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CURSO DE TEATRO - LICENCIATURACURSO DE TEATRO - LICENCIATURA

Fundamentos do ensino do teatro

Profa. Marina de Oliveira

semestre 2009 - 02

Retomada sobre o jogo

Para Huizinga, Para Huizinga, no livro no livro Homo ludensHomo ludens

O jogo:O jogo:- Trata-se de uma atividade voluntária.Trata-se de uma atividade voluntária.- É entusiasmante, dá prazer.É entusiasmante, dá prazer.- Configura-se como uma evasão Configura-se como uma evasão

momentânea da vida real.momentânea da vida real.- Apresenta uma limitação no tempo e no Apresenta uma limitação no tempo e no

espaço.espaço.- Tem um fim em si mesmo.Tem um fim em si mesmo.- Possui ritmo e harmonia. (ordem)Possui ritmo e harmonia. (ordem)- Necessita de regras.Necessita de regras.- Contém uma certa tensão.Contém uma certa tensão.

Além disso, Além disso, a função do jogoa função do jogo abrangeria dois aspectos abrangeria dois aspectos

fundamentais:fundamentais:

- Uma luta por alguma coisa, Uma luta por alguma coisa, ouou- A representação de alguma A representação de alguma

coisa.coisa.

Definição de jogoDefinição de jogo

““É uma atividade ou ocupação voluntária, É uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente alegria e de uma consciência de ser diferente da ‘vida quotidiana’.” (HUIZINGA, 2008: 33)da ‘vida quotidiana’.” (HUIZINGA, 2008: 33)

O jogo O jogo segundo Piagetsegundo Piaget

Principais conceitos de Principais conceitos de PiagetPiaget

- Assimilação;Assimilação;- Acomodação;Acomodação;- Equilibração;Equilibração;- Abstração empírica Abstração empírica

e reflexiva;e reflexiva;- Estágio.Estágio.

Três principais estágios Três principais estágios definidos por Piagetdefinidos por Piaget

- Estágio sensório-motor (0 a 2 anos)Estágio sensório-motor (0 a 2 anos)- Estágio pré-operatório (2 a 7 anos)Estágio pré-operatório (2 a 7 anos)- Estágio operatório ( 7 anos em diante)Estágio operatório ( 7 anos em diante)

este último divide-se em:este último divide-se em:

- operatório concreto (7 a 11 anos)- operatório concreto (7 a 11 anos)

- operatório formal (12 anos em - operatório formal (12 anos em diante)diante)

Estágio Estágio sensório-motor sensório-motor

(0 a 2 anos)(0 a 2 anos)

- Jogo sensório-motorJogo sensório-motor

Características:Características:- Ausência de linguagem articulada;Ausência de linguagem articulada;- Descoberta dos movimentos a partir dos reflexos Descoberta dos movimentos a partir dos reflexos inatos;inatos;- Nas 6 fases identificadas por Piaget, destaca-se a Nas 6 fases identificadas por Piaget, destaca-se a passagem da imitação involuntária para a passagem da imitação involuntária para a voluntária.voluntária.

Estágio pré-operatório (2 a 7 Estágio pré-operatório (2 a 7 anos)anos)

- Jogo simbólicoJogo simbólicoCaracterísticasCaracterísticas- Aquisição da linguagem;- Aquisição da linguagem;- Egocentrismo; - Egocentrismo; - Imitação voluntária; - Imitação voluntária; - AA representação representação de certos papéis de certos papéis

sociais;sociais;- Imaginação livre, sem preocupação Imaginação livre, sem preocupação

com a correspondência na realidade;com a correspondência na realidade;- Início da noção de moral.Início da noção de moral.

Estágio Estágio operatório:operatório:

- Jogo de regrasJogo de regras

CaracterísticasCaracterísticas

- Período de maior - Período de maior socializaçãosocialização da da criança;criança;

- Preocupação com correspondência Preocupação com correspondência na realidade.na realidade.

“Ação internalizada

Reversível”

concreto (7 a 11 anos)

formal (11 anos em diante)

Três concepções centrais Três concepções centrais

acerca do processoacerca do processo

de construção do conhecimentode construção do conhecimento

- Apriorista; (Renê Descartes, Espinoza, Leibniz, Wolff e Kant)

- Empirista (John Locke, Francis Bacon, Tomás Hobbes e Augusto Comte)

- Construtivista. (Piaget, Emilia Ferreiro, Lev Vygotsky)

Concepção Concepção aprioristaapriorista

- Pedagogia não diretiva;Pedagogia não diretiva;- Aquisição do conhecimento dá-se mediante um Aquisição do conhecimento dá-se mediante um

mínimo de estímulos do meio;mínimo de estímulos do meio;- Professor e método de ensino são praticamente Professor e método de ensino são praticamente

dispensáveis;dispensáveis;- Espontaneísta;Espontaneísta;- O centro do processo educativo está no O centro do processo educativo está no

indivíduoindivíduo..- O conhecimento está nos gens. (O conhecimento está nos gens. (de dentro para de dentro para

forafora))

Concepção Concepção empiristaempirista

- Pedagogia diretiva de caráter reprodutivo e Pedagogia diretiva de caráter reprodutivo e repetitivo;repetitivo;

- Calcada no disciplinamento e na submissão Calcada no disciplinamento e na submissão garantida através de métodos de autoridade; garantida através de métodos de autoridade; (relação vertical);(relação vertical);

- O desenvolvimento da inteligência é O desenvolvimento da inteligência é determinado pelo determinado pelo meio ambientemeio ambiente e não pelo e não pelo sujeito; sujeito;

- O conhecimento é transmitido. (O conhecimento é transmitido. (de fora para de fora para dentrodentro))

Concepção Concepção construtivistaconstrutivista

- O desenvolvimento da inteligênciaO desenvolvimento da inteligência é é determinado pelas ações determinado pelas ações mútuasmútuas entre o entre o indivíduoindivíduo e o e o meiomeio;;

- O homem não nasce inteligente, mas também O homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio, não é passivo sob a influência do meio, apropriando-se dos conceitos;apropriando-se dos conceitos;

- O conhecimento se constrói; (da relação O conhecimento se constrói; (da relação dentro/foradentro/fora))

- Pressupõe diálogo, debate, relação de Pressupõe diálogo, debate, relação de parceria, em que todos aprendem.parceria, em que todos aprendem.

- Destaca-se que as três teorias de - Destaca-se que as três teorias de construção do conhecimento: construção do conhecimento: aprioristaapriorista, , empiristaempirista e e construtivistaconstrutivista não configuram-se como situações não configuram-se como situações estanques, sendo comum eventuais estanques, sendo comum eventuais alternâncias na situação de sala de alternâncias na situação de sala de aula. Em outras palavras, a relação aula. Em outras palavras, a relação entre alunos e professores é que vai entre alunos e professores é que vai determinar o “tom” das aulas ou qual determinar o “tom” das aulas ou qual das concepções estará em vigor a das concepções estará em vigor a maior parte do tempo.maior parte do tempo.

Evidentemente, há uma diferença Evidentemente, há uma diferença entre o entre o ruído produtivoruído produtivo (em que (em que estão sendo discutidas questões estão sendo discutidas questões pertinentes ao trabalho em sala de pertinentes ao trabalho em sala de aula) e o aula) e o ruído improdutivoruído improdutivo (alheio à (alheio à aula).aula).

No campo do teatro-educação, a No campo do teatro-educação, a perspectiva construtivista é sedutora, perspectiva construtivista é sedutora, pois favorece que alunos e professores pois favorece que alunos e professores construam conhecimento através de construam conhecimento através de relações de parceria.relações de parceria.

Porém, é também um Porém, é também um desafiodesafio, na , na medida em que aulas mais medida em que aulas mais participativas (e eventualmente participativas (e eventualmente barulhentas) podem causar dispersão barulhentas) podem causar dispersão e esvaziar o foco na discussão e esvaziar o foco na discussão produtiva. produtiva.

Para Ingrid KoudelaPara Ingrid Koudela::Nas aulas de teatro, na escola:Nas aulas de teatro, na escola:

““O aluno que simplesmente decora um texto O aluno que simplesmente decora um texto clássico (clássico (perspectiva empiristaperspectiva empirista) e o espetáculo ) e o espetáculo que se preocupa apenas com a produção não que se preocupa apenas com a produção não refletem valores educacionais, se o sujeito da refletem valores educacionais, se o sujeito da representação não foi mobilizado para uma representação não foi mobilizado para uma ação espontânea.”ação espontânea.”

““Mas a visão puramente espontaneísta Mas a visão puramente espontaneísta ((perspectiva aprioristaperspectiva apriorista) também corre o risco ) também corre o risco de reduzir a proposta de educação artística a de reduzir a proposta de educação artística a objetivos meramente psicológicos, o que objetivos meramente psicológicos, o que afasta a possibilidade de entender a arte afasta a possibilidade de entender a arte como forma de conhecimento.”como forma de conhecimento.”

Questões reflexivas (e eternas) Questões reflexivas (e eternas) para futuros e atuais professores para futuros e atuais professores

de teatrode teatro

- De que forma eu venho construindo e me De que forma eu venho construindo e me apropriando do conhecimento?apropriando do conhecimento?

- Que tipo de relação quero ter/tenho com Que tipo de relação quero ter/tenho com meus alunos?meus alunos?

- Qual a maneira mais produtiva para se Qual a maneira mais produtiva para se construir conhecimento em sala de aula?construir conhecimento em sala de aula?

Jogos Jogos dramáticosdramáticos

Jogos dramáticosJogos dramáticos- Duas influências:Duas influências:

Francesa Francesa Léon Chancerel (1886-1965) = homem de teatro Léon Chancerel (1886-1965) = homem de teatro

que trabalhou com Jacques Copeau.que trabalhou com Jacques Copeau.Jean-Pierre Ryngaert Jean-Pierre Ryngaert - O jogo dramático no meio escolarO jogo dramático no meio escolar (1977) (1977)- Jogar,representarJogar,representar (1985) (1985)

InglesaInglesa Peter Slade (1912 – 2004)Peter Slade (1912 – 2004)- Child dramaChild drama (1954) (1954)- O jogo dramático infantil - O jogo dramático infantil (1978)(1978)

Peter SladePeter SladePara o inglês, o jogo dramático não é uma atividade propriamente artística, sendo um comportamento natural dos seres humanos.

Apesar de atividade inerente às crianças, todavia, o jogo pode ser organizado, proposto pelos adultos com objetivos educacionais dirigidos.

Nesse sentido, o jogo não é entendido como linguagem cênica (não há relação palco-plateia), mas como valioso formador da personalidade das crianças.

Jogo dramático na Jogo dramático na FrançaFrança

Constitui uma atividade grupal, em que o indivíduo Constitui uma atividade grupal, em que o indivíduo elabora por si e com outros as criações cênicas, elabora por si e com outros as criações cênicas, valendo-se das apresentações no interior das valendo-se das apresentações no interior das oficinas como um meio de investigação e oficinas como um meio de investigação e apreensão da linguagem teatral.apreensão da linguagem teatral.

Trata-se, também, de um instrumento de análise do Trata-se, também, de um instrumento de análise do mundo, em que as situações cotidianas são vistas mundo, em que as situações cotidianas são vistas e revistas, moldadas e modificadas no jogo, e o e revistas, moldadas e modificadas no jogo, e o indivíduo pode sempre parar, voltar atrás e tentar indivíduo pode sempre parar, voltar atrás e tentar de novo.de novo.

(DESGRANGES, 2006: 95)(DESGRANGES, 2006: 95)

Jogos Jogos teatraisteatrais

Jogos teatraisJogos teatraisA norte-americana A norte-americana Viola SpolinViola Spolin

(1906-1994) foi a primeira a (1906-1994) foi a primeira a sistematizar e refletir acerca sistematizar e refletir acerca dos jogos teatrais. dos jogos teatrais.

Seu trabalho baseia-se, em parte, Seu trabalho baseia-se, em parte, na experiência que teve com na experiência que teve com Neva Boyd, educadora que Neva Boyd, educadora que introduziu jogos recreativos e introduziu jogos recreativos e danças folclóricas para danças folclóricas para imigrantes, no período da imigrantes, no período da grande depressão, em Chicago, grande depressão, em Chicago, a partir de 1924.a partir de 1924.

Principais livros de Spolin:Principais livros de Spolin:

-Improvisação para o teatro (1963) traduzido no Brasil, em 1978, por Koudela.

- O jogo teatral no livro do diretor (1999)

- Jogos teatrais: O fichário de Viola Spolin (2001)

Elementos básicos do jogo:

- Jogadores e platéia;

- Foco;

- Instrução;

- Avaliação;

- Pontos de observação.

Aspectos importantes do Aspectos importantes do jogojogo

- Diferença entre “mostrar” e Diferença entre “mostrar” e “contar”;“contar”;

- A corporificação do A corporificação do

““onde”, “o que” e “quem”.onde”, “o que” e “quem”.

Drama Drama como método como método

de ensinode ensino

drama como método drama como método de ensinode ensino

Para Biange:Para Biange:

O drama como método de ensino é um modo ativo O drama como método de ensino é um modo ativo de aprender. Um instrumento de aprendizagem de aprender. Um instrumento de aprendizagem interdisciplinar, que estimula e é estimulado pelas interdisciplinar, que estimula e é estimulado pelas demais matérias. Sua particularidade reside no fato demais matérias. Sua particularidade reside no fato de envolver o aluno com áreas complexas da de envolver o aluno com áreas complexas da experiência humana, uma vez que sua natureza tem experiência humana, uma vez que sua natureza tem a ver com o descobrir e redescobrir novas dimensões a ver com o descobrir e redescobrir novas dimensões do material sendo investigadodo material sendo investigado..

De origem inglesa (Dorothy Heathcote) , é introduzido, no Brasil, por Beatriz Ângela Vieira Cabral (Biange), na década de 1990.

- O foco da pesquisa são as leituras e imagens do O foco da pesquisa são as leituras e imagens do meio ambiente através do drama.meio ambiente através do drama.

- Conceitos como “processo”, “pré-texto”, Conceitos como “processo”, “pré-texto”, “episódios”, articulados através da intervenção de “episódios”, articulados através da intervenção de um “professor-personagem” possibilitam a um “professor-personagem” possibilitam a exploração e descoberta coletiva de conhecimentos exploração e descoberta coletiva de conhecimentos interdisciplinares.interdisciplinares.

O livro Drama como método de ensino (2006) reflete acerca do trabalho desenvolvido por Biange, em parceria com UDESC, UFSC e rede de ensino pública de Florianópolis.

Um estudo de casoUm estudo de caso

Vera Bertoni dos Santos, em Vera Bertoni dos Santos, em

Brincadeira e conhecimento: Brincadeira e conhecimento: do faz-de-conta à do faz-de-conta à representação teatral.representação teatral.

- Analisar como se davam, na escola, - Analisar como se davam, na escola, as relações entre o jogo de faz-de-as relações entre o jogo de faz-de-conta e a representação intencional.conta e a representação intencional.

Questão central da Questão central da pesquisapesquisa

- Entrevistas com crianças entre 3 e 6 - Entrevistas com crianças entre 3 e 6 anos e seus respectivos professores anos e seus respectivos professores de teatro, em uma escola de classe de teatro, em uma escola de classe média, POA.média, POA.

MetodologiaMetodologia

ConclusãoConclusão

Hora da representação – Hora da representação – o autoritário “teatrinho”o autoritário “teatrinho”

(abordagem empirista)(abordagem empirista)

Hora da recreação – Hora da recreação – modelo não diretivomodelo não diretivo

(concepção (concepção epistemológica apriorista)epistemológica apriorista)x

Grande desafio do arte-Grande desafio do arte-educadoreducador

A ruptura em direção a um A ruptura em direção a um

novo paradigma epistemológico novo paradigma epistemológico

XXA perpetuação de modelos de A perpetuação de modelos de

representação engessadosrepresentação engessados

Fontes:Fontes: CABRAL, Beatriz A.V. CABRAL, Beatriz A.V. Drama como método de ensinoDrama como método de ensino. São Paulo: . São Paulo:

HUCITEC, 2006.HUCITEC, 2006. DESGRANGES, Flávio. DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do teatroPedagogia do teatro: provocação e : provocação e

dialogismodialogismo.. São Paulo: HUCITEC, 2006. São Paulo: HUCITEC, 2006. KOUDELA, I.D. KOUDELA, I.D. Jogos TeatraisJogos Teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984.. São Paulo: Perspectiva, 1984. PIAGET, J. PIAGET, J. A formação do símbolo na criançaA formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, . Rio de Janeiro: Zahar,

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