monografia-sÃo-os-fenÔmenos-transpessoais-psicopatolÓgicos

59
FACULDADE METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE INSTITUTO RENASCER DA CONSCIÊNCIA SÃO OS FENÔMENOS TRANSPESSOAIS PSICOPATOLÓGICOS? Selene Zaidan Leite Belo Horizonte 2010

Upload: paranhoswl

Post on 08-Aug-2015

122 views

Category:

Documents


54 download

TRANSCRIPT

Page 1: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

FACULDADE METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

INSTITUTO RENASCER DA CONSCIÊNCIA

SÃO OS FENÔMENOS TRANSPESSOAIS

PSICOPATOLÓGICOS?

Selene Zaidan Leite

Belo Horizonte

2010

Page 2: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

Selene Zaidan Leite

SÃO OS FENÔMENOS TRANSPESSOAIS

PSICOPATOLÓGICOS?

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Cursode Pós-Graduação em Psicologia Transpessoal daFaculdade Metropolitana de Belo Horizonte

Orientadora: Prof. Especialista Nádia Fernandes deSouza

Belo Horizonte

2010

Page 3: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

SELENE ZAIDAN LEITE

SÃO OS FENÔMENOS TRANSPESSOAIS PSICOPATOLÓGICOS?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Metropolitana de Belo

Horizonte como requisito parcial para a conclusão da Pós – Graduação lato sensu em

Psicologia Transpessoal.

Belo Horizonte, _____de_______________2010.

Nádia Fernandes de SouzaProfessora Especialista

Orientadora

Page 4: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

AGRADECIMENTOS

Quero expressar minha profunda gratidão a Deus, pelas bênçãos derramadas sobre mim e queme proporcionaram o raciocínio para elaborar uma pesquisa como esta.

Quero agradecer à professora Gislaine D`Assunpção que idealizou e concretizou o curso dePós-graduação em Psicologia Transpessoal, dando-nos a oportunidade de aprimoramento.

Agradecer à professora Nádia Fernandes de Souza que, de maneira especial, se prontificou ame orientar, oferecendo suporte e credibilidade a meus esforços.

Agradecer aos novos amigos e colegas das turmas I e II que se somaram e me aceitaram comoamiga e colega.

Agradecer à Cândida, Maria Neide e a todos os voluntários que fizeram um bom trabalho,para que nossa estada no Instituto Renascer da Consciência fosse o mais agradável possível.

Agradecer a todos os professores e professoras que me auxiliaram a abrir as portas interiores,permitindo-me transformar junto deles.

Agradecer especialmente ao meu marido, Élcio, que, com seu bom-humor, aguardoupacientemente o término deste trabalho.

Agradecer a Adilton Pugliese que, carinhosamente, sugeriu-me uma extensa referência,dizendo-me que estaria montando uma biblioteca “à Alexandria”.

Agradecer novamente ao professor Douglas que me ajudou no mesmo sentido.

E, enfim, agradecer a todos os autores que me permitiram conhecer ainda mais a PsicologiaTranspessoal.

Page 5: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

“A alegria da descoberta é certamente a mais viva que amente do homem pode experimentar.” Claude Bernard

Page 6: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

RESUMO

Através desta pesquisa, comprova-se que a Psicologia Transpessoal se utiliza de ideias etécnicas integradas e ampliadas para criar oportunidades que facilitem ao homem a vivênciade sua totalidade. A respiração holotrópica revelou-se muito potente para a exploração do eu epara a cura de neuroses e psicoses. Ela permite o acesso aos domínios transpessoais daconsciência. Dentre as experiências transpessoais, são citadas por Grof as embrionárias, asancestrais, as coletivas ou raciais, as filogenéticas ou de identificação com plantas, animais, asde reencarnações passadas, as arquetípicas, as de reencontros com diversas divindades e as desequências mitológicas completas. Pretende-se que, por meio dessa abordagem, o indivíduoobtenha a cura de seus problemas psicológicos e, ainda, possa vivenciar estados transpessoaisde consciência. Daí, a importância deste trabalho no sentido de apresentar uma contribuição àcomunidade científica da Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte e do Instituto Renascerda Consciência, abrindo espaço para discussão, troca e crescimento.

Palavras-chave: Psicologia Transpessoal; respiração holotrópica; psicopatologia; mente-

cérebro, paradigma holístico.

Page 7: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

ABSTRACT

Through this research, we have been able to confirm that the TranspersonalPsychology makes use of integrated and expanded ideas and techniques to create opportunity to facilitate for man to experience his wholeness. Holotropic breathing provedvery powerful for the exploration of self and to cure neuroses and psychoses. It allows accessto the fields of transpersonal consciousness. Among the transpersonal experiencescited by Grof are the embryonic, the collective or racial ancestry or the identification withanimals, the ones of past incarnations, the archetypal, the ones of reencounters with several ofthe deities and the ones of complete mythological sequences. It is intended that through thisapproach, the individual obtains the cure for his psychological problems and can alsoexperience transpersonal states of consciousness. Hence the importance of this work topresent a contribution to the scientific community of the Faculdade Metropolitana de BeloHoriozonte and the Instituto Renascer da Consciência, opening space for discussion, exchangeand growth.

Keywords: Transpersonal Psychology, Holotropic Breathwork; psychopathology; mind-brain, holistic paradigm.

Page 8: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 09

2 O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO SOBRE MENTE-CÉREBRO ............................... 11

3 BREVE ENSAIO SOBRE A PSICOPATOLOGIA ................................................................ 183.1 Psicopatologia Experimental ...................................................................................................... 193.2 Psicopatologia Behaviorista ....................................................................................................... 193.3 Psicopatologia Cognitiva ............................................................................................................ 193.4 Psicopatologia Biológica ............................................................................................................. 203.5 Psicopatologia Existencialista ..................................................................................................... 203.6 Psicopatologia Social ou Psiquiatria Social 203.7 Psicopatologia Psicanalítica ........................................................................................................ 213.8 Psicopatologia Fenomenológica 213.9 Principais Métodos de Investigação da Psicopatologia ............................................................... 22

3.9.1 Fenomenológica ............................................................................................................ 233.9.2 Psicodinâmica ............................................................................................................... 233.9.3 Analítico Existêncial...................................................................................................... 233.9.4 Neurociências................................................................................................................. 23

4A EMERGÊNCIA ESPIRITUAL: COMPREENSÃO E TRATAMENTO DAS CRISES DETRANSFORMAÇÃO .............................................................................................................. 254.1 Mapa Concêntrico da Consciência .............................................................................................. 294.2 Conceitos Cartográficos da Consciência ..................................................................................... 30

4.2.1 Consciência de Vigília ................................................................................................... 304.2.2 O Pré-Consciente ........................................................................................................... 304.2.3 O Inconsciente Psicodinâmico....................................................................................... 314.2.4 O Inconsciente Ontogenético ........................................................................................ 31

4.2.4.1 Matrizes Perinatais ...................................................................................... 334.2.4.1.1 Matriz Perinatal I: União Primordial com a Mãe ............... 344.2.4.1.1.2 Consequências Associadas da Vida Pós–nata ..................... 354.2.4.1.2 Matriz Perinatal II: Engolfamento Cósmico e sem Saída ou Inferno.......... 354.2.4.1.2.1 Consequências Associadas na Vida Pós–natal..................... 354.2.4.1.3 Matriz Perinatal III: A Luta de Morte-Renascimento........... 364.2.4.1.3.1 Consequências Associadas na Vida Pós-Natal.................... 364.2.4.1.4 Matriz Perinatal IV: A Experiência de Morte-Renascimento......... 374.2.4.1.4.1 Consequências Associadas na Vida Pós-Nata .................... 37

4.2.5 O Inconsciente Transindividua ..................................................................................... 384.2.6 O Inconsciente Filogenético .......................................................................................... 384.2.7 O Inconsciente Extraterreno ......................................................................................... 384.2.8 O Supraconsciente ........................................................................................................ 394.2.9 O Vácuo ......................................................................................................................... 39

5 IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES .......................................................................................... 415.1 Drogas ......................................................................................................................................... 415.2 Meditação .................................................................................................................................... 415.3 Psicose ......................................................................................................................................... 425.4 O Morrer e a Morte ..................................................................................................................... 44

6 TRATAMENTO DE EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS........................................................... 45

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 55

Page 9: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Mapa Concêntrico da Consciência............................................................. 29

Figura 2 – Psicose – Mapa concêntrico da consciência............................................... 42

Page 10: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

9

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é o resultado do trabalho de conclusão de curso da pós-graduação em

Psicologia Transpessoal e de meu anseio por responder à questão formulada no final da

monografia da graduação, a qual é intitulada “O que é Psicologia Transpessoal”. Nesta sugeri

que a pesquisa prosseguisse no sentido de se investigarem as influências da Psicologia

Transpessoal no reconhecimento de teorias e práticas psicoterápicas em processos

psicopatológicos. Dessa proposta, nasceu a pergunta que é o título deste trabalho de conclusão

de curso: são os fenômenos transpessoais psicopatológicos?

Devido à necessidade de novas respostas às questões sobre a saúde psíquica, no sentido de se

elucidarem os problemas profundos da personalidade, é necessária uma reformulação dos

conceitos em torno do conhecimento científico. Será que o intelecto pode apreender as ideias,

uma vez que aquele é incorpóreo como estas?

Por meio de uma extensa pesquisa bibliográfica, torna-se possível hipotetisar que a 4ª Força

em Psicologia surgiu para ampliar o esquema de interpretação do psiquismo e solucionar os

enigmas predominantes em pacientes psicóticos. Será que toda experiência transpessoal faz

parte da Psicopatologia? Será que os postulados científicos estão sofrendo abalos em suas

bases estruturais, diante da concepção dos estados alterados de consciência, que deixaram de

ser patológicos para se confirmarem como sendo de natureza transpessoal? Patologizar

poderia ser um modo de transformar a consciência individual em um objeto científico e

explicá-lo sob a ótica de uma doença do cérebro, separando-o dos fenômenos?

Para atingir seus objetivos, este trabalho é dividido em quatro partes: a primeira descreve a

mudança dos conceitos cartesiano-newtonianos a respeito do aprofundamento do estudo sobre

mente-cérebro e uma reflexão contemporânea da impossibilidade de se reduzir o fenômeno

humano a padrões e previsibilidades objetivas. A segunda parte apresenta a história da

Psicopatologia, sua epistemologia, objeto, método e aplicação. A terceira parte da pesquisa

trata da emergência espiritual: compreensão e tratamento das crises de transformação. A

última parte trata da análise das hipóteses apresentadas.

Além de satisfazer um desejo pessoal à questão proposta pelo trabalho de conclusão de Curso,

Page 11: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

10

o tema poderá trazer ganhos à comunidade científica, no sentido de se avançar na ampliação

do conhecimento do ser pensante, não redutível à soma de modelos tradicionais, e sim

superando-se na demonstração de mais um espetáculo para o novo cenário, o qual podemos

admirar através do novo paradigma transpessoal.

Page 12: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

11

2 O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO SOBRE MENTE-CÉREBRO

O progresso recente das neurociências, que culminou com a declaração dos anos 90 como a

‘Década do Cérebro’, permitiu que o conhecimento das funções do sistema nervoso avançasse

a uma velocidade muito grande. (CAVALHEIRO apud Ciência Hoje, volume 18, nº 84).

Crick e Koch (2001) afirmam que, aquilo que conhecemos como mente está intimamente

relacionado a certos aspectos do comportamento do cérebro, e não ao coração, como pensava

Aristóteles. Seu aspecto mais misterioso é a consciência, que pode assumir várias formas, da

experiência de dor à consciência de si mesmo. (CIENTIFICA AMERICAN, Edição Especial

nº 4, 2001, p.13).

De acordo com Fialho (1992), enquanto os psicólogos tiveram que abandonar o estudo da

consciência para serem aceitos dentro do paradigma existente, os neurocirurgiões começaram

a se interessar pelo assunto. Alexander Luria propunha o cérebro como sendo uma

constelação funcional, onde cada faculdade decorreria não de um, mas de vários sistemas

corticais.

Sabe-se, de acordo com Luria (1991), que o problema da relação dos processos psíquicos com

o cérebro e dos princípios de trabalho deste, enquanto substrato material da atividade

psíquica, teve soluções diferentes em períodos diversos da evolução da ciência.

Para Luria (1991), as tentativas de localização direta das funções psíquicas em áreas limitadas

do cérebro inspiravam os estudiosos. Descobertas deram aos pesquisadores fundamentos para

distinguir no córtex cerebral as áreas que passaram a ser consideradas “centros de saída”,

“centros de cálculos” e “centros de conceitos”.

Isso foi uma tentativa de localização direta das complexas funções psíquicas nas áreas

limitadas do córtex cerebral, pois tais tentativas refletiam o esforço de fazer um enfoque

materialista dos processos psíquicos e seu substrato cerebral. Elas logo mostraram sua

inconsistência e deixaram de satisfazer aos estudiosos. (LURIA, 1991, p. 87).

Luria (1991) afirma que isso gerou uma crise das concepções anteriores da localização direta

dos processos psíquicos nas áreas limitadas do córtex cerebral e levou vários pesquisadores a

Page 13: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

12

lançarem a ideia de que os processos psíquicos são função de todo o cérebro e não podem ser

“localizados” nas áreas limitadas do córtex cerebral.

De acordo com Fialho (1993), ao se integrar ao Todo, o ser humano acessa fontes de

informações e formas de conhecer que transcendem qualquer ciência. E quando se faz ciência,

procuram-se os processos decorrentes da criação. Forma-se um mandala capaz de despertar no

ser os arquétipos, o qual o qualificaria a repetir os feitos do Criador.

Para Neubern (2009), no aprofundamento do estudo sobre mente-cérebro, deduz-se que é

impossível reduzir o fenômeno humano a padrões de previsibilidades objetivas.

No passado, frequentemente se considerava, como em Descartes, que a mente seria algo

imaterial, separada do cérebro, mas interagindo com ele de algum modo.

Hoje, a maioria dos cientistas acredita que é possível explicar todos os aspectos da mente,

inclusive seu atributo mais enigmático – a consciência – de maneira mais materialista, como o

comportamento de redes neuronais agindo em concerto.

Conforme Fadiman e Frager (1986), William James afirma que a consciência não é uma

entidade, e sim um processo de pensamento, assim como é experimentado ou percebido por

um indivíduo.

É importante ressaltar que, para Luria (1991), a Psicologia tem como propósito estabelecer as

leis básicas da atividade psicológica, estudar as vias de sua evolução, descobrir os

mecanismos que lhe servem de base e descrever as mudanças que ocorrem nessas atividades

nos estados patológicos.

Na visão holística descrita por Wilber (1997), onde o mundo é um todo, mesmo assim as

pessoas o vêem fragmentado num dualismo absoluto e relativo, com seus inúmeros filhos

bastardos, que são o problema mente/corpo, até destino/livre arbítrio e consciência/cérebro.

Wilber (2000) questiona se o mundo é holístico e, então, por que mais pessoas não percebem

isso? Por que tantas especialidades acadêmicas negam veemente esse fato?

De acordo com Fialho (1993, p. 308), o cérebro humano é o reduto onde, segundo os

materialistas modernos, jaz a mente aprisionada. Esta visão, restrita a uma dimensão física,

está no cerne dos paradigmas vigentes. Isso responderia às questões de Ken Wilber.

Page 14: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

13

É importante salientar que o novo paradigma da ciência, o modelo holográfico, iniciou-se na

década de 1970 através de descobertas de alguns cientistas como os físicos Alain Aspect e

David Bohm, o biólogo Rupert Sheldrake, os neurofisiólogos Karl Pribam e Jacobo Grimberg,

entre outros. (ROBLES, 2008, p. 97).

Fialho (1993) descreve que o húngaro Dennis Gabor, Prêmio Nobel de 1971, desenvolveu, em

1948, a teoria de um processo capaz de reproduzir um objeto em três dimensões. Em 1960,

com a invenção do laser, foi possível colocar em prática sua teoria.

Um holograma é o registro, em determinado meio, dos padrões de interferência provocados

num raio laser pelo objeto que se deseja representar. Como um holograma contém ‘registros

de interferência de vibrações’, ele é uniforme em toda a sua extensão, ou seja, cada parte sua é

capaz de reproduzir todo um objeto, perdendo-se apenas foco e luminosidade (FIALHO,

1993, p. 324).

De acordo com Saldanha (2004), foi através da holografia que o neurofisiologista Karl Pribam

e o físico David Bohm propuseram um modelo conceitual que engloba tanto a pesquisa acerca

do cérebro quanto a física teórica.

Com a descoberta de Gabor, Pribam imaginou o cérebro humano como um holograma. O

pensamento e os processos mentais funcionariam por meio de padrões de interferências

vibratórias. As imagens seriam decodificações desses padrões, que conteriam toda a

informação. Cada parte do cérebro conteria toda a memória humana (FIALHO, 1993, p. 325).

Karl Pribam, de acordo com Di Biase (2002), estabeleceu que a informação se lança em

diversas direções no cérebro por um processo semelhante à holografia, onde sua distribuição

se realiza por meio de interações de ondas em todo o córtex cerebral. Essas ondas decorrem

de um holograma que se constitui de ondas de comprimento muito mais curto com origem em

nível subatômico.

Saldanha (2004) ressalta que, no começo dos anos de 1970, Pribam questiona se o cérebro

adquire efetivamente o conhecimento juntando os hologramas e transformando

matematicamente frequências vindas de outros lugares. O que no cérebro interpreta esses

hologramas? Onde está a identidade que se serve do cérebro? Quem é aquele que conhece as

respostas?

Page 15: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

14

Durante uma conferência, Pribam sugeriu que a resposta pode ter a ver com a Psicologia da

Gestalt, uma teoria psicológica que sustenta que tudo o que percebemos como externo é

isomorfo, idêntico aos processos cerebrais (SALDANHA, 2008, p. 17).

Conforme (Fadiman e Frager, 1986), não há equivalente em Português para a palavra alemã

gestalt, o que seria uma organização específica de partes que constitui o todo. As partes de

uma gestalt não mantêm sua identidade quando estão separadas de sua função e lugar no todo.

De acordo com Schultz e Schultz (1981), a ‘fórmula’ fundamental da teoria da Gestalt poderia

ser expressa da seguinte maneira: existem totalidades cujo comportamento não é determinado

por um dos seus elementos individuais, mas nos quais os processos parciais são eles mesmos

determinados pela natureza intrínseca do todo.

Para Robles (2008), um dos problemas centrais no estudo da fisiologia cerebral é o de

encontrar um lugar específico de armazenamento da informação. Os estudiosos tinham a ideia

de que a informação era guardada numa região do lóbulo temporal.

Di Biase (2002) cita Von Neumann, que calculou que durante a vida humana o cérebro deve

armazenar cerca de 2,8 x 10 bits de informação. Esta ordem de grandeza vertiginosa só

poderia ser estocada por meio de sistemas holográficos, os quais possuem uma capacidade

fantástica de armazenagem de informação.

Hoje, através do modelo holográfico, sabemos que a informação se encontra codificada nas

redes de interconexão neuronal, da mesma forma que o emaranhado holográfico contém a

informação do todo, o que leva a concluir que, quando armazenamos informação, o fazemos

no total do sistema nervoso e muito provavelmente no total das células do corpo (ROBLES,

2008, 102)

Robles (2008) ressalta que apenas em momentos específicos é que podemos ter acesso à

informação existente e que nos permite chegar a outros níveis de consciência. Quando

chegamos a esses níveis é que podemos ter acesso a toda essa informação, adquirindo desse

modo uma visão da realidade que as ciências tradicionais não podem explicar (ROBLES,

2008, p. 102).

Robles (2008) considera que a evidência disso é que, quando se recorda, recorda-se com todo

o corpo. Sabe-se que as funções cerebrais não se encontram localizadas em áreas específicas,

Page 16: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

15

mas no extenso padrão de impulsos nervosos que se entrelaçam na rede neuronal, da mesma

forma que se encontram entrelaçados no holograma os raios que projetam uma imagem.

Bohm postula que os fenômenos são divididos em dois níveis de expressão: os que partem da

informação disponível e que operativamente são úteis para explicá-lo (ordem desenvolvida) e

aqueles que a partir de outras unidades de análise ou variáveis, que talvez neste momento não

se conhecem, são muito mais reais, quanto menos objetiváveis (ordem implícita) (ROBLES,

2008, p. 94).

O neurofisiólogo Jacobo Grimberg estabelece que todo o Universo se constitui de um ‘campo

informacional’ de enorme complexidade que contém em si, em cada uma de suas partes, toda

a informação. E o processo que leva a cabo na intricada rede de interconexões neuronais do

cérebro, para interpretar a informação, constitui o campo neuronal (ROBLES, 2008, ps. 95,

96).

A esta estrutura de alta coerência os físicos quânticos chamaram ‘A Rede’ e consideram que é

a estrutura fundamental do Universo e que unifica o espaço e o tempo. Este campo

informacional que Bohm chama de ordem implícita Grimberg o denomina ‘campo sintérgico’

(ROBLES, 2008, ps. 95, 96).

Fialho (1993) faz referência ao modelo proposto por Bohm, que evidencia que a realidade em

que vivemos é um holomovimento pertencente à ordem explícita. Neste, cada um de nós, sem

perda da individualidade, é também o todo.

Esse novo paradigma facilita a compreensão de muitos fenômenos impossíveis de serem

compreendidos, dentro do formalismo acadêmico predominante (FIALHO, 1993, p. 325).

Para Fialho, (1993), se toda a informação é dominada pela consciência, fenômenos como

telepatia e clarividência são facilmente explicáveis. O fato de não se ter detectado emissão de

energia entre agente e receptor, até hoje, nos experimentos telepáticos, explica-se pelo fato de

que a informação sempre esteve em poder do receptor.

Como afirmou Grimberg com sua Teoria Sintérgica, esses fenômenos são processados na rede

de interconexões neuronais do cérebro as quais interpretam a informação através dos

receptores sensoriais (ROBLES, 2008, p. 96).

Page 17: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

16

Robles (2008) cita que o biólogo Rupert Sheldrake propôs a existência de “campos

morfogenéticos” ou “campos que moldam as formas”, semelhantes a campos magnéticos que

estabelecem uma ordem. Isto supõe a existência de uma “memória primordial” ou coletiva, na

qual se encontra contida toda a informação do existente, sem perda de intensidade através do

espaço e do tempo.

Esse campo mórfico se assemelha muito ao princípio do campo informacional a que os físicos

quânticos chamam de A Rede e que Bohm denomina de ordem implícita (e Kardec chama de

períspírito). O campo mórfico implica um tipo especial de memória, uma memória coletiva

que inclui o ser humano e todos os seres viventes. Essa memória existe e sempre existiu

(ROBLES, 2008, p. 103).

Essa teoria coaduna com o que Carl Gustav Jung (1875-1961) postulou acerca do inconsciente

coletivo.

Schultz e Schultz (1981) escrevem que Jung usava o termo psique para referir-se à mente

que, segundo ele, consistia de três níveis: a consciência, o inconsciente pessoal e o

inconsciente coletivo. Logo abaixo da consciência está o inconsciente pessoal, pertencente ao

indivíduo, que abarca todas as lembranças, impulsos e desejos que foram suprimidos.

Importante considerar que incidentes do inconsciente pessoal podem ser trazidos com

facilidade à percepção consciente, o que indica que esse nível de inconsciência não é muito

profundo.

Abaixo do inconsciente pessoal se encontra o terceiro e mais profundo nível da psique, o

inconsciente coletivo, que o indivíduo não conhece e que contém as experiências acumuladas

de todas as gerações precedentes, incluindo nossos ancestrais animais. A universalidade do

inconsciente coletivo podia ser explicada pela teoria da evolução, mediante a semelhança de

estruturas cerebrais presentes em todas as raças humanas (SCHULTZ e SCHULTZ, 1981, p.

363).

De acordo com Robles (2008), ainda quando a informação está ali, o cérebro humano só pode

ter acesso a ela dependendo de como focaliza sua consciência. Daí sua divisão em níveis, e

esses níveis de consciência dependem do funcionamento individual e do acesso aos diferentes

níveis ou estados de consciência.

Page 18: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

17

Di Biase (2002) afirma que a compreensão da natureza holográfica do funcionamento cerebral

revelou que o cérebro e o Universo são parte de um mesmo sistema informacional. Os

padrões quânticos do cérebro são parte ativa da rede (mente) auto-organizadora universal. Isso

faz uma interface com o dito do astrônomo inglês Sir James Jean: “O Universo começa a se

parecer cada vez mais com uma grande mente, do que com uma grande máquina”.

Nesse sentido, sabe-se através de Shultz e Shultz (1981), que o relógio era a metáfora perfeita

para o espírito mecanicista do século XVII. Devido à sua visibilidade, regularidade e precisão,

perguntava-se se o próprio mundo não poderia ser “um vasto relógio construído pelo

Criador”.

Page 19: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

18

3 BREVE ENSAIO SOBRE A PSICOPATOLOGIA

Para Calderoni (2006), a Psicopatologia tem mais de um fundador, ainda que a Karl Jaspers,

psiquiatra e fenomenólogo, tenha cabido o título oficial.

Conforme Calderoni (2006), pela importância da escola patológica francesa, considera-se que

a Psicopatologia nasceu com Claude Bernard, que mostrou na Fisiologia a continuidade entre

os fenômenos normais e patológicos.

Por outro lado, Théodule Ribot foi o criador do método patológico, para quem a fisiologia e a

patologia não se opõem como dois contrários, mas como duas partes de um mesmo todo

(RIBOT apud CALDERONI, 2006).

Importante ressaltar que Ribot influenciou pesquisadores franceses das gerações seguintes

como Alfred Binet e Pierre Janet, que foi um dos fundadores da Psicopatologia Dinâmica

francesa.

Janet acreditou como Freud na existência de processos inconscientes, considerando as

patologias psíquicas como formas de regressão a um estado evolutivo anterior, dando

importância à dimensão social da conduta humana (JANET apud CALDERONI, 2006).

De acordo com Calderoni (2006), somente no início do século XX, foi criado um método

patológico para compreender a psicologia normal pelo estudo do fato patológico. Antes da

Psicopatologia, o sofrimento psíquico já era objeto de reflexão e tratamento.

O Houaiss (2006), dicionário da língua portuguesa, sugere significados para o termo psique e

entre eles estão a alma ou o espírito, distintos do corpo.

O mesmo dicionário propõe que psicopatologia seria o ramo da medicina que temcomo objetivo fornecer a referência, a classificação e a explicação para asmodificações do modo de vida, do comportamento e da personalidade de umindivíduo, que se desviam da norma e/ou ocasionam sofrimento e são tidas comoexpressão de doenças mentais (HOUAISS, 2206).

Calderoni (2006) explica que Páthos tem o sentido etimológico de passividade e sofrimento e

é, por isso, que se diz que o doente padece. Páthos é sinônimo de paixão. Logia vem de logos,

razão e se refere à ciência ou estudo sobre os fenômenos patológicos do psiquismo.

Conclui-se que os dois vocábulos se mesclam em sentido, e a história da Psicopatologia é um

Page 20: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

19

inexaurível campo de pesquisa.

Conforme Mussel (2005), hoje são encontrados dois grupos claros na psicopatologia: aqueles

que se interessam pela investigação básica dos processos psicopatológicos subjetivos e

aqueles interessados na prática clínica a qual procura evitar os modelos etiológicos.

Nos últimos, há o interesse pelas técnicas e procedimentos diagnósticos a partir de uma

posição próxima da fenomenologia.

Os diferentes enfoques ou abordagens atuais na Psicopatologia, de acordo com Mussel

(2005) que cita Ionescu são:

3. 1 Psicopatologia Experimental

Pavlov utiliza pela primeira vez este termo em 1903. É a abordagem dedicada ao estudo

experimental do comportamento patológico (MUSSEL, 2005).

3. 2 Psicopatologia Behaviorista

Os comportamentos anormais e normais são adquiridos e mantidos por mecanismos idênticos

e segundo leis gerais de aprendizagem. Rejeita-se toda causa interna como causa última do

comportamento e ligam o aparecimento de todo o comportamento ao ambiente do sujeito

(MUSSEL, 2005).

3. 3 Psicopatologia Cognitivista

Visa explicar os transtornos mentais, levando em conta os processos pelos quais uma pessoa

adquire informações sobre ela e seu meio e as assimila para pautar seu comportamento.

Page 21: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

20

A mente é entendida como um sistema de processamento de informação, o qual, como o

computador, recebe, seleciona, transforma, armazena e recupera dados. Os transtornos podem

ser explicados a partir de um mau funcionamento de alguns componentes (MUSSEL, 2005).

3. 4 Psicopatologia Biológica

A ênfase é colocada sobre a influência das modificações morfológicas ou funcionais do

sistema nervoso sobre a gênese dos transtornos mentais.

A tese de que as afecções mentais possuem um substrato orgânico é antiga, e a obra de

Kraepelin é considerada como o apogeu da psiquiatria organicista (MUSSEL, 2005).

3. 5 Psicopatologia Existencialista

Percebe o paciente tal como é enquanto ser no mundo e não como uma simples projeção de

teorias. Interessados pela decisão e vontade humana, os existencialistas insistem sobre o fato

de que o ser humano pode influir em sua relação ao seu destino.

Coloca-se em questão a fronteira entre a normalidade e a patologia, fazendo com que se

descubra uma psicopatologia da média (MUSSEL, 2005).

3. 6 Psicopatologia Social ou Psiquiatria Social

É o estudo do papel dos fatores sociais na etiologia das manifestações psicopatológicas ou a

sociogênese dessas e as repercussões da doença mental sobre as relações do paciente com seu

meio ambiente (MUSSEL, 2005).

Page 22: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

21

3. 7 Psicopatologia Psicanalítica

Teria por marca específica a pesquisa da dimensão subjetiva, única do sofrimento psíquico, a

ser investigada a partir de uma relação direta com o sujeito, em que será escutado em sua

busca de reencontrar a verdade de seu desejo subjacente a seu padecer mental (PEREIRA,

2006).

3. 8 Psicopatologia Fenomenológica

Origina-se da filosofia alemã e das obras de Husserl e de Heidegger. Há dois métodos: o

primeiro, que se pode qualificar de descritivo de Biswanger, e o de Karl Jaspers.

Nesse caso, a psicopatologia ocupa-se, sobretudo, do que os doentes vivem, estuda seus

estados de espírito e visa a desvelar significações (MUSSEL, 2005).

Ressalta-se que Jaspers situa a Psicopatologia como disciplina científica, não-médica,

mergulhada na experiência íntima do sofrimento individual, mas preocupada em produzir

proposições de caráter geral sobre o padecer psíquico (JASPERS apud CALDERONI, 2006).

Jaspers afirma que seu objeto é o ‘homem todo em sua enfermidade’ e que todo fenômeno

psíquico que se possa apreender em conceitos de significação constante e com possibilidade

de comunicação faz parte da Psicopatologia.

Ainda assim, sempre perderá aspectos essenciais do humano, pois ‘nunca’ é possível reduzir

inteiramente o ser humano a conceitos psicopatológicos (JASPERS apud CALDERONI,

2006)

Pierre Fédida, um dos idealizadores da Psicopatologia, refere-se às bases epistemológicas das

disciplinas científicas heterogêneas, que têm em comum a preocupação com o sofrimento

psíquico, e cujo objeto é o fato pático (FÉDIDA apud CALDERONI, 2006). Questiona-se

qual é a diferença entre pático e patológico:

A concepção pática é encontrada na tragédia grega e diz que a paixão é um

Page 23: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

22

sofrimento que traz consigo a possibilidade de se transformar em sabedoria. Acondição de tal transformação é que este sofrimento possa ser compartilhado,escutado por um outro que “sustente a palavra do sofredor até que ele atinja osextremos de autoengendramento de um sujeito”. Na tragédia teatral Agamenon, deÉsquilo, temos a afirmação de que Zeus deu aos homens esta lei: pathei mathos, ouseja, “sofrer para aprender”. Algo como uma permissão para que a sabedoria possasurgir do cerne do sofrimento humano. Pático se refere, pois ao que é possívelaprender na paixão, no sofrimento e na doença, enquanto que patológico enfatizaexclusivamente suas dimensões negativas (FÉDIDA apud CALDERONI, 2006).

A partir de Jaspers, da visão da psicanálise e da concepção pática se propõe o resgate da

implicação subjetiva constituída do sofrimento psíquico e as perspectivas clínicas decorrentes.

Nancy Andreasen, médica americana, assevera, de acordo com Calderoni (2006), que o único

objetivo de uma psicopatologia científica é identificar os mecanismos neurais dos processos

cognitivos normais e compreender como são afetados nas doenças mentais.

Para ela, a mente é expressão da atividade cerebral.

Em 1801, Emil Kraepelin, deu a segunda contribuição para a constituição da Psicopatologia.

Como principal responsável pela descrição apurada e classificação criteriosa dos transtornos

mentais, sua perícia de observação e classificação permanece influente na forma como se

descrevem e se classificam os transtornos mentais nos sistemas diagnósticos DSM e CID

(KRAEPELIN apud CALDERONI, 2006).

De acordo com Calderoni (2006), do ponto de vista clínico e específico da Psicopatologia,

com Kraepelin, ficou assentado que não existem sintomas psicopatológicos totalmente

específicos de um determinado transtorno mental.

O diagnóstico psicopatológico repousa sobre a totalidade dos dados clínicos no exame

psíquico e evolutivos na anamnese.

3.9 Principais Métodos de Investigação da Psicopatologia

É importante ressaltar que os principais métodos de investigação da Psicopatologia são:

Page 24: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

23

3.9.1 Fenomenologia

Apreender os dados imediatos da consciência tais como eles se apresentam; utiliza a

compreensão empática.

O fenomenólogo busca colocar-se no lugar do paciente, a fim de sentir como ele se sente, em

sintonia e consonância com ela. Transcreve as vivências patológicas e descreve as condutas

anormais, indagando sempre a essência dos fenômenos apresentados.

3.9.2 Psicodinâmica

Valoriza o papel do inconsciente, buscando o significado do sintoma e levando em conta os

fenômenos de transferência.

3.9.3 Analítico-Existencial

Retira o foco da essência dos fenômenos para a existência dos pacientes em obediência aos

preceitos da filosofia existencial e também do método psicanalítico.

Confere especial importância às formas de existências patológicas, às noções de tempo em

nossa vida psíquica e aos modos de adoecer mentalmente.

3.9.4 Neurociências

Aporte da psicofarmacologia, possibilitando melhor conhecimento bioquímico dos transtornos

mentais.

Page 25: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

24

De acordo com Calderoni (2006), ao se estudarem sintomas psicopatológicos, são enfocados a

forma dos sintomas, ou seja, sua estrutura básica, semelhante em diversos pacientes e seu

conteúdo, que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, e de perseguição).

Geralmente, o conteúdo é pessoal e do universo cultural e personalidade prévia ao

adoecimento.

Calderoni (2006) afirma que, na prática clínica, passa-se a crer que a memória, a senso-

percepção, a consciência do eu, a vontade, afetividade etc, são áreas autônomas e naturais,

separadas umas das outras e com vida própria.

Esquece-se de que são construções aproximadas da Psicologia e da Psicopatologia, que

permitem uma comunicação mais fácil e melhor entendimento dos fatos.

Nesse sentido, não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatógicas

compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa em sua totalidade que

adoece.

Sob essa ótica, conclui-se que não se pode compreender, analisar ou explicar tudo o que existe

num homem por meio de conceitos psicopatológicos. Sempre resta algo que transcende à

Psicopatologia e mesmo à ciência, e permanece aberto às investigações futuras

(CALDERONI, 2006).

Page 26: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

25

4 A EMERGÊNCIA ESPIRITUAL: COMPREENSÃO E TRATAMEN TO DAS

CRISES DE TRANSFORMAÇÃO

Grof e Grof (Orgs) (1995) empregaram o conceito de emergência espiritual para designar

episódios de estados incomuns de consciência, considerados como um potencial positivo,

dado que essas experiências podem resultar em processo de cura e causar efeitos benéficos

naqueles que passam pela crise. Esses episódios são definidos como potencial positivo e

sugerem dois sentidos: emergência como “urgência”, sendo uma oportunidade de ascensão a

um novo nível de consciência e também emergência como “elevação”.

O conceito de emergência espiritual integra descobertas de muitas disciplinas,incluindo-se entre elas a psiquiatria clínica e experimental, a moderna pesquisa daconsciência, as psicoterapias experienciais, os estudos antropológicos, aparapsicologia, a tanatologia, a religião comparada e a mitologia. As observações,em todos esses campos, sugere, de modo consciente, que as emergências espirituaistêm um potencial positivo, não devendo ser confundidas com enfermidades de causabiológica (Grof e Grof (Orgs) p. 11 1995).

Sabe-se, de acordo com Grof e Grof (Orgs) (1995), que existem consideráveis diferenças

entre os episódios de estados incomuns de consciência e as neuroses. Os primeiros, de

espectro muito amplo, vão de estados espirituais puros, sem nenhum vestígio de patologia, a

condições de natureza claramente biológica, que exigem tratamento médico. Os distúrbios da

capacidade de perceber o mundo em termos normais, de pensar e de responder, em termos

emocionais, de uma maneira cultural e socialmente aceitável, e de comportar-se e comunicar-

se de modo apropriado englobam as desordens mentais chamadas psicoses.

Grof e Grof (Orgs) (1995) afirmam que conteúdos experienciais ocorridos em meio aos

estados de consciência extraordinários, contrariamente ao que se acredita, não são produtos de

funções cerebrais alteradas. São manifestações dos recessos remotos da psique humana a que

não se tem acesso e que o transbordar desse material inconsciente à consciência pode ser

curativo e transformador quando ocorrem nas circunstâncias corretas. As emergências

espirituais com potencial positivo devem ser acolhidas por pessoas com orientação

especializada que passaram por algum tipo dessas experiências e que saibam trabalhar com

elas, para que não tragam algum tipo de perigo ao indivíduo.

Page 27: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

26

Grof e Grof (Orgs) (1995) advogam que há causas desencadeadoras das emergências

espirituais, como por exemplo um fator preponderantemente físico, uma doença, acidente,

uma operação, um esforço físico extremo ou insônia prolongada. No caso das mulheres, um

parto ou aborto espontâneo ou provocado. Outro fator pode ser desencadeado depois de uma

forte experiência emocional. Em geral, o conteúdo dessas experiências parece incluir-se em

três categorias, sendo que no primeiro grupo destaca-se a questão da história de vida da

pessoa, chamada categoria biográfica. O segundo grupo denominou-se perinatal, devido às

experiências caracterizadas pela questão da morte e do renascimento. A terceira categoria,

sendo de capital importância, ultrapassa em muito os limites da experiência humana comum,

não tendo relação com o inconsciente coletivo. A esta categoria das emergências espirituais

dá-se o nome de experiências transpessoais, porque envolvem imagens e motivos que

parecem originar-se fora da história pessoal do indivíduo.

Às crises psicoespirituais, assim também chamadas, Grof denominou: crises xamânicas;

despertar da kundalini, episódios de consciência unitiva (experiências de pico); renovação

psicológica através do retorno ao centro; crises de abertura psíquica; experiências de vidas

passadas; comunicação com guias espirituais e “canalização”; experiências de quase-morte

(EQM); encontros com óvnis e experiências de abdução por alienígenas; estados de possessão

e alcoolismo e drogadição como emergência espiritual.

Grof e Grof (Orgs) (1995) postulam que a palavra transpessoal refere-se à transcendência das

fronteiras usuais da personalidade e inclui muitas vivências denominadas místicas, espirituais,

religiosas, ocultas, mágicas ou paranormais. Muitas emergências espirituais têm como

componente significativo experiências dessa terceira categoria, pois num estado transpessoal

não há diferenciação entre os mundos da realidade consensual e o mundo cotidiano

contemporâneo e o reino mitológico de formas arquetípicas.

Weil (2003) descreve o percurso que Stanislav e Cristina Grof perfizeram até chegarem à

autenticidade das informações obtidas em estados transpessoais e seu potencial terapêutico e

transformador.

Stanislav Grof, psiquiatra e psicanalista tcheco, vivia e clinicava em Praga, onde o exercício

da psicanálise era proibido por causa do comunismo. O LSD, palavra alemã para a dietilamida

do ácido lisérgico, estava autorizado e era vendido nas farmácias como medicamento contra

esquizofrenia (WEIL , 2003).

Page 28: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

27

Grof empregou os meios pertinentes para realizar e gravar três mil sessões com pacientes sob

o efeito do LSD. Esta pesquisa mostrou que os estágios de evolução e de regressão

descobertos por Freud eram reencontrados nessas sessões (STANISLAV; GROF 2003, apud

WEIL, 2003, p.140).

Grof entreviu que havia uma memória que ia muito além do estágio oral, havendo

possibilidade de regredir e reviver o nascimento, a vida intra-uterina, a fecundação, a vida

pré-uterina, em nível da família, de vidas passadas, nos estágios animal, vegetal, mineral,

molecular, subatômico e da vacuidade luminosa. (WEIL, 2003, 140).

Conforme Tabone (1995), “as matrizes perinatais são um fato clínico e representam marcas

ancestrais, estruturas filogenéticas ou matrizes arquetípicas, no sentido junguiano. Seu estudo

está profundamente ligado às síndromes psicopatológicas de ansiedade, depressão, tendência

incoercível ao suicídio, de agressão, e outras”.

Grof elaborou o conceito de Matrizes Perinatais para descrever o significado das experiências

relacionadas ao nascimento. Matrizes, por serem as primeiras, por constituírem uma espécie

de modelo para experiências posteriores e porque marcam e modulam a vida emocional

posterior da pessoa.

Grof dá bastante valor à influência das matrizes perinatais básicas, onde ele situa aorigem da violência atual, entre outros sintomas. Ao ter de emigrar para os EstadosUnidos, ele encontrou uma situação inversa. Lá, a psicanálise era autorizada, mas oLSD constava da lista das drogas proibidas. Ele recebeu autorização especial dogoverno americano para prosseguir em suas pesquisas e substituiu o LSD por ummétodo de hiperventilação, inspirado por Leonardo Orr, acompanhado de músicaadequada e de desenhos de mandalas. Chamou esse método de terapia holotrópica.(WEIL, 2003, p.140).

Stanislav e Christina Grof (2003) “perceberam que muitas reações observadas durante a

terapia holotrópica eram idênticas às crises psicóticas clássicas.

Daí nasceu a ideia de tratar as últimas como crises espirituais, dando-lhes o mesmo

acolhimento e interpretação regressiva da terapia holotrópica. Muitos dos chamados “doentes

mentais” voltaram para casa “curados”” (WEIL, 2003, p. 140).

Tais descobertas levaram Grof a montar um mapa da regressão que permite ao clínico

diagnosticar em que nível se encontra a vivência neurotizante ou psicotizante (WEIL, 2003,

140).

Page 29: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

28

Capra (1982) ressalta que uma das conquistas da psicologia é a adaptação da abordagem

boostrap, que significa que não há uma teoria capaz de explicar o espectro total dos

fenômenos psicológicos para compreensão da psique.

Da mesma forma que os mapas são como cartas geográficas que indicam localizações,

também são usados mapas para se conhecer a consciência na abordagem da Psicologia

Transpessoal.

Para Tabone (1995), é possível que a mais objetiva contribuição da Psicologia Transpessoal

para a renovação dos conceitos da Psicologia Contemporânea seja a elaboração das

“cartografias” da consciência.

Para a descrição dos mapas da consciência, foram desenvolvidas cartografias a partir de

descobertas independentes de vários pesquisadores que se propuseram a investigar, por

diferentes procedimentos científicos, as regiões localizadas em níveis mais profundos, além

da consciência comum (TABONE, 1995)

Diversos autores foram responsáveis por um mapeamento da consciência: Ken Wilber; Jorge

Andréa (visão Espírita); Roberto Assagioli (Psicossíntese); John Lilly (Escola Arica – Oscar

Ichaso); Robert S. de Ropp (Psicologia Criativa – Gurdjiieff) e Fischer-Hoffman (Teoria da

Quaternidade) (FIALHO, 1993).

De acordo com Paim (1975) “considera-se a atenção como um processo psicológico, mediante

o qual se contrata a atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita. Seja este uma sensação,

percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, as

representações, os conceitos e elaborar o pensamento”.

William James, para facilitar o estudo da atenção, compara a estrutura daconsciência como um tiro ao alvo. O centro desse alvo corresponde ao grau máximode consciência. Os círculos concêntricos mais próximos exprimem os processossubconscientes. Os círculos mais afastados simbolizam o inconsciente. O conjuntodos círculos que rodeiam o foco se denomina franja da consciência e correspondemaos processos subconscientes e inconscientes, não havendo entre os mesmos limitesde nítida demarcação (JAMES apud PAIM, 1975, p. 132).

Como James, Ring (1978) propôs um mapa, construído a partir do trabalho de outros

estudiosos, o qual possa servir de base para maiores investigações teóricas e empíricas no

campo da Psicologia Transpessoal.

Page 30: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

29

4.1 Mapa Concêntrico da Consciência

Vazio

Superconsciente

Extraterreno

FF F

Vigília

1

1 Fig. 1 Mapa concêntrico da consciência

Filogenético

Trans-individual

Ontogenético

Psicodinâmico

Pré-consciente

Page 31: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

30

4.2 Conceitos Cartográficos da Consciência

De acordo com Ring (1978), verifica-se no mapa uma estrutura piramidal, do alto para baixo,

na qual a consciência de vigília comum está no ápice e os outros níveis se situam em forma

descendente. Os conceitos cartográficos da consciência são consciência de vigília, pré-

consciente, inconsciente psicodinâmico, ontogenético, filogenético, extraterreno e o vácuo.

4.2.1 Consciência de Vigília

Durante a maior parte do tempo, a maioria das pessoas funciona neste chamado estado normal

de consciência de vigília, que será o ponto de referência em relação a todos os outros estados

de consciência, que serão considerados como “alterados”.

Conforme Saldanha (1997), somente através da expansão de consciência de vigília nas linhas

de demarcação entre o real e o que não é objetivo é que se pode acessar uma Ordem Mental

Superior. O estado de vigília sob certo ponto de vista é limitado e incapaz para se alcançar o

cerne dos conflitos e solucioná-los.

4.2.2 O Pré-Consciente

“Esta região está intimamente ligada à consciência de vigília normal. O termo pré-consciente

se encontra na teoria freudiana, onde ele caracteriza conteúdos que estão momentaneamente

fora do campo da consciência, mas poderiam tornar-se conscientes a qualquer hora”.

O fato de se relembrar algo que surge de repente vem de um conteúdo pré-consciente, que

passa para a região da consciência.

Page 32: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

31

4.2.3 O Inconsciente Psicodinâmico

É o inconsciente freudiano, fonte de memórias, impulsos, desejos, cargas negativas fortes,

material reprimido, pulsões.

É necessário muito esforço para estes conteúdos se tornarem conscientes. Geralmente, quando

liberados, são acompanhados de fortes descargas emocionais. Atualmente, tem-se como certo

que esse inconsciente é a fonte de memórias, impulsos e desejos importantes que levam carga

emotiva.

4.2.4 O Inconsciente Ontogenético

De acordo com Fialho (1993), ontogênese significa a série de transformações sofridas pelo

indivíduo, desde a fecundação do óvulo até tornar-se um ser adulto.

Quando se alcança esta região do mapa, o inconsciente ontogenético, depara-se com

fenômenos que não podem ser abordados dentro da estrutura freudiana, porque são fenômenos

transpessoais. O nível ontogenético são as águas divisórias das regiões mapeadas onde estes

fenômenos são vivenciados.

As regressões podem levar a pessoa às regiões ontogenéticas. Os conteúdos desse nível são

relacionados aos fenômenos descritos por Grof nas quatro Matrizes Perinatais, momentos

cruciais da vida intra-uterina por que passamos todos nós. Expressam questões ligadas à dor

física, agonia, ao parto etc. Nesta região da cartografia da consciência, é definido onde se

iniciam os fenômenos transpessoais.

O terreno do Ontogenético vai desde a fecundação ao parto, contando a história da gênese do

ser.

Tabone (2005) considera que, em nível transpessoal, o homem já experimenta e reconhece em

si mesmo a existência de alguma instância superior a seu próprio e limitado ego.

Page 33: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

32

Para Weil (2003), a experiência transpessoal é justamente a revelação de quem somos

realmente, ou seja, somos além de um ego e pertencemos a “algo” muito maior, de onde a

expressão transpessoal advém.

Experiência transpessoal, fenômeno transpessoal e fenômenos psíquicos ou espíritas e

fenômenos parapsicológicos são a mesma realidade e, de acordo com Fialho (1993, p. 169),

“podem ocorrer numa região ‘fora do espaço-tempo einsteiniano’, nessa região metaetérica

preconizada por Frederic Myers, ou mesmo em um nível subquântico, como diriam alguns

físicos contemporâneos”.

De acordo com Fialho (1993, p. 168), os fenômenos psíquicos são aqueles a que sejam

incluídos todos os processos de informação e/ou troca de energia que envolvam a consciência

dos seres, quer estes pertençam ao reino dos vivos ou não ou ao reino da evolução humana ou

não.

Para Tabone (1995), “os fenômenos transpessoais têm como denominador comum a expansão

da consciência dita “normal”. Durante uma vivência transpessoal, o senso de identidade do

indivíduo se expande para além da identificação com sua imagem corporal. Além disso, as

fronteiras perceptuais espaciais e temporais limitadas à mediação dos órgãos sensoriais são

transcendidas”.

Conforme (WEIL, PIERRE; DEIKMAN; ARTHUR J.;RING, KENNETH, 1978, p 49), os

fenômenos transpessoais são experiências que ultrapassam as vias sensoriais, as ideias e as

memórias costumeiras. São descritos por João da Cruz, Walter Hilton e outros como não

sendo um estado inexpressivo ou vazio, mas um estado repleto de uma percepção intensa,

profunda e nítida, que eles consideram como o objetivo final da via mística.

Deikman (1978 p. 49) cita Ehrenzweig (1964, p. 382) que propõe que “a inexpressividade

mística se deve a uma limitação estrutural: ...a verdadeira prece mística torna-se vazia,

embora seja plena de experiência... Este vazio pleno... é o resultado direto da falha da nossa

consciência em alcançar a imaginação formada em níveis mais primitivos de diferenciação”.

Os tipos de experiência que refletem a influência dessa região, contudo, foram elaborados,

pelo menos em parte, por alguns psicanalistas, como Otto Rank (1929), que a denominou

fenômenos perinatais.

Page 34: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

33

Diversos pesquisadores propuseram a classificação desses fenômenos perinatais para explicá-

los e um deles foi Allan Kardec:

Conforme, Neubern (2009, p. 329), “ Allan Kardec, pedagogo francês, discípulo dePestalozzi, Hyppolite Rivail, interessou-se pelos fenômenos espíritas e, com oauxílio de vários médiuns, codificou uma doutrina, o Espiritismo, que procuravaunificar religião, ciência e filosofia. É possível que as influências do magnetismoespiritualista de Lyon, sua terra natal, tenham tido um papel preponderante naconcepção do Espiritismo. A obra de Kardec, além de muitos aspectos, foi objeto deestudo de importantes nomes do século XIX e XX, como Charles Richet, PierretJanet, Cesare Lombroso e William Crookese. Pode ser considerada como umaprecursora da metapsíquica e da parapsicologia, mesmo que estas não possuam umcaráter religioso.

Fazendo um paralelo com alguns preceitos da ciência Espírita, em O Livro dos Espíritos,

Parte II, capítulo III - Da Volta do Espírito à Vida Corporal, União da Alma com o Corpo -

parece que os achados das experiências de Grof demonstram a possibilidade de que o Espírito

se liga ao corpo na hora da concepção, ou seja, no momento em que o espermatozóide

encontra o óvulo, e a consciência universal se instala no indivíduo que encarna a vida.

Vejam-se as questões 344 e 345 de O Livro dos Espíritos:

Em que momento a alma se une ao corpo? “A união começa na concepção, mas só écompleta por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espíritodesignado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vezmais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. O grito, que orecém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos deDeus.” Questão 345. É definitiva a união do Espírito com o corpo desde o momentoda concepção? Durante esta primeira fase, poderia o Espírito renunciar a habitar ocorpo que lhe está destinado? “É definitiva a união, no sentido de que outro Espíritonão poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Mas, como os laçosque ao corpo o prendem são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podemromper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Emtal caso, porém, a criança não vinga.”

Saldanha (1997, p. 63) assevera que Grof relacionou esse nível às matrizes perinatais básicas.

4.2.4.1 Matrizes Perinatais

De acordo com Grof (2000), as memórias emocionalmente relevantes não ficam guardadas no

inconsciente como um mosaico, mas em forma de complexas constelações dinâmicas a que

denomina Sistemas COEX , ou seja, sistemas de experiência condensada.

Page 35: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

34

Um sistema COEX consiste de memórias com carga emocional, de diferentes períodos da

vida, que se assemelham pela qualidade da emoção ou sensação física que compartilham.

Cada COEX tem um tema básico que permeia todas as suas camadas e que representa seu

denominador comum (GROF, 2000, p. 37).

Grof (2000) afirma que matrizes perinatais, reforçadas por experiências emocionais

significativas da infância e da vida adulta e organizadas em sistemas COEX, podem moldar a

percepção de mundo, influenciar o comportamento diário e contribuir para o desenvolvimento

de várias desordens emocionais e psicossomáticas.

Grof (2000) descreve que, na escola coletiva, podem-se encontrar ecos das matrizes perinatais

na religião, na arte, na mitologia, na filosofia e em várias formas de psicologia e

psicopatologia social e política.

Desta forma, ele descreve a fenomenologia das matrizes perinatais individuais.

4.2.4.1.1 Matriz Perinatal I: União Primordial com a Mãe

Esta matriz se refere à existência intra-uterina anterior ao início do trabalho do parto. O

universo de experiências deste período pode ser chamado de universo amniótico. O feto não

tem percepção de fronteiras e não diferencia entre o interno e o externo.

As experiências intra-uterinas positivas também podem ser associadas a visões arquetípicas da

Mãe Natureza, incondicionalmente nutridora, como um útero bom. Nas experiências intra-

uterinas negativas, revivem-se episódios de perturbações, memórias do “útero mal”, e há

sensação de ameaça obscura e sente-se que se está sendo envenenado.

É possível que se vejam imagens retratando águas poluídas e depósitos de lixo tóxicos. Isto

reflete o fato de muitas perturbações pré-natais serem causadas por mudanças tóxicas no

corpo da mãe grávida.

Page 36: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

35

4.2.4.1.1.2 Consequências Associadas da Vida Pós–natal

Aspecto positivo: relacionam-se intimamente com memórias da união simbiótica com o seio

materno, positivos sistemas COEX e lembranças de situações associadas com paz de espírito,

satisfação, relaxamento e belos cenários naturais.

Aspecto negativo: tendem a associar-se com certos sistemas COEX negativos

correspondentes elementos transpessoais também negativos.

Síndromes psicopatológicas relacionadas: psicoses esquizofrênicas (sintomatologia paranóide,

sentimentos de união mística, encontros com forças maléficas metafísicas; hipocondrialgia

(baseada em sensações físicas estranhas e bizarras); alucinações histéricas e devaneios

confusos com a realidade.

4.2.4.1.2 Matriz Perinatal II: Engolfamento Cósmico e sem Saída ou Inferno

Revivenciar este estágio do nascimento é uma das piores experiências que se pode ter durante

a auto-exploração que envolve estados holotrópicos. Há o sentimento de se estar preso dentro

de um monstruoso pesadelo claustrofóbico, onde se fica exposto a dores físicas.

Também conhecida como “inferno sem saída”, é o momento próximo ao parto, quando o bebê

é grande, o espaço no útero é pequeno e as contrações começaram, mas a saída ainda não se

mostra possível. Esta etapa é sempre percebida como difícil. As memórias intra-uterinas desta

matriz nos remetem a sensações de estarmos sendo esmagados por rolos compressores,

engolidos por feras gigantescas ou presos nos tentáculos de enormes polvos.

4.2.4.1.2.1 Consequências Associadas na Vida Pós-natal:

Aspecto integrado: capacidade para enfrentar situações difíceis da vida, como doenças,

assaltos, acidentes, etc.

Page 37: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

36

Síndromes psicopatológicas relacionadas: psicoses esquizofrênicas (elementos de torturas

infernais, experiências de um “um mundo de papelão” sem sentido), severas depressões

endógenas, sensações irracionais de culpa e inferioridade, alcoolismo, psoríase, úlcera

péptica.

4.2.4.1.3 Matriz Perinatal III: A Luta de Morte-Renascimento

Ligada ao terceiro estágio clínico do parto, a expulsão final do canal de parto e corte do

cordão umbilical, quando experimentada, completa-se o difícil processo anterior de propulsão

pelo canal de parto.

Memórias concretas que incluem a experiência da anestesia, as pressões do fórceps e

sensações associadas a várias manobras obstétricas ou intervenções pós-natais. Conhecida

como “inferno com saída”, trata-se do momento do parto propriamente dito. É o momento em

que o colo do útero se abre e o bebê fará o esforço necessário para atingir a liberdade.

Esta fase é extraordinariamente rica e dinâmica. As memórias nesta fase são associadas com

batalhas, cenas sangrentas de violência, confronto com impulsos sexuais, cenas de orgias,

sabat de feiticeiras em uma mistura de excitação, ansiedade, agressão, dor e contato com

materiais biológicos normalmente repulsivos.

É um importante momento de encontro com os impulsos obscuros de nossa personalidade, a

sombra, descrita por Jung.

4.2.4.1.3.1 Consequências Associadas na Vida Pós-Natal:

Aspecto integrado: sexualidade positiva, reintegração da “sombra”, capacidade de gerar

autoconfiança e confiança em seu processo, positividade diante da vida, consciência de seus

potenciais e força interior.

Page 38: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

37

Síndromes psicopatológicas relacionadas: psicoses esquizofrênicas (elementos

sadomasoquistas e escatológicos, desvios sexuais em geral, automutilação, comportamento

sexual anormal); depressão agitada; desvios sexuais (sadomasoquismo, homossexualidade

masculina, tomar urina e comer fezes); neurose obsessiva compulsiva: asma psicogênica,

tiques e gagueira; histeria de conversão e de ansiedade; frigidez e impotência; neurastenia;

neuroses traumáticas; neuroses orgânicas; enxaqueca, enurese e encopreses.

4.2.4.1.4 Matriz Perinatal IV: A Experiência de Morte-Renascimento

Esta matriz está relacionada com o terceiro estágio clínico do parto, a expulsão final do canal

de parto e o corte do cordão umbilical. Quando essa matriz é experimentada, completa-se o

difícil processo anterior, de propulsão pelo canal de parto, atinge-se uma liberação explosiva e

se emerge para a luz.

O local escuro e protegido, alimentado por um cordão, morre, dando lugar a um ser terrestre e

independente, que respira e se alimenta às suas próprias custas e vive na luz.

Aspectos negativos são observados quando após tanto esforço, morte e renascimento a criança

é rejeitada ou não pode ter contato imediato com a mãe e precisa ir para encubadeira; ou

mesmo por negligência sobre a importância deste momento e, principalmente, pela falta de

conhecimento de que estes registros ficarão marcados na memória daquele ser.

4.2.4.1.4.1 Consequências Associadas na Vida Pós-Natal

Aspecto integrado: capacidade de vencer obstáculos, sensação de saciamento, contentamento

diante da vida, capacidade de gerar fé na existência e boa vontade.

Síndromes Psicopatológicas: psicoses esquizofrênicas (experiências de morte-renascimento,

delírio messiânico, elementos de destruição e recriação do mundo, salvação e redenção,

identificação com Cristo); sintomatologia maníaca; homossexualidade feminina;

exibicionismo.

Page 39: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

38

4.2.5 O Inconsciente Transindividual

Em nível transindividual, existem vários subtipos diferentes de experiências que têm como

elemento comum a transcendência dos limites do ego – o sine qua non da experiência

transpessoal – e a identificação com outras pessoas ou tipos universais (aquilo que Jung

denominou arquétipos).

Os principais subtipos das experiências transindividuais são experiências ancestrais,

experiências de encarnações passadas, experiências coletivas e raciais e experiências

arquetípicas.

De acordo com Saldanha (1997, p. 65), experiências de encarnações passadas transcendem os

limites do ego e do próprio indivíduo e são constituídas por experiências dramáticas de outro

tempo e lugar [...].

4.2.6 O Inconsciente Filogenético

Para Fialho (1993), filogênese quer dizer a evolução pela qual as formas vivas inferiores

foram se modificando através dos tempos, para produzirem outras cada vez mais elevadas.

Este domínio da consciência leva o sujeito totalmente para além das formas humanas, como a

vida animal, vegetal e a recapitular experiencialmente toda a sequência evolutiva da vida

neste Planeta.

4.2.7 O Inconsciente Extraterreno

Neste domínio da consciência, ocorre uma variedade de experiências que envolvem elementos

difíceis de serem coordenados com o plano físico e com as chamadas leis naturais como são

compreendidas. Os fenômenos principais desta região são de acordo com Saldanha, (1997):

• experiências de estar fora do corpo, incluindo o encontro com entidades espirituais e

Page 40: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

39

guias e viagens para outros locais do Universo;

• fenômenos de percepção extra-sensorial, como telepatia e clarividência; e

• fenômenos mediúnicos, como escrita automática e possessão por espírito.

4.2.8 O Supraconsciente

Nestas regiões mais externas no mapa, tem-se cada vez menos a se dizer, pois enquanto se

alcança o próprio limite da consciência, as experiências se tornam sempre mais inefáveis. A

natureza das experiências nesse domínio envolve êxtase espiritual.

A descrição dessa experiência é que o indivíduo sente a sua consciência fundida com a da

Mente Universal.

Diz-se que a experiência é infinita existência, sabedoria e bem-aventurança. Durante o tempo

em que se permanece nesse estado, todo o processo da criação pode ser compreendido.

4.2.9 O Vácuo

Ring cita Grof (1978), que afirma que o vácuo é experienciado como subjacente a toda a

criação, ou seja, é um estado sem qualquer conteúdo.

Grof (2000) enfatiza que nem toda experiência de vácuo encontrada durante estados

holotrópicos se qualifica como o vazio, descrito como uma sensação desagradável de falta de

sentimento, de iniciativa ou de significado.

Para merecer o nome de vazio, esse estado deve corresponder a critérios específicos.

Deparando-se com o vazio, surge a vacuidade primordial de relevância e proporções

cósmicas. Embora não contenha qualquer forma concreta ou manifesta, parece compreender

toda a existência em potencial.

O vazio transcende as categorias usuais de tempo e espaço, é imutável e se encontra além de

todas as dicotomias, até mesmo existência e não-existência. (GROF, 2000, p. 264).

Page 41: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

40

Grof (2000) relata que a compreensão total do Vazio requer uma experiência pessoal e direta.

As pessoas o descrevem como de supracósmico e metacósmico, indicando que esse vazio e o

nada primordial parecem ser o princípio que subjaz ao universo dos fenômenos, tal como se

conhece e que, ao mesmo tempo, supra-ordena-o.

Page 42: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

41

5 IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES

De acordo com Saldanha (1997), toda a cartografia apresentada por Kenneth Ring revela

dimensões muito além do inconsciente pessoal, inserindo a perspectiva de interação com

outros níveis extracorpóreos, sendo que os diferentes estados de consciência abrangem

patologias para o enfoque das psicoterapias behaviorista e analítica e que, no entanto para a

Psicologia Transpessoal, são estados inerentes ao ser humano.

“O poder integrativo do mapa conscêntrico de Ring pode ser expresso através de

considerações breves de quatro estados de consciência diferentes: estados induzidos por

drogas, meditações, psicoses e a morte”. (RING, 1978, P. 90).

5.1 Drogas

A pesquisa de Grof revelou que todas as regiões distinguidas pelo mapa, incluindo ovácuo, eram acessíveis via LSD ou outros psicodélicos. Além de ser relativamenteincontrolada, a viagem com a droga é frequentemente contaminada por váriosefeitos químicos colaterais, alguns dos quais podem ser incorretamente identificadoscomo atributos do domínio da consciência que a droga abriu para o indivíduo.Finalmente, com as drogas, a viagem é de duração limitada. A pessoa sempre vemabaixo ou retorna. (WEIL, PIERRE; DEIKMAN; ARTHUR J.;RING, KENNETH,1978, p. 91)

A droga toma a consciência daquele que a utilizou e a atira para um domínio desconhecido da

consciência. Sem uma preparação adequada, o viajante pode se sentir totalmente

desorientado. Em princípio, não existe limite do número de regiões em que se pode entrar

usando drogas.

5.2 Meditação

O ato da meditação propicia uma jornada mais lenta, sistemática, porém propiciadora de

insights que surgem na viagem. Com os anos, este tipo de integração parece ocorrer quase

que automaticamente, de acordo com a velocidade das mudanças no sistema nervoso do

meditante e com seu desenvolvimento psicológico. Quando a meditação se torna constante,

Page 43: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

42

aprende-se a dirigir a consciência de uma para outra região.

De acordo com Saldanha (1997), através da meditação, refina-se a consciência e, com isso,

surge a percepção do frescor e inovação de cada momento da experiência que se apresenta

através de capacidades intuitivas. A autora classifica a meditação, a concentração, a

contemplação e o relaxamento como técnicas transpessoais importantes para acompanhar o

trabalho terapêutico.

5.3 Psicose

Conforme a figura 2, observa-se como o mapa da consciência pode ser usado para elucidar os

fenômenos associados à psicose.

Figura 2 – Psicose – Mapa concêntrico da consciência

Três categorias psiquiátricas convencionais foram relacionadas a diferentes domínios no

mapa: normalidade, neurose e psicose.

Supõe-se que o comportamento normal parta das três regiões centrais: a consciênciacomum de vigília, o pré-consciente e o inconsciente psicodinâmico (freudiano). Esta

Page 44: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

43

última região também inclui desordens neuróticas; o mesmo se diga ao inconscienteontogenético. Este portão de entrada para os domínios transpessoais exteriores, bemcomo o inconsciente psicodinâmico, que “dão passagem nas duas direções”, sãotambém fontes de alguns distúrbios psicóticos, especialmente com relação àesquizofrenia. (WEIL, PIERRE; DEIKMAN; ARTHUR J.;RING, KENNETH,1978, p. 92).

Este é o ponto principal no mapa onde as características psicóticas são assumidas pelo autor

como localizadas nas regiões transpessoais da consciência.

A Psicologia Transpessoal sustenta existirem múltiplos estados de consciência, sem negar os

estados atualmente classificados, e afirma que o estado comum do homem é deficiente por

fornecer uma percepção distorcida da realidade e por não ser capaz de reconhecer essa

distorção.

De acordo com (Walsh e Vaughan 1980), para as psicologias ocidentais tradicionais somente

há uma gama limitada de estados de consciência, como por exemplo o estado desperto, o

estado onírico, a intoxicação e o delírio. Essa concepção considera quase todos os estados

alterados como condições deficientes, vendo a “normalidade” como condição de excelência.

Como cada estado de consciência revela seu próprio quadro de realidade, a realidade tal como

se conhece em última instância é apenas relativamente real, o que corrobora a teoria de

Einstein, que sustenta que toda realidade é relativa. Isso se aplica a todos os outros aspectos

do cosmos. Despertar de uma dada realidade é reconhecer sua realidade relativa. Em outras

palavras, a psicose é o apego a qualquer realidade.

Sob uma perspectiva ampla (Walsh e Vaughan 1980) definem a psicose como um apego a

qualquer estado de consciência.

É importante ressaltar que os sintomas tradicionais da psicose como ouvir vozes, ter visões,

adotar sistemas ilusórios de crenças, sentir-se possuído, pretender poderes divinos etc., são,

também, todos explicados como fenômenos transpessoais.

No mapa conscêntrico da consciência existem orientações para o estado induzido na psicose

que distinguem esse tipo de viagem da do uso de drogas ou meditação:

1) A jornada psicótica parece ultrapassar o domínio psicodinâmico, levando oindivíduo diretamente para as regiões transpessoais do espaço interior. As rotas dadroga e da meditação envolvem uma passagem através da zona psicodinâmcia. 2) Oviajante geralmente para em algum ponto. Ele não pode retornar nem continuar. Opsicótico está perdido no espaço. 3) Ao contrário das drogas e da meditação, aviagem psicótica é empreendida involuntariamente (WEIL, PIERRE; DEIKMAN;ARTHUR J.; RING, KENNETH, 1978, p. 93).

Infelizmente, de acordo com Ring (1978), os mapas do espaço para este tipo de viagem são

Page 45: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

44

muito pobres porque os psiquiatras, sem compreendê-lo, tentam parar o indivíduo através de

um desejo de cura, com terapêutica medicamentosa, unicamente.

5.4 O Morrer e a Morte

A morte anuncia uma variedade de experiências numinosas, que vão desde a visão do inferno

às indescritíveis delícias do céu.

Ring (1978) afirma que a evidência fenomenológica coletada de muitas fontes independentes

por muitos pesquisadores do século XX, baseada em experiências de quase-morte, de

projeções astrais, visões de médiuns e clarividentes, psicografia, é impressionantemente

congruente com os antigos ensinamentos religiosos associados com diversas doutrinas

diferentes.

Conclui-se por esta lógica que a consciência continua após a morte do corpo físico, que em

algum sentido viaja para outro plano, encontrando diversas entidades espirituais, e que possa

vir a residir numa esfera em que o tempo parece não existir, e cujas outras propriedades

oferecem uma semelhança notável com a concepção cultural de céu que o indivíduo possui.

Conforme Ring (1978), “para colocar esta jornada da alma dentro da estrutura do mapa,

propõe-se que, ao se aproximar da morte e ao experienciá-la, a consciência do indivíduo se

liberta do seu centro de vigília comum e, ao invés de cessar, é propelida para a região

extraterrestre do espaço interior”.

Ring (1978) cita Sutich (1973) quando este afirma que, em cada indivíduo existe um impulso

para a autotranscendência e para a aquisição daquilo que só insatisfatoriamente pode ser

chamado de estado último. Isso indica que o mapa conscêntrico da consciência deverá ser

utilizado na viagem que todo ser humano, algum dia, está destinado a fazer, para as regiões

distantes do espaço interior (WEIL, PIERRE; DEIKMAN; ARTHUR J.; RING, KENNETH,

1978, p. 93).

Page 46: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

45

6 TRATAMENTO DE EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS

Grof (2000) descreve que o tratamento para as emergências espirituais deva ser estruturado no

modelo da psique ampliado, que inclua as dimensões perinatal e transpessoal. A intensidade

do processo psicoespiritual é que vai nortear a terapêutica a ser oferecida. Em casos de uma

emergência espiritual em sua forma mais branda, será oferecido à pessoa uma oportunidade

para discutir o processo com um terapeuta de orientação transpessoal, que a ajudará a integrar

suas experiências à vida diária. Se o processo for mais ativo, o processo terapêutico deverá

ser feito de forma regular com terapia experiencial para facilitar a emergência do material

inconsciente e a expressão de emoções e energias físicas bloqueadas. Indica-se a respiração

holotrópica nesse caso, se não houver resistência psicológica. Havendo, deverão ser aplicados

trabalhos corporais de liberação, como se faz no final das sessões de respiração.

Técnicas para se completarem as sessões experienciais intensivas: prática da Gestalt, a caixa

de areia junguiana de Dora Kalff, trabalho corporal com um terapeuta com bastante

experiência prática em psicologia, escrever um diário, pintar mandalas, praticar danças

expressivas, correr, nadar ou praticar outras atividades esportivas, leituras de orientação

transpessoal.

Em crises intensas e dramáticas que não podem ser tratadas, a não ser que as pessoas estejam

internadas, é preciso acompanhamento supervisionado constante.

Page 47: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

46

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos observar com a pesquisa que “a evolução do cérebro, sua organização estrutural e

fisiológica parece ser um modelo da estrutura e organização daquilo que se chama Universo”.

(Robles, 2008).

Viu-se que as questões inexplicáveis para a ciência, relativas à consciência e à psicopatologia,

contradizem-na porque seu melhor instrumento para estudo, o cérebro, é também um objeto

de estudo ainda incompreensível como um todo.

Atualmente, à luz do novo paradigma holístico e das descobertas dos diversos campos da

ciência e, em particular, da física moderna, da neurociência, da biologia e da psicologia

transpessoal, surgem os novos modelos explicativos do Universo e das interações entre suas

partes.

A Psicologia Transpessoal, que tem como um de seus objetos de estudo a consciência

humana, atesta que esta não pode ser limitada ao cérebro, pelo qual não pode ser apreendida

em sua totalidade. Também, a Psicologia Transpessoal não pretende solucionar toda a

fisiologia cerebral através da hipótese holográfica (GROF, 1978).

Entretanto, foi demonstrado na pesquisa, no mapa conscêntrico da consciência e

especialmente na região do inconsciente filogenético, que os fenômenos transpessoais, que

podem mais facilmente ser relacionados com a teoria holonômica, são aqueles que envolvem

elementos da realidade objetiva: identificação com outras pessoas, animais, plantas e

realidade inorgânica do passado, presente e futuro.

Estudando o novo paradigma holístico, percebem-se alguns fatos científicos:

• há fenômenos associados à paranormalidade;

• o fato de que as propriedades de um corpo, como massa, etc., não serem

fixas, mas relativas;

• a constatação de que matéria e energia são a mesma coisa;

• o fato do espaço não ser um vazio, mas uma entidade que pode sofrer

deformação; e

Page 48: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

47

• a necessidade de uma quinta dimensão, a consciência, que, atuando pela

observação, faz entrar em colapso pacotes de ondas probabilísticos,

determinando o agora e, por conseguinte, o passado e o futuro. (FIALHO,

1993, p. 326).

Ao se estudar mente-cérebro, concorda-se com Platão (1996), que o intelecto pode apreender

as ideias, porque ele é incorpóreo como elas.

Quando se enxerga, o cérebro transforma as vibrações de luz em pulsações rítmicas. Quando

se ouve, a frequência das moléculas de ar são transformadas em sons assimiláveis pelo

intelecto. A percepção do odor parece estar baseada em frequências cósmicas. A realidade é

uma contínua dança rítmica e os sentidos traduzem algumas de suas vibrações para modelos

de frequências que podem ser processados pelo cérebro. (FIALHO, 1993, p. 150).

Balduino relata (1993) que de acordo com biógrafos, Beethoven teria “ouvido” o tema do

quarto movimento da sinfonia “Coral” e, da sacada de seu quarto em frente a uma praça em

Amsterdam, Rembrant teria “visto” a magnífica cena retratada na obra “Última Ceia”.

Percebeu-se com a pesquisa que o que caracteriza uma pessoa com transpessoalidade é a

vivência da experiência de consciência cósmica ou êxtase e o retorno dessa pessoa aos seus

afazeres do cotidiano com facilidade e transformada positivamente.

Assim fizeram e fazem os grandes santos, lamas, e pessoas de sensibilidade saudáveis

psicologicamente. Este é um critério plausível para aferição da saúde psíquica.

Para Saldanha (1997), é necessário rever toda a conceituação tradicional da psicopatologia,

inserindo as vivências dos estados modificados de consciência.

De acordo com Tabone (1992), o misticismo é visto como totalmente patológico e parecido

com a esquizofrenia. As experiências místicas vistas como eventos normais na Psicologia

Transpessoal são tratadas pela cultura como anormais. O comportamento dos xamãs, tais

como transes e ataques físicos, em culturas não–industriais, provavelmente levariam à

hospitalização, e as visões místicas medievais, entendidas como um sinal da graça divina,

seriam consideradas como alucinações.

Conforme Balduino (1993), a comunidade científica não vê com bons olhos essa

contaminação mística da ciência, em relação aos fenômenos mediúnicos, místicos, descritos

Page 49: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

48

no mapa conscêntrico da consciência em nível do Inconsciente Extraterreno.

Balduino (1993) cita James: “vivências religiosas autênticas formam “um continuum” com a

vida psíquica normal e patológica”.

Balduino (1993) afirma que, ao codificador da Ciência Espírita, não passaram despercebidas

as possíveis ligações diretas entre fenômenos transpessoais e fenômenos psicopatológicos.

Kardec formula a seguinte questão há mais de um século, na segunda parte de O Livro dos

Médiuns, no capítulo XVIII, intitulado Dos Inconvenientes e Perigos da Mediunidade, na

questão 221:

5ª Poderia a mediunidade produzir a loucura?

"Não mais do que qualquer outra coisa, desde que não haja predisposição para isso, em

virtude de fraqueza cerebral. A mediunidade não produzirá a loucura, quando esta já não

exista em gérmen; porém, existindo este, o bom-senso está a dizer que se deve usar de

cautelas, sob todos os pontos de vista, porquanto qualquer abalo pode ser prejudicial.".

Saldanha afirma que parece que se vive uma emergência em relação à ampliação da

consciência além do estado de vigília, que o intelecto não é o estágio final da evolução

humana como espécie e que o ser humano continua desenvolvendo outros níveis de percepção

de realidade além do racional, um nível de consciência além do pessoal. (SALDANHA, 1997,

p. 82).

Pelo observado na pesquisa, ao se situar a Psicopatologia como disciplina científica,

mergulhada na experiência íntima do sofrimento individual e preocupada em produzir

proposições de caráter geral sobre o padecer psíquico, patologizar poderia ser um modo de

transformar a consciência individual em um objeto científico e explicar este objeto sob a ótica

de uma doença do cérebro. Isso seria separar o objeto dos fenômenos.

O conhecimento científico se baseia nos elementos fornecidos pelas percepções e, com o

auxílio da abstração, criam-se ideias e conceitos gerais que exprimem o desenvolvimento da

natureza. Sem os órgãos do sentido, não há condições de conhecer o mundo objetivo. (PAIM,

1975, p. 25).

Uma distinção deve ser feita entre estados alterados de consciência e as experiências

Page 50: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

49

transpessoais, pois nem todos os estados alterados atingem o critério para serem transpessoais,

embora todas as experiências transpessoais ocorram em estados alterados de consciência.

(TABONE, 1995, p. 39).

Para Tabone (1995), são exemplos de estados alterados de consciência não necessariamente

transpessoais as experiências estéticas (LSD), as experiências resultantes do uso de técnicas

de fantasias afetivas induzidas, as experiências de revivência vívida e complexa de uma

memória infantil.

Balduino (1995) nos relata que na obra “Autobiografia de um Yogue”, Paramahansa

Yogananda, grande mestre hindu, descreve suas lembranças da infância, em que a

fermentação psicológica que não encontrava possibilidade de se expressar através de seu

corpo imaturo de criança dava origem a muitas crises de choro, que provocam confusão no

ambiente familiar.

“..Minhas recordações mais antigas abrangem traços anacrônicos de uma encarnação anterior.

Lembro-me claramente de uma existência longínqua – a de um iogue entre as neves do

Himalaia” (Balduino 1995 apud Yogananda, p. 53).

Os estados alterados de consciência psicopatológicos são também outro exemplo de uma

subcategoria de estados não-ordinários de consciência, que precisam ser diferenciados ou

relacionados com as experiências transpessoais (TABONE, 1995, P. 39).

Conforme Paim (1975) cita Lopez Ibor, a tendência da Psicologia contemporânea é considerar

a percepção como a apreensão de uma situação objetiva baseada em sensações, acompanhada

de representações e frequentemente de juízos, num ato único, o qual somente pode ser

decomposto por meio de análise.

O termo percepção é empregado correntemente para designar em Psicologia o ato pelo qual se

toma conhecimento de um objeto do meio exterior, considerado real, isto é, como existente

fora da própria atividade perceptiva (PAIM, 1975, p. 21).

A maior parte das percepções provêm do meio externo, pois as sensações que os órgãos

internos proporcionam ao indivíduo são confusas e desempenham papel limitado na

elaboração do conhecimento do mundo exterior. (PAIM, 1975, p. 21).

De acordo com Tabone (1995), a Psicologia Transpessoal mostra que os estados alterados de

Page 51: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

50

consciência tidos como patológicos também dão origem a manifestações que significam

expansão da consciência além das limitações normais do ego e de tempo/espaço.

Paralelamente às alucinações, delírios, ilusões etc., que ocorrem nos estados alterados de

consciência psicopatológicos, há outros fenômenos como a clarividência, a premonição, a

autoscopia (out-of-body experience), o transe místico, o contato com arquétipos, que ocorrem

nas experiências de processos transpessoais.

Levando em conta os estudos de Grof, nas psicoses, ocorre uma manifestação espontânea de

níveis de abertura do centro de percepções extrasensoriais. São tramas disformes, vivenciados

na multidimensionalidade do ser, caracterizando experiências atemporais, extracorpóreas do

eu e não-eu, impedindo a estruturação do ego no aqui agora.

Os fenômenos mediúnicos que, no mapa conscêntrico da consciência de Ring, estão

localizados na região do Inconsciente Extraterreno, estão ligados a uma questão de senso-

percepção.

Danucalov e Simões (2009) citam que o psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira, mestre em

Ciências pela Universidade de São Paulo, diretor clínico do Instituto Pineal Mind e diretor

presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo – AMESP, tem defendido a

veracidade das manifestações mediúnicas, apoiando-se em suas pesquisas para respaldar sua

opinião.

A pineal, no que diz respeito à mediunidade, capta o campo eletromagnético impregnado de

informações como se fosse um telefone celular. Mas, tudo isso tem de ser interpretado em

áreas encefálicas, como por exemplo o córtex frontal. (DANUCALOV E SIMÕES, 2009, p.

319).

Como fenômenos ligados à questão senso-perceptiva, estes, com todas as variedades de

apresentação, são todos explicáveis como fenômenos transpessoais. (WEIL, DEIKMAN E

RING, 1978, p. 92).

Dessa forma, confirma-se a Síntese Energética de Grimberg, sobre o campo neuronal, onde

perpassa o processo que se leva a cabo, na intricada rede de interconexões neuronais do

cérebro, para interpretar a informação dos receptores sensoriais.

Uma das hipóteses apresentadas neste trabalho seria a que supõe que toda a experiência

Page 52: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

51

transpessoal faz parte da Psicopatologia.

Calderoni (2006) cita Beauchesne, que esclarece a proposição ao afirmar que conhecer o

normal através de estudo patológico é uma diretriz que separa a Psicopatologia de outras

disciplinas, pois dela decorre que há um “patológico” no psiquismo não redutível ao

organismo ou ao ambiente.

A organização Mundial de Saúde define normal como o bem-estar físico, psíquico e social.

Pelo observado, a resposta seria negativa, porque para a Psicopatologia, a alma, o psíquico, no

sentido de espírito, não pode adoecer e, desse modo, é impróprio falar de enfermidades da

alma. Só existe enfermidade no biológico, ou melhor, no antropológico. Os fenômenos

psíquicos são patológicos somente quando sua existência está condicionada por alterações

patológicas do corpo. (SCHNEIDER apud PAIM, 1975, p. 11).

É importante ressaltar que a psiquiatria clínica constitui uma ciência aplicada às alterações

psíquicas e seus problemas correlatos, como o diagnóstico, o tratamento e a profilaxia das

doenças mentais, enquanto a Psicopatologia tem um âmbito mais restrito, visando conhecer os

fenômenos psíquicos patológicos e sua origem, mecanismo íntimo e futuro desenvolvimento.

(PAIM, 1975, p. 12).

Certifica-se que a nova cartografia da psique esboçada no presente trabalho inclui dois

domínios adicionais: o perinatal, relacionado com trauma do nascimento e o transpessoal,

compreendo memórias ancestrais, raciais, coletivas e filogenéticas, experiências cármicas e

dinâmicas arquetípicas. Essa ampliada compreensão da psique é aplicada a várias desordens

emocionais e psicossomáticas que não têm base orgânica “psicopatologia psicogênica”

(GROF, 2000, p. 12).

Para explicar essas condições, a psiquiatria tradicional usa um modelo limitado a traumas

biográficos pós-natais na infância, na adolescência e na vida adulta. A nova compreensão

sugere que as raízes de tais desordens têm um alcance muito mais profundo e inclui

contribuições significativas do nível perinatal e dos domínios transpessoais da psique (GROF,

2000, p. 12).

Soube-se com a pesquisa que, há mais de quarenta anos, Grof descobriu, como voluntário

para uma experiência com LSD, uma substância com notáveis propriedades psicoativas,

descoberta pelo químico suíço, Albert Hofmann, nos laboratórios farmacêuticos Sandoz em

Page 53: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

52

Basel. (GROF, 2000, p. 9).

Naquela sessão em que Grof foi voluntário usando LSD, durante a qual teve uma experiência

cósmica, nele manifestou-se um interesse intenso e vitalício em estados não comuns de

consciência. (GROF, 2000, 9).

Faz quatro décadas que Grof se dedica à pesquisa da consciência e isso têm sido para ele uma

aventura extraordinária de descoberta e autodescoberta.

Grof atestou aos poucos que a chamada doença mental e as alucinações são, muitas vezes,

fenômenos paranormais ou transpessoais que expressam outros níveis de realidade em outros

estados de consciência, desconhecidos pelo paciente, pelo público leigo e pelo médico, que

coloca nesses fenômenos o rótulo de esquizofrenia ou psicose maníaco-depressiva. (WEIL,

2003, p. 77).

Acompanhou-se na pesquisa, com as descobertas de Grof, não que os postulados científicos

estejam sofrendo abalos em suas bases estruturais diante da concepção dos estados alterados

de consciência, mas esses postulados deixaram de ser patológicos para se confirmarem como

de natureza transpessoal. Todavia, o paradigma atual está em vias de ser superado, porque

qualquer teoria deve ser vista como um limite de até onde se pode ser capaz de se conhecer e

de se transmitir o saber.

Fialho (1993) cita Franco: “a reação a uma ideia é sempre proporcional à sua importância”.

(FIALHO apud Franco, 1993, p. 226).

Assim sendo, Weil (2003) cita Grof no trabalho que este organizou, com a ajuda de inúmeros

terapeutas. Estes montaram uma rede de organismos que cuidam do que ele chamou de

spiritual emergencies. Esses terapeutas recebem e acompanham as pessoas dominadas por

uma crise até que elas a transformem em um processo de individuação. O chamado surto

psicótico nunca mais aparece e a pessoa passa a cuidar conscientemente de seu processo de

evolução. (WEIL, 2003, p. 78).

Pelo observado na pesquisa, a 4ª Força em Psicologia, a Psicologia Transpessoal, surgiu para

ampliar o esquema de interpretação do psiquismo e solucionar os enigmas predominantes em

pacientes psicóticos, confirmando o conceito de “emergência espiritual” para os indivíduos

em crise de transformação.

Page 54: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

53

Para Tabone (1995), é importante ressaltar que a Psicologia Transpessoal pode ser entendida

como a união da moderna pesquisa científica da consciência com as tradições esotéricas em

seus aspectos fundamentais, que têm em comum a visão integradora do homem, do Universo

e da própria relação homem/Universo.

A partir desta pesquisa, reconhece-se que o estudo das leis que regem o Universo promoveu o

desenvolvimento de uma linha materialista de estudo. À medida que se aperfeiçoaram novos

métodos e aparelhos científicos, verificou-se que a consistência da matéria é ilusória e, na

verdade, o que existe são partículas energéticas e o vazio.

Com a Psicologia Transpessoal, percebe-se o homem como uma totalidade na interação de

seus níveis de consciência físico, emocional, mental, existencial e espiritual.

Atesta-se que essa abordagem surgiu para redefinir a concepção do velho paradigma, onde o

homem é visto como fragmentado e reducionista, orientado pelo modelo mecanicista.

O verdadeiro estado transpessoal é aquele em que o mundo da dualidade é transcendido, o

mundo interior e exterior são vistos como totalidades, abrangendo o mundo relativo, o

dualista pessoal e o estado absoluto transpessoal.

Como podemos perceber através da Cartografia de K. Ring, existem vários níveis de

Consciência e, portanto, de realidade. O acesso aos níveis transpessoais se dá de muitas

formas e também apresentam graus de ampliação variados de consciência.

Atesta-se com a pesquisa que os fenômenos transpessoais não são psicopalógicos, dado que

seu substrato não é físico e, como Weil (2003) descreve, a experiência transpessoal é

justamente a súbita revelação de quem somos realmente. Além de um ego, somos ou

pertencemos a “algo” muito maior, de onde nasce a expressão transpessoal, o que é além da

pessoa.

Para finalizar o presente trabalho, será dito que a diferença de um fenômeno transpessoal para

um fenômeno psicopatológico está no conteúdo das experiências e na forma como a pessoa

retoma a realidade e volta a “funcionar”, assumindo sua vida cotidiana ou não. Em verdade, o

desencadear de uma emergência espiritual é bastante rico, envolvendo emoções intensas,

inclusas em quaisquer das três categorias estudadas e que não podem ser explicadas como

produto de processos neurofisiológicos, baseados numa ciência mecanicista que sustenta estar

a consciência baseada no cérebro humano.

Page 55: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

54

Sugere-se, portanto, que a pesquisa possa prosseguir no sentido de se investigarem as

influências da Psicologia Transpessoal na compreensão dos estados de consciência, do estado

de consciência do self, onde o mundo da dualidade deixa de existir. O estado onde o ego se

transforma em autônomo, como sujeito do desejo, onde se consegue ser livre e não depender

mais da opinião do outro, o nível de consciência teo antrópica ou consciência teândrica, que

não separa mais Deus do homem.

Page 56: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÂNGELIS, Joana de; FRANCO, Divaldo Pereira. O ser consciente. Salvador: LivrariaEspírita Alvorada Editora, 1993.

_________________; FRANCO, Divaldo Pereira. Vida: desafios e soluções. Salvador:Livraria Espírita Editora, 1997.

BALDUINO, Leopoldo. Psiquiatria e Mediunismo. Rio de Janeiro: FEB, 1993.

BRONOWSKI, Jacob. Ciência e valores humanos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990. p. 66.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. SãoPaulo: Cultrix, 1982.

CAVALHEIRO, A. Esper. As doenças do cérebro. Ciência Hoje. Brasília. v. 18, nº 94, p.23-33, set.;out, 1993.

CIENTIFICA AMERICAN, Edição Especial nº 4, 2001, p.13.

CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.

CREMA, Roberto. Introdução à visão holística: breve relato de viagem do velho ao novoparadigma. São Paulo: Summus, 1989.

DANUCALOV, Marcelo Árias Dias. SIMÕES, Roberto Serafim. Neurofisiologia daMeditação: investigações científicas no Yoga e nas experiências místico-religiosas: a uniãoentre ciência e espiritualidade, São Paulo: Phorte Editora, 2009.

DI BIASE, Francisco. O homem holístico, a unidade mente-natureza. São Paulo:EditoraVozes. 3ª edição, 2002.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 19. ed. rev. São Paulo: Perspectiva, 2004.

FIALHO, Francisco. A eterna busca de Deus, de quarks a psi.Sobradinho, DF,Edicel, 1993.

JAMES, W. Características do pensamento, consciência pessoal. In: FADIMAN, J.,FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986, p. 153.

Page 57: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

56

GROF, Stanislav. A natureza da realidade: o alvorecer de um novo paradigma. In: GROF,Stanislav. Além do cérebro nascimento: morte e transcendência em psicoterapia. São Paulo:McGraw-Hill, 1987.

GROF, Stanislav. GROF, Cristina. (Orgs). Emergência espiritual: crise e transformação

espiritual. São Paulo: Editora Cultrix, 1995.

GROF, Stanislav. Psicologia do futuro: lições das pesquisas modernas de consciência. Rio

de Janeiro, Editora Heresis, 2000.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. DicionárioHouaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

JAPIASSÚ, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago,

1976.

JAPIASSÚ, Hilton. A crise da razão e do saber objetivo: as ondas do irracional. São Paulo:Letras & Letras, 1996.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 62ª edição, 1944 (copyright).

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB,

LURIA, A . R . Curso de Psicologia Geral. Volumes 1. Civilização Brasileira 1991. RJ.

MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca,

[196-?].

NEURERN, Maurício S. Psicologia, hipnose e subjetividade, revisitando a história. BeloHorizonte, 2009.Diamante.

PAIM, Isaias. Curso de Psicopatologia. São Paulo: Editorial Grijalbo Ltda, 1975.

PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Os pensadores).

Page 58: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

57

RANK, O. O que a psicanálise realizou até agora. In: BECHER, E. A negação da morte. Riode Janeiro, Record, 1992. cap. 9, p. 203-235.

ROBLES, Teresa. Concerto para quatro cérebro em psicoterapia. Belo Horizonte, EditoraDiamante, 2008.

ROGER, N. WALSSHM; FRANCES, WAUGHAN. (ORGS.). Além do Ego: dimensões

transpessoais em psicologia. São Paulo: Cutrix/Pensamento, 1980.

SALDANHA. Vera. A psicoterapia transpessoal. Campinas: Komedi, 1997.

SEABRA, G. Farias. Pesquisa científica: o método em questão. Brasília: UNB, 2001.

SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. História da psicologia moderna. Tradução SuelyS. M. Cuccio. 8.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 1981.

SCHWARTZMANS, R. Sataovschi. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Belo Horizonte, v.35,p. 175, maio/jun.1986.

TABONE, Márcia. A Psicologia Transpessoal: introdução à nova visão da consciência em

psicologia e educação. São Paulo: Editora Cultrix Ltda, 1995.

WEIL, Pierre. A consciência cósmica: introdução à psicologia transpessoal. Petrópolis:

Vozes, 1982.

WEIL, Pierre. A morte da morte: uma abordagem transpessoal. São Paulo: Gente, 1995.

__________. Os mutantes: uma nova humanidade para um novo milênio. Campinas: Verus,

2003. p. 94.

WEIL, Pierre; D'AMBROSIO, Ubiratan; CREMA, Roberto. Rumo à nova

transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. São Paulo: Summus, 1993. p.63.

WEIL, Pierre; DEIKMAN, Arthur J; RING, Kenneth. Cartografia da consciência humana:

pequeno tratado de psicologia transpessoal. Petrópolis: Vozes, 1978. v. I.

Page 59: Monografia-SÃO-OS-FENÔMENOS-TRANSPESSOAIS-PSICOPATOLÓGICOS

58

WEIL, P. et al. Mística e Ciência: pequeno tratado de psicologia transpessoal. Petrópolis:

Vozes, 1991. p. 29-30.

WILBER, Ken. O olho do espírito, uma visão integral para um mundo que ficou

ligeiramente louco. São Paulo, Editora Pensamento-Cultrix, 1997.

________. O espectro da consciência. São Paulo: Cultrix, 1996.

WILBER, Ken. Psicologia integral: consciência, espírito, psicologia, terapia. São Paulo:

Cultrix, 2000.

__________ . Uma teoria de tudo: uma visão integral para os negócios, a política, a ciência e

a espiritualidade. São Paulo: Cultrix, 2003.

WOLF, Fred Alan; TOBEN, Bob. Espaço-tempo e além: Bob Toben e Fred Alan Wolf em

conversa com físicos teóricos. São Paulo: Cultrix, 1982.