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Não é fácil ser mulher no mer- cado de trabalho. Dupla ou tripla jor- nada, assédio moral e sexual, discri- minação, dificuldade para ascensão, machismo, utilização da imagem da mulher para atrair negócios, enfim, tudo isso está entranhado nas rela- ções sociais. Mas mesmo assim es- tamos aí disputando nosso espaço e acumulando experiências e conquis- tas, o que traz crescimento e desafios. A feminização do trabalho bancário é fato. De acordo com o último Censo da Diversidade, fei- to em 2014, 51,7% dos bancários são homens e 48,3% são mulheres. No sudeste, 51,9% são mulheres e 48,1% homens. “No corpo gerencial intermediário a maioria é de mulher. Mas nas gerências gerais não”, diz a entrevistada desta edição. Os dados do Censo de 2014 também apontam que os bancos mantêm a diferença salarial entre bancárias e bancários. O rendimento médio mensal delas em relação ao deles é de 77,9%. Essa diferença de tratamento entre homens e mulheres é socialmente construída. A igualdade de oportunidades está na pauta das bancárias desde o início da década de 1990. Foi a primeira categoria a ter uma mesa temática específica. De lá para cá, foram diversas ações voltadas ao combate da discriminação no setor. Mas a isonomia nas contratações e na ascensão profissional ainda está entre as reivindicações. Tudo isso nos mostra que apesar das importantes transforma- ções ocorridas ao longo dos anos, a emancipação feminina ainda é um grande desafio a ser perseguido. Editorial Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jessé Gomes de Alvarenga - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES, Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES e Sueli de Freitas - MTb 537/92-ES- Estagiária: Lorraine Paixão - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 107 - Setembro-Outubro/2015 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares Mulher 24 HORAS Em busca de igualdade VEJA NESTA EDIÇÃO 3 4 Campanha Nacional: hora de avançar na luta por igualdade de oportunidades gorda nos contornos das dobrinhas deslizo meus dedos. deeeeee- eeeesssss- ssssssllllliiiiiiiiiizo e seus pelinhos todos se arrepiam de pé, cumprimentam meu toque cumprimentam e se recolhem dando-me licença tátil. à vontade, seu corpo responde e meus dedos descem e sobem tateando - à vontade - as charmosas dobrinhas. Lorraine Paixão Andrea Zamborlini, gerente da Caixa, é a entrevistada do Palavra de Mulher Mulher 24 Horas - 107 - AGOSTO-2015.indd 1 26/08/2015 14:51:56

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Page 1: Mulher - Sindibancários ES · mulher para atrair negócios, enfim, tudo isso está entranhado nas rela-ções sociais. Mas mesmo assim es-tamos aí disputando nosso espaço e acumulando

Não é fácil ser mulher no mer-cado de trabalho. Dupla ou tripla jor-nada, assédio moral e sexual, discri-minação, dificuldade para ascensão, machismo, utilização da imagem da mulher para atrair negócios, enfim, tudo isso está entranhado nas rela-ções sociais. Mas mesmo assim es-tamos aí disputando nosso espaço e acumulando experiências e conquis-tas, o que traz crescimento e desafios.

A feminização do trabalho bancário é fato. De acordo com o último Censo da Diversidade, fei-to em 2014, 51,7% dos bancários são homens e 48,3% são mulheres. No sudeste, 51,9% são mulheres e 48,1% homens. “No corpo gerencial intermediário a maioria é de mulher. Mas nas gerências gerais não”, diz a entrevistada desta edição.

Os dados do Censo de 2014 também apontam que os bancos mantêm a diferença salarial entre bancárias e bancários. O rendimento médio mensal delas em relação ao deles é de 77,9%. Essa diferença de tratamento entre homens e mulheres é socialmente construída.

A igualdade de oportunidades está na pauta das bancárias desde o início da década de 1990. Foi a primeira categoria a ter uma mesa temática específica. De lá para cá, foram diversas ações voltadas ao combate da discriminação no setor. Mas a isonomia nas contratações e na ascensão profissional ainda está entre as reivindicações.

Tudo isso nos mostra que apesar das importantes transforma-ções ocorridas ao longo dos anos, a emancipação feminina ainda é um grande desafio a ser perseguido.

Editorial

Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jessé Gomes de Alvarenga - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES, Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES e Sueli de Freitas - MTb 537/92-ES- Estagiária: Lorraine Paixão - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 107 - Setembro-Outubro/2015 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares

Mulher 24 HORAS

Em busca de igualdade

VEJA NESTA EDIÇÃO

3 4

Campanha Nacional: hora de avançar na luta por

igualdade de oportunidades

gordanos contornos das dobrinhas

deslizomeus dedos.

deeeeee-eeeesssss-

ssssssllllliiiiiiiiiizo

e seus pelinhos todos se

arrepiam

de pé, cumprimentam

meu toquecumprimentam

e se recolhemdando-me

licença tátil.

à vontade, seu corpo responde

e meus dedos descem

e sobemtateando

- à vontade - as charmosas

dobrinhas.

Lorraine Paixão

Andrea Zamborlini, gerente da Caixa, é a entrevistada

do Palavra de Mulher

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Mulheres têm que enfrentar a divisão sexual do trabalhoO número de mulheres eco-

nomicamente ativas e in-seridas no mercado de tra-

balho aumentou nos últimos anos, passando de 50,1% para 54,6% entre 2000 e 2010, considerando o total de mulheres com idade a partir de 16 anos. No entanto, a desigualdade entre homens e mu-lheres se manteve – as mulheres ainda recebem cerca de 70% do rendimento médio dos homens, ocupando os mesmos postos de tra-balho, como mostra a pesquisa “Estatísticas de gênero”, divulgada em novembro de 2014 pelo IBGE. Responsabiliza-das desde pequenas às tarefas do lar, como afazeres domésticos, ma-nutenção do casamento e cuidados com os filhos, as mulheres sofrem uma série de limitações para seguir a carreira profissional e, mesmo quando empregadas, têm sua mão de obra desvalorizada.

“Essa disparidade salarial nos mesmos cargos mostra que as mulheres estão ocupando o mer-

Há disparidades salariais entre homens e mulheres tam-bém dentro da categoria. É o que revela o II Censo da Diversidade, organizado pela Fenaban em parceria com a Contraf, divulga-do em novembro de 2014.

Segundo o Censo, as bancá-rias recebem 77,9% em relação às remunerações masculinas, apenas 1,5% a mais em relação ao I Cen-so, realizado em 2008. Ainda assim elas são mais escolarizadas: 82,5% têm formação superior contra 76,9% dos bancários. Mesmo mais qualificadas, elas recebem menos que eles em função dos obstáculos à ascensão profissional. A situação de desigualdade afeta em dobro as mulheres negras, que sofrem dupla opressão: de gênero e de raça.

No censo de 2014, os ban-cos não apresentaram dados em re-lação às trabalhadoras negras. Mas o levantamento de 2008 apontou que elas eram apenas 8% da cate-goria em um universo de 511.833 trabalhadores e trabalhadoras.

cado de trabalho por necessidade, mas essa necessidade ainda não foi encarada ao ponto de ser va-lorizada pelo próprio mercado”, aponta a militante feminista e inte-grante do Coletivo Femenina, Ana Lúcia Rezende.

ALÉM DO MERCADO

Essa diferença de tratamento entre homens e mulheres não é um processo natural. Ela é socialmente

construída, resultado das normas e costumes de uma sociedade. Ana Lúcia lembra que a perversa lógica da divi-são sexual do trabalho, segundo a qual mulhe-res são colocadas em uma posição inferior e

discriminatória em relação aos ho-mens, vai além do mercado formal de trabalho: “Falamos muito da questão da divisão sexual do traba-lho no mercado formal, mas temos que pensar também no trabalho que não é assalariado e que não é considerado trabalho, como o tra-balho dentro de casa que ainda é de responsabilidade das mulheres”, problematiza a militante feminista.

Censo da diversidade

70% DO RENDIMENTO médio dos homens ocupando os mesmo postos de trabalho

AS MULHERES RECEBEM CERCA DE

os dados

PERCENTUAL MÉDIO DE REMUNERAÇÃO DAS MULHERES EM RELAÇÃO AO SALÁRIO DOS HOMENS NOS BANCOS

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Uma história de renúncia e realizações

Bancária da Caixa há 26 anos, Andrea Zamborlini é gerente geral da agência de

Jardim da Penha. Ao Mulher 24 Horas, Andrea contou como foi renunciar a momentos com a família e os filhos para seguir carreira no banco.

Palavra de Mulher

O INÍCIO DA CARREIRA Entrei na Caixa aos 24 anos

e naquela época era muito difícil ser promovida. Trabalhei dez anos sem ter função de confiança. Após casar e ter tido meus filhos, decidi que estava na hora de seguir carreira na Caixa. Minha primeira função foi de agente empresarial, mas trabalhei em diver-sas áreas do banco.

A INFÂNCIA DOS FILHOS

Com a função e a carga horá-ria estendida, você acaba ficando fora de casa quase dez horas. Praticamen-te, em toda a infância dos meus filhos, não pude levá-los ou buscá-los na es-cola. Raramente também almoçava em casa. Disso eu sinto muita falta. Quan-do vejo meus filhos crescidos, dá uma vontade de ter tido um pouco mais de tempo. Mas isso em nada prejudicou a vida deles. É uma coisa minha.

O MAIOR DESAFIO DA VIDA

Tive o apoio da minha família para construir a carreira. Em 2009, aceitei o maior desafio da minha vida. Era gerente de pessoa jurídica e não vi outra saída para ser gerente geral a não ser sair de Vitória. Passei no Processo de Seleção Interna (PSI) e fui para Marataízes. Viajava na se-gunda-feira cedo, voltava na quarta à noite para dormir com a família e na quinta retornava para o trabalho. Rezava muito, porque tinha medo de sofrer um acidente na estrada. Os gestores viram meu esforço e acabei ficando nessa rotina por apenas dois meses. Voltei para Vitória e assumi uma agência.

FAMÍLIA OU CARREIRA?

Tive uma experiência interes-sante com uma colega, que era do nos-

so grupo de estudo para a prova de ge-rente. Ela participou de um encontro da família que mexeu muito com ela. Na segunda-feira, para nossa surpresa, ela disse: “Não vou par-ticipar mais do grupo porque não quero ser gerente da Cai-xa, quero ser feliz”. Fiquei assustada porque, para mim, uma coisa não excluía a outra. Queria ser gerente e ser feliz. Sou apaixonada por gestão e sou feliz sendo gestora. Mas é louvável também a decisão dela, porque ela estava sofrendo.

Recentemente, outra colega também abriu mão da carreira para se dedicar aos filhos. É uma profissio-nal super competente e, como gesto-ra, gostaria de tê-la na equipe. Mas respeito a decisão dela porque carrei-ra e recompensa financeira também não são tudo, principalmente se você tem outras prioridades.

A AUSÊNCIA FEMININA Somos em muitas mulheres na

Caixa, no corpo gerencial intermedi-ário a maioria é de mulher. Mas nas gerências gerais não. Quando dispu-tei essa vaga, eu era a única mulher. Na primeira reunião como gerente geral, éramos apenas em três nesse cargo. Hoje, somos em oito, de um total de 45 gerentes.

Acho que o fato de ter mais homens do que mulheres nos altos cargos é porque o homem não tem outra jornada, a responsabilidade que temos como mãe, do cuidado com a casa. É difícil ver um homem que tem que abrir mão da família

para seguir carreira. Há outra ques-tão que é achar que, por ser mulher, será assediada pelos homens em um cargo de gestão. Já vi colegas que podaram seu crescimento em prol do relacionamento, porque o marido não iria aceitar.

NEM TUDO SÃO FLORES...

Quando fui para Marataízes, so-fri muito no primeiro dia. Chorava o dia inteiro. Alguém ligava para me dar pa-rabéns pela promoção e eu chovara... Meus filhos eram novos. Nessa história tem muito sacrifício, não tem nada fácil. Tive que estudar muito, fazer pós-gra-duação, era outra jornada. Se conver-sar com qualquer colega bancária, ela também tem uma história de renúncia para poder estudar, para conseguir se cuidar. Já pensou nisso? Quanto tempo a gente leva para se cuidar, ir ao salão. É diferente de um homem que basta vestir uma roupa e está arrumado.

TRANQUILIDADE

Hoje, minha rotina de trabalho permanece a mesma, mas a jornada extra está mais tranquila. Consigo ir ao médico, fazer um tratamento orto-dôntico, fazer uma atividade física e de vez em quando consigo almoçar em casa. Cheguei onde queria.

Andrea Zamborlini

é gerente geral da

agência de Jardim da

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Mulher 24 HORAS

Mala Direta PostalBásica

9912258789/2014-DR/ESSINDIBANCÁRIOS-ES

... CORREIOS ...

Bancárias lutam por igualdade

Mulher 24 HORAS

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Mulheresantenadas

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Terça Feminista

Toda última terça--feira do mês, a partir das 20h, o Cine Metrópolis, na Ufes, abre as portas para o Terça Feminista, um cineclube que traz a cada edição filmes com uma temáti-ca relacionada a questões de gênero.

Posteriormente são realizados debates sobre o tema. A programação pode ser conferida na página do projeto no Facebook. A entrada é gratuita.

CAMPANHA SALARIAL

Banco do Brasil discrimina mulheresEm janeiro, o BB alterou o

ponto das bancárias com base em uma cláusula da CLT que determi-na o cumprimento de 15 minutos de intervalo antes do início das ho-ras extras. Essa determinação fere o princípio da igualdade de gêne-ro, pois é imposto somente para as mulheres. Além de não consegui-rem fazer esse intervalo, as bancá-

rias não estão recebendo por ele.Na minuta do BB entrou

como reivindicação a efetivação do intervalo e seu devido paga-mento. Na Conferência Nacional a categoria decidiu que o Comando conduzirá as negociações sobre o tema junto à Fenaban, mas não aprovou uma cláusula específica na minuta.

“Independente disso vamos lutar contra a discriminação do tra-balho feminino e o machismo das leis brasileiras, questionando-as sempre que elas nos oprimirem”, diz a diretora do Sindicato, Rita Lima. O Sindibancários está analisando a possibilidade de entrar com ação para garantir isonomia de tratamen-to entre homens e mulheres no BB.

Chegada a Campanha Sa-larial é hora de intensifi-car a luta por valorização

das mulheres. Isonomia nas con-dições de contratação, na ascen-são profissional e aumento da contratação de mulheres negras são algumas das reivindicações da minuta.As pautas de igual-dade de oportunidades foram debatidas durante a Conferência Nacional dos Bancários, ocorrida de 31 de julho a 02 de agosto, em São Paulo.

“Em relação à igualdade de oportunidades para ascensão profissional, temos que cobrar cri-térios objetivos nos bancos, pois em muitas instituições financeiras, mesmo tendo alto grau de qualifi-cação, as mulheres não estão nos cargos de chefia. Esses critérios devem estar em Planos de Cargos e

Salários”, afirma a diretora do Sindi-bancários/ES Lucimar Barbosa.

COMBATE AO ASSÉDIO SEXUAL

Neste ano, uma nova rei-vindicação para combater o as-sédio sexual nos bancos foi in-cluída na minuta da categoria. A cláusula cobra que a assedia-da ganhe estabilidade a partir do momento em que denunciar o assédio, durante a investiga-ção e, se comprovado o ato, por mais dois anos, sendo dado a ela o direito de escolher a sua lotação no período da inves-tigação e após a apuração. “A questão da estabilidade é uma forma de encorajar a bancária a denunciar o assédio, pois mui-tas não denunciam por causa do medo de perder o emprego”,

diz Lucimar.

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