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Editorial Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jonas Freire Santana - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES e Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES - Estagiária: Júlia Zumerle - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 111 - Março/Abril/2017 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares Mulher 24 HORAS 4 Marcha do Orgulho Crespo toma as ruas e afirma estética negra Mulheres do mundo, uni-vos! VEJA NESTA EDIÇÃO 3 Palavra de Mulher: bancária do BB fala sobre impactos da reestruturação O 8 de março, Dia Interna- cional da Mulher, é momento de intensificar debates sobre assuntos relacionados aos direitos femini- nos e à opressão do patriarcado. A data torna ainda mais especial esta edição do Mulher 24h, que é a pri- meira de 2017. Cada vez mais conscientes da importância de sua participação social e da necessidade de união para fortalecer suas mobilizações, mulheres de várias partes do mun- do estão se posicionando sobre as- suntos do campo social, político e econômico. Manifestações feminis- tas, como as que aconteceram em janeiro, nos Estados Unidos, contra o presidente recém-empossado Do- nald Trump e sua agenda conser- vadora; as marchas de mulheres na América Latina contra a violência masculina e em outros países mos- tram que, em âmbito mundial, as pautas estão bastante unificadas. Com o avanço do neolibe- ralismo e das forças conservado- ras, as mulheres estão deixando claro que não irão tolerar governos misóginos, a precarização no mer- cado de trabalho, o cerceamento dos direitos reprodutivos e outras opressões que ainda fazem parte do universo feminino e devem ser abolidas. Além disso, a agenda in- ternacional feminista também de- nuncia o racismo, o imperialismo, a xenofobia e homofobia, mos- trando que sua pauta busca unir vários segmentos excluídos em todo o mundo.

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Page 1: Mulher - Sindibancários ES · banco com 14 anos, em 1992. Fui menor aprendiz na agência Marata-ízes, ficando até os 17 anos. Depois eu fui contratada pelo próprio ban-co como

Editorial

Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jonas Freire Santana - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES e Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES - Estagiária: Júlia Zumerle - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 111 - Março/Abril/2017 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares

Mulher 24 HORAS

4

Marcha do Orgulho Crespo toma as ruas e afirma

estética negra

Mulheres do mundo, uni-vos!

VEJA NESTA EDIÇÃO

3

Palavra de Mulher: bancária do BB fala sobre impactos

da reestruturação

O 8 de março, Dia Interna-cional da Mulher, é momento de intensificar debates sobre assuntos relacionados aos direitos femini-nos e à opressão do patriarcado. A data torna ainda mais especial esta edição do Mulher 24h, que é a pri-meira de 2017.

Cada vez mais conscientes da importância de sua participação social e da necessidade de união para fortalecer suas mobilizações, mulheres de várias partes do mun-do estão se posicionando sobre as-suntos do campo social, político e econômico. Manifestações feminis-tas, como as que aconteceram em janeiro, nos Estados Unidos, contra o presidente recém-empossado Do-nald Trump e sua agenda conser-vadora; as marchas de mulheres na América Latina contra a violência masculina e em outros países mos-tram que, em âmbito mundial, as pautas estão bastante unificadas.

Com o avanço do neolibe-ralismo e das forças conservado-ras, as mulheres estão deixando claro que não irão tolerar governos misóginos, a precarização no mer-cado de trabalho, o cerceamento dos direitos reprodutivos e outras opressões que ainda fazem parte do universo feminino e devem ser abolidas. Além disso, a agenda in-ternacional feminista também de-nuncia o racismo, o imperialismo, a xenofobia e homofobia, mos-trando que sua pauta busca unir vários segmentos excluídos em todo o mundo.

Page 2: Mulher - Sindibancários ES · banco com 14 anos, em 1992. Fui menor aprendiz na agência Marata-ízes, ficando até os 17 anos. Depois eu fui contratada pelo próprio ban-co como

Ginástica chinesa previne e cura lesões relacionadas ao trabalho

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Mulher 24 HORAS

O Lian Gong é praticado com uma trilha sonora de ritmo confluente com o dos movimentos

O Lian Gong pode ser praticado de segunda a sexta na Pedra da Cebola. Modalidade trabalha mente e corpo na prevenção da dor

Para alguns, 07 horas da ma-nhã é o momento de levan-tar da cama para começar

a executar as tarefas diárias. Para outros, é hora de estar de pé exer-citando o corpo por meio de uma terapia chamada Lian Gong. Rea-lizada gratuitamente de segunda a sexta, às 07 horas, no Parque da Pedra da Cebola, em Vitória, a ati-vidade física age na prevenção e cura de lesões relacionadas ao tra-balho.

A economista Tiana Lind, moradora da Mata da Praia, pra-tica o Lian Gong há três anos no Parque da Pedra da Cebola. “Depois da aula eu sinto como se tudo ficasse melhor. Eu perce-bi que a prática alivia o estresse, e as dores que eu sentia foram

diminuindo com o tempo. Meu bem estar mudou de maneira ge-ral, inclusive o meu humor”, con-ta Tiana.

A terapia, que ajuda a ali-viar tensões, aumenta o tônus muscular e corrige a má postura, e foi uma importante aliada na re-cuperação de duas fraturas ósse-as sofridas pela senhora Orminda Mendonça, de 79 anos, adepta do Lian Gong há seis. O exercício, de rápida execução, pode ser fa-cilmente incluído na rotina diária. Ao todo, são 36 minutos por aula, divididos em três séries de 12 mi-nutos cada. Sempre praticada ao ar livre, por ser bastante rítmica a atividade é acompanhada por uma trilha sonora confluente com os movimentos.

TRANSMITINDO BEM-ESTAR

Um dos monitores de Lian Gong do Parque da Pedra da Cebo-la é o técnico previdenciário Hermes Mariano Camatho. Ele mora em Vila Velha e todas as quintas pela manhã atravessa a Terceira Ponte para estar no parque bem cedinho.

Hermes conta que o interesse pela técnica foi despertado ao avis-tar no parque uma placa de divulga-ção do Lian Gong, o que o incenti-vou a fazer uma aula experimental.

“Ao conhecer a técnica, eu, que sempre fui interessado por tera-pias orientais, resolvi conhecer mais e a querer passar para as outras pes-soas o mesmo bem-estar que eu sen-tia praticando o Lian Gong. É uma importante iniciativa e se mantém de maneira voluntária. Em alguns es-tados, o Lian Gong é oferecido até mesmo nos postos de saúde”, conta.

Da China para VitóriaDesenvolvido em 1974 pelo

ortopedista chinês Dr. Zhuang Yuan Ming, o Lian Gong é famo-so por unir princípios de antigas técnicas orientais a modernos preceitos da medicina ocidental. A atividade surgiu após um au-mento considerável no número

de doentes - a maioria trabalha-dores das fábricas e escritórios da região industrial de Shangai - que se queixavam de dores muscula-res e nas articulações.

A terapia foi trazida para o Brasil na década de 80 pela pro-fessora de filosofia e artes corpo-

rais chinesas Maria Lúcia Lee, e desembarcou em Vitória há cerca de 15 anos. Em Vitória, além do Parque da Pedra da Cebola, tam-bém são oferecidas aulas gratuitas de Lian Gong na Praça Padre Al-fonso Pastore, na Mata da Praia, às 08h, de terça à quinta.

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Page 3: Mulher - Sindibancários ES · banco com 14 anos, em 1992. Fui menor aprendiz na agência Marata-ízes, ficando até os 17 anos. Depois eu fui contratada pelo próprio ban-co como

Há quantos anos você tra-balho no BB?

Eu comecei minha história no banco com 14 anos, em 1992. Fui menor aprendiz na agência Marata-ízes, ficando até os 17 anos. Depois eu fui contratada pelo próprio ban-co como telefonista e estagiária. Fiz o concurso entre 1999 e 2000, em junho completo 17 anos como efeti-va. Tomei posse em Porciúncula, no Rio de Janeiro. Já passei por nove agências do BB, a maioria no Rio, e depois voltei para Marataízes.

Qual cargo você exercia antes do descomissionamento?

Eu exercia há um ano o cargo de gerente de relacionamento, conhecido como “carteirão”. De 2003 a 2015 fui gerente de con-tas PJ em várias agências, sendo a última a de Cachoeiro de Ita-pemirim. Como tenho três filhos e o meu menor tinha nascido há poucos meses, abri mão do meu car-go em Cachoeiro para ser gerente de relacionamento em Marataízes, pra ficar mais perto de casa.

O que significou pra você entrar no Banco do Brasil?

Quando eu passei no concur-so foi inacreditável, era um sonho. Eu cresci no banco, então o BB foi a mi-nha grande escola. Lembro que quan-do entrei eu já conhecia muito do ban-co, então aquela fase de aprendizagem eu nem tive, já fui direto pra batalha.

Como avalia a reestrutu-ração?

Eu estou sofrendo uma gran-de decepção com o banco porque eu sempre defendi muito o BB, sempre vesti a camisa. Mesmo sen-do diretora sindical e lutando pelos nossos direitos, sempre tive muita

“Pra mim, como funcionária, a minha carreira e os meus sonhos

foram pisoteados”

Palavra de Mulher

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Mulher 24 HORAS

Fernanda Baiense é bancária do Banco do Brasil em Marataízes. Ela foi descomissionada pela atual

reestruturação do banco e compartilha conosco sua leitura sobre o processo, que extinguiu cerca de 700 agências no país e cortou 60 postos de trabalho no Espírito Santo.

paixão de trabalhar no banco, fa-zendo além do que eu conseguia, por amor mesmo. E de repente veio essa reestruturação. Foi um baque na minha, mais psicológico até do que financeiro.

Você tinha expectativa de que esse processo fosse condu-zido de outra forma?

Com certeza. O banco tem várias maneiras de se reestruturar. O banco mexeu exatamente nos canais negociais, cortando funcionários que estão fazendo algo que o próprio ban-co valoriza, isso é algo que eu não en-tendo. Por isso, tenho uma ideia fixa de que eles estão esvaziando o banco para justificar uma possível venda.

Você acha que há um risco de privatização?

Eu tenho certeza. Assim como acho que, em um ano ou dois, o ban-co vai lançar um plano de demissão voluntária (PDV). O BB quer cortar 18 mil funcionários, algo que ele não al-cançou com o plano de aposentadoria incentivada. Agora vem a reestrutura-ção. Quantos funcionários perderam a comissão? Quantos, ao acabar o “esmolão” [Vantagem em Crédito Pes-soal], vão estar sem renda porque não têm 10 anos de comissão? Isso é muito sério, e o banco está forçando essa si-tuação exatamente para poder vender.

Com a redução de empre-gados, como imagina as condi-ções de trabalho no futuro?

Nós temos aí um projeto de ter-ceirização que está para estourar, esse

enxugamento dos cargos comissiona-dos e um possível PDV. Hoje, na minha agência, o nosso quadro reduziu quase pela metade. O nosso atendimento di-ário, com duas pessoas no atendimen-to, são de 100 clientes. É massacrante e a tendência é piorar. Na minha agên-cia são oito funcionários. mas sempre há alguém de férias. A nossa deman-da é muito grande. Eu tenho certeza que essa reestruturação só fez piorar o atendimento. Até por motivação, por-que você perde a sua carreira, não é o estatus, é uma carreira que você veio construindo ano a ano, que você sustentava com um trabalho excelen-te, uma boa avaliação, dando retorno para o banco. Isso tudo foi jogado no

chão, então os funcionários estão insatisfeitos. Acho que em no má-ximo dois anos estaremos vivendo um caos, isso se não acontecer como no México, onde 90% dos bancários são terceirizados.

Como você está sentindo esses impactos?

Construí uma carreira no ban-co com excelência. E de uma hora pra outra, o banco tira a minha comissão. Isso causa um transtorno grande. Há colegas que estavam aguardando ser gerente geral e abriram mão des-sa carreira para ser gerente de conta em agências mais distantes, porque é humilhante voltar a ser Posto Efetivo, não pelo posto, mas porque você per-de a sua história. Você já não conse-gue atender o cliente como antes, vo-perde os seus acessos. Tudo que faço hoje requer autorização do gerente. Não consigo sequer alterar a senha de um cliente. A carga psicológica é grande. Pra mim, como funcionária, a minha carreira e os meus sonhos foram pisoteados.

Um olhar feminino sobrea reestruturação do BB

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Mulher 24 HORAS

Mala Direta PostalBásica

9912258789/2014-DR/ESSINDIBANCÁRIOS-ES

... CORREIOS ...

Mulher 24 HORAS

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Mulheresantenadas

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@ REVISTA TRINO Nº 02 - A relação entre mulher e literatura é um dos temas da 2ª edição da Revista Trino, que será lan-çada no dia 09 de março, às 19h, no restaurante Jalapeño, em Jardim da Penha, Vitória. A revista será vendida a R$ 15.

Orgulho crespo: cabelocomo forma de resistência A Marcha do Orgulho Crespo,

criada em São Paulo, che-gou ao Espírito Santo. Orga-

nizada na capital pelo Instituto das Pretas e pelo Raiz Forte Espaço de Criação, denunciou a exclusão so-cial da população negra por meio do cabelo e externou o orgulho que ela sente de sua cor e seus traços.

A Marcha saiu da Praça Cos-ta Pereira na tarde do dia 05 de fe-vereiro rumo ao Parque Moscoso. Na programação, painéis, atrações culturais e uma feira de produtos artesanais. “A programação foi pen-sada de forma que a gente pudesse lançar luz sobre as produções artís-ticas de empreendedores negros do Espírito Santo”, explica a diretora do Raiz Forte, Charlene Sales Bicalho.

Um dos motivos para realizar a marcha no Espírito Santo foi o his-tórico de racismo no Estado, princi-palmente em relação às mulheres.

“Estamos no estado que mais mata mulher negra no país. A questão da autoestima a gente reforça bastan-te para que a mulher se sinta motiva-

da a se gostar. Isso tem a ver com as relações abusivas. As vezes a mulher se submete por uma questão de baixa autoestima mesmo”, diz a coordena-dora de comunicação do Instituto das Pretas, Hadassa Nunes de Araújo.

A professora Darlete Gomes Nascimento, que participou da marcha, já passou pelo processo de parar de alisar o cabelo, conforme relata:“como toda menina preta sofri a imposição do liso. Ao perceber que essa imposição é injusta, comecei a querer me desco-brir. Isso traz uma libertação imensu-rável. Começa o processo de se voltar para quem você realmente é, de passar a entender que essa é uma postura po-lítica, de resistência”.

Ela destaca que a descoberta de que a imposição do cabelo liso é ra-cista aconteceu gradativamente. “Foi processual, por meio de leituras, con-tato com quem estava mais avançado nesse processo. É importante que as pessoas vejam essa marcha, pois isso possibilita que elas digam: ei, peraí! Porque estou ainda vivendo uma es-cravização dos meus cabelos?”, diz.

Valorização da mulher negra

O Instituto das Pretas é uma organização que promove ações de afroinspiração e em-poderamento a mulheres Ne-gras e suas famílias. Funciona como startup de projetos afro-centrados em ações afirmativas contra o racismo no Espírito Santo. Realiza ações culturais, de incentivo ao afro empreen-dedorismo, workshops relacio-nados à beleza e autoestima, grupos de estudo e discussão e colônia de férias.

Criado em 2012, o Projeto Raiz Forte iniciou suas atividades com foco na valorização do uni-verso negro feminino por meio dos cabelos. Hoje, sem abrir mão dessa proposta, agrega iniciativas artístico-culturais que dialoguem com as discussões sobre africanis-mo, negritude e feminismo. Am-bos ficam no Centro de Vitória.

À esquerda, cabelos black power das mais diversas cores e cortes. Acima, a professora Darlete Gomes Nascimento.

Sérgio Cardoso