monografia benedito lauro_da_silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA, E CIÊNCIAS CONTÁBEIS-FAECC ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE - PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA-CEGEsP/CAO OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS: NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT. BENEDITO LAURO DA SILVA-CAP PM CUIABÁ – MT 2006

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Page 1: Monografia benedito lauro_da_silva

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA, E CIÊNCIAS CO NTÁBEIS-FAECC

ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE - PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBL ICA-CEGEsP/CAO

OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.

BENEDITO LAURO DA SILVA-CAP PM

CUIABÁ – MT 2006

Page 2: Monografia benedito lauro_da_silva

BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM

OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO DE ESPECIALIZADO NA PMMT.

Orientador: Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM

CUIABÁ – MT 2006

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO como requisito obrigatório para a conclusão do curso e obtenção do grau de Especialista em Gestão de Segurança Pública.

Page 3: Monografia benedito lauro_da_silva

OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:

NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.

BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM

Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores do

Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO, da

Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da Universidade

Federal de Mato Grosso, e julgada adequada para a concessão do Grau de

ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA.

Banca Examinadora:

Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM

Orientador/Presidente da Banca

Celso Henrique de Souza Barboza – Maj PM

Membro

Edson Benedito Rondon Filho – Maj PM Membro

Prfª MsC Lúcia Regina de Souza Membro

Nota obtida pelo aluno ________

Profª MsC MARIA EUNICE GONÇALVES AGUIAR Coordenadora do Curso

Page 4: Monografia benedito lauro_da_silva

DEDICATÓRIA

Aos meus pais pela sabedoria, verdadeiros

exemplos para a minha formação.

Às minhas filhas Júlia e Isabella, verdadeiras jóias

raras, razão do meu esforço.

Á minha namorada Carolina Bittencourt, a quem

tanto amo.

A todos aqueles que de alguma forma colaboraram

na elaboração deste trabalho, em especial ao

GATE/PMESP.

A todos os policiais militares honrados que labutam

dia a dia contra a criminalidade.

Page 5: Monografia benedito lauro_da_silva

AGRADECIMENTO

A Deus, Pai, Todo Poderoso, pela oportunidade de

ser um policial militar.

Ao Sr. Ten Cel PM Jorge Catarino Moraes Ribeiro,

reconhecidamente verdadeiro baluarte para a

realização do CAO / CEGEsP.

Aos meus mestres, em especial ao meu orientador

neste trabalho Sr. Maj PM Rhaygino Sarly Rodrigues

Setúbal, pela sabedoria, dedicação e paciência

durante os ensinamentos.

Ao Sr. Maj Celso e Profª Msc Lúcia Regina,

coordenadores do CAO / CEGEsP, profissionais

dedicados e comprometidos com o ensino.

A todas as pessoas que amo, que espero, se

reconheçam neste agradecimento.

Page 6: Monografia benedito lauro_da_silva

EPÍGRAFE

“A única coisa necessária para o triunfo do mal é

que os bons homens não façam nada”.

Edmund Burke

Page 7: Monografia benedito lauro_da_silva

RESUMO

Este trabalho monográfico aborda o atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos no Estado de Mato Grosso, avaliando a existência ou não de procedimentos específicos na atuação policial. Num primeiro momento realiza um passeio pela história dessa modalidade de ocorrência, que tem início com terrorismo internacional, passando por fatos de nível nacional e fatos ocorridos em Mato Grosso. Faz menção sobre o aspecto legal acerca do terrorismo e crimes envolvendo explosivos, procurando conceituar explosivos e bombas, caracterizando-os, bem como, reúne medidas preventivas no atendimento dessas ocorrências. Em seguida, expõe sobre a necessidade de criação de um grupo especializado, a fim de que os policiais militares, que porventura venham atuar no Grupo Antibomba, apliquem de forma técnica e tática, conhecimento e recursos necessários para ações de prevenção e resolução de ocorrências envolvendo localização de bombas e explosivos, alcançando ao final, o melhor resultado possível que consiste na preservação da vida, da integridade física das pessoas e do patrimônio.

Palavras – chave: Terrorismo, Bombas e Grupo Especializado.

Page 8: Monografia benedito lauro_da_silva

ABSTRACT

This monographic work approaches the attendance of occurrences involving bombs and explosives in the State of Mato Grosso, evaluating the existence or not of specific procedures in the police performance. At a first moment it carries through a stroll for the history of this modality of occurrence, that has beginning with international terrorism, passing for facts of national level and facts occurred in Mato Grosso. It makes mention on the legal aspect concerning the terrorism and crimes involving explosive, looking for to appraise explosives and bombs, characterizing them, as well as, it congregates writ of prevention in the attendance of these occurrences. After that, it displays on the necessity of creation of a specialized group, so that the military policemen, who porventura come to act in the Antibomb Group, apply of form necessary technique and tactics, knowledge and resources for action of prevention and resolution of occurrences involving localization of bombs and explosives, reaching to the end, best resulted the possible one that consists of the preservation of the life, of the physical integrity of the people and the patrimony.

Words - key: Terrorism, Bombs and Specialized Group.

Page 9: Monografia benedito lauro_da_silva

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. x

LISTA DE ABREVIAÇÕES ................................................................................... xi

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

1 TERRORISMO.................................................................................................... 17 1.1 Conceito de Terrorismo................................................................................ 17 1.2 Conjectura Histórica..................................................................................... 22 1.3 Motivações do Terrorismo............................................................................ 35 1.4 Perfil dos Causadores de Ameaça em Termos Globais.............................. 36 1.5 Tipos de Terrorismo..................................................................................... 37 1.6 Características do Terrorismo Internacional................................................ 40 1.7 Terrorismo no Brasil..................................................................................... 42 1.8 Classificação do Terrorismo no Brasil.......................................................... 44 1.9 Neoterrorismo Brasileiro............................................................................... 45 1.10 Os Incidentes com Bombas no Território Brasileiro................................... 48

2 ASPECTOS LEGAIS .......................................................................................... 51 2.1 Direito Internacional..................................................................................... 51 2.2 Constituição Federal.................................................................................... 53 2.3 Lei de Segurança Nacional.......................................................................... 53 2.4 Código Penal................................................................................................ 54 2.5 Lei das Contravenções Penais.................................................................... 55 2.6 Código Penal Militar..................................................................................... 56 2.7 Estatuto da Criança e do Adolescente......................................................... 56 2.8 Diretriz de Ação Operacional da PMMT....................................................... 57

3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO............ 59

3.1 Prisão do foragido Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão”..................... 59 3.2 Explosão no interior de veículo em Cáceres................................................ 60 3.3 Indivíduos Presos no Terminal do bairro Morada da Serra......................... 60

Page 10: Monografia benedito lauro_da_silva

3.4 Falsa Bomba no Bairro Jardim Primavera................................................... 61 3.5 Vândalos Atearam Fogo em Motocicletas na Ciretran de Rondonópolis..... 62 3.6 Bomba Deixada em Supermercado de Colíder........................................... 63 3.7 Bomba Colocada em Banheiro de Escola em Cuiabá................................. 64 3.8 Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos Sofre Ataque de Bomba........ 65 3.9 Novamente Ataque com Bomba à Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos................................................................................................................

66

3.10 Estudante Preso Tentando Armar Bomba no Banheiro de Escola em Rondonópolis.....................................................................................................

67

3.11 Companhia de Polícia Comunitária do Jardim Vitória Sofre Ataque de Bomba................................................................................................................

68

3.12 Após Explosão de Bomba Detentos Fogem da Cadeia Pública de Várzea Grande...................................................................................................

69

3.13 Homem Mantém Familiares e Ex-esposa Reféns sob Ameaça de Explosivos..........................................................................................................

71

3.14 Artefato Explosivo é Encontrado em Muro da Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos...................................................................................

73

3.15 Perfil dos Utilizadores de Bombas em Mato Grosso.................................. 74 3.16 Tipos de Explosivos Utilizados pelos Criminosos...................................... 75 3.17 Finalidade da Utilização dos Explosivos.................................................... 76

4 BOMBAS ............................................................................................................ 77 4.1 Conceitos de Explosivo................................................................................ 77 4.2 Classificação dos Explosivos....................................................................... 78 4.3 Características dos Explosivos.................................................................... 79 4.4 Tipos dos Principais Explosivos................................................................... 81 4.5 Sistemas de Iniciação.................................................................................. 83 4.6 Conceito de Explosão.................................................................................. 83 4.7 Bombas........................................................................................................ 85 4.8 Utilização de Explosivos em Invasões e Remoção de Obstáculos.............. 92

5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS ....................... 94 5.1 Composição e Estrutura dos Grupos Antibomba no Mundo........................ 95 5.2 Criação do Grupo Antibomba no Batalhão de Operações Especiais............................................................................................................

98

5.3 Exigências Pessoais da Equipe de Bombas................................................ 102 5.4 Estrutura do Grupo Antibomba.................................................................... 103 5.5 Tipo de Trabalho Desenvolvido pelo Grupo Antibomba.............................. 105 5.6 Treinamento do Policial Militar..................................................................... 105 5.7 Equipamentos para o Grupo Antibomba...................................................... 106 5.8 Procedimento Operacional em Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bombas..............................................................................................................

114

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 129

SUGESTÕES......................................................................................................... 133

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA S .................................................................... 135

APENDICE I.......................................................................................................... 139

Page 11: Monografia benedito lauro_da_silva

x

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Divisão em quadrantes................................................................... 121

FIGURA 2 – Seqüência em espiral..................................................................... 122

FIGURA 3 – Zonas longitudinais......................................................................... 122

FIGURA 4 – Arcos capazes................................................................................ 123

FIGURA 5 – Módulos de varredura..................................................................... 124

Page 12: Monografia benedito lauro_da_silva

xi

LISTA DE ABREVIATURA

BOPE – Batalhão de Operações Especiais

BPM – Batalhão de Polícia Militar

Cap – Capitão

Cel - Coronel

Cia - Companhia

COE – Companhia de Operações Especiais

CPA – Centro Político Administrativo

GATE – Grupo de Ações Táticas Especiais

GOE – Gerência de Operações Especiais

IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar

PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal

PMESP – Polícia Militar do Estado de São Paulo

PMMT – Polícia Militar do Estado de Mato Grosso

PJC – Polícia Judiciária Civil

Ten – Tenente

Sd – Soldado

Sgt - Sargento

Page 13: Monografia benedito lauro_da_silva

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa monográfica pretende realizar uma apreciação acerca

das ocorrências envolvendo bombas e artefatos explosivos no Estado de Mato

Grosso, cujo assunto pouco explorado, constitui de suma importância para a Polícia

Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos

bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral,

seja do policial militar ou não.

O terrorismo em várias partes do mundo utiliza substâncias explosivas e

bombas para impor o medo. O conceito, as principais características do terrorismo,

sua motivação e o perfil dos causadores são apresentados no início deste trabalho,

tendo sido traçado um panorama histórico a nível mundial e nacional.

Os aspectos legais acerca do terrorismo e as diversas formas de crimes que

assemelham essa prática carecem de análise, desde sua interpretação a nível de

Direito Internacional até as diretrizes de procedimentos emanados pela Corporação,

considerando que o policial militar no atendimento de ocorrências desse nível, deve

conhecer os fundamentos de sua atuação.

Page 14: Monografia benedito lauro_da_silva

13

As principais ocorrências envolvendo explosivos e bombas nos últimos três

anos merecem destaque, cujos fatos representaram enormes riscos ou ameaças,

bem como, os respectivos níveis de resposta da atuação policial e pericial,

apresentando, ainda, a tipologia dos causadores da crise, os tipos dos artefatos

utilizados e sua finalidade.Conhecer uma bomba e as características de um artefato

explosivo se faz necessário. O conceito de explosivos e bombas é explorado na

quarta parte, em que são demonstrados tipos e características principais, tipos de

acionamento, conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial

à bomba caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes.

O problema abordado nesta pesquisa pode ser enunciado através de uma

análise da atuação da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso em ocorrências

envolvendo bombas, na qual o policial militar, no exercício de seu mister, se vê

submetido a enorme risco de morte ou de sofrer graves lesões. É com esse enfoque

que se formula o problema da presente pesquisa:

Em caso de ocorrências envolvendo explosivos e bombas a Polícia Militar do

Estado de Mato Grosso está preparada para esse atendimento de forma segura?

Diante de tal problema a hipótese levantada é a de que com a adoção de

conhecimentos específicos, padronização de procedimentos e aquisição de

equipamentos para agir adequada e tecnicamente diante de uma ocorrência

envolvendo explosivos e bombas, poder-se-á vislumbrar na PMMT a redução dos

riscos ao policial militar e outras pessoas, cujos resultados, além de técnicos, seriam

mais satisfatórios à resolução do evento crítico.

Page 15: Monografia benedito lauro_da_silva

14

O objetivo deste trabalho é o de sensibilizar o Comando da Corporação e,

em esfera maior, o Poder Executivo, para a atualidade e importância do tema e a

necessidade de investimentos em pessoal e equipamentos; profissionalizando e

otimizando esse tipo de atendimento, obedecendo aos padrões técnicos

mundialmente consagrados; dotando o policial militar de conhecimento técnicos

básicos à uma atuação segura.

A justificativa para esta pesquisa consiste na carência de atualizadas

padronizações no atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos, a

falta de equipamentos para uma atuação segura que, caso ocorra qualquer

incidente, pode colocar a imagem da Polícia Militar em xeque. As últimas

intervenções constituíram-se satisfatórias, no entanto, os valorosos policiais militares

envolvidos nessas operações submeteram-se a altos riscos.

A metodologia utilizada foi escolhida pelo pesquisador posto que é a que

melhor contempla o caminho a percorrer os meandros da utilização de bombas,

traduzindo que necessário se faz também conhecer os diversos tipos de

equipamentos utilizados na prevenção e atuação policial em ocorrências envolvendo

artefatos explosivos. Desta forma, esta pesquisa baseia-se em pesquisas

bibliográficas sendo utilizados manuais com anotações de procedimentos padrão

seguidos a nível internacional como o da Brigada de Explosivos da Polícia de

Córdoba, Argentina, e adotados por diversas polícias co-irmãs, em especial a Polícia

Militar do Estado de São Paulo e Polícia Militar do Distrito Federal que os

manuseiam em cursos específicos da área. Legislações foram exploradas com a

finalidade de orientar o policial militar em sua atuação. Foram exploradas pesquisas

documentais através de consultas a jornais de grande circulação no Estado de Mato

Page 16: Monografia benedito lauro_da_silva

15

Grosso, bem como, notícias-crimes extraídas de boletins de ocorrências atinentes a

intervenção em eventos envolvendo explosivos; consultas a diretriz de ação

operacional da PMMT foram feitas com a finalidade de verificar sua atualização

frente as diversas medidas adotadas internacionalmente nas ocorrências com

bombas. Consultas a sites da Internet se revelaram necessárias em decorrência de

melhor estabelecer e demonstrar as conjecturas históricas do terrorismo, elucidando

o perfil e as motivações terroristas. A experiência do autor desta pesquisa que

participou de instruções sobre Procedimentos Preventivos em Ocorrências com

Bombas e Artefatos Explosivos no Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia

Militar do Estado de São Paulo, tendo como finalidade demonstrar os fatos e

procedimentos policiais envolvendo explosivos no Estado.

A delimitação cronológica do estudo abrange o período do ano de 2003 até

os dias atuais, em decorrência dos recentes registros históricos envolvendo

explosivos e bombas em Mato Grosso.

A delimitação espacial restringe-se ao Estado de Mato Grosso que tem

vivido ocorrências envolvendo bombas e a avaliação da necessidade de criação de

um grupo especializado.

A conclusão reforça a argumentação e propõe mecanismos para a criação

de um grupo especializado na PMMT, sobretudo no Batalhão de Operações

Especiais, tendo como parâmetros a doutrina, o bom senso, o profissionalismo e,

principalmente, a preservação da vida e do patrimônio.

Page 17: Monografia benedito lauro_da_silva

16

O assunto explosivo e bombas não pode ser tratado de forma improvisada

pelos diversos segmentos da polícia mato-grossense. Este trabalho procura

demonstrar a necessidade da criação de um grupo especializado em explosivos e

bombas e procura indicar, com base em doutrinas operacionais policiais de nível

internacional e nacional, uma padronização de procedimentos a serem adotados,

uma abordagem de caráter científico, evitando-se assim atitudes e desempenhos

tipicamente amadoristas que poderão ser catastróficas.

Atualmente, o atendimento dessas ocorrências vem sendo realizado de uma

forma não ortodoxa, confiando na capacidade de improvisação, ao bom senso e

porque não dizer ao “jeitinho” ou à habilidade individual do policial encarregado de

solucionar as ocorrências envolvendo bombas.

Page 18: Monografia benedito lauro_da_silva

17

1 TERRORISMO

No mundo os explosivos tem sido o principal instrumento utilizado por

grupos que visem disseminar o terror, segundo assevera o manual de

Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos do Grupo de

Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo1, de

modo que, vemo-nos impelidos a estudar os ataques em que se utilizaram

explosivos e bombas sob a ótica do terrorismo.

1.1 CONCEITO DE TERRORISMO

O terrorismo ganhou uma dimensão inédita neste início de século, antes

restrita a regiões ou países com cismas sociais, econômicos, culturais, éticos ou

religiosos. Agora, o tema é colocado como pauta obrigatória na agenda das relações

internacionais. Porém, o ato terrorista, muitas vezes tem sido confundido, de modo

incauto ou premeditado, com ações de luta armada, movidas por idéias legítimas e

como reação ou resistência à repressão do agressor.

Isso porque um poderoso e terrível ataque terrorista ocorreu na manhã do

dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), atingindo as

duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova

Iorque, que veio abaixo horas após ter sido parcialmente destruído por duas

aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo. Eles

haviam decolado de Boston às 7h58m com 65 passageiros e às 7h59m com 92

passageiros e ambos com destino a Los Angeles.

1 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos . GATE. São Paulo, p 5. 2005.

Page 19: Monografia benedito lauro_da_silva

18

Assim, após o 11 de Setembro de 2001, o terrorismo passou a ocupar o

centro das atenções da política de segurança nacional da nação hegemônica da

atualidade. O século XXI começa com mudanças no quadro geopolítico global, onde

as posições unilaterais dos EUA passam a ditar a nova ordem mundial.

A ação supracitada foi atribuída à Al Quaida, sob o Comando de Osama Bin

Laden, e é considerado o maior atentado terrorista em escala global da história.

Nota-se que o atentado atingiu alvos com objetivos precisos: O Pentágono como

representante do poder militar; o World Trade Center como representante do poder

econômico e, a tentativa de atingir a Casa Branca, representando o poder político do

inimigo.

Noutro diapasão, percebemos que as definições sobre terrorismo

encontradas nas enciclopédias se mostram imprecisas e incompletas. Para

Larousse2, é o “Conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou

criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais”, e também,

“Regime de violência instituído por um governo”. Para a Delta Universal3, o

“Terrorismo é o uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de aterrorizar um povo

e enfraquecer sua resistência” e “entre os atos mais comuns de terrorismo estão o

assassinato, o bombardeio e o seqüestro”.

2 Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 23. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1998. p 238. 3 Enciclopédia Delta Universal, Vol. 14. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A, 1982. p 453.

Page 20: Monografia benedito lauro_da_silva

19

A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) conceitua terrorismo com

sendo “todos os atos de caráter violento que provocam medo e pânico generalizado

na população como um todo”4.

Percebe-se que para ser caracterizado como ato de terrorismo é necessário

o elemento da violência real ou presumida e o sentimento de insegurança

generalizada na população como um todo, achando-se vítima em potencial da

violência em qualquer local e momento, mesmo que não tenha sido afetada de

maneira direta, conforme define a Instrução Provisória Policial Militar para o

Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos – IP–1-PM da

PMESP5.

HOFFMAN 6 conceitua-o como sendo o “uso real ou ameaça de recorrer à

força e à violência com fins políticos, dirigido não só contra pessoas, mas também

grupos, cujo alcance transcende os limites nacionais”. Portanto o seu objetivo

implica uma ação levada a cabo por governos, unidades secretas ou irregulares, que

operam fora dos parâmetros habituais das guerras convencionais, tendo, às vezes,

como fim fomentar a revolução.

Assim, mais que a realização de fins militares, o objetivo do terrorismo é a

propagação do pânico na comunidade alvo de sua violência. Conseqüentemente, a

comunidade se vê coagida a atuar de acordo com os desejos terroristas, que

4 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos (bombas) . GATE. São Paulo: p 09. 2005. 5 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos (bombas) . São Paulo: CSM/Mln, artº 2º. 1996. 6 HOFFMAN, Bruce. Terrorismo e Contraterrorismo Após o 11 de Setembro . Disponível em: <http://usinfo.state.gov/journals/itps/1101/ijpp/ip110107.htm > Acesso em 01fev.2006.

Page 21: Monografia benedito lauro_da_silva

20

buscam, por meio dessa atividade extrema, o início da desestabilização de um

Estado, causando o maior caos possível, para possibilitar, assim, uma

transformação radical da ordem existente.

Para TAMAYO7, o terrorismo consiste “no uso calculado da violência ou da

ameaça da violência para provocar o medo, na busca das metas que são

geralmente políticas, religiosas, ou ideológicas; forçando ou intimidando os governos

ou as sociedades”.

Recorrendo ao dicionário comum, para um rápido exame etimológico, o

Novo Aurélio diz: “Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-

lhes à vontade pelo uso sistemático do terror” e, em uma segunda definição se

aproxima das anteriores: “Forma de ação política que combate o poder estabelecido

mediante emprego da violência”.

A luta armada contra o poder estabelecido não pode, a priori, ser

considerado como uma ação terrorista. O poder estabelecido pode ser totalmente

ilegítimo, usurpador, sem respaldo democrático ou das tradições e costumes do

povo que está submetido a este poder. Seguindo a definição enciclopédica, a

resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial, seria classificada como uma

organização terrorista, visto que lutava contra o poder estabelecido pelos nazistas

na zona ocupada ao norte da França e o governo colaboracionista de Vichy.

A definição de “praticar atos ilegais” como sendo característica da ação

terrorista também não se sustenta. A ordem legal institucional pode ser imposta por 7 TAMAYO, Fabiola. Terrorismo . Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos6/terro /terro.shtml> Acesso em 01fev.2006.

Page 22: Monografia benedito lauro_da_silva

21

um poder ilegítimo e, portanto, como se pode exigir legalidade dentro da ilegalidade.

Outra confusão freqüente é aproximar o crime comum ao terrorismo. Assim,

teríamos autores de crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa humana,

movidos por interesses pessoais ou passionais no mesmo naipe de crimes com

alvos discriminados ou indiscriminados, com motivos políticos e ideológicos

vitimando inocentes.

Como método de coação ou ameaça para impor seus princípios, a ação

terrorista se encaixa nas definições mas, encontra sérios obstáculos, na

contrapartida da ação anti-terror, geralmente desencadeada por instituições

controladas pelo Estado. Neste caso, temos exemplos clássicos com a luta anti-

terrorista em relação ao IRA na Irlanda do Norte e ao ETA no País Basco.

Para uma definição mais específica, o Dicionário do Pensamento Social do

Século XX8 classifica o terrorismo em dois tipos principais. No primeiro, o agente usa

um método de ação para atingir objetivos específicos. Para este caso, a violência

aplicada é pragmática, mais ou menos sob o controle do agente que, pode mudar de

estratégia, não necessariamente com uso de violência. No segundo tipo, o

terrorismo pode ser uma lógica de ação. Nesse caso, os fins justificam os meios, e o

agente apresenta através da repressão, prisão ou morte. Ainda segundo a obra,

existe uma tese corrente inspirada no funcionalismo, na qual, o terrorismo surge

quando existe uma crise, principalmente uma crise política.

O terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra

civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de 8 OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento social do Século XX . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.

Page 23: Monografia benedito lauro_da_silva

22

terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os

mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por

um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma

determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo

isso com desespero e ódio.

1.2 CONJECTURA HISTÓRICA

Fazendo um breve retrospecto histórico, verifica-se que os atos de terror,

estão presentes desde o início da civilização. O fato mais surpreendente é que o

agente mais letal nas ações de terror foi o próprio Poder Estabelecido, ora contra

nações inimigas, ora contra seu próprio povo como forma de repressão. Para

CARR9, o Império Romano utilizou táticas de terrorismo contra os povos dominados,

com a finalidade de baixar o moral e enfraquecer a resistência das tropas inimigas.

O autor salienta que a expressão utilizada na época era “guerra punitiva” que, mais

tarde, foi substituída por “guerra destrutiva”. Entre os atos inomináveis praticados

pelas legiões romanas estavam os estupros e saques, como forma de recompensa

aos soldados, já que eram extremamente mal remunerados. Naturalmente,

complementa o autor, os romanos também sabiam gerenciar a pax romana, pois não

conseguiriam manter um império apenas com atos de violência.

Apesar disso, percebe-se que o auge do terrorismo aconteceu durante os

anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial, a qual pode ser descrita

como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror.

Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era 9 CARR, Caleb. A Assustadora História do Terrorismo . São Paulo. Ediouro Publicações S. A. 2002.

Page 24: Monografia benedito lauro_da_silva

23

tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie

humana.

Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre

Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à

multiplicação de grupos terroristas.

Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado,

em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de

adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul,

responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do

apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos

60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e

matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania

israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e

sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de

extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e

matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.

Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas

pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado

terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque

que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força

para a União Soviética.

Page 25: Monografia benedito lauro_da_silva

24

1.2.1 Violência e Terrorismo

Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso

é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando

a vítima é uma personalidade política. A tentativa de assassinato do presidente dos

Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem

conotação política, uma vez que o autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu

isoladamente, motivado por questões pessoais. Já o assassinato do premiê

israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato

terrorista10.

1.2.2 Terrorismo na Era Contemporânea

Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado

pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução

Francesa. Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia,

foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo". E, no início do século

XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado mortal

promovido pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra"

contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914.

Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de

dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar

10 O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.

Page 26: Monografia benedito lauro_da_silva

25

maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef

Stalin11 e Adolf Hitler12.

Os dois regimes de terror tinham algumas características muito

semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os

poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO.

1.2.3 Terrorismo e Poderio Nuclear

O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda

Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de

vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma conseqüência natural da vida

para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a

depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal

para o planeta. O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito

animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos

localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas.

Além disso, a tragédia atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e

Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto

nuclear. Isto porque, exatamente a 6 de agosto de 1945 o bombardeiro norte-

americano B-29 Enola Gay largava às 8:15 da manhã, sobre a cidade japonesa de

Hiroshima, a primeira bomba nuclear utilizada em situação de guerra, batizada "Little

11 No final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932. 12 Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras minorias étnicas. Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de seres humanos pela máquina nazista

Page 27: Monografia benedito lauro_da_silva

26

Boy". 80 mil pessoas morreram instantaneamente, 48 mil dos 76 mil edifícios da

cidade foram destruídos (incluindo 52 dos 55 hospitais). Sem palavras ao ver o

cogumelo originado pela explosão (que provocou no seu epicentro uma onda de

calor 900 vezes superior à da superfície solar), que se elevou a 15 quilômetros de

altitude, o piloto do Enola Gay só conseguiu dizer: "My God, what have we done?"

Três dias depois, o cenário apocalíptico de Hiroshima repetia-se em

Nagasaki. O Japão capitulava, o fim da Segunda Guerra Mundial aproximava-se, e o

mundo acordava para o pavor da era nuclear. Estima-se que perto de meio milhão

de pessoas tenha morrido nas duas explosões e nos cancros que originaram entre a

população das duas cidades.

1.2.4 Guerrilha e Terrorismo: Vertentes Distintas

No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes

para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura

corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória

do idealismo. Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos

jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o

terrorismo. A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares

e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu

próprio exército e, eventualmente, tomar o poder. Os grupos terroristas utilizam o

método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.

Page 28: Monografia benedito lauro_da_silva

27

1.2.5 Violência Política na América Latina

No Brasil, a reação civil ao golpe militar de 64 desencadeou uma luta

armada que faria muitas vítimas até o início de abertura política, em 1977, sendo

que, muitos oposicionistas decidiram-se pela ação de guerrilha, inspirados na

revolução cubana. Um dos líderes mais célebres da luta armada nos anos 60 foi o

ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária, morto

por soldados no interior da Bahia, em 197113.

Agentes dos órgãos de segurança e dos serviços de informação das Forças

Armadas agiam à margem da lei com prisões arbitrárias, torturas e o assassinato de

opositores do regime militar. Em contrapartida, os grupos clandestinos de esquerda

financiavam suas atividades com dinheiro obtido em assaltos a banco e furtos de

automóveis. E praticavam seqüestros de diplomatas para negociar sua libertação em

troca de armas e da soltura de presos políticos.

Uma das ações mais espetaculares foi o seqüestro do embaixador dos

Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 69. No início da década

de 70, seriam seqüestrados também o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo

Okuchi, e os embaixadores da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, e da Suíça,

Giovanni Bücher.

Processos semelhantes ao brasileiro aconteceram em toda a América

Latina. No Chile, em 73, um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet

depôs o presidente eleito Salvador Allende, inaugurando uma sangrenta ditadura 13 Um ano especialmente conturbado foi o de 1968. Ações terroristas sacudiram o país. Grupos de extrema-direita atacaram artistas, lançaram bombas contra entidades civis e intimidaram personalidades de perfil humanista, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que teve sua casa metralhada em Recife, em outubro de 68.

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28

militar. Na Argentina, os militares implantaram a ditadura em 76, dando início a uma

"guerra suja" contra os oposicionistas, com um saldo de 30 mil desaparecidos em

sete anos.

1.2.6 Anos 60 e 70: Desilusão

Em diversos países havia, além da repressão oficial, a tolerância dos

regimes autoritários em relação às ações ilegais de grupos paramilitares. Por outro

lado, nos anos 70 a atividade dos grupos terroristas atingia seu ponto máximo. Era

uma época de questionamento dos valores tradicionais e do "velho modo" de fazer

política, nos dois blocos. O escândalo de Watergate, em 72, e a derrota dos Estados

Unidos na Guerra do Vietnã, reconhecida em 75, acentuaram a decadência da

ordem política internacional.

Na África, a independência havia sido conquistada em diversos países.

Inúmeras guerras tribais estimularam o tráfico de armas e a formação de grupos

paramilitares. Na Europa, grupos separatistas, como o IRA e a ETA, radicalizavam

as formas de luta. E no Oriente Médio o fervor religioso estimulava o surgimento de

grupos extremistas.

1.2.7 Extremismo Islâmico

Apesar da violência em comum, existem diferenças entre os grupos

terroristas. O fundamentalismo islâmico, por exemplo, não tinha caráter terrorista na

época em que surgiu. A Irmandade Muçulmana apareceu em 1929, no Egito, com

preocupações sociais e propósitos religiosos. Mas a partir dos anos 30 foi

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29

perseguida pelo Rei Fuad e por seu sucessor, o rei Faruk, favoráveis à dominação

britânica. A Irmandade partiu para a radicalização e o terrorismo no início dos anos

50, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender

interesses ocidentais.

A ação mais espetacular da Irmandade Muçulmana foi o assassinato do

presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981. Sadat foi considerado traidor por ter

assinado os acordos de Camp David, em 78, que reconheciam o direito de

existência do Estado de Israel.

1.2.8 Organização para Libertação da Palestina x Is rael

A crise no Oriente Médio também fez surgir, em 1964, a Organização Para a

Libertação da Palestina, OLP, uma frente reunindo diversos grupos. A OLP, que

tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat, foi criada em

decorrência de um quadro político cada vez mais conturbado. Os ânimos na região

estavam acirrados desde a criação de Israel, em 1948. Com o apoio político,

econômico e militar de soviéticos e americanos, Israel promoveu guerras com alguns

vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos

foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a

Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população

palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras.

O problema palestino era um distúrbio indesejável na Guerra Fria. O Oriente

Médio, como quase todo o planeta, estava dividido em esferas de influência das

superpotências. Israel e alguns países árabes passaram para a esfera dos Estados

Page 31: Monografia benedito lauro_da_silva

30

Unidos, enquanto outros países árabes ficaram sob influência soviética. A questão

palestina não se encaixava bem nesse jogo de equilíbrio.

O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes

acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas

nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos eram de autoria da OLP.

1.2.9 Terrorismo na Europa

Outra organização que se especializou em ataques terroristas nos anos 70

foi o Exército Republicano Irlandês, o IRA. Ele foi formado em 1919 por grupos da

minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda.

Na década de 60, os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis

discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de

insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz

ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro

de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes,

matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo

Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo. Durante os anos 70, mais de

duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba

patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e forças de

segurança.

Outros grupos surgiram com fins pacíficos e também foram empurrados para

o terror. É o caso da ETA, organização que luta pela autonomia do País Basco em

Page 32: Monografia benedito lauro_da_silva

31

relação à Espanha. ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e

Liberdade". Criada em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo

basco, a ETA foi perseguida pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a

clandestinidade e o terrorismo em 1966. O atentado mais ousado foi realizado em

73, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o

primeiro-ministro franquista Luís Carrero Blanco.

Na década de 70 houve também a ação de grupos terroristas sem vínculos

com lutas democráticas ou de libertação nacional, como o grupo Baader-Meinhoff,

na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. Eram organizações formadas por

intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica

"guerra contra a burguesia". Em setembro de 1977, o Baader-Meinhoff ganhou as

manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como

pressão pela libertação de presos políticos.

Em março de 1978, outra ação espetacular na Europa: O seqüestro do

primeiro-ministro italiano Aldo Moro, uma ação audaciosa que surpreendeu o mundo.

Moro acabou executado pelos terroristas, apesar dos apelos do Papa e da opinião

pública internacional.

1.2.10 Terrorismo Xiita

No final dos anos 70, o terrorismo ganhou um novo ingrediente religioso,

com a ascensão dos muçulmanos xiitas no Irã, em janeiro de 79. Sob o comando do

Aiatolá Khomeini, os xiitas derrubaram a ditadura do Xá Reza Pahlevi e implantaram

um sistema que fugia à lógica dos dois blocos econômicos, liderados por Estados

Page 33: Monografia benedito lauro_da_silva

32

Unidos e União Soviética. A partir da revolução iraniana, foi implantado um sistema

de governo guiado por convicções religiosas radicais e inflexíveis. Khomeini

inaugurou a chamada "Jihad" em nossos dias, a Guerra Santa contra o Grande Satã,

representado pelo mundo não xiita. Daí para a prática do terrorismo foi um passo. O

inédito nessa história era o caráter oficial do terror, assumido claramente pelo regime

dos Aiatolás.

A primeira demonstração radical de Khomeini foi em novembro de 1979

quando com o apoio do governo, estudantes iranianos invadiram a embaixada norte-

americana em Teerã, fazendo 66 reféns. Eles queriam a extradição do Xá Reza

Pahlevi, em tratamento de saúde nos Estados Unidos. Foi o início de uma longa

crise entre os dois países. Mesmo com a morte de Pahlevi em julho de 1980, vítima

de câncer, os estudantes não desocuparam a embaixada. O impasse prejudicou a

campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que

acabou derrotado pelo candidato republicano Ronald Reagan. Foram 444 dias de

expectativa. Em 20 de janeiro de 1981, dia da posse do novo presidente dos

Estados Unidos, os iranianos finalmente libertaram os reféns norte-americanos. Até

hoje são obscuras as condições sob as quais o presidente Reagan negociou o fim

da crise.

Além da vitória de Khomeini no Irã, outro elemento viria a fortalecer a causa

dos xiitas: a reação à invasão do Afeganistão pelos soviéticos, em dezembro de 79.

Os afegãos, em sua maioria de fé muçulmana, sentiram sua religião ameaçada pela

presença do exército soviético. Vários grupos guerrilheiros proclamaram uma 'guerra

santa' contra o invasor.

Page 34: Monografia benedito lauro_da_silva

33

Com a revolução no Irã e a resistência dos rebeldes afegãos, a "Jihad" ficou

conhecida no Ocidente e ganhou força junto à população muçulmana de todo o

mundo. O apelo foi reforçado, em fevereiro de 89, com a sentença de morte

proferida por Khomeini contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro

"Versos Satânicos", considerado blasfemo pelos Aiatolás do Irã. Caçado pelos xiitas,

Rushdie passou a viver escondido na Inglaterra, sob proteção da Scotland Yard, a

polícia britânica.

1.2.11 Terrorismo no Líbano

No começo dos anos 80, o Líbano tornou-se palco de inúmeros atentados.

Várias facções disputavam o poder apoiado por países vizinhos, especialmente,

Síria e Israel. A existência de áreas de refugiados palestinos na capital Beirute

aumentava a tensão e o clima de guerra civil. Uma das organizações acusadas com

mais freqüência de terrorismo era a OLP. Na tentativa de capturar ou eliminar o líder

Yasser Arafat e destruir bases militares palestinas, forças israelenses invadiram o

Líbano, em junho de 82. Durante vários dias, a capital libanesa transformou-se num

inferno. Milhares de civis foram mortos, entre eles mulheres, velhos e crianças. Os

israelenses não encontraram Arafat, mas expulsaram a OLP e deixaram o Líbano

em ruínas.

Em setembro de 82, falanges cristãs libanesas, apoiadas por Israel,

atacaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute.

Mais de 2.500 civis palestinos e libaneses desarmados foram mortos. O massacre

chocou a opinião pública internacional. Foi nesse clima extremamente tenso que se

multiplicaram os grupos terroristas no Líbano nos anos 80.

Page 35: Monografia benedito lauro_da_silva

34

A ação terrorista mais famosa dessa época aconteceu em 83, quando dois

atentados simultâneos mataram mais de 250 fuzileiros navais americanos e mais de

50 soldados franceses, em Beirute. Mas os xiitas de Khomeini e os militantes de

grupos fanáticos, como o Hamas e o Hezbollah, não limitaram seus ataques ao

Oriente Médio: em nome da Guerra Santa, eles organizaram vários atentados na

Europa e nos Estados Unidos.

1.2.12 Fim da Guerra Fria: O Terrorismo Reflui

No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria e a abertura do diálogo no

Oriente Médio e na Irlanda do Norte fizeram o terrorismo refluir um pouco, abrindo

mais espaço para a negociação. Um sintoma dessa trégua foi à prisão, em 1994, de

Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado do mundo.

O venezuelano Ilitch Ramirez Sanchez, nome verdadeiro do Chacal, foi

preso em agosto de 94 por agentes do serviço secreto francês. O terrorista, que agia

por dinheiro, é acusado da morte de 93 pessoas e de ferimentos em outras

duzentas, em 20 anos de atividades. Infelizmente, a prisão de terroristas famosos e

até mesmo o término da Guerra Fria não puseram um fim ao terrorismo

internacional, que continua transformando a vida de pessoas inocentes num

pesadelo, em diversos lugares do mundo.

No Oriente Médio, extremistas matam e ferem para tentar atrapalhar as

negociações de paz entre Israel e os palestinos. Na Grã-Bretanha, grupos radicais

do IRA também apavoram inocentes, procurando reacender a violência dos anos 70.

E aqui e ali, fanáticos religiosos passam dos limites em nome do apocalipse. Talvez

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35

a conclusão mais importante a que podemos chegar no final do programa de hoje é

a de que o terror gera o terror. Muitas vezes os governos gostam de taxar seus

inimigos de terroristas, mas se esquecem de suas próprias responsabilidades. O

terror existe e cresce sempre que o diálogo é impossível. E nunca o diálogo foi tão

sufocado como no período da Guerra Fria.

1.3 MOTIVAÇÕES DO TERRORISMO

A IP – 1 – PM14 da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, descreve que

são vários os fatores motivadores dos atentados terroristas, mas que os principais

são alavancados por fatores políticos, religiosos, criminosos e psicopatológicos.

A motivação política é aquela resultante de conflitos entre nações ou entre

lutas políticas internas, como a guerra revolucionária e insurreições.

A motivação religiosa diverge da anterior à medida que resulta de conflitos

étnicos, sociais ou religiosos, sendo que esse tipo de terrorismo pode ser

considerado o mais violento e perigoso, devido aos extremos de fanatismo

provocados por determinados grupos religiosos e a doutrinação feita em seus

seguidores.

A motivação criminosa resulta de conflitos sociais e policiais entre classes

marginais, narcotráfico e o crime organizado, podendo ser considerado também os

14. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo, CSM/Mln, artº 4º. 1996.

Page 37: Monografia benedito lauro_da_silva

36

casos de vingança e crimes isolados cuja repercussão motivem indiretamente o

terrorismo.

Nessa linha, encontramos, por fim a motivação psicopatológica que é

resultante de distúrbios psicológicos individuais, que motivem uma pessoa a

provocar atos de terror sem um motivo específico.

SALVATIERRA15 diverge da idéia acima, a medida que entende serem três

as motivações do terrorismo quais sejam, o racional, o psicológico e o cultural.

1.4 PERFIL DOS CAUSADORES DE AMEAÇA EM TERMOS GLOBA IS

A Instrução Provisória IP – 1 – PM16, estabelece que não existe um perfil ou

padrão pré-determinado para identificar uma pessoa terrorista.

Porém, três fatores são característicos em todos os terroristas já

identificados ou detidos: Inteligência - São detentores de grande cultura e elevada

inteligência. Raramente se identificam terroristas pouco cultos, com exceção de

elementos úteis ou agentes de manobra. Fanatismo - São crentes em determinada

causa política, social, religiosa, etc. e acreditam que seus atos são as únicas formas

de atingir os objetivos a que predispõe a lutar ou defender. Desprezo à Vida - Não

possuem nenhum vínculo ou respeito com a vida das pessoas ou com sua própria

15 SALVATIERRA, Cesar Cisneros. Terrorismo Internacional . Lima – Perú. <http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml> Acesso em 10.02.06. 16 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo, CSM/Mln, artº 5º. 1996.

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37

vida, não se importando com os resultados de seus atos. Quanto menos respeito ou

vínculo com a vida humana tiver o terrorista, mais perigoso ele será.

1.5 TIPOS DE TERRORISMO

São três os mais importantes tipos de terrorismo, quais sejam,

Narcoterrorismo, Nuclear e de Estado.

1.5.1 Narcoterrorismo

É chamado desta maneira por conta do uso do tráfico de drogas para

promover os objetivos de determinados governos e organizações terroristas. O

narcoterrorismo atenta contra os direitos humanos, especialmente, contra o direito à

vida e à integridade física; a tranqüilidade e a honra; à participação política, à

liberdade de expressão e da comunicação, isso, para mencionar somente os mais

prejudicados.

Atualmente, os jovens constituem o segmento da parte da população mais

afetada pela droga, pelo crime e pela violência, sabendo disso, as organizações de

narcotraficantes assediam-nos e utilizam seus serviços para alcançar os seus

objetivos.

Motivo pelo qual em setembro de 1989, antes do Congresso Geral da ONU,

o representante Colombiano propôs um “Plano de ação global de combate à droga e

ao narcoterrorismo”.

Page 39: Monografia benedito lauro_da_silva

38

1.5.2 Terrorismo Nuclear

Este tipo de terrorismo será um dos mais preocupantes para a aldeia global

nos próximos anos. A Ex-União soviética é a principal fonte dessa preocupação, pois

nessa região podem ser encontrados resíduos de armas nucleares.

Evitar o tráfico ilegal de material radioativo é muito importante porque essas

substâncias podem receber destinação militar na mão de terroristas e porque

podem, também, produzir um desastre sanitário.

Nesse diapasão, vemos as Estações Nucleares como prováveis alvos

futuros de atentados terroristas.

Durante os últimos anos, o mundo sentiu o aumento de atentados terroristas.

Tanto é verdade que em agosto de 1994, logo depois do ataque a Asociación Mutual

Esraelita Argentina – AMIA, situada em Buenos Aires, o Instituto de Controle Nuclear

dos Estados Unidos encaminhou uma recomendação para todas suas estações

advertindo-as quanto a real ameaça terrorista, recomendando a construção de

defesas de concreto contra possíveis ataques com carro-bomba.

1.5.3 Terrorismo de Estado

O uso sistemático, por parte do Governo de um Estado de ameaças e

retaliações, incluídas ilegalmente em sua legislação, com a finalidade de impor a

obediência e colaboração ativa da população é característica do Terrorismo de

Estado.

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39

Entretanto, por sua natureza, o Terrorismo de Estado é de difícil

identificação e conceituação, por seus traços variarem de acordo com a época

histórica, região e cultura.

Os regimes despóticos do passado usaram freqüentemente práticas deste

tipo, todavia, tais práticas são condenadas pela democracia moderna. Tendo esse

tipo de terrorismo, como exemplos mais fortes o Fascismo e o Comunismo,

ocorridos no século XX.

Entretanto, vemos que a prática do terror pelo poder estatal se estendeu por

todo século XX, tanto em regimes militares ou militarizados como em democracias

formais.

Os regimes totalitários foram caracterizados por um monopólio de meios de

comunicação, imposição de ideologias monolíticas, de exigência não somente de

obediência mas de participação ativa nas ações policiais de interesse do Estado, e

de um instrumento de polícia e de campos de concentração secretos com vista a

eliminar adversários e dissidentes. Os líderes potenciais da oposição eram presos,

exilados ou assassinados.

Freqüentemente, os tentáculos do instrumento do Estado se estendem até o

estrangeiro e atacam os inimigos que estão exilados, como por exemplo, no

assassinato de Liev Trotski ocorrida no México pelas mãos de agentes stalinistas.

Não raras vezes, integrantes de muitas organizações nacionais de

segurança e informação usam de métodos ilegais para enfrentarem adversários,

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40

tanto dentro como fora do país. O que diferencia estes episódios de um sistema

onde se aplique o terrorismo de estado é a importância da operação e do endosso

total do líder da classe. De fato, os instrumentos do terror de estado e do partido no

governo são geralmente relacionados de uma maneira indissociáveis.

O sistema acima termina freqüentemente por destruir os elementos de sua

própria cúpula, como aconteceu ao líder Ernst Röhm, chefe da Seção do Assalto

(SA), e ao chefe da polícia secreta soviética Lavrenti Beria, executado pelas

mesmas organizações que criaram ou dirigiram.

Em um outro plano, alguns regimes recorreram a meios extralegais para

eliminar elementos específicos da população, em especial delinqüentes.

1.6 CARACTERÍSTICAS DO TERRORISMO INTERNACIONAL

As Características chaves do terrorismo internacional são:

• Violência indiscriminada - estendendo seus efeitos a totalidade da

população;

• Imprevisibilidade – utiliza o fator surpresa;

• Imoralidade - produz sofrimento desnecessário às áreas mais

vulneráveis.

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41

• É indireto – desvia o foco da população para um ponto diferente do

alvo que pretendem atingir;

Sabe-se que o terrorismo o internacional é um das formas de violência mais

difíceis de conter.

Agora, enalteceremos alguns eventos promovidos por atos terroristas, com

vista demonstrar as tragédias causadas:

• A 17 de março de 1992, um carro bomba explode na Embaixada

de Israel em Buenos Aires, tendo um saldo de 29 mortes e 250 feridos;

• Em fevereiro de 1994 uma bomba explode no Mercado Central

de Sarajevo, tendo um saldo de 66 mortes;

• A 4 de fevereiro de 1994, três granadas caíram em Dobrinja nas

pessoas que fizeram em uma fila de distribuição de alimento.

• Na cidade japonesa de Tókio, a 20 de março de 1995 foi lançado

o gás Sarín no metrô, tendo como resultado, 11 mortos e 5000 feridos;

• E.T.A. atenta contra o presidente Jose Maria Aznar, em Madrid a

19 de abril, este ataque deixou 15 pessoas feridas;

• Nos Estados Unidos, a 27 de julho 1996 explode uma bomba no

Parque Olímpico, ocasião em que morreram 2 e se feriram 111 pessoas;

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42

1.7 TERRORISMO NO BRASIL

As ações terroristas de 11 de setembro não modificaram a estrutura das

relações internacionais, contudo, pode-se afirmar que a dinâmica internacional

sofreu profundas alterações. Para entender qual o papel brasileiro dentro das

relações internacionais neste novo contexto, devemos analisar como o país

reagiu aos atos de terror. O fundamental xadrez da diplomacia tomou contornos

muitos definidos e extremamente importantes na nova agenda internacional.

Antes de analisar a posição adotada pelo Brasil, devemos analisar o

fenômeno do terrorismo dentro de sua abrangência legal. No Direito

Internacional existe, embora de forma tímida, alguns tratados que discipline os

atos de terror. O sistema internacional antiterrorista é formado por uma rede de

convenções especializadas que versam desde a proteção física de materiais

nucleares até o apoderamento ilícito de aeronaves. Destas, nem todas o Brasil é

signatário. Algumas ainda se encontram em estudo no executivo e outras em

tramitação no Congresso Nacional.

As Nações Unidas perceberam o perigo que representava o regime

Talibã ainda em 2000, quando emitiu a resolução 1333, de 19.12.200 em que

conclama o bloqueio de recursos de Osama Bin Laden, bem como proíbe a

venda de armas para o regime Talibã. O Brasil internalizou esta resolução

mediante o decreto 3755 de 19.02.2001. Além desta, a ONU, em 30.07.2001,

emitiu outra resolução, de número 1363, em que declara a ameaça da paz na

região em razão do Afeganistão. Após os atentados, foram emitidas as

resoluções 1368 (12.09.2001) e 1373 (28.09.2001) que reconhecem o direito de

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43

resposta individual ou coletiva e versam sobre meios de evitar e suprimir ações

terroristas.

No Brasil, após a manifestação de repulsa do presidente Fernando

Henrique Cardoso as ações terroristas, a posição diplomática foi à convocação

do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, mais conhecido como Tiar

(vale lembrar que o Tiar não é classificado com um tratado antiterror, mas de

cooperação) que apesar de ser um instrumento da guerra fria, no momento, foi

aquele que forneceu o respaldo jurídico internacional necessário para a posição

brasileira. Assim, na reunião extraordinária da OEA, onde se reuniu o órgão de

consulta do Tiar, em 21 de setembro, foi aprovada uma resolução acerca da

“ameaça terrorista nas Américas”. Neste momento, o Brasil, convocando um

tratado de identidade múltipla internacional, mostrou uma posição de liderança e

mobilização na região, além de preocupação com a legitimidade jurídica de sua

posição.

Enquanto a ação militar aliada foi se desenvolvendo no Afeganistão em

busca da organização terrorista Al Qaeda, o Brasil declarou, por intermédio do

Chanceler Celso Lafer, que o país entende o exercício de autodefesa via as

ações militares americanas, entretanto, espera que sejam circunscritas e

limitadas. Na mesma linha, o presidente Fernando Henrique Cardoso discursou

na Assembléia Nacional da França. Já nos Estados Unidos, o Presidente, em

conversa com George W. Bush, defendeu ainda uma maior inclusão dos países

em desenvolvimento nas tomadas de decisões internacionais, especialmente no

Conselho de Segurança das Nações Unidas e no Grupo dos 8.

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44

Como podemos perceber, o Brasil possui uma preocupação em agir

dentro dos meios legais com vistas a justificar suas posições. Neste sentido,

acredita que todos os meios para combate ao terrorismo devem estar no âmbito

da carta da ONU ou respaldado pelo Direito Internacional. O dia 11 de setembro

inaugurou um novo tipo de terrorismo, com uma característica transnacional e

multilateral. Penso que, talvez, para enfrentar este novo inimigo, novos

instrumentos legais devem ser adotados, assim como uma possível definição

acerca do terrorismo. O Brasil, seguindo o amparo das leis internacionais e da

ONU, está trilhando um caminho digno dos países de tradição democrática e

respeito às leis.

1.8 CLASSIFICAÇÃO DO TERRORISMO NO BRASIL

Segundo Leão17, no Brasil pode-se classificar o terrorismo em três distintas

categorias, a saber: Subversivo, De Estado e Criminoso.

O Terrorismo Subversivo ou Terrorismo Revolucionário compreende os atos

de terrorismo praticados pelos grupos políticos subversivos contra o Estado, durante

o período do regime militar, com intenções de promover a guerra revolucionária.

Já o Terrorismo de Estado, também conhecido como Terrorismo Repressivo,

compreende os atos praticados por grupos de extrema direita e por órgãos

governamentais, de forma legal, contra pessoas suspeitas de serem subversivas e

contra a população como forma de desinformação, durante os períodos do regime

militar e da abertura da política.

17 LEÃO, Décio J. A. Doutrina para Operações Antibomba. São Paulo, p. 216. 2000.

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45

Por fim, o Terrorismo Criminoso compreende o emprego sistemático de atos

de terror para fins de ganho material privado, como roubos, tráfico de drogas,

domínio de áreas, extorsões. Também devem ser incorporadas, nessa categoria, os

atos do chamado Terrorismo Subrevolucionário, que constituem em empregar o

terror por motivos políticos outros que não a revolução ou a repressão

governamental, como, por exemplo, forçar o governo a aprovar determinadas

políticas ou projetos, vinganças, atentados contra instituições ou autoridades

específicas, confronto entre organizações e outras ações de caráter regionalizado ou

particularizado.

1.9 NEOTERRORISMO BRASILEIRO

Encerrando o período denominado “Ditadura Militar”, final da década de 70,

início dos anos 80, com o significativo empenho dos últimos presidentes militares em

preparar o país para a abertura política, auxiliados pelo “Movimento Diretas Já”, e

com a quebra do monopólio dos únicos partidos políticos brasileiros (a Aliança

Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB),

houve a eleição de um presidente civil, por meio do processo eletivo direto; antiga

aspiração dos políticos e da população brasileira, dando início à reforma política.

Surgiu, então, um novo panorama político com a criação de inúmeros novos

partidos.

Assim, aqueles que em anos anteriores pregavam a luta armada, a violência

e todos os artifícios inerentes ao extremismo subversivo para a tomada do poder,

incluindo os atos de terrorismo, alteraram bruscamente o seu modo de agir,

adotando métodos e estratégias diversas daquelas usadas pelas organizações

Page 47: Monografia benedito lauro_da_silva

46

subversivas do passado; porém, mesmo assim, continuaram a ocorrer atentados a

bombas, dessa vez, idealizados e praticados por seguimentos descontentes com a

abertura política que se avizinhava; ao estilo do atentado ocorrido no Riocentro em

1981.

Portanto, alguns dos requisitos dos “Anos de Chumbo”, permaneceram

incrustados, tanto do lado militar como no da sua oposição, levando muitos dos

ativistas subversivos da época, os terroristas, denominados de “presos políticos”, a

cumprirem suas penas privativas de liberdade em estabelecimentos prisionais

destinados a criminosos comuns. Esse fato gerou um novo tipo de delinqüente; mais

esclarecido, mais politizado, mais sofisticado e violento; adepto ao uso dos requintes

de crueldade, com conhecimento de técnicas e táticas militares, de guerra não

convencional e explosivos.

Surgiu então, de forma embrionária, no Presídio Estadual de Ilha Grande no

Rio de Janeiro, no final dos anos 70, um novo segmento de atividade criminal, o

“crime organizado”, que teve como sua primeira facção criminosa a “Falange

Vermelha”, precursora das modernas organizações criminais brasileiras da

atualidade, como o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Comando Vermelho

Jovem, no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital e suas dissidências em

São Paulo.

Considerando o advento da “globalização” e o crescente acesso às

informações, a atividade criminal também foi influenciada por esse fenômeno,

aliando-se ao processo de banalização da violência. Foi apoiada e muitas vezes

patrocinada por organizações criminosas internacionais, “cartéis e máfias”, atuantes

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47

nos ramos do narcotráfico, contrabando de todo gênero, principalmente o de

material bélico, falsificação e lavagem de dinheiro, entre outros.

Conseqüentemente, houve o surgimento do crime organizado brasileiro,

composto basicamente das citadas organizações, atuante em inúmeros setores da

sociedade nacional, ligado a narcotráfico, roubo a bancos, roubo a cargas e roubo a

automóveis, seqüestros, contrabando e desvio de verba pública e toda sorte de

delitos.

A marginalidade continuou a sofisticar-se e organizar-se a tal ponto, que,

ultimamente se constata a generalização do uso indiscriminado de bombas,

explosivos e engenhos militares, em diversos casos de roubos, seqüestros,

extorsões, rebeliões, fugas em estabelecimentos prisionais e confrontos com os

órgãos de segurança. A aquisição de equipamentos e armamentos modernos é uma

das máximas dessas organizações, pois, assim, demonstram sua ascendência e o

seu poder perante o mundo do crime, da sociedade organizada e do poder

constituído.

A preocupação com a modernização e estruturação do crime chega às raias

do perfeccionismo, prevendo não só toda a logística e os equipamentos de

comunicação, como o treinamento, ministrado em muitas ocasiões por um “exército

de mercenários”, constituídos de ex-integrantes das Forças Armadas e ex-policiais;

ou, até mesmo, por corruptos integrantes da ativa desses contingentes.

O crime organizado, a exemplo dos movimentos terroristas, utiliza sua força

e estrutura para intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades

Page 49: Monografia benedito lauro_da_silva

48

constituídas, a fim de atingir suas metas; gerando o pânico e a sensação de

insegurança, objetivos clássicos do terrorismo. Portanto, pode-se afirmar que o

terrorismo está presente no território brasileiro, não em sua forma mais tradicional,

do fanatismo irracional e do radicalismo, inerentes aos atuais grupos “Xiitas” ultra-

radicais de orientação religiosa ou política, mas criminoso, violento, impetuoso e

sanguinolento, adaptado à realidade criminal e aos costumes brasileiros, à

ineficiência da lei penal e à ineficiência do falido sistema carcerário vigente.

1.10 OS INCIDENTES COM BOMBAS NO TERRITÓRIO BRASILE IRO

No Brasil, atentados terroristas de grandes proporções nunca foram

registrados, no entanto, o país já possui um razoável histórico de incidentes com

bombas, apesar de ser considerado um país pacifista. O período no qual o

terrorismo merece destaque insere-se no transcorrer das décadas de 60 e 70, época

áurea dos governos militares e momento no qual a luta armada, os movimentos

subversivos e as guerrilhas urbana e rural intensificaram-se contra o governo.

Houve, nessa época, combates fervorosos dos militares, que reprimiram

com vigor os movimentos subversivos. Nesse período, tornou-se comum à

realização de inúmeros atos de violência em nome da luta pelo poder e da conquista

dos direitos políticos, com a prática de roubos a unidades militares, bancos, veículos

de transporte de valores, atentados à bomba, seqüestros de todo gênero e diversos

homicídios contra integrantes das Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública.

No que concerne aos incidentes envolvendo explosivos ou bombas,

ocorridos em território nacional nos últimos 25 anos, é notória a ocorrência de

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49

centenas deles; todavia, pode-se ressaltar que apenas uma pequena parcela do

total do seu universo foi colocada em evidência, ocupando maior destaque na mídia.

Até 1981, ocorreram com maior freqüência os de cunho eminentemente político e

com caráter subversivo, posteriormente, eclodiram as intercorrências relacionadas

com atos criminosos (modalidade moderna de delito, com o uso de explosivo para o

cometimento de outro crime, como a sabotagem, a extorsão, o roubo, o furto) e o

vandalismo, promovidos por motivos fúteis, com o objetivo exclusivo de causar

danos (modalidade muito utilizada atualmente).

De 1966 até 1981, foram divulgadas pela imprensa, com relevância, 11

explosões de bombas caseiras, destacando-se as ocorridas no Aeroporto dos

Guararapes, Recife, matando 2 pessoas e ferindo outras 14, cujo alvo era o

Presidente da Republica, em julho de 1966, e a explosão de um carro-bomba no

Comando do II Exercito, em junho de 1968, quando um soldado foi mortalmente

ferido.

Na década de 80, época da criação do GATE de São Paulo, houve grande

incremento aos incidentes com ameaças falsas e verdadeiras, além de várias

ocorrências envolvendo explosões, destacando-se as ocorridas no Riocentro, no Rio

de Janeiro, em 30 de abril de 1981, com a morte de um sargento do Serviço de

Informações do Exercito e, em junho de 1989, a ameaça falsa de bomba no Colégio

Pueri Domus, em São Paulo, quando as atividades escolares foram suspensas,

causando inúmeros embaraços.

Nos anos 90, principalmente com a eclosão da Guerra do Golfo, o número

de incidentes cresceu vertiginosamente na capital paulista. Houve centenas de

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50

ameaças falsas e verdadeiras, atentados a autoridades do Poder Executivo,

Legislativo e Judiciário, a companhias de aviação e inúmeras explosões, nos mais

variados locais e rincões do território brasileiro. Destaca-se, em 1991, a explosão no

Monumento ao Duque de Caxias em São Paulo, e o atentado contra o Juiz da 2ª

Vara Criminal, em Campos do Jordão, São Paulo. Em 1995, destacou-se o atentado

praticado no anexo do Itamaraty e, em julho de 1997, o incidente com o Focker 100

da TAM.

Em seguida, vários outros incidentes se sucederam: a destruição de duas

estações repetidoras da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e

das torres de transmissão de energia elétrica da bi-nacional de Itaipu, na região Sul,

em 1988; culminando, finalmente, com os incidentes de 2000 e 2001, cabendo

destacar o atentado na Seção Paulista da Anistia Internacional, a explosão no

Fórum Criminal João Mendes, no Ministério da Fazenda e no Posto Policial do

Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN), em São Paulo, sempre

demonstrando maior grau de ousadia e sofisticação, denotando a chegada da

especialização no submundo do crime.

Page 52: Monografia benedito lauro_da_silva

51

2 ASPECTOS LEGAIS

Como a prática do terrorismo se expressa sob diversas formas, demanda

uma meticulosa análise para estabelecer uma perfeita definição jurídico-penal, uma

vez que muitas dessas ações são idênticas aos crimes que estão preconizadas de

forma autônoma, como homicídio, lesões graves, extorsões, explosão, incêndios,

seqüestros, genocídios, entre outros. Desta forma para uma perfeita tipificação

quanto à prática desse crime deve-se buscar subsídios no Direito Internacional para

o perfeito entendimento quanto a incriminação dessa conduta.

2.1 DIREITO INTERNACIONAL

Desde a sua criação a Organização das Nações Unidas - ONU, baseando-

se nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Carta Internacional

dos Direitos do Homem, tem elaborado diretrizes internacionais em matéria de

prevenção do crime e justiça penal. Dentre os princípios e propósitos da Carta das

Nações Unidas de 1945, está a manutenção da paz e a segurança internacional,

tomando coletivamente medidas efetivas para resolver problemas de âmbito

internacional de caráter econômico, social, cultural ou humanitário. Define a Carta18

que cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a recomendação ou

medidas a serem tomadas com a finalidade de manter ou restabelecer a paz e a

segurança internacional, que poderão incluir a interrupção completa ou parcial das

relações econômicas, dos meios de comunicação e transportes e o rompimento das

relações diplomáticas.

18 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional . 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 42. 2005.

Page 53: Monografia benedito lauro_da_silva

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A Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em

Delitos Contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, Quando Tiverem Eles

Transcendência Internacional de 197119, define que os Estados Contratantes

obrigam cooperar entre si, tomando medidas que visem à prevenção e punição dos

atos de terrorismo, em especial os atentados contra a vida e a integridade das

pessoas, a quem o Estado deve proteger.

Preocupada com o aumento, em escala mundial, das mais diversas formas

das ações terroristas, dentre elas a utilização de explosivos e bombas, a Convenção

Internacional Sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas de 1988,

nos seus artigos 2º e seguintes20, define como praticante do crime de terrorismo em

nível internacional, qualquer pessoa, que de forma ilícita e intencionalmente utiliza

de explosivo ou outra substância mortífera em logradouro público, em instalação

estatal ou governamental, em sistema de transporte público ou uma instalação de

infra-estrutura com a intenção de causar mortes, graves lesões e destruição ou

possa causar grande prejuízo econômico. Destaca ainda a Convenção que também

constitui crime a forma tentada destes atos, bem como a organização e direção,

participação e contribuição para essa atividade.

O Brasil na condição de Estado-membro da ONU deve reafirmar o seu

compromisso em respeitar os tratados internacionais existentes e sua adesão aos

princípios descritos na Carta das Nações Unidas e em outros instrumentos

internacionais relevantes, tomando medidas jurídicas e procedimentos eficazes de

prevenção e repressão contra a prática terrorista.

19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional . 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 121. 2005. 20 Idem, p. 171 e 172.

Page 54: Monografia benedito lauro_da_silva

53

2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal21 em seu artigo 4º, inciso VIII, destaca que as

relações internacionais da República Federativa do Brasil reger-se-ão pelo repúdio

ao terrorismo e ao racismo. Em seu artigo 5º, inciso XLIII, ainda acerca do terrorismo

preconiza que a prática constitui crime inafiançável e insuscetível de graça ou

anistia, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-

los, se omitirem. Este artigo constitucional possui sua eficácia limitada, uma vez que

necessita de uma legislação infraconstitucional para que sua eficácia se produza.

2.3 LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

Lei nº 7.170 de 14 de dezembro de 198322. Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter

em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.

Pena – reclusão, de 3 a 10 anos.

Atualmente este texto legal trata o terrorismo como crime dando

entendimento que trata-se de ações com objetivos políticos de infringir a ordem

democrática ou causar danos ao Estado democrático. Juristas entendem que o texto

acima encontra-se descrito de forma confusa e ambígua, insuficiente para

estabelecer uma perfeita definição jurídica do terrorismo, havendo a necessidade de

criação de uma lei que defina objetivamente, de forma clara e precisa, a conduta do

terrorismo.

21 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 20 e 21. 2003. 22 Idem, p. 673.

Page 55: Monografia benedito lauro_da_silva

54

2.4 CÓDIGO PENAL

Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940.

2.4.1 Incêndio

Art. 250. Causar incêndio, expondo a vida, a integridade física ou

patrimônio de outrem. Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa23.

O objeto jurídico desta norma visa a proteção da incolumidade pública, no

entanto se faz necessário que haja perigo concreto na provocação do fogo, e não

risco presumido.

2.4.2 Explosão

Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.

Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa24.

Esta norma visa a proteção da coletividade diante da ameaça ou emprego

de engenhos de dinamite, bomba, artefato ou aparato de dinamite. Assim como no

crime de incêndio, deve ser demonstrado o perigo concreto.

2.4.3 Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante

Art. 252. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante.

23 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 343. 2003. 24 Idem, p. 343.

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55

Pena – reclusão, de uma a quatro anos e multa25.

Aqui visa a proteção da vida, da saúde e do patrimônio das pessoas,

havendo a necessidade de existir perigo efetivo ou concreta contra quaisquer

pessoas, em decorrência do uso de gás tóxico ou asfixiante capaz de expandir-se

indefinidamente, preenchendo o recipiente que a contém.

2.4.4 Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Tr ansporte de Explosivos

ou Gás Tóxico, ou Asfixiante

Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa26.

As condutas alternativamente previstas nesta norma visam proteger a

incolumidade pública do perigo que representam os explosivos, gases tóxicos ou

asfixiantes. Diante da falta da licença da autoridade competente, aqui não se faz

necessário o perigo em concreto, bastando apenas a demonstração do perigo em

abstrato para a aplicação da norma penal.

2.5 LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

Decreto-Lei 3.688 de 03 de outubro de 194127. Falso Alarma Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo

inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto. Pena – prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa.

25 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 344. 2003. 26 Idem, p. 344. 2003. 27 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado . 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 586. 1991.

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56

Esta lei visa proteger o sentimento de segurança da coletividade e a

tranqüilidade pessoal em decorrência que um falso alarma possa provocar temor

generalizado nas pessoas.

2.6 CÓDIGO PENAL MILITAR

Decreto-Lei 1.001 de 21 de outubro de 1969. 3.5.1 Explosão28 Art. 269. Causar ou tentar causar explosão, em lugar sujeito à

administração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.

Pena – reclusão de até 4 anos.

A norma castrense visa proteger a incolumidade das pessoas e o patrimônio

sob administração militar, em decorrência da tentativa ou ação de explosão.

2.7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

LEI 8.069 de 13 de julho de 199029. Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar de

qualquer forma, à criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo. Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de

qualquer forma a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aquele que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida.

Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa.

Visa o legislador proteger a criança e o adolescente em decorrência de sua

fragilidade e vulnerabilidade, estando mais sujeitos a riscos de incidentes com

bombas e explosivos em decorrência do desconhecimento informativo e técnico

sobre artefatos, quanto as suas propriedades e funcionamento.

28 LAZZARINI, Álvaro. Código Penal Militar, Código de Processo Penal Mili tar, Estatuto dos Militares e Constituição Federal . 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 341. 2003. 29 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 706. 2003.

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2.8 DIRETRIZ DE AÇÃO OPERACIONAL DA PMMT

D.A.O nº 026/PM-3/96 de 25 de abril de 1996.

Acerca das ocorrências envolvendo bombas, no ano de 1996 a PMMT

estabeleceu normas de procedimento através da Diretriz de Ação Operacional nº

026/PM-3/9630, visando padronizar procedimentos relativos a atendimento de

ocorrências que impliquem no isolamento, retirada, desmonte ou desativação de

bombas e outros mecanismos explosivos. Trata-se da pioneira iniciativa registrada

até o momento na PMMT, sendo que esta Diretriz de Ação Operacional encontra-se

atualmente em vigor.

Estabeleceu que os objetivos prioritários de ação para o pessoal PM e BM

que denunciem a presença de bombas ou artefatos explosivos, deverá ter em vista,

exclusivamente, a evacuação do local, o isolamento do prédio e o auxílio ao pessoal

técnico especializado das Instituições Polícia Federal, Forças Armadas ou Polícia

Civil, considerando que a Polícia Militar não possuía especialistas em explosivos.

Esta Diretriz de Ação Operacional enfatiza não admitir iniciativas por parte

do pessoal da Polícia Militar visando tentativa de desmonte ou desativação de

bombas, sendo tal tarefa exclusiva dos especialistas da Polícia Federal, das Forças

Armadas ou da Polícia Civil, de acordo com a disponibilidade na área. Pela Diretriz

restou aos policiais militares concentrar seus esforços no sentido de proporcionar

segurança às pessoas que habitam, trabalham ou por qualquer motivo estejam no

local, além de oferecer todas as condições necessárias de segurança e proteção

aos técnicos, encarregados da desativação do artefato explosivo.

30 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. Diretriz de Ação Operacional nº 026/PM-3/96.

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58

Trazendo para a atual realidade, as assertivas prescritas nesta Diretriz não

correspondem com os atualizados estudos feitos por especialistas em explosivos e

bombas, cujos procedimentos padrão estaremos elencando nos próximos capítulos

desta pesquisa.

Hoje no BOPE há policiais militares com treinamento em explosivos, com

destaque ao Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir31 que, embora não sejam

explosivistas, de posse desse conhecimento, já atuaram em ocorrências desse nível,

obtendo êxito nas operações.

31 O Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir pertencem à Companhia de Operações Especiais do BOPE. Ambos possuem o curso de Operações com Explosivos realizado na Academia de Polícia Civil de Mato Grosso, tendo como instrutor o Cap PM Tabanez da PMDF. O Cap PM Oliveira possui ainda o curso de Explosivos Não Convencionais oferecido pela IMBEL.

Page 60: Monografia benedito lauro_da_silva

59

3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO

Neste capítulo estão demonstradas ocorrências dos últimos cinco anos

envolvendo bombas e artefatos explosivos em Mato Grosso. Algumas de grande

repercussão outras nem tanto. Necessário se faz conhecer essas ocorrências e

tecer comentários técnicos a respeito.

3.1 PRISÃO DO FORAGIDO MAURÍCIO DOMINGOS DA CRUZ, O “RAPOSÃO”

No ano de 2003, em operação conjunta, agentes do GCCO – Grupo de

Combate ao Crime Organizado e policiais militares do CIOE – Companhia

Independente de Operações Especiais realizaram a prisão do reeducando

conhecido pela alcunha de “Raposão”, fugitivo da Penitenciaria de Rondonópolis,

tendo sido encontrando em seu poder um revólver calibre .38 (trinta e oito), um

pistola calibre .40 (ponto quarenta), aparelhos celulares e sete bananas de

dinamites, conforme registrado na edição nº 10593 de 16 de abril de 2003 do jornal

Diário de Cuiabá32. A matéria jornalística enfatizou que as dinamites seriam

utilizadas para a explosão de um dos muros da Penitenciária da Mata Grande,

localizada no município de Rondonópolis, em Mato Grosso, cuja intenção era

resgatar o detento conhecido como “Sandro Louco”, além de outros dois presos

identificados como Daniel Rogério e Charles.

O detendo Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão” possui perfil criminoso

longa ficha na Justiça do Estado de Mato Grosso, pela prática de homicídios, tráfico

de drogas, liderança de rebeliões em presídios, fuga de presídios e delegacias,

participação em seqüestros-relâmpagos, roubos a estabelecimentos comerciais e

32 NEVES, Patrícia. Plano de resgate tinha até dinamite. Diário de Cuiabá . Cuiabá, 16 abr. 2003. Caderno Polícia.

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60

roubos de carros33. Em vários desses crimes agia em parceria com Sandro Rabelo,

o “Sandro Louco”.

3.2 EXPLOSÃO NO INTERIOR DE VEÍCULO EM CÁCERES

A edição n° 4513 de 22 de janeiro de 2004, do jorna l A Gazeta34, realizou

cobertura acerca de uma bomba caseira que explodiu no interior de um veículo no

bairro Vila Mariana do município de Cáceres – MT. Segundo a reportagem, além dos

danos no veículo, a detonação provocou rachadura na parede de uma casa vizinha,

no entanto, nenhuma pessoa feriu-se. O proprietário, Sr. Lênio Campos Coelho,

comerciante, disse não fazer idéia de quem poderia ter colocado a bomba para

destruir seu veículo, porque, segundo ele, não possuía inimigos.

O fato narrado nesta reportagem demonstra a facilidade que o criminoso tem

de se ocultar após a prática do delito. Apenas uma investigação pormenorizada

poderá levar ao autor do crime e sua motivação. Em casos de veículos, há várias

possibilidades para a colocação ou instalação de dispositivos para o acionamento de

bombas, através de abertura de portas, acionamento do motor ou qualquer

dispositivo elétrico do veículo.

3.3 INDIVÍDUOS PRESOS NO TERMINAL DO BAIRRO MORADA DA SERRA

A prisão, pela Polícia Militar, de dois indivíduos portando uma caixa de

munições calibre 22 (vinte e dois) e dois tubos contendo em cada um cerca de 50

gramas de pólvora, nas proximidades do terminal de ônibus do bairro Morada da

Serra, mereceu destaque do jornal A Gazeta em sua edição nº 4534 de 12 de 33 Informações obtidas através do banco de dados da Penitenciária Regional Pascal Ramos em fevereiro de 2006. 34 ALCÂNTARA, Sinésio. Bomba explode no interior de veículo e ninguém se fere. A Gazeta . Cuiabá, 22 jan. 2004. Caderno Cidades.

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61

fevereiro de 2004, cujos indivíduos foram encaminhados para a Delegacia

Metropolitana.

A pólvora, substância explosiva encontrada em poder dos indivíduos detidos

pode ser facilmente obtida em casas comerciais que vendem fogos de artifício. Pode

parecer inofensiva, no entanto, inúmeros são os casos de acidentes envolvendo tal

substância em decorrência da falta de cuidado no seu armazenamento e devido a

enorme sensibilidade ao choque e ao atrito, que em grande quantidade poderá

causar mortes ou graves lesões. Sua utilização comumente é utilizada na propulsão

de projeteis e pirotecnia.

3.4 FALSA BOMBA NO BAIRRO JARDIM PRIMAVERA

No bairro Jardim Primavera, em Cuiabá, uma suposta bomba foi pendurada

na grade de uma residência. O Batalhão de Operações Especiais, através da

Companhia de Operações Especiais se fez presente nessa ocorrência, isolaram o

local e por duas detonaram a suposta bomba, mediante técnica de contra-carga. Tal

fato foi publicado no jornal A Gazeta, edição nº 4560 de 10 de março de 200435. Em

entrevista ao jornal o Capitão Oliveira disse acreditar que quem fabricou a bomba

tinha noções do que estava fazendo, pois o artefato possuía os componentes

necessários para a fabricação da bomba, no entanto, para simular a dinamite foram

usados pedaços de cabos de vassouras envoltos em fios de energia e um relógio

despertador pequeno simulando o timer da bomba.

Nesta reportagem nota-se mais uma vez que o autor da confecção do

suposta bomba utilizou do anonimato e que este tinha conhecimento técnico da

35 BOMBA-relógio caseira dá susto em moradores. A Gazeta , Cuiabá, 10 mar. 2004. Caderno Polícia.

Page 63: Monografia benedito lauro_da_silva

62

fabricação de um artefato explosivo, uma vez que simulou artesanalmente todos os

dispositivos necessários para causar uma explosão. No entanto, ou não tinha o

material necessário ou apenas queria causar susto, pânico ou ameaça à moradora.

Policiais da COE utilizaram a técnica de neutralização do simulacro pela “contra-

carga”, ou seja, a explosão de um artefato gera forte onda de energia que

simultaneamente, por simpatia, causará a explosão do outro artefato.

3.5 VÂNDALOS ATEARAM FOGO EM MOTOCICLETAS NA CIRETR AN DE

RONDONÓPOLIS

Em 03 de outubro de 2004 indivíduos não identificados, encapuzados e

utilizando bombas incendiárias do tipo “Coquetel Molotov”, atearam fogo em quatro

motocicletas apreendidas que estavam no pátio da Ciretran do município de

Rondonópolis – MT, tendo o diretor da Ciretran classificado tais condutas como

“atentado terrorista”. O jornal A Gazeta edição nº 4763 de 04 de outubro de 200436

realizou a cobertura destes fatos.

Neste ataque criminoso a Ciretran de Rondonópolis, os “vândalos” utilizaram

artefatos explosivos improvisados denominados de bomba incendiária de fabricação

caseira, cuja finalidade a propagação do fogo. As bombas caseiras são de fácil

fabricação tendo em vista que são utilizados para sua confecção apenas uma

garrafa de vidro com tampa, combustível e fogo. O próprio peso da garrafa com o

combustível facilita o seu lançamento. Se adicionados a esse combustível, óleo

diesel e enxofre, aumentará a duração da queima e a intensidade do calor. É comum

36 WERNECK, Keka. Vândalos jogam bomba em motos. A Gazeta , Cuiabá, 04 out. 2004. Caderno Cidades.

Page 64: Monografia benedito lauro_da_silva

63

em vários países a utilização desse artefato, sobretudo em manifestações e

distúrbios.

3.6 BOMBA DEIXADA EM SUPERMERCADO DE COLÍDER

No município mato-grossense de Colíder, uma bomba foi deixada dentro do

guarda volumes de um supermercado, tendo o objeto sido encontrado por uma

funcionária dessa casa comercial37.

As primeiras providências desta ocorrência policial foram tomadas pela

Companhia PM de Colíder, cuja unidade policial subordinada ao 9º Comando de

Policiamento de Área. A notícia crime realizada através do boletim de ocorrência,

talão nº 386 de 29 de novembro de 2004, elaborado pelo Cb PM Weniel Perteli, teve

o seguinte registro em seu histórico:

Esta guarnição PM ao ser acionada pelo Sr. Jonas da segurança do super mercado Machado deslocou até o mesmo onde lá estava uma bomba tipo explosivo artesanal que ainda não se sabe a composição do explosivo, mas esta Gu PM ao perceber a gravidade do risco que corria as centenas de pessoas daquele local e por se sentir o responsável pela segurança dos cidadãos presente, pegamos a bomba e deslocamos até uma área mais isolada, chamando assim a autoridade policial, Delegado de Polícia, onde posteriormente assumiu o desenrolar da ocorrência.

Lavramos o B.O. e registramos na Del Pol Civil local para outras providências.

Em que pese a boa intenção e o zelo profissional do policial militar com a

segurança pública, aqui temos um flagrante relato do que não se deve fazer em

casos de localização de bombas. Não se trata de uma crítica, pelo contrário, uma

análise e demonstração do perigo a que o militar submeteu. Mesmo sem conhecer

qualquer característica da bomba e seu dispositivo de iniciação, policiais militares,

em situação de alto risco, removeram-na para um local aberto por medida de

37 PERITOS detonam bomba. A Gazeta , Cuiabá, 01 dez. 2004. Caderno Polícia.

Page 65: Monografia benedito lauro_da_silva

64

segurança. A primeira segurança a ser considerada nesses casos é a de vidas

humanas, inclusive a do policial. Qualquer remoção deve ser realizada com critérios

técnicos e por pessoal especializado.

Uma equipe técnica da Gerência de Operações Especiais da Polícia

Judiciária Civil foi designada para realizar a neutralização do artefato. O delegado de

polícia que esteve no local do crime destacou na reportagem que o construtor da

bomba possuía conhecimento técnico para sua construção, tanto que envolveu a

substância explosiva com materiais, como pregos, que auxiliariam no aumento do

dano.

Percebe-se, portanto, que não houve energia suficiente para a iniciação dos

dispositivos da bomba colocada no supermercado, fator julgado mínimo, mas

preponderante que, por sorte, evitou sérios danos.

3.7 BOMBA COLOCADA EM BANHEIRO DE ESCOLA EM CUIABÁ

Uma bomba caseira foi colocada no banheiro da Escola Estadual Padre

Ernesto Camilo Barreto, localizada no bairro Jardim Paulista em Cuiabá. A bomba

destruiu um vaso sanitário, bem como, causou enorme barulho que pôde ser ouvido

por vizinhos da escola. A edição nº 4900 de 24 de fevereiro de 2005 do jornal A

Gazeta38, tornou publico este fato.

Policiais da Gerência de Operações Especiais de Cuiabá atuaram nesta

ocorrência policial e, de acordo com delegado de polícia Carlos Cunha, o artefato

38 FAMA, Alex. Bomba caseira explode em banheiro de escola. A Gazeta . Cuiabá, 24 fev. 2005. Caderno Cidades.

Page 66: Monografia benedito lauro_da_silva

65

era de fabricação caseira e pelo estrago que fez tinha quantidade razoável de

pólvora.

Na reportagem o delegado explicou que a bomba era feita de pólvora negra,

usada na fabricação de “bombinhas’ e fogos de artifícios, e acionada por um pavio.

Ainda foi encontrado um relógio de pulso, mas segundo o delegado, o relógio foi

colocado lá para dar uma idéia de que seria uma bomba-relógio. Acerca da

motivação, supôs que algum aluno queira aparecer ou se vingar.

Nesta reportagem temos relatos da utilização de pólvora, em quantidade

considerável, que causou a explosão. O acionamento desse artefato se dá por

diversas formas, como dispositivos elétricos, atrito, cigarros e pavios. Diversos são

também os motivos para a colocação de explosivos em escolas, seja para chamar a

atenção, paralisação de atividades, pelo descontentamento de aluno ou funcionário

em relação à direção, pela simples propagação do medo, entre outros.

3.8 UNIDADE PRISIONAL REGIONAL PASCOAL RAMOS SOFRE ATAQUE DE

BOMBA

A Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos no dia 21 de junho de 2005

sofreu ataque de bomba, causando danos no muro.

O jornal A Gazeta em sua edição nº 501539 ao comentar sobre os fatos

destacou que a explosão aconteceu a poucos metros de uma das guaritas ocupada

por policial militar, no entanto, não se sabe quando a bomba foi colocada e nem de

que forma. 39 NEVES, Patrícia. Sistema carcerário sofre 3 ataques. A Gazeta . Cuiabá, 23 jun. 2005. Caderno Polícia.

Page 67: Monografia benedito lauro_da_silva

66

Os fatos descritos pela matéria jornalística também foram registrados

através de boletim de ocorrência nº 025048-8 de 21 de junho de 2005, elaborado

pelo Cb PM Oliveira, comandante do corpo da guarda.

Nesta ação criminosa foi utilizado artefato explosivo contra a parte externa

do muro da penitenciária causando apenas pequenos danos ao seu reboco. Os

dispositivos de acionamento funcionaram, no entanto, a quantidade da carga

principal explosiva utilizada contra o muro foi insuficiente para sua ruptura. Este fato

corresponde com as motivações demonstradas na prisão de Raposão, qual seja,

ação criminosa de tentativa de resgate de presos em estabelecimento prisionais.

3.9 NOVAMENTE ATAQUE COM BOMBA À UNIDADE PRISIONAL REGIONAL

PASCOAL RAMOS

Novamente a Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos sofreu ataque de

bomba no dia 22 de julho de 2005, cujo alvo escolhido próximo os módulos de aço.

Desta vez os efeitos da explosão conseguiram abrir um buraco no muro, suficiente

para que uma pessoa pudesse passar tranqüilamente. As únicas informações dos

suspeitos recaem em dois homens, não identificados, que saíram do local em uma

motocicleta.

Os fatos ganharam repercussão na mídia40 e foram registrados pelo Cb PM

Otamil, comandante da guarda da Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos,

através do boletim de ocorrência talão nº 026093-6 de 22 de julho de 2005.

40 NEVES, Patrícia. Bomba explode na penitenciária. A Gazeta . Cuiabá, 23 jul. 2005. Caderno Cidades.

Page 68: Monografia benedito lauro_da_silva

67

Nesta segunda ação criminosa contra a penitenciária foram utilizadas duas

bombas. Em uma das bombas todos os componentes funcionaram perfeitamente,

causando a ruptura do muro. Na outra, houve falha que depois de localizada foi

neutralizada por policiais da GOE mediante técnica de “contra-carga”. Nos primeiros

relatos do boletim de ocorrência destaca-se a explosão no justo momento em que

um reeducando esta sendo conduzido para a enfermaria que fica próxima ao local

onde houve a ruptura do muro, o que denota mais uma vez ação criminosa de

resgate de preso.

3.10 ESTUDANTE PRESO TENTANDO ARMAR BOMBA NO BANHEI RO DE

ESCOLA EM RONDONÓPOLIS

No bairro Vila Operária do município de Rondonópolis, em 28 de agosto de

2005 um estudante foi preso tentando armar uma bomba no banheiro da escola.

Este fato ganhou destaque do jornal A Gazeta, edição nº 5082.

A equipe da Delegacia do bairro Vila Operária, prendeu o estudante Vagneis

de Jesus Rocha de 19 anos no Conjunto São José. Vagneis era aluno da escola e já

respondia a processo por uma tentativa de homicídio ocorrido em novembro de

2004.

Segundo a delegada de polícia da Vila Operária, Anaídes Barros de Souza,

a identidade de Vagneis Rocha foi descoberta através da série de depoimentos

colhidos junto a alunos e professores da escola. O acusado confessou ter fabricado

a bomba apenas causar desordem, informou a delegada.

Page 69: Monografia benedito lauro_da_silva

68

A bomba caseira encontrada no banheiro da escola foi fabricada a partir de

um cartucho de espingarda calibre 32. O artefato dispunha de um sistema rústico de

detonação, que só não cumpriu seu objetivo porque foi descoberto antes por um

aluno. Segundo a diretora da escola, Meire Lúcia Santos Martins, esta não foi a

primeira vez que o estabelecimento foi alvo de uma bomba caseira. Pouco antes do

recesso escolar, em junho, uma outra bomba chegou a ser detonada no banheiro

masculino da escola, causando apenas danos materiais.

Ação criminosa semelhante a ocorrida em escola pública de Cuiabá. Desta

vez com a identificação do autor verificou-se que este era praticante de outros

crimes e que sua intenção era causar pânico. A substância explosiva utilizada foi a

pólvora, que conforme já comentamos, de fácil aquisição e, embora baixo explosivo,

é consideravelmente perigosa em decorrência de sua alta sensibilidade.

3.11 COMPANHIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA DO JARDIM VIT ÓRIA SOFRE

ATAQUE DE BOMBA

A companhia de Policiamento Comunitário do bairro Jardim Vitória, ainda em

fase de acabamento na sua construção, foi alvo de artefato explosivo causando

enormes danos em sua estrutura. Os fatos foram registrados através do boletim de

ocorrência talão nº 030938-0 de 06 de dezembro de 2005 pelo Sd PM Messias.

O Comandante do Policiamento Regional-1/Cuiabá, em matéria jornalística41

atribui à prática criminosa como forma de retaliação ao serviço que a Polícia Militar

vinha desenvolvendo no bairro Jardim Vitória e adjacências. Como todo o sistema da

41 ATO seria forma de retaliação. A Gazeta . Cuiabá, 07 dez. 2005.

Page 70: Monografia benedito lauro_da_silva

69

bomba funcionou, esta foi confeccionada por alguém que detém um mínimo de

conhecimento sobre explosivo.

Importante salientar que no relato deste boletim de ocorrência o Sd PM

Messias descreve que não identificou o tipo de explosivo. O policial de radio-

patrulhamento dificilmente conseguirá realizar essa identificação. Após a explosão

do artefato, necessário se faz que o policial tenha profundo conhecimento sobre a

matéria, a fim de que identifique o material utilizado. Essa identificação poderá

colaborar com futuras ocorrências da mesma espécie.

3.12 APÓS EXPLOSÃO DE BOMBA DETENTOS FOGEM DA CADEI A PÚBLICA

DE VÁRZEA GRANDE

No dia 08 de dezembro de 2005 seis detentos empreenderam fuga do

Presídio da Várzea Grande, após comparsas terem colocado uma bomba do lado de

fora do muro do referido presídio, causando explosão e conseqüente ruptura do

muro. O fato foi amplamente explorado pela imprensa mato-grossense42.

Os fugitivos, considerados de alta periculosidade, tendo serrado as grades

da cela, percorreram um espaço de menos de 10 metros até o muro, por volta das

12h30min. Ao contrário do que ocorre com a maioria das fugas e rebeliões, os

presos não estavam em horário de banho de sol ou de visitas.

A explosão ocorreu do lado de fora da unidade, logo abaixo de uma das

guaritas de vigilância, que estava vazia no momento da fuga. O policial militar que

estava em outra guarita, localizada na lateral do muro, tentou evitar que os presos 42 PETTENGILL. Daniel. 6 presos explodem bomba e fogem. A Gazeta , Cuiabá, 09 dez. 2005, Caderno Cidades.

Page 71: Monografia benedito lauro_da_silva

70

escapassem efetuando disparos de fuzil, que dentre esses disparos, atingiu um dos

fugitivos, que ferido, desistiu de acompanhar os comparsas.

A Cadeia Pública de Várzea Grande está localizada em área, cuja

responsabilidade pelo policiamento o 4º Comando de Policiamento de Área, tendo

os fatos sido registrado através do boletim de ocorrência sob talão nº 171 datado de

08 de dezembro de 2005.

Atendendo requisição da Gerencia de Operações Especiais, foi realizada

perícia no local do crime pela Perícia Oficial e Identificação Técnica – Politec, que

através do laudo pericial de nº 02-05-005623/2005 atribuiu as seguintes respostas

aos quesitos:

[...] 4.0 DOS QUESITOS 01) Houve detonação de artefato explosivo? Pelos indícios levantados, entendem os Peritos Criminais que

houve detonação de artefato explosivo: manchas de substância acizentada deixada próxima ao vão (buraco) do muro, pela projeção dos fragmentos do muro e pelos materiais de plásticos encontrados próximos ao local do evento.

02) O artefato foi colocado na parte Interna ou externa do muro? O artefato explosivo foi colocado na parte externa do muro dos

fundos, quase em baixo da guarita de segurança central. 03) É possível saber que tipo de artefato foi utilizado? Não é possível saber que tipo de artefato foi utilizado. 04) Foram coletados materiais no local da explosão? Sim, foram coletados matérias no local da explosão. Que foram

encaminhados para o “Laboratório Forense”. 05) Que tipo de materiais são? Além da coleta da substância acinzentada encontrada em área

próxima ao buraco (vão) deixado no muro, foram coletados os materiais plásticos (fragmentos de sacola) e material sintético descritos no item 3.1. [...]

No item 5.0 da conclusão do laudo pericial os peritos relatam que não foi

encontrado no local, qualquer fragmento de material elétrico, mecânico ou mesmo

Page 72: Monografia benedito lauro_da_silva

71

metálico relacionado com o evento. O que pode induzir que a espécie de explosivo

era de fabricação caseira.

Após duas investidas anteriores em presídios, desta vez os criminosos

conseguiram o intento na Cadeia Pública de Várzea Grande, ocorrendo a fuga de

seis detentos. A própria localização da cadeia facilitou a ação, uma vez que foi

construída em local ermo da cidade, rodeada por densa vegetação.

O Laudo Pericial emitido pela Perícia Oficial e Identificação Técnica – Politec

demonstra a falta de conhecimento científico dos servidores do órgão acerca da

identificação de explosivos utilizados para a confecção das bombas. Concluiu-se, no

entanto, por indução em decorrência dos vestígios encontrados, que a bomba era de

fabricação caseira.

3.13 HOMEM MANTÉM FAMILIARES E EX-ESPOSA REFÉNS SOB AMEAÇA DE

EXPLOSIVOS

No dia 03 de janeiro de 2006 o Sr. Cláudio Galvão, fugitivo do Estado de

Minas Gerais, onde cumpria pena em regime semi-aberto até o ano de 2010, pelos

delitos de roubo e homicídio, tomou, na condição de reféns, cinco pessoas da

família, fazendo como exigência principal a possibilidade de conversar com sua ex-

esposa Clarisse Santos. Após várias horas de negociação a equipe responsável

pelo gerenciamento da crise conseguiu a soltura dos familiares, ficando a ex-esposa

de Cláudio no lugar destes.

As negociações duraram cerca de 40 horas e depois de permanecer sob

ameaça de explosivo e um revólver, Clarisse Santos, foi libertada pelo seu ex-marido

Page 73: Monografia benedito lauro_da_silva

72

que em seguida mediante disparo de arma de fogo, acionou o explosivo e provocou

uma enorme explosão na casa, causando enormes danos materiais na edificação e

queimaduras no corpo de Cláudio Galvão, que foi socorrido vivo e consciente.

O 3º Sgt PM Luiz Mário, componente da Força Tática do 3º Comando de

Policiamento de Área, confeccionou o boletim de ocorrência talão nº 032103-4 de 04

de janeiro de 2006 relatando as providências policiais, tendo os fatos também

ganhado enorme destaque pela mídia43.

O Ten Cel PM Santos, então Comandante do 3º Comando de Policiamento

de Área, unidade policial responsável pelo policiamento do bairro Barreiro Branco,

em relatório44 elaborado acerca dos fatos, destacou que após a explosão foi

encontrado no interior da residência, além de um revólver calibre .38 (trinta e oito),

duas bombas caseiras.

A Gerencia de Operações Especiais45 que também se fez presente, lavrou

no Livro de Ocorrências, com data de 04 de janeiro de 2006, alguns detalhes

julgados importantes acerca de procedimentos operacionais em ocorrências

envolvendo explosivos e bombas.

Por volta das 11:30 hs o Dr. Marcos Veloso nos acionou com a ordem do Secretário de Segurança Pública, para acompanhar a ocorrência de Cárcere Privado com uso de explosivo ocorrido no Barreiro Branco em Cuiabá – MT, na qual um fugitivo da Agrícola das Palmeiras, estava mantendo sua ex-esposa como refém e que essa negociação há havia se estendido por dois dias. Chegando no local percebemos que estava mal

43 NEVES, Patrícia. Seqüestro termina bem. A Gazeta, Cuiabá, 05 jan.2006, Caderno Cidades. 44 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. ROSA, Manoel do Nascimento Santos. Cuiabá, “Relatório de Negociação “Barreiro Branco” , p. 4. 2006. 45 A Gerência de Operações Especiais subordina-se ao à Diretoria de Atividades Especiais, cujo órgão diretamente subordinado ao Diretor-Geral de Polícia Judiciária Civil. A Gerência possui em seu efetivo quatro agentes policiais possuidores do curso de Operações com Explosivos ministrados pela Academia de Polícia Civil em parceria com a Muller Consultoria e Treinamento.

Page 74: Monografia benedito lauro_da_silva

73

isolada por se tratar de material explosivo, tinha muita gente expectadores numa distância de aproximadamente 100 metros, as viaturas bombeiro, SAMU estavam estacionadas de maneira incorretas, ou seja, não estavam em condições de pronto para em condições de emergência. Havia viaturas do Bope em uma distância de mais ou menos 10 a 15 metros do barraco, por conter produto inflamável e uma delas com material de explosivos a distância era muito próxima, havia também familiares inclusive crianças muito próxima do local, numa situação de risco pelo fato de haver explosivos e alguns disparos de tiros foram feitos. (sic)

Ocorrência de enorme vulto, havendo de concurso de crimes, necessitando,

inclusive, da formação de uma gerência de crise para a solução do evento crítico. O

perpetrador de nome Cláudio Galvão manteve por um período familiares de sua ex-

esposa, que posteriormente todos foram trocados por esta última, que a manteve

sob a mira de uma arma de fogo e substância explosiva. Cláudio era recém saído da

Penitenciária Agrícola de Palmeiras onde cumpria pena pelos crimes de roubo e

homicídio. O desfecho da ocorrência se deu com a detonação do explosivo,

causando queimaduras no perpetrador e sérios danos na casa.

Através dos registros apontados no Livro de Ocorrências da GOE, evidencia-

se a necessidade de conhecimento e padronização de ações nas ocorrências

envolvendo explosivos, sobretudo, quanto a procedimentos de ação e distância

mínima de segurança.

3.14 ARTEFATO EXPLOSIVO É ENCONTRADO EM MURO DA UNI DADE

PRISIONAL REGIONAL PASCOAL RAMOS

Na madrugada do dia 12 de fevereiro do ano de 2006, a Unidade Prisional

Regional do Pascoal Ramos sofreu nova tentativa de utilização de bomba por parte

de criminosos, que só não conseguiram o intento em decorrência do tirocínio policial

sentinela e providências imediatas da guarnição de serviço. Agentes prisionais que

estavam no complexo do módulo de aço informaram via rádio que alguns

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74

reeducandos serraram a grade do teto da cela. Do lado externo, o artefato foi

encontrado o artefato por policiais militares pertencentes ao BOPE, que a

desativaram mediante ação de contra-carga. Notaram também que parte da cerca

de arame que isola o presídio também havia sido cortada.

Os fatos ganharam destaque no jornal Folha do Estado46 de 13 de fevereiro

de 2006, tendo o 3º Sgt PM Joi Beni, comandante do corpo da guarda, elaborado o

boletim de ocorrência sob talão nº 033667-5.

OLIVEIRA47, Capitão da PMMT, responsável pela neutralização do artefato,

em entrevista neste trabalho destacou que nesta ação os criminosos utilizaram cerca

de vinte e cinco espoletas elétricas e material pirotécnico, que se detonado,

certamente causaria ruptura no muro da penitenciária.

As características das ações, tanto dos reeducandos, quanto dos criminosos

que colocaram a bomba do lado externo do muro da Penitenciária Regional Pascoal

Ramos demonstram que tratava-se de nova tentativa de fuga. Fica então

transparente a audácia dos criminosos em tentar contra o patrimônio público a fim de

verem prevalecer seus intentos. Medidas antibombas devem ser continuamente

desencadeadas visando aumentar a segurança dos estabelecimentos prisionais.

3.15 PERFIL DOS UTILIZADORES DE BOMBAS EM MATO GROS SO

Dentre os utilizadores de explosivos em Mato Grosso podemos destacar:

46 POLÍCIA encontra bomba caseira perto de penitenciária. Folha do Estado . Cuiabá, 13 fev. 2006, Caderno Polícia. 47 OLIVEIRA, Edvaldo Souza. Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bombas: Necessi dade de Criação de Grupo Especializado na PMMT . Cuiabá, 22 fev. 2006. Entrevista concedida a monografia de Benedito Lauro da Silva.

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75

a) Indivíduos contumazes na prática de vários crimes como, por exemplo, a

prisão do foragido Mauricio Domingos, o “Raposão” e do Sr. Cláudio Galvão;

b) Alunos ou freqüentadores de escola pública, como por exemplo, o fato

ocorrido na escola do bairro Jardim Paulista em Cuiabá e outro fato em

Rondonópolis;

c) Pessoas que utilizam do anonimato para realizar alguma ameaça ou

provocar o medo, o pânico ou tentar paralisar alguma atividade;

d) Vândalos que atiram bombas caseiras incendiárias contra algum

patrimônio, como o ocorrido no Ciretran de Rondonópolis.

3.16 TIPO DE EXPLOSIVOS UTILIZADOS PELOS CRIMINOSOS

Embora não especificados pelos boletins de ocorrência policial e pelas

manchetes jornalísticas, podemos tirar algumas conclusões acerca do material

explosivo utilizado nesses eventos.

Os explosivos encontrados com o foragido “Raposão”, a encontrada no

supermercado em Colíder, a detonada na Cia Comunitária do bairro Jardim Vitória e

aqueles utilizados contra os muros dos presídios são dinamites, considerados altos

explosivos normalmente utilizados no desmonte de rochas. Além desta, no caso da

última tentativa contra a Unidade Prisional Pascoal Ramos houve a utilização de

espoletas explosivas e cargas pirotécnicas.

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76

A substância explosiva do tipo pólvora, pela facilidade de aquisição,

sobretudo em casas de fogos de artifício, são as mais encontradas, pelo que

podemos citar as colocadas nos banheiros das escolas de Cuiabá e Rondonópolis, a

substância apreendida em poder dos dois indivíduos no terminal do bairro Morada

da Serra e a utilizada pelo Sr. Cláudio Galvão que fez sua esposa refém foram

confeccionadas através do uso da pólvora.

3.17 FINALIDADE DA UTILIZAÇÃO DOS EXPLOSIVOS

A criminalidade continua a sofisticar-se e organizar-se a ponto de utilizar

bombas nos mais diversos casos de crimes. A colocação de artefatos explosivos em

muros dos presídios visa a tentativa de facilitar fuga de detentos quando não são

possíveis por outros meios.

Em algumas vezes apoiados por organizações criminosas, ações são

orquestradas na qual os criminosos articulam o melhor momento para a execução de

seus planos, visando intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades

constituídas.

As bombas fabricadas por estudantes e freqüentadores de escola e

colocadas no banheiro, em sua maioria não tem como objetivo causar lesões ou

mortes, apenas objetivam causar tumulto momentâneo, quebra de rotina e

paralisação das aulas, bem como, sensação de insegurança, possivelmente

motivada pelo vandalismo, vingança ou até mesmo por simples trotes.

Page 78: Monografia benedito lauro_da_silva

77

4 BOMBAS

4.1 CONCEITOS DE EXPLOSIVO

Muitos são os conceitos acerca de explosivos, no entanto, daremos enfoque

a alguns mais usualmente empregados.

Gramaticalmente o Dicionário Priberam define explosivo como “substância

susceptível de produzir explosão”.48

Organismos policiais internacionais que trabalham diretamente na

desativação, neutralização ou investigação de artefatos explosivos, também

atribuem seus conceitos.

A Escola de Engenheiros Militares da Colômbia define explosivos como

sendo um composto ou substância capaz de se transformar, por meio de reações

químicas de óxido-redução, em produtos gasosos e condensados, produzindo altas

temperaturas e pressões. A ESJUI, Escola de Justiça Criminal da Colômbia, trata

explosivos como substância química capaz de se decompor rapidamente, gerando

pressões maiores que a da atmosfera, altas temperaturas e grande quantidade de

gases. O DISIP, Departamento de Investigações Criminais da Venezuela conceitua

como substância ou mistura em qualquer estado físico, que submetida a suficiente

calor, choque, impacto, fricção ou outro impulso proporcionado inicialmente, gera

uma transformação química instantânea, convertendo-se em outra substância mais

estável, quase que totalmente gasosa, cujo volume inicial é muito maior que o

volume da substância original. No Brasil o conceito mais adotado é o do GATE da 48 DICIONÁRIO Da Lingua Portuguesa .Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx> Acesso em: 18 jan. 2006.

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78

Polícia Militar do Estado de São Paulo que define como produto que, por meio de

uma excitação adequada, se transforma rápida e violentamente de estado, gerando

gases, altas pressões e elevadas temperaturas49.

A IMBEL, Indústria de Material Bélico do Brasil conceitua explosivos como

“substâncias ou misturas de substâncias capazes de se transformar quimicamente

em gases com extraordinária rapidez e com desenvolvimento de calor, produzindo

elevadas pressões e considerável trabalho”.50

4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS EXPLOSIVOS

I - Classificação quanto a velocidade de detonação:

1) BAIXOS EXPLOSIVOS - possuem velocidade abaixo de 2.000 m/s e

características de explosivos propulsores. Como exemplo podemos citar a pólvora

que promovem um efeito balístico numa arma de fogo.

2) ALTOS EXPLOSIVOS - possuem velocidade acima de 2.000 m/s e

características de explosivos rompedores. Subdividem-se em primários ou

iniciadores e secundários.

II - Classificação quanto ao emprego:

49 <http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml> Acesso em 08.02.06. 50 IMBEL, Explosivos não convencionais . São Paulo: CID, 2004. 1 CD.

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79

1) INICIADORES - Empregados em mistos iniciantes ou excitação de cargas

explosivas. São sensíveis ao calor, choque, atrito. Ex: Azida de chumbo, fulminato

de mercúrio, estifinato de chumbo.

2) REFORÇADORES - Também denominados como “boosters” ou

intermediários. Atuam como multiplicador de força entre o iniciador e a carga

principal. Ex: RDX, PETN, TETRIL..

3) DE RUPTURA - Explosivos de alta potência e alta brisância. Principal

elemento de fornecimento de energia e, portanto, de maior quantidade na cadeia. É

relativamente insensível, proporcionando maior segurança no manuseio e

armazenamento. Ex: TNT, pentolita, composições de RDX, emulsões e dinamites.

4) PROPELENTES que são as pólvoras coloidais, ou seja, pólvora negra.

4.3 CARACTERÍSTICAS DOS EXPLOSIVOS

Tratam-se das propriedades físicas ou químicas que identificam cada

explosivo, a fim de podermos selecioná-los corretamente seu uso.

a) VELOCIDADE – refere-se a velocidade de decomposição ou reação de

explosivo. Quanto mais veloz o explosivo, maior sua potência.

b) SENSIBILIDADE - É a capacidade do explosivo em reagir a uma

determinada excitação. É determinada através de várias provas com aparelhos

especiais, conforme o tipo de sensibilidade testada: choque, atrito, calor, iniciação,

simpatia.

Page 81: Monografia benedito lauro_da_silva

80

c) POTÊNCIA - É capacidade total de realizar trabalho, em função da

quantidade de calor liberada no instante da explosão e da velocidade com que esta

energia é liberada, ou seja, é a força do explosivo.

d) BRISÂNCIA - É a pressão de detonação ou efeito rompedor do explosivo,

isto é, a capacidade que ele possui de fragmentar o seu invólucro ou recipiente.

e) DENSIDADE - É a relação entre massa e volume. Quanto mais denso o

explosivo, maior seus efeitos explosivos, porém menor sua sensibilidade.

f) ESTABILIDADE – refere à alteração de suas características durante

armazenamento em condições normais. São requisitos indispensáveis ao

armazenamento de explosivos, tais como: ventilação; ausência de umidade;

temperaturas inferiores a 40 ºC e ausência de ambientes corrosivos, particularmente

os ácidos.

g) HIGROSCOPICIDADE - é o grau de afinidade do explosivo com a água,

isto é, a tendência de o explosivo absorver umidade.

h) TOXIDEZ – Diz respeito à capacidade de concentração de gases nocivos

à saúde. A toxidez, teoricamente, é avaliada pelo balanço de oxigênio, que indica na

formulação do explosivo o oxigênio em falta ou em excesso para proporcionar uma

transformação completa.

Page 82: Monografia benedito lauro_da_silva

81

4.4 TIPOS DOS PRINCIPAIS EXPLOSIVOS

O Manual de Operações com Explosivos da PMDF elenca os principais tipos

de explosivos51.

PÓLVORA - É um baixo explosivo deflagrante, normalmente de cor preta,

estável, de forma variável; detona somente quando confinada; e iniciação através de

chama, faísca, ou filamento incandescente.

DINAMITE -. As dinamites são altos explosivas originados da

dessensibilização da nitroglicerina. Substâncias explosivas estáveis em seu estado

normal; porém, quando em exsudação, tornam-se explosivos altamente perigosos.

Apresentam-se sob a forma de uma massa de cor amarela, encartuchada em papel

parafinado (bananas) e sua iniciação se dá através de detonadores (espoletas).

NITROGLICERINA – Alto explosivo, de uso militar e comercial, muito

sensível e instável. Apresenta-se sob a forma de líquido viscoso, que explode com

atrito, calor, eletricidade etc. A temperatura ideal para armazenagem é de 13 ºC. É

usada principalmente na fabricação de dinamite.

NITROPENTA (PETN)- Alto explosivo, de uso militar e comercial, é o núcleo

branco do cordel detonante que é usado em pedreiras para interligar as cargas de

dinamite. O emprego militar é para demolição de pontes, estruturas, túneis etc. É

relativamente estável, sendo o cordel impermeável. Possui velocidade de detonação

de 6.500 m/s e é acionado através de espoleta. É o tetranitrato de pentaeritritol.

51 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos . 4º COESP, p. 5-7, 2004.

Page 83: Monografia benedito lauro_da_silva

82

FULMINATO DE MERCÚRIO - É um explosivo de uso militar e comercial,

instável, utilizado em detonadores e espoletas, de cor amarelo claro, com velocidade

de detonação igual a 5.000m/s e sua iniciação se dá por choque, calor, atrito etc.

NITRATO DE AMÔNIA- É um explosivo de uso comercial, encontrado em

fertilizantes agrícolas. Se adicionado a óleo diesel forma um explosivo com

velocidade de detonação igual a 3.500m/s. Constitui um explosivo estável, de forma

granulada, necessitando de um detonador para provocar a explosão.

NITROCELULOSE – mistura de vários ésteres nítricos da celulose.

NITROCARBONITRATOS – São explosivos granulados de baixa velocidade

de detonação e pequena densidade, mas grande expansão gasosa, pouco

resistentes a água e seus gases são pouco tóxicos.

AZIDA DE CHUMBO – Ë um explosivo intermediário, instável, de uso militar

e comercial, de cor cinza, utilizado em espoletas, com velocidade de detonação de

aproximadamente 5.100m/s e com iniciação através de choque, atrito, calor, etc.

EXPLOSIVOS PLÁSTICOS – Alto explosivo, de uso militar, estável,

composto por RDX (explosivo) e substância plástica de boa consistência e moldável;

sua iniciação se dá através de detonador. Existem dos tipos C2, C3 e C4.

RDX – Research Department Explosive, explosivo reforçador usado como

intermediário entre o explosivo iniciador e a carga propriamente dita. Tem largo uso

Page 84: Monografia benedito lauro_da_silva

83

em misturas com outros explosivos, como por exemplo, para carregar bombas e

granadas. Possui velocidade em torno de 8.400 m/s.

PLASTEX – explosivo plástico de uso militar, estável, não aderente, utilizado

principalmente no corte de solda de peças metálicas. Possui velocidade de 7.000

m/s.

4.5 SISTEMAS DE INICIAÇÃO

São as formas ou possibilidades de causar o início da transformação do

explosivo.

I - Trem ou cadeia explosiva - Encadeamento lógico dos explosivos segundo

a relação de sensibilidade e efeito.

II - Os sistemas de iniciação podem ser comuns ou pirotécnicos, elétricos ou

não-elétricos.

4.6 CONCEITO DE EXPLOSÃO

A IMBEL conceitua como toda expansão violenta, provocada pela

decomposição da matéria explosiva.52

A ESJUI da Colômbia classifica como escape súbito e repentino de gases do

interior de um espaço limitado, gerando alta pressão e elevada temperatura. No

Brasil o GATE da PMESP conceitua como um processo químico e físico

52 IMBEL, Explosivos não convencionais . São Paulo: CID, 2004. 1 CD.

Page 85: Monografia benedito lauro_da_silva

84

caracterizado por uma grande quantidade de gases em elevada temperatura e por

uma grande força expansiva que produz efeitos mecânicos e sonoros.53

4.6.1 Tipos de Explosões

MECÂNICA - provocada pelo alívio descontrolado de pressão, havendo

maior pressão interior do objeto que sua resistência.

QUÍMICA – quando provocada por reações e transformações químicas.

NUCLEAR – aquela provocada pela fissão ou fusão do átomo.

4.6.2 Efeitos Da Explosão

a) Efeitos primários:

ONDA POSITIVA – também conhecida como impelente. Trata-se da

expansão polidirecional dos gases, formando em seu interior, vácuo.

ONDA NEGATIVA – também conhecida como implosão. É o preenchimento

do vácuo formado pela onda positiva, quando sua força de expansão for menor que

a pressão atmosférica.

FRAGMENTAÇÃO - É a decomposição ou desintegração das coisas dentro

da onda positiva.

53 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo. CSM/MInt, art. 11. 1996.

Page 86: Monografia benedito lauro_da_silva

85

EFEITO TÉRMICO-INCENDIÁRIO - É a geração de altas temperaturas da

explosão, podendo afetar objetos inflamáveis.

b) Efeitos secundários:

REFLEXÃO - É a mudança de rumo da onda positiva, quando se depara

com um objeto que não consegue fragmentar.

CONVERGÊNCIA - É a divisão da onda positiva, quando ela encontra um

objeto que não pode fragmentar e que não possua área suficiente para provocar

uma reflexão.

PROTEÇÃO - É o espaço formado imediatamente após a convergência ou

reflexão da onda positiva, que não é afetado diretamente por ela.

4.7 IDENTIFICAÇÃO DE BOMBAS

4.7.1 Conceito de Bomba

Gramaticalmente o Dicionário Priberam define bomba como “engenho que,

contendo substâncias explosivas, rebenta com estampido”54.

O GATE/PMESP conceitua como engenhos construídos com a utilização de

substâncias explosivas, inflamáveis, bacteriológicas, radiotivas, gases tóxicos, ou

outras de efeitos análogos, com finalidade de causar danos, lesões ou mortes.55

54 DICIONÁRIO Da Lingua Portuguesa .Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx> Acesso em: 18 jan. 2006 55 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos(bombas) . GATE. São Paulo, p. 21. 2005.

Page 87: Monografia benedito lauro_da_silva

86

O Manual de Procedimentos com Explosivos da PMDF define como todos os

artefatos ou dispositivos confeccionados para causar danos, lesões ou mortes, de

forma voluntária ou não.

Desta forma, dá-se o nome bomba ou artefato explosivo à cadeia de

disparos completa, inclusive carga principal, pronta para ser acionada. As bombas

ou artefatos explosivos podem ser classificados como militares, comerciais e

caseiros.

4.7.2 Classificação Geral das Bombas

EOD - EXPLOSIVE ORDINANCE DISPOSAL, que traduzidos significa:

Explosivos Industrializados e Comercializados.

São todas as bombas confeccionadas regularmente, como foguetes,

mísseis, granadas, petardos e acessórios de acionamento militares. Desta forma

sabe-se como são feitas, quais suas características e como proceder na sua

utilização, desativação ou destruição.

IED - IMPROVISED EXPLOSIVE DEVICE, tendo da sua tradução Artefatos

Explosivos Improvisados.

São todas as bombas caseiras ou improvisadas, com finalidades terroristas

ou não. Somente quem a construiu sabe como ela é feita, seu funcionamento e

como desativá-la ou destruí-la com segurança.

Page 88: Monografia benedito lauro_da_silva

87

4.7.3 Dispositivos Componentes de Bombas

I - FONTE DE ALIMENTAÇÃO - Elemento gerador de energia, eletricidade

ou fogo, que irá provocar a iniciação do detonador. Exemplos: Pilhas, baterias e

fósforos.

II - ACIONADOR - Elemento interruptor da fonte de alimentação, que ao ser

ativado de forma voluntária ou involuntária provoca a ligação entre a fonte de

alimentação e o detonador. São os chamados “gatilhos”. Exemplos: mecanismos de

pressão, descompressão, dispositivos eletrônicos, etc.

III - DISPOSITIVO DE SEGURANÇA - Elemento interruptor da fonte de

alimentação e dos acionadores, acionado para proteger o construtor da bomba

durante sua manipulação, transporte ou acionamento.

IV - DETONADOR - Elemento explosivo iniciador. Exemplo: espoletas.

V - CARGA EXPLOSIVA - Elemento destrutivo da bomba. Exemplo: altos ou

baixos explosivos, líquidos inflamáveis, etc.

VI - DISSIMULADOR - Elemento de disfarce para descaracterizar a bomba e

dificultar sua identificação. Exemplos: livros, envelopes, bolsas, pacotes, etc.

4.7.4 Tipos de Bombas

I - BOMBAS NÃO-EXPLOSIVAS - Artefatos que contenham produtos

tóxicos, ácidos, corrosivos, agentes químicos, bacteriológicos ou radioativos, baixos

Page 89: Monografia benedito lauro_da_silva

88

explosivos de projeção ou propulsão de metralhas, cujo resultado, a propagação de

doenças ou outros danos. Ex: Antraz.

II - BOMBAS EXPLOSIVAS - Artefatos que contenham produtos explosivos

e tenham como resultado de seu acionamento, explosão. Ex: Dinamite.

III - BOMBAS INCENDIÁRIAS - Artefatos que contenham produtos

inflamáveis e tenham como resultado de seu acionamento a propagação do fogo.

Ex: Coquetel “Molotov”.

IV - BOMBAS EXPLOSIVAS-INCENDIÁRIAS – são as combinações dos

dois últimos elementos anteriores.

4.7.5 Possibilidades de Acionamento das Bombas

I - ACIONAMENTO DIRETO - Ação manual ou sob comando do agente. Ex:

acionamento manual, pirotécnico e por rádio-controle.

II - ACIONAMENTO INDIRETO - Ação involuntária ou desapercebida da

vítima. Ex: Acionamento por pressão, descompressão, tração, movimento e contato.

III - ACIONAMENTO POR TEMPO - Autoacionamento da bomba devido a

um dispositivo de tempo. Ex: Bomba-relógio, mecanismos de retardo,

temporizadores, entre outros.

Page 90: Monografia benedito lauro_da_silva

89

IV - ACIONAMENTO POR CONDIÇÕES AMBIENTAIS - Autoacionamento

da bomba devido a uma mudança ambiental onde ela se encontra. Ex: Células

fotoelétricas, células de temperatura, de som, entre outros.

4.7.6 Finalidades do Uso de Bombas

A bomba tem por finalidades usos militares, comerciais e caseiros.

As de usos militares possuem alto poder de ruptura e são muito estáveis,

considerando que nestes casos devem suportar condições de armazenamento e

transporte adversos. Ex: Plastex.

As de uso comercial são utilizadas em pedreiras, possuem baixo custo,

estabilidade razoável e médio poder de ruptura. Ex: Emulsão.

As de uso caseiro possuem baixo poder de ruptura e alta sensibilidade. Ex:

Pólvora.

4.7.7 Bombas Caseiras ou Artesanais

Em decorrência de sua alta sensibilidade as bombas caseiras são as que

mais causam acidentes, sobretudo em festas, comemorações, manifestações

violentas, onde se utilizam fogos de artifício, rojões, “coqueteis Molotov”, entre

outros. A fabricação de bombas, que antes era matéria para especialistas, já há

algum tempo tornou-se assunto de domínio público.

A Internet tem servido como facilitador do acesso a um enorme receituário

de fórmulas e esquemas para a construção de artefatos explosivos. Os laboratórios

Page 91: Monografia benedito lauro_da_silva

90

de colégio, lojas de ferragens e mesmo as dispensas domésticas fornecem todos os

componentes de que se pode necessitar para a construção de um artefato explosivo

de razoável poder de destruição.

Por não obedecerem a nenhum padrão de confecção, as bombas de

fabricação caseira tornam-se altamente traiçoeiras e de reconhecimento às vezes

difícil. O tamanho, a sofisticação do projeto bem como a capacidade de destruição

reflete diretamente a imaginação, o conhecimento técnico, a habilidade e os

recursos postos de quem as constrói. Atualmente os criminosos utilizam como meio

de ataque através dos artefatos explosivos ou incendiários como a carta bomba, o

carro bomba e o coquetel Molotov.

a) Carta bomba

As cartas-bombas referem-se a todo tipo de bomba montada em um

dissimulador que possa ser enviado pelo correio ou outro serviço de entregas. Além

de uma correspondência, pacotes, livros, caixas e até flores podem dissimular um

artefato explosivo.

Tem sido usada com sucesso nos atentados desde a década de 70, quando

houve o grande desenvolvimento do terrorismo político na Europa e América.

Quando se fala em atentado à bomba nada causa mais apreensão do que as

famosas cartas-bombas.

A carta-bomba faz parte do chamado terrorismo seletivo , onde o alvo é

uma pessoa ou instituição pré-determinada, tendo como objetivo sua morte ou a

implantação do terror através da demonstração de sua fragilidade a um atentado.

Page 92: Monografia benedito lauro_da_silva

91

Nos últimos anos, muitos casos de cartas-bombas foram registrados no

Brasil, destacando-se a carta-bomba enviada à uma secretária do Itamarati, em

Brasília, onde o autor teve sucesso, causando na vítima, vários ferimentos pelo

corpo.

A motivação para esses atentados reside na vingança, extorsão ou conflitos

internos nas instituições-alvo.

b) Carro bomba

Meio muito utilizado por terroristas para conseguirem o fim perseguido,

normalmente contra ocupantes do próprio veículo, contra pessoas próximas ou

contra instalações, propriedade, entre outros. A característica do automóvel

possibilita variadas formas de utilização criminosa, como, por exemplo, grande

incremento de sua parte motora e variadas formas de iniciação explosiva devido sua

instalação elétrica autônoma, enorme possibilidade de estar disfarçado em

determinados locais por não chamar atenção como os volumes e os danos podem

ser seletivos ou indiscriminados.

A utilização de veículos para fins criminosos depende da imaginação e

objetivo perseguido pelo terrorista.

c) Coquetel Molotov.

É uma bomba incendiária de fácil fabricação caseira, confeccionada em

garrafa de vidro contendo no seu interior combustível, cujo dispositivo de iniciação o

ateamento de fogo num pedaço de pano umedecido com combustível e envolto à

garrafa. O nome foi dado pelos russos durante a Segunda Guerra Mundial. Na

época, os soviéticos tentavam expulsar o exército alemão dos territórios ocupados

Page 93: Monografia benedito lauro_da_silva

92

lutando com armamentos domésticos. Então, homenagearam o presidente do

Conselho de Ministros da URSS, Viacheslav Molotov, dando nome à bomba56.

4.8 UTILIZAÇÃO DE EXPLOSIVOS EM INVASÕES E REMOÇÃO DE

OBSTÁCULOS

Nem sempre bombas e explosivos são utilizados de forma maléfica,

causando mortes e danos. São os casos da utilização para rompimento de

obstáculos como medida de invasão visando salvamentos ou resgate, chamados de

entradas táticas com explosivos.

Esta modalidade de invasão tem sido utilizada pelos times táticos dos

grupos de operações especiais de todo o mundo, sejam através de portas, janelas e

outros locais, em que se exige uma intervenção imediata, como por exemplo, em

operações policiais de resgate de reféns. Neste tipo de operação outros recursos

podem atrasar ou até mesmo serem ineficazes na entrada, perdendo com isto o

efeito da surpresa da invasão tática, fator importantíssimo que pode influenciar no

resultado da operação, uma vez que estão em jogo as vidas do refém e dos

integrantes do time tático.

A utilização de explosivos, apesar da eficiência comprovada em ações reais,

exige uma criteriosa e rigorosa análise do local pelo explosivista, profissional

altamente especializado que estará encarregado de observar:

- Se há a necessidade da utilização de explosivos e sua viabilidade;

56 COQUETEL Molotov. Disponível em <http://www.guiadoscuriosos.com.br/invencoes.htm> Acesso em 22fev.2006.

Page 94: Monografia benedito lauro_da_silva

93

- Tipo de material e prováveis medidas para cálculo de cargas;

- As conseqüências danosas em virtude da onda de choque;

- Determinar a zona de segurança para a equipe tática;

- O momento da detonação dos explosivos em concordância com o

momento do assalto.

Page 95: Monografia benedito lauro_da_silva

94

5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS

Com a constante mudança do cenário mundial, aparecem novas

modalidades de crime, proporcionando com isso o aumento, a diversificação e

audácia da forma de atuação dos criminosos. A importância que adquire a utilização

de substâncias explosivas e incendiárias dentre os meios utilizados pelos terroristas

e demais criminosos, obrigam os organismos policiais a criarem e organizarem

medidas preventivas que contribuirão para diminuir ou anular os efeitos da dita

substância.

O policiamento normal, sem o conhecimento pormenorizado e especializado

acerca da doutrina sobre explosivos jamais conseguirá dar uma resposta desejada

para a própria Instituição e nem para a sociedade.

Os países que se vêem sujeitos a ataques com bombas têm buscado

preparar sua força de segurança, procurando desenvolver uma doutrina própria

constituindo corpo de busca, localização, desativação ou neutralização de artefatos

explosivos.

Neste capítulo será demonstrado a composição e estrutura dos grupos

antibomba existentes a nível mundial com base em obra especializada no tema57,

com a finalidade de subsidiar esta pesquisa quanto a sugestão de criação de um

grupo antibomba no Estado de Mato Grosso, adequando à atual realidade.

57 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais.

Page 96: Monografia benedito lauro_da_silva

95

5.1 COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DOS GRUPOS ANTIBOMBA NO MUNDO

5.1.1 Estados Unidos da América

Em decorrência do grande número de organismos policiais existentes e

sua enorme extensão territorial, as equipes de bombas não se subordinam a um

centro único, no entanto, a base de sua doutrina segue a do Exército Americano.

As equipes de bombas norte americanas estão dispostas da seguinte

forma:

a) Chefe de Equipe Pode ser técnico ou não.

b) Primeiro Operador Técnico com alta experiência.

c) Segundo Operador Nas operações alterna com o primeiro operador.

d) Equipe Auxiliar Um fotógrafo

Um auxiliar anotador

Um perito

Unidade de interrogatório

Unidade de laboratório

5.1.2 Inglaterra

Os técnicos em explosivos da Inglaterra subordinam-se ao D.A.D – Depósito

Central de Municionamento, cujo organismo, chefiado por um tenente coronel. As

equipes assim estão dispostas:

a) Operador Chefe de Equipe Um oficial ou sub-oficial.

b) Segundo Operador Um oficial ou sub-oficial.

c) Operador Auxiliar Técnico em eletrônica.

d) Segundo operador Auxiliar Motorista.

Page 97: Monografia benedito lauro_da_silva

96

e) Operadores de segurança Responsáveis pelo isolamento do

local da bomba.

5.1.3 Israel

As equipes de bombas seguem a mesma estrutura dos Estados Unidos, no

entanto, possuem um terceiro operador que atuará no caso de trabalharem

simultaneamente com vários artefatos.

5.1.4 Irlanda

Possui equipes similares ao existente na Inglaterra, porém, diferenciam-se

na forma de comandar as equipes, ou seja, rotineiramente alternam a chefia das

equipes.

5.1.5 Espanha

As equipes de bombas recebem instruções do GREMANOR – Academia de

Engenheiros Hoyo de Manzanares, instituição subordinada ao Exército da Espanha.

As equipes de bombas espanholas estão dispostas da seguinte maneira:

a) Primeiro Operador Chefe de Equipe e responsável pela

operação.

b) Segundo Operador Apóia e reveza com o primeiro operador.

c) Terceiro Operador Apoio e responsável pelas comunicações.

d) Chefe de Equipe Auxiliar Observador da operação e contato direto

com superiores.

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97

5.1.6 Colômbia

A equipes de bombas estão organizadas com cinco sub-oficiais e sete

agentes, para atuarem exclusivamente em qualquer lugar do país. Recebem

capacitação no Forte Brack do Exército Americano, com a finalidade de lidarem com

bombas não convencionais.

5.1.7 Argentina

A responsabilidade pela operações com bombas pertencem à Polícia

Federal Argentina, à Superintendência Federal de Bombeiros e a Brigada de

Explosivos. A formação das equipes variam de acordo com as polícias de cada

Província, no entanto, basicamente estão formadas assim:

a) Chefe de Equipe Oficial ou Sub-Oficial Superior

b) Primeiro Operador Oficial Subalterno ou Sub-Oficial

c) Segundo Operador Sub-Oficial, fotógrafo.

d) Operador Auxiliar Motorista

Em casos de suspeita de objetos conterem artefatos explosivos utiliza-se

na equipe um Guia de Cão, normalmente Oficial ou Sub-Oficial.

5.1.8 Brasil

No Brasil não há uma única doutrina e nem um centro único estabelecendo

diretrizes uniformes para a atuação das equipes de bombas. Cada Estado treina e

forma sua equipe especializada em ocorrências de bombas. No entanto, as polícias

brasileiras que possuem grupos antibomba tem empregado técnicas em ocorrências

Page 99: Monografia benedito lauro_da_silva

98

envolvendo bombas e explosivos seguindo um padrão internacional de

procedimentos.

Em decorrência de acontecimentos que causaram enorme clamor público, a

Polícia Militar do Estado de São Paulo foi uma das pioneiras na criação de fração de

tropa para atuação em ocorrências de alto risco, como as que envolvem atendimento

em bombas, fato este explorado pelo Cap PM Toledo Junior58, em sua monografia,

que faz o seguinte relato histórico:

O GATE foi oficialmente criado no dia 04 de agosto de 1988, data estabelecido com o início de suas atividades operacionais; mas foi em meados de março de 1989, após o término dos trabalhos iniciais de estruturação e organização, que o Grupo apresentou-se definitivamente à população paulista, já sob o comando do 1º Ten PM Wanderley Mascarenhas de Souza.

Demonstrou-se, então, o que seria a “nova polícia especializada” seguindo a concepção da polícia moderna e de primeiro mundo, por meio do advento do Rádio Patrulhamento Padrão. Ainda em 1989, com o aumento do índice dos acidentes com explosivos e bombas, nasceu o Esquadrão de Bombas e suas equipes antibomba.

5.2 CRIAÇÃO DO GRUPO ANTIBOMBA NO BATALHÃO DE OPERA ÇÕES

ESPECIAIS

A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso possui o Batalhão de Operações

Especiais (BOPE) com sede na cidade de Cuiabá, cuja unidade policial originou-se

da Companhia Independente de Operações Especiais. Esta última por sua vez foi

primeiramente Comando de Operações Especiais criado no dia 20 de fevereiro de

1988.

58 TOLEDO JUNIOR, Theseo Darcy Bueno de. Medidas Preliminares no Atendimento de Ocorrências com Bombas e Artefatos Explosivos: Uma Proposta para a Inclusão da Unidade Didática nos Cursos de Formação da PMESP . São Paulo: p. 20. 2001.

Page 100: Monografia benedito lauro_da_silva

99

O BOPE foi criado através do Decreto Governamental 988 de 23 de julho de

2003, regulado internamente na PMMT através da Portaria 014/PM-3/03 de 09 de

outubro de 2003, estando atualmente subordinado ao Comando Regional

Especializado.

Compete ao BOPE atuar, isoladamente ou em apoio às demais unidades

operacionais, no policiamento ostensivo constituindo força de reação em condições

de agir como tropa de operações especiais com maior poder de enfrentamento à

criminalidade e forte capacidade de desdobramento tático, ou seja, atuar através nas

atividades de segurança pública que extrapolem o atendimento rotineiro do

policiamento:

Atualmente em sua estrutura organizacional o BOPE opera com duas

companhias de policiamento especializado, a COE – Companhia de Operações

Especiais e ROTAM – Rondas Ostensivas Tático Metropolitano.

Está reservado ao COE as seguintes atribuições operacionais:

a) Ocorrência com reféns localizados;

b) Seqüestro de pessoas;

c) Rebelião em estabelecimentos prisionais;

d) Ameaça de bombas e explosivos;

e) Operações em alturas;

f) Escolta de presos de alta periculosidade;

g) Ações de combate ao crime organizado, visando captura ou neutralização

de seus agentes;

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100

h) Atos terroristas;

i) Ações de guerrilha;

j) Seqüestro de aeronaves;

k) Captura de criminosos em locais confinados;

l) Enfrentamentos a grupos fortemente armados;

m) Manifestação de grupos de caráter sociais, políticos, econômicos,

religiosos que afetem a ordem pública, entre outros.

Quando ocorre uma ocorrência que foge ao atendimento rotineiro das

guarnições de serviço de rádio patrulhamento o emprego do BOPE torna-se

indispensável. Como vimos no segundo capítulo desta pesquisa, ocorrências

envolvendo bombas e explosivos não acontecem apenas na capital Cuiabá, local

onde o BOPE está sediado. A característica do BOPE, que atua em todo o Estado

de Mato Grosso, como tropa especializada destinada operacionalmente a treinar, dar

treinamento e operar lhe credencia a conter em sua estrutura organizacional um

grupo especializado no atendimento a ocorrências envolvendo explosivos e bombas,

subordinado à Companhia de Operações Especiais, a ser denominado Grupo

Antibomba.

5.2.1 Condições Atuais do BOPE no Atendimento a Oco rrências Envolvendo

Explosivos e Bombas

O Batalhão de Operações Especiais da PMMT em cumprimento a sua missão

peculiar tem atuado em ocorrências envolvendo bombas, no entanto faz-se

Page 102: Monografia benedito lauro_da_silva

101

necessário destacar alguns pontos, conforme entrevista cedida por OLIVEIRA59, Cap

PMMT, atualmente comandante da Companhia de Operações Especiais ao

comentar a atuação do BOPE na ocorrência do dia 12 de fevereiro de 2006, por

ocasião da neutralização de artefato explosivo encontrado no lado externo do muro

da Penitenciária Regional Pascoal Ramos:

Normalmente nos atendimentos de ocorrências envolvendo bombas utilizamos a técnica de neutralização do artefato por contra-carga. A desativação ou qualquer manipulação não é recomendado pela doutrina devido o risco em que o policial se submete, mesmo bem equipado.

Na Polícia Militar de Mato Grosso não há qualquer equipamento de proteção para ações que envolvam bombas. Nessas ocorrências atuamos com capacetes, coletes e escudos balísticos, só que, nenhum desses equipamentos protegem seguramente o policial que faz uma intervenção no explosivo, diante de uma eventual detonação de grande intensidade, pois não possui características de antifragmentação.

No BOPE apenas dois policiais possuem cursos na área de explosivos: O Soldado Claudemir que possui o curso de Operações em Explosivos realizado em Mato Grosso e eu que além de possuir o curso de Operações em Explosivos, fiz o curso de Explosivos Não Convencionais na IMBEL, porém, nenhum desses cursos nos habilita a atuarmos como explosivistas. Além da gente o Capitão Siqueira Junior também possui curso na área, tendo feito dois cursos no GATE de São Paulo, mas também não é explosivista, aliás, no nosso Estado não conheço alguém nas polícias que seja explosivista.

As exposições de Oliveira nos possibilitam a conhecer as atuais carências do

BOPE no que se refere a equipamentos necessários a um grupo antibomba, para

que o policial militar possa atuar com considerável segurança nas ocorrências

envolvendo bombas. Alem disso constata-se a necessidade de maior especialização

dos policiais que ali servem, dotando-os de conhecimentos técnicos necessários

para poder operar nessas ocorrências, devendo, inclusive estarem sempre treinados

e capacitados para atender todo incidente com explosivos com mínimos riscos à sua

integridade física e de terceiros.

59 OLIVEIRA, Edvaldo Souza. Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bomba: Necessid ade de Criação de Grupo Especializado na PMMT . Cuiabá, 22 fev. 2006. Entrevista concedida para a monografia de Benedito Lauro da Silva.

Page 103: Monografia benedito lauro_da_silva

102

5.3 EXIGÊNCIAS PESSOAIS DO GRUPO ANTIBOMBA

O Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais da Brigada

de Explosivos de Córdoba, Argentina60, cuja obra amplamente estudada, servindo

como referencial e consulta para as polícias militares do Brasil, sobretudo para o

GATE da PMESP, indica as seguintes exigências pessoais para um especialista em

explosivos:

- Perspicácia;

- Experiência profissional;

- Espírito de equipe;

- Formação técnica e cultural e;

- Dedicação ao serviço.

Além dessas, destacamos outras qualidades para pertencer à equipe de

bombas.

- Ser voluntário;

- Tempo mínimo de 02 anos de serviço;

- Habilitação para o serviço;

- Aprovação em testes físicos;

- Saúde e condições psicológicas perfeitas.

- Aprovado nas investigações social, disciplinar e financeira.

- Qualificação para o serviço.

60 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais , p.28.

Page 104: Monografia benedito lauro_da_silva

103

5.4 ESTRUTURA DO GRUPO ANTIBOMBA

O número mínimo de componentes para a formação da equipe de bombas é

de três indivíduos, sendo um chefe de equipe e demais componentes. No caso de

haver mais de três, deve ser organizado equipes de dois homens, necessitando a

designação de um chefe responsável pela atividade destes.

Serão atribuída às equipes a determinação de cumprimento de todas as

medidas de segurança, tendo como prioridade maior a vida.

Atribuições do Chefe de Equipe:

a) Ser o responsável administrativo de tudo que corresponda à equipe, como

escalas de serviço, documentações, atividades pessoais, materiais e equipamentos

de emprego em serviço, dentre outros;

b) Estabelecer programa de instrução;

c) Manter seu superior informado das necessidades e dificuldades

encontradas no desenvolvimento específico do serviço;

d) Estabelecer contato com os demais membros da unidade em que serve,

com a finalidade de manter um padrão de coordenação das atividades no momento

de sua atuação em explosivos;

Page 105: Monografia benedito lauro_da_silva

104

e) Em casos de incidentes deverá coordenar juntamente com o oficial de

serviço, com responsabilidade direita da área, medidas de proteção ou

desocupação.

Atribuições dos Membros da Equipe de bombas.

O membro da equipe em serviço deverá estar responsável por:

a) Manter estreita comunicação com o Chefe de Equipe;

b) Localizar em tempo mínimo toda a equipe de bombas;

c) Dispor de todo o material necessário para a saída da equipe;

d) Durante a chamada ou nom momento da operação e de acordo com a

necessidade prover medidas de segurança com tudo que estiver relacionado com o

objeto suspeito, isolando o local de risco, bem como, tomará as primeiras decisões

até que chegue a Equipe de Bombas;

e) Manter organizadamente e disponível os materiais para a atuação em

incidentes ou treinamento.

As primeiras providências do membro da equipe de bombas, colocando em

prática as medidas preventivas de segurança, evitará que se produzam vítimas no

local de risco.

Page 106: Monografia benedito lauro_da_silva

105

5.5 TIPO DE TRABALHO DESENVOLVIDO PELO GRUPO ANTIBO MBA

- Busca e identificação de bombas;

- Remoção e desativação de bombas;

- Ações preventivas de bombas;

- Proteção de autoridades;

- Perícia de explosões, bombas e materiais explosivos;

- Coleta de dados e análise de terrorismo e crimes envolvendo

explosivos;

- Desenvolver planos de emergência e segurança com bombas;

- Apoiar ações e operações especiais

- Apoiar investigações de crimes envolvendo explosivos.

5.6 TREINAMENTO DO POLICIAL MILITAR

Necessário se faz que os integrantes da equipe antibomba freqüentem

cursos e estágios de qualificação visando treinamento especial para o conhecimento

e aprimoramento da atividade que ora desempenham, agindo adequada e

tecnicamente diante de uma ocorrência de bomba, reduzindo ao máximo os riscos

para as pessoas e o patrimônio.

Em nível nacional e internacional, sobretudo naqueles locais onde vivem sob

intensa ameaça de bombas, organismos policiais dispõe de cursos que abordam

desde a técnica de busca e localização até a desativação ou neutralização de

explosivos. Dentre estes podemos destacar:

- Academia de Polícia do Estado de Louisiana, nos Estados

Unidos;

Page 107: Monografia benedito lauro_da_silva

106

- Escola de Polícia Judicial da Colômbia;

- Espanha - Escola de Desativação de Explosivos;

- Gendarmeria Nacional da Argentina;

- Brigada de Explosivos da Argentina;

- Corpo de Bombeiros Federal da Argentina;

- Polícia de Fronteiras de Israel;

- Indústria Militar de Israel (IMI);

- Academia Nacional de Polícia, da Polícia Federal brasileira;

- Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL);

- Grupo de Ações Táticas Especiais da PMESP61.

- Academia de Polícia Civil de São Paulo

Ao pertencer à equipe de bombas o policial deverá ter o necessário

conhecimento para agir com competência com explosivos, conhecendo técnicas e

procedimentos utilizados por todos as equipes de bombas do mundo, para a

aplicação de acordo com a realidade local.

5.7 EQUIPAMENTOS PARA O GRUPO ANTIBOMBA

Em seu mister, o policial militar técnico em bombas deverá primar em

proteger vidas humanas, inclusive a dele. Desta forma, torna-se necessário que

tenha à sua disposição equipamentos para agir com técnica adequada, permitindo

trabalhar com segurança, facilitando sua atuação sobre o artefato.

A utilização dos equipamentos tem como fundamento que estes foram

idealizados para utilização em incidentes envolvendo explosivos, deixando bem 61 Anualmente o GATE/PMESP realiza o Estágio de Medidas Preventivas em Ocorrências Envolvendo Explosivos (bombas).

Page 108: Monografia benedito lauro_da_silva

107

claro que nessas ocorrências o trinômio “homem-equipamento-treinamento” são

indispensáveis para uma solução com eficácia e segurança.

Os equipamentos utilizados pela equipe de bombas podem dividir conforme

a função empregada da seguinte maneira:

5.7.1 Equipamentos de Busca

a. Espelhos articulados.

Sistema moderno de inspeção para busca de bombas. Possui espelho

convexo, com lanterna iluminando as partes inferiores ou superiores dos objetos

para verificação destes, facilitando o trabalho do técnico.

b. Lanternas.

Meio utilizado como complemento dos espelhos articulados com extensão

da mão.

c. Cães farejadores de explosivos.

Normalmente os cães farejadores de substância explosivas são propensos a

trabalharem utilizando-se do focinho ou a boca para a localização de objetos.

Determinadas raças como o Pastor (Belga) Malinois, Retrivier do Labrador, Pastor

Alemão, Springer Spenhel, possuem maior aptidão para tais trabalhos, pois são mais

acessíveis ao treinamento.

d. Detectores de metais.

Equipamentos para utilização em revista de pessoas e objetos, visando

detectar, através do campo magnético, metais ferrosos e não ferrosos. Diante do

Page 109: Monografia benedito lauro_da_silva

108

que se busca o aparelho ativa um alarme audiovisual sem a necessidade de

contatar o aparelho na pessoa ou suas vestimentas.

e. Estetoscópios clínicos e eletrônicos.

Aparelho utilizado para amplificar sons transmitidos pela vibração, com

pouca distorção, aos ouvidos do examinador. Visa detectar sons rítmicos que

indiquem a presença de temporizadores mecânicos ou eletromecânicos.

f. Microfones especiais.

Consiste em captar as interferências sonoras, utilizados na busca e

determinação de locais de onde se originam sons suspeitos indicando a presença de

temporizadores mecânicos ou eletromecânicos em pacotes suspeitos.

g. Detector por contato de substâncias explosivas.

Equipamento destinado a identificar explosivos em correspondências ou

pacotes, sendo bastante sensível para explosivos plásticos. Seu visual é próprio

para uso em salas de escritórios, recepção, empresas, embaixadas, ministérios, etc;

evitando exposição ao perigo de artefatos explosivos.

h. Raio-x.

A finalidade deste equipamento é a observação do interior do pacote

suspeito antes de sua abertura ou a certificação de que o objeto está seguro para

abertura ou ingresso na instalação.

i. Analisador de gases explosivos.

Estes equipamentos devem ser vistos com um certo resguardo. Criam uma

falsa ilusão de segurança, pois são construídos para detectar vapores exalados de

Page 110: Monografia benedito lauro_da_silva

109

determinados explosivos. Se o invólucro estiver impedindo a saída dos odores do

explosivo ou se a bomba foi confeccionada com um tipo de explosivo diferente

daquele que o equipamento foi preparado, sua detecção será ineficiente. Podemos

portanto considerá-lo como um equipamento auxiliar, mas não essencial.

j. Fibroscópio – endoscópio.

Este equipamento permite ao técnico observar lugares pouco acessíveis

mediante a utilização de uma fibra ótica, projetando as imagens em um monitor.

5.7.2 Equipamentos de Proteção

a. Traje de Proteção para Operação com Bombas.

Conhecido também como Traje EOD8, utilizada pelo operador principal para

se aproximar de um artefato explosivo. Este traje antibomba possui excelente

flexibilidade e alta proteção contra impacto, calor, chamas e fragmentos, inclusive, é

considerado o tecnologicamente mais avançado equipamento do mercado

internacional. O traje antibomba incorpora compartimentos para sistema de

comunicação com ou sem fio. Possui um sistema de refrigeração integrada por uma

rede de dutos onde circula água gelada, indispensável, sobretudo, em países com

clima quente, como é o caso do Brasil.

b. Escudos. Antifragmentação.

Equipamento que permite ao técnico proteger-se dos artefatos mecânicos da

onda explosiva quando da aproximação. Este equipamento deve permitir uma ampla

visão e facilidade para ser transportado em um só braço, apoiável no solo mediante

tripés articulados, para que o técnico possa manipular outros equipamentos quando

estiver próximo da bomba.

Page 111: Monografia benedito lauro_da_silva

110

c. Manta antiexplosivo.

Equipamento utilizado pelas unidades especiais antiexplosivos por deter

fragmentos irregulares de bombas a uma velocidade máxima de 1.600 m/s e

temperatura de até 400 graus centígrados. Confeccionado em material de nylon,

com alças para transporte ou fixação no solo, servindo inclusive como escudo

antifragmentação.

d. Contêiner de explosivos.

Equipamento fabricado para contenção de ondas explosivas e retenção de

fragmentos, garantindo a segurança do técnico em explosivos, de pessoas nos

arredores e do patrimônio. Conta com espelhos côncavo para, mesmo distante, se

conseguir visualizar seu interior. Útil para remoção de bombas para local mais

seguro.

5.7.3 Equipamentos de Destruição

a. Cargas explosivas.

b. Detonadores (elétricos, não elétricos, pirotécnicos, etc).

c. Cordel detonante.

São explosivos que tem por finalidade iniciar cargas explosivas em função

da detonação de seu núcleo, portanto, garante a detonação como uma coluna de

carga.

d. Alicates de amolga.

Page 112: Monografia benedito lauro_da_silva

111

Ferramenta destinada apertar a parte vazia da espoleta comum de encontro

ao estopim ou ao cordel detonante que está em seu interior, o suficiente para que

ela seja arrancada facilmente e não tanto para que venha impedir a queima do

rastilho de pólvora do estopim.

e. Explosor.

Pequeno gerador de corrente elétrica para o lançamento de fogo às

correntes elétricas

f. Interruptor seguro.

5.7.4 Equipamentos de Transporte e Contenção Segura

a. Trailer Porta Contêiner.

Equipamento construído para alojar o contêiner, resistente às pressões

originadas da explosão, cujo objetivo agilizar o deslocamento do artefato com

segurança.

b. Cordas com Ganchos.

Utilizam-se como meios de retirada e translado de supostos artefatos para

lugares mais seguros, onde o policial técnico em explosivo possa atuar sujeito a

nenhum ou menor dano.

c. Braço Mecânico;

Equipamento construído com material leve e com mais de três metros de

extensão. São extensíveis e em sua extremidade leva algum acessório que pode ser

Page 113: Monografia benedito lauro_da_silva

112

uma corda, uma rede ou gancho que possa aplicar ao artefato explosivo, com

finalidade de remoção para um local seguro.

d. Robô.

Como norma geral o robô é empregado na maior parte das ocorrências,

tendo em vista que facilita o manuseio do artefato, estando o operador em

segurança e à distância, inclusive com a utilização de circuito de TV. Extremamente

útil nos casos de intervenção em veículos suspeitos, abertura de malas, depositar

cargas ou retirar artefatos de interiores, ataques com canhão disruptor, dentre outras

atividades.

5.7.5 Equipamentos de iluminação

a. Refletores e lanternas especiais.

b. Canhão de luz.

Equipamentos utilizados para melhor visualizar o artefato em locais

distantes, ou causar a explosão deste, em área rural ou inóspita, no caso de

acionamento por sistema fotoelétrico.

5.7.6 Meios de Observação

a. Binóculos.

Equipamento que permite a visão a distância valendo-se do aumento que

apresentam em suas lentes. Recomendado para utilização em distâncias acima de

cem metros.

b. Óculos de Visão Noturna.

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113

Equipamento que possui a capacidade de permitir a visão através de lentes

de radiação infravermelha, em locais escuros como túneis, sótãos, em que não se

recomenda o acendimento de interruptores.

5.7.7 Meios Auxiliares

a. Câmera fotográfica

b. Máscaras de gás.

c. Rádio.

d. Megafone.

e. Fitas de demarcação.

5.7.8 Equipamento de Neutralização por Ação Química

a. Nitrogênio líquido

Material que por sua característica produz resfriamento nos elementos

internos provocando rigidez dos elementos mecânicos, impedindo movimentos,

neutralização da energia das pilhas, dificultando o processo químico existente no

explosivo.

5.7.9 Equipamentos Lesivos

a. Canhão disruptor.

Um dos equipamentos mais eficazes na destruição dos explosivos,

conseguindo seu objetivo na maioria dos casos. A sua colocação em relação ao

Page 115: Monografia benedito lauro_da_silva

114

explosivo não é arbitrária, devendo ser dirigida com a finalidade de destruir a bomba

em sua fonte de alimentação, sistema de iniciação e demais elementos do artefato.

b. Fuzil.

Arma de fogo recomendada para utilização em zonas rurais com a vantagem

de desmantelar o artefato com maior distância de segurança, que para tal deve ser

manipulada por especialistas nesse tipo de equipamento.

5.7.10 Equipamentos de Desativação e Investigação

a. Valisa com ferramentas para desativação.

b. Valisa com ferramentas para utilização pós-explosão.

5.8 PROCEDIMENTO OPERACIONAL EM OCORRÊNCIAS ENVOLVE NDO

EXPLOSIVOS E BOMBAS

Os procedimentos operacionais destacados neste trabalho monográfico

estão em consonância com os procedimentos técnicos adotados a nível

internacional, como por exemplo, a Brigada de Explosivos de Córdoba, na

Argentina62 e a nível nacional, o GATE da Polícia Militar do Estado de São Paulo63 e

COE da Polícia Militar do Distrito Federal64.

62 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais . 63 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos , GATE, São Paulo. 2005. 64 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos. Distrito Federal . 4º COESP, 2004.

Page 116: Monografia benedito lauro_da_silva

115

5.8.1 Das Providências com o Artefato

Atualmente existem duas doutrinas acerca das providências adotadas em

ações envolvendo bombas. A doutrina da Escola Americana e a doutrina da Escola

Européia.

Pela doutrina americana, nesses casos, a equipe de técnicos em bombas

procuram neutralizar o artefato explosivo com a preocupação de mantê-lo o mais

intacto possível para o trabalho de perícia e investigação. Esse processo é chamado

de desativação ou desmontagem. Técnica recomendada somente com a perfeita

identificação dos componentes da bomba. A desvantagem dessa técnica é o alto

risco de vida para o explosivista, um risco desnecessário, que poderá custar-lhe

graves lesões ou a perda da vida.

Por outro lado, as polícias brasileiras adotaram a doutrina européia no que

se refere a solução de ocorrências envolvendo bombas, ou seja, procuram

neutralizar o artefato com a prioridade de garantir a segurança das pessoas, dos

técnicos e a preservação dos bens materiais. A desvantagem está na causa de

danos materiais, eliminando considerável parte das evidências e dificultando a

perícia e investigação.

5.8.2 Do Atendimento a Ocorrências Envolvendo Bomba s

Diante de uma notícia de ocorrências de bombas, deve-se analisar o

conteúdo dessa notícia a fim de identificar se trata de uma falsa ameaça ou ameaça

real.

Page 117: Monografia benedito lauro_da_silva

116

Entende-se falsa ameaça quando as informações ou análise da suspeita são

infundadas ou desencontradas, não havendo motivação, indícios ou provas que

confirmem a possível existência da bomba, o local ou a pessoa ameaçada não é um

alvo em potencial. São característicos de tais casos, telefonemas anônimos, cartas e

ameaças pessoais de vingança.

Diz-se ameaça real quando existem características criminosas ou terroristas

e elementos materiais ou testemunhais que comprovem ou confirmem a possível

existência da bomba. A pessoa ou local ameaçado é um alvo em potencial. Tais

casos caracterizam-se através de pessoas que viram a bomba ou a montagem e

instalação da mesma, pessoas que participaram de sua confecção e agora julgam

arrependidas, visualização de pedaço de explosivos, acessórios ou mecanismos da

possível bomba e informações de sua exata localização.

5.8.3 Orientações ao Atendente da Ameaça

O atendente da comunicação da ameaça de bomba deverá manter a calma,

não fazer alarme, evitando, desta forma, a propagação do pânico. A conversa com o

ameaçador deve perdurar o máximo possível visando colher o maior número de

informações. Estas são algumas orientações ao atender uma ameaça:

- Procure anotar todas as palavras do ameaçador. Posteriormente poderá

ser feito análise da ameaça, se conexas ou não;

- Se possível coloque alguém na extensão do telefone, que, em silêncio,

também poderá ajudar nas anotações;

Page 118: Monografia benedito lauro_da_silva

117

- Preste atenção na voz do ameaçador, a fim de identificar gírias, sotaques,

se pastosa, idade presumida, entre outros detalhes;

- Procure, sem insistência, saber quem está falando e seu endereço;

- Procure observar ruídos de fundo, que poderá auxiliar na identificação da

localização do ameaçador;

- Procure saber do ameaçador quando a bomba irá explodir;

- Procure saber se foi ele quem fez ou colocou a bomba;

- Procure saber a motivação da fabricação e colocação da bomba;

- Pergunte ao ameaçador onde está e qual o tipo da bomba;

- Pergunte como o ameaçador colocou a bomba;

- Procure saber do ameaçador o que acontecerá se ela explodir;

- Pergunte o que pode ser feito para evitar a explosão da bomba.

Após o recebimento da ameaça deverá ser feita a classificação da ameaça

mediante uma análise completa da situação, verificando a quem foi dirigida a

ameaça, a motivação para o atentado, a oportunidade que teve o agente, os meios

empregados, as características do explosivo e os meios que a polícia local dispõe

Page 119: Monografia benedito lauro_da_silva

118

para o atendimento da ocorrência, para então atuar de acordo com a técnica

adequada.

5.8.4 Ações Antibomba e Ações Contrabomba

O IP-1-PM da Polícia Militar do Estado de São Paulo faz a seguinte alusão

acerca das ações antibomba:

Art. 23. Ações Anti-bomba – são todas as operações e procedimentos operacionais policiais militares de caráter preventivo ou de reação imediata a um atentado a bomba até o nível de localização de objetos suspeitos ou caracterização da real possibilidade da existência de uma bomba em determinado local.

As ações antibomba consistem na segurança de pessoal e instalações,

análise de atentados a bomba, buscas preventivas e localização de objetos

suspeitos.

Quanto as ações contrabomba assim preconiza o mesmo manual:

Artigo 24 - Ações Contra-bomba - São todas as operações e procedimentos operacionais policiais militares de reação a um atentado a bomba, englobando a identificação, remoção, desativação e neutralização de bombas. Tais procedimentos só podem ser realizados por pessoal técnico e devidamente habilitado para tais missões, uma vez que envolvem alto risco de vida para os policiais e para a população envolvida na ocorrência.

As ações contrabomba visam a identificação de objetos suspeitos, remoção,

desativação e neutralização da bomba.

Page 120: Monografia benedito lauro_da_silva

119

5.8.5 Técnicas de Busca

O Manual de Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo

Explosivos do GATE/PMESP65 traça as seguintes orientações para a realização de

uma busca:

- Usar pelos menos duas pessoas;

- Organizar buscas;

- Saber o que se busca;

- Selecionar os lugares mais prováveis;

- Atenção para caminhos condicionados;

- A busca é essencialmente visual;

- suspeitar de objetos anormais ou abandonados;

- Não abrir portas, armários ou gavetas sem confirmar segurança;

- Não acender ou apagar luzes e não usar elevadores sem confirmar

segurança;

- Considere a existência de mais de um artefato;

65 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos , GATE, São Paulo, p. 25. 2005.

Page 121: Monografia benedito lauro_da_silva

120

- Tudo pode ser uma bomba.

Convém destacar que durante uma busca ou varredura tudo pode ser

meticulosamente analisado, uma vez que a bomba poderá ser de fabricação caseira

ou industrial e estar disfarçada sob a forma de qualquer objeto. No vídeo instrução

da SENASP que trás informações policiais acerca de ocorrências com bombas, o

então Cap PMESP Mascarenhas, especialista em explosivos, faz a seguinte

colocação acerca da identificação da bomba caseira66:

Esta é a dúvida da maioria das pessoas. Quando falamos em

fabricação da bomba caseira é importante salientar que a imaginação de

seu construtor é o limite para a fabricação dessa bomba, ou seja, ela pode

parecer com o que a gente quiser, com os mais diversos formatos, por

exemplo, uma caixa de bombom, um ramalhete de flores, uma carta-bomba,

um livro-bomba, um pacote-bomba. A idéia que se tem normalmente é que

a bomba é uma granada militar ou algumas bananas de dinamite junto com

o estopim. Isto porque é o que mais nós vimos nos exemplos dos filmes de

televisão. (sic)

Para a realização da busca o policial militar deverá preocupar-se em fazê-la

de forma rápida checando todos os pontos de maneira seqüencial a não vistoriar

duas vezes um mesmo local e deixar de checar outro. Tanto a PMESP, quanto a

PMDF adota algumas técnicas chamadas de seqüência de busca: divisão em

quadrantes, seqüência espiral, zonas longitudinais e arcos capazes.

66 OCORRÊNCIAS com bombas . Produção do Ministério da Justiça. Coordenação da Polícia Militar do Estado de São Paulo. São Paulo: SENASP, 2002. 1 fita de vídeo (45min), VHS, son., color.

Page 122: Monografia benedito lauro_da_silva

121

5.8.5.1 Divisão em Quadrantes

Na divisão em quadrantes (Figura 1) o local é dividido em duas, quatro, oito,

nove, dez ou mais partes, de acordo com a necessidade, que são numeradas em

ordem seqüencial. O policial militar realiza a busca em um quadrante antes de

passar para outro. Se houver duas ou mais pessoas envolvidas na busca, os

quadrantes são divididos entre as pessoas envolvidas. Esta técnica é mais indicada

para buscas em salas, escritórios e outros ambientes de porte médio e grande, com

muitos móveis ou divisórias em seu interior.

Figura 1: Divisão em quadrantes

5.8.5.2 Divisão em Seqüência Espiral

Na seqüência espiral (Figura 2) o responsável pela busca inicia partindo-se

do centro do local para as extremidades. Realiza-se a varredura completando

círculos crescentes ou decrescentes até fechar todo o ambiente. Esta técnica é

indicada para salas e locais pequenos ou com poucos móveis. O espiral partindo das

extremidades para o centro, por outro lado, é indicado para ambientes amplos e com

poucos móveis, como galpões e depósitos.

11 22 66

33 55 77

44 88 99

Page 123: Monografia benedito lauro_da_silva

122

Figura 2: Seqüência em espiral

5.8.5.3 Divisão em Zonas Longitudinais

A técnica de busca em zonas longitudinais (Figura 3) consiste em dividir o

ambiente em faixas, sendo as mesmas numeradas em ordem seqüencial e

distribuídas às pessoas envolvidas na busca. Técnica indicada para buscas em

auditórios, restaurantes e teatros.

Figura 3: Zonas Longitudinais

5.8.5.4 Divisão em Arcos Capazes.

Na técnica de busca por arcos capazes (Figura 4) todo o ambiente deverá

ser dividido em tantos arcos imaginários quantos forem necessários, levando em

conta as dimensões do local e o número de pessoas disponíveis para a busca. A

busca deverá ser realizada da área mais crítica para a menos crítica. Técnica

indicada para ambientes com forma curva ou semicircular.

4

3

2

1

Page 124: Monografia benedito lauro_da_silva

123

Figura 4: Arcos Capazes

5.8.5.5 Módulos de Varredura.

Os módulos de varredura (Figura 5) consistem na técnica pela qual, na

seqüência da varredura, o policial militar deve passar por quatro vezes em cada

local, observando em cada passagem uma determinada altura do ambiente. Esta

técnica também visa a organização e o racionamento do trabalho, observando

principalmente o trabalho ergométrico e físico do homem, para que não fique

alternando seqüencialmente seu foco de atenção. Assim, o policial militar trabalhará

inicialmente com o corpo sempre em uma posição, mudando-a na passagem

seguinte:

- Primeiro módulo – visa vistoriar o ambiente do chão até a altura da cintura.

Tornam alvos desta varredura o chão, tapetes, mesas, cadeiras, poltronas, objetos

em cima de móveis, armários, entre outros. O primeiro módulo é sempre o mais

demorado, uma vez que a maioria dos objetos e móveis de uma sala estão nessa

altura.

Page 125: Monografia benedito lauro_da_silva

124

- Segundo módulo – vistoriar o ambiente da altura da cintura até a altura da

cabeça. Nesta fase, são vistoriados as paredes, janelas, quadros, luminárias,

armários, estantes e outros objetos existentes.

- Terceiro módulo – vistoriar da altura da cabeça até o teto, onde são alvos

luminárias, alto de estantes, cortinas, ar condicionados, entre outros.

- Quarto módulo – trata da vistoria de pontos mortos ou com dificuldade de

acesso, como forros, tetos falsos ou suspensos, pisos falsos, fiação, interior de

eletrodomésticos e outros pontos considerados importantes.

Figura 5: Módulos de Varredura

5.8.6 Desocupação de Locais de Risco

É a retirada emergencial de pessoas de um local sob grave risco para um

local seguro, num breve espaço de tempo. Trata-se de uma medida de reação que

não deve ser realizada como medida antibomba. Pode ser realizada de duas formas:

44ºº MMóódduulloo

33ºº MMóódduulloo

22ºº MMóódduulloo

11ºº MMóódduulloo

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125

a) Desocupação parcial:

Deve ser feita mediante análise de ameaça real, quando se tem certeza do

local exato onde a bomba se encontra e a avaliação de danos for controlada.

Comumente neste caso o acesso de pessoas ou objetos no local é limitado.

b) Desocupação total:

Deverá ser feita quando mediante análise tiver certeza da existência de

bomba, porém não a tiver localizado e a avaliação de danos for elevada. Aqui é livre

o acesso de pessoas ou objetos no local, aumentando a oportunidade do criminoso

realizar a colocação do artefato.

Oportunamente convém enfatizar que a desocupação precipitada não

resolve o problema. Torna impossível a realização das ações antibomba,

considerando que só quem conhece perfeitamente o local é quem possui condições

para melhor identificar um objeto suspeito. Além disso, uma desocupação

precipitada causa pânico e paralisação das atividades, o que pode ser o principal

objetivo do ameaçador.

5.8.7 Medidas em Ocorrências com Artefato Localizad o

A primeira orientação às pessoas ou guarnição de serviço é a de isolar o

local, não mexer, não tocar, não remover e não ficar próximo ao artefato explosivo.

Medidas criteriosas devem ser adotadas para não provocar tumulto, pânico

ou evacuações precipitadas, preocupando em colher o maior número de

informações possíveis a respeito do encontro do artefato, local exato, características

do artefato, se o objeto foi tocado ou movido por alguém, se o local já foi vitima de

Page 127: Monografia benedito lauro_da_silva

126

alguma ameaça ou atentado e se há certeza de que o objeto não pertence a algum

conhecido. Essas primeiras informações facilita em muito a atuação do grupo

especializado.

Para o perfeito isolamento do local deve-se levar em consideração o tipo e a

quantidade das cargas explosivas iniciadora, reforçadora e principal, caracterizados

pelo volume e peso. No entanto, nem sempre o policial que localiza a bomba tem o

pleno conhecimento dessas informações, avaliando perfeitamente os riscos e o

coeficiente de segurança. Nestes casos o Manual de Procedimentos com Explosivos

da PMDF67 trás faz a seguinte observação quanto a distância mínima de segurança:

Para a detonação de espoletas – 25m.

No caso de altos explosivos em terreno limpo:

- Até 1 Kg: 60m

- Aumente 40 m para cada quilo a mais.

No caso de altos explosivos em terreno pedroso:

- Até 1 Kg: 90 m.

- Aumente 60 m para cada quilo a mais.

67 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos . 4º COESP, p. 14. 2004.

Page 128: Monografia benedito lauro_da_silva

127

5.8.8 Técnicas Empregadas por Grupo Especializado e m Bombas

De acordo com o tipo de bomba ou explosivo encontrado, será a técnica

utilizada pelo Grupo Especializado em Bombas. Dentre essas técnicas temos a

remoção, desmontagem, destruição parcial ou total.

A remoção consiste na retirada, levantamento ou transporte do artefato de

um local para outra distância próxima depois de comprovada necessidade com a

finalidade de evitar danos pessoais ou ao patrimônio. Esta ação é possível mediante

a aplicação de meios como a utilização de robôs, braço mecânico, redes, cordas e

contêiner.

A desmontagem ou desativação somente é recomendada nos casos em que

o operador principal examinou exaustivamente todos os meios e procedimentos

utilizados na construção do artefato. Para tanto, além da experiência técnica o

operador deve-se valer dos equipamentos de observação, proteção e meios

auxiliares. Essa é a última opção recomendada em decorrência do alto risco a que é

submetido o membro do grupo especializado.

A destruição parcial é utilizada com a finalidade de neutralizar o artefato com

qualquer procedimento sem que chegue a explodir totalmente, podendo recuperar

alguns dos componentes. Esta ação pode ser desenvolvida através do canhão

disruptor, fuzil e em alguns casos com a ajuda do cordel detonante.

A destruição total será desencadeada quanto não restar alternativa para o

Grupo Antibomba, após analisados os riscos que o artefato possa proporcionar, o

desconhecimento de sua construção e a falta de técnica ou equipamentos para lidar

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128

no atendimento. Para tanto devem ser adotadas precauções no sentido de minimizar

os riscos.

Sem dúvida que o operador estará mais sujeito aos perigos que o artefato

oferece, desta forma sua aproximação deverá ser mínima e com menor tempo

possível, uma vez que produzida a explosão estará a salvo dos efeitos dela.

Normalmente são utilizadas as técnicas de contra-carga que consiste na

aplicação de uma pequena carga explosiva de efeito dirigido ou não que pelo efeito

da simpatia ocasiona o acionamento do outro explosivo.

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129

CONCLUSÃO

A presente pesquisa monográfica buscou realizar uma apreciação acerca

das ocorrências envolvendo explosivos e bombas no Estado de Mato Grosso, cujo

assunto pouco explorado, no entanto, constitui de suma importância para a Polícia

Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos

bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral,

seja do policial militar ou não.

Para tanto, inicialmente fez-se uma contextualização histórica, a fim de

demonstrar um panorama do terrorismo, sua evolução e o seu perfil contemporâneo,

mantendo o cuidado de especificar as formas e motivações do terrorismo para

posteriormente analisar a necessidade de atuação dos organismos policiais num

passado recente até a atual conjuntura.

Este trabalho científico, em seguida, procurou elencar os dispositivos legais,

de conteúdos de Direito Internacional, Constitucional, Penal e Administrativo, acerca

das condutas criminosas, terroristas ou não, envolvendo explosivos e bombas. No

entanto, evidenciamos a necessidade de uma análise meticulosa para se

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130

estabelecer uma definição jurídico-penal do terrorismo, em decorrência das formas

da prática do crime estarem preconizadas de forma autônoma, como homicídio,

lesões graves, extorsões, explosão, incêndios, seqüestros, genocídios, entre outros.

Desta forma para tipificação especial quanto à prática do terrorismo deve ser

realizado estudos em âmbito do Direito Internacional, preenchendo qualquer lacuna

de incriminação dessa conduta. Na esfera administrativa a Polícia Militar do Estado

de Mato Grosso expediu a Diretriz de Ação Operacional nº 026 regulando as ações

internas no atendimento das ocorrências envolvendo bombas, porém, tal norma

interna encontra-se desatualizada quanto aos procedimentos administrativos, táticos

e técnicos, conforme constatado nas pesquisas bibliográficas.

Com base em pesquisas documentais extraídas de jornais, boletins de

ocorrências e livros de ocorrências, foram demonstradas ocorrências policiais dos

últimos três anos, demonstrando que este Estado também tem sido alvo de condutas

criminosas com utilização de explosivos e bombas, havendo necessidade da

intervenção policial em cumprimento ao seu mister. Foram analisados, também, o

perfil dos utilizadores dos artefatos, as características desses artefatos e a principal

motivação de suas ações. Ficou patente que Mato Grosso não constitui alvo de

atentados terroristas de cunho político, religioso ou reacionário, no entanto,

criminosos tem utilizado explosivos em diversas modalidades de crime, com

destaque especial aos ataques a estabelecimentos penais, cuja finalidade, favorecer

fugas.

Foram evidenciados os principais tipos de substâncias explosivas e bombas,

em que foram demonstrados tipos e características principais, tipos de acionamento,

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131

conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial à bomba

caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes. Tal assunto

foi cuidadosamente analisado antes de sua transcrição, visando evitar que este

trabalho se transforme em “manual terrorista”, uma vez que não tem o condão de

ensinar a fabricação de bombas, tendo por finalidade maior, prover ao policial militar

o conhecimento do artefato e suas conseqüências desastrosas no caso de

manipulação incorreta.

O problema suscitado neste trabalho científico corresponde com a hipótese

levantada. Foram analisadas as principais equipes especializadas em bombas a

nível internacional e nacional, com destaque à sua formação operacional e funcional.

Conclui-se, portanto, que a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso não possui

procedimentos adequados para atendimento de ocorrências com bombas que vão

desde as peculiaridades do atendimento da ameaça, que é fator determinante para a

avaliação dos riscos, até a solução operacional do Grupo Antibomba. Conhecendo

aos procedimentos operacionais e logísticos do Batalhão de Operações Especiais

do Estado de Mato Grosso, restou notória a necessidade urgente da criação de um

grupo especializado em explosivos e bombas, uma vez que há carência de

profissionais com conhecimentos e treinamentos especiais. Outra medida que requer

imediatez é a aquisição, por parte do Governo do Estado, de equipamentos

indispensáveis no atendimento a essas ocorrências, visando proteger principalmente

a vida, bem indisponível com a devida proteção do Estado.

A avaliação da importância da criação do Grupo Antibomba se faz pela

simples observação das ocorrências citadas nesta pesquisa, embora Mato Grosso

não contribua tanto para o aumento da estatística e divulgação a nível internacional.

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132

A vida do policial, que diante da falta de conhecimento técnico, equipamento e

treinamento, submete-se a enorme risco, deve ser levado em conta. Ademais, não é

necessário o pré-requisito ser terrorista para se fazer uma bomba. Basta apenas um

mínimo conhecimento técnico e materiais para se fazer um artefato com

considerável potencial ofensivo.

As atuações até o momento devem-se ao espírito heróico e destemido dos

membros do BOPE que com espírito guerreiro se atrevem a buscar soluções ou

alternativas para a neutralização do artefato utilizando apenas equipamentos de

proteção balística, que em casos de detonação do artefato, nada servem como

proteção, expondo a vida do policial militar. Neste capítulo foram demonstrados

conteúdos relativos ao trato com explosivos e bombas voltados para a atuação

policial militar, dentro do nível de suas atribuições. O conteúdo privilegia o

conhecimento sobre as técnicas modernas de buscas, localização, remoção,

desativação e neutralização de artefatos explosivos e ainda, dispões de informações

dos equipamentos necessários para uma atuação segura no atendimento de

ocorrências envolvendo bombas.

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133

SUGESTÕES

O momento em que se passa a segurança pública, após acompanharmos

meticulosamente as audaciosas ações criminosas no cenário internacional e

nacional e a demanda de ocorrências envolvendo explosivos no Estado de Mato

Grosso, apresentadas neste trabalho científico, cujas, ofereceram ameaças e riscos

a vida das pessoas e danos ao patrimônio, justificam a criação de um grupo

especializado em explosivos e bombas, a ser denominado Grupo Antibomba,

subordinado imediatamente à Companhia de Operações Especiais, que por sua vez

está diretamente subordinada ao Batalhão de Operações Especiais.

Para uma primeira formação do Grupo Antibomba propomos uma rigorosa

seleção para serem capacitados no mínimo seis policiais militares, já pertencentes

ao BOPE, haja vista que os policiais que ali servem já estão habituados a atenderem

ocorrências de alto risco e adaptados à doutrina de operações especiais. O número

de seis policiais justifica-se pelo fato da escala de serviço diário da Unidade ser de

24 horas de serviço por 48 horas de descanso, o que proporcionará o número de

dois policiais militares, técnicos em explosivos, de serviço diariamente.

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Diante dessa atuação há necessidade de aquisição de armamento e

equipamentos mínimos necessários para dotar o Grupo Antibomba, para que este

seja capaz de treinar, dar treinamento e operar efetivamente as táticas e técnicas

diante da intervenção em ocorrências envolvendo artefatos explosivos, alcançando

objetivos propostos com a devida segurança.

O treinamento deverá ser gradual e constante, aproximando ao máximo da

realidade, de forma que o policial entenda que o trabalho deve ser desenvolvido em

grupo. Este trabalho monográfico elencou diversos organismos policiais a nível

nacional e internacional, onde poderão ser viabilizadas participações em cursos que

capacitarão nossos policiais no atendimento dessas ocorrências.

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135

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139

APÊNDICE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA E CIÊNCIAS CON TÁBEIS-FAEEC

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE-PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBL ICA

Prezado Policial Militar: Em decorrência deste Oficial estar imbuído na elaboração de um trabalho

monográfico, o qual constitui requisito obrigatório para a conclusão com aprovação

no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), bem como, para a obtenção do

grau de Especialista em Segurança Pública (CEGEsP), na Universidade Federal de

Mato Grosso, cujo tema do referido trabalho é “Ocorrências Envolvendo

Explosivos e Bombas: Necessidade de Criação de um G rupo Especializado na

Polícia Militar do Estado de Mato Grosso ”. Concito-vos a responder as perguntas

desta entrevista, contribuindo dessa forma, para o aperfeiçoamento dos trabalhos de

policiamento da PMMT.

Sem mais para o momento, desde já agradecemos pela vossa importante

contribuição para o nosso propósito.

Cuiabá, 22 de fevereiro de 2006.

Benedito Lauro da Silva – Cap PM Oficial Aluno do CAO – RGPMMT 878.979

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ENTREVISTA

1. Dados Relativos ao Policial Militar: Posto ou Graduação: _____________________ Unidade em que serve _______________________ Tempo de Serviço na Polícia Militar: _______________________ Escolaridade: ___________________________ Cursos na área de explosivos e bombas ______________________________ 2. Considerando que a Polícia Militar tem atuado em ocorrências envolvendo explosivos e bombas, elenque quais equipamentos de segurança são utilizados nessas ocorrências: 3. Na Unidade que serve quantos policiais militares possuem habilitação para atuarem em ocorrências envolvendo explosivos e bombas? 4..O Sr. atuou na ocorrência envolvendo artefato explosivo na Penitenciária Pascoal Ramos no dia 12 de fevereiro do corrente. Que tipo de explosivo foi colocado ao muro do presídio? Qual o tipo de providencia tomada pelo Sr. e quais equipamentos para segurança do policial foram utilizados? 5. Acha necessária a criação de um grupo antibomba na PMMT?