monografia keise nóbrega

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - CPqAM DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA – NESC PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA AVALIAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 AOS 5 ANOS DE IDADE NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DO RECIFE: A dimensão normativa Keise Bastos Gomes da Nóbrega Orientador: Paulo Germano de Frias Mestre em Pediatria pela UFPE. Recife 2003

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Page 1: Monografia Keise Nóbrega

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - CPqAM

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA – NESC PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA

AVALIAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 AOS 5 ANOS DE IDADE NAS UNIDADES

BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DO RECIFE: A dimensão no rmativa

Keise Bastos Gomes da Nóbrega

Orientador:

Paulo Germano de Frias

Mestre em Pediatria pela UFPE.

Recife 2003

Page 2: Monografia Keise Nóbrega

KEISE BASTOS GOMES DA NÓBREGA

AVALIAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 AOS 5 ANOS DE IDADE NAS UNIDADES

BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DO RECIFE: A dimensão no rmativa

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu em nível de Residência do Departamento de Saúde Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob a orientação do Dr. Paulo Germano de Frias.

Recife – 2003

Page 3: Monografia Keise Nóbrega

KEISE BASTOS GOMES DA NÓBREGA

AVALIAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 AOS 5 ANOS DE IDADE NAS UNIDADES

BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DO RECIFE: A dimensão no rmativa

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu em nível de Residência do Departamento de Saúde Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela Comissão formada pelos Professores: Orientador: ________________________________________ Paulo Germano de Frias _ IMIP/ Prefeitura do Recife Debatedor: ________________________________________ Lygia Carmen Vanderlei _ IMIP

Recife – 2003

Page 4: Monografia Keise Nóbrega

A conquista da realização deste trabalho foi possibilitada pelo apoio incondicional de Deus e dos meus familiares. É para eles que dedico esta obra.

Page 5: Monografia Keise Nóbrega

APRESENTAÇÃO

“ Há que se cuidar do broto Pra que a vida nos dê

Flor e fruto...” (Coração de Estudante – Milton Nascimento/ W. Tiso)

A reordenação do modelo de atenção à saúde tem gerado muitos conflitos e

reflexões de profissionais de saúde, gestores e usuários. Nesta perspectiva os

processos avaliativos ganham bastante destaque na medida em que fornecem dados

mais concretos sobre a situação a ser pesquisada. Diante deste aspecto a avaliação de

um dos programas que embasam a assistência a saúde da criança, o PAISC, foi

incorporado as ações da Diretoria Executiva de Atenção a Saúde da Criança e do

Adolescente.

A avaliação das ações do PAISC, em especial, a ação de Acompanhamento do

Cresc imento e Desenvolvimento da criança que será abordada neste trabalho, veio

proporcionar a muitos profissionais uma reflexão sobre as suas atividades e se estão

compatíveis com o que o Ministério da Saúde recomenda; aos gestores e usuários

sobre o grau de implantação desta ação, o que implica num conhecimento sobre a

execução ou não das atividades que a compõe.

A escolha deste tema, crescimento e desenvolvimento infantil, não foi ao acaso,

esteve sempre presente em meus estudos e em minha vida profissional. No trabalho

como Terapeuta Ocupacional em neurologia infantil tenho refletido bastante sobre as

crianças que estão sobrevivendo pela utilização dos modernos recursos tecnológicos e

assim, colaborando para reduzir o quadro de mortalidade infantil no país. A questão é:

com que qualidade de vida e sua felicidade e de seus familiares!

Neste sentido, o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento torna-se

de fundamental importância nas ações de prevenção e promoção da saúde, pois o

Page 6: Monografia Keise Nóbrega

encaminhamento precoce a profissionais especializados permite ações mais efetivas e

a melhores resultados no tratamento.

Infelizmente a falta de interdisciplinaridade entre os profissionais tem

fragmentado as ações de saúde e gerado o desconhecimento da atuação dos outros

profissionais e sobre a existência de diversos serviços, inclusive, das normatizações e

programas governamentais. O que busco, portanto, com este trabalho é mais do que

apresentar resultados, mas chamar a atenção de todos para um trabalho mais

integrado, em especial, às Unidades Básicas de Saúde por sua proximidade estratégica

da comunidade e seu “poder” de agir prematuramente, antes mesmo da instalação dos

problemas.

A construção desta pesquisa foi fruto da união de várias pessoas que

colaboraram direta e indiretamente para a sua execução, o que me proporcionou uma

sensação maravilhosa de estar contribuído para uma melhor assistência as crianças,

bem como, os bons frutos colhidos de aprendizado pessoal. A partir deste

reconhecimento faço os meus agradecimentos:

• Ao meu supervisor de estágio e orientador Paulo Frias pela brilhante maneira

com que conduz suas ações, dando um exemplo indescritível de profissionalismo

e me transmitindo a saúde coletiva em sua essência.

• A Lygia Carmen, minha debatedora, por ter aceitado colaborar com este

trabalho;

• Ao meu marido Douglas, por me fazer feliz;

• A meu filho Thales e este novo bebê que estou aguardando, por terem me

proporcionado um sentimento indescritível: “ser mãe”;

Page 7: Monografia Keise Nóbrega

• Aos meus pais e irmãos por me confortarem ao saber que tenho uma base de

amor a qualquer momento;

• A todos os professores da Residência que me ampliaram os conhecimentos em

Saúde Coletiva;

• A Eduarda Cesse, Coordenadora da Residência, que me apoiou e tranqüilizou

nos momentos de angústia;

• As amigas que adquiri com a Residência : Kamila, Cinthia, Graziela, Milena,

Gisele, com quem vivenciei momentos maravilhosos. Em especial, a Vilma e

Luciana que estiveram mais próximas compartilhando os processos de

construção pessoal e profissional. Formamos uma equipe maravilhosa e

colhemos muitos frutos com isto!

• A todos os funcionários do NESC, especialmente a Janice a quem tanto

requisitei e sempre me atendeu com presteza;

• A Secretaria Municipal de Saúde do Recife, pela oportunidade de oferecer um

excelente campo de estágio na Diretoria Executiva de Saúde da Criança e do

Adolescente;

• A equipe de amigos da Diretoria Executiva de Saúde da Criança e do

Adolescente, Maria de Jesus e Graça. Especialmente a Ivanise Tibúrcio que me

acolheu como uma verdadeira amiga e me guiou nos momentos de indecisão

com suas palavras doces e sábias;

• Aos profissionais que participaram desta pesquisa pela disponibilidade em

responder as inúmeras questões e Distritos Sanitários pela viabilização desta;

Page 8: Monografia Keise Nóbrega

• Ao IMIP pelo apoio e financiamento do pôster, elaborado com os dados da

pesquisa, para o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva;

• A Suely pela capacitação na aplicação do instrumento e Eroneide por ter

facilitado o trabalho nas unidades conveniadas com a instituição;

• Ao Departamento de Terapia Ocupacional/UFPE que através de excelentes

professores me deram a formação profissional que tanto amo e por nunca

deixarem de acreditar em mim;

• A todos os outros, que porventura tenha esquecido de mencionar, mas que

contribuíram com este trabalho.

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS ACD Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento

ACS Agentes Comunitários de Saúde

AIDPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância

ASA Agente de Saúde Ambiental

CS Centro de Saúde

DS Distrito Sanitário

ESF Equipe de Saúde da Família

ER Equipe de Retaguarda

ICS Índice de Condição de Sobrevivência

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMIP Instituto Materno Infantil de Pernambuco

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MS Ministério da Saúde do Brasil

NOAS Norma Operacional de Atenção a Saúde

NOB Norma Operacional Básica

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PSF Programa Saúde da Família

PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PAISC Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança

PRMI Projeto de Redução da Mortalidade Infantil

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância

USF Unidade de Saúde da Família

Page 10: Monografia Keise Nóbrega

RESUMO

NÓBREGA, K.B.G. AVALIAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 AOS 5 ANOS DE IDADE NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DO RECIFE: A dimensão no rmativa. Recife: 2003. Monografia (Residência) Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo Cruz.

Este trabalho teve como objetivo principal avaliar a ação programática Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento (ACD) das crianças de 0 aos 5 anos, nas Unidades Básicas de Saúde da cidade do Recife no ano de 2002. Trata-se de um estudo avaliativo normativo, descritivo, de corte transversal. Realizado em todas as Unidades Básicas de Saúde do município do Recife, representadas por 84 Equipes de Saúde da Família (ESF) e 42 Centros de Saúde (CS) que prestavam atendimento no período de janeiro a abril de 2002. Utilizou-se o Instrumento Gerencial de Saúde da Criança adaptado para a estratégia de Atenção Integral às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI). As atividades de ACD foram categorizadas como: implantada, quando todas as atividades (100%) eram executadas; parcialmente implantada, quando havia a realização de 50% a 90% das atividades e não implantada, menos de 50% das atividades preconizadas. Houve uma predominância de 88,9% na condição de parcialmente implantada nas UBS. Em apenas (2,4%) destas, observamos a implantação, que aconteceu nas ESF e a não implantação (8,7%) excepcionalmente observada, nos CS. Encontramos pontos de fragilidade em comum aos CS e ESF como: a falta de entrosamento com Instituições de Apoio Social, a não realização sistemática de Práticas Educativas e a falta de Material Educativo. Os CS praticamente não realizam a Captação Precoce das Crianças e o Envolvimento Multiprofissional não tem acontecido. Na ação de ACD infantil as ESF revelam uma significativa melhoria nas atividades de saúde coletiva à criança, comparando-se com as unidades que ainda mantém um caráter predominantemente assistencialista (CS), apesar de ainda terem muito que melhorarem, considerando a não implantação da ação por algumas dificuldades e deficiências que foram apontadas nesta pesquisa.

Page 11: Monografia Keise Nóbrega

ABSTRACT

NÓBREGA, K.B.G. EVALUATION OF THE ACCOMPANIMENT OF THE GROWTH AND THE DEVELOPMENT OF THE CHILD FROM 0 TO THE 5 YEARS OF AGE IN THE BASIC UNITS OF HEALTH OF THE CITY OF RECIFE: The Normative Dimension. Recife: 2003. Monograph (Residence) Nucleus of Studies in Collective Health of the Center of Research Aggeu Magalhães of the Oswaldo Cruz Foundation. This work had as main objective to evaluate the programmatical action Accompaniment of the Growth and Development (ACD) of the children from 0 to the 5 years, in the Basic Units of Health of the city of Recife in the year of 2002. One is about a normative, descriptive avaliative study, of transversal cut. Carried through in all the Basic Units of Health of the city of Recife, represented for 84 Teams of Health of Família (ESF) and 42 Centers of Saúde (CS) that they gave to attendance in the period of January the April of 2002. The Managemental Instrument of Health of the Child adapted for the strategy of Integral Attention to the Prevalent Illnesses in Infancy (AIDPI). The activities of ACD had been categorized as: implanted, when all the activities (100%) were executed; partially implanted, when it had among 50% and 90% accomplishment of the activities and not implanted, less than 50% of the praised activities. It had a predominance of 88,9% in the condition of partially implanted in the UBS. In only (2,4%) of these, we observe the implantation, that happened in the ESF and not the implantation (8,7%) exceptionally observed, in the CS. We have found brittle points in common to CS and ESF as : the intermeshing lack with Institutions of Social Support not the systematic lack and, accomplishment Practical Educative of Educative Material. The CS practically do not carry through the Precocious Captation of the Children and the Envolvement Multiprofissional has not happened. In the infantile action of ACD the ESF disclose a significant improvement in the activities of collective health to the child, comparing itself with the units that still a predominantly assistencialist character keeps (CS), although still to have much that to improve, considering not the implantation of the action for some difficulties and deficiencies that had been pointed in this research.

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SUMÁRIO

Pág. APRESENTAÇÃO V LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS IX RESUMO X ABSTRACT XI LISTA DE QUADROS XIV LISTA DE GRÁFICOS XIV LISTA DE TABELAS XIV

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 Contexto Histórico 2 1.2 Assistência à saúde da criança no Brasil 5 1.3 Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento Infantil 7 1.4 Avaliação em Saúde 10

2 JUSTIFICATIVA 13

3 OBJETIVOS 15

3.1 Geral 16 3.2 Específicos 16

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 17

4.1 Área de Estudo 18 4.2 Tipo de Estudo 19 4.3 Universo do Estudo/Período de Referência 19 4.4 Instrumento de Avaliação 20 4.5 Coleta dos Dados 21 4.6 Aspectos Éticos 22 4.7 Confiabilidade dos Dados 22 4.8 Validade do Instrumento 23 4.9 Plano de Análise 23

5 RESULTADOS 25

5.1 Ação programática de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil: um olhar sobre o município do Recife.

26

5.2 Um olhar sobre os Centros de Saúde do município do Recife 28

Page 13: Monografia Keise Nóbrega

5.3 Um olhar sobre as Equipes de Saúde da Família do município do Recife

29

5.4 Um olhar desagregado sobre o município do Recife: realidade dos Distritos Sanitários

30

6 DISCUSSÃO 34

6.1 Considerações preliminares 35 6.1.1 O modelo de atenção à saúde no município do Recife 35 6.1.2 Linhas estratégicas para Atenção à Saúde da Criança da Secretaria

de Saúde do Recife 36

6.2. O grau de implantação da ação programática de ACD na cidade do Recife

37

6.2.1 A captação de crianças para acompanhar o crescimento e o desenvolvimento

39

6.2.2 A utilização do cartão da criança no ACD das crianças menores de 1 ano e de 1 a 4 anos.

40

6.2.3 O registro diário dos atendimentos 42 6.2.4 O registro de crianças abaixo do percentil 10 42 6.2.5 O acompanhamento ou referência de todas as crianças abaixo do

percentil 3 43

6.2.6 A implantação de algum programa de combate às carências nutricionais

44

6.2.7 O acompanhamento ou referência de todas as crianças com alteração no desenvolvimento

46

6.2.8 Existência de entrosamento da instituição com entidades de apoio social

47

6.2.9 Envolvimento multiprofissional para o ACD 48 6.2.10 Desenvolvimento de atividades de educação em saúde para esta

ação 50

6.2.11 Estoque suficiente de cartão da criança 51 6.2.12 Existência de material educativo 52 6.2.13 Existência de normas do Ministério da Saúde para o ACD 54

6.3 Considerações finais da discussão 56

7 CONCLUSÕES 58

8 RECOMENDAÇÕES 62

9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 65 ANEXOS 71

Page 14: Monografia Keise Nóbrega

LISTA DE QUADROS

Pág.

Quadro 1 Distribuição das Unidades de Saúde da Família, Equipes de Saúde da Família e Centros de Saúde por distrito sanitário do Recife, participantes do estudo, 2002.

20

LISTA DE GRÁFICOS

Pág.

Gráfico 1 Grau de Implantação da ação ACD nas unidades básicas de saúde na cidade do Recife, 2002.

26

Gráfico 2 Grau de Implantação da ação de Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento Infantil nos Centros de Saúde da cidade do Recife, 2002.

28

Gráfico 3 Grau de Implantação da ação de ACD nas ESF da cidade do Recife, 2002.

29

Gráfico 4 Grau de Implantação da ação de ACD nas Unidades Básicas de Saúde em estudo, Recife 2002.

31

LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1 Distribuição da freqüência de atividades relacionadas com o

ACD nas ESF e CS da cidade do Recife,2002.

27

Tabela 2 Distribuição da freqüência de atividades relacionadas com o ACD nas ESF por DS da cidade do Recife,2002.

32

Tabela 3 Distribuição de freqüência de atividades relacionadas ao Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento nos Centros de Saúde por DS do Recife, 2002.

33

Page 15: Monografia Keise Nóbrega

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Page 16: Monografia Keise Nóbrega

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

As décadas de 60 e 70 foram marcadas por debates mundiais abordando a

impactação das condições sócio-econômicas sobre a saúde e a necessidade de mudanças

no modelo de atenção à saúde, visando superar o pensamento assistencialista

predominantemente centrado no controle da doença (Brasil. Ministério da Saúde, 2001a).

Um momento bastante relevante neste processo aconteceu em 1978 na cidade de

Alma-Ata, quando surge na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde

um novo paradigma com a proposta de Saúde Para Todos no Ano de 2000. A Declaração

de Alma-Ata trouxe uma visão mais ampliada da saúde, além de enfatizar a necessidade do

envolvimento dos cidadãos e a importância da intersetorialidade na realização das ações e

com prioridade para os cuidados primários de saúde (Brasil. Ministério da Saúde, 2001a).

Este novo olhar do contexto de saúde impulsionou o movimento pela Reforma

Sanitária que culminou com “a formulação e implementação de um conjunto de leis, normas

e políticas voltadas à reestruturação do financiamento, gestão e organização do sistema

público de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), que se assenta nos princípios da

integralidade, universalidade e equidade do cuidado à saúde da população” (Pinto e

Texeira, 2000).

Segundo estes autores ao ser incorporado esse conceito de saúde à Constituição

Federal de 1988, impôs-se uma transformação radical ao sistema de saúde brasileiro e

uma das primeiras estratégias de mudança do tradicional modelo de assistência à saúde,

foi a criação do PACS - Programa de Agentes Comunitários e PSF-Programa Saúde da

Família, pelo Ministério da Saúde, para atuar nas ações básicas de saúde do sistema

municipal.

Em 1991 começaram as implantações dos PACS e a partir de 1994, foram

formadas as primeiras Equipes de Saúde da Família (ESF), incorporando e ampliando a

atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), com o objetivo de se alcançar a

reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios mais humanizados em

Page 17: Monografia Keise Nóbrega

detrimento ao modelo tradicional de assistência a saúde disposto no nível primário através

dos Centros de Saúde que tem como uma das suas fragilidades a falta de responsabilidade

sanitária pela população atendida, pois dispõe o atendimento através de demanda

espontânea, vinda de diversas localidades e por procura de especialidades (Costa, 2000;

Brasil. Ministério da Saúde, 2003b).

Com isto, o usuário é visto de forma fragmentada e de acordo com a manifestação

da doença. Desta forma, desconsidera-se sua diferente dimensão de indivíduo, além de

dificultar um vínculo desejável com o profissional de saúde que perde a integração com os

problemas da comunidade.

Diante destas considerações, as ESF através das Unidades de Saúde da Família

(USF) vêm facilitar o acesso de assistência à saúde da comunidade, por estarem mais

próximas aos usuários, bem como objetivam um maior envolvimento da equipe de saúde

com as famílias. Devem constituir o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde,

ou seja, a “porta de entrada” da assistência básica. (Brasil. Ministério da Saúde, 2000).

Nos PSF a atenção está centrada na família, que é compreendida a partir de

seu ambiente físico e social, como núcleo básico da abordagem. O que vem

possibilitando uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e a necessidade

de intervenções, que vão além das práticas curativas. Através de uma assistência

integral, resolutiva, contínua e de boa qualidade de 80 a 85% das necessidades de saúde

de uma comunidade, podem ser resolvidos na própria unidade. Portanto, é importante

considerarmos que as USF não sejam entendidas como apenas um local de triagem, onde

a maior parte dos casos são encaminhados para os serviços especializados. (Costa, 2000;

Brasil. Ministério da Saúde, 2002).

As ESF podem ser compostas por médico, enfermeiro, dentista, auxiliar de

enfermagem, técnico de higiene dentária, auxiliar de consultório dentário e agente

comunitário de saúde. Esta equipe multiprofissional do PSF tem a responsabilidade com a

saúde de aproximadamente 750 famílias, delimitadas geograficamente, na qual a equipe de

Page 18: Monografia Keise Nóbrega

saúde estará inserida, conhecendo-se assim, os problemas sociais, econômicos e o perfil

epidemiológico de cada localidade (Brasil. Ministério da Saúde, 2003b).

Atualmente no Recife existem 126 ESF sediadas nas respectivas 65 USF que

comportam de uma a três ESF. Além das USF a Atenção Básica conta também, com 33

Centros de Saúde, com unidades tradicionais funcionando ainda no tradicional modelo de

atenção, onde o atendimento é realizado por médicos especialistas de acordo com a

necessidade específica do paciente, mas que também servirão como porta de entrada e

atenderão às necessidades básicas da população (Recife. Secretaria de Saúde, 2002c).

O que se observa na cidade é a tendência nacional de reorganização do sistema de

saúde, através da incorporação dos princípios e diretrizes do SUS e a ampliação do PSF

como prioridade da política de saúde. O modelo de atenção à saúde que está em

implantação na cidade do Recife tem como referencial “a atenção à saúde de todos, a

garantia de atendimento nos três níveis assistenciais de acordo com as necessidades e o

desenvolvimento de uma prática que previna, promova, proteja e reabilite, através de ações

globais, intersetoriais e intra-setoriais” (Recife. Secretaria de Saúde, 2002b).

Dentro deste ideal, a Secretaria de Saúde adota em seu Plano Municipal a

expressão “Cidade Saudável” que surgiu na Conferência canadense de 1984 – “Além do

Cuidado da Saúde” e com esta idéia vem avançando no conceito de “empedramento” e

participação social, onde se propõe a transcender o modelo tradicional, transformando a

prática de saúde além da assistência, através de ações norteadas por prioridades sociais.

(Brasil. Ministério da Saúde, 2001a; Recife. Secretaria de Saúde, 2002b).

Uma destas prioridades sociais estabelecidas no Plano Municipal de Saúde de 2002

a 2005 é a redução da mortalidade infantil através do acompanhamento de crianças de

risco e melhoria na assistência destas e de gestantes. Os óbitos infantis no primeiro ano de

vida têm sido um indicador revelador do nível global de saúde e condições de vida de uma

população. Neste sentido, a implantação de programas como o PSF e PACS têm

colaborado bastante na vigilância a saúde infantil, prevenção e promoção desta, com a

facilitação do acesso aos serviços de saúde (Recife. Secretaria de Saúde, 2002b e Frias

2001).

Page 19: Monografia Keise Nóbrega

É interessante pontuar que o município do Recife encontra-se na melhor situação do

estado quanto ao índice de condição de sobrevivência (ICS), mas ao ser comparado com a

região sudeste, que apresenta o melhor desempenho dos indicadores no Brasil, evidencia-

se que ainda tem muito por melhorar, considerando as precárias condições de vida a que

está submetida sua população e reflete o quadro de grande desigualdade econômico-social

na região, apontando para a necessidade do estabelecimento de prioridades de intervenção

(Pernambuco. Secretaria Estadual, 1998).

1.2 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA NO BRASIL

Dentro da política em favor da criança o Ministério da Saúde do Brasil vem

desenvolvendo estratégias com o objetivo de reduzir a morbi-mortalidade infantil através

das ações básicas de saúde, com priorização para ações de prevenção de doenças e

promoção da saúde, considerando os princípios e diretrizes do novo modelo de saúde

vigente (Brasil. Ministério da Saúde, 2003a).

Uma das estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde, a partir de 1984, foi a de

priorizar cinco ações básicas de saúde (Promoção do Aleitamento Materno, Prevenção e

Controle das Doenças Diarréicas e das Infecções Respiratórias Agudas, Imunizações e o

Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento), que se constituíram como o

centro da atenção na rede básica de saúde, pois se mostravam bastante efetivas, neste

período, às necessidades da saúde da criança, tendo-se em vista aspectos de

morbimortalidade da época (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Estas cinco ações programáticas compuseram o Programa de Assistência Integral

à Saúde da Criança (PAISC) que em 1986 foi implantado com o objetivo de melhorar as

condições de atenção à saúde das crianças de 0 a 5 anos através da promoção da saúde

de forma integral, procurando qualificar a assistência, com aumento da cobertura dos

serviços de saúde e priorizando os grupos de risco (Brasil. Ministério da Saúde, 2003a).

O desenvolvimento de ações voltadas à saúde da criança prosseguiu com a

implantação do Projeto de Redução da Mortalidade Infantil (PRMI) em 1995 que teve como

objetivo “a redução dos óbitos infantis e a melhoria da situação de saúde das crianças

através dos diversos programas governamentais...”, reafirmando-se os compromissos

Page 20: Monografia Keise Nóbrega

assumidos nos encontros nacionais e internacionais de saúde (Brasil. Ministério da Saúde

apud Frias, 2001).

Algumas das estratégias mais recentes desenvolvidas objetivando-se a redução da

mortalidade infantil e a melhoria da saúde das crianças foi a implementação da estratégia

AIDPI (Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância) em 1997, que manteve a

filosofia do PAISC. “Reconhecida atualmente como a intervenção que proporciona a melhor

relação custo-benefício para diminuir a carga de doença na população e para melhorar as

condições de saúde da infância” (Amaral et al., 2002).

Em 2000 o governo brasileiro, atendendo a uma convocação da Organização Pan-

Americana de Saúde (OPS), lançou a “Meta 2002: Crianças Saudáveis”, objetivando a

melhoria dos padrões de saúde e a redução de cem mil óbitos de menores de 5 anos na

região das Américas (Amaral et al., 2002).

A meta mais recente, “Um mundo para as crianças”, foi estabelecida pela Cúpula

do Milênio, realizada na Assembléia geral das Nações Unidas onde 189 países

comprometeram-se a cumprir os seguintes objetivos para o ano 2015: erradicar a pobreza

extrema e a fome; alcançar o ensino fundamental e universal; promover a igualdade de

gêneros e autonomia da mulher, reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna;

combater o HIIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade do meio

ambiente e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento (Nova Iorque.

Nações Unidas, 2002).

Percebe-se, portanto, que as crianças compreendidas na primeira infância recebem

uma atenção especial, por serem mais vulneráveis ao adoecimento e morte, no âmbito

internacional e nacional através do Ministério da Saúde, com a implementação de

programas como o Programa de Saúde da Família (PSF) e Programa de Agentes

Comunitários de Saúde (PACS), de Ações Programáticas Estratégicas (Saúde da Criança)

e da Política de Alimentação e Nutrição (Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais e

Programa Bolsa-Alimentação) (Brasil. Ministério da Saúde, 2002b).

A despeito destes programas e políticas destinadas às crianças de zero a seis anos,

estudos realizados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelam a

Page 21: Monografia Keise Nóbrega

desarticulação das ações e a insuficiente cobertura em plano nacional, o que vem

comprometendo a continuidade de seus efeitos. Apesar destas dificuldades político-

administrativas e sociais, as ações governamentais e a melhoria da qualidade de vida,

refletiram no panorama epidemiológico e demográfico do país que passa por importantes

modificações como o declínio da mortalidade infantil que em 1984 era de 70,9 óbitos/mil

nascidos vivos passa a ser 29,6 óbitos/mil nascidos vivos em 2000. O que vem

proporcionando um aumento considerável de crianças sobreviventes nos primeiros anos de

vida e remete um compromisso além da sobrevivência, com o bem-estar e a qualidade de

vida destas (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Muitas pesquisas vêm enfatizando a importância dos primeiros anos de vida como

fase fundamental para o desenvolvimento da pessoa, da inteligência, da personalidade dos

valores culturais, sociais e espirituais. Daí o reconhecimento de que a prevenção de

problemas ou de patologias nesse período exerce efeitos duradouros na constituição do ser

humano (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Neste contexto o Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento infantil

ganha bastante destaque, já que o objetivo principal desta ação “é identificar precocemente

a criança em risco de adoecer ou doente”. O exercício desta ação põe em evidência,

precocemente os transtornos que afetam a saúde da criança e, fundamentalmente, sua

nutrição, sua capacidade mental e social, identificando, portanto em tempo hábil, o risco de

morbidade e mortalidade (Pernambuco. Secretaria de Saúde, 1996).

1.3 ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Avaliando-se o crescimento e o desenvolvimento infantil pode-se ter uma visão

global da criança, inserida no contexto em que vive, bem como, aspectos particulares de

sua situação pregressa e evolutiva sendo, portanto, um importante indicador de saúde da

criança e atua desta forma como um elemento importante para trabalhar na organização

dos serviços. (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Page 22: Monografia Keise Nóbrega

Seguindo este pensamento, Cunha et al. (1999) concluem que “o déficit do crescimento

e desenvolvimento leva posteriormente a um aprendizado insatisfatório durante a infância e

adolescência. O que segundo Baldwin & Burton (1974), contribui para uma baixa

produtividade, uma menor renda e uma pior qualidade de vida perpetuando o ciclo de

pobreza por gerações subseqüentes”. Diante deste indicativo o Acompanhamento do

Crescimento e do Desenvolvimento tornou-se uma ação bastante presente na história da

política e saúde da criança.

Desde 1984 que o Ministério da Saúde investe nesta ação, quando definiu o

Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento como uma das cinco ações

básicas da Assistência à Saúde da Criança e como o eixo integrador desta assistência.

Para este fim, estabeleceu protocolos, definiu indicadores, pontos de corte, padrão de

referência, além da elaboração de instrumentos (o Cartão da Criança e Ficha de

Acompanhamento do Desenvolvimento) e o Manual de Normas Técnicas. Os profissionais

de saúde dos serviços participaram de cursos de sensibilização e capacitação sobre este

tema (Brasil. Ministério da Saúde, 2003b).

O Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento foi reconhecido e

recomendado como compromisso universal, impondo-se como um dever do estado e de

direito da população, de acordo com as determinações efetivadas na Reunião de Cúpula

em Favor da Infância (Nova Iorque, 1990) e na Conferência Internacional de Nutrição

(Roma, 1992) (Brasil. Ministério da Saúde, 2003b).

Acompanhando o processo de reestruturação do modelo de atenção à saúde, tornou-se

uma ação estratégica mínima de atenção básica referente à saúde da criança, que está

descrita na NOAS-SUS 01/01, a qual atualiza a regulamentação da assistência no processo

contínuo de consolidação e aprimoramento do SUS. Define-se com uma das condições

para o processo de habilitação na Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (Brasil.

Ministério da Saúde, 2001b).

Neste contexto, as atividades para o acompanhamento do crescimento e

desenvolvimento infantil foram sendo gradativamente incorporadas as ações dos PACS e

PSF. São as ACS que pesam as crianças e registram no Cartão, desenham as curvas no

Page 23: Monografia Keise Nóbrega

gráfico peso/idade, orientam as mães e reportam os achados à Unidade de Saúde,

potencializando-se a assistência à saúde das crianças, com destaque para a disseminação

do uso do Cartão da Criança (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

O Cartão da Criança é o instrumento proposto pelo Ministério da Saúde para o

Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da criança até os cinco anos de

idade, além de servir também para o registro de vacinas e adoecimento. O peso e a altura

são os indicadores do desenvolvimento e nutrição da criança servindo como parâmetro aos

gestores. (Brasil. Ministério da Saúde, 1995a; Brasil. Ministério da Saúde, 1994).

O monitoramento do crescimento (desenvolvimento físico) é feito através do gráfico

peso-idade, baseado no crescimento médio da população e o desenvolvimento é registrado

de acordo com etapas referentes a atividades (comportamentos) esperadas à idade. (Brasil.

Ministério da Saúde, 1994).

A curva peso/idade pode ser considerada um dos indicadores mais importantes da

saúde da criança, porque mostra claramente as evoluções, agravos ou dificuldades no seu

desenvolvimento global (Brasil. Ministério da Saúde, 1994).

Este acompanhamento sistemático é possibilitado porque este processo ocorre dentro

de uma certa previsibilidade, já que o crescimento e o desenvolvimento ocorrem em uma

mesma seqüência e em ritmos semelhantes onde se avalia a normalidade da evolução e

para que assim, a criança possa receber em cada etapa a estimulação mais adequada,

contribuindo para que o processo ocorra da melhor forma possível, aproveitando-se todo o

potencial da criança (Brasil. Sociedade Brasileira de Pediatria, sd).

De acordo com Marcondes (1986) o “crescimento” está relacionado a fatores físicos

como: mudanças das dimensões corpóreas – peso, estatura, perímetro cefálico e

toráxico, etc. e o “desenvolvimento funcional” envolve as aquisições e aperfeiçoamento

de capacidades e funções, que permitem à criança realizar coisas novas,

progressivamente mais complexas e com uma habilidade cada vez maior .

Page 24: Monografia Keise Nóbrega

Segundo este autor o crescimento e o desenvolvimento infantil são resultantes de

fatores extrínsecos e intrínsecos. Os fatores extrínsecos constituem: fatores nutricionais

(calorias, proteínas, glicídios, lipídeos, vitaminas, sais e água) e fatores ambientais

(interação mãe-filho, condições sócio-econômicas, urbanização e condições geofísicas). Os

fatores intrínsecos são representados basicamente por fatores genéticos, neurológicos e

endócrinos. Os fatores ambientais são muito mais relevantes para a expressão do potencial

de crescimento que os fatores genéticos que apresentam sua influência marcada na

criança maior, no adolescente e no jovem (Marcondes, 1986).

Sendo assim, o crescimento da criança serve como indicativo de saúde/doença em

razão de sua relação com fatores extrínsecos os quais refletem as condições de vida, além

de interferir na capacidade da criança atingir o seu potencial máximo de crescimento,

dotado por sua carga genética (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Tomando-se estas considerações, a avaliação de forma periódica das condições de

saúde e nutrição na área materno-infantil, contextualizada no ambiente físico, econômico e

social passam a assumir uma estratégia de fundamental importância para os gestores, na

medida em que instrumentaliza instâncias políticas e administrativas, além de oferecer um

suporte para o planejamento e o gerenciamento de programas fundamentados em fatores

relevantes e na sua determinação (Filho e Romani, 2002).

Neste sentido o Ministério da Saúde elaborou em 1987 o primeiro Instrumento de

Avaliação do grau de implantação e/ou implementação do Programa de Assistência a

Criança, o PAISC, na época. O instrumento foi aperfeiçoado em 1995 com a colaboração

de vários estados brasileiros, na tentativa de se traçar o perfil deste programa nos estados

e municípios, identificando-se as dificuldades presentes e diante dos resultados, mobilizar

alternativas para a sua viabilização (Brasil. Ministério da Saúde, 1995b).

Apesar de existirem instrumentos como este, é importante comentar que poucas

avaliações foram realizadas na área de Saúde da Criança nos últimos anos, considerando

o quantitativo de programas, projetos e ações desenvolvidas na área, inclusive quanto às

atividades relacionadas ao Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento Infantil

(Brasil. Ministério da Saúde, 2003).

Page 25: Monografia Keise Nóbrega

1.4 AVALIAÇÃO EM SAÚDE

A avaliação em saúde tem sido cada vez mais necessária diante do processo

dinâmico que envolve o setor, como: mudança de perfil epidemiológico e rápida

incorporação de tecnologias. Sendo assim, as bases programáticas precisam

constantemente ser discutidas dentro dos serviços e sistemas de saúde para saber se

estão correspondendo aos seus objetivos e adequando-se às respectivas realidades.

(Barbosa e Coelho, 2002).

Hartz (1997) descreve os objetivos de uma avaliação, que são numerosos e dentre

os oficiais podemos destacar: o auxílio para o planejamento e para a elaboração de uma

intervenção; a busca de aperfeiçoamento e a aquisição de conhecimento para elaboração

teórica. Do ponto de vista da dimensão técnica, a avaliação permite se averiguar a

qualidade dos serviços definidos a partir de critérios pré-estabelecidos.

Neste sentido Contandriopolos et al. (1997) consideram que “avaliar consiste

fundamentalmente, na realização de um julgamento de valor a respeito de uma intervenção

ou sobre qualquer um de seus componentes, com objetivo de ajudar na tomada de

decisões”. Este julgamento deve ser resultado da aplicação de critérios e normas

(avaliação normativa), ou então que seja elaborado a partir de um procedimento científico

(pesquisa avaliativa).

Estes autores conceituam avaliação normativa como “a atividade que consiste em

fazer um julgamento sobre uma intervenção, comparando os recursos empregados e sua

organização (estrutura), os serviços ou os bens produzidos (processo), os resultados

obtidos, com critérios e normas”. As avaliações normativas apóiam-se no postulado de que

“existe uma relação forte entre o respeito aos critérios e às normas escolhidas e os efeitos

reais do programa ou da intervenção”. Sendo assim, este tipo de avaliação se adequa às

funções de controle, acompanhamento e garantia de qualidade, sendo apropriada ao

estudo de programas e organizações.

Page 26: Monografia Keise Nóbrega

A avaliação de Sistemas/Programas de Saúde fornece um conhecimento mais

profundo do seu funcionamento e a partir de suas falhas e virtudes pode-se aperfeiçoar

estratégias para implantação de ações, tendo-se como objetivo final a melhoria do

sistema como um todo, mediante a otimização dos programas específicos produzidos

dentro deles (Felisberto, 2001).

Filho e Costa (1999) lembram que o processo de avaliação deve ser contínuo e

dinâmico, na medida em que é um processo organizativo, pois tenta determinar de

forma sistemática e objetiva a relevância, efetividade e impacto das atividades, tendo

em vista seus objetivos, que visa tanto melhorar as atividades em andamento quanto

planejar o futuro e orientar a tomada de decisões, funcionando como uma ferramenta

orientadora para a ação e a aprendizagem.

Reis et al. (1990) concluem que a avaliação pode ajudar os gerentes na tomada

de decisões e no planejamento de intervenções, na medida em que gera informações e

se busca o controle dos custos e com qualidade de assistência, considerando o

momento em que se discute a reorganização dos serviços de saúde no Brasil e tendo

como pano de fundo a crise econômica mundial.

Page 27: Monografia Keise Nóbrega

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Page 28: Monografia Keise Nóbrega

Frente ao processo de reestruturação do modelo de atenção a saúde e a

situação deficitária político-econômica do sistema, a avaliação de programas ganha

importância como elemento essencial ao planejamento, na redefinição de prioridades e

no redirecionamento das ações.

Ainda há pouco conhecimento acerca do grau de integralidade das ações

ofertadas na área de Saúde da Criança, sua eficiência, eficácia e efetividade, inclusive

quanto à ação de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento Infantil que é

tida como o eixo da estruturação do atendimento à saúde da criança. O que nos remete

que a prática avaliativa ainda é pouco institucionalizada.

Em virtude do quadro nacional descrito e, especificamente para o estado de

Pernambuco, com a persistência de condições de vida e saúde extremamente

desfavoráveis, além da insuficiente disponibilidade de informações sobre a cidade do

Recife, a Secretaria Municipal de Saúde vem desenvolvendo uma série de ações

voltadas para o diagnóstico das condições de vida, saúde e da prestação de serviços

das Unidades de Saúde, objetivando-se intervenções governamentais mais efetivas e

direcionadas as necessidades da comunidade.

O presente estudo enquadra-se neste processo na medida em que pretende

conhecer a situação da ação de Acompanhamento do Crescimento e do

Desenvolvimento e suas atividades programáticas preconizadas pelo Ministério da

Saúde para o Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança no conjunto dos

Centros de Saúde e Equipes de Saúde da Família que prestam estes serviços a

comunidade.

Page 29: Monografia Keise Nóbrega

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Page 30: Monografia Keise Nóbrega

3.1 GERAL

Avaliar a ação programática, Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento

das crianças de 0 a 5 anos, nas Unidades Básicas de Saúde na cidade de Recife no

ano de 2002.

3.2 ESPECÍFICOS

��Verificar o grau de adesão às normas preconizadas pelo Ministério da Saúde na

ação de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da Criança nos

Distritos Sanitários do Recife;

��Identificar o grau de implantação da ação programática do PAISC:

Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da Criança, nos Centros de

Saúde e Equipes de Saúde da Família;

��Comparar a performance da ação programática de Acompanhamento do

Crescimento e do Desenvolvimento nas Equipes de Saúde da Família e nos Centros

de Saúde;

Page 31: Monografia Keise Nóbrega

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4.1 ÁREA DE ESTUDO

Page 32: Monografia Keise Nóbrega

O Recife está inserido na zona Litoral-Mata da Região Nordeste do Brasil, com

uma área territorial de aproximadamente 220 km2 e uma densidade demográfica de 6,6

mil hab/km². A Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) estima para o ano de 2002, a

partir de dados censitários do IBGE de 2000, uma população de aproximadamente

1.462.966 habitantes, onde 680.425 são do sexo masculino, e 782.541 do sexo

feminino (Recife. Secretaria de Saúde, 2002b).

O território do município passou por divisões físico-territoriais e político-

administrativas onde foram instituídos os 6 Distritos Sanitários que correspondem às

seis RPA (Região Político Administrativa) que abrangem os 94 bairros da cidade

(Recife.Secretaria de Saúde, 2002b).

A cidade expressa na sua configuração físico-territorial as diferenças provocadas

pelo quadro sócio-econômico que se consolidou ao longo de sua história com muitas

desigualdades sociais que vem gerando um processo de urbanização caótico, com

déficit de moradia, precárias condições de saneamento e saúde. Dos 376.022

domicílios particulares permanentes da cidade do Recife apenas 42,9% são atendidos

pelo sistema público de coleta de esgotos; 93,3% possuem coleta de lixo e quanto ao

abastecimento de água, a rede geral cobre cerca de 87,8% dos domicílios (Recife.

Secretaria de Saúde, 2002b).

No ano de 2001, ocorreram 25.104 nascimentos no Recife, havendo queda na

fecundidade e a Mortalidade infantil apresentou decréscimo em 2001 para

aproximadamente 18,3/1000 nascidos vivos, destacando-se a primeira causa de óbito

infantil as afecções perinatais (Recife. Secretaria de Saúde, 2002a).

Em 1998 o município foi habilitado na forma de Gestão Plena do Sistema,

cabendo a Secretaria Municipal de Saúde a responsabilização parcial dos serviços e

ações prestadas à população, desde que as unidades de alta complexidade e parte da

média complexidade, estão ainda sob a gestão do estado (Recife. Secretaria de Saúde,

2002b).

Page 33: Monografia Keise Nóbrega

A rede municipal de saúde distribuída por distrito sanitário é composta por

serviços ambulatoriais e hospitalares. A rede ambulatorial integrante do SUS é

constituída por 157 unidades prestadoras de serviços que oferecem ações de pequena

e média complexidade. Destes 47,3% concentram-se nos Distritos Sanitários um e três.

Dezoito unidades hospitalares do SUS compõem o total de serviços. Para as ações

básicas de saúde o município conta, atualmente, com 33 Centros de Saúde e 65

Unidades de Saúde da Família que abrigam 126 Equipes de Saúde da Família atuando

nas respectivas microárias (Recife. Secretaria de Saúde, 2002b).

4.2 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo avaliativo do tipo normativo, descritivo, de corte

transversal. Esta modalidade torna-se uma das indicadas para o diagnóstico da

situação em um dado período, considerando que se pretende julgar um programa/ação

através da aplicação de normas.

4.3 UNIVERSO DO ESTUDO/PERÍODO DE REFERÊNCIA

O estudo foi realizado em todas as unidades ambulatoriais públicas ou privadas

conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS) do município do Recife que

prestavam assistência básica de saúde generalizada no período de janeiro a abril de

2002. Isto correspondeu a um universo de 42 Centros de Saúde e 84 Equipes do

Programa Saúde da Família (PSF) (Anexo 1). Destaca-se que alguns destes Centros de

Saúde já foram transformados em USF enquadrando-se no novo sistema de atenção à

saúde. As equipes e/ou unidades de saúde da família que não participaram da pesquisa

encontravam-se em fase de implantação, cadastramento ou diagnóstico de área, no

momento da seleção.

Page 34: Monografia Keise Nóbrega

Abaixo apresentamos o número de Centros de Saúde, Equipes e Unidades de

Saúde da Família por distrito que participaram deste estudo:

Quadro 1- Distribu ição das Unidades de Saúde da Família, Equipes de Saúde da

Família e Centros de Saúde por Distrito Sanitário do Recife, participantes do

estudo , 2002.

Distrito

Sanitário

USF¹ ESF² CS³

I 6 11 2

II 9 15 6

III 6 11 9

IV 11 19 5

V 5 10 8

VI 9 18 12

TOTAL 46 84 42

¹ Unidade de Saúde da Família ² Equipes de Saúde da Família ³ Centro de Saúde 4.4 INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO

A escolha do instrumento esteve relacionada ao conhecimento de suas

qualidades métricas e pela sua comparabilidade com dados obtidos de outros estudos

similares.

Utilizou-se o Instrumento Gerencial da Saúde da Criança adotado pelo Ministério

da Saúde que contempla questões relacionadas às normas das ações programáticas e

atividades básicas de atenção à saúde da criança (Crescimento e Desenvolvimento,

Controle de Doenças Diarréicas, Controle de Infecções Respiratórias Agudas,

Imunização e Incentivo ao Aleitamento Materno e Orientação Alimentar para o

Desmame), sendo utilizado neste trabalho apenas as questões referentes à primeira

ação programática citada (Anexo 2).

Page 35: Monografia Keise Nóbrega

O referido instrumento, foi recentemente adaptado pelo Instituto Materno Infantil

de Pernambuco às normas e diretrizes da estratégia Atenção Integral às Doenças

Prevalentes na Infância (AIDPI). De acordo com Contandriopoulos (1997), existem

muitas vantagens em se utilizar um instrumento já conhecido, como a possibilidade de

comparação, a praticidade e a redução do tempo e do custo da avaliação. Além disto,

Também havia a facilidade de consolidação e análise dos dados, através do “Caderno

de Respostas” (Anexo 3).

Como desvantagens aponta-se a inadequação do material para diferentes níveis

de complexidade, onde existem vários profissionais envolvidos na assistência à criança;

a atribuição de peso igual para todas as variáveis consideradas, além de questões

referentes à estrutura e processo, abordadas indistintamente. Destaca-se ainda que o

“Roteiro” responde, apenas parcialmente, às necessidades de informação dos gestores

de programas municipais.

Os critérios considerados no instrumento delimitam que a ação está “implantada”

quando 100% das questões são respondidas afirmativamente, “parcialmente

implantada”, se houvesse concordância com 50% a 90% das respostas preconizadas e

“não implantada”, se tivesse menos de 50% de concordância. Sendo assim, basta

apenas uma questão ser discordante para se atribuir o grau de parcialmente

implantada. Este critério tornou o instrumento muito rígido na consideração da ação

implantada e uniformizou unidades que não realizavam metade das atividades com

aquelas que não realizavam apenas uma atividade.

Algumas considerações a serem feitas: excepcionalmente nesta pesquisa, o item

que abordava a realização de práticas educativas foi considerado como implantado,

quando aplicado até uma vez por mês; ao invés de no mínimo duas vezes por semana,

como o instrumento do Ministério da Saúde preconiza.

Page 36: Monografia Keise Nóbrega

4.5 COLETA DOS DADOS

Primeiramente houve uma capacitação dos entrevistadores, realizada por

técnicos da Secretaria Municipal de Saúde e Instituto Materno Infantil de Pernambuco,

sobre a importância da avaliação e seus objetivos, assim como o treinamento específico

para a aplicação do instrumento e consolidação das respostas.

A coleta dos dados aconteceu no período de Janeiro a Abril do ano 2002. Foram

adotados os seguintes procedimentos: visita aos distritos sanitários, comunicando-se os

objetivos da pesquisa, e solicitação da carta de apresentação as unidades para

posteriormente dar início ao trabalho de campo com as entrevistas. O questionário foi

respondido por profissionais médicos e enfermeiros das Unidades de Saúde da Família

e Centros de Saúde, sendo que nestas houve a participação de alguns administradores.

Os dados foram processados no programa Epi-info versão 6.0 e a análise dos

resultados remetidos a todas as Unidades participantes e gerências distritais.

4.6 ASPECTOS ÉTICOS

Este projeto foi submetido à aprovação do comitê de Ética do Instituto Materno

Infantil de Pernambuco – IMIP sendo aprovado na íntegra (Anexo 4).

4.7 CONFIABILIDADE DOS DADOS

Devemos considerar para a leitura e análise dos dados a interferência da

intencionalidade das respostas, gerando a possibilidade de questões “falso positivas”

(referência na entrevista que realiza as atividades quando não o faz) e “falso negativas “

(referência na entrevista que não realiza as atividades quando na realidade o faz), pois

não foram adotados procedimentos complementares de checagem sistemática para

verificação da confiabilidade das respostas, apesar de desejável, por questões

Page 37: Monografia Keise Nóbrega

operacionais (dificuldade de transporte, reprodução de material, ampliação do tempo,

entre outras).

Outro aspecto que pode ter influenciado a veracidade dos dados foi a falta de

integração da equipe, gerando o desconhecimento dos profissionais entrevistados a

procedimentos realizados por outro profissional da mesma Equipe ou Centro de Saúde,

fato relatado em algumas entrevistas.

4.8 VALIDADE DO INSTRUMENTO

De acordo com Contandriopoulos et al. (1997) a validade do Instrumento pode

ser definida pela sua capacidade de medir fielmente o objeto estudado. Para se

estimar a validade de medida de um instrumento, precisamos considerar a validade de

conteúdo, de critério e de construção.

No âmbito desta pesquisa no que diz respeito à validade de conteúdo, que

consiste em analisar se os itens da construção teórica contemplam o objeto a ser

medido, observa-se que as questões contidas no instrumento representam algumas das

facetas do objeto de estudo, porém, nem sempre as perguntas formuladas conseguem

expressar a integralidade da ação, sendo variável sua capacidade de representação

dos aspectos desejados referentes à ação programática envolvida.

A validade de critério descreve a capacidade de mensuração do instrumento de

acordo com um critério de interesse. Quanto a este tipo de validade, esta pesquisa

buscou avaliar apenas as atividades efetivamente executadas e o grau de implantação

nos Centros de Saúde e Equipes do Programa de Saúde da Família, não tendo a

pretensão de avaliar os critérios adotados pelo PAISC.

A validade de construção que trata da relação entre os conceitos teóricos e sua

operacionalização, não foi discutida neste trabalho.

Page 38: Monografia Keise Nóbrega

4.9 PLANO DE ANÁLISE

Os dados serão apresentados através de freqüências simples por conjunto de

Equipes de Saúde da Família e Centros de Saúde, nos seus respectivos Distritos

Sanitários (DS). A unidade territorial analisada será o município do Recife e cada um

dos seus seis DS. Ressalta-se a situação em relação à realização e o grau de

implantação da ação programática de Acompanhamento do Crescimento e do

Desenvolvimento de acordo com a normatização preconizada pelo Ministério da Saúde.

A seguir apresento algumas tabelas e gráficos que comporão os resultados. A

referida construção tomou como base a disponibilidade das informações existentes no

instrumento utilizado.

Page 39: Monografia Keise Nóbrega

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Page 40: Monografia Keise Nóbrega

5.1 AÇÃO PROGRAMÁTICA DE ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UM OLHAR SOBRE O MUNICÍPIO DO RECIFE.

O Instrumento Gerencial de avaliação das ações do PAISC pesquisa o grau de

implantação da ação de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento infantil

sob a realização da totalidade de 14 atividades programáticas preconizadas pelo

Ministério da Saúde.

Através da aplicação deste instrumento para o conjunto de 42 Centros de Saúde e

84 Equipes de Saúde da Família nas áreas dos 06 (seis) Distritos Sanitários, que

compõem o município do Recife, poderemos conhecer o grau de implantação da ação

programática de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento, bem como a

prática das atividades que compõem esta ação. Para estar na condição de “ação

implantada”, todas as 14 (quatorze) atividades preconizadas deveriam estar sendo

realizadas.

O Gráfico1 demonstra que a ação de ACD apresenta uma predominância da

condição de parcialmente implantada, perfazendo um total de 88,9% das 126 Unidades

Básicas de Saúde em estudo (CS e ESF). A condição de implantada ocorreu apenas

nas ESF, o que representa 2,4%, enquanto que o percentual da ação como não

implantada (8,7%), foi observado nos CS.

Page 41: Monografia Keise Nóbrega

Grafico 1 - Grau de Implantação da ação ACD nas unidades básicas de saúde na cidade do Recife, 2002

8,7% 2,4%

88,9%

Implantada

ParcialmenteImplantadaNãoImplantada

Para o conjunto das atividades do Acompanhamento do Crescimento e

Desenvolvimento, observa-se uma melhor performance das Equipes de Saúde da

Família em relação aos Centros de Saúde.

Na Tabela 1 pode-se observar uma insuficiente aderência das Unidades de

Saúde às atividades preconizadas no ACD. Encontramos pontos de fragilidade em

comum aos CS e ESF, como: a falta de entrosamento com instituições de apoio social,

a não realização sistemática de práticas educativas e a falta de material educativo. Os

CS praticamente, não realizam a captação precoce das crianças e o envolvimento

multiprofissional não tem acontecido. A utilização do cartão da criança para menores de

1 ano aparece como a atividade em maior prática, nas ESF (100%) e em 92,8% dos

CS.

Page 42: Monografia Keise Nóbrega

Tabela 1 – Distribu ição da freqüência de atividades relacionadas com o ACD nas ESF e CS da cidade do Recife, 2002.

ESF (n = 84)

CS (n = 42)

Recife (n = 126) ATIVIDADE

N % N % N % 1 Captação de crianças 83 98,8 10 23,8 93 73,8

2 Utilização do cartão para menores de 1 ano 84 100,0 39 92,8 123 97,6

3 Utilização do cartão para crianças de 1 a 4 anos

83 98,8 31 73,8 114 90,5

4 Registro diário de atendimentos 82 97,6 40 95,2 122 96,8 5 Registro de crianças abaixo do percentil 10 80 95,2 40 95,2 120 95,2

6 Acompanha ou referencia crianças abaixo do percentil 3

76 90,5 29 69,0 105 83,3

7 Programa de combate às carências nutricionais 82 97,6 34 81,0 116 92,1

8 Acompanha ou referencia crianças com alteração no desenvolvimento

82 97,6 40 95,2 122 96,8

9 Entrosamento com entidades de apoio social 54 64,3 18 42,8 72 57,1 10 Envolvimento multiprofissional 73 87,0 7 16,7 80 63,5 11 Atividades de educação em saúde 31 37,0 1 2,4 32 25,5 12 Estoque suficiente de cartão da criança 64 76,6 28 66,7 92 73,3 13 Existência de material educativo 32 38,1 8 19,0 40 31,7

14 Existência de normas do Ministério da Saúde 59 70,2 20 47,6 79 62,7

A seguir, os resultados encontrados serão apresentados conforme a realização

das atividades e o grau de implantação da ação de acordo com o local da pesquisa, CS

e ESF do município do Recife, comparando-os. Em seguida, desagrega-se as

informações para os seis Distritos Sanitários.

5.2 UM OLHAR SOBRE OS CENTROS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RECIFE

Dos 42 CS pesquisados, nenhum realiza a totalidade de atividades que

compõem a ação de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento

preconizadas pelo Ministério da Saúde, o que reflete no resultado encontrado para o

Page 43: Monografia Keise Nóbrega

grau de implantação desta ação, que está como parcialmente implantada em 73,8%

das unidades e 26,2% não implantada (Gráfico 2).

Grafico 2 - Grau de Implantação da ação de Acompanhamento do Cresc imento e do Desenvolvimento Infantil nos Centros de Saúde da cidade do Recife, 2002

73,8%

26,2%0%

parcialmenteimplantadonão implantado

implantado

De acordo com a Tabela 1 as atividades que vem sendo mais praticadas nos

CS com 95,2% de freqüência são: acompanhamento ou referência de crianças com

alteração no desenvolvimento, o registro diário dos atendimentos e o registro de

crianças abaixo do percentil 10.

Podemos destacar ainda a utilização do cartão da criança para o

acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças menores de 1 ano

(92,8%); Existência de programa de combate às carências nutricionais implantado

(81,0%); Utilização do cartão da criança no acompanhamento do crescimento e

desenvolvimento das crianças de 1 a 4 anos (73,80%) e acompanha ou referencia de

crianças abaixo do percentil 03 (69,0%).

Dentre as atividades com menor freqüência de realização chama-se à atenção

para a execução de práticas educativas com 2,4%, o que corresponde a apenas uma

unidade. Observamos ainda a deficiência com o envolvimento multiprofissional

(16,6%), a existência de material educativo (19,0%), a realização de captação precoce

Page 44: Monografia Keise Nóbrega

de crianças (23,8%), entrosamento com instituições de apoio social (42,8%) e a

existência de normas relacionadas com a ação (47,6%) (Tabela 1).

5.3 UM OLHAR SOBRE AS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DO

RECIFE

Nas 84 ESF encontramos uma maior freqüência na realização de atividades,

quando comparamos com os CS. Em três equipes a ação estava implantada,

correspondendo a 3,6%, enquanto que o restante das equipes (96,4%) está com a ação

parcialmente implantada (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Grau de Implantação da ação de ACD nas ESF da cidade do Recife, 2002

96,4%

3,6%0%

parcialmenteimplantadonão implantado

implantado

Observando ainda a Tabela 1 temos que, atividade de utilização do cartão da

criança no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças menores

de 1 ano está sendo realizada por 100% das equipes. A quase totalidade das equipes

(98,8%) faz a captação precoce de crianças e utiliza o cartão da criança no

acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças de 1 a 4 anos. Uma

proporção de 97,6% respondeu fazer o registro diário dos atendimentos, existir algum

programa de combate às carências nutricionais e realizar acompanhamento ou

referenciar crianças com alteração no desenvolvimento. O registro de crianças abaixo

Page 45: Monografia Keise Nóbrega

do percentil 10 foi encontrado em 95,2% das equipes e 90,5% fazem o

acompanhamento ou referenciam todas as crianças abaixo do percentil 03.

As maiores dificuldades encontradas foram comuns aos CS. Portanto, temos

uma baixa freqüência de realização sistemática de práticas educativas (37,0%) e

existência de materiais educativos (38,1%). Quanto ao entrosamento com entidades de

apoio social a proporção foi de 64,3%, e 70,2% afirmam ter normas do Ministério da

Saúde na unidade. O estoque de cartão da criança foi afirmado positivamente por

76,6% das equipes e o envolvimento multiprofissional em 87,0%.

5.4 UM OLHAR DESAGREGADO SOBRE O MUNICÍPIO DO RECIFE: REALIDADE

DOS DISTRITOS SANITÁRIOS

O território do município do Recife sofreu divisões físico-territoriais e político-

administrativas onde foram instituídos 6 Distritos Sanitários (DS) que correspondem às

seis RPA (Região Político Administrativa). Observamos uma realidade no Grau de

Implantação da ação ACD semelhante destes, mas diferenças quanto à realização de

algumas atividades.

O gráfico 4 mostra uma predominância no Grau de Implantação da ação ACD em

parcialmente implantado em todos os seis DS, num total de 88,9% das unidades

básicas de saúde. Os DS I, II e III representam a totalidade da ação implantada (2,4%),

que acontece apenas nas ESF e equivale proporcionalmente a 7,7%; 4,8% e 5,0%

respectivamente. Enquanto que 8,7% das unidades, em especial, 11 CS revelam esta

atividade como não implantada.

Page 46: Monografia Keise Nóbrega

7,7

84,6

7,74,8

90,5

4,85,0

85,0

10,00

91,7

8,30

88,9

11,10

90,0

10,02,4

88,9

8,7

0

20

40

60

80

100

DS I DS II DS III DS IV DS V DS VI TOTAL

Gráfico 4 - Grau de Implantação da ação de ACD nas Unidades Básicas de Saúde em estudo , Recife 2002.

Implantado

ParcialmenteImplantadoNão Implantado

%

Considerando a freqüência de realização das atividades, observa-se à

dificuldade equânime da educação em saúde, na qual a atividade de práticas

educativas não estava sendo desenvolvida com freqüência por nenhuma ESF do DS IV

e em apenas uma equipe do DS VI havia material educativo. Nos Centros de Saúde a

situação agrava-se, as práticas educativas acontecem em um dos CS (2,4%) do DS III e

há existência de material educativo em 8 unidades (19,0%) (Tabelas 2 e 3).

No DS V chamamos a atenção para o entrosamento com instituições de apoio

social que acontece com duas das dez ESF e em nenhum dos 8 CS. A captação

precoce das crianças tem sido deficiente nos CS (24,0%), apenas nos DS II, V e VI. O

DS IV mantém a maior quantidade de CS realizando 100% das atividades, no entanto

apresenta o menor número de ESF na totalidade das atividades.

Page 47: Monografia Keise Nóbrega

Tabela 2 – Distribu ição da freqüência de atividades relacionadas com o ACD nas ESF por DS da cidade do Recife, 2002.

DS I

(n =11) DS II

(n = 15) DS III (n=11)

DS IV (n = 19)

DS V (n = 10)

DS VI (n = 18) TOTAL

ATIVIDADES N % N % N % N % N % N % N %

1 Captação de crianças 11 100,0 15 100,0 11 100,0 18 94,7 10 100,0 18 100,0 83 98,8

2 Utili zação do cartão para menores de 1 ano

11 100,0 15 100,0 11 100,0 19 100,0 10 100,0 18 100,0 84 100,0

3 Utili zação do cartão para crianças de 1 a 4 anos

11 100,0 15 100,0 11 100,0 19 100,0 10 100,0 17 94,4 83 98,8

4 Registro d iário de atendimentos

11 100,0 14 93,3 10 90,9 19 100,0 10 100,0 18 100,0 82 97,6

5 Registro de crianças abaixo do p ercentil 10

11 100,0 15 100,0 9 81,9 17 89,5 10 100,0 18 100,0 80 95,2

6 Acompanha ou referencia crianças abaixo do percentil 3

9 81,8 14 93,3 8 72,8 18 94,7 10 100,0 17 94,4 76 90,5

7 Programa de combate às carências nutricionais

9 81,8 15 100,0 11 100,0 19 100 10 100,0 18 100,0 82 97,6

8 Acompanha ou referencia crianças c om alteração no desenvolvimento

11 100,0 14 93,3 11 100,0 18 94,7 10 100,0 18 100 82 97,6

9 Entrosamento com entidades de apoio social

6 54,5 8 53,3 10 90,9 13 68,4 2 20,0 15 83,3 54 64,3

10 Envolvimento multiprofiss ional

11 100,0 15 100,0 11 100,0 12 63,2 9 90,0 15 83,3 73 87,0

11 Atividades de educação em saúde

7 63,6 5 33,3 7 63,7 0 0,0 4 40,0 8 44,4 31 37,0

12 Estoqu e suficiente de cartão da criança

9 81,8 12 80,0 8 72,8 14 73,7 9 90,0 9 50,0 61 72,6

13 Existência de material educativo

7 63,6 5 33,3 4 36,4 8 42,1 7 70,0 1 5,5 32 38,1

14 Existência de normas do Ministério da Saúde

9 81,8 10 66,6 11 100,0 13 68,4 4 40,0 12 66,6 59 70,2

Page 48: Monografia Keise Nóbrega

Tabela 3 - Distribu ição de freqüência de atividades relacionadas ao ACD nos CS por DS do Recife, 2002.

DS I

(n = 2) DS II

(n = 6) DS III (n= 9)

DS IV (n = 5)

DS V (n = 8)

DS VI (n = 12)

TOTAL (n = 42)

ATIVIDADES N % N % N % N % N % N % N %

1 Captação de crianças 0 0,0 0 0,0 3 33,0 0 0,0 3 38,0 4 33,0 10 24,0

2 Utili zação do cartão para menores de 1 ano

2 100,0 6 100,0 8 89,0 5 100,0 7 88,0 11 92,0 39 93,0

3 Utili zação do cartão para crianças de 1 a 4 anos

1 50,0 6 100,0 7 78,0 2 40,0 6 75,0 9 75,0 31 74,0

4 Registro d iário de atendimentos 2 100,0 6 100,0 9 100,0 5 100,0 8 100,0 10 83,0 40 95,0

5 Registro de crianças abaixo do percentil 10

1 50,0 6 100,0 9 100,0 5 100,0 7 88,0 12 100,0 40 95,0

6 Acompanha ou referencia crianças abaixo do p ercentil 3

2 100,0 4 67,0 6 67,0 4 80,0 4 50,0 9 75,0 29 69,0

7 Programa de combate às carências nutricionais

1 50,0 4 67,0 9 100,0 5 100,0 6 75,0 9 75,0 34 81,0

8 Acompanha ou referencia crianças c om alteração no desenvolvimento

2 100,0 5 83,0 9 100,0 5 100,0 8 100,0 11 92,0 40 95,0

9 Entrosamento com entidades de apoio social

0 0,0 2 33,0 5 56,0 2 40,0 3 38,0 6 50,0 18 43,0

10 Envolvimento multiprofiss ional 1 50,0 2 33,0 1 11,0 1 20,0 0 0,0 2 17,0 7 17,0

11 Atividades de educação em saúde 0 0,0 0 0 1 11,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 2,4 12 Estoqu e suficiente de cartão da

criança 1 50,0 3 50,0 6 67,0 5 100,0 6 75,0 7 58,0 28 67,0

13 Existência de material educativo 0 0,0 1 17,0 2 22,0 1 20,0 3 38,0 1 8,3 8 19,0

14 Existência de normas do Ministério da Saúde

0 0,0 4 67,0 4 44,0 0 0,0 5 63,0 7 58,0 20 48,0

Page 49: Monografia Keise Nóbrega

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Page 50: Monografia Keise Nóbrega

6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

6.1.1 O modelo de atenção à saúde no município do Recife

A proposta da Secretaria Municipal de Saúde do Recife com base em seu Plano

Municipal de Saúde – 2002/2005 é guiar-se pelo modelo de atenção à saúde

compatível com a construção de uma Cidade Saudável, entendendo-a como um

conjunto de ações intersetoriais, que guiarão as prioridades sociais da gestão.

O Modelo apresenta uma proposta de reorganização e transformação da prática

de saúde além da assistência, em concordância com as conquistas adquiridas na

Constituição de 1988, projetando-se em ações baseadas na realidade social e em

grupos prioritários; onde o entendimento norteador e condutor se darão através da

integralidade das ações e da responsabilidade sanitária com seus munícipes (Recife.

Secretaria de Saúde, 2002b).

A estruturação deste detém como primeiro princípio à universalidade da

assistência à saúde que está organizada de forma hierarquizada e tendo como escopo

à definição de porta de entrada do sistema que é representada na assistência básica

pelo PSF através das ESF onde serão resolvidos a maioria dos problemas de saúde da

população. (Recife. Secretaria de Saúde, 2002b).

O conhecimento acerca do funcionamento do modelo de atenção a saúde, bem

como as propostas do Plano Municipal e a construção de uma “Cidade Saudável” são

de grande importância para os profissionais que compõem esta rede. O que

observamos durante o trabalho de campo foi que há um grande desconhecimento, bem

como a negligência e a falta de operacionalização por parte dos profissionais,

principalmente dos CS, mas também em algumas ESF, e também dos usuários, que

ainda mantém atitudes características do modelo tradicional de assistência através de

ações curativas e individualistas.

Page 51: Monografia Keise Nóbrega

6.1.2 Linhas es tratégicas para Atenção à Saúde da Criança da Secretaria de

Saúde do Recife.

A Diretoria Executiva de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da

Secretaria de Saúde do Recife, construiu um modelo lógico de atenção à saúde

baseado nas propostas de Hartz et al. (1997), que se propõe a otimizar as intervenções

voltadas à Saúde da Criança, priorizando áreas de risco e grupos populacionais mais

susceptíveis de adoecimento e morte (Recife. Secretaria de Saúde, 2002a).

O modelo permite a realização de avaliações da efetividade das ações

realizadas, bem como, dos resultados alcançados; pois os planejadores e executores

de serviços e políticas estão sentindo cada vez mais necessidade de provar a eficiência

das suas ações, para decidir se ela deve ser mantida, transformada ou interrompida e

com isto, monitorar uma possível intervenção (Hartz, 1997).

Os componentes da intervenção foram construídos a partir do perfil

epidemiológico por grupo etário, sendo uma das prioridades da gestão, as crianças

menores de um ano, e as bases da ação desenvolvidas através da Educação em

Saúde, Programa de Saúde da Família (PSF), Programa de Agentes Comunitários de

Saúde (PACS), Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC), entre

outros. Para a viabilização destas intervenções, a diretoria definiu as seguintes linhas

estratégicas: Diagnóstico e Avaliação, Normatização, Capacitação, Incorporação

Tecnológica, Divulgação e a Articulação Intra/Intersetorial e Interinstitucional (Recife.

Secretaria de Saúde, 2002a).

Neste sentido, a avaliação normativa da ação de Acompanhamento do

Crescimento e do Desenvolvimento infantil nas unidades básicas de que trata o

presente trabalho, se constitui uma das vertentes da linha estratégica Diagnóstico e

Avaliação, planejada no modelo lógico para o município do Recife (Recife, Secretaria

de Saúde, 2002a).

Page 52: Monografia Keise Nóbrega

Trabalhos como este vêm facilitar o reordenamento de prioridades dentro dos

serviços de saúde e no contexto mais específico das ações do PAISC. Neste sentido, a

ação de ACD que compõe este programa é considerada como eixo norteador da

assistência a criança, torna-se um elemento de fundamental importância na

organização dos serviços por se tratar de um indicador de saúde, na medida em que

evidencia precocemente as dificuldades da criança em todo o seu contexto, desde a

qualidade da sua saúde, aos aspectos psicossociais inter-relacionados.

6.2. O GRAU DE IMPLANTAÇÃO DA AÇÃO PROGRAMÁTICA DE ACD NA

CIDADE DO RECIFE

Em 1995 a Secretaria Estadual de Saúde realizou uma pesquisa normativa do

PAISC em 177 municípios do estado de Pernambuco e a situação da ação de ACD nas

unidades de referência dos municípios foi insatisfatória. Apresentou a mais baixa

proporção de condição de ação implantada, em apenas 10,8% dos municípios do

estado, comparando-se com as outras ações que compõem o programa. No âmbito

municipal, observou-se que 50% das unidades de referência dos DS do Recife têm a

condição de implantada e 50% parcialmente implantada (Pernambuco, Secretaria de

Saúde, 1996).

Para o conjunto das ações programáticas, os níveis de implantação foram

superiores aos encontrados neste estudo. Tal fato deve ser decorrente do primeiro

estudo selecionar apenas as unidades de referência dos municípios, supostamente as

mais bem estruturadas, enquanto que este estudo abordou todas as unidades

existentes no município que estavam realizando ações básicas de saúde no momento

da pesquisa.

Comparando-se também com os estudos de Frias (2001) que pesquisou em

1999 o Grau de Implantação do PAISC em todas as unidades básicas de dois

Page 53: Monografia Keise Nóbrega

municípios do interior do estado de Pernambuco, Brejo da Madre de Deus e Bom

Conselho, habilitados pela NOB/96 em gestão plena do sistema e gestão plena da

atenção básica, respectivamente. Os resultados encontrados para a ação de ACD

foram o seguinte: a condição de ação implantada não foi obtida por nenhuma das

unidades de saúde avaliadas nos municípios. A ação esteve parcialmente implantada

em 100% das US de Brejo da Madre de Deus e 80% em Bom Conselho que obteve,

também, 20% da ação não implantada.

Ao analisarmos os resultados deste trabalho com aqueles obtidos com os

realizados por de Frias (2001), verificamos uma sensível melhora quanto à proporção

de unidades implantadas, que nos estudos dele inexistiam, enquanto que neste

observamos em algumas unidades de ESF perfazendo 2,38% da ação. Existe uma

predominância semelhante da ação em parcialmente implantada (88,9%) e uma menor

proporção de ação não implantada (8,7%) considerando os resultados de Bom

Conselho.

É válido discutir o critério rígido de consideração de uma ação implantada do

instrumento, ou seja, todas as atividades precisam estar sendo realizadas para a ação

ser implantada, e com isto, os estudos dos pequenos progressos são dificultados, pois

deixam em condição de igualdade unidades que apenas não realizam uma das

atividades preconizadas, com outras que não realizam várias destas, tornando a faixa

de ação parcialmente implantada muito ampla.

Na tentativa de minimizar estas dificuldades e obter um estudo mais detalhado

sobre o grau de implantação das ações Barbosa e Coelho (2002) adotaram um critério

de subdivisão no grau de implantação parcialmente implantado em: parcialmente

implantado satisfatório (80% das atividades realizadas) e parcialmente implantado

insatisfatório (atividades que não atenderem a este percentual).

Estas autoras em seus estudos nas ESF do DS IV observaram que a ação de

ACD estava 100% parcialmente implantada e com a subdivisão adotada as atividades

Page 54: Monografia Keise Nóbrega

estiveram como 59% parcialmente implantado satisfatório e 41% parcialmente

implantado insatisfatório. As demais ações (Aleitamento Materno, Doenças Diarréicas,

Infecções Respiratórias Agudas e Imunização) obtiveram grau de implantação

semelhante. No entanto, através do critério de subdivisão adotado, foi percebido que a

ação de ACD obteve o segundo melhor resultado com a realização de pelo menos 80%

das atividades (parcialmente implantado satisfatório).

Ao considerarmos estes estudos verificamos que em nenhum momento a ação

de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento obteve um resultado

condizente com o que se espera de um município com a habilitação em Gestão Plena

do Sistema, ou seja, realizando pelo menos as ações básicas preconizadas pelo

Ministério da Saúde. Poucos progressos, neste sentido, foram observados que são

mais evidentes nas ESF as quais realizam a maioria das atividades.

Esta baixa adesão ao PAISC e em especial a ação de ACD, pode estar

relacionada ao gerenciamento deficitário das ações direcionadas às estratégias de

monitoração de crianças sob risco eminente de adoecimento e morte, não obstante os

problemas de recursos físicos e humanos, formação e supervisão das unidades de

saúde, dificuldade na articulação intersetorial e multiprofissional, bem como, a falta de

compreensão dos papéis e do novo modelo de atenção a saúde.

A discussão que se segue, confrontará a situação de execução das quatorze

atividades que compõem a ação de ACD nos CS e ESF da cidade do Recife, com o

referencial teórico de alguns estudos sobre o tema pesquisado.

6.2.1 A captação de crianças para acompanhar o cresc imento e o

desenvolvimento

Considerando a vulnerabilidade das crianças de 0 a 6 anos para o adoecimento

e morte, a captação precoce destas torna-se um elemento de fundamental importância

para as ações de atenção à saúde infantil. Através desse sistema podemos agir de

Page 55: Monografia Keise Nóbrega

forma preventiva identificando os riscos e intervindo nas possíveis causas (Brasil.

Ministério da Saúde, 2002a).

As ESF e PACS têm sido responsáveis pelo diagnóstico precoce e

encaminhamento das crianças aos serviços de saúde. São os ACS que cadastram

todas as crianças de 0 a 5 anos das microáreas, acompanham o crescimento e

desenvolvimento destas, bem como o esquema de vacinas através do Cartão da

Criança. O bebê é visitado desde sua primeira semana de vida para que se possa

identificar possíveis situações de risco, prestar as orientações necessárias e

encaminhar os casos indicados (Brasil. Ministério da Saúde, 2000).

Este fato pode ser observado neste estudo onde 98,8% das ESF estavam

realizando a captação precoce das crianças, enquanto que nos CS apenas 23,8%

praticam este tipo de atividade atuando, portanto, nos moldes do modelo tradicional de

assistência a saúde onde a demanda é espontânea e a procura é por especialidades.

Neste contexto observa-se uma intervenção curativa e assistencialista onde se

intervem nos efeitos da patologia e não na sua essência, a causa. Com este tipo de

assistência muitas crianças chegam aos serviços com o quadro clinico já bastante

agravado podendo evoluir para óbito, que muitas vezes poderia ser evitado se

houvesse uma intervenção mais precoce.

6.2.2 A utili zação do cartão da criança no ACD das crianças menores de 1

ano e de 1 a 4 anos.

O Cartão da Criança que é o instrumento proposto pelo Ministério da Saúde

para o Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da criança até os cinco

anos de idade, sendo, portanto, um indicativo bastante relevante da condição de

saúde/doença. Foi elaborado pelo PAISC/MS em 1984 e sofreu algumas modificações

nos anos subseqüentes, baseadas no perfil de desenvolvimento das crianças. Porém,

Page 56: Monografia Keise Nóbrega

ainda se observa uma negligência quanto o preenchimento do mesmo, principalmente,

no módulo de desenvolvimento(Brasil. Ministério da Saúde, 2002a). Mesmo assim,

observamos nesta pesquisa que a utilização do cartão da criança no ACD das crianças

menores de 1 ano é a atividade com maior proporção de realização (97,6%) entre as

que compõem a ação de ACD. Já o acompanhamento das crianças de 1 a 4 anos

obteve uma proporção de 90,5%.

Destacamos a aplicação desta atividade nas ESF que chegam ao desempenho

maximo na utilização do cartão por todas as 84 equipes, para o acompanhamento das

crianças menores de 1 ano e a quase totalidade (98,8%) no acompanhamento de

crianças de 1 a 4 anos. No entanto, isto nos faz refletir sobre a forma de utilização do

cartão e a qualidade deste acompanhamento, considerando a falta de dados

sistemáticos e atualizados da criança.

Este pensamento é reforçado quando nos reportamos a outros estudos como em

Filho e Romani (2002) que na sua pesquisa sobre Alimentação, Nutrição e Saúde no

Estado de Pernambuco em 1997 comentam que aproximadamente 90% das mães

entrevistadas informaram possuir o Cartão da Criança que foi apresentado por 74,5%

na região metropolitana do Recife e em apenas 22,1% destes constava o peso

registrado dos últimos três meses. Quanto ao acompanhamento do desenvolvimento

das crianças, chama-se a atenção para o reduzido percentual, em torno de 1%, de

registro do mesmo no cartão.

No estudo realizado por Amaral et al. (2002) no estado de Pernambuco em 2000

verificou-se que 86,2% dos profissionais no atendimento à criança realizam a avaliação

do peso através do Cartão da Criança. No entanto, evidenciou que 12% das mães não

levam este para a consulta, o que Indica a falta de conhecimento das mães sobre a

importância do cartão para o acompanhamento da criança e a necessidade de se fazer

um trabalho informativo neste sentido.

Resultados de estudos mais recentes, 2001, em unidades do Recife confirmam

estas dificuldades de valorização do Cartão da Criança, 14,2% das mães afirmaram que

a criança possuía o cartão, no entanto não o levaram para a consulta. Neste mesmo

Page 57: Monografia Keise Nóbrega

estudo avaliou-se que apenas 68,2% dos profissionais que prestam assistência à

criança solicitaram o cartão. Quanto às orientações recebidas sobre os dados do cartão

como: peso e desenvolvimento as respostas afirmativas compreenderam um percentual

de 37,2% e 18,7% respectivamente (Secretaria de Saúde do Recife, 2002d).

6.2.3 O registro d iário do s atendimentos

O Ministério da Saúde incentiva o registro de dados pelos serviços de saúde com

o objetivo de sensibilizar e conscientizar os profissionais sobre a importância da coleta

de dados e análise das informações obtidas, através de processos avaliativos que vão

direcionar gestores e profissionais na melhoria da qualidade de suas ações (Brasil.

Ministério da Saúde, 1995b).

Amaral et al. (2002) em uma avaliação no estado de Pernambuco em 2000,

constatou que 92,6% das unidades básicas de saúde utilizavam um Formulário de

Registro no atendimento às crianças e 46,3% o Quadro de Condutas, que são

instrumentos elaborados para facilitar as atividades dos profissionais de saúde e

deveriam estar disponíveis em todas as unidades. Dados semelhantes foram

encontrados para o município do Recife, onde 91,7% das crianças têm o registro da

consulta em prontuário (Recife. Secretaria de saúde, 2002d).

O que podemos observar neste estudo foi que os profissionais costumam fazer o

registro diário dos atendimentos a criança, tanto nas ESF (97,62%), quanto nos CS

(95,24%).

6.2.4 O registro de crianças abaixo do p ercentil 10

Na primeira versão do Cartão da Criança, elaborado em 1984, existiam apenas a

curva superior que correspondia ao percentil 90 e a inferior ao percentil 10. A criança

Page 58: Monografia Keise Nóbrega

com a curva peso/idade entre estas duas curvas era considerada com o crescimento

normal e seguindo o caminho da saúde (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

O critério adotado para usar o percentil 10 como ponto de corte inferior e

presumível diagnóstico de desnutrição energético-proteica foi baseado na proposta do

professor Carlos Augusto Monteiro, do departamento de nutrição da Faculdade de

Saúde Pública da USP (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Os resultados desta pesquisa apontam que tanto as ESF quanto os CS

costumam registrar as crianças abaixo do percentil 10, com uma proporção equânime

de 95,24% de realização desta atividade que classifica as crianças com risco nutricional

(entre os percentis 10 e 3). A avaliação periódica do ganho de peso de uma criança

permite aos profissionais de saúde uma intervenção precoce, pois através do

acompanhamento do progresso individualizado podem identificar aquelas com maior

risco de adoecer e morrer, sendo a desnutrição uma causa básica para a instalação ou

agravamento da maior parte dos problemas de saúde infantil.

Convém comentar a possibilidade de um viés decorrente da má formulação da

pergunta que pode ter provocado uma interpretação errônea da questão a ser

pesquisada. Os profissionais podem ter compreendido como “há registro de crianças

abaixo do percentil 10?” a existência de crianças com estas condições e não a

relacionarem com a necessidade do registro destas. Apesar disto à atividade obteve

uma das maiores prevalências de realização.

6.2.5 O acompanhamento ou referência de todas as c rianças abaixo do

percentil 3

Baseando-se nos resultados da Pesquisa de Demografia e Saúde de 1996 que

revelou uma redução de quase 20% na prevalência de desnutrição em crianças

menores de 5 anos em relação ao ano de 1989, o Ministério da Saúde adotou o

Page 59: Monografia Keise Nóbrega

percentil 3 como ponto de corte inferior para ser impresso no novo Cartão da Criança

em 1997.

As crianças cujo peso/idade correspondiam aos valores situados entre os

percentis 10 e 3 são consideradas como de risco nutricional, critério para serem

introduzidas nos programas de suplementação alimentar, bem como aquelas de baixo

peso, situadas abaixo do percentil 3 que recebem uma maior atenção (Brasil. Ministério

da Saúde, 2002a).

Diante destas considerações percebemos a relevância do preenchimento

adequado do Cartão da Criança, já que milhares de crianças dependem destes critérios

para serem beneficiadas com os programas sociais que podem possibilitar a melhoria

das condições de saúde e nutrição.

Filho e Romani (2002) refletem sobre a importância da avaliação periódica do

estado nutricional e da saúde da criança como estratégia fundamental para instâncias

políticas e administrativas no planejamento e gestão de programas fundamentados em

fatos e adequada interpretação, na medida em que define a natureza de possíveis

agravos e avalia a magnitude de sua determinação.

Com todas estas reflexões consideramos preocupantes os resultados deste

trabalho quanto ao acompanhamento ou referência de todas as crianças abaixo do

percentil 3, principalmente, nos CS que obteve 69%, sendo um local onde se encontram

os especialistas e uma criança neste estágio é considerada como de risco e precisa de

uma atenção especial. Nas ESF os resultados são bem melhores, em torno de 90,5%,

mais ainda não atingem a totalidade. Devemos considerar o viés de algumas unidades

não haver crianças com estas características e o profissional ter respondido

negativamente.

Page 60: Monografia Keise Nóbrega

6.2.6 A implantação de algum programa de combate às carências

nutricionais

Os programas de combate às carências nutricionais se destinam aos grupos

populacionais que não conseguem suprir, por meios próprios e adequadamente, suas

necessidades alimentares e nutricionais. Tais programas e ações públicas integram o

universo das iniciativas voltadas a suplementar carências alimentares e nutricionais

comumente qualificadas como medidas assistenciais de natureza compensatória, por

apenas amenizarem os efeitos adversos da desnutrição que em sua grande maioria

está relacionada com fatores causais sócio-econômicos (Maluf, 2003).

O Programa do Leite foi desenvolvido desde 1994 pelo MS e faz parte do PCCN

(Programa de Combate às Carências Nutricionais) que beneficia crianças de 6 meses a

2 anos com peso abaixo do percentil 10, irmãos dos desnutridos de 2 a 5 anos

(contatos), gestantes e casos especiais (crianças com Paralisia Cerebral, com

dificuldades de deglutição) que recebem leite em pó integral e óleo de soja

mensalmente (Brasil. Ministério da Saúde, 2002b).

São excluídos deste programa a criança que atingiu a idade limite (6 anos), ter

ganho de peso (acima do percentil 10) por 3 meses consecutivos e gestante após o

parto. Estes fatores têm provocado bastante discussão sobre o programa já que muitas

mães acabam dando destinos diferentes ao leite distribuído pelo programa, enquanto

que, outras dificultam o ganho de peso da criança para não perderem o benefício.

A desnutrição continua sendo um importante problema de saúde pública para a

infância do Brasil, apesar de progressos alcançados mais evidentes na região Sul do

país. Uma criança desnutrida tem maior propensão às doenças infecciosas o que vem a

comprometer seu desenvolvimento e crescimento (Amaral et al., 2002).

Em seus estudos em 1997 no estado de Pernambuco observaram que a Região

Metropolitana do Recife apresenta uma prevalência de desnutrição severa e moderada

Page 61: Monografia Keise Nóbrega

(3,5%) menor que no interior (5,7%), segundo indicador peso/idade, o que reflete a

influência da qualidade de vida sobre a saúde dos cidadãos.

Os dados da pesquisa aqui descrita revelam que a maioria das unidades de

saúde (92,1%) disseram estar inseridas em um programa de combate as carências

nutricionais, que em sua totalidade mencionavam o Programa do Leite, sendo mais

evidente no âmbito das ESF (97,6%) que nos CS (81%).

Maluf (2003) comenta que as ações e os programas compensatórios precisam

contemplar os seguintes elementos: educativos (em relação aos hábitos e práticas

alimentares); organizativos (para a defesa dos direitos de cidadania); emancipadores

(visando promover a autonomia e não a dependência dos beneficiários). Portanto,

precisamos estar constantemente avaliando os programas que oferecemos à

comunidade, para que atinjam de fato as necessidades desta, bem como, proporcionar

práticas educativas e alternativas para que as pessoas se conscientizem do seu papel

social e dêem continuidade ao que se propõe.

6.2.7 O acompanhamento ou referência de todas as crianças c om alteração no

desenvolvimento

O documento do Ministério da Saúde (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a)

recomenda que os profissionais de saúde precisam conhecer os aspectos mais

relevantes do desenvolvimento infantil, para terem embasamento nas suas ações e

principalmente saberem identificar com clareza as crianças que por ventura necessitem

de tratamento especializado e encaminharem o mais precocemente possível.

O acompanhamento do desenvolvimento deve fazer parte da consulta geral da

criança. O profissional deve observar o desenvolvimento da criança desde sua entrada

ao consultório, bem como, a relação que é estabelecida com a mãe e guiar-se pelos

marcos tradicionais de desenvolvimento, que são as referências de um método

estruturado para a observação do progresso da criança e para uma abordagem

sistemática (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

Page 62: Monografia Keise Nóbrega

Um dos instrumentos de avaliação do desenvolvimento infantil é a Ficha de

Acompanhamento do Desenvolvimento que vem sendo adotada desde 1984 pelo

Ministério da Saúde e serve como roteiro de observação e identificação das crianças

com déficits no desenvolvimento neuropsicomotor (Brasil. Ministério da Saúde, 2002a).

O Cartão da Criança também é um instrumento de acompanhamento do

desenvolvimento, onde são apresentadas algumas atividades (marcos) e a idade

correspondente que a maioria das crianças é capaz de fazer para os pais e

profissionais se reportarem e anotarem. Constam ainda algumas sugestões de

estimulações através de brincadeiras e cuidados com a criança (Brasil. Ministério da

Saúde, 1994 e 1995a).

Neste trabalho pesquisamos que a maioria dos profissionais (96,83%), tanto das

ESF quanto dos CS, responderam realizar o acompanhamento ou encaminharem

crianças com alteração no desenvolvimento. No entanto, se nos reportarmos às

pesquisas encontramos uma enorme subnotificação do módulo desenvolvimento no

Cartão da Criança (2,7% em unidades do Recife) e a Ficha de Acompanhamento do

desenvolvimento não tem sido utilizada (Recife. Secretaria de Saúde, 2002d). Sendo

assim, perguntamos como está sendo feito este acompanhamento? Baseado em que?;

já que existe tanta negligência na utilização dos instrumentos preconizados pelo MS .

6.2.8 Existência de entrosamento da instituição com entidades de apoio social

Apropriando-se de trechos da Declaração de Alma-Ata, Brasil. Ministério da

Saúde (2002b), como: “A conquista do mais alto grau de saúde exige a intervenção de

muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde”.E ainda: “Inclui a

participação, ademais do setor saúde, de todos os setores e campos de atividade

conexas do desenvolvimento nacional e comunitário...”; percebemos que para a

ampliação do conceito de saúde em sua dimensão setorial é preciso que se supere o

campo da ação dos responsáveis pela atenção convencional dos serviços de saúde

Page 63: Monografia Keise Nóbrega

para um maior envolvimento de vários atores sociais, a própria população e os diversos

setores integrados.

Neste sentido, Paiva (2000) comenta sobre as experiências positivas do Governo

do Estado de Pernambuco no estabelecimento de parcerias com outras instituições,

quanto à divisão de responsabilidades, iniciativas de desenvolvimento local e

compartilhamento de interesses, o que norteia o aparecimento de novos atores sociais

e minoram a dicotomia entre o Estado e a sociedade, o público e o privado. Nesta

perspectiva, cria-se um novo cenário, onde os distintos setores são protagonistas e co-

responsáveis dos mesmos desafios de saúde, resultando num ambiente mais estável e

mais propício para investimentos.

O que pesquisamos nesse trabalho na cidade do Recife foi que o entrosamento

das unidades de saúde com instituições de apoio social encontra-se bastante deficiente

(57,1%), sendo mais grave nos CS (42,8%). A perda da intersetorialidade pode

contribuir com as dificuldades na realização de muitas das ações pelas unidades de

saúde, já que a centralização gera sobrecarga dos profissionais e muitas vezes

inviabilizam-nos na construção de práticas mais saudáveis.

Percebe-se que a fragmentação das iniciativas, ou seja, a setorialização

excessiva, acabam por produzir políticas inadequadas e programas pontuais que

dispersam os recursos e reduzem a eficácia e a efetividade dos esforços realizados. As

Diretrizes Nacionais para a Política de Atenção à Criança e ao Adolescente – 2001 –

2005, do Conselho Nacional dos Direitos Da Criança e do Adolescente abordam as

atribuições setoriais e sua necessária articulação (Brasil. Ministério da Saúde, 2002b).

O dispositivo constitucional também deixa claro que a responsabilidade com a

infância deve ser compartilhada pela família, pela sociedade e pelo Estado em todas as

esferas (federal, estadual e municipal) no cuidado, proteção, educação, através da

participação e elaboração de políticas e ações em favor da criança. É através da

integração dos diversos atores sociais, famílias, movimentos sociais e comunitários,

Page 64: Monografia Keise Nóbrega

organizações não-governamentais e por meio das formas institucionalizadas de

controle social, o poder público, que as ações em favor da criança podem ser melhor

definidas, planejadas e efetivadas (Brasil. Ministério da Saúde, 2002b).

As unidades de saúde precisam romper com comportamentos centralizadores

herdados do modelo tradicional de atenção à saúde e procurar a integração com os

outros setores, envolvendo mais a comunidade na construção de um ambiente mais

saudável e com uma qualidade de vida melhor dentro das suas possibilidades.

6.2.9 Envolvimento multiprofiss ional para o ACD

O processo saúde-doença é bastante complexo, pois envolve uma variedade de

fatores biopsicossociais. Portanto, existe a necessidade de uma equipe multiprofissional

para compreender estes fatores e desenvolver ações efetivas a fim de resolver os

problemas da população. Entretanto, não basta a multiprofissionalidade da equipe, se

não há uma interação entre os profissionais que a compõem, trocando conhecimentos e

articulando as atividades necessárias para as ações de saúde, ou seja, um trabalho

interdisciplinar.

Vidal (1996) coloca que o modo de atuação dos profissionais de saúde é, sem

dúvida, um dos componentes que interferem na qualidade dos serviços de saúde

prestados. Neste sentido, observamos no momento da pesquisa de campo que existem

unidades bastante diferenciadas na realização das atividades preconizadas pelo MS,

onde apesar das dificuldades operacionais do sistema, os profissionais estão

empenhados para uma assistência de qualidade e de acordo com o novo modelo de

atenção à saúde, de forma descentralizada, com prioridade para ações preventivas e

com a integração da equipe e a comunidade.

Nas unidades, principalmente CS, observamos que é freqüente as iniciativas

assistenciais ficarem para o profissional médico, havendo uma sobrecarga deste que

fica detido apenas na assistência, diagnóstico e tratamento de doenças, e com isto, se

Page 65: Monografia Keise Nóbrega

distanciam do conceito amplo que envolve a promoção da saúde e da

interdisciplinaridade com os outros profissionais.

Neste sentido, é preciso que se trabalhe na perspectiva de modificar a legitimidade que

a população dá apenas ao médico, e começar a incentivar a importância dos outros

profissionais, quando se tratar de saúde (Sandre-Pereira et al., 2000).

Os resultados desta pesquisa apontam que 87% das ESF responderam que há o

envolvimento multiprofissional para o ACD, enquanto que nos CS ocorre em apenas

16,6% das unidades. Esta diferença de resultados reflete a dificuldade maior dos CS no

rompimento com as práticas do modelo tradicional de atenção à saúde, ainda muito

arraigados no trabalho por especialidades que também pode ser observado em

algumas ESF, onde os profissionais direcionam os atendimentos às suas

especialidades e desconhecem as atividades dos outros profissionais que compões a

equipe.

6.2.10 Desenvolvimento de atividades de educação em saúde para esta ação

A participação da comunidade na promoção da saúde tem sido bastante

discutida desde a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde,

realizada em Otawa no ano de 1986, baseado nos princípios de Alma-Ata, Saúde Para

Todos. O que se recomenda é que “para se atingir um estado de completo bem-estar

físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar as aspirações,

satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente” (Brasil. Ministério

da Saúde, 2001a).

Objetivando-se esta promoção da saúde é necessário um processo de

capacitação da comunidade para que esta possa exercer um maior controle sobre sua

própria saúde e meio-ambiente, bem como poder fazer opções que conduzam a uma

saúde melhor. Neste sentido, os profissionais e grupos sociais, assim como o pessoal

Page 66: Monografia Keise Nóbrega

de saúde, tem a responsabilidade de mediar o desenvolvimento pessoal e social

através da divulgação de informações, educação para a saúde e intensificação das

habilidades vitais (Brasil. Ministério da Saúde, 2001a).

O que pudemos verificar através deste estudo foi que as práticas de educação

em saúde são, dentre as atividades do ACD preconizadas pelo PAISC, as que têm sido

menos realizada pelos profissionais das unidades básicas de saúde (25,46%), tanto

ESF (37%) quanto nos CS (2,38%), ou seja, apenas um dos 42 CS da pesquisa

desenvolvia esta prática.

Fica evidente a dificuldade das unidades básicas de saúde em absorver os

princípios do atual modelo de atenção à saúde por não conseguirem romper com o

modelo curativo, assistencialista e valorizar a promoção da saúde e prevenção. Mesmo

nas ESF, onde a re-orientação do modelo assistencial favorece a mudança deste

cenário, menos da metade dos profissionais conseguem mesclar a realização de

práticas educativas, com a alta demanda de procedimentos clínicos. Além disto, existe

a falta de sensibilização de alguns profissionais quanto ao trabalho educativo com a

comunidade.

Em algumas unidades estas práticas ocorriam esporadicamente, sem um

cronograma de atividades sistemáticas. Esta desvalorização das práticas educativas e

em especial, sobre o tema crescimento e desenvolvimento infantil, tem repercutido na

negligência das mães quanto ao acompanhamento rotineiro da criança. Muitas

pesquisas revelam que as mães não têm levado o Cartão da Criança para as consultas,

a falta de preenchimento contínuo e o descuido com o cartão, o que tem levado a

inúmeras reposições.

Para se obter avanços mais significativos no processo de educação popular, os

profissionais devem contemplar intervenções contínuas e resolutivas, com um enfoque

voltado a ações educativas, seja em encontros públicos, em reuniões de grupos da

Page 67: Monografia Keise Nóbrega

comunidade, ou em escolas e creches; nas quais devem ser abordados os aspectos

mais ligados à área, e a importância das ações realizadas (Freitas, 1994).

Vidal (1996) comenta sobre as técnicas selecionadas ao se implantar e/ou

implementar um programa educativo voltado para as comunidades, que é interessante

a incorporação de crenças populares às atividades de educação para se obter uma

maior receptibilidade e entendimento da população. Devem utilizar uma linguagem

única e acessível ao grupo; com realização de palestras, teatros, vídeos, e

dramatizações para estimular as pessoas a discutirem o tema, tanto para educação da

comunidade, quanto para conscientização das mães e familiares.

6.2.11 Estoqu e suficiente de cartão da criança

Na pesquisa realizada por Filho e Romani em 1998 no estado de Pernambuco,

foi observado que 90% das 120 unidades possuíam o Cartão da Criança e 83,3%

tinham estoque para uso. As unidades de saúde da região metropolitana do Recife

apresentavam uma maior disponibilidade com 97,1% quando comparadas com as do

interior, 74,5%. Sendo assim, conclui-se que apesar de ser pequeno o quantitativo de

unidades que não dispunham do Cartão da Criança (10%) no estado, ainda é um

resultado inaceitável para uma assistência adequada. Em 2001 foi detectado uma

manutenção no percentual de unidades disponibilizando o cartão (89,9%), reforçando

os resultados da pesquisa daqueles autores(Recife, Secretaria de Saúde 2002,d).

Um ano depois do estudo anteriormente citado, verificou-se neste trabalho a

ausência do estoque de Cartões da Criança nas unidades de saúde tanto nas ESF

(76,6% possuíam o cartão), quanto nos CS (66,6%), onde o DS VI obteve o menor

percentual (50%), comparando-se com os outros cinco.

O Cartão da Criança é um instrumento necessário para a efetivação de uma

assistência de qualidade. Portanto, as diversas esferas do setor saúde não podem

deixar que este falte nos serviços, assim como, os profissionais de saúde precisam

Page 68: Monografia Keise Nóbrega

estar conscientes e sensibilizados de sua importância; valorizando, solicitando e

utilizando como fonte de documentação clínica e epidemiológica.

6.2.12 Existência de material educativo

Os programas de assistência à criança recomendam a realização de práticas

educativas nas unidades de saúde, visando difundir os conhecimentos junto aos

usuários sobre as ações básicas de saúde, dando a oportunidade da população ter

acesso a informações que possibilitam melhorar o seu nível de saúde (Brasil. Ministério

da saúde, 2002b).

Diante disto, para que as informações cheguem de forma correta à população, é

preciso saber comunicá-la, uma vez que não consiste apenas em transmitir

conhecimentos, ou convencer as pessoas sobre práticas saudáveis, como faz o

marketing comercial. Nesta comunicação, todos os indivíduos devem sentir-se sujeitos

sociais capazes de agir nas mudanças, e para isto é necessário haver uma troca de

informações (Rocha, 2000).

O autor reflete que as informações fornecidas precisam ser construídas

baseadas na realidade de cada comunidade, considerando as diferenças sócio-

culturais, bem como através dos artifícios que sejam mais convenientes naquele grupo,

gerando uma co-responsabilidade na promoção da saúde e na melhoria da qualidade

de vida.

Amaral et al. (2002) sugere o folheto explicativo como um instrumento muito útil

para a orientação das mães e acompanhantes. Ele ajuda nos cuidados a serem

prestados à criança, especialmente nas medidas preventivas e de promoção à saúde

realizadas no domicílio. Das mães que participaram da sua pesquisa, apenas 19%

receberam ou viram algum folheto explicativo. Uma das suas hipóteses é a não

Page 69: Monografia Keise Nóbrega

existência deste material nas unidades de saúde e/ou a falta de sensibilização dos

profissionais de saúde quanto à relevância de se propagar à educação em saúde.

O que observamos em algumas unidades foi que a não realização das práticas

educativas estava associada à falta de material educativo, segundo os profissionais. Ou

seja, ficam esperando por iniciativas do governo, que muitas vezes não contemplam as

necessidades imediatas de informação das comunidades. Em contrapartida

observamos em outras ESF materiais confeccionados por profissionais sensibilizados e

ainda por grupos da própria comunidade.

Um exemplo a ser citado é o da cidade de Tobias Barreto, em Sergipe, onde os

cinco Distritos Sanitários realizaram oficinas para confecção do seu próprio material

educativo. Foram envolvidos no processo os usuários e técnicos das redes de saúde e

de educação pública e privada, lideranças comunitárias, moradores e trabalhadores de

diferentes bairros que foram capacitados para formarem multiplicadores e atuarem na

implantação, acompanhamento e avaliação de materiais (gibis, álbuns seriados, entre

outros) (Rocha, 2000).

Para a cidade do Recife o presente estudo revelou que a existência de material

educativo sobre o ACD da criança esteve presente em 31,7% das unidades. Nas ESF

(38,1%) e nos CS (19%). O que nos faz refletir para se justificar esta diferença é

pensarmos sobre o processo de distribuição destes materiais e que nos CS as práticas

educativas têm sido delegada para profissionais do serviço social, da psicologia e,

quando existe no local, o profissional de enfermagem. Na falta destes profissionais esta

atividade dificilmente tem acontecido.

Mas não basta apenas obter um material educativo e distribuí-lo, é preciso que

se faça um trabalho educativo eficaz com a participação da comunidade neste processo

e utilizando-se de técnicas adequadas à educação popular, para que se possa alcançar

os objetivos desejados.

Page 70: Monografia Keise Nóbrega

6.2.13 Existência de normas do Ministério da Saúde para o ACD

O Ministério da Saúde normatizou as ações programáticas voltadas à Saúde da

Criança, que comportam o Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança (PAISC),

para funcionarem como subsídios e auxiliarem os profissionais de saúde nas suas

ações de saúde. O manejo destas normas deve fazer parte da rotina dos profissionais

que integram as unidades de saúde, e podem estar representadas por cartazes,

quadros, e livros (Brasil. Ministério da Saúde, 2000).

Com relação as ESF encontramos dados da Avaliação da Implantação e

Funcionamento do Programa de Saúde da Família (PSF) no Brasil, realizada pelo

Ministério da Saúde, em 2000. Foi verificado que a elaboração de protocolos clínicos

não tem feito parte das atividades desenvolvidas pelas coordenações estaduais. Deste

modo, 67% das coordenações não possuem normas, nem estão em processo de

elaboração; 20,8% estão elaborando; e 8,3% já possuem protocolos em uso. Há ainda

coordenações que acreditam ser desnecessário a criação destas normas, por

entenderem que os manuais elaborados por áreas técnicas do estado e do MS são

suficientes.

Filho e Romani (2002) em 1998 encontraram que apenas 20,3% das unidades de

saúde na Região Metropolitana do Recife possuíam normas de Acompanhamento do

Crescimento e 17,4% para o Acompanhamento do Desenvolvimento. Esta insuficiência

de normas para o ACD nas unidades de saúde também foi observada na pesquisa

realizada pela Secretaria de Saúde do Recife em 2001 onde apenas 30,4% das

unidades as possuíam, apesar de ter havido uma melhoria de aproximadamente 50%,

em relação à pesquisa de 1998. (Recife. Secretaria de Saúde, 2002d).

O presente trabalho revela um aumento considerável no número de unidades

com as normas em relação aos estudos mencionados anteriormente. Das unidades

pesquisadas 62,7% afirmaram possuir normas para o ACD, sendo em maior proporção

nas ESF com 70,2% para 47,6% dos CS.

Page 71: Monografia Keise Nóbrega

Um fator relevante a ser considerado é que neste estudo, não houve uma

metodologia de checagem das respostas, diferente dos outros dois mencionados

anteriormente, o que nos faz reportar ao viés do falso positivo e falso negativo,

baseados na intencionalidade dos entrevistados, além do desconhecimento dos

profissionais sobre a existência destas normas na unidade. Um outro dado relevante foi

a consideração das normas do AIDPI que podem ter colaborado para tais resultados.

A existência de respostas contraditórias, onde, por exemplo, na Unidade de

Saúde da Família com mais de uma equipe, existiram respostas diferentes, veio à tona

a reflexão que alguns profissionais costumam monopolizar e se apropriar dos materiais

distribuídos para toda a unidade manusear, chegando a levar estes para casa.

Precisamos comentar também que até o momento, a cidade do Recife não

elaborou suas normas e protocolos, como o Ministério da Saúde preconiza. Então

muitos serviços constroem seus próprios protocolos, o que descaracteriza a

padronização das ações e centraliza as práticas de saúde pelos serviços.

Para subsidiar os profissionais nas condutas para assistência às crianças, alguns

dos serviços de saúde têm disponíveis as pautas do IMIP e os protocolos do AIDPI que

foram considerados neste trabalho.

Segundo Maggi et al. (2002) as pautas do IMIP são uma importante contribuição

para facilitar o manejo com a criança em boa parte das circunstâncias, embora não

abordem os assuntos de forma completa, nem pretendam resolver todos os problemas

que os profissionais de saúde possam se deparar na sua rotina. Mas é importante

referir que estas pautas destacam aspectos educativos, de promoção à saúde e ações

de prevenção.

A estratégia AIDPI é descrita por Amaral et al. (2002) como “... uma intervenção

normativa que padronize e sistematize os procedimentos de avaliação, classificação e

Page 72: Monografia Keise Nóbrega

tratamento das doenças e problemas de saúde mais freqüentes da infância”. Portanto,

consideramos em algumas unidades que utilizavam materiais do AIDPI como

possuidores da norma.

O Ministério da Saúde preconiza que “um serviço organizado deve ter normas

acessíveis a todos os profissionais que atuam na área, a fim de serem manuseadas por

toda a equipe”.

Com estes objetivos pretende-se que os profissionais de saúde trabalhem numa

mesma vertente, desenvolvendo práticas equânimes, ou seja, não esquecendo as

diferenças dos sujeitos, mas dando uma assistência de qualidade igual a todos os

cidadãos, o que também facilitaria o intercâmbio com as esferas governamentais na

distribuição de insumos e no desenvolvimento de programas e políticas de saúde

(Brasil. Ministério da saúde, 1995b).

6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISCUSSÃO

Precisamos comentar, baseando-se em Contandriopoulos et al. (1997), que as

informações extraídas de estudos avaliativos como este, não sejam tidas como uma

verdade absoluta, pois não dão conta de responder todas as questões que se deseja.

Nem sempre as perguntas formuladas conseguem expressar a integralidade da ação,

além de outras limitações metodológicas, como o viés do falso positivo e falso negativo

que mascara as respostas de acordo com os interesses particulares de cada indivíduo.

Neste sentido, percebemos que a efetividade de uma ação não depende de

apenas um somatório de atividades, mas de uma intersecção de fatores processuais

que podem produzir um efeito sinérgico ou antagônico, dependendo de como for a sua

condução. A melhoria da situação da saúde requer o envolvimento de todos os atores

envolvidos no processo, de forma consciente e participativa numa troca de saberes e

de prioridades.

Page 73: Monografia Keise Nóbrega

A avaliação na sua dimensão normativa representa um dos olhares sobre a

assistência a saúde da criança. Não contemplamos, por exemplo, a satisfação dos

usuários. Akerman e Nadanovsky (1994) comentam sobre o papel relevante no

processo avaliativo dos usuários dos serviços, profissionais ligados ao atendimento,

administradores e planejadores.

Neste sentido os autores enfatizam que “a avaliação, contudo não poderia ser

considerada um fim em si mesma, mas um processo onde um julgamento explícito é

elaborado, e a partir daí desencadear um movimento de transformação na direção da

qualidade previamente desejada (Akemman e Nadanovsky, 1994)”. Portanto, este

estudo mais do que ser uma base de dados para o planejamento e elaboração de

políticas e ações de saúde, promove a discussão e reflexão contínua sobre o que vem

sendo realizado na perspectiva do Acompanhamento do Crescimento e

Desenvolvimento infantil no universo da atenção básica de saúde.

Page 74: Monografia Keise Nóbrega

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Page 75: Monografia Keise Nóbrega

As pretensões deste trabalho foram pesquisar o grau de implantação da ação de

Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento através da realização das

atividades que compõem esta ação e que são preconizadas pelo Ministério da Saúde,

envolvendo os profissionais que prestam assistência na rede básica de saúde e

compatibilizando com a proposta do novo modelo de atenção a saúde em vigência no

país.

Diante das observações descritas no transcorrer deste estudo podemos relatar

que a análise do grau de implantação da ação ACD na rede básica do município do

Recife no ano de 2002 possibilitou as seguintes considerações:

• Houve uma predominância no grau de implantação da ação ACD em

parcialmente implantado. Ao desagregar os dados quanto a ação desenvolvida

nos Centros de Saúde e nas Equipes de Saúde da Família, observamos uma

maior realização desta ação nas ESF que obtiveram a implantação da ação em

algumas equipes, enquanto que nos CS encontramos unidades com a ação não

implantada.

• Fazendo-se uma análise comparativa das atividades desenvolvidas nos CS e

ESF, percebemos que estas revelam uma significativa melhoria na proporção de

realização das atividades preconizadas, o que nos faz pensar que a nova

proposta de atenção à saúde, através das USF vem colaborando para uma

melhor assistência à saúde infantil, enquanto que os CS parecem manter um

caráter predominantemente assistencialista arraigado nos moldes do modelo

tradicional.

• Dentre as quatorze atividades que compõem a ação merece destaque à

utilização do cartão da criança no ACD das crianças menores de 1 ano que é a

atividade com maior percentual de realização (97,6%), chegando a ser realizada

por todas as ESF. Enquanto que a atividade menos efetiva é o desenvolvimento

de práticas educativas (25,5%), que estava sendo realizada por apenas um CS.

Page 76: Monografia Keise Nóbrega

Estes resultados demonstram que apesar da habilitação do município em Gestão

Plena do Sistema, as unidades básicas de saúde não realizam a totalidade de

atividades que o Ministério preconiza para o ACD. São atividades de baixo custo e que

na maioria das situações, dependem da sensibilidade e empenho dos profissionais da

ponta que ficam, muitas vezes, esperando por iniciativas governamentais e deixam de

participar de processos construtivos junto à comunidade.

A alta demanda de procedimentos clínicos, bem como, o envolvimento com

aspectos administrativos e burocráticos, vem secundarizando as ações educativas de

prevenção e promoção da saúde. A participação da comunidade nos processos de

saúde foi um direito adquirido constitucionalmente, mas para isto é preciso que a

população tenha acesso as informações para que possam buscar melhores condições

de saúde.

A intersetorialidade e interdisciplinaridade não têm acontecido o que gera ações

fragmentadas e de baixa eficácia, com custos muitas vezes desnecessários, seja pelo

desconhecimento das reais necessidades da população e mesmo pela inaplicabilidade

destas atitudes. Esta dificuldade de intercâmbio com os diversos setores, que também

são atores envolvidos no processo de saúde/doença e a falta de comunicação

observada entre os profissionais, vem dificultando as iniciativas e centralizando as

ações em determinadas pessoas que se tornam sobrecarregadas de tarefas e acabam

desconhecendo as atribuições dos colegas, do funcionamento da sua unidade e até do

sistema; atuando de forma descaracterizada e comprometendo o novo modelo de

atenção à saúde.

A qualidade de algumas atividades como: O acompanhamento ou referência de

todas as crianças com alteração no desenvolvimento; que aparece nesta pesquisa com

razoável proporção de realização, mais de 90%, nos faz refletir as forma de sua

execução, tendo-se em vista a subnotificação dos instrumentos de acompanhamento

preconizados pelo MS.

Page 77: Monografia Keise Nóbrega

Proporcionar uma assistência com melhor qualidade nos reporta a necessidade

de avaliações contínuas das ações e programas de saúde para saber se estão

correspondendo aos seus objetivos e adequando-se as respectivas realidades. Como,

por exemplo, o Programa do Leite, bastante criticado por vários profissionais e o próprio

PAISC que ainda não obteve as ações implantadas.

As estratégias de otimização dos programas ganham grande importância

considerando o momento de crise econômica mundial e que se discute a reorganização

dos serviços de saúde no Brasil. Percebe-se que os profissionais de saúde e usuários

ainda desconhecem a filosofia do novo modelo de atenção a saúde e as perspectivas

para a construção de uma “Cidade Saudável”, tendo-se em vista a manutenção de

ações puramente assistencialistas e a desvalorização das práticas de promoção da

saúde e prevenção de doenças e agravos.

O presente estudo vem colaborar informando os diversos setores da saúde,

entre outros envolvidos, em especial, a Diretoria Executiva de Atenção a Saúde da

Criança e do Adolescente da Secretaria de Saúde do Recife, que em seu plano de ação

estabeleceu este processo avaliativo como uma das suas prioridades. Quanto aos

profissionais de saúde e usuários que se questionam sobre as novas propostas de

saúde e eficácia dos PSF, é uma forma de reflexão e até de conhecimento sobre o que

o MS preconiza, incluindo-se os participantes da pesquisa que tiveram a oportunidade

de um feedback ao serem informados dos resultados e terem algumas das dificuldades

resolvidas no âmbito da gestão municipal.

Page 78: Monografia Keise Nóbrega

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Page 79: Monografia Keise Nóbrega

Na tentativa de colaborar com a implantação da ação de Acompanhamento do

Crescimento e Desenvolvimento das crianças no município do Recife, mantendo-se

como referencial a melhoria da qualidade de vida destas, sugerimos algumas

proposições:

• Realizar acompanhamento e supervisão periódica nas Unidades Básicas

de Saúde, para manter o intercâmbio entre Nível Central, Distritos

Sanitários e Serviços de Saúde;

• Promover a capacitação de todos os profissionais das Unidades Básicas

de Saúde para o Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento

infantil, inserindo também na temática, o novo modelo de atenção à

saúde;

• Disseminar a importância do uso do cartão para os profissionais e mães,

com ênfase para o preenchimento do módulo desenvolvimento;

• Sensibilizar os profissionais de saúde da atenção básica quanto à

importância das práticas educativas e incentiva-los a desenvolverem

suas próprias produções;

• Realizar avaliações periódicas para o planejamento e acompanhamento

dos programas e serviços de saúde, inclusive de forma institucionalizada

pela Prefeitura do Recife;

• Promover e incentivar o entrosamento das unidades com os outros

setores e atores sociais;

• Integrar as equipes de saúde para um trabalho interdisciplinar;

Page 80: Monografia Keise Nóbrega

• Estimular os profissionais de saúde para o utilizarem as normas

preconizadas pelo Ministério da Saúde no embasamento de suas

atividades;

• Manter as Unidades de Saúde sempre abastecidas com o Cartão da

Criança;

• Disseminar os resultados desta avaliação com os gestores, gerentes e

profissionais da Secretaria Municipal de Saúde.

Page 81: Monografia Keise Nóbrega

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Page 82: Monografia Keise Nóbrega

AKERMAN, M. E NADANOVSKY, P. Avalliação dos Serviços de Saúde – Avaliar o

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Page 87: Monografia Keise Nóbrega

$1(;26�

Page 88: Monografia Keise Nóbrega

ANEXO 1

Relação de Centros de Saúde e Equipes de Saúde da Família avaliadas do

Município do Recife, 2002.

DS Tipo d e

Unidade Nome Endereço

1 PSF Coque 008 Rua – Guapirama, 65 – Coque

1 PSF Coque 008 Rua – Guapirama, 65 – Coque

1 PSF Coque 111 Rua – Guapirama, 65 – Coque

1 PSF Santa Terezinha I Rua – Artenis, 09 – Santo Amaro

1 PSF Santa Terezinha II Rua – Artenis, 09 – Santo Amaro

1 PSF Santo Amaro I/I Rua – Anchieta, 520 – Santo Amaro

1 PSF Santo Amaro I/II Rua – Anchieta, 520 – Santo Amaro

1 PSF Santo Amaro II/I Rua – Buarque Macêdo, 65 – Santo Amaro

1 PSF Santo Amaro II/II Rua – Buarque Macêdo, 65 – Santo Amaro

1 PSF Coelhos I Rua – Bituruna,110 – Coelhos

1 PSF Coelhos II Rua – Cais José Mariano, 699 – Coelhos

1 UBS Waldemar de Oliveira Rua – do Pombal,115 – Santo Amaro

1 UBS Gouveia de Barros Rua – Pátio de Santa Cruz, s/nº - Boa Vista

2 PSF Alto do Céu Rua – Capitão Salgueiro,267 – Porto da Madeira

2 PSF Porto da Madeira Rua – Capitão Salgueiro,267 – Porto da Madeira

2 PSF Alto dos Coqueiros Rua- Alto dos Coqueiros,128 – Beberibe

2 PSF Chié I Rua – Continental,270 – Campo Grande

2 PSF Chié II Rua – Continental,270 – Campo Grande

2 PSF Chão de Estrelas I Rua – Elias Gomes,65 – Campo Grande

2 PSF Chão de Estrelas II Rua – Elias Gomes,65 – Campo Grande

2 PSF Córrego do Curió Rua – Córrego do Curió,73 – Dois Unidos

2 PSF Alto do Capitão Rua – Córrego do Curió,73 – Dois Unidos

2 PSF Ilha de Joaneiro I Av. Agamenon Magalhães ,42 – Campo Grande

2 PSF Ilha de Joaneiro II Av. Agamenon Magalhães ,42 – Campo Grande

2 PSF Saramandaia Av. Jardim Brasília,145 – Peixinhos

2 PSF Vila da Prata Av. Jardim Brasília,145 – Peixinhos

Page 89: Monografia Keise Nóbrega

DS Tipo d e

Unidade Nome Endereço

2 PSF Capilé Rua – Jerônimo Vilela, 794 – Campo Grande

2 PSF Aderbal Jurema Av. Jardim Brasília, 145 – Peixinhos

2 UBS Nelson Chaves Rua – Ramiz Galvão, 379 – Arruda

2 UBS Monteiro de Moraes Av. Beberibe, 4510 – Beberibe

2 UBS Luiz Wilson Rua – Chã de alegria, s/nº - Bomba do Hemetério

2 UBS Tia Regina Córrego do Deodato, 315 – Água Fria

2 UBS Bianor Teodósio Av. Hildebrando Vasconcelos, s/nº - Dois Unidos

2 UBS Poli.Amaury Coutinho Rua Iguatu, s/nºCampina do Barreto

3 PSF Apipucos Rua – Cel. João Batista do Rego Barros – s/nº - Apipucos

3 PSF Poço da Panela Rua – Estrada Real do Poço – Poço da Panela

3 PSF Alto da Brasileira Rua – Alto do Reservatório, 1002 - Nova Descoberta

3 PSF Alto do Reservatório Rua – Alto do Reservatório, 1002 - Nova Descoberta

3 PSF Santana Rua – Olegarinha da Cunha, 333 Casa Forte

3 PSF Córrego da Bica I Rua – Santa Terezinha, s/nº - Guabiraba

3 PSF Córrego da Bica II Rua – Santa Terezinha, s/nº - Guabiraba

3 PSF Córrego da Bica III Rua – Santa Terezinha, s/nº - Guabiraba

3 PSF Córrego da Bica IV Rua – Santa Terezinha, s/nº - Guabiraba

3 PSF Guabiraba I Rua – Otacílio de Azevedo, 115 - Guabiraba

3 PSF Guabiraba II Rua – Otacílio de Azevedo, 115 - Guabiraba

3 UBS Mário Monteiro Rua – Nova descoberta,99 – Casa Amarela

3 UBS Joaquim Carvalho Rua – Sirigi, s/nº - Alto do Mandú

3 UBS Hélio Mendonça Rua – Erundina Negreiros Araújo, s/nº Macaxeira

3 UBS Bruno Maia Alto do Refugio, s/nº - Nova Descoberta

3 UBS Alcides Codeceira Pça. Visconde de Sá Bandeira, s/nº Alto Jose Bonifácio

3 UBS Clementino Fraga Rua Japaratuba, 260 – Casa Amarela

3 UBS Iná Rosa Borges Rua - Senador Milton Campos, s/nº - Vasco da Gama

3 UBS Mario Ramos Rua – Oscar de Barros, s/nº - Casa Amarela

3 UBS Francisco Pignatari Estrada do Arraial, s/nº - Casa Amarela

Page 90: Monografia Keise Nóbrega

DS Tipo d e

Unidade Nome Endereço

4 PSF Airton Sena I Rua – Nova Aliança, s/nº - Vila Aliança - Iputinga

4 PSF Santa Marta Rua – Nova Aliança, s/nº - Vila Aliança - Iputinga

4 PSF Barbalho Rua – Nova Aliança, s/nº - Vila Aliança - Iputinga

4 PSF Skylab I Rua – Itapiranga, 791 - Iputinga

4 PSF Skylab II Rua – Itapiranga, 791 - Iputinga

4 PSF Caranguejo Rua – Campos Tababiares, s/nº - Ilha do Retiro

4 PSF Vietnã I Rua – Eduardo Custódio, 166 – San Martin

4 PSF Vietnã II Rua – Eduardo Custódio, 166 – San Martin

4 PSF Cosirof I Rua – Edvaldo Maranhão Ferreira , 135 – Torrões

4 PSF Cosirof II Rua – Edvaldo Maranhão Ferreira , 135 – Torrões

4 PSF Macaé Rua – Macaé, 125º - Torrões

4 PSF Sinos Rua – dos Sinos, 25 - Torrões

4 PSF Sítio das Palmeiras I Rua – Felixlândia,176 – Torrões

4 PSF Sítio das Palmeiras II Rua – Felixlândia,176 – Torrões

4 PSF Rosa Selvagem I Rua – Prof. Otávio Tavares, 30 – Várzea –UR07

4 PSF Rosa Selvagem II Rua – Prof. Otávio Tavares, 30 – Várzea - UR07

4 PSF Barreiras Rua – Água Clara, 145 – Caxangá

4 PSF Engenho do meio I Rua – José dos Santos, 319 – Eng. Do Meio

4 PSF Engenho do meio II Rua – José dos Santos, 319 – Eng. Do Meio

4 UBS Prof.Joaquim

Cavalcante

Av. do forte, 1350 – Torrões

4 UBS Prof. Amaury Medeiros Rua – Roraima, s/nº – Várzea

4 UBS Dr. José Dustam de C.

Soares

Rua – Santa Lúcia , 320 - Caiara

4 UBS Emocy Krause Rua – Cantora clara Nunes, s/nº - Vila Sta. Luzia -Torre-

4 UBS Prof. Olinto de Oliveira Rua – Francisco de Paula, 47 – Caxangá

5 PSF Jardim Uchoa I Rua – Jupiraci, s/nº - Jardim Uchoa - Areias

5 PSF Jardim Uchoa II Rua – Jupiraci, s/nº - Jardim Uchoa - Areias

5 PSF Chico Mendes Rua – 1º travessa do campo,29 – Caçote - Areias

5 PSF Ximboré Rua – 1º travessa do campo,29 – Caçote - Areias

5 PSF Iraque Rua – Mearim, 55 - Estância

5 PSF Rua do Rio Rua – Mearim, 55 - Estância

5 PSF Planeta dos Macacos I Rua – Edgar Carneiro, 929 – Jardim São Paulo

5 PSF Planeta dos Macacos II Rua – Edgar Carneiro, 929 – Jardim São Paulo

5

PSF Coqueiral I Rua – Maria Tereza, 174 - Coqueiral

Page 91: Monografia Keise Nóbrega

DS

Tipo d e

Unidade Nome Endereço

5 PSF Coqueiral II Rua – Maria Tereza, 174 - Coqueiral

5 UBS Planeta dos Macacos Rua – 4 de setembro, s/nº - Jardim São Paulo

5 UBS Dr. Geraldo Barreto

Campelo

Rua – Cdor. Franco Ferreira,876 – San Martin

5 UBS Professor Fernandes

Figueira

Pça. Jardim São Paulo, s/nº - Jardim São Paulo

5 UBS Agamenon Magalhães Pça. Da Paz, s/nº, Afogados

5 UBS Ceasa Br.101 Girador do Curado,11606 – Jardim São Paulo

5 UBS Gaspar Regueira Rua – Pe. Diogo Rodrigues,144, Barro

5 UBS Bidu Krause Av. Onze de agosto,s/nºJardim São Paulo

5 UBS Ipiranga Rua – Carlos Gomes, 932 - Prado

6 PSF UR 10/1 Rua – Manuel A. Queiroz, s/nº, 132 – Cohab UR 10 - Ibura

6 PSF UR 10/2 Rua – Manuel A. Queiroz, s/nº, 132 – Cohab UR 10 - Ibura

6 PSF Sítio Grande I Av. Luxemburgo, 254 – Sítio Grande – Imbiribeira

6 PSF Sítio Grande II Av. Luxemburgo, 254 – Sítio Grande – Imbiribeira

6 PSF UR 4 e 5/ I Rua – Capitão Vicente Curado, 33 – COHAB UR-5 Ibura

6 PSF UR 4 e 5/ II Rua – Capitão Vicente Curado, 33 – COHAB UR-5 Ibura

6 PSF UR 4 e 5/ III Rua – Capitão Vicente Curado, 33 – COHAB UR-5 Ibura

6 PSF UR 4 e 5/ IV Rua – Capitão Vicente Curado, 33 – COHAB UR-5 Ibura

6 PSF Ilha de Deus Rua – São José – s/nº - Ilha de Deus – Imbiribeira

6 PSF Dancing Days Rua – Dancing Days, 109 – Dancing Days – Imbiribeira

6 PSF Lagoa Encantada I Av. Dr. Benigno Jordão Vasconcelos, s/nº - Lagoa

Encantada –Ibura –UR 10

6 PSF Lagoa Encantada II Av. Dr. Benigno Jordão Vasconcelos, s/nº - Lagoa

Encantada

6 PSF Lagoa Encantada III Av. Dr. Benigno Jordão Vasconcelos, s/nº - Lagoa

Encantada

6 PSF UR 12/I Rua – Francisco Miranda, 16 – COHAB

6 PSF UR 12/II Rua – Francisco Miranda, 16 – Ibura

Page 92: Monografia Keise Nóbrega

DS Tipo d e

Unidade Nome Endereço

6 PSF Três Carneiros I Rua – Ibura,154 – 3 Carneiros - Ibura

6 PSF Três Carneiros II Rua – Ibura,154 – 3 Carneiros - Ibura

6 PSF Três Carneiros III Rua – Ibura,154 – 3 Carneiros - Ibura

6 UBS Prof. Ivo Rabelo Av. Campina Grande,s/nº - UR 1 – Ibura

6 UBS Dr. Josué de Castro Rua – Coração de Jesus, s/nº - Recife – UR 3, Ibura

6 UBS Dr. Aristarco Dourado Rua – José Martorano.,100 – Jordão Baixo

6 UBS Dr. Djalma Cavalcante Rua – Delfin, s/nº - Brasília Teimosa

6 UBS Carneiro Leão Rua – Nogueira de Souza, 334- Pina

6 UBS Leônidas Cravo Gama Rua – Ribeiro de Brito, 1361 – Boa Viagem

6 UBS Romildo Gomes Rua Jalisco,s/nº - Imbiribeira

6 UBS Djair Brindeiro Rua – Cosmorama, s/nº - Boa Viagem

6 UBS Bernad Van Leer Av. Francisco Val Passos, s/nº - Brasília Teimosa

6 UBS Jane Magalhães Av. Santa Fé,240 – UR 2 – Ibura

6 UBS Prof. João Rodrigues Rua – Barreiros, s/nº - Pina

6 UBS Dom. M.L. Valverde Rua – Nilo Dornellas Câmara, 17 – Boa Viagem

Page 93: Monografia Keise Nóbrega