monografia joerly pedagogia 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM - BA JOERLY RAMOS DE ARAÚJO PROJETO BAÚ DE LEITURA: REENCANTANDO O MUNDO DA LEITURA NO SEMIÁRIDO CAMPOFORMOSENSE SENHOR DO BONFIM-BA SETEMBRO - 2011

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Pedagogia 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM - BA

JOERLY RAMOS DE ARAÚJO

PROJETO BAÚ DE LEITURA: REENCANTANDO O MUNDO DA LEITURA NO SEMIÁRIDO CAMPOFORMOSENSE

SENHOR DO BONFIM-BA SETEMBRO - 2011

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JOERLY RAMOS DE ARAUJO

PROJETO BAÚ DE LEITURA: REENCANTANDO O MUNDO DA LEITURA NO SEMIÁRIDO CAMPOFORMOSENSE

Trabalho monográfico apresentado como pré-requisito de Licenciatura Plena em Pedagogia Docência e Gestão de Processos Educativos pelo Departamento de Educação Campus VII – Senhor do Bonfim.

Orientadora: Profª MS.c Maria Elizabeth Souza Gonçalves

SENHOR DO BONFIM - BA SETEMBRO - 2011

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JOERLY RAMOS DE ARAÚJO

PROJETO BAÚ DE LEITURA: REENCANTANDO O MUNDO DA LEITURA NO SEMIÁRIDO CAMPOFORMOSENSE

APROVADA_______DE___________DE 2011:

Maria Elizabeth Souza Gonçalves Orientadora

_______________________________ Avaliador (a)

_______________________________ Avaliador (a)

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A Deus, pelas as maravilhas que têm feito na minha vida, pela fé e pela esperança de alcançar a vitória. Aos meus pais, irmãos e irmãs; família linda e amorosa que em meio às dificuldades nunca deixou de acreditar no poder da educação. Pelo apoio que sempre me deram para a realização de um projeto de vida, contribuindo para que chegasse ate aqui. Em especial ao meu amado filho Anderson, pela compreensão de minha ausência durante o período do curso. À minha querida sobrinha e afilhada Ana Paula, sempre presente vivenciando comigo angustias, inquietações e sucessos.

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AGRADECIMENTOS

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus VII representada por aqueles

e aquelas que fazem desse espaço acadêmico um espaço significativo de

construção de saberes.

Aos meus professores e professoras do curso, pelas contribuições na socialização

dos conhecimentos durante todos estes semestres. Em especial a professora

Claudia Maisa, pela provocação e incentivo no tema monográfico no segundo

semestre por conhecer a minha vivência junto ao Projeto.

Aos/as colegas e amigas do curso, pelo apoio durante todos estes anos.

Acreditamos que juntos construímos nossa vida acadêmica de maneira sólida e de

aprendizagens significativas. Em especial minhas inesquecíveis parceiras Jeame,

Edilene, Sandra, Cleane, Voneide, Renata e Lucélia, amigas que no espaço

acadêmico fizeram o cinza se transformar no colorido me

proporcionando momentos inesquecíveis.

A professora orientadora Elizabeth Gonçalves, pelo carinho, apoio, dedicação e

pelas intervenções que contribuíram significativamente na construção da pesquisa e

também por ter acompanhado um pouco da minha caminhada junto ao Projeto Baú

de Leitura.

Aos beneficiários e educadores do PETI pela receptividade, entusiasmo e

contribuição para o trabalho monográfico.

Aos meus amigos e amigas parceiros/as do PETI que sempre estivemos juntos

vivenciando a alegria e o colorido de uma Leitura lúdica e encantadora, onde juntos

construímos saberes riquíssimos sobre a leitura tendo uma relevância plural em

minha vida profissional, acadêmica e humana.

6

O Baú é realmente um baú “cheinho”

de livros. Na Bahia é confeccionado de

sisal. A fibra de sisal que, em um

passado recente, era sinônimo de

exploração, opressão, prisão e

sofrimento para as crianças do

semiárido baiano, hoje, através dos

livros/textos contidos no Baú, lhes

revela um mundo até então

desconhecido.

(Ana Cecília dos Reis)

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RESUMO

Esta pesquisa com o título Projeto Baú de Leitura: reencantando o mundo da leitura no semiárido campoformosense teve por finalidade identificar e analisar os impactos do Projeto Baú de Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura. Neste estudo buscamos apoio teórico em Silva (1986); Freire (1993); Lajolo (2002); ECA (2004); Baptista (2006); Lerner (2002); Abramovich (1997); e Martins (2006); dentre outros, para melhor fundamentar a pesquisa, contribuindo para uma reflexão crítica neste estudo, travando discussões sobre os impactos do Projeto Baú de Leitura. Utilizamos os procedimentos metodológicos com enfoque qualitativo com os seguintes instrumentos: a observação participante para um contato direto com a realidade pesquisada; um questionário fechado para traçar o perfil dos sujeitos e uma entrevista semi-estruturada para identificar a visão dos sujeitos a respeito da investigação. Tivemos como lócus do trabalho de campo a comunidade de Lagoa do Porco, situada no Município de Campo Formoso-BA e como sujeitos da pesquisa o educador social e os beneficiários do PETI. A partir da análise do questionário, da entrevista e da observação, foi possível identificarmos vários fatores impactantes junto ao Projeto Baú de Leitura, e a contribuição que este Projeto proporciona a democratização do livro e à formação não apenas da leitura e da escrita, como da formação integral de crianças e adolescentes, ao proporcionar lazer, alegria, respeito às diferenças dentre outros.

Palavras-chave: Leitura. Projeto Baú de Leitura. Beneficiários do PETI.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráficos 4.1.1 – Percentual em relação ao sexo. Gráficos 4.1.2 – Percentual em relação à faixa etária. Gráficos 4.1.3 – Percentual em relação à moradia. Gráficos 4.1.4 – Percentual em relação às fontes de leitura. Gráficos 4.1.5 – Percentual em relação à preferência pelas atividades socioeducativas. Gráficos 4.1.6 – Percentual em relação às atividades socioeducativas que realizam. Gráficos 4.1.7 – Percentual em relação à preferência pelo lazer. Gráficos 4.1.8 – Percentual em relação à participação em outro projeto além do Projeto Baú de Leitura.

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LISTA DE SIGLAS

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

MOC – Movimento de Organização Comunitária

IRPAA – Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UJA – Unidades da Jornada Ampliada

SETRAS – Secretaria Estadual de Trabalho e Ação Social

SEDES – Secretária do Desenvolvimento Social da Bahia

MEC – Ministério da Educação e Cultura

CAT – Conhecer Analisar e Transformar a realidade do Campo

ONG – Organização não governamental

PBL – Projeto Baú de Leitura

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................12

CAPÍTULO I 1. Contextualização da leitura no Brasil.....................................................................14 1.1. Alternativas de Afirmação de Leitura..................................................................17

CAPÍTULO II

2. QUADRO TEÓRICO............................................................................................. 20

2.1. Leitura................................................................................................................. 20

2.1.1. Leitura: uma questão social............................................................................. 22

2.1.2. Contação de história: fator essencial na formação de leitores........................ 24

2.2. Projeto Baú de Leitura........................................................................................ 25

2.2.1. Aspectos metodológicos do Projeto Baú de Leitura........................................ 29

2.2.2. Motes: os eixos temáticos............................................................................... 31

2.2.3. Acervos do Baú: livros de literatura infanto-juvenil.......................................... 34

2.2.4. Formação e sensibilização de Educadores-leitores........................................ 35

2.3. Beneficiários do PETI......................................................................................... 37

2.3.1. Perfil dos Beneficiários.................................................................................... 39

CAPÍTULO III

3. METODOLOGIA................................................................................................... 41

3.1. Tipo de pesquisa................................................................................................ 41

3.2. Lócus.................................................................................................................. 42

3.3. Sujeitos da pesquisa.......................................................................................... 42

3.4. Instrumentos de coleta de dados....................................................................... 42

3.4.1. Observação participante................................................................................. 43

3.4.2. Questionário fechado...................................................................................... 43

3.4.3. Entrevista Semi-estruturada............................................................................ 44

CAPÍTULO IV

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4. RETRATOS DE UMA REALIDADE: ANALISANDO OS RESULTADOS........... 46

4.1. Resultado do questionário fechado: o perfil dos sujeitos................................... 46

4.1.1. Sexo................................................................................................................ 46

4.1.2. Faixa etária...................................................................................................... 47

4.1.3. Com quem residem......................................................................................... 47

4.1.4. O que costumam ler........................................................................................ 48

4.1.5. Atividades socioeducativas que mais gostam................................................. 49

4.1.6. Atividades socioeducativas que realizam........................................................ 50

4.1.7. Quanto ao lazer o que preferem...................................................................... 50

4.1.8. Participação em outro projeto além do Projeto Baú de Leitura....................... 51

4.2. RESULTADOS DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA E DA

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE............................................................................. 52

4.2.1. O significado do Projeto Baú de Leitura.......................................................... 52

4.2.2. O Prazer de ler na perspectiva do Projeto Baú de Leitura.............................. 54

4.2.3 Os livros mais lidos do Projeto Baú de Leitura................................................ 55

4.2.4. Os impactos do Projeto Baú de Leitura na vida dos beneficiários.................. 56

4.2.5. Dedicação da leitura antes e depois do Projeto Baú de Leitura..................... 57

4.2.6. Relação Baú/Comunidade.............................................................................. 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 60

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 62

APÊNDICES............................................................................................................. 66 .

12

INTRODUÇÃO A leitura se faz presente em todas as etapas educacionais das sociedades letradas.

E isso sem dúvida começa no período da alfabetização, quando o indivíduo passa a

compreender os significados das mensagens através da escrita. A leitura, por sua

vez é uma prática essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial

ainda à própria vida do ser humano.

O intuito do presente trabalho monográfico é identificar os impactos do Projeto Baú

de Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura.

Esta identificação é de grande relevância numa sociedade mascarada pela negação

do direito a ler para as classes dominadas onde o acesso a educação e o livro têm

sido objeto de poder e dominação, reafirmando uma cultura de negação ao

conhecimento e a informação, algo extremamente importante contra a opressão,

alienação e dominação.

A opção pela temática os impactos do Projeto Baú de Leitura está diretamente

relacionado à nossa trajetória como educadora social e por acreditarmos que foi

através das nossas vivencias junto ao referido projeto que ingressamos no espaço

acadêmico. Soma-se a isso as inquietações e discussões provocadas ao longo do

nosso processo formativo no Curso de Pedagogia, acerca da temática e dos

entraves e resistências, fruto de uma educação colonizadora.

Sendo assim, com o objetivo de identificar os impactos do Projeto Baú de Leitura

para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura, iniciamos o

presente trabalho apresentando a seguinte estrutura redacional:

No capitulo I, abordamos uma breve contextualização sobre leitura no Brasil, em um

contexto social marcado pelo processo de negação do direito a ler para as classes

populares e pela não democratização do livro, sendo este historicamente objeto de

poder e que tanto a educação quanto a leitura estiveram e ainda podem estar a

serviço da exploração e exclusão. Representando os reais interesses de uma

sociedade hierarquizada e elitista. Logo após encerramos esse capitulo

apresentando o Projeto Baú de Leitura, como alternativa de afirmação de leitura,

destacando a luta e conquistas dos movimentos sociais na incansável busca de

13

solucionar os inúmeros problemas de exclusão junto às comunidades pobres

especialmente aquelas localizadas no semiárido brasileiro.

No Capitulo II, construímos o referencial teórico a partir da exploração dos

conceitos-chaves, travando discussões com o apoio de alguns teóricos, sobre a

relevância do Projeto Baú de Leitura no contexto social onde está inserido,

principalmente para as comunidades pobres onde ele se apresenta.

No capítulo III, apresentamos os procedimentos metodológicos utilizados para a

concretização da pesquisa com o apoio de alguns teóricos para uma melhor

compreensão da pesquisa.

Já no capítulo IV, apresentamos a análise e interpretação dos resultados, onde

utilizamos o questionário fechado para traçar o perfil os sujeitos, a entrevista semi-

estruturada para identificar os impactos do Projeto Baú de Leitura no

desenvolvimento da leitura junto aos beneficiários e a observação participante para

obtermos um contato direto com a realidade pesquisada.

Por fim, trazemos as considerações finais enfatizando os fatores impactantes do

Projeto Baú de Leitura e da luta para se tornar uma política pública. Destacamos

também as lacunas e entraves na desenvoltura do projeto.

14

CAPÍTULO I

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA LEITURA NO BRASIL

Ao longo da história, assim como a educação, a leitura também sofreu a influência

do processo de colonização. Quando os Jesuítas aqui chegaram traziam consigo os

primeiros livros liderados pela igreja católica para “domesticar” os índios sufocando

sua identidade, sendo que a maioria da população quase não tinha acesso a esses

livros. Isso demonstra o processo de negação do direito das classes dominadas de

ter acesso a educação e a leitura, reafirmando uma cultura de negação ao saber

sistematizado que permanece até os dias atuais. Como afirma Araújo (1999):

(...) Aliada ao contexto político e social foi a herança deixada e que muitos buscam superar. O acesso ao livro à leitura e escrita foi um privilégio de poucos, podemos, afinal, concluir que o livro também foi um símbolo de riqueza e hierarquia social objeto a que raríssimos não ricos puderam ter acesso (p.21).

Desse modo, a leitura tornou-se um privilégio das classes dominantes e foi utilizada

como instrumento para apropriação do poder com relação às classes populares. E o

domínio da leitura no Brasil ainda é um privilégio de uma minoria, sendo que este

privilégio persiste não porque as camadas sociais se negam a ler, mas porque as

oportunidades que lhes são oferecidas são reduzidas. Como Soares (2001) ressalta,

enquanto as classes dominantes vêem a leitura como fruição, lazer, ampliação de

horizontes, de conhecimentos, de experiências, as classes dominadas a vêem como

instrumento necessário a sobrevivência, ao acesso ao mundo do trabalho, à luta

contra suas condições de vida.

A negação do direito a ler para as classes dominadas não está presente apenas na

história do passado, infelizmente ela permanece no Brasil de hoje, junto a uma

população sofrida, excluída que vive a margem de uma sociedade egoísta e muitas

vezes excludente. Quando aprendemos a ler e escrever, o importante é procurar

compreender melhor o que foi a exploração colonial, o que significa a nossa

“Independência” . Freire (1993) complementa dizendo: “Compreender melhor a nossa

luta para criar uma sociedade justa sem exploradores e nem explorados (p. 56)” . Ele

ainda destaca:

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Aprender a ler o mundo e a palavra escrita, é uma prática fundamental e essencial para mudar as pessoas e mudarem o mundo. A leitura por sua vez tem um papel central no processo de libertação dos que vivem oprimidos, dos que vivem alienados, dos que vivem excluídos (p. 42).

Nesse contexto, falar de leitura implica refletir sobre a função político-social desse

ato e é importante associá-la ao processo de “alfabetizar-se” numa compreensão

mais ampla, como um processo interminável de interação no mundo.

A sociedade moderna traz consigo uma diversidade de informações pelo uso

intensivo das tecnologias que necessita constantemente do uso da leitura de modo

que, o ato de ler, em toda sua complexidade, assume uma importância significativa

no meio social. Visto que a leitura é um dos instrumentos mais importantes para a

consecução de novas possibilidades de aprendizagens e propícia a construção e o

fortalecimento de idéias e ações significativas na dimensão do conhecimento. Silva

(1986) confirma tal discussão dizendo:

Se o “ ler” for tomado como um ato de libertação como uma atividade provocadora de consciência dos fatos sociais por parte do povo, então é interessante ao poder dominante que as condições de produção da leitura sejam empobrecidas ao máximo, ou seja, que o acesso ao livro e a certo tipo de leitura (a crítica transformadora) seja dificultado ou bloqueado (p.44).

Diante desta realidade a escola muitas vezes em sua prática, não oportuniza aos

alunos e alunas a vivenciar a leitura como um meio de construção de conhecimento

e compreensão do contexto, o que tornaria um ato político, significativo e de prazer

para o leitor. E as experiências de leitura, apenas como decodificação vão

desestimulando a prática leitora.

Lajolo (2002) cita uma leitura como fonte de prazer e de sabedoria, uma leitura que

não esgota seu poder de sedução nos círculos da escola. A leitura da qual falamos,

autônoma e crítica é uma trajetória que é construída em espaços mais amplos,

abertos, sendo proporcionadas condições de envolvimento, onde o sujeito se

identifica como parte do contexto, indo além da aprendizagem que se efetiva na

instância escolar. Cagliari (2002) acrescenta:

Há um descaso enorme pela leitura, pelos textos, pela programação dessa atividade na escola; no entanto a leitura deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois ela, e não a escrita,

16

será a fonte perene da educação, com ou sem a escola. (...) É ainda uma fonte de prazer, de satisfação pessoal, de conquista, de realização, que serve de grande estímulo e motivação para que a criança goste da escola e de estudar (p.169-173).

A partir desta visão percebe-se que foi atribuída à escola a função de formar o leitor,

muitas vezes destruindo-se a noção de texto como representação de todas as

produções humanas, dando ênfase ao livro como intermédio do conhecimento.

“Passou-se a destacar, assim o livro por ser este uma produção de classe

dominante a ela pertencente e a qual aspiram às classes dominadas (BORDINI,

1993, p. 11)” .

Faz-se necessário salientar que a decadência da leitura no Brasil não é

coincidência, mas sim algo extremamente intencional e muito bem planejado por

aqueles que detêm o poder. Pois para a classe dominante não é interessante que as

pessoas tenham acesso ao conhecimento do mundo e das relações de poder

existentes na sociedade através do livro, para eles o importante é manter o povo na

ignorância, de modo que as causas da exclusão, da miséria, da marginalização

social e cultural sejam obscurecidas ao máximo.

Na compreensão de Yunes (1995):

(...) a leitura é fonte de novas idéias, ela pressupõe possibilidades de entrar em contato com outros universos, ela amplia o universo do leitor, parece algo aceito por todos, por esse motivo o livro já foi, e em muitos casos ainda continua sendo proibido - uma arma contra a dominação (p. 187) [grifo nosso].

Dessa forma, a leitura destaca-se como colaboradora na construção de

competências (compreensão, interpretação, intertextualização entre outras

informações) que se fortalecem e dão significados ao que se lê. Então é através de

uma leitura crítica, prazerosa, que as pessoas interagem com o mundo,

oportunizando-as vivenciá-la como um meio de apropriação de conhecimento e

compreensão do contexto o que tornaria um ato político e não alienador.

A seguir apresenta-se o nascimento do Projeto Baú de Leitura, como alternativa de

afirmação de leitura, enfatizando sua contextualização histórica, refletindo sobre o

que seu trabalho representa para os envolvidos e especialmente para a comunidade

onde ele se apresenta.

17

1.2. Alternativas de Afirmação de Leitura

Atualmente surgiram alternativas que visam superar o contexto acima apresentado.

A realidade anteriormente enfatizada da dificuldade de acesso a livro e informação,

de se ter negado o direito a ler às classes dominadas, como aconteceu no decorrer

da história brasileira, também existem constantes lutas contra a negação do direito a

leitura. Os movimentos sociais na contemporaneidade tem se destacado com seu

compromisso sócio político, lutando mais pela inclusão daqueles e daquelas a quem

tem sido negado esse direito, por reconhecerem os valores humanos e sociais.

Apoiando as lutas das classes populares e buscando com elas alternativas para

solucionar os inúmeros problemas de exclusão, algumas ONG’s brasileiras têm dado

contribuições significativas visando superar o contexto apresentado, principalmente

na melhoria da educação, esforçando-se também para que haja políticas de

educação no campo mais qualificadas que levem em consideração suas

especificidades que atendam as reais necessidades da população local e regional.

Na busca de valorização das pessoas e melhoria de vida para todos,

compreendendo que a leitura é um portal de acesso ao universo sócio-cultural, foi

que surgiu o Projeto Baú de Leitura, provocado e incentivado pelo UNICEF (Fundo

das Nações Unidas para Infância), o qual sugeriu ao MOC (Movimento de

Organização Comunitária) que realizasse experiências para estimular uma leitura

lúdica e reflexiva com os beneficiários do PETI. “Os alunos e alunas das escolas do

campo tinham pouco acesso a textos e livros de histórias, pois suas escolas não

possuem bibliotecas, apenas alguns livros didáticos das séries iniciais (Baptista,

2006; p.26)” .

Para enfrentar esses problemas, criou-se o Projeto Baú de leitura, na perspectiva de

redimensionar o trabalho pedagógico, tornando a leitura uma atividade mais ampla,

gratificante e cidadã, possibilitando também a reflexão sobre a leitura de mundo,

como instrumento de busca de melhoria de vida das pessoas. De acordo com

Santos (2006):

Assim, partido das histórias encontradas nos livros que compõe o Baú as crianças, adolescentes e educadores constroem uma ponte entre a realidade vivida por eles e aquela encontrada nas histórias, muitas vezes essas realidades confundem-se levando todos, assim,

18

a refletir sobre as histórias vivenciadas através da leitura e as histórias do seu mundo pessoal ou social (p.150).

No entanto, no quadro da educação brasileira, aliam-se a inaptidão do ensino

escolar à inadequação do material didático, que ao contrário de estimular o aluno-

leitor a se tornar um leitor cada vez mais crítico e, por isso estimulado, acaba por

confiná-lo a uma visão completamente acrítica do ato de ler, o que, por sua vez

gerará um profundo desestímulo e maior alienação. Portanto se essa estratégia de

“ imbecialização dos textos” (KATO, 1988), pode aparentemente resultar em um

melhor desempenho na parte mecânica, ela, ao mesmo tempo, bloqueia o

desenvolvimento e a aprendizagem por não oferecer desafios motivadores.

É nesse contexto de des-contextos que muitas vezes a escola atua, com inúmeras

crianças e adolescentes dando um retorno negativo através de altos índices de

repetência, reprovação, idade inadequada para série e analfabetismo.

Haja vista, se analisarmos bem a questão, podemos constatar que a maioria das

crianças matriculadas nas escolas públicas corre o risco de evasão, repetência e

reprovação, até porque grande parte delas desenvolve alguma atividade para

contribuir financeiramente no orçamento familiar, diante disso é que surge o PETI e

com ele o Projeto Baú de Leitura que traz uma metodologia de leitura, com a qual as

crianças buscam desenvolver seu potencial de leitores, valorizando a dimensão

artística.

Nesse panorama o Projeto Baú de Leitura inseriu-se dentro de um movimento de

valorização da leitura que surgiu na década de 90, fim do século XX, como o

“PROLER” , coordenado por um grupo da Biblioteca Nacional, sendo algumas

entidades da sociedade civil que praticavam a leitura de “histórias indígenas e

negras” (afro-brasileiras), fazendo o possível pra registrá-las e divulgá-las. Na época

um grupo de “sonhadores” saiu navegando pelo Rio São Francisco, “ levando

histórias” à população ribeirinha que não tinha acesso. O UNICEF (Bahia e

Sergipe), conhecedor dessas “aventuras” , propôs ao MOC para realizar, uma

aventura semelhante junto ao público com o qual trabalhava (o PETI e o CAT)

(BAPTISTA, 2006; p. 27).

19

Assim, como já foi enfatizado anteriormente, aquela entidade foi a provocadora da

proposta na busca pela qualificação do ensino-aprendizagem, e na melhoria da

qualidade de vida das pessoas inseridas em comunidades pobres especialmente

aquelas localizadas no campo, onde se situam os maiores índices de pobreza, de

falta de acesso a educação de qualidade e de livros.

Dentro desse contexto de negação de direitos e com variadas mudanças, em 2002 o

município de Campo Formoso foi contemplado com o Projeto Baú de Leitura. Para

desenvolver com os beneficiários do PETI atividades de incentivo a uma leitura

lúdica, contextualizada, reflexiva, significativa e crítica a fim de reduzir os

assustadores índices de analfabetismo.

Assim, parafraseando com Freire (1993), quando nos diz “o nosso discurso tem que

condizer com a nossa prática” e que é através da vivência e das experiências que

trazemos na bagagem social e cultural, vamos construindo a maneira de pensar, se

expressar e ter uma visão de mundo.

Todavia, não poderia ser diferente, pois a nossa inquietação foi fruto da nossa

vivência enquanto educadora social do PETI e coordenadora pedagógica do Projeto

Baú de Leitura, no município de Campo Formoso, onde presenciamos os sucessos,

entraves, e resistências encontradas na desenvoltura do Projeto pelos beneficiários,

sendo um desafio democratizar o livro e sensibilizar as crianças e adolescentes para

uma leitura que proporcione prazer e ao mesmo tempo desenvolvimento do crítico,

imaginário, político e do social.

Diante disso, levantamos a seguinte questão: Quais os impactos do Projeto Baú de

Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura?

Esta pesquisa pode ser relevante porque busca compreender o processo de leitura,

bem como o reconhecimento da sua importância para o desenvolvimento do

indivíduo numa perspectiva crítica, cultural, social, política e de humanização.

Assim, o objetivo é: Analisar os impactos do Projeto Baú de Leitura para os

beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura, na comunidade de

Lagoa do Porco em Campo Formoso Bahia.

20

CAPÍTULO II

2. QUADRO TEÓRICO

Diante das discussões abordada na problemática objetivamos identificar os impactos

do Projeto Baú de Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao

desenvolvimento da leitura. Sendo assim, trataremos do referencial teórico da

pesquisa, cujas discussões serão norteadas pelos conceitos-chave: Leitura. Projeto

Baú de Leitura. Beneficiário do PETI.

2.1. Leitura

No mundo pós-moderno, muito tem se discutido a respeito do que é leitura. De todos

os lados surgem experiências que muitas vezes são afirmações vagas a respeito do

verdadeiro papel da leitura e suas implicações. Temos a impressão que nunca se

estudou ou problematizou tanto sobre leitura. Temos inclusive a idéia de que

ninguém havia pensado certas questões anteriormente. Com base nessa afirmação:

O que pouca gente discute é que esta espécie de modismo recai sobre um já velho, e não menos presente paradigma: Para que serve ler? Afinal, direcionado ou não, quando lemos estamos efetivamente estudando: estudando ciências, estudando agrimensura, estudando horóscopo, estudando nós mesmos e ainda estudando nossa já crônica pequinês diante do mundo que ora se apresenta como impossível, intocável, infindável. Alguém por aí já deve ter dito que somos finitos demais perante o infinito do mundo e das coisas (LERNER; 2002, p.22).

Dentro da perspectiva de Ruiz (2011), etimologicamente, ler deriva do latim

“ lego/legere” , que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta

reflexão, enfatizamos a leitura da palavra escrita. No entanto, compreendemos que a

leitura para obter significado, deve intencionalmente referir-se à realidade. Caso

contrário ela será um mero processo enfadonho, mecânico de decodificação de

signos. Logo, todo individuo é capaz de ler e lê efetivamente. Tanto lê o conhecedor

dos signos lingüísticos/gramaticais, quanto o camponês, “não letrado” que,

observando a natureza e através do seu conhecimento popular prevê o sol e a

chuva (p. 1).

É mister frisar que a leitura tem importância fundamental na vida das pessoas. Haja

vista, que a necessidade de muita leitura está posto entre todos os sujeitos, podendo

21

assim propiciar a obtenção de informações em relação a diversos contextos e área

do conhecimento, pois “se ler é um processo desafiador, porque exige do leitor mais

do que apenas decodificação de signos, somente a necessidade, seja qual for ela,

será capaz de garantir a adesão do sujeito a esse mundo” (YUNES,1995; p.187).

Sob este ponto de vista Lerner (2002): “ [...] ler é adentrar outros mundos possíveis.

É questionar a realidade para compreendê-la melhor, é distanciar-se do texto e

assumir uma postura crítica frente ao que de fato se diz ao que se quer dizer, é

assumir a cidadania no mundo da cultura escrita (p. 1)” .

Com essa reflexão, nota-se que a prática da leitura requer uma interação entre o

que já se sabe fruto das experiências cotidianas e dos novos conhecimentos, além

disso, o leitor precisa compreender essa relação para que possa fazer uso das

informações adquiridas. Pois, a leitura exige do sujeito leitor a capacidade de

interação no mundo que o cerca.

A leitura é uma atividade ao mesmo tempo individual e social. É individual porque nela se manifesta particularidades do leitor: suas características intelectuais, sua memória, sua história; é social porque está sujeita às convenções lingüísticas, ao contexto social, à política (NUNES APUD ROSA, 1994; p.14).

Indubitavelmente, a transformação das práticas leitoras e o desejo de ler ainda é

algo que está extremamente distanciado da maioria das pessoas, especialmente

daquelas oriundas das classes populares que muitas vezes só conseguem

prioritariamente na instituição escolar acesso às práticas de leitura e escrita. Sobre

isso Lerner (2002), afirma que:

O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com o semelhante ou solidarizar-se com o diferente e capazes de apreciar a qualidade literária. Assumir este desafio significa abandonar as atividades mecânicas e desprovidas de sentido, que levam as crianças a distanciar-se da leitura por considerá-la uma mera obrigação escolar (p. 28).

Para tento, caberá a escola enquanto instituição formal principal, responsável pela

construção do conhecimento sistematizado, priorizar e promover práticas leitoras

que possibilite aos indivíduos condições favoráveis para que seja possível

desenvolver suas leituras de maneira plena, capazes de praticá-las com autonomia

22

e criticidade utilizando-a como ferramenta essencial de progresso cognoscitivo e de

crescimento pessoal.

2.1.1 Leitura: uma questão social

Dentro de uma sociedade letrada e desenvolvida a leitura se faz presente e se

coloca como via de acesso eficaz a construção do conhecimento, ainda que pelo

uso intenso dos bens de comunicação e o progresso da mídia, o acesso ao

conhecimento depende essencialmente dos livros e das habilidades e competências

imprescindíveis do leitor. Porque a conquista da habilidade de ler é o primeiro passo

para que o indivíduo possa se lançar rumo à assimilação dos valores inerentes a

cada sociedade e assim, aceitando-os ou questionando-os ele vai construindo a seu

modo, a forma pela qual deverá enxergá-la (ALMEIDA, 2005).

Por conseguinte a leitura é vista como uma questão social, sendo necessárias tais

competências para o desenvolvimento intelectual e consequentemente econômico

de uma sociedade indiscutivelmente depende das oportunidades de acesso a estas

práticas de leitura e escrita. Marcuschi (2001) exemplifica tal argumento dizendo “O

certo é que ler e escrever são hoje, duas práticas básicas em todas as sociedades

letradas, independentemente do tempo médio com elas dispendido e do contingente

de pessoas que as praticam (p. 39)” .

Nessa perspectiva, a leitura deverá que se tornar algo que possibilite a criação e a

(re) criação de novos horizontes por parte do leitor, que darão rumo ao mundo que

ele deseja descobrir a sua frente. A leitura deverá ser parte do processo de

libertação e de identificação do homem. O ser humano deverá saber que com a

leitura o seu universo pode sofrer transformações incomensuráveis, sejam elas

físicas ou psíquicas. É possível descortinar o mundo oculto através do ato de ler e

isso é imprescindível que todos saibam. Comungando com esse pensamento

Cardoso (2011):

Assim é que percebemos, o ato de ler... Um exercício onde os sujeitos dialogam com as diferenças e singularidades, onde se constrói a própria cidadania, uma vez que a capacidade de uso social da leitura atribui ao homem/mulher um poder maior de movência dentro da sociedade no âmago da qual interagem com seus pares

23

buscando a garantia dos direitos e cumprimento dos papéis sociais e das regras inerentes ao jogo das convivências sociais (p. 6).

Sobre esta questão Silva (1986) afirma, analisando a realidade brasileira concebe a

leitura como: “ (...) Um direito de todos e ao mesmo tempo, um instrumento de

combate alienação e a ignorância (p.51)” . Visto que a leitura enquanto prática social

está intimamente relacionada à liberdade de expressão, poder da crítica,

compreensão e claro o domínio numa dimensão politizada.

Sobre este olhar com a leitura, ou a partir dela, os cidadãos estão prontos para

formular hipóteses, questionar ações e tomar decisões e isto pode, em muitos

casos, significar uma ameaça a determinados valores e conceitos da sociedade.

Pois a leitura tida, por muitos, também como mantenedora dos ideais burgueses ao

longo do tempo poderá sofrer contra-ataque de suas próprias forças. A medida em

que esta vai dando significado às ações da sociedade, cada vez mais vamos

percebendo as competências dela. Yunes (1995) confirma tal discussão dizendo

“(...) quando lemos o mundo organizado se desorganiza, o mundo caótico ganha

sentido, o fantástico é experimentado, a história ganha condições de maravilhoso e

o maravilhoso de verdade. Aqui o mundo se explica (p.142)” .

Dessa forma, o ato de ler passa a ser prática social, colocando-nos a refletir sobre

sua essência, um processo contínuo de reflexão que nos faz reconhecer como seres

humanos sociais, onde os sujeitos buscam construir sentidos e compreensão sobre

as diversas relações existentes dentro de um contexto, aprendendo quotidianamente

sobre os mais variados aspectos da vida. Silva (2001) nos diz que:

Leitura não é esse ato solidário é interação verbal, entre indivíduos, e indivíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e os outros (p. 18).

Assim, o ato de ler é um processo de construção de saberes que se adquire com as

experiências cotidiana. Para Almeida (2005) “Ler é criar uma trama própria de

relações, relações essas que vão deferindo de indivíduo para indivíduo à medida

que esses vão percebendo possibilidades, preenchendo lacunas, tomando partido,

interagindo, desafiando e dando outros significados (p.143)” . A leitura do mundo

24

numa visão ampla condiciona o homem ao convívio com os demais sujeitos

processando-os na interação com o mundo.

2.1.2. Contação de História: fator essencial na formação de leitores

Evidentemente que o ato de contar histórias tem contribuição significativa no

processo da formação do leitor, haja vista, é sabido por todos da relevância desse

aspecto cultural para a humanidade, desde o tempo em que as histórias eram

transmitidas apenas através da oralidade. Na visão de Abramovich (1997), “Ouvir

histórias é viver um momento de gostosura, de prazer de divertimento dos

melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... Ainda destaca:

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo (p.16).

Nesse contexto, a criança ouvindo ou lendo histórias sobre outros lugares, outras

culturas, outras pessoas, e até mesmo sobre seus medos e inseguranças, sobre

suas emoções, descobre valores e desenvolve seu potencial crítico. E o

desenvolvimento desse potencial crítico, no entanto condicionado aos

direcionamentos críticos que se darão no processo e formação do leitor e na sua

continuidade. Pois a partir das histórias a criança pode pensar, questionar, duvidar,

ser curiosa querer saber mais, e assim vai formulando e reconstruindo conceitos.

De acordo com Abramovich (1997):

Ler histórias para crianças, sempre, sempre (...). É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelos personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento (p.17).

Partindo destas premissas acreditamos que ouvir histórias, é o primeiro contato que

a criança tem com o texto. A história, quando apresentada de uma forma atraente e

sedutora, desperta na criança o encantamento, o prazer e o gosto pela leitura. Do

contrário, provoca seu distanciamento dos livros. Lida de um livro, ou até mesmo

inventada, contada pela mãe, pai, avós, tios, tias ou outros, é através da história que

as crianças entram em contato com o mundo mágico da literatura, e que aprendem a

ser leitores. Visto que a familiaridade com a leitura e o envolvimento com a literatura

25

devem ser desenvolvidos desde a infância. Pois é através dos textos literários que a

criança, desenvolve o plano das idéias, contribuindo para seu desenvolvimento

intelectual e psicológico.

Sendo assim, não podemos pensar em despertara leitura sem trabalhar a fantasia, a

poesia, o jogo, a brincadeira, enfim aquilo que tem a ver com o coração, a emoção,

a intuição, invenção e a intervenção. E sem dúvida o uso da literatura é muito

importante nesse processo, visto como subsídio essencial para a aprendizagem,

assim irá formar cidadãos no exercício da conscientização do que se é e do estar no

mundo, atravessando um espaço existencial, disseminando uma leitura que inquieta

a humanidade, adquirindo uma dimensão política e libertadora.

2.2. Projeto Baú de Leitura

As marcas sócio-culturais que excluem crianças e adolescentes dos livros de

histórias, onde seus professores muitas vezes se preocupam apenas em regras de

ortografia e sintaxe, relegando a segundo plano, ou até mesmo não realizando a

leitura como instrumento de cidadania ou pelo prazer de ler provocaram o

surgimento em 1999, do Baú de Leitura, uma maleta que pretendia visitar escolas do

campo e do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), com o objetivo de

proporcionar as UJAs1 (Unidades da Jornada Ampliada) momentos de alegria, leitura

e reflexão a milhares de crianças e adolescentes que não tinham oportunidade de

fazer prazerosamente, convidando as crianças para “viajar no mundo da fantasia” e

mostrar aos adultos que esse mundo é bom, agradável e que é possível sonhar com

um mundo diferente do que se tem.

O Projeto Baú de Leitura só se tornou possível, porque contou com o apoio

gigantesco de vários parceiros, sendo eles entidades da sociedade civil, órgãos

públicos e até mesmo pessoas que acreditaram no seu “ fazer” pedagógico e

humano.

¹ Termo utilizado para designar o espaço onde são desenvolvidas as atividades socioeducativas do PETI.

26

O UNICEF e o MOC sonharam com esse projeto, embora sozinhos pouco fariam.

Provocaram então outros parceiros entre eles a comissão Estadual de Erradicação

do Trabalho Infantil do Estado da Bahia, que incentivou e apoiou a experiência nas

Jornadas Ampliadas (do PETI), a antiga SETRAS atualmente SEDES (Secretaria do

Desenvolvimento Social da Bahia) e, a partir dela, as Prefeituras Municipais, através

de suas Secretarias de Ação Social e de Educação. No pensamento de Baptista

(2006):

As experiências da sociedade civil, na caminhada da construção de políticas, não se podem imbuir da postura de donos da verdade. Importa desconstruir a mentalidade de que a entrada do poder público no circuito de projetos e experiências implica, automaticamente, em perda de qualidade do mesmo (p.91).

Dessa forma, foi-se criando força e espaço para atuar e levar adiante o Projeto Baú

de Leitura para crianças e adolescentes do semiárido. Outras parcerias foram

surgindo ao longo da caminhada, por causa da divulgação e ampliação das

experiências, agregando-se, somando forças, contribuindo de formas variadas, entre

elas o IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), sendo esta

instituição responsável por experiências exitosas de educação contextualizada no

semiárido, assumindo a coordenação do Projeto em vários municípios do Norte do

Estado, contando com a colaboração da Fundação Abrinq e de algumas entidades,

entre elas algumas internacionais.

O número de municípios que aderiram à proposta do Projeto Baú de Leitura tem-se

ampliado sensivelmente, muitas prefeituras vêm comprando os livros, organizando

os acervos que lhes vêm do MEC (Ministério da Educação) e sensibilizando seus

educadores-leitores para um trabalho mais lúdico, prazeroso, artístico e crítico de

leitura com crianças, adolescentes e até mesmo adultos.

Nessa perspectiva, o Projeto Baú de Leitura foi ganhando espaço, conquistando as

comunidades e o apoio da sociedade civil, grupo gestores do PETI, Sindicatos,

Associações Comunitárias entre outros. Foi tecendo uma rede de diversas

experiências interessantes, que vão compondo um jeito de fazer e acontecer o

projeto em diversos contextos.

É importante considerar que o Baú de Leitura é fruto da reflexão de um trabalho de

leitura desenvolvido por comunidades pobres, de modo especial aquelas localizadas

27

no Semiárido, demonstrando a capacidade de produzir conhecimento,

principalmente daqueles (as) aos quais é sempre subtraído o direito de se

expressar, escrever, ler e até mesmo de viver. Levam adiante, a despeito das

precárias condições de ensino em que vivem jogadas por este semiárido e neste

contexto está a criançada que através da leitura começa a descobrir seus valores e

especialmente sua força transformadora da realidade. “O gosto pela leitura, que sem

dúvida resulta de práticas de leitura, também se sujeita às regras encontradas no

conjunto da estrutura social (SILVA; 1986. p. 45)” .

Pode-se dizer então que o Projeto Baú de Leitura vê a leitura como fonte de prazer,

como também de desenvolvimento e de crescimento das pessoas envolvidas no

processo de transformação da realidade, oportunizando a todos envolvidos, espaço

e instrumentos para realizá-la da melhor maneira possível, compreendendo o mundo

de forma mais digna e humana. Segundo Freire (1993):

(...) a leitura da palavra é sempre precedida da leitura de mundo. E aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação de mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem à realidade. Ademais, a aprendizagem da leitura e da alfabetização são atos de educação, e educação é um ato fundamentalmente político (p. 8).

Em concordância com a visão do educador a leitura na qual se refere o Projeto Baú

de Leitura traz um novo olhar, um novo sentido, realçado pela arte, beleza no

encantamento das palavras, na alegria de contar e ouvir histórias, na curiosidade de

construir conhecimentos e na descoberta de tantos outros. Nesta construção coletiva

humanizada, vai se construindo entre os indivíduos letrados e não letrados uma

constante troca, onde cada um, homens e mulheres, são capazes de ler o real a

partir do imaginário, capazes de ler o mundo, interagir com outras culturas, outros

espaços, reafirmando que ler, é uma habilidade com várias dimensões: desoculta a

realidade, compreende melhor o mundo permitindo assim uma visão crítica,

estimulando a criatividade, e inquietando a humanidade. De acordo com Silva

(2001):

Compreendida dialeticamente, a leitura também pode-se apresentar na condição de conscientização. (...) Coloca-se como um meio de aproximação entre indivíduos e a produção cultural, podendo significar a possibilidade concreta de acesso ao conhecimento e

28

agudização de poder de crítica por parte do público leitor (p.112-113).

Sendo assim, a leitura precisa ter um sentido para o leitor, pois saber ler não pode

ser apenas decodificação de signos e de símbolos. Ler é um movimento de

interação dos indivíduos com o mundo e deles entres si, “e isso só é possível

quando passa a exercer a função social da língua, saindo do simplismo da

decodificação para a leitura e re-elaboração dos “ textos” , que podem ser de diversas

formas possibilitando uma percepção de mundo (GONÇALVES, 2006, p.41)” .

Aprender a ler a palavra escrita deve ser o ato da continuidade da leitura que

aprendemos a fazer da vida, uma forma de adentrar nos textos, criar uma situação

que viabilize um saber vivo, fixado de forma a levar o indivíduo a desenvolver a

capacidade de interagir com o mundo de forma crítica, sensibilizada e

principalmente como sujeito capaz de reescrever o mundo transformando-o através

de uma prática consciente.

Podemos perceber que ainda hoje em muitas escolas “ ler” se reduz ao exercício de

“decodificar” . E isso acaba comprometendo o educando a desenvolver sua

capacidade de compreensão, análise e reflexão do contexto no qual está inserido.

Tendo a necessidade de desenvolver outros métodos e outra concepção de

formação de leitor, e entender a leitura de forma mais ampla. Assim Martins (2004)

declara que:

A leitura vai, portanto além do texto (seja ela qual for) e começa antes do contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero decodificador ou receptor passivo. E o contexto geral em que ele atua, as pessoas com quem convive passam a ter influência apreciável em seu desempenho na leitura. Isso porque o dar sentido a um texto implica sempre levar em conta a situação deste texto e de seu leitor (p.32).

Sabe-se que a leitura que se tem ofertado aos educandos não é uma leitura

prazerosa e que tem sido fundamentalmente um objeto de aprendizagem tornando-

se portanto, uma leitura solta, mecânica e reprimida. Nesse sentido, há uma

carência de bons materiais de leitura e principalmente uma diversidade numa

perspectiva multicultural nos livros infanto-juvenis. A exemplo da história dos Negros,

suas manifestações culturais, valores, crenças e lutas. E ainda hoje é difícil

29

encontrar uma literatura que relate a vida e o cotidiano desse povo. Diferente dessa

concepção Carneiro (2006) diz:

(...) o registro dessa experiência do Projeto Baú de Leitura é uma leitura mais na perspectiva sócio-interacionista de educação popular, que pode ser inserido em qualquer realidade e que leva em consideração os elementos culturais, sociais, econômicos, políticos, psicológicos, de gênero, etnia, geração, de forma transversal que respeite e valoriza a identidade e diversidade das pessoas especialmente das crianças e adolescentes (p. 23).

O trabalho que é desenvolvido através do Projeto Baú de Leitura no PETI -Programa

de Erradicação do Trabalho Infantil com crianças e adolescentes, busca resgatar

esta diversidade, étnica, social e política, valorizando a história de vida dos

excluídos, buscando garantir o acesso à leitura daqueles que, historicamente,

tiveram suas leituras de mundo sufocadas. Como aponta Silva, (2005), “Dada as

condições do desenvolvimento histórico e cultural do país, a leitura, enquanto

atividade de lazer e atualização, sempre se restringiu a uma minoria de indivíduos

que teve acesso à educação e portanto, o livro (p.37).

Portanto, o que se pretende não é o aumento do consumo do número de livros, não

é ler muito, ler tudo, mas a ampliação das bases sociais daquilo que se exerce no

uso da leitura, o poder de, com uma ferramenta (o livro), trabalhar a realidade para

dela extrair formas de representação e transformação. É uma batalha pela

democracia, pois visa o domínio coletivo dos meios de produção de sentido. Não

são hábitos de leitura existente, mas uma alteração na prática social.

2.2.1. Aspectos metodológicos do Projeto Baú de Leitura

Inicialmente, a metodologia foi trazida, pelo Centro de Cultura Luiz Freire no Estado

de Pernambuco. Essa entidade tinha uma rica experiência por desenvolver

atividades com leitura com comunidades indígenas pernambucanas quilombolas e

na periferia de Olinda em Recife. No início do ano de 1999, foi convidada pelo MOC

– Movimento de Organização Comunitária, para apresentar a um grupo de

educadores na Bahia, especialmente da região do sisal, o seu trabalho pedagógico

com leituras de diversas histórias, onde as idéias foram lançadas, provocadas,

porém era necessário ser experimentada, vivenciada e construída junto aos saberes

30

das crianças, educadores e a comunidade na qual pertencem. Na compreensão de

Souza (2006):

Na busca constante da construção coletiva do conhecimento acredita-se que todas as pessoas, letradas ou não, são produtoras de conhecimento. Por essa razão, o Projeto Baú de Leitura, ao tempo em que veicula conhecimentos já produzidos pela humanidade, incita as pessoas com a sua metodologia a quem produzam novos conhecimentos e os expressem das mais variadas formas, contribuindo, assim, com o crescimento da comunidade e a construção da justiça (p. 76).

No início, 12 baús foram entregues em Jornadas Regulares (Escolas) e Jornadas

Ampliadas (PETI) de 03 municípios da região sisaleira. Desse modo, começava uma

história diferente nas escolas e nas Unidades da Jornada Ampliada. Os alunos

receberam os livros com muita alegria e interesse, mas nem sempre os utilizaram

com o mesmo entusiasmo da recepção. Constata-se que alguns trabalham

desenvolvendo diversas atividades, mas outros os fazem sem o mesmo entusiasmo

do início. Baptista (2006) vem confirmando tal discussão dizendo:

Entende-se essa postura, pois os educadores vêm de uma educação que não estimulou a leitura nem a reflexão sobre a própria vida e o seu entorno. Mas, no exercício e com a formação que, com esse Projeto lhe é proporcionada, o educador também cresce, superando dificuldades oriundas da sua formação profissional deficiente (p. 30).

Nessa perspectiva, através das reflexões metodológicas que vão se fazendo

percebe-se que há pessoas sensíveis a realidade, envolvidas num mesmo caminho

a trilhar, os passos, os resultados tem um diferencial, o ritmo de trabalho, de

sintonia, de produção e de crescimentos são diferentes. “As possibilidades de

apropriação de conhecimento se faz presente, nas interações sociais (PALO, 2001;

p. 26).

Nesta visão, é percebido que apesar das dificuldades do dia a dia, o mais

importante, porém é verificar que a maioria continua firme na metodologia e

entusiasmada com o trabalho. A força para a persistência vem da constatação do

desenvolvimento das crianças e adolescentes e dos próprios educadores. Nesse

sentido Baptista (2006) evidencia que:

Daí se é impelido de fazer sempre mais o melhor. Anima-se com o desabrochar de crianças e adolescentes para uma vida mais ativa, consciente, com postura crítica e cidadã “crescendo e aparecendo” ,

31

colaborando para o crescimento dos outros e da comunidade, dando sua contribuição jovem e entusiasta para o desenvolvimento sustentável de sua comunidade e município (p. 31).

Nesse sentido, para estimular uma leitura lúdica, reflexiva, artística prazerosa e

crítica aos beneficiários do PETI (Programa de erradicação do Trabalho Infantil), o

Projeto traz consigo uma metodologia diferenciada baseada em exercício de práticas

leitoras, centrado na oralidade, no cotidiano das pessoas, na imaginação, na viagem

ao mundo da fantasia, e principalmente no desejo de mudar para melhor a qualidade

de vida de inúmeras crianças e adolescentes do Semiárido e de todos que fazem

parte do processo histórico e social de educação e de leitura em nosso país.

Em decorrência desse processo, como exigência da metodologia e ampliação do

número de educadores, surgiu a necessidade de uma pessoa que se

responsabilizasse e coordenasse o processo metodológico nos municípios

envolvidos, que zelasse por ele. No entanto era necessário alguém que tivesse

experiência, compromisso, dedicação e facilidade de articulação e interação com os

demais educadores envolvidos no processo com o Baú. Nesse sentido, justificou-se

a razão de haver coordenador (a) em todos os municípios. Sendo eles responsáveis

para acompanhar a ação pedagógica dos educadores, propiciando espaço e tempo

de reunirem-se, avaliar o processo e planejar novos passos, realizar estudos de

aprofundamento e valorizar a troca de experiência e idéias. É uma função político-

pedagógica de grande responsabilidade. “Esse momento é chamador de novos

conhecimentos, é um espaço propício para a expressão criativa, muito bem aceito

por todos os envolvidos no projeto (GONÇALVES, 2006; p.45).

As leituras praticadas pelos educadores-leitores e das crianças são direcionadas em

torno de motes. Assim, no Projeto Baú de Leitura, os livros, são agrupados em três

motes onde orientam as análises das leituras entre os envolvidos.

No texto que se segue, serão explicitadas a composição e características do Baú,

bem como os Motes e Acervos e como são abordados no Projeto Baú de Leitura.

2.2.2. Motes: os eixos temáticos

32

O uso do “Mote” vem desde a Literatura Medieval Portuguesa através das “Canções

de Amor” e “Canções de Amigos” , onde ele aparecia. E os violeiros do Brasil

aprenderam dali o sentido em que o usam até hoje.

No Projeto Baú de Leitura, os motes são mais que simples temas, são eixos

norteadores que orientam a escolha do acervo que compõe cada Baú, bem como as

análises dos livros e textos nele contidos e que possibilitam aos educadores

construir conhecimentos com os leitores a partir da reflexão, compreensão e

comunicação com o mundo e com os outros, constituindo em aventura o prazer pela

leitura. “A leitura fornece ao sujeito uma nova maneira de ser-no-mundo pelo qual

ele se engrandece, ou seja, encontra novas formas de existir e conviver socialmente

(SILVA, 2005; p. 79)” .

O Projeto Baú de Leitura propõe o desenvolvimento da leitura através de três eixos

norteadores abordados nos Motes, sendo eles:

Mote I – Nós enquanto seres humanos e nossa identidade pessoal, cultural, local.

Resgate da identidade, etnias, cultura, etc.

Mote II – Nós e a relação com a natureza e o meio ambiente. Tecnologia.

Mote III – Nós e os outros: a família, a comunidade, a sociedade. Exercício da

cidadania.

A partir dos Motes supracitados vai se construindo uma formação crítica onde os

educadores são sensibilizados para uma leitura prazerosa, que vão sensibilizando

também as crianças. Ao pedir subsídio a Gonçalves (2006) evidencia-se que:

(...) Todo o processo se constrói sem perder de vista a ludicidade, criatividade, a pulsão de inventar formas, e formas de expressividades. Por isso a escolha dos livros, poemas, textos, recortes, gravuras, contos, crônicas, contos de fada, fábulas, quadrinhos, exige acuidade do olhar, para que de alguma forma, refiram-se as experiências significativas para crianças e jovens. (...) Que valorizem elementos dos povos, dos territórios de que aqui se trata. Que embora trate de questões “sérias” , não perca de vista o encanto, o lúdico, a alegria (p. 50).

O Projeto Baú de Leitura traz em cada mote diversas histórias que possibilitam

aprendizagens e trazem informações acerca do mundo em que vive. As histórias

33

despertam uma percepção integrada ao mundo, onde os leitores são capazes de

relacionar os conhecimentos, para compreender sua própria realidade e até

questioná-la, comparando muitas vezes com suas histórias, proporcionando uma

reflexão sobre a importância da leitura como ato prazeroso, construtivo que amplia

seu conhecimento e as ajuda a desenvolver o senso crítico, a visão de se mesmo e

do mundo. “Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros

(FREIRE, 1993; p. 26).

Mote I

No primeiro Mote trata da questão da identidade pessoal, cultural e local. É através

dele que o educador e os leitores resgatam alguns valores neles adormecidos ou

nunca construídos, que são o respeito pelo negro, branco, índio, homem, mulher,

idoso pela religião que tem entre outros. Nesse mote, a partir da sua história pessoal

e de sua comunidade, as pessoas envolvidas no Projeto Baú de Leitura são

incentivadas a valorizar-se enquanto sujeitos da sua própria história, orgulhando-se

de sua origem, de sua cultura e do fato de pertencerem a um determinado contexto

social.

“Essa tomada de consciência adquire uma noção pluridimensional onde as identidades construídas por diferentes pessoas, em diferentes momentos de suas histórias se juntam e se justapõem constituindo um mosaico, que se organiza formando um todo. No caso os negros, os brancos e índios constituem a base da etnia brasileira.Tratar desse mote permite ao Projeto o ajuntamento de informações importantíssimas sobre a cultura local dos diferentes municípios (ALVES APUD REIS; 2003, p.05)” .

E assim, educadores e leitores passam a compreender que a história de cada um é

essencial na construção da identidade de um povo.

Mote II

Levando em consideração, a preocupação, cada vez mais eminente, com a

degradação ambiental e com o desenvolvimento sustentável, utilizando os recursos

naturais, é de vital importância trabalhar a nossa relação com a natureza e o meio

ambiente, não deixando de lado a existência e a importância da tecnologia. Por

conta disso, estes temas são trabalhados.

34

Educadores e leitores desenvolvem o sentido de “cuidar” da natureza. A partir do

Mote II, aprende que “cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Portanto, abrange

mais que um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa uma atitude de

ocupação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro”

(BOFF, 2004, p. 33). Sendo que este “outro” pode ser tanto o meio em que vivemos

como a história de um povo.

Mote III

Pode-se dizer que o mote III possibilita a reflexão sobre qual o papel social dos

leitores, não na sua individualidade e sim o coletivo junto à família, comunidade e

sociedade.

Esse mote abre espaço para debates sobre a organização da sociedade e a

participação cidadã das pessoas, a ética, a família, as drogas, a sexualidade, entre

outros temas que estão em evidência e têm grande poder de reflexão sobre qual o

papel de cada um diante deles enquanto membro de uma coletividade.

“Todos os indivíduos, dentro de um clima de liberdade e sem restrições de ordem social, têm a possibilidade de abordar originalmente a realidade e desenvolver suas potencialidades de forma crítica e criativa (SILVA, 1997, p.79).

Através de uma apreciação das temáticas dos três motes que se relacionam entre si,

observa-se que a escolha dos títulos que compõem o Projeto Baú de Leitura tem de

alcançar o objetivo de incentivar a aproximação dos educadores e dos leitores com a

leitura, e que este contato possa contribuir para a formação de pessoas conscientes

e sensíveis, no sentido de pensar sobre o significado desses elementos para a vida.

2.2.3. Acervos do Baú: livros de literatura infanto-juvenil

No Projeto Baú de Leitura acervo é o conjunto de livros/textos da literatura infanto-

juvenil que compõe cada Baú. Os títulos que compõem o acervo são diversificados.

São livros da literatura infanto-juvenil, onde fábulas, histórias, poemas, contos de

fadas, lendas indígenas, africanas e nordestinas possibilitam desenvolver uma

leitura de forma prazerosa crítica e criativa. Os Baús contém em média quinze títulos

diferentes, agrupados de forma a contemplar os três motes propostos,

proporcionando a ampliação do horizonte cultural e social, levando leitores a

35

compreender a fazer a leitura de mundo para que dele possam apropriar-se e

transformá-lo. De acordo com Silva (2005):

Leitura é um dos principais instrumentos que permite ao Ser Humano situar-se com os outros, de discussão e de crítica para se poder chegar a práxis. (...) Ler é, em última instância não uma ponte para a tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo (p.43-45).

Organizar os livros do Baú em motes não pressupõem que as temáticas não possam

ser extrapoladas. Através delas poderão surgir tantas outras. Com a contação de

histórias, vários conflitos, problemas enfrentados pelas crianças, adolescentes e até

mesmo adultos podem ser discutidos através de uma leitura que não é óbvia,

discursiva ou demonstrativa do tema que nela flui, naturalmente dentro da narrativa

que, evidentemente, não tratará apenas disso.

2.2.4. Formação e sensibilização de Educadores-Leitores

Falar de formação de educadores é importante refletir sobre a relevância desse

processo, numa visão de humanização, construção, e descobertas, especialmente

no âmbito da leitura.

No Projeto Baú de Leitura discute-se a questão como elemento de formação de

cidadania e de identidade das pessoas e grupos, redimensionando o trabalho

pedagógico tornando a leitura uma atividade formadora, cidadã, gratificante e crítica,

assumida como formação continuada, exigindo do educador reflexão, diálogo,

presença crítica e criadora, possibilitando-lhe uma leitura de mundo. “O professor

brasileiro, dada a sua condição de oprimido, também é um carente de leitura”

(SILVA, 1997; p.42).

Não podemos discutir ou explicitar formação de educadores sem refletir sobre o

processo educativo, pois a educação não é algo neutro, e que sempre esteve e está

atrelado ao serviço da construção de um projeto de sociedade ao qual ela serve.

Por conseguinte, no Baú de leitura, seus idealizadores, assim como aqueles que

nele trabalham optam por um projeto de sociedade que se caracteriza pela justiça,

pela inclusão de todas as pessoas no desenvolvimento, entendido este, não apenas

36

na perspectiva de geração e distribuição de riquezas, mas naquela do

desenvolvimento integral de todas as pessoas. Essas idéias comungam com a

abordagem de Souza (2006), quando diz:

O educador do Baú de Leitura não tem formas prontas, não tem pacotes, mas está disposto caminhar com os leitores, a partir das histórias lidas e interpretadas, no conhecimento de se mesmo, da sua comunidade, de sua história, de seu papel na sociedade, para a construção da justiça e beleza (p.70).

Nessa linha de formação, os envolvidos crescem, aprendem, se modificam e

consequentemente modificam a realidade, se descobrem dentro dessa realidade,

aprendem a refleti-la, inquietar-se, de um lado, por onde interferir nela para

transformá-la e, de outro, os conhecimentos que são necessários construir ou

buscar para subsidiar a mudança da realidade. Baseado nesse pressuposto Martins

(2006) relata que este aspecto nos permite fortalecer as idéias de que as pessoas

não estão de forma algumas soltas no ar, no tempo, à mercê das eventualidades.

Elas estão inseridas numa cultura, num modo de vida, estão ligadas a uma memória,

a uma linguagem dotada de sentido prático, a um conjunto de algoritmos com os

quais organiza suas interpretações e suas formas de intervenção no mundo (p. 46).

É relevante ressaltar que “não há cursos de Baú de Leitura” , há uma caminhada

formativa, onde as pessoas que se inserem nela vão fazendo gradativamente, suas

descobertas, na medida em que desenvolvem as atividades de leitura com as

crianças e adolescentes, reúnem-se de tempos em tempos para refletir sobre as

ações praticadas, intercambiar dificuldades e sucessos, aprender uns com os outros,

ler ampliar e construir conhecimento. É interessante destacar este diálogo com o

pensamento de Nóvoa (1997), quando afirma:

A formação de professores não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de refletividade crítica sobre as práticas de re(construção) permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir nas pessoas e dar um estatuto ao saber da experiência (p.25).

Entendemos que o processo formativo, baseia-se em duas premissas

indispensáveis e que entre si, se relacionam: o acesso ao conhecimento produzido

historicamente na humanidade é aquele oriundo da práxis refletida dos grupos

37

envolvidos na ação como aperfeiçoamento do conteúdo básico e essencial na

formação.

Contudo, tal formação será embasada na crítica das práticas desenvolvidas,

confrontando-as com os referenciais e valores do projeto de sociedade que se quer

construir, com suas próprias incoerências e inconsistências, modo a se poder gerar

novos conhecimentos e, a partir deles, novas posturas ante a realidade social.

Como nos diz Paulo Freire (2004), “O incabamento do ser ou sua inconclusão é

próprio da experiência vital. Onde há vida há inacabamento (p.55)” . Isso porque,

numa visão crítica de educação, as pessoas nunca estão completamente formadas

ou acabadas, pois sempre há algo a aprender.

Assim, como é feita por pessoas e para pessoas a formação do Projeto Baú de

Leitura não é pronta e acabada, é dinâmica, porque dialógica e libertadora porque é

transformadora.

2.3. Beneficiários do PETI

Nos últimos anos algumas políticas de proteção à infância tem tido ênfase e tem

sido adotadas como ações capazes de colaborar na transformação da vida de

milhares de crianças e adolescentes castigados pelo trabalho precoce, considerado

perigoso, penoso, insalubre e degradante, colocando em risco seu desenvolvimento.

Em meios essas políticas destaca-se o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil), pois de acordo com o Ministério da Previdência Social e Assistência Social

(2002), aponta como principal objetivo do Programa “ retirar crianças e adolescentes

do trabalho mantendo-os na escola (p.15)” Ainda ressalta:

São beneficiários do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), crianças e adolescentes de áreas rurais e urbanas, na faixa etária de 07 a 15 anos, que estejam trabalhando, sendo vítimas de exploração de sua mão de obra, em situação de extremo risco. [...] Devem ser priorizadas as crianças e adolescentes que trabalham em atividades consideradas perigosas, insalubres ou degradantes e cujas famílias possuam renda per capita de até meio salário mínimo (p.14).

A família beneficiada recebe uma bolsa mensal, (ajuda financeira) no valor de vinte e

cinco reais, correspondente a cada criança que retirar do trabalho. No entanto para

38

que esse repasse seja efetuado é necessário cumprir algumas pré-requisitos, entre

eles a freqüência escolar que deve ter 85% de aprovação. Quando as crianças não

obtiverem a freqüência escolar mínima exigida, sem justificativa, ou quando a família

deixar de cumprir com os compromissos junto ao programa, será suspenso o

pagamento da bolsa. Além de participar das atividades escolares as crianças e

adolescentes devem ir para a Jornada Ampliada, onde terão um reforço escolar e

outras atividades: esportivas, culturais, artísticas e de lazer. O Estatuto da Criança e

Adolescente (ECA) no art.4°, afirma:

É dever da família da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (ECA, 2004, p.7).

Vale ressaltar as contribuições do PETI no enfrentamento ao trabalho infantil e da

melhoria de qualidade de vida das famílias beneficiadas a partir do olhar de

pesquisas nacionais, encomendadas pelo (MDS) Ministério do Desenvolvimento

Social. De acordo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

(2010), os ganhos advindos das atividades socioeducativas e de convivência para a

vida dos beneficiários são incomparavelmente maiores que os ganhos materiais.

Ainda destaca:

47,5% afirmam que o programa conseguiu reduzir o trabalho infantil em mais de 71% no seu município; 49% acham que a capacidade das crianças de ler, escrever e interpretar textos melhorou, e mais de 51%; apontam que o PETI auxiliou com a redução do trabalho infantil (p.48).

Notoriamente, é nítido o impacto positivo do PETI na vida das famílias, crianças e

adolescentes no que diz respeito aos beneficiários do programa apontado como

crucial para a melhoria de suas condições de vida, em relação ao desenvolvimento

físico e psicológico.

Para os professores escolares, a participação de seus alunos nas atividades socioeducativas parece ser benéfica, quer seja porque retiraria as crianças e adolescentes das ruas e do trabalho, quer seja porque impactaria positivamente no seu desempenho, aprendizagem, rendimento escolar e socialização (MDS, p. 50).

39

Acredita-se que com a inserção da criança no Programa, a mesma é beneficiada,

pois ao invés de estar no campo ou na roça realizando trabalhos penosos, e

insalubres, tem a oportunidade de participar de uma Jornada Ampliada que garante

um reforço escolar e atividades socioeducativas viabilizando um desenvolvimento

cognitivo no ensino regular e o incentivo na frequência, portanto desenvolvendo

suas potencialidades para uma atuação tanto na família, quanto na comunidade e no

contexto na qual está inserida, contribuindo assim, para sua condição peculiar de

pessoa em desenvolvimento.

2.3.1. Perfil dos Beneficiários

O trabalho infantil está entre os grandes desafios a serem superados no Brasil, uma

vez que retira de crianças e adolescentes direitos básicos assegurados por lei como

brincar e estudar, elementos fundamentais na formação para a vida adulta.

O termo “ trabalho infantil” refere-se às atividades econômicas e / ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior 16 anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente de sua condição ocupacional (MDS, p.20)

As crianças e adolescentes beneficiadas pelo PETI desenvolviam diversos tipos de

atividades rurais e urbanas, consideradas perigosas insalubres e degradantes, que

colocam em risco seu desenvolvimento, entre elas podemos destacar: vendedores

ambulantes, carregadores, engraxates, cortadores de sisal, cortadores de cana,

carvoarias, quebradores de pedras, raspadores de mandioca, olarias, catadores de

uricuri, catadores de mamona, etc. Além do trabalho doméstico algo tão presente na

sociedade e que muitas vezes é mascarado, passando a ser encarado como uma

atividade normal. Sobre essa discussão o MDS (2010) afirma:

O trabalho infantil doméstico está classificado como a pior forma de trabalho infantil. Essa forma de trabalho para crianças/adolescentes, com frequência, fere a convivência familiar e comunitária e mascara a exploração mediante contextos falsos de caridade e ajuda, os quais, na verdade, mantém relações de subalternidade, sobrecarga de trabalho e atividades que prejudicam o desenvolvimento infanto-juvenil (p.34).

Os Beneficiários do PETI são de famílias de baixa renda, os fatores

socioeconômicos contribuem de maneira crucial. A impossibilidade de uma grande

40

parcela de adultos se inserirem no mundo do trabalho tem levado crianças cada vez

mais cedo, para as ruas, o trabalho agrícola, estradas e, por vezes, para trabalhos

ilícitos, situações que definem limites e impossibilidade quanto ao seu

desenvolvimento, ao direito fundamental e inalienável de ser criança.

Importa ressaltar que na maioria dos casos os núcleos familiares beneficiados pelo

Programa coexistem diversas vulnerabilidades associadas ao trabalho infantil, entre

elas a baixa renda, fator essencial para a permanência da criança no mundo do

trabalho.

41

CAPITULO III

3. METODOLOGIA

De acordo com o quadro teórico em discussão, trataremos aqui da metodologia do

projeto, como instrumento que norteia o processo de investigação, ou seja, conduz

os passos da pesquisa, sendo o caminho do pensamento e a prática exercida na

abordagem da realidade. Nesse pensamento, a metodologia ocupa um lugar central

para competência científica.

Nessa perspectiva, metodologia envolve etapas diferentes para seguir um

determinado processo, na qual tem como principal objetivo captar e analisar

diferentes meios disponíveis, avaliarem possibilidades, limitações, capacidades que

conduz a pesquisa. Dessa forma pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a

realidade, chegando ao mais alto ponto da elaboração própria e da capacidade de

interação.

3.1. Tipo de pesquisa

A construção da pesquisa caracteriza-se pela natureza qualitativa, pois segundo

Ludke e André (1986), “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua

fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento (p 11)” . Além

disso, privilegia o contexto, a realidade pesquisada e os atores envolvidos junto ao

processo. Sendo assim, a abordagem qualitativa foi escolhida por envolver o

contato, a troca de informação e a integração entre o pesquisador e o pesquisado na

busca de conhecimentos e reflexão. Visto que, o pesquisador qualitativo se torna

capaz de ver “através dos olhos daqueles que estão sendo pesquisados (BRIMAN,

1988, p.61)” . Dessa forma, é necessário compreender as interpretações que os

atores sociais possuem do mundo social.

Richardson (1999) menciona que “os estudos que empregam uma metodologia

qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a

interação de certas variáveis, compreende e classifica processos dinâmicos vividos

por grupos sociais (p.80)” . A partir desse pensamento, percebe-se que a pesquisa

qualitativa dá suporte para análises mais profundas em relação ao fenômeno que

está sendo investigado.

42

Sendo assim, foi a partir desse tipo de pesquisa e através da escolha dos

instrumentos de coleta de dados, que tivemos uma maior compreensão do objetivo

pesquisado que visava: identificar os impactos do Projeto Baú de Leitura para os

beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura.

3.2. Lócus

O lócus possibilita uma abertura para atender as provocações e inquietações do

pesquisador, é nesse ambiente que os sujeitos se expressam e se relacionam dando

originalidade as suas representações.

Assim, a pesquisa foi realizada na UJA (Unidade da Jornada Ampliada) do PETI,

localizada na comunidade de Lagoa do Porco no município de Campo Formoso –

BA: Comunidade situada no campo com uma vasta diversidade cultural, e uma

economia centrada na agricultura, apicultura e especialmente no cultivo do sisal,

sendo a principal fonte de renda das pessoas daquela região. A referida UJA atende

crianças e adolescentes com turmas multisseriadas nos turnos matutino e vespertino

possuindo cinquenta e seis beneficiários. Esse lócus foi escolhido por contemplar

beneficiários do PETI e ser um dos primeiros povoados do município a ser

contemplado com o Projeto Baú de Leitura.

O espaço físico é distribuído do seguinte modo: uma sala de atividades

socioeducativas com TV e DVD, uma sala de leitura, uma cozinha, um almoxarifado

e um banheiro.

3.3. Sujeitos da Pesquisa

Buscando identificar os impactos do Projeto Baú de Leitura para os beneficiários do

PETI em relação ao desenvolvimento da leitura, foi que elegemos dez crianças e

adolescentes e um educador social do PETI do turno matutino e vespertino, sendo

estes o total dos sujeitos da pesquisa.

3.4. Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos de coleta de dados utilizados na produção dessa pesquisa foram: a

observação participante, entrevista semi-estruturada e questionário fechado,

considerando estas, uma das melhores formas para fornecerem os subsídios para a

43

busca de informações necessárias a produção do material de análise para a

pesquisa.

Portanto, os instrumentos de coleta de dados são essenciais em qualquer pesquisa,

pois somente através deles que o pesquisador obtém a resposta e o esclarecimento

do problema que deu origem a investigação.

3.4.1 Observação Participante

A observação participante possibilita ao investigador obter informações e respostas

aos seus objetivos e anseios, permitindo um contato direto com a realidade e ações.

A respeito dessa discussão Cruz Neto (1994), afirma:

A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os obstáculos. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto (p. 59).

Nessa perspectiva Ludke e André (1986) destacam que um contato pessoal e direto

do pesquisador com o fenômeno pesquisado, possibilita recorrer aos conhecimentos

e experiências pessoais como auxiliares no processo de compreensão e

interpretação do fenômeno estudado.

Ao observar participadamente o pesquisador chega mais perto da perspectiva dos

sujeitos, sendo bastante relevante para a pesquisa qualitativa como pontua Ludke e

André (1986), nesse convívio em contato com as experiências diárias, o observador

percebe ou acompanha os sujeitos e sua compreensão sobre visões de mundo e os

significados que eles atribuem a realidade que os cercam. O pesquisador deve

mergulhar profundamente na cultura e no mundo dos sujeitos da pesquisa. Quanto

maior for à participação, maior a interação entre pesquisador e membros da

investigação, colaborando para a busca de um resultado mais consistente a partir do

estudo.

3.4.2 Questionário Fechado

44

Optamos por utilizar o questionário fechado para o levantamento de dados,

contando com questões norteadoras com o tema abordado. Ele irá enriquecer as

informações, possibilitando um melhor conhecimento da realidade dos sujeitos da

pesquisa.

Gressler (1989) diz que o questionário fechado não está limitado a uma determinada

quantidade de questões, e que não deve ser exaustivo ao pesquisando. O autor

afirma que o mesmo é constituído por uma série de perguntas organizadas, do qual

as respostas são formuladas sem a assistência direta do pesquisador tendo como

objetivo levantar dados para a pesquisa.

O questionário fechado é um instrumento de trabalho que tem uma relevância

significativa no campo da pesquisa para coletar os aspectos sócio-culturais dos

sujeitos dando liberdade nas suas opiniões e possibilita que os indivíduos exponham

suas idéias de forma evidente. Portanto, os questionários têm como principal

objetivo descrever as características de uma pessoa ou de determinados grupos

sociais.

3.4.3 Entrevista Semi-estruturada

A entrevista semi-estruturada é um dos instrumentos básicos para a coleta de dados

em uma pesquisa. É um dos meios mais utilizados na pesquisa qualitativa, por

proporcionar uma relação de interação entre o entrevistador e o entrevistado.

Marconi e Lakatos (1996) a definem como:

[...] um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informação a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional... Uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária (p.70).

Nesta mesma linha de raciocínio Haguete (1987) define tal entrevista como um

processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador,

tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado.

Na visão de Ludke e André (1986) a entrevista ganha vida quando começa, pois a

relação que se constrói durante sua realização é de diálogo e interação entre quem

45

entrevista e quem é entrevistado. Com isso facilita ao entrevistador sempre estar

atento, as respostas que se obtêm ao longo dessa interação, observando mais de

perto a gestos, expressões, entonações e sinais não verbais, visto que toda

captação é importante para compreender o que foi falo.

Sendo assim, na visão de alguns autores a entrevista pode ser de vários tipos,

sempre visando à adequação ao objeto de estudo, é um procedimento utilizado na

investigação social que permite obter a informação desejada e imediata, bem como

para ajudar na identificação do problema.

46

CAPITULO IV

4. RETRATOS DE UMA REALIDADE: ANALISANDO OS RESULTADOS

Diante da necessidade de compreender os impactos do Projeto Baú de Leitura para

os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura, inserido na

comunidade de Lagoa do Porco no município de Campo Formoso, apresentamos a

seguir os resultados da nossa investigação, obtidos a partir da análise dos

instrumentos de coleta de dados utilizados; observação participante, entrevista semi-

estruturada e o questionário fechado. Ressaltamos que tal realidade nos foi

apresentada a partir de dois grupos de sujeitos, os quais nos possibilitou aos

resultados da pesquisa aqui revelado. Sendo esses sujeitos os beneficiários e um

Educador Social do PETI.

4.1. RESULTADO DO QUESTIONÁRIO FECHADO: O PERFIL DOS SUJEITOS

Apresentação do perfil dos sujeitos através das informações coletadas com o

questionário fechado.

4.1.1. Sexo

Podemos perceber que os participantes da pesquisa são 70% do sexo feminino e

apenas 30% do sexo masculino.

Gráfico 1

30%

70%

Masculino

Feminino

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

47

Observando os resultados percebemos que houve uma disparidade em relação ao

sexo. Embora ambos obtiveram um percentual equivalente na participação da

pesquisa.

4.1.2. Faixa Etária

Em relação à faixa etária entendemos que 20% dos entrevistados são crianças, 60%

pré-adolescentes e 20% adolescentes.

Gráfico 2

20%

60%

20%

09 - 11 anos

12 - 14 anos

15 - 16 anos

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

Observa-se que a faixa etária dos sujeitos pesquisados, conforme o gráfico acima;

temos um grupo diversificado quando nos referimos à idade, visto que são crianças,

pré-adolescentes e adolescentes, estão entre 09 a 11 anos, 12 a 14 anos e 15 a 16

anos.

4.1.3. Com quem residem

Quanto à moradia, podemos constatar que a maioria dos beneficiários reside com os

pais e mães, apresentando um total de 90% e apenas 10% moram com suas mães.

Gráfico 3

48

90%

10%

Residem com os pais

Residem com as mães

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

Analisando os resultados constatamos que a maioria dos entrevistados convive em

núcleos familiares definidos, embora a sociedade moderna esteja perdendo os

vínculos familiares percebemos que no campo ainda prevalece o modelo de

estrutura familiar.

4.1.4. O que costumam ler

Quanto às fontes de leitura utilizadas pelos beneficiários, constatamos que 27%

deles têm preferência por livros-infantis. Comprovando que a proposta do Projeto se

efetiva proporcionando interesse pela leitura.

Gráfico 4

27%

16%

19%

24%

3%11%

Livros Infantis

Livros Infanto-Juvenil

Gibis

Resvistas

Jornais

Notícias na Inernet

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos pesquisados demonstram que utilizam algumas fontes de informação

para fazer uso da leitura, algo de grande relevância para a formação de leitores, pois

o ato de ler é um exercício de indagação, é também de entendimento, de captação

49

de símbolos e sinais, de mensagens e informações. Vale ressaltar que leitura é

“plural” e que é necessária a efetivação de várias formas de leitura para obtenção de

aprendizado e produção de conhecimento que favoreçam a “ leitura” e compreensão

do mundo que nos cerca e também de outros mundos. Porque “ ler um texto é

também ler a sociedade que o produziu. E se a produção é plural a leitura tem que

ser plural” (WALTY, 1995, p. 23).

Visto isso, compreendemos que ler significa pensar e desenvolver posição crítica

sobre os valores e idéias, é também um processo contínuo de trocas entre o

indivíduo e o mundo, sendo uma leitura dentro do conhecimento real/social que o

sujeito se insere.

4.1.5. Atividades sócioeducativas que mais gostam

Em relação às atividades socioeducativas, verificou-se que os beneficiários tem

aptidão por várias atividades entre elas se destaca a música com 16%, isso reflete a

vivência do educador como músico.

Gráfico 5

16%

14%

10%

11%11%

13%

11%

14%Música

Teatro

Dança

Poesia

Histórias

Desenho

Pintura

Jogos e Brincadeiras

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

Valorizando a dimensão artística presente na proposta do Projeto. Visto que a

música se apresenta como mecanismo de conhecimento como, por exemplo, a

oralidade, os sentimentos, a integração, a imaginação, a expressão entre outros.

Destacamos também que as demais atividades tiveram um percentual aproximado,

isso demonstra a diversidade de ações desenvolvidas junto ao Projeto Baú de

Leitura.

50

4.1.6. Atividade sócioeducativas que realizam

A observação do gráfico nos leva a perceber que há um equilíbrio entre as

atividades socioeducativas que são realizadas com os beneficiários, havendo um

destaque na música, desenho, poesia e teatro com 14%.

Gráfico 6

14%

14%

11%14%

11%

14%

11%

13% Música

Teatro

Dança

Poesia

Histórias

Desenho

Pintura

Jogos e Brincadeiras

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

No entanto todas as atividades fazem parte da proposta metodológica do Projeto

Baú de Leitura na valorização da dimensão artística, visto que é uma ferramenta de

incentivo à leitura, além de proporcionar a inserção social desses sujeitos.

4.1.7. Quanto ao lazer o que preferem

Ao serem questionados sobre a preferência do lazer 33% dos beneficiários

afirmaram gostar de ler livros e assistir televisão.

Gráfico 7

51

33%

33%

19%

15%

Ler Livros

Assistir Programas de TV

Roda de Conversa com Amigos

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

Podemos observar que tanto os livros como a televisão tem uma influência

significativa na vida dos entrevistados, isso demonstra a necessidade do educador

esclarecer os benefícios oferecidos pela televisão, pois esta muitas vezes é

responsável pela transmissão de ideologias que distanciam da realidade dos

sujeitos.

4.1.8. Participação em outro projeto além do Projeto Baú de Leitura

Quanto à participação em outro Projeto além do Baú de Leitura, constatamos que

90% dos sujeitos declaram participar apenas uma vez e 10% participaram com

freqüência. Isso demonstra que as respostas da maioria dos entrevistados

evidencia a ausência de políticas que viabilizem o acesso desses beneficiários a

outros Projetos que possibilitem a ampliação do conhecimento.

Gráfico 8

90%

10%

Participaram apenas uma vez

Participam com frequência

Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa

52

A análise do questionário fechado foi de grande relevância, pois nos possibilitou

conhecer melhor o perfil dos beneficiários do PETI da comunidade de Lagoa do

Porco em Campo Formoso; bem como nos forneceu informações e contribuições

quanto à participação das crianças e adolescentes que vivenciam o Projeto Baú de

leitura, favorecendo uma melhor análise dos dados nos demais instrumentos.

4.2. Resultados da Entrevista Semi-Estruturada e da Observação Participante

A partir da análise da entrevista semi-estruturada realizada com os beneficiários e

da observação participante realizada na UJA (Unidade da Jornada Ampliada);

conseguimos identificar os impactos do Projeto Baú de Leitura para os beneficiários

do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura na comunidade de Lagoa do

Porco.

Apresentamos a seguir as categorias que revelam as respostas aos

questionamentos norteadores do nosso estudo: os impactos do Projeto Baú de

Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura

como:

4.2.1. O significado do Projeto Baú De Leitura

Nessa discussão é relevante tecer algumas análises sobre a visão dos beneficiários

do PETI que participam das atividades desenvolvidas junto ao Projeto Baú de

Leitura, quanto ao significado do Projeto, haja vista que tais discussões evidenciam

a relevância das ações numa perspectiva ampla de possibilidades de aprendizagem

através da leitura. Questionados a respeito do que significa o Projeto Baú de Leitura,

a maioria dos beneficiários (cerca de 90%) deixam evidente a eficácia da proposta

que:

Significa conquista, realizações, cultura e desperta na gente a

curiosidade de conhecer outros mundos, outras aventuras com os livros sem sair do lugar né? Sem sair de casa (E.S.)2.

_______________________ 2 Termo utilizado para designar o Educador Social.

53

O Projeto Baú de Leitura pra mim significa uma oportunidade, oportunidade de vida, de vida melhor que se não fosse o PETI com esse projeto agente não iria pra canto nenhum, pois com a leitura a gente viaja pra outros mundos (B1)3. Significa realização de sonhos, como as crianças carentes terem acesso a livros nas mãos (B2). Significa aprender a respeitar as diferenças dos outros (B3). Significa o incentivo a aprendizado, o lazer e a alegria (B4).

Nessa perspectiva, ao serem questionados sobre o significado do Projeto Baú de

Leitura, os beneficiários relataram que o Projeto extrapola a leitura e a escrita,

proporcionando lazer, alegria, respeito às diferenças e especialmente a

democratização do livro, onde historicamente poucos tiveram e tem acesso. Fica

evidente na fala do B2 que o Projeto Baú de Leitura significa realização de sonhos,

permitindo as crianças das classes populares terem acesso a um bem cultural tão

importante para as pessoas. Neste aspecto Silva (1986) esclarece:

Vimos que na sociedade brasileira, constituída de classe com interesses antagônicos, a leitura se apresenta como uma questão de privilégio e não de direito de toda a população; por isso mesmo, a classe dirigente, através de diferentes manobras políticas, não só bloqueia o acesso aos livros como também distorce e fragmenta o conteúdo das obras de modo que a gênese dos fatos do real não seja descoberta através da leitura (p.15)

Dessa forma se evidencia o livro como um instrumento fundamental para o

aperfeiçoamento do cidadão, é ainda um elemento crucial para educação,

humanização e transformação, é também um direito do homem a ser assegurado

pela sociedade e pelo poder público. No entanto ainda percebemos a ausência de

políticas públicas que assegurem ao cidadão esse direito. Silva (1997) enfatiza que

“se os membros das camadas populares não dominam os conteúdos culturais, eles

não podem fazer valer os seus interesses, porque ficam desarmados contra os

dominadores (p. 61)” . Segundo esse autor, as pessoas não se libertam se não

tiverem conhecimento para dominar aquilo que os dominantes dominam. No entanto

dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação, e isso sem dúvida

não interessa a classe elitista.

____________________ 3

Utilizou-se a letra “B” seguida de numerais cardinais para designar os beneficiários do PETI.

54

4.2.2. O prazer de ler na perspectiva do Projeto Baú de Leitura

Ao investigar o prazer de ler na perspectiva do Projeto Baú de Leitura, no sentido do

encantamento, gostosura e da aproximação ao mundo da fantasia e ao mesmo

tempo da construção do conhecimento, ficou evidenciado que:

Eu gosto, porque agente aprende a se expressar a ler principalmente né? E aprender a conviver com a família até (B1). Gosto, a parte que mais gosto é ler se divertir e da animação (B2). Há gosto, eu criei um encanto tão grande, que dentro do Projeto eu me transformei em artista com essas temáticas essa dimensão artística que o Baú de leitura tem, hoje nós fazemos um monte de atividades culturais isso me engrandeceu e me ajudou bastante (E.S.). Sim, gosto ele é um incentivo para ler e escrever (B3). Sim porque ele traz coisas novas, traz alegria (B4).

É notório que ao serem questionados sobre o prazer de ler junto ao Projeto os

beneficiários deixam evidentes a alegria, a diversão, o encantamento e o prazer pela

leitura numa perspectiva diferente da qual costumamos presenciar nos espaços

educacionais. Pois para Abramovich (1997) “ ler foi sempre maravilha, gostosura,

necessidade primeira e básica, prazer insubstituível (...). E continua, lindamente

sendo exatamente isso (p.14). E o Projeto Baú de Leitura tem proporcionado uma

leitura lúdica de forma prazerosa e reflexiva oportunizando a construção do

conhecimento, de maneira simples através da contação de histórias, causos, lendas

entre outros, e acreditando que ler a vida é dar vida a cada gesto, cada palavra,

cada expressão de dor ou de alegria que surgem nas estórias lidas ou contadas.

Nesse sentido, o educador social destaca que a dimensão das atividades

desenvolvidas no Projeto não se resumem apenas à leitura e à escrita, mas valoriza

a dimensão social e artística através do teatro, música, dança, poesia, cordel,

propiciando atividades culturais e revelando o talento e a sensibilidade escondida

dentro de cada um. E nessa visão Lins (2006) dar sua contribuição dizendo que:

Brincar com a realidade por meio do imaginário produzido na cultura e pela arte oferece ao indivíduo uma flexibilidade que lhe permite explorar e experimentar o conhecido e o desconhecido, assim poderá se distanciar, colocar-se no lugar do outro e olhar as coisas de outros ângulos, criando outras e novas possibilidades e transformando e

55

acrescentando o que não lhe basta. (...) O que lhes for necessário e preciso para a constante re-construção da sociedade da qual são e fazem parte. (p.126-129)

Conforme a nossa observação participante, presenciamos um momento ímpar, onde

o educador com os beneficiários ensaiaram um teatro para se apresentarem na

abertura da Jornada Pedagógica do município a convite da Secretaria de Educação,

ali pudemos constatar o desejo de participar, a alegria, o aprender, o acerto, o erro,

o recomeçar, a parceria, a expressão, o entusiasmo, a sabedoria de cada um e a

certeza de que seriam capazes e ainda acreditar em seus sonhos. Enfim foi um

momento de construção com uma infinidade de ações que propiciam a

aprendizagem sem necessariamente ser mecânica e enfadonha.

4.2.3. Os livros mais lidos do Projeto Baú De Leitura

Notoriamente, as crianças e adolescentes são bombardeadas por uma diversidade

de informações transmitidas por vários meios de comunicações entre eles a

televisão, sendo esta campeã na transmissão de informação, o que se manifesta na

preferência já declarada pela TV como principal mecanismo de lazer. Vale

considerar, no entanto, que, muitas vezes este meio de comunicação de massa atua

não apenas como atrofiamento de idéias, mas sobre tudo como multiplicadora de

ideologias de dominação que são facilmente assimilados, e indubitavelmente o livro,

elemento essencial na disseminação do conhecimento sólido fica em segundo plano.

No entanto é mister frisar que o Projeto Baú de Leitura traz uma diversidade de

informações através de leituras contextualizadas capaz de desmistificar

estereótipos construídos ao longo da história. Diante disso questionou-se: Quais os

livros do Baú que você mais gosta de ler?

Lúcia Já-vou-indo, Balançando os Sonhos e Cinco Anos sem Chover (B1). Cinco Anos sem Chover, Criança na Escuridão, No fundo dos teus olhos e Só de Vez em Quando (E.S). Lúcia Já-vou-indo, Balançando os Sonhos, Criança na Escuridão e Cinco Anos sem Chover (B3). Balançando os Sonhos, e Cinco Anos sem Chover (B4). Criança na Escuridão, Lúcia Já-vou-indo, e Balançando os Sonhos (B5).

56

Notamos que a maioria dos beneficiários afirma gostar de vários livros, entre eles um

se destaca: Cinco Anos sem Chover, que traz uma história que demonstra uma

realidade vivenciada por milhares de pessoas e com uma discussão relevante sobre

os problemas enfrentados pelo povo do semiárido, destacando o êxodo rural, algo

bastante presente na nossa região fruto da ausência de políticas públicas eficazes

que priorizem a sustentabilidade das pessoas no lugar de origem. Neste panorama

Martins (2006) afirma:

Não importa mesmo se esta realidade componha os modos de vida, as formas de produção da existência de milhões de pessoas. Não importa se a seca e todas as formas de injustiça a ela ligadas, expulsem um mundaréu de gente todo dia para ir se engalfinhar nos barrancos fedorentos e escorregadios dos centros urbanos mais ao sul. Não importa se há saberes; se há dores e delícias; se há alegrias e belezas (p. 40).

Observa-se que possivelmente estas crianças e adolescentes se enxergam nas

personagens e nas histórias de vida apresentadas neste livro, tão requisitado. Essas

são algumas das discussões provocadoras que o Projeto Baú de Leitura tem

oferecido as crianças e adolescentes que muitas vezes tem seus sonhos atrofiados

pela sua condição social, fruto de uma sociedade desigual. No entanto através de

simples reflexões e análises é possível inquietar e provocar ações desveladora junto

às pessoas envolvidas na luta pelas mudanças e intervenção na realidade local e

global.

4.2.4 Os impactos do Projeto Baú de Leitura na vida dos beneficiários

Nessa categoria, buscamos analisar as contribuições do Projeto na vida das

crianças e adolescentes numa dimensão ampla de significados, numa concepção

integrativa, na qual podemos atribuir à leitura um processo largo de transformações,

onde estão presentes aspectos afetivos, éticos, culturais, econômicos, sociais e até

mesmo políticos.

Os beneficiários salientam quanto aos impactos:

Sim, principalmente porque eu ajudava muito mainha no sisal isso dai me tirou mais porque eu já tava assim... num tava gostando de mais nada na minha vida e o Projeto veio com música, brincadeira, futebol e isso dai me ajudou muito e graças a Deus agora eu faço apresentações e muito mais (B1).

57

Contribuiu várias coisas, veio mudando veio transformando a vida de cada criança e de cada adolescente do Programa e do Projeto Baú de Leitura (B2). Contribuiu pra mim acreditar que vale a pena sonhar que não importa quando a gente realiza, mas que a gente sonhe e que é possível realizar sonhos quando a gente acredita, agente é do tamanho dos sonhos quando a gente acredita, eu conseguir realizar sonhos e sonhar mais (E.S.). Na verdade o Projeto me ajudou a se descobrir, na arte, no teatro, música e dança (B3). Sim, porque eu aprendo brincando e lendo (B4).

Notamos que o B1: evidencia em sua fala as dificuldades enfrentadas na sua

infância marcada pelo trabalho no sisal, considerado perigoso, penoso e degradante

que muitas vezes provocam danos irreversíveis no seu desenvolvimento intelectual,

físico e humano na luta incessante pela sobrevivência associadas a condições de

vulnerabilidade social. Sobre este ponto de vista Hofstatter (2005) “enfoca que a

vulnerabilidade social, marca dessas trajetórias de vida e trabalho, se expressa pelo

não acesso a moradia, saúde, educação, trabalho, bem como pela fragilidade das

redes de proximidades afetivas (p.65).”

Nessa compreensão queremos enfatizar que um determinado sujeito que vivencia

uma situação de vulnerabilidade social, agonizada por sua condição de baixa

escolarização não dispõe da leitura, não lê o mundo nem graficamente nem suas

relações sociais proporcionada por uma educação precária, consequentemente não

usufruirá dos benefícios do mundo letrado.

4.2.5. Dedicação da leitura antes e depois do Projeto Baú de Leitura

Sobre essa questão, buscamos identificar a prática da leitura junto aos beneficiários

antes e depois do Projeto Baú de Leitura. Diante disso questionou-se: Quanto tempo

você se dedicava à leitura antes e depois do Baú de leitura?

Eu já me dedicava antes do Baú e quando o projeto surgiu e eu me dediquei mais ainda com livros diferentes (B1). Há antes era pouquinho era só quando tinha necessidade, e hoje depois do Baú a gente tem vontade de ler e reler as histórias, de viver outras emoções, pegar livros e ler para outras pessoas até, agente acaba descobrindo novas emoções e outras maneiras de ver as coisas (E.S).

58

Antes eu só lia quando a professora mandava e agora eu pego o livro para aprender coisas novas (B2). Antes eu não tinha interesse nenhum por leituras, depois despertou o interesse lendo livros infantis, e hoje não vivo sem leitura na minha vida (B3). Antes do Baú, eu só lia na escola porque era obrigado, hoje eu leio porque eu gosto (B4).

Identificamos na argumentação acima dos beneficiários que após a inserção do

Projeto a leitura passou a ser vivenciada de maneira diferenciada, com mais

interesse, entusiasmo, emoção e especialmente como descoberta e prazer, não

apenas como obrigação como enfatiza o B4, algo muitas vezes presente na maioria

das escolas. Pois para Almeida (2005) “o indivíduo quando lê, não está apenas

usando aqueles símbolos que outrora foram outorgados pela Escola. Ela os usa

também, mas transcende essa utilização para as outras vias as quais darão conta

da quase totalidade das coisas (p.146)”

O B5 afirma:

“Antes eu só lia quando tinha necessidade, hoje eu leio como uma conquista de liberdade” .

O B5 ressalta algo essencial no processo de leiturização a “conquista da liberdade”

e essa conquista de liberdade acontece quando os indivíduos conseguem ter

domínio aos bens culturais já produzidos e registrados pela escrita. Parafraseando

com Silva (1997) ler é um ato libertador, quanto maior vontade consciente de

liberdade, maior índice de leitura, sendo um dos efeitos da leitura o aprimoramento

da linguagem, da expressão, nos níveis individual e coletivo.

4.2.6. A relação Baú/ comunidade

A proposta do trabalho do Baú de Leitura não está restrita às UJAS, ele deverá se

estender às comunidades na qual está inserido através de atividades culturais,

artísticas entre outras. Para investigar o que o Projeto tem oferecido a comunidade

questionou-se: O que o Projeto Baú de Leitura oferece para sua comunidade?

Oferece muita cultura e aprender a viver em sociedade (B1). Lazer e dignidade (B2).

59

Oferece integração entre as crianças, os jovens as famílias, e ate mesmo as etnias religiosas acabam se unindo por causa do Baú de Leitura que chama e encanta tudo (E.S). Eventos, brincadeiras, cultura e lazer (B4). Oferece diversão, Intercâmbio e resgate cultural (B5).

Em suas afirmações fica explícita a dimensão do Projeto junto à comunidade, sendo

evidenciado elementos relevantes na construção do conhecimento do seu lugar, do

seu povo e da sua história através do resgate cultural. Pois “estar inserido no meio

popular provoca, no Projeto Baú de Leitura, um pensar que favorece a revalorização

da cultura desse meio, porque são expressões de sua própria identidade

(GONÇALVES 2006; p 46). Com isso não poderíamos esquecer de frisar que

através das histórias lidas e contadas, vão se construindo outras histórias, e a vida

recebe um valor e um tom diferentes, porque vai se descobrindo e desenvolvendo

pessoas e potenciais que engrandecem a comunidade, provocando análises e

reflexões, proporcionando interação com as famílias e ainda intervenção na

realidade local, o que se pode identificar como momentos de transformação da

realidade e prática cidadã.

60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa proporcionou, entre outros elementos, a constatação de fatores

impactantes no desenvolvimento da leitura junto aos beneficiários, ficando nítido em

vários discursos a relevância das ações do Projeto para a transformação.

Consideramos que o Projeto contribui favoravelmente com atividades que propiciam

uma visão crítica da realidade sem perder de vista o lúdico, o belo e a alegria

juntando-se a isso a liberdade de imaginar e sonhar sempre.

Considerando que o objetivo da pesquisa foi analisar os impactos do Projeto Baú de

Leitura para os beneficiários do PETI em relação ao desenvolvimento da leitura,

podemos destacar que o supracitado Projeto tem sido responsável por

transformações sociais amplas através de um conjunto de atividades como a poesia,

o cordel, a música, a contação de história, o teatro dentre tantas outras. Visto que, o

Projeto Baú de Leitura se destaca entre as melhores ações bem sucedidas como

experiências de educação contextualizada da Bahia e do Brasil, e hoje luta para se

tornar uma política pública com a inserção de Baús nas escolas da rede municipal

com o intuito de beneficiar outras tantas crianças e adolescentes, levando sonhos,

criatividade, criticidade, literatura, histórias e especialmente liberdade de pensar.

Embora o Projeto Baú de Leitura tenha inúmeras conquistas, não poderíamos deixar

de enfatizar as lacunas e entraves no processo que dificultam as ações e expansão

para as demais Unidades, sendo que o município de Campo Formoso tem 23 UJAS

e apenas 12 são contempladas com o Projeto, não havendo interesse em

investimento na compra de novos Baús para a expansão do Projeto, além de alguns

educadores não desenvolverem o Projeto com tanta ênfase deixando lacunas para o

enfraquecimento da prática leitora, mas entende-se esta postura, pois viemos de

uma educação de poucos para poucos e somos fruto de uma sociedade não leitora

atrofiada pela negação do direito ao universo cultural dentre ele o livro.

É um trabalho mais especificamente com os excluídos, especialmente com aqueles

que não têm acesso a livros nem bibliotecas, nem outras oportunidades de ler a vida

e refletir juntos. Busca-se a inclusão de todos numa sociedade mais igualitária nas

oportunidades de crescimento humano, e acesso à cultura universal e mais justa na

realização dos sonhos e na conquista de dias melhores para todos. Visto que o

espaço geográfico, mais atingido pelo Baú de Leitura hoje, é o semiárido. Isso

61

demonstra a busca da inclusão. Sendo uma caminhada lenta, porém, persistente,

comprometida de encantamento e alegria.

Assim, fazemos questão de dizer ao Brasil e ao mundo que o trabalho com o Baú de

Leitura é significativo, serve de instrumento de alegria, lazer, de estímulo à leitura e

de melhoria da qualidade de educação oferecida às crianças brasileiras,

contribuindo para o desenvolvimento das comunidades pobres onde se apresenta.

62

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66

APÊNDICES

67

Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Educação – Campus VII

Senhor do Bonfim - BA

QUESTIONÁRIO FECHADO

Caro Beneficiário estamos realizando esta pesquisa para a elaboração do trabalho

monográfico relativo à conclusão do curso de Pedagogia da Universidade do Estado

da Bahia – UNEB. Por isso contamos com a sua disponibilidade e preciosa

colaboração para realização da nossa pesquisa.

Desde já agradecemos a sua participação.

PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

I. Identificação

1. Localidade onde mora_______________________________________________

3. Sexo:

( ) Feminino

( ) Masculino

4. Faixa Etária:

( ) 06 - 08 anos

( ) 09 - 11 anos

( ) 12 - 14 anos

( ) 15 - 16 anos

5. Relacionado à moradia:

68

( ) Mora com os pais

( ) Mora com a mãe

( ) Mora só com o pai

( ) Mora com parentes. Quais___________________________________________

6. Você costuma ler:

( ) Livros infantis

( ) Livros infanto-juvenil

( ) Gibis

( ) Revistas

( ) Jornais

( ) Internet

( ) Outros__________________________________________________________

7. Que atividades sócioeducativas você gosta:

( ) Música

( ) Teatro

( ) Dança

( ) Poesia

( ) Histórias

( ) Desenho

( ) Pintura

( ) Jogos e brincadeiras

8. Que atividades sócioeducativas você realiza:

( ) Música

( ) Teatro

( ) Dança

( ) Poesia

( ) Histórias

( ) Desenho

69

( ) Pintura

( ) Jogos e brincadeiras

8. Que formas de lazer você prefere:

( ) Ler livros

( ) Assistir programas de TV

( ) Roda de conversa com amigos

( ) Outros___________________________________________________________

10. Você já participou de algum projeto além do Baú de Leitura

( ) Nunca participou

( ) Participou apenas 1 vez

( ) Participa com frequência

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Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Educação – Campus VII

Senhor do Bonfim - BA

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1. Você conhece o Projeto Baú de Leitura?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. O que significa o Projeto Baú de Leitura para você?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. Você gosta do Projeto?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4. Você gosta de ler? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. Quantos livros você já leu esse ano?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

6. Quais os livros do Baú que você mais gosta de ler?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

7. Você costuma levar livros pra casa? Sabe quantos já levou?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

8. O Projeto Baú de Leitura provocou alguma mudança positiva em sua vida? Qual?

71

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9. A sua vida escolar foi mudada depois do Baú de Leitura? De que forma?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10. O que o Projeto Baú de Leitura tem contribuído pra sua vida? De que maneira?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

11. Você se sente envolvido nas atividades? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

12. O que você mais gosta no Baú de Leitura?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

13. O que o Projeto Baú de Leitura oferece para sua comunidade?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

14. Como a leitura surgiu na sua vida?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

15. Você acha que a leitura pode te ajudar a progredir na escola e na vida?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

16. Quanto tempo você se dedicava à leitura antes e depois do Baú de leitura?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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FOTOS