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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ROMÁRIO GERALDO Programa de Apoio à Extensão Universitária PROEXT na UFJF: Um Estudo sobre o Planejado e o Realizado Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

ROMÁRIO GERALDO

Programa de Apoio à Extensão Universitária – PROEXT na UFJF:

Um Estudo sobre o Planejado e o Realizado

Rio de Janeiro

2011

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ROMÁRIO GERALDO

Programa de Apoio à Extensão Universitária – PROEXT na UFJF:

Um Estudo sobre o Planejado e o Realizado

Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá

como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre

em Educação.

ORIENTADORA: Profa Dra Laélia Carmelita Portela Moreira

CO-ORIENTADORA: Profa Dra Sônia Regina Mendes dos Santos.

Rio de Janeiro

2011

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G354 Geraldo, Romário Programa de apoio à extensão universitária –

PROEXT na UFJF : um estudo sobre o planejado e o realizado / Romário Geraldo. – Rio de Janeiro, 2011.

154 f. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação)– Universidade Estácio de Sá, 2011.

1. Extensão universitária, Brasil. 2. Diretrizes

curriculares. I. Título

CDD 378.15540981

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Aos meus pais Antônio Geraldo (in memoriam) e

Maria José Contin Geraldo.

Aos meus irmãos Olívio, Atílio, José Geraldo, Iris,

Gilberto, Maria Ângela e Ricardo.

À Adriana Mota Barbosa, minha namorada, companheira

e futura esposa.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, inspiração maior nos desafios.

Às professoras Sônia Regina Mendes dos Santos e Laélia Carmelita Portela Moreira pela

amizade, talento e competência em orientar.

Aos professores da UNESA Alberto Tornaghi, Donaldo Bello, Elisangela Bernardo, Estrella

Bohadana, Marco Silva, Mônica Rabello e Tarso Mazzotti pelos ensinamentos.

Aos professores Célio Espíndola, Wilson Almeida e Paulo Rogério Araújo Guimarães pela

iniciativa, apoio e confiança.

Aos colegas mestrandos Alberto Carvalho, Derli Santos, Eduardo Seabra, Elpidio Rezende,

Emília Paro, Haroldo Ritti, Iolando Leão, Luciano Carvalho, Máximo Feital, Paulo Rufino,

Solange Santos, Sônia Paranhos e Teresa Videira pela motivação, determinação e

companheirismo.

Ao professor Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, “meu” magnífico Reitor da

Universidade Federal de Juiz de Fora, notável incentivador do aprimoramento do corpo

docente.

À equipe da PROEXC/UFJF: Cláudia, Cecília, Marli, Danieli, Mirelly, Guilherme e Diogo

pelos anos de convivência e pela contribuição, direta ou indireta, para a realização deste

trabalho.

Aos coordenadores de Projetos e Programas que participaram desta pesquisa pela

disponibilidade de colaborar.

Aos meus amigos, especialmente os da “turma de quinta-feira” pelo envolvimento e por

entenderem minhas ausências.

Page 7: Universidade Estácio de Sá · CTM Comissão Técnica Multidisciplinar CTU Colégio Técnico Universitário DAU Departamento de Assuntos Universitário DIEG Divisão de

À professora Adriana Mota Barbosa pela disciplina, cumplicidade, paciência e dedicação e ao

Lucas, Paula e Thaís, por terem “compartilhado” a mamãe comigo.

À professora Vanessa Lage responsável pela cuidadosa revisão do texto em português.

À Thaís Barbosa Rodrigues revisora do abstract.

Ao Lucas Barbosa Rodrigues pelas dicas de informática.

À CAPES pelo financiamento e por acreditar na importância da formação dos docentes

brasileiros.

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A diversidade dos meios e o universo em que se movem suas

ações fazem da extensão universitária algo único, de grande

complexidade.

É a grandeza do espaço que ocupa que dela faz, no meio

acadêmico, fonte de atração, de discussão, de polêmica, do

despertar e sentimentos contraditórios, como o do

embevecimento quando trabalha a beleza e a harmonia, o da

revolta quando abraça a miséria e a exclusão social.

(Souza, L. F. C. Apresentação do livro. In: BARBISAN, A. O.

et al. Avaliação Institucional da Extensão. Porto Alegre: Os

Autores, 2004).

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RESUMO

O objetivo principal do estudo é compreender as diretrizes específicas de natureza acadêmica

contidas nos Editais do Programa de Apoio à Extensão Universitária (PROEXT) foram

adotadas pelos seis programas/projetos da UFJF contemplados nos editais de 2007, 2008 e

2009. Os coordenadores dos referidos projetos/programas responderam a uma entrevista semi-

estruturada que pretende levantar: como cumprem as diretrizes de natureza acadêmica

estabelecidas, a relação entre planejado e o realizado no que se refere ao PROEXT, os

aspectos relacionados ao estabelecimento de parcerias, as concepções e pressupostos

extensionistas adotados, a estrutura, a formulação de pesquisas, as alterações curriculares, a

formação dos alunos e aos resultados alcançados. Adotou-se a análise de conteúdo como

metodologia de sustentação do trabalho, ao lado da pesquisa bibliográfica sobre os principais

pensadores da extensão universitária no Brasil. Apresenta o histórico da extensão

universitária, sua consolidação através das leis, as correntes que a influenciaram e sua luta em

prol da conceituação, institucionalização e financiamento. Desvenda a criação das primeiras

políticas públicas desenvolvidas pela extensão universitária no Brasil e ressalta o esforço pela

organização e fortalecimento da extensão universitária através do FORPROEX,

principalmente em busca de fontes de apoio e fomento, que culminou, inclusive, com a

criação do PROEXT. A empiria constata o atendimento às diretrizes de natureza acadêmica,

em todos os projetos/programas, através de importantes desdobramentos da indissociabilidade

e interdisciplinaridade, com efeitos significativos na formação do estudante e geração de

produtos e/ou processos. O olhar dos coordenadores registra as dificuldades na gestão dos

recursos financeiros quanto à execução do planejado, o cronograma exíguo, a pouca

valorização do professor extensionista, a falta de transparência nos processos avaliativos do

MEC. Como pontos fortes, os coordenadores destacam a oportunidade de aplicar o preceito

constitucional da indissociabilidade, o estímulo à participação discente e a motivação pelo

investimento do PROEXT. Entre o planejado e o realizado pelo PROEXT, a conclusão

descreve três dimensões que envolvem o MEC, o FORPROEX, os editais e os coordenadores.

Ao final, a dissertação aponta para: a necessidade de um acompanhamento e avaliação mais

sistemáticos, por parte do MEC, ao longo da vigência do PROEXT; a distorção conceitual de

extensão como prática de ensino e/ou estágio; as atividades extensionistas ocupando lacunas

do poder público, na metamorfose da perpetuação do uso, por parte do governo, da extensão

de modo assistencialista. Apresenta uma proposta de ação para que a extensão se consolide na

universidade no mesmo patamar do ensino e da pesquisa. Para tal, indica que o PROEXT não

pode ocupar o posto de protagonista dos anseios da extensão universitária, que precisa unir

esforços na construção de indicadores auditáveis e mensuráveis das suas atividades, já que é

premente a necessidade de um marco regulatório que assegure seu fomento, com definição de

“agência”, pagamento de bolsas docentes e discentes, flexibilidade curricular e de gestão. A

busca desenfreada por recursos cederá espaço ao trabalho reflexivo da prática extensionista

que a comunidade acadêmica deseja.

Palavras-chave: Universidade. Extensão universitária. PROEXT.

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ABSTRACT

The main scope of this study is to analyze how the specific academic guidelines in the

Editions of the University Extension Support Program (PROEXT) were adopted by the six

UFJF‟s programmes/projects on its 2007, 2008 & 2009 editions. The coordinators of

aforementioned projects/programmes have replied a semi-structured interview meant to

check; how they accomplish the established academic guidelines; the relation between

planned and achieved work referring to PROEXT, the aspects related to establishment of

partnerships, conceptions and extensionists conjectures adopted, the structure, the research

request, such as resume alterations, the education of students and the achieved results. It was

adopted a contempt analysis as sustenance work methodology, besides bibliographic research

over the most eminent authors of University Extension in Brazil. It presents the university

extension historical background, its consolidation across the laws, the means that sway its

action in favour of its conceptualization, institutionalization and financing. By revealing the

creation of the first public policies developed with university extension in Brazil, we

underline the effort about organizing and strengthening the university extension through

FORPROEX, mainly with the search for support and furtherance sources that climaxed with

the creation of PROEXT. The experience verifies the attending of academic nature guidelines

in both projects/programs as far as concerned, through important inseparability and

interdisciplinary unfolding, with significative effects over the students‟ education and

generation of products and/or process. The coordinators observation testifies managing

problems regarding financial resources related to the accomplishment of what was planned, a

scanty schedule, little valorization of the extensionist professor, the lack of transparency in the

evaluation process of MEC. As a stronghold, the coordinators emphasize the opportunity to

apply the constitutional precept of inseparability, the incentive to the participation of the

students and the motivation about investing on PROEXT. Between the planned and the

accomplished by PROEXT, the conclusion describes three dimensions that involve MEC,

FORPROEX, the Editions and the coordinators. At the end, the dissertation indicates the

necessity of a follow-through and a more systematic evaluation by MEC, throughout the

PROEXT validity; the extension conceptual distortion as a teaching practice and/or stage; the

extensionist activities taking place in the gaps of the Public Administration, in the

metamorphoses of its continuing use, by the Government, as a social welfare. It presents an

action proposal for the extension to be consolidated in the university on the same teaching and

research platform. For such, this indicates PROEXT cannot take the protagonist role of the

aspiration of university extension, that requires to join efforts over the construction of

auditable and measureable indicators of its activities, since it's urgent the need of a regulatory

mark to ensure its instigation, like the definition of “agency”, scholarship and teacher

payments, curricular and managing flexibility. The unbridled search for possession will be

replaced by the use of reflexive work of extensionist practice the academic community

desires.

Key words: University. Extension University. PROEXT.

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 – Dados relativos aos Editais do PROEXT de 2003 a 2009.....................................62

Quadro 2 – Resultados da UFJF nos Editais do PROEXT de 2003 a 2009.............................67

Tabela 1 – Relação dos Projetos e Programas da UFJF contemplados com recursos do

PROEXT no período de 2007-2009.....................................................................69

Quadro 3 – Registro dos projetos/programas na PROEXC/UFJF............................................76

Tabela 2 – Frequencia das Categorias pesquisadas subtraídas das entrevistas com os

coordenadores de projetos/programas contemplados nos Editais do PROEXT

2007 a 2009..........................................................................................................79

Tabela 3 - Frequencia das Sub-categorias pesquisadas subtraídas das entrevistas com os

coordenadores de projetos/programas contemplados nos Editais do PROEXT

2007 a 2009..........................................................................................................81

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACC Atividade de Crédito Complementar

ALFASOL Alfabetização Solidária

ANDIFES Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino

Superior

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

CES Câmara de Educação Superior

CINCRUTAC Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e

Ação Comunitária

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CODAE Coordenação de Atividades de Extensão

COESF Coordenadoria de Execução e Suporte Financeiro

CNE Conselho Nacional de Educação

CRUTAC Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária

CTM Comissão Técnica Multidisciplinar

CTU Colégio Técnico Universitário

DAU Departamento de Assuntos Universitário

DIEG Divisão de Extensão e Graduação

DIPES Diretoria de Políticas e Programas de Graduação da Educação Superior

DPES Departamento de Políticas do Ensino Superior

EJA Educação de Jovens e Adultos

FAEFID Faculdade de Educação Física e Desportos

FAPEMIG Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais

FHC Fernando Henrique Cardoso

FORPROEX Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas

Brasileiras

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IES Instituições de Ensino Superior

IFES Instituições Federais de Ensino Superior

IPES Instituições Públicas de Ensino Superior

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LULA Luis Inácio Lula da Silva

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC Ministério da Educação

MinC Ministério da Cultura

MINTER Ministério do Interior

MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização

ONGs Organizações Não-Governamentais

OSCIPs Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

PNE Plano Nacional de Educação

PROEXC Pró-Reitoria de Extensão e Cultura

PROEXT Programa de Apoio à Extensão Universitária

PROEXTE Programa de Fomento à Extensão Universitária

PUC Pontifícia Universidade Católica

SEB Secretaria de Educação Básica

SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

SeNESu Secretaria Nacional de Educação Superior

SESU Secretaria de Educação Superior

SCIELO Scientific Electronic Library Online

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUS Sistema Único de Saúde

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UBS Unidade Básica de Saúde

UCDB Universidade Católica Dom Bosco

UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa

UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFAM Universidade Federal do Amazonas

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMA Universidade Federal do Maranhão

UFMT Universidade Federal do Mato Grosso

UFSJ Universidade Federal de São João Del‟Rei

UFV Universidade Federal de Viçosa

UnB Universidade de Brasília

UNE União Nacional de Estudante

UNESA Universidade Estácio de Sá

UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba

UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 14

1. A EXTENSÃO NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA: HISTÓRICO DE

DILEMAS E DESAFIOS...............................................................................25

2. A TRAJETÓRIA DO PROEXT: SEM SABER ONDE SE QUER

CHEGAR, COMO IR?...................................................................................48

3. CONTRIBUIÇÃO EMPÍRICA À ANÁLISE DO PROEXT......................73

À GUIZA DE CONCLUSÃO.............................................................................101

REFERÊNCIAS..................................................................................................109

APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido..............................118

APÊNDICE B – Roteiro de entrevista..................................................................119

ANEXO A – Transcrição da 1ª entrevista............................................................121

ANEXO B – Transcrição da 2ª entrevista.............................................................127

ANEXO C – Transcrição da 3ª entrevista.............................................................132

ANEXO D – Transcrição da 4ª entrevista............................................................139

ANEXO E – Transcrição da 5ª entrevista.............................................................145

ANEXO F – Transcrição da 6ª entrevista.............................................................149

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INTRODUÇÃO

Viver a plenitude da vida acadêmica, mais do que uma opção, foi uma necessidade

indispensável para garantir a continuidade dos estudos de menino do interior, em busca do

sonho de cursar Educação Física na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Graças à política

de incentivo e apoio ao desporto universitário, com bolsa de moradia e alimentação para todos

os alunos “atletas”, fiz parte das equipes esportivas da UFV, inclusive como “capitão” das

modalidades de futebol de campo e voleibol e, durante os quatro anos da graduação, pude

morar em alojamento da própria universidade. Essa experiência me oportunizou, também, a

convivência com a diversidade, a cada semestre, conhecendo pessoas de outros municípios e

estados.

A monitoria nas disciplinas de futebol e voleibol foi minha primeira sensação e

experiência como “professor” e, através dela, pude notar de maneira mais consistente que o

esporte era um importante meio para formação das pessoas em função de seu caráter

motivacional, sensação gratificante da superação, visibilidade nos meios de comunicação,

estímulo à socialização e transmissão de valores como respeito, ética, disciplina e, acima de

tudo, senso coletivo, de equipe e cooperação.

Desde o ingresso no meio primeiro emprego na Escola Técnica Federal de Ouro

Preto, em março de 1985, até os dias de hoje, tenho plena convicção, como professor de

educação física, que a motivação gerada pela prática esportiva não está restrita às quadras e

seu papel educacional pode ser fortalecido com ferramentas que estimulem a aplicação de

seus valores e princípios na vida em sociedade.

Nos anos noventa, solicitei minha transferência para o Colégio Técnico

Universitário (CTU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e desenvolvi um

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projeto, com apoio de todos os alunos, para tornar as aulas de educação física mais atrativas,

criativas, participativas e motivadoras. Procurávamos trabalhar a questão do corpo em

movimento, atividades esportivas e de lazer, conscientizando os alunos dos benefícios que

essas poderiam trazer como a socialização e a melhoria da qualidade de vida.

Acredito que essas vivências contribuíram para minha eleição como Diretor do

CTU, em dois mandatos de 1995 a 1999 e de 2003 a 2007. No intervalo entre esses dois

períodos, busquei mais um desafio e coordenei um projeto de extensão da UFJF denominado

“CTU em movimento”. Foi uma iniciativa pioneira no colégio por ter sido a primeira vez que

o CTU, como unidade acadêmica, teve aprovado um projeto de extensão na UFJF,

estabelecendo uma relação de reciprocidade com a Faculdade de Educação Física (FAEFID)/

UFJF.

Esse projeto permitiu que os discentes do curso de licenciatura em Educação

Física e os alunos do ensino técnico fortalecessem uma salutar troca de saberes e experiências

que contribuíram para o desenvolvimento do desporto escolar, elevando a auto-estima, a

performance, a disciplina, o espírito de coletividade, o despertar de jovens talentos e, ainda,

melhorando o desempenho escolar, já que as boas notas eram condição indispensável para

participação. Por outro lado, os discentes da FAEFID, “futuros professores”, bolsistas

remunerados pela Pró-Reitoria de Extensão, vivenciaram uma prática extramuros, aplicando

seus conhecimentos teóricos e os achados das pesquisas, a partir da extensão universitária,

produzindo e sistematizando um conhecimento que foi tornado acessível à comunidade.

A grata experiência com a extensão universitária, somada à bagagem de gestão

pública, validaram o convite que recebi, em 2006, do reitor da UFJF, para ocupar o cargo de

Pró-Reitor de Extensão e Cultura. Desde então, tenho refletido muito sobre as práticas

extensionistas desenvolvidas na UFJF e os embates que se estabelecem em âmbito regional e

nacional.

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Desafiadora, instigante, espaço de desejo, de negociação ou resistência, a extensão

universitária tem se mostrado reveladora de nossos acertos e de nossos conflitos no espaço de

construção coletiva e cotidiana. Viver e pensar a extensão me estimularam a buscar um maior

aprofundamento no entendimento do significado da extensão universitária no Brasil

contemporâneo, sua trajetória para se consolidar como um dos tripés da universidade e

usufruir do mesmo status da pesquisa e do ensino.

Inevitavelmente, me deparei com a questão do financiamento e a busca de recursos

da União dentro do orçamento do Ministério da Educação (MEC) para a extensão. Isso me

remeteu ao imperativo da construção de indicadores mensuráveis, auditáveis e comparáveis

para que possam ser criados critérios tanto para a distribuição orçamentária e financeira,

quanto para a avaliação da extensão universitária, além de outros tantos aspectos que

precisaram ser recortados diante da premência temporal e operacional de um curso de

Mestrado.

A presente dissertação é fruto deste esforço reflexivo que foi partilhado com os

colegas de curso e os professores que ministraram as disciplinas no Mestrado em Educação da

Universidade Estácio de Sá (UNESA) e, especialmente, gestada nos longos e prazerosos

encontros de orientação e co-orientação, no diálogo com importantes interlocutores que

construíram o arcabouço teórico que sustenta a extensão brasileira e, ainda, no trabalho

democrático dos encontros do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas

Brasileiras (FORPROEX), nos quais tive a honra de participar e, até mesmo, de coordenar a

Regional Sudeste deste fórum.

Elegemos como objetivo principal deste estudo, a análise de como as diretrizes de

natureza acadêmica contidas nos editais do Programa de Apoio à Extensão Universitária

(PROEXT) foram adotadas pelos programas e projetos contemplados pela UFJF.

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Especificamente, a pesquisa se pauta nos seis programas/projetos da UFJF aprovados nos

editais do PROEXT de 2007, 2008 e 2009.

Há que se destacar, também, o motivo de termos atribuído tal ênfase no PROEXT.

Surpreendentemente, trata-se da única fonte de apoio e fomento à extensão universitária nos

dias de hoje. Mesmo tendo sido implantado no ano de 2003, o PROEXT parece não ter

despertado, ainda, o interesse de pesquisadores. Tal questão foi comprovada pela consulta

realizada sobre o tema no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES), na Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Anais dos

Congressos Brasileiros de Extensão Universitária.

Em outra busca no Banco de Teses da CAPES e Scielo, a palavra PROEXT foi

substituída pela expressão “Extensão Universitária” e encontramos 93 teses e dissertações.

Após uma minuciosa análise, selecionamos as pesquisas que mais se aproximam da temática

de nosso estudo, a saber:

(i) “O programa UFBA em campo - ACC: sua contribuição na formação do

estudante”. Nesta dissertação, Silva, A. (2007) se propõe a avaliar o Programa UFBA em

campo através da perspectiva dos egressos dos cursos, buscando entender qual é a concepção

de extensão e intervenção social que está presente na instituição. Além disso, verifica se há

uma articulação dessas atividades com as chamadas ACC, ou seja, Atividades de Crédito

Complementar. Conclui que se trata de um programa que desempenha um importante papel

no trajeto curricular do estudante e recomenda que se implante um sistema permanente de

acompanhamento e avaliação;

(ii) “A extensão universitária e o desenvolvimento regional no Amazonas: retórica

e fatos na experiência da UFAM”. Rolim (2005) apresenta uma peculiar análise da extensão

universitária, através de jornais e documentos oficiais da época, com foco na retórica dos

protagonistas e pioneiros na prática extensionista voltada para o desenvolvimento regional, a

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partir da educação, do trabalho e da saúde, cuja evolução de seus indicadores na região é

comparada à ação da extensão da UFAM no mesmo período;

(iii) “O impacto da extensão na realimentação do ensino universitário”. Costa

(2002) reflete sobre a inserção das atividades extensionistas realizadas pela UEPG, no

contexto das políticas públicas e sua retroalimentação para os cursos. Faz uso de entrevistas

com os coordenadores, antecedidas por um encontro de preparação que instiga a reflexão do

grupo sobre a função e o comprometimento da universidade, a necessidade da

interdisciplinaridade e o papel da extensão universitária e da própria universidade;

(iv) “Política de extensão universitária: assistência ou emancipação? A experiência

do GERA/UFMT”. Furtado (2001) analisa a extensão universitária realizada pelos núcleos de

pesquisa do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFMT e, utilizando-se da história

oral e pesquisa documental, reconstrói a história da extensão na instituição, dando visibilidade

aos atores e ao processo de definições conceituais em uma perspectiva de política

assistencialista ou emancipatória.

(v) “Compromisso Social da Universidade: os olhares da extensão”. A tese de

Tuttman (2004) apresenta a história da extensão na UNIRIO através de narrativas e

depoimentos dos participantes, consultas a documentos oficiais e registros acadêmicos e

destaca os momentos de interação entre os profissionais, alunos e comunidades parceiras.

Estabelece uma interseção com as políticas estatais, os textos legais e as propostas do

movimento estudantil e do FORPROEX.

(vi) “Domesticação ou Diálogo: um Estudo de Extensão na UNIMEP”. O objeto

de estudo da tese de Romero (2004) é a extensão universitária em uma perspectiva histórica e

nas relações com a sociedade. Apresenta uma revisão dos principais conceitos de extensão no

mundo e analisa os processos que na sociedade brasileira determinaram a evolução desta

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prática. Especificamente, centraliza o destaque da extensão na UNIMEP no cenário nacional

como uma prática emancipadora.

Quanto à busca nos anais dos Congressos Brasileiros de Extensão Universitária

optamos em analisar os artigos que tratavam da organização, avaliação e gestão da extensão

universitária uma vez que todos os demais são específicos e classificados segundo as áreas

temáticas do FORPROEX: cultura, meio ambiente, saúde, comunicação, direitos humanos e

justiça, tecnologia e produção, educação e trabalho.

Selecionamos os artigos que se aproximam de nossa temática, a saber: “Estado,

sociedade e extensão universitária: desafios no contexto da globalização.” (JEZINE, 2006b);

“Avaliação da extensão universitária: o foco centrado no processo.” (MENESTRINA, et al.,

2006); “Como é avaliada a extensão da UCDB na comunidade discente e docente.” (LIMA,

2006); “Universidade e extensão: qual o papel da gestão?” (CHIARELO, 2006); “A avaliação

da extensão universitária na UERJ: resultados e desafios.” (MENDES; CASTRO, L., 2004);

“Avaliação institucional da extensão na PUC Minas.” (CASTRO, M.; SOUZA, 2004); “A

construção da avaliação da extensão universitária na UERJ.” (MENDES; CASTRO, L. 2002);

“Avaliação de impacto na extensão universitária.” (SERRANO, 2002); “Avaliação presencial

dos projetos de extensão.” (SERRANO et al., 2002); “Extensão: a avaliação em foco.”

(CORRÊA et al., 2002).

Portanto, reafirma-se a importância deste trabalho que pretende contribuir para a

ampliação do conhecimento da extensão universitária, investigando o que, de fato, vem

ocorrendo com os programas e projetos da UFJF contemplados pelo PROEXT, em relação ao

que foi construído (planejado) e praticado (realizado) especificamente quanto às diretrizes de

natureza acadêmica, comuns aos editais de 2007, 2008 e 2009 do PROEXT e que foram, por

nós, transcritas a seguir:

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(i) cumprimento do preceito da indissociabilidade extensão, ensino e

pesquisa, caracterizada pela integração da ação desenvolvida à formação

técnica e cidadã do estudante e pela produção e difusão de novos

conhecimentos e novas metodologias, de modo a configurar a natureza

extensionista da proposta;

(ii) interdisciplinaridade caracterizada pela interação de modelos e

conceitos complementares, de material analítico e de metodologia, com

ações inter-profissionais e interinstitucionais, com consistência teórica e

operacional que permita a estruturação das diversas ações de extensão

propostas em um programa abrangente;

(iii) impacto na formação do estudante – técnico-científico, pessoal e social,

existência de projeto didático pedagógico que facilite a flexibilização e a

integralização curricular, com atribuição de créditos acadêmicos, sob

orientação docente/tutoria e avaliação;

(iv) geração de produtos ou processos com publicações, monografias,

dissertações, teses, abertura de novas linhas de extensão, ensino e pesquisa;

(MEC, 2009, 2008, 2007)

Entretanto, para entendermos o contexto em que o PROEXT foi criado e suas

repercussões sobre a extensão universitária, é necessário atribuir um olhar sobre o amplo

espectro da gênese da extensão na universidade e sua trajetória nos últimos cem anos. Ao

longo do século XX, as manifestações de âmbito mundial em torno da crise da universidade

produziram um grande debate, tendo destaque o movimento da reforma universitária de

Córdoba de 1916 que gerou o discurso fundador do movimento estudantil e o modelo latino-

americano de universidade, a rebelião estudantil de 1968 na França, com seus reflexos na

Alemanha e Estados Unidos e, ainda, a greve mexicana em prol da gratuidade do ensino

superior (TRINDADE, 1999).

No século XXI, o papel da universidade adquire nova centralidade no debate

acadêmico, uma vez que o capitalismo globalizado impõe um rearranjo das forças produtivas

em âmbito mundial, exigindo, especialmente dos países periféricos, ajustes na estrutura

produtiva e na organização social e econômica nacional. Evidentemente, isso se dá porque a

universidade, entendida segundo Chauí (2003), como uma instituição social, reflete a

estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como um todo, ou seja, suas

transformações sociais, econômicas e políticas.

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No mesmo sentido, Santos, B. (2004) ratifica a intensificação dos dilemas da

universidade contemporânea. Para ele, a universidade também atravessa, especialmente, uma

crise de paradigmas sendo atribuída a ela uma série de funções indiscriminadas,

especialmente, ao longo do século passado, e que, muitas vezes, se contradizem. O autor

destaca que a definição de universidade deve ser objeto de estudo primordial para que ela

assuma seu papel no século XXI e supere a crise de hegemonia, de legitimidade e

institucional. (SANTOS, B., 1997, 2004).

Acreditamos, tal como Santos, B. (2004, p.66), que o conceito de universidade no

século XXI, passa, necessariamente, pelos pilares da graduação, pós-graduação, pesquisa e

extensão. Isso se torna essencial “para que a universidade possa ser protegida da concorrência

predatória e para que a sociedade não seja vítima de práticas de consumo fraudulento”.

Santos, B. (1997, p. 187) defende uma reforma democrática da universidade e sua

inserção na sociedade pós-moderna e aponta o duplo desafio que se interpõe à universidade:

Um pouco, por todo lado a universidade confronta-se com uma situação

complexa: são-lhe feitas exigências cada vez maiores por parte da sociedade

ao mesmo tempo que se tornam cada vez mais restritivas as políticas de

financiamento das suas atividades por parte do Estado. Duplamente

desafiada pela sociedade e pelo Estado, a universidade não parece preparada

para defrontar os desafios, tanto mais que estes apontam para

transformações profundas e não para simples reformas parcelares.

Por outro lado, Trindade (1999, p. 172) sintetiza os desafios da universidade

brasileira na atualidade: o nível de acesso ao ensino superior é o mais baixo do continente; a

proporção de estudantes nas instituições públicas reduziu-se a um terço do total; o peso da

matrícula e das instituições privadas de educação superior é o mais alto da América Latina; as

universidades públicas (exceto as estaduais paulistas) não gozam da autonomia universitária

consagrada na Constituição de 1988 e o volume do financiamento do conjunto do MEC para

as 57 instituições federais de ensino superior é apenas três vezes superior ao das três

universidades estaduais do governo de São Paulo.

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Segundo Trindade (1999) tais problemas refletem a dívida da democracia

brasileira para com a universidade pública, apesar dos avanços da Constituição de 1988. Para

o autor, salvo alguns momentos do governo Sarney e de Itamar Franco, as universidades

federais foram duramente negligenciadas com falta de recursos de manutenção e

investimentos pelos governos posteriores à ditadura. Ou seja, os governos da

redemocratização teriam privilegiado as universidades privadas com financiamentos

vantajosos, isenções fiscais e previdenciárias além de outros benefícios.

Nesse contexto, Goergen (2002, p.12), tomando a temática da nova visão da

educação superior aponta que

[...] todos esses termos sinalizam com muita clareza para o novo mandado

da universidade: ela deve estar estruturalmente comprometida com o meio

no qual está inserida. Esse compromisso social, no entanto, não significa

que a educação superior deva simplesmente ser ajustada ou posta a serviço

dos paradigmas políticos, econômicos e científico-tecnológicos ou

ideológico vigentes em determinada sociedade ou período histórico. Ao

contrário, responsabilidade ou pertinência social implicam sempre um

posicionamento crítico com relação à realidade na perspectiva dos ideais

humanitários de justiça social, liberdade, paz e desenvolvimento sustentado

com tudo o que isso representa em termos de organização social,

desenvolvimento científico e tecnológico, de acesso aos bens culturais e

materiais, de respeito e desenvolvimento cultural para todos os cidadãos.

Para Silva, E. (2003) a universidade sempre se manteve sensível às circunstâncias

histórico-sociais e soube perceber a sua importância de criar formas de procedimentos que

conduzam uma inserção ativa, que significa ir além de formar e investigar. Segundo ele, o

desafio é que as funções de formação e investigação tenham um caráter mais social e que a

produção de conhecimentos tenha por base parâmetros com dimensões coletivas,

comunicacionais, científico-tecnológicas e, ao mesmo tempo, humanísticas. Essa lacuna seria

preenchida pela extensão universitária. Entretanto, o autor defende a tese de que, embora a

extensão tenha alcançado uma maior importância nesse momento de diálogo sobre a

construção de novas esferas públicas, de fortalecimento da sociedade civil e da cidadania, ela

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não está ainda tão valorizada quanto deveria como o ensino e a pesquisa. A falta de

parâmetros para ser aferida é a principal responsável pela contradição apontada pelo autor.

Apesar desse quadro paradoxal que envolve a universidade contemporânea,

especialmente nos países periféricos, o atendimento a muitas demandas sociais e/ou políticas

públicas, tem se concretizado no âmbito da universidade pública brasileira, mesmo que

precariamente, principalmente através do Programa de Apoio à Extensão Universitária –

PROEXT.

Assim, a universidade está sendo conclamada a criar, para além do ensino e da

pesquisa, uma relação de maior interação com a sociedade e, de certo modo, a função, dita

social, passa a ser atribuída e encampada pela extensão universitária, o que lhe confere um

novo lugar, de mais destaque dentro da universidade.

Entender como isso se deu ao longo da história da extensão no Brasil é o que

pretendemos no primeiro capítulo que discorre, também, sobre a formação da universidade

brasileira e a consolidação “legal” da extensão universitária, as correntes que a influenciaram

e sua luta em prol da conceituação, institucionalização e financiamento.

O segundo capítulo procura desvendar a criação das primeiras políticas públicas a

serem desenvolvidas pela extensão universitária no Brasil, sempre emanadas por forte viés

ideológico dos governos. Este capítulo ressalta o esforço pela organização e fortalecimento da

extensão universitária através do FORPROEX, principalmente em busca de fontes de apoio e

fomento, que culminou, inclusive, com a criação do PROEXT.

A escolha pela análise dos editais e dos programas/projetos da UFJF contemplados

no PROEXT de 2007 a 2009 foi determinada em função de nossa motivação inicial para essa

dissertação. Trata-se do período em que um “pró-reitor/aluno” se dispõe a investigar as

diretrizes de natureza acadêmica previstas nesses editais e desvendar em que medida esse

financiamento propicia, ou não, a execução desses princípios, essenciais para a consolidação e

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legitimação da extensão como uma das funções essenciais do saber produzido pela

universidade.

No capítulo terceiro, apresentamos uma pesquisa de campo, entrevistando os seis

coordenadores de programas/projetos contemplados com o financiamento do PROEXT de

2007 a 2009 e nele pretendemos responder: (i) como os coordenadores de programas e

projetos contemplados pelo PROEXT cumprem as diretrizes de natureza acadêmica

estabelecidas; (ii) o que se nota sobre as orientações do PROEXT, entre o planejado e o

realizado, do ponto de vista dos coordenadores dos programas e projetos; (iii) quais as

mudanças percebidas pelos coordenadores de programas e projetos atribuídas ao PROEXT no

que se refere: ao estabelecimento de parcerias, as concepções e pressupostos extensionistas

adotados, a estrutura, ao funcionamento, ao modus operandi e as práticas de avaliação

adotadas, bem como a formulação de pesquisas, as alterações curriculares, a formação dos

alunos e aos resultados alcançados.

Após o criterioso exercício de análise qualitativa, apresentamos nossas

considerações finais, buscando estabelecer as pontes entre o planejado e o realizado pelo

PROEXT e, ainda, apresentando uma possibilidade de caminho que a extensão universitária

pode percorrer, caso deseje se firmar enquanto sustentáculo da universidade, no mesmo nível

de importância do ensino e da pesquisa.

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1 A EXTENSÃO NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA: HISTÓRICO DE

DILEMAS E DESAFIOS

A Universidade não está fora da história de um país, tão pouco

é toda a história, mas por ela „passa‟ a história, da vida; neste

sentido é a aspiração humana, tentativa, ensaio, verificação,

drama e desenlace, tarefa comunitária. (...) é uma realidade que

fala. (Leyendecker, 1974, p.5, tradução nossa)

A epígrafe acima traduz a motivação maior que conduziu a escrita deste primeiro

capítulo. Concordando com o pensamento de Ernest Leyendecker, a universidade é tomada

como parte da história da nação e, simultaneamente, transforma e é transformada pela

comunidade. Campo de lutas, espaço de experimentação, produção de saberes que não está

imune às forças políticas e econômicas e tão pouco é protegida perante os anseios sociais e

culturais da sociedade. Assim sendo, a universidade compõe a trajetória histórica de um povo,

em um movimento que se altera, no tempo e no espaço, em ritmos distintos, peculiares a cada

nação.

O desafio deste capítulo repousa no mergulho investigativo acerca do histórico da

extensão nas universidades brasileiras, desde o aspecto, dito “legal”, de sua implantação, até

os dilemas e desafios que remontam à herança colonial e elitista, às lutas populares que

marcaram a segunda metade do século XX e às expectativas e atribuições da extensão

universitária em um país emergente, que busca seu espaço no competitivo cenário

internacional contemporâneo.

O Brasil se preparava para comemorar seu centenário da independência quando foi

criada a primeira universidade no país, antiga aspiração de muitos segmentos, sobretudo de

legisladores e do próprio governo, tanto monárquico quanto republicano. Para justificar tal

feito, o Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Alfredo Pinto Vieira de Mello, em 1920,

encaminha ao, então, Presidente da República, Epitácio Pessoa, as exposições de motivos,

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destacando o exemplo a ser seguido de nações européias e americanas, “o afã demonstrado

pela nova geração brasileira, procurando acompanhar os progressos da ciência universal”

(FAVERO, 2000, p.9) e, especialmente, a existência, na capital do país, de dois

estabelecimentos oficiais de Ensino Superior muito bem organizados: a Faculdade de

Medicina juntamente à Escola Politécnica além da Faculdade de Direito.

A proposta enfatizava a manutenção da autonomia das faculdades e institutos,

adotando um modelo de Universidade, com a reunião de cursos isolados que têm como

ligação entre si somente a Reitoria e não mecanismos acadêmicos ou administrativos,

formando o que Rocha (2007, p.24) denominou “instituições agregadas e não integradas”.

Desta forma, foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro através do Decreto

NO14.343 de 7 de setembro de 1920 que teve seu Regimento aprovado através do Decreto

NO14.572 em 23 de dezembro do mesmo ano. Tais documentos não trazem qualquer

referência à extensão universitária, embora as primeiras experiências no Brasil tenham

ocorrido entre 1911 e 1917 em São Paulo. Segundo Carbonari e Pereira (2007, p. 23), a

extensão universitária ocorria por meio de conferências e semanas abertas ao público em que

se trabalhavam diversos temas não relacionados às problemáticas sociais e políticas da época.

Ou seja, as questões abordadas nessas atividades não estavam focadas nas questões sociais e

econômicas da comunidade. Nogueira (2005, p.16) acrescenta que, apesar de gratuitos, esses

cursos não atraiam a população e a propaganda política, religiosa ou comercial era proibida.

Estas primeiras experiências extensionistas, inspiradas na vertente inglesa e

européia de modo geral, demonstraram mais do que o desinteresse da população, o

distanciamento da universidade dos reais anseios da comunidade devido à seleção dos temas

apresentados, tais como, “O Fogo Sagrado da Idade Média”, “A Latinidade da România”,

“Grandes Viagens e Grandes Viajantes do Brasil”, “Importância e Progresso da

Otorrinolaringologia”, entre outros (NOGUEIRA, 2005, p. 16).

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Por outro lado, a partir de 1922 na Escola Agrícola de Lavras e de 1926 na Escola

Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa1, sob influência da corrente americana,

surgem atividades de extensão voltadas para a prestação de serviços para o agricultor, na

forma de assistência técnica, publicações, correspondências e consultas, visitas às

propriedades rurais, cooperações e campanhas abordando os problemas da agricultura e

pecuária.

Como veremos ao longo deste capítulo, as duas vertentes acima mencionadas

estarão presentes, em maior ou menor medida, ao longo da trajetória da extensão nas

universidades brasileiras até os dias atuais.

Em 1931, na proposta de Reforma do Ensino Superior, o Ministro da Educação e

Saúde Pública Francisco Campos enalteceu a extensão universitária, como um poderoso vetor

de influência da universidade no meio social através do contato dos institutos de ensino

superior com a sociedade:

A extensão universitária se destina a dilatar os benefícios da

atmosfera universitária àqueles que não se encontram diretamente

associados à vida da universidade, dando, assim, maior amplitude e mais

larga ressonância às atividades universitárias, que concorreram, de modo

eficaz, para elevar o nível de cultura geral do povo, integrando assim, a

universidade na grande função educativa que lhe compete no panorama da

vida contemporânea, função que só ela justifica, ampla e cabalmente, pelos

benefícios coletivos resultantes, o sistema de organização do ensino sobre

base universitária. (FAVERO, 2000, p. 22)

Assim sendo, Getúlio Vargas sancionou o Decreto NO19.851 de 11 de abril de

1931, estabelecendo o Estatuto das Universidades Brasileiras, com as primeiras referencias

legais à extensão universitária. Inicialmente, o artigo 23º apresenta as atribuições do Conselho

Universitário e, dentre elas, no item XVII, a de “organizar, de acordo com propostas dos

institutos da Universidade, os cursos e conferências de extensão universitária.” O artigo 35º

elenca os cursos que poderão ser ofertados pelos institutos de ensino profissional superior:

1 Atuais Universidade Federal de Lavras e Universidade Federal de Viçosa - MG, respectivamente.

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normais, equiparados, aperfeiçoamento, especialização, livres e cursos de extensão

universitária. Define essa última modalidade como cursos “destinados a prolongar, em

benefício coletivo, a atividade técnica e cientifica dos institutos universitários.” A forma de

efetivação da extensão universitária é discriminada no artigo abaixo do referido decreto:

Art. 42. A extensão universitária será efetivada por meio de

cursos e conferências de caráter educacional ou utilitário, uns e outras

organizados pelos diversos institutos da Universidade, com prévia

autorização do Conselho Universitário.

§ 1º. Os cursos e conferências, de que trata este artigo,

destinam-se principalmente à difusão de conhecimentos úteis à vida

individual ou coletiva, à solução de problemas sociais ou à propagação de

idéias e princípios que salvaguardem os altos interesses nacionais.

§ 2º. Estes cursos e conferências poderão ser realizados por

qualquer instituto universitário em outros institutos de ensino técnico ou

superior, de ensino secundário ou primário ou em condições que o façam

acessíveis ao grande público. (FÁVERO, 2000, p. 65)

E, ainda, o preâmbulo do Artigo 99º cita a extensão indiretamente: “(...) as

universidades devem vincular-se intimamente com a sociedade, e contribuir, na esfera de sua

ação para o aperfeiçoamento do meio.” A referência explícita à extensão aparece no corpo do

artigo:

A vida social universitária terá como organizações fundamentais: a)

associações de classe, constituída pelos corpos docente e discente dos

institutos universitários; b) congressos universitários de dois em dois anos;

c) extensão universitária; d) museu social. (grifo nosso) (FÁVERO, 2000,

p. 78)

Finalmente, o Artigo 109 do mesmo Decreto define e também atribui uma diretriz

à extensão universitária:

A extensão universitária destina-se à difusão de conhecimentos filosóficos,

artísticos, literários e científicos em benefício do aperfeiçoamento

individual e coletivo. § 1º. De acordo com os fins acima referidos, a

extensão universitária será realizada por meio de cursos intra e extra-

universitários, de conferências de propaganda e ainda de demonstrações

práticas que se façam indicadas. § 2º. Caberá ao Conselho Universitário, em

entendimento com os Conselhos Técnico-Administrativos dos diversos

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institutos efetivar pelos meios convenientes a extensão universitária.”

(FÁVERO, 2000, p. 81-82)

Fagundes (1986, p. 48) analisa tais referências à extensão universitária como sendo

[...] portadora de soluções para os problemas sociais e como veículo de

idéias e princípios, pautados nos „autos interesses nacionais‟, aos quais

deve subordinar-se as aspirações e necessidades da sociedade como um

todo. Nessas formulações, os interesses nacionais encobrem e, ao mesmo

tempo, identificam-se com os interesses da classe hegemônica, que serve-

se da educação para interiorizar seus valores nas classes subalternas.

Na avaliação de Machado (2009, p. 52), o decreto representa a gênese do

reconhecimento da extensão universitária, apresentada de forma legal e institucional, abrindo

espaço ao debate. Entretanto, o autor admite a pertinência da crítica de Fagundes, ou seja, a

extensão universitária até então, é tomada como veículo de propagação dos interesses da

classe dominante, levados à população por meio de cursos e conferências, desconsiderando os

reais interesses e demandas do povo.

Apesar de se remeter à extensão universitária, o que se percebe nas primeiras

legislações é a fragilidade da regulamentação dessa atividade. Isso pode ser notado, por

exemplo, no Decreto No 21.321 de 20 de junho de 1946 que aprovou o Estatuto da

Universidade do Brasil. Em seu Artigo 71º, o Decreto classifica as modalidades de cursos

universitários como sendo de: formação, aperfeiçoamento, especialização, extensão, pós

graduação e de doutorado. Entretanto, diferentemente dos demais, os cursos de extensão não

necessitam ser aprovados em Congregação ou previstos nos regimentos das Escolas e

Faculdades que constitui a Universidade do Brasil bastando apenas haver “interesse geral”

para sua oferta ser efetivada pelos meios convenientes.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) No

4.024 de 20 de

dezembro de 1961 cita a extensão uma única vez, no artigo 69º e a concebe como cursos de

especialização, aperfeiçoamento ou qualquer outro aberto a candidatos externos. Portanto,

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esta legislação apenas ratifica o caráter de cursos e conferências atribuído à extensão

universitária, sem apresentar avanços ou inovações na concepção e objetivos.

Segundo Castro L. (2004, p.21-22) a lei não contemplou o que, de fato, acontecia

em algumas universidades em relação à extensão. A autora cita experiências extensionistas

desenvolvidas na Universidade Federal de Pernambuco, que oferecia o serviço de Extensão

Cultural, engajado no movimento de cultura popular de Recife e que realizava experiências de

alfabetização de adultos. Além disso, destaca a Universidade Volante do Paraná que concebia

cursos modulares que se deslocavam, em fins de semana, para vários municípios do Estado.

Tais experiências, de certa forma, buscavam, mesmo que de modo involuntário, caminhos

alternativos para romper com a mera reprodução do sistema dominante, atendendo às

demandas reais da população.

Para Carbonari e Pereira (2007, p. 23), esse período foi marcado pela mobilização

popular e pelas reformas sociais e as atividades de extensão passam do enfoque da difusão do

conhecimento para o de inserção na realidade sócio-econômica, política e cultural do país,

procurando respostas que contribuíssem para a transformação social.

Tais iniciativas, de acordo com Castro, L. (2004, p.22) foram influenciadas pelo

movimento de 1918, em Córdoba, Argentina, que enfatizava a importância de se manter uma

relação intrínseca entre a universidade e a sociedade. Este momento torna-se um marco

histórico porque, a partir dele, a universidade Latino-Americana vai buscar um maior

compromisso social, traduzindo-se uma nova luta pela transformação da universidade em um

agente de mudanças sociais (OLIVEIRA, S., 2009, p.28).

Segundo Gurgel (1986, p.36), o chamado Movimento de Córdoba:

[...] pleiteava a gratuidade do ensino; a periodicidade da cátedra; a

reorganização acadêmica em seus métodos, conteúdos e técnicas; uma

melhor qualificação dos docentes; um processo democrático de ingresso do

estudante na universidade e uma articulação orgânica entre o nível superior

e o sistema de educação regional. A extensão universitária, no documento

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de Córdoba, é vista como objetivadora do “fortalecimento da universidade,

pela maior preocupação com os problemas nacionais”. A extensão propicia,

portanto, uma projeção do trabalho social da Universidade ao meio e sua

inserção em uma dimensão mais ampla.

Assim sendo, percebe-se um rebatimento, ainda que tardio, do Movimento de

Córdoba sobre a Proposta da União Nacional dos Estudantes (UNE) de Reforma Universitária

no Brasil, atribuindo um novo olhar sobre a universidade e, especialmente, sobre a extensão

universitária, na década de 60. A extensão adquire um papel central por destinar às classes

populares cursos ou serviço social, como forma de estreitar os elos universidade-sociedade.

Trata-se de uma importante contribuição, posto que o estudante é uma força sensível às

mudanças que se operam na sociedade, suas tensões e exigências, se captadas, podem impedir

que a universidade fique inerte, mantendo-se alheia aos novos acenos.

Porém, no Brasil, o golpe militar de 1964 atribuiu à extensão uma concepção

nitidamente assistencialista e a incorporou ao ideal de desenvolvimento de segurança do

território nacional. O Decreto-Lei 252 de 28 de fevereiro de 1967 em seu Artigo 10º, diz que

“a Universidade em sua missão educativa deverá estender à comunidade sob a forma de

cursos e serviços as atividades de ensino e pesquisa que lhe são inerentes” (BRASIL, 1967).

No parágrafo único, faculta às universidades a criação de uma coordenação própria às

atividades de extensão.

Desta forma, em algumas universidades brasileiras a extensão aparece como

iniciativa isolada de departamentos ou da reitoria, deixando de haver muitas vezes uma

integração funcional, tal como pode ser evidenciado na análise de documentos legais que

atesta que a mesma pode ser efetuada por órgãos das mais diversas naturezas, tais como:

Câmaras, Coordenações, Sub-Reitorias ou Pró-Reitorias, Comissões, Departamentos,

Decanatos, Superintendência e até mesmo Divisões.

A LDB No5.540 de 28 de novembro de 1968 no seu Artigo 20º ratifica as

disposições contidas no Decreto-Lei 252 de 28 de fevereiro de 1967:

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As universidades e as instituições de ensino superior estenderão à

comunidade, sob forma de cursos e serviços especiais, as atividades de

ensino e os resultados da pesquisa que lhes são inerentes (BRASIL, 1968).

A mesma lei, no Artigo 40º, alínea a, consigna a participação do corpo discente

nos programas de melhoria das condições de vida da comunidade e no processo de

desenvolvimento, através das atividades de extensão:

“as instituições de ensino superior, por meio das suas atividades de

extensão, proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de

participação em programas de melhoria das condições de vida da

comunidade e no processo geral de desenvolvimento” (BRASIL, 1968).

Desta forma, tendo como função o atendimento à comunidade, a universidade não

poderia se voltar apenas ao ensino e à pesquisa, mas deveria se dedicar também às atividades

de extensão. Em virtude da sua própria natureza, a universidade teria que “se estender a”, sair

de si e prestar seus serviços à comunidade. De acordo com esta perspectiva, a universidade

realiza as atividades de extensão, inclusive como um meio de escapar à alienação da vida

social e de se ligar estreitamente à realidade. É a própria relação universidade/comunidade

que aqui se encontra em questão e que precisa ser tematizada, apesar da enorme diversidade

de posições teóricas dos autores que analisam a questão.

Coelho (1980, p. 250) aponta que o chamado “atendimento à comunidade”,

voltado para a promoção de seu desenvolvimento e o atendimento de suas necessidades,

muitas vezes, camufla pesquisas, cursos e outras atividades que servem apenas aos grupos que

detém o poder, na medida inclusive em que marcaram a realidade, desviando atenção dos

reais problemas de nosso povo.

Outra questão destacada pelo autor é a insistência na dita “vocação natural” da

universidade para a extensão, na necessidade de integrá-la à comunidade e de fazer dela uma

prestadora de serviços à coletividade. Para Coelho (1980), a resposta a tais indagações está na

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visão homogênea e harmônica da realidade, sem lugar para a contradição, o conflito, mas

apenas para as diferenças “naturais” e contingentes entre pessoas ou grupos.

Para Carbonari e Pereira (2007, p.23-24) a Reforma Universitária de 1968 foi

orientada pelos princípios da Lei de Segurança Nacional, rompendo com a concepção da

extensão como espaço de diálogo com a comunidade, restringindo as ações das Instituições de

Ensino Superior (IES) e impedindo-as do exercício de autonomia. Além disso, define que o

Ensino Superior deve ser pautado pela indissociabilidade do ensino e pesquisa.

Assim, uma das grandes dificuldades que enfrentou a extensão para se firmar e

integrar completamente ao cerne das atividades universitárias decorreu do fato de não ser esta,

propriamente, uma terceira função da universidade, pois não participava da mesma natureza e

do mesmo nível conceitual do ensino e da pesquisa. Talvez, a extensão seria um

desdobramento do ensino, na forma de cursos e serviços, e da pesquisa, através de eventos

acadêmicos e científicos. Não obstante, o próprio desequilíbrio e ênfase que se verifica na

legislação de então, justifica-se o esforço em prol do destaque da extensão como uma terceira

função da universidade.

A década de 80 foi marcada pelo ressurgimento dos movimentos sociais. Para

Carbonari e Pereira (2007, p. 24), é o momento em que a universidade procura compartilhar

com a comunidade esse projeto democrático, utilizando a extensão para a realização de

práticas que assegurassem os direitos humanos. Para as autoras, a idéia de emancipação e

assistencialismo conviveu, simultaneamente, nessas propostas.

Neste contexto, a discussão da extensão ganhou destaque no meio universitário e

em 1987, na Universidade de Brasília, aconteceu o I Encontro Nacional de Pró-Reitores de

Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. O evento marcou a criação do Fórum de

Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX) e, ainda,

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importantes deliberações envolvendo (i) conceito, (ii) institucionalização e (iii) financiamento

da extensão.

A extensão universitária é definida como:

um processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a

pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre

universidade e sociedade. [...] uma via de mão dupla, com trânsito

assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a

oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No

retorno à universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que,

submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse

fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e

popular, terá como conseqüências a produção do conhecimento resultante

do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do

conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação

da universidade. (FORPROEX, 2006, p. 21)

Assim, para o FORPROEX, a extensão é tida como instrumentalizadora da

dialética teoria/prática, um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social.

Ao propor, através da extensão, a abertura das portas da universidade para uma convivência

de duplo interesse – universitário/comunitário, institucionaliza um novo posicionamento: o da

universidade integrada com a comunidade, apta a contribuir para muito além da formação e

aperfeiçoamento de profissionais, do aceleramento das soluções dos problemas nacionais,

dando grandes e indispensáveis instrumentos a um desenvolvimento nacional, contínuo,

irreversível e seguro.

No que se refere à institucionalização da prática extensionista, o Fórum a defende

como indispensável na estrutura universitária, tanto do ponto de vista administrativo quanto

acadêmico. Ela deve ser tomada como um instrumento básico da recuperação da função social

da universidade e instauração de sua credibilidade. Para que isso ocorra, o FORPROEX

entende que é necessária a adoção de medidas e procedimentos de ordem metodológica;

estrutural e de valorização tanto regional quanto nacional. Assim, é essencial que uma política

de extensão seja:

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[...] definida em instâncias institucionais de deliberação superior das IPES

(Conselho Universitário, Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, ou

equivalentes) e normalizada em instrumentos legais (Estatuto, Regimento

Geral, Plano de Desenvolvimento Institucional, Resoluções, Portarias,

Editais, entre outros) (FORPROEX, 2007a, p. 19)

Desta forma, o que se percebe é o esforço pioneiro do FORPROEX em definir a

extensão universitária e consolidá-la através de políticas específicas. Após mais de cinquenta

anos de existência “legal” nas universidades brasileiras, a extensão deixa de ser uma mera

“fazeção” para se tornar foco de críticas e debates, no interior das instituições e na

coletividade da representação de seu fórum.

Especialmente no que se refere ao financiamento, tema do último item de pauta,

debatido no I Encontro Nacional do FORPROEX, destacamos, na íntegra, a conclusão

aprovada na sessão plenária:

1. Obedecendo o princípio de descentralização de alocação de recursos, é

imprescindível que sejam reservados recursos do tesouro para extensão,

através de destaque orçamentário ou outro mecanismo que garanta

disponibilidade permanente de verbas para os programas/projetos de

extensão, de modo a assegurar continuidade de atividades.

2. Além dos recursos orçamentários, as IESP deverão captar recursos junto

a agências e/ou fontes financiadoras para projetos de extensão.

3. Criação, no MEC, de um fundo especial para financiamento de

programas/projetos.

4. Restabelecimento do sistema de bolsas de extensão do MEC, nos mesmos

níveis das bolsas de iniciação científica e de monitoria, além das bolsas

próprias já existentes em algumas IESP ou bolsas oferecidas por outras

agências.

5. As agências de fomento e financiamento deverão financiar também

programa/projeto de extensão, de vez que estes constituem também

atividades acadêmicas (NOGUEIRA, 2000, p.14-15)

Como se percebe, as demandas do FORPROEX, no que se refere à questão

orçamentária e financeira, atestam a necessidade de uma linha de financiamento específica

para a extensão. Na opinião de Sousa (2000, p. 108-109), é somente a partir da definição clara

do que são as atividades de extensão e do lugar que ocupam dentro das IES que os recursos

orçamentários poderão ser discutidos, evolvendo o financiamento e suas respectivas fontes.

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Trata-se de um aspecto emblemático posto que, a despeito dos esforços do FORPROEX, o

que de fato pode ser considerado como extensão universitária ainda carece de uma definição

específica e plural, sob pena de validar qualquer tipo de atividade universitária ou deixar de

contemplar a diversidade que compõe a universidade.

O financiamento da extensão nos remete, ainda, à problemática da distribuição dos

recursos e dos critérios para que isso se efetue. A preocupação com a construção dos

princípios que poderiam nortear a implantação de uma avaliação da extensão universitária

com vistas a solucionar a questão do financiamento é uma constante nas reuniões do Fórum.

Com a Constituição de 1988, na qual o artigo 207º registra a indissociabilidade

entre ensino, pesquisa e extensão como princípio norteador das universidades brasileiras, os

desafios a serem vencidos pela extensão persistem, apesar do novo status adquirido. Ela passa

a fazer parte do dito tripé sustentador das funções da universidade, no mesmo patamar do

ensino e da pesquisa, todavia, permanece acompanhada de inúmeras críticas e

questionamentos quanto à sua atuação, legitimidade e pertinência no ambiente universitário.

O VII Encontro Nacional do FORPROEX, em 1993, concluiu que a avaliação da

extensão universitária deve considerar sua institucionalização tanto na esfera de atuação

ministerial quanto nas instituições de ensino superior. Além disso, no que se refere ao MEC,

foi amplamente debatida a necessidade de a extensão ser contemplada com um órgão que

possa tratar de seus interesses no país, formular políticas para essa área, formalizar e

operacionalizar programas de fomento e destinar recursos orçamentários sistemáticos, sempre

com a participação do FORPROEX e suas proposições. O encontro deliberou que a avaliação

deve contemplar duas ordens de fatores: de natureza endógena, relacionada com a função

acadêmica e de natureza exógena, relacionada com a função social da universidade.

No nível das instituições de ensino superior, considerando as peculiaridades de

cada instituição, ficou definido que a avaliação da extensão deve abordar três níveis inter-

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relacionados, assim elencados: (i) o compromisso institucional para estruturação e efetivação

das atividades de extensão; (ii) o impacto das atividades de extensão junto aos seguimentos

sociais que são alvos ou parceiros dessas atividades; (iii) os processos, métodos e

instrumentos de avaliação das atividades de extensão (FORPROEX, 2001a, p. 27-28).

Assim, sendo, o encontro enfatizou que a definição dos indicadores de

diagnósticos da extensão não pode ser mais protelada, correndo-se o risco de que as ações

extensionistas, por falta de medição, continuem marginalizadas nos processos de avaliação

acadêmica.

Sousa (2005) sintetiza as concepções de extensão preconizadas pelo FORPROEX:

a relação entre a universidade e sociedade, articulação com o ensino e a pesquisa, promoção

de interdisciplinaridade, transmissão do conhecimento produzido pela universidade, prestação

de serviços e o cumprimento da missão social. Assim, para a autora, embora o FORPROEX

não explicite a defesa de um espaço próprio para existência da extensão universitária, uma vez

que, como instrumento articulador poderia estar ocupando brechas, insinua que esse espaço

deverá existir e se tornar a própria expressão da função social da universidade.

A extensão universitária, a partir da LDB No

9.394 de 20 de dezembro de 1996, é

concebida como finalidade da educação superior no Artigo 43º , inciso VI, o qual prevê que

se deve “estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os

nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta

uma relação de reciprocidade”. Além disso, o inciso VII determina “promover a extensão,

aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes

da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição” e, ainda,

entendida “como cursos e programas de extensão, abertos a candidatos que atendam aos

requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino” no Artigo 44º inciso IV.

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Na análise dessa lei, Machado (2009, p.60) constata que o inciso VI do Artigo 43º

ratifica a universidade como prestadora de serviços à comunidade, e acrescenta que deve ser

estabelecida com esta uma relação de reciprocidade, sendo assim, se aproxima do conceito do

FORPROEX que define a extensão na perspectiva de relação dialógica entre universidade e

comunidade. O autor também avalia que o inciso VII apresenta uma importância maior para a

extensão universitária, por permitir a participação da população não somente como receptora,

mas como parceira da universidade na difusão de conquistas e benefícios, rompendo com a

crítica de imposição cultural usualmente atribuída à extensão.

Além dos artigos já citados, a LBD No 9.394/1996 faz outras duas menções à

extensão. O Artigo 53º assegura às universidades, entre outras atribuições, “estabelecer

planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de

extensão”. Assim sendo, a lei atual oferece uma ampliação para a extensão universitária,

restrita, anteriormente, à oferta de cursos, conferências e, mais tarde, prestação de serviços. A

outra referência à extensão trata da destinação dos recursos financeiros, no Artigo 77º,

parágrafo 2º, prevê: “as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber

apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante bolsa de estudos.”

Conforme previsto no Artigo 87º, parágrafo 1º da LDB, o Congresso Nacional

aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE), homologado através da Lei 10.172 de 09 de

janeiro de 2001. A extensão universitária está presente de modo claro, nos objetivos e metas

do PNE para a vigência de 2001-2010. Especificamente, no que se refere à Educação

Superior, dos vinte e três objetivos e metas, a extensão está presente em quatro deles, a saber:

7. Instituir programas de fomento para que as instituições de educação

superior constituam sistemas próprios e sempre que possível

nacionalmente articulados, de avaliação institucional e de cursos, capazes

de possibilitar a elevação dos padrões de qualidade do ensino, de extensão

e no caso das universidades, também de pesquisa.

(...) 21. Garantir, nas instituições de educação superior, a oferta de cursos

de extensão, para atender as necessidades da educação continuada de

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adultos, com ou sem formação superior, na perspectiva de integrar o

necessário esforço nacional de resgate da dívida social e educacional.

22. Garantir a criação de conselhos com a participação da comunidade e

de entidades da sociedade civil organizada, para acompanhamento e

controle social das atividades universitárias, com o objetivo de assegurar

o retorno à sociedade dos resultados das pesquisas, do ensino e da

extensão.

23. Implantar o Programa de Desenvolvimento da Extensão Universitária

em todas as Instituições Federais de Ensino Superior no quadriênio 2001-

2004 e assegurar que, no mínimo, 10% do total de créditos exigidos para

a graduação no ensino superior no País será reservado para a atuação dos

alunos em ações extensionistas. (BRASIL, 2001).

O que se percebe é que o PNE corrobora com as atividades extensionistas que já

vinham ocorrendo nas universidades. Seu ineditismo está na implantação do Programa de

Desenvolvimento da Extensão Universitária em toda a Rede Federal de Ensino Superior no

quadriênio 2001-2004 e, especialmente, a valorização das atividades de extensão através da

garantia de que os alunos envolvidos nessas ações poderão integralizar, no mínimo, 10% do

total de créditos exigidos para a sua referida graduação.

Na avaliação de Machado (2009, p.65) apesar dos avanços, o Programa de

Desenvolvimento da Extensão Universitária não se concretizou em toda a rede federal, como

o preconizado, tendo sido praticado apenas por algumas instituições e de maneira isolada.

Após mais de uma década da criação do PNE e dos esforços do FORPROEX, a

extensão universitária ainda carece de soluções. Nesse sentido, muito ilustrativa é a análise da

denominada “Carta de Juiz de Fora”, documento produzido durante o XXXII FORPROEX da

Regional Sudeste, realizado de 13 a 15 de maio de 2009, encaminhado e aprovado pela

Coordenação Nacional do FORPROEX que, por sua vez, o protocolou junto ao MEC.

Em síntese, a “Carta de Juiz de Fora” destacou: a dificuldade de se chegar a uma

definição consensual sobre os indicadores da extensão; a inobservância de alíneas de

financiamento específico, assim como as precariedades observáveis tanto na sua

institucionalização como nos seus sistemas de informação, registro e de gestão; bem como a

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ausência de verbas públicas para a criação de bolsas de extensão, além da inexistência dos

parâmetros confiáveis e auditáveis de avaliação.

Desta feita, desde a criação do FORPROEX, a institucionalização e o

financiamento da extensão ainda são temas recorrentes de discussão e debates. Apesar de todo

empenho e esforço das Coordenações Nacionais do FORPROEX, ainda não há na estrutura

organizacional no MEC, um órgão, setor ou equivalente que trate das questões de interesse da

extensão universitária, nos mesmos níveis do Ensino com a Secretaria de Educação Superior

(SESU), a Pesquisa através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) e a Pós-Graduação através da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Ensino Superior (CAPES).

Fica evidente também, o descaso referente à extensão na medida em que a

produção acadêmica relacionada à atividade extensionista não é contabilizada para a

distribuição de vagas docentes nas universidades e, quando isso ocorre, é atribuída menor

escala em relação ao ensino e à pesquisa. Isto denota a ausência de reconhecimento da

atividade como incorporada ou própria da universidade.

A extensão também não possui dotação orçamentária e nem financeira sistemática

na matriz da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior

(ANDIFES)/MEC. Como solução paliativa para esses problemas, tanto o MEC quanto outros

ministérios, além das Fundações de Amparo a Pesquisa de alguns estados brasileiros, têm se

valido de editais e/ou chamadas públicas para apoiar ou fomentar a extensão universitária.

Sobre esta temática, Sousa (2000, p. 109) lembra que a atividade extensionista em

si mesma pode ser vista como uma fonte de recursos através da prestação de serviços, na

forma de venda de produtos ou serviços da universidade para a sociedade.

Por outro lado, Tavares (1998, p. 81) enfatiza a importância do financiamento

público para as universidades, destacando que nenhum sistema universitário no mundo

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existiria sem esse investimento. Ou seja, para o autor, o Estado tem, e terá por muito tempo

ainda, em todo o mundo, um papel fundamental e insubstituível no financiamento do Ensino

Superior, independentemente da profunda alteração dos modos de produção e do cenário

econômico.

Não obstante, Tavares (1998, p.82) afirma que, na prática, a universidade pública

brasileira tem tomado consciência das limitações do papel provedor do Estado e tem

aumentado seus esforços na captação de recursos extra-orçamentários, através de projetos,

programas, convênios, repasses do Sistema Único de Saúde (SUS), auxílio à pesquisa,

prestação de serviços, etc.

Para Jezine (2006a, p. 211), a falta de financiamento e reconhecimento da extensão

não decorre da ausência de uma política de extensão das universidades públicas brasileiras,

mas da falta de uma política do MEC para as universidades e para a extensão universitária,

baseada em princípios filosóficos, com diretrizes metodológicas e formas de financiamento.

Diante deste quadro, Sousa (2005) destaca que a concepção do objeto da extensão

apresenta-se como um enigma, muitas vezes confundido com políticas internas e com normas

e rotinas institucionais.

As três funções da universidade - ensino, pesquisa e extensão - e suas relações

internas e com a sociedade são alvo de intenso debate. Para Frantz e Silva (2002, p.155) as

três deveriam ser indissociáveis e equilibradas para que a instituição cumprisse seus fins de

formação e de compromisso social mais aberto à sociedade. Para estes autores, desde que

emergiu como uma função da universidade, a extensão foi marcada por diferentes concepções

e práticas, por dicotomias, contradições e conflitos.

Corroborando com essa análise, Jezine (2004, p. 332) destaca que

tomar a extensão universitária como uma das funções que compõem os

pilares da instituição universidade tem sido alvo de crítica e proposições,

cortejada por diversos setores da sociedade tem assumido ao longo da

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história diferentes concepções teóricas e ideológicas, que influenciam,

inclusive, na própria concepção de universidade.

Para Jezine (2006a, p. 236-237), partindo das abordagens teóricas e históricas

podem-se encontrar na extensão três concepções ideológicas que se entrecruzam adquirindo

materialidade nas práticas extensionistas das universidades:

a primeira concepção constitui-se desde a origem da extensão sob a ótica do

atendimento às demandas sociais por intermédio da prestação de serviços,

passando de uma dimensão transformadora-redentora da sociedade para

uma assistencialista-conservadora, uma vez que as ações extensionistas, em

sua maioria, são voltadas para a manutenção das desigualdades sociais.

(JEZINE 2006a, p.236).

Nesse contexto, a autora critica também ações pontuais nas comunidades com

objetivo de “resolução” imediata e paliativa de problemas sociais, sem reflexão sobre os

fatores causadores das desigualdades sociais e sem estimular formas de intervenção

organizada, ou seja, trata-se de uma prática, essencialmente, assistencialista.

A segunda concepção de extensão preconizada por Jezine (2006a, p. 236),

denominada de função acadêmica da universidade, teria surgido no bojo dos movimentos

sociais e buscava na relação universidade/extensão/sociedade a possibilidade de uma ação

transformadora. Essa concepção, partilhada pela autora, teria sido incorporada como conceito

de extensão pelo FORPROEX. Nessa perspectiva, atender às demandas significa, portanto,

caminhar para um diálogo, pois a universidade não pode se relacionar com o que hoje é visto

como mundo exterior sem antes ouvi-lo.

A concepção denominada “mercantilista” é a terceira das elencadas por Jezine

(2006a, p. 236-237). Formou-se ao longo das transformações do Estado e da sociedade

brasileira, concomitantemente à empreitada da extensão para estabelecer-se como função

acadêmica de igual status e valorização ao ensino e pesquisa. Desta forma, as demandas

advindas da sociedade não são tomadas como carências sociais, mas como novas expectativas

de serviços geradas pela sociedade globalizada. A parceria ou venda de serviços seria o

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mecanismo de articulação da universidade aos demais setores da sociedade civil, tornando-a

produtora de bens e serviços.

Jezine (2006a, p.226) avalia que nas formulações conceituais expostas, os limites

de algumas práticas assistencialistas da extensão universitária são percebidos. Igualmente, nas

propostas de concretização da extensão como uma atividade acadêmica, pode-se ainda

encontrar traços da influência dominante do atendimento às comunidades carentes. Prevalece,

segundo a autora, a visão da universidade como “redentora” da sociedade, comprometida com

a busca de soluções para os problemas sociais, econômicos e culturais. Isso ocorre mesmo

para as questões consideradas de natureza estrutural, na medida em que atribuem à extensão e,

consequentemente, à universidade, tarefas que extrapolam à sua capacidade.

Por outro lado, na busca de mudanças de concepções e de práticas na construção

da extensão universitária como função propriamente acadêmica da universidade, há quem

defenda a universidade do conhecimento e as atividades extensionistas incorporadas ao ensino

e à pesquisa. Destaca-se, nesse trabalho, a perspectiva de Paiva, J. (1997, p.49) para quem a

universidade tem por função institucional envolver-se com o ensino e com a pesquisa, sendo o

lugar da criação e da transmissão do conhecimento. Por isso, a pesquisa é vista pelo autor

como criação e recriação do saber, o ensino enquanto comunicação participativa e a extensão

como mera comunicação do conhecimento.

Paiva, J. (1997, p.51) ainda questiona como a expressão “indissociabilidade” foi

se impondo no tratamento da pesquisa, ensino e extensão. Para o autor, pesquisa e ensino, na

universidade, parecem ser indissociáveis, por ofício. Por outro lado, para ele, a extensão foi

uma função acrescentada, por conveniência, e tanto é assim que só pontualmente se observa

sucesso em sua trajetória.

Outro autor que apresenta críticas à prática extensionista é Botomé (1996) para

quem se trata de um equívoco dizer que os objetivos ou as funções sociais da universidade são

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o ensino, a pesquisa e a extensão. A principal questão levantada pelo autor é que a extensão

universitária descaracteriza a universidade. Ele parte da necessidade de reelaboração do

próprio conceito. Examina assim, as atividades desenvolvidas, verificando se essas

representam ou não serviços paternalistas e assistencialistas, se atuam sobre os determinantes

da condição de marginalização por intermédio da própria ação dos atingidos.

Segundo Botomé (1996), é mais prioritário ensinar a população a organizar-se e a

influir nos órgãos e instituições públicas, do que atuar nos problemas mais urgentes ou

emergentes, sob o risco de manter o papel alienante da extensão. Nesse sentido, para o autor,

se a pesquisa considerar a qualidade técnica, relevância científica, social e histórica e se o

ensino for planejado a partir do que constituem as exigências da realidade, se for realizado em

contato com os problemas, organizações, instituições e empresas da sociedade e se for

multidisciplinar, de forma a não reduzir os campos de atuação profissional às áreas de

conhecimento, deve-se questionar qual o papel da extensão universitária, já que o próprio

ensino poderia fazer a extensão universitária. Na síntese de Botomé (1996, p.144),

(...) a extensão é uma função transitória que desaparecerá na medida em que

houver uma universidade articulada com a sociedade. A extensão é mais

uma „filosofia‟ de ação orientando a pesquisa e o ensino do que uma

atividade à parte. A articulação e a comunicação da universidade com a

sociedade podem ser feitas através de pesquisas e ensino concebidos,

realizados e administrados para realizar, nos seus próprios âmbitos, tal

articulação e tal comunicação, tão desejadas por todos.

Essa racionalidade de Botomé (1996) é partilhada por Morais (1995) quanto ao

conceito “nebuloso” de extensão universitária. Para esse autor, a extensão não é uma função

inerente à universidade, mas forjada pela necessidade do desenvolvimento do capital,

tornando-se elemento de manipulação ideológica.

Marcovitch (1998) questiona a prática da extensão universitária voltada para o

atendimento da perspectiva da prestação de serviços. A extensão deve se incorporar à

pesquisa e ao ensino, sendo elemento de comunicação da produção do conhecimento, vista

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como indispensável canal de integração da sociedade, formadora da cidadania e promotora da

inquietude do ser social.

Jezine (2006a, p. 232) alerta para o fato de que as mudanças tecnológicas e a

abertura de mercados que marcam o mundo globalizado ao lado das políticas neoliberais, de

cortes nos orçamentos das universidades e da falta de incentivo financeiro para o ensino e à

pesquisa, têm produzido uma nova discussão sobre o papel da extensão universitária. Para os

adeptos dessa nova vertente, compete à extensão universitária captar recursos junto aos

diversos setores da sociedade civil, por intermédio da prestação de serviços, viabilizada, a

partir de “parcerias” entre universidades e empresas, o que foi chamado por Ianni (1997) de

“universidade mercadológica” e por Frantz e Silva (2002) de defensores da “flexibilidade,

competição e eficiência”. Em Jezine (2006a, p. 233), encontramos uma crítica contumaz a

esse tipo de defesa e, ainda, o questionamento:

como garantir a autonomia e o rigor da cultura científica, sintonizados com

a problemática presente e futura do conhecimento e da sociedade e, atender

ao pragmatismo e utilitarismo das empresas?

Cabe indagar se, necessariamente, as ações extensionistas, especialmente as de

prestação de serviços, são mercadológicas2, despidas do aspecto educativo, da aplicação do

conhecimento e da pesquisa em prol da melhoria da qualidade de vida, da sustentabilidade e

da cidadania. O que dizer, por exemplo, de uma parceria entre a universidade e agências de

saneamento, com fins de medição de qualidade da água e efluentes, projetos sócio-educativos

às populações ribeirinhas e manejo e proteção de nascentes e matas ciliares? Um projeto desta

natureza, além de envolver docentes, alunos e técnicos-administrativos de diversas áreas do

saber, permite a aplicação direta do conhecimento e da pesquisa, favorece a coletividade e,

2 Aqui entendida como relação meramente de “venda” de um produto ou serviço visando

exclusivamente o lucro.

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eventualmente, pode assegurar a geração de recursos que apoiarão e ampliarão ações

extensionistas da universidade, retornando assim, para a própria sociedade.

Entretanto, para que isto ocorra, é preciso que se atente a importantes questões.

Faria (2001, p. 17), diante das novas demandas e desafios que o mundo globalizado impõe

para a universidade, defende que:

não se pode deixar de contemplar a questão da capacitação e destinação de

recursos bem como a própria institucionalização das atividades

extensionistas, sem o que a atividade torna-se cada vez mais marginal, sem

oficialização, e a totalidade dos recursos obtidos termina sendo apropriada

exclusivamente pelo indivíduo, em geral, professor.

No mesmo sentido, Mendes (2009, p. 11) nos adverte que

A extensão menos institucionalizada está menos condicionada a condutas

éticas sobre como a universidade por meio de projetos pontuais,

unipessoais, se compromete com a comunidade que a cerca. [...] sem

valorização, reconhecimento e sem financiamento, a extensão no âmbito das

universidades ainda carece de um aprofundamento conceitual, o que a leva

a ambiguidades, pouca clareza sobre as formas de se relacionar com esse

“lado de fora”da universidade.

Assim como os autores, acreditamos que a institucionalização deve ser condição

indispensável para toda e qualquer atividade de extensão universitária, como forma de

valorizá-la e regulamentá-la através das instâncias democráticas da universidade. Isto

caracterizaria um projeto orgânico-institucional da universidade, de interesse da sociedade,

com relevância e impacto no desenvolvimento social. Além do que, este procedimento

balizaria a natureza acadêmica da atividade extensionista. Desta feita, a relação universidade-

sociedade se estreitaria através de parcerias com escolas e órgãos públicos, cooperativas

populares, municípios, movimentos sociais e Organizações Não-Governamentais (ONGs),

entre outros.

Entretanto, percebe-se um claro conflito entre as abordagens teóricas que,

tradicionalmente, têm se destacado nos debates acerca da extensão universitária: de um lado,

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o grupo que defende a extensão como função acadêmica e filosófica da intervenção e da

transformação social, afastando-se da prática meramente assistencialista que marcou sua

criação e, de outro, o grupo que toma a extensão como função precípua da universidade. Para

os defensores dessa última vertente, as atividades universitárias se restringem ao ensino e a

pesquisa, não sendo necessário especificar uma função para a disseminação dessas mesmas

atividades, já que isso somente contribuiria para a fragmentação do conhecimento e para a

crise de identidade da universidade. E há, ainda, os que destacam o apelo mercadológico da

extensão universitária como prestação de serviços.

Paralelo a esse debate, o governo federal através de projetos e programas, tem

buscado mecanismos de apoio à extensão universitária que, simultaneamente, são também

medidas de implantação de suas políticas públicas desde a década de 60. De modo

pragmático, pretendemos no próximo capítulo, desvendar a trajetória da implantação dos

programas governamentais precursores do PROEXT, não descuidando da interseção com o

contexto histórico em que ocorreram. Sobretudo, focaremos nossa análise no caminho do

PROEXT, desde a sua implantação até os dias atuais, buscando compreender diretrizes e

concepções da extensão universitária previstas nos editais, os problemas e os avanços, além

dos impactos na UFJF.

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2 A TRAJETÓRIA DO PROEXT: SEM SABER ONDE SE QUER CHEGAR, COMO

IR?

A universidade é notoriamente uma das instituições mais longevas da história da

humanidade, apesar das modificações que sofreu no tempo e no espaço. Prestes a completar

um século de existência na história do Brasil, a universidade enfrenta o desafio de produzir

ciência e inovação que precisam ser postos a serviço da sociedade. Na encruzilhada entre

ensino e pesquisa, há a gênese da extensão universitária com a atribuição de estabelecer a

ponte com a sociedade.

Assim, ao longo do primeiro capítulo, demonstramos os tortuosos caminhos que a

extensão percorreu para cumprir os papéis que lhes foram atribuídos, mesmo depois de sua

“legalização”. Além disso, destacamos as correntes que a influenciaram, os anseios pela

conceituação, institucionalização e financiamento e a luta pela organização e fortalecimento

através do FORPROEX que culminou com a criação do PROEXT. Contudo, nos parece,

ainda, pertinente a interrogação que abre o subtítulo deste segundo capítulo: como ir? E, antes

ainda, sabemos onde queremos chegar?

Acreditamos que estas indagações podem se aplicar à extensão universitária, ao

próprio PROEXT e às universidades que aderem a ele. Fato é que, independentemente de

siglas, nas últimas décadas, a extensão universitária foi pontuada por um mosaico de

programas e projetos induzidos por instâncias governamentais, em consonância com o

contexto histórico em que se apresentavam. As questões postas serão a motivação para o

desvendamento que pretendemos trazer da trajetória do PROEXT.

Como foi ressaltado no primeiro capítulo, no Governo Militar, as universidades e

os movimentos sociais foram submetidos à severa vigilância ideológica. Prova disso, são a

dissolução da UNE e a criação da primeira política de extensão universitária no Brasil,

elaborada pelo Governo Federal através de dois programas de dimensão nacional: o Centro

Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC) e o Projeto Rondon

(NOGUEIRA, 2001, p. 64).

Segundo Paiva, V. (1986, p.136), o programa CRUTAC foi instituído com o

objetivo de proporcionar ao estudante universitário, especialmente da área de saúde, a

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oportunidade de atuar junto às comunidades rurais, dentro de um “espírito humanitarista que

dominava os administradores da universidade nesse período, engajados nos propósitos do

novo governo brasileiro de combate à pobreza e ao potencial subversivo que o

acompanharia‟‟.

O projeto piloto do CRUTAC ocorreu em 1966 na Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, com o aporte técnico e financeiro da Superintendência de Desenvolvimento

do Nordeste (SUDENE) e, após obter o reconhecimento do Governo Federal, foi ampliado

para outras áreas do conhecimento na forma de estágio obrigatório. Neste contexto, o MEC

criou, em 1969, a Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento

e Ação Comunitária (CINCRUTAC), com o intuito de oferecer condições materiais e técnicas

para sua implantação nas demais universidades brasileiras.

Para Nogueira (2005, p.24), o CRUTAC coadunava-se bem com a ideologia do

grupo no poder que consolidava sua hegemonia ao demonstrar para a sociedade civil sua

preocupação com a miséria das classes desvalidas. A precariedade em que essas se

encontravam era atribuída ao analfabetismo e à incapacidade de fazer uso das técnicas para

melhorar suas condições de vida. Desviava-se, assim, a atenção da real problemática das

condições sócio-econômicas do país.

No mesmo sentido, Paiva, V. (1986, p. 137) avalia que a ideologia deste programa

buscava, através das ações extensionistas da universidade, fazer dela um centro de

distribuição de cultura, atuando no interior, junto às populações sem instrução, para trazer os

benefícios do mundo “civilizado”.

O outro programa originário do período militar, denominado Projeto Rondon, foi

concebido em 1966, durante o I Seminário sobre Educação e Segurança Nacional com a

participação de professores e militares. O Projeto Rondon foi instituído através do Decreto No

62.927, de 23 de julho de 1968, vinculado ao Ministério do Interior (MINTER), o que gerou

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50

críticas no grupo do MEC, posto que o mesmo tenha sido criado em um evento de educação

(SOUSA, 2000, p. 62).

Na avaliação de Sousa (2000, p.64-65), o Rondon foi marcado pela forte presença

do Estado com a participação voluntária dos estudantes, criado fora das universidades e sem

ter sido iniciativa das mesmas que se tornaram, apenas, instituições participantes. Portanto,

para a autora, não se pode afirmar, neste contexto, que se tratava de uma prática de extensão

universitária.

Por outro lado, apesar de o Rondon não se vincular diretamente ao sistema

educacional, para Gurgel (1986, p.120), através de suas diversas operações, o projeto permitiu

às universidades o exercício de ações extensionistas, representando, portanto, um inegável

apoio à extensão universitária.

Cabe destacar que a educação, especialmente o ensino superior, era considerada

pelos governos militares assunto de segurança nacional. Assim sendo, as forças armadas

buscavam estratégias para incutirem nos estudantes sua ideologia. Segundo Nogueira (2005,

p. 25), o pensamento filosófico que embasava essa ação pode ser resumido nos seguintes

princípios:

participação da juventude no processo de desenvolvimento nacional;

participação da universidade no desenvolvimento nacional: preparação do

universitário para o exercício consciente da cidadania, com fundamento nos

princípios que aprimoram o caráter e asseguram a prevalência dos valores

espirituais e morais.

Embora o Projeto Rondon possuísse características comuns aos CRUTACs, sua

especificidade se dava através das bases filosóficas da Escola Superior de Guerra. Além disso,

a atuação do Projeto Rondon ficou concentrada na Amazônia, afastando os universitários do

foco dos movimentos sociais e organização política (JEZINE, 2006a, p.151-152).

A partir de 1969, com a criação dos Campi Avançados, começa a existir uma

integração, de fato, entre o Projeto Rondon e as universidades e não apenas com os

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51

universitários, como se dava até então. Tratava-se do 4º Programa de Ação que o Rondon

instalava e, segundo Sousa (2000, p. 66-67),

A idéia era que a universidade ao implantar seu Campus Avançado, estaria

penetrando no interior do país, interiorizando-se e integrando-se com as

comunidades, de tal forma que poderia assim contribuir para o

„desenvolvimento integral do homem brasileiro‟.

Desta forma, para a universidade esta seria uma oportunidade de interiorizar-se

através da extensão universitária. Além disso, os Campi Avançados significavam uma atuação

da universidade fora de sua área geoeducacional, com a presença permanente de professores e

alunos. A criação dos Campi Avançados foi fruto de uma crítica dos primeiros universitários

“rondonistas” que pleiteavam ações sistematizadas e não apenas pontuais e representaram,

para Gurgel (1986, p. 119), o amadurecimento do Projeto Rondon.

Desse modo, ao participar do Projeto Rondon, estudantes e professores tinham a

oportunidade de “conhecer” a realidade brasileira, aprimorar sua formação e contribuir para o

desenvolvimento local das comunidades, “ensaiando” estratégias de intervenção comunitária

capazes de conviverem “harmonicamente” com a ideologia militar e todos os instrumentos de

censura às ações políticas.

Esta foi, para Jezine (2006a, p.150), uma forma de promover a institucionalização

da extensão como função acadêmica da universidade, passando a compor o quadro de

formação profissional nas áreas consideradas de carência social como saúde, educação e

agricultura, utilizando-se do estágio curricular como mão-de-obra especializada, de baixo

custo financeiro, para o atendimento dessas demandas.

Encampando a crítica aos Programas CRUTAC e Rondon, Marliére et al. (1996, p.

17), apontam que “insistir em ações que apresentam caráter mais de invasão, gerando

descrédito e falta de respeito com os excluídos, mostra-se apenas uma opção mais fácil para

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52

legitimar políticas conjunturais.” Para os autores, os referidos programas não são capazes de

modificar a realidade, já que esta é estruturalmente comprometida.

Na avaliação de Saviani (1998, p.123), com o regime instalado a partir de 1964, a

questão social se converte em questão de segurança interna, ou seja, “sob a égide da ideologia

da interdependência, todo o aparelho de Estado é reordenado para atender àquilo que passa a

ser chamado de „imperativos de segurança nacional‟.” Para o autor, é neste contexto que se

pode entender todo um conjunto de medidas tomadas durante a vigência do regime militar,

além dos CRUTACs e Projeto Rondon, o Movimento Brasileiro para a Alfabetização

(MOBRAL), os Centros Sociais Urbanos, Projeto Minerva, Projeto Saci, etc.

Enfrentando críticas, como o recrutamento de universitários sem a participação da

instituição universidade, o caráter esporádico dos projetos, o assistencialismo e a visão

redentora das universidades públicas da região sudeste atuando no norte do país, a retirada

gradual do apoio logístico dos ministérios militares envolvidos, o alto custo de manutenção

dos campi, o programa Projeto Rondon entra em decadência3 e é extinto oficialmente no ano

de 1989 (NOGUEIRA, 2005, p.25).

Concluindo a análise das políticas deste período militar, Jezine (2006a, p. 153)

afirma que as soluções apresentadas para o problema da pobreza por intermédio da extensão

universitária não passaram de política demagógica do governo pós 64.

Apesar de todas as críticas que possam ser feitas à metodologia de execução da

extensão universitária pelos governos militares, é preciso destacar uma importante iniciativa

para a institucionalização da extensão universitária dentro da estrutura ministerial. Através

das Portarias No289 e N

o398, respectivamente, do MEC e do MINTER, foi criada, em 1974, a

primeira comissão mista com a finalidade de estudar medidas que promovessem inter-

3 Em 2005, retorna com uma nova filosofia e passa a ser vinculado ao Ministério da Defesa. Segundo

dados do próprio ministério, desde que o Projeto Rondon foi reativado, já levou 1260 rondonistas para

712 municípios, de acordo com a correspondência eletrônica que nos foi encaminhada em

15/04/2011 pelo Cel. José Paulo da Cunha Victorio, Gerente de Planejamento do Projeto Rondon do

Ministério da Defesa.

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53

relacionamento entre os programas dos dois ministérios e, assim, fossem encontradas

propostas que os viabilizassem.

Fruto dos trabalhos desta comissão foi instituída, pela primeira (e única) vez, a

Coordenação de Atividades de Extensão (CODAE), vinculada ao MEC. As funções da

CODAE eram coordenar, supervisionar e avaliar as experiências de extensão em andamento;

articular, em nível de instituição de ensino superior as várias experiências de extensão

existentes e, além disso, articular-se com organismos públicos ou privados, que pudessem

servir de suporte ao desenvolvimento de atividades extensionistas (Sousa, 2000, p. 75).

Este novo órgão, na análise de Gurgel (1986, p. 143), uniu forças com o intuito de

fazer da extensão universitária algo inseparável dos programas e projetos governamentais de

maior vulto.

Além disso, o MEC divulgou, em 1975, o I Plano de Trabalho da Extensão

Universitária, considerado a primeira política de extensão universitária no Brasil que, a

despeito do forte controle da censura, apresentou um significativo avanço conceitual da

extensão. Para Nogueira (2001, p. 65), o Plano traz um conceito de extensão que supera todos

aqueles encontrados nas legislações anteriores, a saber:

A extensão é a forma através da qual a Instituição de Ensino Superior

estende sua área de atendimento às organizações, outras instituições e

populações de um modo geral, delas recendo influxo no sentido de retro-

alimentação dos demais componentes, ou seja, o ensino e a pesquisa.

(MEC/DAU, 1975 apud NOGUEIRA, 2001, p. 65-66).

O que se percebe é que o Plano de Trabalho da Extensão Universitária foi uma

forma usada pelo MEC para chamar para si todas as responsabilidades de programação,

supervisão e avaliação das experiências extensionistas, restando às universidades apenas a

execução das mesmas.

A importância dessa conjuntura está no fato de representar o início da reflexão

sobre a extensão universitária, propriamente dita. De tal modo, a necessidade de mudança

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54

estava posta e, mesmo extinta a CODAE4, seus propósitos se perpetuaram, especialmente, a

relação intrínseca entre ensino, pesquisa e extensão e a valorização da troca entre o saber

acadêmico e o saber popular (NOGUEIRA, 2001, p. 66).

Assim sendo, na década de 80, com o início da abertura política no Brasil, a

extensão universitária é concebida “segundo sua própria praxe, e não mais caudatária dos

interesses governamentais” (SOUSA, 2000, p. 83).

Após o fim da CODAE, a extensão universitária ficou órfã de um organismo que

fosse responsável por suas questões e, de acordo com Nogueira (2005, p.35 ), não há registro

de qualquer outro órgão para coordenação específica no âmbito nacional, comprometendo a

continuidade das ações em andamento até 1990. Neste ano, a extensão universitária ressurgiu

dentro da estrutura do MEC, “como resultado de esforços de alguns atores políticos que

vinham da militância no movimento docente e que traziam o discurso da democratização da

universidade” (SOUSA, 2000, p.76). Com isso, foi criada no MEC uma nova estrutura

regimental através do Decreto No 99.678 de 08 de novembro de 1990, denominada Divisão de

Extensão e Graduação (DIEG) do Departamento de Política de Ensino Superior (DPES) da

Secretaria Nacional de Educação Superior (SeNESu), com o objetivo de coordenar, em nível

nacional, toda a política e a prática da extensão.

A necessidade de criação da DIEG foi reiterada pela pesquisa para avaliar a

extensão nas IES, realizada pelo próprio MEC em 1990, com a qual o governo, segundo

Sousa (2000, p. 76), conclui que as atividades extensionistas estavam ocorrendo através de

projetos totalmente desvinculados do processo acadêmico e com um viés paternalista e

assistencial. Além disso, o MEC verificou sua própria omissão como elemento articulador da

extensão universitária, transparecendo também a ausência de um aporte financeiro, a

descontinuidade de programas de bolsas neste órgão e na própria universidade, a

4 Gurgel (1986, p.141) destaca que este órgão foi extinto em 1979 embora legalmente nunca tivesse

chegado a existir, posto que não foi criada no Departamento de Assuntos Universitários(DAU) do

MEC, nenhuma legislação que o regulamentasse.

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descontinuidade dos programas de extensão em nível regional e a própria falta do processo de

institucionalização, significando um entrave para seu desenvolvimento.

Em 1993, o MEC, atendendo a uma reivindicação antiga do FORPROEX, criou,

através da Portaria No 66 de abril de 1993 da SESU/MEC, a Comissão de Extensão

Universitária com o objetivo de elaborar programas específicos que definam princípios,

diretrizes e formas de fomento à extensão nas IES. Trata-se de uma comissão vinculada

diretamente à DIEG e composta por coordenador nacional e coordenadores regionais do

FORPROEX, o Diretor do DPES e o Chefe da DIEG (NOGUEIRA, 2005, p.50).

Simultaneamente, foi criado também o Comitê Assessor5 que tinha na sua

composição nomes designados conforme orientação do DIEG e do FORPROEX, através da

Portaria No 134 de 16 de Julho de 1993 (NOGUEIRA, 2005, p.54). Sua função era trabalhar

na avaliação e no julgamento de projetos vinculados ao Programa de Fomento à Extensão

Universitária (PROEXTE). Este programa fora criado em 1993, fruto dos esforços do

FORPROEX e do MEC e, de fato, implementado em 1994, tendo sua segunda edição no ano

seguinte. No primeiro ano, segundo Feres (1994, p. 71) foi destinado ao PROEXTE

aproximadamente um milhão de dólares e em 1995 esse montante subiu para dois milhões e

meio de dólares.

As edições de 1994 e 1995 do PROEXTE seguiam duas linhas de ações: (i)

articulação da universidade com a sociedade; (ii) integração da universidade com o ensino

fundamental (Ferreira, 2005 e Jezine, 2006a).

A importância do PROEXTE e seus problemas foram evidenciados pelo conjunto

peculiar de depoimentos de dirigentes relacionados diretamente com a extensão nas

5 Não por acaso, articulando teoria, prática e política extensionista, um dos importantes interlocutores

dessa pesquisa, Roberto Mauro Gurgel Rocha (indicado em bibliografias como GURGEL), da

Universidade Federal do Maranhão (UFMA), além de outros autores da área de extensão como

Renato Hilário dos Reis da Universidade de Brasília (UnB), Marcos Vieira Silva da Universidade

Federal de São João Del Rey (UFSJ) e Klinger Marcos Barbosa Neves da Universidade Federal do

Espírito Santo (UFES) fizeram parte deste comitê, de acordo com Jezine (2006a, p.190), como

representantes do FORPROEX.

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universidades públicas brasileiras, analisados pela pesquisa de Jezine (2006a, p. 190-198). Em

síntese, os mais variados relatos apontavam para a precariedade e insegurança na liberação

dos recursos financeiros. Entretanto, o segmento pesquisado enalteceu a iniciativa do MEC

em atender parte das demandas do FORPROEX através do PROEXTE, possibilitando maior

visibilidade da extensão dentro das universidades, sua legitimação enquanto função

acadêmica, estímulo a criação de programas internos de bolsas para essa modalidade de

atividade e veiculação dessas experiências através de eventos e publicações.

Na análise trazida por Jezine (2006a, p. 192), o PROEXTE “representou, assim,

uma conquista política para o Fórum, concretizando suas reivindicações desde a sua criação.”

Apesar de todo o esforço dos agentes envolvidos, o PROEXTE teve vida breve, extinto no

início do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). O que parece estar latente nesta

política é que o cumprimento da função social da universidade pelas atividades extensionistas

não interessava ao novo governo que não se mostrava disposto a investir em projetos que

estavam sob a tutela ideológica das universidades (JEZINE, 2006a, p.195). O FORPROEX e

as universidades, diante deste quadro de descontinuidade da política de institucionalização da

extensão, passam a encampar um movimento de resgate da valorização da extensão e do seu

financiamento.

O PROEXTE, durante o Governo FHC, foi substituído pelo Programa

Comunidade Solidária no qual estavam inseridos os programas Universidade Solidária e

Alfabetização Solidária (ALFASOL). O Programa Comunidade Solidária se resume em um

programa que:

é um novo modo de enfrentar pobreza e a exclusão social no Brasil

buscando a participação de todos. O seu objetivo é mobilizar os esforços

disponíveis no governo e na sociedade para melhorar a qualidade de vida

dos segmentos mais pobres da população. Somando esforços, governo e

sociedade são capazes de gerar recursos humanos, técnicos e financeiros

para agir eficientemente no combate à pobreza. Por isso, a proposta da

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Comunidade Solidária baseia-se no princípio da parceria. Parceria do

governo federal com os estados e municípios, realizada pela Secretaria

Executiva, parceria das ações governamentais com as iniciativas geradas

pela sociedade civil, uma atribuição do Conselho Consultivo (ALFASOL,

2011).

Assim sendo, o Comunidade Solidária deveria mediar os diversos parceiros na

esfera pública e privada e focar ações nas áreas mais carentes do país (JEZINE, 2006a, p.

195), expandindo o foco de ação para além da extensão universitária e da educação, numa

tentativa de envolvimento da comunidade como um todo, conclamada a “vencer o

enfrentamento à pobreza” no país. As questões estruturais que mantém a heterogeneidade da

sociedade brasileira, com alto grau de concentração de renda, são tratadas de modo velado em

detrimento da aposta na capacidade de mobilização da sociedade.

O Programa Universidade Solidária iniciou-se em 1996 e suas ações muito se

aproximavam das preconizadas pelo Projeto Rondon, ou seja, sensibilizar e recrutar

estudantes universitários em programas voltados para as comunidades carentes no país. Além

disso, esse programa passa a intermediar o financiamento de projetos para as universidades. O

ALFASOL pleiteava reduzir os elevados índices de analfabetismo no país e, ainda, ampliar a

oferta pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para cumprir tais tarefas as IES

participantes deveriam treinar e capacitar os alfabetizadores e coordenadores do programa nos

municípios e também acompanhar e avaliar a aprendizagem nas localidades com salas do

curso de alfabetização.

Para Machado (2009, p. 41), os novos programas são fruto da reforma do Estado,

promovida pelo novo governo que, em síntese, pretendia legitimar a participação de

Organizações não-governamentais (ONGs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público (OSCIPs). De fato, no esteio das políticas neoliberais, o Programa ALFASOL foi

transformado em uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e de utilidade

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pública, durante a vigência do próprio governo de FHC, sob o nome de AlfaSol. Desta feita,

através de parcerias poderia captar recursos privados para atuar na alfabetização,

principalmente de jovens e adultos.

Outro aspecto a ser salientado nas políticas públicas deste período é a

desvinculação da natureza acadêmica de ações extensionistas, como ocorrera, mesmo que

provisoriamente, durante o PROEXTE. O caráter voluntário das participações dos alunos e

professores nas atividades fica explícito nos textos governamentais do período:

Com o Universidade Solidária o Governo pretende mobilizar estudantes e

professores para a participação voluntária e solidária em ações de combate à

pobreza e à exclusão social. Deseja, ademais, estimular a participação da

sociedade em ações que valorizem o sentido da cidadania, promovam

melhor qualidade de vida e articulação entre atores do Estado e da

sociedade como um todo, para ações solidárias de enfrentamento dos

problemas sociais da população brasileira.

(ALFASOL 2011)

Destaca-se que o ALFASOL e o Universidade Solidária eram coordenados pelo

Conselho da Comunidade Solidária, a participação das universidades se dava por adesão

“voluntária” e o FORPROEX não era mais tomado como “interlocutor, mas apenas como um

elemento que pode facilitar o desenvolvimento de seus programas junto às universidades”

(Jezine, 2006a, p.216).

Entretanto, o FORPROEX, nos embates com o governo, amadureceu e passou a

buscar menos o consenso e mais a objetividade e autonomia no trabalho da extensão, à revelia

do reconhecimento e de repasses financeiros por parte da esfera federal. Portanto,

o Fórum adota nova postura, parte para a sistematização de suas próprias

diretrizes políticas e metodológica, que passam a sedimentar a prática

extensionista das universidades públicas brasileiras, produzindo assim, uma

força consciente e hegemônica de resistência e defesa de seus princípios

filosóficos (Jezine, 2006a, p. 198-199).

O Programa Comunidade Solidária se constituía como uma política pública do

governo FHC, não se consolidando em uma política de Estado e, com o início do governo de

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Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) em 2003, ele foi extinto. Neste mesmo ano, o FORPROEX

retoma as negociações sobre a questão do financiamento com vários setores e ministérios do

novo governo. Segundo Castro, L. (2004, p.29), o Fórum pretendia garantir o financiamento

através dos seguintes aspectos: projeto institucional de bolsas de extensão, institucionalização

da participação da extensão no processo de flexibilização curricular, aquisição de

equipamentos, implementação do banco de dados e sistema de informação via web e projeto

de avaliação institucional da extensão universitária.

Assim, a SESU/MEC, em consonância com o FORPROEX, lança o Programa de

Apoio à Extensão Universitária – PROEXT em 2003. Desde sua implantação até os dias

atuais, os editais do PROEXT são um instrumento que abrange programas e projetos de

extensão universitária, com ênfase na inclusão social, visando aprofundar ações políticas que

venham fortalecer a institucionalização da extensão no âmbito das Instituições Públicas de

Ensino Superior (IPES).

Em 2005, na apresentação do primeiro volume da Revista PROEXT, o Secretário

de Educação Superior – SESU/MEC, Nelson Maculan Filho, enfatizou que o lançamento do

PROEXT trata-se de uma ação que visa “potencializar os esforços das universidades públicas

no desenvolvimento de ações nas universidades comprometidas com a extensão e voltadas

para o resgate da cidadania, a solidariedade e o comprometimento social.”

No volume dois da mesma publicação, o novo secretário da SESU/MEC, Ronaldo

Mota, evidenciou o compromisso social das instituições de ensino superior e a importância

das mesmas como parceiras imprescindíveis no enfrentamento dos problemas nacionais,

através do PROEXT. Além disso, segundo Mota (2007), o programa contribui para o

envolvimento do estudante universitário com diferentes comunidades e grupos sociais,

ampliando sua visão sobre a realidade do país e a sua responsabilidade social como futuro

profissional. Para Mota (2007), trata-se de uma oportunidade de reafirmar a dimensão

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acadêmica da extensão universitária como uma das inúmeras e importantes estratégias de que

dispõe as universidades para responder aos desafios do projeto de desenvolvimento da nação.

Para Pederneiras (2005, p. 07), o PROEXT surge como fruto da ampla discussão

com os setores envolvidos, “tem sabor de resgate: por vários anos essa importante atividade

acadêmica das universidades ficou como que esquecida pelo MEC, sem receber qualquer

auxílio para programas específicos.”

Martins e Ribeiro (2007, p. 15-16) afirmam que a publicação sucessiva de editais

públicos do PROEXT, a análise e o julgamento das propostas por comissões de especialistas,

a transparência dos resultados, as parcerias com outros ministérios para ampliar recursos e

difundir a capacidade instalada nas universidades, o acompanhamento e a avaliação dos

projetos/programas financiados, além da divulgação do impacto social dos projetos, tem

concorrido para legitimá-lo junto à comunidade acadêmica e à sociedade.

Segundo Martins e Ribeiro (2007, p. 09):

Ao PROEXT também pode ser creditada uma significativa contribuição

para o fortalecimento de políticas públicas, assim como para a inserção

dessas políticas nas discussões e atividades próprias do universo acadêmico.

A solidariedade e a relação de reciprocidade que se constrói nas ações

extensionistas, ao se constituírem diretrizes norteadoras do trabalho na

comunidade e do próprio programa, permite potencializar o compromisso

das instituições com a sociedade e reforçar a missão social da universidade.

A despeito da fala dos autores, o que se percebe é que o PROEXT assume o

caráter de um financiamento que seleciona as temáticas ou problemas nos quais se espera que

a extensão atue sem uma clareza sobre os resultados por ela alcançados em termos de geração

de conhecimento sobre os discentes envolvidos e as metas alcançadas. Cabe questionar: até

que ponto o compromisso da universidade se potencializa? Sem o PROEXT, o que seria da

universidade? Estas indagações nos remetem ao questionamento que abre este capítulo e nos

colocam diante do desafio de desvendar o que se pretende com o PROEXT.

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61

Por outro lado, como prova da relevância adquirida, o PROEXT foi instituído no

âmbito do Ministério da Educação através do Decreto No 6.495 de 30 de junho de 2008. Trata-

se de uma tentativa de consolidá-lo como política de Estado e não apenas de governo,

garantindo a continuidade dessa que tem sido, por assim dizer, única fonte de financiamento e

de apoio à extensão. Com forte atuação do FORPROEX, enquanto instância parceira da

SESU/MEC, registra-se a consolidação do PROEXT nos editais anuais.

De acordo com o Edital do PROEXT 2007 de 20 de junho de 2007 e o Edital No

9 do PROEXT 2008, seus objetivos são:

1. dotar as instituições federais e estaduais de ensino superior de

melhores condições de gestão de suas atividades acadêmicas de extensão

para os fins prioritários enunciados nesse programa;

2. apoiar a instituições federais e estaduais de ensino superior no

desenvolvimento de programas e projetos de extensão, conforme o

enquadramento da instituição, que contribuam para a implementação de

políticas públicas;

3. potencializar e ampliar os patamares de qualidade das ações propostas,

projetando a natureza das mesmas e a missão das instituições de ensino

superior públicas. (MEC, 2008, 2007)

No Edital No2 do PROEXT 2009 de 25 de maio de 2009, além dos três objetivos

acima descritos, acrescenta-se ainda:

4. estimular o desenvolvimento social e o espírito crítico dos estudantes,

bem como a atuação profissional pautada na cidadania e na função social da

educação superior;

5. contribuir para a melhoria da qualidade da educação brasileira por

meio do contato direto dos estudantes com realidades concretas e da troca

de saberes acadêmicos e populares. (MEC, 2009)

A análise do decreto que instituiu o PROEXT nos permite concluir que ele

encampa, além dos cinco objetivos apresentados nos editais, outros três:

6. centralizar e racionalizar as ações de apoio à extensão universitária

desenvolvidas no âmbito do Ministério da Educação;

7. propiciar democratização e difusão do conhecimento acadêmico;

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8. fomentar o estreitamento dos vínculos entre as instituições de ensino

superior e as comunidades populares do entorno (BRASIL, 2008).

Sendo assim, diante das expectativas que se tem de uma política de fomento

voltada para a interface da universidade com a sociedade, considera-se significativa a

realização de uma análise detalhada dos editais do PROEXT.

O Quadro 1 apresenta dados relativos às edições de 2003 a 2009 do PROEXT e

demarca a importância atingida pelo mesmo.

Quadro 1 – Dados relativos aos Editais do PROEXT de 2003 a 2009

Ano Total de

Recursos

(em Reais)

Linhas

temáticas prioritárias

Total de

programas

*

Valor

máximo por

Programa

(em Reais)

Total de

Projetos

**

Valor

máximo

por Projeto

(em Reais)

2003 4.500.000,00 Educação de Jovens e Adultos 2 100.000,00 2 30.000,00

2004 4.500.000,00 Atenção ao idoso e deficiente 2 100.000,00 2 30.000,00

2005 6.000.000,00 Direitos Humanos e

Desenvolvimento Social

2 80.000,00 2 30.000,00

2006 6.000.000,00 Promoção e preservação da saúde

pública

2 80.000,00 2 30.000,00

2007 6.000.000,00 Qualificação de professores,

educação de jovens e adultos,

Juventude e desenvolvimento

social, geração de trabalho e renda,

promoção da saúde e/ou prevenção

de doença, atenção à pessoa idosa,

à pessoa com deficiência e às

populações indígenas

2 80.000,00 2 30.000,00

2008 8.000.000,00 Qualificação de professores,

educação de jovens e adultos,

Juventude e desenvolvimento

social, geração de trabalho e renda,

promoção da saúde e/ou prevenção

de doença, atenção à pessoa idosa,

à pessoa com deficiência e às

populações indígenas

2 100.000,00 4 30.000,00

2009 19.200.000,00 Educação, desenvolvimento social

e saúde; gestão cultural, economia

de cultura e desenvolvimento das

linguagens artísticas; preservação

do patrimônio cultural brasileiro;

trabalho, emprego e incubação de

empreendimentos econômicos

solidários

7 100.000,00 20 30.000,00

Fonte: MEC (2009,2008,2007,2006,2005,2004,2003)

Nota: * Número máximo de programas por área temática que cada instituição pode concorrer.

** Número máximo de projetos por área temática que cada instituição pode concorrer.

Page 65: Universidade Estácio de Sá · CTM Comissão Técnica Multidisciplinar CTU Colégio Técnico Universitário DAU Departamento de Assuntos Universitário DIEG Divisão de

63

A regularidade das edições, o vertiginoso aumento de 320% no total de recursos

destinados ao longo de sete anos, a ampliação das áreas temáticas e do número máximo de

programas e projetos com os quais cada instituição proponente pode concorrer atestam a

magnitude que o PROEXT passa a representar para a extensão universitária.

Ao diversificar as áreas temáticas, o PROEXT oportuniza a possibilidade de

participação de mais docentes e alunos, oriundos de um maior número de áreas do

conhecimento que compõem a diversidade do saber universitário. Além disso, o maior leque

de opções de linhas temáticas e o aumento no número de projetos e programas a serem

encaminhados permite um significativo ganho no aporte financeiro para as IPES. Nota-se, por

exemplo, que na edição de 2003, o montante que cada IPES poderia alcançar com a aprovação

de seus projetos/programas não ultrapassava o valor de R$ 260 mil reais enquanto que, na

edição de 2009, atingiria R$1.300 mil reais.

A nosso ver, as alterações que foram destacadas acima, no que se referem aos

editais do PROEXT de 2003 a 2009, estão diretamente relacionadas à inclusão de outros

ministérios que, ao lado do MEC, passam a tomar a extensão universitária como um

importante agente executor de suas políticas públicas. A utilização do conhecimento

universitário a serviço das demandas sociais é preconizada pelo FORPROEX e prevista nos

objetivos dos editais do PROEXT. Entretanto, a estratégia de se valer disso para transferir

para a universidade as funções de Estado tem sido fruto de crítica de muitos estudiosos da

área, como Botomé (2001, 1996), Jezine (2006a, 2006b) e Nogueira (2005, 2001).

Por outro lado, a análise dos editais do PROEXT indica também a ampliação e,

consequentemente, a democratização do acesso aos mesmos por instituições públicas

estaduais e municipais de ensino superior. Demarca-se, com isso, o foco do investimento do

Estado na esfera essencialmente pública. Além disso, Ferreira (2005, p.2) destaca que as

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64

propostas de programas e projetos direcionados aos editais do PROEXT deverão atender

obrigatoriamente as diretrizes de natureza acadêmica, de relação com a sociedade e de

estruturação da proposta.

A análise dos objetivos previstos no Decreto que instituiu o PROEXT e as

informações contidas nos editais do PROEXT nos anos de 2003 a 2009 apontam que o

governo federal, através da SESU/MEC e de outros ministérios, tem se valido da extensão

universitária para implantar suas políticas públicas de inclusão social. Isso se torna evidente

principalmente quando a SESU/MEC determina nos Editais um limite máximo de programas

e projetos em cada área temática com os quais as IPES poderão concorrer. Assim sendo, na

busca por ampliar as possibilidades de financiamento, há uma nítida indução do trabalho a ser

realizado pelas instituições que se “moldam” para atender a todas as linhas temáticas

prioritárias, definidas nos editais, como: educação de jovens e adultos; atenção ao idoso e ao

deficiente; direitos humanos e desenvolvimento social; promoção e prevenção da saúde e

inclusão social, entre outras.

Desse modo, todos os programas e projetos deverão ter a característica de atuarem

sobre questões sociais e precisam apresentar também o Plano de Trabalho e o Termo de

Referência, devidamente assinado pelo dirigente máximo da Instituição proponente. O Plano

de Trabalho de cada programa e projeto concorrente deve conter: título, objetivo, atendimento

ao tema, natureza acadêmica, relação com a sociedade, caracterização e justificativa,

cronograma de execução (metas, etapas, fases), plano de aplicação e classificação da despesa

(orçamentária e financeira), metodologia, público alvo, execução do projeto (ações e

atividades) e equipe executora.

Todos os Planos de Trabalho concorrentes são objeto de análise, julgamento,

classificação e avaliação pela SESU/MEC. Inicialmente, foi instituído para este objetivo o

Comitê Técnico Multidisciplinar (CTM) do MEC que era composto de representantes

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65

indicados pela própria SESU/MEC e pela Coordenação Nacional do FORPROEX.

Observamos que este comitê não era oficializado pelo MEC através de um documento como,

por exemplo, uma Portaria da SESU, como ocorreu no Comitê Assessor do PROEXTE dos

anos 1994/95.

Atualmente, a SESU/MEC, via Coordenação Nacional do FORPROEX, tem

solicitado diretamente aos Pró-Reitores de Extensão das IPES a indicação de professores para

atuarem como consultores ad hoc de avaliação das propostas submetidas aos editais. Na

edição do PROEXT 2010 foram recrutados até mesmo servidores técnico-administrativos dos

vários ministérios envolvidos, sem experiência e identidade com as questões referentes à

extensão universitária. Além disso, não são divulgados os nomes dos componentes da equipe

responsável que é recomposta a cada ano, ocasionando uma fragmentação nos trabalhos de

avaliação. Estas práticas têm gerado descontentamento na esfera das IPES, especialmente

entre os coordenadores envolvidos diretamente através de seus projetos e programas

concorrentes. 6

Outro aspecto a ser salientado é a avaliação dos relatórios finais a serem

encaminhados à SESU/ MEC pelos coordenadores de projetos/programas contemplados. A

experiência da UFJF, no período estudado (2007 a 2009), constatou a inexistência de um setor

ou órgão dentro da estrutura da SESU/MEC para sistematizar a cobrança dos mesmos. Além

disso, a falta de transparência dos critérios adotados e a não divulgação da avaliação feita

sobre o “produto final” do trabalho realizado nos programas/projetos aprovados pelo

PROEXT acaba por desestimular o docente para inscrever-se nas edições posteriores.

6 Muito ilustrativo desta problemática é o ofício 01/2008 do Coordenador do FORPROEX/Regional

Sudeste de 24/09/2008 encaminhado ao Coordenador Geral de Projetos Especiais do

MEC/SESU/DIPES. Na oportunidade, foi solicitado esclarecimento quanto a: (i) análise e resultado

das propostas relativas ao PROEXT edição 2008; (ii) demais critérios de avaliação, não constantes no

edital, por ventura estabelecidos pela CTM; (iii) representação do FORPROEX na CTM; (iv)

possibilidade de devolução às IPES dos projetos/programas indeferidos com os devidos comentários

da CTM. Embora tenha sido protocolado pessoalmente pelo próprio Coordenador, o documento

permanece sem resposta até a presente data.

Page 68: Universidade Estácio de Sá · CTM Comissão Técnica Multidisciplinar CTU Colégio Técnico Universitário DAU Departamento de Assuntos Universitário DIEG Divisão de

66

Acreditamos que a alternância na estrutura organizacional tanto do MEC, com os

ministros Cristóvão Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad, quanto da SESU que teve

como secretários, desde 2003 até hoje, os senhores Nelson Maculan Filho, Ronaldo Mota,

Maria Paula Dallari Bucci e Luiz Cláudio Costa, tenha contribuído para os problemas

destacados. Além disso, as universidades são, a cada nova edição do PROEXT, surpreendidas

com os mais diversos tipos de cobrança relacionados ao PROEXT, desde a prestação de

contas até mesmo relatórios conclusivos de edições anacrônicas, por diversos setores e

pessoas, ditas “responsáveis” pela coordenação do PROEXT dentro da estrutura SESU/MEC.

Embora apresente edições anuais, constata-se no estudo dos editais do PROEXT

de 2003 a 2009 modificações, a cada edição, no que se refere ao calendário (quase sempre

exíguo), às áreas temáticas discriminadas, número máximo de propostas a serem

encaminhadas, alternância de autorização para o pagamento de bolsas e até mesmo o perfil

das instituições proponentes.

Todas estas questões, a nosso ver, favorecem práticas isoladas, ou de um grupo de

professores, em busca do financiamento oportunizado pelos editais, não se consolidando

dentro da estrutura universitária como um programa orgânico institucional e perene. A

participação docente se dá de modo espontâneo e as Pró-Reitorias de Extensão são

responsáveis apenas pela divulgação dos editais e sistematização do envio das propostas.

Além disso, ao determinar as linhas temáticas, o PROEXT toma o país como um todo

homogêneo, podendo deixar de atender às reais características e interesses do compromisso da

comunidade acadêmica no contexto social no qual ela está inserida.

Mesmo com todos os problemas ressaltados, o PROEXT motivou a participação

dos docentes da UFJF que responderam a todas as chamadas com os números máximos de

projetos/programas previstos, exceto na edição do PROEXT de 2009, conforme consta no

Quadro 2.

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Quadro 2 – Resultados da UFJF nos Editais do PROEXT de 2003 a 2009.

Ano Total de

programas

*

Total de

Projetos

**

Programas

encaminhados/

contemplados

Projetos

encaminhados

/

contemplados

Teto

Máximo

(em reais)

Valor

Obtido

(em reais)

2003 2 2 2/1 2/0 260.000,00 69.771,91

2004 2 2 2/1 2/2 260.000,00 108.000,00

2005 2 2 2/0 2/1 220.000,00 16.800,00

2006 2 2 2/1 2/1 220.000,00 67.252,00

2007 2 2 2/1 2/1 220.000,00 90.041,00

2008 2 4 2/0 4/1 320.000,00 30.000,00

2009 7 20 2/1 5/2 1.300.000,00 158.061,00

Fonte: MEC (2009, 2008,2007,2006,2005,2004,2003) e dados da Pró-Reitoria de Planejamento e

Gestão da UFJF.

NOTA: * Número máximo de programas por área temática que cada instituição pode concorrer.

** Número máximo de projetos por área temática que cada instituição pode concorrer.

Por outro lado, este quadro, nos revela a oscilação dos valores contemplados em

relação aos valores pré-determinados nos editais. Entre o planejado e o contemplado, a edição

de 2004 foi a que apresentou o maior percentual com 41,53% do total pleiteado pelos

projetos/programas, tendo sido a única edição em que o total de projetos encaminhados foi

aprovado. Na edição seguinte, houve um fraco desempenho dos projetos/programas

encaminhados resultando em apenas 7,63% do esperado.

Ao compararmos os dados dos Quadros 1 e 2, podemos concluir que a UFJF

captou, nas sete edições do PROEXT, um aporte financeiro da ordem de R$ 540 mil reais em

um montante de R$ 2.800.000,00 disponibilizado nos editais, o que equivale a 19,28%. Estes

recursos, por si só, não garantem plenamente o desenvolvimento de todas as atividades

extensionistas. Além do mais, os editais preveem que os recursos sejam destinados

exclusivamente aos projetos/programas contemplados, seguindo as metas pré-estabelecidas no

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68

respectivo plano de trabalho aprovado e, portanto, não abrangendo as demais ações

extensionistas desenvolvidas pela instituição.

Somente no ano de 2009, a UFJF através da PROEXC, desenvolveu 283 projetos e

9 programas, coordenados por 169 professores e envolvendo um número significativo de

bolsistas voluntários e 380 alunos bolsistas remunerados com recursos subtraídos da matriz

orçamentária MEC/ANDIFES da própria instituição na rubrica custeio, perfazendo um

investimento médio de R$ 850 mil/ano7, recurso fundamental, porém não suficiente para

assegurar com qualidade o processo dialógico da comunidade acadêmica com a práxis

vivenciadas na sociedade.

Além destes recursos, outros projetos e programas obtiveram também aporte

financeiro de agências de fomento e órgãos públicos através de editais e/ou chamadas

públicas. No âmbito estadual, destacam-se os 8 projetos contemplados nos editais da

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), totalizando R$ 320

mil em quatro anos. Na instância federal, o processo de articulação permanente do

FORPROEX encontrou respaldo governamental para as ações extensionistas em vários outros

Ministérios, o que resultou nos Editais e Chamadas Públicas: SEB/MEC, SECAD/MEC,

PROEXT/MEC/MinC, PROEXT/MEC/CIDADES, MDS, MCT/CNPq, MEC/Incluir, entre

outros.

Na UFJF, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC) é responsável, ainda,

pelo desenvolvimento da gestão dos cursos de extensão (iniciação, atualização, treinamento e

qualificação profissional) como também as análises e assinaturas dos convênios realizados

entre a Instituição e os diversos setores da sociedade, visando cooperação acadêmica,

científica e cultural que, eventualmente, podem também gerar recursos.

7 Trata-se do valor médio investido, a cada ano, desde 2003, destinado a pagamento de bolsas aos

estudantes, participação docente e discente em eventos acadêmicos relacionados à extensão

universitária.

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Embora existam as diversas possibilidades de captação de recursos externos para a

extensão universitária, muitas das quais a PROEXC da UFJF tem se valido, como foi

destacado acima, consideramos importante ressaltar as repercussões do PROEXT,

especialmente nos anos de 2007 a 2009. Vejamos a Tabela 1:

Tabela 1 - Relação dos Projetos e Programas da UFJF contemplados com recursos do PROEXT no

período de 2007-2009

Ano Projeto/Programa Recursos

Contemplados

(em reais)

Recursos

Executados

(em reais)

Relação

2007

P1 24.227,00 23.797,36 98,22%

P2 65.814,00 65.814,00 100%

2008 P3 30.000,00 8.444,45 28,14%

2009

P4 98.361,00 58.141,59 59,1%

P5 29.700,00 19.021,71 64%

P6 30.000,00 28.413,59 94,71%

Total 278.102,00 204.032,70 73,36%

Fonte: MEC (2009, 2008, 2007); dados da Coordenadoria de Execução e Suporte Financeiro

(COESF)/UFJF relativos aos valores pagos até maio de 2011.

Os dados subtraídos da Tabela 1 atestam que durante as três edições vigentes, os

recursos captados via PROEXT totalizaram R$ 278.102,00 que representam 10,9% do total

investido na extensão universitária pela administração superior da UFJF no mesmo período,

ou seja, R$ 2.550.000,00 advindos da rubrica custeio da matriz MEC/ANDIFES/UFJF.

A Tabela 1 ainda nos permite outras importantes constatações referentes à

comparação entre os valores contemplados, ou seja, planejados por cada projeto/programa e o

que de fato foi executado. Verifica-se que do total previsto de R$ 278.102,00 somente foram

executados R$ 204.032,70 equivalentes a 73,36%. Em relação a cada projeto/programa houve

grande oscilação de percentuais: em alguns o planejado ocorreu praticamente na íntegra

enquanto outros não ultrapassaram 60%. Acreditamos que tais constatações se desdobrarão na

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70

análise de cada projeto/programa que pretendemos empreender no terceiro capítulo, ainda que

nosso foco seja a questão da natureza acadêmica dos mesmos.

Portanto, a trajetória histórica apresentada neste capítulo demonstrou a busca da

extensão em consolidar-se dentro da estrutura universitária, e do próprio MEC, em se tratando

de conceito, institucionalização, financiamento e avaliação, também marcada por sua tentativa

de mediação às contundentes críticas para com a universidade, ou seja, “a de que ela

raramente colocou o conhecimento produzido no seu interior para a solução dos problemas

sociais” (CASTRO, L., 2004, p.16). Por vezes, a universidade, especialmente a extensão, para

demonstrar sua relevância social, viu-se na “obrigação” de desenvolver funções do próprio

Estado. No dizer de Castro, L. (2004, p.17)

Muitas das atividades de extensão universitária serviram, e ainda servem,

como reveladoras da abertura da universidade para as comunidades. Se

analisarmos com cuidado, veremos que algumas propostas funcionam como

as políticas sociais compensatórias, suficientes para acalmar os conflitos

sociais sem criar ou possibilitar a criação de novas possibilidades e saídas

para os grupos envolvidos.

Botomé (2001, p. 163) nos convoca a desvelar esta estratégia de apropriação da

extensão universitária, afirmando a incoerência de “encobrir descaso do Estado ou o

oportunismo de dirigentes da própria instituição, descaracterizando-a e substituindo as

agências que deveriam preparar, ensinar e incentivar a fazer determinados trabalhos da

sociedade.” O autor defende, ainda, que “parece urgente definir a universidade e sua

„extensão‟ pelos seus fins e não por suas atividades” (BOTOMÉ, 2001, p. 164). Assim sendo,

Botomé (2001) enfatiza que a extensão se diluiria entre as atividades de ensino e pesquisa,

posto que seus objetivos compõem a própria missão universitária.

Por outro lado, Oliveira, C. (2004, p.5) destaca que

Se qualquer universidade efetivar uma mínima divulgação de suas infinitas

possibilidades de projetos sociais extensionistas acabará virando um

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„plantão social‟ onde desaguarão absolutamente todas as demandas não

atendidas pelo Estado, por suas políticas públicas.

A corrida desenfreada por financiamento e fontes de fomento, tal como foi

marcada neste capítulo, inclusive no que se refere ao PROEXT, não pode se tornar o ponto de

chegada e se sobrepor ao trabalho reflexivo, especialmente sobre as funções que vêm sendo

atribuídas à extensão universitária. Caso contrário, ela continuará a fazer „qualquer‟ coisa que

lhe for solicitada pelas pressões do sistema existente. Trata-se de uma decisão política que

requer um exame cuidadoso do referencial social: definir aonde se quer chegar e, então,

traçar os caminhos a serem percorridos nesta empreitada e, não, simplesmente, aceitá-los por

parecerem mais curtos e fáceis.

Desta forma, entendemos que é necessário adotar uma política de gestão da

extensão universitária inovadora, dinâmica e comprometida com resultados, apoiando e

fortalecendo ações extensionistas (projetos e programas) de natureza acadêmica. Existe a

necessidade eminente de construir um sentido e significado da Extensão Universitária, capaz

de identificar, caracterizar e valorizar as ações extensionistas como atividades de natureza

acadêmica, de produção de conhecimento e de transformação social para garantir sua efetiva e

legítima institucionalização como atividade prevista na Constituição Federal, LDB e Plano

Nacional de Educação.

O estudo desenvolvido por Frantz e Silva (2002) constatou que as pesquisas sobre

extensão universitária no Brasil enfocam apenas questões gerais como políticas de extensão

no Brasil, concepções emergentes de órgãos, problemas e críticas à falta de uma proposta

mais clara de extensão universitária. Segundo os autores, há poucos estudos sobre

experiências concretas capazes de nos levar a entender, de forma mais ampla, o papel que a

extensão vem assumindo para ajudar a universidade a cumprir seus fins sociais.

Assim sendo, no próximo capítulo, pretendemos contribuir para redução desta

lacuna destacada por Frantz e Silva (2002) e analisar, através de entrevistas presenciais com

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os coordenadores dos seis projetos/programas da UFJF contemplados pelos editais do

PROEXT de 2007 a 2009, em que medida o que foi realizado está em consonância com o que

foi planejado pelo PROEXT, com foco na natureza acadêmica dos mesmos.

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3 CONTRIBUIÇÃO EMPÍRICA À ANÁLISE DO PROEXT

O presente estudo segue as proposições da abordagem qualitativa com base na

teoria crítica. Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p.139) observam que o paradigma da teoria

crítica possui dois sentidos distintos: a análise rigorosa da argumentação e do método e a

ênfase na análise das condições de regulação social, desigualdade e poder. Os autores

esclarecem que os teóricos críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da

sociedade, apesar da forma de envolvimento do cientista nesse processo de transformação ser

objeto de debate. A escolha pela abordagem teórico-crítica se deu por conta da sua visão

sócio-crítica, pela qual a realidade é observada de forma evolutiva, com dinamismo e de

maneira interativa, concomitantemente à noção de que os indivíduos agem ativamente na

construção da realidade de sua configuração nas dimensões histórica e social.

Segundo Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p.146) o uso da denominação

“paradigma qualitativo” não faz sentido pois:

Diferentes paradigmas podem e têm utilizado metodologias qualitativas.

Isso não quer dizer, porém, que não se possa, no interior desses paradigmas,

distinguir pesquisas cuja ênfase recai sobre a compreensão das intenções e

do significado dos atos humanos, de outras que não têm essa preocupação.

Às primeiras se convencionou chamar de “pesquisa qualitativa”.

Embora essa denominação possa não ser a mais adequada, optamos por conservá-

la, circunscrevendo-a, porém, ao sentido aqui explicitado por Canen (2002): (i) a rejeição a

modelos quantitativos de pesquisa, enfatizando o artificialismo de dividir a realidade em

“variáveis”, a realidade deveria se estudada de uma forma holística, isto é, levando-se em

conta sua totalidade; (ii) a rejeição à idéia de “neutralidade” do pesquisador, o que implica a

rejeição à idéia de separação do sujeito (pesquisador) do objeto da pesquisa (realidade

estudada), já que existiria influência recíproca entre eles; (iii) a ênfase na interpretação, na

compreensão das motivações, culturas, valores, ideologias, crenças e sentimentos que movem

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os sujeitos, que dão significado à realidade estudada e não aos fatos observáveis e passíveis de

serem medidos estatisticamente.

Segundo Vergara (2003), podemos classificar as pesquisas quanto aos fins e

quanto aos meios. Quanto aos fins, este trabalho pode ser classificado como exploratório, já

que é a primeira a investigar os coordenadores de projetos e programas de extensão da UFJF

contemplados nos editais do PROEXT nos anos de 2007, 2008 e 2009.

Quanto aos meios, além das perspectivas bibliográfica e documental, a pesquisa

valeu-se da realização de entrevistas semiestruturadas, de acordo com Mazzotti e

Gewandsznajder (2004, p.168), nas quais “o entrevistador faz perguntas específicas, mas

também deixa que o entrevistado responda em seus próprios termos”, permitindo explorar de

forma direcionada, mas não rígida, as percepções e concepções dos sujeitos envolvidos.

A análise dos editais do PROEXT aponta que as condições para inscrição das

propostas estão relacionadas estritamente a questões técnicas como número máximo de

projetos/programas por instituição proponente, o respeito à hierarquia institucional, datas e

prazos, etc. Os editais apenas elencam as diretrizes específicas que deverão estar presentes nas

propostas, quanto à natureza acadêmica, relação com a sociedade e de estruturação da

proposta, não trazendo qualquer referência ao conceito de extensão propriamente dito.

Como viés analítico, elegemos as diretrizes de natureza acadêmica comuns aos

editais do PROEXT de 2007, 2008 e 2009 que, apesar de já terem sido transcritas

integralmente na introdução deste trabalho, a título de suporte, são retratadas novamente, a

seguir:

(i) cumprimento do preceito da indissociabilidade extensão, ensino e

pesquisa, caracterizada pela integração da ação desenvolvida à formação

técnica e cidadã do estudante e pela produção e difusão de novos

conhecimentos e novas metodologias, de modo a configurar a natureza

extensionista da proposta;

(ii) interdisciplinaridade caracterizada pela interação de modelos e

conceitos complementares, de material analítico e de metodologia, com

ações inter-profissionais e interinstitucionais, com consistência teórica e

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operacional que permita a estruturação das diversas ações de extensão

propostas em um programa abrangente;

(iii) impacto na formação do estudante – técnico-científico, pessoal e social,

existência de projeto didático pedagógico que facilite a flexibilização e a

integralização curricular, com atribuição de créditos acadêmicos, sob

orientação docente/tutoria e avaliação;

(iv) geração de produtos ou processos com publicações, monografias,

dissertações, teses, abertura de novas linhas de extensão, ensino e pesquisa.

(MEC, 2009, 2008, 2007)

É preciso enfatizar que os objetivos deste trabalho não contemplam o debate

filosófico acerca dos conceitos que compõem o que o MEC denomina de “diretrizes de

natureza acadêmica”. Assim sendo, especialmente os polêmicos conceitos de

indissociabilidade e interdisciplinaridade serão, para efeitos desta pesquisa, restritos ao que

está discriminado nos itens (i) e (ii), respectivamente.

Destaca-se que a escolha do período a ser pesquisado ocorreu devido a uma

questão logística, em função da ausência de arquivos detalhados na UFJF referentes aos

resultados dos editais dos anos anteriores, o que, no nosso entendimento, poderia

comprometer a confiabilidade da pesquisa e as bases comparativas entre os editais.

Assim sendo, para participarem das entrevistas foram convidados os seis

coordenadores de programas e projetos de extensão da UFJF, contemplados nos Editais do

PROEXT nos anos de 2007, 2008 e 2009. Este grupo é formado por um coordenador do

Instituto de Ciências Biológicas e um da Faculdade de Enfermagem, dois coordenadores da

Faculdade de Educação Física e dois da Faculdade de Medicina.

Foi feito um contato telefônico com os mesmos para agendamento das entrevistas,

respeitando-se o local, a data e o horário indicados pelos sujeitos. No início dos encontros,

tivemos a precaução de informar o propósito do estudo e sua relevância para a UFJF, para a

Pró-Reitoria de Extensão, para o FORPROEX e para o próprio MEC.

Além disso, solicitamos uma prévia autorização para gravação em meio eletrônico,

prontamente aceita por todos os entrevistados que, inclusive, assinaram um termo de

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consentimento que consta no apêndice A desta dissertação. Foi também explicado aos

participantes que seus nomes seriam mantidos em sigilo, como também a identificação dos

títulos dos seus projetos/programas. Para assegurarmos o anonimato, os mesmos foram

identificados apenas como P1, P2, P3, P4, P5 e P6, seguindo a ordem cronológica da

aprovação nas edições e, dentro de cada uma, a ordem alfabética do nome do coordenador.

De acordo com o item 2 – Definições, constante nos editais dos anos 2007, 2008 e

2009 do PROEXT, há uma distinção clara entre programa e projeto, a saber:

2.1. Programa: conjunto de projetos e/ou outras atividades de extensão,

vinculados, de caráter orgânico-institucional, com clareza de diretrizes e

voltados a um objetivo comum;

2.2. Projeto: conjunto de ações processuais contínuas, de caráter educativo,

social, cultural, científico e tecnológico, que visem alcançar determinados

objetivos no período de tempo pré-estabelecido. (MEC, 2009, 2008, 2007)

Esta diferenciação entre programa e projeto se faz necessária nos editais em

função do financiamento diferenciado para cada tipo de proposta, além do limite máximo de

encaminhamentos previsto em cada edição do PROEXT, conforme já apresentado na Tabela

01. Assim sendo, a investigação dos arquivos da PROEXC/UFJF nos permite constatar

importantes informações sobre os projetos e programas, objetos de nosso estudo, compiladas

no quadro a seguir:

Quadro 3 – Registro dos projetos/programas na PROEXC/UFJF

Identificação Definição Data de registro na

PROEXC

Ano do PROEXT

contemplado

P1 Projeto Janeiro de 2007 2007

P2 Programa Março de 2003 2007

P3 Projeto Abril de 2003 2008

P4 Programa Abril de 2003 2009

P5 Projeto Maio de 1999 2009

P6 Projeto Julho de 2009 2009

Fonte: Dados da PROEXC/UFJF.

É possível concluir que todos os projetos/programas contemplados com o

PROEXT foram cadastrados e registrados anteriormente aos editais e já estavam sendo

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desenvolvidos na UFJF, exceto o P6, criado exclusivamente para concorrer ao edital de 2009.

Além disso, o fato de P2 e P4 serem definidos como programas permitiu-lhes pleitear um

montante maior de recursos, assegurando, consequentemente, um financiamento mais

significativo.

Os encontros com os coordenadores dos projetos/programas da UFJF aprovados

pelo PROEXT de 2007 a 2009 foram realizados nos meses de abril e maio de 2011 e, apesar

de seguirem o roteiro apresentado no Apêndice B, consideraram o alerta de Rosa (2008, p.31)

de que nas entrevistas semiestruturadas “as questões seguem uma formulação flexível, e a

sequência e as minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e da dinâmica que acontece

naturalmente”.

Destaca-se que, apesar da aparente distância temporal entre o edital aprovado e o

ano das entrevistas, são projetos/programas contínuos que, embora tenham sofrido adaptações

para pleitearem o PROEXT, permanecem em pleno funcionamento, independentemente do

mesmo.

No primeiro bloco investigativo, denominado “Dados do Coordenador”

procuramos levantar informações gerais em relação à qualificação, vivência acadêmica e

relação com a extensão universitária. Pudemos apreender importantes características do

conjunto de coordenadores, a saber:

(i) todos são pós-graduados, mestres e doutores, embora esta não seja uma pré-

condição para participação nos editais (em contraposição ao que ocorre nos editais de

pesquisa), comprovando que a extensão atrai professores com potencial para participação em

diversos outros editais;

(ii) o tempo declarado de atuação na UFJF como professor é o mesmo de prática

de extensão, ou seja, ela é parte intrínseca da própria prática docente;

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(iii) a grande maioria teve a oportunidade de vivenciar a extensão como aluno de

graduação em instituições públicas e o caso em que isso não ocorreu (P6) foi acentuadamente

criticado pelo coordenador, como parte de uma visão limitada de um curso particular sem fins

lucrativos.

As entrevistas foram tratadas pelo escopo da análise do conteúdo, na qual o ponto

de partida é a mensagem, mas devem ser consideradas as condições contextuais de seus

produtores, assentando-se na concepção crítica e dinâmica da linguagem (FRANCO, 2008).

Assim, procuramos atentar não apenas à semântica da língua, mas também à interpretação do

sentido que o indivíduo atribuiu às mensagens.

Bardin (1995) imprime respaldo a este estudo e conceitua a análise de conteúdo

como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visam obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

(quantitativos ou não), a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Além disso, Vergara (2003, p.17)

ressalta que, na análise do conteúdo, “os dados podem ser coletados em relatórios, cartas e

outros documentos da organização [...] por meio da realização de entrevistas abertas ou

semiestruturadas ou da aplicação de questionários abertos”, a partir dos quais são definidas

categorias e subcategorias de análise.

Assim sendo, fazendo uso desta metodologia, foi possível evidenciar a descrição

sistemática e quantitativa do conteúdo da mensagem por meio da contagem da frequência de

determinados elementos contidos na fala, expressões e frases, com a função de inferência para

permitir identificar os elementos presentes no discurso.

Na preparação desses dados, foram definidas as unidades de análise para codificá-

las em categorias e subcategorias passíveis de uma interpretação de suas mensagens, tendo

por base a frequência e a presença de elementos significativos. O resultado deste trabalho está

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condensado nas Tabelas 2 e 3. Antes de iniciarmos a análise detalhada das mesmas, que

sintetizam as respostas dos coordenadores, é importante esclarecer que a apuração dos totais

de ocorrências em cada categoria/sub-categoria não visa estabelecer um ranking entre os

projetos/programas, apenas favorece nossa investigação e ilustra o entendimento do leitor.

O que percebemos é que todas as entrevistas semiestruturadas oportunizaram

comentários e contribuições fundamentais para nossa pesquisa. Alguns coordenadores, a

nosso ver, podem ter se valido de maiores detalhamentos em suas falas, em detrimento de

outros que primaram pela objetividade e não exploraram muito as indagações. Entretanto, tal

fato não descredencia a metodologia adotada que, inegavelmente, poderia ser mais apurada, se

o tempo e os recursos disponíveis tivessem nos oportunizado a triangulação destes achados

com pesquisas com os demais atores envolvidos nos projetos/programas, tais como os alunos,

a população envolvida e as instituições e profissionais parceiros. Trata-se de um aspecto que

nos instiga muito e sobre o qual pretendemos nos debruçar em um projeto futuro de

doutoramento.

Tabela 2 – Frequência das Categorias pesquisadas subtraídas das entrevistas com os

coordenadores de projetos/programas contemplados nos Editais do PROEXT 2007 a 2009

Fonte: Anexos A, B, C, D, E e F.

O estudo da tabela acima nos permite apontar que:

Ocorrências nas respostas dos coordenadores dos projetos/programas

Categorias P1 P2 P3 P4 P5 P6 Total

1. Indissociabilidade 12 5 13 20 2 15 67

2. Interdisciplinaridade 9 9 12 23 11 6 70

3. Impacto na formação

do estudante

15 6 10 19 5 12 67

4. Geração de produtos

ou processos

16 2 3 27 3 2 53

Total Geral 52 22 38 89 21 35 257

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(i) todos os projetos/programas, apesar da variação, apresentaram incidências

nas quatro categorias, subtraídas dos editais do PROEXT no que se refere à natureza

acadêmica;

(ii) o desempenho dos seis projetos/programas quanto às quatro categorias foi

bastante equilibrado, perfazendo do total de ocorrências registradas, 26,07% em

“Indissociabilidade” e em “Impacto na formação do estudante”, 27,23% em

“Interdisciplinaridade” e 20,62% em “Geração de produtos ou processos”;

(iii) a categoria Interdisciplinaridade destacou-se por ter tido o maior

número de ocorrências nos projetos/programas.

No desdobramento, percebe-se com maior clareza a perspectiva acadêmica dos

professores a respeito dos projetos/programas por eles coordenados, tal como se vê:

Tabela 3 - Frequência das Sub-categorias pesquisadas subtraídas das entrevistas com os

coordenadores de projetos/programas contemplados nos Editais do PROEXT 2007 a 2009

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Fonte: Anexos A, B, C, D, E e F.

Assim, é possível constatar que:

(i) a categoria “Geração de Produtos ou Processos”, especificamente a sub-

categoria “Teses”, foi a única a não ter ocorrência em todos os projetos/programas analisados;

(ii) a categoria “Geração de Produtos ou Processos” foi a que apresentou

maior variação nas frequências, oscilando de 27 na P4 a apenas 02 em P2 e P6;

(iii) P4 destaca-se pelo notório desempenho, com as maiores frequências em

todas as categorias e, nas subcategorias pesquisadas, somente não registrou nenhuma

ocorrência em “Teses” e “Dissertações”;

(iv) P5 e P2 tiveram os menores registros de frequências. Em P2, foi

evidenciada uma distribuição mais homogênea das ocorrências entre as sub-categorias o que

não aconteceu com P5. Esse teve 09 frequências na sub-categoria “Ações Interprofissionais”,

Categorias e Sub-categorias P1 P2 P3 P4 P5 P6 Total

1. Indissociabilidade

1.1. Integração da ação técnica 2 2 2 4 - 5 15

1.2. Formação do cidadão 4 2 2 4 - 4 16

1.3. Produção de novos conhecimentos 3 1 4 5 - 3 16

1.4. Produção de novas metodologias 3 - 5 7 2 3 20

2. Interdisciplinaridade

2.1. Interação de modelos e conceitos complementares 3 3 2 5 1 1 15

2.2. Ações interprofissionais 3 3 4 4 9 4 27

2.3. Ações interinstitucionais 3 3 6 14 1 1 28

3. Impacto na formação do estudante

3.1. Técnico-científico 2 2 2 7 3 6 22

3.2. Social 8 4 5 6 1 4 28

3.3. Pessoal 4 - 2 1 - 1 8

3.4. Projeto didático pedagógico: flexibilização e

integralização curricular

1 - 1 5 1 1 9

4. Geração de produtos ou processos

4.1. Publicações 10 2 1 23 2 - 38

4.2. Monografias 2 - - 2 - - 4

4.3. Dissertações 1 - - - - - 1

4.4. Teses - - - - - - -

4.5. Novas linhas de extensão, ensino e pesquisa 3 - 2 2 1 2 10

Total 52 22 38 89 21 35 257

Ocorrências nas respostas dos coordenadores dos

projetos/programas

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sendo a maior registrada na pesquisa neste quesito, o que marca seu caráter interdisciplinar

em contraposição a outras subcategorias em que não pontuou;

(v) a análise do desempenho dos projetos/programas indica que, de modo global,

as subcategorias que mais se destacaram foram “Publicações”, com 38 ocorrências, e “Ações

Interinstitucionais” e “Social”, com 28 ocorrências em cada uma.

Após a análise das Tabelas 2 e 3 que contemplam os dados de frequência das

categorias e sub-categorias pesquisadas em cada projeto/programa e o desempenho global do

grupo pesquisado, entendemos ser necessária a investigação mais qualitativa das entrevistas, a

partir das falas dos coordenadores. Esta etapa pretende levantar em que medida foram

cumpridas as diretrizes de natureza acadêmica estabelecidas pelo PROEXT. Para tal,

seguiremos a ordem de categorias e suas respectivas subcategorias já que as mesmas foram

desmembradas dos preceitos dos editais.

A primeira categoria abordada é a indissociabilidade - extensão, ensino e pesquisa.

Sobre este preceito, muito emblemática é a fala do professor que percebe a extensão como

possibilidade de produção de novos conhecimentos, em interface com ensino e pesquisa:

Com os nossos objetivos, com recursos advindos do PROEXT, podemos

fazer esse link. Essa interface em que procuramos incentivar os alunos

dentro do projeto de extensão, buscarem objetos de pesquisa. É com o

recurso do PROEXT que nós fazemos reprografia, montamos um banco de

dados subsidiando a compra de alguma coisa, um software, de alguma

tecnologia, alguma forma de medição de variável, nem que seja um

aparelho de pressão. Eu posso ter no projeto de extensão objetos de

pesquisa, como os alunos têm retirado dali. [...] Então, eu acho que essa

articulação de ensino, pesquisa e extensão, dentro do meu projeto pelo

menos, com a colaboração desses subsídios [...] temos conseguido alcançar

os resultados dessa integração. Os alunos se sentem estimulados a buscar

dentro da extensão campo para materializar o ensino, além da reunião que

nós temos, e também campos para a pesquisa8 (P1).

8 Destacamos que as entrevistas, como foram transcritas, seguem um padrão próximo à língua falada,

marcado pela dinâmica dessa, com caracteríticas de coloquialidade. Para que não houvesse uma

intervenção linguística que modificasse, inclusive, o teor da comunicação desejada com a entrevista,

houve o máximo de respeito ao registro utilizado, no caso, a língua falada, confirmando, inclusive,

nesse caso, o caráter de transcrição textual.

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Através dos recursos advindos do PROEXT, os alunos são também incentivados a

desenvolverem ações que promovem a aplicação de novas metodologias e de novos

conhecimentos, tal como o relato abaixo:

Criamos uma metodologia de ginástica para gestante. Lá eram gestantes

sem risco. Aprendemos como lidar com essa população. Depois criamos

uma metodologia para a gestação de risco, então não poderia ser na Casa de

Parto. Era o momento em que nós já estávamos vendo a hora de ir para uma

Unidade Básica de Saúde.[...] Eu pensei como eu iria para a UBS com

gestantes, sem o material. Colocar as gestantes sentadas numa cadeira não

era o ideal. Com o PROEXT conseguimos o material (P3).

Tais aspectos, somados ao desenvolvimento da cidadania, são também

evidenciados nas falas dos coordenadores, tal como:

Tivemos a interface com o ensino. Todos aprenderam alguma coisa com

pessoas que vieram de fora. [...] Na questão da pesquisa, os meus alunos

envolvidos promovem a revisão da literatura das plantas mais utilizadas nas

comunidades, porque temos que fazer a validação científica para as plantas,

pois não é qualquer planta que a gente sai aceitando utilizar, então são

pesquisadas para ver o que há de informação técnica sobre essas plantas.

Ainda na pesquisa, eles fazem na pesquisa de campo, levantamento de

dados nas comunidades, com a população e com os profissionais.

[...] eu acredito que a extensão é parte desse tripé, não só de falácia, é base

de formação. É fundamental o profissional sair da universidade sabendo que

vai contribuir na comunidade e não enclausurado em uma sala fechada.

Então, em relação ao PROEXT, é um programa fundamental. Para mim, ele

aumentou a minha amplitude de ação (P4).

O recorte abaixo sintetiza a dimensão da natureza acadêmica de indissociabilidade

aliada à ação técnica, à formação cidadã e a produção de novos conhecimentos:

Nesse sentido o meu projeto do PROEXT veio preencher essa lacuna que

existe em todos os cursos, exceto na Fisioterapia em que eles já trabalham

em cima de algumas questões de deficiência. No projeto eu consegui

trabalhar com os alunos a questão de estarmos ampliando nosso foco de

conhecimento. Para ampliar deveríamos estudar o que é a questão do surdo

cego e da pessoa com múltipla deficiência, qual o estigma deles na

sociedade, como eles se vêm na sociedade. A própria questão de como

podemos estar atuando com eles porque existe uma política de inclusão na

sociedade, mas que se foca na parte e não no todo (P6).

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A segunda categoria investigada é a interdisciplinaridade. Percebemos que as

ações interprofissionais podem ser uma forma valiosa de se aproximar, via edital, de práticas

promovedoras de interdisciplinaridade nos projetos/programas, tal como ilustrado no exemplo

a seguir:

[...] Eu comecei apenas com a Enfermagem, depois eu consegui o Serviço

Social e foi progredindo. O último a entrar foi a Fisioterapia. [...] Desses

oito cursos, todos eles têm um ou dois docentes envolvidos (P5).

Além disso, é marcante a ação interinstitucional, oportunidade de levar a atividade

de extensão para além dos muros da universidade, cristalizar parcerias e divulgar a

importância do trabalho extensionista e valorizá-lo, como na transcrição abaixo:

O objetivo principal do projeto era participar de uma equipe

multiprofissional. Nós conseguimos porque dentro da UBS eu tive ajuda da

assistente social. Eu tive uma equipe com a psicologia e com a enfermagem.

Nós conseguimos com o atendimento no posto, nesse período, participar de

uma equipe multiprofissional. Eles nos receberam e viram também a nossa

importância. Nós conseguimos deixar um registro para aquela equipe da

Prefeitura de Juiz de Fora. Outro objetivo do projeto era realizar convênios

com a Secretaria de Saúde e colocar a Educação Física dentro da Secretaria

de Saúde. Nós conseguimos isso por meio do projeto (P3).

A interdisciplinaridade, conforme o que está discriminado no segundo item das

diretrizes de natureza acadêmica nos editais do PROEXT pressupõe e, simultaneamente,

estimula a interação de modelos e conceitos com consistência teórica e operacional.

Destacamos o trecho abaixo que exemplifica a aplicação desses princípios:

Temos um trabalho em que o médico de Tabuleiro aceitou prescrever uma

planta medicinal, o chapéu de couro, a echinodorus, e fez acompanhamento

clínico. Isso foi uma revolução porque a fitoterapia não emplaca devido aos

médicos terem medo da questão do Conselho Federal de Medicina e etc. No

curso que damos explicamos toda a legislação para transmitir confiança aos

médicos (P4).

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Percebe-se a preocupação dos projetos/programas em enfatizar o conceito de

interdisciplinaridade, como no exemplo abaixo:

Pudemos observar a interdisciplinaridade em cada atividade em que

tínhamos semanalmente. Ali mesmo tínhamos diferentes disciplinas

envolvidas. Nas sextas culturais tivemos oportunidades de dialogar com

outros cursos e trazer outras idéias para dentro da prática da atividade física.

Pudemos ter a atividade física enquanto saúde, enquanto atividade de arte e

cultura. Essas ações também puderam estruturar de uma forma mais

interdisciplinar o projeto (P2).

As ações multidisciplinares potencializam a interdisciplinaridade, tal como

destacado:

O projeto que eu proponho é naturalmente interdisciplinar pela formação

dos alunos beneficiados, que ela é multidisciplinar, da parte de ensino que

eu agrego dentro da extensão. De quinze em quinze dias fazemos reuniões

teóricas e eu convido profissionais de outras formações para falar de

atenção primária dentro da sua ótica. Mesmo quando ainda não tínhamos

curso de nutrição na UFJF eu chamava nutricionistas para falarem.

Chamava mestrandos, pelo fato de achar uma oportunidade interessante, ele

dentro do seu estágio docente, trabalhar com a extensão (P1).

A terceira categoria pesquisada é o impacto na formação do estudante. O PROEXT

prevê no desenvolvimento dos projetos/programas efeitos significativos na formação do

estudante, no que se refere ao aspecto pessoal e ao social. Os desdobramentos selecionados

ilustram como a extensão pode contribuir para romper com os ditames da racionalidade

técnica, ajudando a formar um estudante mais sensível e mais crítico.

Eles (os alunos) estão aprendendo a se respeitar, a trabalhar junto, a ouvir o

outro, saber os limites de cada ação, cada sujeito dentro da área de saúde

(P1).

As estagiárias se envolveram com a vida das gestantes, com a vida familiar,

com a vida do posto, ou seja, como ela chegava ao posto, o que ela tinha de

atenção no posto, o que a assistente social oferecia para ela e como a

gestante conseguiu ter segurança na nossa equipe e na equipe do posto. Esse

aspecto social a Academia não ensina (P3).

Dessa forma, o acadêmico foi capaz não só de identificar, mas vivenciar,

conversar e entender como aquela família trabalha aquela questão e em que

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ciclo evolutivo aconteceu aquela situação e como a família consegue

enfrentar isso (P6).

A formação do estudante deve contemplar, em consonância com os aspectos social

e pessoal, a questão técnico-científica. Trata-se de aliar extensão e ensino, problematizando a

experiência da sala de aula, como evidenciada no trecho abaixo:

Nesses projetos estamos pesquisando o enfrentamento dos familiares junto à

área de saúde para o atendimento aos deficientes; as dificuldades do

enfrentamento da equipe de Enfermagem no atendimento dessas pessoas; a

questão da formação na área de saúde para o atendimento dessas pessoas na

Atenção Primária em que envolvemos os acadêmicos de Enfermagem,

Odontologia, Fisioterapia e Medicina; e a própria questão do cuidador, que

hoje já é considerada uma profissão, mas que são pessoas que precisam ser

capacitadas (P6).

Para que tais ações se consolidem, os editais do PROEXT preveem, no terceiro

item das diretrizes de natureza acadêmica, a necessidade de um projeto didático-pedagógico

que estimule a valorização das atividades extensionistas a partir da flexibilização e

integralização curricular, gerando créditos para o aluno, sob orientação e avaliação docente.

Trata-se de uma estratégia que, ao que parece, já está sendo “ensaiada” em alguns cursos da

UFJF:

No caso específico da Medicina, eles têm uma quantificação de créditos

para atividade extra-curricular que é exigido na creditação deles. Dessa

forma, todos os meus alunos de Medicina aproveitam créditos na

graduação. Os alunos de Biologia têm que conciliar aquele trabalho com o

estágio curricular que pode vir a ser esse tema, aí concilia a creditação. Eu

tive uma aluna de Farmácia que não creditou os créditos específicos, mas

pegou o trabalho que fez junto a uma equipe em Tabuleiro e gerou uma

Monografia de final de curso. Isso serviu como creditação porque o assunto

foi o assunto tema da monografia dela. (P4)

A última categoria estudada é a geração de produtos ou processos. A ênfase que o

PROEXT atribui a este aspecto estimula a divulgação do trabalho realizado na forma de

publicações diversas. Trata-se, inclusive, de uma condição prevista somente a partir do edital

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de 20099, como parte dos processos de acompanhamento e avaliação, mas que já vinha sendo

praticada pelos projetos/programas. Verificamos um esforço significativo dos coordenadores

para atenderem a este apelo, como exemplificamos a seguir:

Levei doze alunos no Simpósio Brasileiro de 2010 em João Pessoa. Esses

doze alunos apresentaram painéis como primeiro autor.[...] Temos

envolvimentos em três congressos básicos pela questão das plantas

medicinais: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Congresso

Nacional de Botânica, Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais. Este ano,

como resultado também de trabalhos e levantamentos feitos na época do

PROEXT está envolvendo agora para congressos de ecologia. Temos em

torno de 15 resumos em congressos relativos ao PROEXT (P4).

Além disso, o PROEXT pretende favorecer a produção de monografias,

dissertações e teses. Isso foi aplicado nos seguintes exemplos:

Nós tivemos, se eu não me engano, dois trabalhos de conclusão de curso,

um da Enfermagem outro da Farmácia, oriundos de projeto de extensão. Ou

seja, pesquisas que nasceram da extensão e foram creditadas como trabalho

de conclusão de curso. Uma delas foi submetida a uma revista dentro da

área de saúde coletiva é Qualis A2 (P1).

Temos artigos publicados com alunos de Medicina, Enfermagem que

trabalharam juntos redigindo artigos sobre essa experiência. Alunos foram

estimulados a fazerem mestrados em saúde coletiva. Foi o caso de uma das

minhas alunas de Farmácia (P1).

Finalmente, o PROEXT destaca também a importância de geração de novas linhas

de extensão, ensino e pesquisa. Neste aspecto é ilustrativo o relato de uma aluna, trazido pelo

coordenador do projeto/programa:

„[...] Eu não queria trabalhar com treinamento, com esportes, com

academia, mas eu sabia que tinha alguma coisa, porque antes eu queria

fazer Medicina, mas eu percebi que eu não queria cuidar de doente, fazer

cirurgia, eu não sabia onde eu estava. Eu fiquei fascinada quando nós

começamos a desenvolver o conteúdo, me encontrei dentro da Educação

Física e vou trabalhar com a gestante‟ (P3).

9 A análise dos editais de 2010 e 2011 atesta que esta condição passa a fazer parte do acompanhamento

e avaliação do PROEXT, o que não era ainda preconizado nos editais de 2007 e 2008.

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Para além das questões referentes às diretrizes de natureza acadêmica dos

projetos/programas, percebemos nas entrevistas com os coordenadores alguns outros aspectos

que, a nosso ver, merecem ser destacados tanto pela magnitude quanto pela abrangência

comum à maioria deles.

Salientamos, primeiramente, as questões subtraídas do olhar dos coordenadores

dos projetos/programas apontadas como entraves para a plena execução do planejado pelos

editais do PROEXT. A queixa mais comum foi a demora no repasse dos recursos aliada às

dificuldades burocráticas para gastar o dinheiro, segundo os preceitos do serviço público

federal. Trata-se de uma questão de difícil solução: por um lado, os repasses estão atrelados à

existência de recursos na Lei Orçamentária Anual e, por outro, não se podem desprezar as

exigências legais. Pretendemos retomar esse imbróglio na conclusão de nosso trabalho.

Vejamos os relatos abaixo:

Foi a questão financeira que ficou mais a desejar, pelo fato de não

conseguirmos o dinheiro para poder gastar. Nós gastamos o dinheiro

adiantado, do próprio bolso, que não vamos rever depois. (P2)

Por outro lado existe a questão de algumas amarrações que dificultam a

instituição atender o que eu preciso. O PROEXT fez um repasse financeiro,

mas não pode ser utilizado assim, assim... Até porque ele vê que a conta é

da universidade, tem as rubricas, tudo dentro das normas para que haja uma

prestação de contas. Nesse sentido, isso amarra um pouco nos preocupando

se vamos dar conta ou não de cumprir as coisas. (P6)

Eu perdi uma parte dessa verba, porque eu entendia que certo item que eu

precisava para o projeto era material permanente e a universidade entendia

como material de consumo. Eu podia pedir para mudar a rubrica. Depois de

muitos ofícios trocados com o MEC, alguns responderam, outros não, então

me aconselharam a não mudar a rubrica porque o MEC não autorizou.

Enfim, o dinheiro voltou porque eu não consegui mudar a rubrica. (P5)

Nota-se também a premência do tempo, sempre apontado como exíguo para a

plena execução do planejado, o que compromete a qualidade do desenvolvimento dos

projetos/programas. Estes apesar de serem definidos pelos editais com características

notoriamente diferenciadas são submetidos ao mesmo prazo e regras de execução. Os editais

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não dão conta das demais tarefas e compromissos do docente, como por exemplo, preparação

de aulas, participação em órgãos colegiados e bancas examinadoras, orientações diversas a

discentes, cargos administrativos, etc.

Além disso, o cronograma previsto para a execução fica defasado, criando

situações em que um projeto/programa contemplado em um determinado ano só conclui sua

execução dois anos depois. Selecionamos, a seguir, trechos ilustrativos destas questões.

No final de novembro, a Universidade Federal fez uma reunião com os

professores de extensão e que tinham projetos que tinham recursos. Essa

reunião foi no dia 27 e nós tínhamos até o dia 30 para fechar todo o material

necessário para a compra do projeto (P3).

Eu acredito que talvez os programas devessem ter mais tempo do que

projetos. Eu acho que um ano é pouco hoje (P2).

Eu lastimo, apenas, todos os entraves burocráticos que impediram a

execução total do recurso recebido. Era um recurso nada substancial, uma

coisa pequena, mas que traria, se completamente executada, benefícios

ainda maiores. Não tivemos mais, um recurso dessa monta (P1).

No edital estava colocado quando sairia o resultado e quando iniciaríamos.

Mas houve um atraso muito grande, já que meu projeto era de 2009 e o

tempo foi reduzido. Dessa forma, para eu fazer em apenas um ano, ele está

terminando agora 31 de março (de 2011) (P6).

Ratificando os problemas acima apontados, ilustramos com o caso do PROEXT

2009. Nossas análises junto à Coordenação de Execução e Suporte Financeiro da UFJF

apontam que, apesar de o resultado do PROEXT 2009 ter sido divulgado no dia 03 de agosto

de 2009, a liberação do crédito orçamentário por parte da SESU/MEC para os respectivos

projetos/programas só ocorreu no dia 07 de abril de 2010, conforme ofícios 0373, 0374 e

0375 de 2010 desta coordenadoria para a PROEXC e demais interessados.

As dificuldades operacionais relativas aos processos de licitação e empenho

relatadas demonstram o quanto tais atividades são complexas e morosas para serem

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executadas pelos próprios coordenadores dos projetos/programas. A Tabela 1 consolida tais

fatos, como já prevíamos no segundo capítulo, aqui corroborados nos relatos abaixo:

Quando você vai fazer um projeto acadêmico, você imagina que terá que

colocar toda a parte teórica, metodológica e desenvolvimento de um

projeto. Mas quando chega a parte dos recursos, nós, donos do projeto,

temos que fazer também o levantamento de preços de material. Eu tive que

visitar lojas para fazer levantamentos, pesquisar o menor preço ou a

possibilidade de preço para colocar no projeto. Ninguém me avisou que

tinha que fazer isso. [...] Reclamei, inclusive, do fato de a universidade não

ter uma equipe de respaldo para esses projetos. Porque não é da nossa

competência mexer com a parte administrativa e burocrática de dinheiro e

de valor. A minha competência é acadêmica (P3).

Mais de 50 por cento do meu tempo gasto com o PROEXT foi para sanar

burocracia de data, recurso, preenchimento de formulário errado. Isso, com

ele já aprovado. [...] Mas temos que gastar menos tempo com a burocracia e

mais tempo inovando nossos projetos, já que temos recursos (P4).

Quando o edital chega, achamos uma alegria ao saber que fomos

contemplados, mas sentimos uma tristeza quando pensamos de que forma

iremos administrar a verba. [...] tive que lidar com todo mundo, com o

pessoal do planejamento, contabilidade, setor de compras. [...] Temos que

nos virar com toda a informação, desconhecendo as tramitações. [...] Esse é

o grande problema (P5).

Notamos também uma preocupação dos coordenadores quanto à necessidade de

maior valorização do professor “extensionista”, em contraposição àqueles que se dedicam

apenas à pesquisa:

Mas a valorização da extensão ainda está muito aquém do que deveria, uma

vez que, quando é feito um projeto de pesquisa existe um pró labore para o

professor coordenador, fato que enche os olhos dos professores porque e é

uma forma de ter uma renda extra. A extensão não proporciona isso. Dessa

forma nós temos que incluir o projeto na nossa carga horária. Nós

trabalhamos dobrado para não ter remuneração por isso. Por esse motivo, só

trabalha com o PROEXT quem gosta. Quando não gosta, não vai trabalhar

já que não tem chamariz, que seria o dinheiro, o pró labore. Eu acredito que

exista uma forma de juntar as duas coisas. Quando se coloca um pró labore

para os PROEXT, por exemplo: se um PROEXT prevê uma verba mensal

para um professor da mesma forma que prevê a pesquisa que eu acho justo

também. Eu acredito que mais professores irão conseguir ver a importância

da extensão com o ensino e da extensão com a pesquisa (P3).

Page 93: Universidade Estácio de Sá · CTM Comissão Técnica Multidisciplinar CTU Colégio Técnico Universitário DAU Departamento de Assuntos Universitário DIEG Divisão de

91

Todas as universidades deveriam ter projetos de PROEXT aprovadas.

Mesmo que fosse apenas um em cada instituição. Mas que se levasse em

conta que didaticamente em toda instituição tivéssemos um referencial de

financiamento. Porque isso é uma forma de mostrar para a comunidade

acadêmica que existe aqui uma valorização para a extensão, um

financiamento específico para ações de extensão. Muitos acham que o

status, o retorno de competência é quando alguém consegue verba. Dessa

forma, estaria sendo sinalizado que a extensão é prioritária, tem verba

específica. Por isso eu acho o PROEXT fundamental (P4).

Outro aspecto controverso se refere aos critérios de análise e julgamento das

propostas e o acompanhamento e avaliação dos projetos/programas pelo PROEXT. Para os

coordenadores, esses são tidos como pouco claros ou até mesmo tangíveis, já que não se

conhece os concorrentes das demais instituições.

Fico um pouco preocupada com o próprio PROEXT. Nós conhecemos as

pontuações, mas não conhecemos os resultados das pontuações. [...] Eu

acho que esses resultados poderiam ser um pouco mais claros para que

pudéssemos entender porque, muitas vezes, existem universidades que

ganham tudo e outras que não ganham nada ou muito pouco. [...] Dessa

forma, eu acho que essa classificação do projeto deveria ser mais clara.

(P2).

Lembro-me que desde aquela época10

me causava certo incômodo e me

preocupava. Como os projetos de extensão são avaliados pela própria

instituição, o quanto são realmente executados e o quanto produzem de

frutos (P1).

Finalmente, é salientada a questão da interface com o MEC não apenas em relação

à avaliação propriamente dita, mas no estabelecimento de um entendimento para ponderar

pontos fortes e fracos, de modo a reparar nos novos editais as falhas diagnosticadas por todo o

grupo:

já que eles liberam a verba, por que eles não vêm aqui para saberem o que

está acontecendo, para que possam fazer um edital melhor, de acordo com a

realidade do momento. A sensação que temos é que eles fazem um copiar

colar daquilo que aconteceu no ano anterior, sem se preocupar com o que

funcionou ou não. Falta um pouco desse diálogo entre o MEC e as

instituições (P5).

10

Quando começou a atuar como docente (NOTA DO AUTOR).

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92

Apesar de todas as manifestações relacionadas aos problemas e dificuldades

encontradas por parte dos coordenadores dos projetos/programas, também foram destacados

alguns aspectos que atestam a importância e relevância do PROEXT para a extensão

universitária.

A educação permanente fundada no tripé do ensino, pesquisa e extensão, além de

prevista no Artigo 207 da Constituição Federal, é também um preceito incentivado pelo

PROEXT e notadamente reconhecido pelos coordenadores como algo altamente salutar, como

transcrito abaixo:

Primeiramente porque a questão da educação deve ser permanente, o

profissional não pode se estagnar. Dessa forma a investigação deve estar

sempre presente. Segundo, que ele não pode fazer as coisas utilizando da

questão do senso comum, ele tem que ter um embasamento científico.

Terceiro, que ele tem que entender que como cidadão, ele tem que

contribuir com a sociedade e fazer valer a cidadania de todos (P6).

É fundamental o profissional sair da universidade sabendo que vai

contribuir na comunidade e não enclausurado em uma sala fechada (P4).

Mais um aspecto valorizado pelos coordenadores é a motivação que o PROEXT

provoca na atuação do aluno que responde prontamente ao chamado da extensão universitária,

como exemplificado:

Eu ainda me lembro da primeira seleção que fiz para o meu projeto de

extensão contemplado pelo PROEXT de 2007. Nós tínhamos mais de 120

alunos inscritos para fazer a prova de seleção. Participaram todos os cursos

de saúde, com exceção, curiosamente, do curso de Educação Física. Nós

tínhamos por volta de dois, três alunos de Farmácia, Fisioterapia, Medicina,

Odonto, Ciências Biológicas, Psicologia, Serviço Social (P1).

Dá um gás ao projeto e todo mundo se une. Eu acho que o apelo, por

exemplo, quando é um projeto grande, quando ele ganha um recurso

externo, os alunos ficam mais envolvidos, querem fazer parte da história de

alguma coisa que aconteceu. Eu acho que o recurso é fundamental para dar

gás ao projeto. Porque os professores não trabalham com tantos recursos

(P2).

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93

Outro fato marcante relatado pelos coordenadores refere-se à sua própria

experiência extensionista enquanto aluno de graduação como altamente positiva e trazida para

sua docência. Isso nos permite supor que a oportunidade dada ao aluno de participar de

atividades extensionistas será um importante meio para formação dos futuros quadros em

extensão universitária. Os trechos abaixo respaldam isso:

Desde estudante de graduação, já participava da extensão. Foi na extensão

que me aproximei da minha área de formação de pós-graduação, a área de

saúde coletiva (P1).

Inclusive foi a extensão que me deu a oportunidade de entrar na

universidade (como professora), [...] eu já tinha formado, então pedi

matrícula de uma disciplina isolada, já como profissional e fui fazer o

aperfeiçoamento que foi feito dentro do projeto de extensão. Após acabar o

período de extensão dos seis meses, eu continuei no projeto como

voluntária e fiquei sabendo do concurso de professora substituta, [...] foi

quando eu entrei e continuei, porque eu já estava como voluntária no

projeto de extensão. Daí a coisa veio crescendo com a professora Elenice

como coordenadora e eu junto com ela. E estou até hoje enrolada com a

extensão (P3).

A importância do apoio financeiro dado pelo PROEXT é ressaltada como

elemento de catalização das atividades extensionistas, permitindo ampliar o leque de ações, a

área de abrangência e ainda, é tomada pelos coordenadores como uma valorização da

extensão, conforme os relatos:

Eu vejo que é um projeto muito bom. Mas o grande problema é que em

minha opinião precisa haver uma importância maior da extensão

principalmente pelo Ministério. Valoriza-se muito a pesquisa. A pesquisa é

necessária, mas eu vejo a pesquisa como algo distante. Você vai à

comunidade, faz a pesquisa, leva o resultado. Daí para frente não compete

mais a você, e sim a outras pessoas fazerem o que você conseguiu

comprovar. Na extensão você comprova e existe a possibilidade de aplicar

essas mudanças. Com o PROEXT eu vejo que isso fica mais fácil porque

nos conseguimos material e verba, assim como a pesquisa. (P3)

Foi fundamental em termos de abrangência, inovação, estruturação de

laboratório, possibilidade de novas ações no meu projeto. Então eu

agradeço e acho que tem que continuar o PROEXT. (P4)

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No que se refere à flexibilização curricular e à possível integralização de créditos

provenientes da participação do aluno em atividade extensionista a ser computada em seu

histórico escolar, os coordenadores são unânimes em apontar como um caminho possível e

necessário. Ele pressupõe o estabelecimento de mecanismos internos de acompanhamento e

avaliação discriminados segundo as especificidades de cada curso/área de conhecimento, nos

seus respectivos Projetos Pedagógicos. Como já foi apresentado no primeiro capítulo desta

dissertação, é um aspecto previsto no Plano Nacional de Educação 2001/2010, consolidado

com o Parecer CNE/CES NO67 de 11 de março de 2003 que trata dos Princípios das

Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. Vejamos os relatos:

A maioria dos cursos tem uma quantidade de créditos opcionais que podem

ser computados dentro da extensão. Acho que depende muito da natureza

do projeto, do envolvimento do professor e da maneira como esse projeto é

desenvolvido. Atualmente, por exemplo, eu estou com um projeto de

extensão que envolve grupo de estudo, atividade prática, observação,

intervenção (P2).

Eu acho que é uma experiência que deve ser aproveitada como creditação,

desde que devidamente fundamentada, comprovada. Desde que, de alguma

maneira, esse professor responsável consiga subsidiar que alguma coisa esta

sendo feita, algum resultado esta sendo alcançado (P1).

Fundamentados nos pressupostos teóricos que foram apresentados na primeira

parte desta dissertação, estabelecemos uma interface com a análise dos projetos/programas,

pautados principalmente pela fala dos coordenadores e pelos editais. Desta feita, apresento o

que seriam, a meu ver, algumas distorções.

A ausência de um monitoramento mais efetivo dos projetos/programas por parte

do PROEXT é um problema. Defendo, por esse viés, a necessidade de um acompanhamento

mais sistemático para que os entraves, de qualquer natureza, possam ser diagnosticados e

resolvidos durante o desenvolvimento do projeto/programa, quer seja no campo de ação da

SESU/MEC, da própria instituição e/ou ainda do próprio projeto/programa.

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Isso se daria com o objetivo de compartilhar e auxiliar os coordenadores durante o

processo de vigência do PROEXT, minimizando os possíveis problemas que por ventura

possam surgir, evitando, desta forma, desgaste do coordenador e sua equipe, prejuízo às

atividades planejadas, devolução de recursos financeiros não gastos em função,

principalmente, de impedimentos burocráticos, rompimentos de parcerias, etc.

No tocante à frágil cobrança de relatórios, um relato destaca-se por entendê-la

como um aspecto de valorização da autonomia:

Eu percebi que o PROEXT me possibilita ser mais autônoma porque não

existe a cobrança de mandar um relatório mensal. Tem o relatório semestral

e final. E o relatório me permite colocar o que realizei e o que não realizei

os motivos disso e de eu ter precisado mudar determinadas atividades. Eu

acho que isso proporciona ao coordenador do projeto a possibilidade de ser

criativo para resolver a realidade daquela proposta feita. Porque fazemos

uma proposta, de certa forma, empírica. A partir do momento que

conseguimos atuar, percebemos as modificações que devem ser feitas.

Nesse aspecto eu acho que o PROEXT contribui (P6).

Por outro lado, o estudo dos editais indica que o acompanhamento dos programas

e projetos se dará por intermédio de análise do relatório de acompanhamento e do relatório

final de atividades, além de ser prevista verificação in loco, por amostragem, às instituições.

No caso da UFJF, os documentos arquivados na PROEXC atestam que a equipe da

SESU/MEC nunca visitou a instituição desde a implantação do PROEXT em 2003.

Nota-se, também, um claro descompasso e desorganização nos processos de

acompanhamento por parte da SESU/MEC posto que, segundo a PROEXC/UFJF, em

correspondência eletrônica encaminhada em 31 de agosto de 2008, o então Coordenador

Geral de Relações Estudantis da SESU/MEC, Edson Norberto Cáceres, solicita o

encaminhamento dos relatórios finais de projetos/programas da UFJF que foram

contemplados com o PROEXT nos anos de 2004, 2005 e 2006. O envio dos mesmos é

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apontado na correspondência como pré-condição para que a instituição possa concorrer a

novas edições do PROEXT, tal como o previsto nos editais.

A PROEXC/UFJF constatou que os referidos relatórios já haviam sido enviados à

SESU/MEC nos prazos previstos. E assim, indagamos se de fato a UFJF estivesse

inadimplente com os relatórios finais do período citado, como justificar a aprovação de

projetos/programas no PROEXT durante este período. E ainda, por que os relatórios estavam

sendo cobrados, se os documentos em poder da UFJF comprovam o envio dos mesmos no

devido prazo?

Outro exemplo emblemático, desta mesma natureza, vivenciado pela

PROEXC/UFJF, é a solicitação da SESU/MEC através do Ofício No 296 de 19 de outubro de

2010, do novo Coordenador Geral de Relações Estudantis, Murilo Silva de Camargo, sobre o

envio do relatório final do projeto contemplado no PROEXT de 2008.

Entendo que esta metodologia de avaliação não atende ao preconizado pelo

FORPROEX, impede o diagnóstico dos problemas e transparece ser apenas um inócuo

compêndio burocrático. Isso reitera a defesa de um órgão específico na SESU/MEC que, em

parceria com as Pró-Reitorias de Extensão das IPES, institua processos avaliativos dinâmicos

que venham contribuir, de fato, para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da extensão

universitária enquanto formação acadêmica.

Acredito, inclusive, que as questões referentes à exiguidade do cronograma de

execução do PROEXT seriam minimizadas com processos avaliativos mais eficazes,

sistemáticos e padronizados, já que existe grande variação em cada edital, em relação à

vigência e prazo de execução, a saber:

- PROEXT 2007: vigência até 31/12/2008 com prazo para execução de no máximo

oito meses a contar da data de liberação dos recursos;

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- - PROEXT 2008: vigência até 31/12/2009 com prazo para execução de no

máximo dezoito meses a contar da data de liberação dos recursos;

- PROEXT 2009: vigência até 31/12/2010 com prazo para execução de no máximo

quinze meses a contar da data de liberação dos recursos;

Outra distorção percebida em nossa pesquisa se refere à dificuldade de aplicação

do conceito de extensão preconizado pelo FORPROEX, ou seja, “um processo educativo,

cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a

relação transformadora entre universidade e sociedade” (FORPROEX, 2006, p.21). Alguns

coordenadores retomam um velho dilema: é estágio porque é extensão, ou é extensão porque é

estágio? Desta feita, acabam por apresentar extensão como sinônimo de prática de ensino e/ou

de estágio, tal como exposto nas transcrições:

Os alunos de Medicina, por exemplo, têm dois anos de atividades práticas,

voltadas ao trato com a comunidade. É uma atividade de extensão dentro da

universidade. Outra opção seriam os créditos opcionais. Se o aluno vai

frequentar determinado estágio, desde que ele tenha cumprido os pré-

requisitos, ele vai fazer uma determinada atividade de extensão (P5).

O objetivo do PROEXT foi criar campo de estágio para os alunos da

Faculdade de Educação Física. Eles tinham que se matricular na disciplina

de “Promoção de Saúde e Qualidade de vida”, em que eles tinham uma

disciplina comigo antes. Depois eles iam assistir a prática. A cada

disciplina, tinha em torno de cinco a seis alunos por semestre. Alguns

alunos não podiam ir ao local em que estava acontecendo o PROEXT,

outros ficavam somente na teoria e nós trazíamos as informações (P3).

No tempo em que eu cursei a graduação não tinha esse enfoque. Não se

sabia que atender um ambulatório, prestar um serviço diferenciado e montar

uma linha de serviço era uma atividade de extensão (P5).

Interrogamos se tais atitudes se devem a um mero equívoco conceitual de alguns

coordenadores, posto que a atividade prática é parte integrante do ensino e, por isso,

pressupõe matrícula em determinada disciplina, exigência de frequência, avaliação,

mensuração em notas, supervisão direta de um docente, entre outras questões legais. O

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mesmo se dá em relação às atividades de estágio que têm regulamentação específica através

da Lei 11.788 de 25 de setembro de 2008 que prevê carga horária máxima diária,

remuneração quando for considerado estágio não-obrigatório, pagamento de “férias”,

supervisão direta de um profissional da mesma área de formação, pagamento de seguro de

acidentes pessoais, etc.

Ao serem atribuídos os adjetivos “prática de ensino” e/ou “estágio” para as

atividades extensionistas, estamos cumprindo com tais exigências legais? Os bolsistas do

PROEXT têm assegurado os direitos do estagiário? Cumprem com os deveres de aluno de

prática de ensino? Será apenas um “arranjo institucional”, no qual a mesma atividade pode

estar sendo computada duplamente pelo bolsista do PROEXT que usufrui da carga horária

curricular e, ainda, da pontuação recebida em seu currículo com um “certificado de

extensão”?

Ou, por outra, seria uma opção consciente de alguns coordenadores que tomam a

extensão como uma mera comunicação do conhecimento, tal como preconizado por

Marcovitch (1998), Paiva (1997), Morais (1995) e Botomé (1996).

Percebe-se, ainda, mais um agravante no que se refere ao conceito de extensão,

distorcido na forma de substituição de carência de recursos humanos do poder público. Trata-

se do exemplificado no relato:

Dentro da área de saúde eles (a comunidade atendida) têm a particularidade

de não serem cobertos por agentes comunitários. Dessa forma, o nosso

aluno faz o papel de agente comunitário. Ele faz o fichamento com ficha A,

que é uma ficha de agente comunitário (P1).

Esta concepção traduz o que Jezine (2006, 2004) denuncia, ou seja, ações

esporádicas e paliativas na tentativa de levar “solução” para os problemas das comunidades.

Trata-se de uma intervenção despida do caráter reflexivo e que não estimula formas

organizadas de interferência, ou seja, uma ação essencialmente, assistencialista, na qual a

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universidade substitui o poder público, apresentando-se como “salvadora dos pobres e

desvalidos”, assumindo tarefas que extrapolam sua responsabilidade.

Paradoxalmente, encontramos no mesmo grupo pesquisado falas que asseguram

uma visão completamente diferente, apesar de a nossa “amostragem” se reduzir a apenas seis

projetos/programas. A análise dos mesmos atesta que se repete no universo estudado a

diversidade de concepções e conceitos que perpassam a atividade extensionista, conforme já

salientamos através de Jezine (2004) e Franz e Silva (2002). Muito emblemático é o conceito

de extensão trazido pelo coordenador abaixo:

Outra questão é que foi uma atividade de extensão porque foi possível

articular a questão do ensino, do conhecimento com a atividade na realidade

daqueles deficientes e da família deles. Foi possível, ainda, abrir um projeto

de pesquisa (P6).

Inegavelmente, esta fala sinaliza para a extensão como concepção acadêmica, tal

como preconizada por Jezine (2006, p. 236) e incorporada pelo próprio FORPROEX,

apostando na relação universidade/extensão/sociedade como possibilidade de uma ação

transformadora. Neste olhar, atender às demandas pressupõe o diálogo, pois a universidade

não pode se relacionar com a sociedade sem antes ouvi-la. Uma via de mão dupla, na qual a

universidade e a sociedade, em interação dialógica, estabelecem troca de saberes, rompem

com a hegemonia do discurso acadêmico e consolidam o tripé da extensão, ensino e pesquisa

como responsável para a produção do saber universitário.

Em minha opinião, toda a diversidade de correntes e concepções de extensão

presentes nos projetos/programas pesquisados está atrelada à falta de uma vertente conceitual

definida, de extensão, por parte da SESU/MEC nos editais do PROEXT. Por outro lado, posso

aventar que, se essa heterogeneidade de concepções, expressa nos diversos

projetos/programas, é contemplada pelo PROEXT, permitindo o financiamento para propostas

que se valem da extensão universitária para desenvolver políticas públicas de cunho social,

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100

trata-se de uma metamorfose da perpetuação do uso do caráter assistencialista da extensão por

parte do governo, conforme já denunciamos anteriormente.

Assim, após confrontar as diretrizes de natureza acadêmica comuns aos editais do

PROEXT 2007, 2008 e 2009, com base no arcabouço teórico apresentado na primeira parte da

dissertação e a análise dos documentos referentes ao PROEXT nos arquivos da UFJF, com o

resultado das entrevistas realizadas, sustentamos, em triangulação, as conclusões obtidas entre

o planejado e o realizado que serão apresentadas no capítulo final, ainda que provisório.

.

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À GUIZA DE CONCLUSÃO

A análise sobre a qual se debruçou ao longo do primeiro capítulo desta dissertação

demonstrou como, desde a sua formação, a universidade brasileira é, ao mesmo tempo, o

lugar da autoperpetuação do bloco histórico por meio da concentração do saber e da

competência profissional nas mãos dos setores hegemônicos, mas também um espaço de

criticidade e debate.

Os dilemas e desafios da universidade traduzem sua perspicácia frente às

circunstâncias histórico-sociais, criando formas de procedimentos que conduzem uma

inserção ativa para além de formar e investigar. Assim sendo, a universidade empreendeu

esforços para fazer com que as funções de formação e investigação tenham um caráter mais

social, não descuidando dos referenciais científico-tecnológicos, comunicacionais e

humanísticos. Essa empreitada foi atribuída à extensão universitária que passa a ser parte

orgânica e compor as funções da universidade, ao lado do ensino e da pesquisa. Entretanto, a

dificuldade de estabelecer parâmetros para sua aferição, entre outros aspectos, faz com que a

extensão ainda não seja tão valorizada quanto o ensino e a pesquisa, quer seja na esfera da

SESU/MEC ou mesmo na própria rotina acadêmica e institucional.

Entender como isso se deu ao longo da história da extensão no Brasil, os dilemas

da sua consolidação “legal”, as correntes que a influenciaram e sua luta em prol da

conceituação, institucionalização e financiamento foram objetivos contemplados no primeiro

capítulo. Ainda na investigação documental percebe-se uma nítida desintegração que se

transfere do plano estrutural para o próprio plano funcional, no qual o cumprimento da

extensão, na maioria das vezes, pouco tem a ver com o exercício das funções de ensino e

pesquisa em sua forma usual.

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Apesar dessas contradições que envolvem a universidade contemporânea,

especialmente nos países periféricos, verifica-se que o atendimento a muitas demandas sociais

e/ou políticas públicas tem se concretizado especialmente pelo viés da extensão universitária,

mesmo que precariamente, principalmente através do Programa de Apoio à Extensão

Universitária – PROEXT.

Para entender a gênese do PROEXT, foi necessário desvendar as primeiras

políticas públicas de extensão universitária no Brasil, embebidas pela ideologia dos governos

da época. Esta trajetória ressaltou o esforço pela organização e fortalecimento da extensão

universitária através do FORPROEX, em busca de fontes de apoio e fomento que levaram à

criação do PROEXT.

Mais do que representativo de um jogo de palavras, o subtítulo do capítulo

segundo questiona o que se espera da extensão universitária para que, de fato, as escolhas dos

caminhos a serem trilhados conduzam à concretização de seus objetivos. Assim, indagou-se: a

corrida desenfreada por financiamento e fontes de fomento que se materializou no PROEXT,

a cada edição envolvendo um número maior de ministérios e, consequentemente, linhas

temáticas, atende aos anseios da extensão universitária e do originalmente preconizado pelo

FORPROEX? Ou, por outra, será o PROEXT o redentor da extensão universitária?

Inegavelmente, um montante da ordem de R$1.300,00, possibilidade máxima

atingida por cada instituição proponente, tal como previsto no edital do PROEXT 2009,

“enche” tanto “os olhos” dos dirigentes da instituição quanto da comunidade acadêmica, ávida

por recursos financeiros capazes de permitirem a concretização, valorização e expansão de

suas propostas extensionistas. O estudo no capítulo terceiro comprovou isto através da

importante contribuição empírica.

A UFJF atendeu prontamente a todas as edições do PROEXT desde sua

implantação em 2003. Especificamente, os editais de 2007, 2008 e 2009 foram o foco de

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interesse da pesquisa e, constatou-se, junto aos coordenadores dos projetos/programas

contemplados por tais edições do PROEXT, quão significativo foi o aporte financeiro

recebido. Priorizou-se o estudo das diretrizes específicas de natureza acadêmica comuns aos

editais do PROEXT em consonância com os preceitos defendidos pelo FORPROEX, capazes

de legitimarem a função acadêmica da extensão universitária.

Estabeleceu-se, assim, uma interface com os autores das diversas concepções que

discutem a extensão universitária no Brasil, o FORPROEX e o próprio PROEXT, a partir da

investigação dos projetos/programas contemplados feita, especialmente, através de entrevistas

semiestruturadas que permitiram uma enorme riqueza de achados, quer pelo emprego da

metodologia de análise de conteúdo, quer pela investigação mais qualitativa do produto dos

encontros com os respectivos coordenadores.

Assim, diante das repercussões do PROEXT na UFJF, o estudo entre o planejado e

o realizado aponta para três dimensões que, embora estejam em interação, são distintas.

A primeira delas é a dimensão do próprio FORPROEX que, na sua trajetória,

“planejou” a urgente e necessária criação de fonte específica de financiamento para a extensão

universitária junto ao MEC, uma rubrica própria dentro da matriz orçamentária

MEC/ANDIFES que assegure a manutenção e o desenvolvimento das atividades

extensionistas de modo contínuo, permitindo a criação de políticas orgânicas de extensão

universitária dentro de cada IFES.

Para concretizar seu anseio por financiamento, o FORPROEX esbarrou na

necessidade de definição conceitual, institucionalização e construção de indicadores de

avaliação da extensão universitária. Se a primeira tarefa foi cumprida, as outras duas

permanecem como grandes desafios, instigando a todos que, como nós, se propõem a discutir

e a pensar a extensão universitária no Brasil.

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Diante da grandiosa empreitada a ser feita, de certo modo, o FORPROEX se

acomodou perante o “realizado possível”: o PROEXT. O aumento acentuado de recursos

financeiros a cada edição do PROEXT sinaliza para sua cristalização como única fonte de

apoio e fomento à extensão universitária, tornando cada vez mais utópica a concretização do

planejado pelo FORPROEX.

As propostas e preceitos trazidos pelos editais do PROEXT são a segunda

dimensão por nós elencada entre o planejado e o realizado. Do ponto de vista do aporte

orçamentário, constatou-se um grande fosso entre o planejado e o realizado através dos

editais. A distância se evidencia quando se comparam os valores publicizados nos editais e os

valores contemplados, repassados e executados pelas instituições. Será que as IPES não

foram capazes de apresentar propostas “satisfatórias” perante os critérios da SESU/MEC? A

pesquisa comprovou que não. Trata-se do maquiavélico jogo burocrático cujas regras são

cuidadosamente preparadas pelo próprio governo. Não se propõe aqui uma apologia ao

desregramento, mas à defesa de mecanismos transparentes, flexíveis e ágeis para assegurar a

plena realização do planejado.

Por outro lado, se for adotado o olhar da SESU/MEC sobre esta questão pode ser

que, de fato, o que foi planejado tenha se concretizado e o saldo político da divulgação de um

edital que envolve milhões destinados à extensão universitária represente seu êxito, sem que

os recursos tenham sido realmente aplicados.

Ainda nesta segunda dimensão, entre o planejado pelos editais do PROEXT e o

realizado, visualizamos outro aspecto para além da mera questão orçamentária. Os editais

preconizam um conjunto de diretrizes de natureza acadêmica, envolvendo indissociabilidade,

interdisciplinaridade, efeitos sobre a formação do estudante e geração de produtos. Questiona-

se: como tais aspectos são “medidos” e acompanhados pelo PROEXT? A partir do “Plano de

Trabalho” encaminhado pelo coordenador do projeto/programa e deferido pelo PROEXT não

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se estabelece mais nenhuma ponte entre ambos. Sendo assim, o PROEXT aprova uma

determinada proposta e não verifica o que de fato está sendo realizado. Somente o relatório

final é “balizador” da realização do planejado e, no entanto, como denunciamos, muitas vezes

não existe uma cobrança sistemática e organizada do mesmo. Além disso, não há um retorno

desta avaliação para o coordenador e instituição envolvidos. Como os coordenadores poderão

aprimorar suas propostas? Como as IPES poderão corrigir seus entraves? Como o PROEXT

poderá ajustar os equívocos?

A terceira e última dimensão envolve o planejamento de trabalho dos próprios

coordenadores e o que conseguiram, efetivamente, realizar. A investigação empírica constatou

o dispêndio de energia e paciência além de doses generosas de criatividade e flexibilidade que

foram empreendidas pelos coordenadores de projetos/programas para cumprirem o que

haviam proposto. As dificuldades são tantas que, não é exagero, chamá-los de “heróis da

resistência.”

Assim, diante das diversas dimensões apontadas entre o planejado e o realizado

pelo PROEXT na UFJF, nos parece claro que há uma estreita relação entre a escala local e a

nacional, no âmbito das políticas públicas do MEC e do FORPROEX. Entendendo a

abrangência de todas as ações extensionistas e sua contribuição para as políticas afirmativas,

desenvolvimento econômico e social, melhoria da qualidade de vida, memória cultural,

produção artística, inovação tecnológica e defesa do meio ambiente, a extensão universitária

não pode mais ser tomada como mera executora de políticas públicas.

O estudo sobre o PROEXT demonstrou o quanto a extensão tem a contribuir para

a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade, propondo

metodologias novas para aplicação de sua interface com o ensino e a pesquisa, imprimindo

concretude ao que é o objetivo e a missão da universidade: produzir e sistematizar o

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conhecimento, tornando-o acessível à sociedade e construir o “ser profissional” de forma

global.

Além disso, os valiosos desdobramentos da empiria atestam que a extensão é um

importante agente de interlocução da universidade com outras instituições e segmentos, dos

professores universitários com outros profissionais, dos acadêmicos com a sociedade,

contribuindo de modo ímpar para a transposição dos seus próprios muros.

Entretanto, é preciso reconhecer a fragilidade da estrutura que a universidade

oferece à extensão universitária, diante da sua única fonte de fomento: o PROEXT.

Certamente, um grupo próprio de técnicos-administrativos especializados, dotados de um

espaço com infraestrutura adequada e de orientação pedagógica, jurídica e financeira

implicaria um notável desenvolvimento e expansão da extensão universitária na UFJF. Assim,

seria possível concorrer com o limite máximo de propostas previsto nos editais do PROEXT

e, ainda, libertar os projetos/programas contemplados do imbróglio burocrático, com maior

fluidez e agilidade na sistemática de licitações, empenhos e compra de bens e serviços.

O PROEXT é hoje o “planejado possível”, contudo não pode ocupar o posto de

protagonista dos anseios da extensão universitária, condensando os esforços da comunidade

acadêmica essencialmente para atender aos preceitos de seus editais. Nossa tarefa, urgente e

necessária, é unir esforços no engajamento coletivo para construção de indicadores auditáveis

e mensuráveis da extensão capazes de assegurar o componente da extensão como um critério

de financiamento das IFES na Matriz de Orçamento de Custeio e Capital do MEC/ANDIFES.

Apesar de o FORPROEX ter acumulado uma agenda pela valorização e

reconhecimento da extensão universitária nas próprias IPES e no MEC, ainda é necessário

atualizar alguns patamares de uma nova fase da institucionalização da extensão. É premente a

necessidade de um marco regulatório que assegure seu fomento com definição de agência,

pagamento de bolsas docentes e discentes, flexibilidade curricular e de gestão dos recursos.

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Portanto, a concretização de todas as propostas elencadas será capaz de imprimir

um novo olhar à extensão universitária que será também mais respeitada e,

consequentemente, os docentes sentir-se-ão mais preparados, estimulados e motivados a

investirem nas atividades extensionistas. Assim, quando um número maior de alunos é

envolvido com estas experiências significativas, a universidade garante a formação dos

futuros docentes e profissionais de diversas áreas, comprometidos com a transformação da

sociedade.

Certamente, esse não é um caminho único para as atividades extensionistas, mas a

investigação dessa dissertação sustenta a hipótese de que, através dele, a extensão na

universidade brasileira atingirá o mesmo status da pesquisa e do ensino e poderá cumprir a

plenitude de tudo que planejar, constituindo um fazer orgânico e perene, respeitando-se as

vocações e necessidades próprias de cada instituição. A busca desenfreada por recursos cederá

espaço ao trabalho reflexivo da prática extensionista que a comunidade acadêmica deseja.

É um longo e difícil caminho que exige determinação e comprometimento,

empreitada coletiva e também de cada agente envolvido. De minha parte, enquanto “pró-reitor

aluno” e, agora, “pesquisador”, sinto-me, por um lado, mais preparado, no sentido da

sustentação teórica adquirida que, aliada à oportunidade de estar ocupando o cargo de gestor

de extensão em uma universidade pública, significa um comprometimento muito maior com o

desafio proposto.

Meu intento é que esta dissertação possa contribuir para estudos futuros que

envolvam institucionalização da extensão, concepções, financiamento, políticas públicas,

reestruturação curricular, indissociabilidade, interdisciplinaridade e o entendimento da

trajetória recente da extensão universitária e do PROEXT.

Por outro lado, é imperativo o desejo de consolidar tais propostas em um projeto

de doutoramento que estenda o estudo das repercussões do PROEXT aos outros agentes

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envolvidos, ou seja, às comunidades, aos demais docentes e profissionais, aos alunos, às

instituições e aos segmentos parceiros, na expectativa de contribuir, de modo pragmático, para

a implantação de indicadores auditáveis e mensuráveis da extensão universitária,

consolidando, assim, a realização de tudo o que a trajetória da extensão planejou para si,

concretizando todo o seu potencial.

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Page 120: Universidade Estácio de Sá · CTM Comissão Técnica Multidisciplinar CTU Colégio Técnico Universitário DAU Departamento de Assuntos Universitário DIEG Divisão de

118

APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa Programa de Apoio à Extensão

Universitária– PROEXT NA UFJF: Um Estudo sobre o Planejado e o Realizado.

O objetivo deste estudo é analisar de que forma as diretrizes de natureza acadêmica contidas nos Editais do

Programa de Apoio a Extensão Universitária – PROEXT estão sendo adotadas pelos programas e projetos

contemplados pela UFJF. Especificamente, a pesquisa será realizada nos dois programas e quatro projetos da

UFJF aprovados nos editais de 2007, 2008 e 2009 sobre os quais, pretende-se responder às seguintes

questões de estudo:

1. Como os coordenadores de programas e projetos contemplados pelo PROEXT cumprem as

diretrizes de natureza acadêmica estabelecidas?

2. O que se pode perceber entre as orientações do PROEXT, o planejado e o realizável do ponto

de vista dos coordenadores dos programas e projetos?

3. Quais tem sido as mudanças percebidas pelos coordenadores de programas e projetos

atribuídas ao PROEXT no que se refere: ao estabelecimento de parcerias, as concepções e

pressupostos extensionistas adotados, a estrutura, ao funcionamento, ao modus operandi e as

práticas de avaliação adotadas, bem como a formulação de pesquisas, as alterações curriculares,

a formação dos alunos e aos resultados alcançados?

Para este estudo adotaremos entrevista semi-estruturada a ser gravada em mídia eletrônica e convencional

somente para transcrição posterior e preservando o anonimato do docente e do projeto/programa.

Para participar deste estudo você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira. Você

será esclarecido(a) sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou

recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer

momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou

modificação na forma em que é atendido(a) pelo pesquisador. O pesquisador irá tratar a sua identidade com

padrões profissionais de sigilo. Você não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste

estudo. Este estudo apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco existente em atividades rotineiras como

conversar, tomar banho, ler, etc. Apesar disso, você tem assegurado o direito a ressarcimento ou

indenização no caso de quaisquer danos eventualmente produzidos pela pesquisa.

Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que indique

sua participação não será liberado sem a sua permissão. Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa

ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 anos, e após esse tempo serão

destruídos. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será

arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você.

Eu, __________________________________________________, portador(a) do documento de Identidade

____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e

esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar

minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi

uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer

as minhas dúvidas.

Juiz de Fora, ____ de ______________ de 20____ .

_____________________________________

Assinatura do(a) participante

_____________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a)

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119

APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista

I. Dados do Coordenador

1.1. Formação acadêmica:

1.2. Tempo de UFJF:

1.3. Há quanto tempo atua como docente em atividades de extensão universitária?

1.4. Teve algum contato com a extensão universitária durante sua graduação? Como foi?

II. Os alunos

2.1. Qual o total de alunos envolvidos diretamente no seu PROEXT?

2.2. Eles eram de quais cursos da UFJF?

2.3. De que forma se pode relacionar a experiência desses alunos no projeto quanto à sua

formação técnica-científica?

Que práticas vivenciaram no projeto?

2.4. E quanto ao aspecto pessoal-social? Que evidências tem sobre essa posição? Como

acontece?

2.5. A participação dos alunos gerou créditos para alguma disciplina? Como isso se deu?

III. Envolvimento com a comunidade interna e externa à UFJF

3.1. Que outros docentes foram envolvidos com o projeto?

- De outros cursos?

- Como se deu?

3.2. Que público foi atingido? Por que escolheu esse público alvo?

3.3. Você saberia apontar qual o nível de satisfação do publico beneficiado?

3.4. Que tipo de instrumento costuma usar para verificar os níveis de satisfação do publico?

IV. O PROEXT entre o planejado e o executado

4.1. Relacione as produções, publicações, participações em eventos e materiais que por

ventura foram fruto do projeto/programa.

4.2. De que forma ocorreu a execução do projeto?

Que dificuldades você teve?

Que aspectos favoreceram a execução?

4.3. De que forma os recursos foram previstos?

Eles foram suficientes?

Que dificuldades você teve na utilização dos recursos?

Em que aspectos os recursos favoreceram a execução?

4.4. Os recursos foram usados conforme o cronograma? Por que?

4.5. De que forma analisa o alcance dos objetivos definidos na proposta inicial?

4.6. Relacione os principais problemas e/ou dificuldades encontradas no decorrer da execução

do projeto/programa.

V. Impactos da Extensão

5.1. Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos

serem computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos, com atribuição

de créditos acadêmicos sob orientação e avaliação docente?

Por quê?

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5.2. Na sua opinião, que ações desenvolvidas no seu projeto caracterizaram o cumprimento do

preceito da indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão?

5.3. Para você, que ações desenvolvidas caracterizaram o cumprimento do preceito da

interdisciplinaridade das atividades executadas?

VI. Palavras Finais

Muito obrigado!

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ANEXO A - Transcrição da 1ª entrevista

Qual a sua formação acadêmica e o tempo de UFJF?

P1 - Eu sou cirurgiã dentista com mestrado e doutorado em saúde pública na área de epidemiologia.

Tive um período como substituta, sempre participando da extensão, desde aquela época de 96 e 98 e

depois ingressei em setembro de 2006, como professora efetiva da Faculdade de Medicina da UFJF.

Há quanto tempo atua como docente em atividades de extensão universitária?

P1 - Desde que comecei como professora e atuo em atividades de extensão. Talvez seja uma dos

pontos da atividade acadêmica que mais me estimula.

Você já participava da extensão como estudante de graduação?

P1 - Sim. Desde estudante de graduação já participava da extensão. Foi na extensão que me aproximei

da minha área de formação de pós-graduação, a área de saúde coletiva.

Quando você foi contemplada pelo PROEXT, qual o total de alunos que estão envolvidos diretamente

no seu PROEXT?

P1 - Tínhamos um total de aproximadamente doze alunos trabalhando naquele projeto de extensão. E

mais alguns alunos esporádicos, já que o meu projeto tem um parâmetro ou um estímulo para o

envolvimento do acadêmico em seus quatro primeiros períodos de formação. Momento em que ele

ainda não é absorvido nem pela teoria, que acabou conduzindo depois para a super especialização,

quase inevitável. Quando ele acha que não sabe nada, mas tem muito que colaborar e aprender com a

comunidade. Dessa forma é uma oportunidade que eu abri para eles. Eu ainda me lembro da primeira

seleção que fiz para o meu projeto de extensão contemplado pelo PROEXT de 2007. Nós tínhamos

mais de 120 alunos inscritos para fazer a prova de seleção. Participaram todos os cursos de saúde, com

exceção, curiosamente, do curso de Educação Física. Nós tínhamos por volta de dois, três alunos de

Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odonto, Ciências Biológicas, Psicologia, Serviço Social.

Você poderia relacionar a experiência desses alunos nesse projeto para a sua formação?

P1 - Temos outra modalidade de projeto que é a “Liga Acadêmica de Saúde para a Família”, em que

nós fazemos uma interface, como um dos suportes da Liga, dentro dos conceitos que eles têm aqui na

Medicina é a extensão. Alguns alunos participam desse outro projeto e utilizam o meu projeto de

extensão como suporte da Liga. Eu já ouvi de muitos alunos de Medicina e mesmo de Enfermagem

que uma das atividades que foi mais gratificante para eles foi a extensão. É o trabalho com a

comunidade. Outro dia mesmo eu ouvi de uma aluna de Odonto, que pela primeira vez ela via a

patologia, que é uma coisa tão específica do curso. Quando ela identificou um caso na comunidade,

pôde partilhar o conhecimento que obteve com um aluno de medicina. Isso para eles é muito

expressivo. Dessa forma, eu acho que a colaboração da extensão com esses alunos é muito marcante

do ponto de vista do envolvimento deles. Ainda mais que o meu projeto percorre, não tem limites da

graduação na área de saúde, essa troca dos alunos é muito importante, a troca com a comunidade,

levando algo para a comunidade, aprendendo a contactar a comunidade. Lembro-me muito dos alunos

da Fisioterapia quando trabalhavam juntos com os alunos da psicologia. Era muito importante a forma

de eles abordarem o paciente e a família do paciente. Uma coisa que eu não aprendi. Quando o menino

da Odonto chega à comunidade com as escovas de dente, eles querem também que nós vejamos a

pressão arterial. A menina da Fisioterapia relatou que os seus colegas de turma não sabiam aferir a

pressão, porque só tinham estudado na teoria e lá com os meninos da enfermagem e da medicina ela

colocou aquilo em prática. Eu acho que é uma oportunidade ímpar.

E quanto ao aspecto social e a interação com a comunidade?

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P1 - Eu acho que essa experiência torna mais palpável o que é trabalhar com a comunidade. Eu não

sou médica, mas vejo na formação deles, e que na Enfermagem é ainda mais forte, eles presentes nos

hospitais e uma tentativa de aproximação deles nas Unidades Básicas de Saúde. Quando, pelo menos

pelo molde que o nosso projeto de extensão tem, é a tentativa de aproximar os alunos da comunidade e

isso é muito diferente. É mudar o olhar desse aluno da clínica. É uma idéia que nós temos da clínica

ampliada que não se faz só dentro do hospital, do consultório com tecnologia dura, mas com interação,

com envolvimento, com reconhecimento da comunidade, que é uma das exigências dentro da área da

saúde. Reconhecer a comunidade, ser o líder. Eu acho que conseguimos alcançar até momento. Essa é

a avaliação que os alunos fazem.

A esses alunos, particularmente os doze que você enumerou. Gerou algum crédito para alguma

disciplina ou alguma coisa da natureza?

P1 - Dentro do currículo flexibilizado eles utilizam créditos de extensão como creditação em sua

formação. Eu vejo isso claramente na Medicina. Não vejo essa demanda em outros cursos. Mas em

termos de creditação, já levamos nosso projeto para o congresso de Portugal. Uma aluna que fazia

intercâmbio levou o projeto, aproveitou a oportunidade. Temos artigos publicados com alunos de

Medicina, Enfermagem que trabalharam juntos redigindo artigos sobre essa experiência. Alunos foram

estimulados a fazerem mestrados em saúde coletiva. Foi o caso de uma das minhas alunas de

Farmácia. Ela não foi aprovada, mas é a área que ela quer seguir. Acho que para eles essas coisas são

um retorno também.

Outros docentes foram envolvidos no projeto?

P1 - Tive uma parceria com a professora Maria Lúcia Menezes11

da Geografia. Fizemos uma

interação com a comunidade, porque ela também trabalha com aquela comunidade. Fizemos algumas

interlocuções com o pessoal do conselho local de saúde. Nós trabalhávamos com conselho e

principalmente com as pessoas da comunidade do bairro Caiçaras. Eles têm muitas dificuldades nessa

região com questões políticas. Eu vejo muitos entraves nesse sentido. Mas lembro dessa interação, que

foi mais interessante com a Maria Lúcia e com o Márcio. Quando ele fez o mapeamento da região de

São Pedro ele também contemplou aquela região e nós fizemos uma interação com eles.

Por que você escolheu esse público?

P1 - A partir da demanda da UBS de São Pedro, que é a nossa área. E eu nunca achei que fosse correto

escolher a área que eu acho mais interessante. Eu fui a UBS e dentro dela eu apresentei para a gerente

da Unidade minhas propostas de educação e saúde e perguntei em que local ela achava que existia essa

necessidade. A gerente da Unidade, com a qual nós temos essa interface, nos indicou a Comunidade.

Um loteamento público, que antigamente era uma área de invasão, em que alguns outros projetos de

extensão já existiam. Dentro da área de saúde eles têm a particularidade de não serem cobertos por

agentes comunitários. Dessa forma, o nosso aluno faz o papel de agente comunitário. Ele faz o

fichamento com ficha A, que é uma ficha de agente comunitário. Ele acompanha pacientes diabéticos,

hipertensos, gestantes, menores de um ano, casos específicos, como por exemplo, alguma criança que

tenha algum problema. Essa criança é seguida mais de perto por um aluno. E fazemos esse tipo de

interlocução da comunidade com a UBS, que é mais um aspecto da extensão. Devolver para a

comunidade e para o serviço a academia. Eu acho fundamental levar a academia para a comunidade.

Qual o nível de satisfação do público iniciado e qual instrumento que você utiliza para verificar esses

níveis?

P1 - Temos uma percepção quando os alunos entram de férias e voltam. A comunidade relata e

pergunta por que eles não estavam lá nesse período. Sentem falta deles. Ou então outro loteamento

pergunta quando eles vão para o loteamento deles. Mas como nós temos um limite de possibilidades,

de verba, inclusive, nós nos concentramos na UBS que, nessa ocasião, foi identificada como mais

11

Essa professora desenvolve projetos de extensão na área. (NOTA DO AUTOR)

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123

carente. Nós temos também uma ficha de monitoramento de satisfação quanto à saúde que depois os

alunos utilizam como projeto de pesquisa. Cada um dentro da sua área de conhecimento. Na saúde

bucal, os alunos da Odonto aplicam em todas as residências, ao informante de cada residência um

questionário validado sobre autopercepção de saúde bucal e uso de serviço. Nós estendemos isso para

a enfermagem, com relação à utilização dos serviços de saúde, que é uma das propostas do projeto.

Melhorar essas relações.

Você poderia evidenciar uma publicação de maior relevância?

P1 - Nós temos, se eu não me engano, dois artigos de relatos de experiências dos alunos. Vários

trabalhos em congresso, inclusive esse de Extensão e Educação em Portugal, em dezembro agora. Nós

mandamos dois recortes do projeto. Nós fomos para o congresso de extensão em Cuiabá. Eu estimulo

que os alunos dentro das suas áreas específicas possa também levar esse olhar. Sistematicamente, por

exemplo, meus alunos de Odonto levaram para o Congresso Internaconal de Odontologia em São

Paulo uma experiência de Saúde Coletiva, que não é o forte do congresso. Mas eles levaram e pelo que

nos informaram foram muito elogiados e estimulados. Uma aluna de Farmácia já levou para um

congresso de Farmácia em Florianópolis a experiência com assistência farmacêutica e trabalho

multidisciplinar. . A aluna de Serviço Social já levou para o Congresso de Serviço Social. Nós vamos

fazendo esses recortes dentro das particularidades. Normalmente o foco que eu estimulo que eles

levem é justamente esse: eles trabalhando com colegas de outras formações e com a comunidade. São

normalmente os dois recortes que nós contemplamos mais.

De que forma ocorreu a execução do PROEXT e que dificuldades você teve?

P1 - Primeiro foi o tempo exíguo, o que normalmente acontece com os projetos subsidiados pelo

Governo Federal. Eles querem para ontem. A pessoa já tem um projeto arquitetado, mas ele tem todo

um formato específico. Eu tive outra tentativa do PROEXT, se não me engano em 2009, por

insistência dos alunos. Eu já tinha desistido do PROEXT. Mas o projeto foi rejeitado e por uma

justificativa totalmente evasiva. Não compreendi a explicação. Nessa segunda tentativa frustrada,

nesse caso, os alunos que colaboraram, tiveram muita dificuldade com o sistema. Um sistema muito

burocrático, redundante. Mas quando contemplado, em 2007, a dificuldade foi o tempo muito exíguo

de preparo e os entraves institucionais para a utilização dos recursos. Houve uma mudança de

orçamento, em que ele estava centralizado. Nessa mudança de orçamento, simplesmente sumiram com

o plano de trabalho e quando ele foi encontrado, o tempo já tinha acabado. Mas mesmo assim,

conseguimos algumas coisas. Foi interessante, inclusive em benefício da própria Unidade.

De que forma os seus recursos foram previstos e como você preencheu os papéis do edital?

P1 - Foi algo em torno de vinte ou vinte e cinco mil reais. Quando lidamos com a área de saúde

coletiva, nossos recursos ficam muito centrados nessa parte de educação para a saúde. A maior parte

dos nossos recursos foi direcionada para cartilhas educativas, que mais tarde acabaram não ficando

restritas apenas ao trabalho da extensão. Foram utilizadas também para o Internato Regional porque

eles pediram o material. Nós tínhamos um material para o trabalho de campo, como aparelho de

pressão, medição de glicemia, coisas nesses sentidos. Nós também pudemos contemplar algumas

necessidades da Unidade Básica. Coisas para a clínica como otoscópio, fichário, armário e etc. Já que

nós estávamos em uma parceria, achamos por bem contemplá-los dentro dessa parceria. Normalmente

o direcionamento foi para os recursos da educação em saúde, sempre com troca com os alunos. Os

próprios alunos diziam do que eles sentiam necessidade. No PROEXT, que não foi contemplado, os

alunos chegaram a pedir um datashow para a UBS E não para o trabalho porta a porta, que é o que eles

fazem.

Em que aspectos os recursos favorecem a execução?

P1 - Alguns ditos populares até correm por aí. Só palavras é muito interessante, mas no nosso caso a

comunidade se sente muito atraída por algum tipo de recurso que lhe é repassado e esses recursos têm

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que ser originários de alguma fonte. Seja a própria instituição por meio de bolsas que estimulam os

alunos. Os meus, por exemplo, tem que se deslocar aos finais de semana para fazerem esse trabalho.

Eles fazem um deslocamento razoável, como utilização de ônibus dentro do bairro. E a própria

comunidade se sente estimulada não só pela visita dos alunos, como também pela demanda desses

recursos que são bem vindos. Até os próprios pôsteres que nós mandamos para os congressos foram

financiados também com esses recursos. Do contrário, esses recursos deveriam vir de nós mesmos ou

não serem oferecidos para a comunidade. Esse atrativo para a comunidade é um contraponto para ser

oferecido para ela.

Os recursos foram utilizados conforme o cronograma previsto?

P1 - Foi quando nós observamos que pelo processo de licitação houve uma queda bastante expressiva

dos preços cotados e tentamos lançar mão de nova compra, que o entrave aconteceu. Mas dentro da

proposta de chegada do que foi licitado, ocorreu tudo dentro do esperado.

De que forma você analisa o alcance dos objetivos definidos na proposta?

P1 - Todos foram adequadamente cumpridos, sem dúvida. Tanto que identificamos o interesse, a

necessidade de novas aquisições e coisas nessa ordem porque houve uma saída muito interessante.

Instrumentalizou essa prática na comunidade de uma maneira bastante expressiva. Foi um cronograma

executado dentro da proposta e os objetivos alcançados dentro daquilo que nós esperávamos. Inclusive

gerou a solicitação do Internato Regional, de alguma sobra de material, que na verdade não era sobra.

Mas eu não iria simplesmente negar a outra comunidade um material que já beneficiava uma.

Relacione os principais problemas encontrados no decorrer da execução projeto.

P1 - Tivemos a dificuldade de aprontar todos os trâmites burocráticos em curto espaço de tempo,

muitas vezes sem um prévio anúncio. Talvez seja pela minha falta de experiência em recursos. Eu

entrei em setembro de 2006 e ganhei um PROEXT em 2007. Não tive essa experiência antes, mas vi o

recurso tentei e me surpreendi por ter ganhado. Em primeiro lugar, o tempo foi muito exíguo. Quando

foi em 2009, no projeto que não fui contemplada, senti bastante dificuldade com o sistema. O sistema

foi muito burocrático, redundante, pouco explicativo. Nesse que eu fui contemplada eu tive a

dificuldade interna dos recursos. Perdi parte dos recursos, inclusive.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos, com atribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação docente?

P1 - A avaliação e orientação docente são prioritárias. O que a extensão se presta, o que ela é. Nós

vemos muitos projetos interessantes. Mas até que ponto eles saem do papel? Até que ponto eles têm

frutos? E frutos das mais diferentes maneiras. Eu me lembro da experiência que tive ainda quando era

substituta. Eu já tinha um projeto de extensão, que era o meu de aluna de graduação há vinte anos, da

professora Maria Eugênia Tollendal. Era uma época em que ninguém fazia extensão. Eu herdei isso.

Lembro-me que desde aquela época me causava certo incômodo e me preocupava. Como os projetos

de extensão são avaliados pela própria instituição, o quanto são realmente executados e o quanto

produzem de frutos. Seja um artigo, seja um trabalho em congresso, um aluno dando resposta, a

comunidade dando resposta ou, no meu caso, a Unidade Básica, falando de mudanças do

comportamento da população, eu atendendo uma demanda do usuário, alguma coisa nesse sentido,

algum resultado. De alguma maneira ele tem que ser palpável. Se a Pró-Reitoria ou o próprio professor

consegue demonstrar que ele é capaz de gerenciar esse processo, eu acho muito justo isso ser

computado como carga para esses alunos. Muitas vezes mais justo que outras formas de carga que eles

têm como as puramente teóricas. Eu estou falando pelas experiências que os alunos relatam a mim.

Alunos que, por exemplo, dizem que se não fosse pelas trocas no projeto de extensão nunca saberiam

aferir pressão arterial. São as trocas que fazem entre eles e com a gente. Lembro-me de dois alunos da

odontologia, que eu levei em uma reunião de discussão de Conselho local de saúde no bairro São

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Pedro. Eles nunca tinham visto uma discussão de conselho local, que é uma coisa que, mais tarde, os

professores irão falar, na teoria. É a participação popular, uma coisa que dentro do SUS é básica. E

eles ficaram olhando surpresos ao verem a participação da comunidade em defender os seus direitos.

Uma coisa que para os alunos do Serviço Social é corrente, para outros é uma novidade. Eu acho que é

uma experiência que deve ser aproveitada como creditação desde que devidamente fundamentada,

comprovada. Desde que, de alguma maneira, esse professor responsável consiga subsidiar que alguma

coisa esta sendo feita, algum resultado esta sendo alcançado.

Em sua opinião que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizam o cumprimento do preceito da

indissociabilidade entre a pesquisa, ensino e a extensão?

P1 - Com os nossos objetivos, com recursos advindos do PROEXT, podemos fazer esse link. Essa

interface em que procuramos incentivar os alunos dentro do projeto de extensão, buscarem objetos de

pesquisa. É com o recurso do PROEXT que nós fazemos reprografia, montamos um banco de dados

subsidiando a compra de alguma coisa, um software, de alguma tecnologia, alguma forma de medição

de variável, nem que seja um aparelho de pressão. Eu posso ter no projeto de extensão objetos de

pesquisa, como os alunos têm retirado dali. Nós tivemos, se eu não me engano, dois trabalhos de

conclusão de curso, um da Enfermagem outro da Farmácia, oriundos de projeto de extensão. Ou seja,

pesquisas que nasceram da extensão e foram creditadas como trabalho de conclusão de curso. Uma

delas foi submetida a uma revista dentro da área de saúde coletiva é Qualis A2 . Está em processo de

avaliação ainda. Mas a aluna teve coragem, foi elogiada porque era um bom trabalho. Então, eu acho

que essa articulação de ensino, pesquisa e extensão, dentro do meu projeto pelo menos, com a

colaboração desses subsídios dentre outros que nós temos a própria Universidade ou o Pró-Saúde que

agora também tem colaborado, temos conseguido alcançar os resultados dessa integração. Os alunos

se sentem estimulados a buscar dentro da extensão campo para materializar o ensino, além da reunião

que nós temos, e também campos para a pesquisa.

Em sua opinião, que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizam o cumprimento do preceito da

interdisciplinaridade das ações executadas?

P1 - O projeto que eu proponho é naturalmente interdisciplinar pela formação dos alunos beneficiados,

que ela é multidisciplinar, da parte de ensino que eu agrego dentro da extensão. De quinze em quinze

dias fazemos reuniões teóricas e eu convido profissionais de outras formações para falar de atenção

primária dentro da sua ótica. Mesmo quando ainda não tínhamos curso de nutrição na UFJF eu

chamava nutricionistas para falarem. Chamava mestrandos, pelo fato de achar uma oportunidade

interessante, ele dentro do seu estágio docente, trabalhar com a extensão. Eu fiz esse movimento com

alunos de mestrados porque eu oriento mestrado. Uma aluna de Fisioterapia que iniciou estágio

docente foi uma das pessoas que levou uma ou duas reuniões sobre atenção primária, o papel do

fisioterapeuta na equipe multidisciplinar. Eles estão aprendendo a se respeitar, a trabalhar junto, a

ouvir o outro, saber os limites de cada ação, cada sujeito dentro da área de saúde. A parte da

interdisciplinaridade, no nosso projeto é uma das mais interessantes.

Considerações finais:

P1 - Eu lastimo, apenas, todos os entraves burocráticos que impediram a execução total do recurso

recebido. Era um recurso nada substancial, uma coisa pequena, mas que traria, se completamente

executada, benefícios ainda maiores. Não tivemos mais, um recurso dessa monta. Estamos a três ou

quatro anos sobrevivendo com material permanente adquirido daquela ocasião ou colhendo frutos de

alguém nos cobrando material de consumo que já acabou como cartilhas para escolas, escovas de

dente e creme dental para levarmos para os meninos da escola ou dentro da própria família. Dessa

forma temos que ficar fazendo outras articulações para conseguir esse recurso. Claro, o recurso um dia

iria acabar, mas causou frustração não executar aquele orçamento todo. Não foi falta de empenho, pelo

menos da minha parte. Dentro do que eu reconheci dentro do que eu fui orientada a fazer. Dentro da

receptividade que eu tive tanto na FADEPE quanto no Pró-Reitoria. Não foi por falta de eu buscar a

execução do recurso, mas por uma burocracia. Isso me frustrou profundamente, mas enquanto eu pude

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usufruir dele foi ótimo. E que outras iniciativas pudessem, então, aparecer com uma integração da

pesquisa com o ensino, da FAPEMIG, o Pró-Saúde, já que é um recurso federal que contemplem a

questão da extensão.

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ANEXO B - Transcrição da 2ª entrevista

Formação acadêmica:

P2 - Sou Professora de Educação Física com mestrado em filosofia. E minha disciplina é a de

Cinesiologia. Estou na UFJF há vinte e um anos.

Quanto tempo você atua na extensão universitária enquanto docente?

P2 - Desde que eu entrei na Universidade há vinte e um anos.

Teve algum contato com extensão universitária quando era estudante de graduação?

P2 - Quando eu me graduei ainda não havia projetos contínuos na universidade. Dessa forma, eu não

me recordo.

Qual o total de alunos envolvidos em seu PROEXT?

P2 - Nós envolvemos cerca de trinta e cinco a quarenta alunos nesse programa. Tiveram alguns alunos

voluntários que entraram para fazerem atividades específicas que foram programadas.

Eles pertencem a quantos cursos da UFJF? Quais?

P2 - Trabalhamos com alunos da Educação Física, Psicologia, Enfermagem e Comunicação.

Em que você acha que o projeto contribuiu para a formação acadêmica desses alunos? Que práticas

eles vivenciaram no projeto?

P2 - Tínhamos um programa de atividades contínuas que já eram do projeto. Os alunos tiveram a

oportunidade de participar do planejamento, intervenção junto a esses alunos na área dos esportes.

Além disso, esses alunos tiveram a oportunidade de participar de outros tipos de atividades integradas.

Nós tínhamos sextas culturais com a parte de artes. Tivemos também funcionários envolvidos no

projeto que tinham habilidades artísticas. Além disso, tivemos a colônia de férias que deu a

oportunidade para que todos participassem se envolvendo com atividades de pesquisa. Produzimos

artigos, apresentamos em congresso, publicamos. Dessa forma, eu acredito que o programa tenha sido

abrangente. Não só para os alunos, mas também para os participantes.

De que forma se pode relacionar a experiência dos alunos no aspecto pessoal, social. Que evidências

você tem sobre essa posição. Como aconteceu?

P2 - Em primeiro lugar, que o projeto teve como público alvo as crianças moradoras dos bairros do

entorno da universidade. Nesses bairros temos diferentes classes sociais habitando. Mas o projeto

atingiu uma classe social com uma predominância bastante grande de pessoas da classe C, D e E.

Famílias que viviam com menos de um salário mínimo per capita. Esses alunos tiveram a

oportunidade de estar em contato direto com pessoas de diferentes níveis sociais. Isso também, em

determinados momentos, que é próprio da própria faixa etária, adolescentes ou mesmo na colônia de

férias em que tínhamos crianças. Tínhamos uma abrangência muito grande na colônia de férias de

crianças de três até adolescentes de 16 anos. Tivemos que aprender a lidar com os conflitos, a

trabalhar nos interesses desses jovens. Nas Sextas Culturais, por exemplo, fomos trabalhando e

modificando de acordo com os interesses deles. São diferentes realidades sociais que foram

trabalhadas de forma conjunta. De forma geral não houve problema nenhum com relação a isso. Pelo

contrário, até enriqueceu. Isso deu a oportunidade desses alunos vivenciarem isso e aprender a

administrar esses interesses dos jovens, das atividades, convívio social e alguns conflitos que eles

tiveram que aprender a lidar. Fatos que eles terão que lidar na escola ou onde forem trabalhar.

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A participação dos alunos gerou crédito para alguma disciplina? Como isso se deu?

P2 - Não. Nós não trabalhamos com a flexibilização curricular. Naquele momento não estávamos

trabalhando com isso. Nesse momento, por exemplo, nesses projetos de extensão eu tenho a

flexibilização curricular. Se fosse hoje eu já pensaria em outra situação para o PROEXT.

Envolvimento com a comunidade interna e externa à UFJF? Quais outros docentes estiveram

envolvidos com o projeto? Como isso se deu?

P2 - Nós inscrevemos um programa da universidade que é o “Boa Vizinhança”. Esse programa é

composto de vários projetos em diversas áreas. Fizemos um recorte para a área de esportes e

envolvemos para o projeto, a princípio, os professores da Faculdade de Educação Física. Depois

tivemos alunos de outras áreas. Dessa forma, englobamos outros projetos em sentido de parceria. A

Psicologia, por exemplo, fez uma experiência dentro do nosso projeto. A Comunicação trabalhou a

questão da divulgação. Foi uma parceria. Não propriamente uma integração. Eles souberam aproveitar

a experiência do projeto para trabalhar.

Que público o projeto atingiu e por que foi escolhido esse alvo?

P2 - O público alvo eram os moradores dos bairros do entorno da UFJF. Na ocasião pudemos utilizar o

Atlas Social do município e pudemos identificar que na faixa etária que o projeto do PROEXT propôs,

nós tínhamos cerca de seis mil jovens. Escolhemos esse público para apresentar o PROEXT, para

trabalhar porque o programa do “Boa Vizinhança” já é consolidado. Temos um infraestrutura muito

interessante na Faculdade de Educação Física. O objetivo de integrar esses jovens não só nas práticas

esportivas, mas também nas praticas corporais. Nós trabalhamos danças, como Hip Hop, construção e

execução de instrumentos rítmicos. O objetivo foi dar uma continuidade aos projetos que já eram

implementados e incrementá-los com outras atividades e outras inserções.

Você saberia me dizer o nível de satisfação do publico beneficiado e quais instrumentos que você

utiliza para medir esse nível?

P2 - Nós fizemos uma pesquisa por ocasião da Colônia de Férias. Eu não sei precisar em números,

mas houve uma manifestação bastante expressiva dos pais que não vinham somente na colônia, mas

que acompanhavam essas manifestações culturais. Eles solicitavam que fizéssemos atividades

concomitantes para que as mães também pudessem ter a oportunidade de registrar alguma atividade na

Educação Física enquanto os meninos estavam participando. Eu considero que a satisfação tenha sido

boa por parte dos participantes. Não sei precisar o quanto, mas o nível foi muito bom.

O PROEXT gerou algum produto, se apresentou em algum congresso, eventos e etc.?

P2 - Entre o planejado e o executado tivemos problemas com questão financeira. Tivemos a

preocupação muito grande em executar todas as tarefas que tínhamos planejado. Conseguimos

executar. Mas andar junto com o cronograma financeiro foi difícil. Mas conseguimos executar as

atividades. Fizemos dois trabalhos científicos que foram levados a dois congressos.

De que forma ocorreu o projeto? Que dificuldades tiveram e que aspectos favoreceram a execução?

P2 - O projeto se deu com atividades semanais na Faculdade de Educação Física aproveitando projetos

que já existiam e compunham o programa. E também com as sextas culturais que eram atividades

específicas em que eram abordados vários temas. Temas sobre cidadania, saúde, arte, cultura. Depois

nós sempre procurávamos fazer uma atividade física relacionada ao tema abordado e programamos

também um evento que foram as sextas culturais. Além disso, programamos fazer alguns torneios que

foram executados não só na universidade como também em bairros do entorno. O bairro Borboleta

aderiu bem ao programa e o bairro São Pedro. Dessa forma, conseguimos levar o projeto também a

esses bairros. Algumas dificuldades que eu posso relatar é que tentamos parcerias junto às escolas

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municipais, isso foi um pouco difícil. A questão do cronograma financeiro, porque na ocasião o

dinheiro veio para universidade, depois foi para uma fundação, demorando muito para que tivéssemos

acesso a ele. Depois as compras, a licitação. Fui muito cuidadosa. Tão cuidadosa que teve vendedor

que rejeitou a própria venda e tivemos, inclusive, que devolver dinheiro. Mas a maior dificuldade que

vi na realização do projeto foi o cronograma financeiro, com as condições que não ficam em nossas

mãos. Ficamos dependendo de outras pessoas.

Os recursos que foram previstos foram suficientes? Que dificuldades tiveram na utilização dos

recursos? Em que aspectos os recursos favorecem na execução? Como os recursos foram previstos?

P2 - Os recursos foram previstos dentro daquilo que o edital permitia. Que era material de consumo,

material permanente. Naquela ocasião não podíamos pagar bolsistas. Nesse caso, fomos muito

favorecidos porque a Pró-Reitoria de Extensão cobriu vários bolsistas para trabalharem no projeto. Os

recursos foram suficientes para aquilo que foi planejado, mas tivemos problemas na licitação, que na

ocasião foi morosa. Conferir material demorou bastante, talvez por um excesso de cuidado e não

conseguimos a prorrogação do prazo. Tivemos que devolver dinheiro. Uma coisa que foi dificultosa é

que tínhamos previsto um custo de lanche para esses alunos e isso nos foi glosado. Dessa forma,

tivemos que ir buscar outros parceiros para o lanche. Descobrimos, por exemplo, que dentre as

propagandas visuais a que mais funcionava nesses locais era a faixa e não tínhamos dinheiro previsto

para isso. Dessa forma, eu, como coordenadora do projeto, coloquei do meu bolso recursos para o

projeto funcionar.

Em que aspectos o recurso favorece a execução do projeto?

P2 - Eu acho que em vários aspectos. Primeiro na questão da estruturação, porque embora se tenha

muito computador, internet, hoje em dia, nem sempre temos uma estrutura para trabalhar o projeto. Eu

acho muito importante auxiliar nessa infraestrutura, porque os alunos que estão envolvidos nessa

estrutura precisam ter essa clareza de espacialidade, qual é o espaço do projeto para ele se organizar.

Um projeto que lidou com centenas de participantes. Dessa forma, tem que haver uma secretaria, um

local. Quando ganhamos esses recursos materiais eles parecem poucos, mas não são. Eu acho esses

recursos muito importantes. No caso do “Boa Vizinhança”, que era um programa de esporte, os

recursos foram muito bons, porque utilizamos materiais como bola, etc. A universidade já tem um

gasto muito grande com esses materiais que tem um custo muito elevado. Contribuir com esses

materiais que tem um custo bastante elevado para a Faculdade é muito bom, porque não falta material

para trabalhar. É muito importante trabalhar com a noção de que temos materiais. Dá um gás ao

projeto e todo mundo se une. Eu acho que o apelo, por exemplo, quando é um projeto grande, quando

ele ganha um recurso externo, os alunos ficam mais envolvidos, querem fazer parte da história de

alguma coisa que aconteceu. Eu acho que o recurso é fundamental para dar gás ao projeto. Porque os

professores não trabalham com tantos recursos.

Os recursos foram usados conforme o cronograma? Por quê?

P2 - O que pôde ser usado foi usado. Pudemos comprar muito material esportivo. Às vezes, sobra um

material e nós pedimos reutilização daquela sobra, mas esse processo é lento. Mandamos licitação para

Brasília, que não voltou. É difícil conseguir realocar esses valores. A burocracia atrapalha nesse

sentido e a falta de possibilidades de alocar os recursos em outras rubricas também pode atrapalhar.

De que forma analisa o alcance dos objetivos da proposta inicial?

P2 - Dentro do que nos propusemos, acredito que conseguimos cumprir os objetivos. Mas eu vejo que

às vezes um projeto dessa envergadura, quando programamos e apresentamos talvez precisasse ter um

prazo maior para a execução. Quem sabe receber verbas anuais para a execução. Três anos, dois anos.

O nosso projeto foi aprovado em 2007. Em final de 2007 já sabíamos que o dinheiro estava disponível.

Começamos as atividades em novembro de 2007 quando inauguramos o PROEXT. Nessa ocasião foi

o primeiro gasto que conseguimos algum patrocínio e colocamos dinheiro do próprio bolso, porque

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acreditávamos que deveríamos cumprir o cronograma. E o cronograma estava previsto até junho do

ano seguinte. Dessa forma, tinha muita coisa para fazer. Nós tivemos acesso, efetivamente ao dinheiro

apenas em março de 2008 com término em junho de 2008. Os objetivos do projeto enquanto a parte

acadêmica, enquanto ação social, o seu programa e planejamento foram cumpridos, mas a custa de

muito sacrifício, principalmente de tempo, devido ao próprio projeto que tinha uma previsão de tempo

exíguo. Eu acredito que talvez os programas devessem ter mais tempo do que projetos. Eu acho que

um ano é pouco hoje.

Relacione os principais problemas e dificuldades encontradas no decorrer da execução do projeto

programa.

P2 - A principal dificuldade foi o gasto do dinheiro. Não tivemos dificuldade, por exemplo, junto à

administração superior, à Pró-Reitoria de Extensão. Tivemos muito apoio junto à direção da

Faculdade, à comunidade, dos alunos que trabalharam. Foi à questão financeira que ficou mais a

desejar, pelo fato de não conseguirmos o dinheiro para poder gastar. Nós gastamos o dinheiro

adiantado, do próprio bolso, que não vamos rever depois. Ou cumprimos ou gastamos. As duas coisas

ao mesmo tempo são um pouco dificultosas. Quando o dinheiro foi para a fundação, tudo parecia mais

fácil, mas também não foi tão fácil.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos, com atribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação docente?

P2 - Sou completamente favorável. A maioria dos cursos tem uma quantidade de créditos opcionais

que podem ser computados dentro da extensão. Acho que depende muito da natureza do projeto, do

envolvimento do professor e da maneira como esse projeto é desenvolvido. Atualmente, por exemplo,

eu estou com um projeto de extensão que envolve grupo de estudo, atividade prática, observação,

intervenção. Para um curso de licenciatura, ou mesmo de bacharelado como é o caso do curso de

Educação Física, é muito pertinente essa flexibilização curricular. Acho que talvez merecesse que os

projetos tivessem algumas características que, dependendo do curso, o levassem a serem computados.

Sobretudo, quando às vezes, os temas dos projetos com temas inovadores, temas que não existem na

sua grade curricular.

Em sua opinião, que ações desenvolvidas no seu projeto caracterizaram o cumprimento do preceito da

indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão?

P2 - Nós tínhamos uma reunião semanal em que planejávamos, discutíamos e avaliávamos as nossas

ações. Nesse momento já estamos realizando o ensino, o aprendizado e discutimos as ações, os

problemas. Estamos trabalhando a extensão nesse momento e também a própria atividade em si, da

extensão. E no caso da pesquisa, tivemos um cuidado de ao desenvolver as atividades, fazermos uma

pesquisa com os envolvidos para que pudéssemos ter um produto desse trabalho registrado.

Para você, que ações desenvolvidas caracterizaram o cumprimento do preceito da interdisciplinaridade

das atividades executadas?

P2 - Pudemos observar a interdisciplinaridade em cada atividade em que tínhamos semanalmente. Ali

mesmo tínhamos diferentes disciplinas envolvidas. Nas sextas culturais tivemos oportunidades de

dialogar com outros cursos e trazer outras idéias para dentro da prática da atividade física. Pudemos

ter a atividade física enquanto saúde, enquanto atividade de arte e cultura. Essas ações também

puderam estruturar de uma forma mais interdisciplinar o projeto.

Considerações finais:

Quando você é contemplado com um projeto dessa natureza, com uma verba expressiva, temos em um

primeiro momento uma sensação de euforia. Depois começamos a nos preocupar com a

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responsabilidade. Quando realizamos os projetos podemos ver que essa preocupação tem fundamento.

Fico um pouco preocupada com o próprio PROEXT. Nós conhecemos as pontuações, mas não

conhecemos os resultados das pontuações. Quando eu fiz o projeto eu mesmo pontuei meu projeto,

mas nunca mais ganhei um projeto. Eu acho que esses resultados poderiam ser um pouco mais claros

para que pudéssemos entender porque, muitas vezes, existem universidades que ganham tudo e outras

que não ganham nada ou muito pouco. Muitas vezes vemos projetos muito bons, importantes com

professores sérios, que não ganham o projeto. Dessa forma, eu acho que essa classificação do projeto

deveria ser mais clara. Muitas vezes a pessoa tem um projeto que um avaliador diz que foi bom, mas

tem alguma coisa a desejar. Existe um limite de recursos, mas eu acho que deveria ficar claro em que

lugar o projeto ficou e em que projeto. Deveríamos conhecer os projetos que ganharam, para vermos

em que precisamos melhorar. Isso seria uma coisa importante. Não só que a pontuação dos avaliadores

viessem descritas como está no SIGProj mas, também, o lugar em que o projeto fica e qual é a

avaliação dos que ganham para que as pessoas pudessem buscar mais recursos. Porque os recursos

realmente impulsionam mais os projetos.

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ANEXO C - Transcrição da 3ª entrevista

Qual a sua formação acadêmica?

P3 - Sou graduada em Educação Física, licenciatura Cinesiologia pela Faculdade de Educação Física

da UFJF. Fiz mestrado em Comunicação pela UFRJ, convênio com a UFJF e estou fazendo doutorado

em Ciência e desporto em Portugal.

Quanto tempo de UFJF?

P3 - Eu entrei aqui na Federal concursada em 1995, mas na verdade em 92 eu já estava como

professora substituta. Eu já estou aqui dentro da Federal desde 92. Eu formei em 90, fiquei dois anos

sem contato com a Universidade e voltei como substituta. De substituta, eu já fiz o concurso e estou

até hoje. Já tem aproximadamente 20 anos.

Desde quando você atua na extensão universitária?

P3 - Inclusive foi a extensão que me deu a oportunidade de entrar na universidade, porque quando eu

me formei em 90, a professora Elenice Faccion abriu o aperfeiçoamento em ginástica rítmica, eu tinha

sido monitora dela em ginástica rítmica. Eu já tinha formado, então pedi matrícula de uma disciplina

isolada, já como profissional e fui fazer o aperfeiçoamento que foi feito dentro do projeto de extensão.

Após acabar o período de extensão dos seis meses, eu continuei no projeto como voluntária e fiquei

sabendo do concurso de professora substituta, que seria mais ou menos na mesma área que eu estava

atuando que é a ginástica rítmica e o concurso de substituta seria para Ritmo e Movimento. Foi quando

eu entrei e continuei, porque eu já estava como voluntária no projeto de extensão. Daí a coisa veio

crescendo com a professora Elenice como coordenadora e eu junto com ela. E estou até hoje enrolada

com a extensão.

Como estudante de graduação você participou de atividades de extensão?

P3 – Participei.

Qual é o total de alunos envolvidos no seu PROEXT?

P3 - O objetivo do PROEXT foi criar campo de estágio para os alunos da Faculdade de Educação

Física. Eles tinham que se matricular na disciplina de “Promoção de Saúde e Qualidade de vida”, em

que eles tinham uma disciplina comigo antes. Depois eles iam assistir a prática. A cada disciplina,

tinha em torno de cinco a seis alunos por semestre. Alguns alunos não podiam ir ao local em que

estava acontecendo o PROEXT, outros ficavam somente na teoria e nós trazíamos as informações.

Então, deve ter passado, aproximadamente, uma faixa de dez alunos no PROEXT nesse período de

2009. O PROEXT foi desenvolvido em 2009.

Quais cursos participaram?

P3 - A princípio, somente os alunos de Educação Física, mas eu trabalhava com uma equipe

multiprofissional na UBS de Santos Dumont, onde eu tive uma residente de psicologia que

acompanhava o nosso trabalho e a aula de ginástica. No final da aula ela fazia um grupo de

atendimento com as gestantes. Junto com ela tinham as residentes de enfermagem que nos davam

assessoria. Eram alunas que ao mesmo tempo já eram profissionais que ainda estavam ligadas à UFJF.

De que forma se pode relacionar a experiência desses alunos no projeto quanto à contribuição do

PROEXT na formação dos alunos?

P3 - Foi muito interessante porque antes deles irem para a Unidade Básica de Saúde, tinham aulas

teóricas. Quando chegávamos no projeto, eles comprovavam todas aquelas interrogações e dúvidas

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que nós conversávamos e constatavam que não é só a atividade física que é um problema para as

gestantes. Víamos que além da atividade física, elas precisavam de outros atendimentos, como

psicológicos e sociais. Então, elas viam que não era só o entendimento da gestação em si, da atividade

física. Era como se tivesse aberto um campo de conhecimento com relação à saúde da gestante.

Dentre as várias atividades, cite uma prática que era vivenciada por eles?

P3 - Nós fazíamos uma coisa muito interessante, que na educação física não é trabalhada, apesar de

que, em minha opinião, é da competência da educação física e que a fisioterapia trabalha muito bem: o

trabalho específico da musculatura perineal. Elas nunca tinham escutado falar nisso. Antes de fazer

com as gestantes, nós experimentávamos corporalmente em nós mesmos. Elas começaram a entender

o que era esse trabalho, o de trabalhar a musculatura corporal, bem específico da nossa área. Depois,

quando nós íamos para a UBS víamos como o entendimento corporal da gestante interferia no

entendimento dessa musculatura, que é essencial na gestação. Quando nós víamos que esse trabalho

acontecia de forma positiva e terminava num parto, dos que nós tivemos lá, dois partos foram partos

normais e depois as gestantes comprovaram e falaram para nós que esses exercícios ajudaram muito

na hora do parto. Dessa forma, as estagiárias, alunas da Faculdade de Educação Física, viram que

realmente isso é muito importante e que até então elas não tinham entendido.

Quanto ao aspecto pessoal e social que evidências você teria, por exemplos com esses alunos, lidando

com eles. Teve alguma contribuição nesse sentido?

P3 - Sim. A academia tem um ensinamento muito teórico. Quando elas levaram esse conhecimento

teórico para a prática, puderam ver que esse conhecimento teórico acaba sendo secundário em função

de todo o conhecimento que precisamos ter do social da gestante. Às vezes levávamos uma atividade

muito legal, planejávamos algo bem relaxante que seria possível trabalhar mãe e filho, mas chegava lá

e não conseguíamos desenvolver a atividade porque havia toda uma parte psicológica, social e

emocional por trás, que nós precisávamos dar conta também. As estagiárias se envolveram com a vida

das gestantes, com a vida familiar, com a vida do posto, ou seja, como ela chegava ao posto, o que ela

tinha de atenção no posto, o que a assistente social oferecia para ela e como a gestante conseguiu ter

segurança na nossa equipe e na equipe do posto. Esse aspecto social a Academia não ensina. Só a

prática ensina e eu consegui perceber que as minhas estagiárias conseguiram entender isso. Tanto que

eles relataram isso, no relatório final delas. Elas falaram que aprenderam muito mais. Inclusive eu tive

uma aluna da Educação Física que estava no último ano de faculdade que falou no meio da reunião:

“professora eu nunca achei que eu fosse conseguir achar uma coisa, que eu fosse me identificar tanto

na educação física... Eu não queria trabalhar com treinamento, com esportes, com academia, mas eu

sabia que tinha alguma coisa, porque antes eu queria fazer Medicina, mas eu percebi que eu não queria

cuidar de doente, fazer cirurgia, eu não sabia onde eu estava. Eu fiquei fascinada quando nós

começamos a desenvolver o conteúdo, me encontrei dentro da Educação Física e vou trabalhar com a

gestante”. Então eu falei que iria soltar fogos. Pelo menos uma eu consegui resgatar. Foi muito legal.

Elas iam para o estágio, para as reuniões com uma ansiedade muito grande de poder ajudar, com a

necessidade de poder ajudar e não aplicar, mas ajudar a gestante. Porque nós víamos como a gestante

chegava e como ela saía das atividades. Nós víamos que tinham um benefício muito grande. As

estagiárias conseguiam enxergar isso.

A participação desses alunos gerou algum crédito para alguma disciplina? Como se deu isso?

P3 - Sim. Existia uma validade de crédito da disciplina. A princípio na disciplina “Promoção da Saúde

e Qualidade de Vida”, que era uma disciplina nova da reforma curricular, eu tinha um ou dois alunos

estagiários, logo quando iniciou a idéia do PROEXT, em 2008. Por isso que eu quis participar do

PROEXT. Eu percebi que essa disciplina era como se fosse uma válvula de escape para os alunos.

Quando eu comecei a levar os alunos para o posto e com a ajuda do PROEXT, em que a gente teve

ajuda para fazer o material, essa disciplina se espalhou como rastilho de pólvora. As pessoas ficaram

sabendo e quem gostava dessa área começou a se interessar. A sala passou a ficar tão cheia que eu tive

que diminuir o número de vagas. Primeiro porque não iam caber vinte alunos dentro de uma UBS,

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ainda mais na UBS de Santos Dumont onde o salão era muito pequeno e eu não tinha condição de ter

mais do que oito gestantes. Oito gestantes com dez estagiários não iam dar certo. Eu tive que reduzir o

número de estagiários em função do boom que deu e o PROEXT contribuiu muito com isso, sem

dúvida.

Quais outros docentes foram envolvidos com o projeto?

P3 - A professora da Faculdade de Educação Física, Maria Lúcia Polisseni me ajudou muito.

Inclusive, tinham alunos que eram monitores de cinesiologia dela que estavam estagiando comigo. Eu

solicitei que eles também pedissem informações de cinesiologia e a professora Maria Lúcia orientava.

Fazíamos uma parceria.

A que público foi dirigido? Porque você escolheu esse público?

P3 - Eu escolhi esse público por uma opção profissional minha. Quando tivemos a reforma curricular,

quando começou essa discussão em 1997 com o professor Bassoli. Ele entrou no departamento e falou

que precisávamos pensar como iríamos trabalhar a reforma curricular. Ela vai ter tanto a parte da

licenciatura quanto a da graduação. A licenciatura nós já sabemos, porque já trabalhamos nela. Na

parte da graduação tínhamos que pensar o que cada um se interessa em desenvolver com relação à

disciplina, conhecimento e etc. Eu pensei: “A única área da saúde que me interessa é a saúde da

mulher”. Foi na inauguração da Casa de Parto. Estava tudo se encaixando. O professor Paulão, que era

o vice-reitor, disse que nos queria dentro da Casa de Parto. Disse para nós fazermos o nosso projeto

porque ele queria a Educação Física dentro da Casa de Parto. Juntou a fome com a vontade de comer.

Já que eu preciso trabalhar a saúde da mulher e nós temos um campo maravilhoso que é a Casa de

Parto, eu criei o Projeto de Extensão “Ginástica para a Gestante”. E foi aí que começou a ginástica

para a gestante. Eu tinha o espaço e a população, tinha só que estudar. E tinha os alunos que estavam

começando a se interessar pelo assunto. Só que eles iam ter o entendimento que eu passasse para eles.

Então, eu comecei a estudar, a pesquisar e fui à Casa de Parto. A aceitação na Casa foi muito difícil

porque eles priorizavam outro tipo de atendimento, até o conhecimento da população. Foi difícil até de

a população entender o que é ginástica para gestante e o benefício que isso trazia para a gestante. A

conclusão foi que vários projetos passaram pela Casa de Parto, como yoga e shantala. Todos

acabaram e o projeto de ginástica para gestantes ficou. Eu fui muito bicuda, inclusive, porque eles

tentaram me tirar e eu falei que não iria abrir mão porque esse era o único lugar que eu tinha com

clientela específica. E assim eu fiz. Por eu fazer esse projeto de extensão, eu tinha que fazer o vínculo

dele com alguma disciplina na Faculdade e então veio a reforma curricular que o professor Bassoli já

havia oficializado. Nós criamos a disciplina “Promoção e Qualidade de Vida”, que já era introdução

do estágio. Então, as coisas foram se encaixando. Os estagiários, a princípio, iam para a Casa de Parto.

Eu tive mais de trinta estagiários na Casa de Parto nesse período em que ela funcionou. Criamos uma

metodologia de ginástica para gestante. Lá eram gestantes sem risco. Aprendemos como lidar com

essa população. Depois criamos uma metodologia para a gestação de risco, então não poderia ser na

Casa de Parto. Era o momento em que nós já estávamos vendo a hora de ir para uma Unidade Básica

de Saúde. A Casa de Parto fechou, mas o projeto tinha que continuar então fomos para UBS. Nesse

meio tempo aconteceu o PROEXT. Na Casa de Parto eu tinha um arsenal de material. Eu tinha

colchão, travesseiro, todo o material que eu precisava para a ginástica. Na UBS eu não tinha. Eu

pensei como eu iria para a UBS com gestantes, sem o material. Colocar as gestantes sentadas numa

cadeira não era o ideal. Com o PROEXT conseguimos o material.

Você saberia dizer qual foi grau de satisfação desses beneficiados?

P3 - Elas voltavam com os bebês para nos apresentar. Como nós estávamos praticamente todo dia na

UBS, o próprio pessoal do posto nos dava informações sobre as gestantes. Quando elas não iam, a

gente perguntava para as pessoas do posto. Perguntávamos para a assistente social e para

coordenadora do posto o que tinha acontecido com determinada pessoas que não tinha ido. Se elas

haviam sofrido alguma intercorrência ou alguma crise. E assim nós ficávamos sabendo se ela havia

tido alguma crise por causa do filho, do marido, etc. Então quando elas voltavam na ginástica, nós

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perguntávamos a elas o que tinha acontecido e tínhamos um retorno. Nós criávamos um laço de

amizade muito grande. Quando ela entrava em trabalho de parto nós torcíamos para que tudo ocorresse

bem, que fosse um parto normal. E quando nós ficávamos sabendo que tinha sido parto normal, nós

vibrávamos e deixávamos uma mensagem para elas no porto para que elas voltassem a fazer a

ginástica. Automaticamente elas voltavam a frequentar a ginástica. Não pela mensagem que nós

deixávamos, mas pela necessidade de nos passarem a informação de que havia dado certo. Era o

resultado que nós tínhamos.

O PROEXT gerou algum produto, você apresentou em algum congresso?

P3 - Nós criamos muita expectativa porque o PROEXT era um projeto que nos dava oportunidade de

lançar cientificamente um resultado de um trabalho que já estava sendo feito há vários anos. Inclusive

em meu projeto tinha colocado que nós iríamos lançar uma cartilha básica para ser distribuída nos

postos para as gestantes com informações sobre os benefícios da atividade física. Quando nós íamos

falar dos exercícios físicos para as gestantes elas viraram a cara. Porque a gestante quer dormir, fica

sonolenta, fica mole, a barriga incomoda. Então, quando as tiramos da inércia em que se encontram,

elas já não gostavam. Tivemos uma resistência muito grande. Quando fizemos nosso projeto, a

professora Maria Lúcia me ajudou muito. Eu pensei o que eu precisava fazer para divulgar esse

trabalho. E para falar para a gestante que a ginástica tem mais a contribuir. Eu pensei em fazer uma

cartilha de quatro páginas, da mesma forma que nós tínhamos a cartilha de incontinência urinária. Eu

pensei em fazer a mesma coisa. Deixar nos postos para serem distribuídas. Uma das coisas pensadas

era a cartilha. A segunda, que também foi uma frustração, era equipar a UBS, não apenas para

trabalhar com a gestante, mas para que nós pudéssemos trabalhar com a saúde da mulher, do idoso, ou

seja, que tivesse um material de ginástica dentro da UBS para todos os outros projetos que viessem.

Então, eu fiz um projeto com colchonete, com bola, com almofadinha, com alteres. Tudo que fosse

básico para a ginástica. Com aparelho de som, computador para que nós já pudéssemos, de cara, ir

digitando os dados porque em papel nós corremos o risco de perder ou então na hora em que estamos

na ginástica pensamos em registrar, passa e não registra. Máquina fotográfica que filmava porque nós

queríamos filmar. Qual foi a grande frustação? O projeto foi aprovado em setembro e outubro de 2008

e em novembro eu tive a resposta. Fui aprovada. No final de novembro, a Universidade Federal fez

uma reunião com os professores de extensão e que tinham projetos que tinham recursos. Essa reunião

foi no dia 27 e nós tínhamos até o dia 30 para fechar todo o material necessário para a compra do

projeto. Quando eu fiz o projeto tive que aprender coisas que enquanto docente, não tem noção.

Quando você vai fazer um projeto acadêmico, você imagina que terá que colocar toda a parte teórica,

metodológica e desenvolvimento de um projeto. Mas quando chega a parte dos recursos, nós, donos do

projeto, temos que fazer também o levantamento de preços de material. Eu tive que visitar lojas para

fazer levantamentos, pesquisar o menor preço ou a possibilidade de preço para colocar no projeto.

Ninguém me avisou que tinha que fazer isso. Já que eu tinha embarcado, me empenhei. Fiz o

levantamento, meu marido me ajudou, abarquei todo mundo que eu podia e com a ajuda da Maria

Lúcia aprovamos o PROEXT. No dia 27, na reunião, eu fiquei sabendo que nós tínhamos que fazer a

licitação e que para fazer a licitação eu tinha que ter o valor real dos materiais, como aparelho de som,

máquina fotográfica, etc. Eu precisei ir em três lojas de cada item para obter o real valor, o orçamento.

Eu já estava com o projeto aprovado, com trinta mil. Se eu não fizesse isso eu ia perder a verba, ou

seja, eu ia perder todo o meu trabalho. Foi um grande trabalho. O meu marido trabalhou junto comigo

e não ganhamos nem um tostão por causa disso. Projetos de extensão não pagam pro labore para o

professor. Já que eu entrei no barco sabendo disso, não reclamei. Mas depois eu reclamei com o

pessoal do empenho. Reclamei, inclusive, do fato de a Universidade não ter uma equipe de respaldo

para esses projetos. Porque não é da nossa competência mexer com a parte administrativa e

burocrática de dinheiro e de valor. A minha competência é acadêmica. É montar um projeto com

metodologia e desenvolvimento. A Universidade tentou montar uma equipe que nos desse apoio. Mas

eles estavam mais perdidos do que nós, porque eu já sabia aonde eu ia por já ter feito o projeto.

Conclusão: fechei tudo dentro do Siga e fui atrás da Jucilene e da Julieta para aprender como eram os

trâmites. Aprendi na marra, coisa que não é da minha competência. Hoje se eu tiver que fazer um

PROEXT de novo, eu sei os bônus e ônus.

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O que foi favorável?

P3 - Foi favorável o fato de eu ter aprendido a lidar com os trâmites burocráticos e administrativos.

Hoje, se eu tiver que fazer qualquer projeto eu saberia quais são as dificuldades e aonde procurar

ajuda. Porque a Universidade ainda não tem essa equipe que pode assessorar os projetos. Se tivesse, eu

tenho certeza que existiriam muitos outros projetos para a comunidade. Principalmente os de extensão.

Depois do processo, dos trâmites, do Siga, a Universidade tinha que fazer o empenho até 31 de

dezembro de 2008. Houve aquela crise dos Estados Unidos, o dólar começou a subir e com a inflação

todo o meu material permanente não foi empenhado. Nós devolvemos metade da verba para o

governo. Dessa forma, todo o cronograma de atividades que eu havia programado para desenvolver

em 2009, não pôde ser desenvolvido da forma que eu programei. Ou seja, eu tive que refazer o projeto

quando fiquei sabendo disso em março. Porque o projeto era para começar em setembro para no início

de janeiro eu começar com as atividades na UBS. Mas, o material não tinha chegado. Depois eu fui

saber o que não tinha sido empenhado. Apenas o material de consumo foi empenhado (e o material

permanente não foi!) e só começou a chegar a abril. Eu perdi quatro meses de coleta de dados. Todo o

meu projeto, toda a iniciação cientifica e publicação que eu tinha planejado para o PROEXT foi por

água abaixo devido a problemas administrativos. Não adianta nós termos uma boa ideia se não

depende de nós ela funcionar. A parte administrativa não dependia de mim. A Universidade não

empenhou, eu tive que levar o meu aparelho de som que está até hoje na UBS. O que precisava ser

filmado e registrado não foi devido à falta de maquina fotográfica para filmar. O computador para

fazer a digitação toda na hora das entrevistas não foi comprado. Eu tive que pedir à Faculdade de

Educação Física um armário para guardar o material de consumo que foi comprado. Ganhei o

material, mas não ganhei o armário que estava no projeto. Então, ficou um bicho de dez cabeças, em

vez de ser um bicho de uma cabeça só. Eu tive que fazer remendos no projeto, tanto que o relatório

parcial foi o relatório final, em que eu procurei a Jucilene para me auxiliar. Surgiu outro grande

problema. Eu pensei que pelo menos a cartilha nós iríamos fazer porque, querendo ou não até 2009, eu

tinha uma metodologia de trabalho com gestantes de baixo risco. Mesmo que não realizasse uma

publicação científica, uma informação para a comunidade, que era o meu dever e objetivo, eu tinha

condições de fazer. Mas veio novamente a parte burocrática da Universidade. Eu tinha que empenhar

esse trabalho a uma gráfica conveniada ou de empenho da Universidade. Essa gráfica era de Belo

Horizonte e faliu dando o “cano” em muitos projetos da Universidade. Consequentemente eu não

publiquei a cartilha.

Mesmo com todos esses aparatos, de que forma você analisa o alcance do objetivo inicial?

P3 - Nós conseguimos alguma coisa. O objetivo principal do projeto era participar de uma equipe

multiprofissional. Nós conseguimos porque dentro da UBS eu tive ajuda da assistente social. Eu tive

uma equipe com a psicologia e com a enfermagem. Nós conseguimos com o atendimento no posto,

nesse período, participar de uma equipe multiprofissional. Eles nos receberam e viram também a nossa

importância. Nós conseguimos deixar um registro para aquela equipe da Prefeitura de Juiz de Fora.

Outro objetivo do projeto era realizar convênios com a Secretaria de Saúde e colocar a Educação

Física dentro da Secretaria de Saúde. Nós conseguimos isso por meio do projeto. Eu cadastrei o

projeto na Secretaria. Dessa forma, nós conseguimos entrar no posto de saúde. Esses dois objetivos

nós conseguimos. Outro objetivo era criar campo de estágio para os nossos alunos dentro da UBS,

porque nós tínhamos um campo de trabalho na Casa de Parto, que era da Universidade. Nós saímos da

academia, da Universidade e fomos para a prefeitura. Essa era a proposta principal e nós conseguimos.

Com dificuldades, mas conseguimos.

Como os recursos foram previsto na ocasião de você montar a planilha? Eles foram suficientes?

P3 - Como eu já tinha um projeto que havia funcionado na Casa de Parto, o projeto inicial, eu me

baseei pelos materiais utilizados lá. Tomei como base também, o material necessário para a atuação da

nossa profissão. Eu fiz um levantamento dentro do espaço que eu tinha na UBS, o atendimento que eu

queria para a quantidade de pessoas e o que eu queria alocar nesse espaço. Ao mesmo tempo fiz esse

levantamento para a UBS de Santos Dumont e a UBS de São Pedro. Mas, na ocasião, eu não consegui

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funcionar no São Pedro porque o salão deles estava em reforma em 2009. A UBS de São Pedro só

liberou o salão a partir de outubro e novembro de 2009. Dessa forma, eu não tinha como fazer o

PROEXT funcionar lá. Mas eu solicitei a quantidade de material para as duas UBS, a de Santos

Dumont e a de São Pedro. Eu solicitei material para as duas. Como a de são Pedro ainda não

funcionava, o material que chegou ficou guardado na Faculdade de Educação Física. À medida que

tínhamos condições de guardar o material na UBS de Santos Dumont, levávamos para lá. Quando a

UBS de São Pedro passou a funcionar, eu consegui outro armário da Faefid e levei todo material que

era destinado à unidade básica de São Pedro para lá. E está Tudo lá hoje. Montamos o projeto que é

contínuo. Com o material do PROEXT funciona o projeto de Ginástica para Gestante na UBS de São

Pedro. O de Santos Dumont deu uma parada por questões de problemas da UBS e de funcionamento.

Mas nós temos o material alocado lá. Ele está sendo utilizado pelo pessoal da Faculdade de

Fisioterapia da Federal. Eu liberei o material porque está na responsabilidade da coordenação do

posto. Como o pessoal da Fisioterapia está fazendo estágio lá, nada mais justo do que eles utilizarem o

material. Então a verba também foi útil para outros estágios e outros cursos. No posto de são Pedro o

projeto de gestante continua e implementei outro projeto de extensão. Eu gosto muito de projeto de

extensão. É a extensão do conhecimento para a comunidade. Porque se ficar só aqui dentro, não

adianta. Este ano eu regulamentei junto a Universidade de Juiz de Fora o projeto de ginástica para

mulheres no climatério. Esse projeto utiliza o mesmo material das gestantes.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos e contribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação de docentes?

P3 - Eu concordo. Porque quando nós realizamos uma atividade de extensão é para aplicar aquilo que

aprendemos na prática. O discurso é esse. Muita gente não consegue aplicar esse discurso na prática,

efetivamente. Eu consigo ver isso e os alunos já me comprovaram, por meio de relatórios que eles

conseguem aplicar toda aquela teoria. Essa atividade tem que ser computada na carga horária do

aluno, se não for como estágio, que seja de outra forma, porque há necessidade de contabilizar essa

hora, que é hora de trabalho, de comprovação de tudo que ele viu em sala de aula.

Na sua opinião, quais ações desenvolvidas no seu projeto caracterizaram o cumprimento do preceito

da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão?

P3 - São vários momentos. Eu percebi que aconteceu da seguinte forma: quando eu tinha a reunião

teórica para passar o conteúdo, inclusive para passar informações de como estava funcionando o posto,

já que eles caíram de paraquedas em um projeto que já era contínuo. Quando eu passava a informação

do posto e a teórica da disciplina, eu percebia que eles conseguiam visualizar toda aquela conversa,

aquele conhecimento que nós tínhamos antes, nesse momento eu conseguia fazer o gancho ensino e

extensão. Ali estava caracterizado claramente ensino e extensão. Quando nós voltávamos para a

discussão nas reuniões, porque tínhamos os encontros teóricos e os horários do projeto e quando

voltávamos para as reuniões eles sintetizavam tudo aquilo que tinham estudado e visto, eles

conseguiam visualizar as possibilidades de pesquisas. Ali foi o momento que aquela aluna revelou que

sabia aonde queria continuar, tanto para trabalhar quanto para estudar. A minha grande frustração é de

não ter conseguido finalizar a idéia do projeto do PROEXT. Foi não ter conseguido realizar uma

pesquisa com os dados. Eu não consegui finalizar a pesquisa e realizar o terceiro tripé que é a

extensão, o ensino e a pesquisa. Para culminar com todos esses problemas 2009 foi o ano do H1N1 e o

Ministério da saúde mandou as gestantes ficarem em casa. Em junho, julho e agosto eu não tive

gestante no projeto e não teve como fazer pesquisa devido ao fato de os dados estarem interrompidos

no meio de uma gestação. Mas o que eu consegui perceber é que existe a possibilidade dessa pesquisa

a partir do momento em que os alunos me mostraram que conseguiram visualizar a possibilidade de

pesquisa, o ensino, a extensão e a pesquisa com a coleta de dados.

Para você, que ações desenvolvidas caracterizaram o cumprimento do preceito da interdisciplinaridade

das atividades executadas?

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P3 - Nas reuniões teóricas eu transmitia todo o conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde, a

introdução dessa gestante, como ela entra no sistema e como ela é acompanhada. Não falava apenas da

atividade física, era todo o funcionamento do SUS. Nós profissionais da saúde temos que saber como

funciona o único e o principal sistema de saúde que temos. Quando nós chegávamos ao posto e

tínhamos a necessidade de chamar uma enfermeira ou a necessidade dessa enfermeira aferir a pressão,

peso e circunferência abdominal dessa gestante, que eram dados que nós precisávamos colher para a

nossa pesquisa, essa enfermeira dava o feedbeck pra gente. Existia o prontuário da gestante. Quando

não dava para colher os dados, depois da ginástica, elas traziam o prontuário para nós. Nós

estudávamos o prontuário, questionávamos quando era a próxima coleta de dados dessa gestante,

quando ela voltaria ao posto. A psicóloga também fazia esse procedimento. Como ela acompanhava a

ginástica, fazia um grupo com a gestante, após o grupo, nos levava um retorno relatando o que

acontecia. Dessa forma nós conseguimos participar de uma equipe multiprofissional e formar uma

equipe multiprofissional.

Considerações Finais:

P3 - Este ano quando eu recebi e-mail que iria haver um PROEXT eu me senti muito motivada, com

vontade de fazer um novo projeto. Dessa vez, de climatério como uma forma de divulgar e estudar

mais. Mas com a capacitação do doutorado, vai ficar inviável, um bicho de dez cabeças por minha

causa, não por causa da administração porque agora eu já sei como funciona. Eu vejo que é um projeto

muito bom. Mas o grande problema é que em minha opinião precisa haver uma importância maior da

extensão principalmente pelo Ministério. Valoriza-se muito a pesquisa. A pesquisa é necessária, mas

eu vejo a pesquisa como algo distante. Você vai à comunidade, faz a pesquisa, leva o resultado. Daí

para frente não compete mais a você, e sim a outras pessoas fazerem o que você conseguiu comprovar.

Na extensão você comprova e existe a possibilidade de aplicar essas mudanças. Com o PROEXT eu

vejo que isso fica mais fácil porque nos conseguimos material e verba, assim como a pesquisa. Mas a

valorização da extensão ainda está muito aquém do que deveria, uma vez que quando é feito um

projeto de pesquisa existe um pró labore para o professor coordenador, fato que enche os olhos dos

professores porque e é uma forma de ter uma renda extra. A extensão não proporciona isso. Dessa

forma nós temos que incluir o projeto na nossa carga horária. Nós trabalhamos dobrado para não ter

remuneração por isso. Por esse motivo, só trabalha com o PROEXT quem gosta. Quando não gosta,

não vai trabalhar já que não tem chamariz, que seria o dinheiro, o pró labore. Eu acredito que exista

uma forma de juntar as duas coisas. Quando se coloca um pró labore para os PROEXT, por exemplo:

se um PROEXT prevê uma verba mensal para um professor da mesma forma que prevê a pesquisa que

eu acho justo também. Eu acredito que mais professores irão conseguir ver a importância da extensão

com o ensino e da extensão com a pesquisa.

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ANEXO D - Transcrição da 4ª entrevista

Formação acadêmica e tempo de UFJF:

P4 - Fiz graduação em Viçosa em Agronomia de 1984 a 1989. Fiz mestrado em Fitotecnia de 1989 a

1992 e doutorado na FIOCRUZ no Rio de Janeiro de 1997 a 2002 em que trabalhei com produtos

naturais.

Há quanto tempo atua como docente em atividades de extensão Universitária?

P4 - Eu estou na UFJF como substituto desde 1992 e efetivo em 1993. Eu comecei com atividades de

extensão na universidade aproximadamente em 95, 96 97, quando a extensão ainda era no Granbery. A

Sônia era Pró-reitora e a Sueli da zoologia era coordenadora de extensão. Eu passei a ser representante

do ICB no Conselho de Extensão. Nós tínhamos reuniões e eu participei desse Conselho julgando

projetos, reformulamos formulários de inscrição de projetos de extensão. Participei dessas equipes. A

primeira vez que o Picinini realizou projeto de extensão eu participava da equipe com ele. Em 2003 eu

entrei com projetos coordenados por mim. Eu já tive três projetos de extensão. Atualmente, em 2011,

estou com dois projetos, sendo um deles projeto e programa de extensão.

Quando foi aluno da graduação teve contato com a extensão?

P4 - Sim. Quando fiz Agronomia em Viçosa existia um programa chamado Gilberto Melo em que nós

fazíamos um trabalho de treinamento de assistência rural em que visitávamos os agricultores,

enfrentávamos os problemas e a discussão de problemas. O projeto trazia e discutia com os

professores e levava um possível diagnóstico para aqueles problemas que os agricultores enfrentavam.

Foi um treinamento excelente. Muito bom. Eu gostei tanto que fiquei dois anos. Para contar no

currículo só precisava ficar um ano, mas eu gostei tanto que fiquei mais um ano. Além de ter feito

outros estágios. Fiz alguns levantamentos para o Cemig-Rural. Coordenado pela economia rural de

Viçosa. Ficamos um mês no norte de Minas gerais avaliando se a eletrificação rural trazia benefícios

para os proprietários. Isso foi feito com todo o processo científico de amostragem, pesquisa e extensão

porque estávamos fazendo contato com esses produtores. Foi durante um mês antes de eu formar na

graduação.

Qual o total de alunos envolvidos em seu PROEXT e de quais cursos eles eram?

P4 - Eu tive alunos das Ciências Biológicas, Farmácia, Enfermagem, Medicina. Já tive alunos de

Odonto em meus projetos, mas fora do PROEXT. Foram em torno de 25 alunos envolvidos. Foram

várias atividades. Por exemplo: ocorreu uma visita técnica ao CPQPA, Centro de Pesquisas de

Produtos Naturais que fica na Unicamp em Campinas. Eu levei um ônibus de excursão de 40 lugares.

Foram em torno de trinta pessoas. Ocorreu um encontro de plantas medicinais com em torno 25 alunos

envolvidos na organização. Mas eu tive mais de 300 participantes. Em torno de mais de 200 alunos da

UFJF estiveram presentes. E durante as ações de extensão do meu projeto PROEXT, que é um projeto

contínuo desde 2003, contei com as equipes que participaram das ações nos vários municípios em que

eu trabalho como Tabuleiro, Bicas, São João Nepomuceno. As equipes foram oscilando em torno de

20 e 25 pessoas.

De que forma se pode relacionar a experiência desses alunos no projeto quanto à contribuição do

PROEXT na formação técnico-científica dos alunos?

P4 - Eu acredito que da mesma forma em que na minha graduação participei desse projeto Gilberto

Melo e que foi fundamental na relação com os agricultores, neste caso, no meu projeto eu tive vários

alunos que quando saíram do projeto relataram que se consideram profissionais diferenciados por

terem passado pela experiência de ter contato com as plantas medicinais e com a cultura popular.

Porque isso é uma realidade do campo que eles vão ter na vida profissional deles e que não tem

formação dentro da universidade porque não existe disciplina obrigatória de fitoterapia nos cursos da

área de saúde em geral. Esse envolvimento em que fazem pesquisas bibliográficas, aprofundam o

conhecimento científico e embasam no conhecimento científico para poder auxiliar e conciliar com o

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conhecimento popular, oferece uma formação diferenciada para eles. Nós vamos a congressos,

participamos apresentando painéis de congressos científico, temos a experiência de contato com outros

profissionais. Tudo isso faz parte da formação.

Quanto ao aspecto pessoal e social que evidências você teria, por exemplos com esses alunos, lidando

com eles. Teve alguma contribuição nesse sentido?

P4 - Os alunos fazem parte da ação fazendo pesquisas de campo. Nós fazemos levantamento

qualitativo e quantitativo etnofarmacológicos nas comunidades. Dessa forma, os alunos entram em

contato direto com a população e com os profissionais do PSF, porque também e feito esse contato

direto. Eles entram em contato direto com os problemas que estão acontecendo no campo. Temos,

também, reuniões periódicas dependendo do fluxo de trabalho. Temos reuniões periódicas do grupo

todo de 20 alunos. Dentro do grupo de 20 alunos eu tenho grupos específicos. Tenho grupo do asilo de

idosos de São João Nepomuceno, grupo de quem está envolvido com implantação da fitoterapia em

São João Nepomuceno, o grupo de Bicas, grupo de Tabuleiro o grupo que está trabalhando no bairro

Dom Bosco. Dessa forma, esses grupos se reúnem juntos no Departamento de Botânica em que cada

grupo discute os seus problemas e as possíveis soluções são divididas por todos. Dessa forma, um

aluno tem a visão geral do projeto, sabe o que está acontecendo em todos os outros projetos.

A prática dos alunos gerou créditos para alguma disciplina. Como isso se deu?

P4 - No caso específico da Medicina, eles têm uma quantificação de créditos para atividade

extracurricular que é exigido na creditação deles. Dessa forma, todos os meus alunos de Medicina

aproveitam créditos na graduação. Os alunos de Biologia têm que conciliar aquele trabalho com o

estágio curricular que pode vir a ser esse tema, aí concilia a creditação. Eu tive uma aluna de Farmácia

que não creditou os créditos específicos, mas pegou o trabalho que fez junto a uma equipe em

Tabuleiro e gerou uma Monografia de final de curso. Isso serviu como creditação porque o assunto foi

o assunto tema da monografia dela. Estou com um aluno no projeto, também da Farmácia que o

assunto de TCC é proveniente desse projeto de extensão. Não é uma creditação específica, mas são

aproveitadas de certa forma. Eu acho que deveria ser, como foi o meu caso com o projeto Gilberto

Melo, uma creditação aproveitada como creditação extra-curricular em todos os cursos.

Que outros docentes foram envolvidos com o projeto? Eram de outros cursos? Como se deu?

P4 - Em determinadas atividades eu envolvia outros docentes devido à demanda. Por exemplo,

atualmente em que eu estou fechando o PROEXT, o professor Márcio da Medicina, da Atenção Básica

está me dando um auxílio maior. Quando do PROEXT que financiou o evento que tivemos em Juiz de

Fora em setembro de 2010, eu tive vários professores lá. Da Farmácia e Bioquímica eu tive dez

professores que estiveram lá. Não todo o tempo, mas estiveram lá. Da Botânica teve professor que me

auxiliou na estrutura de montagem do evento porque eu tive oito convidados de fora. Isso gerou uma

demanda de trabalho. Foram basicamente professores da Farmácia e Bioquímica, teve a professora

Penha da Farmácia que foi comigo nessa excursão técnica. Foi aberto para quem quisesse participar.

A que público foi dirigido? Porque você escolheu esse público-alvo?

P4 - O meu PROEXT é um programa, são várias ações. A comunidade das cidades de Tabuleiro, Bicas

e São João Nepomuceno foram envolvidas, uma vez que foi oferecido a essas comunidades palestras,

discussões, levantamentos. Dessa forma, fazemos a estimativa de, no mínimo, três mil pessoas de cada

cidade dessas que foram abordadas de alguma forma. Eu dei programa de rádios em São João

Nepomuceno. Quantas pessoas são atingidas com um programa de rádio discutindo plantas

medicinais? Eu ministrei uma palestra no Conselho de Municipal de Saúde que aconteceu em

Tabuleiro. Estimamos que em torno de três mil pessoas atingidas com o projeto. Como o projeto é a

tentativa da implantação de fitoterapia no SUS. E dentro do SUS, trabalhamos vinculados ao PSF.

Devido à característica de o PSF ser propícia em relação a plantas medicinais. Cada pólo do PSF tem

aproximadamente três mil pessoas. Além desse público, temos os profissionais dos próprios PSF

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dessas cidades e a comunidade acadêmica da UFJF quando fazemos o evento. Tivemos abrangência

nacional. Trouxemos palestrantes de Fortaleza, Ipatinga, Brasília, Betim. Essas pessoas vieram

transmitir a experiências delas. A minha intenção inicial era que viessem programas de fitoterapia que

já implantados em outras cidades mostrando como isso acontece em outros municípios. E também

trazer para cá os secretários de saúde, os médicos, todos os profissionais do PSF dessas cidades em

que trabalhamos. A intenção foi buscar esse público em que temos abrangência. E dentro da

Universidade porque quanto mais estudantes professores melhor. Tivemos como público alvo dentro

da universidade tanto alunos de graduação da área de saúde. Mobilizei Diretórios Acadêmicos de

Medicina, Farmácia, Odonto. Chamei essa molecada toda para chamar os estudantes para

participarem. A Maria Helena, por exemplo, da Farmácia, coordena um curso de especialização e

botou os alunos da especialização e isso valer créditos para eles na creditação de disciplina. O

mestrado de Farmácia, coordenado pelo Orlando, também anunciou os alunos de mestrado para

assistirem ao seminário que seria parte de disciplina também. O público alvo da universidade foi a

graduação e a pós-graduação.

Você saberia dizer qual foi grau de satisfação desses beneficiados com o seu PROEXT?

P4 - Essa é uma falha que eu ainda tenho em meu PROEXT, porque embora eu não tenha finalizado,

ele já está em fase de finalização. Eu propus como meta, na época, e forma de avaliação a aplicação de

questionários básicos pegando a opinião das lideranças dessas comunidades que estão envolvidas, do

PSF das comunidades envolvidas. Do evento que fizemos. Essa é uma falha que eu tenho do

PROEXT, mas de qualquer forma eu vou tentar entrevistar e ver a opinião dessas pessoas porque isso

faz parte da avaliação.

O PROEXT gerou algum produto, se apresentou em algum congresso?

P4 - Tive diversas apresentações em congressos com painéis em eventos, o que pode ser comprovado

no meu Lattes. Levei doze alunos no Simpósio Brasileiro de 2010 em João Pessoa. Esses doze alunos

apresentaram painéis como primeiro autor. Em todos os painéis tínhamos a logo da UFJF, da PROEX

e do PROEXT como financiadores. São vários resumos nos Congressos. Temos envolvimentos em

três congressos básicos pela questão das plantas medicinais: Congresso Brasileiro de Extensão

Universitária, Congresso Nacional de Botânica, Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais. Este ano,

como resultado também de trabalhos e levantamentos feitos na época do PROEXT está envolvendo

agora para congressos de ecologia. Temos em torno de 15 resumos em congressos relativos ao

PROEXT. Temos um trabalho em que o médico de Tabuleiro aceitou prescrever uma planta

medicinal, o chapéu de couro, a echinodorus, e fez acompanhamento clínico. Isso foi uma revolução.

Porque a fitoterapia não emplaca devido aos médicos terem medo da questão do Conselho Federal de

Medicina e etc. No curso que damos explicamos toda a legislação para transmitir confiança aos

médicos. Esse médico fez o acompanhamento e esse trabalho foi escrito e foi enviado para três

periódicos. No caso eles voltaram, mas isso indica que temos trabalhos sendo enviados.

Como se deu a execução do projeto, que dificuldades você teve?

P4 - Primeiro tivemos uma dificuldade com datas no início do PROEXT. Quando ele foi aprovado o

dinheiro não chegava. Quando o dinheiro chegou estava em cima da hora de acabar com o ano

orçamentário da Instituição. Nós não tínhamos experiência com a burocracia de licitação. Tivemos

muita dificuldade com a administração desse recurso. Porque na pesquisa nós mandamos para a

FADEP e vamos gastando o dinheiro. E eles te auxiliam na licitação ou ao menos na escolha do

melhor produto, informação técnica da compra do produto e etc. No PROEXT temos que correr atrás

de todo o detalhamento para fazer licitação. Isso dificultou demais. Mais de 50 por cento do meu

tempo gasto com o PROEXT foi para sanar burocracia de data, recurso, preenchimento de formulário

errado. Isso, com ele já aprovado. A universidade teve que fazer um recurso de compensação para eu

continuar gastando esse dinheiro. A questão do recurso foi terrível. Eu acho que o PROEXT deve

continuar, a valorização da extensão é fundamental, acredito na extensão. Mas temos que gastar menos

tempo com a burocracia e mais tempo inovando nossos projetos, já que temos recursos.

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Como os recursos foram previsto na ocasião de você montar a planilha? Eles foram suficientes?

P4 - O meu projeto acontece desde 2003 e é contínuo. Quando estamos em uma prefeitura e o novo

prefeito eleito não está afinado com o anterior, gastamos um bom tempo articulando e nos

aproximando dessa nova linha política. Nós, na verdade, não trabalhamos apoiamos nenhuma linha

política. Estamos ali para dar assistência e auxiliar o processo de implantação da fitoterapia.

Trabalhamos no sentido de promover a auto-sustentabilidade, uma nova forma de encarar o planeta

com diminuição de gastos de recursos sem reposição. Toda essa questão ecológica. E a minha

contribuição é trabalhar com planta medicinal como fonte de medicamento inclusive. Além de

equilíbrio ecológico, ambiental. Chegamos às comunidades apresentando essa alternativa, não que a

planta medicinal vá substituir o medicamento, mas ela é mais uma opção. Uma nova opção. Com a

possibilidade do PROEXT tive a possibilidade de recurso para instrumentalizar meu laboratório. Eu

não tinha computador, nem impressora. Trabalhava sem o mínimo de estrutura. Por exemplo, quando

chega um professor novo aqui, a PROPESQ faz aquele financiamento de recém doutor, um enxoval,

para oferecer um básico. Para nós da extensão não. Quando vimos a possibilidade do recurso da

extensão. No meu laboratório eu tenho a aparelhagem para fazer os meus trabalhos de controle de

qualidade para as plantas medicinais. A parte de escritório que é fundamental ter um computador para

trabalhar. Isso em recursos permanentes. Teve o gasto para fazer o evento, trazer pessoas de fora para

a universidade, as viagens técnicas previstas para que os meus alunos interagissem com outros centros

de estudos de plantas medicinais do país. Eu acho que faz parte da base da extensão o intercâmbio, sair

dos muros da universidade. A previsão foi a possibilidade de mudarmos de nível em termos de arrojo e

abrangência do projeto. Sair do feijão com arroz, desde 2003 para propor coisas novas. Quem teve

sorte, em minha opinião, nessa fase, foram meus alunos de 2010 que foram para congressos, tiveram

congresso em Juiz de Fora em que participaram, foram para visitas técnicas e tiveram uma

instrumentalização no meu laboratório que permitiu que o trabalho deles fosse executado com mais

qualidade.

Os recursos foram usados conforme o cronograma?

P4 - Foram em termos. Porque o recurso demorou a chegar e com isso eu já quebrei o meu

cronograma. Tiveram coisas que estavam previstas para fazer e eu não fiz, como uma viagem à China.

E tiveram coisas que não estavam previstas e eu fiz. Como é um projeto de caráter contínuo, às vezes

tem uma demanda que não estava prevista. Por exemplo, prefeitos que querem conversar comigo,

prefeitos que aceitaram projetos, etc. Esse fluxo contínuo traz esse tipo de mudanças rápidas.

Alcançou os objetivos da proposta inicial?

P4 - Alcancei os objetivos no sentido em que tive a tentativa de abrangência do meu programa de

extensão e ele se expandiu. Ocorreu o evento de caráter nacional,com palestrantes de todo o país e

como participantes de toda a microrregião, fiz viagens técnicas. Isso aproxima com outros centros de

pesquisa. Em termos do que eu estava me propondo eu consegui. Muito do que escrevi, não fiz. Dessa

forma, acho que ainda tenho muito a conquistar, mas já foi muito bom.

Relacione os principais problemas ou dificuldades encontradas no decorrer da execução do projeto.

P4 - Eu não tinha conhecimento da questão burocrática das licitações. Dessa forma, eu perdi datas o

material foi ficando para última hora. Tivemos que passar pelo processo de licitação da universidade

que por sua vez está numa fase de licitação de muita coisa. Tem muito dinheiro rolando aqui dentro

com a questão do ganho de verba, tanto pelo mérito do Reitor quanto pelo Governo Federal que botou

dinheiro nas universidades. O fato é que aqui esta um movimento insano. Dessa forma, eu entro com

um convênio no meio dessa confusão sem saber como proceder e não teve ninguém para me orientar

porque estavam atolados de trabalho. Mas o pior entrave foi a burocracia. Dessa forma, a Pró-Reitoria

optou por nos passar toda a comunicação vinda de Brasília. Tivemos a liberdade de procurar Brasília.

Mas quando fomos procurar Brasília, ela estava batendo cabeça e não nos orientou. Porque o pessoal

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lá não está muito certo do que está fazendo. Agora eu comecei a aprender a procurar a pessoa certa par

nos orientar lá em Brasília. Agora se o meu projeto for aprovado, vou ir pessoalmente à Brasília para

acertar o meu projeto com a pessoa certa para resolver os trâmites.

Os recursos que você recebeu foram suficientes?

P4 - Os recursos em todas as minhas atividades, de certa forma, foram como o previsto. Na minha

viagem para a China é que fiquei com cinco mil reais que só deu para a passagem de avião. Eu fiquei

com medo de ir para a China sem recursos para gastar. Teve a burocracia das diárias. Eu não podia

depositar diária antes de gastar. Eu não sabia mexer, então eu não viajei. Mas os recursos foram

satisfatórios. Dinheiro sempre é bom, se quisessem me dar duzentos mil, eu iria gastar os duzentos

mil, me deram noventa e oito e eu gastei de bom grato. Agora eu pedi para 2011, cento e cinquenta

mil, o teto era este e por isso eu pedi e gasto numa boa. O nosso maior desafio nosso e acho que dos

outros grupos que participaram também do PROEXT era não devolver dinheiro para o MEC pelo fato

de perdermos a data.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos e contribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação de docentes?

P4 - Eu considero isso fundamental. Não só porque eu trabalho com extensão. É porque eu acho que a

extensão é a forma de termos a crítica do nosso conhecimento acadêmico e não ficarmos isolados

nessa estrutura egóica que muitas vezes nós vemos, dos super cientistas que fogem da realidade. Isso é

um problema do método científico. O reducionismo do método científico traz esse tipo de aberração.

Existem pessoas que não sabem conversar com o próximo, no entanto, elas têm um conhecimento

descomunal dentro do cérebro delas. Esse é o modelo que trazemos para dentro da universidade. E a

extensão não permite que isso se efetive e se cristalize. A extensão é a forma de darmos a cara à tapa

para que a sociedade faça uma crítica. Se caminhamos em uma comunidade pobre em que há

violência, a culpa também é nossa que não damos opção para eles. Não propomos nada para

modificar. Eu tenho uma crítica àquele riacho São Bartolomeu, na saída da universidade, nas quatro

pilastras, que atravessa a cidade de Viçosa, como esgoto a céu aberto. Acho que a universidade tem

que dar uma forma de termos uma água mais limpa lá. Essa é a crítica que eu faço a qualquer

universidade. É o desafio de conciliar toda a tecnologia e conhecimento acumulado com os desafios

que estão no entorno dela, que são alcançados pela extensão. Em termos de creditação eu acho que é

uma luta que tem que ser travada para que tenhamos a oficialização da extensão como formação dos

alunos. É o discurso do tripé ensino, pesquisa e extensão. Isso não é uma afirmação vazia. É

fundamental. O ensino que é a formação das pessoas. A pesquisa como forma de avançar no

conhecimento e a extensão no sentido de transformar o conhecimento de forma a trazer benefícios

para a comunidade em geral.

Em sua opinião que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizam o cumprimento do preceito da

indissociabilidade entre a pesquisa, ensino e a extensão?

P4 – No meu caso, o ensino, por exemplo, tivemos um evento em que participaram mais de 250 alunos

da universidade. Tivemos a interface com o ensino. Todos aprenderam alguma coisa com pessoas que

vieram de fora. Ainda no ensino, os meus alunos, o grupo de 20 a 25 participam na confecção dos

cursos que são oferecidos nas comunidades para a população e os profissionais. Participam da

confecção das aulas, das apostilas, dando parte do curso sob minha supervisão. Na questão da

pesquisa, os meus alunos envolvidos promovem a revisão da literatura das plantas mais utilizadas nas

comunidades, porque temos que fazer a validação científica para as plantas pois não é qualquer planta

que a gente sai aceitando utilizar, então são pesquisadas para ver o que há de informação técnica sobre

essas plantas. Ainda na pesquisa, eles fazem na pesquisa de campo, levantamento de dados nas

comunidades, com a população e com os profissionais. A extensão em si é o que levamos e

oferecemos para essas comunidades como opções de serviço para eles, o contato, a negociação de

datas para oferecermos os cursos, toda a negociação com o Secretário de Saúde que por sua vez tem

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uma linha de pesquisa em relação à prefeitura, toda essa negociação social que é feita, o envolvimento

com as lideranças dos bairros, diagnosticar quem são as lideranças. Todo esse jogo social, esse

entrelaçamento social, em minha opinião, é formação em extensão.

Em sua opinião, que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizam o cumprimento do preceito da

interdisciplinaridade das ações executadas?

P4 - Essas reuniões periódicas, ou semanais ou quinzenais, são interdisciplinaridade porque são todas

as ações envolvidas no programa e todos os cursos de alunos que estão envolvidos. Cada aluno desses

entra em contato, quando tem necessidade, com professores da área específica – como eu aprendi no

Gilberto de Melo – que não quer dizer que os professores estejam nas reuniões porque o pessoal não

tem agenda, mas pelo menos a gente envolve. Professores da Farmácia com controle de qualidade,

com produção de tintura, onde comprar as plantas, como fazer essa tintura, como a ANVISA vai

liberar legalmente essa produção de fitoterapia no município. Esses professores orientam os alunos.

Na Atenção Básica eles tinham envolvimentos com profissionais da Medicina. Por exemplo, a gente

teve a participação do professor Márcio da Medicina. Essas inserções específicas foram nas reuniões

gerais em que todas as áreas da saúde estavam tendo participação. Estavam participando várias áreas

da saúde. Alunos da Biologia, Farmácia, Odonto, Enfermagem e Medicina ao longo de 2003. Durante

o PROEXT especificamente, não tiveram alunos da Odonto. Isso, para mim, é um ambiente

interdisciplinar. No evento que ocorreu aqui eu tive a presença de palestrantes da Farmácia e alunos da

graduação e pós-graduação, ou seja, níveis diferenciados. Nos cursos oferecidos nas comunidades

abordamos o cultivo das plantas, controle de qualidade, fisiologia humana em respostas as plantas.

Dessa forma, trabalhamos em várias áreas do conhecimento dando um geral sobre plantas medicinais e

fitoterapia. É interdisciplinar também.

Considerações finais:

Para mim o PROEXT é fundamental. É um programa que tem que ser mantido. Todas as

universidades deveriam ter projetos de PROEXT aprovadas. Mesmo que fosse apenas um em cada

instituição. Mas que se levasse em conta que didaticamente em toda instituição tivéssemos um

referencial de financiamento. Porque isso é uma forma de mostrar para a comunidade acadêmica que

existe aqui uma valorização para a extensão, um financiamento específico para ações de extensão.

Muitos acham que o status, o retorno de competência é quando alguém consegue verba. Dessa forma,

estaria sendo sinalizado que a extensão é prioritária, tem verba específica. Por isso eu acho o PROEXT

fundamental. E a estratégia de colocar espalhado para todas as instituições federais, é pelo fato de que

eu acredito que a extensão é parte desse tripé, não só de falácia, é base de formação. É fundamental o

profissional sair da universidade sabendo que vai contribuir na comunidade e não enclausurado em

uma sala fechada. Então, em relação ao PROEXT, é um programa fundamental. Para mim, ele

aumentou a minha amplitude de ação. Agradeço demais ter conseguido esse recurso. Por isso que eu

pleiteei novamente. Porque o ganho foi maior que o prejuízo da burocracia. Foi fundamental em

termos de abrangência, inovação, estruturação de laboratório, possibilidade de novas ações no meu

projeto. Então eu agradeço e acho que tem que continuar o PROEXT. Só para fechar, eu acho que da

mesma forma que a gente faz a crítica de que a gente não foi muito bem orientado, eu acho que como

é uma questão da gente retomar a valorização da extensão, faz parte desse projeto a gente ter essa

melhoria das condições do PROEXT. A sua participação (Romário) fazendo essa tese com o PROEXT

vai ser fundamental no sentido de que a extensão é diferente nesse aspecto. Nós botamos a cara a tapa.

O seu tema de tese é estapear um projeto que você ajudou a coordenar, pelo menos aqui. Esse é um

diferencial da extensão, a gente sempre trabalha com a autocrítica. Dá dois passos e olha no espelho, é

isso mesmo? Diferentemente da pesquisa. Esse processo de crítica ao PROEXT é no sentido de

melhorá-lo porque o que queremos é expandir a extensão, eu acho que essa é a função do PROEXT.

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ANEXO E - Transcrição da 5ª entrevista

Formação acadêmica e tempo de UFJF:

P5 - Tenho doutorado em Endocrinologia, atuo desde 1993.

Há quanto tempo atua como docente em atividades de extensão na UFJF?

P5 - Desde 1993.

Teve algum contato com a extensão quando era aluna de graduação?

P5 - Formalmente não. As atividades do curso de Medicina são muito ligadas com a comunidade. Eu

participei de ambulatórios dentro do Hospital Universitário, mas sei que não eram ligados a extensão.

No tempo em que eu cursei a graduação não tinha esse enfoque. Não se sabia que atender um

ambulatório, prestar um serviço diferenciado e montar uma linha de serviço era uma atividade de

extensão. Eu participei informalmente, não era nada documentado.

Qual o número de alunos envolvidos no seu PROEXT?

P5 - Hoje eu estou dando um curso para eles. São trinta e oito.

Eles eram de quais cursos da Universidade?

P5 - São oito cursos. Medicina, Odontologia, Nutrição, Psicologia, Fisioterapia, Serviço Social,

Farmácia.

Em que você acha que o projeto contribuiu para a formação acadêmica desses alunos?

É muito interessante. Dentro do PROEXT já nos escrevemos no edital, porque esses alunos já

participavam e a nossa ideia era produzir um livro com as experiências das várias áreas dentro do

projeto. Dessa forma, a razão maior para termos entrado nesse PROEXT 2009 era conseguir verba

para a publicação do livro.

Relacione as produções, publicações e trabalhos que foram frutos do PROEXT.

P5 - O livro que já está pronto, uma cartilha que os pacientes escreveram que também está pronta na

gráfica, esperando as pendências burocráticas e os folders de divulgação do projeto.

Em que parte esses alunos vivenciaram no projeto durante a execução do mesmo?

P5 - Eles participam da atividade do atendimento multiprofissional. O motivo que leva o paciente ao

CAS é a consulta médica em que ele fica sabendo que tem diabetes, ou quando ele é recém

diagnosticado ou porque e é diabético e não está gostando do atendimento que está recebendo em

outro lugar. Nós temos um atendimento diferenciado em que esse paciente é acolhido e perguntamos

para ele o que interessa a ele além do tratamento. Esse paciente elege aonde ele quer ir naquele

primeiro dia e depois são agendados. Ele passa por todas as áreas. Todos os alunos atendem a todos os

doentes no ambulatório, cada um em sua área. Um grupo desses alunos participou da elaboração dessa

cartilha. Alguns porque tinham mais experiência ou mais interesse. E outro grupo participou da

produção do livro. Os alunos da pós-graduação junto com os professores orientadores escreveram os

capítulos do livro. São duas produções. Uma de profissionais e outra de paciente. A visão dos alunos e

profissionais, professores e a visão dos pacientes.

Quanto ao aspecto social com o paciente?

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P5 - No momento estou dando um curso de nivelamento para esses alunos. É outra etapa, fora do

PROEXT. É um piloto que eu estou fazendo para concorrer a um edital para oferecer um curso para a

universidade inteira. Estamos fazendo um curso, no momento apenas para esse grupo de 38 alunos. É

um curso de nivelamento em que todas as áreas falam sobre, por exemplo, qual a visão sobre os

cuidados com o diabetes. Existem coisas sobre os cuidados com o diabetes que toda área envolvida

deve saber. Desde o assistente social ao farmacêutico. Eles se envolvem muito. O curso é desde seis e

meia da tarde até as dez e meia da noite, de segunda à sexta. Eles gostam muito. Os que saem mandam

e-mail dizendo que gostaram muito, sentem saudades. Outros já estão na pós-graduação nessa linha do

diabetes, do cuidado com o paciente crônico. Ele gera muito produto indireto que às vezes eu nem

tenho contato.

Gerou crédito para alguma disciplina? Como isso se deu?

P5 - O currículo de Medicina está passando por uma revisão. É um momento complicado. Eu só posso

ter alguma intervenção maior no currículo de Medicina. As atividades de tratamento com o público eu

estou presente. Os outros professores estão todos à distância, orientando os alunos de outros cursos.

Alguns professores têm aparecido, eu tenho convidado. Nós estamos fazendo uma reunião mensal da

equipe e isso pode trazer algum tipo de mudança. Mas no momento, eu só consigo intervenção no

curso de Medicina. A grade curricular de Medicina é extremamente engessada. Está passando por

reforma que virou uma colcha de retalhos. É complicado. O aluno tem que fazer aquilo como uma

atividade extracurricular. Aquilo não rende crédito para ele efetivamente. Óbvio que para o aluno de

Medicina tem a questão do currículo para a residência, da carga horária que ele teve no projeto de

extensão.

Você afirmou que existem outros docentes envolvidos com o projeto. São de outros cursos?

P5 - Desses oito cursos, todos eles têm um ou dois docentes envolvidos.

E como foi? Você convidou...

P5 - Esse projeto começou em 1999. Eu comecei apenas com a Enfermagem, depois eu consegui o

Serviço Social e foi progredindo. O último a entrar foi a Fisioterapia.

Que público foi atingido pelo projeto e por que você escolheu esse alvo?

P5 - A diabetes é epidemia. Por conta da população estar muito sedentária, muito obesa. Por isso, é

preocupação da organização Mundial de Saúde e de os órgãos Internacionais, gestão de serviço de

saúde. O próprio Ministério de Saúde tem programas do Governo Federal e Estadual. Todos eles com

o foco de diabetes e também hipertensão. Para falar a verdade, nós estamos ligados em um

atendimento de diabetes em um nível secundário do governo do Estado, que é o Hiperdia. Todas as

autoridades em saúde têm foco em diabetes. Como eu sou endocrinologista e tinha formação em

diabetes, segui essa linha de extensão e diabetes.

Qual o nível de satisfação do público beneficiado e qual instrumento utilizado para verificar isso?

P5 - Informalmente todos dizem que estão satisfeitos. Dentro desse PROEXT estamos aplicando um

questionário de satisfação. Um questionário validado. É um dos questionários validados de diabetes.

Ele possui algumas perguntas, preestabelecidas para avaliar a qualidade de vida. O paciente fica um

ano no projeto e aplicamos o questionário depois.

Você já chegou a avaliar esses questionários?

P5 - Essa é a ideia. Avaliar 50 pacientes. Mas até o momento só temos dez pacientes. Por vários

motivos: ou porque ele foi embora porque o CAS fica muito longe, ou porque a verba que eu pedi,

dentro do PROEXT, para pagar o vale transporte do paciente, demorou muita a chegar. Um ano de

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verba seria o suficiente para que os pacientes frequentassem o projeto durante um ano. Ou seja, os

problemas com a burocracia.

De que forma ocorreu a execução do projeto?

P5 - Quando o edital chega, achamos uma alegria ao saber que fomos contemplados, mas sentimos

uma tristeza quando pensamos de que forma iremos administrar a verba. Eu não tenho experiência em

administração. Eu acabei conhecendo pessoas aqui na universidade que eu não conhecia antes, tive

que lidar com todo mundo, com o pessoal do planejamento, contabilidade, setor de compras. Eu acho

que a universidade tinha que ter uma interface com o professor de todas as áreas porque ele não

conhece nada desta tramitação. Temos que nos virar com toda a informação, desconhecendo as

tramitações. Somos jogados com toda essa informação, você é obrigado a se virar, entrar no SIGA e

lançar os dados. Como é que monta uma licitação? Não temos essa formação para entrar na

universidade. Esse é o grande problema.

De que forma os recursos foram previstos quando você viu o edital e quando você elaborou o projeto?

P5 – Esse é um outro problema. Quando vemos o edital, nós sonhamos. E quando nós sonhamos,

colocamos emoção na história. Quem faz a seleção para nós, não coloca nada de emoção. Coloca a

cabeça para funcionar. Eu perdi uma parte dessa verba, porque eu entendia que certo item que eu

precisava para o projeto era material permanente e a universidade entendia como material de consumo.

Eu podia pedir para mudar a rubrica. Depois de muitos ofícios trocados com o MEC, alguns

responderam, outros não, então me aconselharam a não mudar a rubrica porque o MEC não autorizou.

Enfim, o dinheiro voltou porque eu não consegui mudar a rubrica. O MEC não dá retorno. Tivemos

que fazer uma mágica, mas deu para fazer tudo. Sobrou dinheiro porque eu não consegui gastar por

não trocar a rubrica.

Quais os aspectos que favoreceram a execução com esse PROEXT?

P5 - Na verdade, a grande contribuição do PROEXT é que eu tenho uma equipe muito boa e um

projeto que está estruturado desde 1999. A equipe está envolvida. Acredito que as pessoas que

decidem fazer um projeto recém criado, terão muitas dificuldades, já que não tem laços formados na

universidade. Se eu consegui realizar tudo que estava no projeto, que foi uma coisa muito ambiciosa é

porque eu tive uma grande equipe. Dessa forma não é mérito do PROEXT, mas da equipe. Em relação

a eles é a questão da verba. Mas será que a função é só verba? Essa é uma questão. Outra questão: já

que eles liberam a verba, por que eles não vêm aqui para saberem o que está acontecendo, para que

possam fazer um edital melhor, de acordo com a realidade do momento. A sensação que temos é que

eles fazem um copiar colar daquilo que aconteceu no ano anterior, sem se preocupar com o que

funcionou ou não. Falta um pouco desse diálogo entre o MEC e as instituições. Mesmo que não fosse

com os professores, mas ao menos com vocês que estão coordenando.

Os recursos foram utilizados conforme o cronograma?

P5 - Foi atropelado por conta do dinheiro que não chegava e pela questão do projeto ser em 2009 e a

verba ter chegado em abril de 2010. Porque eles mesmos viram que não teríamos como gastar uma

verba que chegou em setembro e gastar até dezembro. Já que essas coisas acontecem, eles resolveram

isso bem. Mudou para 2010 e aí deu tudo certo.

De que forma você analisaria o alcance dos objetivos definidos na proposta inicial?

P5 - Eles foram alcançados tranquilamente.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos, com atribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação docente?

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P5 – Eu não sei como essa coisa funciona. Mas isso seria perfeitamente viável. Os alunos de Medicina,

por exemplo, têm dois anos de atividades práticas, voltadas ao trato com a comunidade. É uma

atividade de extensão dentro da universidade. Então, por que não associar essas coisas? Por exemplo:

se existe um projeto estruturado de diabetes, um dos estágios do aluno de Medicina era no ambulatório

de diabetes, de hipertensão e assim sucessivamente. Pega todas as áreas que tem atividades de

extensão e propõe para o aluno. Essa é uma opção para o aluno, a do estágio curricular. Outra opção

seriam os créditos opcionais. Se o aluno vai frequentar determinado estágio, desde que ele tenha

cumprido os pré-requisitos, ele vai fazer uma determinada atividade de extensão. Isso muda um pouco

o foco. Se ele vai estar em interface com o ensino, colocam-se quais disciplinas seriam pré-requisitos.

Esses créditos optativos que todos eles precisam fazer. Isso é uma coisa interessante, além de que, no

curso Medicina, eles aproveitam isso muito bem porque as residências valorizam todas essas

atividades dentro da universidade. Mas eu sei que certos cursos não pontuam isso O aluno vai par uma

pós-graduação e aquilo pode já estar formalizado em currículo.

Em sua opinião que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizaram o cumprimento do preceito

da indissociabilidade entre a pesquisa, ensino e a extensão?

P5 - A própria publicação do livro é um exemplo. E eu poderia dizer que a publicação da cartilha

também é um exemplo, uma vez que os pacientes foram coordenados pelos alunos. Os alunos tiveram

que estudar o diabetes para aprender como formular as perguntas de forma que o paciente entendesse.

Foi uma pesquisa qualitativa. Um professor da Enfermagem com esse tipo de experiência ensinava aos

alunos a maneira de abordar os pacientes para fazer as perguntas de forma que o diálogo fosse valido

para elaborar a cartilha. Tinha esse projeto de pesquisa que está em andamento, que é o da avaliação

da qualidade de vida. Porque o aluno utiliza os pacientes do projeto de extensão para construir o

projeto de pesquisa.

Em sua opinião, que ações desenvolvidas no seu Proext caracterizaram o cumprimento do preceito da

interdisciplinaridade das ações executadas?

P5 - O meu projeto é interdisciplinar, já nasceu multi de duas disciplinas. O inter ainda é um pouco

difícil. Eu preciso que os cursos se aproximem um pouco mais. Por isso o curso de nivelamento. No

projeto acontece de duas áreas atenderem simultaneamente, como o nutricionista e o educador físico,

por exemplo. Mas é difícil ainda. Mas acho que a nossa própria formação, a própria universidade que

fica cada um no seu quadrado. Eu acredito que isso vá evoluir. Mas são muitos anos de que “você faz

a sua coisa muito bem na sua sala, que eu faço na minha e depois nos encontramos socialmente.”

Considerações finais:

Eu estou em uma fase em que eu fecho todos os editais que chegam para mim por e-mail. Estou

querendo dar uma encerrada nessas coisas, porque eu acho que é um desgaste muito grande. Temos

uma sobrecarga de trabalho muito grande na universidade e realmente todas deveriam ser menos

burocratizadas. Há tantos entraves. No edital da FAPEMIG, nós montamos o projeto e eu desisti de

mandar porque sabia que o desenvolvimento daquele trabalho seria uma coisa absurda, muito

trabalhosa. Nós trabalhamos muito no limite de carga horária. É complicado. Estamos perdendo o

sono e perdendo saúde.

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ANEXO F - Transcrição da 6ª entrevista

Formação acadêmica:

P6 - Graduei-me em Enfermagem em 1981. A partir daí, eu fiz quatro cursos de especialização. Um

foi especialização à distancia que era para eu entender como funcionava. E esse curso era pela

FIOCRUZ. Fiz mestrado na UNIRIO na área de enfermagem trabalhando com a questão do

adolescente. E fiz doutorado em convênio com a UFJF e a UFRJ, na escola de Comunicação

trabalhando a metodologia da análise de discursos. Terminei meu doutorado em 2004.

Tempo de UFJF:

P6 - Inicialmente fui funcionária do Hospital Universitário desde 1975. Eu me formei em 1981 e

iniciei minha carreira de magistério na UFJF, passando no primeiro concurso público que foi realizado

para a Faculdade de Enfermagem, que na época era Departamento de Enfermagem, agosto de 1982.

Há quanto tempo você atua como docente, na extensão universitária?

P6 - Desde 90 eu comecei a atuar mais na questão de extensão. Tendo em vista que o curso de

Enfermagem na UFJF foi encampado e mesmo com a readequação do currículo às normas da

universidade, o próprio curso de Enfermagem não seguia as normas. Dessa forma, nós dobrávamos

muito a carga horária e não tínhamos condições de realizar um projeto de extensão. A gente era aulista

mesmo. A partir de 90, quando realmente fizemos valer aquilo que estava preconizado pelas normas

da UFJF, eu consegui participar de projetos de extensão e outros projetos com outros colegas, como

pesquisa por exemplo.

Quando era estudante da graduação teve contato com a extensão?

P6 - Eu não tive contato com a extensão porque quando eu entrei para a Enfermagem, no curso da

Ermantina12

e fiz o primeiro período lá e os outros períodos é que eu terminei na UFJF. Com essa

questão da cultura da Ermantina não se colocava a importância de estudantes e professores fazerem

projetos e sim está atuando, na prática, dentro do hospital.

Quantos alunos estão diretamente envolvidos no seu PROEXT?

P6 - Eu tive seis bolsistas no meu PROEXT e mais quatro voluntários.

Eles eram de quais cursos da universidade?

P6 - Todos eram da Enfermagem. Apenas um era da Educação Física.

Como a experiência que esses alunos tiveram no PROEXT quanto à sua formação técnico-científica,

contribuiu para a sua formação?

P6 - Contribui muito, tendo em vista que nos cursos de graduação na área de saúde o que se coloca

dentro das diretrizes curriculares é a formação do profissional generalista que é capaz de atender a

população em níveis de Atenção Primária. Mas em níveis de Atenção Primária, nós atendemos

também pessoas deficientes. Muitas vezes, com múltiplas deficiências. Dessa forma, tanto na Atenção

Primária quanto em outros níveis vamos também fazer esse atendimento. Nesse sentido o meu projeto

do PROEXT veio preencher essa lacuna que existe em todos os cursos, exceto na Fisioterapia em que

12

Trata-se de uma religiosa que coordenava um curso de Enfermagem tradicional e pioneiro na cidade,

que cobrava mensalidade simbólica, para formar profissionais na área e funcionava na Santa Casa de

Misericórdia de Juiz de Fora, instituição filantrópica. (NOTA DO AUTOR)

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eles já trabalham em cima de algumas questões de deficiência. No projeto eu consegui trabalhar com

os alunos a questão de estarmos ampliando nosso foco de conhecimento. Para ampliar deveríamos

estudar o que é a questão do surdo cego e da pessoa com múltipla deficiência, qual o estigma deles na

sociedade, como eles se vêm na sociedade. A própria questão de como podemos estar atuando com

eles porque existe uma política de inclusão na sociedade, mas que se foca na parte e não no todo.

Porque quando você conversa com um deficiente, ele é capaz de te apontar aquilo que é colocado na

política e ele próprio deficiente, beneficiário, não se sente beneficiado. Outra questão é que foi uma

atividade de extensão porque foi possível articular a questão do ensino, do conhecimento com a

atividade na realidade daqueles deficientes e da família deles. Foi possível, ainda, abrir um projeto de

pesquisa, que chamamos de projeto guarda-chuva, em que dentro deles têm quatro subprojetos. Nesses

projetos estamos pesquisando o enfrentamento dos familiares junto à área de saúde para o atendimento

aos deficientes; as dificuldades do enfrentamento da equipe de Enfermagem no atendimento dessas

pessoas; a questão da formação na área de saúde para o atendimento dessas pessoas na Atenção

Primária em que envolvemos os acadêmicos de Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia e Medicina; e

a própria questão do cuidador, que hoje já é considerada uma profissão, mas que são pessoas que

precisam ser capacitadas. Tanto que o Ministério da Saúde propõe e tem um manual para a

capacitação dessas pessoas porque muitas famílias não têm condições de ficar cuidando daquela

pessoa com deficiência porque precisam trabalhar pela questão da sobrevivência. Dessa forma,

conseguimos fazer um curso para 23 pessoas se capacitarem como cuidadores. E um curso aberto aos

acadêmicos da área de saúde sobre relacionamento e comunicação com as pessoas deficientes. A partir

dessa função educativa estamos fazendo uma pesquisa para saber qual foi o impacto dessas atividades,

tanto para quem fez o curso, quanto para eles que estão no mercado de trabalho ou pela questão da

formação.

A participação desses alunos gerou algum crédito para alguma disciplina? Como se deu isso?

P6 - O curso de Enfermagem até hoje não fez a reestruturação curricular. Dessa forma, essas

atividades complementares não são contadas. Mas por outro lado, estamos vendo na área de saúde

existem esses projetos e atividades que têm contado muito na seleção de residência, para

especialização. Nesse aspecto o ganho deles é grande, mas em questão de redução de carga horária

para a integralização para o curso não.

Que outros docentes foram envolvidos com o projeto?

P6 - Nós envolvemos mais dois docentes da Enfermagem e mais um docente da Faculdade de

Educação já aposentada, fazendo uma articulação entre o nosso projeto e a própria Instituição Sede.

Qual foi o público atingido e porque você escolheu esse público?

O público escolhido foram os frequentadores do Instituto Bruno porque atuando no Comitê Municipal

de Combate à Desnutrição, relatei um projeto em que eu trabalhava nas creches com as recreadoras e

uma das representantes desse Instituto me perguntou se não havia como fazer um projeto específico

para envolver essa Instituição. Eu respondi que no momento não havia, mas que quando houvesse essa

possibilidade eu faria. Com o edital do PROEXT, da necessidade de atender essas pessoas em nível de

Atenção Primária lembrei dessa solicitação da representante da creche que eu não me esqueci,

direcionei o projeto para o Instituto Bruno. Mas não somente para lá. Quando trabalhamos as crianças

e as famílias que são atendidas lá. Mas na hora, por exemplo, de ampliar a questão da pesquisa nós

englobamos outras pessoas. Quando fizemos o curso de cuidadores os participantes também atuavam

com pessoas com essa necessidade. Dessa forma foi possível ampliar muito o atendimento para além

dos atendidos no Instituto Bruno Viana. Eu senti a necessidade da realidade de Juiz de Fora de estar

ampliando essas atividades.

Você saberia apontar o nível de satisfação dessas pessoas que foram beneficiadas?

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P6 - Sim. Primeiro, trabalhamos quatro vertentes. Uma é a consulta de enfermagem da criança e o

adolescente com a família. Percebemos que a consulta de enfermagem propicia estarmos promovendo

saúde. Para essas pessoas com deficiência, muitas vezes o atendimento de necessidades básicas como,

por exemplo, a higiene e a alimentação ficam deficientes. Na consulta é possível detectarmos isso e

trabalhar o cuidador e a família para estar atendendo a essas necessidades. Nós fizemos também a sala

de espera que trabalha a educação para a saúde em forma de grupo utilizando as dinâmicas com as

experiências deles, mas essas experiências vinham carregadas de dificuldades. Dificuldades de

sobreviver, enfrentar a questão da realidade social, moradia, deslocamento. Outra atividade que

fizemos foi o curso de cuidadores em que a satisfação foi grande, porque logo ao final do curso dos 23

que ali estavam, cinco já tinham conseguido emprego para trabalharem com pessoas com limitações.

Alguns com limitações como acidente vascular cerebral, idosos ou até mesmo múltiplas deficiências.

Com relação ao curso que fizemos para os acadêmicos na área de saúde foi possível verificar o quanto

isso sensibilizou e mobilizou esses estudantes no sentido de estar encaminhando a necessidade de

oferecimento de uma disciplina ou um projeto, nem que seja anual, para estarem trabalhando essas

questões. Dessa forma, observamos a questão da satisfação desse público que nós trabalhamos e isso

tudo vai remeter a uma melhor qualidade e assistência aos deficientes e a essas famílias que passam

aperto com eles.

O PROEXT gerou algum produto, se apresentou em algum congresso, eventos e etc.?

P6 - Quando fizemos o projeto, verificamos essa necessidade de ver o que nós estaríamos dando conta

de fazer no período que era determinado pelo edital de tempo. A solicitação de material que fazemos,

foi uma grande parte de material de consumo, já que trabalhamos com a educação, curso e da própria

consulta. Solicitamos também uma parte de equipamentos, já que precisamos equipar para desenvolver

o projeto. Tanto no atendimento as pessoas quanto para os bolsistas poderem pesquisar e planejar,

fazer os relatórios e registrar o material da consulta de Enfermagem. Dentro do que eu planejei, estou

finalizando. O material permanente eu recebi todo. Recebi a parte que solicitei do material de

consumo, mas ainda tenho uma parte desse material para comprar de material de consumo que pôde

passar de um exercício para o outro. Consegui utilizar a verba para as bolsas adequadamente como

preconizadas pelo PROEXT a própria questão do monitoramento da UFJF. Só existiu ai um pequeno

problema.

Que dificuldades foram essas?

P6 - No edital estava colocado quando seria resultado e quando iniciaríamos. Mas houve um atraso

muito grande, já que meu projeto era de 2009 e o tempo foi reduzido. Dessa forma, para eu fazer em

apenas um ano ele está terminando agora 31 de março. Eu já encaminhei um relatório parcial e vou

caminhar um relatório final. Ainda não encaminhei porque falta a questão das pesquisas que eu e as

bolsistas já coletamos os dados. Estamos na fase de analisar os dados e fazer os artigos, porque eu

gostaria de encaminhar no relatório do PROEXT, não só falando do artigo, mas também com o

comprovante de aceite para a publicação.

Como os recursos foram previstos na ocasião de você montar a planilha? Eles foram suficientes?

P6 - A previsão do que eu fiz foi considerando exatamente o valor que lá se colocava. Que eu poderia

solicitar até um valor X e qual era o percentual para cada rubrica. Neste momento uma das coisas que

eu tive dificuldade é que eu não recebi todo o material de uma vez. Primeiro, demorou porque a verba

só foi depositada na universidade no dia 31 de março de 2010 e em abril eu iniciei o processo para a

compra de equipamentos e material de consumo. E fui chamando os bolsistas porque já estávamos

trabalhando essa questão. Mas foi a partir da liberação financeira que foi realmente o projeto. Tendo

em vista como ocorre a compra de material no serviço público que tem toda uma norma, um cuidado e

etc., essa questão demora muito mais. Tanto que quando eu coloquei no projeto que aqueles

equipamentos eram para eu preparar o local para a atividade do projeto, como um consultório de

Enfermagem, isso demorou muito a acontecer. Eu só recebi o mobiliário no final do segundo semestre

de 2010. Eu fiz a atividade, mas utilizei o material que tinha disponível na instituição e não da forma

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que eu tinha planejado totalmente. É claro que eu não infligi nenhum princípio relacionado à

atividade, mas não foi exatamente da forma que eu idealizei essa utilização. Isso, por conta da demora

desse material.

De que forma você analisa o alcance dos objetivos definidos na proposta?

P6 - Eu verifico que atingi os objetivos por conta das quatro atividades que eu coloquei que iria fazer

relacionando ensino, pesquisa e extensão. Mas, a partir do momento em que eu comecei a desenvolver

o projeto e que houve então a imersão não só minha, mas também dos bolsistas e acadêmicos nessa

realidade, percebi que era necessário ampliar esse tempo. Até mesmo porque muitas questões nós não

devemos somente detectar, identificar, mas é necessário acompanhar. Dessa forma, nesse processo eu

percebi que o tempo era restrito, fato que começou exatamente pelo atraso no cumprimento do edital.

Qual a sua posição quanto à possibilidade das atividades de extensão realizadas por alunos serem

computadas na integralização curricular de seus respectivos cursos e contribuição de créditos

acadêmicos sob orientação e avaliação de docentes?

P6 – Pode parecer uma falta de modéstia, mas vou te responder de uma forma bastante verdadeira. As

atividades que nós desenvolvemos nesse projeto valem tanto ou mais do que uma prática em que o

acadêmico desenvolve na questão repetitiva. Já que foram atividades em que ele teve a possibilidade

de articular o conhecimento e a necessidade de ampliar e articular esse conhecimento com uma

realidade bem diferente do que ele está acostumado a trabalhar. Por exemplo: na atenção primária eles

estão acostumados com a questão da campanha de vacina, no acompanhamento da criança “saudável”,

sadia e crianças que os pais levam para consultas, o adolescente que está na escola. Mas eles não têm

acesso à criança e ao adolescente que além de “sofrer” com as próprias deficiências, são muitas vezes

são estigmatizados. Não só pela sociedade, mas muitas vezes pela própria família porque ainda é

comum encontramos pessoas com essas necessidades que a família esconde por sentir vergonha. Dessa

forma, o acadêmico foi capaz não só de identificar, mas vivenciar, conversar e entender como aquela

família trabalha aquela questão e em que ciclo evolutivo aconteceu aquela situação e como a família

consegue enfrentar isso.

Em sua opinião que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizaram o cumprimento do preceito

da indissociabilidade entre a pesquisa, ensino e a extensão?

P6 - Essa questão do desenvolvimento do projeto, em termos da formação do aluno, não deve

considerar somente a carga horária de integralização, mas também valorizar essa experiência que,

muitas vezes, ele pode não ter durante a formação, mas estará enfrentando durante a vida profissional.

Nesse aspecto é necessário que tenhamos o cuidado de quando oferecer um projeto fazer essa

articulação do tripé. Primeiramente porque a questão da educação deve ser permanente, o profissional

não pode se estagnar. Dessa forma a investigação deve estar sempre presente. Segundo, que ele não

pode fazer as coisas utilizando da questão do senso comum, ele tem que ter um embasamento

científico. Terceiro, que ele tem que entender que como cidadão, ele tem que contribuir com a

sociedade e fazer valer a cidadania de todos. Nesse aspecto o meu projeto conseguiu realizar essa

questão, uma vez que aquilo que tinha de conhecimento foi utilizado, mas foi verificado também algo

que se precisava buscar fora daquilo que o currículo coloca para o projeto funcionar. Houve aí uma

forma de ampliar o conhecimento. Segundo, que a articulação desse conhecimento para o atendimento

a essas pessoas e seus familiares dentro de uma instituição que se coloca voltada para isso e até nos

grupos que nós discutíamos. Na questão dos cuidados como se comunicar e relacionar com essas

pessoas, eles verificaram que foi possível fazer a extensão desse conhecimento e na extensão do

conhecimento eles também adquiriram conhecimento. Houve uma troca. Não foi só com a questão

teórica, Ele também recebeu um conhecimento prático que precisou articular. Dentro desse mundo, da

vivência dessas pessoas foi possível verificar questões que nos incomodam pela questão da carência da

formação do profissional. Por esse motivo construímos um projeto de pesquisa articulando essas

questões de como a família faz esse enfrentamento, como a equipe de enfermagem, responsável pelo

cuidado, dá conta dessa questão porque muitos não têm treinamento, qualificação para isso e a

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instituição não pode negar assistência para essas pessoas. A possibilidade de ampliar o mercado de

trabalho frente à projeção da nossa população idosa. Numa sociedade capitalista todos precisam

trabalhar, muitas vezes não tem ninguém da família que pode ficar cuidando do paciente. Daí a

necessidade do cuidador. Por isso fizemos o curso discutindo as questões que o próprio Ministério da

Saúde já coloca, tanto que um dos materiais básicos foi o manual do Ministério da Saúde para

trabalhar os cuidadores. E a questão com os acadêmicos do relacionamento e comunicação com essas

pessoas. Sendo que na própria universidade temos pessoas com deficiências, surdo, cego ou com

múltiplas deficiências. Muitas vezes não sabemos como ajudar. Se colocamos a mão ou não,

perguntamos se quer que empurre a cadeira ou não. Dentro desse aspecto é eu verifico que o projeto

conseguiu realizar essa articulação.

Em sua opinião, que ações desenvolvidas no seu PROEXT caracterizam o cumprimento do preceito da

interdisciplinaridade das ações executadas?

P6 - No Instituto tivemos a possibilidade de trabalhar com a fonoaudióloga, com a fisioterapeuta e

com a pedagoga que hoje atua na instituição e já foi professora na universidade. Tivemos a

possibilidade de convidar uma jornalista cadeirante que fundou uma ONG e ela veio para discutir com

eles a questão do estigma, porque muitas vezes as pessoas rotulam os deficientes por falta de

conhecimento. Nesse aspecto acredito que conseguimos realizar uma interdisciplinaridade. Quando se

trata de deficiência, não podemos trabalhar apenas com a deficiência de determinado órgão, temos que

trabalhar a pessoa de forma que aquela deficiência é a parte e a pessoa é o todo. E esse todo precisa ser

cuidado para ser desenvolvido e superar essa deficiência. Por isso a necessidade de trabalhar essa

deficiência, porque não adianta, eu, como enfermeira fazer promoção de saúde, ensinar para o

cuidador, ensinar a família como dar alimentação para a pessoa, se eu percebo que essa pessoa precisa

de assistência social, inclusive para poder adquirir esse alimento oferecido. Isso propicia estar

buscando esse trabalho em equipe, interdisciplinar.

Considerações finais:

Em relação ao PROEXT, em um primeiro momento, quando eu concorri, não tinha esperanças de ser

aprovada. Primeiro por ser a primeira vez que eu concorri e segundo pelo quantitativo de projetos que

foram enviados. Fiquei surpresa quando fui contemplada. Em um segundo momento, fiquei angustiada

porque as coisas demoravam e fiquei ansiosa por não estar fazendo aquela proposta que foi enviada. A

partir do momento em que eu comecei a receber os equipamentos e a desenvolver as atividades.

Porque teve um momento em que eu tive que inverter a ordem das atividades que coloquei no projeto.

Dessa forma, comecei fazendo o curso para os cuidadores, porque eu pude utilizar o material de

consumo que tínhamos e que a própria instituição tinha. Dessa forma eu comecei a trabalhar e a

ansiedade diminui. À medida que a ansiedade diminuiu a preocupação aumentou porque eu percebi

que precisava de mais tempo, maior dedicação para estar desenvolvendo esse projeto. Porque a cada

realidade e a cada relacionamento em que conseguíamos detectar a realidade daquela pessoa e daquela

família víamos a necessidade de estar ampliando a atividade e até mesmo chamar alguém para nos

ajudar. Por outro lado eu percebi que o PROEXT me possibilita ser mais autônoma porque não existe

a cobrança de mandar um relatório mensal. Tem o relatório semestral e final. E o relatório me permite

colocar o que realizei e o que não realizei os motivos disso e de eu ter precisado mudar determinadas

atividades. Eu acho que isso proporciona ao coordenador do projeto a possibilidade de ser criativo

para resolver a realidade daquela proposta feita. Porque fazemos uma proposta, de certa forma,

empírica. A partir do momento que conseguimos atuar, percebemos as modificações que devem ser

feitas. Nesse aspecto eu acho que o PROEXT contribui. Por outro lado existe a questão de algumas

amarrações que dificultam a instituição atender o que eu preciso. O PROEXT fez um repasse

financeiro, mas não pode ser utilizado assim, assim... Até porque ele vê que a conta é da universidade,

tem as rubricas, tudo dentro das normas para que haja uma prestação de contas. Nesse sentido, isso

amarra um pouco nos preocupando se vamos dar conta ou não de cumprir as coisas. Por outro lado

acho que o PROEXT possibilita o docente, os acadêmicos e as pessoas da comunidade se envolverem

em uma situação que é realmente necessária. Dessa forma, saímos daquelas atividades colocadas

dentro de um currículo ou um projeto pedagógico. A atividade possibilita a pessoa procurar outro

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caminho e até mesmo atender de uma forma mais qualificada essa extensão que a universidade propõe

a universidade.