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Elma de Oliveira Toledo Rodrigues O ESTUDO DAS CORES NO CONTEXTO ESCOLAR Brasília-DF, 26 de janeiro de 2011.

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Elma de Oliveira Toledo Rodrigues

O ESTUDO DAS CORES NO CONTEXTO ESCOLAR

Brasília-DF, 26 de janeiro de 2011.

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Elma de Oliveira Toledo Rodrigues

O ESTUDO DAS CORES NO CONTEXTO ESCOLAR

Trabalho de conclusão do Curso de Artes Plásticas, habilitação

Licenciatura, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes

da Universidade de Brasília.

Orientadora: Professora Doutora Ana Beatriz de Paiva Costa Barroso

Brasília-DF, 26 de janeiro de 2011.

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AGRADECIMENTOS

Expresso especiais agradecimentos à Professora Doutora Ana Beatriz de Paiva Costa

Barroso, pela dedicada e firme orientação, com excelentes indicações de materiais, ao lado

de proveitosas discussões teóricas, além de ativa participação na elaboração da estrutura do

material virtual proposto e cessão de sua belíssima pintura para compor o visual do livro

virtual.

Agradeço a colaboração de Cláudia Vargas pela identificação e disponibilização de

vídeos que tratam de algum aspecto relativo à cor para compor a videoteca da Escola de

Cores.

Registro meu reconhecimento aos funcionários do Departamento de Artes Visuais, em

especial Selma Anselmo de Carvalho e Maurilho Tadeu Escossino pelo excelente atendimento

aos alunos e pela boa vontade em ajudar a solucionar seus problemas acadêmicos. Agradeço

também ao funcionário do Posto Avançado da Secretaria de Assuntos Acadêmicos, Manoel

Alves da Costa, pelo empenho e dedicação em resolver os problemas dos estudantes em

geral.

Agradeço ao meu marido Paulo Toledo Rodrigues pelo apoio e incentivo, durante a

realização do curso de Artes Plásticas, abdicando de horas de convivência e lazer familiar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 06

1. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................... 08

1.1 Johann Wolfgang von Goethe .................................................................................... 09

1.2 Wassily Kandinsky…………...……………………………………………………... 10

1.3 Paul Klee…………………………………………………………………………….. 11

1.4 Johannes Itten……………………………………………………………………….. 12

1.5 Josef Albers………………………………………………………………………….. 13

1.6 Israel Pedrosa………………………………………………………………………... 15

2. REFERENCIAL POÉTICO…………………………………………………............ 16

2.1 A voz dos críticos........................................................................................................ 16

2.2 A voz dos artistas........................................................................................................ 23

3. IDENTIFICAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS BEM-SUCEDIDAS EM

ARTE-EDUCAÇÃO......................................................................................................... 30

3.1 Uma Experiência Gaúcha............................................................................................ 30

3.2 Uma Experiência em Brasília....................................................................................... 33

4. METODOLOGIA........................................................................................................ 36

5. PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ESTUDO DAS CORES.......... 38

6. CONCLUSÃO............................................................................................................. 39

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 41

ANEXOS

ANEXO 1 - O ENSINO DE ARTES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA............................ 45

a) Ensino Fundamental.............................................................................................. 46

b) Ensino Médio......................................................................................................... 53

c) A inserção das artes na educação brasileira........................................................... 57

ANEXO 2 – PESQUISA DE MATERIAIS DIVERSOS SOBRE COR................................. 59

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso consubstancia-se em proposta de estrutura

de material didático, apresentado em ambiente virtual, sobre o estudo das cores no contexto

escolar. Sua inspiração surgiu da identificação, durante a realização do Curso de Artes

Plásticas, da falta de material didático em artes nas escolas públicas, em especial, sobre o

estudo das cores, além da constatação da superficialidade com que o tema é tratado tanto no

Ensino Fundamental como no Ensino Médio.

À luz dos estudos sobre cores realizados pelos grandes mestres e suas metodologias de

ensino, nossa proposta compreende a elaboração de material a ser utilizado por professores e

alunos, com suporte na legislação educacional brasileira (Anexo 1), incluindo sugestões

teóricas e poéticas, tais como livros, poesias, músicas, filmes e vídeos que podem enriquecer

as aulas de artes visuais.

Nossa identificação foi verificada durante a realização dos Estágios Supervisionados,

quando observamos que, nas aulas de artes do Ensino Fundamental, o estudo da cor era feito

de forma superficial e sem aprofundamento, abarcando basicamente a identificação de cores

primárias e secundárias e, às vezes, introduzindo a qualificação da cor como quente ou fria.

Já no Ensino Médio, observamos que os conteúdos estavam totalmente atrelados aos

exames do PAS e do vestibular da UnB, restringindo-se ao estudo cronológico da história da

arte, inclusive adotando as sugestões do PAS quanto às obras que devem ser estudadas, seja

de artes visuais, música, teatro ou cinema, prescindindo, muitas vezes, da parte prática da

disciplina e praticamente não abordando o estudo das cores.

Acrescente-se que no próprio documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais há o

reconhecimento de uma espécie de círculo vicioso, no qual um sistema extremamente precário

de formação reforça o espaço pouco definido da área de arte com relação às outras disciplinas

no currículo escolar.

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Constata-se ainda no documento dos PCNs que, sem uma consciência clara sobre o

ensino de arte e sem uma fundamentação consistente de arte como área de conhecimento com

conteúdos específicos, os professores não conseguem formular um quadro de referências

conceituais e metodológicas para alicerçar sua ação pedagógica; não há material adequado

para as aulas práticas, nem material didático de qualidade para dar suporte às aulas teóricas.

Nossa experiência proporcionada por ocasião do Estágio Supervisonado com alunos

do 7º ano do Ensino Fundamental demonstrou ser possível atingir bons resultados com a

inserção de novas técnicas e aspectos do estudo da cor, tais como: o estudo de contrastes

quente e frio; harmonias quente-quente e frio-frio; contraste claro e escuro com preto e branco

e claro-escuro com inclusão de uma cor; contrastes entre cores complementares e justaposição

de cores.

Esses novos conteúdos geraram interesse dos alunos na compreensão dessas e de

outras classificações da cor, despertando-os para suas possíveis aplicações e fazendo com que

os conceitos lhes proporcionassem o real sentido em estudar as cores, proporcionando-lhes

confiança e interesse no domínio dos novos conceitos.

Essa é nossa motivação para elaborar um material que desperte o interesse pela

aprendizagem mais aprofundada com relação ao estudo das cores e suas possíveis aplicações.

Com esse propósito, apoiamo-nos em estudos realizados por pesquisadores como Johann

Wolfgang von Goethe, Johannes Itten, Josef Albers, Paul Klee, Wassily Kandinsky e Israel

Pedrosa sobre as cores e buscamos referência em obras de artistas brasileiros e estrangeiros

com abordagem voltada para esse campo.

Espera-se que a proposta aqui apresentada, acrescida de futuras contribuições de

professores, alunos e artistas, dada a forma virtual de sua veiculação, inclusive com possível

interação, estimule o aprendizado do aluno, proporcionando o desenvolvimento de sua

percepção visual e incentivando-o a se tornar um ser criativo e autônomo; além de oferecer

diversas opções para enriquecer as aulas dos professores de Artes das escolas públicas do

Distrito Federal.

Outra expectativa está na contribuição para a melhoria do ensino de artes, em especial

o estudo das cores, componente essencial para a compreensão dos elementos básicos da

linguagem visual e, consequentemente, no crescente estímulo ao aprendizado do aluno.

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1. REFERENCIAL TEÓRICO

Conscientes da necessidade da existência de fio condutor para unir as possibilidades

experimentais ao ensino de Arte, buscamos referenciais na Doutrina das Cores, de Johann

Wolfgang von Goethe e, também em estudos realizados por quatro dos mestres mais

representativos da Bauhauss (escola cuja característica didática inovadora era um estímulo à

imaginação) que compõem o quadro das teorias e metodologias ligadas ao uso das cores:

Wassily Kandinsky (1866-1944)

Paul Klee (1879-1940)

Johannes Itten (1888 – 1967)

Josef Albers (1888-1976)

Ao experimentar o ensino de artes na Bauhauss, cada um desses mestres, com sua

habilidade artística, procurou encontrar, na interpretação das formas e da cores, alguns

símbolos de comunicação visual, utilizando as ferramentas básicas para uma resposta

atualizada às exigências da sociedade de sua época. (BARROS, 2006)

As conquistas obtidas pelos mestres da Bauhauss, por meio de suas pesquisas, em

especial a originalidade aplicada ao design mobiliário, de utensílios domésticos e projetos

arquitetônicos, vinculando-os aos exercícios práticos por eles propostos com relação à cor e à

forma, revelaram a importância dos cursos ministrados para a realização de um desenho

industrial sem precedentes, afirma Barros (2006).

Kandinsky e Klee desenvolveram teorias sobre a composição plástica e seus

elementos, entre eles, a cor. De acordo com a análise da autora, a operação estética para

ambos é comunicação intersubjetiva com função clara formativa e educativa. Itten e Albers

ocuparam-se com o desenvolvimento de metodologias de ensino, preocupados com os

processos de assimilação e resposta dos alunos com a efetiva vivência dos fenômenos

abordados e com as questões da percepção visual.

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No Brasil, identificamos o pintor, professor e pesquisador do universo da cor, Israel

Pedrosa (nascido em 1926 em Alto Jequitibá-MG), aluno de Cândido Portinari a partir de

1942 e que vem escrevendo textos e pintando réplicas de obras de grandes mestres da pintura.

Numa linguagem simples, o pesquisador esclarece o complexo universo da cor,

incluindo a natureza como os grandes mestres a trataram, suas harmonias e contrastes.

1.1 Johann Wolfgang von Goethe

A Doutrina das Cores de Goethe foi concebida em fins do século XVIII e início do

século XIX, ou seja, um século antes das teorias das cores dos mestres da Bauhauss. As

suspeitas de Goethe em relação à verdade e aplicabilidade da Teoria de Newton o levaram ao

estudo do fenômeno cromático, empreendendo uma pesquisa inesgotável sobre o assunto que

o acompanhou até o fim de sua vida. (BARROS, 2006)

As investigações de Goethe abriram novas portas para o conhecimento das cores, com

a sugestão de um espectro multidisciplinar para as diversas abordagens do fenômeno

cromático, revela a autora. Embora ele tenha se recusado a aceitar que a luz branca era

composta por todas as luzes coloridas, sua falsa premissa não o impediu de contribuir para o

conhecimento das cores. Ao contrário de Newton, que observava as cores sob condições

controladas de luz, em câmaras escuras, Goethe não concordava com o isolamento do

fenômeno nessas condições, ressaltando ser necessário considerar o observador e a natureza

ao seu redor.

Por isso, dedicou-se à investigação das cores ao ar livre, na busca por respostas mais

abrangentes e associações que aproximassem o fenômeno cromático do nosso olho (nosso

órgão perceptivo) e da natureza (meio em que a cor se manifesta), explica a autora.

Assim, Goethe organiza a cor em relação ao olho (cor fisiológica), em relação à luz e

sombra (cor física) e em relação à matéria (cor química). O homem passa a participar do

processo perceptivo e, portanto, do fenômeno da cor, de acordo com Barros (2006).

Para ele, a sombra é tão importante quanto a luz, e a cor surge da dinâmica desse par

de opostos, resgatando, assim, o importante conceito de contraste para as artes plásticas,

elegendo a sombra como componente visual que complementa a luz. (BARROS, 2006)

Outro aspecto de sua doutrina foi a ênfase no significado das cores, estabelecendo

entre elas relações dialéticas, como a polaridade, e ressaltando as compensações causadas

pelo órgão visual na intensificação das cores. Assim, em sua cuidadosa observação, Goethe

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percebeu duas grandes diretrizes: a polaridade e a gradação, a partir das quais procura

encontrar um denominador comum para o conceito de harmonia, explica Barros (2006).

A autora ainda analisa que, com relação ao efeito sensível e moral das cores, Goethe

relacionou cor e sentimento, dizendo que cada cor produz um efeito específico sobre o

homem ao revelar sua essência tanto para o olho quanto para o espírito, para concluir que as

cores podem ser utilizadas para certos fins sensíveis, morais e estéticos. O teórico ainda

relacionou as emissões cromáticas aos tons musicais, encontrando em ambos um

denominador comum relacionado aos sentimentos despertados.

Na verdade, a Doutrina das Cores oscila entre um discurso científico e uma linguagem

poética, ambivalência que se desdobra na própria concepção da cor – ora como paixão, ora

como ação. Segundo Goethe, a polaridade entre paixão e ação se reproduz no próprio

movimento de reflexão sobre as cores: primeiramente as cores precisam ser separadas entre si

para depois serem reunidas novamente por meio da imaginação, a qual transforma a

polaridade original numa totalidade. (GOETHE, 1993)

Ao recorrer a uma linguagem imagética, Goethe propõe uma nova dimensão

interpretativa para o fenômeno cromático.

1.2 Wassily Kandinsky

O artista e professor propõe uma visão de mundo subjetiva ao pretender tornar visível

uma realidade interior baseada em sua experiência pessoal com a cor. Sua teoria tem forte

semelhança com a doutrina das cores de Goethe, revela Barros (2006). De acordo com a

autora, a cor para Kandinsky era um fenômeno que permitia a evocação das emoções numa

linguagem universal, relacionando-se a movimento, temperatura e sons musicais.

A teoria não vem depois da prática para Kandinsky, como produto da reflexão sobre a

própria obra, relata a autora. Ela acompanha, fundamenta e abre caminho para a sua criação

pictórica, ou seja, há uma ligação estreita entre a teoria e a prática – uma das características de

sua obra.

Assim, a reflexão téorica de Kandinsky sobre as cores, segundo Barros (2006), abriu

caminho e deu suporte às suas expressões abstratas na pintura, em que o artista investiga

todos os elementos básicos da composição visual: cor ponto, linha e plano.

Com relação às cores, Kandinsky afirmava que elas provocam uma vibração psíquica

e seu efeito físico superficial apenas servia como caminho para atingir a alma. Para ele, ainda

seria necessário o uso do princípio único, princípio artístico, e livre de todo elemento

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acessório, qual seja o Princípio da Necessidade Interior. As três necessidades místicas que

constituem esse princípio que pautou a obra e os ensinamentos de Kandinsky:

―1º - Cada artista, como criador, deve exprimir o que é próprio de sua pessoa.

(Elemento da personalidade.) 2º - Cada artista, como filho de sua época, deve exprimir o que é próprio dessa época.

(Elemento de estilo em seu valor interior, composto da linguagem da época e da linguagem do

povo, enquanto ele existir como nação.) 3º - Cada artista, como servidor da Arte, deve exprimir o que, em geral, é próprio da

arte. (Elemento de arte puro e eterno que se encontra em todos os seres humanos, em todos os

povos e em todos os tempos, que aparece na obra de todos os artistas, de todas as nações e de todas as épocas, e não obedece, enquanto elemento essencial da arte, a nenhuma lei de

espaço nem de tempo.)‖ (KANDINSKY, 1996, pag. 83/84).

A atividade pedagógica de Kandinsky, no entanto, esteve vinculada ao curso

preliminar oferecido a todos os alunos iniciantes da Bauhauss, no qual apresentava sua teoria

cromática por perceber que os efeitos cromáticos sensibilizavam os alunos de forma direta,

revela Barros (2006).

Segundo a autora, Kandinsky defendia a correspondência ou equilíbrio entre cores e

formas como um meio de se alcançar harmonia, equilíbrio e lirismo. No entanto, o desacordo

também era válido, por permitir uma expressão mais complexa e dinâmica, discordante e

dramática. Assim, o estudante deveria aprender a manejar o seu critério de equilíbrio ou

desequilíbrio entre as tensões das cores e das formas dentro de sua composição.

1.3 Paul Klee

Klee vê as cores como elementos estáticos, mas em constante transformação. Assim,

os pares de cores complementares são apresentados por ele como pólos cujo equilíbrio

acontece no ponto central do círculo – o cinza. (BARROS, 2006)

Em sua abordagem teórica e poética do círculo cromático, ele associa a cor à música,

apresentando as três cores primárias como vozes de um coro que se intercalam alternada e

infinitamente no perímetro do círculo. (BARROS, 2006).

Sua teoria das cores é extremamente vinculada à sua teoria de criação, fruto de sua

experiência artística e visão de mundo, analisa Barros (2006). O artista atribuía mais valor ao

processo de construção das formas do que ao resultado final, requerendo, portanto, profunda

entrega e introspecção na busca de um ponto de partida, a origem da expressão, por meio de

forças geratrizes da natureza. Nesse âmbito, três aspectos são importantes para a compreensão

da arte e do ensino para o artista:

a) A relação arte e natureza

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b) A problemática do movimento

c) A importância da intuição e do intelecto no processo artístico

Em sua proposta, Klee não estabeleceu modelos e sim incentivou os alunos a percorrer

seus próprios caminhos interpretativos, na direção de suas descobertas individuais. Sua

intenção era indicar o ponto de partida, a qual denominava ― origem da expressão‖, por meio

da interpretação de forças geratrizes da natureza, de acordo com Barros (2006).

Klee destaca que por meio da vivência conquistada nos diferentes caminhos e

transformada em trabalho, o estudante dá indicações do grau atingido em seu diálogo com o

objeto natural. Ou seja, o desenvolvimento do estudante na contemplação e observação da

natureza, ao evidenciar sua concepção de universo, o tornam capaz de criar configurações

livres de formas abstratas que ultrapassam a intenção esquemática e alcançam uma nova

naturalidade – a naturalidade da obra. Ele então cria uma obra, ou toma parte na criação de

obras que são uma parábola da criação divina. (KLEE, 2001)

Ressalte-se que a concepção pedagógica de Klee se espelhou em sua concepção de

arte, pois muitos dos seus conceitos são frutos de sua experimentação e de sua vivência

artística, aplicados à sua teoria das cores. (BARROS, 2006)

1.4 Johannes Itten

Itten conduziu a iniciação de alunos na direção de um auto-conhecimento expressivo,

de liberação de suas potencialidades criativas. Ele explorou as tensões entre a abordagem

objetiva e a abordagem subjetiva da cor, valorizando a expressão individual, explicando que

depois que o aluno descobria os princípios de sua própria maneira de usar as cores, exercícios

elementares poderiam ser realizados com relação a todos os tipos de forma e contrastes de

cores, o que lhes proporcionava a descoberta das preferências por certos contrastes e a

experimentação das dificuldades em lidar com outros. (ITTEN, 2004)

Ou seja, a partir de um grupo de princípios universais, o estudante experimentava os

diversos estudos de contrastes e esse conhecimento gerava dentro dele tensões naturais que

poderiam levar a novas criações, além de ser essencial para o uso subjetivo que cada aluno

iria fazer das cores. (ITTEN, 2004)

Assim, a partir do reconhecimento das preferências do aluno, Itten preparava-os para a

apresentação de leis objetivas de forma e cor, com a orientação das seguintes metas:

(BARROS, 2006)

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1. Libertar as forças criativas para o trabalho genuíno e autônomo, por meio de suas

experiências e percepções;

2. Incentivar a orientação vocacional por meio de exercícios, utilizando materiais que

despertem maior interesse no aluno e lhe tragam estímulos à sua atividade criativa;

3. Integrar os princípios objetivos e subjetivos dos elementos de design.

De acordo com Barros (2006), Itten procurava evocar, nos alunos, uma sensação

vivida para a determinação de um tema, pela experiência visual, depois seguia com a

explicação intelectual e a sua compreensão e só então partia para a execução das tarefas.

Costumava apresentar aos alunos uma série de exercícios sobre contrastes, a base fundamental

de seus ensinamentos, pois, para ele, a percepção das oposições ampliava a visão e a

sensibilidade, abrindo portas à criatividade.

Itten esclarece, nesse contexto, que a arte-educação envolve dois problemas: (1)

estimular e fortalecer as atitudes criativas do indivíduo e (2) ensinar as regras objetivas gerais

da forma e da cor, complementados pelos estudos da natureza. (ITTEN, 2004)

Em sua concepção, as cores são forças, energias radiantes que nos afetam positiva ou

negativamente, dependendo se somos ou não conscientes delas. O artista pode criar uma

atmosfera supramundana ou mística que nos transporte para meditações de devoção em um

plano espiritual. Assim, os efeitos das cores devem ser experimentados e entendidos, não

apenas visualmente, mas também psicologicamente e simbolicamente. Com essa visão, Itten

direcionava sua abordagem sobre a sensibilidade da cor em três direções: impressão

(visualmente), expressão (emocionalmente) e construção (simbolicamente). (ITTEN, 2004)

Itten esclarece, no entanto, que ele não pode omitir que ―o simbolismo sem acuidade

visual e sem força emocional seria um mero formalismo anêmico; o efeito visualmente

impressivo sem a veracidade simbólica e o poder emocional seria uma imitação banal do

naturalismo; e o efeito emocional sem o conteúdo da construção simbólica ou força visual

seria limitado ao plano da expressão sentimental.‖ (ITTEN, 2004, PAG. 17)

1.5 Joseph Albers

A apresentação de diversos sistemas de cores e de teorias da cor só era feita por Albers

ao final dos cursos e não no início. O teórico descobriu que o conhecimento de teorias

tornava-se mais apreciável depois de exercícios produtivos, quando olhos e mentes se

encontravam mais bem preparados e receptivos. (ALBERS, 2009)

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Ou seja, Albers (2009) constatou que a experiência era o mais importante, sem

ambição de oferecer um conhecimento abrangente de muitas teorias, embora ele pudesse

introduzir, mesmo que brevemente, os sistemas mais significativos.

O teórico acreditava que depois de um laissez-faire natural e fácil como desafio

inicial, poder-se-ia estimular uma primeira passagem de um jogo sem objetivo para o estudo e

o trabalho dirigidos, a qual poderia oferecer, ao lado do treinamento básico, o prazer contínuo

do crescimento. Assim, uma das surpresas mais agradáveis de uma aprendizagem gradual era

que, quanto mais o curso avançava, mais surgiam os novos problemas, por acaso ou

deliberadamente, entre os estudos que haviam sido expostos no começo de uma aula.

(ALBERS, 2009)

De fato, Albers era mais interessado nas propriedades intrínsecas dos materiais e em

suas potencialidades estruturais como elementos a serem explorados no design, motivo pelo

qual introduz exercícios para a exploração e a descoberta dessas características pelos alunos.

Nesse contexto, ele propôs uma metodologia para o desenvolvimento de um pensamento

construtivo em seus alunos, baseando seu método na tentativa e erro, em que o

desenvolvimento da percepção visual tem papel preponderante. (BARROS, 2006)

Ele explorou a criatividade dos alunos a partir de recortes de papel e obteve resultados

surpreendentes. Na verdade, ele comprovou, com esses exercícios, que a livre manipulação

dos materiais, sem a limitação de normas a priori, possibilitava o surgimento espontâneo de

questões e uma atitude dinâmica de experimentação de várias possilibidades para a solução de

um problema. Ou seja, sua experiência didática colocava a prática à frente da teoria.

(BARROS, 2006)

Os exercícios propostos por Albers revelaram profundo conhecimento de nossos

mecanismos de percepção visual e assimilação de idéias. Sua metodologia levava o aluno ao

conhecimento das interações cromáticas sem a necessidade de modelos teóricos ou leis.

Assim, sem perceber, o aluno tornava-se apto a enfrentar os problemas relativos às questões

cromáticas à medida que acumula experiências e vivências dirigidas, por meio de sua

metodologia indutiva, fruto da experimentação incansável, revela a autora.

Nesse contexto, os exercícios constituíam-se em verdadeiros desafios experimentais

que motivavam o aluno a descobrir os efeitos e as leis dos contrastes simultâneo e sucessivo,

ao mesmo tempo em que condicionavam neles a necessidade de trabalhar sempre dentro de

um contexto cromático figura-fundo, sem deixar de estabelecer uma inter-relação entre as

cores. Albers condenava, sim, a assimilação automática de conteúdos dissociados da vivência

e da aplicação prática. (BARROS, 2006)

Page 17: Monografia   licenciatura em artes

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Ele se preocupava em enxergar o que acontece com as cores e, assim, entender sua

interação cromática. Seu objetivo era conscientizar os alunos de que as cores se apresentavam

num fluxo contínuo, instável em constante interação com as cores vizinhas e suscetíveis às

alterações de luz. Enfatizava também que as harmonias cromáticas, que geralmente

constituíam o interesse ou o objetivo especial dos sistemas de cores, não eram a única relação

desejável. Demonstrou que, de fato, acontece com a cor o mesmo fenômeno observado nos

tons musicais – a dissonância era tão desejável quanto o seu contrário, a consonância.

(ALBERS, 2009)

1.6 Israel Pedrosa

Pedrosa vem construindo uma ponte entre ciência e poesia, adotando a multiplicidade

das formas que se buscam e se completam. Sua estratégia é voltada para os milhares de

iniciantes na arte, abrindo-lhes as portas de um novo mundo, utilizando todas as abordagens

da cor, desde as de Platão e Aristóteles.

Desenvolveu estudos teórico-práticos relativos às manifestações das cores de

contraste, apresentando conceitos básicos sobre a cor, a partir dos estudos de Leonardo da

Vinci e considerando o disco de Isaac Newton, as características, a classificação, a

combinação e os elementos de harmonia das cores, chegando às conclusões básicas do

domínio do fenômeno que denominou cor inexistente, resultando na publicação de um livro

com o título Da Cor à Cor Inexistente, em 1977. (PEDROSA, 2003)

Fez ainda um estudo sobre os ateliês de artistas, no qual apresenta o processo por eles

desenvolvido, com uma análise histórica da cor desde o período neolítico e o emprego das

cores no Brasil. (PEDROSA, 2003)

―Pedrosa abriu um caminho próprio a partir de uma descoberta a que ele deu o nome

de ‗cor inexistente‘ (...). Pedrosa reduz a experiência estética ao aqui e agora da excitações

da retina.

E isto não impede, mas, pelo contrário, propicia uma tal intensificação do campo

visual, que nos termina por desencadear uma carga de impacto e, por um momento que seja,

nos fascina.‖ (GULLAR, 1981).

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2. REFERENCIAL POÉTICO

Antes mesmo da elaboração da proposta de material didático, nossas pesquisas

encontraram respaldo na legislação educacional brasileira (Anexo 1), o que estimulou-nos à

procura de possível acervo poético que utilizasse a cor como tema para a construção dos mais

diversos trabalhos. O acervo assim selecionado é composto, na verdade, por extenso

repertório de músicas e poesias, livros, vídeos e filmes nacionais e estrangeiros, os quais

podem vir a enriquecer as aulas de artes visuais em todos os níveis de ensino. Essa pesquisa

está contida no Anexo 2 de onde, aliás, muitas sugestões serão extraídas para compor o livro

virtual, ainda em elaboração, para que professores e alunos possam acessá-lo.

Apresentaremos a seguir a análise de alguns críticos de arte sobre o uso que os artistas

fazem da cor em suas obras, destacando os aspectos predominantes ou mesmo concomitantes

ao trabalho por eles executado. Essas análises, ao lado de algumas obras analisadas,

despertam-nos para as infinitas possibilidades do uso das cores em função de uma intenção

artística.

Da mesma forma, apresentaremos também a fala de artistas demonstrando a

importância da cor na elaboração de seus trabalhos, a utilização da cor como método de

trabalho e mesmo o uso a partir da intuição.

2.1 A voz dos críticos

Rodrigo Naves, sobre Volpi

Enquanto os concretistas buscavam a forma, Volpi buscava

a cor: ―Ao mesmo tempo em que a cor estritamente superficial da tela de Volpi

lhe confere um caráter moderno insofismável – uma presença simultaneamente

imediata e reflexiva - , um simbolismo virtual a envolve em questões bem diversas,

um arcaísmo.‖ (NAVES, 1996, pag 181)

Alfredo Volpi Casas e Barcos, 1950

têmpera sobre tela, c.i.d. 55 x 38 cm, Col. Particular

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―(...) Volpi é geralmente considerado um grande colorista e, sem dúvida, a complexidade de suas cores

faz dele um dos maiores pintores brasileiros. Contudo, o uso que faz da têmpera, priva suas cores da presença

afirmativa comum a tantos artistas modernos, para lhe emprestar uma aparência esbatida. O que ocorria com

suas formas, também se dá com as cores: elas adquirem aspecto gasto, como se esses quadros tivessem sido

pintados há muito, ou ainda, como se não fossem obra de um artista individual, e sim tarefa vários artesãos

anônimos, que aos poucos foram acrescentando cores e recortes às telas.― (NAVES, 1996, pag 190)

Ao examinar aspectos da composição, Naves destaca o uso da cor, a difícil

estruturação que permeia o quadro, a harmonia, a técnica e o uso da linha e do figurativo no

fundo. O autor ainda faz uma comparação entre Volpi e van Gogh para demonstrar que a

intensidade colorística de van Gogh requer uma experiência profunda das coisas – em seus

gisrassós, por exemplo, a espessura das camadas de pigmento é a tradução mais exata dessas

imagens que foram talhadas pela mão, embora sejam flores e tenham sido feitas para os olhos.

Contudo a intensidade colorística de van Gogh, afirma Naves, é o indicador seguro de que

sua busca se vê isolada, sem conseguir integração e cumprimento, enquanto que em Volpi

esse isolamento não existe, explicando assim a aparência amena de suas cores. Ou seja, ―nas

pequenas variações de cor, na mudança de ritmo das pinceladas, os quadros ganham

configurações totalmente diversas, irredutíveis a uma espécie de matriz inicial.‖ (NAVES,

1996, pag. 188)

Rodrigo Naves, sobre Tarsila

O crítico destaca que a afirmação de cores e formas

na obra de Tarsila reside em suspender renovadamente sua

atualidade, ou então em comprometer seu tonalismo sutil

com a constituição de imagens estranhas e primordiais,

unindo gênese a formas arquetípicas, nacionalmente

arquetípicas.

Naves ressalta que as cores leves da infância

precisam dar corpo a seres ímpares que simbolizem a

origem diferenciada de nossa cultura. Assim, explica a

Tarsila do Amaral A Caipirinha , 1923

óleo sobre tela, c.i.d., 60 x 81 cm

Coleção Particular

ingenuidade e a singeleza dos tons que tingem de doçura os bichos arredios. (NAVES, 1996)

Page 20: Monografia   licenciatura em artes

18

Anita Malfatti.

A Boba, 1915-1916

óleo s/ tela, c.i.e. 61 x 50,6 cm

Coleção MAC da USP

Rodrigo Naves, sobre Anita Malfatti

A artista mantém o expressionismo do início de sua

carreira. A gestualidade marcada sabe até onde pode ir e

evita sumeter os quadros a seu movimento. As cores se

debatem dentro de contornos padronizadamente

deformados, afirma o crítico. Para ele, a alienação (na

obra ―A boba‖) e o isolamento (nas obras ―Uma

estudante, A mulher de cabelos verdes‖) antecedem a

expressão pictórica da artista. (NAVES, 1996)

José Roberto Teixeira Leite, sobre Flávio

de Carvalho

Leite (1998) explica que o artista escolhe a cor

predominante para iniciar o retrato e a coloca numa

volúpia de formas sobre a tela. As outras cores se

sucedem pelo grau de importância, capaz de formar a

expressão e, pelo equilíbrio necessário ao conjunto.

Uma a uma as cores são colocadas. Nesta altura,

a sensação de equilíbrio é equivalente à expressão.

Assim, cada cor é uma sensibilidade e uma

sugestionabilidade para o artista, um mundo à parte.

Flávio de Carvalho.

Retrato do Prof. Pietro Maria Bardi,

1964. óleo sobre tela. MAB – FAAP

Gonçalo Ivo

Mesa de Bilhar Africana , 2001

aquarela , 37 x 31,5 cm - Acervo Banco

Itaú, São Paulo, SP

Fernando Cochiarale, sobre Gonçalo Ivo

Cochiarale destaca a cor como substância

essencial da visualidade e, portanto, descolada de

qualquer referente real na obra de Gonçalo Ivo,

impondo-se como a principal questão poética de sua

obra.

O crítico esclarece que a autonomia da cor na

obra do artista é fruto de um processo de conquistas

que terminou por constituir um campo de investigação

e experimentação pictórica alternativo à posição do

naturalismo clássico. (COCHIARALE, 2008)

Page 21: Monografia   licenciatura em artes

19

Paulo Sérgio Duarte e Roberto Conduru, sobre Eduardo Sued

A pintura de Eduardo Sued, artista considerado como um dos inventores da paleta

contemporânea do país, foi analisada por Paulo Sérgio Duarte e Roberto Conduru, a convite

do CCBB.

Duarte, crítico de arte e professor, ressalta a intensidade das cores, em formidável

conjunção com o tumulto das pinceladas. As cores, na pintura de Sued, atuam como vetores

de força na construção interna da pintura, explica.

Já na análise de Conduru, historiador de arte

e professor do Instituto de Artes da UERJ, a cor é

relação para Sued e relacionar cores significa

estruturar, embora com total liberdade da cor. Na

pintura desse artista, as cores são absolutamente

abstratas, não são do mundo, pois constituem um

mundo à parte.

Sued domina as passagens sutis, explorando

as gamas de uma mesma cor, e também as

justaposições de impacto, seja em diálogos de tons

Eduardo Sued

Sem Título , 1971

acrílica sobre tela

105 x 136 cm

fortes seja nas contraposições de delicadas modulações tonais a acordes intensos ou, ainda, na

conjunção de opacidades, brilhos e estridentes choques metálicos, de acordo com o crítico.

Sua composição cromática é construída por contrastes inusitados e intensos, demonstrando

que o artista tem a capacidade de instaurar a cor.

De fato, afirma Conduru, o que é mesmo raro e distingue o trabalho de Sued é como o

artista consegue a presença da cor, quase palpável. A tensão cromática eleva-se no

contraponto das diferenciações tonais ao embate com cores diversas, alcançando uma

fisicalidade que atinge o espectador visceralmente. (BRITO, DUARTE e CONDURU, 2004).

Edla van Steen, sobre Volpi, Ianelli e Weissman

Em entrevista com artistas, Steen (1997) fez um registro de suas opiniões sobre o

processo de construção de suas obras, com especial destaque para o uso que fazem da cor.

Segundo Steen (1997), alguns percebem, em época diferentes, que o problema central

da pintura é a cor.

Page 22: Monografia   licenciatura em artes

20

Arcangelo Ianelli.

Olaria, 1947

óleo sobre tela , 38 x 55 cm

Na obra de Ianelli, a forma, a cor, o ritmo,

a luz, o equilíbrio, a sensibilidade e o conteúdo

pictórico precisam dialogar entre si. O artista

chegou à plenitude, proporcionando-nos, através

da cor, uma espécie de êxtase ou gozo espiritual.

(STEEN, 1997)

Steen (1997) destaca, com relação a Volpi:

― (...) Volpi começou a sintetizar formas, em busca da cor. Para isso, geometrizou a realidade que lhe

estava próxima: casarios, fachadas de casas, festas juninas. Aos poucos, foi retirando o excesso de elementos

desses temas figurativos, buscando a síntese da síntese. Das festas juninas ficaram os mastros e bandeirolas,

numa primeira fase, para, posteriormente, chegar ao ícone, ao signo de todo esse percurso: as bandeirinhas.

Estas são, em verdade, quadrados dos quais Volpi retirou um triângulo de três lados iguais, numa simetria

rigorosa e perfeita, numa série de jogos matemáticos, de arranjos e permutações de cores, daí o lúdico de suas

imagens.‖ (STEEN, 1997, pag. 42)

Nas esculturas de Weissman, o

colorido forte ajuda a delimitar o vazio de

maneira ao mesmo tempo delicada e

penetrante, convertendo em qualidade o

que era apenas quantidade. (STEEN,

1997)

Franz Weissmann

Sem Título , s.d.

Praça da Sé (São

Paulo, SP)

Registro

fotográfico Romulo

Fialdini

Alberto Beutenmüller, sobre Aldir Mendes

O artista vem pesquisando a pintura como quem necessita encontrar sua própria

essência no ato de colorir, procurando manter-se em posição equidistante em relação a dois

grandes artistas: Volpi e Ianelli.

Assim, o crítico analisa que o encontro da forma através da cor encontrado em Volpi e

o geometrismo tonal de planos entrecortados de Ianelli estão também presentes na obra de

Aldir, com a diferença de que o artista vem sendo mais ousado que os dois equilibrados

mestres.

Page 23: Monografia   licenciatura em artes

21

De fato, o risco é a tônica de Aldir, ao criar um

universo que explode e se tensiona constantemente,

pelas cores fortes e superposição de tons

complementares, pela composição e perspectivas

inusitadas. (BEUTENMÜLLER, 1982)

Souza, Aldir Mendes de. Pintura para Pisar nº 2

óleo sobre madeira - 183 x 274 cm

Tiago Mesquita, sobre Cassio Michalany

Cássio Michalany tornou-se conhecido por pinturas

feitas em telas justapostas de diferentes cores, explica

Mesquita (2003).

O artista junta anteparos monocromáticos,

homogêneos e independentes desde a década de 80, como

se parafusasse objetos quaisquer. Suas cores podem ser

fortes, mas sempre se mantêm lisas.

Em cada um dos trabalhos analisados por

Mesquita, há treze cores diferentes que sugerem as

relações mais variadas, porém as cores não se repetem.

Cassio Michalany

Sem Título , 2005

lápis sobre papel, 31 x 34 cm

Seus trabalhos sobre papel sugerem relações de cor que ocorrem além da vizinhança

entre os elementos. O artista não lida mais com áreas homogêneas de cor, mas com

pontuações colorísticas sobre papel. (MESQUITA, 2003)

Paulo Pasta

Sem Título, 1987 -

óleo e cera s/ tela, 170 x 130 cm

Tadeu Chiarelli, sobre Paulo Pasta

Chiarelli destaca a proposta de

direcionamento da obra do artista, enfrentando

diretamente o plano e a cor, criando ritmos e

situações plásticas que desmentem o caráter

recolhido de seus primeiros trabalhos. A pintura de

Pasta, reflete o crítico, impõe-se pelo

monocromatismo radical e pela inscrição do gesto

e da palavra. (PASTA e CHIARELLI, 2006)

Page 24: Monografia   licenciatura em artes

22

José Bento Ferreira, sobre Paulo Pasta

A pintura de Paulo Pasta é construída por meio de um jogo de diferenciações, analisa

o crítico. O que se pode observar na obra como sutilezas na pintura do artista, na verdade

trata-se de compenetrado embate de cor com cor e de tom com tom, resultando na peculiar

experiência de um ofuscamento da forma simultâneo à própria aparição da forma. (PASTA e

CHIARELLI, 2006)

Assim, conclui José Bento:

―o que torna visível o que quer que se veja nessas pinturas é o mesmo que se esconde.‖(FERREIRA,

José Bento, In: PASTA e CHIARELLI, 2006. pag 202.)

Nelson Brissac Peixoto, sobre Marco

Gianotti

De acordo com Peixoto (2007), há uma operação

tectônica na obra de Marco Giannotti, cuja materialidade

está - ainda que possa parecer paradoxal – na cor. A série

―Passagens‖, analisada pelo crítico, é essencialmente

cromática: o observador se defronta com maciças

estruturas coloridas, verdadeiras formas arquitetônica, nas

quais se abre uma fresta, ou seja, uma possível passagem.

Assim, a cor reveste uma extraordinária fis

icalidade e organiza o espaço. É palpável, segundo o

crítico, e tem peso – emergindo da tela para se afirmar

como volume, povoando o ambiente com estruturas

arquitetônicas. (PEIXOTO, 2007)

Marco Gianotti

Sem Título, 2003

Têmpera s/ tela, 170 x 150 cm.

Coleção Hilda Araújo, SP.

A pintura de Giannotti, assentada numa visão Goethiana, resgata a natureza retiniana,

física, da cor, destaca Peixoto. A cor, na pintura do artista, se assume como luz, no embate

com a escuridão. A cor vem de dentro do quadro, é elemento estruturador. A tensão, na

verdade, se dá em dois planos: na variação cromática e na alteração das escalas. (PEIXOTO,

2007)

Agnaldo Farias, sobre Delson Uchôa

A poética de Uchôa sempre se pautou no sumo da cor, a qual aparece quando as cores

se tocam e se atritam, vibração que se dá por contraposição, analisa o crítico.

Page 25: Monografia   licenciatura em artes

23

Delson Uchôa

Flamboyant. Acrílico sobre lona, 240

x 280 cm. 1996/2000

Os fios de cor em sua pintura – assim podem ser

chamados em razão de grande parte dela ser criada por

pigmentos diluídos em resina acrílica e aplicados

linearmente – têm espessura de veias sanguíneas, como se

conservassem algo dos gestos que os fabricaram. São

irregulares, porém com oscilação suave que a máquina é

incapaz de alcançar. (FARIAS, 2009)

2.2 A voz dos artistas

Delson Uchôa

―Então, essa experiência luminosa dentro do ateliê começou assim, muito natural, a ponto de eu evitar

conversar sobre a temperatura, sobre o contraste das cores, sobre as cores antagônicas, sobre isso e aquilo, e

comecei a – e foi onde mais paramos – adjetivá-las, para humanizá-las. Então, era a alegre luz da manhã, a

austera luz do meio-dia, era a saudosa luz da tarde, que dramatiza o mundo, propicia os namoros. E, depois,

dentro dos meus quadros e dentro do ambiente já todo pintado, paredes, tetos e toda aquela coisa descolando,

descolou aqui, entrou uma cor nova aqui, mas sempre estava coberto de pigmento, sabe? Aí eu consigo perceber

a luz calorosa. A luz orvalhada. Então, já não conversava mais sobre luz, como um livro de física tentando

explicar a luz.‖ (FARIAS, 2009)

Flávio de Carvalho

―Lidar com cores exige grande sensibilidade filosófica e grande desejo de contato com o mundo.

Assim, não há lugar para começar um retrato. Depende da expressão dominante. Às vezes, inicio o trabalho

pelo dedo da mão. As cores colocadas nada têm a ver com a visão fotográfica, mas são cores que aparecem por

livres associações de idéias com a expressão dominante.‖ (LEITE, 1998)

Arcângelo Ianelli

Diz o artista a Steen (1997):

―A cor é um elemento formal, fundamental. Expressa beleza sem precisar ser decorativa. Emana

vibrações, luz, movimento e sensualidade. A cor é suficiente para construir e expressar o nosso universo (...).

Difícil é saber como usá-la. Ela forma os sentidos que constituem nossa sensibilidade‖ (pag. 30-31)

― – O que é um colorista?

- Colorista não é aquele que dispõe as cores arbitrariamente ou usando receitas. O verdadeiro

colorista é aquele que corre o risco de harmonizar cores definindo vibrações e inventando cromatismo.‖

Page 26: Monografia   licenciatura em artes

24

- Realmente, em Ianelli, sente-se que a cor cria a forma. É no relacioamento entre elas que se adivinha

a construção do quadro, os limites cromáticos determinando a composição: uma cor respeitando e valorizando

o espaço da outra. ― (STEEN, 1997, pag. 52)

―Qualquer cor se transforma com uma determinada luz. (...) Enganam-se os que julgam que um

quadro colorido é aquele que contém variedades e acúmulo de cores dominando uma superfície mal disposta. A

sutileza e a elaboração da própria cor, quando criada pelo verdadeiro artista, poderá conter uma riqueza

infinita de matizes dentro de um só azul ou de um só cinza – pensa Ianelli.‖ (STEEN, 1997, pag. 32).

Aldir Mendes de Souza

Cada obra de Aldir é uma aventura de cor. O ritmo é criado por meio da repetição,

cabendo ao espectador embarcar numa cor e viajar através do tempo. Aldir sintetiza:

―Eu pinto a cor. O que me interessa é a cor, combinar e harmonizar a cor. O pouco que sei, aprendi

pintando.‖ (STEEN, 1997, pag. 32).

―A cor assumiu o papel principal nesse cenário, embora a linha colorida ainda divida espaços e a

perspectiva seja em diagonal e para diferentes pontos de fuga.‖ (STEEN, 1997, pag. 62).

Outro fragmento da fala de Aldir:

―- A fase atual da minha pintura, que eu chamo de alegoria da cor, tem origem na paisagem rural. A

alegoria da cor resulta de inúmeras veladuras e superposições cromáticas de efeitos imprevisíveis. O desenho é

determinado pela trajetória da primeira cor, a posição das outras depende da que já foi pintada.‖ (STEEN,

1997, pag. 91)

Maria Bonomi

―- Por que você começou a imprimir com

cores?

- Devo confessar que a cor, para a minha

gravura, demorou muito a surgir. Talvez porque

abrandasse muito a linguagem gráfica mais pura. A

cor me parecia algo a mais para a imagem final

ganhar toda a força.

Mais uma possibilidade incorporada à expressão.

No entanto, até hoje, concebo as imagens sempre

em branco e preto, ou em cheios e vazios, ou massa

e luz, como você preferir. Só na fase final da

imagem entro com a cor.‖ (LISPECTOR, 2007,

pag 176).

Maria Bonomi

O Louco , dia e mês

desconhecidos 2000

litogravura

60 x 60 cm

Page 27: Monografia   licenciatura em artes

25

Iberê Camargo

Iberê Camargo

Vórtice II , 1973 –

óleo sobre tela, c.i.d. - 102 x 143 cm

Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ (RJ)

―Diga-me: até que ponto uma cor exprime, e

só ela, aquilo que o pintor está sentindo? Por que

exatamente o marrom e depois em seu lugar o

vermelho?

- Na minha opinião, a cor vale no seu

contexto, nas suas relações. Enquanto que uma cor

isolada será fria ou quente. E a intensidade de sua

medida é também estabelecida no confronto com

outras cores.‖ (LISPECTOR, 2007. pag. 212)

Djanira

―Viagem, de Djanira

Eu vi nas cores de marfim

um elefante selvagem

que viera das índias

oferecendo-me caminhos

onde poderia

perigosamente

fechar meus olhos

e partir, partir...

mas era pecado

E viajei no pecado.

ao infinito viajei

e perdi-me no tempo

que cerca pecado.‖ (LISPECTOR, 2007, pag. 200/201 )

Beatriz Milhazes

Beatriz Milhazes diz que somente um "bom duelo" de cores a faz começar - e terminar

- suas obras. (estadao.com.br/cultura, 2007)

"Mesmo que eu tenha imagens na cabeça, é o click com a cor que me motiva. Nessa tela, Love, foi a cor

do linho que me estimulou a criar os duelos cromáticos", afirma a artista carioca.

Page 28: Monografia   licenciatura em artes

26

A artista ainda afirma:

"Sem a cor a imagem não acontece. Quando

a sinfonia das cores não funciona, a sedução acaba."

É na questão cromática, no "conflito"

de cores - e ainda de tantos elementos - que

tanta coisa acontece ao mesmo tempo em sua

obra.

"Tenho dificuldade de ver esse caráter

sensual e de volúpia que as pessoas vêem na minha

obra. Não trabalho a questão da sedução, sou pintora

abstrata, me considero artista geométrica", ela diz.

"Acho até que tudo é muito perturbador, tem muito

excesso. Não é fácil conviver com os meus trabalhos",

Beatriz Milhazes

Love, 2007

Acrílica s/ tela. 196 x 248 cm

afirma ainda a artista.

Antonio Poteiro

Poteiro, Antonio

Arca do Araguaia , 1983

óleo sobre tela, c.i.d. 90 x 140 cm

"Antonio Poteiro é um sutil harmonizador de

formas e de cores e um não menos sutil comentarista

do grande teatro do mundo. Ele conta ou inventa

fábulas, traça parábolas, troca-lhes o sentido. Nas

obsessivas variações ornamentais que cobrem a pele

das suas cerâmicas e das suas pinturas, a irreverência

das situações e o rigor das imagens concretizam,

agora, plasticamente aquela atividade que ele

sonhava para si - a de poeta e de cantor.‖

(POMAR, 1987)

Gonçalo Ivo

―No que concerne à questão cromática, vou

sendo levado por todas as experiências sincrônicas.

Como no pequeno texto de Paul Klee em seu diário do

norte da África, a cor me possui, sou pintor. Para

mim cada artista é um elo em uma grande cadeia. Sou

pintor por convicção, não faria outra coisa.‖

(COCHIARALE, pag. 109)

Gonçalo Ivo. Pano da Costa.

2009. Têmpera sobre tela. 96,5 x 129,5 cm

Page 29: Monografia   licenciatura em artes

27

Ana Beatriz Barroso

―(...) Trata-se aqui de um devaneio da beleza

flamejante. Forma-se uma flor de fogo, lume de

salamandras. O fogo perturba os limites. Veja, fora e

dentro se alternam: ora o interior da chama é azul,

ora é amarelo; ora laranja e verde compõem o

exterior, ora é dentro que os encontramos. Nesta tela,

ao contrário da idéia de marco, as divisórias, apesar

de nítidas, confundem-nos. Envolvem. (BARROSO,

2008, pag. 18)

Ana Beatriz Barroso

Chama, 2005

óleo sobre tela, 100 x 60

cm

Wassily Kandinsky

―Todos sabem que o amarelo, o laranja e o vermelho dão e representam idéias de alegria, de riqueza.‖

(Delacroix). (KANDINKSY, 1996, pag 73.)

―O pintor não deve educar somente os olhos, é a alma, sobretudo, que ele deve tornar capaz de pesar a

cor em suas sutis balanças, de desenvolver todos os seus meios para que,no dia do nascimento de uma obra, ela

não esteja apenas em condições de receber impressões exteriores (e naturalmente, por vezes, de suscitar

impressões interiores), mas também de agir como força determinante.‖ (KANDINSKY, 1996, pag. 110)

―É belo o que provém de uma necessidade interior da

alma. É belo o que é belo interiormente.‖ (KANDINSKY,

1996 , pag.128)

Wassily Kandinsky

Composição Clara, 1942

óleo s/ tela, 73.0 x 92.3cm

Doação Francisco Matarazzo Sobrinho

Paul Klee

―A cor me possui. Não preciso ir à procura dela. Ela me possui para sempre, sei disso. É esse o sentido do

momento feliz: eu e a cor somos uma coisa só. Sou pintor.‖(KLEE, 2001, pag 30)

―(...) eu gostaria de definir as cores como sendo qualidades. (...)

A cor é, em primeiro lugar, qualidade. Secundariamente, ela é peso, pois não tem apenas um valor

cromático, mas também um valor luminoso. Em terceiro lugar, ela é medida, pois além dos seus valores possui

ainda determinados limites, sua área e sua extensão, coisas que podem ser mensuradas.

Page 30: Monografia   licenciatura em artes

28

O tom de claro-escuro é peso em primeiro lugar

e, nos limites que definem sua extensão, ele é

secundariamente medida. A linha, por sua vez, é

apenas medida.

Assim, usamos três diretrizes como ponto de

partida para nossa consideração. As três possuem um

ponto de interseção no terreno da cor pura, duas delas

no do puro claro-escuro, e apenas uma ainda se

estende ao terreno da linha pura.‖ (KLEE, 2001, pag.

56)

Paul Klee

Southern (Tunisian) Gardens, 1919

Watercolor, 9.5 x 7.5 in. Coll. Heinz Berggruen, Paris

Vincent van Gogh

―Hoje voltei a me dedicar à tarefa. Meus olhos ainda

estão cansados, mas enfim, tive uma idéia nova e este é o

croqui. Desta vez, é simplesmente meu dormitório; só que a cor

deve predominar aqui, transmitindo, com sua simplificação, um

estilo maior às coisas para sugerior o repouso ou o sono.

A visão do quadro deve descansar a cabeça ou, mais

além, a imaginação. As paredes são de um violeta pálido. O

chão é de quadros vermelhos. A madeira da cama e das

cadeiras são de um amarelo de manteiga fresca; o lençol e os

travesseiros, limão verde muito claro. A colcha é vermelha

escarlate. A janela, verde. O lavatório, alaranjado; a cuba,

azul. As portas são lilases.

E isso é tudo – nada mais neste quarto com os postigos

fechados. O quadrado dos móveis deve insistir na expressão de

repouso inquebrantável. Os retratos na parede, um espelho,

uma garrafa e algumas roupas. A moldura – como não há

branco no quadro – será branca‖. VAN GOGH. 2007, pag 66).

Vincent van Gogh.

Quarto em Arles. 1889, óleo sobre tela, 57,5

x 74 cm. Musée d´Orsay. Paris, França

Page 31: Monografia   licenciatura em artes

29

Paul Gauguin

Paul Gauguin.

O dia dos deuses (Mahana No Atua). 1894, óleo sobre

tela, 68,3 x 91,5cm. Instituto de Artes de Chicago

―Como a cor é em si mesma enigmática nas

sensações que nos propicia, logicamente só podemos

empregá-la enigmaticamente sempre que dela nos

servirmos.‖ (GAUGUIN, 2007, pag 64)

―Reflitam também sobre o papel musical que a

cor irá exercer daqui por diante na pintura moderna.

A cor, que é a vibração tanto quanto a música, é

capaz de alcançar aquilo que é mais universal e, ao

mesmo tempo, mais evasivo na natureza: sua força

interior.‖ (GAUGUIN, 2007, pag. 54)

Page 32: Monografia   licenciatura em artes

30

3. IDENTIFICAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS BEM-SUCEDIDAS EM ARTE-

EDUCAÇÃO

3.1 Uma Experiência Gaúcha

A experiência registrada por Ivone Richter, estimula educadores comprometidos em

incentivar o estudo do legado artístico na compreensão não só da história, mas também da

própria identidade pessoal. A pesquisadora desenvolveu seu trabalho em forma de pesquisa

participante e decidiu utilizar abordagens etnográficas, com o objetivo de realizar descrição

êmica1 e análise cultural, ou seja, descrever a partir da visão dos sujeitos (perspectiva interna)

e compreender as verdades culturais que estão subjacentes a um comportamento observado.

(RICHTER, 2003)

Richter procurou aprofundar seu olhar através de outros olhares, pois para ela, o

ensino da arte na escola precisa preservar a linha de encantamento do universo estético das

crianças, para poder não somente contextualizar o ensino da arte em si, mas também

contextualizá-lo em relação ao meio cultural e estético em que as crianças estão inseridas.

Com base nesses princípios, desenvolveu uma pesquisa de campo em parceria com

Rachel Mason sobre estética feminina do cotidiano, com a participação da fotógrafa inglesa

Iona Cruickshank, cujo universo foi concentrado no papel da mulher como disseminadora e

promotora da herança cultural e estética, por meio de seu trabalho na família.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Aracy Barreto Sacchis, localizada no

bairro Itararé, na cidade de Santa Maria, RS, foi escolhida como foco de estudo,

compreendendo o espaço escolar, entendido como ambiente estético, físico e cultural da

1 O termo ―êmica ― implica o estudo dos comportamentos, valores, costumes e crenças de cada cultura como

forma de se explicarem as condutas sociais prevalentes. (FERREIRA e outras, 2002)

Page 33: Monografia   licenciatura em artes

31

escola e também o espaço das famílias de alunos da escola, incluindo em especial as relações

sociais estabelecidas entre os atores desses dois espaços.

O projeto teve por objetivo aproximar o ensino da escola do universo cultural dos

alunos, concentrando sua proposta no ensino das artes visuais e no universo estético presente

no cotidiano das famílias ligadas à escola. Para a sua implementação, foram selecionadas

mulheres que realizassem algum tipo de atividade reconhecida como esteticamente válida e

interessante, utilizando os conceitos de ―fazer especial‖ e de ―valor estético‖ para a escolha

dessas mulheres.

Foi realizada a investigação das origens étnicas dos alunos envolvidos diretamente no

projeto, cuja definição foi feita juntamente com os professores de educação artística e

professores de outras disciplinas, com a escolha de alunos da 5ª série da escola. A composição

étnica desses alunos demonstrou existir alunos de origem portuguesa, espanhola ou portenha,

italiana, alemã e oriental.

Também juntamente com as professoras optou-se por selecionar dentre as mulheres

portadoras de habilidades especiais aquelas que correspondessem às origens indígena (havia

uma aluna filha de pais indígenas), asiática, negra e européia e que tivessem alguma relação

com a escola, embora não precisassem estar diretamente relacionadas aos alunos escolhidos.

O trabalho com as mulheres selecionadas foi desenvolvido em forma de entrevistas

para coleta de depoimentos orais e registros visuais delas próprias e de seu ambiente familiar,

com especial importância ao registro fotográfico, com a utilização da perspectiva êmica. Com

base nessas entrevistas foi delineado o retrato das mulheres selecionadas.

Na verdade, Richter tratou do universo das cinco mulheres, seu ambiente, seu trabalho,

seu pensamento e a estética do seu cotidiano: a realidade cultural que o aluno leva para a

escola e com a qual o professor vai lidar, uma realidade multifacetada, composta por várias

raças e etnias.

Por meio de fotografias feitas pelas próprias mulheres que participaram do processo, a

pesquisa detectou os padrões de beleza e do fazer especial de cada uma, uma necessidade do

―bem feito‖ relacionado ao processo de ―atribuir valor‖.

No contexto da pesquisa, considerou-se que os objetos produzidos no cotidiano, sem

intenção de produzir arte, mas com intenção estética definida de ―fazer especial‖, podem e

devem ser considerados objetos artísticos. Na verdade, investigar o conceito de arte

apresentado por essas mulheres foi um dos principais interesses da pesquisa, percebendo que

cada uma desenvolveu conceitos sobre arte que tinha alguma relação com sua própria cultura.

Page 34: Monografia   licenciatura em artes

32

A intenção, com esse estudo, foi mostrar que o fazer especial das mulheres na família

e a criação de obras de arte são aspectos de um mesmo processo estético. Ademais, o

levantamento fotográfico demonstrou que no espaço escolar existe muito mais consciência

étnica do que havia sido pensado inicialmente e que, pertencer a diferentes grupos étnicos, de

gênero, de classe, faixa etária e sexualidade constitui o sujeito.

A autora comprovou, com sua pesquisa, que ao focalizar a atenção nos assuntos e

idéias nos quais os alunos estão realmente interessados e que são relevantes no contexto de

sua vida, a arte se torna um meio vital para refletir sobre a natureza da sociedade e da

existência social. Por isso, configura-se necessário que o professor conheça as práticas sociais

e culturais vivenciadas pelos alunos em suas famílias e a educação intercultural como prática

em sala de aula.

A abordagem êmica também foi utilizada com os alunos, os quais foram solicitados a

fazer um máximo de 6 fotos, incluindo 3 fotos diferentes de coisas que consideravam bonitas

ou especiais, 1 foto mostrando alguma coisa feita por eles, 1 foto deles próprios em um local

favorito ou especial e 1 foto de pessoas ou animais. Essas fotos mostraram uma grande

diversidade de ambientes e uma grande consonância entre os motivos escolhidos pelas

crianças, as quais foram alvo de leitura pelos próprios alunos, em trabalho de grupo.

A pesquisa buscou três níveis de leitura: descritivo, interpretativo e estético,

propiciando uma discussão, em sala de aula, inclusive sobre os aspectos da estética do

cotidiano presentes na comunidade.

Como resultado final, foi realizada uma exposição ao final do ano letivo, sendo que

alguns origami enfeitaram uma árvore de natal, cuja montagem contou com a participação dos

alunos, os quais demonstraram conseguir mergulhar na cultura estudada, atingindo o nível de

infusão que lhes possibilitou a compreensão da própria cultura. Os alunos também

conseguiram realizar a manufatura de objetos em tecelagem com perspectivas de diferentes

etnias (enfocando as características especiais de aspectos da cultura gaúcha, pré-colombiana e

de povos indígenas brasileiros) atingindo o nível de ―transformação‖. Já o nível de ―ação

social‖ foi parcialmente alcançado, quando as crianças estudaram arte de diferentes etnias

presentes em seu meio social.

Essa pesquisa questionou a viabilidade de abordar a questão da multiculturalidade na

educação do nosso país. Foi com a montagem de uma instalação que a autora procurou

responder às questões da pesquisa, inicialmente no cotidiano familiar, para depois concretizar

sua montagem na escola, ao longo de um semestre. Na verdade, esta instalação foi uma

metáfora de um ensino intercultural capaz de construir algo novo, com a mostra de mulheres

Page 35: Monografia   licenciatura em artes

33

em seu cotidiano, mulheres fortes que, com seus fazeres especiais, colorem a vida tornando-a

especial.

A estratégia adotada pela autora, por meio da estética, serviu para mostrar que é

possível despertar uma concepção de mundo e que a multiculturalidade é vista como um valor

e que a aceitação do que é diferente como uma demonstração de riqueza cultural pode ser

alcançada, por meio da compreensão de diferentes estéticas e culturas. A pesquisa demonstrou

que a diversidade cultural dessas famílias, os valores coletivos, característicos de origens

étnicas diferenciadas, apareceram aliados a concepções de mundo em que as construções

individuais se aliam às coletivas, no sentido de formar uma individualidade própria.

Assim, um aspecto considerado pela autora foi a mudança e a ampliação do conceito

de arte usualmente trabalhado na disciplina educação artística, o qual passou a incluir a arte

de outras culturas, seu contexto, não sofrendo hierarquização em termos de erudito e popular.

Ao abordar a questão da pluralidade cultural no Brasil, a autora não se limitou ao estudo da

riqueza da diversidade cultural no país, questionando também o problema da desigualdade

social e da discriminação (RICHTER, 2003)

3.2 Uma Experiência em Brasília

Por ocasião da realização dos Estágios Supervisionados 1 e 2, observamos o trabalho

realizado em arte-educação pela Professora Nete Monfort, na Escola Classe nº 01 do Guará,

com alunos do Ensino Médio.

Para desenvolver os conteúdos em sala de aula, a Professora de Artes utiliza materiais

didáticos, livros próprios e consultas à internet, para abarcar tanto as aulas teóricas como as

práticas. Nas aulas teóricas, utiliza vídeos, DVDs, adota o PowerPoint para apresentação de

slides e imagens, usa a sala de informática para pesquisa na internet, adota o livro História da

Arte, de Graça Proença e, quando esse material é insuficiente para a aprendizagem dos alunos,

prepara apostilas complementares para os alunos.

Nas aulas práticas, a Professora de Artes distribui orientações para a elaboração de

painéis e cartazes, ensina técnicas de desenho, de pintura, de modelagens diversas, além de

fornecer orientações para o uso dos materiais necessários para cada prática, quaisquer que

sejam as atividades.

No período observado, os conteúdos abordados nas aulas compreenderam a História

da Arte, os elementos de linguagem visual, a análise e leitura de imagens e técnicas para as

atividades práticas.

Page 36: Monografia   licenciatura em artes

34

Para as atividades práticas, a Professora procura sugerir materiais que não onerem os

alunos, porém sem deixar de mostrar que os trabalhos artísticos podem ser executados com

materiais baratos e simples, sem prejuízo da excelência, qualidade e beleza.

Alguns materiais artísticos foram conseguidos junto a empresas, por meio de

iniciativas da Professora, com vistas à execução de alguns trabalhos específicos, tais como a

produção de mosaicos, os quais foram instalados nos muros da Escola.

A cada tarefa, a Professora procura utilizar

materiais diversos, incitando os alunos a buscar novas

alternativas. Em conversas com a Professora durante

intervalos de aula, ela deixou claro que os alunos sentiam-

se muito estimulados a realizar trabalhos práticos, quase

sempre com resultados surpreendentes, se considerada a

proposta a eles feita. Esse resultado é fruto do empenho da

Uso de pigmentos naturais

professora tanto na orientação quanto na divulgação dos trabalhos realizados pelos alunos, os

quais são expostos em painéis instalados na parte interna da escola.

A prática constante de expor os trabalhos dos alunos eleva sua auto-estima e estimula-

os a produzir trabalhos cada vez melhores, gerando um círculo positivo de produção e

exposição.

Durante o período do Estágio, a professora organizou uma Exposição deAlunos na

sede da Embrapa, por ocasião da realização do Fórum Ciência e Sociedade 2009, que contou

com a participação dos alunos do Ensino Médio da Escola, proporcionando-lhes satisfação em

ver seu trabalho exposto e admirado por alunos de outras escolas.

Exposição na Embrapa, em 22 de junho de 2009.

As aulas observadas, em todos os anos do Ensino Médio, é de alta qualidade, tanto nos

aspectos teóricos quanto nos práticos. A Professora procura utilizar de todos os meios capazes

de gerar interesse no aluno, incluindo os recursos audiovisuais citados anteriormente e uso de

informática (internet para pesquisa em sites de arte e mesmo para demonstrar programas de

Page 37: Monografia   licenciatura em artes

35

arte), visita a exposições, exibição de filmes artísticos, projetos de outras instituições em arte,

e até mesmo do Orkut, espaço virtual de relacionamento que ela costuma utilizar para

conversar com alunos e esclarecer eventuais dúvidas.

A temática da aula segue a determinação dos Parâmetros Curriculares Nacionais e as

orientações para o PAS-UnB. A temática do bimestre e de cada aula individualmente é

previamente informada em todas as turmas, assim como os trabalhos, exercícios e provas a

serem realizados. A Professora sempre retoma o assunto tratado na aula anterior, continua o

desenvolvimento do tema e informa o que será visto na próxima aula, ―amarrando‖ o

conteúdo e as tarefas a serem executadas para cumprir o planejamento, sempre relembrando

as datas de cada tarefa e se oferecendo para esclarecer dúvidas.

Uma vez por ano, a Professora de Artes organiza a Semana de Arte Moderna,

envolvendo toda a Escola em trabalho interdisciplinar, em local previamente selecionado,

para que os familiares e amigos dos alunos possam assistir ao evento. Esse evento exige

grande dedicação dos professores e funcionários da Escola no que tange a orientação para os

textos e músicas a serem apresentados, assim como para a organização do ambiente, da

iluminação, da sonorização e do figurino dos alunos, com apoios diários aos ensaios.

Para atingir seus objetivos, a Professora sabe ser amiga, colaborativa, compreensiva,

incentivadora e, ao mesmo tempo, firme e exigente, séria e hierarquicamente superior quando

necessário: atitudes que realçam sua liderança em sala de aula.

Sabe motivar os alunos, sem deixar de ser exigente quanto ao cumprimento de prazos

de entrega de tarefas e quanto à qualidade e ao capricho com os quais os trabalhos são feitos.

Para cada trabalho artístico a ser desenvolvido, dentro de tema proposto, a Professora solicita

a realização prévia de um estudo ou projeto, os quais são discutidos em sala de aula, visando

ao alcance do resultado objetivado na proposta feita pela Professora no momento da

realização final do trabalho.

A Professora é pontual, atenciosa, dedicada, equilibrada, criativa e possui um jeito

especial de ensinar Arte. O grau de dificuldade para a realização de cada trabalho é

apresentado aos alunos, e os avanços por eles obtidos são ressaltados à medida que os estudos

ou projetos são executados, incentivando a melhoria do acabamento e da qualidade de sua

apresentação, proporcionando aos alunos a chance de, inclusive, melhorar a nota quando ele

se propõe a aprimorar o acabamento de seus trabalhos.

A Professora atende bem aos alunos fora da sala de aula, em encontros nos corredores

da escola ou mesmo na sala dos professores, repetindo orientações para execução de tarefas

com paciência e clareza e oferecendo sugestões.

Page 38: Monografia   licenciatura em artes

36

4. METODOLOGIA

A idéia de se fazer um material didático surgiu da constatação da escassez de materiais

para professores e alunos sobre o estudo das cores, com a identificação prévia, na legislação

brasileira (Anexo 1), da determinação de se ensinar artes em todos os níveis de ensino .

Assim, partimos para a realização de pesquisa sobre os materiais teóricos e poéticos

existentes relacionados ao estudo das cores, com a identificação de livros, filmes, poesias,

músicas, vídeos, entre outros.

Alguns dos livros identificados podem ser utilizados pelos professores para se reportar

às teorias das cores, porém quase não contêm propostas de exercícios que proporcionem a

compreensão das teorias. Outros livros podem ser usados por alunos das primeiras séries para

a iniciação no estudo das cores, os quais utilizam estórias envolventes para abordar o tema.

Diversos vídeos foram encontrados na página da TV Escola na internet, os quais

abordam o estudo das cores a partir da análise de obras de artistas específicos. Verificou-se

que grande parte dos vídeos direcionados aos alunos do Ensino Fundamental, no entanto,

deveriam ser redirecionados para alunos de gradução, pois apresentam questões complexas de

análise da imagem e que estão mais direcionadas aos alunos de gradução em artes.

Vídeos caseiros, porém de boa qualidade, também foram encontrados em buscas em

diversos sítios na internet, principalmente no You tube, e que podem ser utilizados em sala de

aula por professores. A linguagem é simples, porém eficaz para ser levada aos alunos,

algumas imagens são instigantes e atraem a atenção do espectador, o que facilita a

compreensão de conceitos e, consequente, sua aprendizagem.

Por outro lado, é rico o repertório de poesias, músicas e filmes em que as cores são

tema abordado pelos artistas, os quais podem enriquecer e ilustrar o estudo das cores em artes

visuais.

Assim, propomo-nos, no âmbito deste Trabalho de Conclusão de Curso, a apresentar a

estrutura de material didático sobre o estudo das cores no contexto escolar, conscientes de que

Page 39: Monografia   licenciatura em artes

37

o tempo de preparação do material didático irá transpor o período previsto para a realização

deste TCC.

A estrutura do material ora proposto apresentará o conteúdo a ser estudado ano a ano e

as expectativas de aprendizagem, abarcando todo o ensino fundamental e o ensino médio. Por

sugestão da professora orientadora, a qual já contava com um Ambiente Virtual de Estudos,

preparamos a estrutura do material para ser veiculado no meio virtual, facilitando o acesso de

professores e alunos, eliminando custos de impressão e de distribuição do material.

A idéia, na verdade, consistiu em incluir o estudo das cores em um Ambiente Virtual

de Estudos Cromáticos, com proposta construída a partir da abstração da realidade do estudo

das cores, articulada a um conjunto de saberes e às riquezas culturais e poéticas do Brasil,

permeada pela mutiplicidade e diversidade cultural, visando a despertar a sensibilidade do

aluno.

A ―Escola de Cores‖, como denominamos nosso ambiente, observará também, com

muito rigor, o estabelecido na legislação brasileira (Anexo 1), examinando as determinações

contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais e, em nível local, as Orientações Curriculares

para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio nas escolas do Distrito Federal quanto ao

estudo das cores.

Para não conter apenas a determinação legal, já de conhecimento dos professores de

artes, a proposta incluirá a sugestão de materiais teóricos e poéticos ao professor e ao aluno,

visando a facilitar o acesso a materiais diversos que possam servir de referência para aulas de

artes visuais.

Page 40: Monografia   licenciatura em artes

38

5. PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ESTUDO DAS CORES NO

CONTEXTO ESCOLAR

A presente proposta constitui-se na elaboração de estrutura de material didático sobre

o estudo das cores, utilizando o meio virtual, tanto para divulgação das sugestões ora

elaboradas como para recebimento de contribuições de professores, alunos e pelo público

interessado no estudo das cores.

A Proposta constitui-se de orientações fundamentadas na legislação educacional

brasileira para cada ano do Ensino Fundamental e, futuramente, do Ensino Médio (Anexo 1),

com sugestões teóricas e poéticas que podem ser utilizadas nas aulas de artes visuais.

Para conhecer minha Proposta, acesse o endereço a seguir:

http://corescolar.blogspot.com

Page 41: Monografia   licenciatura em artes

39

6. CONCLUSÃO

A presente proposta de elaboração de material didático sobre o estudo das cores no

contexto escolar foi idealizada após constatação da escassez de material didático para apoiar

as aulas de artes visuais, exigindo do professor e do aluno esforço extra para a identificação

de materiais que podem ser utilizados nas aulas de artes visuais.

Minha proposta original de construir uma estrutura do material didático, no campo do

estudo das cores, foi redirecionada para a sua inserção no ambiente virtual por sugestão da

professora orientadora, a qual possui grande experiência na área, proporcionando-me a

oportunidade de inserir-me em área com a qual possuía relativa familiaridade no último

semestre do curso de Artes Plásticas.

O material foi elaborado com respaldo na legislação educacional vigente (Anexo 1),

com especial destaque para os conteúdos previstos e as respectivas expectativas de

aprendizagem para cada ano do Ensino Fundamental, todos contidos nas Orientações

Curriculares para as escolas públicas do Distrito Federal, acrescida da inclusão de sugestões

de materiais teóricos e poéticos, nos âmbitos da produção, fruição e contextualização.

A identificação de materiais teóricos e poéticos para cada ano do Ensino Fundamental

e do Ensino Médio é tarefa em andamento, tendo em vista a necessidade de se conhecer cada

material identificado, seja livro, filme, vídeo, poesia ou música, para posteriormente

relacioná-lo ao conteúdo previsto para cada ano do Ensino Fundamental: a produção de

materiais é dinâmica e a cada dia surgem materiais novos que só poderão ser indicados a

professores e alunos após sua análise.

Um estudo preliminar de alguns vídeos do TV Escola, por exemplo, detectou que a

classificação de alguns materiais direcionados para o Ensino Fundamental estão equivocadas,

porque os vídeos abordam questões que não estão incluídas nos conteúdos previstos para

alunos desses anos, exigindo grau mais avançado de conhecimento para sua compreensão.

Page 42: Monografia   licenciatura em artes

40

Com certeza, o uso de vídeos e materiais inadequados para o ano escolar em curso

pode gerar desinteresse nos alunos, não só desmotivando como impedindo a aprendizagem

esperada para o período escolar.

Assim, no âmbito deste Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Artes

Plásticas, apresentamos a estrutura de material didático para veiculação no ambiente virtual,

abrangendo todos os anos do Ensino Fundamental, à luz da legislação educacional (Anexo 1),

incluindo os conteúdos previstos e as expectativas de aprendizagem para cada ano, acrescidos

de sugestões teóricas e poéticas, tais como livros, vídeos, filmes, músicas, poesias, além de

sugestões de sites que tratam do estudo da cor.

A previsão deste Trabalho de Conclusão do Curso inclui a preparação de material

didático também para o Ensino Médio, com sugestões de materiais teóricos e poéticos. É

necessária ainda detalhar a correlação dos materiais identicados ao ano escolar a que melhor

se adequa, o que implica continuidade do trabalho.

Trabalho de tal natureza é dinâmico e por isso exigirá contínuas revisões com vistas ao

permanente aprimoramento e atualização em função da evolução da legislação, das

orientações pedagógicas, das possíveis colaborações a serem recebidas de alunos e

professores.

Compreendendo a carência de material didático na educação básica e a necessidade de

se elaborar material de boa qualidade que atenda às necessidades de alunos e de professores,

esperamos que o material ora apresentado e sua continuidade contribuam para melhorar o

ensino das artes visuais, principalmente quanto ao estudo das cores e suas qualificações, e

que, após sua divulgação, incorpore sugestões de professores, alunos e pessoas interessadas

no estudo da cor, enriquecendo esse acervo em permanente construção.

Page 43: Monografia   licenciatura em artes

41

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Nacional.

Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, que aprova o Plano Nacional de Educação e dá

outras providências.

Page 46: Monografia   licenciatura em artes

44

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GDF, Secretaria de Educação do Distrito Federal. Currículo da Educação Básica das

Escolas Públicas do Distrito Federal. Ensino Fundamental – 5ª a 8ª séries. 2002

GDF, Secretaria de Educação do Distrito Federal. Currículo da Educação Básica das

Escolas Públicas do Distrito Federal. Ensino Médio. Janeiro de 2002.

GDF, Secretaria de Educação do Distrito Federal. Orientações Curriculares –Ensino

Fundamental – série e anos iniciais. 2008

GDF, Secretaria de Educação do Distrito Federal. Orientações Curriculares –Ensino

Fundamental – série e anos finais. 2008

GDF, Secretaria de Educação do Distrito Federal. Orientações Curriculares –Ensino

Médio. 2006

Page 47: Monografia   licenciatura em artes

45

ANEXO 1

O ENSINO DE ARTES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A partir da análise da legislação educacional brasileira, observa-se que a arte é tratada

de forma muito generalizada, ficando à margem da especificidade com que são tratadas outras

matérias. A Constituição Brasileira de 1988, na parte referente aos Direitos e Garantias

Fundamentais, art. 5º, inciso IX, explicita que ―é livre a expressão da atividade intelectual,

artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença‖ (grifo nosso). No

capítulo dedicado à Educação, destacam-se:

―Art. 206, O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: ......

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber‖ (grifo nosso);

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

... V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;‖ (grifo nosso)

No capítulo referente à cultura, pode ser destacado:

―Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às

manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.‖ (grifos nossos)

Por força de disposição constitucional, elaborou-se a Lei 9.394, de 20/12/1996 9 – Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, que estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional, na qual ―a liberdade de aprender arte” é incluída como um dos princípios

do ensino em seu art. 3º, inciso II. Mais adiante, ao tratar dos currículos do Ensino

Fundamental e do Ensino Médio, a Lei 9.394 estabelece no § 2º do art. 26, que:

―O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da

educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.‖

Ao destacar as diretrizes curriculares específicas do Ensino Médio, a LDB também se

preocupa com a organicidade, conforme Inciso I do Art. 36, transcrito a seguir:

Page 48: Monografia   licenciatura em artes

46

―Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo

e as seguintes diretrizes:

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência,

das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a

língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da

cidadania; (grifos nossos)

Ao tratar dos conteúdos, metodologias e formas de avaliação, o parágrafo 1º do Art. 36

da LDB estabelece:

§ 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal

forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; (grifos nossos)

Do mesmo passo, a arte é abordada no Plano Nacional de Educação - PNE (Lei

10.172, de 09/01/2001) de forma geral e até mesmo derivada de interpretação das diretrizes.

Assim, na parte relativa aos objetivos e metas do PNE para a Educação Infantil, a ―expressão

livre” é incluída como uma das necessidades do processo educativo.

Em análise do Programa Nacional de Livro Didático, mais antigo dos programas

implementados pelo Ministério da Educação, voltado à distribuição de obras didáticas aos

estudantes da rede pública brasileira, observou-se que não há inclusão da área de artes nos

Guias de Livros Didáticos de 2007 a 2011, o que demanda do professor esforço extra para

reunir materiais e referenciais para implementar as aulas de artes (www.mec.gov.br).

Já em nível local, foram identificados dois documentos orientadores das escolas

públicas: (1) Currículo da Educação das Escolas Públicas do Distrito Federal para o

Ensino Fundamental e para o Ensino Médio e (2) Orientações Curriculares para o Ensino

Fundamental e para o Ensino Médio.

a) Ensino Fundamental

O Plano Nacional de Educação – PNE (2001) defende, em suas diretrizes, a

implantação do ensino em horário integral, incluindo, neste contexto, o desenvolvimento de

atividades artísticas como um avanço significativo para diminuir as desigualdades sociais e

ampliar democraticamente as oportunidades de aprendizagem.

No documento Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental –

PCNs consta um esquema desse nível de ensino, com divisão em quatro ciclos, conforme

abaixo (MEC, 1997):

Page 49: Monografia   licenciatura em artes

47

Assim, observa-se a seguinte correspondência entre ciclos e séries:

1º ciclo – 1ª e 2ª séries (atuais 2º e 3º anos do EF)

2º ciclo – 3ª e 4ª séries (atuais 4º e 5º anos do EF)

3º ciclo – 5ª e 6ª séries (atuais 6º e 7º anos do EF)

4º ciclo – 7ª e 8ª séries (atuais 8º e 9º anos do EF)

Page 50: Monografia   licenciatura em artes

48

O documento contém, em sua primeira parte, a caracterização da área de arte,

incluindo o histórico do ensino da arte no Brasil, breve relato sobre teoria e prática em arte

nas escolas brasileiras e sobre o conhecimento artístico como história, produção e fruição, os

objetivos gerais de arte para o ensino fundamental e os respectivos conteúdos.

Na segunda parte, detalha quatro linguagens artísticas: artes visuais, dança, música e

teatro; além de apresentar conteúdos relativos a valores, normas e atitudes, critérios de

avaliação em arte e orientações didáticas. (MEC, 1997)

Em conformidade com os PCNS, os conteúdos gerais de arte para esse nível de ensino

são:

―a arte como expressão e comunicação dos indivíduos;

elementos básicos das formas artísticas, modos de articulação formal, técnicas,

materiais e procedimentos na criação em arte;

produtores em arte: vidas, épocas e produtos em conexões;

diversidade das formas de arte e concepções estéticas da cultura regional, nacional e

internacional: produções, reproduções e suas histórias;

a arte na sociedade, considerando os produtores em arte, as produções e suas formas

de documentação, preservação e divulgação em diferentes culturas e momentos

históricos.‖(MEC, 1997, pág. 42).

De fato, na segunda parte dos PCNs para o Ensino Fundamental, as Artes Visuais

ganham um tratamento individualizado, assim como a Dança, a Música e o Teatro. No que

tange às Artes Visuais, o documento apresenta os elementos básicos que devem ser

frequentemente trabalhados com os alunos, tais como ponto, linha, plano, cor, luz,

movimento e ritmo, além dos conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às técnicas

e às formas visuais de diversos momentos da história, inclusive os contemporâneos.

Acrescente-se o estudo das técnicas, procedimentos, informações históricas, produtores,

relações culturais e sociais envolvidas na experiência que darão suporte às suas

representações sobre arte.

Nesse contexto, os conteúdos de Artes Visuais para o Primeiro Ciclo e para o

Segundo Ciclo, previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte, foram agrupados

em três blocos de conteúdo, considerando que a criança, ao iniciar o ciclo básico está na fase

de vivenciar o companheirismo como forma de socialização (MEC, 1997):

1º bloco de conteúdo:

Expressão e Comunicação na Prática dos Alunos em Artes Visuais, no qual os

elementos básicos da linguagem visual estão incluídos, assim como a experimentação,

utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísticas.

Page 51: Monografia   licenciatura em artes

49

2º bloco de conteúdo:

As Artes Visuais com Objeto de Apreciação Significativa, no qual estão

inseridos o reconhecimento e a experimentação de leitura dos elementos básicos da

linguagem visual, assim como a identificação e o reconhecimento de algumas técnicas

e procedimentos artísticos presentes nas obras visuais.

3º bloco de conteúdo:

As Artes Visuais como Produto Cultural e Histórico.

O documento Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do

Ensino Fundamental compreendendo do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, indica, entre

os objetivos desse nível de ensino, que os alunos sejam capazes de utilizar as diferentes

linguagens – verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para

produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em

contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação.

(MEC, 1998)

Nesta fase, os alunos podem dominar, com mais propriedade, as linguagens da arte e

tendem a refletir e realizar trabalhos pessoais e/ou grupais com mais autonomia. Agora o

aluno estabelece conexões com mais clareza entre os trabalhos escolares e a cultura extra-

escolar, que envolve os objetos de estudo, tanto no âmbito de sua comunidade como no da

produção nacional e internacional à qual tiver acesso.

Entre os objetivos gerais previstos para as artes visuais, para alunos do 6º ao 9º anos,

destacamos:

1. ―expressar, representar idéias, emoções, sensações por meio da articulação de poéticas

pessoais, desenvolvendo trabalhos individuais e grupais;‖ 2. ―construir, expressar e comunicar-se em artes plásticas e visuais, articulando a

percepção, a imaginação, a memória, a sensibilidade e a reflexão, observando o próprio

percurso de criação e suas conexões com o de outros‖; 3. ‗interagir com variedade de materiais naturais e fabricados, multimeios (computador,

vídeo, holografia, cinema, fotografia), percebendo, analisando e produzindo trabalhos de

arte‖;

4. ―reconhecer, diferenciar e saber utilizar com propriedade diversas técnicas de arte, com procedimentos de pesquisa, experimentação e comunicação próprios‖;

5. ―desenvolver uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal,

relacionando a própria produção com a de outros, valorizando e respeitando a diversidade estética, artística e de gênero‖;

6. ―identificar a diversidade e inter-relações de elementos da linguagem visual que se

encontram em múltiplas realidades (vitrines, cenário, roupas, adereços, objetos

domésticos, movimentos corporais, meios de comunicação), perceber e analisá-los criticamente‖;

Page 52: Monografia   licenciatura em artes

50

7. ―conhecer, relacionar, apreciar objetos, imagens, concepções artísticas e estéticas — na

sua dimensão material e de significação —, criados por produtores de distintos grupos

étnicos em diferentes tempos e espaços físicos e virtuais, observando a conexão entre essas produções e a experiência artística pessoal e cultural do aluno‖;

8. ―freqüentar e saber utilizar as fontes de documentação de arte, valorizando os modos de

preservação, conservação e restauração dos acervos das imagens e objetos presentes em

variados meios culturais, físicos e virtuais, museus, praças, galerias, ateliês de artistas, centros de cultura, oficinas populares, feiras, mercados‖;

9. ―compreender, analisar e observar as relações entre as artes visuais com outras

modalidades artísticas e também com outras áreas de conhecimento humano (Educação Física, Matemática, Ciências, Filosofia etc.), estabelecendo as conexões entre elas e

sabendo utilizar tais áreas nos trabalhos individuais e coletivos‖;

10. ―conhecer e situar profissões e os profissionais de Artes Visuais, observando o

momento presente, as transformações históricas já ocorridas, e pensar sobre o cenário profissional do futuro‖. (MEC, 1998, pag.49-50)

Em nível local, o documento Currículo da Educação das Escolas Públicas do

Distrito Federal para o Ensino Fundamental abrange apenas da 5ª a 8ª séries, atualmente 6º

ao 9º anos. Esse documento apresenta um detalhamento das Competências e Habilidades para

as Artes Visuais, inclusive com sugestões de procedimentos em sala de aula, estimulando o

professor a trabalhar os mais diversos conteúdos artísticos. (GDF, 2002)

Na análise por série, observou-se que o estudo da cor está inserido nos elementos

básicos das formas artísticas, técnicas e procedimentos, em especial nos primeiros e segundo

blocos de conteúdos de Artes Visuais. Na 5ª série (atual 6º ano), podem ser destacados:

o estudo de contrastes claro/escuro;

a habilidade de descobrir, observar e fazer análise crítica de elementos e

formas visuais no meio ambiente construído, identificando e observando os

elementos básicos de linguagem;

as habilidades de conhecer e reconhecer os elementos de linguagem artística

nos modos de organização visual, de identificar esses elementos como meio

para expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo,

de identificar e reconhecer técnicas, procedimentos e os elementos de

linguagem artística presentes nos próprios trabalhos, nos dos colegas e em

diversas culturas, de produzir trabalhos de arte, utlilizando a linguagem do

desenho e da pintura.

No que concerne à 6ª série (atual 7º ano), o documento prevê o desenvolvimento das

seguintes habilidades:

observar, analisar e identificar elementos da linguagem nas produções pessoais

e dos colegas, nos meios de comunicação, em obras de arte;

Page 53: Monografia   licenciatura em artes

51

conhecer e reconhecer esses elementos nos modos de organização visual, seja

executando painéis coletivos ou até mesmo experimentando a cor.

Para a 7ª série (atual 8º ano), o documento prevê que os alunos:

utilizem e reconheçam os elementos compositivos, dentre eles a cor, nos

trabalhos inventivos;

observem a composição resultante da quebra de hierarquização tradicional de

planos, da busca de novas cores;

reconheçam o uso de cores intensas, apreciando ilustrações, fazendo leituras

críticas, elaborando textos e produzindo pinturas, componham pinturas com

temáticas que afligem o homem contemporâneo, enfatizando a cor como

elemento compositivo.

Ademais, entre as habilidades esperadas dos alunos dessa série, estão:

analisar, relacionar e articular os elementos básicos de linguagem aos contextos

socioculturais e históricos;

identificar os elementos básicos de linguagem artísticas nos meios de

comunicação, em obras de arte e nos próprios trabalhos, nos modos de

organização visual;

expressar sentimentos, sensações e pensamentos por meio de atividades

pictóricas e gráficas.

Quanto à 8ª série (atual 9º ano), o documento sugere que o aluno tenha a preocupação

minuciosa dos detalhes, das cores e formas, utilizando-se de figuras e de cores luminosas em

suas pinturas, distinguindo no ―hiper-realismo‖ (1960) um retorno ao figurativismo, centrado

na técnica clássica da perspectiva e do desenho.

Sugere o documento também que o aluno da 8ª série (atual 9º ano) reconheça as

influências do neoclassicismo, romantismo e impressionismo no ―Academicismo Brasileiro‖

(1850 a 1920), nas manifestações artísticas da Academia Nacional de Belas Artes do Rio de

Janeiro, obras com a volta de temas históricos ou mitológicos (Rodolfo Amoedo) e obras com

coloridos ricos e contornos mal definidos (Eliseu Visconti). Sugere ainda que os alunos façam

composições a partir de observação de muros velhos, erosões, rachaduras nas paredes,

manchas causadas pela chuva e umidade, como fonte de inspiração, para perceber as formas e

cores que apresentam.

Acrescente-se que os alunos desse ano também devem utilizar os elementos básicos de

linguagem artística em suas produções pessoais e coletivas, como meio de se expressar e

Page 54: Monografia   licenciatura em artes

52

interagir com o outro, inventando, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a

sensibilidade e a reflexão.

O Governo do Distrito Federal preparou dois documentos contendo as Orientações

Curriculares para o Ensino Fundamental: um foi dedicado às séries iniciais (1º ao 5º ano)

e um dedicado às séries finais (6º ao 9º ano). Em ambos, as expectativas de aprendizagem

relacionam-se ao desenvolvimento de habilidades relativas à:

Produção: percepção, experimentação, criação, produção

Fruição (apreciação): comunicação, leitura, compreensão, análise e

interpretação

Reflexão (contextualização): pesquisa, reflexão, crítica, autocrítica

O documento Orientações Curriculares para as séries iniciais do Ensino

Fundamental, abrangendo do 1º ao 5º ano, detalha as expectativas de aprendizagem de cada

tópico, considerando os conteúdos a serem ministrados para cada ano deste nível de ensino

(GDF, 2002).

Assim, entre os conteúdos para o 1º ano do Ensino Fundamental, o documento prevê

o estudo das cores (cores primárias, secundárias, terciárias, cores quentes e cores frias) e suas

diversas representações na natureza.

No 2º ano do Ensino Fundamental estão incluídos o estudo das cores (cores primárias,

secundárias, terciárias, cores frias e cores quentes, combinações, influência de uma cor sobre

a outra, luz sobre a cor) e suas diversas representações presentes na natureza; o estudo das

relações de proporção e figura-fundo (colagem e desenho); assim como as noções de direção e

movimento: horizontal, vertical, diagonal, para cima, para baixo e para os lados.

Para os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, o documento também prevê o estudo

das cores secundárias e terciárias (cores produzidas), luminosidade sobre a cor, cor como

pigmento; assim como as noções de plano, volume e espaço (bi e tridimensional) com a

prática da modelagem e o conhecimento básico da textura, simetria, assimetria e peso

compositivo.

Estão previstos para o 4º ano do Ensino Fundamental o estudo dos elementos básicos

da linguagem visual: relação entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo,

movimento, equilíbrio; assim como a pesquisa e utilização de materiais e técnicas artísticas e

outros meios e a simbologia das cores nas diferentes culturas.

Já para o 5º ano do Ensino Fundamental o documento prevê, entre outros, a construção

de imagens com a técnica do mosaico, o estudo do artesanato brasileiro e o estudo dos signos.

Page 55: Monografia   licenciatura em artes

53

O documento Orientações Curriculares para as séries finais do Ensino

Fundamental, compreendendo do 6º ao 9º ano, apresenta um detalhamento dos componentes

curriculares em artes visuais para as escolas públicas do Distrito Federal. (GDF, 2002)

Para o 6º ano do Ensino Fundamental, é previsto o estudo do ponto (ponto geométrico,

ponto gráfico e ponto físico; utilização do ponto em produções visuais), da textura como

elemento expressivo natural ou produzido e visual ou tátil, da direção, movimento, ritmo,

volume, proporção, equilíbrio e simetria e do espaço bidimensional, tridimensional e noções

de perspectiva, assim como o estudo da pintura rupestre brasileira, o estudo das matrizes

culturais brasileiras (índio, africano, europeu) e suas influências e a arte dos indios brasileiros.

Entre os conteúdos estabelecidos para o 7º ano do Ensino Fundamental estão a arte

popular brasileira (as principais manifestações visuais da Arte Popular Brasileira: colunas,

carrancas, bonecos, tecelagem, etc), as expressões artísticas de Heitor dos Prazeres, Mestre

Vitalino, Nhô Caboclo, Arthur Pereira e outros, e o estudo dos elementos estéticos da cultura

afro-brasileira.

No 8º ano do Ensino Fundamental, estão previstos o estudo das cores dentro de

diversos estilos artísticos, assim discriminados: Renascimento, com destaque para o uso da

perspectiva, do claro-escuro e o realismo da pintura; o equilíbrio da simetria e a regularidade

de formas e cores; a criação de volumes e o jogo de luz e sombra da escultura renascentista

resultante de uma interpretação científica da realidade; o Renascimento italiano, ressaltando o

equilíbrio da composição e a harmonia do colorido; o nacionalismo e a valorização da

natureza; as grandes transformações na arte a partir do século XIX aos dias atuais; a Semana

de Arte Moderna e a busca de uma identidade cultural nacional; e o Modernismo Brasileiro

após a Semana da Arte Moderna; além do Expressionismo, o Cubismo e o Surrealismo no

Brasil.

Entre os conteúdos previstos para o 9º ano do Ensino Fundamental estão a introdução

à leitura da obra de arte (elementos básicos da linguagem visual, estilo artístico e período

histórico); a Op Art / A Pop Art; a arte concreta; o expressionismo abstrato e arte por

Computador – vídeo arte.

b) Ensino Médio

As diretrizes do Plano Nacional de Educação -PNE para o Ensino Médio voltam-se

para a preparação de jovens e adultos para os desafios da modernidade, incluindo, entre outras

competências, o domínio de aptidões básicas de linguagens, comunicação e abstração. Assim,

Page 56: Monografia   licenciatura em artes

54

essas diretrizes prevêem o domínio de aptidões básicas de linguagens, onde o estudo das artes

certamente pode ser incluído.

Maior detalhamento quanto ao estudo da arte pode ser encontrado nos Parâmetros

Curriculares Nacionais – PCNs, os quais expõem a compreensão do significado da arte na

educação, detalhando conteúdos, objetivos e especificidades, tanto no que se refere à

aprendizagem quanto no que se refere à arte como manifestação humana. (MEC, 2000)

O documento Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio cumpre o duplo papel

de difundir os princípios da reforma curricular e orientar o professor, na busca de novas

abordagens e metodologias. Assim, o documento propõe como princípios mais gerais que

orientam a reformulação curricular do Ensino Médio a formação geral, em oposição à

formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações,

analisá-las e selecioná-las; e a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples

exercício de memorização (MEC, 2002).

Este documento ainda estabelece os fundamentos estéticos, políticos e éticos do novo

Ensino Médio brasileiro. Com relação aos fundamentos estéticos, propõe a implementação da

estética da sensibilidade em substituição à da repetição e padronização. Assim, propõe a

estimulação da criatividade, do espírito inventivo, da curiosidade pelo inusitado, da

afetividade, para facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação,

conviver com o incerto, o imprevisivel e o diferente.

Neste documento foi estabelecida a divisão do conhecimento em três áreas:

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas

Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias; estando as Artes inseridas na primeira.

Ao compor essa área, a Arte é considerada pelos seus aspectos estéticos e comunicacionais.

Ademais, os PCNs esclarecem que, por ser um conhecimento humano articulado no âmbito

sensível-cognitivo, é por meio da arte que os significados são manifestados, assim como as

sensibilidades, os modos de criação e comunicação sobre o mundo da natureza e da cultura.

Nesse contexto, os PCNs prevêem que os alunos do Ensino Médio possam

desenvolver saberes que os levem a compreender e envolver-se com decisões estéticas,

apropriando-se de saberes culturais e contextualizados referentes ao conhecer e comunicar

arte e seus códigos, articulando-os a conhecimentos culturais aprendidos em informática

(cibercultura), língua portuguesa e língua estrangeira.

A discussão sobre cada uma das três áreas de conhecimento foi apresentada em um

documento específico, contendo as competências que os alunos deverão alcançar ao concluir

o Ensino Médio.

Page 57: Monografia   licenciatura em artes

55

Assim, entre as competências e as habilidades a serem desenvolvidas em arte, no

Ensino Médio, o documento Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio – Parte

II prevê:

―Realizar produções artísticas e individuais e/ou coletivas, nas linguagens da arte (música, artes

visuais, dança, teatro, artes audiovisuais) analisando, refletindo e compreendendo os diferentes

processos produtivos, com seus diferentes instrumentos de ordem material e ideal, como

manifestações socioculturais e históricas.‖(MEC, 2000, pag. 50)

―Apreciar produtos de arte, em suas várias linguagens, desenvolvendo tanto a fruição quanto a

análise estética, conhecendo, analisando, refletindo e compreendendo critérios culturalmente

construídos e embasados em conhecimentos afins, de caráter filosófico, histórico, sociológico, antropológico, psicológico, semiótico, científico e tecnológico, dentre outros.‖ (MEC, 2000, pag,

52)

―Analisar, refletir, respeitar e preservar as diversas manifestações da arte – em suas múltiplas

linguagens – utilizadas por diferentes grupos sociais e étnicos, interagindo com o patrimônio

nacional e internacional, que se deve conhecer e compreender em sua dimensão sócio-histórica.‖

(PCN, pag 54)

―Valorizar o trabalho dos profissionais e técnicos das linguagens artisticas , dos profissionais da

crítica, da divulgação e circulação dos produtos de arte.‖ (MEC, 2000, pag 54)

Em nível local, na análise do documento Currículo da Educação Básica das Escolas

Púbicas do Distrito Federal – Ensino Médio, observou-se que as orientações

contemporâneas do processo de ensino e de aprendizagem, nas artes visuais, apontam para a

articulação do fazer artístico, da contextualização sóciocultural e histórica dos objetos de

fruição estética e da leitura de imagens. (GDF, 2002)

Assim, para o 1º ano do Ensino Médio, o documento prevê, entre outras, as seguintes

competências:

Conhecer os modos e os meios empregados nas produções artísticas, visuais e

audivisuais (...) analisando os procedimentos e elementos que as caracterizam como

linguagem, suas interações e articulações; (GDF, 2002, pag. 105)

Conhecer e comprender os elementos e os componentes básicos da linguagem audiovisual e das novas mídias; (GDF, 2002, pag. 109)

Reconhecer e compreender as artes visuais como linguagem multi a transdiciplinar.

(GDF, 2002, pag. 111)

O documento prevê, da mesma forma, entre outras, as seguintes habilidades para os

alunos dessa série:

―Distinguir os elementos que constituem a gramática visual (cor, linha, superfície,

volume, luz, textura, ritmo, forma e outros) como elementos compositivos, formais, expressivos e simbólicos, na construção de imagens em suas produções;

Investigar, analisar, comparar e articular os elementos visuais na produção visual;

Comparar, organizar e reconhecer os modos de organização visual na produção

plástica; Identificar as várias possibilidades dos elementos formais isolados ou articulados

entre si numa composição, na produção visual.‖ (GDF, 2002, pag. 105)

―Apreciar e criticar esteticamente obras de arte, analisando a organização e a estruturação dos elementos da linguagem visual (cor, linha, superfície, volume, luz,

textura, ritmo, forma e outros) em suas produções e nass de outros, segundo a sua

Page 58: Monografia   licenciatura em artes

56

adequação às intenções de sentidos e significados desejados e aos percebidos.‖

(GDF, 2002, pag. 108)

―Identificar e analisar os elementos e componentes das linguagens audiovisuais.‖ (GDF, 2002, pag. 109)

Para os alunos do 2º ano do Ensino Médio, são previstas as seguintes competências:

―Conhecer os modos e os meios empregados nas produções artísticas visuais e

audiovisuais (...) analisando (...) elementos que as caracterizam como linguagem,

suas interações e articulações. (GDF, 2002, pag. 113) ―Conhecer e compreender as articulações dos elementos estudados, estabelecendo

relações entre os elementos formais e expressivos em produções próprias, locais,

nacionais e universais na atualidade e em outros momentos históricos.‖ (GDF, 2002, pag. 116)

―Conhecer e compreender os elementos e os componentes básicos da linguagem

audiovisual e das novas mídias.‖ (GDF, 2002, pag. 117) ―Reconhecer e compreender as artes visuais como linguagem multi e transdisciplinar

(...)‖(GDF, 2002, pag. 119)

Entre as habilidades previstas para o 2º ano do Ensino Médio, destacam-se:

―Distinguir em suas produções artísticas os elementos que constituem a gramática visual, reconhecendo e aplicando, na construção de imagens, os princípios da

composição plástica, das relações espaciais e da configuração, como elementos

compositivos, formais, expressivos e simbólicos, isolados ou articulados entre si.‖

(GDF, 2002, pag. 113) ―Identificar em suas produções audiovisuais e informatizadas como se articulam os

elementos básicos dessas linguagens. (GDF, 2002, pag. 114)

―Apreciar e criticar esteticamente obras de arte, segundo a organização espacial dos elementos da linguagem visual, investigando os princípios da comparação.‖ (GDF,

2002, pag. 116)

―Identificar, analisar e refletir os elementos e os componentes da linguagem

audiovisual.‖ (GDF, 2002, pag. 117) ―Distinguir os processos evolutivos da linguagem visual, na produção internacional e

suas consequências e reflexos na produção local e regional.‖ (GDF, 2002, pag. 119)

Com relação ao 3º ano do Ensino Médio, entre as competências previstas estão:

―Conhecer os modos e os meios empregados nas produções artísticas visuais e

audivisuais, individuais e coletivas, analisando os (...) procedimentos e elementos que

as caracterizam como linguagem, suas interações e articulações.‖ (GDF, 2002, pag. 121)

―Conhecer e compreender as articulações dos elementos estudados, estabelecendo

relações entre os elementos formais e expressivos.‖ (GDF, 2002, pag. 124) ―Conhecer e compreender os elementos e os componentes básicos da linguagem

audiovisual e das novas mídias.‖ (GDF, 2002, pag. 125)

―Reconhecer e compreender as artes visuais como linguagem multi e transdisciplinar.‖ (GDF, 2002, pag. 129)

Entre as habilidades previstas para o 3º ano, podem ser destacadas:

―Distinguir em suas produções artísticas, os elementos que constituem a gramática

visual, reconhecendo e aplicando reprodução de imagem, os princípios da

composição plástica, das relações espaciais e da configuração, como elementos

compositivos, formais, expressivos e simbólicos, isolados ou articulados entre si como um todo articulado que traduz sentidos e emoções.‖ (GDF, 2002, pag. 121)

Page 59: Monografia   licenciatura em artes

57

―Investigar em suas produções audiovisuais e informatizadas, como se articulam os

elementos

básicos dessas linguagens, ao estabelecer relações entre si. ‖ (GDF, 2002, pag. 122) ―Apreciar e criticar esteticamente obras de arte e, também, as suas próprias

produções, analisando a organização espacial dos elementos da linguagem visual,

investigando os princípios da composição‖ (GDF, 2002, pag. 124)

―Pesquisar e analisar e refletir os elementos componentes da linguagem audiovisual.‖ (GDF, 2002, pag. 125)

―Distinguir os processos evolutivos da linguagem visual na produção internacional e

suas consequências e reflexos na produção local e regional.‖ (GDF, 2002, pag. 129)

O documento Orientações Curriculares – Ensino Médio, elaborado pela Secretaria

de Estado da Educação do Distrito Federal, apresenta um detalhamento dos conteúdos a serem

estudados nas escolas públicas. (GDF, 2006)

Assim, para o 1º ano do Ensino Médio, estabelece dentro do título Linguagem Visual

o seguinte: Composição visual (tipos de perspectivas usadas para desenho, linhas estruturais,

esquemas geométricos, simetria e assimetria, ritmo, cor, textura, forma, espaço

positivo/negativo, emprego das mídias informatizadas ou não na composição visual de

imagens)

No 2º ano do Ensino Médio, prevê o estudo da linha como elemento estrutural das

obras de arte (tipo e funções), da luz como elemento expressivo, cor (cor/luz, cor/pigmento,

cores quentes e frias, simbologia das cores, tipos de harmonias) e da composição visual. Prevê

ainda o estudo da Morfologia e da Sintaxe visual, da Paisagem (construção do espaço,

ambiente e evolução).

Para o 3º ano do Ensino Médio, entre os diversos conteúdos, estabelece dentro do

título Teoria da Arte o estudo do conceito de estética e crítica da arte; e dentro do título

Linguagem visual, o estudo da composição visual, colagem e construções tridimensionais.

c) A inserção das Artes na Legislação Brasileira

Não se pode negar o avanço que representa as iniciativas de inserção das Artes na

Constituição Brasileira, a qual inspirou a elaboração do Plano Nacional de Educação e, por

conseguinte, os Parâmetros Curriculares Nacionais e os documentos locais ―Orientações

Curriculares para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio‖ e ―Currículo da Educação

das Escolas Públicas do Distrito Federal‖ para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio.

Destacamos, neste documento, a inserção de competências, habilidades e procedimentos em

arte –e enfatizamos o pioneirismo do Brasil com essas iniciativas.

Page 60: Monografia   licenciatura em artes

58

Essas iniciativas, por certo, incentivaram pesquisas sobre arte-educação para a

compreensão da cultura visual, das concepções que orientam o currículo e sobre a importância

de aprender a interpretar a cultura visual, estimulando a busca por qualidade e consolidando o

ensino das artes nas escolas públidas e privadas.

Page 61: Monografia   licenciatura em artes

59

ANEXO 2

PESQUISA DE MATERIAIS DIVERSOS SOBRE COR

VÍDEOS

TÍTULO PRODUÇÃO

ALDRAVA, A - JEAN-HONORÉ FRAGONARD TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes obras e em distintos momentos da história da arte. As formas, as variações de cor, os contrastes, os aspectos histórico e uma breve biografia do autor são ressaltados como elementos fundamentais para a compreensão estética e geral de cada obra. 30 minutos – Ensino Fundamental http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=722

TÍTULO PRODUÇÃO

ARRAIA, A - JEAN-SIMÉON CHARDIN TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes obras e em distintos momentos da história da arte. As formas, as variações de cor, os contrastes, os aspectos histórico e uma breve biografia do autor são ressaltados como elementos fundamentais para a compreensão estética e geral de cada obra. 30 minutos – Ensino Fundamental http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=727

TÍTULO PRODUÇÃO

ASTRÔNOMO, O - JOHANNES VERMEER TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse

Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes

momentos da história da arte. Neste programa, uma análise pormenorizada da obra “O Astrônomo” e da

apurada técnica de Vermeer, pintor holandês do século XVII famoso pelas suas composições de cores

transparentes.

30 minutos – Ensino Fundamental

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=719

Page 62: Monografia   licenciatura em artes

60

TÍTULO PRODUÇÃO

BANHO TURCO, O - JEAN-AUGUSTE

DOMINIQUE INGRES TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse

Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes

obras e em distintos momentos da história da arte. As formas, as variações de cor, os contrastes, os

aspectos histórico e uma breve biografia do autor são ressaltados como elementos fundamentais para a

compreensão estética e geral de cada obra.

30 minutos – Ensino Fundamental

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=723

TÍTULO PRODUÇÃO

CORES DO ARCO ÍRIS, AS

TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse

Animação para crianças que mostra histórias vividas por um menino africano com explicações básicas sobre

os fenômenos naturais.5 minutos, Ensino Fundamental

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=1059

TÍTULO PRODUÇÃO

SABINAS, AS - JACQUES-LOUIS DAVID TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse

Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes

obras e em distintos momentos da história da arte. As formas, as variações de cor, os contrastes, os

aspectos histórico e uma breve biografia do autor são ressaltados como elementos fundamentais para a

compreensão estética e geral de cada obra.

30 minutos – Ensino Fundamental

TÍTULO PRODUÇÃO

JOVENS-AS VELHAS, AS - FRANCISCO DE GOYA E LUCIENTES

TV ESCOLA, Série PALETAS

Sinopse

Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes

obras e em distintos momentos da história da arte. As formas, as variações de cor, os contrastes, os

aspectos histórico e uma breve biografia do autor são ressaltados como elementos fundamentais para a

compreensão estética e geral de cada obra.

30 minutos – Ensino Fundamental

Page 63: Monografia   licenciatura em artes

61

TÍTULO PRODUÇÃO

Dica Pedagógica - BANDEIRAS EUROPÉIAS – cores e símbolos

TV ESCOLA

O documentário faz parte de uma série sobre as bandeiras européias e o significado de suas cores e símbolos. A história da formação dos Estados é o fio condutor da narrativa e é ela que possibilita a compreensão dessas simbologias. A série apresenta a formação dos Estados europeus por meio da simbologia das cores de suas bandeiras. Uniões e cisões políticas ocorridas ao longo dos séculos estão hoje representadas nas várias bandeiras européias. Na bandeira de Portugal, a história da expansão marítima, das conquistas além-mar e da formação do império, a partir do século XV, aparece representada e relembra aos portugueses seus dias de glória. Componente curricular: história Disciplinas relacionadas: geografia, português e arte – Ensino Médio O que o aluno poderá aprender com esta aula · Leitura de imagens, com interpretação simbólica (bandeira). · Identificação de permanências e mudanças ao longo da história de um país. · Debate de idéias e de suas representações simbólicas. · Representação imagética de valores sociais.

TÍTULO PRODUÇÃO

VISÃO ALÉM DO ALCANCE TV ESCOLA, Série Especiais Diversos

Sinopse

O documentário explora a percepção de mundo de quatro pessoas com diferentes tipos de deficiência visual

(algumas vêem apenas contrastes, cores e contornos, outras, não têm nenhuma percepção de luz). Por meio

de depoimentos, cada uma delas conta sobre sua experiência como deficiente visual, sobre as suas

limitações e sobre o relacionamento com outras pessoas. Em cada caso, a câmera reproduz o campo de

visão que o entrevistado possui. 53 minutos – Ensino Médio.

Page 64: Monografia   licenciatura em artes

62

Vídeos no “you tube”

Cores Primárias e

Secundárias

http://www.youtube.com/watch?v=1zPuct509EI&feature=related

Arte – Cor – Mistura http://www.youtube.com/watch?v=bm9rWqYK1cA&feature=related

Mago da Física - Luz e Cores

(Primárias e Secundárias) -EM

http://www.youtube.com/watch?v=0DaXxKzQHP0&feature=fvw

Apresentação de Cores http://www.youtube.com/watch?v=Hroo0k47fXI&feature=related

As Cores-Pigmento –

PUC/SP

http://www.youtube.com/watch?v=ehTFjehtthw&feature=related

As Cores Primárias, by TV

Brasil – Einf.

http://www.youtube.com/watch?v=qOfeNYvq0mU&feature=related

As Cores http://www.youtube.com/watch?v=BycGmuTv93w&feature=related

As Cores –Vermelho –

E.Inf – Discovery Kids

http://www.youtube.com/watch?v=mnPagrJaieY&feature=related

As Cores –Azul – Einf. http://www.youtube.com/watch?v=baodnA2eYVI&feature=related

AS Cores – Verde – E.Inf. http://www.youtube.com/watch?v=mnPagrJaieY&feature=related

As Cores – Amarelo –

E.Inf

http://www.youtube.com/watch?v=QMrccWsC0oA&feature=related

As Cores – Laranja – E.Inf http://www.youtube.com/watch?v=YHOm05GRaAE&feature=related

As Cores – Roxo – E. Inf. http://www.youtube.com/watch?v=wntBKO3G3VY&feature=related

As Cores –Rosa – E.Inf http://www.youtube.com/watch?v=QrBlL8LOi10&feature=related

Simbologia da Cor http://www.youtube.com/watch?v=_8fEVvHiuQw

Arte – cor - símbolos e

emoções

http://www.youtube.com/watch?v=7LTMcKHUexU

Relação das formas

geométricas com a

natureza.

http://www.youtube.com/watch?v=rJ6lJh7FN2U

Romero Brito Texturas

Gráficas

http://www.youtube.com/watch?v=VsR4qvLGgEE

Page 65: Monografia   licenciatura em artes

63

Arte Popular Brasileira –

Pintura e Escultura

http://www.youtube.com/watch?v=9kKZyKdOhBk

Heitor dos Prazeres http://www.youtube.com/watch?v=4W5Cf_3r5FE

Mestre Vitalino (100

anos) – Sertão, Barro e

Memória - Filme

http://www.youtube.com/watch?v=pb7vg5V7wP8

Page 66: Monografia   licenciatura em artes

64

FILMES

A Vida em Preto e Branco

1998, Direção de Gary Ross

Atores: Tobey Maguire, Reese Whiterspoon, Jeff Daniels, William H. Macy.

Duração: 108 min

Gênero: Drama

Sinopse:

Nos anos 90 David (Tobey Maguire) é um jovem solitário, que não é feliz com sua vida e foge da

realidade assistindo "Pleasantville", um seriado em preto e branco dos anos 50 onde tudo é agradável.

Mas tudo muda bruscamente quando Jennifer (Reese Whisterpoon), sua irmã, que sexualmente muito

mais ativa que David, briga com ele pela posse de um estranho controle remoto, que apareceu através

de um igualmente estranho técnico de televisão (Don Knotts), que chegou repentinamente logo após

eles terem quebrado o antigo controle.

Durante a briga eles apertam o novo controle e são magicamente transportados para dentro da fictícia

"Pleasantville" e lá se tornam Bud e Mary-Sue Parker, dois personagens da série. Eles de repente se

vêem em um mundo todo em preto e branco.

David leva alguma vantagem sobre sua irmã, pois como conhece muito bem o seriado, sabe quem são

estes novos "conhecidos" e qual a importância que eles têm na vida de Bud e Mary-Sue Parker. Sob

estes nomes fictícios, tornam-se filhos George Parker (Wiliam H. Macy) e Betty Parker (Joan Allen),

que são pais adoráveis em um lugar onde todos são felizes, não há sexo e ninguém nunca precisa ir ao

banheiro. David quer sair da situação como também a irmã dele, mas considerando que ele tenta se

enturmar (sem esforço, com o conhecimento dele), ela faz o que ela gosta de fazer.

Um evento conduz o outro e de repente uma rosa vermelha cresce e logo mais regras são quebradas e

surgem novas cores e, se tudo não é tão agradável, com certeza tem mais emoção. Mas inicialmente

nem todos gostam destas mudanças.

Baixar grátis: http://www.factoryfilmes.net/filme-a-vida-em-preto-e-branco-legendado-download

A Trilogia das Cores (Bleu, Blanc, Rouge):

Direção: Krystof Kieslowski

―Morando em Paris e desiludido com a política, Krzystof resolveu filmar as dores do mundo. A

Trilogia das Cores, inspirada nas cores da bandeira francesa, e em seus significados, é um dos

momentos mais poéticos do cinema nessa década.‖

Page 67: Monografia   licenciatura em artes

65

- A Liberdade é Azul (Bleu), 1993

Sinopse:

―É o primeiro filme da trilogia e é um drama. Julie (a bela Juliette Binoche de O Paciente Inglês)

perde o marido (famoso compositor) e a filha pequena em um acidente de carro. Tenta se matar mas

não consegue pois se acha fraca para fazer isso. Fica só. E ser livre é, muitas vezes, difícil. Um

flautista de rua lhe diz que é preciso se agarrar a algo mas ela já não quer mais nada pois bens,

recordações, amigos, vínculos, são tudo armadilha. Gostaria mesmo é de pular no espaço, no céu azul,

mas no fundo sabe que não se pode renunciar a tudo. Kieslowski transforma dor em sublimação. Bleu

é um filme silencioso mas todos os sentimentos são para qualquer um tocar. Cada um é livre para fazer

o que quiser embora a liberdade maior seja estar vivo. A fotografia é linda e a trilha sonora, do

inseparável Zbigniew Preisner, sinfônica e imponente.‖

- A Igualdade é Branca (Blanc), 1993

―É o segundo filme da trilogia e o mais perto que Kieslowski chega de uma comédia. Para Karol Karol

(Zbigniew Zamachowski), estar vivo não é nada fácil. Polonês de Varsóvia, vai à Paris e é humilhado.

Sua mulher, Dominique (a linda Julie Delpy de Antes do Amanhecer e Um Lobisomen Americano em

Paris), pede o divorcio pois diz que Karol Karol não "consumou" o casamento (o que já é comédia

demais, pois, imagina só, ser impotente com uma mulher linda como aquela, que ainda por cima, é

francesa e lhe diz "se digo que te amo você não entende"!!! Ahh, é piada).

Em Paris tudo dá errado, desde seu cartão de crédito ser cancelado até ser alvo de um tiro certeiro de

um pombo. Acaba sem dinheiro, sem passaporte e sem esposa. Consegue voltar para a Polônia dentro

de uma mala, mas ao chegar lá, a mala é roubada (sujeito de sorte esse). Quando, enfim, consegue

chegar a sua casa, está todo arrebentado. Volta a trabalhar normalmente e com o tempo arquiteta um

plano para montar uma fortuna que o possibilite aplicar as mesmas peças na ex-esposa, afinal, a

igualdade é branca, como um véu de noiva, como a neve, como pombos voando e como um orgasmo.

Blanc é cômico mas não chega a ser uma comédia. Kieslowski fez um belo filme que, se não fica a

altura de Bleu e Rouge, com certeza alegra coração e alma. A trilha de Preisner é pontuada por tons

melancólicos extraídos de clarinete com suavidade e, ás vezes, silêncios. Ah, eu já ia me esquecendo.

A profissão de Karol Karol no ínicio do filme era cabelereiro...”

- A Fraternidade é Vermelha (Rouge), 1994

―É o terceiro e último filme da trilogia e é simplesmente sublime. Parece mais uma poesia sem

palavras amparada em uma fotografia magistral e no rosto de Irene Jacob (musa de Kieslowski que

havia feito com ele, dois anos antes, o misterioso A Dupla Vida de Verónique) flutuando em tons

vermelhos de carros, sinais fechados, bolas de boliche, outdoors, cerejas e sangue.

Irene é Valentine, modelo suíça vivendo em Paris, longe do namorado ciumento. Sua história é

interligada a de um jovem que estuda para ser juiz. Certa noite, Valentine atropela uma cadela e ao

Page 68: Monografia   licenciatura em artes

66

leva-la ao endereço da coleira, conhece um estranho senhor que passa seus dias ouvindo ligações

telefônicas dos vizinhos. Desse encontro surge uma amizade iniciada em repulsa mas que, aos poucos,

modifica a vida dos dois personagens. Kieslowski brinca e se diverte com os acasos, com destinos

marcados para se cruzar pois a inevitabilidade existe, embora cada um tenha que viver a sua própria

vida. Para ele não é difícil adivinhar os caminhos da vida. Basta se comunicar. Olhar nos olhos.

Rouge é arrepiante e sua cena final, uma pequena surpresa, mas só para quem assistiu aos outros dois.

Ravel passeia com seu Bolero em várias cenas e é a base da excelente trilha sonora de Preisner. Rouge

transborda poesia e possibilidades, em silêncios comoventes, mesmo quando caí um cinzeiro, mesmo

quando vidraças se quebram, mesmo quando um alarme de carro dispara. É tudo como se

incendiássemos gelo. Água que escorre entre os dedos e deixa, por fim, as mãos molhadas...

Consagrado internacionalmente após a trilogia, em 1995, Kieslowski abandonou as câmeras por que

disse que estava achando tudo muito chato e preferia viver ao invés de fazer cinema. E não fez mesmo.

Não teve mais tempo. Morreu de enfarto, aos 55 anos, em março de 1996.‖ (Comentários de Marcelo

Costa)

Um Dia, Um Gato (That Cat), 1963

Direção: Vojtech Jasny (cineasta tcheco)

Gênero: comédia, fantasia

Duração: 91 min

Atores: Václav Babka, Jirina Bohdalová, Pavel Brodsky, Vlastimil Brodský, Vlasta Chramostová,

Dana Dubanska, Karel Effa, Ladislav Fialka, Tonda Krcmar, Alena Kreuzmannová

Sinopse:

Os moradores de um vilarejo assistem ao espetáculo de um mágico e seu gato, que usa óculos e,

quando os tira, tem o poder de mudar a cor das pessoas à sua volta de acordo com o caráter delas. O

fato assusta os adultos do lugar, que vêem o animal como uma ameaça, mas, ao mesmo tempo, atrai

todas as crianças da vila.

Page 69: Monografia   licenciatura em artes

67

MÚSICAS

Cor de cinza

Noel Rosa

Fita Amarela

Noel Rosa

Com seu aparecimento

Todo o céu ficou cinzento

E São Pedro zangado

Depois,um carro de praça

Partiu e fez fumaça

Com destino ignorado

Não durou muito a chuva

E eu achei uma luva

Depois que ela desceu

A luva é um documento

Com que provo o esquecimento

Daquela que me esqueceu

Ao ver um carro cinzento

Com a cruz do sofrimento

Bem vermelha na porta

Fugi impressionado

Sem ter perguntado

Se ela estava viva ou morta

A poeira cinzenta

Da dúvida me atormenta

Não sei se ela morreu

A luva é um documento

De pelica e bem cinzento

Que lembra quem me esqueceu

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Se existe alma

Se há outra encarnação

Eu queria que a mulata

Sapateasse no meu caixão.

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Não quero flores

Nem coroa com espinho

Só quero choro de flauta

Com violão e cavaquinho.

Quando eu morrer,

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Quando eu morrer

Não quero choro nem vela,

Quero uma fita amarela

Gravada com o nome dela.

Page 70: Monografia   licenciatura em artes

68

AQUARELA

Toquinho

Numa folha qualquer

Eu desenho um sol amarelo

E com cinco ou seis retas

É fácil fazer um castelo

Corro o lápis em torno da mão

E me dou uma luva

E se faço chover

Com dois riscos tem um

Guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta

Cai num pedacinho azul

Do papel

Num instante imagino

Uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando

Contornando a imensa curva

Norte-sulVou com ela

Viajando Hawai, Pequim ou

Estambul

Pinto um barco à vela

Branco navegando

É tanto céu e mar

Num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo

Um lindo avião rosa e grená

Tudo em volta

Colorindo com suas luzes a piscar

Basta imaginar e ele está partindo

Sereno indo e se a gente quiser

Ele vai pousar

Numa folha qualquer

Eu desenho um navio de partida

Com alguns bons amigos

Bebendo de bem com a vida

De uma América a outra

Eu consigo passar num segundo

Giro um simples compasso

E num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha

E caminhando chega num muro

E ali logo em frente

A esperar pela gente

O futuro está

E o futuro é uma astronove

Que tentamos pilotar

Não tem tempo, nem piedade

Nem tem hora de chegar

Sem pedir licença

Muda nossa vida depois convida

A rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe

Conhecer ou ver o que virá

O fim dela ninguém sabe

Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos numa linda passarela

De uma aquarela que um dia enfim

Descolorirá.

Page 71: Monografia   licenciatura em artes

69

NEM UM DIA

Djavan

AZUL

Djavan

Um dia frio

Um bom lugar pra ler um livro

E o pensamento lá em você,

Eu sem você não vivo

Um dia triste

Toda fragilidade incide

E o pensamento lá em você

E tudo me divide

Longe da felicidade

E todas as suas luzes

Te desejo como ao ar

Mais que tudo

És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza

Dos sheiks árabes

Não te esquecerei um dia,

Nem um dia

Espero com a força do pensamento

Recriar a luz que me trará você.

E tudo nascerá mais belo,

O verde faz do azul com o amarelo

O elo com todas as cores

Pra enfeitar amores gris.

Eu não sei se vem de Deus

Do céu ficar azul

Ou virá dos olhos teus

Essa cor que azuleja o dia?

Se acaso anoitecer

Do céu perder o azul

Entre o mar e o entardecer

Alga-marinha vá na maresia

Buscar ali um cheiro de azul

Essa cor não sai de mim

Bate e finca pé

A sangue de rei

Até o sol nascer amarelinho

Queimando mansinho

Cedinho, cedinho, cedinho

Corre e vá dizer pro meu benzinho

Um dizer assim:

O amor é azulzinho

Até o sol nascer amarelinho

Queimando, mansinho

Cedinho, cedinho, cedinho

Corre e vá dizer pro meu benzinho

Um dizer assim:

O amor é azulzinho.

Page 72: Monografia   licenciatura em artes

70

ARAÇÁ AZUL

Caetano Veloso

TREM DAS CORES

Caetano Veloso

Araçá Azul

é sonho-segredo

Não é segredo

Araçá Azul fica sendo

O nome mais belo do medo

Com fé em Deus

Eu não vou morrer tão cedo

Araçá Azul é brinquedo

A franja da encosta

cor de laranja capim rosa chá

o mel desses olhos luz

mel de cor ímpar

O ouro inda não bem verde da serra

a prata do trem

a lua e a estrela anel de turquesa

Os átomos todos dançam madruga

reluz neblina

crianças cor de romã

entram no vagão

O oliva da nuvem chumbo

ficando pra trás da manhã

e a seda azul do papel

que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa

que vão passando ao me ver passar

os dois lados da janela e aquela num tom de azul

quase inexistente azul que não há

azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto

explícito objeto

castanhos lábios ou pra ser exato

lábios cor de açaí

E aqui trem das cores

sábios projetos

tocar na central e o céu de um azul

celeste celestial

Page 73: Monografia   licenciatura em artes

71

POCAHONTAS (Cores do vento)

Temas de Filmes Tom: A#

Intro: Bb Eb

Bb Bb7M Eb Se pensa que esta terra lhe pertence

Bb Bb7M Dm Você tem muito ainda o que aprender

Eb Gm7 Cm Pois cada planta, terra ou criatura

Cm F Gm Está viva e tem alma, é um ser

RIFF

Bb Bb7M Eb Se crê que só gente é seu semelhante

Bb Bb7M Dm E que os outros não têm o seu valor

Eb Gm7 Cm Mas se seguir pegadas de um estranho

F Dm7 Bb Mil surpresas vai achar ao seu redor

Gm Dm Eb Já ouviu o lobo uivando para a lua azul?

Gm Dm Será que viu um homem sem sorrir?

Eb F Dm Gm É capaz de ouvir as vozes da montanha?

Cm F Cm E com as cores do vento colorir...?

Cm F Bb E com as cores do vento colorir...

Bb Bb7M Eb Correndo pelas trilhas da floresta

Bb Bb7M Dm Provando das frutinhas o sabor

Eb Gm7 Cm Rolando em meio a tanta riqueza

Cm F Gm Nunca vai calcular o seu valor

RIFF

Bb Bb7M Eb A Lua, o Sol e o Rio são meus parentes

Bb Bb7M Dm A Garça e a Lontra são iguais a mim

Gm Dm Eb Nós somos tão ligados uns aos outros

Cm F Bb Neste arco, neste círculo sem fim

Gm Dm Eb Já ouviu o lobo uivando para a lua azul?

Gm Dm Será que viu um homem sem sorrir?

Eb F Dm Gm É capaz de ouvir as vozes da montanha?

Cm F Cm E com as cores do vento colorir...?

Cm F Bb E com as cores do vento colorir...

PONTE

Bb Dm Eb Gm A árvore aonde irá?

Cm F Se você a cortar, nunca saberá

Gm Dm Eb Não vai mais o lobo uivar para a lua azul

Gm Dm Já não importa mais a nossa cor

Eb F Dm Gm Vamos cantar com as belas vozes da montanha

Cm F E com as cores do vento colorir

Cm Dm Eb Você só vai conseguir desta terra usufruir

61 Gm (F) Bb

E com as cores do vento colorir

RIFF

Page 74: Monografia   licenciatura em artes

72

ESQUADROS

Adriana Calcanhoto

http://www.youtube.com/watch?v=WfOu66jJG7I

Eu ando pelo mundo

Prestando atenção em cores

Que eu não sei o nome

Cores de Almodóvar

Cores de Frida Kahlo

Cores!

Passeio pelo escuro

Eu presto muita atenção

No que meu irmão ouve

E como uma segunda pele

Um calo, uma casca

Uma cápsula protetora

Ai, Eu quero chegar antes

Prá sinalizar

O estar de cada coisa

Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo

Divertindo gente

Chorando ao telefone

E vendo doer a fome

Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle...

Eu ando pelo mundo

E os automóveis correm

Para quê?

As crianças correm

Para onde?

Transito entre dois lados

De um lado

Eu gosto de opostos

Exponho o meu modo

Me mostro

Eu canto para quem?

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle...

Eu ando pelo mundo

E meus amigos, cadê?

Minha alegria, meu cansaço

Meu amor cadê você?

Eu acordei

Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle...

Eu ando pelo mundo

E meus amigos, cadê?

Minha alegria, meu cansaço

Meu amor cadê você?

Eu acordei

Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle...

Page 75: Monografia   licenciatura em artes

73

POESIAS

POEMA ÀS CORES

Vieira Caldo

Atenta nesta paleta de cores

estes sinais de opulência da luz breve

símbolos que acordam a manhã dos nossos

olhos

para a flor do sol

que insistem na múltipla transfiguração

das imagens que dão forma às nossas vidas;

repara no preto e no branco

como se a sinfonia dos acasos

não fosse mais que a simetria dos ocasos

ou no azul que desfalece

os matizes infindáveis do cinzento

que vai nos olhos, no sangue de cada um

porque é o sol magenta dos alvores matinais

que trai os sonhos da madrugada

a reflexão das cores e do entendimento.

Vê como o verde decai

em tonalidades martirizadas pelo ocre e o

amarelo

sustentando a linha melódica dos barros;

Observa a cor do céu na fria latitude

dos gelos glaciares,

na transparência da água dos oceanos

resolvida em anémonas e corais de luz.

Atenta no rosa dos frutos da primavera

entre as folhas a captar o sol

para a maturidade corrompida pelo granizo

onde a imagem da noite baila

no esmorecimento das cores e a sua ausência

o negro

.....o presente persistindo

.....curvado à sapiência do eterno.

Atenta nas cores

e ouve o timbre os tons da música

capazes de trazer violetas e rosas

ao patamar da euforia

o clímax de licores de carmim e rosa

em púrpura desfeita virgindade

na face da menina

já mulher.

Lê a tua sina em esmeraldas

e em rubis cristalizados

proscritos até ao fim do tempo

ou o ébano das noites frias envenenando

o brilho diáfano de ametistas e turquesas

que resolvem a cinza em azul e oiro

e vê como tudo se encaminha para um grande

abraço

num arco-íris que vincula a terra à terra

o sangue ao rubro sangue das entranhas dum

vulcão

que derrama todas as cores,

os símbolos e os signos

o magma que há de florescer nas sensações

a percepção subjectiva

do real.

http://vieiracalado-

poesia.blogspot.com/2007/10/paleta-de-

cores.html

Page 76: Monografia   licenciatura em artes

74

A Rua dos Cataventos

Mario Quintana

Vogais

Arthur Rimbaud

Escrevo diante da janela aberta.

Minha caneta é cor das venezianas:

Verde!... E que leves, lindas filigranas

Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas

Mistura os tons... acerta... desacerta...

Sempre em busca de nova descoberta,

Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!

Do que eu ia escrever até me esqueço...

Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...

E me transmuto... iriso-me... estremeço...

Nos leves dedos que me vão pintando!

A negro, E branco, I vermelho, U verde, O

azul; vogais

Direi algum dia de vossos nascimentos

ocultos

A, negro espartilho peludo das moscas

tumultos

Rondando fedores cruéis demais,

Golfos de sombra; E, candura de vapor e de

tenda,

Lanças de geleiras altivas, reis brancos,

tremos de umbelas

I, púrpuras, sangue cuspido, riso dos lábios

belos

Na cólera ou na embriaguez oferenda;

U, ciclos, vibrações divinas do verde mar,

Paz dos pastos semeados de animais, paz das

rugas

Que a alquimia imprime na fronte a estudar;

O supremo clarim pleno de estranhos agudos

Silêncios cruzados por anjos e mundos:

- Ô, o ômega, raio violeta de Seus Olhos!

Page 77: Monografia   licenciatura em artes

75

Ferreira Gullar,

poema sobre a obra de Ianelli.

Os teus olhos

Ferreira Gullar

―Não é mais mostras as formas do mundo

ou do sonho,

ou da natureza ou da imaginação.

Não é mais figurar, descrever, representar,

narrar, aludir.

Nem tampouco ênfase,orquestração

das dissonâncias,

dos conflitos de formas e cores.

Não há conflitos.

Pintar, para Archangelo Ianelli agora é

suscitar o surgimento da cor.

Fazer silêncio e deixar que ela (a cor)

imerja

nele – do cerne dele – densa, luminosa.

Vinda do fundo da sombra, a cor

trêmula tênue

como frágil aparição

que fosse se apagar em seguida

Mas não: essa fragilidade é parte essencial

da aparição

como a chama que bruxuleia – por ser chama

mas se mantém viva e ardente.

Pintar para Ianelli agora é mostrar a cor

pura duração...

O céu azul, não era

Dessa cor, antigamente;

Era branco como um lírio,

Ou como estrela cadente.

Um dia, fez Deus uns olhos

Tão azuis como esses teus,

Que olharam admirados

A taça branca dos céus.

Quando sentiu esse olhar:

―Que doçura, que primor!‖

Disse o céu, e ciumento,

Tornou-se da mesma cor!

Page 78: Monografia   licenciatura em artes

76

A FADA DAS CRIANÇAS

Fernando Pessoa

Do seu longínquo reino cor-de-rosa,

Voando pela noite silenciosa, A fada das crianças vem, luzindo.

Papoulas a coroam, e, cobrindo

Seu corpo todo, a tornam misteriosa.

Doeu longínquo reino cor-de-rosa,

Voando pela noite silenciosa,

A fada das crianças vem, luzindo. Papoilas a coroam, e, cobrindo

Seu corpo todo, a tornam misteriosa.

À criança que dorme chega leve,

E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,

Os seus cabelos de ouro acaricia – E sonhos lindos, como ninguém teve,

A sentir a criança principia.

À criança que dorme chega leve, E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,

Os seus cabelos de ouro acaricia –

E sonhos lindos, como ninguém teve, A sentir a criança principia.

E todos os brinquedos se transformam Em coisas vivas, e um cortejo formam:

Cavalos e soldados e bonecas,

Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,

E palhaços que tocam em rabecas…

E todos os brinquedos se transformam

Em coisas vivas, e um cortejo formam: Cavalos e soldados e bonecas,

Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,

E palhaços que tocam em rabecas.

Page 79: Monografia   licenciatura em artes

77

A Arca de Noé

Vinicius de Moraes

Sete em cores, de repente

O arco-íris se desata

Na água límpida e contente

Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente

Da chuva de ouro e de prata

Resplandece resplendente

No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca

De par em par: surgem francas

A alegria e as barbas brancas

Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva

E que, por justo e temente

Jeová, clementemente

Salvou da praga da chuva.

Tão verde se alteia a serra

Pelas planuras vizinhas

Que diz Noé: "Boa terra

Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família

A ver; enquanto, em bonança

Colorida maravilha

Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta

De repente, vacilante

Surge lenta, longa e incerta

Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco

De uma janela, aparece

Uma cara de macaco

Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas

Das janelinhas do sótão

Duas girafas amigas

De fora a cabeça botam.

Grita uma arara, e se escuta

De dentro um miado e um zurro

Late um cachorro em disputa

Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada

Parece que vai ruir

Aos pulos da bicharada

Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?

As aves, por mais espertas

Saem voando ligeiro

Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo

Junto à porta de saída

Lutam os bichos de pelo

Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"

Ruge soberbo o leão

"Também sou filho de Deus!"

Um protesta; e o tigre — "Não!"

Afinal, e não sem custo

Em longa fila, aos casais

Uns com raiva, outros com susto

Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente

Trazendo a cabeça erguida

E os fracos, humildemente

Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé

Ei-los em terra benquista

Que passam, passam até

Onde a vista não avista

Na serra o arco-íris se esvai . . .

E . . . desde que houve essa história

Quando o véu da noite cai

Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos É

doce ouvir na calada

A fala mansa dos bichos

Na terra repovoada.

Page 81: Monografia   licenciatura em artes

79

LIVROS PARA PROFESSORES

ALBERS, Josef. A interação da cor. Tradução Jefferson Luiz Camargo: revisão tradução

Fernando Santos – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

ARNHEIM, Rudolf. Arte & Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora.

Tradução de Ivonne Terezinha de Faria; Supervisão editorial de Vicente di Grado, com

participação de Emiko Sooma. 13ª ed. São Paulo: Pioneira. 2000.

BEZ, Batti. Cor e Forma na Escultura. Edição Bilingue. Editora Betti Bez.

O livro oferece uma leitura visual através das cores e formas da estética refinada de Bez Batti. A

publicação revela e comenta a diversidade exuberante das cores dos basaltos do sul do Brasil e traz, no

texto crítico de Antonio Fernando De Franceschi, abordagens inéditas que contextualizam a obra

escultórica de Bez Batti no âmbito da arte internacional. As fotografias que integram a edição

ressaltam as belas e inesperadas texturas da obra e suas cores, exibem também imagens do Rio das

antas, do ateliê do escultor e seu entorno na serra gaúcha. Com capa dura e estojo protetor, o livro

inclui acurada versão em inglês.

CALABRESE, Omar. Como se lê uma obra de arte. Lisboa: Edições Cátedra. S.A 1993.

CAMARGO, Ani Perri. Anita Malfati –A Festa da Cor. Ed. Terceiro Nome. 1ª ed. 2009.

Este livro nos faz companheiros da vida de Anita Malfatti, tornando-nos espectadores da

efervescência cultural da Alemanha e dos Estados Unidos das primeiras décadas do século

XX e do choque causado pela Semana de Arte de Moderna de São Paulo, em 1922. O modo de

lidar com a deficiência física, os mistérios da vida amorosa e a especulada paixão de Anita

por Mário de Andrade, temas fundamentais da biografia da pintora, também estão aqui

presentes, iluminando o retrato desta artista para a história da arte brasileira.

FREIRE, Gilberto. Vida, Forma e Cor. São Paulo: Ed. Record. 1987. 324 pag.

'Vida, Forma e Cor' trata basicamente de arte e artistas - como prosadores, poetas, ensaístas, pintores,

escultores, e até mesmo de um músico como Villa-Lobos.

GOMBRICH, Ernest Hans. Arte e Ilusão: um estudo da psicologia da representação

pictórica. Tradução Raul de Sá Barbosa; revisão da tradução Monica Stahel. 4ª ed. São Paulo:

WMF Martins Fontes, 2007.

GUIMARÃES, Luciano. A Cor como Informação. Editora Anablume. 3ª ed. 2004.

O livro apresenta capítulos que abordam o tema em sua complexidade, mostrando

considerações que esclarecem e enriquecem o repertório de todos aqueles que utilizam a cor

na comunicação. Da exata delimitação da cor como informação cultural e suporte para a

expressão simbólica na comunicação humana até a investigação dos processos de percepção

e seus 'comportamentos' para a geração de sentido, o autor expõe um universo

interdisciplinar, ancorado no que há de mais recente na bibliografia da Semiótica da Cultura

e das Ciências da Cultura.

Page 82: Monografia   licenciatura em artes

80

ITTEN, Johannes. The Art of Color: the subjective experience and objective rationale of

color. New York: John Wiley & Sons, Inc. 1973

KANDINSKY, Wassily. Ponto e Linha sobre Plano. Tradução Eduardo Brandão. São

Paulo: Martins Fontes, 1997.

ITTEN, Johannes. The Elements of Color. A Treatise on the color system of Johannes Itten

based on his book The Art of Color. John Wiley & Sons, Inc. 2003.

MAYER, Ralph. Manual do artista de técnicas e materiais. Tradução Christine Nazareth.

2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

OLIVEIRA RIBEIRO NETO, Pedro Antonio. Canções de Sete Cores. Rio de Janeiro, Ed.

José Olympio, 1941. 114 p. 869.0(81

PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro, Léo Christiano Editorial Ltda.,

9ª edição. 2003.

PEDROSA, Israel. O Universo da Cor. Rio de Janeiro. Ed. Senac Nacional, 2004. 150 p. il.

ROCK, Irvin. Perception. New York: Scientific American Books, Inc. 1984.

VILLEGAS, Alex. O Controle da Cor. Editora Photos. 1ª ed. 2009.

Este livro foi feito para os fotógrafos que encontram dificuldades na busca da fidelidade das cores

desde a captação da imagem até o produto final desejado. O livro apresenta os seguintes conteúdos -

Como montar o seu laboratório digital; Os processos de captura da imagem; Tudo sobre a exposição

da figura; Processando uma imagem; A cor na teoria; Os espaços de cor; Como construir perfis de

cor; O gerenciamento de cores nos aplicativos; Cases práticos; Tutoriais rápidos para problemas

urgentes; entre outros.

LIVROS PARA ALUNOS:

DRUMMOND, Carlos. A cor de cada um. Editora Record, 1997.

Poesias A lebre, a cor de cada um, pavão, os diferentes, sesta, maneira de amar, histórias

para o rei e outras poesias.

KUTSCKA, Hilton James. A Cor da Zebra. Ed. Noovha America. Ilustração de Ana Terra.

1ª ed. 2008. (literatura infantil)

A zebra Adalgisa está inquieta e com uma dúvida terrível - será que ela é branca de listras

pretas ou preta de listras brancas? Será que tem solução?.

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LALAU. Uma Cor, Duas Cores, Todas Elas (poesia). São Paulo: Editora Cia das Letrinhas.

1997.

VENEZA, Maurício. A Caixa de Lápis de Cor. 2008 (literatura infantil).

A Caixa de Lápis de Cor é uma narrativa visual ao mesmo tempo poética, realista e divertida. A

história se passa em uma cidade grande. Seu personagem principal é um pequeno engraxate que

recebe uma caixa de lápis de cor como pagamento por um trabalho. Encantado com os lápis, o menino

desenha uma paisagem, na qual acaba literalmente mergulhando. Depois de interagir intensamente

com elementos presentes no desenho, o garoto volta à realidade e tem uma idéia que torna o seu

cotidiano e a própria cidade em que vive mais coloridos.

ALVES, Pinto ZIRALDO. A Fábula das Três Cores. Ed. Melhoramentos. 2000. 240 p.

Editado pela primeira vez em 1985, conta a história das cores da bandeira nacional, com desenhos e

fotos. "As cores trabalham muito pois têm que colorir todas as coisas do mundo. Assim como faz o azul,

que passa o ano inteirinho colorindo a paisagem de um verão que não tem fim."

ALVES, Pinto ZIRALDO. Flicts. Ed. Melhoramentos. 2005.

O mundo é feito de cores, mas nenhuma é Flicts. Uma cor rara, frágil, triste, que procurou em

vão por um amigo. Abandonada, Flicts olhou para longe, para o alto, e subiu, e teve que

sumir, para finalmente encontrar-se.

DRUON, Maurice. O Menino do Dedo Verde. Ed. José Olympio. 2007

Era uma vez Tistu...Um menino diferente de todo mundo. Com uma vidinha

inteiramente sua, o pequeno de olhos azuis e cabelos loiros deixava impressões digitais que suscitavam o reverdecimento e a alegria. As proezas de seu dedo verde eram originais e um

segredo entre ele e o velho jardineiro, Bigode, para quem seu polegar era invisível e seu

talento, oculto, um dom do céu. Até o final surpreendente e singelo. "O Menino do Dedo Verde", de Maurice Druon, tornou-se um clássico da literatura

para crianças e jovens em todo o mundo e permanece atual há três décadas, sendo adotado

em escolas do Ensino Fundamental todos os anos. Esta fábula trata de questões relacionadas

com os conceitos de convívio social, ética e cidadania; e foi pioneira ao abordar o tema ecologia.

REPORTAGENS

http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=10, sobre a experiência de

Ivone Richter em Santa Maria, intitulada ―Contexto Nacional: As principais mudanças

políticas e conceituais na visão dos arte-educadores”