração na estrutura sem prévia consulta do engenheiro

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e ao cobrimento mínimo da armadura especificado pela norma de acordo com a região de classe de agressividade.

Além disso, como o processo de “deterioração” da construção está diretamente ligado à vida útil, devem ser observadas também as condições de uso e exposição, e diante de qualquer sintoma de patologia, esta deve ser tratada de imediato, evitando-se danos maiores ou alto custo de recuperação.

De maneira geral, foi observado que as manutenções não estão sendo feitas de acordo como planejado devido à grande demanda por obras novas o que acarreta e agrava a manifestação de patologias. Outro ponto observado é que a maior parte das patologias encontradas são causadas na etapa de execução, principalmente pela falta de fiscalização dos procedimentos.

Deve-se atentar para aumentar a durabilidade, principalmente à presença ou acumulação de água nas superfícies

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RESUMO

A instalação de sistemas de estabilização durante o processo de escavação de um túnel representa uma parcela significativa do custo de construção da obra, é certo que uma otimização de tal processo representa grandes economias. Diferentes métodos de simulação do mecanismo tridimensional de transferência de carga já foram utilizados por diferentes autores. O presente trabalho traz como proposta a utilização de um software diferente e mais moderno para fazer as simulações tridimensionais. Foram elaborados dois modelos no programa Comsol, um em 3D, para simular uma situação conhecida de esforços solicitantes sobre uma viga engastada e outro modelo bidimensional antes e após a escavação de um túnel. A eficiência deste programa foi analisada e constatadas vantagens do programa, o que o torna uma boa alternativa para a simulação de escavação de túneis. Os estudos feitos tanto com a viga quanto com o túnel mostraram que o programa gera resultados semelhantes aos resultados obtidos de forma analítica.

Palavras-chave: túnel, simulação numérica, método dos elementos finitos, interação maciço-suporte.

ABSTRACT

The installation of support systems

during the excavation of a tunnel represents a significant portion of the construction costs, an optimization of this process represents a great economy. Different methods of three-dimensional simulation of the charge transfer mechanism has already been used by various authors . This paper presents the verification of a different and modern software to make three-dimensional simulation. Two models were developed in this software, a three-dimensional to simulate a situation known as internal forces on the cantilever and the other two-dimensional model before and after the tunneling . The efficiency of this program was analyzed and verified advantages of the program , which makes it a good alternative for the simulation of tunneling. Studies done both with the beam as with the tunnel showed that the program generates similar results to analytically results.

Keywords: tunnel, numerical simulation, finite element method, ground-support interaction.

1. Introdução

A instalação de sistemas de estabilização durante o processo de escavação de um túnel representa uma parcela significativa do custo de construção deste tipo de obra. Uma otimização de tal processo representaria grande economia. Por isto torna-se essencial o desenvolvimento de um sistema de cálculo cada vez mais preciso e fiel às necessidades de dimensionamento dos

VERIFICAÇÃO DE PRECISÃO NA SIMULAÇÃO DE TÚNEIS UTILIZANDO O APLICATIVO COMSOLAlice Sartori Monteiro de Barros¹ Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes²

¹Acadêmica do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Uniseb de Ribeirão Preto. Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC – UNISEB email: [email protected]²Doutor em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos- USP. Docente e Coordenador do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário UniSEB de Ribeirão Preto. email: [email protected]

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suportes, promovendo uma maior segurança e economia.

Porém, a utilização de modelos tridimensionais realistas para realizar esta simulação se torna onerosa tanto em termos de tempo como em investimento. Para agilizar a simulação numérica dos avanços da frente de escavação em uma fase de pré-projeto, seria mais viável e eficiente usar expressões adimensionais obtidas estatisticamente por meio de análise de resultados tridimensionais para reproduzir o comportamento não linear geométrico e físico da interação entre o maciço e o suporte (GOMES, 2006). Com uma expressão adimensional obtida através de análises estatísticas dos resultados obtidos em modelos numéricos tridimensionais, é possível se obter uma simulação fiel dos esforços solicitantes finais do suporte de um túnel na frente de escavação (SCHWARTZ & EINSTEIN, 1980)

Diferentes métodos de simulação do mecanismo tridimensional de transferência de carga entre o maciço e o suporte já foram utilizados por diferentes autores. Entre estes já foram utilizados modelos numéricos bidimensionais, assim como axissimétricos. Todos estes métodos provaram ter várias vantagens e limitações. A proposta deste trabalho é iniciar a utilização de um software mais moderno, que utiliza o método dos elementos finitos, para realizar simulações tridimensionais, verificando neste estágio de pesquisa a precisão de seus resultados para modelos bidimensionais e tridimensionais.

Neste trabalho serão elaborados dois modelos no programa COMSOL, um tridimensional para simular uma situação conhecida de esforços solicitantes sobre uma viga engastada, e outro modelo bidimensional simulando as condições antes e após a escavação de um túnel. A eficiência deste programa será analisada.

A seguir serão discutidos alguns conceitos importantes para o entendimento do problema que será analisado e da abordagem que será utilizada para a sua solução. É importante ressaltar que este

trabalho, por suas características de longo prazo, se encontra em fase inicial de verificação e aferição das ferramentas que serão utilizadas em sua elaboração.

1. NATM

Um dos principais métodos de construção de túnel é o “New Austrian Tunneling Method” (novo método austríaco de construção de tuneis) ou NATM. Uma descrição deste método é essencial para se entender quais os aspectos deverão ser considerados durante a modelagem por simulação numérica.

O principal objetivo deste modelo é utilizar o máximo da capacidade do solo que esta sendo escavado para dar suporte ao túnel. Isto é feito de forma que as deformações no solo sejam feitas de maneira controlada, e modifiquem minimamente sua resistência. Por isto as condições de suporte dos maciços são analisadas enquanto o túnel esta sendo construído. (HEMPHILL, 2013)

O NATM se inicia com a coleta de dados para se antecipar as condições do solo que serão encontradas durante a escavação. Durante a escavação as condições de solo encontradas são então comparadas as condições antecipadas. O solo também é monitorado para determinar se a movimentação de terra causada pela escavação esta dentro dos parâmetros aceitáveis. (HEMPHILL, 2013)

Os suportes iniciais devem ser mais flexíveis e as deformações deste suporte devem ser monitoradas por um instrumento. Este monitoramento irá dizer se será preciso fazer alguma modificação na escavação. O suporte inicial deve ser feito de concreto projetado com ou sem o reforço de fibras. Também é utilizado malhas de arame soldado, arcos ou vigas treliçadas e reforços sobre o solo. A camada final é feita de concreto moldado no local. A principal vantagem deste suporte é a flexibilidade que ele da ao formato do túnel. Por não depender de equipamentos muito complexos, este

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VERIFICAÇÃO DE PRECISÃO NA SIMULAÇÃO DE TÚNEIS UTILIZANDO O APLICATIVO COMSOL

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métodos de análise bidimensional.

3.1.1 MÉTODO DA PRESSÃO FICTÍCIA INTERNA

Neste método foi sugerido que a escavação de um túnel pudesse ser modelado em três etapas diferentes. Também imagina-se que é aplicado uma pressão fictícia interna no perímetro da escavação. Na primeira etapa considera-se que o maciço tenha uma abertura não revestida, na qual as pressões internas são iguais as pressões do terreno. Supõem se portanto que o próprio maciço consegue suportar as cargas depois da abertura. A segunda etapa supõem que a pressão interna é reduzida por um fator de alívio α, e que a terra se move para dentro do túnel com uma quantidade µo. Supõem se que isto acontece antes de instalado o suporte. A ultima suposição é que após a movimentação do terreno (esta movimentação já é estimada por leituras feitas em campo), é instalado o suporte, que faz com que a pressão fictícia interna seja nula. (GOMES, 2006)

Este modelo pode ser visualizado na figura a seguir.

sistema requer menos tempo de construção e menores custos. A escavação e suporte são feitos de forma sequencial, ou seja, após a escavação de uma parte é instalado o suporte, para apenas depois ser feita a escavação de outra parte. (HEMPHILL, 2013)

Como não serão considerados os fatores dependentes de tempo durante a modelagem por simulação numérica esta parte do NATM não será abordada. Sendo assim, já podemos entrar na parte de simulação numérica.

3. MÉTODOS DE ANÁLISE NUMÉRICA

Existem três diferentes formas de modelagem por análise numérica: bidimensionais, axissimétricas e tridimensionais. Alguns dos principais aspectos, vantagens e desvantagens destes modelos serão abordadas.

3.1 ANÁLISES BIDIMENSIONAIS

Uma sequência de análises bidimensionais das seções transversais do túnel podem se aproximar das analises tridimensionais. Existem três principais

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Figura 1: Representação esquemática do método da pressão fictícia interna

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3.1.2 MÉTODO DA REDUÇÃO DE RIGIDEZ NO NÚCLEO

Este método consiste em fazer uma sequência de simulações planas em que o maciço seja considerado intacto. Antes que o túnel seja escavado, o modulo de elasticidade da região interna do túnel é reduzido em uma quantidade x, o que faz com que o maciço se

3.1.3 MÉTODO DA REDUÇÃO DE CARREGAMENTO

Neste método existem 3 fases. Na primeira fase são determinadas as pressões na fronteira entre a região a ser escavada e o maciço. Depois disto retira-se os carregamentos na fronteira e o material

mova para dentro em uma quantidade µo em direção radial. Depois disto o suporte é instalado e se inicia a escavação. O valor do módulo de elasticidade do núcleo é reduzido aos poucos até chegar a zero. Foi verificado que existe uma discrepância entre os valores simulados por este método e os medidos em campo em situações mais complexas.

A figura a seguir ilustra o método:

do núcleo e aplica-se no perímetro das escavações as tensões obtidas na primeira fase em sentido oposto. Estas tensões são multiplicadas por um fator α, que é acrescido até atingir um deslocamento µo. Finalmente, retira se o suporte e aplica se as tensões p0 obtidas anteriormente multiplicadas por um fator de alívio de 1- α.

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Figura 2: Representação esquemática do método da redução de rigidez no núcleo

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3.3 ANÁLISES TRIDIMENSIONAIS

Enquanto os modelos bidimensionais precisam de formas artificiais para reproduzir os fenômenos de um modelo tridimensional de forma aproximada, os axissimétricos apenas conseguem representar aspectos simples do modelo tridimensional.

Já os modelos tridimensionais são muito mais completos. A secção transversal do túnel não precisa ser simétrica como na simulação tri axial. O túnel pode ser raso ou profundo e o maciço não precisa ser homogêneo. As desvantagens principais deste modelo são os altos consumos de tempo, memória de processamento, memória de armazenamento, e as dificuldades de montagem das malhas e de interpretação dos resultados.

4. MÉTODO DE CHEN E YANG

Alguns estudos tentaram calcular as necessidades de suporte de um túnel de forma diferente. Chen & Yang (2007) argumentam

Uma das principais críticas aos modelos bidimensionais é que os modelos apresentados apenas servem para modelar túneis com poucos passos de escavação. Em situações mais complexas este tipo de modelo não é confiável. (GOMES, 2006)

3.2 ANALISES AXISSIMÉTRICAS

Neste tipo de análise, o modelo tem simetria em relação ao eixo, e a revolução em torno do eixo de um perfil axissimétrico resulta no modelo tridimensional. O modelo tem então infinitos planos de simetria e o eixo de simetria é o eixo do túnel.

As implicações deste modelo significam um menor tempo de processamento e também uma simplificação na análise e interpretação dos resultados. Por causa desta simplificação o modelo também possui algumas limitações. A seção do túnel deve ser circular, e as heterogeneidades do maciço deveram ser simétricas com relação ao eixo do túnel.

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Figura 3: Representação esquemática do método da redução de carregamento

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que o método mais eficaz para se avaliar a estabilidade do suporte dos túneis é através do monitoramento de dados mensurados em campo. Eles argumentam que este é o melhor método tanto para se fazer o projeto do túnel quanto para monitorar a efetividade do suporte instalado no túnel.

O método proposto busca estabelecer formulas para se calcular a performance do suporte durante a construção do túnel, baseado em dados já mensurados de deslocamento. As fórmulas são obtidas após a análise estatística das variáveis aleatórias do problema, como o deslocamento do revestimento, propriedades mecânicas do concreto projetado, e grossura do revestimento. Após a determinação desta fórmula, foi criado um índice que mede a confiabilidade do revestimento. Neste método não é necessário sabermos o comportamento do solo nem da interação entre o sistema de suporte e o solo e suporte.

Este método mostra a importância de análises estatística na previsão do comportamento do revestimento, e coloca em questionamento as análises antes mencionadas que consideram as interações entre suporte maciço como as principais fontes de previsão do comportamento do túnel.

5. ANÁLISES E RESULTADOS

O COMSOL Multiphysics é um programa capaz de analisar, resolver e simular numericamente diversos tipos de problemas físicos. Este programa usa como base de suas análises numéricas o método dos elementos finitos (MEF) para gerar seus resultados. A análise por elementos finitos é uma técnica numérica para resolver equações diferenciais parciais fazendo aproximações e minimizando o erro de funções. O Geomechanics Model do COMSOL foi criado especialmente para a resolução de problemas de mecânica dos solos e possibilitam vários tipos de simulações como deformações,

plasticidade, e diversos tipos de critérios de ruptura para materiais granulares e/ou coesivos.

Inicialmente foram feitas algumas simulações de situações mais conhecidas apenas para a verificação dos resultados fornecidos pelo COMSOL, como os estados de deformação e tensão de uma viga de aço engastada sob o efeito de um carregamento de -100 N em sua extremidade oposta ao engaste. A figura 1 mostra a modelagem tridimensional do problema. Como previsto, a parte superior e inferior da viga na região do engaste foram as que mais sofreram deformação, sendo que na parte inferior houve compressão e na superior houve tração. Os resultados obtidos pelo programa tiveram um resultado satisfatório com erro absoluto máximo de 1% no que diz respeito às deformações, e de 1,5% no tocante às tensões. Este exemplo foi usado para introduzir os conceitos do programa e das análises que serão feitas e para comparar os resultados obtidos pelo programa com resultados obtidos de forma analítica.

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pré determinada em 45 m de profundidade e 90 m de largura com um túnel de 10 m de diâmetro. No modelo, esta camada de solo esta sendo suportada por um maciço rochoso que é considerado para fins de simulação como indeformável. Portanto no modelo, na camada inferior do solo, foi colocado um apoio fixo para simular o maciço rochoso. Nas laterais do solo foi usado um apoio móvel, permitindo assim o deslocamento da camada de solo na direção vertical e impedindo o deslocamento na direção horizontal. Este apoio móvel foi colocado para simular o solo que se estende infinitamente na direção horizontal em um problema real. No primeiro estudo o solo é considerado elástico, enquanto que no segundo estudo foi usado o critério de Druncke-Prager para verificar se o solo foi plastificado localmente e se sofreu ruptura global. Foi pré-fixado que o solo deveria ter tem um modulo de Young,

Após efetuadas estas verificações foi realizada a simulação bidimensional de um túnel dentro de uma camada de solo, sob apoio de um maciço rochoso com o procedimento de alívio parcial de tensões, já discutido anteriormente. O modelo utilizado neste trabalho fez a simulação da escavação de um túnel, usando o COMSOL Geomechanics Model. O modelo representa a estimativa do comportamento do solo durante a escavação de um túnel. Para calcular as tensões foram usados dois tipos de estudos. O primeiro simula as tensões no solo antes da escavação do túnel, e o segundo simula a remoção do material na região que será escavada indicando a extensão da zona do maciço de solo que será plastificada após a escavação para a construção do túnel, usando as tensões calculadas no primeiro estudo. (COMSOL, 2013)

O tamanho da camada do solo foi

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Figura 4: Deformações encontradas em simulação de uma viga engastada sob efeito de carregamento em extremidade oposta ao engaste.

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E=12 MPa, e coeficiente de Poisson, v=0.49, com coesão, c=130 kPa, e ângulo de atrito, Ø= 30º.

Na Figura 5, podemos verificar as tensões de acordo com o critério de Von Mises na camada de solo antes da escavação do túnel. Podemos perceber que os valores de maiores tensões estão localizadas na camada inferior do solo, como se esperava

Na Figura 6, pode-se observar que a região com a maior concentração de tensões é a do perímetro do túnel e essas tensões diminuem à medida que vão se afastando radialmente deste perímetro. Esta simulação foi realizada com um tempo de

as tensões de compressão vão aumentando à medida que aumenta-se a profundidade. As tensões vão decrescendo a medida que se aproxima-se da superfície do terreno. As diferenças entre os resultados obtidos por esta simulação e os resultados obtidos por expressões analíticas são praticamente nulos.

processamento de 1s para cada estudo, muito mais rápidas que simulações tridimensionais que podem tomar dias de processamento. As diferenças entre os resultados obtidos por esta simulação e os resultados obtidos por expressões analíticas são de no máximo 3%.

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Figura 5: Distribuição de tensões geostáticas no solo antes da remoção de material para simular a escavação do túnel

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Este trabalho abordou de forma inicial e superficial algumas das técnicas de construção de túneis, suas necessidades, e algumas das alternativas de soluções propostas que podem ser adotadas. Este trabalho também apresentou um software mais moderno e eficaz para simular a transferência de cargas do solo ao revestimento do túnel. As vantagens do programa tanto em versatilidade, possibilitando a modelagem de problemas bidimensionais, tridimensionais e axissimétricos o torna uma boa alternativa para a simulação de excavação de túneis. Os estudos feitos tanto com a viga quanto com o túnel mostraram que o programa gera resultados semelhantes aos resultados

6. CONCLUSÃO

A escavação e suporte de túneis é um processo complexo que exige muito planejamento na tentativa de se reduzir as imprevisibilidades do comportamento e na distribuição das cargas no solo e no maciço à medida que se avança com a frente de escavação. Porém, existem diversas soluções para os mais variados tipos de problemas de escavação de túneis. Verifica-se que resultados mais precisos exigem modelos tridimensionais refinados com a consideração de inúmeras variáveis, no entanto estes modelos são onerosos do ponto de vista de processamento, principalmente no tocante ao tempo gasto.

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Figura 6: Distribuição de tensões na camada de solo logo após a remoção de material simulando a escavação do túnel.

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obtidos de forma analítica.Alguma complexidade da interface

e a simplicidade das explicações na documentação do programa foram algumas desvantagens encontradas durante a modelagem dos problemas. Para fazer as modelagens é impressidivel ter o domínio das características do solo e do problema a ser modelado, portanto é recomendável que apenas engenheiros especialistas da área façam uso do programa.

Uma proposta para futuros trabalhos neste tema seria a realização análises comparativas entre todos os métodos diferentes já desenvolvidos. Uma análise comparativa aprofundada poderia indicar de forma mais precisa qual tipo de análise deveria ser usada em nos mais variados tipos de situação. A criação de uma avaliação por índice de desempenho seria apropriada para comparar a efetividade destes métodos.

7. REFERÊNCIAS

CHENG, L. K.; YANG, Z. Y. Reliability Analysis of Shotcrete Lining during Tunnel Construction. Journal of Construction Engineering and Management, p. 975-981, dez, 2007.

COMSOL. Tunnel Excavation. Versão 4.3 Geomechanics Module. Disponível em: <http://www.comsol.com/showroom/documentation/model/9750/>. Acesso em: 25/07/2013.

GOMES, R. A. M. P. Análise tridimensional de túneis considerando o comportamento dependente do tempo na interação maciço-suporte. 2006. 306 f . Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.

HEMPHILL, Garry B. Practical Tunnel Construction. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc. 2013. 415 p.

SCHWARTZ, C. W.; EINSTEIN, H. H. Impoved design of tunnel supports: Simplified analysis for ground-structure interaction in tunneling. Vol 1. Massachussets Institute of Tecnology, Boston. 1980. 427p.

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RESUMO

Tendo em vista que a poluição do ar é um dos maiores desafios da sociedade moderna, é necessário conhecer o quanto cada estado, município ou empresa está contribuindo para a aceleração do efeito estufa, o qual pode estar relacionado com o aquecimento global, pois apenas conhecendo perfeitamente a fonte de poluição, atitudes poderão ser tomadas. Sabendo-se que parte significativa dessas emissões é devida aos meios de transportes, essa pesquisa visa calcular a emissão dos gases causadores do efeito estufa dos veículos leves do município de Ribeirão Preto, SP, proporcionando dados que possibilitem analisar o impacto das emissões veiculares, além de averiguar as metodologias disponíveis. Para isso serão utilizados dados do consumo total de combustível da cidade no ano de 2011, a frota de veículos na cidade no ano proposto e modelos matemáticos de estimativa de emissão de gases em função do consumo. Comparando essas metodologias é possível afirmar que todas são muito otimistas e não consideram parâmetros essenciais de um inventário de emissão real.

Palavras-chave: poluição do ar, inventário, emissão veicular, gases do efeito estufa.

ABSTRACT

Given that air pollution is one of the

greatest challenges of modern society, it is necessary to know how much each state, city or company is contributing to the acceleration of the greenhouse effect, which may be related to global warming, because only by knowing perfectly the source of pollution, attitudes may be taken. Knowing that a significant part of these emissions are due to the means of transport, this research aims to calculate the emission of greenhouse gases from light vehicles in Ribeirão Preto, SP, providing data that allow to analyze the impact of vehicle emissions, and to ascertain the available methodologies. This data will be used for the total fuel consumption of the city in 2011, the fleet of vehicles in the city in the year and proposed mathematical models for estimating greenhouse gas emissions based on consumption. Comparing these methods it is possible to say that all are very optimistic and not consideration essential parameters of an inventory of actual emissions.

Keywords: air pollution, inventory, vehicular emissions, greenhouse gases.

1. Introdução

O problema da poluição do ar está aumentando a cada dia, visto que o planeta é um sistema único e se algum ponto é afetado, outros também serão, podendo não ser de imediato, mas ao longo do tempo. Dessa forma, a capacidade de assimilação dos impactos chegará a um limite e é necessário

INVENTÁRIO DA EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ES-TUFA (GEE) DOS VEÍCULOS LEVES DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO–SP

Gabriela Albino Marafão¹ Anderson Manzoli²

¹Acadêmica do Curso de Engenheira Ambiental do Centro Universitário UNISEB. Bolsista de Iniiciação Científica pelo Programa Institucional de Bolsas de IC do UNISEB, 2013. [email protected]²Mestre em Engenharia Civil e Doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. [email protected]

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quantificar e diagnosticar as ações humanas que causam esta poluição.

A qualidade do ar de uma determinada região está relacionada com os poluentes que são lançados na atmosfera. Os poluentes atmosféricos são oriundos, principalmente, dos processos de queima de combustíveis em atividades industriais e em veículos automotores, além de outras fontes como queimadas e emissões evaporativas, provenientes do armazenamento de combustíveis (BRANCO; MURGEL, 2004).

O efeito estufa é um processo natural que ocorre quando parte da energia emitida pelo sol é refletida pela superfície terrestre e absorvida por alguns gases presentes na atmosfera. Esses gases são chamados Gases de Efeito Estufa (GEE). Como consequência, o calor fica retido e mantém o planeta aquecido a uma temperatura que permite a vida na Terra. Porém, em decorrência das atividades humanas, foi verificado um aumento da concentração de GEE na atmosfera, deixando as temperaturas médias globais mais altas. O principal poluente nessa categoria, devido à grande quantidade emitida na queima de combustíveis, é o dióxido de carbono (CO2), que serve também como unidade de equivalência para os demais GEEs.

Os poluentes emitidos pelo tubo de escapamento dos veículos são constituídos pelos produtos gerados durante reação de combustão incompleta que ocorre no motor. Esses contaminantes irão penetrar no sistema respiratório e, dependendo do período de exposição, da concentração e da capacidade de reação do organismo, produzem efeitos negativos na saúde das pessoas, principalmente em crianças e idosos.

A intensa utilização dos automóveis, como meio de transporte mais prático, foi proporcionado pelo desenvolvimento econômico e social da população. Ou seja, o crescimento da população, a ineficiência e a falta de incentivo do transporte coletivo, bem como a inadequação dos sistemas viários, fizeram aumentar muito a quantidade de

automóveis, causando a saturação nas vias de tráfego dos centros urbanos. Estes não possuem infraestrutura para suportar os automóveis, pois não há vias para comportá-los nem sinalização para ordená-los.

De acordo com Manzoli (2009), em pequenas e médias cidades, os trajetos percorridos são curtos, o que remete a circulação dos veículos com os motores ainda frios. Sabe-se que essa circunstância constitui a condição menos favorável no que se refere à emissão de poluentes atmosféricos.

Atualmente, no Brasil, há o um incentivo para se utilizar deste meio de transporte como a redução de IPI e as condições de financiamento. No entanto, o Governo Federal, através da Resolução do CONAMA Nº 18 de 1986, instituiu o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE. A atuação do PROCONVE foi direcionada ao controle das emissões dos veículos novos e daqueles em circulação. Além do PROCONVE, a renovação da frota e a utilização de biocombustíveis, também contribuíram para esta redução.

O 1º Inventário de Gases de Efeito Estufa do Estado de São Paulo infere que o transporte individual de passageiros emite 40 vezes mais poluente que o transporte público e que 36 milhões de veículos da frota brasileira são responsáveis por 90% das emissões de gases poluentes e de efeito estufa.

O total de veículos no país mais que dobrou nos últimos dez anos e atingiu 64,8 milhões em dezembro de 2010, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). A concentração destes veículos, geralmente deslocando-se ao mesmo tempo e pelos mesmos trajetos, ocasiona a queda nas médias das velocidades, comprometendo significativamente a qualidade do ar, além de piorar as condições de tráfego.

As ações de políticas públicas devem ser tomadas em função da real situação que o problema se encontra. Estimar a emissão veicular baseado no real consumo

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poluição atmosférica veicular que atualmente estamos inseridos.

4. METODOLOGIA

Foram escolhidas três metodologias para estimativa da emissão veicular de Ribeirão Preto.

4.1 ESTEQUIOMETRIA

Esse método é o mais simples e mais real pois de acordo com as equações químicas dos processos de combustão para o etanol e a gasolina será obtido o volume de poluentes. Sendo que a queima completa de combustível não é ideal, chegando a aproximadamente 20%.

de combustível pode mostrar que ações mais incisivas devem ser tomadas, pois os níveis de concentração desses poluentes podem ser muito maiores que os previstos em modelos mais otimistas.

3. OBJETIVOS

Gerar dados para se fazer um “inventário parcial” (veículos leves) de referência para Ribeirão Preto, estimando volume de gases causadores do efeito estufa lançados na atmosfera da cidade no período estudado através de diferentes metodologias para comparação. Esse trabalho visa alertar os profissionais das áreas relacionadas à engenharia, meio ambiente e tomadores de decisão no âmbito de políticas públicas a respeito dos problemas graves de emissão e

C8H18 + 12,5 O2 + 47,0 N2 8 CO2 + 9 H2O + 47 N2

Equação 1 - Mistura estequiométrica da queima completa da gasolina

C2H6O + 3 O2 + 11,3 N2 2 CO2 + 3 H2O + 11,3 N2

Equação 2 - Mistura estequiométrica da queima completa do etanol

combustível ar emissão da combustão completa

combustível ar emissão da combustão completa

1,91 kg * 0,789 kg/L (densidade do etanol) =1,52 kg CO2 / litro etanol

4.2 GHG PROTOCOL

O GHG Protocol é a metodologia mais utilizada mundialmente pelas empresas e governos para a realização de inventários de gases de efeito estufa (GEE) e, quantificar e gerenciar suas emissões. O método é compatível com as normas ISO e com as metodologias de qualificações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

A emissão de CO2 da gasolina em função de seu consumo é a razão entre a massa de CO2 (352 kg) e a massa da gasolina (114 kg), que resulta em 3,09 kg CO2/ kg gasolina. E a emissão de CO2 do etanol em função de seu consumo é a razão entre a massa de CO2 (88 kg) e a massa de etanol (46 kg), que resulta em 1,91 kg CO2/ kg etanol. E para determinar o volume em litros dos combustíveis, basta multiplicar pela densidade:

3,09 kg * 0,73 kg/L (densidade aproximada da gasolina) = 2,26 kg CO2 / litro gasolina

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tipo de combustível utilizado.Fr = frota circulante de veículos do ano modelo considerado (número de veículos).Iu = intensidade de uso do veículo do ano modelo considerado, expressa em km/ano. Trata-se de uma variável que depende de um conjunto de fatores socioeconômicos que são representados pela idade do veículo.

Esses parâmetros são encontrados no Relatório Emissões Veiculares no Estado de São Paulo 2011 feito pela CETESB.

5. RESULTADOS

A partir do consumo total de combustível da cidade de Ribeirão Preto, no ano de estudo, cedido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), e através da ferramenta do GHG Protocol (versão 2012) será possível uma relação de CO2 emitido por unidade volumétrica de combustível, podendo-se comparar com a estequiometria das equações de combustão. E de acordo com o modelo do PROCONVE, será utilizada a frota circulante (CETESB) por tipo de combustível e ano do veículo. Infelizmente, o tipo de motor de cada veículo não foi colhido com esses dados, prejudicando a exatidão dos resultados.

(IPCC). A implementação do programa é uma iniciativa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.

Considerando a combustão móvel, o GHG Protocol permite calcular emissões diretas e indiretas resultantes da queima de combustíveis em fontes móveis; fornece cálculos e fatores para o transporte e considera as porcentagens de biocombustíveis nos combustíveis nacionais.

A estimativa de gases do efeito estufa, recomendada pelo IPCC, é realizada pelo método “top-down”, cuja entrada é apenas o consumo de combustível da área estudada. Para o caso, é utilizado a Ferramenta de Cálculo do GHG Protocol, disponível no site do Programa Brasileiro GHG Protocol, escolhendo-se o Escopo 1 – combustão móvel.

4.3 PROCONVE

A CETESB é o órgão técnico responsável pela implantação e operacionalização do Programa de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE, no qual foram adaptadas metodologias internacionais às necessidades brasileiras para emissão de poluentes. Dessa forma, são analisados os parâmetros do motor e ensaios de laboratório para mensuração das emissões de escapamento, possibilitando a comparação aos limites máximos exigidos na legislação.

Também chamado de método “bottom up” por utilizar fatores de emissão dos veículos, o modelo de estimativa adotado pelo PROCONVE (CETESB) utiliza a equação geral para o cálculo das emissões do escapamento:

E=Fr x Iu x FeEquação 3 – Modelo do PROCONVE

Onde:E = taxa anual de emissão do poluente (g/ano).Fe = fator de emissão do poluente, expresso em gpoluente/km. É específico para o ano modelo de veículo considerado e depende do

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ilustrado na Imagem 1, está localizado a 313 km da capital e possui uma área de 651 km2, dos quais 274 km2estão na área urbana. Segundo o último censo (IBGE, 2013), possui uma população em torno de 605 mil habitantes.

Porém, a CETESB utiliza dados de frota circulante, que é um modelo estatístico cuja entrada são as vendas de veículos novos durante cada ano. Isso aplica em quantidade menores que os dados dos órgãos de trânsito, que mantém a “frota registrada”.

5.1 REGIÃO DE ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DA FROTA

O município de Ribeirão Preto,

Gráfico 1 - Frota circulante de veículos leves de Ribeirão Preto (SP) por tipo de combustível e ano

Imagem 1 - Localização de Ribeirão Preto – SP. Fonte: Arte UOL

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Considerando uma hipótese demasiadamente otimista, como se a queima fosse perfeita e a combustão fosse ideal, os resultados estão dispostos na Tabela 1.

Pode-se dividir o número de veículos leves pelo total de habitantes do último censo, o que totaliza aproximadamente 0,3 veículo leve para cada habitante de Ribeirão Preto. E, considerando a frota total 440.338 (IBGE, 2013), 0,7 veículo para cada habitante.

5.2 RESULTADOS DA ESTEQUIOMETRIA

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Tabela 1 - Emissões de GEE veicular em Ribeirão Preto no ano de 2011

Imagem 2 - Tela do software da ferramenta de cálculo do Programa Brasileiro GHG Protocol preenchida

Gasolina Comum Etanol

Consumo anual 173305 165594 m³

CO2 391669 250047 ton

5.3 RESULTADOS DO GHG PROTOCOL

Primeiramente, preencheu-se o ano inventariado (2011) na aba de introdução no software Excel da Ferramenta de Cálculo

do Programa Brasileiro do GHG Protocol (Imagem 3). Escolheu-se a opção 3 no Escopo 1 do item Combustão Móvel, onde foi inserido o consumo anual, de gasolina e etanol, no ano de 2011.

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Conforme a metodologia do GHG Protocol os resultados estão na Tabela 2.

Tabela 2 - Emissões de GEE veicular em Ribeirão Preto no ano de 2011

Gasolina Comum Etanol

Consumo anual 173305 165594 m³

CO2 299837 - ton

CH4 106 63 ton

N2O 34 - ton

Emissões Totais - CO2e 312632 1336 ton

De acordo com o Relatório de Emissões Veiculares no Estado de São Paulo (CETESB), a estimativa de emissão é de 25.805.000 toneladas de CO2, ou seja, Ribeirão Preto contribui com 1,16%. Quanto ao CH4, o município representa 3,22% de 5276 toneladas.

Esse inventário é uma estimativa, pois sabe-se que o consumo anual de gasolina comum e etanol não remete apenas ao transporte rodoviário, porém este, é a

maioria. Dessa forma, esses dados podem estar superestimando os resultados.

5.4 RESULTADOS DO PROCONVE

Para executar a equação do modelo do PROCONVE, foi utilizada a frota circulante de Ribeirão Preto para multiplicar cada valor na síntese de tratamento dos dados, como pode-se observar na Tabela 3.

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Tabela 3 – Tratamento dos dados para o Modelo PROCONVE

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Tabela 4 – Comparativo das emissões veiculares em 2011 pelo método PROCONVE

Gráfico 2 – Comparativo das emissões veiculares em 2011 pelo método PROCONVE

certo, o combustível utilizado.É importante ressaltar que para essa

metodologia foi considerado as emissões originadas no escapamento dos veículos.

Os resultados finais estão na Tabela 4, comparados com o Estado de São Paulo.

Nessa tabela, foram ajustados alguns parâmetros do Anexo D (original do PROCONVE – Emissões Veiculares no Estado de São Paulo): ponderação entre os valores dos veículos flex, em que somava-se o coeficientes do combustível etanol e gasolina, encontrando uma média, pois não se sabe, ao

Comparativo da estimativa de emissão veicular em 2011

CO total (t) HC total (t) NOx total (t) RCHO total (t) CO2 total (t)

Estado de São Paulo (*) 207.606 42.671 24.393 - 22.530.000

Ribeirão Preto 1.520 221 198 15 339.473

FONTE: (*) CETESB - Emissões Veiculares no Estado de São Paulo, 2011

De acordo com a Tabela 4, os veículos

de Ribeirão Preto contribuem cerca de 1,5% na quantidade de CO2 total emitido no estado

de São Paulo. E uma comparação maior pode ser observada no Gráfico 2.

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combustível no ano de estudo.Comparando os resultados de CO2

encontrados nas três metodologias, é possível afirmar que as reações químicas da combustão, como se elas fossem completas, indicou um valor muito elevado, sendo que este é ainda maior quando considera-se a condição real. Portanto, se tudo fosse perfeito, a emissão de CO2 já é demasiadamente elevada, principalmente, quando se compara com os resultados das outras metodologias. Isso pode ser analisado de uma maneira simples, considerando a entrada e a saída, ou seja, se foi consumido um volume de combustível, ele se transforma na emissão de uma determinada quantidade de CO2 na atmosfera.

De fato, não é utilizada a estequiometria da combustão para cálculo de inventários. Porém, se foi consumido o volume inferido de gasolina e etanol, é possível afirmar que emitiu poluentes para a atmosfera e contribuiu para o efeito estufa. E em uma hipótese otimista, remete ao valor estequiométrico, como é observado na Tabela 5.

5.5 DISCUSSÃO

Todas as metodologias possuem inconformidades nos dados de entrada. Por exemplo, o total de combustível consumido por Ribeirão Preto no ano de 2011 pode não ter gerado emissão no próprio local e também tiveram veículos que transitaram pela cidade e não consumiram combustível no município. Dessa forma, pode-se considerar que esses fatos se anulam. Além de que o combustível consumido não abasteceu somente veículos leves, mas sim, uma frota diversa.

De acordo com a metodologia do GHG Protocol, conclui-se preliminarmente que Ribeirão Preto utiliza uma quantidade significativa de etanol em sua frota, o qual é considerado combustível verde de emissão de CO2 já compensada no plantio da cana-de-açúcar.

Os inventários convencionais utilizam a metodologia chamada top-down para estimar GEE, evitando o conhecimento da frota em detalhes e a intensidade de uso de cada parcela, que varia conforme tipologia e idade do veículo. Sendo que o dado de entrada do GHG Protocol é somente o consumo de

Tabela 5 – Comparativo de CO2 veicular dos resultados, somando gasolina e etanol

COMPARATIVO DE CO2 (ton/2011)

Estequiometria 641.716

GHG Protocol 299.837

Pronconve 339.473

De acordo com o Relatório de Emissões Veiculares no Estado de São Paulo (2012), os veículos emitiram um total de 40 milhões de toneladas de CO2eq, e a maior contribuição vem dos automóveis movidos

a gasolina, cerca de 16 milhões de toneladas de CO2eq. A metodologia do GHG Protocol apresentou um resultado pouco significativo com aproximadamente 0,8% do CO2eq de ambos os combustíveis e aproximadamente

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2% da contribuição remete a gasolina. É sabido que vários fatores que

influenciam a taxa de emissão de poluentes dos veículos, entre os quais se podem destacar os fatores ligados à frota (potência média, ano de fabricação/idade, tipo de motor, rendimento quilométrico, etc.), ao modo de condução do motorista, das condições topográficas, da qualidade do pavimento, da logística da circulação dos veículos, etc. Neste contexto, Manzoli (2009) provou em sua tese que a emissão veicular é muito maior quando o motor ainda está frio.

O mesmo autor afirma que as equações dos modelos para a emissão de gases baseiam-se apenas na velocidade média, o que gera grandes distorções em cidades pequenas e médias, onde predominam pequenos deslocamentos com o motor ainda frio. Sendo que ocorre uma diminuição no consumo de CO em gramas conforme aumenta a temperatura do motor. Ou seja, em trajetos curtos, onde o motor está frio, a emissão de CO é muito grande.

Manzoli (2009), ainda comparou a tabela dos fatores médios de emissão de veículos leves novos da PROCONVE/CETESB, a emissão de CO de um veículo flex a gasolina C de 2004, que deveria ser aproximadamente 0,39 g/km e de HC deveria ser aproximadamente 0,08g/km, com os valores obtidos em campo, que resultaram em 36,0 g/km de CO e 3,6 g/km de HC. Dessa forma, pode-se concluir que as metodologias são muito otimistas e não consideram a maneira real de operação dos veículos.

Considerando a metodologia que gerou mais emissão, foi emitido cerca de 1,06 ton CO2/ano por habitante de Ribeirão Preto. Assim, pode ser proposta uma compensação com um plantio de árvores, que sequestrarão o CO2 emitido.

A literatura possui muitos valores para a compensação em reflorestamento, no IPCC há informações que 6,6 árvores plantadas sequestram 1 tonelada de CO2 ao longo de 30 anos. Porém, o plantio difere nas espécies de árvores, geralmente por biomas, e no

crescimento. De acordo com esse parâmetro e considerando a emissão estequiométrica, Ribeirão Preto deveria plantar cerca de 4.235.326 árvores para compensar a emissão veicular. Por exemplo, considerando um plantio comercial de Eucalipto, em média tem-se 2500 árvores por hectare, totalizando 1.694 hectares em Ribeirão Preto, 16940000 m².

Portanto, a prefeitura de Ribeirão Preto poderia realizar Programas de Educação Ambiental com relação à compensação da emissão veicular de CO2 por meio de reflorestamentos. Esse tipo de campanha é muito interessante para conscientizar a população e também alertar sobre qual tipo de combustível ou tecnologia de veículo é mais sustentável.

CONCLUSÕES

O objetivo da pesquisa foi alcançado, visto que gerou dados sobre a emissão veicular de Ribeirão Preto, estimando o volume do CO2. Também foi possível comparar os resultados das metodologias adotadas.

Durante a pesquisa, ficou nítido a necessidade de uma melhor comunicação entre os órgãos públicos e a comunidade científica acadêmica para que as metodologias existentes sejam atualizadas com frequência e, principalmente, para que sejam executadas com dados reais, ou seja, maior precisão. Um sistema integrado de gestão de informações para realizar esse tipo de estimativa representaria ganhos consideráveis em tempo de desenvolvimento e qualidade do inventário. Apenas com essas mudanças será possível avaliar o cenário real e assim desenvolver projetos de melhorias para que questões como a saúde pública e gestão do tráfego sofram melhorias.

Com relação à metodologia do PROCONVE, percebe-se que os fatores de emissão dos veículos novos estão decrescendo. Porém, o aumento da frota de veículos e os congestionamentos das vias de trânsito anulam esses avanços tecnológicos nos fatores

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e existem muitos veículos antigos com fatores de emissão altos e sem manutenção que estão circulando.

Outro ponto importante, é que a emissão veicular continua crescendo pela utilização da gasolina em substituição ao etanol em função do preço. No Brasil, estamos diante de um aumento nos preços dos combustíveis, em que muitas vezes não compensa utilizar o etanol. O país reduz os tributos para aquisição de veículos novos e com melhores tecnologias, mas incentivam o transporte individual porque gera mais economia.

Seria válida a adoção de uma política de transporte ativo, como a caminhada ou ciclismo e uma rede eficiente de transporte coletivo, com corredores exclusivos para ônibus. Já o transporte individual e a aquisição de um veículo novo, teriam que ser incentivados de forma racional por meio de cobranças.

Fazendo uma análise do impacto das emissões de origem veicular em Ribeirão Preto, é possível perceber que o transporte público de Ribeirão Preto é deficiente, ocorrendo consequentemente, o uso massivo do carro para sanar essa carência.

Os resultados alertam a necessidade de estudos sobre implantação de inspeção veicular e políticas públicas relacionadas à mobilidade urbana, além de formas de

compensação da emissão veicular. Pois, de acordo com Saldiva (2013), muitos problemas de saúde estão sendo ocasionados pela poluição atmosférica.

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

• Aprofundar a pesquisa em análises em campo veiculares para trechos urbanos para análise real da emissão;

• Estudar a poluição veicular e a relação com a queimada da cana-de-açúçar, que é um grande problema na região;

• Realizar um estudo de compensação para o poder público municipal agregar educação ambiental com temas relacionados à emissão veicular de CO2 e compensação com plantio de árvores;

• Propor melhorias nas metodologias do GHG Protocol e no PROCONVE, com coeficientes que possam prever os motores ainda frios, as declividades dos municípios, quantidade de paradas nas vias, tempo de congestionamento, entre outros.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) do Centro Universitário UNISEB pela bolsa concedida.

REFERÊNCIAS

BRANCO, Samuel Murgel; MURGEL, Eduardo. Poluição do Ar. Editora Moderna, São Paulo, 2ª ed. Reformada, 2004.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0004/4199.pdf> Acesso em: 16 mar. 2013, 17:15:22.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). Plano de Controle de Poluição Veicular do Estado de São Paulo 2011-2013. São Paulo, 2011.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO 2011 (CETESB). Relatório de Emissões Veiculares no Estado de São Paulo. São Paulo, 2011.

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FGV. Guia para a elaboração de inventários corporativos de emissões de gases do efeito estufa. GVces Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. São Paulo: FGV, 2009.

GHG PROTOCOL. Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol: Contabilização, Quantificação e Publicação de Inventários Corporativos de Emissões de Gases de Efeito Estufa. 2ª edição. Disponível em: <http://ghgProtocolbrasil.com.br/arquivos/152/especificacoes_pb_ghgProtocol.pdf>. Acesso em: 22ago. 2013, 09:52:22.

MANZOLI, Anderson. Análise das emissões veiculares em trajetos urbanos curtos com localização por GPS. 2009. 175p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por veículos Automotores Rodoviários. Relatório Final. Janeiro 2011.

SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Poluição atmosférica mata 4 mil pessoas por ano na cidade de São Paulo. Artigo digital a Revista Carta Maior. Disponível em: <http://www.viomundo.com.br/blog-da-saude/saude/paulo-saldiva-poluicao-atmosferica-mata-4-mil-pessoas-por-ano-na-cidade-de-sao-paulo.html> Acesso em: 21 out. 2013, 17:21:23.

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RESUMO

O Emotiv EPOC é um sistema destinado para interagir com o mundo real usando a interação homem-computador através de sensores que captam movimentos e sinais neurológicos. O Emotiv é um capacete neurológico com comunicação sem fio que possibilita obter sinais neurológicos com alta precisão e desta forma o usuário deste equipamento poderá estar apto a realizar controle sem o uso de membro como as mãos ou pés. O acionamento de uma chave ou o controle de jogo computacional poderá ser realizado através deste equipamento usando sinais cerebrais programados para realizar uma determinada tarefa de acionamento ou controle de eventos.

Palavras-Chave: Tecnologias, Educação, Cegueira, Inclusão, Protótipo.

ABSTRACT

The Emotiv EPOC is a system designed to interact with the real world using human-computer through sensors that capture movement and interaction neurological signs. The Emotiv is a neurological helmet with wireless communication that allows to have neurological signs with high accuracy and thus the user of this equipment may be able to perform control without using membership as the hands or feet. The pressing of a key or control of computer game could be achieved by using this equipment programmed to perform a certain task or trigger event control

brain signals.

Keywords: Technology, Education, Blindness, Inclusion Prototype.

INTRODUÇÃO

Com o avanço das tecnologias computacionais, é visto que diversas soluções têm surgido na captação de sinais biológicos e processamento destes sinais. Geralmente a leitura de um sinal biológico é um grande desafio por se tratar de uma informação de baixa potência e diferente em cada pessoa (WANG; ESFAHANI; SUNDARARAJAN, 2012).

A área da computação que estuda como interagimos como computador se chama HCI (Human Computer Interaction) e é possível notar que os mais variados tipos de dispositivos são estudados devido à grande criatividade dos pesquisadores da área (BOBROV et al, 2012).

Os dispositivos que permitem a interface direta com o cérebro (BCI – Brain Controlled Interface) vêm ganhando muito destaque atualmente, especialmente os não invasivos, ou seja, aqueles que não requerem a colocação cirúrgica de eletrodos (KHUSHABAA et al, 2012).

A parte de acionamentos eletrônicos tem uma importância na área de automação para a realização automática de tarefas controladas por um cérebro (computador). No caso deste projeto, o objetivo é realizar o controle de alguma aplicação porém neste caso o próprio sistema neurológico ficará

SISTEMA DE NEURO-TECNOLOGIA DENOMINADO EMOTIV PARA INTERAÇÃO HOMEM-COMPUTADORVinicius da Rocha Biffi¹ Thiago Welington Joazeiro de Almeida²

¹Acadêmico do curso de Ciência da Computação do centro Universitário UNISEB. Bolsista de Iniciação Científica do programa Institucional de Bolsas de IC do UNISEB. [email protected]²Mestre em Física Aplicada em Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universi-tário UNISEB. [email protected]

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responsável por emitir e enviar os sinais elétricos que serão lidos e interpretados pelo equipamento denominado Emotiv EPOC (ADELSON, 2011).

Uma vez obtido o sinal de comando, este irá trabalhar para executar uma atividade específica definida pelo desenvolvedor. Tal atividade poderá ser, por exemplo, ascender uma lâmpada ou simplesmente ligar uma televisão.

Os estados das atividades elétricas cerebrais são (PETERSEN et al, 2011):

Estado Beta:Baixa amplitude e alta frequência, 14

a 30ondas/segundos (ativo)

Estado Alfa:Baixa amplitude, 8 a 13 ondas/

segundos(relaxada)

Estado Teta:Baixa–média amplitude,4 a 7ondas/

segundos (sonolenta)

Estado Delta:Baixa amplitude e baixa frequência,

3ondas/segundos (sono profundo)

Ainda não analisado o REM (Estágio do sono).

Figura 1 - Ondas cerebrais - Quatro estados de atividade cerebral em ondas.

Fonte: FARIA, 2012

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nos Estados Unidos e atualmente está em pesquisa em diversas universidades pelo mundo. Podemos ver o sucesso na aplicação do Emotiv através das publicações científicas que estão geradas por pesquisadores em todo mundo (ADELSON, 2011).

Emotiv EPOC é um capacete (headset) com diversos sensores que permitem a leitura e interpretação de ondas celebrais de forma não invasiva. A colocação do capacete não é muito incômoda e depois de alguns minutos é bem fácil se acostumar com ele. Não devemos desprezar a resistência capilar. Não há nenhum tipo de sensação adicional, além da pequena pressão que os pontos de contato fazem na região de contato. E não, ele não causa câncer ou qualquer tipo de doença mental.

Este trabalho visa apresentar uma solução real que demonstre a aplicabilidade do Emotiv em situações que podem ser controladas por sinais motores e neurológicos para realizar o acionamento ou controle de aplicativos como, por exemplo, um jogo computacional através de comandos cerebrais ou ligar e desligar uma lâmpada.

1. A TECNOLOGIA EMOTIV

A tecnologia Emotiv consiste em ler os sinais elétricos do cérebro e, de acordo com a intensidade e local desses sinais, executar alguma ação como: apagar uma lâmpada, apertar uma tecla do computador, mover uma cadeira de rodas elétrica, etc.

Esta tecnologia foi desenvolvida

Figura 2 - Emotiv EPOCFonte: FARIA, 2012

53Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Ler um sinal biológico é algo complexo e quando se trata de sinais neurológicos, a complexidade aumenta ainda mais pois é necessário ter um treinamento e uma exatidão para obter o sinais pelo equipamento Emotiv.

A configuração do EmotivOs eletrodos posicionados em AF3,

F7, F3, FC5, T7, P7, O1,O2, P8,T8, FC6, F4, F8, AF4. Ou seja o Emotiv utiliza as posições pré-definidas do Sistema internacional 10-20 sobre o couro cabeludo do usuário.

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corretamente, ou seja, captando um bom sinal.

Pelo painel de status é possível ver se todos os sensores estão posicionados

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Figura 3 - Posicionamento dos sensoresFonte: FARIA, 2012

Figura 4 - Painel de StatusFonte: FARIA, 2012

expressão. Qualquer movimento na face será identificada pelo sistema.

Um dos controles que pode ser utilizado na configuração, é o controle de

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Figura 5 - Controle de ExpressãoFonte: FARIA, 2012

Figura 6 - Controle afetivoFonte: FARIA, 2012

detectar controles afetivos – emoções.Os sinais emitidos também podem

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apetite). Causas: Agitação, nervosismo e claro excitação. O engajamento acontece por excitação fisiológica, as emoções relacionadas são: estado de alerta, vigilância, concentração, estimulação e interesse.

Outra configuração que o sistema possui é feita através de um acelerômetro que o Emotiv possui. Isso permite emular um mouse com o movimento da cabeça.

O painel emocional reporta em tempo real as mudanças das emoções do usuário. A excitaçãoé uma percepção ou sensação lógica, caracterizada pela ativação do sistema nervoso o que resulta uma série de respostas fisiológicas. (incluindo dilatação da pupila, olho arregalado, estimulação da glândula de suor, frequência cardíaca e tensão muscular, alteração no sangue, inibição de

Figura 7- GiroscópioFonte: FARIA, 2012

analisa as ondas cerebrais e cria uma assinatura personalizada que corresponde a uma determinada ação. Quanto mais treinamento, melhores são os resultados. Porém que tornar difícil retornar ao estado NEUTRO, deve-se relaxar, mudar o foco para longe da tela. Logo um treino depende da consistente e do foco.

A detecção cognitiva avalia as atividades das ondas cerebrais do usuário em tempo real para reconhecer a intenção consciente para realizar a respectiva ação. Como exibido no slide anterior, um cubo 3D é utilizado para apresentar a ação do usuário. A barra de energia quantifica o “poder e/ou exatidão da ação”. Durante o treino, muita concentração é necessária. Pois o mesmo

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Figura 8 - Controle CognitivoFonte: FARIA, 2012

Figura 9 – EmokeyFonte: FARIA, 2012

em simulação do pressionamento de teclas pré-definidas.

A ferramenta Emokey permite vincular os resultados da detecção da onda

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scripts. Descartando a necessidade do equipamento físico instalado.

A ferramenta Emocomposer permite simular o hardware, inclusive executar

Figura 10 – EmocomposerFonte: FARIA, 2012

C++, C# e Java. O EmoEngine é a abstração lógica da funcionalidade do Emotiv.

2. SDK – Emotiv

A API do Emotiv prove exemplo em C/

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Figura 11 – EmoEngineFonte: FARIA, 2012

Figura 12 –Linguagem C EngineConnect() (main)Fonte: FARIA, 2012

EE_EngineConnect()

Abaixo há um exemplo de um trecho em linguagem C sobre a programação que pode ser feita do sistema para efetuar um controle adequado e refinado sobre os dados obtidos e sobre o sistema de atuação.

Existem 3 opções para conectar uma instância em aplicativos, apresentadas a seguir:

EE_EngineRemoteConnect()SDK Lite – EmoComposer : Porta

1726Painel de Controle : Porta 3008

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Figura 13 –Linguagem C EngineConnect() (affEvent)Fonte: FARIA, 2012

Figura 14–Linguagem C EngineConnect() (expEvent)Fonte: FARIA, 2012

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Figura 15 –Codigo em linguagem C utilizado para testar o Emotiv.

Figura 16 –Resultado obtido com a ação realizada pelo cérebro.

expressão facial no Emotiv e o EmoKey (ferramenta utilizada para relacionar, sinais captados pelo Emotiv com teclas pré-definidas) pôde ser feito o primeiro teste, bem sucedido, onde com apenas um movimento facial se “acende” uma lâmpada.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Através do uso da linguagem de programação C, foi feito um programa para simular o acendimento de uma lâmpada.

Relacionado com o controlador de

A partir de uma simulação computacional obtemos o seguinte resultado:

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Quando executamos uma ação pré-definida, o programa é acionado, gerando o resultado desejado.

Concluindo, que a partir desta lógica, podemos realizar atividades mais complexas com ajuda de ferramentas básicas do Emotiv. Pode-se concluir que apesar de um funcionamento complexo, o Emotiv pode ser facilmente manipulado com auxílio das ferramentas que acompanham o headset. A partir de ondas cerebrais geradas, podemos interferir o meio ambiente ao nosso redor com ajuda de ferramentas especializadas nesta tarefa. Através de programas simples, pode-se facilmente substituir o teclado e mouse de um computador caseiro, ou até controlar um mecanismo robótico, como exoesqueletos. Utilizando linguagens mais poderosas, como Java ou C#, pode-se construir jogos próprios para serem utilizados com o

headset. Pode-se ver, logo ao baixar o pacote padrão de desenvolvimento, uma demo de um jogo desenvolvido pela própria empresa, confirmando, assim, o potencial do headset nesta área de desenvolvimento de jogo.

Com este headset, podemos vislumbrar um futuro onde pessoas com deficiência física serão totalmente independentes, onde será possível dirigir um carro, ligar a televisão e usar um computador pessoal somente através de ondas cerebrais. Porém, n podemos deixar de citar que, como qualquer tecnologia em desenvolvimento, ainda existem melhorias que podem ser feitas, como a melhoria da capacidade de detectar um sinal cerebral, tendo em vista a demora para achar os pontos certos para posicionar o headset e a aderência do cabelo, que pode dificultar a leitura do sinal.

REFERÊNCIAS

WANG, S., ESFAHANI, E., SUNDARARAJAN, V. Evaluation of SSVEP as passive feedback for improving the performance of Brain Machine Interfaces, Proc. IDETC/CIE 2012

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SISTEMA DE NEURO-TECNOLOGIA DENOMINADO EMOTIV PARA INTERAÇÃO HOMEM-COMPUTADOR

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RESUMO

A motivação vem sendo amplamente discutida no contexto acadêmico, uma vez que está ligada ao envolvimento e consequentemente à aprendizagem do aluno. Neste artigo estudamos os tipos da motivação, e analisamos as pesquisas feitas sobre o perfil motivacional de diferentes alunos e curso. Em todos estes trabalhos o método estatístico usado é a Análise Fatorial. Através deste método estudamos os inter-relacionamentos entre as variáveis, num esforço para encontrar um conjunto de fatores, em menor número que o conjunto de variáveis originais, que exprima o que as variáveis originais partilham em comum, ou seja, a correlação entre elas. Essa técnica tem como objetivo descrever as relações de covariância entre as variáveis em alguns fatores ocultos e inobserváveis. Este trabalho foi feito visando contribuições para a compreensão dos padrões motivacionais dos estudantes e as implicações educacionais.

Palavras-chave: Motivação, Análise Fatorial, Aprendizagem.

ABSTRACT

Motivation has been widely discussed in academic context, once it is linked to involvement and consequently to students learning. In this present article, types of motivation were studied and researches about motivational profiles of

different students were analyzed. Factorial analysis is the statistic method used for the totality of such kind of studies. By means of this method we studied interrelationships between variables, in an effort to find a factor set in a number minor than the original variables set, that could express what original variables share between them., in other words, their correlations. This technique aims to describe covariance relationships between variables in some occult and unseen factors. The present work was performed aiming contributing for the comprehension of motivational patterns of students and resulting educational implications.

Keywords: Motivation Factor Analysis Learning.

INTRODUÇÃO

Motivação é o conjunto de fatores psicológicos, conscientes ou não, de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, que determina certo tipo de conduta em alguém. Motivação pode ser considerada um sentimento abstrato, relacionado aos motivos que estão ligados ao interior da pessoa e seus objetivos de vida.

A motivação se modifica a cada momento durante toda a vida. Para Frederick Irving Herzberg, autor da “Teoria dos dois fatores”, a motivação pode ser alcançada através de dois fatores: fatores higiênicos, que são estímulos externos que melhoram

CARACTERÍSTICA DA MOTIVAÇÃO NO PERFIL ACADÊMICO

Priscila M. Paterlini¹Daniela B. Jacobovitz²

¹Acadêmica do Curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário Uniseb de Ribeirão Preto. Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC – UNISEB. email: [email protected].² Doutora em Física pela UFSCAR. Orientadora do presente trabalho e Docente do Centro Universitário UNISEB. email:[email protected].

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o desempenho e a ação de indivíduos, ou seja, fatores que rodeiam o aluno, como professores, política da faculdade, o relacionamento entre alunos e coordenação entre outros, e fatores motivacionais que consistem em estímulos internos gerados dentro de cada indivíduo a partir do reconhecimento e da realização gerada através de seus atos, como crescimento individual, desenvolvimento, realização, reconhecimento entre outros sentimentos. Já para outros autores esses fatores são considerados secundários e esses estímulos são adquiridos ao longo da vida.

De acordo com Pintrich e Schunk (2002), motivação está associada ao fato de levar uma pessoa a fazer algo, manter e ajudar a pessoa a completar a tarefa. A motivação é geralmente utilizada para explicar por que as pessoas agem de uma determinada maneira (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2008).

Para alguns teóricos, dentre eles Garrido (1990), a motivação é um processo psicológico, uma força que tem origem no interior do indivíduo e que o empurra, o impulsiona a uma ação. A motivação deve ser englobada com um processo, o processo de se motivar a algo ou alguma coisa. A motivação é um processo e não um produto.

De uma maneira geral a motivação pode ser determinada como impulso acarretado por outro fator, podendo esse impulso ser provocado por fatores externos ou internos. Fatores esses que motivam as pessoas de diferentes maneiras e que são denominadas motivação intrínseca (fatores internos) e motivação extrínseca (fatores externos).

Motivação Intrínseca é todo aquele sentimento que vem de dentro do ser humano, aquela vontade, entusiasmo, curiosidade que a pessoa desperta ao realizar determinada tarefa. Nesse tipo de motivação não há interesse em existir recompensa, pois o indivíduo sente prazer em realizar a tarefa.

Muitas pesquisas e textos comprovam que os indivíduos que apresentam motivação intrínseca têm maiores chances de sucesso em sua vida. (GUIMARÃES, 2004)

Por sua vez, a Motivação Extrínseca tem origem em fatores externos do ser humano, ele se sente obrigado a executar determinada tarefa para receber sua recompensa ou não ser castigado. Esse tipo de motivação é muito incerto, visto que depende de fatores externos. O individuo não gosta da tarefa em si, mas gosta da recompensa que a tarefa lhe proporcionara o que resulta em pouca satisfação e prazer na execução da tarefa.

Até a metade do século XX a motivação intrínseca e extrínseca era estudada como se fossem totalmente independes (LEPPER; CORPUS; YENGAR, 2005). Entretanto hoje essa divisão dicotômica foi revista por diversos pesquisadores (DECI; RYAN, 2000; RIGBY; DECI; PATRICK; RYAN, 1992), que constataram que caracterizar a motivação extrínseca como uma orientação controlada externamente era insuficiente para compreender sua complexidade.

Estes autores consideram que a dicotomia intrínseco-extrínseca é muito simplista para compreensão da motivação, sendo que de acordo com uma perspectiva auto-determinista afirmam que a motivação pode ser caracterizada de uma forma global, considerando um continuum da forma mais auto-determinada para a menos-determinada, em motivação intrínseca, extrínseca e amotivação. A seguinte figura pretende de forma breve definir as formas motivacionais que compõem o continuum de auto-determinação proposto e os diferentes níveis de auto regulação (adaptado de RYAN; DECI, 2000)

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Pintrich e Schunk (2002) afirmam que a motivação para a aprendizagem pode ser avaliada por meio de observações diretas de comportamentos, pelo julgamento de outros e por relatos e auto-avaliações. Mesmo com contratempos para avaliação pode se fazer essa análise através de diferentes modos. Um método de avaliação bem aceito e muito utilizado é o questionário/escalas, onde as questões são respondidas pelo próprio indivíduo a ser avaliado. O questionário é composto por itens ou questões que procuram investigar as ações e crenças da pessoa. O indivíduo, nesse caso, atribui valores em escalas numéricas correspondendo as suas crenças e sentimentos com relação ao que está escrito na questão ou item (PINTRICH; SCHUNK, 2002).

Podemos citar como exemplo de aplicação de questionário o artigo “Motivação para Aprendizagem Escolar: Possibilidade de Medida” (SIQUEIRA; WECHSLER, 2006). Neste artigo foram estudados 655 alunos sendo 465 alunos da 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental e 190 alunos da 1ª a 3ª série do Ensino Médio, a média de idade foi de 13,6 anos. Metade dos alunos era de escolas públicas e a outra metade de escolas particulares.

Para transcorrer a coleta de dados foi aplicada uma escala elaborada através de pesquisas nacionais e internacionais

A distinção dessas duas motivações é de suma importância para o ambiente escolar. Um aluno extrinsecamente motivado é aquele que efetua uma atividade ou tarefa visando às recompensas externas ou sociais. Esse tipo de aluno está sempre mais interessado nas opiniões dos outros, pensando sempre na condecoração dos pais/professores. Já o aluno motivado intrinsecamente é aquele motivado por si só. Esse tipo de aluno possui grandes chances de ter uma maior realização escolar, menos ansiedade e orientação extrínseca para as atividades.

Os estudos apontaram que ainda existem muitas dúvidas entre os pesquisadores sobre a vinculação entre essas duas motivações, porém de maneira geral os estudos efetuados sobre motivação na área da aprendizagem apontaram que uma série de fatores pode intervir na motivação do estudante, desde o estilo dos professores até as próprias características individuais dos alunos.

Com todos esses fatores inconstantes na motivação a avaliação da mesma se torna muito difícil. Segundo Murray (1986), a dificuldade de se assimilar e avaliar a motivação deriva da inconstância e combinação de muitos padrões em momentos distintos, revelando, dessa forma, o caráter dinâmico da motivação.

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Como outro exemplo na área de motivação na aprendizagem há também o artigo “Motivação no ensino Superior: Metas de realização e estratégias de aprendizagem” (CARDOSO; BZUNECK, 2004). O trabalho refere-se a um estudo que ocorreu com uma amostra de 106 alunos do 2° período de dois cursos superiores distintos (Tecnologia em Informática e Pedagogia) e propõe investigar a qualidade da motivação para uma estipulada disciplina. Com a pesquisa constatou-se que os alunos de Tecnologia da Informática organizam seu tempo de forma mais eficaz, demonstraram maior capacidade de concentração em comparação com os alunos de Pedagogia. Entretanto os alunos de Pedagogia destacam o uso mais frequente de estratégias alternativas de estudo (resumo, repetição, elaboração, etc). Os resultados obtidos nessa pesquisa demonstram que a motivação no ensino superior está fortemente ligada a contextos específicos. Da visão psicoeducacional é revelada a importância de determinadas ações dos professores para que os acadêmicos interajam para maior eficiência na aprendizagem.

Em pesquisas mais recentes, observa-se o estudo baseado em quatro possíveis metas de realização entre os alunos, sendo elas: “aprender” (ou domínio, ou tarefa), “ego-aproximação” (ou performance-aproximação), “ego-evitação” e “evitação do trabalho” (ou alienação acadêmica), sendo as três primeiras as mais utilizadas em termos de instrumentos de avaliação.(CARDOSO; BZUNECK, 2004)

Em resumo, um aluno com o desígnio “aprender” caracteriza-se pela busca de novos conhecimentos, domínio do conteúdo, interesse por novos desafios, sente emoções positivas com o sucesso alcançado através do esforço e preocupa-se mais com o processo de aprender do que com o produto. O aluno com a meta “ego-aproximação” é definido por desejar ser o mais inteligente ou ser o primeiro da classe, preocupado com seu desempenho enquanto percebido pelos

que tinham por objetivo a criação de um instrumento psicológico para avaliar a motivação para a aprendizagem escolar.

Após algumas análises efetuadas com essas pesquisas desejando encontrar à relação de motivação intrínseca e extrínseca para a aprendizagem escolar, 14 áreas foram selecionadas como as melhores para representar a motivação para aprendizagem em sala de aula. A escala de motivação foi estabelecida como uma escala likert de 6 pontos, na qual o sujeito tem de escolher uma dentro seis possibilidades de resposta(discordo totalmente, discordo, discordo parcialmente, concordo parcialmente, concordo e concordo totalmente).

Esse artigo tinha como propósito principal construir e validar uma escala para avaliar a motivação para a aprendizagem escolar, através do método estatístico conhecido como Análise Fatorial. De acordo com Pasquali (2003), este método analisa quantos construtos comuns seriam necessários para explicar as covariâncias dos itens, ou seja, suas intercorrelações.

Após a análise dos 5 fatores restou somente o fator 1 (Envolvimento/Persistência) que sozinho explicou 11,77% da variância, demonstrando ser o fator mais forte obtido na análise da EMA. Esse fator é composto por aspectos como preocupação com fatores externos como notas ou professores, possíveis julgamento, sentimento interno de sucesso ou fracasso, persistência, prazer com a tarefa/envolvimento e preferencia por desafios a tarefas fáceis. Concluindo, portanto que a composição desse fator leva-nos a identificar as características e o tipo de motivação do estudante.

De acordo com Guimarães e Bzuneck (2002) os estudos de motivação na aprendizagem ainda estão muito recentes e ainda encontra-se uma carência de instrumentos psicológicos que ocasionem o desenvolvimento desta área no Brasil.

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A estatística multivariada realiza o tratamento de diferentes variáveis simultaneamente, mesmo em casos que não se identifica o modelo teórico das relações entre as variáveis, permitindo assim o estudo de fenômenos complexos. Por sua vez, a Análise Fatorial, uma das técnicas da estatística multivariada, pode ser utilizada quando existe uma grande quantidade de dados e deseja-se a sua sumarização com fatores não aparentes, que podem ser definidos através do comportamento semelhante entre as variáveis (SMITH, 2002).

A estatística multivariada pode ser aplicada com diversas finalidades, como de sintetizar dados ou de simplificação estrutural, investigar a dependência entre as variáveis, classificar e agrupar, predizer e elaborar hipóteses e testá-las. Estas técnicas são muito praticadas nas áreas de indústria, governo e em centros de pesquisas acadêmicas destinados a diversos fins, sendo aplicado também em casos que não se tem previamente um modelo teórico rigorosamente estruturado a respeito das relações entre as variáveis. Ela baseia-se em um conjunto de métodos aplicados em situações onde diversas variáveis são medidas simultaneamente em cada elemento amostral.

Cada variável pode ser analisada isoladamente no vetor aleatório através do comportamento de sua distribuição de probabilidades, contudo, acentua-se a importância da análise do vetor como um todo devido à possibilidade da existência de contato entre as variáveis.

A independência estatística tem uma função importante na covariância. A covariância e a correlação entre as variáveis são nulas se estão distribuídas de forma independente. Todavia, o inverso frequentemente não é verdadeiro, pois é possível elaborar exemplos de variáveis aleatórias altamente dependentes cuja correlação é zero.

De acordo com Härdle e Simar

outros. Próximo a este conceito, porém dissemelhante conceitualmente identifica-se a meta “ego-evitação”, que se caracteriza pelo aluno que objetiva-se não aparecer como incapaz e menos inteligente que os demais. A última meta de realização, “evitação de trabalho”, é constituída por alunos sem qualquer preocupação por aparecer, que apresentam como especial valor obter sucesso acadêmico desde que isso não lhes custe muito esforço.

Para a verificação da pesquisa foram aplicados três questionários com o objetivo de medir as orientações motivacionais dos alunos às metas de realização e as estratégias de aprendizagem.

Os dados do estudo apontam importantes características motivacionais comuns à amostra como um todo independente do contexto. Entretanto, apresentaram resultados peculiares de certas turmas, um dado que sugere uma possível forma de influência do contexto.

Muitos estudos (GOTTFRIED, 1985; PINTRICH, DE GROOT, 1990 e outros) foram desenvolvidos com o objetivo de obter e validar uma escala ou questionário para avaliar a motivação. Estes estudos mostraram que é possível avaliar a motivação de forma precisa e confiável através dos questionários. Para atingir o objetivo de validação da escala houve o envolvimento de 5 etapas que são: a construção do instrumento, a aplicação num número adequado de sujeitos, a aplicação de outros instrumentos psicológicos, a realização de uma Análise Fatorial e por último o estudo da estabilidade temporal através da aplicação do teste e re-teste. Com esse re-teste, feito após certo tempo e dependendo das respostas obtidas, foi possível concluir que os envolvidos não foram influenciados pelo tempo consequentemente, o que confere maior credibilidade e estabilidade à pesquisa.

1. MÉTODOS E APLICAÇÕES

1.1. Análise Fatorial

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a análise de confiabilidade do constructo utilizado para obtenção de dados. A confiabilidade é o grau em que uma escala produz resultados consistentes entre medidas repetidas ou equivalentes de um mesmo objeto, revelando-se a ausência do erro. De acordo com Corraret al. (2007), um modelo bastante utilizado é o Alfa de Cronbach, que trata da consistência interna baseada na correlação média entre os itens. Este modelo pode ser obtido através da seguinte formula:

(2007), a medida mais apropriada para avaliar o grau de relacionamento linear entre as variáveis estatísticas é a correlação. Uma das vantagens de seu uso é a escassez de escalas, ou seja, mudança nas escalas de medidas não altera o valor da correlação.

Sua utilização pressupõe que as variáveis podem ser associadas de acordo com suas correlações, obtendo-se grupos com todas as variáveis altamente correlacionadas, porém com baixa correlação com variáveis de um grupo diferente. Jhonson e Wichern (1992) asseguram que cada grupo de variável demonstra um único constructo ou fator, que é responsável pelas correlações observadas. Ao resumir os dados, a análise fatorial atrai as dimensões latentes que representam o conjunto de dados em um numero menor de conceitos do que as variáveis individuais originais (HAIR et al., 2005).

A análise fatorial pode ser empregada de duas maneiras; de forma exploratória, que é onde se busca uma estrutura em um conjunto de variáveis ou como um redutor de dados, ou de uma perspectiva confirmatória que é quando se tem uma ideia preconcebida sobre a estrutura real dos dados e deseja-se testar uma hipótese.

Essa é uma técnica interdependente que estima todas as variáveis simultaneamente, ou seja, cada uma relacionada a outra, utilizando o conceito da variável estatística. Entretanto, segundo Hairet al. (2005), este conceito não é aplicado para prever uma variável dependente, mas sim maximizar o poder de explicação do conjunto inteiro de variáveis. Em conformidade com Hair o pesquisador deve buscar minimizar o número de variáveis incluídas, mas manter um número razoável de variáveis por fator. O centro da análise fatorial fundamenta-se na definição de padrões entre grupos de variáveis, tornando-se restrito na identificação de fatores compostos por uma única variável.

Um fator crucial que deve sempre anteceder a aplicação da análise fatorial é

Onde k é o número variáveis consideradas, cov é a média das covariâncias e var é a média das variâncias. O Alfa pode assumir valores entre 0 e 1, e quanto mais próximo ao 1, maior a fidedignidade das dimensões do constructo.

A estatística multivariada é a uma ferramenta poderosa na análise de dados, simplificando ou facilitando a interpretação do fenômeno estudado e incentivando o estudo de fenômenos cada vez mais complexos à medida do desenvolvimento das técnicas. Podem ser empregadas com a finalidade de desenvolver índices ou variáveis alternativas e grupos de elementos amostrais, averiguar as relações de dependência das variáveis e comparar as populações.

A Análise Fatorial tem como finalidade descrever a variabilidade de um vetor aleatório X, por meio de um número menor m de variáveis aleatórias, titulados de fatores, i.e., sumariza um conjunto de variáveis que não se constata tendências explícita, por meio da descoberta de fatores latentes que especifiquem melhor esse conjunto. Testes são realizados para comprovar a aplicação deste mecanismo. São

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eles: o teste KMO e Bartlett de Esfericidade. Para explorara confiabilidade interna do constructo (instrumento de coleta de dados) e dos fatores latentes encontrados é aplicado o teste Alfa de Cronbach.

No artigo “Estatística Multivariada: Aplicação da Análise Fatorial na Engenharia de Produção” (BAKKE; LEITE; SILVA, 2008) foi apresentada a aplicação desta técnica em engenharia de produção, mostrando como exemplo o Inventário de Estresse em Enfermeiros que foi composto por 44 variáveis e aplicado a 391 profissionais da área.

Para o trabalho, foi necessário contar com um tamanho de amostra n maior do que p, para serem estimadas as matrizes de covariância e correlação, devendo ser impedida a situação de trabalho com o

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número mínimo de n. O Inventário de Estresse em

Enfermeiros proposto por Stacciariniand Trocoli (2000), composto por 44 questões de múltipla escolha e sete de identificação, foi aplicado a 391 profissionais de hospitais na cidade de João Pessoa (PB). As questões apresentavam como alternativa de resposta: nunca, raramente, algumas vezes, muitas vezes e sempre, às quais foram dados os valores, 1, 2, 3, 4, 5, respectivamente.

Com embasamento no modelo de Alfa de Cronbach, foi feita a análise do Inventário e notou-se que o constructo e a escala utilizada apresentam uma boa confiabilidade interna, sendo apropriado para o propósito que foi designado, o que pode ser observado no quadro a seguir:

Quadro 1 - Teste Alfa de Cronbach para as 44 variáveis

Cronbach’s Alpha Cronbach’s Alpha Based on

Standardize Items

N Items

0,914 0,921 44

Esta técnica se mostrou eficiente e bem sucedida no estudo do estresse em enfermeiros, pois reduziu o número inicial de 44 variáveis que apresentavam estrutura complexa e relações não observáveis diariamente, para oito dimensões determinantes para o estresse. A análise dos resultados também possibilitou apontar a variáveis que possuem maior impacto dentro dos fatores e estabelecer relações lineares entre todas as variáveis de um mesmo fator, facilitando a compreensão e interpretação das variáveis iniciais.

Com a melhor compreensão das

variáveis, obtém-se embasamento para tomadas de decisão no gerenciamento do estresse, promovendo melhoria na produção e qualidade de vida. A ferramenta de estudo tem grande valor na engenharia de produção por proporcionar maior clareza e melhor interpretação dos fenômenos complexos com que estudo a lida.

Outro exemplo de utilização da técnica de Análise Fatorial, porém em outra aérea, é o artigo “A análise fatorial de correspondências na investigação em psicologia: Uma aplicação ao estudo das representações sociais do suicídio

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adolescente.” (OLIVEIRA; AMARAL, 2007). Refere-se a uma pesquisa realizada com 330 adolescentes de diferentes idades e ambos os sexo, residindo em três cidades diferentes de Portugal, e consistia em propor situações-estímulos aos pesquisados, ou seja, situações tais como Suicídio faz-me pensar em...,Suicídio faz-me sentir... e a Vida faz-me pensar em.... Na primeira situação 50% dos jovens fazem a ligação de suicídio com morte, ou seja, como uma estratégia de desespero. Na segunda situação as palavras mais incidentes mostraram uma transmissão de sentimentos negativos face ao suicídio, o suicídio foi percepcionado com tristeza por mais de 55% dos sujeitos. Ou seja, o suicídio causa tristeza, mal-estar, medo, desespero ou gera uma situação desesperante e incompreensiva, angústia, infelicidade, reflexão e faz sentir solidão e confusão.

Para cada uma das situações-estímulo foram efetuadas diferentes análises para verificar a influência de cada uma das variáveis independentes. Com essas análises obteve-se a ligação de algumas respostas demonstrando que o pensamento dos jovens de determinada cidade cruzavam com o pensamento dos jovens de outra cidade ou que as meninas de uma cidade pensavam como os meninos de outras cidades, como por exemplo, os jovens do Porto como os de Évora ligam o suicídio à tristeza, mas também, a sangue.

Outro método de análise tão utilizado quanto a Análise Fatorial é a Análise da Componente Principal mais conhecida como PCA (Principal Component Analysis). Esta técnica é aplicada para o estudo de grandes aglomerados de dados e tem ganhado destaque devido à evolução das ferramentas e softwares computacionais.

A finalidade é encontrar padrões em uma base dados muito ampla, com o objetivo de agrupar dados semelhantes facilitando nossa análise.

É importante notar que PCA não é sinônimo de Análise Fatorial e essa confusão

terminológica deve ser esclarecida. A análise fatorial consiste numa modificação linear de “n” variáveis originais, normalmente correlacionadas entre si, em “n” novas variáveis não correlacionadas. Essas novas variáveis são designadas componentes principais, do mesmo modo que a primeira nova variável computada seja responsável pela maior variação possível atual no conjunto de dados, a segunda pela maior variação possível restante e assim por diante até que toda a variação do conjunto tenha sido explicada. Já na análise de fatores pressupõem-se que as relações existentes em um conjunto de “n” variáveis seja o reflexo das correlações de cada uma dessas variáveis com “p” fatores, reciprocamente não correlacionáveis entre si, sendo “p’” menor que “n” (LANDIM, 2010)

A análise de componentes principais é então uma técnica de transformação de variáveis. O método exibe melhores resultados se, originalmente, já existir alguma correlação entre variáveis ou grupo de variáveis e se o número de variáveis for significativo.

2. TRABALHOS FUTUROS

Serão investigadas características que determinam a motivação dos indivíduos e como estas características vão variar de curso para curso.

Para obtenção dos dados será aplicado um questionário com perguntas baseadas nas teorias de motivação e aprendizagem, onde será usada uma versão brasileira da EMA (Escala de Motivação Acadêmica). Levando em conta a validade dos instrumentos de avaliação utilizados em pesquisas, Vallerend, Pelletier, Blais, Brièri, Senécal, Vallières (1992) desenvolveram a escala de avaliação, a Escala de Motivação Acadêmica (EMA). Esta escala é composta de 28 itens, sendo apresentada com uma questão inicial “Por que eu venho à Universidade?”, seguida de 28 afirmativas colocadas em escala likert de

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7 pontos (1 nada verdadeiros a 7 totalmente verdadeiro).

A escala original foi traduzida para o português por Sobral (2013), a partir daí, Guimarães e Bzuneck (2008) deram início ao processo de validação transcultural e consequente avaliação psicométrica da EMA.

A versão final da escala passou a ter 31 itens, e mediante a aplicação do PCA surgiram sete fatores que explicaram 56,49% da variabilidade total dos dados.

Essa escala brasileira já foi aplicada e analisada. Como exemplo, há o artigo “Propriedades psicométricas de um instrumento para avaliação da motivação de universitários” (GUIMARÃES; BZUNECK, 2008). Nesse artigo, depois da criação da escala versão brasileira, foi aplicado o questionário a 30 alunos. Através da Análise dos Componentes Principais foram identificados 31 fatores, com autovalor acima de um. Dessa análise surgiram 7 fatores que explicaram 56,49% da variabilidade total dos dados. Esses 7 fatores foram identificados através do estabelecimento de um valor de corte de 0,30, para que um item do questionário pudesse carregar num fator.

O questionário a ser aplicado no UniSEB seguirá o mesmo padrão da pesquisa em questão, terá diversas perguntas e sete respostas devidamente quantificadas de acordo com a EMA.

As perguntas seguirão a mesma linha de raciocínio das perguntas a seguir:

1. Sinceramente, eu não sei por que venho à universidade.

2. Eu realmente sinto que estou perdendo meu tempo na universidade.

3. Venho à universidade porque acho que a frequência deve ser obrigatória.

Perguntas como essas serão feitas e terão como opção de resposta sete alternativas que vão de “nada verdadeiro” até “totalmente verdadeiro”, lembrando que as respostas são ligadas a escala e cada uma possui um “valor” resultante após análise em

uma das motivações.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudantes desmotivados vêm sendo cada vez mais aspectos decorrentes de pesquisas. De forma geral os estudantes, quando saem do ensino médio, acabam optando por um curso superior por compatibilidade com a profissão, por influência dos pais ou até por falta de opção. Quando ingressam na faculdade criam a esperança de que as disciplinas que terão ao longo do curso serão somente aquelas de seu interesse. Acreditam também que as aulas serão proveitosas, os professores explicarão a matéria de modo claro e as exigências serão bem mais moderadas. Já os professores das universidades almejam contar com alunos auto-regulados, dado que se trata de adultos e não mais de adolescentes, com espírito investigativo e que estejam predispostos a estudar. Entretanto, nenhuma das duas expectativas, tanto as dos alunos quanto as dos professores, é alcançada, desinteressando os dois lados.

Essas pesquisas não irão conceder uma fórmula mágica para solução dos problemas em sala de aula, porém, possibilitará propor estratégias que poderão levar a maioria dos alunos e até toda uma classe de alunos a chegar mais próximos de um padrão ótimo de motivação do que se tivessem sido usadas outras estratégias.

Com base na teoria e nos métodos citados, será possível levantar o perfil motivacional dos estudantes do UNISEB.

Por consequência, os resultados podem auxiliar os professores a proporem estratégias de ensino com maiores chances de acerto na hora de motivar o aluno a permanecer na sala de aula.

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72 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica72

CARACTERÍSTICA DA MOTIVAÇÃO NO PERFIL ACADÊMICO

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RESUMO

A doença de chagas, causada pelo Trypanosoma Cruzi, é caracterizada pela disseminação deste protozoários pelas células da pessoa, ou animal infectado. Neste trabalho analisamos técnicas para auxiliar pesquisadores a determinar o grau de infecção apartir de imagens digitais adquiridas em laboratório. O objetivo é elaborar um processo automático para identificar os parasitas, e determinar parâmetros numéricos para estimar o grau de contaminação por célula. Desta forma o trabalho dos pesquisadores pode ser acelerado, auxiliando os processos de análise clínica.

ABSTRACT

Chagas disease, caused by Trypanosoma cruzi, is characterized by the spread of this protozoan cells through a person or infected animal. In this work, we investigate techniques to help researchers determine the degree of infection based on digital images acquired in the laboratory. The objective is to develop an automatic process to identify parasites, and determine numerical parameters to estimate the degree of contamination by each cell. Researchers work could then be accelerated, aiding clinical analysis processes.

INTRODUÇÃO

A doença de chagas é responsável por

mais de 8 milhões de vítimas desde o México até a América do Sul. Descoberta em 1909 pelo físico brasileiro Carlos R.J. Chagas, no instituto Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, é uma doença resultante de infecções causadas pelo protozoário flagelado Trypanosoma Cruzi, que tem como vetor o inseto Triatoma Infestans, o barbeiro [1-3].

A transmissão no homem ocorre quando a fêmea infectada do barbeiro se alimenta do sangue e defeca a forma infectiva do Trypanosoma Cruzi denominada de Tripomastigota Metacíclico. Ao coçar a região lesionada o parasito é conduzido até a corrente sanguínea. Entre outras formas de transmissão da doença estão a transfusão de sangue e a ingestão do caldo de cana-de-açúcar contaminados.

Os sintomas incluem problemas cardíacos, periférico nervosos e problemas gastrointestinais. Existem tratamentos por meio de drogas parcialmente efetivas, porém muito tóxicas. No entanto, pesquisas recentes vêm mostrando avanços importantes, gerando a possibilidade de vacinas efetivas para doentes crônicos. Estudos voltados para o tratamento investigam mecanismos celulares que regulam células hospedeiras contra novas invasões do Trypanosoma Cruzi para que não se proliferem, ou até mesmo para descobrir novos efeitos anti-parasita. Em geral, esses estudos in vitro são dependentes de um trabalhoso processo de contagem manual das células hospedeiras e dos parasitas coloridos pelo processo Giamsa Staining, que destaca núcleos e citoplasmas por meio

SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZIJoão Herrera¹Catarina Veltrini Horta²Jean-Jacques S. De Groote³

¹ Acadêmico do Curso de Ciência da Computação do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto.² Doutoranda do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Biologia Celular, Molecular e Bioagentes patogênicos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), USP.³ Doutor em Física pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto.

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de tons específicos, geralmente azuis. Com o auxílio de um microscópio fluorescente são adquiridas imagens de amostras de células, permitindo sua identificação, um processo que consome uma grande quantidade de tempo. Entretanto, é possível recorrer à informática, que é uma aliada importante para áreas científicas tal como a Parasitologia, para o desenvolvimento de processos automatizados para identificação e classificação de células e parasitas. Através de algoritmos especializados da área de Processamento Digital de Imagens [4,5] é possível segmentar imagens, isolando apenas o material de interesse. A proposta deste trabalho é investigar essas técnicas e desenvolver um software capaz de identificar de forma rápida e precisa células, protozoários, e determinar o grau de infecção para as amostras coletadas.

1. METODOLOGIA

Por meio de algoritmos da área de processamento digital de imagens, é possível separar elementos relevantes da imagem, nesse caso, o núcleo das células e seus parasitas. O processo é iniciado extraindo de cada elemento da imagem digital, conhecido como pixel, o valor de três cores bases, o azul, o vermelho e o verde. Esse é um padrão de cores conhecido como RGB. Neste trabalho as imagens são construídas com uma distribuição destas cores do tom mais escuro ao mais claro entre 256 níveis, ou seja, 8 bits. Com 8 bits de cada cor obtemos um total de 16 milhões de diferentes combinações.

Os três valores de tons RGB de cada pixel são associados a suas coordenadas na imagem, permitindo a criação de matrizes de valores representando as cores ao longo da imagem. Com valores numéricos é possível a utilização de algoritmos para a realização de diversos processos baseados em operações matemáticas que permitem desde a melhora da qualidade da imagem, até etapas mais sofisticadas de extração de informação.

Neste trabalho o foco está na separação dos pixels correspondentes às células e protozoários do restante. Esta é uma etapa fundamental para a identificação e contagem destes elementos. Há diferentes meios de detecção por meio algoritmos de segmentação: Detecção de pontos, detecção de linhas e detecção de bordas [6]. A detecção de pontos é um meio mais simples, onde procura-se uma mudança brusca nos tons do pixel de uma imagem. A detecção de linhas é a mais complexa uma vez que é preciso encontrar pixels vizinhos que possuam o mesmo tom de cor. Com o uso dessas técnicas, é possível realizar detecção de bordas, o que consiste em realçar o contorno dos elementos detectados em uma imagem verificando e comparando níveis de luminosidade.

Existem bordas unidimensionais e bidimensionais. Bordas unidimensionais são caracterizadas por uma mudança de intensidade de baixa para alta, onde essa intensidade pode ser definida em diversos casos como ruídos (Fig.1). Já as bidimensionais são caracterizadas por várias descontinuidades.

Figura 1. Gráfico de Intensidade de uma Imagem.

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SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI

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SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI

em diferentes direções. Utilizamos duas máscaras 3x3 para encontrar os gradientes vertical e horizontal das bordas, o que acaba sendo menos sensível que outros algoritmos tal como o de Robinson, que utiliza máscaras 2x2, e tem menor precisão.

Neste trabalho, foi aplicado o algoritmo de segmentação de bordas [6,7] baseado no método de Sobel. É baseado em operações de convolução com máscaras, representando operações direcionais de derivadas segundas ao longo da imagem

Figura 2. Matrizes de convolução para o método Sobel.

Figura 3. Exemplo de células contaminadas.

Figura 4. Histograma das cores RGB

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1 2 1

0 0 0

-1 -2 -1

1 0 -1

2 0 -2

1 0 -1

parasitas. Na Fig. 3 é apresentado um exemplo de imagem de células contaminadas. Por meio de histogramas, é possível observar a distribuição de cores. Estes histogramas (Fig.4) apresentam a quantidade de pixels para cada um dos 256 níveis de tons de azul, vermelho e verde.

2. RESULTADOS

Os algoritmos que foram desenvolvidos em software utilizando a linguagem JAVA [8,9], visam realçar elementos relevantes da imagem, como a célula, seu núcleo e, se infectada, seus

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SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI

A partir destes resultados torna-se possível observar a separação de cada elemento de interesse.

3. CONCLUSÃO

Neste trabalho, algoritmos de processamento digital de imagens foram utilizados para de segmentação de células. Por meio do programa desenvolvido é possível separar elementos relevantes da imagem, nesse caso, o núcleo das células e seus parasitas. Este é um passo importante para a contagem e classificação de cada elemento como sendo célula ou parasita. Desta forma será possível determinar o grau de infecção por célula com um processo automático, poupando tempo de pesquisadores.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer o financiamento da pesquisa pelo Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Uniseb de Ribeirão Preto.

Utilizando o algoritmo de Sobel para detecção das bordas dos elementos selecionados anteriormente, e por fim, antes de realizar qualquer cálculo sobre a imagem, um processo de binarização é realizado, para que elementos e fragmentos de elementos sejam eliminados.

Na figura 5, é possível visualizar o efeito de cada algoritmo na imagem.

76 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica76

Figura 5 – De cima para baixo: Imagem normal, imagem realçada por meio de histogramas, algoritmo de Sobel, Algoritmo de Sobel binarizado.

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77Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Notas

[1] NOHARA, L.L; LEMA, C; BADER, J.O; AGUILERA, R.J; ALMEIDA, I.C. High-content imaging for automated determination of host-cell infection rate by the intracellular parasite TrypanosomaCruzi. Philadelphia:Elsevier, 2010.

[2] VINHAES, M.C; DIAS, J.C.P. Doença de Chagas no Brasil. Rio de Janeiro: Cad Saúde Pública, 2000.

[3] DUTRA, W.O; GOLLOB, K.J; PINTO-DIAS, J.C; GAZINELLI, G; CORREA-OLIVEIRA, R; COFFMAN, R.L; CARVALHO-PARRA, J.F. CitokynemRNA Profile ofPeripheralBlood Mononuclear CellsIsolatedfromIndividualswith Trypanosoma CruziChronicInfection. Belo Horizonte, 1996.

[4] GONZALEZ, R.C; WOODS, R.E. Processamento Digital de Imagens. 3ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010

[5] PECCINI, G; D’ORNELLAS, M. Segmentação de Imagens por Watersheds: Uma implementação usando a linguagem Java. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria.

[6] ROERDINK, J.B.T.M; MEIJSTER, A. The Watershed Transform: Definitions, Algorithms and Parallelization Strategies. Groningen: University of Groningen.

[7] SEARA, M.D; ELIZANDRO, G.C.S.E; Encontrando a Linha Divisória: Detecção de Bordas.

[8] SANTOS, R.JAI: Java AdvancedImaging. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2008.

[9] DEITEL, H.M; DEITEL P.J. Java, Como Programar. 4ºed. Porto Alegre: Bookman, 2003.

REFERÊNCIAS

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SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI

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SEGMENTAÇÃO DE IMAGENS DE CÉLULAS INFECTADAS COM TRYPANOSOMA CRUZI

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RESUMO

Esse trabalho busca analisar no método de custo de absorção e a alteração nos custos e nos lucros da empresa a partir da mudança tributária do regime simples nacional para lucro real de uma empresa prestadora de serviços contábeis no ano de 2011. O estudo foi realizado com a metodologia de pesquisa do tipo exploratória e descritiva utilizando o custo por absorção alocado com a nova tributação para comparação de preço final. A consequência disso é atribuir o custo do serviço de maneira mais adequada com os aspectos de tempo de trabalho aplicado para cada cliente e seus níveis de complexidade das obrigações acessórias entregues aos órgãos públicos, com o intuito de auxiliar na tomada de decisão sobre a junção tributária e contabilidade de custos para os usuários dessa ferramenta de leitura.

Palavras-chave: Contabilidade Custos, Tributária, Serviços Contábeis.

ABSTRACT

This work seeks to analyze the cost method of absorption and changes in the costs and profits of the company from the tax shift from single national scheme for real profit of a firm offering financial services in 2011. The study was conducted with the research methodology of exploratory and descriptive type using the absorption

cost per allocated with the new taxation compared to the final price. The result is to assign the cost of more adequately service the aspects of working time applied to each client and their complexity levels of ancillary obligations issued to public bodies, in order to assist in decision making on tax junction and accounting fees to users reading this tool.

Keywords: Accounting Cost, Tax, Accounting Services.

INTRODUÇÃO

A prestação de serviços vem alavancando mundo afora, e no Brasil isso não foi diferente devido às várias ramificações decorrentes do crescimento da população, das perspectivas financeiras, das terceirizações, entre outros fatores que fazem com que essa modalidade seja levada em consideração nesse estudo de caso.

De acordo com Costa (2010), as prestadoras de serviços existem desde os primórdios da civilização e seu crescimento é natural assim como os outros segmentos.

Outro aspecto na contramão desse crescimento é a estabilidade do ramo prestação de serviços que esta ligada diretamente com pesquisadas sobre a mortalidade das empresas nos primeiros cinco anos de vida. Isso é notório segundo a pesquisa realizada na JUCESP entre 1999 e

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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Iris Cristina Nietto¹Andréia Marques Maciel²José Marcos da Silva³

¹ Acadêmica do curso de Ciências Contábeis, do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. Bolsista de Iniciação Científica pelo Programa Institucional de Bolsas do UNISEB. [email protected]² Mestre em Administração de Organizações pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. ³ Mestrando em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP). Docente no Centro Universitário UNISEB.

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2003, onde o numero de empresas abertas no ramo de prestação de serviços a assessorias ás empresas encontra-se em um nível alto no grau de importância. De acordo com Bedê (2005, p.16).

... no setor de serviços, a maior incidência é o segmento de alojamento e alimentos (que engloba bares, restaurantes, lanchonetes, hotéis e pensões) e os serviços se assessoria ás empresas (ex. contadores, consultoria empresarial, serviços de engenharia e arquitetura).

A falta de planejamento tributário e a má gestão de custos apropriada potencializam essa estatística. Isso se dá devido ao grande gasto com empregados e impostos relacionados à atividade escolhida, então se faz necessário o uso da contabilidade gerencial na tomada de decisão dos acionistas em busca de lucratividade e sobrevivência. De acordo com Bedê (2005) os impostos altos ocasionam a mortalidade da empresa, segundo os entrevistados.

Durante a pesquisa realizada pelo SEBRAE, um dos questionamentos feitos aos sócios das empresas encerradas durante aquele período, diz a respeito às orientações que poderiam ter evitado a mortalidade de seu empreendimento. O resultado disso foi empate em duas das cinco conclusões, de acordo com Bedê (2005, p.32): “os auxílios que teriam sido úteis para evitar o fechamento são: menos encargos e impostos (31%), consultoria empresarial (31%), melhora da economia (30%) empréstimos bancários (19%) e outros tipos de ajuda (10%)”.

A junção de custo e tributos é necessária e estão ligadas não somente com o CSP¹, mas também com aspectos financeiros da empresa. Segundo Fabretti (2006) O resultado fiscal pode ser diferente do contábil devido à adaptação as exigências legais exigidas pelo fisco.

Dessa forma, o planejamento tributário é importante, porém não existe

mágica, a relação custo e benefício devem ser analisados para se conseguir a redução da carga tributária dentro da legalidade. Por meio dos relatórios contábeis é feito tal planejamento que auxilia na tomada de decisão. Os tributos são de extrema necessidade para a sobrevivência da economia de um país e seus respectivos municípios. No Brasil há grande discussão do alto índice de carga tributária em relação aos outros países, bem como da forma de dispêndio dessa arrecadação.

Assim, essa pesquisa consiste em um estudo de caso de uma prestadora de serviços contábeis, a qual possui um regime tributário de Simples Nacional, no ano de 2011, e que após a alocação dos custos pelo método de absorção será transformada em lucro real para analisar quais das possibilidades trará mais benefícios econômicos para a entidade. A partir disso, chega-se ao questionamento de: qual a alteração nos custos e nos lucros da empresa a partir da mudança do regime tributário?

Para isso foram determinados critérios de rateio específicos por horas trabalhadas, grau de comprometimento das entregas de obrigações para com o fisco por quantidade de clientes com critérios semelhantes, além disso, a proporção de rateio foi elaborada pelo histórico das receitas anuais e seu preço foi mantido para analisar os efeitos dos custos e lucro por meio da mudança tributaria e sua variação de alíquotas.

O objetivo principal do estudo é apresentar os efeitos da alteração nos custos e nos lucros da empresa a partir da mudança do regime tributário.

Foi feito um estudo de caso, realizado em caráter qualitativo/quantitativo, com pesquisa do tipo exploratória e descritiva, utilizando o método de pesquisa empírica, a fim de verificar a os efeitos nos custos e tributos em uma empresa prestadora de serviços contábeis. O estudo foi realizado por meio de planilhas e relatórios contábeis, método de rateio dos custos diretos e indiretos utilizando o custo de absorção como ferramenta de analise dos efeitos nos custos

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OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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devido o impacto de mudança tributaria e a influenciará no retorno financeiro para os gestores. A alocação da mão de obra é distribuída ao custo de serviços prestados por meio de horas trabalhadas em cada cliente que por sua vez são separados por grau devido aos fatores de tempo e dificuldade de trabalho aplicado relacionados a cada departamento. Foram utilizados os mesmo métodos internos de custeio e a relevância em conjunto com os gestores da empresa e o histórico de faturamento para alocação dos custos.

Na prestação de serviços os principais custos são relacionados com os colaborados e o aperfeiçoamento deles para proporcionar uma excelência na qualidade de seus serviços. Segundo Costa (2010), a formação dos colaboradores exige um investimento financeiro juntamente com os softwares para desenvolver os trabalhos em consultoria e

assessoria.Outro fator importante é o

desperdício, e não somente aos produtos, e sim nos desperdícios no sentido de economia e opção que oneram menos a empresa, por isso os critérios de custeios corretos e o estudo tributário auxiliam diretamente no lucro da empresa. Segundo Costa (2010), evitar perdas e desperdícios é importante para uma empresa moderna que busca um diferencial no mercado por meio da qualidade e excelência.

1 – CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

No Quadro 1 foram relacionados os conceitos básicos de custos, o que será muito importante para a posterior classificação e agrupamento das despesas da empresa estudada.

81Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Quadro 1 – Conceitos básicos de custos e despesas

Fonte: Elaboração própria.

Rotulação Definição Conceito (citação indireta)

segundo Peres Jr., Oliveira, Costa (2010)

Despesas

Despesa é o consumo de bens ou

serviços com o intuito de gerar

rentabilidade.

As despesas são relacionadas direta ou

indiretamente para obtenção de receitas e

não para confeccionar seus bens ou serviços.

Custos

fixos

Custo fixo não sofre oscilação

conforme o volume da produção

de bens ou serviços de

determinado período.

Os custos permanecem constantes

independente da produção não sofrerá

alteração de seu valor total.

Custos

variáveis

Custos variáveis sofrem oscilação

devido à relação diretamente ou

indiretamente com a quantidade

de bens ou serviços auferidos.

O valor desses custos acompanha o volume

de atividades da empresa.

Custos

diretos

Custo direto é nitidamente

reconhecido devido a grande

relação no processo de produtivo.

É facilmente identificável no processo

produtivo e podem ser quantificados em

relação à produção.

Custos

indiretos

Custos indiretos não são

reconhecidos facilmente, pois

nem sempre são essenciais para a

produção do produto ou serviço.

Esses custos necessitam de rateio para alocá-

los na produção devido à dificuldade de

identificar aos produtos ou serviços.

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

auditoria e fiscal com poucas restrições. Com isso todos os custos fixos, variáveis, diretos e indiretos são alocados somente pela produção de determinado período.

Na Figura 1 é possível visualizar as distribuições dos custos e sua demonstração do resultado do exercício.

2 – MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO

Este método é o mais utilizado por ter o sistema legal exigido no Brasil e segue os princípios fundamentais contábeis e fiscais. De acordo com Martins (2006) Esse método é utilizado na contabilidade financeira,

com seu devido tratamento contábil.3 – PREÇO DE VENDA

O preço é um fator importante para a vida financeira de uma instituição, por ele a empresa se manterá e pagara suas dívidas e manterá seu ciclo normal de atividade.

A receita deve se adaptar as perspectivas de mercado, e se tornar um atrativo para obtenção de mais clientes, porém a gestão da empresa deve ficar atenta não somente a preço, mas a qualidade, excelência e de qual maneira os produtos e serviços chegarão ao consumidor final e o Feedback pós vendas. De acordo com

Os custos diretos são rateados pelos critérios de apropriação determinados pelo gestor com parâmetros internos e informações relevantes para este fim.

Os custos indiretos são apropriados por rateio de sem departamentalização pela simplificação de critério estabelecido desconsiderando essa distribuição por atividades, e os rateios com departamentalização que divide a absorção departamentos auxiliares e os de produção, e as despesas não entram no critério de rateio com a utilização desse método, pois são lançadas diretamente na D.R.E “Demonstração do Resultado do Exercício”

82 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica82

Custeio por ABSORÇÃO

Empresas Prestadoras de Serviços

Despesas

Prestação de Serviços

Demonstração de Resultados

Receita

Custo Serviços Prestados

Lucro Bruto

Despesas

Lucro Operacional

Custos

Figura 1 – Custeio por absorção.Fonte: Martins, 2010.

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OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

83Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica |

Quadro 2 – Formulas de precificação.

Fonte: Bornia, 2010.

Martins (2010) Ter percepção sobre custos e compreender os efeitos da demanda, a precificação dos concorrentes e dos produtos que podem ser substituídos, o marketing utilizado dentre várias outras questões.

Existem vários métodos para se conseguir a precificação de produtos ou serviços, como o custo pleno ou custo por absorção, onde se acrescenta aos custos de produção todas as despesas e o lucro almejado.

Um aspecto que deve ser considerado é o mercado, uma vez que a concorrência faz com que os preços sejam diminuídos e, para não ocasionar em um prejuízo, faz-se necessário alocar todos os custos e uma margem necessária para arcar com as despesas do período. Segundo Bornia (2010) o mercado é competitivo oferecendo bons preços, qualidade, variedade entre outros fatores.

O custo meta é ideal para fixação do preço praticado e os custos devem ser absorvidos pelo preço de venda, com esse método o lucro vai oscilar em relação aos desperdícios na seguinte equação:

Segundo Bornia (2010) Uma empresa desenvolvida deve ter capacidade de realizar uma gestão competente para alcançar metas com menor custo.

Nesse estudo de caso, os preços utilizados foram os praticados pela empresa no ano de 2011, assim como os critérios internos para apropriação dos custos no custeio por absorção. No entanto, para reproduzir e utilizar os custos e as despesas do período e a proporção do gasto com os tributos sobre o faturamento e os tributos trabalhistas sobre a folha de pagamento.

4 – LUCRO REAL X SIMPLES NACIONAL

O Simples Nacional nasceu com a lei complementar nº 123, no dia 14/12/2006 e é um regime tributário diferenciado, simplificado voltado para microempresas e empresas de pequeno porte. Neste regime existem as vedações e as condições que a legislação rege.

Esse enquadramento abrange em um único recolhimento mensal os tributos IRPJ, IPI, CSLL, Cofins, PIS, CPP, ICMS e ISS e a opção para o Simples Nacional é valida para todo o ano calendário, e sua alíquota é baseada na soma dos últimos dozes últimos faturamentos e enquadrada em anexos apropriados ao seu ramo de atividade atualmente a empresa estudada esta enquadrada no anexo III referente ao art. 18 da lei 123/2006.

O Simples Nacional também proporciona a seus contribuintes alguns benefícios tributários tais como não incidir o pagamento da contribuição de terceiros.

Segundo a lei do (artigo 22, incisos I a IV da Lei nº 8.212/1991), a contribuição patronal obtém a alíquota de 1% para atividades com risco de acidente de trabalho de risco leve.

A apuração do Lucro Real pode ser feita de duas maneiras a anual ou a trimestral.

PREÇO = CUSTO + LUCRO

LUCRO = PREÇO - CUSTO

CUSTO = PREÇO - LUCRO

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No Lucro Real anual a empresa apura os recolhimentos mensalmente com base no seu faturamento com as alíquotas determinadas em lei, com isso se obtém uma estimativa de lucro sobre o IRPJ e CSLL e ao

final do ano calendário é elaborado o balanço anual descontando as antecipações feitas no decorrer do ano vigente ocasionando um debito ou credito tributário conforme tabela de artigos a seguir.

84 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica84

Tabela 1 – Alíquotas necessárias para apurar o lucro real.

Fonte: Elaboração própria.

DESCRIÇÃO ALIQUOTAS PARAMETROS LEGAISIRPJ 15% LEI Nº 9.249/1995, ART. 3º

ADICIONAL IRPJ 10% LEI Nº 9.249/1995, ART. 3ºCSLL 9% LEI Nº 7.689/1988, ART. 3ºPIS 1,65% LEI Nº 10.637/ 2002, ARTS. 1º A 6º

COFINS 7,60% LEI Nº 10.637/ 2002, ARTS. 1º A 8º

ARTIGOS RELACIONADOS AO LUCRO REAL E SUAS ALIQUOTAS

No Lucro Real trimestral é apurado o seu recolhimento no em períodos trimestrais e os prejuízos fiscais não poderão ser deduzidos totalmente como na opção anual, seu limite de compensação é de 30% do lucro real dos trimestres seguintes.

5 – A EMPRESA DO ESTUDO DE CASO

A empresa a ser utilizada nesse estudo de caso é uma prestadora de serviços contábeis, a qual atua há mais de vinte anos nesse ramo na cidade de Ribeirão Preto/SP. Em busca de diferencial no mercado, a empresa em questão obteve o selo de qualidade da PQEC (PROGRAMA DE QUALIDADE DE EMPRESAS CONTÁBEIS), e desde então visa o aprimoramento dos colaboradores e as técnicas adquiridas nesse selo.

É uma empresa familiar, fundada por um casal de sócios, a qual, em 2011, possuía 105 clientes de diversas áreas e conta com sua equipe de funcionários nos departamentos contábil, fiscal e departamento de pessoal onde oferece serviços desde o processo de

abertura e encerramento de empresas até ao auxílio à aposentadoria e assessoria contábil.

6 – TEMPOS ESTIMADOS PARA RATEIO

O critério de rateio a ser utilizado é o da taxa horária de custo da mão de obra que será apropriado aos serviços contábeis no decorrer desse trabalho.

O ano calendário possui 365 dias, porém devem-se abater os fins de semana totalizando em 260 dias uteis.

O cálculo das horas é feito por meio de parâmetros legais com carga horária de 8 horas diárias, se faz necessário tirar o tempo ocioso que se tem durante o expediente para estudos, café, checar e-mails e outras necessidades de cada funcionário tem durante seu período, então será imputado o valor de 7 horas diárias.

Segundo Costa (2010) a variação do custo hora unitário consumido entre os auditores acompanha a dimensão de tempo dos variados clientes.

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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Tabela 2 – Histórico de receitas e suas proporções por grau.

Tabela 3 – Folha de pagamento apurado pelo lucro real

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

7 – CRITÉRIOS PARA RATEIO BASEADO EM HISTORICOS

É relevante conhecermos os métodos utilizados na empresa para entender a distribuição e como foi possível praticar os

preços atuais de cada tipo de cliente, por isso as receitas e os preços praticados foram avaliados e então foi destacada a proporção em relação ao faturamento do mesmo ano demonstrado a seguir.

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7RECEITA POR GRAU 62.495,25 13.439,50 47.965,20 23.862,80 20.420,00 35.239,60 56.450,60

RECEITA ACUMULADA 259.872,95 259.872,95 259.872,95 259.872,95 259.872,95 259.872,95 259.872,95PROPORÇÃO 24% 5% 18% 9% 8% 14% 22%

PREÇO PRATICADO 100,00 202,00 273,00 500,00 540,00 592,00 2.656,00

HISTORICO DE RECEITAS E SUAS PROPORÇÕES POR GRAU ($)

Essa proporção foi necessária para conhecer os métodos internos utilizados para precificação e auxiliam na separação dos graus como será mostrado mais adiante.

8 – MÃO-DE-OBRA E SEUS CUSTOS.

8.1 Os custos com encargos, férias, 13º salário, seguro de vida, encargos sobre a folha, salários, contribuições foram alocados por quantidade de funcionários e

seus respectivos cargos dentro da empresa durante o ano de 2011. Segundo COSTA (2010, p. 345). “um grande escritório de contabilidade pode ter seus resultados apurados distintamente em três divisões: contábil, fiscal e departamento pessoal”.

8.1.1 Na tabela abaixo foi feito o cálculo da hora mês e hora de trabalho por setor usando como base os dados acima.

SETORES REMUNERAÇÃO ANUAL REMUNERAÇÃO MENSAL TAXA HORAADMINISTRAÇÃO 92.179,95 7.681,66 49,88

DEPART. CONTÁBIL 26.971,79 2.247,65 14,60 DEPART. FISCAL 27.106,74 2.258,89 14,67

DEPART. PESSOAL 48.086,22 4.007,18 26,07 TOTAL 194.344,70 16.195,38 105,16

FOLHA DE PAGAMENTO APURADA PELO LUCRO REAL ($)

TOTAL DE HORAS POR ANO 260 X 7 = 1.820 TOTAL DE HORAS MÊS 21,67 X 7 = 152

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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86 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica86

9 – COMPLEXIDADE DOS GRAUS

9.1 O critério de rateio para todas as etapas será decidido pelo do grau de complexidade da clientela da empresa contábil estudada. Além de observar todos

os ramos de atividade, tributação, obrigações para com os órgãos públicos e a quantidade de funcionários para determinar a porcentagem utilizada nos próximos rateios por meio de relatórios internos que estão expostos na tabela abaixo:

Tabela 4 – Correlação das horas com a porcentagem aplicada no rateio

Quadro 3 – Grau de complexidade dos clientes.

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7PORCENTAGEM 24% 5% 18% 9% 8% 14% 22%

CALCULO MENSAL 36,41 7,59 27,31 13,65 12,14 21,24 33,37 HORA MENSAL CONVERTIDA 36,41 7,59 27,31 14,05 12,14 21,24 33,37

CORRELAÇÃO DAS HORAS COM A PORCENTAGEM APLICADA NO RATEIO

Fonte: Elaboração própria.

9.2 Esse relatório foi produzido por meio de estudos com a precificação de preço determinado pela diretoria onde

foi demonstrada a complexidade para contabilização em todos os setores da empresa mencionados no Quadro 2.

GRAUS CARACTERISTICAS DETERMINANTES PARA RATEIO

1º Pouco volume de documentos é uma característica de empresas de

representação comercial, propaganda e publicidade e serviços de informática.

2º Prestadoras de serviços, apuração do ISS e volume de vendas.

São empresas comerciais, onde se tem a figura de impostos mais

complexos de serem calculados como ICMS, IPI e a substituição tributaria

entre outros que são calculados por meio da venda de produtos.

Empresas do ramo da saúde e transportes que possuem suas

necessidades e obrigações acessórias especificas devido a movimentação e

tipo de mercado.

È determinado pela quantidade de ate cinco funcionários registrados

em cada empresa, além de algumas obrigações acessórias e as funções de

cada departamento.

È determinado pelo trabalho do departamento pessoal devido a

grande demanda de trabalho envolvendo esse setor, essa complexidade se

deu pela quantidade estabelecida de funcionários de 6 até 20.

7º O acúmulo das questões abordadas acima mais o fato de possuir mais

de 21 colaboradores.

Fonte: Elaboração própria.

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Tabela 5 – Distribuição de hora por departamento.

Tabela 6 – Rateio da mão de obra por unidade de cliente.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

10 – CARGA HORARIA POR DEPARTAMENTOS

10.1 O tempo gasto com cada grau de cliente foi determinado na tabela e a partir

da quantidade de horas aplicadas, serão absorvidos os custos da mão de obra, material aplicado e despesas variáveis durante o ano de 2011.

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7DEPART. ADMINISTRATIVO 5,00 1,00 3,00 1,00 1,50 3,00 4,00

DEPART. CONTÁBIL 12,00 2,30 11,00 5,50 2,50 5,00 7,00 DEPART. PESSOAL 7,00 2,00 2,00 2,00 5,50 8,00 15,00 DEPART. FISCAL 12,40 2,30 11,30 5,60 2,60 5,20 7,40

TOTAL DE HORAS 36,40 7,60 27,30 14,10 12,10 21,20 33,40

DISTRIBUIÇÃO DE HORA POR DEPARTAMENTO

11 – RATEIO DA MÃO DE OBRA

11.1 A mão de obra absorverá os custos

pelas horas de cada departamento e o custo hora estabelecidas posteriormente nesse trabalho demonstrado na tabela abaixo.

GRAUS POR CLIENTE 1 2 3 4 5 6 7DEPART. ADMINISTRATIVO 249,40 49,88 149,64 49,88 74,82 149,64 199,52

DEPART. CONTÁBIL 175,14 33,57 160,55 80,27 36,49 72,98 102,17 DEPART. PESSOAL 182,14 52,04 52,04 52,04 143,11 208,17 390,31

DEPART. FISCAL 181,89 33,74 165,75 82,14 38,14 76,27 108,54 TOTAL DA MÃO DE OBRA 788,58 169,23 527,98 264,56 292,56 507,06 800,54

QUANT. DE CLIENTES POR GRAU 68 6 14 5 3 5 4M.O UNITARIA POR CLIENTE 11,60 28,20 37,71 52,87 97,52 101,41 200,14

RATEIO DA MÃO DE OBRA POR UNIDADE DE CLIENTE ($)

12 – RATEIO DO MATERIAL APLICADO E CUSTOS VARIÁVEIS

12.1 O critério de rateio utilizado é referente à porcentagem dos graus

mencionados nas tabelas anteriores, os custos estão em período anual 2011. Na tabela abaixo esta demonstrada o rateio e o custo de cada grau.

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Tabela 7 – Rateio de custos variáveis por unidade de cliente.

Tabela 8 – Rateio dos custos fixos por unidade de cliente.

Tabela 9 – Rateio das despesas fixas e variáveis unitárias por cliente.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

GRAUS POR CLIENTE 1 2 3 4 5 6 7PORCENTAGEM APLICADA 24% 5% 18% 9% 8% 14% 22%

MATERIAL APLICADO 6.794,23 6.794,23 6.794,23 6.794,23 6.794,23 6.794,23 6.794,23SOMA DO MATERIAL APLICADO 1.630,62 339,71 1.222,96 611,48 543,54 951,19 1.494,73

CUSTO VARIAVEL 5.379,50 5.379,50 5.379,50 5.379,50 5.379,50 5.379,50 5.379,50TOTAL DOS CUSTOS VARIAVEIS 1.291,08 268,98 968,31 484,16 430,36 753,13 1.183,49

SOMA DOS CUSTOS MENSAIS 243,47 50,72 182,61 91,30 81,16 142,03 223,19 QUANT. DE CLIENTES POR GRAU 68 6 14 5 3 5 4UNIDADE DO CUSTO VARIAVEL 3,58 8,45 13,04 18,26 27,05 28,41 55,80

RATEIO DE CUSTOS VARIAVEIS POR UNIDADE DE CLIENTE ($)

13 – RATEIO DO CUSTO FIXO

13.1 O critério de rateio utilizado é referente à porcentagem dos graus

14 – RATEIO DAS DESPESAS FIXAS E VARIÁVEIS

14.1 O rateio das despesas fixas e variáveis foi elaborado para fins de

mencionados nas tabelas anteriores, os custos estão em período anual 2011. Na tabela abaixo esta demonstrada o rateio e o custo de cada grau.

precificação, essa distribuição foi feita pelos mesmos critérios das tabelas anteriores com a finalidade de obtenção da despesa unitária. Na tabela seguinte é demonstrada essa relação.

GRAUS POR CLIENTE 1 2 3 4 5 6 7PORCENTAGEM APLICADA 24% 5% 18% 9% 8% 14% 22%

CUSTOS FIXOS 15.252,68 15.252,68 15.252,68 15.252,68 15.252,68 15.252,68 15.252,68TOTAL DOS CUSTOS FIXOS 3.660,64 762,63 2.745,48 1.372,74 1.220,21 2.135,38 3.355,59

SOMA DOS CUSTOS MENSAIS 305,05 63,55 228,79 114,40 101,68 177,95 279,63 QUANT. DE CLIENTES POR GRAU 68,00 6,00 14,00 5,00 3,00 5,00 4,00

UNIDADE DOS CUSTOS FIXOS 4,49 10,59 16,34 22,88 33,89 35,59 69,91

RATEIO DOS CUSTOS FIXOS POR UNIDADE DE CLIENTE ($)

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7DESPESAS F + V 6.188,41 6.188,41 6.188,41 6.188,41 6.188,41 6.188,41 6.188,41 PORCENTAGEM 24% 5% 18% 9% 8% 14% 22%

QUANTIDADE 68 6 14 5 3 5 4TOTAL 1.485,22 309,42 1.113,91 556,96 495,07 866,38 1.361,45

CUSTO MENSAL 123,77 25,79 92,83 46,41 41,26 72,20 113,45 UNITARIO POR CLIENTE 21,84 51,57 79,57 111,39 165,02 173,28 340,36

RATEIO DAS DESPESAS FIXAS E VARIAVEIS UNITARIA POR CLIENTES ($)

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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Tabela 10 – Resultado dos rateios de todos os custos.

Tabela 11 – Tabela de proporção dos encargos fiscais.

Tabela 12 – Comparativo de retorno obtido por cliente.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

15 – PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS CONTÁBEIS

15.1 Os custos foram rateados com

15.2 Com os custos elaborados por unidade será multiplicados a eles o tributo

O regime Simples Nacional tem alíquotas tributárias menores que o lucro real e alguns benefícios concedidos pela legislação.

15.3 Com isso chegam-se à base onde

as porcentagens distribuídas por cliente, com esses dados serão feitas as precificações conforme a tabela abaixo.

do regime simples nacional.

será aplicado às formulas para obter o preço praticado. Na tabela é demonstrado o custo, lucro e preço do regime simples nacional, e nota-se que o preço e o custo não variam de cliente para cliente e sim o retorno obtido em cada operação.

GRAUS MÃO DE OBRA CUSTO VARIAVEL CUSTO FIXO DESPESAS TOTAL1 11,60 3,58 4,49 21,84 41,50 2 28,20 8,45 10,59 51,57 98,82 3 37,71 13,04 16,34 79,57 146,67 4 52,87 18,26 22,88 111,39 205,40 5 97,52 27,05 33,89 165,02 323,49 6 101,41 28,41 35,59 173,28 338,69 7 200,14 55,80 69,91 340,36 666,20

RESULTADO DOS RATEIOS DE TODOS OS CUSTOS ($)

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7(A) PREÇO META 100,00 202,00 273,00 500,00 540,00 592,00 2.656,00

(B) TRIBUTOS FISCAIS (% ) 10,26 10,26 10,26 10,26 10,26 10,26 10,26PROPORÇÃO (A X B) 10,26 20,73 28,01 51,30 55,40 60,74 272,51

GASTOS LUCRO REAL 41,50 98,82 146,67 205,40 323,49 338,69 666,20 TOTAL POR GRAU 51,76 119,55 174,68 256,70 378,89 399,43 938,71

TABELA DE PROPORÇÃO DOS ENCARGOS FISCAIS ($)

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7PREÇO (P = C + C) 100,00 202.00 273,00 500,00 540,00 592,00 2.656,00 LUCRO (L = P - C) 48,24 82,45 98,32 243,30 161,11 192,57 1.717,29 CUSTO (C = P - L) 51,76 119,55 174,68 256,70 378,89 399,43 938,71

COMPATIVO DE RETORNO OBTIDO POR CLIENTE ($)

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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90 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica

16 – MUDANÇAS PARA O LUCRO REAL

16.1 A folha de pagamento foi alterada em 28% devido aos impostos sobre o salário, pois no lucro real a apuração da

16.2 Com isso o custo da mão de obra se encarece devido ao ajuste do novo regime

Os outros custos e as despesas não foram afetados com a nova tributação. Com isso o preço de venda sobe devido ao

contribuição patronal, terceiros, RAT e FAT são adicionadas nos cálculos trabalhistas fazendo com que a folha de pagamentos tenha um custo mais elevado. Na tabela abaixo é demonstrado o aumento da taxa hora.

tributário. Vejamos a tabela a seguir:

acréscimo da mão de obra. Observa-se a seguir o novo custo total:

Tabela 13 – Folha de pagamento apurada pelo lucro real.

Tabela 14 – Rateio da mão de obra por unidade de cliente.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

SETORES REMUNERAÇÃO ANUAL REMUNERAÇÃO MENSAL TAXA HORAADMINISTRAÇÃO 117.990,34 9.832,53 64,83

DEPART. CONTÁBIL 34.523,89 2.876,99 18,97 DEPART. FISCAL 34.696,63 2.891,39 19,06

DEPART. PESSOAL 61.550,36 5.129,20 33,82 TOTAL 248.761,22 20.730,11 136,68

FOLHA DE PAGAMENTO APURADA PELO LUCRO REAL ($)

TOTAL DE HORAS POR ANO 260 X 7 = 1.820 TOTAL DE HORAS MÊS 21,67 X 7 = 152

GRAUS POR CLIENTE 1 2 3 4 5 6 7ADMINISTRAÇÃO 324,15 64,83 194,49 64,83 97,24 194,49 259,32

CONTABIL 227,63 43,63 208,66 104,33 47,42 94,85 132,78 PESSOAL 236,73 67,64 67,64 67,64 186,00 270,55 507,28

FISCAL 236,39 43,85 215,42 106,76 49,57 99,13 141,07 TOTAL MÃO DE OBRA 1.024,91 219,94 686,21 343,56 380,24 659,02 1.040,46

QUANT. DE CLIENTE POR GRAU 68 6 14 5 3 5 4M.O UNITARIA POR CLIENTE 15,07 36,66 49,02 68,71 126,75 131,80 260,12

RATEIO DA MÃO DE OBRA POR UNIDADE DE CLIENTE ($)

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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90 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 91

17 – ALÍQUOTAS DO LUCRO REAL

17.1 As alíquotas do novo regime tributário são altas em relação à alíquota do Simples Nacional e o beneficio que esse regime traz na folha de pagamento.

As alíquotas utilizadas nesse estudo referente a esse regime tributário são: 2% de

17.3 Com as novas bases serão demonstradas a variação do retorno obtido

ISS, 1.65% de PIS, 7.60% de COFINS, 15% de IRPJ e 9% de CSLL.

17.2 Devido ao acréscimo na mão de obra e na alíquota dos impostos referente a vendas foram necessário uma adaptação dos os gastos conforme tabela seguinte.

devido às alterações necessárias para esse regime conforme a tabela seguinte.

Tabela 15 – Resultados dos rateios de todos os custos.

Tabela 16 – Tabela de proporção dos encargos fiscais.

Tabela 17 – Comparativo de retorno obtido por cliente.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

GRAUS MÃO DE OBRA CUSTO VARIAVEL CUSTO FIXO DESPESAS TOTAL1 15,07 3,58 4,49 21,84 44,98 2 36,66 8,45 10,59 51,57 107,27 3 49,02 13,04 16,34 79,57 157,97 4 68,71 18,26 22,88 111,39 221,24 5 126,75 27,05 33,89 165,02 352,71 6 131,80 28,41 35,59 173,28 369,08 7 260,12 55,80 69,91 340,36 726,19

RESULTADO DOS RATEIOS DE TODOS OS CUSTOS ($)

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7(A) PREÇO META 100,00 202,00 273,00 500,00 540,00 592,00 2.656,00

(B) TRIBUTOS FISCAIS (% ) 35 35 35 35 35 35 35PROPORÇÃO (A X B) 35,00 70,70 95,55 175,00 189,00 207,20 929,60

GASTOS LUCRO REAL 44,98 107,27 157,97 221,24 352,71 369,08 726,18 TOTAL POR GRAU 79,98 177,97 253,52 396,24 541,71 576,28 1.655,78

TABELA DE PROPORÇÃO DOS ENCARGOS FISCAIS ($)

GRAUS 1 2 3 4 5 6 7PREÇO (P = C + C) 100,00 202.00 273,00 500,00 540,00 592,00 2.656,00LUCRO (L = P - C) 20,02 24,03 19,48 103,76 1,71- 15,72 1.000,22CUSTO (C = P - L) 79,98 177,97 253,52 396,24 541,71 576,28 1.655,78

COMPATIVO DE RETORNO OBTIDO POR CLIENTE ($)

OS EFEITOS DECORRENTES DOS CUSTOS E A PRECIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE UMA EMPRESA DE ACORDO COM O REGIME TRIBUTAÇÃO

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92 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica

Nota-se que o preço do grau cinco sofreu um impacto maior em relação aos outros, ocasionando em perda de retorno referente a aqueles clientes que estão dentro desse grau.

18 – RECOLHIMENTOS DO REGIME SIMPLES NACIONAL E LUCRO REAL SOBRE A VENDA

Abaixo está descrito o valor referente ao Simples Nacional, e vale destacar que o tributo pago pelo Simples é menos oneroso

Na tabela abaixo é demonstrado o tributo ISS sobre o faturamento referente ao regime tributário lucro real, no Simples

19 – AVALIAÇÃO DO LUCRO E DO IRPJ E CSLL.

19.1 Nessa etapa do processo foram elaborados duas demonstrações do resultado

No Quadro 4 estão relacionados aos impostos sobre venda o PIS e a COFINS nesse caso devido ao regime lucro real.

comparado a apenas dois dos tributos do Lucro Real.

Nacional esse valor já estava dentro do anexo III.

do exercício para uma análise financeira sobre o lucro e os custos.

A seguir está a demonstração do resultado do exercício no regime SIMPLES NACIONAL e Lucro Real:

Quadro 4 – Impostos sobre os serviços prestados.

Quadro 5– Somatória anual do simples nacional.

Quadro 6 – Somatória do ISS anual.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

TRIBUTOS RELACIONADOS AO REGIME TRIBUTÁRIO S.N TOTAIS

RELATÓRIO ANUAL DE FATURAMENTO R$ 259.872,95

PIS A PAGAR ANUAL COM ALIQUOTA DE 1,65% R$ 4.287,90

COFINS A PAGAR ANUAL COM ALIQUOTA DE 7,60% R$ 19.750,34

APURAÇÃO DO SIMPLES NACIONAL ANUAL TOTAL

ALIQUOTA 10,26% - 3,50% (ISS) R$ 17.567,41

ISS ANUAL COM ALÍQUOTA DE 2% PARA O LUCRO REAL R$ 5.197,46

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19.2 Na planilha abaixo são demonstrados melhor à relação entre custo,

CONCLUSÃO

Os tributos que incidem sobre a empresa estudada, que atua no ramo de serviços contábeis, são: IRPJ, CSLL, COFINS,

gastos tributários e o lucro.

PIS/PASEP, INSS, ISS, FGTS, Contribuições e R.A.T. Esses tributos independem do regime tributário escolhido, pois sempre vão existir devido ao ramo e conforme a lei rege. Nos impostos sobre a renda e o INSS sobre

Tabela 18 – Demonstração do resultado do exercício dos regimes tributários.

Tabela 19 – Comparativos dos dados coletados.

Fonte: Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

DEMONSTR. RESUL.

EXERC. 2011

S.

NACIONAL

LUC

RO REAL

RECEITA LÍQUIDA R$

242.305,54

R$

230.637,25

CUSTOS DOS SERVIÇOS R$

221.771,53

R$

221.771,53

OUTRAS RECEITAS R$ 13,20 R$

13,20

DESPESAS OPERACIONAIS R$

6.188,41

R$

6.188,41

LAIR R$

14.358,80

R$

2.690,51

RESULTADO R$

14.535,02

R$

3.438,29

IMPOSTOS SOBRE O

LUCRO

-----------

--------------

R$

825,19

LUCRO LÍQUIDO R$

14.535,02

R$

2.613,10

DESCRIÇÃO SIMPLES N. LUCRO REALLUCRO ANUAL 14.535,02 2.613,10 TRIBUTOS PAGOS 17.567,41 30.060,90 GASTOS TOTAIS FOLHA 194.344,70 248.761,22 TOTAL 226.447,13 281.435,22

COMPARATIVO DOS DADOS COLETADOS ($)

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a folha, a diferença entre um regime e outro são as porcentagens, a maneira de serem recolhidos bem como seus prazos.

No Simples nacional temos alguns benefícios além da guia unificada onde a data de recolhimento dos impostos relacionados à tabela III conforme a lei e o beneficio da contribuição patronal onde estão isentas devido ao regime tributário. No Lucro Real não existe essa unificação das guias relacionadas com alguns dos impostos já comentados e as alíquotas dos tributos são elevadas comparadas ao regime Simples Nacional, além disso temos a figura da contribuição patronal que não tem o mesmo beneficio do outro regime tributário sendo assim é tributada normalmente sobre a folha de pagamento.

O problema de pesquisa nasceu devido às pesquisas que envolvem os motivos de mortalidade das empresas no Brasil onde são indicados vários problemas e dentre eles estão à falta de planejamento tributário e a ausência de conhecimento na gestão de custos. A partir disso, chega-se ao questionamento de: qual a alteração nos custos e nos lucros da empresa a partir da mudança do regime tributário?

A partir dos estudos realizados foi possível apresentar os efeitos da alteração nos custos e nos lucros da empresa a partir da mudança do regime tributário.

A empresa prestadora de serviços contábeis que possui mais de vinte anos de mercado e presta serviços para 105 clientes e busca o aprimoramento de seus colaborados visando a excelência em sua atividade por isso obteve o selo de qualidade e segue as técnicas adquiridas nesse programa de qualidade. Os gestores concederam todo material interno, planilhas de custos e as

demonstrações contábeis assim como apoio para a realização do estudo de caso.

A metodologia aplicada tem aspectos qualitativo/quantitativo do tipo exploratória e descritiva utilizando o método de pesquisa empírica.

Os dados obtidos serviram como ferramenta base para a pesquisa e por meio deles foi possível obtermos o custo historio das receitas anuais e a aplicação da metodologia de absorção de custos para alocação dos custos diretos e indiretos bem como a separação dos clientes por grau de dificuldade das obrigações acessórias para com o fisco e horas por departamento, também foi possível demonstrar os efeitos dos impostos, custos no retorno financeiro dos gestores em relação ao seu preço de venda e a partir daí foi possível atingir a conclusão final do trabalho.

A tributação Lucro Real não é vantajosa para essa empresa, devido a suas alíquotas serem mais altas em relação ao do Simples Nacional fazendo com que os tributos tenham impactos diretamente no custo.

No caso da folha de pagamento o impacto foi referente aos tributos sobre folha com alíquotas mais onerosas que no regime comparativo, e mesmo não alterando o preço de venda a empresa sofre devido à baixa entrada de lucro de um regime e essa diferença total de R$ 54.988,09, referente à subtração de R$ 281.435,22 do lucro real em comparação com o SIMPLES NACIONAL R$ 226.447,13 da tabela 25, que causaria uma oportunidade de investir internamente ou externamente na empresa, então é importante o devido estudo tributário e gerencial para não só auxiliar na tomada de decisão, mas para prevenir gastos desnecessários.

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ATKINSON, Anthony A.; CASTRO, André Olímpio Mosselman Du Chenoy; FAMÁ, Rubens. Contabilidade Gerencial. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade tributária. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

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TABELA SIMPLES NACIONAL – Anexo III <http://www.ponticellicontabilidade.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=77:tabela-aliquotas-simples-nacional&catid=3:flash-de-noticias&Itemid=67> Acesso em 10/02/2014.

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RESUMO

O estudo do ativismo judicial no Direito Tributário brasileiro contemporâneo se ateve à sua consequência como fator de insegurança jurídica nesse ramo do Direito. O enfoque dado foi na interferência do Poder Judiciário na esfera de atribuições dos Poderes Legislativo e Executivo, ressaltando que a prestação jurisdicional não deveria, de acordo com preceitos constitucionais, ter caráter político, no sentido de regulamentar questões fiscais. Com o estudo realizado, compreendeu-se que a resposta judicial, quando decorrente de postura ativista, tem como resultado um aumento na insegurança jurídica desse sistema, pois tal interferência desvirtua a Separação dos Poderes, preceito que organiza a estrutura jurídico-política do Estado brasileiro. Assim, a conclusão ressalta a necessidade de se observar a divisão funcional dos poderes, sendo inviáveis as decisões de cunho ativista, que resultam em insegurança jurídica, prejudicando o funcionamento jurídico e também político do Estado, uma vez que os Poderes exercem funções as quais não têm legitimidade, escapando das cobranças da população, sem solucionar as origens dos problemas no Direito Tributário.

Palavras-chave: ativismo judicial, direito tributário, separação de poderes, segurança jurídica.

ABSTRACT

The study of judicial activism in contemporary Brazilian Tax Law adhered to as a result of legal uncertainty factor in this branch of law . The focus was given on the role of judiciary in the sphere of duties of the Legislative and Executive , noting that the adjudication should not , according to constitutional principles , have political character in order to regulate tax issues . With the study , it was understood that the judicial response, when resulting from activist approach, results in an increase in legal uncertainty that system, because such interference undermines the Separation of Powers , precept which organizes the legal and political structure of the Brazilian State . Thus, the finding highlights the need to observe the functional division of powers, being unviable die activist decisions that result in legal uncertainty , and also hampering the legal political functioning of the state, since the Powers exercising functions which do not have standing, escaping the collections of the population, without solving the origins of the problems in Tax Law .

Keywords : judicial activism , tax law , separation of powers , legal certainty .

INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende estudar as

O ATIVISMO JUDICIAL COMO FATOR DE INSEGURANÇA JURÍDICA NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEOCristiane Duarte Mendonça Álvares1

João Fernando Ostini2

¹ Acadêmica do Curso de Direito do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. Bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica do UNISEB. [email protected]² Docente do Curso de Direito do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. [email protected]

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conjunturas do ativismo judicial, que ocorre no âmbito do Direito Tributário brasileiro contemporâneo, utilizando como parâmetro a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988.

A escolha do tema foi motivada pela crescente discussão sobre as práticas do ativismo judicial no Brasil, o que gera diferentes opiniões e argumentações sobre essa temática. Optou-se por delimitar o estudo ao Direito Tributário pelo fato de se observar os incontáveis casos de ativismo judicial nesse ramo, ocorridos em todas as instâncias, e que geram polêmicas e incredulidades, resultando em um Direito Tributário contemporâneo complexo, uma vez que suas diretrizes estão sendo facilmente distorcidas e aplicadas ao bel-prazer dos juízes.

A crescente postura proativa surge no cenário de ampliação da esfera de atuação do Judiciário, no qual o cidadão fica sob o controle de decisões que não têm cunho democrático, pois magistrados não são representantes do povo e não têm a função de instituir políticas públicas (inclusive fiscais).

Nesse contexto, o ativismo judicial age como fator de insegurança jurídica no Direito Tributário. As decisões judiciais que invadem a esfera de atuação do Legislativo e/ou Executivo, instituindo políticas fiscais, sem observar os princípios constitucionais em matéria tributária, além de desrespeitar a divisão funcional dos Poderes, acarretam a perda da confiança na estabilidade e na aplicabilidade do ordenamento jurídico, notadamente no sistema jurídico tributário, enfoque deste trabalho.

Ante tais procedimentos, este trabalho prezou por uma análise das conjunturas em que o ativismo judicial em matéria tributária se insere no contexto contemporâneo. Desse modo, concluiu-se que a grande problemática do ativismo judicial é a desvirtuação da separação dos Poderes, acarretando a hipertrofia do Poder Judiciário, que, com esse aumento indevido

de sua atuação e importância, desestrutura a organização do Estado, deixando os cidadãos em condição de incerteza, insegurança quanto à validade de suas condutas no ramo tributário.

1. ATIVISMO JUDICIAL E SEPARAÇÃO DE PODERES

A ideia de dividir as funções estatais, no que diz respeito ao poder político do Estado, remete à organização social, à instituição e uso desse poder, o qual deve ser estruturado para evitar o caos social e possibilitar a própria sociedade. Ante a importância de se organizar o poder no Estado é que diversos pensadores estudaram a separação das funções estatais, como Aristóteles, Platão, Locke, Montesquieu, Kant e tantos outros.

Como dito acima, apesar das diversas vertentes estudadas e aprimoradas por inúmeros pensadores acerca da divisão de poderes, a teoria que prevalece desde sua formulação foi a proposta por Montesquieu, principalmente pela perspicácia de seus estudos, ao abordar o âmbito jurídico especificadamente nas funções, bem como por sua direta relação com o meio social. Dessa maneira, Montesquieu (2005, p.167) propôs a divisão do poder estatal em três tipos de poder: “[...] o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o poder executivo daquelas que dependem do direito civil”.

A divisão funcional do poder político propõe uma nova estrutura governamental, baseada no controle do exercício do poder. A referida teoria, ao longo dos anos e principalmente após a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, foi inserida na maioria das constituições dos Estados como um de seus princípios fundamentais, inerente à estrutura do Estado Constitucional.

A proposta da Teoria da Separação dos Poderes, adotada pelos Estados

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é um instrumento de proteção e garantia das liberdades individuais, notadamente a liberdade política. Tendo em vista que a própria Constituição Federal brasileira prevê a adoção da separação dos poderes em sua estrutura política, não respeitá-la atinge diretamente os cidadãos, principalmente no que tange à sua segurança jurídica, pois, nesses casos, não ficaria nítida a forma de organização e os limites de atuação do governo, remetendo à ideia de um governo tirânico, opressor, ante a privação da liberdade política.

Nesse sentido, analisa André Ramos Tavares (2007, p. 1024): “O poder, pois, necessitava, ainda que legítimo fosse, de ser limitado. E isso constitui, ainda nos dias atuais, o núcleo imutável da separação dos poderes”.

A prática do ativismo judicial encontra seu principal obstáculo na divisão de poderes, a qual foi consagrada na Constituição Federal Brasileira em seu artigo 2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Desse modo, fica claro que o legislador constituinte brasileiro adotou a divisão ficta dos poderes para estruturar a organização política do país. Fala-se divisão ficta, uma vez que o poder é uno e emana do povo, conforme dispõe o artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Nota-se a importância da separação dos poderes no ordenamento jurídico brasileiro pelo fato de que, além de estar prevista na forma de dispositivo constitucional, ou seja, preceito balizador de todo o Estado, o legislador ainda a protegeu como cláusula pétrea, em seu artigo 60,§4º, inciso III, sendo imutável.

Nesse sentido, Elival da Silva Ramos, em sua obra Ativismo Judicial: parâmetros dogmáticos (2013, p. 116/1117), esclarece esse conflito entre ativismo judicial e a separação

Constitucionais, é que seja dividido o poder estatal, separando-se as atribuições para exercício das funções, sendo a função legislativa responsável pela elaboração de regras de direito, gerais e abstratas, segundo um processo constitucionalmente previsto e que produza inovação originária na ordem jurídica; à função judiciária caberia a aplicação da lei a uma hipótese controvertida, mediante o processo regular, que ao final produz coisa julgada, substituindo a vontade das partes litigantes; e a função executiva é a prática pelo Estado como parte interessada numa relação jurídica, de atos infralegais destinados a atuar sob as finalidades previstas em lei.

Acerca da importância da estrutura separatista do poder estatal no âmbito tributário, discorreu Sacha Calmon Navarro Coêlho (2009, p. 42):

Entre nós, como de resto entre os povos civilizados, a Constituição atribui ao Legislativo editar as leis tributárias dentro das balizas fincadas no próprio Texto Maior. Comete ao Executivo o poder-dever de aplicar as leis tributárias e reserva ao Judiciário a resolução das controvérsias surgidas ao propósito de sua aplicação. Com efeito, não cabe ao Príncipe criar o tributo, impô-lo e, ainda, decidir sobre a legalidade de seu ato. Aqui, mais do que em qualquer outro setor da vida coletiva, impõe-se a estrutura de freios e contrapesos implícita no sistema da divisão de Poderes e funções do Estado, em favor de uma eficaz proteção ao cidadão contribuinte.

A separação de poderes foi adotada não só pela atual Constituição Federal, mas também pela quase totalidade das anteriores, como modelo de estruturação do poder do Estado.

De acordo com o jurista Paulo Bonavides (2008), a separação dos poderes

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como lhes assegurar o direito de “fazer tudo quanto permitem as leis”.

Em consonância, analisa Montesquieu (2005, p. 168): “A liberdade política, em um cidadão, é esta tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e para que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal que um cidadão não possa temer outro cidadão”.

Entendendo como poder o braço coercitivo do Estado para imposição da sua vontade, fica evidente que a sua não delimitação resulta em governos tirânicos. Isso porque a tendência pelo acúmulo e abuso do poder é inerente ao ser humano, tornando quase que imprescindível que não seja exercido por uma única pessoa ou órgão. São necessários limites e, acima de tudo, que esses limites sejam respeitados pelos cidadãos, instituições e, principalmente, pelos Poderes.

2. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ATIVISMO JUDICIAL

2.1 PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

A jurisdição é o meio como o Judiciário irá realizar sua função típica, a prestação jurisdicional. Apesar de ter sido entendida em diferentes aspectos, atualmente é compreendida de forma mais ampla, sempre visando ser efetiva, adequada e tempestiva. Nesse sentido, analisa Marinoni (2012, p. 141):

A diferença básica é a de que, na nova concepção de jurisdição, a lei é atuada em uma dimensão mais profunda, complexa e sofisticada, e com a meta de permitir a tutela ou a proteção dos direitos, a qual decorre de uma posição jurídica e é devida pelo Estado a partir do direito material [...]

Assim, ao delimitar o conceito de jurisdição mais utilizado na atualidade,

dos poderes, na medida em que essa conduta ativista provoca um esvaziamento das funções de outros poderes, explicando essa questão:

De outra parte, como as atividades estatais se articulam entre si, o exercício de função que se aparte de suas características materiais intrínsecas acabará, inevitavelmente, resultando em interferência indevida na esfera de competência de outro Poder, com risco de seu esvaziamento [...] Não se trata do exercício desabrido da legiferação (ou de outra função não jurisdicional), que, aliás, em circunstâncias bem delimitadas, pode vir a ser deferido pela própria Constituição aos órgãos superiores do aparelho judiciário, e sim da descaracterização da função típica do Poder Judiciário, com incursão insidiosa sobre o núcleo essencial de funções constitucionalmente atribuídas a outros Poderes.

Nesse ponto, ainda que se considere atualmente que o Judiciário tem papel construtivo na interpretação, haverá o limite pela lei a ser aplicada e pela Constituição e o ativismo judicial se contrapõe com a separação de poderes, pois o magistrado invade a esfera da segurança jurídica do cidadão ao julgar ativamente (preenchendo uma lacuna, muitas vezes, de acordo com suas convicções pessoais e não com a lei, julgando além do previsto em lei ou até mesmo contrariamente ao dispositivo legal).

Apesar de a separação de poderes ser um ideal pensado há muitos anos, o que poderia levar à ideia de anacronismo na aplicação desse princípio nas sociedades modernas, observa-se que a essência da necessidade de se dividir o poder é justamente o poder, o que retoma a ideia de liberdade, exaltada por Montesquieu, no sentido de ser dever do Estado assegurar meios de proporcionar segurança aos indivíduos, bem

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2.2. PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO E SUA RELAÇÃO COM O ATIVISMO JUDICIAL

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXV dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito”, consagrando o princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional, também nomeado de acesso à Justiça. Desse modo, o Judiciário tem o dever de responder a quem o procurou, para solucionar um conflito. Porém, existem exceções que dizem respeito à típica competência de atuação (prestação jurisdicional) do Poder Judiciário (como, por exemplo, os casos em que o Legislativo exerce atipicamente a função de julgar) e também nos casos em que as partes, capazes e discutindo direito disponível, optam por meios alternativos para solucionar seus conflitos.

O referido princípio pode ser visto como embasamento para a prática do ativismo judicial. Todavia, o que deve ser questionado é o problema que essa atuação, quase que irrestrita do Judiciário, pode causar à estrutura política, uma vez que se coloca tal Poder como capaz – e responsável – por interferir na esfera da competência dos demais, causando desequilíbrio entre eles e uma visível hipertrofia judicial.

Marcelo Mazotti, em sua dissertação para mestrado intitulada “Jurisdição Constitucional e Ativismo Judiciário: análise comparativa entre a atuação do Supremo Tribunal Federal brasileiro e da Suprema Corte estadunidense” (2012), traz algumas concepções para ativismo judicial: ativismo como imposição da vontade do juiz, e não da lei; ativismo como expansão do Poder Judiciário; ativismo como criação de direito e ativismo como realização de políticas públicas; sendo que, em seu trabalho, ele adotou (2012, p. 33) “[...] uma concepção difusa de exercício ilegítimo do poder judicial, em que o juiz toma decisões com base em suas convicções e ideologias

observa-se como a prestação jurisdicional é abordada. Tal função, típica do Poder Judiciário, é modernamente entendida como o dever do Estado em proporcionar a seus cidadãos uma tutela de direitos viável, notadamente no que se refere aos direitos fundamentais. Em sua essência, o Judiciário é um Poder que age quando acionado pelos cidadãos para que, através de uma decisão fundada no ordenamento jurídico vigente, desenvolvida por meio de um devido processo legal, substitua a vontade das partes e solucione a lide.

No que tange à finalidade da prestação jurisdicional, bem como à finalidade do próprio Judiciário como órgão, que se realiza na pacificação social, deve-se atentar para o fato de que a paz é alcançada na medida em que esse Poder se opõe à autotutela do indivíduo como uma autoridade neutra (afastada e sem interesses no conflito) e com poder coercitivo, conforme alerta Marinoni (2012, p. 112) em seus estudos:

Na realidade, como não é difícil perceber, a pacificação social é uma mera conseqüência da existência de um poder de resolução dos conflitos que se sobreponha sobre os seus subordinados, e não um resultado particular e próprio do Estado constitucional.

Ademais, a prestação jurisdicional, no âmbito do Estado constitucional, deve visar à efetiva e adequada tutela do direito. Contrapondo-se à ideia de apenas declarar o direito aplicável no conflito, tal conceito de jurisdição afirma o caráter executivo almejado pelo Judiciário, na medida em que pretende ser eficaz, não apenas declarando o direito, mas efetivando-o. Cabe ressaltar a questão da segurança jurídica, conceito indissociável da pacificação social, que é a finalidade primordial do próprio Direito.

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toda a sociedade, a fim de, e principalmente para, evitar arbitrariedades desse segmento. Segundo dispõe Marinoni (2012, p. 107):

A legitimidade da decisão jurisdicional depende não apenas de estar o juiz convencido, mas também de o juiz justificar a racionalidade de sua decisão com base no caso concreto, nas provas produzidas e na convicção que formou sobre as situações de fato e de direito.

Apesar da liberdade de convencimento, o juiz deve ter critérios em sua análise, não podendo esta ser baseada em convicções subjetivas, pois o juiz ainda está vinculado às provas produzidas no processo. Para auxílio do magistrado, a hermenêutica jurídica cuida de orientações e métodos de interpretação.

3.3. O FENÔMENO DA JUDICIALIZAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES

A constitucionalização dos direitos advém da preocupação do legislador em assegurar, tentar proteger um extenso rol de direitos, conferindo-lhes caráter constitucional. Aliado a isso, nota-se a importância que a Constituição Federal adquiriu, sendo a base do sistema jurídico, orientando a interpretação sistemática e descrevendo as finalidades almejadas pelo Estado.

A Constituição Federal brasileira, de 1988, é marcada por uma forte presença de princípios, expressos e implícitos, que devem orientar todo o ordenamento jurídico nacional. Todavia, o caráter normativo conferido aos princípios abre margem, muitas vezes, para a discricionariedade, em decorrência do caráter subjetivo de sua aplicação, sendo esse um de seus pontos de intersecção com o ativismo judicial.

O texto constitucional resguarda

pessoais, em detrimento dos termos da lei e da Constituição”.

Todas as concepções por ele abordadas abrangem a problemática da interpretação e aplicação dos enunciados abertos, presentes no texto constitucional, acentuada pelo caráter principiológico e valorativo que resultam em termos subjetivos e flexíveis, acarretando, segundo Marcelo Mazotti, uma Constituição que possui um texto histórico e altamente especulativo.

Já Elival da Silva Ramos (2013, p. 118), sintetiza as implicações do ativismo com o exercício da jurisdição:

Por certo a função jurisdicional, além de ser entregue a um aparato orgânico estruturado para bem fazê-la atuar, é exercida por meio de um processo cujas notas tipificadoras (inércia, substitutividade, definitividade, contraditório etc.) guardam estreita relação com a sua conformação material. Contudo, quando se investiga suposto desvio no exercício da jurisdição, com ofensa ao princípio da separação de Poderes, o que compete é averiguar se existiu a desnaturação substancial da atividade e não o afastamento de seu conduto formal.

Desse modo, a “desnaturação substancial”, acima referida, aponta que há limites para a atuação do Judiciário, visto que seus membros não podem se valer do princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional para adentrar a esfera de poder alheia, causando, segundo palavras de Elival da Silva Ramos (2013), “esvaziamento das atribuições desses poderes”.

Nesse ponto, observa-se a importância da fundamentação das decisões proferidas pelos magistrados, sendo uma atribuição indissociável do controle e/ou fiscalização da atividade jurisdicional, que deveria, em um plano ideal, ser exercida por

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com teorias que sustentam, velada ou abertamente, que hoje tudo o que Estado, ou a sociedade, faz ou promove pode ser “corrigido” pelo Poder Judiciário. Assim, não haveria escolhas políticas, não haveria liberdade ou avaliação, não haveria possibilidade de adaptação do Direito ou do Estado à realidade.

Ademais, observa-se também uma atuação do Poder Judiciário no sentido de suprir a ausência dos Poderes Legislativo e Executivo, os quais deveriam ser mais efetivos no cumprimento de suas funções. Logo, qualquer dificuldade encontrada pelo cidadão, ao lidar com tais poderes, pode ser levada ao Poder Judiciário para que este se pronuncie a respeito, saindo do âmbito administrativo e adentrando a esfera judicial.

Pode-se entender que a judicialização da política é um fenômeno decorrente da própria estrutura jurídica formulada pela Constituição Federal, assim como a judicialização das relações sociais, ampliando consideravelmente as áreas de atuação e até mesmo a importância do Poder Judiciário. A judicialização da política e das relações sociais tem uma relação de causa e efeito com a politização da justiça. Todavia, introduzir vertentes políticas no modo de atuação judiciária é algo que necessita extremo cuidado, pois não é característico desse Poder, podendo desvirtuá-lo de sua função primordial, a prestação jurisdicional visando à efetiva e adequada tutela do direito e, de modo mediato, a pacificação social. A política pressupõe atuação com interesse, o que não é admitido ao Poder Judiciário.

3. ATIVISMO JUDICIAL E (IN)SEGURANÇA JURÍDICA

3.1. A SEGURANÇA JURÍDICA NO ORDENAMENTO

Entendido o contexto estrutural

direitos e garantias dos cidadãos e, devido à sua posição de matriz do sistema jurídico, coloca tais direitos e garantias em um patamar de imprescindíveis (no que tange à própria ordem estatal) e protegidos pelo Poder Judiciário, por meio dessa jurisdição constitucional. Desse modo, o Judiciário se destaca (e se apresenta) como o único guardião dos direitos e garantias dos indivíduos quando, na verdade, o Estado, como um todo, é responsável por seus cidadãos.

No tocante à judicialização das relações sociais e políticas, mais uma vez a própria Constituição Federal previu que o Judiciário atuasse em diversos setores das relações sociais dos indivíduos. Assim, quase todas as relações travadas pelos cidadãos podem ser motivo de demanda judicial. Tal ideia se traduz no princípio constitucional da inafastabilidade da prestação jurisdicional, segundo o qual toda e qualquer relação interpessoal pode ser apreciada pelo Judiciário.

O que a princípio pode ser considerado positivo, tendo por base a crença de que seria um maior acesso à Justiça por parte dos cidadãos, é uma clara violação aos seus direitos e liberdades. Concentrar no Poder Judiciário o poder de, sem limitações, intervir nos outros Poderes (como tem ocorrido reiteradamente no Brasil), ignorando o preceito constitucional de que há divisão (ainda que ficta) entre os Poderes e que esses são independentes e harmônicos entre si, é aceitar que haja supremacia de um dos poderes. Essa predominância e atuação, quase que irrestrita do Poder Judiciário, interfere na liberdade política do cidadão, o qual passa a ser norteado não somente pelas leis, mas pela discricionariedade dos juízes, afetando também sua segurança jurídica, como dito anteriormente.

Nesse sentido, Néviton Guedes (2013) atesta:

[...] não parece difícil defrontarmos

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em que a conduta ativista se insere, compreendendo a importância da Constituição Federal para o sistema jurídico nacional e, notadamente, para o Direito Tributário brasileiro contemporâneo, será examinada a problemática da segurança jurídica.

Conforme discorreu Geraldo Ataliba (2007, p. 184): “O Direito é, por excelência, acima de tudo, instrumento de segurança. Ele é que assegura a governantes e governados os recíprocos direitos e deveres, tornando viável a vida social”.

A organização da população por meio de leis (termo aqui utilizado em seu sentido amplo) visa à estabilidade social e esta é alcançada pela crença da sociedade no Direito, no sistema jurídico que a rege, dando origem ao sentimento de segurança jurídica. Todavia, esse não é um termo de simples compreensão. A própria palavra “segurança” possui variações de significado, e seu entendimento na história jurídica também não foi linear. Porém, é notável a importância que adquiriu na atualidade, para a sustentação do Estado Democrático de Direito, sendo objeto de diversos estudos (nos diferentes ramos do Direito) e parâmetro para muitas das decisões judiciais.

Na atual configuração do Estado brasileiro, estruturado pela Constituição Federal de 1988, a segurança jurídica se traduz, em última análise, na confiança geral dos cidadãos no ordenamento jurídico, no seu funcionamento em conformidade com o texto constitucional que, sendo democrático, na medida em que representa a vontade da população, atende às expectativas desta.

São interessantes os posicionamentos de Gustavo Miguez de Mello, Alcides Jorge Costa, Misabel Derzi e Paulo Ayres Barretos, proferidos em um debate no XXIV Congresso Brasileiro de Direito Tributário (2011), transcrito na revista Direito Tributário, os quais enfatizam, de modo geral, o caráter indispensável da segurança jurídica para o ordenamento jurídico brasileiro

contemporâneo. Alcides Jorge Costa ressalta que a segurança não é alcançada só pelo Direito, mas também é alcançada no Direito, remetendo à sua aplicação, que é responsabilidade das autoridades tributárias e do Poder Judiciário. Já Mizabel Derzi, ao contextualizar alguns aspectos para o entendimento da segurança jurídica, explana sobre as atribuições do Poder Judiciário, apontando que a decisão (para ela, um ato de separar e escolher) é feita sobre um caso concreto que já ocorreu, é uma instituição voltada para o passado, enquanto o legislador trabalha para o futuro, porém com limites (Constituição Federal, limites políticos, entre outros), sendo que lida com interesses sociais que irá transformar e regular de maneira instrumental, enfatizando a necessidade de que deve haver segurança jurídica no ordenamento e também na sua aplicação.

3.2. A SEGURANÇA JURÍDICA E O DIREITO TRIBUTÁRIO

Como visto, a segurança jurídica é atualmente concebida como finalidade do Estado Democrático de Direito, além de ser também um de seus princípios basilares e uma garantia aos cidadãos, sendo que tais facetas não são excludentes; de maneira semelhante, ela se apresenta no sistema jurídico tributário brasileiro contemporâneo.

O texto constitucional dedicado à matéria tributária expõe esse caráter de finalidade, de escopo da segurança jurídica no Direito Tributário. Consoante com o que foi tratado ao longo deste trabalho, as garantias, os direitos e as limitações ao poder de tributar, elevados ao patamar constitucional, bem como a própria estrutura desse sistema jurídico, que tem seus alicerces descritos no texto da Constituição, revelam a intenção do legislador de querer garantir tais institutos, de lhes conferir maior segurança jurídica, uma vez que não podem ser obstados por legislação infraconstitucional. Sobre o tema, discorreu Roque Antônio Carrazza (2006, p.

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que corroboram, com dados técnicos sobre os excessos ou desequilíbrios de carga tributária, a instabilidade decorrente do acúmulo de regulações e das incertezas geradas por leis e atos normativos em geral, contraditórios ou confusos, pela dificuldade de cumprimento ou atendimento às obrigações acessórias ou deveras formais, pelas afetações do sistema tributário sobre as relações de concorrência ou como obstáculo à livre-iniciativa e demais impactos sobre a ordem econômica.

O autor também coloca o que, em sua opinião, a segurança jurídica deveria prezar, atentando para seus aspectos formais e substanciais (2011, p. 34):

Nesta seara, a segurança jurídica do Sistema Constitucional Tributário deve propiciar elevado grau de confiança legítima não somente quanto à forma ou aos efeitos da legalidade, mas também quanto à substância dos critérios adotados para efetivação de outros princípios, imunidades, garantias e competências, inclusive aqueles pertinentes ao subsistema de justiça tributária (não discriminação, vedação de privilégios, capacidade contributiva, proteção do mínimo vital, não confisco, entre outros).

3.3. O ATIVISMO JUDICIAL COMO FATOR DE INSEGURANÇA JURÍDICA NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Segundo a visão, já citada, de Alcides Jorge Costa (2011), pode-se observar que a prática do ativismo judicial contribuiu para a crescente insegurança jurídica tributária, sendo esta uma análise de insegurança na aplicação do Direito, sem desconsiderar a existência de insegurança no Direito

406):

Diante de tudo o que ficou consignado, parece certo que o Estado, ao exercer a tributação, deve observar os limites que a ordem constitucional lhe impôs, inclusive no que atina com os direitos subjetivos públicos das pessoas.Com esses preceitos, a Constituição determinou de modo negativo, isto é, através de proibições, o conteúdo possível das leis tributárias e, indiretamente, dos regulamentos, das portarias, dos atos administrativos tributários etc.

Segundo Ricardo Lobo Torres (2005), em sua obra Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário, volume II, são princípios vinculados à segurança jurídica: legalidade (supralegalidade, reserva da lei, primado da lei), tipicidade (tipificação, determinação do fato gerador, conformidade com o fato gerador), irretroatividade, proibição de analogia, anterioridade e anualidade, proteção da confiança do contribuinte (irreversibilidade do lançamento, inalterabilidade do lançamento, irrevogabilidade das isenções onerosas).

Já Roque Antônio Carrazza (2006) associa segurança jurídica aos princípios da tipicidade fechada, do exclusivismo, da vinculação do lançamento à lei, da interpretação estrita da lei, da igualdade, da confiança na lei fiscal e da boa-fé do contribuinte, tratando de maneira indireta a ampla defesa (devido processo legal) e a isonomia.

Remetendo às considerações de Heleno Taveira Torres (2011, p. 26), o autor faz uma relevante análise do sistema jurídico tributário quanto à segurança jurídica, pois, segundo ele, esse sistema atingiu um patamar insustentável ao permitir certas anomalias, pontuando algumas:

Não são poucas as pesquisas

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Tributário.Sobre esse aspecto de insegurança

jurídica na estrutura legislativa do Direito Tributário, Marco Aurélio Borges de Paula, em seu artigo Caos Tributário (2009), faz interessantes indagações:

Ora, se a complexidade do sistema tributário atinge, qual uma punga, os profissionais com melhores condições para decifrar o emaranhado de obrigações e deveres tributários, o que dizer, então, dos contribuintes (vocábulo ora utilizado em seu sentido mais amplo), desprovidos de conhecimentos jurídico-tributários, aqueles para os quais as leis (em sentido lato) são feitas? Quão seguros das consequências tributárias de suas decisões os mesmos podem ficar? E os custos decorrentes desse “manicômio tributário” (Lello Gangemi), não seriam eles contraproducentes ao incontido desejo do governo pelo aumento da arrecadação tributária?

Ante esse cenário de tamanha inconsistência das leis (sentido amplo) e atitudes do Fisco, a população é a grande prejudicada e, na busca por seus direitos (muitos deles expressos na Constituição Federal e, para alguns doutrinadores – como Carrazza – esta possui um verdadeiro “estatuto do contribuinte”, tendo em vista a característica dos direitos e princípios por ela assegurados), recorre ao Poder Judiciário.

A partir do momento em que o Judiciário se pronuncia ativamente, nas palavras de Elival da Silva Ramos (2013), o ativismo ocorre quando há “desvio no exercício da jurisdição”, acerca das questões controvertidas em direito tributário, atuando, principalmente, com base no princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional, e outras tantas vezes em prol

de interesses políticos e do erário. Há uma inegável afronta à segurança jurídica dos cidadãos.

Já na visão de Marcos Cintra, em seu artigo Segurança Jurídica e os Tributos, para a obra Segurança Jurídica no Brasil, (p. 149, 2012):

Dois fatores causadores de insegurança no ordenamento jurídico são a complexidade da legislação e as mutações constantes que ela porventura seja alvo. Nesse sentido, não há nada mais exemplificador da instabilidade que vigora na justiça brasileira do que a realidade na área tributária. A burocracia fiscal e a velocidade da criação de normas relacionadas aos impostos tornam qualquer decisão do contribuinte uma temeridade. O que vale em um determinado momento pode ter sido alterado logo em seguida e uma medida tomada pode dar origem a litígios entre o fisco e o contribuinte.

Muitas dessas decisões não são uniformes entre si, sendo que a motivação e a lógica utilizada pelos magistrados em cada caso também divergem. Assim, a conduta ativista, com um propósito (algumas vezes apenas aparente) de não deixar desamparada a população que busca resolver uma lide, de proporcionar a ela uma segurança jurídica advinda de um Estado que “funciona”, na medida em que não se eximirá de uma decisão. Todavia, a segurança jurídica aí pretendida está distorcida.

Como visto ao longo deste trabalho, todo o ordenamento jurídico brasileiro está (um dever estar constante) interligado e em harmonia com a Constituição Federal. Então, ainda que haja um problema muito consistente quanto ao entendimento e à aplicação da legislação em matéria tributária (principalmente no tocante às leis esparsas),

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Não há espaço para ativismo judicial em matéria tributária. A Constituição outorga poderes a União, Estados, DF e Municípios para instituírem tributo por lei, ou seja, o exercício da competência tributária é privativo das pessoas políticas que receberam tal poder e jamais poderá ser exercido pelo Poder Judiciário.De sua vez, os princípios constitucionais tributários são normas que, na classificação de José Afonso da Silva, seriam de eficácia plena, ou seja, são de aplicação direta dispensando regulamentação infraconstitucional, e, portanto, não abrem espaço para o ativismo judicial. Além do mais, em um sistema em que o princípio da estrita legalidade ou da tipicidade cerrada deve imperar, não há margem para o julgador legislar.

Em uma análise das consequências do ativismo judicial, observa-se que, além de ser um fator de insegurança jurídica, ele contribui para a manutenção da desordem jurídica no Direito Tributário. Como foi pontuado neste trabalho, são inúmeros os problemas enfrentados por esse ramo, mas não há um devido posicionamento da população para que estes sejam solucionados, pois os cidadãos apenas socorrem-se no Judiciário, gerando maior insegurança jurídica por causa das decisões de cunho ativista. É um círculo vicioso que sustenta todo esse “caos tributário”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Direito Tributário brasileiro contemporâneo, conforme estudado ao longo deste trabalho, está maculado por inúmeros problemas, muitos deles decorrentes de uma legislação confusa e uma atuação burocrática da Administração Tributária.

Tais problemas interferem diretamente na segurança jurídica dos

deve-se ter em mente as regulamentações provenientes do texto constitucional, estruturantes de todo o sistema tributário.

Heleno Taveira Torres assim coloca (2011, p. 624):

Dentre normas que melhor evidenciam novas funções da segurança jurídica no constitucionalismo de direitos do Estado Democrático de Direito, certamente as garantias de preservação do conteúdo essencial e concretização (incluído o sopesamento) dos direitos fundamentais (i), a proibição de excesso (ii), a proporcionalidade (iii) e a razoabilidade (iv) são as formas mais representativas de resistência do arbítrio e às restrições excessivas nos atos de aplicação dos direitos fundamentais, um avanço incontestável da doutrina jurídica e da jurisprudência contra a discricionariedade judicial e o legalismo impermeável a valores.

A discricionariedade judicial, acima apontada, acaba sendo uma das características do ativismo judicial, pois o Judiciário age contrário a um dos preceitos fundamentadores do Estado Democrático de Direito – a separação de Poderes, uma vez que invade a esfera de atribuições do Legislativo e/ou Executivo, confrontando determinação constitucional. Assim, em um exame mediato da situação, as decisões ativistas não consideram a Constituição Federal, uma vez que o Judiciário invade a esfera de atribuições dos demais Poderes, confrontando a separação determinada pelo texto constitucional.

O magistrado contraria toda a organização político-jurídica estatal e, consequentemente, a segurança jurídica e a ordem social. Eduardo Maneira, em seu artigo Matéria Tributária não admite ativismo judicial (2012), assim explica:

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até que ponto sua decisão pode alcançar para ser considerada legítima (no sentido de conformidade com a Constituição), é algo extremamente difícil, pois a separação dos Poderes é tão orgânica quanto o Direito e deve ser analisada concretamente, o que dificulta o combate ao ativismo judicial. Contudo, Elival da Silva Ramos (2013, p. 139) propõe um parâmetro para tal questão:

Os limites substanciais a serem observados pelo Poder Judiciário no exercício de sua função típica são os referentes à atividade de interpretação e aplicação que constitui o seu cerne, a qual sempre considera o conjunto do ordenamento, seja para fixar o sentido das disposições que o integram, seja para estabelecer a adequada relação entre elas.

Não se pretende, com a crítica ao ativismo judicial, que haja, nas palavras de Elival da Silva Ramos (2013, p. 150) “passivismo judiciário, extremamente pernicioso ao Estado de Direito e à supremacia da Constituição”. Entretanto, é inegável o abalo à segurança jurídica provocado pela conduta ativista.

Tendo em vista o quão cauteloso foi o texto constitucional ao tratar da matéria tributária, por versar principalmente sobre a instituição e a cobrança de tributos e ter o condão de interferir na situação econômica do País, mostra-se inconcebível que o Judiciário, por meio de uma conduta arbitrária, profira decisões ativistas, sendo que essa liberdade de atuação é restrita tanto para o Executivo quanto para o Legislativo.

A judicialização da política e de inúmeras relações sociais, aqui reveladas como a possibilidade de análise, pelo Judiciário, de uma enormidade de casos, não pode acarretar a politização do Judiciário, uma vez que os magistrados não têm legitimidade para exercer as atribuições concedidas ao Executivo e/ou Legislativo, não foram eleitos pela população para

cidadãos, que se sentem perdidos ante o emaranhado de normas e obrigações que lhes são incumbidas, ao passo que não conseguem visualizar o retorno do dinheiro aplicado na manutenção da estrutura pública.

Heleno Taveira Torres faz importante observação sobre a nova ótica pela qual os contribuintes (sentido amplo) devem ser compreendidos (2011, p. 136): “O Estado de Direito foi o modo de conter a força tendencialmente incontrolável do poder, a conferir expressão de confiança aos indivíduos contra o poder concentrado, despótico do Estado absolutista [...]. Dos súditos passa-se a cidadãos titulares de direitos reconhecidos”.

O sistema jurídico tributário contemporâneo está inserido em um Estado Democrático de Direito (ou, segundo a diferenciação de Carrazza (2006), um Estado Constitucional), o qual possui uma Constituição que foi extremamente descritiva e protetiva dos direitos dos cidadãos, mas que não tem sido respeitada (reconhecendo aqui que tal desobediência não se limita ao Poder Judiciário).

Objeto de análise deste trabalho, o ativismo judicial observado no direito tributário brasileiro contemporâneo afronta os preceitos constitucionais, tanto no que diz respeito ao sistema jurídico tributário, quanto ao aspecto estrutural da divisão de Poderes.

Como dito anteriormente, o Direito Tributário é marcado por inúmeros problemas e, buscando um caminho para solucioná-los, decorre a presença do Judiciário, provocado pelo cidadão.

O referido autor não repudia a interferência do Judiciário no Direito Tributário, ao contrário (2005, p. 463): “Mas não se pode perder de vista que o direito tributário, que se estrutura, sobretudo a partir do discurso do legislador, necessita da complementação harmoniosa do trabalho da interpretação administrativa e judicial”.

Estabelecer um parâmetro para atuação do Poder Judiciário, determinando

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Poder Judiciário venha a ser legislador, porque o pior dos poderes para ser legislador é o Poder Judiciário, é aquele em que não há influência popular. O Poder Legislativo, por pior que seja, foi escolhido pelos eleitores. Posso estar decepcionado, mas posso pressionar. O Poder Judiciário não, porque o que eles dizem transforma-se na posição definitiva. Vivemos, efetivamente, um momento de insegurança jurídica máxima.

Assim, pretendeu-se demonstrar que o ativismo judicial é um fator de insegurança jurídica para o Direito Tributário brasileiro contemporâneo, por desrespeitar a Teoria da Separação de Poderes estabelecida pela Constituição Federal e alicerce da estrutura do Estado Democrático de Direito, não sendo apenas um caso de exercício irregular de uma função que não lhe foi incumbida, mas um meio de distorcer toda a divisão funcional de poderes, pois o Judiciário passa a atuar como responsável por solucionar tais problemas, os quais deveriam necessariamente ser enfrentados pelo Legislativo e/ou Executivo. A população perde essa referência sobre a quem se deve responsabilizar e acaba recorrendo ao Judiciário, ainda que com decisões desencontradas, e a origem do problema não é combatida, os políticos eleitos não são pressionados a reestruturar o “manicômio tributário”, e esse sistema jurídico se mantém inoperante.

Afora que tais decisões não obedeçam aos princípios que orientam o Direito Tributário (como a legalidade, a anterioridade, a irretroatividade, entre tantos outros), elas não são uniformes, uma vez que cada magistrado decide com base em uma lógica de decisão diferente.

Evidente que o ativismo judicial no Direito Tributário brasileiro contemporâneo deve ser combatido, pois não é positivo a esse sistema jurídico, gerando apenas insegurança jurídica aos cidadãos.

serem os titulares de tais atividades e responsabilidades políticas e não possuem o caráter da representatividade, essencial ao Estado Democrático de Direito vigente.

Geraldo Ataliba, em sua obra República e Constituição (2007, p. 122), assim coloca:

Se o povo é o titular da res publica e se o governo, como mero administrador, há de realizar a vontade do povo, é preciso que esta seja clara, solene e inequivocamente expressada. Tal é a função da lei: elaborada pelos mandatários do povo, exprime sua vontade. [...] O Judiciário, aplicando a lei aos dissídios e controvérsias processualmente deduzidas perante seus órgãos, não faz outra coisa senão dar eficácia à vontade do povo, traduzida na legislação emanada por seus representantes.

Ainda que o Judiciário tenha a função de prestar uma tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva, não pode ser admitido que intervenha na esfera de outros Poderes, não tem respaldo para corromper as estruturas do governo. No tocante ao Direito Tributário, o ativismo judicial resulta em insegurança jurídica, pois os cidadãos estão à mercê do entendimento de cada juiz. Conforme discorre Roque Antônio Carrazza (2006, p. 423): “O princípio constitucional da segurança jurídica exige, ainda, que os contribuintes tenham condições de antecipar objetivamente seus direitos e deveres tributários, que, por isso mesmo, só podem surgir de lei, igual para todos, irretroativa e votada pela pessoa jurídica competente”. E o Judiciário não é essa pessoa jurídica competente, e não tem meios para fazer valer todas as garantias constitucionais designadas aos cidadãos. Ives Gandra da Silva Martins dispõe (2012, p. 107):

[...] não posso aceitar que o

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RESUMO

Este trabalho estuda o papel do juiz na atualidade à luz da hermenêutica pós-positivista, compatível com o mais abalizado estudo do direito na contemporaneidade. Faz-se a construção do conceito a partir da análise da superação do positivismo, evidenciando o ponto crucial que deu origem ao que se denomina “pós-positivismos” (a inadmissibilidade da arbitrariedade, em qualquer grau, nas decisões dos magistrados). É explicado como o direito deve ser interpretado e qual é o papel do magistrado nesse contexto.

Palavras-chave: pós-positivismo; hermenêutica; decisionismo; solipsismo

ABSTRACT

This paper studies the role of the judge nowadays considering the post-positivist hermeneutics, which is compatible with the most authoritative study of the Law in contemporary society. It makes the construction of the concept from the analysis of the overcoming of the positivism, highlighting the crucial point that gave rise to what is called “post-positivism” (the inadmissibility of arbitrariness in the decisions of the judges). Also the paper

explains how the Law should be interpreted and which is the role of the magistrate in this context.

Key-words: post-positivism; hermeneutics; decisionism; solipsism

INTRODUÇÃO

Desnecessário se faz enfatizar a importância do estudo acerca de como o juiz deve interpretar a lei (o direito) ao decidir o caso concreto, já que esse é talvez o objeto mais emblemático com o qual se deparam os estudiosos da ciência jurídica. Aproveitando o contexto, é importante também esclarecer como se dá a edição de súmula, analisando tal atribuição à luz do papel que assume o magistrado.

O estudo que ora se apresenta leva-nos a uma análise do quadro em dois contextos distintos: positivismo normativista e “pós-positivismos”2. Isso porque há uma diferenciação crucial no papel que assume o magistrado em cada um deles.

Deve-se ressalvar que não será abordado o positivismo primitivo (exegético), tendo em vista que esse se encontra, há muito, superado3. Não obstante, deparamo-nos diuturnamente com o positivismo pós-exegético (normativista), que, por sinal, é

O PAPEL DO JUIZ NA ATUALIDADE (PÓS-POSITIVISTA)

Daniel Camargo Peres¹

¹ Advogado, Secretário de Comunicação da Comissão da Jovem Advocacia da 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Uniseb, teve sua pesquisa fomentada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Centro Universitário Uniseb, orientada pelo Prof. Dr. Rafael Tomaz de Oliveira. 2A expressão “pós-positivismos” é resultado de uma pequena alteração no já popularizado termo “pós-positivismo”. Essa pequena modificação realizada pelo autor tem o objetivo de chamar a atenção para o fato de que a expressão diz respeito à compreensão hermenêutica que superou todos os positivismos jurídicos que a precederam (exegético, normativista entre outros).3“Não é mais necessário dizer que o ‘juiz não é a boca da lei’” (STRECK, 2011a, p. 19).

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manifestado por alguns “pós-positivistas de fachada”4.

Após esse estudo, devemos pontuar a divisão de competências no Judiciário quanto à jurisdição, principalmente quanto ao controle de constitucionalidade. E, por fim, realizarmos algumas pontuações acerca do caráter vinculante de decisões do Supremo Tribunal Federal.

1. DISCUSSÃO

Num primeiro momento, temos que Kelsen (2006) divide a interpretação do direito em duas espécies: (a) aquela realizada pelo órgão (juiz, autoridade etc.) que o aplica e (b) aquela realizada por juristas e homens comuns5.

No primeiro caso, diz esse autor que a relação entre juiz (ou autoridade) e lei, tal como a relação existente entre lei e Constituição, é de determinação (ou vinculação). Isso significa que a norma vincula a decisão do juiz, que não poderá contrariá-la ou excedê-la.

Entretanto, diz Kelsen (2006) que a norma é incapaz de gerar uma vinculação plena, sempre ficando, portanto, uma margem de livre apreciação por parte do aplicador. Daí surge a ideia de “moldura legal”, uma delimitação estabelecida pela lei dentro da qual o juiz (ou autoridade) poderia discricionariamente determinar a norma a ser aplicada ao caso concreto. Sustenta o autor que “[m]esmo uma ordem o mais pormenorizada possível tem de deixar àquele que a cumpre ou executa uma pluralidade de determinações a fazer” (KELSEN, 2006, p. 388).

Por essa visão, temos que o escalonamento de “normas jurídicas”6 visa à determinação, aproximando-se

progressivamente da concretização.Por vezes, segundo Kelsen (2006),

a polissemia está presente nas normas jurídicas, ensejando que o aplicador (juiz ou autoridade), diferentemente do intérprete (sic)7, opte por uma das significações possíveis no momento da aplicação. “Sendo assim, a interpretação de uma lei não deve necessariamente conduzir a uma única solução como sendo a única (...) correta” (KELSEN, 2006, p. 390).

Esse autor combatia a tese que sustentava que a lei “poderia fornecer, em todas as hipóteses, apenas uma única solução correta (ajustada), e que a ‘justeza’ (correção) jurídico-positiva desta decisão [estaria] fundada na própria lei” (KELSEN, 2006, p. 391). Isso porque, segundo o autor, não há como o direito positivo fixar um dos vários significados (situados dentro da “moldura legal”) de uma norma como o correto. Infere que, “[a]ssim como da Constituição, através de interpretação, não podemos extrair as únicas leis corretas, tampouco podemos, a partir da lei, por interpretação, obter as únicas sentenças corretas” (KELSEN, 2006, p. 393).

Deslocando agora o foco para outro contexto (common law), diz Hart (2001, p. 140-141) que

[s]eja qual for o processo escolhido, precedente ou legislação, para a comunicação de padrões de comportamento, estes, não obstante a facilidade com que atuam sobre a grande massa de casos correntes, revelar-se-ão como indeterminados em certo ponto em que a sua aplicação esteja em questão; possuirão aquilo que foi designado como “textura aberta”.

4Pessoas que se autointitulam pós-positivistas sem, no entanto, apresentarem novidade em seu modo de (re)pensar o direito.5Em linhas gerais, os juristas e os homens comuns, para Kelsen (2006), devem ter uma leitura descritiva, e não prescritiva, do direito. Como estamos a estudar o papel dos juízes, descartaremos maior aprofundamento de como seria essa atividade descritiva.6Kelsen toma por “norma jurídica” todos os comandos jurídicos, desde os mais abstratos (Constituição e leis) até uma sentença, ordem etc.7“Diferentemente do intérprete” porque, para Kelsen (2006), o juiz não só interpreta, mas cria norma.

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Essa “textura aberta”, segundo o autor, deve-se ao fato de que é impossível ao ser humano ter “conhecimento de todas as possíveis combinações de circunstâncias que o futuro pode trazer”. Se tal fosse possível, teríamos “um mundo adequado a uma jurisprudência ‘mecânica’”8 (HART, 2001, p. 141).

Nesse compasso, Hart se opõe à ideia de juristas que buscam suprimir a porosidade da textura normativa, fixando conceitos e significados à regra com base em casos simples que se apresentam corriqueiramente9. Isso porque, segundo o autor, implicaria “considerar, de forma cega e preconceituada, o que deve fazer-se numa série de casos futuros, sobre cuja composição nos encontramos em estado de ignorância”

(HART, 2001, p. 142).Para esse autor,

[a] textura aberta do direito significa que há, na verdade, áreas de conduta em que muitas coisas devem ser deixadas para serem desenvolvidas pelos tribunais ou pelos funcionários, os quais determinam o equilíbrio, à luz das circunstâncias, entre interesses conflitantes que variam em peso, de caso para caso (HART, 2001, p. 148).

Ainda nesse sentido, o autor sustenta que,

[e]m qualquer sistema jurídico, deixa-se em aberto um vasto e importante domínio para o exercício do poder discricionário pelos tribunais e por outros

funcionários, ao tornarem precisos padrões que eram inicialmente vagos, ao resolverem as incertezas das leis ou ao desenvolverem e qualificarem as regras comunicadas, apenas de forma imperfeita, pelos precedentes dotados de autoridade (HART, 2001, p. 149).

Noutro foco, Hart manifesta-se incisivamente contrário àqueles que sustentam que o direito é aquilo que o Judiciário diz que é. Para tanto responde à indagação que segue.

Um supremo tribunal federal tem a última palavra a dizer sobre o que é o direito e, quando tenha dito, a afirmação de que o tribunal estava ‘errado’ não tem consequências dentro do sistema: não são por isso alterados os direitos ou deveres de ninguém (HART, 2001, p. 155).

A esse respeito, Hart rechaça a ideia de que tal corte não estaria vinculada por regras10, pelo fato de que, se não estivesse, não haveria parâmetro para análises extraoficiais que alegassem estar o tribunal errado (uma suprema corte seria infalível11).

Hart (2001, p. 337), corroborando sua sustentação, diz que juízes de notório saber prático e acadêmico12, além de outros juristas, insistem que o direito deixa casos incompletamente regulados, “em que o juiz tem uma tarefa inevitável, embora ‘intersticial’, de criação de direito, e que, tanto quanto diz respeito ao direito, muitos casos

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8A esse respeito, temos a crítica de Arthur Kaufmann (2004, p. 180, apud STRECK, 2013b, p. 56) do computador como juiz “em que se manusearia o princípio da igualdade de forma totalmente mecânica, não tomando minimamente em consideração a situação histórica concreta e a individualidade, uma caricatura da justiça cega ‘que abstraria a pessoa’, um direito a-histórico e impessoal”.9Denominados por Hart como “formalistas” ou “conceitualistas”.10Quanto menos um juiz (ou autoridade), pois não?11Hart (2001) denomina o “não estar o tribunal vinculado a regra alguma”, pelo menos na edição/tradução pesquisada, de “discricionariedade plena” (daí a infalibilidade). Entretanto, essa ideia, que é rechaçada pelo autor, ao menos aparentemente, encontra melhor encaixe no conceito de “arbitrariedade”.12Cita Oliver Wendell Holmes (EUA), Cardozo (EUA), Lorde Macmillan (Inglaterra), Lorde Radcliffe (Inglaterra) e Lorde Reid (Inglaterra).

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podiam ser decididos num sentido ou noutro” (grifo acrescido).

Sustenta o autor que, quando se está diante de tal indeterminação (ou omissão legislativa), é comum que juízes abram mão da doutrina e ajam criando normas, isto é, sem observarem qualquer orientação advinda do direito13. Não obstante, diz que os juízes, buscando escorar tais decisões arbitrárias, “citam qualquer princípio geral, ou qualquer objetivo ou propósito geral”.

Corroborando para essa constatação de Hart, relata Dworkin (2007, p. 7), sem anuir (ressalve-se), que, no início do século XX, John Chipman Gray e, posteriormente, Oliver Wendell Holmes, em céticas publicações acerca do processo judicial, desguarneceram a ideia de doutrinadores que sustentavam competir aos magistrados somente a aplicação de regras existentes. Tal abordagem teria sido incrementada entre 1920 e 1940, dando origem ao chamado “realismo legal”, cujos

líderes (Jerome Frank, Karl Llewelyn, Wesley Sturges e Morris e Felix Cohen, entre outros) argumentavam que a teoria ortodoxa fracassara pelo fato de ter adotado uma abordagem doutrinária da teoria do direito, tentando descrever o que os juízes fazem concentrando-se apenas nas regras que eles mencionavam em suas decisões.

Esses doutrinadores entendiam ser isso um equívoco, haja vista que, em verdade, magistrados “tomam as suas decisões de acordo com suas próprias preferências políticas ou morais e então escolhem uma regra jurídica apropriada como uma racionalização” (DWORKIN, 2007, p. 7).

Com base nisso, “exigiam uma abordagem ‘científica’ que se fixasse naquilo que os juízes fazem e não naquilo que eles dizem, bem como no impacto real que suas decisões têm sobre a comunidade mais ampla” (DWORKIN, 2007, p. 7).

Voltando a Hart (2001), embora noutro foco, diz ele que mesmo na necessária observação dos princípios (e não só das regras) da teoria de Dworkin (tratada mais adiante), o juiz pode deparar-se com princípios diversos que dão suporte a teses conflitantes, obrigando o magistrado a optar por um ou outro. Sustenta que, nesses casos, o juiz não age galgado com base num direito já existente (posto), mas sim como um legislador (com base em sua consciência). Sustenta que só seria possível o magistrado decidir, em tais casos, conforme o direito já existente, se existisse (nesse direito) hierarquia entre princípios.

Vemos aqui um problema (entre tantos): juízes “criarem” direito para solucionar o caso seria normatização retroativa. Como poderíamos considerar exigível um comportamento no passado se a norma foi criada posteriormente pelo juiz? Daí a necessidade de avançarmos para as críticas que originam o pós-positivismos.

Segundo Streck (2013a, p. 104), “é em Dworkin – com ele e indo além dele – que podemos projetar de modo mais significativo uma teoria hermenêutica do direito num sentido pós-positivista”. Passemos ao estudo desse autor, portanto.

Dworkin (2007, p. 49) constata que talvez não cause impacto em grande parte das pessoas o fato de alguém ser sancionado

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13Isso se pode chamar de postura decisionista (ou solipsista), recriminada por este trabalho, mas, aparentemente, não por Hart. A despeito de tal postura não ser devida, conforme Streck (1998, 2010, 2011a, 2011c, 2013a, 2013b), ela vem sendo aceita pela comunidade jurídica em geral (e principalmente a brasileira). Algumas vezes essa postura é muito evidente e mais “ousada” (ultrapassando, inclusive, a própria ideia de “moldura legal” ou “textura aberta”). Veja-se este trecho do seguinte voto: “Não me importa o que pensam os doutrinadores, enquanto for Ministro do Superior Tribunal de Justiça, assumo a autoridade de minha jurisdição. (...) Decido, porém, conforme minha consciência. Precisamos estabelecer essa autonomia intelectual, para que este Tribunal seja respeitado. É preciso consolidar o entendimento de que os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins e Humberto Gomes de Barros decidem assim, porque pensam assim. E o STJ decide assim, porque a maioria de seus integrantes pensa como esses Ministros. Esse é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça, e a doutrina que se amolde a ele. É fundamental expressarmos o que somos. Ninguém nos dá lições. Não somos aprendizes de ninguém” (STJ. Trecho do voto do ministro Humberto Gomes de Barros no Agravo Regimental em Recurso Especial nº 279.889/AL. Julgado: 03 abr. 2001 – grifos acrescidos).

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“por um ato de poder discricionário do juiz, aplicado ex post facto”. Isso porque “a ideia do poder discricionário infiltrou-se na comunidade jurídica”. Não obstante, tal fato “ilustra uma das perplexidades mais exasperantes que levam os filósofos a ocupar-se da obrigação jurídica”.

O autor chama nossa atenção para o fato de ser “tautológica a proposição segundo a qual, quando não há regra clara disponível, deve-se usar o poder discricionário em sentido fraco para julgar” (DWORKIN, 2007, p. 55). Entretanto, alerta não ser essa a sustentação de Hart, o qual, como vimos, sustenta, em verdade, que, “quando o poder discricionário do juiz está em jogo, não podemos mais dizer que ele está vinculado a padrões, mas devemos, em vez disso, falar sobre os padrões que ele ‘tipicamente emprega’” (DWORKIN, 2007, p. 55). Nesse prisma, Dworkin destaca que, no entendimento de Hart, “quando os juízes possuem poder discricionário, os princípios que eles citam devem ser tratados (...) como aquilo que os tribunais ‘têm por princípio’ fazer” (DWORKIN, 2007, p. 55), não estando vinculados a tais princípios.

Conclusivamente, temos que, “se um jurista pensa o direito como um sistema de regras e ainda assim reconhece, como deve, que os juízes mudam regras antigas e introduzem novas, ele chegará naturalmente à teoria do poder discricionário judicial no sentido forte” (DWORKIN, 2007, p. 62 – grifo acrescido).

Diante disso, sustenta Dworkin (2007) que, nos próprios termos da tese hartiana, não há o enfrentamento de casos difíceis e enigmáticos (que são, essencialmente, os que ensejam a busca por teorias do direito). Segundo o autor, diante desses casos, leva-nos o positivista para uma despropositada teoria do poder discricionário, que em nada contribui para as necessidades daquele que, quando deparado com hard cases, busca alicerce para sua atuação.

Essa constatação leva-nos a indagar:

qual seria a validade (ou o sentido) de uma hermenêutica que admitisse “qualquer resposta”, enfim, de uma hermenêutica que admitisse, como Kelsen, que a interpretação judicial é um ato de vontade? Qual seria a utilidade de uma hermenêutica que admitisse até mesmo múltiplas respostas para um mesmo caso “concreto”? Qual seria a razão de ser de uma teoria hermenêutica que admitisse que o direito é aquilo que o “intérprete autorizado” diz que é? (STRECK, 2011b, p. 395)

E concluir, que, certamente, estaríamos diante de um retorno “ao último princípio epocal da metafísica moderna: a vontade do poder” (STRECK, 2011b, p. 395). Em decorrência disso, “estar-se-ia a admitir um ‘grau zero na significação’ e consequentemente, um constante ‘estado de exceção hermenêutico’. A hermenêutica seria, pois, pré-linguística. Mas, já então, não seria mais ‘hermenêutica’!” (STRECK, 2011b, p. 395).

Retornando à sanidade na abordagem do assunto, temos que, nesse diapasão, afirma Dworkin (2007, p. 72) que “se nos livrarmos desse modelo de regras, poderemos ser capazes de construir um modelo mais fiel à complexidade e à sofisticação de nossas práticas jurídicas” (DWORKIN, 2007, p. 71-72).

Dworkin coloca como um dos elementos que caracterizam o positivismo, de um modo genérico, o fato de que seus adeptos consideram que

o conjunto de regras jurídicas é coextensivo com “o direito”, de modo que se o caso de alguma pessoa não estiver claramente coberto por uma regra dessas (porque não existe nenhuma que pareça apropriada ou porque as que parecem apropriadas são

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(DWORKIN, 2007, p. 64).Pode-se argumentar a validade de

um princípio e seu peso apelando para um amálgama de práticas e de outros princípios, nos quais as implicações da história legislativa e judiciária aparecem juntamente com apelos e formas de compreensão partilhadas pela comunidade (DWORKIN, 2007, p. 58).

Dworkin (2007) esclarece que não há procedimento que nos permita avaliar a consistência dessa arguição e que é certo que pessoas de entendimento respeitável podem discordar entre si quanto aos princípios que seriam apropriados15. Ressalta, entretanto, que

isso não diferencia um juiz de outros funcionários públicos que não possuem poder discricionário. (...) Nenhum funcionário possui tal poder, pois eles têm a obrigação de chegar a uma compreensão, controversa ou não, a respeito do que suas ordens ou as regras exigem e agir com base nessa compreensão. Esse é, também, o dever do juiz (DWORKIN, 2007, p. 58).

Eis que chegamos num ponto crucial de todo o nosso estudo, quando Dworkin (2007, p. 60) lança a seguinte questão: “quando (...) um juiz tem permissão para mudar uma regra de direito em vigor?” (grifo acrescido).

Segundo Lenio Luiz Streck (2011c, p. 605), são restritas as hipóteses em que o magistrado poderá deixar de aplicar a lei (ou ato normativo). Isso só poderá ocorrer com “a [...] nulificação de um dispositivo, ou seja,

vagas ou por alguma outra razão), então esse caso não pode ser decidido mediante “a aplicação do direito” (DWORKIN, 2007, p. 28).

Nesses casos, os positivistas entendem que

ele deve ser decidido por alguma autoridade pública, como um juiz, “exercendo seu discernimento pessoal”, o que significa ir além do direito na busca por algum outro tipo de padrão que o oriente na confecção de nova regra jurídica ou na complementação de uma regra já existente (DWORKIN, 2007, p. 28).

Tomando por base os modelos positivistas defendidos por Hart e Austin, diagnostica Dworkin (2007, p. 35) que “aquele que pensa sobre o direito como um conjunto especial de regras é quase inevitavelmente levado a explicar casos difíceis em termos de um exercício de poder discricionário por parte de alguém”.

Vale, neste momento, trazermos à tona a distinção que faz Dworkin (2007) acerca de regras e princípios. Para o autor, se, por um lado, tanto regras quanto princípios acarretam posicionamentos particulares acerca de deveres jurídicos em situações específicas, por outro, temos que há diferença quanto à natureza de suas respectivas orientações. Enquanto “regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada”14, princípios, por sua vez, são “tipos particulares de padrões” (DWORKIN, 2007, p. 46).

Diferentemente das regras, os princípios jurídicos não se originam da “decisão particular de um poder legislativo ou tribunal, mas na compreensão do que é apropriado, desenvolvida pelos membros da profissão e pelo público ao longo do tempo”

14“Dados os fatos que uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribui para a decisão” (DWORKIN, 2007, p. 39).15““Não existe papel de tornassol para testar a consistência desse argumento – ele é matéria que depende de juízo e pessoas razoáveis podem discordar a respeito dela” (DWORKIN, 2007, p. 58).

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a retirada de sua validade (no todo ou em parte), o que só pode ser feito por intermédio de controle de constitucionalidade, nos termos do artigo 97 da CF”.

Nesse prisma,o acentuado grau de autonomia alcançado pelo direito e o respeito à produção democrática das normas faz com que se possa afirmar que o Poder Judiciário somente pode deixar de aplicar uma lei ou dispositivo de lei nas seguintes hipóteses:

a) quando a lei (ou ato normativo) for inconstitucional, caso em que deixará de aplicá-la (controle difuso de constitucionalidade strictu sensu) ou a declarará inconstitucional mediante controle concentrado;

b) quando for o caso de aplicação dos critérios de resolução de antinomias. Nesse caso, há que se ter cuidado com a questão constitucional, pois, v.g., a lex posterioris que derroga a lex anterioris pode ser inconstitucional, com o que as antinomias deixam de ser relevantes;

c) quando aplicar a interpretação conforme a Constituição (...), ocasião em que se torna necessária uma adição de sentido ao artigo de lei para que haja plena conformidade da norma à Constituição. Neste caso, o texto de lei (entendido na sua “literalidade”) permanecerá intacto; o que muda é o seu sentido, alterado por intermédio de interpretação que o torne

adequado à Constituição;

d) quando aplicar a nulidade parcial sem redução de texto (...), pela qual permanece a liberdade do dispositivo, sendo alterada apenas a sua incidência, ou seja, ocorre a expressa exclusão, por inconstitucionalidade, de determinada(s) hipótese(s) de aplicação (...) do programa normativo sem que se produza alteração expressa do texto legal. Assim, enquanto na interpretação conforme, há uma adição de sentido, na nulidade parcial sem redução de texto, ocorre uma abdução de sentido;

e) quando for o caso de declaração de inconstitucionalidade com redução de texto, ocasião em que a exclusão de uma palavra conduz à manutenção da constitucionalidade do dispositivo.Fora dessas hipóteses, o Poder Judiciário estará se sobrepondo à legislação produzida de acordo com a democracia representativa (STRECK, 2011c, p. 605-606).

Em adendo, no artigo “Aplicar a ‘letra da lei’ é uma atitude positivista?”, Streck (2010) acrescenta uma hipótese de afastamento do dispositivo legal: quando se deixar de aplicar uma regra em face de um princípio (nesse caso, faz-se necessária a construção de um sentido para esse princípio, para que não se transforme em um “álibi para decisões ad hoc”16). “É só assim por meio de uma dessas seis hipóteses que, em uma democracia, um Tribunal pode deixar de aplicar uma lei” (STRECK, 2011c, p. 605).

Voltando à abordagem de Dworkin (2007, p. 60), cuidará esse autor do controle

16Segundo o autor, infelizmente, é comum que se faça a mera citação do princípio ou de um verbete, na maioria das vezes, descontextualizado.

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de regras por princípios17, explicando que “é necessário, embora não suficiente, que o juiz considere que a mudança favorecerá algum princípio; dessa maneira o princípio justificaria a modificação”.

Percebendo o problema que um (pan)principiologismo18 poderia ocasionar, Dworkin esclarece que “não é qualquer princípio que pode ser invocado para justificar a mudança; caso contrário, nenhuma regra estaria a salvo” (DWORKIN, 2007, p. 60).

Nesse prisma, temos que é necessário que alguns princípios tenham importância e outros não. E mais. Faz-se mister que alguns princípios sejam mais importantes que outros. Entretanto, não se pode considerar que esse critério varia de acordo com as preferências pessoais19 do magistrado, isto é, que depende da seleção por parte do juiz “em meio a um mar de padrões extrajurídicos respeitáveis, cada um deles podendo ser, em princípio, elegível” (DWORKIN, 2007, p. 60 – grifos acrescidos).

Alguém que, sem cautela, entenda desse modo, acabaria por reconhecer inexistir obrigatoriedade em regra alguma, “já que, nesse caso, sempre poderíamos imaginar um juiz cujas preferências, selecionadas entre os padrões extrajurídicos, fossem tais que justificassem a mudança ou uma reinterpretação radical até mesmo da regra mais arraigada” (DWORKIN, 2007, p. 60).

Nisso reside o cerne da crítica dworkiniana ao positivismo, ao denunciar que

o positivista conclui que (...) princípios e políticas não são regras válidas de uma lei acima do direito – o que é verdade – porque certamente não são regras. Ele conclui ainda que são padrões extrajurídicos que cada juiz seleciona de acordo com

suas próprias luzes, no exercício de seu poder discricionário – o que é falso. É como se o zoólogo tivesse provado que os peixes não são mamíferos e então concluído que na verdade eles são plantas (DWORKIN, 2007, p. 63 – grifos acrescidos).

Diante do exposto, faz-se necessário compreender a proposta de Dworkin acerca do que é o direito e de qual é o papel do juiz. Para tanto, devemos atentar para sua obra “O império do direito”, em que traz à tona a ideia de direito como integridade (DWORKIN, 1999).

Eis que esse autor desafia seus leitores a abrirem a mente para uma compreensão díspar de tudo que, até então, estava em voga, dizendo que

o direito como integridade rejeita, por considerar inútil, a questão de se os juízes descobrem ou inventam o direito; sugere que só entendemos o raciocínio jurídico tendo em vista que os juízes fazem as duas coisas e nenhuma delas (DWORKIN, 1999, p. 271).

Nessa linha, “o direito como integridade deplora o mecanismo do antigo ponto de vista de que ‘lei é lei’, bem como o cinismo do novo ‘realismo’. Considera esses dois pontos de vista como enraizados na mesma falsa dicotomia entre encontrar e inventar a lei” (DWORKIN, 1999, p. 274).

Nesse compasso, temos que a integridade na deliberação judicial

requer que, até onde seja possível, nossos juízes tratem nosso atual sistema de normas públicas como se este expressasse e respeitasse

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17Isso porque, em sua abordagem, o controle de constitucionalidade não se trataria de “mudar” uma regra, mas sim de respeitar a regra “verdadeira”, corrigindo vícios do sistema e afastando uma “pretensa” regra.18Síndrome combatida com furor por Lenio Luiz Streck, conforme se vê ao longo deste trabalho. “O que não se pode fazer é solapar a lei mediante a utilização de argumentos que, nem de longe, aproximam-se daquilo que Dworkin denomina de ‘argumentos de princípio’” (STRECK, 2011c, p. 607).19Solipsismo decisional, como se verá mais adiante.

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um conjunto coerente de princípios e, com esse fim, que interpretem essas normas de modo a descobrir normas implícitas entre e sob as normas explícitas (DWORKIN, 1999, p. 261).

A verdade é que as partes que compõem uma lide

têm o direito, em princípio, de ter seus atos e assuntos julgados de acordo com a melhor concepção daquilo que as normas jurídicas da comunidade exigiam ou permitiam na época em que se deram os fatos, e a integridade exige que essas normas sejam consideradas coerentes, como se o Estado tivesse uma única voz (DWORKIN, 1999, p. 263 – grifos acrescidos).

Sendo assim, Dworkin esclarece que o princípio da integridade aplicado à prestação jurisdicional é fundamental para o reconhecimento, por parte do magistrado, daquilo que é o direito, não sendo “superior a propósito do que os juízes devem fazer cotidianamente” (1999, p. 262).

Por tal, argui o autor que esse princípio

reina, por assim dizer, sobre os fundamentos do direito, pois não admite nenhum outro ponto de vista que “decorra” de decisões políticas tomadas no passado. (...) Qualquer teoria sobre os fundamentos do direito abstrai-se de questões detalhadas sobre a força do direito. O juiz que aceitar a integridade pensará que o direito que esta define estabelece os direitos genuínos que os litigantes têm a uma decisão dele (DWORKIN, 1999, p. 262-263).

Conclusivamente, temos que esse princípio, aplicado à decisão do juiz, “não tem necessariamente a última palavra sobre de que modo usar o poder de coerção do Estado. Mas tem a primeira palavra, e normalmente não há nada a acrescentar àquilo que diz” (DWORKIN, 1999, p. 263).

Para compreendermos melhor, temos que no direito, visto pelo prisma do princípio da integridade, “as proposições jurídicas são verdadeiras se constam, ou se derivam, dos princípios de justiça, equidade e devido processo legal que oferecem a melhor interpretação construtiva da prática jurídica da comunidade” (DWORKIN, 1999, p. 272).

Desse modo,

os juízes que aceitam o ideal interpretativo da integridade decidem casos difíceis tentando encontrar, em algum conjunto coerente de princípios sobre os direitos e deveres das pessoas, a melhor interpretação da estrutura política e da doutrina jurídica de sua comunidade (DWORKIN, 1999, p. 305).

Ademais, “quem quer que aceite

o direito como integridade deve admitir que a verdadeira história política de sua comunidade irá às vezes restringir suas convicções políticas em seu juízo interpretativo geral” (DWORKIN, 1999, p. 305). Sendo assim,

nenhum juiz mortal pode ou deve tentar articular suas hipóteses (...) tornando-as tão concretas e detalhadas que novas reflexões se tornem desnecessárias em cada caso. Deve considerar provisórios quaisquer princípios ou métodos empíricos gerais que tenha seguido no passado, mostrando-se disposto a abandoná-los em favor de uma análise mais sofisticada e

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profunda quando a ocasião assim o exigir (DWORKIN, 1999, p. 308).

Tendo feito todo esse apanhado, convém atentarmos para as assíduas críticas do professor Lenio Luiz Streck para a prática e para o estudo do direito em terrae brasilis20.

Streck (2013a, p. 19-21) sustenta que

o problema da verdade – e, portanto, da manifestação da verdade no próprio ato judicante – não pode se reduzir a um exercício da vontade do intérprete (julgar conforme sua consciência), como se a realidade fosse reduzida à sua representação subjetiva.

(...)Por vezes, em artigos, livros, entrevistas ou julgamentos, os juízes (singularmente ou por intermédio de acórdãos nos Tribunais) deixam “claro” que estão julgando “de acordo com a sua consciência” ou “seu entendimento pessoal sobre o sentido da lei”. Em outras circunstâncias, essa questão aparece devidamente teorizada sob o manto do poder discricionário dos juízes.

(...)No caso específico do Brasil, onde, historicamente até mesmo a realidade burguesa tem sido difícil de “emplacar”, a grande luta tem sido a de estabelecer as condições para o fortalecimento de um espaço democrático de edificação da legalidade, plasmado no texto constitucional.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, é inarredável a conclusão de que “o direito não é aquilo que o Tribunal, no seu conjunto ou na individualidade de seus componentes, diz que é” (STRECK, 2013a, p. 25). Nesse mesmo sentido, temos que “o jurista não ‘fabrica’ o seu objeto do conhecimento” (STRECK, 2013a, p. 91). Nem mesmo o positivista Herbert L. A. Hart (2001), como já dito, compactua com essa ideia21.

Nesse tocante, temos que o juiz encontra sua limitação mais importante na obrigatoriedade de justificar (mais que motivar) suas decisões, de deixar estampado em sua decisão os motivos que justificam a sua “escolha” de uma solução, de explicar o porquê de ser ela a adequada para o caso em pauta (STRECK, 2013b).

E é nesse prisma que

a motivação/justificação está vinculada ao direito à efetiva intervenção do juiz, ao direito dos cidadãos a obter uma tutela judicial, sendo que, por essa razão, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considera que a motivação se integra ao direito fundamental a um processo equitativo (STRECK, 2013b, p. 119).

A despeito disso, denuncia Streck (2013a, p. 25-26) que “[e]star compromissado apenas com a sua consciência passa a ser o elemento que sustenta o imaginário de parcela considerável dos magistrados brasileiros”22.

Nesse contexto, o problema mais grave está no modo como se vem entendendo que o juiz deve decidir. “As teorias argumentativas – que se enquadram no âmbito das teorias

20Termo constantemente utilizado pelo professor Lenio Luiz Streck quando maldiz o Brasil quanto à práxis jurídica.21Ainda que Hart (2001) entenda que o juiz, dentro de uma “textura legal”, não tivesse vínculo jurídico, podendo decidir, eventualmente, num sentido ou noutro, não considera que seria jurídica essa manifestação do poder discricionário judicial, mas sim extrajurídica (política, moral etc.).22Ver nota 44.

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23Não deveria ser importante esse destaque, mas, em razão do amplo equívoco por parte daqueles que se deparam com essa abordagem, é sempre bom frisar.24Essa ideia está afastada desde a superação do exegetismo jurídico (STRECK, 2013a).25“Ora, fosse isso verdadeiro, teríamos que dar razão a Kelsen, para quem a interpretação a ser feita pelos juízes é um ato de vontade. Isso para dizer o mínimo!” (STRECK, 2013a, p. 95).

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analíticas – continuam apostando na vontade do intérprete, gerando a discricionariedade judicial. Tais teorias sofrem, assim, de um letal déficit democrático” (STRECK, 2013a, p. 93).

É justamente nesse ponto que a hermenêutica, afastada do relativismo que assola o mundo contemporâneo, “funciona como uma blindagem contra interpretações arbitrárias e discricionariedades ou decisionismos” (STRECK, 2013a, p. 93).

É necessário compreendermos que é impossível que se faça a pretensa separação entre compreender e aplicar o direito (como se fossem dois momentos distintos). Daí decorre que não é possível “o intérprete ‘retirar’ do texto ‘algo que o texto possuíria-em-si-mesmo’ (...), como se fosse possível reproduzir os sentidos; ao contrário, para Gadamer, fundado na hermenêutica filosófica, o filósofo sempre atribui sentido” (STRECK, 2013a, p. 91).

Nesse contexto, temos que “discutir as condições de possibilidade da decisão jurídica é, antes de tudo, uma questão de democracia” (STRECK, 2013a, p. 95).

Nesse tocante, é importante ressaltar23 que as críticas à discricionariedade judicial não implicam a “proibição da interpretação” (como alguns, equivocada e apressadamente, entendem). Isso seria absurdo, tendo em vista que a interpretação nada mais é que “dar sentido”, e considerando que “o direito é composto por regras e princípios, ‘comandados’ por uma Constituição” (STRECK, 2013a, p. 95), é tautológica a afirmação de que “interpretar se faz necessário”.

Nesse prisma, temos que

afirmar que os textos jurídicos contêm vaguezas e ambiguidades e que os princípios podem ser – e na maior parte das vezes são

– mais “abertos” em termos de possibilidades de significado, não constitui novidade, uma vez que os setores mais atrasados da dogmática jurídica já se aperceberam desse fenômeno24 (STRECK, 2013a, p. 95).

Entretanto, o que precisa ficar claro é que

a realização/concretização desses textos (isto é, a sua transformação em normas) não depende – e não pode depender – de uma subjetividade assujeitadora (esquema [Sujeito-Objeto]), como se os sentidos a serem atribuídos fossem fruto da vontade do intérprete25 (STRECK, 2013a, p. 95).

A despeito das corriqueiras manifestações que se observa no mundo jurídico contemporâneo, “obedecer ‘à risca o texto da lei democraticamente construída’ (já superada – a toda evidência – a questão da dis¬tinção entre direito e moral) não tem nada a ver com a ‘exegese’ à moda antiga (positivismo primitivo)” (STRECK, 2011a, p. 40). Pelo contrário, se a lei não é afastada por qualquer critério pertinente, aplicá-la rigorosamente em seus termos é exatamente o que se deve fazer. O que “não podemos admitir é que (...) sejamos levados por argumentos que afastam o conteúdo de uma lei (...) meramente com base numa suposta “superação” da literalidade do texto legal” (STRECK, 2011a, p. 20).

Devemos atentar que

o “constituir” da Constituição é a obrigação suprema do direito. É, pois, a virtude soberana (parafraseando Dworkin). A partir

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da feitura da lei, a decisão judicial passa a ser racionalizada na lei, que quer dizer, “sob o comando da Constituição” e não “sob o comando das injunções pessoais-morais-políticas do juiz ou dos tribunais” (STRECK, 2011a, p. 35-36).

De tudo, com base em Dworkin (1999 e 2007) e Streck (1998, 2010, 2011a, 2011c, 2013a e 2013b), se conclui que o juiz, ao decidir uma causa, tem o dever de pautar-se no direito26, e não em sua consciência. Desse modo, sempre haverá um sentido adequado para a solução do caso em questão, ao contrário do que sustenta Hart (2001).

26E, consequentemente, por óbvio, aqueles que apresentam a causa têm o direito a uma decisão pautada no direito, constitucionalmente adequada (STRECK, 2011a).

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RESUMO

O presente artigo tem como objeto fazer uma reflexão acerca da aplicabilidade do princípio da insignificância penal nos crimes ambientais, como forma de entender os fundamentos conceituais e práticos do Direito Penal Ambiental, enfocando a tutela penal do meio ambiente em face da necessidade de reconhecer a lesão ambiental penalmente significante como justificativa para a efetivação da repressão e persecução criminal do Estado. Muitas vezes, o tipo penal ambiental alcança condutas destituídas de poder ofensivo ao bem jurídico tutelado, evidenciando-se a necessidade da submissão do tipo penal ao princípio da insignificância a fim de excluir as condutas penalmente irrelevantes, permanecendo típicas somente as condutas efetivamente ofensivas. A pesquisa baseou-se no método dogmático jurídico, recorrendo aos ensinamentos doutrinários e jurisprudenciais para análise do tema e apontamento das conclusões.

Palavras-chave: Insignificância; Crimes Ambientais; Tutela Penal.

ABSTRACT

This article focuses to reflect on the applicability of the criminal insignificance in environmental crimes as a way to understand

the conceptual and practical foundations of Environmental Criminal Law, focusing on the criminal protection of the environment because of the need to recognize the lesion significant environmental criminal as justification for effective enforcement and criminal prosecution by the State. Often, criminal environmental type reaches devoid of offensive power to the protected legal good conduct, demonstrating the necessity of submission to the principle of criminal type insignificance to exclude irrelevant criminal conduct, typical only remaining conduits effectively offensive. The research was based on the legal dogmatic method, using the doctrinal and jurisprudential teachings to analyze the issue and pointing the conclusions.

Keywords: Bickering; Environmental Crimes; Criminal protection.

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 inovou no regime constitucional pátrio ao elevar o meio ambiente e sua proteção a direito fundamental do cidadão, dedicando a ele um capítulo inteiro, contendo o artigo 225 e seus seis parágrafos. A edição da lei 9.605/98 atendeu a esse dispositivo, consolidando os tipos penais com a objetividade jurídica da

Renata Ferreira de Freitas¹Paulo Henrique Miotto Donadeli²

¹ Graduada em Direito pelo Centro Universitário Uniseb, Ribeirão Preto. Autora da Monografia intitulada “O princípio da insignificância e sua aplicabilidade aos crimes ambientais”, apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Direito, no ano de 2013.² Advogado, Doutorando (UNESP), Docente e Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Uniseb, Ribeirão Preto. Orientador da Monografia “O princípio da insignificância e sua aplicabilidade aos crimes ambientais”, apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Direito, no ano de 2013.

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proteção ambiental.A relevância social de tal bem jurídico

justifica o estabelecimento de sanções aplicáveis a ofensas a esse bem, sendo que, a necessidade da tutela penal ambiental evidencia-se ante a ineficiência da tutela cível-administrativa, já que as desta natureza não obtiveram êxito na proteção do meio ambiente. Por fim, a principal finalidade da tutela penal é a prevenção de uma lesão maior ao meio ambiente, através dos instrumentos que lhes são inerentes: a cominação de sanção e a execução da pena aplicada.

O legislador infraconstitucional sistematizou os tipos penais esparsos em um sistema jurídico, dividindo-os em cinco grupos, a saber: a) crimes contra a fauna; b) crimes contra a flora; c) poluição e outros crimes ambientais; d) crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural; e e) crimes contra a administração ambiental. A lei 9.605/98, porém, gerou a problemática da amplitude desses tipos penais, que, por vezes, alcança condutas destituídas de ofensividade ao bem jurídico tutelado.

O princípio da insignificância preceitua que deve haver uma proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. Muitas vezes, embora a conduta se enquadre formalmente em determinado tipo penal, não apresenta nenhuma relevância material. Nessas circunstâncias, é autorizado afastar a tipicidade penal, uma vez que o bem jurídico não chegou a ser lesado (BITENCOURT, 2009). O princípio da insignificância está relacionado com a teoria social da ação, pela qual nem todo fato material deve ser punido, mas somente quando tem relevância social.

O presente artigo parte do pressuposto que não é tolerável que pessoas sejam condenadas e cumpram pena só porque abateram uma ave, pescaram um peixe ou arrancaram uma árvore, se tais condutas não gerarem uma ofensividade maior, de efetivamente prejudicar o meio ambiente e a sociedade. A aplicação de sanções nos casos considerados insignificantes, só traria

prejuízo desnecessário ao agente no tocante à reincidência e à permanência do seu nome no rol dos culpados, em face do efetivo dano ao meio ambiente.

1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL

Princípio é o momento em que algo tem origem; é a causa primária, o elemento predominante na constituição de um corpo orgânico; preceito, regra ou lei; fonte ou causa de uma ação. Para o Direito, o princípio indica uma ordenação, que se irradia para todas as normas, servindo de fundamento para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito positivo (NUCCI, 2012).

Conforme ensina Miguel Reale (2002) princípios são “verdades fundantes” de um sistema de conhecimento, são enunciados normativos genéricos, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, seja em sua aplicação e integração, seja na elaboração de novas normas. Há princípios que, devido a sua importância, estão expressos na lei, enquanto outros são encontrados implicitamente no sistema normativo.

Os princípios penais possuem como função orientar o legislador na adoção de um Direito Penal Mínimo e garantista. O Direito Penal deve ser a ultima ratio, pois a criminalização de uma conduta somente se justifica se for o meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico (QUEIROZ, 1999). Os princípios penais servem como garantia ao cidadão perante o poder punitivo do Estado, tendo como função manter um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos, embasado em um Direito Penal da culpabilidade. (BITENCOURT, 2009).

O princípio da insignificância possui sua origem no Direito Romano, onde era aplicado aos casos de natureza civil, partindo do adágio latino mínima non curat praetor (“o magistrado não pode preocupar-se com

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questões insignificantes”). Mas, o princípio da insignificância foi introduzido no sistema penal por Claus Roxin em 1964, como regra auxiliar de interpretação na determinação do injusto, juntamente com os princípios da adequação social e da ofensividade.

Não há, na legislação brasileira, previsão expressa de excludente da tipicidade pela aplicação do princípio da insignificância, porém, a doutrina e a jurisprudência admite com fundamento na analogia ou na interpretação interativa, desde que não seja contra legem. Nem sempre qualquer ofensa a um bem jurídico configura o injusto típico, a tipicidade penal exige que haja pelo menos uma ofensa grave.

Muito embora uma conduta se enquadre formalmente a um tipo penal, se materialmente ela não possui nenhuma relevância é permitido o afastamento da tipicidade penal, uma vez que o bem jurídico não chegou efetivamente a ser lesado (BITENCOURT, 2009).

Portanto, podemos conceituar o princípio da insignificância como sendo a excludente de tipicidade de determinadas condutas, que embora sejam formalmente típicas, não atingem de forma socialmente relevante os bens jurídicos protegidos pelo direito penal.

As normas penais encontram-se assentadas em princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito. A norma penal no Estado Democrático de Direito deve, obrigatoriamente selecionar, dentre todos os comportamentos humanos, aqueles que possuem real lesividade social. Sem esse conteúdo, a norma estará contrária ao princípio básico da dignidade da pessoa humana. Pode-se afirmar que o princípio da dignidade da pessoa humana orienta toda a formação do Direito Penal, e qualquer formação típica que afrontar tal princípio será materialmente inconstitucional. Da dignidade da pessoa humana partem outros princípios que propiciam um controle de qualidade do tipo penal, em inúmeras

situações específicas da vida concreta.A aplicação do princípio da

insignificância a condutas penalmente irrelevantes encontra seu fundamento no princípio da igualdade ao evitar que o agente seja punido de forma desproporcional ao grau de reprovabilidade da conduta típica.

O princípio da insignificância também atua como instrumento de proteção da liberdade, ao atender à necessidade de se reduzir a incidência de medidas constritivas sobre a liberdade individual, já que em muitas vezes a pena, mormente a de prisão, mostra-se desproporcionalmente mais prejudicial do que o delito cometido.

Outro fator que justifica o princípio da insignificância é a fragmentariedade do Direito Penal, uma vez que este, diante de ações típicas de irrelevante agressão ao bem jurídico protegido, atua como mecanismo de seleção das condutas mais graves, objetivando, assim, estabelecer um padrão de aplicação da lei criminal, o chamado “mínimo ético” do Direito Penal (SILVA, 2008).

Por fim, fundamenta o princípio da insignificância penal a ideia de proporcionalidade, ao excluir do âmbito do Direito Penal condutas penalmente insignificantes quando há uma efetiva desproporcionalidade entre o fato praticado e a resposta penal a essa prática.

Segundo a teoria do jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, o juízo de tipicidade não é um mero juízo de tipicidade legal, sendo necessária também a comprovação da tipicidade conglobante, que consiste na averiguação da proibição através da indagação do alcance proibitivo da norma, não considerada isoladamente, e sim conglobada na ordem normativa. Para esse doutrinador, “a tipicidade conglobante é um corretivo da tipicidade legal, posto que pode excluir do âmbito do típico aquelas condutas que aparentemente estão proibidas” (ZAFFARONI, 2008).

A função da tipicidade conglobante,

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portanto, é a de reduzir a tipicidade penal à verdadeira dimensão do que a norma proíbe, excluindo aquelas condutas que, embora alcançadas pela tipicidade legal, a ordem normativa não quer proibir, seja porque as ordena ou as afronta. Podemos concluir, portanto, que a tipicidade penal da conduta surge da conjunção da tipicidade legal com a tipicidade conglobante.

Rogério Greco (2012) ensina que a tipicidade conglobante necessita da verificação de dois aspectos fundamentais: a) se a conduta do agente é antinormativa; b) se o fato é materialmente típico. O estudo do princípio da insignificância reside nesse segundo aspecto da tipicidade conglobante, qual seja, a tipicidade material.

Além da necessidade de um modelo abstrato prevendo expressamente a conduta praticada pelo agente, é preciso que, para que ocorra a adequação da conduta ao tipo penal, seja levada em consideração a relevância do bem que está sendo objeto de proteção. O legislador, ao tutelar determinados bens jurídicos, tais como o patrimônio e a integridade corporal, por exemplo, não quis abarcar toda e qualquer lesão ínfima a tais bens.

O bem juridicamente protegido pelo Direito Penal deve, portanto, ser relevante, ficando afastados aqueles considerados inexpressivos, havendo, assim, a aplicação do princípio da insignificância. Nestes casos, falta a chamada tipicidade material, com a exclusão da tipicidade conglobante e, consequentemente da tipicidade penal.

2. APLICABILIDADE NO DIREITO PENAL DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

A jurisprudência e a doutrina brasileira vêm reconhecendo e aplicando o princípio da insignificância em matéria criminal há tempos, com a justificativa de que as lesões aos bens jurídicos, previstas pela tipicidade penal requerem alguma

gravidade, uma vez que nem toda afetação mínima configuraria a lesão prevista pela norma penal.

Não obstante, a primeira decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, reconhecendo expressamente a aplicabilidade do princípio da insignificância ocorreu em 1988, no julgamento do Recurso em Habeas Corpus 66.869-1, nos seguintes termos:

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acidente de Trânsito. Lesão Corporal. Inexpressividade da lesão. Princípio da Insignificância. Crime não configurado. Se a lesão corporal (pequena equimose) decorrente de acidente de trânsito e de absoluta insignificância, como resulta dos elementos dos autos – e outra prova não seria possível fazer-se tempos depois – há de impedir-se que se instaure ação penal que a nada chegaria, inutilmente sobrecarregando-se as varas criminais, geralmente tão oneradas. RHC 66.869-1. Vera Maria Nunes Deutscher e Tribunal de Alçada do Estado do Paraná. Relator Min. Aldir Passarinho. 06 dez. 1988.

Anteriormente, em 1981, no julgamento do RHC 59.191/PB, o Supremo Tribunal Federal já havia decidido pela inexistência de crime de dano na ação de cortar folhas de uma palmeira, porém sem reconhecer expressamente a incidência do princípio da insignificância. Segundo o Ministro Clóvis Ramalho, o ressarcimento do dano de pequena monta extinguiria a punibilidade (SANGUINÉ apud SILVA, 2008).

O reconhecimento expresso da aplicabilidade do princípio da insignificância pela Corte Suprema do direito brasileiro foi de vital importância, ao justificar a atuação dos tribunais inferiores que já há tempos o

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Federal: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Na esfera administrativa, a legislação busca evitar o efetivo dano ao meio ambiente através da aplicação de multas, possuindo, portanto, atuação preventiva. As infrações administrativas estão descritas no capítulo VI da Lei 9.605/98, que apresenta o conceito de infração administrativa, discorre sobre o processo administrativo para apuração de infração ambiental e prevê as sanções cabíveis.

Na esfera cível, a medida cabível é a ação civil pública, disciplinada pela Lei 7.347/85, que pode ser proposta contra o causador do dano, com vistas à reconstituição da flora ou da fauna, se o caso – ação de fazer ou não fazer -, ou o ressarcimento em pecúnia dos danos causados irrecuperáveis a curto espaço de tempo. O objetivo dessa esfera é a reparação dos danos causados (SIRVINKAS, 2004).

Já a tutela penal ambiental possui atuação repressiva, sendo os crimes contra o meio ambiente os instituídos pela Lei 9.605/98. A atuação do Direito Penal na proteção do meio ambiente veio atender às constantes reivindicações sociais pela criminalização de condutas lesivas à natureza, que prejudicam o equilíbrio ecológico necessário para a vida humana com qualidade, das presentese das futuras gerações (MILARÉ, 2009).

A maioria dos crimes ambientais pode ser praticada por qualquer pessoa, classificados como crimes comuns. O sujeito ativo da norma penal ambiental, em regra, não age individualmente, mas atua em nome de uma pessoa jurídica. Por outro lado, a atividade do infrator ambiental não se volta para o crime como um fim em si mesmo, pelo contrário, a conduta delitiva ocorre como resultado de uma atuação em tese até

aplicavam. O Superior Tribunal de Justiça

também concretizou o princípio da insignificância no direito penal brasileiro ao julgar, no ano de 2000, que sua aplicação não viola a lei federal:

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Penal. Princípio da insignificância. A lei federal não resulta ofendida pela aplicação do princípio da insignificância. Divergência jurisprudencial comprovada. Recurso especial conhecido, porém improvido. RESP 235.152/PR. Ministério Público Federal e Evandro José de Aquino Castro. Relator Min. Fontes de Alencar. 26 jun. 2000.

Com o reconhecimento incontroverso pelas instâncias superiores da presença do princípio da insignificância no direito penal e que sua aplicação não viola a lei penal, a jurisprudência passou delimitar parâmetros de aplicabilidade do referido princípio (SILVA, 2008).

O atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal para aplicabilidade do princípio da insignificância exige a presença de quatro requisitos, quais sejam: a) conduta minimamente ofensiva do agente; b) ausência de risco social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e; d) inexpressividade da lesão jurídica.

O Superior Tribunal de Justiça também firmou entendimento no sentido de que a aplicação do princípio da insignificância pressupõe a existência de: a) reduzido grau de reprovabilidade da conduta; b) mínimo desvalor da ação e; c) ausência de maiores consequência danosas.

3. TUTELA PENAL AMBIENTAL

A tutela ao meio ambiente pode ser realizada administrativa, civil e penalmente, nos termos do § 3º do art. 225 da Constituição

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positiva e benéfica para a sociedade, qual seja, a produção de bens (MILARÉ, 2009).

Às vezes, os crimes ambientais são cometidos por pessoas que não oferecem nenhuma periculosidade ao meio social, e que foram levadas a praticar a infração penal por circunstâncias do meio em que vivem ou dos costumes, o que exige do julgador, no momento da aplicação da pena, atenção especial às circunstâncias previstas no art. 59 do Código Penal e no art. 14 da Lei 9.605/98 (FREITAS apud MILARÉ, 2009).

O titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa é o sujeito passivo do crime. Nos delitos ambientais o sujeito passivo principal sempre será a coletividade (MILARÉ, 2009).

No campo da tutela penal ambiental, foram levantadas polêmicas quanto à criação de tipos penais, em razão da dificuldade em se individualizar o bem a ser protegido (SILVA, 2008). A complexidade e a variedade desses bens torna às vezes difícil sua individualização, o que acarreta na criação de diversas normas compostas de tipos pluri-ofensivos (FERREIRA apud SILVA, 2008).

A complexidade na individualização e tipificação da conduta proibida acaba levando o legislador penal ambiental a editar leis muitas vezes contrárias aos princípios fundamentais do direito penal, principalmente ao princípio da taxatividade, como podemos observar, por exemplo, no tipo penal presente no art. 68 da Lei 9.605/98: “Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental”.

Essa dificuldade na elaboração do tipo penal ambiental faz com que o legislador adote como técnica legiferante a construção de tipos abertos e o emprego de normas penais em branco (SILVA, 2008). A utilização de normas penais em branco e de tipos abertos enfraquece a tutela penal ambiental, o que originou diversas críticas por parte da doutrina. Para Sirvinkas (2004) a lei

perdeu a oportunidade de criar tipos penais completos e abrangentes, restringindo-se em sistematizar, praticamente, normas já existentes e criminalizar condutas que antes eram contravenções, além de deixar de disciplinar ou proteger outros bens jurídicos relevantes para o meio ambiente.

Na formulação dos tipos penais, também não pode o legislador perder a perspectiva preventiva que embasa o direito ambiental. As disciplinas que cuidam da gestão do meio ambiente apresentam em comum esse desafio: abarcar também os riscos e não somente os danos, pois o prejuízo ambiental é, comumente, de difícil identificação, de larga dimensão e irreparável (BENJAMIN apud MILARÉ, 2009).

Nesse sentido, em relação às infrações ambientais, o legislador utilizou-se também dos tipos de perigo, especialmente de perigo abstrato, para os quais é suficiente a mera probabilidade de dano. É o caso, por exemplo, do crime do art. 54 da Lei n. 9.605/98 que pune aquele que cause poluição de qualquer natureza em níveis que resultem ou possam resultar danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Essa falta de precisão faz com que o tipo penal ambiental tenha uma amplitude maior que a necessária para proteção do bem ambiental tutelado, alcançando, por vezes, condutas irrelevantes para o Direito Penal.

Para que ocorra a adequação da conduta ao tipo penal, deve ser levada em consideração a relevância do bem que está sendo objeto de proteção, ficando afastados aqueles considerados inexpressivos. Nesse contexto é que se faz necessária a atribuição do conteúdo material à norma, limitando essa amplitude do tipo penal ambiental. Portanto, uma conduta só é considerada típica se em virtude da concepção material do tipo penal, concretamente lesionar o bem ambiental tutelado, não sendo suficiente para configurar o delito somente a tipicidade formal, que é a mera adequação do fato à

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descrição abstrata prevista. O princípio da insignificância tem

lugar para afastar a incidência da lei criminal sobre as lesões ambientais penalmente insignificantes, ao servir de instrumento interpretativo para corrigir a discrepância entre o abstrato e o concreto em sede de tipicidade penal (SILVA, 2008).

4. RECONHECIMENTO DA LESÃO AMBIENTAL PENALMENTE INSIGNIFICANTE

A aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais requer cautela, devendo ser reservado somente àqueles casos excepcionais, sob pena de frustrar-se a tutela penal ambiental (SILVA, 2008).

Em verdade, a aplicação do princípio da insignificância no tocante aos crimes ambientais impõe o máximo de cautela e prudência, a fim de não inviabilizar na prática a proteção penal do meio ambiente. Pretende-se, apenas, coerentemente com os atuais postulados que informam o direito punitivo, reservar para o campo da repressão penal as condutas que efetivamente impliquem ofensa a valores fundamentais do meio social. (COSTA NETO apud SILVA, 2008, p. 81).

Sua aplicação aos crimes ambientais encontra respaldo no predominante entendimento doutrinário e jurisprudencial de que num Estado Democrático de Direito toda intervenção penal deve ser realizada com observância dos princípios fundamentais do Direito Penal, visando respeitar os direitos e garantias fundamentais do cidadão (SILVA, 2008).

Os tribunais brasileiros, já há algum tempo, vêm aplicando o princípio da insignificância aos crimes ambientais,

levando em consideração a amplitude da lesão face ao bem jurídico protegido.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso. APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE - PERTINÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - ALCANCE DA LESÃO EFETIVA - BAGATELA - POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO - PERSECUÇÃO PENAL - PROVA - REALIDADE DELITIVA QUE NÃO SE MOSTRA NÍTIDA - IN DUBIO PRO REO - PRETENSÃO RECURSAL CONDENATÓRIA INACOLHIDA - PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO - PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA E PENA INFLIGIDA - PRETEXTO DE DESACERTO DO QUANTUM ESTABELECIDO - MAUS ANTECEDENTES QUE DEVERIAM DISTANCIAR DO MÍNIMO LEGAL COMINADO - ORIENTAÇÃO DO MAGISTÉRIO JURISPRUDENCIAL E ARIDEZ NO ASPECTO PRÁTICO - PRESENÇA DE ATENUANTES GENÉRICAS - MENORIDADE RELATIVA E CONFISSÃO ESPONTÂNEA - RECURSO DESPROVIDO. Dentro da análise da tipicidade estrita, se enfoca também o delito contra o meio ambiente desde que haja certeza do alcance insignificante da lesão provocada e se a prova se revela claudicante quanto à efetiva pesca, muito embora apreendidos apetrechos característicos, a manutenção da decisão absolutória se impõem. O envolvimento em inquérito policial ou em ações penais desprovidas de sentença final não constituem maus antecedentes (v.g. STF. Pleno. AO 1046/RR - j, 23-4-07). Apelação nº 0081819-69.2006.8.11.0000. Ministério Público do Estado do Mato Grosso e Célio Ricardo de Oliveira Benevides e outro. Relator:

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um pescador flagrado com doze camarões e rede de pesca em desacordo com a lei.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AÇÃO PENAL. Crime ambiental. Pescador flagrado com doze camarões e rede de pesca, em desacordo com a Portaria 84/02, do IBAMA. Art. 34, parágrafo único, II, da Lei nº 9.605/98. Rei furtivae de valor insignificante. Periculosidade não considerável do agente. Crime de bagatela. Caracterização. Aplicação do princípio da insignificância. Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido para esse fim. Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, à luz das suas circunstâncias, deve o réu, em recurso ou habeas corpus, ser absolvido por atipicidade do comportamento. HC 112563 / SC. José Alfredo Mattos Dias e Relator do Resp nº 1265351 do Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. 21 ago. 2012.

O relator do acórdão, Ministro Ricardo Lewandowski, pugnou pela denegação da ordem, por entender que o crime previsto no artigo 34, parágrafo único, inciso II, da Lei 9.605/98 (pesca mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos) não tem como pressuposto a ocorrência de um prejuízo econômico objetivamente quantificável, mas a proteção de um bem intangível, que corresponde, exatamente, à proteção do meio ambiente. O Ministro Cezar Peluso, por sua vez, concedeu a ordem, por entender que diante da quantidade ínfima de camarões, existiria a atipicidade do crime, pela insignificância do objeto da ação. Tal voto foi seguido pelo Ministro Gilmar Mendes, que entendeu evidente a desproporcionalidade, caracterizando, inclusive, a hipótese de crime famélico.

Desembargador Rui Ramos Ribeiro. 11 dez. 2007.

O julgado acima se refere ao julgamento de recurso de apelação movido pela acusação após a absolvição dos acusados em primeira instância pela prática do crime previsto no artigo 34, parágrafo único, inciso II, da Lei 9.605/98 (pescar mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos). O juiz sentenciante, após reconhecer a tipicidade e a necessidade de reprovação da conduta com a efetiva aplicação da norma penal, houve por bem absolver os recorridos ante a aplicação do princípio da insignificância, uma vez que não foi encontrado sequer um único peixe em poder dos acusados.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Crime ambiental - Artigo 29, § 1º, inciso III, da Lei 9.605/98 - Pequena quantidade de pássaros apreendidos - Não comprometimento ao meio ambiente - Princípio da insignificância - Recurso provido para absolver o réu. Apelação nº 2005.013281-4. Ministério Público do Estado de Santa Catarina e Antônio Marcos Lotero e outro. Relator: Souza Varella. 11 out. 2005.

Nesse caso, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, modificou a sentença para absolver os acusados da prática do crime previsto no artigo 29, § 1º, inciso III, da Lei 9.605/98 (crime contra a fauna), com fundamento no princípio da insignificância, ante a pequena quantidade de pássaros apreendidos, no caso, cinco pássaros silvestres, por entender que referida quantidade seria incapaz de comprometer o meio ambiente.

Em agosto de 2012 o tema foi apreciado pelo Supremo Tribunal Federal, que aplicou o princípio da insignificância a

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Atualmente, a aplicação do princípio da insignificância é predominante em nossos Tribunais, inobstante ainda existam operadores do direito que opõem objeções à sua aceitação, sob a alegação de que o mesmo afrontaria a segurança jurídica. Aduzem que não existe critério preciso para determinação da conduta penalmente insignificante dentre aquelas legalmente reprovadas (SILVA, 2008).

A doutrina majoritária apresentou um critério objetivo de reconhecimento da conduta penalmente insignificante, a fim de evitar que cada operador do direito crie seu conceito pessoal de bagatela com base apenas em seu senso de justiça.

Primeiramente, deve-se levar em conta “que não existem delitos insignificantes, mínimos ou bagatelares: o irrelevante são os fatos. (CORNEJO apud SILVA, 2008)”.

No reconhecimento da conduta típica penalmente insignificante deve ser aplicado o modelo clássico de determinação: avaliação dos índices de desvalor da ação e desvalor do resultado da conduta, aferindo-se, assim, o grau de sua lesividade face ao bem jurídico atacado. Desse modo, é a avaliação da concretização dos elementos da conduta realizada que indicará a sua significância – ou insignificância – jurídica para o Direito Penal (SILVA, 2008).

Tanto o desvalor da ação, como o desvalor do resultado, integram o conceito de injusto penal. O desvalor da ação não se trata apenas do desvalor da intenção, mas também dos elementos objetivos do tipo (como, por exemplo, o modo de execução). O desvalor da ação refere-se à forma de praticar o delito, enquanto que o desvalor do resultado alude à lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido (PRADO apud SILVA, 2008). É a insignificância concorrente desses índices que qualificam o fato como irrelevante para o Direito Penal.

Segundo o jurista Luiz Régis Prado: “para a fundamentação completa do injusto, faz-se necessária a coincidência entre o

desvalor da ação e o desvalor do resultado, visto que a conduta humana só pode ser objeto de consideração do Direito Penal na totalidade de seus elementos objetivos e subjetivos” (PRADO apud SILVA, 2008, p. 85).

No mesmo sentido preleciona Odone Sanguiné: “somente e sempre a concorrente insignificância de ambos os seus componentes [desvalor do ato e desvalor do resultado] pode qualificar o fato como de bagatela.” (SANGUINÉ apud SILVA, 2008, p. 86).

O desvalor da ação ocorre quando a probabilidade da conduta realizada de lesionar ou pôr em perigo o bem jurídico protegido apresenta-se material e juridicamente irrelevante, evidenciando que o grau de lesividade do fato típico praticado é quantitativa e qualitativamente ínfimo em relação ao bem jurídico tutelado (SILVA, 2008).

Já o desvalor do resultado consiste na irrelevância jurídica do evento para o Direito Penal, ou seja, a gravidade do dano gerado não chega, seque, a pôr em perigo o bem jurídico tutelado (SILVA, 2008).

Em matéria ambiental, a tarefa inicial do intérprete é avaliar o dano ambiental causado e discriminar a natureza jurídica da infração e sua respectiva penalidade. Desse modo, a gravidade da infração ambiental indicará se a punição deve ser penal ou apenas administrativa (SILVA, 2008).

O critério a ser utilizado é identificar se houve lesão ao meio ambiente que possa ser considerada penalmente insignificante. A avaliação dos índices de desvalor da ação e desvalor do resultado que integram a lesão ambiental deve ocorrer em duas etapas: a) em relação ao próprio bem ambiental atacado; b) em relação ao meio ambiente de forma global. Apenas quando a avaliação desses índices indicar um grau de lesividade ínfimo nessas duas etapas, é que podemos reconhecer a existência da lesão ambiental penalmente insignificante (SILVA, 2008).

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5. CASOS CONCRETOS

1) Caso 1: No dia 7 de janeiro de 2006, no

município de Joinville (SC), dois indivíduos foram flagrados pela polícia ambiental praticando juntos a pesca com o uso de dois gerivais malha 25 mm, fora dos parâmetros permitidos pela Portaria IBAMA 84/02, tendo capturado 0,5 kg de camarão-branco em período de defeso da espécie, infringindo os parâmetros permitidos pela Portaria IBAMA 70/03.

A denúncia foi recebida, dando início à Ação Penal n. 5001354-05.2010.4.04.7201, tendo sido impetrado habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, postulando o trancamento da persecução, alegando o impetrante que a conduta narrada não se revestiria de tipicidade material, mostrando-se irrelevante para o Direito Penal. A 8ª Turma da Corte de origem denegou a ordem no HC n. 5016569-56.2011.404.0000.

Interposto recurso ordinário constitucional, restou evidenciada a ausência de ofensa ao art. 34, caput e parágrafo único, inciso II, da Lei n. 9.605/98, já que o fato denunciado seria penalmente irrelevante e, por isso, atípico, tendo o Superior Tribunal de Justiça dado provimento ao recurso ordinário para determinar o trancamento da Ação Penal.

2) Caso 2: Foi instaurado Inquérito Policial

em razão da retirada, por um indivíduo, de um exemplar arbóreo pau-ferro, plantado na calçada defronte a sua casa, em São Paulo. O acusado efetuou a entrega de 12 (doze) mudas da árvore pau-ferro à Prefeitura Municipal, com o fim de compensar eventual dano ambiental. Ainda assim, foi denunciado pela prática da conduta descrita no art. 40 da Lei nº 9.605/95, porque teria suprimido “exemplar arbóreo (pau ferro), o qual estava plantado na calçada em uma área protegida

por lei, sem a devida autorização do órgão ambiental competente”.

A denúncia foi rejeitada pelo magistrado por entender tratar-se de conduta que não tem a dimensão suficiente para abalar o bem jurídico tutelado pela norma. O Ministério Público recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. A Oitava Câmara de Direito Criminal deu provimento ao recurso para receber a denúncia e determinar o regular prosseguimento do feito, com a justificativa de que a extração de uma árvore representa dano direto à unidade de conservação onde os fatos teriam ocorrido. Portanto, não pode ser considerado fato insignificante e atípico.

O réu interpôs habeas corpus perante o Superior Tribunal de Justiça, ao qual foi concedida a ordem. O critério utilizado pelo Superior Tribunal de Justiça na identificação da conduta penalmente insignificante foi o da ausência de ofensividade ao bem jurídico protegido pela norma, uma vez que o corte de um exemplar de espécime arbórea é incapaz de lesionar o bem jurídico tutelado, que é a estabilidade do sistema ecológico.

3) Caso 3: No dia 07 de abril de 2001, na cidade

de Cubatão (SP), um indivíduo destruiu vegetação protetora de mangue, promoveu construção sem autorização em solo não edificável, impediu e causou poluição, pelo lançamento de resíduos sólidos e líquidos, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis e regulamentos, no ecossistema de manguezal.

O magistrado rejeitou a denúncia, pois entendeu aplicável à espécie o princípio da insignificância, não subsistindo justa causa para a ação penal. Sustentou que a extração de minérios de pequena monta não acarreta a incidência da lei penal, assim como a construção de edícula para moradia familiar e o correlato despejo de lixo residencial com pequenas proporções, não havendo que se falar em prejuízo ao ambiente

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e nem tampouco perigo ao equilíbrio natural do ecossistema.

A acusação interpôs recurso em sentido estrito perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que manteve a decisão. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo utilizou como critério na determinação do irrelevante penal a ausência de lesividade da conduta ao ecossistema. No presente caso, embora a conduta do agente formalmente se enquadre aos referidos tipos penais, materialmente ela é insignificante, na medida em que é incapaz de expor a perigo o equilíbrio natural do ecossistema.

6. CONCLUSÃO

Em nosso sistema não existe expressa previsão legal de excludente da tipicidade pela aplicação do princípio da insignificância, mas sua utilização é plenamente aceita pela doutrina e jurisprudência por estar embasado em outros princípios do Direito Penal, quais sejam: dignidade da pessoa humana, igualdade, liberdade, fragmentariedade e proporcionalidade.

O fundamento jurídico-penal de sua existência é demonstrado pelo jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, criador do conceito da “tipicidade conglobante”, que teria como função reduzir a tipicidade penal à verdadeira dimensão do que a norma proíbe, excluindo aquelas condutas que, embora alcançadas pela tipicidade legal, a ordem normativa não quer proibir, seja porque as ordena ou as afronta.

A criação de tipos penais ambientais levanta diversas polêmicas em razão da dificuldade existente na individualização do bem a ser protegido, fazendo com que o legislador, muitas vezes, crie tipos penais não-taxativos e abertos.

Este cenário levou os aplicadores do Direito a socorrerem-se do princípio da insignificância para absolver pessoas que, embora tenham formalmente se enquadrado na conduta descrita na norma penal,

praticaram atos materialmente incapazes de violar o bem jurídico protegido.

Porém, tal princípio não pode ser aplicado indiscriminadamente, sob pena de frustrar-se a tutela penal ambiental. Alguns tribunais estaduais ainda relutam em sua aplicação aos crimes ambientais sob o fundamento de serem direitos difusos que pressupõem relevância e indisponibilidade do bem juridicamente tutelado.

É indiscutível a relevância da tutela penal ambiental, porém devem ser levados em consideração a ausência do caráter predatório de algumas condutas formalmente tipificadas, tais como, a retirada de apenas um exemplar arbóreo, a construção de uma edícula em solo não edificável, a instalação de uma placa em imóvel tombado e a guarda de pouco mais de quatro quilos de carne de animal silvestre congelada.

Alguns doutrinadores, tais como Luiz Régis Prado e Odone Sanguiné, utilizam-se da avaliação dos índices de desvalor da ação e desvalor do resultado que integram a lesão ambiental, e que deve ocorrer em duas etapas: a) em relação ao próprio bem ambiental atacado; b) em relação ao meio ambiente de forma global. Quando a avaliação desses índices indicarem um grau de lesividade ínfimo nessas duas etapas, é que podemos reconhecer a existência da lesão ambiental penalmente insignificante.

O princípio da insignificância é plenamente aplicado aos crimes ambientais pelo Superior Tribunal de Justiça e até mesmo pelo Supremo Tribunal Federal. Os critérios adotados são os mesmos para o reconhecimento de qualquer outra lesão insignificante, quais sejam: a) conduta minimamente ofensiva do agente; b) ausência de risco social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e; d) inexpressividade da lesão jurídica.

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REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

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SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela penal do meio ambiente: breves considerações ati-nentes à Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

ZAFFARONI, E. Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasilei-ro: parte geral. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

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RESUMO

Este trabalho buscou delinear o que é violência no âmbito educacional e alguns de seus desencadeantes, sendo constatado que suas raízes são profundas e advindas dos desdobramentos históricos. Expôs que a escola como instituição social está subjugada a uma dada ramificação de violência na medida em que é sedimentada pela interrelação humana implicando numa diversidade histórica multifacetada pelas condições subjetivas, socioeconômica, política e cultural de cada realidade. A problematização que embasou o estudo objetivou elencar ações que a coordenação pedagógica e os professores podem utilizar visando diminuir o quadro de violência nas escolas. Trata-se de um levantamento bibliográfico e revisão da literatura referente ao tema, sendo realizado um recorte nas produções científicas filtradas pelo “Scielo”, entre os anos de 2010 a 2013, por meio das palavras chave: violência e educação. O material levantado foi complementado com outras fontes teóricas pertinentes ao tema, especialmente selecionadas dentro das contribuições de uma pedagogia crítica. Ao longo da pesquisa foi possível perceber que tanto a prevenção, quanto o tratamento da violência necessitam de ações baseadas em princípios da participação democrática, passando desde a elaboração do projeto político pedagógico até a prática no cotidiano das escolas, em defesa de uma educação

humanizadora, mediada pelo constante diálogo entre os direitos e deveres que são atribuídos a cada indivíduo, em cada contexto social.

Palavras-chave: Violência; Educação; Ação Pedagógica.

ABSTRACT

This study aimed to delineate what is violence in the educational field and some of its triggers, and found that its roots are deep and the resulting historical developments . Argued that the school as a social institution is subdued to a given branch of violence in that is sedimented by human interrelation implying a multifaceted historical diversity by subjective, socioeconomic, political and cultural conditions of each reality. The questioning that guided the fellowship study aims to list shares that teaching coordination and teachers can use the box to decrease violence in schools . This is a literature survey and review of relevant literature, a cutting being done in scientific productions filtered by “SciELO” between the years 2010 to 2013 , through keyword : violence and education . The collected material was supplemented with other relevant theoretical sources to the subject, especially within the selected contributions of a critical pedagogy. During the research it was revealed that both the prevention and the treatment of violence require

CAUSAS E ENFRENTAMENTOS DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA REVISÃO TEÓRICA

Camila de Paula Costa ¹Clébia Aparecida Alves Molinari²Elizabete David Novaes 3

¹ ² Acadêmicas do Curso de Pedagogia do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. [email protected]³ Profa. Dra. em Sociologia pela UNESP/Araraquara. Docente do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. [email protected]

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Tomando por base as contribuições teóricas investigadas, foi possível elencar algumas ações pedagógicas, as quais, para efeitos de sistematização deste trabalho, foram denominadas como:

• Formação Continuada Reflexiva e Ativa;

• Postura Investigativa;• Conscientização por meio do

Diálogo Cooperativo;• Valoração e Apropriação de

Manifestações Artísticas e Culturais;• Valorização do Esporte;• (Re) Construção da Ética Docente.Referente aos procedimentos

metodológicos cumpre observar que foi feita uma pesquisa teórica (GIL, 2008), pautada na revisão da literatura referente à temática, sendo realizado um levantamento bibliográfico de obras e autores por meio de um recorte nas produções científicas, entre os anos de 2010 a 2013, filtradas na base de dados: Scielo, através dos unitermos: violência e educação. O material levantado foi complementado com outras fontes teóricas pertinentes ao tema, especialmente selecionadas dentro das contribuições de uma pedagogia crítica.

Quanto aos objetivos pretendidos, a pesquisa é caracterizada como descritiva, dado que buscou tratar de variáveis interrelacionadas de um fenômeno (GIL, 2008). Foi utilizado o método de pesquisa dialético, no sentido de desenvolver um raciocínio pautado na análise das contradições que a complexidade do fenômeno estudado envolve. Ao final, foi tecida uma reflexão que não se deu de maneira linear, pois o matize de variáveis que sedimentam as ações violentas requer uma mobilização conjunta neste enfrentamento.

O trabalho foi dividido em duas partes tratadas sequencialmente: 1) a conceituação da violência e seus determinantes; 2) as ações de enfrentamento e combate deste fenômeno.

actions based on principles of democratic participation, going from designing the political pedagogical project to practice in primary education schools , in defense of a humanizing education mediated by the constant dialogue between the rights and duties that are assigned to each individual in each social context .

Keywords : Violence , Education, Educational Action.

INTRODUÇÃO

As sociedades têm voltado o seu olhar para a problemática da violência que assola e angustia os indivíduos em diferentes contextos. Tal fenômeno não é novo, dado que o processo histórico da humanidade é marcado por inúmeros eventos violentos como guerras, holocausto, escravidão etc. No entanto, a forma como é percebida pelos indivíduos e a sua frequente e (in) direta incidência nas instituições escolares consiste numa vertente relativamente nova que tem causado mal estar e preocupação nos atores escolares e sociais.

Este panorama é marcado e agravado também pela atual conjuntura mundial globalizada, predominantemente regida pelo modelo econômico capitalista, difusor da política neoliberal que incentiva o consumismo, amplia e evidencia a exclusão e marginalização social a ponto de estabelecer forte contribuição para as condutas de violência.

Frente a tal realidade, este trabalho tem por eixo o estudo sobre a violência no contexto escolar. Constituiu como objetivo da pesquisa definir e explanar o termo violência, apresentar alguns de seus desencadeantes, e por fim, com base no referencial teórico, expor ações que os agentes escolares, envolvendo coordenação pedagógica e professores, podem efetivar no seu cotidiano, visando diminuir a incidência de violência na escola.

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CAUSAS E ENFRENTAMENTOS DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA REVISÃO TEÓRICA

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1. O QUE É VIOLÊNCIA E SEUS DESENCADEANTES

A história revela a transição humana ao longo dos tempos, e por isso, revolver o passado propicia o entendimento do presente no âmbito socioeconômico, político e cultural de uma dada sociedade, num dado contexto, num dado momento histórico.

A contemporaneidade representa o auge da “evolução” do Homem em termos de urbanização, tecnologia e conhecimento difundidos globalmente. Todavia, a detenção de tal progresso contrapõem-se às mortes, guerras, genocídios, intensa desigualdade social e abuso na utilização dos recursos naturais, o que gerou uma série de problemas às sociedades atual e futura. Após a II Guerra Mundial, objetivando que não houvesse mais eventos desta natureza no mundo, foi elaborada de Abril a Junho de 1945, em São Francisco, nos Estados Unidos da América, pelos representantes de cinquenta países, a “Carta das Nações Unidas à Conferência sobre Organização Internacional”. Nascia então, a ONU- Organização das Nações Unidas pela Paz Mundial (BRASIL, 2013). A ONU empreende projetos envolvendo os direitos da comunidade internacional objetivando a paz e o desenvolvimento em todas as nações. Desta medida foi originado o seu documento mais importante, a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Os Direitos Humanos nomeiam e protegem valores - e comportamentos - sem os quais mulheres e homens não poderiam viver de maneira digna. São universais, indivísiveis e interdependentes.Universais: porque atribuídos igualmente a todas as pessoas, sem distinção, em todo o planeta.Indivisíveis e interdependentes: porque somente sua efetivação integral e completa garante que o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana seja realizado.

Os direitos econômicos e sociais não podem ser protegidos com prejuízo dos direitos civis e políticos concernentes à liberdade (BRASIL, 2010, grifo nosso).

No Brasil, os direitos civis, políticos e sociais são assegurados pela Constituição Federal de 1988, também chamada de “constituição cidadã”, fortemente influenciada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Com a democracia foi conquistada a participação da sociedade junto às decisões do poder público, permitindo que diferentes grupos sociais tenham voz para o alcance de suas reivindicações (BRASIL, 1988).

No entanto, a sociedade ainda sofre com a estratificação e marginalização social. O sensacionalismo televisivo é marcado por assaltos, latrocínios, assassinatos etc. Além disto, há também notícias sobre o descompromisso dos órgãos governamentais, desvio do dinheiro público, manifestações com resquícios de depredação do patrimônio, agressão contra professores (na escola e em reinvindicações por melhores condições de trabalho e salário), conjugando alguns acontecimentos de caráter violento que ocorrem de maneira crescente e preocupante nos dias atuais. Dentro deste quadro, emerge a interrogação em que se assenta este trabalho: o que é violência e por que ocorre?

De acordo com Beresford et al. (2006) a violência é compreendida como um fenômeno mundial, o qual ocorre em todas as instâncias das sociedades, e por isso é sempre pautado pela mídia. Constitui um ato de reação originada das dimensões psíquica e social em oposição e/ou em defesa de algo, o que é considerado positivo. Mas pode configurar também um ato intencional em fazer mal ao “outro”, denotando o aspecto negativo que envolve tal evento.

A ação de violência resulta em duas vertentes: uma de caráter propulsor que leva o indivíduo a posicionar-se mediante uma

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situação de tensão, o que caracteriza um movimento benéfico quanto à dialética social, visto que as mudanças somente ocorrem porque há divergência de pensamento. Por outro lado, há a violência que traduz a ação proveniente da angústia de aspectos sociais e da subjetividade humana a fim de prejudicar, ferir e/ou desmoralizar alguém, não oportunizando que o “outro” se expresse diante de determinada situação.

No entanto,

Apresentar um conceito de violência requer uma certa cautela, isso porque ela é, inegavelmente, algo dinâmico e mutável. Suas representações, suas dimensões e seus significados passam por adaptações à medida que as sociedades se transformam. A dependência do momento histórico, da localidade, do contexto cultural e de uma série de outros fatores lhe atribui um caráter de dinamismo próprio dos fenômenos sociais (STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 46).

É perceptível que a violência é um produto social originado nas relações humanas, alicerçado pelo emaranhado socioeconômico, político e cultural que sedimenta cada contexto. Apesar de a violência ser algo dinâmico visto que é proveniente de fatores sociais historicamente construídos e originada na interrelação dos sujeitos, mediatizada pela cultura de cada sociedade, faz-se necessária à definição do termo “violência”. Neste viés, violência é a:

... qualidade do que atua com força ou grande impulso; força, ímpeto, impetuosidade (...) // intensidade (...) // irracibilidade // força que abusivamente se emprega com o direito // opressão, tirania // ação violenta // (jur.) constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obriga-la a fazer ou a deixar

de fazer um ato qualquer; coação (CALDAS 1964, apud AQUINO, 1998, p. 13).

Toda ação violenta é intimamente revestida de poder, ou seja, é validada a partir do momento em que um sujeito encontra-se e/ou coloca-se em vantagem sobre outro, podendo ser esta vantagem: “física” (forte/fraco, grande/pequeno, bonito/feio etc.) e/ou “psicossocial” (quem é popular/quem não o é, quem é rico/quem é pobre, quem está em uma condição hierárquica privilegiada/quem não está etc.), constituindo alguns fatores que configuram o poder. Corroborando tal ideia:

[...] a violência não se limita ao uso da força física, mas a possibilidade ou ameaça de usá-la constitui dimensão fundamental de sua natureza, associando-a a uma ideia de poder, quando se enfatiza a possibilidade de imposição de vontade, desejo ou projeto de um ator sobre o outro (VELHO, 2000 apud PAULA e SILVA; SALLES 2008, p. 157).

Assim, a violência não é algo súbito, sendo permeada pela relação de poder e por variadas situações, partindo de uma divergência. Conforme Chrispino (2007) o conflito é oriundo das diferentes interpretações que cada sujeito atribui a um mesmo acontecimento, sendo um processo legítimo e natural nas relações humanas. Assim, nem todo conflito é configurado como um ato violento, pois nem toda divergência de ideias é encarada de modo agressivo; portanto, o que determina se o conflito resultará em atos violentos é a maneira como o sujeito o compreenderá, vertendo-o na expressão: assertiva ou agressiva.

A maneira assertiva ou agressiva que o sujeito emprega em suas relações são originadas por fatores sociais primordiais que tencionam o sujeito ao conflito e à dificuldade de conviver em sociedade, estando tais maneiras imbricadas a

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características próprias da natureza humana que envolvem autoestima, estrutura familiar, preconceitos, valores, afeto entre outros.

Reforçando esta consideração, Charlot (2002) evidencia que as condutas agressivas surgem da contrariedade de nossos anseios não concretizados, nos remetendo à frustração que gera a agressividade. Explica que a agressividade é compreendida como um ato reacional, involuntário à nossa vontade, resultando numa explosão de sentimentos que não conseguimos controlar, podendo desaguar em agressão verbal e/ou física, caracterizando por fim, um ato de violência.

Nesta perspectiva, não cabe compreender a violência como um fenômeno simples, demandando o entendimento de que um ato violento implica no

[...] uso da força física e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação da integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém (CHAUÍ, 1995 apud GONÇALVES et al., 2005, p.636-637).

À luz deste pensamento, a violência pode ocorrer a qualquer momento, em qualquer lugar desde que haja um ou mais sujeitos. Deste modo, a escola, como espaço de formação e interação humana, constitui um local passível de situações de violência, pois reúne num mesmo ambiente, pessoas com diferentes constituições e interesses. O âmbito escolar conjuga indivíduos que carregam diferentes sentimentos, valores, experiências de vida e motivação ou falta dela para estarem ali, estando submetidos ainda, a uma lógica fundada por um conjunto de regras, valores e objetivos preestabelecidos pela instituição escolar, fecunda circunstância para o surgimento de tensão que pode desencadear a violência.

Sob este prisma, sedimenta a

complexa tarefa de desmistificar os meandros da violência, de modo a superar a visão imediatista e generalista das situações de violência decorrentes no âmbito escolar. Tais ações não podem ser tratadas única e exclusivamente sob a visão de um agressor e uma vítima, já que toda situação não é unilateral, mais sim multifacetada pelos eventos que a produziram. Tratar da violência implica sempre pensar em seus aspectos múltiplos, pois seria equivocado delimitar uma única definição de violência. Neste viés,

[...] não deveríamos estar realizando pesquisas sobre a violência como um todo indivisível, mas, ao contrário, estar multiplicando pontos de vista (indicadores) que nos ajudem a encontrar o que é real num conceito que é ineficaz devido à sua generalidade (DEBARBIEUX, 2002 apud STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 46).

Observar, analisar e descrever o fenômeno da violência escolar de maneira generalizada é negá-la enquanto produto dialético, ou seja, fruto da peculiar contradição social e psicológica a que cada sujeito está submetido a partir do momento em que nasce.

A realidade é subjetivada pelo indivíduo na relação entre o social, que determina as significações, e o individual, dado pela elaboração e transformação dessas significações pelo indivíduo, de acordo com suas experiências pessoais. Há um processo de apropriação da realidade pelo indivíduo. O psiquismo se constrói com as experiências, os conhecimentos, os valores e as informações, transmitidos pela tradição, pela comunicação, pela mídia, pela educação e pela ciência (LEONTIEV, 1978; VYGOTSKY, 1993, apud PAULA e SILVA; SALLES, 2008, p. 151).

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Sendo a escola um espaço destinado à formação do sujeito, caracteriza o ingresso de crianças e jovens que devem ser acolhidos para novas perspectivas envolvendo outro espaço que não o da família, em que se aprendem novas regras, outros comportamentos e costumes, conhecimentos formais, cria-se vínculos e promove o desenvolvimento de habilidades sociais e as potencialidades de cada indivíduo. A escola deve propiciar ainda aprender a viver, refletir filosoficamente sobre suas atitudes e atuar sobre a resolução de problemas cotidianos num processo de convivência social.

A escola é fundamental para o pleno desenvolvimento do indivíduo, devendo ser um dos contextos sociais que estimule as habilidades intelectuais, as habilidades sociais e a absorção crítica dos conhecimentos produzidos em nossa sociedade. A escola deve ser importante no tempo presente e no tempo futuro, sendo referência para o aluno de um local seguro, prazeroso e no qual ele pode se conhecer, conhecer aos seus próximos e a sociedade em que vive, projetando como quer atuar no mundo (STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 47).

No Brasil, a Educação gratuita e obrigatória é preconizada pela Constituição Federal de 1988. Assim, os alunos chegam ao processo escolar já incutidos da “obrigação”, e no outro extremo, encontra-se a escola com uma concepção de aluno e educação profundamente arraigada nos moldes anteriores ao processo da universalização da educação, ou seja, “para a escola, assim como para a sociedade, a normalidade associa-se à homogeneidade” (ARAÚJO; PÉREZ, 2006 p.10). Há, portanto, que se considerar que a conscientização da real importância deste processo para a formação do sujeito enquanto “ser humano”, ainda é distante

da nossa realidade, na medida em que a concepção da escola é pautada em princípios homogeneizadores e também é vista por muitos, apenas como um instrumento obrigatório capaz de possibilitar a ascensão social do indivíduo; situação de conflito que pode gerar violência. Tal percepção já foi exaustivamente estudada pelos autores da teoria crítico reprodutivista, analisada e desmistificada desde os anos de 1970. É o que expressa Pierre Bourdieu quando trata da relação entre expectativas e aspirações subjetivas e as condições objetivas efetivamente enfrentadas pelos alunos e seus familiares. A este respeito, afirma o autor:

Na realidade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural [...] é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito (BOURDIEU, 1998, p. 41-42).

O legado familiar, muitas vezes, choca-se com a concepção da escola por envolver diferenciadas visões de mundo e das práticas escolares (funções, objetivos e condutas). Nesta interação, os pensamentos divergem: qual a função que a família entende que a escola deve ter, e qual função a escola entende que deve ter; quais os objetivos que os alunos traçam sobre o processo escolar, e quais os objetivos que são traçados pela instituição; e por fim, quais as condutas que os alunos apresentam, e quais as condutas que a escola entende que os alunos devem apresentar.

No Brasil, devido a “recente” implementação da Educação para todos, crianças e jovens que chegam à escola advêm

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de múltiplos contextos trazendo, como diz Bourdieu (1998), culturas discrepantes, provenientes de uma herança familiar diversificada. Desta forma, ao considerar o histórico brasileiro é visível que a maioria das famílias, muitas vezes, não passou pela educação formal, ou ainda, as que ingressaram, não permaneceram, mas que ainda assim, conseguiram sobreviver sem sua contribuição. Tais especificidades positivas ou negativas do processo educacional são transmitidas aos filhos.

É plausível considerar que a complexidade deste desdobramento histórico no ambiente escolar levou a sociedade a perceber novas formas de violência, o que merece reflexão buscando compreender quando este fenômeno começa a emergir no contexto educacional brasileiro.

Sposito (2001), na pesquisa intitulada: “Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no Brasil”, expõe que nos anos de 1980, com o processo de democratização, a população brasileira reivindicava melhores condições de vida junto ao Estado, sendo a segurança pública uma destas demandas, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos. Aponta que foi com o enfoque sobre a segurança que a problemática da violência escolar passou a ser notória, ecoando na mídia as situações de depredação e invasão dos prédios escolares (em períodos em que não havia aula). Tais ações eram realizadas por pessoas de bairros próximos e/ou sem ligação com a instituição escolar. As reivindicações da escola, alunos e familiares buscando melhores condições no espaço escolar, reforçada com a divulgação da mídia, resultaram, por parte do poder público: no policiamento (na área externa), adoção de estruturação de muros, grades nas janelas, zeladoria e iluminação (interna e externa) etc., bem como ações educativas que fossem mais abertas as características culturais dos alunos, visto que as práticas autoritárias eram tidas como constituintes de violência.

A autora acrescenta ainda, que após a segunda metade da década 1980 e final da década de 1990, continuaram as depredações e as invasões agregadas a constantes ameaças aos alunos e professores. Intensificando a problemática, recaiu também sobre a escola o medo, em especial nos bairros periféricos, pela influência do tráfico e do crime organizado. Outro aparente aspecto da violência ocorreu no âmbito da socialização entre aluno-aluno, utilizando-a no processo de autoafirmação perante o grupo. Neste momento, a mídia focou nos homicídios e incêndios causados, geralmente por ex-alunos. O fenômeno passou a ser visto como problema de segurança pública (externo a escola) o que enfraqueceu o dinamismo de outrora sobre as medidas educativas, salvo em instituições estaduais e municipais de cunho progressista. Codo (1999 apud SPOSITO, 2001) menciona que em 1998 foi realizada uma pesquisa em âmbito nacional, somente com professores, sendo reportado pelos entrevistados que as violências mais frequentes eram: furtos ou roubos contra o patrimônio, agressões físicas entre alunos e de alunos contra professores.

A raiz da violência desvelada na escola está intimamente ligada à intensa desigualdade socioeconômica que marca a população, à precária condição básica de vida, bem como as abordagens de padronização adotadas pelas instituições de ensino, aliada a inconsistência das políticas públicas. Mediante o paradoxo apresentado é visível que o processo de democratização e massificação da educação escolar contribuiu para a diversidade de violências a que está suscetível à escola. Deste modo,

... o que especifica a violência é o desrespeito, a negação do outro, a violação dos direitos humanos que se soma à miséria, à exclusão, à corrupção, ao desemprego, à concentração de renda, ao autoritarismo e às desigualdades presentes na sociedade brasileira

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(PAULA e SILVA; SALLES, 2010, p. 218).

Neste sentido, distinguir as violências ocorridas no espaço escolar é relevante na medida em que auxilia a compreensão e a busca de ações cabíveis às suas diversas formas.

Partindo desta observância foram elencadas as violências ocorridas com mais frequência na escola, embasadas nas pontuações de alguns autores como: Assis et al. (2006); Beresford et al. (2006); Charlot (2002); Sposito (2001); Stelko-Pereira; Williams (2010).

Desta forma os tipos de violência na escola foram categorizados em:

• A violência que ocorre no espaço escolar em que a escola somente é o palco do conflito;

• A violência de alunos contra a instituição escolar e seus agentes;

• A violência, física ou psíquica, de alunos contra alunos;

• A violência praticada pela estrutura escolar e seus agentes contra os alunos.

1.1 A VIOLÊNCIA QUE OCORRE NO ESPAÇO ESCOLAR E QUE A ESCOLA SOMENTE É PALCO DO CONFLITO

Tal forma de violência consiste em ações realizadas por pessoas que não fazem parte deste contexto, mas que interferem na sua rotina causando medo tanto aos atores escolares, quanto às famílias. São violências desta natureza: acerto de contas entre gangues, agressões entre familiares, confronto entre policiais e traficantes etc. O confronto entre gangues ocorre quando um grupo que não tem ligação com a escola invade este espaço para acertar contas com alunos membros ou parentes de gangues rivais. As situações de agressões físicas e/ou psíquicas entre os familiares de alunos, em momentos de entrada ou saída da aula, ocorrem por questões múltiplas de cunho extraescolar

originadas na comunidade. Já o abrupto confronto entre policiais e integrantes do tráfico ou do crime organizado, envolve tiroteios e paralisação do funcionamento das instituições escolares. Situações como estas são produzidas em contexto externos, sendo a escola somente um local de manifestação destas situações, e que por isso, de certa forma, “impossibilita” esta instituição de agir sobre tal problemática, por outro lado, demanda das instâncias governamentais ações cabíveis no trato destes eventos.

1.2. A VIOLÊNCIA DE ALUNOS CONTRA A INSTITUIÇÃO ESCOLAR E SEUS AGENTES

Refere-se a ações que visam atingir direta ou indiretamente a escola e/ou seus agentes, seja por meio de depredação da estrutura física (quebrar/destruir vidraças, carteiras, cadeiras entre outros objetos que compõe a instituição) e/ou ainda a violência (física e/ou verbal) contra os profissionais da escola, a qual é bastante midiatizada com evidência à agressão física contra docentes, traduzindo, implicitamente, um panorama de difícil atuação mediante as amarras sociais que favorecem tais atitudes: escassez de limites e valores morais impostos pela família; assédio do tráfico; desmotivação pelos estudos; sentimento de não pertencimento a instituição e/ou de afronta e desrespeitado por parte do docente e/ou funcionários da escola.

Em termos especificamente institucionais, a ação escolar seria marcada por uma espécie de “reprodução” difusa de efeitos oriundos de outros contextos institucionais molares (a política, a economia, a família, a mídia etc.) que se fariam refletir no interior das relações escolares (AQUINO, 1998, p. 8).

O contexto educacional é reflexo

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das diversas instituições sociais que formam os indivíduos ao longo de sua vida. Todavia, Aquino (1998) sublinha ainda que, sendo a escola uma instituição social também contribui significativamente para desencadear a violência, pois há nesta relação, conflitos derivados das diferenças trazidas pela clientela somada à imposição de um padrão exigido pela escola e seus profissionais.

1.3. A VIOLÊNCIA, FÍSICA OU PSÍQUICA, DE ALUNOS CONTRA ALUNOS

Caracteriza-se por atos de agressão física (socos, tapas, puxões de cabelo etc.) ou psicológica (apelidos pejorativos, provocações, rotulação do indivíduo, discriminação, preconceito etc.) entre os alunos mais velhos contra mais novos e vice-versa. Dentre as ações de violência praticadas entre os alunos há também a que ocorre entre os pares de idade, denominada bullying.

O bullying é o tipo de violência escolar mais frequente entre estudantes e compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que acontecem sem motivação evidente, adoptadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder (MENDES, 2011, p. 582).

Embora o conceito de bullying compreendido pela autora seja caracterizado pela agressão de alunos contra “outros” (alunos e/ou adultos) sua definição da agressão praticada por alunos concerne amplitude na identificação de atos de bullying na escola, o que a torna relevante. Sob esta ótica há como aponta Mendes (2011), duas expressões do bullying: direto e indireto. O bullying direto é exemplificado pela agressão física ou verbal. Já o indireto é configurado

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de forma, muitas vezes, implícita, por meio de isolamento e exclusão social ou difamação moral, sendo assim mais difícil de identificar.

A evolução nas áreas de tecnologia e informática possibilitou maior fluidez de informação contribuindo consideravelmente para o desenvolvimento e a construção do conhecimento humano. No espaço de educação formal tal avanço, quando bem utilizado, constitui uma ferramenta metodológica de fomento à aprendizagem. No entanto, os recursos de celulares, computadores e internet ampliou também a extensão da violência escolar para além dos seus muros. Patchin e Hinduja (2006 apud STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010) consideram o cyberbullying como a derivação do bullying, que toma proporções que superam o espaço-tempo da escola, pois são realizadas por meio de instrumentos tecnológicos (celulares e redes sociais), veiculando imagens, vídeos e textos ofensivos que denigrem a imagem social do sujeito.

Em uma pesquisa realizada em Portugal, Carla Silva Mendes (2011), Mestre em Saúde Escolar e Doutoranda em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa em sua dissertação “Prevenção da Violência na Escola: avaliação de um programa de intervenção numa escola do 2º ciclo de Lisboa”, revela que

... as consequências geradas pelo bullying são tão graves que crianças norte-americanas, com idades entre 8 e 15 anos, identificaram esse tipo de violência como um problema maior que o racismo e as pressões sexuais ou consumir álcool e drogas. Uma criança vítima de maus tratos de forma repetida e regular, pode apresentar sequelas graves, como o desenvolvimento de distúrbios de ansiedade, depressão crónica e até mesmo o suicídio e o homicídio. Quanto mais jovem for o agressor, maior será o risco de apresentar problemas associados a comportamentos anti-sociais em

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adulto e à perda de oportunidades, como a instabilidade no trabalho e relacionamentos afectivos pouco duradouros. O simples testemunho de comportamentos de bullying já é suficiente para causar descontentamento com a escola e comprometimento do desenvolvimento escolar e social. Prejuízos financeiros e sociais causados pelo bullying atingem também as famílias, e a sociedade em geral. A relação familiar pode também ser seriamente comprometida, quando os pais apresentam sentimentos de culpa e incapacidade para eliminar o bullying contra os filhos, passando esta, a ser a preocupação principal das suas vidas, dando origem a sintomas depressivos e influenciando o seu desempenho no trabalho e nas relações pessoais (MENDES, 2011, p. 582).

A banalização da violência ocorrida no âmbito escolar, muitas vezes é negligenciada pelos agentes escolares sem deixar, entretanto, de imprimir um estigma em seus atores. Tal realidade exige da população (escola, família e comunidade) e do Estado, maior efetividade de programas e medidas que combatam ações deste tipo.

1.4. A VIOLÊNCIA PRATICADA PELA ESTRUTURA ESCOLAR E SEUS AGENTES CONTRA OS ALUNOS

Corresponde à violência “implícita” ou simbólica realizada pela escola (funcionários, docentes, coordenação e direção) sobre os discentes.

A partir de observações concretas é possível indicar algumas ações de violência exercidas pela instituição escolar contra os alunos: a rotulação ou estereotipação (por exemplo: o aluno nota 10, o turista, o engraçadinho, o que nunca faz a tarefa de casa, o esquecido, o sabe tudo, o intrometido, o fofoqueiro, o lerdo etc.); a desmotivação

e negligência no fazer docente frente à realidade das escolas brasileiras; a negação da individualidade (não respeitar e valorizar as especificidades de cada sujeito como único); e a desconsideração dos conhecimentos prévios destes sujeitos (conhecimentos tácitos) como eixo entre o saber cotidiano e o conhecimento científico na construção do elo de significação da aprendizagem, são exemplos de violência práticas pela estrutura escolar e seus agentes contra os alunos.

A visão e o discurso preconceituosos de professores e demais agentes escolares, enfatizando características e/ou comportamentos positivos ou negativos, apresentados pelos discentes, promove a rotulação do indivíduo. Assim,

muitas vezes os jovens nas instituições escolares são reduzidos a estereótipos que são construídos em relação a ele e que podem promover conflitos entre estes e o mundo adulto [...], bem como entre os próprios jovens (PAULA e SILVA; SALLES, 2008, p.155).

Outro fator que contribui para a revolta dos alunos é justificado pela desmotivação e negligência do fazer docente frente à realidade das escolas brasileiras. Conforme Chrispino (2007), esta desmotivação provem da dificuldade profissional em lidar com as circunstâncias que derivam da desvalorização social atribuída ao professor, acrescido pela superlotação das salas e atribuição cada vez maior de afazeres da prática docente sem equiparação salarial. Pelos dizeres de Charlot (2002), a gestão e prática pedagógica arbitrária em seleção de conteúdos e avaliação, também são fatores desencadeantes de conflitos que podem verter em violência.

Para Candau (2011) a escola constitui um local de encontro das diferentes culturas, porém, as práticas deste ambiente priorizam a padronização dos sujeitos. Por não serem

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reconhecidos na sua totalidade cultural e individual, os alunos não se sentem parte do espaço educativo. Por outro lado, os educadores que carregam ideologicamente o perfil de aluno ideal, compactuam com uma ideia errônea de que o reconhecimento da diferença é o propulsor para o processo de universalização da individualidade dos sujeitos e não da educação. Então, a universalização da educação passa a ser não uma oportunidade de frequentar a escola e apropriar-se dos conhecimentos humanos historicamente acumulados, bem como da formação identitária do sujeito, mas sim, uma possibilidade de modelagem de padrões e condutas dos sujeitos historicamente “marginalizados” do processo de escolarização.

Este legado propicia a problematização de uma maior dificuldade na interação de alunos e professores. A questão engloba fatores determinantes nesta relação, exemplificados em: vivências, diferença de interesses, fatores culturais, econômicos, religiosos, físicos, entre outros; os quais dificultam consideravelmente esta relação, interferindo, de certa forma, no processo de ensino e aprendizagem, favorecendo por vezes, comportamentos revoltosos e/ou violentos.

Habituada a lidar com iguais, a escola não se preparou para essa diversidade dos alunos. Por essa razão, surgem antagonismos que se transformam em conflito e que podem chegar aos extremos da violência (CHRISPINO; DUSI, 2008, p. 598).

Diante deste panorama complexo e evidentemente importante, surge o questionamento: quais ações que podem ser praticadas pela coordenação pedagógica, em parceria com os professores, para minimizar o quadro de violência no contexto escolar? Assim é anunciada a segunda parte deste artigo.

2. ALGUMAS AÇÕES QUE VÊM SENDO PROPOSTAS NA TENTATIVA DE MINIMIZAR A VIOLÊNCIA ESCOLAR

Responder ao questionamento que norteia este estudo se faz extremamente necessário atualmente, devido a perceptível tensão vivida no ambiente educacional imerso numa atmosfera composta por múltiplos sentimentos: medo, revolta, indignação e impotência que assombram a mente dos agentes escolares pais e alunos. Todavia,

... é uma ilusão crer que possa fazer desaparecer a agressividade e, como consequência, a agressão e o conflito. Aliás, seria desejável, levando em conta que a agressividade sublimada é a fonte de condutas socialmente valorizadas (no esporte, na arte, nas diversas formas de concorrência) e se o conflito é também um motor da história, como pensava Hegel? A questão é saber quais são as formas de expressão legítimas ou aceitáveis da agressividade e do conflito (CHARLOT, 2002, p. 436, grifo nosso).

Para tanto, mediante o levantamento bibliográfico embasado nos estudos de autores como Abramovay (2002); Araújo; Pérez (2006); Assis et al. (2006); Beresford et al. (2006); Caliman (2010); Charlot (2002); Gomes; Lopes (2012); Gonçalves et al. (2005); Jesus (2008); e Pigatto (2010) foram elencadas medidas que a gestão escolar, coordenação pedagógica, professores e funcionários, em consonância com alunos e familiares, podem promover no intuito de combater a incidência de violência no interior da escola. É importante ressaltar que as ações pedagógicas conseguintes foram estrategicamente selecionadas pelo seu caráter global, pois perpassam de modo pontual os diferentes tipos de violência

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ocorridos na escola. Entretanto, quanto à “violência que ocorre no espaço escolar e que a escola somente é palco do conflito”, de certa forma, “impossibilita” esta instituição de agir sobre tal problemática, o que demanda que as instâncias governamentais promovam ações cabíveis no trato destes eventos.

Conforme menciona Candau e Moreira (2003) a violência na escola é originada da visão monocultural que assola este contexto, uma vez que a escola sabe da diversidade que a compõe, mas ignora este fato causando tensões e mal estar entre os atores escolares. Ou seja, a padronização da heterogeneidade cultural revela a discriminação e a coerção hegemônica, muitas vezes, instituída na escola. Por isso, os autores ressaltam a necessidade da reformulação do projeto político pedagógico e do currículo em si, conjugando a cultura como eixo central. Deste modo, a prática pedagógica deve valorizar a cultura experiencial (aquela que cada aluno traz), visando à formação de indivíduos agentes de transformação e inovação da própria cultura.

O livro Violência nas Escolas, resultado da Pesquisa Nacional Sobre Violência, Aids e Drogas nas Escolas, realizada em 13 capitais e no Distrito Federal, publicado, em 2002, pela UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, mostra que em entrevista aos alunos quanto ao quesito: “o que mais desagrada na escola”, foi constatado que

... os jovens sentem-se sobrecarregados com tantas matérias, reclamam da monotonia das aulas e, ao mesmo tempo, da falta de acesso a temas e cursos que realmente lhes interessam. [...] Enquanto os alunos se reconhecem sem interesse e como causadores de problemas disciplinares, os professores não se sentem responsabilizados pelo fracasso escolar, atribuindo a culpa aos alunos e à família, bem como às precárias condições de

trabalho (ABRAMOVAY, 2002, p. 36).

A prevenção e o tratamento da violência na escola tem como base a gestão democrática, vista como capaz de proporcionar espaço para que professores, alunos, famílias e comunidade escolar reflitam, exponham, construam e estabeleçam diretrizes e objetivos alicerçados nas especificidades do contexto e da clientela, sendo expressos em seu currículo.

O projeto pedagógico exige profunda reflexão sobre as finalidades da escola, assim como a explicitação de seu papel social e a clara definição de caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos os envolvidos com o processo educativo. Seu processo de construção aglutinará crenças, convicções, conhecimentos da comunidade escolar, do contexto social e científico, constituindo-se em compromisso político e pedagógico coletivo. Ele precisa ser concebido com base nas diferenças existentes entre seus autores, sejam eles professores, equipe técnico-administrativa, pais, alunos e representantes da comunidade local. É, portanto, fruto de reflexão e investigação (VEIGA, 2004, p. 35).

Tal ideia vai ao encontro do exposto por Carreira (2005 apud CALIMAN, 2010, p. 435) que constatou em suas pesquisas “[...] que a alternativa para fazer face às violências é a gestão democrática, que envolve a participação de todos, leva em conta suas necessidades, prioridades e características”.

Neste viés, o projeto político pedagógico democrático deve ser o um primeiro passo para a caminhada na direção da diminuição de conflitos e respeito à democracia, devendo ser perpassado por várias ações, conforme se descreve a seguir.

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2.1. FORMAÇÃO CONTINUADA REFLEXIVA E ATIVA

A formação continuada reflexiva e ativa é um caminho necessário nos dias atuais. A atualização dos gestores e professores proporciona a conscientização do seu fazer pedagógico possibilitando manter os acertos e redimensionar novos rumos da prática.

Não é possível praticar sem avaliar a prática. Avaliar a prática é analisar o que se faz, comparando os resultados obtidos com as finalidades que procuramos alcançar com a prática. A avaliação da prática revela acertos, erros e imprecisões. A avaliação corrige a prática, melhora a prática, aumenta a nossa eficiência. O trabalho de avaliar a prática jamais deixa de acompanhá-la (FREIRE, 1998, p. 83).

É imprescindível que tanto os gestores, quanto os professores atualizem constantemente seus estudos embasados na reflexão e na ressignificação do conhecimento e das ações metodológicas de ensino, obtendo resultados mais satisfatórios no processo de ensino e na aprendizagem, bem como na diminuição das tensões causadas pelo fracasso escolar. Sendo assim, “professores despreparados podem acentuar comportamentos mais arredios, especialmente quando deixam sem resposta indagações importantes dos alunos, levando a uma revolta involuntária” (ASSIS et al., 2006, p. 47).

Entretanto, ainda conforme as mesmas autoras, as condições de trabalho a que os docentes estão submetidos dificultam ou impossibilitam que esta formação ocorra, pois mediante o relatado pelos professores entrevistados na pesquisa realizada pela UNESCO com o apoio do INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, (2004) devido

à baixa remuneração salarial, trabalham em mais de uma escola resultando num elevado nível de estresse, cansaço e/ou até mesmo a falta de tempo hábil para isso. Tal realidade merece um aguçado olhar dos organismos governamentais visando elaborar, monitorar e avaliar políticas públicas que possibilitem melhores condições de trabalho e remuneração a estes profissionais de modo que possam se dedicar a sua formação o que possivelmente refletirá na qualidade da educação, pois “ensinar é uma tarefa mágica, capaz de mudar a cabeça das pessoas, bem diferente de apenas dar aula” (ALVES apud BERESFORD et al., 2006, p.97).

É necessário que o docente tenha em mente que apesar de todas as dificuldades e desvalorização de sua profissão, a formação continuada é elemento fundamental para que ele compreenda junto com os colegas de trabalho as dificuldades do cotidiano escolar, visando intervir de forma adequada às demandas dos alunos. Sendo assim, quando isto não for possível seria prudente que com o intuito de facilitar o fazer docente, ao menos fizesse o exercício diário de se auto avaliar por meio da postura investigativa.

2.2. POSTURA INVESTIGATIVA

A ideia de despertar no professor seu poder pesquisador e investigativo configura um fazer que propicie o conhecimento e a reflexão de si mesmo e também de problemas individuais apresentados pelos alunos, que interferem negativamente tanto na prática pedagógica, quanto na aprendizagem, desaguando muitas vezes, em condutas violentas. Neste processo, “[...] a professora se depara com problemas para os quais não tem resposta imediata, sendo forçada a buscar soluções, procurar alternativas, construir caminhos. E, nesse movimento de investigação, produz novos conhecimentos” (ARAÚJO; PÉREZ, 2006, p. 3).

A postura investigativa consiste na pesquisa e prática após “sensível observação”

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da conduta de cada aluno como mecanismo sinalizador sobre a “origem de atitudes violentas”, visando à elaboração de ações pedagógicas com o propósito de fomentar o saluto ambiente escolar.

A intervenção pode ocorrer de diferentes formas, como por exemplo: o diálogo, a arte e o esporte, dentre outras ações, mediante a especificidade das problemáticas trazidas e/ou geradas no contexto escolar.

2.3. CONSCIENTIZAÇÃO POR MEIO DO DIÁLOGO COOPERATIVO

A conscientização por meio do diálogo cooperativo significa reconhecer e valorizar o outro no processo de construção do bem estar coletivo. Consiste em promover canais que possibilitem a problematização participativa entorno de situações conflituosas e/ou já nos extremos de atos de violência, objetivando que os alunos se coloquem como colaboradores de propostas de resoluções destes eventos acometidos no espaço escolar.

Na pesquisa sobre as violências ocorridas na escola e o papel da gestão (direção, vice direção, coordenação e orientação), Carreira (2005) analisou duas escolas no Distrito Federal (uma de cunho privado, com clientela de renda média e alta; e a outra, pública, de periferia, que atendia uma clientela de renda média e baixa). Nas duas realidades, os professores e alunos relataram como medidas significativas para combater a violência:

... o diálogo, os debates, as palestras, os seminários sobre o tema, a disciplina bem definida na rotina escolar e a comunicação mútua entre alunos e professores e entre a escola e a comunidade (CARREIRA, 2005 apud CALIMAN, 2010, p. 435).

A escola necessita ser um ambiente

que oportunize, trabalhe e fomente a reflexão e o diálogo com os alunos, pais e comunidade, buscando promover relações mais humanas e sensíveis ao outro e as suas necessidades, almejando a promoção do entendimento e engajamento da intencionalidade política de autoria e reponsabilidade cidadã.

Construir um clima pacífico e humanizado nas escolas significa promover uma radical reflexão sobre as práticas educacionais e o clima de sociabilidade, visando à construção de um ambiente de respeito à pessoa humana; significa criar práticas que abram espaços para a criação, o diálogo, a participação; que valorizem a escuta à criança e ao jovem; que se integrem à comunidade e à sociedade mais ampla; que promova o respeito aos Direitos Humanos (BERESFORD, 2006, p. 99).

Partindo do exposto é importante que a escola enquanto espaço de formação, da e para a Humanidade, promova e valorize o diálogo e atividades que possibilitem aos indivíduos o encontro consigo, com a escola, com a comunidade e, consequentemente, com o mundo, sendo capazes de resolverem seus problemas de forma assertiva.

2.4. VALORAÇÃO E APROPRIAÇÃO DE MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS

A valoração e apropriação de manifestações artísticas e culturais (como dança, artes visuais, teatro e música) possibilitam a expressão da sua leitura de mundo e também da transformação de angústias e frustrações, que se reproduzem também no contexto escolar, em resultados benéficos para melhor convivência entre os indivíduos, pois de acordo com os PCNS, Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte:

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... ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo. Além disso, desenvolve potencialidades (como percepção, observação, imaginação e sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do seu lugar no mundo e também contribuem inegavelmente para a sua apreensão significativa dos conteúdos das outras disciplinas do currículo (BRASIL, 1997, p. 32).

A arte em toda a sua forma e diversidade cria condições para que o indivíduo se conheça e compreenda a si e ao outro, bem como as diferentes culturas da humanidade. Esse processo permite estabelecer semelhanças e diferenças entre a cultura do “eu” (maneira de ver, perceber, fazer, comportar e sentir o mundo) e a do “outro”, o que proporciona a valorização das diferentes culturas. Tais diferenças, muitas vezes, aparecem como foco de tensões, e quando não trabalhadas, podem desaguar na violência.

Conforme os PCNS:

A arte é um modo privilegiado de conhecimento e aproximação entre os indivíduos de culturas distintas, pois favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, num plano que vai além do discurso verbal: uma criança da cidade, ao observar uma dança indígena, estabelece um contato com o índio que pode revelar mais sobre o valor e a extensão de seu universo do que uma explanação sobre a função do rito nas comunidades indígenas. E vice-versa (BRASIL, 1997, p. 33).

O teatro é outra importante forma artística que oportuniza a diminuição

das tensões, pois permite ao indivíduo o encontro consigo, com a sensibilidade e com o grupo. Concorda com o exposto Gonçalves et al. (2005), que em suas investigações utilizou diferentes práticas educativas (dramatização, dilemas morais e dinâmicas de grupo) como mediadoras de interações sociais construtivas durante um projeto de formação continuada com professores de ensino fundamental que trabalhavam com jovens numa escola de periferia em que os eventos de violência eram constantes. As autoras descrevem que a arte de representar é um importante instrumento que auxilia na construção da expressividade, da liberação de emoções e de conflitos vivenciados no cotidiano dos alunos. O representar proposto pelas autoras, concerne na expressão de situações vivenciadas, pelo indivíduo e/ou grupo, sendo provenientes do contexto escolar, e/ou advindas de fora deste, já que ao representar o(s) indivíduo(s) reproduz(em) a sua realidade caracterizando mais um elemento para melhor compreendê-la e elaborar soluções para as problemáticas em que estão imersos. Nesta perspectiva, os alunos além de adquirir conhecimento, autoconfiança, maior intelectualidade, desenvolvem mais habilidade para encarar os problemas rotineiros.

A arte promove situações em que o aluno apropria-se do conhecimento historicamente acumulado, lê e percebe o mundo vertendo a sua impressão em expressão individual ou grupal (literatura, pintura, composições e expressão corporal). Outra importante prática que vai ao encontro da prevenção e intervenção pedagógica com relação à violência é o esporte, tratado a seguir.

2.5. PROMOÇÃO E VALORIZAÇÃO DO ESPORTE

A promoção e valorização do esporte como instrumento possível para atenuar os sentimentos de agressividade que quando não trabalhados transbordam dos indivíduos,

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podendo desaguar na violência, parte do princípio de que ao praticar atividades esportivas o aluno libera suas energias, adquire e/ou aprimora sua concentração, responsabilidade, comprometimento e assiduidade; aprende a lidar com as regras podendo generalizar esta compreensão para as demais regras sociais, bem como desenvolve o sentimento de autoestima, cooperação e vínculo prazeroso com a escola.

Durante pesquisa realizada pela UNESCO com o apoio do INEP (2004) foi constatado que alunos que possuem uma elevada autoestima são motivados por diferentes atividades, dentre elas o esporte. “O esporte aparece como uma atividade que traz muito prazer à vida dos adolescentes, que demonstram grande dedicação e orgulho de representarem seu time e a sua escola” (ASSIS et al. 2006, p. 45). É pertinente ressaltar que de todos os materiais utilizados nesse levantamento bibliográfico, a ação esportiva foi mencionada somente por estas autoras e de forma pouco explorada visto que não era o foco de sua pesquisa. Isto evidencia a necessidade de maiores estudos a fim de demonstrar a contribuição do esporte como potencial atenuante de tensão e conflito no interior das escolas.

2.6. (RE) CONSTRUÇÃO DA ÉTICA DOCENTE

A (re) construção da ética docente, imbuída na real e efetiva Democracia deve perpassar por valores que superem o caráter técnico/positivista por uma concepção humanizadora que reconheça a existência e a importância do outro como autor, colaborador e responsável pelo bem comum. “Cada sociedade possui o seu ethos, ou se compõe de um conjunto de ethos, jeito de ser, que conferem um caráter àquela organização social” (RIOS, 2005, p.21). Menciona ainda, que “a articulação entre o dever e o poder leva-nos a perceber a relação entre moral e política [...]” (RIOS, 2005, p. 22-23) e que “a ética se apresenta como reflexão crítica sobre

a moralidade [...]” (RIOS, 2005, p. 23). Ao considerar então, que o ethos político que embasa os princípios da cidadania no Brasil concerne na Democracia, nada mais legítimo que tal concepção embase também a prática cotidiana nas escolas. Neste viés,

[...] o importante a ser ressaltado é que os professores saibam lidar com as situações de conflito entre os alunos, exercitando a paciência e a compreensão de que os problemas pertencem aos envolvidos e que ele deve agir sem tomar partido, promovendo diálogos constantes com os alunos sobre os direitos e deveres inerentes à convivência humana (PIGATTO, 2010, p. 321).

O professor pode ser muitas vezes um importante atenuante da violência escolar, pois ao adotar uma postura mais dinâmica e flexível quanto aos métodos pedagógicos e as dificuldades de aprendizagem do aluno, possibilita uma relação amistosa e cooperativista, facilitando o ensino e aprendizagem e diminuindo o foco de tensão e conflito. Nesta perspectiva, “... os professores devem evitar o distanciamento, a ‘neutralidade afetiva’ e o autoritarismo, devendo, ao contrário, fomentar uma ‘relação de agrado’, caracterizada pelo diálogo, pela negociação e pelo respeito mútuo” (RIBEIRO, 1991 apud JESUS, 2008, p. 22).

É defendido então que, a escola (direção, coordenação pedagógica, professor e funcionários) deve atuar com maior observância no comportamento dos seus alunos, podendo assim identificar previamente mudanças de comportamento, ao considerar, que tais mudanças podem tencionar atos conflituosos ou agressivos, o que caracteriza a violência, buscando tratá-los no seu cerne, bem como proporcionar reflexões e cobrança sobre a parcela de responsabilidade de cada um (escola, alunos, familiares e organismos governamentais).

Nesse sentido, a (re) construção

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da ética docente é entendida como o reconhecer da responsabilidade junto ao exercício de educador, ou seja, o que deve nortear a reflexão docente não é a afirmação: “este problema não é só meu!” Mas sim, a pergunta sobre “o que eu, enquanto cidadão e profissional comprometido com o desenvolvimento dos alunos devo fazer para mudar o quadro de frequente incidência da violência na escola em que atuo?”

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando o discorrido neste estudo, buscou-se delinear o que é violência, sendo constatado que suas raízes são profundas e advindas dos desdobramentos históricos que culminaram no atual contexto mundial que conjuga uma economia predominantemente capitalista, subsidiada pelo consumo e os recursos da globalização informatizada, explicitando uma realidade marcada pela estratificação e pela exclusão social.

O trabalho expôs que a escola como instituição social também está subjugada a uma dada ramificação de violência na medida em que é sedimentada pela interrelação humana, implicando numa diversidade histórica multifacetada pelas condições subjetivas, socioeconômica, política e cultural de cada contexto.

Foi percebido que a escola precisa ser mais aberta à diversidade dos educandos que a compõem, buscando repensar e reformular suas concepções, seus métodos, objetivos e avaliações, junto à elaboração de um projeto político pedagógico que necessita ser construído a partir de um processo democrático que promova vias de acesso e participação de gestores (direção e coordenação pedagógica), professores, funcionários, alunos, família e comunidade, de modo a dialogar sobre as características e necessidades da clientela de cada escola junto à formação de crianças e jovens críticos, reflexivos e cidadãos, favorecendo com que a escola seja um espaço harmonioso e de bom

convívio entre os indivíduos.Atitudes como a formação

continuada, a postura investigativa (professor pesquisador), a reconstrução da ética dos profissionais da educação, aliada à valoração da arte, do esporte e do diálogo consistem em elementos primordiais na intervenção das violências que ocorrem na escola.

Foi enfatizado por fim que a ética deve permanecer na mente e na atitude destes profissionais comprometidos com o desenvolvimento dos alunos, movidos pelo questionamento sobre “o que devo fazer para mudar o quadro de frequente incidência da violência na escola em que atuo?”

Isto implica em ter a consciência de que tal problemática envolve também a responsabilidade compartilhada com os pais, a comunidade e com os órgãos governamentais, de modo a disseminar novas sementes de problematização para futuras investigações científicas que possam servir de instrumento para as mudanças que os atores escolares, bem como toda a sociedade clamam há muito.

Portanto, ações governamentais e políticas públicas não se legitimam numa via de mão única, assim como ações da população (especialmente da família) e da instituição escolar também não são autossuficientes, exigindo, portanto, o efetivo exercício da cidadania, ou seja, a conscientização responsável de “cada um” em “cada contexto”.

A solução para um problema tão complexo não é fácil de ser alcançada. As modestas contribuições deste trabalho foram expostas como uma tentativa de sistematizar reflexões e enfatizar a necessidade de se atentar para o processo que gera e que é gerado pela violência. A solução talvez se encontre na tentativa constante de superação das contradições, das dificuldades e dos entraves, à medida que todos os envolvidos forem, em meio a tal processo, também se melhorando como pessoas e como cidadãos.

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CAUSAS E ENFRENTAMENTOS DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA REVISÃO TEÓRICA

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RESUMO

O presente trabalho mostra como está o ensino religioso no Brasil nos dias atuais, e possíveis propostas para que essa disciplina seja inserida no currículo escolar brasileiro de forma laica. Realizamos uma breve contextualização histórica do ensino religioso no Brasil, seguindo como base as leis disponíveis em diversos documentos para a educação básica, tais como PCN, LDBEN e a Constituição Brasileira.

Palavras chaves: Ensino Religioso - Escolas Públicas – Propostas - LBD.

ABSTRACT

This paper shows how religious education is in Brazil today, and possible proposals for this discipline is inserted in the Brazilian school curriculum in secular form. We conducted a brief historical background of religious education in Brazil, based on the following laws in various documents available for basic education, such as PCN, LDBEN the Brazilian Constitution.

Keywords: Religious Education - Public Schools - Proposals - LBD.

INTRODUÇÃO

O artigo científico se dedica a analisar o tema ensino religioso no Brasil. Trata-se do resultado de um trabalho de conclusão

de curso em que o grupo se dedicou a investigação da temática ao longo dos dois semestres do ano de 2012.

O debate sobre o ensino religioso é considerado muito polêmico e amplo, muitas são as ideias contra ou a favor ao assunto. O ensino religioso no Brasil, hoje, se apresenta de forma laica, não podendo ser defendida ou estabelecida nenhuma doutrina específica; talvez essa seja a dificuldade para um consenso do assunto.

A discussão atual sobre a inserção do ensino religioso em escolas públicas está interligada a fatores históricos do nosso país. Nota-se uma grande participação dos setores privados, pois eles atuariam como facilitadores do estado em busca de seus objetivos. Essa tendência é defendida por Demo (1994) que analisa o comportamento e a dinâmica política do estado referente a fatores econômicos onde o estado ora apoia as classes sociais menos favorecidas, ora apoia as elites. Em 2004, Pauly realizou uma pesquisa intitulada “O dilema epistemológico do ensino religioso”, na qual defende a separação entre a Igreja e o Estado, ressaltando que a Lei 9.475/97 daria abertura à suspeita de que a Igreja não quis assumir a educação das escolas públicas nem tão pouco as vantagens que ela presumia receber a favor desta educação.

O fato de o Brasil ter sido colonizado por Portugal, evidencia a importância do ensino religioso em nosso país. Sendo assim, é de extrema importância que façamos uma análise da trajetória histórica da religião

O ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

Guilherme Augusto Figueira¹Angelita Cristina Bisco¹Renata Rodrigues dos Santos e Costa¹Mario Nishikawa²

¹ Acadêmicos do Curso de Pedagogia na modalidade de Educação a Distância, pelo Centro Universitário UNISEB- UNISEB Interativo, Polo de Ribeirão Preto. ² Mestre e Doutor em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Pro-fessor Orientador do Centro Universitário UniSEB Interativo de Ribeirão Preto (SP). e-mail: [email protected]

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e do ensino religioso no Brasil, uma vez que Portugal obtém uma forte orientação Católica Apostólica Romana, trazidas para suas colônias.

Diante do exposto, a pesquisa que deu origem a esse artigo, procurou analisa o tema ensino religioso no Brasil, com destaque a sua presença na escola pública. Para a realização dessa investigação o grupo se dedicou a realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema, recorrendo a livros de história da Educação, artigos científicos que abordam o tema e textos relacionados a legislação.

1. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO JUNTO AO ENSINO RELIGIOSO

Para dar inicio a esse artigo apresenta-se um tópico introdutório ao tema dando destaque a história da educação e a presença do ensino religioso no Brasil. Para tanto, recorre-se aos dados contidos no livro do pesquisador Paulo Ghiraldelli (1987).

A história da educação no Brasil se confunde com a história da educação religiosa na descoberta do País em 1500 e com a chegada dos jesuítas em 1549. Lembrando que por 210 anos esses religiosos foram os principais responsáveis pela educação no Brasil. (GHIRALDELLI 1987).

No princípio, os seus interesses em vir ao Brasil eram a missionação, a conversão de almas de fiéis e gentios para a salvação. A questão da educação surge um pouco depois pelo fato do fundador da Companhia de Jesus ser detentor de um elevadíssimo nível intelectual, que o distinguia da generosidade das ordens religiosas existentes. A pressão sofrida por parte das elites católicas italianas, espanholas, portuguesas e francesas fez com que a companhia de Jesus, e, sobretudo seu fundador, aceitasse, com muito custo, se dedicar ao ensino. Os jesuítas educavam catequizando, e catequizavam educando em virtudes e letras; sua forma de ensinar e educar levava muita gente ao cristianismo. O texto “Diálogo da conversão ao gentil” nos

descreve como a dificuldade de convencer a corte portuguesa que o índio era gente; foi uma grande batalha do padre Manuel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuítica ao Brasil, fazer com que todos acreditassem nisso. Para José Antônio de Anchieta, o indivíduo, para ser gente, tinha que ter três faculdades: o entendimento, a memória e a vontade. Neste período o ensino religioso já era empregado pela denominação católica.

Santo Inácio de Loiola, fundador da ordem, criou o documento Ratio Studiorum (Ordem de Estudos) no final do século XVI, descrevendo o método pedagógico dos jesuítas, que se expandiu rapidamente por toda a Europa e regiões do Novo Mundo em fases de ocupação, tendo como principal objetivo levar a fé católica aos povos que habitavam estes territórios. Tendo sido aprovado em 1599, ainda hoje é o método ministrado nos colégios jesuítas em todo o mundo. O documento final intitulado Ratio Studiorum, denominou-se como um detalhado manual com a indicação da responsabilidade, do desempenho, da subordinação, e do relacionamento dos membros dos colégios da Companhia de Jesus de Professores e alunos, gramática, poética e muitos outros pontos além de ser, também, um manual de organização e administração escolar. Estas normas iriam ordenar as instituições de ensino de uma única maneira, com vista a permitir uma formação uniforme a todos que frequentassem os colégios da ordem jesuítica em qualquer lugar do mundo, sendo a base comum que serviria de suporte ao trabalho dos jesuítas. Desse modo, as movimentações dos colégios eram rigorosamente coordenadas pelo método, que estabelecia o currículo do colégio o qual deveria ser seguido por todas as unidades da Companhia para garantir a universidade dos trabalhos e dos mestres espalhados por todo o mundo. Vale ressaltar que o manual também propunha uma educação integral do homem, sendo que esse tipo de pedagogia reinaria no Brasil Colônia por mais de 300

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anos.Outra grande batalha que os jesuítas

enfrentaram foi a aceitação do índio ao cristianismo, pois acreditava se que era um ser sem cultura, ou seja, uma folha em branco. Manuel da Nóbrega chegou a escrever que os índios mostravam admiração pela escrita e pela leitura e que queriam aprendê-las, assim como serem cristãos. Com isso, ele solicitou ao rei de Portugal o envio de mais missionários, reafirmando mais uma vez ao rei, que não era necessário que eles fossem homens letrados, pois os índios são folhas em branco, nos quais se podem facilmente escrever e divulgar o criador. Porém, mais tarde no texto “Diálogo do gentio” ele discorre a respeito da dificuldade da grande facilidade do índio ser um papel em branco, pois por mais que eles aprendessem, não compreendiam em seus corações. Isso de dava pelo índio não ter tido uma formação acadêmica ou ter uma cultura até então não conhecida.

Em 1750, o rei de Portugal D. José I nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal, como seu primeiro ministro com a missão de alavancar Portugal, aumentando a produção, modernizando a cultura do País e acrescendo as riquezas portuguesas, uma vez que o País era considerado pobre perto das potências daquele período como Inglaterra e França.

Neste período temos a chamada “reforma pombalina”, que foi marcada pela exploração das colônias portuguesas. Esta, para educação, é considerada por Fernando de Azevedo como “a primeira grande e desastrosa reforma de ensino no Brasil”, pois em 1759 pretendendo suspender as influências e domínio dos religiosos sobre o País e as colônias, expulsou os jesuítas de Portugal e de suas colônias, colocando um fim no único sistema educacional vigente no Brasil, tirando a educação dos jesuítas e passando esse dever para a mão do Estado, gerando neste momento, uma grande lacuna na educação em nosso País. Pombal pensava

em organizar a escola para servir aos interesses do Estado. Com isso ele criou aulas régias de Grego, Latim e retórica e também, a Diretoria de Estudos. Neste período temos uma educação nem um pouco ligada aos valores religiosos; o sistema jesuítico foi desmantelado não tendo a criação de nada que fosse próximo para dar continuidade à educação no País. Sendo assim, o ensino religioso estava suspenso. Em 1808, a família real vem ao Brasil fugindo dos ataques dos franceses; com sua vinda D. João VI abriu Academias Militares, a Biblioteca Real, Escolas de Direito e Medicina, o Jardim Botânico e a Imprensa Régia, sendo o fato mais marcante do período. Todavia, a educação ainda era uma preocupação secundária no país, a grande maioria do povo que aqui estava denominavam-se como católicos, mesmo com o protestantismo iniciando com muita força na Europa. No Brasil essa denominação religiosa até então não tinha força, apresentando nenhum resquício. Com a independência do Brasil em 1822, começa a vigorar a primeira Constituição do país - “Constituição Política do Império do Brazil” - outorgada por D. Pedro I no dia 25 de março de 1824. A carta estabelece que a religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império em seu artigo 5: A Religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo.

Com a proclamação da república em 1889 a família real deixa o Brasil, e em 1891 começa a vigorar a Primeira Constituição Republicana, que define a separação entre o Estado e quaisquer religiões ou cultos, estabelecendo que “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”. Também se proclama que todas as religiões devem ser aceitas no Brasil, podendo ser praticada sua crença e seu culto livre e abertamente.

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Art. 72 - §3º - Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum. (BRASIL 2013).

E no parágrafo 6º:

Art. 72 - §6º - Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos. (Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 24 de fevereiro de 1891). (BRASIL 2013).

Assim, o País entra no século XX com diversas reformas educacionais onde cada estado tinha a sua, de acordo com a suas necessidades e realidade local, conduzindo a educação para novos métodos de ensino.

Em 1930, Getúlio Vargas assume a presidência do Brasil como presidente provisório e dissolve o congresso, colocando como prioridade a mão de obra e deixando em segundo plano os ensinos literários e clássicos da educação, sendo criado neste mesmo ano o ministério da Educação e Saúde Pública. Em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras reintroduzindo o ensino religioso nas escolas públicas de caráter facultativo. Em resposta, foi lançada a Coligação Nacional Pró-Estado Leigo, composta por representantes de todas as religiões, além de intelectuais, como a poetisa Cecília Meireles.

Art. 153 - O ensino religioso será de frequência facultativa e ministrada de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais.(Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934). (BRASIL 2013).

E no Artigo 97:

Art. 97 – O ensino religioso (...) será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno...(Lei de Diretrizes e Bases 4024/61) . (BRASIL 2013).

Depois de 4 anos como presidente provisório, Getúlio Vargas assume como Presidente da República, eleito pelo Congresso, e promulga a terceira Constituição Brasileira em 1934, dispondo, pela primeira vez, que a educação é um direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelo poder público, cujo artigo 153 define:

O ensino religioso será de frequência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais. (BRASIL 2013).

Em 1937, acontece uma nova ruptura política e educacional na história do Brasil. Neste período passou a vigorar a Constituição redigida por Francisco Campos, que incluiu os partidos políticos, dando ao Presidente eleito o poder sobre o Legislativo e o Judiciário. Essa nova forma de governo é chamada de Estado Novo, mesmo com o retrocesso que traz a nova Constituição ao retirar o texto que diz que a educação é um direito de todos. É neste momento que nasce a UNE (União Nacional dos Estudantes) e é também no Estado Novo que algumas reformas no ensino secundário e industrial são regulamentadas por meio de decretos de leis. Porém a educação brasileira só terá transformações significativas após 1945, período considerado de redemocratização da educação brasileira. Com o fim do Estado Novo, é eleito em 1946, como Presidente do Brasil, o Brigadeiro Eurico Gaspar

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Dutra; Uma nova carta magna é elaborada, considerada de cunho democrático e liberal, voltando ao principio de que a educação é um direito de todos e a obrigatoriedade do ensino primário. A Constituição que passa a valer em 18 de setembro diz: “O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável”.

Tem início a campanha de aprovação pela LDB (Leis de diretrizes e Bases da Educação) em 1948. O Projeto de Lei teve uma discussão inicial na Câmara dos Deputados e também no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, em que foi ouvida a sociedade civil dando origem ao projeto que ficou conhecido como o Projeto Jorge Hage, devido ao seu relator.

Todavia, mesmo com todas as discussões que atendiam a algumas exigências da sociedade civil, o Senador Darcy Ribeiro, com o apoio do governo, ao qual, convém ressaltar, estava ligado politicamente desde os anos 60, teve seu projeto discutido paralelamente no Senado. E após algumas idas e vindas foi aprovado e sancionado sem vetos (caso raro na história brasileira) em 1996.

É apenas uma das iniciativas que marcam a história da educação no Brasil durante a década de 50.

Por conseguinte o País volta a ser governado por Getúlio Vargas em 1951, que voltou ao poder através das eleições democráticas diretas, iniciando, neste novo mandato a discussão sobre o conceito de Escola Classe e Escola Parque; período no qual entra claramente na história as teorias de Jean Piaget, estas ganham espaço na didática das escolas brasileiras. No governo de Vargas a educação passa a ser administrada por um ministério próprio, o MEC (Ministério da Educação e Cultura), que antes era ligado à saúde pública.

Em 1954, Getúlio Vargas se suicida devido à pressão política, vindo então Juscelino Kubitschek a se tornar o Presidente da Republica dois anos depois (1956). Sua administração como presidente ficou marcada na memória dos brasileiros e na política brasileira como um governo que impulsionou a industrialização, levando o desenvolvimento às regiões do interior do Brasil com a construção de Brasília, promovendo a integração nacional. Entretanto, em seu plano de governo, a educação não foi priorizada, sendo que neste período o setor educacional foi contemplado apenas com 3,4% de investimentos, tendo como foco a formação técnica. Com a falta de investimentos na educação, gerou-se inúmeros manifestos, mais de 189 educadores publicaram um manifesto em 1959, pedindo que a educação pública, obrigatória, laica e gratuita fosse dever do Estado. Com isso, surgem os defensores da rede privada de ensino, em oposição aos educadores comprometidos em garantir uma educação pública a todos os brasileiros, que tinham como argumento que os pais e famílias devessem escolher o tipo de educação a ser dada aos filhos. A discussão foi até 1961 quando ficou aprovada a LDB; as regulamentações do projeto foram consideradas desfavoráveis às classes populares pelos escola-novistas, (termo usado para os pioneiros da educação nova) que criticavam o apoio financeiro a escolas particulares, o descaso e a pouca atenção à rede pública de ensino. A primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB 4024/61) propõe em seu artigo 97 em seus parágrafos 1 e 2.

O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável.

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A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo de alunos. O registro dos professores de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva. (BRASIL 2013).

Esses debates para a aprovação da LDB giraram em torno do momento da cultura popular de Pernambuco, que passou a difundir as manifestações da arte popular regional e a desenvolver um trabalho de Alfabetização de Crianças e Adultos, iniciativa dirigida pelo educador Paulo Freire incentivando assim outros estados brasileiros a iniciativas similares. Seguindo o método de ensino de Paulo Freire, foi criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização. Esse processo de redemocratização da educação brasileira foi ofuscado em 1964 quando ocorreu o golpe militar, anulando as iniciativas de revolucionar o setor educacional, usando o pretexto de que as propostas eram agitadoras.

A ditadura civil-militar que por 20 anos vigorou no Brasil (1964 à 1984), caracterizou-se pelo alinhamento da economia nacional ao padrão de desenvolvimento capitalista, fato marcante nos anos 60 e 70. Esse período também é marcado pelo autoritarismos excessivos com Atos Institucionais, censuras de toda ordem, repressão, torturas, ferrenha perseguição a opositores, tudo isso sob a vigência da Doutrina de Segurança Nacional. O golpe civil-militar, em um conjunto de reformas políticas e institucionais, visava a “reconstrução da nação” e a “restauração da ordem”, tudo isso se encaminhando para o endurecimento do regime instalado, defendido como necessário para o “desenvolvimento” social e econômico do país. (CLARK; NASCIMENTO & SILVA, 2005).

O regime militar foi deplorável em muitos aspectos: professores mortos, exilados e muitos afastados de suas funções por acreditarem na educação, o programa

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dos militares incluiu a modernização das universidades e a expansão do ensino fundamental para 8 anos; os militares tinham um projeto de desenvolvimento que passava por mudanças na educação, como o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), programa para erradicar o analfabetismo. E também os tratados MEC – USAID, assinados entre o ministério da educação e a Agência dos Estados Unidos para o desenvolvimento. (XAVIER; RIBEIRO & NORONHA, 1994). Do o ensino religioso, a nova Constituição Federal diz: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio.” Em 1971 é aprovada à lei (5692/71) onde consta em seu Art. 7:

Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro de 1969. Parágrafo único: O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus. (BRASIL 2013).

O regime militar se finda por si só, por meios de eleições diretas tendo como concorrentes Paulo Maluf e Tancredo Neves.

Após esse processo histórico, no qual o ensino religioso teve idas e vindas, em seu oferecimento nas escolas públicas chegamos ao ano de 1988, em que a Constituição ainda em vigência é promulgada. A partir deste momento temos diversos movimentos e discussões sendo realizadas em torno do assunto, com aprovação de leis e documentos que norteiam o oferecimento da disciplina.

Diante do exposto acima, conclui-se a parte histórica do ensino religioso. Os

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dados acima da a base para a análise da atual situação do ensino religioso na escola pública no Brasil, tema que será tratado na sequencia desse artigo.

2. O ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS

O segundo tópico desse artigo se dedica a expor o tema ensino religioso a partir a análise dos dados que constam na legislação brasileira.

Inicia-se, então, o período nomeado de “período de transição” em 1988. A nova Constituição diz no artigo 210, parágrafo primeiro que “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. O artigo 5 define que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. No artigo 19, consta que:

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. (BRASIL, 2013).

Seguindo as orientações da Carta Magna, o texto da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), de dezembro de 1996, passa a definir que: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou

por seus responsáveis, em caráter”

Na continuidade do artigo a legislação (BRASIL, 2013) estabelece que as escolas possam optar por: “confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas”. Ou então: “interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa”.

Em julho de 1997, passa a vigorar uma nova redação do artigo 33 da LDB 9394/96 (a lei n.º 9.475) parágrafos 1 e 2:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (BRASIL, 2013a)

Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. (BRASIL, 2013a).

Com isso, em 2009, ocorre aprovação pelo Congresso Nacional, do Acordo Brasil-Santa Sé, assinado pelo poder executivo em novembro de 2008. O acordo cria um novo dispositivo, discordante da LDB em vigor em seu Art. 11, paragrafo 1:

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A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa. §1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação. (BRASIL 2013a).

Como se observa nos dados acima, a legislação brasileira tem dado destaque ao tema ensino religioso, porém, não apresenta uma determinação rígida de como essa disciplina deva ser ministrada nas escolas públicas.

3. PROPOSTA DO ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS

No Brasil, solo de muitas pluralidades entre negros, brancos, europeus, indígenas e asiáticos, cabem todos os indivíduos com as suas crenças e origens. Já era assim antes das caravelas portuguesas chegarem a nossa terra, pois sabe-se que cada tribo que aqui estava tinha seu Deus, seu credo, sua forma de interpretar o divino. Vieram os portugueses que aqui desembarcaram trazendo consigo a fé católica. Em seguida, os escravos africanos que perderam sua liberdade, mas não sua crença, (hoje mais conhecida como candomblé). Mais tarde vieram protestantes da Europa e dos Estados Unidos, budistas do oriente, e ainda mulçumanos e judeus. Sendo que esses dois últimos grupos aqui convivem em paz, diferentes do local de suas origens.

Em meio a toda essa miscigenação

de culturas em um País multiétnico, como vemos a educação religiosa nas escolas públicas, uma vez que temos um Estado laico? Para isso, temos que compreender o que é laicidade, para entendermos o Estado laico.

Laicidade é uma forma institucional que mostra que o Estado é democrático, e que a fé ou crenças não interferem nas decisões de suas leis, escolhas, no funcionamento de justiça ou acesso aos direitos, já que não se adota um sistema religioso oficial no país.

A constituição vigente no Brasil diz que o ensino religioso é obrigatório nas escolas públicas e a LDB em seu artigo 33 define O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de Educação Básica assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

Sendo assim, nenhum aluno pode ser obrigado a frequentar a aula de ensino religioso, que não seja a sua própria crença; os professores de ensino religioso não seriam remunerados pela função, mas seriam voluntários prestando serviço sem ônus para o erário público.

Com isso existem três possibilidades de se ministrar o ensino religioso em escolas: O Ensino Religioso Confessional em que cada representação oficial religiosa tem sua expressão litúrgica e doutrinária, marginalizando outras expressões minoritárias. O Ensino Religioso Interconfessional em que a ênfase está na posturas éticas, buscando princípios doutrinários e litúrgicos e afins, ficando o grupo religioso de maior expressão com uma maior influência sobre os demais ou sendo o Ensino Religioso não Confessional ou também chamado de História das Religiões, em que é feita uma abordagem antropológica, observando-se as diversas manifestações religiosas de forma cultural, seja através do estudo das Religiões Comparadas ou

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buscando as histórias das religiões. O professor seria neutro em relação à postura das religiões, ministrando a chamada história das religiões.

De acordo com o quadro podemos observar que 21 estados trabalham a disciplina como interconfessional, 04 estados trabalham com o ensino confessional e apenas o estado de São Paulo apresenta o ensino de história das religiões.

Com base na pesquisa, podemos facilmente identificar como as escolas públicas estão fazendo uma má interpretação da constituição, mostrando apenas o estado de São Paulo ministrando o ensino da história das religiões.

O sentido da lei está em garantir que a escola de Ensino Fundamental oportunize aos alunos o acesso ao conhecimento religioso. Não é seu interesse fazer com que a escola garanta aos educandos o acesso às formas institucionalizadas de religião – isto é competência das próprias igrejas e crenças religiosas. À escola compete garantir o acesso ao conhecimento

O quadro a seguir mostra como essas práticas estão divididos no país, segundo reportagem da Globo News com base na pesquisa realizada pela ANIS/UNESCO.

religioso, a seus componentes epistemológicos, sociológicos e históricos. Pode naturalmente, servir-se do fenômeno religioso e de sua diversidade, sem, contudo, erigir uma ou outra forma de religiosidade em objeto de aprendizagem escolar. Na aula de Ensino Religioso nossas crianças têm que ter acesso ao conhecimento religioso, não aos preceitos de uma ou de outra religião.(ZIMMERMANN, 1998, p. 11).

Com isso, mostrasse como o ensino religioso vem sendo mal interpretado pelas instituições de ensino, já que a proposta da lei é de oportunizar aos alunos o conhecimento do ensino religioso, e não a conversão a uma denominação religiosa. É também evidência como é urgente à tratativa do assunto por parte das instituições ou órgão públicos que trabalham junto à educação, para que a lei seja corretamente interpretada, definindo a

Fonte: Reportagem Globo News 12/02/2012 e 17/02/2012.

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educação no Brasil como laica.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aqui se conclui esse artigo. Pode-se afirmar que o trabalho mostrou como está sendo ministrado o ensino religioso no Brasil nos dias atuais evidenciando como muitos estados brasileiros não trabalham ainda de forma laica.

Constatamos que existem formas de se trabalhar de uma forma laica o assunto, basta que haja de ambos os lados, Instituições e Estado à devida importância para esse assunto, já que o mesmo contribui para a formação pessoal do individuo.

Mediante o exposto identifica-se a urgência da tratativa do assunto por meio das autoridades e órgãos competentes, uma vez que vemos existir uma má na interpretação da lei que se refere ao ensino religioso,

muitas vezes há um entendimento ambíguo, dando margem a interpretações diversas da mesma. Também vemos que essa formação é indispensável na vida do individuo, para construção de seus valores pessoais e sociais como pessoa.

De fato não é um assunto fácil de ser tratado ou resolvido, tendo em vista que não se trata apenas da disposição da disciplina no currículo escolar, mas também na capacitação do profissional envolvido. Porém, existem meios de garantir o ensino laico tendo a oferta da disciplina, sendo uma das soluções a oferta do ensino de história das religiões, dando posteriormente ao aluno, mediante a este ensino escolher qual religião, ou em que acreditar, sendo o que já é previsto dentro das Leis de Diretrizes Básicas, e no Parâmetros Curriculares Nacionais.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo analisar as funções e a importância do tutor para a eficiência do processo ensino e aprendizagem na EAD, tendo em vista a interação entre o tutor e os alunos por meio das novas tecnologias e ferramentas de interatividade a fim de que o tutor possa cumprir com seu papel de facilitador e mediador na construção do conhecimento e de motivador do aluno nesta modalidade de ensino. O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental, que resultou do levantamento de fontes referentes ao tema de estudo. Além do material do curso, também foram utilizados livros, periódicos científicos e artigos disponíveis na Internet e em bibliotecas virtuais. Assim, a revisão bibliográfica foi a principal ferramenta de pesquisa. Os resultados demonstraram que a atuação propositiva e proativa do tutor é fundamental para a eficiência e qualidade da Educação a Distância, visto que a sua mediação consiste na contribuição para a formação global dos alunos e que os prepare para a integração profissional.

Palavras-chave: Sociedade da Informação e do Conhecimento, Tecnologia da Informação e Comunicação, Educação a Distância, Inovação Tecnológica, Tutor.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the role

and importance of the tutor to the efficiency of the teaching and learning process in distance education, in view of the interaction between the tutor and students through new technologies and interactive tools so that the tutor can fulfill its role as facilitator and mediator in the construction of knowledge and motivating the student in this type of education. The study was conducted through literature and documents that resulted from the survey of sources on the topic of study. In addition to the course material, also books, journals and articles available on the Internet and virtual libraries were used. Thus, the literature review was the main research tool. The results showed that the purposeful and proactive role of the mentor is crucial to the efficiency and quality of distance education since its mediation consists in contributing to the overall development of students and to prepare them for the professional integration.

Keywords: Information and Knowledge Society, Information and Communication Technology, Distance Education, Technological Innovation, Tutor.

INTRODUÇÃO

O artigo presente trabalha com o tema Educação a Distância no Brasil, tendo em vista a função do tutor nesta nova modalidade de ensino na mediação da construção do conhecimento dos alunos,

O TUTOR A DISTÂNCIA NA EAD: PRÁTICAS E IMPORTÂNCIAS

Marcelo de Almeida¹Mario Nishikawa²

¹ Doutorando em Serviço Social pela UNESP de Franca. Professor do UNISEB Interativo COC, tutor de Pós-Graduação da Anhanguera/Uniderp e Aluno do Curso de Pós-graduação em EAD - Polo de Ribeirão Preto, SP.² Mestre e Doutor em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professor Orientador do Centro Universitário UniSEB Interativo de Ribeirão Preto (SP). e-mail: [email protected]

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focando principalmente a interação entre os envolvidos.

O papel do tutor a distância ainda é pouco conhecido e reconhecido no Brasil. E a discussão sobre este tema é importante, pois promove maior divulgação deste profissional e desta metodologia de ensino que possibilita a inclusão de pessoas que se encontravam excluídas do sistema educacional, fundamentalmente do ensino superior.

Para a elaboração do estudo que deu origem a esse artigo, estabeleceu-se a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a função do tutor do polo para a construção de uma educação qualidade na modalidade EAD?

Considerando as hipóteses a que chegamos durante a elaboração do nosso projeto de pesquisa, à luz dos conhecimentos adquiridos por meio da literatura pesquisada, entendemos que um elemento relevante quanto à prática da tutoria se refere à importância do tutor em criar um canal de comunicação e empatia com os alunos, colocando-se disposto a ouvi-los e orientá-los sempre. Para tal é necessário humildade para reconhecer suas próprias deficiências e o valor das contribuições dos outros, se posicionando como orientador do aluno no processo de construção de conhecimentos e não como detentor da verdade absoluta, obstruindo todas as possibilidades de comunicação com os discentes.

Outro fator importante nessa questão é a postura do próprio tutor a distância que precisa se colocar como orientador disposto a escutar seus alunos e identificar suas habilidades e deficiências para auxiliá-los em seu desenvolvimento. A ausência desta postura pode causar barreiras no processo de aprendizagem, resultando um processo de comunicação de mão única, na qual a voz do tutor seria a única válida.

O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental, que resultou do levantamento de fontes referentes ao tema de estudo. Além do material do curso, também foram utilizados

livros, periódicos científicos e artigos disponíveis na Internet e em bibliotecas virtuais. Assim, a revisão bibliográfica foi a principal ferramenta de pesquisa.

Desse modo, a importância deste artigo consiste em discutir sobre a ação do tutor a distância de maneira a permitir reflexões que favoreçam o desempenho deste profissional, colaborando para o fortalecimento e reconhecimento deste e de suas práticas.

1. MUDANÇAS NA SOCIEDADE E NOVAS TECNOLOGIAS

A sociedade, do ponto de vista histórico, pode ser entendida e estudada a partir das mudanças ocorridas em sua trajetória. Como propósito de nosso estudo, destacamos aqui que nas últimas décadas a sociedade tem passado por intensas mudanças, impulsionadas em muitos aspectos pelas novas tecnologias que foram introduzidas no cotidiano societário, modificando a forma como as pessoas interagem entre si.

Do mesmo modo, a sociedade atual, no que tange ao mercado de trabalho, tem exigido cada vez mais de seus integrantes. Imersas neste progresso da tecnologia, as pessoas sentem a necessidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, tendo a sensação que o número de horas disponíveis para o trabalho não são mais suficientes.

Para acompanhar esse desenvolvimento vertiginoso, o ser humano precisa buscar um aperfeiçoamento constante de seus conhecimentos e, isso nem sempre é possível considerando a disponibilidade das pessoas para este fim. Neste sentido, a EAD vem ao encontro destas necessidades de aprimoramento, possibilitando o estudo em local e horário escolhido pelo próprio aluno, dentro de seus horários disponíveis.

Com a EaD o aluno torna-se independente, sem ficar limitado pelas restrições de

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tempo e espaço, característica da educação presencial. O estudo independente e o aprendizado privado, desenvolvidos pela EaD desafiariam a necessidade de interação em educação. As novas tecnologias geram maior interação entre professores e alunos, e mesmo entre os próprios alunos, possibilitando justamente a combinação da flexibilidade com a interação humana (MAIA; MATTAR, 2007, p.15)

Nesta linha de raciocínio, os Decretos nº 2.494/98 e nº 2.561/98 foram revogados por meio do Decreto nº 5.622/05 que mudou a definição legal de educação a distância, sendo anteriormente baseado em estudos autônomos ou processos de auto-aprendizagem passando para um conceito vinculado a processos de aprendizagem por mediação pedagógica conduzida por professores, conforme explica seu artigo 1º:

Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005, p. 1).

Devido o avanço da educação a distância novas tecnologias de informação e comunicação passaram a ser multidirecional criando novas oportunidades de ensino aos alunos. Nesse sentido, o conhecimento é aplicado pela troca de informações através de meios tecnológicos e de comunicação podendo ser efetuado através de telefone, correio postal, audioconferência, internet, a forma presencial, o rádio, a TV, a videoconferência, a teleconferência e os

ambientes virtuais de aprendizagem.As tecnologias de informação e

comunicação garantem a interação do processo de ensino consolidando modelos de gestão da comunicação, de metodologias, práticas educacionais e implementação de variadas propostas de gestão dos sistemas de educação a distância.

As instituições de educação à distância utilizam-se de duas ferramentas nessa modalidade, sendo uma delas síncronas como chat, vídeo conferência, web conferência, web aulas e outras, garantindo que os participantes devem estar conectados no mesmo período de tempo. Já as ferramentas assíncronas se destacam em fórum de discussão, exercícios, questões e projetos, cuja relação é a interação que ocorre sem dia e horário definido. Essas ferramentas garantem um padrão de qualidade no atendimento aos alunos e também é um incentivo para que utilizem da melhor forma possível para equacionarem suas dúvidas.

Nesta linha de raciocínio, considerando alguns estudiosos da Educação a Distância (EaD), procuraremos entender o que eles pensam a respeito desta modalidade de ensino

De acordo com Carmem Maia e João Mattar (2011, p. 06), a EaD consiste em uma “modalidade de educação em que professores e alunos estão separados, planejada por instituições e que utiliza diversas tecnologias de comunicação”. Os autores, portanto, reforçam 3 pontos importantes para a EaD: planejamento, mediação tecnológica e distância física.

Assim como em qualquer atividade, o planejamento também é fundamental no processo de ensino, pois determina ações necessárias para alcance do objetivo ou resultado predefinido. Nessa etapa é importante selecionar adequadamente os métodos de ensino, a proposição de atividades e relacionar os objetivos esperados ao desenvolvimento das habilidades dos

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alunos.Gandin (apud DALMÁS, 1994, p.28),

coloca algumas definições que expõem a importância e a justificativa do planejamento. Segundo o teórico, planejar é:

... transformar a realidade numa direção escolhida, é implantar ‘um processo de intervenção na realidade’, é agir racionalmente, é dar clareza e precisão à própria ação (de grupo, sobretudo), é explicitar os fundamentos da ação de grupo, é pôr em ação um conjunto de técnicas para racionalizar a ação, e, é realizar um conjunto de ações, propostas para aproximar uma realidade de um ideal.

O planejamento de aula e as atividades propostas aos alunos devem ser coerentes entre si e com os objetivos, para que o tutor possa fazer a mediação de forma segura. Deve também ser coerente com a modalidade de educação à distância e suas características e especificidades.

Ao indicar como se dará a intervenção do tutor, quais atividades os alunos irão realizar e os procedimentos que se ajustam melhor ao que será proposto, o planejamento de aula consistirá em um roteiro de trabalho, tornando-o menos aleatório e mais sistêmico, auxiliando no alcance do objetivo proposto e intervindo na realidade por meio de ações claras, precisas e objetivas.

Outro fator da EaD apontado pelos autores (MAIA e MATTAR, 2011) é a presença da mediação tecnológica. No decorrer dos anos, conforme há o avanço das tecnologias disponíveis, há também novas formas de realização da EaD. Vemos, portanto, esta modalidade de ensino se adaptando ao desenvolvimento tecnológico, passando assim, de um ensino mediado por correspondências para um ensino mediado pela internet.

Esta mediação tecnológica permite uma separação no espaço e tempo do aluno

e do professor, ou seja, não existe mais a necessidade de compartilhar o mesmo espaço (sala de aula) em tempos síncronos. O aluno e o professor podem se encontrar separados fisicamente e temporalmente, ou seja, podem estar disponibilizados em locais diferentes e tempos diferentes.

Desta maneira, a EaD implica a distância física e a possibilidade da comunicação diferida, “na qual o aprendizado se dá sem que, no mesmo instante, os personagens envolvidos estejam participando das atividades” (MAIA; MATTAR, 2011, p. 06), e como dito acima, isto apenas torna-se possível devido a mediação ocorrida pela tecnologia e alguns suportes midiáticos como: televisão, internet, telefone, rádio, CD, entre outros.

A partir das tecnologias mais recentes há ainda a constituição de outra característica da EaD: a possibilidade de interação dos alunos com os professores e colegas. Ou seja, o discente pode intervir na elaboração do conhecimento, pois possui instrumental capaz de redirecionar as discussões, aprofundar e propor temas e expor questões relacionadas ao conteúdo.

Ao contrário do ensino presencial, no qual o professor é a referência do conhecimento e o responsável por transmiti-lo, na EaD o aluno também possui espaço para expor seus próprios pensamentos aos professores, aos tutores e aos acadêmicos de seu curso, tornando-se, portanto, também disseminador de informações e conhecimentos. O próprio formato da EaD estimula as discussões e exposições de conteúdo, uma vez que há espaços diversos para debates, como fóruns e plantões on-line.

Assim, o discente também assume o papel de produtor de conhecimentos e não apenas receptor de informações e conteúdos, sendo esta etapa de produção muitas vezes exigida na avaliação final do aluno.

Neste cenário, então, nos deparamos com duas posturas essenciais para o discente da EaD: autonomia e interação. A

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primeira refere-se à capacidade de tornar-se independente em relação ao aprendizado, o aluno escolhe suas formas de estudo, locais e momentos. Não há imposição de uma forma de estudar (metodologia da sala de aula) ou de local e horário estipulados pela instituição. O discente pode criar sua própria metodologia de estudos, bem como se programar conforme sua disponibilidade de tempo e local. Esta liberdade proporcionada também exige do aluno maior autonomia e responsabilidade, uma vez que depende de si mesmo para programar os estudos e colocá-los em prática.

A outra característica importante para o discente é a interação, que demonstra e reforça que o aluno, apesar de ter liberdade com seus estudos, não está sozinho, mas pode e deve contar com professores, tutores e demais colegas. A interação, portanto, pode funcionar também como o estímulo ao aluno, pois sabe que possui um suporte de pessoas formadas na área e também de colegas que estão aprendendo junto com ele. Esta característica também é uma aliada na construção de conhecimentos e saberes, pois por meio de discussões o aluno pode formular novas considerações e assimilar novos conteúdos e saberes.

De acordo com Menezes (2010), a interação em grupo pode favorecer a aprendizagem, mas o inverso também pode ocorrer, ou seja, do ensino/discussão promover a cooperação entre os pares e a habilidade de expor e exteriorizar pensamentos. Por isso, é fundamental a presença do tutor EaD neste processo, a fim de estimular nos grupos a aprendizagem cooperativa.

Considerando a conhecimento a serviço dessa formação coletiva, o professor, junto com o tutor, passam a focar também na aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos e não apenas na transmissão de conteúdos.

De acordo com esta aplicação, as discussões proporcionam ao aluno a não

pensar e agir apenas conforme seus valores e motivações individuais, mas adequá-los aos demais. Assim, este tipo de atividade possibilita ao aluno trocar ideias, internalizar e assumir papéis, de maneira a enriquecer suas experiências pessoais.

Esse tipo de trabalho é fundamental, pois cria situações nas quais o aluno possa aprender a assumir a palavra, a se expressar, a ouvir o outro, a ajudar, a solicitar auxílio, a lidar com críticas, enfim, a dialogar, argumentar e a conviver em grupo e com as diferenças de forma produtiva e cooperativa.

As atividades nos fóruns e chats de discussão (mediadas pelos tutores a distância) levam os alunos a constatarem a importância de dialogar, resolver ruídos de comunicação, respeitar as diferenças, explicar pontos de vista, exemplificar conceitos e ideias. A discussão em equipe proporciona a construção coletiva do conhecimento, pois consiste em uma oportunidade de troca, na qual os estudantes se deparam com diferentes percepções.

Trabalhando desta forma, o aluno exercita várias habilidades, pois além de estudar o conteúdo das disciplinas, ainda precisa avaliar, escolher e decidir, ouvindo e respeitando opiniões distintas, e também necessita aprender a argumentar e sustentar suas ideias.

Assim, o desenvolvimento das habilidades para se trabalhar em grupo é importante não apenas para o convívio social e para desenvolvimento da vida pessoal, mas também no ambiente de trabalho, que vem cada vez mais exigindo dos seus profissionais posturas de colaboração e trabalho em equipe.

Considerando que essas habilidades somente são desenvolvidas com a prática, é importante que a escola/universidade se apresente como um espaço que possibilite, promova e incentive essas ações, e a EaD se apresenta como uma modalidade de ensino que promove esta interação e desenvolvimento desta habilidade. Neste

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aspecto, é importante ainda ressaltar a presença do tutor como mediador de conhecimentos e discussão, atuando de maneira a estimular o desenvolvimento das habilidades interpessoais e de expressão.

Entendemos que a mediação da tutoria consiste num dos pilares de sustentação da EaD, sendo parte responsável pelo sucesso ou pelo fracasso de um curso nesta modalidade de ensino.

2. O TUTOR A DISTÂNCIA E A SUA MEDIAÇÃO

Após refletirmos sobre a EaD e sua prática, podemos dizer que apesar de não haver o contato presencial professor/aluno, necessariamente estes dois atores devem estar presentes para que haja um curso de fato. Neste sentido, inserimos o tutor, que tem o papel principal de mediador entre os professores e os alunos. Conforme Belloni:

A função de orientação e conselho do processo de aprendizagem passa a ser exercida não mais em contatos pessoais e coletivos de sala de aula ou atendimento individual, mas em atividades de tutoria a distância, em geral individualizada, mediatizada através de diversos meios acessíveis. (BELLONI, 2007, p. 80)

Na modalidade de educação a distância, o tutor tem como função orientar os acadêmicos, muitas vezes em parceria com o professor da disciplina. Seu papel não é apenas de transmitir informações, mas criar condições para que o aluno adquira subsídios para construção do autoconhecimento. Maia e Mattar (2007) afirmam que o tutor tem um papel social e que, dentro da comunidade, deve conhecer muito bem seu público-alvo. Ele é visto, assim, como agente social e, nesse contexto, precisa apresentar habilidade interpessoal para lidar com pessoas de

diferentes culturas, contextos, classes sociais etc. Isso será visto, então, como fundamental para a sua função de tutoria, para se trabalhar a motivação individual de cada aluno, estimula-lo nos estudos, bem como auxilia-lo nas dificuldades que este encontrará em seu processo de aprendizagem.

É fundamental que as tecnologias da informação e da comunicação sejam utilizadas de forma pontual no contexto pedagógico, abordando as várias formas o uso da linguagem didática e da construção no conhecimento do aluno.

Em um processo de avaliação de ensino-aprendizagem a tutoria deve acompanhar e realizar estudos sobre a educação a distância, ter conhecimento sobre a utilização adequada do material didático e auxiliar o aluno em sua auto-avaliação.

A relação entre o professor e aluno deixa de ser vertical e de imposição cultural e passa a ser de construção em conjunto de conhecimentos que se mostrem significativos para os participantes do processo, de habilidades humanas e profissionais e de valores éticos, políticos, sociais e transcendentais (MASETTO, 2003, p.74).

Com o avanço da educação a distância é de suma importância que haja diálogo entre todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando que os alunos alcancem seus objetivos. Para isso é preciso um investimento na equipe em que o papel do tutor vai além da docência aprendida nos cursos presenciais.

Para Lévy, a função do professor no contexto das tecnologias, se resume em:

Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. O professor torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão a seu encargo.

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Sua atividade será centrada no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o incitamento à troca dos saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem etc. (LÉVY,1999, p. 171).

O tutor tem como função saber lidar com a plataforma de ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e com as novas tecnologias, fazendo com que este aluno não tenha dúvidas em como operar a plataforma (AVA) e acessar os conteúdos on line. Esta equipe de tutores é denominada multidisciplinar, sendo definida da seguinte forma por Aretio:

Diferentemente do que ocorre com um professor de ensino convencional, que normalmente trabalha de forma individual, na docência a distância são necessárias equipes de especialistas nos diferentes campos, como os planejadores, especialistas em conteúdos, tecnólogos da educação, especialistas na produção de materiais, responsáveis por guiar a aprendizagem, tutores e avaliadores. (ARETIO, 2002, p.116).

A análise e avaliação do curso junto à tutoria é um método que auxilia na melhoria contínua e no apontamento de falhas tendo como base o material didático utilizado pelos alunos e também identificam problemas relativos a aprendizagem à distância. A utilização desses resultados é essencial para garantir um melhor desempenho no planejamento didático-pedagógico e na interação aluno-professor.

Como analisado, saber trabalhar em grupo é hoje um ponto muito requisitado por empresas e isto deve ser incentivado pelos tutores desde o começo da educação. Vale ressaltar que o desenvolvimento dessa

habilidade (discussões em grupo) necessita ser bem planejado e explicado pelo tutor para que não ocorra o contrário do desejado, criando situações que venham desestimular o debate em equipe no futuro.

A falta de planejamento do ensino e da aprendizagem que relacione os objetivos esperados ao desenvolvimento das habilidades dos alunos e a uma postura autoritária do tutor que não permite uma comunicação de mão dupla com o aluno e se posiciona como o único detentor do conhecimento podem criar situações que inibem o aluno e seu processo de construção do conhecimento.

Para auxiliar no processo de aprendizagem, o tutor necessita identificar a aprendizagem de cada aluno, demonstrando a ele pontos em que possui desenvoltura e pontos em que possui dificuldades para ajudá-lo a desenvolver suas potencialidades. E esse trabalho deve ser feito de maneira ética para que o aluno não se sinta humilhado ou inferiorizado, mas se sinta estimulado a desenvolver novas habilidades, apesar das dificuldades naturais que apresenta.

Além disso, o tutor jamais deve receber de forma pejorativa as iniciativas e opiniões dos alunos ou se posicionar de maneira indiferente com as fraquezas e carências destes, ao contrário o erro deve ser considerado como mais um elemento de aprendizado, por meio do qual é possível diagnosticar pontos em que o aluno precisa focar e desenvolver. O tutor também precisa aceitar seus próprios erros e deficiências para que possa continuar evoluindo como pesquisador e professor, e para que possa manter o processo de comunicação de mão dupla e não de mão única onde apenas um detém o conhecimento e a verdade, mas um processo no qual o discente e o docente estão aprendendo juntos.

Outra questão na qual o tutor deve atentar é para a formação do aluno como pesquisador autônomo, que consegue por si só construir conhecimentos. Isso não

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significa desestimular o conceito de grupo ou minimizar a figura do tutor, mas estimular a independência do aluno no sentido de que ele também possa se posicionar como agente de transformação social, contribuindo para a sua própria formação global, preparando-se para a integração social e profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi analisar o papel do tutor a distância e sua importância no processo de ensino aprendizagem na Educação a Distância (EaD).

Entendemos que as novas tecnologias de informação e comunicação fazem com que a busca pela construção do conhecimento se torne mais dinâmica e criativa valorizando a pesquisa, a interação e a personalização dos estudos.

Verificamos que a atividade da tutoria em EaD não se restringe apenas ao uso de tecnologias, mas também a capacidade de regulação e resolução de problemas. Apresenta-se como o melhor meio de incentivar e manter os alunos engajados nas propostas do curso. Essa relação é capaz de assegurar o vínculo do aluno com os agentes envolvidos no ensino.

Nesse contexto, cabe ao tutor as funções de informação, formação e orientação, bem como mediar o desenvolvimento do curso, pois ele responderá às dúvidas apresentadas pelos estudantes no que se refere ao conteúdo das disciplinas estudadas, bem como será o mediador nos chats, estimulará os alunos a participarem e executarem as atividades com a finalidade de se alcançar os objetivos propostos avaliando, ainda, a participação de cada aluno. Dessa maneira, o tutor, ao mediar, auxiliar e orientar aos alunos, estabelecerá uma relação dialógica no processo de ensino e aprendizagem. O tutor tem uma função didática, pois na EaD, estimular o autoestudo e a autodisciplina são necessárias, são elementos fundamentais

dessa modalidade educacional.Percebemos que o aluno nesta

modalidade de ensino necessita de motivação para acompanhar seus estudos. Portanto, planejar as atividades, escolher os instrumentos de mediação adequados, criar estratégias de ensino são fatores primordiais para o sucesso do ensino e aprendizagem.

Neste sentido, tendo em vista a relação entre tutor e o aluno nos ambientes virtuais de aprendizagem compete ao tutor estimular e motivar os alunos em busca de respostas e de aprofundamento, de auxiliá-los nos momentos de dificuldades e dúvidas, sendo capaz também de romper com a solidão e o isolamento, às vezes experimentados pelos alunos na Educação à Distância.

São necessárias diferentes habilidades de apresentação da informação, de planejamento, de desenvolvimento e de avaliação para a EaD, visto que conhecer o conteúdo já não é mais o suficiente.

Construir um ambiente de aprendizagem colaborativo com situações contínuas para o desenvolvimento da autonomia em que o aluno possa ser responsável pela construção do seu percurso de aprendizagem é um dos maiores desafios dos profissionais atuantes nesta modalidade de ensino.

Nesta linha de raciocínio, compreendemos que o presente trabalho objetivou contribuir para o fomento de um debate sobre a função do tutor na Educação a Distância, no sentido de colaborar para o desenvolvimento de outras pesquisas nesta área do conhecimento.

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Referências

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O TUTOR A DISTÂNCIA NA EAD: PRÁTICAS E IMPORTÂNCIAS

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a importância da parceria entre marca e atleta, abordando assuntos discutidos pelo marketing e pela gestão de marcas, especialmente no que se refere às vantagens e desvantagens deste tipo de parceria.

Palavras-chave: marketing esportivo; vínculo; marca; garoto propaganda; atleta.

ABSTRACT

This paper presents a reflection on the importance of partnership between brand and athlete, addressing issues discussed by marketing and brand management, especially with regard to the advantages and disadvantages of this type of partnership.

Keywords: sports marketing, bond, brand, poster boy; athlete.

INTRODUÇÃO

Ao assistir um comercial no intervalo de uma programação é possível verificar, nas propagandas, pessoas que são muito conhecidas do público de massa. Em alguns casos são atletas, o atacante de seu time de futebol de coração, ou do adversário, o jogador de basquete, o tenista e tantas

outras pessoas conhecidas por grande parte da população. Essas personalidades são as chamadas “celebridades”. E dado o fato bastante presente destas pessoas estarem representando marcas de alimentos, roupas, bebidas e tantos outros produtos, este estudo busca investigar as relações entre marcas e indivíduos do esporte.

Estudando o mercado e observando como as grandes marcas expõem seu nome utilizando-se da imagem de atletas em evidência no mundo esportivo, o estudo utiliza-se do marketing para fazer uma análise do ponto de vista da marca, para identificar quais as vantagens de parcerias dessa natureza.

1. MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizada uma pesquisa exploratória desk research em livros, artigos, periódicos e outros trabalhos acadêmicos. Também houve o acompanhamento do noticiário esportivo e do mercado durante todo ano de 2013 para coleta de informações que envolviam atletas e sua associação a uma marca.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não é de hoje que o marketing se utiliza do endosso de celebridades como ferramenta publicitária. Esse tipo de parceria é muito comum, pois ela proporciona uma

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO ENTRE A MARCA E O ATLETA

Marcelo Silingardi¹Julio Cesar dos Santos Pimentel²

1 Acadêmico do Curso de Publicidade e propaganda do Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto. Bolsista de Iniciação Científica do Programa de Bolsas de IC do UNISEB. email: [email protected] Mestre em Administração de Organizações pela FEA-USP/RP. Docente Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto email: [email protected]

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troca entre as partes no intuito de divulgar, valorizar e dar credibilidade a uma marca utilizando-se da imagem de uma celebridade.

Analisar se a personalidade é compatível com os ideais da empresa é muito importante, pois ele tem que passar atributos que possam transmitir uma boa imagem para a marca. Exclusividade também pode ser uma grande vantagem, pois ter um único garoto propaganda por um grande período de tempo passa confiança para marca e demonstra coerência por parte da celebridade em questão. Um exemplo clássico de uma longa parceria é da marca “Bom Bril”, envolvendo o ator Carlos Moreno, que há 30 anos é o seu garoto propaganda.

Observa-se que dividir uma personalidade com outras marcas pode passar a impressão de que ela só esta ali pelo dinheiro, o que pode causar um descrédito na confiabilidade da marca.

Além disto, o fato da celebridade ter carisma e simpatia também passa muito confiança e credibilidade, e conquista uma legião de fãs, o que torna uma celebridade muito requisitada pelos patrocinadores.

Frente a estes fatos, emerge uma questão: por que há uma procura tão grande por atletas por parte de grandes marcas?

No caso do mercado brasileiro a resposta pode vir de duas formas.

Primeiramente porque o Brasil é um país apaixonado por futebol e isso permite que os jogadores tornem-se celebridades muito populares e conhecidas da grande massa. Essas personalidades são idolatradas e adoradas por pessoas de várias idades, alguns se destacam nesse meio e acabam tornando-se personagens com grande poder de persuasão e muita credibilidade com seu público, transformando-os em peças cobiçadas por grandes marcas, não só do mundo esportivo quanto de diversos outros seguimentos da sociedade.

Alguns exemplos de atletas que atualmente fazem sucesso no mundo publicitário são: Ronaldo Nazário

(Fenômeno), Gustavo Kuerten (Guga) e Neymar Jr.

Em segundo lugar, cumpre lembrar que o país está se aproximando de sediar dois grandes eventos esportivos que são a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, o que por si só já atrai a atenção do mundo todo para o Brasil. Assim, junto com essa onda esportiva, diversos atletas, de várias modalidades, acabam se destacando em suas competições e tornando-se alvos do assédio das grandes marcas.

Em uma pesquisa feita por Marcelo Silingardi (2013) foi analisada a parceria de uma marca de cuecas e seu garoto propaganda - o jogador de futebol Neymar Jr.- foi possível constatar que o vínculo trouxe resultados muito positivos no que se referia a reconhecimento de marca, pois a percepção da marca melhorou significativamente após a parceria, sempre que o jogador aparecia nas propagandas. Constatou-se também que suas aparições fora da campanha, não traziam a mesma lembrança da marca de cuecas, pois por sua elevada quantidade de parceiros e patrocinadores ofuscava a lembrança de uma marca específica.

Define-se que para uma parceria de sucesso é preciso fazer diversos estudos de compatibilidade, credibilidade, fidelidade entre outros, para que um vínculo entre uma marca e um atleta (celebridade) seja um investimento de retorno satisfatório. Para isso o marketing oferece ferramentas de pesquisa, análise do mercado, coleta de dados da personalidade em evidência e possibilita o cruzamento dessas informações, criando um panorama que facilita a escolha de um representante da marca. Dessa forma é possível chegar a nomes que poderão se vincular à marca com maiores possibilidades de sucesso em campanhas.

Para dar sequência a este trabalho é sugerido que seja feita uma pesquisa de opinião, na qual o público possa ajudar a criar mais predefinições para a escolha de um garoto propaganda ideal para uma

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A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO ENTRE A MARCA E O ATLETA

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marca, melhorando assim a assertividades dos investimentos nessa área.

3. CONCLUSÕES

A pesquisa apontou que para uma parceria obter sucesso é preciso que o endossador tenha identificação com a marca, que seus ideais pessoais sejam coerentes com a parceria. Ter carisma e simpatia passa muito confiança, e ter fidelidade pode passar mais confiança e transmitir uma boa imagem para a marca.

Portanto, é necessário pesquisar a

fundo a vida profissional e pessoal do garoto propaganda pretendido para endossar uma marca, de modo a estreitar ao máximo os laços entre as partes, para que sejam obtidos bons resultados com a parceria.

O momento atual é de alta procura de celebridades no mercado do esporte, pois é ele que proporciona as personalidades de maior sucesso no cenário publicitário do país. Portanto, vincular uma marca a algumas dessas celebridades pode proporcionar ótimos retornos ao investimento e aumentar a popularidade e credibilidade de uma marca.

Referências bibliográficas

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RESUMO

Com tantas mudanças nas organizações, começa a aparecer violência no ambiente de trabalho, não a violência física, mas a psicológica que de forma constante pode caracterizar o assédio moral que é definido como a exposição de trabalhadores a situações constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função, de forma repetitiva, caracterizando atitude desumana, violenta e antiética nas relações de trabalho. As principais vítimas do assédio moral nas organizações são aquelas que não se adaptam ao grupo e estão em posições mais baixas na escala hierárquica. A combinação difícil de diferentes riscos visíveis e invisíveis no ambiente de trabalho que leva os trabalhadores a adoecerem. Os conflitos surgem quando os interesses dos trabalhadores se confundem com os objetivos da empresa O estudo realizado se apresenta como uma revisão bibliográfica cujo escopo foi voltado ao assédio moral no trabalho. Foram consultadas as seguintes bases de dados: Medline e SciELO. Este artigo apresenta alguns resultados de um estudo exploratório que utilizou como procedimentos de coleta de dados pesquisas documental, bibliográfica e estudo de caso. De acordo com os artigos analisados podemos observar que os gestores de pessoas devem atuar na prevenção e no combate ao assédio moral, de modo a criar novos modelos mentais no ambiente de trabalho, bem como no controle e punição

dos responsáveis pelas práticas de assédio. O assédio moral é um doloroso efeito colateral e um alerta, infelizmente ainda silencioso, de que o benefício de poucos nunca poderá levar o bem-estar para todos.

Palavras-Chave: Assédio moral, ambiente de trabalho, violência psicológica

ABSTRACT

With so many changes in organizations, begins to appear violence in the workplace, not physical, but psychological steadily that can characterize bullying which is defined as the exposure of workers to embarrassing and humiliating situations during the exercise of their function, repeatedly, featuring inhuman, violent and unethical attitude in labor relations. The main victims of bullying in organizations are those that do not adapt to the group and are in lower positions in the hierarchy. The difficult combination of different visible and invisible in the work environment that leads workers to risk getting sick. Conflicts arise when the interests of workers are confused with the company’s objectives The study is presented as a literature review whose scope was facing bullying at work. Medline and SciELO: The following databases were consulted. This article presents some results of an exploratory study that used the procedures of data collection documentation , literature and case study research.

ASSÉDIO MORAL NA EMPRESA

Ramon Roncaratti Nicotari¹Stéphane De Bonifácio¹Wilson Lourenço Junior¹

Antônio Nardi²João Paulo L. Oliveira3

¹ Acadêmicos do Curso de Administração do Centro Universitário UNISEB. email: [email protected]² Mestre em Administração e Docente do Centro Universitário UNISEB. email: [email protected] 3 Mestre em Administração e Docente do Centro Universitário UNISEB. email: [email protected]

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According to the articles analyzed we can see that people managers should work in the prevention and combating bullying in order to create new mental models on the desktop as well as the control and punishment of those responsible for the practices of harassment. Bullying is a painful side effect and a warning unfortunately still silent, that the benefit of a few can never bring welfare for all.

Keywords: Bullying, workplace, psychological violence.

INTRODUÇÃO

A grande competição no mercado nacional e internacional trouxe várias consequências: a precariedade do emprego, a flexibilização das relações de trabalho, o ritmo acelerado da economia, o interesse em reduzir os custos de trabalho, o aumento do desemprego, a terceirização, o crescimento do setor informal (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

Com tantas mudanças nas organizações, começam a aparecer a violência no ambiente de trabalho, mas não a violência física, mas a psicológica que, de forma constante, pode caracterizar o assédio moral. As pesquisas sobre essa problemática no trabalho iniciaram na década de 1980 devido ao reconhecimento sobre importância do aparecimento dos casos de estresse no ambiente organizacional. As primeiras evidências de problemas relacionados ao assédio moral no trabalho foram encontradas na Escandinávia, e os primeiros casos foram relatados na Suécia e posteriormente na Noruega e na Finlândia (HOEL; SPARKS; COOPER, 2003; MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

O assédio moral no trabalho é definido como a exposição de trabalhadores a situações constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função, de forma repetitiva, caracterizando atitude desumana,

violenta e antiética nas relações de trabalho. Esse tipo de assédio contribui para o processo de destruição psicológica, constituído de procedimentos hostis de um ou vários indivíduos sobre o outro, na forma de palavras insignificantes, alusões, sugestões e não-ditos, que podem desestabilizar alguém ou mesmo destruí-lo (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

O assédio moral traz sérios problemas para as pessoas bem como ao ambiente de trabalho que estão inseridas, com a destruição do clima de trabalho, o aumento geral do sentimento de insegurança e o consequente bloqueio da criatividade e da inovação. O indivíduo assediado passa a participar menos das atividades relacionadas à cidadania devido à baixa auto-estima, deixando de contribuir com opiniões, além de gerar custos para a sociedade que arcará com as despesas da recuperação desse cidadão (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

A desorganização de algumas empresas pode facilitar o estado de assédio, pois é sempre geradora de estresse, quer se trate de inadequada definição dos papéis, de falta de coordenação dos trabalhos ou de falta de suporte gerencial por parte da administração. Essa deficiente organização do trabalho pode ser percebida por meio de mau gerenciamento e linhas de autoridades confusas. A cultura da empresa, o clima organizacional, os estilos de liderança e a forma de organização do trabalho são fatores predominantes para o surgimento do assédio moral, fenômeno que provoca confusão, dúvida, humilhação e vergonha (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

Nas últimas décadas, a pesquisa sobre esse tema avançou, para compreender as consequências para a saúde física e mental, de seus efeitos negativos para vítimas, testemunhas e organização. Einarsen e colaboradores (2003) propõem o seguinte modelo teórico para pesquisas e gestão do assédio moral no trabalho (Figura 1).

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ASSÉDIO MORAL NA EMPRESA

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Figura 1. Estrutura teórica para estudo e gestão de assédio moral no trabalho

O assédio moral é um processo com diferentes abordagens que podem estar focalizadas no indivíduo, ou no contexto ou ainda em ambos, indivíduos e contexto. Além dos danos que pode trazer ao indivíduo assediado e aos colegas de trabalho, há um reconhecimento de que o assédio moral e a violência no trabalho são nocivos ao local de trabalho. Este panorama torna necessário a busca por formas de prevenção e gerenciamento destes casos (GLINA; SOBOLL, 2012).

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. CARACTERÍSTICAS QUE DEFINEM O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Verificamos nos dias atuais que as

condições de trabalho estão se tornando mais difíceis: é preciso fazer cada vez mais. No caso do assédio moral, não se trata de melhorar a produtividade, mas se livrar de uma pessoa porque ela “incomoda”. Trata-se de uma relação dominante-dominado. Tal violência não é útil à organização nem à boa

administração da empresa (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

As principais características de situações que definem o assédio moral são: comportamento hostil, aspectos temporais, como um processo com fases de progressiva gravidade com efeitos na saúde e diferenças de poder. Não existe um consenso a respeito da frequência e duração para caracterizar o assédio podendo ser um único ato negativo até uma incidência semanal, mas predomina como critério duração superior a 6 meses (GLINA; SOBOLL, 2012).

As formas do assédio moral podem ser diversas, como por exemplo: piadas acerca de atributos físicos ou a respeito da religião ou orientação sexual da vítima; isolamento ou exclusão da vítima; intromissão em sua vida privada; ameaças de violência; humilhação, inferiorização e ridicularização, especialmente perante colegas ou superiores; instigação dos colegas contra a vítima; divulgação de informações falsas; assédio sexual. O objetivo é destruir a vítima por meio de assedio acentuado e constante, fazendo com que ela se isole do grupo familiar e de amigos (FREIRE, 2008).

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Ao estudar o assédio moral, é relevante buscar as raízes desse tipo de violência no contexto social e organizacional, pois elas podem estar ligadas aos fundamentos de uma sociedade que vê na economia capitalista a resposta a todos os seus problemas e em organizações de trabalho cada vez mais sem compromisso com o ser humano, onde o foco é o aumento constante da produtividade em curto prazo, levando o indivíduo a vivenciar conflitos pautados em duas realidades: o trabalho que os identifica como um ser presente na sociedade e pertencente a uma organização e a empresa que o explora e o ignora (GARCIA; TOLFO, 2011).

1.2. CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O TRABALHADOR

O assédio moral tem sido considerado como um dos mais importantes estressores nas organizações contemporâneas. As vítimas de assédio moral mostram um número maior de queixas psicossomáticas: dores de cabeça, dor de estômago, insônia e tontura. Apresentam maior nível de sintomas de depressão, de ansiedade, de afetividade negativa comparativamente as não vítimas de assédio. Em estudo foi verificado que quanto maior a duração do assédio, maior o risco de depressão (SOARES; OLVEIRA, 2012).

O suicídio pode ser uma das consequências dessa forma de violência. Esse risco estaria associado ao desespero, à raiva e à impulsividade gerado pelo assédio moral (SOARES; OLVEIRA, 2012).

1.3. PERFIL DAS VÍTIMAS DE ASSÉDIO MORAL

Em entrevista com gestores empresariais, Martiningo e Siqueira (2008) observaram que as principais vítimas do assédio moral nas organizações são aquelas que não se adaptam ao grupo e estão em posições mais baixas na escala hierárquica.

O assédio moral vindo de um superior hierárquico tem consequências muito graves sobre a saúde do funcionário, tanto da saúde física como psíquica das vítimas. Nas organizações, deve existir canais seguros e transparentes para a comunicação dos casos, com normas determinadas para esclarecimento de funcionários e gestores quanto a posição da organização quanto ao assédio moral. Essas normas, juntamente com palestras e cartilhas que podem ser elaboradas, ajudarão a explicitar os conceitos, estabelecer responsabilidades e orientar funcionários e gestores.

A área de gestão de pessoas é a mais bem posicionada para identificar e corrigir o comportamento de possíveis “assediadores”, pois é responsável pela ligação entre os funcionários e a direção. Mas conforme Martiningo e Siqueira 2008 observaram, na maioria dos casos a área apenas reproduz de maneira neutra as instruções da direção e hesita em intervir ativamente.

A combinação difícil de diferentes riscos visíveis e invisíveis no ambiente de trabalho que leva os trabalhadores a adoecerem. Os conflitos surgem quando os interesses dos trabalhadores se confundem com os objetivos da empresa (GARCIA; TOLFO, 2011).

1.4. PREVENÇÃO E PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES

Para a prevenção e a administração do assédio moral nas relações de trabalho, as intervenções devem ser direcionadas tanto para os indivíduos, quanto para a organização. Deve existir tolerância zero para todos os tipos de violência, física ou psicológica, provenientes de fora ou de dentro do local de trabalho. É obrigação da empresa proteger os indivíduos assediados, evitando que sejam estigmatizados ou tenham sua reputação marcada. Pode ser considerado um caso de grande fracasso gerencial deixar o funcionário passar pelo processo de assédio

ASSÉDIO MORAL NA EMPRESA

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moral e depois o demitir. Já o agressor deve ser transferido para uma posição onde haja menos oportunidade para assediar ou deve ser demitido. Além da organização, os aspectos ligados ao estilo de liderança devem ser avaliados na prevenção dos assédios como: estilo de liderança ético, gerentes treinados para resolver problema de conflitos e comunicações entre funcionários (GLINA; SOBOLL, 2012).

O ambiente organizacional é marcado por circunstâncias que podem ser confundidas com assédio. Por isso é importante distinguir as práticas de assédio propriamente dito das situações de estresse, conflito, gestão por injúria, agressões pontuais, más condições de trabalho e imposições profissionais. A responsabilidade das organizações frente a situações de assédio moral, em entender que a violência não é algo abstrato e que não deve ser encarada como algo natural, a empresa

torna-se responsável pelos atos culposos que ocorrem em seu interior (SOARES; VILELA, 2013).

Todo funcionário que teve algum afastamento em razão de assédio moral deve ter um retorno de trabalho bem planejado pela empresa. O apoio social é de fundamental importância para causar um efeito favorável ao indivíduo que passa por condições estressantes sobre a saúde mental. Deveria haver mediadores que ofereceriam as pessoas envolvidas no conflito a oportunidade de se compreenderem, analisarem o ocorrido e negociarem uma situação. As organizações muitas vezes negam que possa existir ou exista assédio moral, evidenciando a natureza silenciosa e invisível desse risco ocupacional. Segue na figura 2, as principais recomendações sobre a política antiassédio moral sintetizados a partir de estudos levantados por Glina e Soboll (2012):

Figura 2. Principais recomendações sobre como deve ser a política antiassédio moral sintetizadas a partir dos estudos levantados

Fonte: Glina e Soboll, 2012.

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Vários fatores são considerados como precursores do assédio moral: carga de trabalho, clima organizacional, insegurança no cargo, pressão temporal, alta dependência de cooperação, falta de clareza sobre estruturas de comando, liderança destrutiva, autocrática,

As práticas de Recursos Humanos, incluindo seleção, treinamento, plano de carreira, avaliação de desempenho e sua relação com o assédio moral devem ser igualmente contempladas para um maior sucesso nos casos de violência moral dentro das organizações (GLINA; SOBOLL, 2012).

Zelar pela integridade e pela saúde dos trabalhadores não constitui uma caridade, e sim um dever ético-jurídico (GARCIA; TOLFO, 2011).

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo realizado se apresenta como uma revisão bibliográfica cujo escopo foi voltado ao assédio moral no trabalho. Foram consultadas as seguintes bases de dados: Medline e SciELO. Os termos-chave utilizados foram: assédio moral no trabalho, ambiente de trabalho e violência psicológica. Este artigo apresenta alguns resultados de

desinteressada e laissez faire. Sendo de fundamental importância a disseminação da política de informações sobre o assédio moral no trabalho. Segundo Glina e Soboll (2012), são as principais recomendações:

um estudo exploratório que utilizou como procedimentos de coleta de dados pesquisas documental, bibliográfica e estudo de caso.

Segundo Marconi e Lakatos (2003), mesmo que exploratória, ou seja, de avaliação de uma situação concreta desconhecida em um dado local, alguém ou um grupo, já deve ter havido pesquisas iguais ou semelhantes, ou mesmo complementares de certos aspectos da pesquisa pretendida. Uma procura de tais fontes, documentais ou bibliográficas, toma-se imprescindível para a não “descoberta” de ideias já expressas, a não-inclusão de “lugares- comuns” no trabalho.

A citação das principais conclusões a que outros autores chegaram permite salientar a contribuição da pesquisa realizada, demonstrar contradições ou reafirmar comportamentos e atitudes. Tanto a confirmação, em dada comunidade, de resultados obtidos em outra sociedade quanto a enumeração das discrepâncias são de grande importância (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Figura 3. Principais recomendações sobre como deve ocorrer a disseminação da política antiassédio.

Fonte: Glina e Soboll, 2012.

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3. APRESENTAÇÃO E DISCISSÃO DOS RESULTADOS

De acordo com o exposto no quadro teórico, podemos observar alguns resultados expostos nos artigos analisados. O artigo de Soares e Villela (2012) aborda o assédio moral em bancários, categoria profissional que teve aumento dos casos de afastamentos do trabalho por transtornos mentais após passar por processos de reestruturações.

Neste artigo foi verificado como os funcionários entendiam este problema, tanto aqueles que se sentiam vítimas, como aqueles que reconheceram o assédio moral vivido pelo colega de trabalho. Todos os sujeitos da pesquisa consideram o assédio moral algo comum no ambiente bancário.

Vinte e seis, em um universo de 37 sujeitos, afirmam que consideram o assédio uma forma de coação, pressão, imposição ou ameaça sofrida por um indivíduo com o propósito de levá-lo a realizar uma tarefa com a qual não concorda. Entretanto, nesse universo de 26 sujeitos, 14 consideram que o assédio moral origina-se apenas da dinâmica organizacional. Os outros 12, além de relacionarem o assédio moral à forma de gestão do banco voltada para metas e resultados, apontam também a personalidade autoritária ou arbitrária do gestor, mas enfatizam que nem todos os gestores são autoritários embora ambos convivam no banco.

Analisando o assédio moral em mulheres gerentes, Corrêa e Carrieri (2007) verificaram que os possíveis causadores de assedio são: 1) o chefe tenta demarcar o espaço na organização por meio de atitudes hostis com a gerente, colocando-a em posição inferior de dominação; 2) um subordinado ou um grupo não aceita a gerente como superior por causa da disputa pelo cargo ou por serem pares hierárquicos, marcando um conflito de poder; 3) um indivíduo ou um grupo tenta eliminar ou isolar a gerente, pois ameaça a sua gestão.

Os casos de assédio relatados ocorreram na função gerencial, o que demonstra que grande parte das entrevistadas continua vivenciando o fenômeno, mesmo em cargos de gerência, sendo talvez até mais expostas por estarem em domínio masculino. Segue relato de uma das gerentes entrevistadas:

“Eu acabei cedendo e mesmo porque a questão dos ganhos que você começa a ter indiretos... você começa a ter mais abertura... começa a perceber que a pessoa facilita as coisas para você no trabalho... ele usava as pessoas e hoje eu acho que ele me usou muito, depois de um tempo eu percebi que na verdade ele estava me usando também. Da mesma forma que eu entrei no jogo e usei, lógico, mas ele me usava mais para conseguir as coisas porque ele sabia que eu tinha penetração muito grande junto à diretoria”.

Segundo Hoel e colaboradores (2003), as vítimas de assédio moral tem um pior desempenho no trabalho em relação aos outros funcionários. Recentemente foram encontradas evidências que comprovam esse fato quando comparada a taxa de desempenho de pessoas que sofreram o assédio moral com os demais trabalhadores. A perda da imagem da empresa, devido a repetição de casos de assédio moral, também pode trazer custos para a sociedade. A perda de mercado de algumas organizações pode causar desemprego, afetando o nível de renda e a qualidade de vida de seus cidadãos (MARTININGO; SIQUEIRA, 2008).

Em um artigo citado por Glina e Soboll (2012), foi verificado em uma amostra de pessoas assediadas moralmente na Alemanha, que aqueles assediados também referiram baixo apoio social por parte do supervisor e de colegas de trabalho quando comparados com indivíduos que não passaram por assédio no trabalho.

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4. CONCLUSÃO

O assédio moral no ambiente de trabalho têm consequências em todos os níveis, para o funcionário, para a empresa e para a sociedade. Todos os tipos de organização e de pessoas podem ser afetados. O assédio torna-se ainda mais cruel, pois na maioria das vezes as pessoas que estão em cargos mais baixos na hierarquia e que não podem se defender são as mais visadas.

O combate ao assédio moral nas organizações precisa ser uma preocupação de todos, gestores e funcionários. Mesmo aqueles que não se sentem ameaçados por situações de assédio moral precisam se preocupar com o assunto, pois, como vimos, esse fenômeno contribui para a deterioração do ambiente de trabalho.

Para promover a prevenção ao assédio moral, a área de gestão de pessoas precisa se preocupar com os fatores no ambiente de trabalho, aonde podemos destacar: deficiente clima organizacional; pressões e avaliações de resultados baseadas em volume de produção; sistemas de recompensa baseados em metas individuais; deficiente organização do trabalho; e disfunções na cultura organizacional.

Os gestores de pessoas devem atuar na prevenção e no combate ao assédio moral, de modo a criar novos modelos mentais no ambiente de trabalho, bem como no controle e punição dos responsáveis pelas práticas de assédio. O assédio moral é um doloroso efeito colateral e um alerta, infelizmente ainda silencioso, de que o benefício de poucos nunca poderá levar o bem-estar para todos.

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RESUMO

O artigo a seguir visa ter como objeto de estudo, o comportamento organizacional, através dos seguintes conceitos: clima organizacional e estresse laboral. Tendo em vista o meio contemporâneo, foi observado os paradigmas da sociedade no âmbito trabalhista. As relações de trabalho são e estão cada vez mais diferentes. Deste modo a utilização de instrumentos, informações devem ser fundamentais. No contexto organizacional foi analisado que há uma série de relações interpessoais, e isso nos possibilita uma mensuração do quanto à instituição representa para o todo, quanto para o individual. A amostra analisada teve as suas respostas influenciadas pelo meio onde trabalham, ou seja, a variação do estresse decorre por varias ocasiões, onde subjetividade de cada um prevalece. Foi estabelecido um padrão em relação aos indivíduos. O estudo realizado foi feito com uma amostra de pessoas que assumem cargos relativamente complexos. Onde a tomada de decisão e pressão são mais altos. A expectativa do experimento é o entendimento das variáveis por eles concedidas para a realização do artigo e para beneficiação das pessoas no âmbito trabalhista. O estudo proporcionou a identificação de uma área dentro da amostra onde o sujeito obteve um alto índice de estresse, por uma série de razões, a observação dessa própria variável, faz com que o individuo saiba como proceder e como

obter subterfúgios para sanar a problemática em questão, tanto internamente como externamente. O estudo também é útil para que esse indivíduo, por se tratar de um cargo de gerência, saiba como se portar perante as subjetividades de cada pessoa, fazendo assim uma série de tomada de decisões para que o clima organizacional se estabeleça de forma positiva e eficaz, sem a presença do estresse laboral excessivo, contribuindo para um comportamento organizacional bom junto com o clima totalmente enxuto e benéfico para a organização.

Palavras-Chaves: Clima Organizacional; Estresse Laboral; Comportamento Organizacional.

ABSTRACT

The following article aims to have as object of study , organizational behavior through the following concepts: organizational climate and job stress. Given the contemporary environment, the paradigms of society was observed in the workplace. Working relationships are and are increasingly different. In this way the use of instruments, information must be fundamental. In the organizational context was analyzed that there are a number of interpersonal relationships, and this allows us a measure of how the institution is for the whole and for the individual. The sample had their answers influenced by his working

CLIMA ORGANIZACIONAL E ESTRESSE LABORAL: GRANDES DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Anderson Agenor Felca Felix¹Guilherme Ehros Leal¹Laiane Modesto De Brito¹

¹ Acadêmicos do Curso de Administração do Centro Universitário UNISEB. Ribeirão Preto- SP. email: [email protected]; [email protected]; [email protected]

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environment, the variation of stress due to several occasions where subjectivity of each prevails. A pattern was established for individuals. The study was done with a sample of people who take relatively complex positions. Where decision-making and pressure are higher. The expectation of the experiment is the understanding of the variables provided by them for carrying out the article and improvement of people in the workplace. The study provided the identification of an area within which the subject sample were rated high stress , for a variety of reasons , the observation of this variable itself , causes the individual to know how to proceed and how to subterfuge to remedy the problem in issue , both internally and externally. The study is also useful for that individual, it is a management position, learn how to behave towards the subjectivity of each person, thus making a series of decisions that establish the organizational climate is positively and effectively without the presence of excessive job stress, contributing to a good organizational behavior along with totally lean and beneficial to the organization climate.

Key Words: Organizational Climate; Stress Labour; Organizational Behavior.

INTRODUCÃO

Com o propósito de melhoria no ambiente de trabalho, as instituições buscam indivíduos capacitados e bem preparados, que possam corresponder de imediato e apto às alterações que a organização possa ter. O intuito de uma pesquisa de clima organizacional é buscar como o funcionário se sente em simetria a instituição, os mesmos quando motivados e reconhecidos, contribuem para uma melhor eficácia na realização de suas funções, pois o clima positivo influencia no ambiente, levando a uma maior produtividade, gerando um bom convívio entre ambas as partes. Gestores e

empregados devem estar na mesma sinergia, buscando alcançar os mesmos objetivos (SILVA, DORNELAS, SANTOS, 2008).

Esse estudo pode auxiliar os dirigentes na relação indivíduo-organização, medindo o desenvolvimento, a socialização e o rendimento do funcionário, por meio desta, identificando os pontos onde deverão ser modificados. Organizações muito fechadas, não estão propensas à mudança, pois levam em considerações experiências do passado como base para auxiliar acontecimentos no presente e futuro.

A junção desses fatores leva o indivíduo-organização a uma melhor integração, assim desempenhando seus papeis com responsabilidade e satisfação.

O consumidor, a organização e os empregados serão favorecidos com um clima organizacional positivo (SILVA, DORNELAS, SANTOS, 2008).

O clima também pode apontar os sinais que levarão ao estresse, este podendo interferir na qualidade de vida do individuo, gerando conflitos internos e externos à organização. Indivíduos que sofrem pressão no ambiente de trabalho ou problemas pessoais possuem maior probabilidade de desenvolver doenças, assim deixando interferir no desenvolvimento de suas obrigações (CHIAVENATO, 2004).

Outros fatores podem contribuir no desenvolvimento, falta de tempo nas execuções das tarefas, cumprimento de prazos, pouca autonomia, falta de reconhecimento, entre outros. A concentração desses fatores agrava e o individuo se sente impotente, assim buscando uma forma de descarregar o que se acumulou.

Os indivíduos podem buscar outras formas para diminuir os sintomas do estresse, como distribuição de tempo, ser organizado, priorizar tarefas mais importantes, exercícios físicos e apoio familiar (ROBBINS, 2006).

Metas específicas podem contribuir para que o funcionário se empenhe mais nas suas tarefas diárias, se tornando mais responsável, podendo assim aumentar

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sua autonomia na organização, recebendo um retorno do gestor e consequentemente contribuindo para que o funcionário se sinta reconhecido, logo podendo participar dos processos decisórios (ROBBINS, 2006).

A pesquisa realizada busca apresentar os fatores que influenciam no clima organizacional e estresse no trabalho. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo na forma de entrevistas, com gestores das cinco áreas da administração. A seguir será apresentada a metodologia utilizada, e os resultados da pesquisa de campo realizada em Ribeirão Preto.

1. QUADRO TEÓRICO

1.1.CLIMA ORGANIZACIONAL

Segundo Forehand e Gilmer (1988 apud GUTIERREZ, 1988, p.6)

[...] clima é o conjunto de características que descrevem uma organização, distinguindo-a das demais, mantendo-se relativamente permanente e influenciando o comportamento de seus participantes.

A análise de clima organizacional tem a função de entender como as pessoas se comportam em seu âmbito trabalhista, pois a percepção dos gestores podem ser contrarias, a dos funcionários. Decorrente da construção individual compreendida das suas atitudes e visão restrita (DUTRA, VELOSO, FISCHER, NAKATA, 2007).

O nível do clima organizacional existente em uma estrutura corporativa, é decorrente da própria energia proveniente da instituição, via intercâmbios ambientais. Os mesmos irão moldar a organização para estabelecer as interações sociais. Essas relações abrem um conjunto de possibilidades que podem favorecer associações positivas como cooperação, colaboração e participação, como também proporcionar associações

negativas, como conflitos não administrados, rivalidade e disputas pelo poder (KANAANE, 2008).

Quando a um êxito no estabelecimento do clima organizacional que satisfaça a necessidade dos indivíduos, e o direcionamento dos mesmos através da motivação, para a contribuição perante os objetivos da empresa (KANAANE, 2008).

Os fatores que podem contribuir para um clima organizacional são:

Conformidade: Grau de restrições impostas pela organização, fazendo com que o individuo tenha a sensação de usurpação de sua liberdade. O nível de satisfação dos indivíduos, conforme a sua noção de restrição.

Responsabilidade: Conforme tarefas designadas e executadas com sucesso, o grau de responsabilidade do individuo aumenta, capacitando o mesmo para resoluções de problemas e tomadas de decisões.

Padrões: Preocupações da organização em conceder um ambiente de alto rendimento, fazendo com que as pessoas sintam que a cobrança é estimulada, e transmitam para o grupo onde estão inseridas.

Recompensa: Fase onde o individuo sente que seu trabalho esta sendo executado e visto pelos membros da organização, assim, sendo remunerado.

Clareza Organizacional: Noções dos indivíduos de um sistema sistêmico e ordenado a fim de evitar um conceito contrariam que seria de desordem, desorientado e caótico.

Calor Humano e Apoio: No contexto organizacional, o convívio positivo dos indivíduos, leva a um bem estar no ambiente de trabalho.

Liderança: O anseio dos indivíduos que constituem a organização em reconhecer a figura de liderança e de direção dos membros mais qualificados e organizados para o desempenho de papeis mais complexos.

Conforme evidenciado acima, a constituição do clima organizacional depende

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desses fatores para que não influencie em associações negativas gerando conflitos, divergências e alterações no ambiente organizacional (GUTIERREZ, 1988).

A Cultura Organizacional também está presente em todas as organizações, pois cada uma delas possui princípios, conhecimentos próprios, que levam a busca de um ideal.

Segundo Chiavenato (2008 apud SILVA, DORNELAS, SANTOS, 2008, p. 2).

[...] a cultura organizacional ou cultura corporativa, é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas, compartilhado por todos os membros da organização.

A cultura se espelha na maneira de conduzir os trabalhos e na forma em que os consumidores e colaboradores, atestam à fidelidade para com a própria organização, assim, retratando a maneira de pensar existente entre dirigentes e equipe (SILVA, DORNELAS, SANTOS, 2008).

Pode ser difundida de várias formas, e as mais relevantes são:

Histórias – Eventos que ligam acontecimentos no presente ao passado exemplificando autenticidade dos casos.

Rituais – Trata-se de ações frequentes que mostram e fortalecem os pontos fortes da organização.

Símbolos Materiais – Objetos ou métodos que transmitam alguma mensagem para a organização.

Linguagem – Cada organização possui dentro de si, formas de linguagem particulares, onde só que é membro consegue se comunicar. (ROBBINS, 2006)

Fatores intrínsecos e extrínsecos podem contribuir para que, as culturas das organizações se modifiquem, algumas empresas conseguem transformar sua cultura sem interferir na originalidade do mesmo, outras estão fechadas para mudança, amarradas no seu estilo conservador e ultrapassado. (SILVA, DORNELAS, SANTOS,

2008). Fatores motivacionais contribuem para um clima positivo dentro da organização, pois quando o funcionário está motivado à tendência é que ele contribua ainda mais nas suas funções diárias e consequentemente sendo recompensado e reconhecido pelo seu gestor. (ROBBINS, 2006).

Para que o comportamento ocorra de forma centrada e correta devemos analisar as atitudes e comportamentos dos envolvidos no desenvolvimento da organização. Quando falamos em comportamento nos relacionamos ao conceito de reação, por sua vez o conceito de atitude seria na sua definição a tendência à reação.

O questionamento central seria a observação do individuo no âmbito do trabalho, analisando o modo como trabalha e os fatores intrínsecos, fazendo a analogia correta.

Com a identidade profissional estabelecida observaremos uma melhor condição para que esse colaborador tenha a sua integração no meio de trabalho. Se esse papel for bem definido o individuo enfrentará os obstáculos com mais facilidade, caso contrario, terá relação a ambiguidade que o trabalhador enfrenta durante um período temporal divergente (KANAANE, 2008).

O clima organizacional descrito acima trará uma série de complicações, desde retração do indivíduo, estresse em excesso e conflitos dentro do grupo. Na medida em que o sujeito vai passando por um processo de tormenta, o estresse vai aumentando, assim excluindo o individuo de um equilíbrio natural (KANAANE, 2008).

1.2. ESTRESSE NO TRABALHO

O estudo do estresse iniciou-se na década de 20, mas seu desenvolvimento ocorreu em 1974 com o estudo de Hans sobre a síndrome, seu âmbito tornou-se tão grande que hoje o assunto parece comum entre a sociedade.. Segundo Selye (1956 apud BENKE; CARVALHO, 2008, p. 2):

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[...] a palavra estresse vem do inglês stress. Este termo foi usado inicialmente na física para traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço ou tensão e transpôs este termo para a medicina e biologia, significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno.

O estresse tem ligação com o cérebro, está interligado principalmente com a adrenalina (hormônio que ajuda a controlar os estressores), assim o corpo recebe informações capazes de identificar o inicio de problemas que afetará sua saúde. (LIPP, 2010)

Fases do Estresse:Fase de Alerta: fase boa, na qual o

corpo está com a adrenalina em alta, capaz de produzir e concentrar mais.

Fase de Resistência: queda da produtividade, o sujeito fica propício a vírus e bactérias.

Fase de Quase-exaustão: momento no qual o sujeito já não consegue ter uma boa resistência física e psíquica, muita ansiedade, e oscilação de humor.

Fase de Exaustão: pior momento, fase em que o sujeito tem um desequilíbrio interior, inicia de doenças graves e grande perda de concentração (LIPP, 2010).

Essas fases estão em contato com a qualidade de vida do sujeito, essa interferência no sistema psico tem grandes possibilidades de causar conflitos tanto pessoais quanto profissionais (LIPP, 2010).

Com o avanço da globalização, o mal do século (estresse) vem tornando um grande problema nas organizações.

Vários fatores no cotidiano do colaborador influenciam no conjunto dessas variações psicossociais, as mais conhecidas são as pressões rotineiras conjunta com problemas pessoais (CHIAVENATO, 2004).

O estresse ocasiona doenças como distúrbios gástricos, cardiovasculares e encefálicas; a partir disso o comprometimento com a empresa começa a diminuir, surgindo o aumento do absenteísmo, queda na produção e reclamações (CHIAVENATO,2004).

Os motivos pelos quais os estresses se desenvolvem (estressores) pode-se dividir em seis áreas (CHIAVENATO, 2004):

Cargo: Acúmulo de funções; rigidezPapel: Conflitos e falta de apoio Estrutura: Falta de comunicação Cultura: Pouca participação na

organizaçãoFatores Externos: Relacionado à vida

particular do colaboradorRelacionamento: Sinergia entre os

grupos

A junção desses fatores faz parte de um século marcado pelo acumulo de tarefas e falta de tempo para realizações de todas as obrigações. Muitas pessoas acabam usando como “válvula de escape” a bebida e as drogas, entrando em um ciclo vicioso (CHIAVENATO, 2004).

Dentro do conteúdo estresse está uma nomenclatura conhecida como personalidade do tipo A; esse tipo de individuo é que extremamente focado no trabalho; comparando sua chance de possuir estresse com um individuo comum é maior (CHIAVENATO, 2004).

O estresse, considerado por muitos como o mal do século, se inicia na adolescência do individuo e o persegue aproximadamente até aos 60 anos. São tensões e decisões dessas fases que colaboram para o desenvolvimento desse mal.

Essa ambiguidade de controle fica inteligível quando o próprio indivíduo nega está sofrendo de estresse, ele pode estar extremamente irritado e vai dizer: “Está tudo bem, obrigado”, isso já pode ser considerado um sinal de alerta (COHEN; FINK, 2003).

Na organização cabe aos gestores ter

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empatia com seus colaboradores, não apenas se preocupar com a produtividade, mas sim saber “gerir” o que está passando com o cotidiano de seu funcionário, entende-se que um gestor não tem a finalidade de conhecer todos os passos do individuo, mas ele pode ajudar a diminuir qualquer empecilho que esteja ocorrendo (CHIAVENATO, 2004).

Os estresses laborais dividem-se em quatro aspectos:

Incerteza ou ambiguidade – interferência nas rotinas do colaborador devido à falta de informações concretas sobre determinada tarefa, o que acarreta um desconforto do indivíduo em errar.

Tarefas inacabadas e intromissões – pendências causadas pela falta de tempo ou muitas tarefas, ocasionando desespero e ansiedade no indivíduo.

Expectativas relativas ao papel – frustrações quando as tarefas não conseguem ser desenvolvidas em um determinado período, entrando em uma situação de incertezas, causando o aumento da probabilidade de adquirir o burnout. De acordo com o autor:

É o nome dado a uma síndrome caracterizada por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade em relação a quase tudo e todos. É considerada uma das consequências de forte estresse profissional (COHEN; FINK, 2003, p.194).

Crescimento e desenvolvimento – Interesse do indivíduo em buscar novos conhecimentos profissionais quando se sente que sua rotina está monótona, ou que já não está agregando mais conteúdos, porém esse sentimento pode resultar em medo de tomar decisões erradas (COHEN; FINK, 2003).

Uma pesquisa da Center for Advanced Human Resources Studies da Universidade de Cornell, feita com 3.581 gerentes e executivos demonstraram que também estão sujeitos a

um grande nível de estresse. Passam grande parte do tempo no trabalho, e pouquíssimo tempo com obrigações familiares e lazer (COHEN; FINK, 2003).

Em suma, existem maneiras de lidar ou controlar essa doença. O individuo primeiramente precisa reconhecer que está precisando de ajuda, não basta fugir do assunto; busque encontrar seus limites, o reconhecimento profissional é importante, mas sua saúde em primeiro lugar; pratique esportes; equilibre sua alimentação, ela pode atuar como válvula de escape no controle de sua concentração; crie um cronograma diário, priorize suas tarefas (COHEN; FINK, 2003).

Atualmente, uma técnica conhecida para redução de estresse é a meditação transcendental (MT), um momento em que o individuo se concentra por cerca de 20 minutos, em dois períodos do dia, buscando uma maior concentração que pode minimizar algumas doenças (BENKE; CARVALHO, 2008).

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de campo, descritivo, de corte transversal. A coleta de dados foi feita com base nos gestores das diversas áreas que a administração se encaixa (Recursos Humanos; Financeiro; Marketing; Produção e um Diretor Geral) em algumas organizações da cidade de Ribeirão Preto. Participaram deste estudo 5 sujeitos, ou seja, quatro gestores e um diretor geral de ambos os sexos e maiores de 18 anos de idade, que ocupavam o mesmo cargo dentro da empresa (gerência), com funções diferentes; exceto o diretor. Na coleta de dados, os seguintes instrumentos foram utilizados:

1. Entrevista Semiestruturada: elaborada pelos pesquisadores, teve por objetivo coletar dados Sociodemográficos e investigar nível de satisfação sobre algumas dimensões do contexto de trabalho, como autonomia, demandas e motivação.

2. Escala de Estresse no Trabalho

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(EET): escala do tipo Likert composta por 23 itens, cujos resultados indicam o nível de estresse percebido do sujeito em seu contexto de trabalho.

3. Escala de Clima Organizacional (ECO): escala do tipo Likert composta por 63 itens, cujos resultados indicam a percepção do clima organizacional pelo sujeito em 5 domínios (apoio da chefia e da organização; recompensa; conforto físico; controle/pressão; coesão entre colegas).

Os dados do presente estudo foram analisados de forma quantitativa, com uso de estatística descritiva. Os dados dos instrumentos padronizados (EET e ECO) foram avaliados de acordo com os critérios apontados por seus autores.

Os pacientes participaram da pesquisa mediante interesse pessoal e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, elaborado seguindo as orientações da Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (CONEP/96) para pesquisa com seres humanos.

3. RESULTADOS

A avaliação abaixo refere-se a uma amostra de gestores de diversas áreas da Administração que participaram de uma entrevista semiestruturada. Avaliou-se sexo, escolaridade, estado civil, renda e nível de satisfação no trabalho, conforme segue a tabela 1:

SEXO ESCOLARIDADE ESTADO CIVIL RENDA

NIVEL SATISFAÇÃO

TRABALHO

S1 F ENSINO SUPERIOR COM PARCEIRO (A)

R$

6.000,00 SATISFEITO (A)

S2 F ENSINO SUPERIOR COM PARCEIRO (A)

R$

2.000,00 INSATISFEITO (A)

S3 M ENSINO MÉDIO COM PARCEIRO (A)

R$

3.000,00 SATISFEITO (A)

S4 M ENSINO SUPERIOR COM PARCEIRO (A)

R$

2.400,00 SATISFEITO (A)

S5 F ENSINO SUPERIOR COM PARCEIRO (A)

R$

8.000,00 SATISFEITO (A)

MÉDIA F ENSINO SUPERIOR COM PARCEIRO (A) R$ 4.280,00 SATISFEITO (A)

Tabela 1 – Dados sóciodemográficos de uma amostra de gestores.

Na tabela exposta, observa-se uma grande parte de gestoras femininas (60%), a grande maioria com nível superior (80%) e com alto nível de satisfação entre todos entrevistados (80%).

Além disso, foi feito uma entrevista com questões que evidenciam o nível de estresse no trabalho dos sujeitos selecionados, considerando um nível de estresse acima do normal em 2,5 conforme o gráfico 1:

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Gráfico 1 – Nível de estresse

Médias obtidas para cada domínio da Escala de Clima Organizacional – S1

Gráfico 2 - S1 – Gerente Recursos Humanos

Conforme o gráfico exposto fica inteligível o nível de estresse dos cinco sujeitos; o sujeito 1 encontra-se em um nível menor de estresse em detrimento ao sujeito 2 que ultrapasse a margem média; 80% dos gestores estão com uma taxa abaixo da média considerada de risco.

Uma outra escala que foi conjunta

ao trabalho chama-se ECO (escala de clima organizacional), mostrando alguns domínios presente no cotidiano do gestor, relacionados com questões de afetividade, recompensas, segurança no trabalho , pressão exercidas pelos supervisores e união entre grupos. Segue abaixo a média de cada sujeito entrevistado.

No gráfico 2, o sujeito mostra uma

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Médias obtidas para cada domínio da Escala de Clima Organizacional – S2

Médias obtidas para cada domínio da Escala de Clima Organizacional – S3

Gráfico 3 - S2 – Gerente Financeiro

Gráfico 4 - S3 – Gerente Produção

maior percepção no domínio “Conforto Físico” (Média = 4), ou seja, o trabalhador sente-se seguro e confortável no ambiente de

No gráfico acima o sujeito demonstra uma percepção maior no domínio “Coesão entre Colegas”; o domínio “Controle/Pressão”

trabalho; já o domínio com baixa avaliação foi o “Recompensa”

aparece com menor média, mas ele é o único inverso, ou seja, quanto menor seu valor, melhor para o colaborador.

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Médias obtidas para cada domínio da Escala de Clima Organizacional – S4

Médias obtidas para cada domínio da Escala de Clima Organizacional – S5

Gráfico 5 - S4 – Gerente Comercial

Gráfico 6 - S5 – Diretor Geral

No gráfico 4, o gestor da produção mesmo com domínios equilibrados, deixa evidente uma maior percepção na média do domínio “Apoio da Chefia”, na qual a

No gráfico 5, podemos perceber que o sujeito avaliado percebe o domínio “Coesão entre Colegas” como o mais positivo de seu

organização oferece um suporte afetivo ao colaborador; a média menor encontra-se no domínio “Recompensa”.

contexto de trabalho, visto que o domínio com pior avaliação foi o “Apoio a Chefia”.

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Tabela 2. Médias gerais para cada domínio da Escala de Clima Organizacional

O diretor geral entrevistado, conforme Gráfico 6, tem uma percepção maior quando se refere ao domínio “Recompensa”; e o menor média no domínio “Apoio a Chefia”.

Na tabela 2 a temos a média amostral dos cinco domínios avaliados entre os gestores, além da média obtida por cada sujeito na escala geral. Nenhum sujeito encontra-se com todos os domínios de clima organizacionais satisfeitos (100%); Já na média da amostra por domínio é possível visualizar uma satisfação no domínio “Coesão entre Colegas”, que se encontra acima da média (4,06) e o domínio com pior avaliação foi o Controle/Pressão (2,83), considerando sua proporção inversa.

4. CONCLUSÕES

Nesse estudo pode-se dizer que o

Após a coleta de todos os segue abaixo uma tabela mostrando uma média geral da amostra.

clima organizacional caminha com o estresse, ou melhor, o “clima” na organização é o que pode ou não acarretar o chamado “mal no século” (estresse) no indivíduo.

É comum os sujeitos buscarem uma maior satisfação no trabalho, uma motivação para acordar todos os dias e desempenhar suas tarefas. Segundo Maslow o indivíduo precisar satisfazer varias necessidades até encontrar uma auto-realização. Essa busca vai além do âmbito pessoal, o indivíduo precisa estar confortável em seu ambiente de trabalho; sentir-se seguro em relação à organização; ser reconhecido; ter autonomia para opinar e criar, sendo que todos estes elementos implicam num clima organizacional adequado

MÉDIAS DA

AMOSTRA POR

DOMÍNIO

(soma dos valores por

domínio dividido pelo

número de sujeitos)

S1 S2 S3 S4 S5

Apoio da Chefia 3,76 3,24 3,86 3,43 3,19 3,50

Recompensa 2,46 3,30 3,69 3,84 4,46 3,55

Conforto Físico 4,69 3,46 3,85 3,92 3,92 3,97

Controle/Pressão* 3.00 2,11 3,67 2,55 3,00 2,83

Coesão entre Colegas 4,57 4,00 3,71 4,14 3,86 4,06

MÉDIA DOS

SUJEITOS PARA A

ESCALA GERAL

(soma das respostas

obtidas dividido pelo

número de itens da

escala)

3,87 3,22 3,76 3,58 3,68

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para se trabalhar, de modo que a falta de um desses frustra o colaborador. Além disto, por vezes, a organização apresenta uma cultura que impossibilita de opinar ou dar sugestões de melhorias, talvez por um tradicionalismo do gestor. Assim, é comum essas frustrações causarem problemas no colaborador, além da falta de requisitos básicos para se trabalhar.

A pesquisa realizada indica que ninguém se encontra 100% satisfeito no trabalho, pois sempre há um domínio que causa um desconforto no colaborador. Algo que chamou a atenção, neste aspecto, é a relação que o individuo tem com um grupo na empresa, envolvendo-se de modo sempre afetivo, buscando um “contato” com o próximo, mesmo vivendo em um contexto marcado pela falta das interações “face a face”.

Um caso especial feito no levantamento foi o comparativo entre todos os gestores buscando evidências que

comprovem o maior nível de estresse no sujeito 2. Entende-se que a área financeira é composta pelos recebimentos, pagamentos, cobranças, aplicações entre outras funções que demandam além de responsabilidade muita concentração, pois é nesse setor que grandes decisões são tomadas, podendo ser considerado o “coração” da empresa.

O nível de estresse do gestor financeiro pode estar ligado não só ao acúmulo de responsabilidades ou tarefas, mas também com um clima na organização que faz com que seu papel não seja desempenhado da melhor maneira possível, de modo que essa insatisfação pode acarretar até problemas na vida pessoal do indivíduo.

Em suma, os dados evidenciaram que a presença do estresse é bastante frequente e pode ser considerada uma importante causa de desmotivação nas organizações.

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