monografia - nelo canuto

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Nelo Canuto Monteiro de Pina A pedagogia do texto poético no 2° e 3° ciclos do Ensino Secundário - Um exemplo da prática pedagógica na Escola Secundária do Palmarejo - Licenciatura em Estudos Cabo-verdianos e Portugueses Sob a orientação da Dra. Fátima Fernandes ISE, Setembro de 2008

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Nelo Canuto Monteiro de Pina A pedagogia do texto potico no 2 e 3 ciclos do Ensino Secundrio - Um exemplo da prtica pedaggica na Escola Secundria do Palmarejo -

Licenciatura em Estudos Cabo-verdianos e Portugueses Sob a orientao da Dra. Ftima Fernandes ISE, Setembro de 2008 2 Nelo Canuto Monteiro de Pina A Pedagogia do Texto Potico no 2 e 3 ciclos do Ensino Secundrio - Um exemplo da prtica pedaggica na Escola Secundria do Palmarejo - TrabalhoCientficoapresentadoaoISEparaaobtenodograudeLicenciaturaemEstudos Cabo-verdianos e Portugueses, sob a orientao da Dr. Ftima Fernandes. ISE, Setembro de 2008 3 Aprovado pelos membros do Jri homologado pelo Conselho Cientfico como requisito para a obteno do grau de Licenciatura em Estudos Cabo-verdianos e Portugueses. O Jri: Presidente: ______________________________________________ Arguente: _______________________________________________ Orientadora: _____________________________________________ ISE, Praia, ____ /____/ 08 4 Dedicatria minha me, a quem devo tudo o que consegui at agora! Ao meu primo e tio, Antnio Loureno Canuto e Luciano Canuto, pelo incentivo que me tm dispensado ao longo dos meus estudos! 5 Agradecimentos Estetrabalhoconstituifrutodeumagrandebnoqueveiodeumsersupremoe poderoso,aquelequeestevesempredomeuladofazendo-meacreditarnaquiloqueeu sonhava, da que o meu primeiro e principal agradecimento para Deus. minhaorientadora,Dr.FtimaFernandes,porterconfiadoemmime disponibilizadotodaasuadedicaoecompetncianarealizaodestetrabalho.Sou eternamente grato a ti, idolatrada Professora!minhameMariaRosa,quesempreestevedomeuladoemetransmitiuforaem todas as coisas positivas que eu fao. AomeuprimoAntnioCanuto,aquemrecorrimuitasvezespararesolveras dificuldades que tive de enfrentar nesses anos de estudo. Obrigado por tudo! AomeutioLucianoCanuto,quemetemajudadodesdeosmeusprimeirosanosde estudo no ensino secundrio. DonaLandaeSenhorDiminguinho,queassumiramumpapelpreponderantena minha educao ao longo dos meus anos de estudo. Vocs merecem todo o sucesso do mundo!AoDirectordaEscolaSecundriaCnegoJacinto,MrioLusFernandes,porter simplificado a minha vida ao longo desses anos de trabalho. s um grande amigo! minhaamigaIdeneida,quemetemincentivadosemprenosentidodelevaravante este trabalho! s uma amiga de corao!

6 O poeta um fingidor. Finge to completamente Que chega a fingir que dorA dor que deveras sente. Fernando Pessoa A poesia daquele que escreve como o negativo da operao potica e o positivo encontra-se no leitor. Georges Jean (1976) A Poesia trabalha as guas profundas do imaginrio.

Gaston Bachelard (1960) 7 ndice Captulo 1 .................................................................................................................................... 8 1.1-Introduo ......................................................................................................................... 8 Justificao e Objectivos ................................................................................................... 8 1.2- Enquadramento metodolgico ....................................................................................... 11 1.3- Contextualizao da escola/alunos ................................................................................ 13 Captulo 2 .................................................................................................................................. 14 2.1 -Enquadramento terico sobre a poesia .......................................................................... 14 2.1.1 Para uma pedagogia do texto potico ................................................................... 17 2.1.2- A Produo do texto potico .................................................................................. 18 2.2- A leitura enquanto pressuposto bsico para a criao potica ...................................... 20 2.2.1- A viso scio-construtivista da aprendizagem ....................................................... 24 Captulo 3 : A pedagogia do texto potico no 2 e 3 ciclos do Ensino Secundrio; - Um exemplo da prtica pedaggica na Escola Secundria do Palmarejo - ..................................... 27 3.1- Leitura dos dados do inqurito Relacionamento dos alunos com a poesia ................ 27 3.2- O ensino da poesia em contexto escolar -Anlise das aulas ........................................ 30 3.3 Leitura crtica dos programas de Lngua Portuguesa (10 e 11 anos) ........................ 40 3.4- Sugestes de actividades ............................................................................................... 42 3.4.1- Propostas alternativas de explorao do texto potico ........................................... 42 3.4.2 - Proposta de explorao alternativa da aula do 10 ano de escolaridade ............... 55 Captulo 4 .................................................................................................................................. 62 4.1 Concluso ..................................................................................................................... 62 4.2 Consideraes finais .................................................................................................... 64 Bibliografia ............................................................................................................................... 66 Anexos ...................................................................................................................................... 68 8 Captulo 1 1.1-Introduo Justificao e Objectivos AescolhadotemaApedagogiadotextopoticono2e3ciclosdoensino secundrioquetomaformanestetrabalhodefimdecurso,reveste-sedeumaimportncia extrema paraa anlise do processo de ensino eaprendizagem da poesia em contexto escolar, na medida em que o texto potico se arquitecta atravs de inmeros mecanismos literrios, que devem ser levados em linha de considerao, quer no processo de produo quer na recepo literria.Comefeito,porsetratardeumtemabastantecomplexoepertinente,nosnveisde estudo em anlise, coloca a necessidade de explicar e veicular a verdadeira essncia da poesia, ouseja,reconhecerapoesiaenquantoartequeexigeoaccionamentodemtodosde abordagem literrias adequados, quer no plano ideolgico como no tcnico compositivo, que sofornecidospelosprofessoresdelnguaeliteratura,atravsdeprticaspedaggicasde produoedeleituraliterrias.Portanto,umapedagogiadotextopoticoexigedoprofessor umaformaespecficadeensinodessegnerodetexto,quedeveobedeceradeterminados critrios literrios ea uma postura adequada do aluno no sentido depermitir explorar as suas potencialidades ao mximo, da a importncia dessa abordagem. Deste modo, perspectiva-se a recolhadedadosconcretosrelativosaotratamentodapoesianasaladeaula,asuaposterior anlise e recolha de subsdios que podero servir para melhor ensino nesta matria. Assim, os alunos, primognitos desta aventura literria, constituem o ncleo que tem o primeiro contacto com a poesia no 10 Ano de escolaridade. Esse nvel constitui a nossa linha de estudo inicial, a qual procurar consolidar-se com a anlise atenta do tema e a aplicao do estudo igualmente ao 11 Ano de Escolaridade, o primeiro do ciclo terminal de formao dos jovens Cabo-verdianos. 9 Pretende-sedestaforma,darvisibilidade,nombitodaleituraliterria,sprticas pedaggicasnoensinodotextopotico,incidindosobreosmtodosdeensino,osrecursos utilizadospeloprofessoreasorientaesdoprograma,numaperspectivacontrastivaas necessidadesreaisdosalunosesrespostasporelesdadasnaresoluoconcretados problemas de anlise textual, neste caso, do texto potico. Assimsendo,pretende-severificarseexisteumaverdadeirapedagogiadoensinoda poesianoensinosecundrioquevaoencontrodosprincpiosdefendidospelaDidcticada Literatura,adisciplinaquesegundoCarlosReis,procuraestabelecer,definireordenar instrumentos conceptuais e estratgias pedaggicas que motivem e orientem a leitura crtica do ensino da poesia em contexto escolar. Deste modo, h que ter em conta que esta disciplina tem comoobjectivoseleccionardeformapertinenteeadequadaoqueensinar,como,paraque quandoensinar;clarificarossaberesespecficosdoensinodapoesia,isto,osmtodos, processos,tcnicaseestratgiasutilizadosnesseprocesso;contribuirparaaautonomiado professor e promover o desenvolvimento da criatividade dos alunos. Portanto,aDidcticadaliteraturaestmunidadeumestatutoterico-prticoe interdisciplinar capaz de fornecer uma vasta gama de subsdios adequados anlise da prtica pedaggica da poesia na sala de aula. Deste modo, o estudo da poesia merece uma ateno especial, por parte dos actores que esto envolvidos directamente no processo de ensino-aprendizagem, da a necessidade que sentimos dedaronossocontributoatravsdeumtrabalhodepesquisanoqualpretendemos,porum lado, efectuar uma leitura crtica das linhas de orientaes fornecidas pelo programa de Lngua Portuguesa no ensino secundrio, enquanto mentor de todo processo de ensino e aprendizagem da poesia, tendo por anlise as aulas prticas observadas nos dois nveismencionados, e, por outrolado,apresentarumapropostaalternativadecarcterldico-pedaggicocom sugestesdeactividadesquecontribuamparaamotivaodoalunorelativamenteaulade explorao do texto potico, desenvolvida segundo uma abordagem construtivista do processo de ensino-aprendizagem. Realamosaindaqueapropostaapresentadaestplanificadaparaalunosdafaixa etriaentreoscatorzeedezoitoanosdeidade,quefrequentamo10e11anosde escolaridade.Aopoporessesdoisanosdeescolaridade,deve-seaofactodeoprimeiro 10 contacto com a poesia se verificar somente no ltimo trimestre do 2 ciclo, isto , onde apenas so introduzidos os conceitos bsicos relativos a este contedo, que sero consolidados no 3 ciclo(11ano),numaperspectivamaisaprofundada.Daointeresseemobservarereflectir sobre a prtica nos dois nveis. Assim, desenvolver o tema em apreo implica responder seguinte questo de partida:

- At que ponto o ensino da poesia responde s reais necessidades educativas dos alunos do 2 e 3 ciclos do Ensino Secundrio? Objectivos gerais: . Analisar o impacto do estudo do texto potico em contexto escolar; . Compreender o contexto em que se processa o ensino/aprendizagem do texto potico; .Cooperarcomosprofessoresdo2e3ciclosdoensinosecundrionapromooe motivao para a leitura de poesia. Objectivos especficos: . Fazer uma leitura crtica dos programas do 10 e 11 anos em relao ao ensino da poesia; . Dar visibilidade s diferentes abordagens poticas que se fazem na sala de aula;. Problematizar acerca da eficcia da sua aplicao; . Fornecer contributos para a metodologia do ensino da poesia. 11 1.2- Enquadramento metodolgico A realizao deste trabalho imps a constituio de um corpus textual que inclusse dois textospoticos,umestudadono10eoutrono11anodeescolaridade,noprimeirocaso Regresso, de Jorge Barbosa, e no segundo Amor de Pedro Monteiro Cardoso, trabalhados emcontextodesaladeaula.Umestudominuciosoedetalhadodasdiferentesformasde abordagempoticaaplicadasnasaladeaulavisou,certamente,procederao levantamento/verificaodasvantagense/oudesvantagensdessasprticas,possibilitandoa recolhadesubsdiosquepoderoviabilizarouanular,querasorientaesemtermos contextuais,fornecidospeloprograma,queraformacomoapoesiatrabalhadanaaula, dandodestemodo,umafortecontribuioparaumaverdadeirapedagogiadoensinoda poesia,arrecadandoaspotenciaisprticaspedaggicasesugerindoumanovaadaptaoou abandono de outras que parecem ser inadequadas. Noentanto,convmrealarqueaconcepodestetrabalhotevecomosuporte documentosquenospermitiramumaconfrontaodeideiaseposicionamentostericos adoptadosporvriosestudiososetericosdofenmenoliterrioedidcticodemodoa estabelecerasbasesdaconstruodacomponenteterico-conceptualemqueassentaeste estudo.Comefeito,estainvestigaodesenvolve-seemtornodeumaperguntaqueservede pontodepartida,equeconstituioeixodetodaareflexoeproblematizaoparaexplicara natureza do objecto de estudo, neste caso: A Pedagogia do texto potico no 2 e 3 ciclos do ensino secundrio. Tendo uma linha de orientao temtica e ideolgica predisposta, primeiramente, fez-se a recolha de dados e informaes complementares inerentes ao tema em execuo, atravs dapesquisabibliogrficaeassistnciasaulasconduzidasporumguioadequadoaos interesses da pesquisa. Uma vez mais, reiteramos que o que sustenta esta investigao e lhe oferece credibilidade o factodeserdesenvolvidacombasenumquadrotericoderefernciaparaoestudoda Literaturae,consequentementedapoesia.Assim,omodelodeanlisepornsadoptado, baseia-se,fundamentalmente,naaprendizagem,concretamentenavisoscio-construtivista de Vygotsky e desenvolvida por autores neovygotskyanos contemporneos, que serve de base 12 para toda a fundamentao terica e para a reflexo sobre a prtica pedaggica do professor na sala de aula. Tambm,outrasteoriasliterriasdeestudiososquefocamaspectoscomoopapeldo professor, do aluno,as estratgias pedaggicas entre outros, os quais foram levados em linha deconsideraoaolongodestareflexocomodemonstraro,posteriormente,asanlisesdas aulas observadas, no sentido de garantir o confronto entre mtodos de investigao diferentes e, consequentemente maior fiabilidade dos resultados obtidos. Assim, numa primeira fase de pesquisa privilegimos a observao e recolha de dados, seguindo-seaseleco,tratamentoeanlisedosmesmos,recorrendo-seaummtodode orientao.Numaprimeirainstnciaconsultamoseanalisamosdiversosdocumentosque foramproduzidosedisponibilizadosnombitodadisciplinadaDidcticadaliteraturae posteriormenteprocedeu-seobservaodeaulas.Almdisso,aplicmosumquestionrio quetevecomopblico-alvoosalunosecomperguntaselaboradasemfunodosobjectivos depesquisa.Paraaobservaodasaulasrecorremosadiversosmateriaisentreosquais,um gravador, os documentos disponibilizados pelo professor (textos), uma mquina fotogrfica e um caderno de registo dos contedos gravados. Aindanestafasepreparmosumguiodesenvolvidocombaseemtrsautoresque estudam o fenmeno literrio (Emlia Amor, Fernando Azevedo e Lus de Lima Barreto) e que foidelineadoemfunodosaspectosaobservar,nestecaso,asestratgiasutilizadaspelos professores na explorao da poesia nas aulas de Lngua Portuguesa. Ento, para analisarmos ograudecomplexidadedeanlisedapoesiadefinimoscomoindicadores:aleiturade contacto,otratamentodoassuntodotexto,aanlisedosmomentosdotextopotico,o tratamento dos elementos de intensificao e o comentrio do texto. 13 1.3- Contextualizao da escola/alunos Oestudodequeresultouopresentetrabalhofoiefectuadonasuavertenteprticano acompanhamentodeduasturmasemfuncionamentonaEscolaSecundriadoPalmarejo, Praia, Ilha de Santiago. AEscolaSecundriadePalmarejoficasituadanaAvenidaSantoAnto.Entrouem funcionamentonoanolectivo2002/03.Trata-sedeumamodernaecomplexainfra-estrutura escolarconstitudapor30Salasdeaulas;2Salasdeinformtica;3Laboratrios;1Salade professores; 1 Cantina escolar;1 Sala de Actos com capacidade para 130pessoas e equipada com meios audiovisuais; 1 Biblioteca; 14 Casas de Banho; 1 Espao para a prtica desportiva (pavilho e placa desportiva); 1 Bloco para funes administrativas. Apopulaoestudantilde2207alunos,sendo1106alunase1101alunos.Temum corpodocenteestvel,comcercade96professores,sendo53desexofemininoe43de masculino. Desses docentes, 41 tm grau de Licenciatura, 34 tm curso a nvel do bacharelato, 18frequentamcursossuperioresnoISE/Piaget,doistmcursomdioeumtem12anode escolaridade. Paraarealizaodestetrabalhoescolhemosduasturmas,umado10anoeoutrado 11 ano, ambas sob a docncia de dois professores licenciados. A do 10 ano de escolaridade constitudapor37alunos,sendo22dosexomasculinoe15dosexofemininocomidades compreendidas entre os 14 e 18 anos. A do 11 ano constituda por 29 alunos, sendo 10 do sexo masculino e 19 do sexo feminino com idades compreendidas entre 15 e 18 anos. Osalunosdeambososanosdeescolaridadesituam-senamesmafaixaetriadadaa existncia de um vasto nmero de alunos repetentes no 2 ciclo e outros que entraram antes de completar seis anos, estando no 3 ciclo alunos com 15 anos. Na sua maioria so alunos que moram no Palmarejo (cerca de 25%), sendo os restantes deTiraChapu,EugnioLima,TerraBranca,BelaVista,Calabaceira,eVilaNova. Constituem alunos cujos pais ou encarregados de educao, na sua maioria no dispe de uma formao superior ou mdia, salvoalgumas excepes e com condieseconmicas bastante humildes, o que dificulta o nvel de disponibilidade para a aquisio de livros. 14 Captulo 2 2.1 -Enquadramento terico sobre a poesia A compreenso do verdadeiro conceito e essncia de poesia tem sido objecto de estudo ao longo da histria da humanidade. Estudos esses, que se projectam desde Aristteles, Plato, Horcioatactualidade,naperspectivadesebuscarincessantementeasrespostasparaas inmeras perguntas que so formuladas neste domnio, entre as quais: - O que a poesia? - O que faz de uma mensagem verbal uma obra potica? Comefeito,apoesia,numadassuasdefiniesbsicas,constituiformadeexpresso em verso ou em prosa em que se procura uma viso aprofundada do mundo, com mais recurso emoodoqueaoraciocnio,medianteassociaoderitmoseumusopoucocomumda linguagem, frequentemente metafrica. Deacordocomestadefiniopodemosconsiderarqueadefiniodapoesialevaem linhadeconsideraoquestesdeordemestruturalediscursiva,quesetraduznabuscade umaemooesttica,atravsdoverso,daharmoniadoritmoedarima,deumalinguagem metafricaedeumamensagemcomumcarcterespecfico.Nestalinha,aestrutura ideolgica e tcnico-compositiva vista como a finalidade do poema.A propsito disso, Aguiar e Silva diz: o carcter no narrativo e no discursivista do textolricoacentuou-sesobretudoeganhoufundamentaoanveldametalinguagemdo sistemaliterriocomosimbolismo,querejeitouopendordescritivistaenarrativistados parnasianoseadvogouumaestticadesugesto:emvezdalinguagemdirectamente referencial,comqueexpressamentesenomeiaoreal,alinguagemalusivae plurissignificativa, que envolve de mistrio os seres e as coisas; em vez do significado preciso edelimitador,aevocaosortlega.1Acircunstnciadeotextopoticosugeriremvezde afirmar permite reforara sua dimenso esttica,pelo efeito que causa aoleitor e achamada deatenopelomodocomoosversossoconstrudos.Aessepropsitoocitadoautor 1 SILVA, Victor Manuel de Aguiar de, Teoria e Metodologia Literrias, 1 edio, Universidade Aberta, 2001 (pag.196). 15 acrescenta:Asintaxerigorosadissolve-seeapoesialricatendeassimptoticamenteparaa msica. Tal reaco antidiscursivista apoia-se frequentemente na imagem e, de modo especial, naimagemprofundamenteredutoradodiscurso,devidosuaestruturasemicamente saturada.2 Essavertentenonarrativaenodescritivadotextolricocentra-seclaramentena expressoenalinguagem.Assim,emvezdalinguagemdirecta,comquesedesignaoreal, encontramos a linguagem alusiva, nebulosa. O texto tende a organizar-se numa ordem espacial em que o espao da pgina o elemento fsico da estrutura, e em que a estrutura a finalidade dopoema,reduzindoaspalavrasdopoemaaomnimo,eliminandooselementosdeligao entre as palavras, recorrendo amplamente a imagens, o mais englobantes possvel. Noseutrabalhocriativo,opoetapodeexprimiroquedesejadevriasformas:por redundncia, por extenso, por pormenorizao. No entanto, ele ter sempre a tendncia para ser conciso, na enunciao dos conceitos, imagens ou sentimentos, mesmo que depois se sinta obrigado a repeti-los. H mesmo poetas que buscam a conciso at ao exagero. Deste modo, o trabalhopoticoexigeumadepurao,ouseja,umesforonosentidodeconseguiratingira forma de expresso mais simples e pura, e simultaneamente mais completa e rigorosa. Com efeito, o posicionamento de Aguiar e Silva, que define a poesia numa perspectiva que valoriza o fundo (aquilo que se diz no texto) e a forma (modo como se diz e se estrutura atravs de palavras), parece reunir consenso entre os estudiosos do fenmeno literrio, pois h sculosAristtelesdefendeuqueohistoriadoreopoetanodiferempelofactodese exprimirem em verso ou em prosa diferem porm em dizerem um o que aconteceu, outro, o quepoderiaacontecer.porissoqueapoesiamaisfilosficaemaiselevadadoquea Histria, pois a poesia conta de preferncia o geral, e a histria, o particular.3 Portanto, ambos os tericos da literatura parecem dar mais nfase ao discurso que a poesia deve privilegiardo que sua estrutura externa. 2 Iden (pag.196); 3 Citado in: MATOS, Maria Vitalina Leal, Introduo aos Estudos Literrios, Lisboa-So Paulo, Editorial Verbo, 2001 (pag.205). 16 Porm,AguiareSilva(2001)salientaque,napoesia,oversooriginaouintensifica peculiarmente complexos processos de semiotizao, como a ocorrncia do ritmo e de figuras fnicas(rima,paralelismo,sonoridade),adisposiogrfica,ocontextoverticaletc.No entantoreiteraqueelesnoconstituemelementosintrinsecamentepoticos,podendo,muitos deles, ocorrer embora em grau diverso nos textos literrios em geral. Anossoentenderapesardacomplexidadequeotextopoticoassume,comoficou anteriormente elucidado, no podemos negar a importncia que a poesia assume na formao e integrao dos nossos alunos, caso ela seja bem difundida nas escolas, isto , caso se aplique umaverdadeirapedagogiadoensinodotextopotico,queabrecaminhosparanovos horizontes, entre os quais as hipteses a (muitas crianas) uma prtica ilimitada e benfica da e sobrealngua,poisapoesiatemquesersentidacomoumarealizaolingustica,naquala lngua no um meio, mas um fim e um modo especfico de comunicao. A propsito do que se acabou de afirmar TeresaGuedes diz: Considera-se esse tipo delinguagemumluxoquesereservaaoscriadoreseleitoresdotados!4Deacordocoma autoradevemosaguarasensibilidadedoaluno,nosentidoderetiraroprazerdapoesia. Sendo assim, ela questiona:- Porque no oxigenar um pouco acriatividade, o imaginrio,a sensibilidadeeoscontedosatravsdofiltrodapoesia?Porquenoacordartudoistona crianae,simultaneamente,aprendereaperfeioaroestudodalngua,passando,paraisso, pelos largos corredores do prazer ldico e do poder encantatrio das palavras?5 Emsuma,todososautoresanteriormentereferidosparecemdarmaisimportnciaao discurso que o texto potico encerra do que a forma (embora se considere muito importante o trabalho sobre a lnguagem), que deve ser eminentemente simblica e subjectiva no sentido de suscitar vrias interpretaes em funo da sensibilidade de cada um. tambm, a nosso ver, uma tarefa que seja capaz de dar prazer a aquele que l e cria o poema atravs do processo de transfiguraosemntica,quetornaoseudiscursomaissugestivo.Portanto,asquestes levantadasporessesestudiososremetem-nosnecessariamenteparaumaformaespecficade trabalhar a poesia na sala de aula, isto , ela vista como alimento para a formao do aluno 4 GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 13); 5 Iden (pag.15). 17 (fundamentalmente para Teresa Guedes), pois atravs dela poder-se-ia desenvolver nos alunos umasriedecompetnciasehabilidadesnumaperspectivaintegrada,atravsdeumaprtica quesecentrasobreosaspectosldicoepedaggico,porissosepropenesteespaouma reflexo sobre a pedagogia do texto potico. 2.1.1 Para uma pedagogia do texto potico nalinhadeumaabordagempedaggicadotextopoticoquesedesenvolveeste trabalho de investigao, procurando, por um lado, compreender a dimenso da poesia e, por outrolado,procurarencontrarmelhorescaminhosparaasuadivulgao,apresentando sugestesdeactividades,assentesemjogospoticos,capazesdemoldaraimaginao,a criatividade e o prazer dos alunos, pois segundo Teresa Guedes (1995) a poesia emerge as suas razes no imaginrio, da a necessidade de o fertilizar. Com efeito, a nosso ver trabalhar bem a poesiasinnimodevalorizaravertenteimaginriaecriativadosalunosenoselimitara trabalharnasaladeauladeterminadoscontedosdenaturezaformaisquedizemrespeitoao estudo da poesia. Para Postic imaginar evocar seres, coloc-los em situaes, faz-los viver a seu bel-prazer. criar um mundo a medida da sua fantasia, nela se libertando () imaginar umactocriativo.umaactividadedereconstruo,inclusivedetransformaodorealem funodassignificaesqueconferimosaosacontecimentosoudasrepercussesinteriores quetmemns.Noumrecuorelativamenteaomundoreal,seguiremsimultneouma via paralela.6 Da que se lembre Jean Paul Sartre quando este diz: O acto de imaginao umactomgico.umsortilgiodestinadoafazersurgiroobjectoemquesepensa,acoisa que se deseja, de forma a dela se apossar.7

Nestecontexto,reconhecemosqueapoesiacontribuiparaummelhorconhecimento dosalunos,porquenecessrioquesedescubraumpoucoouniversoimaginriodoaluno, parapodermosoajudaraexprimir,manejandoespontaneamenteideias,cores,formas, 6 POSTIC, Marcel, O imaginrio na Relao Pedaggica, 1 edio, Edies ASA, Lisboa, 1992 (pag.13); 7 Citado in: POSTIC, Marcel, O imaginrio na Relao Pedaggica, 1 edio, Edies ASA, Lisboa, 1992 (pag.13). 18 relaesentrecombinaesinditas,nascendodaumavisocriativadavida,mais significativa,atravsdenumerosaspossibilidades.Portanto,fundamentalqueoalunose descubra a si prprio. DeacordocomJosAntnioGomesessaexploraocontribuiparaumamaior exigncia na vida social, porque na poesia por excelncia se plasmam sentimentos, emoes, ainvenoeasespeculaesdointelecto,nasuavertigemounumcontnuodilogocomo mundo.8 Em sntese, entendemos que para a pedagogia do texto potico, importante que o seu estudo encerre questes pontuais (tema, assunto, verso, rima), mas fundamentalmente, deve incentivar criatividade que passa pela valorizao da imaginao e da produo desse tipo de texto.Reconhecemosquenaperspectivadostericosdaliteraturaatrsmencionadosno existepoesiasemimaginaoecriatividade,fundamentalqueessespressupostossejam activadosnoseuestudo,parasepromoverumestudodequalidadequecontribuaparaa formaointegraldoalunoajudando-oadesdobrarassuascapacidadesafectivas(atravsda explorao do imaginrio) e intelectuais (atravs da explorao das potencialidades da lngua). Portanto,oalunotemnessatarefaaoportunidadedecriarummundoalternativo,queseja capazdealimentarosconstrangimentosqueeleencontranarealidade,masessaactividade passa necessariamente por um trabalho especfico sobre a lngua. 2.1.2- A Produo do texto potico Otextopoticoumtextoessencialmentecriador,emqueopoeta,exprimeasua subjectividade a partir do mundo exterior ou interior, atravs recursos sobretudo imaginrios e simblicos,medianteumalinguagemplurissignificativaquesusceptveldevrias interpretaes,medianteumconjuntoderecursosestilsticos,quepassampelalinguagem metafrica, pela harmonia musical, pelo ritmo e pela rima. 8 Citado in: GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 35). 19 Natarefadeproduodotextopotico,nosepodeperderdevistaosobjectivos gerais do ensino da poesia: - Favorecer o poder criador do aluno; - Desenvolver a imaginao e sensibilidade; - Formar o sentido esttico do aluno.

Aredacodessesmodelosdetextosestmuitorelacionadacomaleituraeaudio dosmesmostextos.Porisso,sugere-seumplanodeconstruoqueimplicatcnicasde produo de textos poticos, que devem obedecer, primeiramente, a mais simples e, depois a complexos processos de envolvimento do aluno com a poesia. Assim, reconhecendo que para almdestaabordagem,poderoexistirmltiplasformasdeestimularaproduodotexto potico, e com base no estudo de GOMES e CAVACAS9 sugerimos a adopo dos seguintes passos metodolgicos. 1 - Leitura e apreciao de poemas; 2 - Constituio de um grupo de ideias intimamente relacionadas para obter sentidos; 3 - Procura de ambiguidade e jogo de sentidos, atravs da utilizao de palavras polissmicas; 4 - Recorrer a diferentes figuras de estilo para garantir a polissemia;5 - Composio de retratos e perfis de personagens obedecendo a determinadas caractersticas formais (atravs de qualificativos iniciados do nome da pessoa invocada, formas verbais com iniciais de nomes prprios etc.); 6-Organizaodefrases,explorandoadistribuiogrficadotexto,porexemplo procurando o ritmo, rima e o verso; 7 - Definio de uma mensagem expressa num conjunto potico. Notextopoticoencontramosduasgrandesdimenses:umadimensopicoeuma dimensolrica.Naprimeiraprivilegia-seomundoexterior.Porisso,parte-sedeumabase objectivacaractersticadestetipodetexto,quenoentantoidealizada.Essemundo representadodeumaformanarrativaedinmica.Apresentam-seaco,personagense 9GOMES,Aldnio,MariaAnglicaRibeiro,FernandaCavacas,MariaJosFerreira,MariaAdelaideMartins, MariaJuditeGrilo,GuiadoProfessordeLnguaPortuguesa,1volume,3nvel,FundaoCalouste Gulbenkian, 1991 (pag. 240). 20 narrador,aborda-seomundoherico.Comefeito,transita-sedeumaperspectivaobjectiva para uma perspectiva altamente subjectiva. Notextodedimensolrica,oprivilgiorecaisobreomundointerioretem-seuma viso eminentemente subjectiva do mundo exterior. Nele o poeta revela o seu estado alma, ou emoesalheiasquesomuitasvezesapresentadascomosuas.Quandoocorreo acontecimentoexteriorsurgecomopretextoemrelaonaturezaeaosignificadoprofundo do poema.Notextolricoopoetacentra-senaanlisedoseuestadodeesprito,mobilizando-se em torno de uma ideia, uma emoo, uma sensao, sem a preocupao com o encadeamento causaloucronolgicodosestadosdealma.apresentadonumaperspectivaestticaede autocontemplao.Otextolricotemumcarcterantinarrativista,ouseja,noexisteuma histria para contar, nem o leitor espera saber como vai acabar qualquer poema. Sintetizando,paraaproduodetextospoticosfundamentallevaremlinhade consideraootipodediscursoqueestetipodetextoincorpora,quedeveserconduzido segundodeterminadospadresliterriosquenospermitemtransfiguraressediscurso, tornando-oplurissignificativoatravsdaaplicaodeumalinguagemmetafricaequese configura numa dimenso esttico-formal bastante complexa. Tambm reiteramos que para o incentivo da produo potica, o processo de leitura constitui uma etapacrucial, pois ajuda a compreenderaessnciadapoesia,daanecessidadedeabordarmosnaetapaquesesegueo papeldaleitura,nasuadimensodidctico-literria,enquantopressupostobsicoparaa criao de textos poticos. 2.2- A leitura enquanto pressuposto bsico para a criao potica Nesta etapa, primeiro procuraremos abordar e desenvolver o conceito deleitura numa perspectivadidcticae,depoisliterria.Assim,segundoElviradosSantosquando,hoje, pronunciamos a palavra ler, assoma nossa conscincia a ideia da capacidade que o indivduo possui de, uma vez dominadas as tcnicas de decifrao grfica, interpretar, fazer inferncias, 21 analisar criticamente e compreender o contedo de um texto.10Para Lus de Lima Barreto11 o trabalhodeleiturafundamentalparaexplicarumtextoliterrio,detectarassuaslinhasde fora temticas e estilsticas, destacar a sua originalidade, a sua fora e a sua beleza, portanto s a prtica da leitura pode desenvolver a capacidade de anlise e o esprito crtico dos alunos. Noentanto,omesmosalientaqueestaactividadenoimplicaapenaslermasanalisaros aspectos mais relevantes do texto.Nestalinha,aleituraconsideradauminstrumentopreciosoeindispensvelao indivduo que se quer activo, participante e til sociedade. Ler um meio privilegiado de se teracessoaosaber,tericoeprtico,edeseconquistaraautonomianaaprendizagem.A capacidade de ler pe, assim, disposio da pessoa a possibilidade de compreender melhor o mundoqueorodeia,bemcomodedarrespostaasolicitaesdenaturezasocial,tcnicae profissional. DeacordocomFernandoAzevedo12paraseconseguirumaboaactividadedeleitura torna-senecessrioconceberumconjuntodeestratgiasqueindicamocaminhoapercorrer paraatingirdeterminadosobjectivospreviamentedefinidos.Nestecontexto,segundooautor acima referido surgem as actividades de pr-leitura (leitura de contacto), actividades durante a leitura e actividades aps a leitura. Assim,aactividadedepr-leituratemavercomaaproximaoaoespritodotexto, temcomoprincipaisobjectivosactivareconstruiracompetnciaenciclopdicadoaluno, atravsdaexploraodoselementosparatextuaiscomoacapa,ottulo,asilustraes,o gneroliterrio,osaspectospessoaisdoautorencorajando-osaexpressarassuasideiasea partilhar as suas experincias. Despertar a curiosidade dos alunos, motivando-os para a leitura outradasmetasdestaactividadeefaz-seatravsdolevantamentodehiptesesacercado contedo da obra, que sero confirmadas, ou no, no momento da leitura. 10 SANTOS, Elvira Moreira dos, Hbitos de Leitura em Crianas e Adolescentes, Quarteto Editora, Coimbra, 2000 (pag. 1); 11 BARRETO, Luis de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio, 6 edio, Texto Editora, Lisboa, 1998 (pag.39);12 AZEVEDO, Fernando (coord.) Formar Leitores Das teorias s prticas, Lidel, Lisboa, 2007. 22 ParaFernandoAzevedoestaactividadedurantealeituratemcomoobjectivodarao alunoaoportunidadedeexperimentarumarelaoafectivacomotextodepartilharas emoes que o mesmo lhe provoca e abrir horizontes. Este autor aponta as competncias que as actividades durante a leitura visam desenvolver: - Preparar osalunos para usar estratgias de compreenso, familiariz-los com a estrutura do texto; - Focar a sua ateno na linguagem, dado que o contacto com a riqueza da linguagem literria favorece o desenvolvimento e enriquecimento da linguagem e do vocabulrio; - Facilitar a compreenso de temas, personagens, acontecimentos e ideias-chaves, colaborar na construo de sentidos e interpretao. Finalmente,aactividadedeps-leituraconstituiummomentodebalano,de confirmao,ouno,deexpectativa,dereorganizaodeideias,tendoporobjectivos: encorajarrespostaspessoais,promoverareflexosobreotexto,convidandoosalunos,por exemplo, a identificar o que mais significativo para eles, facilitar a organizao, a anlise e a sntese das ideias, proporcionar oportunidades de partilha e construo de significados com os colegas. ParaTeresaGuedes(1998)aleiturapodeedevesercriativa,porqueelauma provocao para a escrita. Claro que no se trata de transformar todo o leitor em escritor, mas delhedaressedesejo.Eissotambmseconsegue,dandoumarmaisntimoaoslugaresde leitura biblioteca da escola, por exemplo. E esse desejo torna-se significativo e sintomtico, quandosentimosaimpressodeescrever,deinventarolivroqueseestaler.Acrescenta dizendo que a poesia est em ns, no no texto. Assim, este posicionamento mostra-nos que a leitura constitui um forte incentivo para a criao potica quando encarada numa perspectiva amplaquenoselimitaexclusivamenteaoactodeler,massim,analiseereconstruodo textonumaperspectivapessoal,tornandoessaactividadebastantecriativa.Nestecontexto, crucial que haja uma interaco significativa entre poeta, texto e leitor, como afirmaGuedes: o leitor tem que se apropriar do texto sem, no entanto, o expropriar a seu belo prazer.13

13 GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 45). 23 Considerando esse pressuposto, podemos constatar que uma poesia ganha vida atravs do leitor que poder a encontrar adormecida e que cada leitura acorda diferentemente, a partir domomentoemqueseapropriadelaelheatribuiumaoutradimenso,portantoapoesia revitaliza-se na medida em que o leitor/ouvinte o refaz para si. Comafeito,osalunostmtendnciaparaacriatividade,masestapoderestar submersaporcausaspsicolgicas,portantonecessitadecondiesadequadasparase manifestar,parasedesbloquear.Nestecaso,entraoprofessorparaestimulartodaa imaginaoqueosalunostmdentrodeles,portanto,asoluopoderpassarinicialmente peloacolhimentodeespontaneidades,sensaes,emoeseimaginao,paradepoispassar, semprequepossvel,aumafasedeestruturao,feitadeexploraes,queoslibertarcada vez mais na sua expresso. Posto isso, sentir-se-o capazes de produzir. Emsntese,aleituraencaradacomoumprocessoquesedivideemdeterminados momentos(pr-leitura,leituraeps-leitura)intimamenterelacionadosequevalorizama aprendizagemnumaperspectivaglobal,dandoatenonoapenasaotextoquesel,mas tambmaoleitoreaocontextoemqueestinserido.Comefeito,oactoeohbitodeler formam o leitor, permitem-lhe sentir-se detentor de novos conhecimentos, de mais cultura, de capacidadesparadecifrarasmensagenseapropriar-sedelas.Comaleituraaumenta-sea capacidadedeconceitualizaoedereflexo.Oleitorexercitaamenteapontodedescobrir queelemesmopodecriar.Encontraoprazerdadescoberta,daaventura,daassimilaode outrasexperincias.Aleiturasendoumaactividadefundamentalaoespritohumanouma prticaquepermiteodesenvolvimentodascapacidadesgerais,ajudaoindivduoaagir activamente no real que o cerca, a desenvolver um esprito crtico, a questionar-se e a pr em causaqualquerafirmao,atitude,outomadadedeciso,daaimportnciadoseuestudo. Assim,nestaperspectivaqueseelevaaformaodeprofessores,paracadavezestarem preparados,nosnoplanocientficocomopedaggicopararesponderemaosdesafiosque umensinomodernoimpe.Arespeitodisso,citamos,finalmente,umafrasedeTeresa Guedes:Oprofessordeveraperceber-sequeonossodentrovitalequeopodemos alimentar tambm de textos poticos.14 14 GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 22). 24 Pararesponderaessasexignciasamaioriadosautoresdaactualidadetomamcomo suporte terico o modelo scio-construtivista de Vigotsky, partindo da leitura. 2.2.1- A viso scio-construtivista da aprendizagem Avisoscio-construtivistadaaprendizagemexplicaqueseaprendequandose capazdeelaborarumarepresentaopessoalsobreumobjectodarealidadeousobreum contedo.Eessaelaboraoimplicaumaaproximaoquefeitaapartirdeexperincias, interesseseconhecimentosprviosque,presumivelmente,possamresolvernovasituao. Portanto,aaprendizagempressupeumaintegraodosnovosconhecimentosnossaberesj possudos,ampliando-osoumodificando-osdemodoarompercomospr-conceitos existentes. Segundo Vygotsky o importante que o aluno esteja envolvido em actos de cognio, mediados pela linguagem, num processo dialctico, em que haja uma interaco significativa entreprofessor/alunoealuno/professor,comoprofessorauxiliandooalunoeexplorandoas potencialidades da zona de desenvolvimento proximal, conceito que traduz a distncia entre o nvel real e o potencial de desenvolvimento. Neste caso, o nvel real representa o que o aluno capaz de fazer sozinho e o nvel potencial que a criana seria capaz de executar com a ajuda de umparmaisdesenvolvido.Nestaptica,esteprincpiofavoreceumaintegraode conhecimentosparaaexistnciadeaprendizagenssignificativas,demodoaconstruirum significado prprio e pessoal para um objecto de conhecimento.15 Destemodo,aleiturapropostacomoumprocessointeractivo,umfenmeno comunicacionalqueenvolvetrsprotagonistas:leitor,textoecontextovariveis indissociveisquedeterminamacompreensoeainterpretaonaleitura.Istosignificaque embora o texto estabelea limites de interpretao o leitor quem o restabelece, sujeitando as explicaes sua condio histrico-cultural. Neste processo acciona as significaes do texto erelaciona-ascomasuacompreensodomundo.Assimacompreensonaleituravariar 15 Citado in: CRISTVO, V.L.L, O Uso das L1 no Contexto de E/P de L2: O Real e o Possvel, Leal/Puc, 1996 (pag. 3). 25 segundoograuderelaoentreastrsvariveis:quantomaisasvariveisestiverem imbricadas umas nas outras, melhor ser a compreenso. ParaGiassonoleitorconstituicertamenteavarivelmaiscomplexadomodelode compreenso. Ela aborda a actividade de leitura com as estruturas cognitivas (conhecimentos sobre a lngua e conhecimento sobre o mundo) e afectivas (a atitude face a leitura e o interesse desenvolvido por ele) que lhe so prprias. Alm disso, recorre a diferentes processos que lhe permitem compreender o texto.16 O texto o objecto de leitura que deve ser seleccionado de acordocoma capacidade doalunoeosseusinteressestendoemcontaaintenodoautoreogneroliterrio,a estrutura do texto e o contedo. Ocontextoenglobatodasascondiesnasquaisseencontraoleitor(comassuas estruturas e processos) quando entra em contacto com um texto (seja qual for o seu tipo). Estas condiesincluemasqueoleitorseimpeasimesmoeasqueomeio,muitasvezeso professor,determina.possveldistinguirtrstiposdecontextos:oscontextospsicolgico, social e fsico. Apropsitodessainteraco,Vygotskydefendequeparaqueoalunoaprenda necessrioquesecrieoportunidadesparaeleaprenderapartirdeumcontexto,isto,os processosdecompreensoeaprendizagemaconteceriamemmeioainteracessociaisentre indivduos historicamente constitudos.17 Nestaperspectiva,avertenteimaginriaecriativadoalunomuitovalorizada,na medidaemqueaaprendizagemfrutodeumaconstruopessoalquesedesenvolvenuma forterelaocomassituaessociais,comassuasexpectativaseexperinciasqueso accionadas, construindo, deste modo, o seu prprio horizonte de compreenso. 16 GIASSON, Jocelyne, A Compreenso na Leitura, Edies ASA, Lisboa, 1993 (pag. 25); 17 CRISTVO, V.L.L, O Uso das L1 no Contexto de E/P de L2: O Real e o Possvel, Leal/Puc, 1996 (pag. 1).

26 Emsuma,essaperspectivadeleituradesenvolvidaporVygotskytrouxeumgrande contributoparaoprocessodeensinoeaprendizagem,dadaavalorizaodevriosaspectos cruciais ao ensino e interaco na sala de aula. assim, uma aprendizagem que se constri numa perspectiva global a partir da leitura. Esta, conjuntamente com as outras competncias, a de ouvir, falar e escrever constitui a base para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, mas no se pode esquecer que todas as restantes competncias podem desenvolver-se a partir daleituraeconstituir,destemodo,umaaprendizagemintegradaesignificativa.Paratal, precisoquehajaorientaesespecficaseprofessoresdotadosdecompetnciaparaexecutar comsucessooactodeleitura.Quandoassimacontece,todasasbasesestocriadasparaa formaodealunoscriativosquesejamcapazesdeaplicaroconceitodeleituranuma perspectiva globalizada, ou seja, para executar vrias tarefas, entre as quais a criao de textos poticos. 27 Captulo 3 : A pedagogia do texto potico no 2 e 3 ciclos do Ensino Secundrio; - Um exemplo da prtica pedaggica na Escola Secundria do Palmarejo - 3.1- Leitura dos dados do inqurito Relacionamento dos alunos com a poesia Este captulo constitui uma apresentao e anlise dos dados pesquisados no mbito do temaemestudo,conformeexplicadonoenquadramentometodolgico.Oinquritofoi dirigido a alunos de duas turmas do 2 e 3 ciclos (10 e 11 anos) do ensino secundrio, com o intuito de constatar se existe uma postura pedaggica de evoluo face a poesia. Paraconhecerorelacionamentodoalunocompoesiadelimitmosasseguintes variveis:Hbitodelerpoesia,Razesparaoincentivo,Razesparaodesincentivo, reconhecimentodostraosquecaracterizamumtextopotico,produodepoesiaea justificao que se encontra nesta base. Atravsdoinquritotivemosaoportunidadedeconstatarqueno10anode escolaridadeexiste,ainda,umnveldeleituradapoesiamuitobaixo,isto,emtermosde assiduidade, situando-se nos 13,5%, e que se traduz numa percentagem bastante elevada (86,5) dealunosqueraramentelem.Pelaleituradatabela,notamosagravidadedasituao,pelo facto de existirem alunos nesse nvel de ensino que nunca leram um poema, neste caso 5,5%, o quejnoaconteceno11ano.Nota-se,nestenveldeensinoumamaioradesopoesia (65,5%),enquantoimportantemeiodeaprendizagem.Numaperspectivacomparativa, VariveisFrequncia% Nunca0000 Raras vezes1034,5 Muitas vezes1965,5 Total29100 Tabela 2 Distribuio quanto ao hbito de lerpoesia no 11 ano VariveisFrequncia% Nunca025,5 Raras vezes3081 Muitas vezes0513,5 Total37100 Tabela 1- Distribuio quanto ao hbito de ler poesia no 10 ano 28 notamosqueosresultadosseapresentammelhoresno11anodeescolaridade,oque demonstra uma postura pedaggica mais evoluda em relao leitura da poesia. Porumlado,osalunosquenuncalerameosqueraramentelem,dizemqueno gostamdelerpoesiaounosesentiremestimuladosparatal,tmpreguia,preferemfazer outracoisaPortanto,aexibiodessesdadosvemconsolidaraquiloqueosestudiosose professoresdeLiteraturahaviamdito:humagrandeaversoleitura,sobretudodostextos poticos. A propsito disso, Guiddens18 traz a ideia da influncia dos media sobre o aluno que optaporoutrasformasdediversoemdetrimentodaleitura,actoconfirmadopelosalunos neste inqurito.Poroutrolado,osquelemmuitasvezes,principalmenteno11ano,dizemqueo fazempornecessidadedeacompanharamatriaesorarososqueofazemporvontade prpria ou por razes ldicas. VariveisFrequncia% O verso1027 A rima0821,6 A emoo e o efeito esttico1951,4 Total37100 Tabela 3 Aspectos que caracterizam uma poesia - 10 ano VariveisFrequncia% O verso026,9 A rima0413,8 A emoo e o efeito esttico 2379,3 Total29100 Tabela 4- Aspectos que caracterizam uma poesia - 11 ano Do estudo feito, verificmos que ainda o conceito de poesia no foi bem assimilado no 10ano,havendoumnmeroelevadodealunosquereduzemapoesiaaoversoerima 18 GUIDDENS, Antonny, Sociologia, 3 edio, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002. 29 (48,6%), entretanto, a maioria (51,4) atribui-lhe um significado mais vasto, isto , reconhecem queapoesiasearquitectaapartirdorecursoemoomedianteumusopoucocomumda linguagem, frequentemente metafrica. J no 11 anoa situao mostra-se diferente havendo 79,3% de alunos que reconhecem a real essncia da poesia. Portanto, tambm neste item esses estomaisavanadosdoqueaqueles,masaindahumnmerosignificantedealunosque precisainteriorizarmelhoraideiadepoesia.SegundoCarlosReisessestextosapresentam umaformaexternahabitualmenteversificada,quenodeve,noentanto,serentendidacomo atributo modal distintivo.19 Quantoaohbitodefazerpoesia,constatamosqueno10anodeescolaridade,a maioriaesmagadoradosalunos(73%)nuncacriouumapoesia,oquecausaumacerta preocupao, pelo facto dos alunos no se sentirem motivados para a criao potica. No se pode esquecer que este acto incentiva a imaginao e a criatividade. CitandoMarcelPosticoalunodevepoderalimentaroseuimaginrioeexprimi-lo, poisoimaginriocultiva-se.Peloimaginriooalunodescobrelaosentresieomundo, interiorizasignificaes.Ocutorna-seinfinito;anoite,omistrio.Istosopontosde refernciasimblicos.Qualquerpessoatemnecessidadedeter,apardomundoreal,odas permutas sociais, o das investigaes positivistas, uma rea de iluso.20 19 REIS, Carlos, O Conhecimento da Literatura: Introduo aos Estudos Literrios, Almedina, Coimbra, 1995 (pag. 305). 20 POSTIC, Marcel, O imaginrio na Relao Pedaggica, 1 edio, Edies ASA, Lisboa, 1992 (pag.22 e 23). VariveisFrequncia% Sim1027 No2773 Total37100 VariveisFrequncia% Sim1551,7 No1448,3 Total29100 Tabela 5- Distribuio quanto ao hbito de criarpoesia - 10 ano Tabela 6- Distribuio quanto ao hbito de criarpoesia - 11 ano 30 Noentanto,mesmono11anoasituaonoconfortvel,pelofactodesomente 51,7%dosalunosteremcriadoalgumavezumpoema,havendopraticamenteametadedos alunosdaturmaquenuncaofez,actopreocupanteanossoverdadaafaseemqueelesse encontram.Assim,osquejfizeramalgumavezumapoesia,justificamqueofazemporque gostadeimaginar,interiorizar,sonhar,enfim,gostamdapoesia.Noentanto,osquenuncaa criaram justificam que no gostam da poesia ou porque difcil. Emsntese,constatamosqueexistemalgunsaspectospreocupantesnasituaodo ensino da poesia em contexto escolar, fundamentalmente no 10 ano de escolaridade, entre os quais destacamos trs aspectos, o hbito de ler poesia, pelo facto de no ainda existirem alunos (5,5%)quenuncaleramumapoesia,segundoasrespostasaoinqurito,ascaractersticasdo textopotico,namedidaemque48,6%dosalunosreduzemaideiadepoesiaestrutura formaldomesmo,desvalorizando,destemodo,oseudiscursoe,finalmente,ohbitode produziressestiposdetextos,vistoqueamaioriadosalunos(73%)dessenveldeensino nuncacriouumapoesiaeosdo11anosituam-senaordemdos48,3%,resultadobastante preocupante que exige uma interveno imediata no sentido de eliminar as lacunas que ainda persistem neste domnio. 3.2- O ensino da poesia em contexto escolar -Anlise das aulas Esta pesquisa teve como foco o ensino da poesia em contexto escolar, tomando como elemento essencial deste processo a actuao do professor, uma vez que ele quem orienta e conduzaaula,fazendocomqueestadesenvolva,ouno,nosalunoscompetnciasdealto nvel e atitudes louvveis. Sendo assim, foram observadas e analisadas aulas dos professores (quatro aulas, sendo doisparacadanveldeensino)sobreoEnsinodapoesiano2e3ciclosdoensino secundrio,em termos das estratgias/actividades e metodologias desenvolvidas, assim como os recursos utilizados. Aqui, pretendemos confrontar teorias de instruo da poesia com as prticas desenvolvidas pelos professores. 31 Foi necessrio para o estudo a nossa presena na sala de aula desempenhando o papel de observador no participante, a fim de no ter nenhum tipo de interveno nem repercusso no fenmeno observado. Foramcriadosdoisinstrumentosnecessriospesquisa:umguioparaconhecere avaliarodesempenhodoprofessornasaulasdeexploraodetextospoticos,eum questionrio para os alunos, com o intuito de verificar como eles encaram o ensino da poesia e de que habilidades dispem para a sua criao. Quantoaoscontedosobjectodeanlise,porumlado,nasduasaulasdo10anode escolaridade foram trabalhados os seguintes: - O texto lrico (a expresso de sentimento a subjectividade do eu potico); - Tema e assunto; - Noes de versificao; - Rima; - Os recursos fnicos; - Acrsticos e poemas visuais. Porsuavez,asduasaulasdo11anodeescolaridadecorresponderamaoestudodo texto potico numa perspectiva de contextualizao periodolgica, neste caso, a Pr-claridade, as respectivas caractersticas, a temtica, a linguagem, as figuras de estilo etc, todos inclinados paraaperiodologiaemestudo,nohavendo,destemodo,umestudointegraldesses contedos, como elucida a orientao programtica da Lngua Portuguesa: - Prclaridade; - Texto potico (marcado essencialmente por produo em poesia). 32 Paramelhoranlisedasaulasobservadas,elabormosumguio21(emanexo)que insere um conjunto de indicadores agrupados em trs graus (I, II, III), no sentido de contrastar aprticapedaggicadosprofessorescomdiversasteoriasdefendidaspelosestudiososdo fenmenoliterrio.Assim,tomou-secomosuportetericobsicoasorientaes construtivistassobreaactividadedeleitura,queconstituiopontodepartidaparaoestudoe explorao da poesia em contexto de sala de aula. De acordo com os autores em que se assenta o guio, a explorao da leitura do texto potico,deve-seprivilegiarasactividadesdeprleitura,conhecidatambmporleiturade contacto,durantealeituraeapsaleitura,poisessasactividadesvalorizamaconstruode sentidosnainterpretaodotextoformandoaaprendizagemapartirdosconhecimentose experincias com grande relevo na promoo da interaco (perspectiva scio-construtivista). Destemodo,seleccionamosdentrodestasactividadesumgrupodeindicadores, classificadosmediantetrsgrausdeorientaodadosaosalunospeloprofessorquenos ajudaro na caracterizao da prtica pedaggica do ensino da poesia. Apresenta-se seguidamente, o quadro referente s duas aulas do 10 e 11 anos seguido das respectivas anlises. Quadro n 7: nvel de orientao atribuda na anlise do poema no 10 ano IndicadorGrau 1Grau 2Grau 3 Leitura de contactoX Assunto X Momentos do texto X Elementos de intensificao X Comentrio escritoX 21 Para a elaborao do guio, tommos como suporte terico trs autores: BARRETO, Luis de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio, 6 edio, Texto Editora, Lisboa, 1998. AZEVEDO, Fernando (coord.) Formar Leitores Das teorias s prticas, Lidel, Lisboa, 2007AMOR, Emlia, Didctica do Portugus: Fundamentos e Metodologia, 1 edio, Texto Editora, Lisboa, 1993. 33 Quadro n 8: nvel de orientao atribuda na anlise do poema no 11 ano IndicadorGrau 1Grau 2Grau 3 Leitura de contactoX Assunto X Momentos do textoX Elementos de intensificao XComentrio escritoX Verifica-sequeno10e11anosdeescolaridadeosprofessorestiverama preocupao em aplicar o primeiro indicador Leitura de contacto na execuo da anlise dopoemaRegressodeJorgeBarbosaeAmordePedroMonteiroCardoso,emboraem ambososanos,osprofessorestenhamignoradoumaspectofundamentaldesteindicador, como por exemplo a leitura silenciosa e no 10 ano, especificamente, vrios aspectos, como a explorao vocabular, o tom do discurso e os aspectos prosdicos que caracterizam o poema e o movimento literrio em que o autor se enquadra. Aactividadedepr-leituratemavercomaaproximaoaoespritodotexto,tem comoprincipaisobjectivosactivareconstruiracompetnciaenciclopdicadoaluno,atravs daexploraodoselementosparatextuaiscomoacapa,ottulo,asilustraes,ognero literrio, os aspectos pessoais do autor (estilo, maneira de ver a vida e o mundo, o movimento literrio em que se insere), o tom do discurso, os aspectos prosdicosque o caracterizam etc. encorajando-osaexpressarassuasideiaseapartilharassuasexperincias.Despertara curiosidade dos alunos, motivando-os para a leitura outra das metas das actividades de prleituraefaz-seatravsdelevantamentodehiptesesacercadocontedodaobra,aserem confirmadas, ou no, no momento da leitura. Assim, na aula do 10 ano, o professor perguntou aos alunos se o ttulo erasugestivo ou no, e sem ler o poemaperguntou do que que achavam que o mesmo iria tratar. Depois orientouosnosentidodeoclassificaremquantoaogneroliterrioaquepertencia.Com efeito, no primeiro casoos alunos tiveram uma participao interactivaem que apresentaram possveis abordagens textuais em funo da anlise do ttulo, mas no segundo o professor teve 34 que responder dadas as dificuldades que os alunos demonstraram na caracterizao do gnero literrio. Tambm abordou a estrutura externa do poema, ao fazer o aluno compreender que se trata de uma composio formada por seis estrofes, sendo a 1, 2, 3 e 5 dsticos ou parelha, a 4umaquadraea6monstico,arimafoiclassificadacomobrancaousolta,dadaatotal irregularidade em termos de ocorrncia. Entretanto, esta actividade serve de enquadramento na medidaemqueumaestruturadestetipoestnormalmenterelacionadacomoestilode determinadosautoreseperodosliterrios,masrealamosqueoprofessornofezesta abordagem inicialmente, isto ocorreu no decorrer da anlise textual, como elucida a descrio da aula em anexo.

Contudo, desvalorizou outros aspectos como o movimento literrio em que o autor do referido poema est inserido, informaes adicionais (enquadramento do poema na totalidade da obra, estilo do autor), alguns aspectos prosdicos que caracterizam o poema (elementos que nosremetemparaamusicalidadedotexto,jogossonorosderepetio,decontraste,de harmonia, aliteraes, assonncias, etc.). Sendo assim, a actividade de pr-leitura enquadra-se nograudoisdoGuio,poisnorecorreaumnveldeabstracoelevadoemqueseria necessrio considerar todas as sugestes anteriormente apresentadas, mas tambm no se situa num nvel simples. Contudo, no se pode atribuir o mesmo grau de orientao s aulas do 11 ano, j que nesta actividade o professor optou por um mtodo de anlise mais abrangente. Com efeito, os alunoscomaorientaodoprofessorfizeramasleiturasdecontactobaseando-seem abordagens mais complexas como: - Gnero literrio; - Aspectos pessoais do autor (estilo, maneira de ver o mundo e a vida, o movimento literrio em que ele se insere); - Importncia do enquadramento do poema na totalidade da obra; - O tom do discurso e os aspectos prosdicos que o caracterizam; -Contactocomaestruturaexternadotexto:comosetratadeumsoneto,tevepresenteas noes essenciais da mtrica, isto , poema constitudo por duas quadras e dois tercetos, a rima 35 interpoladaeemparelhadanasquadras,seguindooesquemaABBA-ABBA,ecruzadanos tercetos CDE CDE; Nestaetapa,progressivamente,oprofessordeveabordarasparticularidadesque individualizamotextoapelandoscompetnciasqueabrangemumnveldeabstraco elevado envolvendo mtodos que conduzem a transferncia e aplicao da leitura a actividades docontextodidctico-pedaggico.Destaforma,norespeitantepesquisafeita,podemos afirmarquehouveumamotivaoinicialbastantecomplexaeasvariveisdestaactividade foramconduzidasdeformaprogressivaeintegral,portantoestaactividadeenquadra-seno grau trs do guio. Quanto leitura propriamente dita, esta actividade tem como objectivo dar ao aluno a oportunidade de experimentar uma relao afectiva com o texto, de partilhar as emoes que o mesmo lhe provoca e abrir horizontes. Assim,nestaactividade,primeiramente,emambasasturmasosprofessores comearam pela leitura modelo, que serve de base para a recepo e leitura literria, seguindo-se depois, a leitura expressiva de alunos indicados pelos mesmos. Mas nesta actividade faltou a leitura silenciosa, que deve preceder expressiva formando um mtodo complexo e integral paraseapropriaremdotexto.Efectivamente,aleiturasilenciosaconstituiumpassofulcral nestemomentoporqueonveldeliberdadeparacomotextomaior,contribuindoparao aumento da capacidade de interiorizao. Assim,no10ano,aexploraovocabularficouaqumdasteoriasdeexplorao textual defendidas pelos tericos do fenmeno literrio de que no se pode fazer uma anlise perfeitase,numdadomomento,nosoubermososignificadodesteoudaquelevocbulo,se ignorarmososdiversossentidosqueumapalavrapodeter,sobretudoquando,tivermosde estar atentos aos novos sentidos que o poeta pode dar s palavras na fabricao de um texto.22 Nesteitem,constatamosquehouveumaactuaoinversamenteproporcionalporpartedos professores.Comefeito,oprofessordessenveldeensinonodeuqualquerorientaoaos 22BARRETO, Luis de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio, 6 edio, Texto Editora, Lisboa, 1998 (pag. 36).

36 alunos no sentido de procurarem desvendar o significado de algumas palavras desconhecidas ou menos comum, ficando assim, pela compreenso limitada do texto. Depois,oprofessorpediuaosalunosparaidentificaremotemaeoassuntodopoema. Realamos que a maioria dos alunos conseguiu identificar o tema (a emigrao). Relativamente ao estudo do assunto do poema, verificamos que, na aula, os alunos sob aorientaodoprofessoridentificamoassuntodotexto,identificandoosaspectostemticos maisrelevantes,comumnveldeabstracosuperiorabordagemsimplesmasestaanlise processa-se a nvel da informao textual explcita, no recorrendo a mtodos que accionam o conhecimento do aluno, como por exemplo, a extrapolao, a anlise, a aplicao, sntese e a avaliao, por isso a prtica adequa-se ao grau dois do guio. Jno11ano,houveumaabordagemdiferente,poisapsosalunosteremfeitoa leituraexpressiva,houveorientaodosalunoscomointuitodeexploraremosentidodas palavras desconhecidas(vestes virginais, musa idolatrada), contribuindo, desta forma, para aconstruodeumconhecimentomaissignificativoeintegraldotexto, portantooexerccio noselimitouaignorarosignificadodaspalavras,nemaexplorarosignificadoliteraldas mesmas,masorientouosalunosnaexploraodentrodocontextoondeestasestoinseridas propiciando assim, a compreenso inferencial das mesmas.Na sequncia identificaram o tema do poema, edepois o professor disseque algumas delas constituem temticas, entre as quais a saudade, a esperana Depois, solicitou oassunto do poema, e nesta fase verificamos que os alunos passam de uma anlise explcita (centrada no texto potico) para implcita (centrada numa perspectiva pessoal),poisparaalmdedizeremoqueaest,oprofessorpediu-lhesparaavaliaremo estado de esprito do sujeito potico. Neste caso, os alunos orientados pelo professor analisam o texto na sua vertente plurissignificativa, pois recorre-se a competncia que apela um nvel de anlise elevado, quando se considera a perspectiva do aluno na compreenso do texto, por isso esta actividade adequa-se ao grau trs do guio. Paraqueessaactividadesejaenquadradanograutrsdoguio,osalunoscoma orientaodoprofessoranalisamainformaotextualexplcitaeimplcitacomrespostas 37 baseadasnotextoenoleitor.Fazem-sededueslgicas,usamoconhecimentodomundo, consideramasperspectivasdoautoreavaliamosusosdelinguagemedainformao, facilitando assim a compreenso inferencial e apreenso do sentido global do texto.

Relativamenteaosmomentosdotexto,constatamosquedetodososindicadores seleccionadosparaaanlisedotextopotico,esteconstituiumdosquenecessitadeser reforado,poisemambososanosdeescolaridadenotou-sequeosalunoscomaorientao dosprofessoresefectuaramumaexploraosuperficialdesteindicador,norecorrendo diviso estrutural do mesmo, desenvolvendo deste modo competncias de baixo nvel, por isso estaactividadeadequa-seaograuumdoguio.Adivisodetextosemmomentosvisa demonstrarcomoforamarticuladasasideiasdoautor.Nestalinha,notou-sequeos professoresvalorizaramasideiasdoautor,aquandodadeterminaodoassunto,masnose preocuparam em detectar as mudanas no estado de esprito do sujeito e, consequentemente a alteraodotomdodiscursoqueseprocessouporfasesquepoderiamserexploradas separadamente,anveldepontuaoeritmoporexemplo,masnuncaperdendodevistaas linhasdeforatemticaqueunificamepersonalizamodiscurso.Defendemainda,queos professoresdevemestarfamiliarizadoscomasnovascorrentesdeanliseliterria,queno prescindem de determinar as diferentes partes que organizam o texto e as relaes recprocas que entre elas de estabelecem. Citando Lus de Lima Barreto, a descoberta dessa estrutura um passo fundamental naprossecuodanossaanlise.Sdepoisdeterempostoemrelevoaslinhasdefora temticas dominantes, volta das quais o texto se organiza, e de se ter analisado o modo como elasseestruturam,quesepoderpartircomseguranaparaaanlisedosprocessosque,a um nvel mais particular e expressivo da linguagem, intensificam as ideias.23 Quanto ao indicador Elementos de intensificao corresponde anlise do modo comoalinguagemutilizadapeloautornavalorizaoeintensificaodoassunto, englobando,destaforma,todaacomplexidadeeestruturadodiscurso.Temavercomos processosmorfolgico,sintctico,semntico,retricooufnico,queopoetautilizapara 23 BARRETO, Luis de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio, 6 edio, Texto Editora, Lisboa, 1998 (pag. 39). 38 tornar as ideias mais expressivas e originais.24 Antes este estudo baseou-se no contedo, ser agoraomomentodeseestudaraforma.Assim,apartirdaaulaobservadanota-sequeo professordo10anoorientouosalunosnosentidodeverificarnapoesiaomodocomoo discursoenunciado,situando-se,fundamentalmente,naformacomoamensagemtextual conduzida(perspectivaeminentementesubjectiva).Depois,relacionouessasubjectividade comaaplicaoderecursosestilsticos,quetornaodiscursocadavezmaiscomplexoe, consequentemente,maissubjectivo.Destemodo,explicouduasdasfigurasdeestiloquese encontravamnapoesia,entreasquais,oanimismoeainterrogativaretrica,recorrendoa exemplosforadombitotextualnosentidodefazerosalunoscompreendercadaumadelas. Por um lado, identificaram como animismo Navio aonde vais deitado sobre o mar? e como interrogativaretricaQuerumooteunaviodomarlargo?.Nestecontexto,verificamos que houve assimilao por parte dos alunos, mas a explorao dos elementos de intensificao do texto ficou aqum de um nvel complexo de desenvolvimento de competncias, situando-se no num nvel baixo ou superficial, mas num nvel intermdio (nvel dois do guio). Deigualmodo,constata-sequeno11anooprofessorconcentraassuasactividades nonveldoisdoguio,poisfezosalunoscompreenderotipodediscursoqueotexto incorpora (eminentemente subjectivo) e a sua relaocom as figuras de estilo, que os alunos acabaramporidentificar,entreasquaisainversoOutronomeescreverqueteunofore metfora vocativa flor, explorou tambm,os nveis de lngua(literrio) ea funo de linguagempredominante(poticaeemotiva)notexto,masignorou,destemodo,outras actividadesquegarantemmaiorcomplexidadenaexploraodecompetncias.Referimo-nos exploraodossinaisdepontuao,aotomdodiscurso(coloquial),ospronomesque estavam evidentes no texto e que poderiam ser trabalhados em ambos os anos de escolaridade. Deacordocomoguioparaqueessaactividadesejacomplexa,oalunocoma orientao do professor analisa o texto reflectindo sobre os elementos que o intensificam e as suasrelaes:omodocomoodiscursoanunciadofiguradeestilopronomesetc. conferindoaintensificaoeavalorizaonaconcepodeideiasmaisexpressivase originais, conduzindo a um desenvolvimento de competncias de nvel superior. Por esta razo nota-se que as actividades dos professores ficaram aqum deste nvel. 24 Iden 39 QuantoaoltimoindicadorComentrioescritoverificamosqueambosos professores, na anlise dos poemas no fazem a sntese dos comentrios em nenhum momento daaula,emborareconheamosquedoexplicaesprecisasacompanhadasdeexemplos, conduzemoraciocniodosalunos,masnosintetizamaaulanoquadroparaqueosalunos possam fazer o registo no caderno. Por esta razo essa actividade enquadra-se no grau um do guio, em ambos os anos de escolaridade. Para que esta actividade se torne complexa (3 grau) fundamentalqueoprofessorestrutureasideias,dexplicaespormenorizadassobrea anlisedotexto,efectuasntesedosmesmossemprequepossveldemodoaqueosalunos tenhamdiversasoportunidadesdecorrigir,relembrareresumiraquiloqueaprenderam,bem como responde a questes feitas pelos alunos.

Emsuma,atravsdessasanlises,pudemosconstatarquedeterminadosaspectosso muito bem trabalhados nas aulas de poesia, mas outros ficam aqum daquilo que constitui uma verdadeira pedagogia de ensino do texto potico, isto, em ambos os anos de escolaridade (10 e11anos),quernoplanointerpretativojabordado,quernoplanocriativo.Assimneste plano,pudemosconstatarque,acriatividadedosalunossfoiexploradaemparte,isto,no 10anodeescolaridade,emqueoprofessorpediuaosalunosparacriarememcasauma poesia a partir de acrsticos. Entretanto, verificamos que no adiantou muito pelo facto de no ter corrigido os trabalhos na aula seguinte, limitando-se a perguntar se teriam feito o mesmo, portanto, desvalorizou-se uma vertente muito importante naexplorao do texto potico, e j no11anonolhesfoidadaamnimapossibilidadedeseinteiraremcomoseuprprio universoimaginrio,limitando-seexclusivamenteainterpretardeterminadosaspectosde carcter literrios. Destemodo,constatamosalgumasdeficinciasnoensinodapoesia,comoumaaula em que a preocupao fundamental do professor o texto, isto , o que l est, desvalorizando, em algumas situaes, o conhecimento do aluno e das suas experincias, pressupostos capazes de proporcionar uma verdadeira aprendizagem. Esta forma de aprendizagem alimentada por umagestoconjuntaeinteractivadasvariveis,leitor,textoecontexto,entretanto,quando issonoaconteceametodologiautilizadapeloprofessornaconduodaaulapostaem causa.Tambmassistimosaumprofessorquenoenriqueceosmateriaisutilizados, recorrendoaomtodotradicionaldedistribuircpiasaosalunosparaseremlidasepassao 40 trabalho de casa e no o corrige na aula seguinte, desvalorizando, a possibilidade de se inteirar com a vertente imaginativa e criativa do aluno traduzidas na composio do poema. A respeito disso, j Pascal dizia: que para aprender a pensar bem, preciso imaginar bem,porquequantomaissecompreendeaestruturadouniverso,maissetemvontadede imaginar o que est para l do conhecido.25 Ainda, a propsito da importncia da explorao doimaginrioWallondiz:Humanecessidadenessaalturadedesvendarmistriosdavida psquica. E a poesia vai ao encontro disso.26 3.3 Leitura crtica dos programas de Lngua Portuguesa (10 e 11 anos) AnaturezaeorganizaodoscontedosprogramticosdeLnguaPortuguesa constituem factores cruciais no sucesso do processo de ensino e aprendizagem conduzido pelo professor na sala de aula. Assim, o programa , por excelncia, o mentor de toda a actividade levadaacabopeloprofessor,cujaacodependeemgrandepartedasuaeficcia,depropor contedos e actividades adequados ao nvel de ensino. Assim, no caso em estudo verificamos que os alunos do ensino secundrio estabelecem oprimeirocontactocomapoesiasomenteno10anodeescolaridade,constituindoesteo ltimocontedoprogramticoleccionadonesseano,ficandomuitasvezesosalunossem estud-lo dada a imensa dificuldade que os professores tm na gesto dos contedos, que nos parecemdesfasadosedemasiadosparaseremleccionadosnumnicoano.Nestecontexto,a gesto de uma aula exige disponibilidade temporal para se poder explorar com pacincia todas aspotencialidadesdosalunos,vistoquenotou-seduranteaaulaumacertapreocupaodo professor em imprimir um ritmo acelerado na gesto temporal dos contedos, portanto deu-se a nosso ver maior ateno ao contedo do que ao aluno, entretanto a realidade mostra-nos que o percurso deveria ser inverso. 25 Citado in: GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 20); 26 Iden (pag. 34). 41 Relativamenteaoensinodapoesia,notou-sequeoprogramadeLnguaPortuguesa, por um lado, no incentiva o ensino da mesma, pelo facto disso acontecer muito tardiamente, e poroutrolado,quandointroduzidonoplanocurricularcarecedeactividadesquesejam capazesdeestimularoalunonasuaactividadecriativa.Relembramosquenosdoisanosde escolaridadeemestudo,humanicapropostadeactividadecriativano10ano,isto,a criaodepoemasvisuaiseacrsticos,oquenosparecebastantelimitadoemtermosde estratgias de explorao potica, da a necessidade de apresentarmos uma proposta alternativa bastante complexa que se assenta em jogos poticos. TeresaGuedesdizqueanvelconcretodostextospoticos,devedar-sea possibilidadedeescolhaeumamargemdemanobraaosalunosdentrodeumlequede actividades a fornecer e no limitar-se a dar uma nica sugesto.27 Entretanto,mesmoimpondoestaactividadenasaladeaula,notou-seumacerta indiferena face ao pendor criativo, na medida em que apenas foram trabalhados os acrsticos, o que no se revelou eficaz, pois o professor no corrigiu o trabalho de casa j que se tratava dos ltimos dias de aula em que no havia ambiente para tal, nem a disponibilidade no plano temporal,limitando-seaperguntaraosalunosseteriamfeitootrabalhodecasa.Apropsito disso,oprofessorafirmaqueoscontedosprogramticosestosufocados,porissohtrs anos consecutivos que no se cumpre o programa, portanto no se estuda a poesia pela razo anteriormente referida. DeacordocomPostic28aactividadecriativaimplicaimaginaodoalunoeeladeve seralimentadacombasenodesenvolvimentodafunosimblicadostextos,imagens,sons. Uma situao, frase, melodia pode provocar nele uma ressonncia, leva-o a sentir-se prximo do outro, o seu duplo, conferindo uma dimenso universal ao que se experimenta. Efectivamente, notou-se uma aula centrada nos objectivos previamente definidos e em funodoscontedosprogramticosenonaaprendizagemdoaluno,poisemnenhum momento da aula se verificou um aluno criativo que acciona o seu mundo, a sua experincia, a 27 GUEDES, Teresa, Ensinar a Poesia, 2 edio, Edies ASA, Porto, 1995 (pag. 22);28 POSTIC, Marcel, O imaginrio na Relao Pedaggica, 1 edio, Edies ASA, Lisboa, 1992 (pag. 25); 42 sua expectativa e imaginao, limitando-se a responder questes formais de natureza literrias. SegundoPierreEmmanuelquandoissoaconteceoimaginriocolonizadopelarazo.29 Este posicionamento elucida a preocupao em fazer os alunos compreenderem os contedos aoinvsdeexplorarassuaspotencialidadesdeimaginao,queajudaoalunoaconhecer melhor a si prprio. Decontrrio limitar-nos-emos a reproduzir verbalmente o que vemos ou lemos. Em suma, uma pedagogia do ensino da poesia exige, cada vez mais um programa que privilegiaavertenteimaginriadoaluno,atravsdeinmerassugestesdeactividades(isto emambososciclos),assentesemactividadesldico-pedaggicosquesejamcapazesde estimularoalunonoestudodapoesia.Tambmpressupeumestudoemqueotextono visto enquanto pretexto para transmitir determinados contedos programticos, mas um estudo interactivo que valoriza o texto, o leitor e o contexto. 3.4- Sugestes de actividades3.4.1- Propostas alternativas de explorao do texto potico Pelofactodeapedagogiadotextopotico,nocontextoemanlisenostersuscitado interesseepreocupaodecorrentesdoregistodealgumasinsuficinciasnocontexto didctico-pedaggicoobservado,pretende-seaqui,fornecerumacompilaodeideiase sugestesparaumamelhoriadaprticapedaggicadessecontedo,tendo,porisso,o objectivo de auxiliar o professor na fomentao de momentos de criatividade na sala de aula, aomesmotempoqueestimula,tambm,osalunosadesenvolveremaindamaisoprazerde leitura e da escrita da poesia, bem como a sua prpria competncia lingustica. Aspropostasaquiapresentadasrequeremprimeiramentequeoprofessorreflicta antecipadamentesobrecadasugesto,verificandoseelaadequadaounoturmaem 29Citado in: POSTIC, Marcel, O imaginrio na Relao Pedaggica, 1 edio, Edies ASA, Lisboa, 1992 (pag. 28).

43 questo,aotempodisponveleaomaterialexistentenaescola.Almdisso,deverainda realizar a actividade previamente e antes de a apresentar aos alunos. Algumas destas sugestes so acompanhadas de exemplos j realizados. 1- Jogos poticos Estegrupo,quepoderseraproveitadonumaprimeiraetapadeabordagemdotexto potico, integra uma vasta opo de jogos poticos assentes em vrias vertentes ou habilidades queprecisamdeserdesenvolvidasnaauladeensinodapoesia.Assim,notvelasua complexidadeporabrangervertentescomoacriatividade,alnguaeosseuscomponentes semnticos,sintcticos,morfolgicoselexicais,acomposio(escrita,oralidadee vocabulrio)emesmoainterdisciplinaridade.Contudo,salientamosquenosetratadeuma classificaoeminentementecriteriosaedefinitivaoufechada,umavezquetodasestas vertentesestointimamenterelacionadas,podendo-seencontrarexercciosbastantes complexos que abarcam vrias competncias. Por exemplo, todos eles pressupem o incentivo da criatividade, mas uns suscitam-na em primeiro plano outros no, da a categorizao desses exerccios em funo do grau de predomnio. Alm disso, reiteramos que constituem exerccios cuja natureza de algumas permitem que sejam exploradas na sala de aula, mas outras podem servir de opo para trabalhos de casa e de grupo, seleccionados em funo das competncias que se quer implementar no aluno, pois muitasvezeselessocomplementares,daanecessidadedeosescolherdeacordocoma disponibilidadedoprofessor,dosmeiosdisponveis,tiposdeturmaetc.Propomosos seguintes jogos: Jogoscriativosessesexercciospressupemumnvelelevadodecompetncia, centrando-se,algunsdeles,sobretudoemjogosvisuaisqueexigemqueoalunotenha capacidade para produzir poemas com base na sua imaginao, inveno etc.

44 Poesia visual ou criativa Consiste na explorao do signo lingustico e do prprio espao que o papel representa. Haikujapons um poema de trs versos em que se condensa a emoo experimentada. Outono de sonhos Olhando-o, comea a chorar A codorniz de vero. Absurdo Prope-seaosalunosqueimaginemalgodeirrealouinslito,comoterdeconsertaruma estrela, um elefante de dois centmetros, e depois tero de construir um poema sobre isso. O feiticeiro das palavras. Oprofessorpedeaosalunosparaimaginaremqueeleumfeiticeiroequelhesrouboupor magiatodasaspalavras,excepodequatroquecadaumterdeescolher.Assim,cada aluno,possuindosquatropalavras,temdesecomunicarcomtrsouquatroelementosda turma que esto em igual situao. Com essas palavras os alunos tero de escrever um poema. Outras sugestesA partir de um poema elaborado por um colega, os outros podero apresentar outras sugestes para esse poema e sobre esse tema. Exemplo: Nas frias vi um leo A vestir o seu roupo, Tinha mgoa no seu corao H de morrer sozinho No seu triste casaro. Podia ter uma leoa Que me tirasse da solido. Mas veio a reconhecer Que isso era uma iluso. 45 Texto fenda Jogoqueconsisteemmodificarumtextocortadoverticalmenteemduasmetades,eem trabalhodegrupocompletaraprimeirametade.Sugesto:(sobreumpoemadeJorge Barbosa). Regres Navio ond deitado so Aonde vai levado pe Que rumo navio do Aquele pa onde a vi uma gra e um gran Leva-me c Navio Mas torna (Jorge Barbosa) Anfora um jogo potico que consiste em comear todos os versos pela mesma palavra ou expresso. Dizer amor Dizer porqu poesia Dizer como o poeta Dizer at ao fim Dizer sempre Dizerou no dizer Diz-se 46 Anacclico Elaborarumpoema(umaestrofe)cujosversoscontenhamexactamenteasmesmaspalavras, ordenando-as, reorganizando-as de forma diferente, utilizando diferentes sinais de pontuao. Era uma andorinha branca Branca era uma andorinha Era uma branca andorinha Uma andorinha era branca Era branca uma andorinha (Eugnio de Andrade) Letra imposta Osalunostmdeconstruirumpoema,utilizandoobrigatoriamentepalavrasquecontenham uma letra ou mais seleccionada previamente. Essa letra poder ser X ou Z ou H. Retrato chins Jogoqueconsisteemdescreverumapersonagemouumobjecto,recorrendoaassociaes variadas (se fosse uma flor seria; se um pais seria) O texto destina-se a levar descoberta da personagem ou do objecto descrito. Analogias Jogopoticoqueconsisteemcaracterizarumarealidadeatravsdeumnmeropreviamente determinado (1 a 5) de imagens sugestivas ligadas a outra realidade. Sugesto: Escrever como. . . Escrever . 47 Invenes Processodeconstruodetextoqueconsisteemdescrever,emalgumaslinhas,umnovo invento til ou mesmo absurdo. Sugestes de inventos: Impressora de pensamentos; culos que lem sozinhos; Caneta electrnica 1.2-Jogos Lexicais, Morfolgicos, Sintcticos e Semnticos So exerccios que recaemsobretudosobreacompetncialingusticadoaluno,exigindodesteumnvelelevado desses pressupostos em todas as suas dimenses. Acrstico Apartirdeumapalavraescritanavertical,elabora-seumpoema,correspondendocadaletra dessa palavra letra que inicia cada verso. A palavra escrita verticalmente, poder ser lida de cima para baixo ou, mais raramente, de baixo para cima. O contedo do texto deve relacionar-se com a palavra construda. Exemplo: Presumo que andas sobre Ondas do mar longnquo! Entre continentes que nos Separam por aco do destino! Intensamente vivo e aguardo Amor teu! 48 Siglas Inventar novas significaes para as siglas. Ordenar versos. Distribui-seaosalunosumpoematododesordenadoqueterodeoscolocarporumaordem lgica, respeitando as rimas. Foi visit-lo um doutor, Logo, logo, o mandou pr. Por isso que estou doente. Ai senhor (acode o louco)(Diz-lhe o mdico eminente). Estando enfermo um poeta. Regule-se, coma pouco E em rigorosa dieta Anadiplose (Palavra puxa palavra) Consistenarepetiodaltimapalavradeumversooufrasenoinciodoversooudafrase seguinte. Exemplo: Noites de insnia povoaram o meu mundo, Mundo transfigurado pelo destino! Destino de um homem que sonha! Sonha com a perfeio, Perfeio de um amor! Amor que nunca acaba! 49 Associograma. Consistenaassociaodeumdeterminadonmerodepalavraspreviamentedefinidoem relao a uma dada palavra, podendo fazer-se a sua representao em rvore. Exemplo: Circo Artistas Malabaristas palhaos acrobatas Cor Luz Movimento Risco A melhor palavra Nestejogo,osalunostmdeencontraramelhorpalavraparadefiniraquelaqueoprofessor pronunciou. (Me amor) Palavras repetidas Jogo que consiste em escrever um texto, fazendo surgir, mais ou menos insistentemente, uma ou mais palavras. Assim, a palavra repetida pode ser utilizada em sentidos diferentes. Sugesto:Senumtexto,escrevemosmuitasvezesapalavratexto,podemosestaraconstruirumtexto, segundo as regras do jogo palavras repetidas Acumulao Jogopoticoqueconsisteemconstruirversossucessivos,utilizandounicamentepalavrasda mesma classe ou expresses com a mesma estrutura gramatical. 50 Sugestes: Verbos nomes adjectivosVerbos nomes adjectivosVerbos nomes_ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ determinante possessivo + nomenome + adjectivo determinante possessivo + nomenome + adjectivo _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ___ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ Supresses Jogo que consiste em modificar um texto, eliminando algumas palavras, expresses ou frases dessetexto.Aescolhadassupressesaefectuarpoderealizar-selivrementeouobedecera regras determinadas, como a supresso de palavras de certas classes gramaticais (adjectivos ou advrbios). Otextoobtidonotemobrigatoriamentederespeitarosentidodotextooriginal,masdeve apresentar coerncia prpria. Sugesto: (supresses efectuadas livremente no segundo pargrafo da definio proposta) Aescolhapode.obedeceraregrascomo a supresso. de .. adjectivos ou advrbios. Texto breve Processo que consiste em escrever textos muito curtos, de natureza potica (de tom mais srio ou humorstico) que sugiram mltiplos sentidos num nmero restrito de palavras. Os provrbios, as mximas, as definies poticas so exemplos expressivos de textos breves. Sugesto: Poeta o que ? Um homem que leva 51 O facho da treva No fundo da mina - mas apenas v o que no ilumina. Jos Gomes Ferreira HomossemantismoJogoqueconsisteemreescreverumtexto,fazendovariaroseudestinatrio(umamigo,o presidente de uma instituio, um familiar idoso). Sugesto: Escrever uma carta e pedir um livro a um amigo. Escrever uma carta e pedir um livro ao presidente de uma instituio. Escrever uma carta e pedir um livro a um familiar idoso. Inveno de ttulos Jogoqueconsisteemconstruirttulossugestivos,maisoumenossurpreendentes,para produo de textos. Poder ser organizado em ficheiro com o conjunto dos ttulos obtidos. Sugesto: A Que mistrio! B Acorda-te! C Paz Roubada D - . Escrita vertical Jogoqueconsisteemconstruirumnovotexto,seleccionandoumapalavraemcadalinhade um texto pr - existente. O texto obtido dever ser original. Sugesto: Construir um texto original. (1, 2, 3, 4 linhas) 52 Frase dada Processodeconstruodetextoqueconsisteemescreverapartirdeumafrase,elaborada propositadamente ou retirada de um livro, de um jornal, de outro texto 1.3-JogosdeExtensoeComposioEstesjogosconsistememdesenvolver raciocniolgicofaceaumadadaideia.Correspondemaexercciosdeproduodetextos, assentes no desenvolvimento da capacidade escrita e oral do aluno. Esteretipos O professor e os alunos renem frases consideradas esteritipos como Ser feliz Os alunos completam, ento, as frases de acordo com as suas vivncias. Brainstorming. Oprofessorfazaleituradeumpoemaeregistanoquadrotodasaspalavrasqueoaluno apresenta provocadas pela leitura que ouviu. Este jogo pode ser condicionado por regras, pe exemplo, s podero dizer substantivos abstractos, s verbos da terceira conjugao, etc. Imagens em cadeiaExprimir sensaes que surgem espontaneamente a partir da observao de uma imagem, sem que haja a preocupao da histria lgica. (ex: um campo ondulante) Autobiografia Nestejogo,osalunossprecisamescolheralgunsaspectosautobiogrficosecoloc-losem verso. Receita de culinria Oprofessorescolheumareceitadeculinriaepedeaosalunosqueareescrevam,tendoo cuidadoderespeitaramtrica,transformando-anumpoema.Osalunospoderoinventaras suas prprias receitas. (ex: o aluno ideal) 53 Lipograma (letra proibida) Jogo que consiste em escrever um texto, sem utilizar uma ou vrias letras do alfabeto. Variante:Poderreescrever-seumtexto,umcontotradicional,exemplo,utilizandoamesma tcnica. Sugesto:Nenhumapalavradotextosedeveescrevercomavogalqueaparecerantesdo nome deste jogo de palavras. Liponmia (palavra proibida) Jogoqueconsisteemescreverumtexto,semutilizarumapalavrapreviamentedeterminada. As palavras proibidas devero ser, neste jogo, dificilmente evitveis, tais como os verbos ser, ter Sugesto: Palavra proibida verbo ser Torna-sedifcilescrevertextossemutilizarumdosprincipaisverbosdaLnguaPortuguesa. ( difcil escrever textos sem utilizar o verbo ser). Sons repetidos Jogoqueconsisteemescreverumtexto,fazendosurgir,maisoumenosfrequentemente,um ou mais sons. Sugesto: Tcnicaqueconsisteemescreverumacomposio(poticaouno)comrecursomaisou menos frequente a quaisquer sons escolhidos. Pgina arrancada Jogoqueconsisteemescreverumapginadeumanarrativa,comosefosseanicapgina encontrada de um livro perdido. Emprstimo O professor d aos alunos um poema grande. Os alunos escolhem algumas palavras ou versos e constroem o seu prprio poema da seguinte forma: - a azul os versos pessoais; 54 - a vermelho os versos emprestados; - a verde os versos emprestados, mas alterados. 1.4-JogosInterdisciplinaresEstesjogosassumemumperfildiferentedosrestantes, porabarcaroutrasrease,consequentemente,outrosconhecimentosquenoestejam directamenterelacionadoscomaLnguaPortuguesa,masaLingustica,aCulturaCabo-verdianaetc.portanto,umacompetnciaadquiridaapartirderelaesinterdisciplinares, emboratambmsenotaumcertacomplexidadedealgunsexercciosaquipropostos(por exemploosdoisltimos),quesolicitamcompetnciasnaassimilaodetcnicasliterrias, como o ritmo, a mtrica, a entoao etc. Provrbios imaginados Jogoqueconsisteeminventarprovrbios,deprefernciasobreumdeterminadotema. Previamente poder ter sido feita uma escolha de provrbios tradicionais sobre vrios temas. Sugestes: Quem pergunta quer saber (provrbio tradicional) Quem escreve quer conhecer (provrbio inventado) Palavras e plumas leva-as o vento (provrbio tradicional) Escritos e pedras resistem ao tempo (provrbio inventado) Texto livre Os alunos devem produzir textos livres, subordinados ao mesmo tema (mar, vida, escola), que pode ser motivado pelo estudo de um conto ou de outro texto abordado em aula. Permutas Jogoqueconsisteemmodificarumtexto,deprefernciabreve(provrbio,fbula), deslocando algumas palavras isoladas ou grupos de palavras. O texto obtido pode resultar absurdo. 55 Sugestes: No responder resposta. (provrbio tradicional) No resposta responder. (provrbio obtido por permuta) As palavras so como as cerejas: atrs de umas vm as outras. (provrbio tradicional) Atrs de umas cerejas vm as outras: so como as palavras. (provrbio obtido por permuta). Cano Este exerccio muito bom para treinar o ritmo e a mtrica de um poema. Os alunos escolhem uma cano que seja bastante conhecida e escrevem uma letra diferente para essa msica. Depois tero de conseguir que a nova letra se ajuste exactamente msica para que a possam cantar. 3.4.2 - Proposta de explorao alternativa da aula do 10 ano de escolaridade Neste captulo, pretende-se apresentar uma proposta alternativa de explorao do texto poticono10anodeescolaridadequeincidirsobreomesmotextoRegressodeJorge Barbosatrabalhadopeloprofessordaamostraemcontextodesaladeaula,comointuitode colmatar algumas lacunas existentes na adopo de estratgias para a gesto da aula de poesia. Noentantorealamosquenohdanossapartequalquerpretensodeproporum modelo ideal ou uma regra de leitura, mas na verdade apresentar uma proposta vivel que seja capazdeproporcionarumaaprendizagemnosentidointegradoemqueoalunodesenvolve uma srie de competncias atravs de um percurso de leitura bastante complexo que obedece a determinadosmomentos(pr-leitura,leituraeps-leitura).Assim,adoptandoestemodelode explorao textual estaremos a desenvolver quer no professor quer no aluno um esprito crtico face ao texto e uma viso ampla de toda a dimenso que o texto potico pode incorporar, no se limitando leitura do poema enquanto pretexto para se consolidar determinados contedos programticos. 56 De seguida, apresentamos a ttulo de exemplo o poema Regresso que ser analisado. Regresso Aquele pas talvez Navio aonde vais onde a vida deitado sobre o mar? uma grande promessa e um grande deslumbramento Aonde vais levado pelo vento?Leva-me contigo navio Que rumo o teu navio do mar largo?Mas torna-me a trazer Jorge Barbosa Antesdedarincioleituraeanlisedopoema,introduz-seumamotivaoinicial. Podeserbuscadaforadombitoescolar,recorrendoumahistriaouqualqueroutracoisa relacionadacomaviagemnosentidodedespertardeumaformaldicaointeresseparaa aula. Seguir-se-iaaexploraodottuloantesdeosalunosentrarememcontactocomo poema,podendo,destaforma,constituirumaestratgiaquedespertaosseusgostospela leitura.Nestaetapa,exploraramosasimbologiadoRegressooudaViagemnocontexto Cabo-verdiano,arrecadandoideiasquepodemservirparaacompreensodaleitura.Tal actividadevantajosaporqueactivaacuriosidadedoalunoemrelaoaotextofazendo-o viajarecriarexpectativasemrelaoaomesmo.Depois,mandariaosalunoslerem silenciosamenteopoema,seguidadaleituraexpressiva(poderiaserfeitanoincio,masisto perturbaaexploraodottuloeapossvelrelaocomotexto).Autilizaodeum retroprojector seria importante para inovar a metodologia de apresentao e leitura do poema, desligando um pouco tendncia tradicional (cpias). O aluno s conseguir efectuar uma boa anlise do texto se conhecer o gnero literrio a que pertence e a bibliografia do autor nomeadamente o seu estilo a maneira de ver a vida e o 57 mundoeomovimentoliterrioaqueseinsere.Casosetratedoexcertodeumtexto importante que este seja enquadrado na totalidade do livro. De igual modo necessrio que se conheaotomdodiscurso(simples?,exaltado?,reticente?,irnico?...)eosaspectos prosdicos que caracterizam o texto (elementos que os remetem para a musicalidade do texto, jogos sonoros de repetio, de contraste, de harmonia, aliteraes, assonncias, etc.). A todos elessodesignadosdecondicionantespassivasdaleitura,umasriedeaspectosauxiliares que, de uma forma exterior e menos directa, nos podem aproximar do texto30 Outro aspecto a reter a anlise da estrutura externa do texto: as definies de estrofe, versoerimaseriamfundamentaisparacompreenderemessaestrutura.Assim,oaluno compreende que se trata de uma composio formada por seis estrofes, sendo a 1, 2, 3 e 5 dstico ou parelha,a 4 uma quadra ea 6 monstico, a rimafoi classificada como branca ou solta, dada a total irregularidade em termos de ocorrncia. Com efeito, esta opo em termos de adopo do esquema rimtico vai ao encontro do estilo do autor e do movimento literrio a que pertence, neste caso a Claridade, cujos princpios so orientados para um carcter informal dapoesia.Portanto,paraalmdenospermitirumprimeirocontactocomascaractersticas formais esta primeira abordagem do poema leva-nos a apreciar certos aspectos que podem ser necessrios no decorrer da sua anlise sobretudo na relao que se estabelece com o estilo do poeta. Procedendoactividadedeleiturapropriamentedita,osalunosreforamaleiturado textoeaseguirfazemainterpretaoeacompreensodomesmo.Nestaactividade privilegiar-se-iaaexploraodovocabulrioapesardeestesersimplesealturada compreenso dos alunos. Passaramos anlise do tema e do assunto, seguida do movimento internodopoema.Porsetratardeumnveldeestudoinicialdapoesia,dariaaosalunosa noodotemaedoassunto.Temaaideiafundamental,oeixoemredordoqualgiram todososelementosque,agrupados,constituemotexto.31Deveserclaro,breveeexacto. 30 BARRETO, Lus de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio, 6 edio, Texto Editora, Lisboa, 1998 (pag. 36); 31 FIGUEIREDO, Maria Jorge Vilar de, Maria Teresa Belo, Comentar Um Texto Literrio, 3 edio, Editorial Presena, Lisboa, 1990 (pag. 25). 58 Enquanto que o assunto a verso reduzida desse texto que contm os seus pormenores mais significativos.32 Poderiam sugerir vrios temas em funo da sensibilidade de cada aluno: 1. A nsia do regresso; 2. A emigrao; 3. Terra-longe, etc. Quantoaoassunto,osujeitopoticointerrogaaumnavio,querendosaberseelevai para a dispora, pois ele anseia uma vida melhor fora do pas, mas alimenta sempre a vontade de regressar terra. Relativamenteaomovimentointerno,iramosvercomoasideiasprincipaise secundriasseencaixamnotexto,constituindo,destaforma,diferentesmomentosnaanlise do estado de esprito do sujeito potico. 1 Momento interroga ao navio querendo saber o seu destino; 2Momentoperanteessasituao,formulaumpedido,queracompanharodestino desse navio a procura de melhores condies; 3 Momento anseia o retorno terra-natal. Agora,poderamosexploraroselementosdeintensificaodotextoque,deacordo comLusdeLimaBarretoconstituemprocessosquerecaemsobretodosospressupostosde construododiscursoutilizadospelopoetaparatornarasideiasmaisexpressivase originais.33 A nvel morfolgico os termos utilizados parecem adequados ao nvel em estudo, portantonoassumemqualquercomplexidadeanveldacompreenso,contudoconvm certificar isso com os alunos perguntando-os se a linguagem simples ou complexa. No plano sintctico, remeteria os alunos para a anlise do tipo de frase que predomina nopoema,poishumpredomniodefrasesinterrogativasqueatribuemaopoemaumtom coloquial, intensificando, desta forma, o ritmo da expresso do mesmo.A nvel retrico ou fnico, exploraria a ocorrncia de algumas figuras de estilo como a personificao: Navio aonde vais 32 Iden. 33 BARRETO, Lus de Lima, Aprender a Comentar um Texto Literrio,