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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA, E CIÊNCIAS CO NTÁBEIS-FAECC
ACADEMIA DE POLICIA MILITAR COSTA VERDE - PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBL ICA-CEGEsP/CAO
OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:
NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.
BENEDITO LAURO DA SILVA-CAP PM
CUIABÁ – MT 2006
BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM
OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:
NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO DE ESPECIALIZADO NA PMMT.
Orientador: Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM
CUIABÁ – MT 2006
Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO como requisito obrigatório para a conclusão do curso e obtenção do grau de Especialista em Gestão de Segurança Pública.
OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS E BOMBAS:
NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM GRUPO ESPECIALIZADO NA PMMT.
BENEDITO LAURO DA SILVA – CAP PM
Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores do
Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública – CEGEsP/CAO, da
Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da Universidade
Federal de Mato Grosso, e julgada adequada para a concessão do Grau de
ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA.
Banca Examinadora:
Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal - Maj PM
Orientador/Presidente da Banca
Celso Henrique de Souza Barboza – Maj PM
Membro
Edson Benedito Rondon Filho – Maj PM Membro
Prfª MsC Lúcia Regina de Souza Membro
Nota obtida pelo aluno ________
Profª MsC MARIA EUNICE GONÇALVES AGUIAR Coordenadora do Curso
DEDICATÓRIA
Aos meus pais pela sabedoria, verdadeiros
exemplos para a minha formação.
Às minhas filhas Júlia e Isabella, verdadeiras jóias
raras, razão do meu esforço.
Á minha namorada Carolina Bittencourt, a quem
tanto amo.
A todos aqueles que de alguma forma colaboraram
na elaboração deste trabalho, em especial ao
GATE/PMESP.
A todos os policiais militares honrados que labutam
dia a dia contra a criminalidade.
AGRADECIMENTO
A Deus, Pai, Todo Poderoso, pela oportunidade de
ser um policial militar.
Ao Sr. Ten Cel PM Jorge Catarino Moraes Ribeiro,
reconhecidamente verdadeiro baluarte para a
realização do CAO / CEGEsP.
Aos meus mestres, em especial ao meu orientador
neste trabalho Sr. Maj PM Rhaygino Sarly Rodrigues
Setúbal, pela sabedoria, dedicação e paciência
durante os ensinamentos.
Ao Sr. Maj Celso e Profª Msc Lúcia Regina,
coordenadores do CAO / CEGEsP, profissionais
dedicados e comprometidos com o ensino.
A todas as pessoas que amo, que espero, se
reconheçam neste agradecimento.
EPÍGRAFE
“A única coisa necessária para o triunfo do mal é
que os bons homens não façam nada”.
Edmund Burke
RESUMO
Este trabalho monográfico aborda o atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos no Estado de Mato Grosso, avaliando a existência ou não de procedimentos específicos na atuação policial. Num primeiro momento realiza um passeio pela história dessa modalidade de ocorrência, que tem início com terrorismo internacional, passando por fatos de nível nacional e fatos ocorridos em Mato Grosso. Faz menção sobre o aspecto legal acerca do terrorismo e crimes envolvendo explosivos, procurando conceituar explosivos e bombas, caracterizando-os, bem como, reúne medidas preventivas no atendimento dessas ocorrências. Em seguida, expõe sobre a necessidade de criação de um grupo especializado, a fim de que os policiais militares, que porventura venham atuar no Grupo Antibomba, apliquem de forma técnica e tática, conhecimento e recursos necessários para ações de prevenção e resolução de ocorrências envolvendo localização de bombas e explosivos, alcançando ao final, o melhor resultado possível que consiste na preservação da vida, da integridade física das pessoas e do patrimônio.
Palavras – chave: Terrorismo, Bombas e Grupo Especializado.
ABSTRACT
This monographic work approaches the attendance of occurrences involving bombs and explosives in the State of Mato Grosso, evaluating the existence or not of specific procedures in the police performance. At a first moment it carries through a stroll for the history of this modality of occurrence, that has beginning with international terrorism, passing for facts of national level and facts occurred in Mato Grosso. It makes mention on the legal aspect concerning the terrorism and crimes involving explosive, looking for to appraise explosives and bombs, characterizing them, as well as, it congregates writ of prevention in the attendance of these occurrences. After that, it displays on the necessity of creation of a specialized group, so that the military policemen, who porventura come to act in the Antibomb Group, apply of form necessary technique and tactics, knowledge and resources for action of prevention and resolution of occurrences involving localization of bombs and explosives, reaching to the end, best resulted the possible one that consists of the preservation of the life, of the physical integrity of the people and the patrimony.
Words - key: Terrorism, Bombs and Specialized Group.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. x
LISTA DE ABREVIAÇÕES ................................................................................... xi
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12
1 TERRORISMO.................................................................................................... 17 1.1 Conceito de Terrorismo................................................................................ 17 1.2 Conjectura Histórica..................................................................................... 22 1.3 Motivações do Terrorismo............................................................................ 35 1.4 Perfil dos Causadores de Ameaça em Termos Globais.............................. 36 1.5 Tipos de Terrorismo..................................................................................... 37 1.6 Características do Terrorismo Internacional................................................ 40 1.7 Terrorismo no Brasil..................................................................................... 42 1.8 Classificação do Terrorismo no Brasil.......................................................... 44 1.9 Neoterrorismo Brasileiro............................................................................... 45 1.10 Os Incidentes com Bombas no Território Brasileiro................................... 48
2 ASPECTOS LEGAIS .......................................................................................... 51 2.1 Direito Internacional..................................................................................... 51 2.2 Constituição Federal.................................................................................... 53 2.3 Lei de Segurança Nacional.......................................................................... 53 2.4 Código Penal................................................................................................ 54 2.5 Lei das Contravenções Penais.................................................................... 55 2.6 Código Penal Militar..................................................................................... 56 2.7 Estatuto da Criança e do Adolescente......................................................... 56 2.8 Diretriz de Ação Operacional da PMMT....................................................... 57
3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO............ 59
3.1 Prisão do foragido Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão”..................... 59 3.2 Explosão no interior de veículo em Cáceres................................................ 60 3.3 Indivíduos Presos no Terminal do bairro Morada da Serra......................... 60
3.4 Falsa Bomba no Bairro Jardim Primavera................................................... 61 3.5 Vândalos Atearam Fogo em Motocicletas na Ciretran de Rondonópolis..... 62 3.6 Bomba Deixada em Supermercado de Colíder........................................... 63 3.7 Bomba Colocada em Banheiro de Escola em Cuiabá................................. 64 3.8 Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos Sofre Ataque de Bomba........ 65 3.9 Novamente Ataque com Bomba à Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos................................................................................................................
66
3.10 Estudante Preso Tentando Armar Bomba no Banheiro de Escola em Rondonópolis.....................................................................................................
67
3.11 Companhia de Polícia Comunitária do Jardim Vitória Sofre Ataque de Bomba................................................................................................................
68
3.12 Após Explosão de Bomba Detentos Fogem da Cadeia Pública de Várzea Grande...................................................................................................
69
3.13 Homem Mantém Familiares e Ex-esposa Reféns sob Ameaça de Explosivos..........................................................................................................
71
3.14 Artefato Explosivo é Encontrado em Muro da Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos...................................................................................
73
3.15 Perfil dos Utilizadores de Bombas em Mato Grosso.................................. 74 3.16 Tipos de Explosivos Utilizados pelos Criminosos...................................... 75 3.17 Finalidade da Utilização dos Explosivos.................................................... 76
4 BOMBAS ............................................................................................................ 77 4.1 Conceitos de Explosivo................................................................................ 77 4.2 Classificação dos Explosivos....................................................................... 78 4.3 Características dos Explosivos.................................................................... 79 4.4 Tipos dos Principais Explosivos................................................................... 81 4.5 Sistemas de Iniciação.................................................................................. 83 4.6 Conceito de Explosão.................................................................................. 83 4.7 Bombas........................................................................................................ 85 4.8 Utilização de Explosivos em Invasões e Remoção de Obstáculos.............. 92
5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS ....................... 94 5.1 Composição e Estrutura dos Grupos Antibomba no Mundo........................ 95 5.2 Criação do Grupo Antibomba no Batalhão de Operações Especiais............................................................................................................
98
5.3 Exigências Pessoais da Equipe de Bombas................................................ 102 5.4 Estrutura do Grupo Antibomba.................................................................... 103 5.5 Tipo de Trabalho Desenvolvido pelo Grupo Antibomba.............................. 105 5.6 Treinamento do Policial Militar..................................................................... 105 5.7 Equipamentos para o Grupo Antibomba...................................................... 106 5.8 Procedimento Operacional em Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bombas..............................................................................................................
114
CONCLUSÃO ....................................................................................................... 129
SUGESTÕES......................................................................................................... 133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA S .................................................................... 135
APENDICE I.......................................................................................................... 139
x
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Divisão em quadrantes................................................................... 121
FIGURA 2 – Seqüência em espiral..................................................................... 122
FIGURA 3 – Zonas longitudinais......................................................................... 122
FIGURA 4 – Arcos capazes................................................................................ 123
FIGURA 5 – Módulos de varredura..................................................................... 124
xi
LISTA DE ABREVIATURA
BOPE – Batalhão de Operações Especiais
BPM – Batalhão de Polícia Militar
Cap – Capitão
Cel - Coronel
Cia - Companhia
COE – Companhia de Operações Especiais
CPA – Centro Político Administrativo
GATE – Grupo de Ações Táticas Especiais
GOE – Gerência de Operações Especiais
IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar
PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal
PMESP – Polícia Militar do Estado de São Paulo
PMMT – Polícia Militar do Estado de Mato Grosso
PJC – Polícia Judiciária Civil
Ten – Tenente
Sd – Soldado
Sgt - Sargento
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa monográfica pretende realizar uma apreciação acerca
das ocorrências envolvendo bombas e artefatos explosivos no Estado de Mato
Grosso, cujo assunto pouco explorado, constitui de suma importância para a Polícia
Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos
bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral,
seja do policial militar ou não.
O terrorismo em várias partes do mundo utiliza substâncias explosivas e
bombas para impor o medo. O conceito, as principais características do terrorismo,
sua motivação e o perfil dos causadores são apresentados no início deste trabalho,
tendo sido traçado um panorama histórico a nível mundial e nacional.
Os aspectos legais acerca do terrorismo e as diversas formas de crimes que
assemelham essa prática carecem de análise, desde sua interpretação a nível de
Direito Internacional até as diretrizes de procedimentos emanados pela Corporação,
considerando que o policial militar no atendimento de ocorrências desse nível, deve
conhecer os fundamentos de sua atuação.
13
As principais ocorrências envolvendo explosivos e bombas nos últimos três
anos merecem destaque, cujos fatos representaram enormes riscos ou ameaças,
bem como, os respectivos níveis de resposta da atuação policial e pericial,
apresentando, ainda, a tipologia dos causadores da crise, os tipos dos artefatos
utilizados e sua finalidade.Conhecer uma bomba e as características de um artefato
explosivo se faz necessário. O conceito de explosivos e bombas é explorado na
quarta parte, em que são demonstrados tipos e características principais, tipos de
acionamento, conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial
à bomba caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes.
O problema abordado nesta pesquisa pode ser enunciado através de uma
análise da atuação da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso em ocorrências
envolvendo bombas, na qual o policial militar, no exercício de seu mister, se vê
submetido a enorme risco de morte ou de sofrer graves lesões. É com esse enfoque
que se formula o problema da presente pesquisa:
Em caso de ocorrências envolvendo explosivos e bombas a Polícia Militar do
Estado de Mato Grosso está preparada para esse atendimento de forma segura?
Diante de tal problema a hipótese levantada é a de que com a adoção de
conhecimentos específicos, padronização de procedimentos e aquisição de
equipamentos para agir adequada e tecnicamente diante de uma ocorrência
envolvendo explosivos e bombas, poder-se-á vislumbrar na PMMT a redução dos
riscos ao policial militar e outras pessoas, cujos resultados, além de técnicos, seriam
mais satisfatórios à resolução do evento crítico.
14
O objetivo deste trabalho é o de sensibilizar o Comando da Corporação e,
em esfera maior, o Poder Executivo, para a atualidade e importância do tema e a
necessidade de investimentos em pessoal e equipamentos; profissionalizando e
otimizando esse tipo de atendimento, obedecendo aos padrões técnicos
mundialmente consagrados; dotando o policial militar de conhecimento técnicos
básicos à uma atuação segura.
A justificativa para esta pesquisa consiste na carência de atualizadas
padronizações no atendimento de ocorrências envolvendo bombas e explosivos, a
falta de equipamentos para uma atuação segura que, caso ocorra qualquer
incidente, pode colocar a imagem da Polícia Militar em xeque. As últimas
intervenções constituíram-se satisfatórias, no entanto, os valorosos policiais militares
envolvidos nessas operações submeteram-se a altos riscos.
A metodologia utilizada foi escolhida pelo pesquisador posto que é a que
melhor contempla o caminho a percorrer os meandros da utilização de bombas,
traduzindo que necessário se faz também conhecer os diversos tipos de
equipamentos utilizados na prevenção e atuação policial em ocorrências envolvendo
artefatos explosivos. Desta forma, esta pesquisa baseia-se em pesquisas
bibliográficas sendo utilizados manuais com anotações de procedimentos padrão
seguidos a nível internacional como o da Brigada de Explosivos da Polícia de
Córdoba, Argentina, e adotados por diversas polícias co-irmãs, em especial a Polícia
Militar do Estado de São Paulo e Polícia Militar do Distrito Federal que os
manuseiam em cursos específicos da área. Legislações foram exploradas com a
finalidade de orientar o policial militar em sua atuação. Foram exploradas pesquisas
documentais através de consultas a jornais de grande circulação no Estado de Mato
15
Grosso, bem como, notícias-crimes extraídas de boletins de ocorrências atinentes a
intervenção em eventos envolvendo explosivos; consultas a diretriz de ação
operacional da PMMT foram feitas com a finalidade de verificar sua atualização
frente as diversas medidas adotadas internacionalmente nas ocorrências com
bombas. Consultas a sites da Internet se revelaram necessárias em decorrência de
melhor estabelecer e demonstrar as conjecturas históricas do terrorismo, elucidando
o perfil e as motivações terroristas. A experiência do autor desta pesquisa que
participou de instruções sobre Procedimentos Preventivos em Ocorrências com
Bombas e Artefatos Explosivos no Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, tendo como finalidade demonstrar os fatos e
procedimentos policiais envolvendo explosivos no Estado.
A delimitação cronológica do estudo abrange o período do ano de 2003 até
os dias atuais, em decorrência dos recentes registros históricos envolvendo
explosivos e bombas em Mato Grosso.
A delimitação espacial restringe-se ao Estado de Mato Grosso que tem
vivido ocorrências envolvendo bombas e a avaliação da necessidade de criação de
um grupo especializado.
A conclusão reforça a argumentação e propõe mecanismos para a criação
de um grupo especializado na PMMT, sobretudo no Batalhão de Operações
Especiais, tendo como parâmetros a doutrina, o bom senso, o profissionalismo e,
principalmente, a preservação da vida e do patrimônio.
16
O assunto explosivo e bombas não pode ser tratado de forma improvisada
pelos diversos segmentos da polícia mato-grossense. Este trabalho procura
demonstrar a necessidade da criação de um grupo especializado em explosivos e
bombas e procura indicar, com base em doutrinas operacionais policiais de nível
internacional e nacional, uma padronização de procedimentos a serem adotados,
uma abordagem de caráter científico, evitando-se assim atitudes e desempenhos
tipicamente amadoristas que poderão ser catastróficas.
Atualmente, o atendimento dessas ocorrências vem sendo realizado de uma
forma não ortodoxa, confiando na capacidade de improvisação, ao bom senso e
porque não dizer ao “jeitinho” ou à habilidade individual do policial encarregado de
solucionar as ocorrências envolvendo bombas.
17
1 TERRORISMO
No mundo os explosivos tem sido o principal instrumento utilizado por
grupos que visem disseminar o terror, segundo assevera o manual de
Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos do Grupo de
Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo1, de
modo que, vemo-nos impelidos a estudar os ataques em que se utilizaram
explosivos e bombas sob a ótica do terrorismo.
1.1 CONCEITO DE TERRORISMO
O terrorismo ganhou uma dimensão inédita neste início de século, antes
restrita a regiões ou países com cismas sociais, econômicos, culturais, éticos ou
religiosos. Agora, o tema é colocado como pauta obrigatória na agenda das relações
internacionais. Porém, o ato terrorista, muitas vezes tem sido confundido, de modo
incauto ou premeditado, com ações de luta armada, movidas por idéias legítimas e
como reação ou resistência à repressão do agressor.
Isso porque um poderoso e terrível ataque terrorista ocorreu na manhã do
dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), atingindo as
duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova
Iorque, que veio abaixo horas após ter sido parcialmente destruído por duas
aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo. Eles
haviam decolado de Boston às 7h58m com 65 passageiros e às 7h59m com 92
passageiros e ambos com destino a Los Angeles.
1 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos . GATE. São Paulo, p 5. 2005.
18
Assim, após o 11 de Setembro de 2001, o terrorismo passou a ocupar o
centro das atenções da política de segurança nacional da nação hegemônica da
atualidade. O século XXI começa com mudanças no quadro geopolítico global, onde
as posições unilaterais dos EUA passam a ditar a nova ordem mundial.
A ação supracitada foi atribuída à Al Quaida, sob o Comando de Osama Bin
Laden, e é considerado o maior atentado terrorista em escala global da história.
Nota-se que o atentado atingiu alvos com objetivos precisos: O Pentágono como
representante do poder militar; o World Trade Center como representante do poder
econômico e, a tentativa de atingir a Casa Branca, representando o poder político do
inimigo.
Noutro diapasão, percebemos que as definições sobre terrorismo
encontradas nas enciclopédias se mostram imprecisas e incompletas. Para
Larousse2, é o “Conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou
criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais”, e também,
“Regime de violência instituído por um governo”. Para a Delta Universal3, o
“Terrorismo é o uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de aterrorizar um povo
e enfraquecer sua resistência” e “entre os atos mais comuns de terrorismo estão o
assassinato, o bombardeio e o seqüestro”.
2 Enciclopédia Larousse Cultural, vol. 23. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1998. p 238. 3 Enciclopédia Delta Universal, Vol. 14. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A, 1982. p 453.
19
A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) conceitua terrorismo com
sendo “todos os atos de caráter violento que provocam medo e pânico generalizado
na população como um todo”4.
Percebe-se que para ser caracterizado como ato de terrorismo é necessário
o elemento da violência real ou presumida e o sentimento de insegurança
generalizada na população como um todo, achando-se vítima em potencial da
violência em qualquer local e momento, mesmo que não tenha sido afetada de
maneira direta, conforme define a Instrução Provisória Policial Militar para o
Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefatos Explosivos – IP–1-PM da
PMESP5.
HOFFMAN 6 conceitua-o como sendo o “uso real ou ameaça de recorrer à
força e à violência com fins políticos, dirigido não só contra pessoas, mas também
grupos, cujo alcance transcende os limites nacionais”. Portanto o seu objetivo
implica uma ação levada a cabo por governos, unidades secretas ou irregulares, que
operam fora dos parâmetros habituais das guerras convencionais, tendo, às vezes,
como fim fomentar a revolução.
Assim, mais que a realização de fins militares, o objetivo do terrorismo é a
propagação do pânico na comunidade alvo de sua violência. Conseqüentemente, a
comunidade se vê coagida a atuar de acordo com os desejos terroristas, que
4 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos (bombas) . GATE. São Paulo: p 09. 2005. 5 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos (bombas) . São Paulo: CSM/Mln, artº 2º. 1996. 6 HOFFMAN, Bruce. Terrorismo e Contraterrorismo Após o 11 de Setembro . Disponível em: <http://usinfo.state.gov/journals/itps/1101/ijpp/ip110107.htm > Acesso em 01fev.2006.
20
buscam, por meio dessa atividade extrema, o início da desestabilização de um
Estado, causando o maior caos possível, para possibilitar, assim, uma
transformação radical da ordem existente.
Para TAMAYO7, o terrorismo consiste “no uso calculado da violência ou da
ameaça da violência para provocar o medo, na busca das metas que são
geralmente políticas, religiosas, ou ideológicas; forçando ou intimidando os governos
ou as sociedades”.
Recorrendo ao dicionário comum, para um rápido exame etimológico, o
Novo Aurélio diz: “Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-
lhes à vontade pelo uso sistemático do terror” e, em uma segunda definição se
aproxima das anteriores: “Forma de ação política que combate o poder estabelecido
mediante emprego da violência”.
A luta armada contra o poder estabelecido não pode, a priori, ser
considerado como uma ação terrorista. O poder estabelecido pode ser totalmente
ilegítimo, usurpador, sem respaldo democrático ou das tradições e costumes do
povo que está submetido a este poder. Seguindo a definição enciclopédica, a
resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial, seria classificada como uma
organização terrorista, visto que lutava contra o poder estabelecido pelos nazistas
na zona ocupada ao norte da França e o governo colaboracionista de Vichy.
A definição de “praticar atos ilegais” como sendo característica da ação
terrorista também não se sustenta. A ordem legal institucional pode ser imposta por 7 TAMAYO, Fabiola. Terrorismo . Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos6/terro /terro.shtml> Acesso em 01fev.2006.
21
um poder ilegítimo e, portanto, como se pode exigir legalidade dentro da ilegalidade.
Outra confusão freqüente é aproximar o crime comum ao terrorismo. Assim,
teríamos autores de crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa humana,
movidos por interesses pessoais ou passionais no mesmo naipe de crimes com
alvos discriminados ou indiscriminados, com motivos políticos e ideológicos
vitimando inocentes.
Como método de coação ou ameaça para impor seus princípios, a ação
terrorista se encaixa nas definições mas, encontra sérios obstáculos, na
contrapartida da ação anti-terror, geralmente desencadeada por instituições
controladas pelo Estado. Neste caso, temos exemplos clássicos com a luta anti-
terrorista em relação ao IRA na Irlanda do Norte e ao ETA no País Basco.
Para uma definição mais específica, o Dicionário do Pensamento Social do
Século XX8 classifica o terrorismo em dois tipos principais. No primeiro, o agente usa
um método de ação para atingir objetivos específicos. Para este caso, a violência
aplicada é pragmática, mais ou menos sob o controle do agente que, pode mudar de
estratégia, não necessariamente com uso de violência. No segundo tipo, o
terrorismo pode ser uma lógica de ação. Nesse caso, os fins justificam os meios, e o
agente apresenta através da repressão, prisão ou morte. Ainda segundo a obra,
existe uma tese corrente inspirada no funcionalismo, na qual, o terrorismo surge
quando existe uma crise, principalmente uma crise política.
O terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra
civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de 8 OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento social do Século XX . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
22
terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os
mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por
um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma
determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo
isso com desespero e ódio.
1.2 CONJECTURA HISTÓRICA
Fazendo um breve retrospecto histórico, verifica-se que os atos de terror,
estão presentes desde o início da civilização. O fato mais surpreendente é que o
agente mais letal nas ações de terror foi o próprio Poder Estabelecido, ora contra
nações inimigas, ora contra seu próprio povo como forma de repressão. Para
CARR9, o Império Romano utilizou táticas de terrorismo contra os povos dominados,
com a finalidade de baixar o moral e enfraquecer a resistência das tropas inimigas.
O autor salienta que a expressão utilizada na época era “guerra punitiva” que, mais
tarde, foi substituída por “guerra destrutiva”. Entre os atos inomináveis praticados
pelas legiões romanas estavam os estupros e saques, como forma de recompensa
aos soldados, já que eram extremamente mal remunerados. Naturalmente,
complementa o autor, os romanos também sabiam gerenciar a pax romana, pois não
conseguiriam manter um império apenas com atos de violência.
Apesar disso, percebe-se que o auge do terrorismo aconteceu durante os
anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial, a qual pode ser descrita
como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror.
Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era 9 CARR, Caleb. A Assustadora História do Terrorismo . São Paulo. Ediouro Publicações S. A. 2002.
23
tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie
humana.
Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre
Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à
multiplicação de grupos terroristas.
Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado,
em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de
adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul,
responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do
apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos
60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e
matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania
israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e
sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de
extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e
matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.
Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas
pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado
terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque
que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força
para a União Soviética.
24
1.2.1 Violência e Terrorismo
Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso
é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando
a vítima é uma personalidade política. A tentativa de assassinato do presidente dos
Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem
conotação política, uma vez que o autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu
isoladamente, motivado por questões pessoais. Já o assassinato do premiê
israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato
terrorista10.
1.2.2 Terrorismo na Era Contemporânea
Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado
pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução
Francesa. Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia,
foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo". E, no início do século
XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado mortal
promovido pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra"
contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914.
Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de
dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar
10 O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.
25
maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef
Stalin11 e Adolf Hitler12.
Os dois regimes de terror tinham algumas características muito
semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os
poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO.
1.2.3 Terrorismo e Poderio Nuclear
O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda
Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de
vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma conseqüência natural da vida
para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a
depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal
para o planeta. O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito
animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos
localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas.
Além disso, a tragédia atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e
Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto
nuclear. Isto porque, exatamente a 6 de agosto de 1945 o bombardeiro norte-
americano B-29 Enola Gay largava às 8:15 da manhã, sobre a cidade japonesa de
Hiroshima, a primeira bomba nuclear utilizada em situação de guerra, batizada "Little
11 No final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932. 12 Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras minorias étnicas. Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de seres humanos pela máquina nazista
26
Boy". 80 mil pessoas morreram instantaneamente, 48 mil dos 76 mil edifícios da
cidade foram destruídos (incluindo 52 dos 55 hospitais). Sem palavras ao ver o
cogumelo originado pela explosão (que provocou no seu epicentro uma onda de
calor 900 vezes superior à da superfície solar), que se elevou a 15 quilômetros de
altitude, o piloto do Enola Gay só conseguiu dizer: "My God, what have we done?"
Três dias depois, o cenário apocalíptico de Hiroshima repetia-se em
Nagasaki. O Japão capitulava, o fim da Segunda Guerra Mundial aproximava-se, e o
mundo acordava para o pavor da era nuclear. Estima-se que perto de meio milhão
de pessoas tenha morrido nas duas explosões e nos cancros que originaram entre a
população das duas cidades.
1.2.4 Guerrilha e Terrorismo: Vertentes Distintas
No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes
para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura
corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória
do idealismo. Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos
jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o
terrorismo. A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares
e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu
próprio exército e, eventualmente, tomar o poder. Os grupos terroristas utilizam o
método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.
27
1.2.5 Violência Política na América Latina
No Brasil, a reação civil ao golpe militar de 64 desencadeou uma luta
armada que faria muitas vítimas até o início de abertura política, em 1977, sendo
que, muitos oposicionistas decidiram-se pela ação de guerrilha, inspirados na
revolução cubana. Um dos líderes mais célebres da luta armada nos anos 60 foi o
ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária, morto
por soldados no interior da Bahia, em 197113.
Agentes dos órgãos de segurança e dos serviços de informação das Forças
Armadas agiam à margem da lei com prisões arbitrárias, torturas e o assassinato de
opositores do regime militar. Em contrapartida, os grupos clandestinos de esquerda
financiavam suas atividades com dinheiro obtido em assaltos a banco e furtos de
automóveis. E praticavam seqüestros de diplomatas para negociar sua libertação em
troca de armas e da soltura de presos políticos.
Uma das ações mais espetaculares foi o seqüestro do embaixador dos
Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em setembro de 69. No início da década
de 70, seriam seqüestrados também o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo
Okuchi, e os embaixadores da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, e da Suíça,
Giovanni Bücher.
Processos semelhantes ao brasileiro aconteceram em toda a América
Latina. No Chile, em 73, um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet
depôs o presidente eleito Salvador Allende, inaugurando uma sangrenta ditadura 13 Um ano especialmente conturbado foi o de 1968. Ações terroristas sacudiram o país. Grupos de extrema-direita atacaram artistas, lançaram bombas contra entidades civis e intimidaram personalidades de perfil humanista, como o arcebispo Dom Hélder Câmara, que teve sua casa metralhada em Recife, em outubro de 68.
28
militar. Na Argentina, os militares implantaram a ditadura em 76, dando início a uma
"guerra suja" contra os oposicionistas, com um saldo de 30 mil desaparecidos em
sete anos.
1.2.6 Anos 60 e 70: Desilusão
Em diversos países havia, além da repressão oficial, a tolerância dos
regimes autoritários em relação às ações ilegais de grupos paramilitares. Por outro
lado, nos anos 70 a atividade dos grupos terroristas atingia seu ponto máximo. Era
uma época de questionamento dos valores tradicionais e do "velho modo" de fazer
política, nos dois blocos. O escândalo de Watergate, em 72, e a derrota dos Estados
Unidos na Guerra do Vietnã, reconhecida em 75, acentuaram a decadência da
ordem política internacional.
Na África, a independência havia sido conquistada em diversos países.
Inúmeras guerras tribais estimularam o tráfico de armas e a formação de grupos
paramilitares. Na Europa, grupos separatistas, como o IRA e a ETA, radicalizavam
as formas de luta. E no Oriente Médio o fervor religioso estimulava o surgimento de
grupos extremistas.
1.2.7 Extremismo Islâmico
Apesar da violência em comum, existem diferenças entre os grupos
terroristas. O fundamentalismo islâmico, por exemplo, não tinha caráter terrorista na
época em que surgiu. A Irmandade Muçulmana apareceu em 1929, no Egito, com
preocupações sociais e propósitos religiosos. Mas a partir dos anos 30 foi
29
perseguida pelo Rei Fuad e por seu sucessor, o rei Faruk, favoráveis à dominação
britânica. A Irmandade partiu para a radicalização e o terrorismo no início dos anos
50, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender
interesses ocidentais.
A ação mais espetacular da Irmandade Muçulmana foi o assassinato do
presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981. Sadat foi considerado traidor por ter
assinado os acordos de Camp David, em 78, que reconheciam o direito de
existência do Estado de Israel.
1.2.8 Organização para Libertação da Palestina x Is rael
A crise no Oriente Médio também fez surgir, em 1964, a Organização Para a
Libertação da Palestina, OLP, uma frente reunindo diversos grupos. A OLP, que
tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat, foi criada em
decorrência de um quadro político cada vez mais conturbado. Os ânimos na região
estavam acirrados desde a criação de Israel, em 1948. Com o apoio político,
econômico e militar de soviéticos e americanos, Israel promoveu guerras com alguns
vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos
foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a
Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população
palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras.
O problema palestino era um distúrbio indesejável na Guerra Fria. O Oriente
Médio, como quase todo o planeta, estava dividido em esferas de influência das
superpotências. Israel e alguns países árabes passaram para a esfera dos Estados
30
Unidos, enquanto outros países árabes ficaram sob influência soviética. A questão
palestina não se encaixava bem nesse jogo de equilíbrio.
O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes
acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas
nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos eram de autoria da OLP.
1.2.9 Terrorismo na Europa
Outra organização que se especializou em ataques terroristas nos anos 70
foi o Exército Republicano Irlandês, o IRA. Ele foi formado em 1919 por grupos da
minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda.
Na década de 60, os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis
discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de
insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz
ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro
de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes,
matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo
Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo. Durante os anos 70, mais de
duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba
patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e forças de
segurança.
Outros grupos surgiram com fins pacíficos e também foram empurrados para
o terror. É o caso da ETA, organização que luta pela autonomia do País Basco em
31
relação à Espanha. ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e
Liberdade". Criada em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo
basco, a ETA foi perseguida pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a
clandestinidade e o terrorismo em 1966. O atentado mais ousado foi realizado em
73, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o
primeiro-ministro franquista Luís Carrero Blanco.
Na década de 70 houve também a ação de grupos terroristas sem vínculos
com lutas democráticas ou de libertação nacional, como o grupo Baader-Meinhoff,
na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. Eram organizações formadas por
intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica
"guerra contra a burguesia". Em setembro de 1977, o Baader-Meinhoff ganhou as
manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como
pressão pela libertação de presos políticos.
Em março de 1978, outra ação espetacular na Europa: O seqüestro do
primeiro-ministro italiano Aldo Moro, uma ação audaciosa que surpreendeu o mundo.
Moro acabou executado pelos terroristas, apesar dos apelos do Papa e da opinião
pública internacional.
1.2.10 Terrorismo Xiita
No final dos anos 70, o terrorismo ganhou um novo ingrediente religioso,
com a ascensão dos muçulmanos xiitas no Irã, em janeiro de 79. Sob o comando do
Aiatolá Khomeini, os xiitas derrubaram a ditadura do Xá Reza Pahlevi e implantaram
um sistema que fugia à lógica dos dois blocos econômicos, liderados por Estados
32
Unidos e União Soviética. A partir da revolução iraniana, foi implantado um sistema
de governo guiado por convicções religiosas radicais e inflexíveis. Khomeini
inaugurou a chamada "Jihad" em nossos dias, a Guerra Santa contra o Grande Satã,
representado pelo mundo não xiita. Daí para a prática do terrorismo foi um passo. O
inédito nessa história era o caráter oficial do terror, assumido claramente pelo regime
dos Aiatolás.
A primeira demonstração radical de Khomeini foi em novembro de 1979
quando com o apoio do governo, estudantes iranianos invadiram a embaixada norte-
americana em Teerã, fazendo 66 reféns. Eles queriam a extradição do Xá Reza
Pahlevi, em tratamento de saúde nos Estados Unidos. Foi o início de uma longa
crise entre os dois países. Mesmo com a morte de Pahlevi em julho de 1980, vítima
de câncer, os estudantes não desocuparam a embaixada. O impasse prejudicou a
campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que
acabou derrotado pelo candidato republicano Ronald Reagan. Foram 444 dias de
expectativa. Em 20 de janeiro de 1981, dia da posse do novo presidente dos
Estados Unidos, os iranianos finalmente libertaram os reféns norte-americanos. Até
hoje são obscuras as condições sob as quais o presidente Reagan negociou o fim
da crise.
Além da vitória de Khomeini no Irã, outro elemento viria a fortalecer a causa
dos xiitas: a reação à invasão do Afeganistão pelos soviéticos, em dezembro de 79.
Os afegãos, em sua maioria de fé muçulmana, sentiram sua religião ameaçada pela
presença do exército soviético. Vários grupos guerrilheiros proclamaram uma 'guerra
santa' contra o invasor.
33
Com a revolução no Irã e a resistência dos rebeldes afegãos, a "Jihad" ficou
conhecida no Ocidente e ganhou força junto à população muçulmana de todo o
mundo. O apelo foi reforçado, em fevereiro de 89, com a sentença de morte
proferida por Khomeini contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro
"Versos Satânicos", considerado blasfemo pelos Aiatolás do Irã. Caçado pelos xiitas,
Rushdie passou a viver escondido na Inglaterra, sob proteção da Scotland Yard, a
polícia britânica.
1.2.11 Terrorismo no Líbano
No começo dos anos 80, o Líbano tornou-se palco de inúmeros atentados.
Várias facções disputavam o poder apoiado por países vizinhos, especialmente,
Síria e Israel. A existência de áreas de refugiados palestinos na capital Beirute
aumentava a tensão e o clima de guerra civil. Uma das organizações acusadas com
mais freqüência de terrorismo era a OLP. Na tentativa de capturar ou eliminar o líder
Yasser Arafat e destruir bases militares palestinas, forças israelenses invadiram o
Líbano, em junho de 82. Durante vários dias, a capital libanesa transformou-se num
inferno. Milhares de civis foram mortos, entre eles mulheres, velhos e crianças. Os
israelenses não encontraram Arafat, mas expulsaram a OLP e deixaram o Líbano
em ruínas.
Em setembro de 82, falanges cristãs libanesas, apoiadas por Israel,
atacaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos arredores de Beirute.
Mais de 2.500 civis palestinos e libaneses desarmados foram mortos. O massacre
chocou a opinião pública internacional. Foi nesse clima extremamente tenso que se
multiplicaram os grupos terroristas no Líbano nos anos 80.
34
A ação terrorista mais famosa dessa época aconteceu em 83, quando dois
atentados simultâneos mataram mais de 250 fuzileiros navais americanos e mais de
50 soldados franceses, em Beirute. Mas os xiitas de Khomeini e os militantes de
grupos fanáticos, como o Hamas e o Hezbollah, não limitaram seus ataques ao
Oriente Médio: em nome da Guerra Santa, eles organizaram vários atentados na
Europa e nos Estados Unidos.
1.2.12 Fim da Guerra Fria: O Terrorismo Reflui
No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria e a abertura do diálogo no
Oriente Médio e na Irlanda do Norte fizeram o terrorismo refluir um pouco, abrindo
mais espaço para a negociação. Um sintoma dessa trégua foi à prisão, em 1994, de
Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado do mundo.
O venezuelano Ilitch Ramirez Sanchez, nome verdadeiro do Chacal, foi
preso em agosto de 94 por agentes do serviço secreto francês. O terrorista, que agia
por dinheiro, é acusado da morte de 93 pessoas e de ferimentos em outras
duzentas, em 20 anos de atividades. Infelizmente, a prisão de terroristas famosos e
até mesmo o término da Guerra Fria não puseram um fim ao terrorismo
internacional, que continua transformando a vida de pessoas inocentes num
pesadelo, em diversos lugares do mundo.
No Oriente Médio, extremistas matam e ferem para tentar atrapalhar as
negociações de paz entre Israel e os palestinos. Na Grã-Bretanha, grupos radicais
do IRA também apavoram inocentes, procurando reacender a violência dos anos 70.
E aqui e ali, fanáticos religiosos passam dos limites em nome do apocalipse. Talvez
35
a conclusão mais importante a que podemos chegar no final do programa de hoje é
a de que o terror gera o terror. Muitas vezes os governos gostam de taxar seus
inimigos de terroristas, mas se esquecem de suas próprias responsabilidades. O
terror existe e cresce sempre que o diálogo é impossível. E nunca o diálogo foi tão
sufocado como no período da Guerra Fria.
1.3 MOTIVAÇÕES DO TERRORISMO
A IP – 1 – PM14 da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, descreve que
são vários os fatores motivadores dos atentados terroristas, mas que os principais
são alavancados por fatores políticos, religiosos, criminosos e psicopatológicos.
A motivação política é aquela resultante de conflitos entre nações ou entre
lutas políticas internas, como a guerra revolucionária e insurreições.
A motivação religiosa diverge da anterior à medida que resulta de conflitos
étnicos, sociais ou religiosos, sendo que esse tipo de terrorismo pode ser
considerado o mais violento e perigoso, devido aos extremos de fanatismo
provocados por determinados grupos religiosos e a doutrinação feita em seus
seguidores.
A motivação criminosa resulta de conflitos sociais e policiais entre classes
marginais, narcotráfico e o crime organizado, podendo ser considerado também os
14. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo, CSM/Mln, artº 4º. 1996.
36
casos de vingança e crimes isolados cuja repercussão motivem indiretamente o
terrorismo.
Nessa linha, encontramos, por fim a motivação psicopatológica que é
resultante de distúrbios psicológicos individuais, que motivem uma pessoa a
provocar atos de terror sem um motivo específico.
SALVATIERRA15 diverge da idéia acima, a medida que entende serem três
as motivações do terrorismo quais sejam, o racional, o psicológico e o cultural.
1.4 PERFIL DOS CAUSADORES DE AMEAÇA EM TERMOS GLOBA IS
A Instrução Provisória IP – 1 – PM16, estabelece que não existe um perfil ou
padrão pré-determinado para identificar uma pessoa terrorista.
Porém, três fatores são característicos em todos os terroristas já
identificados ou detidos: Inteligência - São detentores de grande cultura e elevada
inteligência. Raramente se identificam terroristas pouco cultos, com exceção de
elementos úteis ou agentes de manobra. Fanatismo - São crentes em determinada
causa política, social, religiosa, etc. e acreditam que seus atos são as únicas formas
de atingir os objetivos a que predispõe a lutar ou defender. Desprezo à Vida - Não
possuem nenhum vínculo ou respeito com a vida das pessoas ou com sua própria
15 SALVATIERRA, Cesar Cisneros. Terrorismo Internacional . Lima – Perú. <http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml> Acesso em 10.02.06. 16 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM – Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo, CSM/Mln, artº 5º. 1996.
37
vida, não se importando com os resultados de seus atos. Quanto menos respeito ou
vínculo com a vida humana tiver o terrorista, mais perigoso ele será.
1.5 TIPOS DE TERRORISMO
São três os mais importantes tipos de terrorismo, quais sejam,
Narcoterrorismo, Nuclear e de Estado.
1.5.1 Narcoterrorismo
É chamado desta maneira por conta do uso do tráfico de drogas para
promover os objetivos de determinados governos e organizações terroristas. O
narcoterrorismo atenta contra os direitos humanos, especialmente, contra o direito à
vida e à integridade física; a tranqüilidade e a honra; à participação política, à
liberdade de expressão e da comunicação, isso, para mencionar somente os mais
prejudicados.
Atualmente, os jovens constituem o segmento da parte da população mais
afetada pela droga, pelo crime e pela violência, sabendo disso, as organizações de
narcotraficantes assediam-nos e utilizam seus serviços para alcançar os seus
objetivos.
Motivo pelo qual em setembro de 1989, antes do Congresso Geral da ONU,
o representante Colombiano propôs um “Plano de ação global de combate à droga e
ao narcoterrorismo”.
38
1.5.2 Terrorismo Nuclear
Este tipo de terrorismo será um dos mais preocupantes para a aldeia global
nos próximos anos. A Ex-União soviética é a principal fonte dessa preocupação, pois
nessa região podem ser encontrados resíduos de armas nucleares.
Evitar o tráfico ilegal de material radioativo é muito importante porque essas
substâncias podem receber destinação militar na mão de terroristas e porque
podem, também, produzir um desastre sanitário.
Nesse diapasão, vemos as Estações Nucleares como prováveis alvos
futuros de atentados terroristas.
Durante os últimos anos, o mundo sentiu o aumento de atentados terroristas.
Tanto é verdade que em agosto de 1994, logo depois do ataque a Asociación Mutual
Esraelita Argentina – AMIA, situada em Buenos Aires, o Instituto de Controle Nuclear
dos Estados Unidos encaminhou uma recomendação para todas suas estações
advertindo-as quanto a real ameaça terrorista, recomendando a construção de
defesas de concreto contra possíveis ataques com carro-bomba.
1.5.3 Terrorismo de Estado
O uso sistemático, por parte do Governo de um Estado de ameaças e
retaliações, incluídas ilegalmente em sua legislação, com a finalidade de impor a
obediência e colaboração ativa da população é característica do Terrorismo de
Estado.
39
Entretanto, por sua natureza, o Terrorismo de Estado é de difícil
identificação e conceituação, por seus traços variarem de acordo com a época
histórica, região e cultura.
Os regimes despóticos do passado usaram freqüentemente práticas deste
tipo, todavia, tais práticas são condenadas pela democracia moderna. Tendo esse
tipo de terrorismo, como exemplos mais fortes o Fascismo e o Comunismo,
ocorridos no século XX.
Entretanto, vemos que a prática do terror pelo poder estatal se estendeu por
todo século XX, tanto em regimes militares ou militarizados como em democracias
formais.
Os regimes totalitários foram caracterizados por um monopólio de meios de
comunicação, imposição de ideologias monolíticas, de exigência não somente de
obediência mas de participação ativa nas ações policiais de interesse do Estado, e
de um instrumento de polícia e de campos de concentração secretos com vista a
eliminar adversários e dissidentes. Os líderes potenciais da oposição eram presos,
exilados ou assassinados.
Freqüentemente, os tentáculos do instrumento do Estado se estendem até o
estrangeiro e atacam os inimigos que estão exilados, como por exemplo, no
assassinato de Liev Trotski ocorrida no México pelas mãos de agentes stalinistas.
Não raras vezes, integrantes de muitas organizações nacionais de
segurança e informação usam de métodos ilegais para enfrentarem adversários,
40
tanto dentro como fora do país. O que diferencia estes episódios de um sistema
onde se aplique o terrorismo de estado é a importância da operação e do endosso
total do líder da classe. De fato, os instrumentos do terror de estado e do partido no
governo são geralmente relacionados de uma maneira indissociáveis.
O sistema acima termina freqüentemente por destruir os elementos de sua
própria cúpula, como aconteceu ao líder Ernst Röhm, chefe da Seção do Assalto
(SA), e ao chefe da polícia secreta soviética Lavrenti Beria, executado pelas
mesmas organizações que criaram ou dirigiram.
Em um outro plano, alguns regimes recorreram a meios extralegais para
eliminar elementos específicos da população, em especial delinqüentes.
1.6 CARACTERÍSTICAS DO TERRORISMO INTERNACIONAL
As Características chaves do terrorismo internacional são:
• Violência indiscriminada - estendendo seus efeitos a totalidade da
população;
• Imprevisibilidade – utiliza o fator surpresa;
• Imoralidade - produz sofrimento desnecessário às áreas mais
vulneráveis.
41
• É indireto – desvia o foco da população para um ponto diferente do
alvo que pretendem atingir;
Sabe-se que o terrorismo o internacional é um das formas de violência mais
difíceis de conter.
Agora, enalteceremos alguns eventos promovidos por atos terroristas, com
vista demonstrar as tragédias causadas:
• A 17 de março de 1992, um carro bomba explode na Embaixada
de Israel em Buenos Aires, tendo um saldo de 29 mortes e 250 feridos;
• Em fevereiro de 1994 uma bomba explode no Mercado Central
de Sarajevo, tendo um saldo de 66 mortes;
• A 4 de fevereiro de 1994, três granadas caíram em Dobrinja nas
pessoas que fizeram em uma fila de distribuição de alimento.
• Na cidade japonesa de Tókio, a 20 de março de 1995 foi lançado
o gás Sarín no metrô, tendo como resultado, 11 mortos e 5000 feridos;
• E.T.A. atenta contra o presidente Jose Maria Aznar, em Madrid a
19 de abril, este ataque deixou 15 pessoas feridas;
• Nos Estados Unidos, a 27 de julho 1996 explode uma bomba no
Parque Olímpico, ocasião em que morreram 2 e se feriram 111 pessoas;
42
1.7 TERRORISMO NO BRASIL
As ações terroristas de 11 de setembro não modificaram a estrutura das
relações internacionais, contudo, pode-se afirmar que a dinâmica internacional
sofreu profundas alterações. Para entender qual o papel brasileiro dentro das
relações internacionais neste novo contexto, devemos analisar como o país
reagiu aos atos de terror. O fundamental xadrez da diplomacia tomou contornos
muitos definidos e extremamente importantes na nova agenda internacional.
Antes de analisar a posição adotada pelo Brasil, devemos analisar o
fenômeno do terrorismo dentro de sua abrangência legal. No Direito
Internacional existe, embora de forma tímida, alguns tratados que discipline os
atos de terror. O sistema internacional antiterrorista é formado por uma rede de
convenções especializadas que versam desde a proteção física de materiais
nucleares até o apoderamento ilícito de aeronaves. Destas, nem todas o Brasil é
signatário. Algumas ainda se encontram em estudo no executivo e outras em
tramitação no Congresso Nacional.
As Nações Unidas perceberam o perigo que representava o regime
Talibã ainda em 2000, quando emitiu a resolução 1333, de 19.12.200 em que
conclama o bloqueio de recursos de Osama Bin Laden, bem como proíbe a
venda de armas para o regime Talibã. O Brasil internalizou esta resolução
mediante o decreto 3755 de 19.02.2001. Além desta, a ONU, em 30.07.2001,
emitiu outra resolução, de número 1363, em que declara a ameaça da paz na
região em razão do Afeganistão. Após os atentados, foram emitidas as
resoluções 1368 (12.09.2001) e 1373 (28.09.2001) que reconhecem o direito de
43
resposta individual ou coletiva e versam sobre meios de evitar e suprimir ações
terroristas.
No Brasil, após a manifestação de repulsa do presidente Fernando
Henrique Cardoso as ações terroristas, a posição diplomática foi à convocação
do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, mais conhecido como Tiar
(vale lembrar que o Tiar não é classificado com um tratado antiterror, mas de
cooperação) que apesar de ser um instrumento da guerra fria, no momento, foi
aquele que forneceu o respaldo jurídico internacional necessário para a posição
brasileira. Assim, na reunião extraordinária da OEA, onde se reuniu o órgão de
consulta do Tiar, em 21 de setembro, foi aprovada uma resolução acerca da
“ameaça terrorista nas Américas”. Neste momento, o Brasil, convocando um
tratado de identidade múltipla internacional, mostrou uma posição de liderança e
mobilização na região, além de preocupação com a legitimidade jurídica de sua
posição.
Enquanto a ação militar aliada foi se desenvolvendo no Afeganistão em
busca da organização terrorista Al Qaeda, o Brasil declarou, por intermédio do
Chanceler Celso Lafer, que o país entende o exercício de autodefesa via as
ações militares americanas, entretanto, espera que sejam circunscritas e
limitadas. Na mesma linha, o presidente Fernando Henrique Cardoso discursou
na Assembléia Nacional da França. Já nos Estados Unidos, o Presidente, em
conversa com George W. Bush, defendeu ainda uma maior inclusão dos países
em desenvolvimento nas tomadas de decisões internacionais, especialmente no
Conselho de Segurança das Nações Unidas e no Grupo dos 8.
44
Como podemos perceber, o Brasil possui uma preocupação em agir
dentro dos meios legais com vistas a justificar suas posições. Neste sentido,
acredita que todos os meios para combate ao terrorismo devem estar no âmbito
da carta da ONU ou respaldado pelo Direito Internacional. O dia 11 de setembro
inaugurou um novo tipo de terrorismo, com uma característica transnacional e
multilateral. Penso que, talvez, para enfrentar este novo inimigo, novos
instrumentos legais devem ser adotados, assim como uma possível definição
acerca do terrorismo. O Brasil, seguindo o amparo das leis internacionais e da
ONU, está trilhando um caminho digno dos países de tradição democrática e
respeito às leis.
1.8 CLASSIFICAÇÃO DO TERRORISMO NO BRASIL
Segundo Leão17, no Brasil pode-se classificar o terrorismo em três distintas
categorias, a saber: Subversivo, De Estado e Criminoso.
O Terrorismo Subversivo ou Terrorismo Revolucionário compreende os atos
de terrorismo praticados pelos grupos políticos subversivos contra o Estado, durante
o período do regime militar, com intenções de promover a guerra revolucionária.
Já o Terrorismo de Estado, também conhecido como Terrorismo Repressivo,
compreende os atos praticados por grupos de extrema direita e por órgãos
governamentais, de forma legal, contra pessoas suspeitas de serem subversivas e
contra a população como forma de desinformação, durante os períodos do regime
militar e da abertura da política.
17 LEÃO, Décio J. A. Doutrina para Operações Antibomba. São Paulo, p. 216. 2000.
45
Por fim, o Terrorismo Criminoso compreende o emprego sistemático de atos
de terror para fins de ganho material privado, como roubos, tráfico de drogas,
domínio de áreas, extorsões. Também devem ser incorporadas, nessa categoria, os
atos do chamado Terrorismo Subrevolucionário, que constituem em empregar o
terror por motivos políticos outros que não a revolução ou a repressão
governamental, como, por exemplo, forçar o governo a aprovar determinadas
políticas ou projetos, vinganças, atentados contra instituições ou autoridades
específicas, confronto entre organizações e outras ações de caráter regionalizado ou
particularizado.
1.9 NEOTERRORISMO BRASILEIRO
Encerrando o período denominado “Ditadura Militar”, final da década de 70,
início dos anos 80, com o significativo empenho dos últimos presidentes militares em
preparar o país para a abertura política, auxiliados pelo “Movimento Diretas Já”, e
com a quebra do monopólio dos únicos partidos políticos brasileiros (a Aliança
Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB),
houve a eleição de um presidente civil, por meio do processo eletivo direto; antiga
aspiração dos políticos e da população brasileira, dando início à reforma política.
Surgiu, então, um novo panorama político com a criação de inúmeros novos
partidos.
Assim, aqueles que em anos anteriores pregavam a luta armada, a violência
e todos os artifícios inerentes ao extremismo subversivo para a tomada do poder,
incluindo os atos de terrorismo, alteraram bruscamente o seu modo de agir,
adotando métodos e estratégias diversas daquelas usadas pelas organizações
46
subversivas do passado; porém, mesmo assim, continuaram a ocorrer atentados a
bombas, dessa vez, idealizados e praticados por seguimentos descontentes com a
abertura política que se avizinhava; ao estilo do atentado ocorrido no Riocentro em
1981.
Portanto, alguns dos requisitos dos “Anos de Chumbo”, permaneceram
incrustados, tanto do lado militar como no da sua oposição, levando muitos dos
ativistas subversivos da época, os terroristas, denominados de “presos políticos”, a
cumprirem suas penas privativas de liberdade em estabelecimentos prisionais
destinados a criminosos comuns. Esse fato gerou um novo tipo de delinqüente; mais
esclarecido, mais politizado, mais sofisticado e violento; adepto ao uso dos requintes
de crueldade, com conhecimento de técnicas e táticas militares, de guerra não
convencional e explosivos.
Surgiu então, de forma embrionária, no Presídio Estadual de Ilha Grande no
Rio de Janeiro, no final dos anos 70, um novo segmento de atividade criminal, o
“crime organizado”, que teve como sua primeira facção criminosa a “Falange
Vermelha”, precursora das modernas organizações criminais brasileiras da
atualidade, como o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Comando Vermelho
Jovem, no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital e suas dissidências em
São Paulo.
Considerando o advento da “globalização” e o crescente acesso às
informações, a atividade criminal também foi influenciada por esse fenômeno,
aliando-se ao processo de banalização da violência. Foi apoiada e muitas vezes
patrocinada por organizações criminosas internacionais, “cartéis e máfias”, atuantes
47
nos ramos do narcotráfico, contrabando de todo gênero, principalmente o de
material bélico, falsificação e lavagem de dinheiro, entre outros.
Conseqüentemente, houve o surgimento do crime organizado brasileiro,
composto basicamente das citadas organizações, atuante em inúmeros setores da
sociedade nacional, ligado a narcotráfico, roubo a bancos, roubo a cargas e roubo a
automóveis, seqüestros, contrabando e desvio de verba pública e toda sorte de
delitos.
A marginalidade continuou a sofisticar-se e organizar-se a tal ponto, que,
ultimamente se constata a generalização do uso indiscriminado de bombas,
explosivos e engenhos militares, em diversos casos de roubos, seqüestros,
extorsões, rebeliões, fugas em estabelecimentos prisionais e confrontos com os
órgãos de segurança. A aquisição de equipamentos e armamentos modernos é uma
das máximas dessas organizações, pois, assim, demonstram sua ascendência e o
seu poder perante o mundo do crime, da sociedade organizada e do poder
constituído.
A preocupação com a modernização e estruturação do crime chega às raias
do perfeccionismo, prevendo não só toda a logística e os equipamentos de
comunicação, como o treinamento, ministrado em muitas ocasiões por um “exército
de mercenários”, constituídos de ex-integrantes das Forças Armadas e ex-policiais;
ou, até mesmo, por corruptos integrantes da ativa desses contingentes.
O crime organizado, a exemplo dos movimentos terroristas, utiliza sua força
e estrutura para intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades
48
constituídas, a fim de atingir suas metas; gerando o pânico e a sensação de
insegurança, objetivos clássicos do terrorismo. Portanto, pode-se afirmar que o
terrorismo está presente no território brasileiro, não em sua forma mais tradicional,
do fanatismo irracional e do radicalismo, inerentes aos atuais grupos “Xiitas” ultra-
radicais de orientação religiosa ou política, mas criminoso, violento, impetuoso e
sanguinolento, adaptado à realidade criminal e aos costumes brasileiros, à
ineficiência da lei penal e à ineficiência do falido sistema carcerário vigente.
1.10 OS INCIDENTES COM BOMBAS NO TERRITÓRIO BRASILE IRO
No Brasil, atentados terroristas de grandes proporções nunca foram
registrados, no entanto, o país já possui um razoável histórico de incidentes com
bombas, apesar de ser considerado um país pacifista. O período no qual o
terrorismo merece destaque insere-se no transcorrer das décadas de 60 e 70, época
áurea dos governos militares e momento no qual a luta armada, os movimentos
subversivos e as guerrilhas urbana e rural intensificaram-se contra o governo.
Houve, nessa época, combates fervorosos dos militares, que reprimiram
com vigor os movimentos subversivos. Nesse período, tornou-se comum à
realização de inúmeros atos de violência em nome da luta pelo poder e da conquista
dos direitos políticos, com a prática de roubos a unidades militares, bancos, veículos
de transporte de valores, atentados à bomba, seqüestros de todo gênero e diversos
homicídios contra integrantes das Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública.
No que concerne aos incidentes envolvendo explosivos ou bombas,
ocorridos em território nacional nos últimos 25 anos, é notória a ocorrência de
49
centenas deles; todavia, pode-se ressaltar que apenas uma pequena parcela do
total do seu universo foi colocada em evidência, ocupando maior destaque na mídia.
Até 1981, ocorreram com maior freqüência os de cunho eminentemente político e
com caráter subversivo, posteriormente, eclodiram as intercorrências relacionadas
com atos criminosos (modalidade moderna de delito, com o uso de explosivo para o
cometimento de outro crime, como a sabotagem, a extorsão, o roubo, o furto) e o
vandalismo, promovidos por motivos fúteis, com o objetivo exclusivo de causar
danos (modalidade muito utilizada atualmente).
De 1966 até 1981, foram divulgadas pela imprensa, com relevância, 11
explosões de bombas caseiras, destacando-se as ocorridas no Aeroporto dos
Guararapes, Recife, matando 2 pessoas e ferindo outras 14, cujo alvo era o
Presidente da Republica, em julho de 1966, e a explosão de um carro-bomba no
Comando do II Exercito, em junho de 1968, quando um soldado foi mortalmente
ferido.
Na década de 80, época da criação do GATE de São Paulo, houve grande
incremento aos incidentes com ameaças falsas e verdadeiras, além de várias
ocorrências envolvendo explosões, destacando-se as ocorridas no Riocentro, no Rio
de Janeiro, em 30 de abril de 1981, com a morte de um sargento do Serviço de
Informações do Exercito e, em junho de 1989, a ameaça falsa de bomba no Colégio
Pueri Domus, em São Paulo, quando as atividades escolares foram suspensas,
causando inúmeros embaraços.
Nos anos 90, principalmente com a eclosão da Guerra do Golfo, o número
de incidentes cresceu vertiginosamente na capital paulista. Houve centenas de
50
ameaças falsas e verdadeiras, atentados a autoridades do Poder Executivo,
Legislativo e Judiciário, a companhias de aviação e inúmeras explosões, nos mais
variados locais e rincões do território brasileiro. Destaca-se, em 1991, a explosão no
Monumento ao Duque de Caxias em São Paulo, e o atentado contra o Juiz da 2ª
Vara Criminal, em Campos do Jordão, São Paulo. Em 1995, destacou-se o atentado
praticado no anexo do Itamaraty e, em julho de 1997, o incidente com o Focker 100
da TAM.
Em seguida, vários outros incidentes se sucederam: a destruição de duas
estações repetidoras da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e
das torres de transmissão de energia elétrica da bi-nacional de Itaipu, na região Sul,
em 1988; culminando, finalmente, com os incidentes de 2000 e 2001, cabendo
destacar o atentado na Seção Paulista da Anistia Internacional, a explosão no
Fórum Criminal João Mendes, no Ministério da Fazenda e no Posto Policial do
Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN), em São Paulo, sempre
demonstrando maior grau de ousadia e sofisticação, denotando a chegada da
especialização no submundo do crime.
51
2 ASPECTOS LEGAIS
Como a prática do terrorismo se expressa sob diversas formas, demanda
uma meticulosa análise para estabelecer uma perfeita definição jurídico-penal, uma
vez que muitas dessas ações são idênticas aos crimes que estão preconizadas de
forma autônoma, como homicídio, lesões graves, extorsões, explosão, incêndios,
seqüestros, genocídios, entre outros. Desta forma para uma perfeita tipificação
quanto à prática desse crime deve-se buscar subsídios no Direito Internacional para
o perfeito entendimento quanto a incriminação dessa conduta.
2.1 DIREITO INTERNACIONAL
Desde a sua criação a Organização das Nações Unidas - ONU, baseando-
se nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Carta Internacional
dos Direitos do Homem, tem elaborado diretrizes internacionais em matéria de
prevenção do crime e justiça penal. Dentre os princípios e propósitos da Carta das
Nações Unidas de 1945, está a manutenção da paz e a segurança internacional,
tomando coletivamente medidas efetivas para resolver problemas de âmbito
internacional de caráter econômico, social, cultural ou humanitário. Define a Carta18
que cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a recomendação ou
medidas a serem tomadas com a finalidade de manter ou restabelecer a paz e a
segurança internacional, que poderão incluir a interrupção completa ou parcial das
relações econômicas, dos meios de comunicação e transportes e o rompimento das
relações diplomáticas.
18 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional . 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 42. 2005.
52
A Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em
Delitos Contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, Quando Tiverem Eles
Transcendência Internacional de 197119, define que os Estados Contratantes
obrigam cooperar entre si, tomando medidas que visem à prevenção e punição dos
atos de terrorismo, em especial os atentados contra a vida e a integridade das
pessoas, a quem o Estado deve proteger.
Preocupada com o aumento, em escala mundial, das mais diversas formas
das ações terroristas, dentre elas a utilização de explosivos e bombas, a Convenção
Internacional Sobre a Supressão de Atentados Terroristas com Bombas de 1988,
nos seus artigos 2º e seguintes20, define como praticante do crime de terrorismo em
nível internacional, qualquer pessoa, que de forma ilícita e intencionalmente utiliza
de explosivo ou outra substância mortífera em logradouro público, em instalação
estatal ou governamental, em sistema de transporte público ou uma instalação de
infra-estrutura com a intenção de causar mortes, graves lesões e destruição ou
possa causar grande prejuízo econômico. Destaca ainda a Convenção que também
constitui crime a forma tentada destes atos, bem como a organização e direção,
participação e contribuição para essa atividade.
O Brasil na condição de Estado-membro da ONU deve reafirmar o seu
compromisso em respeitar os tratados internacionais existentes e sua adesão aos
princípios descritos na Carta das Nações Unidas e em outros instrumentos
internacionais relevantes, tomando medidas jurídicas e procedimentos eficazes de
prevenção e repressão contra a prática terrorista.
19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Coletânea de Direito Internacional . 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 121. 2005. 20 Idem, p. 171 e 172.
53
2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A Constituição Federal21 em seu artigo 4º, inciso VIII, destaca que as
relações internacionais da República Federativa do Brasil reger-se-ão pelo repúdio
ao terrorismo e ao racismo. Em seu artigo 5º, inciso XLIII, ainda acerca do terrorismo
preconiza que a prática constitui crime inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-
los, se omitirem. Este artigo constitucional possui sua eficácia limitada, uma vez que
necessita de uma legislação infraconstitucional para que sua eficácia se produza.
2.3 LEI DE SEGURANÇA NACIONAL
Lei nº 7.170 de 14 de dezembro de 198322. Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter
em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Pena – reclusão, de 3 a 10 anos.
Atualmente este texto legal trata o terrorismo como crime dando
entendimento que trata-se de ações com objetivos políticos de infringir a ordem
democrática ou causar danos ao Estado democrático. Juristas entendem que o texto
acima encontra-se descrito de forma confusa e ambígua, insuficiente para
estabelecer uma perfeita definição jurídica do terrorismo, havendo a necessidade de
criação de uma lei que defina objetivamente, de forma clara e precisa, a conduta do
terrorismo.
21 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 20 e 21. 2003. 22 Idem, p. 673.
54
2.4 CÓDIGO PENAL
Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940.
2.4.1 Incêndio
Art. 250. Causar incêndio, expondo a vida, a integridade física ou
patrimônio de outrem. Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa23.
O objeto jurídico desta norma visa a proteção da incolumidade pública, no
entanto se faz necessário que haja perigo concreto na provocação do fogo, e não
risco presumido.
2.4.2 Explosão
Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa24.
Esta norma visa a proteção da coletividade diante da ameaça ou emprego
de engenhos de dinamite, bomba, artefato ou aparato de dinamite. Assim como no
crime de incêndio, deve ser demonstrado o perigo concreto.
2.4.3 Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante
Art. 252. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante.
23 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 343. 2003. 24 Idem, p. 343.
55
Pena – reclusão, de uma a quatro anos e multa25.
Aqui visa a proteção da vida, da saúde e do patrimônio das pessoas,
havendo a necessidade de existir perigo efetivo ou concreta contra quaisquer
pessoas, em decorrência do uso de gás tóxico ou asfixiante capaz de expandir-se
indefinidamente, preenchendo o recipiente que a contém.
2.4.4 Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Tr ansporte de Explosivos
ou Gás Tóxico, ou Asfixiante
Art. 253. Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa26.
As condutas alternativamente previstas nesta norma visam proteger a
incolumidade pública do perigo que representam os explosivos, gases tóxicos ou
asfixiantes. Diante da falta da licença da autoridade competente, aqui não se faz
necessário o perigo em concreto, bastando apenas a demonstração do perigo em
abstrato para a aplicação da norma penal.
2.5 LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS
Decreto-Lei 3.688 de 03 de outubro de 194127. Falso Alarma Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo
inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto. Pena – prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa.
25 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 344. 2003. 26 Idem, p. 344. 2003. 27 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado . 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 586. 1991.
56
Esta lei visa proteger o sentimento de segurança da coletividade e a
tranqüilidade pessoal em decorrência que um falso alarma possa provocar temor
generalizado nas pessoas.
2.6 CÓDIGO PENAL MILITAR
Decreto-Lei 1.001 de 21 de outubro de 1969. 3.5.1 Explosão28 Art. 269. Causar ou tentar causar explosão, em lugar sujeito à
administração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Pena – reclusão de até 4 anos.
A norma castrense visa proteger a incolumidade das pessoas e o patrimônio
sob administração militar, em decorrência da tentativa ou ação de explosão.
2.7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
LEI 8.069 de 13 de julho de 199029. Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar de
qualquer forma, à criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo. Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de
qualquer forma a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aquele que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida.
Pena – detenção de 6 meses a 2 anos, e multa.
Visa o legislador proteger a criança e o adolescente em decorrência de sua
fragilidade e vulnerabilidade, estando mais sujeitos a riscos de incidentes com
bombas e explosivos em decorrência do desconhecimento informativo e técnico
sobre artefatos, quanto as suas propriedades e funcionamento.
28 LAZZARINI, Álvaro. Código Penal Militar, Código de Processo Penal Mili tar, Estatuto dos Militares e Constituição Federal . 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 341. 2003. 29 GOMES, Luiz Flávio. Código Penal, Código de Processo Penal e Constituição Federal . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 706. 2003.
57
2.8 DIRETRIZ DE AÇÃO OPERACIONAL DA PMMT
D.A.O nº 026/PM-3/96 de 25 de abril de 1996.
Acerca das ocorrências envolvendo bombas, no ano de 1996 a PMMT
estabeleceu normas de procedimento através da Diretriz de Ação Operacional nº
026/PM-3/9630, visando padronizar procedimentos relativos a atendimento de
ocorrências que impliquem no isolamento, retirada, desmonte ou desativação de
bombas e outros mecanismos explosivos. Trata-se da pioneira iniciativa registrada
até o momento na PMMT, sendo que esta Diretriz de Ação Operacional encontra-se
atualmente em vigor.
Estabeleceu que os objetivos prioritários de ação para o pessoal PM e BM
que denunciem a presença de bombas ou artefatos explosivos, deverá ter em vista,
exclusivamente, a evacuação do local, o isolamento do prédio e o auxílio ao pessoal
técnico especializado das Instituições Polícia Federal, Forças Armadas ou Polícia
Civil, considerando que a Polícia Militar não possuía especialistas em explosivos.
Esta Diretriz de Ação Operacional enfatiza não admitir iniciativas por parte
do pessoal da Polícia Militar visando tentativa de desmonte ou desativação de
bombas, sendo tal tarefa exclusiva dos especialistas da Polícia Federal, das Forças
Armadas ou da Polícia Civil, de acordo com a disponibilidade na área. Pela Diretriz
restou aos policiais militares concentrar seus esforços no sentido de proporcionar
segurança às pessoas que habitam, trabalham ou por qualquer motivo estejam no
local, além de oferecer todas as condições necessárias de segurança e proteção
aos técnicos, encarregados da desativação do artefato explosivo.
30 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. Diretriz de Ação Operacional nº 026/PM-3/96.
58
Trazendo para a atual realidade, as assertivas prescritas nesta Diretriz não
correspondem com os atualizados estudos feitos por especialistas em explosivos e
bombas, cujos procedimentos padrão estaremos elencando nos próximos capítulos
desta pesquisa.
Hoje no BOPE há policiais militares com treinamento em explosivos, com
destaque ao Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir31 que, embora não sejam
explosivistas, de posse desse conhecimento, já atuaram em ocorrências desse nível,
obtendo êxito nas operações.
31 O Cap PM Oliveira e o Sd PM Claudemir pertencem à Companhia de Operações Especiais do BOPE. Ambos possuem o curso de Operações com Explosivos realizado na Academia de Polícia Civil de Mato Grosso, tendo como instrutor o Cap PM Tabanez da PMDF. O Cap PM Oliveira possui ainda o curso de Explosivos Não Convencionais oferecido pela IMBEL.
59
3 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO EXPLOSIVOS EM MATO GROSSO
Neste capítulo estão demonstradas ocorrências dos últimos cinco anos
envolvendo bombas e artefatos explosivos em Mato Grosso. Algumas de grande
repercussão outras nem tanto. Necessário se faz conhecer essas ocorrências e
tecer comentários técnicos a respeito.
3.1 PRISÃO DO FORAGIDO MAURÍCIO DOMINGOS DA CRUZ, O “RAPOSÃO”
No ano de 2003, em operação conjunta, agentes do GCCO – Grupo de
Combate ao Crime Organizado e policiais militares do CIOE – Companhia
Independente de Operações Especiais realizaram a prisão do reeducando
conhecido pela alcunha de “Raposão”, fugitivo da Penitenciaria de Rondonópolis,
tendo sido encontrando em seu poder um revólver calibre .38 (trinta e oito), um
pistola calibre .40 (ponto quarenta), aparelhos celulares e sete bananas de
dinamites, conforme registrado na edição nº 10593 de 16 de abril de 2003 do jornal
Diário de Cuiabá32. A matéria jornalística enfatizou que as dinamites seriam
utilizadas para a explosão de um dos muros da Penitenciária da Mata Grande,
localizada no município de Rondonópolis, em Mato Grosso, cuja intenção era
resgatar o detento conhecido como “Sandro Louco”, além de outros dois presos
identificados como Daniel Rogério e Charles.
O detendo Maurício Domingos da Cruz, o “Raposão” possui perfil criminoso
longa ficha na Justiça do Estado de Mato Grosso, pela prática de homicídios, tráfico
de drogas, liderança de rebeliões em presídios, fuga de presídios e delegacias,
participação em seqüestros-relâmpagos, roubos a estabelecimentos comerciais e
32 NEVES, Patrícia. Plano de resgate tinha até dinamite. Diário de Cuiabá . Cuiabá, 16 abr. 2003. Caderno Polícia.
60
roubos de carros33. Em vários desses crimes agia em parceria com Sandro Rabelo,
o “Sandro Louco”.
3.2 EXPLOSÃO NO INTERIOR DE VEÍCULO EM CÁCERES
A edição n° 4513 de 22 de janeiro de 2004, do jorna l A Gazeta34, realizou
cobertura acerca de uma bomba caseira que explodiu no interior de um veículo no
bairro Vila Mariana do município de Cáceres – MT. Segundo a reportagem, além dos
danos no veículo, a detonação provocou rachadura na parede de uma casa vizinha,
no entanto, nenhuma pessoa feriu-se. O proprietário, Sr. Lênio Campos Coelho,
comerciante, disse não fazer idéia de quem poderia ter colocado a bomba para
destruir seu veículo, porque, segundo ele, não possuía inimigos.
O fato narrado nesta reportagem demonstra a facilidade que o criminoso tem
de se ocultar após a prática do delito. Apenas uma investigação pormenorizada
poderá levar ao autor do crime e sua motivação. Em casos de veículos, há várias
possibilidades para a colocação ou instalação de dispositivos para o acionamento de
bombas, através de abertura de portas, acionamento do motor ou qualquer
dispositivo elétrico do veículo.
3.3 INDIVÍDUOS PRESOS NO TERMINAL DO BAIRRO MORADA DA SERRA
A prisão, pela Polícia Militar, de dois indivíduos portando uma caixa de
munições calibre 22 (vinte e dois) e dois tubos contendo em cada um cerca de 50
gramas de pólvora, nas proximidades do terminal de ônibus do bairro Morada da
Serra, mereceu destaque do jornal A Gazeta em sua edição nº 4534 de 12 de 33 Informações obtidas através do banco de dados da Penitenciária Regional Pascal Ramos em fevereiro de 2006. 34 ALCÂNTARA, Sinésio. Bomba explode no interior de veículo e ninguém se fere. A Gazeta . Cuiabá, 22 jan. 2004. Caderno Cidades.
61
fevereiro de 2004, cujos indivíduos foram encaminhados para a Delegacia
Metropolitana.
A pólvora, substância explosiva encontrada em poder dos indivíduos detidos
pode ser facilmente obtida em casas comerciais que vendem fogos de artifício. Pode
parecer inofensiva, no entanto, inúmeros são os casos de acidentes envolvendo tal
substância em decorrência da falta de cuidado no seu armazenamento e devido a
enorme sensibilidade ao choque e ao atrito, que em grande quantidade poderá
causar mortes ou graves lesões. Sua utilização comumente é utilizada na propulsão
de projeteis e pirotecnia.
3.4 FALSA BOMBA NO BAIRRO JARDIM PRIMAVERA
No bairro Jardim Primavera, em Cuiabá, uma suposta bomba foi pendurada
na grade de uma residência. O Batalhão de Operações Especiais, através da
Companhia de Operações Especiais se fez presente nessa ocorrência, isolaram o
local e por duas detonaram a suposta bomba, mediante técnica de contra-carga. Tal
fato foi publicado no jornal A Gazeta, edição nº 4560 de 10 de março de 200435. Em
entrevista ao jornal o Capitão Oliveira disse acreditar que quem fabricou a bomba
tinha noções do que estava fazendo, pois o artefato possuía os componentes
necessários para a fabricação da bomba, no entanto, para simular a dinamite foram
usados pedaços de cabos de vassouras envoltos em fios de energia e um relógio
despertador pequeno simulando o timer da bomba.
Nesta reportagem nota-se mais uma vez que o autor da confecção do
suposta bomba utilizou do anonimato e que este tinha conhecimento técnico da
35 BOMBA-relógio caseira dá susto em moradores. A Gazeta , Cuiabá, 10 mar. 2004. Caderno Polícia.
62
fabricação de um artefato explosivo, uma vez que simulou artesanalmente todos os
dispositivos necessários para causar uma explosão. No entanto, ou não tinha o
material necessário ou apenas queria causar susto, pânico ou ameaça à moradora.
Policiais da COE utilizaram a técnica de neutralização do simulacro pela “contra-
carga”, ou seja, a explosão de um artefato gera forte onda de energia que
simultaneamente, por simpatia, causará a explosão do outro artefato.
3.5 VÂNDALOS ATEARAM FOGO EM MOTOCICLETAS NA CIRETR AN DE
RONDONÓPOLIS
Em 03 de outubro de 2004 indivíduos não identificados, encapuzados e
utilizando bombas incendiárias do tipo “Coquetel Molotov”, atearam fogo em quatro
motocicletas apreendidas que estavam no pátio da Ciretran do município de
Rondonópolis – MT, tendo o diretor da Ciretran classificado tais condutas como
“atentado terrorista”. O jornal A Gazeta edição nº 4763 de 04 de outubro de 200436
realizou a cobertura destes fatos.
Neste ataque criminoso a Ciretran de Rondonópolis, os “vândalos” utilizaram
artefatos explosivos improvisados denominados de bomba incendiária de fabricação
caseira, cuja finalidade a propagação do fogo. As bombas caseiras são de fácil
fabricação tendo em vista que são utilizados para sua confecção apenas uma
garrafa de vidro com tampa, combustível e fogo. O próprio peso da garrafa com o
combustível facilita o seu lançamento. Se adicionados a esse combustível, óleo
diesel e enxofre, aumentará a duração da queima e a intensidade do calor. É comum
36 WERNECK, Keka. Vândalos jogam bomba em motos. A Gazeta , Cuiabá, 04 out. 2004. Caderno Cidades.
63
em vários países a utilização desse artefato, sobretudo em manifestações e
distúrbios.
3.6 BOMBA DEIXADA EM SUPERMERCADO DE COLÍDER
No município mato-grossense de Colíder, uma bomba foi deixada dentro do
guarda volumes de um supermercado, tendo o objeto sido encontrado por uma
funcionária dessa casa comercial37.
As primeiras providências desta ocorrência policial foram tomadas pela
Companhia PM de Colíder, cuja unidade policial subordinada ao 9º Comando de
Policiamento de Área. A notícia crime realizada através do boletim de ocorrência,
talão nº 386 de 29 de novembro de 2004, elaborado pelo Cb PM Weniel Perteli, teve
o seguinte registro em seu histórico:
Esta guarnição PM ao ser acionada pelo Sr. Jonas da segurança do super mercado Machado deslocou até o mesmo onde lá estava uma bomba tipo explosivo artesanal que ainda não se sabe a composição do explosivo, mas esta Gu PM ao perceber a gravidade do risco que corria as centenas de pessoas daquele local e por se sentir o responsável pela segurança dos cidadãos presente, pegamos a bomba e deslocamos até uma área mais isolada, chamando assim a autoridade policial, Delegado de Polícia, onde posteriormente assumiu o desenrolar da ocorrência.
Lavramos o B.O. e registramos na Del Pol Civil local para outras providências.
Em que pese a boa intenção e o zelo profissional do policial militar com a
segurança pública, aqui temos um flagrante relato do que não se deve fazer em
casos de localização de bombas. Não se trata de uma crítica, pelo contrário, uma
análise e demonstração do perigo a que o militar submeteu. Mesmo sem conhecer
qualquer característica da bomba e seu dispositivo de iniciação, policiais militares,
em situação de alto risco, removeram-na para um local aberto por medida de
37 PERITOS detonam bomba. A Gazeta , Cuiabá, 01 dez. 2004. Caderno Polícia.
64
segurança. A primeira segurança a ser considerada nesses casos é a de vidas
humanas, inclusive a do policial. Qualquer remoção deve ser realizada com critérios
técnicos e por pessoal especializado.
Uma equipe técnica da Gerência de Operações Especiais da Polícia
Judiciária Civil foi designada para realizar a neutralização do artefato. O delegado de
polícia que esteve no local do crime destacou na reportagem que o construtor da
bomba possuía conhecimento técnico para sua construção, tanto que envolveu a
substância explosiva com materiais, como pregos, que auxiliariam no aumento do
dano.
Percebe-se, portanto, que não houve energia suficiente para a iniciação dos
dispositivos da bomba colocada no supermercado, fator julgado mínimo, mas
preponderante que, por sorte, evitou sérios danos.
3.7 BOMBA COLOCADA EM BANHEIRO DE ESCOLA EM CUIABÁ
Uma bomba caseira foi colocada no banheiro da Escola Estadual Padre
Ernesto Camilo Barreto, localizada no bairro Jardim Paulista em Cuiabá. A bomba
destruiu um vaso sanitário, bem como, causou enorme barulho que pôde ser ouvido
por vizinhos da escola. A edição nº 4900 de 24 de fevereiro de 2005 do jornal A
Gazeta38, tornou publico este fato.
Policiais da Gerência de Operações Especiais de Cuiabá atuaram nesta
ocorrência policial e, de acordo com delegado de polícia Carlos Cunha, o artefato
38 FAMA, Alex. Bomba caseira explode em banheiro de escola. A Gazeta . Cuiabá, 24 fev. 2005. Caderno Cidades.
65
era de fabricação caseira e pelo estrago que fez tinha quantidade razoável de
pólvora.
Na reportagem o delegado explicou que a bomba era feita de pólvora negra,
usada na fabricação de “bombinhas’ e fogos de artifícios, e acionada por um pavio.
Ainda foi encontrado um relógio de pulso, mas segundo o delegado, o relógio foi
colocado lá para dar uma idéia de que seria uma bomba-relógio. Acerca da
motivação, supôs que algum aluno queira aparecer ou se vingar.
Nesta reportagem temos relatos da utilização de pólvora, em quantidade
considerável, que causou a explosão. O acionamento desse artefato se dá por
diversas formas, como dispositivos elétricos, atrito, cigarros e pavios. Diversos são
também os motivos para a colocação de explosivos em escolas, seja para chamar a
atenção, paralisação de atividades, pelo descontentamento de aluno ou funcionário
em relação à direção, pela simples propagação do medo, entre outros.
3.8 UNIDADE PRISIONAL REGIONAL PASCOAL RAMOS SOFRE ATAQUE DE
BOMBA
A Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos no dia 21 de junho de 2005
sofreu ataque de bomba, causando danos no muro.
O jornal A Gazeta em sua edição nº 501539 ao comentar sobre os fatos
destacou que a explosão aconteceu a poucos metros de uma das guaritas ocupada
por policial militar, no entanto, não se sabe quando a bomba foi colocada e nem de
que forma. 39 NEVES, Patrícia. Sistema carcerário sofre 3 ataques. A Gazeta . Cuiabá, 23 jun. 2005. Caderno Polícia.
66
Os fatos descritos pela matéria jornalística também foram registrados
através de boletim de ocorrência nº 025048-8 de 21 de junho de 2005, elaborado
pelo Cb PM Oliveira, comandante do corpo da guarda.
Nesta ação criminosa foi utilizado artefato explosivo contra a parte externa
do muro da penitenciária causando apenas pequenos danos ao seu reboco. Os
dispositivos de acionamento funcionaram, no entanto, a quantidade da carga
principal explosiva utilizada contra o muro foi insuficiente para sua ruptura. Este fato
corresponde com as motivações demonstradas na prisão de Raposão, qual seja,
ação criminosa de tentativa de resgate de presos em estabelecimento prisionais.
3.9 NOVAMENTE ATAQUE COM BOMBA À UNIDADE PRISIONAL REGIONAL
PASCOAL RAMOS
Novamente a Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos sofreu ataque de
bomba no dia 22 de julho de 2005, cujo alvo escolhido próximo os módulos de aço.
Desta vez os efeitos da explosão conseguiram abrir um buraco no muro, suficiente
para que uma pessoa pudesse passar tranqüilamente. As únicas informações dos
suspeitos recaem em dois homens, não identificados, que saíram do local em uma
motocicleta.
Os fatos ganharam repercussão na mídia40 e foram registrados pelo Cb PM
Otamil, comandante da guarda da Unidade Prisional Regional Pascoal Ramos,
através do boletim de ocorrência talão nº 026093-6 de 22 de julho de 2005.
40 NEVES, Patrícia. Bomba explode na penitenciária. A Gazeta . Cuiabá, 23 jul. 2005. Caderno Cidades.
67
Nesta segunda ação criminosa contra a penitenciária foram utilizadas duas
bombas. Em uma das bombas todos os componentes funcionaram perfeitamente,
causando a ruptura do muro. Na outra, houve falha que depois de localizada foi
neutralizada por policiais da GOE mediante técnica de “contra-carga”. Nos primeiros
relatos do boletim de ocorrência destaca-se a explosão no justo momento em que
um reeducando esta sendo conduzido para a enfermaria que fica próxima ao local
onde houve a ruptura do muro, o que denota mais uma vez ação criminosa de
resgate de preso.
3.10 ESTUDANTE PRESO TENTANDO ARMAR BOMBA NO BANHEI RO DE
ESCOLA EM RONDONÓPOLIS
No bairro Vila Operária do município de Rondonópolis, em 28 de agosto de
2005 um estudante foi preso tentando armar uma bomba no banheiro da escola.
Este fato ganhou destaque do jornal A Gazeta, edição nº 5082.
A equipe da Delegacia do bairro Vila Operária, prendeu o estudante Vagneis
de Jesus Rocha de 19 anos no Conjunto São José. Vagneis era aluno da escola e já
respondia a processo por uma tentativa de homicídio ocorrido em novembro de
2004.
Segundo a delegada de polícia da Vila Operária, Anaídes Barros de Souza,
a identidade de Vagneis Rocha foi descoberta através da série de depoimentos
colhidos junto a alunos e professores da escola. O acusado confessou ter fabricado
a bomba apenas causar desordem, informou a delegada.
68
A bomba caseira encontrada no banheiro da escola foi fabricada a partir de
um cartucho de espingarda calibre 32. O artefato dispunha de um sistema rústico de
detonação, que só não cumpriu seu objetivo porque foi descoberto antes por um
aluno. Segundo a diretora da escola, Meire Lúcia Santos Martins, esta não foi a
primeira vez que o estabelecimento foi alvo de uma bomba caseira. Pouco antes do
recesso escolar, em junho, uma outra bomba chegou a ser detonada no banheiro
masculino da escola, causando apenas danos materiais.
Ação criminosa semelhante a ocorrida em escola pública de Cuiabá. Desta
vez com a identificação do autor verificou-se que este era praticante de outros
crimes e que sua intenção era causar pânico. A substância explosiva utilizada foi a
pólvora, que conforme já comentamos, de fácil aquisição e, embora baixo explosivo,
é consideravelmente perigosa em decorrência de sua alta sensibilidade.
3.11 COMPANHIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA DO JARDIM VIT ÓRIA SOFRE
ATAQUE DE BOMBA
A companhia de Policiamento Comunitário do bairro Jardim Vitória, ainda em
fase de acabamento na sua construção, foi alvo de artefato explosivo causando
enormes danos em sua estrutura. Os fatos foram registrados através do boletim de
ocorrência talão nº 030938-0 de 06 de dezembro de 2005 pelo Sd PM Messias.
O Comandante do Policiamento Regional-1/Cuiabá, em matéria jornalística41
atribui à prática criminosa como forma de retaliação ao serviço que a Polícia Militar
vinha desenvolvendo no bairro Jardim Vitória e adjacências. Como todo o sistema da
41 ATO seria forma de retaliação. A Gazeta . Cuiabá, 07 dez. 2005.
69
bomba funcionou, esta foi confeccionada por alguém que detém um mínimo de
conhecimento sobre explosivo.
Importante salientar que no relato deste boletim de ocorrência o Sd PM
Messias descreve que não identificou o tipo de explosivo. O policial de radio-
patrulhamento dificilmente conseguirá realizar essa identificação. Após a explosão
do artefato, necessário se faz que o policial tenha profundo conhecimento sobre a
matéria, a fim de que identifique o material utilizado. Essa identificação poderá
colaborar com futuras ocorrências da mesma espécie.
3.12 APÓS EXPLOSÃO DE BOMBA DETENTOS FOGEM DA CADEI A PÚBLICA
DE VÁRZEA GRANDE
No dia 08 de dezembro de 2005 seis detentos empreenderam fuga do
Presídio da Várzea Grande, após comparsas terem colocado uma bomba do lado de
fora do muro do referido presídio, causando explosão e conseqüente ruptura do
muro. O fato foi amplamente explorado pela imprensa mato-grossense42.
Os fugitivos, considerados de alta periculosidade, tendo serrado as grades
da cela, percorreram um espaço de menos de 10 metros até o muro, por volta das
12h30min. Ao contrário do que ocorre com a maioria das fugas e rebeliões, os
presos não estavam em horário de banho de sol ou de visitas.
A explosão ocorreu do lado de fora da unidade, logo abaixo de uma das
guaritas de vigilância, que estava vazia no momento da fuga. O policial militar que
estava em outra guarita, localizada na lateral do muro, tentou evitar que os presos 42 PETTENGILL. Daniel. 6 presos explodem bomba e fogem. A Gazeta , Cuiabá, 09 dez. 2005, Caderno Cidades.
70
escapassem efetuando disparos de fuzil, que dentre esses disparos, atingiu um dos
fugitivos, que ferido, desistiu de acompanhar os comparsas.
A Cadeia Pública de Várzea Grande está localizada em área, cuja
responsabilidade pelo policiamento o 4º Comando de Policiamento de Área, tendo
os fatos sido registrado através do boletim de ocorrência sob talão nº 171 datado de
08 de dezembro de 2005.
Atendendo requisição da Gerencia de Operações Especiais, foi realizada
perícia no local do crime pela Perícia Oficial e Identificação Técnica – Politec, que
através do laudo pericial de nº 02-05-005623/2005 atribuiu as seguintes respostas
aos quesitos:
[...] 4.0 DOS QUESITOS 01) Houve detonação de artefato explosivo? Pelos indícios levantados, entendem os Peritos Criminais que
houve detonação de artefato explosivo: manchas de substância acizentada deixada próxima ao vão (buraco) do muro, pela projeção dos fragmentos do muro e pelos materiais de plásticos encontrados próximos ao local do evento.
02) O artefato foi colocado na parte Interna ou externa do muro? O artefato explosivo foi colocado na parte externa do muro dos
fundos, quase em baixo da guarita de segurança central. 03) É possível saber que tipo de artefato foi utilizado? Não é possível saber que tipo de artefato foi utilizado. 04) Foram coletados materiais no local da explosão? Sim, foram coletados matérias no local da explosão. Que foram
encaminhados para o “Laboratório Forense”. 05) Que tipo de materiais são? Além da coleta da substância acinzentada encontrada em área
próxima ao buraco (vão) deixado no muro, foram coletados os materiais plásticos (fragmentos de sacola) e material sintético descritos no item 3.1. [...]
No item 5.0 da conclusão do laudo pericial os peritos relatam que não foi
encontrado no local, qualquer fragmento de material elétrico, mecânico ou mesmo
71
metálico relacionado com o evento. O que pode induzir que a espécie de explosivo
era de fabricação caseira.
Após duas investidas anteriores em presídios, desta vez os criminosos
conseguiram o intento na Cadeia Pública de Várzea Grande, ocorrendo a fuga de
seis detentos. A própria localização da cadeia facilitou a ação, uma vez que foi
construída em local ermo da cidade, rodeada por densa vegetação.
O Laudo Pericial emitido pela Perícia Oficial e Identificação Técnica – Politec
demonstra a falta de conhecimento científico dos servidores do órgão acerca da
identificação de explosivos utilizados para a confecção das bombas. Concluiu-se, no
entanto, por indução em decorrência dos vestígios encontrados, que a bomba era de
fabricação caseira.
3.13 HOMEM MANTÉM FAMILIARES E EX-ESPOSA REFÉNS SOB AMEAÇA DE
EXPLOSIVOS
No dia 03 de janeiro de 2006 o Sr. Cláudio Galvão, fugitivo do Estado de
Minas Gerais, onde cumpria pena em regime semi-aberto até o ano de 2010, pelos
delitos de roubo e homicídio, tomou, na condição de reféns, cinco pessoas da
família, fazendo como exigência principal a possibilidade de conversar com sua ex-
esposa Clarisse Santos. Após várias horas de negociação a equipe responsável
pelo gerenciamento da crise conseguiu a soltura dos familiares, ficando a ex-esposa
de Cláudio no lugar destes.
As negociações duraram cerca de 40 horas e depois de permanecer sob
ameaça de explosivo e um revólver, Clarisse Santos, foi libertada pelo seu ex-marido
72
que em seguida mediante disparo de arma de fogo, acionou o explosivo e provocou
uma enorme explosão na casa, causando enormes danos materiais na edificação e
queimaduras no corpo de Cláudio Galvão, que foi socorrido vivo e consciente.
O 3º Sgt PM Luiz Mário, componente da Força Tática do 3º Comando de
Policiamento de Área, confeccionou o boletim de ocorrência talão nº 032103-4 de 04
de janeiro de 2006 relatando as providências policiais, tendo os fatos também
ganhado enorme destaque pela mídia43.
O Ten Cel PM Santos, então Comandante do 3º Comando de Policiamento
de Área, unidade policial responsável pelo policiamento do bairro Barreiro Branco,
em relatório44 elaborado acerca dos fatos, destacou que após a explosão foi
encontrado no interior da residência, além de um revólver calibre .38 (trinta e oito),
duas bombas caseiras.
A Gerencia de Operações Especiais45 que também se fez presente, lavrou
no Livro de Ocorrências, com data de 04 de janeiro de 2006, alguns detalhes
julgados importantes acerca de procedimentos operacionais em ocorrências
envolvendo explosivos e bombas.
Por volta das 11:30 hs o Dr. Marcos Veloso nos acionou com a ordem do Secretário de Segurança Pública, para acompanhar a ocorrência de Cárcere Privado com uso de explosivo ocorrido no Barreiro Branco em Cuiabá – MT, na qual um fugitivo da Agrícola das Palmeiras, estava mantendo sua ex-esposa como refém e que essa negociação há havia se estendido por dois dias. Chegando no local percebemos que estava mal
43 NEVES, Patrícia. Seqüestro termina bem. A Gazeta, Cuiabá, 05 jan.2006, Caderno Cidades. 44 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO. ROSA, Manoel do Nascimento Santos. Cuiabá, “Relatório de Negociação “Barreiro Branco” , p. 4. 2006. 45 A Gerência de Operações Especiais subordina-se ao à Diretoria de Atividades Especiais, cujo órgão diretamente subordinado ao Diretor-Geral de Polícia Judiciária Civil. A Gerência possui em seu efetivo quatro agentes policiais possuidores do curso de Operações com Explosivos ministrados pela Academia de Polícia Civil em parceria com a Muller Consultoria e Treinamento.
73
isolada por se tratar de material explosivo, tinha muita gente expectadores numa distância de aproximadamente 100 metros, as viaturas bombeiro, SAMU estavam estacionadas de maneira incorretas, ou seja, não estavam em condições de pronto para em condições de emergência. Havia viaturas do Bope em uma distância de mais ou menos 10 a 15 metros do barraco, por conter produto inflamável e uma delas com material de explosivos a distância era muito próxima, havia também familiares inclusive crianças muito próxima do local, numa situação de risco pelo fato de haver explosivos e alguns disparos de tiros foram feitos. (sic)
Ocorrência de enorme vulto, havendo de concurso de crimes, necessitando,
inclusive, da formação de uma gerência de crise para a solução do evento crítico. O
perpetrador de nome Cláudio Galvão manteve por um período familiares de sua ex-
esposa, que posteriormente todos foram trocados por esta última, que a manteve
sob a mira de uma arma de fogo e substância explosiva. Cláudio era recém saído da
Penitenciária Agrícola de Palmeiras onde cumpria pena pelos crimes de roubo e
homicídio. O desfecho da ocorrência se deu com a detonação do explosivo,
causando queimaduras no perpetrador e sérios danos na casa.
Através dos registros apontados no Livro de Ocorrências da GOE, evidencia-
se a necessidade de conhecimento e padronização de ações nas ocorrências
envolvendo explosivos, sobretudo, quanto a procedimentos de ação e distância
mínima de segurança.
3.14 ARTEFATO EXPLOSIVO É ENCONTRADO EM MURO DA UNI DADE
PRISIONAL REGIONAL PASCOAL RAMOS
Na madrugada do dia 12 de fevereiro do ano de 2006, a Unidade Prisional
Regional do Pascoal Ramos sofreu nova tentativa de utilização de bomba por parte
de criminosos, que só não conseguiram o intento em decorrência do tirocínio policial
sentinela e providências imediatas da guarnição de serviço. Agentes prisionais que
estavam no complexo do módulo de aço informaram via rádio que alguns
74
reeducandos serraram a grade do teto da cela. Do lado externo, o artefato foi
encontrado o artefato por policiais militares pertencentes ao BOPE, que a
desativaram mediante ação de contra-carga. Notaram também que parte da cerca
de arame que isola o presídio também havia sido cortada.
Os fatos ganharam destaque no jornal Folha do Estado46 de 13 de fevereiro
de 2006, tendo o 3º Sgt PM Joi Beni, comandante do corpo da guarda, elaborado o
boletim de ocorrência sob talão nº 033667-5.
OLIVEIRA47, Capitão da PMMT, responsável pela neutralização do artefato,
em entrevista neste trabalho destacou que nesta ação os criminosos utilizaram cerca
de vinte e cinco espoletas elétricas e material pirotécnico, que se detonado,
certamente causaria ruptura no muro da penitenciária.
As características das ações, tanto dos reeducandos, quanto dos criminosos
que colocaram a bomba do lado externo do muro da Penitenciária Regional Pascoal
Ramos demonstram que tratava-se de nova tentativa de fuga. Fica então
transparente a audácia dos criminosos em tentar contra o patrimônio público a fim de
verem prevalecer seus intentos. Medidas antibombas devem ser continuamente
desencadeadas visando aumentar a segurança dos estabelecimentos prisionais.
3.15 PERFIL DOS UTILIZADORES DE BOMBAS EM MATO GROS SO
Dentre os utilizadores de explosivos em Mato Grosso podemos destacar:
46 POLÍCIA encontra bomba caseira perto de penitenciária. Folha do Estado . Cuiabá, 13 fev. 2006, Caderno Polícia. 47 OLIVEIRA, Edvaldo Souza. Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bombas: Necessi dade de Criação de Grupo Especializado na PMMT . Cuiabá, 22 fev. 2006. Entrevista concedida a monografia de Benedito Lauro da Silva.
75
a) Indivíduos contumazes na prática de vários crimes como, por exemplo, a
prisão do foragido Mauricio Domingos, o “Raposão” e do Sr. Cláudio Galvão;
b) Alunos ou freqüentadores de escola pública, como por exemplo, o fato
ocorrido na escola do bairro Jardim Paulista em Cuiabá e outro fato em
Rondonópolis;
c) Pessoas que utilizam do anonimato para realizar alguma ameaça ou
provocar o medo, o pânico ou tentar paralisar alguma atividade;
d) Vândalos que atiram bombas caseiras incendiárias contra algum
patrimônio, como o ocorrido no Ciretran de Rondonópolis.
3.16 TIPO DE EXPLOSIVOS UTILIZADOS PELOS CRIMINOSOS
Embora não especificados pelos boletins de ocorrência policial e pelas
manchetes jornalísticas, podemos tirar algumas conclusões acerca do material
explosivo utilizado nesses eventos.
Os explosivos encontrados com o foragido “Raposão”, a encontrada no
supermercado em Colíder, a detonada na Cia Comunitária do bairro Jardim Vitória e
aqueles utilizados contra os muros dos presídios são dinamites, considerados altos
explosivos normalmente utilizados no desmonte de rochas. Além desta, no caso da
última tentativa contra a Unidade Prisional Pascoal Ramos houve a utilização de
espoletas explosivas e cargas pirotécnicas.
76
A substância explosiva do tipo pólvora, pela facilidade de aquisição,
sobretudo em casas de fogos de artifício, são as mais encontradas, pelo que
podemos citar as colocadas nos banheiros das escolas de Cuiabá e Rondonópolis, a
substância apreendida em poder dos dois indivíduos no terminal do bairro Morada
da Serra e a utilizada pelo Sr. Cláudio Galvão que fez sua esposa refém foram
confeccionadas através do uso da pólvora.
3.17 FINALIDADE DA UTILIZAÇÃO DOS EXPLOSIVOS
A criminalidade continua a sofisticar-se e organizar-se a ponto de utilizar
bombas nos mais diversos casos de crimes. A colocação de artefatos explosivos em
muros dos presídios visa a tentativa de facilitar fuga de detentos quando não são
possíveis por outros meios.
Em algumas vezes apoiados por organizações criminosas, ações são
orquestradas na qual os criminosos articulam o melhor momento para a execução de
seus planos, visando intimidar, subjugar e coagir a população e as autoridades
constituídas.
As bombas fabricadas por estudantes e freqüentadores de escola e
colocadas no banheiro, em sua maioria não tem como objetivo causar lesões ou
mortes, apenas objetivam causar tumulto momentâneo, quebra de rotina e
paralisação das aulas, bem como, sensação de insegurança, possivelmente
motivada pelo vandalismo, vingança ou até mesmo por simples trotes.
77
4 BOMBAS
4.1 CONCEITOS DE EXPLOSIVO
Muitos são os conceitos acerca de explosivos, no entanto, daremos enfoque
a alguns mais usualmente empregados.
Gramaticalmente o Dicionário Priberam define explosivo como “substância
susceptível de produzir explosão”.48
Organismos policiais internacionais que trabalham diretamente na
desativação, neutralização ou investigação de artefatos explosivos, também
atribuem seus conceitos.
A Escola de Engenheiros Militares da Colômbia define explosivos como
sendo um composto ou substância capaz de se transformar, por meio de reações
químicas de óxido-redução, em produtos gasosos e condensados, produzindo altas
temperaturas e pressões. A ESJUI, Escola de Justiça Criminal da Colômbia, trata
explosivos como substância química capaz de se decompor rapidamente, gerando
pressões maiores que a da atmosfera, altas temperaturas e grande quantidade de
gases. O DISIP, Departamento de Investigações Criminais da Venezuela conceitua
como substância ou mistura em qualquer estado físico, que submetida a suficiente
calor, choque, impacto, fricção ou outro impulso proporcionado inicialmente, gera
uma transformação química instantânea, convertendo-se em outra substância mais
estável, quase que totalmente gasosa, cujo volume inicial é muito maior que o
volume da substância original. No Brasil o conceito mais adotado é o do GATE da 48 DICIONÁRIO Da Lingua Portuguesa .Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx> Acesso em: 18 jan. 2006.
78
Polícia Militar do Estado de São Paulo que define como produto que, por meio de
uma excitação adequada, se transforma rápida e violentamente de estado, gerando
gases, altas pressões e elevadas temperaturas49.
A IMBEL, Indústria de Material Bélico do Brasil conceitua explosivos como
“substâncias ou misturas de substâncias capazes de se transformar quimicamente
em gases com extraordinária rapidez e com desenvolvimento de calor, produzindo
elevadas pressões e considerável trabalho”.50
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS EXPLOSIVOS
I - Classificação quanto a velocidade de detonação:
1) BAIXOS EXPLOSIVOS - possuem velocidade abaixo de 2.000 m/s e
características de explosivos propulsores. Como exemplo podemos citar a pólvora
que promovem um efeito balístico numa arma de fogo.
2) ALTOS EXPLOSIVOS - possuem velocidade acima de 2.000 m/s e
características de explosivos rompedores. Subdividem-se em primários ou
iniciadores e secundários.
II - Classificação quanto ao emprego:
49 <http://www.monografias.com/trabajos16/terrorismo-internacional/terrorismo-internacional.shtml> Acesso em 08.02.06. 50 IMBEL, Explosivos não convencionais . São Paulo: CID, 2004. 1 CD.
79
1) INICIADORES - Empregados em mistos iniciantes ou excitação de cargas
explosivas. São sensíveis ao calor, choque, atrito. Ex: Azida de chumbo, fulminato
de mercúrio, estifinato de chumbo.
2) REFORÇADORES - Também denominados como “boosters” ou
intermediários. Atuam como multiplicador de força entre o iniciador e a carga
principal. Ex: RDX, PETN, TETRIL..
3) DE RUPTURA - Explosivos de alta potência e alta brisância. Principal
elemento de fornecimento de energia e, portanto, de maior quantidade na cadeia. É
relativamente insensível, proporcionando maior segurança no manuseio e
armazenamento. Ex: TNT, pentolita, composições de RDX, emulsões e dinamites.
4) PROPELENTES que são as pólvoras coloidais, ou seja, pólvora negra.
4.3 CARACTERÍSTICAS DOS EXPLOSIVOS
Tratam-se das propriedades físicas ou químicas que identificam cada
explosivo, a fim de podermos selecioná-los corretamente seu uso.
a) VELOCIDADE – refere-se a velocidade de decomposição ou reação de
explosivo. Quanto mais veloz o explosivo, maior sua potência.
b) SENSIBILIDADE - É a capacidade do explosivo em reagir a uma
determinada excitação. É determinada através de várias provas com aparelhos
especiais, conforme o tipo de sensibilidade testada: choque, atrito, calor, iniciação,
simpatia.
80
c) POTÊNCIA - É capacidade total de realizar trabalho, em função da
quantidade de calor liberada no instante da explosão e da velocidade com que esta
energia é liberada, ou seja, é a força do explosivo.
d) BRISÂNCIA - É a pressão de detonação ou efeito rompedor do explosivo,
isto é, a capacidade que ele possui de fragmentar o seu invólucro ou recipiente.
e) DENSIDADE - É a relação entre massa e volume. Quanto mais denso o
explosivo, maior seus efeitos explosivos, porém menor sua sensibilidade.
f) ESTABILIDADE – refere à alteração de suas características durante
armazenamento em condições normais. São requisitos indispensáveis ao
armazenamento de explosivos, tais como: ventilação; ausência de umidade;
temperaturas inferiores a 40 ºC e ausência de ambientes corrosivos, particularmente
os ácidos.
g) HIGROSCOPICIDADE - é o grau de afinidade do explosivo com a água,
isto é, a tendência de o explosivo absorver umidade.
h) TOXIDEZ – Diz respeito à capacidade de concentração de gases nocivos
à saúde. A toxidez, teoricamente, é avaliada pelo balanço de oxigênio, que indica na
formulação do explosivo o oxigênio em falta ou em excesso para proporcionar uma
transformação completa.
81
4.4 TIPOS DOS PRINCIPAIS EXPLOSIVOS
O Manual de Operações com Explosivos da PMDF elenca os principais tipos
de explosivos51.
PÓLVORA - É um baixo explosivo deflagrante, normalmente de cor preta,
estável, de forma variável; detona somente quando confinada; e iniciação através de
chama, faísca, ou filamento incandescente.
DINAMITE -. As dinamites são altos explosivas originados da
dessensibilização da nitroglicerina. Substâncias explosivas estáveis em seu estado
normal; porém, quando em exsudação, tornam-se explosivos altamente perigosos.
Apresentam-se sob a forma de uma massa de cor amarela, encartuchada em papel
parafinado (bananas) e sua iniciação se dá através de detonadores (espoletas).
NITROGLICERINA – Alto explosivo, de uso militar e comercial, muito
sensível e instável. Apresenta-se sob a forma de líquido viscoso, que explode com
atrito, calor, eletricidade etc. A temperatura ideal para armazenagem é de 13 ºC. É
usada principalmente na fabricação de dinamite.
NITROPENTA (PETN)- Alto explosivo, de uso militar e comercial, é o núcleo
branco do cordel detonante que é usado em pedreiras para interligar as cargas de
dinamite. O emprego militar é para demolição de pontes, estruturas, túneis etc. É
relativamente estável, sendo o cordel impermeável. Possui velocidade de detonação
de 6.500 m/s e é acionado através de espoleta. É o tetranitrato de pentaeritritol.
51 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos . 4º COESP, p. 5-7, 2004.
82
FULMINATO DE MERCÚRIO - É um explosivo de uso militar e comercial,
instável, utilizado em detonadores e espoletas, de cor amarelo claro, com velocidade
de detonação igual a 5.000m/s e sua iniciação se dá por choque, calor, atrito etc.
NITRATO DE AMÔNIA- É um explosivo de uso comercial, encontrado em
fertilizantes agrícolas. Se adicionado a óleo diesel forma um explosivo com
velocidade de detonação igual a 3.500m/s. Constitui um explosivo estável, de forma
granulada, necessitando de um detonador para provocar a explosão.
NITROCELULOSE – mistura de vários ésteres nítricos da celulose.
NITROCARBONITRATOS – São explosivos granulados de baixa velocidade
de detonação e pequena densidade, mas grande expansão gasosa, pouco
resistentes a água e seus gases são pouco tóxicos.
AZIDA DE CHUMBO – Ë um explosivo intermediário, instável, de uso militar
e comercial, de cor cinza, utilizado em espoletas, com velocidade de detonação de
aproximadamente 5.100m/s e com iniciação através de choque, atrito, calor, etc.
EXPLOSIVOS PLÁSTICOS – Alto explosivo, de uso militar, estável,
composto por RDX (explosivo) e substância plástica de boa consistência e moldável;
sua iniciação se dá através de detonador. Existem dos tipos C2, C3 e C4.
RDX – Research Department Explosive, explosivo reforçador usado como
intermediário entre o explosivo iniciador e a carga propriamente dita. Tem largo uso
83
em misturas com outros explosivos, como por exemplo, para carregar bombas e
granadas. Possui velocidade em torno de 8.400 m/s.
PLASTEX – explosivo plástico de uso militar, estável, não aderente, utilizado
principalmente no corte de solda de peças metálicas. Possui velocidade de 7.000
m/s.
4.5 SISTEMAS DE INICIAÇÃO
São as formas ou possibilidades de causar o início da transformação do
explosivo.
I - Trem ou cadeia explosiva - Encadeamento lógico dos explosivos segundo
a relação de sensibilidade e efeito.
II - Os sistemas de iniciação podem ser comuns ou pirotécnicos, elétricos ou
não-elétricos.
4.6 CONCEITO DE EXPLOSÃO
A IMBEL conceitua como toda expansão violenta, provocada pela
decomposição da matéria explosiva.52
A ESJUI da Colômbia classifica como escape súbito e repentino de gases do
interior de um espaço limitado, gerando alta pressão e elevada temperatura. No
Brasil o GATE da PMESP conceitua como um processo químico e físico
52 IMBEL, Explosivos não convencionais . São Paulo: CID, 2004. 1 CD.
84
caracterizado por uma grande quantidade de gases em elevada temperatura e por
uma grande força expansiva que produz efeitos mecânicos e sonoros.53
4.6.1 Tipos de Explosões
MECÂNICA - provocada pelo alívio descontrolado de pressão, havendo
maior pressão interior do objeto que sua resistência.
QUÍMICA – quando provocada por reações e transformações químicas.
NUCLEAR – aquela provocada pela fissão ou fusão do átomo.
4.6.2 Efeitos Da Explosão
a) Efeitos primários:
ONDA POSITIVA – também conhecida como impelente. Trata-se da
expansão polidirecional dos gases, formando em seu interior, vácuo.
ONDA NEGATIVA – também conhecida como implosão. É o preenchimento
do vácuo formado pela onda positiva, quando sua força de expansão for menor que
a pressão atmosférica.
FRAGMENTAÇÃO - É a decomposição ou desintegração das coisas dentro
da onda positiva.
53 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. IP-1-PM Instrução Provisória Policial Militar para o Atendimento de Ocorrências Envolvendo Artefa tos Explosivos . São Paulo. CSM/MInt, art. 11. 1996.
85
EFEITO TÉRMICO-INCENDIÁRIO - É a geração de altas temperaturas da
explosão, podendo afetar objetos inflamáveis.
b) Efeitos secundários:
REFLEXÃO - É a mudança de rumo da onda positiva, quando se depara
com um objeto que não consegue fragmentar.
CONVERGÊNCIA - É a divisão da onda positiva, quando ela encontra um
objeto que não pode fragmentar e que não possua área suficiente para provocar
uma reflexão.
PROTEÇÃO - É o espaço formado imediatamente após a convergência ou
reflexão da onda positiva, que não é afetado diretamente por ela.
4.7 IDENTIFICAÇÃO DE BOMBAS
4.7.1 Conceito de Bomba
Gramaticalmente o Dicionário Priberam define bomba como “engenho que,
contendo substâncias explosivas, rebenta com estampido”54.
O GATE/PMESP conceitua como engenhos construídos com a utilização de
substâncias explosivas, inflamáveis, bacteriológicas, radiotivas, gases tóxicos, ou
outras de efeitos análogos, com finalidade de causar danos, lesões ou mortes.55
54 DICIONÁRIO Da Lingua Portuguesa .Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx> Acesso em: 18 jan. 2006 55 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos(bombas) . GATE. São Paulo, p. 21. 2005.
86
O Manual de Procedimentos com Explosivos da PMDF define como todos os
artefatos ou dispositivos confeccionados para causar danos, lesões ou mortes, de
forma voluntária ou não.
Desta forma, dá-se o nome bomba ou artefato explosivo à cadeia de
disparos completa, inclusive carga principal, pronta para ser acionada. As bombas
ou artefatos explosivos podem ser classificados como militares, comerciais e
caseiros.
4.7.2 Classificação Geral das Bombas
EOD - EXPLOSIVE ORDINANCE DISPOSAL, que traduzidos significa:
Explosivos Industrializados e Comercializados.
São todas as bombas confeccionadas regularmente, como foguetes,
mísseis, granadas, petardos e acessórios de acionamento militares. Desta forma
sabe-se como são feitas, quais suas características e como proceder na sua
utilização, desativação ou destruição.
IED - IMPROVISED EXPLOSIVE DEVICE, tendo da sua tradução Artefatos
Explosivos Improvisados.
São todas as bombas caseiras ou improvisadas, com finalidades terroristas
ou não. Somente quem a construiu sabe como ela é feita, seu funcionamento e
como desativá-la ou destruí-la com segurança.
87
4.7.3 Dispositivos Componentes de Bombas
I - FONTE DE ALIMENTAÇÃO - Elemento gerador de energia, eletricidade
ou fogo, que irá provocar a iniciação do detonador. Exemplos: Pilhas, baterias e
fósforos.
II - ACIONADOR - Elemento interruptor da fonte de alimentação, que ao ser
ativado de forma voluntária ou involuntária provoca a ligação entre a fonte de
alimentação e o detonador. São os chamados “gatilhos”. Exemplos: mecanismos de
pressão, descompressão, dispositivos eletrônicos, etc.
III - DISPOSITIVO DE SEGURANÇA - Elemento interruptor da fonte de
alimentação e dos acionadores, acionado para proteger o construtor da bomba
durante sua manipulação, transporte ou acionamento.
IV - DETONADOR - Elemento explosivo iniciador. Exemplo: espoletas.
V - CARGA EXPLOSIVA - Elemento destrutivo da bomba. Exemplo: altos ou
baixos explosivos, líquidos inflamáveis, etc.
VI - DISSIMULADOR - Elemento de disfarce para descaracterizar a bomba e
dificultar sua identificação. Exemplos: livros, envelopes, bolsas, pacotes, etc.
4.7.4 Tipos de Bombas
I - BOMBAS NÃO-EXPLOSIVAS - Artefatos que contenham produtos
tóxicos, ácidos, corrosivos, agentes químicos, bacteriológicos ou radioativos, baixos
88
explosivos de projeção ou propulsão de metralhas, cujo resultado, a propagação de
doenças ou outros danos. Ex: Antraz.
II - BOMBAS EXPLOSIVAS - Artefatos que contenham produtos explosivos
e tenham como resultado de seu acionamento, explosão. Ex: Dinamite.
III - BOMBAS INCENDIÁRIAS - Artefatos que contenham produtos
inflamáveis e tenham como resultado de seu acionamento a propagação do fogo.
Ex: Coquetel “Molotov”.
IV - BOMBAS EXPLOSIVAS-INCENDIÁRIAS – são as combinações dos
dois últimos elementos anteriores.
4.7.5 Possibilidades de Acionamento das Bombas
I - ACIONAMENTO DIRETO - Ação manual ou sob comando do agente. Ex:
acionamento manual, pirotécnico e por rádio-controle.
II - ACIONAMENTO INDIRETO - Ação involuntária ou desapercebida da
vítima. Ex: Acionamento por pressão, descompressão, tração, movimento e contato.
III - ACIONAMENTO POR TEMPO - Autoacionamento da bomba devido a
um dispositivo de tempo. Ex: Bomba-relógio, mecanismos de retardo,
temporizadores, entre outros.
89
IV - ACIONAMENTO POR CONDIÇÕES AMBIENTAIS - Autoacionamento
da bomba devido a uma mudança ambiental onde ela se encontra. Ex: Células
fotoelétricas, células de temperatura, de som, entre outros.
4.7.6 Finalidades do Uso de Bombas
A bomba tem por finalidades usos militares, comerciais e caseiros.
As de usos militares possuem alto poder de ruptura e são muito estáveis,
considerando que nestes casos devem suportar condições de armazenamento e
transporte adversos. Ex: Plastex.
As de uso comercial são utilizadas em pedreiras, possuem baixo custo,
estabilidade razoável e médio poder de ruptura. Ex: Emulsão.
As de uso caseiro possuem baixo poder de ruptura e alta sensibilidade. Ex:
Pólvora.
4.7.7 Bombas Caseiras ou Artesanais
Em decorrência de sua alta sensibilidade as bombas caseiras são as que
mais causam acidentes, sobretudo em festas, comemorações, manifestações
violentas, onde se utilizam fogos de artifício, rojões, “coqueteis Molotov”, entre
outros. A fabricação de bombas, que antes era matéria para especialistas, já há
algum tempo tornou-se assunto de domínio público.
A Internet tem servido como facilitador do acesso a um enorme receituário
de fórmulas e esquemas para a construção de artefatos explosivos. Os laboratórios
90
de colégio, lojas de ferragens e mesmo as dispensas domésticas fornecem todos os
componentes de que se pode necessitar para a construção de um artefato explosivo
de razoável poder de destruição.
Por não obedecerem a nenhum padrão de confecção, as bombas de
fabricação caseira tornam-se altamente traiçoeiras e de reconhecimento às vezes
difícil. O tamanho, a sofisticação do projeto bem como a capacidade de destruição
reflete diretamente a imaginação, o conhecimento técnico, a habilidade e os
recursos postos de quem as constrói. Atualmente os criminosos utilizam como meio
de ataque através dos artefatos explosivos ou incendiários como a carta bomba, o
carro bomba e o coquetel Molotov.
a) Carta bomba
As cartas-bombas referem-se a todo tipo de bomba montada em um
dissimulador que possa ser enviado pelo correio ou outro serviço de entregas. Além
de uma correspondência, pacotes, livros, caixas e até flores podem dissimular um
artefato explosivo.
Tem sido usada com sucesso nos atentados desde a década de 70, quando
houve o grande desenvolvimento do terrorismo político na Europa e América.
Quando se fala em atentado à bomba nada causa mais apreensão do que as
famosas cartas-bombas.
A carta-bomba faz parte do chamado terrorismo seletivo , onde o alvo é
uma pessoa ou instituição pré-determinada, tendo como objetivo sua morte ou a
implantação do terror através da demonstração de sua fragilidade a um atentado.
91
Nos últimos anos, muitos casos de cartas-bombas foram registrados no
Brasil, destacando-se a carta-bomba enviada à uma secretária do Itamarati, em
Brasília, onde o autor teve sucesso, causando na vítima, vários ferimentos pelo
corpo.
A motivação para esses atentados reside na vingança, extorsão ou conflitos
internos nas instituições-alvo.
b) Carro bomba
Meio muito utilizado por terroristas para conseguirem o fim perseguido,
normalmente contra ocupantes do próprio veículo, contra pessoas próximas ou
contra instalações, propriedade, entre outros. A característica do automóvel
possibilita variadas formas de utilização criminosa, como, por exemplo, grande
incremento de sua parte motora e variadas formas de iniciação explosiva devido sua
instalação elétrica autônoma, enorme possibilidade de estar disfarçado em
determinados locais por não chamar atenção como os volumes e os danos podem
ser seletivos ou indiscriminados.
A utilização de veículos para fins criminosos depende da imaginação e
objetivo perseguido pelo terrorista.
c) Coquetel Molotov.
É uma bomba incendiária de fácil fabricação caseira, confeccionada em
garrafa de vidro contendo no seu interior combustível, cujo dispositivo de iniciação o
ateamento de fogo num pedaço de pano umedecido com combustível e envolto à
garrafa. O nome foi dado pelos russos durante a Segunda Guerra Mundial. Na
época, os soviéticos tentavam expulsar o exército alemão dos territórios ocupados
92
lutando com armamentos domésticos. Então, homenagearam o presidente do
Conselho de Ministros da URSS, Viacheslav Molotov, dando nome à bomba56.
4.8 UTILIZAÇÃO DE EXPLOSIVOS EM INVASÕES E REMOÇÃO DE
OBSTÁCULOS
Nem sempre bombas e explosivos são utilizados de forma maléfica,
causando mortes e danos. São os casos da utilização para rompimento de
obstáculos como medida de invasão visando salvamentos ou resgate, chamados de
entradas táticas com explosivos.
Esta modalidade de invasão tem sido utilizada pelos times táticos dos
grupos de operações especiais de todo o mundo, sejam através de portas, janelas e
outros locais, em que se exige uma intervenção imediata, como por exemplo, em
operações policiais de resgate de reféns. Neste tipo de operação outros recursos
podem atrasar ou até mesmo serem ineficazes na entrada, perdendo com isto o
efeito da surpresa da invasão tática, fator importantíssimo que pode influenciar no
resultado da operação, uma vez que estão em jogo as vidas do refém e dos
integrantes do time tático.
A utilização de explosivos, apesar da eficiência comprovada em ações reais,
exige uma criteriosa e rigorosa análise do local pelo explosivista, profissional
altamente especializado que estará encarregado de observar:
- Se há a necessidade da utilização de explosivos e sua viabilidade;
56 COQUETEL Molotov. Disponível em <http://www.guiadoscuriosos.com.br/invencoes.htm> Acesso em 22fev.2006.
93
- Tipo de material e prováveis medidas para cálculo de cargas;
- As conseqüências danosas em virtude da onda de choque;
- Determinar a zona de segurança para a equipe tática;
- O momento da detonação dos explosivos em concordância com o
momento do assalto.
94
5 DO GRUPO ESPECIALIZADO EM EXPLOSIVOS E BOMBAS
Com a constante mudança do cenário mundial, aparecem novas
modalidades de crime, proporcionando com isso o aumento, a diversificação e
audácia da forma de atuação dos criminosos. A importância que adquire a utilização
de substâncias explosivas e incendiárias dentre os meios utilizados pelos terroristas
e demais criminosos, obrigam os organismos policiais a criarem e organizarem
medidas preventivas que contribuirão para diminuir ou anular os efeitos da dita
substância.
O policiamento normal, sem o conhecimento pormenorizado e especializado
acerca da doutrina sobre explosivos jamais conseguirá dar uma resposta desejada
para a própria Instituição e nem para a sociedade.
Os países que se vêem sujeitos a ataques com bombas têm buscado
preparar sua força de segurança, procurando desenvolver uma doutrina própria
constituindo corpo de busca, localização, desativação ou neutralização de artefatos
explosivos.
Neste capítulo será demonstrado a composição e estrutura dos grupos
antibomba existentes a nível mundial com base em obra especializada no tema57,
com a finalidade de subsidiar esta pesquisa quanto a sugestão de criação de um
grupo antibomba no Estado de Mato Grosso, adequando à atual realidade.
57 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais.
95
5.1 COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DOS GRUPOS ANTIBOMBA NO MUNDO
5.1.1 Estados Unidos da América
Em decorrência do grande número de organismos policiais existentes e
sua enorme extensão territorial, as equipes de bombas não se subordinam a um
centro único, no entanto, a base de sua doutrina segue a do Exército Americano.
As equipes de bombas norte americanas estão dispostas da seguinte
forma:
a) Chefe de Equipe Pode ser técnico ou não.
b) Primeiro Operador Técnico com alta experiência.
c) Segundo Operador Nas operações alterna com o primeiro operador.
d) Equipe Auxiliar Um fotógrafo
Um auxiliar anotador
Um perito
Unidade de interrogatório
Unidade de laboratório
5.1.2 Inglaterra
Os técnicos em explosivos da Inglaterra subordinam-se ao D.A.D – Depósito
Central de Municionamento, cujo organismo, chefiado por um tenente coronel. As
equipes assim estão dispostas:
a) Operador Chefe de Equipe Um oficial ou sub-oficial.
b) Segundo Operador Um oficial ou sub-oficial.
c) Operador Auxiliar Técnico em eletrônica.
d) Segundo operador Auxiliar Motorista.
96
e) Operadores de segurança Responsáveis pelo isolamento do
local da bomba.
5.1.3 Israel
As equipes de bombas seguem a mesma estrutura dos Estados Unidos, no
entanto, possuem um terceiro operador que atuará no caso de trabalharem
simultaneamente com vários artefatos.
5.1.4 Irlanda
Possui equipes similares ao existente na Inglaterra, porém, diferenciam-se
na forma de comandar as equipes, ou seja, rotineiramente alternam a chefia das
equipes.
5.1.5 Espanha
As equipes de bombas recebem instruções do GREMANOR – Academia de
Engenheiros Hoyo de Manzanares, instituição subordinada ao Exército da Espanha.
As equipes de bombas espanholas estão dispostas da seguinte maneira:
a) Primeiro Operador Chefe de Equipe e responsável pela
operação.
b) Segundo Operador Apóia e reveza com o primeiro operador.
c) Terceiro Operador Apoio e responsável pelas comunicações.
d) Chefe de Equipe Auxiliar Observador da operação e contato direto
com superiores.
97
5.1.6 Colômbia
A equipes de bombas estão organizadas com cinco sub-oficiais e sete
agentes, para atuarem exclusivamente em qualquer lugar do país. Recebem
capacitação no Forte Brack do Exército Americano, com a finalidade de lidarem com
bombas não convencionais.
5.1.7 Argentina
A responsabilidade pela operações com bombas pertencem à Polícia
Federal Argentina, à Superintendência Federal de Bombeiros e a Brigada de
Explosivos. A formação das equipes variam de acordo com as polícias de cada
Província, no entanto, basicamente estão formadas assim:
a) Chefe de Equipe Oficial ou Sub-Oficial Superior
b) Primeiro Operador Oficial Subalterno ou Sub-Oficial
c) Segundo Operador Sub-Oficial, fotógrafo.
d) Operador Auxiliar Motorista
Em casos de suspeita de objetos conterem artefatos explosivos utiliza-se
na equipe um Guia de Cão, normalmente Oficial ou Sub-Oficial.
5.1.8 Brasil
No Brasil não há uma única doutrina e nem um centro único estabelecendo
diretrizes uniformes para a atuação das equipes de bombas. Cada Estado treina e
forma sua equipe especializada em ocorrências de bombas. No entanto, as polícias
brasileiras que possuem grupos antibomba tem empregado técnicas em ocorrências
98
envolvendo bombas e explosivos seguindo um padrão internacional de
procedimentos.
Em decorrência de acontecimentos que causaram enorme clamor público, a
Polícia Militar do Estado de São Paulo foi uma das pioneiras na criação de fração de
tropa para atuação em ocorrências de alto risco, como as que envolvem atendimento
em bombas, fato este explorado pelo Cap PM Toledo Junior58, em sua monografia,
que faz o seguinte relato histórico:
O GATE foi oficialmente criado no dia 04 de agosto de 1988, data estabelecido com o início de suas atividades operacionais; mas foi em meados de março de 1989, após o término dos trabalhos iniciais de estruturação e organização, que o Grupo apresentou-se definitivamente à população paulista, já sob o comando do 1º Ten PM Wanderley Mascarenhas de Souza.
Demonstrou-se, então, o que seria a “nova polícia especializada” seguindo a concepção da polícia moderna e de primeiro mundo, por meio do advento do Rádio Patrulhamento Padrão. Ainda em 1989, com o aumento do índice dos acidentes com explosivos e bombas, nasceu o Esquadrão de Bombas e suas equipes antibomba.
5.2 CRIAÇÃO DO GRUPO ANTIBOMBA NO BATALHÃO DE OPERA ÇÕES
ESPECIAIS
A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso possui o Batalhão de Operações
Especiais (BOPE) com sede na cidade de Cuiabá, cuja unidade policial originou-se
da Companhia Independente de Operações Especiais. Esta última por sua vez foi
primeiramente Comando de Operações Especiais criado no dia 20 de fevereiro de
1988.
58 TOLEDO JUNIOR, Theseo Darcy Bueno de. Medidas Preliminares no Atendimento de Ocorrências com Bombas e Artefatos Explosivos: Uma Proposta para a Inclusão da Unidade Didática nos Cursos de Formação da PMESP . São Paulo: p. 20. 2001.
99
O BOPE foi criado através do Decreto Governamental 988 de 23 de julho de
2003, regulado internamente na PMMT através da Portaria 014/PM-3/03 de 09 de
outubro de 2003, estando atualmente subordinado ao Comando Regional
Especializado.
Compete ao BOPE atuar, isoladamente ou em apoio às demais unidades
operacionais, no policiamento ostensivo constituindo força de reação em condições
de agir como tropa de operações especiais com maior poder de enfrentamento à
criminalidade e forte capacidade de desdobramento tático, ou seja, atuar através nas
atividades de segurança pública que extrapolem o atendimento rotineiro do
policiamento:
Atualmente em sua estrutura organizacional o BOPE opera com duas
companhias de policiamento especializado, a COE – Companhia de Operações
Especiais e ROTAM – Rondas Ostensivas Tático Metropolitano.
Está reservado ao COE as seguintes atribuições operacionais:
a) Ocorrência com reféns localizados;
b) Seqüestro de pessoas;
c) Rebelião em estabelecimentos prisionais;
d) Ameaça de bombas e explosivos;
e) Operações em alturas;
f) Escolta de presos de alta periculosidade;
g) Ações de combate ao crime organizado, visando captura ou neutralização
de seus agentes;
100
h) Atos terroristas;
i) Ações de guerrilha;
j) Seqüestro de aeronaves;
k) Captura de criminosos em locais confinados;
l) Enfrentamentos a grupos fortemente armados;
m) Manifestação de grupos de caráter sociais, políticos, econômicos,
religiosos que afetem a ordem pública, entre outros.
Quando ocorre uma ocorrência que foge ao atendimento rotineiro das
guarnições de serviço de rádio patrulhamento o emprego do BOPE torna-se
indispensável. Como vimos no segundo capítulo desta pesquisa, ocorrências
envolvendo bombas e explosivos não acontecem apenas na capital Cuiabá, local
onde o BOPE está sediado. A característica do BOPE, que atua em todo o Estado
de Mato Grosso, como tropa especializada destinada operacionalmente a treinar, dar
treinamento e operar lhe credencia a conter em sua estrutura organizacional um
grupo especializado no atendimento a ocorrências envolvendo explosivos e bombas,
subordinado à Companhia de Operações Especiais, a ser denominado Grupo
Antibomba.
5.2.1 Condições Atuais do BOPE no Atendimento a Oco rrências Envolvendo
Explosivos e Bombas
O Batalhão de Operações Especiais da PMMT em cumprimento a sua missão
peculiar tem atuado em ocorrências envolvendo bombas, no entanto faz-se
101
necessário destacar alguns pontos, conforme entrevista cedida por OLIVEIRA59, Cap
PMMT, atualmente comandante da Companhia de Operações Especiais ao
comentar a atuação do BOPE na ocorrência do dia 12 de fevereiro de 2006, por
ocasião da neutralização de artefato explosivo encontrado no lado externo do muro
da Penitenciária Regional Pascoal Ramos:
Normalmente nos atendimentos de ocorrências envolvendo bombas utilizamos a técnica de neutralização do artefato por contra-carga. A desativação ou qualquer manipulação não é recomendado pela doutrina devido o risco em que o policial se submete, mesmo bem equipado.
Na Polícia Militar de Mato Grosso não há qualquer equipamento de proteção para ações que envolvam bombas. Nessas ocorrências atuamos com capacetes, coletes e escudos balísticos, só que, nenhum desses equipamentos protegem seguramente o policial que faz uma intervenção no explosivo, diante de uma eventual detonação de grande intensidade, pois não possui características de antifragmentação.
No BOPE apenas dois policiais possuem cursos na área de explosivos: O Soldado Claudemir que possui o curso de Operações em Explosivos realizado em Mato Grosso e eu que além de possuir o curso de Operações em Explosivos, fiz o curso de Explosivos Não Convencionais na IMBEL, porém, nenhum desses cursos nos habilita a atuarmos como explosivistas. Além da gente o Capitão Siqueira Junior também possui curso na área, tendo feito dois cursos no GATE de São Paulo, mas também não é explosivista, aliás, no nosso Estado não conheço alguém nas polícias que seja explosivista.
As exposições de Oliveira nos possibilitam a conhecer as atuais carências do
BOPE no que se refere a equipamentos necessários a um grupo antibomba, para
que o policial militar possa atuar com considerável segurança nas ocorrências
envolvendo bombas. Alem disso constata-se a necessidade de maior especialização
dos policiais que ali servem, dotando-os de conhecimentos técnicos necessários
para poder operar nessas ocorrências, devendo, inclusive estarem sempre treinados
e capacitados para atender todo incidente com explosivos com mínimos riscos à sua
integridade física e de terceiros.
59 OLIVEIRA, Edvaldo Souza. Ocorrências Envolvendo Explosivos e Bomba: Necessid ade de Criação de Grupo Especializado na PMMT . Cuiabá, 22 fev. 2006. Entrevista concedida para a monografia de Benedito Lauro da Silva.
102
5.3 EXIGÊNCIAS PESSOAIS DO GRUPO ANTIBOMBA
O Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais da Brigada
de Explosivos de Córdoba, Argentina60, cuja obra amplamente estudada, servindo
como referencial e consulta para as polícias militares do Brasil, sobretudo para o
GATE da PMESP, indica as seguintes exigências pessoais para um especialista em
explosivos:
- Perspicácia;
- Experiência profissional;
- Espírito de equipe;
- Formação técnica e cultural e;
- Dedicação ao serviço.
Além dessas, destacamos outras qualidades para pertencer à equipe de
bombas.
- Ser voluntário;
- Tempo mínimo de 02 anos de serviço;
- Habilitação para o serviço;
- Aprovação em testes físicos;
- Saúde e condições psicológicas perfeitas.
- Aprovado nas investigações social, disciplinar e financeira.
- Qualificação para o serviço.
60 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais , p.28.
103
5.4 ESTRUTURA DO GRUPO ANTIBOMBA
O número mínimo de componentes para a formação da equipe de bombas é
de três indivíduos, sendo um chefe de equipe e demais componentes. No caso de
haver mais de três, deve ser organizado equipes de dois homens, necessitando a
designação de um chefe responsável pela atividade destes.
Serão atribuída às equipes a determinação de cumprimento de todas as
medidas de segurança, tendo como prioridade maior a vida.
Atribuições do Chefe de Equipe:
a) Ser o responsável administrativo de tudo que corresponda à equipe, como
escalas de serviço, documentações, atividades pessoais, materiais e equipamentos
de emprego em serviço, dentre outros;
b) Estabelecer programa de instrução;
c) Manter seu superior informado das necessidades e dificuldades
encontradas no desenvolvimento específico do serviço;
d) Estabelecer contato com os demais membros da unidade em que serve,
com a finalidade de manter um padrão de coordenação das atividades no momento
de sua atuação em explosivos;
104
e) Em casos de incidentes deverá coordenar juntamente com o oficial de
serviço, com responsabilidade direita da área, medidas de proteção ou
desocupação.
Atribuições dos Membros da Equipe de bombas.
O membro da equipe em serviço deverá estar responsável por:
a) Manter estreita comunicação com o Chefe de Equipe;
b) Localizar em tempo mínimo toda a equipe de bombas;
c) Dispor de todo o material necessário para a saída da equipe;
d) Durante a chamada ou nom momento da operação e de acordo com a
necessidade prover medidas de segurança com tudo que estiver relacionado com o
objeto suspeito, isolando o local de risco, bem como, tomará as primeiras decisões
até que chegue a Equipe de Bombas;
e) Manter organizadamente e disponível os materiais para a atuação em
incidentes ou treinamento.
As primeiras providências do membro da equipe de bombas, colocando em
prática as medidas preventivas de segurança, evitará que se produzam vítimas no
local de risco.
105
5.5 TIPO DE TRABALHO DESENVOLVIDO PELO GRUPO ANTIBO MBA
- Busca e identificação de bombas;
- Remoção e desativação de bombas;
- Ações preventivas de bombas;
- Proteção de autoridades;
- Perícia de explosões, bombas e materiais explosivos;
- Coleta de dados e análise de terrorismo e crimes envolvendo
explosivos;
- Desenvolver planos de emergência e segurança com bombas;
- Apoiar ações e operações especiais
- Apoiar investigações de crimes envolvendo explosivos.
5.6 TREINAMENTO DO POLICIAL MILITAR
Necessário se faz que os integrantes da equipe antibomba freqüentem
cursos e estágios de qualificação visando treinamento especial para o conhecimento
e aprimoramento da atividade que ora desempenham, agindo adequada e
tecnicamente diante de uma ocorrência de bomba, reduzindo ao máximo os riscos
para as pessoas e o patrimônio.
Em nível nacional e internacional, sobretudo naqueles locais onde vivem sob
intensa ameaça de bombas, organismos policiais dispõe de cursos que abordam
desde a técnica de busca e localização até a desativação ou neutralização de
explosivos. Dentre estes podemos destacar:
- Academia de Polícia do Estado de Louisiana, nos Estados
Unidos;
106
- Escola de Polícia Judicial da Colômbia;
- Espanha - Escola de Desativação de Explosivos;
- Gendarmeria Nacional da Argentina;
- Brigada de Explosivos da Argentina;
- Corpo de Bombeiros Federal da Argentina;
- Polícia de Fronteiras de Israel;
- Indústria Militar de Israel (IMI);
- Academia Nacional de Polícia, da Polícia Federal brasileira;
- Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL);
- Grupo de Ações Táticas Especiais da PMESP61.
- Academia de Polícia Civil de São Paulo
Ao pertencer à equipe de bombas o policial deverá ter o necessário
conhecimento para agir com competência com explosivos, conhecendo técnicas e
procedimentos utilizados por todos as equipes de bombas do mundo, para a
aplicação de acordo com a realidade local.
5.7 EQUIPAMENTOS PARA O GRUPO ANTIBOMBA
Em seu mister, o policial militar técnico em bombas deverá primar em
proteger vidas humanas, inclusive a dele. Desta forma, torna-se necessário que
tenha à sua disposição equipamentos para agir com técnica adequada, permitindo
trabalhar com segurança, facilitando sua atuação sobre o artefato.
A utilização dos equipamentos tem como fundamento que estes foram
idealizados para utilização em incidentes envolvendo explosivos, deixando bem 61 Anualmente o GATE/PMESP realiza o Estágio de Medidas Preventivas em Ocorrências Envolvendo Explosivos (bombas).
107
claro que nessas ocorrências o trinômio “homem-equipamento-treinamento” são
indispensáveis para uma solução com eficácia e segurança.
Os equipamentos utilizados pela equipe de bombas podem dividir conforme
a função empregada da seguinte maneira:
5.7.1 Equipamentos de Busca
a. Espelhos articulados.
Sistema moderno de inspeção para busca de bombas. Possui espelho
convexo, com lanterna iluminando as partes inferiores ou superiores dos objetos
para verificação destes, facilitando o trabalho do técnico.
b. Lanternas.
Meio utilizado como complemento dos espelhos articulados com extensão
da mão.
c. Cães farejadores de explosivos.
Normalmente os cães farejadores de substância explosivas são propensos a
trabalharem utilizando-se do focinho ou a boca para a localização de objetos.
Determinadas raças como o Pastor (Belga) Malinois, Retrivier do Labrador, Pastor
Alemão, Springer Spenhel, possuem maior aptidão para tais trabalhos, pois são mais
acessíveis ao treinamento.
d. Detectores de metais.
Equipamentos para utilização em revista de pessoas e objetos, visando
detectar, através do campo magnético, metais ferrosos e não ferrosos. Diante do
108
que se busca o aparelho ativa um alarme audiovisual sem a necessidade de
contatar o aparelho na pessoa ou suas vestimentas.
e. Estetoscópios clínicos e eletrônicos.
Aparelho utilizado para amplificar sons transmitidos pela vibração, com
pouca distorção, aos ouvidos do examinador. Visa detectar sons rítmicos que
indiquem a presença de temporizadores mecânicos ou eletromecânicos.
f. Microfones especiais.
Consiste em captar as interferências sonoras, utilizados na busca e
determinação de locais de onde se originam sons suspeitos indicando a presença de
temporizadores mecânicos ou eletromecânicos em pacotes suspeitos.
g. Detector por contato de substâncias explosivas.
Equipamento destinado a identificar explosivos em correspondências ou
pacotes, sendo bastante sensível para explosivos plásticos. Seu visual é próprio
para uso em salas de escritórios, recepção, empresas, embaixadas, ministérios, etc;
evitando exposição ao perigo de artefatos explosivos.
h. Raio-x.
A finalidade deste equipamento é a observação do interior do pacote
suspeito antes de sua abertura ou a certificação de que o objeto está seguro para
abertura ou ingresso na instalação.
i. Analisador de gases explosivos.
Estes equipamentos devem ser vistos com um certo resguardo. Criam uma
falsa ilusão de segurança, pois são construídos para detectar vapores exalados de
109
determinados explosivos. Se o invólucro estiver impedindo a saída dos odores do
explosivo ou se a bomba foi confeccionada com um tipo de explosivo diferente
daquele que o equipamento foi preparado, sua detecção será ineficiente. Podemos
portanto considerá-lo como um equipamento auxiliar, mas não essencial.
j. Fibroscópio – endoscópio.
Este equipamento permite ao técnico observar lugares pouco acessíveis
mediante a utilização de uma fibra ótica, projetando as imagens em um monitor.
5.7.2 Equipamentos de Proteção
a. Traje de Proteção para Operação com Bombas.
Conhecido também como Traje EOD8, utilizada pelo operador principal para
se aproximar de um artefato explosivo. Este traje antibomba possui excelente
flexibilidade e alta proteção contra impacto, calor, chamas e fragmentos, inclusive, é
considerado o tecnologicamente mais avançado equipamento do mercado
internacional. O traje antibomba incorpora compartimentos para sistema de
comunicação com ou sem fio. Possui um sistema de refrigeração integrada por uma
rede de dutos onde circula água gelada, indispensável, sobretudo, em países com
clima quente, como é o caso do Brasil.
b. Escudos. Antifragmentação.
Equipamento que permite ao técnico proteger-se dos artefatos mecânicos da
onda explosiva quando da aproximação. Este equipamento deve permitir uma ampla
visão e facilidade para ser transportado em um só braço, apoiável no solo mediante
tripés articulados, para que o técnico possa manipular outros equipamentos quando
estiver próximo da bomba.
110
c. Manta antiexplosivo.
Equipamento utilizado pelas unidades especiais antiexplosivos por deter
fragmentos irregulares de bombas a uma velocidade máxima de 1.600 m/s e
temperatura de até 400 graus centígrados. Confeccionado em material de nylon,
com alças para transporte ou fixação no solo, servindo inclusive como escudo
antifragmentação.
d. Contêiner de explosivos.
Equipamento fabricado para contenção de ondas explosivas e retenção de
fragmentos, garantindo a segurança do técnico em explosivos, de pessoas nos
arredores e do patrimônio. Conta com espelhos côncavo para, mesmo distante, se
conseguir visualizar seu interior. Útil para remoção de bombas para local mais
seguro.
5.7.3 Equipamentos de Destruição
a. Cargas explosivas.
b. Detonadores (elétricos, não elétricos, pirotécnicos, etc).
c. Cordel detonante.
São explosivos que tem por finalidade iniciar cargas explosivas em função
da detonação de seu núcleo, portanto, garante a detonação como uma coluna de
carga.
d. Alicates de amolga.
111
Ferramenta destinada apertar a parte vazia da espoleta comum de encontro
ao estopim ou ao cordel detonante que está em seu interior, o suficiente para que
ela seja arrancada facilmente e não tanto para que venha impedir a queima do
rastilho de pólvora do estopim.
e. Explosor.
Pequeno gerador de corrente elétrica para o lançamento de fogo às
correntes elétricas
f. Interruptor seguro.
5.7.4 Equipamentos de Transporte e Contenção Segura
a. Trailer Porta Contêiner.
Equipamento construído para alojar o contêiner, resistente às pressões
originadas da explosão, cujo objetivo agilizar o deslocamento do artefato com
segurança.
b. Cordas com Ganchos.
Utilizam-se como meios de retirada e translado de supostos artefatos para
lugares mais seguros, onde o policial técnico em explosivo possa atuar sujeito a
nenhum ou menor dano.
c. Braço Mecânico;
Equipamento construído com material leve e com mais de três metros de
extensão. São extensíveis e em sua extremidade leva algum acessório que pode ser
112
uma corda, uma rede ou gancho que possa aplicar ao artefato explosivo, com
finalidade de remoção para um local seguro.
d. Robô.
Como norma geral o robô é empregado na maior parte das ocorrências,
tendo em vista que facilita o manuseio do artefato, estando o operador em
segurança e à distância, inclusive com a utilização de circuito de TV. Extremamente
útil nos casos de intervenção em veículos suspeitos, abertura de malas, depositar
cargas ou retirar artefatos de interiores, ataques com canhão disruptor, dentre outras
atividades.
5.7.5 Equipamentos de iluminação
a. Refletores e lanternas especiais.
b. Canhão de luz.
Equipamentos utilizados para melhor visualizar o artefato em locais
distantes, ou causar a explosão deste, em área rural ou inóspita, no caso de
acionamento por sistema fotoelétrico.
5.7.6 Meios de Observação
a. Binóculos.
Equipamento que permite a visão a distância valendo-se do aumento que
apresentam em suas lentes. Recomendado para utilização em distâncias acima de
cem metros.
b. Óculos de Visão Noturna.
113
Equipamento que possui a capacidade de permitir a visão através de lentes
de radiação infravermelha, em locais escuros como túneis, sótãos, em que não se
recomenda o acendimento de interruptores.
5.7.7 Meios Auxiliares
a. Câmera fotográfica
b. Máscaras de gás.
c. Rádio.
d. Megafone.
e. Fitas de demarcação.
5.7.8 Equipamento de Neutralização por Ação Química
a. Nitrogênio líquido
Material que por sua característica produz resfriamento nos elementos
internos provocando rigidez dos elementos mecânicos, impedindo movimentos,
neutralização da energia das pilhas, dificultando o processo químico existente no
explosivo.
5.7.9 Equipamentos Lesivos
a. Canhão disruptor.
Um dos equipamentos mais eficazes na destruição dos explosivos,
conseguindo seu objetivo na maioria dos casos. A sua colocação em relação ao
114
explosivo não é arbitrária, devendo ser dirigida com a finalidade de destruir a bomba
em sua fonte de alimentação, sistema de iniciação e demais elementos do artefato.
b. Fuzil.
Arma de fogo recomendada para utilização em zonas rurais com a vantagem
de desmantelar o artefato com maior distância de segurança, que para tal deve ser
manipulada por especialistas nesse tipo de equipamento.
5.7.10 Equipamentos de Desativação e Investigação
a. Valisa com ferramentas para desativação.
b. Valisa com ferramentas para utilização pós-explosão.
5.8 PROCEDIMENTO OPERACIONAL EM OCORRÊNCIAS ENVOLVE NDO
EXPLOSIVOS E BOMBAS
Os procedimentos operacionais destacados neste trabalho monográfico
estão em consonância com os procedimentos técnicos adotados a nível
internacional, como por exemplo, a Brigada de Explosivos de Córdoba, na
Argentina62 e a nível nacional, o GATE da Polícia Militar do Estado de São Paulo63 e
COE da Polícia Militar do Distrito Federal64.
62 BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais . 63 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos , GATE, São Paulo. 2005. 64 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos. Distrito Federal . 4º COESP, 2004.
115
5.8.1 Das Providências com o Artefato
Atualmente existem duas doutrinas acerca das providências adotadas em
ações envolvendo bombas. A doutrina da Escola Americana e a doutrina da Escola
Européia.
Pela doutrina americana, nesses casos, a equipe de técnicos em bombas
procuram neutralizar o artefato explosivo com a preocupação de mantê-lo o mais
intacto possível para o trabalho de perícia e investigação. Esse processo é chamado
de desativação ou desmontagem. Técnica recomendada somente com a perfeita
identificação dos componentes da bomba. A desvantagem dessa técnica é o alto
risco de vida para o explosivista, um risco desnecessário, que poderá custar-lhe
graves lesões ou a perda da vida.
Por outro lado, as polícias brasileiras adotaram a doutrina européia no que
se refere a solução de ocorrências envolvendo bombas, ou seja, procuram
neutralizar o artefato com a prioridade de garantir a segurança das pessoas, dos
técnicos e a preservação dos bens materiais. A desvantagem está na causa de
danos materiais, eliminando considerável parte das evidências e dificultando a
perícia e investigação.
5.8.2 Do Atendimento a Ocorrências Envolvendo Bomba s
Diante de uma notícia de ocorrências de bombas, deve-se analisar o
conteúdo dessa notícia a fim de identificar se trata de uma falsa ameaça ou ameaça
real.
116
Entende-se falsa ameaça quando as informações ou análise da suspeita são
infundadas ou desencontradas, não havendo motivação, indícios ou provas que
confirmem a possível existência da bomba, o local ou a pessoa ameaçada não é um
alvo em potencial. São característicos de tais casos, telefonemas anônimos, cartas e
ameaças pessoais de vingança.
Diz-se ameaça real quando existem características criminosas ou terroristas
e elementos materiais ou testemunhais que comprovem ou confirmem a possível
existência da bomba. A pessoa ou local ameaçado é um alvo em potencial. Tais
casos caracterizam-se através de pessoas que viram a bomba ou a montagem e
instalação da mesma, pessoas que participaram de sua confecção e agora julgam
arrependidas, visualização de pedaço de explosivos, acessórios ou mecanismos da
possível bomba e informações de sua exata localização.
5.8.3 Orientações ao Atendente da Ameaça
O atendente da comunicação da ameaça de bomba deverá manter a calma,
não fazer alarme, evitando, desta forma, a propagação do pânico. A conversa com o
ameaçador deve perdurar o máximo possível visando colher o maior número de
informações. Estas são algumas orientações ao atender uma ameaça:
- Procure anotar todas as palavras do ameaçador. Posteriormente poderá
ser feito análise da ameaça, se conexas ou não;
- Se possível coloque alguém na extensão do telefone, que, em silêncio,
também poderá ajudar nas anotações;
117
- Preste atenção na voz do ameaçador, a fim de identificar gírias, sotaques,
se pastosa, idade presumida, entre outros detalhes;
- Procure, sem insistência, saber quem está falando e seu endereço;
- Procure observar ruídos de fundo, que poderá auxiliar na identificação da
localização do ameaçador;
- Procure saber do ameaçador quando a bomba irá explodir;
- Procure saber se foi ele quem fez ou colocou a bomba;
- Procure saber a motivação da fabricação e colocação da bomba;
- Pergunte ao ameaçador onde está e qual o tipo da bomba;
- Pergunte como o ameaçador colocou a bomba;
- Procure saber do ameaçador o que acontecerá se ela explodir;
- Pergunte o que pode ser feito para evitar a explosão da bomba.
Após o recebimento da ameaça deverá ser feita a classificação da ameaça
mediante uma análise completa da situação, verificando a quem foi dirigida a
ameaça, a motivação para o atentado, a oportunidade que teve o agente, os meios
empregados, as características do explosivo e os meios que a polícia local dispõe
118
para o atendimento da ocorrência, para então atuar de acordo com a técnica
adequada.
5.8.4 Ações Antibomba e Ações Contrabomba
O IP-1-PM da Polícia Militar do Estado de São Paulo faz a seguinte alusão
acerca das ações antibomba:
Art. 23. Ações Anti-bomba – são todas as operações e procedimentos operacionais policiais militares de caráter preventivo ou de reação imediata a um atentado a bomba até o nível de localização de objetos suspeitos ou caracterização da real possibilidade da existência de uma bomba em determinado local.
As ações antibomba consistem na segurança de pessoal e instalações,
análise de atentados a bomba, buscas preventivas e localização de objetos
suspeitos.
Quanto as ações contrabomba assim preconiza o mesmo manual:
Artigo 24 - Ações Contra-bomba - São todas as operações e procedimentos operacionais policiais militares de reação a um atentado a bomba, englobando a identificação, remoção, desativação e neutralização de bombas. Tais procedimentos só podem ser realizados por pessoal técnico e devidamente habilitado para tais missões, uma vez que envolvem alto risco de vida para os policiais e para a população envolvida na ocorrência.
As ações contrabomba visam a identificação de objetos suspeitos, remoção,
desativação e neutralização da bomba.
119
5.8.5 Técnicas de Busca
O Manual de Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo
Explosivos do GATE/PMESP65 traça as seguintes orientações para a realização de
uma busca:
- Usar pelos menos duas pessoas;
- Organizar buscas;
- Saber o que se busca;
- Selecionar os lugares mais prováveis;
- Atenção para caminhos condicionados;
- A busca é essencialmente visual;
- suspeitar de objetos anormais ou abandonados;
- Não abrir portas, armários ou gavetas sem confirmar segurança;
- Não acender ou apagar luzes e não usar elevadores sem confirmar
segurança;
- Considere a existência de mais de um artefato;
65 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Procedimentos Preventivos em Ocorrências Envolvendo Explosivos , GATE, São Paulo, p. 25. 2005.
120
- Tudo pode ser uma bomba.
Convém destacar que durante uma busca ou varredura tudo pode ser
meticulosamente analisado, uma vez que a bomba poderá ser de fabricação caseira
ou industrial e estar disfarçada sob a forma de qualquer objeto. No vídeo instrução
da SENASP que trás informações policiais acerca de ocorrências com bombas, o
então Cap PMESP Mascarenhas, especialista em explosivos, faz a seguinte
colocação acerca da identificação da bomba caseira66:
Esta é a dúvida da maioria das pessoas. Quando falamos em
fabricação da bomba caseira é importante salientar que a imaginação de
seu construtor é o limite para a fabricação dessa bomba, ou seja, ela pode
parecer com o que a gente quiser, com os mais diversos formatos, por
exemplo, uma caixa de bombom, um ramalhete de flores, uma carta-bomba,
um livro-bomba, um pacote-bomba. A idéia que se tem normalmente é que
a bomba é uma granada militar ou algumas bananas de dinamite junto com
o estopim. Isto porque é o que mais nós vimos nos exemplos dos filmes de
televisão. (sic)
Para a realização da busca o policial militar deverá preocupar-se em fazê-la
de forma rápida checando todos os pontos de maneira seqüencial a não vistoriar
duas vezes um mesmo local e deixar de checar outro. Tanto a PMESP, quanto a
PMDF adota algumas técnicas chamadas de seqüência de busca: divisão em
quadrantes, seqüência espiral, zonas longitudinais e arcos capazes.
66 OCORRÊNCIAS com bombas . Produção do Ministério da Justiça. Coordenação da Polícia Militar do Estado de São Paulo. São Paulo: SENASP, 2002. 1 fita de vídeo (45min), VHS, son., color.
121
5.8.5.1 Divisão em Quadrantes
Na divisão em quadrantes (Figura 1) o local é dividido em duas, quatro, oito,
nove, dez ou mais partes, de acordo com a necessidade, que são numeradas em
ordem seqüencial. O policial militar realiza a busca em um quadrante antes de
passar para outro. Se houver duas ou mais pessoas envolvidas na busca, os
quadrantes são divididos entre as pessoas envolvidas. Esta técnica é mais indicada
para buscas em salas, escritórios e outros ambientes de porte médio e grande, com
muitos móveis ou divisórias em seu interior.
Figura 1: Divisão em quadrantes
5.8.5.2 Divisão em Seqüência Espiral
Na seqüência espiral (Figura 2) o responsável pela busca inicia partindo-se
do centro do local para as extremidades. Realiza-se a varredura completando
círculos crescentes ou decrescentes até fechar todo o ambiente. Esta técnica é
indicada para salas e locais pequenos ou com poucos móveis. O espiral partindo das
extremidades para o centro, por outro lado, é indicado para ambientes amplos e com
poucos móveis, como galpões e depósitos.
11 22 66
33 55 77
44 88 99
122
Figura 2: Seqüência em espiral
5.8.5.3 Divisão em Zonas Longitudinais
A técnica de busca em zonas longitudinais (Figura 3) consiste em dividir o
ambiente em faixas, sendo as mesmas numeradas em ordem seqüencial e
distribuídas às pessoas envolvidas na busca. Técnica indicada para buscas em
auditórios, restaurantes e teatros.
Figura 3: Zonas Longitudinais
5.8.5.4 Divisão em Arcos Capazes.
Na técnica de busca por arcos capazes (Figura 4) todo o ambiente deverá
ser dividido em tantos arcos imaginários quantos forem necessários, levando em
conta as dimensões do local e o número de pessoas disponíveis para a busca. A
busca deverá ser realizada da área mais crítica para a menos crítica. Técnica
indicada para ambientes com forma curva ou semicircular.
4
3
2
1
123
Figura 4: Arcos Capazes
5.8.5.5 Módulos de Varredura.
Os módulos de varredura (Figura 5) consistem na técnica pela qual, na
seqüência da varredura, o policial militar deve passar por quatro vezes em cada
local, observando em cada passagem uma determinada altura do ambiente. Esta
técnica também visa a organização e o racionamento do trabalho, observando
principalmente o trabalho ergométrico e físico do homem, para que não fique
alternando seqüencialmente seu foco de atenção. Assim, o policial militar trabalhará
inicialmente com o corpo sempre em uma posição, mudando-a na passagem
seguinte:
- Primeiro módulo – visa vistoriar o ambiente do chão até a altura da cintura.
Tornam alvos desta varredura o chão, tapetes, mesas, cadeiras, poltronas, objetos
em cima de móveis, armários, entre outros. O primeiro módulo é sempre o mais
demorado, uma vez que a maioria dos objetos e móveis de uma sala estão nessa
altura.
124
- Segundo módulo – vistoriar o ambiente da altura da cintura até a altura da
cabeça. Nesta fase, são vistoriados as paredes, janelas, quadros, luminárias,
armários, estantes e outros objetos existentes.
- Terceiro módulo – vistoriar da altura da cabeça até o teto, onde são alvos
luminárias, alto de estantes, cortinas, ar condicionados, entre outros.
- Quarto módulo – trata da vistoria de pontos mortos ou com dificuldade de
acesso, como forros, tetos falsos ou suspensos, pisos falsos, fiação, interior de
eletrodomésticos e outros pontos considerados importantes.
Figura 5: Módulos de Varredura
5.8.6 Desocupação de Locais de Risco
É a retirada emergencial de pessoas de um local sob grave risco para um
local seguro, num breve espaço de tempo. Trata-se de uma medida de reação que
não deve ser realizada como medida antibomba. Pode ser realizada de duas formas:
44ºº MMóódduulloo
33ºº MMóódduulloo
22ºº MMóódduulloo
11ºº MMóódduulloo
125
a) Desocupação parcial:
Deve ser feita mediante análise de ameaça real, quando se tem certeza do
local exato onde a bomba se encontra e a avaliação de danos for controlada.
Comumente neste caso o acesso de pessoas ou objetos no local é limitado.
b) Desocupação total:
Deverá ser feita quando mediante análise tiver certeza da existência de
bomba, porém não a tiver localizado e a avaliação de danos for elevada. Aqui é livre
o acesso de pessoas ou objetos no local, aumentando a oportunidade do criminoso
realizar a colocação do artefato.
Oportunamente convém enfatizar que a desocupação precipitada não
resolve o problema. Torna impossível a realização das ações antibomba,
considerando que só quem conhece perfeitamente o local é quem possui condições
para melhor identificar um objeto suspeito. Além disso, uma desocupação
precipitada causa pânico e paralisação das atividades, o que pode ser o principal
objetivo do ameaçador.
5.8.7 Medidas em Ocorrências com Artefato Localizad o
A primeira orientação às pessoas ou guarnição de serviço é a de isolar o
local, não mexer, não tocar, não remover e não ficar próximo ao artefato explosivo.
Medidas criteriosas devem ser adotadas para não provocar tumulto, pânico
ou evacuações precipitadas, preocupando em colher o maior número de
informações possíveis a respeito do encontro do artefato, local exato, características
do artefato, se o objeto foi tocado ou movido por alguém, se o local já foi vitima de
126
alguma ameaça ou atentado e se há certeza de que o objeto não pertence a algum
conhecido. Essas primeiras informações facilita em muito a atuação do grupo
especializado.
Para o perfeito isolamento do local deve-se levar em consideração o tipo e a
quantidade das cargas explosivas iniciadora, reforçadora e principal, caracterizados
pelo volume e peso. No entanto, nem sempre o policial que localiza a bomba tem o
pleno conhecimento dessas informações, avaliando perfeitamente os riscos e o
coeficiente de segurança. Nestes casos o Manual de Procedimentos com Explosivos
da PMDF67 trás faz a seguinte observação quanto a distância mínima de segurança:
Para a detonação de espoletas – 25m.
No caso de altos explosivos em terreno limpo:
- Até 1 Kg: 60m
- Aumente 40 m para cada quilo a mais.
No caso de altos explosivos em terreno pedroso:
- Até 1 Kg: 90 m.
- Aumente 60 m para cada quilo a mais.
67 POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual de Procedimentos com Explosivos . 4º COESP, p. 14. 2004.
127
5.8.8 Técnicas Empregadas por Grupo Especializado e m Bombas
De acordo com o tipo de bomba ou explosivo encontrado, será a técnica
utilizada pelo Grupo Especializado em Bombas. Dentre essas técnicas temos a
remoção, desmontagem, destruição parcial ou total.
A remoção consiste na retirada, levantamento ou transporte do artefato de
um local para outra distância próxima depois de comprovada necessidade com a
finalidade de evitar danos pessoais ou ao patrimônio. Esta ação é possível mediante
a aplicação de meios como a utilização de robôs, braço mecânico, redes, cordas e
contêiner.
A desmontagem ou desativação somente é recomendada nos casos em que
o operador principal examinou exaustivamente todos os meios e procedimentos
utilizados na construção do artefato. Para tanto, além da experiência técnica o
operador deve-se valer dos equipamentos de observação, proteção e meios
auxiliares. Essa é a última opção recomendada em decorrência do alto risco a que é
submetido o membro do grupo especializado.
A destruição parcial é utilizada com a finalidade de neutralizar o artefato com
qualquer procedimento sem que chegue a explodir totalmente, podendo recuperar
alguns dos componentes. Esta ação pode ser desenvolvida através do canhão
disruptor, fuzil e em alguns casos com a ajuda do cordel detonante.
A destruição total será desencadeada quanto não restar alternativa para o
Grupo Antibomba, após analisados os riscos que o artefato possa proporcionar, o
desconhecimento de sua construção e a falta de técnica ou equipamentos para lidar
128
no atendimento. Para tanto devem ser adotadas precauções no sentido de minimizar
os riscos.
Sem dúvida que o operador estará mais sujeito aos perigos que o artefato
oferece, desta forma sua aproximação deverá ser mínima e com menor tempo
possível, uma vez que produzida a explosão estará a salvo dos efeitos dela.
Normalmente são utilizadas as técnicas de contra-carga que consiste na
aplicação de uma pequena carga explosiva de efeito dirigido ou não que pelo efeito
da simpatia ocasiona o acionamento do outro explosivo.
129
CONCLUSÃO
A presente pesquisa monográfica buscou realizar uma apreciação acerca
das ocorrências envolvendo explosivos e bombas no Estado de Mato Grosso, cujo
assunto pouco explorado, no entanto, constitui de suma importância para a Polícia
Militar do Estado de Mato Grosso, principalmente, porque trata-se da proteção dos
bens jurídicos tutelados pelo Estado, qual seja a vida e a integridade física e moral,
seja do policial militar ou não.
Para tanto, inicialmente fez-se uma contextualização histórica, a fim de
demonstrar um panorama do terrorismo, sua evolução e o seu perfil contemporâneo,
mantendo o cuidado de especificar as formas e motivações do terrorismo para
posteriormente analisar a necessidade de atuação dos organismos policiais num
passado recente até a atual conjuntura.
Este trabalho científico, em seguida, procurou elencar os dispositivos legais,
de conteúdos de Direito Internacional, Constitucional, Penal e Administrativo, acerca
das condutas criminosas, terroristas ou não, envolvendo explosivos e bombas. No
entanto, evidenciamos a necessidade de uma análise meticulosa para se
130
estabelecer uma definição jurídico-penal do terrorismo, em decorrência das formas
da prática do crime estarem preconizadas de forma autônoma, como homicídio,
lesões graves, extorsões, explosão, incêndios, seqüestros, genocídios, entre outros.
Desta forma para tipificação especial quanto à prática do terrorismo deve ser
realizado estudos em âmbito do Direito Internacional, preenchendo qualquer lacuna
de incriminação dessa conduta. Na esfera administrativa a Polícia Militar do Estado
de Mato Grosso expediu a Diretriz de Ação Operacional nº 026 regulando as ações
internas no atendimento das ocorrências envolvendo bombas, porém, tal norma
interna encontra-se desatualizada quanto aos procedimentos administrativos, táticos
e técnicos, conforme constatado nas pesquisas bibliográficas.
Com base em pesquisas documentais extraídas de jornais, boletins de
ocorrências e livros de ocorrências, foram demonstradas ocorrências policiais dos
últimos três anos, demonstrando que este Estado também tem sido alvo de condutas
criminosas com utilização de explosivos e bombas, havendo necessidade da
intervenção policial em cumprimento ao seu mister. Foram analisados, também, o
perfil dos utilizadores dos artefatos, as características desses artefatos e a principal
motivação de suas ações. Ficou patente que Mato Grosso não constitui alvo de
atentados terroristas de cunho político, religioso ou reacionário, no entanto,
criminosos tem utilizado explosivos em diversas modalidades de crime, com
destaque especial aos ataques a estabelecimentos penais, cuja finalidade, favorecer
fugas.
Foram evidenciados os principais tipos de substâncias explosivas e bombas,
em que foram demonstrados tipos e características principais, tipos de acionamento,
131
conceito de explosão e seus efeitos, dando ainda um enfoque especial à bomba
caseira, principal causadora de acidentes causando lesões e até mortes. Tal assunto
foi cuidadosamente analisado antes de sua transcrição, visando evitar que este
trabalho se transforme em “manual terrorista”, uma vez que não tem o condão de
ensinar a fabricação de bombas, tendo por finalidade maior, prover ao policial militar
o conhecimento do artefato e suas conseqüências desastrosas no caso de
manipulação incorreta.
O problema suscitado neste trabalho científico corresponde com a hipótese
levantada. Foram analisadas as principais equipes especializadas em bombas a
nível internacional e nacional, com destaque à sua formação operacional e funcional.
Conclui-se, portanto, que a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso não possui
procedimentos adequados para atendimento de ocorrências com bombas que vão
desde as peculiaridades do atendimento da ameaça, que é fator determinante para a
avaliação dos riscos, até a solução operacional do Grupo Antibomba. Conhecendo
aos procedimentos operacionais e logísticos do Batalhão de Operações Especiais
do Estado de Mato Grosso, restou notória a necessidade urgente da criação de um
grupo especializado em explosivos e bombas, uma vez que há carência de
profissionais com conhecimentos e treinamentos especiais. Outra medida que requer
imediatez é a aquisição, por parte do Governo do Estado, de equipamentos
indispensáveis no atendimento a essas ocorrências, visando proteger principalmente
a vida, bem indisponível com a devida proteção do Estado.
A avaliação da importância da criação do Grupo Antibomba se faz pela
simples observação das ocorrências citadas nesta pesquisa, embora Mato Grosso
não contribua tanto para o aumento da estatística e divulgação a nível internacional.
132
A vida do policial, que diante da falta de conhecimento técnico, equipamento e
treinamento, submete-se a enorme risco, deve ser levado em conta. Ademais, não é
necessário o pré-requisito ser terrorista para se fazer uma bomba. Basta apenas um
mínimo conhecimento técnico e materiais para se fazer um artefato com
considerável potencial ofensivo.
As atuações até o momento devem-se ao espírito heróico e destemido dos
membros do BOPE que com espírito guerreiro se atrevem a buscar soluções ou
alternativas para a neutralização do artefato utilizando apenas equipamentos de
proteção balística, que em casos de detonação do artefato, nada servem como
proteção, expondo a vida do policial militar. Neste capítulo foram demonstrados
conteúdos relativos ao trato com explosivos e bombas voltados para a atuação
policial militar, dentro do nível de suas atribuições. O conteúdo privilegia o
conhecimento sobre as técnicas modernas de buscas, localização, remoção,
desativação e neutralização de artefatos explosivos e ainda, dispões de informações
dos equipamentos necessários para uma atuação segura no atendimento de
ocorrências envolvendo bombas.
133
SUGESTÕES
O momento em que se passa a segurança pública, após acompanharmos
meticulosamente as audaciosas ações criminosas no cenário internacional e
nacional e a demanda de ocorrências envolvendo explosivos no Estado de Mato
Grosso, apresentadas neste trabalho científico, cujas, ofereceram ameaças e riscos
a vida das pessoas e danos ao patrimônio, justificam a criação de um grupo
especializado em explosivos e bombas, a ser denominado Grupo Antibomba,
subordinado imediatamente à Companhia de Operações Especiais, que por sua vez
está diretamente subordinada ao Batalhão de Operações Especiais.
Para uma primeira formação do Grupo Antibomba propomos uma rigorosa
seleção para serem capacitados no mínimo seis policiais militares, já pertencentes
ao BOPE, haja vista que os policiais que ali servem já estão habituados a atenderem
ocorrências de alto risco e adaptados à doutrina de operações especiais. O número
de seis policiais justifica-se pelo fato da escala de serviço diário da Unidade ser de
24 horas de serviço por 48 horas de descanso, o que proporcionará o número de
dois policiais militares, técnicos em explosivos, de serviço diariamente.
134
Diante dessa atuação há necessidade de aquisição de armamento e
equipamentos mínimos necessários para dotar o Grupo Antibomba, para que este
seja capaz de treinar, dar treinamento e operar efetivamente as táticas e técnicas
diante da intervenção em ocorrências envolvendo artefatos explosivos, alcançando
objetivos propostos com a devida segurança.
O treinamento deverá ser gradual e constante, aproximando ao máximo da
realidade, de forma que o policial entenda que o trabalho deve ser desenvolvido em
grupo. Este trabalho monográfico elencou diversos organismos policiais a nível
nacional e internacional, onde poderão ser viabilizadas participações em cursos que
capacitarão nossos policiais no atendimento dessas ocorrências.
135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ATO seria forma de retaliação. A Gazeta . Cuiabá, 07 dez. 2005.
BOMBA-relógio caseira dá susto em moradores. A Gazeta , Cuiabá, 10 mar. 2004.
BRIGADA DE EXPLOSIVOS DE CÓRDOBA. Manual de Técnicas de Operações e Equipamentos Especiais , 1998.
CARR, Caleb. A Assustadora História do Terrorismo . São Paulo. Ediouro Publicações S. A. 2002.
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APÊNDICE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA E CIÊNCIAS CON TÁBEIS-FAEEC
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE-PMMT CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBL ICA
Prezado Policial Militar: Em decorrência deste Oficial estar imbuído na elaboração de um trabalho
monográfico, o qual constitui requisito obrigatório para a conclusão com aprovação
no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), bem como, para a obtenção do
grau de Especialista em Segurança Pública (CEGEsP), na Universidade Federal de
Mato Grosso, cujo tema do referido trabalho é “Ocorrências Envolvendo
Explosivos e Bombas: Necessidade de Criação de um G rupo Especializado na
Polícia Militar do Estado de Mato Grosso ”. Concito-vos a responder as perguntas
desta entrevista, contribuindo dessa forma, para o aperfeiçoamento dos trabalhos de
policiamento da PMMT.
Sem mais para o momento, desde já agradecemos pela vossa importante
contribuição para o nosso propósito.
Cuiabá, 22 de fevereiro de 2006.
Benedito Lauro da Silva – Cap PM Oficial Aluno do CAO – RGPMMT 878.979
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ENTREVISTA
1. Dados Relativos ao Policial Militar: Posto ou Graduação: _____________________ Unidade em que serve _______________________ Tempo de Serviço na Polícia Militar: _______________________ Escolaridade: ___________________________ Cursos na área de explosivos e bombas ______________________________ 2. Considerando que a Polícia Militar tem atuado em ocorrências envolvendo explosivos e bombas, elenque quais equipamentos de segurança são utilizados nessas ocorrências: 3. Na Unidade que serve quantos policiais militares possuem habilitação para atuarem em ocorrências envolvendo explosivos e bombas? 4..O Sr. atuou na ocorrência envolvendo artefato explosivo na Penitenciária Pascoal Ramos no dia 12 de fevereiro do corrente. Que tipo de explosivo foi colocado ao muro do presídio? Qual o tipo de providencia tomada pelo Sr. e quais equipamentos para segurança do policial foram utilizados? 5. Acha necessária a criação de um grupo antibomba na PMMT?