monise moreno de freitas · muitas mulheres têm sua prevalência estimada com grande...

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Monise Moreno de Freitas Investigação das alterações morfológicas e funcionais na bexiga urinária de ratas multíparas submetidas a diferentes tempos de treinamento físico SÃO PAULO 2018

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Monise Moreno de Freitas

Investigação das alterações morfológicas e funcionais na

bexiga urinária de ratas multíparas submetidas a diferentes

tempos de treinamento físico

SÃO PAULO

2018

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Monise Moreno de Freitas

Investigação das alterações morfológicas e funcionais na bexiga urinária

de ratas multíparas submetidas a diferentes tempos de treinamento físico

Dissertação apresentada ao

Programa de Mestrado em

Educação Física da Universidade

São Judas Tadeu como requisito à

obtenção do título de Mestre em

Educação Física.

Área de Concentração: Escola,

Esporte, Atividade Física e Saúde.

Linha de Pesquisa: Atividade

Física e Disfunções Orgânicas.

Orientadora: Profª. Drª. Laura

Beatriz Mesiano Maifrino.

SÃO PAULO

2018

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que

citada a fonte.

Freitas, Monise Moreno de F866i Investigação de alterações morfológicas e funcionais da

bexiga urinaria de ratas multíparas submetidas a diferentes

tempos de treinamento físico / Monise Moreno de Freitas. -

São Pa/ulo, 2018.

xx f.: il.; 30 cm.

Orientadora: Laura Beatriz Mesiano Maifrino. Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu,

São Paulo, 2018. 1. Bexiga Urinária. 2. Morfometria. 3. Exercício resistido. 4. Funcional. I.

Maifrino, Laura Beatriz Mesiano. II. Universidade São Judas Tadeu,

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título

CDD 22 – 796

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu

Bibliotecária: Cláudia Silva Salviano Moreira - CRB 8/9237

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, Guilherme e Rafael, que me inspiram e me fazem sempre ser

o melhor que eu posso ser.

Ao meu esposo, Alexandre, por toda cumplicidade, apoio, dedicação e amor

sempre presentes, com quem divido mais essa realização.

A mim, tão persistente, num meio tão diferente, com tanta turbulência e

tropeços.

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª. Laura Beatriz Mesiano Maifrino, minha orientadora por seus

ensinamentos, pela paciência e dedicação nessa trajetória. Sempre tão parceira

e cuidadosa ao longo desses dois anos, contribuindo com o meu crescimento

acadêmico e pessoal.

À Universidade São Judas Tadeu pela oportunidade e apoio.

À Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda, Coordenadora do Programa

de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade São

Judas Tadeu pelo incentivo e apoio.

Aos professores do Departamento de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, pela troca de

conhecimentos, e dedicação expressados, em especial à Profª. Drª. Eliane

Florêncio Gama pelo apoio e pelas sugestões sempre relevantes.

A todos os funcionários do Departamento de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu pela assistência

e cordialidade.

Ao Supervisor dos laboratórios da Área da Saúde da Universidade São

Judas Tadeu, André Hahne, pelo apoio e competência.

Aos funcionários do Biotério da Universidade São Judas Tadeu, em

especial ao Ricardo Roberto Ferreira Lima, por todo apoio e trabalho tão

importante para a realização deste estudo.

À Nathália Edwiges Alves de Lima, companheira de laboratório, pela

contribuição com o projeto.

Aos alunos de iniciação científica que participaram das etapas do trabalho,

meus agradecimentos pela ajuda dispensada a esse estudo.

Aos membros das bancas do Exame de qualificação e da Defesa desse

trabalho, Profª. Drª. Angélica Castilho Alonso e Profª. Drª. Monica Akemi Sato,

por toda atenção dispensada na leitura do mesmo e pelas valiosas contribuições

que agregaram a ele.

À Profª. Drª. Monica Akemi Sato, pela parceria e contribuição valiosa no

estudo e no meu crescimento intelectual.

Ao amigo Eduardo Mazuco Carfachio, pela contribuição e socorro em

tantas etapas desse processo.

À FMABC pela parceria, oportunidade e apoio.

Aos funcionários do Laboratório de Fisiologia da FMABC por toda a

assistência e apoio, em especial à Barbara, pela atenção e cordialidade.

Às colegas de Pós-Graduação e amigas na vida, Fernanda Milani Magaldi

e Cristiane Milani Magaldi, pelo companheirismo, otimismo e ajuda em todos os

momentos da pesquisa, sem vocês essa jornada jamais seria possível.

Á minha mãe, irmãs, sogros e cunhada, pela compreensão no

entendimento e apoio nas minhas ausências e angústias ao longo dessa

pesquisa.

A todos os meus amigos pessoais que apoiaram e incentivaram, trazendo

força e coragem nessa etapa.

Aos meus queridos filhos Guilherme e Rafael, tão pequenos, que sem

saberem, são o motivo do meu esforço para mais essa conquista.

Ao meu grande amor Alexandre, pela parceria sempre.

A Deus, tão essencial em minha vida, pilar e suporte, que sempre cuidou

de tudo.

“A persistência é o menor caminho do êxito”. (Charles Chaplin)

i

Lista de abreviaturas e siglas

IU – Incontinência urinária

IUE - Incontinência urinária de esforço

BU – Bexiga urinária

IMC – Índice de massa corpórea

MAP – Músculos do assoalho pélvico

JUV – Junção Uretro-Vesical

STUI – Sintomas do trato urinário inferior

MEC – Matriz Extracelular

GAGs – Glicosaminoglicanas

SNC – Sistema nervoso central

SNP – Sistema nervoso periférico

USJT – Universidade São Judas Tadeu

CEUA – Comitê de Ética no Uso de Animais

COBEA - Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

FMABC – Faculdade Medicina do ABC

PAP – Pressão arterial pulsátil

PAM – Pressão arterial média

HR – Frequência cardíaca

PI – Pressão intravesical

PBS – Solução salina fosfatada

HE – Hematoxilina Eosina

N – Nulíparas

NS – Nulíparas sedentárias

N1 – Nulíparas treinadas por 1 semana

N3 – Nulíparas treinadas por 3 semanas

N10 – Nulíparas treinadas por 10 semanas

M – Multíparas

MS – Multíparas sedentárias

M1 – Multíparas treinadas por 1 semana

M3 – Multíparas treinadas por 3 semanas

ii

M10 – Multíparas treinadas por 10 semanas

(%ΔIP) – Percentual de variação da pressão intravesical

ANOVA – Análise de Variância

M ± EPM – Média ± Erro padrão da média

(Δ%BU) – Percentual de variação de peso da bexiga urinária

iii

Lista de figuras da dissertação

Figura 1 - Desenho esquemático da bexiga urinária.

Figura 2 - Camadas da bexiga urinária.

Figura 3 - Fibras colágenas tipo I e tipo III na camada mucosa da bexiga urinária.

Figura 4 - Desenho esquemático do controle nervoso da micção.

Figura 5 - Formação dos grupos.

Figura 6 – Pesagem das ratas Wistar

Figura 7 - Treinamento em escada vertical.

Figura 8 - Bexiga urinária extraída de rata Wistar multípara.

Figura 9 - Medidas das espessuras das camadas da bexiga urinária de rata

Wistar multípara.

Figura 10 - Fibras colágenas tipo I e tipo III da bexiga urinária de rata Wistar

multípara.

Lista de figuras do artigo

Figura 1 - Evolução da massa corporal da amostra.

Figura 2 - Evolução da massa da bexiga urinária da amostra.

Figura 3 - Fotomicrografia da bexiga urinária com técnica HE.

Figura 4 - Densidade de Fibras Colágenas tipo I e III na camada muscular da

bexiga urinária de rata Wistar.

Figura 5 - Fotomicrografia da camada muscular da bexiga urinária com técnica

de Picrosirius Red.

Figura 6 - Densidade de Fibras Colágenas tipo I e III na camada mucosa da

bexiga urinária de rata Wistar.

Figura 7 - Fotomicrografia da camada mucosa da bexiga urinária com técnica

de Picrosirius Red.

Figura 8 – Ação da Acetilcolina

Figura 9 – Ação da Noradrenalina

iv

Lista de quadros da dissertação Quadro 1: Divisão dos grupos das ratas nulíparas.

Quadro 2: Divisão dos grupos das ratas multíparas.

Lista de tabelas do artigo

Tabela 1: Evolução da massa corporal da amostra durante protocolo de

treinamento.

Tabela 2: Espessura das camadas muscular, mucosa, epitélio de transição da

amostra.

v

Sumário

Lista de abreviaturas e siglas .......................................................................... i

Lista de figuras da dissertação ...................................................................... iii

Lista de figuras do artigo ................................................................................ iii

Lista de quadros da dissertação .................................................................... iv

Lista de tabelas do artigo ............................................................................... iv

Resumo ........................................................................................................... vii

Abstract ............................................................................................................ ix

1- Introdução ..................................................................................................... 1

2- Revisão da literatura .................................................................................... 2

2.1- Sintomas urinários de incontinência nas mulheres multíparas ........ 2

2.2- Exercício físico e perda urinária ........................................................... 4

2.3- Aspectos anatômicos, morfológicos e funcionais do trato urinário

inferior ............................................................................................................ 7

2.3.1- Trato urinário inferior ................................................................................................ 7

2.3.2- Bexiga urinária ............................................................................................................ 8

2.4- O papel do colágeno na BU ................................................................ 11

2.5- Fisiologia da micção ............................................................................ 13

3- Justificativa ................................................................................................ 17

4- Objetivos ..................................................................................................... 18

4.1- Objetivo geral ....................................................................................... 18

4.2- Objetivos específicos .......................................................................... 18

4.2.1 - Morfométricos ......................................................................................................... 18

4.2.2 - Estereológicos .......................................................................................................... 18

4.2.3 - Biométricos .............................................................................................................. 18

4.2.4 - Funcionais ................................................................................................................ 18

5- Materiais e método ..................................................................................... 19

5.1- Animais de experimentação ................................................................ 19

5.2- Formação dos grupos ......................................................................... 19

5.3 - Pesagem dos animais......................................................................... 20

5.4 – Protocolo de treinamento de exercício resistido ............................ 21

5.5- Avaliação funcional ............................................................................. 22

5.6- Eutanásia dos animais ........................................................................ 23

5.7- Técnicas histológicas .......................................................................... 24

6- Análises ...................................................................................................... 24

6.1 - Análise biométrica .............................................................................. 24

vi

6.2- Análises morfoquantitativas ............................................................... 24

6.2.1- Análises morfométrica .............................................................................................. 25

6.2.2- Análise estereológica ................................................................................................ 25

6.3- Análise funcional ................................................................................. 26

6.4- Análise estatística ................................................................................ 27

7. Resultados .................................................................................................. 28

Resumo ............................................................................................................. 1

Abstract ............................................................................................................. 3

Introdução ......................................................................................................... 5

Materiais e método ........................................................................................... 7

Pesagem dos animais ...................................................................................... 7

Protocolo de treinamento ................................................................................ 8

Análise funcional .............................................................................................. 8

Técnicas histológicas ...................................................................................... 9

Análises morfoquantitativas ........................................................................... 9

Análise estatística .......................................................................................... 10

Resultados ...................................................................................................... 10

Análise biométrica ...................................................................................... 10

Analise Morfométrica .................................................................................. 11

Análise estereológica ................................................................................. 12

Análise funcional ........................................................................................ 14

Discussão ....................................................................................................... 15

Conclusão ....................................................................................................... 19

Referências ..................................................................................................... 19

8- Conclusão ................................................................................................... 29

9 - Considerações finais ................................................................................ 30

10- Limitações do estudo .............................................................................. 30

11 - Referências .............................................................................................. 31

vii

Resumo Investigação de alterações morfológicas e funcionais da bexiga urinária de ratas multíparas submetidas a diferentes tempos de treinamento físico. MORENO, M. (2018).

Introdução: Os sintomas urinarios que afetam negativamente a vida de

muitas mulheres têm sua prevalência estimada com grande variabilidade,

gerando notório problema de Saúde Pública. Poucos são os estudos sobre as

alterações da bexiga urinária (BU) em mulheres multíparas submetidas a

diferentes tempos de treinamento físico resistido. Objetivo: Investigar se o

exercício resistido pode induzir alterações morfológicas e funcionais na BU em

ratas multíparas. Materiais e método: Para esse estudo, foram utilizadas 40

ratas adultas da linhagem Wistar, sendo 20 nulíparas, e 20 multíparas. Aos 6

meses de idade, foi realizado o acasalamento das 20 fêmeas por meio de duas

matrizes e um macho por gaiola e mantidos juntos até o final do desmame. Os

animais foram divididos aleatoriamente em 8 grupos (n=5): NS- nulíparas:

sedentárias, N1- treinadas por 1 semana (agudo), N3- treinadas por 3 semanas

(intermediário), N10- treinadas por 10 semanas (crônico), MS- multíparas

sedentárias, M1- multíparas treinadas por 1 semana, M3- multíparas treinadas

por 3 semanas e M10- multíparas treinadas por 10 semanas. O programa de

treinamento de exercício resistido moderado foi constituído de 6 subidas em

escada vertical, com descanso de 1 minuto no topo da escada entre as séries,

nos tempos de 1, 3 e 10 semanas. Ao término do treinamento, os animais foram

submetidos à avaliação funcional da BU, para obter os registros das medidas

basal e variação da pressão intravesical. Ao final dos registros, a BU foi retirada,

pesada e fixada em formol a 10% e realizada as técnicas histológicas padrão, os

cortes histológicos foram corados em Hematoxilina eosina (HE) e Picrosirius Red.

Os seguintes parâmetros foram investigados: espessuras das camadas da

bexiga urinária, densidade de volume de fibras colágenas tipos I e III e percentual

de variação da pressão intravesical (%ΔIP). Análise dos dados: Os dados

foram analisados e expressos como M ± EPM e submetidos à Análise de

Variância (ANOVA) de duas vias, seguido pelo pós-teste de Tukey. O nível de

significância será estabelecido como sendo de p<0,05. Resultados:

Observamos que a multiparidade promoveu aumento da massa corpórea,

redução na espessura das camadas muscular, média e epitelial da BU,

viii

decréscimo nas densidades de volume das fibras colágenas I e III e não

influenciou na variação da massa da BU (Δ%BU) e na reatividade à acetilcolina

e noradrenalina. Contudo os diferentes tempos de treinamento promoveram

decréscimo na Δ%BU, aumento na espessura de todas as camadas no grupo

M3, aumento nas fibras colágenas I e III e diminuição da variação da pressão

intravesical (%ΔIP). O grupo M10 conseguiu reverter o processo se aproximando

dos valores de seu controle, nos parâmetros analisados. Conclusão: A

intervenção do exercício físico em 10 semanas parece causar maior benefício

na BU dos animais multíparas, sendo mais interessante no sentido da prevenção

de alterações morfofuncionais que desencadeiam sintomas do trato urinário

inferior (STUI), como a perda urinária.

Palavras-chave: bexiga urinária, multíparas, exercício resistido, morfofuncional.

ix

Abstract Investigation of morphological and functional alterations of the urinary bladder of multiparous rats submitted to different times of physical training. MORENO, M. (2018). Introduction: Urinary symptoms that negatively affect the lives of many women

have their estimated prevalence with great variability, generating a notorious

public health problem. There are few studies on urinary bladder (BU) changes in

multiparous women submitted to different times of resistance training. Objective:

To investigate whether resistance exercise can induce morphological and

functional alterations in BU in multiparous rats. Materials and method: For this

study, 40 adult female Wistar rats were used, of which 20 were nulliparous and

20 were multiparous. At the age of 6 months, 20 females were mated using two

matrices and one male per cage and kept together until the end of weaning. The

animals were randomly divided into 8 groups (n = 5): NS- nulliparous: sedentary,

N1- trained for 1 week (acute), N3- trained for 3 weeks (intermediate), N10-

trained for 10 weeks (chronic), MS- multiparous sedentary, M1- multiparous

trained for 1 week, M3 multiparous trained for 3 weeks and M10 multiparous

trained for 10 weeks. The moderate resistance exercise program consisted of 6

vertical ladder climbs, with 1 minute rest at the top of the ladder between sets, in

the 1, 3 and 10 week times. At the end of the training, the animals were submitted

to the functional evaluation of BU to obtain baseline measurements and

intravesical pressure changes. At the end of the records, the BU was removed,

weighed and fixed in 10% formalin and the histological techniques was performed.

Histological sections were stained in Hematoxylin eosin (HE) and Picrosirius Red.

The following parameters were investigated: urinary bladder, volume density of

collagen fibers types I and III and percent change in intravesical pressure (% ΔIP).

Data analysis: The data were analyzed and expressed as M ± SEM and

submitted to two-way ANOVA, followed by the Tukey post-test. The level of

significance will be set at p <0.05. Results: We observed that multiparity

promoted increase in body mass, reduction in muscle, middle and epithelial

layers thickness of BU, decrease in volume densities of collagen fibers I and III

and did not influence the variation of BU mass (Δ% BU) and reactivity to

acetylcholine and noradrenaline. However, the different volumes of training

promoted a decrease in Δ% BU, increase in the thickness of all layers in group

x

M3, increase in collagen fibers I and IIII and decrease in intravesical pressure

change (% ΔIP). The M10 group was able to reverse the process approaching

the values of its control, in the parameters analyzed. Conclusion: The

intervention of physical exercise in 10 weeks times seems to cause greater

benefit in BU of multiparous animals, being more interesting in the sense of

preventing morphofunctional changes that trigger lower urinary tract symptoms,

such as urinary loss.

Key words: urinary bladder, multiparous, resistance exercise, morphofunctional.

1

1- Introdução

A gestação e o puerpério são caracterizados por mudanças marcantes na

estrutura corporal da mulher, porém, pouco se sabe a respeito das alterações

sofridas pela bexiga urinária (BU) ao longo do período gestacional e no pós-parto.

Sintomas relacionados ao trato urinário, como a incontinência urinária de

esforço (IUE), são cada vez mais frequentes nas mulheres nesse período de vida,

sobretudo nas multíparas.

Vários fatores podem influenciar esta condição: idade, uso de algumas

medicações (diuréticos e alfa-bloqueadores), disfunções endócrinas (diabetes),

neuropatia central ou periférica (esclerose múltipla), prolapso, denervação do

assoalho pélvico, obesidade e tabagismo (FANTIL, CARDOZO e MCCLISH,

1994). Além disso, gravidez, partos múltiplos, anomalias congênitas no trato

genital, injúrias e/ou intervenções cirúrgicas e atividades físicas de alto impacto,

também podem contribuir para o aparecimento dos sintomas da IUE (MELVILLE

et al., 2005; BUCKLEY e LAPITAN, 2010 e OLIVEIRA et al., 2009).

Durante a gravidez e o pós-parto, destacam-se, a ação hormonal e o

impacto mecânico provocados pelo aumento da massa corporal e parto,

sugerindo que a BU possa estar sujeita a transformações estruturais,

impactando no aparecimento desses sintomas (ELVING et al.,1989;

MACLENNAN et al., 2000; MARSHALL et al., 2002; HERBRUCK, 2008; ABREU,

2012).

Efetivamente, vários estudos têm confirmado que o início da IUE durante

a gravidez e a sua persistência 3 meses após o parto representa um dos mais

importantes fatores de risco para sua existência a longo prazo (LAVY et al., 2012),

afetando cerca de 34% a 38% de primíparas e multíparas, neste período pós-

parto (MORKVED e BO, 2000).

Conforme elucidado por PÓSWIATA et al., 2014, a IUE pode ser resultado

de diferentes condições inerentes à gravidez e múltiplos partos, bem como

fatores decorrentes de trabalho físico pesado, deficiência estrogênica

perimenopausa, enfraquecimento de tecidos conectivos, obesidade, prática de

exercício físico pesado e esportes profissionais.

2

Esta condição traz diversas implicações e complicações para a vida da

mulher, uma vez que suas atividades sociais, familiares, profissionais e sexuais

ficam prejudicadas, principalmente pelo aparecimento de sintomas de IU,

impactando diretamente sua qualidade de vida. (ABRAMS et al., 2003). Além de

consequências financeiras, sendo a IU uma condição de alto custo, com

despesas anuais similares a outras disfunções crônicas da mulher (HU et al.,

2004), tornando esses sintomas um problema de Saúde Pública (HUNSKAAR et

al., 2003; FERNANDO e SULTAN, 2004).

A ocorrência dos sintomas do trato urinário, mais especificamente de

incontinência, no pós-parto, sobretudo em mulheres multíparas, tem sido

estudada por diversos autores: SIMEONOVA et al., (1999), SANGSAWANG e

NUCHARE, (2013), THOM e RORTVEIT, (2010) e SOLANS-DOMENECH, et al.,

(2010), e tem sido atribuída aos fatores mecânicos e hormonais da gravidez,

parto e puerpério (LOPES e PRAÇA, 2010).

Apesar disso, poucos são os estudos sobre alterações na BU

relacionadas com o aparecimento de sintomas urinários, sobretudo de

incontinência urinária em mulheres multíparas, pois em geral, essa condição é

investigada condicionada ao esforço e em mulheres de idade mais avançada.

Dessa forma, o presente estudo mostra a necessidade de investigar as

alterações estruturais e funcionais da BU em mulheres multíparas para que os

sintomas urinários possam ser detectados o mais precocemente possível pelos

profissionais de saúde que atendem a mulher gestante, a fim de garantir uma

abordagem preventiva adequada.

2- Revisão da literatura

2.1- Sintomas urinários de incontinência nas mulheres multíparas

A IUE é o sintoma mais comum de incontinência do trato urinário e pode

ser compreendida como disfunções dos músculos detrusor e esfincteriano ou de

ambos, de lesões ou degenerações no sistema nervoso central e/ou periférico e

ainda de alterações estruturais nestes órgãos do sistema urinário inferior, entre

3

outras, (ABRAMS et al., 2003; LUBER, 2004). Por se tratar de uma doença que

exerce múltiplos efeitos sobre as atividades diárias, a IUE afeta de modo

significativo a qualidade de vida (DEDICAÇÃO et al., 2009).

A incidência dos sintomas urinários de incontinência é maior no sexo

feminino. Tal fato se deve a razões anatômicas e mudanças hormonais, assim

como suas consequências, como ocorrência de partos e gestações

(SIMEONOVA et al., 1999).

Desta forma, estão intimamente ligados a mulher multípara, sendo

frequente no ciclo gravídico-puerperal, com prevalência de 18,6 a 75%

(SANGSAWANG e NUCHARE, 2013) na gestação e de 6 a 31% (SIEVERT et al.,

2012) no pós-parto THOM e RORTVEIT, 2010; SOLANS-DOMENECH, et al.,

2010).

As mulheres multíparas tem 1,2 mais chances de apresentar IU que as

nulíparas (ALMEIDA e MACHADO, 2012). Isso porque as mulheres multíparas

estão expostas a múltiplas gestações e partos, e, sobretudo, às suas

implicações: alterações hormonais, peso do recém-nascido, durações

prolongadas do parto vaginal, uso de instrumentação cirúrgica; além do aumento

do índice de massa corpórea (IMC) e diabetes (MELVILLE et al., 2005;

BUCKLEY e LAPITAN, 2010; OLIVEIRA et al., 2009).

O aumento dos sintomas urinários, em particular na gravidez, (aumento

da frequência miccional e agravo da urge-incontinencia e da incontinência aos

esforços pre-existentes), se deve em sua maior parte, aos fatores mecânicos e

hormonais da gravidez, parto e puerpério (LOPES e PRAÇA, 2010).

A fisiopatologia da IU na gestação e puerpério e multifatorial e envolve a

gravidez em si, mudanças hormonais, alterações no angulo uretrovesical, danos

anatômicos pós-parto e forças dinâmicas envolvendo os tecidos muscular e

conjuntivo. O períneo representa o conjunto das partes moles que fecham a

pelve e suportam as vísceras em posição vertical; as alterações nos músculos

do assoalho pélvico, localizados no períneo, podem resultar em IU nas mulheres

(GROSSE, 2001). Os músculos do assoalho pélvico (MAP) apresentam função

de sustentar os órgãos pélvicos e manter as funções fisiológicas de

armazenamento, distensão e eliminação dos produtos de excreção da BU e do

4

reto. O levantador do ânus é um dos principais MAP, sendo inervado pelo nervo

pudendo e composto por fibras estriadas do tipo I e II. O risco de disfunções do

assoalho pélvico como IU, incontinência fecal e prolapsos genitais aumenta

quando os MAP perdem sua integridade (HERBRUCK, 2008; YIOU et al., 2009).

Existem evidências de que a maioria dessas disfunções está associada a

denervação dos MAP, o que pode acontecer no parto vaginal e durante a

gestação, podendo danificar essa musculatura e ligamentos (MARSHAL et al.,

2002; YIOU et al., 2009).

Portanto, nas mulheres multíparas, o risco de acontecer alguma das

alterações citadas anteriormente é maior do que em mulheres que não tiveram

filhos, levando-se em conta as diversas alterações mecânicas e hormonais,

aumento da pressão pélvica, constipação intestinal, modificações vasculares

que a gestação provoca no organismo, e até mesmo o ganho de peso, como

evidenciam MACLENNAN et al., (2000) e RORTVEIT et al., (2003) em seus

trabalhos.

A presença de IU na gestação e no pós-parto imediato pode predizer a

existência dessa condição em longo prazo (VICTRUP et al., 2008).

2.2- Exercício físico e perda urinária

Exercício resistido, também conhecido como exercício contra resistência,

trata-se do trabalho muscular local com esforço descontínuo, pois utiliza

sobrecargas e repetições frequentes com pausas entre as execuções, podendo

ser classificado em: dinâmico (isotônico) e estático (isométrico) (BERMUDES et

al., 2004).

Embora o exercício resistido tenha sido aceito como uma forma de

desenvolver força, de favorecer a realização de contrações repetidas por

períodos prolongados (endurance) e de desenvolver hipertrofia muscular, sua

importância para a saúde e em doenças crônicas somente foi reconhecida na

década de 90 (POLLOCK e VINCENT, 1996; POLLOCK e EVANS, 1999). Esse

tipo de exercício tem sido muito utilizado e procurado atualmente por todas as

5

faixas etárias e sexo. Muitos destes exercícios são grandes aliados, auxiliando

no fortalecimento e hipertrofia de grandes grupos musculares.

Quando a IU é estudada em mulheres praticantes de exercícios físicos,

diversos estudos referem que sua fisiopatologia pode estar relacionada às

pressões constantes sobre o assoalho pélvico e aumentos abruptos da pressão

abdominal que ocorrem durante a prática dessas atividades. Mesmo em

mulheres com os MAP fortes, a atividade física árdua levaria ao aumento da

pressão abdominal, aliada à sobrecarga, ao estiramento e ao enfraquecimento

do assoalho pélvico, acarretando em IU (FOZZATTI et al., 2008; ARAÚJO et al.,

2008). Movimentos de alto impacto resultam em força de impacto sobre o

assoalho pélvico três a quatro vezes maior que o peso corporal (MORENO,

2009), mais especificamente relata-se que a força vertical de reação máxima do

solo durante diferentes atividades esportivas é três a quatro vezes o peso do

corpo quando corremos, cinco a doze vezes pulando, e nove vezes na queda

após um salto em altura (ARAÚJO et al., 2008).

Vários estudos evidenciam ainda que, esportes que envolvem atividades

de alto impacto como: ginástica, atletismo, fisiculturismo, saltos, exercícios que

exijam contrações abdominais máximas repetitivas, além de esportes com

mudança abrupta de movimento, são os que mais oferecem risco para IUE

(ARAÚJO et al., 2008, PÓSWIATA et al., 2014).

Desta forma, as hipóteses existentes até o momento sobre o

desenvolvimento da IU induzida pelo exercício físico extenuante ou trabalho

pesado, baseiam-se no fato de que pode haver estiramento dos músculos do

assoalho pélvico ou seu enfraquecimento, diante da sobrecarga promovida pela

atividade física (BO, 2004). Além disso, pode-se dizer também que ocorrem

disfunções dos músculos detrusor, esfincteriano ou de ambos, devido a lesões

ou degenerações no sistema nervoso central e/ou periférico e ainda de

alterações estruturais nestes órgãos do sistema urinário inferior (ABRAMS et al.,

2003; LUBER, 2004).

Estas alterações podem ser reconhecidas nos MAP das mulheres

grávidas e pós parturientes, como MARSHAL et al., (2002) e YIOU et al., (2009)

já mostraram em seus estudos.

6

Em outro estudo, realizado por ALMEIDA e MACHADO, (2012), observou-

se maior incidência da IU, em mulheres que realizavam a prática de exercício

com maior frequência semanal. Tais achados condizem com ELIASSON et al.,

(2002), que observou perda urinária aumentada também associada ao maior

tempo de treinamento, idade, duração e frequência do treino.

Apesar disso, não se sabe se somente o aparecimento de lesões ou

enfraquecimento do assoalho pélvico poderia ser responsável por levar ao

desenvolvimento de sintomas de perda urinária. Embora as evidências indiquem

que as causas da IUE possam ser atribuídas a fatores etiológicos diversos, não

existe, até o momento, nenhum estudo que mostre se o exercício resistido em

diferentes tempos de treinamento poderia provocar efeitos danosos na estrutura

da BU de mulheres multíparas, a ponto de modificar a sua funcionalidade.

De qualquer forma, a perda urinária durante a atividade física é uma barreira

que acaba impedindo o exercício, principalmente em mulheres com perdas mais

severas, aumentando a possibilidade de inatividade e obesidade (NYGAARD et al.,

2005). Existe uma grande dificuldade em dimensionar, em estudos observacionais,

se o efeito do exercício físico habitual diminui o risco de IU, uma vez que mulheres

nesta condição podem, frequentemente, evitar sua prática (BO e HERBERT, 2013).

O problema da perda de urina em mulheres atletas jovens tem sido

subestimado, assim como em grávidas e puérperas. Vários estudos relatam o

aumento do risco nestas populações, o que tende a piorar com o passar dos anos

(MECZEKALSKI et al., 2014). Aproximadamente 30% das mulheres atletas

apresentam alguma perda urinária durante o exercício (GOLDSTICK e

CONSTANTINI, 2014). Mulheres jovens que praticam exercícios de baixa

intensidade por pelo menos 1 hora ou mais por semana apresentam menos perda

urinária quando comparada ao grupo de mulheres sedentárias (HANNESTED et

al., 2003).

A prática de exercício de leve intensidade por mulheres grávidas e no pós-

parto se faz interessante, visto que, o esforço corporal decorrente destas fases,

acaba por ocasionar um aumento considerável na pressão intra-abdominal,

empurrando os órgãos pélvicos para baixo, promovendo assim, danos na

musculatura do assoalho pélvico e, consequentemente, IU. Nesta situação, a

prática de exercício resistido seria uma tentativa de evitar ou, diminuir os danos na

musculatura envolvida na micção.

7

2.3- Aspectos anatômicos, morfológicos e funcionais do trato urinário inferior O trato urinário é constituído de um par de rins, um par de ureteres, uma

bexiga urinária e uma uretra, enquanto o sistema urinário inferior é constituído

pela bexiga urinária e pela uretra. Situada na cavidade pélvica, a BU é um órgão

com função de reservatório, distensível e liberador de urina para a uretra. O

músculo liso (detrusor) é único na BU, já na uretra, há uma mistura de músculo

liso e estriado. A musculatura lisa predominante é rica em colágeno, o que

determina o caráter elástico destes órgãos (ANDERSSON e ARNER, 2004).

A micção e o armazenamento de urina dependem da coordenação entre

duas unidades funcionais: a BU e a musculatura estriada do esfíncter uretral

(ANDERSSON and HEDLUND, 2002; DE GROAT, 1998).

2.3.1- Trato urinário inferior O trato urinário inferior é composto pela bexiga urinária e uretra. A BU

é uma câmara de músculo liso, constituída de duas partes principais: o corpo,

localizado acima dos orifícios ureterais e a base que é uma extensão do corpo

constituída pelo trígono vesical e junção uretro-vesical (JUV). (Figura 1)

8

Figura 1 - Desenho Esquemático Bexiga urinária. Fonte: adaptado de

http://www.medicinageriatrica.com.br/fisiologia-da-miccao

2.3.2- Bexiga urinária

A bexiga urinária (BU) é composta por três aberturas, duas em sua porção

posterior e inferior para os ureteres (óstios uretrais), com espessamento anelar

de músculo liso, formando uma falsa valva que evita o refluxo da urina, e, uma

para a uretra (óstio externo da uretra). A região triangular definida por essas três

aberturas é chamada de trígono vesical, o qual é derivado embriologicamente

dos dutos mesonéfricos, enquanto o restante da parede da BU (parede vesical)

se origina da cloaca. A parede do trígono vesical é relativamente lisa e de

espessura constante, sua mucosa é sempre lisa e nunca forma pregas, enquanto

as demais áreas da parede vesical são espessas e apresentam dobras quando

a BU está vazia e fina, e é lisa quando a BU está distendida (KERR, 2000).

Existem diferenças funcionais entre as várias partes da bexiga. A junção

uretro-vesical (JUV) é a denominação que se atribui à zona de transição entre a

bexiga e a uretra. Localizada no trígono vesical, tem importante função no

armazenamento e esvaziamento de urina. Essa função é mantida por um

9

processo que envolve a sinergia entre sistema nervoso central (SNC), autônomo,

musculatura lisa do detrusor e esfíncter uretral (STOLZEMBURG et al., 2002).

A BU possui duas funções principais: armazenamento de urina (onde a

urina produzida pelos rins é coletada) e o esvaziamento (a urina coletada é

expelida via uretra). O armazenamento de urina ocorre mediante baixa pressão,

o que significa que a bexiga relaxa durante a fase de enchimento. Distúrbios da

função de armazenamento podem resultar em sintomas do trato urinário inferior

(STUI), como urgência, frequência e incontinência de urgência ocasionados por

contrações do músculo liso da bexiga durante esta fase. O esvaziamento requer

uma coordenação entre a contração da bexiga e relaxamento da uretra.

Distúrbios durante a fase de esvaziamento levam a disfunções miccionais como

a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga e pós-micção (ANDERSSON

e ARNER, 2004).

A BU armazena um volume adequado de urina, permitindo o acúmulo de

volume, sem apresentar aumento da pressão intravesical. Suas fibras

musculares se estendem em todas as direções e, mediante o aumento da

pressão vesical, o esvaziamento ocorre pela coordenação entre contração da

musculatura lisa (músculo detrusor) e o relaxamento da musculatura estriada do

esfíncter urinário externo, para que a urina seja expelida (ANDERSSON e

HEDLUND, 2002; DE GROAT, 1998).

A parede da BU é constituída por três túnicas (Figura 2), a mais interna,

a mucosa com epitélio de transição que é impermeável à urina; a muscular, a

mais desenvolvida, caracterizando a bexiga como órgão composto de parede

muscular espessa, e a adventícia, de tecido conjuntivo (DE LANCEY, 2004;

JUNQUEIRA et al., 2013).

A camada mucosa é dotada de três tipos diferentes de células epiteliais:

células basais ou germinativas cúbicas; células intermediárias poligonais; células

superficiais globosas ou achatadas, formato que é dependente do estado de

vacuidade da bexiga, vazia ou cheia de urina, sendo ainda portadoras sobre suas

superfícies de uma porção proteica de material impermeabilizante representado

por certo tipo de queratina e de uriplaquinas. Além do epitélio, a mucosa

apresenta a lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo com vênulas, arteríolas,

10

nervos e fibras elásticas. A lâmina própria pode ser subdividida em duas

camadas, uma mais superficial com o tecido conjuntivo frouxo, fibras colágenas

e elásticas e outra mais profunda com o tecido conjuntivo denso não modelado.

As pregas da bexiga urinária estão presentes na mucosa quando não há urina

no seu interior e diminuem ou deixam de existir pela distensão da parede. Essa

mucosa próxima ao orifício uretral possui glândulas acinosas simples que

secretam muco com fisiologia na lubrificação desta área de transição bexiga-

uretra (ROSS, 2012).

A camada muscular (músculo detrusor) é formada por uma região

central de fibras arranjadas circularmente composta por três camadas de

músculo liso de disposição irregular, possuindo orientação entrecruzada e em

espiral (plexiforme), suas fibras musculares fazem interpenetrações de uma

camada na outra, misturando-se com fibras colágenas tornando difícil o

reconhecimento das camadas interna, circular e externa, constituintes do

músculo detrusor. A contração desta camada muscular está associada ao reflexo

da micção, devido à distensão do músculo quando a bexiga se enche de urina e

tal situação envolve nervos autonômicos, sujeitos a controle voluntário. Assim,

as fibras do parassimpático são as fibras eferentes dos reflexos da micção,

localizadas entre as camadas de fibras musculares, sendo as responsáveis pela

contração da bexiga. As fibras nervosas do simpático, são as responsáveis pelo

relaxamento da bexiga, formam também um plexo na adventícia inervando os

vasos sanguíneos (KERR, 2000); (ANDERSSON e ARNER, 2004).

As células da camada externa e interior tendem a ser orientadas

longitudinalmente, e as da camada média, circularmente. No ser humano o

músculo detrusor, é formado por feixes musculares de tamanhos variados sendo

rico em tecido conjuntivo e colágeno. Esses feixes variam extensivamente em

tamanho e não são claramente dispostos em camadas distintas, mas correm em

todas as direções. O arranjo destas fibras contribui para a arquitetura tecidual,

pois promove uma ação passiva no tecido quando este é exposto à tensão

mecânica, possibilitando que ele volte à sua disposição original; juntamente com

as fibras colágenas, as fibras elásticas são importantes para a manutenção da

resistência normal tecidual (ANDERSSON and ARNER, 2004).

11

Figura 2 - Camadas da bexiga urinária. Fotomicrografia da Bexiga Urinária de Rata Wistar Nulípara. Técnica de HE, com microscopia de luz, 50x. Fonte: MORENO, M., 2018.

Os músculos lisos possuem variabilidade extrema, não só em detalhes

ultra-estruturais, mas também em suas características contrateis, regulatórias,

propriedades eletrofisiológicas e na sua sensibilidade às drogas e

neurotransmissores (ANDERSSON e ARNER, 2004).

Externamente, encontra-se a camada adventícia de tecido conjuntivo

com muitas células adiposas, vasos sanguíneos e nervos. Apenas em seu ápice

ocorre uma camada serosa que reveste o tecido conjuntivo. O epitélio desta

camada é do tipo simples pavimentoso (JUNQUEIRA e CARNEIRO et al., 2013).

2.4- O papel do colágeno na BU

As células de um tecido normalmente estão em contato com uma rede

complexa de macromoléculas extracelulares denominada de matriz extracelular

(MEC). Esta matriz ajuda a manter as células e os tecidos unidos, fornecendo

uma estrutura organizada onde as células podem migrar e interagir entre si, além

de suportar a maior parte do estresse mecânico que o tecido é submetido

(EGEBLAD and WERB, 2002).

As moléculas da MEC são compostas por duas classes principais de

macromoléculas: glicosaminoglicanas (GAGs) e proteínas. Os componentes

12

proteicos da MEC por sua vez, são classificados em: estruturais, como o

colágeno e a elastina, e adesivos, como a fibronectina e a laminina (KAYA e

ŞAHIN, 2016). O colágeno é o maior componente estrutural da MEC e

representa aproximadamente 25% da proteína corporal total. As moléculas de

colágeno consistem em três cadeias de polipeptídeos (cadeias-α) identicas ou

similares, as quais formam uma hélice tripla. A hidroxiprolina é reconhecida como

um aminoácido exclusivo do colágeno, sendo indispensável para a estabilização

da tríplice hélice da proteína (MACARAK e HOWARD, 1999).

A MEC da bexiga é constituída por proteínas, proteoglicanos e GAGs. Ela

fornece sustentação para as células da bexiga, e seus componentes têm um

papel importante na proteção do urotélio e no armazenamento da urina. A

camada protetora de GAGs (predominantemente condroitina) que cobre as

células uroteliais, forma uma barreira contra vários componentes tóxicos

(AITKEN e BAGLI, 2009).

O colágeno atua como um arcabouço estrutural e tem importante papel

na resistência a distensões excessivas do músculo, conferindo rigidez e ao

mesmo tempo, limitando a extensibilidade. Está intrinsecamente ligado às

propriedades elásticas da BU e adaptação da bexiga às diferentes situações

patofisiológicas, com implicações em propriedades básicas da BU como,

acomodação de volume e complacência (MACARAK e HOWARD, 1999). A

ampla variedade de tecidos conjuntivos reflete a variação na composição e na

quantidade dos componentes (células, fibras e substância fundamental amorfa),

os quais são responsáveis pela diversidade estrutural, funcional e patológica do

tecido conjuntivo (KARASIK et al., 2006 e TAMPELINI, 2007). A maior parte do

colágeno presente na bexiga é distribuída no tecido conectivo localizado fora dos

feixes musculares. Os principais tipos de colágeno encontrados na bexiga

urinária são: Colágeno tipo I e Colágeno tipo III. (Figura 3).

Colágeno Tipo I: Corresponde a aproximadamente 75% do colágeno

presente na BU. Se dispõem de forma ondulada, e estiram-se a ponto de

aumentarem seu comprimento de 3 a 5% quando submetidos a uma carga

volumétrica; isso devido às suas fibras que são mais bem entrelaçadas e

compactadas, formando feixes de fibras grossas (2-10 µm) (KIM et al., 2000).

13

Colágeno Tipo III: Corresponde a aproximadamente 25% do colágeno

presente na BU, geralmente se localiza próximo ao tipo I, é também

amplamente distribuído na parede vesical em fibras individuais mais finas

(0,5-1,5 µm). Por esse motivo, esse colágeno parece sofrer mudanças

conformacionais para acomodar o aumento de volume intravesical (KIM et

al., 2000).

Figura 3 - Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar multípara. Técnica de

Picrosirius Red, com luz polarizada, 200x, camada mucosa: Fibras Colágenas tipo I

(vermelho) e Fibras Colágenas tipo III (verde). Fonte: MORENO, M., (2018).

2.5- Fisiologia da micção

A micção voluntária é um processo complexo, dependente da interação

de diferentes estruturas do trato urinário e do Sistema Nervoso Central (SNC) e

periférico (SNP) (ORTIZ e KIEHLO, 2001).

Durante a fase de enchimento, a musculatura da bexiga permanece

relaxada e a uretra contraída, de forma sinérgica e no momento da micção,

ocorre a atividade inversa (ROCHA, 2007).

As junções intercelulares entre as células musculares lisas da bexiga

conferem a característica de baixa propagação intercelular dos estímulos

14

elétricos entre estas células, sendo esta propriedade importante para a

estabilidade da BU durante a fase de enchimento (UVELIUS e MATTIASSON,

1986).

O trato urinário inferior é monitorado pelos nervos aferentes que

promovem um input sensorial para o controle da bexiga e uretra, sendo o sistema

nervoso parassimpático o principal responsável pela contração do músculo

detrusor e o sistema nervoso simpático o responsável em restaurar o tônus

muscular.

A inervação da bexiga é predominantemente excitatória, colinérgica e

mediada pela acetilcolina, atuando nos receptores muscarínicos, que através do

influxo de cálcio para o ambiente intracelular, promovem a contração da camada

muscular, o que ocorre em resposta à acetilcolina liberada pelos nervos

parassimpáticos (ANDERSSON e ARNER, 2004). Deste modo, o estímulo

colinérgico na bexiga produz a contração simultânea de todo o músculo detrusor.

A inervação adrenérgica está mais presente na uretra do que na bexiga, sendo

que os receptores alfa estão mais localizados no trígono vesical, JUV e músculo

detrusor, e os receptores beta, de natureza excitatória, mais abundantes nas

demais regiões da bexiga, sendo os responsáveis em manter o fechamento

uretral durante a fase de enchimento (RUBINSTEIN, 2001).

O músculo detrusor durante o enchimento vesical, tem o seu volume

aumentado gradativamente, e a habilidade em manter a continência mediante

depende da supressão do reflexo de micção, para isso receptores estão

envolvidos para fornecer um feedback positivo que facilite e coordene este

mecanismo. A contração do músculo detrusor durante a fase de esvaziamento é

sustentada pelo fluxo contínuo de impulsos colinérgicos (MORRISON, 1999).

A micção normal envolve uma série de eventos, que inclui o completo

relaxamento do esfíncter uretral externo e do músculo elevador do ânus

(CHEERMANSKY et al., 2015).

Nas crianças, a micção é um ato reflexo simples e ocorre sempre que a

bexiga se distende enquanto o controle voluntário se desenvolve durante o

segundo e terceiro ano de vida. Já no adulto, este reflexo de distensão simples

é inibido pela atividade do córtex cerebral, até que o momento e o local para a

micção sejam adequados. A contração do esfíncter uretral, que fecha a uretra,

15

está sob controle voluntário e isto ocorre de forma reflexa devido à contração do

músculo detrusor que comprime todo o órgão forçando a passagem da urina

para a uretra. Somente nesta área do colo que as três camadas musculares se

encontram separadas, sendo que a camada circular média forma o esfíncter

interno ao redor do orifício da uretra. As fibras musculares estriadas esqueléticas

formam o esfíncter externo da uretra, as quais permitem o controle voluntário da

micção, e quando há perda deste controle voluntário ocorre à IU (GUYTON,

1998).

A contração vesical, durante o esvaziamento, envolve a ativação de

praticamente todas as células musculares lisas do músculo detrusor

simultaneamente, com o objetivo de maximizar a eficiência do processo. No

entanto, há um limite para a distensão vesical. Existe um elevado grau de coesão

intercelular que confere à bexiga proteção intrínseca contra o excesso de volume.

A concentração de colágeno na parede vesical está intimamente relacionada ao

grau de proteção disponível. Tudo indica que as células musculares lisas da

bexiga contribuem para a produção de colágeno de acordo com os estímulos de

distensão da parede (ORTIZ E KIEHLO, 2001).

As fibras sensitivas da bexiga que se dirigem à medula espinhal da

região sacral, são as fibras aferentes do reflexo da micção. Esses impulsos

aferentes passam para os nervos esplâncnicos pélvicos e entram nos segundo,

terceiro e quarto segmentos sacrais da medula espinhal. Os impulsos eferentes

deixam a medula espinhal nos mesmos segmentos e passam pelas fibras

nervosas parassimpáticas pre-ganglionares, através dos nervos esplâncnicos

pélvicos e plexos pélvicos para a parede da bexiga, onde fazem sinapses com

neurônios pós-ganglionares constituintes de gânglios nervosos aí presentes.

Assim, estes impulsos nervosos desta via nervosa provocam a contração do

músculo liso – músculo detrusor e o relaxamento do esfíncter vesical. Os

impulsos eferentes também passam para o esfíncter uretral, via nervo pudendo

e relaxam o esfíncter. Quando a urina penetra na uretra, impulsos aferentes

adicionais passam para a medula espinhal e reforçam a ação reflexa da micção

(CHEERMANSKY et al., 2015). (Figura 4)

16

Figura 4: Desenho esquemático do controle nervoso da micção. Fonte: adaptado de

http://www.gate.com.br

Cérebro

Tronco

Cerebral

Medula

Espinhal

Região

Cervical

Região

Torácica

Região

Lombar

Região

Sacral

T10 – L2

S2 – S4 Nervos

Pélvicos

Nervos

Pudendos

Nervos

Hipogástricos

Parassimpático

Simpático

Somático

Gânglio

Mesentérico

Inferior Músculo

Detrusor

Trígono

Uretra

Esfíncter Uretral Externo

Músculos do

Assoalho

Pélvico

17

3- Justificativa

Considerando-se que o aparecimento dos sintomas do trato urinário

inferior, especialmente a incontinência urinária, tem sido atribuído, em grande

parte, ao aumento da pressão intra-abdominal, e que durante a gestação, parto

e puerpério a bexiga urinária tende a sofrer alterações morfofuncionais, torna-se

interessante investigar se tais alterações, na bexiga urinária de ratas nulíparas e

multíparas, podem ser influenciadas ou não pelo exercício físico resistido em

diferentes tempos de treinamento.

18

4- Objetivos

4.1- Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo geral analisar os efeitos do exercício

físico resistido durante 1 semana, 3 semanas e 10 semanas, por meio das

análises funcional e morfoquantitativa da bexiga urinária de ratas multíparas.

4.2- Objetivos específicos

4.2.1 - Morfométricos

Analisar a espessura das camadas muscular, mucosa e epitélio de

transição (urotélio) da bexiga urinária de ratas multíparas.

4.2.2 - Estereológicos

Quantificar a densidade de volume das fibras colágenas do tipo I e tipo III

da bexiga urinária de ratas multíparas.

4.2.3 - Biométricos

Quantificar a massa corporal e massa da bexiga urinária de ratas

multíparas.

4.2.4 - Funcionais

Medir o percentual de variação da pressão intravesical de ratas

multíparas.

19

5- Materiais e método A pesquisa foi submetida aprovada pela Comissão de Ética no uso de

Animais da Universidade São Judas Tadeu (CEUA Nº 024/2016).

5.1- Animais de experimentação

Para este estudo, foram utilizadas 40 ratas adultas (250-300g, 8-9 meses

de idade), fêmeas, sendo 20 nulíparas e 20 multíparas (Rattus norvegicus albinus

– Rodentia Mammalia), linhagem Wistar. Todos os animais da pesquisa

receberam cuidados segundo as Normas Nacionais de Vivisseção Animal do

Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA, 2016) e em consonância

com a Lei Federal n° 11.794 de 8 de outubro de 2008 em relação à utilização de

animais para ensino e pesquisa.

No biotério da Universidade São Judas Tadeu (USJT), os animais foram

alojados em caixas de polipropileno próprias para sua criação, com entrada de ar

filtrado e controlado para adequada manutenção da temperatura, providas de

bebedouro e comedouro próprios e forradas com serragem estéril. Em cada caixa

foram alojados 5 animais, distribuídos de forma aleatória, mantidos sob condições

ambientais controladas de temperatura entre 20 – 24ºC e com ciclo claro/escuro

de 12/12 horas. Receberam oferta, sem restrições, de água e de alimentação

composta exclusivamente por ração tradicionalmente oferecida para animais de

laboratório (NUVILAB CR1, NUVITAL Nutrientes LTDA, Curitiba, PR).

5.2- Formação dos grupos

Aos 6 meses de idade, foi realizado o acasalamento de 20 fêmeas por

meio de duas matrizes e um macho por gaiola e mantidos juntos até o final da

gestação, após o macho foi retirado e as fêmeas mantidas na gaiola. A duração

da gestação foi cerca de 22 dias, em média nasceram 7 animais e o desmame

após 21 dias.

Os animais foram divididos aleatoriamente em 8 grupos (Quadros 1 e 2)

sendo 4 grupos de ratas nulíparas, com (n=5) em cada grupo, e, 4 grupos de

ratas multíparas, também com (n=5) por grupo. Cada grupo foi nomeado de

acordo com a duração de treinamento: sedentárias, treinadas por 1 semana,

treinadas por 3 semanas e treinadas por 10 semanas. (Figura 5)

20

Quadro 1: Grupos ratas Nulíparas Quadro 2: Grupos ratas

Multíparas

Figura 5: Formação dos grupos. Fonte: MORENO, M., 2018.

5.3 - Pesagem dos animais Os animais foram pesados em balança Ohauss® com precisão de 10g,

mês a mês para acompanhamento do crescimento, no início da adaptação ao

exercício físico e durante o protocolo de treinamento, com exceção do período

de prenhez e amamentação, para evitar o estresse devido à manipulação, o que

pode ser uma limitação do estudo. (Figura 6)

Nulíparas

20 animais

NS

5 ratas

N1

5 ratas

N3

5 ratas

N10

5 ratas

Multíparas

20 animais

MS

5 ratas

M1

5 ratas

M3

5 ratas

M10

5 ratas

NS- Nulíparas sedentárias;

N1- Nulíparas treinadas por 1 semana;

N3- Nulíparas treinadas por 3 semanas;

N10- Nulíparas treinadas por 10 semanas;

MS- Multíparas sedentárias;

M1- Multíparas treinadas por 1 semana;

M3- Multíparas treinadas por 3 semanas;

M10- Multíparas treinadas por 10 semanas;

21

Figura 6 : Pesagem de rata Wistar em balança Ohauss com precisão de 10g. Fonte:

MORENO, M., 2018.

5.4 – Protocolo de treinamento de exercício resistido

Para a realização do programa de treinamento de exercício resistido, foi

utilizado como equipamento uma escada vertical confeccionada em madeira

com degraus de ferro, produzida na marcenaria da USJT, conforme descrito por

DUNCAN et al., (1998). A altura do equipamento é de 110 cm com inclinação de

80°. No topo do há uma caixa para a acomodação dos animais durante o

intervalo de descanso entre as séries.

O protocolo experimental de treinamento físico foi iniciado após a

adaptação dos animais, ambos adaptados do modelo utilizado por LEE et al.,

(2004), que teve duração de 1 semana, em 3 dias alternados. Nessa etapa as

ratas escalaram o equipamento (escada) sem adição de carga com o objetivo de

alcançar a área de descanso no topo da escada. Cada rata realizou 6 subidas no

total, sendo as 2 primeiras a partir do terço final da escada, 2 a partir do terço

médio, e as 2 últimas, a partir do início da escada, com um minuto de intervalo a

cada subida, em todos os dias da adaptação.

O protocolo de exercício resistido moderado foi realizado em diferentes

tempos de treinamento: 1, 3 e 10 semanas, em dias alternados1, e a sobrecarga

1 Protocolo de treinamento baseado em achados da equipe da Professora Doutora Monica Akemi Sato do Laboratório de Fisiologia da FMABC e adaptado do modelo usado por LEE et al., 2004.

22

ajustada em 75% da massa corporal do animal, promovida por meio de pesos

de chumbo fixados à base da cauda de cada animal, presos com fita adesiva.

(Figura 7). Os animais fizeram 6 subidas por sessão, a partir do início da escada,

com descanso de 1 minuto entre elas.

Figura 7: Treinamento em escada vertical - Rata Wistar realizando subida com peso à

base da cauda. Fonte: MORENO, M., 2018.

5.5- Avaliação funcional

A avaliação funcional da bexiga urinária foi realizada no Laboratório de

Pesquisa de Fisiologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) em parceria

com a equipe da Professora Doutora Monica Akemi Sato.

Para esta avaliação, as ratas foram anestesiadas com Isoflurano

BioChimico® em 100% de O2 e submetidas à canulação da artéria e veia femoral,

canulação da bexiga urinária após incisão abdominal medial, e posterior

administração tópica de drogas na bexiga urinária.

Canulação da artéria e veia femoral: com as ratas devidamente

anestesiadas, foi realizada a inserção de um tubo de polietileno (PE-50

conectado a PE-10, Clay Adams, NJ, EUA) para monitorar os valores da pressão

arterial pulsátil (PAP), pressão arterial média (PAM) e frequência cardíaca (FC),

gravados no sistema de aquisição de dados (PowerLab 16 SP, AD Instruments,

Melbourne, AU), bem como para infusão de drogas por via intravenosa, se

necessário.

23

Canulação da bexiga urinária: as ratas devidamente anestesiadas,

foram submetidas a uma pequena incisão na parede da BU e um tubo de

polietileno (PE-50 ligado a PE-10, Clay Adams, NJ, EUA) preenchido com

solução salina foi inserido na bexiga e fixado com uma gota de cola cirúrgica. As

medidas da pressão intravesical (PI) foram gravadas no sistema de aquisição de

dados (PowerLab 16 SP, AD Instruments, Melbourne, AU).

Administração de drogas na bexiga urinária: Após a medida basal da

pressão intravesical, pressão arterial e frequência cardíaca por 15 min, realizou-

se a administração tópica (in situ) de noradrenalina (0,5, 1,0 e 2,0 µg/mL),

acetilcolina (0,1, 1,0 e 2,0 µg/mL) ou salina, gotejando-se (0,1 mL) diretamente

na superfície da bexiga urinária para registro da pressão intravesical (PI) no

sistema de aquisição de dados (PowerLab 16 SP AD Instruments, Melbourne,

AU). A saída da uretra não foi submetida à ligadura para permitir a micção, se

necessário. Um valor da PI de base foi estabelecido em 5mmHg por infusão de

solução salina ou retirada de urina através do cateter inserido na BU.

5.6- Eutanásia dos animais

Ao final dos experimentos, os animais receberam sobredose de Tiopental

sódico 170 mg/kg intravenosa, (Cristalia, Itapira, SP) para posterior extração da

BU (Figura 8) e pesagem do órgão em balança de precisão (Gehaka AG200).

Figura 8: Bexigas urinárias extraída de ratas Wistar multíparas treinadas por 3 semanas.

Fonte: MORENO, M., 2018.

24

5.7- Técnicas histológicas

As técnicas histológicas foram realizadas no Laboratório de Estudos

Morfoquantitativo e Imunohistoquímico da USJT.

As amostras da bexiga foram fixadas em solução tamponada de formol a

10% com pH neutro (7,0 – 7,4), por um período de 24 horas. Após esse período,

foram desidratadas em sequências de álcool etílico (70%, 80%, 95% e 100%)

em períodos de tempo determinados, diafanizadas em xilol (10%) e incluídas em

parafina. Posteriormente, as amostras foram lavadas em solução salina

fosfatada (PBS) a 0,1M e pH 7,4 e seccionadas em cortes histológicos não

seriados de 5 µm de espessura. Dois fragmentos de tecido foram coletados em

lâminas de vidro, corados e cobertos com Entellan® para posterior análise em

microscopia de luz.

Foram utilizadas as seguintes colorações:

Hematoxilina Eosina (HE) (PROPHET et al., 1992) – para análise da

espessura das camadas.

Picrosirius Red (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2013) - para análise das

fibras colágenas I e III em microscopia de luz polarizada.

6- Análises

6.1 - Análise biométrica

Foram analisadas a massa corporal e massa da bexiga urinária das ratas

multíparas.

6.2- Análises morfoquantitativas

Para as análises morfométrica e estereológica, imagens das camadas

muscular e mucosa e epitélio de transição (urotélio) da bexiga urinária, com

aumento de (50x) e (200x), respectivamente, foram capturadas através de um

sistema que consiste de uma microcâmera de vídeo Sony® acoplada ao

Microscópio Zeiss®, que capta as imagens das lâminas histológicas e as

transmite para um computador equipado com software específico para análises

quantitativas (Axio Vision 4.8, Zeiss).

25

6.2.1- Análises morfométrica A espessura das camadas muscular, mucosa e epitélio de transição

(urotélio) da bexiga urinária foram realizadas através das imagens dos 4

campos/corte de cada lâmina, realizando 3 medidas por camada, totalizando 24

medidas por camada/animal. (Figura 9)

Figura 9: Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar multípara. Técnica de HE,

com microscopia de luz, 50x, com medidas da espessura das camadas muscular e

mucosa (submucosa e epitélio de transição), feitas pelo programa AxioVision 4.8 Zeiss.

Fonte: MORENO, M., 2018.

6.2.2- Análise estereológica

Foram analisados 8 campos em cada corte, sendo 2 cortes/lâmina,

perfazendo um total de 16 campos por animal, totalizando 80 campos por cada

grupo.

O software Image J (NIH, Bathesda, USA), carregado com seu próprio

pluggin, foi usado para quantificação das fibras colágenas tipo I e III. Uma grade

26

contendo 196 pontos foi sobreposta na fotografia digital dos campos obtidos da

parede da bexiga e, utilizando do pluggin Cell counter, foi feita a contagem das

fibras. (Figura 10)

Figura 10: Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar multípara. Técnica de

Picrosirius Red, com microscopia de luz polarizada, 200x. Observar o Grid sobre a

imagem (Pluggin Analyze, Image J) para contagem de fibras colágenas, tipo I (vermelho)

e tipo III (verde). Fonte: MORENO, M., 2018.

6.3- Análise funcional

Com os parâmetros obtidos por meio da avaliação funcional, foi avaliado o

percentual de variação da pressão intravesical dos animais, verificando-se a

resposta desses parâmetros ao estímulo da administração “in situ” de

acetilcolina (0,1, 1,0 e 2,0 µg/mL), noradrenalina (0,5, 1,0 e 2,0 µg/mL), ou salina,

gotejando-se (0,1 mL) e a bexiga urinária. Além disso, foram adquiridos os

valores de pressão arterial pulsátil (PAP), pressão arterial média (PAM) e

frequência cardíaca (FC), gravados no sistema de aquisição de dados

(PowerLab 16 SP, AD Instruments, Melbourne, AU).

27

6.4- Análise estatística

Os dados morfológicos e os resultados funcionais foram apresentados

como média e erro padrão da média (média ± EP), e submetidos à Análise de

Variância (ANOVA) de duas vias, seguido pelo pós-teste de Tukey. O nível de

significância adotado em todos os testes foi de p<0,05.

28

7. Resultados

Neste tópico, apresentaremos o artigo na íntegra, que será submetido na

revista Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, como resultados

obtidos através desta pesquisa.

Investigação das alterações morfológicas e funcionais na

bexiga urinária de ratas multíparas submetidas a diferentes

tempos de treinamento físico

Monise Moreno, Mestranda da Universidade São Judas Tadeu, SP – Brasil

Fernanda Milani Magaldi, Mestranda da Universidade São Judas Tadeu, SP –

Brasil

Cristiane Milani Magaldi. Doutoranda, docente da Universidade São Judas

Tadeu, SP – Brasil

Eduardo Mazuco Cafarchio, Doutorando, Departamento de Morfologia e

Fisiologia Faculdade Medicina do ABC, Santo André, SP – Brasil

Monica Akemi Sato. Livre Docente, Professora Titular Departamento de

Morfologia e Fisiologia Faculdade Medicina do ABC, Santo André, SP – Brasil

Laura Beatriz Mesiano Maifrino, Doutora, Professora Titular Departamento de

Morfologia e Docente do programa Stricto Sensu em Educação Física da

Universidade São Judas Tadeu, SP – Brasil

A/C Monise Moreno

Rua João Batista de Sousa Filho, 141 – Caxingui

CEP 05515-040 SP Brasil

E mail: [email protected]

O presente trabalho não contou com financiamento.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

1

Resumo Investigação de alterações morfológicas e funcionais da bexiga urinária de ratas multíparas submetidas a diferentes tempos de treinamento físico. MORENO, M. (2018).

Introdução: Os sintomas urinarios que afetam negativamente a vida de

muitas mulheres têm sua prevalência estimada com grande variabilidade,

gerando notório problema de Saúde Pública. Poucos são os estudos sobre as

alterações da bexiga urinária (BU) em mulheres multíparas submetidas a

diferentes tempos de treinamento físico resistido. Objetivo: Investigar se o

exercício resistido pode induzir alterações morfológicas e funcionais na BU em

ratas multíparas. Materiais e método: Para esse estudo, foram utilizadas 40

ratas adultas da linhagem Wistar, sendo 20 nulíparas, e 20 multíparas. Aos 6

meses de idade, foi realizado o acasalamento das 20 fêmeas por meio de duas

matrizes e um macho por gaiola e mantidos juntos até o final do desmame. Os

animais foram divididos aleatoriamente em 8 grupos (n=5): NS- nulíparas:

sedentárias, N1- treinadas por 1 semana (agudo), N3- treinadas por 3 semanas

(intermediário), N10- treinadas por 10 semanas (crônico), MS- multíparas

sedentárias, M1- multíparas treinadas por 1 semana, M3- multíparas treinadas

por 3 semanas e M10- multíparas treinadas por 10 semanas. O programa de

treinamento de exercício resistido moderado foi constituído de 6 subidas em

escada vertical, com descanso de 1 minuto no topo da escada entre as séries,

nos volumes de 1, 3 e 10 semanas. Ao término do treinamento, os animais foram

submetidos à avaliação funcional da BU, para obter os registros das medidas

basal e variação da pressão intravesical. Ao final dos registros, a BU foi retirada,

pesada e fixada em formol a 10% e realizada as técnicas histológicas padrão, os

cortes histológicos foram corados em Hematoxilina eosina (HE) e Picrosirius Red.

Os seguintes parâmetros foram investigados: espessuras das camadas da

bexiga urinária, densidade de volume de fibras colágenas tipos I e III e percentual

de variação da pressão intravesical (%ΔIP). Análise dos dados: Os dados

foram analisados e expressos como M±EPM e submetidos à Análise de

Variância (ANOVA) de duas vias, seguido pelo pós-teste de Tukey. O nível de

significância será estabelecido como sendo de p<0,05. Resultados:

Observamos que a multiparidade promoveu aumento da massa corpórea,

redução na espessura das camadas muscular, média e epitelial da BU,

2

decréscimo nas densidades de volume das fibras colágenas I e III e não

influenciou na variação da massa da BU (Δ%BU) e na reatividade à acetilcolina

e noradrenalina. Contudo os diferentes tempos de treinamento promoveram

decréscimo na Δ%BU, aumento na espessura de todas as camadas no grupo

M3, aumento nas fibras colágenas I e III e diminuição da variação da pressão

intravesical (%ΔIP). O grupo M10 conseguiu reverter o processo se aproximando

dos valores de seu controle, nos parâmetros analisados. Conclusão: A

intervenção do exercício físico em 10 semanas parece causar maior benefício

na BU dos animais multíparas, sendo mais interessante no sentido da prevenção

de alterações morfofuncionais que desencadeiam sintomas do trato urinário

inferior (STUI), como a perda urinária.

Palavras-chave: bexiga urinária, multíparas, exercício resistido, morfofuncional.

3

Abstract Investigation of morphological and functional alterations of the urinary bladder of multiparous rats submitted to different times of physical training. MORENO, M. (2018). Introduction: Urinary symptoms that negatively affect the lives of many women

have their estimated prevalence with great variability, generating a notorious

public health problem. There are few studies on urinary bladder (BU) changes in

multiparous women submitted to different times of resistance training. Objective:

To investigate whether resistance exercise can induce morphological and

functional alterations in BU in multiparous rats. Materials and method: For this

study, 40 adult female Wistar rats were used, of which 20 were nulliparous and

20 were multiparous. At the age of 6 months, 20 females were mated using two

matrices and one male per cage and kept together until the end of weaning. The

animals were randomly divided into 8 groups (n = 5): NS- nulliparous: sedentary,

N1- trained for 1 week (acute), N3- trained for 3 weeks (intermediate), N10-

trained for 10 weeks (chronic), MS- multiparous sedentary, M1- multiparous

trained for 1 week, M3 multiparous trained for 3 weeks and M10 multiparous

trained for 10 weeks. The moderate resistance exercise program consisted of 6

vertical ladder climbs, with 1 minute rest at the top of the ladder between sets, in

the 1, 3 and 10 week times. At the end of the training, the animals were submitted

to the functional evaluation of BU to obtain baseline measurements and

intravesical pressure changes. At the end of the records, the BU was removed,

weighed and fixed in 10% formalin and the histological techniques was performed.

Histological sections were stained in Hematoxylin eosin (HE) and Picrosirius Red.

The following parameters were investigated: urinary bladder, volume density of

collagen fibers types I and III and percent change in intravesical pressure (% ΔIP).

Data analysis: The data were analyzed and expressed as M ± SEM and

submitted to two-way ANOVA, followed by the Tukey post-test. The level of

significance will be set at p <0.05. Results: We observed that multiparity

promoted increase in body mass, reduction in muscle, middle and epithelial

layers thickness of BU, decrease in volume densities of collagen fibers I and III

and did not influence the variation of BU mass (Δ% BU) and reactivity to

acetylcholine and noradrenaline. However, the different volumes of training

promoted a decrease in Δ% BU, increase in the thickness of all layers in group

4

M3, increase in collagen fibers I and IIII and decrease in intravesical pressure

change (% ΔIP). The M10 group was able to reverse the process approaching

the values of its control, in the parameters analyzed. Conclusion: The

intervention of physical exercise in 10 weeks times seems to cause greater

benefit in BU of multiparous animals, being more interesting in the sense of

preventing morphofunctional changes that trigger lower urinary tract symptoms,

such as urinary loss.

Key words: urinary bladder, multiparous, resistance exercise, morphofunctional.

5

Introdução

A gestação e o puerpério são caracterizadas por mudanças marcantes na

estrutura corporal da mulher, porém, pouco se sabe a respeito das mudanças

sofridas pela bexiga urinária (BU) ao longo do período gestacional e no pós-parto.

Sintomas relacionados ao trato urinário inferior, como a incontinência

urinária de esforço (IEU), são cada vez mais frequentes nas mulheres nesse

período de vida, sobretudo nas multíparas.

A ação hormonal e o impacto mecânico provocados pelo aumento da

massa corporal e parto sugerem que a BU pode estar sujeita a transformações

estruturais e, em decorrência delas, impactar no aparecimento desses sintomas

(ELVING et al.,1989; MACLENNAN et al., 2000; MARSHALL et al., 2002;

HERBRUCK, 2008; ABREU, 2012).

Esta condição traz diversas implicações e complicações afetando

negativamente a qualidade de vida de muitas mulheres uma vez que suas

atividades sociais, familiares, profissionais e sexuais ficam prejudicadas,

principalmente pelo aparecimento de sintomas de IU, gerando problema de

Saúde Pública (HUNSKAAR et al., 2003; FERNANDO e SULTAN, 2004).

A gravidez por si está relacionada com o risco aumentado de gerar

sintomas urinários, e esse risco se potencializa quando associado ao parto

vaginal e à multiparidade (PEEKER & PEEKER, 2003). Embora pareça ser mais

grave o quadro clínico e de pior prognóstico com o avanço da idade, não se

exclui a presença de sintomas urinários em mulheres adultas jovens (DELLÚ et

al, 2008).

Durante a gravidez, o pavimento pélvico sofre alterações, através de

influências hormonais e efeitos mecânicos, para se adaptar progressivamente

ao aumento do tamanho do útero e à necessidade de distender durante o parto

(GENADRY, 2006). Os sintomas mais frequentes durante a gravidez, cujo pico

de prevalência se situa no 3º trimestre, são o aumento da frequência e nictúria,

em conjunto com a incontinência (PANAYI e KHULLAR, 2009).

Diversos autores concordam que, a prática de exercício físico, sobretudo

o resistido, também conhecido como exercício contra resistência, possa ser

grande aliada, auxiliando no fortalecimento e hipertrofia de grandes grupos

6

musculares como a musculatura pélvica. (BERMUDES et al., 2004; POLLOCK e

VINCENT, 1996; POLLOCK e EVANS, 1999).

Porém, encontramos com frequência, sintomas de perda urinária em

mulheres praticantes de exercícios físicos. Diversos estudos referem que sua

fisiopatologia pode estar relacionada às pressões constantes sobre o assoalho

pélvico e aumentos abruptos da pressão abdominal que ocorrem durante a

prática dessas atividades. Mesmo em mulheres com os MAP fortes, a atividade

física árdua levaria ao aumento da pressão abdominal, aliada à sobrecarga, ao

estiramento e ao enfraquecimento do assoalho pélvico, acarretando em IU

(FOZZATTI et al., 2008; ARAÚJO et al., 2008). Movimentos de alto impacto

resultam em força de impacto sobre o assoalho pélvico três a quatro vezes maior

que a massa corporal (MORENO, 2009), mais especificamente relata-se que a

força vertical de reação máxima do solo durante diferentes atividades esportivas

é três a quatro vezes a massa do corpo quando corremos, cinco a doze vezes

pulando, e nove vezes na queda após um salto em altura (ARAÚJO et al., 2008).

Desta forma, as hipóteses existentes até o momento sobre o

desenvolvimento da IU induzida pelo exercício físico extenuante ou trabalho

pesado, baseiam-se no fato de que pode haver estiramento dos músculos do

assoalho pélvico ou seu enfraquecimento, diante da sobrecarga promovida pela

atividade física (BO, 2004). Além disso, pode-se dizer também que ocorrem

disfunções dos músculos detrusor, esfincteriano ou de ambos, devido a lesões

ou degenerações no sistema nervoso central e/ou periférico e ainda de

alterações estruturais nestes órgãos do sistema urinário inferior (ABRAMS et al.,

2003; LUBER, 2004). Estas alterações podem ser reconhecidas nos MAP das

mulheres grávidas e pós parturientes, como MARSHAL et al., (2002) e YIOU et

al., (2009) já mostraram em seus estudos. A frequência e intensidade da prática

também parecem influenciar no aparecimento dos sintomas da IU nessas

mulheres, conforme observado por ALMEIDA e MACHADO, (2012) e ELIASSON

et al., (2002).

Apesar disso, não se sabe se somente o aparecimento de lesões ou

enfraquecimento do assoalho pélvico poderia ser responsável por levar ao

desenvolvimento de sintomas de perda urinária. Embora as evidências indiquem

que as causas da IUE possam ser atribuídas a fatores etiológicos diversos, não

existe, até o momento, nenhum estudo que mostre se o exercício resistido em

7

diferentes tempos de treinamento poderia provocar efeitos danosos na estrutura

da BU de mulheres multíparas, a ponto de modificar a sua funcionalidade.

Apesar disso, prática de exercício de leve intensidade por mulheres

grávidas e no pós-parto se faz interessante, visto que, o esforço corporal

decorrente destas fases, acaba por ocasionar um aumento considerável na

pressão intra-abdominal, empurrando os órgãos pélvicos para baixo,

promovendo assim, danos na musculatura do assoalho pélvico e,

consequentemente, IU. Nesta situação, a prática de exercício resistido seria uma

tentativa de evitar ou, diminuir os danos na musculatura envolvida na micção. A

detecção precoce destes sintomas urinários pelos profissionais de saúde que

atendem a mulher gestante seria uma forma de garantir uma abordagem

preventiva adequada.

Desta forma, o presente estudo visou abordar os efeitos relacionados às

alterações estruturais, promovidos pelo exercício físico resistido em diferentes

tempos e intensidades, associado à multiparidade, na bexiga urinária de ratas.

Materiais e método

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e

Utilização de Animais da Universidade São Judas Tadeu (CEUA Nº 024/2016).

Amostra: Foram utilizados 40 ratos fêmeas, linhagem Wistar, adultos

(250-300g, 8-9 meses de idade), sendo 20 nulíparas e 20 multíparas. Todos os

animais receberam cuidados conforme protocolo e foram mantidos sob

condições ambientais de temperatura (23ºC), iluminação (12 h de claro e 12 h

de escuro por dia) e oferta sem restrições de água e ração. Aos 6 meses de

idade, foi realizado o acasalamento das 20 fêmeas por meio de duas matrizes e

um macho por gaiola e mantidos juntos até o final do desmame. Os animais

foram divididos aleatoriamente em 8 grupos (n=5): NS- nulíparas: sedentárias,

N1- treinadas por 1 semana, N3- treinadas por 3 semanas, N10- treinadas por

10 semanas (N10), MS- multíparas sedentárias, M1- multíparas treinadas por 1

semana, M3- multíparas treinadas por 3 semanas e M10- multíparas treinadas

por 10 semanas (M10).

Pesagem dos animais

8

Os animais foram pesados em balança Ohauss com precisão de 10g, mês

a mês para acompanhamento do crescimento, no início da adaptação ao

exercício físico e durante o protocolo de treinamento, com exceção do período

de prenhez e amamentação, para evitar o estresse devido à manipulação, o que

pode ser uma limitação do estudo.

Protocolo de treinamento Para a realização do programa de treinamento de exercício resistido, foi

utilizado como equipamento uma escada vertical de 110 cm com inclinação de

80°, com uma caixa no topo para descanso dos animais entre as séries. A

sobrecarga foi promovida por meio de pesos de chumbo fixados à base da cauda

do animal, por meio de fita adesiva.

O protocolo de exercício resistido foi considerado moderado e a carga

ajustada em 75% da massa corporal. Os animais foram pesados no início do

protocolo, e quinzenalmente em balança. Os animais realizaram 6 subidas por

sessão, em dias alternados, com descanso de 1 minuto entre elas, durante 1, 3

e 10 semanas. A adaptação dos animais foi realizada durante 1 semana, em dias

alternados. Nessa etapa as ratas escalaram o equipamento sem adição de

carga. Cada rata realizou 6 subidas no total, sendo as 2 primeiras a partir do

terço final da escada, 2 a partir do terço médio, e as 2 últimas, a partir do início

da escada, com um minuto de intervalo a cada subida, em todos os dias da

adaptação (LEE et al., 2004).

Análise funcional Ao final do programa de exercício, cada grupo foi submetido à avaliação

funcional. As ratas foram pesadas, anestesiadas e submetidas à canulação da

artéria e veia femoral, canulação da bexiga urinária após incisão abdominal

medial, e posterior administração “in situ” de acetilcolina (0,1, 1,0 e 2,0 µg/mL),

noradrenalina (0,5, 1,0 e 2,0 µg/mL), ou salina, gotejando-se (0,1 mL) na bexiga

urinária. Foram monitorados os valores da pressão arterial pulsátil (PAP),

pressão arterial média (MAP), frequência cardíaca (FC), pressão intravesical (PI)

gravados no sistema de aquisição de dados (PowerLab 16 SP, AD Instruments,

9

Melbourne, AU). Um valor de PI de base foi estabelecido em 5mmHg por infusão

de solução salina ou retirada de urina através do cateter inserido na BU.

Ao final dos experimentos, os animais receberam sobredose de Tiopental

sódico 170 mg/kg intravenosa, para posterior extração da bexiga urinária e

pesagem do órgão.

Técnicas histológicas As amostras da bexiga foram fixadas em solução tamponada de formol a

10% por um período de 24 horas. Após, foram desidratadas em álcool etílico,

diafanizadas em xilol e incluídas em parafina. Dois cortes histológicos, não

seriados de 5 µm de espessura, foram coletados em lâminas de vidro, corados

em Hematoxilina Eosina (para análise da espessura das camadas) e Picrosirius

Red (para análise das fibras colágenas I e III, em microscopia de luz polarizada)

e cobertos com Entellan® para posterior análise em microscopia de luz.

Análises morfoquantitativas As imagens das camadas muscular, mucosa E epitélio de transição

(urotélio) da BU, foram capturadas por uma microcâmera de vídeo Sony

acoplada ao Microscópio Zeiss, que as transmite para um computador equipado

com software específico para análises quantitativas (Axio Vision 4.8, Zeiss).

Para a análise morfométrica a medida da espessura das camadas

muscular, mucosa e epitélio de transição da bexiga urinária foi realizada através

das imagens dos 4 campos/corte (0º, 30º, 60º e 90º), sendo 2 cortes/ lâmina,

realizando 3 medidas/ camada, totalizando 24 medidas por camada/animal.

Para a análise estereológica, foram analisados 8 campos em cada corte,

sendo 2 cortes/lâmina, perfazendo um total de 16 campos por animal, totalizando

80 campos por cada grupo. O software Image J (NIH, Bathesda, USA), carregado

com seu próprio pluggin, foi utilizado para quantificação da densidade de volume

das fibras colágenas tipo I e III. Uma grade contendo 196 pontos foi sobreposta

na fotografia digital dos campos obtidos da parede da bexiga e, utilizando do

pluggin Cell counter, foi feita a contagem das fibras tipo I (vermelha) e tipo III

(verde).

10

Análise estatística Os dados morfológicos e fisiológicos foram analisados e expressos como

M ± EPM e submetidos à Análise de Variância (ANOVA) de duas vias, seguido

pelo pós-teste de Tukey. O nível de significância estabelecido foi de p<0,05.

Resultados

Análise biométrica Verificamos que a massa corporal dos animais do estudo sofreu

acréscimo ao longo do seu crescimento, e, que a multiparidade promoveu

aumento significante da massa corpórea deste grupo (MS). (Figura 1)

M±EPM. *p<0,05 vs 3 meses; #p<0,05 vs 6 meses; +p<0,05 vs NS 8 meses

Figura 1: Evolução da massa corporal dos animais aos 3, 6 e 8 meses.

No entanto, com o início do protocolo de treinamento, observamos que,

na semana de adaptação e no treino de 1 semana, os animais dos grupos

Nulíparas e Multíparas (N e M) tiveram diminuição da massa corporal, que foi

recuperada ao longo do protocolo de treinamento em 3 e 10 semanas. (Tabela

1)

Tabela 1: Evolução da massa corporal das ratas Nulíparas e Multíparas durante

protocolo de treinamento (adaptação e tempos de treino por 1 semana, 3 semanas e 10 semanas)

11

M±EPM. ap<0,05 vs N1adap; bp<0,05 vs N11sem; cp<0,05 vs N3adap; dp<0,05 vs N31sem; ep<0,05 vs N33sem; fp<0,05 vs N10adap; gp<0,05 vs N101sem

Verificamos que multiparidade não promoveu mudança no Δ%BU quando

comparado com as nulíparas (MS x NS), contudo, o exercício físico, promoveu

decréscimo em todos os tempos de treinamento (N1, N3 e N10). Já no grupo

multíparas, essa diminuição só foi observada nos tempos 3 e 10 semanas (M3 e

M10), no entanto o grupo M1 apresentou redução significante, quando

comparado às nulíparas sedentárias. (Figura 2)

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M10

Figura 2: Percentual de variação da massa da bexiga urinária (Δ%BU) das ratas Nulíparas e Multíparas sedentárias e treinadas por 1, 3 e 10 semanas.

Analise Morfométrica Observamos que a multiparidade promoveu redução significante na

espessura das camadas muscular (16,4%), epitelial (25,4%) e uma tendência na

camada mucosa (9,1%) nos animais do grupo multíparas MS, quando

comparada ao grupo NS.

12

Verificamos também que o treinamento de 3 semanas (M3) ocasionou

aumento significante nas camadas muscular (31,4%), mucosa (30,1%) e epitelial

(22,9%) quando comparada ao grupo MS. Ao analisarmos o grupo M10

conferimos que a espessura das camadas muscular reduziu quando comparada

ao grupo M3 e retornou aos valores do grupo N10; a mucosa apresentou

aumento significante em relação a todos os grupos estudados e a camada

epitelial (M3) aumentou quando comparada ao grupo MS e a M10 retornou aos

valores do grupo N10. (Tabela 2 e Figura 3)

Tabela 2: Espessura das camadas muscular (CMus), mucosa (CMuc) e epitelial (CEpit) da bexiga urinária entre os grupos nulípara (N) e multípara (M). NS N1 N3 N10 MS M1 M3 M10

C.Mus 466,9±17,4 487,9±24,3 401,5±19,6*# 508,2±19,3+ 390,5±23,1*& 390,6±26,2*#& 513,1±25,8*+12 453,8±18,7

C.Muc 437,3±18,6 481,2±27,9 370,5±31,1# 460,2±17,2 396,0±30,8+ 397,3±27,1#1 508,2±25,1*+1

529,2±27,6*+&12

C.Epit 39,8±2,4 50,6±3,7* 22,7±1,1*# 26,2±1,1*# 29,7±1,9*# 24,9±2,3*#1 36,5±2.1#+&12 26,8±1,4*#3

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M1; 3p<0,05 vs

M3

Figura 3: Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar. Técnica de HE, com microscopia de

luz, (50x), evidenciando as camadas muscular (*), mucosa (*) e epitélio de transição (urotélio) (*).

Análise estereológica Ao analisarmos as densidades de volume das fibras colágenas nas

camadas muscular e mucosa da BU, verificamos que a multiparidade (M)

promoveu diminuição significante nas fibras colágenas I e III, quando

comparadas aos grupos nulíparas (N). Observamos também que o aumento de

* *

*

MS

13

tempo de treinamento (M1, M3 e M10) reverteu o processo, ao compararmos ao

grupo MS, dados semelhantes foram observados no grupo controle. Já no grupo

M10 as fibras colágenas I se aproximaram aos valores do N10, e as fibras

colágenas III apresentaram aumento significante quando comparada ao seu

controle (N10). (Figuras 4, 5, 6 e 7)

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M1; 3p<0,05 vs M3

Figura 4: Densidade de Fibras Colágenas tipo I e III (%) entre os grupos nulíparas (N) e multíparas (M) na camada muscular da bexiga urinária.

Figura 5: Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar. Técnica de Picrosirius Red

com microscopia de luz polarizada (200x), evidenciando fibras colágenas I (vermelha) e III

(verde) na camada muscular.

14

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M1; 3p<0,05 vs

M3

Figura 6: Densidade de Fibras Colágenas tipo I e III (%) entre os grupos nulíparas (N) e multíparas (M) na camada mucosa da bexiga urinária.

Figura 7: Fotomicrografia da bexiga urinária de rata Wistar. Técnica de Picrosirius Red, com microscopia de luz polarizada (200x), evidenciando fibras colágenas I (vermelha) e III (verde) na camada mucosa.

Análise funcional

Observamos que a multiparidade sozinha não influenciou a reatividade da

acetilcolina e da noradrenalina na bexiga urinária em ambos os grupos (N e M).

Nossos dados sugerem que a diminuição da variação da pressão intravesical

(%ΔIP) dos animais ocorreu devido ao tempo de treinamento. As ratas treinadas

por 1 e 3 semanas apresentaram decréscimo na reatividade com ambas as

drogas, e em ambos os grupos (N1 e N3, M1 e M3), sendo mais acentuada em

N3. Já nos grupos treinados por 10 semanas (N10 e M10), as bexigas mostraram

15

maior reatividade, retornando para valores próximos aos dos grupos sedentários

(NS e MS). (Figuras 8 e 9)

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M1; 3p<0,05 vs

M3

Figura 8: Porcentagem de variação da pressão intravesical induzida pela administração tópica (in situ) de acetilcolina sobre a bexiga urinária de ratas nulíparas (NS, N1, N3, N10) e multíparas (MS, M1, M3, M10).

M±EPM. *p<0,05 vs NS; #p<0,05 vs N1; +p<0,05 vs N3; &p<0,05 vs N10; 1p<0,05 vs MS; 2p<0,05 vs M1; 3p<0,05 vs M3

Figura 9: Porcentagem de variação da pressão intravesical induzida pela administração tópica (in situ) de noradrenalina sobre a bexiga urinária de ratas nulíparas (NS,N1, N3, N10) e multíparas (MS, M1, M3, M10).

Discussão Os principais achados do estudo foram as alterações nos animais do

grupo Multíparas (M) no tocante aos valores de massa corporal e massa da

bexiga urinária, espessura das camadas da BU, densidade de volume das fibras

16

colágenas I e III e reatividade da BU em relação à ação das drogas Acetilcolina

e Noradrenalina, quando administradas em sua superfície.

O aumento da massa corporal ao longo do crescimento/envelhecimento

dos animais é esperado e pode ser verificado em nosso estudo. Além da atuação

do envelhecimento sobre esse parâmetro, verificamos ainda que o incremento

na massa corporal se mostrou mais evidente nos grupos de animais multíparas,

sugerindo dessa maneira, a influência da gestação e pós-parto sobre essa

variável, também verificado nos trabalhos de GAMEIRO, (2000); DA SILVA e DE

MELLO, (2000); OLSON e STRAWDERMAN, (2003); KONNO et al., (2007);

WESNES et al., (2010). Alguns trabalhos sugerem ainda que, o aumento da

massa corporal, desde o início da gravidez até seis meses após o parto, pode

favorecer a prevalência de sintomas de incontinencia urinária associados

também com a obesidade (DWYER, et al., 1988; GAMEIRO, 2000; MOREIRA,

et al., 2002 e BELLOTE, 2005). De fato, os animais do estudo não foram pesados

no decorrer da prenhez e logo após o nascimento dos filhotes, durante a

amamentação, com o objetivo de evitar o estresse nestes períodos, tanto da mãe,

quanto da cria, o que leva a uma limitação no estudo. Após a intervenção do

exercício resistido, verificamos que, todos os animais do estudo sofreram

decréscimo da massa corporal durante a semana de adaptação ao programa de

exercício, e ambos os grupos caminharam para a recuperação com o aumento

no volume de treinamento. Uma provável explicação para esse fato se deva ao

nível de estresse vivenciado pelos animais pela ocasião da manipulação durante

o experimento, relacionando a redução do apetite mediado pelos altos níveis de

catecolaminas decorrentes do estresse, corroborando com os estudos

experimentais de STEVENSON et al.,(1966) e de LANA, et al., (2006), apesar

de que, neste estudo não foram testados os níveis de ingesta alimentar dos

animais, evidenciando uma outra limitação deste.

Evidenciamos também que a multiparidade per si e associada ao

exercício físico, promoveram redução da massa vesical em todos os grupos

estudados, quando comparados ao grupo nulíparas (N). Esses dados acordam

com a redução de espessuras das camadas da BU, principalmente do grupo

multíparas (M) em nosso estudo, onde possivelmente há uma adaptação do

órgão às mudanças relativas a pressão abdominal exercida durante o

treinamento resistido, gestação e parto, com exceção do grupo M10 que

17

permaneceu com aumento nas espessuras das camadas, principalmente na

mucosa, assentindo com outros estudos que mostraram redução nas camadas

da BU e da uretra, além de diminuição da força muscular na região do esfíncter,

podendo ocasionar perda urinária em gestantes e puérperas (CARLILE et al.,

1988; PERUCCHINI et al., 2002; DAMASER et al., 2003).

Ao analisarmos a reação de contratilidade causada pelo estímulo da

acetilcolina na BU em nosso estudo, observamos que, somente a multiparidade,

não influenciou na reatividade da BU. Entretanto, associando a multiparidade ao

treinamento, podemos observar claramente a diminuição da variação da pressão

intravesical (%ΔIP) dos animais em treinos de 1 semana e 3 semanas, nos quais

houve redução da reatividade às drogas. Por outro lado, nos animais multíparas

com treino de 10 semanas (M10), houve maior reação da BU, provavelmente

provocada pela maior sensibilidade dos receptores muscarínicos e também

devido ao maior número de fibras colágenas tipo III presentes na camada

muscular, também observado neste estudo. Esses dados concordam com outros

estudos onde fica bem estabelecido que, a acetilcolina ativa os receptores

muscarínicos, e possíveis justificativas para esse aumento de sensibilidade

incluem: o aumento na densidade dos receptores muscarínicos e/ou alteração

na sinalização intracelular (CHESS-WILLIAMS, 2002). Assim como na bexiga

hiperativa, que está relacionada com aumento da sensibilidade do músculo liso

detrusor, no qual alguns pesquisadores verificaram um aumento da sensibilidade

desse músculo aos receptores muscarínicos (SAITO et al., 1993; CHAPPLE et

al., 2002 e SELLER e CHESS-WILLIAMS, 2007).

Da mesma forma, quando comparamos os grupos estudados com relação

ao efeito da Noradrenalina na BU, vimos que os grupos (N e M) se comportaram

de modo semelhante. Houve diminuição significante na variação da %ΔIP nos

grupos exercitados por 1 e 3 semanas (N1 e N3, M1 e M3), e aumento na

reatividade da BU no treino de 10 semanas (N10 e M10). Podemos então supor

que, há um possível aumento na reação dos receptores β adrenergicos

concordando com o estudo de GRANDADAM et al., 1999, que observou

aumento da sensibilidade à estimulação adrenérgica e colinérgica o que poderia

prolongar a duração da fase de armazenamento no ciclo de micção.

Observamos ainda que a multiparidade provocou nas camadas muscular

18

e mucosa diminuição das fibras colágenas I e III na parede vesical. Esse dado,

diverge do estudo feito por ROCHA et al., (2007) que observaram que a

simulação do trauma induzido pelo parto, em ratas adultas, aumentou a

quantidade de colágeno e fibras elásticas na parede vesical. A ideia de que

somente a multiparidade possa ter influência na diminuição dessas fibras, pode

ser pensada também, principalmente pelo fato de ser um período de

reorganização hormonal. O colágeno tipo III sofre mudanças conformacionais

para acomodar o volume intravesical, sendo também o primeiro a ser sintetizado

em processos de reparação (TEODORO, 2009). Nota-se que a intervenção do

exercício físico resistido em diferentes frequências e tempos de treinamento,

adicionada à gestação e parto, é recebida pelo órgão como um momento de

estresse, pois observamos aumento na densidade de volume das fibras

colágenas tipo I e III na parede vesical do grupo multíparas (M), principalmente

na camada muscular. MAGALDI et al., (2018) enumeraram, em seu artigo de

revisão, alguns estudos com animais, também conduzidos para analisar a

influência da idade e do exercício sobre o colágeno muscular, que evidenciaram

aumento desse tecido com o avançar da idade, concordando também com

WILLIAM e FERTALA, 2013. Outros achados microscópicos em (BRADING,

1997), mostraram anormalidades estruturais no músculo detrusor provenientes

de bexigas hiperativas, incluindo aumento de elastina e de colágeno, reforçando

a ideia de possíveis alterações na estrutura vesical em situações de estresse,

podendo desencadear anormalidades neurológicas, (GERMAN et al., 1995 e

DRAKE et al., 2000). Essa perda de força muscular na região pélvica, é explicada

por alguns autores, pela influência dos hormônios da gravidez, principalmente a

progesterona, que provoca o relaxamento da musculatura vesical, permitindo

eliminação involuntária de urina. Além da progesterona, o corpo da gestante

sofre ação da relaxina, que, dilata o canal vaginal e relaxa as articulações para

o parto, inibindo os receptores de estrogênio e conduzindo à falência da

manutenção da homeostasia e regeneração das fibras elásticas, o que em

modelos animais, mostrou levar a disfunções do assoalho pélvico,

enfraquecendo os mecanismos de suporte (LIU et al., 2006; EPPEL et al., 1999;

GENADRY, 2006).

Em nosso estudo, podemos considerar, que há uma relação sobre o

19

impacto do exercício físico em diferentes tempos de treinamento, na fases de

contração e relaxamento vesical. Vimos também que, a multiparidade sozinha,

não provocou alterações significantes na reatividade da BU com relação à ação

das drogas utilizadas, porém, quando adicionada ao exercício físico,

observamos alterações da reatividade da BU às drogas Acetilcolina e

Noradrenalina, principalmente com maior tempo de prática do exercício.

Entendemos então, que as mudanças relacionadas com o impacto

causado pelo estresse (gestação, parto, exercício físico), podem levar a

mudanças na estrutura, sensibilidade e comportamento vesical, mesmo sabendo

que as alterações no trato urinário, provocadas pela gestação e puerpério,

tendem a se normalizarem em torno da sexta semana do pós-parto. Porém,

alguns estudos, mostram a persistência dos sintomas, como a IU, em algumas

mulheres a longo prazo, condizendo com o experimental feito por BRADING em

1997, que mostrou que 40% da amostra tinha sintomas de IUE no pós-parto mais

tardio, porém, mais estudos se fazem necessários.

Conclusão O exercício físico resistido em diferentes tempos causou alterações na

estrutura e função da BU dos animais multíparas.

A intervenção de maior tempo de exercício físico (10 semanas), parece

causar maior benefício na BU dos animais multíparas, sendo mais interessante

no sentido da prevenção de alterações morfofuncionais que desencadeiam

sintomas do trato urinário inferior, como a perda urinária.

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29

8- Conclusão

O exercício físico resistido em diferentes tempos causou alterações na

estrutura e função da BU dos animais multíparas.

A intervenção de maior tempo de exercício físico (10 semanas), parece

causar maior benefício na BU dos animais multíparas, sendo mais interessante

no sentido da prevenção de alterações morfofuncionais que desencadeiam

sintomas do trato urinário inferior, como a perda urinária.

30

9 - Considerações finais

A gestação e o puerpério são caracterizados por mudanças marcantes na

estrutura corporal da mulher, porém, pouco se sabe a respeito das mudanças

sofridas pela bexiga urinária ao longo deste período. Vimos, através do estudo

experimental, que o exercício físico aplicado em maior tempo de treinamento (10

semanas), pode ser benéfico para a prevenção de sintomas do trato urinário

inferior, principalmente a incontinência urinária, porém, mais estudos

relacionados, especificamente com a bexiga urinária, se fazem necessários.

10- Limitações do estudo Os animais do estudo não foram pesados no decorrer da prenhez e logo

após o nascimento dos filhotes, durante a amamentação, com o objetivo de evitar

o estresse nestes períodos, tanto da mãe, quanto da cria.

Durante o estudo, não foram testados os níveis de ingesta alimentar dos

animais.

31

11 - Referências

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