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Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil Monografia "SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: PROPOSTA PARA UM CONJUNTO RESIDENCIAL POPULAR SUSTENTÁVEL" Autora: Lilian Lucchesi dos Santos Orientadora: Prof. Maria Teresa Paulino Aguilar Janeiro / 2007

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Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia

Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil

Monografia

"SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: PROPOSTA PARA UM

CONJUNTO RESIDENCIAL POPULAR SUSTENTÁVEL"

Autora: Lilian Lucchesi dos Santos

Orientadora: Prof. Maria Teresa Paulino Aguilar

Janeiro / 2007

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LILIAN LUCCHESI DOS SANTOS

"SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL: PROPOSTA PARA UM

CONJUNTO RESIDENCIAL POPULAR SUSTENTÁVEL"

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil

da Escola de Engenharia UFMG

Ênfase: Tecnologia e Produtividade das Construções

Orientadora: Prof. Maria Teresa Paulino Aguilar

Belo Horizonte

Escola de Engenharia da UFMG

2007

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Ao meu querido pai, que vive perto de Deus.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, minha mãe, meus irmãos, ao amor incondicional que nos une

nesta vida;

Aos professores e amigos, companheiros solidários no caminho do

conhecimento.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 13

2.1 Sustentabilidade............................................................................................... 13

2.1.1 Nosso Futuro Comum ................................................................................... 14

2.1.2 Objetivos do Milênio ...................................................................................... 16

2.1.3 A Declaração do Rio e a Agenda 21 ............................................................. 17

2.2 Sustentabilidade na Construção Civil............................................................... 19

2.2.1 Enfoque Ético Social ..................................................................................... 19

2.2.2 Sustentabilidade nas Cidades....................................................................... 20

3. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO................................................................... 24

3.1 Objetivos do Trabalho ...................................................................................... 24

3.2 Metodologia...................................................................................................... 26

3.3 Sustentabilidade na Construção Civil............................................................... 28

3.3.1 Para uma Política Urbana Sustentável ......................................................... 29

3.3.1.1- Considerações iniciais ............................................................................... 30

3.3.1.2- A Constituição Federal de 1988................................................................. 31

3.3.1.3- O Estatuto da Cidade................................................................................. 33

3.3.1.4- O Parcelamento do Solo ............................................................................ 34

3.3.2 Parâmetros para um Loteamento Sustentável .............................................. 37

3.3.2.1 – Unidades de Vizinhança........................................................................... 37

3.3.2.2 – Arboricultura e Agricultura Urbana ........................................................... 38

3.3.2.3 – Outras práticas urbanísticas sustentáveis................................................ 40

3.3.3 Parâmetros para uma Residência Sustentável ............................................. 42

3.3.3.1 - Redução do Desperdício........................................................................... 42

3.3.3.2 – Conservação e Reabilitação de Edifícios Antigos.................................... 43

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3.3.3.3 - Reciclagem ............................................................................................... 45

3.3.3.4 – Coordenação de Projetos......................................................................... 47

3.3.3.5 – Exemplos Tecnologias Alternativas ......................................................... 50

4. RESULTADOS....................................................................................................... 56

4.1 Projeto para um loteamento sustentável .......................................................... 56

4.1.1 Projeto Urbanístico........................................................................................ 57

4.2 Projeto para uma residência sustentável ......................................................... 63

4.2.1 Projeto Arquitetônico ..................................................................................... 64

5. ANÁLISE DO PROJETO ....................................................................................... 84

5.1 O Loteamento................................................................................................... 84

5.2 O Edifício.......................................................................................................... 86

5.2.1 Adequação ao Programa de Necessidades.................................................. 88

5.2.2 Economia no desenho arquitetônico: Índice de Compacidade ..................... 89

5.2.2.1 – Cálculo dos índices para o projeto proposto ............................................ 92

5.2.3 Técnicas construtivas sustentáveis aplicadas ao projeto.............................. 93

6. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 95

7. ANEXOS ................................................................................................................ 97

7.1 Extrato da Lei 10.257/01 – Estatuto da Cidade .............................................. 97

7.2 Extrato da Lei 6766/79 – Parcelamento do Solo.............................................. 101

7.3 Extrato do Projeto de Lei 3057/00 –Lei de Responsabilidade Territorial ......... 103

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 109

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Nullenergiehaus ou Casa Zero Alemã....................................................... 22

Figura 3.1: Casa Eficiente............................................................................................ 50

Figura 3.2: Exemplo projeto reuso de água para uma construtora em São Paulo ...... 52

Figura 3.3: Tijolos de solo-cimento com resíduo ......................................................... 53

Figura 3.4: Encontro de paredes feito com tijolos vazados de solo-cimento............... 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1: Legenda de usos / zoneamento ............................................................ 58

Tabela 4.2: Quadro resumo tipologias da Unidade de Vizinhança .......................... 65

Tabela 4.3: Quadro resumo tipologias vs área da unidade residencial ................... 65

Tabela 5.1: Quantidade de parede vs plantas de edifícios ...................................... 90

Tabela 5.2: Índice de compacidade para as edificações propostas......................... 92

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LISTA DE NOTAÇÕES, ABREVIATURAS

ELETROBRAS = Centrais Elétricas Brasileiras S.A

ELETROSUL = Eletrosul Centrais Elétricas S.A.

FIEMG = Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

IPTU = Imposto Predial e Territorial Urbano

m² = metro quadrado (unidade de área)

NBR = Norma Brasileira

ODM = Objetivos do Milênio

ONG = Organização não Governamental

ONU = Organização das Nações Unidas

PAR = Programa de Arrendamento Residencial

PNDU = Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PROCEL = Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

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RESUMO

Neste trabalho é feita uma abordagem dos conceitos de Sustentabilidade e

Desenvolvimento Sustentável, associando-se a definição geral, formulada pela

primeira vez na década de 80 pelo Relatório Brundtland, aos temas relacionados aos

sistemas que envolvem a Construção Civil. É feita uma reflexão sobre a real

abrangência e o alcance destes conceitos de sustentabilidade ao tema principal da

pesquisa, que é a sustentabilidade na construção civil. É enfatizada a construção

direcionada à criação de moradias de baixo custo, que em princípio seriam

direcionadas para diminuir o enorme déficit habitacional do país. A reflexão sobre

Construção Civil Sustentável é conduzida pela apresentação de um projeto preliminar

para um loteamento desenvolvido em bases sustentáveis, explicitando os aspectos

que traduzem a sustentabilidade da proposta. O planejamento do loteamento popular

também inclui o projeto das residências-tipo a serem implantadas, igualmente

projetadas sob a ótica sustentável.

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1. INTRODUÇÃO

A noção de sustentabilidade já existe em inúmeros tratados, documentos, relatórios,

pactos mundiais. Neles se determinam os princípios e compromissos a serem

respeitados em defesa da preservação do planeta, garantindo-o para o presente e

para as gerações futuras. Em outras situações a noção de sustentabilidade não está

explicitamente colocada no texto, mas em última análise, está nas entrelinhas, e pode

ser constatada, por exemplo, ao se analisar a evolução da legislação brasileira que

trata de temas correlatos ao parcelamento do solo, que afeta diretamente a construção

civil. No entanto, se esses acordos/compromissos não forem praticados seus

conteúdos não passarão de letras mortas, serão apenas cartas cheias de boas

intenções, mas que não se traduzem em reais ações sustentáveis.

Os relatórios ambientalistas apontam para um colapso ambiental , caso continuemos a

consumir e explorar o planeta a níveis insustentáveis. Qual seria a razão do ‘fracasso’

dessas ações sustentáveis? Uma possível resposta para esta questão poderia estar

na forma linear de pensar os problemas mundiais. No caso específico da Construção

Civil, os questionamentos envolvem os problemas urbanos, que são muitas vezes

analisados isoladamente, esquecendo-se que todas as atividades humanas nas

cidades (ou em qualquer lugar) vão se desdobrar e se conectar até atingirem todo o

planeta.

O pensamento linear não é capaz de abordar toda a complexidade que envolve o

sistema da construção civil, sua relação com a cidade e o mundo. Uma abordagem

sistêmica, capaz de reconhecer os processos que afetam a construção civil, e como

estes se relacionam com o todo, no caso a cidade, é o meio mais eficiente para se

visualizar o caminho para a sustentabilidade.

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Neste trabalho, é feita, a apartir da definição geral formulada pela primeira vez na pelo

Relatório Brundtland(1987), uma conexão dos conceitos de Sustentabilidade e

Desenvolvimento Sustentável aos temas relacionados aos sistemas que envolvem a

Construção Civil.

Para exemplicar o que vem a ser uma Construção Civil Sustentável é apresentado um

projeto preliminar para um loteamento desenvolvido em bases sustentáveis,

explicitando os aspectos que traduzem a sustentabilidade da proposta. O

planejamento do loteamento popular também inclui o projeto das residências-tipo a

serem implantadas, igualmente projetadas sob a ótica sustentável.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A definição do conceito de sustentabilidade é tratada atualmente por diversos autores,

cada um dando enfoque pessoal ao tema na área que lhe é familiar, seja ele um

pesquisador social, ecologista, biólogo, ou até um administrador público consciente de

sua responsabilidade política. No entanto este não é um assunto novo, as discussões

sobre o tema já ocorrem a quase quatro décadas. Neste tópico são apresentados os

conceitos gerais de sustentabilidade e seu enfoque na Construção Civil.

2.1 Sustentabilidade

As primeiras discussões ambientalistas se confundem com os debates levados pela

ONG Clube de Roma, na década de 60. O primeiro relatório elaborado pelo Clube de

Roma (Limits to Growth, de 1972) causou enorme impacto entre a comunidade

científica, por apresentar cenários catastrofistas de como seria o planeta, caso

persistisse o padrão de desenvolvimento vigente na época. A partir daí, outros

relatórios alertavam com freqüência para a necessidade de se mudar o padrão de

desenvolvimento, e preservar o meio ambiente. Podemos citar como marcos

referenciais para o Desenvolvimento Sustentável os seguintes documentos:

• Relatório do Clube de Roma: Limites do Crescimento (1968);

• Declaração de Estocolmo (1972);

• Relatório de Bruntland: Nosso Futuro Comum (Noruega, 1986);

• Declaração do Rio (1992);

• Agenda 21 (1992).

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A Declaração de Estocolmo elaborou vinte e seis “princípios comuns que ofereçam

aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente

humano”, sem no entanto definir claramente como relacionar o desenvolvimento com a

preservação ambiental. O Princípio 11 traduz esta ambigüidade:

Princípio 11 da Declaração de Estocolmo: “As políticas ambientais de todos os

Estados deveriam estar encaminhadas para aumentar o potencial de crescimento

atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam restringir esse

potencial nem colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para

todos. Os Estados e as organizações internacionais deveriam tomar disposições

pertinentes, com vistas a chegar a um acordo, para se poder enfrentar as

consequências econômicas que poderiam resultar da aplicação de medidas

ambientais, nos planos nacional e internacional.”

As políticas ambientais neste texto são entendidas como restritivas ao crescimento

dos países em desenvolvimento, daí a recomendação para que estas não coloquem

obstáculos à conquista de melhores condições de vida para todos.

2.1.1 Nosso Futuro Comum

No início da década de 1980 a ONU indicou a primeira-ministra da Noruega, Gro

Harlem Brundtland, para chefiar os debates ambientais na Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento. O documento final desses estudos chamou-se

Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, o relatório

propõe o desenvolvimento sustentável, definido como: “aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

atenderem às suas necessidades”.

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Fica claro, nessa nova visão das relações homem-meio ambiente, que não existe

apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um limite

máximo para a utilização dos recursos naturais, de modo que sejam preservados e

perpetuados.

Segundo o relatório da Comissão Brundtland, uma série de medidas devem ser

tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Dentre elas:

» limitação do crescimento populacional;

» garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;

» preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

» diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de

fontes energéticas renováveis;

» aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em

tecnologias ecologicamente adaptadas;

» controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores;

» atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).

Em âmbito internacional, as metas propostas são:

» adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de

desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento);

» proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártica, oceanos, etc, pela

comunidade internacional;

» banimento das guerras;

» implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das

Nações Unidas.

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Complementando estas recomendações podemos imaginar outras medidas a serem

tomadas pelos setores produtivos na implantação de um programa adequado de

desenvolvimento sustentável:

» uso de novos materiais na construção;

» reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais;

» aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica

e a geotérmica;

» reciclagem e re-uso de materiais reaproveitáveis;

» consumo racional de água e de alimentos;

» redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de

alimentos.

2.1.2 Objetivos do Milênio

No início da década de 1990 a ONU, através do PNUD, lançou as bases teóricas do

Desenvolvimento Humano Sustentável, elevando o ser humano a agente e sujeito

do próprio desenvolvimento. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

tem como mandato central o combate à pobreza. Em resposta ao compromisso dos

líderes mundiais de atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o

PNUD adota uma estratégia integrada, sempre respeitando as especificidades de cada

país, para a promoção da governabilidade democrática, o apoio à implantação de

políticas públicas e ao desenvolvimento local integrado, a prevenção de crises e a

recuperação de países devastados, a utilização sustentável da energia e do meio

ambiente, a disseminação da tecnologia da informação e comunicação em prol da

inclusão digital, e a luta contra o HIV/AIDS. O PNUD é uma instituição multilateral e

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uma rede global presente hoje em 166 países, pois está consciente de que nenhuma

nação pode gerir sozinha a crescente agenda de temas do desenvolvimento.

O PNDU Brasil divulga e promove ações para alcançar os Objetivos do Milênio (ODM).

São 08 objetivos, 18 metas e 48 indicadores; o Objetivo 7 – Garantir a

Sustentabilidade Ambiental – pretende integrar os princípios do desenvolvimento

sustentável revertendo a perda de recursos ambientais, garantindo acesso

permanente e sustentável à água potável e segura e garantindo (até 2020) uma

melhora significativa na vida dos habitantes de bairros degradados.

2.1.3 A Declaração do Rio e a Agenda 21

A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente é o resultado das discussões da

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que

ocorreu em junho de 1992 no Rio de Janeiro, a ECO-92, reafirmando a Declaração da

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em

Estocolmo, em 1972.

O documento produzido define vinte e sete princípios, onde estão presentes o direito

ao desenvolvimento sustentável, atendendo eqüitativamente as necessidades de

desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras, além de

recomendar aos Estados a tarefa de erradicar a pobreza:

Princípio 5 da Declaração do Rio: “Para todos os Estados e todos os indivíduos, como

requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa

essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida

e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.”

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A Agenda 21 é mais um resultado das discussões da ECO-92. Trata-se de um

documento consensual firmado entre os países, resgatando o termo ‘Agenda’ no seu

sentido de intenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização

em que predominasse o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.

Destaca-se ainda que a Agenda 21 não é uma simplesmente uma Agenda Ambiental e

sim uma Agenda para o Desenvolvimento Sustentável, onde, evidentemente, o meio

ambiente é uma consideração de primeira ordem.

Mais do que um documento, a Agenda 21 é um processo de planejamento

participativo que analisa a situação atual de um país, Estado, município e/ou região, e

planeja o futuro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve envolver

todos os atores sociais na discussão dos principais problemas e na formação de

parcerias e compromissos para a sua solução a curto, médio e longo prazos. A análise

é o encaminhamento das propostas para o futuro devem ser feitas dentro de uma

abordagem integrada e sistêmica das dimensões econômica, social, ambiental e

político-institucional. Em outras palavras, o esforço de planejar o futuro, com base nos

princípios de Agenda 21, gera produtos concretos, exeqüíveis e mensuráveis

derivados de compromissos pactuados entre todos os atores, fator esse, que garante

a sustentabilidade dos resultados.

O planejamento participativo ocorre durante a elaboração da Agenda 21 Local, através

de um diálogo entre a autoridade local e seus cidadãos. Por meio de consultas e da

promoção de consenso, as autoridades locais ouvirão os cidadãos e as organizações

cívicas, comunitárias, empresariais e industriais locais, obtendo assim as informações

necessárias para formular as melhores estratégias. O processo de consultas

aumentará a consciência das famílias em relação às questões do desenvolvimento

sustentável. Os programas, as políticas, as leis e os regulamentos das autoridades

locais destinados a cumprir os objetivos da Agenda 21 serão avaliados e modificados

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com base nos programas locais adotados. Podem-se utilizar também estratégias para

apoiar propostas de financiamento local, nacional, regional e internacional.

É parte integrante dos compromissos firmados pela Agenda 21 oferecer a todos

habitação adequada lembrando que o acesso à habitação segura e saudável é

essencial para o bem-estar físico, psicológico, social e econômico das pessoas,

devendo ser parte fundamental das estratégias de ação dos países os esforços para

diminuir seu déficit habitacional nas áreas urbanas e rurais.

2.2 Sustentabilidade na Construção Civil

No presente momento a discussão sobre sustentabilidade avança e envolve cada vez

mais profissionais de diversas áreas; em certos momentos se reúnem para trabalhar

em conjunto na busca de soluções para este desafio proposto. Algumas reflexões

sobre o tema, elaboradas por profissionais do setor da construção civil, podem ser

resumidas a seguir.

2.2.1 Enfoque Ético Social

Um enfoque social ao tema é dado pelo engenheiro Ubiratan Félix “a dificuldade de

acesso à moradia de amplos setores populacionais é a principal ameaça a

sustentabilidade das cidades brasileiras, já que, em razão da exclusão de grande

parte da população do mercado imobiliário formal cresce o déficit habitacional e as

formas de ocupação irregulares em áreas de risco, de proteção ambiental e

mananciais” (Félix, p.61).

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O arquiteto Jaime Pusch traz uma visão ética para o mesmo conceito: “a

sustentabilidade é uma recomendação pró-ativa. Apresenta-se ao agente de

desenvolvimento como uma condicionante definitiva de sua ação sobre o meio... O

conceito de ação sustentável passa também pela consideração do homem como

ser integrante da natureza e propõe a harmonização dos seus interesses peculiares

consigo mesmo e seu entorno” (Pusch, p.30).

2.2.2 Sustentabilidade nas Cidades

A arquiteta Marta Romero aborda o tema numa perspectiva processual, trazendo o

conceito para a cidade, ampliando a visão além da simples dimensão ecológica: “a

construção da sustentabilidade nas cidades brasileiras significa enfrentar várias

questões desafiadoras, como a concentração de renda e a enorme desigualdade

econômica e social, o difícil acesso à educação de boa qualidade e ao saneamento

ambiental, o déficit habitacional e a situação de risco de grandes assentamentos, além

da degradação dos meios construído e natural e dos acentuados problemas de

mobilidade e acessibilidade” (Romero, p.55).

Marta Romero propõe um urbanismo sustentável, baseado em premissas de

desenho participativo, arquitetura da paisagem, bioclimatismo e eficiência energética.

A sustentabilidade emerge da integração de quatro elementos:

1- desenvolvimento econômico, que inclui habitação acessível, segurança pública,

proteção do meio ambiente e mobilidade;

2- inclusão social, reconciliando interesses para identificar e alcançar valores e

objetivos comuns;

3- previsão de objetivos a longo prazo (preservação para as gerações futuras);

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4- qualidade pela preservação da diversidade e não a quantidade.

Todos estes conceitos são importantes, e se complementam, uma vez que permitem

uma compreensão do que vem a ser a sustentabilidade através de uma aproximação

de seus múltiplos significados ao tema da Construção Civil. Caso se deseje classificar

uma ação relacionada à construção civil como plenamente sustentável, deve-se ainda

lembrar que a dimensão social deve ser envolvida, contribuindo para diminuir a

pobreza e promovendo a igualdade social nas cidades.

Outro aspecto relevante que pode ser notado é que o conceito de sustentabilidade não

é fechado, não é possível atingir uma sustentabilidade absoluta. Um projeto poderá

sempre adotar soluções que diminuam seu impacto no meio ambiente; analisado sob

outros aspectos poderá não ser plenamente sustentável.

Podemos exemplificar com a experiência alemã, que criou o conceito Casa Energia

Zero (figura 2.1). As soluções tecnológicas projetadas para aumentar sua autonomia

energética, como por exemplo a instalação de células fotovoltaicas para gerar energia,

podem não ser sustentáveis se consideradas no contexto da realidade brasileira. Os

altos custos de implantação e manutenção desta tecnologia inviabilizariam sua

aplicação em larga escala num conjunto habitacional popular, por exemplo.

Considerando a realidade brasileira, com todas as suas implicações sociais, as

desigualdades salariais, a concentração de renda em poucos setores, o déficit

habitacional na esfera dos milhões de unidades, certamente seria mais sustentável

(para um mesmo valor disponível para investimento) construir algumas centenas de

residências populares a baixo custo do que algumas dezenas de caríssimas Casas-

Zero alemãs. Reduzir o impacto da edificação no meio ambiente é uma prática

sustentável, também é parte da sustentabilidade garantir residência segura e salubre

para toda população de um país.

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Zero-energy house in Adenbüttel, Germany. Picture: MBW.NRW

Zero-Energy Building

The zero-energy building, or even an energy-producing building, is more a vision than a

current reality in construction methods. For purposes of heating, the building may not use any

extra energy. In fact, it could even end up transferring excess energy to other consumers by

gaining heat from the sun

Heating needs of buildings in kilowatt-hours per square meter per year

Zero-Energy Building

Energy-Producing Building 0 KWh/m²*a or energy surplus

Low-Energy Building 40 – 79 KWh/m²*

Three-Liter-Building 16 -- 39 KWh/m²

Passive Energy Building max. 15 KWh/m²*

Existing Buildings

Depending on Insulation 80 – 300 KWh/m²

The concept of the zero-energy building can be misleading if more energy is used in the

construction of the building than would be saved by the heat-conserving measures.

http://www.solarserver.de/lexikon/nullenergiehaus-e.html

Figura 2.1: Nullenergiehaus ou Casa Zero Alemã

Outra importante consideração a se fazer está na definição da metodologia utilizada

para encarar os problemas urbanos. Apesar dos avanços científicos que fornecem

poderosas ferramentas de trabalho para o planejador, tais como programas de geo-

referenciamento, fotos aéreas tiradas de satélites, programas que permitem trabalhar

simultaneamente várias disciplinas de planejamento, pode-se apontar como o maior

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obstáculo a ser vencido a maneira de pensar soluções para os mais graves problemas

de nossas cidades. Freqüentemente poderá um planejador despreparado se deixar

levar pelo pensamento linear, que não é uma alternativa adequada aos problemas

humanos. Por exemplo pode-se inferir que a presença de uma favela no meio urbano

gera violência, no entanto eliminar a favela não é solução definitiva para eliminar a

violência.

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3. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Algumas estratégias de análise podem ser propostas para aproximar o conceito geral

definido pelo relatório Brundtland para o tema construção civil sustentável, em

especial a moradia, objeto deste estudo. Se pensarmos na moradia como uma

unidade inserida num bairro, que é parte de uma cidade, que pode pertencer a uma

região metropolitana, que se relaciona com outras cidades, formando Estados,

continentes, o próprio planeta...verificamos que uma residência é apenas uma

pequena parte de um todo maior e mais complexo, assim como uma célula é uma

parte elementar, não menos essencial, de um organismo vivo.

As gerações futuras, para as quais voltamos nossa atenção permitindo tenham

recursos para atender suas próprias necessidades, vão precisar habitar o planeta de

forma sustentável, usufruindo o meio ambiente natural, produzindo alimentos e bens

de consumo, comunicando-se, relacionando-se e habitando residências salubres,

seguras e igualmente sustentáveis.

A análise da menor parte que compõe o sistema mais complexo, habitação planetária

por seres humanos, que vem a ser a moradia que abriga a família, será feita tendo em

mente que esta parte, a residência, se relaciona com vários outros sistemas: redes de

abastecimento de água e energia, rede de esgotos, sistemas de drenagem pluvial,

bacias hidrográficas, microclima local, que estão intrinsecamente ligados numa rede

de conexões que irá culminar numa abrangência que atinge a todos os habitantes do

planeta.

3.1 Objetivos do trabalho

Com base nos princípios apresentados, aplicando-os para se alcançar a

sustentabilidade na construção civil, o trabalho prático começa com a proposição de

uma comunidade sustentável. Trata-se de um loteamento popular, cujos terrenos

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destinados à moradia têm 250,0m², para os quais se prevê ocupação com residências

de dois pavimentos geminadas duas a duas em cada lote, ou uma residência

unifamiliar por lote. O desenho do loteamento e as soluções técnicas das residências-

tipo propostas, foram feitos com base nos princípios de sustentabilidade pesquisados,

não levando em conta, inicialmente, se as opções por um desenho urbano

ecologicamente correto (com maiores áreas reservadas à cobertura vegetal, por

exemplo) resultem numa proposta financeira mais onerosa para o empreendimento

como um todo. No entanto buscou-se sempre soluções compatíveis com a realidade

brasileira, imaginando que estas residências serão habitadas por populações de baixo

poder aquisitivo.

Em seguida será feita uma análise do loteamento proposto e do projeto básico para

residências-tipo, apontando e justificando as soluções técnicas utilizadas que

permitem qualificá-los como sustentáveis.

Complementa este trabalho, mas não será apresentado neste momento, o

desenvolvimento do projeto executivo e planilha orçamentária desta residência

‘sustentável’. Comparando-se esta planilha aos custos de construção de uma

residência similar, executada com padrões construtivos tradicionais, pode-se avaliar

se a sustentabilidade representou uma elevação ou redução dos custos da

construção. Na análise da pós-ocupação pode-se fazer uma projeção do consumo

energético de cada unidade residencial, a sustentável e a tradicional, e verificar em

seguida se a residência sustentável atingiu as metas esperadas, dentre elas um

menor impacto nos sistemas urbanos e um menor consumo energético. Este

levantamento poderá demonstrar que a construção civil sustentável é viável, e

contribui para a preservação do meio ambiente.

3.2 Metodologia

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Edgar Morin, sociólogo, antropólogo, historiador, geógrafo e filósofo, nascido em Paris

em 1921, é considerado um dos maiores pensadores do séc. XX. Sobre a educação,

faz questionamentos importantes sobre os atuais modelos de ensino, que são

essencialmente, no seu ponto de vista, meras justaposições de disciplinas que não se

relacionam. O trecho abaixo, retirado do Ciclo de palestras: Planeta Terra um Olhar

Transdisciplinar - Educação na era Planetária, ilustra seu pensamento:

“Educar para a era planetária significa que devemos nos questionar para saber se

nosso sistema educacional está baseado na separação dos conhecimentos.

Conhecimentos estes que as disciplinas separam, e não somente elas as separam,

como tampouco comunicam. Nós aprendemos a analisar, a separar, mas não

aprendemos a relacionar, a fazer com que as coisas comuniquem”

“Tudo está ligado, não só na realidade humana, como também na realidade planetária.

Portanto, podemos imaginar que nosso sistema educacional é inadequado. Vejam a

palavra” complexidade”. Ela vem do latim complexus, “aquilo que é tecido”. Vemos,

então, que nosso sistema educacional nos torna incapazes de conceber a

complexidade, isto é, as inumeráveis ligações entre os diferentes aspectos dos

conhecimentos.”

Entretanto, qual seria a relação entre a complexidade, ou as “inúmeras ligações” entre

as disciplinas que formam o conhecimento, e o tema que se propõe a desenvolver

neste trabalho? Antes de responder esta pergunta, e para ajudar no entendimento,

pode-se fazer um esboço do contexto social e cultural da nova concepção de vida, e

da importância dos problemas ambientais que adquiriram especial relevância no final

do século passado.

O físico americano Fritjof Capra encara estes problemas como “diferentes facetas de

uma crise, que é em grande medida uma crise de percepção” (Capra, p.23) Em outras

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palavras: quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais

somos levados a perceber que eles não podem ser resolvidos isoladamente. São

sistêmicos, que significa que são interligados e interdependentes.

Utilizando um termo criado pela escola filosófica do filósofo norueguês Arne Naess, no

início da década de 70, pode-se dizer que a percepção da ‘ecologia profunda’

reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e que o fato de

que enquanto indivíduos estamos todos encaixados nos processos cíclicos da

natureza.

Uma visão holística do mundo, concebido como um todo integrado, e não como uma

coleção de partes dissociadas pode ser também denominada uma visão ecológica,

considerando o sentido amplo do termo, que reconhece o valor de todos os seres

vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular da teia da vida. Esta

percepção holística, que coloca a ênfase no todo, tornou-se conhecida como

“sistêmica”. Os pioneiros do pensamento sistêmico foram os biólogos, que

enfatizavam a concepção dos organismos vivos como totalidades integradas.

Voltando à questão colocada, estabelecendo a relação entre complexidade, ou as

inúmeras ligações que formam o conhecimento, e a visão holística, que reconhece o

planeta como um todo integrado, percebe-se que são formas de pensar semelhantes,

analisando problemas correlatos (educação, ecologia) a uma questão crucial que deve

ser encarada neste momento: a sustentabilidade ambiental, especialmente a ser

abordada nesta pesquisa, a sustentabilidade na construção civil.

O meio ambiente não deve ser pensado dissociado de todos os outros sistemas

planetários; o meio ambiente que abrange os meios natural, rural e urbano, em última

análise, é o próprio planeta. A sustentabilidade ambiental, para ser plenamente

alcançada através desta nova postura holística, deve ser abordada em todas as suas

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implicações, nas esferas das atividades humanas, sejam elas familiares, educacionais,

habitacionais, produtivas, extrativistas ou exploratórias, de consumo de produtos,

prestação de serviços, de pesquisa, e até mesmo nas atividades futuras, aquelas que

ainda nem foram inventadas.

Finalmente, respondendo ao questionamento anterior, o que se pode aproveitar do

raciocínio exposto é que para se atingir a sustentabilidade na Construção Civil, tema

abordado no presente trabalho, deve-se lembrar que devem ser garantidos que todos

os sistemas interligados que compõem o sistema ‘construção civil’ devem ser também

respaldados por ações sustentáveis, que vão ampliando sua abrangência e se

conectando formando uma rede planetária ‘sustentável’.

A metodologia utilizada na elaboração do tema da pesquisa será então a sistêmica;

entender as coisas sistematicamente significa colocá-las dentro de um contexto e

estabelecer a natureza de suas relações. Os sistemas que compõem a construção

civil estarão sempre demandando a entrada e processamentos de insumos que geram

resíduos e efluentes, a sustentabilidade de suas atividades estará intimamente

relacionada à capacidade do planeta de fornecer tais insumos e processar tais

resíduos. Qualquer ação proposta para diminuir impactos da construção civil sobre o

meio ambiente contribui, em última instância, para a sustentabilidade de todo o

planeta.

3.3 Sustentabilidade na Construção Civil

A sustentabilidade, com suas múltiplas implicações, deve ser buscada em todas as

esferas das ações correlatas ao sistema da construção civil. A abordagem que se fará

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a seguir busca aproximar o conceito amplo da sustentabilidade na construção civil, o

todo, até o tema da habitação, a parte.

3.3.1 Para uma Política Urbana Sustentável

O trecho abaixo retirado do capítulo ‘Reformulando a Governança Global’ da

publicação O Estado do Mundo 2002, elaborado pela ONG World Watch Institute,

explica o que vem a ser a ‘boa governança urbana’:

“À medida que a população mundial se torna mais urbana e governos nacionais

deslocam algumas responsabilidades para cidades e vilas, as autoridades municipais

estão se tornando cada vez mais importantes. Em 1999 a Habitat, a agência das

Nações Unidas responsável por assentamentos humanos, lançou uma campanha

global que objetiva ajudar as pessoas a ter voz nos governos locais. Ela está

desenvolvendo um consenso em sete princípios da boa governança urbana:

» sustentabilidade: equilibrar as necessidades sociais, econômicas e ambientais de

gerações atuais e futuras por exemplo, elaborando um plano de ação de uma Agenda

21 local para o meio ambiente e o desenvolvimento;

» subsidiaridade: descentralizar responsabilidades e recursos ao nível inferior mais

adequado;

» igualdade: assegurar que todos os cidadãos tenham acesso à tomada de decisão;

» eficiência: administrar a receita municipal de forma economicamente viável;

» responsabilidade: obrigar as autoridades locais a prestar contas aos cidadãos,

melhorando o acesso às informações governamentais;

» participação: promover o engajamento cívico e a cidadania por exemplo, fazer uso

de audiências públicas e pesquisas; e

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» segurança: esforçar-se em manter seguros os logradouros públicos por exemplo,

envolvendo os cidadãos na prevenção de crimes e conflitos e prontidão contra

desastres, ou desenvolver uma campanha de conscientização pública a fim de

encorajar a tolerância à diversidade.” (French, p. 226)

No Brasil a responsabilidade sobre a política de desenvolvimento urbano foi

‘deslocada’ da esfera federal para os municípios. Os municípios devem aprovar em lei

suas diretrizes de desenvolvimento; o plano diretor é uma lei que estabelece um pacto

entre o governo municipal e a população, garantindo a continuidade das ações

propostas mesmo que ocorra mudança no comando da administração municipal.

3.3.1.1- Considerações iniciais

Cândido Malta Campos Filho em sua obra ‘Cidades Brasileiras, seu Controle ou o

Caos’ cuja primeira edição data de 1984, destaca os principais problemas urbanos da

época (dos quais muitos ainda ocorrem), resumindo-os numa “dimensão social”:

- impossibilidade secular de atender às classes populares com uma urbanização

mínima, com habitação digna;

- redução da qualidade de vida da classe média, que passa a ocupar habitações

menores, localizadas em bairros deteriorados;

- a enorme dívida externa do país, a ausência de poupança interna, inviabilizando

investimentos do governo na indústria da construção civil;

- necessidade de consolidação democrática;

- especulação imobiliária devido à retenção de terras vazias no espaço urbano,

causando o que ele chamou de “distorção urbana” congestionando as áreas centrais,

empurrando as classes média e baixa para as periferias.

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Esta distorção, a valorização do centro da cidade, normalmente provido de infra-

estrutura e serviços, empurrando populações carentes para as periferias, quase

sempre desprovidas de uma urbanização adequada, resume a história de crescimento

de grande parte das cidades brasileiras. De 1984 até hoje em dia (2007), muitos

problemas presentes na época já estão sendo trabalhados ou mesmo superados. O

processo democrático consolidou-se, o país não se encontra mais à mercê de bancos

internacionais (que ditavam regras econômicas internas) a inflação não atinge índices

astronômicos como a vinte anos atrás.

Campos Filho aborda o tema plano diretor como uma lei que deve conter a estrutura

urbana básica: “constituída por um sistema viário principal, linhas principais de

transporte público (ônibus, trem, etc), e as das zonas básicas (centrais, industriais,

residenciais, institucionais), a serem pormenorizadas por uma legislação específica de

zoneamento” (Filho, p.103). Também enfatiza que “pressões políticas” e “forças

contrárias” impediam que muitas cidades brasileiras possuíssem legislação municipal

reguladora do uso do solo.

No entanto ainda não está vislumbrado nesta obra o enorme alcance social-político

que hoje representa o plano diretor no planejamento da cidade e na busca pela justiça

social-territorial urbana.

3.3.1.2 - A Constituição Federal de 1988

A Constituição de 1988 significou um avanço nas políticas sociais da legislação

brasileira. Em especial nos interessa o Capítulo II, que trata da Política Urbana.

CAPÍTULO II: DA POLÍTICA URBANA

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal,

conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento

das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

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§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de

vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão

urbana.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em

dinheiro.

§ 4º É facultado ao poder público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano

diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,

subtilizado ou não utilizado que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,

sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente

aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais,

iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros

quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia

ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel

urbano ou rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a

ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

O artigo 182 esclarece que o Município é o responsável pela sua política de

desenvolvimento urbano através de diretrizes fixadas em lei. Esta lei é o Plano Diretor,

que deve obrigatoriamente ser elaborado em cidades com mais de 20.000 habitantes

(com base no censo 2000), situadas em regiões metropolitanas, integrantes de áreas

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de especial interesse turístico ou situadas em áreas de influência de empreendimentos

de significativo impacto ambiental.

Em relação aos antigos planos de desenvolvimento a Constituição conseguiu um

avanço social importante, um novo enfoque territorial-urbanístico, ao dizer que a

propriedade urbana deve cumprir sua função social. Este novo conceito incorporado

à propriedade urbana, até então inédito na legislação brasileira, desencadeou uma

série de operações e instrumentos regulatórios da política urbana que o poder público

pode aplicar, desde que regulamentados em lei específica, na busca da justiça social-

econômica-territorial do solo urbano.

A função social pode ser definida: “A propriedade urbana cumpre sua função social

quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no

plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades do cidadão quanto à

qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas”

(Ver artigo 39 Lei 10.257/01, Anexo 1).

O combate à especulação imobiliária urbana por exemplo (uma preocupação

freqüente na obra de Campos Filho), pode ser feito atualmente de forma

regulamentada em lei, através de instrumentos incorporados ao plano diretor, como o

IPTU progressivo no tempo e a desapropriação com pagamentos em títulos da dívida

pública.

3.3.1.3 – O Estatuto da Cidade

A lei 10.257 de julho de 2001 – Estatuto da Cidade – regulamenta os artigos 182 e 183

da Constituição, trazendo diretrizes e o detalhamento dos instrumentos que podem ser

adotados na execução da política urbana no município. O Estatuto também traz outro

avanço social importante: durante a elaboração do plano diretor o Poder Público deve

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garantir, através de audiências públicas, a participação popular nas proposições dos

instrumentos e diretrizes que a lei irá abranger. (Ver artigo 40 § 4º da Lei 10.257/01,

Anexo 1).

Esta recomendação participativa, quando efetivamente ocorre no processo de

elaboração do plano, permite uma maior integração entre os munícipes e seu território,

um aumento do sentimento de comunidade, uma aproximação do indivíduo com os

problemas coletivos do município, que passam a ser vistos também como seus

problemas. As soluções para os problemas comunitários quando discutidas

participamente passam a ser vistas como um resultado de um consenso, e não como

uma imposição despótica de uma governança não representativa do anseio popular.

O plano diretor, ou qualquer planejamento estratégico que uma administração

municipal desenvolva a partir de uma colaboração mútua entre poder público,

sociedade civil e equipe executora, é um poderoso instrumento de planejamento,

ordenação e transformação do espaço urbano, permitindo que o interesse coletivo

esteja acima do interesse individual, combatendo a retenção especulativa dos terrenos

nas cidades, distribuindo benefícios e ônus do processo de urbanização e criando

condições favoráveis para que a população de baixa renda tenha acesso aos

benefícios da moradia própria. Em outras palavras, um planejamento territorial

participativo fornece as bases para a criação de políticas urbanas sustentáveis.

3.3.1.4 – O Parcelamento do Solo

O parcelamento do solo é uma diretriz geral da política urbana (Ver artigo 2 lei

10.257/01, Anexo 7.1) e é um importante ordenador do desenho da cidade. Seu

formato, topografia, sua conexão com a malha viária, sua inserção nos sistemas de

água, esgoto, instalações, provocam implicações e inter-relações em todo o meio

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urbano. A Lei federal em vigor que dispõe sobre o parcelamento do solo é a Lei 6766

de 1979 (ver Anexo 7.2).

A lei define parâmetros para o desenho urbano dos loteamentos, exigindo a

destinação de áreas para o sistema viário, para a implantação de equipamento urbano

e comunitário e espaços livres de uso público. Os lotes resultantes do parcelamento

deverão ter área mínima de 125,0 m² e frente mínima de 5,0 metros; a legislação

estadual ou municipal pode determinar maiores exigências e dimensões menores

podem ocorrer quando o loteamento se destinar à urbanização específica ou

edificação de conjuntos habitacionais de interesse social.

O art. 3º esclarece que somente será admitido o parcelamento do solo, ou seja, a

criação de áreas essencialmente urbanas, em zonas urbanas, de expansão urbana ou

de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei

municipal. O artigo também proíbe parcelar certas áreas, em defesa da preservação

do meio ambiente, definindo onde não será permitido o parcelamento do solo:

I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências

para assegurar o escoamento das águas;

II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem

que sejam previamente saneados;

III - em terreno com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se

atendidas exigências específicas das autoridades competentes;

IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;

V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça

condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.

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Encontra-se em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3057/2000, a

chamada Lei de Responsabilidade Territorial. Quando aprovada esta nova lei irá

revogar a atual lei de parcelamento do solo, 6766/79 (ver anexo 7.3). Além proibições

do parcelamento áreas em da defesa do ambiente natural (de uma forma ainda mais

abrangente), a PL incorpora no seu texto a função social da propriedade urbana,

regulamentada pelo Estatuto da Cidade. O parcelamento urbano, com a nova Lei,

passa a ser mais um instrumento na busca da ‘sustentabilidade’ na cidade. O

parcelamento deverá atender também às normas diretrizes expressas no plano diretor

e lei do uso e ocupação do solo, quando houver, confirmando a tendência da

legislação brasileira em municipalizar a gestão do território urbano.

O Título III da PL trata de um assunto inédito até então na legislação, que vem a ser a

Regularização Fundiária Sustentável de Áreas Urbanas. A regularização fundiária visa

a efetivação do direito social à moradia e do direito às “cidades sustentáveis”. Para

isso o Poder Público municipal, no plano diretor ou em outra lei municipal apropriada

deve definir as condições e os procedimentos para formular a política municipal

fundiária sustentável.

O fortalecimento institucional do município, respaldado em leis que lhe garantem a

gestão sobre seu espaço territorial, o meio ambiente, suas riquezas e problemas deve

estar alicerçado na participação de todos os habitantes na formulação e na aplicação

destas leis. Nas palavras de Murray Bookchin criador do Municipalismo: “Não é

subordinando-nos de modo infantil à comunidade, nem nos afastando dela que nos

tornamos seres humanos responsáveis. O que nos distingue como seres sociais, de

preferência em instituições racionais, de seres solitários desprovidos de toda afiliação

séria, são nossas capacidades de exercer uma solidariedade, uns em relação aos

outros, encorajar o autodesenvolvimento e a criatividade recíprocos, alcançar a

liberdade no seio de uma coletividade socialmente criadora e institucionalmente

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enriquecedora ... os elementos autênticos de uma sociedade livre e racional são

comunitários e não individuais.” (Bookchin, p.27)

3.3.2 Parâmetros para um Loteamento Sustentável

3.3.2.1 – Unidades de Vizinhança

Campos Filho descreve uma metodologia de planejamento urbano visando

“estabelecer a ligação existente entre o planejamento geral do conjunto da cidade com

aquele que corresponde ao nível de experiência concreta de vivência do cidadão

comum, que é o seu bairro de moradia e às vezes, apenas a sua rua.” Continua o

raciocínio, definindo o conceito de unidade de vizinhança: “o núcleo comunitário, com

creche, escola de primeiro grau, posto de saúde, praça de lazer, rodeado por ruas

locais, com zona de comércio colocadas na periferia do bairro” (Filho, p. 106). Esta

unidade de vizinhança se encaixaria na malha urbana através de uma clara

hierarquização viária, permitindo o fácil acesso ao transporte coletivo caso o morador

necessite comprar ou acessar serviços de maior porte ou abrangência territorial na

cidade.

A sistematização do processo de projeto pode ser abordada através do pensamento

sistêmico, que tem com principais características: a complexidade, demonstrada pelo

número de interações, articulações e interdependência; a hierarquia de sistemas, a

partir da complexidade determina-se uma ordem hierárquica, partindo das estruturas

mais simples para as mais complexas; e as configurações principais, podendo ser

macro ou micro,.ecológicos ou físicos, por exemplo. O planejamento urbano baseado

na centralidade social-ambiental seria o resultado do planejamento de pequenas

unidades de vizinhança conectadas entre si, inter-relacionadas no contexto urbano,

buscando soluções sustentáveis em todos os níveis.

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A análise da unidade de vizinhança seria feita abordando ao mesmo tempo todos os

aspectos da sustentabilidade envolvidos, ambientais, sociais e econômicos, que

seriam mais facilmente dominados pois estariam sendo estudados numa escala

urbanística menor. A pesquisa então poderia prosseguir aumentando a escala,

ampliando a visão e o envolvimento dos sistemas até se chegar ao conjunto da

cidade.

Ao planejamento baseado na centralidade social (utilizando uma expressão de

Campos Filho), que prioriza um “miolo tranqüilo”, adiciona-se uma dimensão

ecológica, buscando-se o aumento da qualidade de vida. O centro tranqüilo do bairro

pode ser usado também para garantir a criação de um microclima agradável:

estudando-se a implantação dos equipamentos de forma a garantir a ampla circulação

dos ventos dominantes, o aumento da cobertura vegetal como forma de reter maior

quantidade de água no lençol freático, agindo também como proteção natural contra

erosão e melhoria da qualidade do ar.

A comunidade poderá adotar práticas sustentáveis envolvendo todos os moradores

locais: coleta seletiva de lixo, conservação e manutenção das árvores implantadas nas

vias, praças e parque ecológico local, gasto consciente de água e energia,

preservação e manutenção dos equipamentos urbanos comunitários, além de práticas

sociais sustentáveis, como a agricultura urbana.

3.3.2.2 – Arboricultura e Agricultura Urbana

A Agricultura Urbana consiste em aproveitar áreas residuárias em centros urbanos,

tais como áreas não edificáveis de leitos de ferrovias ou metro de superfície, terrenos

baldios, áreas sob viadutos e pontes, para o cultivo comunitário de vegetais e

hortaliças, permitindo que a própria comunidade usufrua os produtos colhidos. Os

resíduos do lixo orgânico depois de recolhidos na comunidade, após o processo da

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compostagem, e lodos pré-tratados dos esgotos podem ser utilizados na adubação

destas áreas. Em todo o mundo encontram-se exemplos de aplicação desta técnica

como forma de dar destinação ao lixo orgânico produzindo na própria comunidade,

além de gerar emprego e renda para a população local.

Rosário, uma cidade com mais de um milhão de habitantes na Argentina, é um local

onde as pessoas adubam fazendas e hortas com compostagem urbana, reduzindo os

problemas e custos do manejo do lixo enquanto cultivam alimentos. Moradores de

Empalme Graneros, uma villa miséria, ou favela de Rosário, separam resíduos

orgânicos do lixo que coletam e, após sua compostagem, vendem como adubo, ou

utilizam em suas próprias hortas. No primeiro levantamento global da agricultura

urbana realizado para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Jac

Smit e colegas da Rede de Agricultura Urbana calcularam que 800 milhões de

agricultores urbanos colhem 15% do suprimento mundial de alimentos sob várias

formas, desde o cultivo de legumes e verduras em telhados ou hortas em terrenos

baldios até a piscicultura em águas residuais filtradas por plantas aquáticas. Tilápias e

carpas cultivadas dessa forma em Calcutá proporcionam alimento seguro e fonte de

renda. Em Dar es Salaam, na Tanzânia, políticas de promoção à agricultura urbana

foram implantadas desde 1982; hoje, cerca de 90% das verduras vêm da agricultura

urbana, que emprega 20% dos moradores, sendo a segunda maior fonte urbana de

emprego. A fim de atrair mais pobres à agricultura urbana, governos municipais em

todo o mundo poderiam reservar espaço para centrais de abastecimento em seus

planos de uso do solo, conceder arrendamentos para hortas em terrenos baldios,

vincular agricultores urbanos a fontes de crédito e promover métodos de agricultura

orgânica que utilizem compostagem local e eliminem a necessidade de fertilizantes

químicos e pesticidas.

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A Arborização Urbana contribui para o aumento da qualidade de vida nas cidades: a

cobertura arbórea reduz a temperatura do ar, protegem as vias públicas dos

deslizamentos e inundações, valorizam as propriedades. No entanto é preciso que a

arboricultura urbana encontre condições favoráveis para se desenvolver. As árvores

em regiões muito povoadas enfrentam dificuldades, seu crescimento pode ser

ameaçado por falta de espaço, má qualidade do solo, falta de água e nutrientes,

dentre outros. A participação da comunidade assegurando sua manutenção e a

conscientização da importância da arborização é imprescindível.

3.3.2.3 – Outras práticas urbanísticas sustentáveis

As especificidades do local de implantação do loteamento podem influenciar em

algumas decisões ou soluções de projeto. Um mesmo município pode possuir zonas

climáticas distintas; estratégias diferenciadas devem ser utilizadas na implantação da

edificação, para permitir o aproveitamento das potencialidades microclimáticas e

subseqüente bom desempenho energético.

A pesquisa sobre o microclima local começa com o levantamento sobre a

disponibilidade de ventos, sobre a umidade e a temperatura do ar, sobre o

comportamento destas variáveis nas diferentes ao longo do ano. Para cada situação

levantada, podem-se aplicar certas estratégias arquitetônicas. Podemos resumir

algumas estratégias bioclimáticas que podem ser incorporadas ao desenho urbano:

» Ventilação permanente: necessárias à habitação para manter a qualidade do ar.

Quanto ao desenho do loteamento pode-se garantir a passagem do ar através de

divisas descontínuas ou devido a implantações não contínuas, em locais quentes não

obstruir a passagem de ar por lagos ou rios (traçados viários que permitam o fluxo de

ar). Quanto à implantação permitir que ventos frontais entrem na casa, nos climas

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quentes, em locais frios criar barreiras porosas, em climas secos prever espelhos

d’água ou tanques na direção dos ventos, evitar muros totalmente fechados ou

direcionar o vento para a casa através de septos desviando ventos paralelos à

fachada.

» Ventilação controlada ou ventilação cruzada: possibilitar com janelas abertas que o

fluxo do ar atravesse a edificação da zona mais fresca para a mais quente, contribuir

que o ar percorra a distância com o menor número de obstáculos no interior da

edificação; abrir janelas na direção dos ventos incidentes, proteger os vãos do sol da

tarde.

» Resfriamento evaporativo: consiste em retirar o calor do ambiente pela evaporação

da água, conseqüentemente aumenta a umidade relativa do ar e reduz sua

temperatura. Nos loteamentos pode-se conseguir criar um microclima mais ameno

através da implantação de espelhos d’água, lagos, na direção dos ventos, em espaços

públicos ou praças. O uso de vegetação próxima à edificação ajuda a deixar a

temperatura mais amena devido à evapotranspiração das plantas.

» Massa térmica para resfriamento: baseia-se no princípio de acúmulo de calor pelo

invólucro construtivo, paredes e cobertura, reduzindo a amplitude térmica no interior

da edificação. Pode-se utilizar materiais com alta densidade ou maior espessura

criando atraso térmico na passagem do calor para o ambiente interno.

» Umidificação: Compartilha das mesmas estratégias do resfriamento evaporativo.

Onde a umidade relativa do ar estiver abaixo dos limites de conforto pode-se umidificar

o ar através de recipientes com água, fontes, espelhos d’água, tentando não reduzir a

temperatura. Para tal a taxa de ventilação da casa deve ser controlada, evitando que o

resfriamento evaporativo prevaleça em relação à umidificação do ar.

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» Iluminação natural: estratégias para promover a iluminação natural das edificações

são recomendadas para todos os tipos de microclima, pois promovem conforto

lumínico, salubridade e são eficazes na busca pela eficiência energética das

edificações.

» Sombreamento: É um procedimento que visa evitar o sobreaquecimento das

superfícies expostas à insolação direta. A colocação de plantas ao redor da casa

diminui o albedo (reflexão da radiação em direção à casa), evita também que o piso

acumule calor durante o dia e o irradie de volta durante a noite. O uso de beirais é

outra forma de controlar a insolação excessiva no interior da residência.

3.3.3 Parâmetros para uma Residência Sustentável

3.3.3.1 - Redução do Desperdício

Um estudo publicado pela Universidade Politécnica de Hong Kong – A Guide for

Minimizing Construction and Demolition Waste at the Design Stage – apresenta uma

série de recomendações e mudanças de atitude em relação ao tratamento dado às

novas construções, trazendo princípios de redução de desperdícios que começam

antes mesmo de entrar no canteiro de obras. A concepção do projeto deve objetivar o

aumento da vida útil do edifício, especificando materiais adequados e minimizando

desperdícios de insumos advindos da obra, que muitas vezes ocorrem por deficiências

de projeto. O método construtivo adequado também contribui na busca da redução do

desperdício. Redução de desperdício implica na redução no consumo de energia (que

foi gasta na produção de insumos e materiais), contribuindo para uma construção civil

mais sustentável.

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3.3.3.2 – Conservação e Reabilitação de Edifícios Antigos

A necessidade da demolição de edifícios existentes devido ao comprometimento de

sua segurança estrutural ou obsolência funcional pode ser evitada caso seja possível

dar continuidade à ocupação da edificação. A melhor maneira de reduzir desperdícios

advindos de uma demolição é exatamente evitar que ela ocorra, ao perpetuar o uso do

edifício. A manutenção predial prolonga a vida útil do edifício, proporciona a

conservação e boa aparência da construção, mantém as condições de segurança

estrutural e da construção como um todo.

Numa residência unifamiliar, em especial na residência popular, é de responsabilidade

do próprio morador providenciar que sejam realizadas inspeções preventivas em todos

os sistemas envolvidos na construção, estrutura, vedações, sistemas hidráulicos,

elétricos, fachadas, área externa; eventualmente deve providenciar ações corretivas

caso sejam detectadas avarias durante a inspeção. Esta atitude além de preservar a

residência, valoriza os investimentos aplicados na sua construção, que muitas vezes

tem origem nos cofres públicos.

Um imóvel que se encontra vazio ou abandonado devido a sua não adequação

espacial ao uso anterior pode ser reocupado, recebendo uma nova destinação

funcional. Ainda que sejam necessárias alterações no desenho interno ou pequenas

reformas, seus custos serão sempre menores que sua derrubada para a construção

de um novo edifício.

O manual produzido pela universidade de Hong Kong traz estudos de casos de vários

prédios localizados na Europa e na Ásia que sofreram reformas e restaurações,

adaptando-se aos novos usos funcionais. No Brasil podemos destacar a iniciativa do

Ministério das Cidades, na perspectiva de cumprir a função social da terra urbana, que

assinou convênios com a RFFSA e o INSS para permitir a alienação de terrenos e

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imóveis vazios e subtilizados para ações do Programa de Reabilitação de Áreas

Centrais.

Estes imóveis poderão ser utilizados para fins de habitacionais e/ou outros usos

previstos nos Planos Municipais de Reabilitação. A revitalização de centros urbanos

além dos benefícios da reutilização dos prédios desocupados permite aproveitar

melhor os recursos de infra-estrutura disponíveis na área central, geralmente mais

bem servidas que as periferias. Outro aspecto positivo é que áreas centrais

geralmente desertificadas em períodos noturnos passam a ser habitadas, diminuindo a

violência e revertendo processos de degradação do ambiente construído.

Em Belo Horizonte um edifício de propriedade do INSS desocupado há vários anos, foi

disponibilizado para a Prefeitura para ser transformado em prédio residencial, com

opção de compra prioritária pela população de baixa renda. Foi elaborado um projeto

modificando a “planta livre” original, criando-se um fosso de ventilação com a previsão

de aberturas de furos nas lajes, para promover a salubridade dos ambientes

interiorizados. A planta livre se transformou em andar tipo com apartamentos de um,

dois ou três quartos.

Como algumas dimensões adotadas no projeto são menores que as dimensões

mínimas presentes na legislação urbanística municipal, e devido ao caráter social do

empreendimento, o licenciamento será feito através de uma legislação específica

flexibilizando os parâmetros construtivos para estes casos, localizados na região do

Hipercentro.

Numa residência popular de dois quartos (objeto de estudo), fica difícil imaginar outro

uso para o espaço interno que não seja o residencial sem profundas alterações de

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desenho interno, que poderiam gerar elevados custos financeiros. A não adequação

entre o espaço e o uso, neste caso, irá ocorrer apenas se acontecer um aumento do

número de indivíduos da família que ocupa o imóvel. Para resolver este impasse o

recomendável seria deslocar a família crescida para uma residência maior,

reocupando a residência dois quartos com uma nova família, menor que a primeira.

3.3.3.3 – Reciclagem

A reciclagem de resíduos da construção civil é um tema muito amplo e relaciona-se

diretamente ao tema deste trabalho. A reciclagem visa a redução do uso de recursos

naturais e permanência da matéria-prima no processo de produção

Segundo a Resolução 307 do CONAMA, resíduos da construção civil são aqueles

provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção

civil e os resultantes da preparação e escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos

cerâmicos, concreto em geral, solo, rocha, madeira, forro, argamassa, gesso, telha,

pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente

chamados de entulho de obra, caliça ou metralha.

Uma proposta de gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos deve priorizar

sempre a redução da geração de resíduos na fonte. No entanto, quando existir a

geração dos resíduos, deve-se buscar a reutilização ou a reciclagem. Somente

quando não existir possibilidade de reciclá-los é que os resíduos devem ser

incinerados (com recuperação de energia) ou aterrados.

Um processo de reciclagem de qualidade requer um resíduo de qualidade, o que

implica segregar os resíduos junto à fonte geradora, ou seja, nos próprios canteiros de

obra. Para que o ciclo da reciclagem se estabeleça, é fundamental que o

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construtor/gerador tenha consciência da importância do seu papel neste processo.

Primeiro, com relação à adoção de uma postura racional e criativa, que facilite a

evolução das técnicas construtivas e de gestão de recursos humanos, viabilizando

assim a redução de diferentes formas de desperdício. Segundo, com relação à

segregação dos resíduos nos canteiros de obra, o que permite assegurar uma maior

qualidade dos resíduos e reduzir custos de beneficiamento, fortalecendo o processo

de produção de materiais reciclados.

A viabilização da coleta seletiva envolve o desenvolvimento de um Plano de

Gerenciamento de Resíduos em cada obra, incluindo a conscientização e

sensibilização da mão-de-obra e a introdução de rotinas de segregação/

armazenamento dos resíduos e a organização dos seus fluxos.

A reciclagem de resíduos industriais, ou co-processamento, é o segundo método mais

utilizado na destinação final de resíduos industriais no Brasil, atrás apenas do aterro

industrial (ver Resolução CONAMA Nº 264). Co-processar significa substituir

combustível e/ou matéria prima por resíduos industriais na produção do clínquer,

precursor do cimento, ou seja é a destruição térmica dos resíduos, perigosos ou não.

Duas grandes empresas brasileiras do setor cimenteiro possuem segmento especial

para lidar com o co-processamento. Os tipos de resíduos que podem ser co-

processados são, em sua maioria, oriundos das indústrias petroquímicas,

automobilística, alimentícia e mineração.

Um site experimental, a Bolsa de recicláveis, criado em outubro de 2006 pela Fiemg

administra uma rede de empresas geradoras de resíduos, cadastrando interessados

em comprar e vender material reciclado ou passível de co-processamento. A bolsa

analisa e caracteriza o material, o insere no site e acompanha a negociação entre as

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partes. A bolsa permite a criação de grupos geradores próximos geograficamente,

diminuindo os custos de transporte de resíduos até o local de reciclagem.

Dentre os problemas que dificultam as práticas de reciclagem o maior obstáculo a ser

vencido talvez seja a falta da cultura da reciclagem. Para se tornar-na viável a todos

os envolvidos deveriam cumprir seus papéis, os clientes, que devem avaliar a real

necessidade de construir, diante da possibilidade de adequar um edifício existente às

suas necessidades; empresas construtoras, que devem buscar reduzir as perdas e a

geração de resíduos por meio da adoção de métodos construtivos mais racionais e

governo local, fiscalizando geradores e transportadores, visando coibir as disposições

irregulares dos resíduos em áreas públicas e/ou privadas que não tenham licença

ambiental e estimulando o uso de materiais reciclados nas obras públicas, em especial

as de habitações populares.

3.3.3.4 – Coordenação de Projetos

Na produção de habitação popular para baixa renda pode ocorrer um problema, que é

relacionado diretamente ao produto final: os construtores frequentemente não adotam

mecanismos de integração entre o projeto e a produção. Devido às margens de lucro

reduzidas em tais empreendimentos, muitas vezes recorrem à repetição de projetos

padronizados (nem sempre compatibilizados entre si) adotando soluções semelhantes

em sítios diferentes. Os problemas advindos desta prática podem ser bastante graves,

de ordem técnica, como uma solução padrão no projeto de fundações (mesmos

projetos aplicados a sítios diferentes) ou relativas ao conforto térmico, onde a solução

padrão não considera as particularidades do microclima local.

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Outra prática comum na construção civil brasileira pode gerar graves problemas a

serem enfrentados nos canteiros: as obras são executadas sem o desenvolvimento do

projeto arquitetônico executivo. A construção evolui resolvendo “em campo” as

dificuldades que ocorrem devido à não previsibilidade de certas ocorrências em

projeto. A legislação brasileira de certa forma ‘incentiva’ esta prática, na medida em

que não exige que o projeto executivo esteja pronto antes do início das obras,

permitindo que seja desenvolvido concomitante à obra, diminuindo o alcance da

previsibilidade do projeto, como mostra o § 1º do artigo 7º da lei 8.666/93 (Licitações):

Lei 8.866/93 - Seção III :Das Obras e Serviços

Artigo 7º - As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão

ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte seqüência:

I - projeto básico;

II - projeto executivo;

III - execução das obras e serviços.

§ 1º - A execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida da conclusão e aprovação,

pela autoridade competente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores, à exceção do

projeto executivo, o qual poderá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das

obras e serviços, desde que também autorizado pela Administração.

A abordagem sistêmica está na própria definição de Engenharia Simultânea: “uma

abordagem sistemática para integrar simultaneamente projeto do produto e seus

processos relacionados, incluindo manufatura e suporte. Essa abordagem é buscada

para mobilizar os desenvolvedores (projetistas), no início, para considerar todos os

elementos do ciclo de vida da concepção até a disposição, incluindo controle da

qualidade, custos, prazos, e necessidades dos clientes”. O Projeto Simultâneo é uma

proposta de realização precoce e concomitante das especialidades de projeto; é uma

simplificação da Engenharia Simultânea para o setor da construção. Neste modelo

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busca-se convergir os interesses dos diversos agentes participantes do ciclo de vida

do empreendimento, antevendo as repercussões, das tomadas de decisões, nos

diversos projetos envolvidos.

A coordenação de projetos, tomando como base o projeto simultâneo, tem como

objetivos fomentar a interatividade na equipe e melhorar a qualidade dos projetos;

garantir que as soluções técnicas de projeto sejam compatíveis e de acordo com as

necessidades do cliente; considerando a cultura construtiva das empresas de

construção no processo de projeto. O acréscimo na qualidade do projeto permite maior

lucratividade, previsibilidade, redução de desperdícios na obra, padronização de

processos de trabalho e ganho qualitativo no produto final, que vem a ser a edificação.

A coordenação é pratica indispensável na produção dos projetos, pois permite a

visualização precoce de todos os sistemas envolvidos na construção, possibilitando a

busca de soluções adequadas à realidade local, em outras palavras, soluções mais

sustentáveis.

3.3.3.5 – Exemplos de aplicação de Tecnologias Alternativas

Muitas universidades, centros de pesquisa, ou mesmo organizações não

governamentais têm incentivado pesquisas na área da construção civil buscando

soluções técnicas que visem a sustentabilidade nas suas atividades.

Um exemplo de aplicação de um projeto que visa o uso racional de energia pode ser

encontrado na Casa Eficiente. A Eletrosul e a Eletrobrás através do Procel

desenvolveu em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina um projeto

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para uma residência unifamiliar eficiente, que serve como vitrine de tecnologias de

ponta de eficiência energética e conforto ambiental voltadas para edificação.

Figura 3.1: Casa Eficiente, projeto do Laboratório de Eficiência Energética em

Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Esta residência será o ambiente para a demonstração e desenvolvimento de

atividades de ensino e pesquisa nesta área. Na concepção da edificação, buscou-se o

equilíbrio entre a tecnologia e energias passivas do ambiente, a partir da utilização de

procedimentos adequados do ponto de vista da eficiência energética, adotando

critérios coerentes com a política de gerenciamento ambiental, quer seja na escolha

dos materiais construtivos, como nas técnicas de aproveitamento dos condicionantes

naturais e na busca da racionalização e eficiência, adotando critérios coerentes com a

política de gerenciamento ambiental, quer seja na escolha dos materiais construtivos,

como nas técnicas de aproveitamento dos condicionantes naturais e na busca da

racionalização e eficiência energética, uso racional de água, instalações hidráulicas

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utilizando peças e linhas econômicas, coleta e reaproveitamento de água pluvial,

tratamento de efluentes por zonas de raízes e reaproveitamento de água tratada.

O programa para a casa eficiente foi definido utilizando os princípios:

- Casa de 206 m² de área útil para família de quatro pessoas e uso laboratorial

- Estratégias de adequação climática (orientação, materiais de construção de alto

desempenho ambiental, cobertura com vegetação para conforto térmico, ventilação

cruzada e iluminação natural)

- Água potável para uso na pia, lavatório, chuveiro e ducha manual

- Água pluvial para uso no vaso sanitário, tanque de roupas e irrigação

- Água de reúso para o sistema de aquecimento dos quartos e irrigação

- Aquecimento solar de água

- Energia fotovoltaica interligada à rede da Eletrosul, com suprimento de 1,9 kW.

Excedente de energia elétrica é comercializado

- Acessibilidade a todos os ambientes.

O projeto Casa Eficiente é voltado para a visitação pública. Foram adotadas soluções

para destacar ou tornar acessível ao visitante a maioria das estratégias, equipamentos

e sistemas implantados.

A figura 3.2 ilustra um esquema utilizado por uma construtora no tratamento da água

para reuso num condomínio residencial:

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Figura 3.2: Exemplo de projeto de reuso de água para uma construtora em São Paulo

Em São Paulo, a empresa Setin está construindo dez torres residenciais com sistema

de aquecimento de água por energia solar, que promete reduzir em até 82% o

consumo de energia elétrica. O projeto também inclui o reúso da água dos chuveiros e

dos lavatórios (após tratamento feito no local) nas bacias sanitárias. "Com esse

reaproveitamento, esperamos uma redução de 35% do consumo de água potável no

prédio", diz Lucy Mari Tsunematsu, gerente de projetos da Setin.

A revista Téchne de agosto de 2006 traz um ensaio realizado em tijolos prensados de

solo-cimento produzidos com resíduos de construção (RDC).

Figura 3.3: Tijolos de solo-cimento com resíduo

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Na fabricação dos tijolos são utilizados os seguintes materiais: solo, cimento e água. A

água é usada em pequena quantidade, o suficiente para se obter a umidade ótima

para a prensagem do tijolo. A resistência média à compressão dos tijolos, segundo a

NBR 8491 - Tijolo de solo-cimento - especificação, não deve ser inferior a 2,0 MPa aos

sete dias, e a absorção média de água deve ser inferior a 20%. A norma recomenda o

uso do cimento Portland comum. Quanto ao solo, é preferível utilizar solos arenosos.

Os mais adequados são os que possuem 100% dos grãos passando na peneira 4,8

mm; de 10% a 50% passando na peneira 0,075 mm; limite de liquidez LL £ 45%; e

limite de plasticidade LP £ 18%. Solos com essas características propiciam condições

para que se tenha menor consumo de cimento e obtenção de tijolos de melhor

qualidade

As vantagens da utilização dos tijolos de solo-cimento vão desde a fabricação até a

sua utilização no canteiro de obras. Os equipamentos utilizados são simples e de

baixo custo, possibilitando operação no próprio canteiro. Isso reduz os custos com

transporte, energia, mão-de-obra e impostos. Além dessas vantagens, o tijolo de solo-

cimento agrada também do ponto de vista ecológico, pois não passa pelo processo de

queima, no qual se consomem grandes quantidades de madeira ou de óleo

combustível, como é o caso dos tijolos produzidos em cerâmicas e olarias

O aprimoramento dos equipamentos para a fabricação dos tijolos tem contribuído para

a racionalização das técnicas de construção, possibilitando a elaboração de projetos

com maior qualidade, permitindo o uso dos tijolos inclusive em obras de padrão mais

sofisticado. Podem ser produzidos tijolos maciços, tijolos modulares com encaixe,

canaletas, placas de revestimento e até elementos decorativos. A figura 3.4 ilustra a

amarração em encontro de paredes, cujo assentamento é feito por meio do encaixe

dos tijolos vazados de solo-cimento.

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Figura 3.4: Encontro de paredes feito com tijolos vazados de solo-cimento

A técnica de assentar os tijolos por encaixe proporciona maior rapidez na execução da

alvenaria. Os furos coincidentes possibilitam a passagem de tubulações, permitindo

também a execução de colunas grauteadas.

A idéia de aproveitar os resíduos de concreto na composição do solo para a confecção

do solo-cimento surgiu em razão de se constatar que os solos arenosos são os mais

indicados para a obtenção do solo-cimento. E foi exatamente isso o que se buscou

com a incorporação dos resíduos de concreto, pois se trata de um material granular,

cujas características granulométricas, após a britagem, assemelham-se às de uma

areia grossa. Em trabalhos realizados no campus da Unesp em Ilha Solteira (SP),

constatou-se que a incorporação de resíduos de concreto, na confecção de tijolos de

solo-cimento, propiciou melhorias substanciais nas propriedades de resistência e

absorção do solo-cimento, obtendo-se resultados muito melhores que aqueles

estipulados nas normas brasileiras. Outro aspecto observado, em vista dos resultados

alcançados, foi a inerente possibilidade de se reduzir o consumo de cimento na

confecção dos tijolos. O aproveitamento dos resíduos de concreto na confecção dos

tijolos, portanto, pode ser uma importante contribuição para a sociedade, na medida

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em que viabiliza uma opção técnica de baixo custo, plenamente inserida no contexto

do desenvolvimento sustentável.

O estudo realizou vários testes e ensaios e pode concluir que o RC utilizado mostrou-

se um excelente material para melhorar as características do solo em estudo,

propiciando condições técnicas favoráveis para a confecção dos tijolos de solo-

cimento com qualidade e redução no consumo de cimento; além disso os tijolos

produzidos com o RC atenderam aos requisitos mínimos estabelecidos nas normas

brasileiras.

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4. RESULTADOS

Tendo como base a pesquisa desenvolvida buscou-se utilizar os elementos, técnicas e

conceitos estudados, que ao serem aplicados permitam reconhecer os aspectos da

“sustentabilidade” no planejamento da implantação da comunidade.

4.1 Projeto para um loteamento sustentável

Trata-se de um projeto teórico de loteamento de uma área urbana, direcionado para

atender a população de baixa renda, oferecendo residências com valores compatíveis

para financiamento na faixa salarial de até cinco salários mínimos (onde se concentra

o maior déficit habitacional do país). O loteamento engloba vinte e oito quadras, sendo

cinco reservadas para proteção ecológica, duas para equipamentos de uso comum,

nove para residências unifamiliares com tipologias três quartos, e doze quadras com

residências unifamiliares geminadas com tipologias dois quartos.

Nas quadras reservadas às tipologias geminadas ainda estão previstas áreas para

estacionamento, área para cultivo de agricultura urbana, e duas residências

acessíveis, planejadas internamente para permitir a circulação segura e sem

impedimento com cadeiras de rodas. Nas quadras reservadas para tipologias três

quartos reservou-se uma faixa reservada ao uso comercial, levando para a periferia

das quadras limites as atividades de comercio e serviços.

O sítio natural foi imaginado como sendo uma encosta com declividade de até 20%,

limitada por um topo de morro com inclinações maiores, de 25 a 40%. Este tipo de

terreno é comumente encontrado em grande parte das cidades brasileiras,

especialmente em Belo Horizonte.

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Como se trata de um projeto teórico, não situado numa área específica, não é possível

determinar por exemplo a orientação magnética ou a direção dos ventos dominantes.

Considerou-se no entanto a existência de ventos anábáticos e catabáticos, que são

gerados pela variação de temperatura entre o dia e a noite em regiões onde o relevo

varia de baixas declividades a morros. Para análise climática imaginou-se que a

habitação se situa numa região de clima quente e úmido, situação que ocorre com

freqüência em muitas cidades brasileiras.

4.1.1 Projeto Urbanístico

O zoneamento proposto para a solução urbanística é resumido na tabela 4.1. O

desenho da Unidade de vizinhança e o detalhamento das quadras é apresentado a

seguir.

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Tabela 4.1: Legenda de usos / zoneamento

Zoneamento Descrição

Z1 Lotes com residências geminadas

2Q, terreno em aclive – Tipo 1

Z2 Lotes com residências geminadas

2Q, terreno em declive – Tipo 2

Z3 Lotes com residência geminada 2Q,

frente em aclive – Tipo 2A

Z4 Lotes com residência acessível 2Q

– Tipo 3

Z5 Lotes com residência unifamiliar 3Q

– Tipo 4

Z6 Área para estacionamento comum

Z7 Área reservada para uso comercial

Z8 Praça, horta comunitária

Z9 Reserva área verde / Parque

ecológico

Z10 Clube, praça de esportes

comunitários

Z11 Praça com espelho d’água

Z12 Área reservada para equipamentos

urbanos e de serviços comunitários

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4.2 Projeto para uma residência sustentável

Para este estudo definiu-se um programa arquitetônico específico: residência popular,

de baixo custo construtivo, direcionada à população de baixa renda, formada por sala,

dois quartos, banho social, copa/cozinha e área de serviço, com área aproximada de

60,0m². A implantação de residências unifamiliares com três quartos foi planejada num

menor número de quadras e propõe trazer flexibilidade à proposta, permitindo atender

o crescimento de famílias que seriam remanejadas de moradia dentro da própria

comunidade local.

O Decreto 5.296/04 veio regulamentar a Lei 10.098/00, que estabelece as normas

gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com

mobilidade reduzida. O artigo 28 da Seção III trata da Acessibilidade na Habitação de

Interesse Social:

Art. 28. Na habitação de interesse social, deverão ser promovidas as seguintes ações para

assegurar as condições de acessibilidade dos empreendimentos:

I - definição de projetos e adoção de tipologias construtivas livres de barreiras arquitetônicas e

urbanísticas;

II - no caso de edificação multifamiliar, execução das unidades habitacionais acessíveis no piso

térreo e acessíveis ou adaptáveis quando nos demais pisos;

III - execução das partes de uso comum, quando se tratar de edificação multifamiliar, conforme

as normas técnicas de acessibilidade da ABNT (NBR 9050/04); e

IV - elaboração de especificações técnicas de projeto que facilite a instalação de elevador

adaptado para uso das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Parágrafo único. Os agentes executores dos programas e projetos destinados à habitação de

interesse social, financiados com recursos próprios da União ou por ela geridos, devem

observar os requisitos estabelecidos neste artigo.

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O artigo trata apenas de habitações multifamiliares, não definindo critérios para sua

aplicabilidade em empreendimentos de interesse social constituídos apenas por

habitações unifamiliares. Buscou-se, no entanto, criar uma edificação com desenho

especial, unifamiliar, com acesso sem barreiras arquitetônicas ou urbanísticas, com

áreas de circulação e instalações sanitárias atendendo às recomendações da NBR

9040/04 que trata da Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a

edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. O número de unidades

acessíveis foi definido na proporção de 2% do total de moradias disponibilizadas na

quadra.

4.2.1 Projeto Arquitetônico

A tabela 4.2 traz o resumo do número de unidades projetadas no loteamento, que

foram organizadas espacialmente considerando o tipo de terreno no qual será

implantada. A tabela 4.3 resume as tipologias por número de pavimentos e área total

de cada unidade residencial.

A seguir são apresentados os projetos para as tipologias de moradias planejadas para

a ‘unidade de vizinhança’.

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Tabela 4.2: Quadro resumo tipologias da Unidade de Vizinhança.

Modelo Descrição Característica

do terreno

Forma da planta

versus lote

Número

Moradias

Número de

famílias

Tipo 1,

1A

Geminada

2Q

em declive Variação qto a

situação

180 360

Tipo 2 Geminada

2Q

em aclive Menor área

construída

180 360

Tipo 2A Geminada

2Q

aclive lateral Variação qto a

altura

48 96

Tipo 3 Unifamiliar

2Q acessível

plano Necessário

regularizar lote

24 24

Tipo 4 Unifamiliar

3Q

aclive e

declive

aclive e declive 240 240

Tabela 4.3: Quadro resumo tipologias vs área da unidade residencial

Modelo Área residência nº de pavtos nº de quartos Descrição

Tipo 1A, 1B 62,75m² 2 2 unifamiliar geminada

Tipo 2ª, 2B 57,54m² 2 2 unifamiliar geminada

Tipo 3 53,08m² 1 2 unifamiliar isolada

Tipo 4 76,34m² 1 3 unifamiliar isolada

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5. ANÁLISE DO PROJETO

A análise que será feita a seguir, tomando como base o loteamento e o edifício

apresentados no item anterior, buscará identificar os aspectos envolvidos no processo

do projeto (desde sua programação até a futura execução e pós-ocupação) que

permitirão qualificá-los como sustentáveis.

5.1 O Loteamento

As soluções urbanísticas a serem adotadas na implantação de um loteamento devem

considerar as condições do relevo natural, presença de cursos d’água ou outros

acidentes naturais, as condições climáticas, regimes de ventos, orientação magnética,

além de outras informações relevantes, como os tipos de conexões que o loteamento

irá provocar na malha urbana, sistemas para esgotar os efluentes produzidos,

disponibilidade de abastecimento de água e energia elétrica. Além disso o desenho

urbano não deve ser apenas uma solução “em planta”, deve ser trabalhado em três

dimensões, considerando-se suas implicações topográficas. Por exemplo a topografia

de um relevo em morro deve considerar que o traçado de seu sistema viário funciona

também como um sistema de canais de escoamento de águas pluviais.

A planta apresentada no trabalho é formada por quadras retangulares, resultando em

vias perpendiculares entre si. Trata-se de uma simplificação para facilitar o estudo,

certamente em um projeto “real” as condições topográficas podem levar a soluções de

traçado viário mais complexas, ou não retilíneas, acompanhando as curvas de nível do

relevo natural. A maior dimensão da quadra, que é de 200,0 metros (em concordância

com a lei federal de parcelamento), foi implantada no sentido da curva de nível. Desta

forma espera-se minimizar os movimentos de terra na abertura das ruas, que serão

em sua maioria planas, cortadas por ruas ascendentes em direção ao topo do morro.

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A diferenciação de tipologias previstas para a implantação nos terrenos resultantes foi

motivada pela busca da minimização dos movimentos de terra, prevendo-se modelos

de implantação diferentes para terrenos em aclive e em declive (em direção à frente

plana do lote) e um terceiro modelo para ruas em aclive. As plantas foram estudadas

considerando o perfil natural do terreno, ao invés de propor uma solução padronizada

e descontextualizada do sítio, como ocorre na implantação de muitos programas

habitacionais ‘populistas’ e ‘populares’.

O desenho propõe uma interiorização do bairro, prevendo no centro da “unidade de

vizinhança” o espaço reservado para serviços comunitários, praça, escola, centro de

saúde. Este centro também tem uma função importante para o microclima local; a

reserva de maiores terrenos destinados ao uso comunitário permite uma taxa de

ocupação mais baixa, permitindo o livre percurso da ventilação natural. A presença do

espelho d’água é importante para carregar o ar com umidade, contribuindo para

diminuir a temperatura, aumentando a sensação de conforto térmico, através do

resfriamento evaporativo.

O aumento do conforto térmico das habitações implantadas pode ser conseguido

evitando barreiras à ventilação natural no bairro, adotando, por exemplo, muros

vazados ou mesmo cercas vivas.

As vias de pedestre nas quadras mais densas (reservadas para tipologia geminadas

dois quartos) têm várias funções:

- podem ser destinadas ao cultivo de arboricultura, ajudando no conforto térmico

devido ao sombreamento, servindo também como proteção contra desmoronamentos

do terreno natural;

- permite que o perfil do terreno seja conformado mais suavemente evitando grandes

movimentos de terra, promovendo maior estabilização do solo;

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- proporciona uma diminuição na densidade de ocupação da quadra, servindo como

área livre, área de lazer e ainda como uma via auxiliar para passagem de sistema de

drenagem pluvial e rede auxiliar de esgoto (das residências localizadas nos terrenos

em aclive, com fundos para a via de pedestre.

Um projeto ‘real’ envolve ainda outras questões não abordadas nesta proposta, tais

como as soluções para as conexões no sistema urbano das redes de esgotamento

dos efluentes e do sistema de drenagem natural de águas pluviais da comunidade.

Mas espera-se a minimização destes impactos através da proposição de uma maior

cobertura vegetal por metro quadrado construído, que aumenta a capacidade de

absorção da chuva pelo terreno natural, e pela diminuição dos efluentes finais

finalmente despejados na rede de esgoto, através do uso racional da água.

O alcance da sustentabilidade de um projeto poderá ser aumentado, portanto, através

do aprofundamento nos estudos de todas as conexões entre os sistemas envolvidos

na construção da moradia e a malha urbana.

5.2 O Edifício

O primeiro parâmetro a ser adotado na concepção do projeto foi o direcionamento da

solução arquitetônica através de uma dupla condicionante “sustentável”, que se aplica

tanto ao conceito da sustentabilidade ambiental quanto ao da sustentabilidade social:

uma residência popular de baixo custo, com promoção de menores consumos

energéticos e menores impactos de efluentes no meio ambiente urbano.

Na concepção da edificação, buscou-se o equilíbrio entre tecnologias alternativas e o

aproveitamento de fontes naturais de energia, a saber a energia solar para

aquecimento da água para banho, o aproveitamento da água pluvial e o uso racional

da água, o recolhimento de efluentes em fossas sépticas, a implantação adequada ao

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sítio reduzindo os movimentos de terra, o aproveitamento da insolação e ventilação

naturais, visando criar um ambiente mais salubre nos cômodos internos.

O sistema construtivo adotado é a alvenaria estrutural, que já mostrou ser um sistema

viável financeiramente para empreendimentos de cunho social, como são os projetos

do sistema PAR, financiados pela Caixa Econômica Federal. Podem ser conseguidas

economias ainda maiores se for possível a utilização de tijolos de solo-cimento

produzidos com resíduos de concreto obtidos pela reciclagem de materiais de

demolição.

Por se tratar de um projeto teórico não foi um fator determinante neste momento

considerar a orientação magnética no estudo da implantação da edificação. Para

determinar a melhor orientação de uma edificação, que se encontra isolada num lote,

com a possibilidade de aberturas de vãos para qualquer lado, este é sem dúvida um

parâmetro importante a ser considerado ao se fazer a distribuição interna dos

ambientes. No entanto os lotes residenciais propostos para o empreendimento são

reduzidos, possuem uma área de 250,0 m² (nas dimensões 10,0x25,0m e 12,5x20m).

Na solução para as casas geminadas o espaço é ainda menor, a solução possibilita

um desmembramento futuro em dois lotes de 125,0 m² (com dimensões 5,0x25,0m).

Em consequencia das pequenas testadas dos lotes a distribuição dos ambientes foi

fortemente determinada pelos afastamentos mínimos em relação às suas divisas

laterais. Procurou-se no entanto otimizar as instalações hidráulicas através da

concentração das áreas molhadas numa região próxima, nos dois pavimentos. Além

disso foram propostas soluções priorizando alvenaria dos pisos superiores apoiadas

em alvenarias nos pisos inferiores, de acordo com a lógica estrutural do sistema

construtivo adotado.

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5.2.1 Adequação ao Programa de Necessidades

O Brasil tem um déficit habitacional de 7,2 milhões de unidades, incluídos neste

número as residências precárias ou situadas em áreas de risco estrutural. O déficit

aumenta ainda mais se somado o número de famílias das classes D ou E que não têm

casa própria, vivendo de aluguel ou coabitando uma mesma residência com outra

família.

Apesar de muitos núcleos familiares serem compostos por vários indivíduos, pais com

dois filhos ou mais, ou ainda, mãe e/ou avó mais de dois filhos, ou filhos e netos,

adotou-se um programa de apenas dois quartos. A menor área de construção da

tipologia dois quartos (em comparação a tipologias três quartos ou mais), se justifica

em primeiro lugar pelo fator econômico: menor área, menor custo, mais fácil de ser

financiada pela família carente.

Se imaginarmos esta unidade residencial de dois quartos como unidade-tipo de um

grande programa habitacional custeado pelo poder público, uma menor área-tipo

também se justifica. Para este tipo de empreendimento a área construtiva total é

limitada muitas vezes pelo montante de recursos financeiros disponíveis para serem

investidos; com os mesmos recursos é possível atender um maior de famílias se a

tipologia adotada for de dois quartos em preferência a tipologias de três quartos.

O programa dois quartos também atende ao tamanho máximo da família-padrão que,

de acordo com alguns pesquisadores, poderia levar ao controle populacional mundial.

Para que a população se estabilize, reduzindo as taxas de crescimento até parar de

crescer, seria necessário que o núcleo familiar fosse composto por apenas os pais e

dois filhos, estes substituiriam seus pais após a morte, e também teriam apenas dois

filhos, e assim sucessivamente. Neste ritmo controlado de crescimento, o tempo de

resposta para estabilizar a população mundial seria 50 anos.

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A solução urbanística mais sustentável, portanto, prioriza as tipologias dois quartos,

implantadas na maior parte dos terrenos disponíveis. As tipologias para residência

unifamiliar de três quartos foram adotadas em menor número na proposta, estão

previstas para atender os casos de crescimento de famílias que não caibam mais

numa residência geminada.

5.2.2 Economias no Desenho Arquitetônico: Índice de Compacidade

De acordo com estudos demonstrados por Juan Luis Mascaró sobre as participações

dos componentes de um edifício no seu custo total pode-se verificar que os planos

horizontais (pisos) representam 25% do montante total, planos verticais (paredes) 45%

e instalações em geral 25% dos custos.

A porcentagem de 45% para os planos verticais é uma média, podendo variar num

espectro bastante amplo. Três fatores são responsáveis por esta variação:

- os materiais, componentes e sistemas construtivos empregados na construção fazem

com que o custo por m² da parede seja variável;

- o tamanho médio dos locais, que determina a quantidade média de paredes por m²

construído.

- A forma dos compartimentos e do edifício, ou seja, seu grau de compacidade, que

como no caso anterior influencia fortemente na quantidade média de paredes por m²

construído.

Fazendo a relação entre a área de compartimento e o perímetro das paredes de

fechamento observamos que o perímetro é crescente, segunda a forma, partindo da

circular até a forma retangular alongada. A tabela a seguir exemplifica o raciocínio,

mostrando as relações entre o perímetro e a forma da planta (todas as figuras têm a

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mesma área), observa-se que para formas mais alongadas, necessita-se de mais

paredes para fechar a planta.

Tabela 5.1: Quantidade de paredes necessárias para envolver diversas formas

geométricas de plantas de edifícios

Forma da planta Área (m²) Perímetro (m) Perímetro/

Área

Lado maior/

Lado menor

Circular Ø 11,28m 100 35,44 0,35 -

Quadrada 10x10m 100 40,00 0,40 1

Retangular 5x20m 100 50,00 0,50 4

Retangular 4x25m 100 58,00 0,58 6,25

Retangular 2x50m 100 104,00 1,04 25

Retangular 1x100m 100 202,00 2,02 100

Para medir com certa objetividade a relação entre as paredes que envolvem o edifício

e sua superfície determinou-se o que se conhece como índice de compacidade, que é

definido como a relação percentual entre o perímetro de um círculo de área igual à do

projeto e o perímetro das paredes exteriores ao projeto:

100×÷= PpPcIc (5.1)

onde:

Ic= Índice de Compacidade,

Pc= perímetro de um círculo de área igual à do projeto

Pp= perímetro das paredes exteriores, em planta, do projeto.

Chamando de Ap a superfície do projeto e com alguns artifícios matemáticos a

expressão anterior pode ser transformada:

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1002 ××

×=p

pc P

AI

π (5.2)

Matematicamente o máximo de compacidade é 100%. Mas dificilmente os projetos se

aproximam dele. O índice de compacidade para a planta quadrada é 88,6%, estudos

ingleses relacionando a variação do custo em função do índice de compacidade do

edifício demonstram um valor mínimo para o custo neste índice. Para Ic > 88,6%

(forma hexagonais ou circulares) o custo da alvenaria aumenta devido à não

ortogonalidade das paredes e os desperdícios com o revestimento. Para edifícios de

múltiplos pavimentos, após certas manobras matemáticas, chega-se à formula para o

índice de compacidade para um edifício de n pavimentos:

nI

I cpc = (5.3)

5.2.2.1 – Cálculo dos índices para o projeto proposto

91

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A tabela abaixo resume os índices calculados para as soluções em planta das

tipologias propostas.

Tabela 5.2: Índice de compacidade para as edificações propostas

Tipologia nº pavtos nº unidades

residenciais

Área do

pavimento

Perímetro Índice

Compacidade

Tipo 1 2 2 77,00m² 36,00m 59,08

Tipo 2 2 2 57,54m² 30,44m 62,46

Tipo 2A 2 2 57,54m² 30,44m 62,46

Tipo 3 1 1 53,08m² 30,34m 85,12

Tipo 4 1 1 76,34m² 37,12m 83,43

Analisando os valores encontrados pode-se inferir:

- A solução mais econômica, em planta, foi a tipologia 3 (residência unifamiliar

acessível), apresentando um índice de compacidade bem próximo à planta quadrada;

- A tipologia 4 (residência unifamiliar três quartos) também obteve um ótimo índice de

compacidade bem próximo ao índice anterior;

- As demais tipologias apresentam índices mais baixos, são construções de dois

pavimentos, apresentando a redução relativa ao número de pavimentos na fórmula

original. No entanto esta simplificação da fórmula foi conseguida para edifícios de n

pavimentos tipo, plantas que se repetem justapostas. Na proposta deste trabalho

encontra-se uma situação um pouco diferente: as tipologias 1, 2 e 2A são residências

geminadas, ambas de dois pavimentos. Ou seja, o andar tipo pertence a duas

residências ao mesmo tempo. O índice apresentado, portanto, refere-se ao estudo da

relação entre alvenarias e plantas de ambas residências Neste caso, apesar dos

índices menores, também indicam uma economia proporcionada pelo desenho.

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5.2.3 Técnicas Construtivas Sustentáveis aplicadas ao projeto

Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de aumentar a eficiência

energética das residências ou condomínios residenciais. No entanto muitos destes

projetos nem sempre colocam restrições aos custos de implantação das soluções

propostas, por se tratar de residências ou condomínios de luxo. O retorno destes

projetos não devem ser analisados exclusivamente sob o ponto de vista econômico, é

claro; os benefícios advindos de menores gastos energéticos e do tratamento de

resíduos são muito importantes e refletem suas influências positivas em todo o meio

urbano.

Para o empreendimento popular, entretanto, o custo da implantação de um sistema

qualquer aplicado à edificação deve ser avaliado quanto a sua participação no custo

final da obra. A viabilidade financeira de uma residência popular é também um

requisito para sua ‘sustentabilidade’. Por esta razão as técnicas aplicadas ao projeto

em estudo terão sempre cunho social, devem ser de baixo custo.

As propostas de aumento da eficiência energética, do conforto térmico de interiores,

da redução dos impactos na produção de resíduos, ou seja, na busca para uma

residência popular sustentável são as seguintes:

» sistema construtivo de alvenaria estrutural, constituída por blocos de solo-cimento,

fabricados com resíduos (de concreto) da construção civil;

» melhoria das condições internas de iluminação e ventilação natural com a

colocação, nos ambientes de permanência prolongada, de aberturas em mais de uma

parede, perpendiculares entre si, proporcionando a ocorrência de ventilação cruzada;

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» elevação do telhado de fibrocimento e colocação de venezianas para criar colchão

de ar ventilado, melhorando as condições térmicas da laje de cobertura;

» sistema de aquecimento de água para banho com uso de energia solar (o

aquecimento de água representa 26% do consumo de energia), de baixo custo,

composto por serpentinas colocadas numa caixa de vidro, aquecendo a água que

passa pelos tubos;

» redução do consumo de água potável, através da coleta da água pluvial e água

utilizada no lavatório e chuveiro, tratamento prévio destes efluentes e reutilização onde

não é necessária água potável, como a descarga do vaso sanitário.

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6 – CONCLUSÃO

O conceito de sustentabilidade tem sido amplamente discutido ao longo das últimas

quatro décadas; isto pode ser percebido pela grande quantidade de documentos de

compromissos produzidos por diversas instituições governamentais, ONG’s e

congressos espalhados pelo mundo. No entanto não é possível ainda reconhecer com

clareza a aplicabilidade de tais ações pactuadas, na busca pelo desenvolvimento

sustentável, no dia a dia do convívio na cidade. É possível ainda hoje encontrar no

meio urbano situações notadamente não sustentáveis, como uma enorme carência de

moradias (70% do déficit habitacional básico se concentra nas áreas urbanas), a

degradação de grandes áreas ambientais, o lançamento de esgotos num rio que

atravessa a cidade, para citar apenas alguns destes problemas.

Existem obviamente esforços por meio de certos setores produtivos propondo ações

que buscam criar alternativas sustentáveis para solucionar os problemas urbanos,

como por exemplo os programas de reciclagem de resíduos de demolição. Estes

programas poderiam ser mais eficientes se o material a ser reciclado fosse de melhor

qualidade; a qualidade do material implica numa prévia separação dos resíduos no

canteiro de obras; no canteiro no entanto estas ações não ocorrem. A eficiência de

todo o processo foi comprometida por uma falha na base do sistema. A falha é

essencialmente um problema cultural, o agente (no canteiro de obras) que não

visualiza todo o processo de reciclagem, nem imagina que pode contaminar uma

caçamba inteira ao despejar nela lixo orgânico.

Percebe-se portanto que os processos da engenharia para alcançar a sustentabilidade

não devem ser isolados, devem envolver vários setores da sociedade, promovendo

ações para mudanças culturais, de educação ambiental, permitindo que todos os

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envolvidos tenham conhecimento da importância e abrangência de suas ações na

busca pela sustentabilidade.

Propõe-se para isto a uma mudança na forma de olhar a cidade, recomendando uma

visão integrada e sistêmica aplicada à leitura de seus problemas. Uma vez que o

pensamento sistêmico é “contextual”, considerando que explicar coisas relevando seu

contexto significa explicá-las considerando seu meio ambiente, também pode-se dizer

que o pensamento sistêmico é pensamento ambientalista.

A análise dos sistemas que compõem o meio urbano poderia ser feita fazendo uma

analogia da cidade com uma rede, ligando os vários sistemas urbanos. A rede

pressupõe não linearidade e a existência de laços de realimentação. Estes laços de

realimentação consistem na verificação dos impactos que cada fato urbano provoca

em toda a rede, ou seja, em toda a cidade. Desta maneira, uma forma buscar a

sustentabilidade seria identificar na rede que forma o meio ambiente construído os

desequilíbrios que afetam a cidade, corrigindo as distorções, para alcançar o equilíbrio

ecológico e sustentável.

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7 – ANEXOS

7.1 Extratos da Lei 10.257/01 – Estatuto da Cidade

LEI Nº 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001

Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e

dá outras providências.

O P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C A

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DIRETRIZES GERAIS

Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será

aplicado o previsto nesta Lei.

Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de

ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da

segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade

e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I - garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao

saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao

lazer, para as presentes e futuras gerações;

II - gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos

vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e

projetos de desenvolvimento urbano;

III - cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de

urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV - planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades

econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as

distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V - oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos

interesses e necessidades da população e às características locais;

VI - ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura

urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de

tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

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g) a poluição e a degradação ambiental;

VII - integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o

desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;

VIII - adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis

com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área

de influência;

IX - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;

X - adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos

objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar

geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

XI - recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis

urbanos;

XII - proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural,

histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

XIII - audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de

empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou

construído, o conforto ou a segurança da população;

XIV - regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o

estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas

a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

XV - simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com

vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;

XVI - isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e

atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.

CAPÍTULO II

DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA

SEçãO I

Dos instrumentos em geral

Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos:

I - planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e

social;

II - planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;

III - planejamento municipal, em especial:

a) plano diretor;

b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;

c) zoneamento ambiental;

d) plano plurianual;

e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;

f) gestão orçamentária participativa;

g) planos, programas e projetos setoriais;

h) planos de desenvolvimento econômico e social;

IV - institutos tributários e financeiros:

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a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU;

b) contribuição de melhoria;

c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros;

V - institutos jurídicos e políticos:

a) desapropriação;

b) servidão administrativa;

c) limitações administrativas;

d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;

e) instituição de unidades de conservação;

f) instituição de zonas especiais de interesse social;

g) concessão de direito real de uso;

h) concessão de uso especial para fins de moradia;

i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;

j) usucapião especial de imóvel urbano;

l) direito de superfície;

m) direito de preempção;

n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso;

o) transferência do direito de construir;

p) operações urbanas consorciadas;

q) regularização fundiária;

r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos;

s) referendo popular e plebiscito;

VI - estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

§ 1º Os instrumentos mencionados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o

disposto nesta Lei.

§ 2º Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por órgãos ou

entidades da Administração Pública com atuação específica nessa área, a concessão de direito real de

uso de imóveis públicos poderá ser contratada coletivamente.

§ 3º Os instrumentos previstos neste artigo que demandam dispêndio de recursos por parte do Poder

Público municipal devem ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades,

movimentos e entidades da sociedade civil.

Seção III

Do IPTU progressivo no tempo

Art. 7º Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5º

desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5º do art. 5º desta Lei, o Município procederá

à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo,

mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos.

§ 1º O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica a que se refere o caput do

art. 5º desta Lei e não excederá a duas vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota

máxima de quinze por cento.

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§ 2º Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em cinco anos, o Município

manterá a cobrança pela alíquota máxima, até que se cumpra a referida obrigação, garantida a

prerrogativa prevista no art. 8º.

§ 3º É vedada a concessão de isenções ou de anistia relativas à tributação progressiva de que trata este

artigo.

CAPÍTULO III

DO PLANO DIRETOR

Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de

ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos

cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas,

respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei.

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento

e expansão urbana.

§ 1º O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano

plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele

contidas.

§ 2º O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo.

§ 3º A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos.

§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes

Legislativo e Executivo municipais garantirão:

I - a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações

representativas dos vários segmentos da comunidade;

II - a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III - o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos.

§ 5º (VETADO)

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I - com mais de vinte mil habitantes;

II - integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

III - onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no 4º do art. 182 da

Constituição Federal;

IV - integrantes de áreas de especial interesse turístico;

V - inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental

de âmbito regional ou nacional.

§ 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do caput , os

recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de

compensação adotadas.

§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de

transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido.

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:

I - a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização

compulsórios, considerando a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização, na forma do art.

5º desta Lei;

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II - disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;

III - sistema de acompanhamento e controle.

7.2 Extrato da Lei 6766/79 – Parcelamento do Solo

Lei n 6766 de 19 de DEZEMBRO DE 1979 Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras Providências

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - O parcelamento do solo para fins urbanos será regido por esta Lei.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer normas

complementares relativas ao parcelamento do solo municipal para adequar o previsto nesta Lei

às peculiaridades regionais e locais.

CAPÍTULO I

Disposições Preliminares

Art. 2º - O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou

desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e

municipais pertinentes.

§ 1º - Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com

abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação

ou ampliação das vias existentes.

§ 2º - considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação,

com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas

vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já

existentes.

§ 3º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

§ 4º Considera-se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões atendam

aos índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se

situe.(Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

§ 5º Consideram-se infra-estrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das águas

pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, e de

energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimentadas ou não.(Incluído pela

Lei nº 9.785, 29.1.99)

§ 6º A infra-estrutura básica dos parcelamentos situados nas zonas habitacionais declaradas

por lei como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo, de: (Incluído pela Lei nº 9.785,

29.1.99)

I - vias de circulação; (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

II - escoamento das águas pluviais; (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

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III - rede para o abastecimento de água potável; e (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

IV - soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.(Incluído pela

Lei nº 9.785, 29.1.99)

Art. 3º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de

expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou

aprovadas por lei municipal. (NR) (Redação dada pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

Parágrafo único. Não será permitido o parcelamento do solo:

I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para

assegurar o escoamento das águas;

II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que

sejam previamente saneados;

III - em terreno com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas

exigências específicas das autoridades competentes;

IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;

V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições

sanitárias suportáveis, até a sua correção.

CAPÍTULO II

Dos Requisitos Urbanísticos para Loteamento

Art. 4º - Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:

I - as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e

comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de

ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se

situem. (Redação dada pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

II - os lotes terão área mínima de 125 m2 (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente

mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando a legislação estadual ou municipal determinar

maiores exigências, ou quando o loteamento se destinar a urbanização específica ou

edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos

públicos competentes;

III - ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias,

ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de uma faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros

de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica;

IV - as vias de loteamento deverão articular-se com as vias adjacentes oficiais, existentes ou

projetadas, e harmonizar-se com a topografia local.

§ 1º A legislação municipal definirá, para cada zona em que se dívida o território do Município,

os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, que

incluirão, obrigatoriamente, as áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos

de aproveitamento. (Redação dada pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

§ 2º - Consideram-se comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde,

lazer e similares.

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Art. 5º - O Poder Público competente poderá complementarmente exigir, em cada loteamento,

a reserva de faixa non aedificandi destinada a equipamentos urbanos.

Parágrafo único. Consideram-se urbanos os equipamentos públicos de abastecimento de

água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás

canalizado.

7.3 Extrato do Projeto de Lei 3057/00 –Lei de Responsabilidade Territorial

PROPOSTA PRELIMINAR E PARCIAL DE SUBSTITUTIVO DO RELATOR

Projeto de Lei nº 3.057, de 2000

(E aos apensos: PL 5.894/01, PL 6.220/02, PL 754/03 e PL 2.454/03)

Dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos e sobre a regularização fundiária

sustentável de áreas urbanas, e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

(*) alteração redacional proposta pelo relator.

Art. 1º Esta lei estabelece normas gerais disiciplinadoras do parcelamento do solo para fins

urbanos e da regularização fundiária sustentável de áreas urbanas e será denominada Lei de

Responsabilidade Terrirtorial Urnbana.

Parágrafo único: A aplicação desta Lei se dará sem prejuízo de outras disposições legais

específicas de âmbito federal, estadual, distrital ou municipal que sejam compatíveis,

respeitadas as competências constitucionais de cada ente federativo.

Art. 1º Na implementação do parcelamento do solo para fins urbanos, e da regularização

fundiária em áreas urbanas, deverão ser observadas as diretrizes gerais da política

urbana enumeradas no art. 2º da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, e os seguintes

princípios:

I – função social da propriedade urbana e da cidade;

II – garantia do direito à moradia e ao desenvolvimento sustentável dos assentamentos

humanos;

III – urbanismo como função pública e respeito à ordem urbanística;

IV – prevalência do interesse público sobre o interesse privado;

V – ocupação prioritária dos vazios urbanos, respeitados os espaços territoriais

especialmente protegidos; (sugestão do MMA, M.CIDADES e FNRU).

VI – recuperação pelo Poder Público das mais-valias urbanas decorrentes de suas

ações;

VII – acesso universal aos bens de uso comum do povo;

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VIII – garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso comum

do povo.

IX – defesa do consumidor. (*) inclusão sugerida pelo MP e pelo SNDC. Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se:

I – área urbana: a parcela do território, contínua ou não, incluída nos perímetros urbanos pelo

plano diretor ou lei municipal específica;

II – área urbana consolidada: a zona urbana, definida pelo plano diretor ou pela lei municipal

que estabelecer o zoneamento urbano, que possua, em um raio de 1000 (mil) metros a contar

de suas divisas, em pelo menos 2/3 de seu contorno, densidade demográfica superior a 50

(cinqüenta) habitantes por hectare e malha viária implantada, e que tenha, no mínimo, dois dos

seguintes equipamentos de infra-estrutura urbana: sistema de manejo de águas pluviais,

disposição adequada de esgoto sanitário, abastecimento de água potável, distribuição de

energia elétrica e coleta de resíduos sólidos;

(*) alteração sugerida pelo Setor Produtivo, pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo FNRU e

pelo Ministério das Cidades.

III – regularização fundiária sustentável: o conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas,

ambientais e sociais, promovidas pelo Poder Público por razões de interesse social ou

de interesse específico, que visem a adequar assentamentos informais preexistentes às

conformações legais, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno

desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado; IV – regularização fundiária de interesse social: a regularização fundiária sustentável de

assentamentos informais ocupados, predominantemente, por população de baixa renda, nos

casos em que existem direitos reais legalmente constituídos. Ou quando se tratar de zona

especial de interesse social (ZEIS); (*) alteração e supressão sugeridas por consenso.

V – regularização fundiária de interesse específico: a regularização fundiária sustentável de

assentamentos informais na qual não se caracteriza o interesse social; (*) alteração e

supressão sugeridas pelo MP.

VI – gleba: o imóvel que ainda não foi objeto de parcelamento do solo para fins urbanos;

VII – lote: a unidade imobiliária resultante de loteamento ou desmembramento; (*) alteração e

supressão sugeridas pelo MP.

VIII – unidade autônoma: a unidade imobiliária resultante de condomínio urbanístico destinada

à edificação e ao uso privativo; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa

– em face do inciso XVIII deste artigo).

IX – loteamento: a divisão de imóvel em lotes destinados à edificação, com abertura de novas

vias públicas ou logradouros públicos, ou com prolongamento, modificação ou ampliação das

vias públicas ou logradouros públicos existentes; (*) alteração redacional sugerida por

consenso.

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X – desmembramento: a divisão de imóvel em lotes, que não implique na abertura de novas

vias ou logradouros públicos, ou no prolongamento, modificação ou ampliação dos já

existentes;

(*) supressão sugerida por consenso.

XI – condomínio urbanístico: a divisão de imóvel em unidades autônomas destinadas à

edificação, às quais correspondem frações ideais das áreas de uso comum dos condôminos,

sendo admitida a abertura de vias de domínio privado e vedada a de logradouros públicos

internamente ao perímetro do condomínio;

XII – loteamento integrado à edificação: a modalidade de loteamento em que a construção das

edificações nos lotes é feita pelo empreendedor, concomitantemente à implantação das obras

de urbanização; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa).

XIII – desmembramento integrado à edificação: a modalidade de desmembramento em que a

construção das edificações nos lotes é feita pelo empreendedor, concomitantemente à

implantação das obras de urbanização; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica

legislativa).

XIV – condomínio urbanístico integrado à edificação: a modalidade condomínio em que a

construção das edificações é feita pelo empreendedor, concomitantemente à implantação das

obras de urbanização; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa).

XV – parcelamento de pequeno porte: o parcelamento de imóvel com área total inferior a

10.000 m² (dez mil metros quadrados), ou o desmembramento que não resulte em mais de 5

(cinco) unidades;

XVI – áreas destinadas a uso público: aquelas referentes ao sistema viário, à implantação de

equipamentos comunitários, aos espaços livres de uso público, às áreas verdes e a outros

logradouros públicos; (Alteração sugerida pelo MMA, M.CIDADES e FNRU.)

XVII – áreas destinadas a uso comum dos condôminos: aquelas referentes ao sistema viário

interno e as demais áreas integrantes de condomínios urbanísticos que não sejam definidas

como unidades autônomas; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa).

XVIII – equipamentos comunitários: os equipamentos de educação, cultura, saúde, segurança,

esporte, lazer e convívio social;

XIX – infra-estrutura básica: os equipamentos de abastecimento de água potável, disposição

adequada de esgoto sanitário, distribuição de energia elétrica e sistema de manejo de águas

pluviais;

XX – infra-estrutura complementar: iluminação pública, pavimentação, rede de telefonia, rede

de fibra ótica e outras redes de comunicação, rede de gás canalizado e outros elementos não

contemplados na infra-estrutura básica;

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XXI – autoridade licenciadora: o Poder Executivo municipal responsável pela concessão da

licença urbanística e ambiental integrada do parcelamento do solo para fins urbanos ou do

plano de regularização fundiária, ou quem eventualmente o substitua no exercício desta

competência nos casos expressamente estabelecidos nesta lei;

(*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa) com o objetivo de adequar o

dispositivo à instituição das licenças integrada e final integrada, e aos casos em que, de acordo

com a lei, o Município será substituído pelo Estado como pessoa responsável pelo

licenciamento.

XXII – licença urbanística e ambiental integrada: ato administrativo vinculado pelo qual a

autoridade licenciadora estabelece as compensações, as condições e as restrições de

natureza urbanística e ambiental que devem ser obedecidas pelo empreendedor para

implantar, alterar, ampliar ou manter parcelamento do solo para fins urbanos e para proceder à

regularização fundiária;

(*) alteração redacional proposta pelo relator com o objetivo de adequar o dispositivo à

instituição das licenças prévia integrada e final integrada, e de ressaltar o caráter não

discricionário do licenciamento.

XXIII – licença final integrada: ato administrativo vinculado pelo qual a autoridade licenciadora

declara que o empreendimento foi fisicamente implantado e executado de forma regular, com

atendimento integral das exigências urbanísticas e ambientais estabelecidas pela legislação

em vigor e fixadas na licença urbanística e ambiental integrada.

(*) inciso incluído pelo relator, com o objetivo de adequar a instituição das licenças integrada e

final integrada.

XXIV – comissão de representantes: colegiado formado pelos compradores de lotes ou

unidades autônomas para fiscalizar a implantação do parcelamento do solo para fins urbanos;

XXV– gestão plena: condição do Município que reúna simultaneamente os seguintes

requisitos:

a) plano diretor, independentemente do número de habitantes, aprovado e atualizado nos

termos da Lei nº 10.257, de 2001;

b) órgãos colegiados de controle social nas áreas de política urbana e ambiental, ou, na

inexistência destes, integração com entes colegiados intermunicipais constituídos com esta

mesma finalidade, em ambos os casos garantida a composição paritária entre representantes

dos órgãos públicos e da sociedade civil e assegurado o caráter deliberativo das decisões por

eles tomadas em matéria ambiental e urbanística;

(*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa)

c) órgãos executivos específicos nas áreas de política urbana e ambiental, ou integração com

associações ou consórcios intermunicipais para o planejamento, a gestão e a fiscalização nas

referidas áreas, nos termos da Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005;

XXVI – demarcação urbanística: procedimento administrativo pelo qual o Poder Público, no

âmbito da regularização fundiária de interesse social, demarca o imóvel, definindo seus limites,

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área, localização e confrontantes, com a finalidade de identificar seus ocupantes e qualificar a

natureza e o tempo das respectivas posses;

XXVII – legitimação de posse: ato do Poder Público destinado a conferir título de

reconhecimento de posse de imóvel objeto de demarcação urbanística, com a identificação do

ocupante e do tempo e da natureza da posse;

XXVIII – zona especial de interesse social (ZEIS): área urbana instituída pelo Plano Diretor ou

definida por outra lei municipal, destinada predominantemente à moradia de população de

baixa renda e sujeita a regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo; (*)

alteração sugerida por consenso, com proposta de redação do relator.

XXIX – assentamentos informais: assentamentos urbanos, localizados em áreas públicas ou

privadas, compreendendo as ocupações e os parcelamentos irregulares ou clandestinos, bem

como outros processos informais de produção de lotes, ocupados predominantemente para

fins de moradia e implantados sem autorização do titular de domínio ou sem aprovação dos

órgãos competentes, em desacordo com a licença expedida ou sem o respectivo registro

imobiliário; (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa).

XXX – empreendedor: o proprietário do imóvel a ser parcelado e responsável pela implantação

do parcelamento ou aquele que como tal for admitido pela presente lei. (*) alteração redacional

proposta pelo relator em face do parágrafo subseqüente (técnica legislativa).

Parágrafo único. Além do proprietário do imóvel, serão também admitidos como

empreendedores: (*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa)

I – o compromissário comprador, cessionário ou promitente cessionário, ou o foreiro, desde

que o proprietário expresse sua anuência em relação ao empreendimento e sub-rogue-se nas

obrigações do compromissário comprador, cessionário ou promitente cessionário, ou do

foreiro, em caso de extinção do contrato;

II – o ente da Administração Publica direta ou indireta, quando habilitado a promover a

desapropriação, nos termos do art. 3º do Decreto-Lei 3.365/41 e nos termos do inciso V, do art.

2°, da Lei 4.132 de 10 de setembro de 1962, devendo, para tanto, ser autor da ação em que a

destinação final do bem expropriado esteja vinculada à implantação de parcelamento

habitacional ou à realização de regularização fundiária de interesse social, e na qual tenha

ocorrido a regular imissão na posse;

III – a pessoa física ou jurídica contratada pelo proprietário do imóvel a ser parcelado ou pelo

Poder Público para executar o parcelamento ou a regularização fundiária, em forma de

parceria, sob regime de obrigação solidária, devendo o contrato ser averbado na matrícula do

imóvel no competente Registro de Imóveis;

IV – as cooperativas habitacionais, as associações de moradores e as associações de

proprietários ou compradores, desde que assumam a responsabilidade pela implantação do

parcelamento.

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TÍTULO III

DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA SUSTENTÁVEL DE ÁREAS URBANAS.

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 95. A política de regularização fundiária sustentável de assentamentos informais urbanos

integra a ordem urbanística, visando à efetivação do direito social à moradia e do direito a

cidades sustentáveis.

§ 1º Aos parcelamentos em processo de implantação em desacordo com o projeto aprovado

ou com outras irregularidades aplicam-se as regras de intervenção do Capitulo VII do Título II.

§ 2º As disposições deste Título aplicam-se aos assentamentos informais situados em áreas

particulares ou em áreas públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos

Municípios, bem como sobre os assentamentos situados em áreas pertencentes aos entes da

administração pública indireta.

(*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa)

Art. 96. Além das diretrizes gerais de política urbana estabelecidas na Lei nº 10.257, de 10 de

julho de 2001, e dos princípios previstos no art. 2º desta lei, a regularização fundiária

sustentável deverá pautar-se pelas seguintes diretrizes:

I – ampliação do acesso a terra urbanizada por parte da população de baixa renda;

II – prioridade para a permanência da população na área ocupada, assegurados o nível

adequado de habitabilidade e a melhoria das condições de sustentabilidade urbanística, social

e ambiental da área ocupada;

III – observância das determinações do plano diretor;

IV – articulação com as políticas setoriais de habitação, saneamento ambiental e mobilidade

urbana, nos diferentes níveis de governo;

V – controle, fiscalização e repressão, visando a evitar novas ocupações ilegais na área objeto

de regularização;

VI – articulação com iniciativas públicas e privadas voltadas à integração social e à geração de

emprego e renda;

VII – participação da população interessada, em todas as etapas do processo de

regularização;

VIII – estímulo à resolução extrajudicial de conflitos;

IX – preferência de titulação para a mulher.

(*) alteração redacional proposta pelo relator (técnica legislativa)

Art. 97. O Poder Público municipal, no plano diretor ou em outra lei municipal apropriada,

definirá as condições e os procedimentos para a concepção, formulação e

implementação da política municipal de regularização fundiária sustentável, e

disciplinará:

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I – os critérios, as exigências e os procedimentos para a elaboração e a execução dos planos

de regularização fundiária, particularizados para os casos de interesse social e de interesse

específico;

II – os requisitos e os procedimentos simplificados para a aprovação do plano e do

licenciamento de regularização fundiária;

III – os parâmetros para garantia do livre acesso aos bens de uso comum do povo;

IV – os mecanismos de controle social a serem adotados;

V – as formas de compensação a serem eventualmente exigidas.

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Energética em Habitações de Interesse Social. Brasília: Ministério das Cidades,

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Espaços Libertários. São Paulo, p.11-38, 2003.

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Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 318 p.

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MASCARÓ, JUAN LUIS. Loteamentos Urbanos. Porto Alegre: Editor L Mascaro,

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MASCARÓ, JUAN LUIS. O Custo das Decisões Arquitetônicas. 3. ed. Porto Alegre:

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NAKAMURA, JULIANA. A Respeito do Meio Ambiente. AU Arquitetura e Urbanismo.

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Agronomia. São Luís, p. 169-182, Nov / Dez. 2004.

PUSCH, JAIME. Ética profissional e sustentabilidade. 61ª SOEAA Semana Oficial da

Engenharia, Arquitetura e da Agronomia. São Luís, p. 25-34, Nov / Dez. 2004.

ROMERO, MARTA ADRIANA BUSTOS. O Desafio da Construção das Cidades. AU

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SHEEHAN, MOLLY O’MEARA. Unindo Cidades Divididas. Estado do Mundo 2003.

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Endereços Eletrônicos na Internet

Bolsa de Recicláveis, disponível em:

http://www.bolsadereciclaveis.com.br (acesso em 12/01/07)

Casa Eficiente e exemplo de projeto de reuso de água servida para um edifício em

São Paulo, disponível em:

http://www.piniweb.com/revistas/techne/index.asp?MATE6_COD=18897&from=Correio

+Pini (acesso em 06/11/06)

Casa Zero Alemã, disponível em:

http://www.solarserver.de/lexikon/nullenergiehaus-e.html (acesso em 27/01/07)

Clube de Roma, disponível em:

www.clubofrome.org/archive/publications.php (acesso em 30/01/07)

Declaração de Estocolmo disponível em:

http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/doc/estoc72.htm (acesso em 30/01/07)

Decreto 5.296 de 2 de Dezembro de 2004, disponível em:

http://www6.senado.gov.br/sicon/PaginaDocumentos.action (acesso em 31/01/07)

Educação na Era Planetária, por Edgar Morin, disponível em:

http://edgarmorin.sescsp.org.br/arquivo/default.asp (acesso em 16/01/07)

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PNDU BRASIL – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio (ODM) 2000, disponível em

http://www.pnud.org.br/index.php?lay=odmi&id=odmi. (acesso em 04/11/06)

Relatório Bruntland disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland (acesso em 24/01/07)

Resoluções 264 e 307 CONAMA, disponível em:

http://www.lei.adv.br/conama.htm (acesso em 04/02/07)

Tijolos solo cimento, disponível em:

http://www.revistatechne.com.br/Edicoes/113/artigo31818-1.asp?o=s (acesso em

28/01/07)

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