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O ENSINO DE ÁLGEBRA NO SEGUNDO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL GREGSON BARROS DA SILVA MONOGRAFIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA INSTITUTO DE MATEMÁTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 2009

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Tema: O ENSINO DE ÁLGEBRA NO SEGUNDO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

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Page 1: Monografia da Especialização UFRJ

O ENSINO DE ÁLGEBRA NO SEGUNDO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

GREGSON BARROS DA SILVA

MONOGRAFIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA

INSTITUTO DE MATEMÁTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

2009

Page 2: Monografia da Especialização UFRJ
Page 3: Monografia da Especialização UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MATEMÁTICA – IM–UFRJ

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA

1 O ENSINO DE ÁLGEBRA NO SEGUNDO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

2 por

Gregson Barros da Silva

Orientadora: Professora Lúcia Tinoco

Monografia apresentada como requisito para a conclusão do

Curso de Especialização para Professores de Matemática

Rio de Janeiro – RJ

2009

Page 4: Monografia da Especialização UFRJ

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E

ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”

Paulo Freire

Page 5: Monografia da Especialização UFRJ

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, aos meus pais que nunca me negaram

esforços para que eu chegasse aonde cheguei e nas minhas

dificuldades estiveram comigo. Agradeço por terem me

incentivado a terminar meu curso de Especialização e pela

boa vontade de me acompanharem na viagem cansativa de

sexta-feira. Agradeço a professora e Orientadora Lúcia

Tinoco pela atenção e dedicação dada para que eu fizesse

minha monografia.

Page 6: Monografia da Especialização UFRJ

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e a todos os meus alunos e professores que me auxiliaram neste

trabalho.

Page 7: Monografia da Especialização UFRJ

3 SUMÁRIO Página Introdução 1

Capítulo 1 – Objetivos

Capítulo 2 - Concepções e ideias da Álgebra

2

3

Capítulo 3 - O simbolismo e a linguagem algébricos 11

Capítulo 4 - Trabalho de campo 17

Capítulo 5 - Conclusão 26

Referências Bibliográficas 27

Anexo 28

4

Page 8: Monografia da Especialização UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MATEMÀTICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÂO EM ENSINO DE MATEMÁTICA

Monografia submetida à coordenação de curso de Especialização para professores de matemática da

Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos

necessários para a conclusão do curso

Gregson Barros da Silva

Orientadora Lúcia Tinoco

2009

Page 9: Monografia da Especialização UFRJ

Introdução

Nesse trabalho será discutida a necessidade de a Álgebra ser tratada em sala de

aula, como um assunto menos complexo do que usualmente é considerada pelos alunos.

A escolha deste tema foi motivada por inquietações surgidas em minha trajetória

profissional e tem como base ideias referentes à Álgebra e ao Currículo. Pretendo aqui

refletir sobre o papel deste tópico na Matemática escolar e evidenciar possibilidades

pedagógicas para o seu ensino e aprendizagem, com compreensão. Também desejo

examinar a abordagem das diferentes concepções da Álgebra e a contribuição da

integração entre elas para propiciar a desejada significação da atividade algébrica.

Muitas das dificuldades que os alunos encontram na aprendizagem da Álgebra

podem ser resultados do fato de o professor ensinar apenas procedimentos e regras,

limitando a capacidade de esses alunos compreenderem conceitos e procedimentos, que

são de extrema importância para o domínio da Álgebra.

Entretanto, as dificuldades de realizar tarefas algébricas podem ser atenuadas por

meio de práticas e estratégias desenvolvidas pelo professor, sugeridas em textos e

artigos existentes sobre o ensino da Álgebra, analisados neste trabalho.

Com base em tais textos, foi planejado o trabalho de campo, envolvendo alunos

e professores. Uma parte das informações obtidas na pesquisa de campo foram resultado

da análise da produção de alunos na resolução de atividades aplicadas em sala de aula, a

fim de verificar os problemas de aprendizagem em álgebra. Professores também foram

entrevistados para reconhecer os problemas observados por eles no ensino e

aprendizagem da Álgebra em diversos níveis de escolaridade.

Os resultados obtidos evidenciam as dificuldades desses alunos em relação ao

desenvolvimento da linguagem e do pensamento algébrico.

Capítulo 1 – Concepções e ideias da álgebra

Page 10: Monografia da Especialização UFRJ

Encontrar motivos para não gostar de álgebra certamente não é difícil. Na escola,

ela aparece quando os alunos deixam de fazer contas com simples números e passam a

lidar com símbolos, na maioria da vezes, letras como x, y, a e b. É quando as notas

começam a cair e os alunos a reclamar, e citar aquela velha e conhecida frase: “para que

serve isso”? (Álgebra). É verdade que não se pode aprender Álgebra sem uma certa

disciplina e paciência, nem sempre disponíveis, mas, na maioria das vezes, ela é

ensinada de maneira desnecessariamente fria, trabalhosa e chata. No entanto, é disparate

achar que a álgebra não serve para nada.

Hoje em dia, a Álgebra ocupa lugar de destaque no currículo de matemática nas

escolas de ensino fundamental e médio, ocupando um espaço bem maior que o da

Geometria, por exemplo. Representa para muitos alunos tanto a culminação de anos de

estudo de aritmética como o início de mais anos de estudos de outros ramos da

matemática. Poucos contestaram sua importância, embora muitos alunos só tenham

noções superficiais de seu significado e seu alcance.

Em muitas salas de aula, os alunos continuam sendo treinados para armazenar

informações e para desenvolver a competência no desempenho de manipulações

algorítmicas. E, embora níveis adequados de informação e de técnicas sejam resultados

importantes do programa de álgebra, a necessidade maior dos alunos é uma

compreensão sólida dos conceitos algébricos e a capacidade de usar o conhecimento em

situações novas e às vezes inesperadas.

É importante citarmos duas questões fundamentais, relacionadas com a

finalidade do ensino e aprendizagem de Álgebra, propostas em COXFORD e SHULTE

(1994, página 12):

A primeira questão, que envolve o ensino de Álgebra na escola média hoje, diz respeito sobre até que ponto se deve exigir dos alunos capacidade de manejar, por si próprios, diversas técnicas manipulatórias. A segunda questão, relacionada com o currículo de Álgebra, é a do importante papel das funções e do momento de introduzi-las. Geralmente, as funções são tratadas pelos livros do primeiro ano de Álgebra como um tópico relativamente insignificante e só passam a ter importância na álgebra do segundo ano. Contudo, os currículos de algumas escolas elementares introduzem ideias sobre funções já na primeira série, e outros defendem que as funções deveriam ser usadas como veículo principal para a introdução das variáveis e da álgebra.

Devemos observar também que as finalidades da Álgebra são determinadas por, ou relacionam-se com concepções diferentes da Álgebra que correspondem à diferente diferença da importância relativa dada aos diversos usos das variáveis.

Page 11: Monografia da Especialização UFRJ

Passamos a analisar algumas dessas concepções (Ideias da Álgebra, COXFORD, Arthur F. e SHULTE, Alberto P., 1994)

Concepção 1: A Álgebra como Aritmética Generalizada

Nessa concepção, é natural o uso das variáveis como generalizadoras de

modelos. Por exemplo, generaliza-se 4 + 3 . 2 = 3 . 2 + 4 como a + b = b + a. O modelo

2 . 5 = 10

1 . 5 = 5

0 . 5 = 0

é estendido de modo abranger a multiplicação por números negativos (o que, nesta

concepção, muitas vezes é considerado álgebra e não aritmética):

- 1 . 5 = -5

- 2 . 5 = - 10

Generalizam-se essas ideias de modo a tirar propriedades como:

-x . y = -xy (o produto do oposto de um número por outro é igual ao oposto do produto

dos dois números)

Exemplo: Seja x = -2 e y = 3 e xy = -6

-x . y = - (-2) . 3 = 6 = - (-6 ) = - (xy)

Dentro dessa concepção da Álgebra, as instruções para o aluno são traduzir e

generalizar. Trata-se de técnicas importantes, não só para a Álgebra, mas também para

a Aritmética. Numa síntese de aplicações da Aritmética, concluímos que é impossível

estudar Aritmética adequadamente sem lidar implícita ou explicitamente com variáveis.

O que é mais fácil, “O produto de qualquer número por zero é zero”, ou “ Para todo n,

n . 0 = 0”?

A superioridade da linguagem algébrica sobre a linguagem corrente, nas

descrições de relações numéricas, se deve à questão da sintaxe. A descrição algébrica

assemelha-se à descrição numérica; a descrição em linguagem corrente, não.

Historicamente, o avanço da notação algébrica, em 1564 teve efeitos imediatos.

Em cinquenta anos, a geometria analítica foi inventada e levada a uma forma avançada.

Em cem anos surgiu o cálculo. Esse é o poder da Álgebra como Aritmética

generalizadora.

Page 12: Monografia da Especialização UFRJ

Concepção 2: A álgebra como um estudo de procedimentos para resolver certos

tipos de problemas

Consideremos o seguinte problema:

Adicionando 5 ao triplo de um certo número, a soma é 44. Qual é este número?

Traduzindo para a linguagem algébrica:

3x + 5 = 44

Dentro da concepção anterior, isto é, concepção da álgebra como generalização

de modelos, generalizamos relações conhecidas entre números. Sob essa concepção, o

problema terminou, pois já encontramos o modelo geral (3x + 5 = 44). Porém, dentro da

concepção da álgebra como um estudo de procedimentos, iremos resolver a equação

com um procedimento, por exemplo, somemos, -5 a ambos os membros:

3x + 5 + (-5) = 44 + (-5)

Façamos então a simplificação, e temos: 3x = 39.

A seguir resolvemos essa equação de alguma maneira, obtendo x = 13. O “certo

número” no problema é 13 e podemos testar o resultado.

Ao resolver problemas deste tipo, muitos alunos têm dificuldades na passagem

da aritmética para a álgebra. Enquanto a resolução aritmética (“de cabeça”) consiste em

subtrair 5 e dividir por 3, a forma algébrica 3x + 5 envolve a multiplicação por 3 e

adição por 5, as operações inversas. Isto é, para armar a equação, devemos racionar

exatamente a maneira contrária a que empregamos para resolver o problema

aritmeticamente.

Nessa concepção de álgebra, as variáveis são ou incógnitas ou constantes.

Enquanto as instruções no uso de uma variável como generalizadoras de modelos são

traduzir e generalizar, neste caso as instruções são simplificar e resolver. Na verdade,

“simplificar” e “resolver” são, às vezes, dois nomes diferentes para a mesma idéia. Por

exemplo, pedimos aos alunos para resolver | x – 2 | = 5 para obter a resposta x = 7 ou x

= -3, mas poderíamos pedir aos alunos: “Reescreva | x – 2| = 5 sem usar valor absoluto”.

Poderíamos então obter a resposta (x – 2)² = 25, que é uma outra sentença equivalente.

Concepção 3: Álgebra como estudo de relações entre grandezas

Page 13: Monografia da Especialização UFRJ

A diferença desta concepção para a anterior é que nesta as variáveis variam.

O que acontece com o valor de quando x se torna cada vez maior?

A questão parece simples, mas é suficiente para confundir muitos alunos. Não é

pedido o valor de x, logo x não é uma incógnita.

Dentro dessa concepção, uma variável é um argumento (isto é, representa os

valores do domínio de uma função) ou parâmetro (isto é, representa um número do

qual dependem os outros) e pode-se usar como instruções-chave a manipulação e a

justificativa. Só no contexto dessa concepção existem as noções de variável

independente e variável dependente. A notação funcional (como f(x) = 3x + 5) é uma

idéia nova. De fato, o uso de f(x) para denotar uma função é visto por alguns

educadores, como um dos fatores que dificultam a compreensão do conceito.

Concepção 4: A álgebra como estudo da estruturas

O estudo da álgebra nos cursos superiores envolve estruturas como grupos,

anéis, domínios de integridade, corpos e espaços vetoriais. Isso parece ter pouca

semelhança com a álgebra do ensino médio, embora os corpos dos números reais e dos

números complexos e os vários anéis de polinômios fundamentem a teoria da álgebra e

as propriedades dos domínios de integridade e dos grupos expliquem por que certas

equações podem ser resolvidas e outras não. Contudo reconhecemos a álgebra como o

estudo das estruturas pelas propriedades que atribuímos às operações com números reais

e polinômios. Consideraremos o seguinte exemplo:

Fatorar: 3x² + 4ax – 132 a²

A concepção de variável nesse caso não coincide com nenhuma daquelas

discutidas anteriormente. Não se trata de nenhuma função ou relação; a variável não é

um argumento. Não há equação a ser resolvida, de modo que a variável não atua como

uma incógnita. Também não há nenhum modelo aritmético a ser generalizado. A

resposta à questão é (3x + 22a)(x – 6a).

Surge aqui um dilema sutil. Desejamos que os alunos tenham em mente os

referenciais (geralmente números reais) quando utilizam as variáveis. Mas também

desejamos que eles sejam capazes de operar com as variáveis sem ter que voltar sempre

ao nível desse referencial.

Page 14: Monografia da Especialização UFRJ

Em problemas dessa natureza, a variável tornou-se um objeto arbitrário de uma

estrutura estabelecida por certas propriedades. Essa é a visão da variável na álgebra

abstrata.

Muitas críticas têm sido levantadas contra o domínio de um “simbolismo

extremado” nas primeiras experiências com a álgebra. Chamamos isso de manipulação

“cega” quando o condenamos; e de técnica “automática” quando o elogiamos. Em

última análise, todos desejam que os alunos tenham facilidade suficiente com os

símbolos algébricos, para poderem lidar abstratamente com as técnicas adequadas. Mas

a chave da questão é: O que significa “facilidade suficiente”?

Depois desse resumo sobre estas concepções da álgebra, seria uma tolice, definir

a atividade algébrica como somente “cálculo com letras”, ou seja, manipulação de

símbolos, sendo a álgebra muito mais que isso, porém muitas pessoas acham assim. Por

quê? A razão é clara: é o que se ensina nas escolas; é o que vai para o trabalho de casa;

é o que está nos exercícios, nos testes e nas provas; concluindo, é como os professores

de Matemática passam a maior parte do tempo a ensinar os alunos a praticar álgebra.

Com isso, alunos que sabem manipular símbolos obtêm boas classificações.

Também não podemos deixar de comentar dois aspectos (citados em

COXFORD, Arthur F. e SHULTE, Alberto P., 1994, página 3) de grande importância

tanto em relação ao conteúdo, quanto ao ensino e às aplicações da álgebra nas escolas.

Forças sociais

Todas as pessoas ligadas ao ensino direta ou indiretamente, continuam a exigir

prestação de contas da excelência de resultados, o que muitas vezes é interpretado

erroneamente como somente obtenção de notas mais altas nos exames padronizados.

Assim, de um lado há uma necessidade urgente de novos instrumentos de avaliação dos

alunos, que possam avaliar adequadamente os níveis superiores do raciocínio e a sua

capacidade de resolver problemas. De outro, há o perigo permanente de responder às

exigências de notas mais altas, enfraquecendo o processo de avaliação mais ainda ou

“ensinando para o exame (prova e testes)”, enfatizando apenas as habilidades mecânicas

que são fáceis de medir, isto é, avaliar.

A álgebra é vulnerável às consequências dessas decisões. No entanto, a álgebra

muitas vezes é um ponto crítico na decisão tomada pelo aluno de continuar ou não

estudando matemática. A qualidade do ensino dessa matéria pode influir decisivamente

na escolha do aluno. Mais do que isso, os professores com pouca qualificação ou

Page 15: Monografia da Especialização UFRJ

experiência em matemática provavelmente não empreenderão as mudanças curriculares

e do ensino da álgebra necessárias.

Tecnologia da computação

Uma das forças que atuam mais decisivamente nos dias de hoje sobre o currículo

é a tecnologia da computação, envolvendo os computadores e as calculadoras.

Surpreendentemente, talvez, os educadores tendem a aceitar muito mais os

computadores do que as calculadoras. Na verdade, mesmo uma calculadora simples,

destinada a tópicos como cálculo das quatro operações elementares, de logaritmos e de

raízes quadradas, estão sendo quase sempre eliminadas das salas de aula. Apesar disso,

muitos desses educadores, tendo provavelmente a licenciatura em Matemática, e que

podem fazer cálculos aritméticos mais rápida e rigorosamente do que a maior parte das

pessoas, quando fazem o balanço de seu talão de cheques, por exemplo, usam as

calculadoras, quando é realmente importante.

Além disso, quando se fazem os cálculos mais maçantes com uma calculadora,

pode-se tornar os problemas mais reais, complexos e mais interessantes, ligados mais ao

nosso dia a dia. Contudo até mesmo mudanças relativamente pequenas geram

resistências por parte de alguns educadores, que não conseguem imaginar um currículo

desprovido dos tópicos tradicionais e que não se baseiem nos métodos tradicionais de

ensino. Esses educadores tendem a esquecer que no passado, antes do surgimento da

tecnologia do papel e da imprensa, os cálculos eram efetuados mediante a manipulação

de “contadores” físicos, como por exemplo, pedras. A tecnologia do papel e da

imprensa mudou esse quadro. Desenvolveram-se algoritmos que substituíram a

manipulação de objetos pela manipulação de símbolos, capacitando assim as pessoas a

elaborar uma matemática mais complexa, e o que, em última instância, levou a novos

progressos, tanto na matemática como nas matérias afins, especialmente na área da

ciência.

A tecnologia da computação terá implicações naquilo que ensinamos dentro do

currículo da álgebra. De certo modo, os algoritmos terão seu papel diminuído e

realçado: diminuído, quanto à sua memorização com o propósito de produzir resposta,

porém, realçado no que se refere a aprender a planejar e criar algoritmos para execução

pelas pessoas e pelo computador.

Os educadores da área de matemática discutem uma definição das técnicas

matemáticas básicas que se estenda para além dos cálculos fundamentais. Na álgebra,

Page 16: Monografia da Especialização UFRJ

também, deve-se conceber a habilidade algébrica básica como algo que ultrapassa a

pura manipulação de símbolos. Assim, são de importância primordial: a compreensão

de conceitos como de variável e o de função; a representação de fenômenos na forma

algébrica e na forma gráfica; a destreza na apresentação e interpretação de dados,

avaliação e aproximação, e na formulação e resolução de problemas.

O ambiente de aprendizagem sugerido por esses instrumentos tecnológicos tem

pouca semelhança com o da aula de álgebra tradicional, e a história nos ensina que as

mudanças educacionais não ocorrem facilmente.

A matemática na vida real é feita com tecnologia. Muito poucos, ou mesmo

nenhum, matemáticos profissionais e engenheiros fazem manipulações algébricas

complicadas à mão. No mundo de hoje, não ensinar os alunos a utilizar a tecnologia é

prestar-lhes um mau serviço.

As deficiências da álgebra

Umas das maiores deficiências do ensino da matemática, e, em particular da

álgebra, é a pouca ênfase dada ao seu uso cotidiano. Os alunos são expostos a

pouquíssimas situações que ilustrem o processo de estabelecimento de modelos

matemáticos no dia a dia. Tratar de assuntos do cotidiano em classe despertaria nos

alunos um maior interesse, porque esses assuntos, como saúde, economia, política,

esporte, trabalho, alimentação, meteorologia e pesquisas de opinião, dizem respeito à

sua vida, principalmente, quando são apresentados de maneira atraente pelos meios de

comunicação, em tabelas, diagramas, fluxogramas, gráficos. Todos eles podem ser

usados como contextos significativos para aprendizagem dos conceitos e procedimentos

matemáticos neles envolvidos ou com campo de integração com os conteúdos de outras

áreas do currículo. Esse estudo favorece também o desenvolvimento de atitudes críticas

diante das informações divulgadas pela mídia.

Outro problema do ensino e aprendizagem da álgebra seria o

aparecimento tardio da álgebra na escola (por volta do 7º e 8º anos de escolaridade). Se

aos alunos forem proporcionadas experiências variadas envolvendo noções algébricas

de modo informal, já a partir dos anos iniciais, o estudo da álgebra se tornaria mais

interessante para eles, e, com isso, mais efetivo, fazendo com que os alunos

desenvolvam a habilidade de pensar “abstratamente”. Assim, os alunos irão adquirir

base para uma aprendizagem de álgebra mais sólida e rica em significados.O professor

tem a tendência de privilegiar o estudo do cálculo algébrico e das equações, muitas

Page 17: Monografia da Especialização UFRJ

vezes, descolados dos problemas. É mais proveitoso propor situações que levem os

estudantes a construir noções algébricas pela observação de regularidade em tabelas e

gráficos, estabelecendo relações em vez de trabalhar com expressões e equações de

forma meramente mecânica.

Uma outra dificuldade que os alunos têm é a de simplificar expressões como 3a

+ 4 b para 7ab. Esse problema pode ocorrer porque os alunos têm uma dificuldade em

“aceitar a ausência de fechamento”, pois no contexto do estudo de equações, as crianças

consideram o sinal igual ( = ) como símbolo unidirecional que precede uma resposta

numérica..

Muitos alunos parecem ter dificuldades enormes para resolver certos tipos de problemas

algébricos, bastante simples, em particular quando envolvem uma tradução da linguagem escrita

para a linguagem matemática. De acordo com pesquisas realizadas por Clement, Lochhead e

Monk, relatadas no livro “As idéias da álgebra”(p.145), cerca de 37% dos alunos que

resolveram o problema abaixo cometeram erros.

“Escreva uma equação usando as variáveis A e P para representar a seguinte

afirmação: Há seis vezes mais alunos do que professores numa Universidade. Use A

para indicar o número de alunos e P para indicar o número de professores”.

Os alunos que cometeram erro escreveram: PA6 = , trocando a posição das

variáveis.

As causas desses erros estão relacionadas à forte tendência que os alunos têm de

fazer uma associação com a ordem das palavras, da esquerda para a direita, ao

traduzirem “alunos e professores”. Outra causa é que os alunos muitas vezes

confundem variáveis com rótulos. Os símbolos “A” e “P” muitas vezes são

interpretados como rótulos para “alunos” e “professores” em vez de variáveis para

representar “o número de alunos” e o “número de professores”.

Para extirpar essas concepções erradas, muitas vezes um determinado tópico da

matemática e dar-lhes algumas explicações.

Para resolver essa situação, não basta simplesmente dizer aos alunos que eles

compreenderam incorretamente o problema. Seguem-se três passos que podem

contribuir, baseados no problema citado anteriormente.

1) Compreensão qualitativa.

O primeiro passo consiste em explorar a compreensão qualitativa. No exemplo

trabalhado, pergunta-se aos alunos se há mais alunos ou mais professores.

2) Compreensão quantitativa.

Page 18: Monografia da Especialização UFRJ

O segundo passo consiste em explorar a compreensão quantitativa. Para o exemplo

dado, pergunta-se algo como: “Suponha que houvesse 100 professores numa escola.

Quantos alunos haveria?”.

3) Compreensão conceitual.

O terceiro passo consiste em sondar a compreensão conceitual, solicitando a todos

os alunos da classe que escrevam uma equação que represente a relação expressa no

enunciado do problema. Eis algumas das respostas erradas que se pode esperar:

P6A6,P/A6,PA6 ==

Pede-se agora para os alunos que escrevam o que representaram a fim de

verificarem através de substituições. Se a resposta estiver de acordo com a lógica da

situação, então, o problema foi equacionado corretamente.

Capítulo 2 – O simbolismo e a linguagem algébrica

Ao iniciar o 7º ano de escolaridade, os alunos entram em um mundo matemático

completamente avesso a todo o seu conhecimento, que, até então, era mais aritmético.

Agora, envolvida de símbolos, a álgebra vem carregada de técnicas e aplicações, sem

sentido algum para os alunos.

A princípio o aluno não consegue relacionar qualquer significado aos

procedimentos algébricos, buscando apenas memorizar técnicas de resolução ao invés

de ler e entender uma situação proposta. Isso ocorre devido ao excesso de simbologia

Page 19: Monografia da Especialização UFRJ

que é apresentada ao aluno, sem que compreenda a verdadeira ideia representada por

ela.

Segundo Polya (1995, p 101):

(...) “ a linguagem dos símbolos matemáticos ajuda o raciocínio. Auxiliá-lo nessa

experiência constitui uma das mais importantes tarefas do professor.”

O professor deve observar que para haver aprendizagem é necessário que exista

um elo entre o que se quer ensinar e a experiência prévia de quem aprende.

Fey (1990) tenta definir a importância do “sentido do símbolo” com base num

conjunto razoável de objetivos para ensiná-lo que inclui os seguintes temas básicos:

• “Habilidade de explorar – correr os olhos sobre uma expressão algébrica para

fazer estimativas brutas dos padrões que emergirão numa representação

numérica ou gráfica...”

• “Habilidade de fazer comparações conscientes das ordens de magnitude para

funções com leis do tipo n, n², n³, ...., ...”

• “Habilidade de explorar rapidamente uma tabela de valores de uma função ou

um gráfico ou de interpretar verbalmente condições expressas, de identificar a

forma adequada de uma lei algébrica que expresse determinado padrão...”

• “Habilidade de inspecionar operações algébricas e prever a forma do resultado

ou, como na estimativa aritmética, de inspecionar o resultado e julgar a

possibilidade de que tenha sido executada corretamente...”

• “Habilidade de determinar qual entre as várias formas equivalentes pode ser

mais apropriada para responder questões particulares...”

Segundo Arcavi (1995),

“(...) sentido do símbolo deveria incluir além da sua própria função relevante de símbolo e seu uso adequado, a apreciação do seu verdadeiro sentido numa situação e a forma pela qual se dá a comunicação, afim de mostrar relações que a aritmética não consegue. O uso do símbolo deve-se fazer presente quando existir uma necessidade verdadeiramente adequada ou indispensável, pois muitas vezes, a forma aritmética pode ser aplicada àquela situação, mas o vício em algebrizar impede tanto o professor quanto o aluno de pensar de outra forma que não seja algébrica.”

Vejamos o exemplo a seguir:

Para que valores de a, o par de equações:

Page 20: Monografia da Especialização UFRJ

possui: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 ou 8 soluções? (Arcavi, 19995, p.45)

Problemas como este, pela forma em que são apresentados, induzem uma

solução algébrica. Portanto, muitos iniciarão a sua solução utilizando os recursos

algébricos e não percebem que a forma escolhida poderá induzi-los ao erro.

A solução mais elegante para o exemplo dado seria observar um gráfico

cartesiano e subseqüentes considerações geométricas: o número de interseções entre as

duas diagonais do plano cartesiano (dados por , precisamente ) e

uma família de círculos com raio unitário e cujos centros estejam sobre o eixo das

abscissas (dados pela equação .

Em outras palavras, o sentido do símbolo incluiria a sensibilidade para perceber

quando devem ser usados os símbolos e também quando podem ser abandonados.

Além de manipulações algébricas, saber ler através de símbolos também é de

extrema importância. Segundo Whitehead (1911):

“(...) com auxílio do simbolismo, podemos fazer transições no raciocínio quase mecanicamente com os olhos, o que de outra maneira exigiria a atuação das altas faculdades do cérebro. É uma afirmação profundamente errônea, repetida por todos os livros didáticos e por pessoas eminentes quando eles estão fazendo discursos, que deveríamos cultivar o hábito de pensar naquilo que estamos fazendo. É exatamente o caso oposto. A civilização avança ampliando o número de operações importantes que podemos executar sem pensar sobre as mesmas. As operações de pensamento são como investidas da cavalaria numa batalha – elas são estritamente limitadas em número, elas que requerem cavalos descansados, e apenas devem ser feitas em momentos decisivos.”

Por exemplo, enquanto simplificava uma equação linear, uma estudante chegou

ao seguinte: (esse exemplo é contrário à afirmação anterior)

Ao invés de resolver mecanicamente, ela utilizou a leitura simbólica. Observou

que de modo a obter 4x do lado direito da equação a partir de 3x do lado esquerdo,

precisamos adicionar 1x, portanto a quantidade real acrescida (5) deve ser o valor de 1x.

Para resolver situação como esta, o aluno deve ter uma certa maturidade para, ao

se deparar com uma equação, tente ler o significado contido nos símbolos, antes de

executar procedimentos mecânicos. Mas para isso, cabe ao professor estimular o aluno a

ter este tipo de pensamento.

A evolução histórica da álgebra

Page 21: Monografia da Especialização UFRJ

Estranha e intrigante é a origem da palavra “álgebra”. Ela não se sujeita a um

significado claro, como por exemplo, a palavra “aritmética”, que deriva do grego

arithmos (número). Álgebra é uma variante latina da palavra árabe al-jabr, usada no

título de um livro, Hisab al-jabr wal-muqalalah, escrito em Bagdá por volta do ano 825

pelo matemático árabe Mohammed ibn-Musa al Khowarizmi. Este trabalho de álgebra é

frequentemente citado, abreviadamente, como Al-jabr.

Uma tradução literal do título completo do livro é a “ciência da restauração (ou

reunião) e redução”, mas matematicamente seria melhor “ciência da transposição e

cancelamento” – ou, conforme Boher, “a transposição de termos subtraídos para o outro

membro da equação” e “o cancelamento de termos semelhantes (iguais) em membros

opostos da equação”. Assim, dada a equação: 32 x5x244x7x +−=++ al-jabr

fornece 32 x544x7x +=++ e al-muqabalah fornece

32 x5x7x =+ .

Talvez a melhor tradução fosse simplesmente “a ciência das equações”.

Durante a fase antiga (elementar), que abrange o período de 1700 a.C. a 1700 d.C., o

desenvolvimento da notação algébrica evolui ao longo de três estágios: o retórico (ou

verbal), o sincopato (no qual eram usadas abreviações de palavras) e o simbólico. No

último estágio, a notação passou por várias modificações e mudanças, até tornar-se

razoavelmente estável ao tempo de Isaac Newton. É interessante notar que hoje, não há

total uniformidade no uso dos símbolos. Por exemplo, os americanos escrevem

“3,1416” como aproximação de Pi, e muitos europeus escrevem “3,1416”. Como a

álgebra provavelmente se originou na Babilônia, parece apropriado ilustrar o estilo

retórico com um exemplo daquela região. O problema seguinte mostra o relativo grau

de sofisticação da álgebra babilônica. É um exemplo típico de problemas encontrados

em escrita cuneiforme, em tábuas de argila que remontam ao tempo do rei Hammurabi.

A explanação, naturalmente, é feita em português; e usa-se a notação decimal indo

arábica em vez de notação sexagesimal cuneiforme. Eis o exemplo:

(1) Comprimento, largura – Multipliquei o comprimento por largura, obtendo assim

a área 252. Somei o comprimento e largura, obtendo resultado 32. Pede-se:

comprimento e largura.

(2) Dado: 32 soma; 252 área

} )A...(Py.x

kyx

=

=+

Page 22: Monografia da Especialização UFRJ

(3) Resposta: 18 comprimento; 14 largura

(4) Segue-se este método: Tome metade de 32 (que é 16) � 2

k

16 x 16 = 256 �

2

2

k

256 – 252 = 4 �

2

2

k

- P = } )B...(t2

A raiz quadrada de 4 é 2 � tP

2

k2

=−

16 + 2 = 18 (comprimento) �

2

k

+ t = x

16 – 2 = 14 (largura) �

2

2

k

- t = y

(5) Prova: Multipliquei 18 comprimento por 14 largura

18 x 14 = 252 � y.xPt

4

kt

2

kt

2

k 22

==−

=

+

Nota-se que na etapa (1) o problema é formulado, na etapa (2) os dados são

apresentados, na etapa (3) a resposta é dada, na (4) o método de solução é explicado

com números e, finalmente, na (5) a resposta é testada.

A “receita” acima é usada repetidamente em problemas semelhantes e apresenta

significado histórico até hoje.

A álgebra grega, conforme foi formulada pelos pitagóricos e por Euclides, era

geométrica. Por exemplo, o que se escreve como 222 bab2a)ba( ++=+ era

concebido pelos gregos em termos de diagrama apresentado na figura abaixo e era

curiosamente enunciado por Euclides em Elementos, livro II, proposição 4, como:

“Se uma linha reta é dividida em duas partes quaisquer, o quadrado sobre a linha

toda é igual aos quadrados sobre as duas partes, junto com duas vezes o retângulo

contido nas partes” (isto é, 222 bab2a)ba( ++=+ ).

Não há dúvida de que os pitagóricos conheciam bem a álgebra babilônica e, de fato,

seguiam os métodos padrão babilônios de resolução de equações. Euclides deixou

Page 23: Monografia da Especialização UFRJ

registrados esses resultados pitagóricos. Para ilustrá-lo, escolhe-se o teorema

correspondente ao problema babilônico acima.

Séculos mais tarde o matemático

grego Diofanto deu um novo impulso à

álgebra introduzindo o estilo sincopado

de escrever equações ao representar pela primeira vez uma abreviatura especial para a

incóginta. (BAUMGART, Jonh K., 1992, página 31):

Isto é, x³ 2 x8 – x² 5 1.4 = 44 ou 2x³ + 8x – (5x² + 4) = 44

é uma abreviação de (KUBOS, “cubo”)

s é uma abreviação de arithmos, “número”)

é uma combinação de e em (LEIPSIS, “menos")

é uma abreviação de (DUNAMIS, “potência”) M é uma abreviação de (MONADES, “unidades”) A igualdade é expressa por (“é igual a”) e também por para (isos,

“igual”).

Deste período em diante, os matemáticos foram lentamente incorporando letras e

sinais no lugar de abreviaturas, surgindo então, o estágio simbólico. Os exemplos

dados por BAUMGART, pág. 33) mostram os estágios do processo de

aperfeiçoamento e padronização da notação:

Cardano (1545) cubus 6 rebus aequalis 20

x³ + 6x = 20

Viète (1591) I QC – 15 QQ + 85 C – 225 Q + 274 N aequatur 120

- 225

Harriot (1631) aaa – 3bba = 2 ccc

Fig. 1

Page 24: Monografia da Especialização UFRJ

Descartes (1637) x3 – 6xx + 13x – 10

Wallis (1693)

Capítulo 3 –Trabalho de campo

Para o trabalho de campo foram utilizados dois instrumentos: um teste aplicado

a alunos e um questionário respondido por professores.

Realizaram o teste 35 alunos com idade entre 13 e 15 anos do 8º ano do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual Ministro Raul Fernandes e responderam ao

questionário 09 professores de Matemática que lecionam em anos de escolaridade

diversos da própria instituição e de outras.

O Trabalho com os alunos

1ª Parte – Preparação

No início da aplicação dos testes, os alunos desconheciam qualquer noção

algébrica, pois estavam com o conteúdo defasado. Por isso, a aula se iniciou

informalmente, com o seguinte desafio:

Page 25: Monografia da Especialização UFRJ

Na sequência de figuras, os alunos tinham que definir uma lei para a formação

daqueles quadrados. A sequência tinha quatro figuras e os alunos tinham que definir

quantos quadrados havia na 5ª figura, na 6ª figura e na enésima figura. Desta forma, os

alunos já iam usando intuitivamente a noção de função para generalizar uma dada

situação.

Após muito observarem, os alunos observaram a seguinte regularidade entre as

figuras:

Fig 1 � 1 x 1 = 1 quadrado

Fig 2 � 2 x 2 = 4 quadrados

Fig 3 � 3 x 3 = 9 quadrados

Fig 4 � 4 x 4 = 16 quadrados

Então foi perguntado a eles quantos quadrados haveria na 5ª figura. Um dos

alunos respondeu:

- É simples professor, na figura 5 tem 5 x 5 = 25 quadrados.

E na 6ª figura?

Os alunos responderam:

Page 26: Monografia da Especialização UFRJ

- 6 x 6 = 36 quadrados.

Quando foi perguntado quantos quadrados haveria em uma figura qualquer, os

alunos não souberam responder, talvez pela ausência do pensamento genérico, típico da

atividade algébrica. Então foi sugerido aos alunos que pensassem em uma figura de lado

n unidades. Se todas as figuras eram quadrados, então a figura de lado n unidades

também era um quadrado de lado n, logo se cada lado valia n unidades o enésimo

quadrado teria n x n lados, aplicando a ideia de potência: n x n = n².

Com isso, chegamos a uma forma generalizada de uma situação geométrica.

Depois que os alunos descobriram uma “fórmula” para aquela sequência de quadrados,

foi solicitado que aplicassem a relação encontrada para as figuras já conhecidas da

sequência afim de verificar se a fórmula era válida para as figuras conhecidas e para as

figuras que não estavam relacionadas na sequência dada.

Exemplo: 1) O quadrado da figura 5 tem _____ quadradinhos.

Resposta: fig 5 � 5² = 25 quadradinhos.

2) Em que linha temos uma figura formada por 121 quadradinhos?

Resposta: fig n = n² � 121 = n² � n = � n = 11 (11ª figura da sequência)

2ª Parte – O Teste

Em um segundo momento, os alunos resolveram individualmente três atividades

envolvendo noções algébricas.

ATIVIDADE 1

Agência de Turismo A agência de turismo Pequeno Mundo deixa claro como compõe o salário que paga a seus funcionários, afixando o seguinte cartaz na parede.

(a) João, empregado por essa agência de viagens, trabalhou 80 horas e vendeu 22 bilhetes aéreos durante o mês de abril passado. Que total João recebeu em abril? (b) Num certo mês, Marcus trabalhou 50 h e Léo trabalhou 30 h. Pode-se afirmar que, no final desse mês, Marcus ganhou mais do que Léo? Por quê? (c) Escreva uma fórmula que represente o salário total de um funcionário que trabalhe um total de h horas e venda b passagens.

AGÊNCIA DE TURISMO PEQUENO MUNDO

Salário/hora Comissão/Passagem Parte fixa do salário

R$ 72,00 R$ 105,00 RS 350,00

Page 27: Monografia da Especialização UFRJ

A primeira atividade tinha o objetivo de fazer com que os alunos identificassem

e representassem algebricamente as informações dadas em um cartaz em linguagem

verbal e aritmética, envolvidas num esquema.

O gráfico a seguir indica a porcentagem de acertos e erros em cada questão.

Gráfico 1

O item A era uma questão que abordava operações aritméticas, que alunos já

vinham estudando desde o 5º ano do Ensino Fundamental. Muitos conseguiram

organizar o raciocínio, mas a maioria ou errou nos cálculos, ou faziam os cálculos

incompletos, não seguindo a sequência de informações dadas na tabela, conforme o

exemplo abaixo. Isso sugere dificuldade de os alunos reconhecerem todas as

informações na linguagem do cartaz.

Esse aluno esqueceu de somar a parte fixa do salário aos outros ganhos (além de

ter feito o cálculo incorreto do valor recebido pela venda de bilhetes).

Page 28: Monografia da Especialização UFRJ

No item B, alguns alunos conseguiram reconhecer que para determinar o salário

era necessário ter a quantidade de passagens vendidas embora outros alunos tenham

atribuído a quem trabalhou mais tempo, o maior salário. Essa dificuldade talvez se deva

ao fato de que os alunos raciocinem sobre as suas idéias, sem levar em conta o que diz o

texto. Vejamos algumas soluções.

O item C teve o maior índice de erros, talvez pelo pouco contato que os alunos

tiveram com expressões algébricas, formas de interpretar situações algébricas e,

principalmente de criar esse tipo de expressão.

Pôde-se também perceber que os alunos não sabiam lidar com a soma de

expressões algébricas (ao somar duas variáveis, eles atribuíam como resultado uma

variável diferente, por exemplo, x + y = z). Neste caso, os alunos ainda presos a

propriedades aritméticas, utilizaram a propriedade de fechamento para justificar o

resultado. Percebeu-se que os alunos ainda não aceitaram que o resultado de uma conta

pode ser representado por uma expressão algébrica. Por isso que muitos deles

atribuíram à soma de duas variáveis um valor numérico, conforme o primeiro exemplo

que segue abaixo. Eis algumas respostas dadas pelos alunos neste item.

Page 29: Monografia da Especialização UFRJ

ATIVIDADE 2

No último campeonato brasileiro Flamengo marcou z gols e Vasco h gols. (a) Quantos gols os dois times marcaram? (b) Se você soubesse quanto vale z e quanto vale h, que operação você faria para calcular o total de gols?

Na segunda atividade, o objetivo era reconhecer a operação envolvida em

questão (item B) e depois generalizá-la (item A). Vale ressaltar que nesta atividade, o

aluno poderia ter feito uma relação aritmética para que, em seguida, fizesse a

generalização do problema, porém, conclui-se que grande parte alunos tiveram

dificuldade em admitir a representação de valores genéricos por variáveis e operar com

elas. Mais uma vez, os alunos aplicaram a propriedade de fechamento, conforme

mencionado na primeira atividade. Alguns alunos identificavam que a operação era a de

adição após ler o item B e, em seguida, voltavam ao item A e representavam a situação

por z + h = n (alguns outros escreveram z.h = x).

Provavelmente, o item B sugeriu que os alunos pensassem em valores numéricos

para as variáveis z e h e só assim eles conseguiram pensar em uma das possíveis

soluções, mencionadas acima. O gráfico a seguir, mostra uma inversão das colunas o

que comprova que os alunos ainda não adquiriram maturidade suficiente para

representar uma situação algébrica, devido a pouca familiarização que tiveram com a

álgebra e, por lidarem há bastante tempo com questões aritméticas obtiveram êxito em

resolver o item A.

Page 30: Monografia da Especialização UFRJ

Gráfico 2

ATIVIDADE 3

O Alvo Este é o alvo de um jogo de dardos: (a) João acertou 4 vezes no e 5 vezes no . Quantos pontos ele fez? Como você calculou? (b) Quantos pontos fez uma pessoa que acertou: 3 vezes no e y vezes no ? f vezes no e p vezes no ? a vezes no , 5 vezes no e y vezes no ? (c) Numa partida, um jogador fez 10a + 15b pontos e outro fez 10a + 5d pontos. É possível que os dois tenham feito o mesmo número de pontos? Justifique. (d) Tiago jogou o dardo b vezes e fez 10b pontos. Em que região (ões) Tiago pode ter acertado? Complete a tabela para representar algumas dessas possibilidades. b jogadas 10b pontos Região (ões)

Na terceira atividade, o principal objetivo era o aluno transpor para uma linguagem

algébrica o resultado de um jogo que estava sendo representado por legendas.

5 pontos

10 pontos 15 pontos

50 pontos

Page 31: Monografia da Especialização UFRJ

O item A foi resolvido com êxito pela maioria dos alunos, pois não havia a

presença de incógnitas ou variáveis, isto é, era uma aplicação aritmética da situação

descrita.

No item B, os alunos tiveram um pouco de dificuldade de representar o número

de pontos obtidos em um jogo por expressão que tinha letras e números misturados.

No item C, os alunos conseguiram resolver, relacionando as legendas aos

valores, não percebendo a existência da redução de termos semelhantes, pois ainda não

tinham estudado monômios e suas operações.

A resolução do item D foi opcional. A maioria dos alunos não resolveu, sendo

que apenas 02 tentaram mesmo sentindo dificuldade, mas não conseguiram resolver até

o fim pois não entenderam o enunciado, nem as informações contidas na tabela.

Portanto, não há soluções para serem comentadas neste item e o nível de acertos (5%)

só foi mencionado no gráfico pela tentativa desses dois alunos em resolvê-lo.

Gráfico 3

O Questionário dos Professores

Agora analisaremos as respostas dos professores ao anexo I, onde responderam

09 professores.

Todos possuem Licenciatura Plena em Matemática, 78% trabalha apenas na rede

pública de ensino, enquanto 22% na rede pública e particular. Quatro lecionam apenas

no Ensino Médio e o restante nos Ensinos Médio e Fundamental.

A maioria dos professores disse que iniciariam uma aula de álgebra para o 7º ano

do Ensino Fundamental, abordando uma situação-problema que envolva “valor

desconhecido”, ou seja, começariam a falar de álgebra usando o conteúdo Equação do

Page 32: Monografia da Especialização UFRJ

1º grau com uma incógnita. Quando foi perguntado aos professores quanto ao

percentual de aulas de Matemática na Educação Básica que se gasta com o ensino de

álgebra, obtivemos o seguinte resultado mostrado no gráfico abaixo:

Gráfico 4

Uma professora respondeu da seguinte forma: “Geralmente prefere-se ensinar

Álgebra, pois em muitas escolas, nem existe aula de Geometria, e muitas vezes os livros

adotados fixam muito essa parte de Álgebra.”

E todos concordaram que o nível de aproveitamento não condiz com o

percentual apresentado, alegando que os alunos têm muita dificuldade em transitar da

linguagem aritmética para a linguagem algébrica (“Os alunos têm muita dificuldade

para entender letras” – Maria do Perpétuo Socorro). Os professores consideraram que

os assuntos da Aritmética que servem de base para o Ensino da álgebra são: as quatro

operações, propriedades da adição e multiplicação (principalmente a propriedade

distributiva) e os números racionais. Para os professores é importante na resolução de

problemas algébricos que o raciocínio aritmético não seja esquecido, e sim unido ao

pensamento algébrico. Os professores entrevistados concordaram que é possível

introduzir o conceito de função antes do 9º ano de escolaridade através de cálculos de

perímetros, áreas, equações do primeiro grau, inequações, regra de três simples etc.

Page 33: Monografia da Especialização UFRJ

Conclusão

Nos capítulos anteriores, citamos algumas ideias e concepções para o ensino de

álgebra que nos respaldam para um comentário final. Trata-se de algumas sugestões

para a melhoria do ensino de álgebra. Como publicado em NCTM (2000, pág. 37), o

pensamento algébrico diz respeito ao estudo das estruturas, à simbolização, à modelação

e ao estudo da variação: compreender padrões, relações e funções (estudo das

estruturas), representar e analisar situações matemáticas e estruturas, usando símbolos

algébricos (simbolização), usar modelos matemáticos para representar e compreender

relações quantitativas (modelação), analisar mudança em diversas situações (estudo da

variação). Um dos principais elementos do pensamento algébrico é a capacidade de

manipulação dos símbolos. Um fato que auxiliaria no ensino da álgebra seria os

professores estimularem seus alunos pensar em alternativas que desenvolvessem o

raciocínio algébrico, conforme alguns exemplos que foram mencionados no capítulo 4

deste trabalho. Desta forma, os alunos poderiam elaborar seu próprio raciocínio, ou seja,

um procedimento completamente avesso ao que costumamos trabalhar em sala de aula.

No capítulo 3,vimos que a fase de transição entre o pensamento aritmético e o

algébrico, traz grandes transtornos para os alunos, pois eles deixam de lidar com

números “puros” e passam a lidar com símbolos. Este processo de transição deveria ser

a longo prazo, assim como foi no contexto histórico da álgebra, em que a representação

através de símbolos não fora imediata, conforme mostra o capítulo 3, página16, deste

trabalho, a evolução do processo de padronização e aperfeiçoamento algébrico. Esta

visão de separação da aritmética e da álgebra não é totalmente correta. É necessário

começar mais cedo o trabalho com a álgebra, de modo que esta e a aritmética

desenvolvam-se juntas, pois é impossível pensar em aritmética sem pensar em álgebra.

A tarefa de modificar o currículo de álgebra exigirá um enorme esforço, pois é

somente através de uma troca de idéias que poderemos ter condições de ensino

necessárias para conseguirmos alguma mudança.

Concluindo, o principal objetivo de se ensinar álgebra não é tornar nossos alunos

grandes algebristas, mas sim em conscientizá-los de qual é a capacidade algébrica que

deve ser utilizada para resolver determinadas situações-problema ou investigar uma

determinada situação. Com esta ideia a álgebra deixará de ser algo que ficará somente

no domínio da escola, e uma consequência disso é que os alunos verão que o alcance da

álgebra é maior do que eles imaginavam.

Page 34: Monografia da Especialização UFRJ

Referências Bibliográficas

COXFORD, Arthur F. e SHULTE, Albert P. As idéias da Álgebra. 1ª ed. São Paulo: Atual Editora LTDA, 1995. BAUMGART, John K. Tópicos de história da Matemática para uso em sala de aula. Volume 4 – Álgebra. Atual, São Paulo, 1992. TINOCO, Lucia A. A (coord). Álgebra: pensar, calcular, comunicar....IM –UFRJ – Projeto Fundão, Rio de Janeiro, 2008. NCTM. Principles and Standards for school mathematics. E.U.A., 2000. GUELLI, Oscar. Contando a História da Matemática (A Invenção dos números). 8ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1992. ARCAVI, Abrahan. Artigo: O sentido do símbolo. Atribuindo um sentido informal a matemática formal. Israel, 1995. ANDRINI, Álvaro. Praticando Matemática – 6ª série. 1ªed. São Paulo: Editora do Brasil S/A Educação Algébrica e Resolução de Problemas. http://www.novaescola.com.br Acessado dia 10 de maio de 2009.

História da Álgebra. http://www.somatematica.com.br/algebra.php. Acessado dia 17 de agosto de 2009.

Anexo (Questionário para professores)

O Ensino de Álgebra no Segundo Segmento do Ensino Fundamental 1. Nome: ____________________________________________________________ 2. Há quanto tempo leciona? ________________________________________ 3. Leciona em que tipo de instituição? ( )particular ( ) pública 4. Em que ano(s) de escolaridade leciona? _____________________________ 5. Como você iniciaria uma aula de Álgebra no 7º ano do Ensino Fundamental? ______________________________________________________________________ 6. De acordo com a sua experiência, qual o percentual do total do tempo das aulas de Matemática na Educação Básica que é dedicado à Álgebra? Justifique.

( ) Menos do que 40%.

( ) Entre 60% e 80%.

( ) Entre 40% e 60%.

( ) Mais do que 80%.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

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7. Você considera que o aproveitamento dos alunos em Álgebra é coerente com o percentual apontado? Justifique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Que assuntos da Aritmética são importantes para o aprendizado em Álgebra (cite pelo menos 3 assuntos). ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9.Ao abordar uma situação-problema, você utiliza em geral a aritmética ou o álgebra? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ Depois que seus alunos aprendem álgebra, você recomenda que eles abandonem o raciocínio aritmético na resolução de problemas? Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. É possível dar noções, mesmo informais, de variável e função antes do 9º ano de escolaridade? Dê um exemplo.

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