moreira 2011 @ monografia especialização gestão ambiental

Upload: alinefujikawa

Post on 08-Jul-2015

506 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHOCAMPUS EXPERIMENTAL DO LITORAL PAULISTA (CLP)

ESTUDO DA BIODISPONIBILIDADE DE METAIS TXICOS NO RIO RIBEIRA DE IGUAPE, UTILIZANDO COMO MONITOR BIOLGICO O BIVALVE LMNICO Anodontites tenebricosus (Lea, 1834)

Aline Fujikawa Moreira

So Vicente - SP 2011

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHOCAMPUS EXPERIMENTAL DO LITORAL PAULISTA (CLP)

ESTUDO DA BIODISPONIBILIDADE DE METAIS TXICOS NO RIO RIBEIRA DE IGUAPE, UTILIZANDO COMO MONITOR BIOLGICO O BIVALVE LMNICO Anodontites tenebricosus (Lea, 1834)

Aline Fujikawa Moreira

Orientadora: Profa. Dra. Valria Guimares Silvestre Rodrigues

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Campus Experimental do Litoral Paulista - UNESP, como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Gesto Ambiental.

So Vicente - SP 2011

Moreira, Aline Fujikawa Estudo da biodisponibilidade de metais txicos no Rio Ribeira de Iguape, utilizando como monitor biolgico o bivalve lmnico Anodontites tenebricosus (Lea, 1834) / Aline Fujikawa Moreira So Vicente, 2011. 54 p. Monografia (Ps-graduao Lato Sensu em Gesto Ambiental) Universidade Estadual Paulista, Campus Experimental do Litoral Paulista. Orientadora: Prof. Dr. Valria Guimares Silvestre Rodrigues 1. gua Qualidade 2. Monitoramento biolgico CDD 628.161 Palavras-chaves: biomonitoramento, qualidade da gua, metais txicos, Anodontites tenebricosus

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHOCAMPUS EXPERIMENTAL DO LITORAL PAULISTA (CLP)

ESTUDO DA BIODISPONIBILIDADE DE METAIS TXICOS NO RIO RIBEIRA DE IGUAPE, UTILIZANDO COMO MONITOR BIOLGICO O BIVALVE LMNICO Anodontites tenebricosus (Lea, 1834)

ALINE FUJIKAWA MOREIRA

ESTA MONOGRAFIA FOI JULGADA ADEQUADA PARA A OBTENO DO TTULO DE ESPECIALISTA EM GESTO AMBIENTAL

APROVADO EM SUA FORMA FINAL PELO CURSO DE ESPECIALIZAO EM GESTO AMBIENTAL

Prof. Dr. Marcelo Antonio Amaro Pinheiro Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

Prof. Dr. ...................................

Prof. Dr. ..................................

Prof. Dr. ...................................

minha famlia e ao amor da minha vida Sem vocs nada seria possvel

AGRADECIMENTOS

Profa. Dra. Valria Guimares Silvestre Rodrigues pelo interesse e disposio em me orientar e, alm disso, tornar o meu caminho at aqui mais suave e tranqilo. FAPESP (processo 2008/54607-5), pelo apoio e financiamento esta pesquisa (reserva tcnica de bolsa de ps-doutorado). equipe de professores (Dr. Joel B. Sgolo, Dra. Valria G. Rodrigues e Dr. Denis M. Abessa), tcnicos (Samuel e Preto), moradores da regio do Ribeira (Tico, Vitrio, Isdio e Dr. Jesse) e alunos (Lucas e Letcia), pela coleta das amostras. Ao Dr. Jorge Sarkis e equipe do Laboratrio de Caracterizao Qumica do Instituto de Pesquisas Energticas (IPEN) pelo auxlio na anlise das amostras. Aos professores Drs. Joel B. Sgolo e Denis M. S. Abessa pelas sugestes que contriburam para a melhoria deste trabalho. minha me pela inspirao e por sempre ter acreditado em mim. Mesmo distante voc contribui e faz parte de cada momento da minha vida. Ao meu amor, Paulo Roberto, pelo imenso carinho e companheirismo em cada descida de serra, abdicando de seus finais de semana para estar ao meu lado. Agradeo todos os dias por ter a sorte de ter o seu amor, a sua cumplicidade e o seu apoio. minha irm e tia T pela energia contagiante, pelos conselhos e motivaes. Aos meus colegas de classe pela troca de experincias e,

especialmente, amiga Michele.

No importa qual o seu sonho, o importante continuar acreditando nele.

RESUMO O Vale do Ribeira foi palco de intensa atividade de minerao e refino de metais. Essa regio abrigou vrias minas de chumbo (Pb), zinco (Zn) e prata (Ag), que estiveram em operao durante longos perodos, do sculo passado, deixando para trs importante passivo ambiental. O uso de monitores biolgicos para quantificar o grau de contaminao dos ambientes aquticos fornece a capacidade de integrao de tempo e a biodisponibilidade do contaminante medida diretamente. O presente trabalho teve como objetivo analisar a biodisponibilidade de metais no rio Ribeira de Iguape (SP) utilizandose como biomonitor a espcie de bivalve lmnico Anodontites tenebricosus. Amostras deste bivalve foram coletadas ao longo do rio e analisadas em espectrmetro de massa (HR-ICPMS) e espectrmetro de absoro atmica (AAS). Nos tecidos (base seca) de A. tenebricosus foram detectados os seguintes metais: Pb, Cd, Cr, Zn e Cu. Os valores mdios dos metais foram: 1,00 g/g de Cd; 4,40 g/g de Pb; 14,79 g/g de Cr; 152,89 g/g de Zn e 10,82 g/g de Cu. Dos metais investigados o Pb foi o que exibiu valores mais preocupantes, estando acima dos valores da ANVISA em todos os pontos analisados e apresentando fatores de enriquecimento bastante elevados quando comparados com valores de referncia. De modo geral, conclui-se que este rio no est sofrendo processo natural de depurao como muitas pesquisas afirmam, e que o mesmo, pelos teores de metais detectados no tecido do bivalve aqui analisado, pode ser comparado com outros ambientes fluviais moderadamente contaminados.

e Objetivo; Abordagem experimental; Resultados obtidos mais i

ABSTRACT The Ribeira Valley was scenery of intense mining and metals refining. This region has comprised several mines of lead (Pb), zinc (Zn) and silver (Ag), which operated for long periods during the last century, producing important environmental impacts. The use of biological monitors to qualify the degree of contamination of aquatic environments provides the ability to integrate time and biavailability of the contaminant is measured directly. This study aimed to examine the bioavailability of some metals in the Ribeira de Iguape River (SP) as biomonitor using the freshwater bivalve species Anodontites tenebricosus. Individuals of this species were collected along the river and analyzed in a mass spectrometer (HR-ICPMS) and atomic absorption spectrometer (AAS). Tissues (dry basis) of A. tenebricosus were analysed for the following metals: Pb, Cd, Cr, Zn and Cu. The mean values of metals were: 1.00 mg / g Cd, 4.40 mg / g Pb, 14.79 mg / g Cr, 152.89 g / g Zn and 10.82 g / g Cu. Among the metals investigated, Pb values were the most problematic, occurring in levels higher than ANVISA values and natural values. This river is not suffering natural purification process, in opposition to that affirmed by the literature, and the levels of metals detected in mussel tissue analyzed here are high and can be compared with other moderately contaminated environments.

SUMRIO

1. INTRODUO .......................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 14 3. CARACTERIZAO DA REA ............................................................................. 14 3.1 Localizao e acesso ............................................................................................. 14 3.2 Clima .................................................................................................................... 15 3.3 Hidrologia ............................................................................................................. 16 4. REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................... 16 4.1 Qualidade das guas superficiais .......................................................................... 16 4.2 Caractersticas gerais dos metais txicos.............................................................. 18 4.3 Biomonitoramento ................................................................................................ 20 4.4 Bioacumulao de metais em moluscos bivalves ................................................. 21 4.4.1 Molusco Bivalve - Anodontites ..................................................................... 27 4.5 Vale do Ribeira ..................................................................................................... 28 5. MATERIAIS E MTODOS....................................................................................... 28 5.1 Metodologia de coleta .......................................................................................... 28 5.2 Preparao das amostras ....................................................................................... 30 5.3 Digesto cida das amostras ................................................................................. 31 5.4 Procedimento analtico ......................................................................................... 32 6. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................... 33 7. CONCLUSO ............................................................................................................ 46 8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 48

1. INTRODUO A caracterizao e o controle da qualidade das guas de grande importncia em qualquer localidade. Nas regies urbanizadas uma condio indispensvel para a evoluo e o desenvolvimento das populaes, seja sob o aspecto scio-econmico ou para a obteno e manuteno da vida. Nas zonas rurais, a importncia do monitoramento da qualidade da gua diz respeito principalmente proteo dos ecossistemas e das atividades agropecurias. A disponibilidade de gua com qualidade compatvel com as necessidades do ser humano e com as caractersticas que suportem a biodiversidade natural tem sofrido reduo exponencial nos ltimos anos. Em geral, as principais alteraes observadas no ambiente aqutico so: a) o assoreamento; b) a eutrofizao e c) a contaminao, por compostos orgnicos ou inorgnicos, podendo atingir as guas superficiais diretamente, por meio de lanamentos ou escoamento superficial, ou indiretamente, via contribuio das guas subterrneas previamente contaminadas (IMBIMBO, 2006). No caso da contaminao por compostos inorgnicos, os metais esto entre os mais representativos, pois so conservativos (no so degradados, ou quando degradados, demandam longos perodos de tempo), o que acarreta sua permanncia no meio aqutico. Consequentemente apresentam potencial para bioacumulao na biota aqutica, podendo, inclusive, biomagnificar-se ao longo das cadeias alimentares (TAVARES e CARVALHO, 1992). Na gua os metais podem estar presentes nas formas particulada (em suspenso ou sedimento de fundo), coloidal e dissolvida, sendo

constantemente redistribudos entre estas fases durante o transporte (BURATINI e BRANDELLI, 2006). Devido a todo esse processo dinmico de transporte e redistribuio dos metais nas diferentes fases, concentraes aparentemente baixas na coluna dgua e nos sedimentos, podem ser potencialmente disponveis para acmulo pelos organismos, tornando-se eventualmente txicas (FERNADES et al., 1994).

11

A avaliao biolgica (dos sistemas aquticos que receberam carga de contaminante) apresenta algumas vantagens sobre as determinaes

qumicas, uma vez que os organismos fornecem a capacidade de integrao de tempo, ou seja, as concentraes de contaminantes refletem uma mdia das flutuaes temporais que ocorrem na gua onde estes organismos vivem, enquanto que os dados qumicos necessitam de um grande nmero de medies para que se obtenha uma maior acuidade nos resultados. Contudo, a maior vantagem do uso de biomonitores que a biodisponibilidade do contaminante medida diretamente, sem recorrer a suposies empregadas em outros mtodos (PHILLIPS e RAINBOW, 1994). A biodisponibilidade de um elemento qumico a medida do potencial que o mesmo tem para ser absorvido pelo seres vivos, estando diretamente relacionada com a forma qumica deste composto no meio ambiente (BURATINI e BRANDELLI, 2006). Moluscos bivalves tm sido amplamente utilizados como bioindicadores de poluio por metais txicos por concentrarem estes elementos nos seus tecidos, alm de reunirem as caractersticas de um bom monitor biolgico. Estes moluscos so ssseis, filtradores, de fcil coleta, possuem vasta distribuio, esto presentes ao longo de todo o ano e respondem rapidamente s variaes das concentraes de metais biodisponveis no meio (GALVO et al. , 2009). A regio do Vale do Ribeira foi palco de intensa atividade de minerao, tendo sido explotadas nove minas, cujo foco de interesse principal era a obteno de chumbo (Pb), e subsidiariamente, prata (Ag) e ouro (Ag). As condies de minerao foram quase sempre rudimentares, no havendo controle sobre os impactos ambientais gerados durante sua fase extrativa e de beneficiamento do minrio. Em estudos realizados durante o perodo das atividades de minerao e de beneficiamento do minrio, dcada de 1980 e incio de 1990, foram constatados altos teores de Pb nas guas e sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, em seus afluentes e no sistema estuarino lagunar Iguape-Canania (GUIMARES, 2007).

12

Com o passar dos anos os teores de Pb, diminuram consideravelmente, tanto nos sedimentos ativos de corrente como na coluna dgua, como comprovado pelo mapeamento geoqumico de baixa densidade realizado desde as cabeceiras do Rio Ribeira de Iguape at o municpio de Registro (LOPES JR., 2005). Mesmo tendo ocorrido diminuio nos teores de metais no Rio Ribeira de Iguape, Guimares e Sgolo (2008), constataram que o molusco bivalve da espcie Corbicula fluminea, considerado na literatura nacional e internacional como bom monitor biolgico de sistemas aquticos fluviais, estava assimilando os metais provenientes dos resduos da minerao que foram lanados no rio. Neste contexto, esta pesquisa tem por objetivo, avaliar se outra espcie de bivalve (Anodontites tenebricosus), encontrada na rea de estudo, poder ser empregada como um monitor biolgico da contaminao no Vale do Ribeira. O bivalve lmnico Anodontites tenebricosus uma espcie nativa cujo potencial bioindicador ainda no foi estudado, sendo encontrada no Alto e Mdio Vale do Ribeira.

13

2. OBJETIVOS Este trabalho tem por objetivo principal determinar a biodisponibilidade de alguns metais no Rio Ribeira de Iguape, a partir da anlise do bivalve lmnico Anodontites tenebricosus (Lea, 1834), e avaliar o grau de eficincia desta espcie como indicador biolgico de reas contaminadas. Para atingir esta finalidade foram traados os seguintes objetivos especficos: 1. Determinar se est ocorrendo bioacumulao de metais no molusco bivalve aqui analisado, a partir da comparao das concentraes detectadas em reas no contaminadas pela atividade da minerao com reas que foram contaminadas por tais atividades; 2. Comparar os valores de metais obtidos nos tecidos da espcie Anodontites tenebricosus, com os determinados em outras pesquisas para diferentes bivalves de gua doce; 3. Verificar se esta espcie atende aos pr-requisitos

necessrios para ser empregada como um bioindicador da contaminao por metais.

3. CARACTERIZAO DA REA

3.1 Localizao e acesso A rea de estudo insere-se em parte da bacia hidrogrfica do Rio Ribeira de Iguape, compreendendo os municpios de Cerro Azul (PR), Ribeira (SP) e Iporanga (SP). Esta regio est localizada entre as latitudes 2400S e 2445S e longitudes 4730W e 4930W (Figura 1). O acesso a esta poro da bacia hidrogrfica realizado pela rodovia federal BR-116 (Regis Bittencourt) saindo de So Paulo em direo Curitiba e pelas rodovias estaduais SP-165, SP-222 e SP-250.

14

Figura 1. rea de estudo. Modificado de Moraes (1997).

3.2 Clima O clima da Bacia Hidrogrfica do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul pode ser classificado, de modo geral, como tropical mido com ligeira variao entre as zonas costeiras (Litoral Sul) e o alto da Serra de Paranapiacaba (SMA, 1992). Segundo CETEC (1999), a distribuio espacial e temporal das chuvas de aproximadamente 1.400 mm/ano, em mdia, de tal forma que o trecho mais chuvoso envolve as reas drenadas pelo baixo curso do rio, a jusante de Registro. Os meses mais chuvosos vo de dezembro at maro, sendo janeiro e fevereiro os de maior pluviosidade. Os meses com menor precipitao pluviomtrica ocorrem de abril at agosto, sendo este ltimo o de menor ndice pluviomtrico (GUIMARES, 2007).

15

3.3 Hidrologia A bacia hidrogrfica do rio Ribeira de Iguape situa-se na regio sudeste do Brasil, confrontando-se com as bacias dos rios Tiet ao norte, Paranapanema a oeste, Iguau ao sul e pequenos cursos dgua da vertente atlntica a leste, sendo sua foz no Oceano Atlntico. Apresenta feio semelhante a uma grande ferradura, emoldurada pela Serra do Taquari ao sul, Serra do Itatins ao nordeste e Serra de Paranapiacaba ou do Mar ao nordeste, oeste e sudeste distantes at 20 km da atual linha da costa (MORAES, 1997). Segundo Tessler (2001), 61% da rea total desta bacia encontram-se nos limites do Estado de So Paulo e o restante (39% do total da rea da bacia) no Paran. Esta bacia ocupa uma rea de aproximadamente 28.000 km2 e localiza-se no extremo nordeste do Paran e sudeste de So Paulo. A extenso do rio Ribeira de Iguape de 470 km, entre sua nascente localizada na vertente leste da Serra de Paranapiacaba (Paran) e sua foz no Oceano Atlntico (So Paulo), nas proximidades da cidade de Iguape.

4. REVISO BIBLIOGRFICA

4.1 Qualidade das guas superficiais No Brasil o potencial hdrico superficial representa 12% da gua doce existente no planeta e 58% da Amrica do Sul. Apesar da grande disponibilidade de gua doce no pas, o processo de crescimento desordenado das cidades tem acarretado em perdas na quantidade e na qualidade de nossas guas (TUCCI, 1999). Todas as atividades humanas necessitam de gua para serem realizadas, sendo assim deve-se garantir que as fontes satisfaam as demandas quantitativas e qualitativas para um determinado uso. A importncia do controle da qualidade das guas contempla interesses econmicos e sociais, que vo desde a avaliao para uso em uma determinada atividade, at o controle para a conservao de um ecossistema (TUCCI, 1999).

16

A demanda qualitativa, ou seja, a qualidade que a gua deve apresentar para ser considerada adequada para a utilizao em determinada atividade definida por padres de qualidade, de diversos parmetros fsicos, qumicos e biolgicos, descritos em legislao ambiental e da sade (GODOI, 2008). Os resultados obtidos para os parmetros fsicos e qumicos discriminam a qualidade da gua, por meio da determinao de valores limitantes e/ou do carter txico que estes podem apresentar. O conjunto de variveis que discriminam a qualidade da gua diretamente influenciado pela variao sazonal, sendo o regime de chuvas um dos agentes de maior importncia para rios e crregos. No entanto, em ambientes com forte influncia antrpica, os principais fatores determinantes para as caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas so impactos provocados pelas atividades scio-econmicas das populaes humanas, como a gerao de esgoto domstico; efluentes das atividades industriais, comerciais, de sade pblica, etc. (BAIRD, 1995). No Brasil, os padres de qualidade da gua so estabelecidos pela legislao ambiental e da sade, conforme a classificao descrita pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em sua Resoluo n. 357 de 2005 e pelo Ministrio da Sade (MS) na Portaria n. 518 de 2004 que especifica a condio de potabilidade. A Resoluo n. 357 do CONAMA dispe das diretrizes ambientais que devem ser obedecidas para o enquadramento dos corpos de gua superficiais em cinco classes, que se referem qualidade requerida para os seus usos preponderantes. A Portaria n. 518 estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle da qualidade da gua para consumo humano e seu padro de potabilidade. Em So Paulo, os parmetros e limites a serem obedecidos, tanto para padro de emisso (efluentes lquidos) como para padro de qualidade (corpos hdricos receptores), constam no regulamento da Lei 997, de 31.05.76, do Estado de So Paulo, aprovado pelo Decreto 8.468, de 08.09.76. Esta lei institui o Sistema de Preveno e Controle da Poluio do Meio Ambiente e probe o lanamento ou liberao de poluentes nas guas, no ar ou no solo que os tornem, ou possam tornar imprprios, nocivos ou ofensivos sade; inconvenientes ao bem estar publico; danosos aos materiais, fauna e flora 17

e prejudiciais segurana, ao uso e gozo da propriedade e as atividades normais da comunidade. A Resoluo SMA-3, de 22.02.2000, acrescenta a Lei n. 997/76, determinando que os efluentes lanados no devero causar ou possuir potencial para causar efeitos txicos aos organismos aquticos no corpo receptor, de acordo com as normas que fixam a toxicidade permissvel. H ainda regulamentaes acerca da contaminao de organismos aquticos. A Portaria n. 685 de 1998 da ANVISA legisla sobre a qualidade do peixe e produto da pesca, dentre outros alimentos, definindo valores mximos de tolerncia para contaminantes inorgnicos em alimentos e outros compostos, visando minimizar o risco sade humana.

4.2 Caractersticas gerais dos metais txicos Os metais so uma das formas de contaminao mais preocupantes dos corpos hdricos. Estes elementos constituem parte integrante do ambiente e da matria viva, ocorrendo naturalmente em pequenas concentraes, na ordem de partes por bilho a partes por milho. Entre estes, zinco (Zn), ferro (Fe), mangans (Mn), cobre (Cu), cobalto (Co) e molibdnio (Mo) so alguns que se destacam por serem essenciais aos organismos ainda que em quantidades mnimas, pois participam de processos fisiolgicos, como a cadeia respiratria; outros elementos-trao, como mercrio (Hg), chumbo (Pb) e cdmio (Cd), no tm funo biolgica conhecida e seus efeitos sobre os elementos da biota normalmente so deletrios. Mesmo os que possuem funo biolgica, quando em concentraes mais elevadas, podem causar toxicidade aos organismos (TAVARES e CARVALHO, 1992). Uma das importantes propriedades que distingue os metais txicos dos outros elementos sua tendncia em formar ligaes reversveis com um grande nmero de compostos. A disponibilidade e a natureza de tais compostos em um sistema podem controlar o transporte e o destino dos mesmos. Estes elementos no so biodegradveis e participam do ciclo ecolgico global no qual a gua tem papel principal. Os metais podem ser introduzidos nos sistemas aquticos como o resultado de processos naturais,

18

como intemperismo, eroses e erupes vulcnicas, bem como por meio de uma variedade de atividades praticadas pelo homem BRANDELLI, 2006). A poluio ambiental por metais iniciou-se com a domesticao do fogo: a deposio de elementos liberados durante a queima da lenha alterou os nveis de metais no ambiente das cavernas. Com a descoberta das minas e tcnicas de extrao de metal em tempos antigos, a relao entre metais, poluio por metal e histria humana, foi formada. As minas e o comrcio de fontes minerais tornaram-se caractersticas marcantes da economia e as tcnicas de descoberta de metal alcanaram status como um barmetro do avano tecnolgico de culturas antigas. Durante o Imprio Romano, grandes quantidades de metais txicos, especialmente Pb (80.000 a 100.000 ton.ano1), Cu (15.000 ton.ano-1), Zn (10.000 ton.ano-1), e Hg (> 2 ton.ano-1), foram necessrias para sustentar o alto padro de vida da sociedade (NRIAGU, 1996). Os metais txicos so capazes de reagir com ligantes difusores, com macromolculas e com ligantes presentes em membranas o que, muitas vezes, lhes conferem as propriedades de bioacumulao, biomagnificao na cadeia alimentar, persistncia no ambiente e distrbios nos processos metablicos dos seres vivos. A persistncia garante os efeitos em longo prazo, mesmo depois de interrompidas as emisses (BURATINI e BRANDELLI, 1996). Na bioacumulao os metais so assimilados e retidos pelos organismos. Inclui a absoro a partir de todas as vias de exposio (respirao, nutrio, epiderme) e compartimentos em que os contaminantes estejam presentes no meio aqutico (gua, sedimento, outros organismos). No processo de biomagnificao as concentraes dos metais aumentam progressivamente ao longo da cadeia alimentar, fazendo com que os nveis destes elementos nos organismos aquticos tornem-se altos quando comparados com as concentraes na gua (BAIRD, 1995) Este acmulo e captura de contaminantes pelos organismos, fornecem, portanto, uma oportunidade alternativa de estudo da contaminao do (BURATINI e

19

ambiente aqutico, de forma que os organismos vivos possam ser empregados em programas de monitoramento ambiental, ao invs do estudo de tais substncias na gua ou sedimento (PHILLIPS e RAINBOW, 1994).

4.3 Biomonitoramento A utilizao de organismos em programas de monitoramento ambiental data da dcada de 1960 e foi primeiramente investigada por Folsom e colaboradores, na tentativa de quantificar a contaminao das guas da Califrnia por radionucldeos. No final da dcada de 1960 e incio dos anos 1970, outros pesquisadores iniciaram estudos sobre a possibilidade do emprego de organismos para monitorar contaminantes conservativos em ecossistemas aquticos. Brooks e Rumsby (1965) estudaram o acmulo de metais em trs espcies de bivalves marinhos na Nova Zelndia. Bedford et al. (1968) utilizaram os bivalves Lampsilis siliquoidea e L. ventricosa para monitorar pesticidas no Rio Cedar, em Michigan (EUA). Butler (1971) liderou um programa nacional nos EUA, usando moluscos bivalves para monitorar pesticidas em esturios. O uso de biomonitores para quantificar o grau de contaminao dos ambientes aquticos obteve vantagens prticas e tericas sobre as anlises de guas e sedimentos em programas de monitoramento. Por sua considervel capacidade de acmulo de contaminantes, a maioria dos biomonitores exibe concentraes que permitem medidas relativamente simples, comparadas com as tcnicas necessrias para anlises de gua. Segundo Phillips (1980) as caractersticas essenciais para um bom monitor biolgico so: - biomonitores devem ser ssseis ou sedentrios para serem representativos de uma rea de estudo; - devem ser abundantes na rea de estudo, fceis de identificar e de coletar e, devem ser grandes para fornecer tecido suficiente para anlises do contaminante de interesse;

20

- devem ser resistentes, tolerando ampla variao de concentrao de contaminantes e de variaes fsico-qumicas; devem ser bons acumuladores de metais trao relevantes,

apresentando uma correlao simples entre a concentrao do metal encontrada no tecido do biomonitor e a mdia ambiental da concentrao do metal biodisponvel. Esta correlao deve ser a mesma em todos os locais de estudo.

4.4 Bioacumulao de metais em moluscos bivalves Em 1975, os bivalves foram apontados como possveis biomonitores para o programa internacional de monitoramento de poluentes no ambiente marinho: o Mussel Watch, da Agncia Americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Em 2004, o Programa de meio ambiente das Naes Unidas (UNEP), tambm recomendou o emprego de bivalves para o mesmo fim. Algumas caractersticas fazem dos moluscos bivalves animais

interessantes para avaliar as concentraes ambientais dos contaminantes: so ssseis, o que no lhes permite escapar da poluio se deslocando para outras reas; possuem tempo de vida relativamente longo, o que permite estudos de largo prazo; ampla distribuio geogrfica, o que facilita a intercomparao dos dados obtidos de regies diferentes; aparecem frequentemente em alta densidade e so de fcil coleta; acumulam concentraes de contaminantes em seus tecidos acima do encontrado na fonte de contaminao, sem que apresentem efeitos txicos; etc. Mas o hbito alimentar destes animais que os torna suscetveis incorporao de contaminantes, tanto pelo que o animal ingere, como pela frao solvel na gua (GALVO et al., 2009). Os bivalves evoluram a partir da colonizao dos depsitos de areia do sublitoral no perodo Pr- Cambriano. Dois eventos evolutivos tiveram grande destaque neste momento: a perda da cabea e da estrutura ceflica (tentculos, olhos, massa bucal, e rdula) e o ligamento da concha com o

21

manto. Este ltimo foi essencial para a proteo lateral do tecido mole contra as substncias txicas e tambm, contra a abraso causada pela

movimentao dos indivduos pelo substrato. Assim, estes animais puderam manter-se parcialmente enterrados em um substrato no consolidado, enquanto se alimentavam da matria orgnica contida na camada superficial do mesmo. Este aspecto muito importante, pois revela o contato direto entre os bivalves e o meio externo, o sedimento. Este compartimento abitico (sedimento) reconhecido como estoque e fonte de contaminantes para o ambiente (FSTNER, 1983). O bivalve primitivo, assim como seu ancestral, era consumidor seletivo do material depositado no sedimento, coletando as partculas do substrato atravs dos tentculos palpares. Por isso, esta estratgia de captar alimento constitui uma via de exposio direta s substncias txicas associadas ao substrato (sedimento) (PURCHON, 1968). As brnquias no seu estado mais primitivo tinham funo respiratria, e minoritariamente alimentar. A caracterstica mais marcante na evoluo dos bivalves a modificao da estrutura deste rgo, o que permitiu o desempenho de outras funes. A brnquia dos moluscos consiste de um septo mediano com lamelas triangulares e so denominadas ctendios. Quatro importantes modificaes nesta estrutura devem ser mencionadas: 1) Alongamento dos filamentos branquiais, o que reduziu sua rea superficial, permitindo assim que uma alta densidade de partculas na corrente ventilatria no levasse as lamelas branquiais colmatao; 2) Aumento do nmero de filamentos branquiais, at que estes se estendessem para a poro anterior do animal, encostando-se ao palpo labial; 3) Dobramento dos filamentos branquiais em forma de U, ocupando uma posio lateral no corpo; 4) Os clios que se dedicavam limpeza das brnquias passam a transportar as partculas aderidas pelo muco na superfcie branquial, para o palpo labial e boca. medida que o novo sistema branquial se desenvolve, a corrente ventilatria passa a filtrar partculas em suspenso, incorporando-as como alimento. Mais uma vez, chamamos a ateno para o fato de que a fonte de alimento destes animais reconhecida como substrato de adsoro para os contaminantes. Por 22

isso, o material particulado em suspenso na coluna dgua (MPS), definido como a frao de slidos maior que 0,45 mm, atua como uma via de transferncia de compostos txicos para a biota (PURCHON, 1968). O plano corporal dos bivalves filtradores observado atualmente lhes permite no s capturar seu alimento na coluna dgua, como tambm manipul-lo. A seleo de partculas se d em diferentes rgos (ctendio, palpo labial e estmago), podendo ser feita pr ou ps-ingesto, passiva ou ativamente. Com o propsito de otimizar a aquisio energtica, a seleo feita no apenas mecanicamente (tamanho das partculas), mas tambm por critrios bioqumicos e de palatabilidade. Pode-se resumir que a reteno de partculas alimentares decorrente de trs mecanismos que ocorrem paralelamente: reteno preferencial pelo ctendeo, triagem no ctendeo e/ou palpo labial e rejeio de partculas via pseudofezes (WARD et al., 1998). Os espaos existentes na lamela branquial por onde o alimento filtrado (stio) varia de dimetro entre os bivalves. Com isso, o tamanho da partcula um fator importante na etapa de reteno, levando explorao de nichos alimentares distintos. Isto deve ser considerado no entendimento da incorporao de contaminantes via alimentao, para cada espcie de bivalve. Um exemplo deste fato o trabalho que relaciona uma maior concentrao de mercrio orgnico em uma espcie de bivalve que se alimenta

preferencialmente de zooplncton, em relao outra que capta fitoplncton (KEHRIG et al., 2001) Os bivalves filtradores podem acumular contaminantes nos seus tecidos em concentraes de 1.000 a 10.000 vezes superior s verificadas na fonte de exposio. Desta forma, os bivalves filtradores so mais expostos a agentes txicos presentes no meio que outras espcies. Assim, a adoo destes animais como um modelo biolgico para se estimar a exposio da biota a contaminantes, pode ser qualificada como uma opo mais conservadora para o monitoramento ambiental (TORO et al., 2003). Dentre as substncias presentes no ambiente que podem causar efeito txico aos organismos, destacam-se os elementos da classe dos metais. Isto

23

porque so elementos constituintes da crosta terrestre e as formas de vida coevoluram com estes elementos. As concentraes basais de metais na crosta terrestre so variveis. O que pode ser representado pelos casos extremos de elementos pouco abundantes como o Cd (0,02 mg.g-1), e os mais freqentes como o Mn (600 mg.g-1). Porm, as atividades de origem antrpica tm mobilizado estes elementos em proporo igual ou maior que a ao erosiva (SALOMONS e FORSTNER, 1984). Os metais essenciais (micronutrientes), constitutivos de protenas e enzimas como o Zn (carbopeptidase A e B e anidrase carbnica), so bioacumulados em concentraes extremamente altas (80.000 mg.g-1) em tecidos de ostra, sem que o organismo indique sinal de toxicidade aparente. J para os metais sem funo biolgica conhecida, como o Cd, as elevadas concentraes encontradas esto em trs ordens de grandeza abaixo da observada para Zn (30 mg.g-1) (REBELO et al., 2003). A formao de grnulos mineralizados no espao extracelular e intracelular (lmina basal e lisossomos), e a complexao com

metaloprotenas, constitui uma estratgia para a estocagem e/ou detoxificao de metais por bivalves. No caso de estocagem, entende-se que o organismo faa um investimento metablico para regular a concentrao de alguns metais (regulveis), conforme a sua demanda metablica de um dado elemento, e a sua biodisponibilidade no ambiente. Uma vez que o metal se acumula nos tecidos do organismo, esta concentrao expressa uma medida integrada do tempo ao qual o animal ficou efetivamente exposto ao elemento. Determinar as concentraes dos contaminantes na biota significa monitorar os nveis da frao biodisponvel destes nos ecossistemas (MARIGOMEZ et al., 2002). A distribuio dos metais nos tecidos de bivalves resulta em uma diferena nas concentraes observadas em cada rgo. Os nveis destes contaminantes tambm variam de elemento para elemento, ou mesmo entre indivduos de uma mesma espcie. Uma vez incorporados aos tecidos dos bivalves, os metais so transportados pelo seu interior para suprir o requerimento dos diferentes tecidos. A hemolinfa o meio pelo qual esses

24

elementos

so

carreados

pelo

corpo

do

animal.

Os

metais

esto

principalmente associados s protenas citoslicas e dentro de lisossomos dos hemcitos, mas tambm podem estar diludos na hemolinfa. A concentrao de metal observada em uma amostra de hemolinfa pode apresentar correlao significativa e positiva com a da brnquia e a do hepatopncreas, porm em valores 10 a 20 vezes inferiores. O aumento no nmero total de hemcitos, bem como a mudana nas propores dos tipos celulares (granulcitos e hialinos), j foi relacionado com o efeito exposio por metal em bivalves (DEPLEDGE e RAINBOW, 1990). A concha pode servir como um depsito de metais na forma de gros amorfos, atingindo concentraes superiores a trs ordens de grandeza encontrada no meio aquoso, o que potencializa sua aplicao na

biomonitorao ambiental. Apesar de ser pouco utilizada em estudos da dinmica de metais no ambiente, a concha apresenta algumas vantagens com relao aos tecidos moles dos bivalves: integra as concentraes ambientais dos elementos, uma vez que so depositados nas linhas de crescimento da concha ao longo da vida do animal; quando incorporados a este tecido, os metais so dificilmente mobilizados novamente, o que reduz a variabilidade de suas concentraes; e as amostras so mais facilmente preservadas e estocadas (BELLOTTO e MIEKELEY, 2007). H mais de trinta anos j se tem registro da transferncia de metais de outros tecidos para o bisso, o que caracteriza este tecido como uma via de excreo destes elementos nos bivalves. Constitudo de componentes proticos (colgeno), resduos de glicina e prolina, o bisso tambm apresenta stios de ligao em sua superfcie para metais presentes na gua, o que tambm possibilita a incorporao destes elementos. Estes aspectos nos auxiliam a interpretar as maiores concentraes de metais (Fe, Cu e Zn) encontradas no bisso em relao aos demais tecidos. Apesar de ser um ponto de acmulo dos metais, o bisso, como a concha, tem sido alvo de poucos estudos com propsitos de monitoramento ambiental (KDAR et al., 2006).

25

O manto um tecido conjuntivo ligado por um epitlio. A superfcie interior composta por colgeno, clulas ciliadas, e clulas secretoras de muco (muccitos), que so dedicadas ao acmulo e transporte dos rejeitos da cavidade do manto. O muco participa na captao de alimento, sendo tambm uma via de incorporao de metais. A determinao das concentraes destes elementos por microanlise de raios-X em microscopia eletrnica nos grnulos extracelulares potencializa o uso da bipsia do manto como amostragem no destrutiva das populaes de bivalves para monitorao ambiental (COAN et al., 2000). Assim como o manto, as brnquias esto em contato direto com os metais presentes no meio circundante, sendo a principal interface para a incorporao destes elementos dissolvidos na gua. Este processo facilitado pelo muco presente na superfcie do tecido, que concentra o metal e favorece a incorporao por gradiente de difuso. Ao serem incorporados, os metais so ligados metalotionena, inseridos em lisossomos e liberados para a hemolinfa e os hemcitos circulantes. Estas caractersticas fazem deste tecido um alvo para se avaliar a bioconcentrao relacionada exposio recente (aguda) (CHOI et al. , 2007). O tecido que mais se tem focado para estimar o impacto ambiental o divertculo digestivo (ou glndula digestiva). Enquanto as brnquias refletem exposies recentes (agudas), a glndula digestiva integra um tempo maior de exposio, sendo assim o mais recomendvel para o biomonitoramento ambiental. O msculo tambm um tecido de estocagem de metais, porm em menores propores. Este tecido ganha mais relevncia em estudos toxicolgicos, uma vez que o msculo a parte comestvel de moluscos bivalves como o Nodipecten nodosus, podendo ser um vetor de transferncia de contaminantes para os humanos (SOTO et al. , 1997). Vias bioqumicas e moleculares viabilizam a distribuio e a

compartimentao de metais incorporados pelos organismos. Diversos parmetros tm sido adotados como biomarcadores para a exposio de bivalves aos metais em ambientes aquticos. Como biomarcadores de

26

exposio, podemos citar: expresso de metalotionena (MT) e de protenas de estresse (heat shock protein). No Brasil algumas enzimas tm sido empregadas para se caracterizar a resposta bioqumica de bivalves no biomonitoramento. Quantificar a expresso de genes relacionados com o sistema de detoxificao de metais em bivalves, como o da MT, mais uma ferramenta de que a toxicologia ambiental dispe para rastrear estes contaminantes no ambiente. Com esta possvel caracterizar a exposio biolgica aos metais, em um tempo mais curto que o necessrio para se observar a bioacumulao destes elementos no organismo. Para este propsito, j se tem sequenciado um fragmento do cido ribonucleico mensageiro (RNAm) de MT da chamada ostra do mangue, ou nativa, Crassostrea rizhophorae (REBELO et al. , 2003).

4.4.1 Molusco Bivalve - Anodontites Os bivalves de gua doce esto representados no Brasil, principalmente, por trs famlias: Mycetopodidae e Hyriidae (ordem Unionoida) e Sphaeriidae (ordem Veneroida). Outra famlia, Corbiculidae (ordem Veneroida),

representada pela espcie asitica Corbicula fluminea, vem, nos ltimos anos, povoando de forma assustadora os principais mananciais da regio Centro-Sul brasileira (AVELAR, 2008). De acordo com Mansur e Pereira (2006), o bivalve encontrado no Rio Ribeira de Iguape, pertence famlia Mycetopodidae e ao gnero Anodontites. A espcie Anodontites tenebricosus (Lea, 1834), difere das outras espcies, principalmente por sua forma elptica-reniforme (MANSUR e PEREIRA, 2006). Esta espcie foi encontrada no Brasil, no Rio Grande do Sul e no Rio Uruguai em Urugaiana. Segundo Castellanos e Landoni (1990) esta espcie muito comum na bacia do Rio Uruguai, sendo encontrada em fundo arenoso e muito pedregoso, de guas bastante velozes e claras. O potencial bioindicador da espcie Anodontites tenebricosus ainda no foi reportado. Algumas pesquisas desenvolvidas no Brasil (ROMA, 1991;

27

LOPES et al., 1992; AVELAR et. al., 2003; TOMAZELLI, 2003) analisaram o potencial bioindicador do grupo Anodontites - espcie Anodontites trapesialis.

4.5 Vale do Ribeira O Alto Vale do Ribeira foi palco de intensa atividade de minerao e refino de metais entre 1945 e 1995, quando a empresa Plumbum e as ltimas minas de Pb fecharam, deixando para trs importante passivo ambiental. Essa regio abrigou vrias minas de Pb, Zn e Ag, que estiveram em operao durante longos perodos do sculo passado. O Vale do Ribeira conhecido como uma regio com baixos indicadores de renda e desenvolvimento humano em um total de 32 municpios onde residem, aproximadamente, 500.000 habitantes. A regio tem atrado a ateno de muitos pesquisadores por hospedar parte significativa dos remanescentes da Mata Atlntica, pelo fato do Rio Ribeira de Iguape e seus afluentes constiturem um importante reservatrio de gua doce, meia distncia das metrpoles de Curitiba e So Paulo, e tambm pela beleza natural de suas paisagens e pelo patrimnio cultural, representado por suas comunidades ribeirinhas e litorneas (MORAES, 1997). Vrios estudos realizados a partir da dcada de 1980 comprovaram inequivocamente que a bacia do Ribeira foi muito afetada pelas atividades econmicas levadas a efeito na regio, em especial, pela atividade de minerao do Alto Vale (e.g. EYSINK et al., 1990; MORAES, 1997; TESSLER, 2001; LOPES Jr., 2005; GUIMARES, 2007). Esses efeitos tornaram-se visveis na contaminao dos sedimentos fluviais por Pb, Zn, Cu, As, entre outros, como comprovados em vrios estudos.

5. MATERIAIS E MTODOS

5.1 Metodologia de coleta Para realizao deste estudo foram coletadas e analisadas amostras do bivalve lmnico Anodontites tenebricosus (Figura 2), na Bacia do Rio Ribeira de Iguape. Esta espcie pertence famlia Mycetopodidae e caracteriza-se pela

28

forma elptica-reniforme (altura 2,8 cm, comprimento 7 cm); borda dorsal arqueada e a ventral deflexionada; regio anterior mais baixa e afilada, a posterior mais alta levemente truncada junto regio dorsal e arredondada em direo a regio ventral; concha pouco slida, umbos baixos; peristraco verde-escuro, fosco e geralmente desgastado; ncar muito escuro, de cor cinza-esverdeado, com manchas marrom e pouco iridescente.

A

B

Figura 2. Indivduos de Anodontites tenebricosus utilizados como monitor biolgico da contaminao no Rio Ribeira de Iguape. concha. B. Vista do tecido mole. Os indivduos de A. tenebricosus foram coletados em cinco pontos ao longo do rio (Figura 3), sendo o ponto CR localizado a montante da poro contaminada pela atividade de minerao (amostra de referncia rea controle), os pontos IR e PT apresentando influncia das atividades de minerao e do beneficiamento realizados na mina do Rocha e os pontos IP e SI com influncia de toda atividade de minerao realizada no Vale do Ribeira. A amostragem foi realizada manualmente atravs do exame ttil do sedimento de fundo, durante o perodo climtico de baixa pluviosidade (agosto e setembro de 2009), sendo coletados cinco indivduos por ponto de amostragem, exceto para o ponto SI onde foi possvel amostras um nico exemplar. Os indivduos coletados foram acondicionados em sacos plsticos A. Vista externa da

29

fechados a vcuo. As amostras foram armazenadas em caixa de isopor com gelo, e no laboratrio foram congeladas at o momento das anlises.

Figura 3. Representao esquemtica dos locais de coleta de indivduos de Anodontites tenebricosus. Os bivalves foram coletados em diferentes pontos ao longo do Rio Ribeira de Iguape, sendo o ponto CR localizado a montante da poro contaminada pela atividade de minerao, os pontos IR e PT apresentando influncia das atividades de minerao e do beneficiamento realizados na mina do Rocha e os pontos IP e SI com influncia de toda atividade de minerao realizada no Vale do Ribeira.

5.2 Preparao das amostras As amostras foram inicialmente descongeladas temperatura ambiente e pesadas. A parte mole (tecido) foi retirada com auxlio de uma esptula de teflon, lavada com gua bidestilada, seca parcialmente em papel de filtro, pesada e congelada at a data da anlise, conforme metodologia empregada em Tomazelli (2003). Antes de serem analisadas, as amostras congeladas foram liofilizadas (Figura 4) e pesadas, sendo a seguir maceradas em almofariz de gata, assegurando a homogeneizao do p (Figura 5). Assim obteve-se

30

um homogeneizado do pool de organismos coletados em cada ponto, do qual foram extradas trs amostras.

Figura 4. Amostras de tecido de Anodontites tenebricosus coletados no Rio Ribeira de Iguape em processo de liofilizao.

A

B

Figura 5. A. Tecido liofilizado um indivduo de Anodontites tenebricosus coletado no Rio Ribeira de Iguape. B. Tecido macerado e homogeneizado em almofariz de gata aps liofilizao.

5.3 Digesto cida das amostras Na preparao prvia das amostras para posterior determinao analtica utilizou-se o mtodo da digesto cida em sistema de microondas.

31

Primeiramente, pesou-se aproximadamente 200 mg de tecido liofilizado ao qual adicionou-se, em frasco de teflon prprio para microondas, 3 mL de cido ntrico (Suprapur Merck) e 2 mL de perxido de hidrognio (Suprapur Merck), a seguir realizou-se a pr-digesto overnight em temperatura ambiente. Aps a pr-digesto overnight, adicionou-se 3 mL de gua ultra-pura (Milli-Q), o frasco de teflon foi selado e a amostra foi digerida em forno de microondas (Figura 6). Os frascos de teflon empregados na digesto da amostra foram descontaminados aps a realizao de cada ataque qumico.

Figura 6. Amostras de tecido de Anodontites tenebricosus coletados no Rio Ribeira e Iguape em processo de digesto cida em sistema de microondas.

5.4 Procedimento analtico Na deteco dos metais, s foi possvel verificar uma nica amostra por ponto, no sendo possvel trabalhar com as trs replicas por ponto de amostragem. A determinao quantitativa dos metais (Pb, Cd e Cr) foi realizada em Espectrmetro de Massa de Dupla Focalizao com Fonte de Plasma Acoplado Indutivamente (HR-ICPMS); Element 1 com a geometria reversa marca Finnigan MAT (Bremen Alemanha), no Laboratrio de Caracterizao Qumica (LCQ) do Instituto de Pesquisa Energtica (IPEN). A exatido e 32

repetitividade do mtodo foram avaliadas atravs do material de referncia certificado pelo NIST SRM1566a (Oyster Tissue). Para avaliao do processo de digesto foram utilizados brancos de digesto, visando verificar possveis contaminaes provenientes deste processo. A deteco de Zn e Cu foi realizada por Espectrometria de Absoro Atmica (AAS) modelo AA220-FS - fabricado pela Varian, no Laboratrio de Caracterizao Qumica (LCQ) do Instituto de Pesquisa Energtica (IPEN).

6. RESULTADOS E DISCUSSO Nos tecidos moles (base seca) de A. tenebricosus foram detectados os seguintes metais: Cd, Pb, Cr, Zn e Cu, conforme a tabela 1. Os valores mdios dos metais determinados nesta espcie foram: 1,00 g/g de Cd; 4,40 g/g de Pb; 14,79 g/g de Cr; 152,89 g/g de Zn e 10,82 g/g de Cu.

Tabela 1. Concentraes de metais detectados na base seca dos tecidos moles de amostras de A. tenebricosus coletadas em diferentes pontos ao longo do rio Ribeira de Iguape. A anlise foi realizada em ICP/MS e AAS.

Amostras

Cd g/g

Pb g/g 1,29 0,23 3,68 0,60 2,90 0,42 3,80 0,57 10,32 2,06

Cr g/g 11,26 1,10 18,26 3,10 26,59 5,32 9,33 1,69 8,50 1,09 -

Zn g/g 90,09 4,87 136,20 14,00 211,67 42,33 163,54 17,43 162,96 23,42 50

Cu g/g 12,59 0,14 12,29 0,31 11,00 0,87 8,44 0,10 9,78 0,31 30

CR (REA 0,45 0,09 CONTROLE) IR PT IP SI 0,71 0,16 1,69 0,34 1,05 0,29 1,09 0,30

VMP* 1,0 2,0 ANVISA VMP* Decreto 55.871/65-GP *VMP: valor mximo permitido

33

O aumento de Pb detectado na base seca (tecido mole) da espcie A. tenebricosus foi gradual ao longo do Rio Ribeira de Iguape (exceto para o ponto PT), como observado na tabela 1 e na figura 7. As concentraes mais elevadas de Pb foram determinadas para as amostras coletadas na poro mais comprometida do rio (pontos IP e SI, localizados em Iporanga), a jusante das atividades de minerao, nos locais com influncia direta de todas as minas e usinas de beneficiamento do Vale do Ribeira. Segundo Guimares (2007), os sedimentos (aluvionares, em suspenso e de corrente) coletados nesta poro do rio (Iporanga), tambm exibiram concentraes de Pb maiores que o restante do rio.Distribuio da concentrao de Pb nos tecidos de A. tenebricosus 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 CR IR PT IP SI Locais de coleta ao longo do rio Pb g/g

Figura 7. Distribuio de Pb nos tecidos de Anodontites tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape.

As concentraes de Pb determinadas para a espcie A. tenebricosus ultrapassaram os limites mximos de tolerncia para contaminantes

inorgnicos em peixes e produtos de pesca estabelecidos pela legislao brasileira (Portaria 658/98 da ANVISA), para todos os pontos de amostragem, com exceo do ponto correspondente ao controle (CR), conforme observado

Concentraes (g/g)

34

na figura 8. O padro de referncia definido pela portaria da ANVISA, equivalente a 2,0 g/g para este metal, foi empregado como indicativo de possvel contaminao. No entanto, h certa restrio quanto ao uso deste limite em face do mesmo ser empregado genericamente e no especificamente para os bivalves, existindo variabilidade das condies fisiolgicas dos organismos e dos parmetros fsico-qumicos do ambiente. Ainda, vale ressaltar, que o padro referncia da ANVISA indica somente o risco de consumo, no sendo parmetro para indicar a poluio.

Figura 8. Comparao entre a concentrao de Pb detectada em Anodontites tenebricosus do rio Ribeira de Iguape e o valor de referncia da ANVISA estabelecido para peixes e produtos de pesca.

As concentraes de Pb obtidas, tambm foram comparadas com os valores do controle (valor de referncia obtido na rea de estudo, a montante das atividades de minerao e beneficiamento, rea sem influncia da contaminao). Os valores de Pb determinados para a espcie A. tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape esto acima dos valores do controle, indicando a ocorrncia de bioacumulo (Figura 9). Os bivalves coletados no ponto SI foram considerados os mais enriquecidos por Pb, ultrapassando em 8

35

vezes o valor do controle e em 5,6 vezes o valor definido pela portaria da ANVISA, comprovando que a poro do rio localizada em Iporanga (pontos SI e IP) , ainda hoje, a mais comprometida por Pb.

Figura 9. Comparao entre a concentrao de Pb detectada em Anodontites tenebricosus do rio Ribeira de Iguape e o valor de referncia local (controle).

O Pb um elemento txico no essencial que se acumula no organismo. Como esse metal afeta virtualmente todos os rgos e sistemas do organismo, os mecanismos de toxicidade propostos envolvem processos bioqumicos fundamentais, que incluem a habilidade do Pb de inibir ou imitar a ao do clcio e de interagir com protenas (TOMAZELLI, 1999). Em humanos, a toxicidade do Pb gera desde efeitos claros, ou clnicos, at efeitos sutis, ou bioqumicos. Estes ltimos envolvem vrios sistemas de rgos e atividades bioqumicas. Tambm, os sistemas gastrointestinal e reprodutivo so alvo da intoxicao pelo Pb. A seriedade do problema de contaminao por Pb na rea de estudo foi demonstrado por Figueiredo et al. (2005), revelando que grande parte da populao local, residente na Vila Mota (vila de operrios que trabalhavam na usina de beneficiamento Plumbum) est contaminada por tal elemento. Para os outros elementos aqui investigados, notam-se variaes de concentraes de uma localidade para outra, no sendo, entretanto, gradual o 36

aumento ou decrscimo destas concentraes (Tabela 1). As concentraes mais elevadas de Cd, Cr e Zn foram encontradas nas amostras coletadas no ponto PT, apenas com influncia das atividades de minerao e

beneficiamento realizadas na mina do Rocha. As maiores concentraes de Cu foram observadas na rea controle. A concentrao mais elevada de Cd para esta espcie de bivalve foi encontrada na amostra coletada no ponto PT (figura 10), influncia s das atividades de minerao e beneficiamento realizadas na mina do Rocha. A concentrao detectada no ponto PT correspondente a 1,69 g/g, estando acima do valor de referncia definido pela Portaria 658/98 da ANVISA (1,00 g/g) e 3,75 vezes acima do valor encontrado na rea controle.

Distribuio da concentrao de Cd nos tecidos de A. tenebricosus 1,80 1,60

Concentraes (g/g)

1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 CR IR PT IP SI Locais de coleta ao longo do rio Cd g/g

Figura 10. Distribuio de Cd nos tecidos de Anodontites tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape.

O Cd, assim como o Pb, ocupa lugar de destaque entre os vrios metais associados a contaminaes do ambiente aqutico e que podem causar problemas de intoxicao ao homem e a outros organismos. Estes elementos

37

so capazes de reagir com molculas ligantes presentes nas membranas celulares o que, muitas vezes, lhes conferem as propriedades de

bioacumulao, biomagnificao na cadeia alimentar, persistncia no ambiente e distrbios nos processos metablicos dos seres vivos. As concentraes de Zn variaram de um ponto de coleta para outro, no sendo gradual o aumento ou decrscimo deste elemento ao longo do rio (Figura 12). O tecido da A. tenebricosus referente ao ponto de amostragem PT, foi o que apresentou maior concentrao de Zn, sendo 2,35 vezes maior que a rea controle. A assinatura qumica do Cd e do Zn no tecido mole de A. tenebricosus semelhante, como pode ser observado nas figuras 10 e 11, tendo maior concentrao no ponto PT e queda de concentrao nos pontos localizados em Iporanga (IP e SI).

Distribuio da concentrao de Zn nos tecidos de A. tenebricosus

250

Concentraes (g/g)

200 150 100 50 0 CR IR PT IP SI Locais de coleta ao longo do rio

Zn g/g

Figura 11. Distribuio de Zn nos tecidos de Anodontites tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape.

As concentraes de Zn detectadas nas amostras de A. tenebricosus coletadas no Rio Ribeira de Iguape encontram-se elevadas quando 38

comparadas com o stio de referncia (Tabela 1). Tal fato, provavelmente, pode estar associado grande quantidade de escrias de minerao lanadas no rio, as quais continham grandes quantidades de Zn que, possivelmente, teriam sido retidas durante o ciclo alimentar dos bivalves. Durante o processo metalrgico para obteno do Pb refinado, era adicionado Zn metlico fundido para separar a Ag, Au e Cu, o que explica sua alta concentrao na escria de fundio. De acordo com Guimares (2007), a concentrao mdia de Zn na escria de 118.004,33 mg/kg. Com relao elevada concentrao de Zn, isto talvez se deva s necessidades metablicas dos bivalves por este metal, uma vez que, nestes organismos, o Zn requerido em grandes concentraes para o seu metabolismo, potencializando, assim, os processos de quelao com subseqente incorporao (ROJAS et al., 2007). O valor mdio de Zn (152,89 g/g) encontrado em A. tenebricosus est muito acima do estabelecido pelo Decreto n 55.871/65-GP, 50 g/g para o Zn em alimentos destinados ao consumo humano. A ingesto do Zn em concentraes acima do limite mximo permitido, determina vrios efeitos txicos como congesto, edemas, nuseas, diarria, clicas, choque e pneumonia; no entanto, a deficincia deste metal pode ocasionar atraso no crescimento (ROJAS et al. , 2007). A concentrao mais elevada de Cu foi observada na amostra de referncia, apresentando tendncia reduo ao longo do rio (Figura 12). A amostra coletada em Iporanga, ponto IP, apresentou a menor concentrao de Cu.

39

Distribuio da concentrao de Cu nos tecidos de A. tenebricosus 14

Concentraes (g/g)

12 10 8 6 4 2 0 CR IR PT IP SI Locais de coleta ao longo do rio Cu g/g

Figura 12. Distribuio de Cu nos tecidos de Anodontites tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape.

Quanto ao Cr, este variou de um ponto de coleta para outro, estando sua concentrao abaixo do valor de referncia local nas amostras IP e SI (Tabela 1 e Figura 12). A maior concentrao de Cr foi observada na amostra PT. Segundo Guimares (2007), o Cr presente nos sedimentos do Rio Ribeira de Iguape de origem geognica, tal fato foi comprovado pelo mapeamento geoqumico realizado por Lopes Jr. (2005), onde a concentrao deste metal em toda bacia elevada. Mesmo sendo de origem natural, a partir das anlises realizadas observa-se que este elemento est sofrendo mobilizao e incorporao pela biota, estando acima dos valores de referncia local para a espcie A. tenebricosus nos pontos de amostragem IR e PT (Figura 13).

40

Distribuio da concentrao de Cr nos tecidos de A. tenebricosus

30Concentraes (g/g)

25 20 15 10 5 0 CR IR PT IP SILocais de coleta ao longo do rio

Cr g/g

Figura 13. Distribuio de Cr nos tecidos de Anodontites tenebricosus ao longo do rio Ribeira de Iguape.

As concentraes dos metais detectadas na espcie aqui investigada, tambm foram comparadas com valores encontrados na literatura por outros pesquisadores, em rios considerados contaminados e no contaminados (Tabela 2).

41

Tabela 2 - Comparao entre as concentraes de metais detectadas em vrias espcies de bivalve de gua doce do mundo.Espcie Anodonta anatina Amblema perplicata Velesunio ambiguus Elliptio complanata Lampsilis ventricosa Corbicula fluminea Lamellidens marginalis Dreissena polymorfa Dreissena polymorfa Amblema plicata Dreissena polymorfa Dreissena polymorfa Hyridella menziesi Elliptio complanata Lampsilis radiata Corbicula fluminea Diplodon chilensis Anodontites trapesialis Anodontites trapesialis Anodontites trapesialis Anodontites trapesialis Anodontites trapesialis Corbicula fluminea Local Rio Tmisa (Inglaterra) Williamson Ditch e Trimble Creek (EUA) Rio Murray (Austrlia) Rio St. Lawrence (Canad) Big River (USA) Rio Shatt al-Arab (Iraque) Rio Cauvery (ndia) Lago Maarseveen (Holanda) Rios Rhine e Meuse (Europa Ocidental) Alto rio Mississipi (EUA) Rios de New York city (EUA) Rio P (Itlia) Rio Waikato (Nova Zelndia) Rio St. Lawrence (Canad) Rio St. Lawrence (Canad) Rio de La Plata (Argentina) Embalse Rapel (Chile) Bacia do rio Piracicaba (Brasil) Bacia do Rio Mogi-Guau (Brasil) Rio Pardo (Brasil) Rio Aguape (Brasil) Rio So Jos dos Dourados (Brasil) Rio Ribeira de Iguape (Brasil) Cd0,4 - 5,9 1,43 7,78 0,35 11,3 11,6 53,1 0,01 17 0,1 6,5 0,5 1,4 0,55 5,89 0,8 3,5 0,21 0,74 0,4 0,51 1,1 0,4 0,77 2,83 0,77 0,16 0,1 2,95 0,16 0,02 0,38 0,09 0,71

Cu21,4 103,3 5,96 14 143 434 2,4 7,9 11 15 8 25 6 13 4,39 16,6 12,63 17,7 5,8 12,7 14,3 11,3 45 18 16,1 120,9 23,52 71,1 25,95 119,2 15,6 93,9 23,99

Cr-

Concentrao (g/g peso seco) Pb Zn9,8 42,5 1,25 2,2 0,46 74,2 0,32 3,2 6,4 12 0,3 1,5 0,1 13 1,03 4,3 3,7 6,5 0,81 14 10,8 6,07 10,78 20,7 15,69 1,41 0,8 - 29 1,12 0,18 3,59 2,03 2,41 403,2 1870 241 388 313 588 85 146 32 79 250 544 74 113 80 170 117 204 94,4 276 198 219 186 313 223 448 197 54 304 579 156 1385 66 - 722 177,21

AutoresManly e George, 1997 Adams et al., 1981 Millington e Walker, 1983 Dermott e Lum, 1986 Czarnezki, 1987 Abaychi e Mustafa, 1988 Hameed e Raj, 1990 Van Hattum et al., 1991 Kraak et al., 1991 Naimo et al., 1992 Secor et al., 1993 Camusso et al. 1994 Hickey et al. 1995 MetCalfe-Smith et al., 1996 MetCalfe Smith et al., 1996 Bilos et al., 1998 Valdovinos et al., 1998 Tomazelli, 1999 Tomazelli, 1999,2003 Tomazelli, 1999,2003 Tomazelli, 1999,2003 Tomazelli, 1999,2003 Guimares, 2007

1,55 5,0 4,8 11 1,5 2,9 25,8 12,2 5,2 2,8 4,23 12,5 3,25 17 0,2 18,6 7,11

Modificado de Tomazelli (1999).

44

As concentraes de Pb observadas em todas as amostras deste estudo foram maiores que as de ambientes no-contaminados, como as relatadas por Czarnezki (1987) em L. ventricosa (0,42 g.g-1) e por Kraak et al. (1991) em Dreissena polymorpha (0,5 g.g-1). Entretanto, tais concentraes no atingiram nveis to elevados quanto os descritos por Manly & George (1977) em Anodonta anatina (at 42,5 g.g-1) coletados em locais contaminados. Os teores de Pb detectados nas amostras de A. tenebricosus coletadas no Rio Ribeira de Iguape encontram-se acima dos valores relatados para outra espcie na prpria rea de estudo, onde Guimares detectou concentrao mdia de 2,41 g/g para esse metal (Tabela 2) nos exemplares de Corbicula fluminea. A maioria das amostras de A. tenebricosus deste estudo apresentou concentraes altas de Cd, acima das relatadas para ambientes no contaminados (Tabela 2). Por exemplo, Secor et al. (1993) detectaram concentraes de Cd da ordem de 0,55 g.g-1 em moluscos do lago Ontario (EUA). No rio Grande (EUA), Czarnezki (1987) encontrou nveis basais da ordem de 0,32 g.g-1 em indivduos de Lampsilis ventricosa. O teor de Cd determinado no Rio Ribeira de Iguape para a A. tenebricosus est acima do valor determinado para o Rio de La Plata (Argentina), considerado como um rio moderadamente poludo. Este teor, tambm est acima do valor mdio detectado no bivalve C. fluminea amostrado no rio Ribeira de Iguape (0,71 g/g). O teor mdio de Cr detectado nos exemplares de A. tenebricosus est acima dos valores mdios determinados no rio Ribeira de Iguape (7,11 g/g) e no rio de La Plata (5,2 g/g). Quanto ao Zn, o teor mdio determinado em A. tebebricosus (152,89 g/g) est acima do valor detectado no rio Ribeira de Iguape para o bivalve C. fluminea (144,21 g/g), tabela 2. Tais comparaes devem ser consideradas apenas como referenciais, uma vez que se tratam de comparaes entre diferentes espcies, as quais podem apresentar diferentes ndices de acmulo dos metais. Considerando que os organismos so importantes monitores dos nveis de metais no ambiente aqutico, uma vez

45

que a biodisponibilidade medida diretamente (Phillips & Rainbow, 1994), pode-se deduzir que existiu alta disponibilidade de Pb, Cd, Cr e Zn aos bivalves do rio Ribeira de Iguape. A biodisponibilidade destes metais txicos medida em A. tenebricosus foi semelhante s concentraes em indivduos do mesmo gnero (A. trapesialis) coletados nos rios Piracicaba e Mogi-Guau (TOMAZELLI, 1999, 2003) que apresentam grandes densidades demogrficas e industrializao, o que gera, consequentemente, maior degradao da qualidade das guas, sendo considerados, rios poludos. Em comparao a estes rios, as concentraes de cobre encontradas no presente estudo foram baixas. Esta comparao entre as concentraes de metais em tecidos de diferentes espcies de bivalves de gua doce foi realizada visando obter dados de concentraes de metais em ambientes contaminados e no contaminados. No entanto, h certa restrio quanto a essa comparao, em face da mesma ser empregada genericamente e no especificamente para a mesma espcie de bivalve, existindo variabilidade das condies fisiolgicas dos organismos e dos parmetros fsico-qumicos do ambiente..

7. CONCLUSO De modo geral, conclui-se que este rio no est sofrendo processo natural de depurao como muitas pesquisas afirmam, e que o mesmo, pelas concentraes de metais detectadas no tecido do bivalve aqui analisado, pode ser comparado com outros ambientes fluviais moderadamente contaminados. Dos metais investigados o Pb o que exibiu valores mais preocupantes, estando acima dos valores da ANVISA em todos os pontos analisados (com exceo rea controle) e apresentando fatores de enriquecimento bastante elevados quando comparados com valores de referncia. O Pb um metal no essencial, sendo que a exposio a esse metal produz diversos efeitos nocivos aos organismos aquticos. A poro prxima ao municpio de Iporanga foi a que exibiu maiores teores de Pb nos tecidos de A. tenebricosus isto ocorreu

46

em decorrncia deste ponto estar sob influncia direta de todas as minas e usinas de beneficiamento do Vale do Ribeira. Foram observadas altas concentraes de Cd, Zn e Cr no ponto mais prximo mina do Rocha, demonstrando a persistncia de metais txicos nesta rea, mesmo aps a desativao da mina. A concentrao de Cd detectada neste ponto est acima do valor de referncia definido pela Portaria 658/98 da ANVISA (1,00 g/g) e as concentraes de Zn e Cr esto muito acima das encontradas no controle. A partir dos resultados obtidos e comparando as caractersticas necessrias para um bom monitor biolgico, conclui-se que o bivalve nativo A. tenebricosus coletado no rio Ribeira de Iguape parcialmente apropriado para ser empregado como indicador da contaminao deste rio. Este bivalve sssil; est filtrando os metais que foram lanados na forma de resduos da minerao durante mais de 40 anos neste rio e acumulando-os em seus tecidos, sendo resistentes a este acmulo; fornecem tecido suficiente para a realizao de anlises de metais; no entanto, no so abundantes na rea de estudo, dificultando a obteno de um grande n amostral, tanto para o nmero de indivduos, quanto para o nmero de pontos de coleta.

47

8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ABAYCHI, J.K. ; MUSTAFA, Y.Z. The asiatic clam corbicula fluminea:an indicator of trace metal pollution in the Shatt al-Arab river, Iraq. Environmental Pollution, v.54, p.109-122, 1988. ADAMS, T.G.; ATCHINSON, G.J.; VETTER, R.J. The use of the three-ridge clam Amblema perplicata to monitor trace metal contamination.

Hydrobiologia, v.83, p.67-72, 1981. AVELAR, W.E.P. TOMAZELLI, A.C.; MARTINELII, L.A.; CAMARGO, P.B.; FOSTIER, A.H. Biomonitoring of Pb and Cd in two impacted watersheds in Southeast Brazil, using the freshwater Mussel Anodontites trapesialis (Bivalvia: Mycetopodidae) as a biological monitor. Brazilian Archives of Biology and Technology, v.46, p. 673-684, 2003. BAIRD, C. Environmental chemistry. New York: W. H. Freman and Company, 1995. BEDFORD, J.W.; ROELOFS, E.W.; ZABIK, M.J. The freshwater mussel as a biological monitor of pesticide concentration in a lotic environment. Limnology and Oceanography, v.13, p.118-126, 1968. BELLOTTO, V.R.; MIEKELEY, N. Trace metals in mussel shells and corresponding soft tissue samples: a validation experiment for the use of Perna perna shells in pollution monitoring. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v.389, p.769-776, 2007. BILOS, E.D.; COLOMBO, J.C.; PRESA, M.J.R. Trace metals in suspended particles, sediments and asiatic clams (Corbicula fluminea) of the rio de La Plata Estuary, Argentina. Environmental Pollution, v.99, p.01-11, 1998. BROOKS, R.R.; RUMSBY, M.G. The biogeochemistryof trace element uptake by some New Zealand bivalves. Limnology and Oceanography, v.10, p.521-527, 1965. BURATINI, S.V.; BRANDELLI, A. Biacumulao. In: ZAGATTO, P.A.; BERTOLETTI, E. (Org.). Ecotoxicologia Aqutica Princpios e Aplicaes.

48

So Carlos: RiMa, 2006. BUTLER, P.A. Monitoring pesticide pollution. BioScience, v.19, p.889-891, 1969. CASSIANO, A. M. Estudo da contaminao por metais na bacia do rio Ribeira de Iguape (SP-PR): estratgias para a remediao da rea de disposio de rejeitos da mina do Rocha. (Tese de Doutorado) Escola de Engenharia de So Carlos. So Carlos: Universidade de So Paulo, 2001. CASTELLANOS, Z.J.A.; LANDONI, N.A. La famlia Mycetopodidae Gray, 1840 em La Republica Argentina. In: RINGUELET (Ed). Fauna de Agua Dulce de La Republica Argentina. Buenos Aires: FECIC, 190. CENTRO TECNOLGICO DA FUNDAO PAULISTA DE TECNOLOGIA E EDUCAO. CETEC. Situao dos recursos hdricos do Ribeira de Iguape e Litoral Sul. So Paulo: CETEC, 1999. CHOI, H.J.; JI, J. ; CHUNG, J.H. ; AHN, I.Y. Cadmium bioaccumulation and detoxication in the gill and disgestive gland of the Anatrctic bivalve Laternula elliptica. Comparative Biochemistry and Physiology, v.147, p.227-235, 2007. COAN, E.V.; VALENTICH-SCOTT, P.; BERNARD, F.R.; SADEGHIAN, P.S. Introduction. In: COAN, E.V.; SCOTT, P.V. (Ed). Bivalve Seashells of Western North America - Marine Bivalve Mollusks from Arctic Alaska to Baja California. Santa Barbara: Santa Barbara Museum of Natural History, 2000. CZARNEZKI, J.M. Use of the pochetbook mussels Lampsilis ventricosa, for monitoring heavy metal pollution in an Ozark Stream. Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology, v.38, p.641-646, 1987. DEPLEDGE, M.H.; RAINBOW, P.S. Models of regulation and accumulation of trace metals in marine invertebrates. Comparative Biochemistry and Physiology, v.97, p.1-7, 1990.

49

DERMOTT, R.M.; LUM, K.R. Metal concentrations in the anual shell layers of the bivalve Elliptio complanata. Environmental Pollution, v.12, p.131-143, 1986. EISINK, G.G.; COIMBRA-MARTINS, M.; VARGAS-BOLDRINI, C. ; NAVASPEREIRA, D. Metais pesados em organismos aquticos do rio Ribeira de Iguape e do complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Canania: avaliao preliminar. In: Simpsio de Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira: Estrutura, Funo e Manejo. guas de Lindia: ACIESP, 1990. FERNANDES, H.M.; BIDONE, E.D. ; VEIGA, L.H.S. ; PATCHINEELAM, S.R. Heavy metal pollution assessment in the coastal lagoons of Jacarepagu, Rio de Janeiro, Brazil. Environmental Pollution, v.85, p.259-264, 1994. FOLSOM, T.R.; YOUNG, D.R.; JOHNSON, J.N.; PILLAI, K.C. Manganese-54 and Zinc-65 in coastal organisms of California. Nature, v.200, p.327-329, 1963. FSTNER, U. Metal transfer between solid and aqueous phases. In: FORSTNER, U.; WITTMANN, G.T.W. (Eds). Metal pollution in the Aquatic Environmental. New York: Springer-Verlag, 1983. GALVO, P.M.A. ; REBELO, M.F. ; GUIMARES, J.R.D. ; TORRES, J.P.M.; MALM, O. Bioacumulao de metais em moluscos bivalves: aspectos evolutivos e ecolgicos a serem considerados para a biomonitorao de ambientes marinhos. Brazilian Journal of Aquatic Science and

Technology, v.13, p.59-66, 2009. GODOI, E.L. crrego Monitoramento de gua superficial densamente poluda o Pirajuara, regio metropolitana de So Paulo, Brasil.

(Dissertao de Mestrado) Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2008. GUIMARES, V. Resduos de minerao e metalurgia: efeitos poluidores em sedimentos e em espcie biomonitora rio Ribeira de Iguape SP. (Tese de doutorado) Instituto de Geocincias. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2007.

50

GUIMARES, V.; SGOLO, J.B. Deteco de contaminantes em espcie bioindicadora (Corbicula fluminea) rio Ribeira de Iguape. Qumica Nova, v.31, p.1696-1698, 2008. HAMEED, P.S.; RAJ, A.I.M. Freshwater mussel, Lamellidens marginalis as an indicator of river pollution. Chemistry and Ecology, v.4, p.57-64, 1990. IMBIMBO, H.R.V. Avaliao da qualidade ambiental, utilizando invertebrados bentnicos, nos rios Atibaia, Atibainha e Cachoeira, SP. (Tese de doutorado) Instituto de Biocincias. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2006. KDAR, E. ; COSTA, V. ; SANTOS, R. S. ; POWELL, J.J. Tissue partitionong of micro-essential metals in the vent bivalve Bathymodiolus azoricus and associated organisms (endosymbiont bacteria and a parasite polychaete) from geochemically distinct vents of the Mid-Atlantic Ridge. Journal of Sea Research, v. 56, p.45-52, 2006. KEHRIG, H.D.A.; COSTA, M.; MOREIRA, I.; MALM, O. Methylmercury and total Mercury in estuarine organisms from Rio de Janeiro, Brazil. Environmental Science and Poluttion Research, v.8, p.275-279, 2001. KRAAK, M.H.S.; SCHOLTEN, M.C.TH; PEETERS, W.H.M. ; KOCK, W.C. Biomonitoring of heavy metals in the Western European rivers Rhine and Meuse using the freshwater mussel Dreissena polymorpha. Environmental Pollution, v.74, p.101-114, 1991. LOPES, Jr.I. Atlas Geoqumico do Vale do Ribeira: geoqumica dos sedimentos ativos de corrente. So Paulo: CPRM, 2005. MACCULLOCK, K.W. Zinc from oyster tissue as causative factor in mouse deaths in official biassay for paralytic shellfish poison. J Assoc. Off. Analytical Chemistry, v. 72, p.84-86, 1989. MANLY, R.; GEORGE, W.O. The occurrence of some heavy metals in populations of the freshwater mussel Anodonta anatine from the river Thames. Environmental Pollution, v.14, p. 139-154, 1977. MANSUR, M.C.D.; PEREIRA, D. Bivalves lmnicos da Bacia do rio do Sinos,

51

Rio Grande do Sul, Brasil (Bivalvia, Unionoidea, Veneroida e Mytiloidea). Revista Brasileira de Zoologia, v.23, p. 1123-1147, 2006. MARIGOMEZ, I.; SOTO, M.; CAJARAVILLE, M. P.; NGULO, E.;

GIAMBERINI, L. Cellular and subcellular distribution of metals in molluscs. Microscopy Research Technology, v.56, p.358-392, 2002. MILLINGTON, P.J.; WALKER, K.F. Australian freshwater mussel Velesunio ambiguous (Philippi) as a biological monitor for zinc, iron and manganese. Australian Journal of Marine and Freshwater Research, v.34, p.873-892, 1983. MORAES, R.P. Transporte de chumbo e metais associados no rio Ribeira de Iguape, So Paulo. (Diseertao de Mestrado) Instituto de Geocincias. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1997. NAIMO, T.J. ; WALLER, D.L. ; HOLLAND-BARTELS, L.E. Heavy metals in the threeridge mussel Amblema plicata plicata in the Upper Mississipi river. Journal of Freshwater Ecology, v.7, p.209-218, 1992. NRIAGU, J.A. A history of global metal pollution. Science. v.272, p.223-224, 1996. PEREIRA, C.D.S. ; ABESSA, A.C.D. ; ZARONI, L.P.; GASPARRO, M.R. ; BICEGO, M.C. ; TANIGUCHI, S. ; FURLEY, T.H. ; SOUSA, E.C. Integrated assessment of multilevel biomarker responses and chemical analysis in Mussels from So Sebastio, So Paulo, Brazil. Environmental Toxicology and Chemistry, v.26, p.462-469, 2007. PHILLIPS, D.J.H. Quantitative aquatic biological indicators: their use to monitor and organochlorine pollution. London: Applied Science Publishers, 1980. PHILLIPS, D.J.H.; RAINBOW, P.S. Biomonitoring of trace aquatic

contaminants. London: Chapman & Hall, 1994. PURCHON, R. D. Feeding methods and evolution in the bivalvia. In: KERKUT, G. A. (Ed). The biology of the Mollusca. London: Pergamon Press, 1968.

52

REBELO, M. F.; PFEIFFER, W. C.; DA SILVA, H. ; MORAES, M. O. Cloning and detection of metallothionein mRNA by RT-PCR in mangrove oysters (Crassostrea rhizophorae). AquaticToxicology, v.64, p.358-362, 2003. ROJAS, M.O.A.I. ; CAVALCANTE, P.R.S.; SOUZA, R.C.; DOURADO, E.C.S. Teores de zinco e cobre em ostra (Crassostea rhizophorae) e sururu (Mytella falcata) do esturio do Rio Bacanga em So Lus (MA). Boletim do Laboratrio de hidrobiologia, v. 20, p. 01-08, 2007. ROMA, F.; LONGO, L.L. Monitoramento de ambientes lticos e bioensaios preliminares para os metais pesados Cd, Cr, Cu, Pb e Zn, utilizando os bivalves lmnicos Rotundis Cincias Anodontites trapesialis Lamark, 1819 e Diplodon e Letras de Ribeiro Preto. Ribeiro Preto:

Universidade de So Paulo, 1991. SALOMONS, W. ; FORSTNER, U. Metals in the Hidrocycle. Berlin: SpringerVergala, 1984. SECOR, C.L. ; MILLS, E.L.; HARSHBARGER, J. ; KUNTZ, H.T. ; GUTENMANN, W.H.; LISK, D.J. Bioaccumulation of toxicants, elemento and nutriente composition, and soft tissue histology of zebra mussels (Dreissena polymorpha)from New York State waters. Chemosphere, v.26, n.8, p.1559-1575, 1993. SECRETARIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE SO PAULO (ESTADO). SMA. Programa de educao ambiental do Vale do Ribeira. Secretaria do Meio Ambiente e Secretaria da Educao, 1992. SOTO, M.; IRELAND, M.P.; MARIGOMEZ, I. The contribution of metal/Shellweight ndex in targettissues to metal body burden in sentinel marine molluscs Mytilus galloprovincialis. Science of the Total Environment, v.198, p.149-160, 1997. TAVARES, T.M.; CARVALHO. F.M. Avaliao de exposio de populaes humanas a metais pesados no ambiente: exemplos do Recncavo Baiano. Qumica Nova, v.15, p.147-154, 1992.

53

TESSLER, M.G. Taxas de sedimentao holocnica na plataforma continental sul do estado de So Paulo. (Tese de Livre-Docncia) Instituto Oceanogrfico. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2001. TOMAZELLI, A.C. Biomonitoramento de metais pesados em duas bacias hidrogrficas do Estado de So Paulo, utilizando como monitor biolgico o bivalve lmnico Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819). (Dissertao de Mestrado) Centro de Energia Nuclear na Agricultura. Piracicaba: Universidade de So Paulo, 1999. TOMAZELLI, A.C. Estudo comparativo das concentraes de cdmio, chumbo e mercrio em seis bacias hidrogrficas do Estado de So Paulo. (Tese de Doutorado) Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto. Ribeiro Preto: Universidade de So Paulo, 2003. TORO, B.; NAVARRO, J. M.; PALMA-FLEMING, H. Relationship between bioenergetics responses and organic pollutants in the giant mussel, Choromytilus chorus (Mollusca: Mytilidae). Aquatic Toxicology, v.63, p.257-269, 2003. TUCCI, C.E.M. gua no meio Ambiente. In: REBOUAS, A.C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J. G. (Ed.) guas doces no Brasil: capital ecolgico, uso e conservao. So Paulo: Escrituras, 1999. VAN HATTUM, B.; TIMMERMANS, K.R.; GOVERS., H.A. Abiotic and biotic factors influencing in the situ trace metal levels in macroinvertebrates in freshwater ecosystems. Environmental Toxicology and Chemistry, v.10, p.275-292, 1991. WARD, J. E.; LEVINTON, J. S.; SHUMWAY, S.E.; CUCCI, T. Particle sorting in bivalves: in vivo determination of the pallial organs of selection. Marine Biology, v.131, p.283-292, 1998.

54